Sobre a “Estrela de Belém” Yair Alon
Há mais ou menos dois anos (em 21 de dezembro de 2015), publiquei um artigo no Facebook sobre s obre Jesus, o Natal Natal e, principalmente, princip almente, os chamados “Reis Magos”, analisando seu simbolismo. 1 O texto a seguir é uma espécie
de continuação sobre meus estudos e pensamentos do tema. Ao longo da história houve inúmeras tentativas de se tentar descobrir des cobrir
o que teria sido a “Estrela de Belém B elém”” que os Reis Magos viram nos céus. As teorias são as mais diversas, e incluem: uma conjunção entre Júpiter Júpiter e Vênus, um cometa, uma supernova. Até hoje nenhuma das teorias foi provada, e, como nenhuma delas
parece ser melhor que a outra, ficamos com uma possibilidade bastante plausível plausív el de que a estrela seguida pelos reis magos foi de natureza espiritual, uma espécie de estrela-guia interna. 2
1 O texto pode ser encontrado em https://www.facebook.com/yairaloncabala/
posts/458667317675988.. posts/458667317675988 2 Algumas considerações sobre a realidade realidade do texto bíblico. Ainda que consideremos
os relatos dos evangelhos como 100% fieis, é importante lembrar que a história que eles narram foi escrita vários anos depois dos fatos f atos nelas descritos. A maioria dos estudiosos, por exemplo, acredita que o evangelho de Marco foi o primeiro a ser escrito, no ano de 70. Evangelhos como o de Matheus e Lucas seriam do ano 90 ou até mesmo 100. Eu, pessoalmente, assim como faço na Cabalá e na tradição t radição judaica, acredito que várias (para não dizer todas) as passagens do Novo Testamento são altamente metafóricas, e que
podem nunca ter ocorrido na vida real. É preciso lembrar que os textos bíblicos (judaicos ou não) não são documentos históricos. Eles não foram escritos com esse objetivo. Antes, esses textos foram postos em papel para difundir verdades espirituais, valores morais e éticos, ensinamentos de vida, etc. Obviamente, o texto pode ter referências históricas precisas, mas a história em si não
é a preocupação e nem o ponto central das Escrituras.
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Ainda assim, nesse artigo vamos também explorar a possibilidade de o fenômeno ter sido um evento astronômico astronômico real observado obser vado nos céus do passado. A primeira tentativa “moderna” “moderna” de descobrir qual evento astronômico
teria sido esse, e que poderia explicar a Estrela de Belém, foi feita pelo famoso astrônomo Johannes Kepler. Kepler, matemático do Imperador Rodolfo II, estava convencido de que um fenômeno astronômico realmente acontecera por volta do ano 0, e que era isso que os textos cristãos chamavam de “Estrela de Belém”. Na época de Kepler, astrologia e astronomia não eram realmente duas áreas de conhecimento tão separadas como são hoje. Em 1603, Kepler testemunhou um evento astronômico relativamente raro: a conjunção
dos planetas Júpiter e Saturno. A questão era que, para os medievais e os antigos, essa conjunção (chamada de “A “A Grande Conjunção C onjunção”) ”) era considerada como de importante
significado astrológico (e Kepler sabia disso). Assim, lembrando que os ditos “reis magos” eram nada mais do que astrólogos, provavelmente da Pérsia, e que o significado dessa conjunção já era considerado importante há muito tempo no ano 0, os reis magos certamente teriam percebido
esse fenômeno específico no céu e teriam se impactado com ele. Astrologicamente, a conjunção era considerada um importante marcador de mudanças no mundo, inclusive mudanças mudanças políticas e sociais. so ciais. Assim, Kepler Kepler estava bastante bastante certo de que essa era a Estrela de Belém B elém
que fizera os reis magos saírem do “oriente” e ir para Belém, em Israel. Como a conjunção ocorre aproximadamente aproximadamente a cada 18 para 20 anos, Kepler calculou que uma conjunção conjunção do mesmo tipo teria ocorrido no ano de -7. Na época, na verdade, verda de, Marte também estava junto com Júpiter e Saturno,
fazendo daquela uma tripla t ripla conjunção, conjunção, e um evento muito muito mais raro do que a “simples” conjunção de Júpiter e Saturno. Infelizmente, Infelizment e, ficou provado que Kepler errou em seus conceitos.3 Umaa das teorias astronômicas mais famosas sobre a Estrela de Belém Um B elém vem de Ferrari d’ d’Occhieppo. 3 Segun Segundo do Willia William m Eamon, em “Kepler and the Star of Bet Bethlehe hlehem m”.
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Ferrari se baseia no fato de que Jesus seria o mensageiro da Era de Peixes, e, perscrutando os céus, ele propõe que a data da “Estrela de Belém” e, portanto, do nascimento de Jesus, teria ocorrido em 15 de setembro do
ano -7, por volta das seis da tarde, em Belém. 4
Obviamente, o principal fator que motivou Ferrari a chegar nessa
data, assim como Kepler, foi a grande conjunção de Júpiter e Saturno. É importante dizer, no entanto, que essa conjunção estava est ava visível no céu de
10 de setembro a 19 de dezembro do ano -7. Portanto, ela por si só não teria alertado aler tado os reis magos quanto à data do importan importante te evento. Por outro outro lado, a crédito de Ferrari, realmente é de se supor que essa conjunção do ano -7 em especial tenha chamado a atenção dos astrólogos 4 A teoria de Ferrari é bastante bastante interessante interessante do ponto ponto de vista simbólico. simbólico. Além de insistir que a famosa conjunção teria que ocorrer no signo de Peixes, Ferrari entendia
que a expressão “nascido de uma virgem” indicava que na data de nascimento de Jesus o Sol deveria estar no signo de Virgem. Eis as palavras de Ferrari: “Jesus nasceu em 15 de setembro de -7, por volta das seis da tarde, em Belém, sob uma oposição do Sol em Virgem Vir gem à conjunção de Júpiter-Saturno Júpiter-Saturno no ascendente (...) A simultaneidade do evento astronômico ocorreu com a chegada do Messias, rei dos judeus (Júpiter, planeta real,
benéfico, em conjunção com Saturno, planeta dos judeus)”. Interessante reparar que, para Ferrari, alguns membros da comunidade judaica da época
interpretariam a conjunção do planeta rei, Júpiter, Júpiter, com Saturno, planeta que representa o judaísmo, como um claro sinal da vinda do prometido messias.
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pois, na astrologia clássica, clássic a, o encontro de Júpiter Júpiter e Saturno é considerado
mais importante importante (e um real marcador de mudanças no mundo) quando ocorre uma mudança em sua triplicidade (elemento). Como a última conjunção teria ocorrido em Leão Leã o (triplicidade de fogo), e essa em Peixes
(água), ela pode ter chamado mais atenção atenção do que o normal. Eu, pessoalmente, acredito que se queremos identificar a Estrela de
Belém precisamos, antes de mais nada, prestar atenção atenção ao que dizem as Escrituras. No livro de Mateus, Mateus, o único que relata o evento dos reis magos, lemos: “E, tendo nascido Jesus em Belém B elém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo: Onde Ond e está aquele que é nascido rei dos judeus? porque vimos a sua estrela no oriente, e
viemos a adorá-lo” adorá-lo” (Mateus (Mateus 2:1,2). 5
5 As palavras de Mateus Mateus são expandidas e até até certo ponto ecoadas em um livro
apócrifo, o Protoevangelho de Tiago. Em uma tradução livre minha, eis o que diz Tiago: “21. E eis que José estava pronto para ir a Judeia. E havia grande comoção em Belém da Judeia, pois os magos haviam chegado, dizendo: Onde está o que nasceu para ser rei
dos judeus? Pois vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo. E quando Herodes ouviu isso, ficou extremamente perturbado e enviou oficiais aos magos. E ele enviou aos sacerdotes, e os consultou, dizendo: O que está escrito sobre o Messias? Onde ele nascerá? E eles disseram: Em Belém da Judeia, pois assim está escrito. E ele os dispensou. E ele consultou os magos, dizendo: Que sinal vistes em referência ao rei que nasceu? E os magos disseram: vimos uma estrela de grande tamanho brilhando entre essas estrelas,
e obscurecendo sua luz de modo que as outras estrelas não aparecia; e assim soubemos que um rei havia nascido em Israel, e viemos adorá-lo. E Herodes disse: Ide e procurai-o;
e se o encontrardes, deixai-me saber, saber, para que eu também possa adorá-lo. E os magos se foram. E eis que a estrela que eles haviam visto no oriente foi adiante deles até que eles chegaram à caverna, e ela se postou sobre s obre o topo da caverna. E os magos viram a criança com sua mãe, Maria, e eles pegaram de suas sacolas ouro, incenso e mirra. E tendo sido avisados pelo anjo para p ara não irem a Judeia, eles voltaram a sua terra por outra estrada”. estrada”. A quem puder, recomendo que leia “An Introduction to the Revelation of the Magi, An Ancient Christian Apocryphon”. Trata-se da tese de doutorado de Brent Christopher Landau, que, segundo ele mesmo, “analisa “analisa um pouco conhecido escrito es crito apócrifo cristão, chamado de Revelação dos Reis Magos. O documento alega ser s er o testemunho pessoal dos
Reis Magos mencionados na Bíblia a respeito da vinda do Messias, e é a narrativa mais longa e mais complexa devotada aos Reis Magos que sobreviveu desde a antiguidade antiguidade””. O
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Na linguagem astrológica, falar de uma estrela a oriente é o mesmo que falar de uma estrela ascendente. Além disso, na época (e ainda hoje, em algumas culturas) era comum chamar planetas de estrelas. Assim, provavelmen pro vavelmente te os magos estavam se referindo a algum planeta ascendente e, obviamente, com brilho forte o suficiente para chamar a atenção (o
texto apócrifo de Tiago corrobora a ideia). Mais a título de diversão do que outra coisa, fui ao meu programa de astrologia (Solar Fire) e o configurei para achar certos aspectos no céu que poderiam satisfazer os requisitos mencionados, ou seja, um fenômeno
brilhante, que tivesse ocorrido por volta do ano 0, na cidade de Belém, em Israel e que, além disso, poderiam, astrologicamente falando, ser
interpretado como “um novo rei nascendo em Israel”. Um dos mapas que o programa programa me deu foi esse (4 de setembro de -3, às 03:45), no qual vemos Júpiter Júpiter (o deus máximo da d a mitologia greco-romana) ascendendo no signo real de Leão, juntamente juntamente com a estrela real, chamada Regulus.6
texto descreve a história do nascimento de Jesus do ponto de vista dos Reis Magos, o que é, para dizer o mínimo, muito empolgante. 6 Regulus Regulus,, estrela mais brilhante de Leão, significa “regente” “regente”. Quando bem aspec aspectada tada
em um mapa, diz-se que faz o nativo chegar a altas posições na vida, e ter sucesso em todas as suas atividades. É uma estrela de magnitude +1.3.
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Como Júpiter está aparecendo no horizonte bem antes do Sol, e distante dist ante
dele, e como Júpiter é bastante brilhante, mesmo a olho nu, poderia ser esse o evento da “Estrela de Belém”. Regulus, outro corpo bastante brilhante, ascendendo com Júpiter
potencializaria o efeito luminoso no céu, e não acho difícil que alguma cultura, como a zoroastra, dos magi, visse nisso um forte indicador celestial do nascimento de um rei (corroborado por outros elementos
visíveis do mapa). mapa). 7 Como vimos, Ferrari (e outros) entendem a expressão “nascido de uma virgem” como indicativo de um fenômeno astrológico ocorrendo
com o Sol em Virgem. É uma ideia interessante, que pode ser mais bem explorada, e que por acaso se valida no mapa que encontrei. Obviamente, não tenho como provar que essa é a data e hora exata do fenômeno descrito na Bíblia (pois nem sabemos se era um fenômeno real, ou não), mas a raridade da configuração e como ela ocorre por um breve período de tempo, me faz crer que se tratava de um evento celestial de destaque suficiente para despertar o interesse dos astrólogos da época.
7 A conjunção conjunção Vênus Vênus e Mercúrio Mercúrio perto do ascendente, ascendente, a lua em seu domicílio, em Câncer,, e Marte, o maléfico, “controlado Câncer “controlado e apascentado apascentado”” na casa cas a seis. Saturno retrógrado junto ao Meio do Céu é um pouco p ouco mais sinistro, mas facilmente explicável. Como já já
foi dito, os judeus são representados por Saturno, e a má colocação do planeta poderia indicar aos reis magos que o novo rei não seria bem recebido pelas autoridades locais e pelos judeus em geral. Aliás, provavelmente provavelmente foi a posição de Saturno que indicou o local correto aos reis magos. Saturno no MC pode ser lido como “o local de autoridade do rei judeu”,, então, nada mais lógico do que ir procurar judeu” procurar a Herodes.