Roberto Lobato Corrêa
Região e Organização Espacial Geografia
Roberto Lobato Corrêa Região E Organização Espacial
7ª Edição Editora Ática São Paulo 5
2000
Sumário 1. Introdução 2. As correntes do pensamento geográfico o determinismo ambiental o possibilismo o método regional A nova geografia A geografia crítica 3. Região: um conceito complexo Região natural e determinismo ambiental Possibilismo e região Nova geografia, classes e região Região e geografia crítica Região, ação e controle 4. Organização espacial Organização espacial: uma conceituação Organização espacial: capital e Estado Organização espacial: reflexo social Organização espacial e reprodução Estrutura, processo, função e forma Espaço e movimentos sociais urbanos 5. Vocabulário crítico 6. Bibliografia comentada comentada Referencia bibliográfica de rodapé
5
1 Introdução O prop propós ósito ito dest deste e es estu tudo do é intr introd oduz uzir ir o es estu tuda dant nte e de geog geogra rafi fia a em dois dois conceitos fundamentais: o de região e o de organização espacial. Eles também são considerados por outras ciências sociais como a sociologia e a economia, mas não têm nestas a relevância adquirida na geografia. Ao longo da história da geografia, têm se situado no centro da discussão sobre o seu objeto, e erigidos na prática como os conceitos de maior importância. Outros conceitos podem ser considerados, a nosso ver, de menor importância, tais como posição geográfica e sítio. Os co conc ncei eito toss de regi região ão e de orga organi niza zaçã ção o es espa paci cial al sã são o bási básico coss para para se comp co mpre reen ende derr o ca cará ráte terr dist distin into to da geog geogra rafi fia a no âmbi âmbito to das das ciên ciênci cias as so soci ciai ais, s, indicando a via geográfica de conhecimento da sociedade, quer dizer, das relações entre natureza e história. A discussão destes termos, por outro lado, pressupõe que se tenha uma certa informação da evolução do pensamento geográfico desde, pelo menos, o final do século XIX, quando a geografia assume o caráter de disciplina acadêmica, dotada de um processo de mudança de paradigmas que se insere no bojo da história. O presente estudo compõe-se de três partes. A primeira delas procura situar o leitor em termos de como se pensa a geografia nesse espaço de tempo. Esta parte tem o caráter de introdução às outras duas, procurando colocar em evidência os modelos geográficos básicos, dentro dos quais se discutem os conceitos de região e de organização espacial. Assim, não se trata da apresentação das correntes de pensamento geográfico de per si, pois elas têm como foco os dois conceitos-chave de que estamos tratando. Para este assunto de vital importância na formação do geógrafo e do professor de geografia, sugerimos que se leia o livro de Antonio Carlos Robert Moraes (1981). A "Bibliografia comentada" cobre, por outro lado, a história do pensamento geográfico com certa profundidade. A segunda parte aborda os diversos conceitos de região, enquanto a terceira apresenta a questão da organização espacial. Constituem o centro deste estudo. Ao final, muitas questões terão sido levantadas e ficarão sem respostas. Em parte esta é a nossa intenção. E tem como finalidade o aprofundamento das discussões sobre os conceitos de região e organização espacial.
5
2 As correntes do pensamento geográfico No nosso nosso entend entender, er, as princ principa ipais is corren correntes tes de pensam pensament ento o geográ geográfic fico o ou para paradi digm gmas as da geog geogra rafi fia a sã são o os se segu guin inte tes: s: o dete determ rmin inis ismo mo ambi ambien enta tal, l, o possibilismo, o método regional, a nova geografia e a geografia crítica. Foram form formal alme ment nte e expl explic icit itad adas as a part partir ir do fina finall do sé sécu culo lo XIX, XIX, co cons nsti titu tuin indo do uma uma seqüência histórica de incorporações de práticas teóricas, empíricas e políticas que, não excluindo nenhuma delas, apresenta a cada momento um ou dois padrões dominantes. Assim, o determinismo ambiental e, menos ainda, o possibilismo não desapareceram totalmente, mas perderam o destaque, sobretudo o determinismo ambiental. Por outro lado, a geografia crítica é o último modelo a ser incorporado, pass passan ando do a co coex exis isti tirr co conf nfli liti tiva vame ment nte e co com m os outr outros os,, prin princi cipa palm lmen ente te a nova geografia. Estas tendências estão fundamentadas, de um modo, na consideração da geografia como um saber calcado em uma das três abordagens: o estudo das rela relaçõ ções es home homem/ m/me meio io,, o de área áreass e os loca locaci cion onai ais. s. Adic Adicio iona nalm lmen ente te,, tem tem sido sido adotada uma combinação de duas ou três das abordagens acima referidas. De outro outro,, as corren correntes tes fundam fundament entamam-se se em difere diferente ntess método métodoss de apreen apreensão são da realidade. Entre eles, destaca-se o positivismo, quer na sua versão clássica, quer na do positivismo lógico. O materialismo histórico e a dialética marxista, que dão base ao segmen segmento to mais mais import important ante e da geogra geografia fia crític crítica, a, são método métodoss de incor incorpor poraçã ação o rece recent nte e à geog geogra rafi fia. a. Subj Subjac acen ente te a todo todoss os para paradi digm gmas as há um deno denomi mina nado dorr comum: a geografia tem suas raízes na busca e no entendimento da diferenciação de lugares, regiões, países e continentes, resultante das relações entre os homens e entre estes' e a natureza. Não houvesse diferenciação de áreas, para usar uma expressão consagrada, certamente a geografia não teria surgido. Estamos falando, pois, do cerne da geografia, ainda que o seu significado não tenha sido sempre o mesmo. Os conceitos de região e organização espacial estão vinculados a esta idéia básica em geografia.
O determinismo ambiental A geografia emerge como uma disciplina acadêmica a partir de 1870. Até então, e desde a Antigüidade, a geografia compunha um saber totalizante, não desvinculado da filosofia, das ciências da natureza e da matemática. Com Varenius no século XVII, Kant no XVIII, e Humboldt e Ritter já na primeira metade do XIX, a geogra geografia fia vai grada gradativ tivame amente nte config configura urando ndo um conhec conhecime imento nto especí específic fico, o, sem contudo perder de vez a visão globalizante da realidade. As últimas décadas do século XIX caracterizam-se por dois processos que são extremamente importantes para a história do homem e da geografia. De um lado, o capitalismo passa a apresentar uma progressiva concentração de capitais, gerando poderosas corporações monopolistas e uma nova expansão territorial. Inaugura-se a sua fase imperialista. O outro processo, que se vincula ao primeiro, é o da frag fragm menta entaçção do saber aber unive niverrsal em vár ária iass disci iscipl plin inas as.. Ass ssim im,, cria criamm-se se departamentos de geografia nas universidades européias e, mais tarde, nas norteamericanas, conforme aponta, entre outros, Brian Hudson1. Foi o determinismo ambiental o primeiro paradigma a caracterizar a geografia que emerge no final do século XIX, com a passagem do capitalismo concorrencial para para uma uma fase fase mono monopo poli list sta a e impe imperi rial alis ista ta.. Seus Seus defe defens nsor ores es afir afirma mam m que que as condiç condições ões natura naturais, is, especi especialm alment ente e as climát climática icas, s, e dentro dentro delas delas a variaç variação ão da temper temperatu atura ra ao longo longo das estaçõ estações es do ano, ano, determ determina inam m o compo comporta rtamen mento to do
5
homem, interferindo na sua capacidade de progredir. Cresceriam aqueles países ou povos que estivessem localizados em áreas climáticas mais propícias. Fund Fundam amen enta tand ndo o a tese tese do dete determ rmin inis ismo mo ambi ambien enta tal, l, es esta tava vam m as teor teoria iass naturalistas de Lamarck sobre a hereditariedade dos caracteres adquiridos e as de Darwin sobre a sobrevivência e a adaptação dos indivíduos mais bem dotados em face do meio natural. Estas teorias foram adotadas pelas ciências sociais, que viam nelas a possibilidade de explicar a sociedade através de mecanismos que ocorrem na natureza. Foi Herbert Spencer, filósofo inglês do século XIX, o grande defensor das idéias naturalistas nas ciências sociais. Na geografia, no entanto, as idéias deterministas tiveram no geógrafo alemão Frederic Ratzel seu grande organizador e divulgador, ainda que ele não tivesse sido o expoente máximo. A formação básica de Ratzel passou pela zoologia, geologia e anat anatom omia ia co comp mpar arad ada; a; foi foi alun aluno o de Ha Haec ecke kel, l, o fund fundad ador or da ec ecol olog ogia ia,, que que o introduziu no darwinismo. No entanto, seu determinismo ambiental foi amenizado pela pela influê influênci ncia a humani humanista sta de Ritter Ritter,, Criou, Criou, desta desta forma, forma, a geogra geografia fia humana humana,, denomi denominad nada a por ele de antro antropog pogeog eograf rafia ia e marcad marcada a pelas pelas idéias idéias oriun oriundas das das ciências naturais. Noss Esta No Estado doss Unid Unidos os e, em me meno norr es esca cala, la, na Ingl Inglat ater erra ra,, o dete determ rmin inis ismo mo imprimiu-se profundamente no nascimento da geografia. O primeiro dos países passava, no final do século passado e início deste, por uma fase de afirmação nacional, em que se justificava o progresso através das riquezas naturais. Ellen Semple, discípula de Ratzel, discorre sobre as influências das condições geográficas (configuração da costa, padrão dos rios, cadeias de montanhas, climas etc.) na história norte-americana. A Inglaterra tornara-se, nesse momento, a grande metrópole imperialista. O determinismo ambiental justificava a expansão territorial através da criação de colô co lôni nias as de expl explor oraç ação ão no co cont ntin inen ente te afri africa cano no,, e de povo povoam amen ento to em regi regiõe õess temperadas, a serem ocupadas pelo excedente demográfico britânico e europeu. Na real realid idad ade, e, o dete determ rmin inis ismo mo ambi ambien enta tall co conf nfig igur ura a uma uma ideo ideolo logi gia, a, a das das classes sociais, países ou povos vencedores, que incorporam as pretensas virtudes e efetivam as admitidas potencialidades do meio natural onde vivem. Justificam, assim, o sucesso, o poder, o desenvolvimento, a expansão e o domínio. Não é de estranhar, pois, que na Grécia da Antigüidade se atribuíssem às características do clima mediterrâneo o progresso e o poderio de seu povo em face dos asiáticos que viviam em áreas caracterizadas pela invariabilidade anual das temperaturas. Muito mais mais tarde, tarde, no final final do séc século ulo XIX, XIX, ser seriam iam outras outras as caract caracterí erísti sticas cas climát climática icass consideradas como favoráveis ao crescimento intra e extraterritorial. Transformavase assim em natural, port portan anto to fora fora do co cont ntro role le huma humano no,, uma uma situ situaç ação ão que que é econômica e social, histórica portanto, denominada imperialismo. Estabe Estabelece leceu-s u-se e uma uma rel relaçã ação o causal causal entre entre o compo comporta rtamen mento to humano humano e a natureza, na qual esta aparece como elemento de determinação. As expressões fator geográfico e condições geográficas, entendidas como clima, relevo, vegetação etc., são heranças do discurso ideológico determinista. Outra delas, particularmente relevante para nós, é a região natural. Voltaremos a ela em breve. Ratzel, por sua vez engajado no projeto de expansão alemã, legou-nos o conceito de espaço vital, quer dizer, o território que representaria o equilíbrio entre a população ali residente e os recursos disponíveis para as suas necessidades, defi defini nind ndo o e rela relaci cion onan ando do,, dest deste e modo modo,, as poss possib ibil ilid idad ades es de prog progre ress sso o e as demandas territoriais. O espaço vital está implicitamente contido na organização espa es paci cial al,, deli delimi mita tand ndo, o, no campo campo do ca capi pita tali lism smo, o, part parte e da supe superf rfíc ície ie da terr terra a organizada pelo capital e pelo Estado capitalista, extensão que se tornou necessária à repr reprod oduç ução ão do me mesm smo. o. Em ling lingua uage gem m orga organi nici cist sta, a, es espa paço ço vita vitall equi equiva vale le à expressão espaço do capital.
o possibilismo 5
Em reação ao determinismo ambiental surge, na França no final do século XIX, na Alemanha no começo do XX e nos Estados Unidos na década de 20, um outro outro paradi paradigma gma da geogra geografia fia,, o possib possibili ilismo smo.. À sem semelh elhanç ança a do determ determini inismo smo ambiental, a visão possibilista focaliza as relações entre o homem e o meio natural, mas não o faz considerando a natureza determinante do comportamento humano. A reaç reação ão ao dete determ rmin inis ismo mo ambi ambien enta tal, l, mais mais fort forte e na Fran França ça,, tem tem co como mo motivação externa a situação de confronto entre ela e a Alemanha. O possibilismo, francê francêss em sua orige origem, m, opõe-s opõe-se e ao determ determini inismo smo ambien ambiental tal germân germânico ico.. Esta Esta oposição fundamenta-se nas diferenças entre os dois países. Ao contrário da Alemanha, unificada em 1871, a França já era França há muito tempo. Lá a revolução burguesa tinha se dado de modo mais completo, exti extirp rpan ando do os resq resquí uíci cios os feud feudai ais, s, aind ainda a exis existe tent ntes es na Alem Aleman anha ha.. Esta Esta cheg chega a tardiamente à corrida colonial, enquanto a França dispunha, então, de um vasto império; os interesses expansionistas alemães voltaram-se, em grande parte, para a própria Europa. Acrescente-se ao quadro a luta de classes, que assumia formas mais acirradas na França, a exemplo da Comuna de Paris. Neste contexto, a geografia francesa teria de cumprir simultaneamente vários papéis: a) Desmascarar o expansionismo germânico – criticando o conceito de espaço vital – sem, no entanto, inviabilizar intelectualmente o colonialismo francês; b) Abolir qualquer forma de determinação, da natureza ou não, adotando a idéia de que a ação humana é marcada pela contingência; c) Enfatizar a fixidez das obras do homem, criadas através de um longo processo de tran transf sfor orma maçã ção o da natu nature reza za;; as assi sim m os elem elemen ento toss mais mais es está táve veis is,, so soli lida dame ment nte e implantados na paisagem, são ressaltados, não se privilegiando os mais recentes, resultantes de transformações que podem colocar em risco a estabilidade e o equ equilíb ilíbri rio o, alc alcança ançado doss ante anterrior iorme ment nte. e. Daí a ênfa ênfasse no es estu tud do dos sítio ítioss predominantemente rurais. No plano interno à geografia, havia a reação a ela ter sido definida por uma relação de causa e efeito – a natureza determinando a ação humana - e não por um objeto objeto empiri empiricam cament ente e identi identific ficáve ável. l. Pensou Pensou-se -se,, então, então, na paisag paisagem em como como uma uma cria criaçã ção o huma humana na,, elab elabor orad ada a ao long longo o do temp tempo, o, se send ndo o a pais paisag agem em natu natura rall transformada em cultural ou geográfica. Na realidade, para Vidal de Ia Blache, o mestre do possibilismo, as relações entre o homem e a natureza eram bastante complexas. A natureza foi considerada como fornecedora de possibilidades para que o homem a modificasse: o homem é o principal agente geográfico. Vidal de Ia Blache redefine o conceito de gênero de vida herdado do determinismo, conforme aponta Paul Claval (1974): trata-se não mais de uma conseqüência inevitável da natureza, mas de um acervo de técnicas, hábitos, usos e costumes, que lhe permitiram utilizar os recursos naturais disponíveis
tal como Moraes (1981) a ele se refere. Os gêneros de vida pensados anteriormente exprimiam uma situação de equilíbrio entre população e os recursos naturais. Uma paisagem geográfica enquadraria, na verdade, a área de ocorrência de' uma forma de vida. A pais paisag agem em geog geográ ráfi fica ca tem, tem, aind ainda, a, uma uma exte extens nsão ão terr territ itor oria iall e limi limite tess razoavelmente identificáveis. Nestes termos, a região é a expressão espacial da ocorrência de uma mesma paisagem geográfica. O objeto da geografia possibilista é, portanto, a região, e a geografia confunde-se, então, com a geografia regional. Enquanto formas criadas pelo homem sobre a superfície da Terra, a paisagem poderia ser considerada sinônimo de organização espacial? Primeiramente, lembrese de que este conceito não foi cogitado pela geografia 5
vidaliana. Em segundo lugar, no nosso entender, o conceito de paisagem - campos agrícolas dispostos pelas encostas suaves de um vale, florestas nas íngremes, caminhos entre os campos e ao longo do rio onde se localizam os núcleos de povoamento etc. - aproxima-se do de organização espacial que adotamos neste estudo. No entanto, o conceito de paisagem apresenta uma limitação dada pela ênfase em um aspecto exterior, derivado de sua apreensão via método empíricoindutivo. Por outro lado, o conceito de paisagem, que acaba se confundindo com o de região, está associado à visão de uni cidade, isto é, de um fenômeno que ocorre uma única vez, sem se repetir. O conceito de organização espacial é, para nós, mais abrangente e rico que o de paisagem.
O método regional O método regional consiste no terceiro paradigma da geografia, opondo-se ao determinismo ambiental e ao possibilismo. Nele, a diferenciação de áreas não é vista a partir das relações entre o homem e a natureza, mas sim da integração de fenômenos heterogêneos em uma dada porção da superfície da Terra. O método regional regional focaliza focaliza assim o estudo estudo de áreas, erigindo erigindo não uma relação relação causal causal ou a paisagem regional, mas a sua diferenciação de per si como objeto da geografia. O método regional tem merecido atenção de geógrafos desde pelo menos o século XVIII, com Varenius. O filósofo Kant e o geógrafo Carl Ritter, respectivamente no final do século XVIII e na primeira metade do XIX, ampliaram as bases dos estudos de área. No final do século passado, Richthofen estabelece o conceito de coro co rolo logi gia a (int (integ egra raçã ção o de fenô fenôme meno noss hete hetero rogê gêne neos os so sobr bre e uma uma dada dada área área), ), desenvolvido mais tarde por Alfred Hettner. Contudo, a geografia do final do século passado e início deste vivenciava a disputa entre as correntes determinista e possibilista, não se valorizando o método regional. Apenas a partir dos anos 40, e nos Estados Unidos, sobretudo, a tradição de estudos de área assume expressão. No centro da valorização do método regional está o geógrafo norte-americano Hartshorne 2. Com ele, o novo paradigma ganha outra dimensão. No plano externo, o método regional evidencia a necessidade de produzir uma geografia regional, ou seja, um conhecimento sintético sobre diferentes áreas da superfície da Terra. Preocupação antiga, derivada da expansão mercantilista dos século séc uloss XVI XVI e XVII, XVII, aparec aparecia, ia, então, então, como como res result ultado ado da demand demanda a das grandes grandes corporações e dos aparelhos de Estado. No plano interno, registra a procura de uma identidade para a geografia, que se obteria não a partir de um objeto próprio, mas através de um método exclusivo. Resumindo, diferenciação de áreas passa a se considerar o resultado do método geográfico e, simultaneamente, o objeto da geografia. Para Hartshorne, o cerne da geografia é a regional que, como vimos, busca a integração entre fenômenos heterogêneos em seções do espaço terrestre. Estes fenô fenôme meno noss apre aprese sent ntam am um sign signif ific icad ado o geog geográ ráfi fico co,, isto isto é, co cont ntri ribu buem em para para a diferenciação de áreas. Da integração destes - estudados sistematicamente pelas outras ciências -, surge a geografia como uma ciência de síntese. Em sua sua prop propos osiç ição ão,, Ha Hart rtsh shor orne ne não adot adota a a regi região ão Co Como mo o obje objeto to da geografia. Para ele, importante é o método de identificar as diferenciações de área, que resultam de uma integração única de fenômenos heterogêneos. Diz ele em seu clássico estudo de 1939: o objeto da geografia regional é unicamente o caráter variável da superfície da Terra - uma unidade que só pode ser dividida arbitrariamente em partes, 5
as quais, em qualquer nível da divisão, são como as partes temporais da história, únicas em suas características 3.
A regi região ão,, para para Ha Hart rtsh shor orne ne,, não não pass passa a de uma uma área área most mostra rand ndo o a sua sua unicidade, resu result ltad ado o de uma uma inte integr graç ação ão de natu nature reza za únic única a de fenô fenôme meno noss heterogêneos. O conceito de organização espacial também não é cogitado pelo método regional. Para tanto, pressupõe-se pensar a priori na existência de uma lógica em ação, resultante da efetivação de regras ou leis de natureza social. Ora, a proposição hartshorniana não admite a existência de outras leis além da unicidade do caráter integrativo dos fenômenos sobre a superfície da Terra. Deste Deste modo, modo, as contri contribui buiçõe çõess do paradi paradigma gma do método método region regional al para para os conceitos de região e de organização espacial são, em si mesmas, muito limitadas. Iriam suscitar, no entanto, enorme crítica, na qual aquilo que nos interessa é considerado de modo privilegiado.
A nova geografia Após a 2ª Guerra Mundial, verifica-se uma nova fase de expansão capitalista. Ela se dá no contexto da recuperação econômica da Europa e da "guerra fria", envolv envolvend endo o maior maior concen concentra tração ção de capita capitall e progr progress esso o técnic técnico, o, res result ultand ando o na ampliaç ampliação ão das das grande grandess corpo corporaç rações ões já existe existente ntes. s. Esta Esta expans expansão ão defro defronta nta-se -se,, ainda, com o desmantelamento dos impérios coloniais, sobretudo a partir dos anos 60. Não se trata mais de uma expansão marcada pela conquista territorial, como ocorreu no final do século passado; ela se dá de outra maneira e traz enormes conseq conseqüên üência cias, s, afetan afetando do tanto tanto a organi organizaç zação ão soc social ial como como as formas formas espaci espaciais ais criadas pelo homem. Uma nova divisão social e territorial do trabalho é posta em ação, envolvendo introd introduçã ução o e difusã difusão o de novas novas cultur culturas, as, indust industria rializ lização ação,, urbani urbanizaç zação ão e outras outras relações espaciais. As regiões elaboradas anteriormente à guerra são desfeitas, ao mesmo tempo que a ação humana, sob a égide do grande capital, destrói e constrói novas formas espaciais, reproduzindo outras: rodovias, ferrovias, represas, novos espa es paço çoss urba urbano nos, s, exte extens nsos os ca camp mpos os agrí agríco cola lass desp despov ovoa oado doss e perc percor orri rido doss por por modernos modernos tratores, tratores, shopping shopping centers centers etc. etc. Trat Trataa-se se de uma uma muda mudanç nça a tant tanto o no conteú conteúdo do como como nos limite limitess region regionais ais,, ou sej seja, a, no arranj arranjo o espaci espacial al criado criado pelo pelo homem. Estas transformações inviabilizariam os paradigmas tradicionais da geografia - o determinismo ambiental, o possibilismo e o método regional -, suscitando um novo, calcado em uma abordagem locacional: o espaço alterado resulta de um agregado de decisões locacionais. A geografia que surge em meados da década de 50, conhecida como nova geografia, tem um papel ideológico a ser cumprido. É preciso justificar a expansão capita capitalis lista, ta, esc escamo amotea tearr as transf transfor ormaç mações ões que afetar afetaram am os gênero gêneross de vida vida e paisagens solidamente estabelecidas, assim como dar esperanças aos "deserdados da terra", acenando com a perspectiva de desenvolvimento a curto e médio prazo: o subdesenvolvimento é encarado como uma etapa necessária, superada em pouco tempo. A teoria dos pólos de desenvolvimento é um dos melhores exemplos desta ideologia. A nova geogra geografia fia nasce nasce simult simultane aneame amente nte na Suécia, Suécia, na Inglat Inglaterr erra a e nos Esta Estado doss Unid Unidos os,, nest neste e últi último mo país país co como mo uma uma ferr ferren enha ha crít crític ica a à geog geogra rafi fia a hartshorniana. Adota uma postura pragmática que se associa à difusão do sistema de planejamento do Estado capitalista, e o positivismo lógico como método de apreensão do real, assumindo assim uma pretensa neutralidade científica. Ao contrário do paradigma possibilista e da geografia hartshorniana, a nova procur procura a leis ou regula regularid ridade adess empíri empíricas cas sob a forma forma de padrõe padrõess espaci espaciais ais.. O 5
emprego de técnicas estatísticas, dotadas de maior ou menor grau de sofisticação média, desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise fatorial, cadeia de Markov etc. -, a utilização da geometria, exemplificada com a teoria dos grafos, o uso de modelos normativos, a adoção de certas analogias com as ciências da natureza e o emprego de princípios da economia burguesa caracterizam o arsenal de regras e princí princípio pioss adotad adotados os por ela. É conhec conhecida ida também também como como geogra geografia fia teorét teorética ica ou geografia quantitativa. A nova geografia considera a região um caso particular de classificação, tal como se procede nas ciências naturais. E toda discussão sobre região no seu âmbi âmbito to co corr rres espo pond nde e a uma uma crít crític ica a ao aoss co conc ncei eito toss deri deriva vado doss do dete determ rmin inis ismo mo ambiental e do possibilismo. O conceito de organização espacial tem todas as condições para aparecer na nova geografia. Pois o rápido processo de mudança locacional que se verifica no pós-guerra, afetando o arranjo sobre a superfície da Terra das formas criadas pelo homem, e envolvendo vultosos recursos, suscita a questão da eficiência máxima de cada localização rearranjada. Eficiência máxima, naturalmente, na ótica do capital. Desenvolve-se o conceito de organização espacial entendido como padrão espacial resu result ltan ante te de deci decisõ sões es loca locaci cion onai ais, s, priv privil ileg egia iand ndo o as form formas as e os 4 movimentos sobre a superfície da Terra (interação espacial) . Surge também na França, onde, a nosso ver, estava latente no pensamento vidaliano. Mas não dentro da nova geografia, tal como era definida nos países anglo--saxões e na Suécia, e sim numa geografia econômica e aplicada, em cujo centro situa-se Pierre George e a política de aménagement du territoire 5.
A geografia crítica O debate interno à geografia prossegue durante as décadas de 70 e 80. A nova geografia e os paradigmas tradicionais são submetidos a severa crítica por parte de uma geografia nascida de novas circunstâncias que passam a caracterizar o capitalismo. Trata-se da geografia crítica, cujo vetor mais significativo é aquele calcado no materialismo histórico e na dialética marxista. As origens de uma geografia crítica, que não só contestasse o pensamento domi domina nant nte, e, mas mas tive tivess sse e tamb também ém a inte intenç nção ão de part partic icip ipar ar de um proc proces esso so de transformação da sociedade, situam-se no final do século XIX. Trata-se da geografia propos proposta ta pelos pelos anarqu anarquist istas as Élisée Élisée Reclus Reclus e Piotr Piotr Kropot Kropotkin kin.. Ela não fez esc escola ola,, submergida pela geografia "oficial", vinculada aos interesses dominantes. A partir da segunda metade da década de 60, verifica-se nos países de capitalismo avançado o agravamento de tensões sociais, originado por crise de desemprego, habitação, envolvendo ainda questões raciais. Simultaneamente, em vários países do Terceiro Mundo, surgem movimentos nacionalistas e de libertação. O que se pensava até então em termos de geografia não satisfaz, isto é, não masc mascar ara a mais mais a dram dramát átic ica a real realid idad ade. e. Os mode modelo loss norm normat ativ ivos os e as teor teoria iass de desenvolvimento foram reduzidos ao que efetivamente são: discursos ideológicos, no melhor dos casos empregados por pesquisadores ingênuos e bem intencionados. Uma Uma geog geogra rafi fia a crít crític ica a co come meça ça a se es esbo boça çar, r, co cong ngre rega gand ndo o geóg geógra rafo foss de mentes abertas, que tinham se dedicado à nova geografia, como William Bunge e Davi David d Ha Harv rvey ey,, ou que que tinh tinham am uma uma posi posiçã ção o polí polític tica a de es esqu quer erda da na geog geogra rafi fia a herdeira das tradições vidalianas, a exemplo de Yves Lacoste. Esta visão crítica é aceita sob reservas pelo Estado capitalista, na medida cm que este não pode desempenhar seu papel de controle, apoiado em informações provenientes de seu serviç ser viço o de propag propagand anda. a. Vários Vários são os periód periódico icoss que focali focalizam zam critic criticame amente nte a geografia: Antipode, Newsletter (Union of Socialist Geographers), Hérodote, Espace Temps e Espace et Luttes. Adicionalmente, em numerosos outros periódicos, há contribuições de geógrafos críticos. 5
No caso do Brasil, a geografia crítica nasce no final da década de 70, cujo marco foi o 3° Encontro Nacional de Geógrafos, realizado em 'julho de 1978 em Fortaleza, sob os auspícios da Associação dos Geógrafos Brasileiros. Além lém das acir cirradas adas crít crític icas as aos par paradig adigm mas que que a prec eced eder eram am,, as contribuições da geografia crítica, ainda em curso, são numerosas. Dizem respeito à rein reinte terp rpre reta taçã ção, o, co com m base base na teor teoria ia marx marxis ista ta,, de as aspe pect ctos os que que tinh tinham am sido sido aborda abordados dos pela pela nova geog geogra rafi fia. a. Assi Assim, m, reex reexam amin inaa-se se ques questã tão o da Jorn Jornad ada a de trabalho, da terra urbana, da habitação, dos transportes regionais e da localização indu indust stri rial al.. A geog geogra rafi fia a crít crític ica a desc descob obre re o Esta Estado do e os dema demais is agen agente tess da organização espacial: os proprietários fundiários, os industriais, os incorporadores imobiliários etc. A questão das relações entre o homem e a natureza, central no temário do determinismo ambiental e do possibilismo, é também repensada à luz do marxismo. O tema tema da regi região ão,, ques questã tão o clás clássi sica ca na hist histór ória ia do pens pensam amen ento to geog geográ ráfi fico co,, é retomado pela geografia crítica. Neste sentido, uma tentativa de conceituação de região será feita mais adiante procurando entendê-la por uma visão dialética. Entre os avanços realizados pela geografia crítica estão aqueles associados à questão da organização espacial, herdada basicamente da nova geografia. Trata-se, no ca caso so,, de ir além além da desc descri rição ção de padr padrõe õess es espa paci ciai ais, s, proc procur uran ando do-s -se e ver ver as relações dialéticas entre formas espaciais e os processos históricos que modelam os grupos sociais. Na disc discus ussã são o do co conc nceit eito o de orga organi niza zaçã ção o es espa paci cial al,, a co cont ntri ribu buiç ição ão dos dos geógrafos brasileiros tem sido muito importante. Assim, por exemplo, considera-se a teoria marxista do valor como base para se empreender uma análise espacial, conforme o fazem Antonio CarIos Robert Maraes e WanderIey Messias da Costa (1984). Outra contribuição é a de Milton Santos com o conceito de formação sócioespaci espacial, al, onde onde a organ organiza ização ção espaci espacial al consti constitui tui parte parte integr integrant ante e de uma dada dada sociedade. sociedade. Milton Santos Santos (1978) (1978) levanta levanta ainda a polêmica polêmica questão questão da organizaç organização ão espacial como instância da sociedade. A discussão que empreenderemos sobre este conceito estará fundamentalmente baseada na geografia crítica.
5
3 Região: um conceito complexo O termo região não apenas faz parte do linguajar do homem comum, como também é dos mais tradicionais em geografia. Tanto num como noutro caso, o conceito de região está ligado à noção fundamental de diferenciação de área, quer dizer, à aceitação da idéia de que a superfície da Terra é constituída por áreas diferentes entre si. A utilização do termo entre os geógrafos, no entanto, não se faz de modo harmônico: ele é muito complexo. Queremos dizer que há diferentes conceituaçães de região. Cada uma delas tem um significado próprio e se insere dentro de uma das correntes do pensamento geográfico. Isto quer dizer que, quando falamos em regi região ão,, impl implic icit itam amen ente te,, mas mas de pref prefer erên ênci cia a de modo modo expl explíc ícit ito, o, es esta tamo moss nos nos remetendo a uma das correntes já identificadas anteriormente. Dois pontos devem ser abordados nesta introdução e ambos se referem ao nosso posicionamento. Primeiramente, achamos que a região deve ser vista como um co conc ncei eito to inte intele lect ctua ualm lmen ente te prod produz uzido ido.. Pa Part rtim imos os da real realid idad ade, e, clar claro, o, mas mas a submetemos à nossa elaboração crítica, na seqüência, procurando ir além da sua apre apreen ensã são o em base basess pura purame ment nte e se sens nsor oria iais is.. Proc Procur uram amos os ca capt ptar ar a gêne gênese se,, a evolução e o significado do objeto, a região. Em segundo lugar, queremos deixar claro que todos os conceitos de região podem ser utilizados pelos geógrafos. Afinal todos eles são meios para se conhecer a realidade, quer num aspecto espacial específico, quer numa dimensão totalizante: no entanto, é necessário que explicitemos o que estamos querendo e tenhamos um quadro territorial adequado aos nossos propósitos. Nesta parte iremos ver os principais conceitos de região, ou seja, o de região natural, o de região geográfica de Vidal de Ia Blache e o de região como classe de área, já tradicionalmente estabelecidos. Tentaremos conceituá-la sob o ângulo do materi materiali alismo smo histór histórico ico,, onde, onde, acredi acreditam tamos, os, não está está sol solida idamen mente te estabe estabelec lecida ida.. Finalmente, discutiremos a questão da região como um instrumento de ação e controle dentro de uma sociedade de classes.
Região natural e determinismo determinismo ambiental No final do século XIX, e durante durante as duas primeiras primeiras décadas deste, quando quando a ciên ciênci cia a geo geográf gráfic ica a foi foi imp impulsi ulsio onad nada pela ela exp expans ansão impe imperriali ialist sta, a, send endo o determinismo ambiental uma de suas principais correntes de pensamento, um dos conceitos dominantes foi o de região natural, saído diretamente do determinismo ambiental. A região natural é entendida como uma parte da superfície da Terra, dimens dimension ionada ada segund segundo o esc escala alass territ territori oriais ais divers diversifi ificad cadas, as, e caract caracteri erizad zadas as pela pela uniformidade resultante da combinação ou integração em área dos elementos da natu nature reza za:: o clim clima, a, a vege vegeta tação ção,, o rele relevo vo,, a geol geolog ogia ia e outr outros os adic adicio iona nais is que que diferenciariam ainda mais cada uma destas partes. Em outras palavras, uma região natu natura rall é um ec ecos ossi sist stem ema a onde onde se seus us elem elemen ento toss ac acha hamm-se se inte integr grad ados os e sã são o interagentes. É preciso deixar claro que a idéia de combinação ou integração em área de elementos diversos é muito importante para o conceito de região visto sob o paradigma do determinismo ambiental (e para outros também). Um mapa com a distribuição espacial dos tipos climáticos de Koppen, por exemplo, não se refere a uma combinação ou integração abrangendo elementos heterogêneos da natureza. Trata-se de uma divisão apoiada na temperatura e na precipitação, com as quais Koppen estabeleceu suas regiões climáticas. A região natural é mais complexa. Ao contrário, a divisão regional proposta por Herbertson 1 está apoiada no conceito de região natural. É uma divisão clássica, que ainda hoje exerce influência 5
no ensino da geografia na escola secundária. Herbertson, com base no clima e no relevo, e considerando a vegetação, divide a superfície da Terra em 6 tipos e 15 subt subtip ipos os,, que que não não apre aprese sent ntam am co cont ntig igüi üida dade de es espa paci cial, al, e 57 regi regiõe õess natu natura rais is,, distintas dos primeiros por apresentarem esta contigüidade. Os 6 tipos são os segu se guin inte tes: s: pola polar, r, temp temper erad ada a fria fria,, temp temper erad ada a quen quente te,, trop tropic ical al,, mont montan anho hosa sa subtropical, e terras baixas e úmidas equatoriais. Sobr Sobre e a prop propos osiç ição ão de He Herb rber erts tson on co conv nvém ém ress ressal alta tarr três três as aspe pect ctos os.. Em primeiro lugar, as regiões naturais propostas constituem uma base para estudos sistemáticos, como se infere do título de seu artigo. Isto significa, na realidade, que o referido autor procurava um quadro territorial adequado para pensar a geografia seg se gund undo a co conc ncep epçã ção o ambie mbient ntal alis ista ta,, isto isto é, onde se pudes udessse estud studar ar e compreender as relações homem/ natureza, admitindo-se que nas regiões naturais esta es tass se seri riam am mais mais evid eviden ente tes, s, mais mais perc percep eptí tíve veis is:: nela nelass se pode poderi ria a ver ver mais mais claramente o papel determinante da natureza sobre o homem. Neste sentido, as regiões naturais configuram, de fato, um ponto de partida, e não de chegada, ou coroam coroament ento, o, no quadro quadro territ territori orial al que englob engloba a o conhec conhecime imento nto a res respei peito to das diversas áreas diferenciadas da superfície da Terra. É nestes termos que o geógrafo americano Charles Dryer, em 1915, aceita a idéia de que as regiões naturais devam ser um meio para se compreender as relações homem/natureza, que aparecem diretamente, segundo ele, através da vida econômica, para cada um dos estágios de cultura. Em segundo lugar, o clima aparece, em Herbertson, Dryer e outros, como o elemento elemento fundamenta fundamentall da natureza. natureza. Não resta dúvida dúvida de que a variação espacial espacial dos tipos de clima é um dado importante para se compreender a diferenciação da ocupação humana sobre a superfície da Terra, porém no ambientalismo o clima passa a ser considerado, como já se viu, fator determinante sobre o homem e, em muitos casos de modo explícito, sobre sua história. O clima é utilizado como justificativa para o colonialismo em suas diversas formas (colônias de povoamento e de exploração) e o racismo, duas das múltiplas e interligadas facetas do imperialismo. Muito sintomático é o fato de Dryer referir-se às regiões econômicas como sendo determinadas pela natureza: justifica-se assim, em última instância, a superioridade natural das regiões e dos países desenvolvidos, que teriam uma natureza mais pródiga. O trecho a seguir, tirado de Herbertson, elucida os dois aspectos acima mencionados: Através da compreensão da história da mesma raça em duas diferentes regiões, ou de um conjunto de raças na mesma região, seria possível chegar a algum conhecimento do efeito invariável de um tipo de meio sobre seus habitantes 2.
Em terceiro lugar, convém lembrar que à época em que o conceito de região natural desfrutava de prestígio não se podia mais falar em área da superfície da Terra que, em algum grau, não tivesse sofrido ação humana e alterado o seu meio natura natural, l, a primei primeira ra natur natureza eza.. Muito Muito especi especialm alment ente e na Inglat Inglaterr erra a do tempo tempo de Herbertson. Isto, contudo, não tira a importância do conceito, principalmente para os intere interessa ssados dos no estudo estudo sis sistem temáti ático co dos difere diferente ntess ecoss ecossist istema emass ou regiõe regiõess naturais modificadas pelo homem ao longo da história, uma abordagem que não foi considerada pelos geógrafos deterministas quando as estudaram. Mesmo para um geógrafo francês como Camille Vallaux, de um país onde o dete determ rmin inis ismo mo ambi ambien enta tall não não fez fez ca carr rreir eira, a, as regi regiõe õess natu natura rais is e as huma humana nass conciliam-se quando consideradas em termos de grandes regiões da superfície da Terra, como aquelas da floresta equatorial, das zonas desérticas, mediterrâneas, temperadas e polares. Nestes amplos quadros naturais, caracterizados por uma enorme estabilidade quando comparados à história do homem, o referido autor adm admite ite que os efei efeito toss das co cond ndiç içõe õess natur aturai aiss so sobr bre e o se serr human umano o se seja jam m 5
signif significa icativ tivos, os, traduz traduzido idos, s, em cada cada uma uma dessas dessas grande grandess regiõe regiões, s, por modelo modeloss próprios de ação dos que nelas habitam. Daí a coincidência, nesta escala territorial, entre regiões naturais e humanas. Estamos frente a uma forma amenizada, filtrada, de determinismo ambiental, não considerado de modo absoluto. Esta visão é, ainda, marcada pelo possibilismo: abaixo das grandes regiões definidas pela natureza, vêm as menores caracterizadas por elementos de ordem humana, marcados pela instabilidade e capazes de provocar mudanças no conteúdo e nos limites regionais. O conceito de região natural foi introduzido no Brasil, via influência francesa, por Delgado de Carvalho em 1913. É dentro da ótica acima exposta que Fábio Guimarães3 admit admitia ia a sua utilização utilização no Brasil Brasil,, visand visando o uma divisã divisão o de caráte caráterr prático e duradouro, que possibilitasse a comparação de dados estatísticos ao longo do tempo. Guimarães, aceitando a identificação das regiões naturais propostas por Delgad Delgado o de Carval Carvalho, ho, consid considera era as seguin seguintes tes grande grandess regiõe regiõess natura naturais: is: norte, norte, nord nordes este te,, lest leste, e, sul sul e ce cent ntro ro-o -oes este te.. Esta Estass unid unidad ades es regi region onai aiss maio maiore ress fora foram m divididas em regiões, sendo estas, por sua vez, subdivididas em zonas fisiográficas, caracterizadas por elementos de ordem humana.
Possibilismo Possibilismo e região O possibilismo considera de modo diferente a questão da região. Não é a regi região ão natu natura ral, l, e sua sua infl influê uênc ncia ia so sobr bre e o home homem, m, que que domi domina na o temá temári rio o dos dos geógra geógrafos fos possib possibili ilista stas. s. É, sem dúvida dúvida,, uma região região humana humana vista vista na forma forma da geog geogra rafi fia a regi region onal al que que se torn torna a se seu u próp própri rio o objet objeto. o. A regi região ão co cons nsid ider erad ada a é concebida como sendo, por excelência, a região geográfica. Assim, os conceitos de região natural e região geográfica, tal como esta será definida, são distintos, tanto no que se refere às suas bases empíricas, como aos seus propósitos. Reagindo ao determinismo ambiental, o possibilismo considera a evolução das relações entre o homem e a natureza, que, ao longo da história, passam de uma adaptação humana a uma ação modeladora, pela qual o homem com sua cultura cria uma paisagem e um gênero de vida, ambos próprios e peculiares a cada porção da superfície da Terra. Com diferenças em maior ou menor grau, estas idéias aparecem na França no final do século passado com Paul Vidal de Ia Blache, na Alemanha da primeira década deste século com Otto Schlüter, e nos Estados Unidos, em 1925, com Carl Sauer, que se inspirou nos dois mencionados autores. Em todos os três casos tratase da mesma reação ao determinismo ambiental e ao seu correspondente conceito de região natural. A região geográfica abrange uma paisagem e sua extensão territorial, onde se entrelaçam de modo harmonioso componentes humanos e natureza. A idéia de harmonia, de equilíbrio, evidente analogia organicista que Vidal de Ia Blache adota, constitui o resultado de um longo processo de evolução, de maturação da região, onde muitas obras do homem fixaram-se, ao mesmo tempo com grande força de permanência e incorporadas sem contradições ao quadro final da ação humana sobre a natureza. Região e paisagem são conceitos equivalentes ou associados, podendo-se igualar, na geografia possibilista, geografia regional ao estudo da paisagem. E esta equivalência tem apoio lingüístico: em francês paysage (paisagem) vem de pays (pequena região homogênea); em alemão a palavra landschaft tem dois sentidos: paisagem e extensão de um território que se caracteriza por apresentar aspecto mais ou menos homogêneo; em inglês landscape designa paisagem, e Sauer usou o termo como sinônimo de região. A região geográfica assim concebida é considerada uma entidade concreta, palpável, um dado com vida, supondo portanto uma evolução e um estágio de equilí equilíbri brio. o. Nes Neste te racioc raciocíni ínio, o, chegar chegar-se -se-ia -ia à conclu conclusão são de que a região região poderi poderia a desaparecer. Sendo assim, o papel do geógrafo é o de reconhecê-la, descrevê-la e 5
expl explic icáá-la la,, isto isto é, torn tornar ar clar claros os os se seus us limi limite tes, s, se seus us elem elemen ento toss co cons nsti titu tuin inte tess combinado combinadoss entre si e os processos processos de sua formação formação e evolução. evolução. Neste aspecto, a região geográfica dos possibilistas não se diferenciava da região natural. No proc proces esso so de reco reconh nhec ecim imen ento to,, desc descri riçã ção o e expl explic icaçã ação o dess dessa a unid unidad ade e concreta, o geógrafo evidenciava a individualidade da região, sua personalidade, sua singularidade, aquela combinação de fenômenos naturais e humanos que não se repetiria. A concretude e individualidade de cada região são ainda reconhecidas pela sua população e as das regiões vizinhas; isto se explica pelo fato de cada região possuir um nome próprio único, que todos conhecem a partir de uma vivência plenamente integrada à região: pays de Caux, pays de Ia Brie, Agreste, Brejo, Campanha Gaúcha etc. A região geográfica definida por Vidal de Ia Blache e seus discípulos tem seus limites determinados por diversos componentes: uma fronteira pode ser o clima, outra o solo, outra ainda a vegetação. O que importa é que na região haja uma comb co mbin inaç ação ão es espe pecí cífi fica ca da dive divers rsid idad ade, e, uma uma pais paisag agem em que que ac acab abe e co conf nfer erin indo do singularidade àquela região. Não se trata de um corte mais ou menos arbitrário na distribuiç distribuição ão desigual desigual de um determinad determinado o elemento elemento sobre sobre a superfície superfície da Terra. Terra. Os esquemas a seguir, apoiados em Yves Lacoste (1976), exemplificam a questão dos limites e da individualidade da região. As figuras 1a a 1 d indicam a divisão de um mesm me smo o se segm gmen ento to de terr terra a de ac acor ordo do co com m quat quatro ro elem elemen ento tos. s. Ca Cada da um dele deless apresenta uma diferencialidade espacial, inerente à sua própria natureza.
Figura 1
5
Da sua superposição, formam-se 10 regiões, cada uma marcada pela combinação singular dos 4 elementos considerados: assim, há apenas uma única região ACEG e uma única outra denominada ACFG conforme aparece na figura 1e. O conceito vidaliano de região recebeu inúmeras críticas de Lacoste e de Claval. O primeiro dos geógrafos franceses comenta que na escolha dos elementos que se combinam há uma seletividade que considera apenas os antigos, de longa dura duraçã ção, o, desp despre reza zand ndo o os elem elemen ento toss de orig origem em rece recent nte. e. Isto Isto sign signif ific ica a que, que, implic implicita itamen mente, te, conceb concebe-se e-se a região região como como uma entida entidade de acabad acabada, a, conclu concluída ída.. Ademais, a concepção vidaliana impõe um único modo de se pensar a divisão da superfície da Terra, esquecendo a diferencialidade espacial de cada elemento (ver figura 1a a 1d), e o fato de que outros segmentos do espaço podem ser mais úteis. A concepção vidaliana de região implica uma postura empirista, na medida em que ela é vista como algo dado, auto-evidente. Finalmente, a idéia de harmonia não é adequada às sociedades estrutura das em classes sociais. Clav Claval al,, por por sua sua vez, vez, lemb lembra ra o fato fato de que, que, por por não não have haverr um crit critér ério io sist sistem emát átic ico o para para se iden identi tifi fica carr regi regiõe ões, s, os resu result ltad ados os obti obtido doss indi indicam cam a sua sua diversidade, às vezes constituindo uma realidade natural, mas na maioria dos casos condic condicion ionada ada histór histórica ica e econom economica icamen mente. te. Era Era difíci difícill teoriz teorizar ar so sobre bre o ass assunt unto, o, especialmente porque não se admitia a aplicação dos procedimentos de utilização geral. Por outro lado, constatou-se que os elementos humanos passavam a adquirir 5
maior importância que os naturais no processo de gerar as regiões geográficas. Atingi Atingia-s a-se e o paradi paradigma gma possib possibili ilista sta,, fundad fundado o nas rel relaçõ ações es entre entre o homem homem e a natu nature reza za e expr expres esso so na regi região ão geog geográ ráfi fica ca.. Na verd verdad ade, e, es estu tudo doss regi region onai aiss foca focali liza zado doss em tema temass es espe pecí cífi fico coss co come meça çara ram m a surg surgir ir na geog geogra rafi fia a regi region onal al francesa. No Brasil, conforme já se indicou, as zonas fisiográficas, a despeito do nome, foram fundamentadas no conceito de região geográfica de Vidal de Ia Blache: sua aplicabilidade se deu na medida em que formaram bases territoriais agregadas, através das quais foram divulgados os resultados dos recenseamentos de 1950 e 1960. Já as regiões homogêneas, através das quais se divulgaram os resultados dos recenseamentos de 1970 e 1980, constituem uma tentativa de atualização das zonas fisiográfi fisiográficas, cas, adotando-s adotando-se e implicitamente implicitamente o essencial essencial das idéias vidalianas vidalianas,, apesar dos casos de exceção (áreas metropolitanas) e do discurso eminentemente indicador do paradigma da nova geografia.
Nova geografia, classes e região A nova geografia, fundamentada no positivismo lógico, tem a sua própria versão de região, que se opõe àquelas associadas aos paradigmas do determinismo ambiental e do possibilismo. A região, neste novo contexto, é definida como um conjunto de lugares onde as diferenças internas entre esses lugares são menores que as existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto de lugares. As similaridades e diferenças entre lugares são definidas através de uma mensuração na qual se utilizam técnicas estatísticas descritivas como o desviopadrão, o coeficiente de variação e a análise de agrupamento. Em outras palavras, é a técnica estatística que permite revelar as regiões de uma dada porção da superfície da Terra. Nesse sentido, definir regiões passa a ser um problema de aplicação eficiente de estatística: considerando-se os mesmos território, propósitos e técn técnica ica es esta tatí tíst stica ica,, duas duas divi divisõ sões es regi region onai aiss deve deverã rão o apre aprese sent ntar ar os me mesm smos os resu result ltad ados os,, inde indepe pend nden ente teme ment nte e de tere terem m sido sido feit feitas as por por dois dois pesq pesqui uisa sado dore ress distintos. A divisão regional assim concebida pressupõe uma objetividade máxima, implicando a ausência de subjetividade por parte do pesquisador. A figura 2 procura exem exempl plif ific icar ar uma uma divi divisã são o regi region onal al hipo hipoté téti tica ca:: o terr territ itór ório io foi foi divi dividi dido do em três três regiões, e em cada uma delas as diferenças internas são muito pequenas, quando se pensa nelas em comparação às outras regiões.
5
Se as regiões são definidas estatisticamente, isto significa que não se atribui a elas nenh nenhum uma a base base em empí píri rica ca prév prévia ia.. São São os prop propós ósit itos os de ca cada da pesq pesqui uisa sado dorr que que norteiam os critérios a serem selecionados para uma divisão regional. Se a intenção é definir regiões climáticas, utilizam-se então informações pertinentes ao clima; no caso de elas serem agrícolas, fontes relacionadas seriam usadas. Ao contrário da região região vidaliana, vidaliana, a da nova geografia não é considerada uma entidade concreta, e sim uma criação intelectual balizada por propósitos especificados, tal como aponta Grigg6. Na ampla possibilidade de aparecimento dos propósitos de divisão regional, há dois enfoques que não se excluem mutuamente. O primeiro considera as regiões simples, ou então complexas. No caso das regiões simples, estamos considerando uma divisã divisão o region regional al de acord acordo o com um único único critér critério io ou variáv variável, el, origin originand ando o regi regiõe õess se segu gund ndo, o, por por exem exempl plo, o, o níve nívell de rend renda a da popu popula lação ção,, da cria criação ção de bovinos ou de tipos de solos. No segundo caso, levamos em conta muitos critérios ou vari variáv ávei eiss (usu (usualm almen ente te redu reduzi zida dass a umas umas pouc poucas as atra atravé véss de uma uma técn técnica ica estatística mais sofisticada, a análise fatorial). Um exemplo de divisão regional complexa é a divisão de um país em regiões econômicas, envolvendo, entre outras, vari variáv ávei eiss co como mo a dens densid idad ade e demo demogr gráf áfic ica, a, a rend renda a da popu popula laçã ção, o, a prod produç ução ão agropecuária e industrial e a urbanização. O segundo enfoque visa as regiões homogêneas, ou então funcionais. Trata-se de uma visão dicotomizada, que perde aquela característica de integralidade que a região natural e a vidaliana passavam. Cada uma dessas duas regiões pode ser focalizada como simples ou complexa. Porr regi Po região ão homo homogê gêne nea, a, es esta tamo moss nos nos refe referi rind ndo o à unid unidad ade e agre agrega gada da de área áreas, s, descri descrita ta pela pela invari invariabi abilid lidade ade (estat (estatist istica icamen mente te consid considera erada) da) de caract caracterí erísti sticas cas analis analisada adas,e s,est státi áticas cas,, sem movime movimento nto no tempo tempo e no espaço: espaço: a densid densidade ade de população, a produção agropecuária, os níveis de renda da população, os tipos de clima e as já mencionadas regiões naturais. Um pays, tal como Vidal de Ia Blache o define, seria uma região homogênea complexa, quando pensada em termos da nova geog geogra rafi fia. a. Pa Para ra es este te para paradi digm gma, a, a regi região ão-s -sín ínte tese se se seri ria a um dos dos muit muitos os possíveis casos de divisão regional. As regiões funcionais, apesar da inadequação do termo, são definidas de acordo com o movimento de pessoas, mercadorias, informações, decisões e idéias sobre a superfície da Terra. Identificam-se, assim, regiões de tráfego rodoviário, 5
fluxos telefônicos ou matérias-primas industriais, migrações diárias para o trabalho, influência comercial das cidades etc. Conv Co nvém ém fris frisar ar que que as regi regiõe õess homo homogê gêne neas as e func funcio iona nais is tend tendem em a se serr mutuamente excludentes no mundo capitalista, pois dizem respeito a fenômenos que se comportam, cada um deles, com espacialidade própria. Verifica-se, como já vimos, que os propósitos dos pesquisadores, em termos acad ac adêm êmic icos os,, ou de vinc vincul ulaç ação ão expl explíc ícit ita a ao sist sistem ema a de plan planej ejam amen ento to,, sã são o diretamente proporcionais às possibilidades de se estabelecerem divisões regionais. Mais ainda, para qualquer fenômeno que necessariamente tenha uma expressão espacial espacial é possível possível o estabelecim estabelecimento ento de uma divisão regional: regional: deste modo, podese dar conta, no plano descritivo e classificatório, daquela diferencialidade espacial de que nos fala Yves Lacoste. Na nova geografia, o conceito de sistema de regiões (já estabelecido muitos anos atrás por geógrafos "tradicionais" como Unstead) está calcado explicitamente nos princípios da classificação, tal como se adota nas ciências da natureza, como a botânica. A analogia com as ciências naturais, uma das marcas do positivismo lógico lógico,, aparec aparece e claram clarament ente e quando quando a nova geogr geografi afia a estabe estabelec lece e o concei conceito to de 7 região. Bunge estabelece explicitamente a comparação entre termos regionais e termos termos classificat classificatório órios, s, termos termos de duas duas lingua linguagen genss difere diferente ntes. s. Vejamo Vejamoss alguns alguns exemplos: Termos regionais a) Região uniforme b) Sistema regional c) Região definida com um único aspecto d) Região definida com aspectos múltiplos e) Lugar f) Elementos da geografia g) Geografia regional h) Core da região i) Limite regional j) Escala
Termos classificatórios a) Classe de área b) Sistema classificatório c) Classificação com uma única categoria d) Classificação com mais de uma categoria e) Indivíduo f) Características diferenciadoras g) Atenção focalizada em classes de área h) Indivíduos modais e indivíduos similares i) Intervalo de classe j) Número de classes de área
Deste modo, a região torna-se uma classe de área constituída por diversos indivíduos similares entre si. Várias classes de área organizam-se em um sistema classificatório. Tal sistema pode ser concebido de dois modos: através da divisão lógica e do agrupamento. Vejamos cada um deles. A divisão lógica é uma classificação caracterizada pela divisão sucessiva do todo (superfície da Terra ou de um país, por exemplo) em partes. Dedutiva, de cima para baixo, pressupõe que o pesquisador já tenha uma visão do todo e queira, analiticamente, chegar a identificar, através de critérios selecionados, as partes componentes do todo, os indivíduos (lugares). A figura 3 esquematiza a divisão lógica. O todo, representado pela letra A, é subdividido em duas classes (regiões), que têm em comum o fato de apresentarem a característica A, e de diferenciação entre elas as características x e y. A classe (região) Ax subdivide-se em outras duas: Axa e Axb.
5
Convém frisar que a divisão lógica tem sido muito pouco empregada na nova geografia, porque esta fundamentou o conhecimento da realidade a partir de uma' trajetória ascendente, do indivíduo para o todo, pelo segundo dos modos referidos, o agrupamento. Contudo, um exemplo clássico do uso da divisão lógica é o das regiões naturais de Herbertson. O agrupamento ou classificação indutiva caracteriza-se pelo fato de partir-se do indivíduo (lugar, município) e, progressivamente, por agregação, que implica a perda de detalhes ou generalização crescente, chegar-se ao todo. O proced procedime imento nto por sínteses suce sucess ssiv ivas as,, ao co cont ntrá rári rio o da divi divisã são o lógi lógica ca,, não não pressupõe conhecimento prévio do todo, que pode ser obtido indutivamente,agregando-se, pouco a pouco, o conhecimento sobre as partes. A figu figura ra 4 repr repres esen enta ta um es esqu quem ema a de agru agrupa pame ment nto. o. Exis Existe tem, m, no exem exempl plo, o, 8 indivíduos que constituem o agrupamento mais inferior, de 1ª ordem. Possuindo características comuns, são agrupados em 4 classes de áreas ou agrupamento de 2ª ordem ordem,, que que por por sua sua vez vez agru agrupa pamm-se se em 2 clas classe sess de 3ª orde ordem. m. No pass passo o seguinte, chega-se ao todo.
Os dois modos de se estabelecer um sistema regional ou uma hierarquia de regiões apresentam ainda uma diferença fundamental, ressaltada aqui para que se tenha clareza das condições de um ou de outro modo a ser adotado. A divisão lógica, na medida em que é um procedimento de trajetória descendente, procura diferenciações entre os lugares, enquanto o agrupamento, ascendente, procura regularidades. E diferenciações e regularidades são meios complementares de se conhecer a realidade. Do processo de divisão regional emerge a questão de se definir tipos, e uma tipologia, ou regiões. Os tipos caracterizam-se pelos seus atributos específicos, não implicando a existência de contigüidade espacial, tal como Herbertson definiu os 5
quadros naturais: o tipo polar, como se sabe, ocorre tanto no hemisfério sul como no norte. A região, por outro lado, a par de sua especificidade, pede seqüência no espaço, A figura 5 procura esclarecer esta questão. Indica ela 5 tipos dos quais 2 ocorrem, cada um, em 3 áreas distintas e não contíguas espacialmente: ao total há 9 regiões.
Como vimos, no processo de divisão regional pode-se definir uma tipologia, tal como fizeram Herbertson e Koppen, ou se chegar a uma segmentação da supe superf rfíc ície ie da Te Terr rra a em regi regiõe ões. s. No prim primei eiro ro ca caso so,, es esta tamo moss co cons nsid ider eran ando do os fenômenos na visão do que se convencionou denominar de geografia sistemática; no outro, da geografia regional. Um último aspecto deve ser considerado. Na nova geografia não existe, como na hartshorniana, um método regional, e sim estudos nos quais as regiões formam classificações espadas. Em outras palavras, identificam-se padrões espaciais de fenômenos vistos estaticamente ou em movimento. Neste sentido, a região adquire, junto à sua inexistência como entidade concreta, o sentido de padrão espacial. A geografia regional, por sua vez, não tem o propósito de reconhecer uma síntese, como em Vidal de Ia Blache, nem de procurar pela singularidade de cada área, como em Hartshorne. Os es estu tudo doss de geog geogra rafi fia a regi region onal al ou de área área sã são o real realiz izad ados os dent dentro ro de prop propós ósit itos os pree preest stab abel eleci ecido dos. s. A part partir ir de uma uma refe referê rênc ncia ia teór teóric ica, a, co como mo a das das localidades centrais ou a do uso agrícola da terra, ou de um suposto problema, como o do desenvolvimento regional, estuda-se um segmento da superfície da Terra. Isto quer dizer que a área é vista como laboratório de estudos sistemáticos, realimentando os referenciais teóricos que estes formulam. Assim, na nova geografia, estudos sistemáticos e de área não se distinguem entre si: mais do que uma complementação, eles são, em última instância, a mesma coisa. No Brasil, a nova geografia desenvolveu-se nos Departamentos de Geografia de Rio Claro e de Estudos Geográficos do IBGE; aí surgiram os estudos de tipologia e divisão regional dentro da concepção em pauta. Sobre o assunto consultem-se os periódicos Boletim de geografia teorética e Geografia, editados em Rio Claro, e a Revist Revista a brasil brasileir eira a de geogra geografia fia,, editad editada a pelo pelo IBGE, IBGE, especi especialm alment ente e os número númeross referentes à década de 70.
Região e geografia crítica 5
Dentro do questionamento à geografia tradicional e à nova geografia, aparece durante a década de 70 uma geografia crítica, que traz consigo a necessidade de se repe repens nsar ar o co conc ncei eito to de regi região ão.. Assi Assim, m, disc discut utee-se se a post postur ura a em empi piri rist sta a que que caracteriza as definições vidaliana e da nova geografia. geografia. Lacoste, Lacoste, por exemplo, exemplo, refere-se à concepção vidaliana de região como sendo um "conceito-obstáculo", que nega outras possibilidades de se dividir a superfície da Terra; por outro lado, as classes de área da nova geografia podem acabar constituindo-se em um exercício acadêmico sofisticado. Deste Deste posici posiciona onamen mento to crític crítico o fazem fazem parte parte também também geógr geógrafo afoss brasi brasileir leiros. os. 8 Assim, entre outros, Aluízio Duarte comenta que, a partir do materialismo histórico e da dialética marxista, diversos pesquisadores introduziram, na década de 70, novos conceitos visando uma definição de região. Assim, consideram-se o conceito de região e o tema regional sob uma articulação dos modos de produção, como faz Lipiet Lipietz; z; atravé atravéss das conexõ conexões es entre entre classe classess soc sociai iaiss e acumul acumulaçã ação o capita capitalis lista, ta, conf co nfor orme me é o ca caso so de VilI VilIen eneu euve ve;; por por me meio io das das rela relaçõ ções es entr entre e o Esta Estado do e a sociedade local, mostradas por Dulong; ou então, introduzindo a dimensão política, conexão de Chico de Oliveira ao fazer a elegia do Nordeste brasileiro. Duarte tem suas proposições sobre a região: para ele, é Uma Uma dime dimens nsão ão espa espaci cial al das das espe especi cifi fici cida dade des s soci sociai ais s em uma uma tota totali lida dade de espaço-social, capaz de opor resistência à homogeneização da sociedade e do espaço pelo capital monopolístico e hegemônico...
Para ele, se não há uma elite regional capaz de opor a aludida resistência, então não existe região. Regiões são espaços em que existe uma sociedade que realmente dirige e organiza aquele espaço.
Esta conceituação tem, a nosso ver, o defeito de considerar região uma situação que no capitalismo monopolista de hoje é cada vez mais inexistente. As regiões tenderiam, assim, a desaparecer. Ou seja, não haveria mais diferenciação de áreas. Acreditamos que, adotando-se esta visão, perder-se-ia um conceito que tem a vantagem de permitir que nos localizemos nos diferentes níveis em que a superfície da Terra pode ser dividida. E, sobretudo, achamos que qualquer conceito pode ser repensado. No caso, sem que se perca sua aplicabilidade universal. O que segue é uma tentativa de inserir o conceito de região dentro de um quadro teórico amplo, que permita dar conta da diversidade da superfície da Terra sob so b a aç ação ão hum humana ana ao long longo o do tem empo po.. Este ste quadr adro co con nsist siste e na lei do desenvolvimento desigual e combinado proposto por Trotsky. A lei do desenvolvimento desigual e combinado expressa particularmente uma das leis da dialética, a da interpenetração dos contrários. Refere-se ao fato de serr ca se cada da as asp pec ecto to da real realid idad ade e co cons nsti titu tuíd ído o de dois dois proc proces esso soss que que se ac acha ham m rela relaci cion onad ados os e inte interp rpen enet etra rado dos, s, apes apesar ar de se sere rem m dife difere rent ntes es e opos oposto tos. s. A contradição que daí decorre é característica imanente à realidade e o elemento motor de sua transformação. Na lei que nos interessa, os dois processos são, primeiro o da desigualdade e, depois, o da combinação. Permite que se considere as diferenciações resultantes da presença de fenômenos originados em tempos históricos diferentes coexistindo no tempo presente. . .e no espaço. Esta lei tem uma dimensão espacial, que se verifica através do processo de regi region onal aliz izaç ação ão,, ou se seja ja,, de dife difere renc ncia iaçã ção o de área áreas. s. Dois Dois as aspe pect ctos os deve devem m se serr considerados, tendo em vista a compreensão das conexões entre a lei em pauta e o conceito conceito de região região que dela surge. surge. O primeiro primeiro deles se refere refere à gênese gênese e à difusão do processo de regionalização, e o segundo aos mecanismos nos quais o processo realiza-se. Ambos estão interligados. 5
Em relação ao primeiro aspecto, é conveniente notar que a diferenciação de área áreass vinc vincul ula-s a-se e à hist histór ória ia do home homem, m, não não se veri verifi fica cand ndo o de uma uma vez vez e para para sempre. Tem uma gênese encontrada nas comunidades primitivas indiferenciadas, que implicava uma semelhança do espaço enquanto resultado da ação humana. Esta Estass so soci cied edad ades es orig origin inár ária iass tive tivera ram, m, ao long longo o do temp tempo o e do es espa paço ço,, um desenvolvimento diferenciado, isto é, os processos internos de diferenciação e a difu difusã são o dos dos proc proces esso soss de muda mudanç nça a dera deramm-se se de modo modo desi desigu gual al9. Assim, o aparecimento da divisão social do trabalho, da propriedade da terra, dos meios e das técnicas de produção, das classes sociais e suas lutas, tudo isto se deu com enorme distância distância em termos espaço-temporais, espaço-temporais, levando a uma uma diferenciação intra intra e inte interg rgru rupo pos. s. Do me mesm smo o modo modo,, a difu difusã são o dos dos proc proces esso soss de muda mudanç nça a fezfez-se se desigualmente, reforçando a diferenciação de áreas. As desi desigu gual alda dade dess que que apar aparec ecem em ca cara ract cter eriz izam am-s -se e pela pela co comb mbin inaç ação ão de aspectos distintos dos diversos momentos da história do homem. Isto resulta no apar aparec ecim imen ento to de grup grupos os tamb também ém dist distin into toss oc ocup upan ando do es espe pecí cífi fica cass parc parcel elas as da superfície da Terra, e aí imprimindo suas próprias marcas, a paisagem, que nada mais é que uma expressão de seus modos de vida. Uma vez iniciada a difusão do processo de regionalização, de diferenciação de área áreas, s, via via co cont ntat atos os co come merc rcia iais is,, migr migraç açõe õess e co conq nqui uist stas as,, es esta ta as assu sume me ritm ritmos os distintos, isto é, duração e intensidade que variam. Em determinados momentos e áreas, a regionalização dá-se com maior rapidez e profundidade: a diferenciação de área áreass é aí mais mais notá notáve vel. l. Simu Simult ltan anea eame ment nte, e, em outr outras as área áreass não não oc ocor orre re es este te processo ou ele é extremamente lento. Tomemos um exemplo para esclarecer este ponto: a partir da década de 30, o Paraná vê-se sob um intenso processo de regio egiona nali liza zaçã ção o, que pro pross sseg egu ue nas déc décadas adas subseq bseqüe üent ntes es,, origin iginan ando do o aparecimento, entre outras regiões, daquelas que se convencionou denominar de norte velho, norte novo e norte novíssimo. Na década de 80, esta distinção não tem a mesma expressão que tinha, pois os mecani mecanismo smoss que gerara geraram m a difere diferenci nciaçã ação o region regional al foram foram altera alterados dos em sua concretude, e uma nova regionalização põe-se em marcha. Ao mesmo tempo, na década de 30 e seguintes, a vastíssima área da Amazônia brasileira apresentava-se pouco diferenciada: a diversificação interna começa a se tornar sensível a partir de 1970, 1970, quando quando,, impuls impulsion ionada ada do exteri exterior, or, verifi verifica-s ca-se e a penetr penetraçã ação o desigu desigual al do capital e de correntes migratórias. Este processo de diferenciação estende-se pela década de 80 e certamente prosseguirá pelos próximos decênios. Em relação ao segundo aspecto, vinculado aos mecanismos utilizados pelo processo de regionalização, vale lembrar que, na medida em que a história do homem acontece marcada pelo desenvolvimento das forç forças as prod produt utiv ivas as,, pela pela dinâ dinâmi mica ca da so soci cied edad ade e de clas classe sess e de suas suas luta lutas, s, o processo de regionalização torna-se mais complexo. Por complexidade entendemos o fato de o processo de regionalização retalhar ainda mais o espaço ocupado pelo homem em numerosas regiões e, concomitantemente, integrá-las. É no modo modo de prod produç ução ão ca capi pita tali list sta a que que o proc proces esso so de regi region onal aliz izaç ação ão se acen ac entu tua, a, marc marcad ado o pela pela simu simult ltan anei eida dade de dos dos proc proces esso soss de dife difere renc ncia iaçã ção o e integração, verificada dentro da progressiva mundialização da economia a partir do sécu sé culo lo XV. XV. Sob Sob a égid égide e do ca capi pita tal, l, os me meca cani nism smos os de dife difere renc nciaç iação ão de área áreass tornam-se mais nítidos, quais sejam: a) a divisão territorial do trabalho, que define o que será produzido aqui e ali; b) o dese desenv nvol olvi vime ment nto o dos dos me meio ioss e a co comb mbin inaç ação ão das das rela relaçõ ções es e técn técnic icas as de produção de produção originadas em momentos distintos da história, que definem o como se realizará a produção; c) a ação do Estado e da ideologia que se especializa desigualmente, garantindo novos modos de vida e a pretensa perpetuação deles;
5
d) a ampla articulação, através dos progressivamente mais rápidos e eficientes meios de comunicação, entre as regiões criadas ou transformadas pelo e para o capital. A lei do desenvolvimento desigual e combinado traduz-se, assim, no processo de regionalização que diferencia não só países entre si como, em cada um deles, suas partes componentes, originando regiões desigualmente desenvolvidas mas articuladas. Sob o capitalismo queremos crer que a noção de combinação deve ser expl explic icit itam amen ente te refe referi rida da não apen apenas as à co coex exis istê tênc ncia ia no me mesm smo o terr territ itór ório io de diferentes modos de vida, mas também à articulação espacial destes territórios. A regi região ão pode pode se serr vist vista a co como mo um resu result ltad ado o da lei lei do dese desenv nvol olvi vime ment nto o desi desigu gual al e co comb mbin inad ado, o, ca cara ract cter eriz izad ada a pela pela sua sua inse inserç rção ão na divi divisã são o naci nacion onal al e internacional do trabalho e pela associação de relações de produção distintas. Estes dois aspectos vão traduzir-se tanto tanto em uma paisagem como em uma problemática, ambas específicas de cada região, problemática que tem como pano de fundo a natureza específica dos embates que se estabelecem entre as elites regionais e o capital externo à região e dos conflitos entre as diferentes classes que compõem a região. Os conflitos oriundos dos embates entre interesses internos, bem como entre interesses internos e externos, podem gerar uma desintegração da região, que se exprimirá na sua paisagem. Tendo isto em vista, pode-se dizer que a região é considerada uma entidade conc co ncre reta ta,, resu result ltad ado o de múlt múltip ipla lass dete determ rmin inaç açõe ões, s, ou se seja ja,, da efet efetiv ivaç ação ão dos dos mecanismos de regionalização sobre um quadro territorial já previamente ocupado, caracterizado por uma natureza já transformada, heranças culturais e materiais e determinada estrutura social e seus conflitos. A região assim definida assemelha-se em vários aspectos à vidaliana, podendo em muitos casos ser idêntica nos seus limites. Conceitualmente, no entanto, não é a mesma região, pois as diferenças vistas são numerosas. Ela não tem nada da preconizada harmonia, não é única no sentido vidaliano ou hartshorniano, mas particular, ou seja, é a especificação de uma totalidade da qual faz parte através de uma articulação que é ao mesmo tempo funcional e espacial. Ou, em outras palavras, é a realização de um processo geral, universal, em um quadro territorial menor, onde se combinam o geral - o modo modo domi domina nant nte e de prod produç ução ão,, o ca capi pita tali lism smo, o, elem elemen ento to unif unifor ormi miza zado dorr - e o partic particula ularr - as determ determina inaçõe çõess já efetiv efetivada adas, s, element elemento o de difere diferenci nciaçã ação. o. Nes Neste te sentido, concordamos com Duarte quando afirma que a região é Uma Uma dime dimens nsão ão espa espaci cial al das das espe especi cifi fici cida dade des s soci sociai ais s em uma uma tota totali lida dade de espaço-social.
Uma Uma obser bserv vaç ação ão co con nside siderrand ando o futu futurro impõ impõee-sse: se o proc oces esso so de regionalização está em marcha, assim como a história do homem, como pensar na exis existê tênc ncia ia de regi regiõe õess so sob b o so soci cial alis ismo mo?? Acre Acredi dita tamo mos, s, co com m base base na lei lei do des desenvo envolv lvim imen entto desi desig gual ual e co comb mbin inad ado o, que, ue, nes estte cas aso o, o pro proce cess sso o de regionalização terá seu curso, refazendo regiões ou áreas diferenciadas. Por quê? Os recursos naturais e os socialmente produzidos, como estradas, fábricas e redes urbanas, estão desigualmente desenvolvidos sobre a superfície da Terra, sendo difícil conceber-se, no modo de pensar influenciado pelas práticas capitalistas, que no socialismo a questão da escassez e da localização seletiva desses recursos tenha sido resolvida. Sob ação de que mecanismos? Certamente, e nos limites do nosso raciocínio, sob a influência de uma nova divisão do trabalho, motivada por razões técnicas. Não é mais admissível esta região – que poderá ter até outra denominação - exercer um meio de controle sobre o homem que, na história, seguiu um caminho que o conduziu a uma sociedade sem classes, sem dominação. 5
Região, ação e controle O conceito de região tem sido largamente empregado para fins de ação e controle. Mais precisamente, no decorrer da prática política e econômica de uma sociedade de classes, que por sua própria natureza implica a existência de formas diversas de controle exercido pela classe dominante, utilizam-se o conceito de diferenciação de área e as subseqüentes divisões regionais, visando ação e controle sobr so bre e terr territ itór ório ioss mili milita tarm rmen ente te co conq nqui uist stad ados os ou so sob b a depe depend ndên ênci cia a polí políti ticocoadministrativa e econômica de uma classe dominante. Ao se defi defini nirr uma uma regi região ão para para fins fins de aç ação ão e co cont ntro role le,, co cons nsid ider eraa-se se,, alternativamente: o conceito de região natural, tal como foi definido anteriormente; o de região geográfica nos termos propostos, entre outros, por Vidal de Ia Blache; e uma uma ár área ea vis vista por um as aspe pect cto o ao qual qual se atr atribu ibui relev elevân ânci cia, a, co como mo uma uma determinada produção, um suposto problema social, a gravitação em torno de uma cidade dotada de funções regionais, ou pertinente a uma mesma bacia hidrográfica. Pode ainda, na realidade, abranger uma combinação das alternativas mencionadas. Assim, as diferentes conceituações de região estão presentes na prática territorial das classes dominantes. Como os demais conceitos geográficos, o conceito de região não está desvinculado de uma ação que é a um tempo social e espacial. A ação e controle sobre uma determinada área quer garantir, em última análise, a reprodução da sociedade de classes, com uma dominante, que se localiza fora ou no interior da área submetida à divisão regional ou, como se refere a literatura, à regi region onal aliz izaç ação ão.. Esta Esta dist distin inçã ção o part parte e da ac acei eita taçã ção o expl explíc ícit ita a ou impl implíc ícit ita a da diferenciação de áreas ao longo da história. A sua ratificação ou retificação se dá a cada momento, conforme os interesses e os conflitos dominantes de cada época. São eles que, por outro lado, levam as unidades territoriais de ação e controle, as regiões, a serem organizadas de modos diferentes: de um lado, a partir de um governo de nível hierárquico inferior ao do núcleo de dominação; de outro, de um mais mais ou me meno noss co comp mple lexo xo sist sistem ema a de plan planej ejam amen ento to es espe peci cial aliz izad ado. o. Ambo Amboss cumprindo o papel de ação e controle. Neste exemplo, o Estado, surgido dentro do modo de produção dominante, é o agente da regionalização. A Antigüidade fornece-nos exemplos da criação de regiões em um contexto de conquista territorial. Tanto o império romano como o persa, estavam divididos em regiões ou unidades territoriais de ação e controle. Regia e satrápia são denominações que designam essas unidades. As satrápias do império persa eram governadas pelos sátrapas, os "olhos e ouvidos do rei"; a palavra região vem do latim regia, que por sua vez deriva do verbo regere, isto é, governar, reinar. No feudalismo, a regionalização, vista como forma de ação e controle, tinha sua expressão nas marcas, nos ducados e nos condad condados, os, govern governado ados, s, respe respecti ctivam vament ente, e, por marque marqueses ses,, duques duques e condes condes.. No capitalismo, as regiões de planejamento são unidades territoriais através das quais um discurso da recuperação e desenvolvimento é aplicado. Trata-se, na verdade, do empr em preg ego, o, em um dado dado terr territ itór ório io,, de uma uma ideo ideolo logi gia a que que tent tenta a rest restab abel elec ecer er o equilíbrio rompido com o processo de desenvolvimento. Este discurso esquece, ou a ele não interessa ver, que no capitalismo as desigualdades regionais constituem, mais mais do que que em outr outros os modo modoss de prod produç ução ão,, um elem elemen ento to fund fundam amen enta tall de organização social. Em muitos casos, a ação decorrente do planejamento regional proporcionou um relativo progresso e uma maior integração da região ao modo de produção capitalista, quer dizer, a região sob intervenção planejadora passa a ficar sob maior controle do capital e de seus proprietários. Um exemplo famoso encontra-se na bacia do rio Tennessee, onde atuou o TVA (Tennessee Valley Authority), um organismo federal que visava a recuperação daquela área social e economicamente deprimida do território norte- americano. Inspirou outros que se apoiaram na concepção da bacia hidrográfica como região de 5
planejamento: o caso da Comissão do Vale do São Francisco no nordeste brasileiro é exemplar. O da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) é outro exemplo de região de planejamento bastante conhecido. Aqui, trata-se de um território definido sobretudo por limites político--administrativos, os quais encerram problemas sociais e econômicos comuns. Já no caso da Amazônia, a ação da SPVEA (Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia), antecessora da Sud Sudam (Sup Super erin inte ten ndênc dência ia do Des Desenvo envolv lvim imen ento to da Amazô azônia) ia), faz faz-se -se territorialmente em uma região natural. Cont Co ntud udo, o, é notó notóri rio o que que no sist sistem ema a de plan planej ejam amen ento to dese desenv nvol olve veuu-se se a concepção de existência da cidade, sobretudo do centro metropolitano, o foco irradiador do desenvolvimento: ali se concentravam as forças motrizes do progresso - a indústria e as elites, além -dos necessários serviços de apoio. Logo após a l.a Guerra Mundial, na Inglaterra, na área de planejamento urbano e regional (Town Planni Pla nning ng Act), Act), suger sugeriuiu-se se a revisã revisão o das provín província ciass com base base na influê influênci ncia a das grandes cidades: Bristol, Birmingham, Leeds, Manchester etc. A concepção em pauta iria ganhar maior expressão a partir da década de 50, quando o capitalismo entra em nova fase de expansão e as teo eorrias de desenvolvimento regional são criadas. É o caso dos pólos de desenvolvimento de François François Perroux, Perroux, do cresciment crescimento o polarizado polarizado de lohn Friedmann, Friedmann, além da teoria das localidades centrais de Walter Christaller, que, na verdade, é retomada. Ao mesmo tempo, são revistos ou criados conjuntos de modelos e noções associados: da regra ordem e tamanho de cidades, dos centros dinamizadores, das cidades de porte médio e da difusão de inovações. A região de planejamento, isto é, um território de ação e controle, tem seu apogeu nas décadas de 60 e 70. Este é o caso brasileiro: entre 1964 e 1977/78, sobretudo, numerosos estudos almejando a definição de regiões de planejamento foram realizados, seja a nível federal e macrorregional, seja a nível estadual. É muit muito o sign signif ific icat ativ ivo o que que a forç força a apar aparen ente te que que teve teve es este te co conc ncei eito to foss fosse e concomitante ao estado de autoritarismo que caracterizou a vida brasileira e ao relativamente forte poder da tecnocracia em detrimento do Congresso. A pouca eficiência das regiões de planejamento enquanto via de redenção para as condições de vida vida da maio maiori ria a da popu popula laçã ção o ali ali resi reside dent nte e (afi (afina nall de co cont ntas as,, elas elas eram eram sobretudo um discurso ideológico que servia para encobrir os interesses das classes dominantes regionais e do capital externo) e a retomada da vida democrática, com maior participação de vários segmentos da sociedade, geraram um esvaziamento da sua própria aplicabilidade. A história dirá até quando a região de planejamento capi ca pita tali list sta a se será rá um me meio io de se exer exerce cerr aç ação ão e co cont ntro role le so sobr bre e a maio maiori ria a da população.
5
4 Organização espacial Na disc discus ussã são o so sobr bre e a natu nature reza za da geog geogra rafi fia, a, a ques questã tão o mais mais ce cent ntra ral, l, persistente e polêmica é a de seu objeto. Está presente em Ratzel, Vidal de Ia Blache Blache,, Hartsh Hartshor orne, ne, na nova geog geogra rafi fia a e na geog geogra rafi fia a crít crític ica. a. O obje objeto to é a paisagem, a região, o espaço? Ou será outra coisa? Acreditamos que para se responder a esta pergunta há que se discutir antes o que é uma ciência social, pelo menos no que diz respeito ao seu objeto. A história, a antropologia, a economia, a geografia e a sociologia, entre outras ciências sociais, estudam a sociedade. Esta é muito complexa, multifacetada, sendo constituída por elementos como as classes sociais, as artes, a cidade, o campo, o Estado Estado,, os partid partidos os políti políticos cos,, as rel religi igiões ões etc. etc. Os numero numerosos sos compon component entes es da sociedade estão articulados, imbricados de tal modo, que se fala de uma totalidade social soc ial,, cuja cuja comple complexid xidade ade abarca abarca as contra contradiç dições ões intern internas as e o movime movimento nto de transformação. Assim, torna-se difícil a compreensão da sociedade a partir de uma única ciência social concreta, capaz de analisar detalhadamente todos os seus elementos, bem como as suas possíveis articulações. Dada a dificuldade de se estudar a totalidade social em sua abrangência, veri verifi fica ca-s -se e uma uma divi divisã são o do sa sabe ber, r, orig origin inan ando do dife difere rent ntes es ramo ramos. s. É prec precis iso, o, no enta entant nto, o, deix deixar ar clar claro o que que não não es esta tamo moss fala faland ndo o de uma uma co comp mpar arti time ment ntaç ação ão positivista, onde cada ciência tem seu próprio objeto, achando-se separada das outras. No caso, as ramificações têm um objeto comum, a sociedade, analisada à luz de uma mesma teoria, fundamentada no materialismo histórico. O objeto da geografia é a sociedade, e não a paisagem, a região, o espaço ou outra coisa qualquer. A análise da sociedade, no entanto, é feita a partir de diversos ângulos. A história, a antropologia, a economia, a geografia e a sociologia estudam-na nesta perspectiva: o mesmo objeto é estudado, ou seja, objetivado, diferentemente. É esta objetivação que as distingue entre si. Como Co mo a geog geogra rafi fia a obje objeti tiva va o es estu tudo do da so soci cied edad ade? e? Ou se seja ja,, qual qual é a objetivação da geografia que, sem deixar de ser uma ciência social, distingue-se da história, antropologia, economia e sociologia, todas elas também ciências sociais? O long longo o proc proces esso so de orga organi niza zaçã ção o e reor reorga gani niza zaçã ção o da so soci cied edad ade e deudeu-se se concomitantemente à transformação da natureza primitiva em campos, cidades, estradas de ferro, minas, voçorocas, parques nacionais, shopping centers etc. Estas obras do homem são as suas marcas apresentando um determinado padrão de localização que é próprio a cada sociedade. Organizadas espacialmente, constituem o espaço do homem, a organização espacial da sociedade ou, simplesmente, o espaço geográfico. A objetivação do estudo da sociedade pela geografia faz-se através de sua organização espacial, enquanto as outras ciências sociais concretas estudam-na através de outras objetivações. Resumindo, o objeto da geografia é, portanto, a sociedade, e a geografia viab viabil iliz izam am o se seu u es estu tudo do pela pela sua sua orga organi niza zaçã ção o es espa paci cial al.. Em outr outras as pala palavr vras as,, a geografia representa um modo particular de se estudar a sociedade. Mas Mas a orga organi niza zaçã ção o es espa paci cial al co conf nfig igur ura a apen apenas as uma uma obje objeti tiva vaçã ção, o, o modo modo geográfico de se ver a totalidade social? É isto, mas, ao mesmo tempo, expressa um fenômeno da sociedade. Neste sentido, a organização espacial é também um objeto, uma materialidade social. Como materialidade, a organização espacial é uma dimensão da totalidade social construída pelo homem ao fazer a sua própria história. Ela é, no processo de transformação da sociedade, modificada ou congelada e, por sua vez, também modifica e congela. A organização espacial é a própria sociedade espacializada.
5
A organização espacial, enquanto objetivação e materialidade social, só muito recentemente têm merecido uma atenção explícita, a nível teórico, por parte dos geógrafos. A nossa intenção é resgatar o que é importante neste conceito-chave para para a geogr geografi afia a e a soc socied iedade ade.. Estamo Estamos, s, eviden evidentem tement ente, e, longe longe de esgota esgotarr o assunto. Consideraremos, em termos de organização espacial, os seguintes tópicos: uma proposição conceitual; suas ligações com o capital e o Estado; vista como reflexo social; sua condição para o futuro; estrutura, processo, função e forma, ou seja se ja,, suas suas ca cate tego gori rias as de anál anális ise e e suas suas rela relaçõ ções es co com m os movi movime ment ntos os so soci ciais ais urb urbano anos. Este stes tema temass não são mutu mutuam amen ente te excl exclu uden dentes. tes. Ao co con ntrár trário io,, complement entam-se. Organização espacial e percepção, organi anização e comportamento espacial, espaço, sentimento e simbolismo não serão abordados no presente trabalho.
Organização espacial: uma conceituação A partir das necessidades do homem em termos de fome, sede e frio, verificase uma uma aç ação ão de inte interv rven ençã ção o na natu nature reza za.. De ca cará ráte terr so soci cial al,, envo envolv lven endo do um trabalho organizado coletivamente, implica certa divisão do trabalho e a definição do quê, quanto e como será a produção. E ainda de que jeito reparti-Ia. Surgem então relações sociais que têm sua essência na produção. É no trabalho social que os homens estabelecem relações entre si e, a partir destas, com a natureza. A inte interv rven ençã ção o na natu nature reza za foi, foi, em um prim primei eiro ro mome moment nto, o, marc marcad ada a pelo pelo extrativismo, passando em seguida por um progressivo processo de transformação, incorporando a natureza ao cotidiano do homem como meios de subsistência e de produção, ou seja, alimentos, tecidos, móveis, cerâmica e ferramentas. Fala-se, assim, da natureza primitiva transformada em segunda natureza, para empregar uma expressão de Marx. Os campos cultivados, os caminhos, os moinhos e as casas, entre outros, são exem exemp plos los de segun egunda da nat naturez ureza. a. Estes stes objet jetos fixo fixoss ou for formas mas disp dispo osta stas espaci espacialm alment ente e (forma (formass espaci espaciais ais)) estão estão distri distribuí buídos dos e/ou e/ou organ organiza izados dos so sobre bre a superfície da Terra de acordo com alguma lógica. O conjunto de todas essas formas configura a organização espacial da sociedade. A organização espacial é a segunda natureza, ou seja, a natureza primitiva transformada pelo trabalho social. É conveniente esclarecer que a expressão organização organização espacial espacial possui possui,, a nosso ver, vários sinônimos: estrutura territorial, configuração espacial, formação espacial, arranjo espacial, espaço geográfico, espaço social, espaço socialmente produzido ou, simplesmente, espaço. Dizer que cada uma delas corresponde a uma específica visão de mundo e, ainda, que uma é melhor que a outra constitui, a nosso ver, falsas assertivas, de natureza formal e maniqueísta. Vejamo Vejamoss agora agora dois dois pontos pontos fundam fundament entais ais para para que se possa possa pross prossegu eguir. ir. Primeiramente, convém considerar que, se durante o processo de produção não se pensar pensar na sua sua contin continuid uidade ade,, sua própri própria a repro reproduç dução, ão, este este ces cessar sará á quando quando se finalizar a operação iniciada. É necessário que se criem no próprio processo de produção as condições de sua reprodução; sendo assim, o processo de produção é também de reprodução. Um grupo social tem a mesma necessidade; caso contrário, teríamos o absurdo do mesmo durar apenas o período de uma geração. A repr eproduçã dução o dos dos gru grupos pos so soci ciai aiss fazfaz-se se atra atravé véss de muit muitos os meio eios. A tran transm smis issã são o do sa sabe ber, r, form formal aliz izad ada a ou não, não, co cons nsti titu tuii um. um. Outr Outro, o, e dos dos mais mais importantes, é a organização espacial. Ao fixar no solo os seus objetos, frutos do trabalho social e vinculados às suas necessidades, um grupo possibilita que as ativid atividade adess desemp desempenh enhada adass por por estes estes alcanc alcancem em um períod período o de tempo tempo mais mais ou menos longo, repetindo, reproduzindo as mesmas. Nestas condições, o grupo social se reproduz, porque a reprodução das atividades ligadas às suas necessidades viabiliza o próprio. A organização espacial, ou seja, o conjunto de objetos criados 5
pelo homem e dispostos sobre a superfície da Terra, é assim um meio de vida no presente (produção), mas também uma condição para o futuro (reprodução). Em segundo lugar, a organização espacial é, como já vimos, expressão da produção material do homem, resultado de seu trabalho social. Como tal, refletirá as ca carrac acte terríst ísticas icas do gru grupo que que a crio criou u. Em uma uma so soci cied edad ade e de cla class sses es,, a organização espacial refletirá tanto a natureza classista da produção e do consumo de bens materiais, como o controle exercido sobre as relações entre as classes sociais que emergiram das relações sociais ligadas à produção. Coraggio10 fornece-nos um conjunto de reflexões sobre a organização espacial no capitalismo. Segu Segund ndo o Co Cora ragg ggio io,, o ca cará ráte terr repe repeti titi tivo vo das das oper operaç açõe õess de prod produç ução ão,, circulação, consumo, controle e decisão implicam que se tenha: a) uma localização fixa no espaço dos meios de produção, circulação, consumo, controle e decisão; b) fluxos de força de trabalho e matérias-primas para o local em que cada operação se realiza, de bens para as áreas de consumo, e de realimentação destas para as áreas de direção e controle. As localizações fixas e os fluxos resultam cristalizações constituídas por: c) loca locali liza zaçõ ções es pont pontua uais is ou em área áreass dos dos me meio ioss nece necess ssár ário ioss às oper operaçõ ações es de produção, como fábricas, minas e campos; d) localizações pontuais ou lineares dos meios de circulação como rodovias, dutos, fios telegráficos, terminais e armazéns; e) localizações pontuais ou áreas dos meios de vida consumidos individual ou coletivamente, como habitação; f) loca locali liza zaçõ ções es pont pontua uais is dos dos ele eleme ment ntos os do sist sistem ema a de co cont ntro role le e deci decisã são, o, de natureza financeira, política e ideológica. Aparecem então padrões locacionais relativos às operações econômicas e ao sistema sistema de controle controle e decisão. decisão. Tais padrões, padrões, como se pode notar na linguagem linguagem de pontos, linhas e áreas, referem-se à representação da organização espacial através de mapas de escalas médias ou pequenas - por exemplo, 1:100.000, 1:500.000, 1:1.000.000 ou mesmo 1:5.000.000, se pensarmos em termos de Brasil. Os padrões espaciais resultantes dizem respeito: a) à dispersão ou concentração espacial da indústria; b) às áreas rurais especializadas; c) aos centros de transportes; d) aos centros administrativos, universitários, religiosos etc.; e) às localidades centrais; f) às áreas residenciais intra-urbanas socialmente diferenciadas (isto implica uma mudança para uma escala maior, por exemplo, 1:50.000 ou 1:25.000); g) aos parques nacionais (reconstituição da natureza primitiva) etc. A orga organi niza zaçã ção o es espa paci cial al é as assi sim m co cons nsti titu tuíd ída a pelo pelo co conj njun unto to das das inúm inúmer eras as cristalizações criadas pelo trabalho social. A sociedade concreta cria seu espaço geográfico para nele se realizar e reproduzir, para ela própria se repetir. Para isto, cria formas duradouras que se cristalizam sobre a superfície da Terra. Caso contrário, insistimos, a sociedade se extinguiria. O quadro a seguir, baseado em Coraggio e em M.Buch-Hanson e B. Nielsen 2, procur procura a sis sistem temati atizar zar a cadeia cadeia de rel relaçõ ações es entre entre objeto objetos, s, ativid atividade ades, s, ele elemen mentos tos materi materiais ais,, crista cristaliz lizaçõ ações es e organ organiza izaçõe çõess espaci espaciais ais especí específic ficas, as, que origi originam nam a global, capitalista.
5
A orga organi niza zaçã ção o es espa paci cial al glob global al resu result lta a da supe superp rpos osiç ição ão de dife difere rent ntes es organizações espaciais específicas, como o quadro procura mostrar. Para cada uma delas existe pelo menos uma proposição teórica, via de regra acrítica, que procura dar conta da espacialização de um dos aspectos da totalidade social. Assim, entre outras, foram elaboradas teorias: a da localização industrial, a do uso agrícola, a do uso urbano, a das localidades centrais ou a da evolução da rede de transportes. Mas esta é uma outra história, além dos propósitos deste trabalho. As relações entre as organizações espaciais específicas e a globalidade destas podem ser vistas a partir de uma metáfora sugerida por Ruy Moreira, apud Milton Santos (1982). Imagine um ginásio esportivo polivalente. A quadra está organizada para ali real realiz izar arem em-s -se e jogo jogoss de vôle vôlei, i, basq basque uete te e fute futebo boll de sa salã lão. o. Pa Para ra ca cada da es espo port rte e (atividade), a quadra (superfície da Terra) tem um zoneamento específico (regiões), áreas limitadas por linhas onde há certas restrições ou penalidades. Para cada jogo, há regr regras as (lei (leis, s, có códi digo goss mora morais is)) e um juiz juiz (apa (apare relh lho o repr repres esso sor) r).. Ca Cada da joga jogado dorr (age (agent nte e real realiz izad ador or de uma uma ativ ativid idad ade) e) tem tem uma uma posi posiçã ção o dent dentro ro da quad quadra ra (localização da atividade) e há caminhos a serem percorridos pelo jogador e a bola (fluxo (fluxos, s, materi materiais ais ou não). não). Em outras outras palavr palavras, as, para para cada cada espor esporte te exist existe e uma organização espacial específica. Na quadra polivalente, no entanto, cada modalidade é praticada de uma vez, não sendo possível a sua prática simultânea. A organização espacial global, ao cont co ntrá rári rio, o, co cons nsis iste te na simu simult ltan anei eida dade de das das es espe pecí cífi fica cas. s. Co Como mo se na quad quadra ra polivalente estivessem sendo praticados ao mesmo tempo os três mencionados esportes. Para que esta globalidade da organização espacial se verifique torna-se necessário um certo nível de compatibilidade entre os agentes modeladores da orga organi niza zaçã ção o es espa paci cial al.. Isto Isto ac acon onte tece ce quer quer atra atravé véss da aç ação ão co coor orde dena nado dora ra e repres repressor sora a do Estado Estado via planej planejame amento nto territ territori orial, al, quer quer atravé atravéss da ali alianç ança a de interesses das grandes corporações capitalistas, que são capazes de organizar o espa es paço ço,, ao me meno noss parc parcia ialm lmen ente te,, se segu gund ndo o se seus us inte intere ress sses es.. Quan Quando do es este tess se 5
concre conc reti tiza zam, m, indu induze zem m outr outros os agen agente tess a util utiliz izar arem em as suas suas me mesm smas as form formas as espaciais. Assim, exemplificando, um corredor de exportação aberto ou melhorado em função dos poderosos interesses vinculados à soja, como ocorre no sul do Brasil, tamb também ém é util utiliz izad ado o para para outr outros os fins fins e por por outr outros os agen agente tes. s. Uma Uma outr outra a form forma a espacial, a cidade, criada para cumprir determinadas atividades, pode também servir a outras. Há, na realidade, no processo de ajuste entre agentes e atividades, o aparecimento de um mecanismo de natureza econômica que é denominado de economias economias de aglomeraçã aglomeração: o: várias atividades juntas beneficiam-se mutuamente umas das outras pela escala que criam, ao se utilizarem das mesmas formas espaciais. Neste sentido, podemos afirmar que as economias de aglomeração, na medida em que viabilizam o sucesso das atividades, são economias locacionais para a reprodução. Os fenômenos de concentração espacial que decorrem deste mecanismo têm a vantagem de minimizar a complexidade da organização' espacial glo global. bal. Nã Não o fos osssem as ec eco onomi nomias as de aglo aglome merraç ação ão,, a disp isper erssão ão,, e não a concordância locacional, caracterizaria sobremodo a organização espacial, pois em princípio cada atividade tem suas próprias regras locacionais, a sua organização espacial específica.
Organização espacial: capital e Estado A organização espacial é o resultado do trabalho humano acumulado ao longo do tempo. No capitalismo, este trabalho realiza-se sob o comando do capital, quer dizer, dos diferentes proprietários dos diversos tipos de capital. Também é realizado através da ação do Estado capitalista. Isto quer dizer que o capital e seu Estado são os agentes da organização do espaço. Daí falar-se em espaço do capital. A aç ação ão do ca capi pita tall não não se veri verifi fica ca de modo modo unif unifor orme me,, quer quer em term termos os temporais ou espaciais. Há uma diferenciação espaço-temporal nos investimentos de capital. A seqüência de idéias a seguir relaciona-se a esta distinção: a) A própria dinâmica contraditória da acumulação capitalista que, em função dos conflitos entre capital e trabalho e da concorrência dos capitalistas, gerou, a partir das últimas décadas do século XIX, um processo de centralização e concentração do mesmo envolvendo inicialmente as empresas industriais e depois os bancos, surgindo daí o capital financeiro, conforme mostra Lênin 12. Este processo origina-se a partir de um determinado momento, sendo, portanto, de natureza histórica. b) A centralização e a concentração do capital têm uma expressão espacial que é a sua intern internaci aciona onaliz lizaçã ação, o, o que Lênin Lênin denomi denominou nou imperi imperiali alismo smo.. Este Este não se dá, contudo, por igual: a superfície da Terra apresenta uma natureza primitiva e uma segunda natureza que oferecem atrativos diferenciados para o capital, que procura os lugares onde a sua remuneração é maior. E note-se que o valor de um lugar para o capital pode mudar com o tempo. c) O Estado capitalista tem progressivamente investido mais e mais, contribuindo para a organização do espaço. Este crescente papel do Estado na organização espaci espacial al está está ligado ligado às necess necessida idades des de soc social ializa ização ção dos custos custos necess necessári ários os à acumulação do grande capital. A este não compensa mais investir em ferrovias, sist sistem emas as de ener energi gia, a, habi habita taçã ção o popu popula larr etc. etc.,, ou se seja ja,, em ativ ativid idad ades es pouc pouco o remuneradoras. Por outro lado, o investimento feito pelo Estado nestes setores pouco rentáveis barateia os custos dos investimentos do capi ca pittal nos nos lucr lucrat ativ ivo os. O Est Estado ado, em muit muito os ca caso sos, s, tor torna-s na-se e em empr pre esá sárrio, io, diversificando seus investimentos. Esta função que passa a desempenhar interessa ao grande capital, inserindo-se na dinâmica de acumulação capitalista, apesar do discur discurso so de alguns alguns econom economist istas as burgue burgueses ses,, segund segundo o o qual, qual, desta desta maneir maneira, a, o Esta Estado do desv desvir irtu tua a o se seu u pape papel. l. Co Como mo se es este te foss fosse e uma uma inst instit itui uiçã ção o neut neutra ra,, ahistórica, acima das classes sociais e dos interesses dominantes. 5
d) Ao lado do grande capital, existe ainda aquele que não se ampliou, não se diversificou, nem foi absorvido pelo primeiro. Está presente em todos os setores, e muitas vezes vive à sua sombra, sob a sua dependência, efetivada por subcontratos ou fornec fornecend endo o matéri matériasas-pri primas mas e bens bens interm intermedi ediári ários, os, ou ainda ainda viabil viabiliza izando ndo o grande capital, no papel de distribuidor varejista. Insere-se, portanto, no processo de acumulação capitalista. Aí encaixa-se também o denominado setor informal. O grande capital, o Estado e o pequeno capital, cada um destes agentes da organ organiza ização ção espaci espacial al possui possui uma estrat estratégi égia a de ação ação que lhe é aparen aparentem tement ente e específica, e que inclui uma dimensão espacial. A grande grande corpor corporaçã ação o capita capitalis lista ta pode, pode, primei primeiram rament ente, e, tomar tomar decisõ decisões es de investimento em um ou outro setor e/ou lugar a partir de estudos de viabilidade técnica que o pequeno capitalista não está capacitado a fazer. Por outro lado, a grande grande corpo corporaç ração ão possui possui uma uma esc escala ala intern interna a de operaç operações ões de ordem ordem tal que prescinde da presença de outras atividades. As restrições locacionais que a afetam são mínimas. Podem criar ou induzir à criação de uma série de vantagens na sua própria escala ou investir no poder de pressão junto ao Estado: quantos prefeitos, deputa deputados dos,, senado senadores res e minist ministros ros não estão, estão, nos países países capita capitalis listas tas,, direta direta ou indiretamente vinculados a uma ou mais corporações? Sendo assim, a grande corporação pode implantar um estabelecimento fabril de port porte e co cons nsid ider eráv ável el em uma uma pequ pequen ena a cida cidade de,, fech fechan ando do ou não não um outr outro o localizado em área metropolitana. Pode ainda criar um enclave em localidades despovoadas ou desprovidas de infra-estrutura, fixando, além da fábrica, um núcleo urbano onde tudo está sob seu controle: as habitações, os serviços de educação e saúde, a polícia etc. São os casos de João Monlevade, criada pela Companhia Siderúrgica Belga-Mineira, em Minas Gerais, de Carajás, pelo "projeto" Carajás ou de Monte Dourado, pelo Jarí, as duas no Pará. Nestas cidades, a grande corporação disporá de uma força de trabalho cativa e sob controle. Ela Ela pode pode,, aind ainda, a, disp disper ersa sarr a fabr fabric icaç ação ão das das part partes es co comp mpon onen ente tess de um prod produt uto o fina finall em vári vários os país países es,, de modo modo a mini minimi miza zarr poss possív ívei eiss prob proble lema mass de nacionalização. A grande corporação espalha a sua força de trabalho em cidades próximas ao parque fabril. Neste caso, a intenção é dificultar possíveis conflitos trabalhist trabalhistas. as. Induz o Estado Estado a instalar instalar toda a infra-estr infra-estrutur utura a técnica, técnica, bem como os conjuntos habitacionais necessários, criando, respectivamente, distritos industriais e áreas residenciais. Ao introduzirem um novo produto agrícola e a modernização tecnológica em uma área rural, as grandes corporações podem, direta ou indiretamente, alterar sua estrutura agrária: concentração fundiária, mudança nas relações de produção com uma nova força de trabalho constituída por bóias-frias, emigração do excedente demográfico etc. Aceleram, ainda, o processo de exaustão dos solos e, em relação às cidades da área, alteram as suas funções, pela diminuição da população de sua área de influência e pelo novo modelo de demanda rural. As grandes corpo rações criam, desse modo, não apenas uma organização espa es paci cial al próp própri ria, a, co como mo inse insere remm-se se em uma uma prév prévia ia,, alte altera rand ndoo-a a parc parcia iall ou totalmente, de acordo com seus interesses. Fala-se, assim, repita-se, do espaço do capital. Veja Vejamo moss algu alguns ns exem exempl plos os co conc ncre reto tos. s. Um dele deless é dado dado pela pela co corp rpor oraç ação ão multinacional Bunge y Bom. No Brasil, atua nos setores de óleos vegetais, farinha de trigo, rações, adubos, produtos químicos, tecidos, cimento, seguros etc., através de empres empresas as como como Sanbra Sanbra (Socie (Sociedad dade e Algodo Algodoeir eira a do Nordes Nordeste te Brasi Brasilei leiro ro S.A.), S.A.), Samrig (S.A. Moinho Rio Grandense), Moinho Fluminense S.A. Indústrias Gerais, S.A. Moinho Santista Indústrias Gerais, Quimbrasil (Química Industrial Brasileira S.A.), Serrana S.A. de Mineração, Tintas Coral S.A., Fábrica de Tecidos Tatuapé S.A., Santista Indústria Têxtil do Nordeste S.A., Cimbage (Cimento, Mineração Bagé S.A.) e Vera Cruz Seguradora S.A., entre outras, em um total de aproximadamente 20 empresas, algumas das quais, como a Sanbra, possuindo 5
numerosos estabelecimentos filiais. A corporação emprega milhares de pessoas e manipu manipulam lam anualm anualment ente e outras outras tantas tantas tonelad toneladas as de matéri matériasas-pri primas mas e produ produtos tos acabados. Atuando em todo o território nacional, a Bunge y Bom atribui a cada uma de suas áreas ou pontos um papel diferenciado, segundo suas possibilidades e os interesses da corporação. A divisão territorial do trabalho é assim influenciada por ela, que tem, por sua vez, a sua própria organização espacial: escritórios nacionais, regionais e locais, usinas de beneficiamento, depósitos, minas e fábricas. É o caso, também, da Companhia de Cigarros Souza Cruz, do grupo British American Tobacco, que possui fábricas em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Uberlândia, Salvador, Recife e Belém. Cada uma controla um certo número de depósitos atacadistas localizados em centros de expressão regional. Dos numerosos cent ce ntro ross atac atacad adis ista tass fazfaz-se se a dist distri ribu buiç ição ão de ciga cigarr rros os pela pelass cida cidade des, s, vila vilass e povoa:do povoa:doss da região de influência influência do centro atacadis atacadista. ta. Assim, Assim, cobrindo cobrindo todo o territ territóri ório o nacion nacional, al, existe existe uma rede rede urban urbana a da Souza Souza Cruz. Cruz. Como Como ela também também participa indiretamente na produção de fumo no sul do Brasil, acaba interferindo na organização das áreas produtoras daquele produto. Considere-se agora o grupo Bradesco, que possui mais de 1.500 agências bancárias em todo o país. Tem também a sua própria rede urbana, que é, na verd verdad ade, e, uma uma rede rede de dren drenag agem em,, de ac acum umul ulaç ação ão de ca capi pita tall a se serr inve invest stid ido o desigualmente pelo território nacional, como, por exemplo, em dezenas de milhares de hectares de terra na Amazônia. Ao lado da grande corporação ou mesmo da empresa moderna, de menor ou maior porte, atua ainda, particularmente nos países subdesenvolvidos, um enorme conjunto de atividades, muitas vezes de natureza familiar, que não se utilizam do crédito nem -movimentam recursos vultosos. Em vários casos, empregam como matéria-prima produtos usados e não cumprem ou não têm nenhuma formalidade, quer administrativa, quer vinculada ao mercado (atividades informais). Santos 13 as denomina circuito inferior da economia, em oposição às formais, pertencentes ao superior, ou seja, o circuito moderno. Estas atividades do circuito inferior não são independentes das outras, mas um meio através do qual o processo de acumulação capitalista pode incluir um seto se torr que que não é atr atrativ ativo o par para a gran grande de em empr pres esa. a. Além lém do mais ais, gar garante ante det deter erm minad inado o níve nívell de sub subsist sistên ênci cia a par ara a uma uma popu popula laçã ção o apar aparen ente tem mente ente marginalizada que não teria emprego fixo nas atividades modernas. Os biscateiros, os ambulantes, as diversas oficinas de reparação semi-clandestinas e as pequenas unid unidad ades es de prod produç ução ão de suced sucedân âneo eoss de prod produt utos os co conh nhec ecid idos os sã são o form formas as do circuito inferior. Santos argumenta que, em áreas rurais pobres, a esfera de influência dos pequenos centros urbanos é constituída sobretudo pela atuação das atividades do circuito inferior: o poder aquisitivo desta população não permite o consumo de produtos do circuito superior. As feiras do nordeste, forma de mercado periódico, são exemplos típicos das atividades informais. Por ter a sua ação vinculada, sobretudo às necessidades de acumulação do capital e à conseqüente reprodução social, o Estado age espacialmente de modo desigual, desigual, à semelhança semelhança da grande grande corporaçã corporação. o. Beneficia Beneficia certas certas frações frações do capital: faz-se presente através de empreiteiras, algumas delas transformadas em grandes empresas. A abertura de estradas, o seu asfaltamento, a cobrança e a transferência espa es paci cial alme ment nte e desi desigu gual al de impo impost stos os,, as leis leis de uso uso do so solo lo ger gerador adoras as do zoneamento urbano são, entre outros exemplos, o modo de o Estado capitalista interferir. A par desta performance, o Estado possui uma organização espacial de seus aparelhos repressivo e ideológico: as comarcas, a organização espacial do aparato militar e policial, os distritos educacionais e suas jurisdições e a localização peri perifé féri rica ca das das univ univer ersi sida dade dess fede federa rais is faze fazem m part parte e dela dela.. Po Porr outr outro o lado lado,, os 5
monumentos aos vencedores das lutas sociais, ao lado do esquecimento total dos vencidos, constituem marcas da ação do Estado na organização espacial. Temos, portanto, dentro dela, uma dimensão econômica extremamente comple complexa, xa, uma uma jurídi jurídico-p co-polí olític tica a e uma ideoló ideológic gica. a. Estas Estas três três dimens dimensões ões entre entre cruzam-se e completam-se. Isto porque a organização espacial é um reflexo e uma condição da sociedade.
Organização espacial: reflexo social Produto da ação humana ao longo do tempo, a organização espacial é um reflex reflexo o soc social ial,, "conse "conseqüê qüênci ncia a do trabal trabalho ho e da divisã divisão o do trabal trabalho" ho",, confor conforme me 14 aponta Lefebvre . É o resultado do trabalho social que transforma diferencialmente a natureza primitiva, criando formas espaciais diversas sobre a superfície da Terra. Como o trabalho social e a sua divisão dão-se em um determinado tipo de sociedade com certo nível de desenvolvimento das forças produtivas e um modo domina dominante nte de suas suas rel relaçõ ações, es, a organ organiza ização ção espaci espacial al res result ultant ante e reflet refletirá irá estas estas caract caracterí erísti sticas cas básica básicass da soc socied iedade ade.. Reflet Refletirá irá o desenv desenvolv olvime imento nto das forças forças produtivas e as relações de produção. E como estas últimas vão traduzir-se em classes sociais e seus conflitos, a organização espacial as espelhará. Assim, a existência de estabelecimentos industriais, constituídos de edifícios onde onde se prod produz uz,, depó depósi sito tos, s, páti pátios os de ca carg rga a e desc descar arga ga e área áreass para para futu futura rass expansões, configura uma organização espacial em escala micro que só aparece a partir partir do capitalismo. capitalismo. Do mesmo modo que um conjunto conjunto dos mesmos, mesmos, uns ao lado dos outros, separados por vias de tráfego pesado e ruas de uso exclusivo das fábr fábric icas as que que ali ali se situ situam am,, tend tendo o aind ainda a nas nas prox proxim imid idad ades es bair bairro ross oper operár ário ios. s. Considerando-se outra escala territorial, o mesmo se pode dizer de um conjunto de cidades industriais próximas umas das outras, como ocorre na área de Campinas, no Estado de São Paulo, ou no vale do Ruhr, na Alemanha. Semelhantemente, a organização espacial de uma propriedade rural no meiooeste americano do início do século XX difere daquela dos dias de hoje. Um certo grau de autarcia e um menor nível tecnológico implicavam a existência de mais variedade nos cultivos e na criação de animais, bem como em usos distintos das suas edificações. José Lins do Rego, ao romancear a história da organização sócio-espacial da zona da mata paraibana nos romances Menino de engenho, Bangüê, Fogo morto e Usina, entre outros, mostra muito bem como se deram as mudanças de organização espacial a partir das relações de produção - do escravo ao "morador de condição" e ao assalariado - e do desenvolvimento tecnológico - do engenho bangüê à pequena e à grande usina. A cada momento, refletia os dois aspectos. O bangüê, a casagrande, a senzala, os "partidos" de cana, os cultivos de subsistência e a própria dimensão espacial do estabelecimento produtor de açúcar refletem um estágio da organização da sociedade local. Os amplos canaviais, a imponente usina com sua alta chaminé, as linhas férreas cortando o canavial, a ausência de cultivos de subsistência e a presença de antigos bangüês, agora de fogo morto, caracterizam outro estágio. Fosse José Lins do Rego vivo, certamente prosseguiria o "ciclo da cana" reportando-se, entre outros aspectos, à ocupação canavieira nos tabuleiros, áreas de solos arenosos porém planos, que somente após a década de 60, à custa de enorme enorme invest investime imento nto tecnol tecnológi ógico co compen compensad sado o pelos pelos altos altos preços preços do açúcar açúcar no mercad mercado o intern internacio acional nal,, foram foram incor incorpor porado adoss à organ organiza ização ção espaci espacial al canavi canavieir eira. a. Reportar-se-ia ainda às dificuldades, devido aos tratores e à maquinaria pesada, de se utilizar as até então ricas e valorizadas várzeas constituídas de solos argilosos – o massapê -, solos pesados que se transformam em impiedosos lamaçais durante a época das chuvas, o "inverno". 5
Buch Buch-H -Han anso son n e Niel Nielse sen n apre aprese sent ntam am,, por por outr outro o lado lado,, três três mode modelo loss que que descrevem sucintamente a organização de três sociedades. A figura 6a refere-se à sociedade feudal posterior ao século X, quando se verifica um renascimento do fenômeno urbano. Trata-se de uma organização espacial constituída de células fechad fechadas, as, pouco pouco articu articulad ladas as entre entre si. Cada Cada uma delas delas aprese apresenta nta condiç condições ões de sati sa tisf sfaz azer er à quas quase e tota totali lida dade de das das nece necess ssid idad ades es de vida vida da gran grande de maio maiori ria a da população. No centro localiza-se um burgo, que tem em torno de si um território com aldeias rurais. A economia aldeã era praticamente autárcica, de subsistência, com um mínimo de excedentes, comercializados no burgo com a produção dos artesãos. As ligações entre os burgos, por sua vez, eram extremamente limitadas: não há trocas entre centros semelhantes. Esse padrão celular deve-se ao pequeno desenvolvimento das forças produtivas e à pequena divi divisã são o so soci cial al e terr territ itor oria iall do trab trabal alho ho,, torn tornan ando do os hori horizo zont ntes es es espa paci ciai aiss extremamente reduzidos. A figur figura a 6b, por sua sua vez, vez, refere refere-se -se à organi organizaç zação ão espaci espacial al da soc socied iedade ade colonial. Surgida a partir do século XV com a expansão mercantilista européia, caracteriza-se, entre outros aspectos, pela primazia de uma cidade portuária, ponto de escoamento de produtos valorizados na Europa e nos Estados Unidos e de importação de produtos industrializados e sua redistribuição para a hinterlândia. É, também, o centro de controle político e militar da colônia. A rede de cidades e as vias de circulação assumem um padrão dendrítico, à semelhança de um sistema fluvial, em cuja extremidade encontra-se a cidade portuária.
Vári Vários os país países es da Ásia Ásia,, Áfri África ca e Amér Améric ica a La Lati tina na apre aprese sent ntam am uma uma orga organi niza zaçã ção o espacial semelhante a essa descrita pelo modelo.
5
Finalmente, a figura 6c reporta-se à sociedade capitalista avançada. Como se pode ver, sua organização espacial é mais complexa. Complexidade que se refere aos numerosos centros urbanos e suas hinterlândias e à densa rede que os articula entre si. Esta organização espacial reflete a intrincada divisão social e territorial do trabalho e a conseqüente natureza complementar das atividades de cada lugar. Ao contrá contrário rio da soc socied iedade ade coloni colonial, al, a capita capitalis lista ta avança avançada da está está organ organiza izada da para para si mesma, dotada de um poderoso mercado que implica sólidas relações internas e externas. Deste modo, como dizem Buch-Hanson e Nielsen, cada sociedade tem a sua própria geografia, a sua própria organização espacial. Mas o seu caráter de reflexo social não diz respeito apenas ao presente. A organ organiza ização ção espaci espacial al acumul acumula a formas formas herdad herdadas as do passad passado. o. Elas Elas tivera tiveram m uma gêne gênese se vinc vincul ulad ada a a outr outros os prop propós ósit itos os e perm perman anec ecer eram am no pres presen ente te,, porq porque ue puderam ser adaptadas às necessidades atuais, que não mudaram substancialmente ao longo do tempo. As formas espaciais herdadas do passado e presentes na organização atual apresentam uma funcionalidade efetiva em termos econômicos ou um valor simbólico que justifica a sua permanência. A es esta tass Milt Milto on Sant antos (197 1978) deno enomin mina rugosidades, um termo da geomorfologia que designa as marcas do passado fixadas no espaço. Sua presença acaba condicionando o nosso cotidiano. Ao se projetar este raciocínio no tempo, pode-se afirmar que o presente condiciona o futuro, ou seja, as formas espaciais presentes têm um importante papel no futuro da sociedade.
Organização espacial e reprodução A organização espacial não é somente um reflexo da sociedade. Como vimos, ao ser um reflexo, passa a ser simultaneamente uma condição para o futuro da sociedade, isto é, a reprodução social. Este papel assume enorme importância devi devid do à cres cresce cent nte e ac acu umula mulaçção de for formas mas es esp pac acia iais is que que o capit apital alis ismo mo contemporâneo cria, exemplificada com a progressiva urbanização da humanidade. Na verdade, segundo Lefebvre, é o papel mais importante da organização espacial: A totalidade do espaço se converte no lugar da reprodução das relações de produção,
Relações estas que estão no centro da sociedade estruturada em classes sociais. Já vimos anteriormente por que a organização espacial é condição de reprodução. Vejamos agora a questão mais detalhadamente, através de alguns exemplos. A co conc ncen entr traç ação ão de ativ ativid idad ades es loca locali liza zada dass em um pont ponto o do terr territ itór ório io,, maximizando a acumulação de capital para as mesmas, condiciona a continuidade deste processo: os complexos industriais e as áreas metropolitanas são exemplos típicos. O mesmo se pode dizer, mudando a escala, das ruas caracterizadas por um único tipo de atividade - comércio de móveis, confecções ou peças e acessórios de veículos. As vantagens advindas da aglomeração induzem à reprodução do padrão espacial preexistente. Os efeitos da ampliação do capital das empresas localizadas no centro da cidade, somados às deseconomias de aglomeração, quer dizer, o congestionamento do tráfego, a ausência de áreas para expansão ou o alto preço da terra, traduzemse na recriação de novas concentrações de atividades em áreas distantes do centro da cida cidade de e dota dotada dass de algu alguma mass vant vantag agen enss loca locaci cion onai aiss co como mo uma uma posi posiçã ção o geográfica favorável. Reproduzem-se então concentrações similares às do centro da cida cidade de,, atra atravé véss dos dos subc subcen entr tros os co come merc rcia iais is,, co como mo Co Copa paca caba bana na,, Tiju Tijuca ca e Madureira, na cidade do Rio de Janeiro. 5
Existe, de um lado, um processo de reprodução simples do espaço e, de outro, ampliada. No primeiro caso, um local de concentração de atividades, como o cent ce ntro ro da cida cidade de,, exp expande ande-s -se e vert vertic ical al ou hori horizo zont ntal alme ment nte. e. Isto Isto se dá pelo pelo aparecimento de novas empresas que são agregadas ao espaço já constituído. No seg se gund undo ca caso so,, uma uma nova nova organ ganizaç ização ão es esp pac acia iall é cria criad da ou alte alterrada ada pelo pelo aparecimento de subcentros comerciais, cuja forma mais moderna é o shopping center, tais tais como como Barra Barra Shoppi Shopping, ng, Rio Sul, Sul, Ibirap Ibirapuer uera, a, Eldor Eldorado ado,, BH Shoppi Shopping, ng, Iguatemi etc. O shopping center é, na verdade, o resultado da fusão de capitais vinculados primordialmente ao setor financeiro, imobiliário e comercial. Esta Esta repro reproduç dução ão amplia ampliada da do espaço espaço é uma uma expres expressão são espaci espaciali alizad zada a do processo de reprodução ampliada do capital, que se verifica simultaneamente à sua centra centraliz lização ação e concen concentra tração ção:: os subcen subcentro tross comerc comerciai iaiss cresce cresceram ram a partir partir da instalação de filiais de empresas tradicionalmente localizadas no centro da cidade, como co mo as loja lojass de elet eletro rodo domé mést stic icos os,, e a expe expens nsas as das das pequ pequen enas as em empr pres esas as comerciais dos bairros; nos shopping centers, só se arrenda o espaço de uma loja para uma empresa que já possua uma cadeia delas. Assim, reprodução ampliada do capital significa, no plano das empresas, uma centralização, mas no plano espacial representa uma descentralização recriadora. O papel da organização espacial como cond co ndiç ição ão para para a repr reprod oduç ução ão so soci cial al é mais mais evid eviden ente te quan quando do se co cons nsid ider eram am as diferentes classes sociais e suas frações em um meio urbano. É, em grande parte, através da segregação residencial que estas se reproduzem. A origem da segregação residencial remonta ao próprio aparecimento das classes sociais e da cidade, as quais se verificaram ao mesmo tempo, sendo anteriores à emergência do capitalismo. A cidade asteca de Tenochtitlán e a cidade kmer kmer de Angk Angkor or Thom Thom,, no atua atuall terr territ itór ório io ca camb mboj ojan ano, o, apre aprese sent ntav avam am uma uma orga organi niza zaçã ção o es espa paci cial al ca cara ract cter eriz izad ada a pela pela pres presen ença ça da elit elite e junt junto o ao ce cent ntro ro cerimonial e da população pobre na periferia. É no ca capi pita tali lism smo, o, co cont ntud udo, o, que que a se segr greg egaç ação ão resi reside denc ncia iall torn tornaa-se se mais mais complexa, à medida que se amplia o processo de estruturação das classes sociais e seu se u frac fracio iona name men nto. to. No Novo voss mod modelo elos espac spacia iais is de segr egregaç egação ão apar aparec ecem em impu impuls lsio iona nado doss pelo peloss dife difere rent ntes es agen agente tess da orga organi niza zaçã ção o es espa paci cial al urba urbana na:: proprietá proprietários rios fundiários fundiários,, incorpora incorporadores dores imobiliári imobiliários, os, industria industriais, is, articulado articuladoss em maior ou menor grau aos bancos, e o Estado. São criadas, assim, periferias de autoconstrução, favelas em áreas alagadiças ou de morros, cortiços, bairros dos diferentes segmentos da classe média e as habi habita taçõ ções es sunt suntuo uosa sass e se sele leti tiva vass dos dos ca capi pita tali list stas as e exec execut utiv ivos os do ca capi pita tal: l: os condomínios exclusivos, cercados e sob vigilância de uma polícia particular, são a expressão acabada de uma elite que se impõe. Como a segregação residencial viabiliza a reprodução das classes sociais e suas frações? Pelo fato de as diversas áreas residenciais, diferenciadas entre si, mas razoavelmente homogêneas quando consideradas internamente, configurarem meios distintos para a interação social, da qual os indivíduos derivam seus valores, expect expectati ativas vas,, hábito hábitoss de consum consumo o e estado estado de consci consciênc ência. ia. A partir partir do bairr bairro o enxerga-se a cidade e o mundo. Um bairro e seu sistema de valores estável possibilita maior reprodução do grupo social que ali vive. Afinal de contas, esperase que nas localidades onde hoje residem os capitalistas esteja sendo forjada a próxima geração dos mesmos, Do mesmo modo, de um bairro de empregados do comércio, de bancos e escritórios, espera-se que saiam os futuros empregados destes setores. Para isto, contribui a localização diferenciada dos serviços de uso coletivo: melhores escolas, hospitais, policiamento, infra-estrutura básica, parques e jardins localizam-se nas áreas residenciais mais nobres, minimizando os custos de reprodução de seus já privilegiados habitantes. E o que falar da periferia das grandes cidades brasileiras, habitada por uma enorme e crescente força de trabalho não-qualificada, que tem parte de seu tempo coti co tidi dian ano o desp desper erdi diça çado do co com m hora horass de viag viagen enss entr entre e loca locais is de resi residê dênc ncia ia e de 5
trabalho? A respeito da reprodução dos moradores da periferia, Chico Buarque de Holanda tem enorme sensibilidade quando em "Pedro pedreiro" escreve: Pedro pedreiro, penseiro Esperando o trem
...
E a mulher de Pedro Esperando um filho Pra esperar também
... Assim, a organização espacial do presente impacta sobre o futuro, adquirindo aquilo que Milton Santos denomina de inércia dinâmica.
Estrutura, processo, função e forma Segundo Milton Santos (1985), para se compreender a organização espacial e sua evolução - quer dizer, a evolução da totalidade social espacializada -, torna-se necessário que se interprete a relação dialética entre estrutura, processo, função e form forma. a. Esta Estass sã são o as ca cate tego gori rias as anal analít ític icas as que que perm permit item em a co comp mpre reen ensã são o da totalidade social em sua espacialização, como os homens organizam sua sociedade no espaço, e como a concepção e o uso que o homem faz do espaço sofrem mudanças. (MILTON SANTOS, 1985, p. 53.)
Segundo Santos, forma é o aspecto visível, exterior, de um objeto, referindose ainda ao arranjo deles, que passam a constituir constituir um padrão espacial. Uma casa, um bair bairro ro,, uma uma cida cidade de e uma uma rede rede urba urbana na sã são o form formas as,, form formas as es espa paci ciai aiss de diferentes escalas.Ê conveniente deixar claro que não se pode considerar a forma de per si. Se assim o fizéssemos, cairíamos em uma análise da forma pela forma, atribuindo a ela uma autonomia que não tem. Estaríamos, ainda, deslocando a form forma a para para o âmbi âmbito to da geom geomet etri ria, a, a ling lingua uage gem m da form forma, a, ca cain indo do em um espacialismo estéril para a compreensão da organização espacial. Por outro lado, se considerássemos que a partir da forma seria possível apreender a realidade em sua essência, incorreríamos em um grave erro. Tratar-seia da apreensão apreensão de um aspecto da realidade, realidade, a sua aparência, aparência, incapaz de permitir permitir vê-Ia em sua concretização, porque sua essência aparece nos processos e funções que que em eman anam am da es estr trut utur ura, a, co como mo se verá verá.. Seri Seria a uma uma pseu pseudo doêo êonc ncre reti tiza zaçã ção, o, 15 conforme Kosik . Por sua vez, .a noção de função implica implica uma tarefa, tarefa, atividade ou papel a ser desempenhado pelo objeto criado. Assim, este tem um aspecto exterior, visível – a forma - e desempenha uma atividade - a função. Habitar, viver o cotidiano, a vida em suas variadas facetas - trabalho, compras, lazer -, visitar parentes e consumir em outras cidades são algumas das funções associadas, respectivamente, à casa, ao bairro, à cidade e à rede urbana. A relação entre forma e função é, em princípio, direta: uma determinada forma é criada paia desempenhar uma ou várias funções. E não existe função sem a sua forma correspondente. Daí não se poder dissociar forma e função no estudo da organização espacial. Contudo, apenas a consideração da forma e da função não é sufici suficient ente e para para compre compreend endê-la ê-la:: estarí estaríamo amoss retira retirando ndo da rea realid lidade ade soc social ial a sua sua natu nature reza za hist histór óric ica, a, isto isto é, as ca cara ract cter erís ísti tica cass so soci ciai aiss e ec econ onôm ômic icas as e suas suas transformações. Cairíamos em uma análise espacial de cunho funcionalista. Segundo Santos, o termo estrutura, relativo ao modo como os objetos estão organizados, refere-se não a um padrão espacial, mas à maneira como estão inter5
relacionados entre si. Diferentemente da forma, a estrutura não constitui algo que tenha uma exterioridade imediata. Ela é invisível, estando subjacente à forma, uma espécie de matriz onde a forma é gerada. Estrutura é a natureza social e econômica de uma sociedade em um dado momento do tempo. Por sua vez, processo é definido como uma ação que se realiza continuamente, visando um resultado qualquer, implicando tempo e mudança. Os processos acontecem dentro de uma dada estrutura social e econômica e resultam das contradições internas da mesma. Com isto, estamos dizendo que processo é uma estrutura em seu movimento de transformação. Se considerarmos, portanto, apenas as categorias de estrutura e processo, estaremos fazendo uma análise aespacial, não-geográfica, absolutamente incapaz de captar a organização espacial de uma dada sociedade em um dado momento do tempo ou suas mudanças no mesmo. Considerando apenas a estrutura e 'a forma, desprezando o papel do processo e da função, deixaríamos de lado a medi me diaçã ação o (pro (proce cess sso o e funç função ão)) entr entre e o que que é subj subjac acen ente te (a es estr trut utur ura a so soci cial al e econômica) econômica) e o exterioriz exteriorizado ado (a forma espacial). espacial). Perde-se Perde-se a história, história, os elementos elementos dinâmicos de transformação, que põem a estrutura em marcha, culminando na mudança ou permanência das formas espaciais. Reafirmando, diríamos com Santos: Forma, função, estrutura e processo são quatro termos disjuntivos associados, a empregar segundo um contexto do mundo de todo dia. Tomados individualmente, representam apenas realidades parciais, limitadas, do mundo. Considerados em conjunto, porém, e relacionados e ntre si, eles constroem uma base teórica e metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade.
(MILTON SANTOS, 1985, p. 52.)
A part partir ir da es estr trut utur ura a so soci cial al e ec econ onôm ômic ica, a, pode podemo moss co cons nsid ider erar ar as inte interrrelações entre estrutura, processo, função e forma. Uma dada estrutura social e econôm econômica ica possui possui seus seus proces processos sos intrín intrínsec secos os que demand demandam am funçõe funçõess a ser serem em cristalizadas em formas espaciais. Cessadas as razões que deram origem a elas, pode podem m desa desapa pare rece cer, r, dand dando o orig origem em a outr outras as.. A famo famosa sa expr expres essã são o destruição criadora refere-se à intensidade desta substituição no capitalismo. Contudo, na soci so cied edad ade e ca capi pita tali list sta, a, a forç força a de perm perman anên ênci cia a das das form formas as es espa paci ciai aiss tem tem sido sido crescente. O fato de muitas das formas construídas transformarem-se em capitais fixos, apresentando ainda determinado nível de remuneração do capital investido, ou então um certo valor para a sociedade, explica a força de inércia que possuem. Ademais, muitas destas formas são dotadas de certa flexibilidade que permite uma adaptação às exigências das novas funções criadas c riadas em momentos posteriores à sua criação. Assim, o moderno, a função, e o antigo, a forma, podem estar juntos, ao lado lado de funçõe funçõess e formas formas contem contempor porâne âneas, as, tornan tornando do comple complexa xa a organ organiza ização ção espacial. Vejamos um exemplo. É comum encontrarem-se áreas caracterizadas por residê res idênci ncias as deteri deteriora oradas das,, os cortiç cortiços, os, próxim próximas as ao centro centro das grand grandes es cidade cidadess capitalistas. São residências do século XVIII, XIX ou do início deste, que foram habitadas no passado por famílias de alto status. A partir de um determinado momento, abandonaram a proximidade do centro e foram habitar novas residências construídas em bairros mais distantes do centro da cidade. As antigas residências foram parcialmente substituídas por altos edifícios, transformadas em escritórios ou lojas, ou ainda em cortiços habitados por famílias de baixa renda: cada residência abriga várias famílias, cada uma ocupando uma única peça e tendo em comum o banheiro e a cozinha. A velha forma espacial ganha, com seu novo conteúdo, funções diferenciadas: fornecer residência barata para parte da classe trabalhadora, via de regra constituída de imigrantes, que tem 5
seu mercado de trabalho junto ao centro, e permitir a extração de uma renda para uma parcela dos proprietários dos imóveis deteriorados. Estas funções, por sua vez, resultam de um processo que está no centro da estrutura sócio-econômica capitalista, o de acumulação de capital que, no caso em tela, implica a criação de novos bairros, a extração de uma renda fundiária e o barateamento do custo da força de trabalho e de sua reprodução, através de residências precárias e baratas próximas ao local de trabalho. Na análise da organização espacial, deve-se ter o cuidado de não se iludir pela semelhança das formas espaciais. Formas semelhantes podem ser oriundas de proces processos sos distin distinto tos, s, e rea realiz lizare arem m funçõe funçõess difere diferente ntes. s. Isto Isto signif significa ica que, que, ao se transpor, por analogia, o conhecimento adquirido sobre uma forma para outra, corre-se o risco de se cometer uma inferência errada. Não resta dúvida de que podemos deduzir, com alguma precisão, as formas que podem emergir de um determinado processo e sua função correspondente. No entanto, o inverso não é verdad verdadeir eiro. o. Forma Formass sem semelh elhant antes es oriund oriundas as de proce processo ssoss difere diferente ntess podem podem ser criadas em duas estruturas sociais e econômicas distintas, visando, por exemplo, escamotear a realidade. A flexibilidade das formas quanto ao seu uso assim o permite. Mas admitimos que esta questão não está de todo resolvida. A partir da compreensão das relações entre estrutura, processo, função e form forma, a, as ca cate tego gori rias as anal analít ític icas as que que dão dão co cont nta a da tota totali lida dade de so soci cial al em sua sua espacialização, podem-se, sem receio de cair no empirismo, iniciar o estudo da organização espacial de uma sociedade em um dado momento de sua história pelas suas formas.
Espaço e movimentos sociais urbanos A cidade tem-se constituído, ao longo da história, no principal local das lutas sociais. As barricadas de Paris e as greves por toda parte são exemplos destas lutas sociais que se verificam no espaço urbano capitalista, onde estão as fábricas, os proprietários dos meios de produção, os operários, os diferentes setores de classe média e os grupos marginalizados. Elas são a expressão dos conflitos entre capital e trabalho. A consciência da existência de uma organização espacial urbana desigual, caracterizada por uma complexa divisão técnica e social do espaço, associada a uma enorme diferença nas condições de vida dos diversos grupos sociais da cidade, têm gerado, a partir da década de 60, um novo modo de manifestação das lutas sociais. São os denominados movimentos sociais urbanos. A diferenciação na organização espacial da grande cidade latino-americana é notáve notável. l. Em rel relaçã ação o às áre áreas as res reside idenci nciais ais,, há bairr bairros os aprazí aprazívei veiss e faraôn faraônico icos, s, habitados por uma população de alto nível de renda – proprietários dos meios de produção e assalariados regulares e bem-remunerados -, que a par das belas e luxuosas residências, dispõem de uma boa infra-estrutura e serviços adequados: água, esgoto, luz, calçamento, praças, parques, clubes, policiamento, comércio de luxo, luxo, os melhor melhores es consul consultór tórios ios e clínic clínicas as médica médicas, s, e excele excelente ntess esc escola olas. s. Estes Estes bairros localizam-se, normalmente, nos setores de amenidades da cidade, em áreas de alto preço da terra. Em oposição a estes bairros, há outros habitados por uma população de baixo nível de renda, constituída por operários não-qualificados, humildes empregados do setor terciário, subempregados e desempregados, que vivem em favelas dispersas pelo espaço urbano, em conjuntos habitacionais construídos pelo Estado, ou em precárias casas autoconstruídas pela própria população em suas horas de repouso e lazer - caracterizando, portanto, um sobretrabalho. Tanto os conjuntos habitacionais como as casas autoconstruídas localizam-se na periferia do espaço urbano, em áreas precariamente dotadas de infra-estrutura e serviços, e de baixo preço da terra. Além destas áreas dispersas ou distantes do centro da cidade, os cortiços 5
existe existente ntess nas nas proxim proximida idades des do centro centro abriga abrigam m uma determ determina inada da parcel parcela a da população de baixo nível de renda. Entre uma área e outra, localizam-se os bairros das diferentes frações da classe média. Caracterizam-se por apresentarem aspectos que ora os aproximam dos bairros populares, ora dos ricos. A diferenciação do espaço urbano em termos residenciais tem, como já se viu, o papel de viabilizar a reprodução das diferentes classes e suas frações. Ela é percebida no trajeto para o trabalho, nos locais de residência e de trabalho, nas viagens de compra, visitas e lazer, e nas informações provenientes da enorme profus profusão ão dos meios meios de comuni comunicaç cação. ão. A consci consciênc ência ia das difere diferenci nciaçõ ações es sóc sócioioespa es paci ciai aiss faz faz co com m que que ca cada da um dest destes es es espa paço çoss resi reside denc ncia iais is se seja ja tamb também ém de reivindicações, específicas ao grupo social que ali reside. Reivindicações que dizem respeito às condições de reprodução de cada grupo social. As exigências assumem uma expressão espacial através dos movimentos sociais urbanos que se manifestam, não nos locais de trabalho, com as greves, mas nos nos bair bairro ros, s, nos nos loca locais is de repr reprod oduç ução ão das das clas classe sess so soci ciai aiss e suas suas fraçõ frações es.. As reivindicações dizem respeito ao direito a uma habitação decente, ao acesso aos vári vários os equi equipa pame ment ntos os de co cons nsum umo o co cole leti tivo vo co como mo água água e es esgo goto to,, ao dire direit ito o de permanecer no local da residência e não ser transferido compulsoriamente, ou seja, reivindicações pelo "direito à cidade". As associações de moradores são os agentes através dos quais a mobilização reivindicatória é processada. Os movimentos sociais urbanos têm como origem as contradições específicas da proble problemát mática ica urbana urbana,, que são são,, de um lado, lado, aquela aquelass entre entre as necess necessida idades des coletivas de equipamentos como habitação, transporte, saúde e cultura, e, ainda pens pensan ando do em es espa paço ço,, as co cont ntra radi diçõ ções es apar aparec ecem em não não apen apenas as no supo suport rte e da habitação, mas também na localização relativa face ao mercado de trabalho, e, de outr outro o lado, lado, a lógi lógica ca ca capi pita tali list sta, a, que que torn torna a pouc pouco o rent rentáv ável el a prod produç ução ão dest destes es equipa equipamen mentos tos pelo pelo capita capitall priva privado. do. A contra contradiç dição ão entre entre o modo modo indivi individua duall de apropriação das condições de vida e o coletivo. de gestão é, por sua vez, dificultada pela natureza privada e pulverizada dos agentes econômicos, cujos interesses não se referem a todo o conjunto do espaço urbano. No contex contexto to das contra contradiç dições ões acima acima referi referidas das,, o Estado Estado encarr encarrega ega-se -se de prov prover er os equi equipa pame ment ntos os de co cons nsum umo o co colet letiv ivo o para para todo todo o es espa paço ço urba urbano no.. No entanto, como o Estado é também o elemento de legitimação da classe dominante, sua atuação enquanto provedor tende, por um lado, a reforçar as áreas residenciais nobres, e por outro, a viabilizar o sucesso de novas implantações produtivas do gran grande de ca capi pita tal, l, atra atravé vés, s, por por exem exempl plo, o, da cria criaçã ção o de dist distri rito toss indu indust stri riai ais. s. Isto Isto significa que a sua atuação não se realiza de modo uniforme no espaço urbano, atuação que se traduziria nos investimentos em água e esgoto, na criação de uma comple completa ta infrainfra-est estru rutur tura a para para implan implantaç tações ões indust industria riais, is, na produç produção ão de novos novos espaços urbanizáveis, na abertura de vias de grande densidade de tráfego, na instalação de áreas de lazer, na renovação urbana, na construção de conjuntos habi habita taci cion onai ais, s, mas mas tamb também ém na expu expuls lsão ão de mora morado dore ress e perm permis issi sivi vida dade de na proliferação de loteamentos populares sem infra-estrutura. Aos olhos da população de baixo nível de renda, o Estado representa uma instituição que não cumpre seus deveres, não atende às crescentes necessidades coletivas de certas áreas da cidade, visto até como um adversário que procura romper modos de vida enraizados em certos locais. Os movimentos sociais urbanos têm como alvo o Estado e não os proprietários dos meios de produção. Acreditamos com Lojkine16 que os movimentos sociais urbanos possam assumir um papel significativo nas transformações da sociedade e de sua organização espacial, quando duas questões, ambas associadas ao espaço geográfico, forem esclarecidas e resolvidas. Primeiramente, quando for desmoronada a barreira ideológica que isola o mundo da produção do da reprodução. Quando ficar claro que as questões que emergem nos locais de trabalho e nos de residência são, no fundo, uma única 5
questã questão, o, desdob desdobrad rada a em termos termos espaci espaciais ais pelo pelo capita capitalis lismo mo e sua sua organ organiza ização ção.. Afinal de contas o efeito das horas de trabalho não-remunerado, centro da maisvali valia a e da ac acum umul ulaç ação ão de ca capi pita tal, l, é se sent ntid ido o me mesm smo o nos nos loca locais is de resi residê dênc ncia ia,, esquecidos dos investimentos em equip, amentos de consumo coletivo por um Estado a serviço de interesses que não são os dos habitantes das periferias de autoconstrução, dos distantes e precários conjuntos habitacionais, das favelas e dos cortiços. Em segundo lugar, quando os movimentos sociais urbanos ultrapassarem a escala local, do bairro e da cidade, e se inserirem em uma escala nacional, que abranja as questões da fábrica e do bairro. Ou seja, quando ficar clara a idéia de unid unidad ade e da tota totali lida dade de só sóci cioo-es espa paci cial al.. Ca Caso so co cont ntrá rári rio, o, os movi movime ment ntos os so soci ciai aiss urbanos, expressão da espacialização da organização social, estarão destinados a se esvaziarem, na medida em que as reivindicações feitas forem atendidas no todo ou em parte. Não é com "remendos" (água, calçamento, posto de saúde etc.) na organ organiza ização ção espaci espacial al que se resol resolver verá á a questã questão o das desig desigual ualdad dades es soc sociais iais.. É preciso que a organização social mude para que, em seus aspectos mais essenciais, a organização espacial possa também mudar. Mudar a partir da prática daquele que assumirá o papel de agente de seu próprio destino e modelador de seu espaço: o homem novo, de uma sociedade sem classes sociais.
5
5 Vocabulário crítico Complexo industrial: trata-se de um conjunto de indústrias espacialmente concentradas
e inte interl rlig igad adas as por por flux fluxos os de maté matéri rias as-p -pri rima mass e bens bens inte interm rmed ediá iári rios os (peç (peças as e componentes que serão incorporados a um produto final). Em muitos casos, a ligação entr entre e as indú indúst stri rias as dá-s dá-se e tamb também ém pela pela co co-p -par arti tici cipa paçã ção o ac acio ioná nári ria a das das em empr pres esas as industriais. Em um complexo industrial, exemplo de economias de aglomeração, há indústrias de bens de capital, como a metalurgia e a química pesada, de consumo durável, como os eletrodomésticos, e não-durável, como os tecidos sintéticos. A área metropolitana de São Paulo e o vale do Ruhr são exemplos de complexos industriais. Difusão Difusão de inovaçõ inovações: es: tratatrata-se se do espra espraiam iament ento o de idéias idéias ou artefa artefatos tos novos novos.. Em
geog geogra rafia fia,, fala fala-s -se e da difu difusã são o es espa paci cial al de inov inovaç açõe ões, s, ou se seja ja,, co cons nsid ider eram am-s -se e os caminhos percorridos e a rapidez do percurso, conduzidos por agentes inovadores. O conceito de modernização está associado à idéia de difusão de inovações. O conceito em pauta aparece em Ratzel, é largamente adotado pelos geógrafos culturais e, mais tarde, pela nova geografia. A teoria da difusão espacial de inovações considera a difusão por contágio, à semelhança de uma mancha de óleo espalhando-se, a difusão hierárquica, através da rede de cidades, e a difusão espacialmente salteada, que passa por cima de áreas que não são afetadas pela inovação. Hinterlândia: sign signif ific ica a área área subo subord rdin inad ada a ec econ onom omic icam amen ente te a um ce cent ntro ro urba urbano no..
Emprega-se a palavra referindo-se a áreas de influência de uma cidade como Belo Horizonte, Montes Claros ou Januária, e também no sentido de um amplo território colonial sob o domínio de uma metrópole ultramarina.
Ideologia: a acepção adotada é a de ocultação da realidade ou falsa consciência, e não
a comum, de um conjunto de idéias políticas, econômicas ou sociais: para isto deve-se empregar a palavra ideário. Um ideário, contudo, pode ser visto como sendo uma ideologia. A noção de ideologia adotada é proveniente de Marx e Engels e tem como pano de fundo a existência de classes sociais antagônicas e a dominação de uma classe sobre as demais: a sustentação da classe dominante faz-se pela ideologia, através dos aparelhos ideológicos de Estado (escola, família etc.), e pela repressão, através através dos aparelhos aparelhos repressivo repressivoss de Estado (polícia, leis etc.). Ver sobre sobre o assunto assunto o livro de Marilena Chauí, O que é ideologia.
Localidade central: expressão criada em 1933 pelo geógrafo alemão Walter Christaller
para para design designar ar um lugar lugar de venda venda de produt produtos os indust industria rializ lizad ados os e de presta prestação ção de serviços educacionais, de saúde, bancários etc. Uma cidade comercial servindo a uma zona rural e a cidades menores (ver Hinterlândia) é uma localidade central. A teoria das localidades centrais aborda a organização espacial desses lugares, organização que inclui a hierarquia entre eles.
Paradigma: ente entend ndid ido o co como mo visã visão o de mund mundo o adot adotad ada a e co comp mpar artil tilha hada da por por uma uma
determ determina inada da comuni comunida dade de cientí científic fica. a. Tem sentid sentido o mais mais amplo amplo que que teoria teoria porqu porque e representa um conjunto de crenças e valores. Ou seja, as lentes através das quais uma comunidade científica enxerga o mundo real e, explícita ou implicitamente, antevê o futuro. Thomas S. Kuhn dá esta acepção ao termo, em Structure of Scientific Scientific Revolution. Mais tarde, ele próprio redenominou-o seu livro The Structure de matriz disciplinária.
Posição geográfica: refere-se à localização relativa de uma forma espacial criada pelo
homem, fábrica, mina ou cidade, face ao acesso aos recursos naturais e/ou ao mercado consumidor. Uma posição geográfica favorável é aquela que tem efeitos positivos, segundo o que se espera do desempenho das funções que a forma espacial realiza: 5
para cada forma espacial - hospital, usina siderúrgica ou cidade comercial - há uma posição geográfica favorável. É conveniente notar que o valor atribuído a uma posição geográfica de determinada forma espacial pode ser alterado a partir de mudanças tecnológicas ou nas relações de produção. Um conceito complementar ao de posição geográfica é o de sítio, que se refere à localização absoluta de uma forma geográfica: em um terr terraç aço o fluv fluvia ial, l, em terr terren enos os co colu luvi viai aiss etc. etc. A posi posiçã ção o geog geográ ráfi fica ca impl implic ica, a, geralmente, considerar uma forma espacial à luz de uma pequena escala (1:500.000, por exemplo), enquanto o sítio em uma grande (1 :2.000, por exemplo). Regra da ordem e tamanho de cidades: modelo desenvolvido desenvolvido por G. K. Zipf onde se
considera que existe uma relação entre o tamanho de uma cidade e a sua posição ou ordem no âmbito das cidades de um país. Para Zipf, a maior cidade teria tamanho 1, a segunda 1/2, a terceira 1/3, a quarta 1/4 e a cidade n o tamanho l/n. Este padrão indicaria um estado de equilíbrio no processo de desenvolvimento desenvolvimento social e espacial, não sendo a maior cidade várias vezes maior que a segunda do país, caso este que originaria uma cidade primaz.
5
6 Bibliografia comentada CHRISTOFOLETTAI, CHRISTOFOLETTAI, ntonio, org. Perspectivas da geografia. São Paulo, DIFEL, 1982. Coletâ Col etânea nea de artigo artigoss rel relati ativos vos às várias várias corren correntes tes do pensam pensament ento o geogr geográfi áfico, co, inclui incluindo ndo a geogra geografia fia humaní humanísti stica ca e a visão visão ideali idealista sta em geogr geografi afia, a, corren correntes tes rece recent ntes es,, post poster erio iore ress à nova geo geograf grafia ia,, e que que nest neste e trab trabal alh ho não não for foram consideradas. Inclui um artigo clássico de Paul Vidal de Ia Blache sobre a natureza da geografia. CLAVAL, Paul. Evolución de Ia geografia humana. Barcelona, Oikos-Tau, 1974. Esse livro trata da história do pensamento geográfico desde o aparecimento do dete determ rmin inis ismo mo ambi ambien enta tall até até à nova geog geogra rafi fia, a, co cons nsti titu tuin indo do-s -se e em obra obra de referência básica. HARTSHOR HARTSHORNER, NER, Richard. Richard. Prop Propós ósit itos os e natu nature reza za da geog geogra rafi fia. a. (Trad. (Trad. Thomaz Thomaz Newlands Neto). São Paulo, HUCITEC, 1978. Trata-se da segunda grande obra de Hartshorne, constituindo-se em uma réplica aos críticos de sua grande obra The Nature of Geography de 1939. Neste livro, Hartshorne ratifica a defesa da geografia e do método regional, do caráter único dos lugares, e da impossibilidade de elaboração de leis em geografia. HARVEY,David. Explanation in Geography. London, Edward Arnold, 1969. É o mais importante livro sobre a nova geografia, fornecendo suas bases filosóficas e metodológicas. É de fundamental importância para quem quiser aprofundar-se na questão da transposição do positivismo lógico e da teoria dos sistemas para a geografia. JAMES, Preston E. A Possible Worlds; a History History of Geographic Geographic Ideas. New York, York, The Odyssey Press, 1972. Uma Uma das das mais maisab abra rang ngen ente tess obra obras, s, aind ainda a que que desc descri riti tiva va,, so sobr bre e a hist histór ória ia do pensamento geográfico, sendo fonte de consulta obrigatória a respeito de períodos, autores autores e "escolas "escolas nacionais" de geografia. geografia. Estende-se Estende-se da Antigüida Antigüidade de Cláss Clássica ica ao início da década de 70. Inclui vastíssima bibliografia e um útil índice comentado de geógrafos de todo o mundo. LACOSTE, Yves. A geografia serve antes de mais nada para fazer a guerra. Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1976. Este livro tece uma crítica à geografia dos professores e ao caráter ideológico, de um modo geral, da geografia. Trata-se de uma das mais profundas críticas à escola vidaliana de geografia, pondo em questão, entre outros aspectos, o conceito de região. MEGALE, Januário Francisco, org. Max. Sorre. São Paulo, Ática, 1984. (Col. Grandes Cientistas Sociais, 46.) Coletânea de artigos e capítulos de livros do geógrafo francês Maximilien Sorre. Faz parte da Coleção Grandes Cientistas Sociais que incluirá, entre outras, aquelas relativas a Humboldt, Ritter, Ratzel, Vidal de Ia Blache e Sauer. É indispensável a sua leitura, pois se trata de uma ida às fontes, de se ler o que os grandes nomes da geografia escreveram. MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia – pequena história critica. São Paulo, HUCITEC, 1981. Trabalho de natureza crítica sobre a história do pensamento geográfico; estende-se de Humbo Humboldt ldt e Ritter Ritter à geogra geografia fia crític crítica. a. Extre Extremam mament ente e útil útil para para aquele aqueless que queiram situar a geografia histórica e geograficamente. ------ & COSTA, Wanderley Messias Da. Geografia crítica: a valorização do espaço. São Paulo, HUCITEC, 1984. Este Este livr livro o é extr extrem emam amen ente te impo import rtan ante te porq porque ue proc procur ura a repe repens nsar ar o "tem "temár ário io geográfico à luz do materialismo histórico e dialético". A questão do espaço, vista a
5
partir da teoria do valor, é o tema central do livro: os autores apresentam e discutem os conceitos de valor no e do espaço. MOREIRA, Ruy. O que é geografia. São Paulo, Brasiliense, 1981. Pequeno e rico trabalho sobre a geografia vista de um ângulo crítico. Contém uma história da geografia, discutindo ainda a questão do espaço. ------, org. Geografia, teoria e critica: o saber posto em questão. Petrópolis, Vozes, 1982. Coletânea de artigos de geógrafos brasileiros abordando a geografia a partir de uma visão crítica. O livro está dividido em duas partes, a primeira fazendo a crítica teórica, e a segunda a releitura da sociedade. Contém o artigo de Ruy Moreira "A geogra geografia fia ser serve ve para para desven desvendar dar máscar máscaras as soc sociai iais", s", contri contribui buição ção básica básica para para se pensar a organização espacial. ------,o movime movimento nto operári operário o e a quest questão ão cidade cidade-ca -campo mpo no Brasil Brasil;; estudo estudo sobre sobre sociedade e espaço. Petrópolis, Vozes, 1985. Estudo sobre as relações entre a organização espacial e a sociedade brasileira. O primeiro capítulo é particularmente relevante para uma iniciação crítica sobre o conceito de organização espacial. QUAINI, Massimo. Marxismo e geografia. Trad. Liliana Laganá Fernandes. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979. 1979. Este livro aborda as relações entre o marxismo marxismo e a geografia, geografia, sendo uma fonte fonte de reflexão centrada no eixo natureza-história. SANTOS, Milton. Por uma geografia nova; da crítica da geografia a uma geografia crítica. São Paulo, HUCITEC, 1978. Trata-se de obra fundamental para a "renovação crítica" da geografia. A primeira parte aborda criticamente a história da geografia, e a segunda discute a questão do espaço, que para o autor constitui uma instância da sociedade. A terceira parte é uma proposta de geografia crítica. ------, Espaço e sociedade. Petrópolis, Vozes, 1979. Conjunto de ensaios em que o autor aborda as relações entre espaço e sociedade, privilegiando, de certo modo, os países subdesenvolvidos. Contém, entre outros, o artigo "Sociedade e espaço: a formação social como teoria e como método", de fundamental importância para se compreender a natureza da organização espacial. ------, org. Novos rumos da geografia brasileira. São Paulo, HUCITEC, 1982. Coletâ Col etânea nea de artigo artigoss de geógra geógrafos fos brasil brasileir eiros os tratan tratando do critic criticame amente nte questõ questões es geográficas, tanto no plano teórico como considerando o espaço brasileiro. Contém, entre outros, os artigos de Manuel Correia de Andrade, "O pensamento geográfico e a realidade brasileira", e o de Ruy Moreira, "Repensando a geografia", outro artigo importante para a compreensão da organização espacial. ------. Espaço e método. São Paulo, Nobel, 1985. Conjunto de ensaios escritos em sua quase totalidade na década de 80, abordando a natureza e o conceito de espaço. Os elementos do espaço, suas categorias de análise, a dimensão temporal e os sistemas espaciais no Terceiro Mundo, e as relações entre espaço e capital, são alguns dos temas abordados. SODRÉ, Nelson Werneck. Introdução à geografia: geografia e ideologia. Petrópolis, Vozes, 1976. Estudo crítico sobre a história da geografia desde a Antigüidade até a geopolítica dos anos 30.
Referência Bibliográfica de Rodapé HERBERTSON,A. J. The Major Natural Regions: An Essay in Systematic Geography. Geograpllical fOI/mal, march, 1905. 2 HERBERTSON,A. J Op. cit., p. 309. 1
5
Divisão regional do Brasil. Revista brasileira de geografia, 3(2), 1941. ABLER, R.; ADAMS, 1. S. e GOULD, P. Spatial Organization; The Geographer's View of the World. Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1971. 5 LABASSE, Jean. L'organizat L'organization ion de 1'espace; 1'espace; éléments de géographie volontaire. Paris, Rermann, 1966. 6 GRIGG, David. Regiões, modelos e classes. Boletim geográfico. 234, 1973. 7 BUNGE, WiJliam. Gerrymandering, Geography and Grouping. The Geographic Geographical al Review, 56 (2), 1966. 8 Regionalização; considerações metodológicas. Boletim de geografia teorética, 10 (20), 1980. 9 RIBEIRO,Darcy. O processo civilizatório. Petrópolis, Vozes. 1979. 10 CORAGG CORAGGIO, IO,Jos José é Luís. Luís. Consid Considera eraçõe çõess teóric teórico-m o-meto etodol dológi ógicas cas sobre sobre as formas formas soci so ciai aiss da organ ganizaç ização ão do es esp paç aço o e suas uas tend tendên ênci cias as na Amé mérrica ica Latin atina. a. Planejamento, Salvador, 7 (1), 1979. 11 BUCH BUCH-H -HAN ANSO SON, N, M. e NIEL NIELSE SEN, N, B. Marx Marxis istt Geog Geogra raph phy y ando ando the the Co Conc ncep eptt of Territorial Structure. Structure. Antipode, 9 (2), 1977. 12 LENIN, V. I. U. Imperialismo; fase superior do capitalismo, São Paulo, Global, 1979. 13 SANTOS,Milton. O espaço dividido. Rio de Janeiro, Francisco Alves. 1978. 14 LEFEBVRE, Henri. Espada y Palitica. Barcelona, Península, 1976. 15 KOSIK,Karel. Dia/ética do concreto. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1969. 16 LOJKINE, Jean. O Estado capitalista e a questão urbana. São Paulo, Martins Fontes, 1981. 3 4
5