EXERCÍCIOS PARA FAZER FAZER
TEXTO I
É noite. A noite é muito escura. Numa casa a uma grande distância Brilha a luz duma janela. Vejo-a, e sinto-me humano dos pés à cabea. É curioso !ue toda a "ida do indi"#duo !ue ali mora, e !ue n$o sei !uem é, Atrai-me s% por essa luz "ista de longe. &em d'"ida !ue a "ida dele é real e ele tem cara, gestos, (am#lia e pro(iss$o. )as agora s% me importa a luz da janela dele. Apesar de a luz estar ali por ele a ter acendido, A luz é a realidade imediata para mim. *u nunca passo para além da realidade imediata. +ara além da realidade imediata n$o h nada. &e eu, de onde estou, s% "ejo a!uela luz, *m rela$o à distância onde estou h s% a!uela luz. homem e a (am#lia dele s$o reais do lado de l da janela. *u estou do lado de c, a uma grande distância. A luz apagou-se. ue me importa !ue o homem continue a e/istir0 Alberto 1aeiro, Poemas, 2.a ed., 3isboa, 4tica, 5626 78AV* 78AV* 9 +ro"a *scrita de +ortugu:s B , 5;.< Ano, 566=, ;.a >A&*? 5. @ranscre"a as re(er:ncias ao espao, representado no poema. ;. e(ina o tipo de rela$o !ue, ao longo do te/to, o *u estabelece com o indi"#duo !ue ali moraC. D. Apresente uma interpreta$o poss#"el para o seguinte "ersoE Vejo-a, e sinto-me humano dos pés à cabea.C 7". D? F. */plicite os sentidos produzidos pela interroga$o no (inal do poema. G. */ponha o pensamento sobre a realidade !ue é desen"ol"ido no te/to. >undamente a sua resposta em citaHes elucidati"as.
Resoluções do TEXTO I
5.
As sugestHes !ue a seguir se apresentam consideram-se orientaHes gerais, tendo em "ista uma indispens"el a(eri$o de critérios. N$o de"e, por isso, ser des"alorizada !ual!uer interpreta$o !ue, n$o coincidindo e/actamente com as linhas de leitura apresentadas, seja julgada "lida pelo pro(essor.
Ie(er:ncias ao espaoE -
é noite. A noite é muito escura. Numa casa a uma grande distância J Brilha a luz de uma janela.C 7"". 5-;?K
-
ali moraC 7". F?K
-
essa luz "ista de longe.C 7". G?K
-
a luz da janela dele.C 7". 2?K
-
a luz estar aliC 7". =?K
-
de onde estou, s% "ejo a!uela luz, J *m r ela$o à distância onde estou h s% a!uela luz.C 7"". 5;-5D?K
-
do lado de l da janela.C 7". 5F?K
-
do lado de c, a uma grande distância.C 7". 5G?K
;. A rela$o !ue, ao longo do te/to, o *u estabelece com o eleC, o indi"#duo !ue ali moraC, é marcada por tr:s mo"imentos (undamentaisE -
"". 5-L 9 curiosidade e atrac$o por esse desconhecido 7!ue n$o sei !uem éC? , uma presena humana !ue, ao longe, se adi"inha pela luz !ue brilha na noite. A percep$o dessa luz con"oca de imediato uma casaC e uma janelaC, suscitando o interesse pela "ida do indi"#duo !ue ali moraC 7&em d'"ida !ue a "ida dele é real e ele tem cara, gestos, (am#lia e pro(iss$o.C?K
-
"". 2-5G 9 a constata$o de !ue a luz é o 'nico elemento "is#"el conduz o sujeito a assinalar a!uela luzC como a 'nica realidade !ue lhe importaC, relati"amente ao homemC !ue a acendeu, pois eleC e a (am#lia deleC s% s$o reais do lado de l da janelaC e n$o do lado de c, a uma grande distânciaC, de onde n$o pode ":-losK
-
"". 5L-52 9 ao apagar-se a luz, o *u perde o contacto com o outro, desinteressando-se dessa e/ist:ncia humana.
-
A luz apagou-se.C 7". 5L?K
D. */emplos poss#"eis de interpreta$oE -
a percep$o da luz, na noite muito escuraC, acorda no sujeito um desejo de apro/ima$o do outro, de identi(ica$o, pela humanidade !ue partilham na noite c%smicaK
-
a percep$o da luz suscita no *u sentimentos de curiosidade e de atrac$o pelo outro desconhecido, mas id:ntico na sua humanidadeK
-
7...?
F. A interroga$o intensi(ica a e/press$o do desinteresse pela e/ist:ncia do outro, !ue o apagar da luz pro"oca no sujeito e poder trans(erir para o leitor a responsabilidade de problematizar a consci:ncia humana da realidade, a partir da e/peri:ncia relatada no poema. G. sujeito poético atribui e statuto de realidade apenas ao !ue é percepcionado como coisa "ista. +or um mo"imento re(le/i"o iniciado no "erso 2 7)as agora s% me importa a luz da janela dele.C?, o sujeito identi(ica a luz como o 'nico elemento percepcionado, objecti"o, da realidade representadaE A luz é a realidade imediata para mim. J *u nunca passo para além da realidade imediata. J +ara além da realidade imediata n$o h nada.C 7"". 6-55?. N$o sendo "is#"eis do lado de c, a u ma grande distânciaC 7". 5G?. homem e a (am#lia deleC 9 apesar de reais do lado de l da janelaC 7". 5F? 9 n$o pertencem à realidade imediataC para o *uK correspondem a uma (ic$o constru#da, !ue o apagar d a luz rasura da sua consci:ncia.
DESENVOLVIMENTO
N$o ultrapassando as dez linhas, e/plicite a importância da poesia de Alberto 1aeiro no âmbito da produ$o literria de >ernando +essoa. Resolução do DESENVOLVIMENTO
- Alberto 1aeiro é o )estreK - 1aeiro é a intelig:ncia !ue e/pHe uma doutrinaK - sensacionista, a !uem s% interessa o !ue capta pelas sensaHesK - sentido das coisas reduzido à percep$o da cor, da (orma e da e/ist:nciaK - pensa "endo e ou"indo. Ver é conhecer e compreender o mundoK - recusa do pensamento meta(#sicoE Mpensar é n$o compreenderMK - realismo sensorial. 1aeiro capta apenas o !ue as sensaHes lhe o(erecem na realidade imediataK - poeta do real objecti"oK - poeta da Natureza, "i"e de acordo com ela, na sua simplicidade e pazK - ama a NaturezaK - ":-a na sua constante reno"a$o e cr: na Meterna no"idade das coisasMK - a intelectualidade do seu olhar liberta-se dos preconceitos e "olta-se para a contempla$o dos objectos originaisK - possui um sentimento do tempo eterno, uno, (eito de instantes de presenteK - 1aeiro é a possibilidade de apresenta$o de uma linguagem poética no"aE liberta$o dos sentidos, das sensaHes, das emoHes.
TEXTO III
Ao entardecer, debruado pela janela, * sabendo de soslaio !ue h campos em (rente 3eio até me arderem os olhos li"ro de 1esrio Verde. ue pena !ue tenho dele *le era um campon:s ue anda"a preso em liberdade pela cidade. )as o modo como olha"a para as casas, * o modo como repara"a nas ruas, * a maneira como da"a pelas coisas, É o de !uem olha para r"ores, * de !uem desce os olhos pela estrada por onde "ai andando * anda a reparar nas (lores !ue h pelos campos... +or isso ele tinha a!uela tristeza ue ele nunca disse bem !ue tinha, )as anda"a na cidade como !uem anda no campo
* triste como esmagar (lores em li"ros * pOr plantas em jarros... Alberto 1aeiro, O Guardador de Rebanhos 78AV* - +ro"a *scrita de +ortugu:s B, 5;.< ano, 566L, 5.a >ase, ;.a 1hamada? 5. enunciado poético !ue acaba de ler consiste numa homenagem a 1esrio Verde. Ie(ira a ac$o le"ada a cabo por 1aeiro !ue pro"a essa homenagem. ;. Na ;.a estro(e, o poeta e"idencia um sentimentoE Mue pena !ue tenho deleM 2.1. • */pli!ue-o, tendo em conta a caracteriza$o de 1esrio apresentada por 1aeiro. 2.2. • >aa o le"antamento da e/press$o !ue, no poema, melhor sintetiza a ideia !ue o poeta procura transmitir. D. A poética de 1aeiro opHe ao conhecimento intelectual os sentidos, as sensaHes. 3.1 • Ietire do te/to dois "ocbulos !ue compro"em a a(irma$o. 3.2 • 1omente a sua utiliza$o no conte/to global do poema, con(rontando as concepHes poéticas de 1esrio e de 1aeiro F. N$o ultrapassando as oito linhas, e/plicite a importância da poesia de Alberto 1aeiro no âmbito da produ$o literria de >ernando +essoa. Correção do TEXTO III
5. 3er até arderem os olhos. ;.5. • */press$o de pena "eri(ic"el na caracteriza$oE - anda"a presoK - era um campon:s na cidadeK - olha"a a cidade como se (osse o campoK - tinha grande tristezaK - anda"a na cidade como !uem anda no campoK - triste. 2.2 • M*le era um campon:s J !ue a nda"a preso em liberdade pela cidadeM - é a (rase !ue melhor sintetiza o !ue 1aeiro pretende transmitir sobre 1esrio. D.5 • Aceite-se dois dos seguintesE olha"aK repara"aK olhaK olhosK reparar. 3.2 • @al como 1esrio, 1aeiro "i"e de impressHes, sobretudo "isuais, contudo, n$o se pode ler na re(er:ncia a 1esrio uma identi(ica$o mas t$o s% uma homenagem. Aceita$o do mundo como ele é - (acto !ue contrapHe ao posicionamento de 1esrio !ue Manda"a na cidade como !uem anda no campoM. +oeta do real objecti"o, com o esp#rito concentrado numa acti"idade supremaE olharK lhar é o substituto da acti"idade cogniti"a, !ue 1esrio n$o conseguiu abolirK por isso, anda triste na cidade. F. - Alberto 1aeiro é o )estreK - surge como uma descoberta ou uma re"ela$oK - e/erce in(lu:ncia sobre todos, >ernando +essoa rt%nimo e outros heter%nimosK - +essoa opHe 1aeiro a si pr%prioE o projecto poético e a identidade do sujeito !ue o assume s$o de(inidos contra a poesia de >ernando +essoa escrita até ao seu aparecimento e a !ue depois escre"er com esse nomeK - ao contrrio de +essoa rt%nimo, recusa a introspec$o e a subjecti"idadeK - 1aeiro é a possibilidade de apresenta$o de uma linguagem poética no"aE liberta$o dos sentidos, das sensaHes, das emoHes
TEXTO V
a minha aldeia "ejo !uanto da terra se pode "er do Pni"erso... +or isso a minha aldeia é t$o grande como outra terra !ual!uer, +or!ue eu sou do tamanho do !ue "ejo * n$o do tamanho da minha altura... Nas cidades a "ida é mais pe!uena ue a!ui na minha casa no cimo deste outeiro. Na cidade as grandes casas (echam a "ista à cha"e, *scondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu, @ornam-nos pe!uenos por!ue nos tiram o !ue os nossos olhos nos podem dar, * tornam-nos pobres por!ue a nossa 'nica ri!ueza é "er. Alberto 1aeiro, +oemas, 5Q.a ed., 3isboa, 4tica, 5662 78AV* - +ro"a *scrita de +ortugu:s A, 5;.< Ano, 5666, 5. a >ase, 5. a 1hamada? 5. *labore um comentrio do poema !ue integre o tratamento dos seguintes t%picosE • oposi$o
entre a MaldeiaM e a McidadeMK • importância do acto de "erK • recursos estil#sticos rele"antesK • traos da poética de 1aeiro.
Correção do TEXTO V 1. • posi$o
entre a MaldeiaM e a McidadeM poema organiza-se em torno da caracteriza$o contrasti"a da Mminha aldeiaM e das McidadesM ou da McidadeM, caracteriza$o essa !ue se desen"ol"e, porém, em termos inesperados. AssimE - a Mminha aldeiaM é apresentada como lugar de elei$o, na medida em !ue permite ao sujeito o grau m/imo de "isibilidade de M!uanto da terra se pode "er do Pni"ersoM 7". 5?K por esse moti"o, ela supera o estatuto de po"oa$o diminuta !ue por de(ini$o é o seu, tornando-se Mt$o grande como outra terra !ual!uerM 7". ;?K - a cidade re"ela-se limitati"a, pois Mas grandes casasM enclausuram o olhar, ocultam-lhe o céu e a(astam-no da natureza 7c(. "". 2, =?, ou, por outras pala"ras, desapossam-nos da Mnossa 'nica ri!uezaM, !ue Mé "erM 7". 5Q?. *m suma, a cidade tem um e(eito de (echamento e a(asta Ma "istaM 7". 2? do MhorizonteM e do M1éuM 7". =?, en!uanto a aldeia propicia a abertura para o in(inito 7MPni"ersoM - ". 5?. 1onse!uentemente, o poema associa, por um lado, cidade a pe!ueno e a pobre 7"". 6 e 5Q? e, por outro, aldeia a MgrandeM 7". ;? e, de ( orma impl#cita, a ri!ueza 7". 5Q?, in"ertendo as noHes tradicionais de aldeia e de cidade. • Rmportância do acto de "er desen"ol"imento da oposi$o entre aldeia e cidade (az emergir, como ideia nuclear do poema, a importância do acto de "er, mani(estada, desde logo, pela utiliza$o de (ormas d o "erbo ver e de "ocbulos com ele semanticamente relacionados M"istaM, MolharM, MolhosM - "". 2, =, 6?. &egundo o te/to, a "is$o é um modo de conhecimento pri"ilegiado, pois permite percepcionar a imensid$o do mundo, superando a dimens$o (#sica limitada do sujeito 7"". D-F?. 1om e(eito, é o olhar !ue determina a con(igura$o do mundo e do pr%prio ser, na medida em !ue e/iste uma rela$o entreE - a e/tens$o do campo de "is$o e a do espao em !ue o *u se situa 7c(. "". 5, ;?K - o !ue o sujeito ": e a percep$o !ue tem de si 7Meu sou do tamanho do !ue "ejo J * n$o do tamanho da minha altura...M - "". D-F?K - a possibilidade de "is$o e o "alor da e/ist:ncia humana 7Mas grandes casas (echam a "ista à cha"eM, M@ornam-nos pe!uenosM, Mtornam-nos pobresM, Ma nossa 'nica ri!ueza é "erM - "". 2, 6, 5Q? • Iecursos
estil#sticos rele"antes &$o rele"antes, entre outros, os seguintes aspectos estil#sticosE - presena de construHes causais, e"idenciando uma inten$o e/plicati"a do discurso 7M+or issoM, M+or!ue eu souM, Mpor!ue nos tiramM, Mpor!ue a nossa 'nica ri!uezaM - "". ;, D, 6,5Q?K - utiliza$o da estrutura paralel#stica, ampli(icando a no$o de perda 7M@ornam-nos pe!uenos por!ue S...T J * tornam-nos pobres por!ue S... TM - "". 6-5Q?K - recurso ao grau comparati"o dos adjecti"os com o intuito de caracterizar a MaldeiaM por re(er:ncia a outros espaos, realando-se, por um lado, o n#"el id:ntico de grandeza e/istente entre a MaldeiaM e Moutra terra !ual!uerM 7". ;? e, por outro lado, minimizando-se a "ida na cidade para "alorizar a "ida na aldeia 7MNas cidades a "ida é mais pe!uena J ue a!ui na minha casaM - "". G-L?K - conjuga$o da met(ora 7M(echam a "ista à cha"eM, Mempurram o nosso olharM - "". 2-=? com a personi(ica$o de McasasM 7M(echamM, M*scondemM, MempurramM, MtiramM?, para sublinhar a atro(ia do "er como e(eito do ambiente citadinoK
• @raos
da poética de 1aeiro poema e"idencia alguns dos traos representati"os da p oética de 1aeiro. */empli(icandoE - apologia da "is$o como "alor essencialK - rela$o de harmonia com a NaturezaK - aparente simplicidade e natureza argumentati"a do discurso poético, "is#"el no recurso a uma linguagem corrente e a construHes causais.
TEXTO VI
&ou um guardador de rebanhos rebanho é os meus pensamentos * os meus pensamentos s$o todos sensaHes. +enso com os olhos e com os ou"idos * com as m$os e os pés * com o nariz e a boca. +ensar uma (lor é ":-la e cheir-la * comer um (ruto é saber-lhe o sentido. +or isso !uando num dia de calor )e sinto triste de goz-lo tanto. * me deito ao comprido na er"a, * (echo os olhos !uentes, &into todo o meu corpo deitado na realidade, &ei a "erdade e sou (eliz. Alberto 1aeiro, 8uardador de Iebanhos 5. 1omente o te/to, tendo em aten$o os seguintes t%picosE • os
pensamentos e as sensaHesK • sentimentos re"eladosK • estrutura do te/toK • busca do e!uil#brioK • desdobramento da personalidade.
Correção do TEXTO VI
5. • s pensamentos e as sensaHes *ntrelaado de pensamentos e sensaHesE Mpenso com os olhos e com os ou"idos J e com as m$os e os pés J * com o nariz e a bocaMK Rdenti(ica$o do pensamento com uma comple/idade de sensaHesE M+ensar uma (lor é ":-la e cheir-la J * comer um (ruto é saber-lhe o sentido.M. • &entimentos re"elados - >elicidade do sujeito poético por saber a "erdade do pensamento (eito em sensaHes. - @risteza pelo e/cesso de sensaHes, por gozar MtantoM Mum dia de calorM. - 1ondena$o do e/cesso de sensaHes, pois a partir de um certo grau as sensaHes passam de alegres a tristes. • *strutura do te/to As estro(es surgem em simetria, com a primeira e a 'ltima com seis "ersos, (icando a intermédia com dois, numa sugest$o de e!uil#brio, !ue pode sugerir o pr%prio e!uil#brio necessrio no gozo das sensaHes. • Busca do e!uil#brio @odo o Mcorpo deitadoM !ue o +oeta sente e !ue lhe permite saber Ma "erdadeM e ser M(elizM remete para a necessidade da harmonia !ue consegue recuperar em contacto com a Natureza. • esdobramento da personalidade esdobramento da personalidadeE de !uem sabe a "erdade, no seio da Natureza buc%licaK de !uem "i"e triste ao ansiar tanto uma solu$o.