Seminário 21 Os Não-tolos erram (1973-1974)
Lição 1 – 13/11/73 – A cn!a"em
“Eu acreditava que havia passado”, essa crença deu-me a oportunidade de aperceber uma coisa, que eu chamo o passe. Isso dá a oportunidade de ver um certo relevo daquilo que fiz até aqui, que se escreve “ les non-dupe non-dupes s ”. ! que quer dizer um “ erre”" # al$o como um embalo, o impulso de errent ”. al$u al$uma ma cois coisa a quan quando do pára pára aqui aquilo lo que que prop propul ulsa sa.. Ela Ela cont contin inua ua corr corren endo do %errante &. '(o é por nada que isso soa da mesma maneira que os nomes do pai. e les noms du père consoam bem. )té o fim do ano vou Les non dupes errent e faz*-los compreender um pouco melhor o que é o mot d’esprit %chiste&. 'estes dois termos está o mesmo saber, no sentido em que o ICS é um saber no qual o sujeito pode se decifrar , do su+eito tal que o constitui o I. Ele o decifra, aquele que por ser falante está em posiç(o de proceder a esta operaç(o que é até certo ponto forçada, até que atin+a um sentido. Ele se detém em um sentido no qual se deve parar nos dois casos, mesmo sendo o mesmo saber, n(o é o mesm mesmo o sent sentid ido o %dos %dos não-tolos erram e os nomes &. Isso nos deia nomes do pai pai &. suspeitar de al$uma coisa relacionada com o escrito e com a lin$ua$em %letra / ste&. '(o se espantem que eu deie aqui um estado de eni$ma, pois o enigma é o cúmulo de sentido %ima$inário&. '(o creiam que a identidade fonemática entre os não-tolos erram e os nomes do pai , n(o creiam que n(o ha+a a0 eni$ma para mim mesmo, e é disso que se trata. Isso esclarece o su+eito no sentido em que isso dá tra#al!o a voc*s. 1ara mim é etenuante dar trabalho a voc*s, mas é o meu papel. ! trabalho vem de “tripalium” que é um instrumento de tortura de tr*s pés. ! trabalho tal qual n2s conhecemos pelo I é o que faz relaç3es com esse saber pelo qual n2s somos atormentados 4 é o que faz dessas relaç3es, o $ozo. ) criança criança autista está a tra#al!o $o "o%o" ) serviço serviço de que ela repete, itera" 1ara 5reud %6789&, o trabalho ps0quico se define pelo trabalho de li$aç(o. Em 68:: 68 ::,, 5r 5reu eud d fa fala la do tr trab abal alho ho do doss so sonh nhos os qu que e se re real aliz iza a at atra ravé véss do doss mecanismos de condensaç(o e deslocamento. om ;acan, trabalho ps0quico $anha sentido como articulaç(o si$nificante. ! trabalho com o saber do I nos atormenta e faz relaç3es com o $ozo. 'a arta 9<, o aparelho ps0quico
para 5reud é uma estrutura n(o acabada e que está em constante trabalho de rearran+os de inscriç3es que ocorrem em diversos tempos e r e$istros. Em 68<: no ensaio “)lém do princ0pio do prazer”, 5reud apresenta o +o$o do fort-da como a resposta da criança ao ecesso traumático da eperi*ncia de aus*ncia da m(e, isso ei$e da criança um trabalho. 'este +o$o, a criança por meio do simb2lico busca ser ativa diante de uma eperi*ncia vivenciada como passiva, por isso, ela repete o +o$o, as brincadeiras. =á um trabalho de li$aç(o do ecesso pulsional a representantes na repetiç(o %iterar&. om o que resta de inassimilável, isto faz com que o su+eito se+a posto a trabalho novamente, ele repete em torno de um ob+eto. )s crianças autistas est(o submetidas a um trabalho forçado no sentido da tentativa errante de concatenar si$nificantes, inscrever um <, através do descompletar o !utro %os fen>menos estereotipados podem ser lidos assim&. ?rabalho eaustivo de tentar furar o !utro maciço etraindo dele o ob+eto, no pr2prio corpo e em situaç3es espec0ficas. ) criança autista tenta construir limites, entre um dentro e um fora, por meio da manufatura de bordas, sendo realizado muitas das vezes com produtos do pr2prio corpo, por eemplo as fezes, delimitando o eu e o !utro. @ual é a l2$ica do trabalho concedido aos ob+etos" A- Baleval % Le autiste e as voi & confere especial cuidado com os autistas em relaç(o aos ob+etos voz e olhar, os quais tem relaç(o com o dese+o do !utro %;aurent, E., <:6C, p$ 9D&. )o ob+eto voz o valor de portador de uma sin$ularidade que o su+eito autista n(o suporta, que ele demonstra pela recusa de interlocuç(o, quer nos enderecemos a ele, quer ele tenha que se endereçar ao !utro. ) marca do $ozo n(o é etra0da da fala, a ponto de viver a emiss(o da fala como uma verdadeira mutilaç(o. 5alar é como “esvaziar-se”. 'o autismo eiste uma dissociaç(o entre a voz e a lin$ua$em. '(o incorpora a voz como um 2r$(o. ! su+eito autista “se $oza” sem o tra+eto da puls(o que poderia articular seu corpo ao outro. ! imaginário é uma dito-mans(o %dit-mansion 4 casa do dito& t(o importante quanto as outras. Isso se v* na matemática porque ela concerne o real que o simb2lico veicula. @ue n(o o veicula sen(o pelo que constitui o simb2lico, ou se+a, sempre cifrado %dimens3es do dizer&. ! imagin"rio é o que detém o deciframento , é o sentido, que pára em al$um lu$ar, é sempre uma intuiç(o daquilo a ser simbolizado. m va$o $ozo. ) dominFncia do corpo, da anatomia, é sempre por meio da intuiç(o. ;aurent %<:6C, p$. 9C& afirma que a aplicaç(o da psicanálise G cl0nica do autismo consiste em permitir ao su+eito livrar-se de seu estado de retraimento homeostático de um corpo encapsulado. 1ara o autor, isso sup3e tornar-se o novo parceiro desse su+eito, com eclus(o de qualquer reciprocidade ima$inária e sem a funç(o da interlocuç(o simb2lica.
) l2$ica esvazia a intuiç(o. Eistem tr*s dito-mans3es que eu as escrevo e que se chamam o imb2lico, o Ima$inário e o Heal. '(o é como as coordenadas cartesianas da velha $eometria. # um espaço que se determina de uma maneira inteiramente outra. # uma $eometria que se determina pela cunha$em %coinça$e 4 cunha$em& das ar$olas. ma dimens(o constran$e a outra. ?r*s ar$olas que se se en$ancharem ficam inseparáveis. ) cunha$em se escreve em um ponto onde as tr*s se en$atam % se coincent &.
5reud coloca no fim das “ Science des #$ves” uma quest(o acerca da realidade ps0quica e do real. ;acan marca a importFncia esma$adora do simb2lico, aos olhos do ima$inário. Entretanto, a ima$em do espelho é completamente real que ela se+a invertida. '(o há nada de mais especular que um n2. ! espaço é orientável %intuitivo, $eométrico&. =á um n2 levo$iro e um n2 detro$iro %direita&. # do lado do I que se franqueia o lin$u0stico. # por estender o procedimento matemático que consiste em se aperceber do que há de Heal no imb2lico que é por a0 que é desenhada para n2s uma nova passa$em, quando há uma impossibilidade. e na l0n$ua, a estrutura, é preciso ima$iná-la, n(o será isso o que eu adianto pela f2rmula “ les non dupes-errent ”, os não tolos erram " =á al$uma coisa na idéia de tolice que ela tem um suporte a tola %la dupe 4 a cotovia 4 la huppe&, é considerada estpida, o passarinho que cai na armadilha. Je que $*nero é o n(o tolo" ! casamento como tolice rec0proca. # bem nisto que casamento é amor, os sentimentos s(o sempre rec0procos. ma mulher n(o se en$ana nunca, n(o no casamento. e$undo hamfort, uma das melhores raz3es para n(o se casar nunca é n(o se é completamente o tolo de uma mulher, a n(o ser que se+a a sua. ua mulher ou sua tola" ! n(o-tolo erra. %rrar resulta da conver$*ncia de error com al$uma coisa que n(o tem nada a ver, que é aparentado com err&ncia , com o verbo iterare. Iter tem relaç(o com via$em. # bem por isso que o cavaleiro errante é simplesmente o cavaleiro itinerante . Errar vem de iterare que n(o tem nada a ver com via$em, pois quer dizer repetir. 1ortanto, o tolo' itera e o não-tolo segue o camin(o' o itiner"rioK
!s n(o-tolos s(o aqueles que se recusam G captura do espaço do ser falante, que se prote$em de toda liberdade de aç(o, há al$uma coisa que é preciso saber ima$inar, é a absoluta necessidade n(o de uma errFncia, mas de um erro. 1ara tudo que é da vida e ao mesmo tempo da morte há uma ima$inaç(o que n(o pode sen(o suportar todos aqueles que da estrutura se querem n(otolos que sua vida n(o é mais que uma via$em. ) vida é aquela do viator. ) idéia do desenvolvimento. E é no que querendo reduzir a isso a análise, falha-se, faz-se o erro completo, o erro radical quanto ao que é do que o I descobre. 5reud nos diz sem ambi$uidade no ltimo pará$rafo da ?raumdeuntun$, “e o valor dos sonhos para o conhecimento do futuro”, fazendo alus(o G adivinhaç(o dos sonhos. ! valor do sonho, enquanto descoberta do I, é estruturado pela indestrut0vel demanda enquanto que ela é sempre a mesma zum Ebenbild %que itera&L ou se+a, ele repete. 'a estrutura do desenvolvimento do ser entre nascimento e morte, ela n(o cede. ! dese+o é sempre o mesmo. 1or n(o se querer mais presa % dupe& da estrutura que se ima$ina da maneira mais louca a noç(o de via$em % nãotolos&. !s que n(o s(o % dupes& presas do I % tolos&, quer dizer, que n(o fazem todos os esforços para a0 se colocarem, que n(o veem a vida sen(o do ponto de vista do viator . ) funç(o ima$inária do viator deve nos precaver contra toda metáfora que procede da via como estando na estrutura. Bas, será que se está se$uro de n(o haver sen(o uma via" !u mesmo de que a noç(o de via, de método, valha al$uma coisa" erá que isso n(o seria assim se for+ássemos uma ética inteiramente outra, uma ética que se fundaria sobre a recusa de ser n(o-tolo sobre o procedimento de ser cada vez mais fortemente presa desse saber deste I que, afinal de contas, é o nosso nico quinh(o de saber. Hecusa de ser es&erto – 'tica $o tolo – &resa $o S*
Jescartes, o $*nio astuto. É preciso ser tolo, quer dizer, colar na estrutura . Em qualquer ponto em que estiver esta estrutura n(o muda. Esta estrutura tem relaç(o com um saber.
Lição 2 – 2+/11/1973 – Os limites $a inter&retação
Eu sou tolo o bastante para n(o errar" Errar quer dizer, eu me colo o suficiente ao discurso psicanal0tico. Esse discurso, para n(o esquecer, se eu n(o me colo completamente nele, é porque eu o fundei.
@uando se trata de ser tolo n(o se trata de ser tolo de minhas idéias, porque estas quatro letras n(o s(o idéias. ) matemática de 5reud se$undo sua l2$ica e o seu discurso errante, quer dizer, o modo que ele tentava tornar este discurso em discurso cient0fico. Era esse seu en$ano %erre&. E isto que o impediu de fazer a matemática. ! discurso cient0fico leva em conta o que faz buraco que n(o colam G sua estrutura, está escondido. ! fen>meno oculto está fora, é diferente, está em outro lu$ar, inacess0vel ao discurso que o despreza. obre a 7M ediç(o da ?raumdeutun$, ) si$nificaç(o oculta. obre o oculto o discurso cient0fico n(o en$loba. 5reud se perturbava com o oculto e, ele o abordava por en$ano %erre&. 1or en$ano concernente ao discurso cient0fico, porque ele ima$inava que o discurso cient0fico devia levar em conta todos os fatos. Isso era um puro en$ano %erre& levado até o erro %erreur&. ! discurso cientifico s2 leva em conta os fatos que n(o colam G sua estrutura. Je sorte que leva em conta todos os fatos que fazem buraco no seu sistema. Bas, o que n(o é de +eito nenhum do seu sistema, ele n(o quer saber, por isso, se perturba com os fen>menos ocultos. )quilo que está escondido é o que é escondido pela forma do discurso, mas o que n(o tem absolutamente nada a ver com a forma do discurso, n(o está escondido, está noutro lu$ar %alhures&. '(o eiste nada de comum entre o I e o oculto. ! I é fundamentalmente lin$ua$em. Ebenbild %repetiç(o do real, é sempre a mesma coisa, atemporal& acompanha o su+eito estruturando o seu dese+o %na iteraç(o&. # em relaç(o G vida, enquanto via$em, que se pode dizer que há uma parte que é passado e uma outra que se chama futuro. Estas inscriç3es do dese+o indestrut0vel se$uem o deslizamento, e ao mesmo tempo ela o detém, o fia. =á I no sonho. ! dese+o é indestrut0vel e invariante no teto n(o publicado de 5reud “!s limites da interpretaç(o”. onferir no Nol. OIO, 5reud, ensaio sobre a oculta “ )edeutung ”, “!s sonhos e o ocultismo”, sentido dos sonhos. 1ara 5reud, nossas atividades, “o que se pensa”, as atividades do esp0rito, é o que é $eralmente desi$nado como pensamentos. obre a ética da psicanálise, um ob+etivo til, ou aquilo que elas puam, é o mais-de-$ozar. Lustge*inn, $ozar o menos poss0vel, o m0nimo. omos empre$ados da lin$ua$em, escravos individuais do $ozo.
! ciframento em torno do sonho é unicamente sobre a construç(o que é dimens(o da lin$ua$em e n(o tem nada a ver com a comunicaç(o. ) relaç(o do homem com a lin$ua$em sobre a aborda$em de que o si$nificante é um si$no, que n(o se diri$e sen(o a outro si$no, si$no a si$no, isso determina um su+eito, por seu efeito. E o su+eito basta que ele sur+a de al$uma coisa que n(o pode ter +ustificativa sen(o em outro lu$ar, que s2 no sonho pode-se v*-la, a saber, que a operaç(o de ciframento é feita pelo $ozo %ou para o $ozo&. )s coisas s(o feitas para que o ciframento se $anhe al$uma coisa que é o essencial do processo primário, a saber, um Lustge*inn, m0nimo de $ozo. iframento escrita oculta, transformaç(o dos s0mbolos num teto. Jeciframento traduç(o de um teto cifrado. 1or que o sonho funciona" 1ara prote$er o sono, afirma 5reud. E ele depende do I, quer dizer, da estrutura do dese+o. =á um sentido seual que sempre escapa %ao Isso&. 'o sono ocorre um m0nimo de $ozo, há um momento em que ele murcha, ficando no $ozo. ! ciframento que está no $ozo, pode-se ver que é com efeito, o ciframento do sonho %por meio dos mecanimos de condensaç(o deslocamento, fi$urabilidade&. # nesta direç(o que é preciso ver o $ozo. E o sentido é em suma, bastante, curto. '(o há DP sentidos que se descubra num sonho %non-sens&, n(o há sentidos seuais, a n(o ser a escrita, ou inscrita num matema, isso sempre escapa. ! sono fica ao abri$o do $ozo. ) funç(o do ciframento é n(o ultrapassar certos limites. E a lin$ua$em é feita assim. ! que faz com que a relaç(o seual n(o possa se escrever, nem se inscrever, é +ustamente o buraco a0 que obstrui toda a lin$ua$em enquanto tal, o acesso do ser falante G al$uma coisa que bem se apresenta, como um certo ponto tocando o Heal, que é a natureza da lin$ua$em. ! efeito da interpretaç(o. 1ara me limitar a isso que eu devo ficar colado, eu devo ser tolo ou mais tolo ainda sem me forçar, porque se eu for tolo me esforçando, eu escreveria o discurso sobre as pai3es do amor. e esforçando conse$ue-se n(o errar. Isso cola, o amor acontece assim. @ue quer dizer que a interpretaç(o é incalculável nos seus efeitos" Isso quer dizer que seu nico sentido é o $ozo que faz obstáculos a que a relaç(o seual n(o possa se inscrever. ! resumo do contin$ente se define sen(o do incalculável. ) telepatia utiliza dos restos diurnos para funcionar. ! sonho é feito de uma série de ciframentos e eles est(o constitu0dos pelos restos diurnos. e verdadeiramente a estrutura é pontuada pelo dese+o do !utro, enquanto tal, se o su+eito +á nasce inclu0do na lin$ua$em e +á determinado no seu inconsciente pelo dese+o do !utro, por que n(o haveria entre tudo isso uma certa solidariedade" ! I n(o eclui o reconhecimento do dese+o do !utro, em
outros termos, a rede, a trama da estrutura na qual o su+eito é um determinado particular, é conceb0vel que ela comunique com as outras estruturas, as estruturas dos pais, certamente, e porque n(o, de vez em quando, com estas estruturas que s(o, aquelas de um desconhecido, por pouco que sua atenç(o este+a assim um pouco além, sublinha 5reud. ! telepata %“adivinhador”, ocultismo& saca o dese+o do su+eito.
;iç(o D 4 66Q6
'2 borromeano é apresentado. “! passe”, o testemunho. e dedicar a responder a n(o importa quem a n(o importa o que, a responder ao discurso anal0tico. '(o basta ser tolo para n(o errarK %!s n(o-tolos se$uem uma via$em - itinerário, !s tolos s(o presas do I - iteram&.