A P S I C O S E ensai nsaio de in interpret erpreta açã ção o anal nalítica e existe stencial
Al Alphonse De Waelhens
Jorge Zahar Editor 15
Transmissão da Psicanálise
A PSICOSE PSICO SE Ensaio de in terpr etação etação analítica e existencial
Fruto de quase dez anos de tra balho, este livro de Alphonse De Waelhens ocupa, desde sua publicação, o lugar de um verda deiro clássico da literatura psicanalítica sobre a psicose. Nele, o autor elabora, à luz da psiquiatria e da psicanálise, uma concepção da psicose em geral, e mais particularmente da esquizofrenia, que contribui para uma com preensão antropológica da loucura. O leitor encontrará aqui, pela primeira vez exposta com clareza e de modo amplamente sistemati zado, a contribuição de Jacques Lacan para a teoria psicanalítica da psicose, primeira a retomar de modo fecundo a via aberta pelos avanços da descoberta freudiana. Desse modo, são elucidados con ceitos primordiais tais como o de foraclusão, na demonstração de que a projeção é um mecanismo insuficiente para compreender a psicose. Ao retomar sob a ótica ó tica do ensino de Lacan, entre outros casos, o famoso exemplo clínico do presi dente Schreber analisado por Freud, De Waelhens permite depreender a continuidade exis tente entre Freud e Lacan num setor teórico e clínico que consti tui uma das mais candentes pro blemáticas da psicanálise.
A g u i s a de c o m p l em e n t o de sua pesquisa e efeito da formação intelectual do próprio autor, A Psi c o s e apresenta ainda um capítulo final exclusivamente dedicado a apresentar a interpretação existencial do inconsc inc onsciente iente e da psicose. Sobre o autor: autor : nasceu em Antuérpia, na Bélgica, e realizou seus estudos em Lou vain e Paris. Doutor em direito, professor assistente de filosofia, ensinou as cadeiras de antropologia filosófica e feno menologia na Universidade Católica de Louvain e nas Faculdades aculdades Universi niv ersitárias tárias Saint Saint Louis de Bruxelas. Manteve também seminários de formação na Escola Belga de Psicanálise. Além de várias obras sobre a história da filosofia contemporânea, é autor de Existe xist ence et et signi fication ficatio n (1958) e La ph ilos op hie et les expéexpériences naturelles (1961). naturelles (1961). Traduziu para o francês, em colaboração com W. Biemel e R. Boehm, Vom Wesen der Wahrheit, Kant und das Pro blem d er Metaph Me taph ys ik e Sei Sein n und Zeit Zeit de Martin de Martin Heidegger.
A l p h o n s e d e W a e l h e n s
Alphonse De Waelhens
A PSIC PSICOS OSE E ensaio de interpretação analítica e existencial
Tradução: Vera Ribeiro Psicanalista
Jorge Zahar Editor Rio de Janeiro
Título original: La psycho psy chose se (Essai d'interprétation analytiqüe et existentielle) Tradução autorizada da reimpressão de 1982 da primeira edição belga publicada por Éditions Nauwelae Nauwelaerts, rts, de Beauvechain, Beauvechain, Bélgica, Bélgica, na série "Bibliothèque de Psychologie Clinique, Psychanalyse, Phénoménologie”, dirigida por Jacques Schotte Copyright © 1972, Éditions Nauwelaerts Copyright © 1990 da edição em língua portuguesa: Jorge Zahar Editor Ltda. rua México 31 sobreloja 20031 200 31 -144 Rio Ri o de Janeiro, RJ Tel.: (021) 240-0226 / Fax: (021) 262-5123 Todos os direitos reservados. reprodução não-autorizada desta publicação, no todo A ou em parte, constitui consti tui violaçã vi olaçãoo do Co Copy pyrig right. ht. (Lei 5.988) Reimpressão: 1995 Impressão: Tavares e Tristão Ltda. I S B N :8 5 -7 110-10 110 -1011 -9 (JZE, (JZE , RJ) RJ )
SUMÁRIO
Prefácio 1. Algumas concepções clássicas da psicose esquizofrênica em psiquiatria psiquiatr ia Conseqüências das concepções clássicas —Distinção entre para nóia e esquizofrenia esquizofrenia —Insuficiência da perspectiva causalist causalistaa — Bleuler —Sintomas primários e secundários —Minkowsky — Berze: a pertur perturbaç bação ão de base —A insuficiênc insuficiência ia das concepções concepções clássicas —Binswanger —Binswanger —Binswanger: Binswanger: o delfrio como capitul capitulação ação —O autism tismoo —A angústia tia seg segundo Bins inswanger e Heide idegger — Szon Szondi di — Szon Szondi: di: o vetor da esquizofrenia —Limite Limite das con cepções clássicas. 2. O acesso à linguagem e o recalcamento primário. primári o. Seu fracasso na psicose esquizofrênica A reprodução reprodução simbólic simbólicaa do fato traumatiz traumatizante ante Advento da linguag linguagem em e do real — O recalcam recalcamento ento primário primário — O recal camento primário e a linguagem linguagem — Fracasso do recalcamento pri prim mário rio —Ap —Apre rema matur turida idade dedo doho home mem m —O —O acesso ao desejo sejo — A história história pré-natal pré-natal —O "trabalho "trabalho”” do nascimento nascimento —A mãe do ps psicó icótic tico — A ima imagem especular lar — A ima imagem esp especular lar e o esquizofrênico —O sentido da imagem especular —Efeitos da imagem imagem especular —O par especular —Características Características do par especular —Par especular e paranóia —O terceiro-testemunha —A paran ranóia e o terc terceeiro iro-tes -teste tem munha —A passagem par paraa o outroquenãoémaisomesmo —Ooutroquenãoémaisomesmo —A —A in intru trusão do out outro ro ou ou sua re rejeiç jeiçãão —O espa spaço co corpo rporal ral — Identificação e identidade no esquema corporal. 3. A importância import ância estr es trut utur uran ante te do Éd Édipo ipo* Ausência do do triângul triân guloo edipiano na psicose psicose O psicótico psicótico e o Édipo —A foraclusão foraclusão —A foraclusão foraclusão do nomedo-pai —Fracasso da "metáfora paterna” —O Édipo e a Lei — O nome —O caráter estruturante do Édipo —Da pulsão a seu representante representante psíquic psíquicoo — A pri prim mazia do signific ificaantesobre o signi ficado —As — As "diabrur "diabruras” as” do sign significan ificante te —A ausên ausência cia de um verdadeiro verdadeiro inconsciente inconsciente na psicose psicose —A articulação do incons incons ciente.
4. A interpretação psicanalítica da psicose. A metáfora paterna e a foraclusão paran ranóia seg segundo Freud reud - O delír lírio de perse rseguiçã ição e de erot erotooA pa mania mania — O delírio de ciúme ciúme — O delírio de grandeza — Os mecanismos mecanismos do recalcamento recalcamento paranóico —Ap Aplicação licação a Schreber Schreber —O —O delír lírio do fim do mundo —F —Funções do delíri lírioo —O —O mecanis is mo esquizofrênico do recalcamento —Funções do delírio —O pont pontoo de fifixação na esqu squizo izofre frenia —O —O estu estudo do sob sobre o narcis rcisis ism mo —O — Os três três gru grupos de manife ifesta stações num qu quad adro ro psicó icótic tico — Analogias An alogias variáveis variáveis do delíri delírioo com a histeria e a neurose neurose —Outros Outros textos freudianos sobre sobre a psicose psicose —Con Confusão fusão entre entre o significante significante e o sign significad ificadoo - As palavras palavras e as coisa coisass - Recalcamento na neu neu rose e na psico psicose se - O recalcamento recalcamento neurótico - A interpretação interpretação lacaniana lacaniana - O eq equívo uívoco co do pe —Ass “voz vozes” es” - A aluci aluci percipiens —A nação como como rejeição no no real - Au Ausência sência do simbó simbólico lico no discurso discurso ps psicótic tico - As lín línguas de Schreb reber - A proje rojeçção nã nãoo basta sta para ara compreender compreender a psico psicose se - O de desfile sfile dos significan significantes tes -- O de desfile sfile doss significan do significantese tese a neg negativ ativida idade de do sujeito sujeito - Aoutra Aout ra tríade - A neces ne cessida sidade de da renún renúncia cia - As estruturas subjacen subjacentes tes ao Édipo Édipo História História da falta falta - Ser Ser ou ter o falo falo - Psic Psicos osee e foraclu foraclusão são - O retorno retorno alucinatório do foracluíd foracluídoo - A alucinaçã alucinaçãoo do foracluído foracluído em Schrebe Schreberr - O ponto de equ equilíbrio ilíbrio da regressão Schreberian Schreberianaa —O —O reto retorn rnoo aluc lucina inatóri tórioo do fora foraccluíd luídoo - “U “Um m-pai -pai”: ”: Flechsig “Um-pai”: “Um-pai”: Schi Schille llerr - Retomada do problema problema mater materno no na esquizofre esquizofrenia nia - O pap papel el da da mãe e do pai pai - O pap papel el do do pai pai e da mãe na esquizofrenia. 5. Reflexões conclusivas sobre o problema das psicoses. Critérios analíticos e existenciais da psicose Os cinco cinco traços constituti constitutivos vos da esquizofrenia esquizofrenia - Articulação dos dos cinco cinco traços - Confusão onfusão entre o signif significa icante nte e o signif significa icado do Extensão da da confusão entre entre o significan significante te e o significad significadoo - O discurso discurso “aprendido” “aprendido” - Elaboraç Elaboração ão da imag imagem em do corpo corpo - A bis bisssexualid lidade - O paran ranóico ico e o terc terceeiro iro-tes -teste tem munha - A po posiçã ição para parannóica ica - O para parannóico ico e o terc terceeiroiro-te test stem emuunha Paranóia Paranóia e objeto especu especular lar - O sujeito do discu discurso rso paranóic paranóicoo Inexistê Inexistênc ncia ia do suposto objeto do ciúm ciúmee - O transitiv transitivism ismoo pa paran ranóico ico - A posiç sição paran ranóica ica —E —Esqu squizo izofre frenia e paran ranóia — A parafrenia —Um quadro parafrênico —Discussão sobre a natureza da parafrenia —Nota sobre a psicose maníaco-depres-
6. Elucidação existencial do inconsciente inconsciente e da psicose O discurso hegeliano —A fenomenologia —Heidegger —MerIeau-Ponty —O inconsciente é o discurso do Outr Outroo —Asobjeções de Politzer —O inconsciente inconsciente é o discurso do Ou Outr troo —Mistificação e desm desmistificaçáo istificaçáo da imagem imagem —O sentido do outro outro —Modali —Modali dades do discurso do doou outr troo —Linguagem onírica onírica e linguag linguagem emvígil ígil — Unicid icidaade ou plu plura rali liddade do sig signnific ificaado — Contest testaa-se -se um real, mas não o real real —A linguagem e o real —A linguagem e o real real:: Heideg Heidegger ger - HeideggereHegel - O horizonte horizonteon onto tológ lógic icoo e oprogressodosaber - A origem origemimpe impens nsáv ável el - O relato do sonho sonho não é on onírico írico - O sonho sonhado sonhado e o sonho-relato sonho-relato - O sentido sentido pri prim mário rio da res resistê istênncia - A inte interp rpre reta taçã çãoo - Compr ompree eens nsão ão e existê ex istênc ncia ia —A interpretação - Co Comp mpreensão reensão e percepção percepção - O sentido sentido da expre expressã ssãoo - PrenderPrender-cair cair-- A lingua linguage gem m captadora do mundo mundo - A inesgo inesgotab tabilida ilidade de do discurso discurso - A transcendê transcendência ncia próp própri riaa do do hom homem em - O exemplo do Homem omem dos Rat Ratos os - Os verdadeiros problemas problemas do Homem Homem dos Ratos - O exem exemplo do Homem Homem dos Ratos - A transcend transcendênc ência ia ativa ativa - A transcen transcendên dência cia par paraa o mun undo do - A histo istori riccida idade da anális lise - A aten atençã çãoo pa para ra com a transcend transcendênc ência ia do sentido sentido - O sentido sentido por trás do nnão-s ão-sens ensoo Ne Neurose rose e ps psico icose - O “m “maneiris irism mo” - Os "n "neolog logism ismos” — Sentido e presença —Sobre o autismo autismo —Sentido —Sentido e presença — Interpr Interpretaç etação ão do Édipo —A onipotência onipotência narcfs narcfsica ica —A identifi identifi Umw eltt; M itw itw elt” —A cação com o pai —“Eigenwelt ; Umwel —A prim rimazia da linguagem linguagem —A —Abolição bolição do “ser a distância”. Conclusão A necessidade da referência ao patológico —Apseudo-evidência da normalidade — O delírio — O caráte ca ráterr do delírio —As funções do delírio — O sentido existencial da loucura —Conclusão.
PREFACIO
Está fora de questão que uma antropologia filosófica possa doravante oonstituir-se oonstituir-se sem o socorro socorro da psicanálise, da psicopatologia e da psi psiquia quia tria. Mas essa essa constatação constataçã o inaugura, de imediato, um imenso debate. Um debate debate de método: como como entr entrará ará uma uma fenomenotogia fenomenotogia em diálogo com form formas as de saber elaboradas elaboradas a partir partir de de princípios, meios de inve investiga stigaçã ção, o, problemas, problemas, deveres e finalidades finalidades que em quase nenhuma nenhu ma part p artee confirmam os seus, seus, e como se deixará deixará ensina ensinarr por elas? Sem Sem con contar tar que existem existem divergê divergências ncias quase igualmente igualmente xa xadic dicais ais a propósi propósito to dos mesmos mesmos objetos ent e ntre re essas essas diversas diversas disciplinas, disciplinas, de sorte sorte que que o debate, para para ser rigoroso, teria te ria de ser ser retomado retomado a cada oportunidade. oportunidade. Um debate deb ate de nível: nível: devem devem os os dados e as questões questões fornecidos por po r essas ciênc ciências ias ser integrados tais e quais, ou deve sua assimilação ser precedida de uma interpretação hermenêutica - como proce procedeu deu Merle erleau au-P -Pon onty ty a propósit propósitoo do doss traba trabalho lhoss de Go Golds ldste tein in e Gelb Gelb?? E ainda, um debate debate relativo relativo às estruturas estruturas de inteligibilidad inteligibilidade: e: o que chamam chamamos os n ão se superpõ sup erpõee ao que que é visado visado com com esse esse compreender, em compreender, em psiquiatria, não termo termo pelo psicanalista, diferenciando-se o fenomenologista, mais mais uma vez, vez, de um e de outro. outro . A noção noção de delírio, ou, num out outro ro registro, registro, a de normalidade, poderiam poderiam fornecer aqui um um tema tema para para ex exeg egese esess signif significa icativa tivas. s. E por po r fim - ou antes de mais mais nada nada - hav haveria eria o debate sobre o estatuto esta tuto da consc co nsciênc iência, ia, an a n que não não apenas as posições posições dos dos interlocutores interlocutores podem podem variar consideravelmente, consideravelmente, mas onde onde cada um, além disso, disso, sem estar forçosamente mal informado sobre o po pont ntoo de vista vista do outro, outro, tem tem dificuldade dificuldadess em traduzilo com exatidão em sua própria linguagem. Não Não no noss prop propom omos os,, co com m just justaa razã razãoo, liqu liquidar idar essas sas qu ques estõ tões es prévias ias. Apenas tentar tentaremos emos nunca perdê-las de vista vista e fazer, fazer, em cada cada oportunidade, oportunidade, os comentários que nos pareçam esclarecedores e que possam, talvez, preparar sua abo abordag rdagem em ulterior e sistem sistemáti ática ca.. Não dissim dissimul ulam amos os de nó nóss mesmo mesmoss até que ponto ponto os riscos riscos de uma uma empreita empreitada da já em si si tão precária serão agravad agravados os com isso. isso. Esperamos tão tão somente que nossa reflexã reflexãoo tenha tenha por fruto oferecer oferecer uma uma oportunidade melhor melhor ao aoss que a acomp acompanha anharem rem..
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Mas Mas que empreitada, empreitada, exatamente? exatamente ? Se, Se, nestes últimos anos, os confrontos filósofos, s, analistas e psiquiatras psiquiatras foram foram numerosos, variados e fecu fecund ndos os»» e n t r efilósofo ainda estamos longe de ter explorado ou sequer abordado todas as vias dessa imensa e decis decisiva iva encruzilhada da antropologia. antropologia. É possível possível que nem mesmo mesmo uma uma dupla abordagem, abordagem, fenomenológica e psicanalítica, desse campo de encontro encontro tenha tenha ainda fornecido fornecido todos os seus frutos, frutos, nem corrido todos os seus riscos riscos.. Gostaríamos Gost aríamos de refazer aqui essa essa tentativa. Este E ste esforço, longamente preparado, espera resguardar-se da dupla armadilha da ignorância ignorância e da repetição. Não nos propomos nem recomeçar recomeçar o quejá que já foi foi conquistado, nem praticar uma fenomenologia “selvagem” cujas pseu pseudo dode desc scoobe bert rtas as não teria teriam m outra orig origem em senã senãoo uma uma ev evid iden entí tíss ssim imaa falt faltaa de informação. Nosso Nosso projeto será, será, portanto, refletir, refletir, a partir pa rtir de uma uma inspiração filosófic filosóficaa e fenomenológica, fenomenológica, e à luz da psicanálise psicanálise,, sobre sobre algumas algumas dimensões do comportamento que, para abreviar, aqui chamaremos de “desarrazoado”, mas que, na verdade, será principalmente o compor tamento psicótico. Vamos esforçar-nos por compreendê-lo dentro da orientação que acabamos de mencionar, mas deixando-nos esclarecer permanentemente pelo que nos ensinam ensinam a seu respeito as princi principai paiss concepções psiquiátricas, bem como a interp interpreta retação ção que que dele fornece a psica psicaná nális lise, e, tal como como exp expre ress ssaa nas nas obras obras de Freud e Laca Lacan. n. Gostaríamos Gostaríamos que essa leitura leitur a fizesse fizesse surgir a inscrição potencial potenc ial da loucura no próprio cerne das estruturas constitutivas da condição humana Agradaria ao filósofo obter obter dessas dessas estruturas um novo esclarecime esclarecimento, nto, que seu funcionamento usual e normal amiúde só faz faz obnubilar, obnubilar, a despeito de todos os exame examess que procuram procuram identificá-las, identificá-las, mas mas que, na maioria das vezes, vezes, só levam levam a conferir-lhes conferir-lhes o cará c aráter ter da mais banal evidência. evidência. Claro está, como já dissemos, dissemos, que esse proje pr ojeto to ex exig igee uma certa exp explicitação licitação do pens pensam amen ento to,, tanto tanto psica icanalíti líticco qu quan anto to psiqu iquiátr iátric icoo. São essas explic licita itações que determinam os quadros quadros formais formais desta obra. obra. Uma última parte pa rte tenta esclarecer em que sentido esses intercâmbios e essas aquisições eventuais podem modif modifica icarr a noção noção do compreen compreender. der. Não Não disfa isfarrçamos de nós mesmo smos a amb ambição ição qua uase se dese esespe sperad adaa desse proje rojeto to.. Disfarçamos Disfarçamos menos ainda que ele não nã o está concluído e quanto falta para par a isso. Nossa desculpa é podermos, quem sabe, aplainar um pouco o ter reno ren o para os que se sentirem tentados, num momento mais mais oportuno oportu no e com melhores meios, meios, a retomar reto mar o desafio. desafio. Mas Mas nossa desculpa é também o enorme interesse que dedicamos a esse trabalho e, confessemo-lo simplesmente, o prazer que tivemos tivemos em escrevêescrevê-lo. lo. Cabe a nosso leito leitorr dizer se essa alegria não passou de uma ilusão. ilusão.
capítulo 1
ALGUMAS CONCEPÇÕES CLÁSSICAS DA PSICOSE ESQUIZOFRÊNICA EM PSIQUIATRIA
Ainda hoje, a maioria das concepções psiquiátricas da esquizofrenia, sobretudo no meio germânico, permanece basicamente tributária das origens kraepelinianas e bleulerianas dessa noção.1 Na Na ve verda rdade de,, ess essaa depen dependên dência cia está está liga ligada da a alg algum umas as das das opç opçõe õess e entraves decisivos da psiquiatria da segunda metade do século XIX. Ocorre que Kraepelin Kraepeli n pareceu lamentar lamentar que a psiquiatria psiquiatria de deve vesse sse,, por força das circunstâncias, limitar-se, na maioria das situações, a descrever a "face” ps psíqu íquica ica ou co com mpo port rtam amen enta tall dos distú istúrb rbio ioss mentais tais,, já qu quee sua sua face orgâ rgânica ica lhe era inacessível. Essa linguagem só era “paralelista” na aparência; a rigor, é de uma linguage linguagem m “causai” “causai” que se trata. trata. Kraepelin, como como todos os homens de sua época, e como muitos da que se seguiu, estava estava convencido de que que as alterações orgânicas orgânicas do cérebro cérebro eram a "causa” das doenças doenças mentais, e de que se deveria esperar espe rar do progresso progresso da ciência ciência o estabelecimento estabelecimento de uma correspondência termo a termo e por derivação entre estas e aqüelas - uma correspondência correspondência da qual a paralisia paralisia geral lhe pared par edaa fornecer fornecer o modelo modelo típico. Ele sabia perfeitamente que, em matéria de esquizofrenia, tudo aincfr estava estava por por fazer a esse respeito, respei to, mas não duvid duvidava ava do futuro, de um futuro futur o que antecipou antecipou ao propo pro porr a hipótese hipótese de uma uma auto-intoxicação bioquímica bioquímica ligada ligada ao desenvolvimen desenvolvimento to - hoje diríamos hormonal h ormonal - da sexua sexualidad lidade, e, e que seria responsável pela deteri d eterioraçã oraçãoo das células células corticais. corticais. Essa maneira de pensar, que por muito tempo foi universal e da qual Kraepelin Kraepelin não foi um "defensor extremado”, extre mado”, porquanto, porquanto, nessa ocasião, ocasião, cercou-a cercou-a de algumas algumas restrições, restrições, comportou comportou conseqüências conseqüências inelutáveis que convém con vém perceber perceber com clareza clareza E que, em primeiro lugar, lugar, a descrição clínica clínica bus busca cava va meno menoss (ou não bu busc scav ava) a) evide evidenc nciar iar o sentido g sentido gllob obal al ?e a estrutura significativa da significativa da totalidade tota lidade de um comportame compo rtamento nto patológico do que uma soma de alterações particulares. Tratava-se, Tratava-se, pois, de reunir reun ir um feix feixee de anomalias e deficiências, sendo cada feixe estatisticamente típico tomado por caracter característic ísticoo de determin determinada ada doen doença ça.. Essa Essa div divis isão ão foi foi igualmente igualmente estimulada pela esperança de provar, no futuro, futur o, a derivação derivação causai causai - mais mais
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fácil fácil de pensar dentro dentr o da perspectiva de um comportamento pulverizado pulverizado numa multiplici multiplicidade dade de funções e subfunções isoláveis do que através de uma psicologia que se pretendesse espontaneamente atomista. Nesse aspecto, cabe-nos efetivamente reconhecer que alguns ataques dos psiquiatra psiquiatrass contra a psi psico colo logi giaa das das facu faculd ldad ades es aliara aliaram-s m-see a uma uma práti prática ca que postulav postulavajust ajustament amentee essa mesma mesma psicolo psicologia, gia, segundo segund o esse pon ponto to de vista, vista, a substituição substituição do conceito de entidade entidade nosográfica nosográfica pelo de síndrome constituiu apenas um progresso aparente. Nes Nessa sass co cond ndiç içõe ões, s, não surpreende surpreende que os quad quadros ros kraep kraepelin eliniano ianoss da esquizofrenia tenham t enham conservado conservado uma boa parcela de seu prestígio. Na medi medida da em que o horizonte da da problem problemátic áticaa con continua tinua a ser o que acabamos de descrever, e a formação médica certamente não fez muito por ajudar o psiquiatra psiquiatra a se desfa desfaze zerr dele, dele, os quad quadros ros kraepeli kraepeliniano nianoss são são de fato inigualáveis. É certo, com efeito, que as noções de hebefrenia, catatonia e paranoidia são conceitos operacionais de validade bastante ampla. ampla. Acrescente-se a isso que tudo o que Kraepelin ensinava ensinava sobre as relações entre ent re esses esses tipos, suas suas eventuais mutações, seus seus pontos comuns comuns ou suas divergênc divergências, ias, e ainda as perspectivas perspectivas de evolução que eles permitiam permitiam esperar, continua igualmente verificável. Havia, Havia, contudo, no sistema sistema kraepeliniano, kraepelini ano, um ponto ponto fraco a partir do qual se organizou a reação de Bleuler. Bleuler. Esse ponto pont o fraco fraco situava-se situava-se em outras outras áreas da problemática, problemática, mas sua sua natureza não podia deixar deixar de esbarrar na vocaçã vocaçãoo médica médica da psiquiatria. psiquiatria. Kraepelin nunca deixou deixou de se se sentir sentir embaraçado pela necessidade de uma distinção entre a paranóia e a esquizofrenia, esquizofrenia, sobretudo sobret udo a de tipo paranóide. Teremos oopor portuni tunidade dade de ver que a psicanálise dotou essa distinção de um critério de princípio. Este, com justa jus ta razão (é (é o caso caso de dizê-lo), faltou faltou a Kraepelin. Kraepelin. Ele se saiu bem dessa dificuldade, mas de uma maneira que acabou por definir a esqui zofrenia não apenas por sua incurabilidade, incurabilidade, como como também pela necessidade necessidade de um agravamento agravamento progressivo. progressivo. Com efeito, Kraepe Kraepelin lin nos diz qu quee um diagnóstico e um prognóstico relativamente seguros pressupõem que pos possa sam mos retr retroc oced eder er um po pouc ucoo no cu curs rsoo da en enfe ferm rmid idad ade. e. Se a do doen ença ça nã nãoo evoluiu por por surtos ou se esses esses surtos não não levaram levaram, em cada ocasião, a nova novass deficiências irreversíveis, falamos em paranóia; no caso oposto, em esquizofrenia. esquizofrenia. O paranóico “se mantém”, o esquizofrênico esquizofrênico se deteriora. Dito isso, a objetividade clínica de Kraepelin viu-se de fato obrigada a admitir, admitir, com novo prejuíz prejuízoo de seu rigor rigor lógico, lógico, que às vezes vezes se observava observava - já que se observav observavaa quase tudo na esquizofre esquizofrenia nia - estabilizar-se estabilizar-se ou até regredir a deterioração de um esquizofrênico. Ele não acrescentava, todavia, como um grande mestre holandês com quem tive no passado algum algumas aulas: oque oq ue prova que esse esse suposto esquizofrênico esquizofrênico não era um esquizofrênic esquizofrênicoo verdadeiro”. 1
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Não Não en entra tra no âmbi âmbito to de meu tema,e tema,e menos aind aindaa no de minh inha competên tência, ia, emitir nenhuma nenhuma opinião sobre sobre as pe pesq squisa uisass relativas aos substratos substratos anátomoanátomofisiológicos ou bioquímicos bioquímicos das psicoses psicoses em geral e da esquizofren esqui zofrenia ia em particular. particular. Mas temos temos de mostrar que que,, qualquer que seja seja o êxito êxito de dess ssas as pesq pesquis uisas as,, e ainda que elas elas ven venham ham a satisfaz satisfazer er as esperan esperanças ças de KraepeKraepelin e de muitos outros, realizando ponto por ponto o ideal da corres pondência pondência termo a termo entre entr e o orgânic orgânicoo e o psíqu psíquico ico - o que, aliá aliás, s, nos parece parece impo imposs ssív ível el,, em razão razão da dass próprias falha falhass da probl problemá emáti tica ca elas deixariam as coisas, para nós, no mesmo estado. Nosso esforço visa a estabelecer alguns pontos de referência para umacompreensão uma compreensão da da estrutura psicó psicótica tica e, se poss possív ível el,, da difer diferenc enciaç iação ão entre as psicos psicoses es a partir part ir da esquizofrenia, escolhida, por motivos evidentes, como psicose típica. Essa compreensão teria por fim servir aos desígnios de uma antropologia filosófic filosófica. a. O que que yem yem a ser a loucura e o que ela significa significa para eno ddestino estino questões - não não tencionamos tencionamos fazer mais do que isso -, não temos dificuldade dificuldade em descobrir quea que a perspectiva “causalista” “causalista” ou “paralelist “paralelista” a” - repetimos, quaisquer quaisquer que sejam sua legitimidade ou sua fecundidade, fecundidade, além disso -, está condenada a uma uma esterilidade est erilidade absoluta, da qual a obra de Kraepelin, apesar de tão útil útil e tão tão sólida, fornece o exem exemplo exato. exato. É que essa essa perspectiva perspectiva não dá nem pode po de dar coisa alguma alguma acompreender. a compreender. El Elaa postula a legitimi dade de uma passagem passagem que é o própr p róprio io incompreensível, incompreensível, para organizar or ganizar em seguida seguida e fatalmente sua proliferação proliferação.. Ocorre Ocorr e que nenhuma conste con ste lação de fatores fatores identificáve identificáveis is no universo definido pelos métodos das dênd dê ndas as naturais pode lev levar ar a comun comunicar, icar, e menos menos ainda a constituir o sentido de uma conduta ou de um discurso discurso.. Tal método só pode levar a postular postu lar regras de mudança e transfor transformação mação desse dessess fatores fatores e, desse modo, a prever prever a elaboração de novas novas constelaçõe constelaçõess - o que não deix deixaa de ser um grande avanço avanço para a ciência ciência,, já que é precisamente isso isso o que q ue ela se propõe. O lamen lamentáv tável el é que os elementos de uma conduta ou de um discurs discursoo não são esses esses fatores - a não nã o ser por um abuso abuso de linguage linguagem m -, e sim componen tes de um conjunto conjunto significa significativo tivo pelo qual o au auto torr (m (mesmo esmo que não saibamos saibamos o que essa palavra quer q uer dizer dizer exatamente, nem em geral geral nem nem num dado caso caso particular) se se situa perant perantee sua própria existên existência cia,, o mundo e as outras outras pess pessoa oas. s. Co Coisa isa em que ele só pode ter êxito êxito ou fracas fracassar sar situ situan ando do> >se, se, ao mesm mesmoo tempo, frente f rente á seu s eu corpo e ao a o corpo de outrem, outr em, a seu sexo sexo e ao sexo sexo,, ao amor, ao nascimento nascimento e à morte, de onde lhe vêem vêem a identidade e o nome. nome. Não há ne nece cess ssid idad adee de mostra mostrarr qu que, e, em resp respos osta ta a essas ind indag agaaçõ çõees, a contribuição da obra kraepeliniana k raepeliniana é não n ão apenas inexistente, inexistente, mas mas tem até, infalivelmente, que obliterá-las enquanto indagações, torná-las simplesmente imposs impossíveis íveis de formular.
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comportamen compo rtamento to a parti pa rtirr de certas lesões ou defic deficiênc iências ias orgânicas orgânicas acabe, acabe, em pouco tempo, por decompor esse comportamento num alfabeto de sintomas ou deanomalias, deanomalias, visto que que essa essa maneira de proceder oferece ao causalismo causalismo sua única chance de sucess sucessoo aparente. aparente. É compreensíve compreensível,l, ao a o que parece, parece, afirmar afirmar que um dado tipo de lesão lesão pode poderia ria estar na origem origem de um déficit déficit da memór memória, ia, e que um outro outr o estaria na fonte de certos distúrbios d istúrbios da capacidade de associação. Assim conseguimos, para nos atermos ao primeiro ex exem emplo plo,, ex expli plica carr que uma uma pessoa pessoa culta culta não mais ais se lembre lembre do nome da capital da Itália, e que embaralhe a geografia geografia da da Europa Euro pa a ponto ponto de tom tomaar vizinhas vizinhas a Suíça e a União União Soviética Soviética.. Mas esse tipo de explicação explicação cai por por terra terra no no nível nível de uma exploraç exploração ão globa globall do comportamento comportamento e quando se tom to m a preciso compatibilizá-la com o fato adicional adicional de que, que, ao mesmo mesmo tempo, essa paciente paciente situa-Manchester situa-Manchester com exatidão no mapa da da Inglaterra, sem que possamos possamos fingir sair desse desse apuro apuro supondo supondo que a paciente paciente teria vivido vivido algum algum tempo na Grã-Br G rã-Bretanha etanha e nunca teria teri a posto os pés na Suíça Suíça,, quando na verdade é o inverso inverso.. No nível nível apenas da memória - ou apenas da associação, ou de qualquer outra faculdade ou função isoladamente consideradas -, nosso problema é insolúvel e só leva a falsas questões. Mas, se o articularmos onde ond e ele deve deve ser articulado, articulado, isto é, é, no plano do sentido sentido de que se revestem esses esquecimentos esqueciment os e e?se e?se desprezo desprezo pela experiência experiência vivida vivida e “real” da paciente, é o causalism causalismoo que cai cai por terr te rraa É o que mostra o exemplo, exemplo, embora considerado ideal por p or Kraepelin, da fecundidade do causalismo: a paralisia geral. Se, de fato, podemos compreender a a inferência causai que liga às alterações orgânicas provocadas pelos espiroquetas a incapacidade do pacie paciente nte de pronu pronunci nciar ar sem sem atrap atrapalh alhaç ação ão o ad adje jeti tivo vo “an antic ticon onsti stituc tucion ional” al”,, já é muito muito men enos os claro claro co cons nsid ider erar ar esses mesm esmos estr estrag agos os resp respoonsáv sáveis por um discurso discurso delirante. Mas Mas não conseguim conseguimos os compreender compr eender mais nada a partir partir do momen omento to em que esses micró icróbbios, ios, ataca atacand ndoo os tec tecido idos cere cerebbrais rais,, passam passama ter que ex expli plica carr também também que esse esse delírio delírio seja seja obrigatoriamente megalomaníaco megalomaníaco,, e não de perseguição, perseguição, ciúme ou pequenez. DetenhamoDetenhamonos nesse ponto. Acontece que uma verdadeira compreensão dos fenômenos psi psiccop opat atol ológ ógic icos os só pode prov provir ir de um métod métodoo qu quas asee ex exat atam amen ente te op opos osto to.. Se nos esforça esforçam mos por por eviden evidenciar ciar,, a parti partirr do discurso discurso e do comportamento comportamento do paciente, o sentido sent ido e a estrutu estr utura ra das modificaç modificações ões ocorridas em suas suas relações consigo mesmo, ccom om os os outro outross e com o mundo; se, além disso, disso, procuramos procuramos descre descreve verr um tipo signi signific ficat ativ ivoo dessa essass mod odifi ifica caçõ ções es que seja seja propriod prop riodee cada cada “doença” e que a de defin fina, a, isso isso de modo modo algum algum impl implic icaa que as manifestações manifestações e os sintomas em que se concretiza essa estrutu estr utura ra dev devam am ser ser í nticos em tada doente. Isso quer dizer, dizer, por exem exemplo, plo, que a presença presença
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ou ausência de “maneirismos”, “discordâncias”, “estereotipias”, “neologismos” etc. não constitui constitui um critério crit ério obrigatór obrigatório io ou decisivo decisivo de uma dada entidade nosográfica. Ora, até o momento, tanto o pensamento quanto qua nto a prática prática psiquiátricos psiquiátricos têm-se prendido, prendido, em geral, ao procedimento inverso. inverso. A maior parte par te dos quadros nosográfícos nosográfícos foi elaborada elabor ada através da constituição constituição de grupos de sintomas cujo elo é fornecido fornecido por uma uma constância estatística estatística mais mais ou menos elevada elevada (sendo a importância importância de cada sintoma sintoma correlata a esse grau de constância constância), ), mas nunca nunca,, ou ou raramente, raramente, pelo pelo sentido global de uma estrutura. estrut ura. Vemos Vemos isso claramente no exemplo dos quatro quatr o sintomas citados citados acima acima,, considerados considerados típicos (entre (en tre outros, é claro) do quadro quad ro esquizofrênico. esquizofrênico. Mas Mas sem que vejamos vejamos claramente clarament e as referências significa significativa tivass que os unem. unem. E sem que tudo tudo isso seja, ademais, ademais, na mente m ente dos autores, mais do que um tapa-buraco provisório, provisório, enquanto se espera que cada quadro quadro possa ser relaci relacionado onado - o que eqüivaleria eqüivaleria também também a exp explicálicálo - com lesões anatômicás anatômicás ou deficiências bioquímicas. Ora, insistimos, insistimos, mesmo que esse ideal se visse realizado, e falta muito para isso, nossa compreensão do distúrbio mental em geral, geral, pu de cada quadro quadro em particular, particular, não teria te ria avançado avançado um único passo. passo. Não Não há co como mo du duvid vidar ar de que a obra de Bleule Bleulerr - mes mesm mo não tendo o alcance prático da de Kraepelin, mesmo mesmo continuando continuando incapaz de situar situ ar e limitar limi tar o valor legítimo das “explicações” anátomo-fisiológicas, anátomo-fisiológicas, mesmo não dispondo do aparelho apare lho conceituai próprio própr io para p ara a consecução consecução de suas ambiçõ ambições es (a (a que se opunha opunha o espírito dá época) - pressentiu a insuficiê insuficiênc ncia ia de tal método. Bleuler Ble uler se recusou a colocar no mesmo plano plano a totalid totalidade ade dos sintomas que qu e eram julgados típicos da esquizofrenia simples simples ou de suas varia variaçõe çõess catatônica, hebefrênica hebefrênica e paranóide. paranóide. A importante distin ção entre entre sintomas sintomas primários, onde se inscrevia inscrevia e se exprimia exprimia diretame diretamente nte o processo patológico, e sintomas secundários, secundários, que não decorriam decorriam desse pro proccesso, so, foi um prim primeeiro iro passo sso no caminh inho da compree reensão são prop propria riam men ente te dita. Os sintomas secundários eram induzidos induzidos pelos sintomas primários, quer diretamente, quer pela pela reação que lhes era ofere oferecida cida pela personali dade pré-psicótica ou pelos “comp “complexos” lexos” do enfermo.2Esses sintomas secundários, secundários, port portant anto, o, eram amplamente variáv variáveis eis conforme os cas casos. os. Por Por conseguinte, é bem pouco importan imp ortante, te, segundo segundo essa perspectiva, perspectiva, que q ue a noção de “comp “complexo” lexo” - que Bleuler empregou fartamente e que que acreditou extrair de Freud - se apresente nele sob um prisma radicalmente diferente do que tem Freud, que mais não seja por seu caráter estático. O essen cial cial éque éq ue o pensamento psiquiátrico psiquiátrico de Bleuler procurou aclimatar uma uma concepção concepção e uma compreensão mais mais estrutura estr uturais is da doença, ao contrário contrá rio dass tendências de seus contemporâneos. Talvez da Talvez seja seja secun secundário, dário, portanto, portanto, constatar constatar que os benefícios imediatos imediatos dessa mutaçáo revelaram-se revelaram-se bastante bastante
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pobres, pobres, porque limitados limitados de antemão pelo horizonte antropológico antropológico em que se desdobrou sua obra. Porque, no final das contas, os chamados chamados sintomas primários primár ios (ou, (ou, pelos pelos meno menos, s, os que o eram sem dú dúvi vida da algum alguma) a) limitaram limitaram-se -se a do dois, is, aliás aliás deformados, deformados, amb ambos, os, pela referência à psicolog psicologia ia asso assodad dadoni onist staa em função da qual foram foram descrito descritos.3 s.3Es Essa sa referênda refer ênda foi foi certamente contraditória à tendência prin prindpa dpall do pensamento pensamento bleuleriano, bleuleriano, mas mas foi também inevitá inevitáve vell -aliás, encontramo-la e ncontramo-la também, também, em em parte, parte , em Freud -,j - ,jáá que a psicolog psicologia ia da época não ofereda outros fundamentos ou outras coordenadas de referênda. O primeiro primeiro desses “sintomas” “sintomas” era a A a Ass ssooziatio tionsIoc sIockkerun ungg, pelo que devem dev emos os entende ent enderr uma perturbação perturba ção radical do vínculo vínculo assodativo. As assodações, ou melhor, os termos associados, perdem suas afinidades lógic lógicas. as. Esse distúrbi distúrbioo se distingue do que que se descreve descreve como como “fuga “fuga de idéias” no maníaco. Esta Esta última última se aprese apresenta nta como c omo uma uma aceleração do processo assoda ass odativo tivo devida a um jorro jor ro de percepções, percepções, idéias e lembranças que o doente não consegue mais dominar. Alguns termos intermediários são fundidos fundidos ou omitidos, omitidos, de modo modo que o discurso do pad p aden ente te abunda a bunda em incoerências e disparates. No entanto, o processo associativo não fica perturbado em si mesmo mesmo,, continuando a fundonar fundo nar segund segundoo suas leis leis corriqueiras. Simplesmente Simplesmente suas produções se embaralham, embaralham, porque a linguagem linguagem não consegue consegue ''acompanhar” ''acompanha r” a multiplicidade multiplicidade de assodações que se esboçam na consdênda do enfermo. Ao contrário, a Assoz Assozia iati tions onsIo Iocke ckeru rung ng produz produz aproxima aproximações ções que nenhum dos prin prindpi dpios os comuns da associação justifica. justifica. Trata-se, po pois, is, de de fato, fato, como o diz a palavra palavra alemã, de uma carência do próprio pró prio vínculo assodativo. Assim, ssim, aquilo a que Bleuler Bleuler visou, visou, utilizando utilizando a terminologia da época, que via na “assoda“assodação” o motor do pensamento pensamento consdente, consdente , não foi outra co coisa isa senão uma uma mod odificação ificação global global da presença no mundo.4 mundo.4 Era a part partir ir dela dela que se deveriam inter int erpre preta tarr as manifes manifestações tações secundárias secundárias.. Osegundosi Osegu ndosintoma ntoma primário pr imário - prov prováve ável,l, pelo pel o menos, menos,já que Bleuler enun en undo douu algumas algumas dú dúvid vidas as sobre esse esse primarismo primarismo - era constituído c onstituído pelos p elos embotamento e atuidimento atuidimento Ben Benom omm menh nheeitszus zustän ändde, ou seja, os estados de embotamento em que o doente doent e fica entravado, a despeito dos esforços esforços que parece pa rece fazer para reunir seus pensamentos pensamentos e coordenar seus seus movim movimento entoss em direção direção a um objetivo ou com vistas a uma determinada ação, fracassando rdtera rdteradamen damente, te, Bleuler Bleuler avaliou avaliou que essa essa situação era apenas parcialmente de origem psíquica, psíquica, mas, mas, na medida medida em que o era, pod podia ia ser diretamente diret amente ligada ao distúrbio fundamental. Hoje a compreenderíamos como a incapaddade (ou a capaddade capadda de reduzida) reduzida) do doente de habitar o mundo próprio corpo. corpo. Quanto aos outros pou poucos cos sintomas sintomas primários primários ainda e seu próprio
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mencionados por por Bleuler, Bleuler, eles dizem respeito respeito à repercussão orgânica da doença e, portanto, interessam-nos menos. Dissemos Dissemos de que maneira Bleuler ex explic plicav avaa os sintomas secundários. secundários. Note Note-se, se, a esse respeito respeito,, sua sua visív isível el tendê tendência ncia a reduzi reduzirr esse essess sintom sintomas as secundários, tanto quanto possível, à acentuação e ao exagero de fenô menos que em si não são patológicos. patológicos. Bleuler não renunciou re nunciou a isso nem mesmo mesmo no tocante tocante ao a o estupor catatônico, citando um episódio episódio relacionado com Newton, Newton, que teria teria ficado ficado sentado sentado um dia inteiro inte iro na bèirada da cama, imóv imóvel, el, segurando na mão a meia que ia calçar, calçar, ao ser ser tomado por por reflexõ reflexões es que iriam absorvê-lo absorvê-lo por todo o correr c orrer do dia. dia. Quanto ao “maneirismo” esquizofrênico, esquizofrênico, Bleuler quis aproximá-lo da afetação afetação própria pr ópria de alguém que deseja fingir uma distinção ou sentimentos que na realidade não nã o tem. Assim Assim,, compreendemos compreendemos que que Bleuler, embora estivesse estivesse longe longe de renegar renegar o organicismo - chegou até a observar que somente uma explicação organicista, caso viesse a se impor, poderia revelar-se absolutamente satisfatória satisfatória -, julgou que não se podia exclu excluir ir como como insusten insustentável tável a hipótese de uma origem psicogênica psicogênica da doença, embora, embora, pessoalmente, pessoalmente, não aderisse aderisse a ela. Sem dúvida dúvida somos somos forçados a admitir admitir que as teses teses positivas de Bleuler não justificam a celebridade que sua obra obr a adquiriu. adquiriu. Mas, Mas, apesar apesar de suas imperfeições imperfeições e, vez vez po porr outra, outr a, de de sua pobreza, o livro de Bleuler inaugu rou uma exig exigên ência cia à qual é imposs impossível ível renun renunda dar, r, por mais insatisfeita que compreensão dos quadros ela continue ainda hoje. A que reclama uma compreensão dos nosográficos nosográficos que vá além das descrições descrições estatísticas das síndromes, para fundamentá-las num sentido global global que diga diga respeito respeito ao própri próprioo ser do homem. Aluno de Bleuler, mas mas tendo ten do sofrido intensamente intensamente a influência do pensamento bergson bergsonian iano, o, Minko inkow wski ski procurou, procurou, co como mo seu mestr mestre, e, compreender compre ender o conjunto conju nto dos dos distúrbios característicos da esquizofrenia esquizofrenia a partir par tir de de um processo primário. Todavia, Todavia, além de entende ent enderr a noção de sintoma sintoma primário primário num num sentido sentido mais mais restritivo restritivo e mais rigoroso rigoroso do que fizera Bleuler, não era, er a, para para ele, a desarticulação desarti culação do vínculo vínculo associativo associativo ou do pens pensam amen ento to lóg lógico ico qu quee co cons nsti titu tuía ía o essen ssenccial ial de dess ssee sinto sintom ma prim primár ário io;; esse sse papel foi foi atribuído à perda ou à ruptura do contato vital vital com a realid realidad ade. e. Essa substituição, substituição, em que se revelou claramente claramente a dependência bergsoniana de Minko Minkowsk wski,i, comportou comportou conseqüências metodológicas metodológicas importantes, importante s, É que, se Minkowski permaneceu fiel à divisão, tanto kraepeliniana quanto bleulerian bleuleriana, a, da dass psic psicos oses es não não-or -orgân gânicas icas55em do dois is grupo gruposs - de um lado, lado, as diversas diversas formas da esquizofrenia (à qual se poderia acrescentar a paranóia), paranóia), e de outro, outro, a psicose maníaco-depress aníaco-depressiva iva -, deu-se deu-se que a atitud atitudee do enfermo como o psiquiatra p e r a n t e oambiente e, em termos correlatos, a maneira como “sentia" essa atitude ati tudedoen doenfer fermo mo - o que a rigor rigor apontava apontava para a ausência ausência
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- foram promovidas ou a irrupção irrupç ão em nós do famoso famoso Praecox-Geßhl - foram promovidas à categoria categoria de conceitos diferenciais. diferenciais. Sem negar-lhes o alcance prático, é forçoso reconhecer, reconhecer, no n o entanto en tanto,, que que elas não fizeram avançar avançar um único passo passo na elabo elaboração ração teórica teórica da dass estruturas que seriam seriam típicas típicas desta desta ou daquela daquela afecçã afecção. o. A maneira maneira como Minkow Minkowski ski procedeu procedeu an a n algumas algumas ocasiões não se prestou pr estou para atenua a tenuarr essa essa impressão impressão de relativo relativo fracas fracasso. so. Ele nos diz, diz, não não sem sem razão, aliás, que se considerarmosisoladamente considerarmos isoladamente a a afetividade, a vontade vontade e a inteligência do doente, doente, não seremos forçados a reconhecer reco nhecer na totalidade dos casos a casos a redução de cada uma dessas uma dessas faculdades. Ao contrár con trário, io, o diagnóstico de esquizofrenia se torna tornará rá inevitável inevitável se formos forçados forçados a constatar “que o dano incide não sobre esta ou aquela aquela função, função, mas antes, de fato, sobre sua coesão, sua interação harmoniosa em seu conju con junto nto”.6 ”.6Em suma, suma, essas essas funções funções terão terã o perdido perdido tanto tanto seu dinamismo quanto quant o a coordenação que ordinariamente ordinaria mente extraem de seu enraizamento no contato propriamente propriamente vital com com a realidade. realidade. Daí o “geometrismo”do “geometrismo” do pensamento pensamento e do comportamento comportamento esquiz esquizofr ofrên ênico icos, s, em relação relação ao qua quall os delírios e todas as manifestações do autismo “rico” parecem ser, não produções produções da doe doença nça,, mas remanes remanescen centes tes desorg desorgani anizad zados, os, distorc distorcido idoss e alterados, mesmo mesmo que provisoriamente provisoriamente não destruídos, de pensamentos, sentimentos evolições antes provenientes provenientes de uma participação vital vital na existência. Eis aí uma concepção cuja exatidão descritiva esconde posturas teóricas difíceis difíceis de defender. Não há, com efeito, nenhum n enhum sentido em nos interrogarmos sobre o funcionamento isolado das “faculdades”, mas a condenação desse método nem por isso isso nos nos autoriza autoriza a substi su bstituir tuir a extinta psico psicolog logia ia das das fac facul ulda dade dess pela pela noção-n noção-norm ormaa de uma uma participaç participação ão e um um contato con tato vitais com a realidade. Tal conceito pressupõe, pressupõ e, quando procura pro cura ultrapassar o contexto intuitivo, uma série de teses que a problemática da psicose psicose estaria est aria encarregada de estabelecer. Se a reflexão reflexão filosófic filosóficaa ou fenomenol fenomenológic ógicaa interessa-se interessa-se hoje pela p ela psicose, psicose, éjustam éju stamente ente por esperar de seu estudo um esclarecimento talvez de decisiv cisivoo do que se deve entend ent ender er por por exp expeeriê riênc ncia ia da real realid idad ade, e, pa part rtic icip ipaç ação ão afet afetiv ivaa ne nela la e con contat tatoo vital ital co com m ela. Não podemos contestar, nesse aspecto, a superioridade das teses freudianas e lacanianas sobre a estrutu estr utura ra e a liquidação do Édipo, sobre a foraclusão foraclusão e o estádio do espelho. espelho. Logo Logo teremos de falar sobre elas. elas. A nosso ver, a relativa fraqueza do ponto de vista de Minkowski foi ainda mais agravada pela aproximação que o autor tentou esboçar com a caracterologia de Kretschmer. Kretschmer. Segundo esta última concepção, haveria uma espécie de continuidade entre um certo tipo de caráter ou de temperamento normal, depois normal, depois um tipo de caráter correspondente ao prim primei eiro ro,, ma mas anormal, e, anormal, e, por fim, uma doença mental franca e reconheci da, ponto de d e chegada chegada desse desse caráter caráte r anormal. Teríamos assim assim,, no rumo da esquizofrenia, o caráter esquizotímico esquizotímico (normal), o caráter esquizóide
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(anormal) e, por por último, a esquizofrenia como esquizofrenia como psicose. Quanto à psicose maníaco-depressiva, a linha se constituiria partindo do caráter ciclotímico (normal) (normal) para para o temperamento ciclóide (anormal), ciclóide (anormal), chegando então à mania ou à melancolia (ou à alternância entre ambas). Nos Nos termos termos dess dessaa con concep cepção ção,, a esquiz esquizofr ofreni eniaa só só poderia poderia sobrev sobrevir ir em indivídu indivíduos os dotados de temperament temperamentoo esquizóide esquizóide,, o qual desempenhar desempenharia ia o papel de constituição predisponente. predisponente . Tratar-se-ia Tratar-se-ia de um processo process o de natureza desconhecida que, vez por outra, viria enxertar-se num temperamento temperamento esquizóide esquizóide (e apenas nele), fazend fazendo-o o-o voltar-se para o quadro clínico que a psiquiatria descreve como esquizofrenia. É lícito acharmos que essas teses não esclarecem nossa compreensão da psicose, mas, ao contrário, acrescentam novas dificuldades ao problema levantado por ela. Para começar, de modo algum está provado que a esquizofrenia atinja apenas indivíd indivíduos uos de caráter caráter esquizóide. esquizóide. Em Em segundo lugar, a teoria investe um certo quadro psi psico coló lógi gico co de desscri critivo tivo (o temperam temp eramento ento esquizóide, esquizóide, ou, na outra outr a direção, o tempera temperamento mento ciclói de) com uma função real: a destinada à noção, também real: a que é normalmente destinada ela equívoca, de constituição. Além disso, as visões de KretschmerMinkowski em nada esclarecem o processo que desencadeia propriamente a psicose: sua natureza, sua ação, sua evolução. Tudo isso nos parece combinar, ou antes, confundir, de maneira muito lastimável, uma psicologia mais mais fundamentada na intuição i ntuição do que no conhecimento das das estrutu estruturas ras,, de um lado, e, de outro, em conceitos híbridos como o de constituição, cujo estatuto, a rigor, é impossível de formular; por fim, em terceiro lugar, uma psicologia baseada num processo, provavelmente orgânico, encarregado de explicar as modificações patológicas de um comportamento cujo sentido só pode decorrer da interpretação e da hermenêutica. Vemos acumular-se aqui, como que de propósito, a maioria das confusões, imprecisõ imprecisões es e obscuridades obscuridades que impediram a psiquiatria clássica clássica de aceder ao nível nível de perfeição perfeição em que um saber se torna capaz de se interrogar sobre seus próprios fundamentos. A idéia de que a esquizofrenia tem que ser compreendida inspirou compreendida inspirou também também a obra obra de Berze. Berze. Quis ele identificar-lhe identifica r-lhe a Grundstörung, ou seja, seja, aquilo que caracterizava o processo esquizofrênico como tal. Essa perturbação perturbação bá bási sica ca de devvia ser distin distingu guida ida do doss fenôm fenômeno enoss de deterioração e não correspondia exatamente ao sintoma primário de Bleuler. É que, ao contrário deste último, último, ela nunca era diretamente direta mente constatável. constatável. Tinha de ser induzida a parti partirr do conjunto dos sintomas legív legívei eis. s. Constituí Constituíaa o elo entre estes e, como diríamos hoje - embora esse termo não figure explicitamente no livro de Berze Berze -, -, seu sentido. sentido. Essa Essa indução era difícil difícil,, já qu que, e, além além do mais, ais, os sintom sintomas as pe perce rceptí ptívei veiss num num dad dadoo caso caso particular não dependiam exclusivamente dela. Comumente, de fato, os sintomas
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só se apresentavam apresentavam à observação observação depois depois de tere terem m sofrido sofrido uma certa certa evolução evolução que os fazia reagirem entr entree si, e portant portanto, o, mod odificar-s ificar-se; e; ademais, eles eram assumido assumidoss pela personalidade do do doente e parcialmente orientados por ela; achavam-se achavam-se misturados misturados com processos processos de uma deter deteriora ioração ção mais ou menos avançada. Era pois compreensível que, sem que esse fato comprometesse comprometesse a unidade unidade real e nocional da doença, doença, os sintomas sintomas acabassem acabassem por diferir sensiv sensivelm elmente ente de um caso caso para outro. Essas ssas conside consideraçõ rações es confirmam que a “perturba “perturbação ção básica”, básica”, tal como era entendi entendida da por Berze, Berze, realmente visa visava va ao próprio sentido do que era a esquizofrenia, esquizofrenia, e não ao ou aos elemen elementos tos invariáveis invariáveis de um qua quadro dro clínico. Isso, aliás, nã nãoo exclui exclui a hipótese hipótese de que, na mente ment e de Berze Berze,, essa perturbaç pert urbação ão básica fosse fosse de natureza natureza orgânica, muito embora presen pr esenteme temente nte desconhecida por nós. nós. O que o autor pretendia pesquisar era a perturbação básica no plano psi psiccológ lógico ico e fen fenomen enoológ lógico ico - dev deven enddo este este ser ser co com mpreen reenddido ido, nã nãoo co com mo uma descrição, mas mas como uma uma interpreta inte rpretação. ção. Berze, Berze, por outro lado, lado, não nã o repudiou a distinção distinção bleuleriana entre e ntre sintomas primários primários e secundários. secundários. O s prim primei eiro ross se cara caract cter eriz izav avam am por sua sua irredutibili irredutibilidade dade a qualquer outro outro sintoma sintoma e, por conseguinte, conseguinte, podiam passar por efeitos efeitos ou ex expr pres essõ sões es diretas da perturbação perturbação fundam fundamenta ental.l. Entretan Entre tan to, Berze contestou o rol de sintomas sintomas primários tal como elaborado por Bleuler; em particular particular,, insurgiu-se insurgiu-se contra a importância atribuída, atri buída, nesse plano, plano, à desartic desarticulaç ulação ão do do víncu vínculo lo asso associa ciativ tivo, o, obse observa rvand ndo, o, com com muita muita pertinência, pertinência, que a importâ importância ncia con conferi ferida da a esse esse sintoma sintoma dependia dependia da que se atribuía às teses teses da psicolo psicologia gia associacionista associacionista Éju Éjust sto, o, porém, porém, acrescentar que a linguagem linguagem de Bleuler Bleuler é mais associacion associacionista ista do que seu pensamento pensament o implícito, pois o sintoma si ntoma por ele visado com a Zerfa Zerfahr hren enhei heit t [confusão] [confusão] dass associaç da associaçõe õess efetivam efetivamente ente ultrapassa, e em muito, a problemática destas últimas. Mas qual é, então, ent ão, a Grundstörung segun Grundstörung segundo do Berze? Ela concerne, ele nos diz ao pen ao pensamen samento to.. Mas Mas este dev devee ser entendi ent endido do no sentido se ntido mais amplo, designando com isso a total totalidade idade do que possibilita a experiência como algo algo característico característico do sujeito humano. De feto, veremos que se se trata trat a do que hoje chamaríamos de ser-no-mundo ou de comportamento (no sentido em que é tomado, por exemplo, por um Merleau-Ponty). Nenh Nenhum umaa ativ ativid idad adee inte intele lect ctua uall ou ou prática rática é real realiz izáv áveel sem sem uma cert certaa “antecipação antecipação esquemática” esquemática” dela mesma mesma,, sem um cert certoo pro-jeto.* pro-jeto.* Cabe Cabe em
ter, preserva-se No francês, francês, onde “lançar” é je é jeter, preserva-se mais literalmente o sentido latino do pro+jactare, “lançar pro+jactare, “lançar adiante”, aqui destacado pelo hífen introduzido entre o prefixo e o projet. (N.T.) radical radical do d o substantivo projet.
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seguida seguida desen desenvol volver, ver, ordenar e estrutura estruturarr esse esquem esquema. a. Ao procurarmos procurarmos pre preci cissá-lo -lo, perce ercebe bem mos qu quee é prec precis isoo dist distin ingu guir ir nele: le: 1) 1) os dad adoos - o ob objet jetoo - sobre os os quais quais é con conven veniente iente refletir ou trabalhar, 2) a tarefe a ser ser realizada, realizada, ou seja, a direção em que convé convém m elaborar elab orar o objeto; 3) 3) a maneira como convém con vém aprese apr esenta ntarr e verbalizar o que foi pensado a propósi pro pósito to dos dados objetivos e das tarefas por eles evocadas. A perturbação perturbação fundamen fundamental tal incidir incidiria ia sobre a capacidade capacidade de projetar proj etar esse esquema antecipa ante cipatóri tórioo e atingiria cada um um dos modos modos de elabora elaboração ção que acabamos de descrever, numa medida crescente: a segunda modalidade seria sempre mais mais afetada afetada do que a primeira, e a terceira terceira o seria ainda ainda mais. mais. De modo que, que, em se tratando trata ndo de de um ataque benigno, seria possível só se observarem alterações no desenrolar dessa dessa terceira fase. Ao contrá contrário, rio, nos casos casos grav graves es,, nem nem sequer se chegaria chegaria a discernir nem aquil aquiloo de que se tratava, tratava, nem o que o sujeito se propunha fazer fazer,, nem o que ele quereria nos comunicar comunicar de seus seus projetos. projetos . Seria evidentemente superficial pretender reduzir essas deficiências a um simples distúrbio da atenção; isso eqüivaleria a recair nas armadilhas em que se enreda o associacio associacionism nismo. o. Porque, antes ant es de mais mais nada, o que é a atençãofora atençãofora das das atividades atividades aqui visadas visadas?? Acresce o feto de que que os sujeitos sujeitos ainda capazes de observar sua própria própria incoerência e ineficácia não deixam deixam de se queixar de que estas se instalam instalam neles até até mesmo mesmo apesar apesar de seus esforços de atenção. Se passarmos a considerar tudo isso de um ponto de vista mais diretamente diretamente material, material, constataremos constataremos que, enquanto o chamado chamado pensamento pensamento normal se esforça por progredir ligando ligando seus materiais através de cone co ne xões lógicas e submetendo os produtos de sua atividade à prova da experiência, essa preocupação torna-se tão mais estranha e indiferente para para o esqu squizo izofrê frênico ico qu quan anto to mais grav ravemente afet afetaado ele ele é: seu pen ensa sam men ento to satisfe satisfez-s z-see plenamente em ser um jogo jogo dele com ele mesm mesmo.7 o.7O O importante nessa observação é mostrar que, para Berze, a perturbação esquizofrênica fundamental é um distúrbio do exercício atualdo atual do pensamento. pensamento. Os materiais e meios de um funcionamento correto continuam preservados, mesmo nos estágios estágios mais avançado avançadoss da doença, e nada parece parece opor-se, em princípio, a que esse funcionamento seja retomado dentro em breve, amanhã ou depois.8Nesse ponto, Berze mudou de orientação e incriminou uma insuficiênc insuficiência ia atual atu al da personalidade pe rsonalidade e do eu na integração e na n a condução de seu próprio comportamento. comportamento. Tratava-se de um não-poder, e não de um não-saber. E, diríamos por nossa parte, talvez mais ainda de um não-sentir. O sujeito não mais “concebe “concebe claramente” claramente ” o que a situação propõ pro põee a sua conduta. condu ta. Certamente Certa mente não é de estranhar, portanto, que essa essa diminuição diminuição do poder fique sujeita, ao menos no começo, a variações bruscas e consideráveis, e que não incida na mesma medida sobre todas as dimensões
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da personalidade, o que Bleuler exprim exprimia ia em sua célebre noção de Spaltung. Também por issò é que é quase impossível prever as tarefas de que um dado esquizofrênico esquizofrênico será ou não não capaz, capaz, e impossíve impossívell também esperar espe rar que q ue os fracassos fracassos ou os sucesso sucessoss de hoje hoje se repita repitam m amanhã. É isso o que, entre ent re outras coisas, diferencia radicalmente o esquizofrênico, mesmo o mais deteriorado, deteriorado, do débü mental, mental, em quem o nível nível dos desempenhos desempenhos é ao ao mesmo tempo previsível e constante. Quaisquerr que sejam o valor e o interesse Quaisque interesse dessas considerações, elas não parece parecem m isen isentas tas de uma uma fal falha ha dup dupla la.. Primeiro Primeiro,, não con conseg seguem uem ou mal mal chegam a ligar os diversos diversos componentes componentes da noção de esquizofrenia esquizofrenia para para fazer deles deles a unidade inteligív inteligível el e estrut est rutural ural de uma pluralidade de fenô menos, sintomas ou processos. Alguns autores, como por exemplo Wyrsch, ficaram tão perfeitamente convencidos disso que chegaram até a negar a possibilidade de descrever um modo esquizofrênico de existência, existência, tal como se podia fazer a respeito dos maníacos ou dos melancólicos. Ora, é pre cisamente essa a questão que se deve colocar. Devemos começar por reconhe reconhecer cer que, no plano da clínica, clínica, ela ela contin con tinua ua equívoca. equívoca. É impossível impossível não constata constatarr que os quadros quadros tidos como esquizofrên esquizofrênicos icos nem sempre se superpõem, pelò menos não na medida em que o fazem no tocante aos maníacos e aos melancólicos. Mas um mesmo tipo de existência não se exprime forçosamente em comportamentos idêntico«, principalmente se esses comporta comportament mentos os são mais mais descritos no nível nível de seus component componentes es elementares do que no de seu sentido global. De modo algum se exclui a hipótese, por exemp exemplo, lo, de que o estupor estupo r e a agitação possam contribuir, conforme o caso, caso, para uma uma mesm mesma patologia fundamental, ttant antoo que que todos todos o admitem no tocante tocante à melancolia melancolia,, que continua a ser melancolia, melancolia, quer. que r. seja estuporosa ou ansiosa. Mas ocorre que, no melancólico, ao contrário do que acont acontece ece com o esquizofrênico, a prevalência do sentido senti do global é tão espon espontaneam taneamente ente percebida que absorve absorve ou expl explica ica a oposição, aqui e ali, do estup e stupor or e da agitaçã agitação. o. E no entanto, poucos autqres se disporiam a eliminar de seu vocabulário vocabulário o termo termo esquizofren esquizofrenia; ia; logo, é que de fato, à part partee as diversidade diversidadess que estigmatizam, eles retêm ou pressentem uma unidade de sentido. Mas qual? Quant Qua ntoo à segunda crítica que anunciamo anunciamoss há pouco, também ela não deixa deixa de se relacionar relacionar com o que acaba acaba de ser dito. Os traços destacados pelos pelos autores co com mo carac caracter teríst ístic icos os da esquiz esquizofr ofren enia ia são qua quase se exclusivamente negativos, no sentido de que se resumem nuns tantos fracassos ou falhas em relação a funções ou processos normais. Mas, se tudo tudo o que distingue distingue o doente doente do normal se reduz a diferenças negativas,
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não podemos, evidentemente, esperar esper ar apreender apreen der o sentido da existênci existênciaa esquizofrênica, esquizofrênica, ainda que esse sentido seja real. Por esse pon ponto to de vist vista, a, a concepção freudiana freudiana do delírio delírio marca de saída uma vantagem considerável considerável sobre todas aquelas - e outras - de que acabamos de falar, visto que compreende o delírio como uma tentativa de reinvestir a realidade - e portan por tanto, to, como um passo em direção à "cu "cura” ra” e não como uma simples simples aberração aberração devida à “perda” dessa dessa realidade. realidade. Mas essa vantagem vantagem está centrada centrada num progresso progresso ainda mais mais profundo, e que não é outra outra coisa senão a teoria teor ia freudiana do narcisismo. Veremos que esta, acrescida das conquistas post poster erio iore ress do pe pens nsam amen ento to psic sicanalíti líticco - e que fora foram m, sobr sobret etud udoo em matéri atériaa de psicoses, psicoses, consideráveis consideráveis -, talvez nos forneça forneça a chave de uma uma compreensã compreensãoo unitária da esquizofr esquizofrenia enia,, e sem contradizer ou passar muito por alto alt o sobre a diversidade de suas manifestações manif estações clínica clínicas. s. Assim, só podemos hesitar em seguir Binswanger quando ele nos afirma que o problema da esquizofrenia dev devee centrar-se no problema problem a do delírio, e que este - veremos veremos porquê por quê - encontra encontra sua expressã expressãoo privilegiad privilegiadaa no delírio de perseguição. A tese de Binswanger, de resto, choca-se frontalm fron talmente ente com a observaçã observação, o, até arqui-banal, de que o prognóstico, em condições de igualdade, é sempre menos sombrio num caso de tipo paranóid paranóidee - ainda mais ais quan quando do é agu agudo do e súbito súbito - do do que que nu num m heb hebef efrên rênico ico não-delirante, não-delirante, de evolução insidiosa e crô crônica nica.. Dito Dito isso, isso, é forçoso confessar confessar Dasei eins nsaana naly lyse se de Binswanger será que uma interpretação no estilo da Das evidente evi dentemen mente te mais fácil fácil e mais rica se aplicada a um caso de paranoidia. paranoidi a. Mas nem por isso fica fica justificada a tese do auto au torr sobre as relações relações entre ent re o delírio e a esquizofrenia. Binswange Binswangerr sustenta que a esquizofrenia pode ser compreendida compreen dida a partir par tir de uma série de noções noções que remetem a atitudes existenc existenciais iais cuja cuja unidade ele procura mostrar. A primeira concerne à coerência e à evidência evidência do mundo natural. Estas são rompidas, rompidas, no sentido de que que o doe doente nte não pode mais mais consentir consenti r em que as coisas coisas sejam simplesmente o que são e que acarretem acarrete m umas as as outras outra s como sempre fizer fizeram am.. O doente doent e gostaria que elas fossem fossem diferentes, diferent es, mas, mas, ao contrári contr árioo do revolucionário, revolu cionário, não é capaz de tomar a iniciativa de modificá-las. É que, para isso, seria preciso, primeiro, Diktat aten en [ditames] deixá-las serem o que são. Ele se lança então em Dikt arbitrários cuja inutilidade, mais ou menos vislumbrada, aumenta seu sofrimento. Acima de tudo, porém, porém , essa essa maneira caprichosa (eigenartig) de ser perante as coisas gera uma experiência cada vez mais falseada e cheia de lacunas, cada vez menos apta a fornecer o trampolim para um verdadeiro projeto projeto.. Segu Segund ndoo Bin Binsw swan ange gerr - e esse esse comentá comentário rio é muito import importante ante para nós -, essas lacunas na apreensão do sentido pleno das coisas já seriam detectáveis na infância do do futuro futu ro esquizofrênico. Mas, Mas, ao mesmo tempo temp o que lastima a consistência do mundo antigo, o doente procura resgatá-
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la, corrigindo e preenchendo imaginariamen imaginariamente te as lacunas lacunas do mundo atual, o que leva a agravá-las e aumenta ainda mais sua nostalgia. Uma segunda dimensão dimensão da experiência experiência esquizofrênica esquizofrênica é que tudo nela fica fica submetido, submetido, por por bem ou por por mal, à alternativa radical radical entr entree a vitória vitória e a salvaç salvação ão ou a derrot derrotaa e a impotência. A inconsistência da experiência evolui para a rigidez de um "ou... ou” que leva, por sua vez, à formação de ideais ideais irreais, por seu caráter caráter desmedido desmedido e seu desligamento desligamento da realidade (verstiegeneIdealbildung), nos (verstiegeneIdealbildung), nos quais o sujeito se encerra e se compromete compromete cada vez mais, porque, porque, renunciando renunciando a eles, ver-se-ia ver-se-ia entreg entregue ue a uma angústia angústia insuportável: a da derrota que o poria nas mãos de seus perseguidores. Daí, segundo Binswanger, uma terceira dimensão da existência (Deckung), que o sujeito, à maneira de esquizofrênica: a da camuflagem (Deckung), que Sísifo, ísifo, tem que perseguir e retomar inint i ninterru erruptamen ptamente te e sem suces sucesso, so, para dissimular de si mesmo o lado intolerável da alternativa e tentar consolidar o reino reino de seus seus ideais. ideais. Sobrevêm en então tão uma última fase, fase, que efetivamente efetivamente encontr encontramos amos em todos os casos casos descritos por p or Binswanger: Binswanger: o momento momento do abandono, da desarticulação, desarticulação, da catástrofe catástrofe.. O sujeito renuncia a continuar continuar a lutar lutar contra contr a a internação, internação, o suicídio; suicídio; de deix ixaa que sua conduta seja ditada pelo peloss sina inais qu quee as coisa isas emit emitem em em sua sua dire ireção. Já nã nãoo co connseg segue man ante terrse no mundo comum, comum, e é nesse ponto que aparece a importância de decis cisiva iva einsan anal alys yse, e, cabe que, segundo as perspectivas da Da da Dasseins cabe ao delírio. Pois este é reconhecido reconhecido como a mais profund profundaa e mais mais grave grave capitulação capitulação dojsujeito: a que o faz desistir desistir de seu poder poder de decisão em relação relação a si mesmo, mesmo, a que o despoja, de certa maneira, de sua própria própria vida vida e de sua própria própria exp experiên eriência; cia; é um poder poder que o sujeito con confia fia a potências e instâncias alheias, das quais quais constitui o joguete e a vítima. Em vez de sua existência contínua dilacerarse entre oposições irreconciliáveis, ela ingressa a partir de então numa experiência não-problemática de ond ondee fica fica excluíd excluídaa qualquer qualquer correção dela por ela ela mes mesm ma, e inteiramen inteiramente te elabora elaborada da co com m ba base se no no mod modelo elo do do tem tema delirante, cuja proliferação logo invade tudo e tudo faz submergir. Binswanger Binswanger considera que que a análise análise das diversas diversas modalidades modalidades dessa capitulação permitirá diferenciar, em diversas maneiras patológicas de ser-no-mundo, o que os autores, autores, desde Freud e Bleuler, designam designam pelo pelo autismo, no qual esses autores e o próprio Binswanger vêem nome únioo de autismo, um sintoma cardinal da esquizofrenia.9 Muito embora embora admiremos o apu apuro ro e a riqueza das descrições descrições em que se apó apóiam iam essas visões visões teóricas, teóricas, é difícil difícil ficarmos ficarmos satisfe satisfeitos itos com elas. Para começar, é certo que que o esquema esquema apresent apres entado ado po porr Binswanger Binswanger não se aplica a todos os quadros que a clínica apresenta como esquizo frênicos; além disso - mas não nos deteremos nesse aspecto -, alguns psiquia psiquiatra trass contestar contestaram am que o diagn diagnós óstic ticoo foss fossee vá váli lido do par paraa os própri próprios os casos de Binswanger. Repetimos: o problema do delírio não conduz ao
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cerne da esquizofren esquizofrenia, ia, já que nem todos os esquizofrên esquizofrênicos icos deliram e que a maioria dos autores autores concorda também em admitir que são justame justamente nte os esquizofrênicos delirantes, e agudamente delirantes, aqueles cujas per persp speectiv ctivaas de futu futuro ro são são men enoos ruin ruins. s. Isso de depõ põee a fav favor de Freud Freud co cont ntra ra Binswan Binswanger. ger. Ademais, mesmo no plano fenomenológico, simplesme simplesmente nte não é exato descrever descrever o delírio como uma capitulação. capitulação. Porque Porque ele étambém, mesmo nesse plano, um discurso que procura restabelecer uma comunicação.10 Por último, ainda que admitamos a dmitamos as visõe visõess teóricas teóric as de de Binswa Binswanger nger,, não podemos negar que elas deixam inteiramente em aberto algumas questões capitais. Por que a coerência do mundo deixa deixa de prevalecer em tal sujeito? sujeito? Por Por que e como o desmoronamento desmoronamento dessa dessa coerência coerência está ligado ligado à incapacidade incapacidade de deixar as coisas serem serem o que são? Não Nã o podemos deixar de sensibilizar-nos para a ressonância heideggeriana da formulação: Binsw Binswanger anger conhece conhece bem demais demais a obra obra do pensador pensador de Freiburg Freiburg para para não tê-la percebido, ou mesmo mesmo para não tê-la tê-la buscado intencionalmente. Ora, na perspectiva heidegger heideggeriana, iana, a angústia já basta basta para destruir destruir quaiquer qua iquer possi possibili bilida dade de dess dessee deix deixar ar-se -ser, r, de modo modo que não podem podemos os falar numa numa angústia que seja provocada pelo desmoronamento desmoroname nto da familiaridade do mundo e pela incapacidade de deixar as coisas serem o que são. Para Heidegger, Heidegger, a angústia não é uma resposta à ruína ruí na de nosso ser-no-mundo cotidiano; ela é a própria experiência desse desmoronamento, da incapacidade de deixá deixá-lo -lo ser o que é. Decert D ecertoo devem devemos os nos precaver para não confundir a angústia descrita pelo filósofo com a experimentada pelo psi psiccótic tico. Só qu quee tam tampou ouco co direm iremoos qu quee esta esta é um fen fenômen enoo simplesmente patoló patológic gico. o. Direm Diremos, os, antes, antes, que as modi modifi fica caçõ ções es e alteraçõ alterações es estruturais estruturais que são a própria doe doença nça - e que é preciso tentar compreender - instauram uma situação situa ção de que surge, não o medo ou a ansiedade, mas uma forma real de angústia que, se quisermos interpretá-la, acabará remetendo ao sentido explicitado por Heidegger Heidegger,, mesmo que esse sentido último só seja revelável revelável por aquele a quele que a sente. Assim, seria preciso, antes, inverter os termos da descrição de Binsw Binswang anger, er, e não susten sustentar tar que que a perda perda da familiaridade do mundo, bem como do poder de permanecer nele aceitando-o tal como é, desempenham desempenham em relação à angústia um papel de origem ou causa, causa, de vez que este último último conceito ultrapassa, ultrapassa, aliás, a letra letra do doss textos de Binsw Binswang anger. er. Con Convém vém ampliar ampliar nossa crítica. Porque, afinal, mesmo que a Da a Dasseins einsan anaf afys ysee renuncie por princíp princípio io a qualquer ex expl plic icaç ação ão,, isso isso nã nãoo no noss proíbe proíbe nem tampouco tampouco no noss exime exime de termos que empreender empreender um esforço para captar captar o que desencadeia e continua a move over, r, desde o interior, o quadro que constitui a esquizofrenia esquizofrenia Não po podem demos os de deix ixar ar-n -nos os encerrar na alternati alternativa va que oferec oferecee uma uma opção entre en tre uma análise existen existencial cial simplesmente descri descritiva tiva e o recurso a um
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organicismo causalista causalista,, que, de qualquer qualquer modo, modo, não teria nenh nenhum um alcance antropológico. Antes de abordarmos as perspectivas propriamente freudianas, gostaríamos de dizer uma palavra sobre uma concepção da esquizofrenia muito distante das que acabamos de evocar - e que nem sequer é, propriamente propriamente fala faland ndo, o, um uma con concep cepção ção psiq psiqui uiátr átrica ica.. Ao dize dizerr iss issoo, esta estamo moss fazendo alusão às idéias de Szondi. Szondi. Para Szondi, o emprego empre go desse termo ter mo - ou o dos outros termos psiquiátricos de que ele se serve serve - não implica implica patolo logi giaa mental e à maneira como esta forçosamente uma referência à pato entende ente nde seu próprio próp rio vocabulário. De fato, o criador criador da Schiksalsanalyse [análise do destino] só concebe esse patológico como o conjunto conj unto dos desvio desvioss que podem sofrer, individualmente e em sua totalidade, as diferentes poss possib ibili ilida dade dess que se articu articulam lam para para construir construir a estrutur estruturaa do incon inconsc scien iente. te. Assim, Szondi distingue oito fatores pulsionais fundamentais, que se ordenam em quatro grupos de dois fatores. Cada um desses fatores é passível de desvios quantitativos mais ou menos elevados nos sentidos positivo ou negativ neg ativo. o. Conforme Conforme essas essas alterações atinjam ati njam um número maior de fatores ou não mais possam ser compensadas pela ação das outras out ras possibilidades pulsionais, a conduta do sujeito pende p ende para o anormal e, além além das an ano o malias menores, dá ensejo aos diversos quadros ou síndromes descritos pela ciência ciência psiquiátrica. As teses que acabamos de recordar já bastam para implicar conseqüências capitais, e sobretudo para implicar que não existe, para Szondi, Szondi, doença doença (mental) no sentido estrito es trito da palavra, palavra, ja ja que passamos passamos,, através de simples modificações quantitativas (negativa ou positiva), da normalidade para qualquer psicose - podendo todos os estados intermediários, intermediá rios, em princípio, ser encontrados encontrad os no real. real. E há ainda a outra conseqüência de que isso a que chamamos doença mental ou conduta patol patológ ógica ica pode pode ser intensam intensamente ente estimulado estimulado ou inibid inibidoo pelo pelo meio meio soci social al,, familiar, familiar, profissional profissional etc. etc. do doente, doente, conforme este encontre enco ntre ou não nesse meio um escoadour escoa douroo socialmente socialm ente válido, válido, ou pelo menos inofensivo, para seus excessos ou seus déficits pulsionais. Como dissemos, as categorias em que Szondi classific classificaa seus fatores eseus ese us grupos foram retiradas do vocabulário psiquiátrico, mas de de modo algum ele pretend prete ndee implicar com isso isso que tais pulsões sejam patológicas em si, muito pelo contrário. Que um dado termo psiquiátrico sirva para designar determinada determ inada pulsão signif significa ica apenas que, para Szondi, Szondi, o quadro patológico correspo cor responden ndente te dev devee ser relacionado com as alterações quantita quan titativa tivass da pulsão do mesmo nome. Isso, Isso, aliás, aliás, não é rigorosamen rigorosa mente te exato, já que, na realidade, re alidade, um qua quadro dro patológico patológ ico identificá i dentificável vel só faz faz sua aparição, na maioria das vezes, após alterações combinadas d ediversos
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fatores pulsionais, e o fator que dá nome ao quadro corresponden corresp ondente te só é responsável responsável por po r ele em nível nível de preponderância. É interessante, interessante, para para nosso objetivo, objetivo, refletir sobre o que que Szondi, Szondi, nesse nesse contexto, contexto, enten en tende de por esquizofrenia esquizofrenia - ção sem insistir mais uma vez vez nas nas o bserv bservaç açõe õess que acabam acabamos os de fazer fazer e cujo cujo esquecim esquecimento ento condu conduziria ziria prontamente prontame nte a grav graves es mal-ent mal-entend endidos idos.. O chamado ve veto torr da “esquizofrenia” “esquizofrenia” (também chamado vetor do porr motivos motivos qu quee veremos veremos adiante) adiante) combina combina e opõe opõe dialeticamente dialeticamente duas eu, po po possib sibilid ilidaades pulsi ulsioona nais is an anta tagô gôni nica cass e co com mplem plemen enta tare res: s: o fator fator A:ou fato fatorr da catatonia catatonia e o fator fator p ou fator fator da paranoidia. paranoidia. Esses dois dois fatores, essenciais essenciais à constituição do do eu, que tem por função arbitrar os conflitos conflitos entre entre os outros outros grupos pulsionais, têm uma ação comparável comparável à da diástole diástole e da sístole no ritmo ritmo cardía cardíaco co.. O fator fator diastólico (p) tende tende a dilatar o eu até até fazê-lo fazê-lo igualarigualarse ao univeiso, à totalidade totalidade do que existe existe.. É ele que, considerado em estado de isolamento (estado evidentemente fictíc fictício io e abstrato), abstra to), impele o eu a tudo, ao passo que, como como veremos, veremos, o fator antagônico antagônico e complementa complementarr ser tudo, diz respeito respeito ao ter. Mas o eu pode ser tudo sob duas modalidades opostas: k diz a da mflação (p positivo) positivo) e a da pr negativo); ); na inflaçã inflação, o, ele procura procura projeção (p negativo ser, ele próprio, tudo o que existe. Vemos sem dificuldade como um desenvolvimento desenvolvimento desenfreado dessa pulsão pode descambar para o delírio delírio e para para a psicose psicose paranóide. paranóide. Quanto Quanto à projeção (p negativo), ela dá margem à tendência pela pela qual o outro, qualquer outro, outr o, é o que o sujeito é. Tratase ainda, portant portanto, o, mas de acordo acordo com um sinal invertido, de uma igualdade e de uma correspondência no ser entre entre o eu e o un unive iverso rso.. A pulsão exprim exprimida ida pelo fator p- pode pode assim ser considerada, em seu exce excess sso, o, como estando est ando na origem da paranóia, se admitirmos com Freud Freu d qque ue a projeção do que se é para o ou outr troo constitui, efetivamente, uma das principais principais molas dess dessaa afecção afecção ment mental al.1 .11 O movimento sistóüco, sistóüco, pelo qual é responsável responsável o fator fator k, é constituído pela pulsão pulsão de ter te r tudo, de tudo possuir possuir.. A dimensão dimensão po posit sitiv ivaa (k+) desse fator busca realizar essa onipossessão segundo a modalidade da incorporação, da introjeção. compre c ompreende endemos mos assim assim a razão do título títu lo que Szondi Szondi lhe deu, recorrendo à noção intermediária interme diária de autismo (rico). O autista, que traz em si o universo, universo, pode se desinteressar desinteressar de maneira maneira absoluta do que chamamos mundo externo e do próximo, visto que estes nada lhe podem podem trazer que elejá ele já não tenha. Quanto ao modo modo antagônico antagônico (k-), ele procura rejeitar tudo para para fora fora do eu eu.. O eu eu,, para para poder expu expulsa lsarr tudo e se esvaziar de de tudo, tudo, precisaria possuir pos suir tudo. Szondi Szondi qualifica qualifica essa essa pulsão pulsão de negação, que, patologicamente aumentada e dominante, transformat ransformase no negativismo. O autismo e o negativismo são realmente os traços dominantes da catatonia. Decerto não há necessidade de insistirmos na importância
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fundamental fundame ntal dess dessas as duas duas pulsões pulsões eseus qua quatro tro modos. modos. O equilíbrio entre e ntre estes define define um eu perfeitamente perfeita mente integrado, apto, ap to, pelo desenvolvimento desenvolvimento igual de todas as suas possibilidades, a exercer sua função de árbitro árb itro en entre tre o real e o desejo, desejo, de um lado, lado, e também, de outro out ro lado, lado, entr e ntree as oposições oposições das demais pulsões. O fato de, além disso, Szondi nomear de vetor da at esta que, para p ara ele, essa essa esquizofrenia o par formado pelos fatores k c p atesta psic psicos osee - na qual ele vê a psicose - deve ser concebida concebida como um desarranjo de sarranjo ou uma desintegração do eu, resultando quer numa hipertrofia, quer numa atrofia, ambas consideráve consideráveis, is, de uma das modalidades dos fatores em em causa. causa. Estas altera al terariam riam radicalm rad icalmente ente a relação do sujeito com o ser e o ter. Mas, Mas, em que sentido podem essas alterações ser interpretadas como correspon corres pondent dentes es às descrições descrições clínicas clínicas da esquizofrenia? esquizofre nia? Dissemos duas pala palavra vrass a propósito propósito de sintom sintomas as ou traç traços os iso isola lado dos, s, embora embora fund fundam amenta entais, is, da esquizofrenia, tais como o autismo aut ismo e o negativism negativismo. o. Mas essa essa não passa de uma primeira abordagem da verdadeira questão. Não podemos, na verdade, contentar-nos em identificar alguns traços - mesmo que sejam capitais, como é o caso - que sejam reconhecidos por serem comuns às alterações altera ções pulsionais e aos quadros clínicos; clínicos; o verdadeiro verdad eiro objetivo deve ser compeender, a partir pa rtir das das primeiras, qual poderia ser o sentido global global destes últimos. Devemos considerar que Szondi S zondi teve pleno êxito? Uma resposta afirmativa afirmativa pressupõe p ressupõe que aceitemos situar situa r nas pulsões incons cientes do eu o núcleo gerador da psicose, psicose, ou, pelo menos, boa parte pa rte dele. Ora, essa é uma tese difícil de defender, salvo se lhe introduzirmos modificações consideráveis, como acontece na concepção freudiana do narcisismo. Certamente, não há esquizofrenia sem graves perturbações do eu, que, por outro lado, já podem revelar-se sensivelmente menos evidentes em muitas paranóias. Mas resta ainda decidir dec idir se um um eu em que os mecanismos mecanismos pulsionais pulsionais inconscientes de inflação, projeção, introjeção intro jeção e negação funcionassem de maneira exagerada ou insuficiente insuficien te levaria a manifestar um comportamento que nos fizesse, ao mesmo tempo, reconhecer reconhece r e compreender compreen der o sentido dos quadros que a clínica clínica dispõe sob os rótulos rótu los de esquizofrenia ou paranó p aranóia ia (vamos (vamos explicarexplicar-nos nos,, mais adiante, no que que diz respeito à diferença entre esses esses dois termos, amiúde ami úde confundidos em alguns textos de que teremos teremo s de falar). falar). Para Par a nós, a resposta respos ta tend t enderia eria finalmente a ser negativa, principalmente porque, no horizonte da problemática problem ática szondiana, não há ou mal há lugar para a dimensão estrutu estr uturan rante te da linguag linguagem em.. E porque porqu e não há muito mais mais lugar lugar para o papel, não menos estru estr u turante turante,, que devem desempenhar a instauração inst auração e a liquidação do complexo complexo de Edipo, tanto tan to para o devir da subjetividade qua quanto nto para o acesso desta a uma experiê experiência ncia plena e íntegra do real. real. Ora, teremos opo oportun rtunidad idadee de
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ver que tanto tanto o problema da linguagem linguagem quan quanto to o do Édipo são decisiv decisivos os para o entendimento entendimento da da esqu esquizo izofr fren enia. ia. Já por por diversa diversass vez vezes es constatamos que a concepção propri pro priame amente nte freudiana do inconsciente oferece, para a compreensão da psicose, uma uma contribuição contribuição e vantagens vantagens conside consideráv ráveis, eis, sobretudo se a interpre in terpretarmo tarmoss à luz da obra de Jacques Lacan, cuja cuja contribuição nesse ponto ponto é, se isso é poss possív ível el,, ainda mais mais importante do que em outros campo camposs da teoria psic psican anal alíti ítica ca.. É nelas nelas que no noss deteremo deteremoss ago agora. ra. Mas não não sem antes constatarmos, pela última última ve vez, z, o impasse em que se colocaram tanto tanto as teorias teorias do tipo tipo Kraepelin-Bleuler, às quais quais talvez seja lícito chamarmos causalistas, quanto as concepções, que lhes são diametral diame tralmente mente opostas, de um Binswa Binswang nger. er. Foi justamen justa mente te a ausência, comum comum a ambas, ambas, de qualquer referência a um inconscien inconsciente te constitutivo que constitutivo que veio limitar limitar o alcance alcance de suas conquistas. conquistas. Desse ponto pon to de vista, como acabamos acabamos de ver, a obra ob ra de Szondi Szondi já significa, para nosso estudo, um progresso considerável. NOTAS
1. Sabemos que, se o termo esquizofrenia foi cunhado por Bleuler, a psicose por ele designada é a que Kraepelin descreve pelo nome de demência precoce. Bleuler Bl euler insurgiuinsurgiuse contra a impropriedade dessa expressão porque a esquizofrenia não evolui forçosamente, nem mesmo comumente, para a demência (25% dos casos, segundo Kraepelin, Kraepelin, mas essa percentagem é certam ce rtamente ente mais reduzida reduzida hoje em dia), dia), e porque porqu e nem sempre é precoce. Além Além disso, a expressão tem o defeito de sugerir uma aproximação com a demência senil, senil, da qual a psicose em questão difere totalmente. totalmente . 2. Dentre Den tre os sintomas assim atribuídos aos “complex “complexos”, os”, Bleuler situou, por p or exemplo, exemplo, os famosos Sperrungen Sperrungen (bloqueios ou barreiras) esquizofrênicos, que muitos autores tendiam a considerar como sintomas primários. Ó mesmo se deu com pelo menos algumas das Spaltugen, Spaltugen, isto é, dos desníveis desníveis assinalados assinalados entre as diferentes diferente s dimensões do comportamento comportam ento dos esquizofrênico esquizofrênicos. s. 3 . 0 estudo dos sintomas primários ocupa, na obra de Bleuler, Bleuler, exatamente duas páginas e meia das 394 que ele comporta. 4. É o que ele reconhece quase explicitamente ao escrever, escrever, por exemplo exemplo:: "Immerhin wird es nicht ohne Bedeutung sein, dass bei keiner ändern Psychose (diferente da esquizofrenia) das Ich und seine Stellung zur Welt, das Denken und Fühlen so stark alteriert ist.” Gruppe der Schizophrenien, ed. Schizophrenien, ed. de 1911, p. 316. 5. Com isso se entendem todas as psicoses cujo substrato orgânico permanece até hoje desconhecido. desconhecido. Assim, Assim, ou podemos opta o ptarr pela inexistênc inexistência ia desse substrato subst rato orgânico, orgânico, ou acreditar, coma co ma imensa maioria dos autores, que sua não-identificação resulta apenas de uma ignorância mais ou menos provisória. Já afirmamos afirmamo s que nenhuma de d e suas opiniões resolve o problema do sentido da psicose. 6. La Schizophre Schizophrenie nie,, la. edição, pp. 79-80. 7. É evidente que não nos podemos conten co ntentar tar com essa essa concepção do pensamento pensa mento autista, embora sua descrição seja formalmente exata exata..
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8. “Das Wissen als solches, der Erfahrungsschatz ist 'intakt’ und ‘potentiell’ funktions tüchtig”, J. Berze, Psychologie Psychologie der Schizophrenie S chizophrenie,, Berlim, 1929, p. 44. 9. Vimos Vimos anteriormen anter iormente te que não era e ra exatamente essa a tese de Bleuler. Bleuler. 10.. Não estamos dizendo 10 dize ndo que ele seja apenas is apenas isso so,, nem que o discurso delirante tenha como sujeito o “eu” “eu ” da primeira pessoa, pessoa, ainda que seja essa essa a letra de tal discurso. 11. Salientamos que Szondi fala numa reação de projeção originária (p-) que não seria paranóica em si, si, mas sim paranóide. Ser tudo, onde o eu ainda não exist existe, e, é efetivamente igualar-se a um fora ao qual ainda não se opõe nenhum dentro. Não é uma projeção proje ção do eu, mas uma inflação sem eu. Szondi Szondi dá a essa inflação sem eu o nome de part de partici icipação. pação.
capítulo 2 O ACESSO À LINGUAGEM E O RECALCAMENTO PRIMÁRIO. SEU FRAC FRACASS ASSO O NA PSIC PSICOSE OSE ESQUIZOFRÊNICA ESQUIZOFRÊNI CA
O acesso à fala pod podee ser ex explicitad plicitado, o, em termos termos hegelianos, hegelianos, como a passagem passagem que leva leva do elemento elem ento do imediatismo ao da mediação. Dele encontramos encont ramos uma ilustração concreta no célebre exem exemplo plo que nos é apresentado apresen tado em descreve ve o menino que arremessa, arremessa, Além Além do Princípiodo Prazer,1onde Freud descre apanha, toma tom a a lançar e toma a apanhar seus seus brinquedos, brinquedos, gritando gritando Fort eD a para saudar, saudar, seja seu seu desaparec desaparecimen imento, to, seja seu retomo. retomo. Embora essa essa observação observação tenha sido abundantemente abundantemen te comentada, gostaríamos gostaríamos de nos deter de ter nela mais uma vez vez.. Trata-se, se assim quisermos, quisermos, de uma metáfora, metá fora, duplicada por po r uma nova metáfora, metáfora, já que qu e o sujeit sujeitoo fazcom que a presença e a ausência sucessivas do corpo materno sejam significadas pelo aparecimento ou desaparecimento de seu brinquedo, e depois, depois, mais mais uma v e z , que a ausência e a presença pre sença desses desses objetos sejam signific significada adass pelas palav palavras ras Forte Da interp retação ão ex exig igee que distingam distingamos, os, articulandoDa.. A interpretaç as, diversas diversas dimensões dimensões desse comportamento. comportamen to. Trata-se primeiramente, como o enuncia a primeira frase deste capítulo, capítulo, da renúncia ao imediato imedi ato e da entrada entr ada na mediação, mediação, revelandose esta inseparável da constituição constituição de um um simbolism simbolismo. o. Trata-se, em segundo lugar, do acesso acesso à negatividade. negatividade. Em cada lance, a perda per da relativa relativa do objeto obj eto fornece o moto motorr do movimento e do progresso, e Freud Freud assinala, aliás, que a fase fase de rejeição rejeição e ocultação do objeto ob jeto parece p arece suscitar no garotinho garo tinho um praz prazer er mais vivo ivo qu quee seu seu retom retomo, o, visto isto qu que, e, como omo todo todoss já pu pude dera ram m observa rvar centenas de vezes ezes,, o jogo se se limita, limita, com muita muita freqüên freqüência, cia, à encenação apenas da primeira primeira fase. fase. Sem dúv dúvida ida se se pode compre compreender ender isso - mas mas estaríamos estarí amos absolutamente errados em nos nos atermos somente a essa essa interpreta inter pretação ção como como a liberação de um desejo desejo de vinganç vingança, a, reprimido no real, real, contra cont ra a infidelidade da mãe ausente: “Vá embora, embora, não não preciso mais mais de você, você, não n ão quero mais ver você." Na verdade, é certamen cer tamente te mais exato, exato, e de maior mai or alcance, alcance, ler ler nesse desaparecimento desapareciment o provocado a angústia da morte, que qu e é superada ao ser aceita e que é superada super ada ao se expressar expressar no gesto que a reproduz repro duz simbolicame simbolicamente.2 nte.2
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A angústia e a morte são simultaneamente simultaneame nte reconhecidas e vencida vencidass na reprodução reprod ução simbólica simbólica e ativa ativa do fato traumatizante. Contudo, é também verdadeiro acrescentar ac rescentar que o jogo permanece ligado ligado à pulsão de morte, já que o sujeito sujeit o só se livra livra de sua angústia dando à morte mor te novas novas garantias3 - mas mas garantias que pode em seguida seguida retirar-lhe, que q ue pode anular. Assim Assim,, é impossív impossível el deixarm deixarmos os de sublinhar um terceiro momento na interpretação interpr etação desse jogo, mesmo que esse moment mo mentoo tenha tenha sido contestad contestadoo algumas vez vezes es:: o da aquisição aquisição e do estabelecimento de uma certa dominação sobre o real, real, do exercício exercício de um certo assenhorea assen horeamento.4De mento.4De entravado que estava estava nos horrores horro res de um nascimento e uma morte mor te incessantemente renovados, renovados, e que lhe eram impostos pelos eclipses eclipses da presença materna m aterna,, o sujeito se revela, a partir par tir daí, capaz de se mover em sua própria próp ria experiência, em vez vez de estar "colado” " colado” a ela como o inseto à lâmpada lâmpada.. O que permite per mite situar essa essa experiên experiência cia tanto quanto vive-la, dar-lhe expressão tanto quanto sê-la, inaugurando, embora ainda no nível mais modesto, o registro propriamente humano hum ano do que q ue é visado pela própr pr ópria ia noção de experiência. experiência. O regime da da derên cia e da fragmentação sucessiv sucessivas as começ começaa a ser substituído pelo de aderência uma realidade que está (ou (ou não está) presente presen te diante do “suje “s ujeito ito”,5 ”,5ee logo depois para ele. Do que dão testemunho o júbilo júbilo para e le , porque é dita por ele. inequívoco e a obstinação obstinação provocadora do jogadorzinho. "O " O momento em que o desejo se humaniza é também aquele em e m que a criança nasce para a linguagem.”6 Mas o advento da linguagem é também o da realidade. A operação subjetiva também lança as bases bases de um objeto verdadeiro. A capacidade de designar confere uma autonomia dupla, se bem que relativa relativa:: a do sujeito que toma distância de sua própria experiência, mas também a de uma coLsa real - o objeto, objeto , na linguagem filosó filosófica fica - que se oferece ou se furta, que o sujeito busca busca ou da qual qual se desv desvia, ia, sem que por isso isso ela deixe de continuar conti nuar real. E mais ainda, ligando e englobando uma e outro, é um mundo que aparece, apare ce, no sentido exato que a fenomenologia hoje ho je atribui atrib ui a esse termo. Ele se anuncia no esforço esforço de inserção empregado pela criança criança para "se engajar no sistema do discurso discurso concreto do ambiente, reproduzindo reproduzind o de maneira mais mais ou menos aproximada, em seu Fort! e seu Da!y Da!yos vocábulos quee recebe qu rec ebe dele d ele”.7 ”.7* Explicitamente, portanto, trata-se mesmo da instauração e do
* Tal comentário se esclarece pela observação de Freud: “Enquanto procedia assim (a enança), enan ça), emitia um longo longo e arrastado arr astado ‘o-o-o-ó’, o-o-o-ó’, acompanhado por expressão de interesse e satisfação. Sua mãe e o autor do presente relato concordaram em achar que isso não constituía uma simples interjeição, mas representava a palavra alemã 'fon”\ Além do Princípio do Prazer, in SEB, vol. 18, p.26. (N.R.)
acesso à linguagem e recalcamento recalcamentoprimário prim ário
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desenvolvim desenvolvimento ento progressivo progressivoss de uma certa certa distância mediatizadora, e que que inaugura pela própria linguag linguagem em a dialética da presença e da ausência ausência ali onde o nde só havia sua sucess sucessão ão catastrófica, correspondendo a idéia de qualificação introduzida introduzida postf tendo sucessão, aliás, apenas a uma qualificação postfact actum, um, e já tendo havido a intervenção da linguagem. Essa distância, distância, pois, separa e liberta do imediato, imediato, mas mas no próprio própri o seio da experiência e sem que, para isso, esse imediato seja simples e definitivamente abolido. A distância, distância, com efeito, efeito, não eqü eqüivale ivale e nem coincide com uma simples simples dispensa da imediação. Se, através da palavra, a coisa é presen p resen tificad tificadaa em sua ausência, ausência, a própria próp ria palavra, palavra, ou qualquer qua lquer signo signo que venha substituíla, tem que estar estar imediatamente presente, mas também, se ousamos ousamos dizêdizêlo, ausente ausente de sua presença. Fosse a palavra palavra apenas èla èla mesma, mesma, confinada na opacidade de sua matéria ma téria e com ela confundida, confundida, ela deixaria deixaria de ser s er significante significante e nos vedaria o acesso ao signific significado ado.. Não seria seria mais uma palavra e não mais mais nos falaria. falaria. Certamente Certamente não não pensamos pensamos ver no que precedeu mais do que o começo começo de uma problemática do inconsciente, ou mesmo uma noção aproximativa tiva dele. dele. cont co ntud udo, o, parece-nos parece-nos que marcamos marcamos o lugar de onde ond e ele pode surg surgir. ir. Porque, a partir partir do momento em que que se admite que, que, para que alguém alguém se tome tom e sujeito, é preciso abandonar-se abandonar-se sem simplesmente simplesmente se perder conforme o que qu e Heidegger Heidegger visou visou,, num outro ou tro plano, com a noção de ex ex-sistência -, a idéia de inconsciente inconsciente começa a se se impor a nós, sem que iss issoo baste, baste, é claro claro,, para predsar-lhe o conteúdo conteúdo e a estrutura. Talvez Talvez nem seja muito arriscado tentarm te ntarmos os aqui a qui uma aproximação aproximação com alguns textos freudianos. Conhecemos Conhecemos as discuss discussõe ões, s, às vezes vezes confusas, confusas, que surgiram a propósito propósito da interpretação do que Freud chamou de recalcamento primário ou originário (Ur-verdrängung). A bem da verdade, esses próprios textos, embora o autor tenha sublinhado sua importância, são raros e pouco explíc exp lícito itos, s, começamos, começamos , portant por tanto, o, por po r recordar recor dar seus seus elementos que que não ficaram ficaram sujeitos a contestação. O recalcamento primário, que se situaria para Freud na origem origem de todo e qualquer recalcamento,c recalcamento,contin ontinuou uou a ser aos olhos do autor, a despeito do peso que ele lhe atribuiu, um processo hipotético que ele el e induziu induziu ou postulou a part p artir ir de seus efeitos efeitos supostos. supostos. O recalcamento primário concerne ao primeiríssim primeiríssimoo represen repr esentante tante da puls pulsão ão na consciê ciência; ia; seu seu efei efeito to,, uma uma vez prod produz uzid ido, o, é perma permanen nentem tement entee indeléve indelével,l, no sentido de que nenhuma análise conseguirá conseguirá restituir seu conteúdo à co cons nsciê ciênc ncia; ia; a análise poderá apenas identificar identificar seus seus ''rebentos' ''rebentos'',', ou seja, seus seus representant representantes es (que dessa vez vez são representações) representações) deriva derivado dos, s, que foram recalcados recalcados po porr atração em decorrência decorrência de seu parentesco com o conteúdo que que sofreu o recalcamento primário. O “ter-sido-consciente”
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do que que sucumbe sucumbe ao golpe desse desse recalcamento recalcamento primário levanta, portant portanto, o, quanto a seu conteúdo e sua natureza, problemas gravíssimos e talvez insolúve insolúveis, is, já que a prova desse “ter-sido-consciente” “ter-sido-c onsciente” e daquilo que foi consciente nunca poderá, por definição, ser resgatada. Nem por isso o Urverdrüngung deixa deixa de ser um evento evento capital, já que sua sua ausência ausência ou fracasso fracasso relativos relativos são tidos por po r Freud Freud como responsáveis responsáveis,, não não pela neurose, neurose, mas mas pela psic psicos ose. e. “A origem origem do inconsciente deve deve ser buscada buscada no processo que introduz introduz o sujeito sujeito no universo simbólico."8Essa afirmação de Laplanche e Leclaire pare parece ce intro introdu duzi zirr de man anei eira ra bastan bastante te exa xata ta nossa ossa co colo loccação, mas subl sublin inha ha também, também, mais uma vez; vez; seus riscos e seu alcance. alcance. Haveremos de de nos indagar, portanto, se o que Freud apontou com o vo vocáb cábulo ulo Urverdrüngung não eqüivale à renúncia do imediato imediat o de que falei acima acima,, e que já se mostrou estar estar ligada ao momento momento inicial da instauração da linguage linguagem m. Essa hipótese, que tentaremos defender, comporta efetivamente grandes vantagens para a compreensão compreensão da doutrina doutrina freudiana e para a integra integração, ção, nela, de diversas diversas conquistas mais recentes, de que logo trataremos. Que seria, pois, pois, de fato, esse esse representante represen tante primeiro, originário, da pulsão pulsão na co cons nsci ciên ência cia,, que foi foi portanto portan to con conscie sciente nte,, embora embora desde desde então para para sem sempre pre ina inacessível a essa mesm esma consciên iência, ia, mas sem ter ter sido ido destr estruuído ído ou transformado tra nsformado como se nunca o tivesse sido de maneira alguma? Não seria ele nosso engajamento no imediato, o impulso em direção ao ser s er do ente a quem falta falta ser e que procura preencher-se? E também também a presença original, imediata, daquilo que justamente se oferece - mas com que insuficiência insuficiência e quão falaciosamen falaciosamente! te! - para preench pr eencher er a falta, e a que o futuro futu ro sujeito sujeito adere adere e se agarra agarra no sentido sentido quase físico físico dessa dessass palavras, por ele ele lhe prometer o retomo retom o - mas mas quão precário, precário, tam també bém! m! - à fusã fusãoo perd perdid ida. a. O im imed edia iato to a que é preci reciso so renu renunc ncia iarr é a consciên iência, ia, na qu qual alid idad adee do que principia como uma corrida corri da inocente, inocente, selvage selvagem m e perigosa para e dentro dent ro do outro, ou tro, que é o mesmo. esmo. Seria bastante compreensível, de fato, que o deslocamento e a metáfora constitutivos da linguag linguagem em,, por p or interméd in termédio io de um imaginário fundamental fundamental que con constitui stitui seu momento primeiro, pri meiro, mas mas ainda deficiente (como (como o demonstra demonstra o exemplo do carretei ddee linha), definissem em relação relação a esse imediato um adeus e uma expulsão desde então pretensamente irrevog irrevogáve áveis. is. Em certo sentido, nunca se volta atrás atr ás do passo passo lingüístico: lingüístico: não podemos podemos desaprender a falar, mesmo que que os meios da linguagem venham a faltar, como no afásico. afásico. Por outro ou tro lado, de certa maneira, esse imediato não é simplesmente simplesmente apagado apagado:: nunca nos desprenderpos desprenderpos dele inteiramente. inteiramente. Ele é nossa pré-história real, da qual só encontramos testemunho, metamorfoseado em mito, no seio de uma história hi stória sempre já começada. começada. Mas Mas gostaríamos de compreend comp reender er ainda mais mais.. Freud Freud nos diz que a
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falta ou a insuficiênc insuficiência ia do recalcamento primári primárioo são responsáve responsáveis, is, no todo ou em parte, parte, pela psicose. psicose. Temos Temos de refletir refletir sobre sobre essa essa formulação. formulação. Porque, Porque, afinal, afinal, se chegarmos chegarmos a captar melhor a natureza desse fraca fracasso sso,, suas razões razões e o estatu estatuto to daquele daquele que o sofreu, sofreu, só teremo teremoss mais mais esclarecim esclarecimentos entos a ganhar sobre o próp própri rioo recalcamento primário. primário. Mas isso levanta uma multipl multiplicidade icidade de questões que devemos agora abordar. Que vem vem a ser, ser, porta po rtanto nto,, uma realização realização malograda malograda ou insuficiente desse desse recalcamento recalcamento primário? Resguardem Resguardemo-nos, o-nos, antes de mais nada, nada, de de um certo risco de confusão. Conhecemos a famosa fór fórmula mula - sumária sumária',', sem dúvida, mas que não não deve ser simplesme simplesmente nte rejeitada - que diz: diz: o neurótico neurótico recalca recalca o inconsciente, inconsciente, o psicótico psicótico recalca recalca o rea real9 l9É evidente evidente que não se pod podee tratar, tratar, em ambos ambos os casos, casos, de um mecanismo mecanismo idêntico de recalcamento, recalcamento, só poden podendo do este ser definido em função daquilo que recalca recalca e daquilo que qu e é recalcado. recalcado. Ademais, demais, sabemos que os termos termos alemães alemães utilizad utilizados os por por Freud Freud para para designádesignálos foram, ao menos a partir de 1915 (data em que Freud redigiu sua observação sobre o “Homem dos Lobos”), diferentes. Ele chama Ver empregado na neurose, ao passo que, que, no no tocant tocantee drängung ao drängung ao recalcamento empregado Verwerfung,10termo que ao mecanismo característi característico co da psicose, psicose, fala em Verwerfung,10termo J. Lacan propôs traduzir trad uzir em francês francês por forclusion (foraclusão), Além disso, disso, acabamos de ver que a psicose, psicose, segundo Freud, tem tem como origem total total ou ou parcial o fracasso fracasso ou a insuficiên insuficiência cia da Urverdrängung ou recalcamento primário, que não deve ser confundido com com nenhum nenhum dos dois dois “recalcamentos” “recal camentos” precedentes, embora tenha alguma alguma coisa coisa a ver com a foraclusão, que seria como que seu negativo. Finalmente, Finalmente, e já o exp explicam licamos os em parte, parte, esses esses diversos diversos processos são estreitamente estreitamente solidários solidários ao acesso acesso ao imaginário imaginário e ao simbó simbólico, lico, que que também também devem ser distinguidos. ( Comecem Comecemos, os, pois, por por nos indagar, indagar, já que o recalcamento recalcamento originário originário nos pareceu coincidir com a renúncia ao imediato, o que pode ser responsabilizado pelo pelo malogro dessa dessa renúncia ou, positivamente, a que se deve a possibil possibilidade idade de ela te ter êxito. êxito. „■ O homem é, é, provavelmen provavelmente, te, dentre den tre todos os animais animais superiores, aquele cujo nascimento é mais prematuro. As conseqüências desse fato são tão maciças maciças qu quan anto to indeléveis. indeléveis. A imaturidade imaturidade de nosso apareci apar eciment mentoo assinala, para começar, a inversão (ou mesmo a identificação) possível do nascimento em morte e da morte em nascimento. Ela permite que o nascimento, nascimento, pela inadaptação inadaptação radical qjie qjie inaugura, pela brusca brusca rupt ruptur uraa do equilíbrio equilíbrio que gera entre entre o organismo organismo e seu seu mèio, mèio, seja o primeiro trauma trauma na chträ trägl glich ich [só-depois], a mort da existência e possa fazer com que, nach mortee seja sonhada sonhada edeseja edesejada da como um nascimento. Essa imaturida imaturidade de faz com que
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nosso destino original e inelutável seja a dependência, ou mesmo o para parasi sitis tism mo. Qualq Qualquer uer au auto tono nomi miaa ulterío ulteríorr terá que ser co conq nqui uista stada da con contra tra eles, eles, e também, de certa maneira maneira,, contra si mesm me smojá ojá que toda separação ou cisão terá, terá, a partir partir daí, daí, ressaibos ressaibos de desamparo desamparo e abandono, abandono, de repetição do trauma do nascimento, contra o quê o “si mesmo" se insurge, Essa imatur imaturida idade de é responsável, além disso, pelo pelo fato de esse novo ser ver-se embarcado e arremessado em sua existê existência ncia,, sem que e antes ante s que se possa experimentar experimentar como uma unidade delimitada e articulada, articulada, como um “este “este"" Não Não po pode dem mos dize dizerr do ind indivíd ivíduuo o qu quee Marx arx poisou sobre sobre a hu human anid idad ade: e: que ela não n ão se propõe prop õe outros problemas senão senão os que está est á apta apt a a resolve resolver. r. Inicialmente, e por p or muito muito tempo, tempo, os problemas que se opõem ao ao indivíduo indivíduo,, ao cont c ontrár rário, io, ultrapassam ultrapassam muito mui to visivelmente visivelmente seus meios.11 Ser próximos próximos das coisas coisas é nossa própria própr ia natureza na tureza.. O filósofo diria que somos instantane inst antaneamente amente o real no real; e o somos somos mesmo que o real, originalmente, originalmente , não possa possa qualificar-se qualificar-se comotal em relação àquele que o para mim, mim,]]Á que não experimenta Não o é pa não existe um sujeito capaz de trazer trazer a relação pela qual se situa a respeito desse real, sendo essa relação inseparável insepará vel de uma distância que nada ainda anuncia. Exprimimo-nos de outra out ra maneira ao dizer que a falta e a necessidad necessidadee são certamen cert amente te reais, mas mas nada permite permi te fazer com com que apareçam como tais. tais. O regime da união dual e de suas vicissitu vicissitudes des é essencialmente opaco para si mesmo, mesmo, porque é desprovido de qualquer negatividade negatividade mediadora. mediadora. O que que também poderia poderia ser traduzido pela con constatação statação de que o pseudo-su pseudo-sujeito jeito em causa não não acedeu acedeu,, até esse momento, à ordem do desejo desejo,, sua s ua vida vida continua prisioneira da demanda voraz e beatífica que não transcende a si mesma. Mas vamos distinguir melhor a necessidad necessidadee e a demanda. demanda. A necessidade necessidade aponta para um estado de d e tensão tensão psico psicológ lógica ica (a sede, por exemplo) exemplo) que se se origina num desequilíbr desequilíbrio io fisiológico fisiológico (a desidratação). desidrata ção). A necessidade desaparece desap arece tão logo uma compensação compensação adequada (a bebida) restabelece rest abelece o equilíbrio equilí brio do organismo. Pode renascer, desde que o equilíbrio equil íbrio venha novamente a se romper. O “necessitado” “necessitado” não sobrevive sobrevive à extinção de sua necessidade. Ou não descobre o objeto adequad a dequadoo - o que signi signific fica, a, na situação s ituação apontada, que não o recebe e por isso isso morre, ou o objeto adequado lhe lhe é dado e d e de deixa ixa de ficar em estado de neces necessid sidad ade. e. A demand demanda, a, ao ao contrário, contrário, procura procura eliminar a incompletude fundamental do ente humano através do restabeleci restabelecimento mento da fusão origina original.l. É evidente que esse restabelecimento é impossível, salvo salvo no plano da fantasia e do delíri d elírioo (ainda (ainda bem!), e que nenhum objeto objeto particular particular pode preencher a falta de que que somos somos feito feitos. s. Por conseguinte, esboça-se em algum momento a opção entre duas possib possibilid ilidad ades. es. Ou o sujeito sujeito não renuncia renuncia à bu busc scaa da plenitude, plenitude, e co com meça eça a ir i r de objeto ob jeto parcial em objeto parcial sem sem se satisfazer satisfazer com com nenhum, já uma quimera quimera e cada um dos objetos que,justa que,justamente, mente, a satisfação satisfaçãoque espera é uma
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dos quais o sujeito sujei to a espera espera sucessivamente não passa de um logro; ou, ou , ao contrário, contrário, ele consente em ser no estilo da falta, falta, que que se tom t omaa então o da negativida negatividade, de, e os diverso diversoss objetos pardai pardaiss passam a ser para para ele ele outros outros tantos tantos significantes significantes possív possíveis eis de seu desejo de ser ser reconhecido pel p eloo desejo do outro. outro. Logo, Logo, é a renúncia ao todo todo que rompe o círculo infernal da demanda e de sua decepção para pa ra elevar essa demanda ao nível nível do desejo. Teremos Ter emos que determinar determ inar em que con condiç dições ões e a que preço. preço. O futuro futuro sujeito, efetivam efetivamente, ente, só pode sair das alternativas alternativas da união união dual em que está preso pr eso e lograr l ograr êxito êxito numa tentativa de transcendê-la se pudertambém puder também situar-se situar-seem em outro outro lugar lugar que não aquele em que está preso, tal como o menino com o carretei carretei de linha l inha situa-se situa-se num lugar diferente daquele em que sofre os horrores horror es de de seu drama. drama. Para isso - e essa é uma condição primordial, primordial, necessária necessária mas mas não suficiente -, de deve ve ser-lhe ser-lhe proposta proposta uma uma certa ajuda, que poderá pode rá faltar, faltar, e essa falta falta deve deve ser questionada questiona da na gênese da psicose. A disponibilidade dessa ajuda no momento desejado desejado implica implica que ela já se tenha constituído antes an tes mesmo mesmo de ser efetivamente efetivamente solicitad solicitada. a. Não há nisso nisso parado paradoxo xo algu algum m. Psica Psicanal nalist istas, as, antropólog antropólogos os e filós filósof ofos os são unânimes unân imes em reconhecer que a história real de um serp serpri rindp ndpia ia antes mesmo mesmo de ele na nasce scer. r. 'T 'Todo sujeito assume um lugar lugar num mito mito famil familiar: iar: esse mito, mito, cuja cuja importância importânc ia nos é demonstrada, demonstrada, seé s eé que isso isso se faz necessário, necessário, pelo lugar que assume na fantasia fundamental,1 fundamental ,12lhe atribui atrib ui na tragicomédia de sua vida um papel que determina de antemão as réplicas de seus 'parceiros.”13Que o sujeito, porta portanto, nto, não não seja chamado a tomar tomar sua piópri piópriaa existência existência por um simples simples “acidente biológico” biológico” tem como contra-pa contra -partid rtidaa sua inserção numa certa cert a cadeia signific significante ante.. No que aparece aparec e o primeiro p rimeiro e terrível paradoxo paradoxo de que o futuro sujeito, para par a não ser um alienado, terá de conhecer conhecer “esse começo alienant alienantee por por definição”.1 definição”.14De feto, essa essa história história pré-natal, pré-natal, na qual qual ce constituem constituem os primei primeiros ros sign signiG iGca canntes tes pos possí síve veis is do próprio ser do sujeito, sujeito, não se restring restringee apenas apenas a permitir que o sujeito se situe no discurso interparenta inte rparental,l, mas tem de enraizar-se, enraizar-se, forçosamente, forçosamente, também nas relações mais arcaicas que cada um dos pais mantém com seu próp próprio rio desej esejoo. E ne nem m é preci reciso so inv invocar Melan elanie ie Klein lein para co comp mpree reend nder er que isso é particular particularmente mente aplicáv aplicável el à mãe. mãe. A relação desta com seu próprio próprio corpo, e principalme princ ipalmente nte com seu corpo em estado de gestação, gestação, revèla-se fundamen fundamental. tal. Poiq Poique ue o vínculo vínculo entre entre a mãe e o filho se ata no exato instante instante da concepçã concepção. o. A partir partir desse momento, momento, quando quando as coisas coisas transcorrem, como como se costuma costuma dizer, normalmente, a futura mãe atribui a seu filho filho um “corpo “corpo imaginad imaginado” o”,, inteiramente inteiramente distinto distinto do que o feto feto é no plano real (fisioló (fisiológic gico), o), ou seja, um embrião embrião humano em vias vias de desenvolv desenvolviment imento. o. Esse “corpo imaginado” do filho filho oferece ao desejo da mãe um correlato, correlato, um suporte suporte,, um “objeto “objeto””. Entre Ent re outras co coisa isas, s, constitui constitui para para a mãe uma uma proteção contra contra
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“o perigo perigo de viver o parto pa rto como um luto”,1 luto ”,15como a perda perda de uma parte pa rte de sua próp pr ópria ria substância ou como como uma ameaça pura e simples a sua vida vida.. Não há como como duv duvidar idar de que sobre esse esse “corpo “corpo imagin imaginado ado”” que a mãe mãe empresta empresta a seu filho incide incide um investimento afetivo e libidinal libidinal conside considerável, rável, onde corr corree o risco de se insinuar e reaparec rea parecer er o recalcado mais arcaico. arcaico. De modo correlato, correlato, e isso talve talvezz nos seja ainda ainda mais importante, importante, esse “corpo imaginado” a partir partir do qual, uma vez vez nascid nascida, a, a criança será constant constantemente emente “interpel “inter pelada ada”” em seu ser-com ser-com-a-m -a-mãe, ãe, irá oferecer ao sujeito ó ponto de referê referênda nda fora dd d de mesmo mesmo de que falam falamos anteriormente, anteriormente, que lhe lhe permitirá permitirá apont ap ontar ar para par a si como como “o outro out ro”” dessa dessa cenestesia vivida vivida numa imanência ora ansiosa, ora be beatífi atífica. ca. E aí se abre para ele e le uma entrada entra da po possív ssível el na metáfora e no símbolo símbolo,, primeiro passo passo do desprendimento que virá a ser o recalcamento recalcamento primário. “É a partir par tir de desse sse primeiro significa significante, nte, que se vem super superpor por ao não-senso original, que se constit constitui ui e ordena a dimensão dimensão imagin imaginária, ária, ou seja, seja, tudo tudo o que é da ordem da representação do objeto objeto como objeto objeto do do desejo e suporte supor te da fala.”16Antes mesmo mesmo que a separação separaçã o entre ent re os dois seres tenha tenha lugar no real, o filho já ex existe iste como como um e oomo um outro, um e abrindo abrindo espaço, primeiro primei ro pelo lado da mãe, mãe, depois depois da mãe e do filho, filho, para o jogo possível possível das identificações e dos reconhecimentos. Mas, que acontece quando a mãe não faz esse “trabalho do nascimento” nascimento” (no sentido em que Freud fala no “trabalho “trabalho do luto”)? E por que ela não o faria? E que significa dizer que ela não o faz? A essa questão, questão, P. Aulagnier, em quem se inspiram inspira m estas pág páginas, inas, responde com uma tentativa de descrever descrever e compreender uni certo tipo de mulheres por por quem a literatura literatura relativa à esquizofren esquizofrenia ia tem-se interessado cada vez vez mais: mais: as mães de psicó psicótico ticos, s, cert certam amen ente te existem muitos muitos trabalhos trabalhos sobre esse assunto, principalmente principalmente norte-americanos norte-americanos e holandeses. holandeses. Se nossa nossa reflexão reflexão op optou tou por se organizar em em torno to rno do estudo de Piera Aulagnier, Aulagnier, foi foi porque porq ue esta e sta se situa s itua muito além de um quadro simplesmente empírico empírico (estatístico, (estatístico, psicelógico, psicelógico, caracterológíco, caracterológíco, social social etc.), etc.), para se colocar num clima de reflexão simultaneamente psicanalítico, no sentido lacaniano, e filosóf filosófico ico (se ela tiver a gentilez gentilezaa de aceitar este último epíteto), epíte to), que é, em grande parte, justamente justame nte a ótica de nosso nosso próprio própr io trabalho. exprime a linguagem familiar, O A mãe do psicótico não é, como se exprime %ma %m a mulher que faz a lei”, lei”, ou, an a n termos psican psicanalític alíticos os,, uma mulher fálic fálica. a. Ê, segundo nos dizem, uma mulher que é, ela mesma, a l^i, o que é infinitamente infinitame nte diferente. A mulher que quer fazer a lei, para os seus seus e para tu d o e todos, todos, se poss possível ível,, não contesta contest a em absoluto a existência de uma uma lei, nem o vínc vínculo ulo indi indiss ssolú olúve vell que há há entre o direito de pro p rom m ulgá ul gá-l -lae aeíí posse posse do signif significan icante te que co conh nhece ecemo mos. s. Simp Simplesm lesment ente, e, ela se recusa recusa a se reconhec reconhecer er desprovida desse significante significante e, identificando-se com o homem, homem, imagina-se inconscientemente dotada dele (donde seu gosto freqüente
aces acessso à linguagem c reca recallcament camentop opri rimár máriio 39
por co cole leci cion onar are acu acumular ular em sua sua próp própria ria pe pess ssooa os emblem lemas dele) ele).. Assim sim, ela se arroga o direito direito de entra entrarr em rivalida rivalidade de com com o homem para para lhe impor sua própria lei, e não nã o paia paia contestar a legitim legitimida idade de dessa dessa lei. lei. É desnece desnecessário ssário acrescentar, já que qu e isso isso constitui uma observação observação corrente, corre nte, que esse tipo t ipo de mulheres, ulheres, comumente, é pouco dado a transigir quanto quanto à inobserv inobservânc ância, ia, por parte de outrem, de todas as leis leis soci sociai aiss mais mais ou menos menos simbó simbólic licas as da lei de que se tra tr ata Outra Outra co coisa isa são as mães dos psicó psicótico ticos. s. Estas não não conhecem nem compreendem a lei enquanto enqua nto tal. O que lhes faz asvezes vezes de lei, tanto tan to para elas elas quanto para o que elas elas procuram procuram impor a outrem, é seu próprio capricho. Uma belíssima comparação de P. Aulagnier ilustra perfeitamente nossa colocação: colocação: “as “as regras do jogo, elas nunca nunca as aceitaram, aceitaram, nem tampouco, tampouco, o que é mais grav grave, e, compreenderam: poderíamos dizer dizer que o único jogo que conhecem é o 'sucesso' umjogo umjo go sem parceiro e sem aposta, senão no nível de uma onipotência autística. As cartas, que normalmente norma lmente são são apenas instrumentos instrumentos simboliza simbolizado doss graça graçass aos quais se se podere pod erealiza alizarr uma partida par tida entre en tre mim mim e os os outros, uma part partid idaa em que o própri próprioo fato fato de trapace trapacear ar prov provaa que co conh nheç eçoo suas suas reg regras, ras, tornam-se, nesse caso, caso, um fim em si. si. Para jogar, jogar, já não se precisa saber sab er que o Rei é superior supe rior à Rainha, nem que a ordem estabelecida estabelecida determina o valor: valor: para ganhar, não há nenhuma necessidade necessidade de conhecer o valor simbólico dos dos signos, basta basta o signo em si, e é possível recriar recriar todas todas as vezes vezes uma nova nova lei. lei. Uma lei que não precisa de nenhum suporte supor te simbóli simbólico, co, que só depende da escolh escolhaa arbitrária daquele que joga joga Ld que, em última análise análise,, não é outra outr a coisa coisa a não ser s er a prova, prova, o signo signo da não-lei fundamental em que se situam situam esses sujeitos. sujeitos. Não estou estou falando dos psicótico psicóticos, s, mas de de siias mães..."17 Vemos Vemos claramente o que tal perturbação perturbaçã o - que chamaríamos chamaríamos mais mais exatamente exatamente de perversão - na cabeça da mãe pod podee gerar no futuro futuro sujeito, e como poderá revelar-se revelar-se patogênica patogênica para ele. ele. Porque justamente justam ente essa anistoriddade anistoriddade tornaria tornaria o personagem personagem materno materno incapaz incapaz de inserir seu futuro filho numa cadeia simbólica simbólica qualquer.1 qualquer.18O que já já se marca na na maneira como essa mãe feia de sua sua gravid gravidez ez.. Trata-a Trata-a como um aoonted aoontedment mentoo simplesmente fisiológ fisiológico ico,, em que queo embrião emb rião é considerad onsideradoo perturbador ou estimulador da atividad atividadee orgânica Não é difidl constatar constatar que o que mais mais feita é justamente o “corpo imaginado". As mulheres em questão são aquelas em quem a gravidez gravidez mais mais se aproxima aproxima de ser ser vivi vivida da em sua realidade realidade pura de processo processo orgânico de desenvo desenvolvimen lvimento. to. Como no caso de uma ppaade dent ntee que, acusada pela sogra sogra de não não tricotar tricotar roupas roupas para seu seu futuro beb bebê, ê, considerou considerou essa essa censura absurda, pois não se pode radonálmente tricotar roupinhas destinadas destinadas a um corpo desconheddo. desconh eddo. “Esse tipo de mulher é o o único que tem uma relação re lação com o filho real rea l na qualidade qualidade de embrião."1 embriã o."19 É evidente que, num caso assim assim,, o investimento investimento libidinal do corpo co rpo
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do filho, filho, com comoo corpo de um um outro out rojá já distinto do corpo materno, não pode ter lugar, e que o feto - no caso, caso, essa essa é a palavra palavra conveniente - é tido tido como como um objeto endógeno bom ou mau, cuja expulsão expulsão será sentida sent ida ora como uma perda ou lesão, ora como um alívio ou uma restitutio ad integrum. Na verdade verdade,, não não há nenhuma transferência transferência do narcisismo narcisismo da mãe para para o filho, filho, mas sim um superinvestimento superinvestimento narcísico do corpo corpo própri próprioo da mãe (pelo exce ex cess ssoo de atenção ou de interesse - po positiv sitivos os ou negativo negativoss - que lhe l he é dedicado, pela supervalorização de si que a mãe extrai de seu poder “fabricador” etc.). Mas Mas nesse nesse ponto, pont o, como em outras situações - e mais mais do que em outras situações -, a incapacidade da mãe de simbolizar um significante corporal sobressai de maneira absoluta. Que daí tem que resultar resultar para o fiituio fiituio sujeito sujeito uma uma “castração “castração maciça” maciça” é evidente. Em particular partic ular - e temos de sublinhá-lo, uma vez que, como veremos veremos mais mais adiante, o pai representa representa precisamente, precisamente, no triângulo edipiano, edipiano, o termo gerador da lei e da da distância -, - , “tudo o que em seu corpo [o corpo do bebê] bebê] lembra lembra a contribuição paterna paterna é negado, negado, anulado, e em primeiro lugar tudo o que possa fazer lembrar lembra r que ele é fruto f ruto de uma união uniã o sexual sexual,, que, como ser sexua sexuado, do, também é filho do pa pai.i. A foraclusão foraclusão do nome do pai pai tem aq aqui ui seu seu po ponto nto de origenT. origenT.^E ^E co com mo po pode deria ria ser ser de ou outra tra man anei eira ra?? Aintegração Aintegraç ão do futuro sujeito a qualquer cadeia simbó simbólica lica é correlata correlat a de sua inserção na relação da mãe com o Outro; onde a simbolização é deficie de ficiente nte,, a referência referência ao Outi Outioo - através da qual a criança se situa perante perante o pai - também o é, só podendo podendo o discurso discurso interparenta interpa rentall reduzir-se a um monólogo - feliz, desolado ou indiferente - da mãe sobre ela mesma. De fato, o parceiro visado pelo auto-investi auto-investimento mento libidinal da mãe é, não o “corpo imaginado” imaginado” do filho, filho, que não não existe para para ela, mas seu corpo real real (ou pseudo-real), pseudo-rea l), “ou seja, esse agregado agregado físico físico muscular que extrai sua substância substância do próprio própr io corpo dela [mãe [mãe]] e que lhe traz tra z a confirmação de seu papel de criadora criador a única”,21de sua onipotência onipotênc ia para pa ra fabricar um ser se r humano. Não é necessária uma grande experiência clínica clínica para pa ra imaginar o grau de devastação devastação que esse estado de coisas coisas pode atingir atingir quando quan do a mãe se faz faz inseminar artificialmente artificialmente por por um desconhecido desconhecido “para ter ter um filho”. O filho ficará ficará para sempre reduzido a “permanecer “permanec er como como testemun test emunha ha da excelência excelência e da onipotênc onipotência ia da função mate ma terna rna”.2 ”.22Daí se configura para para ele a ameaça de só lhe ver abrir-se um único caminho: caminho: o de se afundar afunda r em ser “suporte e meio meio da da deman demanda da e nunca nunca do desejo”.2 desejo”.23O filho não terá outra existência existência senão a de servir para convencer a mãe e os os outros outr os de que essa mãe é a genitora genitora perfeita, pe rfeita, como como o prova o simples simples e magnífico magnífico apêndice dela mesma mesma constit constituído uído pelo pimpolho bochechudo bochechudo que ela irá empantur empanturrar rar de alimento - às ve vezes zes,, até a morte (se essa morte tiver de ser, um dia, o único ún ico meio de o outro outro conquistar o direito direito de dizer “não” “não” à empanturradora). Não Não há co com mo atribu atribuir ir ao ex ex-e -em mbriã rião, trans transfo form rmad adoo em ap apên ênddice, ice, qu qualq alque uer r
acesso acesso à linguagem linguagem e recalcamento primário primário
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acesso acesso que seja à neg negativid atividade ade e ao desejo, que contestariam contestari am prontament prontamentee o mito materno mater no da plenitude ple nitude conquistada conquistada através da plenitude plenitu de do filho, filho, a ser indefinidam indefinidamente ente empanturrada. empanturrada. com c omoo poderia esse esse novo novo ser - po pois is éju§tament éju§ tamentee a isso que queremos chegar chegar - encontrar enco ntrar o significant significantee dele mesmo mesmo pelo qual qua l se situaria situaria fora de sua cenestesia? Acrescentamos ainda que o estado de de total total dependência do ser humano no dia de seu nascimento nascimento certamente certamente não não se presta presta para para acalmar, acalmar, na mãe em questão, os mais mais arcaicos arcaicos desejos desejos de onipotência, já estimulados estimulados por po r uma experiência experiência puramente purament e narcísica da d a gravidez. gravidez. Assim, há pouca ou nenhuma possibilidade de esse futuro “sujeito” instau ins taurar rar algum “alhures” “alhure s” de sua sua imanência caótica que possa servir de significan significante te para para a unidade que ele ainda terá de con conquis quistar. tar. Ele Ele não poderá poderá nem ousará ousará entr entrar ar no desejo desejo ou assu assum mi-lo enquanto um desejo desejo que é também também desejo do desejo, isto é, desejo de ser reconhecido pelo outro, como se situa sit uarr ou se localizar em relação a sua sua própr p rópria ia situação, se essa situação se reduz a uma falta falta simplesmente simplesmente à espera de uma uma saturação saturação que a preencha e a extinga de uma vez vez por todas? E essa possibilidade será ainda menor na medida medida em que, “antes de ser um corpo despedaçado, a criança é um corpo feito feito de pedaços, pedaços, porque por que só assim assim fragmentada é que pode ficar como testemunha test emunha da lei materna; espacialmente espacial mente separada da mãe, mãe, continua continua indissoluyelmente ligada ligada a ela no nível do que qu e é da ordem ordem da funcio funcionali nalidade” dade”,,24 Não parece parece hav haver er dú dúvi vida da de que a verdade verdade e a importância importância de dess ssas as interpretações recebem uma confirmação maciça de tudo o que podemos tentar constatar e compreender do discurso e do comportamento esquizofrênicos. Encontramos Encont ramos uma uma grande ilustração disso no que dizem dizem os autores autore s sobre sobre as reações do esquizofrênico a sua imagem imagem especular. especular. Voltaremos a falar, mais adiante, da significaç significação ão capital que tem, em muitos aspectos, o estádio do espelho, tal como como descrito e interpr inte rpreta etado do por J. Lacan. Lacan. Mas Mas concebemos concebemos desdejá que, se o reconheci reconhecimento mento da própr própria ia imagem imagem especular prec precip ipit itaa a form formaação ção de um eu un unitá itário rio ima imaginá inário rio, ele ele próp próprio rio só é possíve ível quando o sujeito sujeito está está em condições condições de se propor proporcion cionar ar um significante dele mesmo que não se confimda com a imanência fervilhante de sua cenestesia. cenestesia. Ora, é precisamente precisamente a feita desse termo que que nos é revelada pela atitud ati tudee do esquizofrênico diante diant e de sua imagem imagem especular. especular. De fato, o que inicia no normal normal o processo de identificação identificação com a imagem de si si e com o que que deve decorrer decor rer dela “é o movimento movimento com que a criança criança se voltapara aqu aquele ele que a segu segurapara pedir seu seu assentimento” assentimento”(Lacan). É por intermédio do reconhecim r econhecimento ento do Outro Out ro que tem que passar o do sujeito. É na medida em que o Outro, desde desde o princípio, princípio, o reconhece como equivalente ao ‘corpo imag imaginado’ inado’que o precedeu que ele pode reconhecer
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no ego* especular seu Eu ideal. É por já ser o ego especular um objeto cobiçado, posto que investido a priori pela libido materna, que ele se transforma transforma em Eu ideal (objeto (objeto do narcisismo primário). Os avatares avatares que esse Eu ideal sofrerá no neurótico serão diversos, mas o certo é que a identidade ego ego especular-Eu ideal é tão verdadeira verdadeira no neurótico ne urótico quanto no que chamamos 'normal"’.25 Nat Natuuralm ralmen ente te,, as coisa isas são são muito difer ifereentes tes no esquizo izofrê frênico ico. Como ele não dispõe d ispõe de nenhuma significante de si mesmo mesmo que seja distinto dis tinto de sua cenestesia, sua image imagem m se lhe aparece tal t al qual é num certo níve nívell de realidade: uma constelação de carne, ossos e órgãos, ou ainda “alguma coisa que vem dos olhos”, olhos” , como uma uma emissão destes (semelhante (semelhante a outras outras excreções excreções de seu corpo, como o suor, s uor, a urina, as fezes fezes etc.), e que vai bater na superfície do espelho. Certamente não sustentaríamos que todo esquizofrênico que seolh se olhaa no espelho seja seja incapaz incapaz de fazer a seu próprio própri o respe respeito ito colocações que o “normal” “normal” usa usa em tal circunstância. M Mas as trata tr ata-se de um discurso discurso aprendido e repetido; não será preciso instigá-lo instigá-lo por muito tempo tempo para perceber que o que eele le realmente acredita ver é, de feto, feto, esse agregado fisiológico que é um prod p roduto uto de seus olhos.2 olhos. 26 O que ele vê é lão somente somente o corpo que que o outro outro original original lhe transm transmitiu. itiu. “É aquilo aquilo que, em sua história, história, substituiu substit uiu o ‘corpo imaginado’ imaginado’: é seu corpo tal como évisto na realidade pelo Outro, Ou tro, um agregado agregado muscular muscular mantido junto junto,, seg segurad rado e arti articu cula lado do pelo elos braç raços qu quee o ap apri risi sioonam ou pe pelo lo ap apar arel elhho que o contém: o que se desenha no no espelho é ele e mais o Outro...”27Trata7Tratase de um corpo “inexoravelmente castrado, posto que jamais reconhecido em sua autonomia de desejante”.28Enquanto “o normal” descobre no espelho espel ho - com toda a dialética simultanea simult aneamente mente favorável favorável e funesta que lhe está ligada (voltaremos a esse aspecto) - a imagem de um Eu ideal oferecida para sua identificação, o psicótico só pode ver ali “o lugar da castração” a que está indissoluvelmente ligado e do qual só pode fugir. Na Na verd erdad adee, o esp espelh elho san sancio ciona pa para ra o psic sicótic tico o fech fecham amen ento to sem sem ap apel elaç ação ão de “qualquer possibilidade e (de) qualquer caminho caminhopara a identificaçã identificaçãoo”.2> Se no normal, o ego especular, especular, que é um Eu-Outro, serve serve de ponte entre en tre o Eu e o Outro Outro que não sou eu, eu, essa mediaç mediação ão está absolutamente ausente no esquizofrênico, com todas as conseqüências arrasadoras que isso comporta. Se essa expressão não fosse anulada por sua própria contradição, diríamos que o esquizofrênico só se apresent apresentaa a si mesmo mesmo como um vazio vazio perp perpetu etuam amen ente te po porr preen reenccher.. er.... e qu quee nunca é preen reencchido ido. O qu quee tem tem, en entre tre outras out ras coisas, coisas, o efeito de que o objeto objet o parcial não pode ser reconhecido como veículo possível de um desejo. Assim, podemos verificar verifica r mais uma ego, assim como No original, original, ego, assim como todas as vezes vezes em que surgir este termo. (N.R.) ( N.R.)
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vez que sujeito, objeto, vez objeto, eu e outrem outrem articulam articulam os diversos diversos momentos momento s de uma dialética única, de tal sorte que qualquer alteração de um desses momentos acarret acarretaa fatalmente uma alteração correlata de todos os dem demais. Por conseguinte, conseguinte, ou esse objeto objeto parcial não n ão ultrap u ltrapassa assa o simples simples nível nível da demanda (no exemplo que leremos, “preciso de um garfo"), sem investimento libidinal - e nesse caso caso o sujeito “o percebe percebe numa dimensão de realidade bru br u ta ..., ..., esbarra nele e o reconhece à maneira de um cego"3 cego"30 -, ou o sujeito apreen apr eende de um certo valor significante significante do objeto, mas, mas, como esse valor não não pod podee ser situado sit uado num sistema sistema global global de significantes, significantes, que se fundamenta no desejo, nosso sujeito não consegue organizar esse significante significante em relação aos aos outro outross e amalgamá-lo amalgamá-lo numa numa percepção percepção que q ue aponte, no horizonte, para p ara a realidade como conjunto e como como Umwille' dele mesmo, segundo a excelente expressão de que se serve Heidegger. Isso, no exemplo que leremos, eqüivale a constatar que “um-garfo-é-umacoisá-qu coisá-que-faz-m e-faz-mal”. al”. É do que que dão dão test testemunho emunho as surpreendentes surpreendentes colocaçõ colocações es de um paden padente te de Picra Picra Aulagnien “Olhe, “Olhe, para para mim mim,, ou ou um garfo garfo é madeira madeira mais aço, aço, e é o uso que os outros outro s fazem fazem dele que qu e me permite permite compreender compr eender para que serv serve, e, ou então, às ve veze zes, s, é uma uma coi coisa sa que espeta, espeta, que penetra, penetra, mas aí a palavra garfo já não tem para mim o sentido que tem para os outro?."31 Isso no parecerá ainda mais importante na medida em que compreendermos melhor o sentido e a importância que normalmente são próprios da imag imagem em especu especular lar.. Que sign signif ific icaa ela exatament exatamente? e? Para sabê sabê-lo, referir-nos-emos em primeiro lugar ao autor que mais insistiu na contribuição decisiva que ela fornece para a constituição do si mesmo. sabemos sabemo s que o reconhecimento da image imagem m especular especular ocorre numa época época da vida vida (± ( ± 6 meses eses)) em que a criança criança ainda continua quase totalmente à mercê da “impotência impotência motora e [daj dependên dependência cia da alimentação"? alimentação"? Nesse Nesse estádio de desenvolvimento, qualquer expériênda de si mesmo como unidade corporal unidade corporal vivida e vivida e identificáv identificável el continua continua vedada vedada ao sujeito. Ele não pode, pode, se ousam ousamos os dizêdizê-lo lo,, sentir-se sentir-se um interiormente. interiormente. Poi Poiss be bem, m, eis que oferecida, à maneira arquetípica de uma essa essa unidade lhe é subitamente oferecida, à Gestalt imaginária imaginária ser entendida aqui imaginária de si, si, devendo a palavrá palavrá imaginária ser no duplo sentido sentido que a remete, simultanea s imultaneamente, mente, à ordem da imagem imagem,, de um lado, lado, e à do fictí fictído do ou do irreal, de outro. outro. A imagem especular fornece unidade a cada cada um, portan portanto, to, a experiência inaugural de si si mesmo mesmo como unidade e totalidade designáveis, designáveis, e e a fornece no registro registro da manifestação. O “afã júbil júbilató atório rio"" de qu quee é sem sempre pre acom acompa panh nhad adaa é, com toda certeza, “revelador de um dinamismo libidinal que fora fora problemático problemático até até então”. então”.333Esse advento * Em alemão, no original. Significa indignação. (N.R.) indignação. (N.R.)
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do que que efetivamente efetivamente devemos devemos chamar de objetivação objetivação e unidade do do si-mesmo si-mesmo produz produz-se -se,, portanto, antes (se bem que q ue pouco) da dass exp experi eriênc ências ias de objetivação e unidade que entram emjogo emj ogo nas dialéticas dialéticas da identificação com outrem, outrem, e antes antes também t ambém do esboço progre progressivo, ssivo, ainda mais tardio, do acesso, por intermédio da linguagem, à função de um sujeito univeis univeisalizá alizável, vel, tal como como é apontado ap ontado e constituído pelo uso do pronome pessoal pessoal da primeira primeira pe pess ssoa oa.. Mas que esse esse imens imensoo benefíci benefícioo nos seja originariamente outorgado à maneira de um engodo engodo visual visual não deixa deixa de ter te r conseqüências conseqüências tão tã o assustadoras quanto quanto decis decisiva ivas. s. É que, antes antes de de mais mais nada, a criança, criança, no momento em que a ela se manifesta manifesta pela primeira vez vez sua figura e sua consistência de sujeito, pode p ode também e ao mesmo mesmo tempo aplicar a si o famoso famoso dito de Rimbaud: Rimbaud: "Eu " Eu é um outro". outro ". A revelaçã revelaçãoo constitutiva de si está ligada a uma dimensão intrinsecamente intrinsecamente suicida suicida desse mesmo mesmo sujeito, tal t al como o proclama desde tempos imemoriais imemoriais de nossa cultura o mito de Narciso, Narciso, muito embora, segundo segundo esse mito, a noção noção mortífera mortífera da imagemde si tenha ainda outras out ras raízes, que logo teremos de esclarecer. A experiência inicial da ipseidade, portanto, é também e identicamente identicamente a descoberta da alteridade alteridade de si si instalada em si. si. cert certame amente nte,, e isso faz diferença, a alteridade alte ridade especular especular ainda não n ão é a experiência do outro plenamente real e autenticamente outro. Esta depende de uma instância instância posterior posterior e disti distinta ntado do desenvolvim desenvolvimento ento e da experiência experiência do sujeito. sujeito. É po possív ssível, el, como verem veremos, os, que que a regressão ou a fixaç fixação ão inconscientes inconscientes numa numa experiênc experiência ia puramente pura mente especular e specular da alteridade alteridade constituam o mecanism mecanismoo fundamental fundamental em que começa começa a paranóia. Tudo isso está longe de esgotar esgotar a significaç significação ão que atribuímos atribuímos à imagem especular. O essencial essencial desse desse sentido talvez resida resida principalmente principalmente no fato de que a revelação revelação de si, si, por po r ser inaugurada naor n aordem dem de um logro visíve visível,l, enreda o eu em todas as armadilhas da alienação objetivante, ou, se preferir preferirmos mos,, da objeti objetivaç vação ão alienant alienante. e. A pa part rtir ir daí, serão grand grandes es a tentação e a ameaç ameaça, a, para o sujeito, no momento em que começa começa para para ele a obra de auto-significâ auto-significância ncia que será toda a.sua existênc existência, ia, de fugir da tarefa, tarefa, enganar a si mesmo mesmo e substi s ubstituir tuir essa tarefa por outra, ao mesmo tempo tranqfiilizadora e sisífica, que consistiria con sistiria em querer querer igualarigualar-se se em termos absolutos a sua própria própria imagem imagem especular, especular, que o definiria para sempre e sem apelação apelação "tal como nele mesmò a eternidade eternidade o mod odifica''. ifica''. Assim Assim,, ele seria - imaginariam imaginariamente ente - isto ou aquO aquOo, como se é bretão bretão ou ou careca. careca. Ora, Ora, é precisamente precisamente a impossibilidade impossibilidade radical radical de se unir unir em termos absolutos a essa imagem imagem ideal de si (a que que é prom promovida ovida a imagem especular), de coincidir puramente puramente com ela, que desencadeia contra con tra essa mesma imag imagem em a agressivida agressividade de do sujeito, decepcionado de cepcionado por p or não pode poderr alienar-se nela para p ara valer. valer. É então então que Narciso vem a submer gir nela, na expectativa expectativa contraditó cont raditória ria de destruir destru ir essa image imagem m, penet penetran ran
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do-a,ou ou de deixa deixarrquesó da subsista, subsista, fazendo fazendodesa desapar parec ecer eraquelequedeveria deveria igualá-la. De qualquer modo, aí está está a experiência analítica pa para ra nos inform informar ar que a imagem imagem especular original desempenh desempenhará ará para para sempre sempre o papel papel de princeps umsubstrato substrato do eu ideal, ideal, do qual ela é não apenas apenas o significante significante pr como, como, de certa forma, forma, a própria própria realidade, realidade, se bem que à mane maneira ira do engodo. engodo. imago (no sentido Por isso 6 que ela realmente merece o título de imago (no propriamenteanalítico analítico do do termo), termo), tendo que ser para para o eu "a fonte fonte das das é, para retomarmos um termo identificações identificações secundár secundáriias"34 El Elaa é, particularmente feliz de Lacan, “minha estátua”. Mas Mas a ima image gem m especular só tem efeito efeitoss prospectivos, se com isso isso entendermos os que ela comporta para a estrutura da subjetividade em devir.A ela se ligam ainda ainda algum algumas as conseqüências conseqüências retrospectivas ou "só "só depois”. Com Com este este último último termo termo visamos a tudo o que que Freud Freud,, a propósito, propósito, aliás, de de outros fenômenos, fenômenos, designo designouu sob o títulodenachtrüglich. título denachtrüglich. Os Os autores do Vocabulário definem Vocabulário definem por esse conceito tudo o que faz com que “experiên experiência cias, s, impressõese traçosmnêmic mnêmicos ossejam uberiormenteremanejados em função de novas experiências, do acesso a um outro grau de desenvolvimento. Pode então então ser-Ihes ser-Ihesconferid conferida, a, ao mesm mesmoo tempo que que um novoo sentido, nov sentido, um umaa eficácia psíquica” psíquica”.3 .35 Dentre Dentre outros outros exemplos exemplos do só-dep só-depois, ois, Freud Freud fornece o da criança criança pequenaqueé testemunh testemunha, a,semcompreendê-la, compreendê-la,de uma umacenasexualcuja significação real não consegue consegue perceber perceber.. Esse acontecimento só adquir adquiree importância traumáticadepois epois,, quando, chegada chegada a maturidade maturidade sexual, sexual, o sujeito sujeito tem oportunidade de de observa observarr uma uma cena análoga à primeira, que lhee permite remanej lh remanejar aresta última e inseri-la inseri-la em seu registro verdadeiro, com todas todas as conseqüências conseqüências que isso isso acarre acarreta ta par paraa ele ele.. Assim, Assim, podemos concluir concluir que "oremanejame remanejamento ntosó-dep só-depois ois é precipitado pela ocorrência de acontecimentos e situações, ou por uma maturação orgânica, que permit permitem em ao sujeito sujeito acedera um novo tipo tipo de de significações e reela reelabor borar ar suas experiências anteriores”.3* Isso pode podeser aplicado aplicadoà imagemespecular. Sua instauração instauração transform transformaa "só-depois" a experiência pré-especular do "sujeito" na de um corpo despedaçado, fragmentado, cuja atualidade anacrônica (para nós) é um dos marcos mais seguros da esquizofrenia; “fantasias de desmembramento, de desintegração desintegração do corpo, dentre dentre as quais quais as da castração castraçãosão são apenas apenas uma imagem valorizada por um complexo particular”,37o qual, por sua vez, nachtrügich. Ocorpo também tambémopera operanachtrügich. corpo“apa “aparece receentáosob sob a formademembros desarticulados e dos orgãos representados em exoscopia, que ganham asas e se armam para as perseguições intestinas para sempre fixadas através da pintura pelo visionário Jerônimo Bosch".38 Logovoltaremosa tudoisso isso,,quando quandotivermosquefalarda daimagem imagem
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cenestésica da unidade corporal. Antes Antes,, porém, ainda ainda temos que esclarecer alguns traços da imagem especular no que ela prepara “a virada do eu especular em eu social", e também no que as conseqüênc conseqüências ias dessa virada repercutem, em particular, sobre a natureza do conhecimento. É que, na verdade, verdade, a experiência experiência da imagem imagem especular determi determina na a existência de um par, par, mas de um par um par imaginário. imaginário. Nesse par, o mesmo e o ou outr troo são inint in interru erruptam ptamente ente reciprocáveis reciprocáveis e revers reversíve íveis. is. Aquele Aquele que vê vê encontra encontra sua identidade identid ade na imag imagem em,, mas essa essa identidade identida de dele é, é, de certa maneira, maneira, seu outro. outro. Inversam Inversamente, ente, o “eu” que ele assume na imagem imagem qu qualifica alifica como outro outro o olho olho e a cene cenestesia stesia que o vêem vêem.. Esse par é narasico, narasico, no no sentido de que o interesse interesse pelo outro outr o (minha imagem imagem)) é essencialmente trazido e alimentado alimentado pelo interesse que aquele que vê tem em si mesm mesmo, o, alimentado alimentado por ele mesmo smo. Qu Quem em vê, vê vêaa si Eu me vejo, vejo, mas é esse ver que me permite (me permitirá) dizer “Eu”. Além disso e acima de tudo, o outro do par é privile privilegia giado do,, já já que que desempenha desempenha o papel de norma, deimago, deimago, do do que tenho que ser... para ser. ser. As modalidades de surgimento do par imaginário pelas quais, no surgimento do “eu", evidencia evidencia-se -se também também que o mesmo mesmo e o outro outro estão inextricavelmente ligados, ligados, explicam explicam os traços principais principais que que marcam o par na origem. Esses traços são o narcisismo, narcisismo, o transitivismo transitivismo e a agressividad agressividade. e. Comefeito, o investimento libidinal da figura figura do semelhante semelhante só existe porque a figura do semelhante é a minha. inha. Esse investimen investimento to se faz ori^n ori^nari ariamen amente te em mim, mim, e portanto, portanto, é naxcísico^Em segund segundoo lugar lugar,, tudo o que se determina de um membro membro do par pode ser imediatamente imediatamente voltado para o outro, outro , e vice-v vice-vers ersa; a; entre ent re os membros membros do par ex existe iste,, pois, um transitivismo transitivismo radical, radical, o que estar estaráá na origem do fenômeno de projeção p rojeção no sentido estrito.4 estrito. 40Por fim, fim, o desejo e a impossibilida impossibilidade de de apagar qualquer qual quer diferença entr e ntree os termos do par geram nele uma agressiv agressividade idade destruidora, destruido ra, que, incida no termo termo que incidir, será sempre auíodestrutiva. Logo, Logo, é evidente evidente que, que, se vier vier a se constituir consti tuir - como como é normal - um par entre mim e um outro não-im -imag agin inár ário io,, essa co cons nstit titui uiçã çãoo terá sua sua font fontee em meu vínculo com a figura do semelhan semelhante te e manifestará, manifest ará, por sua sua vez vez,, todas as características originalmente próprias do par especular. Se porventura porventura o par não-i não-ima magin ginário ário não chega chegarr a ser outra co coisa isa senão um decalque do par par especular, esses traços ficarão ligad ligados os a ele. Já o afirmamos: afirmamos: o paranóico é aquele em que toda a relação relação com outrem é, estruturalmente, uma reprodução do par especula especular, r, compreende-se, compreende-se , por conseguin conseguinte, te, as descrições descrições que dele nos traça a literatura litera tura psiquiátrica. psiquiátrica. E, notadamente, notadamente, a surpre surpreende endente nte aliança que nele desenham, desenham, sob o signo da da projeção, a estenia, o ciúme, ciúme, o homossexu homossexualismo alismo (que não é forçosamente patente patente)) e a inabalável convicção convicção de estar-se estar-se movendo movendo na evidência evidência absoluta absoluta de um mundo maniqueísta maniqueísta,, certeiro e inalterável. inalterável. É ainda por isso que tantos
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paranóico paranóicoss manif manifesta estam m uma predileçã predileçãoo por escolher escolher para seu objeto de ódio e de perseguição (supostam (supostamente ente sofrida, e na verdade exercida) exercida) esse símbolo símbolo perfeito pe rfeito do outr o utroo especular que q ue é o vizinh vizinho. o. A Sra. Sra. T. se queixa queixa deser de ser alvo do mau procedimento de uma vizinha vizinha que, por puravaaláàúe, pura vaaláàúe, está-lhe “roubando” “rouba ndo” o marido marido.. Esse marido pega pega o trem todos tod os os dias ãs cinco cinco horas da manhã. manhã. Na realidade, realidade, garante a paciente, ele só parte pa rte às seis horas e passa secretamente uma uma hora hora em companhia da suposta rival riv al Pôde ela verificar esse fato? Não exatamente. Às cinco horas, o marido efetivamente toma a direção da estação estação ferroviária, ferroviária, mas ela ela “sente" sen te" que ele finge finge ir pa paia ia lá e aproveita a obscuridade obscuridade para dar mda-volt mda-voltaa e ir visitar a amá amásia. sia. Que Q ue provas tem ela? Milhares de provas, provas, e principalment princi palmentee a de que, uma vez, vez, olhando olha ndo pela vidraça para a casa casa da vizinha (o que ela faz quase que dia e noite n oite), ), enxergou, enxergou, às dez horas, o espartilh espa rtilhoo dessa vizinha, vizinha, que “continuava jogado” na mesa da cozinh cozinha. a. Como lhe respondemos respondemos que isso isso não não prova de d e maneira alguma que essa peça já estivesse estivesse lá cinco horas antes, nem muito muito meno menoss queaintere queai nteressad ssadaseja asejaama amanted ntedeseu eseu marido,ela nos dirige dirige um sorriso de piedade piedade e retruca com ar superior: superior: “como “como o senhor é ingênuo, bem se vê que não conhece as as mulheres.” mulheres. ” Poderíamos efetuar efetu ar aqui as transmutações que Freud aplica às às afirmaçõe afirmaçõess de Schreber, Schreber, e traduzir o “Ela me detesta” detes ta” por p or um “Eu a amo” originário. É que logo logo salta aos olhos que qu e a vigilân vigilância cia contínua contínu a sobre sob re a vizinha não passa de um pretexto prete xto para para se ocu ocupar par de dela la e espi espiáá-la la ince incess ssan ante tem men ente te,, a fim fim de surp surpree reend ndê-l ê-laa em sua intimidade; intimidade; quanto qua nto às intrigas que a paciente alega alega sofrer por parte p arte dela, e na verdade lhe inflige, elas camuflam como ódio um amor inconsciente. chegamos, portanto, à colocação do problema do terceiro, testemunha testemunha e garante da da fala fala.. Se procuro procuro conhecer e dizer a verdad verdade, e, tenho que me empenhar constantemente em em só enunciar enunciar o que um outro - que é todo e qualquer q ualquer Outro - enunciecomo eu. Uma demonstra demonstração ção ou uma tese de qualquer proposição quesó que só se seja ja verdadeira para para mim seráips será ipsoofacto facto falsa. falsa. Ocorre Ocorre que, como como sei que o sentido sentido da totalidade totalid ade não é um sentido senti do acabado acabado e fechado fechado,, e como como também sei que não sei tudo tudo o que há há por por saber, não duvido que a coincidênc coincidência ia de meu dito dito com o do Terceiro-test Terceiro-testemunha emunha seja apenas um esforço em movimento, movimento, uma empreitada empreita da precária, precária, longa e difícil em que, de qualquer maneira, o sucesso é muito parcial e continua continuamente mente ameaçado pelo própri próprioo rigor rigor de meu esforço esforço de exp expressã ressão. o. Qra, a coisa coisa se pa passa ssa de modo completamente diferente para o paranóico. paranóico. Este coincide coincide por po r situação, situação, por direito e por defin definiçã içãoo co com m a posição posição do terceiro-testemunha terceiro- testemunha e garante. Essa posição posição,, o paranóico a ocupa como um trono, por um privilégio tão inalienável quanto natural. Como se dizia antigamente sobre o Santo Ofido, ele é “definidor” da veidade. veidade. O sentido das coisas coisas,, de mim mesmo mesmo e do mundo não está po porr serconstituído serconstituído através
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da busca de todos e por meus meus próprios própri os atos, mas mas está ali, dado como como um quadro, ou, mas exatamente exatamente (já que compreender um quadro dessa dessa maneira maneira não compreender nada de pintura), pintura), como a tabela de multiplicar multiplicar no manual é não de um estudante estudante primário. Basta ler em voz voz alta para os outros outros o que estamos estamos vendo - e vemos vemos tudo - para que a verdade seja dita. O fato de uma roupa roup a íntima íntima feminina estar est ar colocada às dez horas da manhã sobre uma mesa de cozinha tem um sentido claro, claro, certo e evidente evidente como como 2 + 2 = 4. Está escrito na tabela tab ela do mundo, ou quem qu em sabe sabe nas estrelas. estrelas. Quem não o vê não passa pass a de um ingênuo, ou, mais provavelmente, provavelmente, de um perverso que compactua compactua com a injustiça, a mentir me ntiraa e o vício vício.. Mas Mas essa "visão" onitempo onit emporal ral do sentido sentido das coisas e de um mundo do qual estão banidas toda indeterminação, indeterminação, toda ambigüid ambigüidade, ade, e sobretudo sobretudo toda transcendência, transcendência, como como não reconhecer nela um tipo de experiênc experiência ia que nos remete reme te diretamente diretamen te à percepção 'd 'da imagem imagem especular? especular? Vamos Vamos ainda mais longe: ao olha olharr esse mundo como o geôrnetra olha suas figura figuras, s, o paranó pa ranóico ico se vê e se s .tua nele como um objeto, talvez um objeto objet o mais mais importante importante que que os outros, decerto, mas mas cujo sentido é tão tão nítido e translúcido translúcido quant qu antoo o de todos todos esse outros outros objetos.4 objetos .41Kierkegaard perguntava pergunta va quem poderia poderia dize dizerr-se se cris cristã tão. o. O pa para ranó nóic ico, o, por sua vez, no nome meia ia sem sem he hesi sita taçã ção, o, um por po r um, um, todos todos os cristãos, e principalmente, princ ipalmente, toda a imensa massa dos hereges. Seu discurso só é discurso discurso na aparência aparência (como (como no esquizofrênico, esquizofrênico, mas mas de de outra outra maneira). maneira). Na verdade, verdade, esse “eu" que o enuncia não é um “eu" verdadeiro, já que supostamente coincide coincide de modo absoluto com um dos objetos a serem vistas no quadro-espe quadro-espelho. lho. Coisa oisa que justamente não pode acontec acontecer er com nen nenhum hum “eu" real, ainda que isso possa, possa, como explicam explicamos, os, ser sua esperança e sua ambiç ambição. ão. O paranóico p aranóico realiza realiza uma alienação que para as incerteza incertezass do normal normal e do pseudo-n pseudo-norm ormal al nunc nuncaa é mais mais que uma esperança incessantemente malograda. Porque a objetivação plena e total do “eu" “eu " não nã o passa de uma quimera absurda, uma negação negação da condição condição de sujeito; só encontra apoio no logro da imagem especular. O sujeito, de resto, é tão tão pouco pouco passível passível de uma objetivação exa exaustiv ustivaa que há há quem extraia disso argumente» para sustentar que não existe “eu" algum. O que nos no s leva leva a reconhecer reconhe cer mais mais outr o utraa conseqüênci conseqüência. a. Acabamos Acabamos de mostrar que, para para o paranó paranóico ico,, ele próprio próprio e todos os sujeito são são objetosobjetossi-mesm si-mesmo. o. Ora, Ora , é evidentement evidentementee mais mais fácil deslizar de um si para outr o utroo si do que encontrar enco ntrar uma pa passa ssage gem m do “eu" para o “tu" ou do “tu” “t u” para o “eu", o que é sumamente sumamente benéfico benéfico para a projeção. Não há dú dúvi vida da,, portanto, de que “a tendênc tendência ia pe pela la qua quall o sujeito restaura a unidade perdida de si mesmo mesmo tem lugar desde a origem no centro cent ro da consciência. consciência. Ela é a fonte font e d e energia de seu progresso mental./vogresso
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cuja cuja estrut estrutura ura é determinad determinadaa pela predominância dasfunções funções visuais”.«É visuais”.«É a unidade original de um “eu” objetivável, constituída e descoberta na imagem imagem especular, que instala insta la na dimensão dimensão do visív visível el a norma norma pr priinc ncep epss de todo objeto, tornando-se o objeto, por sua vez vez,, a norma norma de d e todo tod o saber theorein no conhecimento vem canoni e de toda verdade. verdade. A primazia primazia do theorein no zar esse esse sentido originário. originário. Entretan Entr etanto, to, sabemo sabemoss que a referência ao ter te r ceiro, de que qu e já falamos falamos mais mais acima, acima, é também também um componente componente essencial da verdade. Como compreen co mpreender der essa referência e onde on de se deve deve situá-la? A esse respeito, vamos formular-nos a questão qu estão de saber o que fàz fàz a experiência especular e ainda plenament plen amentee narcísica do ou outr troo bascular para uma uma ex expe periê riênc ncia, ia, não mais ais imagi imaginár nária, ia, porém real, real, da relação relação entre ego e alter ego ego.. Deve ser, ser, com certeza, certeza, a entrad entradaa no complexo complexo de Édipo Édipo e sua dissol dissoluçã uçãoo correta. Todavia Todavia,, entre ent re o ou outro tro especular e o ou outro tro a ser considerado, mais mais tarde, plenamen plen amente te “objetai”, “objetai ”, existe existe um intermediár intermediário io mediador e transicional transicional cuja existênc existência ia não deixa deixa de esta estarr relacionada com o problema do terceiro. Esse mediador é encarnado encarnad o pelo personagem do irmão (ou (o u daquele que que possa fazer as vez vezes es dele na história his tória do sujeito), afortiori fortiori se se porventura porventura esse irmão for gêmeo. gêmeo. Acrescentamo Acrescentamoss que, no no sentido sentido aqui entendido entendido po porr nós, todos todos os irmãos irmãos são um pouco gêmeos gêmeos,, assim assim como, como, para a crian criança ça,, todos os homólog homólogos os etários são um pouc poucoo irmão irmãos. s. É que o irmão é o “semelhante” primeiro (ou segundo, se atribuirmos esse qualificativo qua lificativo ao dupl duploo especular) que que se parece infinit infinitamente amente mais mais conosco conosco do que todos todos aqueles que chamamos chamamos “nossos semelhantes”. semelhant es”. Ele está, por excelên excelência, cia, ap apto to a fornecer for necer o outro outro pólo da realidade especular, tão logo esta tende a se transportar transpo rtar do logro para a realidade. realidade. O irmão éa é a image imagem m encarnada. É desnecessário, aliás, insistir na evidência e na especular encarnada. É freqüência, freqüência, nas relações relações interfraternas interfraternas,, das características características descritas descritas como constitutivas da imagem especular. Ora, por p or força força desse irmão sobrevêm, sobrevêm, mais mais cedo ou mais tarde, ta rde, a intrusão. A intrusão. A imagem imagem especular certamente não nã o é intrusa; intrusa; ao contrário, é bem bem-vin -vinda da,, a despeito despeito da dass amea ameaça çass que pode trazer e que fatalmente fatalmente traz. traz. O colega colega de brincadeiras e o irmão i rmão podem podem se manter mant er por algum tempo, em razão da identificaçã identificaçãoo de estilo especular especular que o sujeito projeta proj eta neles, neles, como o simétrico invertido desse sujeito. Mas isso, isso, de qualqu qualquer er modo, não pode durar. Em algu algum m momento, momento, “há uma uma disco discordâ rdânci nciaa que intervé intervém m na satisfação especular”.4 especul ar”.43Entenda-se, Entenda-se, po porr exemplo, exemplo, que que a intervenção intervenção do pers person onag agem em mate matern rno, o, fatal fatalme mente nte e qu queir eiraa ou nã não, o, rompe rompe ou com compro prom mete ete a simetria ou a reciprocidade reciprocidade entre o sujeito e seu irmão espec especular. ular. E esse esse personag personagem em materno é precisamen precisamente te aquele aquele em quem quem está inves investid tidaa a afetividade originária do sujeito, e de tal maneira que, para ele, nem sequer constitui propriamente um outro. Independentemente do que qu e faça, faça, a máe introduz entre os irmãos a diferença e a desavença. O duplo, duplo, a partir p artir de
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então, transmuda-se em intruso, intru so, em rival. rival. Torna-se um “terceiro “te rceiro objeto o bjeto que substitui a confusão confusão afetiva afetiva,, bem como a ambigüidad ambigüidadee especular, especular, pd pda rivalidade de uma situação triangular".4 triangular" .44Dá-se então então que a relação relação du dual al e o duplo especular se estruturam estr uturam de acordo com um primeiro triângulo triâng ulo gerador do Outro. Ob Observ serve-se e-se,, no entanto en tanto,, que o ou outr troo aqui visado visado ainda não atinge a alteridade plena e distante do terceiro legislador legislador e paterno, que levará levará a constituir o conflito edipiano. edipiano. O terceiro frater f raterno no rouba ro uba sem direito; é um importuno de fato. fato. O pai, ao contrário c ontrário,, proíbe proíbe em termos absolutos absolutos justamente aqu aquilo ilo sobre o que detém e exerce exerce o direito. Em lugar lugar do regime de uma selva competitiva mais mais ou menos bem apaziguada pela mãe, mãe, e na verdade verdade nunca apaziguada apaziguada,, o pai instaura insta ura o regime da lei, da pro proibiç ibição ão e do nome. O co conf nfro ront ntoo com esse esse paié pai é qu quee irá irá real realm men ente te rem rematar atar a identidade identidade do sujeito sujeito,, que, até esse momento, momento, ainda está apoias apoias a camin caminha ha Enquanto isso, isso, porém, o terceiro fraterno, rival e semelhante (semelha (semelhança nça que não marca o pai em nenhum nenhu m grau, exceto na medida em que ele goza goza just justam ameente nte do privil iviléégio qu quee o suje sujeit itoo deseja rec reclam lamar, mas a qu quee será será foiç foiçaado a renunciar), o terceiro tercei ro fraterno f raterno constitui sua intrusão intrus ão como como um desafio desafio lançado lançado ao sujeito. Esse intruso, de d e fato, coloca coloca sua vítima vítima diante dia nte do que Lacan chama chama de uma “alter “alternati nativa”. va”. Dessa alternativa alternativa dependerá dependerá o destino destino da realidade e, mais mais ainda, o do sujeito. Isso porque, ou o u bem o sujeito suj eito procurará recuperar recuperar “o objeto materno, materno, e se apegará apegará à rejeiç rejeição ão do real real e à destruição destruição do outro" outr o" - e é justamente justam ente esse o sentido das regressõe regressões, s, por vezes esp espetac taculare lares, s, a qu quee assist sistim imoos class lassic icam amen ente te no irmão irmão mais ve velh lhoo quando do nascimento nascimento de um caçula caçula -, “ou bem, bem, leva levado do a algum outro objeto, ele o recebe sob a forma característica do conhecimento conheciment o humano, huma no, como objeto objeto comunicáv comunicável, el, já que que concorrência implica ao mesmo tempo rivalidade e concordân concordância; cia; mas, mas, simultaneamente, ele reconhece o outr o utroo com quem quem é travada a luta ou firmado firmado o contrato; em suma, suma, encontra ao mesmo mesmo tempo o próximo e o objeto socializado. Também nisso o ciúme humano se distingue, pois, da rivalidade rivalidade vital imediata, imediata, já que forma seu objeto obje to em vezz de ser determinado po ve porr de d e, revela revela-se -se como como o arquétipo arquétipo dos sentimentos sociais."4 sociais."45O que que quer quer dizer dizer que, ao aceitar aceitar a prova da d a concorrência e da luta, o sujeito dá um primeiro passo passo em direção ao abandono eà e à superação da união simplesmente dual, já que se reconhece, ao menos parcial e prov provis isor oria iam men ente te,, excluíd luídoo d e li Essa Essa ne neccessi essiddad adee o “co cond nduz uz para um outro objeto", diferente do que foia até então, então, para para ele, o único objeto, ao mesmo mesmo tempo que ele ele mesmo. mesmo. Com esse novo novo objeto objeto instala-se uma comunicaçã comunicaçãoo a parti pa rtirr do momento em que o sujeito sujeit o se compara com ele. ele. Os irmãos, irmãos, doravante, formam com o personagem materno, mat erno, senão senão uma sociedade, ao menos seu esboço. Oontudo, Oo ntudo, e é fáci fácill compreendê-lo, compreendê-lo, “o grupo familiar, familiar, reduzido à mãe e à fratria, desenha um complexo psíquico em que a realidade tende a
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permanecçr permanecçr imagin imaginaria aria ou ou,, no máx áxim imo, o, abstrata”.4 abstrata”.46 "Imaginária” e “abstrata” porque somente somente o Édipo e sua Auf Aufli lieb ebiimg mg' ' situarão situarão plenamente o sujeito e, por conseguinte, irão introduzi-lo numa sociedade verdadeiramente simbó simbólica, lica, marcada marcada pela lei, lei, que tomará esse sujeito sujeito apto apto a se shuar shuar no real real e a enfrentá-lo. enfrentá-lo. Essa seria, seria, sem dúv dúvida, ida, a essência do que a experiênc experiência ia especular especular traz, estruturalmente, estr uturalmente, para a constituição const ituição da subjetividade. Antes de empreendermos o estudo do momento decisivo dessa constituição, cabe-nos esclarecer ainda um outro aspecto do que acabamos de dizer. Na verda verdade de,, a imag imagem em especu especular, lar, embora embora funde funde a unidad unidadee corporal, não ê a única a contribuir para a experiência dessa unidade. Pois é fato que a unidade de nosso corpo não é apenas vista, mas também interna int ernament mentee sentida. Os psicólogos psicólogos e fenomenólogos observaram há há muito mui to tempo que o espaço espaço unitário unitár io interno inte rno de nosso nosso corpo apresenta característica característicass muito par parti ticculare lares. s. Por exemplo, lo, os ob obje jeto toss contid ntidoos ou reu reunidos idos nu numa ma sup superfíc rfície ie externa aparecem uns ao lado do lado doss outros; são justapostos e não comportam uma referência inte in terna rna recíproca; recíproca; ficam muito próximo próximoss sem se imbricar. O cachimb cachimboo fica dentro ou ao lado lado do cinzeiro cinzeiro,, que que por por sua vez ficacolocado colocado sobr so brea ea mesa. mesa. O mesmo não ocorre, ocorre, em absoluto, com a superfície global que nosso nosso corpo constitui. constitui. Este Este possui uma uma unidade típica, no sentid sen tidoo de que seus seus elementos, nossos membros, membros, por exemp exemplo, lo, não se acham apenas ap enas distribuídos pa partes extrapartes rtes,, mas mas remetem constantemente uns aos outros. outros . Não basta, basta, portanto, dize dizerr que o corpo corpo interno é sempre sempre e normalmente vivido como uma Gestalt, há Gestalt, há que acrescentar que se se trata de uma Gestalt da qual cada cada elemento como que “represe “representa nta”” todos os demais, demais, A prova disso é que, a todo todo inst i nstante, ante, a posição de qualquer membro membro de de meu corpo me “informa” “informa” imediatamente imediatamente sobre a posição de qualquer qualquer outr outroo membro.47 membro.47 Essa unidade, contudo, é imaginária, relativa imaginária, relativa ã ordem ordem da imagem imagem.. Une à referência a participação viv vivid ida. a. Por este último traço, traç o, a unidade uni dade corporal se diferencia da im imagem especular. especular. Esta se manifesta e se designa designa como sendo eu mesmo, m mas as sem sem consti constituir tuir com esse eu mesmo mesmo uma uma unidade sentida. Aliás, sentida. Aliás, é por p or isso que a fusãoco fusão com m ela ou nela é nela é uma tendência, e tendência, e não uma experiência, cujos elementos e problemas vimos tentando compreender. *Como comenta Lacan, L acan, “em alemão, alemão, esse term te rmoo signifi significa ca ao mesmo tempo temp o negar, suprimir, suprimi r, Seminário, livro 1, Os escritos mas também conservar na supressão, suspender.”Cf. O Seminário, técnicos de Freud , Jorge Zahar, 1979, p.77. (N.R.)
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Quanto ao esquem Quanto esquemaa vivid vividoo da unidade corporal, podemos considerálo como uma antecipação e uma preparação da ordem mais propriamente simbólica simbólica na qual ele poderá introduzir. Se, Se, de fato, cada cada parte do corpo co rpo é sentida sentid a como sendo qualquer outra, outr a, essa identificação, ainda assim, assim, se somente de uma uma certa certa maneira. maneira. Nesse coloca tão somente Nesse ponto, estamos como que a meio caminho entre entr e a identidade e a relação metafórica. metafórica. A referência interna inter na de que qu e falamos falamos não se redu reduz, z, portanto, por tanto, nem à relação r elação do mesmo mesmo com o mesmo, mesmo, nem tampouco à relação que, para para a criança, liga o carretei carret ei de linha ao corpo materno. O imaginário imaginário da unidade corporal c orporal vivida vivida só poderá levar levar o sujeito ao simbó simbólic lico, o, ulteriormente, ulteriormente, se a identifi identificaç cação ão que lhe é inere i nerente nte estiver constituída como uma uma identificação identificação por referência, e não não como uma identidade real. real. Pois Pois bem, bem, é de grande interesse assinalar que os psicóticos, em quem quem o fracasso fracasso total tota l ou relativo do recalcament rec alcamentoo primário acarreta uma uma falta falta de acess acessoo ou um acess acessoo perturbado à ordem propriamente lingü lingüíst ística ica,, pela con confus fusão ão que eles eles introduzem introduzem entre o significante e o significado, manifestam, de certa maneira, uma perturbação análoga (quanto (quanto a sua estrutura) estrutura) do esquema esquema corporal. corporal. Esse Esse distúrbio pode aparece apar ecerr numa modalidade modalidade dupla. Ou alguns elementos elementos do esquema são dele excluídos ou cindidos - como na doente que não era cega, mas se pretendia atingida atingida pela pela ceguei cegueira ra porque via via seus seus olhos olhos projetados em seu campo visual, visual, o que a imped impedia ia de ver qualquer qualquer outra outra coisa ou a identificação identificação por referência é sentida sentida,, consci consciente ente ou inconscien inconscienteme temente, nte, como como uma identidade identi dade real real pura e simples simples.. Por Por exemplo, exemplo, todos os orifícios orifícios corporais corporai s são uma única e mesma mesma cavidad cavidade, e, da qual a boca fornece o local prin prince ceps ps,, como no caso da telefonista que usava unicamente o verbo “snoepen"« para design designar, ar, indiferente indiferentemente mente,, o feto de comer ou fumar, fumar, as relaçõ relações es sexuais e a defecação. O que essa fragmentação ou essa falta de articulação da imagem corpora cor porall colocam em questão é, mais uma vez vez,, a inexistência do que, na falta de coisa melhor, denomin denominamos amos de “a posição posição como terceiro tercei ro perant pe rantee si mesmo” mesmo” ou “o lugar lugar outro”. outro”. A conformação conformação correta correta da imagem do corpo corpo é inseparável de uma emergência emergência fora da cenestesia; cenestesia; referir refe rir não é sentir. Mas essa emergência só se dá dá quando essa cenestesia é apont a pontada ada desde e a partir par tir de um outro delamesma, que é também seu negat negativo ivo.. Somente esse negativo permite permite e engendra o vaivém vaivém do movimento da identificação, sem o qual não há esquema esquema corporal correto, corre to, já que, quando falta esse movimento, a identificação se cristaliza como identidad ident idadee real e reificada, reifi cada, do mesmo modo que não con consegu seguee superar o despedaçamento despedaçamento originário. Mas a part pa rtir ir daí daí fica fica também vedada a passagem passagem ulteri ult erior or da imagem imagem para a metáfora, metáfora, o simbólico simbólico e a linguagem linguagem.. Todos os caminhos caminhos intermediá intermediários rios partess extraparte parte se interrompem. entre en tre a identidade identid ade e a pluralidade pluralidade do parte Nesse Nesse sentido, os enu enunci nciado adoss de alguns alguns doentes citados citados há po pouco uco se
acesso à linguag linguagem em e recalcamentoprim recalcamentoprimário ário 53
aproximam, quanto a seu sentido último, dos proferidos por outros esquizofrênicos em relação a sua imagem imagem especular. especular. Eles manifestam da mesma mesma forma forma uma falta de qualquer ''domínio” ''domínio” (e, portant portanto, o, de distância) da situação, fora do qual a constituição constituição de uma referência ssimbó imbólica lica tornatornase ilusória, impossível.
NOTAS
1. G.W., XIII, pp. 11-15. 2. Freud Freu d obsevou, aliás, aliás, que em geral as crianças crianças tendem a reprod r eproduzir uzir ativamente, nessa brincadeira, os acontecimentos importantes, principalmente os desagradáveis, desagradáveis, que tiveram de sup s upor ortar tar passivamente na realidade, realidade, como, por exempl exemplo, o, um exame médico. 3. Todos sabem que foi precisamente pelo estudo da compulsão à repetição e, também precisamente, nesse mesmo Além do princípio princípio do prazer , que Freud introduziu e justificou pela primeira vez vez a existênc existência ia de uma uma puisão dé morte. morte. 4. Freud afirmou que, a esse respeito, poderíamos falar numa “Bemächtigungstrieb” JK,XIII, p. 14), 14), termo queo qu eo Vocabulário de Laplanchee L aplanchee Pontalis traduz po porr “puisão “puisão (G. JK,XIII, de dominação”. dominaçã o”. Vocabulário Vocabulário da psicanálise psican álise, p. 512. 5. As aspas aspas pretendem pret endem indicar que ainda não se tr trata ata senão de um esboço de subjetividade. 6. J. Lacan, Écrits, p. 319. l.Écrits , p. 319. 8. J. Laplanche e S. Leclaire, “Langage et Inconscient”, I nconscient”, in VInconscient (Colóquio (Colóquio de Bonneval), Paris, 1966, p. 121. 9. Laplanche e Pontalis aludem a essa tese em seu Vocabulário da psicanálise , onde escrevem, escrevem, no verbete verbe te Psicose: “Enquanto, “Enqua nto, na neurose, o eu, obedecendo às exigênc exigências ias da realidade (e do supereu), recalca as reivindic reivindicaçõe açõess pulsionais, pulsionais, na psicose produz-se primeiramente primei ramente uma ruptu ru ptura ra entre ent re o eu e a realidade que deix deixaa o eu sob o domínio do isso” (p.505). 10.. Esse termo aparec 10 a parecee especialmente no caso do “Homem dos Lobos” Lo bos” (G. W . , XII, p. 111 111). ). Convém assinalar que esse texto foi posterior ao estudo sobre as memórias do Presidente President e Schreber. Por outro ou tro lado, Laplanche e Pontalis ressaltam (op.cit , p. 573) que a terminologia freudiana é oscilante a esse respeito: respeito: “Podemos “ Podemos constatar, limitando-nos limitando-n os ao ponto po nto de vista terminológico, terminológico, que o uso do termo ter mo Verwerfung nem sempre abrange o que é conotado por ‘foraclusão* e, inversamente, que outros termos freudianos designam o que Lacan procura procu ra evidenciar.” 11.. Lacan, seguindo Freud, 11 Freu d, insistiu insistiu vivamente vivamente nessas teses ao longo de todo tod o o seu verbete ver bete da Encyclopédie Française sobre A Família Família (volume 8, verbete 40). [Ed.bras.: Os Jorg e Zahar, 19 1987 87]] complexosfamili fam iliares, ares, Jorge 12.. Parece-nos - mas voltaremos a esse 12 esse ponto mais mais adiante - que essa fantasia fundamental fundame ntal é justamente o primeiro representante - rebento reben to do recalcado recalcado originár originário, io, o primeiro significant significante, e, ainda purame pu ramente nte imaginário, imaginário, pelo qual o “sujeito” aponta, no inconsciente inc onsciente em que esse significante submergiu por atração, para o imediato renunciado e irrecuperável. Entretanto, esse significante mais arcaico pode ser trazido de volta à consciência. 13.. P. Aulagnier-Spairani, 13 Aulagnier-Spaira ni, Remarqu Remarques essur la struct structurep urepsych sychoti otiqüc, qüc, in LaPsychanafys LaPsychanafyse, e, no. 8 (1964), p. 48. 48. Lacan sublinhou subli nhou vivamente a mesma idéia: idéia: “O homem está, es tá, desde desd e antes ante s
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apsicose psicose
de seu nascimento e mais além de sua morte, preso na cadeia simbólica simbólica,, que fundou a linhagem antes que qu e nela se bordasse a história...”, Écrits, p. Écrits, p. 468. 14. Artigo citado, p. 48. 15. Idem, p. 50. 16. P. Aulagnier-Spairani, artigo citado, p. 51. 17. P. Aulagnier-Spairani, artigo citado, p. 52. 18. É claro, de fato, que a capacidade de construir cons truir para si uma existência existência plena e realmente rea lmente histórica pressupõe pr essupõe o reconhecimento da lei. lei. Simone Simone de Beauvoir escreveu, escreveu, sob o título de TOus TOus les les hom h omm m ens sOnt sOnt mortels [Todos mortels [Todos os homens são mortais], um romarice-ficção sobre sob re um único indivíduo indivíduo imortal. imortal. Esse personagem, atualmente atualmen te nosso nosso contempor conte mporâneo âneo mas já velho de vários séculos, séculos, era desprovido de qualquer qu alquer historicidade, porque por que estava subtraído subtra ído a qualqu q ualquer er irrevo irrevogáv gável. el. Nenhum acontecimento acontecim ento de sua vida podia marcá-lo, já que esse acontecimento acontecim ento era sempre pass passíve ívell de ser se r anulado por um evento contrário. contrário . Era ele imperado impe radorr ou escravo, escravo, sábio ou ignaro, solitário ou filantropo, apaixonado ou misógino? Como sabê-lo, sabê-lo, se tudo estava sempre indefinidamente por p or refazer ref azer e se ele tinha permanentemente permanentem ente diante de si não apenas todo o seu futuro, mas a totalidade do futuro? futuro ? Exonerado Exoner ado da lei da morte, ele também estava exonerado de existir. existir. Da mesma forma, um jogador que se soubesse soubesse indefinid indefinidamente amente capaz capaz de dob dobrar rar a aposta apos ta ficaria ficaria exonerado exonerad o do risco do jogo, jogo, mas, ao mesmo tempo, incapaz dejogar. A mesma lei - a da ausência da lei - se aplica aplica às mulheres de que estamos falando, e acarre aca rreta ta para par a elas a mesma sanção. Só que elas nem sequer sequ er a compreendem - pois, pois, para isso, isso, seria preciso compree com preender nder a lei - e não sabem que qu e sua existên existência cia é a pura inexistên inexistência. cia. 19. P. Aulagnier-Spairani, artigo citado, p. 54. 20.. Idem, pp. 54-55. 20 54-55. Quanto Qu anto à foraclusão do nome do pai, ver adiante. 21. P. Aulagnier-Spairani, artigo citado, p. 55. 22. Idem, p. 55. 23. Ibid., p. 55. 24. P. Aulagnier-Spairani, artigo citado, pp. 55-56. 25. P. Aulagnier-Spairani, artigo citado, p. 56. 26.. Poderíamos 26 Poderíam os fazer um comentário análogo - voltaremos voltaremos a esse ponto po nto - a propósito prop ósito do emprego dos pronomes pessoais no discurso. Não faltam ocasiões em que o esquizofrênico parece servir-se corretamente do “eu”, do "você” e do “ele”. Na realidade, sua compreensão desses vocábulos (desses “shifters “shifters”, ”, ou, conforme a tradução de Benveniste, desses “emereadores” está sempre muito gravemente perturbada. pertu rbada. 27. P. Aulagnier-Spairani, artigo citado, p. 56. 28. Idem, p. 57. 29. P. Aulagnier-Spairani, artigo citado, p. 57. 30. Idem, p. 58. 31. Ibid., p. 58. 32. J. Lacan, Écrits, Écrits, p. 94. 33. J. Lacan, Écrits, p. Écrits, p. 94. Uma aútora como Melanie Klein situaria ainda mais cedo a revelação revelaç ão desse dinamismo libidinal, libidinal, sem ligar essa revelação à experiência da unidade, qüe, por p or sua vez, vez, não pode intervir mais precocemente. 34. J. Lacan, op.cit., p. op.cit., p. 94. 35. Laplanche e Pontalis, Vocabulário Vocabulário da psicanálise psican álise,, p. 441. 36. Idem, p. 443. 37. J. Lacan, verbete sobre A Família na Família na Encyclopédie Encyclopéd ie Française Française, vol. 8, 40-10. 38. J. Lacan, Écrits> p. 97. 97. 39. Os psicanalistas falam em narcisismo primário ou secundário. Embora não haja um acordo absoluto quanto ao uso dessas expressões, há uma aceitação bastante
acesso à linguagem e recalcamento primário 55 generalizada de que o narcisismo primário apontaria para todos os investimentos libidinais anteriores ao investimento de um objeto no sentido pleno da palavra (e portanto, já que o investimento investimento objetai no sentido pleno só aparece com com o Édipo, todos os investimentos pré-edipianos). O narcisismo secundário seria aquele em que um sujeito, depois de ter investido um objeto, retiraria esse investimento do objeto, não para reinvestir reinvestir a libido libido liberada num outro objeto (como quem troca de parc pa rcdr droo ou de objeto amoroso), mas para restituí-lo ao próprio sujeito. sujeito. Isso é o que aconteceria em todas as psicoses, e Freud descreveu seu mecanismo sobretudo na melancolia. O narcisismo especular, portanto, seria em princípio primário, mas seria secundário na paranóia, admitindo-se que o paranóico não foi sempre paranóico, paranóico, o que parece evidente para muitos (cf. a esse respeito, Laplarrche e Pontalis, Vocabulário, Vocabulário, p. 366367). 40. O termo projeção não é próprio da psicanálise e tem, pelo menos fora dela, uma extensão considerável. considerável. Tomamos o conceito c onceito em seu sentido psicanalítico mais estrito, para o qual recordamos a definição de Laplanche e Pontalis: Pontalis: “operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no n o outro, pessoa pesso a ou coisa, qualidades, desejos ou \objetos ' que desconhece ou recusa em si mesmo. Trata-se Trata-se de uma defesa defesa de origem origem muito m uito arcaica e que vemos em ação particularmente na paranóia, mas também em modos de pensar 'normais’ 'normais’, como a supers supersti tição ção.” .” Vocabulário, Vocabulário, p. 478. 41.. Essa atribuição da objetivação 41 objetivação imagin imaginária ária a si si mesmo ê criteriosamente analisada por P. Demoulin em seu livro Névr livro Névrose ose etpsychose etpsychose, Paris-Louvain, 1967, pp. 120 ss. 42-JXaean, L 42-JXaean, Laa Famil Fam ilie ie,, in Encyclopédie Française Française,, vol. 8, 40-10, grifo nosso. 43», X. Lacan, Lacan, artig artigoo citado citado.. 44* J. Lacan, Laca n, artigo arti go citado. ci tado. 45. J. La ca n^ Família, artigo Família, artigo citado. 46. J. 46. J. Lacan, artigo citado. 47. Cf« Cf«a esse ess e respeito, respei to, Merleau-Ponty, Phénoménologie de la perception, pp. perception, pp. 144 ss. 48. Poderíamos traduzir snoepen por snoepen por degustar , mas levando em conta que se trata de um termo term o coloquial e que só se aplica aplica propriam pr opriamente ente às iguarias. iguarias.
capítulo 3 A IMPORTÂNCIA ESTRUTURANTE DO ÉDIPO. AUSÊNCIA DO TRIÂNGULO EDIPIANO NA PSICOSE
Devemos Devemos agora abordar abordar uma nova etapa. A possibilidade possibil idade da da linguagem assinala, assinala, para um “sujeito", a abertura abertur a para um outro outr o que ele toma por objeto sem se confundir com ele nem se perder nessa confusão. Essa instauração é coextensiva, no plano dos afetos, ao que chamamos em ps psica icanálise lise de inv investim stimeento lib libidin idinaal do co corp rpoo de outre utrem m. Esse sse inv investim stimeento, to, porta portant nto, o, tam també bém m se disti istinngue das fases anteri terioores res de evoluç lução dessa mesma sma libido, que não eram, rigorosamente falando, nem auto- nem heteroeróticas, já que também também ainda não podia haver haver “autos" nem “heteros". Ou então, en tão, se fizermos fizermos questão e já que é esse o costume, costume, diremos que elas eram eram auto-eróticas no n o exato sentido de que, mesmo mesmo visando visando de fato e quoad noss a um outro, continuavamquoad no continuavam quoad se (se se (se ouso dizê-lo) aquém de qualquer qualquer diferenciação entre entr e o si mesmo mesmo e o próximo.1 próximo.1 Ora, esse primeiro primeiro objeto objeto verdadeirotende verdadeiro tende comumente comumente a se confundir confundir com aquele que tanto a natureza quanto a pré-história do “sujeito" prop propus user eram am a esse esse “suje sujeito ito"" co com mo termo termo orig origin inár ário io e aind aindaa ind indifer iferen enci ciaado de investimento libidinal: a mãe é esse outro privil egiado.. outro privilegiado É nesse nesse ponto que q ue intervém o que a doutrina doutri na analítica designa designa pelo nome de Édipo. O pont pontoo decisivo decisivo não é, apesar apes ar do que que às ve veze zess se diz, diz, a mãe se tornar objeto de amor. amor. O essencial, essencial, ao contrário, contrário, é que que se coloquem exatamente as relações relações estruturais e de constituição constituição que permitirão permitir ão ao sujeito sujeito aceder corretam corretamente ente à relação relação edipiana e, em seguida, seguida, liquidá-la, sem que dela restem quaisquer quaisquer seqüela seqüelas, s, salvo salvo as inscritas nessa estrutura estru tura mesma, mesma, o que que define o caso limite favoráv favorável. el. É perfeita perf eitamente mente evidente, depois de tudo o que foi dito, que um sujeito para quem a imagem inconsciente inconsciente do corpo próprio própr io continua con confusa fusa e fragmentad fragmentada, a, que não acedeu acedeu à ordem do simbólico simbólico - da qual o Édipo será o auge -, e que qu e não ultrapassou as relações relações puramente especulares especulares do mesmo mesmo e do outr outro, o, que que tal sujeito não poderá entra entrarr num Édipo correto, correto, nem, nem, afortiori, conseguirá fortiori, conseguirá superá-lo. Quando não se estabelecem os referenciais que autorizam e impõem, impõem, por exemplo, exemplo, o uso correto correto dos pronomes pessoais, pessoais, qualquer amor amor objetai, no sentido sentido analítico analítico dessa expressão, expressão, fica simplesmente impos impossível. sível. 56
importância estruturante do Édipo 57
Não de deve vem mos, os, nesse nesse aspect aspecto, o, de deix ixarar-no noss iludir iludir por certas certas ap aparê arênci ncias. as. De fato, afirma-se afirma-se correntemente corrente mente que o psicótico psicótico se distingue, entre entr e outras outras coisa co isas, s, por sua incapacidade de acess acessoo ao Édipo, ao passo que que o neurót neurótico ico nunca chega chega a sair sair realmente dele. Deixem Deixemos os de lado, por por ora, o problema problema da neurose, e nos indaguemos indaguemos como se deve deve entender entend er a tese relativa ao ao psicó psicótic tico. o. Isso Isso porque, falan falando do em termos termos ger gerai ais, s, não seri seriaa exato exato dizer, dizer, antes pelo contrário, que não encontramos no psicótico os elementos materiais de que se compõe o complexo complexo de Édipo. Como então ent ão susten sustentar, tar, com toda a tradição analítica, que o psicótico está excluído do Édipo? Apreenderemos melhor o âmbito dessa discussã discussãoo à luz de um exemplo. exemplo. O paciente em questão é um eletricista eletricista de Rotterda Rot terdam m mantido na clínica clínica universitária de Utrecht, onde está internado como esquizofrênico comprovado. Trata-se de um homem de uns trinta anos, de estatura gigantesc gigantesca, a, cujos problemas parecem ter ter começado começado por po r volta dos 19 anos, em seguida seguida a um acidente rodoviário. rodoviário. Ao dirigir um caminhão, o paciente paciente colidiu, colidiu, num cruzamento, com ou outr troo veículo veículo.. O próprio próprio paciente paciente saiu ileso, mas seu irmão mais novo, novo, sentado a seu lado, foi ejetado da cabine cabine e teve morte instantânea. O paciente começou começou então a desenv desenvolver olver sentimentos depressivos depressivos de culpa. Estes se agravaram agravaram progressivamente e depois se transformaram em diversos delírios. Durante uns dez anos, o paciente alternou alte rnou passagen passagenss pela clínica e retorno ret ornoss à vida vida social social,, mas estes foramse tomando tomando cada vez vez mais mais curtos e raros. No No momento em que o exam examinamos, inamos, já não saía saía do asil asiloo hav havia ia qua quase se dois dois anos anos,, sal salvo vo em algu alguns ns fer feria iado dos. s. Dois temas temas delirantes delirantes dominam o quadro. O pprimeiro rimeiro se relaciona comacidentes rodoviários. rodoviários. As regras de preferência no tráfego e o código de trânsito atingiram um tal grau de perfeição que qualquer acidente automobilístico tomoutom ou-se se absolutamen absolut amente te imposs impossíve ível.l. O paciente paciente dedica dedica todo o seu tempo e suas andanças andanças pela pela cidade cidade a “refutar" “re futar" o relato dos supostos acidentes acidentes que lê na imprensa imprensa local. local. Compara as as versões versões fornecidas fornecidas loco. As incoerências ou pelos pelos dive divers rsos os jornais e faz faz inda indaga gaçõ ções es in loco. contradições que descobre levam-no levam-no a concluir em todas as opor oportunidade tunidadess que o acidente foi uma invenção. Essas invenções são montadas pelos “neurologistas’ “n eurologistas’'' para praticar praticar nos supostos supostos feridos feridos toda sorte sorte de amputações e mutilações, mutilações, que podem chegar chegar à decapitação, con c ontu tudo do,, o paciente pac iente não tem certeza certeza absoluta de que essas “operações” sejam reais; reais; é possível possível que qu e tenham por vítimas vítimas bonecas de cera e que os “neurologistas” “neurologi stas” busquem apenas um efeito de intimidação. intimidação. Quando Quando não não está fazendo investigaçõ investigações, es, H. medita sobre o código código de de trânsito ou o ensina aos outros doentes. O outro outr o tema concerne à filiação filiação.. O pai “legal” de H. não n ão é seu pai verdadeiro. Não passa passa de um testa-de-ferro, e H. gostaria de descobrir seu pai real, real, co coisa isa em que não se empenha, empenha, reserva reservando ndo toda a sua diligê diligênc ncia ia para para os probl roblem emas as do trá tráfego. Sabe, no en enta tant nto, o, qu quee é desce escenndente de San anto to
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Antônio Antôn io dePád de Pádua ua ed e d e Pasteur. Na verdade, verdade, seria seria preciso um verdadeiro verdadeiro “milagre" para que ele viesse viesse a conhecer seu verdadeiro pai pai.. De fato, o modo mod o de fecundação fecundação das mulhere mulheress é arranjado de tal maneira que, salvo salvo por po r um prodigios prodigiosoo acas acasoo ou um milagr ilagre, e, nenhu nenhum m ser humano con conseg segue ue saber sabe r quem foi o homem que o gerou. É que os espermatozóides escapam constante const antement mentee do organismo organismo de todos os macho machos, s, circulam aos aos milhões pelo ar, ar, bomb bombardei ardeiam am incessan incessantem tement entee as mulhe mulheres res e, sem sem que que ela elass se se apercebam apercebam disso disso;; dá-se que que vez po porr outr outraa uma delas é atingida atingida onde onde convém convém,, o que que acarret acarretaa a gravidez gravidez.. Nessa Nessass condições, condições, localizar o pai p ai depender dependeria ia de um acaso inaudito. Mais vale contar cont ar com uma revelação divina, divina, que às vezes ve zes acontece, acontece, mas mas com a qual ele ele certamente certamente não será favorecid favorecido, o, já que essa revelação revelação só pode caber, mesmo mesmo assim assim po porr interc intercessã essãoda oda Rainh Rainhaa dos (Oernederlanders). Estes Países Baixos, aos “holandeses fundamentais” (Oernederlanders). Estes são muito pouco pouco numerosos numerosos eH e H . não figura figura entre eles eles,, por pelo p elo menos menos duas razões. Primeiro, ocorre que os “holandeses fundamentais” são (hervormd), o que não obrigatoriamen obrigatoriamente te “refo “refo mados” mados ” (hervormd), o nã o seria o caso caso de um descendente de Santo Antônio e Pasteur, que q ueéé forçosamen forçosamente te católico católico.2 .2 Depois, os “holandeses “holandeses fundamentais” fundamentais” têm que ser isentos isentos de problemas problemas mentais; mentais; ora, H. H. admite espontaneamente, embora não não sem contrariedade, quee não qu n ão mais preenche essa con condiçã dição. o. Tentemos Tentemos interpretar alguns traços traços desse delírio a partir partir das próprias formulações do paciente. Estabelecem Estabelecemos, os, para co com meçar eçar,,,, um vínculo vínculo estreito e n tre tr e o tema do código de trânsito trânsito e o da da filiação filiação.. E sem dúvida dúvida evidente que a inexistê inexistência ncia de acidentes acidentes de tráfego tráfego destina-s destina-see a isentar o paciente da culpa que ele sente pela morte do d o irmão mais mais novo, novo, um dia desejada desejada e, depois, depois, realmente obtida ou o u perpetrada. perpetrada . Mas Mas esse “acidente” de trânsito mascara mascara um outro, não menos fantasisticamente fantasisticamente desejado e imaginariamente imaginariamente obtido, e cujo erro erro tem tem de ser igualmente apagado. apagado. Lembremo-nos Lembremo-nos de que os infortúnios infortúnios de Édipo têm como origem um acidente de estrada provocado pela inobservância inobservância das regras de prioridade. prioridade. O paciente se se defende da culpa edipiana com a afirmação afirmação de que qu e toda transgressão transgressão da proibição instaurada pel pelaa regr regraa ou pe pela la lei lei relati lativva às prior riorid idad ades es é impossíve ível. Mas não conseg segue eliminar a ameaça ameaça de de castração castração;; esta não n ão é simbó simbólica, lica, mas mas imaginariamente imaginariamente reaL reaL Todavia, Todavia, a ameaça, mal mal admitida, admitida, é logo suprimida: suprimida: convém acreditar acreditar ou é possível possível supor supo r que os “neurologistas” “neurologista s” só castram bonecos de cera, para para fins ins de inti intim midaç idação ão.. Alé Além m disso isso,, os “católi tóliccos” os” não são “refo reform rmad ados os”. ”. Que o desejo edipiano, edipiano, sob a dupla dimensão do amor amo r pela mãe e do assassina assassinato to do pai, está presente aqui é o que que mostra mostra claramente o delírio relativo à filiação. filiação. Mas Mas a foraclusão do nome do pai p ai aparece francamente fra ncamente no mito mi to da concepção. concepção. Todavia, Todavia, esse mito possui possui ainda outro outro sentido. sentido . É que o paciente paciente não apenas desejou de sejou sua mãe, mãe, mas mas desejou - segundo uma
É&po 59 importância estruturante do É&po
fantasia freqüentemente freqüent emente ex exibi ibida da pelos pelos esquizofrênicos esquizofrênicos - ser com ela sea próp próprio rio pa paii Iss Isso significa ica que a loc localiz lização do pa paii feri feriaa ap apar arec ecer er de imafia imafiato to seu incesto. incesto. Ele E le se defende defe nde dessa dessa descoberta através de uma “teor “te oria" ia" da concepção que tom to ma o pai praticament pra ticamentee impossíve impossívell de achar, achar, salvo salvo por milagre milagreou ou revelação r evelação divina divina,, que, como como sabemos, sabemos, não não se produzirão produzirão para d e Nesse Nesse momento, momento, porém,H. corre o risco de se se tomar tomar um filho filho enjeitad enjeitado. o. O que é corrigido pela paternidade, a distân distância, cia, de Sto. Antônio e Pasteur, graças graças a uma confusão magistral magistral entre ent re o significante significante e o significad significado, o, com o reto retomo mo imag imaginário inário desse significante significante no real, tal como nos mostra a fábula proposta por Leclair Leclairee para ilustrar o mecan ecanism ismoo da foraclu foraclusão são.3 .3O Os espermato espermatozóid zóides, es, com efeito, efeito, assemelham-sè a micróbios. Ora, Ora, sabemos que Pasteur Paste ur foi “o pai dos micróbios micróbios", ", já que os descobriu descobriu.. Daí então ent ão que nosso paciente descende descende de Pasteur. Quanto Q uanto a Santo Antônio de Pádua, a tradição tra dição o invoca com comoo o guardião, o “pai" dos objetos perdidos, que nos leva a redêscobri-los. Também Sto. Antônio, portanto, será seu ancestral.4Quanto ao tema da Rainha dos Países Baixos, podemos compreendê-io colocando-nos colocando-nos mais uma uma vezà escuta literal do paciente. Diz-nos ele ele que que apenas apenas algumas raras raras pessoas, todas todas ‘Ye ‘Yeforma formadas”, das”, podem obter ob ter de d e Deus a revelação de sua origem. origem. Mas não é exato, exato, na verdade, verdade, que só os que qu e aceitaram a re-formação5trazida re-formação5trazida pela castração simból simbólica ica introduzida pelo pel o pai podem conhecer o nome desse pai e ser reconhec reconhecidos idos por ele? ele?Eles les são a ve verd rdaade deir iraa nobreza reza do doss Paíse íses Baixos,6osQemalertanders. os Qemalertanders. Como Como H. certamente cert amente não nã o acedeu a essa essa castração simb simbólica ólica - o que q ue seu delírio exprime exprime ao dizer dizer que ele não é reformado não há há meio de Deus admiti-l admiti-loo nessa nessa revelaç revelação. ão. Mas quem são aqueles que qu e Deus, o Pai absoluto, favorece com essa mensagem, que é uma mensagem de autenticação? Aqueles que, por por sua intercessão, intercessão, lhe lhe são design designado adoss pela Rainha Rainha dos Países Países Baixos aixos.. Assinalamos aqui uma curiosa inversão. A teori t eoriaa analítica analí tica afirma que 0 filho renuncia a ser o falo da da mãe a partir par tir do momento em que a intervenção interven ção do Pai o distancia dela e a atinge, para ele, com a proibição proibição da Lei. Mas, acrescentamos, o filho só aceita essa essa lei e só acede ao nomedo-Pai quando a própria mãe se mostra atenta e respeitadora da palavra palavra desse desse pai, pai, a qual q ual ela consagra consagra (ou degrada) através de sua própria própri a atitud ati tudee fala e é só na medida perante ele. ele. “O pa paii só se faz faz presente por sua lei que é fala em que sua fala é reconhecida r econhecida pela mãe que ela assume valor valor de lei. Se a posição do pai é contestada, o filho permanece permanece assujeitado à mãe.”7 mãe.”7Ne Nesse sse caso, caso, o sujeito fica foracluído da “metáfora pate p atern rna”. a”. E é justame jus tamente nte isso o que H. nos diz sobre si mesm mesmo. o. Ele Ele continua a tal pont p ontoo na dependência dep endência da união dual que q ue transfere transfere para a mãe - a Rainha dos Países Países Baixo Baixoss - a iniciativa do ato paterno de reconhecimento, acrescentando ao mesmo tempo que q ue será pessoalmente excluído excluído dessa dessa iniciativa iniciativa e desse reconhe reconh e cimento.
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De certo certo modo, modo, aqui colocam colocamos os o dedo no no que se pode constatar constatar em todos os psicóticos do tipo esquizofrênico: esquizofrênico: se o delírio delírio manifesta a presença pres ença da maioria dos elementos materiais que contribuem para a edificação das relações edipianas, falta muito para que eles conduzam a um estabelecimento estabelecimento correto corret o do Édipo, de sorte que este não pode po de exercer exercer em nenhum grau o pa pape pell constitutivo constitutivo e estruturador estruturador da subjetividade que subjetividade que lhe é atribuído no no norm rmal. al. A A forti rtiori, ri, não há como se dar sua liquidação. Tudo isso é simplesmente impossível, pelo mero fato de que H. nunca acedeu ao que os autores autore s denominam denominam,, a partir parti r de Lacan, Lacan, de “metáfora “metáfora patern pa terna”, a”, isto é, o advento do d o nome-do-Pai em substituição ao desejo de ser o falo da mãe. mãe. É perfeitamente exato, exato, portanto, portant o, sustentar s ustentar que o esquizofrê esquizofrênico nico não entiou entio u realmente no Édipo, já que que o genitor do sexo sexo oposto, sobre quem quem recai materialme mater ialmente nte o investimento libidinal, não está prese p resente nte no nível nível que define a peripécia edipiana, ou seja, como um outro out ro que não o “si” do sujeito, um outro sobre quem recaia a proibição resultante da promulg promulgaçã açãoo paterna da lei. lei. O pseudo-s pseudo-sujeit ujeitoo permane permanece, ce, em em seu ser, ser, identificado com o falo da da mãe e, desse desse modo, modo, não pode ser o outro out ro dela, dela, nem ela o seu outro. Porque é justamente esse esse o sentido da fantasia de ser pai de si mesmo com a própr própria ia mãe. mãe. O estabelecimento do Edipo fracassa porque os momentos estruturais anteriores a ele, que tentamos elucidar nas páginas precedentes, foram “mal executados”. O investime investimento nto atual no genitor genitor do sexo sexo opo oposto, sto, portanto, é apenas aparentemente aparentemente objetai. Na verdade verdade,, permanece absolutamente nardsico e pré-edipiano. Mas, sendo assim, assim, o que é o Édipo Édipo verdadeiro, ou melhor melh or - já que que nosso propósito propós ito não n ão pode ser o de de retomar sua teoria -, que é que q ue ele nos dá a compreender na perspectiva que nos é própria, e que consiste em identificar os momentos constitutivos da estrutura da subjetividade? O complexo complexo de Édipo coloca a criança diant d iantee da experiência experiência dupla dupla da decepção e da proibição. proibição. Na verdade, verdade, essa decepçã decepção, o, que vem do própr próprio io objeto objeto do amor, não é o primeiro desmentido que a “realidade” “reali dade” opõe ao desejo. desejo. Em certo cert o sentido, senti do, esse desmentido, como assinalou Lacan em seu verbete da Encyclopédie Française, começa Française, começa no próprio nascimento do sujeito e o desmame, desmame, a intromissão intromis são do terceiro, seguida seguida da insatisfação insatisfação edipiana, só fazem retomá-lo retomá-lo e reativá-lo. reativá-lo. Em cada oportuni oportunidade, dade, porém, porém, a frustração que ele ele implica implica ope opera ra uma remodelação remodelação do sujeito que a sofre e acrescenta uma nova nova dimensão a sua experiência experiência do outro out ro e da alteridade. alteridade. É próprio próp rio da decepção decepção edipiana não colocar o sujeito sujeito diante dia nte de um um fato inelutável, inelutável, mas ensinar que o amor amor está na dependência radic radical al de seu objeto, porque porque esse objeto sempre pode sempre pode furtar-se, furtar-se, se seu amor estiver em outr ou troo lugar, e, além disso, disso, como como acontece no no Édipo, tem que em que fazê-lo, em razão da presença como terceiro do personagem paterno, representante privilegiado da
importância importância estrutwante estrutwante do d o Édipo Éd ipo 61
proibição proibição,, da distânc distância ia e da Lei. ei. O que importa aqu aqui,i, mais ais uma uma ve vez, z, não é a materialidade anedótica de acontecimentos mais ou menos menos reais e localizáve localizáveis, is, já que, que, nos casos normais, eles são basicamente basicamente inconscientes, inconscientes, mas, ao contrário, co ntrário, a importância constitutiva, constitutiva, para o sujeito e para sua experiência da realidade, de momentos dialéticos e estruturantes. A contribuição de decis cisiva iva do Édipo consiste consiste em inserir o sujeito na lei. lei. Em troca da renúncia que lhe é imposta e à qual ele tterá erá que se curvar curvar,, seja a que preço for, o sujeito recebe o nome do pai, pai, que será também seu nome.8Assim, Assim, ele fica para sempre, e numa certeza cer teza tão radical para par a ele quanto para os outros, outros, situado na suoessão das geraçõ gerações. es. Abandona Abandona o meio situado na suoessão de uma existência simplesmente natural cujo aparecimento fosse determinado dete rminado apenas pelo acaso acaso das copula copulações ções,, um acaso que o tornar to rnaria ia impo impossív ssível el de situar situar e identific identificar, ar, tanto tanto por ele ele mesmo mesmo quanto por outrem. O pacto simbólico que sela a renúncia ao amor edipiano me retira da desordem irrequieta e fervilhante da da natureza biológic biológicaa para completar compl etar minha identidade identidade no patronímico que carrego, carrego, que me situa com exa exatidão tidão perante peran te mim mesm mesmoo e perante todos, assim assimme autorizando, autorizando, do lugar que me é próprio próprio,, a desejar e a engendrar. engendrar. Esse pacto consagra consagra também minha minha entrada entrada na negativida negatividade: de: é que só tenho tenho identidade plena e intei inteira ra ao assumir assumir um nome que não seja somente meu. O nome O nome do filho filho enjeitado, do qual e leé le é o único dono, não nãoérealmente um nome nome.. co com mo acontece igualmente érealmente um com meu meu pai e au auto torr dele, dele, a negatividade negatividade se toma, ao mesm mesmoo tempo, a marca e o âmago âmago de toda identidade. identidade. Eis aí um primeiro sentido da castração simbólica. simbólica. Mas Mas esta pode ainda aind a explicitar-se explicitar-se de ou outr traa maneira, conforme confo rme os termos termos da linguagem (ou (ou de uma certa certa linguagem) linguagem) analítica. A castração suprime o filho na qualidade daquele queé que é oo falo da mãe para constitu constituíílo como um sujeito que quettem um feio ou pode receb recebê-lo. ê-lo. Ela o torna torna si mesmo e ipse no ipse no sentido sentido pleno pleno dessas dessas palavras. palavras. Lévi-Strauss Lévi-Strauss afirma que a proib proibição ição do incesto define a passagem da natureza para a cultura. Diríamos igualmente que essa proibição - se ao menos a compreendermos com largueza largueza suficiente para incluir nela todas as conotações que q ue acabamos acabamos de expor - funda o acesso acesso à subjetividade subjetividade e a seus correlatos: correlatos: overdadeir overd adeiroo outrem outr em e a realidade realidade plena e inteira. É o qu quee Lacan Lacan confirma.9 confirma.9O O Édipo Éd ipo confere ao ao objet objetoo “uma certa certa profundidade profundidade afetiva”,10pela própri própriaa distância distância na qual qual ele é colocado colocado;; esse objeto poderá, por por conseguinte, conseguinte, ser reconhecido como real no sentido pleno e autônomo em relação a nossas nossas pulsões; pulsões; ao mesmo tempo, também poderá inspirar-nos respeito, dimensões estas que são absolutamente absolutament e estranhas às relações relações pré-edipianas. pré-edipianas. Insistimos mais uma vez no fato de que tudo isso não deve ser entendido entendido nem no registro da história anedótica, anedótica, nem no da psicolo psicologia gia.. Trata-se de momentos estruturais estruturais relativos à formação formação da subjetivida subjetividade. de. O problema de saber que q ue repercussão repercussão concreta esses esses momentos tiveram
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na história história afetiva afetiva deste ou daquele sujeito, sujeito, e como marcaram essa essa história, é um problema que depende da prática analítica analíti ca e não interessa interessa a nosso propósito. propósito. Da mesm mesmaa forma, forma, não temos temos que nos perguntar de que modo modo essas articulações estrut es truturais urais podem se traduzi traduzirr em termos de psicologia psicologia genética. Não nos esqueçamos: em Freud, Freud, “a idéia do complexo complexo de Édipo Édipo nasceu de de uma reflexão sobre a fantasia”.1 fantasia”.11“O que compõe compõe a unidade unidade do problema problema edipian edipianoo não é ne nem m uma uma forç forçaa instint instintiva iva indec indecom ompo ponív nível el,, cu cuja ja existência Freud negou, substituindo-a por uma teoria das antinomias pulsio pulsiona nais, is, nem uma uma psic psicolo ologi giaa do doss sentimento sentimentoss (amor, (amor, ódio), ódio), po pois is o que está está em questão nesses nesses sentimentos sentimentos são as posiçõe posiçõess que o sujeito sujeito pode ocupar a respeito respe ito de um outro out ro sujeito. sujeito. A necessida necessidade de de ter que se reconhecer na fala proíbe proíb e o sujeito sujeito de se identificar totalmente totalm ente com suas suas maneiras de ser, mas mas recria nele o movimento movimento de uma diferença diferença interna. interna . É dentro dentro dessa perspectiva que convém convém compreender os conceitos de identificação e de escolha objetai; eles definem definem os modos modos constitutivos da relação que se instaura instaura entre entre um sujeito e um um outro outro naquilo a que chamam chamamos os ‘a exp expressã ressãoo de um dese desejo' jo'.”1 .”12 Essa longa viagem viagem nos reconduz a nosso ponto de partida: o problema do inconsciente. A reflexão que vimos conduzindo a propósito de algumas teses e de alguns conceitos psicanalíticos acaso nos provê de algo com que esboçar uma resposta? Será que podemos podemos compreender compreender o estatu est atuto to do inconsciente, e como se poderia articular essa compreensão? Talvez valha a pena examinar a que som somos os levad levados, os, mesmo mesmo que o resultado resultado continue continue muito abaixo de nossas esperanças. Para co com meçar, eçar, o inconsciente inconsciente é feito de pulsões pulsões no sentido freudiano da palavra. palavra. Estas se situam situam na junção do orgânico com o psíquico psíquico;; não têm, por co cons nseg eguuinte inte,, nen nenhum hum sent sentid idoo em si, e é por iss isso qu quee nã nãoo po pode dem m, co com mo tais, ser ou tornar-se con conscie scientes ntes.. Talvez Talvez seja lícito dizer, embora essa essa não seja uma linguagem analítica, que sua existência é inferida a partir do comportamento, mas desde desde que que entendamos por comportamento tudo tu do o que a fenomenologia aponta com esse termo, e que inclui inclui sobretudo sobretudo o discurso. A hermenêutica do comportamento normal e patológico permite designá-la designá-las, s, no nível nível do sentido, pelos pelos títulos títulos também freudianos freudianos deEros deEros e Tanatos. Essas Tanatos. Essas pulsões, por por ser o homem essencialmente um ser ser criador criador de sentido, sentido, são providas providas de “representantes “representantes psíquicos” que lhes lhes dão feiçõe feições. s. Estes podem ser conscientes, mas mas não o são necessariamente, em razão do recalcamento a que alguns deles podem ou têm que q ue ser submetidos. submetidos. Os representant repres entantes es e seus rebentos sucess sucessivo ivoss articulam-se entre ent re si como uma linguagem. linguagem. Cabe tent te ntar ar retraça ret raçar, r, pelo pelo menos em linhas gerais, seus destinos possí possíve veis. is. Quanto à questão questão de saber se os representa representantes ntes psíquico psíquicoss
importância estnuunmse estnuunmsedo Édipo É dipo 63
das pulsões das pulsões são sua tradução tradução exata, exata, ela não tem tem a menor menor pertinência, visto que a pa passa ssage gem m da pulsão para seu primeiro representante re presentante é também a passa passage gem m da ausência ausência de sentido ou do não não-sen -senso so para o sentido. Ora, o problema da exatidã exatidãoo de uma ex expre pressã ssãoo só pode ser colocado colocado no tocante a um sentido e em relação ao sentido. sentido. Para cada um, a constituição dos representantes psíquicos fundamentais, de seus rebentos e dos rebentos de seus rebentos é precisamen precisamente te o que determina a camada camada elementar da futura história psíquic psíquicaa do sujeito. sujeito. Aanálise podeestar apta a reproduzi-l reproduzi-la, a, embora esse não seja forçosamente seu objetivo, eliminando as lacunas, hiatos e substituições substituições de termos provocados provocados pela intervenção do recalque. Essa história nada - ou muito pouco - tem a ver ver com o que poderíamo poderíamoss chamar, não sem um certo abuso da linguagem, de realidade objetiva dos acontecimentos atravessado atravessadoss pelo mesmo mesmo sujeito, dado que, como vimos, vimos, os "representant "represe ntantes es originais”são estabelecid estabelecidos os num estágio da evolução evolução em que o percebido e a relação libidinal libidinal com o que faz as vez vezes es de objeto o bjeto ainda continuam continu am perfeitamente estranhos no nível nível do que chamamos chamamos de realidade e de sujeito, e, portanto portanto,, no no nível nível de qualquer qualquer noção da verdade. verdade. É no arranjo desse tecido ou dessa trama que se marca a primazia do significante sobre o signific significado ado.. A lite l iteraüd raüdade ade desses significantes significantes e os pri prinncípio ípioss co com mbinat inatóório rios que reg regem sua suas conste stelaç lações possíve íveis prev revalec lecem, tanto tanto na mudança das formas antigas quant quantoo na composição composição de nov novas as formas, formas, sobre sobr e as exigê exigênci ncias as do significado significado,, a ponto po nto de arras arrastar tarem em este este último último em sua esteira, em vez vez de serem conduzidos conduzidos por p or ele. ele. É como no sonho em que o problema da morte mort e do sonhador so nhador fica fica dissimulado dissimulado sob a aparência aparência de uma uma visita gratuita gratuita às adegas adegas subterrâneas de um comerciante de vinhos cujo nome signific significa, a, em holandês, holandês, ''d ''doo fim". Pois bem, bem, acontece que esse comerciante comerciante de vinhos também foi, na juventude juventude do sonhador, um jogador de futebol de celebridade celebridade européia. Entr En tree outros outros talentos, ele possuía possuía o de “transformar” “trans formar” os “pênaltis” “pênaltis ” em go gols, ls, a ponto pont o de só ter perdido um durante toda a sua carreira. carreira. E essa carreira se encerrou prematuramente dep depois ois de uma uma fratura quádrupla quádrupla da perna, deliberada deliberadamente mente provocada, em condições condições de de brutalidade brutalidade excepcional, excepcional, por um adv advers ersário ário ving vingat ativ ivo. o. Acrescen Acrescentam tamos os que o jogador em questão nunca usou outras cores cores senão s enão as do luto lu to,, ou, mais mais exatamente, exatamente, do luto l uto aliviado aliviado,, cores estas escolhida escolhidass porque, porque, na época da da fundação de seu clube, clube, o principal fundador estava efetivamente de luto. Não Não são são necess cessár ário ioss gran rande dess co conh nhec ecim imen ento toss an anaalític líticos os pa para ra pe perce rcebe berr que o conjunto desses desses signific significant antes, es, todos to dos presentes no sonho, evo evoca, ca, a partir part ir do tema central da morte, morte, representado representado pela imag imagem em também plurívo plurívoca ca de uma uma visita visita gratuita “aos “aos subterrâneos do fim", fim", a maioria das questões fundamentais da existên existência, cia, tal como elaboradas pela psicanálise. psicanálise.
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As indicações que acabamos de fornecer fornecer o evidenciam evidenciam de maneira suficiente. Ora, o set desses desses significante significantes, s, ligados de antemão ant emão e ppor or acaso no real, não pode pode ter ter sido induzido, induzido, mas, mas, ao contrário, induziu no sonho sonho uma configuração da morte, do desejo e da castração.13 As leis dessas dessas combinações combinações foram apresentadas apresent adas po porr Freud como o resultado resultad o de suas inve investig stigaçõ ações es sobre o sonho e por po r ele denominadas denominadas de condensação e condensação edeslocamento. deslocamento. J. J. Lacan, aproximando-as dos trabalhos dos lingüistas, designou-as pelos termosmetáfora termos metáfora e metonímia. Há, metonímia. Há, portanto, uma relativa autonomia auton omia do significante significante em relação ao signifi significad cado, o, a tal ponto que é preci preciso so admitir a exis existên tência cia de uma ordem do signi signific ficant antee fechada sobre sobre si mesma mesma e cujos efeitos, original oouu definitivamente definitivamente ignorados pelo pelo suje sujeito ito,, co cont ntri ribu buem em pa para ra a arti articu cula laçã çãoo do inco incons nsci cien ente te e tran transp spar arec ecem em,, ao mesmo tempo episódica e abruptamente e, para quem sabe lê-los, sensatamente, nas manifestações desse inconsciente, tais como, por exemplo, exemplo, os rébus dos sonhos ou as trocas de letras letras ou sílabas dos lapsos. Testemunha disso foi o locutor de rádio que, tendo tendo que descrever descrever a decoração decoração floral de um coro de igreja onde se ia celebrar um casamento casamento real, anunciou aos ouvintes que lhes iria descrever a “defloração coral". A investigação psicanalítica tem por p or objetivo objetivo trazer trazer à luz, luz, cada ve vezz mais de perto, os significantes-chave que elaboram e organizam o insconsciente insconsciente em cada cada um de nós, esseincon esseinconsciente sciente que se compõe deles, de seus frutos e dos frutos desses frutos, em suas suas infinitas combinações e ramificações. Esses significantes-chave marcam, em sua literalidade alusiva alusiva,, as diferenças e os pontos pontos nodais onde onde se cavou a distância original do recalcamento recalcamento primário, à qual corresponde prontamente, prontament e, para tent t entar ar aboli-la, a fantasia indelével que pretende preenchê-la ali onde ela se prod produz uziu iu,, termo inic inicia iall de uma uma linh linhag agem em inter interm mináv inável el de substi substitut tutos os de dela la mesma, cada vez vez mais mais possíveis possíveis de serem serem desconheci desconhecidos, dos, mas mas nos quais quais se podé discernir discernir - para que quem m sabe escutar escutar ou ler - a letra do selo origina original1 l14 ESses ses substitu substitutos tossão, são, como como a fantasia, fantasia, na qualidade qualidade de termo termo de investimento libidinal, também inscrições hieroglíficas do objeto perdido. A trama última de todo inconsciente inconsciente é tedd t edda, a, se nos é permitido dizê dizê-lo, por traços fantasís fantasísticos ticos que têm por po r finalidade finalidade restaurar, num modo de abordagem imaginário e depois simbólico (embora (embor a a passagem passagem para a simbolização simbolização possa malograr), a plenitud plenitudee perdida em virtude virtude das hiâncias hiâncias e cortes que marcaram o sujeito, em vista vista de seu seu recuo do imediato ou da defecção deste. Decerto o menor paradoxo desse destino não é que a instauração do objeto objet o substituto substituto seja justamente justam ente o que consagra consagra também também a evicção definitiva do objeto perdido, que ele deve supostamente salvaguardar. salvaguardar. Esse paradoxo paradoxo relembra, sob uma nova forma, o que dissemos dissemos a propósito propósito da lingu linguag agem em,,,, quando afirmamo afirmamoss que que a identidade conquistada eu,, por e estabelecida estabelecida no eu por só poder produzir-se pela mediação do universal. universal.
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é também o que barra para sempre o acesso direto à subjetividade, subjetividade, essa essa subjetividade sobre a qual nos feia incessantemente o discurso na primeira pessoa. pessoa. Talvez Talvez nada nos mostre mostre melhor que são esses esses o papel e a importância importância do significante-ch significante-chave ave e do objeto objeto simult s imultaneame aneamente nte designado e suscitado por ele, le, do do qu quee um certo certo disc discur urso so psic psicót ótic icoo no qu qual al os "si "siggnific ifican ante tess-ch chav ave” e”,, mal os acreditamos localizados, se desvanecem de imediato, móveis, flutuantes, errantes e inapreensíveis, por deslizarem incessantemente uns para os outros: outros: pseudo pseudo-re -rebite bitess de um pseud pseudo-u o-uni nive verso rso caót caótic ico. o. Justamente Justamente por não terem te rem surgido da hiância de um recuo. recuo. O imediato que fingem fingem falados na apar mascarar continua presente; eles só são falados aparên ência cia.1 .15 Por isso é que podemos afirmar que o "antes” do recalcamento primário primário é efetivam efetivamente ente no nossa ssa pré-histó pré-história, ria, mas mas uma uma pré-his pré-história tória da qu qual, al, ao contrário da outra, nenhuma história subseqüente ou retroativa é possíve possível,l, só começando começando nova nova história real no momento mom ento de sua sua negação radical, radical, e de uma negação que toma toma inace inacessív ssível el aquilo que ne nega ga.. É também por isso isso que co conv nvém ém no noss de decid cidirm irmos os a reconh reconhece ecerr - mas mas vo volta ltarem remos os a esse esse ponto pon to - que dessa dessa pré-história, pré-história , de certa maneira, o psicót psicótico ico nunca saiu saiu.. A articulação do inconsciente concerne, ao mesmo mesmo tempo, ao desejo, desejo, a seu objeto, à realidade do sujeito, ou até ao que de tudo isso o sujeito diz a si mesm mesmo. o. Desse movimento movimento articulatório, articula tório, o desejo edipiano - que é o primeiro a merecer a qualificação de objetai no sentido pleno do termo - constitui tanto o motor quanto o nó. Mas esses desejos e seu saber também estão submetidos ao recalcamento - secundário, dessa vez, pelas razões e da maneira maneir a que Freud indicou. indicou. Mas, Mas, conforme o sujeito efetue ou não esses esses recalcamentos recalcament os secundários, e também conforme conf orme consiga consiga substitui subs tituirr o recalcado, mais ou menos bem, pelas diversas formações que Freud descreveu sob o nome de supéreu supére u e ideal do eu, surgem desses desses primeiros primeir os represen repr esentante tantess da puisão descendentes descendentes e substitutos substitu tos mais mais aceitáv aceitáveis eis para o eu, eu, e que poderão orie o rienta ntarr investimentos investimentos libidinais libidinais satisfatórios. satisfatórios. Assim, o sujeito sujeito desenvolve e traz em si si uma linguagem oculta que é ele mesmo e seu outro. outr o. Essa linguagem linguagem oculta, ocul ta, a psicanálise sempre sempr e se atribuiu atribuiu a tarefa de decodific decodificar. ar. E cunhou cunhou métodos próprios próprios para para conseg conseguiuilo. lo. Porqu Po rquee nenhum nen hum sujeito su jeito pode produzir produ zir mais mais do que a imagem imagem de si em que está preso, e que ele procura impor ao próximo para que, em troca, o próximo a autentique, não faça aparecer a linguagem oculta como o vazio e o negativo dele mesmo. mesmo. Ela E la lhe será resti r estituída tuída em seu texto verdadeiro verda deiro tão logo o sujeito se coloque em posição de escutá-la.
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NOTAS
1. Alguns Alguns autores auto res propõem distinguir duas fases no que aqui chamamos de investimento inve stimento auto-erótico: um estágio propriamente propria mente auto-erótico auto-eró tico e um estágio narcísic narcísico. o. O primeiro concerne aos investimentos investimentos anteriores anterior es à aquisição da imagem imagem especular, que tem por objeto, portanto, um corpo despedaçado, e, por conseguinte, um fragmento desse corpo. Ó segundo aponta para o investimento libidinal da imago unitária imago unitária do corpo e, sendo assim, é posterior à conquista da imagem especular. Alguns textos de Freud aludem a essa essa distinção. Cf. Cf. a respeito respe ito a obra ainda inédita de Thomas Ewens, Essay o n the th e GrOundO GrO undOfan fan Inte Interr rrO Ogati gatiOn On:: the Theme Of SchizOphr SchizOphreni eniaa in Freud , Freud , cap. II, 5. 2. Não deixa de ser interessante observar, em vista de nossa interpretação, que H. é realmente de religião reformada e, no real, nunca abjurou sua fé calvinista. Ele é “católico” assim assim como com o é descendente desce ndente de Sto. Antônio e de Pasteur. 3. “Tentei... ilustrar ilu strar esse conceito [a foruclusão] através da história his tória de dois farristas farri stas numa noitede noite de festa. festa. O elemento elem ento foracluído nesse episódio foi constituído constituído pelo encontro ébrio e noturno com uma dupla de ‘andorinhas’ (refiro-me a policiais de bicicleta) que os levou de volta a casa sem nenhuma consideração. Evidentemente, não havia havia como qualquer qualque r deles pudesse recordar reco rdar essa cena perdida nas brumas do álcool; algumas contusões e o fato de estarem em casa foram o único testemunho de um acontecimento primariamente primaria mente excluído excluído da trama das lembranças. Mas o evento marcante desse conto foi que um dos beberrões subitamente apresentou apre sentou,, passados alguns alguns meses, um delírio ornitológico ornitológic o em que reapareciam, reaparecia m, além das andorinhas, todos os tipos de pássaros. pássaros. Foi assim que surgiu, na realidade fantasística e alucinatória do delírio, o par de pássaros que constituíra o centro da experiência experiência não integrada, O \sig \signi nifi ficant cante* e* escamoteado, escamoteado, o símbolo sím bolo recalcad recalcado, o, independentemente independentem ente de suas correlações correlações imaginária imaginárias. s. Segundo Um Uma formulação formulaçã o de Lacan, poderíamos poder íamos dizer que o que fora reje rejeit itado ado da ordem ordem simbólica, simbólica , a saber, o significante andorinha, andorinha , apesar de conhecido, conhecido, reapareceu reapar eceu durante du rante o delírio no real, real, ou, pelo menos, menos, à maneira de uma experiência experiência delirante da realidade, de uma realidade marcada pelo selo do imaginário e privada de qualquer dimensão verdadeiramente simbólica.” S. Leclaire, “A Propos de FÉpisode Psychotique que Prés Pr ésen ente te’’ 1‘Homme Hom me aux Loup L oups’ s’”, ”, in L in Laa Psyc Psychan hanal alys yse, e, no. no. 4, p. 97. 4. Santo Antônio de Pádua e Pasteur Paste ur representam repres entam aqui o que Lacan denomina de “umPai”, cf. adiante. 5. A pa A pallavra avra hervormingéa tradução literal da palavra francesa réformation [reformação, réformation [reformação, reforma]. Mas, em francês, o aparecimento do acento agudo tende a dissimular o sentido etimológico de reforma, plenamente preservado no holandês hervorming [formas de novo]. 6. Países Países Baixos Baixo s é a tradução literal de Nederl de Nederland and (en). (en). Os duplos duplos sentidos perceptív perceptíveis eis em francês [e em português] também o são no holandês. 7. J. Lacan, Les Format seminár ios do ano letivo de 1956-1957 1956-1957 (texto Formatio ions ns de Vínc Víncon onsscien cientt, seminários datilografado). datilografado). E ainda: ainda: “Mas aquilo em queremos insistir é que não é unicamente da maneira como a mãe se acomoda à pessoa do pai que convém nos ocuparmos, mas da importância que ela dá a sua palavra, palavra, digamos digamos claramente, a sua autoridade, autori dade, ou, em outros outro s termos, do lugar lug ar que ela reserva ao nome-do-Pai nome-do-Pa i na promoção promoç ão da lei.” J. Lacan, Écrits, Écrits, p. 579. 8. Essa interpretação interpre tação do Édipo não encontra encon tra nenhuma dificuldade dificuldade no fato de nem todas as civilizações serem forçosamente patronímicas. O importante é que, em todas as civilizações, o nome é sempre conferido com base num sistema simbólico, e que esse sistema simbólico marca a identidade com um caráter de negatividade; ao mesmo
importância importância estruturante estruturante do do Édipo Édipo 67 tempo, esse sistema de nomeação, seja ele qual for, eqüivale eqüivale a uma proibição proib ição imposta ao ob objeto jeto edipiano e seus substitutos. Estes últimos, últimos, em certas civili civiliza zaçõe ções, s, podem ser muito numerosos, ao passo que, entre en tre nós, a proibição não atinge maisd o que q ue as irmãs. irmãs. Que a família faraônica estivesse isenta dessa proibição sublinha precisamente a divindade divindade de sua natureza. 9. "Ele {o {o complexo complexo de Édipo] contribui para a constituição da realidade.” realid ade.” Artigo Artigo da Encyclopédie Française, vol. Française, vol. 8,40-13. 10. Artigo citado, p. 13. L ’OedipeAfricain, p. OedipeAfricain, p. 64. 11. Marie-Cécile Marie-Cécile e Edmond Ortigues, Ortig ues, L 12. Idem, pp. 67-68. umelles] es] que 13. Outro Outr o exemplo, exemplo, extraído da clínica clínica de d e F. F. Dolto, é o de duas irmãs gêmeas \j gêmeas \jumell que ficaram subitamente mudas e como que mortas para todo o seu círculo. Uma longa investigação revelou que a doença se havia instalado no dia seguinte em que o pai, descobrindo no fundo de uma gaveta um velho binóculo de teatro [lorgnette ou jumelles], jumelles], ordenou [lesjumelles] no lixo”. ordenou “quejogassem o binóculo binóculo [lesjumelles] lixo”. Podemos leroutr lero utros os exemplos decisivos dessa primazia do significante sobre o significado na análise que Serge Leclaire faz de alguns sonhos de seu paciente Philippe e do próprio Freud, exemplos que, infelizmente, são extensos demais para que possamos retomá-los aqui. Cf. a propósito S. Leclaire, Psychanafyser, cap. Psychanafyser, cap. I, II e V. 14. Como o algarismo romano V, em que o gênio de Freud soube reconhecer um significante-chave do “Homem dos Lobos”. Esse significante expressa e literaliza, ao mesmo tempo, na origem, a posição da mãe quando da percepção da cena primária, a hora da descoberta descobe rta - e também aquela em em que mais mais se altera o humor humo r do paciente todos Os dias. Como assinala ainda o sonho dos cinco lobos e a fobia à borboleta de asas abertas em V, riscadas nas cores e no modelo do vestido de Grusha, a empregadinha que o paciente havia atacado quando, esfregando o soalho, ajoelhada e com as pernas afastadas, ela lhe reproduziu reprodu ziu a imagem imagem da mãe na cena primária. Voltamos Voltam os a encontráencon trálo, além dos lobos (Wolf), ( Wolf), na na importância desmedida que teve para o futuro futu ro paciente uma série de personagens cujo único traço comum era chamarem-se Wolf. E, para terminar, termi nar, nO nOextraordin extrao rdinário ário sonho da vespa vespa (Wespe), em que o paciente, cujo nome tinha por iniciais iniciais S.P S.P.. (Espe [na pronúncia alemã alemã das letras]), letras]), castra a si si mesmo através do signo em que se marcara a decepção originária. Citemos aqui o texto freudiano Psychanatyses,, p. 397 [tradução brasileira in E.S.B., E.S.B., vol. (tradução francesa in Cinq Psychanatyses XVII]): “Disse ele: ‘Sonhei que um homem estava arrancando as asas de uma Espe... ‘Espe’, tive de perguntar-lh - ‘Espe’, tive pergun tar-lhe, e, ‘o que você você quer dizer com isso?’ - ‘O senhor senh or sabe, s abe, esse inseto que tem listras amarelas amarel as no corpo e que q ue pica.’ Devia ser uma alusão a Grusha, Grus ha, à figura listrada de amarelo [tratava [tratava-se, -se, como como a borboleta, de outro objeto obj eto substituto sub stituto de Grusha, ela própria objeto substituto da mãe - como todas as mulheres agachadas, diante das quais o paciente experimentava experimentava uma compulsão irre irresistív sistível el (este texto entre colchetes é nosso)]. - ‘Você quer dizer Wespe (Vespa’ Wespe (Vespa’ em alemão)’, corrigi-o. - ‘Ah, é Wespe que Wespe que se diz. diz. Eu realmente realm ente achava achava que qu e se dizia dizia EspeV (Como (Como tantos outros, ele se valia do fato de ser estrangei est rangeiro ro [o Homem dos Lobos era russo] como capa para prati p raticar car Espe sou eu, S.P.’ (as iniciais de seu nome). Espe é, atos sintomáticos.) ‘Mas Espe Wespe mutilada. O sonho dizia claramente que ele estava se naturalmente, uma Wespe vingando de Grusha por sua ameaça de castração.” Tratava-se de uma ameaça de castração enunciada por Grusha depois da da investida investida feita pelo paciente dura d urante nte a cena cena do soalho. 15. S. Leclaire fez a mesma constatação: “Contudo, a necessidade da questão da determinação ou da fixação dos elementos constitutivos desse inconsciente aparecerá melhor se, ultrapassando o contexto da análise análise das neuroses, nós nos empenharmos empenh armos em considerar o que é revelado pelo estudo do fato psicótico, e mais particularmente
a psicose esquizofrênico; esquizofrênico; efetivamente encontramos nesses casos um conjunto literalmente literalm ente composto dos mesmos mesmos elementos elementos que compõem o inconsciente do neurótico, mas cujo lastro ou centração cen tração não é assegurado por nenhum termo, ou, mais simplesmente, cuja ordem não é assegurada por coisa coisa alguma alguma,, o que corresponde, correspon de, de fato, à ausência de inconsciente. inconsciente. Assim nos vemos, vemos, com o esquizofrênico, esquizofrênico, confrontados confr ontados com sombras de letras, cada uma das quais remete indiferentemente, seja ao conjunto das outras sombras, seja exclusivamente a uma delas, que parece fazer para ele as vezes de complemento sexual; mas não podemos reconhecer, na análise, nada que mereça realmente o nome de letra. A materialidade da letra manipulada pelo esquizofrênico esquizofrênico parece, na verdade, duplamente abstraída de qualquer referência corporal, não sendo mais, ais, no final das contas, doque doq ue uma sombra de letra, istoé, uma materialidade materialidad e que não remete a nada senão à materialidade ma terialidade de todas as letras.” S. Leclaire, Psychanafyser , pp. 124-125.
capítulo 4 A INTERPRETAÇÃO PSICANALÍTICA PSICANALÍTICA DA DA PSICOSE PSICOSE.. A METÁFORA PATERNA E A FORACLUSÃO
Os textos fundamentais que estão na origem das idéias idéias freudianas sobre a psicose (ou, como às vezes se exprime Freud, das neuroses narcísicas, denominação que abarca na maioria das vezes, vezes, sem outras outr as distinções, distinções, a esquizofrenia, a parafrenia, e a paranóia) paranó ia) são são o estudo sobre as memórias do Presidente Schreber (1911) (1911) e Sobre o Narcisismo: Introdução (1914). Introdução (1914). Na opinião de Freud, Freud, o cas casoo Schrebe Schreberr pode ser apresentado, pelo pelo menos em primeira primeira análise, como uma para paranói nóia1liga a1ligada da à gênese ou ao ressurgimento ressurgimento de desejos homossex homossexuais uais.. Essa paranóia par anóia evolui em em seguida, seguida, po porr razões que Freud Freud se se esforça por elucid elucidar, ar, mas mas que só se tornarão plenamente plenamente evide evidente ntess no artigo de J. Lacan sobre sobre o mesmo assunto,2para assunto,2para um delírio erótico-religioso. Freud Freud liga liga esses esses desejos ao que denomina de estágio nareisico nareisico no devir da libido. No curso de desse sse estágio, estágio, originariamen originariamente te auto-erótico, a libido evolui libido evolui progress progressivam ivamente ente para um uma escolh escolhaa ob objeta jetai.i. Toda Todavia via,, antes de se dirigir dirigir para um objeto objeto plena plename mente nte dife difere rent ntee (ou (ou seja seja,, de sex sexo difere diferente nte), ), a lib libid idoo atravessa uma fase intermediária, elegendo um objeto mais mais semelhante semel hante a ela própr pr ópria, ia, isto isto é, do mesmo sexo. sexo. Toda fixação fixação ou regres regressão são a essa fase, fase, regressão que de fato ocorre oc orre no caso de Schreber, seria responsável por p or um homossexu homossexualism alismoo manifesto manifesto ou latente latente de cunho cunho permanente, permanente, se a fase fase em questão nunca fosse ultrapassada, ou o u por po r um impulso homossexual, homossexual, se houvesse regressão.3Des regressão.3Dessa sa fixaçã fixaçãoo ou dessa regressão o sujeito, sujeito, entre ent re outras outras reações possíve possíveis, is, poderia poderia defender-se defender-se através de um delírio delírio de tipo paranóico paranóico.. Daí a ligaç ligação ão que a psica psicaná nális lisee estabel estabelece ece classic classicam ament entee entre paranóia e ho hom mossex ossexua ualism lismo. o. Sabe Sabemo moss també também m que essas essas aspiraç aspirações ões homossex homossexuais uais não são simplesmente aniquiladas quando a libido atinge ati nge a fase heterossexual, mas mas que, sublimadas, sublimadas, encontram-se na bas basee da maioria dass atitudes e sentimentos soci da sociais ais.. Mas Mas em que e como a paranóia paranóia constitui const itui uma defesa defesa contra contr a essas tendências? Freud Freud assinala - e essa constatação é importante importante - "que "que as principais 69
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formas conhecidas da paranóia paranó ia [podem [podem]] ser ser todas resumidas em formas formas diversificada diversificadass de contradize contradizerr uma única proposição: ‘eu (um homem) o amo (a ele, um homem)’ homem)’; e mais, mais, que elas esgotam esgotam todas todas as maneiras maneiras possíveis possíveis de formular formular essa contradição'' contradição''.4 .4Podemos Podemos assim distinguir distinguir três grandes tipos de delírios paranóicos: o delírio de perseguiç perseguição, ão, que contradiz o verbo v erbo da frase (eu não o amo, odeio-o, porque ele me persegue); o delírio erotomaníaco, erotoman íaco, que contesta o complemento complemento (não amo amo a ele, e sim a ela, porq porque ue ela ela me ama); a); e o delír elírio io de ciúm iúme, qu quee se volta lta contrao suje sujeito ito dessa ssa mesma mesma oração (eu não o amo, amo, é ela que o ama)/ am a)/ O delírio delíri o de perseguição inverte o amor em ódio. Ele me odeia, já que me persegue, persegue, portan p ortanto, to, éjust éju stoo que qu e eu o ode odeie. ie. Entret En tretanto anto,, podemos podemos nos perguntar perguntar porque porque o ódio não se exprime exprime diretamente diretamente e requer requer um desv desvio io através do ódio e da perseguiç perseguição ão do outro. outro . É que estamos lidando, aqui, com o mecanismo mecanismo fundamental fundamental da paranóia, que é a pr projeção. O sentimento de ódio experimentado perante pe rante o objeto amado amado é projetado para fora e volta dó exterior para o sujeito sob sob a forma de um ódio persecutório persecu tório que justifica justifica o ódio retribuído pelo sujeito. sujeito. Assim ssim, Flec Flechs hsig, ig, o antigo médic médicoo de Schreber a quem ele era e ra muito apegado, “odeia Schreber e o persegue; persegue; esforça-se esforça-se por matar ma tar sua alma e por po r se aliar a Deus para transformá-lo tr ansformá-lo em mulher", o que justifica o ódio inexpiável que Schreber lhe devota. Os mecan mecanismos ismos de projeção e retorno reto rno são s ão aí particularmente flagrante flagrantes, s, em razão dos laços de afeição afeição que existiam existiam inicialmente entre entre os dois homens homens e em razão do tip t ipoo de perseguição exercid exercida. a. Na verdade, porém, porém, podemos identificá-los identificá-los sem dificuldade em todos todos osdelí osdelíri rios os de de perseguição, qu quee mais mais não seja pelo fato de o perseguidor ser invariavelmente uma pessoa anteriorme anter iormente nte amada, amada, ou um represent rep resentante ante dessa dessa pessoa pessoa.. O delírio erotomaníaco eroto maníaco muda o sexo sexo do objeto. objeto. “Não é a ele que amo, amo, é a ela.” O que se transforma, transforma, em virtude virtude do mecanismo mecanismo de projeção, em “evidentem “evidentemente, ente, da d a me ama, porta portant ntoo posso amá-la” amá-la”.. Essa Essa interpreta interpretação ção éjustificada por p orum umaa razão dup dupla, la, que é encontrada encontrada em todos os delírios delírios erotomaníacos. erotomaníacos. É que, antes de mais nada, nada, em toda erotomania, é sempre, como se diz, o objeto que começa. Antes de amar, o sujeito percebe repentinamente, repentinamente, po porr sinais sinais indiscu indiscutíve tíveis, is, numerosos numerosos e patentes, que que é amado por uma uma dad adaa pesso ssoa, que ele ele então então passa a amar amar com a mais absurd surdaa paixã ixão. E depois, ocorre ocor re que esse objeto está sempre ligado, ligado, de uma maneira ou de outra, outr a, a alguma ou outra tra pessoa em quem quem o doente tem grande interesse. Por Po r exemplo, exemplo, o sujeito suj eito percebe per cebe que é amado pela mulher m ulher de um u m amigo amigo.. Ou ainda, uma mulher mul her sente-se amada amada pelo padre de sua paróquia, o qque ue lhe dá ensejo de se encontrar reiteradamente, a fim de lhe expor seus problemas problemas amorosos amorosos,, co com m a irmã irmã desse desse pad padre. re. Outra mulheré mulh eré amada amada por um colega de escritório escritório e va vaii se se aconselhar com a chefe chefe da seção seção qu quee conhece a ambos.6
interpretaçã interpretaçãoo psicanalítica psicanalítica da psicose psicose 71
O delírio de ciúme substitui substitui o sujeito sujeito da frase por por um sujeito do sexo sexo oposto: “não “não sou eu que o amo, é ela que o ama". ama". Ou ainda, quando quando a paâe paâent ntee é uma uma mulher: “não sou eu que tenho queda pelas mulheres, é ele, meu marido ou meu no noivo ivo,, que tem". O ciumento ou a ciumenta suspeitam de que seus parceiros parceiros amam toda e qualquer pessoa pessoa que ele eleou ou ela se sentiriam sentiriam tentados tenta dos a amar. Aqui, não nã o há nenhuma n enhuma necessidade de inversão, inversão, já que, desde o começo, supõe-se que o processo proc esso se desenrole dese nrole no Outro Outro::é o outro que ama o terceiro. Essa Essa interpretaçã interpretaçãoo se baseia em certas certas particularidades, particularidades, difíc difíceis eis de explicar explicar de outra outra maneira, maneira, encontradas em todo ciúme delirante. Sobretudo o feto de que o ciumento parece sempre mais mais preocupado preocupado co com m o comportamento e a pessoa do rival do que com as traições da infiel. Freqüentemente, Freqüentemente, esse rival rival é adornado por por atrativos e dotado de artimanhas que o tornam tornam praticamen praticamente te irresistível, irresistível, de modo que ciumento tem que sé ocupar dele ininterrup ininterruptament tamentee para conseguir desarticular desarticular todos os seus seus plano planos. s. Mas essa essa suspeita suspeita de todos todos os os instante instantess é tamb também ém um uma maneira maneira de torná-lo ininterruptamente presente. presente. Mas existe ainda uma outra maneira de contradizer a proposição considerada, que consiste em negá-la por completo, pura e simple simplesmen smente: te: “não amo nada nem ninguém”. Mas como, diz-nos Freud, é realmente precis precisoo que a libido libido se invi invist staa em algu algum m luga lugar, r, essa essa proposiç proposição ão eqü eqüiva ivale le a dizer que que a libido libido está está investida em mim e que “só amo a mim mim mesmo". mesmo". Daí o delírio d elírio de grandeza, que não é outra out ra coisa senão uma superestima sexual sexual de si mesmo, mesmo, como em geral geral se superestima superes tima todo objet o bjetoo de amor, como acabamos de observar a propósito do rival no delírio de ciúme. Ademais, Ademais, como veremos veremos que, segundo Freud, a psicose psicose sempre se caracteriza por um refl refluuxo mais ais ou men enos os acen acentu tuad adoo da libid libidoo pa para ra o pró própri prioo suje sujeit ito, o, não há nada de surpreendente em que apareçam traços mais ou menos acentuados de delírio de grandeza na maioria dos caso casoss de psicose psicose de tipo paranóico paranóico ou esquiz esquizof ofrê rênic nico. o. Isso Isso é muito muito evidente evidente no caso caso deSchreber, que, ao ao mesmo tempo, consegue sozinho mante manterr em xeque as ações de Deus, tornar-se o objeto do gozo sensual da pessoa de Deus e gerar, por obra deste, uma nova humanidade. Contudo, examinem examinemos os mais mais de perto perto o mecanismo mecanismo da forma formação ção dos sintomas e o gênero de recalcamento recalcamento a que que eles estão ligado ligados, s, já que que o desejo homossex homossexual, ual, por por mais mais patent patentee que nos pareça, nuncaé nunca é reconhecido, reconhecido, pelo menos em Schreber. É pouco pouco provável, de fato, que os dois coincidam. Já que o recalcamento visa visa a apagar, ao passo que que os sintomas sintomas - ê essa essa a doutrina doutrina constan con stante te de Freud Freu d - procuram, procuram, de maneira mais mais ou menos menos mascarada, mascarada, trazer traz er satisfação ao recalcado recalcado.. projeção. Como já mostramos, o núcleo da formação dos sintomas sintomas é a pr Uma certa “vivência” interna é atingida pela proibição, rejeitada para fora e, ao mesmo tempo em que q ue sofre uma uma certa certa deformação, aceita sob essa essa
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forma na na consciê consciência ncia.. O caso mais mais claro claro é o da perseguição perseguição em que o amor que a pessoa tem pelo outro outr o transforma-se num ódio que o outr o utroo nutre n utre por ela. ela. Ob Obser serve vemo mos, s, com com Freud, que essa essa projeçã projeçãoo não tem a mesm mesmaa importância em todos os tipos de delírios e que, além disso, disso, a projeção não é própria própria nem da paranóia, nem tampouco tampouco da própria própria patologia. patologia. Essa constatação interrompe a investigação de Freud, que passa então ao problema do recalc recalcame amento nto propriamente paranóic paranóico. o. Freud começa começa por expor que todo recalcamen recalcamento, to, sendo esse esse termo tomado tomado aqui em seu sentido m mais ais amplo, amplo, comporta comporta três três elementos ou fase fases: s: a fixação fixação,, o recalcamento recalcamento propriamente trata de patolog patologia, ia, propriamente dito e, quando se trata isto isto é, de um recalcamento que fracassou mais ou menos amplamente, amplamente, o retorno reto rno do recalca recalcado do.. a) A a) A fixação fixação.. Esta resulta do fato de que, por uma razão a ser determinada, determi nada, uma pulsão ou um component componentee da pulsão não acompanha a evolução da libido em seu conjunto, conjunt o, permanecendo permanecendo imobiliza imobilizada,/ir da,/irada ada num estágio de evoluçã evoluçãoo infantil. Em relação às oorganizaçõ rganizações es ulteriore ulterioress e mais complex complexas as da libido, esse esse setor setor congelado e ultrapassado ultr apassado torna-se torna-s e inconsciente e fica numa numa situação praticamente praticamente equivalente à que resultaria resultaria de um recalcamento recalcamento positivo. Essas Essas áreas solidificadas e provisoriamente provisoriamente sufocadas sufocadas assumem grande importância importância nos casos casos em que, po porr alguma razão, as organizações menos arcaicas, mais evoluídas, mas também mais mais frágeis, frágeis, atravessam uma crise ou at atéé desmoronam. b) O recalcamento propriamente dito, dito, ou proibição do acesso à consciência e a seus atos, é executado pelas instâncias superiores da consciên con sciência cia e do eu eu - Freud Freud emprega as duas expressõ expressões es e ainda não não distingue distingue,, nessa época, as diversas instâncias repressoras inconscientes - em relação a aspirações psíquicas inaceitáveis para essas instâncias, ou ainda em relação a produtos produt os das pulsões atrasadas e submetidas s ubmetidas à fixaç fixação ão;; Freud Freu d nota que o recalcamento recalcamento é tão mais fácil fácil de realizar quant quantoo mais mais os elementos a serem serem recalcados se aparentam de perto com elementos já recalcados anterior anteriormente, mente, o que implica implica uma uma ação de atração atração do inconsciente recalc recalcad ado. o. O dinamismo dinamismo deste se ex exerc erce, e, portant portanto, o, num duplo sentido. Procura, ao mesmo mesmo tempo, abrir ab rir uma saída saída para para a consciência consciência e puxar puxar para si o que ainda não é inconsciente. c) O retorno do recalcado, recalcado, quando quando o recalcamento não é suficiente. suficiente. Freud Freud insiste insiste no fato fato de que “essa “essa irrupção irrupção nasce no ponto ponto em que a fixaç fixação ão teve lugar e implica implica uma regressão da libido l ibido até esse ponto pont o exato”. exat o”.77 Existem, é claro, tantos pontos de fixação possíveis (e tantos “fiascos” da evolução evolução libidinal) quantas q uantas são as fases fases ou estágios distintos dist intos que que essa evolução comporta. Podemos imaginar que as modalidades do recalcamento, assim assim como as do retorno reto rno do recalcado, recalcado, terão terão seu caráter caráter próprio con conform formee o ponto de fix fixação impli implica cado do e a regre regressã ssãoo
interpret interpretação açãopsicanalítica psicanalítica da psicose psico se 73
correspondente. Observe Observe-se -se aqui que Freud, Freu d, sem o dizer, dizer, traçou traço u o piano p iano de uma diversificação diversificação sistemática das “afecções “afecções mentais", mentais" , sem que, no entanto, entan to, a execuç execução ão desse desse plano tenha te nha sido s ido plenamente realizada desde então. entã o. E ele acrescenta, mas sem fornecer maiores explicaçõ explicações, es, que seria sem dúvida quimérico esperar que se pudesse dar conta de todas as particularidad particularidades es de um dad dadoo quadro clínico clínico atrav através, és, unicame unicamente, nte, da evidenãaç evidenãação ão da evolução evolução sofrida sofrida pela libido em tal caso. caso. Isso não constitui uma saída para para escapar a uma dificuld dificuldad ade, e, mas sim a constatação, primeiro, de que que nenhuma nenhuma investigação investigação ppsicanalítica, sicanalítica, por por mais longe que seja levada, levada, pode pode ser exaustiv tiva, e seg segundo, de qu quee existe istem m efei efeito toss secundários da doença que já não não têm uma dependência dependência direta direta das origens desta, ma mass são induzidos pelos pelos efeitos efeitos primário primárioss ou por outros fatores, fatores, co como mo,, por ex exem emplo plo,, a personalida personalidade de pré-m pré-mórb órbida ida.. A aplicação das noções que acabamos acabamos de expor ao caso Schreber perm permit itiu iu a Freud Freud esta estabbelec lecer novos po pont ntos os a n sua sua inte interp rpre reta taçã çãoo da psico icose. Freud observou, tanto tanto com base base em relatos méd édico icoss quanto quanto nas memórias memórias do própr próprio io Schreber, Schreber, que, na fase aguda inicial inicial da doença, doença, este este teve a sensação de estar assistindo ao fim do mundo. Os seres vivos, homens e animais, pa parec reciam iam-lh -lhe nã nãoo passar sar de som sombras ras, sen sendo ele ele próp próprio rio o único ico sobrev revive ivente num mundo devastado e petrificado. Em outros momentos, porém, a transformação do real parecia dizer respeito principalmente a ele mesmo: também ele se sentia morto, mor to, com o corpo cor po em decomposição decomposição;; chegou até a ler num jornal jor nal a participação de seu falec falecimento imento.. Depois, achou que o morto morto era seu duplo duplo ou sua sombra, de que se havia havia separado. Mais tarde, todas essas idéias idéias delirantes desapareceram, dando lugar lugar a outras. Foi então então que começou sua transformação progressiv progressivaa em mulher, mulher, acompanhada pel pelaa perse rseguiçã ição e depois alia liança divinas; a única ica lig ligação en entre tre os dois grup rupos de delírios eram e ram a má vontade e a perseguição de Flech Flechsig, sig, responsável tanto tanto por por catástrofes cósm cósmicas icas qua quanto nto pelo assassinato da alma de Schreber e pelas perseguições divinas desencadeadas por sua instigação. Só no momento em em que Schreber conseguiu inverter a perseguição perseguição divina divina numa aliança (em (em todos todos os sentidos da palavra) com Deus é que Flechsig finalmente encontrou um adversário a sua altura. É comum constatar, numa ou noutra nout ra forma, forma, na fase inicial aguda aguda de uma esquizofrenia paranóide (Freud diz “paranóia"), uma [vivênc ncia ia de fim de mundo].8Mas mundo].8Mas Freu F reudd fornece, Weltuntergangserlebnis [vivê pela pela primeira primeira vez vez, uma uma explic explicaç ação ão analíti analítica ca.. Esse Esse desbotamen desbotamento, to, esse desmoronamento, desmoroname nto, não passam da experiên experiência, cia, no real, da retra re tratação tação dos investimentos libidinais libidinais objetais do enfermo, retração retração que é característica da “psicose narcísica”, e os investimentos retirados dos objetos são retransportados, além disso, para o próprio eu. Quanto à morte do doente e à decomposição de seu corpo, elas exprimem o profundo abalo
ser de um morto. Esse desastre desastre,, que é sublinhado por por uma multiplicidade de impressões hipocondríacas delirantes (que têm, aliás, mais outra signific significaç ação ão de que falaremos falaremos adiante), pode ser prontame pro ntamente nte superado, jáque,aoaban jáque,a oabandona donarseu rseusinve sinvestime stimentoso ntosobjeta bjetais,osu is,osujeito jeitoconce concentras ntrasua ua libido em si mesm mesmo, o, o que em pouco tempo tempo o leva a se se superestimar, superestimar, como como é costumeiro superestimar-se todo ''o ''obje bjeto" to" de amor—Essa amor—Essa superestima de si apresenta-se apresenta- se em Schrebêr sob a aparência a parência de d e uma aliança aliança divina e de uma obra redento red entora ra em relação relação à humanidade humanidade.. Maisdifícil de vencer é o desmoronamento na extrema extrema fragilidad fragilidadee dos homens e das cois coisas. as. A esse respeit respeito, o, Freud Freud acrescenta mais uma pedra à construção construção de de seu edifício, edifício, uma nova dimensão à sua concepção do delírio. Se, de lato, lato, o delírio pod podee e deve ser compreendido como uma manifestação manifestação do inconsciente do sujeito sujeit o - e que é tão menos menos disfarça disfarçada da quanto qu anto mais mais se trat trataa de de uma psicose mais mais regressiv regressiva; a; se ele é também, também, como tod todoo sintoma, um modo de realização dos desejos - nem que sejam masoquistas e de autopunição autop unição -, e de nov novo, o, tão tã o menos dissimulado dissimulado quanto mais mais arcaica arcaica é a fixação fixação de que surge, ele possui ainda uma outra ou tra função que Freud nos revela em seu comentário comentár io sobre sob re Schreber. Schreber. É que o delírio é também, também, e essencialme essencialmente, nte, uma tentativa de restauração do mundo, um esforço pa para ra reconstruir recons truir um cenário comum comum em que os outros outro s e os objetos possam possam ressurgir ressurgi r e ser investidos. investidos. Assim Assim,, longed longedee o delírio delírio ser a marca da doença, ele já é 0 caminho para a cura e seu esboço esboço.. Essa Essa maneira maneira de ver só parecerá paradoxa paradoxall a quem nunca tiver tido a oportunidade de comparar, no plano do estar-co estar-com-out m-outrem rem e da coexistênc coexistência, ia, um hebefrênico grave, grave, mas mas sem delírio, e um esquizofrênico paranóide, paranóide, mesmo mesmo em fase ag agud udaa Mas citemos citemos o própr p róprio io texto de Freud, ainda que nos desculpemo desculpemoss por sua extensão: extensão: "O paranóico reconstrói reconstr ói o un unive iverso rso... ...O O que tomamos por pro por produç dução ão mórbida, a formação do delírio, é na realidade a tentativa de cura, a sucesso, depois depois da catástrofe, é maior ou menor; nunca reconstrução. reconstrução. Seu sucesso, é total. tota l. Entrementes, Entrementes , o homem enfermo reconquista uma uma relação com as pessoa pessoass e as co coisa isass deste mundo, mundo, e amiúde amiúde seus seus sentimentos sentimentos são dos mais ais intensos, embora possam possam agora agora ser hosti ho stison sonde de antes eram simpáticos simpáticos e afetuosos. afetuosos. Assim Assim,, podemos podemos dizer que o processo próprio própr io do do recalcamento recalcamento consiste no fato de que a libido se desliga das pessoas - ou coisas anter anterior iorment mentee amadas. amadas. Esse processo se realiza em silêncio: silêncio: não sabemos que está está ocorrendo ocorrendo,, e somos fbrçados a inferi-lo inferi-lo dos processos que se seguem a ele. O que atrai at rai flagrantemente nossa nossa atenção é o processo de cura que suprime o recalcamento e restit restitui ui a libido libido às às mesmas esmas pessoas pessoas que ela havia abandonado. abandonado. Ele El e se realiza, realiza, na paranóia, por por intermédio intermédio da da projeção. projeção. Não era certo cer to dizer que o sentimento reprimido reprimido dentro dentr o foss fossee projetado para
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fora: fora: dev devería eríamo mos, s, antes, dizer dizer... ... que o que foi abolido dentro dentr o retom ret omaa de fora."9 A interpret interpretação ação que acabamos acabamos de ler convida convida a formularmos uma perg pergun unta ta esse essenncial, ial, à qual, em 1912, Freud Freud ainda ainda de deuu ap apen enas as uma uma resp respos osta ta hesitante: em que medida medida a retirada dos investime investimentos ntos objetais objetais e seu seu reto retomo mo a paranóia, mas qualquer qual quer psicose, psicose, o que que transformaria a exp expressão ressão “psico “psicose se nardsica" nard sica",, de que q ue Freud se valia valia de bom grado, grado, numa tautologia? Além disso, disso, admitindo-se essa extensã extensão, o, restaria encontrar encontr ar nessa base base comum que esses esses dois quadros não podiam podiam ser confundidos. confundidos. A resposta resposta é que é que se há, num e noutr noutroo casos, casos, nardsismo nardsismo no sentido que que acabam acabamos os de esclarecer, esclarecer, a esquizofrenia se caracteriza “por uma outra localização da fixação predisponente e por um outro mecani mecanismo smo de retorno do recalca recalcado" do".1 .10 E quais quais são eles? Freud aborda primeiramente pr imeiramente o segundo segundo pon ponto to e considera considera que, que, no esquizofrê esquizofrênico, nico, o retorno ret orno do recalcad recalcadoo e a tentativa de restauração do mundo se fazem fazem, certamente certamente não mais pela projeção, porém porém pela pela “ ag agita itaçã çãoo alucin alucinat atór ória ia". ". Os Os co conte nteúd údos os de desta sta seria seriam m forn fornec ecid idos os pe pelo loss “resíduos, a que os doentes doentes se aferram aferram convulsivam convulsivamente, ente, dos investimentos investimentos objetais do passado".1 passado" .11Retrucamos que está está longe de ser certo cer to que toda esquizofrenia comporte comporte essa agitação alucinatória, ou mesmo mesmo qu quee o inverso inverso seja certo. Freud sem dúvida responderia, e com Justa razão, que os esquizo esquizofrênic frênicos os não alucinados ou não delirantes - pois evidentemente pod podem emos os este estend nder er ao de delír lírio io a inte interp rpre reta taçã çãoo que Freud Freud forn forneece da ag agit itaç ação ão alucinatória - são justamente justa mente aqueles aqueles para quem o prognóstico é mais mais sombrio, sombrio, e de fato o é porque por que a ausência de delírio delí rio prova prova que a retração nardsica nardsica não não é combatida por por coisa alguma, alguma, que o “recalcamento" em que ela consiste reina reina maciçame maciçamente, nte, visto visto que que não se esboçã nenhuma tentat tentativa iva de reinvestimento objetai, contudo, essa argumentação exigiria uma
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Mas esse “real” “real” é justamente justamente o que a realidade impõe que seja ferrenhamente ferrenhamente recalcad recalcado. o. Onde está, nesse caso, caso, o compromisso compromisso próprio próprio do do sintoma? sintoma? Este aparecia nitidamente em Schreber. A perseguição que Flechsig exercia sobre sua pessoa pessoa restabeleceu um certo “r “real" eal" e, ao mesmo mesmo tempo, deu ao antigo antig o amor uma satisfação, satisfação, se bem que dissimulada, dissimulada, já que esse amor a mor se invertera em ódio contra cont ra o perseguidor perseguidor.. Não há nada dessa ordem, ao que parece, no caso de Marie-Thérèse, ao qual qua l acabamos acabamos de fazer alusão. Seu delírio delíri o exprime sem o menor men or disfarce a irrupção, irrupçã o, na na consciência, de desejos e fantasias normalmente normalmente inconscien inconscientes, tes, a pont pontoo de sua consciência consciência ser totalme tota lmente nte inundada inundada e devastad devastadaa por eles. eles. Como identificar alguma alguma restauração do “real” onde há apenas uma explosão pulsional? Acrescent Acrescentoo apenas uma explosão que, poucos dias dias depois da conversa conversa em que Marie-Thérèse Marie-Thérès e nos enunciou enuncio u esse discurso, ela mergulhou num acesso de catatonia estuporosa que, em outras outras épocas, teria posto posto sua vida vida em perigo. Schreber se defendeu, pelo retorno reto rno a um real delirante, de um recalcamento recalcamento autista que, por po r sua vez vez,, tinha que defendê-lo defendê-lo - diz-no diz-noss Freud - de uma uma súbita irrupção de pulsões homossex homossexuais. uais. O Presidente Presidente conquistou conquistou assim uma uma posição de de relativo equilíbrio: superou superou o autismo (sem sucesso completo, é verdade, mas isso isso tem pouca importância), importância), criando criando para si, no “real”, uma satisfação disfarçada disfarçada e aceitável aceitável de seus desejos ho hom mossexua ossexuais. is. E, podemos dizê-lo - num sentid sentidoo ao mesmo mesmo tempo muito amplo e muito relativo a caminho da “cur “cura”. a”. Aliás, Freud o afirma. afirma. Não há nenhum nenhum vestígio vestígio dessa posição posição intermediária intermediária em Marie-Thérèse, que passa sem transição de um eu tota totalmen lmente te subjugado para um eu totalmente va vazi zioo. De Descr screve evería ríamo moss seu caso caso com com bastante exatidão dizendo, com Minkowski e outros, que ele manifesta a transformação transformação de um autismo rico num autismo autismo pobre. O que manifesta contra o delírio do que o delírio como defesa muito mais uma defesa contra o defesa.. Cabe assim concluir que, nesse ponto pon to do pensamento pensamento de Freud, Freud, a discriminação discriminação e a distinção das diversa diversass fiinçõ fiinções es do delírio delírio (ou da alucinação) continuam bastante incertas e obscuras. Passem Passemos os agora à outra outra questão, que ficou em suspenso, suspenso, concernent concernentee ao pon ponto to de fixaçã fixaçãoo da psicose psicose esquizofrê esquizofrênica. nica. Freud Freud o aborda aborda observando - o que que não é contestado desde desde Kraepelin - que o prognóstico prognóstico dessa psicose psicose é muito menos favorável que o da paranóia Em regra geral, o recalcamento sai finalmente (senão (senão totalmente total mente ) vitorioso, o autismo não é superado superado e a regressão vai além do narcisism narcisismo especular, especular, onde se se origina, na opinião opinião dos psicanalistas, a paranóia. O que indica que a falha onde se fixa a predisp predisposi osição ção para o tornar-se esquiz esquizofr ofrên ênico ico situa-se situa-se num ponto ainda ainda mais recuado do que o narcisismo especular, “em algum lugar do início da evolução primitiva que que vai vai do auto-er auto-erotis otismo mo ao amor amo r obje o bjeta tal” l”.1 .12O que permite permite compreender compreender qu que, e, tanto na ida ida de sua regres regressão são quanto durante seu eventual retrocesso, o füturo fütur o ou antigo esquizofrênico passa passa por uma
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faseparanóica ou constitui um quadro em que se se encontram traços de ambas as afecçõ afecções. es. É isso isso o que se apresenta apre senta em Schreber, efetivamente, e que q ue justif justifica ica as hesita hesitaçõe çõess de de diagn diagnós óstic ticoo a que que me refe referi. ri.113 Parece-nos Parece-nos preferível, antes de passarmos ao estudo estudo de Lacan sobre sobre o livro de Schreber e seu comentário freudiano - estudo estudo que esclarecerá de maneira decisiv decisivaa alguns alguns problemas não resolvid resolvidos os por Freud Freud determo-nos determo-nos nos textos textos que Freud, posterior po steriormente mente a seu estudo sobre sob re Schreber Schreber,, dedicou dedicou à exposição exposição da teoria teoria psicanalítica da psicose psicose.. A esse respeito, já dissemos que o artigo sobre o narcisismo (1914) merece um lugar privilegiado. Em primeiro ponto pon to chama chama imediatamente a atenção: atenção: o narcisismo narcisismo específic específicoo da da psicose, psicose, ou seja, a retraç re tração ão dos investimentos investimentos objetais para o eu, eu , deve ser “concebido “concebido como um estado secundário, secundário, construído com base num narcisi narcisismo smo primário primário que foi foi obscuretído por múltiplas múltiplas influências".1 influências".14Isso sign significa ifica muito muito clarament claramentee que o narcisismo narcisismo originá originário rio nunca é inteiramente abolido e que os investimentos objetais só representam, de qualquer maneira, maneira, uma part uma parte, e, variável variável conforme as circunstâncias, da quantidade global de libido a ser investida. “Fundamentalmente, o investimento investimento do eu persiste."1 persiste."15 Dito de d e outra ou tra maneira, a psicose, psicose, ao menos de certo modo, modo, pode ser descrita não tanto tan to como um acidente, mas como o restabelecimento intensivo ou mesmo exclusiv exclusivoo de um regime que que nunca deixou por por completo completo de vigorar. vigorar. Existem, Existem, po pois, is, pu puls lsõe õess do eu voltad ltadas as para ara ele mesm esmo, qu quee de dele le se desviam iam em alg algum momento, momento, mas não inteiramente, inteiramente, e que podem retomar reto mar.. Ob Observ servamam-se, se, aliás, alguns alguns fenômenos não patológicos dessa retração retração dos investimentos objetais: o luto, lut o, o sonho s onho e a doença orgânica são exemplos exemplos evidentes evidentes dela. O sujeito consternado, c onsternado, o adormecido e o doente concentram em si si um interesse antes voltado para as coisas coisas do mundo externo e que lhes é recusado por eles eles no present presente, e, mesmo mesmo que seja seja apen apenas as por alg algum um tempo, cas casoo o adormecido adormecido acorde, acorde, o doente doen te se cure e o luto não seja seja patológi patológico. co. Freud arrisca inclusiv inclusivee um passo a mais. A evolução normal, normal, qu quee arranca arranca o indivídu indivíduoo do narcisis narcisismo mo originário originário para atirá-lo no amor objetai, teria te ria por po r motor moto r o fato de que a acumulação acumulação da libido libido no eu criaria para ele um estado estado doloroso de excess excessoo de tensão tensão - e sabemos que, para para Freud, toda tensão tensão é forçosamente dolorosa e acarreta, acarre ta, não menos forçosamente, um esforço para para suprimila: la: estas são leis psíqu psíquicas icas gera gerais is e absolutas -, um estado de tensão do do qual o eu se livraria descarregando descarregando parte pa rte de sua libido no mundo externo, externo , no maciço objeto. Esse mesmo princípio leva a compreender que o refluxo maciço dos investimentos objetais abandonados para o eu dá margem à percepção constantemente constante mente dolorosa do corpo próprio própr io que os psiquiatras psiquiatras chamam de hipocondria.1 hipocondria .16Uma primeira tentativa ten tativa de supera sup erarr esta última seria seri a o
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delírio de grandeza - e vimos ambos serem desencadeados na consciência de Schreber. Schreber. Por Po r último, último, o delírio tipicamente tipica mente parafrênico ou paranóico seria um esforço mais mais bem-sucedido bem-sucedido de cura, por por expulsar do eu para para pseudoobjetos fictícios fictícios e imaginários o excess excessoo de libido nele nel e estagnado, e que, sem essas medidas, tornar-se-ia intolerável. Embora essas visões não sejam incompatíveis com as que Freud desenvolveu desenvolveu em seu comentário comentário sobre sobre Schreber, diferem delas de maneira bastante sens sensív ível el,, posto posto que o que ali fora representado como como um meio meio de defesa defesa e um modo de recalcamento recalcament o aparece apar ece agora como uma situação não apenas original, original, mas mas permanente, quetodavia, q uetodavia, em certos momentos, volta a se toma tomarr predominante predominante ou exclusiva exclusiva Mas, Mas, quanto quanto à razão que explica explica essa inversão inversão das proporções entre en tre a libido objetai e a libido estagnada estagnada no eu, seriamos seriamos novamente remetidos ao que foi dito no n o estudo e studo sobre Schreber. Mas, “freqüenteme “freqüe ntemente nte - se não na maioria das vezes vezes -, a libido, na parafrenia, parafrenia, só se desli desliga ga dos dos objetos parcialme parcialmente, nte, o que no noss permite distinguir no quadro quadro dessa afecção três grupos de de manifestaç manifestações: ões: 1) as que corresponde correspondem m a uma conservação conservação do estado normal normal ou da neur neurose ose,1 ,17 (manifestações residuais); 2) as do processo mórbido (isto é, do desprendimento desprendime nto da libido dos objetos: objetos: delíro de grandeza, grandeza, hipocondria, hi pocondria, destruição dos afetos, todas as regressões) e 3) as que correspondem à restitui restituição ção que fixa fixa novamente a libido libido nos nos objetos, seja à maneira maneira de uma histeria (demência (demência precoce, precoce, parafrenia no sentido próprio), próprio), seja à de uma neurose neurose obsessiva obsessiva (paranóia). (paranóia). Esse investimento investimento recente recente da libido provém de um outro nível e em condições diferentes das do investimento primário”.18 Um quadro concreto de psi psicos cose, e, portanto porta nto,, apresenta apresen ta comumente três dimensõ dimensões. es. Primeiro, quando quando o autismo não é completo - e não pode sê-lo em termos absolutos absolut os a manutenção manute nção de alguns investimentos anteriore ante riores. s. Schreber nos explic explicaa que, que, embora se estivesse estivesse transformando transfor mando pr progress ressiv ivaamente em mulhe ulher1 r19e sen sendo sub submetid etidoo ao co coit itoo divino ino, co connserv servoou em relação a sua própria própria mulher mulher os sentimentos que lhe votara no no passado. passado. Diz-nos Diz-nos ele também que, após sua saída da clínica clínica,, teve que trata tratarr de questões judiciári judiciárias as relati relativas vas a sua própria famí família lia e pôde reso resolvê lvê-la -lass com um conhecimento jurídico intacto. Em segundo lugar, as manifestações da fase aguda, algumas seqüelas das quais podem subsistir após seu desaparecimento. Ao redigir suas mem memórias, órias, Schreber nos diz ter acreditado em sua própria pr ópria morte mor te e na de d e todos os outros outro s homens. homens. Já não pensa assim atualmente, mas nem por isso está menos convencido de que Flechsig “assassinou “assassinou sua alma”, e também de que os homens de hoje ho je já não são inteiramen inteir amente te como como os do passado. passado. Não estão mortos, como ele pensara erronea erro neamen mente, te, mas, as, mesmo mesmo assi assim m, reduzem-se reduzem-se a sombras de homens, a
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a homens atamancados atamancados às pressas, segundo ßlchtig ßlc htig hinge ingema mach chte te Män änne ner, r, a a tradução tradução sugerida por Pichot. Pichot. Por último último vêm vêm os delírios delírios restitutivos. Estes são, no n o caso caso de Schreber, suas convicçõe convicçõess atuais: sua mudança progressiva ddee sexo sexo,, suas rela relações ções (em (em todos os sentido sentidoss do termo) termo) com Deus e seu papel paia paia a humanidade futu fu tura ra Aqui aparece apar ece inclusive inclusive uma curiosa combinação de elementos do tipo ti po 1 e do tipo tipo 3, 3, e está reladonada com Flechsig Flechsig Nopr Nopref efäd ädod odes eseu eu livro livro,, Schre Schreber ber faz faz uma uma distinção entre ent re o eminente eminent e professor professor Flechs Flechsig, ig, de quem se diz um paden pad ente te recon re conhedd heddoo e a quem quem se descul desculpa pa por atacar, e, e, por outro ou tro lado, o monstro Flechsig, Flechsig, que quis quis atirá-l atir á-loo à prostituição, prostituição, que matou mato u sua almae alm ae que obteve obteve o concurso de Deus Deus para par a seus planos satânicos satânicos - sobre quem Schreber Schreber triunfou ao compreender que a orde ordem m univers universal al erigia que ele se convertesse na esposa de Deus. Um último último ponto pont o nos retém ainda ainda no texto texto anteriormente dta d tado do.. Freud faz uma distinção entre entre os mecanism mecanismos os de ''rest ''restitui ituição' ção''' que seriam próp próprio rioss da demênda preco recosc sc e da pa para rafr fren enia ia,, de um lad lado, e os que seria seriam m característicos característicos da paranóia, de outro. out ro. Os primeiros Os primeiros seriam aparentados aparenta dos com a histeria, e os últimos, últimos, com co m a neurose neu rose obse obsessi ssiva va.. Esse parentesco não é explicado, mas mas se esclarece ao sabermos qu quee a conversão somática e a identificação são típicas da histeria, hister ia, assim assim como o deslocamen deslocamento to o é da neurose obsessiva. No primeiro caso surgiriam delírios marcados prindpalm prind palmente ente por con conve versõ rsões es somática somáticass (e não é justamente essa essa a definição definição da hipocondria hipocondria?) ?) e po porr identificações (com Deus, com a Virgem, Virgem, com Napoleão); é no segundo surgiriam delírios marcados pelo deslocamento (par (paraa os comunistas, comunistas, os judeus, os franco franco-m -mações, ações, os jesuítas, os bruxelenses bruxelenses etc.), etc.), do qual qual a projeç projeção ão é uma modalidade, mas mas não não a única, como como vimo vimoss nas permutações permutações do sujeito, do verbo e do complemento expostas expo stas por Freud em seu estudo sobre s obre Schreb Schreber. er. As três modalidade modalidadess são encontrad encontradas as em em Schreber, o que qu e explica explica mais mais uma vez o diagnóstico diagnóstico bastante bastante inst instáv ável el (demênda prec precoc oce, e, esqu esquiz izof ofre reni nia, a, pa paraf rafre reni nia, a, paranó paranóia) ia) que Freud Fr eud enuncia, suce sucess ssiva iva ou simultaneamente, a propósito propósi to dele. Isso Isso pode ser cond condliado liado recorrendo-se a uma outra tese de Freud sobre as passa passage gens ns po poss ssív ívei eiss da paranóia à esquizo esquizofren frenia, ia, na fase fase ascenden ascendente, te, ed edaa esquizofrenia à paranóia, paranói a, na fase descendente. Não N ão parece haver ha ver dúvida dúvida,, tanto tanto pelos depoimentos dos médic médicos os quanto quanto pela descrição de suas próprias próprias lembran lembranças ças,, de que que Schreber era era esquizo esquizofrênic frênicoo na época de sua internação. internação. Acris Ac risee que motivou esta última teve, teve, de fato, todasas toda sas aparências aparências de um [surto] esquizof esquizofrênic rênico. o. Ao contrário, na época em que redigiu redigiu seu Schub [surto] livro e nos comunicou suas teorias e suas convicções, tal como foram elaboradas após a fase catastrófica, catastrófica, ele pare pa reda da mais estar manifestando um quadro paranóico. Na realidade, realidade, encontramos sintomas de ambas as ps psico icoses. Nã Nãoo falt faltam am nem as co connversõ rsões som somátic áticas as de delir liran ante tess (por ex exeemplo, lo,
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situ), nem sua transformação tr ansformação em mulher, cujos progressos ele verifica verifica in situ), nem as identificações identificações (por (por exemplo, exemplo, com a mulher mulher de Deus), nem tampouco, por outro lado, lado, as projeç projeções ões (por ex exem emplo plo,, todos todos os sentimentos sentimentos de e em relação a Flechsig). Posteriorme Posteriormente, nte, os textos freudianos freudianos relativos à psicose trouxeram mais mais alguns complementos complementos interessantes às idéias idéias que acabamos de expor. Em seu artigo sobre sobre o inconsciente, Freud Freud observa explicitamente explicitamente (G.W.,X, p. p. 295) que a inc incapacida idade de tran transf sfer erên ênci ciaa do esquizo izofrê frênico ico - e po porta rtant nto, o, a impossibilidade de submetê-lo à análise - depõe a favor da tese do narcisismo narcisismo e da destruição dos investimentos investimentos objetais. Isso, Isso, aliás, aliás, pode em em geral aplicar-se a todos todo s os traços característicos do autismo. Freud também constata, sem a pri princípio ncípio fornecer fornecer uma explicaçã explicaçãoo para iss isso, o, que vemos vemos surgir surgir nos enun enuncia ciados dos con consci scient entes es e ex expl plíc ícito itoss do esquizofrên esquizofrênico ico muitas muitas fantasia fantasiass e elementos que, no neurótico, permanecem inconscientes e só se se mostram mostram identific identificáv áveis eis no decorrer decorrer da análise. análise. O que justifica icativ tivaa da fórmula fórmula tão freqüentemente freqüentemente pode se afigurar afigurar como como uma justif utilizada: o neurótico neuró tico recalcad recal cadoo inconsciente, inconsciente, o psicótico recalc recalcaa o real. À primeira primeira vista, isso parece mais difíc difícilil de relacionar com o investimento nardsico nard sico do eu. Entre E ntretant tanto, o, se é verdade verdade que o recalcamento recalcamento é efetuado sob a pressão do real e que o investimento narcísico se desvia deste, é compreensível compreensível que as barreiras que se opõem à irrupção irrupçã o do inconsciente na con consciênc sciência ia venham a ceder. ceder. Mas Mas não é menos importan importante te observar que essas fantasias são transporta transportadas das para o real, de maneira mais mais estável estável e mais enraizada do que acontece do pseudo-real do sonho. Há H á uma diferença entre ent re Schreber sonhando, pouco tempo antes ant es de sua doença manifesta, manifesta, quee seria agradável ser mulher, e, na doença manifesta, a experiência dessa qu transformação, que qu e ele julgav julgavaa passível passível de ser constatada por outrem. Freud Freud se ateve também a algumas algumas alterações da linguagem linguagem que são próprias da esquiz esquizofre ofrenia nia e da dass qu quais ais já tratamos tratamos sob outra per persp spec ectiv tiva. a. A construção c onstrução das frases, observou ele, sofre uma desorganização desorganização que as toma toma absurdas. Trata-se, na na verdade, verdade, do que descrevem descrevemos os como confusão entre en tre o significante significante e o signif significa icado do.. A propós propósito ito disso, disso, Freud citou citou como exemplo exemplo uma paciente paciente levada levada para para a clín línica ica em seg seguida ida a uma uma viva disc iscussão são co com m o noivo ivo. Ela Ela se queixa ixava de problemas oculares, afirmou estar com os olhos “virados” e pediu que eles fossem endireitados. É que, explicou, seu noivo era um grande conversador, um hipócrita que “virava os olhos” das pessoas.21 Existe aí uma evidente confusão confusão entre entre o sentido sentido de uma expressão expressão e a imagem que o exprime, que serve para indicá-lo. Esses meios, os significantes, são tomados tomados em si e recolocados no real. O noivo “virara” “virara”
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os olhos da doent do entee assim como como o notívago da história de Leclaire, depois de levar uns trompaços dos tiras-andorinhas, afirmou-se atacado por pássaros de verdade. Mas também reconhecemos aqui - pois a do doent entee se queixou, além disso, disso, de não conseguir mais mais enxergar enxergar direito, de ter te r olhos quej qu ejáá não eram er am os seus, de estar est ar vendo o mundo com outros olhos - a fase fase hipocondríaca de uma esquizofrenia em surto. O mundo desinvestido desinvestido tinha outras outras cores, mais esmaecidas esmaecidas e menos nítidas, e a carga de libido restituída restituí da ao eu traduziu traduziu sua acumulação po porr distúrbios ou lesões lesões oculares delirantes. delirantes. Freud juntou a esse exemplo um comentário explicativo e “topológico” que, apesar apesar de não estar esta r isento isento de uma certa con confusão fusão,, merece ser mencionado. A tese que compreendia com preendia a esquizofrenia como um desinvestimento desinvestimento dos objetos e um reinvestimento do eu devia receber uma retificação. Deveríamos estabelecer uma distinção, no sistema consciente, entre a representaç repres entação ão do objeto ob jeto e a da palavra que designava designava esse objeto. objeto. Se o investimento da primeira prim eira desaparecia, o da da segunda segunda persistia. persistia. A doente já não compreendia compre endia a expressão expressão simbólica simbólica “jogar joga r poeira nos olhos”, olho s”, mas mas se julgava cegada pela poeira Freud presumiu que, em regra geral, a repre sentação consciente englobava a representação da coisa e mais a representaçã representaçãoo da palavra, palavra, ao passo que o inconsciente compreendia compreendia apenas a representação represen tação da co coisa isa.. O papel normal dopré-consciente, não havendo havendo motivo para recalcamento, recalcam ento, seria o de estabelecer a comunicação comunicação entre entr e a representação do objeto e a de seu nome, transmitindo a este último o investimento afetivo afetivo do primeiro. O recalcamento neurótico neu rótico consistiria em proibir essa transmissão, cortando a possibilidade de ligação. O objeto continuava investido no inconsciente, é claro, mas mas esse investimento não pass passav avaa para sua representaç representação ão verbal. O neurótico “sabia” “sabia” perfeitamente todos os nomes nomes dos objetos objetos investidos e recalcado recalcadoss por por ele, mas não “sabia” qual a carga libidinal que o objeto designado por esse nome tinha efetivamente em seu inconsciente. Evidenciava-se pois, com muita clareza - e essa conclusão é de capital importância importân cia para nós -, que o que se cham chamava ava recalcamento, em matéria de psicose, devia devia ser um mecanismo absoluta abs olutament mentee diferente, diferente, pois levava levava a retirar reti rar o investimento do objeto no próprio cerne do inconsci inconsciente ente,, ao passo passo que subs subsist istia ia ou aument aumentava ava o inves investim timent entoo da represe representaç ntação ão ve verb rbal al.. Isso preparou claramente as teses de Lacan sobre a “foraclusão” psicótica, teses estas aliás antecipadas pelas observações observações de Freud Freud acerca da Verwerfung no caso do Homem dos Lobos. Também era era po possív ssível el pensar, calculou Freud, sem que essa idéia fosse fosse incompatível com o anterior, que se tratava, na psicose, de um superinvestimento superinvestim ento da representação ve verbal, rbal, constituindo constituind o este a tentativa de cura própria da psicose e evidenciada, como vimos, pelo delírio. O
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significante significante era instalado no real e superinvestido, superinvestido, a partir parti r do momento momen to em que q ue esse mesmo significante significante era excluído do inconsciente inconscien te e a carga libidinal ligada ligada a seu significad significadoo era retirada retirad a dele e reconduzida para o eu. Uma parte pa rte desta era então despendida em favor favor da palavra. palavra. O doent do entee procurav proc uravaa reinvestir reinv estir as coisas e, pa para ra chegar a isso, isso, começava po porr investir as palavras, porém poré m sem conseguir mais ir além delas em direção às coisas coisas.. Um artigo curto, redigido po porr Freud en entre tre 19 1920 20 e 1924, traz mais alguns esclarecimentos sobre outros pontos. Poderíamos apresentar a distinção entre a neurose e a psicose psicose dizendo que, se o nneurótic euróticoo reprime reprim e o inconsciente ou o isso, isso, sob sob a pressão da realidade e em benefício desta, desta, o psicótico faz o contrário. contrá rio. Sob a injunção injun ção do isso, o psicótico reti r etira ra seus investimentos da realidade para reconduzi-los a si si mesmo, mesmo, e portan por tanto, to, de certa maneira, recalca a realidade. realidade. Na aparência, aparência, essa essass fórmu fórmulas las não coinci coincidem dem exatamente exatamente com as que utilizamos a princípio. Não há entre en tre elas, porém, nenhuma nenhum a contradição. O que obriga o doente a fugir do real não é diretamente o poder do inconsciente, mas mas,, como mostramos em Schreber, o perigo que esse real rea l represent repre sentaa em razão dos investimentos investimentos irreprimív irreprimíveis eis de que é dotado no inconsciente. A defesa defesa consiste então em desinvestir desinvestir esse esse real, restituindo restitui ndo ao eu eu as cargas cargas libidinais ligadas ligadas a ele. Esse primeiro prime iro movimento é seguido por po r uma segunda providência: a que procura pro cura reen re enco contr ntrar ar e reinvestir reinv estir o real, mas (já explicamos por qual mecanismo) de modo delirante ou alucinatório. contudo, essa nova formulação pode dar margem a uma outra objeção. É que, afinal, ninguém ninguém duvida duvida de que também o neurótico neuró tico foge da realidade, se bem que à sua maneira, que não nã o é a do psicótico; psicótico; ninguém duvida duvida de que ele se sente, sente, nessa realidade, pouco à vontade, vontade, mesmo mesmo que precis isame ament ntee para para fugir dela. se tenha tornado neurótico prec cert ce rtoo . Mas observem observemos, os, para começar, que fugir fugir da realidade é bem diferente de negá-la. O neurótico neu rótico se afasta afasta do real quando quan do não pode mais mais fazer fazer face face às ex exigên igências cias que esse real lhe lhe impõe. Entreta Entr etanto nto,, ao se comport comp ortar ar dessa dessa maneira, de fato reconhece a realidade. realidade. Seo Se o recalcamento foi empreendido, empreend ido, foi soba sob a influência influência e a pressão do real; quando qua ndo esse recalcamento consegue consegue aquilo que almejava, almejava, isto é, confinar totalmente no inconsciente as pulsões e seus representantes psíquicos inaceitáveis, nenhu n enhuma ma ne neuro urose se aparece. Quando, Quan do, todavia, o recalcamento recalcam ento é mais mais ou menos malogrado, segue-se segue-se um retorno reto rno parcial e disfarçado do recalcado. O inconsciente incon sciente se ressarce através do sintoma, que constitui uma formação apropriada apropria da para lhe dar alguma alguma satis satisfação fação,, embora velada e à maneira de d e um compromisso compromisso simultaneamente adequado para par a eludir as forças forças repressivas repressivas e respeitá-las. Isso Isso não impede im pede que, na maioria das vezes, imediatamente ou em pouco tempo, uma nova ação
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repressor repressoraa se oponha opon ha ao sintoma, agravando o conflito en entre tre as exigê exigênci ncias as reconhecidas da realidade r ealidade e a incapacidade do sujeito de acolhê-las sem restrições. Donde um novo deslocamento do sintoma e um novo agravamento agravamento do conflito. conflito. Não resta então ao sujeito outro ou tro recurso senão o de se manter, manter , tanto tanto quan quanto to possív possível, el, afastado do campo litigioso, tal como o peq pequeno ueno Hans, que não sai mais mais da casa casa paterna pate rna para ter certeza de não mais en enco cont ntra rarr nem cavalos, nem veículos. veículos. Essa fuga fuga nada tem a ver com c om o desconhecimen desconhecimento to ou a foraclusão foraclusão próprios do delírio, delírio, tanto que q ue o neurótico a sente, ao mesmo tempo, como uma proteção e como uma limitação insuportável insupor tável de sua existên existência. cia. Isso Isso levou Freud Freud a constatar constatar o que já dizíam dizíamos mais mais acima: acima: se o delírio é uma tentativa de restaurar a realidade, não é apenas isso. A pseudorealidade que ele instala e reinveste não se reduz a um esforço de superação do autismo, mas destina-se também a satisfazer o inconsciente; inconsciente; constatamos constatamos isso em Schreber, por p or exemplo, exemplo, no fato de sua transformação em mulhe m ulherr ou de sua imortalidade. Contra Contr a essa dimensão do delírio, o que subsiste do eu se insurge e se defende por diversos mecanismos de defesa: camuflagem camuflagem,, inversão dos dos sentimentos, sentiment os, deformações diversas diversas - a trans tran s formação em mulher é desejada por Deus e só ficará concluída em séculos; o amor homossexual por po r Flechsig Flechsig assume a aparência de um ódio atroz. Ou ainda, como nos pesadelos, a angústia e o terror terr or que acompanham acomp anham as alucinaç alucinações ões e as fanta fantasia sias: s: Marie-Thérèses Marie- Thérèsesee contorce em dores e horr h orror or ao contar que destruiu o casamento dos pais e "viu” (ou “ouviu”) o pai massacrar todos todo s os seus irmãos e irmãs. irmãs. Estabelecemos, assim, os diversos elementos que compõem a doutrina freudiana da psicose. psicose. Por P or mais decisiv decisivos os que eles Seja Sejam m para para o entend ent endime imento nto dela, dela, falta-lhes, no entanto, enta nto, um elo elo essencial, essencial, de que Freud Fr eud suspeit su speitou ou sem chegar a forjá-lo, e graças graças ao qual o conjunto con junto assumiria a forma de uma estrutura, estrutura , seguramente seguram ente a melhor que jamais jamais nos foi foi proposta. É à obra magistral de Lacan que devemos esse progresso decisivo. Tentaremos compreendê-la e interpretá-la interpretá -la referindo-nos a seu estudo sobre Schreber, Schreber, que ele intitulou D 'Une Qu Ques esti tion on Prél rélimin minaire à Tout Tout Trai Traite teme ment ntPo Poss ssiible ble como origem um seminário realizado realizad o no de la Psycho Psychose.7 se.722Esse texto teve como Hospital Sainte-Anne em 1955-1956/ Não podemos, evidentemente, deixar deixar de subscrever a afirmação do auto au torr quando ele constata cons tata que, que, antes da psicanális psicanálise, e, não havia havia nenhuma nenhum a compreensão do que é o o fato psicótico, por mais mais admiráveis admiráveis e requintadas requin tadas A s psicoses, Jorge Zahar, Rio, 1985. (N.R.) *Trata-se do seminário de J. Lacan sobre As
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que fossem algumas de suas descrições clínicas (sobretudo francesas), e por mai maiss claras claras e úteis úteis que tives tivesse sem m sido sido algum algumas as tentativas tentativas (sobretudo (sobretudo alemãs) de isolar i solar algumas algumas de suas identidades identidades diferenciávei diferenciáveis. s. Arazã Ara zãoo desse fracasso fracasso é epistemológica, epistemológica, e até, até, se ousamos escrevêescrevêlo, filosófic filosófica. a. O século XlXjamais questi q uestionou onou - e nisso o empirismo mais mais desconfiado aliou-se ao idealismo idealismo mais mais francamente especulativo - que a unidade uni dadedo do objeto percebido fosse fosse constituída pelo sujeito percebedor, quer essa unidade fosse elaborada por intermédio de associações (empirismo), (empirismo) , quer quer fosse o fruto fruto de alguma alguma forma deSetzung deSetzung (idealismo). Essa função função continuou continu ou própria p rópria do percebed pe rcebedor, or, e imutável, imutável, quaisquer que fossem fossem,, além al ém disso, disso, as “alte ações ações de identidade’ identid ade’'2 '23po 3porr que que esse sujeito sujei to perce percebe bedo dorr pu pude dess ssee ser afet afetaaúo úo,, e qu quee eram eram,, na psic sicose, se, tão grav raves quan quanto to evidentes. evidentes. Assim Assim,, daí decorreu fatalmente que, em se tratando tratando de explicar explicar as anomalias perceptivas do psicótico (alucinações, “vozes", falsos reconhecimentos etc.), esta estass só puderam ser imputadas a perturbações matéria e nos conteúdos sensíveis. conteúdos sensíveis. Por exemplo, a alucinação visual na matéria e consistia consistia em ver presente presente um objeto objeto (estrutura (estruturalmente lmente semelhante a todos os objetos) objetos) quan q uando do as matérias sen sensíve síveis is que o compunham compunham de fatonâo fato nâo estavam estavampresentes. presentes. O essen essencia cial,l, portant portanto, o, escapou a todos: levantar levantar a questão de saber se o per o perce patológico era oriundo ou elaborado a partir pa rtir de cept ptum um patológico um“ um “pe ue funcionasse funcionasse como o perc chamado percepto perce pto perci rcipie piens ns” ” que perciipien pienss do chamado normal normal e comum.2 comum.2'' Que tal questão q uestão seja hoje levantada e inteligível não é estranho, estranh o, sem dúvi dúvida da - embora Lacan Lacan silen silencie cie a esse respeito -, ao fato de que o modo de pensar fenomenológico nos familiarizou com aquilo a que que ele chama correlativ correlatividad idadee do noema e da noese. noese. Outro Outro tipo tipo de objeto, outro tipo de apreensão desse objeto. Em oposição à concepçã concepçãoo comum comum que acabamo acabamoss de questionar, question ar, já pode poderí ríam amos os aleg alegar ar o fat fatoo, nã nãoo pa pato toló lógi gico co em si, de qu quee “o ato de ou ouvi virr não é o mesmo, mesmo, conforme conforme vise vise à coerência da cadeia verbal, nominal nominalmente mente a sua determinação a cada cada instante pelo só-depois só-depois de sua seqüência, seqüência, como como também à suspensão de seu valor a cada cada instante, no advento de um sentido sentido sempre prestes prestes à remissão",2 remissão",25ou conforme, conforme, ao contrário, contrário, esse ato ato de ouvir ouvir se aplique aplique às modulações e aos rritmos itmos da voz ouv ouvida ida - em suma, às qualidades sonoras sonoras e musicais musicais da fala. fala. perciipiens piens Mas quais seriam, então, as singularidades singularidades que afetam afet am o perc de um perce começar, é na ordem das “vozes" “vozes" que percept ptum um patológico? Para começar, o sujeito não pode furtar-se à influência e ao poder de sugestão que necessariamente emanam delas. delas. Ao contrário contrári o de qualquer qua lquer outra, outr a, a vo vozz alucinada é uma voz voz inelutáv inelutável. el. E o sujeito só pode p ode tenta te ntarr escapar a seu fascínio fascínio transpor trans portand tando-a o-a para outro out ro lugar, lugar, sem sem que por isso seu caráter se modifique; ele dirá, por exemplo, que a “voz" pode não exprimir o pensamento ou a intenção intenção daqu daquele ele que a emite, emite, mas que esteé es teé inspir inspirado ado
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por um outro, ou ainda, ainda, que se essa essa vo vozz parece parece só enunciar frases frases insignificante insignificantess ou ou anódinas, estas, na realidade, só são verbalizadas verbalizadas para para lazer alusão, precisamente, precisamente, às verdades verdades mais mais assustadoras e grosseiras. Não Não menos menos surpreendent surpreendentee é a atitude do pe percipiens perante si mesmo. Porque, quando lhe acontece produzir alguns arremedos de "movimentos fonatórios", o hylê* sen sívell assim murmurada murmurada à gu guisa isa de substra substrato to do que hylê* sensíve será ouvido é, na veidade veidade,, indiferente indiferente à cadeia significan significante te que suposta supostamente mente elabora e que é logo identificada identificada como uma “voz” “voz”,, uma voz voz que se se fez ouvir pelo pelo tempo correspondente correspondente à du duraçã raçãoo que teria a emiss emissão ão da mensag mensagem em real. Por Por fim, fim, quando se trata trata de um diálogo diálogo de “voz “vozes” es”,, o pióp piópri rioo pe percipien iens se coloca como como equívoco equívoco,, já que lhe é preciso "situar "si tuar ao a o mesmo tempo tem po a voz que feia e a que que escuta antes de responder”, numa numa alternância pa passív ssível el de repetição. Que esse “sujeito” “sujeito” é equívoco, equívoco, Lacan o mostra clarame cla ramente nte através do exemplo exemplo que cita. Uma paciente se queixara de ter te r sido, na curva de um corredor corredor do prédio prédio em que morava, morava, chamada chamada de “porca” “porc a” por por um colocatário, locatário, personagem sem importância importância em si si para o sujeito. Ante Ante a pergunta de Lacan que indagou o que poderia “ter-se “ter-se proferido” proferido” nela no instante instante pre prece cedden ente te ao en enco conntro tro, ela ela reco reconnheceu eceu “ter murmu rmurad rado, à visã isão do homem, em, estas palavras com as quais, presumidamente, não havia por que se afligir: 'eu venho do salsicheiro”'.26 Masa Mas a quem visavam quem visavam essas palavras inofensivas, inofensivas, e que que “eu” “eu” se exprimia exprimia nelas? nelas? Quanto Quanto ao primeiro ponto, a paciente não soube se ex explica plicarr e admitiu admitiu isso. Mas havia um contexto. A contexto. A doente, filha de uma mãe com quem formava formava um par delirante, delir ante, tinha, por instigação instigação dessa dessa mãe, que desejava desejava viver viver com ela, abandonado o marido, rompendo rompe ndo com toda a sua família família de parente pa rentess afins porque os membros desta se propunham “esquartejá-la", o que, evidentemente, evidentemente, justific justificav avaa essa mãe por por ter ter sempre reprovado reprovado o casamento e anunciado anunciado seus perigos. perigos. Assim, a paciente chegou a reconhecer o caráter alusivo de suas próprias fras frases es,, mas sem que co cons nseg egui uiss ssee decidir decidir qua quall do doss co-loca co-locatári tários, os, ou sua mãe ausente, era visado visado pela alusão. alusão. O que eqüivalia eqüivalia a reconhecer recon hecer também uma uma tese lingüística lingüística fundamental f undamental cuja importância é impossível impossível de superestimar superestimar em matéria matéri a de psicose, psicose, a saber, que o “eu”, “eu ”, na qualidade de sujeito de uma frase lite literal ral qualque qualquerr em consonância consonância com sua função deshlfter de shlfter - isto - isto é, de indicador potencial sem conteúdo própri próprioo -, só designa um portador portador concreto na medida em que são colocados todos os referenciais referenciais do discurs discurso. o. Ora, Ora , não não era esse o caso - e quase nunca o é, por po r razões que teremos de enunciar, na psicose psicose -, já que a alusão continuou oscilante. oscilante. Quem fala falava va e do quê, ao pensar e murmurar murmu rar “eu venho do do salsicheiro"? salsicheiro"? *Em grego no original original.. Termo T ermo que designa a matéria com matéria com que se faz uma uma coisa. (N.R.) (N.R .)
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Pois bem, bem, a questão éjustam éju stamente ente essa. essa. "Não sou um besouro!"*, gritoume um dia uma enferma repentinamente, repentinamente , enquanto enquan to me atirava na cabeça cabeça sua xícara de café, no exato momento em que conversávamo conversávamos, s, da maneira manei ra mais pacífica pacífica e mais “racional” “rac ional” do mundo, sobre um amor comum pelos gatos. gatos. Está claro que a frase frase e o gesto só se dirigiam dirigiam aparentement aparente mentee a seu interlocutor material, e que o “eu" que a pronunciou pronunciou não era o que o dossiê dossiê traduzia traduzia por “Monique J., nascida em Tirlemont em 19... 19... e filha de..." Mas na doente de Lacan, Lacan, a incerteza quanto à alusão alusão veio a se resolver quando, passada passada a pausa que se seguiu seguiu a seu murmúrio, apare apareceu ceu à guisa guisa de resposta, e no real, o vigoro vigoroso so “porca", aposição brutal demais, demais, “por demais carregada carregada de injúria injúria para seguir isocronicamente isocronicamente a oscilação alu alusiva” siva”,, suprimindo qualquer qualque r dúvid dúvidaa quanto ao “eu" que vociferara vociferara “e eu venho do salsicheiro". Era ela, e ela era era uma porca. “Foi assim que o discurso vdo a realizar realizar sua intenção de recusa na alucina alucinação ção.. No lugar on onde deoo objeto indizíve indizívell é rejei rejeitado tado no no real, uma palavra se faz ouvir na que, vindo no lugar do que não tem t em nome, nome, ela não pôde acompanhar a intenção inte nção do sujeito" senão desligando-se “dela [a paciente] através do travessão da réplica”.27 A fantasia fantasia de esquartejamento esquartejamento que habitava habitava e espreitava espreitava nela, e que ecoa ecoava va,, por sua vez, ez, o sentimento secreto, secreto, indi indizí zíve vell e inconscien inconsciente te de ter que que ser dilacerada dilacera da e devorada pela mãe, concretizou-se e se relacionou relac ionou com ela sob a forma de uma injúria aludnat aludnatori oriament amentee realizada realizada em seu significan significante te ''porca", ''porc a", tal comose havia havia materializado e objetivado objetivado,, antes, na acusação acusação delirante delirante de um projeto projeto de esquartejamento tramado contra ela pela família família do marido, que não suportava suportava aquela “mulherzinha “mulherzinha da cidade cidade que não não presta para para na nadda" a".. Sem Sem dúvida ida, embo embora ra Lacan acan não diga iga nad adaa sobre sobre iss isso, po pode dem mos suspeita suspe itarr que a ameaça emanava emanava mais mais precisamente precisament e da sogra da paciente, oportuname oport unamente nte colocada colocada como substituta de sua própria próp ria mãe. Como vemos, vemos, “a função de irrealização irrealização não está está toda no símbolo".2 símbolo".28 Ou melhor - ficaríam ficaríamos tentados a acrescentar acrescentar -, essa função função de realização realização não funciona funciona como tal, na psicose, senão apenas quoad nos. Na nos. Na verdade, em nossa doente, o sign significan ificante te “porca" “porca" - simbólico, simbólico, para nós - desempenha um papel total totalmente mente diverso diverso de de um pa papd puramente simbólic simbólico. o. Serve Serve para rejeitar reje itar para pa ra o imaginário imaginário realizado de um pseudodiscu pseudodiscurso rso do outro um significa significado do indizível,quea indizíve l,queassimse ssimsevêeje vêejetadode tadodeseu seu próprio própr io inconscien inconsciente: te: a fantasia fantasia de devoração pela própria própria mãe, que serve, serve, por sua vez, vez, como como significante da fantasia do corpo despedaçado. Não há símbolo para a pac pacie iennte, te, mas uma uma tra transfer sferêência cia pa para ra o imag imagin inár ário io-r -rea eaii com compa parem remos os nosso sso caso com o outro, outr o, tão t ão freqüentemente freqüe ntemente citado, citado, do menino menino que brinca de jogar jogar e tomar toma r a pe peggar um carret carretei ei de linha Des Desse se modo do,, o men enino ino ex exppulsa lsa *Em francês, francê s, hanneton, que significa igualmente na linguagem coloquial eabeça-de-vento, estouvado, doidivanas etc. (N.T.)
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para fora de si o pavor, pavor, igualmente igualmen te indizíve indizível,l, ligado às às alternân al ternâncias cias da presença e da ausência do corpo materno. matern o. O meio consiste em identificar esse esse corpo faltante com a realidade não-faltante - ou melhor, cujas cujas faltas faltas são produzidas para para ser superadas - do carretei de linha. Desse modo, dirse-á, à primeira vista, que a ameaça da violação materna, na doente, é transformada numa ameaça idêntica vinda de um outro externo a ela, e contra quem quem a defesa defesa pode parecer parec er mais mais fác fácil. Mas, Mas, entre um caso caso e outro, as diferenças são muito apreciáveis. Para o menino, se o carretei é um significante significante do corpo matern m aterno, o, nem por po r isso ele deix deixaa de ser o que era: um carretei. carretei. O carretei significa o corpo da mãe mas não o é, simplesmente. Em vez vez disso disso,, para a paciente, se seu despedaçamentó despedaç amentó pelo co-locatário co -locatário ou pela pela família do marido é o significante significante de um significa significado do desconhecido por po r ela (a saber, sua violação pela mãe e o despedaçamentó despedaçamen tó de seu corpo próprio, próp rio, ele é também, na qualidade de significante, um elemento elem ento do real que identifica, identifica, pura pur a e simplesmente, a família po porr afinidade e o co-locatário com o que que eles não são nem nunca foram: salsicheiros salsicheiros assas assassin sinos os.. O carretei carretei não entra entr a no real rea l como corpo materno, mate rno, mas mas como significante deste. Ele é e continua a ser um carretei de linha, ao qual se acrescenta uma dimensão que o constitui como significante de... Já os inimigos da doente não são significantes significantes do assassinato, mas assassin assassinos. os. Além Além disso, a segunda metáfora metáfora,, a que vai vai do carretei carretei para o Fort-Da e que inaugura inaugura a ordem propriamente propr iamente simbólica, está ausente para a enferma. Nenhuma palavra diz o despedaçamentó como seu outro, ao passo que qu e o Fort-Da diz a ausência e a presença do carretei carre tei como o ou outro tro deste.29 deste.29 E é justam jus tamente ente essa ambigüidade ambigüidade do imaginário, imaginário, engendrada pela defecção defecção da ordem simbólica e ligada a ela, ela, que depara d epara com a adesão do próprio próp rio sujeito, su jeito, do d o perc “dúplice” , e dúplice na medida em que é, percip ipiien enss “dúplice”, percept or normal, definidor do real, ora ao mesmo mesmo tempo, tempo, ora o famoso perceptor o sujeito despedaçado arcaico, que só capta a si mesmo no outro, um outro representado, em nosso exemplo, pelo outrem dos esquartejadores imaginários. Essas idéias viriam a se desenvolver desenvolver e a receber receber toda toda a sua articulação articulação numa retomada da apresentação freudiana do caso Schreber. Essa retomada retomada começou, como aprazia a Lacan, pelo pel o exame exame da relação do sujeito com o significante. Quem Que m se detiver no exame exame das "vozes” "vozes” de Schreber S chreber logo logo notar no taráá que elas elas englobam dois tipos distintos de fenômenos. Esses Esses tipos tipos correspondem correspondem ao que os lingüistas denominam denom inam d efenomenosde efenom enosde mens mensag agem em e fenômenos fenômenos de código. Os primeiros fornecem conteúdos; os últimos enunciam regras relativas à organização lingüística dos primeiros. Ora, a língua divina e fundamental (iUrsprache), que que difere do alemã alemãoo dos seres humanos humanos comuns,30 comuns,30 só é utilizada nas mensagens mensagens de código, código, que "informam "informam o sujeito sujeito das formas
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e usos que q ue consti constituem tuem o neo-código”.31Reconhecemos aí a í as mensagens mensagens que os lingüistas chamam de “autônimas, n “autônimas, naa medida medida em que é o próprio própri o significante (e não o que ele significa) que constitui o objeto da comunicação” comunicação”.3 .32Ora, Ora, o curioso curioso é que, que, por sua vez, essas mensagens são realizadas, reificadas reificadas e e suposta supostamente mente confundidas com os seres. Também aí, portanto, há uma rejeição do significante no real imaginário. Quanto aos fenômenos de mensagem propriamente ditos, eles também também têm suas suas particularidades, particularidades, co com mo que se detêm a meio camin c aminho, ho, uma vez vez que são são feitos de frases frases incompletas incompletas ou inacabadas que o sujeit s ujeitoo cuja negligência negligência acarret acarretari ariaa de tem tem de completar. Essa é uma obrigação cuja imediato o máximo máximo prejuízo prejuízo para esse sujeito, quem quem sabe até sua aniquilação. aniquilação. A provação não tem tem nada do do enigma da Esfing Esfingee e sua sua verdadeira verdadeira dificuldade dificuldade está, não em descobrir a resposta, mas em resistir, continuando a jogar a partida, à inépcia e à vulgaridade propriamente ofensivas das semicolocações divinas. Forneçamos três exemplos, cuja tradução retomamos de Lacan: 1. “Agora vou...” / render-me ao fato de que sou idiota. 2. “Quan “Quanto to a você, você, você dev deve...” e...” / ser exposto33como negador negador de Deus Deus e dado a uma libertinagem voluptuosa, sem falar no resto. 3. “Nisso eu vou realmente...”/pensar bem. Podemos Podemos observar, sem surpresa, a analogia disso tudo tudo com o exemplo exemplo anter anterior iormen mente te citado, exceto pelo fato de que o sujeito sujeit o faz o desvio desvio de se ver obrigado pelo outro ou tro a dizer, dizer, ele mesmo mesmo,, o que, na realidade, realidade, tem que ser rejeitado rejeita do no outro out ro - em vez vez de deixar deixar que seja dito direta d ireta e pretensamente por esse outro (como a doente do Ste. Anne). Mas observamos também também que o enunciado literalmente literal mente divino divino é interrompido interr ompido “no ponto onde termina termina o grupo de palavras palavras que poderíamos chamar de termos-índice, termos-índice, ou seja, aqueles que são designados designados por por sua função no significante, conforme conforme o termo termo empregado acima, acima, como shifters, isto shifters, isto é, precisamente precisamente os termos que, no cód código, igo, indicam a posição do sujeito sujeito a parti partirr da própria própria mensagem”.3 mensagem”.34 Inversamente, os conteúdos ficam ficam entregues à adivinhação adivinhação infalível infalível do próprio Schre Schreber ber.. É o que incita Lacan a sublinhar, com muita oportunidade, “a predomin predominânc ância ia da funç função ão do signific significan ante”, te”, já que também também as “vo voze zes” s” propriamente ditas, ditas, as que se serv servem em da “líng “língua ua fundamental”, fundamental”, são feita feitass exclusivamente “de um código código constitu const ituído ído de mensagens sobre sobre o código, código, e de uma mensagem reduzida ao que, no no código, indica a mensagem”.3 mensagem”.35 Sem dú dúvid vida. a. Mas que concluir disso? Primeiro, que não podemos nos content cont entar ar de maneira manei ra alguma - a exemplo, exemplo, aliás, aliás, de Freud, mas nem sempre ele foi bem lido -, para explicar a psicose, e em particular a de Schreber, com com mecanism mecanismos os que supostamente supostame nte projet projetam am para para fora, para
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se defender delas e acomodar-se a elas, certas pulsões inconscientes, tais como (continuando a nos ater a Schreber) a masturbação e o homossexualismo, não passando "a " a fantasmagoria alucinat aluc inatória ória [de uma] cortina interposta interpos ta pela operação do perdpim perd pimss entre a tendência e seu estimulante real”.3 rea l”.36 Tal operação seria duplamente duplam ente insuficiente, insuficiente, e tal ambição ambição duplamen dup lamente te estreita. Pois é verdade, verdade, de um lado, que a projeção, reduzida a ela mesma, mesma, não nã o passa, no caso de Schreber, de uma palavra mal empregada. empregada. E é também verdade, verdade, por po r outro ou tro lado, lado, que as pulsões em causa nesse caso caso,, ou em qualquer qualque r outro, ou tro, só devem ser compreendidas em seus efeitos como manifestações psicóticas nos e através dos remanejamentos remanejamentos
que sofreram devido à alteração, no sujeito, dos momentos e complexos tidos por Fre Freud como co cons nsttitut itutiv ivos os de todo psiqui psiquismo smo humano: "a saber, a equivalênc equivalência ia mantida por p or Freu Freudd entre ent re a fimção fimção imaginária imaginária do falo em ambos os sexo sexos..., s..., o complexo de castração visto como fase normativa da d a assunção assunção do próprio próprio sexo sexo pelo sujeito, sujeito, o mito do assassinato do pai, tomad tomadoo necessário pela pela presen presença ça constituinte constituinte do co comp mplex lexoo de Édipo em em toda história história pesso pessoal al e, last but not..., o efeito de desdobramento introduzido na vida vida amorosa pela próp pr ópria ria instância repetiti re petitiva va do objeto ob jeto sempre semp re reenc re encontr ontrado ado como único.”37 Ora, é justamente justam ente a natureza nature za da alteração de desse ssess momentos m omentos estrutu estruturant rantes es que gera problemas na psicos psicose, e, e é essa alteração que exp explica lica a emergência, disfarçada ou não, em Schreber ou em qualquer qualque r outro out ro,, das das tendências masturbatórias ou homossexuais, longe de essa emergência, ou mesmo os meios de se defende de fenderr dela, podere po derem m explicar a psicose.38 psicose.38 Nossa Nossa tarefa, tarefa, se se po poss ssív ível el,, consi consistirá stirá po pois is em em perscrutar e determinar esse outro palco (Ueine andere Scha escreveu Freud), Freud ), diferente difere nte da Schaup upla latz tz”, escreveu psicose. e. Já cena do percipi percipims ms e onde efetivamente se encena o drama da psicos sabemo sabemoss que esse Outro, esse Alhures, Alhures, tem uma estrutu estr utura ra de discurs discurso, o, que é, para retomarmos retomarmos a frase de Lacan Lacan tão freqüentemente freqüentemente citad citada, a, “estruturado “estruturado como uma linguagem”. linguagem”. E essa linguagem linguagem,, acrescentamos, sempre sempr e na linha do mesmo autor, aut or, é aquela em que o sujeito, talvez talvez sem que o saiba e ainda que o diga, vê-se questionado quanto a sua existência. E essa questão, apresentada como um "que sou eu aí”, diz respeito a "seu sexo e sua contingência no ser, isto é, que ele é homem ou mulher, de um lado, e de outro outro que poderi p oderiaa não sê-lo, sê-lo, os dois dois conjugando conjugando seu mistério e enredandoo nos símbolos da procriação procri ação e da mor m orte”.3 te”.399É “um ques q uestion tioname amento nto que, a partir dele [o sujeit sujeito], o], estende-se estende-se para sua relação intramundana intramu ndana com os objetos e para p ara a existência do mundo, na medida em que ela também pode ser se r questionad questi onadaa mais além além de sua ordem or dem”.4 ”.40 “Para sustentar sustenta r essa estrutura estrutu ra encontramos os três signiiic signiiicante antess em que o Outro Ou tro pode se identificar no complexo complexo de Édipo. Eles bastam para simbolizar as signifi significações cações da reproduç repro dução ão sexuada sob os significantes da relação amorosa amoros a e da procriação. procr iação.”4 ”41
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Entenda-se com isso que toda interrogação interrogação do sujeito sobre ele ele mesmo mesmo tende tende sempre, sempre, através através de diversas diversas vicissitudes vicissitudes possív possíveis, eis, algumas das quais são geradoras geradoras de psicose psicose (mais (mais adiante adiante compreenderemos compreenderemos porquê), porquê), a passar pelo de desfi sfile le obrigatório obrigatório de uma relação relação triádica triádica e triangular em que têm de aparecer, primeiramente, primeira mente, um dado dado fruto da “reprodução “reproduçã o sexuada" sexuada",, ou seja, esse existente existente cuja identidade identidade está est á em causa, causa, e depois, em relação relaçã o a ele ou a ela, a mãe como como significante da relação rel ação amorosa e o pai como significante da procriação. Mas o movimento desses desses significan significantes tes aponta aponta para para um quarto quarto termo, termo, ausente ausent e do sistema sistema literal que acabamos acabamos de descrev descrever, er, e que não n ão é outra o utra tal como como se se irá dizer dizer e serditopel ditopelaa relação dos significa significantes ntes.. coisa senão o sujeito tal Esse sujeito não é nem nem nunca será nada em si mesmo, mesmo, como se diz da mesa que ela é redonda redonda Em particular, não se confun confundirá, dirá, a despeito das das tentações que terá terá em relação a isso, isso, com com seu próprio próp rio significante tal como aparece aparece no triângulo. triângulo. Ele é, perpetuamente perpet uamente e para sem s empre, pre, o que foi signific significado ado e o que há por po r significar dele, a casa vazia na qualidade do que permit per mitee manobrar manobrar as canadas canadas do “blefador" “blefador",, aquele que que,, como no bridge, só entra “à maneira do morto mort o nojogo noj ogo dos significantes, significantes, mas mas tornando-se tornando-se o sujeito sujeit o verdadeiro à medida que esse jogo dos significantes faz com que seja significado” significado”.4 .42Esse ser ser vivo, vivo, o fruto, existe como oriundo oriundo de uma cert certaa rela ção com suas suas origens. origens. A dialética da dass relações relações entre entre os significan significantes tes apoderase “dessa criança”, filho ou filha de... e de..., para jogá-la na carreira de um tornar-se sujeito em que ela nunca deverá nem poderá, senão ilusoria ilusoriamente mente e para par a grande prejuízo seu, igualar-se a um feixe feixe qualquer qual quer de atributos, qualidades qualidades ou determinações que se prestem prest em para localiz localizáálo exaustivamente. exaustivamente. A criança que existe existe torna-se torna-se sujeito, sujei to, que terá terá que ser, sem jamais sê-la, a identidade ide ntidade que dela se constit con stitui ui pelas distâncias dos significantes. É que estes não não são inertes. Cada um deles, deles, bem como como sua constelação, constelação, é trabalhado “por toda t oda a história (imaginária (imaginária ou não) da ascendência do doss outras outras reais” que esses esses significa significante ntess representam representam “na contemporaneidade do sujeito”.‘ sujeito”.‘°Todavia, °Todavia, a colocação desses desses significantes significantes nos vértices vértices da figura figura e da dialética triangulares não não se deixa deixa isolar, no no que é e virá a ser ser o sujeito, da manifestação de uma outra tríade cujos componentes se ligam aos significantes fundamentais que acabamos de nomear. Essa outra tríade reúne “as “as três instâncias instâncias - eu eu (ideal), realidade esupe esupere reuu - cuja determinação será será objet objetoo da segunda tópica tópi ca freudi freudiana ana”. ”.444 Expliquemos brevemente os três termos aqui introduzidos, compreende compreenderemos remos mais mais ou menos sua importância desde que reconheçamos reconheçamos que o esquema esquema edipiano, justamente justamente no que inicia sua instalação, instalação, comporta o estabelecimento, ou, para par a sermos inteiramente inteiram ente exatos exatos,, a remodelação de um outro outro sistem sistemaa de “instânc “instâncias” ias” cujas origens origens mais mais antigas são anteriores anteriores
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a ele. ele. co c o m efeito, e feito, como como chegaria chegaria o sujeito a se instalar no Édipo, a não nã o ser situando-se ao mesmo mesmo tempo em relação rela ção a uma realidade, realidade, na medida em que éjust éjustame amente nte esta que cria obstáculos obstáculos à satisfação satisfação edipiana? edipiana? E como como poderia poderia o sujeito obrig obrigarar-se se a acolher acolher o real, se não foss fossee também também na dependência dependência das forças forças coercitivas coercitivas e repressivas que a doutri dou trina na designa pelo título desupereu, e transformand o-as, os esupereu, e para as quais contribuem, transformando-as, rigores paternos? Por fim, essas duas instâncias seriam tão inúteis quanto supérfluas se não tivessem tivessem por função e efeito conte c onterr e limitar limita r - mas, mas, po porr isso mesmo, mesmo, determinar determinar em certa medida medida - um eu ideal, resto ideal, resto e herdeiro da onipotência narcísica original e imaginária, momentaneamente transferida para para o pai vitorioso, vitorioso, inimigo inimigo mas mas também modelo. modelo. Repitamos, Repitamos, já que seria gra graví víss ssim imoo omi omititi-lo: lo: os os primeiro primeiross esboç esboços os ou os primeiros primeiros “moldes” dessas instâncias são mais antigos do que o Édipo. Mas são modific modificados ados,, reestrutura reestruturados dos por ele - sem que, não obstante, obsta nte, as versões versões arcaicas sejam fatalmente apagadas; e mais, estas são às vezes passíveis fácil de reaparecer, reaparecer, mas mas não sem causar estragos. estragos. De qualquer qualqu er modo, é fácil conceber que essas instâncias instâncias não podem deixar de intervir, por sua parte, parte, que não não é pequena, pequena , no jogo e na diferenciação recíproca dos significan significantes tes bási básico cos. s. Quanto ao sujeito, se ele continua fadado fadado ao lugar do morto, por po r sua fragilidade de ser isto ou aquilo, nem aquilo, nem por isso será menos levado, justamente por sua própria frag fragili ilida dade de,, a assumi assumirr em sua sua ex exis istên tênci ciaa real, real, e a sério, os papéis papéis e imagens imagens que o jogo dos significante significantess lhe propõe, propõe , por tê-los desenhado para ele. Para con consegu segui-lo i-lo perante perante si mesmo mesmo e os outros, outros, ele dispõe de alguns alguns protótipos protótipos imaginários imaginários cujas reproduções encarnadas são, ao mesmo tempo, inúmeras e pouco variadas em relaçã relaçãoo à imagemimagem prin prince ceps ps,, e que o sujeito distribui de maneira a “se superporem homologicamente ao temá temário rio simbólico".4 simbólico".45 É nesse ponto que que Lacan propõe propõe uum m novo novo elemento, que se revelaria decisiv decisivoo para o sentido, sentido, o curso e o suce sucess ssoo de sua interpretação do caso Schreber Schreber e, através deste, também decisivo para a compreensão do que constitui o núcleo dessa psicose por excelência que é a esquizofrenia. Na verdad verdade, e, esse no novo vo elemento no noss é fornecid fornecidoo por no nossa ssa própria pré-históri pré-história, a, onde se insc inscrev revee e se deix eixa loc locali aliza zar. r. Lacan nos chamara a atenção para ele já na época em que redigiu, redigiu, para a Encyclopédie Française, seu ar tigo sobre A sobre A Famíl Française, seu artigo Família ia.. Ali mostrou como as diversas renúncias sucessivamente impostas ao ser humano nascimento, desmame, alienação na imagem imagem especular, intrusão, intrus ão, Édipo É dipo e castração - são, em cada cada oportunidade, reproduções e rememorações rememorações umas das outras, outra s, muito muito embora embora tenham, também em cada cada ocasião, que
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se estruturar num nível de integração mais elevado, mais amplo e mais rico. Isso, todavia, sob a condição de que cada uma dessas crises seja corret cor retam ament entee resol resolvida. vida. Essa liqüidação correta, corr eta, por po r sua ve vez, z, torna-se torn a-se a condição para que se coloquem com exatidão os termos da peripécia seguinte. Segundo essa essa perspectiva, a puisão de morte mo rte pode ser definida como a tentação tentaç ão oniprese onip resente nte de não nã o enfrenta enfre ntarr a prova, de se deixar levar, levar, de como que deslizar deslizar para a morte mor te e, se podemos ousar ou sar dizê-lo, renu renuncia nciarr assim à implacável necessidade da renúncia. Segundo essas concepções, toma-se compreensível e obrigatório que cada constelação, e em particula particularr a constelação edipiana edipia na (que as resume, enriquece e transforma a todas), tenha algum ponto ou raiz por onde mergulhe nas precedentes. precedentes. No tocante toca nte ao Edipo, essa essa referência referência apon aponta ta muito particularmente, para a imagem imagem especular, especular, que é sua predecessora imediata. Mais precisamente, a linha básica sobre a qual se constrói constró i e se assenta o triângulo edipiano, se é verdade que ele tem de ser portad po rtador or da rede red e de relações simbólicas simbólicas que lhe é própria, não é outra outr a coisa senão a própri pró priaa dualidade dualidad e especular. Por sua ve vez, z, a polaridad pola ridadee que con constitui stitui esta última tem por homólogo antecipado e frustro a relação mãe-bebê. mãe-bebê. Ou, para retomarmo retomarmoss as as co cois isas as segundo segundo uma ordem ordem não mais mais regr regres essi siva va,, desta vez, ve z, porém progressi progressiva: va: a relação mãe-bebê é transcendida transcendid a ao se renovar na polaridade polari dade do eu (ideal) da imagem imagem especular especula r e do corpo despedaçado e cenestésico que, frente a ela, unifica-se nela e através dela. Mas essa transcendência em relação ao par humano original da lactanté lac tanté e dolactente dolacten te é também uma u ma retomada retomada deste. Por sua vez, vez, a díade especular especular lança as bases bases sobre as quais se desdobrará desdobrará - num desdobramento desdobrament o que incluíra a passagem passagem do imaginário ao simbólico - o triângulo edipiano. É o que dá a entender o estudo sobre Schreber, numa passagem bastan bas tante te obscura que o comentário com entário anteri ant erior or talvez talvez torne to rne menos difí difícil cil.. Assim, Assim, para que se ponha em movimento a dialética dos significantes, à qual o sujeito s ujeito deve a imagem que dá a si mesmo, mesmo, é preciso que a "relação polar pola r pela qual a imagem imagem especular especula r se liga liga como unificadora ao conjunto de elementos elemen tos imaginários ditos do corpo despedaçado [forneça [forneça]] um par que não seja preparado apenas por uma conveniência natural de desenvolvimen desenvolvimento to e estrutura estru tura para servir de homólogo à relação simbólica simbólica Mãe-F Mãe-FIlho Ilho.. O par p ar imaginário imaginário do estádio do esp e spelh elho.. o.... mostra-se mostra-se apropriado apropriado para par a dar ao triângulo triâng ulo imaginário a base à qual a relação simbólica pode, de certo cer to modo, sup s uperp erporor-se” se”..4* Convém Conv ém agora determinarmos que falha na construção desse desse edifício edifício é responsável pelo resultado psicótico. Em cada um dos estágios estágios e peripécias que acabamos de recorda re cordarr abrese uma hiância que, de alguma forma, o sujeito se esforça esforça por preencher. preenc her. A primeira primeira e mais original original é o próp p róprio rio nascimento, nascimento, em razão das condiçõ condições es
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de prematurid prematuridade ade em que ele ocorre ocorre no homem homem.. O “sujeito” “sujeit o” come começa ça por tentar superá-la no abraço materno, onde se constitui a união dual. As decepç decepções ões que sofre necessariamen necessariamente te com este - por mais caloroso e solicito que tenha ten ha sido de fato - se reaprofundam e av aviva ivam m no desmame desmame sempre já co come meça çado do.. Esse Esse co come meço ço e essa essa amea ameaça ça de desma desmame me são parcialme parcialmente nte superados pelo sujeito sujeito na imagem imagem especu especular. lar. É que esta confere ao sujeito despedaçado despedaçado e separado uma unidade imaginária em que ele triunfa triunfa sobre sobre sua disjunção. Mas ao preço preço de de cavar cavar um novo abismo: o eu da imagem especula especular, r, apesar de ser ser o mesmo, é também também um outro com outro com quem qualquer coincidência coincidência é inace inacessíve ssívell ou até a té mesmo mortífera, se o sujeito suj eito persistir persist ir em querer querer obtê-la. obtê-la. Finalmente, Finalmente, mostramos antes que a liqüidação liqüidação do Édipo é geradora, pela imposição da lei, de uma nova renúncia e de uma nova distância, ainda mais peno penosas, sas, se se é que isso é possível, possível, do que as precedentes, poré porém m certa certam men ente te mais fecundas, já qu quee asse sseguram ram ao suje sujeit itoo sua sua iden identi tiddade verdadeira verdadeira e íntegra. íntegra. Essa identidade é correlata da instala instalação ção desse desse sujeito no que agora é lícito chamar de real, real, ao mesmo mesmo tempo que qu e inaugura inaugura seu direito - provisoriamente adiado - de amar e procriar por sua vez vez, sob a sanção da lei da qual inicialmente ini cialmente recebeu a proibição. Mas então, o que é que em cada cada ocasião, ocasião, e até até o momento em que tudo se inverte no Edipo, move o sujeito a preencher a qualquer preço os va vazio zioss qu queel eelee atravessa atravessa sucessivamen sucessivamente te e queo qu eo separam, seja da fusão com a mãe, seja, depois, da coincidência com sua imagem especular? É sua própr pr ópria ia identificação identificação com a “imagem “imagem fálica fálica cujo desvelamento desvelamento nessa função não é o menor dos escândalos da descoberta descoberta freudiana”.4 freudiana”.47Que que querr dizer isso? Que o sujeito possa possa não se abandonar ou ou ser tragado pela falta qu quee ele é, e é, eis is o que lhe fica possibilitado possibilitado desde que ele se coloque imaginariamente imaginariamente comosendo, como sendo, elepróprio, aquilo que preenche qualquer falta, falta, e singularmente singularmente o que falta à mãe, mãe, isto isto é, o falo. Ser o que anula a falta da mãe protege protege o sujeito sujeito de qualquer abandono, de qualquer separação des dessa sa mãe, mãe, a ponto ponto inclusiv inclusivee de tomá-los (imaginariamente) impos impossíve síveis. is. É para para isso que aponta aponta a linguagem analítica ao falar no bebê como o pênis da mãe. Entr En treta etanto nto,, é claríssimo claríssimo que essa essa identificação, identificação, por mais vantajosa que seja a princípio, exig exigee por sua vez vez ser superada, sob pena pena do mais radical fraca fracasso sso,, pois como é que o que preenche preenche toda toda falta conseguiria reconhecerreconhecerse como sujeito da falta, falta esta que é o único acesso para a negatividade e o desejo? Ocorre Ocorre que, enquanto enquant o permanece permanece na posição que acabam acabamos os de enunciar, o sujeito não nã o pode aceder nem a uma uma nem ao outro, out ro, já que o desejo desejo é reconhecimento reconheciment o da da falta e apelo ao outro para ser reconhecido reconhecido por por ele ele co como mo suje sujeito ito dessa ssa falt faltaa. A que uest stão ão,, por co connsegu seguin inte te,, é sabe saberr on onde de essa mudança e essa essa inversão podem se efetuar, e como, quando e de que maneira o sujeito renuncia a ser ser o falo falo para para se tornar sujeito do desejo.
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Aqui, mais mais uma vez, vez, o Édipo se revela como o eixo fundamental, pois é nele nele que que se consuma consuma a reviravolta decisi decisiva va.. A experiência do Édipo, de sua decepção, da lei que lhe é imposta, tudo tud o isso revela revela ao sujeito sujeit o que, em vez e no no lugar da falta da mãe, mãe, existe existe,, não não ele própr próprio io enquan en quanto to falo dessa mãe, mas mas o pai. Essa é a famosa famosa “metáfora “metáfora do nome do pai”, pai ”, vindo este último último substituir o sujeito, na medida em que este este imagin imaginaa que ele preenche preenche essa falta. Lacan nos apresenta apresenta aqui aqui essa metáf metáfora ora sob seu aspecto mais formal: formal: “Nome do Pai ---------------------
Desejo da mãe
Desejo da mãe —— — Signifi Significad cadoo ao sujeito
nome do Pai
A —— Falo” 48
comen com ente temos mos brevemente brevemente essa essa fórmula meio enigmática. enigmática. O desejo da mãe tem por significante, na verdade, o nome do pai como portador do falo. falo. Mas Mas é isso que, que, ao mesmo mesmo tempo, o sujeito sujeito ignora, e que lhe será significado significado quan quando do ele tomar tomar o desejo da mãe como significante significante de seu próprio “desejo” “desejo”.. Essa Essa descob descoberta erta lhe sign signif ific icaa que o falo falo está está no no Outro. Outro. A conseqüência dessa dessa metáfora, conseqüência conseqüência que não nos deterá por ora, é pois pois que o sujeito, sujeito, desalo desalojad jadoo da da posição posição que ocu ocupa pava va ao se identificar imaginariamente imaginari amente com o falo falo da mãe e forçado a se submeter à lei, lei, poderá daí por diante ter ou ou receber um falo, falo, em vez de sê-lo. sê-lo. Entendasequ se quee o sujeito, sujei to, deixando deixando de se confundir com o objeto obje to do desejo que qu e ele inspira imaginariamente, acede ele próprio própr io ao desejo, desejo, segundo a ordem prescrita prescrita pela pela lei. lei. Mas a questão questão que se impõe neste pont p ontoo de nossa exposição exposição é saber o que que acontece quando quando a metáfora do nome do pai não se se produz, fracass fracassaa (quaisquer (quaisquer que que sejam, sejam, aliás, aliás, as razões desse fracasso fracasso,, que sabemos poderem poderem residire resi direm m cada um dos dos autores autor es do do drama isoladamente, isoladamente, ou, ao contrário, con trário, em vários deles ou em todos), quando, port portan anto, to, o Édipo Édipo não se instaura e o sujeito permanece permanece bloqueado em sua posição primeira primeira de falo falo materno imaginário. Nesse caso advém a psicose. Como e por que? “Tentemos “Tentemos conceber agora uma circunstância da po posiç sição subjeti jetivva em qu quee ao ap apeelo do Nome-do -do-Pai resp respoonde, nã nãoo a ausên sência do pai real, porque essa ausência é mais do que compatível com a presença do significante, significante, mas mas a carência do próp própri rioo significante. significante.””49 Comumente, não não é raro raro faltar faltar ao sujeito um significa significante; nte; é o que no inconsciente inconsciente desse sujeito. acontece quando quando esse significante significante érecalcado é recalcado no Mas sabemos que, nesse caso, ele pode ser indireta ou negativamente descoberto descober to no significado significado do sujeito sob sob a forma forma de sintoma, lapso, ato falho, através de um disfarce qualquer ou em algum produto, assim se oferecendo oferecendo a ser ser localizado pela análise. análise.
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Mas não é esse o caso caso aqui, aqui, e as coisa coisass transcorr transcorrem em de maneira maneira diferente diferente quando esse significante é, é, não recalcado, e portanto enterrado no inconsciente, masforacluído e foracluído e rejeitado para fora dele - o que corresponde ao verworfen da verworfen da terminologia freudiana.50 “No ponto ponto em que, veremos como, o Nome-do-Pai é iinvoc nvocado, ado, pode então responder no Outro um puro e simples buraco, o buraco, o qual, pela carência do efeito metafórico, provoca um buraco correspondente no lugar da significação fálica."51 Isso quer dizer, portan por tanto, to, que que a importância simbólica simbólica do falo e o feio feio na qualidade de símbolo ficam daí em diante diante riscados do inconsciente do sujeito, onde onde nada jamais jamais poderá poderá fazê-lo fazê-loss reaparecerem. No No entanto - sabem sabemos os diss disso, o, e a def defini iniçã çãoo dada dada por Laplanch Laplanchee e Pontalis, citada numa nota, no-lo traz à lembrança -, esse significante, inacessível ao sujeito, nem por isso é pura e simplesmente aniquilado. Reaparece no real, mas sob a forma alucinatória. Freud nos fornece o exemplo pri disso em seu relat relatoo do caso do Homem dos Lobos. Est Estee princ ncep epss disso foracluiu a castração simbólica, mas o significante dela ressurge aludnat aludnatori oriament amentee na realidade, realidade, num dia em que o menino, menino, brincando com seu canivete canivete na casca casca de uma uma árvore, “vê" “vê" que cortou co rtou inadvertidamente inadver tidamente um dedo, que agora só está preso à falange falange por um pedacinho de pele. Apavorado, ele pára por um momento de ousar olhar para a mão. Retomando Retomando a coragem coragem,, constata constata que o dedo não traz tra z o menor ferimento. ferimento. Uma desdita desdita análoga lhe ocorreria ocorreri a muitos anos depois, na época em que Freud Freud havia confiado à Ruth Ru th McBrunswick McBrunswick o prosseguiment prosseguimentoo da análise: sofrendo de acne fecia fecial,l, o paciente paciente “vê” “vê” que esta corroeu corroeu seu nariz a pont pontoo de esse nariz ter desaparecido desaparecido,, transforman transformando-se do-se num buraco aberto. Ele sabe estar mutilado mutilado para para sempre. sempre. Desta vez, vez, porém, o episódio dura dura várias semanas, semanas, durante durante as quais, abatido e delirante, deli rante, ele se recusa recusa a sair de seu apartamento.52 Tentemos compreender compreender de que que modo os mesmo mesmoss mecanismos mecanismos entram entram em ação na loucura de Schreber. A hiância hiância que se abre no campo do imaginário schreberiano schreb eriano para p ara responder responder “à falta da metáfora simbólica”. simbólica”..... “só “só podia encontra enco ntrarr meio de se resolver na consumação daEntmannung Entmannung (em (emas ascu cula lação ção)” )”..53Da mesma maneira, o Homem dos dos Lobos vê desaparecer, desaparecer, por mutilação, seu dedo ou seu nariz. O não ter encontrado e ncontrado em seu lugar lugar a metáfora metáfora paterna e o não ter podi podido do,, por con conseg seguin uinte, te, aceitar aceitar a castraç castração ão simbó simbólic licaa levara levaram m o Senatspräsident a a fazer o significante desta retornar no real alucinado, inclusiv inclusivee no lugar que lhe era mais adequado: adequado: “viu" seu corpo corpo submetido submetido a uma desvirilização progressiva. Sabemos como o horror dessa “constatação” evoluiu no decorrer da doença, de tal modo que, finalmente.
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ele se resignou à vontade de Deus, julgou essa vontade adequada a dequada a uma certa certa ordem ordem do universo e consentiu na copulação divina divina,, já que esta dev deveria eria garantir a redenção do mundo e do homem. homem. Essa união, todavia, foi adiada para dali dali a vários vários sécu século los, s, ou para o fim fim do doss tempos tempos histórico históricos, s, quando a transformação de Schreber em mulher tivesse tivesse conhecido conhecido seu acabamento final. Essa apresentação do delírio centraliza-o no ressurgimento alucina alucinatóri tórioo do significante foracluído da castração; e ao mesmo tempo compreendem compreendemos os porque porque Lacan Lacan - ao contrário contrário de Freud, Freud, talvez talvez,, e certamente de outros autores autore s - se recusou a considerar primário o impulso libidin libidinal al homossexual, que, segundo eles, teria inundado Schreber, fazendo-o mergulha mer gulharr na psicose.54 psicose.54 A bem da verdade, isso ainda não explica tudo. Em particular, a emasculação (Entmannung ( Entmannung)) não é idêntica à transformação em mulher ( Verweiblichung) Verweiblichung) na qual se prolonga. Como compreender esta última, resguardando-se resguardando-se Lacan, Lacan, como ficaríamos ficaríamos tentados a fazer, de imputá-la imputá -la a um mecanismo de defesa, defesa, uma compensação compensação da perda per da sofrida? sofri da? Teremos uma visão visão melhor desse encadeamento recuando recuando um pouco. pouco. Sabem Sabemos, os, de fato, que antes de d e aceder ao ao Édipo, isto é, antes de conhecer a lei do pai e a castração simbólica simbólica imposta por por ela, a criança permanece per manece alheia ao desejo propriamente propriamente dito e se constitui, constitui, para se salvar salvar de sua própria falta, como como justamente justa mente aquilo que preenche a falta da mãe. mãe. E, visto que esta esta simboliza simboliza e significa significa essa falta na posse do falo do qual está e stá privada, é justamente justamen te esse falo que a criança criança tem que ser e será imaginariamente. imaginariamente. A ppart artir ir do momento em que o significan significante te da castração é foracluído, foracluído, a única saída saída apare ap arente nte para Schreber consiste em em regredir ao nível nível dessa dessa condição, condição, que não é outro o utro senão o da união dual. dual. O fato de essa regressão fracassar não acarreta para Schreber conseqüências menos catastróficas do que as que marcariam sua manutenção. De fato, ele é levado à dissolução da relação em que essa identificação identificação se expiime, expiime, a saber, a que o eu ideal do sujeito, por intermédio de sua identidade com o falo, falo, se relacione com a mãe como com sua im imagem especular, especular, transformada em alótropo alótr opo do objeto obje to primordial. Que as coisas coisas partir partiram am daí é algo cuja cuja prova encontramos nos próprios enunciados de Schreber, sem que ele desconfie, aliás, do sentido sent ido daquilo que narra. "Notavelmente”, observa observa Lacan Lacan,, “é no apartame apar tamento nto da mãe, mãe, onde se refugiou, refugiou, que o sujeito tem tem seu primeiro primeiro acesso de confusão confusão ansiosa com rapto-s rapto-suicí uicídio. dio."5 "55 Resta Resta a única solução po possíve ssívell de reserva; “Sem dúvida dúvida a adivinhação do inconsciente preveniu o sujeito sujei to muito cedo de que, na impossibilidad impossibilidadee de ser o falo que faltava à mãe, restava-lhe restava-l he a solução solução de ser a mulher mul her que faltava aos homens." homens."554
interpretação psicanalítica da psicose 97
Esse projeto pro jeto,, infelizmente, não é mais víavel víavel que o outro. outr o. A recusa da castração simbólica é universal, universal, não se aplica menos aos outro ou tross do que a ele ele mesmo. mesmo. Os Os homens “atamancados às pressas” pressas” em que se transformaram transformaram todos os machos, no decorrer da catástrofe cósmica de que temos conhecimento, conhecimento, são tão desprovidos quanto ele do significa significante nte primordial primor dial e, incapazes de se valer deste, não podem utilizá-lo em seu benefício! Aproximamo-nos do ponto crucial. Ele se manifesta, pela leitura das memórias, dois anos depois do início da doença, quando o sujeito suje ito se vê recebendo a oferta ofert a da Versöhnung divina divina.. O sentido corriqueir corriq ueiroo dessa palavra alemã reúne reún e as idéias de sacrifício sacrifício,, expiaçã expiaçãoo e reconciliação, reconciliação, aos quais Deus o convida. Pois bem, é essa Versöhnung que que irá permitir a restauração restauração da estrutura do imaginário, que não pôde p ôde ser feita - sabemos sabemos por que razões - nem na regressão para a união dual nem na feminilização feminilização do paciente em relação aos outros homens e para uso deles. deles. Daí em diante, no entanto ent anto,, graças graças ao elo estabelecido entre entre a feminiliza feminilização ção do paciente paciente e a promessa promessa do casamento divino divino,, descobre-se um meio de de restabelecer restabelecer e fazer com que se comuniquem comuniquem entre si uma certa reestruturação do plano imaginário e uma certa reestruturação do plano simbólico. Quanto à primeira, schreber se esforça por coincidir e se identificar com sua imagem especular. especular. Essa imagem especular mostra-lhe um schreb schreber er que se vai transforma transfo rmando ndo em mulher. A visão visão dessa imagem imagem no espelho espe lho ihe proporcion prop orciona, a, segundo suas próprias própria s palavras, palavras, um gozo gozo pleno e total. Todavia, Todavia, essa coincidên coincidência cia só será adquirida adq uirida em e m termos absolutos uma vez totalmente concluída a metamorfose (que se limita, na ocasião em que ele redige seu livro, livro, apenas ao busto). Essa conclusão dará também o sinal sinal da união união com a divindade. divindade. Mas está, com a conseqüência ligada ligada a isso, isso, adiada por vá vári rios os sécu século loss ou até o fim fim do doss tem tempos. os. Isso Isso tem a va vant ntag agem em de co conc ncili iliar ar o resgate do que resta do eu atual57 do sujeito (sua masculinidade) com a manutenção do gozo gozo erótico que eleexperimenta, contemplando-se no espelho, espelho, ao se sentir senti r ser e transformar-se transform ar-se numa mulher. Daí se abre também um caminho para uma certa restauração da estrutura estru tura simbólica simbólica.. Normalmente, esta se constitui, constitui, no Édipo, po porr uma constelação triangu tria ngular lar cujos vértices são são ocupados pelo ideal de eu (a), pelo objeto primordia primordiall ou ou a mãe mãe (b) (b) e, e, fina finalme lmente nte,, pelo pelo pa paii (c), (c), cujo nome se instaura em substituição ao lugar lugar outrora outr ora ocupado pelo pelo falod f alodosu osujeito jeito quando este era o garante e o mediador da união dual, dual, quando era justamente o que preenchia preench ia a fálta da mãe. mãe. Para schreb sch reber, er, em razão de sua recusa da da castração simból simbólica, ica, o pai e o nom nomee do pai estão foracluído foracluídos, s, de modo que, no vértice que lhes está reservado, reservado, escava escava-se -se uma hiíncia hiín cia em que o triângulo triângulo se rompe, con c ontu tudo do,, essa essa hiância hiância tende a ser pref nchida nchida pelo retorno, reto rno, no real alucinatório, do significànte significànte foracluído do inconsciente, de acordo acord o
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com o mecanismo mecanismo anterior anter iorme mente nte descrito. Ele Ele surge aqui sob sob a aparência do Deus schreberiano, em quem, aliás, não é difícil reconhecer uma caricatura irônica do paterfamí quatro tro anos. No paterfamíli lias as tal como é visto aos qua que concerne ao ideal ideal de eu, ele se afirm afirmaa na fala fala onipot oni potente ente pela qual o infeliz infeliz schreber, schreber , “pensando” “pensand o” continuamente, dia e noite, sem trégua nem repouso, consegue manter manter Deus em xeque e salvar seu eu eu da da aniquilação.5 aniquilação.58 Finalmente, o objeto primordial, que é normalmente a mãe, é aqui simboliz simbolizado ado pela criatura criatura que De Deus us “deixa deixa cair”, cair”, aband abandon onaa O que Schreber ama e quer salvar salvar é a criatura criatura perseguida, fadada à vergonha vergonha e à inexistê inexistênc ncia, ia, que ele mantém viv vivaa por sua próp própria ria fala, fala, na medida em que esta esta não pára de responder responder ao desafio divino divino.. De fato, o ideal de eu e o objeto objeto primordial também tendem a coincidir, a se achatar um no outro: é que, estando o triângulo mutilado, mutilado, os dois lados lados subsistentes procuram procuram confimdir-se confimdir-se numa linha única e finalmente num ponto, ponto, uma vez que esses lados já não são separados senão senão pelo vazi vazio. o. Na medida em que é capaz de pronunci pronu nciar ar a cada instan instante te a fala que, opondo-se a Deus, o mantém no ser, Schreber recupera em termos absolutos a criatura abandonada que ele foi, foi, e que é também seu único objeto de amor. Mas, conservando conservando o mesmo mesmo esquema pseudo-triang pseudo-triangular, ular, também podemo podemoss lê-lo lê-lo num outro registr registro. o. Schre Schreber ber,, ao se unifica unificarr co com m o objeto primordial, primordial, ident identifi ificaca-se se co com m a mãe para para se tornar a espos esposaa do pa pai,i, simbolizado simbolizado pelo Deus alucinatóri alucinatórioo e delirante delirante a quem um dia ele se unirá... unirá... mas no fim dos dos tempos, já qu quee a consumação dessa dessa união também significará significará para para Schreb reber a perda erda do qu quee resta sta de seu eu atua tual, conclam lamado a desaparec recer na feminilidade de uma esposa divina. Resumamos pela última vez os traços principais dessa interpretação, essencial essencial para para nó nós. s. É na “foraclusão “ foraclusão do Nome-do-Pai no lugar do Outro, Outro , e no malogro da metáfora metáfora patern paterna, a, que designam designamos os a falha que confere à psicose sua condição condição essencial, essencial, com a estru estrutu tura ra qu quea ea separa separa da ne neuro urose” se”..59Ou ainda: “Para que se desencadeie a psicose, é preciso que o Nome-do-Pai, 'verworfen foracluído, ou seja, nunca advindo no lugar do Outro, seja chamado ali em oposição simbólica ao sujeito.”60 Entendamos Entendamos que, se a foraclusão do significante paterno paterno,, rrejei ejeitado tado do inconsciente, inconsciente, é o que possibilita a psicose e a constitui constitui virtualmente, virtualment e, essa essa psicose, psicose, no entanto enta nto,, só se torna torna manifesta e ativa no n o dia em que esse significa significante nte reaparece alucinatoriamente alucinatoriamente no real. real. Lembremo Lembremo-nos -nos da fábula de Leclaire: o esquecimento foraclusivo da surra levada dos “tiras"andorinhas só passa a ser um delírio delírio psicótico, psicótico, para para as vítim vítimas, as, no momento em que uma delas se diz atacada pelos pássaros pássaros;; ao contrár contrário, io, o companheiro companheiro
interpretação interpretaçãopsicanaUúca da da psicose psicose 99
de noitada noitada permanece permanece como como um psicótico virtual, à espera, se s e isso vier a acontecer, acontecer, de encontrar encontrar po porr sua vez, vez, no real, algum algum significan significante te alucinado do conteúdo verworfen. Mas de on onde de suigir suigiráá esse significante significante,, confundido com com seu significado, significado, e como como se dará seu surgimento surgimento precisamente precisamente ali onde onde ele deveria estar est ar e onde nunca nunca esteve, ou seja, no lugar do pai no triângulo triângulo sim simbólico? “Através “Através de nada menos do que um pai, não forçosamente, em absoluto, absoluto, o pai do sujeito, mas através de Um-Pai.”6 Um-Pai.”61Esse Um-Pai surge no real real no momento momento em que algum personagem de figura paterna se impõe “na posição terceira” terceira”662no campo de alguma das das relações erotizadas eroti zadas entr en tree o sujeito suj eito e seu objeto, objeto, ou ainda ainda entre entre o ideal ideal e a realidade. realidade. Que ele “se “se apresenta, para a mulher que acaba de dar à luz, luz, na figura do marido, marido, para a peni p enite tent ntee que confessa confessa seu erro, erro, na pessoa do confessor, confessor, e para a moça enamorada, enamo rada, no encontro com o ‘pai do rapaz’,descobrimo[-lo] sempre, e [o] descobrimos com mais facilidade facilidade,, ao nos guiarmos pelas ‘situações’ no sentido sentido romanesco do termo”.«Nes termo”.«Nesse se momento se desencadeia desencadeia “a cascata cascata dos dos remanejamentos remanejamentos (delirantes) do significante de onde provém o desastre crescente do imaginário, até se atingir o nível em que significante e significado se estabilizam na metáfora delirante”.64Não há dúvida, de fato, e já o mostramos, mostramos, que que a cosmo-teologia cosmo-teologia schreberiana, schreberiana, de “remanejamento” “remanejamen to” em “remanejamento remanejamento”, ”, acaba levando levando a uma posição de equilí equilíbrio brio que que resguarda, resguarda, se ousam ousamos os dizê-lo dizê-lo,, todos os interesses em questão, a pont pontoo de Lacan falar a seu respeito, como matemático, numa “solução harmoniosa”.® Conseguiremos detectar no que conhecemos da biografia de Schreber os pontos de basta correspondentes aos termos estabelecidos acima? Não é tão difícil. Qual é, pois, o “Um-Pai” responsável por gerar o Deus schreberiano nesse ateu con convicto, victo, como como o próprio próprio Schreber se denomina? Trata-se, Trata-se, evidentemente, evidentemente, da posição posição ocupada ocupada no no real pelo professor professor Flechsig Sua Sua ciênc ciência, ia, da qual depende há mui muito to tempo o destino de Schreber,^na Sch reber,^na avaliação avaliação deste, bem como seu seu prestígio intelectua intelectual,l, seu devotament devo tamento, o, a antiga e afetuosa afetuosa amizade amizade que seu cliente lhe dedica, dedica, tudo tud o isso o instala inst ala de direito direi to nesse papel. Mas, Mas, então, então, o que faz descambar descambar na catástro catás trofe fe uma situação antiga antig a e estável, estável, e em que campo campo erotizadove erotizadovem m instalar-se instalar-se como terceiro o psiquiatra universitário? Também isso sabemos quase com certez certeza; a; na época imediatamente anterio ant eriorr à eclos eclosão ão do surto sur to delirante delir ante do marido, a Sra. Schreber havia entrado entrado numa idade da vida vida que, para para Schreber, Schreber, destruía destruía definitivamente definitivamente qualquer qualquer esperança de um dia vir a ser ser pai. Essa, Essa, confidencia-nos ele, foi a mais mais dura prova de sua vida. vida. No momento momento em que se abre uma uma brecha entre ent re o sujeito real e o sujeito ideal que Schreber Schreber desejaria ter sido, “Um-Pai” vem vedá-la: Flechsig. Ness Nessee instante. instante. Flec Flechs hsig ig já não pode senão senão tornar torn ar manifes manifesta ta a foraclusã foraclusão, o, feita no passado, passado, do pai de Schre Schreber. ber. O própri próprioo delírio delírio nos trai trai
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muito mui to claram c laramente ente as modalidades dessa dessa foraclusã foraclusão. o. Se o pai de Schreber nunca foi para seu filho filho o pai simbólic simbólicoo que instaura e é guardião da lei, lei, é que esse pai, como o do Homem dos Lobos, confundiu-se para esse filho com o objeto obje to primordial, para sempre perdido, da união dual. Também isso nos é dito por Schreber com toda a clareza desejável, embora inconsciente, quando ele explica que Deus “deixou cair” liegen lassen) sua criatura. O pai, foracluído foracluído de de sua sua paternidade, pat ernidade, toma o lugar de objeto obje to original, reenco re encontrad ntradoo na promessa das bodas bodas divina divinas. s. É tudo isso que Flechsig, “Um-Pai”, faz ressurgir aludnatoriamente no real imaginário. O restan r estante te - o ódio e as as acusaç acusações ões contra o professor, a cosmo-teologia, a redenção da humanidade pela copulação divina - não passa passa le "remodelaçõ "rem odelações” es” do significante significante destinadas destinadas a tornar torn ar aceitável aceitável o que náo poderia poderia sê-lo aos aos olhos de um presidente de tribunal tribunal ateu ateu e rigoris rigorista, ta, a saber, que que Schreber não não se colocou como rival rival do pai, mas o elegeu como objeto de amor, o que equivaleu a foracluí-lo foracluí-lo de sua sua paternidade. paternidade. O médico, médico, ao substitu su bstituir ir esse pai - que nunca foi o pai -, trazia o risco de de fazer esse esse desejo aparecer apar ecer no real. Daí a inversão inversão do amor em ódio, mas também a substituição de Flechsig Flechsig por Deus e a metamorfose metamorfose de Schreber em esposa divina. Em seu belo livro sobre Hö Hölder lderllin e a Que Quesstão tão do Pai, Laplanche, valendo-se de numerosas referências aos textos de Lacan aqui comentados, descreve-nos descreve-nos um processo semelhante semelhan te na evolução evolução patológica do ilustre poeta. Sabemos que o poeta perdeu perde u seu pai aos dois anos de idade e que sua mãe, mãe, recasada em pouco tempo, tempo , torno to rnouu a enviuvar enviuvar quando o jovem Hölder Hö lderlin lin chegou aos nove anos. Também em Hölderlin Höld erlin o nome n ome do pai foi foracluído, porque, nunca tendo ten do realment real mentee aceito o padrasto, padra sto, ele foi foi excluído excluído pela pela mãe de qualquer qual quer acess acessoo ao pai pai verdadeiro. A mãe lhe recusou recusou qualquer mediação que pudesse conduzi-lo ao pai morto. O "Um-Pai” manifestou-se então, bem mais tarde, na pessoa de Schiller.67Este fora improvisado como protetor, protetor, guia e conselheiro do jovem poeta, por p or quem era apaixonadam apai xonadamente ente admirado. admirado. Mas Schiller Schiller também vinha a ser parente pare nte e o amigo mais íntimo de uma uma família em que Hölderlin Höld erlin era preceptor, precep tor, e também amante am ante da mãe e da governanta de seu seu aluno. Assim, Assim, Schiller acrescentou pera p erante nte Hölderlin Hölderli n a posição posição de juiz a todas as as que já ocu ocupav pava. a. Essa conjunção desencadeou no poeta uma série de atitudes delirantes em relação a Schiller, que assinalaram o início da evolução esquizofrênica. Essas seriam, sem dúvida dúvida,, as as contribuições contri buições essenciais trazidas tra zidas pela teoria teo ria psicanalítica para nossa compreensão da da psicose psicose esquizofrênica. esquizofrênica. Não há nenhum nen humaa necessidade necessidade de lhes sublinhar sublinh ar a importância, que se impõe por p or si mesm mesmaa Gostaríamos apenas de insistir insistir no fato de que essa essa interpretação interpretação
interpre interpretaçã taçãoo psicanalítica psicanalítica da psicose psicose
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não contradiz contradiz em nada o que, em nossa primeira primeira parte, havíamos havíamos afirm a d o acerca do pap papel el que pode ser desempenhado pela mãe, na fase da união dual, na eclosão de uma esquizofrenia. Dizíamos naquele momento que a criança só pode ser levada a renunciar a ser o falo da mãe, só pode reconhecer-se como falta, se lhe for oferecido e proposto algum “alhures" de sua cenestesia, algum significan significante te de si a parti partirr do qual ela se tome tome capaz de apontar apontar para si mesm mesmaa dali onde não está. Referindo-nos aos trabalhos trabalhos de P. Aulagnier, Aulagnier, explicamos explicamos que esse “alhures" se constitui pela inserção da criança numa cadeia significan significante te elaborada pelo pelo discurso interparental e pelo discurso da mãe, na qual, qual, desde antes do nascimento, nascimento, a criança encontra encontra um lugar, e segundo a qual, uma vez vez nascida nascida,, ela é interpelada; e também desde a qual, chegado chegado o momento, pode pod e interpelar inter pelar a si mesm mesma, a, nem que seja seja para contestar conte star esse lugar. lugar. É ainda em função função dess dessaa cadeia cadeia que a mãe dota o filho de um ''cor ''corpo po imaginado" que o distingue, a partir partir do própri pr óprioo momento da concepção, concepção, do embrião human h umanoo que ele é na realidade. Assim Assim ele se coloca ab initio como como o Outro Outro da mãe, e também também como o Outr Outroo de sua sua realidade realidade fisio fisioló lóggica: ica: um ser por p or si mesmo mesmo,, sempre já distinto dist into da mãe, mãe, e não o produto pr oduto fortuito fortuit o da cópula desta, que logo terá que separar-se dele mais ou menos completamente. Basta esse processo de imaginação imaginação e investimento libidinal li bidinal deixar de se consumar consumar para par a que o caminho do futuro futur o ser corra o risco de ficar ficar definitivam definitivamente ente barrado. Não dispondo, dispondo, nesse caso, caso, de nenh nenhum um significante significante de si mesmo que difira de sua imanência caótica, qualquer qualquer identificação de si consigo consigo mesmo lhe fica fica interdita interditada, da, a começar pela de sua s ua imagem especular. Ele Ele fica fica imobilizado, imobilizado, sem esperança de d e ultrapassá-lo, ultrapassá- lo, em seu papel papel de an anex exoo feli felizz ou infe infeliz liz do corpo matern materno. o. É o que acontece acontece quando a mãe, como já exp explicam licamos, os, é para para si sua própria lei lei.. “No tocante aos aos sujeitos sujeitos de que estou falando falando,, as mãe mãess dos dos psic psicót ótic icos os,, as co coisa isass são de uma uma ordem totalmente dive divers rsa: a: as regra regrass do do jogo nun nunca ca foram foram aceita aceitass por ela elas, s, nem nem tampou tampouco, co, o que é mais grave, compreendidas: poderíamos poderíamos dizer que o único jogo que elas conhecem é o ‘sucesso’ ‘sucesso’,, um jógo sem parcei parceiro ro e sem aposta, senão s enão no no nível de uma onipotê onipotência ncia autí autísti stica. ca.”6 ”68E, mais adiante: adiant e: “Se, clinicamente, clinicamente, elas el as [as mães doss psicóticos] do psicóticos] não nã o são psicótica psicóticas, s, se as defesas defesas que lhes são própri pró prias as lhes perm permit item em uma uma esp espécie cie de ad adap apta taçã çãoo ap apare arent ntee ao rea real, ne nem m por iss isso é men enoos verdade que sua própria própria anistoricidade, anistoricidade, sua inserção precária, se não sua exclusã exclusãoo da da ordem ordem da lei, são algo algo que que sempre encontramos. De resto, resto, é pos possí síve vell e prov prováv ável el que o filho filho seja seja,, ne nesse sse caso caso,, ao mesmo esmo tempo o fator desencadeante desencadeante de uma descompensação descompensação brusca no nível nível das defesas defesas (o (o que explicaria exp licaria porque por que é justamente justamente nas relações com os fQh fQhos que se concretiza o que é, nelas, da ordem de uma uma perversão no nníve ívell da lei), e, por outro out ro
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lado, aquele aquel e que lhes permite permi te colmatar colmatar essa mesma mesma brecha, fazendo do corpo do filho a muralha que abarca abarca e detém qualquer irrupção de um recalcado mal contido."'» contido."'» Certo. Mas essas essas teses, teses, a que que continuamos a aderir, aderi r, não não estarã es tarãoo em oposição mais ou menos direta direta às que acabam de ser des desen envo volvida lvidas, s, seguindo Lacan, Lacan, para suste s ustentar ntar que a foraclusão foraclusão do nome do pai é o o fator estrutural estrutura l que se deve responsabilizar pela possibilidade da esquizofrênia? Ou, para levarmos a contradição a seu ponto mais nítido, não será lícito nos censurarmos por situ s ituara ara origem dessa dessa psicos psicosee ora na relação relação da mãe com com o filho, ora na relação do filho com o pai? Parece-nos que a dificuldade é puramente aparente e que nossa colocação sairá, não n ão enfraquecida, mas reforçada de d e sua discussão. discussão. Está bastante claro, de fato, que nossas teses não traçam uma alternativa, mas se revelam mutuamente complementares. Se a mãe não nã o consegue consegue renunciar renunc iar a ser absoluta absoluta e exclusivamente exclusivamente pree preenc nchi hida da por seu seu filh filhoo, co com mo po pode de este este aced aceder er à lei lei do pa pai? i? Ond Ondee a un uniã iãoo dual desenha desenha um círculo total total e definitivamente definitivamente fechado, fechado, onde fica o lugar da metáfora do do nome do pai? Nesse caso caso,, o termo termo terceir terceiroo da relação mãefilho é e e continua con tinuará rá a ser o filho como falo da mãe, mãe, tanto para ele quanto quant o para ela. ela. Ou, para tomarm tomarmos os emprestada emprestada por um instante a linguag linguagem em de Melanie Klein, Klein, como como poderá p oderá o filho filho descobrir um dia dia o pênis pater pa terno no no corpo corpo da mãe, se ele própr p róprio io é esse pênis? Se esse filho não.passa de um adorno ou o u de um alimento alimento da onipotência nardsica nardsica da mãe, como como chegará chegará a se situar situar em relação ao pai? Inversamente, Inversamente, se o pai é o personagem caricatural de que zomba zomba a verve lacaniana ao ao nos descreve descreverr Schreber Schreber-pai -pai,T ,TOcomo irá irá a mãe tra trans nsfo forma rmarr em presença o inexistente, inexistente, e como poderá poderá esse inexistente impor-se como como guardião guardião e garante da lei? E com comoo não levaria levaria essa essa inods ino dstên tênda da a estimular o narcisismo do par mãe-filho? Certamente, nada é fatal fatal nesses assuntos, assuntos, de modo modo que que nada tampouco é absoluta absolutament mentee previ previsív sível. el. Nenhum Nenhum concurso de circunstâncias circunstâncias jamais acarreta for estrutura, que mais mais forço çosa same ment ntee o estabelecimento de uma dada estrutura, não seja porque as circunstâncias e a estrutura situam-se em planos diferentes, e porqu po rquee as circunstâ circunstâncias ncias objetivamente detectáveis detectáveis pesam pesam muito pouco, pouco, tendo tendo que que passar pelo imaginário dos sujeitos em causa, que podeser pode ser o lugar de sua metáfora metáfora e que de fato sempre sempre o é mais ou meno menos. s. Mas Mas se, se, num num certo certo sentido, tudo tud o talvez continu cont inuee possíve possível,l, isso isso está est á longe de significar qu quee tudo tudo seja também igualmente igualmente prov prováv áveL eL Ora Ora,, probabilidade, probabilidade, nas conjunturas descritas, é que as falhas em cada um dos termos da constelação se induzam e se reforcem reforcem.. Por Por que iria uma mulher alheia à lei juntar-se junta r-se a um homem que pudesse encarná-la? Por que um homem homem que não consegue consegue ser plenamente sujeito de seu próprio pró prio desejo se aliaria
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a uma mulher mulher que desejasse desejasse ser plenamente plenamente o objeto objeto desse desse desejo? desejo? Assim Assim,, está aberto o caminho... Mais uma observaç observação, ão, O que foi dito sobre sobre a mãe estranha estranha à lei ainda contínua ambíguo, ambíguo, pelo menos num ponto, É que que essa essa “alienação” “alienação” comporta uma possibilidade possibilidade dupla, É possíve possível,l, de fato, que que o filho seja incluído no narcis na rcisism ismoo materno materno a pon ponto to de de ser tudo tudo para para este, como é também po possí ssíve vell que o filho lhe seja totalmente indiferente, que para esse narcisismo, port portan anto to,, esteja teja ide identifi tificcado co com m o nad nadaa Por Por mais co conc ncre reta tam men ente te dife difere renntes tes que sejam essas essas hipóteses hipótes es em muitos aspectos, elas se revelam revelam,, do d o ponto po nto devista dev ista que que nos ocupa, equivalentes. equivalentes. Em nenhu n enhum m dos dois casos casos aparece para o sujeito a oferta de um "alhures" de seu corpo real, real, oferta esta que mostramos mostramos ser a única que pode abrir um caminho para a dialética do reconhecimento.
NOTAS
1. Como dissemos há pouco, Freud usa diversos termos para caracterizar a psicose de Schreber, dentre eles, paranóia é o que volta com mais freqüência em sua pena. Na verdade, não nos parece que esse termo convenha em absoluto. Em nossa opinião, Schreber, como veremos no comentário de Lacan, é, antes, um esquizofrênico paranóide. Além disso, parece-nos necessário distinguir entre en tre o Schreber Schrebe r descrito desc rito nas memóriase o Schreber escritor escrit or dessas dessas memórias memórias.. O primeiroapresenta-se prime iroapresenta-se diante de nós como um esquizofrênico típico. típico. Mas o segundo, que procura convencer os juizes e o público de sua integridade mental, embora reconhecendo reconhe cendo ter te r sido o doen doente te que descreve descreve e cujo antigo delírio ele ele corrige parcialmente - muito parcialmente -, parece pare ce mais ser um paranóico. Retomare Ret omaremos mos essa questão que tivermos trazido os elementos de solução fornecidos por Freud. 2. J. Lacan, “D’Une Question Préliminaireà Tout Traitement Possible de la Psychose”, Écrits, pp. Écrits, pp. 531-584. A rigor, Lacan contesta (op.ek, p. (op.ek, p. 567) a primazia original dos desejos homossexu homossexuais ais na evolução da paranóia pa ranóia de d e Schreber. Como veremos adiante, provavelmente o faz po porr muito boas razões. Mas essa inversão só pode ser compreendida em função de uma teoria geral da psicose da qual Freud ainda não dispunha no momento em que empreendeu a redação de seu comentário sobre Schreber. Além disso, disso, os elementos que justificam decisivamente essa reviravolta só foram fornecidos pelo pelo próprio Lacan, e só podem ser se r suspeitados suspeitados em Freud. 3. Le L e Préside Président nt Schre Schreber ber,, trad. in Cinq Cin q Psychanaf P sychanafyses, yses, p. p. 306. 4. Op.cit .,., p. 308. 308. É evidente que a situação se apresenta de maneira idêntica idêntica quando o sujeito é uma mulher. mulher. A proposição a contradizer enuncia-se enuncia-se então como “eu” (uma mulher) a amo (a ela, uma mulher)”. 5. Op. cit., p. cit., p. 310. 6. Encontramos Enco ntramos outro out ro índice de homossex homossexuali ualismo smo no fato de d e que qu e o indivíduo indivíduo pretensamente amado, com muita freqüência, é (principalmente nas mulheres, mais especialmente sujeitas à forma erotomaníaca da paranóia) paranó ia) um personagem de quem, de fato, não há porque temer uma exigência propriamente sexual: padre, médico,
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celebridade quase inacess inacessíve ível: l: o príncipe de Gale G ales, s, no caso da doente doent e que Lacan estuda estu da emsuat em suatese.V ese.Ver er a propósito o estudo de F.P F.Perrier, errier, “L’Erotomanie”, “L’Erotomanie”, no volume volume coletiv coletivoo intitulado Lc L c Désir Désir et la Perver Perversi sion on, p. 132. Extraímos desse mesmo estudo um outro comentário: comentário: "Em nossa opinião, opinião, a erotomania pura é um estado passional passional da da mulher. No homem, parece-nos que em geral ela só figura como uma síndrome síndro me parcial num quadro quadr o clínicoem que q ueaa paranoidia, a debilidadeou debilidad eou o desequilíbrio des equilíbrio psicopá psicopático ticos&ó s&ó mais discutívei discutíveiss do que o tema tem a erotomaníaco erotoman íaco que qu e eclode nesses terrenos, com maior ou menor meno r consistência.” Op.cit , p. 131 7. Freud, Op.cit, p. 312. 8. Por Po r exemp exemplo: lo: "As coisas coisas perderam perde ram todo o brilho.” "A luz solar está se enfraquecendo dia a dia, dia, e em pouco tempo serão a noite e o frio eternos. “ "Não "N ão há mais trabalho para ninguém, ninguém, o desemprego é univers universal, al, só resta à humanidade inteira refugiar-se nos asilos asilos etc. etc. 9. Freud, Op.cit .,., p. 315. O texto nos diz, portanto, que o recalcamento, em matéria de psicose, psicose, consiste em retira ret irarr os investimentos investimentos libidinais libidinais dos objetos ou do mundo em que possam ser descarregadas as pulsões parciais ou proibidas nas quais o sujeito se fixou fixou,, e para as quais se efetuou o movimento de regressão regr essão sob a ação do evento provocador. Num segundo movimento movimento,, o único diretamente diretam ente perceptível, perceptível, o sujeito tenta reinvestir um mundo ou objetos fictício fictícioss delirantes que possam salvá-lo salvá-lo,, ao a o mesmo tempo, seja do autismo, seja dos perigos ligados ligados à satisfação real rea l das pulsões proibidas. proibidas. Segundo essa essa primeira interpreta interp retação ção - que seria consideravelmente modificada modificada em seguida seguida -, os sentimentos homossexuais inconscientes de Schreber por Flechsig, bruscamente estimulados no inconsciente pela certeza desde desd e então entã o absoluta, e obtida pouco antes da crise, de que o casal Schreber nunca teria filhos, é que teriam desencadeado todo o processo. 10. Freud, op.cit, p. 319. 11. Op.cit, p. 319. É perfeitamente claro que essa explicação também toma impossível considerar Schreber como um paranóico puro, já que, incontestavelmente, essa , "agitação alucinatória” existi existiuu nele. nele. Veremos mais mais adiante adia nte como Freud superou supe rou essa dificuldade. 12. Freud, op.cit, p. 320. 13.. Cabe 13 Ca be portanto porta nto concluir conc luir que, que, segundo segundo Freud, F reud, alguns esquizofrênico esquizofrênicoss podem atravessar (na ida ou na vinda vinda da regressão) regres são) uma fase paranóica, mas, mas, inversamente, o paranóico em quem a falha originária se encontra situada no estágio narcísico (e portanto, portanto , aquém da chamada fase auto-erótica) não manifestará sintomas propriamente esquizo frênicos, salvo, evidentemente, pela retirada dos investimentos objetais, comum, segundo Freud, a ambas as psicoses. 14. Utilizamos Utilizamos a traduçã tra duçãoo de Jean Jea n Laplanche, comunicada pro manuscrípt manuscríptoo aos membros da Sociedade Francesa de Psicanálise, p. 4. 15. J. Laplanche, tradução trad ução citada, p. 5. 5. 16. Poderíamos encontrar encon trar uma confirmação da tese freudiana no fato de que quase nunca se observa um acesso psicótico agudo sem sintomas hipocondríacos, na maioria das vezes maciços. 17.. Freud 17 Fre ud se refere ref ere aos casos em que uma neurose neur ose precede a eclosão da psicose ou serve serve de anteparo a esta antes do surto su rto agudo. agudo. 18. Laplanche, tradução citada, pp. 20-21. 19.0 19 .0 fato de a conclusão conclusão dessa dessa metamorfose só se situar situa r depois depois de vários vários séculos séculos pode afigurar-se como um apego ao antigo "real”. "real” . Vale notar not ar também que qu e as memórias de Schreber Schreb er foram escritas com vistas vistas a conseguir sua liberação e visavam visavam a convencer os juizes, juizes, se não de sua perfeita saúde mental, pelo menos da inutilidade de sua internação.
interpreta interpretação çãopsicanalítica psicanalítica da psicose psicose
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20. Trata-se aqui de um tipo de recalcamento diferente do que estava em questão a propósito prop ósito do próprio próp rio narcisismo, narcisismo, quand quandoo Freud Fre ud descreveu a retirada dos investimentos objetais como um modo de recalcamento. 21. “E in Augenverdreher” Augenverdreher” - literalmente, literalme nte, “um virador de d e olhos”. A expressão designa um indivíduo indivíduo hábil em se fazer ver de maneira diferen d iferente te da que é, porque por que consegue desviar os olhos olhos das pessoas daquilo a que elas deveriam estar esta r atentas, nele, a fim fim de conhecêlo bem. bem. Uma doente doen te diria, em francês, que teve os olhos cegados pela pela poeira, po porr se dar com alguém alguém que atira atir a poeira poei ra nos olhos. olhos. 22.Écrits,pp. 537-583. 22.Écrits,pp. 537-583. 23. Écrits, p. Écrits, p. 532. 24.. Essa idéia dominou o pensamento 24 pensame nto lacaniano desde a origem. Já em 19 1932 32,, de fato, o aut a utor or escreveu, usando um vocabulário um pouco diferente: "Porque ... a estrutura das representações represen tações mórbidas não seria, seria, nas psico psicoses ses,, simplesmente diferente do diferente do que é na normal. Blondel... valorizou bastante este fato: a consciência mórbida aparece como sendo sendo de estrutura estrutura radi radical calmen mente te difer diferent entee da co consci nsciên ênci ciaa n o r m a l De la Paranoia Paranoia dansses dan sses Rapports avec la Personnalité, Paris, Personnalité, Paris, 1932 1932,, p. 294 [Da [Da PsicoseParanóica em suas Relações Relações com a Perso Personal nalidad idadee, Forense-Universitária, Forense-Universitária , Rio, 19 1987 87]. ]. 25. Écrits, pp. Écrits, pp. 532-533. 26. Écrits, p. Écrits, p. 534. 27. Écrits, Écrits, p. 535. 28. Écrits, Écrits, p. 535. 29. A apóstrofe imaginária “porca” não desliga a enferma da situação. Ao contrário, concretiza-a e identifica a doente com ela. Essa apóstrofe, extraída da linguagem aprendida da paciente, paciente, é de fato equivalente equivalente ao grito que a paciente solta quando a broca do dentista denti sta toca-lhe num nervo. nervo. 30.. Schreber, como sabemos, compara-a a um alemão arcaico 30 arc aico e vigoroso. vigoroso. 31. Écrits, p. Écrits, p. 537. 32. Écrits, pp. Écrits, pp. 537-538. 33. Exposto é Exposto é um termo da língua fundamental cujo sentido exato é fácil fácil de adivinhar. 34. Écrits, p. Écrits, p. 540. 35. Écrits, p. Écrits, p. 540. 36. Écrits, Écrits, p. 542. 37. Écrits, p. Écrits, p. 543. 38. “O homossex homossexualis ualismo, mo, suposto deter d eterminant minantee da psicose paranóica, é propria pro priamen mente te um sintoma articulado articul ado em seu processo.” Écrits, p. Écrits, p. 544. 39. Écrits, Écrits, p. 549. 40. Écrits, p. Écrits, p. 550. 41. Écrits, p. Écrits, p. 551. 42. Écrits, Écrits, p. 551. 43. Écrits, Écrits, p. 551. As palavras entre parênteses são nossas. 44. Écrits, p. Écrits, p. 551. 45. Écrits, p. Écrits, p. 552. 46. Écrits, p. Écrits, p. 552. 47. Écrits, p. Écrits, p. 552. 48. Écrits, p. Écrits, p. 557. 49. Écrits, p. Écrits, p. 557. 50. Vejamos como Laplanche e Pontalis definem a foraclusão a foraclusão:: “Termo introduzido por Jacques Lacan: mecanismo específico que estaria na origem do fato psicótico; consistiria numa rejeição primordial de um ‘significante’ fundamental (po ( porr exem exemplo, plo, o falo como significante significante do complexo complexo de castração) castr ação) para fora do universo simbólico simbólico do sujeito. A foraclusão se diferenciaria do recalcamento em dois sentidos: 1) os
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significantes foracluídos não são integrados no inconsciente do sujeito; 2) não retomam reto mam do interior, mas noseio no seio do real, singularmente no fenômeno alucinatório.” Vocabulário 571. Deixamos de lado a questão questã o de saber sa ber se a noção de verworfen tem da Psicanálise, p. 571. em Freud Fre ud exatamente exa tamente o mesmo sentido da foraclusão lacaniana, lacaniana, e se verworfen não terá para Freud Fre ud uma significação significação plurfv plurfvoca oca.. A propósito dessas questões, cf. cf. a tese de Ewens, Ewens, já citada. 51.Écrits, p. 558. 558. A palavra em grifo foi foi grifada por nós. nós. Lembremo-nos de que o Outro, que está em causa nesse texto, designa para Lacan o inconsciente. inconsciente. 52.. Podemos ler um exemplo análogo desse retom 52 ret omoo alucinatório do significante significante foracluído na fábula fábula de Leclaire que citamos anteriormente. anteriormente. 53. Écrits, p. 564» 54. A existência desse impulso, no entanto, como mostram claramente as relações ambivalentes com Flechsig, é incontestável. 55. Écrits, p. 566. 56. Écrits, p. 566. 57.. Ao longo de toda 57 tod a a sua doença, o "eu atual” atua l” de Schreber Schr eber não deixa, deixa, por exemp exemplo, lo, de ser odee um marido afetuoso, cortês e emocionado até od at é as lágrimas lágrimas a cada visita visita que lhe é feita pela Sra. Schreber. 58. Aniquilação em que Deus se empenha, desde que Flechsig o conquistou para seus desígnios sombrios. A armadilha consiste, como vimos, em que as “vozes” divinas venham a proferir proferi r injúrias tão assombrosas que q ue Schreber, extenuado, extenuado, deixe deixe por um só instante de responder a elas, o que acarretaria sua destruição imediata. 59. Écrits, p. 575. 60. Écrits, p. 577. 61. Écrits, p. $77. 62. Écrits, p. 577. 63. Écrits, p. 578. 64. Écrits, p. 577. 65. Écrits, p. 572. 66.. Sabemos que Flechsig 66 Flechsig havia havia tratado tratad o e “curado” “curad o” Schreber em crises crises anteriores. Schreber lhe ficara muito grato por p or isso e o considerava seu salvador. salvador. 67.. Cf., nas pp. 50 e 57 67 57 do livro citado, duas cartas car tas de Hölderlin Höl derlin e Schiller que não deixam deixam nenhuma dúvida dúvida a esse respeito. 68. P. Aulagnier, artigo citado, p. 52. 69. P. Aulagnier, artigo citado, p. 52-53. 70. Écrits, p. 582.
capítulo 5 REFLEXÕES CONCLUSIVAS SOBRE O PROBLEMA DAS PSICOSES. CRITÉRIOS ANALÍTICOS E EXISTENCIAIS DA PSICOSE PSICOSE
Após essa essa revisão, revisão, simultaneamente simultaneamen te sucinta e detalhada, detalhada, das principais teorias e interpretações que a psiquiatr psi quiatria ia e a psicanáli psicanálise se propõem para o fenômeno psicótico, talvez seja possível, sem cair num ecletismo inaceitáv inaceitável, el, tent tentar ar uma breve montagem montagem que nos permita coligir e formular o que é importante importante para uma perspectiva antropológica como a nossa. A esquizofren esquizofrenia ia é, sem dúvida algum alguma, a psicose psicose cujo pont pontoo de origem origem se situa nas camadas mais arcaicas da constituição da personalidade. É também por isso que constitui, constitu i, aos olhos olhos da maioria, a psicose típica. típica. Isso Isso não impede que o emprego do termo termo seja amiúde muito vag vago, o, como como nos Estados Unidos, por exemplo, exemplo, onde ele tende cada cada vez vez mais mais a se torna tornarr um simples simples sinônimo sinônimo de psicose, psicose, nem tampouco qu quee sejam muito variáveis variáveis as dimensões dimensões em que são escolhidos escolhidos tanto tan to os critérios de discriminação discriminação quanto os conceitos explicativos. A simples referência aos nomes de Kraepelin, Kraepelin, Bleuler e Freud-Lacan Freud-Lacan é suficiente para para ilustrar ilustrar essa afirmação. afirmação. Todav Todavia, ia, parece-nos que que a noção de esquizofrenia pode pode se esclarecer através de uma série de traços que delimitam sua própria própria natureza. natureza. Vamos Vamos enumerálos, empenhando-nos em explicar como se evocam e se articulam entre si, de maneira a compor compor juntos um modo (patológico) de existênc existência. ia. A ordem de menção em que esses traços serão apresentados é ba basica icamente ind indife iferente, te, já que cadà um deles les está stá referid rido a tod todos os demais, is, os quais, quais, de certa maneira, cada cada um trans t ranspõe põe para uma uma nov novaa dimensão. dimensão. gleichursprünglich, não num sentido Vamos chamá-los, portanto, de gleichursprünglich, temporal, mas no sentido senti do em que Heidegger emprega emprega esse adjetivo para designar a origem comum dos elementos cuja imbricação define uma estrutura. Parece-nos possível, assim, no que concerne à estrutura da esquizofrenia, reter os cinco seguintes traços: 1) A imagem imagem do corpo própri próprioo a que o doe doente nte se refere, consciente ou inconscientem inconscientemente, ente, sempre parece ser, de certa maneira, a de um corpo corpo despedaçado. Essedespeda Essedes pedaçame çamento nto muitas vezes vezes se manifesta com com toda 107
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clareza. Embora possa dissimular-se, revela-se então, sem que haja necessidade de investigações muito prolongadas, nas produções inconscientes do sujeito. 2) O sujeito sujeito dá mostras, em algum momento momento decisivo decisivo de suas frases, frases, de uma confusão entr entree o significante significante e o significad significado; o; muitos “neologism “neologismos", os", tão comumente destacado destacadoss na liter literatura atura psiquiátrica psiquiátrica sobre a esquizofre esquizofrenia, nia, daí extraem sua origem. origem. É nessa confusão que se inscreve o não-acesso do sujeito suj eito à ordem ordem simbólic simbólica. a. 3) O triângulo edipiano ed ipiano acha-se acha-se fundamentalmente fundamentalmente perturbado. O sujeito, que só imaginariamente oc ocupa upa o lugar l ugar de Ego Ego na ponta inferior do triângulo, situa-se, de fato, num dos ângulos do lado superior, superi or, de onde onde exclui ex clui o pai, mesmo mesmo que às ve veze zess tenha tenha que substituí-ló substituí-ló imaginariament imaginariamentee por algum algum persona personagem gem ilustre ou fantás fantástic tico. o. Tende a se fundir e a se confundir confundi r com o outr outroo genitor, genitor, a mãe, mãe, que em princípio ocupa o ângulo oposto oposto do mesmo lado, lado, abolindo a linha e fazendo fazendo suas suas duas extremidade extremidadess caírem num único ponto. pont o. O desejo de ser pai de si mesmo mesmo com com a própri própriaa mãe corresponde corresponde a esse esquema. esquema. Trata-se Trata-se pois, na verdade, de um pseudotriângulo, que chamaremos chamaremos também e com igual conveniência conveniência de pseudoedipiano, já que a mãe visada visada aí não é a mãe edipiana, que qu e é um Outro; Outro; é também também isso o que qu e se verifica verifica no caso da menina, para pa ra quem o esquema é semelhante semelhante e que nunca tem t em a mãe como objeto edipiano edi piano (salvo (salvo no caso caso de um Édipo invertido, invertido, o que já é outro outr o problema). problema). 4) O sujeito manifesta uma bissexualidade ao menos virtual. Em termos mais exatos, não conseg c onsegue ue situar-se situar-se em função da da diferença dos sexos sexos.. Sem querermos antecipar antecipar as elaborações que virão a seguir, é fácil fácil observar observar que isso decorre diretamente do qu quee foi foi mostrado no item anterior. 5) O sujeito sujeito iden identifica tifica o nascimento com a morte. Fala do nascimento como de uma morte morte e da mort mortee como como de um nascimento. “Ainda “Ainda não não nasci" nasci" ou “estou morto mort o há milhares milhares de anos" são, segundo segundo esse esse ponto de vista vista,, frases estritamen estritamente te equivalentes.1Podemos equivalentes.1Podemos compreender compreender da mesma maneira o hábito de Hölderlin de datar d atar suas cartas e seus seus escritos, escritos, a partir part ir de uma certa certa época de sua doença, subtraindo subtraindo uma unidade, a cada cada primeiro primeiro de janeiro, do número que ha havi viaa usado usado para designar designar o ano anterior, e começando começando essa essa subtração a part p artir ir de um certo cert o ano do século XVII em que se situou. s ituou. Sublinhamos, Sublinhamos, para para começar, começar, que que nada disso se opõe ou é incompatível incompatível com o mecanismo descrito po porr Lacan sob a categoria de “foraclusão do nome do pai", que estudamos longamente longamente no capítulo capítulo anterior. Na verdad verdade, e, nossas afirmaçõ afirmações es só fazem fazem patent patentea eare re articular o que acontece para o observador observador r azões, s, nunca quatuio houve houve a foraclusão foraclusão do nom nomee do pa paii-,, esta, jíor boas razõe
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se ma manifesta nifesta diretamente. diretamente. A foraclusã oraclusãoo é o fundamento e o sentido último dos fenômenos fenômenos anteriormente anterio rmente descritos descritos como constituti constitutivos vos da estrut est rutura ura esquizofrênica qua quando ndo ela se inscreve inscreve na experiência do sujeito, tal t al como esta última última se nos oferece. Vamos agora expor a imbricação desses diversos aspectos, assinalando, de passagem - mas sem nos nos demorarmos nisso, nisso, já que a coisa facilmente nte verificáve verificávell por por qualqu qualquer er um um -, que todos esses esses aspectos aspectos figura figuram m, é facilme sem nen nenhuma huma exceção exceção e com toda a relevância relevância desejável, desejável, no relato relato exemplar exemplar que nos nos deixo deixouu o Presidente Presiden te Schreberso Schrebersobre bre sua própria própria doença. Isso Isso não deix de ixaa dete de terr importância para a plausibilidadede nossa colocação,já que o texto em causa também está está na origem de algumas das tentativas tentativas mais originais originais e profundas que se fizeram fizeram para nos fornecer a chave chave do fenômeno esquizofrênico.2 A foraclusão foraclusão do nome do pai promove a substituição do triângulo triângul o prop propria riam men ente te ed edip ipia iano no por uma uma rela relaçã çãoo bipo bipola larr qu quee tend tende, e, por outro lad lado, a se auto-anular. auto-anular. Ela consagra a falta de ace acesso sso e a inacessibilidade inacessibilidade do sujeito à ordem simbólica, simbólica, já que o pai é o garante dessa ordem. ordem. A mediação, a negatividade negatividade e a distância, idêntica e conseqüentemente, conseqüent emente, ficam ficam alheias a esse esse sujeito. Estri Es tritamente tamente falando, caberia caberia inclusiv inclusivee récusar-lhe qualquer qualquer emprego correto correto da ling linguag uagem em,, já que esta as pressupõe. De fato, os autores aut ores são unânimes em apon apontar tar no n o esquizofrênico esquizofrênico distúrbios muito graves graves da linguag linguagem em.. Descrevem-nos Descrevem-nos de maneiras diferentes, porque po rque os abordam abordam em função de concepções relativas à natureza, às finalidades e aos mecanismos ecanismos da linguagem linguagem, que que por por sua vez divergem quase completamente, cont co ntuudo do,, através dessas dessas variações variações da descrição, descrição, identificamos sem sem muita dificuldade um núcleo central e idêntico. Este corresponde ao que designamo designamoss sob o título títu lo de confusão entre ent re o significante e o significad significado. o. Essa confusão assinala, na verdade, o fracasso radical da metáfora lingüística.3 lingüística.3A A isso se acrescentam, acrescentam, em alguns alguns casos, casos, o aparecimento aparecimento ou o retorno desse significante no real delirante do doente, retorno cujo mecan mecanism ismoo já tentamos compreender. Écomo Éco mo o caso caso do doente doen te apresen aprese n tado por por Lacan no Ste. Anne, que, perseguido perseguido po porr uma vizinha de andar que estava estava sempre a lhe lhe roubar roubar os pensamentos, teve de admitir, admitir, no no entant entanto, o, que não a conhecia - fazia muito pouco tempo t empo que ela morava no prédio, e o paciente, paciente, que trabalhava à noite noite numa gráfica gráfica de jornal, jornal, descansa descansava va duran du rante te o dia; ele só sabia uma coisa: coisa: que ela se chamava Sra. Sra. Mair Maire.* e.* A extensão desse fenômeno ultrapassa o comportamento lingüístico em sentido estrito. Pois quando uma doente, não sem ambivalência, acusa seu médico édico de lhe dar dar ou ou lhe fazer “brúlures” [queimaduras/remédios] no rosto Sobrenome foneticamente fonetic amente idêntico, na língua língua francesa, francesa, ao substantivo mire mir e (mäe). (N.T.) (N.T .)
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durant durantee a noite, noite, estamos diante diante da mesma mesma confusão confusão - aliás implicitamente implicitamente reconhecida quando, indagada sobre as cicatrizes que teria constatado no espelho, ela ela responde: "realmente "realmente,, só faltava faltava isso.” O mesmo mesmo acontece ainda quando ela ela expli explica ca que sua doença doença data da época em que o pai a mandou operar ope rar "injustamente" de apendici apendicite, te, acrescentando que, que, desde então, sempre teve a sensação de que que 'l' lhe faltava alguma alguma coisa”. coisa”. Mas Mas ela emprega essa expressão no sentido às vezes utilizado na Bélgica, e que é um é um neerlandismo, para para exprimir que não nã o se está bem de saúde, que alguma coisa coisavai mal ma l É ainda essa mesm mesmaa doente doente que, numa outra outra ocasião, estabelece um vínculo entre ent re o começo de sua doença e a instalação, instalação, em sua cidade, cidade, de um campo de mini-golfe, que aliás, segundo afirma, ela gostava de freqüentar. A descrição descrição que fornece fornece desse desse jogo mostra claramente o sentido que lhe lhe está ligado: ligado: a instalação, instalação, no lugar onde o nde ela vivi viviaa e quando contava quatorz qua torzee anos, de um significant significantee da sexualidade sexualidade em seu própri pró prioo corpo, inconscientemente vivido como a origem de sua doença. Assim, ssim, o problema para para nós já não está em em compreender essa confusão confusão entr en tree o significante significante e o significad significado, o, nem de onde onde ela ela provém. provém. A dificulda dificuldade de'' estaria, antes, em delimitar seus seus prejuízo prejuízoss e compreender porque porqu e ela não invade nem contamina forçosamente toda a utilização utilização da linguagem linguagem pelo esquizofrênic esquizofrênico. o. É que parece, de fato, que em muitas circunstâncias, circunstâncias, ao menos alguns esquiz esquizofrênic ofrênicos os parecem manejá-la manejá-la corret co rretamen amente te e valervalerse dela para para comunicar uma verdade objetiv objetiva. a. Podemos dar da r a isso uma uma resposta resposta dupla. Primeiro, não há dúvida dúvida de que essa essa linguagem linguagem adequada é, com freqüência, mais apare apa rent ntee do que que real, e que, na maioria maior ia das vezes, vezes, trata-se trata -se do que chamaríamos, chamaríamos, à guisa de comparação, de uma uma espécie de “discurso decorado”, e não de uma fala realmente compreendida segundo seu sentido sentido adequado. Este Este é o momento de lembrarmos uma uma observação observação de Henri Henri Ey: o delirante delirante sempre delira bem mais do que supom supomos. os. Algumas lgumas ban banalid lidades ou fórm fórmuulas las feit feitaas da lin linguagem co corr rren ente te,, ap apes esar ar de en enuunciad iadas correta corretament mentee e com discernimento, revelam revelam,, quando as olhamos mais de perto perto,, um um sent sentid idoo sim simples plesm men ente te ab aber erra rant nte. e. A doe doente nte de qu quem em fale faleii acim acimaa nunca deixava deixava de começar começar uma conversa conversa por por alguns alguns comentários, comentários, geralmente pert pertin inen ente tess, sobr sobree o tem tempo qu quee estav tava fazendo. Todas as vezes qu quee tant tantam amos os nos informar informar mais sobre sobre eles, eles, evidenciou-se evidenciou-se qu quee esses esses comentári comentários os meteor meteoro o lógicos lógicos ocultavam como como que um código código delirante. Por Por exemplo, exemplo, “está quent quentee hoje" significava: "o calor do sol está muito forte hoje para que eu me aproxime do senhor senhor e aperte aper te sua mão”. E, de fato, fato, enquan en quanto to proferia prof eria seu "hoje "ho je está muito m uito quente" quente",, ela ficava ficava como que imobilizada imobilizada na soleira da porta, porta , mas sem sem dar ex expl plic icaç açõe õess sobre sua atitude, atitude, a não ser mais ais tarde e em resposta a minhas perguntas. perguntas. “O céu está cinzento esta manhã” queria queri a dizer: o sol nunca mais brilhará brilhará como antes e o fim do mundo se se aproxim aproxima. a. Seriamos Seriamos pois de opiniáo opiniáo que, na medida medida (certamente reduzida, reduzida, mas mas
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talvez não inexistente) em que se mantém uma linguagem realmente adequada e correta, cabe ver nisso a prova, como nos convence facilmente o exemplo exemplo da criança pequena, de que que é possíve possívell usar coerent coerentement ementee uma linguagem que não se entende, e de que, tanto em relação à linguagem como a outros outros comportamentos ditos ditos socializa socializado dos, s, é possível possível manejar manejar com aparente correção “montagens’' que sobreviveram à catástrofre, mas cujo emprego emprego já não corresponde a nada para para a pessoa pessoa em causa, causa, ou, pelo menos, corresponde corres ponde a algo totalmen tota lmente te diverso do que q ue elas designam designam e significam significam para a pess pessoa oa norm normal. imagem despedaçada Que todo todo isso acarreta acarreta ou tem como correlat correlatoo alguma alguma imagem despedaçada do corpo próprio, consciente ou não, mais ou menos prontamente identific identificáv ável el no discurso ou nas produções inconscientes do sujeito sujeit o (sonhos, (sonhos, desenhos, desenhos, modelagens modelagens etc) etc),, tornatorna-se se evidente evidente para nós, e de várias maneiras. maneiras. Em primeiro lugar, admitimos que a falta de acesso ao simbólico propriamente dito e, e, antes dele, dele, à imag imagem em especu especular lar,, bloqueia o sujeito num momento momen to de seu devir em que, como vimos vimos no capítulo capítulo II, não pode haver haver uma imagem imagem unitária unitária do corpo. Lacan nos fornece a demonstração demonst ração disso disso tanto tant o em seu célebre célebre artigo sobre o estádio do espelho espelho quanto qu anto em Française sobre a família. seu estudo da Encyclopédie Française sobre Mas Mas também também podemos podemos escolher escolhe r outra outr a abordagem para explicar o que a clínica clínica nos ensina nesse ponto. A constituição da imagem imagem do corpo como uma Gestalt pressupõe pressupõe o estabelecimento e o emprego emprego de um sistema Gestalt, de fato, cada de referênc referências ias muito parti particul cular ar Para Para e por essa essa Gestalt, de cada parte do corpo está constantemente presente e representada em todas as outras. Quando, no entanto, entanto , essa essa identidade é como como que tomada ao pé da letra pela pela imagin imaginaç ação ão ou pe pela la percepç percepção ão imagi imaginár nária ia do sujeito, sujeito, quando não é retida por ele como puramente purame nte imag imaginária inária,, isto é,quando é,quando não se trata, trata , para para o sujeito, sujeito, de uma identidade identidade não simple simplesmen smente te idêntica idêntica,, de uma uma identidade identida de de elementos não-idênticos, não-idênti cos, o sujeito sujeito passa a ter uma imagem imagem incoeren incoerente te e fragmentada do corpo, já que algumas algumas partes p artes diversifica diversificadas das desse corpo são apresentadas como pura pura e simplesmente simplesmente confundidas en entr tree si (por (por exem exemplo, plo, todos os orifícios orifícios corporais), ao ao passo que, numa deturpação deturpação diferente, algumas algumas outras outras partes partes podem ver-se ver-se exc excluída luídass ou projetad projetadas as para para o exterior (como no caso da doen doente te que que via via seus olhos diante diante dela e só vià a eles).4Na eles).4Na verdade verdade,, qualquer elaboração de uma im imagem unitária unitária do d o corpo corpo sem acesso acesso ao nível nível do simbólico simbólico,, ao nív nívdd da metáf metáfora ora (entendida (entendida no no sentido sentido mais amplo, e não no sentido senti do rest restrit ritoo em que Lacan a opõ opõee à metonímia), é impossív impossível, el, quer dizer, dizer, sem acesso acesso à ordem ordem em que aquilo que deve ser é, no entanto tido como o mesmonão mesmo não é, en tanto,, simplesmente o mesm mesmo. o. O carretei carret ei - e de linha certamente é para o menino o corpo materno, mas mas também - e
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isso não é menos essencial - não o é. Quando, para ele, os dois são delira. A fort simplesmente idênticos, simplesmente idênticos, ele delira. A ortiori ori o mesmo se aplica ao segundo nível, nível, caso ele confunda as as palavras/ palavras/ort ort e da com o que elas designam: o da com objeto objeto enquanto realmente presente ou realmente ausente, ausente, o corpo materno visado por intermédio do carretei. Onde não funciona a negação da identidade identida de pura, caímos caímos na confusão entre en tre o significante significante e o significad significado, o, isto é, retomando outro de nossos exemplos, caímos na perseguição praticada praticada pela pela Sra. Sra. Maire aire,, inconsciente inconscientement mentee identi identific ficad ada, a, pe pela la mate rialidade concreta concr eta de seu sobrenome, com a mãe do sujeito. como vemos, o acesso ao simbólico, a constituição correta do triângulo edipiano e a elaboração elaboração da imagem imagem unitária unitária do corpo são partes ou faces solidárias de um mesmo conjunto, momentos articulados de uma mesma estrutura. Nosso Nossoss do dois is último últimoss itens itens não no noss causarã causarãoo maior maiores es preoc preocupa upaçõ ções. es. A bissexualidade, bissexualidade, exercida exercida ou não, é de certa certa maneira evidente, já que que só o estabelecimento correto da relação edipiana situa o sujeito irrevogavelmente em relação à diferença sexual. Sem dúvida, conhecendo-a, pode acontecer-lhe acontecer-lhe renegá-la renegá-la (na perversão), mas ela já se constituiu constituiu e o sujeito sujeito não pode pode mais mais deixar deixar de se situar situar em relação a ela, mesm mesmoo que aparen aparentemente temente a conteste conteste numa conduta homossexua homossexual.l. Mas as coisa coisass são diferentes difere ntes no caso em ex exam ame. e. Antes da instauração ins tauração do Édipo, essa essa maneira de se situar não é absoluta, mas contingente contingent e ou variável, variável, quer dizer, dizer, fica fica submetida às vicissitudes de investimentos libidinais que não são det determi ermi nados pelo sexo do objeto ou do sujeito, indiferentes a ele. De fato, além disso, constatamos sem dificuldad dificuldadee que nenhum investimento pré-edipiano pré-edi piano se despoja realmente de seu caráter narcísico. Incide sobre um objeto, sobre um corpo cujo estatuto não ultrapassa o de um outro-que-é-também-omesmo, mesmo, e que, que, portan portanto, to, ainda não está especificad especificadoo como um corpo que é outropor outropo r ser ser do do sexo sexo oposto. Assim Assim,, o sujeito sujeito continua continua a se manter na indiferença em relação ao sexo. sexo. Por conseguinte, apenas quoad nos é nos é que seu comportamen comportamento to deve ser descrito, ora or a como homo homossexu ssexual, al, se ele for atraído por um parceiro objetivamente do mesmo sexo, ora como heterossexual, se o parceiro pa rceiro for objetivamente do sexo sexo oposto. Mas essa distinção distinção não tem tem nunhum alcance alcancequoad quoad se, e se, e por isso optamos optamos por de design signáála como bissexual. Vamos então ao último ponto, que não nos reserva maiores dificuld dificuldad ades. es. A identidade entre o nascimento nascimento e a morte, que está no centro centro de tantos mitos e lendas e cujo enraizamento no cerne do inconsciente é atestado por tantas fantasias, tem uma ligação quase evidente com a estrutura da psicose esquizofrênica, pelo menos tal como nos esforçamos por des descr crev evêê-la la e com compre preend endê-la ê-la aq aqui ui.. O estad estadoo de separaç separação, ão, de cisã cisão, o, que inaugura o nascimento biológico é justamente aquilo em que o
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esquizofrênico não pode consen co nsentir tir jamais, a preço algum algum. É que a cisão cisão condena aquilo que supostamente supostamente preenche e apaga a falta da mãe à condição condição de objeto parcial, isto é, a um estado que por por sua vez vez é de falta, mas mas sem po possibil ibilid idaade de se reco reconnhece ecer como Jalt ingresso resso nesse nesse estado, estado, portanto, portanto, como Jaltaa O ing é realmente a morte, morte, a única morte mort e verdadeira. verdadeira. Inversamente, Inversamente, porém, a marcha para para o que chamamos morte morte biológica biológica é fantasisticamen fantasisticamente te im imaginada como o retorno à não-cisão com o corpo materno, ou seja, rumo ao nascimento nascimento de um mais-além da morte, dessa dessa morte morte em em que o sujeito sujeito estagna ou se debate no momento. É possível possível que esse traço nem sempre seja seja muito muito manifesto ou muito explícito. Quanto a seu sentido, porém, acreditamos que seja fácil e freqüenteme freqüentemente nte identificáv identificável. el. Exprime-se para Schreber sob a forma de sua ressurreição depois depois da morte m orte que sofreu e ainda, ainda, ou principalmente, principalmente, em sua crença na imortalidade terrestre. Esse é, aliás, um traço que encontramos encontramos em muitos muitos delírios, e não há nenhum paradoxo em invoc invocáálo em benefício de nossa nossa tese. É que essa essa pretensa prete nsa perenidade per enidade não é outra out ra coisa coisa - como vemos vemos claramente claramente no mesmo Schreber - senão a isençãò do do tempo própri próprioo da vida (o que eqüivale à morte, se segundo gundo nossa nossa perspectiva), perspectiva), a manutenção manutenção delirante delirante e contínua da fusão fusão pré-nataljãmais rompida. rompida. O ódio à morte que ganh ganhaa corpo no desejo de imortalidade terres te rrestre tre é, na verdade, um ódio ao nascimento, assim como o desejo do nascimento perpetuado revela revela ser, na verdad verdade, e, um de desej sejoo de de mort morte. e. Totalmente diversos diversos são o fenômeno e o mundo da paranóia. Esta Esta se situa e se estrutura estrutura no no níve nívell do estádio do espelho, isto é, num sujeito para quem a unidade e a identida identidade de do corpo, bem como a existên existência cia de de um outrem, outre m, ou de um outrem outrem enraizado num mundo com comum um,, já adquire algum sentido e alguma alguma importância: importância : os que tentamos definir def inir como como próprios própr ios do estádio está dio do espelho. O esquizofrênico, esquizofrênico, como dissem dissemos, os, não dispõe dispõe de uma percepção verdadeira de sua imagem imagem especular, e porta por tanto nto,, não não acede - ou só o faz de maneira truncada - às experiências que lhe são correlatas. É a propósito propósito das questões questões relativas relativas ao papel do Próximo Próximo e do TeiceiroTeiceirotestemunha que começaremos começaremos a examinar examinar nosso nosso problema e tenta t entaremos remos delimitar delimitar a essência essência da posição paranóica, buscando também também diferenciála tanto da posição esquizofrênica quanto da do não-psicótico. Já o repetimos repetimos com bastante bastant e freqüência: freqüência: toda fala inclui um apelo ao Outro. Mesmo quando, a sós com comigo igo mesm mesmo, o, esforço-me esforço-me por inte interpr rpret etar ar um sonho e, retomando retomando o célebre exemplo exemplo de que Freud se vale a propósito propósito da denegação, digo a mim mesmo que ignoro o que aquela mtilher representa, representa, mas que certamente certamente não é minha mãe, estou-me opondo a um outro outr o que pudesse pudesse dizer, dizer, ou talvez talvez tenha dito, que realmente realmente se tratava
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dela. dela. Minha denegação inclui, inclui, todavia, o mesmo apelo: só posso tter er razão se o Outro Outro ratificar ratificar que, efetivamente efetivamente,, tal tal personagem não representa representa minha mãe. ãe. Uma verdade verdade que eu seja por princípio princ ípio o único a perceber e a dizer constitui a própria definição definição do erro. Esse apelo ao Outro Out ro não é forçosamente forçosamente um apelo a este es te ou aquele outro, É que que,, se meu meu dito não basta para constituir a verdade verdade,, Pierre, Pierre, Jacques Jacques ou Jean J ean não têm t êm maior gozo gozo desse desse privilégio. privilégio. Qualquer Qualquer um deles, como eu, desdeo momento em que seja o ún único ico a vcto que vê, vê, está, poris porisso so mesmo, esmo, no erro.5Qualquer deles, como eu, está submetido ao Outro. “Esse Próximo-transcenden Próximo-transcendente, te, evidentemente, nunca é objetivame objetivamente nte dado, ma dado, mass o discurso é umapelo um apelo a... ess a... essaa Transcendêntia-testemunho.' Transcendênt ia-testemunho.'** cabe cabe,, portanto, portanto, se estou procurando dize dizerr qualquer verdade verdade,, que eu tente tente me identificar identificar com esse terceiro-test terceir o-testemunha emunha,, assim assim superando super ando qualquer qualquer identificação com meu meu interloc interlocutor utor contingente. c ontingente. Nem mesmo mesmo a mentir mentiraa é uma exceç exceção ão a essa essa regra; chega chega até até a aplicá-la duplamente. duplame nte. Só tenho ten ho a certeza de estar mentindo se falar contra o que o terceir terceiro-testemunha o-testemunha ratificaria, e, inversamente, inversamente, é a adequação supost supostaa ou comprovada comprovada de meu dito à ratificação ratificação do terceiro-testemunha terceiro-t estemunha que responde pela eficác eficácia ia de minha mentira. cont co ntud udo, o, já que a verdade verdade é uma bu busca sca,, não posso pretender instalarinstalarme permanentemente permanentement e na posição posição do terceiro, de modo modo que não n ão disporei do saber saber absoluto. Sei Sei disso e é verdade: a coincidência com a posição do terceiro só pode ser parcial, momentânea e precária. precária. É nesse ponto que se marca o traço mais fundamental da posição paranói paranóica. ca. Enquanto o esquiz esquizofr ofrên ênico ico é indiferente indiferente - na medida edida mesm mesmoo de sua esquizofienia esquizofienia - à ratificação ratificação do terceiro-testemunha, terceiro-testemunha, já que só sustenta um pseudo-discurso, pseudo-discurso, isto é, um discurso em que os “shifters"Jos “shifters"Jos embreadores, não são colocados, ou só são colocados na aparência, ou se embaralham, embaralham, o paranóico, muito muito pelo contrário, revela revela-se -se particularmente particularmente sensív sensível el à posição do terceiro. Éjustam Éjus tamente ente por isso isso que ele não sustenta discurso discursoss que possam passar a seus próprios própri os olhos por indiferentes, como como quando, para entabular entabular uma convers conversa, a, fàlamos fàlamos do tempo que está está fazendo, fazendo, ou quando, cumprimentando alguém, perguntamos por sua saúde, dirigindo-lhe o ritualístico ritualíst ico “Bom dia, como vai?". O paranóico, porém, só pode discorrer, em qualquer qualquer ocasião ocasião e quase que q ue explicitamente, explicitamente, em nomee da verdade. nom verdade.Espera Espera de nós, nós, irrestr i rrestritamente, itamente, que a reconheç reconheçamo amos: s: se necessário, intimar-nos-á a fazê-lo. Escutando-o, porém, esse discurso nos surpreende. O paranóico não busca busca a verdade, verdade, ele a possui. Não se esforça por unir-se à posiç posição ão do do terceiro: terceiro: ocupa ocupa-a -a de direito, direito, como como um trono, coind in dde constantemente e por privilég privilégio io com ela ela.. E desse desse privilég privilégio, io, não compreende nem admite que possamos duvidar. Lembremo-nos da para paranó nóic icaa qu que, e, acus acusan ando do o marid aridoo de infid infideelid lidad ade, e, ale alegava que este este fing ingia
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todos os dias dias sair para pa ra tomar tomar o trem trem às 6 horas, mas, mas, na realidade, só saía às 7, 7, e passava na casa da cúmplice, cúmplice, uma vizinha, a hora assim conseguida. Interrogada sobre s obre as provas provas de que dispunha - pois ela confessou confessou nunca ter visto a manobra, propriam propriamente ente falando ela respondeu que um dia, dia, espiando a vizinha pela janela da cozinha, cozinha, vira vira uma roupa ro upa íntima desta de sta última que, às dez horas, “ainda estava jogada” na mesa. mesa. Ponderamos Ponderamos que isso isso não provava provava que a roupa roupa já tivess tivessee estado ali às 6 horas, e menos ainda que tal mulher mulher tivesse tivesse um amante e que q ue esse amante fosse fosse o marido da pacien paciente. te. E ela ela responde respondeu, u, num num tom tom de certeza certeza e de desp sprez rezo: o: “Bem “Bem se vê que o senhor senh or não conhece as mulheres.” Para o paranóico, para nóico, seu discurso verídico como este este tecido é vermelho vermelho e aquele, verd verde. e. Ao mesmo tempo, tempo, é “ é “verídico ele deixa deixa de considera consi derarr esses discursos como ‘signos’ ‘signos’que remet remetem em a uma verdade que os transcende: faz desses ‘discursos’ coisas dotadas de propriedad propriedades es ‘em ‘em si’ ”.8 ”.8 Mas Mas por po r que isso acontece e o que sign signific ificaa essa posição pera pe rante nte o discurso? discurso? Observamos, Observamos, primeiramente, primeirament e, seguindo seguindo o auto a utorr que acabamos de citar, citar, que o imaginário é sempre, sempre, por por natureza, natureza, uma coisa, coisa, um acabado. Podemos verificá-lo nos sonhos, onde esses discursos são igualmente “tratado “tratadoss como imagens, e não como signos”. signos”.99Acima de tudo, tudo, a posição posição do sujeito em relação ao imaginário imaginário difere totalmente do que é com respeito ao percebido. percebido. Se, neste neste último último caso, é preciso estudar e estudar e explorar o explorar o objeto mediante toques sucessivos, meãianteAbschattungen, meãianteAbschattungen, o objeto objeto imaginário é “ é “visto” em termos absolutos, por todos os lados lados e em tudo o que é. Não é difícil encontíar o protótipo de sua captação: é justamente o objeto especular. Sei tulj tuljio ioo que ele contém contém e ele contém contém tudo o que que sei dele. Isso nos leva leva a dar um passo a mais. mais. O mundo do paranóico paranóico é um mundo mundo visto visto como imagem imagem,, nó qual o sujei sujeito to vê a si mesmo mesmo como um objeto objeto imaginário. O sujeito não organiza seu seu discurso discurso para se exprimir exprimir e para expressar expressar a si mesmo mesmo através do que que diz. diz. Ele traduz, para nosso nosso uso, uso, traduz, reflete efotografa fotografa para de nós, nós, os cegos, cegos, o mundo acabado e fechado que lhe é próprio próprio,, tal tal como se oferece a seu olhar, imutavelmente. Seu mundo é desprovido de transcendência, sem mistério, mistério, um mundo onde todo o sentido sentido está está dito, onde não há mais nenhum sentido senti do por po r advir. advir. O que também faz dele, no tocante a sua sua verdade, um mundo mundo sem riscos riscos.. Igualmente expulsa dele está a transcendência do próximo, já que o próximo imaginário não tem pro profun fundidad idade, e, não tem inacessib ssibil ilid idaade, nã nãoo tem tem consistê istênncia própria Ess Essee pró próxximo imo nã nãoo passa ssa do ou outr troo-pe -perseg rseguuido idor, do du dupl ploo homól omóloogo e sem semelha elhant ntee da relação especular, tal como a compreendeu no nossa ssa descrição do estádio do espelho. Mas vamos mais adiante. A rigor, aquele que pronuncia o discurso paranóico não pode realmente identificar-se, ao dizer “eu”, com o sujeito de que se trata tra ta em seu discurso discurso,, porquanto porquanto esse sujeito não não passa, como acabamos de dizer, de um objeto, e ainda por cima um objeto
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imaginário. Ademais, esse esse discurso não se dirige realmente real mente a nenhuma nenhu ma pess pessoa oa real real;; não inte interp rpela ela ne nenh nhum um terc tercei eiro ro que po poss ssaa ser sua sua testem testemunh unha, a, no sentido sen tido de um testemunho que vise vise a colaborar no esforço esforço comum de instau ins taurar raraa verdade. Visto Visto por essa essa concepç concepção, ão, o testemunho seria, nesse nesse caso, caso, perfeitamen perf eitamente te inútil, i nútil,já já que não teria a opacidade do próximo próximo e que este não teria, portan p ortanto, to, outro outro papel ou função função senão o de ser autorizado a repetir repetir a visão e o dito do que de deve ve imagina imaginariame riamente nte ser visto visto,, e cu cujo jo sentido acabado e infalível infalível o paranóico paranóico acaba de enunciar enunc iar exaustivamente: exaustivamente: esse sentido, sentido, com efeito, é-lhe oferecido de d e uma uma vez por todas na imagem imagem que ele diz. diz. E no entan entanto, to, aparentemente, aparentemente, alguém alguém feia feia e pelo menos finge dirigirdirigirse a um out o utro ro,, assim como como finge finge conv convidar idar esse esse outro outro a constit constituir uir a verdade com ele, mesmo que, num plano mais profundo, tudo isso seja ilusório e não não constitua constitua senão um pseudo pseudo-disc -discurso urso proveniente de um um pseudo-sujeito pseudo-sujeito e destinado destinado a um pseudo-outro. Porque, afinal de contas, contas, a que queixa ixa judicial apresent apr esentada ada pela Sra. Sra. T. T. contra con tra seu marido e a vizinh vizinhaa é perfeitamente perfei tamente real, assim como é perfeitamente perfeitamente real que ela nos pede para para afiançar afiançar junt juntoo ao comissário de polida poli da os “argumentos" “argumentos" e “provas” que forneceu, forneceu, sendo nossas objeções, evidentemente, consideradas inexistentes e nulas. Recoloca-se a questão: questão: quem é o au autor tor dessa dessa ação e desse discurso? discurso? A resposta, mais uma ve vez, z, é a mesma mesma É o eu eu especula especular, r, aquele aquele que contempla sua imagem no espelho, espelho, o pro proto to ou pré-sujeito pré-sujeito que descobriu para si, como reflex reflexoo e no outro, o utro, uma unidade até então ausente de sua sua experiência Essa hipótese hipótese talvez nos permita compreender compreen der um um pouco melhor a paranóia. A interp interpret retaçã açãoo dos enunciados e dos atos da Sra. Sra. T. passa passa a se afigurar coere co erente nte a par p artitirr do momento momento em que ad» ad»" Itimos mos que, para essa essa paciente, paciente , o sujeito, sujeit o, o próximo e o mundo situam-se no nível nível de sentido e de estatuto esta tuto correspondente à imagem especular. Enquanto, no esquizofrênico, a regressão e a fixaç fixação ão se fazem fazem aquém do estádio especular, especular, ali onde aquele que faz as vezes.de “suj “sujeit eito" o" é o da mãe (e pouco impo importa rta que seja é o falo da aceito ou rejeitado rejeitado como tal), e portanto, está fedad fedadoo a ser apenas um objeto pardal, pardal, essa reg regres ressão são e essa fixa ixação são aq aqui ui men enos os arcaica icas, já qu quee o suje sujeit itoo teve acesso a uma unidade ideal e a uma identificação consigo mesmo correspo corresponden ndente te a essa unidade. unidade. Mas esse sujeito, esse próximo, próximo, esse mundo, nem põr põr isso deixam de ser ser mutilados e truncados, se avaliados, avaliados, por por exemplo, exemplo, no nível da experi ex periênda ênda do Édipo. Não se trata de um sujeito que q ue tem que ser, eles ser, elesimp implesm lesmente ente é, e é como como imagem. imagem. Não há um próximo diferente, no sentido sentido pleno da diferen diferença ça;; sua alteridade alteridade ainda é a do mesmo, mesmo, projeção do sujeito, que sabemos quanta ambivalência suporta e porquê. Não se tráta trá ta de um mundo transcendente, indefinidamente indefinidamente por explorar sob um horizonte inesgotável; mas de uma fotografia sem espessura nem mistério, cuja “realidade “realid ade"" se limita a traç t raçar ar um palco para as agressões agressões do sujeito sujei to
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contra a encarnaç encarnação ão de seu duplo, agress agressõe õess que d e dep depois ois inverte na forma
de uma perseguição sofrida, sofrida, não sendo esta est a out o utra ra coisa senão uma defesa contra o "eu "eu a amo" amo " original, tal como o explica explicam m os esquemas proposto propo stoss por Freud em seu estudo sobre Schr Schreb eber er.. De tudo tudo isso, isso, o exemplo exemplo propost propostoo fornece uma excelente excelente ilustração. De conformidade com as concepções concepções psicanalíticas, psicanalíticas, o personagem personagem principal principal do drama vivido pela Sra. T. T. não não é o marido, marido, mas a rival, a vizinha. O pri p ri meiro é descrito descrito pela paciente paciente como um indivíduo apagado, pouco pro p ro penso penso a despertar pa paix ixõe ões, s, mas também também,, como como sói acontecer, acontecer, pouco propen propenso so a resistir a elas elas quan quando do porventura porventura aparentam aparentam,, no outro, elegê elegê-lo como como objeto. objeto. Assim, Assim, na na verdad verdade, e, foi por pura perversidade perversidade,, sem nenhum nenhum sentimento sentimento a não ser s er o ódio ódio inextingu inextinguível ível e gratuito gratuit o que sente sente pela Sra. Sra. T., que a vizinha seduziu-lhe o marido. Ela só tem em mente roubá-lo roubá-lo da proprietária legítim legítima, a, como como se furta um objeto, e não para desfrutar dele, dele, mas para privar a outra out ra de tê-lo. Aliás, Aliás, a Sra. Sra. T. reconhece de muito mui to bom grado grado que nunca teve nenhuma razão para se queixar queixar do marido mari do - que, no real, ela o tiraniza abundantemente e o tem na conta de um traste absolutamente absolutamente desprezível desprezível -, mas tudo se modificou desde desde a intromissão, intromiss ão, essa essa é a palavra, da vizinha fetal. Esta, além além disso, disso, não limita sua sua perseguição à conquista do marido. Perturba Pert urba incessantemente incessantemente e de todas as maneiras a vida da Sra, Sra, T., especial especialmente mente jogando joga ndo lixo em seu jardim jardim e o colocando colocando diante de sua porta (o que obrigou a Sra. Sra. T. T. a "revides à altura" altu ra" que aliás acarretaram sua internação). Assim, ssim, a paciente precisa estar contin continuamente uamente em guarda para para preveni prevenirr as as investidas de sua inimiga. inimiga. Embora Emb ora seu desejo desej o mais caro fosse o de cuidar cuidar apenas de de sua própr própria ia vida e viver em paz com os vizinhos (“ah, se só dependesse dependesse de mim..."), mim..."), ela ela é assim forçada a espi espiar ar ininter ininterrupt ruptamente amente a rival, a “vigiávigiá-la" la",, observando-a pela pela janela janela da da cozi cozinh nhaa Foi isso, isso, aliás, aliás, que lhe permitiu, como como dissem dissemos, os, surpreen surpr eender der a referida vizinh vizinhaa quando, terminado seu encontro, ela ela procedia procedia a sua toal toalete ete íntima, e permitiu ainda por cima colher a “prova" do adultério. Não Não há necess necessida idade de de comentar comentar nem interpretar interpret ar essa essa história exem exemplar. plar. Ela acumula num quadro quadr o (é o caso caso de dizê-lo), dizê-lo), o conjun conjunto to de todos os traços clínicos clínicos da paranóia. paranói a. Mas Mas também podemos podemos ver o quan quanto to eles se esclarecem quand quandoo os lem lemos os à luz do complexo complexo de intrus intrusão, ão, tal tal como Encyclopédie Française, Française, como Lacan Lacan o descreve, descreve, em seu arti artigo go da Encyclopédie como correlato perturbador e prov provaa do estádio estádio do espe espelho lho.. A ag agre ress ssiv ivid idad adee concerne concerne a um ou outro tro que é o mesmo, mesmo, o duplo especular. Podemos Podemos descrevê-la descrevê-la como uma manifestação tant tantoo de de sadismo quanto quan to de de masoquismo. masoquismo. Se a Sra. Sra. T., para para se ving vingar ar,, “responde" “responde" atravé atravéss de maus-t maus-trato ratos, s, ela também também inflig infligee a si mesm mesmaa (e ao a o marido, por lucro secundário) uma vida vida insuportável: a obrigação obrigação de vigilânc vigilância ia é contínua e não se interromp interrompee nem de dia, nem de noite; o marido fica fica exaspera exasperado; do; os os vizinho vizinhoss - pois avizinh avi zinhaa tem um
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marido que qu e nunca entra em questão, a não ser como personagem personagem "a ser inform informado ado"" *■são impelidos impelidos a agir em represália represália e finalment f inalmentee solicitam e conseguem sua internação. internação. Como decid decidir ir se ela atinge o outro out ro ou se atinge a si si mesma, mesma, se atinge o outro ou tro nela própri pr ópriaa ou atinge a si mesma mesma no outr o utro? o? Melhor: entre en tre atingir e ser atingida, atingida, o transiti t ransitivism vismoo é imediato. Entre Ent re a pad pa d en ente teee seu duplo, duplo, portador portado r degenerado degenerado do falo falo a que a doente aspira, aspira, há como terceiro terce iro o objeto marital, móbil mais mais simbóli simbólico co do que qu e real e que só está ali para garantir a "seriedade" da luta. Não menos clara é a ambivalência da agressão e a camuflagem do amor em ódio. O desejo homessexual do narcisismo é de uma evidênda perfeita, mesmo que a interessada, como sói acontecer, não tenh tenhaa a menor menor consciência consciência dele. dele. Mas não menos significativ significativoo é o horizon hor izonte te existencial existencial do drama, se pudermos aceitar aceitar esta esta última última expres expressã são. o. Nada é duvidoso duvidoso;; tudo tudo é certo, certo, comprovado, sabido. sabido. O sentido sentido de qualquer acontecimento está ali, acabado e dado, não não esperando esperan do mais nada nada de qualquer futuro futur o que possa possa esclarecê-lo, esclarecê-lo, atenuálo, apagá-k) apagá-k) ou ag agrav ravá-lo á-lo;; é exaustivame exaustivamente nte dedfrável po porr qualquer qualquer pessoa de boa fé. fé. E no entanto, e ntanto, nenhum dos protagonistas do drama, dra ma, tal como como a paciente paciente os apresenta apresenta e a despeito despeito de sua paixãodesenfreada, tem existência existência real; todos todos encarnam encarnam imagens imagens,, boas ou más, más, como as de Épinal. Não têm têm outra outra consistênda consistênda senão a que extraem do sentido que o relato relato lhes confe confere. re. Não Não po pode dem m ter ou outr tras as inte intennções senã senãoo as qu quee têm têm qu quee manifes ifesta tarr em virt virtud udee desse sentido. Nenhum mistério, nenhuma opacidade, nenhuma sombra De fora não se deve esperar nenhum testemunho que possa verificar, fortio iorri, m i, modi corroborar e, &fort odifica ficar, r, completar ou contestar co ntestar o que quer que seja seja “Pois “Pois se eu já lhe disse disse tudo..." tudo..." E que que seja po seja poss dizer izer tudo não não entra ssív ível el d em questão. Quanto Qua nto a nós, nós, nosso nosso único papel papel é pôr pô r termo imediatamente imed iatamente à conspiração urdida pelos dois amantes, amantes, que que mandaram enoerrar enoerrar sua vítima num lugar lugar onde procur procuram am fazê-la fazê-la passar por por louca. Esse é nosso nosso dever de homem de bem, além do de empregar empregar nossa nossa credibilidade e nosso “poder” “poder” para para convencer cer o comiss issário de políc lícia, ia, cegado pelos los en enca canntos tos “e cert certam amen ente te pelo dinheiro" da riva rival.1 l.10 Talvez Talvez admitamos admitamo s que essa essa descrição e sua sua interp interpreta retação ção sugerem uma distinção distinção estrutu estr utural ral válida válida entre ent re a esquizofreni esquizofreniaa e a paranóia. É que, por po r mais inconstestavelmente inconstestavelmente psicótico psicótico que se afigure afigure o quadro quadro que acabamos de ler, nenhum nen hum dos dnc d ncoo elementos, com apenas uma uma exceçã exceção, o, que nos convinha gravar como constitutivos da esquizofrenia parece identificável aí. Isso Isso não impede impede que o quadro quadro em questão adquira adquira também uma uma estrutura estrutura inteligível, desde que o aproximemos do estádio do espelho, no qual a padente fic ficou bloq bloquueada eada ou pa para ra o qual regre regrediu diu contudo, contudo, talv talveez fiq fiquemos tentado tentadoss a fazer uma ressa ressalva lva a propósito propós ito de um dos dos pontos pontos citados como c omo
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típicos típicos da esquizofrenia: a bissexualida bissexualidade, de, que parece parece present pre sentee nesse caso. caso. Essa Essa exce exceção ção nada tem de surpreende surpre endente. nte. Para começar, sabemos que o homossexualism homossexualismo, o, segundo a concepção psicanalítica da paranóia, p aranóia, é um elemento essencial desta. Como já explicamos, esse homossexualismo, ou, mais exatamente, essa bissexualidade, relaciona-se com o sentido do estádio do espelho. De fato, está claro que não se trata aqui de uma homossexualidade efetiva e perversa. Quando Lacan se ergue contra a tendência de certos certos comentarista com entaristass (precedidos, em certos aspectos, pelo próp próprio rio Freud) Freud) de ex expplica licarr e compre compreen ende derr a psico sicose se de Schr Schreb eber er,, pelo men enos os parcialmente, como uma defesa contra cont ra um impulso homossexual, homossexual, é precisamente pela razão que nos importa impo rta aqui. Tudo demonstra demonst ra - e não é pequena a contribuição do comentário comentári o de Lacan para isso - que Schreber não se situa em relação à diferença sex sexua ual,l, que se considera simult simultanea aneament mentee homem e mulher. Seguindo Lacan, fizemos fizemos uma tentativa te ntativa de explicitar o sentido possívd possí vd dessa afirmação afirmação (implícita) em Schreber. Schreber. Ora, se o acesso ao Édipo é a condição sine qua non para que qu e o sujeito se situe em relação à diferença diferença sexua sexual,l, é evidente que uma fixaç fixação ão ou um retor re torno no ao estádio está dio do espelho excluem excluem essa posição, posição, de vez vez que ele é ante anteri rior or ao estabelecimento da constelação edipiana. Resta-nos, para con concluir, cluir, uma dificuldade dificuldade fundamental. fundamental. O conceito de foraclusão, esse conceito-chave de qualquer interpretação da esquizofrenia, esquizofrenia, é ou não aplicável aplicável à paranóia? paran óia? Ape A pergu rgunta nta nos parece mais mais fácil de abordar através do que foi dito sobre o problema do terceirotestemunha. Formulada Form ulada a propósito propó sito do esquizofrênico, esquizofrênico, essa essa pergunta se liquida liquida por po r si si só: só: nele, a inexistênc inexistência ia de um terceiro-te terce iro-testem stemunha unha que seja garantia da da verdade decorre decorr e direta dir etame mente nte da própria próp ria natureza naturez a da doença. doença. Por princípio, toda to da referência a esse esse terceiro terceiro tem que estar banida de sua experiência. Mas, pelo menos na aparência, como vimos, o mesmo não Se dá, em absoluto, no tocant tocantee ao paranóico. paranóico. Nele, a referência está presente, presente, mas está também irremediavelme irremedia velmente nte falseada, falseada, truncada. O próximo não é convidado convidado a colabora cola borarr na busca busca e no estabelecimen estabe lecimento to da verdade, mas é convidado convidado a ter que que constata-la tal como ela lhe lhe é comunicada comunicada pelo pelo enfermo, enfermo, que confunde de direito sua própria próp ria posição com com a do terceiro-garante. terceiro-garan te. Mas se se admitirmos, por po r outro ou tro lado, lado, que essa essa função normativa do terceiro t erceiro instaurador da verdade tem tem por correspon cor respondente dente original original e prototípico protot ípico o pai, pai, na na qualidade de legislador da proibição edipiana, nossa nossa dificuldade se esclarecerá. esclarecerá. É que q ue dessa dessa aproximação resultará, resu ltará, ao mesmo tempo, que essa essa função não pode po de ter te r nenhum nenhu m sentido para o esquizofrênico - o que só faz confirmar uma tese já considerada aceita -, e também que essa mesma função só pode receber sua importância plena e total através do drama edipiano/Q edip iano/Que ue estatuto intermediário atribuir-l atribuir-lhe, he, portanto, na paranóia? O da testemunha, testemunha, tal como se manifesta manifesta especificamente no nível nível da relação
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especular. especular. Uma Uma teste testemunha munha sem alteridade verdadeira, verdadeira, sem transcendência, que não pode encarnar encarn ar a lei do do outro por não ser de um outro outr o verdadeiro verdadeiro que ela emana, emana, por por surgir de um outro outro que é o mesmo, esmo, que rejeita qualquer opacida opacidade: de: o próprio pr óprio "sujeito". " sujeito". O termo paraf a utorr renuncie a ele e le e seja possíve possívell parafre reni nia, a, embora nenhum auto encontrá-lo quase com com tanta tant a freqüência freqüência quanto esses esses de que acabamo acabamoss de tratar, tratar, é de de sign significa ificação ção ainda menos garantida. Cabe-no Cabe-nos, s, porém, porém, tenta te ntarr encontrar encon trar para pa ra ele um sentido sentido válido válido e útil. útil. Um aspecto orientará orienta rá nosso nosso esforço. esforço. Por mais diversas diversas que sejam as acepções acepções em em que o tomamos, surge surge firmemente nesse uso uma constante. Ninguém se serve dele para qua qualificar lificar uma psicose psicose de origem recente. recente. Falar Fal ar em parafrenia parafre nia é sempre reconhecer reconhec er ou afirmar que o doente doent e a quem o termo é aplicado aplicado não é um psicótico de data data recente, recente, mesmo mesmo que as circunstância circunstânciass da internação internação não permitam, provisor provisoriamen iamente te ou não, ter a prova prova biog biográ ráfi fica ca diss disso, o, concluímos daí que a antigüidade antigüida de de uma psicose deve deve ser situável - o que é fato - e que ela desempenha desempenha um papel na definição dos traços específicos específicos da parafrenia. parafrenia. como e por que? Passemos por cima do (aparentemente) conhecido conceito de deterioração, costuma ter te r grande peso na determinação de terminação deterioração, que costuma dessa antigüidade. E que, justamente, os parafrênicos são, dentre os psicó psicótic ticos os de longa longa data, data, aqueles cu cuja ja deterioração deterioração é relativamente relativamente mais ais reduzida. De fato, o que or orient ientaa decisivamente decisivamente o diagnóstico são, de um lado, a aparência pouco viva vivazz do delírio, a relativa relativa indiferença do doe doente nte em relação a ele e seu enquistamento mais ou menos total, bem como, como, por por outr ou troo lado, sua acentuada coerência, que qu e chega chega até até à sistematização, sua riqueza de elementos e, por último, a dipbpia que o acomp acompanha anha:: o doente doente se identifica plenamente com o personagem de seu delírio, mas essa identificação não o impede de estar também em outro lugar, ou seja, exatamente exatamente ali ònde o vemos. vemos. A Sra. Van R, R , no alvorecer alvorecer dos dos tempos, tempos, precipitou do céu, céu, após uma luta luta terrível, que levou vários século séculoss para para ser decidida decidida,, Deus Pai, a “chamada Maria", sua sua esposa, e o filho de amb ambos, os, Jesus. Jesus. Foi com a mulher, mulher, a quem se qualifica falsamente de “santa Virgem", que ela conheceu as piores dificuldades dificuldades,, a pont pontoo de de quase sucumbir. sucumbir. Desde sua vitória, ela possui o céu e governa governa o mundo “em nome do céu”. É uma tarefa op opressiv ressiva, a, terrível, que nunca lhe dá repouso nem trégua, principalmente principalmente em razão da teimosia teimosia obstinada dos “grándes homens”, que pretendem se emancipar de seu governo e só fazer o que lhes der na telha. O mais cansativo é forçar à submissão o General General de Gaulle, com quem ela ela teme, um dia desses, desses, ter que empregar “os grandes meios”. A Sra. Van R. gerou a si mesma aproximando duas folhas de uma árvore, cujo nome não pode fornecer
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por se tratar de um segr segred edoo atô atômico ico, conserva rvadas no co conngelad eladoor. Utilizo tilizouu o mesmo mesmo processo para para gerar seu único filho. Esses são os dois únicos seres assim assim procriados. Ela El a revelou o segredo a esse filho para que ele ele o utilizasse utilizasse em beneficio de sua filha, neta da paciente. Mas o filho se rebelou e desobedeceu desobedeceu,, preferindo preferindo servir-se de sua mulher, “para “para fazer como todo tod o o mundo". mundo". Ela teve de punir esse insulto insul to contra contra o céu e usar us ar os “grandes meios". Assim, "mandou que seu filho fosse morto" e o enterrou no cemitério de d e Schaerbeek Schaerbeek,, na “parcela nova” (s/c),na (s/c),na expectativa expectativa de que ele se digne consentir na procriação pelas folhas, da qual será o único benefi benefici ciári ário, o, caso ca so ele se subme submeta, ta, ela o ressu ressuscit scitará ará - co cois isaa de que ele não tem nenhuma necessidade, já que está em perfeita saúde. Os judeus constituem constituem ou outra tra grande preocupa preocupação. ção. Ela tem que evitar que eles eles tirem vantagens abusivas das reações de simpatia despertadas pelos excessos do anti-semitismo, anti-semitismo, exces excessos sos que eles mesmos provocaram para esse fim. fim. De fato, fato, o marido da doenteé doen teéjud judeu eu e, ao que parece, parece, o casamento casamento não trouxe para para ela ela nenhuma nenhuma satis satisfa façã ção. o. Esse relato relato extravagante, aqui extremamente extremamente abreviado, teve um fim mais prosaico, prosaico, porém não menos menos surpre surpreende endente nte No momento de encerrar a convers conversa, a, o médico médico a ouviu dizer-lhe; dizer-lhe; “Doutor, “Dout or, eu lhe peço, me ajude. ajude. Se ao menos eu conseguisse dormir! Meu reumatismo me faz sofrer atrozmente, dia e noite. Parece-me que, em minha última crise, o salicüato tinha me aliviado.” Algum tempo depois, a doente doente foi informada de que qu e seu seu marido, atingido por po r um câncer, câncer, estava à beira da morte. Mostrouse muito abalada e pediu para para ir ir visitá-lo visitá-lo e passar passar algun algunss dias em casa, casa, embora esse esse marido, marido, pelo menos menos no delírio, sempre tivesse sido sido apresenta apresentado do sob a aparência de uma figura detestável detestável e detestada. A Sra. Van R. demonstroulhe muita muita tern ternura ura e ficou vivamente vivamente entristecida com sua mor morte Nos últimos últimos dias dele, não fez nenhuma alusão ao governo celeste. Passados os funerais, tudo ressurgiu como antes e foi preciso reinterná-la prontamente no hospital. Essa pessoa, dotada de um longo passado psiquiátrico, era unanimemente considerada parafrênica, e não não é difícil ifícil imaginar que todos os que aceitam essa essa denominação efetivamente ef etivamente concordem em aplicá-lo à Sra. Sra. Van R Mas, por outro outro lado, lado, talvez nos dêem crédito se acrescentarmos acrescentarmos que ela também correspondia correspondia perfeitamente aos critérios há pouco descritos descritos da esquizofrenia; esquizofrenia; o que que relatamos a seu respeito respeito sem dúvi dúvida da já basta para tornar tornar essa afirmação afirmação muito verossí verossími mil.l. E no entan entanto, to, não consideramos esse essess dois dois termos t ermos simplesmente sinônimos, sinônimos, constituindo constitu indo o primeiro primeiro um grupo diferencial do segundo. segundo. Mas então, por que e como? Observe-se inicialmente inicialmente que as colocações colocações da doen doente te se oferecem sob a forma de umrelato um relato organizado organizado e, se nos é lícito lícito dizer, dizer, coerente. coerente. Percebo Percebo que, nele, as ações ações ou ou os fetos mais mais fantásticos e mais absurdos são motivados.
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concatenados, explicad explicados os e justificados justificados.. Por Por out outro ro lado, qualquer qualquer referência visível ao surgimento súbito de algum “momento fecundo” fundador está ausente, e talvez fosse fosse muito difíc ifícilil - não tivemos tivemos a oportunid oport unidade ade de tentar tentar - encon enc ontra trarr algum vestígio vestígio dela. dela. O relato, rela to, salvo por algumas algumas variações, variações, é estável estável Assemelha-se Assemelha-se mais mais a um conto conto fantástico fantástico,, mais mais ou menos decorado, do que à expressão de um delírio em plena efloresc eflorescênc ência. ia. A “participação” “participa ção” afetiva da doente em seu discurso é relativamente pequena, mas não inexistente.1 inexistente.11Ela Ela fica fica mais emocionada com o rela relato to de suas dores dores reumáticas reumáticas do que que com a evocação evocação da luta multi-secular que teve de travar, travar, num combate que por p or muito tempo temp o foi incerto, para esvazia esvaziarr o céu de de seus seus primeiros primeiro s ocupantes. Sua mímica é mais a de um autor ingênuo e popular que representas representasse se uma cena do que o comportamento comportament o do autor autor direto, relatando um acontecimento acontecimento grave grave e ainda não reduzido reduzido ou elevado elevado ao nível nível da lenda. lenda. O melhor exemplo disso seria o de uma canção de gesta muito popular e bastan bas tante te estereotipada estereoti pada,, reple r epleta ta de frase frasess feitas feitas e empréstimos extraídos do jargão esportivo ou mi iita iitar, r, pitoresca até at é em sua vulg vulgaridad aridade. e. Há inserções inserções freqüentes de elementos reais: a “teimosia” do General de Gaulle e a proib proibiçã içãoo de faze fazerr enterros enterros no no antigo antigo cemité cemitério rio de Scha Schaerb erbee eekk são cu curi rios osos os exemplos disso. A apresentação do discurso, discurso, portanto porta nto,, difere sensivelmente da que ofereceria um relato similar similar produzido produzido por um doente em pleno surto esquizofrênico esquizofrênico,, ou ou qu quee houvesse houvesse saído dele recentemente. Guardadas todas as proporções quanto ao nível intelectual da paciente, sua “situação” patológica parece bastante basta nte próxima próxima da que Schreber conheceu conheceu na na época da redação redaç ão de seu livro, livro, situação qu quee já não foi foi a do momento mom ento em que qu e seu delírio tinha tinha sido gerado. gerado. Mas, as, se ocorre ocor re a Schreber Schreber corrigir aqui e ali uma de suas suas antigas convicções convicções - por exemplo, ele já já não tem certeza certez a absoluta absol uta de ter sido morto mo rto e acha, antes, que Seus perseguidores perseguidores lhe inspiraram insp iraram a idéia idéia de que ele estava estava morto morto sem que realmente realme nte estiv estivess essee -, não pudemos pudemos constatar nada semelhante na Sra. Van R. Tudo se passa, na realidade, como se o parafrênico tentasse - e conseguisse, numa medida variável variável -enquistar seu delírio, sem no entanto entan to renegá-lo, e é isso que lhe dá essa diplopia perante pera nte as coisa coisass e as pessoas, pessoas, com a qual, por isso mesmo mesmo,, não há porqu p orquee nos surpreender-mos. É que não faz faz sentido sentido nos perguntar-mos perguntar-mos como é que que a dona do céu e do universo pode pode sofre sofrerr de reuma reumatis tismo mo,, ou como como é que ela, ela, qu quee pod podee mata matarr e res ressu susc scit itar ar seu próprio próp rio filho para lhe ensinar ensin ar a obediência, é obrigada, obrigada, ainda assim, assim, a observar um regulamento municipal sobre os sepultamentos. Tampouco haveria motivo para surpresa no fato de um ex-presidente ex-presidente de tribunal, que se acredita - e o proclama num livro - conclamado a regenerar regene rar o universo, universo, dando à luz, luz, por obra o bra de Deus, uma nova raça de homens, homens, mostrar-se m ostrar-se à
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mesa um interlocutor agradável e resolver perfeitamente as questões jurídic jurídicas as ocorridas ocorridas em sua fam família. ília. cert ce rtam amen ente teoo delírio delírio persiste persiste,, econserva econserva a dupla função função quedesde Freud passamos passamos a reconhecer reconhecer nele: restabelecer, ppor or inter intermédio médio da ficção, ficção, um certo cert o investimento da realidade, reali dade, e garantir garan tir a satisfação narcísica do sujeito. sujeito. Mas, por outr outroo lado, a aplacaç aplacação ão da angústia angústia permitiu, numa numa certa medida (medida bem maior em Schreber do que na Sra. Van R.), o restabelecimento daquilo que chamamos chamamos discurso discurso aprendido, em contraste com co m o discurso compreendido, compreendi do, do discurso aprendido que provém de um mundo mundo onde se cuida cuida do reumatismo e onde se lê no jornal jorna l que o General de Gaull Gaullee é uma pessoa pessoa intratável. intratável. E o doènte aplica até mesmo mesmo a seu delírio delírio as regras formais desse discurso aprendido, assim como a elaboração secundária do sonho tem por finalidade torná-lo tão coerente quanto poss possív ível el.. Mas estaríam estaríamos os eng engana anados dos em pensar que se trata, no que tange tange a esse esse discurso discurso aprendido, aprendi do, do mundo comum em que estamos. estamos. Acontece Acont ece que, para o doente, não ex existe iste eu, nem outrem, outrem, nem mundo, mundo, nem realidade no sentido senti do próp reto mando uma u ma imagem imagem de F. Dolto, Dol to, própri rio. o. Simplesmente, retomando o esquizofrênico esquizofrênico fala fala do real como um cego cego fala das core cores. s. Isso não pressupõ pressupõee forçosamente que o que ele e le diz seja seja falso, falso, mas, mas, de qualq qualquer uer maneira, maneira, ele não conhece conhece sua verdade - porque, para para ele, ele, foi a verdade que desapareceu. desapareceu. Assim Assim,, ele não percebe nenhuma antinomia a ntinomia entre e ntre o conjunto conjun to do ou dos discurso discursoss aprendidos aprendidos que enuncia e a inaplicabilidade das regras regras desse discurso ao “discurso” delirante. A doente “sabe", por exemplo, que todo discurso discurso deve deve ser submetido à regra do do terceir t erceiro-test o-testemunha, emunha, isto é, que deve apresentar-se como suscetível, em princípio, de verificação. Ela “sabe” que,, se alguém que alguém diz que está chovendo, todos os demais demais são igualmente igualmente obrigados a dizer que está chovendo. chovendo. Mas, Mas, como como a doente doe nte está totalm tot alment entee situada fora da dimensão do testemunho, tes temunho, o fato de d e fingir fingir que se submete a ele quer dizer apenas que ela acredita que os outros aderem a suas afirmaçõ afirmações, es, que as repetem repetem ou devem repeti-las do modo que que ela as enuncia, sem que, aliás, ela tenha com isso a menor preocupação do mundo. A dialética dialética do terceiro que é testemunha da verdade e garante da fala fala não funcion funciona, a, em absoluto, e a eventual referência referência a ela decorre do discurso aprendido. leitor julgará se as páginas precedentes trazem algum algum esclarecimento O leitor útil para o emprego sistemáti sistemático co e estru es trutura turante nte do doss termos esquizofrenia, esquizofrenia, paranóia e parafreni parafrenia. a. Este seria o momento de passarm passarmos os ao estudo estudo do qu quee constitui, constitui, sem sem dúvida, um outro tipo das chamadas psicoses não-orgânicas: a psicose maníaco-de maníaco-depressiva pressiva.. Não o faremos, reservando o assunto para um outro outr o
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trabal trabalho ho eventual. Nossa Nossa abstenção é determina determinada da por uma incerteza Não temos a sensação sensação de poder po der justificar convenientemente, nos dias atuais, uma idéia idéia que gostaríamos gostaríamos de defender, qual seja, que a psicose psicose em questão se situa numa linha linh a de reflexão reflexão sensivelm sensivelmente ente diferente da que vimos vimos tentan tentando do seguir. seguir. Enquant Enquantoo a ou as psic psicos oses es de que já tratamos tratamos questionam, questionam, e da maneira mais radical, radical, o ser-no-mundo ser-no-mundo do homem, homem, talvez nãõ aconteça o mesmo no tocante à psicose maníaco-depressiva. certamente, para compreendê-la, Freud também recorreu às fases pré-edipianas do desenvolvimento desenvolvimento do sujeito. Mas ela não parece concernir aos referenciais referenciais últimos e decisivos da constituição desse sujeito. A interrogação que o melancólico melancólico ou o maníaco maníaco nos coloca coloca parece desenrolar-se desenrolar-se no interi interior or do comum com ele. ele. A falha falha radical radical que que acreditamos detectar detect ar mundo que nos é comum no psicótico no primeiro sentido - quer diga respeito ao fracasso do recalcamento primário, primário, à falta de acesso acesso ao simbólico, simbólico, à foraclusão do nome nome do pai, à exclusão ou à deformação do terceiro-testemunha (que são abordagens diversas diversas de uma única e mesma mesma falha) - sem dúvida não está est á pres presen ente te no maníac íaco-de -depress ressiv ivoo. Ten enddería eríam mos mais a ve verr essa afec fecção co com mo sendo, antes ant es de mais mais nada, uma alteração alte ração da Befi d e algumas Befind ndli lich chke keit it *e de modalidades de temporalização. temporalização. Ela question que stionaa o thumos, que é mais do que a timia no sentido estrito, es trito, mas talvez talvez seja seja menos do do que o ser-sujeito ser -sujeito como tal, pelo menos menos em se tratando trata ndo dos componentes componentes absolutamente absolutamen te últimos desse ser-sujeito. A esse respeito, é possível possível que Binswanger Binswanger tenha tenha revelado os determinantes essenciais. Abordemos agora agora a última parte par te de nossa nossa tarefa; ela consistirá em refletir reflet ir sobre a contribuição eventual de tudo o que vimo vimoss anteriormen anterio rmente te para uma antropologia antropologia filo filosó sófic fica. a.
NOTAS
1. É evidente que uma frase como “estou morto há milhares de anos” pode receber conjuntamente a interpretação que lhe dão Freud e Lacan ao comentarem uma passagem passagem do livro de Schreber em que este narra sua sua morte e seus funerais de outrora. 2. Sabemos Sabemos que, ao falar fala r de Schreber, Freud Freu d utiliza quase indiferentemente indiferentement e em relação a ele os termos esquizofrênico, parafrênico ou paranóico. Já abordamos esse ponto e voltaremos a ele quando estiverem em pauta estes dois últimos conceitos. 3. Empregamos aqui a palavra metáfora metáfor a num sentido mais genérico do que o de Lacan ou dos lingüistas. Entendemos por ela a transferênci transferênciaa (metaferein) própria (metaferein) própria de qualquer instauração do comportamento comportamen to ligüíst ligüístico ico,, de acordo ac ordo com a descrição que dela fornece Freud Fre ud em seu exemplo exemplo do menino com com o carretei. * Em alemão, termo term o que designa a situacionalidade. (N.R.) situacionalidade. (N.R.)
reflexões conclusivas sobre a psicose 125 4. Gisela Pankow, cujos trabalhos notáveis sobre a terapia de psicóticos são bem conhecidos, conhecidos, trabalhos trabalh os estes que utilizam utilizam amplamente as noções de corpo corp o despedaçado e de corpo dissociado, escreveu a propósito da imagem do corpo: "A dissociação da imagem imagem do corpo pode aparece apa recerr sob aspectos diferentes; ou uma parte pa rte assume o lugar da totalidade total idade do d o corpo, de tal maneira que ele ainda possa ser reconhecido reconhe cido e vivenciado vivenciado como um corpo limitado, limitado, ou se produz a confusão, específica específica da psicose psicose,, entr e ntree o dent d entro ro e o fora. Assim Assim,, os fragmentos da imagem imagem do corpo reaparecem rea parecem no mundo externo sob a forma de vozes ou alucinações visuais. Pelo terrno dissociação, portanto, defino a destrui destruição ção da imagem do corpo corpo de tal modo mo do que suas partes partesperdem o vínculo vínculo com o todo e reapar reaparece ecem m no n o mu mund ndoo extern externo. o. Essa ausência de d e ligação ligação entre ent re o dent d entro ro e o fora caracteriza caract eriza a esquizofrenia; esquizofrenia; não nã o há cadeias associativas que permitam reencontrar o elo entre os fragmentos desses mundos destruídos. Os métodos que permitem explicar a um neurótico, po porr exemplo, exemplo, os conflitos que ele como que projetou em seu meio não podem ser aplicados a um esquizofrênico. esquizofrênico. Isso porque, antes an tes de captar cap tar um conflito conflito interno in terno em sua projeção para par a o mundo externo, o esquizofrênico teria de ser capaz de saber quem ele é, ou seja, saber sabe r que ele precisa encontra enco ntrarr um corpo limitado e captado como uma unidade. unidade. LH L H om m e et sa Psychose, Psychose, pp. 121 -122. 5. Entenda-se Entend a-se que não se trata tra ta de negar que, de fato, eu possa ser o único a conhecer conhe cer uma uma certa verdade. Inversamente, é impensável que essa verdade, por princípio, seja inaces inacessív sível el a qualque qual querr outro. 6. P. Demoulin, Névrose Demoulin, Névrose et Psychos Psychosee, p. 125. 7. Já explicam explicamos os anteriormen anterio rmente te em que sentido sen tido os lingüistas usam essa palavra. palavra. 8. Demoulin, op.cit .,., p. 126. 9. Ibid., p. 121. i 0. A expo exposição sição do caso que se segue traz outra ou tra ilustração exemplar para nossas afirmações afirmações relativas à paranóia. O paciente é um rapaz de 22 anos, empregado numa firma de construções imobiliárias. Comparece à consulta de bom grado, porque espera dos medicamentos que lhe receitaremos receitarem os o apoio psíquico que deverá permitir-lh permitir-lhee enfren enf rentar tar as perseguições perseguições de que vem sendo alvo alvo e às quais está a ponto de sucumbir. Acrescenta que, se não o ajudarmos, preferirá matar seu perseguidor a renunciar à luta. Tudo começou há cerca de um ano e meio. Nosso homem, homem, naquela época, era ccanto antorr do coral paroquial. A certa altura, o cargo de organista veio a ficar vago. É evidente que o paciente postulou sua candidatura, candidatura , porque, segundo disse, disse, "[tinha] "[tinha] o direito de direito de tocar o órgão do padre”. pa dre”. O padre não o nomeou, nomeou, pela razão aparentemente aparentemen te válida válida de que o interessado não sabia tocar esse instrumento, nem nenhum outro, aliás. Ficamos surpresos com sua pretensão. prete nsão. “Eu estava”, disse disse ele, ele, “inteiramente “inteiram ente disposto a aprender apren der a tocar, e como tenho tenh o o direito de tocar toc ar o órgão do padre...” Não há outro out ro fundamento fundam ento para esse direito direi to senão o próprio direito! Em suma, suma, furioso po porr não ser “nomeado”, “nomeado ”, T. abandonou o coral. Foi mau negócio, porque, ao cabo de algumas semanas, ele percebeu, pelo jeito je ito “esquisito” das pessoa pessoas, s, que o padre padr e começava começava a desacreditá-lo desacreditá-l o e caluniá-lo. caluniá-lo. Principalmente (pois estava estava então entã o prestand pre standoo serviço serviço militar); percebeu perceb eu no rosto de seu comandan co mandante te que o padre telefonava telefonava para este e ste várias vezes vezes po porr dia, com o intuito de destruir sua reputação militar. Ninguém lhe disse nada e ele nunca surpreendeu nenhuma afirmação explícita na boca de quem quer que fosse, mâs era claro, certo, evidente: o padre “metia o pau nele” por toda a parte, e com sucesso. Passado algum tempo desse suplício estritamente mudo, ele decidiu voltar ao coral, esperando assim assim desarmar a impertinência do padre. Com o mesmo objetivo, objetivo, gastava 400 francos todos os sábados em "rondas” "ronda s” pelo círculo paroquial. De nada nad a adiantou e ele teve, teve, se me posso permitira permi tira expressão, expressão, que baixara crista. O padre p adre passou a perseguilo cada vez mais, a ponto de, dia e noite, toda a paróquia falar dele nos termos mais ofens ofensivo ivos. s. Não havia outro outr o tema de conversa senão ele. ele. Nesse ponto po nto do relato, T. se
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interromp inter rompeu eu bruscamente brus camente e se dirigiu dirigiu a mim mim:: “Professor, vou-lhe resumir tudo. O cerne do negócio (de kam van dezaak pad re está brincando br incando com meu c. (de deza ak ) é o seguinte: o padre Coment ei que isso efetivamente resumia tudo, mas que pastoo pa stoorsp rspeeltm eeltmetm etmijn ijn kL ..)” Comentei ele é quem tinha o direito de tocar to car o órgão do padre. T. não reagiu a meu comentário. Tentei então, pela enésima vez, vez, saber o que o padre poderia realmente contar a seu respeito. Ele alegou ferrenhame ferre nhamente nte ignorá-lo, mas não sei sei se foi sincero ou se a calúnia era tão vergonhosa que não nãoousou ousou repeti-la para mim. mim. Perguntei se não se trataria, quem sabe, de sua conduta perante peran te alguma paroquiana. Respondeu-me, com ar superior, que ainda não estava pensando em se casar. Evidentemente, e eu já esperava por po r isso, isso, não havia nada a procur pro curar ar por esse lado. Como eu eu insistisse, insistisse, ele ele disparou bruscamente: “O senhor parece mesmo mesmo achar que o padre p adre pode tirar uma cois coisaa diferente da cachola cachola todos os dias” ([de [depastoo pas toorr kan toch alle dagen iets iets anders uitzijn uitz ijn duirn zuigen zuigen [literalmente, “o padre padr e pode chupar chu par uma coisa coisa diferente do polegar todos os dias”]). 11.. Quando 11 Quan do alguém comentou que, não tendo filhos, filhos, propunha-se propunha-s e recorr rec orrer er ao processo das duas folhas, folhas, ela reagiu muito vivamente e acrescentou: “sinto muito, porque porqu e você parece ser uma boa bo a pessoa, mas acaba de assinar sua condenação eterna etern a por p or sacrilégio.” sacrilégio.”
capítulo 6 ELUCIDAÇÃO EXISTENCIAL DO INCONSCIENTE E DA PSICOSE PSICOSE
A) INTRODUÇÃO
Quando ocorre ao filósofo afirmar que o homem está no mundo como um imperador em seu império, império, esse desejo devotado devotado só foz exprimir a mais tenaz ilusão ilusão do espírito e da tradição racionalistas, racionalistas, retomando ret omando em outro out ro níve nívell uma ilusão mais mais arcaica. Essa onipotênc onip otência, ia, se ex existis istisse, se, só poderia poderia resultar resultar de uma primazia absoluta da razão. razão. Se essa mesma mesma primazia é uma ilusã ilusãoo, nada jamais jamais poderá poderá tornar tornar o homem onipotente. Eis, então, a filoso filosofia fia confrontada com com o problema do estatut est atutoo da razão. razão. Por muito tempo se derramou derram ou mais obscuridade obscuridade do que luz sobre esse esse problema. problema. Pois talvez não seja inteir inteiramente amente exato dizer que a filosofia moderna tem sido dominada pela p ela noção de consciência, consciência, noção tida tida como unívoca Na maioria maioria dos dos autores autores clássic clássicos os,, até até Kant, a idéia de consciência consciência abrangeu mais ou menos menos precariament precariamentee o dualismo dualismo entre entre a sensibilidad sensibilidade, e, de um lado, lado, e o entendimento ou o pensamento, de outro. Essa dicotomia dicotomia camuflada, através das confusões e do jogo duplo permitido por essa camuflag camuflagem em,, favoreceu o imperialismo imperialismo em questão. É que a sensibilidade, sensibilidade, no duplo sentido se ntido da palavra, formaria, se assim assim nos podemos expressar, expressar, as vazantes da consciência, pouco apropriadas para uma navegação majestosa ajestosa e conquistadora, conquistadora, ao passo que o pensamento confere o império dos mares. mares. Sem dúvida, dúvida, diz-se que “nihil est in intellec intellectu tu quod nonp nonpriu riusfu sfueri erit t in sensu” sensu”,, mas mas o filósofo moderno se apressa em acrescentar, caso aceite aceit e o provérbio; “praeter vemos aí que nada estimula praeter intellectum intellectum ipsum ipsum” ”. Já vemos melhor a ilusão do que o desprezo obstinado obstinado pelas origens. origens. Assim, Assim, não surpreende que a corrente historicamente mais mais forte dentre todas as as que provie provieram ram do kan kantism tismoo tenha assum assumido ido co como mo tarefa reduzir reduzir ao máx máxim imoo pos possí sívvel a divis divisão ão da da consc consciên iência cia,, que Kant havi haviaa tornado manife manifesta sta e inelutável. É notável que, em certo sentido, a primeira tentativa visando a 127
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recuperar a origem tenha tido Hegel como autor. Ele a explicou explicou claramente claramente naFenomenologia na Fenomenologia do Espír Espírito, ito, ao mostrar que consc consciênc iência, ia, espírito e saber só teriam uma unidade verdadeira verdadeira quando qualquer qualqu er dicotomia dicotomia entre ent re a sensibilidade e o conceito, no nível da totalidade, tot alidade, fosse implacavelmente recusada. Assim Assim,, foi Hegel quem fundou e legitimou legit imou realmente, r ealmente, na filosofia moderna, moderna, a primazia primazia da consciência. consciência. Mas o fez, fez, sem que se esgotassem ainda as conseqüências disso, aproximando explicitamente a consciência consciência e o discurso, o que levou a identificar a ontologia com a dialética. Essa aproximação aproximação traz traz vantagens inestimáve inestimáveis, is, mas é também repleta repleta de perigos. perigos. O benefício está em consagrar a ruína definitiva do dualismo entre sensibilidade e pensamento. O discurso, de fato, no sentido mais estrito, estri to, é o jogo entre en tre ambos, ambos, a remissão remissão infinita de um ao out outro. ro. O benefício benefício é também (mas (mas isso só apareceria depois de Hegel) Hegel) o de atribui atribuirr à consciência consciência uma dimensão dimensão essencial essencial de ambigüidade, ambigüidade, já que esse discurso, não tendo t endo acedido ao saber absoluto, absoluto, poderá e até deverá deverá nunca nunca ser absolutamente abs olutamente transparente transparente para para aquele que o sust susten enta ta O perigo está em que a identificaç identificação ão do homem com a consciência consciência (conclamada (conclamada a se torn to rnar ar consciência consciência de si, e depois espír es pírito ito)) e a identificação desta com o discurso leva leva a dissolver dissolver qualquer "exterior" "exterior " desse discurs discursoo e condu conduzz fatalmente à promulgação promulgação do Saber absoluto. Isso, den dentro tro da perspectiva hegeliana, hegeliana, certamente certame nte não é um um risco, mas uma evidência celebrada; assim, assim, se falam falamos os em risco é porque, porque, hoje em dia, dia, muitos autores autore s cuja referência referência a Hegel é admitida, admitida, e que retomaram retomar am num sentido diferente di ferente do de Heg Hegel, el, que nos caberá discutir, discutir, a identificação do homem com o discurso, discurso, poderiam poderiam ter muita muita dificuldade em não transf tr ansforma ormarr esse esse discurso numa nova nova versão do saber absoluto, coisa coisa na qual, no entanto ent anto,, em razão de sua postura antropológica, eles eles gostariam muito de se resguardar. Mas o desaparecimento, desaparecimento, embora momentâneo, da estrela estrela hegeliana no firmamento firmamento filosóf filosófico, ico, a part pa rtir ir de 1840 1840,, não acarret acar retou ou o de um certo primado primado da co cons nsciê ciênc ncia ia,, apesar de este ter-se tornado suspeito pelas evidentes evidentes amb ambigüidades igüidades da epistemologia que era cara a essa época épo ca E que esse primado prima do só existe em prol de uma subjetividade subjetividade aliás intensamen inte nsamente te desvalorizada desvalorizada e "duplicada", em toda a extensão extensão de sua experiência, experiência, pelo mundo da ciência, o único realmente em si e o único plenamente real. Do ponto po nto de vista vista que qu e nos ocupa, o surgimento da fenomen f enomenologia ologia marcou uma mudança nova e essen essencial. cial. Já em sua forma husserliana husserli ana ela e la confirmou, embora embora em bases bases muito diferentes diferentes das de Hegel, Hegel, a eliminação do dualismo dualis mo de que falamos, falamos, pois essa confirmação confirmação se fez mediante uma reformulação reformulação radical da noção de percepção, percepção, não obstant obstantee ela ser uma das mais antigas na reflexão filosófica. Ela foi inteiramente “despsicologizada" por Husse usseri ri,, sepa separa rada da da disti istinnção ção entre o sensíve ível e o inte intele lect ctua uall e provi rovida da
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de uma função axial na relação do sujeito consciente com a realidade, pode podemo moss até dizer dizer que que,, num num certo sentido, sentido, ela ela é ess é essaa própria própria relação e a defin de fine. e. Não tem que ser “control “co ntrolada" ada" por alguma alguma função mais mais eminente eminent e do real; real; ao contrário, contrário, estabelece as normas normas de todo todo os controles possíve possíveis is a que que teriam teri am que ser ser submetidos submetidos outros out ros modos modos de nossa relação com a realidade. Temos Temos base base,, portanto, port anto, para sustentar sus tentar que essa essa ampliação preparou a distância distância a introduç i ntrodução ão da noção tipicamente tipi camente heideggeriana de ser-nomundo. Não menos importante, tanto por ela mesma quanto por suas conse co nseqü qüênc ências, ias, foi a mudança mudança imposta à idéia do tempo ou da temporalidade. temporalidade. Dela reteremos essencialmente dois elementos. Em primeiro lugar, a temporalidade deixou de ser concebida como externa a aquilo-que-étemporal - apenas Hegel e Bergs Bergson on,, antes de Husserl, tinham dado alguns alguns pass passoos de desig sigua uais is nesse nesse caminho caminho -, tornando-se tornando-se a própria manifes manifestaçã taçãoo daquilo que se temporaliza: coisa, percepção, imagem, projeto ou mundo. O correlat correlatoo disso disso é que há tantos ta ntos modos de temporalização quantos qua ntos são os tipos de ente ou o u de modos modos de ser que que se temporalizam. temporalizam. Por fim, fim, toda t oda temporalização deriva de uma temporalização originária que é a do sujeito consciente, ou, em Heidegger, a do ser-aí. A idéia de tempo tempo viu-se assim dotada de um papel que nenhuma filosofia anterior lhe havia atribuído e, em particular, particular, deixou de ser o índice índice de toda distinção entre ent re o ente total tota l ou parcialmente “espiritual" e aquele que se qualifica de material. Inversamente, Inversamente, a fenomenologia fenomenologia husserliana marcou marcou um relativo recuo da noção noção de discurso, pelo menos na medida em que o discurso se diferencia diferencia do log logos. os. Por último, a intencionalidade, bem como a primazia primazia da percepção, percepção, conferiu ao que que se continua continua /a a denominar denominar de sujeito uma proximidade das coisas até então sem exemplos na filosofia. cont co ntud udo, o, persiste persiste o fato de que, segundo segundo Husserl, as mudanças mudanças de pe persp rspectiv tiva a qu quee acab abaamos de alu aludir dir co conncern ernem prim primoordia rdialm lmen ente te à orde ordem m do conh conhecer. ecer. Foi nesse ponto ponto que se apoiou essencialmente a busca busca ulterio ulteriorr dessa reforma filosófica que foi a fenomenologia. consideraremos consideraremos a esse respeito respeito apenas o Heidegg Heidegger er de Sein und und Zeit Zeit e dos escritos que lhe foram mais ou menos contemporâneos, embora, seguindo seguindo uma ou outr traa linha linha de meditação, meditação, a obra obra subseqüente de Heidegger Heidegger não deixe deixe de ter ter importância importância para pa ra o estudo estud o de nossos nossos problemas. Por Po r ora, abster-nos-emos abster-nos-emos de aprofund aprofundar ar esse esse filão, filão, já que, de qualquer qualquer maneira, o Heidegger final foi pouco ou mal conhecido pelos autores que desempenharam um papel ativo nas confrontações sobre as quais nos propomo propomoss refleti refletir. r. Há pelo menos três teses deSein deSein und Zeit que Zeit que nos compete destacar destac ar aqui.i. Primeiro, aqu Primeiro, há o eclipse ou o desaparecimento da noção de consciênc consciência. ia. A reflexão do filósofo filósofo passou a centrarcentrar-se se no ser aí, ou, como se exprimem exprimem
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alguns textos do Kantbuch, no ser-aíno homem. Quanto homem. Quanto à consciência ( Bew palavra quase ausente ausente do vocabulário vocabulário do autor au tor,, Heidegger Heidegger iBewuusstse tsein), in), palavra a substituiu pelo ser-aí enquanto enquan to abertura aber tura e revelação revelação (Erschlossenheit (Erschlossenheit ) ou luz (lumen (lumen naturale). O que O que acarretou, acarr etou, ao mesmo mesmo tempo, a abolição abolição explícita ex plícita da primazia e dos privilég privilégios ios do conhecimento conhecimento propri propriamente amente dito.1 dito.1 Ao contrário, a identificação do ser-aí com o discurso foi vivamente sublinhada E, se esse discurso era essencialmente logos, já não se tratava, tratava, a não ser muito secundariamente, s ecundariamente, do logos conceituador logos conceituador e julgador que é caro a uma certa tradição tradição aristotélica. aristotélica. Além disso, disso, o discurso discurso revelador, que é próprio próprio do ente humano, comportava diversas modalidades de revelação revelação,, dentr dentree as quais a verdade ou o verdadeiro no sentido sentido dos clássic clássicos os,, era apenas uma possibilidade possibilidade entre entre outras. A não-transparência não-transparência do discurso discurso para para o serser-aí aí qu quee o suste sustent ntaa foi foi no nova vam men ente te situ situad adaa no prim primei eiro ro pla plano no.. Por Por isso é que a constituição de um umaa hermenêutica hermenêutica do discurso era uma tarefa fundamental do filósofo. Dir-se-ia que o discurso revelador, em sendo precis precisoo de defin fini-lo i-lo em ge gera ral,l, situa-se situa-se aqu aquém ém ou além além de du duas as no noçõe çõess muito diferentes diferentes da verdade. verdade. De um lado, lado, aquém dele, conviria conviria remont remontar ar à áXijõeia como desve desvelam lamento ento originário que abre abre a possibilidade possibilidade de todo e qualquer qualquer dizer. dizer. De outr outro, o, além dele, dele, chega-se chega-se ao verdadeiro como como adequação entr entree o julgamento julgamento e a coisa julg julgada ada que não pa passa ssa de uma aplicação aplicação possibilitada possibilitada pela primeira primeira co conc ncep epçã çãoo da ve verda rdade de,, e cu cuja ja teoria, teoria, tal como como foi foi compreendida, por exemplo, pela Idade Média, é passível de graves confu co nfusõe sões. s. Por fim, fim, citamos citamos ainda o conhecido fato de que a inteiidonal inteiidonalidade idade husserliana metamorfoseou-se no cuidado (Sorgen (Sorgen)) como ser e sentido último do ser-aí. Essas conquistas foram mantidas e às vezes reforçadas na obra de Merleau-Pon erleau-Ponty. ty. Esse reforço reforço marcou-se marcou-se sobretudo sobretudo na maneira como como o aut autor or da Fenomenologia da de comportamento, comportamento, mesmo mesmo da Percepção Percepçãoconcebeu a idéia de que esse termo, termo, no clima clima da psicologia contemporânea contemp orânea,, pudesse prestarprest arse a equ equívoco ívocoss deploráv deploráveis. eis. A noção de comportamento, comportamento, segundo MerieauPonty, Ponty, acentua ainda mais a identificação do homem com o discurso, bem como a não-transparência desse discurso para aquele que o enuncia. A idéia de que o sentido sent ido estabelecido por um discurso não é forçosamente - e, de certa maneira, nem éjamais éjam ais - o sentido que ele profere, eessa ssa idéia idéia nos leva ao cerne da antropologia contemporânea. Mesmo que o fundamento metapsicológico dessa não-transparência possa ser com preendido preendido de de maneir maneiraa diferente, diferente, o fato já basta basta para destruir a suposta onipotênci onipotênciaa da consc consciênc iência, ia, cuja cuja apologia é tão t ão acremente acremente censurada censurad a no filósofo. contudo, o que Merleau-Ponty nos mostra do comportamentodiscurso se afasta marcantemente do logos logos clássico e até do logos heideggeriano, heideggeriano, pois trata-s t rata-see de um discurso cuja natureza natureza encarnada, no
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auto r fala da carne, é realmente rea lmente essencial, essencial, não não sendo sentido em que esse autor essa essa encarnação encarnação apenas apenas alegada. alegada. porta portant nto, o, se é próp próprio rio do serser-aí aí hu hum man ano, o, sem sempre pre e ha haja ja o qu quee houver, er, ser significante significante e significativo (entendendo-se (entendendo-se que ele diz e dá a dizer), isso não eqüivale eqüivale a pretende prete nderr que esse mesmo mesmo ente esteja a par daquilo que expressa. Aí se anunciam as tarefas de uma dialética entre o sentido estabelecido estabelecido e o senti sentido do proferido, ou, segundo a linguagem habitual habitual desde Freud, Freud, entre entre o sentido sentido latente latente e o sentido sentido manifesto manifesto.. Sem dúv dúvida, ida, tomaremos tomaremos o cuidado cuidado de não não considerar cons iderar esses esses dois pares de expressõ expressões es simplesmente simplesme nte sinônimos. A distância entre seus membros, entre o estabelecido e o profer proferid ido, o, de um lado, lado, e entre o latente e o mani manife festo sto,, de outro, não é da mesm esma natureza. Há, no primeiro caso, a desigualdade desigualdade - constitut constitutiva iva de qualquer qualquer linguagem - do falar e da fala, bem como a desigualdade desigualda de afim, afim, embora diferente, do verbo e do conceito. Já no segundo, a distância se origina origina na necessidade de camuflar um inconsciente que é de um lado irreprimível, irreprimível, e de outr outroo indiz indizíve ível.l. Resta Resta o fato de que, a cada cada vez, vez, o sentido sentido pleno pleno ou plenamente elaborado elaborado,, cu cuja ja con conqu quista ista só.p só.pod odee ser con conclu cluída ída se puder puder continuar a ser bu busc scad ada, a, será será fruto de uma uma dialét dialética ica e de uma uma complementaridade. Ao que cabe acrescentar que a constituição do comportamentodiscurso, tanto quanto sua interpretação, só pode ter lugar através da inserção do locut locutor or numa numa linguagem que o domine bem mais do que seja dominada dominada por ele. ele. coloca coloca-se -se então a questão do estatuto estatuto da subjetivida subjetividade, de, do sujeito sujeito que fala. Pois bem, Merleau-Ponty, Merleau-Ponty, e com ele todos os filósofos de inspiração fenomenológica, recusaram-se a separar o exercício da lingu linguage agem m de uma uma tensão entre entre a língua e o sujeito falante, precisame p recisamente nte onde aparece o discurso como discurso meu. somos somos levados a crer crer que que as teses filosóficas filosóficas a que acabamos de fazer uma bre brevve alusão alusão - de fato fato,, elas elas são são bastante co conh nheci ecida dass - podem podem constituir constituir um ponto de partida partida válido para as reflexõ reflexões es que vamos vamos empreender. empreen der.
B) CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES SOBRE O INCONSCIENTE, A LINGUAGEM E O REAL
Sabem Sabemos os disto: disto: o própri próprioo Freud situou situo u na descoberta descoberta do inconsciente e na afirmação de sua primazia a contribuição mais fundamental da ps psica icanális lise. A histó históri riaa subs subseq eqüe üent ntee mostr ostrou ou co com m muita ita larg largue ueza za que essa ssas
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teses são passíveis de diversa diversass interpr interpretações etações.. Houve quem quem quisesse ver nelas a afirmação do caráter radicalmente ilusório da consciência. Mas como suste sustent ntar ar essa afirmaçã afirmaçãoo até até o fim sem cair numa contradição contra dição que q ue o próprio Freud sublinhou, na célebre imagem em que comparou a consciênc consciência ia ao palhaço de circo, circo, que parece fazer fazer tudo tu do e só faz faz entre ent reter ter a platéia, platéia, logo acrescentando acr escentando que apenas os espectadores mais jovens e mais mais ingênuos se deixam deixam enganar? enganar? A considerarmos considerarmos a psicanálise como uma terapêutica, terapêut ica, um método de invest investiga igação ção ou um corpo de doutrinas relativas à metapsicologia metapsicologia - e ela é tudo tudo isso -, como admiti-l admiti-lo, o, se é preciso admitir também que o inconsciente cons conserv ervaa sempre e em relação a tudo sua absoluta absol uta opacidade? opacidade? Inversamente, Inversamente, uma uma outra out ra interpr i nterpretação etação - que teve com com Politzer seu momento de celebridade - esforça-se por reduzir a letra ao sentido e volatilizar o inconsciente no conhecimento que extraímos dele. O inconsciente inconsciente seria comparáv comparável el ao funcionamento funcionamento da gramática gramática e da sintaxe no discurso corriqueiro. corri queiro. Em certo certo sentido, devemo devemoss reconhecer reco nhecer que que são são realmente realmente as regras de ambas ambas que orientam, orientam, constituem e dominam no nosso ssoss enunciados, sem que ao falar, falar, no entant entanto, o, tenhamos tenhamos consciência consciência de aplicáaplicálas. Acreditamos dizer o que temos vontade de dizer. De fato, são os mecanismos da linguagem que nos fazem dizer o que que dizemos. Mas Mas esse inconsciente é apenas provisório e, de certo modo, operacional. Posso conhecer conhe cer ou, pelo menos, menos, é poss possível ível conhecer as regras da gramática e da sintaxe. sintaxe. O inconsciente é recuperado recuperado só-depoís e só representa representa um momento momento do discurso ou da conduta. conduta. Não é necessário necessário acreditar na n a realidade desse inconsciente, inconscie nte, fazer dele uma instância real rea l do psiquismo. psiquismo. Esse modo de entender as coisas arranja tudo, escamoteando o problema problema.. Para co com meçar, eçar, há um eq equív uívoc ocoo sobre sobre a possib possibilida ilidade de de tomar consciência exaustiva exaustiva do aparelh aparelhoo do discurs discurso. o. A tese de Politzer Poli tzer supõe que esse aparelho seja uma sistema de regras fixas e ao menos provi proviso soria riam men ente te acab acabad adoo, cu cujo jo co conh nhec ecim imen ento to nos asse assegu gura raria ria seu seu do dom mínio ínio e sua posse. Na verdade, não não é bem assim, assim, e esse conhecimento conheciment o é apenas o do uso comum neste ou naquele naquele momento, momento, semque ele ele se possa possa pronunciar pronunciar sobre o caráte car áterr normativo dessas dessas regras ou sua sua evolução evolução futura. Não as compreendemos, compreendemos, portant portanto, o, em termos termos absolutos. absolutos. Além disso, disso, e sem prejuízo de objeções objeções ainda ai nda mais grav graves es,, a concepção de Politzer Politzer baseia-se na cisão entre en tre o pensamento (ou o discurso discurso)) e sua forma. forma. Ora, não há conteúdo de discurso discurso quejá que já não esteja esteja integralmente capturado no funcionamento do aparelho gramatical e sintático da língua em que pensamos. Essa cisão é lite literal ralment mentee inconc inconcebív ebível: el: não não há pensamento pensamento sem linguagem linguagem,, e as regras do discurso são são sempre já precedidas por elas mesm mesmas. as. É com base em exemplos igualmente suspeitos que Politzer nos convence de que o inconsciente - como como lugar real do universo psíquico psíquico
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- “só represen repre senta ta na na psicanálise amedlda amedlda de abstração que sobrevive dentro da psicologia concreta" concreta" 2 O inconsciente não passa, pois, de um pensamento atualmente indisponível indisponível para o sujeito. Mas, entendendo-o entendendo-o dessa dessa maneira, perde-se p erde-se a essênc essência ia do freudismo. freudismo. O inconsciente freudiano concerne concerne a algo diferent diferentee da forma e não se confunde com nenhuma das modalidades do préconsciente. Não é simp simplesm lesmente ente red redutív utível el às dialéticas do sentido e às indisponibilidades relativas que esse jogo dialético comporta. Já o sublinhamos um bom número de vezes: para além (ou aquém) do sentido, eveiculando-o, existe existe a letra - como na linguag linguagem em -, e essa essa letra letra estipula estipula exigências rigorosas, simplesmente indisponíveis. “Não haverá outra alternativa senão entre entre o mecanismo ecanismo - desenrolando-se o processo no nível da coisa - e a primeira pessoa? Acaso o que Freud descobriu não é, precis precisam amen ente, te, sob a de desig signa naçã çãoo de pen pensam samento entoss do sonho, sonho, um discu discurso rso que pode se desenrolar ‘em pessoa’ pessoa’, sem no entant entantoo estar estar na primeira primeira pessoa, mas antes antes sob a forma alienada da segunda segunda ou da terce terceira ira pessoas? O sujeito do discurso discurso,, por por ser inicialmente apenas apenas o sujeito gramatical, gramatical, não é menos menos sujeito: quando quando ‘isso fala’no inconsc inconsciente, iente, de fato encontr encontramos amos a unidade dramática dramática que é cara a Politzer, sem sem que esse esse drama se desenrole necessariamente necessariamente na ‘primeira primeira pessoa’ pessoa’.. Podemos Podemos indagar-nos se não será próprio da dass estruturas inconsc inconscien ientes tes incluir incluir outras voz vozes es que não a da da ‘primeira pessoa’.”3Existe, além da dialética do sentido, um movimento próprio do ou do doss signi signifi fica cant ntes es - ass assim im co com mo, no discu discurso rso con conscie sciente nte,, as pala palavr vras as no noss leva levam m além além do sentido sentido que gostar gostaríam íamos os de nos restringir restringir a manifesto passem confiar-lh con fiar-lhes es -, -, que impede que o sentido latente e o sentido manifesto passem pe perfe rfeita itamente de um para outro tro, tal tal co com mo - e esse é ou outro tro exemplo de Politz litzeer - o tema de uma peça teatral para seu texto. Recusar a interpretação interpretação proposta por Politzer, contudo, não implica implica qualquer dialética das que queiramos queiramos afastar afast ar qualquer dialética das relações entre ent re o consciente e o inconsciente. Mas Mas será preciso concebê-la concebê-la de outra outra maneira. Gostaríamos, Gostaríamos, para para esse fim, fim, e para para intrbduzir intrbduzir as páginas páginas subseqüentes, de fazer fazer uma breve referência a duas teses muito conhecidas conhecidas de Lacan, e quee já tivem qu tivemos a oportunidade oportuni dade de comentar a propósito de outros outros pon pontos: tos: o inconsciente é estruturado como uma linguagem; o inconsciente é o discurso discurso do Outro. Outro . O consciente e o inconsciente dependem, ambos, ambos, da linguagem linguagem, mas no discurso discurso que enuncio, e que aliás não é unicamente unicamente falado no sentido senti do estrito estrito dessa palavra, palavra, um discurso discurso que tem por finalidade fazer fazer com com que eu seja reconhecido pelo Outro, “o inconsciente é a parte do discurso concreto, enquanto transindividual, que falta à disposição do sujeito para restabelecer a continui c ontinuidade dade de seu discurso discurso consciente”.4 consciente”.4 O homem, homem, sujeito falante, e que não é nada, nada, no sentido sent ido em que se
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diz que a mesa é redonda redonda ou que o prato é quadrado, quadrado, fala para expressar a si si mesmo, mas não, quandofala fala verdadeira verdadeirament mente, e, para se dar a ser, para se conferir conferir o ser por intermédio inter médio da fala. fala. Assim Assim,, como como o sujeito suj eito não acede, enquant enqu antoo sujeito, sujeito, a nenhuma qualidade ou determinação, determinação, toda toda significa significaçã çãoo que o discurso estabelece sobre mim exig exige, e, para que qu e esse discurso discurso seja verdadeiro, verda deiro, ser reconhecida pelo outro outro.. Aqui começa, começa, ao mesmo tempo que a preoc preocupaçã upaçãoo com a verdade, verdade, a ameaça ameaça de uma cilada. cilada. Sabemos Sabemos que o sujeito pode procurar procur ar usar seu discurso discurso falaciosame falaciosamente nte para construir const ruir de si mesmo, mesmo, e transmiti-l transmiti-la, a, uma certa imagem de si que/az que/a z dele isto ou céu é azul, azul, e que ele espera que o ou outro tro autentique, autenti que, aquilo, assim como o céu devolvendo-a devolvendo-a a ele tal t al como ele a imaginou. imaginou. Assim, Assim, e finalmente, finalmente, ele será ser á eter nidade de o modifica". modifica". Eis aí uma ilusão mortal, mort al, aquele, “tal como nele a eternida porq porque ue,, “ne ness ssee traba trabalh lhoo qu quee ele ele (o suje sujeito ito fala falant ntee) faz faz de reco recons nstru truí-l í-laa (su (suaa estátua) para alienação fundamental que o fez para um ou outr tro, o, ele encontra a alienação construí-la como uma ser-lhe sempre roubada rouba da uma outra outra e que a destinou a ser-lhe por um outro’ outro’’’.5 identificar com a imagem que laz de si, o sujeito toma toma a si mesmo mesmo Ao se identificar por outro, outro, já que não som somos ne nenh nhum umaa imag imagem em pa para ra nó nóss e somen somente te o outro é a imagem para nós. Por Por fim, fim, o sujeito, já alienado alienado em sua própr própria ia image imagem m, prepara-se a certeza da alienaçã alienaçãoo suplementar que consiste consiste em se lig ligar ar antecipadamente antecip adamente à image imagem m que o outro out ro lhe lhe restitui. Do que ofereceria uma ilustração exemplar a fenomenologia da vedete ou da “star”. Acontece que o silêncio do outro, recusando assim o selo da autenticação, autenticação, obriga o sujeito a “exagerar" cada vez mais, mais, a se extenuar exten uar na exibiç exibição ão de sua imagem imagem própria própr ia e imprópria, i mprópria, para impor a qualquer q ualquer preço preço o reconhecimento reconhecimento qu que, e, segund segundoo espera, espera, irá livrálivrá-lo lo da dificu dificuldad ldadee de exis existir. tir. Mas com o efeito desastroso (que (que poderá poderá ser salvador, no entanto, entanto, por seu próprio ex exce cess sso) o) de que o falante também também se enreda cada cada ve vezz mais ais nass partes na parte s de d e seu discurso discurso que rompem a continuidade de suas frases frases e a bela bela harmonia de sua imag imagem em,, que ele não compreende compreende e da dass quais quais não dispõe, porque elas são nele o discurso do do outro. outro . Assim ssim, o mentiroso é forçado a aumentar aumentar suas mentiras - e também a incoerência incoerência destas -, - , pois esbarra esbarra cada vez mais nas nas verificações verificações do real e nas exigências exigências da verdade, que são para ele o discurso discurso do outro, outro, até até o desmoronamento desmoronamento fina finaL “O “O sujeito sujeito não se empenha empenha nisso, numa desposse despossessão ssão sempre sempre maior do ser dele dele mesmo, esmo, com o que, à força de pintur pi nturas as sinceras, que nem por isso deixam deixam a idéia menos incoerent incoerente, e, de retificações retificações que não não chegam chegam a destacar sua essênc essência, ia, de escoras e proteções proteções que não impedem sua estátua estátua de de vac vacilar, ilar, de abraços narcísicos que se convertem num sopro para animá-lo, ele acaba por reconhecer reconhecer que esse ser nunca foi foi senão sua obra no imaginário imaginário,, e que essa obra ilude nele toda tod a certeza.”* certeza.”*
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Essa seria uma maneira, mas dotada apenas de valor introdutório, introd utório, de compreender que o inconsciente inconsciente é o discurso discurso do outro. ou tro. Ora, na verdade, verdade, esse discurso discurso do outro, outro , que está em nós, superpõe divers diversas as camadas camadas que convém convém tent tentar ar re-situar re-s ituar com exatidão exatidão.. O “outro “out ro”” continua a ser, e já aludi a ludimos mos a isso, isso, o “transindividual” do discurs discurso, o, entendendo-s entendendo-see com isso que o sujeito sujeito só pode aceder a si mesmo através através de um universal do qual jamais deterá deterá nem o domínio, nem ne m a livre dispo disposiçã sição. o. Ou seja, mais mais precisamente, precisamente, convém insistir insistir no fato fato de qu quee todo todo discu discuiso iso ou comportamento comportamento pelo qual o sujeito se expres expressa sa (o que eqüivale eqüivale a dizer dizer todo e qualquer qua lquer discurso ou comportamento) comportamento) só se constitui no elemento do universal e se fundamenta, assim, no desapossamento desapossame nto e na frustra frustraçã ção. o. Designar-se por “eu” “eu ” é adquirir o meio de se colocar como como pólo de unificação unificação ou identida identidade de com o qual toda toda a experiência própria próp ria pode ser relacionada. Mas, Mas, ao ao dizer isso, isso, identifico-me com o que há também de mais mais universa universal,l, já que todos usam esse mesmo pronome pronome para para se identificar. identificar. Ou seja, mais uma vez e acima de tudo, entenda-se por esse transindividual transindividual a prevalência do significante sobr so breo eo significad significado, o, que leva meu meu discurso (com isso transforma transformado do em discurso do outro ou tro)) mais mais além do que o pensamento consciente deseja confiar-lhe como sentido. “O significa significante nte prescinde de qualquer qualquer cogitação, até das menos reflexiv reflexivas, as, para efetuar agrupamentos agrupamentos não duvidosos nas significaç significações ões que subjugam o sujeito, e muito mais; para se manifestar nele através da intromissão alienante com que a noção de sintoma assume em análise um sentido emergente; emergente; o sentido do significante que conota conota a relação relação do sujeito sujeit o com o significante.”7Essa significante.”7Essa primazia primazia nos leva a admitir admitir que qu e o psicanalista psicanalista deve se assegurar assegurar na evidência evidência de que o homem está, desde antes do nascimento e mais mais além além de sua mort morte, e, preso preso na cadeia, simbó simbólica, lica, que fundou fundou a linhagem linhagem antes antes que nela se bordasse a história - acostumar-se à idéia de que é em em seu ser mesmo, em sua personalidade total, como há quem se exprima comicamente, que ele é efetivamente efetivamente apanhado como um todo, mas à maneira maneira de um peão, no jogo do significante, significante, e isso isso desde antes antes de de as regras lhe serem transmitidas, transmitidas, mesmo que ele ele acabe por por surpreendê-las -, - , devendo essa essa ordem de prioridades prioridades ser ser entendida entendida como uma ordem lógica, lógica, ou seja, sempre atual.”8 Tudo isso isso ainda não esgota a verdade verdade que relaciona relaciona o inconsciente com co m o discurso discurso do ou outro tro.. Esse “discurso do outro out ro"" é também o depósito, depósit o, naquele que fala, das vicissit vicissitudes udes reais ou o u imaginárias (mas censuradas) de suas relações com um outrem constitutivo. São essas essas vicissitudes vicissitudes que que se marcam simbolicamente nos sintomas; nos monum monumentos; entos; e este é meu meu corpo, corpo, ou seja, seja, o núde núdeoo histérico histérico da neurose onde o sintoma histérico mostra a estrut est rutura ura de de uma linguagem linguagem e se decifra decifra
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como uma inscrição inscrição que, uma vez recolhida, pode pode ser destruída destruída sem perda perda grave; - também nos documentos de arquivo: e estes são as lembranças de minha infância, infância, tão impenetráveis impenetráveis quanto elas, elas, quando não lhes conheça conh eça a proveniência; - na evolução semântica: semântica: e esta correspon corresponde de ao estoque estoque e às acepç acepç ies ies» do vocabulário vocabulário que me é particular, bem como ao estilo de minha vida vida e a meu caráter; - também t ambém nas tradições tradições ou nas lendas lendas que, sob forma forma heroicizada, veiculam minha esperança; - nos vestígios, vestígios, enfim, enfim, que inevitavelmente conservam as distorções distorções exigid ex igidas as pela ligação do do capítulo capítulo adulte ad ulterado rado aos capítulos que qu e o cercam, cercam, e cujo sentido minha exegese estabelecerá."9 Entr Entree essa essass interpretações, sem dúv dúvida ida não há como como optar, e o estudo estudo do inconsciente inconsciente deve ficar ficar atento atento a essas diversa diversass dimensões. Afirmar que o inconsciente inconsciente se estrutura estr utura como como uma linguagem linguagem não reque requerr um esforço menor me nor de de exeg exeges ese. e. E para para começar, começar, serão a linguagem da consciên consciência cia e a linguagem do inconsciente, sem maiores considerações, considerações, uma única e mesma linguagem? linguagem? É certamente isso o que entende Lacan. Mas a primeira ediçãó de La textos que acabamos de comentar, comentar, Psychanafyse, onde Lacan defendeu os textos contém contém também um artigo de E. Benveniste que contesta contesta essa identificação, ou pelo menos lhe opõe o põe graves graves reser reservas. vas. Benveniste começa começa por rejei re jeitar tar uma afirmação de Freud segundo a qual a ausência, na linguagem onírica, de qualquer contradição reconhe reconhecida, cida, bem como como o fato de qualquer qualquer elemento desse disc discurs ursoo p o d o significar tanto ele mesmo quanto seu contrário, reproduziriam uma caracter característi ística ca das mais mais antigas línguas conhec conhecidas idas.* .* Freud, Freud, pa para ra esse fim, apoiou-se na autoridade autoridade de um lingüista lingüista contemporâneo, Karl Abe Abel.l. Ora, escreveu escreveu Benveniste Benveniste sem ambigüida ambigüidade: de: “A autori autoridade dade de Feud traz o risco de fazer com com que essa demonstração passe por estabelecida, e pelo menos de dar dar crédito crédito à idéia de que hav haveria eria ali uma uma sugestão de pesquisas pesquisas fecundas. fecundas. Ter-se-ia Ter-se-ia descoberto descoberto uma analogia entre o processo processo do sonho sonho e a semântica das línguas ‘primitivas’, onde um mesmo termo enunciava tanto uma coisa quanto quanto seu contrário. Pareceria aberto o caminho para uma investiga investigação ção que buscasse as as estrutur estru turas as comuns à linguagem linguagem coletiva coletiva e ao psiquismo individual. individual. Diante Diante dessas perspectivas, não é inútil indicar que razões de feito ito reti retira ram m todo todo o crédi crédito to das especulações especulações etimológicas de Karl Abel.”10 Além do fato, porém, poré m, Benveniste explic explicaa sua razão. Ela Ela consiste em que *A referência feita aqui aqui diz respeito ao pequeno artigo de Freud intitulado intit ulado/! /! significação (1910), SEB.v SEB .v.X .XI, I, Imago I mago,, Rio, 1970 1970,, pp. 141-146. 141-146. (N.R.) (N.R. ) antitética antitética daspalavrasprimitivas (1910),
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toda linguagem linguagem coletiva coletiva procura sistematizar uma certa certa configuração do inundo e, por conseguinte, a eliminação da contradição é para ela uma altus nãoo significa exig ex igên ência cia constituti constitutiva va Nesse aspecto, o exemplo exemplo do latim altus nã nada. nad a. É qu que; e; de certo ponto de vista vista,, a altura e a profundidade não são contraditórias, contraditórias, mas mas idênticas. idênticas. "Supondo-se que exista uma língua em que 'grande’ 'grande’ e 'peq 'peque ueno no'' se digam digam identicamente, tratar-se tratar-se-á -á de de uma língua língua em que a distinção entre ent re ‘grande’ e 'pequen 'peq ueno’ o’ literalm lite ralmente ente não tem tem sentido e em que a categoria categori a da dimensão não existe, existe, e não de uma língua que admita uma expressão contr co ntradi aditóri tóriaa da dimensão.”1 dimensão.”11 Todav Todavia, ia, isso não implica implica que se deva rejeitar rejeitar qualque qualquerr analogia analogia entr entree as duas linguagen linguagens. s. Benveniste Benveniste nã nãoo pensa pensa assim, assim, e esti estima ma que essa identidade identidade relativa relativa deve estar estar fundamentada, não não na linguage linguagem m da comunicaçã comunicação, o, mas na do mito e da poesia (surrealista, em particular). particular). Essas Essas formas de expressão expressão “podem se aparentar aparentar com o sonho e sugerir o mesmo mesmo modo de estruturação, estruturação, introduzir introduzir nas formas normais da linguagem linguagem e suspensão de sentido s entido que que o sonho proj p rojet etaa em nossas atividades” atividades”.1 .12 Persiste o fato, fato, além além disso disso,, de que o que caracteriza toda linguag linguagem em,, tanto consciente quanto inconsciente, são o simbolismo e, no sentido etimológico da palavra, a metáfora. Novamente, Novamente, porém, esse simbolismo simbolismo não é o mesmo na linguagem linguagem de comunicação comunicação e na linguagem onírica ou poéti poética. ca. A primeira, primeira, ao contrário da outra, é co conv nven encio cionad nadaa e aprendida; “é coextens coextensiva iva à aquisição que o homem faz do mundo e do entend entendimento imento,, com os quais acaba po porr se unifica unificar”.1 r”.13Esse simbolismo foi submet sub metido ido ao princí princípio pio de realidade realidade e co coloc locou ou-se -se a serv serviç içoo de dele le.. Seu Seu uso está ligad ligadoo às coisa co isas, s, das quais deve deve ser um substituto substituto tão diret diretoo quanto quanto po possív ssível. el. Quan Quanto to menos distante distante for for dessas dessas coisas coisas e da experiência que extraímos extraímos delas, delas, melhor será. será. É feito para para se “assenhorea “assenhorearr [dessas [dessas coisa coisas] s] à medida que as descobre como realidades”.1 realidades”.14Freud, nunca é demais demais sublinhar, nã nãoo ficou desate desatento nto a esse aspecto, que destacou destacou,, entr entree outros outros traços decerto decerto mais mais importantes, na interpretação interpret ação que forneceu da ling lingua uagem gem a propósito do menino que atirava e tornava a apanha apanharr seu carretei carretei de linha. linha. Não podemos desprezar, desprezar, esforço de dominação que que toda linguagem linguagemtambém po porqueissoé issoé impossível, o esforço também constitui e impli implica ca Decorre daí que que o simbolism simbolismoo da linguagem linguagem consciente será infinitamente diversificado e que, praticamente, existirão tantos sistemas sistemas quantos forem os modos de apree apreensão nsão do do universo. universo. Inversamente, e segundo Freud, o simbolismo inconsciente é universal e muito generalizadamente generalizadament e incompreendido, não reconhecido por aqueles que o pro prodduzem zem. Ademais, is, acre acresc sceenta Benveniste iste - e iss isso recl reclaama nossas res reserva rvas -, “a relação entr en tree esses esses símbolos símbolos e o que eles relatam pode ser definida pela pela riquez riquezaa do doss sign signifi ifican cante tess e pela pela un unicid icidade ade do signi signific ficad ado”. o”.115Por fim fim, e isso é apenas apenas uma conseqüência conseqüência do que precede, o encadeamen encadeamento to dos
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elementos do discurso simbólico "não obedece a nenhuma exigência lógica".14 Não julgamo julgamoss que seja seja simplesm simplesmente ente fals falsoo afirmar afirmar que o discu discurso rso simbólico inconsciente tem apenas um significado único, mas, sob essa forma, forma, tal tal afirmação só diz respeito respeito a uma verdade muito muito genérica. genérica. É exato, exato, sem dúvida, que esse significado único é o desejo do sujeito. Mas essa afirmação é do mesmo níve nívell da qu quee reconhece em todo sonho a realização de um desejo, desejo, que mais não seja o de salvaguardar salvaguardar a continuidade do sono sono.. A verdadeira questão que stão se refere, pois, à diversificaç diversificação ão dos dos desejos e a sua articulação com os símbolos que os significam. Nesse momento, o simbolismo simbolismo universal universal já não tem tem senão pouca ou nenhuma nenhuma valia, valia, e é então en tão que funciona plenamente plenamente,, se me é lícito dizê-lo, a primazia do significante significante sobre o significado, bem como o fato histórico e contingente (como se costuma dizer) de que tais tai s ou quais significante significantess desempenham para este ou aquele aq uele inconsciente concreto concr eto o papel de significan significante-ch te-chave ave.. Disso Disso já fornecemos diversos exemplos (a propósito do Homem dos Lobos, prin princi cipa palm lmen ente te)) e lo logo verem eremoos ou outro tros, s, a pro propó pósit sitoo do Homem omem dos Ra Ratos tos. Quanto Qua nto a afastar afastar do discurso discurso inconsciente qualquer exigên exigência cia lógica lógica,, essa é outr outraa ambigüidad ambigüidade. e. Por Por certo, o discurso consciente consciente que denominamos denominamos de informação ou conhecimento conhecimento é sistemático, por sistemático, porquan quanto to visa, visa, em última análise, análi se, a tudo tudo o que que é. Assim, Assim, só pode ser dócil an ante te as exigência exigênciass do que po possibil ibilit itaa a expres ressão e a dominaç inaçãão desse sse co connjun junto como taL É justa justam men ente te isso isso o que se entende por lógica. Vist lógica. Vistoo desse ângulo, é absurdo e prejudicial prejudicial pensar que o que está ali ao mesm mesmoo tempo não esteja esteja ali. ali. Mas, as, acaso acaso isso isso implica que não haveria nenhuma lógica lógica do desejo? De modo algum, algum, e basta ler Freud para no noss co conv nven ence cerm rmos os diss disso. o. Toda Todavi via, a, e isso isso é ev evide idente nte,, essa lógica lógica determina deter mina a possibilidade de outra outrass finalidades que não as do do discurso do conhecimento. Nesse Nesse caso, a identidade identidade entre entre o ódio e o amor, entr en tree uma coisa coisa e seu contrário, contrário, serve perfeita perfeitamente mente aos fins fins próprios próprios dessa linguagem linguagem e até a té lhe dá uma coerência específic específica. a. Antes de chegarmos chegarmos ao objeto objet o próprio deste capítulo, resta-nos evocar evocar alguns problemas ainda mais difíc difíceis, eis, porém de grande grande importância para o que que virá a seguir. Para além além da distinção entre entre o consciente e o inconsciente existe existe a que se dá entr entree a linguagem e a realidade. Mas o que é ser real e o que é dizer izer a realidade? cert ce rtam amen ente te não pod podemos emos pretender pret ender que essa essa questão se apresente apres ente de maneira idêntica para par a o consciente consciente e o inconsciente inconsciente,, pela razão peremptória peremptória de de que, no incon inconscie sciente nte,, o real e o irrealn irreal não se distinguem distinguem.. Se, Se, portanto, porta nto, o problema só pode ser diretament dir etamentee colocado colocado a partir parti r do real consciente, assim como as estrutura estrut urass do mundo onírico só podem ser descritas e analisadas no universo da vigília, isso não impede que uma
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interpretação relacionada com o inconsciente inconsciente deva ser deva ser verdadeira, verdadeira, válida válida e real se real se pode ser ser falsa, falsa, irreal irreal e não não válida válida Se existem existem desejos falsos falsos,, é apenas em relação a um desejo verdadeiro verdadeiro que eles camuflam camuflam.. Uma tese geralmente geralmente aceita é que nada de "real" tem lugar no decorrer da análise. Não a contradiremos, e reconhecemos juntamente com todos que o amor transferenciai não é simplesmente simplesmente um amor verdadeiro. Mas vem a se estabelec estabelecer er para visar a um outro outro e repetir, repetir, por exemplo, exemplo, um amor edipiano. Não Não se tem certeza certeza,, aliá aliás, s, de que que esse esse próprio àmor edipia edipiano no sej sejaa mai maiss verdade verdadeiro, iro, ou, pelo meno menos, s, de que sempre o sej sejaa O certo, certo, em contrapa contrapart rtida ida é que se esse amor edipiano, edipia no, verdadeiro verdadeiro ou falso falso,, não se inscreves inscrevesse se de um modo ou de outro, por si mesmo ou por seus descendentes e seus sintomas, sintomas, no que qu e convém chamar ingenuamen ingenuamente te de real, e se não o fizess fizessee de maneira maneira suficientemente suficientemente incômoda para que o interessado julgasse bom e urgente refletir refletir a seu respeito, nunca teria teria havido havido nem análise, análise, nem analista, analista, nem analisado. analisado. Retomar Retomaremos emos aqui o quedisse quedi sse Merleau-Ponty, seguindo Husserl, Hu sserl, sobre a certeza perceptiva: sempre sempr e podemos contestar contest ar cada um de seus seus elementos, mas só podemos podemos fazê-lo fazê-lo em prol de algum ou outr troo elemento, elemento, de modo que a existência existência do mundo percebido, ou, no caso presente, presente , do real, real, está aquém aquém e além de qualquer qualquer contestação contestação possível “Se cada percepção sempre sempre pode ser ‘barrada’ barrada’e passar a figurar entr entree as ilusões, ilusões, ela só desaparece para para dar lugar lugar a uma outra percep percepção ção que a co corri rrige ge.. Cada Cada cois coisaa pode efetivamente, efetivamente, só-depois, parecer par ecer incerta, mas ao menos é certo para nós que existem coisas, isto é, um mundo. Perguntar-nos se o mundo é real é não entend entender er o que que dizemos, dizemos, já que o mundo é justamente, não uma soma soma de coisas coisas que sempre podemos pôr pôr em dúvida, dúvida, mas o reservatório reservatório inesgotáv inesgotável el de onde as coisas coisas são tiradas. O percebido, tomado como um todo, todo , com o horizonte mundial queanuncia queanuncia ao mesmo tempo temp o sua disjunçãopossível e sua sua eventual substituição po porr uma outra outra percepção percepção,, não não nos engana em absoluto.”17 Repetimos - e estamos perfeitamente convenc convencido idoss disso - que não há nenhum sentido em querer quer er trata tratarr em função do real os problemas do delírio. delírio. Assim Assim,, não imitaremos aquele velho mestre que q ue interrom inte rrompia pia seu pac pacie iennte dize izendo: “Vamos, meu amigo igo, voltem ltemoos ao rea real.” l.” Mas, assim sim co com mo o Sr. Sr. Teste - bem como qualquer poeta p oeta que só escre escreva va para para si mesmo mesmo nos seria perfeitamente desconhecido se Valéry não nos houyesse comunicado as frases que ele lhe cc eu, também um de delira lirante nte capaz de sustentar sustentar todos todos os discursos discursos que sustentamos, e somente estes, nunca se afiguraria afiguraria um delirante. Repetimos: Repetimos: se as as estruturas estruturas oníricas se elaboram no sonho, elas só são sabidas e discutidas na vigília. cabe ca be,, pois, realment real mentee e de todas as maneiras, falar da fala fala e até falar do real, mas sem simplesmente, nem em parte pa rte alguma, alguma, confundi-lo com a fala.
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Não Não no noss deter eterem emoos nu numa ma objeçã jeçãoo cert certam amen ente te séria ria, mas que, no fin final das contas, deixa as coisas coisas como estão. Dizem: Dizem: você só pode pode toca t ocarr e visar o real na na e e pel pelaa lingua linguagem gem;; não saímos da linguagem linguagem,, portant portanto, o, s e essa afirmação afirmação se restringira restringi ra constatar consta tar que q ue efetivamen efetivamente te o real não pode nos aparecer aparecer fora fora de alguma alguma relação relação com o discurso, estar-se-á dizendo a mais incontestável incontestável das verdades, verdades, ainda que, po porr suas conseqüências equívocas, equívocas, ela seja bem semelhante ao famoso “um além-do-pensamento é impensável". Mas acaso decorre decorr e daí que não existe, existe, nem que seja de certa certa maneira, no interior da linguagem, um Outro da linguagem ao qual a linguagem está ligada tal como a sombra se prende pren de ao corpo, mas mas sem se confundir com ele? Já não nã o atingimos atingimos Napoleão Napoleã o a não ser pelos discursos discursos sobre sobre Napoleão. Napoleão. Que Querr isso isso dizer que já não existem existem, no tocante tocante a Napoleão, Napoleão, senão os discursos discursos sobre Napoleão, e que, por por exemplo, exemplo, entre entre as afiimações do historiador e as do louco que se toma por por Napoleão Napoleão não hav haveria eria nenhuma diferença, salvo, eventualmente, pela coerência das primeiras e pela incoerência incoerência das últimas? Tal argumentação, argumentação, voltada contra aquele que fala e não mais aplicada ao “objeto" “obj eto" de seu discurs discurso, o, leva leva a contestar contes tar a própr pr ópria ia existência existência do sujeito sujeit o falante, já que a fala não está em ninguém e que o sujeito sujeit o está por significar significar (já insistimo insistimoss bastant bastantee nisso) nisso) além de todos os discursos que sustenta, mas através deles. contudo, para exprimir tão claramente quanto possível o que entendemos, gostaríamos de nos referir por um instante a algumas das pági página nass introdutórias introdutórias de de O Ser e o Tempo, de Tempo, de Heidegger. Não há, em no noss ssaa ex expe periê riênc ncia, ia, senão senão um ún único ico tipo de ser ou ente que questiona. questiona. E suas questões, embora não se refiram forçosamente a ele, acabam sempre, e às vezes vezes começam, começam, por colocá-lo, ele ele mesmo, mesmo, em questão. Acrescentamos Acrescentamos a isso que essequest esse questionad ionador or único se apresenta apresenta como como dotado deJemeinigkeü, isto eJemeinigkeü, isto é, segundo segundo uma uma tradução tradução que que propusemos, apesar de não ser irrepreensível, de “minhice". Isso nos leva exatamente, se bem que sob outro ou tross céus filosóficos, filosóficos, à problemát problemática ica que vim vimos discuti discutind ndoo a propósito propósito da ling lingua uage gem m. É verdad verdadee que o ser-aí, pois é assim que se denomina o questionador, questionador, é todo todo ele uma pergu pergunta nta Nã Nãoo é verd erdad adee qu quee nã nãoo haja nen enhu hum ma distâ istânncia en entre tre sua sua perg ergunta e aquilo de que se tra tr ata Logo Logo,, é por intermédio da distância distância que haverem haveremos os de tentar tentar abordar abordar a distinção distinção entre entre a linguage linguagem m e seu outro, seguramente, esse outro outro não conseguirá conseguirá se exprimir exprimir sem uma linguage linguagem m; eis aí, justamente, justamente, o que hav havíam íamos os constatado constatado ao assinalar que um único ente ente tem tem o privilégio privilégio de questionar. Esse privilé privilégio gio se confunde com o poder poder de romper romper a noite em que o ser e o não-ser não-ser ainda permaneceriam con confim fimdid didos. os. Mas esta última expressão expressão é, a rigor, contraditória, contraditória, porquanto porquanto visa a qualificar uma situação mais original do que toda e qualquer qualificação. É que a noite só é concebida através do dia, do qual é prelúdio. prelúdio. A expressão instala i nstala no ser; ser;--
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o indizível o qque ue a precede precede é o ind indizfv izfveeL Mas nada nada a precede e o indizíve indizívell não é o indizível O ato expressiv expressivo, o, que se confunde com com o próprio próprio aparecimento apar ecimento do seraí, aí, separa os céus, a terra ter ra e as águas. águas. Tentemos Tentemos precisar, se possíve possível,l, essa contribuição contribuição da expressão. expressão. Ela reúne as co coisas isas na unidade do "mundo” "mundo” reladonandoreladonando-as as entr entree si, si, fazendofazendoas surgir nessa relação. Dá-se assim que cada coisa, coisa, em última última análise, abre abre e se abre abre para todas, e isso porque porque todas se colocam colocam juntas junta s na abertu abertura ra do ser, ser, correlata correlata do surgimento surgimento do ser-aí.1 ser-aí.18 O "reuni " reunidor” dor” - que é o questionador - traça então uma área que constitui constitui (no sentido ativo) a totalidade do ente, ent e, onde tudo tudo se mantém, e isso segundo segundo o duplo duplo sentido de “suster-se” “suster-se” e de "mante "m anterr unido”. unido”. Ele se sustém nessa nessa área de abertu abertura ra e aí se revela tal como é. é. O questionador questionador se esclarece esclarece ao esclarecer o outro outro e se esclarece esclarece como o outr outroo daquilo que que esclarece esclarece.. Deixemos de lado a questão de saber em que e onde esse esclarecimento começa a decorrer especificamente do que chamamos filosofia Mas sublinhemos muito explicitamente explicitamente que o que vem a separar separar Presença, Heidegger Heidegger de Hegel, sem compromisso compromisso possível, possível, é que, para para um, a Presença, elevada ao nível do Espírito Espírito absoluto absoluto,, deve, deve, no final das contas, coincidir coincidir radicalmente radicalmente - sob a forma forma do saber absoluto - co com m o que está presente, ao passo que, para para Heidegger, Heidegger, essa coincidência coincidência está ex exclu cluída ída para sempre e por princípio; a falha falha original é irrecuperável, porque é dela, dela, da finitude Iumen naturale. Fosse a diferença que ela define (e apenas dela) que que surge o Iu realmente realmente suprimida, isso isso eqüivaleria eqüivaleria ao retorno reto rno do não-senso. não-senso. A opção que nos é assim assim proposta - e sobre a qual é até supérfluo supérfluo reconhecer que d a é insepará inseparável vel do discu discurso rso,, já que que só se apresenta apresenta no interior interior do discurso discurso e em sua ordem - remete-nos remete-nos diretamente diretamente a nosso debate sobre a lingu linguag agem em.. Em que que pode pode servir-lhe essa essa referência ao pensamento pensamento heideggeriano? No Nossa esper speran ança ça é que ela ela nos tenh tenhaa perm ermitid itidoo refo reform rmuular lar tanto tanto o prob roblem lema da gênese e do do devir de um sujeito falante quanto quanto a da relação da linguagem linguagem com co m seu outro, outro , e que que ainda ainda nos permita fazê-lo fazê-lo de uma maneira capaz de acolher as exigên exigência ciass de uma problemática do inconsciente. inconsciente.
C) ENSAIO ENSAIO DE DE INTERPRETAÇÃO INTERPRETAÇÃO EXISTENCIAL EXISTENCIAL DO INCO INCONSCIENTE NSCIENTE E DA DA PSICOSE PSICOSE Não Não retomaremos retomaremos mais ais uma uma ve vezz um debate já freqüentemente freqüentemente suscit suscitado ado a propósito de Freud, mas mas que a rigor se estende a toda a problemática de que trata tra ta nosso trabalho. O nov novoo tipo de inteligibilidad inteligibilidadee inaugurado pe pela psica icanális lise - e no qual tanto tanto a an antr trop opoolog logia qu quan anto to a psiq siquiatr iatria ia podem
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psicos osee a psic
ou devem devem se inspira inspirarr - instituiu-se instituiu-se a parti pa rtirr de um naturalismo biologista que o fundador nunca superou por po r completo, e menos ainda ainda a maioria de seus discípulos discípulos imediatos. imediatos. Ora, esse naturalismo, se o tomamos ao a o pé da letra, contradiz o projeto de inteligibilidade que se edificou sobre ele. Essa situação não nã o deixa deixa de ter outro out ro exemplo exemplo no desenvolvimento desenvolvimento do pensamento pensamento científico. científico. Todo corte corte epistemológico epistemológico - pois é exatamente exatamente disso disso que se trata aqui - se inscrev inscrevee num horizonte de pensamento pensamen to que ele contesta c ontesta e que o entrava, mesm mesmoo que esse horizonte seja também o único a torná-lo torná-lo po possí ssível vel.. Num segundo segundo temp t empo,já o,já agora chegado, chegado, a nova nova inteligibilidade se aprofunda, se reflete, volta-se para seu horizonte horiz onte e o arruma conforme a própria linha de seus progressos. Por mais incômodo que seja para os intérpretes contemporâneos de Freud o Projeto Projetopa para ra um umaa Psicolog Psicologia ia Científica, Científica, mesmo assim foi assim foi ele ele que deu impulso ao que deveria tra transformar-se nsformar-se numa revolução das ciênc ciências ias humanas, ainda que seja em nome destas que hoje se faz necessário voltar a questioná-lo. questioná-lo. Poderíamos, a propósito da Gestalpsychologie ou Gestalpsychologie ou de algum outro outr o exemp exemplo lo - ou mesmo a propósito propósito de Kraepelín Kraepelín ou Bleuler -, fazer fazer comentários semelhantes. Nosso propósito será, antes, tratar de compreender compreender essa nova inteligibilidade inteligibilidade e descobrir suas implicações, implicações, bem como seu sentido último. H MaMiney aMiney - num num artigo artigo que suscitará suscitará mais de uma vez nossa nossa reflexão19 - tem razão razão em dizer que a passage passagem m do homem como como realidade da natureza à “antropogênes “antro pogênesee e ao advento do homem na primeira pessoa.. pessoa.... se efetua pela pela du dupl plaa via, já indica icada por Hegel, da negativi ividade e do dese esejo de desejo sejo””.20 Naverdade, Naverdade, essa essa pa pass ssag agem em é també também m a de uma uma lingu linguag agem em para para outra. Ou seja, a passagem passagem da da linguagem linguagem objetivante sobre sob re o homem-natureza para o discurso que tem tem por por fim, fim, secreto secreto ou não, mas mas imutável, imutável, expressar o mundo e o si-mesm si-mesmo, o, discurso este que que só pode se manter “p “pela ela renov renovação ação perpétua perpétua de seus significantes”. significantes”.221Ob Observe-se, serve-se, porém, porém, que em em certo certo senti sentido do a primeir primeiraa linguagem não è mais nem menos mítica mítica do que a outra, outra, já que que se propõe, como toda toda objetividade, a ambigüidade ambigüidade e o equ equívoc ívocoo que consistem em fazer surgir o senso do não-senso. Ou, como escrevemos escrevemos em ou outr troo texto, fornecer “uma teori t eoriaa genética do psiquism psiquismoo humano [que [que]] visa visa a retraça retraçarr desde a natureza o nascimento o nascimento e o devir do sujeito humano em geral, consciente ou inconsciente, inconsciente, sendo este derivado daquele. daquele. Tomada em em termos termos absolutos (mas será que Fr Freud eud a entenderia entenderia assim?), assim?), essa operação operação se revela contraditória aos olhos do fenomeno fenomenolog logista, ista, porquanto pretende pretende postular a origem de todo sentido e de toda compreensão compreensão a partir partir de dados dados e hipóteses já por po r si si sign signif ific icat ativ ivos os,, e que só só o são são pelo pelo poder poder de de entendimento entendimento que supostamen supo stamente te geram. geram. O que se pretende pretende explicar explicar (a gênese do sentido) sentido) só é explicado a pa parti rtirr daquilo daquilo que já explica explica (a na tureza compreendi compreendida). da). Dito deo deout utra ra maneira: para o homem, homem, o problema de sua própria origem
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só pode surgirno surgir nointerior interior de de sua própria própria história. Não aponto apont o - e ninguém ninguém o faz faz - para meu nascimento senão além do “sempre-já-nascido" “sempre-já-nascido" que é, não uma característica contingente, mas uma dimensão estrutural da existência humana. Minha origem origem e a da humanidade não se apresentam apresentam a mim como como fatos concretos concretos a serem serem explicados, explicados, mas mas como significantes cujo significado convém convém buscar através de outro outross significantes. Eles El es não são o significado significado ültimo. Quem poderia poderia duvidar disso, tendo ouvido dez ou cem vezes vezes os psicóticos se interr interroga ogarem rem sobre sobre sua origem?”2 ori gem?”22 Há em Freud, portanto portanto - e ninguém ninguém o contesta -, um problema problema do sentido. sentido. Para debatê-lo, retomemos por um momento momento a questão do sonho, à qua qual,l, de resto, já fizemos algumas alusões. O fato de o sonho ter um sentido não significa significa de modo algum que esse sentido sentido figure em algum lugar a títul tí tuloo de dado. Ou seja, que apareça na vivên vivência cia do sonhador que que conta seu seu sonho, ou mesmo mesmo que corresponda corresponda a um “conceito objetiv objetivo” o” discernível discernível apenas pelo pelo saber saber exp experim erimenta entado do do intérprete, que o adivi adivinh nhará ará mais ais ou men enos os depressa conforme a complexidade do caso, a extensão de sua experiência ou o grau de sua habilidad habilidadee Na verdade, verdade, esse sentido sentido se constitui na dialética entre entr e o sentido sentido latente late nte e o sentido manifesto, que nunca é fechada, fechada, como como o testemun testemunha ha o conhecido conhecido lato de que podemos podemos retrab retrabalhar alhar fecundame fecundamente nte um mesmo sonho em diversas épocas, e portanto, em diferentes níveis, de uma análise. análise. Essa dialética, podemos condensá-la assinalando assinalando que ela exprime exprime “o sentido sentido ddee uma uma existência que se oculta e que se oculta em seu seu aparecer apar ecer”, ”,223 mas esse aparecer, po porr si si só, é um um problema. O sonho é comunicado num relato. Ora, relato. Ora, esse relato não pertence, como tal, ao sentido manifesto do sonho sonhado. O que faz faz com com que P. P. Demoulin Demoulin afirme afirme que todo sonho, a parti partirr do momento em que é comunica comunicado, do, coloca-se coloca-se po porr isso isso mesm mesmoo no discurso indireto. Esse discurso ou relato rela to é uma uma produção produção do sonhadorde sonhador de volta ao estado de vigãia vigãia.. Do mesmo modo, modo, as im imagens do sonho, sua matéria matéri a hiléti hilética, ca, são nele transformadas transformadas,, pois não estava nem em sua natureza, natureza, nem em sua destinação incorporar-se à inten intendonali donalidade dade de uma narrativa. Em si mesmo, mesmo, o sonho sonho nem sequer sequer ésignificante: desenrola-se, ésignificante: desenrola-se, com efeito, no regime regime da confusão entre ent re o significante e o significad significado. o. Isso é o que mostra luminosamente o exemplo exemplo de de Silberer a que Freud retorna retorna em diversas ocasiões. O escritor que, antes de adormecer, pensa que ainda terá que polir o estilo de seu ensaio vê-se, repentinamente, aplainando um pedaço de madeira.24Uma vez ditas, porém, essas imagens ficam pre prese senntes tes e visa isadas co com mo sign ignific ificaantes tes de uma inte intenc ncio iona nali lida dadde de sen sentido tido, de discurso. Não é que o relato seja, como se diz, “inventado”; é até perf perfei eita tam men ente te pe pertin rtinent entee ao sonh sonhoo. Todav avia ia,, o esta estatu tuto to do qu quee é vist vistoo nã nãoo pode pode deixa deixarr de ser modi modific ficad adoo pela muda mudanç nçaa do horizonte horizonte em que se
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apresent apresenta. a. O espaço onírico oníri co e o universo universo do discurso víg vígilil não coincidem de maneira maneira algum alguma. a. O primeir primeiroo é um palco fechado, isento, por po r exemplo, exemplo, de qualquer referência à motricidade efetiva efetiva ddoo perceptor, percep tor, motricidade esta esta que o sonho, sonho, ao menos menos em princípio, coloca fora de circuito. Também nesse aspecto, o mesmo mesmo não acontece com o relato: trata-se, tra ta-se, a partir part ir daí, daí, de imagens que aparecem diante de uma consciência vígil, e que recuperaram, para o sonhador, o que haviam perdido no sonho: sua qualidade quali dade de ser-significante. Como, então, conceber conceber a passagem de um ao outro, outro, sem que isso implique implique a alternativa de uma opção igualmente pe pernic rnicio iossa (ou (ou imp impossíve ível) en entr tree ima imagens perdid rdidaas e inacessíveis na condiçã ição que tinham tinham para aquele aquele que as viu em sonho e, por por outr outroo lado, lado, um discurso discurso que expulsa expulsa a ordem ordem onírica? “O procedimento freudiano de fracionamento fracionamento do relato, arbitrário na aparência, leva, na realidade, a colocar cada sentido parcial parcial numa numa relação relação direta co com m seu modo modo de ex expr pres essã são, o, ou seja seja,, co com m as estru estrutu tura rass verbais e imagísticas imagísticas que o significam.”2 significam.”25É que o fra fraci cionament onamentoo tem tem como efeito efeito que que “o “o;;>en entid tidoo se instabilize... instabilize... e [que] [que] o significado significado volte a suas fontes fontes no significante”. significante”.226Essa mobilização do sentido sentido é assegurada, de fato, pela partição par tição do sonho. sonho. A partição salvaguard salvaguardaa ou eestabelece stabelece o surgimento oposto oposto das image imagens, ns, mantém mantém ou gera gera o hiato de sentido entre ent re os diversos fragmentos do discurso. Assim se preserva, não o sonho sonhado - o que é simplesmente impossível -, mas uma certa analogia de funcio namento. Já se comentou comentou muitas veze vezess a dificuldade dificuldade que há em em fixar fixar as imagens imagens do sonho. De fato, essa fixaçã fixaçãoo é impossív impossível. el. Porque Porque suporia, suporia, justament justamente, e, que se instalasse nas imagens um sentido imanente, tal como se instala um sentido imanente imanente nos discurso discursoss da vig vigíli ília. a. O sonhador sonhador se debate debate entre en tre a fluidez das das imagens imagens do sonho, sua passagem contínua contínua de uma para para outra, outra, e, por por out outro ro lado, essa essa espécie espécie de rigidez rigidez fascinante, fascinante, “surrealista”, “surrealista”, no dizer de Maldiney Maldiney,, de cada uma uma delas no momento momento isolado de sua aparição. aparição. É essa oposição, oposição, muito mais do que a pluralidade pluralidade das image imagens ns e a imprecisão de suas suas relações, que engendra engendra para o sonhador um sentido sempre por refazer, sempre em "estado dé origem”. Logo, trata-se bem menos de uma série série de significaç significações ões superponíveis ou hierarquiz hierarquizadas adas do que de esboços esboços de sentido que apontam todos numa mesma direção. Que seu desen volvimento, o estabeleci estabelecimento mento dos dos diferentes diferentes planos planos e a explicitação dos dos poss possív ívei eiss inclu incluíd ídos os em cada cada um po poss ssam am se realizar realizar é alg algo que é favor favorec ecid idoo pela técnic técnicaa de fragm fragmen entaç tação ão do relato, ao mesmo esmo tempo tempo imped impedind indoo qu quee esse relato relato escoe para um sentido único e nele se solidifique, solidifique, como como é uma uma tendência tendênci a própr pr ópria ia do discurso vígil. ígil. Assim, Assim, não não devemos devemos hipostas hipostasear ear - como se eles fossem fossem comparáveis comparáveis em seus respec respectivo tivoss estatutos estatut os - o sentido latente e o sentido manife manifesto. sto. Sua oposição não pode ser reduzida à de de um texto original frente f rente a sua
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tradução, mesmo mutilada pela censura, para uma outra língua - como quando os alemães (para usar uma imagem freudiana espirituosa) traduziram, traduziram, distorcendo-o, um um comunicado comunicado de guerra guerra britânico, com a única finalidade finalidade de provar, através dessa dessa publicaçã publicação, o, a objetividade do no notitidá dári rioo germânico. germânico. Voltemos a citar Mald Maldiney iney:: "A elaboração elaboração do sentido late l atente nte é o desvelamento do própri próprioo sentido sentido manifesto manifesto - mas restituído restituído à emergência emergência de sua função de significante através de seu esta estatut tutoo de significa significado do.. Sentido Sentido manifesto e sentido latente late nte são os dois dois pólos de um mesmo mesmo sentido sentido que em parte parte alguma alguma é atualizado, atualizado, e que que só podemos apreender apreender como a direção de sentido sentido de uma uma história história individual individual cuja cuja dialética desveladora desveladora e constitutiva constitutiva se realiza através das vicissitudes do tratamento analítico.”27 Essa Essa retomada de temas muito conheddo conh eddoss tem por p or obj obj etivo etivo prepar pr eparar ar um confronto entre a noção freudiana de sentido e a noção utilizada utilizada por uma filosofia de inspiração fenomenológica. Quee há de ambos Qu ambos os lados um reconhecimento reconhec imento da intencionalidade (entendendo-se (entendendo-se essa palavra em sua acepção fenomenológica) do sujeito sujei to da experiência experiência não parece pa rece duvido duvidoso. so. Tanto de um lado quanto de outro o utro,, há um esforço de transce tra nscender nder o hilético (ou mesmo mesmo o noético) noéti co) rumo a um outro outro que o signifiqu signifique. e. Mas tampouco nos parece duvidoso que a concepção concepção freudiana vai além da intencionalidade do fenomenologista. É que a interpretação, tal como praticada numa psicanálise de inspiração freudiana visa visa a desvelar “uma transcendência transcendência oblíqua em que a intencionali i ntencionalidade dade da consciência que visa seu objeto é continuamente deslocada pelo funcionamento das transcendências do Ego” objeto visado visado,, Ego”??*Ou seja, nem o objeto nem o “sujeito” sujeito” que o visa visa se mantêm mantêm imutavelmente idênticos a eles eles mesmos mesmos no decurso da análise e da interpretação. É esse esse remanejamento constante de um e de outro e de um pelo outro que permite ao paciente, desde o momento em em que entra e ntra em análise, análise, superar a ilusão ingênua ingênua e alienante ali enante que, com muita freqüência, levou-o a iniciá-la: a saber, que ela o faria descobrir, finalmente, quem ele é, ou até mesmo o que é. Exprimamos isso de outra maneira, dizendo que, na análise freudiana, trata-s tra ta-see bem menos (ou não se trata) trat a) de uma fenomenologia fenomenologia da consciência consciência do do qu quee de uma fenomenologia da presença Expliquemo-nos. Maldiney, que defende essa tese, ilustra-a referindo-se ao fenômeno da resistência. De fato, a resistência não busca busca tanto ta nto camuflar, camuflar, deformar defor mar ou esquecer esquecer - ou, pelo menos, isso isso não é o essencial nela -, mas antes elaborar “um sistema de apoios e horizontes horizontes sucessivos’ sucessivos’^^q ue, à medida que o sujeito sujeit o vai vai sendo desalojado de uma posição, posição, tende a restabelecê-la restabelecê-la em outras bases bases para proteger pr oteger a ilusão de se definir como isto isto ou aquilo. Isso, Isso, com efeito, é o que que se evidencia evidencia com igual igual clareza clareza em Do Dora no Homem dos dos Ratos e no Homem Homem dos Lob Lobos. os.
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s e o “sujeito" e o “objeto" sofrem uma uma constante mutação de presença, presença, nem por isso o paciente pa ciente deixa deixa de procu procurar rar recuper rec uperar ar a cada ve vez, z, pa ra ra além dessas dessas modificaç modificações, ões, “horizonte “horiz onte"" e “apoio". “apoio". Acoisa Acoi sa não é menos menos notável no exemplo exemplo que citamos citamos inicialmente. inicialmente. Ent E ntra rarr em análise análise na esperança esperan ça de ser gratificado com um retrato verídico de si mesmo é, incontestável mente, estabelec estabelecer-se er-se num tipo tipo de presença presença perante perante si mesmo mesmoe o ooutr utroo qu quee consagra consagra a alienação e pretende, pretende, além disso, disso, erigi-la como verdade por intermédio inte rmédio e pela mediação de outrem. O que a análise análise deve então ent ão exigir exigir do paciente, provocar provocar nele, nele, não é a retifica retificação ção deste ou daquele daquele traço, traço, ou até at é de todos todos (personalidade, caráter, temperamento etc.), operação que só faria confirmá-lo confirmá-lo em sua alienação, mas o querer-se querer-se ou o se aceitar aceitar sem nenhum retrato, retr ato, como como existindo existindo à maneira da presença presença de um ente histórico, histórico, ou, como dizia Merleau-Ponty, de um estilo. O fato de a análise denunciar ilusões, sign significaç ificações ões falsas falsas e afetos afetos igualmente igualmente falsós falsós ou deslocados em relação a seu objeto real não tem por po r objetivo objetivo substituí-los por traços e objetos objetos que, estes sim, sim, sejam “verdadeiros", “verdadeiros", em em vez vez de, como os primeiros, primeiros, serem imaginários. imaginários. Assim Assim se substituiri substituiriaa um engodo por po r um engodo mais prestigi prestigioso oso,, e portanto, pior. pior. E é a isso isso que o sujeito “resiste" “resiste" mai mais. s. Na Na verdade, verdade, essa denúncia denúncia pretende pret ende inscrever inscrever aquele que se nomeia sujeito num outro out ro registro registro de existência, existência, onde, por exemplo, exemplo, ser ser e objetividade não mais sejam tomados como simplesmente sinônimos ou absolutamente complementares, complementare s, e onde, mais uma uma vvez ez,, o sujeito sujeit o renuncie renuncie a colocar uma certa certa imagem de si como como a origem e o pólo de todos os seus atos. Assim ssim, portant portanto, o, há algo algo por conhe conhece cerr “a identidade das das estruturas significa significante ntess e existen existenciais ciais".3 ".3^ r a t a - s e de um sentido contrá rio do sentido que, ao contrário sentido do pensamento fenomenológico, coincide em todos os graus, tanto para seu be bem m com comoo para seu mal, al, tanto na ilusão ilusão como como na verdade, verdade, co com m a existência existência daquele que que o exprime. exprime. “A mesma mesma transcendência que funda funda a existência como... Presença constitutiv tutivaa de sentid sent ido. o."3 "31Daí vêm Presença em... em... é consti as particularidades particularidades da problemática problemática da interpretação interpretação próprias da psicanálise Um historiador historiador ou ou um filólogo filólogo não se preocupa em verificar verificar se é opor oportuno tuno dizer ou calar a interpretação que propõe para um fato ou um texto; tampouco se pergunta como irá dizê-la, dizê-la, ou melhor, não se preocupa preocupa senão em formular seu pensament p ensamentoo com com a maior clareza possível possível,, depurandodepura ndoo ao máximo máximo de qualquer qual quer risco risco de equívoco. equívoco. Com o psicanalista, psicanalista, a coisa é diferente; diferente; muitas veze vezes, s, ele tem o maior interesse em se calar, calar, em arranj arranjar ar um meio de que seu dito seja, num primeiro prime iro momento, mais vislumbrado pel peloo pa paci cien ente te do qu quee real realm men ente te co com mpreen reenddido ido, a fim de qu quee a co com mpree preens nsão ão acabada surja para esse paciente como vindo por modo próprio, próprio, em ve vezz de assumir a forma de uma comunicação comunicação dirigida a ele; é também por isso que se se pode revelar útil apresentar a interpret i nterpretação ação num contexto contexto que a aproxime de outros outros temas já elucidados, o que a carregará de uma certa
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equivocidade equivocid ade eventualment eventualmentee benéfica. benéfica. O arriscar, o se expor e o se mostr mostrar ar são aí, naquele que que fala, inseparáve inseparáveis is do enunciar. Não é isso o que q ue acontece, ou não forçosame forç osamente, nte, com a linguagem linguagem corrique corri queira ira ou com a linguagem científica. Em matéria de análise, a linguagem é sempre fala. "A compreensão não é acrescentada de fora, como uma propriedade adjacente. É uma forma constitucional da presença.”32 Donde também esta conseqüência conseqüência sobre a qual qual (e isso isso não é freqüente) freqüente) se estabelece a unanimidade dos autores e dos praticantes: é estreito o vínculo entre o restabelecimento restabelecimento do doente em sua presença presença no mundo e a aquisição aquisição,, o retorno ou o progresso de alguma autocompreensão. O autista, por exemplo, que em última instância já não está presente no mundo, não reina na fortaleza separ s eparada ada e inacessív inacessível el de seu seu "eu " eu”. ”. Assim Assim como não sabe s abe das coisa co isas, s, não sabe de de si, ignora o papel que desempenha, desempenha, a figura que desenha. Ambas as dimensões remetem a um vazio idêntico. Recordemos com Maldiney a expressão popular "ele já não está nem aí”; cujo duplo sentido destaca exatamente o vínculo dialético que une a presença no mundo e em si, assim como une a compreensão de ambos. Essa articulação da presença e da compreensão é também percebida tão logo logo refletimos sobre sob re o que se passa passa precisament preci samentee por ocasião desse de sse restabelecimento. restabelecimento. Este, de fato, manifesta manifesta um paradoxo de toca no coração do mistério analítico. Porque, afinal, essa restauração não pode se realizar simplesmente de dentro, como se o sujeito, perserutando a si mesmo e exclusivamen exclusivamente te pela força de sua sua introspecção, introspecção , pudesse modificar-se no que que querr que fosse fosse!! Como se dependesse dele eliminar elim inar a impotênci imp otênciaa da consciência perante ela própria, qual um novo Munchhausen que saísse do pântano pântano puxando-se pelos pelos cabelo cabelos! s! Mas Mas a restauração restauração tamp tampouco ouco é uma obra de fora, como se o ato do psicanalista pudesse comparar-se à ação de uma droga, que produz seu efeito sem que o paciente tenha outro papel a desempenhar senão o deabsorvê-la. deabsorvê-la. O que, diga-se diga-se entre ent re parênteses, parêntes es, já bast bastaa pa para ra mostrar mostrar a pe perfe rfeita ita inu inutil tilid idad ade, e, no no plan planoo de uma cur curaa ve verda rdadei deira ra,, de todos os métodos que utilizam qualquer forma de sugestão: eles se reduzem simplesmente a querer, na fala, abolir a fala. Mas, e então? Se não é nem uma coisa coisa nem outra, o que é? A resposta resposta é que o diálogo instaura o pacto da fala, que, como tal, não está à disposição pura e simples simples do sujeito ou ou do outro outro,, e que os dimensiona mais mais do que é dimensionado por eles. A rigor, a expressão coloquial que melhor exprimiria o sentido do “// n y’ estplu es tpluss” do francês, francês, que é o de “ele já não compreende compr eende”” (O (Ou, literalmente, liter almente, “ele não está mais aí”), seria se ria ele está por fora” Ou “não está mais sacando”, e outras similares. O “já não está nem aí”, cujo sentido é mais mais o de “já “já não se importa com...”, foi foi usado us ado numa tentativa de preservar prese rvar um pouco o duplo sentido sentid o do francês, francês, perdido na tradução, que remete a “compre “com preend ender er = estar/ser aí”. (N.T.)
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É justamente justam ente isso isso o que Freud Fr eud pensa implicitamente, implicitamente, ao escrever escrever a propósito do pequeno Hans: “No decorrer de uma psicanálise, o médico sempre dá ao doente, doent e, numa medida maior ou menor men or conforme o caso, caso, as as represe representaçõ ntações es conscientes antecipadas com a ajuda das quais ele fica em condição condição de reconhecer e apreender apreen der o que é inconscien inconsciente. te. Os diferentes d iferentes paci pacien ente tess têm, têm, resp respec ecti tiva vam men ente te,, maior maior ou men enor or neces ecessi siddad adee de desssa ajud ajuda, a, mas mas ninguém pode prescindir inteiramente inteira mente dela. Aquilo de que podemos assenhorear-nos assenhorear-nos sozinhos sozinhos são distúrbios ligeiros, ligeiros, mas nunca de uma neurose, coisa que se opõe opõe ao ao eu como como um elemento estranho. Para prevalecer prevalecer sobre ela faz-se faz-se necessário o socorro socorr o de outr ou traa pessoa, pessoa, e a medida em que essa essa outra ou tra pessoa pode contribuir com sua ajuda é a medida exata em em que a neur ne uros osee é curável."3 curável."333 Mas Mas isso não consiste de maneira maneira alguma em transmit transmitir ir ao paciente paciente uma comunicação, uma informação sobre o que qu e se passa nele, nele, informação informação mediante median te a qual ele venha a deter det er a qualificação qualificação verdadeira edefinittva de suas ações, assim como o médico organicista comunica seu diagnóstico e o tratam tra tamen ento to que q ue ele implica implica.. Urge negar que o analista possua po ssua consigo consigo tal saber, e menos ainda que tenha de transmiti-lo ao outro. ou tro. Além diss disso, o, que utilidade utilidade teriam teriam tant tantoo essa ciênc ciência ia quanto quanto essa mensagem mensagem?? Imaginemos Imaginemos que Freud Freu d - para retomar um exe exemp mplo lo célebr célebree -, - , ao ouvir seu paciente paciente dizer-lhe que não conh conhecia ecia a pessoa vista vista num sonho, embora soubesse que não não podia podia ser sua mãe, mãe, lhe houvesse houvesse respondido: “Você está errado, errad o, eu lhe afirmo que que era realmente realmente ela." Mesmo Mesmo que essa essa certeza existisse existisse - o que não acontece -, - , a que levaria levaria sua pretensa revelaçã revelação? o? Anada Anad a além de desencorajar desenco rajar o paciente e confirmá-lo confirmá-lo em sua concepçã concepçãoo ilusória e alienante aliena nte da análise, análise, cuja supressão supressão constituiria para pa ra ele o primeiro prim eiro fruto fr uto desta. A interpretação interpretação analítica analítica não propõe, portanto, portanto, nem uma expos exposiçã içãoo nem uma explicação dos conflitos em causa, mas uma expressão que os articule e com a qua qual,l, por por ela retomar retomar algun algunss de seus próprios ditos, ditos, o doente “possa “po ssa ent entra rarr em ressonância’'.3 ressonância’'.34Diz-nos o própr próprio io Freud: haverá uma uma certa certa semelhanç semelhançaa ent entre re o que o doente doente ouve ouve dizer e o que que está procurando. procurando. Essa Essa semelhança o colocará em estado de descober desco berta ta “Assim Assim,, ele será induzido induzido a articulá-los [seus conflitos] de um modo diferente do que usou até então."35 “Se falamos falamos em em ressonância e indução, é para pa ra não não sair do campo da linguagem, linguagem, que é o do significante. significante. Que Que o.paciente o.pacientese se conscientize de seus seus conflitos através de nossas palavras não significa significa,, port portant anto, o, uma coincidência feliz feliz entre entre um sentido sentido e um verbo estranhos estranhos entre entre si, mas mas manifesta manifesta a essência essência da fala, fala, que é precisamente falar no momento em que os interlocu interl ocutor tores es se calam e onde, rompendo rompendo o diálogo, diálogo, têm que assumir na soli solidão dão a atividade significante das palavras. “Não é a mim que é preciso escutar, escutar, mas ao ao Logof, Logo f, diz Heráclito. Da mesma forma, Freud ensina ao psicanalista que suas
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palavra palavrass são mais mais sábias do que ele, que o sentido delas transcende transce nde sua consci con sciênc ência. ia. Se a fala do analista o ultrapassa, é porque não n ão lhe perte pe rtence nce propriamen propr iamente. te. Pertenc Per tencee a um diálogo do qual todos os momento mom entoss se articulam nela, mesmo que comportem comp ortem diversos diversos planos de significação significação que mascarem uns aos outros. O sentido s entido que qu e ela anuncia e cuja instância instânc ia ela ela propõe propõe também não é dado a ninguém, ninguém, analista ou analisando, porque, estrita estr itame mente nte falando, falando , não existe.”36 existe.”36 Apesar Apesa r de longa, essa essa citação condensa em algumas algumas frases o própri pró prioo núcleo do problema. Como dizia dizia Ricoeur Ric oeur sobre o símbolo, símbolo, o significante faz faz pensar, por porque que faz falar. Produz Produz signo. signo. “Algumas palavras, alguns órgãos corporais são encruzilhadas de signif significa icaçõ ções. es. O recalcamento recalcamento neles efetua efetu a deslizamen deslizamentos tos de sentido que somente a interpretação i nterpretação pode explicitar, explicitar, destacar. destacar. É po porr existir uma linguagem linguagem arqueológica do corpo c orpo vivido e da cadeia cadeia verbal verbal que uma expressão expressão não reconhecida reconhecida em sua intenção intenção simbó simbólica lica se faz faz poss possíve ível.l. Inter In terpre pretar tar um sonho, um sintoma ou um lapso é restituir resti tuir às metáforas o sentido que fora recalcado, é conceder-lhe o direito de cidadania no universo u niverso humano hum ano.”3 .”377 Mas Mas insistamos insistamos nisso mais mais uma vez. vez. Se a fala do analista analista - se o analista, através através da fala - abre ab re para o paciente um caminho que qu e poderá poder á conduzilo a sua sua verdade, verdade, um caminho até at é então entã o bloqueado para ele, é, evidente evid ente mente, mente, porqu porquee essa fala fala prevale prevalece ce sobre ele, sobre o que el elee pode pode reconhecer r econhecer de si si mesmo, mesmo, ou, a guardarmos o que foi dito, sobre seu ser e sua presença pr esença no mundo. mundo. Como pode ela? Como Co mo explicitar explicitar mais mais esse reino do logos que, repetimos, não deve ser confundido com com o reino do saber? O analista an alista não pode saber tudo tudo o que diz e, no mais das vezes, vezes, o que ele sabe, mais vale calá-lo. Comumente estabelece estabelecemos mos uma distinção distinção nítida entre o que que decorre da compreensão racional e o que que ressalta da atividade empírica empírica de percepção. Alguém Alguém me comunica esta ou aquela informação. Ouvindo o que ele me diz, capto seu sentido, compreendo-o. Simultaneamente, percebo sua pe pessoa, o som som de sua sua voz, sua sua mímic ímicaa; o ho home mem m de ciên iência, ia, tal co como mo o hom homem em de negócio negócios, s, empenha empenha tod t odoo o cuidado possível possível em evitar que suas percepções venham a interferir no sentido das colocações feitas. Há até, entre uma cois co isaa e outra, uma certa incompatibilidade, incompatibilidade, como como o testemunham, testemunh am, por exemplo, exemplo, as as famosas "dist " distraçõ rações” es” do estudioso, estudios o, incapaz de observar esta es ta ou aquela particularidade particular idade de seu interlocutor, física física ou de outr o utraa natureza, ao passo que essa não poderia deixar de impressionar uma testemunha menos interessada, ou interessada de outra maneira. E no entanto, essa cisão tem limites. No momento em que, exclusivame exclusivamente nte preocu preocupado pado em pensar, pensar, eu não mais mais me ativesse ativesse a outra ou tra coisa Senão ao sentido, a feia desapareceria. Em nenhum nível a informação fala. Inversamente, porém, quando me absorvo na percepção pura, na
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audição pura, p ura, ela tampouco deixa deixa de se esvaece esvaecer. r. Basta que nos aconteça ouvir uma conversa conversa numa língua língua totalmente totalmente estranha, a ponto ponto de nem nem sequer podermos podermos ident identifi ificácá-la, la, como como são para para nó nóss o árabe ou o ch chinê inês, s, para que o fenômeno fenômeno da lingua linguagem gem se csfume ou se aniquile, encerrando-se encerrando-se no no nãosenso os sons percebidos. O sentido, portanto, nunca se dá sem alguma percepção. Essa perc percep epçã çãoo visa isa àq àque uele le qu quee feia e qu quee co com meça eça a se desv esvelar elar em seu seu disc iscurso rso. Diremos que ele e le se exprime exprime nela. nela. “A perspectiva das significaç significações ões e seus jogos jogos de ocu ocultação ltação,, os termo termos, s, o tom, tom, a elocu elocução ção,, a mímic ímica, a, os silên silênci cios os,, as repetições, o discurso discurso do narrador narra dor mostram que ele está situado situa do e suas suas pal palaavras ras e que ue,, atra atravvés delas, las, está está situ situad adoo nos acon aconte teci cim men ento toss qu quee co cont nta.’ a.’558 Mas, admitamos, essa análise e essas considerações, por mais interessantes que sejam em outros aspe aspecto ctos, s, não nã o fazem fazem progredir nosso propósito atu a tual al Porque, afinal, essa essa expressão expressão de si, percebida no dizer do sentido, sentido, constitui constitui ela própri própriaa e por por sua vez vez um sentido, sentido, enquanto enquanto que que continua a nos escapar escapar o vínculo vínculo entre entr e uma uma coisa coisa e outra, que é também também o lugar onde habita a constrição da fala. Quando alguém ergue o punho, devo dizer que compreendo compreendo seu gesto ou que percebo nele cólera e ameaça? Na verdade, verdade, certamente ainda não é uma coisa nem outra. Porque o fato de eu compreend compreender er o gesto não implica implica forçosamente que compreenda compreenda também também a importância import ância e o peso dessa dessa cólera para aquele que a experimenta e, por po r conseguinte, que eu perceba a expressão, expressão, enquanto enquanto esta é expressão do ser, no no limite limite total, total, daquele daquele que faz esse gesto gesto.. compreendemos compreendemos,, pois, pois, que para resolver resolver nosso problema temos temos de nos recolocar recolocar aquém da distinção distinção que acaba acaba de ser feita, para nos situarmos situarmos ali onde se entrelaçam entrelaçam as raízes raízes gestual gestual e lingüística lingüística comuns à percepção e ao sentido, s entido, porque é ali que se se originam originam simultaneamente o sentido se ntido e a fala. como observa Binswanger num exemplo particularmente esclareced esclarecedor, or, e ainda mais mais significativo significativo na medida em que é válido válido tan tanto to para o francê francêss quanto para para o alemã alemão, o, “aquil “aquiloo a que ch cham amam amos os perceber inscreve-se num campo mais vasto, o da apreensão, onde apreender e aprender remetem todo ato à estrutura estrutura primária primária do prender-se a... a... donehmen do nehmen bei Etw Etwas as...” ...”339Esta Estar r preso preso à palavra palavra é estar estar preso à palavra que se acaba de dizer; dizer; é também, portanto, portant o, tomar toma r a palavra como aquilo que se deixa deixa pega pegar. r. Literalment Literalmente, e, pegu peguei ei voc ocê, ê, e quan quando do se apreende um um sentido ou uma idéia, apreende-se apreende-se também um suspeito. suspeito. Um ser incapaz de segurar eom a mão ou com os dentes tampouco poderia captar com o olhar. A expressão exp ressão,, portant portanto, o, refere-se aqui a uma atitude, a uma tomada deposição, a um modo fundamental de ser-no-mundo em que a palavra ainda permanece permanece co como mo que con confun fundid didaa co com m o próprio modo modo que ex expr prim ime. e. Isso Isso se afigura, numa reflexão, reflexão, ainda mais fundamental do que parecia parecia à primeira primeira
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vista vista.. A captação, na verdade, não concerne apenas à apenas à mão - que é uma pre preen ensã sãoo “arti articu cula lada da-a -arti rticu cula lant nte” e”,, ao co cont ntrá rári rioo da pree preens nsão ão co com m os de denntes, tes, a língua, o cotovelo ou os pés. O sentido e a configuração originais da pree preennsão são, po porta rtanto nto,, não não são são reg region ionais, ais, mas se en enra raíz ízam am nu num m esq esque uem ma que concerne à corporeidade e à existência existência inteiras. inteiras. Trata-se de uma dimensão dimensão tão original delas que é subentendida por toda parte, mesmo quando acreditamos já não não esta estarr visando visando,, aparentemente aparentemente,, senão a suas transposições abstratas ou intelectuais, i ntelectuais, como emcompreender em compreender ; aprender, retratar-se [se reprende\ etc reprende\ etc.,., onde onde a captação no sentido sentido primário e físic físicoo já não é observada observada pelo pelo locuto locutor. r. Esse Esse "prer "pr er de der-s r-see a...” a...” "con "constitui stitui um uma espé espécie cie de hipotec hipotecaa antropológica da qual nenhuma imaginaçã imaginaçãoo consegue consegue libertarlibertar-se se em suas suas mais estranhas ficções”.40* O Sonho e a Existência, Existência, do mesmo Binswanger, oferece-nos a análise de um outro out ro exemplo desse mesmo mesmo conluio. conluio. "Cair " Cair das nuvens” nuvens” não é uma uma simples imagem literária extraída da experiência da queda. Aquele que, como se costuma dizer, cai das nuvens, ao descobrir a realidade do que considerava impossível e impensável, perde o pé. Ou seja, a base sobre a qual, ou os referenciais referenciais a parti par tirr dos quais ele julgava ou presumia tanto tanto o verdadeiro quant quantoo o falso, falso, furtam-se em termos absolutos. absolutos. Ele Ele fica no vazio, vazio, sem apoio, apoio, desmoronando. desmoronando. Cai como cai cai o pássaro fulminado pela ba bala do caçad çador, co com mo cai o av avia iaddor afli aflito to cujo pá pára ra-q -que ueddas se rasga rasga Ess Essas as linhas foram escritas poucas horas antes que, pela primeira vez, um ser de carne e sangue inteirame intei ramente nte semelhante a todos nós pisasse pisasse o solo da lua. Pela primeira vez, um homem perceberia o que nenhum outro jamais perce perceber bera, a, enfrentaria enfrentaria em caráter de urgê urgênc ncia ia impe imperat rativo ivoss de de ação ação para os quais nenhum padrão, nenhum análogo existia no tesouro secular da memóri memóriaa Teria Teria que que tomar tomar decisões decisões sem o benefício benefício das informações informações mais mais antigas e mais garantidas do saber perceptivo, e com perigo imediato para Sua vida. Esse homem, em todos os sentidos da expressão, cairia das nuvens, sem sem que sequer soubesse de antemão se, se, nessa ocasião ocasião,, cair quereria quereria dizer o que sempre quis dizer, e não tendo t endo as nuvens, nuvens, o horizon horizonte te e o solo, solo, em Sua experiência experiência vivida, vivida, mais nada em comum, comum, talvez, com o que que essas palavras palavras tinham significado sempre e para todos. Para esse astronauta, a palavra é que conduzia à coisa, porque, justamente, só a experiência “psíquica” visa visada da por "cair das nuvens” é que poderia orientáori entá-lo lo para para a percepção do que lhe lhe acontecesse. acontecesse. No que se verific verificaa brilhant brilhantemente emente uma uma lei universa universal.l. * Na tradução se perde parte da beleza beleza desse páragrafo, que em francês francês é quase todo construído em tomod tom odas as múltipla múltiplass acepções do verbo pren verbo prendre dre e e do substantivo/?me, substantivo/?me, ambos derivados do latim prac latim prachend hendere ere,, que deu em português, etímoiógica e semanticamente, verbos como prender, aprender, surpreender, apanhar (em flagrante), tomar, agarrar, segurar, captar, capt ar, pegar, Ocup Ocupar, ar, apoderarapode rar-se se etc., e substantivos como como preensão, apreensão, apreens ão, tomada, pega, captação, captura etc. (N.T.)
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Vemos, Vemos, pois, que há uma captação da lingua linguagem gem e uma linguagem linguagem captadora captadora do mundo que transcendem qualquer oposição entre o compreender e o pe perce rceber, er, esse esse disc iscurso rso veicu icula uma lin linguagem mais antig tiga e mais origin originári áriaa porque mais mais enraizad enraizadaa na carne, carne, do que a que procura enunciar, enunciar, para transmiti-los, transmiti-l os, os produto pro dutoss de um pensamento pensament o que se imagina imagina desligado desligado do corpo, não-corporal. não-corporal. ca c ada um de nós continua comprometido com esse falar arcaico, arcaico, mesmo que nossa consciênc consciência ia já não o reconheça reconheça ou ainda não o reconheça explicitamente. explicitamente. É desse discurso discurso que se serve serve o analista, analista, ainda que qu e algumas algumas vezes vezes não o saiba, saiba, ainda que às veze vezes, s, ou sempre, s empre, não meça com exatidão todo todo o seu alcance alcance.. E esse discurso discurso lhe permite permite ser ouvido pelo outro, porque se situa além além do discu discurso rso raciona racional,l, que motiv motiva, a, calcu calcula la e disserta. A possibilidade dessa linguagem elimina os paradoxos que parecem parecem contestar tanto a noçã noçãoo quanto a prática da psic psican anál ális ise. e. O desvdament desvdamentoo da verdade verdade,, portant portanto, o, não não pode pode ser apanágio exclu exclusiv sivoo do discurso informativo-ou informativo-ou científico científico.. É que o desvelamento desvelamento mais original se realiza justamen justa mente te ali onde a fala fala ainda mantém ligados entre ent re si, de um lado, lado, a captação captação do mundo a partir do eu, e de outro, outro , o abandono a um eu perdido perdido nesse mesmo mesmo mundo. mundo. Não, evidentemente, evidentemente, que tal linguagem jamais jamais se afigur afiguree ex exau austiv stivam ament entee ex expl plíci ícita ta em si mesm esma. Nenhuma interpretação interpr etação chega chega a esgotar todos os sentidos de um sonho, todos os sentidos de um oráculo. oráculo. E que que esse esse discurs discursoo articula articula nossa nossa “relação 'pática' 'pática' com as co coisas isas,, os seres e o mundo, mundo, con consi siste ste numa estrutur estruturação ação do espaço, espaço, da temporalid temporalidade ade e da comun comunicação, icação, isto é, dos dos modos constitucionais constituciona is da presen presença. ça. Expr Exprim imee o estilo de uma uma situaçã situação".4 o".411 É igualmente evidente que esse discurso se furta a qualquer transposição transposição temática. Move-se Move-se no existencia existenciall que que sugere. sugere. A tentação tenta ção de tematizá-lo tematizá-lo apesar de tudo - a que todos estão constantemente constantemen te expostos expostos,, tanto o analista quanto o paciente p aciente e, e, mais mais ainda, ainda, o terceiro que q ue venha venha a coligir seus enunciados - decorre do espírito de objetivação; e este não se distingue, distingue, na ordem ordem das relações relações inter-humanas, inter-humanas, do desejo for forçosamente çosamente ilusório, ilusório, mas mas em certo certo sentido sentido talvez inv invenc encíve ível,l, da posse integral. É que que a subjetividade subjetividade do outro, outro, po porr mais mais estruturada estruturada que seja pela pela feia feia,, está também também sempre além ou aquém aqu ém dela. Está como que qu e esvazia esvaziada da do que toda toda fala tem que expressar, sem que nenhuma jamais consig consigaa chegar absolut absolutamente amente a Éa Éazê-lo. -lo. Por Por isso é que fica sempre algo por por dizer dizer e que, num certo certo sentido, sentido, como lembrava lembrava Freud, toda análise análise é interminável (unendlich). Tal como como há, de certa maneira, um fracasso fracasso da percepção da coisa, coisa, já que a coisa, coisa, embora seja seus perfis perfis,, é também diferente deles - o qque ue aliás a percepção aceita, enquanto não procura transmudar-se em idéia -, da mesma forma, embora isso não passe de uma comparação, se o sujeito sujeit o é realmente real mente seu discurso, jamais poderemos concluir disso que algum discurso consiga concluir a obra de sign signific ificânc ância. ia. Por Por isso isso é que o discurso discurso dá a entender entender,,
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e não a possuir. Já dissemos dissemos quão pouco adequado adequ ado é o termo posse para visar visar ao ato carnal com que a linguagem linguagem corren corrente te costuma relacioná-lo. E não é mais mais conveniente para para explicar explicar o que o outr outro, o, através através de seu discurs discurso, o, noss dá de no de si si Na verdade, verdade, só exis existe te posse da idéia, ou pelo pelo menos, menos, de algumas algumas idéias idéias;; admite-se, por po r exemplo, exemplo, que o geómetra geómet ra analista analista possua a fórmula da figura que descreve. Porque não há nada dela que não conheça exaustivam exaustivamente; ente; ela é desprovida de um mais-além em relação relação ao saber que o geómetra dela dela retirou. retirou. Ao Ao contrário, contrário, a subjetivida subjetividade, de, por mais presente que esteja em cada uma uma de suas expressões, expressões, está também e sempre além além de todas. Diremos que pode ser captada, mas não possuída. “É essa transcendência ativa que é, no homem, a tarefa do homem, seu reconhecimento reconhecimento cond condiciona iciona qualquer apreensão autêntica, pois pois é nela e apenas nela - que toda expressão humana se fundamenta como subjetividade.”''2 Assim, ssim, só há há apreensão apreensão verdadeira verdadeira do próximo - no sentido sentido fornecido para para essa essa ex expre press ssão ão - quando, quando, da mesm mesmaa forma forma e ao mesm mesmoo tempo, essa essa transcendência ativa é reconhecida r econhecida na cabeça desse desse próximo, próximo, sem o quê qu ê tal apreensão se torna prontamente imaginária. Esse reconhecimento implica também o desbaratamento definitivo de qualquer esperança e qualquer ilusão de igualar a apreensão à posse. É desnece desnecessário ssário dizer que que esse reconhecimento reconhecimento se proíbe proíbe todo todo recurso a qualquer Einßhlung que seja. seja. Não há como tratar-s trata r-see desta, desta, e não temos t emos uma uma só só palavra a retirar reti rar da crítica radical, radical, própr própria ia de toda a psicanálise psicanálise autêntica, a que esta a submete. submete. Pois, como duvidar - ejá nos explicam explicamos os bast bastan ante te a es esse resp respei eito to - de qu quee a ling linguuag ageem é, por na natur turez ezaa e de dest stin inaação, ção, a própria subversão do Fühlen, e a fortiori do Einfühlen? Não Não temos, temos, portanto, voltando voltando à doe doenç nça, a, nem que nos transportar transport ar para para o mun undo do do pa paci cien ente te ne nem m que trans transpo port rtáá-lo lo para para o nosso. O prim primei eiro ro caminho caminho leva a consagrar a doença; o segundo conduz o doente doente a fingir uma normalida norma lidade de cujo malogro inevitável traz tr az o risco, mais cedo ou mais mais tarde, de se virar em agressividade contra as próprias normas dessa normalidade. “Impõe-se pois a necessidade de ... conhecer [o doente] mundo que não não seja nem o dele nem o meu.”4 meu. ”43 segundo ele, num mundo Ora, esse mundo comum, comum, que não não é próp próprio rio de ning inguém, é just justam amen ente te o mundo da linguagem. “O mundo comum só existe numa situação comunicativ comunicativa, a, onde onde percebo percebo o homem homem não segundo eu, mas segundo nós. nós. Só há percepção possível possível do do próximo próximo porque porq ue e desde o momento momento em que. Em alemão no original. original. A dificuldade dificuldade de tradução tradu ção deste termo é conhecida. conhecida. Basta que q ue se mencione mencione que E. E . Martineau preferiu mantê-lo noalemSo noalemSo no próprio pró prio título de sua tradução tradu ção francesa da obra de w. Worringer, Abstracti Abstraction on et Einfühlung Einfühlung (Klincksieck, 1978), para avaliá-la. Para T. Lipps, o termo significa “o gozo objetivado em si”, op.cit., p. 8. (N.R.)
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conforme o dito de Hölderlin, Hölderlin, ‘somos um diálogo’. diálogo’. Todo diálogo tem sua ágora: uma praça praça pública em cuja extensão tudo tud o está ao acesso de todos neste nest e lugar natura na turall comum: comum: a fala significante significante em que cada um tem seu Aqui com todos os demais demais no enco e ncontro ntro do sentido.”4 sentido.”44 c erto er to.. Mas, se sabemos sabemos perfeitamente qual é a ágora do discurso, discurso, ooloc oo loca-se a-se ou se recoloca a questão questão de saber qual é a ágora do discurso discurso ana lítico. O discurso discurso cotidiano, habitualme ha bitualmente, nte, e o discurso científico, científico, todo o tempo, deslocam-se deslocam-se na troca de de noções e palavras palavras - palavras palavras que tendem para no noçõe çõess racion racionais ais.. O idea ideall é que o sentido sentido em que são ou ouvi vida dass pelos pelos dois interlocutores coincida perfeitamente. Quando porventura essa coincidência falta em algum ponto, esse incidente resulta do que se denomina, precisamente, precisamente, de mal-entendido; há um esforço por c iminálo o mais depressa possível. O mesmo mesmo não não acontece, acontece, de maneira alguma alguma com o discurso discurso analítico analítico,, c laro la ro,, também também ele conlém colocações colocações informativas. informativas. Nele se diz, diz, com as palav palavras ras de todo o mundo mundo,, e que querem dizer dizer o que querem dizer para todo o mundo, coisas relacionadas ou que supostamente se relacionam com o real. real. Freu Freudd é informado, e somos informados informados através dele, de que o Homem dos Ratos, Rato s, oficial oficial da reserva, reserva, ao parti partirr para manobras, esquece seus ócu óculos. los. Manda seu oculista remeter-lhe remeter-lhe um novo par. par. Em Em sua ausência, outra outra pessoa recebe a encomenda e paga a taxa taxa de remessa remessa postal. Depois, Depois, ele não consegue reembolsar nem deixar deixar de reembolsar reembolsar esse montante, monta nte, vindo toda sorte de circunstâncias opor-se ao pagamento, do qual, no entanto, enta nto, ele ele não admite esquiv esquivarar-se. se. Durante Dura nte uma parada na marcha, marcha, um capitão capitão tcheco, imiscuído imiscuído na confusão do pagamento, faz o relato rela to de um certo certo suplício chinês que mex exee vivamente com o paciente. Somos Somos ainda informados de que o pai desse paciente, quando fazia parte do regimento, não pagava suas dívidas de jogo, que se casara sem amor com a filha de um industrial, abandona ab andonando ndo em prol dela uma noiv noivaa amada, mas pobre etc. etc. etc. Qualq Qualquer uer um compreende inequivocamente todos esses esses “fatos”, “fatos”, tal como Freud Freu d os compreendeu ao ouvir o relato re lato da boca boca do Homem dos Ratos. E no entanto, entanto, trata-se novamente novamente de algo totalmente totalmente diverso diverso dess desses es sentidos factuai q ue as palavras, palavras, as frases, frases, o relato, relato, tudo traz tra z ainda um factuais. s. É que sentido de natureza nature za diferente. diferente. Por que é que o paciente, por exemp exemplo, lo, ao expor os esforços esforços inúteis e bizarramente bizarramente complicad complicados os que que empenhou empenhou para resgatar resgatar sua dívida dívida com com a funcionária do correio, correio, com um outro oficial oficial da reserva ou com o capitão tcheco - pois nem ele nem nós nós chegamos chegamos a saber sabe r exatamente a quem quem ele de devi viaa o dinheiro lembra-se lembra-se de repent rep entee de que, que, no regimento, seu pai fora um jogador desonesto? Como Como é que ele ficou ficou pertu perturb rbad adoo pelo pelo relato relato do sup suplíc lício ch chin inêês, qu quee co connsist sistia ia em intr introd oduz uzir ir rato ratoss
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vivos vivos no ânus ânus do condenado, condenado, e, ao mesmo tempo, mostroumos trou-se se sensível ao duplo sentido sentido dos morfemas alemães Ra Rat-Ra t-Ratte., e., que significam ao mesmo juro (de dívida), numa aproximação aparentemente absurda? tempo rato e juro Observe-se, primeiramente, que esse outro sentido está sempre relacionado relacionado com o paciente. paciente. É para ele que existe existe uma relação, relação, e uma relação capital, capital, ent e ntre re o suplício e a dívida dívida.. “A fala fala do paciente paciente é, ao mesmo mesmo tempo, situação situação e expressão de situ situação. ação.””45 Isso mesmo. esmo. Por Porque que,, se o Homem Homem dos Ratos supor suporto touu ou criou criou uma situação situação inextricáv inextricável el que o impediu impediu ao mesmo mesmo tempo de pagar e de não pagar sua dívida, ple exprimiu com isso a impossibilida impossibilidade de em que estava, estava, quer de imitar o pai (se não pagasse), pagasse), quer quer de renegá-lo (se pagasse). pagasse). Além disso, disso, ele confessou não pod poder er se decidir nem a romper romper o noivado noivado com uma moça de pequenas po posses sses, nem a desposála. la. O que, mais uma ve vez, z, exprime um sentido diferente. diferente. É que a questão, questão, para para ele, ele, não esta estava va em saber saber se ama amava ou não essa essa moç oçaa - o que motiv otivav avaa conscientemente sua hesitação em desposá-la ou romper com ela; a questão revelou revelou consistir consi stirem em condenar o pai, casan casando-s do-se, e, ou, ao contrário cont rário,, não se casando casando,, aprovar a conduta outro ou trora ra adotada por esse pai, que repudiar repu diaraa a moça pobre. Mas essa aprovação seria má-fé, pois ele sabia perfeitamente estar errado erra do em renuncia renunciarr a uma uma moça a quem amava amava pelo fato de ela não ter um dote. A aprovação do pai seria, novamente, sua contestação. Evidenda-se, Evidenda-se, assim, assim, que a situação sentimental sentimental do Homem dos Ratos, apesar apesar de ser ser realmente realmente o que que era, serv servia de expressão expressão para um outro outro co conflito nflito:: o de culpar ou imitar imitar o pai. Contudo, Contudo, como já se terá terá adivinhado adivinhado,, esse conflito mascarava ascarava ainda outro, outro, mais fundamental, fundamental, que que não se relacionav relacionavaa com uma dívida ou uma lei (moral), mas com a dívida e a lei. lei. O medo ou a angústi angústiaa de se colocar como juiz do pai mal escondia o desejo recalcado de efetivamente julgá-lo. Porque o Homem dos Ratos estava doente por contestar contestar a lei do pai, a dívid dívidaa da proibição proibição e da castração. Era a estas que se referia referia definitivam definitivamente ente a revolta que ele queria e não não podia ousar, embora embora não soubesse disso disso como sabia sabia de sua incerteza incerteza sentimental. E, na na verdade, essa revolta revolta se exprimia no desejo desejo homossexual por por esse mesmo mesmo pai, um desejo desejo express expressoo e combatido combatido no horro horrorr que lhe inspirou o suplício dos ratos, que Freud Freud nos diz que ele lhe l he contou contou com "uma expressão expressão complexa complexa e curiosa, curiosa, uma expressã expressãoo que eu não poderia traduzi traduzirr de outra outra maneira maneira senão como sendo o horror ante um gozo ignorado. Ele prosseguiu com muita dificuldade. ‘Nesse momento, passou pela minha cabeça a idéia de que isso isso estava acontecendo com com um umaa pess pessoa oa qu quee me era cara. ”> ”>46Ele co começ meçou por reco reconh nhec ecer er que essa pesso ssoa era era a dama ama pres presen ente te em seus pe pennsam samen ento tos. s. Depois, como empregasse inadvertidamente o plural ao falar na suplidada imaginária, Freud chamou-lhe a atenção para isso e perguntou se não pode poderi riaa hav aver er alg alguma outra outra pesso ssoa que estiv tivesse send sendoo igu igualm almen ente te visa isada.
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Ele respondeu que, em sua imaginação, o suplício também poderia aplicarse ao pai. Assim, Assim, vemos vemos com clareza que o discurso do pacien p aciente te tem diversas diversas dimensões, diversos níveis que, se me é lícito dizê-lo, se buscam e se antecipam. antecipam. A hesitação em pagar a dívida dívida e em se casar casar com a jovem também diz outra out ra coisa coisa,, como outra out ra coisa coisa é dita pelo medo de macular a memória de um pai terna te rname mente nte amado e venerado.4 ven erado.477Como também vai além de si mesmo o horro hor rorr inspirado inspira do pelo suplício dos ratos. E a idéia de que a moça pudess pudessee ser sua vítim vítimaa prepara prepara uma uma outra, outra, que a lingu linguag agem em trai. trai. A viv vivên ênci ciaa e os acontecimentos reais com que o paciente entretém seu terapeuta permite per mitem m adivinhar, como os desenhos modificados modificados em que é preciso preci so procurar procurar na folh folhag agem em da árvore árvore o quep quepee do gu guard arda, a, outras outras pa pala lavvras ras e outros outros conflitos ignorados por p or ele e, apesar disso, disso, também não ignorados. Cada palavra, cada coisa, coisa, além de seu sentido senti do imediato imediat o e certo, "é uma ultrapassagem ultrapas sagem rumo r umo a um sentido se ntido que ela busca”.4 busca”.48E não é diferente difer ente com o sentido dos comportamentos comportam entos do doente. Os ratos - como os os que Proust perf perfur urav avaa co com m ag aguulhas lhas de tric tricôô - não não são são simpl simples esm men ente te rato ratos, s, ne nem m o dinh dinheiro eiro é simplesmente dinheiro. di nheiro. A hesitação em se casar refere-se também tamb ém a algo diferente do casamento. O horror, o amor e a veneração não são apenas o horror, horr or, o amor e a veneração. veneração. Ora, essas significaçõ significações es segund segundas, as, terceiras etc. etc. já não são, por p or sua vez, vez, simplesmente racionais raci onais no sentido há pouco definido. definido. Chamar um rato de rato seria, aqui, chamá-lo de pênis. Recoloquemos, pois, nossa questão: em que ágora ágora podem se efetuar transmutações dessa dessa ordem? E quais são suas regras? Comecemos Comecemos por uma observação observação.. É muito claro, pelo menos, que as conver conversas sas de Freud Fre ud e seu cliente teriam teri am cessado cessado bruscamente, em pouco tempo tem po e em definitivo, definitivo, se um ou outro out ro houvesse ficado ficado fora de condições condições de exercer essa essa “transcendência ativa”, característica característica do ser-sujeito, de que falava Maldiney no texto citado acima. Houvesse um ou outro dos parceiros deixado deixado de ultrapass ultra passar ar esse "além” "alé m” que conduz toda expressão mais mais longe do que ela mesma, mesma, rumo a uma outra out ra expressão e a um outro outr o da expressão onde o sujeito também pode estar, estar, já que não está está absolutamente em parte par te alguma, o diálogo desmoronaria. A existência ou a manutenção dessa transcendência define, define, portanto, porta nto, a condição condição primária do discurso discurso analítico. analítico. Podemos verificá-lo verificá-lo negativamente no caso do esquizofrênico, esquizofrênico, que q ue esse desaparecimento desaparecime nto torna torn a inapto ina pto para uma análise análise verdadeira. verdadeira. A confusão confusão do significante com o significado, tal como tentamos descrevê-la e compreendê-la, compreendê-l a, fornece uma típica manifestação disso disso.. Sem dúvid dúvida, a, para nós - pensemos, por exemplo, exemplo, no delírio de Schreber -, -, tal tal discurso também fornece um sentido diferente do que se encerra no sentido imediato dos enunciados, mas é simplesmente simplesme nte impossív impossível el levar o doente doe nte a descobri-lo,
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porque porque pa para ra ele, ele, justa justame mente nte esse esse mov ovim imen ento to de trans transce cend ndên ênci ciaa se de dete teve ve ou nunca foi foi poss possív ível. el. Quando o doe doente nte afirma ter ter sido amante de sua mãe uma hora após o nascimento nascimento e se lembrar disso disso perfeitamente, perfeitamente, apreendemos o sentido oculto dessas afirmações, para além de sua materialidade evidentemente absurda. Mas Mas o paciente paciente só vê nisso nisso a confidência de um evento evento real, que decerto reconhece ser surpreendente, mas que é a conta c onta certa para atestar a personagem excepcional que ele é. Acrescentemos a isso isso este outro outro comentário, comentário, ainda que nossa tese po possa afig afiguurarrar-sse ch choc ocan ante te pa para ra algu lguns: essa essa tran transc scen endê dênc ncia ia é tam també bém m uma uma transcendência para o mundo, pelo menos num certo sentido, que não convém con vém minimizar. Pois é do intercâmbio com o mundo, do qual qual o normal normal e o neurótico neurótico não conseguem conseguem chegar chegar a se se furtar, é de sua freqüent f reqüentação ação lembremo-nos do que foi dito, por p or exemp exemplo, lo, sobre a “captação" “ captação" - que o paci pacien ente te extra trai, nã nãoo forç forços osam amen ente te o qu quee diz, iz, mas os meios eios da daqu quil iloo que diz. O silêncio do hebefrênico é também também sua sua ausência do mundo, mundo, como é ausência do mundo a ecolalia ecolalia do catatónico. Porque, de outra out ra maneira, como como é que o sintoma falaria? E é no mundo, o nosso e o dele, que o histérico fica parali paralisa sado, do, certam cer tamente ente,, é exato exato dizer, dizer, de certa maneira, maneira, que por po r suas suas repetições estereotipadas (ao menos em alguns casos) o sintoma testemunha um certo bloqueio bloqueio dessa dessa transcendência. transcendência. Mas o discurso analítico e a situação transferenciai em que ele culmina têm como efeito restabelecê-la - e só po podem iaz iazê-lo po porq rquue, fora fora da zo zonna sinto intom mátic tica, ela foi foi mantid tida, ao co cont ntrá rári rioo do que acontece com o esquizofrênico, em quem sua abolição, em última últi ma instância, instância, é total; foi pela mesma mesma razão que, anterior anteriormente, mente, falamos falamos a esse propósito na ine inexis xistên tênci ciaa ou na extinç extinção ão do ser-suj ser-sujeit eito. o. Porque, afinal, não podemos contestar que se, na situação analítica, trata-se de fazer fazer falar abertamente abertamente a linguagem linguagem que estrutura estrutura o inconscie inconsciente, nte, não menos se trata trata de assegurar “a emergência emergência do mundo simbólico no mundo da realidade realidade".4 ".49Se, como tantas tantas vezes vezes se repetiu, sobretudo sobretudo depois de Lacan, nada de real acontece acontece na análise, é igualmente verdade que o paciente paciente a inic inicia ia para que algum algumaa co cois isaa se passe passe no real, real, embora isso isso seja seja assunto dele, e não do analista. E o que deve passar passar da análise para o real ésua ésua verdade. Se a revelação revelação última última das relações que ligam o Homem Homem dos Ratos a seu pai, à dívid dívidaa e à no noiva iva é tentada e pretende mostrar-se mostrar-se diferente de um inútil inútil jogo de sagacidade sagacidade ou de uma uma ilusão existen existencia cial,l, é justamente, justamente, entre entre outras outras co coisa isas, s, para para que que a parti partirr daí ele fique em condiçõ condições es de decidir, decidir, decide,, se contrairá ou não o casamento projetado e se parará parará sabendo o sabendo o que decide de fingir pagar uma dívida dívida para para não pagá-la, pagá-la, seja saldando-a, seja recusandose a fazê-lo. Aí reencontramos a transcendência para o mundo. Ela, e apenas ela, levará levará a bom termo t ermo essa emergência emergência do mundo simbólico no mundo da realidade. E também t ambém ela nos permitirá per mitirá compreender, compreender, com Maldiney, aldiney, que “as regras metodológicas e deontológicas da psicanálise convergem
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todas para o propósito propósit o fundamental fundamental de constituir constituir o analista como sede sede mundo pato do paciente".50Ou seja, se o analista se normal do normal do mundo pa toló lógi gico co do comportasse como c omo parceiro parceiro ou pólo efetivos efetivos dos dos desejos transferenciais do paciente, paciente, ele se comprometeria comprometeria com o mundo patológico patológico de onde esses esses desejos são oriundos. Mas Mas o analista analista tampouco tem que freqüentar freqüentar o meio real do paciente, já que não pertence a esse meio e não tem lugar nele. As instruções de neutral ne utralidade, idade, abstenção e proibição de todas as relações mundanas efetivas efetivas com o ppaciente aciente - e que chegam chegam à proibição de escutálo com com os olhos nos olhos -visamj -vis amjust ustame amente nte a possibilitar, neste último, o movimento de transcendência para pa ra seu mundo, mundo, movimento movimento que passa pelo pelo an anal alist istaa mas não po pode de de dete terr-se se ne nele le,, po porq rque ue,, nesse esse mund ndo, o, o an anal alis ista ta é um estranho, estranho, e nesse mundo, mundo, não não deve deve nem pode fornecer fornecer nenhum apoio. Não pen pensam samos os negar negar que essa essa dialéti dialética ca e esse esse procedim procedimento ento afetem afetem a relação relação analítica analítica com uma uma certa ambigü ambigüidad idade. e. Esta, do lado do paciente, tem sua origem no fato de o paciente, caso estabeleça estabeleça com seu terapeut terap eutaa uma relação autêntica autênt ica de comunica comunicação, ção, só conseguir conseguir fazê-lo a parti pa rtirr das mais diversas diversas identificaçõ identificações es com ele, ele, que cert certamente amente nada têm têm de autênticas. Note-se Note-se,, aliá aliás, s, que essa essa du dupla pla relaçã relaçãoo co com m o outro tem co como mo fundam fundamento ento um duplo tipo tipo de relação relação consigo consigo mesmo, mesmo, que a primeira ao mesmo mesmo tempo encarna e simboliza E que que o paciente está presente em sua história de duas duas maneiras diferentes, “que implicam implicam duas duas temporalidades, ou o u antes, antes, duas temporaliza temporalizações" ções".5 .51Segundo uma, o paciente, paciente, pris prisione ioneiro iro de de suas identi identi ficações, existe no mundo à maneira “de um passado fechado” e que só pode ser indefini indefinidam damente ente repetido repetido.. De acordo acordo com com a outra, engrenad engrenadoo em seu discurso, discurso, “o tempo se inaugura a partir par tir do futuro”, futuro”, porque já ao longo de toda a comunicação analítica se antecipa, como vimos, o sentido novo e verdadeiro de sua existência. Que a análise análise seja, seja, numa numa parcela essencial, essencial, análise da transferência trans ferência querr dizer, de fato, de seu cuidado em levar que levar progressivamente o paciente pacien te a tomar consciência de que as tendências e fantasias por ele dirigidas à pessoa pessoa do analista analista são, são, na ve verda rdade de,, reediç reedições ões e repetiçõ repetições es de um pa passa ssado do enterra ente rrado, do, mas mas não abolido, imutável imutável e constritivo. constritivo. Esse retorn ret ornoo e esse esse progres progresso so mani manifes festam tam be bem m a qu quee ponto é natural, natural, na na aná anális lise, e, referir referir-se -se tant tantoo ao passado quanto quanto ao ao futuro, futuro, e de maneira indi indisso ssociá ciáve vel.l. O que vem sucessivamente sucessivamente à luz só é desenterrado desenterrado na perspectiva perspectiva de um desvelam desvelamento ento futuro futuro,, ainda mais radical, e de uma uma transcendência transcendência para para o mundo. Num sentido, é perfeita perfeitamente mente correto correto dizer que o que impele o Homem Homem dos dos Ratos Ratos para para a análise, bem como como o que a encerra, é o problema do sentido último de seu amor, ambíguo a seus próprios olhos, pela noiva, do sentido último último que haveria haveria tanto tanto em desposá-la desposá-la quanto quanto em repudiá-la. Também em certo certo sentido, sentido, todo todo o devir da análise está contido no aprofundament aprofundamentoo dessas duas questões, em sua ligação com a questão do pai e com a questão
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da dívida. dívida. Suas respostas, respostas, como vimos, vimos, remet remetem em ao mais remot re motoo passado, do mesmo modo que antecipam o mais decisivo futuro. Uma análise, portanto, é realmente uma uma história história,, mesm mesmoo que que,, tomados tomados em si, si, todos todos os materiais materiais de que é feita não sejam histórico históricos, s, porquanto, p orquanto, longe de serem como como tais arrastados no dev devir ir de uma história, eles constituem, antes, seus depósitos cristalizados. cristalizados. Mas, afinal, afinal, de onde onde vêm esses esses progressos e que faz o analista analista para assegurá-los assegurá-los?? "O ato at o inaugural da Análise é a decisão do paciente de se demitir de si e se entregar entre gar ao analis a nalista ta no que tange ao encargo encargo com seu Sorge em Heidegger). O ato final do cuidado essencial (no sentido de Sorge em tratament tratamentoo é o encarregar-se desse desse mesmo mesmo cuidado cuidado po porr parte parte do paciente. paciente. Entre Ent re os dois dois,, o analista não é apenas apenas a testemun testemunha ha de suas expressõe expressões, s, o pólo pólo de suas identificaçõ identificações, es, nem sequer, essencialmente, o questionador questionador.. É antes antes de mais nada o fiador; aquele aquele cujas pala palavra vras, s, assumem o sentido sentido do outro, outro, até até que o outro outro,, assumindo-o nessas nessas mesm mesmas as palavras, palavras, tornetornese seu seu própri próprioo fiador.”5 fiador.”52 O analista é o guardião do sentido, e é uunicamente nicamente na ordem ordem do sentido que exerce exerce seu seu domínio, domínio, com co m pe pete te a ele "descobrir no encadeamento imediato das condutas e das expressões a ordem verdadeira”. verdadeira”.553Esta, Esta, a princípio, só apar aparece ece mascarada, distorcida distorcida e desviada desviada.. E no entant entanto, o, de algum modo já admitida, perceptível à escuta do bom entendedor, entendedor, embora sempre ignorada ignorada por por aquele aquele que a enuncia. Também por isso isso é que a distân distância cia ou a neutralidade neutralidade são tão esse essenc nciai iaiss à ativid atividade ade analítica; analítica; se as abandona, o analista só pode pode ficar ficar preso na agitação superficial superficial que tem por po r fimjustamente justam ente embaralhar embaralhar as cartas cartas e obliterar obliterar essa ordem verdadeira verdadeira O analista, portanto, permanece constantemente constantemente atento a essa essa transcendência transcendência do sentido; fora dessa atenção, a transferência transferência só propiciaria propiciaria uma repetição a mais, tão perfeitamente inútil e estéril quanto as preced preceden entes tes.. Também Também compre compreend endemo emos, s, assi assim m, a que ponto a análise análise,, corretamente entend entendida ida de deve ve permanecer alheia, alheia, por por ser de outra ordem ordem,, a qualquer qualque r penetração penetração psicológ psicológica ica real ou suposta, a qualquer qualqu er forma de Einfihlung, b Einfihlung, bem em como a qualquer vontade ou preocupação preocupação de normatizar, de adaptar, cent centra rada da na linguage linguagem m, a análise aí encontra, seg segundo undo um título título célebre de Lacan, seu campo: campo: o único que tem de de conquistar ou trabalha trabalhar.* r.* também, como toda linguagem linguagem,, uma linguagem que Mas essa essa linguagem linguagem é também, aponta para o real. real. De modo modo algum algum,, portant port anto, o, se trata tra ta de adivinhar - e menos ainda de farejar - umas tanta tantass motivações, motivações, ou até até mesmo alguns “comp “complexos” lexos”.. TrataTratase, se, se me é lícito dizê-lo, dizê-lo, de escutar o sentido que vai vai contra contra o sentido e *o autor auto r se refere aqui ao texto que o próprio Lacan consider consideraa como aquele que inaugura seu ensino: Fonction et champ de la parole et du langage en psychanalyse, in Écrits, Seuil, Paris, 1966. (N.R.)
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que, a princípio, manifesta-se como um não-senso. não-senso. Na verdade, verdade, esse nãosenso não é nada desprovido de sentido. Simplesmente, esse sentido contradiz contradiz as linhas de compreensão que a princípio princípio parecem se impor. As manobras tortuos tortuosas as e complicad complicadas as pelas quais o Homem dos dos Ratos Ratos tenta ten ta simultanea simul taneamente mente pagar e não pagar sua dívid dívidaa são, são, à primeira primeira vista, vista, puro pur o não-senso e absurdo. Pelo menos, contradizem vvisivelme isivelmente nte a conduta conduta usual de um deve devedor. dor. Este tem uma opção entre duas atitudes: atitudes: ou reembolsar o que q ue deveou, se for menos menos escrupuloso, escrupuloso, tenta t entarr furtar-se furtar -se a essa essa obrigação obrigação por por este este ou aquele meio, io, bom ou ruim. im. Ao co conntrá trário rio, parec arecee inse insennsato qu quer erer er as duas coisas ao mesmo tempo. A menos que não se trate, em primeiro lugar, não obstante as aparências, de pagar a um terceiro terceiro condescendente a taxa taxa de uma remessa remessa postal pa paga ga por ele em no nosso sso luga lugar. r. A meno menoss que não se saib saibaa - o que va vaza za aos poucos poucos no discurso do Homem dos Ratos -, primeiro, que o pai foi, foi, quando oficial da reservacomo o filho, filho, um jogador desonesto desonesto que, durante durante um período militar, se apropriou de um “bolo" de jogo que seus companheiros de regimento lhe lhe haviam confiado e o dissipou; depois, que o filho, em seu ódio secreto e inconsci inconsciente ente contra esse pai (um ódio que se descobre descobre lentamente lentame nte no correr correr da análise), anseia anseia por reprovar-lhe a conduta, mostrando-se dotado da mais rigorosa honestidade; e ainda, que um poderoso recalcamento desse desse ódio o impele, impele, ao contrári contrário, o, a não pag pagar, ar, para ser como como o pai fora e não se pretender pretende r melhor melhor do que ele; ele; por último, último, e acima de tudo, que por trás dessas histórias de pequenas dívidas da juven juventu tude de pe perf rfil ilaa-se se a Dívid ívidaa - afi afina nall irre irresg sgat atáável - de tod todoo filh filhoo pa para ra com o pai em troca do nome que este lhe deu, e que consiste consiste em renunciar renunci ar ao objeto primário de amor. Mas esse não-pagamento, ainda assim, é total tot almen mente te inaceitável para a consc consciência iência de nosso nosso doente, pois eqüivale eqüivale a renegar um pai pai que ele e le acredita e deseja amar e honrar. A luz desse desse conflito insuperá insuperável, vel, as aparentes aparentes contradições da conduta de nosso doente doente já não são, em absoluto, absoluto, nem insens insensatas, atas, nem incoerentes, nem incompreensíveis. Só fazem instalar em fatos inconscientemente escolhidos por seu alcance simbólico simbólico esse mesmo mesmo conflito fundamental, procurando resol resolvê vê-lo -lo a qualquer qualquer preço, preço, mas sem suces sucesso so,, mediante mediante compromissos impossíveis, que tanto são sintomas quanto discursos inconscientes. Esses sintomas exprimem o conflito no estilo próprio da neurose obses ob sessiva siva e nos materiais fornecidos pela história hi stória pessoal pessoal do doente. Se seu comportamento é absurdo no plano da atividade atividade cotidiana e racional, racional, nem por isso isso ddeix eixaa de ter um sentido profundo profun do para quem saiba escutálo, a ponto ponto de fazer com que fale o próprio ser daquele que ttem em essa co cond ndut utaa Não Não há dúvida ida algu lguma, portan rtanto to,, qu quee se trata trata aqui de disc iscursos, sen sentid tido e comunicaç comunicação. ão. Mas Mas nem por isso de deixa ixa de se trata tra tarr também também de uma relação
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intersubjetiva, pois o "problema” (como se costuma dizer) do Homem dos Ratos consiste numa n uma possibilidade e numa questão oferecidas ao ser de cada um. um. A cada um um de nós se coloc colocaa a questã questãoo da Dívid Dívida. a. E se a respost r espostaa de cada um difere da que o Homem Ho mem dos Ratos Rat os inscreveu inscreveu em sua carne, essa resposta, no entanto, ent anto, pode pode ser compreendida compreendida por nós por ser uma resposta à questão questã o que qu e se impõe a todos todos.. Claro, a resposta do Homem Hom em dos Ratos Rat os é patológica. E o é por po r subtrair subtr air do dinamismo da significânc significância ia - não da significância, mas de seu dinamismo dinamismo -, que é o própr próprio io ser de toda existência existência humana, todo um setor seto r dessa existê existênci ncia, a, setor daí em diante bloqueado, blo queado, fadado à estereoti estereotipia, pia, à rigidez rigidez,, à repetição repetição estéril. Mas um sentido congelado ou morto não é um não-senso, um vazio de todo o sentido. Mostramos Mostramos há pouco pouco como como e porque porque a análise, análise, ao desvelar esse sentido sentido perant per antee ele mesmo, mesmo, pode restituí-lo resti tuí-lo à movimentação da vida significante, significante, reabrindo-a para a plasticidade e a reconstrução de uma história novamente criadora. Ora, é precisamente esse esse retorno, esse reentroncamento reentroncam ento do sentido cristalizado cristalizado no circuito ci rcuito da significâ significância ncia sempre sempr e em dev devir, ir, que, no n o psicótico, psicótico, revela-se revela-se impo impossív ssível. el. E é por p or isso isso que não podemos falar, falar, a propó propósi sito to dele, dele, em análise no sentido rigoroso e freudiano do termo. Para o psicótico, com efeito - e retomamos aqui uma distinção fundamental do pensamento heideggeriano -, o sentido da palavra palavra não está está apenas cristalizado cristalizado:: é a própria própria Zuhande denh nhei eif* f* para a ordem da palavra que é transpor trans portad tadaa da da ordem da Zuh Vorhandenheit.* Nesse regime, regime, confunde-se com os objetos subsistentes oferecidos ao olhar puro e adquire a condição deles. Rola Ro land nd Kuhn5 Kuhn 54expõe o caso caso de um esquizofrênico que qu e possui possu i uma coleção de cartões cartõe s onde escreve, uma uma a uma, uma, todas as palavras que qu e utiliza., Para esse doente, "as palavras palavras são não apenas os títulos de uma espécie de catálogo do mundo, mas possuem possuem,, no retângulo re tângulo celular em que estão es tão inscritas, uma extensão espacial graças graças à qual elas próprias própr ias são os lugares dass coisas, das da das técnicas técnicas e das ciências que [o doente] doente] encara como ‘modelos’ modelos’, à manei ma neira ra dos que se vêem ‘expostos ‘expostos no museu’ mus eu’.” .”555Não há aqui nen nenhum humaa necessidade necessidade de procur procurar ar o lugar lugar de uma eventual psicanálise: psicanálise: ele não n ão existe, existe, já que o lugar, o "campo” "cam po” da da linguag linguagem em se volatilizou. volatilizou. Há uma confusão do significante significante com o significad significado, o, tal como tentamos descrevê descrevê-la -la em outra outra parte desta desta obra obra.. Essa con confus fusão ão elimina elimina qualquer qualquer relação relação de de sig signnificâ ificânncia. cia. Esta não pode ser restaurada do modo como se dá vida a um sentido petrificado, fazendo-o voltar volta r a se se comunicar com com os setores em marcha Em alemão no original. Termos oriundos do discurso heideggeriano, que significam respectivamente o ser ser como disponível e Oser corno subsistente. subsistente. Cf. Heidegger, M., L ’èt ’ètre reet le ternps, traduzido do alemão e anotado por Rudolf Boehms e Alphonse De Waelhens, Gallimard, 19 1964 64,, p. 279. 279. (N.R.) (N. R.)
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da existência. Já não há passagem possível do sentido para o sentido quando as significações são são intercambiávei i ntercambiáveiss com o valor imutável im utável de uma moeda com que se confundem confundem.. Tratar-se-ia também tamb ém de uma moeda que não paga coisa alguma. O esquizofrênico não fala; fala; posta-se dian d iante te de palavras que são coisas. coisas. E essas palavras palavras falam por si; si; não são proferidas pr oferidas po porr aquele aquel e que as emite. E por p or isso é que podem transforma tran sformar-se r-se para ele em "vozes” anônimas, como explicamos ao estudar o comentário de Lacan sobre o caso Schreber. O que nos abre mais uma perspectiva de interpretação do que os autores denominam de o célebre “marieirismo” dos esquizofrênicos. Dizse que o indivíduo amaneirado "pçsa”. Entende-se com isso que ele se bloqueia bloq ueia na atitud atit udee do "model "m odelo”. o”. É um ato sem ação, ação, diz-nos Maldi Maldiney, ney, pois é um ato sem abertu ab ertura ra para par a o mundo e sem sem ultrapassagem ultr apassagem rumo rum o a ele. ele. “O modelo não habita habita o espaço-ambiente.” espaço-ambiente.” É que qu e o modelo não habita nada, ele aparece; e aparece com uma aparição sem presença. Da mesma maneira se compreende a incapacidade de muitos esquizofrênicos de encontrar, ao tomarem a palavra, o tom exato. Eles murmuram ou gritam, recitam recita m como que de cor co r ou fazem fazem as palavras palavras se sucederem sem colocar nelas a menor menor entonação. É que não se dirigem dirigem realmente àquele que parece parece ser seu interlocutor. Seu discurso nunca dá a entender ao que o escuta, no plano pla no em que se oferece imediatamente, imediatame nte, nada além da literalida literalidade de dos dos enunciados proferidos. Como as palavras não têm, aos ouvidos desses doentes, nenhuma das conotações que extraem de sua inserção numa experiência experiê ncia e numa num a linguagem viv vivas as.. Qualq Qu alquer uer que q ue seja sua língua, esses esses doentes só falam línguas mortas. Eis aqui, por exemplo, uma resposta clássic clássica, a, ouvida vinte ve veze zes. s. No momen mo mento to em que uma doente doe nte en entra tra na sala de espera espera da da clínica, clínica, após algumas frases frases de polidez ou encoraj encorajamento amento,, pergunto-lhe: pergu nto-lhe: "H "Háá qua quanto nto tempo a senhora senh ora está aqui? a qui?”” "O "Ora, ra, há vinte segund segundos, os, meu senhor.” senho r.” É que “aqui” só pode ter seu sentido sentido literal: o lugar exato em que nos encontramos. Aqui não poderia designar, designar, portanto porta nto,, a clínica, e menos ainda a cidade de Louvain ou a Bélgica, como quando, encontr enco ntrand andoo casualmente casualm ente um amigo amigo estrangeiro, estrange iro, nós lhe dizemos: dizemos: "mas que surpresa, meu caro, desde quando voc vocêê está aqui?”, ele compreende com preende de imediato que não tencionamos tencionamos com isso perguntar-lhe há quanto qu anto tempo t empo está ocupando a porção de calçada em que se acha de pé. É também por isso que, que, para o esquizofrênico, esquizofrênico, parece tão simples e tão natural inventar uma palavra nova quanto é, para o matemático, modificar modificar os símbolos ou as letras de sua demonstração d emonstração ou de suas figuras figuras.. convém poul ulpe pett”\ convém Há um esquizofrênico que fala constantemente no “po entender ente nder que se trata de um indiv indivíduo íduo humano hermafrodita: "Os padres padres são sã o poulpets poulpets, já que são homens por dentro e mulheres por fora: usam vestidos” - e essa é uma pessoa internada há vinte anos! anos! Outra Out ra chama suas suas
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“vozes”, vozes”, que são barulhent barulhentas as e surgem repentina repentinament mente, e, de "Boeing”; "Boeing”; uma uma terceira, terceira, que faz viagens viagens freqüentes freqüentes ao céu, utiliza para para esse fim um veículo que denomina denomin a de "panamericanairv "paname ricanairvèse”. èse”. Esse nome, nome, articulado artic ulado como se se tratasse de uma única única palavra e desprezando qualquer qualquer aparência de pronúnc pronúncia ia ing inglesa lesa,, pa parec receu eu-m -mee nã nãoo sig signific ificaar na nada da,, e essa ssa pérola pérola me ha have veria ria escapado, não fosse a perspicácia perspicáci a de um médico mais familiarizado familiari zado com as grandes companhias aéreas e com o "franglês”. Ora, justam jus tamente ente o tom, a melodia, melodia, a mímica mímica e alguma algumass acentuações ace ntuações têm por por fim comprometer o o discurso discurso,, fazer com que se dirija a..., a..., e já através disso, disso, fazer com com que transcenda transcenda seu sentido senti do literal em direção a sobrecargas de signifi significaçõ cações es inéditas. A fala, fala, por estar esta r encarnada e inserida no mundo inteiro inte iro do sentido, nunca se reduz a uma demonstração demonstraçã o geométrica geom étrica ou à comunicação comunicação de uma mensagem inform informativ ativa. a. Essa inserção permit permitee a ete eterna rna invasão invasão da fala nela mesma. mesma. Essa invasão invasão e essa inserção acham-se destruídas destruídas no esquizofrênico, ao passo que estão apenas interrompidas no neurótico, e mesmo assim apenas em em alguns alguns setores de sua sua experiênc experiência ia e de seu discurso discurso.. O fenômeno da pose, voltando a ele, é totalmente totalm ente análogo. análogo. Essa exibiçã exibiçãoo de um parecer pare cer reduzido r eduzido ou restituído restitu ído a sua aparência pura não vai vai além desta, desta, ao contrário contrá rio do parecer pare cer daquele que está presente em seu aparecer. A presença sempre indica mil mil maneiras além da aparência em que surge. surge. "Quer "Q uer tentemos a abordagem abordagem do conceito conceito de esquizofrenia esquizofrenia a partir par tir do espaço, do tempo, da relação afetiva, da comunicação, da linguagem etc., etc., com a ajuda de noções noções de fechamento, repetição, atimia, atimia , ruptu ru ptura ra ou ambivalência, cada um desses traços remete a todos os demais, e todos convergem para a tematização. Quando se desliga o em da presença no mundo, o ente do Umwelt *recebe uma uma delimitação estrita. A totalida tota lidade de do Vorhanden [subsistente] [subsistente ] transfor tr ansforma-se ma-se em Tema.”56 O núcleo central de toda esquizofrenia esquizofrenia parece efetivamente residir, portant port anto, o, na ruptur rup turaa de todas as trocas entre ent re a presença e o sentido. Onde este deix deixaa de se enraizar naquela, naquela, o sentido perde todo o poder de transcender transcender a si mesmo mesmo.. Cristaliza-se, Cristaliza-se, de certa cert a maneira, substantiva-se, hipostasia-se. Isso Isso é o que Maldiney entende ent ende ao usar, com maior ou menor men or felicidade, felicidade, aliás, a noção fenomenológica de tematização. Porque, com efeito, é realmente realmente no não-temático não-temát ico que o sentido e a presença presença podem contaminarse continuame contin uamente, nte, intercambiar-se. Pela interrupção interr upção dessa osmose dá-se dá-se que o sentido, sem o lastro last ro de suas suas amarras existen existenciai ciaiss e abandon aba ndonado ado a si mesmo, transforma-se num usurpador proliferativo e mais mais ou menos caricato da presença. Foi o que mostramos ao falar da da confusão entre ent re o Em alemão alem ão no original, significa significa o meio meio ambiente. ambiente . Para J. V. Uexkü Uexküll, ll, este es te termo term o alemão ale mão seria melhor traduzido em francês por entours, entours, cercanias. Cf. Mondes Cf. Mondes animaux et et mon monde de humain, humain, Gonthier, 1965. (N.R.)
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significante e o significado, levada a sua intensidade máxima no delírio alucinatório, como é perfeitamente ilustrado pelo apólogo já citado de Serge Leclaire sobre as andorinhas.57 Desse ponto de vista vista podemos podemos arriscar arriscar uma interpretação int erpretação do autismo que acrescenta alguns traços ao que dissemos a seu respeito. Ele se caracteriza, segundo Freud, pela retirada retir ada de todos os investimentos libilibidinais do objeto e do mundo e por sua retração para o sujeito. Nesse aspecto, portanto, portanto, autism autismoo e narci arcisi sism smoo são são termo termoss sinô sinônim nimos. Con Contud tudo, o, não hav aver eria ia nenhum nen hum sentido sentido em pensar pensar que essa perda do mundo e esse reflux refluxoo do sujeito para si mesmo mesmo salv salvag aguuarda ardam m ou pu puri rific ficam am esse esse suje sujeit itoo. Na ve verd rdad ade, e, o suj sujei eito to não fica fica menos perdido do que o mundo mundo quando se interrompe interrompe o intercâmbio entre a presença e o sentido, e aquilo a que assistimos no autismo é a tematização que acabamos de descre descrever ver,, só que desta vez referida ao próprio próprio eu.. O autismo eu autis mo "exprime a tematização do do eu cujos cujos comporta com portamen mentos tos não mais se fundamentam no em do ser-no-mundo”.58 Assim, seria no em do ser-no-mundo, isto é, na espadalização própria da existência existência humana, que se deveria buscar buscar o lugar originário originár io da troca tr oca e da participaçã partic ipaçãoo de que acabamos acabamos de falar. falar. É ali que a Stimmung ou seja, o encarregar-se encarregar -se a cada cada momento, pelo existente humano, de sua relação com a totalidade do que é, relação que decerto não é forçosamente consciente, mas que é forçosamente "sentida” - comunica-se com a articulação significativa do espaço vivido e habitado. Esse espaço, desnecessário dizê-lo, dizê-lo, é muito diferente do espaço da represen repr esentação tação e, a fortio fortiori, ri, do espaço dà geometria. "As direções significativas da ascensão e do esclarecimento esclarecimento ou do ensombramento e da queda determinam determina m uma mesma irradiação de sentido que ilumina um mesmo patos. Mesmo que este último últim o term t ermoo tenha te nha o defeito de só evocar evocar idéia idéiass de passividade, passividade, ao pass passoo que o moment momentoo pátic tico co comp mport ortaa de fato fato uma ativ ativid idad ade. e.””59A dim dimen ensã sãoo pática, onde se constitui a relação com a totalidade, totalidad e, enraíza-se, comunicando-se com ele, no ser presente pr esente das coisas coisas,, mas também também se destitui ou se transm tra nsmuda uda numa organização signi signific ficativ ativaa do espaço: espaço: a prostração prostr ação do atleta at leta no fim de suas forças forças e em pleno de dess falecimento, falecimento, que se arrasta - em vez vez de correr correr - pelos últimos quilômetros quilômetros da maratona marato na que ia ganhar, ganhar, e que que agora vai perder, desenha o espaço mortífero, interminável, interminável, ao mesmo mesmo tempo confuso e claro, de uma rota inexoravelmente intransponível à própri pró priaa medida que, objetivamente, vai diminuindo.60 diminuindo.60 Onde On de essa comun comunicação icação é rompida, também ali se detém o movimento de significância. significância. Isso não quer dizer que as significaçõe significaçõess desapareçam desapar eçam po porr isso, isso, mas elas já não "tocam " tocam”” a realidade, ou não mais mais são "tocadas "toc adas”” por ela. ela. É como as figuras figuras traçadas traçadas pelo geómetra: elas certam cer tament entee não são desprovidas de sentido, e, no entanto, entanto , nada nos "dizem” das das coisa coisas. s. Daí Da í a estranheza, a discordân discordância, cia, o maneirismo, maneirismo, o “racionalismo “racionalismo mórbido” mórbi do” que
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todas as descrições concordam em reconhecer no comportamento do esquizofrênico. Essas considerações pretenderam mostrar como uma problemática do inconsciente centrada ao mesmo tempo no sentido, na estrutura, na historicidade e na na situação pode escapar ao contexto naturali natur alista sta que foi concretamen concr etamente te o de Freud, e isso sem renegar nada de sua contribuição. Tal interpretação leva a um “encarregar-se da condição humana" onde se exprime e se completa o que as filos filosofia ofiass do ser-no-mundo ser-no-mundo nos revelaram. Toma Toma desnecessária a rigide rigidez; z; às vezes vezes próxima da mitologia, que que caracteriza caracteriza o realismo freudiano, sem contudo contudo cair no intelectualismo intelectuali smo politzeriano. politzeria no. Poderíamos esboçar uma tentativa análoga a propósito do comj)lexo de Édipo. Se, Se, em vez vez de nos apegarmos à dramaturgia d ramaturgia cênica cênica doEdipo, do Edipo, ficarmos ficarmos atentos atentos a sua estrutura, estrutura, constataremos constataremos que a triangulação triangulação edipiana é, no sentido mais mais estrito, estrito, a forma do ser-no-mundo ser-no-mundo da criança, o estilo de sua comunicação com os outros outros,, as coisas coisas e ela mesma(Mitwelt mesma (Mitwelt -- Umwelt - Eige Eigenw nwelt) elt).6 .61 Não há dú dúvi vida da,, de fato, fato, de que o momento momento edipiano edipiano marca marca no dev devir ir do sujeito o advento de um novo modo de existência existência que previne esse sujeito contra o risco ou a tentação de se abandonar abandonar a duas possibilida possibilidade dess antitéticas mas igualmente igualmente destrutivas, às às quais alguns estágios de seu seu desenvolvimento desenvolvimento anter ant erior ior só fazem fazem predispô-lo; o s e 'eo 'e o Ego ab abso solu luto to.. Ocorre que, de um um lado, o “espaço materno”, tal como e desenhado pelo regime da União dual, protótipo de de toda pátria, de todo Heimat" todo Heimat" futuros, futuros, instala uma presença universal universal e sem limites, que não tem nenhuma exterioridade e desconhece qualquer distinção distinção entre entre o mesmo mesmo e o outro. O regime regime da união dual toma toma recíprocos a presença e o Todo; Todo; é exatamente a participação parti cipação primordial primo rdial tal como definida definida por um pensamento como o de szondi. Mas é também um absoluto notu n oturno, rno, onde onde todos os gatos gatos são pardos, porque po rque a presença ali se mistura com a contaminação e a indiferenciação. A clínica nos mostra mostra com clareza clareza de que prejuízos prejuízos são passíveis passíveis todas as fixaçõ fixações es ou regressões a esse estágio. estágio. Um certo doen doente te afirma afirma exprimirexprimirse pela boca de todos os conferencistas, todos os professores, todos os po políti lítico coss ou todo todoss os revo revolu luci cioonário árioss cu cujo joss discu iscurs rsoos lhe lhe pa pare rece cem m merece erecerr algum algum interess interesse. e. Dá o nome de A a esse eu que sabe tudo, pen pensa sa tudo, conhece conhece tudo e, além disso disso,, pode hipnotizar qualquer qualq uer um, visto visto que que o orador ora dor cujo órgão A toma emprestado não se apercebe de nada e acredita estar falando falando quando se cala ou, pelo menos, menos, quando enuncia o pensamento pensamento de outro. outro. * Em francês, francês, On. (N On. (N R.) **Em alemão no original. Designa a pátria, o país, a terra. (N.R.)
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Nosso Nosso paciente paciente reconhe reconhece, ce, no entanto, que está doente, e reclam reclamaa imperiosamente que o curemos. curemos. Mas Mas não é que que queira ser ser libertado libertado de sua onisciéncia ed edas as migraçõe migraçõess incessantes de A. A. Muito pelo contrári cont rário, o, o que exige ex igedo trata tr atamen mento to é que ele mesmo, mesmo, na qualidade de eu, possa coincidir expressamente com esse A esse A,, que sem dúvida é ele, mas mas cuja plena ple na e livre disposição ele não tem no momento, no sentido sentido de que, se fala fala pela boca do Sr. Sr. Pompidou ou de Khon Khon-Bendit, -Bendit, só toma conhecimento conhecimento disso depois de eles começarem começarema abri abrirr a boca, boca, e não pode prever hoje o que eles proferirão proferirão em seus próximos discursos. É isso, e apenas isso - essa perpétua *- que elejulga elej ulga patológico patológico em seu cas caso. o. “Ficarei curado cura do Nacht Nachträ rägl glic ichk hkei eit t *no dia em que dominar A totalmente, quando, no consciente e constantemente, constantemente, A e 'eu 'eu'' formos idênticos idênticos;; nesse nesse momento, serei e saberei realment real mentee tudo. tudo."6 "622 Mas a redução ao ao “Se” “Se” não é menos tem temível. ível. Para Para outr outraa doente, doente, todas quem as as verdades foram totalment totalmentee ditas. ditas. Só que é impossív impossível el saber saberquem as disse. disse. Não há nenhuma nenhuma ne nece cess ssida idade de de prova provas, s, ve veri rifi fica caçõ ções es,, testemunhos testemunhos ou experiências para saber se sua netinha foi precipitada por seu genro do alto de uma das torres da catedral de Santa Gúdula; diz-se, logo é verdade. Deus existe, existe, os judeus são uns s... Dizem, logo é verdade. Mas essa verdade verdade não compromete ninguém, não concerne a ninguém, não interpela ninguém, não remet remetee a ninguém. ninguém. Por Por exem exemplo, plo, a doente doente em questão questão fica fica perfeitamente perfeitamente feliz feliz por receber receber a visita desse genro genro “assassin “ assassino" o" e não se surpree sur preende nde nem um pouco por por ele vir acompanhado da netinha netinha que matou. A fala circula, circula, como a pêra-uva-ou-maçã de nossa infância (“roda, roda...”), e a feia basta a si mesma. A figura paterna, tal tal como se afirma afirma no n o Édipo, Édipo, reestrutura reestrutura esse esse mundo de ponta pon ta a ponta, ponta, modifica-lhe modifica-lhe todos os referenciais, referenciais, ou melhor, dota-o dota-o de referenciais de que qu e ele era desprovido. desprovido. Não Não,, é claro, claro, que essa figura outra e é signifique a abolição da onipotência. Mas daí em diante ela é outra e diferente diferente do que era. “O “ O pai é marido da mãe, mãe, senhor senho r do mundo externo ejui ejuiz. z.”6 ”63O pai não não é apenas um dos três ttermos ermos da constelação, constelação, mas mas o que mod odifica ifica radicalmente a relação relação interna interna e anter anterior ior entre entre os dois primeiros, primeiros, separando-os, situando-os um perante o outro num mundo que é também totalmente diverso. Isso de modo modo algum signif significa ica que se deva considerar considerar a figura figura patern paternaa como como monolític monolítica. a. Muito pelo contrário, contrário, já que o pai em tudo introduz in troduz a distinção, não menos em si mesmo do que alhures. Como explicamos anteriorm anter iormente ente a propósito pr opósito do nome, nome, ele consagra consagra o acesso acesso do do sujeito à ordem ordem do simbólico simbólico e, por por um lado, situa-se nessa nessa ordem, ao mesmo tempo tempo *Tenno alemão utilizado por Freud que designa o só-depois, a posterioridade. (N.R.)
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que na ordem real. Como Como instância repressora, é também t ambém e igualmente para esse esse sujeito sujeito um um ide ideal al de iden identif tific icaç ação ão.. Assim, Assim, podemos seguir Maldiney no que que ele sublinha subli nha que o pai não é apenas, nem mesmo em primeiro lug lugar, ar, um personagem capital de nossa mais antiga antiga lenda. Cabe dizer que ele ele é uma figu figura ra,, no sentido hegeliano daFenomenologi da Fenomenologiaa do Espírito. Espírito. Entendemo Entendemoss por por isso que, que, como o faz cada uma das figuras deste livro, o pai remodela, por sua própria aparição, toda presença presença e, atravé atravéss dela dela,, toda toda ex expe periê riênc ncia. ia. Se Se "a "a cons consciê ciênc ncia ia inf infeli eliz”, z”, "a lei do coração” coração” ou "o curso curso do mundo” são momentos que recolocamtudo recolocamtudo em movimento, por po r darem uma nov novaa feição à presença e ao real real (que ( que são, para He Hege gel,l, nívei íveiss suce sucess ssiv ivoos do Espírito em marcha archa rumo rumo à plena plena po posse sse de si mesmo), assim acontece também com a figura paterna no devir da criança a caminho caminho da subjetividade e de sua identidade. É essa essa importância importância estru est rutur turant antee que a linguag linguagem em psicanalítica psicanalítica pretende evidenciar evidenciar quando fala em imago paterna. E é por por isso que a noção deidentif de identificação icação com opai, tida como uma das seqüelas favoráveis de um Édipo satisfatoriamente liqüidado, não está livre de problemas problemas nem de ambigüidades. ambigüidades. Fosse ela litera literal,l, isto é, viessem viessem "as direções significativas da paternidade” a se confundir com a pessoa do pai histórico his tórico e a se esgotar nela, ela acabaria por bloquear bloquear o sujeito sujeito em sua situação infantil. A identificação seria "falha” se levasse simplesmente a imitar imita r um um personagem concreto concreto qualquer. E isso isso por uma dupla razão: a primeira é que ninguém jamais consegue ser ele mesmo copiando um outro out ro,, mesmo mesmo que esse esse outro outro seja seu seu pai. pai. Em segundo lugar, lugar, de qualquer qualquer maneira, esse esse pai exemplar, exemplar, se reduzido a sua realidade realidade concreta e anedótica, anedótica, ainda assim só a manifestaria*à luz de uma experiência e de concepções infatis. O pai real só pode ser pai tal como é visto por uma criança pequena. Ao contrário, a identificação é bem-sucedida e fecunda quando, negando sua identidade identid ade real com o pai histórico, o jovem sujeito faz faz com com que ela diga respeito ao "não-temático” da ação do pai. Este último termo, que, seguindo Maldine Maldiney, y, retomamos retomamos da fenomenolog fenomenologia, ia, pretende pretende exprimir exprimir a importância importância estrutu estr utura rante nte e simb simbólica ólica da figu figura ra paterna paterna na medida medida em que ela se estende estende às três dimensões dimensões relembradas acima: acima: o pai é o marido da mãe, o senhor senhor do mundo externo e o juiz. juiz. No No plan planoo do não ão-t -tem emát átic icoo, o domín omínio io do pai sobr sobree o mun undo do ex exte tern rnoo não significa que ele se comporte neste como um tirano onipotente e absurdo, mas que, por sua presença, constitui-se para a criança um mundo simultaneamente real e verdadeiro. E verdadeiro. E o ser ser juiz permite entender e ntender,, nesse nesse mesmo mesmo plano, que a criança será constrangida, se não o aceitar de bom grado, grado, a só en entr trar ar na carreira do desejo desejo sob o signo signo da lei encarnada por esse pai. Que a criança se identifique com o pai não impõe, portanto, que
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retome retome até at é o fim de seus dias dias todos os “cacoetes” “cacoetes ” do do pai, suas preferências e suas aversõe aversões, s, nem tampouco sua profissão profissão ou sua moral, mas,em mas, emprimam primam entree no jogo das regras legislado legisladoras ras e constitutivas do mundo, lugar, que ela entr e depois,chegado momento, que assuma assuma perant perantee sua própria própria descendênc descendência ia depois, chegado o momento, essa mesma figura. Somente esse modo da identificação assegura a independência pres presen ente te e futu futura ra da cria criannça, um uma ind indep epen endê dênncia cia qu que, e, ao co cont ntrá rário rio,, fic ficaaria ria definitivamente comprometida comprometida pela identificação identificação-cóp -cópia. ia. Em particular, particular, uma identificação identificação bem-sucedida bem-sucedida deixa deixa à criança criança espaço para elaborar a dimens dimensão ão lúdico lúdico-m -mági ágicad cadee sua sua ex exis istê tênc ncia ia,, dimens dimensão ão esta esta de que tem tanta tan ta necessid necessidade ade.. Ela poderá poder á então, então, e ao mesmo tempo, lev leváála a sério, mas sem jamais jam ais procurar procurar substitui substituirrpor ela ela o mundo real. real. Uma Uma criança a quem faltasse qualquer identificação identificação não teria teria outr outroo mundo senão que nessas esse mundo mágico, mágico, que não é um mundo, mas umimaginário, um imaginário, que condições logo seria gerador de psicose. Inversamente, o jovem sujeito que se enreda na identificação identificação-cóp -cópia ia não passará passará de uma caricatura de adulto, uma criança-ve criança-velho, lho, à espera de logo logo se transformar transforma r por muito tempo, ou para semp sempre, re, num ve velh lhoo-cr cria ianç nça. a. Entendemos Entendemos que essa essa maneira maneira de compreender o sentido e o lugar da análise análise leva a centr centrá-l á-laa bem menos menos (ou nem um pouco) no psiquismo do que no ser-no-mundo ser-no-mundo e na linguagem. linguagem. Recoloca em questão, questão, além disso, a cisão secular en entre tre mundo externo exter no e interno. Isso Isso não traz nenhum ataque ata que ao inconsciente. Simplesmente, ao contrário de certas interpretações psic psicolo ologiz gizan antes tes,, não procura procura co coloc locar ar esse esse incon inconsci scient entee ond ondee ele não está está.. Aclássic Aclássicaa cisão cisão entre en tre interno e externo é doravante substituída substituída por p or uma pluralidade de maneiras de o homem ocupar e habitar o mundo. Essa diversidade diversidade se reduz essencialmente essencialmente - e aqui retomamos uma terminolog terminologia ia que Binswangervai buscar em Heidegger - a três três dimensões; oEigen o Eigen welt ou mundo próprio, o Umwelt ou ou mundo circulante e, por por último, último, o M o Miitwelt ou mundo do encontro. encontro. “O ser-no-mundo ser-no-mundo aí se desvela desvela sob a forma forma tríplice tríplice do ser-si-mesmo, ser-si-mesmo, do esta estarr present presentee em... em... e do ser-com, cujas sedes são o corpo corpo própri próprio, o, a coisa e o Out O utro ro.”6 .”64É evidente, ademais, ademais, e isso já foi suficientemente suficientemente demonstrado demonstrado no correr correr deste trabalho, que essas essas dimen sões, se bem que distintas, também se articulam umas nas outras. Faz muito tempo, com efeito, que o pensamento pensame nto fenomenológico nos familiarizou com a idéia de que os diversos estatutos da coisa - utensílio oferecido “à mão” Çuhandenes) ou Çuhandenes) ou ente ente simplesmente subsistente, subsistente, expo exposto sto ante o olhar do pensamento teórico e à mercê de seu cálculo - se fundamentam na espacialidade espacialidade e na motricidade motricidade do corpo corpo próprio. próprio. Estas, de resto, resto, nem por por isso deixam deixam de decidir, como como o mostrou mostrou Sein Sein und und Zeit, Zeit,
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sobre sobre as "vicissitudes "vicissitudes da relação próximo-distante, [da] [da] exclus exclusão ão ou da inclusão do espaço alheio". alhei o".665E, quanto quanto ao a o Outro Outro,, não nos terá a análise conve co nvencid ncidoo de que o encontro encontro dele como aquilo que é está ligado ligado à maneira maneira como o doente habita seu mundo e seu corpo, e não menos, de que a alteridade alterida de do Outr O utroo especif especifica ica para o "sujeito" "sujeito " sua maneira de ser em seu mundo e de existir em seu corpo? Como Como não não sublinhar mais uma vez vez,, no no tocante tocante a esse ponto, o alcanc alcancee excepcionalmente revelador que a linguagem oferece para a compreensão e a avaliação avaliação dos modos modos patológicos do existir? Podemos - e devemos devemos detect det ectar ar nela o "reflexo e [a] [a] antecipação antecipação de todas as outras ou tras condutas".66 condutas".66 Porque Por que constitui constitui delas a expressão expressão mais mais acabada, ao mesmo mesmo tempo tempo que as orienta para um sentido comunic comunicáve ávell e tenta abrir e convidar convidar o doente para uma situação situação de comun comunica icaçã ção. o. Mas co conv nvém ém ainda poder de deixa ixarr falar falar e saber escutar. "Os termos concretos tomados no nível da frase e da gesticulação são os mais significativos significativos.” .” Suas Suas particularidades, particularidades, sobretud sobretudoo a dos neologismos, neologismos, extraem mais do passado e da atualidade atualidade da existência existência patoló patológic gicaa do que da dass intençõe intençõess corriqueir corriqueiras as e co codi dific ficad adas as da língu língua. a. Não raro, raro, por por exemplo, exemplo, a repetição repetição ou a alteração alteração do sentido de de algum algumas palavras palavras bastam bastam para fornecer fornecer a ch chav avee de um delírio delírio.. Falando sobre uma prima a quem estava ligada, sem admiti-los, admiti-los, por por sentimentos sen timentos de ciúme tão vivo vivoss quant qua ntoo ambíguos, ambíguos, uma doente doente nos disse em diversas diversas ocasiões ocasiões que essa prima adotava a seu respeito respeito um comportamen comport amento to "vergonhoso”. "vergonhoso”. Ficamos Ficamos com a impressão de que que ela queria dizer “orgulhoso”, “orgulhoso”, e de fato, foi esse o sentido que ela nos forneceu em holandês (hoogmoedig). A enferma, enferma, apesar de ser de língua holandesa, havia-se havia-se recusado a qualquer qualqu er conversação conversação que não fosse em francês. Seu excelente conhecimento dessa língua parecia excluir a possibilidade de que ela confundisse orgulhoso [hautain] e vergonhoso [honíeux]. Na verdade verdade,, ela hav havia ia usado usado a analogia de consonância para exprimi exprimirr o que se recu recusa sava va a pensar abertamente, abertamente, mas que o inconsciente inconsciente traiu: sua prima lhe inspirava sentimentos sentiment os inconfessá inconfessáveis veis e, de acordo com o mecanism ecanismoo de projeção projeção que Freud Freud nos explicou explicou a propósito de Schreber, Schreber, ela julgou vergonhosa vergonhosa a atitude da pri p rim ma Essa mesm mesmaa doen doente te alegava alegava que tanto tant o o aspecto físic físicoo quanto quanto os sentimentos de seus seus parentes e amigos amigos em relação a ela estavam “mudados “mudados e bizarros”. Simultaneamente, chamava chamava a si mesma de "mulhe "mulherorfo rorfose", se", um neologismo que sem dúvida dúvida perm permitia itia entend entender er clara clarame mente nte qu quee essa essa muda danç nça, a, essa essa metam etamor orfo fose se,, tinha tinha origem nela mesma. Vemos po porr esses exemplos, exemplos, portan por tanto, to, que certas certas palavras palavras ou certas represent representações ações podem podem “cristal “cristalizar" izar" e também condensar alguns fatos, alguns alguns objetos reais ou fantasísticos a partir dos quais o delírio se tece. conntud co tu do, o que q ue caracteriza car acteriza a existência existência esquizofrênica esquizofrênica é que essas essas palav palavras ras ou represen representaçõe taçõess sim simbó bóli lica cas, s, estereoti estereotipada padas, s, já não não captam o
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mundo. Deixaram Deixaram designificar designifi car para para ser sua signific significação ação,, num mecanismo mecanismo que já foi exp explicad licadoo a propósi pro pósito to do delírio, delírio, da alucinação e da confusão entr en tree o significan significante te e o signific significad ado. o. O que poderíamos transpor transpor para a ordem da espacialidade, como faz Maldin Maldiney ey ao escrever que, para para o esquizofrên esquizofrênico, ico, “o ser à distância distância é abolido”«7 abolido”«7Já nenhum nenhum objeto aponta aponta para out outro ro objeto, objeto, e o doente doe nte deixa de tecer tece r a rede de referências que para nós é a vida vida e a própria continuidad continuidadee da ex expe periê riênc ncia. ia. Ao dizer isso isso, não ignoro ignoro estar contradizendo algumas algumas aparências: o doen doente te constrói associaç associaçõe ões, s, e às veze vezess nem sequer pára de descobrir índices: a vermelhidão do rosto prova a infidelidade do côn cônjug juge; e; a placa número 49R 49R47 47 eviden evidencia, cia, por por este este R, que se trata trata de um veículo veículo da realeza etc Mas essa essass pseudo-refer pseudo-referêndas, êndas, se se posso posso dizê-lo, giram giram no vazio vazio e engendram a si mesmas. mesmas. Não se originam origi nam num movimento ovimento de ante anteapaç apação ão ede projeto em em relação às coisa coisas, s, mas mas em relações relações entre as palavras ou em qualidades abusivamente substantivas. É verdade que, qu e, em em algumas algumas circunstâ circunstância ncias, s, o enrubes enrubesdment dmentoo pode trai trairr emoção sexu sexual al ou confusão por ser surpreendido numa situação delicada. Só pode sêlo, todavia, em alguns contextos a serem verificados através de outras refer referênd êndas as,, porque porque a febre, a má má circulação circulação sangüínea ou o esforço físico físico,, além de muitas muitas outras outras causas, podem igualmente fazer um rosto rost o torna tornarrse púrpura. É falso que a vermelhidão do rosto tenha que estabelecer forç fo rços osam amen ente te a infidelidade daquele que enrubesce.
NOTAS
1. Entenda-se que, para par a Heidegger, o saber teórico te órico (o theorein), oconheci theorein), oconhecimento mento científico científico ou mesmo o que é simplesmente extraído das coisas permanecem subordinados a um compreender mais original, do qual derivam. Esse compreender primário é indiscemível da existência na qualidade de abertura. 2. Critique Critique desFonda Fo ndanen nents ts de la Psychol P sychologie ogie,, Paris, 192 1928. 8. Citamos Citam os aqui a reedi re edição ção de 19 1968, 68, p. 15 156. 3. J. Laplanche e S. Leclaire, “L’Inconscient, une Étude Psychanalytique”, in L ’Inconscie Inconscient, nt, Paris, Paris, Desclée de Brouwer, 1966, p. 97. 4. Écrits, p. Écrits, p. 258. 5. Écrits, p. Écrits, p. 249. 6. Écrits, p. Écrits, p. 249. 7. Écrits, p. Écrits, p. 467. 8. Écrits, p. Écrits, p. 468. 9. Écrits, p. Écrits, p. 259. 10. Problèrnes de Linguistique Générale, p. Générale, p. 79. 11. Op.ciL, p. Op.ciL, p. 82. 12. Op.ciL, p. p. 83 83. 13. Op.ciL, p. Op.ciL, p. 85.
elucidação existencial 171 14. Op.cit, p. Op.cit, p. 85. 15. Op.ciL, p. Op.ciL, p. 85. 16. Op.cit., Op.cit., p. 86. 17. M. Merleau-Ponty, Phénoménologie Phénoménologie de la Perceptíon, p. Perceptíon, p. 396. 18.. Lembramos que 18 q ue essas reflexões só se inspiram no pensamento pensa mento heideggeri h eideggeriano ano no nível nível de O Ser e o Tempo. Tempo. 19.. H. Maldiney, Comprendre, 19 Comprendre, in Revue in Revue de Métaph Métaphysi ysique que et de Morale Morale, 1961, nos. 1 e 2, pp. 35ss. 20. Artigo citado, p. 35. 21. Artigo citado, p. 35. 22.. Prefácio 22 Prefá cio do livro de P. Demoulin, Demouli n, Név Névros rosee et Psyc Psycho hose se,, pp. 9-10. 23. Maldiney, artigo citado, p. 36. 24. A diferença entre o sonho e a psicose é que, no primeiro caso, as imagens podem imagens podem se tomar tom ar significante significantes, s, porque o sonhador, de volta volta à vigí vigília lia,, pode reintegrá-los para pa ra si na ordem acabada aca bada do d o discurso, ao passo que o psicótico, psicótico, que vive vive no regime da foraclusão, nunca poderá fazê-lo, de modo que esse “discurso” não passará de um discurso em si ou para nós, mas não para ele. 25. Maldiney, artigo citado, p. 37. 26. Ibi 26. Ibid., d., pp. pp. 37-38. 27. Artigo citado, p. 38. 28. Maldiney, artigo citado, p. 38. 29. Maldiney, artigo citado, p. 39. 30. Maldiney, artigo citado, p. 39. 31. Maldiney, artigo citado, p. 39. 32. Maldiney, artigo citado, p. 39. 33. Freud, Cinq Psychanafyses, p. Psychanafyses, p. 167. 34. Maldiney, artigo citado, p. 40. 35. Maldiney, artigo citado, p. 40. 36. Maldiney, artigo citado, p. 40. 37. W. Huber, H. Piron e A. Vergote, La Vergote, La Psyc pp. 174-175. Psycha hana nallyse, yse, Sci Scienc encee de VIiornt VIiorntne, ne, pp. 38. H. Maldiney, artigo citado, p. 43. 39. H. Maldiney, artigo citado, p. 44. 40. H. Maldiney, artigo citado, p. 45. 41. H. Maldiney, artigo citado, p. 52. 42. H. Maldiney, artigo citado, p. 57. 43. H. Maldiney, artigo citado, p. 57. 44. Ibid. 44. Ibid.,, p. 57. 45. H. Maldiney, artigo citado, p. 58. Psychanalyses, p. 207. 46. S. Freud, Cinq Psychanalyses, p. 47. No momento em queo que o Homem dos Ratos entra em análise, análise, o pai em em questã qu estãoestá oestá morto há nove anos. Pois bem, foram precisos vários meses para que Freud tomasse conhecimento conhecime nto disso, pois o paciente pacient e falava falava do pai como c omo se ele ainda estivesse viv vivo. o. 48. H. Maldiney, artigo citado, p. 58. 49. H. Maldiney, artigo citado, p. 59. 50. H. Maldiney, artigo citado, p. 59. 51. H. Maldiney, artigo citado, p. 59. 52. H. Maldiney, artigo citado, p. 60-61. 53. H. Maldiney, artigo citado, p. 61. 54. R. Kuhn, Dasein Daseinsan sanat atyt ytis ische che Studie Studie übe überr die Bedeutu Bedeutung ng von Grenz Grenzen en im Wahn. Wahn. 1952, nos. 4/5/6. Monatschrift Monatschriftfür fü r Psych Psychia iatr trie ie und Neurol Neurologi ogie, e, 1952, 55. H. Maldiney, artigo citado, p. 74.
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56.. H. Maldin 56 Maldiney, ey, artigo citado, citado, p. p. 76. 7 6.00 texto citado pelo autor auto r é uma frase de Sein Sein und Zeit Z eit (p. 362) traduzida por ele. 57. “Fora dessa comunicação, temos realmente que produzir objetividades, mas falta o momento de realidade. Da mesma forma, esse momento de realidade falta ao esquizofrênico, em quem a comunicação permanece bloqueada na hiper-objetividade e cujo delírio compensatório - essa ‘cura’ cur a’,, como diz Freud Fre ud que tenta ten ta mobilizar e reanim rea nimar ar a percepção do mundo cristalizado, cristalizado, também evolui evolui para o bloqueio, passada a fase de atmosferização do tema (cf. L. Binswange Binswanger, r, Le Le Cas Cas Susan Susan Urban)” Urban)”,, Maldiney, artigo citado, p. 76. 76. 58. H. Maldiney, artigo citado, p. 77. 59. H. Maldiney, artigo citado, p. 75. 60.. "A dimensão 60 dimens ão pática do sentir sent ir é a de uma comunicação com o ser dado dad o das d as coisas (Ou (Ou dos seres), na qual o ser é como que impulsionado no abalo das bases da existência”, Maldiney, artigo citado, p. 76. 61. H. Maldiney, artigo citado, pp. 77-78. 62. Esse doente, desde a época em que essas linhas foram escritas, conscientizou-se do caráter cará ter delirante d elirante dessas dessas afirmações, afirmações, hoje perfeitamente perfeitame nte corrigidas. corrigidas. 63. H. Maldiney, artigo citado, p. 78. 64. H. Maldiney, artigo citado, p. 81. 65. H. Maldiney, artigo citado, p. 87. 66. Ibid., 66. Ibid., p. p. 81. 67. H. Maldiney, artigo citado, p. 81.
CONCLUSÃO
Esta conclusão será breve, breve, de vez que, que, se as páginas páginas precedentes precedentes atingiram seu objetivo, objetivo, ela se impõe por por si só só. Nenhuma Nenhuma antropologia antropologia filo filosó sófi fica ca pode continuar continuar a ser ser con conceb cebida ida sem uma uma referência básica à dimensão dimensão do inconsciente e à da doença. O que eqüivale eqüivale a afirmar, entre ent re outras outras coisas, coisas, que o normal não é inteligível sem o patológico, patológico, embora nem por por isso isso pretendamos que q ue se passe de um para para outro outro por uma uma tran transi siçã çãoo con contín tínua ua Muito uito pe pelo lo co cont ntrá rári rio: o: os prin princi cippais ais modos do patológico são redutíveis a, ou identificáve áveis is em estrutur estruturas as a, ou melhor, identific articuladas, articuladas, diversificadas, diversificadas, descritíveis descritíveis e compreensíveis, que podem podem dar conta dos distúrbios concretos essenciais (e, em última instância, de todos os distúrbios) em cada um dos registros do comportamento. Isso acontece porque a estrutura pato patoló lógi gica ca em cau causa se relaci relaciona ona co com m este ou aquele aquele estágio da da constituição do sujeito sujei to e, desse modo, modo, marca-o por inteiro inteiro no nível correspondente. Sabem Sabemos, os, efetivamente, efetivamente, que a constituição ou o tomar-s tomar-see sujeito do ente humano passa por uma série de crises em que se opera, a cada oportunidade, oportunidade, uma remod remodelação elação global global do que, no estado estado de acabamento, chamaremos de si mesmo, mundo e outro. se, pelas razões razões que que tentamos vislumbrar, vislumbrar, uma de suas suas crises crises não leva leva a sua resolução, ou se - o que permanece como como uma hipótese - o sujeito, também por uma ou outra razão, retorna a uma etapa ultrapassada, ele só pode aceder aparentemente aparentemente às etapas ulteriores ou conservar conservar o ben beneficio eficio delas. Por conseguinte, as relações do “sujeito” consigo mesmo, com o mundo e com o outr ou troo (o que inclui, conv convém ém dizer, a relação com o corpo, corpo, o sexo, sexo, o amor, amor, os pais, o nome, nome, o real e a morte morte)) ficam marcadas, marcadas, quant qu antoo a seu sentido sentido e seu estatuto esta tuto,, pelo sinal próprio da fase fase em que o indivíduo indivíduo falhou, da fase onde se situa a falha. E desnecessário desnecessário retom retomar ar aqui a descrição descrição dessas dessas crises, os riscos de fracasso fracasso a que que cada uma está está exposta e as conseqü conseqüências ências que podem resultar resultar 173
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daí, no plano patológico, quanto à existência do sujeito e ao sentido de sua experiência. Que uma uma antropologia filosó filosófica fica de deva va referir-se à patologia e ao a o estudo do inconsciente inconscie nte encon e ncontra tra sua justificativa em que as crises constitutivas da subjetividade subjetividade se desenrolam, desenrolam, total total ou quase totalmente, no inconscie inconsciente, nte, e só aparece aparecem m a céu céu aberto, mas sob a form formaa da não-resolução, não-resolução, nas diversa diversass patologias patologias que que assu assumem mem a prepond preponderância erância em em cada cada situ situação ação.. Segundo esse esse ponto ponto de vista, vista, a investiga investigação ção e a teor teoria ia analíticas analíticas fazem compreende compr eenderr a patologia, que, por po r sua vez vez,, confirma confirma as primeiras. Que existe nisso um círculo não parece duvidoso duvidoso.. Mas esse círculo 6hermenêutico. Não con consist siste, e, de maneira maneira algum alguma, a, em se fornecer fornecerem em princíp princípios ios gratuitos gratuitos dos quais se se pretenda pretenda,, em em seguid seguida, a, extrair conseqüências conseqüências na verdade já fixad fixadas as de antemão antemão por essa essa própria escolha escolha.. Trata-se, ao contrário, como como sempre acontece aconte ce tão logo se questiona questiona a existência existência humana, de uma explicitação dupla e recíproca de sentido - e não de uma exp explic licaçã açãoo casual casual -, - , cada uma dass quais esclarece a outra e é por da po r ela esclarecida, esclarecida, sem que se procure, por outro out ro lado, ob obter ter o tipo de certeza que caracteriza as as ciência ciênciass forma formais. is. O fato de se se haverem feito tentativas visando visando a efetuar efetuar uma aproximação com estas últimas é uma outra questão. questão. Não temos competência para avaliáavaliálas, las, embora embora não não possamos possamos livrar-nos da impressão de que um eventual ganho de rigor formal compensa bem pouco o sensível empobrecimento do conteúdo. Mas voltemos a no nossas ssas colocaç colocações ões.. O feto de a antropologi antropologiaa filosó filosófica fica se deixar ensinar pelo inconsc inconsciente iente,, de um lado, e pelo patológico patológico,, de outro, fez com que se lhe evidencie evidencie uma uma primazia que só há pouco tempo ela ela vem aceitando: a da linguagem. Vimos em que sentido esta última estrutura o inconsciente e vimos vimos também de que modo o que Freud denomina de nomina de recalcamento originário ou primário determina, por po r seu fracass fracasso, o, o nãoacesso acesso a uma uma certa certa linguagem linguagem simbólica, simbólica, um não-acesso em que podemos reconhecer também o núcleo da psicose mais radical. Talvez também tenhamos conseguido conseguido mostrar - ao menos menos é o que esperamos esperamos - porque porqu e e como esse fracasso fracasso se confunde com a foraclusão do nome nome do pai ('' ( ''O O fracasso fracasso da metáfora paterna paterna"" de J. J. Lacan), com a manutenção da imagem do corpo despedaçado despedaça do ou a regressão a ela, e finalmente, com a incapaci dade, naquel na quelee que é sua vítima, vítima, de se situar situar em relação à diferença sexual, sexual, situação (no sentido sentido ativo da palavra) que está diretamente diretamente ligada ligada à entrada entrada no Édipo. Ora, Ora, essa própria entrada é impossibi impossibilitada litada pelo fracasso fracasso da metáfora paterna. De tudo tudo isso, não são menores os efeitos se considerarmos considerarmos as coisas coisas num outro outr o plano ou formularmos formularmos outras questões. Em todas as épocas épocas os filósofos filósofos se interroga interrogaram ram sobre "a "a experiência experiência da realidade". realidade". Mas muitas muitas vezes vezes não suspeitar suspeitaram am de que o estudo estud o da loucura - nos diversos diversos níveis níveis
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que tentamos delimitar delimitar e distinguir - poderia ensinar-lhes ensinar-lhes muito m uito a esse esse é mais difícil de respeito. Heidegger escreveu escreveu em algum algum lugar que nada na da é mais ver do que que os óculos que carregamos no n o nariz. A experiência da realidade tem um tal ar de "natural” e de “evidência” que temos dificuldade em discernir seus componentes, sua disposição disposição e suas diversas diversas estratificações. estratificações. Aqui,i, mais Aqu mais uma ve vez, z, o patológico torna tor na manifesto o que o normal nor mal tende a encobrir encobrir sob o véu da evidên evidência. cia. Que, por exemplo, exemplo, a profundidade, prof undidade, a estabilidade estabilidade e a distância do objeto objeto não são são evidentes, evidentes, mas mas sim estritamente estritamente correlatas à constituição, pelo sujeito, de algumas estruturas de seu desenvolvime desenvolvimento, nto, é o que o estudo do patológico esclarece à mai maiss crua !uz. E não apenas isso, mas também que, em matéria de experiência da realidade, não há lei do tudo tu do ou ou nada, ou seja, seja, que o mundo comum comum em é suscetível de vários graus de degradação, que os “normais” existem é suscetível conforme o arcaísmo arcaísmo do lugar onde, no devir do sujeito, situa-se situa -se a falha. falha. A natureza desta, bem como as conseqüências conseqüências que dela resultam para para a pa partic rticip ipaação mais ou menos alter lterad adaa do suje sujeit itoo no mun undo do comum, revelam lamse compreensíveis. O que traz traz à luz, luz, ao mesmo mesmo tempo, tempo, diversas diversas modalidades ou instâncias da experiência experiência do real. Fizemos Fizemos referência a isso, por exem exemplo, plo, ao abordar o conceito de verdade e do terceiro-testemunha no esquizofrênico ou no paranóico. Não é menor o interesse interesse em em nos nos interrogarm interrogarmos os sobre sobre a extrem extremaa complexida complexidade de da da noção de delírio. Delirar, como todos sabem, sabem, tem por po r etimologia o latim lira, que quer dizer sulco, e o prefixo de, que significa significa etc.). O abandonar, abandon ar, sair de (como em desviar, desviar, descarr descarrilar, ilar, desenc desencaminha aminhar r etc.). delirante, delirante, portanto, é aquele aquele que sai do sulco da da realidade. realidade. Ora, pelas pelas razões que acabam de ser apontadas, nem sempre é fácil fácil e raramente raramente é frutífero definir o delírio em relação à realidade. Prova disso é que não faltam ciumentos francamente delirantes que que são também, efetivame efetivamente, nte, mulheres ou maridos enganados. E lembremos o velho mestre de d e Lacan que fazia fazia seus internos rirem quando, depois de deixar que um doente falasse, retrucava-lhe; retrucava-lhe; “Vamos, Vamos, meu meu amigo, amigo, nada disso é sério, nada disso é verdade, verdade, voltemos ao real.” Sim, Sim, mas que real? real? E como compreender compreender que o convite a esse esse retorno retorno,, seja ele amistoso, opressivo opressivo ou, como no passado, apoiado em meios enérgicos, jamais consiga promovê-lo? Se fosse válida a tese clássica que define a alucinação pela percepção sem objeto e o delírio pela convicção inabalável na veracidade de acontecimentos manifestamente falsos falsos,, como como se explica explicaria ria então então que o doent doentee jamais jamais confunda o objeto objeto alucinado alucinado com o objeto objeto percebido, percebido, nem tampouco tampouco sua convicçã convicçãoo relativa aos acontecimentos reais (o fato de chover) e a que se relaciona com acontecimentos delirantes (o fato de alguém querer assassiná-lo)? conside con sideremo remos, s, pois, pois, dois exemp exemplos los particular part icularmente mente significa significativ tivos os.. Uma moça acusou o médico de lhe fazer, fazer, durant durantee a noite, queimaduras no rosto.
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Foi-lhe perguntad perg untadoo se, ao ao se dedicar dedicar a sua toalete toa lete pela manhã, ela consta cons ta tava tava no espelho espelh o os vestígios disso, disso, ao que ela respondeu respo ndeu,, mal-humorada: mal-hum orada: “realmente, não faltava mais nada/’ Outra trazia ao mundo, todas as iemanas, iemanas, vários filhos. filhos. Agindo Agindo de acordo acordo com a orientação orientação do velho mestre, observei-lh observei-lhee num tom neu neutro tro que ela devia gastar uma fortuna f ortuna em despesas despesas com o ginecologista ginecologista e com o batism bat ismo! o!Atraí At raí com isso isso a seguinte resposta, surpreendente, surpreendente, mas que vai vai ao fundo da questão: "o "o senhor senh or me decepciona; decepciona; sempre acreditou acred itou no que que eu lhe dizia dizia,, e agora não acredita mais.” A teoria teoria clássic clássicaa teria esperado es perado a resposta respos ta inversa, inversa, já que, colocando o delírio no no contexto do real, eu deveria deveria ter te r despertado despertado a gratidão da doente, caso caso fosse fosse exato o postul po stulado ado clássico, a saber, que a convicção relativa a seus parto p artoss repetidos repetid os seria da mesma ordem de sua convicçã convicçãoo relativa ao tempo tem po que estava fazendo. Ora, não é nada disso. Também nesse nesse aspecto parece parec e que as as idéias idéias retomadas retomad as no presen pre sente te trabalho trabalho trazem trazem a esperança esperanç a de uma saída melhor melho r para essas essas dificulda dificuldades des.. Vamos relembrá-las sumariamente, fazendo referência, em primeiro lugar, para intr introd oduz uzii-la las, s, a du duas as ob obse serv rvaaçõ ções es feit feitaas por Laca Lacann num artig artigoo intit intitula ulado do "Formulações sobre a Causalidade Psíquica” {Écrits, pp. 151 a 193). A primeira primei ra constata constat a que toda alucinação e todo tod o delírio implicam implicam essen es sen cialmente um fenômeno de crença, e não de percepção no sentido próprio. pró prio. A diferença diferença entre Napoleão e o louco que se se toma por Napoleão é que q ue Napoleão Napo leão não acredita ser Napoleão, ao passo que o louco, louco, sim, sim, estecrê. estecrê. Ou seja, seja, um rei rei que não esteja louco louco introdu intr oduzz uma certa distância distância entr e ntree ele mesmo e sua realeza. realeza. Não se identifica identifica com ela em termos absolutos ç a encara pelo que ela é: um encargo encargo e um dever a cumprir, um papel pa pel a ser desempenhado pelo bem do Estado, mas que não podem defini-lo exaustivamente. O louco, ao contrário, "acredita”, real e completamente. Pois bem, tal convic convicção ção nã nãoo pode pode se situar em relação à realidade, porqu po rquant antoo o caráter referencial e de macabamento que que constitui essencialmen essencialmente te toda t oda realidade impossibilita qualquer qualquer identificação dessa dessa natureza. Nem mesmo oG General eneral de Gaulle Gau lle se acredita acreditava va inteiramente inteiramen te o General G eneral de Gaulle, já quee era também, qu também, como nos dizia, um "homem velho, cansado das provações, provações, afastado das iniciativas, sentindo aproximar-se o frio eterno, mas sem nunca se cansar de espreitar na sombra o clarão da esperança”. Os enunciados de nossas nossas doentes ajustam-se perfeitame perfei tamente nte a essa interpretação. Não há para elas nenhum sentido em colocar, colocar, situar, situar, inserir inserir os eventos delirantes no contexto de todos os demais e en entre tre eles. eles. É que esses acontecimentos delirantes tornar-se-iam então, como os outros, relativos, relativos, dependentes, contingentes, variávei variáveis, s, indiferentes pelo menos numa certa medida, e sujeitos ao fluxo e ao refluxo das reações e das interações, como acontece com com toda a realidade; realidade; em suma, seriam condenados a perder esse sentido absoluto, unívoco, certeiro e
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exemplarmente imaginário (isto (ist o é, relativo à ordem orde m da imagem imagem)) que qu e lhes é próprio, e unicamente em função do qual foram inconscientemente criados. Isso Isso é o que vem confirmar, confirmar, por por outr outroo caminho, caminho, a segunda observaç observação ão de Lacan Lacan.. O evento delirante, delirante, seja qual for, concerne sem sempre pre e eletivam eletivamente ente ao enfermo. Tem algo a lhe dizer, mesmo que esse algo ainda seja desconhec desconhecido ido do doente. Ainda que q ue tenha tenh a um caráter car áter cósmico cósmico,, transmite tra nsmite uma uma mensagem mensagem,, enuncia um privilégio privilégio ou uma maldição, maldição, exalta ou destrói destrói o sujeito e seus poderes. poderes. É em razão desse desse caráter particular partic ular do evento event o delirante delir ante que não nã o é absolutamente absolutamente necessário necessário que o próximo próximo,, o médico médico,, por ex exem emplo plo,, o con conheça heça ou seja seja informado informado de dele le.. Nenhum doente pleiteia de nós que ouçamos as a s ' Vo Vozes zes"" que Oinsultam, e, e, mesmo que as pretend pret endaa tonitruantes, tonitr uantes, não se escand escandaliz alizaa nem um pouco pouco po porr lhe perguntarmos se as está ouvindo ouvi ndo enqua en quanto nto conversamos conversamos com com ele. ele. Podemos reconhecer no delírio uma função dupla. Primeiro, à semelhança do sonho, ele realiza um desejo insatisfeito e geralmente narcísico. narcísico. Por isso é que, note-se de passagem, passagem, o delírio delírio está sujeito sujei to aos mesmos esmos métodos de interpretação interpretação que o sonho. Sua Sua aplicação chega chega inclu sive sive a ser, muitas vezes, vezes, mais mais fácil do que q ue no caso deste. Se, Se, como ocorre oco rreuu a Freud dizer, a psicose pode ser caracterizada pela submersão mais ou menos total do eu pelo inconsciente, ligada ao recalcamento da realidade, compreensível que esse eu já não não tenha tenha forças forças para para despende despenderr ou empregar é compreensível a fim de disfarçar disfarçar a liguagem liguagem do inconsciente inconsciente e lhe infligir as distorções a que ela é submetida no sonho ou em seu relato. Essa Essa primeira função, função, no entanto en tanto,, não é a única, única, por mais impor tante tante e vis visív ível el que seja sej a Tal Tal como Freud explica explica a propósito do Presidente Schreber, Schreber, o delírio é também, também, por estranh est ranhoo que pareça, pareça, o começo de uma uma certa cura. Sabemos Sabemos que, em seu sentido mais radical, a psicose pode ser compreendida compreendida como como a redrad redradaa - total, total, em última instância - dos investimento investimentoss objetais e sua recolocação no eu. O que corresponde ao narcisismo secundário dos psicanalistas e ao autismo dos psiquiatras. psiquiatras. É possível possível que o doente procure sair desse desse superinvestimento superinvestimento mortífero mort ífero de si mesmo mesmo e dessa situação de “fim do mundo" (cf., mais uma vez, as colocações de Schreber Schreber a esse esse respeito), respeito), restabelecendo um outro out ro mundo sobre as ruínas do antigo. Ele Ele recupera recupera assim um certo certo investimento investimento objetaL Mas os novos objetos que se oferecem a seu investimento libidinal libidi nal já não não serão serão os que eram antes designados pelo princípio da realidade; serão os que sua onipotência onipotência narcísica forjar e imagin imaginar. ar. Seu mater material ial essencial, essencial, na maioria das vezes, será fornecido, de um modo mais ou menos reconhecível, pelos conteúdos que o fracasso do recalcamento originári ori ginárioo tiver foracluído do inconsciente e que, nesse momento, surgirão e reaparecerão “no real".
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De tudo tud o isso, isso, o discurso shreberiano, shreberiano, tal como o analisam Freud e Lacan, fornece uma manifestação brilhan bril hante te e exemplar. exemplar. Não há, po pois, is, parado paradoxo xo algum algum em sustentar que o delírio, delírio, em algun algunss aspectos aspectos e muna ca ca la medida medida é uma limitaç limitação ão ou uma uma ruptura ruptura do autismo. autismo. É o que confirma a diferença diferença estabelec estabelecida ida por por todo psiquiatra, mesmo alheio a essas essas idéias, idéias, ao avaliar o destino presente pre sente e futuro fu turo de um hebefrênico não delirante e o de um esquizofrênico paranóide. Por outro lado, constatamos que a dupla função aqui atribuída ao delírio retoma per feitamente a noção de compromisso, tida por por Freud Freud como marca necessária necessária de todo sintoma ps íqui uico co.. sintoma psíq A última parte deste trabalho recoloca seus principais temas num contexto um pouco diferente. Esforça-se por retomá-los e interpretá-los num contexto mais mais diret diretament amentee filosó filosófico fico.. Ne Nela, la, como em toda toda part parte, e, mas talvez talvez mais do que em outros pontos, faz-se um esforço para nunca perder de vista os riscos da empreitada. Repetimos uma última vez, embora isso seja patente; não se trata nem nem por um momento momento de afirmar afirmar - a mera mera suspeita suspeita disso seria ridícula - que o discurso antropológico e filosófico sobre a existência o discurso psiquiátrico psiquiátrico sobre a loucura e o discurso psicana psicanalítico lítico sobre o inconsciente possam possam fundir-se fundir-se uns nos outro outross ou ou sejam substituíve substituíveis is em algum algum grau. Eles não podem coincidir nem por seu objeto, nem por po r sua função, função, nem por seus métodos. Persiste o fato, contudo, cont udo, de que não pode podem m sim simples plesm men ente te igno ignora rarr-se se ne nem m pe perm rman anec ecer er mutua mutuame mente nte estr estran anho hos. s. Porque Porque não menos menos absurdo seria alegar que a loucura é uma doença como a tuberculose tub erculose ou a icterícia, icterícia, isto é, um conjunto conju nto de estragos estragos provocados no organismo por uma agressão externa. A loucura, se é que comporta alguma agressão agressão vinda vinda de fora fora (não o sabemos, sabemos, pelo pelo menos em em alguns alguns casos), casos), é, antes de mais mais nada, uma possibilidade intrínsec intrínsecaa da própria existência Nes Nessa sa catego categoria ria,, que acredita acreditamos mos ter estab estabele elecid cido, o, ela ela exige ige a atenção atenção do antropólogo e do filósofo. E quanto ao inconsciente, ele tampouco é o inconsciente de um organismo, mas mas o de um psiquism psiquismo, o, pelo pelo quê se tran t rans s forma no inconsciente de alguém, alguém, e de um alguém alguém chamado chamado a se torna to rnarr fortiori, ri, coloca-se o problema dessas relações quando esse sujeito. A sujeito. A fortio inconsciente é estrut estrutura urado do como uma uma linguagem linguagem,, quando o compreendemos compreendemos como a linguagem do Outro. Outro. Tais considerações considerações nada têm a ver com uma tentativa franca ou disfarçada disfarçada de substituir substitui r esse esse inconsciente pela tutela tut ela da consciên consciência cia ou da razão, de lhe re retir tirar ar sua dimensão de impenetrabilidade impenetrabilidade ou de promover promover sua resolução. Inversamente, Inversamente, porém, não é muito mui to mais sensato colocar essa essa impenetrabilidade impenetrabil idade onde ela não está. está. Se a conduta e o devir do homem homem são absoluta abs olutamente mente regidos regidos por por forças forças inacess inacessíve íveis. is.
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qual será então o est estatut atutoo do método analítico, da análise análise e da metapsicologia metapsicologia freudiana? Assim Assim,, existe para o filósofo, no ttocan ocante te a essas questões, questões, um dever de reflexão reflexão.. Não Não mais mais insistiremos insist iremos nisso depois desta citação decisiva decisiva de Lacan: Lacan: “Porqu “Po rquee é uma verdade da experiência, na análise, que se coloca para para o sujei sujeito to a que questã stãoo de sua sua existê istênncia, ia, nã nãoo sob sob a form formaa da an angú gúst stia ia qu quee elasuscita elasuscit a no nível nível do eu eu,, e que não passa de um elemento de seu cortejo, mas enquan enquanto to questão questão articulada, ‘Que sou eu aí? aí?*, concernente concernente a seu sexo e a sua contingência no n o ser, a saber, que que ele é homem ou mulher, de um lado, lado, e de outro ou tro que poderia não sê-lo, sê-lo, os dois dois conjugando conjugando seu mistério e atando-o nos símbo símbolos los da procriação e da morte. morte. Que a questão de sua existê ex istênc ncia ia inunda o sujeito, que o sustenta, o invade invade ou o dilacera por po r todos todos os lados é do que dão testemunh tes temunhoo as tensões, as suspensões e as fantasias com que o analista depara; cabe ainda dizer que é a títul t ítuloo de elementos do discurs discursoo particular, onde ond e essa essa questão no Outro Ou tro se articula. Porque Porq ue é por por esses sses fenô fenôm men enos os se ordena ordenare rem m nas fig figuras desse esse disc iscurso urso que eles eles têm têm a fixidez fixidez de sintomas, sintomas, que que são são legíveis legíveis e se resolvem ao serem serem decifrados."1 decifrados."1 Esta última últi ma parte, portanto, port anto, é dedicada dedicada a uma uma interrogação que pretend pre tendee referir-se ao estat estatuto uto do sentido, da inteligibilidade inteligibilidade e da intencionalidade, intencionalidade, próprios, respectiv respectivame amente, nte, do discu discurso rso da antropologia filo filosó sófic fica, a, do da psica psicanál nálise ise ou do discur discurso so do próprio incon inconsci scient ente. e. É escusa escusado do dizer dizer que essa colocação, colocação, aqui como em outro outross pontos, pontos , é mais mais uma introdução, introduç ão, um ordename ordenamento nto das questões, um convite a investigações investigações ulterio ulteriores res (cu (cuja* ja* direção, no en entan tanto to,, ele marca com bastan bastante te firmeza) do que um sistema de respostas plenamente elaboradas. Esse esforço não pôde deixar de nos conduzir a uma tentativa ten tativa de articular articu lar as relações relações entr e ntree a fala, a expressão expressão e a presença. Pareceu-nos Pareceu-nos que, pelo menos em última instância, instância, esta têm t êm como como único fundamento o ser-no-mundo, entendido entendid o num nível nível em que a linguagem linguagem,, o corpo e o “real “real”” ainda estão imbricados imbricados uns nos outro outros. s. “É po porr haver uma lingu linguagem agemarqueológica do corpo corpo vivido vivido e da cadeia verbal que se faz possíve possívell uma expressão verbal não reconhecida em seu alcance simból simbólico ico.. Interp In terpreta retarr um sonho, um sintoma ou um lapso é restitu rest ituir ir às metáforas o sentido sentido que fora recalcad recalcado, o, é conceder-lhe conceder-lhe o direito direito de cidadania no universo humano.”2Pela mesma razão, razão, uma fala centrada nessa influência influência pode circular circular entre entr e os parceiro parceiross do diálog diálogoo analítico, analítico, que de certo modo modo vai além dela mesma, já que ultrapassa ou pode ultrapassar o sentido consciente que cada um de deles les lhe atribui atri bui de imediato. É que esse discurso articula nossa “relação ‘pática’ ‘pática’ com as coisa coisas, s, os seres e o mundo, co cons nsis iste te numa estruturação estrut uração do espaço, espaço, da temporalidade e da comunicação, comunicação, isto isto é, dos modos constitucionais da presença. Exprime o estilo de uma
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situação".3 situação".3 Tai discurso, discurso, dizíamos, dizíamos, não é passív passível el de transposição transposição temática. Move-se no existencial existencial e é o existencial que sugere. O que leva a admitir admitir e a reconhecer reconhecer uma dupla transcendência da fala fala:: transcendência transcendência da fala perante ela mesm mesmaa e transcen transcendên dência cia da fala fala perante p erante o mund mundo. o. Sem a primeira, primeira, como como progredi progrediria ria ela, ela, no dito, dito, daq daquilo uilo que foi foi dito para o que não foi dito, como como mostra o exemplo exemplo constante constant e da análise, análise, ilustrado por nossas reflexões sobre o caso do Homem dos Ratos? Mas a segunda dimensão da transcendência não nã o é menos necessária. necessária. Sem dúvid dúvida, a, nada de real real acontece na análise, mas mas a análise é iniciada iniciada para que algo se passe no real. Sob o ângulo dessa dessa dupla dupla transcendência, o neurótic neuróticoo é quase tão diferent diferentee dos dos psicóticos psicóticos de que falamos falamos quan quanto to o é o o normal. normal. Queremos Queremos dizer com isso isso que, no no psicótico, essas essas duas funções de transcendência transcendência deixam deixam de funcionar funciona r ou passam a funcionar apenas no vazio vazio e sem o ccontr ontrole ole de uma sobre a outra. outra. Ora, ambas são são necessárias necessárias para que se assegure assegure “a emergência do mundo simbólico no mundo da realidade”.4 Poderíamos avançar a propósito dos problemas do Édipo, sem faltar muito muito com a pertinência, pertinência, alguma algumass considerações considerações análogas. análogas. Qualquer Qualquer que seja, no passado passado mais arcaico de cada um, um, o caráte car áterr factual mais mais ou menos acentuado do complexo, o essencial é a a estrutura estru tura de triangulação triangulação,, que desenha como que a própria forma do ser-no-mundo. A instauração ea e a resolução do do Édipo resguardam resguardam o sujeito do risco de impasses catastróficos, aos quais só fazem predispô-lo predispô-lo a alguns momentos ainda mais arcaicos de seu devir. devir. A primeira primeira dessas ameaças ameaças seria permanece permanecerr na reciprocidade reciprocidade da Presença e do Todo, tal t al como definida definida pelo espaço materno: universo (ou melhor, pseudo-univeiso) da participação primordial cuja inflabilidade inflabilidade é desprovida desprovida de quaisquer limites limites,, absolutamente absolutamente alheia a qualquer qualquer distinção entre entre o interno interno e o externo, o mesmo mesmo e o outro. Uma ameaça diferente, diferente, poré porém m ligada ligada à primeira, primeira, mostra ser o reino reino da fala sem verdade, verdade, onipresente, onipresente, que não não compromete nem interpela ninguém ninguém,, porque porque basta a si mesm esma; assi assim m é a fala fala anterior a esse esse pacto pacto e anterior à lei, lei, ora murmúrio, ora tumulto tumulto de um oceano sem fund fundo. o. Afigura Afigu ra paterna paterna,, tal como se se afirma no Édipo, reordena reo rdena por po r si esse regime, regime, do começo ao fim. fim. Provido desde então então ddee referen referenciais, ciais, esse suposto mundo. Porque Porque o pai não é universo transforma-se num mundo real: o mundo. apenas um dos três termos da constelação. É também, e acima de tudo, um dos aquele que modific modificaa radicalmente a relação interna inter na e anterior anterior que ligava ligava os dos primeiros. primeiros. Ao separá-los, o pai os situa um frente ao outro outro e torna tor na poss possív ível el que eles eles se co conf nfira iram m mutuamente mutuamente a identi identidad dade, e, a den densid sidade ade e a prof profun undi dida dade de de um ob objet jetoo verd erdad adei eiro ro no seio seio de um mun undo do,, tam també bém m ele ele totalmente totalme nte outro, po pors rsee oferecera oferecer a partir part ir daí a um desejo desejo que que aceitouser aceitou ser marcado pelo selo da lei e pela prova da verdade.
conclusão 181 NOTAS
1. Écrits, Écrits, p. 549. Esse texto foi extraído do estudosobre estudosobre Schreber, intitulado intitulad o “D’Une “D’Une Question Préalable à tout to ut Traitement Traitem ent Possible dela Psychose” Psychose” [De uma Questão Anterio Ante riorr a Qualquer Qual quer Tratamen Tra tamento to Possíve Possívell da Psicose Psicose]. ]. 2. W. Huber, H. Piron e A. Vergote, La Vergote, La Psyc Psycha hana naffyse, yse, Scie Science nce de VHOm VHOmme me,, pp. 174-175. 3. H. Maldiney, artigo citado, p. 52. 4. H. Maldiney, Maldiney, artigo art igo citado, ci tado, p. 59. 59.
Transmissão da Psicanálise
1 A exceç exc eção ão feminina, Gérard Pommier Wilhelm Jensen Jensen 2 Gradiva, Wilhelm Bertra rand nd Ogilvie 3 Lacan, Bert J.-D. Nas Nasio 4 A criança magnífica da psicanál psicanálise, ise, J. 5 Fantasia Fan tasia originária, fantasias das das origens, origens da fantasia,
Je Jean Lapla planc nche he e J. -B. Pon Pontal talis Alam Didier-Weill 6 Inconsciente freudiano e transmissão da psicanálise psicanálise,, Al Marco Antoni tonioo Co Coutinho Jorge 7 Sexo e discurso em Freud e Lacan, Ma Laurance Batai ataillle 8 O umbigo do sonho, La Jean Guir uir 9 Psicossomática na clínica lacaniana, Jean 10 Nob Nobodadd odaddyy - a histeria no século, século, Catherine Millot J. -D. Na Nasio sio 11 Lições sobre os 7 conceitos cruciais c ruciais da psicanálise, J. Maud Mannoni 12 Da paixão do ser à “loucura” “loucu ra” do saber, saber, Ma Pierre Benoít Benoít 13 Psicanálise e medicina, Pierre Jeannne Gr Grano nonn-La -Lafont font 14 A topologia topolog ia de Jacques Lacan, Jean Alph phon onse se de Wa Waelhens 15 A psicose, Al 16 O desenlace de uma análise, Gérard Pommier Leon Ch Chertok e Isab Isabel ellle St Steng ngeers 17 O coração coraç ão e a razão, Le 18 O mais sublime dos histéricos, Slavoj Zizek Jean-J -Jac acqu ques es Mosco oscovvitz itz 19 Para que serve uma análise?, Jean Michel el H. Le Ledo doux ux 20 Introdução à obra de Françoise Dolto, Mich Andréé Bourguignon 21 O conceito conc eito de renegação renegaç ão em Freud, Andr 22 Repressão e subversão em psicossomática, Christophe Dejours Joêl Dor 23 O pai e sua função em psicanálise, Joêl J.-D D. Na Nasio sio 24 A histeria, J. Jean Laplanche 25 Hölderlin Höld erlin e a que questão stão do pai, pai, Je 26 Eles não sabem o que fazem, Slavoj Zizek 27 A ordem sexual, Gérard Pommier 28 A neurose neuros e infantil da psicanálise, Gérard Pommier Noga Wi Wine 29 Pulsão e inconsciente, No
30 Cinco lições sobre a teoria teoria de Jacques Lacan, J. J.-D D. Nas Nasio io 31 Psicossomática, J. J.-D D. Na Nasio sio 32 Fim de uma um a análise, análise, finalidade da psicanálise, Ala Alain in Didie idierr-W Weill ill 33 Freud e a mulher, Paul-Laurent Paul-Laurent Assoun 34 Conversas com c om o Homem dos Lobos, Karin Obholzer 35 Eros e verdade, Jo John Rajch jchman 36 Leitura Leitur a das perversões, Georges Lanteri-Laura 37 O olhar em psicanálise, psicanálise, J. J.-D D. Na Nasio sio 38 Amor, ódio, separação, Mau Maudd Mannoni 39 O homem diante da morte, Mau Maudd Mannoni 40 O real e o sexual, Claude Conté 41 Introdução Introduçã o às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan, J. J.-D D. Na Nasio sio
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Transmissão Transmissão da Psicanálise
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dire direto tor: r: Marco Marco Antoni Antonioo Cou Couti tinho nho Jo Jorg rgee
20 Introdução à obra de FrançoiSe Dolto Mich M ichel el H. Ledou Le douxx 2 10
31 Psicossomática J.-D. J.-D . N asio asi o
32 Fim de uma análise, análise, finalidade da psicanálise
conceito conceito de renegaçã renegaçãoo em Freud
Alain Ala in Didie Di dier-W r-W eill eil l
An A n dré dr é Bourgu Bou rguigno ignonn
33 Freud e a mulher
22 Repressão Repress ão e Subversã Subversãoo em psicossomática
Paul Pa ul-L -Laur aurent ent Assoun Ass oun
Christophe Dejours
34 Conversas Conversa s com o Homem dos Lobos
23 O pai e sua função em psicanálise psicanál ise
Karin Kar in O bh bhol olze zerr
Joel Jo el D o r
35 Eros e verdade
24 A histeria
John Rajchm Rajc hman an
J.-D. N asio asi o
36 Leitura das perversões
25 Hölderlin Hölde rlin e a questão do pai pai
Georges Lanteri-Laura
Jean Lapla La planc nche he
37 0 olhar em psicanálise
26 Eles não sabem o que fazem
J.-D. N asio asi o
Slavoj Zizek
38 Amor, Amor, ódio, separação
27 A ordem sexual
Mau M audd Ma Mann nnoni oni
Gérard Pommier
39 0 homem diante da morte morte
28 A neurose infantil da psicanálise psicanál ise
Mau M audd Ma Manno nnoni ni
Gérard Pommier
40 O real e o sexual
29 Pulsão e inconsciente inconsc iente
Claude Conté
Noga No ga Wine
30 Cinco lições sobre a teoria de Jacques Lacan
41 Introdução Introd ução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan
J.-D. N asio as io
J.-D. J.-D . Nasio Na sio