48
EGO ATRAPALHA BUSCA POR VIDA FORADATERRA
ESPECIAL
OLIMPÍADA 19%
GALILEU.GLOBO.COM
54
MANDAMOS UM REPÓRTER AO SUDÃODOSUL
07
GOVERNO GASTA MILHÕES COMDOCUMENTOSINÚTEIS
DAV DA VERBA ERBAD DOSJ OS JOGOSS OGOSSER ERÁÁ GASTACOMTECNOLOGIA
INTERNETFIXA:TRÊS INTERNETFIXA:TRÊS EMPRESASCONTR EMPRESASCONTROLAMOFERT OLAMOFERTAA DOSERVIÇO P.27
Em média, as brasileiras brasileiras são assediadas pela primeira vez aos 9 anos. anos. Ente Entend nda a por que a sexua sexuali liza zação ção de meninas meninas é tratada tratada como normal e quais são as consequências consequências disso na vida delas
R$14,00 EDIÇÃO
299
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% 5 E A 5 6 6 , , T 4 4 . . N D X X A I O O R N B R P I P S I A A L L S O A A A R R E R E E D D E E D P F F A R A I I R A A R Á Á L T T D P U U B B I I M N R R E E T T A X A G G E V R IPAD R
EDIÇÃO DIGITAL
A A C C
JUN. 16
COMPOSIÇÃO
DIRETOR-GERAL: Frederic ZoghaibKachar DIRETORDEMERCADOLEITOR: LucianoTouguin LucianoTouguinhade hade Castro Castro DIRETORDEMERCADOANUNCIANTE: VirginiaAny VirginiaAny
JUNHO JUN HO 2016
ANT A NT I M AT É RI A DIRETORADEGRUPOCASAECOMIDA, CASAEJARDIM,CRESCEREGALILEU:PaulaPerim EDITORESEXECUTIVOS: CristineKist CristineKist (texto)e (texto)e Rafael Rafael Quick(arte) Quick(arte) EDITORES: Giulianade Giulianade Toledo,NathanFernand Toledo,NathanFernandese ese Thiago Thiago Tanji Tanji REPÓRTERES: AndréJorgede Oliveirae Oliveirae IsabelaMoreira IsabelaMoreira DESIGNERS: FelipeEugênio(Feu),FernandaDidinie FelipeEugênio(Feu),FernandaDidinie JoãoPedroBrito ESTAGIÁRIOS: BrunoVaianoe BrunoVaianoe LucasAlencar(texto) LucasAlencar(texto) eGiovanaAnsoain(arte)
ARRUMANDOOARMÁRIODA BUROCRACIA P. 07
COLABORADORESDESTAEDIÇÃO: AgênciaCartola,AgênciaFrontei AgênciaCartola,AgênciaFronteira,DouglasUtesche ra,DouglasUtescher,ElaineGuerini, r,ElaineGuerini, FellipeAbreu FellipeAbreu (texto).BeatrizLiranço (texto).BeatrizLiranço,, BernardoBorges,Dulla,EstúdioBarca, BernardoBorges,Dulla,EstúdioBarca, EvandroBertol,GuilhermeHenriq EvandroBertol,GuilhermeHenrique,HoracioGama,JorgeOliveira, ue,HoracioGama,JorgeOliveira, MarcusPenna,MoisesCosta,RafaelaAlves,Rômolo,Tomá MarcusPenna,MoisesCosta,RafaelaAlves,Rômolo,Tomáss Artuzzi, Artuzzi, VanessaKinoshita VanessaKinoshita,, Zansky Zansky (arte).MoniqueMuradVellos (arte).MoniqueMuradVelloso o (revisão (revisão))
VII D A D E P E D E S T R E V
É DIFÍ DIFÍCIL CIL
CARTASÀREDAÇÃO:
[email protected] ASSISTENTEDEREDAÇÃO: Gabriela Nogueira
P. 17 MERCADOANUNCIANTE UNIDADEDENEGÓCIOS—PEGN,GR,AE,GALILEU DIRETORDE NEGÓCIOSMULTIPLATAFORMA: NEGÓCIOSMULTIPLATAFORMA: RenatoAugustoCassisSiniscal RenatoAugustoCassisSiniscalco co EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA: EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA: Diego Diego Fabiano,João Fabiano,João Carlos Carlos Meyer, Meyer, PriscilaFerreiradaSilva PriscilaFerreiradaSilva e CristianeSoaresNogueir CristianeSoaresNogueiraa
? E H C I D I Í
CONSULTORADEMARCASEGCN: OliviaCipolla OliviaCipolla Bolonha Bolonha UNIDADEDENEGÓCIOS—ESCRITÓRIOSREGIONAIS GERENTE MULTIPLATAFORMA: SandraRegina SandraRegina deMelo Pepe EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA: EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA: Lilian Lilian deMarcheNoffse GuilhermeIegawaSugio GuilhermeIegawaSugio
UNIDADEDENEGÓCIOS—BRASÍLIA GERENTE MULTIPLATAFORMA: BarbaraCosta BarbaraCosta Freitas Freitas Silva EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA: EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA: CamilaAmaralda CamilaAmaralda Silvae JorgeBicalhoFelix JorgeBicalhoFelix Junior Junior
ACOR AC ORDO DO DE PAR ARIS IS
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UNIDADEDENEGÓCIOS—DIGITAL DIRETORA: RenataSimõesAlves RenataSimõesAlves deOliveira EXECUTIVASDENEGÓCIOSDIGITAIS: AndressaAguiar AndressaAguiar Bonfim,GiovannaSellan Bonfim,GiovannaSellan Perez,LilianRamos Perez,LilianRamos Jardime Jardime Taly Taly CzeresniaWakra CzeresniaWakratt
UNIDADEDENEGÓCIOS—RIODEJANEIRO GERENTE MULTIPLATAFORMA: RogérioPereiraPoncede RogérioPereiraPoncede Leon EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA: EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA: Andréa Andréa ManhãesMuniz,Daniel ManhãesMuniz,Danielaa Nunes LopesChahim, LopesChahim, JulianeRibeiroSilva,MariaCristinaMacha JulianeRibeiroSilva,MariaCristinaMachadoe doe PedroPauloRiosVieirados Santos Santos
OFUTURODO
0 P. 13 1
O M E V E D N O E D
P. 20
DONNIE DON NIE DAR DARKO KO
ORETORNO
GERENTEDEEVENTOS: DanielaValente COORDENADORESDAOPECOFFLINE: JoséSoares, Carlos Carlos RobertoAlves RobertoAlves deSá eDouglasVieirada Costa
P. 14
PREPAREM AS TO TOAL ALHA HAS S
INOVAÇÃODIGITAL DIRETORDEINOVAÇÃODIGITAL: AlexandreMaron GERENTEDEESTRATÉGIADECONTEÚDODIGITAL: Silvia Balieiro TECNOLOGIA DIRETORDETECNOLOGIADEINFORMAÇÃO: RodrigoJosé RodrigoJosé Gosling Gosling GERENTEDETECNOLOGIADIGITAL: Carlos Carlos EduardoCruz EduardoCruz Garcia Garcia DESENVOLVEDORES: Everton Ribeiro, JefersonMendonça, LeonardoTurbia LeonardoTurbianie nie Victor Victor HugoOliveira HugoOliveira daSilva OPECONLINE: DaniloPanzarini,HigorDanielChabes DaniloPanzarini,HigorDanielChabes,, RodrigoPecoschi RodrigoPecoschi,, RodrigoSantanaOliveirae RodrigoSantanaOliveirae Thiago Thiago Previero Previero MERCADOLEITOR DIRETORDEMARKETING: CristianoAugustoSoaresSantos CristianoAugustoSoaresSantos GERENTEDECRIAÇÃO: ValterBicudoSilvaNeto ValterBicudoSilvaNeto GERENTEDEINTELIGÊNCIADEMERCADO: Wilma ConceiçãoMontilha COORDENADORDEMARKETING: EduardoRoccatoAlmeida EduardoRoccatoAlmeida ANALISTADEMARKETING: AlineNammurCarrijo GERENTEDEOPERAÇÕESEPLANEJAMENTODEASSINATURAS: Ednei Zampese GERENTEDEVENDASDEASSINATURAS: ReginaldoMoreir ReginaldoMoreiraa daSilva
P. 11
CHÁ CHÁ DE CO COGU GUME MELO LO
CARETA DE
BABEL GALILEUé GALILEUé umapublicaçãodaEDITORAGLOBOS.A.— c açãodaEDITORAGLOBOS.A.— Av.Novede Av.Novede Julho,5.229,8º Julho,5.229,8º andar, CEP01406-200,São Paulo/SP.Tel. Paulo/SP.Tel. (11)3767-7000.Distribuidorexclusivopara (11)3767-7000.Distribuidorexclusivopara todoo Brasil: Dinap— DistribuidoraNacionalde Publicações.Impressão:Plural IndústriaGráfica Ltda.Av.Marcos Penteadode UlhoaRodrigues,700, Tamboré,Santana Tamboré,Santana deParnaíba/SP,CEP 06543-001.
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10
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DENTRODA DENTRODA CAIXA CAIXA
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P.21
VISISTA V TA A CA CAMI MISA SA DA MACONH MACONHAA
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P.87
De Rebecca Donovan , autora best-seller da trilogia Breathing
E sE você tivEssE uma sEguNda chaNcE dE c o N h E c E r a lg u é m p E l a p r i m E i r a v E z ?
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PRIMEI � RAMENTE 06. 2016
COLABORADOR DO MÊS
CAPA
FOTO Tomás Arthuzzi MAQUIAGEM Moisés
Costa
MODELO Rafaela Alves
WWW.G ALILEU.G LOB O.COM
POR CRISTINEKIST E RAFAEL QUICK
1
2
PARTYIN THEUSA
O LIXO E O LUXO
A editorade arte FernandaDidinifoi a Nova York acompanhada do agora ex-editor executivo RafaelQuick e do designerRodolfo França paraparticiparda cerimônia de premiação da Societyof Publication Designers(SPD). GALILEU recebeu três reconhecimentos de excelência pelonovo projeto gráfico,que es-
Éasegundavezem menos detrêsmeses quea GALILEU recorreao Centro deDescarte e Reúsode Resíduos de Informática (Cedir) daUSPparauma matéria.Na edição deabril,oórgão foifonte para o Dossiê ObsolescênciaProgramada. Neste mês,cedeu seu acervo para as fotosde outro dossiê, este sobre banda larga (p. 27).
treouem novembro.
pânico: em seu lugar cou a excelente Fernanda Didini, que já era designer da revista e colaborou muito na última mudança de projeto gráfico. Foi também a Fernanda que fez a (linda) capa desta edição. Com a promoção dela e a chegada de Giuliana, estamos — ao contrário do ministério formado pelo presidente interino
NÃO APRENDI DIZER ADEUS, MAS TENHO QUE ACEITAR M
aio foi um mês de muitas mudanças na GALILEU. Nathan
Fernandes, que se participasse de um reality show poderia ser classicado tanto como jornalista quanto como “personalidade da mídia”, tamanho é o seu fã-clube na internet, assumiu a edição do nosso site. Para o lugar dele na revista veio Giuliana de Toledo, ex-repórter da Folha de S.Paulo e uma das
Michel Temer — mais perto de alcançar um ambiente de igualdade numérica entre homens e mulheres. O resultado disso são reportagens como a que você lê
conheci. Neste mês, ela chegou aos 48 do segundo tempo e já editou a reportagem especial sobre Olimpíadas ( página 70). Enquanto isso, tal qual um vo-
na página 36 e a mudança de alguns lugares-comuns do jornalismo, como uma regra criada sabe-se lá por quem que determina que, enquanto os entrevistados homens são tratados pelo sobrenome, as mulheres são citadas sempre pelo pri-
calista de banda de axé, Rafael
meiro nome. É só um pequeno
Quick resolveu seguir carreira solo depois de um ano brilhante à frente do núcleo de arte da
passo na direção da igualdade, mas, em época de tantos passos
pessoas mais talentosas que já
GALILEU. O título deste texto, por sinal, faz referência à saída
para trás, já é melhor que nada. Cristine Kist
Fellipe Abreu PROFISSÃO Fotojornalista IDADE 31 anos ONDE MORA São Paulo QUANTOS PAÍSES CONHECE 22 Fellipe passou duas semanas no Sudão do Sul, o quarto país mais violento do mundo, para fazer a reportagem que você lê na página 54.
AMO/SOU CORRENTE DE WHATSAPP
Em maio, umamatéria antiga do nosso site sobre uma tempestade solar recebeu mais de 700 milcliques sem explicação. Descobrimos maistarde que uma corrente do WhatsApp dizia quea taltempestade seria “hoje”e pedia que os usuários desligassem o celular para queele nãoestragasse.
REVISTA NÃO É PASTEL Fazer revista é um trabalho complicado. Todo mês, nós aqui da GALILEU temos que criar mais de 80 páginas de conteúdo relevante, bem escrito e bonito. É uma grande responsabilidade: dinheiro, papel, tinta, transporte. E, claro, existe a pressão para transmitir a informação correta para quem nos lê. Tudo o que escrevemos nestas páginas é absorvido por milhares de pessoas que nos confiam tempo — e dinheiro — a cada edição. Temos ainda mais respeito por nossos 90 mil assinantes, que pagam com antecedência sem saber sequer qual vai ser a capa dos meses seguintes. E é aí que nosso trabalho fica complicado. Como disse antes, nós fazemos um produto diferente. Não é pastel, não é sabonete, é revista. A constante aqui é a mudança, temos que abordar novos assuntos todos os meses. Como então podemos
e entregar a vocês o produto que esperam? Mais do que jornalistas e designers, somos leitores da GALILEU. Para manter esta revista viva e se reinventando precisamos de pessoas que estejam aqui com todo o coração. É por esse motivo que escrevo hoje para me despedir e abrir espaço para outra pessoa brilhar: a talentosíssima Fernanda Didini. Assumi a direção de arte há um ano, com o objetivo de reposicionar a revista, dar a ela além de uma cara nova, relevância. Hoje saio com a sensação de missão cumprida, não só pelo trabalho que fiz mas também por ver aqui uma equipe capaz de continuar melhorando a cada edição. Duvida? Basta olhar esta edição, que já foi feita toda por eles. É muito orgulho! A todos, um grande abraço (já com saudades),
CON � SE � LHO
P O R
S N E A D T N H A A N N R E F F E R N N A A H N T D A E N R S O
Edição mai ./2016
Depoisdemuitaponderação,escolhemos osconsultoresmaisimplacáveisdoBrasil paraavaliararevistanospróximosmeses
OS BONS CONSELHEIROS
P
ÁREAS DE INTERESSE
CIDADE �ESTADO Número de inscritos por estado
22%
Tecnologia Astronomia
27% 17,1%
Matemática 3
1
8
8
Biologia
5 8
3 1
6
História
3 19 55
Filosoa
5 6
3% 0,3%
Ocultismo
0,3%
Linux
0,3%
258
35%
Viajar
MATÉRIAS MAIS ELOGIADAS
15%
Trabalho voluntário
35% GÊNERO
17%
Estudar
Tocar em uma banda
5%
Permacultura
25
Nascer
3%
Psicologia
4 86
Formar família
14%
Direito
5 4
S I A Á M J A Ê S I C O O ? V C A E D A I I U V O Q F L A L A N A Z G U E E Q L F
5%
Jornalismo
2
1
Total
3%
15% CIENTISTAS DESCOBREM
5%
BURACO NEGRO FORMADOPOR TRÊS GALÁXIAS ESPIRAIS
7%
22% O BANDIDOESTÁMORTO
8%
5% PRESIDIÁRIAS
Construir um HAL 9000
0,3%
Treinar arte samurai
0,3%
10% ATIVISMO VIRTUAL
Fumar cânhamo na Pedra do Arpoador
0,3%
2% APSICOLOGIAAPLICADA
BRASILEIRAS
A EDUARDOCUNHA 7% MÁ-FÉ
OS ESCOLHIDOS
1% AERADAAUTODESTRUIÇÃO
Antonio M. Júnior Matão, SP CamilaAcosta São Paulo , SP Camila Oliveira PortoAlegre,RS Daniel Oshiro SãoPaulo, SP
DanielaM. de Morais Campinas,SP EllenR. daSilva Goiânia,GO Gislaine BastoMilani Maringá,PR Jean S. dosSantos Maceió,AL
JoãoBonorino PortoAlegre,RS JoãoV. Ravaneda Riode Janeiro, RJ JúliaC. deCastro Belém, PA Juliano Santanna Riode Janeiro, RJ
Kelly Miranda SãoPaulo,SP Lilian Capitanio Diadema,SP LucasMartinsCosta Teresina, PI Marlon Neto Curvelo, MG
Orlando Lustosa Piripiri,PI SávioFélix Mota Fortaleza, CE Thyago Nogueira Fortaleza, CE
3% OQUESERÁDEMARIANA
DEPOIS DE TANTA LAMA ERRARÉHUMANO O histerometro é utilizado antes da curetagem, e não após como consta no texto Dossiê: Aborto (edição 298)
06.2016
Pg. 07
EDIÇÃO NATHAN FERNANDES E THIAGOTANJI
ANTI� MAT� RIA
Fig. 01 -R
CIDADES DE PAPEL
06.2016
Cercade80%dosdocumentosguardadosno ArquivoPúblicodeSPsãoinúteis:étemporada decaçaàburocracia — POR BRUNO VAIANO
DESIGN BERNARDO BORGES
ILUSTRADORES CONVIDADOS 1 ROMOLO �R� 2 3
GUILHERME HENRIQUE �GH� HORÁCIO GAMA �HG�
1.083,98TO Pg. 08 06.2016
é o peso do papel eliminado dos órgãos públicos de São Paulo. É só 2% do que poderia ir para o lixo. Você abre o armário. Uma pilha de roupas amassadas escorrega e cai aos seus pés, anunciando a inevitável bagunça. Deu preguiça só de pensar em arrumar tudo isso? Marcelo Henrique de Assis, diretor do Centro de Gestão Documental do Arquivo Público do Estado de São Paulo (Apesp), conhece essa sensação como ninguém. Em 2010, sua equipe abriu o “armário” de documentos do Departamento de Trânsito de São Paulo, o Detran: a ideia era dar uma mãozinha na arrumação dos papéis do órgão, desenvolvendo uma tabela que explica quanto tempo um determinado documento precisa ou não car guardado antes de ser descartado de acordo com critérios de relevância jurídica e cultural — uma ciência chamada arquivologia. Cinco anos depois, o método deu certo e 82.157 caixas de arquivo, repletas de pedidos de CNH, multas, ofícios, cartas e até abaixo-assinados, foram enviadas para reciclagem. Nada disso tinha validade legal ou histórica. Os galpões que essa papelada ocupava eram alugados por
R$ 850 mil para fazer a manutenção do local. A economia de quase R$ 1 milhão para o estado paulista, porém, é só a ponta do iceberg para os arquivistas. Em 2015, o Apesp ajudou a descartar 151.555 cai-
xas de arquivo inúteis de órgãos públicos. Empilhadas, elas alcançariam 20 mil metros, ou mais de duas vezes a altura do Monte Everest. Foi um recorde. Em
2013, 57.130 caixas foram eliminadas; em 2014, 75.532. “Nós vericamos, em 2010, 800 quilômetros de documentos guardados em órgãos públicos. E nossa nova
estimativa é de mil quilômetros, mais ou menos. É provável que 80% disso possa ser descartado sem prejuízo”, explica Assis, completando o raciocínio com uma conta rápida: “Isso dá 7.142.857 caixas de arquivo”. Como chegamos a esse ponto? “No setor público, tudo que acontece é registrado, mas os instrumentos que dão respaldo legal e social à eliminação de documentos não existiam até 2004”, explica o arquivista. Ou seja, sempre produzimos documentos, mas faz só dez anos que há uma forma de saber o que pode ou
3,5 milhões de documentosde pessoas,partidos políticos,empresas e movimentos sociais de interesse dos órgãos de repressão acumuladospelo Deops. O órgão da polícia civilpaulista era responsável pela manutenção daordem sociale política.Fundado em1924e encer-rado em 1983, ssode
ELADAS
06.2016
Pg. 09
O ArquivoPúblico de SãoPaulo é o único do Brasil cujaestrutura física foi projetada especialmente paraarmazenarartefatos históricos. Elecontém...
mapas, plantas, croquis e esboços produzidosentre osséculos16 e19
caixas de arquivo fotografias, negativos, filmese ilustrações
documentos
Ciências da Informação na USP. “Antes, quando um
rolo de lme tinha apenas 12 ou 24 poses, tomávamos muito cuidado com cada clique. Agora, tiramos 10 mil fotos, mas qual parcela disso é relevante? Não podemos digitalizar lixo só porque há espaço.” O rápido
processo de obsolescência e a diculdade de garantir a autenticidade e evitar a adulteração de documentos no meio virtual também são problemas. Hoje, podemos saber como e quando nossos bisavôs chegaram ao Brasil ao abrir um livro de registro com mais de joga fora a nota scal de uma geladeira ou fogão antes do término da garantia. Mas se você não soubesse a duração da garantia, guardaria a nota por tempo indeterminado. Imagine agora que, em vez do conserto de um eletrodoméstico, estivesse em jogo um documento capaz de provar um crime ou um papel que registra
um século de idade. Um disquete com essas mesmas informações, entretanto, não poderia ser lido por praticamente nenhum computador atual. Se o papel tem o inconveniente de ocupar espaço, ele também é me-
parte da história do país. Desde a década de 1940, com a ampliação das funções do Estado, o número de itens
dade controladas e um silêncio sepulcral, o Arquivo Público paulista não parece um dos lugares mais fas-
que é “melhor guardar” aumentou vertiginosamente.
cinantes para visitação. Mas, muito além de guardar a história das instituições, ali está a história de cada um de nós. “A partir dos anos 1990, após a queda do Muro de Berlim, surgiu na Europa a expressão ‘arquivos sen-
“O senso comum vê o documento como algo inútil, mas ele assegura a vida em sociedade, os direitos e
deveres das pessoas”, arma Ieda Pimenta Bernardes,
nos suscetível ao tempo e a adulterações.
Com quilômetros de prateleiras, temperatura e umi-
doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e responsável pela implantação do Sistema de Arquivos do Estado de São Paulo, o Saesp. Produzir documentos demais não é errado, mas precisamos saber quando cada um deles deixa de ser útil, buscando formas ecientes de processá-los e armazená-los que considerem as políticas de
síveis’, ou seja, documentos que mexem com a vida das pessoas”, destaca Marcelo Quintanilha Martins,
transparência e acesso à informação. Ler e interpretar papéis burocráticos não é uma atividade das mais
deixadas por momentos políticos mais conturbados
divertidas, mas disponibilizá-los à população é um dever de qualquer Estado democrático. Parte da solução para o armazenamento de informações poderia estar na digitalização dos arquivos,
mas o critério para seleção e arquivamento de documentos é mais importante do que a plataforma dos registros. “Digilitalizar é como fotografar com o ce-
diretor do acervo permanente do Apesp, onde boa parte da história de São Paulo está guardada, de censos demográfcos do século 18 aos arquivos da Ditadura Militar, procurados até hoje por quem busca o paradeiro de presos políticos. Ali, até mesmo as lacunas são parte da história: afnal, um governo que nada registra diz muito sobre si mesmo.
Um papel de alguns séculos de história é visto como uma relíquia, não importa sua relevância. Mas quase
ninguém percebe que, daqui a cem anos, um documento emitido hoje também será uma recordação do passado. É preciso limpar o armário e separar o útil do inútil, para dar às próximas gerações um retrato transparente
06.2016
Pg. 11
MEDICINA PSICODÉLICA Cogumelos alucinógenos são testados para ajudar a combater rejeição
FIG.03 - R
POR N.F.
em ocasiões distintas, doses do fungoda alegria e de um placebo,enquantojogavamum game online de interaçãosocial.Escaneandoseus cérebros,os psicólogosnotaramdiferençasna atividadedaqueles
NADAÉ MAISCATASTRÓFICO navidamoderna do que ver os dois riscos azuis do WhatsApp e não receber uma resposta imediata. Para resolver esse e outros problemas, psicólogos da universidade suíça de Zurique descobriram que
que receberam os cogumelos: eles eram menos afetados pelas demonstrações de rejeição do jogo e adquiriam um senso maior de comunidade. Tudo graças a uma substância chamada psilocibina. A descoberta é importante porque permite estudar áreas do cérebro que são impactadas por esse
cogumelos alucinógenossãoumpotente antídoto contraa rejeição. Os especialistascompararama atividadecerebral devoluntáriosquereceberam,
os mecanismos queinfluenciam o sentimento de exclusãosocial para identificar como curar isso no futuro.” Vale lembrar que o efeito só ocorre com a dose adequada administrada por especialistas, e nãopor amigos entusiasmados ao som de Lucy in the Skywith Diamonds.
0 Número de mulheres empossadas como ministras pelo govern
sentimentoque influenciadoençascomodepressãoe ansiedade. “Aideianão é usar a psilocibinacomo umtratamento”, afirma à GALILEUa psicólogaKatrinPreller, queliderouo estudo.“Queremos investigar
HARVARD SORRIDENTE
Famíliachinesadoamilhõesparafinanciarumcentro deestudossobrefelicidade� POR ANDRÉ JORGE A CIÊNCIA estuda como superar problemas da humanidade, tais como doenças, pobreza e violência. Mas por que não estudar também elementos positivos, como a felicidade? Criadono final de abril,
o Centro Lee Kum Sheung para a Saúde e Felicidade realizará uma abordagem multidisciplinar para
guém feliz. Entre as metas dos pesquisadores está a elaboração de um abrangente índice científico da felicidade. O dinheiro para a criação do centroveio da família
Lee Kum Kee, magnata da indústria de molho de ostras da China. Uma coisa é certa: a doação de U$ 21 milhões deve ter deixado o
S E Z I L E F S I A M S E S Í A P S O D L A R E G A T
6 2 5 . 7 a c r a m a n i D
9 3 3 . 7 a d n a l o H
7 6 2 . 7 l e a r s I
°
°
4 9 9 . 6 a h n a m e l A
2 5 9 . 6 l i s a r B
° 6
° 7
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MENOS É MAIS Construir mais avenidas não diminui o trânsito nas metrópoles POR CLARISSA BARRETO
Sabe quando você está andando a 15 quilômetros por hora no engarrafamento e pensa como seria bom se derrubassem os prédios ao redor
e construíssem mais uma pista para diminuir o gargalode carros?A realidade nãoé tão simples:
um relatório divulgado pelo estado norte-americano da Califórnia indicou que, ao adicionar 10%de novasrodovias, o tráfego total de carros
aumentou 9% em quatro anos. Ou seja, em um prazomédioo benefício zera: é só o tempo de os motoristas descobrirema nova rota. A ampliação da oferta do transporte público e a redução da velocidade nas grandesvias ainda sãoas melhores medidas para enfrentar esse problema.
TÁ TRANQUILO, TÁ FAVORÁVEL Ciência e soluções estão em alta: crise não quebrou as pernas das startups nacionais de tecnologia, como a 99Taxis POR BRUNO VAIANO
A CRISE ECONÔMICA É COMBUSTÍVEL para as startups brasileiras. “O alto grau de inovação torna essas empresas mais atraentes em momentos de crise”, diz Artur Vilas Boas, do Núcleo de Empreendedorismo da USP. Afinal, no aperto, quem perderia uma chance de economizar? “Desde 2015 tivemos boas rodadas de investimentos nas startups formadas por alunos da USP, como a 99Taxis”, afirma o especialista. Bruno Ramos, do Encontre um Nerd, aplicativo parausuários encontrarem técnicosde informática,comemora os resultados deste ano. “As startups atingem cada vez mais pessoas a um custorelativamente baixo.” Crise também pode ser oportunidade.
06.2016
Pg. 17
BIGDATASÓ PARAPEDESTRES Startup do Quênia mapeia os atropelamentos na capital do país e ajuda a evitar acidentes POR C.B. Quase metade dos 3 mil mortos por ano em acidentes de trânsito no Quênia estavam a pé — o número é bem superior aos 39% registrados em todo o continente africano, de acordo com a publicação Quartz Africa. Em uma tentativa de superar esse problema, a startup queniana Ma3Route analisou dados de tráfego e acidentes no país e, com as informações dos 500 mil usuários que utilizaram a plataforma ao longo de seis meses, criou um site que apresenta os mapas dos acidentes na capital, Nairóbi. Com esse projeto de big data descobriu-se que quase metade dos acidentes ocorreram a 500 metros de uma passarela: os pedestres se sentiaminseguros paraatravessar essasconstruções pormedo da violência. Os pesquisadores sugeriram ao poder público criar faixas de pedestres com maior frequência nas vias, além de investir em iluminação pública e infraestrutura urbana.
A CIDADE NA PALMA DA MÃO Novos aplicativos de mobilidade ganham as ruas brasileiras BLABLACAR
Com mais de 20 milhões de usuários no mundo, o serviço permite que o condutor do carro publique o trajeto e combine um ponto de encontro com o passageiro. O valor da “carona” é sugerido pelo aplicativo. T81
Lançado no final de março na cidade pernambucana de Jaboatão dos Guararapes, o aplicativo oferece transportes compartilhados. A empresa afirma que ovalor da corrida é até 60% menor do que o de táxis. MAVEN
Desenvolvida pela General Motors e em testes no complexo industrial da empresa, na cidade paulista de São Caetano do Sul, a plataforma conta com um aplicativo para localizar veículos disponíveis para locação. CICLOWATCH
O projeto coletará informações sobre o uso de bicicletas nas cidades do país a partir da instalação de um aplicativo. Com os dados coletados, o serviço forne-
Pg. 18 06.2016
ALGUMAS PÁGINAS ATRÁS O período colonial, a dificuldade em combater o analfabetismo e o alto preço dos livros explicam o atraso do desenvolvimento da literatura brasileira POR LUCASALENCAR E BERNARDO BORGES
é r i c a
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1 5 0 0 1 4 9 0 1 4 8 0
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R$ 34 e representa pouco mais de 0,6% do salário mínimo de R$ 5.897. Em 2015, as quatro publicações mais procuradas pelo leitor brasileiro — dois títulos religiosos e dois livros de
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Decamerão, de
A A O A A L I I Ç L D U I S S I E N Á S A A T N Ú R I U R R B F O N
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EO
SALÁRIO,
Ó!
SALÁRIO M ÍNIMO*
FRANÇA
R$ 5.897
ITÁLIA**
R$ 4.020
REINOUNIDO
R$ 8.092
EUA
R$ 5.624
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colorir — somaram 1,96 milhão de exemplares vendidos. Na França, a história em quadrinhos O Papiro de César , com os personagens Asterix e Obelix, foi publicada no ano passado com tiragem de 2 milhões de exemplares.
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O livro é um artigo de luxo no Brasil: em média, o preço de um livro no país é de R$ 35, aproximadamente 4% do salário mínimo nacional, que é de R$ 880. Na França, o produto sai por
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1350
W R i l l i o a m m e u S e h J a u k l e ie s t p e ,a a d r e e
d e N f r c a n i o l O c a u O fi ê s c i M P a o fi c o m l a q r i í z n c a c u o i a l i ç i i p ã a d e o v d i , o o m d e l p a a o í s
P e d r o Á l v C a r r i e s t s ó C v ã a b o r a l C o l c h o m e g b o a a o c h e B g a r a s à i A m l
P o p u l a r A i z a D i ç ã o v i n a d a C í n o m l F g u n é d u a d a i i a ç ã g e , d n o d e D l s a a B a n t m o i b l e A d i o t e e c l i h r n a g a N i e r a c i i o n a l d a J o U n F r a n a p h a n n i fi c a ç a ç r e n e s ã o s a G u d a t d e e n F r a n t i p o b e r s m g c r ç a ó v i a e i s
P d ub ic li io c a n ç á ã r i o o d d o e p it r a im li a ei n r o o
RÚSSIA
R$ 310
BRASIL
R$ 880
Giovanni Boccaccio
Dados do instituto alemão WSI (Witschafts und Sozialwissenschaftliche Institut)
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06.2016
desenvolvimento tardio da literatura brasileira tem relação direta com o passado colonial do país. A Biblioteca Nacional, fundada em 1810, era basicamente composta de títulos portugueses, franceses e ingleses. Na época, somente a imprensa real imprimia e publicava no Brasil,
O
sob a tutela do imperador e da Igreja Católica, limitando a produção a obras de cunho ocial ou religioso. Como agravante, o censo realizado no país em 1876 indicava que 78,11% da população brasileira era analfabeta. Já nos Estados Unidos, um recenseamento de 1870 informava que somente 14% dos americanos não sabiam ler e escrever.
o e d i f o n e U l D o i e n i n l e a a R D n o e o i d c r e é , d o a a i d ã a o ç t o a N a l a ã ç o u s c c n ç r e e V C fi a t i e r d d i n n o o n o o s o l l U u , o ã d s b F o s ç i F B n a ã o u p i e i R d d b c ç o
a i c n â t i r B a c t e i o l b i B u d a l , a ã o i a s s e ç c a S o o u n d t o e s R F u a u t r q n c C o - J a o D e a n J
fi i i a r É o i R n r c é U
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R$24
R$34
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R$17
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p e m I
A E U s d o c i a n d ê e n p e n i d a d s i a ã o ú s R a ç d a l a m a l n o c o r i P a c a N c e i o t e i b l t y l B a l d s d O e s a ã o a n i n g ç u g u a t h I v d a t r r n n p o J o t o n F u d e i n g e a l r s a a i r t s h m í l t o C a e W a a f a c e i d d n a o c d P r e e g a C h l h o e u s t e n i o t e c a u A i b l O r g J a n e o d a B ã s o i l d e d a ç r e s d a B r a s F u n C o n g a ç ã o i a d o d o c l a m d ê n c P r o e p e n d e i n d d a c u n a m e g o r o O C t r e - D o r H u N o V i c t d e ,
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PREÇO MÉDIO DE UM LIVRO*** R$36
Pg. 19
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e d e o n d i s t o O C n t e C r n d r e M o A l e x a ,
FRANÇA
ITÁLIA** REINOUNIDO
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EUA
RÚSSIA
BRASIL
d e m a s D u
r n o o d e d o m 0 s s o o n a l c a 1 8 3 o r u N a c i p ú b l i d ç ã o t e c a a - s e t ã o r i z a B i b l i o i l t o r n o C a p i s h k i n 0 a l d u u 1 8 4 s P o p B r a A F i l h a a n d e r P A s s i s d e e x ,
UM SALÁRIO COMPRA QUANTOS LIVROS? BRASIL
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FRANÇA
EUA
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ITÁLIA**
RÚSSIA
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l o t e s d e A a c h a d 0 i v a n o n t ë M U 1 8 5 e s d o B r n t o o s V e n t E m i l y l v i l l e e d c i m d e a n M e N a s M o r r o O H e r m o n 0 ,
1 8 6 k i n s k, d e i l y D i c i a y D i c M o b e m a s d e E m ç ã o d a I t á l ó i a t e p o U n i fi c d e L i e v T o l s s k i n e a d , i é v z o 1 8 7 0 a t P C o l e t â s o e D a G u e r r, d e F i ó d o r i g o e C a s t T wa i n e m i r de Ma r k C , r e y 1880 w a
T o m S , t u r a s d e M o m p r a c e m A s A v e n O s T i g r e s d e Em i l io Sa lgar i de
Dom Casmurro, de Machado de Assis
Para determinar o preço médio do livro em cada país, usou-se como referência o custo de livros lançados em todas as nações e mundialmente
m V i a g e n t r o a o C e r a d a T e r
1890
1900
l i o d e J ú V e r n e
Brasil reduz em mais de 50% emissão de gás carbônico entre 2005 e 2010
A
queda é atribuída ao controle do desmatamento da Amazônia e do Cerrado. Além disso, um documento elaborado pelo Ministério da Ciência,Tecnologia e Inovação (MCTI) apresenta nova metodologia para cálculo das emissões de gases.
A Terceira Comunicação Nacional do Brasil (TCN), submetida à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), aponta redução de 53,5% no total de gás carbônico (CO2) emitido pelo Brasil na atmosfera, entre 2005 e 2010. Segundo o levantamento, os números caíram de 2,73 bilhões de toneladas de CO2 para 1,27 bilhão. A metodologia de cálculo desenvolvida pelo ministério é de última geração e será capaz de transmitir conhecimento para estudo do clima e efeito do gás carbônico no mundo todo. A TCN traduz o esforço brasileiro para atingir a meta de reduzir entre 36,1% e 38,9% as emissões projetadas até 2020. O estudo avalia os impactos das mudanças climáticas distribuídos em cinco setores: uso da terra, mudança do uso da terra e florestas; agropecuária; energia;processos industriais e tratamento de resíduos.
A
menos de três meses dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, institutos de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) estão ajudando os atletas a alcançar a excelência esportiva na busca por medalhas. Recursos de supercomputação e equipamentos adaptados às necessidades dos atletas são importantes aliados para quem disputa um lugar no pódio. O Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) integra uma das maiores iniciativas do País pelo esporte: o Laboratório Olímpico.
Sirene Além da Terceira Comunicação Nacional, o MCTI também lançou o Sistema de Registro Nacional de Emissões (Sirene), um sistema computacional desenvolvido para disponibilizar resultados do Inventário Brasileiro de Emissões Antrópicas por Fontes e Remoções por Sumidouros de Gases de Efeito Estufa não Controlados pelo Protocolo de Montreal e informações oriundas de outras iniciativas de contabilização de emissões.
O portal do Sirene está disponível no endereço: http://sirene.mcti.gov.br, bem como o sumário executivo da Terceira Comunicação em português e inglês, e a versão completa do documento em inglês.
para dar suporte aos atletas em diferentes áreas do conhecimento. São sete ao todo: bioquímica, biomecânica, nutrição, psicologia, fisiologia, treinamento esportivo e modelagem computacional. O primeiro passo foi desenvolver o Sistema para Acompanhamento Holístico de Atletas (Saha), rodado em um dos supercomputadores do LNCC, em Petrópolis (RJ). A ferramenta cruza os dados levantados pelas diferentes áreas do conhecimento e faz sugestões para melhorar a performance do atleta. Assim, uma braçada na piscina, um golpe no tatame ou uma corrida na pista de atletismo podem ser aperfeiçoados,
INFORME PUBLICITÁRIO
Navio Vital de Oliveira, uma das embarcações de pesquisa maismodernasdomundo,foiaportadonoMuseudoAmanhã, no centro do Rio de Janeiro, durante as comemorações dos 100 anos da Academia Brasileira de Ciências (ABC), e recebeu a visita de cerca de 1.300 pessoas apenas no primeiro dia. Durante o evento, o novo presidente da ABC, Luiz Davidovich, lembrou a importância do Almirante Álvaro Alberto, fundador do CNPq, para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação (CT&I) brasileira. “Eu queria lembrar um grande nome da ciência nacional, da ABC e da Marinha do Brasil que foi o Almirante Álvaro Alberto. Ele teve participação importantíssima no desenvolvimento e na inovação do Brasil. É importante lembrá-lo. Isso aqui é um resultado da ação dele.
O
Com o desenvolvimento da ciência nós hoje podemos ter esse navio maravilhoso de pesquisas e muitos outros desenvolvimentos que servem à sociedade brasileira”, disse.
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) lançou nova etapa do programa Start-Up Brasil, batizada de Start- Up Brasil 2.0. Os investimentos totalizam R$ 40 milhões – R$ 20 milhões para aceleração de 100 empresas nascentes de base tecnológica, R$ 10 milhões em apoio a Start-Ups de hardware e R$ 10 milhões de incentivo ao nascimento de ideias inovadoras. As empresas candidatas a participar da principal chamada, responsável por selecionar as turmas 5 e 6 do Start-Up Brasil, devem ter, no máximo, quatro anos de existência. Após serem escolhidas, as Start-Ups precisam negociar sua adesão a uma das 12 aceleradoras qualificadas pelo último edital do programa. A aceleração tem duração estimada de até 12 meses para empresas de software e 18 meses para as companhias de hardware , com apoio a pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), apoio à modelagem de negócios, participação em atividades de capacitação e programas de acesso ao mercado. O coordenador-geral de Serviços e Programas de Computador do MCTI, José Henrique Dieguez, ressaltou a importância do desenvolvimento de itens físicos de computação para a nova etapa do programa. “Nós já temos empresas de hardware sendo beneficiadas e aceleradoras com ‘pegada’ de hardware , mas queremos dar apoio integral a partir de agora”, apontou. “Trabalhar com hardware significa dizer que você tem etapas mais complexas e que demoram mais e necessitam de mais investimento por conta disso.”
A segunda iniciativa prevê apoio adicional às Start-Ups de hardware . O auxílio complementa necessidades de PD&I e engenharia, tais como prototipagem, desenvolvimento de pré-produtos e testes – atividades reconhecidamente mais densas e complexas, que geralmente exigem mais tempo de maturação. Já a terceira vertente estimula o surgimento de empreendedores em tecnologias da informação e comunicação (TICs), por meio do apoio a ações de concepção, em conjunto com incubadoras de empresas.A linha deve oferecer atividades como competições locais e testes de conceito.
O
Start-Up Brasil
Criado pelo MCTI, o Start-Up Brasil é um programa do governo federal com gestão operacional da Softex, que busca agregar um conjunto de atores e instituições em favor do empreendedorismo de base tecnológica. As chamadas nacionais e internacionais ocorrem pelo CNPq e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), respectivamente.
DENTRO DA CAIXA
CORES... Cada vez menos cheiro, cada vez mais variedade. A tinta de hoje é magnética, vira lousa e controla a temperatura
TEXTO BRUNOVAIANO
N
o Brasil, foram produzidos 1,318 bilhão
de litros de tinta em 2015. São R$ 10,174 bilhões de faturamento, o PIB de um país pequeno como a Gâmbia. Solventes voláteis e tóxicos, que antes eram maioria no mercado, estão sendo substituídos por água. “A tecnologia evoluiu muito. Os custos de uma tinta
*Rendimento calculado para cada 5 litros de tinta, com aplicação de duas demãos
1
SUVINIL PROTEÇÃOTOTAL R$429 18litros 35m²*
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CORAL TEXTURA R$85 18litros 5,5m²*
3
OXIMAG PRIMERSINTÉTICOMAGNÉTICO Orçamento personalizado 15 m²*
à base d’água e de uma com solvente são iguais, então as compostas de água passaram a dominar o mercado, com 83% de participação”, explica Fábio Humberg, da Associação
Brasileira dos Fabricantes de
Ideal para ambientes externos, essa tinta evita rachaduras, mofo e maresia
Tintas (Abrafati).
É no programa setorial de qualidade da associação que a qualidade das tintas é avaliada. Dois dos principais critérios são poder de cobertura e resistência ao atrito. Tintas classicadas como econômicas devem cobrir, no mínimo, 4 m² de parede por litro. As que não se encaixam nas normas técnicas da ABNT são levadas ao Ministério Público, que pode suspender as vendas.
OLHO NA LATA Conheça as três categorias de tintas e avalie a sua ECONÔMICA 4 m² por litro Deve cobrir, no mínimo,55% da área em que foiaplicada quando úmida
STANDART 5 m² por litro Deve cobrir, no mínimo, 85% da área em que foiaplicadaquandoúmida
PREMIUM 6 m² por litro Deve cobrir, no mínimo, 90%da área em quefoi aplicada quandoúmida
Fazertextura exige mais ferramentas e paciência, mas o resultado fica ótimo
1
2
... E VALORES Tinta ecológica preparada com terraé atóxica, não cheira e deixa a parede respirar Nada de sintético. Aqui, o pigmento é terra e o solvente é água
FORA DA CAIXA FOTO TOMÁSARTHUZZI
l o re t o d e V i n il a . C Estireno Butadieno. Se você não estudou química, a lista de ingredientes de uma tinta não é muito diferente de sânscrito. “Já há componentes como óleos ve-
5
Vaca versátil: o que mantém essa tinta na parede é a caseína, proteína extraída do leite
getais sendo usados nas tintas
ORGANUM TINTAACASEÍNA 4
4
Orçamentopersonalizado 14 m²*
em substituição a produtos que vinham da petroquímica”, explica Fábio Humberg, da Abrafati. “A indústria busca matéria-prima sustentável e soluções mais amigáveis.” Boas inten-
ções, porém, não impediram o SOLUM TINTAMINERALECOLÓGICA R$325 18litros 5m²*
5
surgimento do nicho de tintas
ecológicas. É o caso da Solum, fabricante paulistana de revestimentos minerais fundada em 2007, que usa terra como pigmento e não aplica substâncias nocivas no processo produtivo. O resultado? Cheiro zero e ambiente ameno. “Nossa tinta permite trocas de calor e de temperatura, aumentan-
do o conforto térmico”, explica Valéria Achcar, representante
comercial da Solum.
TINTA 100% ROOTS Pintando com as coisas que a natureza dá 3
INGREDIENTES 8 kg de terra · 4 kg de cola branca · 8 litros de água
Aplicado embaixo da camada de tinta definitiva, transforma sua parede em um imã gigante
Misture4 quilos deterracom6 litrosdeáguaaté ficarhomogêneo.
Adicione os outros4quilos deterraerepita o processo.
Adicioneos2 litrosde água restantesà cola ejunteaoresto.
APLICAÇÃO Rolo, como umatinta normal. A parededevesertotalmente lixada, sem resquíciosde cal ou tinta látexindustrializada.
H
ELEMENTAR
C
Ti
Fe
VELHA INFÂNCIA
O
Zn
Entenda de onde vêm o aroma e a coloração do Cheetos —POR MARIA JOANA DE AVELLAR
omo a maioria absoluta dos salC gadinhos industriais, Cheetos é feito de milho. A farinha (por lei, enriquecida com ferro e ácido fólico) é combinada com água e óleo e essa massa ganha a consistência e o formato que conhecemos ao passar por uma extrusora. A máquina submete a mistura a altos níveis de pressão e temperatura, o que faz com que a água vaporize, expandindo-se rapidamente e gelatinizando o amido. Depois desse cozimento rápido, quase instantâneo, uma matriz perfurada determina a forma que o Cheetos vai ganhar: bola, onda, lua ou (por que não?) uma mãozinha. Até aí, o salgadinho já tem a cara que você conhece, mas ainda está desbotado e sem gosto. A magia acontece quando a tostagem é concluída em um forno e a mistura de temperos e aromas que varia a cada sabor é pulverizada. Para dar aderência e tornar possível a formação de uma verdadeira névoa de especiarias sintéticas e naturais, os aromas, corantes e acentuadores de sabor são dissolvidos em água e acrescentados ao óleo — não sem a ajuda de emulsicantes capazes de tornar homogênea essa solução de moléculas que não se misturam. Por terem uma parte hidrofílica que se liga à água e uma hidrofóbica que se liga à gordura, os emulsicantes estabilizam os dois compostos e fazem o produto permanecer sequinho por mais tempo. De lá, ele sai pronto, alaranjado — e bem fedorento.
1
N
1
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H
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GLUTAMATO MONOSSÓDICO
INOSINATO DESÓDIO E GUANILATO DE SÓDIO
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Cl
19
K
É umsal derivadodealgasque costuma aparecer acompanhado de outros dois realçadores desabor,o inosinatode sódio e o guanilatode sódio (ao lado).
CLORETODE POTÁSSIO
Conhecido como sallight, o cloreto de potássio tem menossaboreé dezvezesmais tóxicodo que o sal tradicional.
6
H
C
8
O
AMIDO
Principal carboidrato da alimentação humana, o amido é constituído de glicose. O fabricante não entrega a fórmula, mas desconfiamos que o queijo emulado seja do tipo limburger, o mais fedorento do mundo.
CONEXÕESPOLÍTICAS AQUEDADEBRAÇOENTREOPERADORASECONSUMIDORES INFLUENCIAASDECISÕESDOGOVERNOEMRELAÇÃOÀINTERNET
NA DÚVIDA, CHAME UM MOTOBOY Como a limitação de banda prejudica empreendedores e a limitação do uso de dados da banda larga fxa prejudicaria os consumidores, em especial aqueles que não teriam condições nanceiras de arcar com planos mais caros, o cenário também não é nem um pouco animador para microempresários. "Podemos voltar para a época em que o Brasil não tinha internet", diz Fabro Steibel, do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio. "O empresário pensará se será mais caro enviar um e-mail ou chamar um motoboy para levar um documento." Para as startups, que desenvolvem serviços ligados à internet, a cobrança adicional pelo uso de dados seria mais uma barreira para o desenvolvimento de inovação no Brasil. "Muitas vezes, o empreendedor é obrigado a aceitar um serviço de internet de pior qualidade porque os planos empresariais são bem mais caros", afrma Pedro Waengertner, um dos fundadores da Aceleratech, que fornece suporte ao desenvolvimento de startups nacionais. "O mercado de telecomunicações carece de inovação e de gente que preste um ótimo serviço."
S
C
om mais de 1,6 milhão de assinaturas virtuais coletadas no serviço de petições online Avaaz, a mobilização dos consumidores contra a iniciativa das operadoras de limitar a franquia de dados da banda larga fixa deu resultados — até o momento, a Anatel manterá a proibição da prática. Mas por que demorou tanto tempo para a agência, criada para regular o setor e defender os consumidores, tomar essa posição? "Embora existam organizações da sociedade que participam da discussão, elas não estão diariamente em diálogo com a Anatel", afirma Veridiana Alimonti, do Intervozes. "Nem de longe o diálogo é igual, já que o dia a dia da agência é estar em contato com o setor privado." Em meio à crise política que culminou com o afastamento temporário de Dilma Rousseff, um dos últimos atos da presidente foi a regulamentação oficial do Marco Civil da Internet, ins-
tituído em 2014 para definir os direitos e deveres de empresas e usuários. Um dos pontos determinados pela lei regula justamente o poder das operadoras sobre o conteúdo distribuído: o Marco Civil estabelece que as empresas não podem discriminar os dados que trafegam na rede. "Uma rede que não garante a neutralidade pode fazer com que o usuário veja ou não um determinado conteúdo", diz Marco Konopacki, coordenador de projetos do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio. Na época da discussão, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se mostrava avesso à neutralidade da rede: de acordo com os registros de doações para campanhas para as eleições de 2014, o presidente da Câmara dos Deputados afastado pela Justiça recebeu R$ 900 mil da Telemont, companhia de telecomunicações que oferece instalação e manutenção de rede de telefonia fixa e banda larga.
PARA GRINGO NÃO VER
INTERNETNA CESTABÁSICA
Ao contrário da justificativa das operadoras, franquia de dados da banda larga fixa é um tema polêmico no exterior RELATÓRIO DIVULGADO no nal do ano passado pela União Internacional de Telecomunicações, vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), armava que quase 70% dos países do
REDE MUNDIAL
mundo não utilizavam franquia de dados na banda larga xa. Em países que adotam o modelo, como
20,5
Estados Unidos e Canadá, o tema está longe de
Coreia do Sul
ser unanimidade entre consumidores e agências governamentais. O FCC, órgão regulatório norte-
Suécia
17,4
-americano semelhante à Anatel, registrou mais de 8 mil reclamações relacionadas a problemas
de franquia de dados só no segundo semestre do ano passado. "São relatos da empresa propositalmente errando a mensuração dos dados consumidos ou situações em que os consumidores desejavam a reconexão, mas isso não era possível mesmo com o pagamento", arma Rafael Zanatta, pesquisador de telecomunicações do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec).
16,4 Noruega
16,2 Suíça
15,8 Hong Kong
12,6 EUA
11,9 Com a assinatura do Marco Civil da Internet, operadoras não podem priorizar a velocidade de um determinado pacote de dados
Organização realiza projetos para expandir internet para mais pessoas
Velocidade média de conexão (em megabits⁄segundo)
Canadá
10,2
Até o final de 2015, mais de 4 bilhões de pessoas ainda nãotinham nenhumtipo de acesso à rede. Para reverteressa impensávelcontradição, o norte-americano Kosta Grammatis fundou a organização A Human Right, que, em conjunto com empresas, desenvolve pro jetos para que o acesso à livre informação seja
considerado um direito fundamental.
PORQUEOLIVRE ACESSOÀREDEÉUM DIREITOHUMANO?
�
Acessar a internet é uma maneira de se inserircomo um cidadão global: a habilidade de colaborar, aprender e ter empatia. O acesso a alimentação, habitação e cuidados médicos é um direito humano. A internet também deveria pertencer a essa categoria de direitos.
Rússia
5,9 Uruguai
5,7 Chile
5,5 México
5,1 Média mundial
4,4 Peru
4,2 Argentina
3,6 BRASIL Fonte: Relatório State
of the Internet, 2015
E COMO ASEMPRESAS PODERIAM EXPAN DIR SEUSSERVIÇOS PARA ESSES LOCAIS DE INFRAESTRUTURA PRECÁRIA?
QUAISSÃOOSDESA FIOSDELEVARAINTER NETPARALOCAISDO MUNDOSEMACESSOA INFRAESTRUTURAS BÁ SICAS DE CONEXÃO? �
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Alguns locais não contam com eletricidade, outras regiões apresentam instabilidades políticas que limitam a expansão do acesso à internet. Outro grande problema é o custo para acessar a rede, que em muitos locais é extremamente alto: normalmente, isso é consequência dos monopólios das empresas de telecomunicações. Mudanças políticas em relação à competição das companhias melhorariam essa questão, mas há vários outros fatores em jogo.
As grandes empresas de tecnologia estão interessadas em promover "internet para todos". O Google, por meio do projeto Loon (que desenvolverá balões para levar cone xão a locais remotos); o Facebook, com o Internet.org; Richard Branson (dono do grupo Virgin) tem planos para criar uma empresa que oferece conexão a partir de satélites. São iniciativas para que a era digital seja alcançada de uma vez por todas, mas precisamos verificar se elas terão sucesso.
OQUEOSGOVERNOS PRECISAMFAZER PARA GARANTIR O ACESSO DOS CIDADÃOS? As pessoas devem pressionarseus governos para querealizemmudanças a fimde garantir que os monopólios deixemde dominaros serviçosde telecomunicações. Esse é um cenário bastante complicado, especialmente nos países em desenvolvimento.
A CULPA É DO SISTEMA? COMSERVIÇOSTERCEIRIZADOS,EMPRESASDETELECOMUNICAÇÕESLIDERAMASRECLAMAÇÕESDECONSUMIDORES
C
obranças indevidas, demora para solucionar questões técnicas, desencontro entre as informações fornecidas e atendimento técnico ruim. Familiarizado com esses problemas? Não se sinta só: de acordo com pesquisa realizada pelo Idec, quase 54 mil reclamações sobre serviços de internet foram registradas em Procons de todo o país em 2015.
DIREITOS VIRTUAIS
"As empresas operam com a maximização do lucro, mesmo com uma má prestação de serviços", arma Rafael Zanatta, do Idec. Com estruturas de call center terceirizadas, a resolução de problemas fica comprometida pelos famigerados "erros no sistema". "As companhias têm a estratégia de reter clientes, e isso é passado ao funcionário como uma meta", diz Zanatta.
CHUVADERECLAMAÇÕES Informações coletadas em Procons de todo o país
338.247
Queixas de telefonia celular
Telefonia xa
241.311 TV por assinatura
136.622 Internet (Serviços)
53.946
Fonte: Idec
As diretrizes de direitos do consumidor determinadas pela Anatel são obrigatórias a todas as empresas de telecomunicações:
NO SEU TEMPO
NOCONTRATO
As informações solicitadas pelo consumidor deverão ser imediatamente fornecidas, e as reclamações, resolvidas em um prazo máximo de cinco dias úteis. O tempo para instalação ou reparo de um serviço dependerá do contrato estabelecido previamente.
A empresa é obrigada a informar: Preços do plano, com e sem promoção.
•
Data e regras de reajuste de preços.
•
Caso solicitado pelo cliente, a empresa tem a obrigação de enviar o histórico de registros dosúltimostrês anos, como reclamações,pedidos de informação e outras resquisições. Essas informações serão enviadas por correspondência ou digitalmente.
Valores de aquisição, instalação e manutenção dos serviços e equipamentos. Velocidades mínima e média de conexão.
Qual é a viabilidade de instalação imediata, ativação e utilização do serviço. •
COBRANÇANOMELHORDIA A empresa é obrigada a oferecer pelo menos seis possíveis datas de vencimento para o cliente escolher o diamais adequado para pagamento da fatura. O documento de cobrança deve ser entregue, no mínimo, com prazo de cinco dias antes do vencimento.
ESTAREMOS FAZENDO OCANCELAMENTO O cliente pode rescindir todo o contrato com a empresa ou cancelar apenas um serviço, como o pacote de dados do celular. Após a requisição do cancelamento, a companhia deve suspender todas as cobranças relativas à prestação daquele serviço.
O tempo máximo para o contato direto com o atendente deve ser de até 60 segundos no call center . Presencialmente,o tempo máximo de espera deverá ser de até 30 minutos.
•
•
TUDOREGISTRADO
JÁVAMOSATENDÊ�LO
CHECAGEM Após o pagamento, caso o cliente confira na cobrança que há algum serviço não contratado previamente, deve entrarem contato com a empresa e solicitar a devolução da quantia paga referente aos itens não reconhecidos. Se a prestadora nãoresponder em 30 dias, ficará obrigada a devolveresse valor em dobro, acrescido de correção monetária e juros.
DEVO,NÃONEGO
COMBOSEMPROBLEMAS As companhias têm a obrigação de fornecer os serviços do combo de forma isolada: o preço de um serviço avulso também não pode ser superior ao valor estabelecido em um pacote que disponibilize condições semelhantes de utilização. Não é possível, no entanto, o cancelamento de apenas um dos serviços do combo. Se o cliente não se interessar por um deles, pode cancelar o contrato e contratar outro combo.
Depois do pagamentode uma conta atrasada, a companhia deve restabelecer a conexão em até 24 horas. Parater um melhorcontrole do andamento do serviço, a Anatel recomenda que o cliente encaminhe o comprovante de pagamento para a operadora e peça o número de protocolo do envio.
LISTADEDEVERES As empresas têma obrigaçãode informar um relatório detalhado dos serviços prestadosdos últimos seis meses. Entre as informações, o cliente pode saber o volume diário de dados trafegados, os limites estabelecidos por franquias e os tributos detalhados por serviço.
POR MARCUS PENNA
P. 36
EROTIZAÇÃO DE MENINAS
A VIDA COMO NÃO CONHECEMOS
P. 48
P. 62
P. 54
ENTREVISTA: DIRETORA DO HAPPN
FOMOS AO SUDÃO DO SUL P. 70
ESPECIAL OLIMPÍADA
GRAÇAS A UMA SÉRIE DE CASOS DE GRANDE REPERCUSSÃO
A E À POPULARIZAÇÃO DO MOVIMENTO FEMINISTA,
N O V I N H A O VELHO FENÔMENO DA EROTIZAÇÃO DE MENINAS
É A PE N A S COMEÇA A SER PROBLEMATIZADO PELA CIÊNCIA
TEXTO ISABELA MOREIRA EDIÇÃO CRISTINE KIST
FOTOS TOMÁS ARTHUZZI
DESIGN FERNANDA DIDINI LETTERING VANESSA KINOSHITA
Há 30 anos o Clube Esportivo da Penha, de São Paulo, realiza o concurso Garota Verão para premiar as sócias entre 13 e 17 anos consideradas as mais bonitas do clube. A cerimônia acontece em meados de fevereiro. De biquíni, com os cabelos arrumados e os rostos maquiados, as participantes deslam por um tapete vermelho em frente a uma bancada de jurados e centenas de sócios . No início deste ano, fotos das participantes na borda da piscina foram publicadas na página do Facebook do clube. Uma das imagens exibe uma candidata de 13 anos. “Loiríssima, olhos lindos, chegou para apimentar um pouco mais o concurso”, dizia a descrição da foto. Em questão de horas, a publicação estava cheia de comentários acusando o clube de sexualizar a menina. “Gente, mas são 13 anos! Apimentar? Ela não tem idade para apimentar nada!”, escreveu um usuário. Procurada pela reportagem, a diretoria do clube armou que a descrição “pode ter sido mal colocada, mas foi uma brincadeira interna”. Depois do ocorrido, a postagem em questão, bem como todas as fotos das participantes, foi deletada da página do clube no Facebook. Mas internautas já haviam registrado imagens do post e repassado pela internet, questionando a necessidade de haver um concurso desse tipo para meninas de 13 a 17 anos. O evento acontece há três décadas, mas a edição deste ano foi a primeira em que se atentou para as questões da idade e da sexualização precoce das participantes. Boa parcela desse movimento tem relação direta com a campanha #primeiroassédio, do coletivo Think Olga, que reuniu nas redes sociais milhares de histórias de mulheres que foram assediadas quando crianças. Mas parte da explicação também passa pela nossa relação com a infância, que já não é a mesma de alguns anos atrás.
COISA DE CRIANÇA Em História Social da Criança e da Família, o historiador francês Philippe Ariès ex-
plica que, na Idade Média, não existia o conceito de infância: as crianças eram vistas como pequenos adultos. Para o pesquisador, a noção de infância surge na Idade Moderna, quando meninos e meninas começam a ser inseridos no espaço da família. Mas é só a partir do século 20 que a sociedade passa a se preocupar de
criança. No Brasil, por exemplo, o conjunto de normas que têm como objetivo garantir esses direitos, o Estatuto da Criança e do Adolescente, só foi criado em 1990. A forma como elementos culturais inuenciam essa construção não passou despercebida para os pesquisadores. Para a especialista em representação da mulher na mídia Meenakshi Gigi Durham, da Universidade de Iowa (EUA), a publicação do livro Lolita, de Vladimir Nabokov, em 1955, criou no imaginário cultural a imagem da menina precoce e sedutora — uma ideia que permanece no inconsciente coletivo até hoje. No romance, Nabokov conta a história do professor Humbert Humbert, que mantém relações sexuais com sua enteada, Dolores, de 12 anos, por quem é obcecado. Na perspectiva do protagonista, a garota — conhecida pelos familiares como Lo e pelo padrasto como Lolita — é uma ninfeta. “Entre os 9 e 14 anos de idade, ocorrem donzelas que, a certos viajantes enfeitiçados, duas ou muitas vezes mais velhos do que elas, revelam sua verdadeira natureza que não é humana, mas nínca (isto é, demoníaca); e essas criaturas predestinadas proponho designar como ‘ninfetas’”, explica o professor no livro. No dicionário, é denida como ninfeta uma “menina jovem ou adolescente cujo comportamento e pensamento estão direcionados para o sexo; menina que incita o desejo sexual”. Mas essa é a visão que Humbert, um homem com o triplo de idade da enteada, tem da garota. “O crime de Humbert é for-
çá-la a agir contra a sua natureza — forçar uma criança a saltar através dos arcos da feminilidade adulta, insultando e degradando sua essência infantil”, arma o escritor britânico Martin Amis no posfácio de Lolita (Editora Alfaguara, 2011). “Ela é vista pelos olhos do predador como uma sedutora disposta a participar de atos sexuais, que é como predadores sempre veem as vítimas infantis. E, claro, é um mito com o qual eles sonham a ponto de usá-lo para justicar suas ações”, explica Durham. Autora do livro The Lolita Effect: The Media Sexualization of Young Girls and What We Can Do About It ( Efeito Lolita: A Sexualização de Jovens Garotas e o que Podemos Fazer Sobre Isso, em tradução livre), a pesquisadora arma que é um equívoco enorme acusar as meninas de apresentar um comportamento visto como
D EP OI S D E N OV E
MESES No Brasil, 70% dasvítimasde estupro são crianças e adolescentes, e muitasdelasengravidam e dão à luz por falta deatendimento médico e orientação
N Ú ME R O D E E S TU P R OS R E G I ST R A DO S N O B R AS I L
88,5%
50,7%
19,3%
Crianças
Vítimas Adolescentes do sexo feminino (entre 14 e 17 anos)
P O R C E N TA G E M D E N A S C I M E N TO S N O PA Í S S EG U N D O I D A D E D A S M Ã E S Mães de 10 a 14 anos
0,9%
18% Mães de
U M P R IMO C H EGOU A DESA B OTOAR MI N HAS C A L ÇAS E PA S SAR A MÃO E M M IM
Os relatos ao longo da reportagem foram retirados dos depoimentos feitos por meio da hashtag #primeiroassédio (os nomes são ctícios)
B R U N A *, T I N H A 8 A N O S
O QUE SE APRENDE NA ESCOLA Na pesquisa Com que roupa eu vou? Embelezamento e consumo na composição dos uniformes escolares infantis, a doutora em Educação Dinah Quesada aponta as diferenças entre os uniformes desenvolvidos para meninos e para meninas
MENINOS
MENINAS
Corte de cabelo da moda
Cabelo bem cuidado
Peças largas Os uniformes unissex costumam ser vistos como “de menino”: bermudas, calças e camisetas, todas peças mais largas em geral e, por isso mesmo, mais propícias para a atividade física. Os meninos não se preocupam tanto com as roupas, e sim em reproduzir cortes de cabelo de jogadores de futebol e utilizar acessório
Chuteira ou acessórios relacionados
Blusas justas A oferta de uniformes para meninas normalmente é mais ampla. Além dos tradicionais, elas podem optar por shorts-saia, calça legging e baby look. Essas peças costumam ser produzidas com tecidos mais apertados. Mesmo novas, as garotas sentem ainda a necessidade de cuidar de outros aspectos da aparência, como o
Bijuterias e unhas feitas
Calças de tecidos apertados
A N O V I CAMPEÃ DE AUD
Vídeos com adolescentes estão procurados em sites de pornografia
80% D O S P A Í SE S A N A L IS A D O S P E LO P O R N H U B T Ê M T E R M O S R E L AC I O N A D O S A M E NI N A S J O V EN S E M S U A S P R I N C I PA I S B U S C A S
O BRASIL É O
O SITE RECEBEU
9º 21,2 P A Í S Q UE M AI S
B I L H Õ E S D E V I S I TA S
A C ES S A O P O R NH U B
A P EN A S E M 2 0 15
A S N OV I N HA S A O R ED OR D O M UN DO
E STA V A S A I ND O D O T R EINO D A N A T AÇÃO E O POR T EIRO D A ESC O LA DI S SE Q U E EU E R A ‘ GOS T O S A ’ A N A*, T I N H A 1 1 A N O S
ALEMANHA GERMAN TEEN FRANÇA ÉTUDIANTE FRANÇAISE
BRASIL NOVINHA
ESTADOS UNIDOS TEEN
ARGENTINA JOVENCITAS ARGENTINAS
NHA
T E RM O M A I S PROCURADO N O B R A SI L E M 2 0 15 , 2 0 1 4, 2 0 1 3
IÊNCIA
rotas que usam roupas sensuais e se engajam em atividades sexuais desde muito novas, e o discurso tende a culpar as meninas por tudo isso”, ressalta Durham. “Mas elas simplesmente estão reagindo a um marketing e a uma mídia agressivos que empurram na direção delas mitos de sexualização em vez de ajudá-las a entender os próprios corpos em desenvolvimento de maneira apropriada e correta.”
PARECE GENTE GRANDE Em abril de 2015, o Ministério Público de
entre os mais no mundo todo
São Paulo abriu inquérito para investigar
o teor de músicas e coreograas de funkeiros mirins. “São crianças e adolescentes cantando e desempenhando coreograas
604 V Í D EO S P O D EM S E R E N CO N TR A D OS N A B U S CA P E LO T E R MO N O P O R NH U B
TEEN 2 ª C AT E G O R I A M A I S A C ES S A DA N O M U N DO
291.941 V Í D EO S S Ã O E N C ON T RA D O S A O B U SC A R E S S E T E R M O N O P O R N HU B
JAPÃO JAPANESE TEEN, JAPANESE SCHOOL GIRL
FILIPINAS ÍNDIA
PINAY TEEN
INDIAN TEEN
C OM O L ER Países onde os termos mais procurados no PornHub são novinha ou uma classificação parecida
b u H n r o P : e
inadequadas para suas faixas etárias, em especial pelo forte conteúdo erótico e de apelo sexual”, disse o promotor Eduardo Dias de Souza Ferreira na época. Uma das crianças investigadas foi Ga briela Abreu, mais conhecida como MC Melody, então com 8 anos de idade. A funkeira mirim começou a ganhar atenção na internet após a viralização de um vídeo em que ela aparece fazendo a coreograa altamente erotizada da música “Quadradinho de Oito”, do grupo Bonde das Maravilhas. Naquele mesmo ano, o MP fez com que MC Belinho, pai e empresário da menina, assinasse um termo de ajustamento de conduta, comprometendo-se a cumprir uma série de medidas para garantir o bem-estar da lha, entre elas a retirada de expressões de conotação pornográca de suas músicas e a garantia de que ela usaria roupas adequadas para sua idade. Uma das maiores acusações na época do processo era a de que MC Belinho estaria explorando a imagem da lha para lucrar. Procurado pela reportagem, o funkeiro até concordou em conversar, mas com uma condição: pagamento antecipado de R$ 2 mil (a repórter declinou da oferta). Passado um ano desde a abertura do inquérito do Ministério Público, Melody — atualmente com 9 anos — continua fazendo aparições na mídia. Em programas de auditório, costuma se apresentar como uma versão pequena de uma adulta. Para um quadro do programa Pânico na Band, a menina reproduziu o clipe de “Bang”, de Anitta, em que, caracterizada como a cantora de 23 anos, rebola e joga os ca belos para os lados, fazendo a coreograa
Para os acadêmicos, essa contradição entre a busca pela garantia da inocência da infância e a erotização precoce tem nome: pedolização. O termo foi cunhado pela pesquisadora Jane Felipe de Souza, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Ao mesmo tempo que a sociedade faz leis para proteger a infância e a adolescência, tam bém coloca os corpos infantis dentro da perspectiva de espetacularização desses corpos e da sexua lidade”, explica Souza. De acordo com ela, existem roteiros sociais que denem o que é o ideal de cada gênero antes mesmo que as crianças nasçam. Espera-se que o bebê seja durão se for menino e delicado se for menina. E as expectativas não cam só no plano das ideias: produtos desenvolvidos para crianças nas mais tenras idades já reproduzem esses valores. Na pesquisa Que Linda, Parece Gente Grande — Construção de um Ideal de Feminilidade na Infância, a pedagoga Annelise Ribeiro, também da UFRGS, conta que, ao anunciar que estava grávida de uma menina, amigos e parentes começaram a lhe enviar imagens de roupas infantis femininas. Ela logo reparou que a erotização precoce era constante nos acessórios e roupinhas para bebês do sexo feminino. Com base na análise dos catálogos de duas lojas virtuais, a pedagoga constatou a presença de transparências, ombros de fora, costas nuas e o uso de tecidos como cetim, tafetá e malhas apertadas na maioria das peças. Em muitas das imagens estudadas por Ribeiro, as meninas aparecem como miniaturas de mulheres adultas. Segundo ela, a adultização da infância é um fenômeno do nosso tempo. “Vestir e produzir uma criança como adulto é privá-la de vivenciar situações fundamentais para o seu desenvolvimento, como a liberdade de correr, saltar, pular. Para isso, é preciso que ela use roupas que possam facilitar tais movimentos”, escreve Ribeiro. “Pulando fases, a criança não amadurecerá psiquicamente o suciente para lidar com as transformações que virão até alcançar a vida adulta.” Essas características não são privilégio da moda comercial. Em 2006, a doutora em Educação Dinah Quesada percebeu que os uniformes de algumas escolas também erotizam precocemente as crianças, principalmente as meninas. Na ocasião, ela tra balhava em uma escola da rede privada de Porto Alegre que oferecia versões dife-
nos e meninas. “Desde a educação infantil
já existia a possibilidade do investimento no corpo por meio dos uniformes, aspecto que se aprofundava no Ensino Fundamental”,
diz Quesada. “Para os meninos, os ideários de masculinidade eram reproduzir o corte de cabelo da época e, se possível, usar al-
gum acessório relacionado ao esporte. Mas esse investimento era muito mais forte nas meninas. Inclusive, o número de peças de uniforme era maior para elas.” Para as meninas, o uniforme unissex e as camisetas eram consideradas “roupas de menino”. Por isso, elas preferiam peças mais apertadas, como calça legging e
blusas baby look. Além disso, as alunas de Quesada se envolviam com outros aspectos da aparência. “Elas não só escolhiam as peças como usavam maquiagem, fa-
ziam as unhas, queriam arrumar o cabelo”, arma. Como ela aponta em sua pesquisa, quando apareciam arrumadas, as meninas
tes de colégios de todo o Brasil se inspiraram no movimento e algumas até conseguiram a permissão para usar a peça na escola. “Foi bom porque demos coragem para as pessoas. Contribuímos para que elas vissem que isso é um direito delas.” Contudo, o efeito Lolita também opera por contradições. Enquanto Martins e as amigas eram criticadas por defender o
uso de shorts, a cantora Maísa Silva, de 13 anos, era acusada de “ser infantil demais”. Quando lançou o clipe da música “Cabelo , em que aparece brincando com amigas, recebeu uma enxurrada de comentários que diziam que ela não era sensual o suciente. “Acontece que eu tenho 13 anos, ainda não sou mulher nem quero ser com essa idade”, ”
desabafou a ex-apresentadora do SBT em suas redes sociais. “Sou uma pré-adolescente e me comporto como menina, pois conservo minha alma de criança.”
eram elogiadas pelos meninos e, por ve-
CHAVE DE CADEIA
zes, até por pais e professores; quando não
A hipersexual ização de garotas novas é perceptível principalmente por meio da
o faziam, eram consideradas desleixadas. O oposto também ocorre. No Colégio Anchieta, de Porto Alegre, a partir do 8º ano os estudantes podem usar as roupas que quiserem — em partes: se as meninas usam shorts, são convidadas a se retirar da sala de aula; se os meninos ves-
tem bermudas e chinelos, nada acontece. “A justicativa da escola é que o uso de shorts está proibido porque pode causar acidentes e prende a atenção dos alunos e professores. Parece que é mais impor-
tante que os meninos aprendam as maté-
pornograa. Um levantamento realizado pelo PornHub, um dos maiores sites de conteúdo adulto do mundo, revela que “novinha” e “teen” (adolescente, em inglês) são dois dos termos mais procurados no Brasil e no mundo, respectivamente. Variações da busca por corpos infantojuvenis também ocorrem em outros países (veja na página anterior ).
Ao digitar o termo “teen” no PornHub, mais de 290 mil vídeos aparecem, muitos deles estrelados por adolescentes e jovens
rias do que as meninas”, reclama a estudante Júlia Martins, do 2º colegial.
mulheres. Em Miami, nos Estados Uni-
No m de fevereiro, Martins e suas colegas começaram o movimento “Vai ter shor-
recrutar meninas recém-saídas do colegial, entre 18 e 20 anos, para serem atrizes de lmes pornô amadores. O documentário Hot Girls Wanted , dirigido por Jill Bauer e Ronna Gradus, acompanha os passos de algumas meninas que querem tentar fazer carreira na
tinho sim”. Elas criaram um abaixo-assinado para ser entregue à diretoria. “Em vez de humilhar meninas por usar shorts em climas quentes, ensine estudantes e professores homens a não sexualizar par-
tes normais do corpo feminino”, dizia o documento. O objetivo era conseguir cem assinaturas — elas conseguiram mais de 25
mil. Mas também tiveram de lidar com críticas que dicilmente poderiam ser classicadas como construtivas. “Já que é para
car sem dignidade nenhuma, por que vocês não vão nuas?”, dizia um comentário na página que as meninas criaram no Facebook. No nal, a diretoria não liberou o uso de shorts, mas Martins não vê o
dos, existe toda uma estrutura pronta para
UM C A R A SE MASTURB O U AT R ÁS DE UM P O STE VE N DO M IN H AS VI Z INHAS E EU BRIN C ANDO L U I Z A *, A O S 8 A N O S
EFEITO
LOLITA A pesquisadora Meenakshi Gigi Durham, professora da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, e autora de The Lolita Effect , diz que houve poucos avanços na questão da erotização de meninas desde que seu livro foi publicado, há quase dez anos.
indústria pornográca. O resultado é de-
O QUE É O EFEITOLOLITA?
vastador: as moças tendem a permanecer, no máximo, três meses nos sets de lmagem; para carem por mais tempo, optam por gravar os tipos de cenas mais
O Efeito Lolita se refere a uma série de mitos sobre a sexualidade das meninas que circula na mídia e na nossa cultura. A “Lolita” do título é uma referência clara ao famoso romance de Vladimir Nabokov em que uma menina de 12 anos se torna sexualmente envolvida com seu padrasto. No livro, a garota é vista pelos olhos do predador como uma sedutora disposta a participar de atos sexuais, que é como predadores sempre veem as vítimas infantis, e, claro, é um mito com o qual eles sonham a ponto de usá-lo para justificar suas ações.
degradantes, que, consequentemente, são os que pagam valores mais altos de cachê. Em uma das cenas nos bastidores de
uma gravação, o diretor instrui a atriz Rachel Bernard a não corresponder quando o ator mais velho com quem contracena
Mas é claro que a criança nunca é a culpada. A Lolita no romance é, na verdade, a vítima do abuso cometido por seu padrasto. Existe muita conversa sobre garotas que usam roupas sensuais e se engajam em atividades sexuais desde muito novas, e o discurso tende a culpar as meninas portudo isso. Mas elas simplesmente estão reagindo a um marketing e a uma mídia agressivos que empurram na direção delas mitos de sexualização em vez de ajudá-las a entender os próprios corpos em desenvolvimento de forma apropriada e correta.
COMOPODEMOSCRIAR REPRESENTAÇÕES MAISCOMPLEXASDEMENINASNAMÍDIA? Honestamente, é bem difícil, porque existem indústrias que dependem das aspirações das meninas a modelos nada realistas de beleza e desejabilidade para que elas gastem bastante dinheiro em produtos de beleza, dietas e por aí vai. A publicidade voltada para meninas novas é uma indústria multibilionária que entraria em colapso se as garotas tivessem uma imagem forte delas mesmas. Podemos tentar retrucar a mídia exigindo representações mais realistas e positivas das meninas e boicotar anúncios e produtos sexistas. Podemos também tentar apoiaros tipos de mídias que oferecem uma gama de imagens e opções relacionadas a gênero e sexualidade. Mas é difícil encontrá-las.
SEULIVROFOIPUBLICADOHÁOITOANOS. OQUEMUDOUDESDEENTÃO? Não muito, em minha opinião. Na verdade, a sexualização de garotas tornou-se algo visto como normal. E não estamos observando muito progresso no que diz respeito à saúde e segurança sexual. O número de crianças e adolescentes com distúrbios alimentares está aumentando, pelo menos nos Estados Unidos. Garotas adolescentes correm mais risco de sofrer violência sexual do que qualquer outro grupo. Adolescentes registram altos índices de doenças sexualmente transmissíveis. Apesarde os índices de gravidez estarem caindo ao redor do mundo, nos Estados Unidos eles são bem altos em comparação aos de outros países industrializados. Não posso afirmar que estamos progredindo muito. Por outro lado, acredito que há mais conscientização em torno da agressão sexual e da necessidade de desafiarmos os padrões de gênero.
VOCÊVÊ A POPULARIZAÇÃO DO MOVIMENTO FEMINISTA COMOUMA FERRAMENTA IMPOR TANTENALUTACONTRAASEXUALIZAÇÃO PRECOCE DE MENINAS?
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Eu sou feminista, então minha resposta é sim. O foco feminista em impedir casos de violência sexual e doméstica, em desafiar os padrões tradicionais de gênero na busca da igualdade, em reconhecer as intersecções de raça, classe, gênero e orientação sexual… Esse tipo de ativismo coletivo é ótimo e está fazendo muita diferença. Claro, também é importante ressaltar que existem vários feminismos na sociedade contemporânea, e nem todos se alinham à forma pela qual abordo essas questões. Mas é bom trabalhar nossas diferenças e alcançar clareza a respeito de como apoiar melhor e empoderar as mulheres e meninas.
ASSÉDIO #PRIMEIRO
Graças à campanha do coletivo Think foi uma das buscas mais feitas por brasileiThink Olga, “primeiro assédio” foi ros no Google em 2015. Segundo a ONG, foram mais de 11 milhões milhões de pesquisas relacionadas à campanha.
3,1
9,7A N O S
82 M I L
H I S T Ó R I A S C O N TA D A S C O M A H A S H TA G F O R A M
F OI A I D AD E M É D I A D O P R IM E IR O
T W E E T S F O R A M F E I TO S P E L A H A S H T A G
A N A L I S A D AS P E L O C O L E T I VO
A S S É D I O N E S S E S R E L AT O S
A P Ó S C A S O N O “ M A S T E R C H E F J R .”
MIL
NO CAMINHO D A ESCO L A UM CARA DE MO TO ME S E G U IU NU M A RUA V A Z I A E MOST R O U O PÊNIS PARA MIM C A R L A *,*, T I N H A 1 1 A N O S
realmente tivesse consentido, entende?”, explica. “Nossa, me sinto todo predador”, diz o ator. Bernard só se manifesta quando ca a sós com os documentaristas: “Odiei tudo aquilo. Não tem nada de sensual no que zemos”, confessa, nervosa. A partir da busca por “teen” em sites de pornograa é possível ainda encontrar encontrar vídeos de atrizes adultas utilizando roupas e acessórios infantis e juvenis. Entre os resultados resultados há desde mulheres mulheres agindo de forma inocente vestindo uniformes colegiais até outras usando chupeta e imitando o comportamento de bebês. No artigo Poder, Mickey Mouse e a In fantilizaçã fantilização o de Mulheres Mulheres, a socióloga Lisa Wade Wade,, do Occid Occident ental al Colleg College e (EUA (EUA), ), arma arma que vivemos numa cultura imperativa na qual as mulheres têm que incorporar tanto a sensualidade quanto a fofura. “A sexualização de meninas e a infantilização de mulheres adultas são dois lados da mesma moeda. Ambos nos dizem que deveríamos achar a juventude, a inexperiência e a ingenuidade sensuais nas mulheres”, escreve. Um estudo realizado por psicólogos da Universidade do Texas em Austin, nos Estados Unidos, sugere que quanto mais as meninas são expostas a imagens sexualizadas de mulheres na mídia, mais acreditam que precisam ser sensuais para conseguirem ser valorizadas. Ao analisar o comportamento de garotas entre 10 e 15 anos, os pesquisadores descobriram ainda que o contato com a hipersexualização faz com que as jovens tenham baixa autoestima, principalmente no que diz respeito aos seus próprios próprios corpos.
NADADE FI NADADE FIU U FI FIU U Quando o primeiro episódio da versão brasileira brasileira do programa programa de televisão televisão MasterChef Jr. foi ao ar, a internet entrou em polvorosa. Não só porque o reality show é um dos mais assistidos em duas telas — acompanhado pela televisão e pelas redes sociais — mas pela repercussão que teve online. Percebeu-se que vários dos comentários sobre o programa eram relacionados à participante Valentina, de 12 anos. Ou melhor, à aparência dela. “Sobre essa Valentina Valentina:: se tiver consenso, é pedolia?” pedolia?”, escreveu um dos usuários. O coletivo feminista Think Olga prontamente se posicionou contra esses comentários, reforçando o fato de a participante ser uma criança. Assim nasceu a campa-
res foram incentivadas a compartilhar a história da primeira vez em que foram vítimas de assédio. “Queríamos mostrar o quanto quanto o assédio é comum, e a reação reação que isso gerou só comprova que tínhamos razão: foram 82 mil tweets mencionando a campanha em quatro dias. Ficamos impressionadas com a quantidade de compartilhamentos, mas não surpresas”, revela Luíse Bello, gerente de conteúdo do Think Olga. “O assédio é extremamente comum e normatizado, e ainda é uma conversa muito recente no Brasil e no mundo.” Entre os compartilhamentos é possível encontrar casos que retratam diferentes tipos de assédio. Há a história da mulher que, quando tinha 7 anos, percebeu que um homem se masturbava enquanto a assistia brincar na rua com as amigas; a da mulher que, aos 5 anos, sofreu um assédio tão sério que não conseguiu nem escrever sobre o que aconteceu sem passar mal; e o caso de Kelli, a moça do início desta matéria, que, até a campanha campanha do Think Olga, nunca havia comentado sobre o ocorrido com ninguém. “Eu quis mostrar o que aconteceu comigo; todas nós passamos por esse tipo de coisa e precisamos divulgar esses casos. A erotização erotização do corpo das meninas existe e é um absurdo”, diz Kelli. “Quando as mulheres começaram a ver que havia muita gente compartilhando histórias de assédio e abuso na infância, perceberam que a culpa não era delas e que não eram as únicas que tinham passado por situações como aquelas”, explica Isadora Cabral, que atualmente desenvolve uma pesquisa sobre gênero, sexualidade e ciberativismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Cabral acredita que os efeitos da campanha, a primeira de vários movimentos de grande repercussão voltados para os direitos da mulher nos últimos meses, não é de curto prazo. “O poder da internet é muito grande. Quando veem essas movimentações nas redes sociais, muitas meninas novas começam a pensar so bre as próprias experiências. Isso não só cria uma nova leva de meninas mais conscientes de seus direitos como gera discussões e conduz os movimentos para fora da internet” internet”, explica. explica. Esse é o melhor caminho para que outras Kellis, Júlias, Maísas e Valentinas aprendam a resistir à pressão criada sobre elas e entendam que suas próprias vozes são a melhor e mais po-
ILUSTRAÇÃO ZANSKY
Esta Es tamo moss vi vivvos os,, mas não sa sabe bem mos o qu quee iss ssoo si sign gniifica ca.. Se Sem m um umaa te teor oria ia bi biol ológ ógic icaa
ANDRÉ É JORG JORGE E OLIV OLIVEIRA EIRA TEXTO ANDR
geral, as agências espaciais talvez nunca encontrem seres extraterrestres
DESIGN
RAFAEL QUICK E FEU
4.
2.
3.
1.
Pedimos ao astrobiólogo Pabulo Rampelotto que imaginasse como seria a vida em duas luas do Sistema Solar. O resultado você confere na ilustração acima e na página 50
PLANETAS CONFIRMADOS: 3.264
DESCOBERTOS
2.325 PELOKEPLER ROCHOSOS NAZONAHABITÁVEL:21
TITÃ, OÁSIS DE VIDA EXÓTICA AmaiorluadeSaturnoéumparaísoparaorganismosàbasedemetanoousilício 1. Por estar a 1,4 bilhão de quilômetros do Sol, Titã recebe pouca energia solar. O efeito disso nos organismos seria uma menor pigmentação da pele, resultando em colorações mais escuras.
2. Lagos de metano e etano fornecem condições bioquímicas para a vida surgir e prosperar. A presença de silício nas moléculas protegeria os organismos do frio de -180 graus Celsius.
3. Com geologia complexa, a superfície de Titã tem relevo acidentado. Barreiras naturais como montanhas e dunas poderiam isolar os animais, estimulando novas espécies.
4. A atmosfera da lua é avermelhada. Ela é rica em compostos orgânicos (à base de carbono), que são bons para a biologia. O ambiente tem um ciclo hidrológico de metano, com chuva e neve.
NELES PODE HAVERVIDA COMO A CONHECEMOS
DOLOTEDE 1.284
EXOPLANETAS ANUNCIADOSEM MAIO PELA NASA,
550 SÃO ROCHOSOS COMO A TERRA
poderem procurar diretamente por organismos, instrumentos como microscópios são capazes de testar teorias em outros mundos e coletar dados para aprimorá-las ainda mais. “A detecção de vida como meta de missões planetárias vem ganhando força, o nível de interesse jamais esteve tão alto”, diz Chris McKay, astrobiólogo do Centro de Pesquisa Ames, da Nasa, e um dos principais nomes da área. O pesquisador arma que a falta de bons ins-
trumentos e de um alvo claro resultou em desinteresse da agência por investigações sobre o assunto, que só foram retomadas no m dos anos 1990. Ele destaca tam bém o fracasso do experimento biológico da sonda Viking, que pousou em Marte em 1976, como um dos principais fatores. “O sistema das sondas injetou uma solução no solo para tentar medir metabolismo procurando detectar metano, que é produzido pela respiração de micro-orga-
TIROAO ALVO
Soldado do Exército Nuer em Ulang, capital do estado Upper Nile, empunha um
AVIDA NOQUARTO PAÍSMAIS VIOLENTO DOMUNDO O repórter Fellipe Abreu passou uma semana no Sudão do Sul e o alojamento em que ele estava foi invadido já no segundo dia TEXTO E FOTOS FELLIPE ABREU
DESIGN BERNARDO BORGES
Enquanto tudo isso acontecia, eu dormia no
POR VOLTA DAS 3 h15, três homens entram ca-
minhando por uma rua estreita e esburacada de
Juba, capital do Sudão do Sul, onde funciona um alojamento da organização não governamental Nonviolent Peaceforce. Em cima do muro de dois
metros de altura, uma leira grossa de arame farpado foi colocada para dicultar qualquer tentativa de invasão. Mas os homens conseguem se meter por uma pequena brecha
e rendem dois seguranças desarmados. “Eu tentei brigar com o primeiro que pulou, mas logo veio o segundo. Eles me bateram e me jogaram no chão”, contou um deles mais tarde. Ninguém dentro dos quartos sabe que o alojamento foi invadido. Após render os guardas, os três homens, com a ajuda de um facão, arrombam a janela e invadem o primeiro dormitório. “Acordei com o barulho e, quando meus olhos se acos-
SUDÃO DO SUL
cômodo entre os quartos de Yohan e Marco. Mas, como era apenas minha segunda noite no país e eu ainda não havia sido apresentado a
Yohan, ele pulou o meu quarto por acreditar que estava vazio. “Eles tentaram abrir a porta e a janela
do seu quarto antes de irem para o do Marco, mas não conseguiram”, disse Yohan no dia seguinte. Depois de quase duas horas assaltando os quartos, os homens foram embora
levando tudo que conseguiram carregar. Estamos no Sudão do Sul, que, de acordo com o Índice de Paz Global realizado pelo Institute for Economics and Peace, é o quarto país mais perigoso do mundo, atrás da Síria, do
Iraque e do Afeganistão. Em meio à guerra civil que arrasa a nação desde dezembro de 2013, a economia, que nunca che-
tumaram à escuridão, percebi que três homens tinham inva-
gou a começar a funcionar bem, parou de vez. Os poços de pe-
dido meu quarto. Dois armados com AK-47 e outro, com um
tróleo do norte, que seriam a principal fonte para fazer o país
facão”, relembra Sashimal Yohan, natural do Sri Lanka. Depois de roubarem tudo de valor, os homens o levam até uma das
prosperar, não podem ser totalmente explorados por conta da
portas ao lado e o obrigam a chamar pelo nome a pessoa que
clusivamente de ajuda externa. Dessa forma, além da guerra
dorme lá dentro. Com medo, Yohan bate à porta e pede ao
civil, a criminalidade comum aumenta bastante nas principais cidades. Embora não seja possível cravar, muito provavelmente os três assaltantes que invadiram o alojamento da organização
amigo Marco que a abra. Sem desconar de nada, Marco, um português que também trabalha na organização, abre a
guerra. Quebrado, o governo sul-sudanês depende única e ex-
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DEOLHO
Soldado do Exército Nuer faz a guarda de um dos locais próximos ao centro militar, em Ulang 2
GALHOVIRAARMA
As principais brincadeiras entre as crianças sul-sudanesas envolvem “armas” e simulações de conflitos 3
MUNIÇÃOIMPORTADA
Soldado Nuer posa para a foto ostentando nos braços a arma mais vista pelas comunidades do país: o lendário fuzil AK-47 4
ATIVIDADEEM GRUPO
Crianças da etnia Nuer brincam no campo de refugiados de Juba
MULHERESECRIANÇAS, AS PRINCIPAIS VÍTIMAS DAGUERRACIVIL
Em consequência do antigo conito com o Sudão, grande parte da população do Sudão do Sul recebeu formação militar e ocupa cargos nas Forças Armadas do país. Coincidência ou não, quando há atraso no pagamento dos salários dos militares, aumenta o número de saques na capital. E os alvos geralmente são as organizações internacionais — únicos locais em que há dólares e artigos de valor. Nos três meses anteriores à minha chegada, 38 residências onde viviam estrangeiros foram assaltadas. Fora isso, Juba parece quase igual a muitas outras pequenas cidades africanas. Eletricidade não há, só por gerador. De todas as ruas da cidade, apenas cinco são asfaltadas. Grupos de crianças jogam futebol em terrenos baldios e cheios de mato, enquanto outros, na falta de carrinhos, usam pedaços de madeira para empurrar uma velha roda de bicicleta e correm como loucos pelas ruas esburacadas.
UM CARIOCA NO SUDÃO DO SUL O Sudão, de maioria árabe, e o Sudão do Sul, cristão, travaram algumas das guerras civis mais longas do continente africano. A primeira delas aconteceu de 1962 até 1978, e a segunda começou em 1983 e só acabou em 2005. Foi só em julho de 2011 que o Sudão do Sul nalmente se tornou um país independente. Mal deu tempo de comemorar e a nação caiu em uma nova guerra civil, dessa vez entre suas duas etnias principais: os Dinkas e os Nuer. A rixa entre os grupos é antiga, com massacres perpetuados por ambos ao longo das últimas décadas. Quando o Sudão do Sul passou a ser um país independe, o
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A VIDANO CAMPO
Campo de refugiados de Juba, onde vivem atualmente cerca de 30 mil refugiados Nuer 3
PAUSA
Todo dia, depois da aula, dezenas de crianças passam horas brincando em frente ao colégio 1
RETRATOS DA GUERRA
Alguns dos milhares de mulheres e crianças do campo de refugiados de Ulang
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PRECARIEDADE
Uma das melhores salas de aula do único colégio da região — parcialmente destruído no ataque que a comunidade sofreu em 2014
jeito encontrado para acomodar os interesses das duas etnias foi indicar um representante dos Dinka para a Presidência e um representante dos Neur para vice. Porém, antes do m do mandato, o então presidente Salva Kiir acusou o vice, Riek Machar, de conspirar para ocupar seu cargo, e não só o expulsou do governo como indicou outro Dinka para substituí-lo. Como diz um ditado popular africano, “quando os elefantes brigam, quem sofre é a grama”: com a batalha política armada, cada um dos desafetos levantou a bandeira da própria etnia, e o Exército se dividiu. Quando a guerra civil começou, na noite de 15 de dezembro, o carioca Thiago Wolfer estava trabalhando em uma cidade chamada Wanjuk, e sua mulher estava em Juba. “Foi um momento muito tenso. A casa onde minha mulher vivia foi invadida por soldados Dinkas, todos bêbados”, relembra o brasileiro. Formado em Relações Internacionais com ênfase em Análise de Conitos Internacionais, ele decidiu ir para o Sudão do Sul para trabalhar como coordenador da Nonviolent Peaceforce. Hoje, depois de três anos no país, pode-se dizer que Wolfer é o maior especialista brasileiro no Sudão do Sul. No entanto, mesmo com tantos desaos, algumas vivências positivas fazem todo o esforço valer a pena. Em maio de 2014, Wolfer viveu uma das suas experiências mais especiais no país, enquanto trabalhava em uma região chamada Old Fangak — dominada pela oposição Nuer. Três civis naturais de Uganda foram presos por soldados Nuer e acusados de espionagem, já que, como se sabe, Uganda apoia claramente os Dinkas, inclusive com tropas militares. “Os três foram acusados e seriam executados em poucos dias. Rapidamente, fui deslocado para esse caso e, depois de um processo de negociação que durou uma semana, nós conseguimos tirá-los de lá com vida.
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ÉBRASIL
O carioca Thiago Wolfer em um dia de trabalho no campo de refugiados de Ulang
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ABÊNÇÃO
Padre Raimundo coordena sessão de cura de traumas com refugiados da etnia Nuer
DO SERTÃO AO SUDÃO Aos domingos, o despertador de Raimundo costuma tocar às 6h30 da manhã. Depois de tomar o café da manhã e fazer sua oração matinal, ele se arruma, coloca a bata na mochila e segue para o campo de refugiados de Juba. Lá, reza a mis-
sa semanal em uma construção simples de ripas de madeira, telhado de zinco e chão de terra batida, onde se amontoam entre 400 e 500 pessoas, sentadas em cadeiras de plástico ou de pé nas laterais e nos fundos. Nascido em Balsas, interior do Maranhão, Raimundo Rocha dos Santos decidiu se dedicar à vida religiosa aos 21 anos. Foi ordenado padre em 2005 e, depois de destinar cinco anos ao trabalho missionário no Maranhão, resolveu ir para o Sudão do Sul. Chegou em junho de 2010, apenas 13 meses antes de o país se tornar ocialmente independente: “Eu me lembro que
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ABÊNÇÃO2
Duas senhoras participam de uma sessão de cura organizada pelo brasileiro 4
DIADEMISSA
O padre durante a missa de domingo no campo deJuba
dizendo que quem estava na linha de frente, abrindo caminho para as tropas do governo, eram mercenários muçulmanos de Darfur. “O comunicado dizia que esses mercenários matavam
todos que encontravam pela frente e, como eram muçulmanos, não respeitariam a igreja católica”, conta Raimundo.
Ele e os outros missionários, então, fugiram para um vilarejo às margens do Rio Nilo onde caram por 18 dias. Eles dormiam em montes de capim, bebiam água do mesmo pântano onde tomavam banho e comiam o que o povo oferecia. “Mas logo a comida acabou, e passamos fome por alguns dias. Tivemos de pensar em uma solução para sair de lá”, relembra. Eles concor -
daram que o jeito era mandar alguém até a cidade mais próxima para negociar com a autoridade local. Uma senhora idosa se ofereceu para a tarefa, argumentando que não seria morta, por
ser mulher, tampouco violentada, por ser idosa demais. “Àquela
naquele período falava-se muito em desenvolvimento, existia a esperança de que o país nalmente prosperasse”. Quando a guerra estourou, além da missão da qual Raimundo
altura, todos nós pensávamos que iríamos morrer, mas graças a Deus tudo deu certo e fomos resgatados.”
faz parte, havia outras cinco ONGs na cidade. Com a invasão
Leer, em vez de afastarem o padre Raimundo do Sudão do Sul, deram-lhe ainda mais força para continuar: “Infelizmente, vejo
iminente, todas elas tiveram de evacuar, mas Raimundo e os demais missionários decidiram car. “Éramos nove, cinco homens e quatro mulheres. Resolvemos car para que a nossa presença inibisse as atrocidades que as tropas inigiam aos civis”, explica.
Passados mais de dois anos do resgate, os traumas vividos em
uma longa estrada pela frente para a reconciliação entre os povos do Sudão do Sul. Mas minha missão é trabalhar para que exista
mais perdão entre eles para que um dia a paz seja estabele-
TEXTO NATHAN FERNANDES
DESIGN FEU
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Em tempos de apps de paquera ,
o amor parece estar fora de moda. Desde o começo dos anos 2000, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman escreve sobre a fragilidade das relações atuais. E, há 30 anos, o cantor David Bowie já nos alertava para a falta de credibilidade do amor moderno. Para muita gente, aplicativos como Tinder e Grindr são o tiro de misericórdia no coração da sociedade. Mas a francesa Marie Cosnard, diretora de tendências do Happn, tem uma visão menos apocalíptica dos romances de hoje. Para ela, é a tecnologia que acompanha os comportamentos sociais, não o contrário. Cosnard cita o exemplo de São Paulo, que, dentre as 30 cidades nas quais o Happn está presente, é o lugar com maior vocação para acompanhar esse tipo de tecnologia. “Denitivamente, São Paulo é a capital global do crush”, arma a diretora. O app francês, que usa geolocalização para mostrar pessoas que se cruzaram e apresentar possíveis parceiros, foi criado em 2014, chegou ao Brasil em abril de 2015 e já conta com 1,7 milhão de usuários à procura de um “lance” [insira aqui a denição mais adequada]. O país já é o principal mercado do aplicativo, que tem mais de 10 milhões de pers cadastrados no mundo. Segundo Cosnard, o entusiasmo paulistano se deve, principalmente, à cultura sociável do brasileiro. “Além disso, há o paradoxo das grandes cidades: onde existem muitas pessoas que gastam muito tempo nos transportes ou no trabalho e acham difícil conduzir um relacionamento, o app é uma facilidade.”
GALILEU convocou um editor recém-solteiro, que odeia escrever em terceira pessoa, para conversar com Cosnard sobre como os aplicativos de paquera podem mudar a percepção so bre os relacionamentos, de que forma isso banaliza (ou não) o amor e como essa tecnologia pode ser associada às causas feministas. No nal, compadecida com a solteirice do entrevistador, a executiva concedeu a ele um crédito de 100 Charmes (o equivalente à“cutucada” do Facebook) para avaliar com rigor a supercialidade das relações contemporâneas.
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Quandopergunteiaosmeus amigosgaysqualappdepaquera deveria usar, eles me disseram que,sequisessesósexo,deveria usar o Hornett, mas para casar seria melhoroptar pelo Happn. Esse estereótipo faz sentido?
Ao nosabrirmos para alguém, corremos o risco da rejeição. Eliminandoesserisco,como os apps de paquera afetam as relações amorosas?
[ Risos.] Não julgamos e não ditamos comportamento. Só queremos que você encontre gente com quem cru-
dar um like na pessoa e ela só vai sa ber se retribuir, assim tem-se o “Crush”. Não existe rejeição aí. A outra opção é
zou. São pessoas do seu entorno, geral-
o “Charme”, isto é, se quiser ser mais
mente do trabalho ou vizinhos, gente fácil de encontrar... Nós conectamos e você faz o que quiser. Anal, estamos em 2016. A questão é que, por usar a geolocalização, pode ser que você cru-
ze novamente com a pessoa. Isso faz com que o pessoal seja mais resposável ao pensar em fazer sexo casual com o vizinho, por exemplo.
No Happn há duasopções. Uma é o like, ou seja, se voce gosta de alguém, pode
proativo, você usa essa alternativa para
se assegurar de que a pessoa vai ver você. Mas sempre me perguntam: “Se
mo, já que, se estiver interpretando um
eu estiver em uma festa e me interessar
personagem, nunca vai se encontrar
por alguém, devo procurá-lo no celular?”. Claro que não! Você vai lá e fala com ele. Por que car online se a pessoa
está na sua frente? Os apps são uma ajuda, e, no Happn, o foco é a vida real.
Asbrasileirasestãonotopodo ranking de mulheres da América Latina que mais enviamCharmes. Achaquepodemosassociar isso às causas feministas? Existe esse problema de pessoas mais conservadoras acharem que não é na-
tural uma mulher tomar a iniciativa. Mas acredito que isso, na verdade, é uma questão comum a todos — digo a questão de sair do seu círculo social e ter um lugar reservado para fazer coisas que você quer, sem ser julgado por
conhecidos. Isso empodera não só as mulheres, mas qualquer pessoa. Hoje, as mulheres não precisam mais ter vergonha de nada, e os apps ajudam.
Algunsespecialistas consideram quequem ficamuitotempoonline cria uma personalidade virtual maiscríticaesexualizada,oque provocadepressãoecrisesde pânico quando confrontado com avidareal.Nocasodosappsde paquera, quão longe podemos ir? MARIE COSNARD
Participante da equipe do Happn desde seu lançamento na França, em 2014, Cosnard comandou a entrada do app em Londres e logo se tornou diretora de tendências e porta-voz da empresa.
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Acho que a geocalização é uma ferramenta importante contra esse tipo de problema. É claro que as pessoas podem manter uma relação virtual durante anos sem nem acontecer um encontro. Mas no Happn isso não existe, porque as pessoas vivem perto. Isso é
um incentivo natural a ser você mes-
com a pessoa. A ansiedade moderna na era digital é um problema de todas as redes sociais. O que recomendo é: seja você mesmo, porque se alguém se apaixonar por você na rua e quiser encontrá-lo, você terá que ser reconhecível.
AescritoraNancyJoSales escreveuqueaculturadapegação (quenãoéumacoisanadanova) colidiucomosappsdepaquera como um meteoro, destruindo osrituaisde flerte. Concorda? Não. Atualmente estamos mais abertos, não temos medo de dizer que tran-
samos com alguém e não queremos mais nada com essa pessoa. Acho que
há 20 anos não se falaria isso abertamente, ou era uma coisa mais reservada aos homens — voltando àquela questão sobre feminismo. Creio que o erte é o mesmo, mas os apps facilitam essa circunstância. Nós ainda dependemos muito da vida real, das pequenas chamas — que só se acendem quando vemos a pessoa cara a cara.
NancySalestambémescreveuqueo ato de escolher produtos hoje pode sercomparadoaoatodeescolher umparceirosexual.Vocêachaque estamos escolhendo amantes como escolhemos coisas no mercado? Não. Um estudo da Universidade San Diego diz que os millennials hoje estão
fazendo menos sexo do que as gerações anteriores (veja quadro ao lado).
Acontece que agora falamos mais de sexo casual do que antes, mas não quer dizer que estejamos fazendo mais sexo.
0 8 9 1 E
6 9 9 1 E 1 8 9 1 E R T N E S O D I C S A N
4 6 9 1 E 6 4 9 1 E R T N E S O D I C S A N
0 6 9 1 E R T N E S O D I C S A N
5 2 9 1 E 0 1 9 1 E R T N E S O D I C S A N
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Vocêachaqueoproblema dessasrelaçõessuperficiais sãodosappsdepaqueraou daspessoasqueosusam?
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SEXO ATRAVÉS DOS ANOS 5
Um estudoda Universidade de Chicago afirmouque,entre2005 e 2012, os relacionamentosque começaramonline têmuma taxadetérminomenor(6%)do que aqueles que começaram offline (7,6%).Por que você você acha que isso acontece?
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“SEMPRE ME PERGUNTAM: ‘SE EU ESTIVER EM UMA FESTA E ME INTERESSAR POR ALGUÉM, DEVO PROCURÁ LO NO CELULAR?’. CLARO QUE NÃO! POR QUE FICAR ONLINE SE A PESSOA ESTÁ NA SUA FRENTE? OS APPS SÃO UMA AJUDA, E, NO HAPPN, O FOCO É A VIDA REAL.”
Estudomostra a média de parceiros sexuais por geração*
Acho que isso é um bom sinal [ risos]. Mas, na verdade, pessoalmente, dou muita importância à vida real. Então, não gosto muito desses resultados, porque eles comparam as duas situações como se uma fosse melhor do que a outra. E penso que, talvez, os números estejam até errados, pois com certeza já tivemos mais relacionamentos que começaram ofine do que online, e os divórcios que acontecem agora dizem respeito a esses relacionamentos. Os que começaram online talvez ainda estejam acontecendo, é uma coisa nova. As pessoas são bastante diferentes, não acho que devemos dar atenção a esses números.
�
Ao sociólgo Zygmunt Bauman um entrevistadoafirmouquea vantagem dos apps de paquera équevocêsemprepodeapertar o botão “delete”. Além disso, a palavra“ghosting”—queéoato depararrepentinamentedese comunicarcom umapessoacom quem você está ficando—foieleita umadaspalavrasdoanode2015 pelo Collins English Dictionary
Não acho que sejam os apps, porque antes da internet e das redes sociais nós também podíamos escolher nunca mais ligar para uma pessoa ou nunca mais vê-la. Era exatamente a mesma coisa de hoje. Ok, não existia um botão para apagar alguém de forma efetiva, mas era exatamente a mesma coisa. Logo, não é uma novidade. A questão é que hoje há muito mais pontos de conexão para você bloquear.
Várias pessoas acham que os apps de paquera incentivam essas relações superficiais. Mas Bauman já escreveu sobre isso há13anos,em Amor Líquido . Seráqueosappsestãosó acelerando algo inevitável? Não creio que os apps estejam incentivando isso. A tecnologia é que acompanha o comportamento social. Sempre me perguntam se as pessoas estão traindo mais agora com a ajuda dos apps, e eu sempre respondo que não. Isso é da natureza humana. Se a pessoa é do tipo que trai, ela não precisa de app para trair. Ela encontra uma forma, não se trata de tecnologia.
Bauman também diz que as coisas na pós-modernidade— ou modernidade líquida, como ele chama—nãosãofeitasparadurar para sempre. Como o Happn planeja desmentiressaafirmação? Não sei se vamos viver para sempre, mas definitivamente queremos ser mais do que um buzz [ risos]. Realmente acreditamos que temos algo diferente. Não estamos tentando ditar nenhum comportamento, ou objeticar pessoas com um simples “sim” ou “não”. O que estamos tentando fazer é recriar encontros da vida real. *FONTE: JeanTwenge,DepartamentodePsicologiada
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UniversidadeSan Diego.
APRESENTAM
REME NAS
Como tecnologia, inovação e dados (muitos dados) são cada vez mais usados para garantir maior efciência e produtividade naindústriaeesporte
era digital já começou. Cada vez mais, dados coletados em tempo real estão sendo usados para melhorar a produtividade e transformar diversos setores da indústria. A GE trará essa nova realidade para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, eventos dos quais é patrocinadora ofcial. Durante a competição, mais de 125 projetos da GE, envolvendo energia, saúde, tratamento de água, entre outros, suportarão o sucesso dos Jogos. A empresa ainda foi além: encontrou no esporte uma maneira de mostrar o potencial da análise de dados para aumento de produtividade. Essa solução digital, já referência em todo o País, soma-se ao conhecimento global da GE e transforma a maneira de coletar dados para dei xar o mundo mais eciente.
A
CONECTADO Entenda como a internet industrial daGEestátornandoo mundo mais produtivo
O Ã Ç A N I M U L I
LUZ PARA TODOS Com mais de 40 projetosde iluminação, a GE entregará cerca de 200 mil luminárias para o Rio de Janeiro.
CARA NOVA
Um dos presentes da GE para o Rio são mais de 1,6 mil luminárias, que serão instaladas noAterro do Flamengoe na Lapa, comtelegestão, que permitem monitoramento remoto e ajustesà distância, além de alteração da intensidade
RESULTADO
ANOVA ILUMINAÇÃO PÚBLICANOS BAIRROS DO RIODEJANEIRO PERMITIRÁ REDUZIRO CONSUMOEMATÉ
78%
PETRÓLEO
REVOLUÇÃO NOS TREINOS
M E G A O N A C
PLATAFORMA CONECTADA
Em uma parceria inovadora com a Canoagem Brasileira, o Centro de Pesquisas da GE desenvolveu um software para avaliar a performance dos atletas. Um sistema inteligente conecta as canoas à nuvem, e o cruzamento dos dados coletados oferece ao técnico uma análise completa e de fácil visualização, disponível em um tablet, se tornando um valioso diferencial na preparação dos nossos atletas rumo ao pódio.
Monitoramento e diagnóstico remotos das turbinas a gás de variáveis como temperatura, pressão, vibração, nível de óleo e velocidade melhoram a eciência das FPSOs.
RESULTADO
ORECURSOPERMITE EVITAR PARADASNÃO PROGRAMADAS.
FERROVIAS RESULTADO
“NÃOEXISTENOMUNDONADAPARECIDO, EMTERMOSDEANÁLISEDEDADOSOUDE TRANSMISSÃOEMTEMPOREAL,COMOQUEAGE ESTÁTRAZENDOPARAACANOAGEMBRASILEIRA”
LOCOMOTIVA DIGITAL PARA O BRASIL Seu sistema liga e desliga o motor a diesel automaticamente. A locomotiva tambémcontacom sensoresque a monitoramem temporeal.
Diantede um problema, um sinal é enviadopara a central de controle remoto da GE,
queavisa o cliente.
João Tomasini Schwertner, presidente da Confederação Brasileira de Canoagem RESULTADO
REDUZOS DESGASTES, OUSODE COMBUSTÍVEL EAEMISSÃODE POLUENTES SAÚDE
R$ 20 MILHÕES
=
80% MENOS POLUENTES ATENDIMENTO DE OURO
ÉOVALORDOPRESENTEDAGEEMSOLUÇÕES NASÁREASDESAÚDEEILUMINAÇÃOPARAORIO DEJANEIRO.OOBJETIVOÉMELHORARACIDADE EDEIXARUMLEGADOPARAAPOPULAÇÃO.
A GE traz aos Jogos o Registro Médico Eletrônico, uma solução digital que conecta e disponibiliza todo o histórico médico dos pacientes em uma plataforma na nuvem.
RESULTADO
MEDICINAHIGH-TECH A GE também deixará de presente para o Rio equipamentos e softwares no Hospital Souza Aguiar, com a substituição de soluções analógicas por máquinas de diagnóstico por imagem (como tomograa e ultrassom) com alta tecnologia digital.
O 24 NOVOSEQUIPAMENTOS D 30% MAISCIRURGIAS A T 100% MAISEXAMESDE L U DIANÓSTICOPOR IMAGEM S 130MIL EXAMES ARMAZENADOS E R DIGITALMENTE PORANO
COMBINAÇÃO DE DADOS PARA UM DIAGNÓSTICO MAISINTELIGENTEE PRECISO A QUALQUER MOMENTO.
CRE
MENOS MÚSCULOS, MAIS
DESIGN JORGE OLIVEIRA
POR ALEXANDRE DE SANTI E MARCELA DONINI
EDIÇÃO GIULIANA DE TOLEDO
ILUSTRAÇÕES EVANDRO BERTOL
Os Jogos Olímpicos sã são o um grande sh sho ow r o o m de inovação. As mar ca s n ão pe r d e m a c ha n ce de exib ir o qu e têm de mais ma is avan ança çado do..
NA ESSÊNCIA, tudo ESSÊNCIA, tudo podia ser muito simples. Atletas, espírito olímpico e medalhas. Para correr a maratona, bastaria uniforme e um par de calça Ao redor do mundo, o evento deve ser assistido por
4 mais mais de
BII B LHÕES DE
PESSOAS
dos. Na pis dos. piscin cina, a, men menos os ain ainda:maiô da:maiô ou sunga e a vonta vontade de de venc vencer er.. Mass o esp Ma esport ortee se des desenv envolv olveu eu mui mui-to alé além m dos pri princí ncípio pioss pro propos postos tos pel pelo o
Barão de Coubertin, o inventor dos Jogos da Era Moderna. Ao desejo de união dos povos, treinadores e atletas vêm somando as mais avançadas técnicas. A partir de 5 de agosto, no Rio de Janeiro, seremos seremos testemunhas
de uma prova paralela: a corrida da tecnolog tecn ologia. ia. Dent Dentro ro e for fora a das quad quadras ras..
No século 21, as competições servem de de desc sculp ulpa a pa para ra um gr grand andee de desfi sfile le de equipame equi pamentos ntos e uni uniforme formess cria criados dos por engenheiros e amantes do esporte.
Um centro de treinamento pode incluir salas de simulação, com telões realistas e controle de temperatura e pressão pre ssão.. Tudo para ambi ambientaros entaros com com-petidores aos mais variados locais de competiç comp etição. ão. Não por acas acaso, o, a ave aventur ntura a
olímpica se tornou cara, e os atletas recorrem recorre m atéa vaq vaquin uinhas has virt virtuaispara uaispara pagar os seus treinamentos.
Durant Dur ante e a comp competiç etição, ão, os uni uniform formes es
prometem tornar os competidores maisrápidos. Umaimensi maisrápidos. Umaimensidão dão de dado dadoss é envi enviada ada par para a apli aplicati cativos vos que ajud ajudam am as dele delegaç gações ões a traç traçar ar as melh melhore oress estratégias para cada prova.
As federações esportivas, tradicionalmentee avessas a técnicas que cionalment tornem o esporte dependente de tec-
nologia, estão cada vez mais abertas a sistemas eletrôn eletrônicos, icos, principalme principalmente nte para reduzir erros de juízes. E, no Rio,
o público poderá acompanhar a aplicação de inovações até após o fim da Olimpíada, quando estruturas serão desmontadas para a construção de centros de treinamento e escolas.
Os organizadores reservaram um orçamento recorde para garantir que tudo isso seja assistido por uma audiência gigantesca — a previsão é que 4 bil bilhõe hõess depesso depessoas as aoredo aoredorr do mun mundo do
acompanhem o evento. Dos R$ 7,4 bilhões de ver lhões verba ba do Com Comitê itê Org Organiz anizado ador, r, 19% serã serão o gast gastos os em tecn tecnolog ologia. ia.Plat Plateia eia não falta para tanto investimento. investimento.
NOS BRAÇO BRAÇOSS DA TORCI TORCIDA DA
M ANTES
DOS JOG JOGOS OS
Medalha no peito e chapéu na mão. Atletas olímpicos de peso, como Maurren Maggi, ouro em Pequim no salto em distância, apostam nos sites de nanciamento coletivo para tapar os buracos deixados pelos patrocinadores. Em 2014, a paulista lista lanço lançou u uma campan campanha ha de crow crowdfu dfundi nding ng para para subsid subsidiar iar seus seus treino treinos s de olho olho na Olimpí Olimpíada ada do Rio. Rio. Mas, no início deste ano, despediu-se das pistas. Antes di sso, a campanha, que buscava j untar R$ 100 100 mil, mil, já haviacad haviacado o pela pela metade— metade— conse consegui guiu u R$ 44.483. Lá fora há exemplos mais bem-sucedidos, como o do jovem palestino Mohammed Al-Khatib. Com 216 apoiadores, o velocista arrecadou recadou US$ 12.765, 163% do que pediu no site Indiegogo para treinar para os Jogos do Rio. No exterior ou aqui, o recurso tem sido mais ecaz para atletas iniciantes. Com metas menores, nomes pouco conhecidos, como a esgrimista Giulia Gasparin, encontram ajuda para dar sequência a seus treinos. A menina de Curitiba está fora dos Jogos Jogos Olímpicos deste ano, mas, pelo site especializado em crowdfunding esportivo Make a Champ, arrecadou, com 128 doadores, US$ 4.138 (cerca de R$ 14.500), 103% do
Vaqui Va quinha nhass vir virtua tuais is aju ajudam dam a lev levar ar esport esp ortist istas as par paraa a Oli Olimpí mpíada ada.. Mas alg alguns uns ficam pel peloo cam caminh inhoo
que pretendia para custear uma temporada no exterior. Já o triatleta Wesley Matos cou nos 71% da meta. Mesmo assim, levou para casa os R$ 14.115 doados por 71 apoiadores. Com a grana, o cearense comprou uma bicicleta nova. Nem todas as plataformas de crowdfunding são boazinhas assim — algumas trabalham com o método “tudo ou nada”, nada”, ou seja, se você não atinge a meta, meta, não recebe recebe nem um centavo, centavo, e o dinheiro arrecadado arrecadado pode ser direcionado a outras campanhas ou devolvido aos doadores. Porém, o Make a Champ é um projeto criado pelo judoca canadense David Ancor, que conhece bem as diculdades para viver do esporte. Ancor lançou a plataforma em 2013, depois de ter se decepcionado com o apoio do governo do Canadá, país que representou no mundial juvenil de judô. Com foco em campanhas de atletas e times, a plataforma levantou US$ 350 mil no primeiro ano de operação. Hoje já bateu a marca de US$ 2,5 milhões. Estão cadastrados 10 mil esportistas de 36 países, dos quais seis foram para a Olimpíada de Inverno de Sochi, em 2014. Enqua Enquant nto o isso, isso, no Brasi Brasil, l, sites sites como como o Vakinh akinha, a, no qual não é preciso oferecer recompensas aos doador doadores, es, atraem atraem atleta atletas s parao paraolím límpic picos os e até até volun volun-tári tários os dos dos Jogo Jogos s que que pedem pedem ajud ajuda a para para se banc bancar ar — mas mas aind ainda a estã estão o long longe e das das suas suas metas metas,, mesmo mesmo que que algu alguma mas s não não pass passem em de R$ 1 mil. mil. Já na plat plataf afor orma ma Catarse, velejadores como João Siemsen Bulhões e Juliana Mota conseguiram mais de R$ 60 mil. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) também entrou na onda e está apoiando o Coletivo do Esporte, lançado pela Microsoft neste ano. A plataforma tem foco em projetos esportivos e de inclusão social, liderados por personalidades como o ex-atleta olímpico Robson Caetano. O site conta com uma calculadora para que o doador, pessoa física ou jurídica, saiba quanto pode deduzir do Imposto de Renda ao contribuir para projetos enquadrados na Lei de Incentivo ao Esporte — talvez o estímulo que falte para que a ideia deslanche de vez entre os brasileiros.
UM OLHO NA QUADRA, OUTRO NA TELA Programadores estão entre os maiores aliados dos técnicos de atletas de alta performance
J
ANTES
DOSJOGOS
Junte dez jogad ores, três bolas e, em apenas dez minutos de treino, você terá 7 milhões de dados. Essa é a matemática que está por trás do massacre alemão sobre a seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 2014. Obviamente, não era com lápis e papel que o então diretor esportivo da Alemanha, Oliver Bierhoff, fazia seus cálculos. Se quisermos culpar algo pela derrota histórica, o alvo pode ser o software da empresa alemã SAP, que possibilitou o cruzamento de informações durante os jogos com base em imagens. A Olimpíada do Rio tem tudo para ser a edição do big data. O aprimoramento dos atletas por meio de dados obtidos em vídeos é a grande aposta do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Em 2012, a estratégia ganhou força com a contratação da americana especialista em tecnologia esportiva Kristin Collins.
Com imagens em alta resolução — às vezes gravadas com drones, como nas provas de BMX (bicicross) —, são geradas estatísticas para no-
vas técnicas e correções de movimento, destaca Sebastian Pereira, gerente de performance esportiva do COB. Centros de Treinamento já receberam algumas das 30 câmeras fornecidas pela Cisco, companhia responsável pela comunicação a distância do comitê. Por meio delas, prossionais observam, controlando ângulos e zoom, e interagem com o esportista. Os dois softwares utilizados pelo COB, com versões desktop e mobile, são o Dartsh e o Sportcode, mais indicado para modalidades coletivas — uma exceção é o judô. No tatame, são mais de cem as técnicas permitidas, que têm variações e inúmeras possibilidades de cruzamento de dados. Assim, é possível traçar um perl do rival e se preparar, por exemplo, para lutar contra alguém que faz oito ataques por minuto, tende a ser mais ofensivo nos dois minutos iniciais e tem maior probabilidade de atacar no centro da área. Isso se o oponente for destro — caso seja canhoto, os dados podem mudar. Nem o árbitro escapa da decupagem, que é feita em tempo real pelo analista de desempenho e pode ser acessada remotamente por outro prossional. Estrategista da Confederação Brasileira de Judô, Leonardo Mataruna explica que é possível saber se o juiz tende a deixar a luta rolar e até se costuma punir mais atletas brasileiros ou de outras nacionalidades. “Tud o depende do objetivo do treinador”, ressalta. No último ano, Mataruna começou um trabalho de leitura de expressão facial pelo software Face Reader, para identicar emoções antes, durante e depois de uma luta, enquanto o atleta assiste a uma partida sua. Se aprovado, o software já será usado nos Jogos do Rio.
O TREINO PERFEITO
Em busca de um milésimo a menos ou de um ponto a mais, a tecnologia do esporte movimenta bilhões de dólares. O tempo perdido pode ser recuperado com a roupa perfeita debaixo d’água ou com o ângulo exato entre o braço e o antebraço que vai levar ao nocaute. Para que os humanos atinjam essa perfeição, só mesmo com a ajuda de computadores
TÁ QUENTE, TÁ FRIO Cercada de morros, a cidade da Universidade Federal de Santa Maria(RS) é famosapelo clima abafado.Apenas uma área de 36 metros quadrados está a salvo das variações naturais — mas a mando do treinador. No Laboratório de Per-
formanceem Ambiente Simulado,é só decidir a temperatura, a umidade relativa do ar e a con-
centração de O2 e, assim, avaliar as reações do atletadentro de umacaixade vidro. Esportistas de diferentes modalidades podem se beneficiar de simuladores como este, algunsdelescom TV na frentepara imitaro circuito.Bastalevarpara dentroda câmara aparelhos ergométricos, como bicicletas, esteiras e remos, e a tela.
ADVERSÁRIO DE MENTIRINHA Que atleta não gostaria de garantir treinos sem lesões? Lutadores britânicos de taekwondo estão perto disso. O simulador desenvolvido pela Bae Systems promove a luta contra um adversário virtual. Por meio de sensores sofisticados, é possível rastrear com precisão os movimentos do lutador e seu tempo de reação.
O PULSO AINDA PULSA
E O VENTO NÃO LEVOU Da água ou da neve, atletas testam em túneis devento a aerodinâmica de roupas de natação, capacetes de bobsled e movimentos sobre o esqui. Os esportistas entram em câmaras desenvolvidas por marcas como Audi e BMW, que testam carros e até aviões. Com um jato de fumaça direcionado ao atleta no sentido do vento (que pode chegar a 300 km/h), o fluxo de ar torna-se visível. Os dados da análise dessa trajetória servem de base para estratégias que diminuam o atrito com o ar (ou com a água), que pode custar frações de segundos — e uma medalha.
Usadas por atletas de fim de semana, as pulseiras inteligentes podem ser úteis também para os profissionais. O Comitê Olímpico do Brasil estuda uma parceria com a Microsoft para monitorar dados dos esportistas e usá-los para aprimorar treinamentos. A segunda geração da smartband da marca mede batimentos cardíacos, calorias perdidas, distância percorrida, passos dados e até aproveitamento de oxigênio, além de analisar a qualidade do sono do usuário.
TECNOLOGIA DENTRO E FORA DA QUADRA Nos tecidos dos uniformes, nas telas dos juízes, nos celulares dos técnicos. As competições DURANTE OSJOGOS
dependem cada vez mais dos eletrônicos e de engenheiros para distribuir as medalhas aos melhores. Conheça alguns recursos tecnológicos que serão apresentados no Rio
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1. TERNINHO ANTIZIKA
Os sul-coreanosvão desfilar nas cerimônias de abertura e encerramento com uniformes tratados com repelente contra o mosquito Aedes aegypti , transmissor de doenças como dengue e zika, que têm causado pânico global. Nas provas, no entanto, os atletas poderão contar apenas com o bom e velho spray: as roupas de competição não puderam receber o tratamento especial em respeito às regras das olimpíadas.
TECH WONDO
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Até os Jogos Olímpícos de Londres, em 2012, toda a pontuação do taekwondo dependia somente do olho do árbitro. Se ele enxergava o contato, validava o golpe. Mas era um sistema cheio de erros, é claro. Em Londres, os lutadores passaram a usar coletes eletrônicos, que marcavam a pontuação automaticamente no contato com o adversário. Agora a tecnologia chegou aos capacetes dos atletas. Além disso, o taekwondo ganhou o auxílio do replay para esclarecer dúvidas sobre as decisões dos juízes.
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PERFORMANCENO BOLSO
Os mesmos softwares que ajudam na preparação dos esportistas são usados durante as competições. Os técnicos podem sacaro smartphone do bolso e, com os aplicativos customizados, descobrir estatísticas em tempo real, para tomaras melhores decisões sobre a estratégia de cada prova ou partida.
ROBÔ CIRURGIÃO
Para economizar dinheiro, algumas delegações deixam os médicos das equipes nos seus países de origem. Mas os atletas podem sofrer lesões e, nesses episódios, é necessário tomar medidas rápidas em relação a tratamentos e eventuais cirurgias. Para atenuar a distância, os organizadores dosJogosvão colocar robôs de telepresença em salas de operação para que os especialistas, de longe, ajudem cirurgiões in loco nos procedimentos. Os robôs têm rodas e são comandados quem está no outro paí
VÍDEO NA AREIA
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O jogador dá a cortada, e o adversário sobe para bloqueá-la. A bola vai para fora. Mas pegou ou não na mão do bloqueador? Desde 2013, essa dúvida pode ser sanada no vôlei de quadra com ajuda do replay.
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ROUPA MÁGICA
O Brasil e outras 12 delegações usarão um novo tipo de uniforme criado pela Nike que promete deixar os atletas mais rápidos. Polêmicas parecidas já atingiram a natação, quando maiôs especiais supostamente u ltrarrápidos foram proibidos em competições. De acordo com a fabricante, o efeito é resultado de duas tecnologias: o tecido AeroSwift, mais leve, e o aparato AeroBlade, espécie de manga e de polaina de compressão reduz o atrito.
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SEMGUIA
NUMFUTURO NÃOMUITO DISTANTE...
Pesquisadorestambém estão criando tecnologiaspara as paralimpíadas. Uma das ideiasvem da Universidade Nilton Lins, de Manaus. O projetoMeu Guiaquer eliminar a figura do guia nascorridasde deficientes visuais. Hoje os atletas contam com um acompanhante, ligado por umacorda,parase manteremno rumo certo. O MeuGuia testamacacõese braceletes que transmitemsinais para queo corredorse localize. O sistema nãoestápronto. Na Rio-2016deveráser feita uma demonstraçãodo projeto.
Cada time pode desaar a decisão do juiz até duas vezes por set. Agora, o sistema eletrônico chega ao vôlei de praia pela primeira vez em uma olimpíada depois de testes realizados desde 2015.
OLIMPÍADA
Em 2015, uma competição de games levou 12 mil pessoas ao estádio do Palmeiras. Acostume-se: esses eventos vieram para car. No Rio, um torneio de dois dias, paralelo à Olimpíada, será promovido com apoio do governo britânico. Ainda não estão denidos os jogos dos eGames de 2016 ou quais países
terão representantes, mas a competição é apenas um aperitivo para a primeira verdadeira olimpíada de games, a ser realizada em 2018, na Coreia do Sul.
NOS BASTIDORES Um dos contratos da Rio-2016 com fornecedores prevê 55 terabytes (equivalente a 6,8 mil pendrives de 8 GB) para armazenamento de dados, mas o volume pode chegar a até 120 terabytes (15 mil pendrives). Outro fornecedor instalou um backbone, rede de alta performance, com 340 km de extensão.
DURANTE OSJOGOS
HAJA INTERNET A infraestrutura dos jogos inclui
100 MIL
VOLUNTARIADO NERD Ponto para o Brasil! Mas quem é responsável por apertar o botão que muda o placar eletrônico? E quem abastece as estatísticas dos jogos que aparecem na tela da TV? Essas tarefas são realizadas por cerca de 2 mil voluntários. Além de dar apoio na operação desses sistemas eletrônicos, eles ajudam no suporte de computadores, máquinas e aparelhos que mantêm a chama acesa.
PORTAS DE
NA TELINHA
Os direitos de transmissão dos Jogos são a maior fonte de receita do Comitê Olímpico Internacional (COI). O atual contrato, validado para os Jogos de 2012, 2016 e 2020, rendeu US$ 4,4 bilhões para a entidade. Natural, portanto, que as acomodações para os funcionários das emissoras estejam entre as principais preocupações dos organizadores. O prédio que vai abrigar apenas as 95 emissoras de rádio e televisão credenciadas, o IBC (sigla em inglês para Centro Internacional de Transmissão), custou cerca de R$ 640 milhões. Para hospedar cerca de 10 mil prossionais e manter os equipamentos que vão levar som e imagem em alta denição a 203 países, é necessário ar-condicionado e gerador de energia para garantir a transmissão ininterrupta das competições. Somente esses dois itens, ar e gerador, custaram R$ 240 milhões, ou 37% da obra. Os dois sistemas, inclusive, foram motivo de atraso na construção. Inicialmente, seriam pagos pelo governo federal, mas a União teve de contar com a ajuda do Comitê Rio 2016, que comprou o ar-condicionado, e do governo estadual, que bancou o gerador.
REDE LOCAL
8 mil rádios wi-f
150 dispositivos de segurança de rede (Firewall e IDS/IPS)
500 SERVIDORES
SEGURANÇAAÉREA Quatro balões equipados com câmeras de alta definição vão ajudar a polícia a manter a paz nos espaços olímpicos. Cada bola branca inflável sobe até 200 metros e faz imagens de 360 graus com 13 câmeras capazes de reconhecer um rosto a 13 quilômetros de distância. As imagens, que podem ser produzidas por 72 horas ininterruptas, são enviadas em tempo real para uma central de controle. Os balões custaram R$ 20 milhões, mas seu uso após os Jogos está em xeque. O problema é o custo do combustível. Para cada voo, é necessário investir R$ 12 mil em gás hélio.
PARA O PÚBLICO
Mesmo quem não estará no Rio poderá perceber o investimento em tecnologia feito para esta edição dos Jogos Olímpicos. Prepare-se (especialmente no bolso) para experimentar as competições até em realidade virtual
FESTA VIRTUAL
As cerimônias de abertura e encerramento serão transmitidas ao vivo e em realidade virtual — uma novidade para este ano. Os organizadores ainda não deram muitos detalhes de como será a experiência do público que possuir óculos como o Rift (US$ 600) ou o Cardboard (US$ 15). Mas garantem imersão nas festas e em ao menos um evento por dia. Além disso, o público poderá ver vídeos em 360 graus durante a cobertura, sem necessidade dos óculos especiais.
MEDALHAS EM 8K
Cerca de 130 horas do evento serão captadas e transmitidas em resolução 8K. Mas o que é 8K? Se você parou de acompanhar a evolução dastelevisões quando elas chegaram à tecnologia full HD, está desculpado pela dúvida. Só agora o mercado começa a ser povoado poraparelhos 4K, que transmitem imagens próximas do grau de detalhamento captado pelo olho humano. O sistema 8K, com resolução de 7.680 pixels por 4.320 pixels, é um passo adiante — quase ficção científica. Mas alguns japoneses (sempre eles) já possuem esses aparelhos, que chegam a custar mais de R$ 300 mil.As festas de abertura e encerramento, além de provas de natação, judô, atletismo, basquete e futebol, serão transmitidas nessa super-resolução. É um teste para os Jogos de 2020, que acontecerão em… Tóquio.
SNAP OLÍMPICO
7 MIL HORAS
E T E P M O C M É B M A T Ê C O V
O aplicativo oficial dos Jogos, o Meu Rio 2016, oferece o básico do que se espera de um serviço desses: notícias, informações sobre o trajeto da tocha, calendário de provas etc. Porém, o app também já promoveu desafios para dar prêmios a usuários. No início do ano, uma brincadeira de completar tarefas rendeu ingressos para assistir de perto à cerimônia de abertura, em 5 de agosto, no Maracanã.
Nos EUA, usuários do aplicativo Snapchat poderão assistir diariamente as histórias produzidas com ajuda do site BuzzFeed e da rede de TV NBC. As empresas firmaram um acordo inédito em abril para disponibilizar vídeos das competições junto de conteúdo dos próprios usuários da plataforma.
DE
IMAGENS DOS JOGOS
serão captadas em alta defnição e som surround 5.1.
BUSÃO WI FI �
Em grandes eventos, é comum sofrer com a rede de internet congestionada das operadoras de telefonia. O Twitterbuscou uma solução sobre rodas: vai colocar um ônibus que emite sinalwi-fi para circular pelo Rio de Janeiro durante os Jogos. Assim, espera transformara Olimpíada no evento mais tuitado da história, superando a Copa do Mundo de 2014. O veículo terá telas no lugar de janelas, onde serão mostradas mensagens publicadas pelos usuários.
O FUTURO DA ARENA DO FUTURO Sede das competições de handebol e golbol (na Paralimpíada), a Arena do Futuro é um dos projetos mais elogiados dos Jogos do Rio. A estrutura, pro jetadacom o conceitode arquitetura nômadena Barra, zona oesteda cidade, será desmontada e reconstruídacomo quatro DEPOIS DOSJOGOS escolas públicas municipais
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CAPACIDADE
12MIL
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ASSENTOS CUSTO
146,8
MILHÕES
1. FACHADA
As paredes externas são vazadas para permitira entrada de ar e luz. No futuro, serão desmontadas e usadas como fachadas das escolas. Parece madeira, mas não é: os painéis são feitos de um material batizado de Lesco, composto de pó de madeira e de outros elementos petroquímicos.
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2. TELHADO
São oito placas pré-moldadas. Assim como a fachada, podem ser desmontadas e serão utilizadas no teto das escolas. 3.
AR CONDICIONADO �
Foi dividido em quatro partes no projeto para facilitar a instalação nos colégios.
4. PAREDES
São de drywall, ou seja, placas de gesso que facilitam a montagem de construções (são erguidas com mais rapidez do que paredes de alvenaria). Elas estão parafusadas e encaixadas e podem ser retiradas inteiras, o que vai agilizar o processo de construção das escolas.
5. VIGAS METÁLICAS
Dezoito pilares de metal sustentam a arena. As estruturas também serão reaproveitadas na construção das unidades de ensino, para dar suporte ao telhado.
6. JANELAS E MIUDEZAS
Praticamente tudo pode ser reaproveitado: portas, janelas e esquadrias, os vasos, chuveiros e pias dos banheiros, luminárias e interruptores.
4 ESCOLAS 17 SALAS PORCOLÉGIO, 500 ALUNOS POR UNIDADE
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7. RAMPAS E ESCADAS
AS ESCOLAS
Construídas com material pré-moldado, as seis escadas e rampas serão desmontadas e reutilizadas nas vias de circulação das quatro novas escolas.
a r d a u Q
8. ARQUIBANCADA
Os assentos n ão serão reaproveitados nas escolas — as 12 mil cadeiras foram alugadas. Mas parte da estrutura da arquibancada, feita de concreto pré-moldado e vigas de metal encaixadas, poderá ser usada nas novas estrutur
a l o c s E a d a r t n E
A desmontagem da arena levará sete meses. O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), prometeu instalar as escolas nas regiões de Camorim, Cidade de Deus, Anil e São Cristóvão. A ideia é deixá-las prontas para o ano letivo de 2018. Cada unidade terá 14 metros de altura, 20 metros de profundidade e 67,5 metros de largura. Com 17 salas e uma quadra esportiva, cada uma poderá atender 500 alunos. A estrutura ainda contará com o básico: biblioteca, auditório, estacionamento, refeitório, cozinha e banheiros. O desmanche da arena e a construção das escolas custará R$ 31 milhões.
LEGADOS AQUÁTICOS
Após sediar as competições de natação e polo aquático, o Estádio Aquático será transformado em três novos locais
CUSTO
225,3
1
A D A H C A F
. 1
MILHÕES
2
2. TELHADO
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3. ARQUIBANCADAS
Sustentado por quatro pilares, é desmontável e tem proteçãotérmica. Será desmanchado e utilizado na construção de um dos futuros centros de treinamento.
18MIL CAPACIDADE
ASSENTOS
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É um dos principais destaques do projeto. Reproduz a obra da artista plástica brasileira Adriana Varejão intitulada Celacanto Provoca Maremoto (2004-2008), um trabalho em gesso e óleo sobre tela que está exposto no prestigiado Instituto Inhotim, museu ao ar livre de arte contemporânea situado em Brumadinho (MG). A obra foi inspirada em azulejos portugueses e em pichações. A fachada do Estádio Aquático foi projetada para permitir a entrada de ar através de uma rede de poliéster permeável de alta resistência revestida com PVC. Mas as paredes de fora do edifício não serão desmontadas: a estrutura vai permanecer para abrigar o centro administrativo do Centro Olímpico de Treinamento para atletas de alto rendimento.
Parte dos assentos do Estádio Aquático será usada, depois dos Jogos, nos novos centros de treinamento: um coberto e outro a céu aberto. 4. PISCINAS
As duas piscinas do local também mudarão de endereço depois dos Jogos. Ambas são olímpicas, é claro — tamanho que é raridade em centros de treinamento pelo país. Por isso, várias localidades, até de fora do Rio de Janeiro, fazem lobby para receber a estrutura.
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CENTROS DE TREINAMENTO
DEPOIS DOSJOGOS
Uma das três novas estruturas que serão feitas para os Jogos Olímpicos cará lá mesmo depois, no local do Estádio Aquático: o centro administrativo do Centro Olímpico de Treinamento para atletas de alto rendimento. As demais, dois centros de treinamento, serão construídas em lugares ainda não denidos. Segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, os espaços serão públicos e destinados ao acesso gratuito ao esporte.
HERANÇAS BENDITAS
Para o controle de dengue, zika e chikungunya, o governo aposta na coleta de informações por meio de um aplicativo, que deve continuar funcionando depois dos Jogos. Para o cuidado dos mares também há uma boa notícia: novas boias foram adquiridas
TRATAMENTO DEBOLSO
TÁ QUENTINHA? Todo dia você pode acordar e saber como está a temperatura da água da Baía de Guanabara (quando esta nota foi redigida, era de 21,33°C). Basta consultar a página www.simcosta.furg.br e escolher o ícone de uma das boias metaoceonográcas que utuam sobre o mapa. O site do Sistema de Monitoramento da Costa Brasileira (SimCosta) coleta dados de nove equipamentos, localizados nas águas dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Pelo sistema, qualquer pessoa pode se informar so bre as condições do vento, da água, das ondas e das correntes a qualquer momento.
Para os Jogos, a novidade foi a instalação, em julho do ano passado, de duas boias na Baía de Guanabara, uma no centro e outra na entrada das águas. Uma terceira ainda vai ser ancorada na Praia de Copacabana até o início das competições. As boias funcionam com energia solar e enviam informações em tempo real. Durante a Olimpíada, as equipes poderão usar os dados para decidir a melhor estratégia antes de cada prova. Mas, no futuro, elas devem ser encaminhadas para outras regiões do Brasil para ajudar a monitorar os mares. O investimento do governo federal nas três novas boias foi de R$ 2,05 milhões.
I M 5 0 , 2 $ R foram gastos com três boias para monitorar a Baía de Guanabara
Dor de cabeça? Pegue seu smartphone e relate os sintomas no aplicativo Guardiões da Saúde, desenvolvido pelo Ministério da Saúde em parceria com a ONG Skoll Global Threats Fund. O programa vai informar que tipo de doença você pode ter e indicar o posto de saúde mais próximo — o serviço funciona também fora do Rio. Mais do que orientar indivíduos, a reunião de informações enviadas pelos usuários ajudará agentes de saúde a identificar surtos de doenças — especialmente dengue, zika e chikungunya — mais rapidamente do que se esperassem as estatísticas oficiais. A iniciativa é tida pelo ministério como um dos legados da Olimpíada, uma vez que o projeto continuará em operação no país. A ideia não é exatamente nova. Durante a Copa, um aplicativo similar, o Saúde na Copa, teve 10 mil downloads.
MOMENTOS HISTÓRICOS COMO OS QUE ESTAMOS VIVENDO NÃO PODEM SER IGNORADOS. O JORNALISMO INVESTIGATIVO DA REVISTA ÉPOCA FISCALIZA O PODER E CONTA A HISTÓRIA POR TRÁS DOS FATOS SEM FUGIR DA POLÊMICA.
INFORME-SE. ENTENDA. OPINE.
LEIA
E FAÇA PARTE DA HISTÓRIA
CURTO�CIRCUITO POR DOUGLASUTESCHER *
NOTAS DOSUBSOLO A EBULIÇÃO DO ROCK N’ ROLL marcou a década de 1990. Com a explosão do chamado “som de Seattle”, encabeçada por bandas como Nirva-
na, o mundo foi acometido por uma febre de cultura alternativa. Assim comoo punk, nos anos 1970, o grunge trouxe de volta aos holofotes o rock em sua forma mais bruta.
No Brasil, bandas de diversos estilos pipocaram nas garagens, zines foram publicados à exaustão, festivais aconteceram em toda parte e milhares de fitas demos foramlançados. Mas não demorou muito para o alternativo virarmainstream, saturar
o mercado e entrar em decadência. Essaé a históriade Magnéticos 90: a Geração do Rock Brasileiro Lançada em Fita Cassete , contada em primeira pessoa por alguém que não só assistiu a esse processo como participoudele:Gabriel Thomaz. Membro de bandas como Little Quail & The Mad
Birds e Autoramas, Gabriel foi um ávido colecionador de demos, além de ter presenciado (e protagonizado) causos divertidíssimos.
Por si só, essas memórias renderiam um bom livro. Mas a grande sacada foi apresentá-las em quadrinhos, aproveitando o potencial imagético do texto.Em total sintonia com
Testemunha ocular do movimento underground da década de 1990 relata suas memórias em HQ arte de DanielJuca é despojada, cartunesca e assume sua imperfeição como recurso estético. Colaborador da lendária revista Tarja Preta e coautor do documentário Malditos Cartunistas , Jucadeu ao livro a cara dos fanzines da época. Pontuadas pela reprodução de capinhas de fitas, as páginas se sucedem numa leitura rápida e divertida. Mais do que entretenimento, porém, Magnéticos 90 é um importante registro de uma movimentação cultural que ainda não foi devidamente documentada. Dada a vastidão do underground roqueiro do período, muitas histórias e visões
MAGNÉTICOS 90
Gabriel Thomaz eDanielJuca Edições Ideal 244 páginas– R$49,90 ugrapress.com.br
Mil técnicos em raspagem e moagem, mil carpinteiros e mil entalhadores de uma única empresa demonstraram toda a habilidade e o esmero exigidos pela marcenaria.