PN ± Teste de Pata Negra
Ana Isabel Teixeira nº29036 Ana Rita Mourão nº30597 Clara Santos*3 Elisabete Couto nº29751 Laura Marques nº30615
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Ficha Técnica
O teste sujeito a análise denominado por ³As aventuras de Pata Negra´ também pode ser reconhecido pelas abreviaturas ³Teste P´ ou ³PN´. Este teste foi criado por Louis Corman, psiquiatra, nos anos de 1959 a 1961 com o principal objectivo de estudar os conflitos infantis interiores (Boekholt, 2000). Segundo Bellak (s.d. cit. por Boekholt, 2000), as crianças identificam-se muito facilmente com animais, por esta razão Corman inspirou-se no teste no teste das figuras de Blacky do autor Blum (1950) para apresentar um outro teste que se baseia na história de um animal e da sua família, neste caso, o animal não é um cão como na prova de Blum mas sim um porco. Este animal fez com que as criticas ao teste aumentassem por causa da sua conotação anal. Para as crianças de etnia israelita ou muçulmana existe uma alternativa: o ³PN ± carneiros´ (Boekholt, 2000). Amostra de População
O teste ³As aventuras de pata negra´ tem como público alvo crianças entre as idades de 4 e 10 anos. Normalmente, em crianças a partir dos 6 anos, este teste tem uma eficácia máxima já que, a criança se situa num plano psicomotor relativamente estável em que já é capaz de realizar as suas próprias escolhas. Para que o PN seja utilizado depois dos 10 anos é preciso que se aceite o carácter regressivo do material, ou seja, para que resulte depois desta idade, é necessário que o objectivo desta avaliação seja analisar os aspectos regressivos em relação à criança. Este teste também pode resultar para crianças com menos de 4 ano, se o clínico quiser avaliar a linguagem do afecto (Boekholt, 2000). Caracterização
O teste P ³assenta na teoria dos estádios e subestádios do desenvlvimento libidinal´ (Boekholt, 2000;130), contudo, Corman opta por utilizar uma técnica, percebida por muitos críticos como ³original e de livre escolha´ com o objectivo de se aperceber ³da complexidade nºao linear dos ritmos individuais´ (Boekholt, 2000;130), ao contrário de Blum que prefere uma sucessão teoria dos estádios através da sequência 2
dos cartões, isto é, enquanto que Corman deixa as crianças sujeitas à avaliação, à vontade para analisarem os cartões pela ordem que querem, Blum opta pela concepção cronológica (Boekholt, 2000). Acrescenta-se ainda que o PN usa o processo narrativo a partir de imagens imóveis. O criador desta prova dá ênfase à exploração das tendências conscientes e inconscientes, tendo em conta os mecanismos de defesa divulgados pela linguagem e pela própria dinâmica da prova, entre outros. Para além desta averiguação, também é atribuída muita importância à dimensão económia (Corman, 1976 cit. por Boekholt, 2000), isto porque o ³investimento´ neste teste permite usar o ³herói central´ como identificador de si mesmo (criança). Este teste é composto por 17 desenhos constituídos por um título e por um número para facilitar a sua identificação. Este material é caracterizado como sendo completamente figurativo, sem zonas sombrias ou imprecisas em que, 15 dos cartões, contêm um desenho a preto sobre um fundo branco. Na análise de cada cartão podemos verificar: y
³O conteúdo manifesto descrito por Charbert (Cc), escolhido pela sua neutralidade, com especificação dos promenores frequentes (D) e secundários (Dd)´(Boekholt, 2000;133)
y
³O conteúdo latente, recordando-se os temas explorados por Corman (LC) e a formulação de Cc, antes de abrir a discussão sobre os diferentes registos de conflitualização reactivados em relação, respectivamente: a) Aos fundamentos da identidade; b) À elaboração da posição depressiva; c) Ao estabelecimento do eixo edipiano (Boekholt, 2000;133).´
Pode acontecer que, no mesmo cartão, possam ressaltar vários conflitos na mesma criança. A regra principal desta prova passa por contrariar a regra analítica, que consiste em que a criança diga tudo o que lhe vem à cabeça, sem qualquer tipo de selecção da informação fornecida, isto porque, o teste implica uma ³dupla dimensão´, por outras palavras, opera em relação à selecção consciente obedece ao principio do prazer, motivado pelos aspectos inconscientes.
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Nesta prova também é avaliada a capacidade que a criança terá para ligar as representações entre si, como se tivesse um fio condutor, isto é, avaliar a maneira como ela conta a história, se esta está interligada e coerente ou não. Se esta capacidade der conta de si a história irá obedecer a uma sequência mais ou menos marcada ³pelo peso dos movimentos pulsionais e defensivos, caso isto não aconteça, o que pode ser um facto em crianças mais novas, a narrativa justapõe-se o que faz com que não se possa verificar a sucessão. São também fornecidas vastas e importantes indicações sobre as escolhas objectais da criança de maneira a que a relação com a mãe seja privilegiada, apesar de ser feita com algumas reservas, que se podem transformar em vantagens se o objectivo em abranger determinadas adversidades em relação às primeiras relações objectais. Corman (s.d. cit. por Boekholt, 2000) permitiu que se explorasse as defesas narcísicas, como o retraimento, já que o objectivo inicial era estudar alguns aspectos do narcisismo, como por exemplo, a imagem de si e do seu corpo. Uma das vantagens fornecidas pelo PN passa-se devido à aplicação em várias fases, o que faz com que haja possibilidade de comparação relativamente a informações iniciais. Hoje em dia esta prova é mais utilizada em hospitais ou em escolas do que em consultas, isto porque, são raros os estabelecimentos deste tipo em que os psicólogos disponham de tempo suficiente para propor a utilização deste material. Normas de aplicação
Segundo L. Corman (s.d. cit. por Boekholt, 2000), a aplicação deste teste faz-se em cinco etapas cuja duração deve durar de 60 a 90 minutos. A aplicação deve efectuarse numa única sessão a fim de dar conta da dinâmica criada pelas escolhas e pela sucessão dos cartões adoptados pela criança. Na primeira etapa o psicólogo apresenta o frontispício, ou seja, a primeira das imagens que funciona como capa, no qual estão representados o PN, dois leitõezinhos brancos e dois porcos. Aqui a criança deve identificar o PN, o sexo e idade de cada um, bem como o grau de parentesco (se a criança entender que existe algum), este cartão continua acessível/visível à criança durante todo o processo de avaliaçã o. A segunda etapa é designada por ³ os temas´ : nesta fase, todos os cartões, excepto o da fada, são representados num monte aleatoriamente. Neste momento a 4
criança tem que os observar e escolher os cartões que podem formar uma história deixando os outros de lado. Depois disto, a criança deve dispor os cartões à sua frente, de maneira a que a ordem seja a da história que tenciona contar, antes de passar à próxima fase, o clínico deve perguntar à criança se há alguma imagem que esta quer acrescentar. Numa terceira etapa denominada por: ³as preferências-identificações´ , todos os cartões são de novo reunidos num único monte e o ³jogo da imagem preferida´ baseiase em separar os cartões em dois grupos: o grupo de cartões que gosta, dos que não gosta. Primeiramente a criança espalha as imagens de que gosta à sua frente e escolheas uma a uma, por ordem de preferência, indicando a razão para essa escolha e ainda responder á pergunta: que personagem gostarias de ser em cada um dos cartões? De seguida, o avaliador distribui de forma aleatória todos os cartões dos quais ela não gosta e pede à criança para escolher de todos o que menos gosta, depois o seguinte, e assim sucessivamente, explicando de cada vez porque é que não gosta dessa imagem e qual das personagens seria no mesmo. A quarta etapa chamada de ³questões dirigidas´ é constituída por um inquérito em que se faz com que a criança veja os aspectos evidentes que omitiu, como por exemplo a urina no cartão
³bebedouro´
ou a lama em ³brincadeiras sujas´ (ver fig.2;
fig.10). Finalmente, na quinta etapa denominada
³questões
síntese´, o psicólogo
pergunta quem e o mais feliz, o menos feliz, o mais simpático, o menos simpático, a preferência de cada um pelos outros membros da família. No fim pergunta-se à criança, quem é que, de toda a história, ela prefere, o que vai acontecer ao PN e o que é que o PN pensa da sua pata negra. Aqui, é introduzido o cartão ³a fada´ e afirma-se que a fada concede três desejos ao PN fazendo com que a criança diga quais são. De acordo com o criador, há possibilidade de intervenção por parte do clínico, não para influenciar as escolhas do avaliado, mas com o objectivo de encorajar, fazendo questões ³dinamizadoras´ como por exemplo: ³ sim, conta.´, ³Ex plica-me´ entre outras. Ao longo de cada etapa é feita uma instrução breve de maneira a suscitar o interesse e a mantê-lo durante toda a aplicação do teste. Esta prova tem uma grande diferença em relação aos outros testes, esta diferença existe porque o avaliado é levado ³a seleccionar, a classificar, a dispor os cartões à sua
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frente. El pode pegar-l es, pousá-los ou at
não escol er nenhum´ (Boekholt,
2000; 2). Mais dois aspectos a ter em atenção nesta avaliação são: o facto de haver ou não exitação por par te da cr iança, e se houver são observadas como uma forma compor tamental directa e, o segundo aspecto baseia-se na observação das aproximações ou afastamentos reali adas com os car tões, estas mani pulações espaciais são, mais uma vez, realizadas pelas cr ianças pequenas ou mais instáveis. Durante toda a avaliação a cr iança é livre para fazer o que quiser, ³agarrar, deixar, dizer ou não dizer, reunir, separar, etc.´ (Boekholt, 2000;
), dá-se esta
li berdade à cr iança com o ob jectivo de favorecer a espontaneidade. Mas, esta li berdade só se da até à terceira etapa, a par tir daí a relação clínico-avaliado muda porque começam a ser feitas perguntas como: ³Porquê?´, ³Quem?´que se vão repetindo exigindo uma explicação sempre que o psicólogo entender. Assim, estas questões podem ser vistas como intrusivas porque, já que os car tões foram livremente escolhidos pela cr iança, as imposições feitas pelo adulto não são bem vistas ou como uma a juda, quando a cr iança tem dif iculdade em supor tar a li berdade e procura apoio e limites e as perguntas or ientadas fornecem-lhe um ³alívio impor tante´. Modo de cotação e análise dos resultados
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esta fase do trabalho vamos apresentar todas as imagens que são fornecidas à
cr iança e, como diz o subtítulo, mostrar o modo de cotação e análise dos resultados do que a cr iança pode fornecer. Como já foi refer ido acima, a pr imeira imagem a ser apresentada é o frontispício. A seguir a uma pequena introdução feita pelo psicólogo a segunda imagem a ser a apresentada é a chamada ³Bebedouro´ (ver f ig.1). Neste car tão a cena passa-se no inter ior. Em pr imeiro plano aparece P N a ur inar no maior bebedouro presente na imagem. Em segundo plano são apresentados dois porcos e dois
Fig. 1: Bebedouro
leitõezinhos deitados, esta descr ição representa o conteúdo manifesto (Cc). Os pormenores mais frequentemente identif icados, (D) é a vedação de tábuas em segundo plano que pode ser entendida pela cr iança como uma barreira entre os porcos e os leitões. Os pormenores secundár ios (Dd) são a cama de pa lha dos porcos deitados e a 6
aber tura da vedação à esquerda. O conteúdo latente nesta ilustração é o tema de ³sad i smo uret ral ´ (temas explorados por L. Corman como já foi refer ido acima), e
pode também remeter para ³a agressividade para com as imagens parentais´ (Cc) (Boekholt, 2000;134). Como refere Boekholt (2000) esta imagem pode levantar diversas problemáticas como por exemplo: ver a vedação de tábuas como uma barreira para estabelecer conf iança. O car tão com o número dois inscr ito denomina-se: ³O beijo´ (ver f ig.2), o conteúdo manifesto nesta imagem
centra-se, em pr imeiro plano, na proximidade dos dois porcos e, em segundo plano um dos leitões atrás do muro (CC). Os pormenores frequentemente identif icados (D) são as tetas do porco com a pata preta, e os secundár ios
Fig. 2: O beijo
(Dd) são a paisagem, a erva, as árvores e a f lor em pr imeiro plano. O tema de Corman nesta imagem, como conteúdo latente, é o ³t ema ed i iano´ que, concordando com
Chaber t af irmam que pode remeter para a problemáticas do ti po edi piano que, reconhece o acesso à diferença de sexos e as imagens parentais podem ser inver tidas. Face a este car tão a cr iança pode af irmar que os porcos por serem parec idos podem ser gémeos (confusão entre gerações) e, neste caso, a qualidade do afecto associado à representação também pode revelar algumas razões das escolhas efectuadas. O car tão identif icado com o número três tem como nome ³Bat alha´(ver f ig.3). O conteúdo manifesto, neste caso, mostra-se por : o P N e um dos leitões mordem-se, o terceiro leitão afasta-se e, em segundo plano permanecem dois porcos (CC). O pormenor secundár io mais identif icado pelas cr ianças é a vedação que se encon tra em
Fig. 3: Batalha
segundo plano (Dd). O tema apresentado como conteúdo latente é o ³t ema sád i o oral ¡
de r ivalidade f rat erna´ (LC), que pode remeter, mais uma vez, para a agressividade e
para os sentimentos de cul pabilidade que lhe estão associados (CC). Esta imagem pode mostra se uma cr iança sofre de algum ti po de agressão, já que, segundo um estudo de J. dês Ligner is e col. (1990 cit. por Boekholt, 2000), as cr ianças à procura de apoio agarram-se às representações de actos agressivos.
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A imagem com o nome ³Carroça´ (ver f ig.4) e com o número quatro, tem como conteúdo manifesto (CC): O P N deitado na palha, no balão um homem coloca um leitão na carroça dois leitões observam a cena. Os pormenores mais identif icados são os outros porcos já na carroça (D) e, secundar iamente, o
Fig. 4: Carroça
contraste de cores (Dd). Como conteúdo latente apresenta-se o ³t ema sád i o´ como um retorno punitivo contra (LC) si que remete para ¢
a angústia da separação ou, por outro lado para a agressividade das relações familiares (CC).
este car tão pode dar-se a evocação da separação, suger ida pelo mater ial,
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demasiado ansiogénico, outro aspecto que se pode reter ainda nesta imagem é a sensi bilidade que uma cr iança pode ter em relação à cor preta podendo remeter para a mor t e, por suger ir um afecto depressivo e ainda se pode tirar a sugestão da hostilidade em relação ao progenitor excluído em relação à escolha edi piana. O car tão intitulado ³Cabra´ (ver f ig.5) com o número cinco tem como conteúdo manifesto o P N a mamar numa cabra (CC) e o pormenor secundár io mais identif icado é o olhar da cabra e a coloração branca e
Fig. 5: Cabra
preta do seu pelo. Como conteúdo latente, esta imagem tem o ³t ema da mãe de adopção ou de subs tit uição´ (LC) que pode remeter para a relação com mm substituto materno. A diferença de espécies (cabra e porco) pode ou não ser notada pela cr iança, o car tão pode marcar a vivencia de um abandono e de perda ou até da re jeição, pode também haver uma conotação com a erotização pela proximidade f ísica das personagens. A ³par tida´ (ver f ig.6) é o sexto car tão, apresenta como conteúdo manifesto um leitão numa estrada (CC), os pr inci pais detalhes evidenciados pelas cr ianças (D) são as árvores e as mon tanhas. Como pormenor secundár io (Dd) estão as f lores, as pedras, o predomínio do branco, e a neve no cume. O con teúdo
Fig. 6:partida
latente que podemos ver if icar aqui é o ³t ema da per tida´ (LC) que remete para a relação de dependência e para a angústia de separação (CC). Este, juntamente com o car tão número dezasseis, em que se vê o porco soz inho evoca a situaçãode solidão, 8
escolhida ou imposta, num contexto conf litual ou não. A falta de mais personagens nesta imagem vai fazer com que a cr iança tenha mais dif iculdade em cr iar a histór ia por não ter nenhum ob jecto de apoio, passando só a descrever a paisagem à volta do porco remetendo para a relação de dependência em relação à família ou amigos. O car tão número sete denominado por ³Hesit ação´ (ver f ig.7) apresenta o seguinte conteúdo manifesto: à esquerda, um porco com uma mancha negra amamen ta um dos leitões brancos. À direita, o porco e o leitão, ambos Fig.7: hesitação
brancos, bebem no bebedouro, e P N está no meio destes dois pares (CC). O facto de P N estar virado para o porco de pata negra, enquanto a sua cabeça está virada para o poço branco. O ³t ema da ambival ência ou de r ivalidade f rat erna ou de excl usão´ constitui o conteúdo latente (LC), pode remeter para o conf lito
entre a regressão e maturação no contexto de escolha do ob jecto pr ivilegiado (CC). O posicionamento dos porcos e dos leitões (dois de cada lado do P N) acentua a diferença de gerações e de sexo se a cr iança já for capaz de os perceber, pode também surgir a ideia de exclusão em relação ao ob jecto e pode haver também uma ambivalência na escolha entre estar com a mãe e estar com o pai, aqui difere de resultados para os rapazes e para as rapar igas e por ultimo pode ainda estar latente o ciúme em relação aos irmãos. A oitava imagem intitulada por ³Ganso´ (ver f ig.8) tem como conteúdo manifesto: um ganso que apanha a cauda do leitão e à direita um outro leitão escondido atrás do muro (CC). As asas aber tas do ganso e a lágr ima do leitão apanhado são os pormenores pr inci pais
Fig.8: Ganso
mais identif icado (D), ao contrár io da vedação que está em segundo plano e as f lores (Dd). O ³t ema sád ico como ret orno punitivo cont ra si ou de cast ração´ (LC) faz par t e do conteúdo latente que remete para a avaliação de agressividade versus castração (CC). esta imagem a proximidade corporal é muito refer ida pelas cr ianças, a agressividade
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pode signif icar destrutividade oral transmitindo grandes e problemáticas angústias e a denúncia de um perseguidor ou vár ios. A cr iança pode também evocar a noção de castração no caso de a agressividade evidente na f igura a ter desorganizado, e pode ainda tomar especial atenção ao sexo do µpássaro¶ de maneira a mostrar também um contexto de punição que remete para a inter ior ização do superego. 9
O nono car tão é chamado de ³br incadeiras su jas´ (ver f ig.9). Como conteúdo evidente está
caracter izado um monte de estrume e dois leitões que se diver tem na água su ja em que um dele atira água para a cara de um dos porcos e há um terceiro leitão que f ica
Fig.9: brincadeiras sujas
de fora (CC). O pormenor mais evidente para as cr ianças é o leitão que está de patas para cima (D) e o menos evidente mas reparado é a agressividade da cor preta (Dd) tornando muito confuso o reconhecimento do P N em relação aos outros leitões. Como conteúdo latente temos o ³t ema sád ico anal ´ (LC) que dir ige a atenção para a agressividade face a uma imagem parental num contexto carregado de analidade (CC). A indiferenciação dos porcos por causa da água su ja desestabiliza o esquema corporal ou o dano da integr idade, a conotação anal mostra o r isco de perder o ob jecto tanto no que toca a ataques dir igidos como à reactivação de um µhol di ng¶ defeituoso. O sexo atr i buído ao porco agredido também pode ref lectir a or ientação da escolha edi piana. O car tão ³Noit e´ com o número dez mostra uma cena no inter ior de um estábulo iluminado pela lua, dividido em duas par tes por uma divisór ia de tábuas em que de um lado se situam dois porcos, um ao pé do outro e do outro, dois leitões deitados e um terceiro em
Fig. 10: Noite
pé encostado às tábuas. O que nesta imagem é mais reparado pelas cr ianças é o facto de só se ver bem a s ilhueta do leitão de pé (D), e os secundár ios são o µquadro¶ à volta da rua e a cerca aber ta de um dos lados (Dd). O ³t ema ed i piano com voyeur i smo do quadro dos pai s´ (LC) ³pode remeter para a
cur iosidade sexual e para os fantasmas da cena pr imitiva´ (Boekholt, 2000;142), esboçando uma cur iosidade sexual em relação a sexualidade do casal parental que só pode ser evocada se a cr iança tiver acesso a esta problemática, pode também remeter para a or ientação da escolha do ob jecto, como por exemplo querer dese jar ³boa noite´ ao pai. A imagem com o número onze tem como titulo: ³N inhada´ (ver f ig. 11), na imagem vê-se que três recém-nascidos estão a mamar na porca que, bebe de um bebedouro cheio pelos caseiros, ao fundo, outro caseiro agarra um fardo de pa lha e em pr imeiro plano podemos observar três leitões atrás da vedação.
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esta imagem, os
avaliados podem aperceber-se mais da descontinuidade da vedação que permite aos três 10
leitões µespiar¶ (Dd). Aqui, ³t ema do nasciment o e da r ivalidade f rat erna´ (LC) remete para o nascimento e
para as relações precoces com a mãe. Esta imagem relaciona-se com f ig. 4 (³Carroça´) na medida em que há uma mistura de personagens (humanos e animais/ porcos grandes e poros pequenos). Nesta, evidencia-se a
Fig.11: Ninhada
oralidade e/ou sexualidade o que pode confundir as cr ianças que a estão a observar, pode dar-se uma reactivação da frustração oral que remete para uma vivência depressiva e, ainda está evidente nesta imagem, e como refere o tema, a r ivalidade fraterna em que uma cr iança pode dizer algo do género:³el es não querem t er um irmão nem irmã´ (Julie, 9anos e 8meses).
As imagens 12 e 13 são denominadas por : ³sonho mãe (e) sonho pai´ (ver f ig.12 e 13). Trata-se de dois
desenhos simétr icos em que num o P N sonha com a mãe (porco com a mancha negra) e nou tra sonha com o pai (porco branco) (CC). O pormenor mais frequentemente identif icado é facto de o porco estar virado para P N (D). O t ema de ideal do ego ou de amor ob ject al ´ (LC), que pode
estar relacionado com a ligação com a imagem materna ou paterna. A avaliação nestes dois car tões baseia-se na
Fig.12 e 13: Sonho mãe (e) sonho pai
dif iculdade de diferenciação dos sexos e a confusão dos papéis parentais, ou de gerações. Sonhar com o pai ou sonhar com a mãe, neste caso, pode signif icar uma aproximação pr ivilegiada com o progenitor do mesmo sexo ou do sexo opos to. Em ambas as imagens ³mamada 1´ e ³mamada 2´ (ver f ig. 14 e 15), P N esta a mamar no porco com a pata preta, a única diferença é que em ³mamada 2´ aparecem em segundo plano dois leitões (CC). As cr ianças reparam na cabeça do porco com a pata preta virada para P N (D) e nas ervas, pedras, chão e linha do hor izonte (Dd). Os temas latentes aqui identif icados são: o ³t ema oral , na f ig. 14 e, na f ig. 15, o ³t ema oral com r ivalidade f rat erna´ (LC). Em ³mamada 1´ o tema pode remeter para a relação com a f igura
Fig.14 e 15: mamada 1 (e) mamada 2
materna, e na outra imagem, remete para a mesma relação mas, em r ivalidade com os irmãos. A proximidade corporal explícita pode relacionar estes dois car tões com o 11
car tão do ³Ganso´ e com o car tão ³Cabra´. Está também latente o facto da nostalgia de uma relação dual que, em ³mamada 1´ pode estabelecer-se ou não apesar de não ha ja nenhum obstáculo a essa ligação. O car tão ³mamada 2´ está obviamente, carregado da ideia de r ivalidade fraterna em relação à mãe. A f igura dezasseis denominada ³ Buraco´ mostra P N num buraco com água, à noite. A violência da cor preta faz com as cr ianças dêm conta, com mais facilidade o desenho branco e, pr inci palmente na lua (D) e nas ervas altas e baixas,
Fig. 16: Buraco
e na boca aber ta de P N (Dd). O ³t ema da solidão, da excl usão e da punição´ (LC), pode remeter para um receio da separação em situação de
per igo. Este é o segundo car tão que apresenta P N sozinho como em ³Par tida´. A predominância do preto evoca a solidão num contexto depressivo e dramático, e reactiva da mesma forma medos fób icos correlativos de construções edi pianas. O eixo identitár io é pouco solicitado neste car tão porque na imagem só está representada uma personagem, P N. Esta f igura pode ser percebida em contexto ansiogénico que pode remeter para a solidão, abandono e per igos associados ao exter ior fobogénico e a cul pabilidade por ter infr ingido o interdito edi piano. O último car tão, com o número dezassete chama-se ³pequena escada (ver f ig. 17).
esta imagem podemos
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observar P N em pé sobre os ombros de um porco que também está de pé mas encostado à árvore. Acima, podem ver-se passar inhos no ninho que se apoia num ramo da
Fig. 17: pequena escada
árvore e, num outro ramo pode ainda ver-se um pássaro e um esquilo (D), e f lores, uma f iada de árvores ao fundo (Dd). Es ta imagem pode remeter para a sensação de hol di ng por uma das imagens parentais ³relação progressiva´ (LC) (Boekholt, 2000;146). Este car tão foi acrescentado por Corman devido às cr íticas que surgiam ao dizer que o teste P N pr ivilegiava a relação com a imagem materna, a f im de dar mais impor tância à imagem da f igura do pai. É apresentada neste car tão também uma ambiguidade que ³reside no eventual carácter transgressor da cena, em que o pa i segura em P N para que ele olhe para dentro do ninho´ (Boekholt, 2000;146). A cr iança pode apreciar nesta imagem o facto de o porco a judar P N e associar à relação com o pai, sólida ou defeituosa no que toca a ³segurarse´ou ³agarrar-se´. A cur iosidade sexual também se pode evidenciar neta f igura per tencente mais ao Édi po negativo nos rapazes comocarácter transgressor e conf litual. 12