Cultura brasileira e culturas brasileiras Alfredo Bosi - Comentários O texto "Cultura brasileira e culturas brasileiras", capítulo do livro Dialética da Colonização (1)(1994, !oi rediido por #l!redo $osi entre 19%9 e 19&' )odi!icaç*es nos ru+os da educação e da sociedade, não previstas pelo autor na época de sua escrita, !izera+no elaborar o -ostscriptu+199., inserido no +es+o livro /ste seundo texto não invalida nada do 0ue !oi dito no !inal dos anos %', apenas acresc acr escent enta a out outros ros ele ele+en +entos tos an2 an2lis lise e do +un +undo do con conte+ te+por por3ne 3neo o e da ins inserç erção ão do $ra $rasil sil neste contexto O ensaio inicia colocando e+ 0uestão o uso do ter+o "cultura" no sinular, u+a vez 0ue não se pode assi+ !alar e+ unidade, para aludir a u+ país tão íbrido cultural+ente, uni!or+idade, ali2s, 0ue, co+o be+ salienta o autor, não existe e+ nenu+a sociedade +oderna, sobretudo e+ sociedades de classes 52 na pri+eira +etade do século 66, a #ntropoloia Cultural 72 !azia u+a caracterização do $rasil e+ v2rias culturas, aplicandole o critério racial8 raças nera, branca, indíena, +estiça Os critérios de deno+inação pode+ +udar, seundo seundo $osi, +as o essencial é +anter a idéia de pluralidade cultural cultural Concebendo cultura co+o "u+a erança de valores e ob7etos co+partilada por u+ rupo u+ano relativa+ente coeso", $osi prop*e outras !or+as de caracterização da cultura brasileira, 0ue se a!asta+ do cri critér tério, io, aci aci+a +a re! re!eri erido, do, par para a res ressal saltar tar al aluns uns pl plos os cul cultur turai ais s nit nitida ida+en +ente te a!a a!asta stados dos,, tai tais s co+o #cade+ia e :olclore, Cultura criadora e Cultura de +assas O pri+eiro dualis+o #cade+ia e :olclore p*e e+ contraste a produção e reprodução acad;+ica do saber acu+ulado pela u+anidade ob7eto de estudo das instituiç*es de ensino e o saber popular, produto da cultura basica+ente iletrada, 0ue "corresponde aos +ores +ateriais e si+blicos do o+e+ r!urt ?ratase da !abricação cultural e+ série, para as +assas, explorando explo rando proce processos ssos psic psicolic olicos os co+o "senti "senti+ental +entalis+o, is+o, ares aressivid sividade, ade, eroti erotis+o, s+o, +edo, !etic !eticis+o, is+o, curiosida de", os 0uais envolve+ os destinat2rios e os +ant;+ cativos (p =.1 -ara o autor, estas dico di coto to+i +ias as,, 0u 0uan ando do ar arti ticul culad adas as,, po pode de+ + se serr pe pens nsad adas as so sob b ou outr tra a !or !or+a +a de a aru rupa pa+e +ent nto, o, as assi si+ + oranizada8 de u+ lado, a cultura produzida nas instituiç*es a da universidade e a dos +eios de co+unicaç*es , de outro, a produzida !ora dela a cultura criadora e a cultura popular Detendose na re!lexão da cultura universit2ria , $osi denuncia o decrésci+o proressivo do ensino u+anístico tradicional (co+o sabe+os, a @e!or+a posta e+ vior e+ 19%1 deu o arre+ate !inal, 0ue incluía Areo, Bati+, :iloloia, :ranc;s, disciplinas 0ue estão o7e acantonadas no curso de Betras, +as anterior+ente estava+ presentes desde o ensino +édio e constituía+ a !or+ação co+u+ ao clero e +aistratura O esvazia+ento da !or+ação cl2ssica é seuido de u+a tend;ncia abordae+ estrutural e acrnica "da cultura linística, liter2ria, 7urídica e, até +es+o, reliiosa" (p=11 /+ conse0;ncia disso, os estudos liter2rios !ica+ +erc; da sincronização das !or+as e dos sini!icados, 0ue são recortados co+o se !osse+ conte+por3neos nossa consci;ncia estética e s nossas ideoloias O resultado é 0ue se l; o 0ue não poderia estar istorica+ente no texto e não se l; a0uilo 0ue nele est2 concreta+ente posto -ara $osi, esse antiistoricis+o te+ u+ sini!icado peculiar8 assinala a "senesc;ncia da pri+eira visão de +undo apontada" (da tradição u+anística e, ao +es+o te+po, uarda u+ aspecto neativo da vela @etrica, dado o autor aponta co+o u+ ponto nevr2lico da trans!or+ação8 " o ato de subtrair o texto contin;ncia dos te+pos, se7a+ eles passados ou conte+por3neos " (p=11 O 0ue a @etrica !azia, absolutizando o texto, se+ levar e+ conta o contexto de sua produção, o estruturalis+o acrnico passa a !azer, neandose a estudar o texto liter2rio co+o expressão de u+ deter+inado +o+ento social, +as !ocalizandoo co+ idéias e valores conte+por3neos aos do analista Conclui o autor 0ue os extre+os se toca+8 "o espírito classi!icatrio, aristotélico, da vela retrica tende a conciliarse co+ o rior das partiç*es estruturais", assi+ co+o se aliara+, no séc 6E6, !iloloia e positivis+o"(ide+
/+ +eados da década de %', co+o o estruturalis+o não conseue satis!azer din3+ica real dos cursos universit2rios, co+eça a surir, no $rasil, a busca de novos sini!icados e valores, e os estudos liter2rios passa+ a oranizar u+a cultura de resist;ncia visão tecnicista do+inante, 0ue coincide co+ a abertura política Fo 3+bito das Ci;ncias Gociais, $osi observa 0ue a aliança entre a técnica neutra e a opressão ideolica provoca +uita descon!iança entre os pes0uisadores da 2rea, +otivo por 0ue re7eita+ as receitas positivistas e !uncionalistas e associa+ a socioloia dialética, pretendendo "!azer do seu coneci+ento u+ instru+ento e!icaz de trans!or+ação" (p=1= # este +ovi+ento de resist;ncia ao tecnicis+o e, ao +es+o te+po, de consci;ncia da necessidade de trans!or+ação, a tecnoburocracia respondeu co+ +edidas e!icazes, das 0uais $osi destaca cinco8 1 inserção, e+ todos os raus de ensino, de disciplinas de doutrina sciopolítica sustentada por ideais neocapitalistas (OG-$H /-$, 0ue apresenta+ u+a Fação/stado e+ plena !ase +elora+ento técnico e proresso social (ideoloia do $rasil Arande e do )ilare $rasileiroH . substituição do estudo de Iistria Aeral, Iistria do $rasil, Aeora!ia Aeral e Aeora!ia do $rasil por u+ a disciplina +ista, ca+ada /studos sociais, co+ proble+as +etodolicos sini!icativos, devido a+plitude prora+2tica e indi!erenciação entre as 2reas de 0ue se apropriaH = eli+inação da disciplina :iloso!ia dos cursos +édios, 0ue propiciava aos alunos o desenvolvi+ento da re!lexão terica e críticaH 4 radual exclusão do ensino de !ranc;s nos ensinos +édios e até superiores, 0ue !oi substituído por inl;s, !ato 0ue acarretou a perda de u+ dos instru+entos de coneci+ento +ais i+portante para a 2rea das ci;ncias u+anasH J i+plantação do vestibular uni!icado 0ue, nu+ pri+eiro +o+ento, se estrutura se+ redação e orienta o seundo rau na direção de u+a lina in!or+ativa, e+ detri+ento da !or+ativa e axiolica, oportunizando ta+bé+ o cresci+ento dos cursinos préuniversit2rios, +ultiplicadores de in!or+aç*es e técnicas de +e+orização :rente a todas essas +edidas, $osi observa 0ue se desenvolve u+ ca+po de tens*es entre o +o do de ler a cultura e+ con!or+idade co+ os +ovi+entos pra+2ticos do neocapitalis+o visão de +undo dos tecnocratas e o +odo crítico, visando des+isti!icação das ideoloias prprio dos estudiosos de cada 2rea Desta !or+a, criase a contradição entre as tend;ncias 0ue $osi ca+aespeculares e as tend;ncias críticas #s especulares são assi+ ca+adas por0ue "espela+ a rede dos interesses do+inantes, arrastando, portanto, consio a !orça dos !atos" (p=1K Co+ relação s dissid;ncias, re+etendo a re!lex*es de #dorno e L+berto /co, $osi observa +uito be+ 0ue a sociedade de consu+o sabe +uito be+ aproveit2las, trans!or+ando as críticas e+ +ercadorias e +oda e, co+ isso, esvaziando o seu e!eito de conscientização e de trans!or+ação dostatus 0uo Geundo o autor, a neutralização das possíveis dissid;ncias é u+ co+porta+ento prprio das sociedades neocapitalistas, 0ue s se vale+ do recurso da punição e+ relação a atitudes 0ue considera+ +ais capazes de despertar a "consci;ncia das contradiç*es" Bucida+ente, $osi conclui 0ue o siste+a te+ u+a certa +are+ de indul;ncia para co+ a0uilo 0ue não ve+ de encontro sua autoconservação econ+ica, +otivo por 0ue, no !inal dos anos %', a liberalização de costu+es e da linuae+ estão dentro desta +are+ de toler3ncia . )as, na pr2tica da coibição, a aus;ncia de u+a certa !iloso!ia, e+basada e+ u+a escala de valores (a!ora a da auto conservação, !az co+ 0ue o siste+a so!ra de u+a certa instabilidade e até +es+o incoer;ncia, 0uando se trata de praticar a censura e+ v2rios 3+bitos ou de estabelecer prora+as institucionais Festes, os discursos são per+eados de !alas, 0ue pertence+ a correntes antanicas críticas e especulares , co+o se pode observar no excerto do -lano Getorial de Cultura (19%J9, citado pelo ensaísta Muando se volta para a cultura !ora da universidade , $osi considera 0ue o 0ue caracteriza a cultura extrauniversit2ria é o seu car2ter di!uso, produto da +escla de toda a vida psicolica e social do povo brasileiro #o contr2rio da cultura acad;+ica !eita de discursos +arcados e te+atizados, na cultura descolada do circuito universit2rio, os sí+bolos e bens culturais não são ob7eto de an2lise, +as vividos e pensados (p =.' Feste 3+bito, encontra+os a ind
)arsall )acBuan e via+ co+ certo entusias+o a +ass co++unitation , +as, a partir dos anos %', passa+ a ter u+a atitude crítica, razão por 0ue se produze+ +uitas dissertaç*es e teses nas universidades 0ue denuncia+ a ideoloia con!or+ista da inda, cu7o protaonista se insere e+ u+a orde+ tão solida+ente edi!icada e+ seu absurdo, 0ue a sua presença dissonante e per0uiridora não altera o status 0uo , +otivo por 0ue pode ser "tolerado" Fa re!lexão sobre a cultura popular, $osi denuncia certas tend;ncias e+ rotular de residuais as +ani!estaç*es ca+adas !olclricas, 0ue se baseia+ e+ u+ princípio evolucionista Geundo essa visão, tudo o 0ue estiver sob o li+iar da escrita , inclusive os 2bitos r
e+ ob7etos +ec3nicos e eletrnicos, e, ao +es+o te+po, o !ato de 0ue esses recursos s se torna+ possíveis, raças s pes0uisas desenvolvidas no ca+po universit2rio Fu+a relação inversa, a cultura de +assas se apropria dos ob7etos si+blicos e representaç*es da cultura erudita para trans!or+2los e+ +oda e consu+o, !en+eno ca+ado de >itsc, estudado por #braa+ )oles, "0ue consiste e+ divular, 7unto a consu+idores das classes altas e +édias, palavras, ostos, +elodias, en!i+ bens culturais produzidos inicial+ente pela ca+ada cultura superior" (p=.%& Cultura de +assa e cultura popular se relaciona+ através dos +eios de co+unicação, 72 0ue e+ 0ual0uer casa de caboclo a cultura de +assa ocupa suas oras de lazer, através da televisão e do r2dio, as 0uais poderia+ ser astas co+ "alu+a !or+a criativa de autoexpressão"(p=.& #o +es+o te+po, a cultura de +assa explora aspectos da vida r
O texto de $osi convida a re!lex*es, ainda +uito pertinentes e necess2rias, a respeito das culturas brasileiras, sendo !unda+entais as idéias de pluralidade e de relaciona+ento entre essas di!erentes culturas, 0ue não se !unde+ +utua+ente, +as +ant;+ relaciona+entos de tensão, troca, ibridis+o e estão e+ constante trans!or+ação Qale le+brar 0ue a sociedade brasileira é ta+bé+ +atizada por rupos de e+irantes, co+o os italianos e ale+ães 0ue a0ui ceara+ no século 6E6, 7aponeses no século 66, e outros povos estraneiros 0ue, radicandose de!initiva+ente a0ui, trouxera+ vis*es de +undo di!erentes das do colonizador portuu;s e 0ue o7e se constitue+ co+o co+unidades 0ue interae+ co+ os de+ais rupos culturais, neste processo incessante de trocas, assi+ilaç*es e di!erenciaç*es /ssas são re!lex*es 0ue pode+ ser estendidas a todas as #+éricas, co+postas de países 0ue so!rera+ processos colonizadores +uito se+elantes, nos 0uais os povos autctones !ora+ ani0uilados ou +enosprezados pelo olar etnoc;ntrico dos europeus Co+ relação a u+ pro7eto educacional 0ue conte+plasse a +ultiplicidade cultural brasileira, de +odo real+ente de+ocr2tico, $osi preconiza 0ue esse deveria penetrar de !ato na ri0ueza da sociedade civil, pro+ovendo tudo a0uilo 0ue na cultura erudita (universit2ria ou não !osse u+ "dobrarse atento vida e expressão popular" e, ao +es+o te+po, "u+a re!lexão sobre as possibilidades, ou as i+posturas, veiculadas pela ind
(1)In: BOSI, Alfredo. Dialética da colonização . São Paulo: Companhia da !etra, "##$. O%: A partir de a&ora, na citaç'e, indicaremo apena a p(&ina dete li)ro.