INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO Universidade Técnica de Lisboa
Segurança incêndio Avaliação do risco de incêndio em edifícios
Abílio José Sequeira Lopes Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Construção Sob orientação do Professor Joaquim Valente
Lisboa, Setembro de 2004
“Embora seja fútil tentar eliminar o risco e questionável tentar minimizá-lo, é fundamental que os riscos sejam os riscos certos“ Peter Drucker
Segurança incêndio Avaliação do risco de incêndio em edifícios
Abílio José Sequeira Lopes Dissertação realizada no âmbito do 12º Curso de Mestrado em Construção do Instituto Superior Técnico, Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Construção.
Resumo A verificação consistente da segurança é um assunto que tem merecido especial atenção no seio da comunidade técnica e científica. As inconsistências existentes na actual regulamentação relativamente aos formatos de segurança têm sido objecto de ampla discussão e de procura de propostas alternativas. A investigação nesta área é por isso de interesse, justificando-se o desenvolvimento de metodologias de avaliação da segurança como ponto de partida para a definição de regras simplificadas, lógicas e coerentes. A Suíça foi o primeiro país a adotar métodos de avaliação de risco de incêndio por meio da SIA-81 (Societé Suisse des Ingénieurs et des Architectes), em 1984, baseada nos trabalhos de Max Gretener. Este método, denominado de Método de Gretener, não é o único utilizado internacionalmente, e corresponde a uma tentativa de avaliar aritmeticamente o risco de incêndio em edifícios, tendo servido também de base para as normas austríacas TRVB A-100 (cálculo) e TRVB A-126 (parâmetros para o cálculo de estruturas ) publicadas pela Liga Federal de Combate a Incêndio da Áustria, em 1987. A partir de 1984, um longo caminho foi percorrido, verificando-se o aparecimento de novas metodologias e ferramentas computacionais que permitem abordagens diversificadas no tratamento dos riscos em geral, quer no tratamento do risco de incêndio em edifícios, em particular. Actualmente assumem particular importância, dada a tendência para se introduzirem novas abordagens a nível regulamentar, estando em curso a passagem de regulamentações prescritivas para regulamentações de carácter exigencial ou de desempenho, onde assume particular importância a quantificação do risco aceitável. Em Portugal, e desde 1994, o Doutor António Leça Coelho, do LNEC-Laboratório Nacional de Engenharia Civil, têm também vindo a desenvolver um modelo matemático designado de modelo de análise do risco de incêndio em edifícios não industriais (MARIE) [1], e que aqui transcrevemos.
Avaliação do risco de incêndio em edifícios
Capítulo 1 - Introdução 1.1 Considerações gerais Durante séculos e de uma forma geral, as decisões respeitantes ao risco estiveram fundamentalmente associadas ao senso comum, de ensaio e erro, ou a crenças de conhecimento não científico. Kerven e Rubise (1991) distinguem três períodos: A idade do sangue, que se caracterizou por o homem tranquilizar os seus medos ou receios, com sacrifícios oferecidos a divindades; a idade das lágrimas, na qual e com o aparecimento do Cristianismo os maiores medos conduziam o homem a romarias e procissões de diversa indole; e a idade que poderemos designar do pensamento ou da razão, iniciada a partir de 1755, com a ocorrência do terramoto que destruiu Lisboa, e em que Rousseau afirmou que o homem é o responsável pelo perigo tendo referido que se os efeitos do terramoto são tão terríveis, a culpa é dos habitantes. Esta opinião marcou o começo do que em francês se denomina cindynique: a ciência do perigo (Soutadé 1998). Actualmente e devido à confiança nos desenvolvimentos da ciência e da tecnologia, a sociedade cada vez mais expressa a sua preferência pelo planeamento/planificação, o prognóstico, os avisos/alertas e a prevenção-mitigação (gestão dos riscos), em contraste com as respostas ad hoc tradicionais em caso de crise. Felizmente, a utilização de análises quantitativas, bastante técnicas, de avaliação/análise de riscos têm beneficiado a gestão de riscos, e o seu emprego têm vindo a ser generalizado. De qualquer modo, muitas destas análises, pela sua perspectiva ou objectivo, não facilitam a tomada de decisões ou não consideram aspectos multidisciplinares, o que poderá em alguns casos significar a sua inutilidade, ou um retrocesso em outros. Concretamente e em relação ao risco de incêndio em edifícios, o desenvolvimento tecnológico têm introduzido profundas modificações nos sistemas construtivos, assim como têm permitido a introdução constante de novos materiais, sobre os quais não se possui ainda informação ou experiência na sua utilização. Referimonos por exemplo a edifícios caracterizados pela utilização de: - grandes áreas em planta e em altura sem compartimentação; - pelo emprego de fachadas envidraçadas; - pela incorporação acentuada de materiais combustíveis nos elementos construtivos. Tais modificações, aliadas ao número crescente de instalações e equipamentos de serviço, introduziram riscos que anteriormente não existiam nas edificações. Sabe-se que eliminar por completo o risco oriundo de um incêndio para a segurança humana é uma tarefa impossível. Sabe-se também que esforços não planeados, através de soluções não integradas, e deficientemente articuladas, realizadas nesse sentido resultam em acções pouco económicas, e por vezes ineficazes. Para se obter um nível aceitável de segurança contra incêndio e programar parcelas ponderáveis de custo, torna-se necessário um estudo mais amplo e aprofundado, assumindo particular importância o conceito de risco aceitável. Torna-se assim necessário conhecer os objectivos da segurança contra incêndio e saber como actuar na prevenção e na protecção, desde a fase de ante-projecto até à fase de construção, operação e manutenção de um edifício, dado que grande parte da segurança contra incêndio é resolvida ou decidida na fase de projecto. A sociedade toma medidas colectivas no sentido de se proteger contra determinados riscos, e têm-no feito com sucesso. Por exemplo a redução do risco de epidemias, têm sido considerado um dos maiores progressos sociais do últimos tempos. A esperança de vida de uma pessoa nascida na Europa em 1841 era de 35 anos. Agora, na maioria dos países desenvolvidos atinge os 70 anos, e subiu para 50 anos nos 40 países mais pobres do mundo. Instituto Superior Técnico - Mestrado em Construção
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Avaliação do risco de incêndio em edifícios
Parece assim que as sociedades desenvolvidas, e com melhor qualidade de vida, estão cada vez mais seguras e menos tolerantes aos riscos, à medida que se avança no desenvolvimento de novas tecnologias. Mesmo assim, alguns avanços trazem consigo um aumento do risco: os automóveis já causaram muitas mortes, e a industria introduziu novas ameaças, e assim sucessivamente, como o desenvolvimento de novos materiais de construção, e a criação de edifícios cada vez mais altos e complexos. Parecia até que os benefícios das novas tecnologias, se sobrepunham aos riscos que estas ocasionavam. Como parte da sociedade somos capazes de tolerar diferentes tipos de riscos por razões diferentes. A procura de maior segurança é contudo contínua. À medida que diminuem os riscos de acontecimentos comuns como as epidemias, os riscos que representam acontecimentos extraordinários, como as ameaças naturais, assumem maior importância. O nível de segurança que se procura não é específico. Que grau de segurança é suficientemente seguro? Que risco de acidente real enfrentamos e como se compara com outros riscos mais familiares? Em muitas situações é muito mais eficiente do ponto de vista económico, e antecipadamente prevenir que ocorram acidentes como por exemplo sismos, incêndios, ou acidentes de trabalho, que recuperar depois destes. Hoje e dado o crescente conhecimento, que se têm dos riscos enfrentados, e porque existe a possibilidade de aumentarmos o nível de protecção, e se pretendemos um desenvolvimento compativel com os objectivos do desenvolvimento sustentável, não podemos esquecer a mitigação dos riscos. Como se pode avaliar o risco de incêndio, ou dito de outro modo a segurança incêndio de determinado edifício? Como podemos tomar decisões tendo em atenção um nível apropriado de protecção contra incêndios? São estas e outras questões que se procurou abordar neste estudo. Na vida nada é seguro... Ao atravessarmos uma estrada, existe o risco de sermos atropelados por um automóvel. Em casa existe um risco diário de incêndio. Todos tomamos medidas para minimizar este tipo de riscos. Quando atravessamos a estrada, praticamos o nosso ritual para nos protegermos dos veículos. Quando saímos de casa desligamos todas as fontes de calor assim como os aparelhos eléctricos, no sentido de diminuir para o mínimo o risco de incêndio. Os níveis baixos de risco, aceitamo-los. Pelo contrário, tratamos de tomar medidas contra os níveis elevados de risco. Nestes últimos anos, e nomeadamente a partir da década de 70, tem-se consolidado um largo campo de estudos dedicado ao estudo quer do risco de incêndio, quer dos riscos ambientais, com o objectivo de caracterizar, por um lado a forma como as pessoas pensam sobre os diferentes tipos de perigos a que estão sujeitas, e por outro as implicações dessas cognições ao nível dos seus comportamentos (decisões, prevenção, etc.). A importância dedicada ao tema prende-se com os elevados custos materiais e humanos associados a catástrofes com origens naturais ou tecnológicas, e também com a crescente necessidade sentida pelos decisores técnicos e políticos e pela opinião pública de determinarem qual o nível de risco aceitável para uma determinada tecnologia ou para uma determinada população. O problema, tal como ele se coloca actualmente, não é o da existência dos riscos, os quais já são vistos como um dos preços a pagar pelas tecnologias, mas o da forma de os evitar, quantificar, ou de limitar/reduzir as suas consequências. Assim, em termos políticos já não é comum a reivindicação de um nível zero de risco (recusa total do risco) nem a crença ingénua de que a ciência e a tecnologia podem destruir ou reparar/consertar tudo, mas aparece cada vez mais a posição de que só com o aumento da consciência dos riscos por parte das populações é possível aumentar os comportamentos de protecção individuais e grupais, começando a surgir opiniões que defendem a sua quantificação numérica. Consequentemente, e dada a melhoria das condições de vida das sociedades, começam a ser levantadas questões como, qual o nível de risco de incêndio, que estamos dispostos a considerar como aceitável, para determinado tipo de edifício? Nesta linha, assume também grande importância o estudo relativo às formas de que se reveste o pensamento sobre os perigos e a avaliação dos riscos a eles inerentes, por que só conhecendo a forma como as pesInstituto Superior Técnico - Mestrado em Construção
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Avaliação do risco de incêndio em edifícios
soas e as sociedades, concebem estas questões se podem compreender os seus comportamentos face a situações de crise e desenvolver estratégias para uma mudança desses comportamentos e atitudes com vista a uma rentabilização dos recursos colectivos. Nesta dissertação, pretende-se também rever e sistematizar as principais perspectivas teóricas metodológicas da investigação na área dos métodos de avaliação do risco de incêndio em edifícios, bem como os seus resultados. No entanto, e visto que há muitos outros riscos que têm sido mais estudados, tentaremos aplicar as conclusões desses trabalhos a este tema. Será também de salientar a influência crescente que se têm verificado nesta área do conhecimento, dos Modelos de Apoio à Decisão, problemas de escolha ou decisão, desenvolvidos com o intuito de enfrentar situações específicas, nas quais um decisor, actuando com racionalidade, deveria resolver um problema em que vários são os objectivos a serem alcançados de forma simultânea. Estes métodos de Apoio Multicritério à Decisão têm um carácter científico e, ao mesmo tempo, subjectivo, trazendo consigo a capacidade de agregar, de maneira ampla, todas as características consideradas importantes, para a segurança incêndio, inclusive as não quantitativas, com a finalidade de possibilitar a transparência e a sistematização do processo referente aos problemas quer da quantificação numérica do risco quer na tomada de decisões, nomeadamente instalação ou não de sistemas de protecção contra incêndios, como forma de mitigar/reduzir o risco de incêndio, para níveis considerados aceitáveis pela sociedade ou pelos decisores, políticos ou outros. O estabelecimento de um formato de segurança incêndio simples e consistente deverá ter uma base fundamentada em conceitos racionais que permitam considerar o risco associado a cada caso em estudo. A fixação dos níveis de risco associados às regras regulamentares. envolve, para além dos aspectos técnico-ciêntíficos, uma série de interesses e conveniências económicas, sociais, políticas, industriais, comerciais e outras, que ultrapassam a jurisdição exclusiva do engenheiro. A probabilidade de ocorrência de incêndio é uma das medidas mais racionais para a quantificação dos diferentes níveis de risco. Sob este ponto de vista, esta medida representa o custo que a sociedade está “disposta” a assumir em termos de pessoas vitimadas, consequências económicas e perigos vários para a comunidade em geral. 1.2 Risco de incêndio em edifícios Não existe um método específico para avaliar a segurança do risco de incêndio em edifícios. Contudo existem dois de entre muitos factores ou parâmetros de risco, fácilmente identificáveis e que contribuem de forma decisiva para a gravidade do risco - a densidade de carga de incêndio e o risco de activação. O primeiro que se calcula pela massa de material combustível por unidade de área; o segundo que se avalia pelo número de pessoas que ocupam os imóveis, pelas circunstâncias dessa ocupação, pela planta das edificações assim como pela qualidade da manutenção. Ao longo do tempo, as mudanças operadas nos edifícios e na seu uso ou ocupação, aumentaram certamente a carga combustível. Apesar de jamais ter sido medido, o processo de mudança do mobiliário e a adaptação de imóveis residenciais para comerciais faz crer no aumento da densidade de carga de incêndio. Foi assim no Chiado, em Lisboa, onde, em 1988, um incêndio destruiu 18 prédios históricos, datados de 1755. A grande quantidade de materiais combustíveis existentes no interior das edificações aliada à falta de compartimentação e a dificuldade de acesso dos bombeiros pelas ruas estreitas e tomadas por veículos estacionados possibilitaram o desenvolvimento do incêndio em grandes proporções. Mas não só a quantidade de carga de incêndio tem mudado: a velocidade com que uma antiga mesa de madeira libertaria calor é muito menor que a das mesas de plástico ou dos revestimentos dos sofás das salas de hoje. Esse facto traz um sério agravamento do risco. Instituto Superior Técnico - Mestrado em Construção
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A densidade de ocupação atinge picos nas festas, feriados e em alguns fins de semana. Mais pessoas, maior risco de activação de incêndio. 1.3 A natureza do perigo de incêndio O perigo de incêndio é consequência de reacções quimicas exotérmicas, incontroláveis, especialmente entre materiais orgânicos e o ar. Está particularmente associado a materiais combustíveis e às fontes de energia utilizadas todos os dias na vida das pessoas. A forma da sociedade ou das entidades públicas e políticas, lidarem com esta ameaça, e de procederem ao seu controlo, e de tratarem ambas as vertentes envolvidas, quer a vida das pessoas, quer os bens materiais, sempre foi alvo da afectação de recursos assinaláveis, em que se procura obter o equilibrio entre a segurança máxima, ou o menor risco, ao menor custo possível. Apesar de tudo a qualidade de vida ainda se encontra muito ligada e dependente do uso que se dá aos edifícios. O perigo adicional que ocorre quando o incêndio deflagra num compartimento, com o calor e os fumos a serem aprisionados, e a elevarem-se de forma ameaçadora, necessita de ser contraposto ou comparado com o valor ou risco intrinseco de utilizar os edifícios. Segue-se portanto que não se conseguindo geralmente eliminar o perigo ou a ameaça de incêndio, podemos contudo reduzi-lo para um nível aceitável ou mais baixo, recorrendo para isso a medidas de natureza construtiva e intimamente ligadas ao projecto. Seguidamente, e de acordo com “International Association for the Study of Insurance Economics - The Geneva Association” - www.genevaassociation.org/wfsc.htm, cujo objectivo é o de persuadir os governos a adoptar estratégias, no sentido de reduzir o custo dos incêndios, que se estima em cerca de 1% do PIB - Produto Interno Bruto (GDP - Gross Domestic Product - valor total dos bens e serviços que um país produz durante um ano, não incluindo receitas recebidas de dinheiro investido em outros países), nos países mais desenvolvidos, e que geralmente recebem muito menos atenção que os custos do crime ou acidentes rodoviários. Nesse sentido, recebe estatísiticas de mais de 20 países, referentes aos custos nacionais de cada um dos países. Seguidamente apresenta-se o custo referente à protecção contra incêndios em edifícios, assim como a tabela referente ao número de mortos ocorridos entre 1998 e 2000: Costs of Fire Protection to Buildings Country
Fire Protection Currency
Cost in millions (except for Japan – billions)
(%)
1998
1999
2000
Belgium
2.5
€
620
700
750
Canada
3.9
$C
2,350
2,450
2,550
Czech Republic
3.0
CzKr
3,150
3,150
3,350
Denmark
5.0
DKr
4,950
6,050
6,800
France
2.5
€
1,800
1,950
2,200
Italy
4.0
€
3,350
3,500
3,800
Japan
2.5
Yen
875
865
840
New Zealand
2.5
$NZ
160
170
Norway
3.75
NKr
5,050
4,800
4,950
Singapore
4.0
$S
665
525
800
Slovenia
2.5
SIT
4,900
6,600
7,150
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Avaliação do risco de incêndio em edifícios
Custos directos dos incêndios - Cost of Direct Fire Losses Adjusted direct losses (in millions, except for Japan - billions) Country
Currency
1998
1999
2000
Percentage
Direct
Direct
Direct
of GDP (PIB)
Losses
Losses
Losses
1988 - 2000
Japan
Yen
490
455
520
0.10
Slovenia
SlT
1,850
2,250
6,550
0.10
Czech Republik
CzKr
2,150
2,350
1,600
0.11
United States
$US
9,100
10,500
10,500
0.11
Hungary
Ft
0.12 (1986-88)
Spain
Pta
0.12 (1984)
Poland
ZI
600
965
805
0.13
United Kingdom
£
1,250
1,300
1,200
0.14
Finland
€
175
185
185
0.15
Germany
€
2,900
3,200
2,900
0.15
Australia
$A
Canada
$Can
1,600
1,700
1,650
New Zealand
$NZ
France
€
Netherlands
f
Italy
€
0.16 (1992-93) 0.17 0.17 (1993-94) 2,300
2,550
2,450
0.18 0.18 (1995-96)
2,150
1,750
2,450
0.19
Número de mortos em incêndios - Adjusted figures (fire deaths) País - (Country)
1998
1999
2000
Singapore
11
2
7
Switzerland
41
40
Spain
250
275
260
Australia
140
140
125
Italy
435
420
410
Germany
650
630
585
Slovenia
22
17
15
France
580
575
Czech Republic
100
110
New Zealand
53
37
33
UK
690
655
645
Canada
370
425
380
Norway
53
61
57
Greece
145
120
Poland
505
560
515
Austria
55
53
225
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Vítimas mortais em incêndios urbanos e industriais ocorridos em Portugal (fonte: SNB)
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1.4 Enquadramento legal - critérios prescritivos vs critérios exigenciais Tradicionalmente, os regulamentos de segurança têm assumido um carácter prescritivo, fornecendo indicações precisas e detalhadas ao projectista. No entanto, assiste-se hoje em diversos países ao aparecimento de códigos e regulamentos exigenciais, envolvendo a criação de cenários de acidentes e a utilização de metodologias de análise e gestão dos riscos envolvidos. Para a elaboração desses cenários é essencial a existência de modelos matemáticos aceites, quer pela comunidade técnico-científica, quer pelas entidades fiscalizadoras ou licenciadoras. A prática deve mover-se de uma orientação prescritiva para outra baseada no desempenho ou de natureza exigêncial. Estas duas abordagens parecem estar em conflito mas a prática corrente prescritiva poderá ser avaliada e modificada, se necessário for, pelos métodos de desempenho ou de natureza exigêncial, à medida que ficarem disponíveis. Apesar disto, poderão não estar ainda estabelecidos todos os meios para formalizar um regulamento nacional baseado em critérios exigênciais ou de desempenho, mas existe um trilhar de caminho nessa direcção. Por exemplo, regulamentos baseados no desempenho da Segurança Contra Incêndio estão estabelecidos em alguns países como a Austrália, Nova Zelândia, UK e a maioria dos países nórdicos. Adicionalmente, os projectistas de edifícios em altura, no Japão estão a usar modelação computacional para englobar critérios de Engenharia de Segurança Contra Incêndio. Se a segurança incêndio dos edifícios for feita com base num critério de desempenho ou de natureza exigêncial, em lugar da abordagem regulamentar convencional prescritiva, podemos obter daí vantagens significativas, como: - os recursos económicos podem ser utilizados na satisfação de necessidades reais de determinado pro jecto, ou edifício, em lugar de serem aplicados na satisfação de medidas regulamentares prescritivas, por vezes ineficazes ou em sobreposição; - um projecto de segurança racional pode ser aplicado a edifícios de carácter inovador ou de construção não convencional e que não se enquadre nos princípios da regulamentação prescritiva; e - o proprietário do edifício poderá querer aumentar o nível de segurança acima do mínimo legal expresso na regulamentação, e com base numa ferramenta racional de cálculo do risco. Contudo ainda existem dificuldades significativas, que impedem esta abordagem, apesar de por exemplo na reabilitação de edifícios existentes a aplicação da regulamentação ser difícil ou mesmo impossível. Nestes casos devem prever-se meios de segurança compensatórios, adequados a cada edifício e que podem incluir medidas de natureza activa como as instalações de detecção, alarme e meios de extinção assim como os meios humanos do serviço de segurança. O mesmo se passa a nível do imenso património cultural existente na Europa, em termos de edifícios históricos. No passado, e por toda a Europa, muitos e importantes edifícios foram destruídos pelos incêndios. Actualmente o problema reside também na falta de implementação de medidas de segurança contra contra incêndio, no sentido de proteger estes edifícios, e portanto de reduzir o risco de incêndio. Por outro lado as medidas de segurança baseadas ou exigidas na regulamentação actual, vão alterar as características do edifício através por exemplo da introdução de novos materiais, divisórias corta fogo, ou sistemas de ventilação etc. Como consequência, e para além dos custos e dificuldades de implementação, estas medidas entram em conflito com a arquitectura original. A sociedade ou os proprietários, não estão também preparados para suportar os custos inerentes a todas as medidas de protecção baseadas na regulamentação Instituto Superior Técnico - Mestrado em Construção
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aplicável correntemente, em construções novas. Contudo, e apesar de todos os esforços, mais medidas de protecção contra incêndio, são necessárias em edifícios históricos, o que deve ser implementado de uma forma optimizada, no sentido de se atingir um nível aceitável de segurança incêndio com um custo mínimo. No sentido de estimar as consequências de diferentes possibilidades de incêndio e a sua probabilidade, podemos recorrer à utilização de métodos de avaliação do risco de incêndio. Vemo-nos assim confrontados com um projecto de segurança contra incêndio, tipicamente baseado no desempenho global do edifício, e de natureza exigêncial, que exige a quantificação e avaliação do risco em função das medidas passivas e activas implementadas. As dificuldades surgem porque a adopção destas medidas compensatórias não se encontram quantificadas na regulamentação, como se compreende face às inúmeras situações que se podem deparar. Cabe assim ao projectista colmatar com o seu conhecimento as indefinições e assegurar limiares mínimos de segurança, que deveriam ser definidos ou impostos pela regulamentação em vigor. Nesse caso seria deixado ao critério do projectista, a implementação das medidas ou dos sistemas de protecção julgados mais convenientes de forma a que, e segundo um modelo matemático de cálculo, se atinga o nível de risco, ou limiar mínimo de segurança exigido. O objectivo, é também o de possibilitar a análise de situações mais complexas para as quais a regulamentação não têm capacidade de resposta e, inclusive, a substituição da actual regulamentação de segurança contra incêndio, de natureza prescritiva, por uma regulamentação de natureza exigencial.
A avaliação do risco de incêndio e as decisões de projecto: Situação actual Avaliação do potencial de risco Resultado económico em relação ao seguro
Situação Ideal - perspectiva técnico institucional Alternativas de segurânça Risco de incêndio associado
Métodos / modelos de análise
Concepção do edifício (Projecto)
Nível técnico
Avaliação do edifício (Seguro)
Nível institucional
Classificação do edifício Risco de incêndio associado
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1.5 Objectivos propostos O objectivo principal deste trabalho envolve a pretensão de abordar uma área muito especializada e multidisciplinar da segurança incêndio, que preocupa o meio técnico nacional e internacional, e que básicamente consiste na sua avaliação. Esta consoante os autores e a sua formação, consubstancia-se em vários conceitos, por vezes sujeitos a alguma confusão, tais como, risco, perigo, quantificação, avaliação, análise ou gestão do risco de incêndio em edifícios. Esteve portanto subjacente à realização deste trabalho, o objectivo de abordar ou enumerar os recursos disponíveis para este efeito, o que nos pareceu mais adequado designar de metodologias subjacentes à avaliação da segurança incêndio, e que incluem, métodos, técnicas ou modelos matemáticos, utilizadas na sua avaliação, abordando e discutindo vantagens e aspectos a tomar em consideração na sua utilização quando aplicadas por exemplo a casos específicos, como seja por exemplo o caso dos edifícios históricos. Por outro lado e a partir de estudos já realizados e tendo em conta os resultados obtidos a partir da aplicação de cada um dos métodos a diferentes tipos de edifícios, tais como carpintarias, serralharias, oficinas de automóveis, apresentar de forma clara e concisa, as suas características, deficiências e vantagens. A aplicação de cada uma das metodologias não apresenta geralmente grandes dificuldades, contudo o desconhecimento da variedade de métodos disponíveis pode por vezes levar à aplicação de um método que não se adequa às características do tipo de edifício em estudo. 1.5.1 Organização do trabalho Serviu de base a esta dissertação, a bibliografia indicada em [1], pelo que se abordam fundamentalmente cinco métodos, representativos e em pormenor, incluindo exemplos de avaliação do risco: 1 - Método de Gretener ou “index method”. 2 - FRAME, método baseado no anterior e em outros similares, aplicado a um mosteiro transformado em museu. 3 - “Fire Risk Index Method”, aplicado a um edifício de habitação, com estrutura de madeira. 4 - Árvore de falhas, aplicada a um exemplo um edifício considerado como património cultural. 5 - Método probabilistico, utilizando o índice de confiança “reliabily index”, aplicado a uma central nuclear. O trabalho foi estruturado em cinco capítulos: Capítulo 1 - Introdução, e enquadramento legal e normativo. Capítulo 2 - Fundamentos da Avaliação de riscos - Conceitos e definições. Apresenta a importância multidisciplinar do conceito de risco, procurando clarificar este conceito, assim como se apresentam diferentes perspectivas e definições. São também abordados os conceitos de Perigo e Risco, Probabilidade x Frequência, Consequências da materialização do risco, Risco Social e Risco individual e Aceitabilidade do Risco. Capítulo 3 - O Sistema Global da Segurança Contra Incêndio. Capítulo 4 - Conce tos sobre métodos e modelos matemáticos. i
Capítulo 4 - Metodologias de Avaliação do Risco de incêndio. Capítulo 5 - MARIE - A modelação do Risco de Incêndio em Edifícios Não Industriais.
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Finalmente e como conclusão será indicado o método que melhor se adapta, ou que deverá ser utilizado, quando em presença de um edifício classificado como património cultural. • • • •
Identificar e compreender as diferentes metodologias de avaliação do risco Compreender e distinguir os conceitos de perigo e risco Identificar os parâmetros base para a aplicação de uma metodologia de avaliação de riscos Enunciar as metodologias de avaliação do risco de incêndio mais comuns Aplicar metodologias de avaliação de riscos
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