Confissões na Bahia Ronaldo Vainfas
Confissões na Bahia Ronaldo Vainfas
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INTRODUÇÃO
No tempo tempo em que o visitador visitador da Inquisição Inquisição chegou chegou ao Brasil, o Santo Ofício Português contava ! com mais de meio s"culo de e#istência$ O visitador e sua comitiva chegaram ao nordeste em %&'% e a Inquisição fora criada em Portugal no ano de %&()$ *uita gente, talve+ milhares, ! havia sido penitenciada no eino pelos tri-unais de .is-oa, /vora e 0oim-ra, ou mesmo pelo longínquo tri-unal de 1oa, na 2ndia, ao qual competia os neg3cios do Santo Ofício no Oriente, inclusive a costa oriental da 4frica at" o 0a-o da Boa 5sperança, o e#6ca-o das 7ormentas$ 5ntre o vasto rol de sentenciados, não resta d8vida de que, nos primeiros cinquenta anos de Inquisição Portuguesa, a imensa maioria era composta de cristãos novos, descendentes dos udeus o-rigados 9 conversão ao catolicismo no reinado de :$*anuel, em %;'<$ Parte destes residia ! em Portugal havia s"culos, mas outra -oa parte vinha vinha fugida fugida da 5spanha, 5spanha, vítima vítima de igual igual medida medida de e#pu e#pulsão lsão ou conversão conversão decretada pelos eis 0at3licos, =ernando de >ragão e Isa-el de 0astela, no ano de %;'?$ 1o+ariam de alguma alguma imunidade imunidade os cristãos novos portugueses durante o reinado reinado de :$ *anuel,@o Aenturoso, mas ascendendo :$ Coão III ao trono, em %&?%, seu destino se tornaria cada ve+ mais som-rio, culminando, ap3s in8meros percalços, com a instalação do Santo Ofício$ Cum ad nihil magis, assim se chamou a primeira Bula a instituir, so- o pontificado de Paulo III, o 7ri-unal da Inquisição em Portugal$ O Brasi Brasill estev esteve, e, por"m por"m,, relat relativ ivam amen ente te a salvo salvo do furor furor persec persecut ut3r 3rio io inquisitorial da segunda metade do s"culo DAI e, não por acaso, muitas famílias cristãs novas migraram para o Brasil e#atamente ap3s %&&E, atuando decisivamente para a ocupação do litoral -rasílico$ > -em da verdade, os cristãos novos estiveram presentes desde o início da e#ploração econFmica da 7erra de Santa 0ru+, -astando lem-rar o arrendamento do com"rcio de pau6-rasil, a preciosa madeira vermelha, a um cons3rcio liderado pelo cristão novo =ernão de Noronha ou .oronha$ *as a corrente migrat3ria data mesmo do meado do s"culo, estimulada, de um lado, pela instalação do Santo Ofício no eino, e de outro, pela e#ploração do aç8car e o povoamento litorGneo inic iniciad iados os no rein reinad adoo de :$Coão :$Coão III, III, @o 0olon 0oloni+a i+ado dor$ r$ H Bahi Bahiaa e a Perna Pernamm-uco uco,, principal principalment mente, e, dirigira dirigiram6se m6se os cristãos novo novos, s, havendo havendo deles artesãos, lavradores, lavradores, mercadores e senhores de engenho, esta-elecidos nas mais pr3speras capitanias da >m"rica Portuguesa$ Os documentos da Aisitação do Santo Ofício demonstram 9 farta a
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importante presença de cristãos novos no nordeste açucareiro e, não por acaso, vale di+er, foi ali que se concentrou a ação inquisitorial do visitador$ > visitação enca-eçada pelo .icenciado eitor =urtado de *endonça foi, portanto, o grande momento inaugural da ação inquisitorial no Brasil$ >ntes disso, somente alguns casos singulares de prisJes e processos instruídos no tempo em que o poder inquisitorial competia ao Ordin!rio K o titular do Bispado da Bahia criado em %&&% K ou mesmo antes$ 5m %&;), cl"rigos e seculares prenderam o donat!rio de Porto Seguro, Pero do 0ampo 7ourinho, e o remeteram a ferros para Portugal, onde seria procesado por culpas de -lasfêmias pelo 7ri-unal de .is-oa$ >nos depois seria a ve+ de Coão de 0ointa, o senhor de Bol"s, francês que viera com os huguenotes de Bois le 0omte para o io de Caneiro, -andeando6se depois para o lado português$ :e nada lhe valeria a deserção e o suposto au#ílio para a tomada do forte 0olignL, pois aca-aria preso por -lasfêmias e heterodo#ias, remetido ao eino e condenado pela Inquisição ao degredo nas partes da 2ndia$ 5 outros casos se poderiam citar, casos esparsos e mal documentados, incluindo visitas episcopais na pr3pria Bahia$ *as nenhum deles relacionado a judaizantes, nome que se dava aos cristãos novos que apostasiavam, isto ", retornavam ao udaismo, apesar de cat3licos -ati+ados, conservando ritos e crenças udaicas em segredo$ > ve+ deles chegaria em %&'%, iniciada a Primeira Aisitação do Santo Ofício$ *as que se não pense que a visitação ao Brasil possuía o o-etivo fundamental ou e#clusivo de perseguir os cristãos novos a-rigados no tr3pico$ 5m primeiro lugar porque, como nos mostram os especialistas no estudo do Santo Ofício Português, a d"cada de %&'E marcou uma viragem na estrat"gia das visitaçJes daquela Inquisição que, se at" então se concentrara na metr3pole, doravante se lançaria para o ultramar$ 7anto " que no mesmo ano em que eitor =urtado de *endonça partiu para o nordeste do Brasil, outro visitador, CerFnimo 7ei#eira, percorreria os >çores e a *adeira, e pouco depois, em %&'), seria o padre Corge Pereira a visitar >ngola por comissão do Inquisidor61eral$ Não " ocioso, ali!s, tão6somente registrar uma coincidênciaM rec"m consumada a nião I-"rica, ficando Portugal so- o domínio dos a-s-urgo hispGnicos %&Q, a Inquisição lusitana passaria a atuar no ultramar atlGntico do antigo rival, sendo ningu"m menos que o 0ardeal >rquiduque >l-erto de 4ustria, Aice6ei de Portugal, o Inquisidor61eral do reino português$ 5nsaiava6se no Brasil o que a Inquisição 5spanhola e#ecutava na >m"rica h! mais de trinta anos, na qual inclusive instalara tri-unais do Santo Ofício$
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Por outro lado, no tempo da Primeira Aisitação do Santo Ofício ao Brasil, a Inquisição não era mais a mesma$ avia ampliado deveras o leque das heresias, passamdo a perseguir outros erros, al"m da heresia judaizante, sem d8vida a principal$ *as no rastro do 0oncílio de 7rento %&;&6%&)(Q, marco institucional da 0ontra eforma, as InquisiçJes passaram a se preocupar com o perigo protestante e a defender a pure+a de dogmas e leis da Igrea de omaM perseguir os que duvidavam da virgindade de *aria, os que afirmavam não haver pecado na fornicação, os que negavam e#istir o Purgat3rio, os que questionavam os sacramentos, os -ígamos$ >nimados por uma política de prevenção contra o avanço da @heresia luterana, os inquisidores aca-ariam movendo fortíssima campanha morali+ante, processo controlador e adestrador de condutas individuais$ No limite trariam os inquisidores para o seu foro delitos se#uais como a sodomia, a -estialidade e outros contatos se#uais assimilados a heresias, atos at" então adscritos 9 Custiça secular$ Some6se a isto a tradicional perseguição 9 feitiçaria, coisa que em Portugal nunca foi forte, e aos mouriscos que secretamente seguiam o Islão, em-ora cat3licos -ati+ados, e tem6se o novo e vasto quadro das transgressJes em mat"ria de f" so- a guarda da Inquisição Portguesa no final do s"culo DAI$ O udaismo secreto dos cristãos novos K criptoudaismo, portanto K, continuou a ser a o-sessão maior dos inquisidores portugueses, disso não resta d8vida, e assim seria at" a metade do s"culo DAIII$ No caso do Brasil seria mesmo com a Primeira Aisitação que os cristãos novos da 0olFnia passariam a conhecer a desdita dos inqu"ritos e prisJes de que se ulgavam at" então livres, por não haver na 0olFnia um tri-unal inquisitorial específico$ *as neste fim do s"culo DAI, conv"m repetir, o campo semGntico e penal da heresia se havia ampliado consideravelmente, no Gm-ito da Inquisição Portuguesa, do que d! conta a o-ra que ora se pu-lica$ O leitor do volume deparar6se6!, portanto, com variadíssima gama de e#periências individuais ou coletivas enquadradas ou enquadr!veis no territ3rio da heresia$ m primeiro grande testemunho da vida cotidiana na 0olFnia imiscuída nos relatos de centenas de indivíduos que confessaram seus erros, reais ou imaginados, ao atento visitador$ *as o leitor não encontrar! neste volume a visitação completa, e nem poderia$ eitor =urtado de *endonça visitou a Bahia, cidade e recFncavo, entre ulho de %&'% e setem-ro de %&'(, e Pernam-uco, Itamarac! e Paraí-a, entre setem-ro de %&'( e fevereiro de %&'&, do que resultaram quatro livros de denunciaçJes, três de confissJes e dois de ratificaçJes, todos eles depositados, em manuscrito, no >rquivo
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Nacional da 7orre do 7om-o, em .is-oa$ Pois -em, dos nove livros produ+idos pela visitação, sem falar nos processos, somente quatro foram encontrados e pu-licados no passadoM um livro das denunciaçJes da Bahia, outro das confissJes da Bahia, um livro muito curto das confissJes de Pernam-uco e adacências, e outro mais alentado das denunciaçJes nesta 8ltima região$ O conunto do material, portanto, ate hoe não veio 9 lu+ na íntegra$ Por outro lado, ulgamos factível pu-licar somente um dos livros da visitação, te#to suficientemente rico para termos um retrato do Brasil quinhentista$ 5 dentre o que h! disponível, escolhemos um dos que hoe " mais raro e instiganteM o das Confissões da Bahia$ >o contr!rio dos livros da visitação a Pernam-uco e arredores, os livros da Bahia s3 foram pu-licados, com pequena e prec!ria tiragem, nas d"cadas de %'?E e %'(E$ / o caso das Confissões da Bahia , pu-licadas pela primeira ve+ em %'??, com tiragem modesta de ?&E e#emplares, na s"rie @5duardo Prado, e reeditadas pela Sociedade 0apistrano de >-reu em %'(&M mil e#emplares em papel comum e %&E em papel especial so- a responsa-ilidade de =$Briguiet e 0o$ /ditores$ 7rata6se, pois, de livro esgotado e raríssimo, cua reedição h! muito se aguarda$ / nas antigas ediçJes, coteadas com partes do original manuscrito que logramos reprodu+ir em andanças e pesquisas no >rquivo Nacional da 7orre do 7om-o, que se vai -asear esta nova edição das Confissões $ Iremos nos valer, e muito, do pref!cio original de 0apistrano de >-reu, esclarecedor de in8meros pontos relativos ao traslado, ele que nos -rindou h! d"cadas com a primeira c3pia deste livro, au#iliado por >nt3nio Baião, antigo diretor da 7orre do 7om-o, e pelo incans!vel Coão .8cio de >+evedo, expert no assunto$ *as os tempos são outros e algumas modificaçJes se fi+eram necess!rias para tornar este livro palat!vel e interessante para quem, na virada do milênio, vai ler um livro quinhentista so-re os começos do Brasil$ 5m primeiro lugar assumimos a moderni+ação ortogr!fica e a introdução da pontuação no te#to, sem contudo preudicar seu estilo @arcaico, as f3rmulas caídas em desusoR sem remover at" mesmo alguns hoe considerados erros gramaticais, mas que talve+ não o fossem na altura em que o livro foi escrito$ >final, segundo ilson *artins, data de %&() K por coincidência o ano da criação do Santo Ofício K a primeira Gramática da linguagem portuguesa, de =ernão de Oliveira, o-ra que, se foi incipiente no gênero, continha -om conselhoM @5 não desconfiemos da nossa língua, porque os homens fa+em a língua e não a língua os homens$
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> gram!tica portuguesa era incipiente em %&'%, assim como tam-"m o era a ortografia$ No mesmo te#to do mesmo escrivão o artigo definido @o, por e#emplo, aparece grafado ora como o grafamos hoe, ora com o @h mudo, do que resulta @ho K e assim vale para o @", que não raro aparece como @he, e quando vem sem o @h mudo, tam-"m dispensa o acento e se grafa @e, sem se diferenciar do @e conectivo$ @Não h!, nem ", diria Aieira do amor, no s"culo DAII, e diríamos n3s da ortografia portuguesa nos quinhentos$ m mar infinito de arcaísmos e imprecisJes de que aqui s3 demos um modestíssimo e#emplo$ *oderni+ar a ortografia e introdu+ir a necess!ria pontuação K atos de que se escusou, compreensivelmente, mestre 0apistrano K são procedimentos que poderão chocar o purismo acadêmico e preudicar os estudiosos da língua e da filologia$ *as isto K estou convencido 6 salvar! o te#to e via-ili+ar! a leitura de um livro antigo que muito nos conta so-re a aurora do Brasil$ en8ncias, escolhas$ 5m segundo lugar, em-ora o assunto permaneça o mesmo, ulgamos necess!rio homogenei+ar a onom!stica, adotando a f3rmula mais atual, quer das pessoas, quer dos lugares$ No caso das pessoas, trasladar o livro tal qual o escreveu o not!rio do Santo Ofício levaria o leitor a verdadeiro desconcerto, para di+er o mínimo$ Isto porque, como ! dissemos, não havia regra ortogr!fica no s"culo DAI, de sorte que, numa s3 confissão, o mesmo Cos" pode ser grafado como Coseph ou CosepheR a mesma Beatri+ pode aparecer como Breati+, Breatri+ ou BreatisR o mesmo so-renome Pacheco pode surgir como Pachequo ou Pachecu$ C! as @regras de a-reviatura levariam a grandes enganos se conserv!ssemos a grafia original M o so-renome odrigues ficaria oculto so- a a-reviatura Rõiz ou Rois e o pr3prio 0risto viraria Xpo em algumas passagens$ Tuanto 9 toponom!stica, idêntico procedimento foi adotado, sempre que possível, procurando6se dar a m!#ima inteligi-ilidade ao te#to$ No caso dos topFnimos -rasílicos esta foi uma necessidade imperiosa, pois nosso caro *anoel =rancisco, o not!rio da visitação, apesar de que, segundo 0apistrano, -em poderia proclamar6se @fenomenal em fon"tica, perpetrou invençJes e#traordin!rias e vari!veis em termos de grafia$ Tuero crer que, neste pormenor, somou6se, ao @desregramento da ortografia portuguesa no final do s"culo DAI, o desconhecimento completo da @língua geral o tupi ordenado por >nchietaQ K assunto que, por si mesmo, ! pertence ao domínio de uma hist3ria antropol3gica$ > solução aqui adotada foi, de todo modo, grafar
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Paraguaçu, ao inv"s de Peragasu ou PeraguassuR grafar Sergipe no lugar de 0eregipe ou 0ere+ipeR grafar Pernam-uco e não Pernão Buco$ 7erceira advertência, e neste ponto sigo de perto o procedimento adotado por 0apistranoM evitei, como ele, as @f3rmulas ta-elioas que introdu+em em duas ou três linhas, as confissJes dos colonos assustados com a Inquisição$ efiro6me ao intr3ito @>os vinte dias do mês de$$$, intr3ito suprimido nesta edição, como na antiga, sem que o sea a informação essencial da data da confissão$ *antive6o no traslado da primeira confissão do livro, a do Padre =rutuoso 4lvares, para que o leitor tenha conhecimento de como era o ca-eçalho da peça processual$ Sea como for, muitos esclarecimentos hist3ricos, conceituais, gramaticais ou ortogr!ficos far6se6ão ainda necess!rios ao longo do te#to, de sorte que evitarei alongar6me em demasia so-re isto nesta Introdução$ Aaleu6me muitísimo, in8meras ve+es, a consulta sistem!tica ao :icion!rio da .íngua Portuguesa edição de %%(Q, recopilado por >ntFnio de *oraes Silva dicionarista do s"culo das .u+es que tam-"m enfrentou pro-lemas com a Inquisição$ *ais adiante voltarei muito -revemente ao assunto, tratando de certos clichês inquisitoriais ou convençJes voca-ulares da hist3ria colonial quinhentista, mas a maior parte das o-servaçJes vir! oportunamente nas notas$ @*uitas notas seriam necess!rias ao esclarecimento do te#to, escreveu 0apistrano no pref!cio original, em-ora ele mesmo não as tenha feito no livro das 0onfissJes, salvo pontualmente$ Seguirei seu conselho, de todo modo, e as farei adiante, na medida das minhas possi-ilidades, porque são elas realmente imprescindíveis$
II eitor =urtado de *endonça, nosso primeiro visitador, devia ser homem entre trinta e quarenta anos, segundo 0apistrano, quando rece-eu a comissão inquisitorial$ .icenciado, fora :esem-argador real e 0apelão del rei, e e#ercia, então, o cargo de :eputado do Santo Ofício$ omem de foro no-re, passara por de+esseis investigaçJes de limpe+a de sangue para ha-ilitar6se ao cargo inquisitorial, procedimento comum no Santo Ofício, +eloso de que seus funcion!rios não tivessem a mais tênue @n3doa de sangue infecto de udeu, mouro negro, índio, etc$, como então se di+ia$ Sua competência nas @letras e sã consciência para a função de visitador foi atestada pelo pr3prio 0ardeal >l-erto, Inquisidor61eral que o nomeou para visitar o
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Bispado do Brasil, inclusive as @capitanias do sul, e os Bispados de São 7om" e 0a-o Aerde, nas ilhas da costa africana$ :esem-arcou na Bahia em ' de unho de %&'%, ap3s -reve escala em Pernam-uco, viaando na companhia de :$ =rancisco de Sou+a, 1overnador 1eral rec"m6nomeado$ 0hegou @mui enfermo, nas palavras de frei Aicente do Salvador, e se @foi curar no col"gio dos Padres da 0ompanhia, palco do que seria, afinal, a visitação do Santo Ofício da Inquisição$ Na comitiva do visitador vieram tam-"m o ! citado not!rio *anoel =rancisco K @fenomenal em fon"tica K e o meirinho =rancisco 1ouvea, audante6de6ordens do visitador$ :elegação pequena, como se vê, mas que contou com o au#ílio de autoridades eclesi!sticas e mission!rios locais, mormente a dos esuítas$ 5m v!rias sessJes de interrogat3rio estiveram presentes o Bispo >ntFnio Barreiros, o Provincial dos esuítas, Padre *arçal Beliarte, e o eitor do col"gio inaciano da Bahia, Padre =ernão 0ardim, autor do que seria o Tratado da Terra e da Gente do Brasil. >s sentenças lavradas na pr3pria Bahia pela visitação 6 nos v!rios casos em que eitor =urtado resolveu processar K, foram assinadas por todos estes dignit!rios$ No dia %) de unho, o visitador se apresentou ao Bispo, que lhe -eiou os p"s e prometeu solenemente audar a visitação no que fosse necess!rio$ Na semana seguinte, dia ?? de ulho, foi a ve+ do Paço do 0onselho e 0Gmara de Salvador prestar6 lhe as devidas homenagens, rece-ido o visitador @pelos mui no-res senhores, uí+es e vereadores da Bahia$ 5 no dia ?? de ulho iniciou6se a visitação, preludiada por grande pompa e cerimonial, presentes o Bispo e seu ca-ido, os funcion!rios do 1overno e Custiça, vig!rios, cl"rigos e mem-ros das confraria, sem falar do povo acotovelado nas ruas de Salvador para acompanhar o corteo do Santo Ofício$ eitor =urtado veio de-ai#o de um p!lio de tela de ouro e, adentrando a S", ouviu renovados votos de louvor 9 sua pessoa e ao Santo Ofício$ :irigiu6se então 9 capela maior, ap3s a leitura da constituição de Pio A em favor da Inquisição, onde estava posto um altar ricamente adornado com uma cru+ de prata arvorada, e quatro castiçais grandes, tam-"m de prata, com velas acesas, al"m de dois missais a-ertos em cima de almofadas de damasco, nos quais missais a+iam duas cru+es de prata$ 5m meio a todo este lu#o, o visitador rumou para o topo do altar, sentou6se numa cadeira de veludo tra+ida incontinenti pelo capelão, e rece-eu o uramento do governador, uí+es, vereadores e mais funcion!rios, todos aoelhados perante o Santo Ofício$
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Pu-licou6se, então, o 5dital da =" e *onit3rio da Inquisição, documentos que o leitor encontrar! mencionados v!rias ve+es nas confissJes deste livro$ Pelo 5dital, os fi"is eram convocados a confessar e delatar as culpas atinentes ao Santo Ofício, so pena de e#comunhão maior$ Tue ningu"m fosse poupado, qualquer que fosse o @grau, estado e preeminência dos indivíduos, devendo todos confessar ou acusar as heresias e apostasias de que cuidava a Inquisição 5m tese, vê6se que a pretensão do Santo Ofício era mesmo a de colocar6se acima de todos, verticali+ando em seu 8nico -enefício as relaçJes sociais, diluindo as hierarquias, dissolvendo as solidariedades de todo tipo$ Na pr!tica, por"m, como se viu no sem6n8mero de rituais e protocolos da instalação da visitação, mancomunava6se o visitador com os @homens -ons do lugar$ Sa-er o que era afinal mat"ria a ser delatada ou confessada ao Santo Ofício era algo que o *onit3rio informava com ra+o!vel detalhe$ / improv!vel ali!s que, ao contr!rio do que di+ 0apistrano de >-reu, se tenha utili+ado o *onit3rio de %&(), ela-orado por :$:iogo da Silva, primeiro Inquisidor61eral de Portugal$ =oi aquele o primeiro *onit3rio da Inquisição, -asicamente preocupado em detalhar os indícios de pr!ticas udai+antes, em-ora tam-"m aludisse a outros erros de f", como a feitiçaria, o luteranismo e o islamismo$ >s culpas relatadas na Aisitação são, com efeito, mais variadas, incluindo, por e#emplo, a sodomia, delito que somente a partir de %&&( começou a ser transeferida ao foro inquisitorial, ap3s um sem6n8mero de provisJes reais, -reves e -ulas pontifícias, reconhecendo o que ! era fato desde %&;<$ O *onit3rio utili+ado foi, provelmente, o -aseado no egimento de %&&? ou no 5dital da =" de %&<%, ela-orados ao tempo em que o 0ardeal :$enrique, irmão de :$Coão III e tio6avF de :$Se-astião, era o Inquisidor6mor do Santo Ofício português$ *onit3rio muito calcado, " verdade, no de %&(), por"m acrescido das culpas que, neste intermezzo, passaram 9 urisdição inquisitorial$ / deles que a população colonial iria falar na mesa do Santo Ofício, alguns sa-edores de que haviam realmente transgredido os preceitos da f", outros que s3 atrav"s do *onit3rio vieram a constatar não serem tão -ons cristãos como pensavam$ N"ofitos, por assim di+er, em mat"ria de heresias$ No *onit3rio da Aisitação quinhentista, assim como no conunto dos *onit3rios da Inquisição at" meados do s"culo DAIII, o grande destaque ca-ia aos indícios de pr!ticas udai+antes presumidamente usadas pelos cristãos novosM %Q guardar o s!-ado, vestindo6se com roupas e 3ias de festa, limpando a casa na se#ta6feira e acendendo candeeiros limpos com mechas novas, mantendo6os acesos por toda a noiteR ?Q a-ster6se de comer toucinho, le-re, coelho, aves afogadas, polvo, enguia, arraia,
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congro, pescados sem escamas em geralR (Q degolar animais, mormente aves, ao modo udaico, @atravessando6lhes a garganta, testando primeiro o cutelo na unha do dedo da mão e co-rindo o sangue derramado com terraR ;Q conservar os euns udaicos, a e#emplo do @eum maior dos udeus, em setem-ro, dia em que os udeus euavam at" sairem as estrelas no c"u, quando então comiam e pediam perdão uns aos outros, al"m do @eum da ainha 5sther e o das segundas e quintas6feiras de cada semanaR &Q cele-rar festas udaicas como a P!scoa do pão !+imo PessachQ, a das 0a-anas e outrasR )Q re+ar oraçJes udaicas, a e#emplo dos Salmos penitenciais sem di+er Gloria Patri et Filio et Spiritu Sancto, e outras em que oravam contra a parede, a-ai#ando e levantando a ca-eça e usando correias atadas nos -raços ou postas so-re a ca-eçaR
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alguns indícios de islamismo então chamado de @seita de *afamede , isto ", *aom"Q, a opiniJes her"ticas em geral, 9 descrença no Santíssimo Sacramento, 9 negação dos >rtigos da =" cat3lica e do poder pontifício, ao questionamento da confissão sacramental, 9 duvida so-re a pure+a da Airgem @antes, durante e depois do parto, 9 -igamia, 9 invocação do dia-o na pr!tica de feitiçarias, 9 leitura de livros proi-idos pela Igrea, segundo o !ndex "i#rorum Prohi#itorum, ao questionamento so-re se a fornicação era pecado, 9 sodomia, 9 -estialidade$ O leitor encontrar! a mais variada gama de relatos, ora diretamente estimulados pelo rol de culpas do *onit3rio, ora provocados pelo medo de que simples pecados pudessem ser crimes do foro inquisitorial, dado ser o *onit3rio muito vago em certas definiçJes das culpas que lhe interessavam$ Não raro aparecem relatos em que se perce-e no confitente uma atitude típica do pecador diante de confessores sacramentais, narrando pecadilhos que nada tinham a ver com a Inquisição$ 7alve+ o confessassem por medo, 9s ve+es para mostrar cola-oração e ocultar as verdadeiras culpas, não raro por ingenuidade misturada ao pGnico$ O visitador, por sua ve+, contri-uía para esta confusão entre as confissJes que ouvia na mesa inquisitorial e o sacramento da confissão auricularM mandava indivíduos se confessarem na sacramental ap3s ouvi6los em uí+o e perguntava so-re confissJes feitas a confessores na Tuaresma$ *as o certo " que as confissJes da visitação inquisitorial eram completamente distintas da confissão sacramental que se fa+ia em confession!rio$ Nas 8ltimas tratava6se de um sacramento nas quais o fiel narrava seus pecados e rece-ia a a-solvição em troca de penitências espirituaisR nas primeiras tratava6se de contar erros de f", enganos conscientes de doutrina ou de comportamento que configuravam crimes, delitos passíveis de pena secular, inclusive a morte na fogueira$ > confissão sacramental, numa palavra, tratava de pecadosR a confissão inquisitorial, equivalente a uma prova udici!ria, tratava de heresias$ O leitor tam-"m encontrar! no livro confissJes que mais parecem den8ncias, pois, a despeito dos pr3prios erros, o confitente se esmera em acusar outros indivíduos de culpas semelhantes ou de cumplicidade, quando não transfere a outrem a iniciativa ou responsa-ilidade pelas suas faltas$ 5 tam-"m neste ponto o visitador sou-e orquestrar os relatos, perguntando so-re c8mplices, so-re quem ensinara o confitente a errar ou a quem repassara a errFnea opinião ou conduta heretical$ 7udo isto fa+ia parte dos estilos do 7ri-unal de que se valeu a nossa visitação$
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Salta 9 vista, de todo modo, o nervosismo, 9s ve+es pGnico, dos que aparecem confessando neste livro, coisa que a o registro frio do not!rio não consegue ocultar do leitor sensível$ PGnico tanto mais eloquente quanto menos ameçadores seriam os resultados dessas confissJes, a imensa maioria feita no chamado @período da graça, tempo em que as confissJes, desde que completas e verdadeiras, isentavam o culpado dos piores castigos que a Inquisição soía darM confiscos, penas seculares, morte na fogueira$ eitor =urtado deu trinta dias de graça os moradores de Salvador e arredores em ? de ulho de %&'%, e depois os mesmos trinta dias para a gente do recFncavo, em %% de fevereiro de %&'?$ Nem por isso, vale di+er, ficaram os fi"is sossegados, a ulgar pelos relatos que fi+eram$ 5 não resta d8vida de que tinham ra+ão para temer, pois não poucos dos confitentes no período da graça aca-ariam presos, processados e penitenciados, o que tam-"m em nota procuraremos informar$ >lguns caíram na teia do visitador porque contaram menos do que deviam e foram denunciadosR outros porque mentiram deli-eradamente ou peruraram$ *as " muito difícil aui+ar so-re cada uma dessas situaçJes, pois era mesmo ao ar-ítrio e uí+o do visitador que, em 8ltima instGncia, estavam todos sueitos$ Não " demais lem-rar, a prop3sito, que eitor =urtado de *endonça andou e#trapolando as instruçJes que rece-era do 0ardeal >l-erto, as quais lhe investiam do poder de, so-retudo, instruir os processos ca-íveis, remetendo os suspeitos para .is-oa, e s3 despachando os casos mais simples$ *andou prender suspeitos sem licença do 0onselho 1eral do Santo Ofício, orgão m!#imo da Inquisição PortuguesaR processou na colFnia r"us que deveriam ser ulgados na metr3poleR enviou a ferros para .is-oa r"us com processos mal instruídosR a-solveu indivíduos com grave presunção de culpa, segundo os inquisidores de .is-oaR sentenciou gente que o 0onselho considerava inocenteR reali+ou, enfim, verdadeiros autos de f" p8-licos, sem ter autori+ação para tanto, em-ora não tenha condenado ningu"m 9 fogueira de moto pr$prio$ Pertur-ou -astante o nosso primeiro visitador a enormidade de confissJes e den8ncias que ouviu, não s3 na Bahia como no conunto das capitanias que percorreu$ 0asos de cristãos novos udai+antes, coisa ! por ele esperada, e uma plêiade de -lasfemos, defensores do direito 9 fornicação, detratores do clero, sodomitas, -ígamos,
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e so-retudo K e isto sim o pegou desprevenido K, uma tropa de mamelucos praticantes de gentilidades e uma autêntica heresia indígena, chamada na Bahia de Santidade$ Seita que prognosticava a morte dos -rancos e ou a escravi+ação dos portugueses pelos índios$ Seita em tudo surpreendente, na qual o líder se intitulava de Papa e nomeava -ispos e santos índios, em-ora o fundamental do culto residisse na adoração de um ídolo de pedra e na em-riague+ com ta-aco, a @erva santa$ Seita para ele desconcertante porque, não o-stante hostili+asse os -rancos, os esuitas e a escravidão, fora incrivelmente protegida por um senhor escravocrata do ecFncavo, =ernão 0a-ral de 7aíde, que chegou a a-rig!6la nas suas terras de Caguaripe$ O processo que o visitador moveu contra este homem ultrapassa no manuscrito, a casa de ?EE f3lios, peça compar!vel ao livro das confissJes que ora se pu-lica, e sem d8vida foi este caso que fe+ eitor =urtado tardar na Bahia mais tempo que devia$ Por isso e por tudo, o visitador foi diversas ve+es advertido pelo 0ardeal >l-erto mas, parecendo contagiado pela prepotência dos senhores da terra, dos quais se tornou por alguns anos o primus inter pares, fe+ ouvidos moucos 9s advertências$ >ca-aria, por isso, e pelas despesas que fe+ al"m dos recursos de que dispunha, recam-iado para o reino sem visitar as capitanias do sul e os -ispados de São 7om" e 0a-o Aerde, conforme o previsto em %&'%$ Sua passagem pelo nordeste -rasílico dei#ou, no entanto, marcas profundas$ 0ontri-uiu para dissolver as socia-ilidades entre cristãos velhos e novos, 9s ve+es unidos pelo casamento, e no mais agregados pelo destino comum de viver nas fronteiras da 5uropa, como diria S"rgio Buarque, espremidos entre a pirataria de ingleses e franceses no mar, e a resistência indígena no sertão$ 0ontri-uiu a visitação para desfa+er ami+ades, solidariedades vicinais, amores, chegando mesmo a destruir famílias e grupos de convívio$ Aergou6se, no entanto, a certas peculiaridades do @viver em colFnias, ao @teatro dos vícios, como diria Ailhena, descrevendo a Bahia quase du+entos anos depois$ Poupou os potentados locais, os raros incriminados, com e#ceção de alguns cristãos novos$ Poupou =ernão 0a-ral, o protetor da heresia indígena, de pena mais gravosa, considerando sua fidalquia e foro no-re como atenuante da culpa, ele que, entre outros feitos, lançara viva na fornalha de seu engenho uma escrava gr!vida do @gentio do Brasil$ Sentenciou diversos mamelucos a não retornarem mais ao sertão, para depois determinar, como norma geral, que pudessem eles adentrar os matos no caso de terem de com-ater alguma @santidade nativa, -uscar metais preciosos, dar reforço de guerra, desco-rir minas de salitre e en#ofre$ eitor =urtado de *endonça vergou6se, não resta d8vida, ao @sentido da coloni+ação de que fala 0aio Prado Cr$
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O leitor encontrar! neste livro, portanto, não apenas o modus aciendi inquisitorial no ultramar, mas o pr3prio cotidiano do Brasil no primeiro s"culo$ > prepotência dos senhores, a revolta dos índios, chamados na "poca de negros da terra, -rasis, negros -rasis, gentios$ > palavra negro, mostra6nos ali!s as confissJes, refere6se antes de tudo ao índio, salvo quando especificado na e#pressão @negro da 1uin", termo gen"rico para aludir ao africano$ 5ncontrar! o leitor a am-ivalência e a intrepide+ dos mamelucos, originalmente grafados e chamados de mamalucos , filhos de português e índia, homens cuos riscos na pele indicavam sua vivência indígena, a -ravura de guerreiros que aprisionavam inimigos devorados no repasto antropof!gico$ omens que ora guerreavam contra os lusos, pintados e nus, ora os au#iliavam na captura de escravos, e nisto tratavam com outros índios, aos quais davam armas, p3lvora, ferros$ 5ram os chamados @resgates ou @descimento dos gentios que fa+iam do sertão$ Sertão que, por sinal, nada tem a ver com a +ona !rida e seca do nordesteM sertão era a floresta, a selvaR era o interior onde se refugiavam os índios, quiç! as rique+as tão co-içadas pelos portugueses$ 5ncontrar! os degredados, palavra que então se grafava degradados, e nisso se era fiel ao "timo, derivada de degradar, -ai#ar de grau$ 5ntre o sertão e o litoral, a floresta e o mar, o leitor encontrar! por estes caminhos os colonos do primeiro s"culo, -rancos, índios, mamelucos, africanos$ 5ncontra6los6!, por"m, diversos deles, em espaços mais longínquos e remotosM em Portugal, na 2ndia, na 4frica e disto e#trair! a lição de que o Brasil não pode ser entendido, na "poca, fora dos quadros do imp"rio colonial português$ 5ncontra6los6! tam-"m nas 2ndias de 0astela, -em como castelhanos no Brasil, não esquecendo que era tempo de nião I-"rica$ 5ncontra6los6! mesmo na Inglaterra e =rança, capturados pelos piratas na costa do Brasil, no meio do >tlGntico, na altura das 0an!rias e at" mesmo nas pro#imidades do reino$ m ir6e6vir permanente, eis o destino dos que viveram naquele tempo$ Por outro lado, retornando dos oceanos e inisterras 9 terra -rasílica, o leitor seguir! de perto, e muito, a vida cotidiana da colFniaM os me#ericos, amores, adult"rios, impropr"rios, magias, -e-idas afrodisíacas, nos modos de morar e dormir, redes e esteiras, casas devassadas, frestas na porta, ruas desalinhadas com seus peculiares pontos de referência no lugar de nomesM @atr!s da *iseric3ridia da Santa 0asaQ, @rua de São =rancisco ou unto de São Bento alusão aos mosteirosQ,rua de Bastião de =aria onde morava um principal da cidade de SalvadorQ$ 5ncontrar!, enfim,
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um tipo diferente de mem3ria individual, mem3ria capa+ de registrar com algum detalhe fatos de vinte ou trinta anos passados, por"m imprecisa na indicação da pr3pria idade pessoalM @trinta anos pouco mais ou menos, eis um e#emplo comum de as pessoas aludirem 9 pr3pria idade numa "poca em que não se usavam documentos individuais de identificação$ O leitor conviver!, enfim, com palavras muito familiares, por ve+es chulas at" hoe, e outras muito estranhas, meio portuguesas, meio galegas, 9s ve+es castelhanas, muitas ve+es tupis K sem falar nas que hoe significam algo -em distinto do que no tempo da visitação$ 5ste livro de confissJes " tam-"m, por tudo isso, um livro de viagem$ Aiagem a m8ltiplos lugares, viagem no tempo K tempo de visitação inquisitorial que tam-"m " uma visitação ao Brasil antigo, melhor di+endo, arcaico$ Os relatos contidos no livro poderão por ve+es causar uma sensação de estranhe+a quanto ao modo de viver, de falar, de pensar$ *as o aparentemente estranho " verdadeiramente nosso, na foradura de nosso primeiro s"culo$ Incluir as confissJes da Bahia, triste Bahia, na coleção Retratos do Brasil ", assim, mais do que usto$ Pois as confissJes são tam-"m retratos do que foramos, retratos tão fi"is quanto podem ser os documentos e os monumentos$
BIBLIOGRAFIA 6 >-reu, 0apistrano de$ %m visitador do Santo &'cio ( cidade de Salvador e ao Rec)ncavo da *ahia de +odos os Santos$ io de Caneiro, Cornal do 0om"rcio, %'??$ 6 >ra8o, 5manuel$ & teatro dos v'cios transgressão e transig-ncia na sociedade ur#ana colonial $ io de Caneiro, Cos" OlLmpioU5dun-, %''($ 6 Bethencourt, =rancisco$ .ist$ria das !n/uisi0ões Portugal, 1spanha, !t2lia$ .is-oa, 0írculo dos .eitores, %'';$ 6 0alasans, Cos"$ Fernão Ca#ral de +a'de e a Santidade de 3aguaripe$ Salvador, sUed$, %'&?$ 6 olanda, S"rgio Buarque de$ Caminhos e ronteiras$ São Paulo, 0ompanhia das .etras, %''&$
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6 *aia, Vngela A$ 4 som#ra do medo cristãos velhos e cristãos novos nas capitanias do a05car $ io de Caneiro, Oficina, %''&$ 6 *ello, 5valdo 0a-ral$ & nome e o sangue uma raude geneal$gica no Pernam#uco Colonial $ São Paulo, 0ompanhia das .etras, %''$ 6 *ott, .ui+$ & sexo proi#ido virgens, ga6s e l7s#icas nas garras da !n/uisi0ão $ 0ampinas, Papirus, %'$ 6 NovinsWL, >nita$ Cristãos novos na *ahia$ São Paulo, Perspectiva, %'$ 6 KKKKKKKKKKKK e 0arneiro, *aria .$7ucci orgsQ$ !n/uisi0ão ensaios so#re mentalidade, heresia e arte$ io de CaneiroU5dusp, 5#press9o e 0ultura, %''?$ 6 Pinho, anderleL$ 8spectos da hist$ria social da cidade de Salvador 9:;<=>:?;@A$ S>lvador, sUed$, %')($ 6 aminelli, onald$ +empo de Bisita0ão$ :issertação de mestrado apresentada 9 SP$ São Paulo, %''E$ 6 Salvador, Cos" 1onçalves$ Cristãos, novos, jesu'tas e !n/uisi0ão$ São Paulo, Pioneira, %')'$ 6 Saraiva, >ntFnio C$ !n/uisi0ão e cristãos novos$ &a$ edição .is-oa, 5ditorial 5stampa, %')'$ 6 SchXart+, Stuart$ Segredos internos engenhos e escravos na sociedade colonial 9:;@@>:D;A$ São Paulo, 0ompanhia das .etras, %'$ 6 Siqueira, SFnia$ !n/uisi0ão portuguesa e sociedade colonial $ São Paulo, 4tica, %'<$ 6 Sou+a, .aura de *ello$ & dia#o e a terra de Santa Cruz$ São Paulo, 0ompanhia das .etras, %')$ 6 KKKKKKK$ !nerno atlEntico demonologia e coloniza0ão$ São Paulo, 0ompanhia das .etras, %''($ 6 7avares, .ui+ $:ias$ .ist$ria da *ahia$ )a$edição$ São Paulo, 4ticaUIN., %'<'$ 6 Aainfas, onaldo$ +r$pico dos pecados > moral, sexualidade e in/uisi0ão no *rasil colonial $ io de Caneiro, 0ampus, %''$ 6 KKKKKKKK$ 8 heresia dos 'ndios catolicismo e re#eldia no *rasil Colonial $ São Paulo, 0ompanhia das .etras, %''&$
CRONOLOGIA 1492 6 0olom-o desem-arca nas >ntilhas e desco-re a >m"rica$ Os udeus não convertidos ao catolicismo são e#pulsos de 0astela e >ragão e de+enas de milhares se dirigem para Portugal$ 149 6 :$ *anuel I %;'&6%&?%Q determina a conversão forçada ou de todos os udeus de Portugal$ 149! 6 Aasco da 1ama chega a 0alicut, na 2ndia$ 1499 6 Os cristãos novos são impedidos de dei#ar Portugal sem licença r"gia$
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1"## 6 Pedro 4lvares 0a-ral desem-arca em Porto Seguro na escala para a 2ndia$ Primeiro contato entre portugueses e tupinam-!s$ 1"#1 6 >rrendamento do com"rcio do pau6-rasil ao cristão novo =ernando de Noronha$ 1"1 6 Na >lemanha, *artim .utero afi#a suas '< teses na 0atedral de ittem-erg, deflagrando o início da eforma Protestante$ 1"21 6 *orte de :$*anoel e ascensão de :$ Coão III %;'&6%&&
fonso de Sousa funda São Aicente, a primeira vila da >m"rica Portuguesa, e introdu+ o plantio das primeiras mudas de cana6de6aç8car 1"$4 6 :$ Coão III institui o regime de capitanias heredit!rias para o povoamento e e#ploração econFmica do litoral do Brasil$ Na 5spanha, In!cio de .oLola funda a 0ompanhia de Cesus, autori+ada pelo Papa Paulo III atrav"s da Bula Regimini ilitantis 1clesiae$ 1"$% 6 Paulo III concede a autori+ação pontifícia para a criação da Inquisição Portuguesa atrav"s da Bula Cum ad nihil magis 1"4" 6 Inicia6se o 0oncílio de 7rento, marco da reação papal 9 reforma protestante, conhecida como 0ontra eforma$ 1"4% 6 Pero do 0ampo 7ourinho, donat!rio de Porto Seguro, " preso por cl"rigos e seculares no Brasil e enviado a ferros para a Inquisição de .is-oa, so- acusaçJes de -lasfêmia$ 1"4 6 >p3s uma s"rie de percalços, incluindo a revogação da Bula de %&(), Paulo III confirma a autori+ação para o funcionamento da Inquisição Portuguesa atrav"s da Bula edidatio Cordis$ 1"49 6 7om" de Sousa desem-arca na Bahia como primeiro 1overnador6geral do Brasil e com ele chegam os primeiros mission!rios esuítas, 9 frente dos quais *anoel da N3-rega$ =undada a cidade de Salvador$ 1""1 6 =unda6se o Bispado da Bahia, sendo nomeado para o cargo Pero =ernandes Sardinha$ =aleceu o primeiro -ispo no litoral de >lagoas, capturado e devorado pelos índios ap3s o naufr!gio da nau N$Senhora da >uda$ 1""2 6 Pu-licado o primeiro egimento da Inquisição Portuguesa$ 1""$ 6 :uarte da 0osta nomeado para o 1overno6geral do Brasil$ 1""" 6 enrique II, rei de =rança, envia Nicolau :urand de Aillegaignon 9 -aía da 1uana-ara, numa e#pedição de cerca de )EE pessoas, maoritariamente calvinistas huguenotesQ$ =unda6se a @=rança >nt!rtica no io de Caneiro
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1"" 6 *orre :$ Coão III e, na menoridade de seu neto e herdeiro, :$ Se-astião, Portugal " governado pela egente :$ 0atarina de >ragão e, depois, pelo egente 0ardeal :$ enrique, Inquisidor6mor de Portugal$ 1""! 6 *em de S! su-stitui :uarte da 0osta no 1overno61eral do Brasil$ 0om-ate e derrota os franceses e seus aliados indígenas$ =alece no cargo, em %& 1"%# 6 Coão de 0ointa, o senhor de Bol"s, francês que se passou para o lado português no cerco ao forte 0olignL, no io de Caneiro, " preso e enviado para a Inquisição de .is-oa so- acusação de v!rias heresias$ 0ondenado ao degredo na 2ndia$ Na 2ndia, " criado o 7ri-unal do Santo Ofício de 1oa$ 1"%! 6 :$ Se-astião ascende ao trono português$ 1"! 6 *orre o rei :$ Se-astião na -atalha de >lc!cer6Tui-ir contra o #arifado dos sadidas, no *arrocos, sem dei#ar herdeiros$ >scende ao trono o 0ardeal :$ enrique$ 1"!# 6 0om a morte do 0ardeal :$ enrique, =elipe II de 5spanha assume o trono português como =elipe I$ :!6se a nião I-"rica, que perdurar! at" %);E$ 1"!! 6 > Invencível >rmada espanhola " derrotada pelos ingleses no *ar do Norte$ 1"91 6 O 0onselho 1eral do Santo Ofício, chefiado pelo Inquisidor 1eral, 0ardeal >l-erto de 4ustria, Aice6ei de Portugal, emvia a visitação ao Brasil, confiada a eitor =urtado de *endonça$ Outra visitação do Santo Ofício " enviada aos >çores a 9 *adeira, confiando6se6a a CerFnimo 7ei#eira$ 1"9$ 6 5ncerra6se a etapa -aiana da visitação do Santo Ofício ao Brasil$ eitor =urtado de *endonça passa a visitar as capitanias de Pernam-uco, Paraí-a e Itamarac!$ 1"9" 6 5ncerrada a Aisitação do Santo Ofício ao Brasil$ 1"9% 6 5nviada uma visitação do Santo Ofício para >ngola, confiada ao Padre Corge Pereira$ 1"9 6 *orre Cos" de >nchieta$
Con&iss'es da Ba(ia )1"91*1"92+ Na Bahia de Todos os Santos
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Início do período de (E dias da graça que o visitador concedeu 9 cidade e a todos os moradores, estantes e vi+inhos at" uma l"gua em seu redor, a partir de ?' de ulho de %&'%, 5 se pu-licou na S" de Salvador o "dito da dita graça e o alvar! de Sua *agestade, perdoando as fa+endas e as pessoas que , no dito tempo, fi+erem inteira e verdadeira confissão de suas culpas$
Confissões da Cidade 1 * Con&iss,o de Fr-t-oso l/ares0 /iario de atoi30 no te3o da ra5a0 e3 29 de 6-l(o de 1"91
>os vinte e nove dias do mês de ulho de mil novecentos e noventa e um anos, nas casas de morada do senhor Aisitador eitor =urtado de *endonça, perante ele apareceu em esta mesa o Padre =rutuoso 4lvares, vig!rio de Nossa Senhora da Piedade de *atoim, di+endo que tinha que confessar nesta mesa, sem ser chamado$ Pelo que lhe foi dado uramento dos Santos 5vangelhos em que pFs sua mão direita, so- cargo do qual prometeu di+er verdade$ 5, confessando6se, disse que de quin+e anos a esta parte que h! que est! nesta 0apitania da Bahia de 7odos os Santos, cometeu a torpe+a dos tocamentos desonestos com algumas quarenta pessoas pouco mais ou menos, a-raçando, -eiando, a sa-er, com 0ristovão de >guiar, mance-o de de+oito anos, então que era ora a dous ou três anos, filho de Pero dY>guiar, morador na dita sua freguesia, teve tocamentos com as mãos em suas naturas auntando a uma com a outra e havendo polução da parte do dito mance-o duas ve+es 5 assim tam-"m tocou no mem-ro desonesto a >ntFnio, moço de de+essete anos, criado ou so-rinho de um mercador que mora nesta cidade que chamam =uão de Siqueira e com este moço não houve polução, haver! um mês ou pouco mais ou menos$ 5 assim tam-"m teve congresso por diante auntando os mem-ros desonestos um com outro sem haver polução com um mance-o castelhano que chamam *edina, de idade de de+oito anos, morador que era na ilha de *ar", sendo feitor do mestre de capela desta cidade, e por outra ve+ com este mesmo teve a-raços e -eios e tocamentos nos rostos, e isto com este castelhano foi h! três ou quatro anos$ 5 assim com outros muitos moços e mance-os que não conhece nem sa-e os nomes, nem onde ora esteam, teve tocamentos desonestos e torpes em suas naturas e a-raços, e -eiando, e tendo auntamento por diante e dormindo com alguns algumas 1
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> palavra desonestidade mantinha, na "poca, forte conotação de indecência ou sensualidade, de sorte que @tocamentos desonestos significavam tocamentos sensuais, indecentes$ O mesmo vale para a e#pressão @mem-ro desonesto, recorrente nas confissJes de sodomia, termo alusivo ao pênis$ 2 6 @Polução ou @cumprimento era clichê inquisitorial e eclesi!stico que significava eaculação ou orgasmo se#ual$ Para as mulheres usava6se muito o termo @deleitação$ 3 6 =uão " a forma arcaica de fulano$
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ve+es na cama, e tendo cometimentos alguns pelo vaso traseiro com alguns deles, sendo ele o agente , e consentindo que eles o cometessem a ele pelo seu vaso traseiro, sendo ele o paciente, lançando6se de -arriga para -ai#o e pondo em cima de si os moços e lançando tam-"m os moços com a -arriga para -ai#o, pondo6se ele confessante em cima deles, cometendo com seu mem-ro os vasos traseiros deles e fa+endo da sua parte por efetuar, posto que nunca efetuou o pecado de sodomia penetrando$ 5, em especial, lhe lem-ra que cometeu isto desta maneira algumas de+ ve+es nesta cidade onde ele ora " vig!rio com um moço que chamam 1erFnimo, que então podia ser de idade de do+e ou tre+e ano, e isto poder! haver como dois ou três anos, o qual moço " irmão do cFnego *anuel Aiegas, que " ora estudante nesta cidade$ 5 assim tam-"m lhe aconteceu isto com outros muitos moços e mance-os a que não sa-e os nomes, nem onde estão, nem suas confrontaçJes que acaso iam ter com ele$ 5 declarou que na visitação que fe+ o provisor o ano passado, houve quem foi denunciar dele, acusando6o desta mat"ria, e que não se procedeu contra ele por não haver prova -astante$ 5 sendo perguntado, respondeu que nenhuma pessoa lhe viu cometer as ditas culpas de que se confessa$ 5 perguntado se di+ia ele a estas pessoas com quem pecava que cometer aquelas torpe+as não era pecado, respondeu que não, mas que alguns deles entendiam ser pecado, e alguns, por serem pequenos, o não entenderiam, mas que ele confessante sa-e muito -em quão grandes pecados seam estes que tem cometido, e deles est! muito arrependido e pede perdão, e do costume disse nada$ 5 foi admoestado que se afaste da conversação destas pessoas e de qualquer outra que lhe possa causar dano em sua alma, sendo certo que fa+endo o contr!rio ser! gravemente castigado, e lhe foi mandado que torne a esta mesa no mês que vem, e assinou aqui com o senhor visitador$ 5 pelo dito uramento declarou que " cristão velho de todos os costados e natural de Braga, filho de Canaluare+, picheleiro , e de *aria 1onçalves, ! defuntos$ 5 que na dita cidade de Braga, h! vinte e tantos anos, cometeu ele e consumou o pecado de sodomia uma ve+ com um =rancisco :ias, estudante, filho de >ires :ias, serralheiro, metendo seu mem-ro desonesto pelo vaso traseiro, dormindo com ele por detr!s como um homem dorme por diante com uma mulher pelo vaso natural$ 4
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Baso traseiro, na linguagem inquisitorialM Gnus$ No argão inquisitorial e eclesi!stico, @agente era o que penetrava o parceiro aQ e @paciente era o penetrado aQ$ / a forma arcaica de designar ativoUpassivo no mesmo conte#to$ 6 6 @Posto que não tinha valor e#plicativo, na "poca, mas adversativoM @ainda que, @apesar de que$ 7 6 >rtesão que fa+ia vasos de estanho e de folha lataQ de =landres$
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5 assim cometeu os tocamentos desonestos com outras pessoas pelo qual foi denunciado pelo Ordin!rio na dita cidade e foi degredado para as gal"s e, sem cumprir o dito degredo, foi ao 0a-o Aerde onde tam-"m foi acusado por tocamentos torpes que teve com dois mance-os e por apresentar uma demiss3ria falsa, pelo que foi enviado preso para .is-oa, onde pelas ditas culpas foi sentenciado e condenado em degredo para sempre nestas partes do Brasil$ 8
5 estando nesta cidade foi tam-"m acusado pelo mesmo pecado que cometeu com :iogo *artins, que ora " casado com a padeira Pinheira, moradora nesta cidade unto de Nossa Senhora de >uda, de que saiu a-soluto por não haver culpa$ 5 outrossim, foi acusado nesta cidade por quatro ou cinco testemunhas com quem teve os ditos tocamentos desonestos, >ntFnio 4lvares, *anuel 4lvares, seu irmão, os quais ora são mestres de aç8car, e os mais que não conhece, nem sa-e deles, e deste caso saiu condenado pela cuniaria que pagou e em suspensação das ordens por certo tempo que ! lhe " levantada$ 5 por não di+er mais o Senhor visitador o admoestou muito que, pois era sacerdote e pastor de almas, e tão velho, pois disse que " de sessenta e cinco anos pouco mais ou menos, e tem passado tantos atos torpes em ofensa de :eus Nosso Senhor, e ainda h! um s3 mês que os dei#ou de cometer, que se afaste deles e das ruins ocasiJes, e torne a esta mesa no dito tempo que lhe est! mandado, e ele disse que assim o faria e assinou aqui$ *anuel =rancisco, Not!rio do Santo Ofício o escrevi K eitor =urtado de *endonça 6 =rutuoso 4lvares$
2 * Con&iss,o de Ni7ola- Faleiro de 8as7on7elos0 7rist,o /el(o0 na -al di: 7ontra s-a 3-l(er dona Ana )Al7o&orado+0 7rist, no/a0 no te3o da ra5a0 e3 29 de 6-l(o de 1"91.
:isse que haver! ano e meio pouco mais ou menos que, falecendo6lhe em sua casa seu escravo, sua mulher dele denunciante lhe disse que era -om va+ar fora a !gua dos cGntaros, e que ele lhe respondeu que isso eram agouros, que não cresse neles, e não " lem-rado se a deitaram então fora$ 5 que, depois disso, haver! o-ra de sete ou oito meses que lhe faleceu em casa outro seu escravo e então, vindo ele de fora, perguntara 9 dita sua mulher se lançara ! fora a !gua dos cGntaros, e ela lhe respondeu que sim, e ele confessante nesta segunda ve+ consentiu e aprovou o dito derramamento da !gua dos cGntaros, por"m que ele não entendeu ser isto cerimFnia dos udeus, nem o consentiu com essa intenção, nem sa-e com que intenção lançava fora a dita !gua a dita sua mulher$ 8 6
Ordin!rioM Bispo$
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5 declarou que ele se chama como dito tem e " cristão velho de todas as partes, natural da capitania dos Ilh"us neste Brasil, de idade de trinta e sete anos pouco mais ou menos, morador em *atoim, casado com a dita sua mulher que se chama dona >na, que di+em ser cristã nova da parte de sua mãe, de idade de vinte e seis anos pouco mais ou menos, filha de >ntFnio >lcoforado, defunto, cristão velho segundo di+em, e filha de Isa-el >ntunes, defunta, cristã nova, a qual Isa-el >ntunes foi filha de eitor >ntunes, mercador e morador que foi de *atoim, o qual ouviu di+er que tinha um >lvar! dos *aca-eus $ 5 por não di+er mais, o dito senhor visitador lhe disse que não parece credível que, sendo tão conhecida a cerimFnia de -otar a !gua fora, e sendo ele de tão -om entendimento, consentise nela senão com a intenção da lei de *ois"s, que portanto admoesta com muita caridade que confesse a verdade de sua culpa e a intenção que teve em consentir na dita cerimFnia de lei de *ois"s, porque fa+endo6o assim esta em tempo de graça, rece-er! larga miseric3rdia$ 5 ele respondeu que tem dito a verdade, que ele não sa-ia ser aquilo cerimFnia de udeus, mas que ontem ? de ulhoQ, ouviu na s" pu-licar o "dito da f" e ouviu ler nela esta cerimFnia, e por isso a entendeu e se sou-e, e vem agora a acusar6se nesta mesa e pedir nela miseric3rdia$ 5 mais não disse e do costume disse o que dito tem, e que est! -em casado e amigo com a dita sua mulher, e foi6lhe mandado ter segredo so- cargo de uramento que rece-eu, e ele assim o prometeu, e foi6lhe mandado que tornasse a esta mesa por todo esse mês de agosto que vem$ 5 declarou, sendo perguntado, que a dita sua mulher dona >na nunca lhe disse, nem fe+ coisa em que entendesse dela m! intenção contra nossa santa f" cat3lica, re+ando a nossa senhora e fa+endo romarias e devoção, e euando 9s vesperas de Nossa Senhora e fa+endo esmolas e o-ras de que teme a :eus, e a tem por muito -oa cristã e venturosa$ 5 assinou aqui com ele o senhor visitador e declarou mais que a dita sua mulher e as primas e tias delas são casadas com homens fidalgos e principais e cristãos velhos e que, por elas serem virtuosas, casaram tão -em$ 9
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$ * Con&iss,o de Fern,o Go3es0 7rist,o no/o0 no te3o da ra5a0 e3 $# de 6-l(o de 1"91
:isse ele que " cristão novo de pai e de mãe, natural da Aila real, filho de .ançarote 1omes, alfaiate, e de sua mulher .eonor, defuntos, casado com 1uiomar .opes :ias, de idade de sessenta anos pouco mais ou menos, morador nesta cidade detr!s da S"$ 9 6 7ítulo de um 10 6 Tuando os
dos livros sagrados dos udeus que conta a hist3ria dos sete varJes deste nome$ inquisidores perguntavam @do costume, queriam sa-er o tipo de relação que o denunciante ou confitente mantinha com o acusado ou c8mplice, isto ", se eram amigos ou inimigos, se havia pendência de dívida entre eles, etc$
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Tue haver! dois anos e meio pouco mais ou menos que dentro na igrea de Nossa Senhora da >uda desta cidade, para a qual ele costumava a tirar esmola, e vindo ele 9 dita igrea, onde por suas ocupaçJes havia alguns dias que ele não tinha vindo tirar a dita esmola e administrar o serviço da dita nossa senhora, e achando que no dito tempo da sua falta não se havia tirado a dita esmola, nem se tinha procurado tanto o serviço do altar da dita senhora, ele confessante disse perante algumas pessoas que lhe não lem-ram estas palavras, @coitado do serviço de Nossa Senhora se eu não fosse, e que destas palavras pedia perdão dentro neste tempo de graça, e que declarava que algumas pessoas lhe di+em que ele confessante não disse tal palavra$ 5 outrossim, confessando6se, disse que haver! nove anos pouco mais ou menos que, nesta cidade, em casa de Besuarte de >ndrade, levando6lhe ele uma o-ra, vindo a falar so-re ela, ele confessante disse @eu sou alfaiate que não furto e neste caso não devo nada a nenhum homem, nem mulher, nem 9 minha alma, nem a :eus, e que estas são as palavras que ele disse e que delas pedia perdão neste tempo da graça$ 5 declarou que ele ouviu depois di+er que ele que dissera que não, digo, que logo o dito Besuarte de >ndrade lhe disse logo @não sois v3s tão cristão velho que digais que não deveis nada a :eus, mas que ele confessante, quando disse que não devia nada a :eus era com intenção de não furtar em seu ofício$ 5 mais não disse e lhe foi mandado que muito resguardo em suas palavras e diga sempre palavras de -om e verdadeiro cristão$ 4 * Con&iss,o de Balta:ar artins Floren5a0 7rist,o /el(o0 de se 7asar d-as /e:es. No te3o da ra5a0 e3 $1 de 6-l(o de 1"91.
:isse chamar6se do dito nome e ser cristão velho, natural das =lorenças, termo da vila de 0alheta, na ilha da *adeira, filho de 1aspar *artins Preto e de Aiolante de =lorença dY>-reu, defuntos, mestre de aç8car , de idade de quarenta e dois anos, morador em 0otegipe nesta capitania$ 5 confessando6se, disse que haver! vinte e seis anos que ele rece-eu por sua mulher, na cidade do =unchal da ilha da *adeira, Isa-el Nunes de 1rados, natural da dita cidade, filha de =rancisco Pinto de S!, defunto, dentro da S" da dita cidade, e os rece-eu o cura que então era na dita S", cuo nome lhe não lem-ra, e ele confessante, disse as palavras do matrimFnio que rece-ia a dita Isa-el Nunes por sua mulher como manda a Santa Igrea, e outrossim, di+endo ela que rece-ia a ele por marido como manda a Santa *adre Igrea, e foram padrinhos e madrinhas que os acompanharam no dito rece-imento *anuel =lorença, cidadão , e 1onçalo odrigues Cardim, cidadão, 11
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*estre de aç8car era um tra-alhador especiali+ado, via de regra assalariado, nos engenhos coloniais$ 12 6 0idadão era palavra usada para designar indivíduos que tinham assento na 0ãmara *unicipal Senado da 0Gmara ou 0onselho *unicipalQ das cidades ou ocupavam cargos na administração das municipalidades$
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moradores na dita cidade, e assim madrinhas e outras testemunhas foram presentes, cuos nomes lhe não lem-ra$ 5 depois de assim serem rece-idos, fi+eram vida marital de umas portas adentro por espaço de seis meses, e sendo passados os ditos seis meses, veio a notícia, dele confessante, que a dita Isa-el Nunes era casada com palavras de presente em face da igrea, na cidade de 7Gnger, com um Bento da Aeiga$ 5 que, sendo assim casados, o dito Bento da Aeiga viera 9 ilha da *adeira, e depois viera aí tam-"m ter a dita Isa-el Nunes e am-os na dita cidade do =unchal andaram em demanda perante o -ispo, e ela fe+ prender o dito Bento da Aeiga e, enfim, se deu sentença por ela em que se mandava ao dito Bento da Aeiga fa+er vida com ela, de que o dito Bento da Aeiga apelou e depois não sa-e ele confessante que fim houve a apelação$ Aiu ele confessante estar na dita cidade o dito Bento da Aeiga com uma outra mulher que se chamava fulana =erreira como casados, de uma porta adentro, e por tais eram tidos$ 5 sem ele confessante sa-er que o dito Bento da Aeiga tinha passado o dito casamento com a dita Isa-el Nunes, ele confessante se havia casado com ela como dito tem$ 5 vindo o so-redito 9 sua notícia e, outrossim, vindo 9 sua notícia que, al"m do parentesco do quarto grau em que estavam, de sua av3 dela Isa-el Nunes =lorença ser prima como irmã de *anuel de =lorença, avF dele confessante, do qual ! tinham dispensação do n8ncio, tinham mais outro impedimento de parentesco no quarto grau por parte do avF dela >ires Preto de S!, primo com irmão de 0onstança >nes Preta, av3s dele confessante, ele confessante se veio para estas partes do Brasil e dei#ou a sua mulher Isa-el Nunes$ 5 depois dele confessante estar nestas partes do Brasil seis ou sete anos, veio 9 sua notícia que a dita sua mulher fa+ia mal de si , e sa-endo ele -em que ela estava viva, ele se casou nesta vila velha, digo, em Aila Aelha desta capitania com Susana Borges Pereira, filha de =ernão Borges Pacheco, comendador da =acha, em Ponte de .ima de Santo 5stevão, em Portugal, ! defunto, e a rece-eu na igrea de Aila Aelha com ele o vig!rio que então era, *arçal odrigues, na forma que se costumam rece-er, di+endo as palavras de presente como se ele não tivera a dita sua primeira mulher ainda viva, e neste segundo casamento foram padrinhos e madrinhas =ernão 0a-ral de 7aíde e Bastião de =aria, *aria Bar-osa, defunta, mulher que foi de =rancisco de -ar-udo, e sua iremã Aiolante Bar-osa, mulher de =rancisco odrigues :ourens, todos moradores nesta capitania, e outras muitas testemunhas foram presentes neste segundo casamento, como =rancisco dY>ra8o e =rancisco de Bar-udo, moradores nesta cidade, e outros, e depois de assim estar rece-ido, esteve com ela como casados alguns seis ou sete anos, havendo dela filhos$ 13
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13 6 > Igrea proi-ia o matrimFnio entre parentes at" o quarto grau de consaguinidade$ 14 6 @=a+er mal de si equivalia a cometer adult"rio ou manter relaçJes se#uais ilícitas$
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5 sa-endo6se isto na dita ilha da *adeira, a dita sua primeira mulher, Isa-el Nunes, enviou a esta cidade um precat3rio do -ispo pelo qual ele foi mandado sentenciado em dois anos de degredo para gal"s, e que fi+esse vida com a primeira mulher, ele confessante, antes de cumprir isto, fugiu da cadeia$ 5 andando ausente, daí a dois anos, lhe foi dito que a dita sua primeira mulher era falecida, pelo que se tornou a esta cidade e sem fa+er, antes de vir, mais diligência so-re a dita morte, se tornou rece-er de novo com a dita Susana Borges Pereira, com a qual tornou a estar de umas portas adentro, fa+endo vida marital, e os tornou a rece-er o cura que então era da igrea de 0aípe, desta capitania, sendo o padrinho :iogo 0orrea de Sande, ! defunto, e outras testemunhas que lhe não lem-ram, e declarou que este segundo rece-imento da dita Susana Borges fe+ com licença do -ispo desta cidade por lhe constar por testemunhas que a dita primeira mulher era ! morta$ 5 depois de assim estar rece-ido de novo com a dita Susana Borges, foi denunciado dele na visitação que fe+ o vig!rio geral o ano passado, di+endo6se que, ainda ao tempo do derradeiro casamento, era viva a dita sua primeira mulher na ilha da *adeira, e por este caso est! ora apartado da dita Susana Borges, e se livra perante o -ispo nesta cidade, solto so-re fiança$ 5 que toda a culpa que ele confessante neste caso tem cometida, pede perdão e miseric3rdia, pois se veio confessar neste tempo da graça, e que da culpa que tem est! muito arrependido$ 5 foi6lhe mandado que tivesse segredo so- cargo de uramento que rece-eu, e do costume não disse mais do que tem dito$ 4 margem dos originais l->se H32 7 sentenciado pelo *ispo e degredadoI " * Con&iss,o de ;ero Tei
:isse ser cristão novo, filho de Corge odrigues Navarro e de 0atarina >rana, moradores na+inhagua sicQ, natural da 7ouguia, em Portugal, sapateiro, mercador, de idade de de+oito anos pouco mais ou menos, morador nesta cidade$ 5 confessando, disse que haver! dois meses que o -ispo desta cidade o mandou prender e, depois de o ter preso três ou quatro dias, o mandou soltar e ir perante si, e o repreendeu de palavra e lhe mandou dar quatro cru+ados de esmola 9 confraria do Santíssimo Sacramento, di+endo que algumas testemunhas disseram que ele confessante tinha dito, havia dois ou três anos, que uma -ula que estava em uma igrea com os selos pendentes parecia carta de "ditos com chocalhos pendurados, por"m que ele confessante não " lem-rado formalmente que tais palavras dissesse, mas que como ele era moço as poderia di+er, simplesmente$ Pelo que, caso as tenha dito, confessa sua culpa e, pois " tempo de graça, pede perdão e miseric3rdia$
25 % * Con&iss,o de Fern,o Ca=ral de Ta>de 0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a0 e3 2 de aosto de 1"91 15
:isse ser cristão velho, natural da cidade de Silves no reino do >lgarve, filho de :iogo =ernandes 0a-ral e de sua mulher :ona >na dY >lmada, defuntos, casado com :ona *argarida da 0osta, de idade de cinquenta anos, morador na sua fa+enda de Caguaripe nesta capitania$ 5 confessando, disse que haver! seis anos pouco mais ou menos que se levantou um gentio no sertão com uma nova seita que chamavam Santidade, havendo um que se chamava papa e uma gentia que se chamava mãe de :eus, e o sacristão, e tinham um ídolo a que chamavam *aria que era uma figura de pedra que nem demonstrava ser uma figura de homem nem de mulher, nem de outro animal, ao qual adoravam e re+avam certas coisas per contas e penduravam na casa que chamavam igrea umas t!-oas com uns riscos que di+iam que eram contas -entas e assim, ao seu modo, contrafa+iam o culto divino dos cristãos$ 5 estando este gentio assim alevantado, ele confessante mandou gente de armas para o fa+erem vir do sertão com a qual gente se veio grande parte do gentio, ficando l! o que chamavam o Papa, e ele, confessante, consentiu que o dito gentio se apresentasse em uma em uma sua aldeia dentro da dita sua fa+enda, onde " morador, e nela se apresentou o gentio e fe+ casa a que se chamavam igrea, onde puseram o ídolo e fa+iam suas cerimFnias como atr!s fica dito$ 5 uma ve+ foi ele confessante 9 dita chamada igrea e entrou dentro, amimando e honrando aqueles gentios e tratando6os -em, porque não entendessem que lhes havia de fa+er mal, e que isto consentiu por espaço de três meses pouco mais ou menos, at" que, por mandado do governador *anuel 7eles Barreto , ele confessante mandou derru-ar a dita chamada igrea e entregou ao dito governador o dito ídolo e a dita gentia que chamavam mãe de :eus, com seu marido e com todos os mais escravos que na dita companhia desceram$ 5 que 9 sua notícia veio que algumas pessoas di+em que ele confessante, quando entrou na dita chamada igrea, fi+era reverência e tirara o chap"u ao dito ídolo, por"m que ele confessante em sua mem3ria não se afirma que tal fi+esse, mas em que 16
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Preso e processado pelo visitador na pr3pria Bahia$ 0onsideradas gravíssimas suas culpas, atenuadas por"m pelo seu foro no-re, -om sangue, condição de fidalgo e presunção de que seus erros eram e#teriores, não implicando em desvio interior de f"$ >-urou de leve suspeita na f" na mesa da visitação, ouviu sua sentença de p8-lico na igrea, rece-eu penitências espirituais, pagou %EEE cru+ados para o Santo Ofício e foi degredado por dois anos para fora da Bahia$ >N77, I., proc$% pena pecuni!ria foi elevada, equivalendo ao preço de ?E escravos aricanos na "poca$ 16 6 =ernão 0a-ral mentiu nesta e noutras partes da confissão$ O nome do ídolo era +upanasu, que significa @:eus 1rande 17 6 Aale cotear com outras confissJes, so-retudo como a de n8mero %?E, feita por :omingos =ernandes No-re, o +omaca5na, mameluco que chefiou a tal @gente de armas mandada por =ernão 0a-ral ao sertão$ 18 6 =oi 1overnador 1eral do Brasil entre %&( e %&<$
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caso se ache que o fe+ pede perdão disso, e assim o pede de toda a mais culpa que neste caso cometeu como dito tem 5 outrossim, confessando, disse que uma noite, estando uma sua negra inchada de comer terra e quase para morrer, por fa+er medo e terror aos outros que não comessem terra, disse a dois negros seus que a -otassem na fornalha e, depois dele recolhido, os ditos negros a lançaram na fornalha onde se queimou$ 5 por não di+er mais, foi perguntado que intenção teve de tra+er e conservar em sua fa+enda aquele gentio e aquela seita de idolatria, respondeu que sua intenção era tir!6la e tra+ê6la do sertão para a e#tinguir, como de fato e#tinguiu a parte que veio 9 dita sua aldeia$ 5 sendo mais perguntado, disse que ! na dita fa+enda não h! rastro deste modo de idolatria, e tudo se apagou como dito tem$ 5 que quando disse aos escravos que queimassem a dita negra, a sua intenção era por lhe pFr medo, a ela e aos outros, e não querer que a queimasse, e quando no dia seguinte o sou-e, lhe pesou muito$ 5 disse mais, que para auda e prova da sua -oa intenção acerca do dito neg3cio do gentio, apresentava ele, dito senhor visitador, uma certidão do governador *anuel 7eles Barreto, em que se reconta o caso, e o pediu a ele, senhor visitador a mandasse trasladar$ 5 foi6lhe mandado ter segredo, o qual prometeu ter pelo uramento que rece-eu e assinou com o senhor visitador, pedindo6lhe usasse com ele de miseric3rdia, pois vinha acusar e confessar dentro deste tempo de graça$ * Con&iss,o de ?ore artins 0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a0 e3 $ de aosto de 1"91 19
:isse ser cristão velho, cavaleiro da casa del ei nosso senhor, natural da vila de 1uimarães, em Portugal, filho de Baltasar *artins e de sua mulher .eonor Aa+, defuntos, casado com 0atarina =aia, de idade de setenta e cinco anos, morador na vila de São Corge, capitania dos Ilh"us$ 5 confessando6se, disse que haver! sessenta anos pouco mais ou menos que, na dita vila de 1uimarães, estava um mestre que ensinava moços gram!tica que se chamava frei 4lvaro de *onção, que fora frade da ordem de São =rancisco e se saíra da ordem, mas que tra+ia vestido sempre o h!-ito da dita ordem, letrado e pregador, de idade de quarenta anos então pouco mais ou menos, em cua escola ele confessante aprendia gram!tica$ 5 que não se lem-ra mais se uma, se muitas ve+es, que o dito mestre ensinou a todos os discípulos na escola que, quando se -en+essem, disessem desta maneira !n nomine, patris, descendo s3 a mão da testa at" a-ai#o do peito, di+endo aquela dianteira do rosto at" a-ai#o do peito, representava a pessoa do padre, então et illi, pondo a mão no om-ro direito, di+endo que representava o filho estar 9 destra do 19 6
Processado pelo visitador, apesar de confessar largamente na graça$ =oi somente repreendido na mesa$ >N77, I., proc$?&&%$
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padre, então et spiritus sancti, pondo a mão no om-ro esquerdo representava o espírito santo, e na -oca, pondo uma cru+ com os dedos, unus :eus, e alegava que no credo di+emos ilium ejus, et /ui sedet ad dexteram patris, e que :avid, no seu salmo di+ dixit dominus domino meo sede adexteris meis , e no sím-olo de >tanaseu, sedet ad dexteram dei patris, e noutros versos da igrea , /ui sedes adexteram patris miserere no#is 5 assim lhe ensinava o dito frade seu mestre que, quando se -en+essem, haviam de nomear o filho 9 destra, no om-ro direito e não a-ai#o do peito, como 1en"sio >lfonso em um seu livro ensina, di+endo que o dito 1en"sio >lfonso não era santo, nem se lhe havia de dar mais cr"dito que 9s so-reditas autoridades, e que ainda que o outro modo de -en+er de que os cristãos todos usam, nomeando o padre na testa e o filho no peito " -om, contudo melhor era este outro modo que ele ensinava, nomeando o filho 9 destra$ 5 depois que ouviu esta doutrina, ele confessante sempre usou do dito modo de -en+er, nomeando o filho no om-ro direito, at" que haver! quatro ou cinco anos, segundo sua lem-rança, que, ouvindo uma pregação na vila dos Ilh"us de um padre da 0ompanhia de Cesus, lhe ouviu di+er nela que :eus não tinha mão direita nem esquerda, e ouvindo ele isto foi ao mosteiro falar com o dito pregador e outros padres e lhes declarou este escr8pulo, e eles lhe ensinaram que dei#asse o dito modo de -en+er e que se -en+esse da maneira que os cristãos todos se -en+em, nomeando o padre na testa e o filho no peito, e depois dos ditos padres di+erem isto ele o fe+ assim sempre$ Pelo que, se tem cometido culpa todo aquele tempo em se -en+er daquela maneira que o dito frade seu mestre lhe ensinou, pede perdão disso, e que se use com ele de miseric3rdia, dando6se6lhe penitência sald!vel, conforme a este tempo que " de graça$ 5, sendo perguntado, respondeu que não sa-e de certe+a se o dito frade " vivo ou morto, e que se lem-ra que era tido em -oa conta, e não sa-e de que nação era, e do costume disse nada$ ! * Con&iss,o de aria Loes0 7rist, no/a0 no te3o da ra5a0 e3 $ de aosto de 1"91
:isse ser cristã nova, natural de *onssara+, termo dY/vora em Portugal, filha de =ernão .opes, alfaiate do duque de Bragança, e de sua mulher Branca odrigues, defuntos, vi8va, mulher que foi de >fonso *endes, cirurgião del ei, de idade de sessenta e cinco anos, moradora nesta cidade$ 5 confessando6se, disse que em todo o tempo que teve casa at" agora, quando mandava matar alguma galinha, para rechear ou para mandar de presente, a mandava degolar e, degolada, pendurar a escorrer o sangue por ficar mais formosa e
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en#uta do sangue, e que sempre, quando em sua casa se co+inha, digo se assa, quarto traseiro de carneiro ou porco, lhe manda tirar a landoa por que se assa melhor e fica mais tenro, e não se aunta na landoa o sangue evacuado, e assim mais, quando a carne de porco " magra, alguma ve+ a manda co+inhar lançando6lhe dentro a+eite ou grãos na panela com ela, e isto mesmo mandou fa+er alguma ve+ 9 carne de vaca quando era magra$ 5 outrossim, disse que tinha noo e asco 9s galinhas e qualquer outra ave que morria de doença$ :isse mais, que quando morreu seu filho *anuel >fonso, cFnego da s" desta cidade, estando ela confessante no noo e pranto pela morte do dito seu filho que ainda estava morto em casa, pediu um p8caro de !gua e que :ona .eonor, mulher de Simão da 1ama, defunto, moradora nesta cidade que presente estava, disse 9s outras mulheres que aí estavam que aquela !gua vinha de fora$ Outrossim, disse que haver! do+e ou quin+e anos que, saindo ela do confession!rio de se confessar no 0ol"gio de Cesus, lhe disse Isa-el 0orrea, que ora " vi8va, mulher que foi de =rancisco 4lvares =erreira, moradora nesta cidade, que se confessava de muitas mentiras e malícias e pecados que nela havia, e depois disto veio 9 notícia dela confessante que a dita Isa-el 0orrea, trocando6lhe suas palavras, di+ia que ela lhe dissera que ia confessar que tudo eram mentiras, por"m que ela confessante não disse senão como dito tem$ 5 assim, disse mais, que haver! cinco anos, em dias das cadeias de São Pedro, no qual dia se costuma guardar nesta cidade, por estar esperando por um seu filho casado de pouco que vinha com sua mulher, ela confessante mandou caiar a casa tendo as portas a-ertas, sem m! intenção de despre+o, mas por lhe vir nova que vinha o dito filho, por não acharem a casa sua$ Outrossim, disse que haver! ano e meio que, estando para comer com a mesa posta, chamando por um seu so-rinho por nome de *atias odrigues, que andava sempre com as contas na mão, ela confessante lhe disse, por algumas ve+es, que não andasse sempre com as contas na mão que tempo havia de re+ar e tempo de comer$ 5 que todas as ditas coisas tem feito e dito sem malícia e m! intenção, e sem sa-er que eram cerimFnias de udeus, pelo que se algumas pessoas que dela sa-em isto têm rece-ido escGndalo, e tem cometido elaQ culpa no so-redito da maneira que di+, pede perdão e miseric3rdia e penitência sald!vel$ 5 por não di+er mais, di+endo que lhe não lem-rava mais nada, e que lem-rando6lhe o viria confessar, foi6lhe dito pelo senhor visitador que algumas das ditas coisas eram conhecidas muito notoriamente serem cerimFnias da lei de *ois"s e, 20
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O 8nico significado de landoa que encontramos para a "poca " @fruto do carvalho ou a+inheira, que servia para dar de comer aos porcos$ 7alve+ landoa significasse, por associação, 9 gordura das carnes$ 1ordura retirada no preparo das carnes co+idas e assadas$ 21 6 Noo significava tam-"m luto, neste conte#to, de sorte que o luto pela morte de um parente ou morador da casa implicava a repugnGncia pelo cad!ver ou pela morte de um ente querido$
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assim, o mandar tra-alhar no dia santo, e di+erem dela que di+ia confessar mentiras, e mandar tam-"m ao dito seu so-rinho que não re+asse sempre com as contas na mão, são coisas que mostram não ser ela -oa cristã, maiormente sendo ela mulher de tão -om entendimento como ", e que não " de crer que ela não sou-esse que fa+er as ditas coisas do quarto de carneiro, tirando6lhe a landoa e de co+inhar a carne com a+eite e grãos eram cerimFnias dos udeus, e que, portanto, com muita caridade admoesta que declare e confesse a verdade de suas culpas e a intenção que teve em fa+er as ditas coisas porque, fa+endo6o assim, est! em tempo de graça no qual merecer! larga miseric3rdia da Santa *adre Igrea$ 5 respondeu que ela nas ditas coisas que tem declarado nunca teve intenção udaica, nem intenção do despre+o do dia santo, nem de ofender a :eus, mas que " -oa cristã, e por mais não di+er lhe foi mandado que tenha segredo e assim o prometeu pelo uramento que tinha rece-ido$ 5 do costume disse que houve grandes diferenças com a dita dona .eonor, e não se querem -em, e que a dita Isa-el 0orrea e ela se não querem -em, declarou que disse que, em algum tempo, ela e as so-reditas estiveram muito mal e em 3dios, por"m que ora ! se tratam e conversam$ 5 por sa-er assinar, assinou com o senhor visitador e declarou que, sendo perguntada pelo senhor visitador que mal entendeu ela da intenção de dona .eonor em di+er que o p8caro dY!gua lhe vinha de fora, respondeu que entendeu que a dita dona .eonor, por lhe não ter -oa vontade, qui+ dar sinal que não havia !gua em casa, querendo dar a entender que ela confessante guardara a cerimFnia dos udeus de lançar toda a !gua fora quando algu"m morre em casa, mas que ela confessante não fe+ tal, nem sa-e se !gua lhe veio de fora, se de casa$ 9 * Con&iss,o de ?er@ni3o de Barros0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a0 e3 4 de aosto de 1"91
:isse ser cristão velho, natural desta cidade, de idade de trinta anos, filho de 1aspar de Barros, ! defunto, e de 0atarina .o-a, que ora " casada segunda ve+ com >ndr" *onteiro, morador nesta cidade$ 5 confessando6se, disse que haver! três anos pouco mais ou menos que o dito seu padrasto vendeu um pedaço de terra, em Pass", a um *anuel =erreira, morador em Pass", o qual comprador fe+ na dita terra lavoura de milho e algodão e sete tarefas de lenha$ 5 que, porquanto o dito seu padrasto não tinha ainda feito partilhas com ele e com suas irmãs, da dita terra, um cunhado dele confessante por nome Pero :ias, lavrador em cua casa ele agora " morador, lhe disse que se fosse desforçar, arrancando e danando toda a dita lavoura e o-ra do dito *anuel =erreira$ Pelo que, ele confessante, levou consigo a Bastião, negro de 1uin" e a 1onçalo, >ntFnio >rda, >ntFnio *olec, Simão 5gico, Pedro Ongico, odrigo >ngola, .ourenço Ongico, Coane Ongico, :uarte >ngola, 0ristovão >ngola, todos negros da
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1uin", =rancisco da 7erra e *anuel da 7erra, todos ao presente vivos, escravos cativos do dito seu cunhado Pero :ias, e outrossim um negro por nome >ntFnio de 1uin", cativo tam-"m do dito seu cunhado, que haver! quatro meses que o mataram$ 5 ele confessante, com todos os so-reditos, puseram o fogo nas ditas tarefas de lenha e arrancaram e destruiram toda a dita lavoura$ 5 depois disto feito, o dito *anuel =erreira tirou uma carta de e#comunhão, a qual se pu-licou, e nunca ele confessante nem os ditos audadores sairam 9 dita e#comunhão, e do dito tempo at" agora passaram ! duas quaresmas, e nas confissJes que ele confessante fe+ pela o-rigação da Igrea, nunca confessou este pecado de ter feito o dito dano e o calou sempre, entendendo muito -em e remordendo6 lhe a consciência que o não calasse, e nunca declarou a dita e#comunhão e se dei#ou andar e#comungado todo este tempo, que h! mais de dois anos, e que desta culpa pede perdão e rem"dio sald!vel, usando6se com ele de miseric3rdia$ 22
1#* Con&iss,o de Catarina endes0 7rist, no/a0 no te3o de ra5a0 e3 " de aosto de 1"91
:isse chamar6se do dito nome e ser cristã nova, natural de .is-oa, filha de =ernão .opes, alfaiate do duque de Bragança, e de sua mulher Branca odrigues, defuntos, casada com >ntFnio Serrão, moradores nesta cidade, de idade de cinquenta e um anos$ 5 confessando6se, disse que haver! vinte e quatro anos que sendo ela ! casada, indo visitar .uisa 0orrea, mulher de Pero 7ei#eira, ! defunto, moradora em 7oque 7oque desta capitania, estando tam-"m presente Paula Serrão, mulher que foi de =rancisco de *edeiros, sogra do mestre da capela, e uma mourisca que veio degredada a esta terra a que não sa-e o nome, e que " ! defunta, ela confessante perante eles disse que um agnus dei que tinha ao pescoço, ga-ando6lho muito, di+endo ela que um padre de São =rancisco lho dera em muita estima e lhe disse que quando o Papa os -en+ia que era com grande aparato, com os cardeais revestidos de pontifical, e querendo ela confessante encarecer a muita estima em que o tinha, disse que o tinha em tanta veneração como a uma h3stia$ >o que lhe replicou uma morisca so-redita que não di+ia -em, e contudo ela confesante tornou a ratificar o seu dito e nele ficou, e que dissera as ditas palavras e as ratificara, simplesmente, de que ficou depois muito arrependida$ 5 a dita mourisca a foi acusar perante o -ispo passado, o qual lhe deu sentença no caso e que, segundo sua lem-rança lhe saiu a-soluta, e contudo ela vem 23
22 6
0omo dissemos na Introdução, era usual diferenciar6se o índio do africano reservando6se ao primeiro as designaçJes negro da terra, negro -rasil, -rasil, gentio, e ao segundo a e#pressão negro da 1uin"$ Nesta confissão encontramos uma rara especificação quanto aos africanos, apondo6lhes como @so-renome o lugar de origem na 4frica >ngola, 0ongo, 1uin"Q ou a etnia presumida >rda, por e#emploQ$ Os cativos índios aparecem como @da 7erra, 9 guisa de so-renome$ 23 6 Significa literralmente @cordeiro de :eus$ *edalhão de cera -en+ido pelo Papa e usado ao pescoço como proteção contra males e perigos$
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pedir perdão 9 Santa *adre Igrea e que se use com ela de miseric3rdia neste tempo de graça$ Sa-ia ler e não escreve, pelo que a seu rogo assinou o not!rio$ 11 * Con&iss,o de Catarina Fernandes0 7rist, /el(a0 no te3o da Gra5a0 e3 9 de aosto de 1"91
:isse ser cristã velha, natural de 5stremo+, que veio a esta cidade degredada por cinco anos por ser culpada na morte de um homem a que matou o pai de uma sua filha, e ser filha de Pero =ernandes, almocreve, e de sua mulher *aria .opes, casada com 1aspar odrigues, homem do mar, marinheiro, costureira, moradora no *onte 0alv!rio, unto desta cidade, de idade de trinta anos$ 5 confessando6se, disse que haver! ano e meio em que em dia de Nossa Senhora da 0onceição, pela manhã, morando ela em Pira! desta capitania, se confessou ao capelão do engenho Pantaleão 1onçalves, e dele rece-eu o Santíssimo Sacramento$ 5 depois, indo para sua casa, lhe lem-rou seu marido que ela antes de ir para a igrea tinha comido uma talada de anan!s, e ela, vendo tam-"m as cascas no chão, lhe lem-rou então que tinha comido uma talada de anan!s antes de ir comungar, e então teve grande arrependimento e se tornou a confessar a um padre da companhia, o qual lhe deu em penitência que trou#esse um cilício quin+e dias e re+asse cinco ve+es o ros!rio e outras tantas a coroa de Nossa Senhora, e euasse três s!-ados a pão e !gua, a qual penitência ela cumpriu, e que ora pedia miseric3rdia nesta mesa, conforme a este tempo de graça$ 5 por não di+er mais, foi perguntada pelo senhor visitador se crê que no Sacramento da 5ucaristia, consagrada a h3stia, est! o verdadeiro corpo de 0risto Nosso Senhor, e que a Igrea Santa condena por hereges os que o negam, e se quando tomou o Santíssimo Sacramento tendo comido sa-ia que estava nele o corpo de 0risto Nosso Senhor, ou se duvidou disso, e respondeu que ela crê que no Sacramento da 5ucaristia est! o verdadeiro corpo de 0risto, e que tem por herege quem o negar, e que quando ela o rece-eu não duvidou nada, mas antes o rece-eu para salvação de sua alma$ 5 sendo mais perguntada, respondeu que quando se confessou e comungou no dito dia de Nossa Senhora, não lhe lem-rou que tinha comido e que não tinha comido mais que uma talada de anan!s, e que com a c3lera e agastamento que levava contra seu marido, com quem peleara, lhe não alem-rou$ 5 que nunca esteve em terra de .uteranos, nem tratou com eles, e que sa-ia muito -em que se h! de comungar em eum, e que a isso estava o-rigada e que est! prestes para rece-er penitência$ Por não sa-er escrever, assinou o not!rio, a seu rogo$ 24
24 6
Pequena t8nica, cinto ou cordão de crina, de lã !spera, 9s ve+es com farpas de madeira, que se vestia diretamente so-re a pele para penitência de pecados$
32 12* Con&iss,o de Fern,o Ri=eiro0 >ndio do Brasil0 no te3o da ra5a0 e3 12 de aosto de 1"91
Por querer confessar sua culpa nesta mesa e ele ser do gentio desta Bahia que não sa-e a língua portuguesa, foi presente o Padre =rancisco de .emos, religioso da 0ompanhia de Cesus, por seu int"rprete e declarador que sa-e a sua língua, e lhes foi dado uramento dos Santos 5vangelhos em que puseram as mãos direitas, so- cargo do qual prometeram di+er verdade etc$ Pelo dito int"rprete, disse que " cristão h! seis ou sete anos, filho de gentios pagãos, morador na aldeia de São Coão, de idade de cinquenta anos$ 5 confessando6se, disse que haver! dois anos que, di+endo6lhe outro gentio por nome Simão que os cristãos que comungam tinham de costume usar de caridade, dando esmolas e favores aos pr3#imos, e que têm eles entre si que os que comungam são os homens mais virtuosos, então ele confessante respondeu ao dito Simão que naquele Sacramento de comunhão estava a morte, e que quem comungava rece-ia a morte , e isto disse a uma s3 ve+, e depois de o ter dito ficou muito arrependido e lhe pesou muito o :ia-o lhe fa+er di+er tão ruim palavra$ 5 que, sa-endo isto, o padre superior da dita aldeia, Coão 4lvares, da 0ompanhia de Cesus, que tem cuidado de os doutrinar e instruir na f", o prendeu e penitenciou na igrea, pedindo perdão a todos e tomando disciplina , ao que ele confessante satisfe+ e ora dentro, neste tempo de graça, vem pedir perdão 9 Santa *adre Igrea, e que se use com ele de miseric3rdia$ 5 sendo mais perguntado, respondeu que ele crê que na h3stia consagrada est! o verdadeiro corpo de 0risto e vida e sa8de das almas, e que os homens morrem neste mundo e suas almas vão ou 9 gl3ria ou ao inferno, segundo seus feitos merecem, e que isto lhe ensina o dito padre$ 25
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1$ * Con&iss,o de Clara Fernandes0 3eia 7rist, no/a0 no te3o da ra5a0 e3 14 de aosto de 1"91
:isse ser cristã nova meia, natural de 0astelo Branco, em Portugal, filha de >ntFnio odrigues Paneiro, cristão novo, e de sua mulher 1racia :ias, ! defuntos, ela era cristã velha, vi8va, mulher que foi de *anuel =ernandes, carcereiro, cristão 25 6
Tuando ouvia confissJes ou denunciaçJes de índios ou africanos, era comum recorrer6se a int"rpretes, 9 diferença da confissão sacramental, e#clusivamente espiritual, auricular, cuo teor somente o confessor poderia ouvir, sem intermedi!rios ra+ão pela qual os mission!rios tinham que aprender a língua dos povos catequisados e se valer de manuais de confiss9o ela-orados nas línguas nativasQ$ 26 6 7rata6se de uma crença indígena relativamente difundida ap3s a chegada dos esuítas, so-retudo em função das epidemias que assolaram tais populaçJes, em especial a da varíola peste das -e#igasQ$ Os sacramentos ministrados pelos padres, estando por ve+es o índio mori-undo, eram associados 9 morte$ 27 6 Neste conte#to, disciplina " sinFnimo de castigo$
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velho, estalaadeira que d! de comer em sua casa, de idade de quarenta anos, moradora nesta cidade$ 5 confessando6se dentro, neste tempo da graça, disse que ela veste alguns s!-ados camisa lavada, quando tem a do corpo sua, por respeito do serviço de estalaadeira, e assim a veste lavada todos os mais dias da semana em que se lhe oferece tê6la, por limpe+a do dito ofício, e que isto fa+ sem ter intenção alguma ruim, somente por limpe+a, e não por cerimFnia nem guarda dos s!-ados$ 5 disse que Isa-el odrigues, a -oca torta, lhe deve mil e oitocentos r"is que lhe emprestou so-re um cnhecimento que lhe fe+, e ora lhe nega a dívida e tra+em demanda, e " sua inimiga e lhe alevanta falsos testemunhos, infamando6a, di+endo que ela era uma udia e que aunta panelas de toda semana e as que-ra ao s!-ado, e que tem um crucifi#o e o açoita, e tudo isso ela confessante nega e di+ serem falsidades que lhe alevanta a dita sua inimiga, e por isso não pede disto perdão nem o confessaR por culpa somente confessa vestir alguns s!-ados camisa lavada como dito tem, sem ruim intenção, e se nisso tem culpa pede miseric3rdia$ 5 por não di+er mais e ser perguntada, respondeu que não conhece parente algum seu que fosse preso ou penitenciado pelo Santo Ofício, e foi admoestada pelo senhor visitador que faça confissão verdadeira de suas culpas, pois est! em tempo da graça para a merecer e alcançar, respondeu que não tinha mais que di+er do que dito tem$ Por não sa-er escrever, o not!rio assinou a seu rogo$ 28
14 * Con&iss,o de aria Loes0 7rist, no/a0 no te3o da ra5a0 e3 1% de aosto de 1"91
>pareceu, sem ser chamada, dentro, no tempo da graça, *aria .opes, vi8va, mulher que foi de mestre >fonso *endes, e a qual ! fe+ confissão neste livro, folhas %E supra ('Q, e pelo uramento dos Santos 5vangelhos em que tornou a por sua mão direita, declarou que lhe lem-rara mais, que haver! de+ anos, estando ela em pr!tica com certas pessoas que lhe não lem-ra, uma delas veio a falar em mestre oque, cristão novo dY/vora, que, estando preso na Inquisição, se degolou ou matou por sua mão, e a isto respondeu ela confessante que lhe parecia que aquela morte fora para ele mais honrada, e que da culpa que nisto tem em di+er esta palavra, simplesmente, pede perdão e miseric3rdia$ 5 sendo perguntada, respondeu que a sua intenção era entender que se o dito mestre fora queimado teria morte mais desonrada, e que não teve intenção nem malícia, e que não sa-e que algum parente seu fosse penitenciado ou preso pelo Santo Ofício$ 1" * Con&iss,o de ?er@ni3o ;arada0 est-dante0 7rist,o /el(o0 na ra5a0 e3 1 de aosto de 1"91 28 6
0amisaM esp"cie de vestidura com mangas, fechada em roda, que se vestia por -ai#o das roupas e era usada por homens e mulheres$
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:isse ser cristão velho, natural desta Bahia, filho de :omingos .opes, carpinteiro da i-eira, e de sua mulher .eonor Aiegas, morador nesta cidade, de idade de de+essete anos$ 5 confessando6se, disse que h! dois ou três anos, em dia de P!scoa 9 tarde, foi ele confessante a casa de =rutuoso 4lvares, cl"rigo de missa, homem velho que tem ! a -ar-a -ranca, por ter ami+ade com seu pai e com seu irmão, e o dito =rutuoso 4lvares o começou a apalpar, di+endo6lhe que estava gordo e outras palavras meigas, e lhe meteu as mãos pelos calçJes e lhe apalpou a sua natura, alvoroçando6lha com a mão, e lhe tirou os calçJes fora e o levou 9 sua cama, e o dito cl"rigo tirou tam-"m os seus e se deitaram am-os so-re a cama, e o dito cl"rigo auntou a sua natura com a dele confessante e, com a mão solicitava am-as as naturas untas por diante, a ter polução, por"m daquela ve+ não teve polução nenhum deles$ 5 depois daquela ve+ a muito tempo, sendo o dito =rutuoso 4lvares vig!rio da igrea de *atoim, foi ele confessante pelas casas de seu pai, que morava meia l"gua al"m de *atoim, por chegar de noite a *atoim, se foi agasalhar em casa do dito =rutuoso 4lvares e se lançou na cama com ele, o qual começou a apalp!6lo tam-"m a provocar6lhe e fa+er o mesmo como da outra ve+, eQ ele confessante da mesma maneira apalpava com a mão a natura do dito cl"rigo, e desta segunda ve+ não houve tam-"m mais que auntamentos por diante$ 5 depois disto, muitos dias aconteceu que veio o dito =rutuoso 4lvares a esta cidade e se agasalhou em casa da av3 dele confessante, e por eles ficarem am-os s3s, lhe disse o dito =rutuoso 4lvares que fi+essem como das outras ve+es, e que ele confessante respondeu que não queria, e ele então lhe deu um vint"m, e por ele se não contentar com um vint"m, lhe deu mais outro vint"m, então am-os tiraram os calçJes e se deitaram em cima da cama, e depois de terem feito por diante como das outras ve+es, o dito cl"rigo se deitou com a -arriga para -ai#o e disse a ele confessante que se pusesse em cima dele, e assim o fe+ e dormiu com o dito cl"rigo carnalmente por detr!s, consumando o pecado de sodomia, metendo seu mem-ro desonesto pelo vaso traseiro do cl"rigo como um homem fa+ com sua mulher pelo vaso natural por diante, e este pecado consumou tendo polução como dito tem uma s3 ve+, e disto disse que pedia perdão e se confessava dentro neste tempo de graça$ 5 sendo perguntado se sa-ia ele confitente que aquilo era pecado, respondeu que sa-ia$ 5 sendo mais perguntado, disse que ouviu que o dito =rutuoso 4lvares era amigo de fa+er estas torpe+as com moços e ! por isso viera degredado do reino, e do costume disse nada$ 29
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0alção, palavra que mais se usava no plural, significava, na "poca, a parte do vestu!rio masculino @que co-re desde a cintura at" os oelhos$ Não se usava roupa de -ai#o$ 30 6 >gasalhar possui, neste conte#to, o sentido de a-rigar, hospedar, ficar em casa de algu"m$ 31 6 Baso natural , na linguagem do Santo OfícioM vagina$
35
5 foi admoestado pelo senhor visitador que se afaste de conversação de semelhantes pessoas que lhe possam causar dano em sua alma, sendo certo que, fa+endo o contr!rio, ser! gravemente castigado, e por di+er que ! estava emendado e havia muito tempo que dei#ara o dito pecado, foi6lhe mandado que se confesse ao Padre guardião de Santo >ntFnio, digo, de São =rancisco, e que traga escrito a esta mesa$ 5 declarou que não se qui+ confessar ao dito =rutuoso 4lvares, e que ! se confessou destes pecados aos padres da 0ompanhia, e o a-olveram, e cumpriu as penitências e se mostrou arrependido$ 1% * Con&iss,o de Catarina endes0 7rist, no/a0 no te3o da ra5a0 e3 1! de aosto de 1"91
:eclarou que lhe lem-raram mais algumas coisas de que se quer confessar dentro, neste tempo da graça, e confessando6se, disse que no tempo em que ela esteve em Peroasu, deQ que foi vig!rio *arçal odrigues, que ainda agora o ", ela confessante quatro ou cinco s!-ados vestiu camisa lavada e -eatos lavados, e pFs na ca-eça toalhas lavadas para ir 9 igrea ouvir missa, porquanto o dito vig!rio não di+ia missa senão de quin+e em quin+e dias, aos s!-ados$ 5 outrossim, confessando6se, disse que todas as ve+es em que sua casa at" agora se assavam quartos tra+eiros de res mi8da, lhe mandava tirar a landoa porquanto >ntFnio 4lvare+, co+inheiro da rainha, lhe ensinou que era isto -om para a carne ser -em assada, e por isso ela tam-"m o ensinou a outras pessoas, e estas coisas fe+ sem ter nelas m! intenção$ 5 pelo senhor visitador foi admoestada com muita caridade que, pois, isto eram cerimFnias de udia, e ela " da nação dos cristãos novos e mulher de -om entendimento, que presume dela que as fa+ia por guardar a lei de *ois"s e que, portanto, para alcançar miseric3rdia e a graça deste tempo, faça confissão inteira e verdadeira$ 5 ela respondeu que " -oa cristã e que não fe+ as ditas coisas com intenção de udia,e que não tinha mais que confessar e que fe+ as ditas coisas pelas ra+Jes que tem dito, e que, se por as fa+er com a dita -oa intenção ela caiu em alguma culpa, pede perdão e miseric3rdia com penitência sald!vel$ 5 foi perguntada se sa-e algum parente seu que fosse preso ou penitenciado pelo Santo Ofício, respondeu que não sa-e$ 32
1 * Con&iss,o de Ro-e Gar7ia0 no te3o da ra5a0 e3 19 de aosto de 1"91
0onfessando6se, disse que haver! cinco meses, estando ele em Sergipe, donde " capitão 7om" da ocha, disseram uns negros que os gentios tinham mortos os 32 6
>l"m do significado atual, que tam-"m vigia na "poca, toalha era uma peça de linho usada na ca-eça pelas mulheres$
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quatro ou cinco homens que estavam em um -arco em o rio de São =rancisco, e que o queimaram, ao -arco$ 5 di+endo o capitão que os negros mentiram, respondeu ele confessante que tanto cria ele no que di+iam aqueles negros como nos 5vangelhos de São Coão, sendo presente >ntFnio =ernandes, casado na ilha 7erceira, soldado em Sergipe, o qual o repreendeu e ele se calou$ 5 disse aquelas palavras parvamente, e pede delas perdão e penitência sald!vel com miseric3rdia, e disse que não deu conta disto a outrem, e foi6lhe mandado ter segredo e que atente como fala, e fale palavras de -om cristão que não dêem escGndalo e lhe não causem dano em sua alma, e se v! confessar a um padre da companhia e traga escrito, e cumprir! a penitência que lhe derem$ 1! * Con&iss,o do Do-tor A3=rsio ;ei
0onfessando6se, disse ser cristão velho, natural de 1uimarães, filho do :outor 1onçalo Aa+ Pei#oto, desem-argador da casa do cível , e de sua mulher *adalena de 0arvalho, de idade de trinta e sete anos, casado com :ona Beatri+ de 7aíde, morador nesta cidade$ 5 confessando, disse que ontem 9 tarde, no col"gio da 0ompanhia de Cesus, estando fa+endo umas contas com >ntFnio Nunes eimão, mercador, qui+ o dito mercador que se desse cr"dito a uns assinados de mestres e feitores de um engenho de aç8car$ 5 ele confessante não queria senão que se desse cr"dito a um caderno que mostrava, e so-re isto, acendido em c3lera e agastamento na porfia que tinham, disse sem deli-eração que, ainda que São Coão 5vangelista lhe dissesse o contr!rio do que se continha no dito caderno, não lho creria$ 5 depois de aca-adas as porfias, o Padre Tuirício, que estava presente, lhe lem-rou que dissera ele aquelas palavras, e que então sentiu ele que dissera mal nelas sem considerar o que di+ia, e por isso pede perdão$ 5 por ser dentro no tempo da graça, foi admostado para queQ em suas pr!ticas sea atentado como tam-"m conv"m 9 qualidade de sua pessoa, e que se confesse desta culpa a seu confessor e cumpra a penitência espiritual secreta que ele lhe der$ 5ra do :esem-argo de Sua *agestade e provedor mor dos defuntos e ausentes , genro de =ernão 0a-ral de 7aíde e de sua mulher :$*argarida da 0ostaQ 33
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33 6 *agistrado da Custiça 0ivil de Sua *agestade$ 34 6 0argo de provimento real cua principal atri-uição
era fa+er invent!rio de todos os -ens m3veis e de rai+, escrituras e pap"is das pessoas falecidas sem herdeiros na terra, trasladando o invent!rio para o testamento, caso houvesse$
37 19 * Con&iss,o de Fern,o ;ires0 -e te3 d/ida se 3eio 7rist,o no/o0 no te3o da ra5a0 e3 2# de aosto de 1"91
:isse ser cristão velho da parte de pai e tem d8vida se " cristão novo da parte de mãe, natural da cidade do Porto, solteiro, que est! ora urado para casar com .uisa dY>lmeida, de idade de quarenta anos, morador nesta cidade, filho de Salvador Pires e de sua mulher >na odrigues, defuntos$ 5 confessando, disse que algumas ve+es, assando6se em sua casa quartos de carneiro, lhe tirou a landoa para se assar melhor, e alguns s!-ados vestiu camisa lavada por limpe+a somente, como costuma a vestir quase todos os dias da semana, e as ditas coisas fe+ sem nenhuma m! intenção$ 5 disse que, por ele ser engenhoso, sem aprender, costuma fa+er aQ cada ano, pela quaresma, uma imagem de 0risto de -ulto de -arro para se pFr na semana santa em alguma igrea, e quando as est! fa+endo, fala algumas palavras descorteses 9s suas negras e a outras pessoas, mas não as fala em despre+o da imagem$ 5 outrossim, 9s ve+es, estando 9 mesa comendo com outros, a sa-er, *anuel odrigues i-eiro, mercador eQ :iogo *artins, ao tempo em que um vai com o copo para -e-er, os outros lhe dão traques e assim os deu ele algumas ve+es ao tempo em que os outros -e-iam, e isto fa+ia sem m! intenção eQ da culpa que tem pede perdão neste tempo da graça$ 5 por não di+er mais, foi admoestado que faça confissão inteira e verdadeira porque as ditas cerimFnias são conhecidas serem de udeus, quanto mais que ele " de -om entendimento, respondeu que tem dito a verdade e que " muito -om cristão e não teve intenção udaica$ 35
2# * Con&iss,o de ?o,o err,o0 7rist,o no/o0 e3 22 de aosto de 1"91
0onfessando6se, disse que ele " cristão novo inteiro, filho de =rancisco de 0haves, cristão novo, alfaiate, e de sua mulher 0lara Serrão, cristã nova, moradores em Bragança, ele defunto e ela viva e que, sendo isto, ele veio um dos dias passados a esta mesa a denunciar, cua denunciação est! no primeiro livro das denunciaçJes desta visitação$ 5 sendo perguntado por ele, senhor visitador, so- cargo de uramento que tinha rece-ido, se era cristão velho ou novo, ele confessante falsamente respondeu que era cristão velho de todas as partes, e assim se escrevera, e isto fi+era por ele estar casado nesta cidade com uma mulher cristã velha de gente no-re, limpa e a-astada, e ele ser tido de todos por cristão velho e ser cidadão que ! foi almotac"l desta cidade, havido em -oa conta e de honrado, por"m que a verdade " como aqui tem confessado ser cristão novo inteiro$ 36
35 6 Palavra chula para flatos$ 36 6 =uncion!rio fiscal da administração
municipal, eleito pela 0Gmara *unicipal$
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5 que da culpa que cometeu e per8rio nesta mesa, calando a verdade e di+endo a dita falsidade, pede perdão neste tempo da graça, e est! muito arrependido e deu mostras de arrependimento$ 5 sendo perguntado pelo senhor visitador se o indu+iu algu"m a di+er a dita falsidade nesta mesa, respondeu que ningu"m, e que ningu"m o sa-e, senão o seu confessor a quem se confessou ontem desta culpa$ 5 sendo mais perguntado, disse que quando ele cometeu a dita culpa nesta mesa, sa-ia muito -em a verdade, e que não conhece tio nem parente seu que fosse preso nem penitenciado pelo Santo Ofício, e que nas outras mais coisas que denunciou na dita denunciação falou verdade$ 21 * Con&iss,o do Li7en7iado e3 Artes Bartolo3e- Fraoso 0 no te3o da ra5a0 e3 2# de aosto de 1"91 37
:isse ser cristão velho, natural de .is-oa, filho de >mador =ernandes, alfaiate, e de sua mulher Ait3ria =ragosa, moradores na rua nova de .is-oa, solteiro, licenciado em artes, de idade de vinte e cinco anos, morador nesta cidade$ 5 confessando6se, disse que haver! sete ou oito meses pouco mais ou menos que, havendo umas diferenças no curso das artes entre ele e seu mestre acerca de uma conta da circunferência e diGmetro da terra, di+endo ele confessante que a dita conta feita por ele conforme certas opiniJes que ele seguia estava certa, e o dito mestre di+ia que ele que errava na dita conta, com palavras de escGndalo$ 5 saindo ele confessante do curso, 9 porta dos estudos, lhe disse o licenciado :omingos Pires que a dita sua conta estava errada, pelo que ele confessante se agastou e agastado disse estas palavrasM @tão certo estou nestas contas que, dado caso que c! viesse 0risto e me dissesse não ser assim, cuido não não daria cr"dito a mo di+er, sendo testemunhas presentes o .icenciado :omingos Pires e o meste em artes Culio Pereira, natural de São 7om", que ora vai para o reino, e o licenciado Bartolomeu *adeira$ 5 logo o dito :omingos Pires o repreendeu, e ele confessante entendeu consigo que era verdade que falara mal e lhe pesou muito de as ter ditas e, depois disto, espaço de um mês, foi ele confessante confessar esta culpa ao -ispo deste estado do Brasil, o qual o repreendeu de palavras e nunca mais procedeu em nada que ele sai-a so-re isto$
37 6
=oi processado e condenado a sair em p8-lico, descalço, des-arretado, cingido com uma corda, vela acesa na mão, e fa+er a-uração de leve suspeita na f" ap3s ouvir sentença na igrea$ :egredado para todo sempre da Bahia$ >N77, I., proc$%E;?($
39
5 assim mais confessou que, lendo ele por uma Jiana, de *onte *aior , lhe disseram que era proi-ido aquele livro e, sem em-argo disso, ele o aca-ou de ler depois de ouvir que era proi-ido$ 5 sendo mais perguntado, disse que uma s3 ve+ disse aquelas palavras 9 porta do estudo e as disse com c3lera, e depois disso as não tornou tornou a repetir nem as as disse mais outra ve+, e que quanto ao livro de Jiana, ! o rompeu, e assim como o ia lendo o ia rompendo$ 38
22 * Con&iss,o de Brianda Fernandes0 7iana0 no te3o da ra5a0 e3 2# de aosto de 1"91
:isse ser cristã velha, natural de .is-oa, de idade de cinquenta anos pouco mais ou menos, casada com odrigo Solis, cigano, filha de =rancisco 4lvares e de *aria =ernandes, ciganos, defuntos, moradora nesta cidade, na rua do 0hocalho, que usa de ser a dela$ 5 confessando, disse que haver! de+ anos que, nesta cidade, na rua do Bar-udo, ela estando agastada não lhe lem-ra a que prop3sito, perante gente que lhe não lem-ra, disse com muita c3lera que arrenegava de :eus$ :a qual -lasfêmia logo se arrependeu e foi confessar ao 0ol"gio de Cesus, e cumpriu a penitência que lhe foi dada, e ora nesta mesa pede perdão e miseric3rdia da dita culpa pois a vem confessar dentro neste tempo da graça$ 2$ * Con&iss,o de l/aro an7(es0 7rist,o no/o0 no te3o da ra5a0 e3 2# de aosto de 1"91
:isse ser cristão novo, natural de Aiana, digo, dYOlivença, filho de Bento enriques, mercador sem loa, tratante , e de sua mulher .eonor Sanches, cristãos novos, defuntos, de idade de quarenta anos pouco mais ou menos, mercador de loa, morador nesta cidade, casado com *aria da 0osta, cristã velha$ 5 confessando, disse que haver! de+oito anos pouco mais ou menos, em Pass", em casa de 1aspar de Barros, seu sogro, pai de *"cia de Barros, sua primeira mulher, defunta, sendo presente 0atarina .o-a, madrasta da dita sua primeira mulher, e suas filhas dela e do dito seu sogro, ele confessante tomou um Flos Sanctorum e com um alfinete picou uma figura que estava de-u#ada no dito Flos Sanctorum de Nossa Senhora e lhe picou a coroa e parte da ca-eça de Nossa Senhora, e picava a dita imagem para a tirar em de-u#o e lhe ser de molde para por eler tirar outros de-u#os 39
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7rata6se do livro Jiana livro Jiana,, do espanhol Corge de *onte *aLor, escrito em %&&', e logo incluído no rol de livros proi-idos pela Inquisição$ 5ra um romance pastoril que narrava os amores de duas moças$ 39 6 7ratante significava, significava, na "poca, o traficante de escravos africanos, tratador$ tratado r$ 40 6 .ivro que narra a vida de santos, hagiogr!fico portanto$ 41 6 @:e-u#o " palavra provavelmente de origem galega, pr3#imo do @di-uo castelhano, e significa desenho, gravura$
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semelhantes, e isto fe+ com esta intenção -oa, sem ter intenção nenhuma ruim, nem pensamento pensamento dela$ dela$ 5 depois disto, alguns dias lhe disse o vig!rio geral desta cidade que o dito seu sogro o acusara que ele confessante picara a dita imagem, e nunca mais o dito vig!rio geral lhe falou nisto$ 5 confessando disse mais, que no dito tempo pouco mais ou menos, indo ele para di+er o pesar de ante 0risto, disse o pesar de 0risto, não lhe lem-ra perante quem, e foi com agastamento e pouco tento, sem m! intenção, e logo se foi confessar e das culpas que nestes casos cometeu pede perdão e se acusa nestes tempo tempo de graça$ 24 * Con&iss,o do 7@neo ?E7o3e de -eir:0 3esti5o0 no te3o da ra5a0 e3 2# de aosto de 1"91
:isse ser cristão velho, velho, natural da capitania do 5spírito Santo deste Brasil, mamaluco, filho de *anuel amalho e de sua mulher >ntFnia Paes, de idade de quarenta e seis anos, sacerdote de missa$ 5 confessando6se, disse que haver! sete anos pouco mais ou menos, uma noite nesta cidade, levou 9 sua casa uma moça mamaluca que então seria de idade de seis ou sete anos, que andava de noite vendendo pei#e pela rua, escrava cativa de >na 0arneira, mulher do mundo , moradora nesta cidade na rua de Bastião de =aria, a qual moça não sa-e o nome, depois de cear e se encher de vinho, cuidando que corrompia a dita moça pelo vaso natural, a penetrou pelo vaso traseiro e nele teve penetração sem polução, polução, e tanto que senti s entiuu que era pelo vaso traseiro se afastou e tirou tirou dela, e isto lhe aconteceu uma ve+ por seu desatento, como dito tem$ 42
0onfessou mais, que haver! tam-"m sete ou oito anos que, querendo corromper outra moça por nome de 5sperança, sua escrava, de idade de sete anos pouco mais mais ou menos menos no dito tempo, tempo, cuidando cuidando que a corrompia corrompia pelo vaso natural natural a penetrou penetrou tam-"m tam-"m pelo vaso tra+eiro e, sentindo sentindo isso, se afastou logo logo sem polução, polução, e tam-"m estava ceiado e cheio de vinho, e lhe aconteceu isto pelo desatento tal, a qual escrava ele depois vendeu a *arçal odrigues e est! ora casada$ 2" * Con&iss,o de ;a-la de i-eira 0 7rist, /el(a0 no te3o da ra5a0 e3 2# de aosto de 1"91 43
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@*ulher do mundo, @mulher p8-lica, @solteira do mundo, @mulher de m! vida eram as palavras correntes usadas para aludir 9s prostitutas$ 436 Processada so-retudo por ler Jiana ler Jiana,, de *onte *aLor$ 0ondenada a sair em p8-lico, p8-lico, vela acesa na mão, para ovir missa de p", na S", penitências espirituais e pagamento de &E cru+ados para o Santo Ofício$ Ofício$ >-uração >-uração de leve suspeita na *esa$ >N77, >N77, I., proc$((E<$
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:isse ser cristã velha, natural de .is-oa, filha de *anuel Pires, ourives de prata, meio meio flamen flamengo, go, e de sua mulher mulher *"cia odrigues, odrigues, defuntos, defuntos, salvo que não se afirma se sua mulher " defunta, casada com >ntFnio de =aria, contador da fa+enda del rei nesta cidade, de idade de quarenta anos, moradora nesta cidade, na rua de São =rancisco$ 5 confessando suas culpas, disse que haver! três anos pouco mais ou menos que =elipa de Sou+a , moradora nesta cidade, casada com =rancisco Pires, pedreiro, unto unto de Nossa Senhora Senhora da >uda, >uda, a qual ela tem por cristã nova que foi ! casada com outro primeiro marido, defunto, sirgueiro , cristão novo, lhe começou a escrev escrever er muitas uitas cartas cartas de amore amoress e requereque-ros ros , de man anei eira ra qu quee ela ela co conf nfes essa sant ntee entendeu que a dita =elipa de Sou+a tinha alguma ruim intenção$ 5 com estas cartas e semelhantes recados e presentes continuou com ela por espaço de dois anos pouco mais mais ou menos, menos, dando dando6lhe 6lhe alguns alguns a-raços e alguns alguns -eios, sem lhe desco-rir claramente claramente o seu fim e prop3sito, prop3sito, at" que nu num m dia, doming domingoo ou santo, haver! um ano pouco mais ou menos, estando ela confessante em sua casa nesta cidade, veio a ela a dita =elipa de Sou+a$ 5 porquanto ela confessante, ! no decurso do dito tempo atr!s suspeitava e tinha entendido e por certo que a intenção da dita =elipa de Sou+a era chegar a ter com ela auntamento carnal, a recolheu consigo para dentro de uma sua cGmara e se fechou por dentro, e lhe disse por palavras claras que fi+essem o que dela pretendia$ 5ntão, am-as tiveram auntamento carnal uma com a outra por diante e, auntando seus vasos naturais um com o outro, tendo deleitação e consumando com efeito o cumprimento natural de am-as as partes como se propriamente foram homem com mulher, e isto foi pela manhã, antes de antar , por duas ou três ve+es pouco mais ou menos, tendo o dito auntamento sem algum outro instrumento penetrante $ 5 depois que antaram, tornaram a ter outras tantas ve+es o mesmo auntamento torpe pela dita maneira, usando ela confessante sempre do modo como se ela fora homem, pondo6se de cima$ 44
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=elipa de Sou+a, muito acusada sem confessar na graça, foi processada e gavemente condenada$ >l"m >l"m de pen penitê itênci ncias as espir espiritu ituai ais, s, foi foi açoita açoitada da pu pu-l -lic icam ament entee pela pelass ruas ruas da cidad cidadee e degredad degredadaa perpetuamente para fora da Bahia$ >N77 >N77,, I., proc$%?)<$ pr oc$%?)<$ 45 6 Sirgueiro era o artesão que tra-alhava com seda$ 46 6 eque-ro significava, segundo o dicionarista *oraes SilvaM @*ovimentos lascivos, infle#Jes lascivas dos olhos, do corpo, da vo+ e gestos$ 47 6 Cantar era a refeição do meio6dia, meio6dia, ao passo que almoço era a refeição matinal, matinal, o deseum$ 48 6 :esde o s"culo DIII, no tempo da 5scol!stica medieval, a Igrea considerava agravante de relaçJes homoer3ticas entre mulheres o uso de instrumentos de vidro, couro, madeira ou qualquer outra mat"ria 9 guisa de falo$ 5m alguns processos europeus e coloniais envolvendo homoerotismo feminino, em diversos tri-unais, registrou6se, com efeito, o uso de intrumentos de couro, veludo, etc$ 5m meados do s"culo DAII, a Inquisição Portuguesa retirou a sodomia feminina de seu foro, motivada pela d8vida, que permaneceu insol8vel, so-re se as mulheres podiam cometer sodomia sendo naturalmente naturalmente desprovidas despr ovidas de falo$
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5 disse que quando cometeu estas ditas culpas tão torpes ela não cuidava que era pecado tão grave e contra a natura , como depois sou-e em sua confissão$ 5 que, no dito dia 9 tarde, a dita =elipa de sou+a, depois de terem feito o so-redito, antes de se ir para sua casa, lhe contou que ela tinha pecado no dito modo com Paula >ntunes, mulher de >ntFnio 0ardoso, pedreiro, morador nesta cidade unto de São =rancisco, e com *aria de Peralta, cristã nova, mulher de 7om!s Bi-então, inglês, moradora ora em Pernam-uco, e assim lhe disse mais, que ela tinha usado o dito pecado com outras muitas e moças altas e -ai#as , e tam-"m dentro de um mosteiro, onde ela estivera, usara do dito pecado$ 5 sendo perguntada se quando ela lhe contou estas coisas se entendeu dela que lhas falava de verdade ou a fim de lhe facilitar o neg3cio, respondeu que não sa-e e que não viu fa+er desatinos, nem falar desprop3sitos, posto que isto lhe contou depois de merenda , tendo -e-ido muito vinho$ 5 disse que, antes que lhe acontecesse terem o dito auntamento torpe, ela ouviu di+er a uma sua comadre, moradora em *atoim, por nome Isa-el =onseca, mulher de Simão Pires, carpinteiro de engenho, que di+iam que a dita =elipa de Sou+a namorava mulheres e tinha damas, e que perseguia muito a uma moça casada com um alcorcovado , ferreiro, moradora unto de São Bento, cometendo6a por palavras claras que queria dormir com ela, e que sa-endo isto, o dito alcorcovado, por lhe di+er a dita moça sua mulher, andou para tomar a dita =elipa de Sou+a em sua casa por manhã para a espancar e, por lhe darem mais aviso, ela se afastou$ 5 disse que sa-e que nesta cidade houve muita murmuração da muita conversação e ami+ade que a dita =elipa de Sou+a tinha com a dita Paula >ntunes$ 5 confessando mais, disse que haver! vinte e três anos pouco mais ou menos, morando na cidade de .is-oa, havendo três anos pouco mais ou menos que era casada com o dito >ntFnio de =aria, um cl"rigo por nome 1aspar =ranco, ! defunto, que foi capelão del rei, cua irmã *"cia de Basto, ! defunta, era casada com Coão de *agalhães, irmão do dito seu marido, lhe ensinou que dissesse ela as palavras da consagração da missa com que consagram a h3stia na -oca do dito seu marido, quando ele dormisse, e que ele amansaria e poria toda a sua afeição nela, e para isto o dito 49
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0lichê inquisitorial e eclesi!stico para aludir, principalmente, aos atos se#uais de sodomia e -estialidade c3pula com animaisQ$ 50 6 > conotação de @altas e -ai#as " social, neste conte#to, não tendo a ver com o tipo físico das mulheres$ 51 6 *erenda era a refeição que por ve+es se fa+ia 9 tarde, depois do antar e antes da ceia noturna$ 52 6 >lcorcovado ou corcovado era palavra corriqueira para designar o que hoe chamamos de corcundas$ 53 6 0onversação era palavra que, em ceros conte#tos, tinha forte conotação repro-at3ria, usada para designar adult"rios e relaçJes se#uais ilícitas de modo geral$ Por ve+es o su-stantivo vinha qualificadoM conversação ilícita, desonesta siginificando, neste caso, sensual, indecenteQ, etc$ 54 6 efere6se 9s palavras da consagração ditas em latimM .oc est enim corpus meum aqui est! o meu corpoQ$ O que di+ a confitente era crença muito vulgari+ada na "poca, so-retudo entre as mulheres$
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cl"rigo lhe deu em um papel escrito as ditas palavras, e ela confessante disse as ditas palavras na -oca, algumas ve+es, ao dito seu marido dormindo$ 5 perguntada se depois que ela usou as ditas palavras entende que alcançou o efeito para que usou delas de fa+er amansar seu marido, respondeu que h! muito tempo que isso foi, que não lhe lem-ra$ 0onfessando mais, disse que haver! oito ou de+ anos pouco mais ou menos que, nesta cidade, Isa-el odrigues, a -oca torta dYalcunha, nela moradora, lhe ensinou as ditas palavras da consagração desta maneira hoc est enim, di+endo6lhe que as disesse na -oca dormindo a seu marido e que lhe queria -em, eQ ela confessante usou as ditas palavras, di+endo algumas ve+es da dita maneira ao dito seu marido$ 0onfessou mais, que a dita Boca6torta lhe deu uma carta que chamam de tocar, di+endo6lhe que tinha tanta virtude que em quantas coisas tocasse se iriam ap3s ela, a qual carta ela confessante não leu nem usou dela, somente inintenção de usar dela, a deu a uma velha por nome *"cia :ias, mulher de Corge =ernandes =reire, moradora nesta cidade, para que a levasse na ca-eça de-ai#o do toucado, e ela lha concertou ainda, segundo sua lem-rança, para que fosse a três padres que lhe dissessem três evangelhos, e a dita velha depois lha tornou di+endo6lhe que ! tinham dito três evangelhos na ca-eça so-re a dita carta, e ela confessante não usou nunca dela$ 5 outrossim, a dita Boca6torta lhe ensinou umas palavras para que, di+endo6as a alguma pessoa, lhe qui+esse -em e amansasse, as quais palavras nomeavam as estrelas e os dia-os e outras palavras supersticiosas e ruins, das quais não " lem-rada, das quais palavras ela confessante usou muitas ve+es delas, di+endo6as para que o dito seu marido lhe qui+esse -em e fosse manso$ Outrossim, uma mulher por nome Beatri+ de Sampaio, mulher de Corge de *agalhães, morador em *atoim, lhe ensinou umas palavras que havia de di+er andando em cru+, atravesando a casa de quanto em quanto, das quais palavras lhe não lem-ra, nem usou delas, di+endo6lhe que faria com elas ao dito seu marido >ntFnio de =aria que fosse muito seu amigo, declarando6lhe mais, quando lhas ensinou, que ela tivera dois maridos e que lhe eram tão o-edientes que se algum ora peleavam, ela lhes mandava que lhe viessem -eiar o p" e eles lho -eiavam e um dos ditos maridos " o que agora tem, Corge de *agalhães$ 5 sendo perguntada se ainda tem escritas as ditas palavras e a dita carta, respondeu que ! queimou todos os ditos pap"is e os não tem h! mais de sete ou oito anos$ 0onfessou mais, que haver! de+ ou do+e anos que, nesta cidade, *aria Ailela ZQ, natural do Porto, mulher de *iguel i-eiro, morador nesta cidade na rua de São =rancisco, lhe disse que ela usava de muitas coisas para fa+er querer6lhe -em seu marido, e que primeiro pegara com :eus para isto, por"m depois que viu que :eus não qui+era melhorar6lhe seu marido, pegou com os dia-os para isso, di+endo6lhe mais, que ela mandara com muito tra-alho -uscar na igrea um pedaço de pedra dYara e que lha 55
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Pedra sagrada do centro do altar das igreas$
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trou#era um moço que então, segundo sua lem-rança, estava com 0osme angel, ao qual moço não sa-e o nome, e vendo ela confessante isto, lhe pediu uma pequena para dar ao dito seu maridio, a qual lha deu, e ela confessante a deu moída em p3 em um copo de vinho ao dito seu marido >ntFnio de =aria uma ve+$ 5 perguntada se quando lhe deu a dita pedra dYara para -e-er usou de mais algumas palavras, respondeu que sim, usou destas assim como @sem esta se não pode cele-rar assim, etc$, não lhe lem-ra as outras mais palavras que di+ia$ Perguntada se a mesma mulher que lhe deu a pedra lhe ensinou tam-"m as mesmas palavras, respondeu que lhe parece que não, mas que lhe parece que lhas tinha ensinado a dita Isa-el odrigues, dY alcunha Boca6torta$ Perguntada se achou o efeito que pretendia de amansar seu marido depois de lhe dar a -e-er a dita pedra dYara sagrada, respondeu que não sentiu melhoria$ Outrossim, disse que antes da dita *aria Ailela lhe dar a dita pedra dYara ou na dita conunção daquele tempo, ela confessante praticou com *aria angel, filha da dita *aria Ailela, so-re a devoção de Santo 5rasmo, e a dita *aria angel lhe disse algumas palavras dela que falavam em sarilhar e do-rar tripas e lhe disse que, porque ela fe+ por mandado da dita sua mãe, tivera muito tra-alho na confissão, que a não queria a-solver$ :isse mais ela confessante, que h! mais de um ano que teve palavras de diferença com 0ust3dia de =aria, indo ela confessante visitar a sua casa, estando doente, entre as quais ela confessante lhe disse estas palavras, @quem me a mim houver de emendar h! de ser tão purificado como São Coão Batista, e enganai6vos que s3 :eus me pode tirar o que tiver no coração$ 5 depois deQ alguns dias, veio 9 notícia dela confessante que a dita 0ust3dia de =aria dissera a algumas pessoas que ela confessante dissera que nem :eus lha podia tirar o que ela tivesse no seu coração, e que era tão purificada como São Coão Batista, e porque a dita 0ust3dia de =aria " sua inimiga capital, falsamente disse dela as ditas palavras de diferente modo e su-stGncia do que ela disse, porque " verdade como dito tem$ 5 de toda culpa que em todas as ditas coisas, como dito tem, cometeu, pede perdão e miseric3rdia neste tempo de graça porque est! muito arrependida ZZQ 9KA 4 margem, nos originais ,l->se HR7 aria Bilela 1sta R veio no tempo da gra0a conessar desta pedra de 8ra 1 por ser desta mat7ria, se não escreveu no livro, mas repreendi>a e mandei>a conessar e admoestei não usasse mais destas supersti0ões 9KKA 4 margem, nos originais 8 esta conitente mandei conessar e dei penit-ncias espirituais com a repreensão e admoesta0ão necess2rias na mesa, em segredo 56
2% * Con&iss,o de Ant@nio G-edes0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a0 e3 2# de aosto de 1"91
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7er palavras de diferença significava discutir, -rigar, ter altercaçJes$
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:isse ser cristão velho, natural de 7arouca, filho de odrigues 1uedes e de >na de .is-oa, sua mulher, de idade de trinta anos pouco mais ou menos, casado com *aria Pires cristã velhaQ, ta-elião do p8-lico udicial desta cidade$ 57
5 confessando, disse que no mês de outu-ro do ano passado de mil quinhentos e noventa, vindo ele de .is-oa para esta cidade, o tomaram os ingleses luteranos no mar, nas Berlengas, perto de .is-oa, e o tro#eram consigo, a ele e a mais companhia, de+ ou do+e dias, nos quais os ditos luteranos re+avam e cantavam ao seu modo luterano suas salvas, uma ve+ e 9s ve+es duas ve+es cada dia, sem terem rece-ido ret!-ulo de :eus, nem de Nossa Senhora, nem de Santo algum, e as oraçJes que re+avam eram na língua inglesa$ 58
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5 ele confessante, com medo dos ditos ingleses, algumas quatro ou cinco ve+es, achando6se presente 9s ditas suas salvas e re+as, se aoelhou tam-"m e tirou o chap"u da ca-eça$ 5, uma ve+, por ele não querer tirar o chap"u, lhe perguntaram os ditos luteranos se era papista e ele, sim, confessou que era papista cristão, e sempre teve em seu coração a f" cat3lica, e nunca creu na dita seita luterana, mas fe+ as ditas e#terioridades, tirando o chap"u e aoelhando6se, com medo, e desta culpa pede perdão e miseric3rdia dentro neste tempo de graça$ 5 sendo perguntado se andou algum ora por terras de .uteranos ou foi outra ve+ alguma tomado por eles em que lhe acontecesse este mesmo caso ou outro contra nossa Santa f", respondeu que nunca$ 5 perguntado quais eram mais os seus companheiros que, untamente com ele, foram tomados, respondeu que ! os tem declarados na denunciação que fe+ nesta mesa, a qual est! escrita no livro primeiro das denunciaçJes, 9s folhas setenta e oito$ 2 * Con&iss,o de Ant@nio Go3es0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a0 e3 2# de aosto de 1"91
:isse ser cristão velho, natural de .is-oa, filho de oque 1onçalves, agente das causas dos padres da 0ompanhia de Cesus , e de sua mulher *aria 1omes, 60
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0argo criado em %&(E, era uma esp"cie de audante6de6ordens dos uí+es de fora ou dos ouvidores de comarcas$ 58 6 Os inquisidores usavam o termo gen"rico luteranos, por metonímia, para aludir aos estrangeiros protestantes, fossem eles puritanos ou anglicanos ingleses, calvinistas holandeses, hugenotes franceses, etc$ 59 6 Peça de madeira, m!rmore ou outro material, que fica por detr!s do altar, nas igreas cat3licas, contendo um ou mais pain"is pintados ou em -ai#o6relevo com motivos religiosos$ 60 6 Procurador e advogado dos esuítas$
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defuntos, de idade de trinta anos, escrivão da cGmara do -ispo desta cidade e nela casado com >ntFnia de Pina$ 5 confessando, disse que h! quatro ou cinco anos, nesta cidade, no Cuí+o 5clesi!stico se tratou um auto de uma denunciação que se fe+ contra 1aspar odrigues, criado que foi de *anuel de *elo por pecar no pecado nefando com *atias, negro de 1uin", no qual auto foram testemunhas o dito *anuel de *elo, ora estante nas 2ndias de 0astela, e seu irmão Bartolomeu de Aasconcelos, cFnego da S" desta cidade, e seu cunhado *anuel de *iranda, morador em Pira!, termo desta cidade, do qual auto de culpas do dito 1aspar odrigues foi escrivão Belchior da 0osta de .ledesma, que foi nesta cidade escrivão do eclesi!stico$ 5 vindo depois ter as ditas culpas 9 mão dele confessante, as queimou, e por isso lhe deram de+ cru+ados , e isto negociou com ele o dito Bartolomeu de Aasconcelos, irmão do amo do dito culpado, os quais de+ cru+ados lhe pagou pelo dito culpado Pero de Aila Nova, francês, a quem naquele tempo servia o dito culpado, e não se afirma ele confessante se sa-ia o dito Pero de Aila Nova a ra+ão por que ele rece-ia os ditos de+ cru+ados, e desta culpa pede perdão dentro neste tempo da graça$ 5 sendo mais perguntado, disse que as ditas culpas não estavam ainda em termos de despacho final, nem houve, segundo sua lem-rança, nenhuma pronunciação, e que o dito culpado poder! ora ser de idade de trinta anos pouco mais ou menos e " homem -ai#o do corpo e magro, e poder! dar ra+ão donde ele estea o dito Pero de Aila Nova, morador em Sergipe, e quanto " ao negro *atias, não sa-e onde est! mas poder! dar ra+ão dele o dito cFnego$ 61
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2! * Con&iss,o de Catarina Fres0 3eia 7rist, no/a0 no te3o da ra5a0 e3 2# de de aosto de 1"91
:isse ser natural da cidade de .is-oa, meia cristã velha, filha de Simão odrigues =r3es, cristão velho, e de sua mulher *"cia odrigues, cristã nova, da idade de cinquenta anos pouco mais ou menos, mulher de =rancisco de *orais que serviu nesta cidade de escrivão e de meirinho e outros ofícios, moradora nesta cidade$ 65
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=uncion!rio do Bispado da Bahia$ 7rata6se da Custiça 5clesi!stica, o foro episcopal ou diocesano e#ercido pelo Aig!rio da Aara 5clesi!stica o vig!rio6geral da vigararia ou vigairariaQ$ 5ra diferente do 7ri-unal da Inquisição, que s3 cuidava de crimes considerados heresias, em-ora pudesse instruir processos de foro inquisitorial ou mesmo ulg!6los, no caso de o Bispo dispor de poderes inquisitoriais$ >lguns crimes da Custiça secular tam-"m estavam na sua alçada, os crimes de foro mi#to, sendo a confusão de competências udici!rias um traço característico do >ntigo egime$ 63 6 Pecado nefando era e#pressão correntemente usada para designar a sodomia$ NefandoM @o que não pode ser dito$ 64 6 Para ser ter uma id"ia do montante envolvido nesta corrupção, um escravo africano de menos de ?& anos um @molecãoQ valia, 9 "poca, cerca de &E cru+ados$ 65 6 =uncion!rio encarregado de au#iliar ouvidores e uí+es nas funçJes da Custiça$
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5 confessando, disse que haver! um ano que nesta cidade cometeu e aca-ou com *aria 1onçalves, dYalcunha >rde6lhe6o6ra-o, mulher não casada, vaga-unda, ora ausente, que lhe fi+esse uns feitiços para que um seu genro 1aspar *artins, lavrador morador em 7assuapina ou morresse ou o matassem ou não tornasse da guerra de Sergipe, sertão desta capitania, na qual então estava, por não dar -oa vida 9 sua mulher moça, filha dela confessante, por nome Isa-el da =onseca, e isto entendendo que os ditos feitiços haviam de ser arte do dia-o$ 5 para isto deu algum dinheiro 9 dita *aria 1onçalves e a dita *aria lhe di+ia que ! lhe faria os tais feitiços, pedindo6lhe mais dinheiro, e por ela vir a entender que a dita *aria 1onçalves lhe não havia de fa+er coisa que o-rasse, desistiu disto, nem veio a haver efeito, nem chegou a lhe a dita *aria 1onçalves dar os feitiços, e declarou ela confessante que pretendeu haver os ditos feitiços da dita maneira 9 instGncia e rogo da dita sua filha, que lho pediu que lhos negociasse por não gostar dele$ 5 outrossim, confessou que haver! dois anos que ela rogou 9 dita *aria 1onçalves que fi+esse outros feitiços a outro seu genro, >ntFnio :ias, cristão velho, carpinteiro de navios, para que fi+esse tudo o que qui+esse sua mulher 0atarina de Sou+a, outrossim sua filha, moradora em Pera-esu, entendendo tam-"m e pretendendo que os tais feitiços se haviam de fa+er com intervir o dia-o e arte sua, e para isto lhe deu um -otão e um retalho da capa do dito seu genro e a dita *aria 1onçalves lhe deu uns p3s, di+endo6lhe que os lançasse de-ai#o dos p"s do dito seu genro para fa+er quanto sua mulher dele qui+esse$ 5 tudo isto negociou por rogo da dita sua filha 0atarina de Sou+a, que lho pediu lhe negociasse os tais feitiços, por"m enfim lhe tornou a di+er que ! os não queria, e por isso -otou os ditos p3s fora e não usaram deles, nem puseram mais nada neste neg3cio em o-ra, nem efeito, e de todas estas culpas pede perdão dentro neste tempo da graça$ 5 perguntada se viu mais fa+er alguns feitiços 9 dita *aria 1onçalves ou se sa-e onde ela agora est!, respondeu que não viu, nem sa-e, nem nisto interveio outra mais pessoa$ 66
29 * Con&iss,o do 7@neo Bartolo3e- de 8as7on7elos0 7rist,o /el(o0 na ra5a0 e3 2# de aosto de 1"91
:isse ser cristão velho inteiro, natural desta cidade, filho de >ntFnio dYOliveira do 0arvalhal e de :ona .u+ia de *elo, de idade de trinta e dois anos, cFnego pre-endado na S" desta cidade, nela morador$ 5 confessando, disse que haver! quatro ou cinco anos que nesta capitania serviu a seu irmão *anuel de *elo, ora estante nas 2ndias de 0astela, um homem por 66 6
@0ometeu, no conte#to, significa tentou, procurou R@aca-ou significa acertou, com-inou, tratou uma negociação$
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nome 1aspar odrigues, que ora poder! ser de trinta anos de idade, o qual di+em que foi ! cativo de mouros ou turcos$ 5 estando o dito 1aspar odrigues na fa+enda do dito *anuel de *elo, seu irmão, um negro de 1uin" por nome *atias, que então poderia ser de de+oito anos, cativo do dito seu irmão *anuel de *elo, que ora est! na dita fa+enda de Caguaripe em poder de sua cunhada, mulher do dito seu irmão, :ona =rancisca, desco-riu e declarou a ele confessante que o dito 1aspar odrigues pecava com ele no pecado nefando de sodomia, tendo auntamento carnal com ele, penetrando com seu mem-ro desonesto no seu vaso traseiro e tendo aí polução e cumprimento, com efeito e consumação, assim como fa+ um homem com uma mulher, sendo sempre ele, *atias negro, o paciente, e lhe disse mais, que o dito 1aspar odrigues o forçara para fa+er o dito pecado e o fi+era com ele algumas ve+es$ 5 que uma ve+, querendo ele forçar a ele dito negro para fa+er tam-"m este pecado, lhe fugiu de noite da fa+enda, onde o dito 1aspar odrigues era feitor, e se veio fugindo para Pira! 9 casa de *anuel de *iranda, cunhado dele confessante, onde daí a pouco espaço, vindo depois dele, veio ter 9 mesma casa o dito 1aspar odrigues, e pelo dito negro declarar então ao dito *anuel de *iranda todo o so-redito de como o dito 1aspar odrigues pecava com ele e o constrangia a pecar no dito nefando, e o desco-rir tam-"m e declarar a ele confessante e ao dito seu senhor *anuel de *iranda, seu irmão, o dito seu irmão despediu e lançou fora da dita fa+enda ao dito 1aspar odrigues$ 5 ele confessante foi denunciar este caso perante o vig!rio geral desta cidade, que então era Se-astião da .u+, o qual mandou fa+er autos, e estando depois os ditos autos em poder do escrivão >ntFnio 1omes, que ora " escrivão da cGmara do Bispo deste estado, ele confessante, a rogo e instGncia do dito 1aspar odrigues, negociou e aca-ou com o dito escrivão >ntFnio 1omes que queimasse as ditas culpas do dito 1aspar odrigues por de+ cru+ados que, por parte do dito 1aspar odrigues, deu ao dito escrivão um Pero de Aila Nova, de nação estrangeiro, que tem uma mão menos, morador em Sergipe desta capitania, ao qual o dito culpado tam-"m serviu$ 5 o dito escrivão rece-eu os ditos de+ cru+ados e queimou e rompeu os ditos autos das ditas culpas, e não se procedeu contra o dito 1aspar odrigues, nem se livrou delas$ 5 desta culpa de negociar e tratar que se queimassem e consumissem as ditas culpas, vem pedir miseric3rdia e perdão a esta mesa dentro neste tempo da graça$ 5 logo sendo mais perguntado, disse que não sa-e se o dito Pero de Aila Nova, que pagou os ditos de+ cru+ados ao dito escrivão, sa-ia a causa e ra+ão porque o dito culpado lhos dava, e que, segundo ouviu di+er, lhe parece que o dito 1aspar 67
67 6
Aig!rio geral era o ui+ do Bispado, ui+ da Aara 5clesi!stica$
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odrigues est! ora feito soldado na cidade de São 0ristovão de Sergipe desta capitania$ 5 disse mais, que na dita negociação de se queimarem as ditas culpas, interveio tam-"m Nuno Pereira de 0arvalhal, morador nesta cidade que tem fa+enda em 7assuapina$ 68
$# * Con&iss,o de Leonor Car/al(a0 7rist, /el(a0 no te3o da ra5a0 e3 2# de aosto de 1"91
:isse ser cristã velha, natural de >r+ila, filha de =rancisco 0arvalho e de *or .opes, ele era cl"rigo prior de >r+ila, vi8va, mulher que foi de .opo de e-elo, escrivão da alçada deste Brasil, ! defunto, de idade de sessenta anos pouco mais ou menos, moradora nesta cidade$ 5 acusando6se, disse que sendo ela moça de quin+e anos, em >r+ila , entrou em uma esnoga de udeus, na qual não havia cru+, nem imagem de :eus, nem de Santos, senão uma cantareira com um frontal de pano da 2ndia pintado, na qual cantareira estavam uns rolos , que di+iam serem de pergaminhos, enfronhados em uns sacos de pano de linho, e defronte estava dependurado um alampad!rio de muitas torcidas dYa+eite acesas, e estavam alguns udeus assentados num -anco falando alto, entoando entoada em @-e, -e, estando um moço com um livro nas costas servindo de estante$ 5 ela confessante entrou no dito tempo na dita esnoga uma ve+ somente em companhia de 0atarina >fonso, mulher de =ernão de *atos, do h!-ito de 0risto , moradora em .is-oa não sa-e onde, cristã velha, e de outras que lhe não lem-ram$ 5 entrando na dita esnoga sem fa+er mesura, nem reverência, disse estas palavras,:eus vos salve lei -em escrita e mal entendida, parecendo6lhe que di+ia uma -oa oração, por assim lhe ensinar que dissesse a dita 0atarina >fonso, e que da culpa que disto tem pede perdão nesta mesa neste tempo de graça$ 69
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7rata6se da futura capitania de Sergipe del ei, o futuro Sergipe, na "poca tam-"m chamado de Sergipe o Novo ou Sergipe de São 0ristovão, para diferenciar de Sergipe do 0onde terras do 0onde de .inharesQ$ *as, no s"culo DAI, os dois @Sergipes 0eregipe, 0ere+ipeQ fa+iam parte da 0apitania da Bahia$ Sergipe o Novo foi palco, neste primeiro s"culo, de dram!ticas lutas entre os portugueses e os franceses e índios$ > hist3rica cidade sergipana de São 0ristovão data desta "poca$ 69 6 5scrivão de ustiça do 1overno 1eral$ 70 6 0idade marroquina conquistada pelos portugueses em %;<% e a-andonada em %&&E, no reinado de :$Coão III$ / possível que a confitente se tenha enganado quanto 9 idade que tinha ao entrar na sinagoga, pois quando era de %& anos os portugueses ainda estavam em >r+ila e provavelmente não permitiam sinagogas$ 71 6 5snoga designava sinagoga e, nos clichês inquisitoriais, por ve+es aludia 9s cerimFnias udaicasM @fa+er esnoga$ 72 6 Provavelmente a 7or! 7orahQ, contendo os de+ mandamentos que :eus entregara a *ois"s no *onte Sinai$ 73 6 >lusivo 9 Ordem de 0risto, ordem militar portuguesa$ sava6se tam-"m como sinFnimo de padre secular$
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5 sendo perguntada mais, disse que sua intenção, quando entrou na dita esnoga, não foi mais que ver aquilo por curiosidade, e que o sentido que ela tomou das ditas palavras que disse foi entender que a lei era -em escrita por :eus e mal entendida pelos udeus$ 5 sendo perguntada se alguma pessoa lhe ensinou que era -oa a dita lei dos udeus ou lhe tratou nisso, ou lhe pareceu -em a ela as cerimFnias dos udeus, respondeu que não lhe falou nunca a ningu"m, e ela tomou grande a-orrecimento 9s ditas cerimFnias dos udeus e lhe pesou de as ter vistas $ 5 acusando6se mais, disse que sendo moça de tre+e ou do+e anos, em >r+ila, no tempo em que l! foram ter os udeus que deitaram fora do eino, uma noite, digo dia 9 tarde, em casa de seu pai, estando se fa+endo umas linguiças ou chouriços, ela, com 1uimar Aieira, ama da condessa do edondo que era de >r+ila, cristã velha ! vi8va, defunta, tomaram com as mãos daquela calda de chouriços ou linguiças e lançaram so-re um udeu que se agasalhava na mesma casa de seu pai e, lançando6lha di+iam @eu te -ati+o, mas não tinha intenção de aquilo ser -atismo mais que somente por suarem e afrontarem udeu, e que tam-"m da culpa pede perdão neste tempo da graça$ $1 * Con&iss,o de aria Fernandes 0 aliEs0 8iolante0 7iana0 no te3o da ra5a0 e3 2# de aosto de 1"91 74
:isse ser natural de São =iliçes sicQ dos 1allegos sicQ, filha de =rancisco 5scudeiro, português, cristão velho, e de sua mulher *aria Aiolante, cigana, da idade de quarenta anos pouco mais ou menos, cigana, vi8va, mulher que foi de =rancisco =ernandes, ferreiro, cigano, morador nesta cidade, que veio degredada do reino por furto de -urros para estas partes do Brasil$ 5 confessando, disse que haver! dois meses que, com agastamento, indo pelos matos caminho das fa+endas destes recFncavos, por se ver em tra-alhos de passar umas ri-eiras de !gua e se molhar disse que arrenegava de :eus, e esta -lasfêmia disse duas ve+es naquela mesma hora e tempo, indo presente com ela, que lhe isto ouviu, outra cigana por nome >ngelina, sua inimiga, com a qual est! ora em grandes 3dios$ 5 sendo mais perguntada, disse que nunca outra ve+ nesta cidade, nem fora dela, s3 ou não acompanhada, lhe aconteceu outra coisa semelhante, nem disse a dita -lasfêmia, nem outra tal mais do que na dita hora, no dito caminho, como dito tem, e disso pede perdão e miseric3rdia$ 5 assim mais, na mesma hora e tempo, disse tam-"m com agastamento, porque chovia muito, que :eus miava so-re ela e que a queria afogar, e disto tam-"m pediu perdão$ 74 6
Processada pelo visitador e degredada para fora da cidade$ 0omo retornou, descumprindo o degredo, teve a pena agravadaM açoitada pelas ruas da cidade e degredada com ameaças de piores castigos caso voltasse$ >N77, I., proc$%E<;<$
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5 foi perguntada se, quando disse as ditas palavras, teve intenção consideradamente de arrenegar de :eus, não crendo nele e apartando6se da sua crença, ou entendendo que :eus verdadeiramente mia como os outros homens, respondeu que não fe+ nenhuma consideração das so-reditas, mas s3 su-itamente, com agastamento, disse as ditas palavras, e que ela sempre creu e crê em :eus e sa-e que :eus não mia, que " coisa pertencente ao homem e não a :eus$ $2 * Con&iss,o de Do3inos de ;ai/a0 7rist,o /el(o0 na ra5a0 e3 2# de aosto de 1"91
:isse ser cristão velho, natural desta cidade, filho de Pero Paiva, cidadão desta cidade, e de sua mulher .eonor de 0haves, moradores no io Aermelho, termo desta cidade, de idade de vinte anos, estudante de % a nesta cidade, solteiro$ 5 confessando sua culpa dentro, neste tempo da graça, disse que, sendo ele de idade de nove ou de+ anos, nesta cidade, em casa de 0ristovão de Barros, ouviu di+er a =rancisco Nunes, criado do dito 0ristovão de Barros, que ora mostra ser de idade de vinte e dois anos, estando am-os s3s, vindo a falar no pecado da carne, que dormir um homem com mulher não era pecado$ 5 isto lhe disse o dito =rancisco Nunes, o qual " natural dos Ilh"us e ele o tem por cristão velho e " irmão de 1aspar =ernandes, capelão desta S"$ 5 por ele confessante cuidar que o dito =rancisco Nunes lhe disse era verdade, que dormir um homem com mulher não era pecado, assim o teve para si por espaço de alguns dias, e estando neste erro, isto mesmo disse a algumas pessoas, at" que o dito capelão 1aspar =ernandes emendou a ele confessante deste erro em que estava, e lhe declarou como fa+er o so-redito era pecado, e de então por diante entendeu ele ser o so-redito pecado, e nunca mais disse a ningu"m que o não era, como dantes tinha dito, e que desta culpa pede perdão$ 5 sendo mais perguntado, disse que o dito =rancisco Nunes, quando disse que dormir um homem com uma mulher não era pecado, não lhe declarou mais outra qualidade alguma de solteira, solteiro ou casada , mas simplesmente homem com mulher, e que não sa-e se o dito =rancisco Nunes est! ainda hoe na dita falsa opinião, nem tem dele por outra via ruim suspeita$ 75
$$ * Con&iss,o de G-io3ar dOli/eira0 7rist, /el(a0 na ra5a0 e3 21 e3 aosto de 1"91
:isse ser cristã velha, natural da cidade de .is-oa, filha de Isa-el Corge e de seu marido 0ristovão dYOliveira, meirinho das viagens das naus da 2ndia, defuntos, de idade de trinta e sete anos pouco mais ou menos, casada com =rancisco =ernandes, cristão velho, sapateiro, morador nesta cidade$ 75 6
> Igrea diferenciava a fornicação simples relaçJes se#uais entre pessoas solteirasQ da fornicação qualificada adult"rios, concu-inatos, relaçJes com freiras, sodomia, -estialidade, etcQ$ O monit3rio da visitação ! incluía como heresia o di+er que não havia pecado na fornicação$
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5 confessando, disse que haver! quatro anos pouco mais ou menos que a esta terra veio degredada uma mulher por nome >ntFnia =ernandes, cristã velha, dYalcunha a N3-rega, natural de 1uimarães, vi8va, mulher que foi de um =oão da N3-rega, homem que ia por dispenseiro nas armadas de .is-oa, mulher de idade de redor de cinquenta anos, a qual, haver! quin+e anos pouco mais ou menos que, ela confessante, morando nos 0o-ertos, em .is-oa, conheceu ser taverneira e morar unto do arco, de-ai#o das casas de .uis 0"sar, na 7enuaria, a qual veio degredada por alcovitar sua pr3pria filha por nome Coana da N3-rega$ 5 vindo assim, tomou ami+ade com ela confessante pelo conhecimento que tinham em .is-oa, e ela confessante e seu marido a recolheram e agasalharam, dando6 lhe em sua casa cama e comer por muitas ve+es, e correndo assim esta ami+ade, vendo a dita >ntFnia =ernandes que ela confessante era mal casada de seu marido, lhe veio a desco-rir que ela falava com os dia-os e lhe mandava fa+er o que queria, e eles lhe o-edeciam, e que uma ve+ lhes mandara matar um homem e eles o mataram, porque tam-"m fa+ia o que eles dela queriam, e que, em Santar"m, dera aos dia-os um escrito de sangue de um seu dedo, no qual se lhes entregava, e que eles lhe ensinavam muitas coisas de feitiçarias, para o que ela queria, pelo que, se ela confessante quisesse, lhe faria e ensinaria com feitiços com que fosse -em casada com seu marido, e ela confessante consentiu nisto$ 5ntão lhe ensinou que tomasse três avelãs, ou em lugar de avelãs, três pinhJes dos que nesta terra h! que serve de purgas, furados com um alfinete, tirado o miolo fora, então reche!6los de ca-elos de todo seu corpo, dela confessante, e unhas de seus p"s e mãos e rapaduras das solas dos seus p"s, e assim mais com uma unha do dedo pequeno do p" da mesma >ntFnia =ernandes, e que assim recheados os ditos pinhJes, os engulisse e que, depois de lançados por -ai#o, os desse$ O que tudo ela confessante assim fe+, e a dita >ntFnia =ernandes mandou lavar os ditos três pinhJes, depois de engulidos e lançados por ela, e os torou e os fe+ em p3s, os quais ela confessante -otou em uma tiela de caldo de galinha e os deu a -e-er a Coão de >guiar, casado e lavrador em IItaparica desta capitania, vindo6lhe 9 sua casa, e isto lhe deu para o amigar, que a não se apertasse muito a ela e a seu marido pela dívida do aluguel das suas casas em que ainda ora moram, pelo qual aluguel ele então apertava muito $ 5 outrossim, lhe deu tam-"m a dita >ntFnia =ernandes outros p3s não sa-e de quê, e outros p3s de osso de finado, os quais p3s ela confessante deu a -e-er em vinho ao dito seu marido =rancisco =ernandes para ser seu amigo e serem -em casados, e que todas estas coisas fe+, tendo6lhe dito a dita >ntFnia =ernandes, ensinado e declarado que eram dia-3licas e que os dia-os lhas ensinavam$ 76
76 6
O feitiço era, no caso, para sedu+ir o senhorio do aluguel amig!6loQ, fa+endo com que tolerasse a dívida$
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5 outrossim, lhe ensinou tam-"m que tinha aprendido dos dia-os que a semente do homem dada a -e-er fa+ia querer grande -em, sendo semente do pr3prio homem do qual se pretendia afeição, depois de terem auntamento carnal e cair do vaso da mulher, e que esta tal semente dada a -e-er ao mesmo que a lançou fa+ia lhe tomar grande afeição, e isto fe+ ela tam-"m por o-ra e a deu de -e-er em vinho ao dito seu marido$ 5 de todas estas culpas de fa+er as ditas feitiçarias, tendo esperanças que lhe aproveitariam, sendo dia-3licas como dito tem, pede perdão e miseric3rdia nesta mesa$ 5 sendo perguntada se, al"m de pelo dito da dita >ntFnia =ernandes, ela entender que os ditos feitiços eram com pacto do demFnio, fe+ ela tam-"m algum pacto com ele ou, quando os fa+ia, chamou pelos dia-os ou falou com eles, respondeu que quando fe+ os ditos feitiços ela e#pressamente não falou nem chamou pelos dia-os$ Perguntada que mais coisas lhe ensinou ou disse a dita >ntFnia =ernandes ou sa-e dela, respondeu que a dita >ntFnia =ernandes cometeu a ela confessante que aprendesse aquele ofício de feiticeira dia-3lica, que ela a ensinaria e lhe daria mais, quando se fosse para Portugal, um vidro que ela tinha em que estava uma coisa que falava e respondia quando queriam sa-er, e que em certos dias da semana havia de ter cuidado de pFr ce-ola e vinagre perto do dito vidro porque aquilo que nele estava era amigo deste comer, e ela confessante não consentiu em tal, nem tal quis sa-er nem entender$ 5 tam-"m lhe di+ia a dita >ntFnia =ernandes que coitada daquela pessoa a que os dia-os punham o p" ou a mão$ 5 tam-"m cometeu a ela confessante que tomasse desonesta conversação com um cl"rigo da S" desta cidade, e que ela lhe faria feitiços para isto, e que depois de serem amigos alcançaria do cl"rigo que lhe desse os 3leos do -atismo, porque os deseava muito para os dar aos dia-os e tam-"m para untar os -eiços, e com eles untados, no ato ven"reo, -eiar na -oca aos homens leigos, e na coroa aos cl"rigos e religiosos, porque com isto ficavam tais que não se podiam nunca mais apartar de sua conversação, e ela confessante não quis consentir em tal, nem tal fe+$ 5 assim tam-"m lhe ensinou que, se uma pessoa, no ato carnal desonesto, dissesse na -oca da outra as palavras da consagração que eram cinco, hoc est enim corpus meum, que a fa+iam endoidecer de amor e -em querer 9quela a que se di+iam por aquela pessoa que lhas di+ia, e que isto era certíssimo, por"m ela confessante não usou disto$ 5 assim lhe disse mais, que sa-ia umas palavras com as quais encantava qualquer pessoa, di+endo6lhas na frontera , as quais palavras eram, @fuão eu te encanto e reencanto com o lenho da vera cru+, e com os anos fil3sofos que são trinta e seis, e com o mouro encantador, que tu te não apartes de mim, e me digas quanto sou-eres, e 77
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Isto "M esperma, sêmen$ Isto "M rosto, face$
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me dês quanto tiveres, e me ames mais que todas as mulheres, e ela confessante disse estas palavras muitas ve+es pela manhã e 9s noites defronte de seu marido, e disto tam-"m pede perdão$ 5 tam-"m lhe disse a dita >ntFnia =ernandes que fora uma noite a Aila Aelha, termo desta cidade, cortar uma mão a um negro que l! estava enforcado$ 5 lhe disse mais, que fi+era arri-ar uma n!u da 2ndia, e que 0lara dYOliveira, em Santar"m, era sua amiga e companheira, e mestra que lhe ensinara todas estas feitiçarias, e que o dia-o vinha falar a ela >ntFnia =ernandes em figura de homem, acompanhado de muitos cavaleiros, e que se ela confessante quisesse ser feiticeira como ela, que faria com os demFnios que lhe falassem em figura de homem, sempre por não lhe haver medo$ 5 que os dia-os lhe fa+iam muitas promessas se aca-asse com ela confessante que quisesse ser sua discípula, e ela confessante nunca tal qui+ consentir nem aceitar, mas antes, falando6lhe nestas coisas, se -en+ia e nomeava o nome de Cesus$ 5 a dita >ntFnia =ernandes lhe defendia que se não -en+esse nem nomeasse Cesus, e lhe di+ia mais, que um dia-o chamado >ntonim era seu particular servidor e fa+ia tudo o que lhe ela mandava, e que .8cifer lho dera por seu guarda$ 5 lhe disse mais, que sua filha Coana N3-rega, solteira, que estava no reino, moradora da rua de 0ataquefar!s sicQ, tam-"m tinha o seu ofício de feiticeira dia-3lica e tinha um familiar em um anel que tra+ia no dedo, ao qual familiar chamava Baul , e que a dita sua filha dormia com os estrangeiros por detr!s, consumando o nefando pecado de somítigos porque lhe pagavam -em$ 5 sendo mais perguntada, disse que a dita >ntFnia =ernandes se em-arcou desta terra para o reino, e que não sa-e mais novas dela, onde est!, nem se chegou ao reino$ 5 perguntada se achou que os ditos feitiços ensinados pelos dia-os que ela fe+, que lhe aproveitaram, respondeu que achou, por e#periência, que as ditas coisas fi+eram o-ra e aproveitaram para sua intenção, porque o dito Coão dY>guiar a que ela deu os ditos p3s, dali por diante não molestou pelo alugar das casas, antes lhe largou palavra que, quando quisesse o pagasse, e sentiu nele de então por diante, sentiu nele que lhe tinha amor e afeição, e a namorava, e tam-"m no dito seu marido, a que deu os outros p3s, achou melhoria$ 5 foi logo admoestada pelo senhor visitador que não tivesse crença nas ditas feitiçarias e coisas porque tudo são a-usJes supersticiosas com que o dia-o engana a gente fraca$ 79
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:ia-retes dom"sticos enviados pelo :ia-o para servir 9s feiticeiras, segundo larga tradição medieval$ 80 6 Prov!vel corruptela de Baal, deus6sol dos cananitas que , no >ntigo 7estamento, aparece como o mais terrível dos deuses pagãos$ =oi depois @demoni+ado pela Igrea$ 81 6 Sodomita e somitigo eram sinFnimos, sendo a segunda palavra mais vulgari+ada$ Sua etimologia " duvidosa, podendo derivar de semita e, neste caso, indicar associação popular entre judeus cristãos novos udai+antesQ e sodomitas, uns e outros estigmati+ados e queimados em autos de f"$
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5 sendo mais perguntada, disse que lhe parece que podem sa-er algumas coisas da dita >ntFnia =ernandes as pessoas seguintes, Coão i-eiro, de Paripe, e *anuel odrigues i-eiro, mercador, e *aria Pinheira, mulher de Simão Nunes :utra, e 1onçalo :ias, cFnego, e =rancisca Pinheira, padeira, todos moradores nesta cidade com os quais ela tinha ami+ade e conversação$ > seu rogo, por não sa-er, assinou o not!rio$ $4 * Con&iss,o de Catarina orena 0 na ra5a0 e3 21 de aosto de 1"91 82
:isse ser cristã velha, natural de uma aldeia duas l"guas de 7oledo, que se di+ Nave6del6*oras sicQ, e criada em 7alavera de la eina sicQ, arce-ispado de 7oledo$ 5 confessando, disse que haver! on+e anos pouco mais ou menos, sendo ela então de idade de de+oito anos, casou na cidade de *!laga, -ispado de 1ranada, com =rancisco :ur!n, castelhano, natural de Beira de Pra+ença sicQ, em 0astela, estalaadeiro de dar de comer e camas aos passageiros, que então di+ia ser de idade de trinta anos, com o qual casou por palavras de presente em face da igrea como a Santa *adre Igrea manda, e foram rece-idos dentro da igrea de São Coão, e os rece-eu o padre da mesma igrea cuo nome lhe não lem-ra, em um dia pela manhã, v"spera da v"spera de Santo >ndr", e foi sua madrinha dela, Isa-el =ernandes, tam-"m estalaadeira, e o marido dela, Isa-el =ernandes, foi padrinho do dito seu marido =rancisco :ur!n, e foi mais presente ao dito rece-imento muita gente$ 5 com o dito seu marido ela esteve fa+endo vida marital de umas portas adentro a uma cama e mesa como casados que eram, por espaço de seis meses pouco mais ou menos, usando o dito o ofício de estalaadeiro$ 5 no fim dos ditos seis meses, por ela ter grande a-orrecimento ao dito seu marido, por ser ele costumado a em-e-edar6se e ser homem de ruins manhas e lhe dar mau trato, lhe fugiu de casa e o dei#ou na dita cidade de *!laga e se veio fugida com um homem castelhano chamado =rancisco de Burgos, que a trou#e consigo a este Brasil, onde ele ora est! nesta capitania, e vieram na armada de :om :iogo :arça, que vinha com quatro n!us em socorro da armada de :iogo =lores, que haver! isto de+ anos pouco mais ou menos$ 5 depois de estar neste Brasil algum tempo na conversação do dito =rancisco de Burgos, se apartou dele e o dei#ou, e ela se foi para Pernam-uco, aonde, haver! ora seis anos pouco mais ou menos, vendo6se ela muito po-re e desremediada de se casar, fe+ uma carta falsa fingindo que lhe vinha de *!laga em que se di+ia como o dito seu marido =rancisco :ur!n era morto, a qual deu a ler a muitas pessoas$ 5 assim, fingindo ser vi8va, sem ela ter recado nenhum de o dito seu marido ser morto, e entendendo que podia estar vivo, ela se casou segunda ve+ com 82 6
Processada pelo visitador, rece-eu pena leve por se ter apartado do segundo marido com dor na consciênciaM a-uração na mesa e penitências espirituais$ >N77, I., proc$%?<
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>ntFnio Corge, português, mestre de aç8car na dita vila de Pernam-uco, e dando fiança a mandarem tra+er os ditos pregJes corridos de *!laga, donde ela di+ia que fora casada e enviuvara$ 5 foram rece-idos na igrea matri+ de Pernam-uco pelo cura dela em uma segunda6feira pela manhã, primeira oitava do 5spírito Santo, em presença de muito povo, e foram padrinhos Cos" i-eiro, natural da Ilha da *adeira, ! defunto, e sua mulher, Bl!sia *artins, castelhana, e se rece-eu com o dito >ntFnio Corge por palavras de presente, di+endo que rece-ia a ele >ntFnio Corge por seu marido como manda a Santa *adre Igrea, e outrossim, di+endo o dito >ntFnio Corge que rece-ia a ela confessante por sua mulher como manda a Santa *adre Igrea, como " not3rio e sa-ido na dita vila de Pernam-uco$ 5 depois de assim serem rece-idos, estiveram de umas portas adentro como marido e mulher quin+e meses pouco mais ou menos, no fim do qual tempo, ela, movida de sua consciência, se foi confessar a um padre da 0ompanhia, o qual secretamente negociou com o vig!rio da vara de Pernam-uco, :iogo do 0outo, com que declaravam ao dito >ntFnio Corge que se apartasse dela confessante, porque ela não era sua mulher legítima$ 5 ela confessante dei#ou ao dito >ntFnio Corge em Pernam-uco, onde ora lhe parece que est!, e ela se veio para esta Bahia, haver! cinco anos pouco mais ou menos, ou quatro anos e meio, e que desta culpa de se casar segunda ve+ sendo casada, e sem ter novas do seu primeiro legítimo marido ser morto, mas antes, tendo6o por vivo, pede miseric3rdia e perdão neste tempo de graça, que errou como mulher pecadora$ 5 foi6lhe mandado ter segredo, e por não sa-er assinar, eu, not!rio, assinei por ela, a seu rogo, e declarou ser ora de idade de trinta anos pouco mais ou menos, e ser filha de =rancisco *oreno e de sua mulher Coana de Sarria, lavradores$ $" * Con&iss,o de L-isa Bar=osa0 7rist, /el(a0 na ra5a0 e3 2$ de aosto de 1"91
:isse ser cristã velha, natural desta Bahia, filha de 4lvaro 1onçalves -aca e de sua mulher *aria Bar-osa, casada com Belchior :ias Porcalho, de idade de trinta e sete anos pouco mais ou menos, moradora nesta cidade$ 5 confessando, disse que, sendo ela moça de do+e anos pouco mais ou menos, se alevantou nesta capitania, entre os gentios e índios deste Brasil cristãos, se alevantou uma a-usão chamada entre eles a santidade, como muitas ve+es depois disso se alevantou tam-"m nesta capitania$
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> qual era, que di+iam os ditos -rasis, assim cristãos como gentios, que aquela sua santidade era um :eus que eles tinham que lhes di+ia que não tra-alhassem, porque os mantimentos por si pr3prios haviam de nascer e que quem não cresse naquela santidade se havia de converter em paus e em pedras, e que a gente -ranca se havia de converter em caça para eles comerem, e que aquela sua santidade era a santa e -oa, e que a lei dos cristãos não prestava, e assim di+iam e tinham outros muitos desprop3sitos$ 5 nesse tempo ela confessante, por sua mãe ser morta, estava a doutrinar em casa de :ona *"cia Pereira, mulher de >ntFnio da 0osta, e assim os negros cristãos e gentios do gentio deste Brasil da dita casa de :ona *"cia, como da casa do pai dela confessantte e doutras partes, que falavam com ela confessante, se contavam e di+iam as ditas coisas da dita a-usão e outras muitas que lhe não lem-ram$ 5 a indu+iram e provocaram que cresse nela, pelo que ela, como moça e de pouca e#periência, por espaço de um ou dois anos meses pouco mais ou menos, se enganou, tendo dito a dita erronia e crendo na dita santidade, parecendo6lhe ser coisa certa e verdadeira, e praticando ela com os seguidores da dita erronia, consentia com eles e lhes manifestava crer nela por -oa$ 5 depois de os ditos seguidores da dita a-usão serem e#tinguidos e castigados aquela ve+, entendeu ela ser tudo aquilo falso e errFneo, e se confessou aos padres da 0ompanhia de Cesus, que a a-solveram, e que ora pede perdão nesta mesa e miseric3rdia$ 5 perguntada, se quando ela creu nas ditas coisas da dita a-usão, se dei#ou de crer na f" de 0risto, e que a lei dos cristãos, que era -oa, respondeu que sempre teve por -oa lei a lei dos cristãos e nunca dei#ou a f" de 0risto, mas que, untamente, tinha para si aqueloutra parvoíce por ser moça$ 5 perguntada mais, disse que todos os da dita a-usão com quem ela tratava e falava são ! mortos, e que nenhum sa-e vivo$ 5 logo pelo senhor visitador lhe foi encomendado que se confesse muitas ve+es e ouça as pregaçJes$ $% * Con&iss,o de Ant@nia de Barros 0 7rist, /el(a0 na ra5a0 e3 2$ de aosto de 1"91 83
:isse sr cristã velha, natural de Benavente, filha de :iogo *artins Perdigão, dos da governança da dita vila, e de sua mulher *aria de Barros, defuntos, de idade de setenta anos pouco mais ou menos, moradora nesta Bahia, mulher que foi de 4lvaro 0haveiro, pescador e -arqueiro de Benavente para .is-oa$ 5 confessando, disse que haver! trinta e dois anos pouco mais ou menos que ela veio do eino degredada pelas ustiças seculares, por cinco anos, para este Brasil, por adult"rio de que a acusou o dito seu marido$ 83 6
Processada pelo visitador, mas desagravada por ter confessado na graçaM a-uração na mesa e penitências espirituais$ >N77, I., proc$%?<'$
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5 l!, em Portugal, se amigou ela com um homem cristão velho chamado enrique Bar-as, filho de Aasco Bar-as, da gente principal de Aila =ranca, e com ele se veio para este Brasil e aportaram na capitania de Porto Seguro$ 5 logo na dita capitania, poucos dias depois de estarem nela, sa-endo ela muito -em, e o dito enrique Bar-as, de como o dito marido 4lvaro 0haveiro, seu legítimo marido, ficava vivo em Portugal, se casaram am-os, ela confessante com o dito enrique Bar-as$ 5 o dito enrique Bar-as negociou testemunhas falsas, que uraram que ele enrique Bar-as era solteiro e que ela confessante era vi8va, e que viram enterrar e morrer, em Benavente, ao dito seu marido 4lvaro 0haveiro, sendo isto falsidade e mentira, porque, depois de ela confessante estar casada com o dito enrique Bar-as 9 porta da igrea com licença do Ordin!rio, por ra+ão do dito instrumento de testemunhas falsas, depois disso, daí a dois anos, ainda estava vivo, em Benevente, o dito seu marido 4lvaro 0haveiro, e assim vieram depois novas e recados certos$ 5 que, depois de assim casar em face da igrea com o dito segundo marido enrique Bar-as, sendo ela e ele sa-edores que o seu legítimo marido estava vivo, viveram am-os como casados em Porto Seguro mais de quin+e anos$ 5, por ele vir a dar açoites e pancadas e muito m! vida a ela confessante, ela confessante lhe fugiu de casa e se meteu na igrea da vila e começou a declarar e manifestar como o dito enrique Bar-as não era seu legítimo marido, porquanto quando com ele se casara no dito Porto Seguro era vivo ainda, e depois vivera dois anos, o seu marido legítimo 4lvaro 0haveiro$ 5 assim se afastou dele, o qual ora est! na capitania do 5spírito Santo, costa deste Brasil, ainda solteiro, e desta culpa pede perdão e miseric3rdia nesta mesa, dentro no tempo da graça$ 5 foi perguntada quais foram as testemunhas, respondeu que ! são mortas$ 5 pereguntada onde foi ela rece-ida com o primeiro marido, respondeu que ela com o dito seu primeiro marido, 4lvaro 0haveiro, foram rece-idos pelo prior de Benavente, cuo nome lhe não lem-ra, na igrea matri+ de Nossa Senhora da 1raça, di+endo ela e ele as palavras costumadas da igrea, e foram madrinhas dela :ona 7area da 1ama, irmã do conde de Aidigueira, cua criada ela confessante foi, e *aria 7ei#eira, tam-"m fidalga, ! ora defuntas, e padrinhos dele foram .uis *endes e *anuel de Aasconcelos, filhos da dita dona 7area, que depois foram para a 2ndia, e assim foram presentes no dito rece-imento outras muitas pessoas que ora lhe não lem-ram$ 5 perguntada quem a rece-eu com enrique Bar-as em Porto Seguro, disse que ele deu as ditas testemunhas falsas, como tem declarado, e com isso se lhes deu licença para se rece-er, e os rece-eu o vig!rio :iogo dYOliveira na igrea de Santo >maro, na forma que a Santa *adre Igrea manda, di+endo ela e ele as palavras do matrimFnio como a igrea costuma, e foi madrinha dela *aria Bar-osa no dito rece-imento do Porto Seguro, e padrinho dele, o dito seu marido, 1onçalo Pires, marido
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da dita *aria Bar-osa, e outras muitas pessoas foram presentes no dito rece-imento que ora lhe não lem-ram$ 5 por não di+er mais, foi6lhe mandado ter segredo pelo uramento que rece-eu, e que torne a esta mesa quando for chamada$ Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio$ $ * Con&iss,o de an-el Faleiro0 7rist,o /el(o0 na ra5a0 e3 24 de aosto de 1"91
:isse ser cristão velho, natural do Barreiro, filho de *anuel =aleiro, homem do mar, e de sua mulher Beatri+ odrigues, defuntos, de idade de cinquenta anos pouco mais ou menos, casado com Coana 1onçalves, cristã velha, moradora nesta cidade$ 5 confessando, disse que haver! vinte anos pouco mais ou menos, estando ele na praia desta cidade, na fonte do Pereira, tra-alhando em um -arco dos padres da 0ompanhia de Cesus, o o-rigaram as ustiças da terra a ir tra-alhar nas o-ras del rei, e por essa causa, agastando6se ele, e tomando c3lera, disse que tanto lhe fariam que diria que :eus não era :eus, das quais palavras não lhe lem-ra se algu"m o repreendeu, por"m lem-ra6lhe que estava presente o padre da 0ompanhia Tuirício 0a#a, e assim o porteiro do conselho, Pero Aa+, que o foi apenar $ 0onfessando mais, disse que haver! cinco anos pouco mais ou menos que, estando ele em sua casa, com c3lera e pai#ão de não ter que dar de comer a seus filhos que lhe pediam de comer, disse que se dava aos dia-os, e não lhe lem-ra que estivesse presente outrem que o repreendesse$ 5 das ditas culpas disse que est! muito arrependido e que ! confessou delas a seus confessores e delas pede ora miseric3rdia e perdão nesta mesa$ 5 foi logo admoestado pelo senhor visitador com muita caridade, que ele tenha muito tento e resguardo em suas palavras, que seam sempre cat3licas e cristãs, e não haa c3lera, nem pai#ão que isso lhe estorve, e que v! se confessar$ 84
$! * Con&iss,o de Basti,o dA-iar0 na ra5a0 e3 2% de aosto de 1"91
:isse ser cristão velho, natural desta Bahia, de idade de de+essete anos ou de+esseis anos, filho de Pero dY>guiar dY>ltero e de sua mulher 0ust3dia de =aria, solteiro, morador em casa do dito seu pai e mãe nesta cidade$ 5 confessando, disse que haver! alguns seis anos que, estando em casa do dito seu pai e mãe, em *atoim, sendo ele de idade de alguns de+ ou on+e anos, dormia com seu irmão maior que ele, e mais velho que ele um ano pouco mais ou menos, chamado >ntFnio dY>guiar, morador mesmo ora com o dito seu pai e mãe, estando 84
6 O Porteiro, no caso, " o funcion!rio da 0Gmara ou 0onselho *unicipal encarregado, principalmente, de apregoar as deli-eraçJes da instituição$ Neste conte#to, foi o Porteiro @apenar, isto ", aplicar a pena ao r"u$
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am-os s3s em uma cama, e uma ou duas ve+es lhe aconteceu que, alternadamente, um ao outro se cometeram com seus mem-ros viris desonestos por seus vasos traseiros, começando e querendo penetrar, por"m não penetraram, e ele confessante não tinha idade para ter polução, e de seu irmão não lhe lem-ra se a teve, e estes acessos nefandos e conatos de querer principiar e penetrar um ao outro, com o mem-ro viril, o vaso traseiro de cada um deles, lhe aconteceu como dito tem duas ve+es pouco mais ou menos$ 0onfessou mais, que no mesmo tempo pouco mais ou menos, um mameluco que em sua casa estava chamado *arcos , o qual ora não sa-e onde est!, maior ainda que o dito seu irmão, e uma ou duas ve+es o dito *arcos, ou três ve+es, o dito *arcos teve acessos nefandos a ele confessante com seu mem-ro viril desonesto no vaso traseiro dele confessante, tendo nele conatos para penetrar, sem penetrar mais que uma s3 ve+, que começou !, com efeito, a penetrar, e por ele confessante o não consentir , não procedeu 9 penetração$ 5 ele confessante, tam-"m outras três ve+es pouco mais ou menos, cometeu com seu mem-ro desonesto ao dito *arcos no seu vaso traseiro, tendo nele os ditos acessos e conatos nefandos e torpes, e de todas as ve+es nunca ele confessante teve polução de semente, e ainda então não tinha idade para isso, e posto que o dito *arcos seria então de idade de alguns quin+e anos pouco mais ou menos, não se lem-ra ele ora, nem se afirma se teve o dito *arcos polução de semente alguma das ditas ve+es$ 5 perguntado ele confessante pelo senhor visitador, disse que lhe parece que, quando ele com o dito *arcos estavam nos ditos auntamentos torpes, que o dito seu irmão >ntFnio dY>guiar, que na dita cama estava, os sentia$ 5 disse mais, que tam-"m ele confessante, estando na cama com os ditos seu irmão e *arcos, sentiu uma ve+ aos ditos seu irmão e *arcos estarem fa+endo o dito auntamento torpe e nefando um por detr!s com o outro, por"m ele confessante não sa-e se penetravam eles um ao outro ou não$ 5 que tam-"m outra ve+, estando ele em a mesma sala onde estava a sua cama, sentiu -olir o c!tle da cama onde estava o dito seu irmão, de maneira que lhe pareceu e entendeu que o dito *arcos que na dita cama costumava dormir, estaria na dita cama com o dito seu irmão tendo o dito auntamento nefando$ 85
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@>cessos e conatos nefandos era e#pressão muito corriqueira no voca-ul!rio inquisitorial para referir tentativas de penetração ou ogos se#uais conatos, contatosQhomoer3ticos$ 86 6 0onforme vimos na Introdução, grafa6se mamaluco$ / palavra de origem !ra-e, mamluL , que significava, escravo, criado ou paem$ 87 6 0hamava6se *arcos 7avares e foi duramente sentenciado pelo visitadorM saiu no auto p8-lico da S", descalço, des-arretado, cingido com uma corda e vela acesa na mão$ No dia seguinte foi açoitado pelas ruas da cidade e degredado por de+ anos para Sergipe de São 0ristovão$ 0omo atenuante para suas culpas e pena, consta o fato de ser menor de idade quando delinquiu e @ser mameluco$ >N77, I., proc$%%EE$ 88 6 / o mesmo que catre, leito$
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0onfessou mais, que depois disto, sendo de quin+e anos de idade, foi dormir algumas ve+es na casa dele confessante, 9 sua cama, >ntFnio .opes, -acharel em artes, natural do io de Caneiro, que ora nesta cidade se quer ordenar de cl"rigo, e duas ou três ve+es ele confessante teve auntamento nefando com o dito >ntFnio .opes, metendo ele confessante seu mem-ro desonesto pelo vaso traseiro do dito >ntFnio .opes, penetrando6o, ainda que não perfeitamente, e tendo no dito seu vaso traseiro polução de semente por detr!s como se fora homem com mulher por diante, e o dito >ntFnio .opes teve com ele confessante outras tantas ve+es o dito auntamento nefando da maneira so-redita, penetrando com seu mem-ro desonesto o vaso traseiro dele confessante, e tendo nele polução de semente$ 5 de todas estas culpas disse que est! muito arrependido e que pede delas perdão e miseric3rdia, e que ! est! apartado destas desonestidades$ 5 foi logo admoestado pelo senhor visitador, com muita caridade, que ele se afaste de tais torpe+as nefandas e de conversação das ditas pessoas, e das mais de que lhe poder! vir dano 9 sua alma e consciência, e que se confesse muitas ve+es, rece-a o Santíssimo Sacramento de conselho de seus confessores, e que se v! ora confessar ao 0ol"gio da 0ompanhia de Cesus e traga escrito do confessor a esta mesa, e cumpra a penitência que lhe o confessor der, e do costume disse nada mais que " irmão do dito >ntFnio dY>guiar$
$9 * Con&iss,o de Ni7ola- L-is0 &ran7Hs0 na ra5a0 e3 2 de aosto de 1"91
:isse ser francês de nação, natural de :eLpo , filho de o-erto 0luçe e de sua mulher, franceses cat3licos, de idade de quarenta anos pouco mais ou menos, que h! vinte e dois anos que est! neste Brasil, morador ora em Sergipe, casado com .uisa =ernandes, mamaluca$ 5 confessando, disse que haver! vinte e quatro anos pouco mais ou menos que, indo ele confessante em uma nau de seu pai de Bord"us para a sua terra, em que não havia portugueses senão todos franceses, foram tomados no mar pelos franceses luteranos, os quais costumavam fa+er suas salvas pela manhã e 9 tarde lutaranas na nau, e espaço do mês e meio que com eles andou, constrangido e com medo deles, ele confessante se aoelhava e des-arretava e estava com eles ditos luteranos quando eles fa+iam as ditas salvas luteranas, por"m nunca ele confessante as aprovou em seu 89
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0apistrano sugere tratar6se de :ieppe$ :es-arretarM tirar o -arrete da ca-eça$
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coração, nem lhes pareceu -em, mas com medo dos ditos luteranos se punha com eles no tempo que eles as fa+iam$ 5 ele " -om cristão e sempre o foi em seu coração, e destas culpas e#teriores disse que pedia perdão e miseric3rdia$ 5 foi logo admoestado pelo senhor visitador que ele lhe não aconteça mais cair em semelhantes culpas e que faça coisas e#emplares de -om cristão, e lhe encarregou que se confesse muitas ve+es e tome o Santíssimo Sacramento de conselho de seus confessores, e que se v! logo confessar, e que a penitência que seu confessor lhe der por estas culpas, esta penitência cumpra$
Fim dos trinta dias da graa !on!edida " !idade do Sa#$ador e a %ma #&g%a ao redor de#a' (esfi)a*o do +dito da ,raa e do -#$ar. de /erd*o das faendas' 4# * Con&iss,o de aria Lo-ren5o0 7rist, /el(a0 e3 2! de aosto de 1"91
:isse ser cristã velha, natural do termo de Aiseu, filha de >ntFnio Pires, caldeireiro , e de sua mulher *aria =rancisca, de idade de quarenta anos, casada com >ntFnio 1onçalves, caldeireiro, morador nesta cidade$ 5 confessando, disse que haver! quatro anos pouco mais ou menos, estando ela confessante em uma roça meia l"gua desta cidade, acolhida por causa dos ingleses que entraram na Bahia deste porto, foi ter com ela confessante 9 dita roça, digo, estando ela confessante na dita roça com =elipa de Sou+a, mulher de =rancisco Pires, pedreiro, cua " a dita roça, a dita =elipa de Sou+a se fechou em uma cGmara com ela confessante um dia, depois do antar, pela sesta, e lhe começou de falar muitos reque-ros e amores e palavras lascivas, melhor ainda do que se fora um rufião 9 sua -arregã , e lhe deu muitos a-raços e -eios e, enfim, a lançou so-re sua cama, e estando ela confessante de costas, a dita =elipa de Sou+a se deitou so-re ela de -ruços com as fraldas delas am-as arregaçadas, e assim, com seus vasos dianteiros auntados, se estiveram am-as deleitando at" que a dita =elipa de Sou+a, que de cima estava, cumpriu, e assim fi+eram uma com a outra como se fora homem com mulher, por"m não houve nenhum instrumento e#terior penetrante entre elas mais que somente seus vasos naturais dianteiros$ 5 depois disto, na noite logo seguinte, quisera a dita =elipa de Sou+a deitar6se na cama dela confessante para dormir com ela e ela confessante não quis 91
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>rtesão que fa+ caldeiras, tachos e vasos de co-re que vão ao fogo, como os dos engenhos de aç8car$ 92 6 Nas OrdenaçJes =ilipinas, -arregã " sinFnimo de concu-ina, mulher que coa-ita com um homem sem ser com ele casado$ Popularmente assimilava6se o termo, por ve+es, a meretri+es$ 93 6 =ralda era a parte da roupa de @cima para -ai#o$ @> fralda da camisa da mulher, di+6nos o antigo dicionarista, de ordin!rio não " inteiriça, mas de outra peça de panoR em algumas partes lhe chamam ceroulas$
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consentir isso, mas disse ao =rancisco Pires, que " um homem ! velho, que não dei#asse sua mulher =elipa de Sou+a vir6se 9 cama dela confessante$ 5ntão, a dita =elipa de Sou+a, de noite, se fingiu de doente da madre e fe+ levantar da cama ao dito velho seu marido para que ela confessante se fosse deitar com ela, fingindo que para a curar, por"m ela confessante não o quis fa+er$ 5 depois disto, daí a cinco ou seis dias, estando ela confessante ! nesta cidade em sua casa, veio a ela ter a dita =elipa de Sou+a um dia, e depois de aca-arem de antar, se tornaram a fechar na cGmara dela confessante e a dita =elipa de Sou+a a tornou a requestar de amores, apalpando6a e a-raçando6a e -eiando6a e, enfim, so-re a sua cama se lançou de costas a dita =elipa de Sou+a e ela confessante se lançou em cima dela de -ruços e, alevantadas as fraldas, am-as auntaram seus vasos dianteiros, deleitando6se uma com outra como se fora homem com mulher, at" que a dita =elipa de Sou+a cumpriu$ 5 que destas culpas pede perdão e miseric3rdia, di+endo que não veio no tempo da graça confess!6las porque não lhe lem-raramn senão ainda agora , nesta hora em que a dita =elipa de Sou+a chegou 9 sua casa perguntar6lhe se tinha ela vindo di+er isto a esta mesa, e despedindo6a ela confessante com di+er que não, tomou logo o manto e se vem aqui fa+er esta confissão$ 5 assim disse mais, que a dita =elipa de Sou+a tornou depois 9 sua casa e pretendeu dormir uma noite na sua cama, mas ela confessante o não consentiu$ 5 disse mais, que a dita =elipa de Sou+a se lhe ga-ou que tinha a desonesta e nefanda ami+ade com Paula de Siqueira, mulher do contador e com Paula >ntunes, mulher de um pedreiro, e com *aria Pinheira, mulher de Simão Nunes :utra, e que, em uma sesta, se fechara com Paula de Siqueira e que Paula de Siqueira lhe dera um anel de ouro, e que assim todas lhe fa+iam muitos mimos, moteando a ela confessante de esquiva e seca$ 5 depois de tudo isto lhe acontecer, ouviu ela confessante di+er a algumas pessoas, não lhe lem-ra quais, que a dita =elipa de Sou+a dava mil r"is a uma moça casada com um ferreiro alcorcovado, de fronte de São Bento, que dormissem am-as, e que mais lhe não lem-ra$ 5 disse que, algumas ve+es, peleando ela confessante com seu marido, com a c3lera e agastamento lhe chamou somitigo, di+endo que ele a dormia por detr!s, por"m que isso " falsidade e o dito seu marido não " tal, nem tal lhe fe+ nunca, e que pode ser que algumas pessoas lhe ouviram isto que ela disse com f8ria$ 5 por di+er que não lhe lem-ra mais que confessar, o senhor visitador a repreendeu e admoestou com palavras de muita caridade que se afaste de semelhantes culpas e das ocasiJes delas e das pessoas de cuas conversaçJes lhe pode vir dano 9 sua alma, e que viva -em com seu marido e sea amiga de :eus e muito devota da Airgem 94
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94 6 5star doente da madre 95 6 Para que se tenha uma
significa, no conte#to, sentir c3licas menstruais$ id"ia da d!diva oferecida por =elipa de Sou+a, mil r"is equivalia 9 cerca de %U; de moeda de ouroo preço de uma galinha, em %&'E, era em torno de E r"isQ
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Sagrada, e se confesse muitas ve+es e tome o Senhor de conselho de seus confessores, e que sai-a certo que, se outra ve+ cair em semelhante culpa, h! de ser castigada mui rigorosamente como este pecado de sodomia e contra natura merece$ 5 lhe mandou que se v! logo confessar ao 0ol"gio Cesus ou ao mosteiro de São Bento ao padre a-ade, e que se cumpra a penitência que ele lhe der, e traga a esta mesa escrito do confessor$ 5 assim lhe mandou mais, que cumpra a penitência espiritual seguinteM que eue dois dias e que re+e nove ve+es o ros!rio de Nossa Senhora, e ela assim prometeu fa+er$ Por não sa-er escrever, assinou o not!rio a seu rogo$ 41 * Con&iss,o de Ant@nia dOli/eira 0 7rist, no/a0 e3 " de o-t-=ro de 1"91 96
:isse ser cristã nova de todos os costados, filha de 1aspar :ias da Aidigueira, cristão novo, defunto, e de sua mulher >na odrigues, cristã nova, casada com Pero =ernandes, tam-"m cristão novo, natural de Porto Seguro, costa deste Brasil, de idade de trinta anos pouco mais ou menos, que ora veio com o dito seu marido do dito Porto Seguro para esta cidade, e ora estão nela moradores em casa de sua irmã, dela, 0atarina 1omes, mulher de Salvador da *aia$ 5 confessando6se, disse que haver! de+essete anos que " casada com o dito seu marido, e depois de estar com ele alguns dois ou três anos pouco mais ou menos, ele se foi para Portugal$ 5 nessa conunção, depois de ele ido, foi ter a Porto Seguro, onde ela era moradora, 4lvaro Pacheco, solteiro, cristão novo, seu primo com irmão, filho de *aria .opes, irmã de sua mãe, morador nesta cidade, e vendo que ela confessante euava 9s quartas e se#tas6feiras e s!-ados do carnal, os quais dias ela euava encomendando6se a :eus Nosso Senhor e 9 Airgem Nossa Senhora, e aos Santos do paraíso, encomendando6lhes tam-"m ao dito seu marido ausente, e re+ando6lhes pelas contas das oraçJes da Santa *adre Igrea, o dito seu primo lhe disse estas palavras, @a prima quão pouco sa-e que se não h! de salvar por aíR para se salvar, venha c! prima, quero a ensinar como se salvaram nossos av3sM h! de euar 9s segundas e quintas6feiras sem comer, nem -e-er, nem dormir, nem re+ar at" noite, at" sair estrela, então, depois de sair a estrela, h! de cear uma galinha se a tiver -em gorda, assada ou co+ida, e ceiar! 9 sua vontade, di+endo6lhe mais, que este era o verdadeiro eum, e não comer e fartar6se ao meio6dia, e que este eum fa+iam seus antepassados e por ele se salvavam$ 5 que tam-"m as tias dela confessante eram mulheres que se confessavam e comungavam, eram honradas, e elas e seus maridos fa+iam este eum, e por ele se haviam de salvar, e que este era o verdadeiro eum e aceito de :eus, di+endo6lhe mais, 96 6
=oi processada pelo visitador por atos de udaísmo devido a não ter confessado na graça mas, considerando ser nova quando delinquiu, rece-eu pena -randaM a-uração de leve suspeita na f", feita na mesa, admoestação e penitências espirituais$ >N77, I$.$ proc$ n$ %&&)($
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que fosse ela confessante ter com sua tia, Aiolante odrigues, ! ora defunta, irmã de sua av3 Branca odrigues, tam-"m defunta, e que ela a ensinaria$ 5 que depois de euar, fosse ela 9 dita sua tia que lançasse a -enção, di+endo6lhe tam-"m que, se a dita sua av3 Branca odrigues fora viva, ela lhe ensinava a ela como se havia de salvar, porque fora muito santa mulher e morrera uma morte santa, di+endo6lhe mais o dito seu primo, que guardasse os s!-ados, porque os s!-ados eram os verdadeiros domingos, e neles se haviam de vestir as camisas lavadas, e neles se não havia de tra-alhar, e que os domingos nossos, cristãos, eram dias de tra-alho$ 5 que todas estas coisas lhe ensinava e di+ia o dito seu primo, e ela confessante no dito tempo, por ve+es estando s3s, di+endo6lhe que por que lhe queria -em, lhe ensinava estas coisas, estando algumas ve+es presentes umas suas irmãs dela mais moças, a sa-er, 0atarina 1omes e Branca odrigues, as quais lhe parece não atentavam nisso, nem o entendiam$ 5 vendo ela confessante estas coisas que o dito seu primo lhe di+ia, cuidando serem -oas, não entendendo então que eram udaicas, mas parecendo6lhe que assim merecia mais com :eus Nosso Senhor, ela euou o dito eum, não comendo nem -e-endo, nem re+ando nem dormindo, at" sair a estrela 9 noite, e depois das estrelas saídas, ceiou e comeu o que achou em casa$ 5 este eum fe+ duas ve+es somente, e lhe parece que os fe+ am-os em uma semana, e em cada uma das ditas ve+es foi 9 dita sua tia Aiolante odrigues que tinha a serventia por dentro, que lhe lançasse a -enção, e a dita sua tia lhe pFs a mão na ca-eça, nomeando >-raham, a qual Aiolante odrigues foi mulher de enrique *endes, do Porto Seguro, ! defunto$ 5 ela confessante disse uma ou duas ve+es 9 dita sua tia Aiolante odrigues que o dito seu primo, 4lvaro Pacheco, lhe dissera que ela a ensinaria como se havia de salvar, e a dita sua tia, quando ela isto lhe disse, se desfigurou, mudando a cor do rosto, e lhe disse que se calasse, que era tola e não dissesse aquilo$ 5 disse ela confessante que fe+ os ditos dois euns parecendo6lhe que neles havia uma grande devoção a Nosso Senhor, sem entender serem udaicos, e que agora, depois de se pu-licar nesta cidade a Santa Inquisição, contando6lhe seu marido em Paripe como todas as pessoas vinham e eram o-rigadas vir a esta mesa, a manifestar todas as culpas que de si e de quaisquer outras pessoas sou-essem, fe+ ela então escr8pulo do so-redito e o começou a contar ao dito seu marido, simplesmente, e se veio a esta cidade, onde ora est!, e se confessou aos padres da 0ompanhia de Cesus, >ntFnio Blasque+ e Pero 0oelho, e vem agora a esta mesa fa+er resta confissão e pedir miseric3rdia, e pede pelas chagas de Cesus 0risto se use com ela de miseric3rdia e se lhe outorgue perdão, respeitando6se que nunca ela teve no entendimento erro algum contra a f" de 0risto$ 5 declarou mais, que seu compadre *iguel 1omes, cristão novo, mercador, morador no 5spírito Santo, haver! seis anos disse a ela, confessante, que então morava tam-"m no 5spírito Santo, costa deste Brasil, por muitas ve+es, vendo6a
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re+ar, estas palavras, @como re+a, e não sa-e como se h! de salvar, di+endo6lhe mais, que os seus antepassados, dela, sa-iam como se haviam de salvar, e que todos se salvavam na gl3ria, e lhe contou a hist3ria do -e+erro dYouro, quando os filhos de Israel idolatraram estando *ois"s no monte, e que queriam di+er que, dos que adoraram procedem os euns daquela nação, e lhe disse mais, vendo que ela euava como se costuma na Santa *adre Igrea, que seus av3s dela euavam doutra maneira$ 5 tam-"m o dito seu compadre lhe disse que seu sogro, Corge =ernandes, pai do dito seu marido Pero =ernandes, era deles, e que seus av3s, do dito seu marido, e o dito seu pai euavam e re+avam, e então calava6se$ 5 outrossim, declarou ela confessante queno dito tempo, que haver! quator+e anos pouco mais ou menos, que o dito seu primo 4lvaro Pacheco lhe disse as ditas coisas em Porto Seguro, ia muitas ve+es 9 sua casa, que era a casa de sua mãe onde am-as moravam, um :iogo .opes Ilhoa, cristão novo, cunhado de sua prima Branca de .eão, defunta, irmã do dito seu primo 4lvaro Pacheco, e vendo6a re+ar, lhe disse por muitas ve+es estas palavras,@como " devota a senhora >ntFnia de Oliveira, como " re+adeira e confessadeira, e isto rindo6se, mas não sa-e sua intenção$ 5 outrossim, declarou ela confessante que haver! mês e meio que, em Paripe desta capitania, lhe disse sua mãe >na odrigues que, indo ela, haver! ano e meio, a Peroasu despedir6se de suas irmãs 0atarina *endes, mulher de >ntFnio Serrão, e .eonor da osa, mulher de Coão Aa+ Serrão, tias dela confessante, a importunavam e lhe di+iam que lhes dissesse o que re+ava e que devoçJes, e que se não podia ver livre de lhe elas perguntarem isto$ 5 que tam-"m lhe disse a dita sua mãe que, em casa de sua prima >na dYOliveira, mesmo em Paripe, vi8va, sendo casada com o segundo marido Belchior da 0osta, di+ia sempre a um irmão seu, dela confessante, por nome *atias, estas palavras, @que re+ais, que falais, que andais re+ando, todo o dia, o qual *atias " um moço doente que re+a sempre per contas, e ela confessante não sa-e suas tençJes, mas ora depois de entender estas coisas da Santa Inquisição, tomou escr8pulo destas coisas que ouviu 9 dita sua mãe$ 5 declarou mais, ela confessante, que tam-"m o dito 4lvaro Pacheco, no dito tempo lhe di+ia e ensinava a ela confessante que :eus era um s3 :eus que estava no 0"u, e que a ele s3 se encomendasse, e que nele pusesse os olhos e em Nossa Senhora, e que não curasse de imagens$ 5 disse ela confessante que ora lhe não lem-ram mais coisas que estas que tem denunciado e confessado, e que de qualquer culpa que nelas tem incorrido, ignorantemente, como dito tem, pede miseric3rdia$ 5 sendo perguntada quais são as suas tias que ela tem, disse que são *aria .opes, vi8va, mulher que foi de mestre >fonso, mãe do dito seu primo 4lvaro Pacheco, e 0atarina *endes, mulher de >ntFnio Serrão, moradores nesta cidade, e .eonor da osa, mulher de Coão Aa+ Serrão, morador em Peroasu e Beatri+ *endes, casada com =rancisco *endes em Pernam-uco, todas irmãs de sua mãe, >na odrigues$
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Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio$ 42 * Con&iss,o de Dona ararida da Costa0 7rist, /el(a0 e3 $# de o-t-=ro de 1"91
:isse ser cristã velha, natural de *oura, filha de *anuel da 0osta e de sua mulher Beatri+ .opes de 1ouvea, de idade de quarenta anos, mulher de =ernão 0a-ral de 7aíde, moradora no seu engenho de Caguaripe do ecFncavo desta Bahia$ 5 confessanndo, disse que haver! cinco anos pouco mais ou menos que, na dita sua fa+enda de Caguaripe, se aposentaram por ordem do dito seu marido, que ora est! preso no c!rcere do Santo Ofício, uns gentios da terra que fa+iam a a-usão chamada Santidade, tendo um ídolo de pedra quue não tinha figura humana, ao qual ídolo chamavam a Santidade, e fa+iam suas reverências e suas cerimFnias gentílicas$ 5 no dito tempo, duas negras e três negros do dito gentio da terra da dita a-usão vieram da casa em que estavam aposentados dentro, na sua fa+enda, ter 9s casas do aposento dela confessante, que ser! distGncia quase de meia l"gua , tudo dentro da dita sua fa+enda, e a choraram ao seu modo gentílico como costumam fa+er quando querem reverenciar e festear alguma pessoa , e ela confessante, por o-ra de uma hora que aí estiveram, os mandou agasalhar dando6lhes pei#e e farinha, e uma das ditas negras era a que chamavam mãe de :eus na dita a-usão, e a essa deu ela confessante umas fitas, di+endo6lhe que se fosse com elas mais honrada$ 0onfessou mais, que no dito tempo que a dita a-usão esteve na dita sua fa+enda, que poderia ser de dois meses pouco mais ou menos, ela tinha para si, e di+ia, que não podia ser aquilo demFnio, senão alguma coisa santa de :eus, pois tra+iam cru+es de que o demFnio foge, e pois fa+iam grandes reverências 9s cru+es e tra+iam contas, e nomeavam Santa *aria$ 5 antes de os ditos gentios virem do sertão para a dita sua fa+enda, di+ia ela que deseava ! de vir aquele papa e aquela santidade para ver o que aquilo era, porquanto entre o dito gentio vinha tam-"m um negro ao qual chamavam papa, o qual, no caminho do sertão, fugiu e não chegou 9 dita fa+enda com os mais e, na verdade, ela no dito tempo deseava de vir o dito Papa como di+ia$ 5 di+endo6lhe a dita negra a que chamavam mãe de :eus, a dita ve+ que a foi ver, que lhe queria pintar as suas casas como costumavam l! no gentio, que lhe desse licença para isso, e ela confessante, por não agravar, lhe disse que sim, mas não houve efeito, nem lhe pintaram nada$ 5 assim mais, ela confessante mandou aos seus negros de casa que não agravassem aos ditos gentios da dita a-usão, e assim mais, quando os ditos gentios a 97
98
99
97 6
>posentarar significa, neste conte#to, pousar, a-rigar6se$
98 6 0erca de ( [m$ 99 6 7rata6se da @saudação
lacrimosa dos tupi, manifestação de cortesia indicando que o visitante ou estrangeiro era -em6vindo e estimado$
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vinham ver, ela lhes ga-ava aquela sua chamada santidade, di+endo6lhe que era muito -om aquilo$ 5 quando, ao fim de tudo, por mandado do governador *anuel 7eles Barreto, se desfe+ a dita casa da dita a-usão e ídolo, ela confessante, antes de tra+erem o dito ídolo para a cidade, o mandou tra+er dentro ao aposento onde ela estava para o ver, porquanto não o tinha ainda visto, e ela confessante o tomou na mão e lhe deu com a mão no rosto e lhe cuspiu$ 5 declarou mais, que todas as so-reditas coisas que fe+ e disse em favor dos ditos gentios e sua a-usão foi por contempori+ar com eles e não os agravar, e por não se levantarem e lhe fa+erem mal e fa+erem mal 9 gente -ranca que estava no sertão para aca-arem de os tra+er 9 mais companhia dos ditos gentios$ >ssinou o not!rio por ela confessante$
n!io dos trinta dias de graa !on!edidos ao e!n!a$o n*o in!#%indo a !idade nem %ma #&g%a ao redor de#a aos dois dias de aneiro do ano de 1591 100
100 6
Nos originais consta a lista de igreas e capelas a-rangidas pela visitação nesta fase do recFncavo -em como o nome dos curas, vig!rios e capelães respectivosQM Pira!R Paripe igrea de Nossa Senhora do \QR Oentum sic, 0apela de São CerFnimoQ, *atoim igrea de N$S$da PiedadeQR capela de Santa 0atarina no engenho de 1aspar :ias Bar-osaR Cacaracanga capela na fa+enda de 0ristovão de BarrosQ, Capas" igrea da *adre de :eusQR 7assuapina igrea de N$S$ do SocorroQR capela de N$S$dos Pra+eres na fa+enda do *argalho tam-"m em 7assuapinaQR 7amararia igrea de N$S$ do *onteQR Sergipe do 0onde igrea de N$S$ da PurificaçãoQR PeroasuR Itaparica igrea de Aera 0ru+QR Caguaripe capela de São BentoQR 0aipe igrea de São .ourençoQR Sergipe de São 0ristovão$
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Confissões do e!n!a$o 4$ * Con&iss,o de Bartolo3e- Gar7e:0 7rist,o no/o0 al&aiate0 no te3o da ra5a0 e3 1$ de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão novo, filho de Se-astião Pires, alfaiate, cristão novo, defunto, e de sua mulher 1uiomar =ernandes, cristã nova, moradora em Pernam-uco, a qual disse a ele confessante que ela era neta de um homem cristão velho, de idade de quarenta anos pouco mais ou menos, casado com *aria 1onçalves, mameluca, a qual ele tem por cristã velha, filha de homem -ranco e de negra deste Brasil, o-reiro de alfaiate, morador em 7apagipe nesta capitania$ 5 confessando, disse que haver! três anos pouco mais ou menos que, sendo ele morador então em Peroasu, vindo uma ve+ a esta cidade, se agasalhou em *onte 0alv!rio, em casa de >ntFnio de *elo, homem aleiado que ! foi porteiro e rendeiro do verde nesta cidade$ 5 estando uma ve+ 9 -oca da noite na dita casa, am-os s3s, praticando6lhe, contou ele confessante como tinha determinado de ir 9 aldeia do 5spírito Santo para comprar a um mance-o l! morador uma criação de porcos que tinha para vender e como, naquele dia, tinha topado com o dito mance-o 9 porta de 1onçalo 4lvares 1irga para a vender, que lhe mandava o Padre >ntFnio :ias, da 0ompanhia de Cesus, que a comprara ao dito mance-o$ 5 estando assim, falando neste quei#ume que ele confessante estava fa+endo ao dito >ntFnio de *elo de o dito padre ter comprado a dita criação que ele determinava comprar, com agastamento disse estas palavras, @por cl"rigos e frades se h! de perder o mundo$ 5 logo o dito >ntFnio de *elo lhe foi 9 mão , di+endo6lhe que não falava -em e ele confessante lhe respondeu que não cuidou que naquelas palavras di+ia tanto mal, e desta culpa pedia perdão e miseric3rdia neste tempo da graça$ 5 foi perguntado se entendeu ele, quando disse estas palavras, que as religiJes não eram -oas, respondeu que a sua intenção não foi falar contra a religião, nem contra o estado sacerdotal, mas que falou estas palavras simplesmente, sem consideração$ 5 foi perguntado se andou em It!lia, =rança, Inglaterra, ou se comunicou e tratou com alguns luteranos, ou leu por seus livros, respondeu que ele " natural de .is-oa e em .is-oa se criou, e de l! veio a este Brasil e não andou outras partes, nem tratou com luteranos, que ele sai-a, e que lê e escreve mal e não lê livros danosos, e que " um -om cristão 101
102
101 6 Isto ", -rigou com ele confessante$ 102 6 eligiJes, neste caso, significam ordens
religiosas$
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5 perguntado mais, disse que s3 o dito >ntFnio de *elo lhe ouviu estas palavras, e que ele as disse estando em seu siso, por"m da maneira que dito tem, e foi6 lhe mandado tornar a esta mesa no mês que vem$ 44 * Con&iss,o de Gasar ;a7(e7o0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a0 e3 1$ de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho de todos os costados, natural da cidade de .is-oa, filho de 1omes Pacheco e de sua mulher Coana odrigues, que foi tesoureiro dYalfGndega de .is-oa , ! defuntos, solteiro que nunca casou, de idade de sessenta anos, morador em seu engenho em Itaparica desta capitania$ 5 confessando, disse que haver! seis ou sete anos pouco mais ou menos que, em Itaparica, um dia, estando ele muito agastado contra uns homens que lhe tinham morto naquele comenos a um seu so-rinho, ele, sem consideração nem deli-eração, com f8ria e agastamento, urou esta ura, @por estas -ar-as e pelas -ar-as de 0risto$ O qual uramento fe+ estando presentes >ntFnio .opes Penela, cidadão desta cidade que então era ui+, e o alcaide , que então era Coão da 0osta, e >ntFnio 0orelha, escrivão, todos moradores nesta cidade e seu termo, e outras pessoas mais que ora lhe não lem-ram, e isto aconteceu dentro da sua dita fa+enda em Itaparica$ 5, outrossim, se acusou que " costumado urar pelo corpo de :eus, e que destas culpas pede perdão neste tempo da graça$ 5 foi logo perguntado se sa-e ele e crê que 0risto Nosso Senhor, depois de ressucitado e glorioso, ficou seu corpo imortal glorioso com suas partes indivisíveis de maneira que " her"tico cuidar que se podem apartar as mãos, os p"s, ou -ar-as ou tripas, ou quaisquer outras partes suas de seu corpo, e que assim fica sendo -lasfêmia heretical urar pelas -ar-as ou por outra parte em particular do corpo de 0risto, respondeu que ele crê tudo como a Santa *adre Igrea e que, quando fe+ o dito uramento, o fe+ com c3lera s8-ita, sem deli-erar ra+ão alguma$ 5 sendo perguntado de que maneira entende ele o dito uramento pelo corpo de :eus se :eus não tem corpo, respondeu que entende pelo corpo de 0risto Nosso Senhor :eus verdadeiro, segunda pessoa da Santíssima 7rindade humanado, e que -em sa-e que a primeira e a terceira pessoa da Santíssima 7rindade não têm corpo, e que assim o confessa como o tem a Santa *adre Igrea, por"m que, porquanto ele tem urado muitas ve+es o dito uramento pelo corpo de :eus, sem declarar o como o entende que " de 0risto, e ele tem muitos inimigos que lhe poderão arguir mal, fa+ esta declaração$ :eclarou mais, ele confessante, que haver! oito ou de+ anos pouco mais ou menos que, nesta cidade, seus inimigos capitais o acusaram falsamente, e nas 103
104
105
103 6
0argo de provimento real cua atri-uição era recolher as rendas aduaneiras del rei$
104 6 0omenosM momento, instante$ 105 6 O >lcaide6mor da cidade era
nomeado pelo 1overnador e encarregado de cuidar da segurança das fortale+as, guardar as cadeias, arrecadar unto aos presos as despesas de carceragem, etc$
71
visitaçJes do Ordin!rio, testemunharam falso contra ele, infamando6o e impondo6lhe que era -lasfemo, herege sodomítico, e que dissera que os evangelistas sagrados se encontravam nos 5vangelhos, impondo6lhe mais falsamente outras culpas as quais ele nunca fe+ nem cometeu, nem " lem-rado que nenhuma delas fi+esse, e disto h! autos processados no uí+o eclesi!sico desta cidade, os quais não são ainda sentenciados finalmente$ 5 claramente se vê que foi tudo falso, porque o vig!rio geral Bastião da .u+, desta cidade, seu inimigo capital, pediu perdão a ele confessante de lhe ter alevantado as ditas culpas e de falsamente fa-ricar contra ele os ditos autos, e convocar a seus inimigos para neles urarem falso contra ele, como uraram nos ditos autos$ 5 para certe+a disto, apresentou nesta mesa uma certidão feita e assinada pelo everendo Padre =ernão 0ardim, eitor do 0ol"gio da 0ompanhia de Cesus desta cidade, e pediu e requereu a ele senhor visitador mande vir perante si os ditos autos e neles proceda como for ustiça$ 4" * Con&iss,o de Gon5alo Fernandes 0 7rist,o /el(o0 3a3el-7o0 no te3o da ra5a0 e3 1$ de 6aneiro de 1"91 106
0onfessando, disse ser cristão velho, natural desta capitania, filho de =ernão 1onçalves, homem -ranco, lavrador, morador em Paripe nesta capitania, e de sua escrava >ntFnia Brasila , casado com Inocência Nunes, cristã nova e mameluca, de idade de vinte e cinco anos mais ou menos, lavrador e morador no dito lugar de Paripe$ 5 confessando, disse que haver! seis anos pouco mais ou menos que, no sertão desta capitania para a -anda de Caguaripe, se alevantou uma erronia e idolatria gentílica a qual sustentavam e fa+iam os -rasis, deles pagãos e deles cristãos, e deles forros e deles escravos, que fugiam a seus senhores para a dita idolatria e, na companhia da dita a-usão e idolatria, usavam de contrafa+er as cerimFnias da Igrea e fingiam tra+er contas de re+ar como que re+avam, e falavam certa linguagem por eles inventada, e defumavam6se com fumos e erva que chamam erva santa, e -e-iam o dito fumo at" que caíam -ê-ados com ele, di+endo que com aquele fumo lhe entrava o espírito da santidade, e tinham um ídolo de pedra a que fa+iam suas cerimFnias e adoravam, di+endo que vinha ! o seu :eus a livr!6los do cativeiro em que estavam e fa+ê6los senhores da gente -ranca, e que os -rancos haviam de ficar seus cativos, e que quem não cresse naquela sua a-usão e idolatria a que eles chamavam Santidade se havia de converter em p!ssaro e em -ichos do mato, e assim di+iam e fa+iam na dita idolatria outros muitos desprop3sitos$ 107
106 6
=oi processado pelo visitador, que o mandou retornar 9 mesa em (U' e %U%E de %&'?$ >ca-ou confessando tam-"m ter tido relaçJes se#uais com uma -urra$ Pelo envolvimento com a Santidade fe+ a-uração de leve na mesa e foi proi-ido de voltar ao sertão$ Pelo crime de -estialidade não confessado na graça pagou & cru+ados$ >N77, I., proc$ %<<)?$ 107 6 Brasila não " propriamente um so-renome, e sim indicação de que " índia$
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5 com isto estavam no sertão onde chamam, pela sua língua gentia roigatte sicQ , que quer di+er frio grande, e na companhia deles andava :omingos =ernandes No-re, dYalcunha 7omaca8na, o qual tinha ido por mandado de =ernão 0a-ral de 7aíde para os tra+er consigo por ser mameluco e sa-er -em a língua$ 5 como quer que a fama e nova de todas as ditas coisas da dita chamada Santidade correram e se espalharam por toda esta capitania, logo os -rasis, todos escravos e forros, ou fugiam a seus senhores para o dito sertão a untar6se na companhia dos da dita a-usão, ou não fugindo, onde quer que estavam, usavam as ditas cerimFnias e criam na dita a-usão$ 5 assim o fi+eram os -rasis cristãos que estavam na dita freguesia de Paripe, geralmente assim forros como cativos, Simão e Paulo, e todos seus companheiros escravos que ora são do doutor >m-r3sio Pei#oto e o foram de =rancisca da 0osta, ! defunta, tia de sua mulher, e outros muitos que com eles se auntavam, cuos nomes lhe não lem-ram$ 5 com estes da dita freguesia de Paripe ele denunciante sicQ se auntou, e por espaço de dois meses pouco mais ou menos fe+ com eles as ditas cerimFnias, tomando os ditos fumos e falando a sua linguagem e crendo que era verdade o que eles di+iam e que vinha o seu :eus, e tendo f" na dita idolatria e a-usão, assim como os ditos mantedores dela, parecendo6lhe ser certo e -om o por eles dito daquela sua santidade$ 5 que, estando ele confessante nesta crença, e enganado nesta falsa f", deseou muito de ir ao dito sertão auntar6se com os principais mantedores da dita idolatria, que estava no dito lugar chamado =rio 1rande, para com seus olhos ver a dita chamada santidade onde di+iam que estava o :eus, parecendo a ele confessante ser esse o verdadeiro :eus$ 5 que, com estes deseos, pediu a =ernão 0a-ral de 7aíde, licença e cartas para ele ir ao dito sertão para o dito :omingos =ernandes 7omaca8na, que estava com os da dita a-usão, e o dito =ernão 0a-ral de 7aíde lhas deu com uma pouca de farinha para o caminho$ 5 levando consigo um Brasil cristão, seu escravo, ! defunto, caminhou pelo mato dois dias, e por haver medo dos gentios salteadores, se tornou para casa de seu pai, a Paripe, na qual ele então morava, por ser ainda solteiro, e tornou a dar as cartas ao dito =ernão 0a-ral$ 5 declarou que, no dito tempo, viu ele confessante no dito Paripe a =rancisco, moço que andava na escola, não sa-e que idade, mameluco, filho de >ntFnio Pereira, homem -ranco, lavrador de *atoim, e de *aria Pinta, filha de Brasila, andar tam-"m untamente com os Brasis de casa de seu pai >ntFnio Pereira, e com outros mais, fa+endo as ditas cerimFnias e usos da dita feitiçaria, a-usão e idolatria chamada santidade, como que tam-"m cria nela, e que isto fa+iam de noite, escondidamente, por 108
108 6
> maioria dos informantes inclusive nas denunciaçJesQ fala em roiga0u, nome mais correto e adequado ao tupi$
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a gente -ranca os não ver nem sentir dentro, nas casas e agasalhados, os Brasis a que chamam negros da terra$ 5 por não di+er mais, foi perguntado quem o indu+iu a ele confessante e o provocou a crer na dita a-usão e idolatria, respondeu que um -rasil negro da terra foi o primeiro que o indu+iu, pregando6lhe pela língua gentia que ele -em entende, que era verdade aquela santidade e que vinha seu :eus, e defumando6o, o qual se chamava *anuel e era escravo do dito >ntFnio Pereira, ! defunto$ 5 sendo perguntado de que maneira teve ele confessante a dita crença e f" na dita idolatria, se lhe pareceu que 0risto Nosso Senhor não era o verdadeiro :eus, e se dei#ou ele de crer em 0risto e na Santíssima 7rindade, e no que crê a igrea cat3lica, respondeu que ele não dei#ou de crer em :eus todo poderoso, e em Cesus 0risto, seu filho, e no 5spírito Santo, três pessoas, um s3 :eus verdadeiro, e sempre teve em seu coração a f" cat3lica, mas que cuidava ele que este mesmo verdadeiro Senhor nosso era aquelYoutro que na dita a-usão e idolatria se di+ia que vinha$ 5 foi logo admoestado pelo senhor visotador, que isto que ele di+ não tem prop3sito, porque se ele " cristão e sa-e que depois que 0risto padeceu, e est! :eus glorioso no c"u, não h! de tornar ao mundo senão no fim dele, no 8ltimo dia do Cui+o, a ulgar os vivos e os mortos, -ons e maus, para não haver mais geração no mundo, que como " possível que cuidasse ele confessante que havia de vir na dita a-usão a fa+er senhores aos -rasis e fa+er escravos aos -rancos] Tue, portanto, pois est! em tempo de graça e perdão, que ele confesse toda a verdade, se dei#ou a f" de 0risto :eus verdadeiro, porque não se trata nesta mesa senão da sa8de de sua alma, porque ningu"m outrem o pode a-solver senão ele senhor visitador, e por di+er que a verdade " como tem ! dito neste auto, e que não sa-e mais do que dito tem, foi6lhe mandado ter segredo$ 4% * Con&iss,o de i-el de Ro
:isse ser cristão velho, natural da cidade de .o#a, do eino de 1ranada, filho de >ntonio *orales, lavrador, e de sua mulher :ona *aria de o#as, defuntos, casado com :ona Aiolante *orgade, cristã velha, lavrador, morador na freguesia de Pass" desta capitania, de idade de vinte e oito anos$ 5 confessando, disse que poucos dias h!, ao redor das oitavas do natal pr3#imo passado pouco mais ou menos, estando ele confessante em uma -oa conversação de pr!tica amig!vel com >ntFnio da 0osta 0astanheira, lavrador tido por cristão velho, solteiro, mance-o que parece ser de idade de vinte e oito anos, morador na dita freguesia de Pass", e estando mais em pr!tica o Padre Bartolomeu 1onçalves, vig!rio da dita freguesia, e outras pessoas mais que ora lhe não lem-ram, começou o dito >ntFnio 0astanheira a modo de +om-aria falar com ele confessante, desdenhando 109
109 6
Praticar era muitas ve+es usado como sinFnimo de conversar$ Pr!tica era di!logo, conversa$
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dos castelhanos que não eram gente, e entre palavras desta sorte disse mais estas, @antes mouro que castelhano$ 5 que, então, ele confessante, parecendo6lhe mal as ditas palavras, o repreendeu, di+endo que olhasse como falava, e que o dito >ntFnio 0astanheira lhe disse então que ele lera ! em uma crFnica, tratando6se das guerras de 0astela com Portugal, que o campo dos castelhanos estava de uma -anda e o dos cristãos entendendo pelos portuguesesQ estava de outra$ 5 que, depois disto, em outro dia pouco depois, se tornaram a untar em casa de *anuel 1onçalves, ferreiro mesmo em Pass", e o dito >ntFnio da 0astanheira, apontando para ele confessante, que então chegava de fora, disse que ! ele não era castelhano e era português e arrenegara de ser castelhano, e então, ele confessante respondeu estas palavras,@antes mouro que português, e se mudou então a pr!tica em outro prop3sito$ 5 que destas palavras que disse pede perdão e miseric3rdia, as quais ele disse inconsideradamente, sem fa+er discurso nem deli-eração do que di+ia, e sem ter intenção de querer afirmar ser melhor a seita dos mouros que a f" dos portugueses, que " de 0risto e verdadeira$ 5 foi logo perguntado de que maneira entendeu ele que di+ia as ditas palavras o dito >ntFnio 0astanheira, respondeu que o sentido delas era di+er ser melhor ser mouro que castelhano, por"m que a ele confessante, lhe parece que tam-"m o dito >ntFnio 0astanheira inconsideradamente disse as ditas palavras, sem ter Gnimo de afirmar o que elas soavam$ 5 sendo mais perguntado se algum tempo andou e comunicou entre mouros ou luteranos, e se tem livros deles, respondeu que nunca comunicou com eles nem leu, nem teve seus livros, e que somente em 1ranada, donde ele " natural, via muitos mouriscos ! cristãos, mas que deles nem de seus costumes sa-e nada$ 5 sendo mais perguntado, disse que o dito >ntFnio 0astanheira disse as ditas palavras estando no alpendre da ermida da invocação de 7odos os Santos e que não sa-e se lhas ouviu tam-"m o dito padre vig!rio que presente estava, porque lhe parece que estava divertido falando com outro, e que quando ele disse tam-"m as ditas palavras em casa do ferreiro, não sa-e se lhas ouviu o dito vig!rio que tam-"m presente estava, nem o ferreiro, porque lhe parece que estavam divertidos, s3 lhe parece que :omingos de >ndrade, mameluco, lavrador, casado, morador no mesmo Pass", lhas ouviu di+er porque estava unto dele, e que o dito >ntFnio 0astanheira estava em seu siso, sem agastamento nem pai#ão, quando disse as ditas palavras, e dessa mesma maneira estava tam-"m ele confessante quando disse as suas, e que tem em -oa conta e de -om cristão ao dito 0astanheira$ 5 que, quando ele confessante ora queria vir a esta cidade, a esta mesa, disse em Pass" ao dito >ntFnio 0astanheira que lhe parecia que aquelas palavras que ele dissera no dito alpendre, de antes ser mouro que castelhano, lhe parecia pertencerem 110
110 6
:ivertido, distraído$
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ao Santo Ofício, que, portanto, se viesse acusar a esta mesa, e ele respondeu que assim o havia de fa+er, mas que primeiro o havia de perguntar a um padre$ 4 * Con&iss,o de ;ero da 8ila No/a 0 &ran7Hs0 no te3o da ra5a0 e3 1 de 6aneiro de 1"92 111
0onfessando, disse ser francês de nação, natural da cidade de Provins, filho de Nicolao de 0olheni, cavaleiro, e de sua mulher Nicola Simonheta, franceses cat3licos, de idade de cinquenta e cinco anos pouco mais ou menos, casado com .eonor *arques de *endonça, cristã velha, morador em Sergipe do 0onde$ 5 que, na era de mil quinhentos e cinquenta e sete, veio de =rança uma frota de três Naus de que era *onsenhor :e-uella 0onte sicQ , cat3lico, na qual vinham muitos monsenhores, a sa-er, *onsenhor de la =osilha, *onsenhor 7horet de Pont, *onsenhor de Berit, *onsenhor de Bole#, *onsenhor de la Dapella, e outros muitos *onsenhores e outra muita gente francesa, dos quais a maior parte eram luteranos e vinham repartidos pelas ditas três naus na capitGnia das quais vinha ele confessante, e chegaram todas ao io de Caneiro, costa deste Brasil, aonde povoaram, e não havia ainda no dito io de Caneiro nenhum português$ 5 como quer que os luteranos eram mais e mais poderosos que os cat3licos, começaram a espalhar seus livros luteranos e semear sua doutrina luterana, fa+endo escolas p8-licas de sua seita luterana, constrangendo e forçando com açoites a todos os moços e mance-os de pouca idade que fossem 9s ditas escolas e doutrinas$ Pelo que, ele confessante, que então poderia ser de idade de de+oito ou de+enove anos pouco mais ou menos, foi 9s ditas escolas, nove ou de+ dias, aonde ouvia aos mestres luteranos ler e ensinar a seita luterana e cerimFnias dela, mas que ele confessante era cristão cat3lico e sempre o foi, e nunca lhe pareceu -em a dita seita luterana, nem seus erros, nem suas cerimFnias, e nunca tal aprovou interior nem e#teriormente, mas foi as ditas ve+es 9s ditas escolas com medo de lhe fa+erem mal$ 5 por isso, depois de haver on+e meses que estavam na dita terra do io de Caneiro, tratou de fugir para os cristãos portugueses e se foi meter com os negros gentios, entre os quais andou nove ou de+ meses, no qual tempo ele não sa-ia quando era domingo, nem em que dia estavam, nem se estavam na quaresma, e por isso comeu carne nos ditos dias em que a igrea a defende $ 5 enfim, foi ter a São Aicente, capitania povoada ! então de cristãos portugueses, e nunca mais at" agora teve conversação nem mistura com luteranos$ 112
113
111 6
Processado pelo visitador, sendo sentenciado a a-urar de leve na mesa e não contar a ningu"m como eram os @costumes luteranos$ >N77, I., proc$ ?&?)$ 112 6 7rata6se de Bois le 0omte, so-rinho de Aillegaignon, a quem este incum-iu, em %&&', de su-stitui6lo no governo da @=rança >nt!rtica, no io de Caneiro$ Os luteranos a que fa+ menção o confitente são calvinistas franceses, os huguenotes$ 113 6 :efender significa tam-"m proi-ir, interditar e não apenas proteger, de sorte que dias defesos eram dias proi-idos$ O ver-o defender tam-"m possuía este significado do deendre francês, que depois caiu em desuso no português$
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5 disse que na dita culpa de ir os ditos dias 9s ditas escolas luteranas, e#teriormente, pede perdão e miseric3rdia$ 5 foi logo perguntado se lhe lem-ram alguns erros que os ditos luteranos tinham contra nossa Santa =" 0at3lica, respondeu que os ditos luteranos tinham e ensinavam que :eus não fi+era a missa, e que a missa era feitura dos homens, e que na h3stia consagrada da missa não estava o verdadeiro corpo de 0risto, e que o verdadeiro sacramento " rece-er uma fatia de pão em comemoração do corpo de 0risto, como eles luteranos usavam, e negavam haver de se venerar cru+, nem imagem alguma, e não fa+iam comemoração alguma de Nossa Senhora, e di+iam que era ela tão pura e limpa que não se havia de pFr -oca em a nomearem, e di+iam mais, que não se haviam de confessar a homens pecadores como eles, e não tinham sacerdotes nem confessores, e assim tinham outros muitos erros luteranos de que ora não " lem-rado$ 5 foi logo admoestado pelo senhor visitador, com muita caridade, que ele faça confissão inteira e verdadeira, e que, pois começou a usar de -om conselho em vir a esta mesa neste tempo da graça, que ele diga tudo porque assim lhe releva para salvação de sua alma e para seu -om despacho$ 5 por ele foi dito que ele tem confessada a verdade e que não lhe lem-ra mais, salvo que algumas ve+es, praticando com pessoas que lhe perguntavam pelo que fa+iam os ditos luteranos, ele confessante lhes contava e referia estes ditos erros luteranos que ora aca-ou de declarar, di+endo que estes erros lhes vira ele ter no io de Caneiro, quando com eles estivera, e que sua intenção era, quando ele contava estas coisas 9s pessoas que lho perguntavam, cont!6las e di+ê6las por modo de referir e enunciar os erros dos luteranos, mas não por modo de os afirmar, nem de os ensinar, nem de os di+er como coisa -oa, nem que ele tal sentisse, nem aprovasse$ 5 que ! pode ser que alguma pessoa, ouvindo6lhe contar algumas das ditas erronias, cuidaria que ele as afirmava, e não que as contava, por"m que a verdade de seu Gnimo e coração " que nunca teve nem creu os ditos erros, nem outro algum dos mais dos ditos luteranos$ Perguntado se sa-e alguns dos ditos luteranos que ficassem e esteam neste Brasil, respondeu que não sa-e luteranos senão dois cat3licos que tam-"m fugiram para os cristãos, a sa-er, *artim Paris, que ora di+em estar casado em o io de Caneiro, e >ndr" de =ontes, tam-"m ora casado em São Aicente$ 4! * Con&iss,o de Rodrio artins 0 3a3el-7o de Ta3araria0 no te3o da ra5a0 e3 1 de 6aneiro de 1"92 114
:isse ser cristão velho, natural da capitania de Porto Seguro deste Brasil, filho de =rancisco *artins, homem -ranco, e de uma sua escrava negra deste Brasil 114 6
Processado pelo visitador por não ter confessado na graça que se riscara ao modo gentílico no sertão, sendo disso acusado por outrem$ Sentenciado a pagar & cru+ados e a não mais voltar ao sertão, al"m de penitências espirituais$ >N77, I., proc$ %???'$
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chamada Isa-el, defuntos, mameluco de idade de trinta e oito anos, casado com Isa-el odrigues, tam-"m mameluca, filha de -ranco e de negra, lavrador na freguesia de 7amararia, em Pernão merim$ 5 confessando, disse que haver! de+esseis anos pouco mais ou menos que foi na companhia de :iogo .eitão, ! defunto, ao sertão de iuiui-a, que em português quer di+er o sertão de ninho de garça, dentro desta capitania$ >o qual sertão foram para resgatar e fa+er descer gentio, e nele andou nove ou de+ meses, no qual tempo l! esteve uma quaresma e nela e nos mais dias em que a igrea defende carne, ele, sem ter licença do ordin!rio, e estando são e sem necessidade de comer carne, comeu carne podendo escus!6la, porque tinha outros mantimentos$ 5 perguntado que companheiros seus fi+eram o mesmo, respondeu que não se afirma neles$ 5 confessou mais que, dos ditos nove ou de+ meses, os quatro meses derradeiros depois de vindos seus companheirosQ, ficou ele s3 entre os gentios em conversação com eles, e rece-ia deles os seus fumos de erva que chamam santa, que " sua cerimFnia gentílica, e outrossim confessou que então deu aos ditos gentios uma espingarda, sem p3lvora e sem munição, e assim mais uma espada, e estas armas lhe deu por os fa+er seus amigos$ 5 perguntado se os ditos gentios eram da casta dos que fa+em mal e guerreiam aos cristãos, respondeu que os ditos gentios,antes daquele tempo, tinham ! -rigado com os cristãos e alguns mortos e feridos, ao longo do mar, antes de se irem aposentar no dito sertão$ 5 confessou mais, que depois de ele vir do dito sertão, tornou algumas ve+es em outras companhias a outros sertJes aonde tam-"m, em duas quaresmas, nos mais dias em que a Igrea defende carne, comeu carne sempre como dito tem, podendo6 a escusar$ 5 deu mais a outro gentio que descia em sua companhia outra espada, o qual fugiu com ela para o sertão e era dos gentios que fa+em dano e guerra aos cristãos, e disse que destas culpas pedia perdão e miseric3rdia$ 5 foi perguntado pelos companheiros que nestYoutras ve+es que ele tam-"m comeu carne fi+eram o mesmo, respondeu que não se afirma neles$ 5 perguntado se sa-ia ele que ficava e#comungado em dar as ditas armas , respondeu que quando as deu ! o sa-ia, porque ! o tinha ouvido$ Perguntado quantos anos h! que deu a derradeira espada, respondeu que haver! quator+e anos$ Perguntado se confessou em suas confissJes sacramentais estes pecados e se o a-solveram destas e#comunhJes e quanto tempo h!, respondeu que sim, confessou estes pecados a seu confessor espiritual depois que deu a primeira ve+ as ditas armas, 115
115 6
:esde pelo menos o III 0oncílio de .atrão %%<'Q, foi esta-elecida a pena de e#comunhão, entre outras, para os que enviassem armas aos ini7is K naquele tempo os mouros$
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antes de chegar a um ano se confessou ao padre Belchior de Boim, vig!rio de 7amararia, e depois da segunda ve+ que deu a dita espada, tam-"m antes de chegar a um ano, se confessou ao vig!rio que ora " de 7amararia, Pero 1onçalves, e sempre o a-solveram assim dos ditos pecados como das ditas e#comunhJes$ 49 * Con&iss,o de G-io3ar ;in(eira0 3a3el-7a0 no te3o da ra5a0 e3 1 de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristã velha, natural da capitania dos Ilh"us, costa deste Brasil, filha de >ntFnio Aa+ =alcato, homem -ranco, e de uma sua escrava por nome Ait3ria Brasila, vi8va, casada que foi, casada ! três ve+es, com três homens -rancos, dos quais enviuvou três ve+es, e o derradeiro marido se chamava Pero =ernandes, lavrador, moradora em 7amararia desta capitania, de idade de trinta e oito anos$ 5 confessando, disse que, sendo ela moça de idade de de+oito anos na vila dos Ilh"us, um dia, não lhe lem-ra se pela manhã , se 9 tarde, levando ela um recado de uma sua tia a uma mulher chamada Tuit"ria Seca, casada que então era com Pero *adeira, alcaide dos ditos Ilh"us, a dita Tuit"ria Seca tomou a ela confessante, que ia em camisa segundo o costume deste BrasilQ nos -raços e lhe levantou a camisa, e arregaçando6lhe assim as suas fraldas, se pFs em cima dela confessante e, auntando seu vaso natural com o vaso natural dela confessante, fe+ com ela como se fora homem com mulher, tendo deleitação por espaço de tempo$ 5 depois disto, passados alguns dias, em outro dia chamou a dita Tuit"ria Seca a ela confessante e tornou a fa+er com ela so-re a dita cama outra ve+ o so-redito pecado, auntando seus vasos, e tendo a dita deleitação por espaço de tempo como da primeira ve+, e este pecado nefando cometeram as ditas duas ve+es sendo sempre a dita Tuit"ria Seca a autora e a íncu-a , mas não se interveio nisto nenhum instrumento e#terior mais que seus vasos naturais$ 5 depois disto assim acontecer, a dita Tuit"ria Seca com o dito seu marido, Pero *adeira, se mudaram para as capitanias de -ai#o e nunca mais a viu nem sa-e dela$ 5 perguntada mais, disse que ! confessou estes pecados a seu confessor e cumpriu a penitência espiritual que lhe deu, e nunca mais fe+ o dito pecado Por não sa-er, assinou o not!rio a seu rogo$ 116
"# * Con&iss,o de an-el Bran7o 0 3a3el-7o0 solteiro0 na ra5a0 e3 1 de 6aneiro de 1"92 117
116
6 Mncu#o, @que se deita por cima, como o homem na c3pula, palavra muito usada para referir os demFnios que copulavam com mulheres$ OpJe6se a s8cu-o, @o que fica por -ai#o na c3pula carnal, a e#emplo dos @dia-os s8cu-os, os que fa+em as ve+es de mulher em tais atos, segundo o dicionarista do s"culo DAIII, *oraes Silva$ 117 6 Processado pelo visitador, apesar de confessar tudo na graça$ epreendido na mesa, penitências espirituais e proi-ido de voltar ao sertão$ >N77, I., proc$ %%E$
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:isse ser cristão velho, segundo lhe parece, natural desta Bahia, filho de 5stevão Branco, homem francês de nação, e de sua mulher B!r-ara Branca, negra Brasila, defuntos, solteiro de idade de vinte e quatro anos, morador em Pira!, termo desta cidade, não tem ofício, vive por sua ind8stria, " mestiço$ 5 confessando, disse que ele vem ora do sertão de .aripe, onde andou ano e meio na companhia de 0ristovão da ocha, que foram para fa+er descer gentio, no qual tempo esteve l! uma quaresma e nela, e nos mais dias em que a Igrea defende carne, comeu carne e assim toda a companhia comeu, estando sãos e sem licença do ordin!rio, por"m com necessidade porque não tinha outra coisa que comer$ 5 outrossim, no dito sertão se riscou e mandou riscar por um negro, segundo o costume dos gentios deste Brasil, os quais se costumam riscar com lavores pelo corpo como ferretes cortados na carne que ficam perp"tuos, significando que são gentios valentes e cavaleiros, e isto fe+ ele confessante parvamente, sem intenção de gentio$ 5 foi logo pelo senhor visitador admoestado que declare verdade de sua intenção porque aqui trata6se da sa8de de sua alma somente, e respondeu o que dito tem$ 0onfessou mais, que no dito sertão deu uma espada aos gentios selvagens amigos dos cristãos, e que da culpa que tem nas ditas coisas pede perdão$ 5 perguntado que pessoas mais viu fa+er as ditas coisas ou outras pertencentes a esta mesa, respondeu que no dito sertão, em toda a companhia, foi p8-lico e fama dito por todos que o dito capitão 0ristovão da ocha deu p3lvora e espingarda, e -andeira e tam-or de guerra aos gentios da serra de .aripe, e que :omingos =ernandes 7omaca8na lhes deu tam-"m uma espada, e que >ntFnio :ias, mameluco, mestre de aç8car, e Baltasar de .eão, correeiro , que foram para Pernam-uco, se riscaram segundo o dito uso gentílico, e ele confessante os viu riscados, por"m não sa-e a intenção com que o fi+eram$ 5 perguntado, disse que os ditos gentios de .aripe a quem os so-reditos deram as ditas armas costumam fa+er dano e guerra aos cristãos, quando acham tempo -om por si$ 118
119
120
"1 * Con&iss,o de To3Es Ferreira 0 3a3el-7o do te3o da ra5a0 e3 1! de 6aneiro de 1"92. 121
:isse ser cristão velho, segundo seu parecer, natural dos Ilh"us deste Brasil, filho de *arçal =erreira, homem -ranco, e de sua escrava Brasila por nome Ilena, solteiro, de idade de trinta e seis anos$ 118 6 119 6
.avorM tra-alho feito com as mãos, artesanal$ =erreteM sinal de o-rigação, marca feita na pele$ 120 6 >rtesão que fa+ o-ras de couro, correias, etc$ 121 6 Processado pelo visitador, apesar de confessar na graça e não ser delatado$ epreendido na mesa, penitências espirituais e proi-ido de voltar ao sertão$ >N77, I., proc$ %%)(&$
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5 confessando, disse que ele ora poucos dias h! que veio do sertão da Serra de .aripe, onde andou ano e meio, no qual tempo teve l! uma quaresma, e em muitos dias dela e em outros mais em que a Igrea defende carne, ele a comeu estando são e sem licença do Ordin!rio, e sem necessidade, podendo muito -em escusar de a comer porque tinha outros mantimentos com que nos ditos dias se podia manter, e desta culpa pediu perdão$ 5 perguntado mais, disse que -em sa-ia que pecava em comer carne nos ditos dias e que não lhe lem-ra que a visse comer a outrem$ 5 disse mais, que viu ao capitão da companhia em que ele estava no dito sertão, 0ristovão da ocha, dar uma espada e dois arca-u+es, e p3lvora e munição, e tam-or e -andeira de guerra, e um cavalo e uma "gua, a um gentio principal dos gentios de aripe chamado >rataca, a troco de gentios escravos, os quais gentios de aripe, antes do dito caso, e depois, e sempre de todo o tempo da mem3ria dos homens, fa+em guerra e são costumados a guerrear aos -rancos cristãos e fa+er6lhe dano no que podem, quando eles se sentem com mais força$ 5 porquanto o dito capitão 0ristovão da ocha levava na companhia cento e tantos homens -rancos, afora os negros flecheiros, por isso os gentios do dito >rataca estiveram com ele de pa+, e assim lhe dei#ou mais uma ferraria, safra , fora e todos os mais instrumentos de serralheiro $ 5 outrossim, viu a :omingos =ernandes No-re 7omaca8na e a >ndr" :ias, mameluco, morador em 0apanemo, solteiro, e Pedro 4lvares, mameluco, solteiro, natural de Pernam-uco, darem armas aos ditos gentios, o 7omaca8na deu pistolete e p3lvora, e os outros dois cada um uma espada$ 5 outrossim, viu riscar6se em um -raço *anuel Branco, solteiro, mameluco, irmão de C!come Branco, morador em Pirasahia, segundo o costume gentílico, os quais gentios tem esta cerimFnia que se riscam com lavores a-ertos na carne a modo de ferretes, significando serem gentios valentes, e da mesma maneira viu tam-"m riscar6se :omingos :ias, solteiro, mameluco, morador em 0apanemo$ 122
123
"2 * Con&iss,o de Fran7is7o A&onso Caara 0 3a3el-7o0 na ra5a0 e3 1! de 6aneiro de 1"92 124
:isse ser cristão velho, natural de Pernam-uco, filho de :iogo de 0orredeira, homem -ranco, e de sua escrava =elipa, -rasila, defunta, casado com *aria Pires, mameluca, lavrador, de idade de quarenta anos, morador em Pirasahia de Itaparica$ 5 confessando, disse que haver! quin+e anos pouco mais ou menos que, vindo6se ele recolhendo do sertão desta Bahia, tra+endo consigo, descendo gentios, 122 6 Bigorna de ferreiro$ 123 6 SinFnimo de ferreiro$ 124 6 Processado por não ter
confessado na graça que comeu carne em dias proi-idos, sendo delatado por isso$ Saiu em auto p8-lico, des-arretado, com vela acesa na mão, al"m de proi-ido de voltar ao sertão e pena pecuni!ria de de+ cru+ados$ >N77, I., proc$ %<%(
81
du+entas almas, temendo ele que se levantassem com ele os ditos gentios, se mandou riscar no -raço direito perante eles para se mostrar ser valente e o temerem, porquanto " cerimFnia dos gentios riscarem6se com uns lavores pelo corpo ao modo de ferretes para significar serem gentios valentes e cavaleiros, por"m ele o não fe+ com intenção de gentio, senão por o temerem e não lhe fa+erem mal, como de feito o não fi+eram$ "$ * Con&iss,o de Do3inos Go3es ;i3entel0 e3 1! de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural desta Bahia, filho de Simão 1omes Aarella, lavrador, defunto, e de sua mulher *adalena Pimentel, solteiro, de idade de vinte e quatro para vinte e cinco anos, morador em Pass" com a dita sua mãe$ 5 confessando, disse que haver! seis anos pouco mais ou menos que ele tinha a Jiana, de *onte *aLor, e a lia, e algumas pessoas lhe disseram que o dito livro era defeso, e em especial lhe lem-ra que lho disse um estudante, =racisco dYOliveira, filho do ta-elião :omingos dYOliveira, o qual estudante ora " da 0ompanhia de Cesus$ 5 sem em-argo de as ditas pessoas lhe di+erem que era defeso, contudo, depois de assim lhe terem dito que era defeso e ele ter para si que o era, contudo, leu muitas ve+es pelo dito livro de Jiana, e que desta culpa vem pedir perdão e miseric3rdia nesta mesa, neste tempo da graça$ 5 foi perguntado se lhe disseram a ele, ou ele entendeu, que quem lesse pelo dito livro defeso ficava e#comungado, respondeu que somente lhe disseram que era defeso e que não advertiu a se incorria em e#comunhão$ 5 perguntado quem mais o viu ler, e se se confessou disto, e quem o a-solveu, respondeu que ningu"m lho viu ler, que lhe parece que entendeu o que ele lia e que ele não confessou at" agora disto porque nos tempo das confissJes lhe não veio isto nunca 9 mem3ria$ "4 * Con&iss,o de Gasar N-nes Barreto 0 d-/ida se 7rist,o no/o0 na ra5a0 e3 1! de 6aneiro de 1"92 125
:isse ser natural desta Bahia, filho de =rancisco Nunes, o qual ele teve sempre e tem por cristão velho, e foi ferreiro nesta Bahia, e depois largou o ofício, e foi senhor de engenho, e de sua mulher Coana Barreta, a qual ele não sa-e se era cristã velha, se cristã nova, defuntos, lavrador que tem uma casa de meles, morador na freguesia de Itaparica na terra firme de Paraguaçu, de idade de quarenta anos pouco mais ou menos, casada com >na >lveloa$ 125 6
Processado pelo visitador por ter alertado um cristão novo so-re culpa deste no Santo Ofício$ A!rias ve+es arguido, negou e perurou$ Por isso, e não pelas culpas que confessou na graça, foi sentenciado a sair em auto p8-lico, des-arretado, com vela acesa na mão e pagar &E cru+ados ao Santo Ofício$ >N77, I., proc$%%E<&$
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5 confessando, disse que, sendo ele mance-o des-ar-ado que ainda não chegaria 9 idade de vinte anos, que seria de idade de de+esseis anos pouco mais ou menos, estando em Itaparica, se mandou riscar por um negro da terra na perna esquerda, da -anda de fora da cintura at" meia co#a, o qual riscado ele consentiu e mandou fa+er em si sem nenhuma m! intenção gentílica, mas simplesmente, como moço ignorante, o qual riscado " que, com um dente agudo de um -icho se fa+em uns lavores rasgados na carne, os quais untam com o sumo de certa erva chamada erva moura e uns pequenos de p3s de escodado, e assim saram as ditas feridas e ficam os lavores como ferretes para sempre$ 5 isto " costume entre os gentios deste Brasil, os quais, quando fa+em alguns feitos grandes e mortes em guerras se costumam riscar da dita maneira pelos -raços e pernas, e corpo e rosto, para mostrar serem gentios valentes e desforçados, e quanto mais valentes se querem mostrar tanto mais unto dos olhos fa+em os ditos lavores no rosto$ "" * Con&iss,o de Cristi/,o de E Betan7o-rt 0 7rist,o /el(o0 na ra5a0 e3 19 de 6aneiro de 1"92 126
:isse ser cristão velho, natural de .is-oa, filho de =rancisco 4lvares =erreira de Batancourt e de sua mulher Isa-el 0orrea de >lmeida, casado com =rancisca Bar-osa, cristã velha, lavrador, de idade de trinta anos$ 5 confessando, disse que haver! oito ou de+ dias pouco mais ou menos, estando ele confessante na fa+enda de seu sogro Baltasar Bar-osa, praticando com seu cunhado >ntFnio de Sou+a e com =rancisco Pires, carpinteiro que estava tra-alhando em um -arco, todos moradores em Sergipe, vindo a se falar acerca dos estados , não lhe lem-ra a que prop3sito, nem quem o começou, ele confessante disse que lhe parecia que o estado do casado era melhor que o do religioso$ 5ntão o dito seu cunhado >ntFnio de Sou+a o emendou, di+endo6lhe que o Padre frei Belchior, comiss!rio de São =rancisco, di+ia que melhor era o dos religiosos que o dos casados$ 5 logo ele confessante então se desdisse, di+endo que seguia o que di+ia o dito padre comiss!rio, e desta culpa, de simplesmente di+er as ditas palavras, pede perdão e miseric3rdia$ 5 foi perguntado se havia muito tempo que ele tinha ouvido ! e aprendido as ditas palavras, respondeu que não lhe lem-ra que nunca em algum tempo ele ouvisse 127
126 6
Processado por não confessar na graça sua descrença na e#istência do Inferno, sendo disso acusado$ epreendido na mesa, a-uração de leve suspeita na f", penitências espirituais e pagamento de %E cru+ados para o Santo Ofício$ >N77, I., proc$?'%($ 127 6 > hierarquia dos estados, segundo as normas da igrea era, neste conte#toM em primeiro lugar o dos religiosos o celi-ato castoQR em segundo, o dos casadosR em terceiro o dos leigos celi-at!rios solteirosQ$
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nem aprendesse as ditas palavras de outrem, e que nunca tal parecer lhe veio ao sentido, nem dele tratou no pensamento nem por palavra, senão então como dito tem$ "% * Con&iss,o de Ant@nia Foa5a0 7rist, /el(a0 no te3o da ra5a0 e3 1! de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristã velha, natural desta cidade, filha de :iogo Corilha, defunto, e de sua mulher 0atarina dos ios, vi8va, mulher que foi de >ntFnio :ias >dorno, defunto, de idade de vinte e oito anos pouco mais ou menos, moradora na sua fa+enda de Paraguaçu, recFncavo desta capitania$ 5 confessando, disse que pelo Bispo deste 5stado, :om >ntFnio Barreiros, lhe foi posta pena de e#comunhão ipso acto incurrenda, que ela não falasse nem tivesse comunicação pessoal, nem por escritos nem por recados, nem por interposta pessoa com =ernão i-eiro de Sou+a, cunhado dela confessante, por cessarem certos escGndalos e presunçJes que de falarem e comunicarem nasciam$ 5 que depois de a dita pena ser notificada a ela confessante, com declaração que somente se poderiam mandar recados e escritos so-re a liquidação das contas que entre ele e ela havia acerca do dote que ela e o dito seu marido lhe prometeram em dote quando se casaram com sua irmã, contudo, sem em-argo da dita pena posta, al"m de muitos escritos e recados que lhe mandou so-re a dita mat"ria das ditas contas, e afora outra carta que lhe mandou, depois do natal passado, em que lhe dava repreensJes e conselhos com palavras de escGndalo, que não dei#asse ela vir 9 sua fa+enda um certo homem, o dito =ernão i-eiro lhe mandou mais a ela, não se afirma se h! mais de ano, dois escritos, cada um por sua ve+ em dias diferentes, nos quais lhe falava tam-"m acerca das ditas contas e untamente neles usava de palavras afeiçoadas e amorosas que " a mat"ria so-re que lhe foi posta a dita proi-ição pelo Bispo so- a dita pena$ 5 assim mais, depois de ela rece-er os ditos escritos, respondeu ao dito =ernão i-eiro, pelo menino que lhe trou#era os escritos, que ela não respondia a eles porque lhe estava posta a dita pena$ 5 disse mais, uma ve+ tam-"m, depois da dita pena posta, o dito =ernão i-eiro lhe mandou di+er que lhe falasse que lhe iria falar, sem lhe mandar declarar o neg3cio so-re que lhe queria falar, e ela confessante lhe mandou di+er que sim, falaria, mas enfim não falaram e não lhe lem-ra ora que desvio houve para isso$ " * Con&iss,o de ate-s N-nes0 7ir-ri,o0 no te3o da ra5a0 e3 19 de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural da cidade do Porto, filho de >ndr" Nunes e de sua mulher 0atarina odrigues, tecelJes de toalhas, moradores na dita cidade do Porto, donde ele " natural, ! defuntos, de idade de quarenta e seis anos pouco mais ou menos, morador na freguesia de 7assuapina do recFncavo desta Bahia, cirurgião, casado com 0atarina 0oelha, mameluca$
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5 confessando, disse que sendo ele moço de de+esseis anos pouco mais ou menos, fugiu de casa do dito seu pai da cidade do Porto para a vila de Ponte de .ima, aonde esteve algum tempo em casa de um homem tam-"m tecelão de toalhas, que lhe parece era forasteiro e ! velho, que entremetia na -ar-a de -ranco, e não lhe lem-ra o nome de pia dele, mas lem-ra6lhe que tinha por so-renome Nogueira e morava unto de Santo >ntFnio$ 5 esses dias que em sua casa esteve, dormiu sempre na sua cama com ele, e aconteceu que o dito fuão Nogueira, parece6lhe que se chamava >ntFnio Nogueira, teve com ele confessante o auntamento contra natura sodomítico penetrando com seu mem-ro viril o vaso traseiro dele confessante, lançando6se ele confessante com a -arriga para -ai#o e pondo6se o dito fuão Nogueira em cima dele, fa+endo como se fora homem com mulher por diante, e consumando por detr!s o dito pecado de sodomia, e isto três ou quatro ve+es em noites diferentes, sendo sempre ele confessante paciente, e não sa-e se o dito homem era casado, nem se ser! ora ainda vivo, era de -oa estatura de corpo e de -ar-a preta e -ranca$ 0onfessou mais, que depois disto acontecer, no mesmo ano, tornando6se ele confessante de Ponte de .ima para a cidade do Porto, e estando em casa de um cirurgião, :omingos Corge, começando a ser seu discípulo, estava tam-"m na dita casa um moço pouco menor do que ele confessante então era, ao qual não conhece nem sa-e o nome, nem donde ", nem confrontação alguma, e o dito moço com ele confessante dormiam am-os em uma cama, e aconteceu que ele confessante teve com o dito moço outro auntamento nefando, penetrando com seu mem-ro o vaso traseiro do dito moço e consumando nele o pecado de sodomia três ou quatro ve+es em diferentes noites, sendo ele confessante sempre íncu-o agente, e disse que ningu"m os viu fa+er os ditos pecados, e que ! os confessou a seus confessores, e cumpriu as penitências que lhe deram$ 5 que ora lhe não lem-ram mais culpas e que delas est! muito arrependido e pede perdão e miseric3rdia, e logo o senhor visitador lhe encarregou muito a virtude da honestidade, e que se guarde de ocasião de semelhantes pecados porque, tornando6 os a cometer, h! de ser gravissimamente castigado, e que se confesse muitas ve+es, e lhe mandou que se fosse logo confessar, e que cumpra a penitência espiritual que seu confessor lhe der novamente por estes pecados$ 128
"! * Con&iss,o de Fran7is7o artins0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 2# de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho inteiro, natural de Boçellas, termo de .is-oa, filho de Pero 1omes, pedreiro, e de sua mulher Coana Batalha, de idade de quarenta anos, casado com =rancisca da 0osta, lavrador, morador em Peroasu deste recFncavo$ 128 6
Nome de piaM nome de -atismo$
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5 confessando, disse que haver! de+ anos que foi ao sertão a fa+er descer gentio na companhia de :omingos =ernandes 7omaca8na, no qual sertão andaram então alguns de+oito meses, e nesse tempo, por muitas ve+es, em diversos dias da quaresma e se#tas6feiras e s!-ados, ele e a companhia comiam carne podendo escusar de a comer por terem favas e outras coisas com que se podiam manter sem comer carne$ 5 as pessoas que tam-"m a comeram são o dito :omingos =ernandes 7omaca8na e .!+aro >ranha e Coão Sardinha, moradores em Peroasu, e outros muitos a que não sa-e os nomes, e *anuel da =onseca, mameluco, morador em Pernão *erim, e seu genro :iogo da Silveira, mesmo morador em Pernão *erim, e 4lvaro odrigues, oleiro, morador em Caguaripe, os quais todos comeram carne podendo6a escusar, como dito tem, muitos dias$ 129
"9 * Con&iss,o de ?o,o Gon5al/es0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 2# de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho inteiro, natural de Outeiro Coão de 0haves sicQ, filho de :iogo Aiegas e de sua mulher Beatri+ Pires, lavradores, defuntos, de idade de vinte e dois anos, solteiro, tra-alhador residente ora em Sergipe de 0onde de .inhares, que veio degredado por vadio para o Brasil$ 5 confessando, disse que ele veio ora do sertão de fa+er descer índios em companhia de >ntFnio odrigues dY>ndrade, no qual andaram de+esseis meses, e em todo esse tempo nos dias da quaresma e de se#tas6feiras e s!-ados, comeram carne por falta de mantimentos, por"m muitos dos ditos dias ele confessante a comeu podendo escusar de a comer, tendo outro mantimento com que se podia manter sem carne, e assim a comeram outras muitas pessoas da dita companhia, os quais por seu nome não conhece$ %# * Con&iss,o de Cristo/,o de B-l('es 0 3esti5o0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 2# de 6aneiro de 1"92 130
:isse ser cristão velho, natural da capitania de S$Aicente desta costa do Brasil, mameluco, filho de In!cio de BulhJes, homem pardo e de =rancisca, índia desta terra, de idade de vinte e cinco anos, solteiro, ao presente estante em Caguaripe, na fa+enda de =ernão 0a-ral tra-alhador$ 5 confessando, disse que haver! cinco anos pouco mais ou menos que ele foi ao sertão e l! andou na companhia de :omingos =enandes 7omaca8na, mameluco que ora vai para Pernam-uco, e então andaram no sertão alguns oito meses em um lugar que chamam as Palmeiras$ 129 6
=ava era, na "poca, o @legume maior que o feião, que nasce em vagens grossas$ 5sp"cie de vagem$ 130 6 Processado, apesar da confissão completa na graça$ >-uração de leve suspeita na f" na mesa, penitências espirituais e proi-ição de voltar ao sertão$ >N77, I., proc$<'&E$
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No meio do sertão, o dito :omingos =ernandes 7omaca8na mandou a ele e aos mais companheiros que adorasem o ídolo dos gentios e fi+essem todos as cerimFnias dos gentios assim como eles fa+iam na sua a-usão chamada Santidade, e ele confessante se aoelhou por muitas ve+es em diversos dias no dito sertão diante do ídolo dos gentios, que era uma figura de pedra que não representava homem nem mulher, mas quimera, e fe+ tam-"m as cerimFnias deles, fa+endo como eles fa+iam$ 5 di+endo os gentios a eles cristãos que se fossem lavar, porque havia de nascer um fogo novo entre eles, e eles se foram lavar, e assim vieram, at" que chegaram 9 fa+enda de =ernão 0a-ral, onde os ditos gentios estiveram algum tempo com a dita sua chamada Santidade, e no dito sertão andaram fa+endo as ditas cerimFnias e adoraçJes gentílicas por tempo de quatro meses$ 5 todas estas coisas ele confessante fe+ por o dito :omingos =ernandes mandar que o fi+essem, e tam-"m com medo de os gentios lhe não fa+erem mal e de os matarem, e as mesmas adoraçJes e cerimFnias fi+eram o mesmo :omingos =ernandes 7omaca8na, e Br!s :ias, mameluco, morador em Peroasu, casado na ilha de 7amoatarandua, e a :omingos 0amacho, homem -ranco, que foi feitor de =ernão 0a-ral, que foi para as capitanias de -ai#o, e Simão :ias, morador em Caguaripe, na mesma fa+enda de =ernão 0a-ral, e Pantaleão i-eiro, homem -ranco, casado, morador na fa+enda de :iogo 0orrea de Sande, em 0aipe, e outros mais que lhe não lem-ram os nomes$ 5 outrossim, ele confessante se re-ati+ou pelo modo que costumavam os ditos gentios naquela a-usão chamada Santidade, que " mudando o nome, pondo o maioral do dito gentio outro nome, e a ele confessante pFs outro nome que lhe não lem-ra, o qual principal di+ia que era :eus e senhor do mundo$ 5 havia entre eles outro gentio a que chamavam Cesus e uma gentia a que chamavam Santa *aria, e a outro chamavam vig!rio, e outros ministros que ensinavam a doutrina da dita a-usão, e havia outro gentio entre eles, o mais grado, a que chamavam papa, e uma gentia mulher do dito Papa a qual di+ia ser mãe de todo o mundo$ 5 outrossim, se re-ati+aram pelo dito modo um negro cristão e casado de =ernão 0a-ral a que chamam @cão grande, ao qual puseram nome @pai Cesu pocu, que quer di+er @Senhor Cesus comprido, e o dito Simão :ias e outros muitos mais se re-ati+aram que lhe não lem-ram$ 5 depois de o dito ídolo da chamada Santidade estar ! com os gentios na fa+enda de =ernão 0a-ral, ele confessante tam-"m lhe fe+ as reverências, adoraçJes e cerimFnias como os ditos gentios, muitas ve+es, e isso fi+eram mesmo outros muitos da dita companhia que se acharam presentes$ 5 tam-"m aí viu a =ernão 0a-ral de 7aíde reverenciar e a-ai#ar a ca-eça ao dito ídolo e assim tam-"m viu a =rancisco dY>-reu, casado e morador em 7assuapina, e a Simão da Silva, so-rinho de *anuel 7eles, que foi governador deste estado, que se foi para o reino, fa+er as ditas reverências ao dito ídolo, e assim fi+eram
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na fa+enda de =ernão 0a-ral as ditas reverências e idolatrias os mesmos da companhia acima nomeados$ 5 confessou mais, que ele vem ora do sertão, onde foi na companhia de >ntFnio odrigues dY>ndrade, onde h! de+esseis meses que andam, que foram fa+er descer gentio, no qual tempo todo, nos dias da quaresma e de se#tas6feiras e s!-ados, comeu sempre carne podendo escusar comê6la$ 5 assim viu mais comer a :iogo da =onseca, solteiro, mameluco, morador em 0aipe, e a 1onçalo 0ardoso, homem -ranco, criado de >m-r3sio Pei#oto desta cidade, e a Bastião *adeira, mameluco, morador em Pernam-uco, e a outros muitos cuos nomes lhe não lem-ram, os quais todos comeram carne, e ele os viu comer em todo o dito tempo de de+esseis meses que h! que para o sertão foram, nos dias proi-idos, podendo escusar de o comer por terem outros mantimentos de farinha, favas e pescado com que se podiam manter$ 5 outrossim, confessou que nesta 8ltima ornada do sertão ele confessante deu de+ ou do+e cargas de p3lvora e seis ou sete pelouros a um principal cavaleiro dos gentios$ 5 outrossim, viu a 0ristovão da ocha, seu capitão, que ora se foi do sertão para Pernam-uco, onde " morador, dar um cavalo e uma "gua, e -andeira e tam-or de guerra, e p3lvora e uma espada ao >rataca, senhor gentio de certas aldeias do sertão, e mandar6lhe consertar pelo serralheiro que ia na dita companhia as suas espingardas, os quais gentios são inimigos dos -rancos e lhes dão guerra quando podem, e ora nesta ornada não a deram a eles cristãos porque eram muitos e por tam-"m eles -rancos usarem de manha, mandando prometer d!divas aos ditos gentios inimigos, aos quais o dito 0ristovão da ocha deu mais uma tenda de serralharia, fora de foles, -igorna e mais instrumentos de serralheiro$ 5 o dito :omingos =ernandes 7omaca8na mandou consertar ao dito gentio, cavaleiro inimigo dos cristãos, uma espingarda e um pistolete, a qual espingarda ele confessante levou a consertar a 1onçalo 0ardoso acima nomeado, e deu o dito pistolete desconcertado ao dito cavaleiro gentio$ 5 sendo perguntado e admoestado que diga a verdade de sua intenção quando fa+ia as ditas cerimFnias gentílicas e idolatrias, respondeu que sempre creu e teve a f" de 0risto no seu coração, e sempre entendeu que o dito ídolo e a dita a-usão era falsidade e ofensa de :eus Nosso Senhor$ 131
%1 * Con&iss,o de LE:aro da C-n(a 0 3esti5o0 7rist,o /el(o0 no re3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 21 de 6aneiro de 1"92 132
131 6 PelouroM -ola de metal para arma de fogo da "poca, a e#emplo de arca-u+ ou espingarda$ 132 6 =oi processado, apesar de confessar na graça$ ece-eu penitências espirituais, al"m de proi-ido
de voltar ao sertão$ >N77, I., proc$ %%E)$
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:isse ser mameluco, natural da capitania do 5spírito Santo, filho de 7ristão da 0unha, defunto, homem -ranco, e de sua mulher Isa-el Pais, mameluca, irmã do 0Fnego C!come de Tueir3+, solteiro, de idade de trinta anos, que não tem ora lugar certo de morada$ 5 confessando suas culpas, disse que haver! sete anos pouco mais ou menos que ele foi de Pernam-uco na companhia de *anuel *achado para o sertão de Paripe, no qual se dei#ou ficar na companhia dos tupinam-ases, que são gentios, e entre eles andou vivendo cinco anos pouco mais ou menos, sempre ao modo gentílico e tingido, e fa+endo e usando todas as cerimFnias, usos ritos, estilos e costumes dos ditos gentios, fa+endo tudo assim e da maneira como se ele fora gentio, e tratando com feiticeiros como eles fa+em , por"m, ainda que fa+ia tudo isto, ele nunca no seu coração dei#ou a f" de Cesus 0risto, e sempre em seu coração foi cristão e se encomendou a :eus e a Nossa Senhora e Santos do Paraíso$ 5 no dito tempo andava com os ditos gentios nas suas guerras, audando6os contra os outros gentios, e uma ve+ vieram -rancos cristãos ter so-re uma aldeia onde ele confessante estava, e o puseram em cerco, pelo que ele os guerreou e des-aratou, por"m neste des-arate não ficou nenhum dos cristãos mortos, ainda que ficaram alguns feridos, que depois sararam$ 5 outrossim, no dito tempo, nas guerras que ele fa+ia contra outros gentios, ferrou muitos deles e matou, e os deu a comer aos gentios em cua companhia ele andava, e em todos os ditos cinco anos e meio pouco mais ou menos que andou no dito sertão, sempre nos dias das quaresmas e das se#tas6feiras e s!-ados, e mais dias de eum proi-idos pela Igrea, comeu carne sem fa+er diferença alguma e sem ter necessidade dela, e deu mais aos gentios uma espada$ 5 sendo perguntado, disse que os ditos gentios em cua companhia andou são inimigos dos -rancos cristãos e os guerreiam, como fi+eram no dito tempo que ele com eles andou, que tendo feito resgate com um arraial de perto de du+entos -rancos cristãos, que foram ao dito sertão resgatar, eles ditos gentios, 9 traição, assaltaram com o dito arraial de -rancos e mataram quator+e ou quin+e -rancos cristãos, e a muitos feriram e os des-arataram, tomando6lhe as peças e ficando6se com elas e com o resgate delas que ! tinham, e neste des-arate ficou ele confessante então des-aratado, e por isso se veio então$ :e maneira que os ditos gentios são inimigos dos -rancos cristãos e não costumam ter pa+ com eles, senão enquanto eles não tem força nem posse para lhes dar guerra$ 5 em todos os ditos anos não se confessou nem comungou, e conversou carnalmente as gentias, e tinha mulheres muitas, como costumam os gentios, e todos os 133
133 6
/ confissão que descreve uma típica operação de resgate, isto ", de troca de índios escravos por armas e outros -ens$ Neste caso, os índios que @venderam os escravos ficaram com o resgate e com os pr3prios escravos 6 as mencionadas pe0as K, tomando de assalto o arraial dos portugueses ap3s a negociação$
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e#teriores de gentio guardou inteiramente e, depois do dito tempo passado, se veio a Sergipe desta capitania$ 5 depois, ainda haver! quin+e meses, tornou para o sertão outra ve+ em companhia de 1onçalo 4lvares, onde andou at" agora, que de l! vem, e sempre neste espaço de tempo, nos dias da quaresma e se#tas 6feiras e s!-ados, e mais dias proi-idos pela Igrea, comeu carne sem necessidade eQ não se confessou na quaresma passada que esteve no dito sertão$ 5 foi perguntado se alguma ve+ em seu coração lhe pareceu que se podia salvar naquela gentilidade e que a lei dos cristãos não era -oa para a salvação das almas, e se com essa intenção fe+ algumas o-ras de gentio das que tem dito ou outras algumas mais, respondeu que nunca tal lhe pareceu e sempre esperou salvar6se na lei de 0risto, e o que fe+ fa+ia por compra+er aos índios$ 5 foi6lhe declarado o muito que lhe importa falar verdade, se fe+ as ditas o-ras de gentio com intenção de gentio, porque não pode ser a-soluto senão nesta mesa, e foi admoestado que desencarregue sua consciência, porque nesta mesa não se trata mais que da salvação de sua alma, pois est! no tempo da graça e perdão, respondeu que sempre teve a f" de 0risto no coração e tem dito a verdade$ 5 foi perguntado que adoraçJes fe+ ele e a quem adorava, respondeu que os ditos gentios não têm :eus nenhum em que creiam, nem adorem, nem têm ídolos mais que somente as coisas que os seus feiticeiros lhes di+em, essas crêem, e quando tomam carne humana dos selvagens, que " outra casta dos gentios sicQ, comem6na com grandes festas, -ailes e rego+ios, as quais festas ele confessante se achava presente, e nunca no seu coração creu aos ditos feiticeiros, mas de fora mostrava6lhes que os cria, e assim tam-"m auntava carne de porco com carne humana e, comendo com os ditos gentios, ele comia a de porco e os gentios a humana, cuidando eles que tam-"m a de porco que ele comia era humana, e de todas estas culpas disse que estava arrependido e pedia perdão$ 5 assim tam-"m confessou que, uma ve+ no dito sertão, pecou no nefando consumadamente, dormindo carnalmente com uma gentia pelo vaso traseiro como se propriamente fi+era por diante, pelo natural, e de tudo disse que pedia perdão$ 5 foi logo mandado que se fosse confessar ao 0ol"gio de Cesus e traga escrito de confissão a esta mesa$ 5 sendo perguntado se nas ditas gentilidades andou outro algum cristão fa+endo com ele o mesmo que dito tem, respondeu que não$ %2 * Con&iss,o de Bento Rodri-es Lo-reiro0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 22 de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural dY>lmeirim, filho de >ndr" odrigues .oureiro e de sua mulher 0atarina .ui+ .oureira, ! defuntos, casado com 5sperança
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7ourinha, de idade de quarenta e sete anos pouco mais ou menos, lavrador, morador em Itaparica, digo, na sua freguesia de Itaparica$ 5 confessando, disse que haver! quin+e anos pouco mais ou menos que, indo ele com sua mulher e filhos em um carro para a igrea, 9 missa, vindo a ter certas diferenças com sua mulher so-re ci8mes que lhe ela demandava, ele se -en+eu e querendo di+er o nome de @Cesus em que creio, disse e pronunciou com a -oca @Cesus de que arrenego, por"m disse a dita -lasfêmia s8-ita eQ desatinadamente, sem ser sua intenção di+ê6la, e logo que a disse deu punhados na -oca e se arrependeu muito, e se veio 9 cidade confessar, e ora neste tempo da graça vem pedir miseric3rdia a esta mesa$ 5 foi logo perguntado se, quando ele disse a dita -lasfêmia, dei#ou de crer em Cesus 0risto, respondeu que nunca dei#ou de crer em Cesus 0risto, mas que sem considerar a disse$ 5 sendo mais perguntado, disse que não estava -ê-ado, mas agastado, e que sua mulher somente o ouviu e o repreendeuR foi6lhe mandado ter segredo e que torne a esta mesa no mês de março primeiro que vem$ %$ * Con&iss,o de Rodrio dAl3eida0 7rist,o /el(o0 na ra5a do Re7@n7a/o0 e3 2$ de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural da ilha de Palma, filho de 5stevão odrigues e de sua mulher =elipa Aelosa, ! defuntos, de idade de vinte e seis anos, casado com *argarida Pereira, mulher -ranca, morador em Sergipe do 0onde$ 5 confessando, disse que haver! sete anos pouco mais ou menos, em uma festa do natal na igrea de Sergipe, um dia, depois de ele ter almoçado uma pouca de farinha da terra, foi rece-er o Santíssimo Sacramento da 5ucaristia, lem-rando6se muito -em que tinha naquela manhã almoçado a dita farinha, e disto pede perdão e miseric3rdia neste tempo da graça, nesta mesa$ 5 por não di+er mais, foi perguntado se crê que na h3stia consagrada est! o verdadeiro corpo de 0risto Nosso Senhor e que o contr!rio " heresia, respondeu que sim, crê$ Perguntado se quando almoçado, eQ tomou o Santíssimo Sacramento, duvidou estar nele o corpo de Cesus 0risto, respondeu que não$ 5 sendo mais perguntado, disse que s3 almoçou farinha da terra e -e-eu vinho, e estava em seu siso, e depois que saiu da sua terra não foi a outra senão a esta do Brasil, e nunca tratou com .uteranos nem leu seus livros, e que -em sa-e que " o-rigado a comungar em eum, e que est! muito arrependido, e foi6lhe mandado que no mês de março torne a esta mesa$
91 %4 * Con&iss,o de A&onso L-is 0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a -e se 7on7ede- ente do Re7@n7a/o desta Ba(ia0 e3 2$ de 6aneiro de 1"92 134
0onfessando, disse ser cristão velho, natural de vila dY>lvito, filho de *anuel .uis e de Inês odrigues, casado com Isa-el .uis, cego, morador na ilha dos =rades da freguesia de 7amararia$ 5 confessando, disse que haver! de+esseis anos pouco mais ou menos que vive em contínuos desgostos, -rigas e deferenças com sua mulher e com uma sua filha casada, que am-as se chamam Isa-el .uis, e com um seu filho >fonso odrigues, por a dita sua mulher lhe negar o d"-ito matrimonial , e por a dita filha não querer ganhar de comer com seu marido, e com o dito seu filho por lhe não dar o que lhe pede, não o tendo, e por ele ser po-re, cego que não pode ganhar e pede esmolas pelo amor de :eus$ 5 todos os ditos mulher e filhos o espancam, es-ofeteiam e o escalavram, e lhe pu#am pelas orelhas, e lhe fa+em outras afrontas e lhe chamam nomes inuriosos, e ele desatinado e agastado com as ditas coisas que passa de de+esseis anos a esta parte pouco mais ou menos, em todo o dito tempo, por muitas ve+es, em diversos dias e lugares, arrenegou de :eus eQ dos Santos do paraíso, as quais -lasafêmias her"ticas disse por grande n8mero de ve+es, em todo o dito tempo, perante a dita sua mulher e perante os ditos sua filha e filho e perante outras pessoas, que por ele ser cego não vê, e das ditas -lasfêmias est! muito arrependido e pede perdão neste tempo da graça$ 5 tam-"m quando a dita sua filha o es-ofeteia, ele lhe di+ que ela, es-ofeteando a ele es-ofeteia a 0risto, e a dita sua filha di+ que ele que di+ que ! que ela o es-ofeteia que ele se es-ofeteara tam-"m com 0risto, por"m ele não se afirma que tal dissesse nunca, por"m se com agastamento o disse foi não atentando, e pede perdão$ 5 por mais não di+er foi perguntado se quando ele disse as tais -lasfêmias dei#ou de crer em :eus ou em Santos, ou quando disse alguma delas, respondeu que sempre creu em :eus e na Santíssima 7rindade e nos Santos do Paraíso, e logo depois que -lasfemava se punha a chorar com arrependimento$ 5 sendo mais perguntado, disse que nunca -lasfemou contra Nossa Senhora, e que nos ditos tempos em que disse as ditas -lasfêmias ele não estava -ê-ado nem fora de seu uí+o, mas estava cheio de ira e agastamento, e foi6lhe mandado ter segredo e que torne a esta mesa no mês de março pr3#imo primeiro que vem$ Por ser cego, assina a seu rogo o not!rio$ 135
134 6
Processado por não fa+er confissão completa na graça e ser denunciado por invocar os dia-os$ 0ondenado a sair em auto p8-lico, des-arretado, cingido com uma corda, com uma verga de pau na -oca, vela acesa na mão, fa+er a-uração de leve suspeita na f", al"m de penitências espirituais$ Isento de açoite e gal"s por ser velho, cego e manco$ >N77, I., proc$%)'&$ 135 6 efere6se 9 o-rigação m8tua dos esposos de manter relaçJes se#uais, respeitadas as leis da Igrea$
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4 margem do original manuscrito HJeixa a/ui de conessar outras culpas graves e oi a p5#licoI %" * Con&iss,o de Beatri: de a3aio0 7rist, /el(a0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 2$ de 6aneiro de 1"92
>pareceu sem ser chamada Beatri+ de Sampaio, mulher de Corge de *agalhães, cristã velha, a qual denunciou nesta mesa no segundo livro das denunciaçJes, folhas ?', onde estão as suas mais confrontaçJes$ :isse que haver! cinco ou seis anos que, mostrando esta ao dito seu marido uns relic!rios de ouro, dentro dos quais estão uns agnus dei, di+endo ao dito seu marido que fi+era aqueles relic!rios para suas filhas, e ele lhe não deu -oa resposta, antes peleou com ela porque gastava o dinheiro$ Pelo que, ela, agastada com c3lera e agastamento, tomou os relic!rios e com f8ria os arremessou por uma ladeira a-ai#o, onde os relic!rios, saltando pelo chão, um deles que-rou na vidraça, e pediu perdão neste tempo de graça$ 5 foi logo perguntada em que conta tem ela o agnus dei e se sa-e que " relíquia a que se deva muita veneração, respondeu que tem em muita conta ao agnus dei e que um padre da 0ompanhia de Cesus lhe deu o dito agnus dei de que que-rou a vidraça, di+endo6lhe que viera de oma, que lhe tivesse muita devoção e veneração$ =oi mais perguntada, se quando fe+ a dita in8ria aos ditos agnus dei, se duvidou ou sentiu mal deles e da veneração que a Igrea Santa manda ter 9s relíquias, respondeu que nunca tal duvidou, mas que com c3lera, sem consideração, fe+ o dito desacatamento de que logo se arrependeu muito e se confessou a seus confessores, e foi6lhe mandado ter segredo e que no mês de março que vem torne a esta mesa$ Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio$ %% * Con&iss,o de Ant@nio Correa0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 2$ de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural de *oimenta, termo da cidade de .amego, filho de :omingos Pires, lavrador, e de sua mulher Isa-el :uarte, solteiro, de idade de vinte e cinco anos pouco mais ou menos, morador na Itapoã, termo desta cidade, em casa de >ntFnio Botelho$ 5 confessando, disse que, sendo ele frade da ordem de São Coão 5vangelista no mosteiro de Ailar de =rades, no termo de Braga, haver! quatro ou cinco anos, no dito mosteiro, um frade dele por nome :iogo da 0onceição, natural de egalados, mance-o que então podia ser de idade de trinta anos e ! era sacerdote, e naquele tempo era ou havia pouco que fora sacristão no dito mosteiro, um dia, no claustro, perguntou a ele confessante como se -en+ia e persignava$ 5 logo ele confessante se persignou e -en+eu do modo que a Santa *adre Igrea ensina e costuma, di+endo, em nome do padre, na testa, e do filho, a-ai#o dos
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peitos, e do 5spírito Santo, nos om-ros, e o dito frade :iogo da 0onceição lhe disse que era heresia nomear o filho a-ai#o dos peitos, na -arriga, e lhe ensinou que se havia de -en+er nomeando o padre na testa at" 9 -arriga, untamente, e nomeando o filho em um om-ro e o 5spírito Santo em outro om-ro$ 5 outro frade, fuão do 5spírito Santo que presente estava, do mesmo mosteiro, tam-"m de missa, lhe disse que aquela era a verdade e que assim se havia de -en+er, como lhe ensinava o dito :iogo da 0onceição$ 5 por ele confessante cuidar que aquela era a verdade, usou do dito modo de -en+er e assim se -en+eu sempre, de então por diante, como o dito frade lhe ensinou, at" ora, pouco tempo h!, haver! menos de um ano que, estando ele confessante na Pitanga, termo desta cidade, em casa de =rancisca dY>lmeida, vi8va, mulher que foi de .opo Aieira, ensinando ele uns seus negrinhos a -en+er da dita maneira, eles disseram 9 dita sua senhora que ele os não ensinava a -en+er da maneira que ela os ensinava$ 5ntão a dita =rancisca dY>lmeida disse a ele, confessante, que não era aquele -om -en+er, pois era contra o costume da Igrea, e perguntou a um cl"rigo, e tam-"m disse o mesmo como ela$ Pelo que, ele confessante, de então at" ora, dei#ou o dito modo de -en+er que lhe ensinaram os frades, e tornou a usar do primeiro modo de -en+er como dantes usava, e desse usa ora como costuma a Igrea, e da culpa de no dito tempo se -en+er do dito modo pede perdão, neste tempo de graça, porque cuidou que acertava$ 5 sendo mais perguntado, disse que quando os ditos frades o ensinaram, não estava outrem ningu"m presente que lhe lem-re, e que haver! três anos ou quatro que ele confessante se saiu do dito mosteiro, por ser doente de gota coral, e os ditos frades lhe parece que ficaram no dito mosteiro e não eram pregadores$ 5 foi6lhe mandado que no mês de março que vem torne a esta mesa$ % * Con&iss,o de Baltasar Bar=osa0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 2$ de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural dos >rcos, cinco l"guas de Braga, filho de 1aspar Bar-osa e de Aiolante 1onçalves, de idade de quarenta e cinco anos pouco mais ou menos, casado com 0atarina 4lvares, lavrador, morador em Sergipe do 0onde deste ecFncavo$ 5 confessando, disse que haver! vinte anos pouco mais ou menos que, perdendo6se com o tempo na costa de Sergipe, o novo, onde ora " a cidade de São 0ristovão desta capitania, e ele com outros seus companheiros foram tomados pelos franceses luteranos que naquele tempo estavão no dito lugar$ 5 um dia, estando um luterano daqueles, disse aos companheiros, dele confessante, se indo a oma ao Papa pedir6lhe perdão, se lhe poderia o Papa perdoar as culpas de luterano para que ele voltasse a viver catolicamente, e um seu companheiro por nome >ntFnio 1onçalves lhe respondeu que sim, poderia perdoar o Papa$
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5ntão, ele confessante, simples e inconsideradamente, por contradi+er ao seu companheiro, respondeu6lhe que o não podia fa+er, e desta culpa pede perdão$ 5 foi logo perguntado se teve ele, ou tem, d8vida que o Papa tenha maior poder so-re todos os -ispos e prelados do mundo, respondeu que nunca teve, nem tem tal d8vida, e que -em creu e sa-ia que o Papa tem poderes de :eus para poder perdoar aos .uteranos, convertendo6se eles 9 f" cat3lica$ 5 sendo ele mais perguntado, disse que o dito >ntFnio 1onçalves " ! morto e quando isto aconteceu estava tam-"m presente :iogo :ias, mameluco, genro de 1arcia da Aila e cunhado dele confessante, morador nesta cidade, e não foi mais presente outrem algu"m, e que o dito >ntFnio 1onçalves, ! defunto, repreendeu logo a ele confessante e ele se calou, e não estava -ê-ado nem fora de seu uí+o, e foi6lhe mandado ter segredo$ 5 declarou, sendo perguntado, que duas ou três ve+es, no dito flagrante, afirmou ele que o Papa não tinha poder para a-solver e perdoar aos luteranos para ficarem cristãos, e contradi+endo6lhe isto o dito >ntFnio 1onçalves, ele confessante o tornou a afirmar, di+endo que o papa não podia, at" que enfim se calou sem se desdi+er, e isto fe+ com teima de sempre contradi+er ao dito >ntFnio 1onçalves, por andarem de ri#a$ 5 depois disto, o dito luterano -lasfemou contra o Papa, di+endo palavras inuriosas, e o dito luterano falou as ditas coisas em espanhol, que -em o entendia, e prometeu ter segredo pelo uramento que rece-eu, e foi6lhe mandado que no mês de março que vem torne a esta mesa$ %! * Con&iss,o de Bel7(ior da Costa 0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 2$ de 6aneiro de 1"92 136
:isse ser cristão velho, natural da vila de 1uimarães, filho de Corge 1onçalves, tecelão de toalhas e de sua mulher Senhorinha da 0osta, defuntos, de idade de trinta e cinco anos, morador em Sergipe do 0onde, casado com Beatri+ Piçarra$ 5 confessando suas culpas, disse que sendo ele moço de de+ anos de idade pouco mais ou menos, veio pousar 9 casa do dito seu pai, na dita vila de 1uimarães, *ateus Nunes, tido por cristão novo, cirurgião, morador nesta cidade, e uma das noites que aí dormiu, dormiu ele confessante com ele na cama, e de noite, o dito *ateus Nunes, que então poderia ser de idade de vinte anos, o começou a solicitar de maneira que, com efeito, chegou a dormir com ele carnalmente, metendo seu mem-ro desonesto pelo vaso traseiro dele confessante, e cumprindo nele assim como se fi+era com mulher por diante, e consumou o pecado de sodomia uma ve+ somente$ 136
6 Processado pelo visitador, apesar de confessar na graça e não ser denunciado$ epreendido na mesa e penitências espirituais$ >N77, I., proc$<'&;$
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5 sendo perguntado, disse que naquele tempo não entendeu ele confessante -em ser isso pecado, mas logo ao dia seguinte o contou em casa, e nunca mais dormiu com ele, porque se foi$ 0onfessou mais, que sendo ele confessante de quator+e anos pouco mais ou menos, nesta cidade, em casa de seu pai, um dia, depois de antar, estando ele deitado em uma rede, veio aí ter um moço de idade de nove ou de+ anos, filho de um carpinteiro das ilhas, morador ora em Paripe com sua mãe vi8va, o qual moço se deitou com ele na rede e ele confessante dormiu com ele carnalmente, penetrando com seu mem-ro desonesto o vaso traseiro do dito moço cuo nome lhe não lem-ra, e cumpriu com ele como se o fi+era com mulher por diante, e consumou o pecado de sodomia$ 137
5 sendo perguntado, disse que neste caso segundo, ! ele -em sa-ia ser isso pecado grave, e que ningu"m o viu, e disse que destas culpas pedia perdão, e foi6 lhe mandado que torne a esta mesa no mês de a-ril$
4 margem, no manuscrito original H1ste conessante ez muitas mostras de arrependimento, dei>lhe nesta mesa em segredo penit-ncias espirituais com a admoesta0ão necess2ria 1 mandei>o conessar e trouxe escrito do conessor %9 * Con&iss,o de ar7os Barroso0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 2$ de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural de Barroso, filho de Bastião Pires e de sua mulher Inês *artins, lavradores, ! defuntos, casado com 0atarina 0olaça, de idade de quarenta e cinco anos pouco mais ou menos, lavrador, morador em 7assuapina, no engenho de *artim 0arvalho$ 5 confessando, disse que haver! vinte e oito anos pouco mais ou menos que, estando ele no mosteiro de Bustello, da ordem de São Bento, al"m da cidade do Porto, onde ele confessante tinha um tio frade por nome frei >ntFnio de io :ouro, primo de sua mãe, que então era prior no dito mosteiro, por cua causa ele continuava muitas ve+es nele, estava no dito mosteiro um moço de redor de idade de quator+e ou quin+e anos, por nome :omingos, natural de i-a do :ouro, o qual servia de moço no dito mosteiro de mandados , e tinha nele um irmão frade por nome frei >ntFnio Nogueira$ 5 sendo ele confessante, com o dito :omingos, companheiros que dormiam em uma cama, chegaram a ter ami+ade desonesta de maneira que pecaram no 138
137 6
:ormir, usado com esta conotação se#ual, por ve+es era ver-o transitivo diretoM @dormir o ou @dormir a significava ter relaçJes se#uais com algu"m$ 138 6 *oço de recados$
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pecado nefando de sodomia duas ou três ve+es em diversas noites, sendo ele confessante sempre o agente, dormindo com o dito :omingos carnalmente, metendo seu mem-ro desonesto pelo vaso traseiro do dito :omingos e cumprindo com ele por detr!s como fa+ um homem com uma mulher por diante, consumando o pecado da sodomia as ditas duas ou três ve+es$ 5 sendo mais perguntado, disse que ningu"m os viu faa+er os ditos pecados, e que -em sa-ia ele que eram pecados graves e que ! se confessou deles em suas confissJes passadas, e que nunca mais os cometeu com outra alguma pessoa, e que não sa-e onde estea ora o dito c8mplice e que ele confessante foi o principal provocador$ 5 foi logo admoestado que lhe não aconteça outro tal porque ser! gravissimamente punido, e foi mandado que se fosse confessar ao Padre Tuirício 0a#a e traga escrito a esta mesa$ # * Con&iss,o de Ant@nio de eira0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 2$ de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural desta Bahia, filho de =rancisco de *eira, homem -ranco, e de sua mulher Ilena de *eira, negra desta terra, -rasila, casado com *aria >lverna+, mameluca, morador e lavrador no io de Coane, freguesia de Paripe$ 5 confessando, disse que haver! sete meses pouco mais ou menos que, estando ele na sua fa+enda onde " morador, em uma se#ta6feira 9 tarde chegaram 9 sua casa Pero 7ei#eira, lavrador que ele sempre ouviu nomear por cristão novo, morador em 7oque 7oque, e .ui+ dYOliveira, carpinteiro, o qual não sa-e se " cristão novo tam-"m, am-os seus amigos que vinham dYaldeia do 5spírito Santo e iam para suas casas, e aquela noite de se#ta6feira foram seus h3spedes e lhes deu agasalho em sua casa$ 5 ao s!-ado seguinte, pela manhã, querendo6se eles partir, não tendo ele confessante que lhes dar a almoçar, os convidou que, se quisessem, lhes mataria uma galinha para almoçarem, e por eles di+erem que sim, queriam, ele confessante matou uma galinha e a assou e eles a almoçaram, e untamente com eles comeram dela tam-"m ele confessante e mais :omingos de e-elo, mameluco seu cunhado, morador na mesma fa+enda dele confessante$ 5 outrossim, confessou que as negras de sua casa cristãs, *argarida e >ntFnia, -rasilas, alguns domingos e dias santos tra-alham fiando e fa+endo nastros , não lho estorvando ele$ 139
139 6
=itinha com que se entrança o ca-elo$
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5 por não di+er mais, foi perguntado quantas l"guas são de sua casa para o lugar onde moram os ditos Pero 7ei#eira e .uis dYOliveira, respondeu que são três l"guas que caminham em três horas$ 5 sendo mais perguntado, disse que nenhuma outra pessoa os viu comer a dita galinha senão as ditas suas negras e negros seus que serviam 9 mesa, e das ditas culpas pediu perdão neste tempo da graça e do costume disse nada, e foi6lhe mandado ter segredo pelo uramento que rece-eu e tornar a esta mesa no mês de março primeiro$ 1 * Con&iss,o de Do3inos Re=elo0 3esti5o0 na ra5a do Re7@n7a/o0 e3 24 de 6aneiro de 1"92
:isse ser mameluco, natural desta Bahia, filho de *iguel *artins, homem -ranco, e de .eonor, -rasila, solteiro, de idade de vinte e sete anos, morador no io de Coane, freguesia de Paripe$ 5 confessando, disse que no mês de fevereiro do ano passado, em um s!-ado pela manhã, estando em casa de seu cunhado >ntFnio de *eira, com quem ele " morador, Pero 7ei#eira e .uis dYOliveira, carpinteiro, moradores em 7oque 7oque, que tinham dormido aquela noite aí em casa, querendo se partir para a sua, por não terem que almoçar disse o dito seu cunhado que lhes mataria uma galinha, e eles disseram que sim, queriam$ 5ntão se assou uma galinha e todos comeram dela, a sa-er, Pero 7ei#eira, defunto, e .uis dYOliveira, e ele confessante e seu cunhado, e desta culpa pede perdão$ 5 sendo perguntado, disse que os ditos Pero 7ei#eira e .uis dYOliveira caminhavam a cavalo e o caminho dali at" suas casas " de três para quatro l"guas$ 2 * Con&iss,o de Noitel ;ereira0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 24 de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural dY>lvito, filho de >fonso .uis, carreiro, e de sua mulher Isa-el .uis, casada com >ntFnia 0orreia, moradores na ilha dos =rades, freguesia de 7amararia, carpinteiro e lavrador, de idade de vinte e sete anos$ 5 confessando, disse que esta quaresma que ora vem fa+ dois anos, sendo ele morador em Sergipe do 0onde deste ecFncavo, a dita sua mulher se foi confessar pela o-rigação da Igrea ao seu vig!rio que era então >ntFnio =ernandes$ 5 depois de a dita sua mulher vir da confissão, lhe disse em casa que o dito vig!rio na confissão a cometera tratando com ela palavras em despre+o dele confessante e em louvor dela, que mal empregada era ela nele, e que se ele vig!rio tivera mulher lhe havia de querer grande -em e a havia de tra+er vestida de seda $ 140
140 6
> atitude do confessor como se confirma na confissão seguinte da pr3pria >ntFnia 0orreiaQ configura o crime de solicita0ão ad turpia sedu+ir ou tentar sedu+ir em confession!rio ou a prop3sito da confissãoQ, o qual passaria para o foro inquisitorial a partir de %&'', atrav"s de Breve do Papa 0lemente AIII$
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5 ouvindo ele confessante estas coisas, disse que a gente s3 a :eus se havia de confessar, e não aos homens, e desta culpa pede perdão$ 5 foi logo perguntado se sa-e ele que negar que não se deve fa+er a confissão ao sacerdote, senão somente a :eus, que " heresia, respondeu que ele " idiota e simples e que não entendia isso, mas que com pai#ão o disse levemente$ Perguntado mais, se crê que " o-rigado todo cristão confessar6se ao seu pastor e prelado homem, e que não -asta confessar6se a :eus como a Santa *adre Igrea tem e ordena, respondeu que assim tem e crê como a Santa *adre Igrea tem e ensina$ 5 sendo mais perguntado, disse que a dita sua mulher " de idade de de+essete anos e o dito vig!rio lhe parece ser de quarenta anos pouco mais ou menos$ >ssinou de cru+$ $ * Con&iss,o de Ant@nia Correia0 7rist, /el(a0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 24 de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristã velha, natural de .is-oa, filha de :iogo Tuadrado e de sua mulher *aria =ernandes, criados do -ispo dom >ntFnio Barreiros, e casada com Noitel Pereira, lavrador, de idade de de+essete ou de+oito anos, moradora na ilha dos =rades, freguesia de 7amararia$ 5 confessando, disse que na quaresma passada, senão na outra atr!s, sendo ela moradora na freguesia de Sergipe do 0onde, se confessou ao vig!rio da dita freguesia, >ntFnio =ernandes, pela o-rigação da Igrea, e estando dentro do confession!rio, aca-ando de a a-solver, lhe disse logo que mal empregada era ela em seu marido e que se ela fora sua mulher, dele vig!rio, que doutra maneira, com vestidos de seda, a houvera de tra+er, e que se ela quisesse alguma coisa que lha pedisse que ele faria tudo, e estas coisas com palavras -randas e de maneira que claramente ela entendeu serem com intenção desonesta$ Pelo que se alevantou logo muito envergonhada e se foi, e depois, em sua casa, perante seu marido contou o que lhe aconteceu, di+endo que era -om confessar6se uma pessoa ao p" de um pau, a Nosso Senhor, e não aos cl"rigos e aos confessores, pois eles eram tais que na confissão cometiam as mulheres, e desta culpa pede perdão$ 5 foi6lhe dito pelo senhor visitador que ela podia enganar6se, que o vig!rio dir6lhe6ia aquelas palavras com -om +elo de caridade, respondeu que ela o não entendeu assim$ 5 foi perguntada se crê ela que " -om e necess!rio confessar6se aos confessores como ordena a Santa *adre Igrea e como 0risto Nosso Senhor instituiu, e não confessar6se s3 ao p" de um pau como ela di+, respondeu que tudo crê como crê a Santa *adre Igrea, e que ela, como moça ignorante, disse aquelas palavras$ 5 sendo mais perguntada disse que não se lem-ra -em se seu marido lhe ouviu di+er estas palavras$
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Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio$ 4 * Con&iss,o de ?o,o Rodri-es ;al(a0 7rist,o /el(o0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 24 de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural da vila de *oura, filho de *ateus odrigues e de sua mulher .eonor odrigues, lavradores, defuntos, de idade de sessenta e dois anos, casado com *"cia de .emos, lavrador na freguesia de Nossa Senhora da Piedade, no engenho de Bernardo Pimentel$ 5 confessando, disse que haver! cinquenta e dois anos que, em Portugal, no termo de *oura, uma ou duas ve+es encantou os -ichos de certo gado cuo dono lhe não lem-ra$ O qual encantamento era para os -ichos cairem ao gado da maneira seguinte, tomava nove pedras do chão e di+ia as palavras seguintes, @encanto -i+andos com o dia-o maior e com o menor, e com os outros todos, que aos três dias cairão todos, e estas palavras di+ia nove ve+es, e cada ve+ que as aca-ava de di+er lançava uma das ditas pedras para escontra o lugar onde andava o gado, e desta culpa disse que pede perdão$ 5 foi perguntado se entendia ele que nisto havia contrato com o dia-o, respondeu que sim, entendeu$ Perguntado se quando usava deste encantamento, ou antes, ou depois, dei#ou a f" de Cesus 0risto e creu que os demFnios lhe podiam valer e aproveitar no dito encantamento, respondeu que nunca dei#ou a f" de Cesus 0risto e que o fa+ia porque, naquele tempo, o viu fa+er geralmente a quase todos os pastores daquela terra$ 5 sendo mais perguntado, disse que não sa-e se aproveitou e não lhe lem-ra afirmadamente quem lho ensinou, e nunca mais o usou$ 5 foi6lhe mandado que o não use so- pena de ser gravemente castigado, e foi6lhe mandado que tornasse no mês de março$ " * Con&iss,o de BrEs Dias0 7rist,o /el(o0 3esti5o0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 2" de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão velho, mameluco, filho de >fonso :ias, homem -ranco, e de sua mulher Isa-el :ias, -rasila, natural do termo desta cidade, casado com >ntFnia .uis, mameluca, lavrador, de idade de cinquenta anos, morador na freguesia de Caguaripe deste ecFncavo$ 5 confessando, disse que haver! seis ou sete anos que ele confessante foi ao sertão do 0ampo 1rande em companhia de :omingos =ernandes 7omaca8na, a fa+er descer para a fa+enda de =ernão 0a-ral os gentios que tra+iam a a-usão e erronia chamada Santidade$ 5 andou entre eles no sertão quatro ou cinco meses, no qual tempo todo ele, confessante, fe+ com os ditos gentios todas as cerimFnias e a-usos e idolatrias,
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assim como eles mesmos fa+iam, de maneira que fe+ e e#ercitou todos os e#teriores dos ditos gentios da dita a-usão, e isso mesmo fi+eram, da mesma maneira, tam-"m o dito :omingos =ernandes 7omaca8na, que era o língua e principal da sua companhia, e Pantaleão i-eiro, homem -ranco, morador na dita freguesia de Caguaripe, e Pero 4lvares, mameluco, morador em Pernam-uco, e >gostinho de *edeiros, tam-"m mameluco, :omingos 0amacho, homem -ranco, :iogo da =onseca, mulato, e 0ristovão de BulhJes, mulato, morador na fa+enda de =ernão 0a-ral, Simão :ias, mameluco, morador na mesma fa+enda, e outros$ 5 foi perguntado que su-stGncia e lei era a dita a-usão chamada Santidade, respondeu que um Brasil cristão chamado >ntFnio, criado nas aldeias da conversão, fugiu para o sertão e l! inventou esta erronia chamada Santidade, a qual em si não tem ordem nem certe+a, nem regra mais que uivarem e -ugiarem , não tendo nomeadamente :eus, e fa+em cru+es metidas no chão em montes de pedra, e do p" dela para todas as partes em redondo riscam no chão uns riscos, e tra+em contas de re+ar de pau com suas cru+es e estremos , e passeando, -olindo com os -eiços, vão correndo as contas e falam na Santíssima 7rindade com desprop3sitos e erros her"ticos, de maneira que vivem assim, sem nenhuma significação$ 5 pJem6se nomes uns aos outros de Cesus e de Santa *aria, e o dito -rasil >ntFnio tem mulher e filhos e ele mesmo -ati+a os seus filhos com duas candeias acesas, com um prato dY!gua, -en+endo6a, lança6lha pela ca-eça, de maneira que nesta a-usão vão arremedando os estilos que n3s os cristãos temos nas cru+es, e confessando que 0risto " senhor do mundo que d! os mantimentos, filho de Santa *aria virgem, mas nisto têm muitas imperfeiçJes e deprop3sitos como coisa de negros que são de pouco sa-er$ 5 sendo perguntado, disse que ele e os so-reditos fa+iam e di+iam os ditos desprop3sitos, assim como os ditos gentios, para os enganaram e tra+erem consigo parta a dita fa+enda de =ernão 0a-ral, por"m que ele confessante, interiormente, sempre teve em seu coração firme a f" de Cesus 0risto e foi sempre no coração cristão, e nunca creu nas ditas a-usJes, e disse estar muito arrependido e pedia miseric3rdia e perdão, e do costume disse nada, e foi6lhe mandado ter segredo e que torne a esta mesa no mês de março primeiro que vem$ 141
142
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% * Con&iss,o de Ant@nio Gon5al/es0 7rist,o /el(o0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 2! de 6aneiro de 1"92
141 6 .íngua, no conte#to, quer di+er int"rprete, e deste modo era muito usado no período colonial$ 142 6 Bugio " sinFmino de macaco e -ugiar significava @fa+er -ugiarias, gestos de -ugios ou ridículos$ 143 6 5stremosM contas do ros!rio$
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:isse ser cristão velho, natural de :arque, termo de Barcelos, filho de Coão Pires, oleiro , e de sua mulher *aria Pires, defuntos, de idade de trinta e cinco anos, casado com =rancisca Pereira, mameluca, oleiro, morador em 7assuapina$ 5 denunciando sicQ, disse que haver! oito anos pouco mais ou menos que fugiram do+e ou quin+e escravos índios deste Brasil a >ntFnio Aieira, lavrador, morador em Cacaracanga, e ele, denunciante, e o dito >ntFnio Aieira, e *anuel *achado, casado com uma mulher que foi de :uarte 4lvares, mameluca, filha de um vaqueiro que foi do -ispo por nome Bastião :ias, que não sa-e lugar certo onde mora, foram todos quatro algumas cinco ou seis l"guas pelo sertão ap3s os ditos negros fugidos, os quais logo acharam$ 5 voltando com eles no mesmo dia, que era se#ta6feira, acharam uns gentios 9 montaria, os quais lhes deram um pedaço de carne de porco assada, e eles todos quatro a comeram na dita se#ta6feira, podendo escusar de a comer porque tinham perto a aldeia de São Coão, 9 qual ainda chegaram no mesmo dia com sol, e desta culpa pede perdão e miseric3rdia$ 5 sendo perguntado, disse que todos eles sa-iam muito -em, quando comeram a carne, que era dia de se#ta6feira e que a não podiam comer, e que era pecado grande comê6la$ 144
* Con&iss,o de aria Ranel0 7rist, /el(a0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 29 de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristã velha, natural do Porto, cidade do Porto, filha de *iguel i-eiro, procurador do n8mero desta cidade e de sua mulher *arta Ailela, casada com afael 7eles, lavrador, de idade de vinte e quatro anos, moradores na freguesia de 7assuapina$ 5 confessando suas culpas, disse que haver! de+ anos pouco mais ou menos, sendo ela de idade de tre+e ou quator+e anos, estando em casa de seu pai nesta cidade, sendo don+ela, veio ter um dia 9 sua casa outra moça do seu pr3prio corpo então, e que parecia ser da sua pr3pria idade então, sua vi+inha, com a qual costumava folgar muitas ve+es, filha de um carpinteiro, parece6lhe que tinha por nome =rancisca, moravam em uma rua que vai do terreiro de Cesus para a horta do correeiro, onde mora :omingos dY>lmeida, a qual ora " casada com 1onçalo 1onçalves, mestre de aç8car do engenho de >ntFnio =rancisco do Porto$ 5 estando assim, am-as s3s em casa, fecharam a porta por dentro e se deitaram so-re uma cama e tiveram am-as o nefando auntamento carnal, deitando6se a dita =rancisca de costas e ela confessante de -arriga, em cima dela, e auntando seus vasos, sem haver outro nenhum instrumento penetrante mais que somente seus vasos um 145
144 6 >rtesão que fa+ louça de -arro, cerGmica$ 145 6 7rata6se, possivelmente, do Procurador do
Senado da 0Gmara da cidade da Bahia de 7odos os Santos, cuas atri-uiçJes deviam ser parecidas com as dos Procuradores dos 0oncelhos, -asicamente cuidar do patrimFnio municipal, e su-stituir o tesoureiro, quando necess!rio$
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com outro, assim se estiveram deleitando por espaço de um quarto de hora, e o dito pecado fi+eram am-as aquela ve+ somente e sa-iam muito -em ser aquilo pecado grande em ofensa de :eus$ 5 lem-ra6lhe que a mãe da dita moça se chamava Sa-oeira, e declarou que não lhe lem-ra -em qual delas foi a que se pFs de cima e qual de-ai#o, ou se am-as reve+adamente o fi+eram$ 5 disse mais, que sendo ela moça de sete ou oito anos, na cidade do Porto, estando l! em casa de seu pai e mãe, indo ela um dia 9 casa de =elipa :ias, mulher de um picheleiro morador na porta de cima da Aila, uma sua filha por nome Isa-el, o so-renome lhe não lem-ra, ! mulher que naquele tempo parecia ser de quin+e ou de+esseis anos, tomou por força a ela confessante e, fechando a porta, ficando am-as s3s, a lançou so-re uma cama, de costas, e se pFs encima dela de -arriga, auntando o seu vaso natural com o dela confessante, sem haver outro instrumento penetrante, esteve assim com ela deleitando6se um pouco, mas como ela confessante era então pequena e esta foi a primeira ve+ que isto lhe aconteceu, o não entendia e não sa-e dar ra+ão das mais circunstGncias$ 5 outrossim, disse que, no mesmo Porto, no mesmo tempo, ela com outras moças tam-"m pequenas e algumas de do+e anos, as quais lhe não lem-ram nem conhece, em diversos tempos e lugares, por diversas ve+es tam-"m umas com as outras se deleitavam, e auntando seus vasos pela dita maneira se deleitavam$ 5 disse mais, que haver! ano e meio pouco mais ou menos, estando ela doente dos olhos, por ter feito muitas devoçJes a Santa .u+ia e não melhorar nos olhos, disse agastada, sem considerar o que di+ia, que nunca mais havia de re+ar a Santa .u+ia de trampa , isto segundo sua lem-rança, mas que logo se arrependeu e de todas estas culpas pediu perdão$ 5 sendo mais perguntada, disse que fe+ o dito pecado com a dita =rancisca, filha do carpinteiro, em um domingo ou dia santo, estando em seu siso, não lhe lem-ra se pela manhã, se com tarde, e não sa-e se foram vistas de algu"m, nem o desco-riu algu"m senão na confissão, e de então at" agora se emendou do dito pecado e disse que nunca mais o fi+era$ Pelo que foi admoestada que se aparte da conversação das ditas pessoas e de quaisquer outras que lhe possam causar dano em sua alma, e foi6lhe mandado que o faça assim porque, fa+endo o contr!rio, ser! gravemente castigada, e que se confesse ao Padre Tuirício 0a#a, da 0ompanhia, e traga escrito a esta mesa$ Por não sa-er assinar, assinou a seu rogo o not!rio apost3lico$ 146
! * Con&iss,o de Gasar Rodri-es0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 29 de 6aneiro de 1"92
:isse ser natural da capitania dos Ilh"us, costa deste Brasil, não se sa-e se " cristão novo, se cristão velho, filho de 1aspar odrigues, mestre de aç8cares, e de sua 146 6
7rampaM engano, tram3ia, ou mesmo e#cremento f"tido$
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mulher >na Aieira, defunta, solteiro que nunca casou, de idade de vinte e sete anos pouco mais ou menos, morador na ilha dos =rades, freguesia de 7amararia deste recFncavo, mestre de aç8cares$ 5 confessando, disse que haver! três ou quatro anos que, estando ele doente de corrimentos , curando6se em casa de sua irmã 0atarina odrigues, que então morava em *are, um dia com as muitas dores disse que ! que :eus não tinha poder para lhe tirar as dores, viessem os dia-os e o levassem$ 5 isto disse uma s3 ve+ que lhe lem-re, e a dita sua irmã o repreendeu e ele se calou, segundo lhe parece, e não se desdisse, pelo que ora pede miseric3rdia$ 5 foi logo perguntado se dei#ou ele de crer, quando disse a dita -lasfêmia, que :eus Nosso Senhor " todo poderoso e que lhe podia tirar as dores, se fora disso servido, respondeu que não dei#ou nunca de crer ser :eus todo poderoso, por"m que com o desatino das dores que havia muito tempo tinha, disse as ditas palavras$ 5 sendo mais perguntado, disse que não teve prop3sito deli-erado de se entregar aos dia-os para que o levassem, e que seu pai estava tam-"m presente, e que lhe não lem-ra que em algum tempo dissesse outras semelhantes palavras e foi6lhe mandado ter segredo e que torne a esta mesa no mês de março$ 147
9 * Con&iss,o de ?o,o Gon5al/es 0 7rist,o /el(o0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 29 de 6aneiro de 1"92 148
:isse ser cristão velho, natural da capitania dos Ilh"us, costa deste Brasil, filho de 7om" =ernandes e de sua mulher Isa-el 1onçalves, tra-alhadores, solteiro, que lhe parece ser de idade de vinte anos, alfaiate, morador em Sergipe do 0onde deste ecFncavo$ 5 confessando, disse que haver! três anos que foi na companhia de 0ristovão de Barros 9 guerra de Sergipe Novo, na qual andou no arraial, e mandando 0ristovão de Barros a 4lvaro odrigues, mameluco da 0achoeira, por capitão de uma companhia de cento e tantos homens pelo sertão adentro a fa+er descer gentio com pa+, ele confessante foi na dita companhia, na qual andou no dito sertão algum mês e meio, e nesse tempo, nos s!-ados e se#tas6feiras e dias que não eram de carne, ele confessante comeu sempre carne$ 5 antes de partir com o dito 4lvaro odrigues para o dito sertão, estando no arraial em Sergipe, se fe+ riscar em um -raço e logo mostrou o -raço esquerdo, entre o cotovelo e o om-ro, riscado de lavores cortados na carne, feitos como ferretes que ficam em sinal para sempre, o qual riscado " uso e costume dos gentios valentes, de maneira que riscar6se e ser riscado significa entre os gentios ser gentio cavaleiro e 147 6 148 6
@umor que corre para alguma parte do corpo, podendo ter causas v!rias$ Processado pelo visitador, foi repreendido na mesa, rece-eu penitências espirituais e proi-ição de voltar ao sertão$ >N77, I., proc$%(E'$
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valente, e declarou que 5st!cio *artins, mameluco, alfaiate, morador de Ilh"us, lhe fe+ o dito riscado$ 0onfessou mais, que haver! ano e meio que ele, confessante, foi na companhia de 1onçalo 4lvares, carpinteiro de 7amararia, ao sertão das >lpariacas, na qual companhia eram por todos vinte e cinco -rancos, e alguns sessenta selvagens pagãos, e alguns trinta escravos cristãos, e andaram no sertão quin+e meses sem se confessar, donde ora poucos dias h! que vieram, nos quais quin+e meses, em todos os dias da quaresma e nas se#tas6feiras e s!-ados e mais dias que não eram de carne, comeu, e assim comia toda a dita companhia do seu rancho $ 5 de tudo pediu perdão nesta mesa e foi6lhe mandado ter segredo pelo uramento que rece-eu e que se v! confessar ao 0ol"gio de Cesus e traga escrito a esta mesa antes de se tornar para sua casa, e que depois de março torne a esta mesa$ 149
4 margem, no original manuscrito HJeclarou /ue os do seu rancho são Simão Rodrigues, solteiro, e seu ilho !# * Con&iss,o de Aol@nia de B-sta3ante0 7iana0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 $# de 6aneiro de 1"92
:isse ser cigana, natural dY/vora, filha de =rancisco *endonça, cigano, e de sua mulher *aria de Bustamante, cigana, defuntos, de idade de trinta anos pouco mais ou menos, casada com >lonso della Pa+, castelhano, moradora nesta cidade, que veio degredada por furto$ 5 confessando, disse que haver! quator+e anos que ela se amance-ou com um cigano, =rancisco 0outinho, a conta de casar com ele, e andou amance-ada com ele alguns sete anos pouco mais ou menos, no qual tempo todo, por ele lhe dar muito m! vida, ela, com ira e agastamento, arrenegava de :eus di+endo @arrenego de :eus, a qual -lasfêmia lhe parece que disse algumas quarenta ve+es pouco mais ou menos$ 5 pelos caminhos do >lenteo e >ndalu+ia, por onde naquele tempo andavam, muitas ve+es, -lasfemando ela a dita -lasfêmia, era repreendida de quem presente estava e, contudo, ela não se desdi+ia nem dei#ava de -lasfemar, somente quando o conde dos ciganos a repreendia ela se calava$ 5 tam-"m no dito tempo, com agastamento se entregava aos dia-os, di+endo @dou6me aos dia-os, os dia-os me levem !, e isto por muitas ve+es mais que as que arrenegou de :eus, e em todo o dito tempo, sete anos pouco mais ou menos, nas quaresmas, quando se confessava, fa+ia falsa confissão di+endo na confissão ao confessor que ela era casada com o dito =rancisco 0outinho, cigano, sendo verdade que eles não eram ainda casados, mas andavam amance-ados, e com estas confissJes falsas rece-ia o Santo Sacramento$ 149 6
anchoM @a divisão em que se auntam, dormem e comem os da mesma camarada$
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5 depois de isto assim passar, haver! seis ou sete anos que veio degredada para estas partes, e nesta cidade se casou com o dito seu marido >lonso de lla Pa+, e tam-"m neste tempo, depois de casada at" agora, muitas ve+es que lhe não lem-ra o n8mero, com agastamento de sua casa, se d! ao dia-o di+endo @o dia-o me leve, e de todas estas culpas disse que pedia perdão$ 5 foi perguntada quantas ve+es no seu coração, -lasfemando as ditas -lasfêmias, dei#ou de todo a f" de :eus e se apartou da crença de :eus, respondeu que nunca no seu coração perdeu a f", mas que depois que com agastamento -lasfemava, ela consigo se arrependia muito$ 5 foi6lhe mandado ter segredo e que se confesse de confissão geral de toda sua vida no 0ol"gio da 0ompanhia de Cesus e traga escrito a esta mesa, e que não se saia desta cidade para outra parte sem primeiro se apresentar nesta mesa$ 5 confessou mais, que em Portugal e 0astela, e lhe parece tam-"m nesta capitania, caminhando ela por chuvas e lamas e en#urradas, ela, com agastamento a tra-alhos disse @-endito sea el carao de mi se^or Cesu 0hristo que agora mia so-re mi, e esta -lasfêmia disse de+ ou do+e ve+es pouco mais ou menos, e de tudo disse que pedia perdão$ Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio apost3lico$ !1 * Con&iss,o de Dioo A&onso0 7rist,o no/o0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 $# de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristão novo, natural da capitania de Porto Seguro, filho de 1aspar :ias da Aidigueira e de sua mulher >na odrigues, solteiro, de idade de vinte e sete anos, não tem ofício, morador nesta cidade$ 5 confessando, disse que sendo ele de idade de quin+e anos pouco mais ou menos, estando em Porto Seguro, veio ter ami+ade com =ernão do 0ampo, que era mais velho que ele um ano, filho de Pero =urtado, de Porto Seguro, que então era solteiro e ora est! casado com uma filha de .ui+ 1omes, na capitania do 5spírito Santo, e por serem am-os vi+inhos da mesma rua tinham muita comunicação, e chegaram a cometer o pecado nefando de sodomia metendo o dito =ernão do 0ampo seu mem-ro desonesto pelo vaso traseiro dele confessante, cumprindo nele e consumando com ele, por detr!s, como se fa+ um homem com uma mulher por diante, e isso mesmo fe+ ele confessante tam-"m com o mesmo =ernão do 0ampo, de maneira que alternadamente fi+eram o dito pecado nefando, sendo umas ve+es agente e outras paciente, e ainda lhe lem-ra e se afirma que o dito =ernão do 0ampo cumpria com ele com polução, contudo não se afirma de si pr3prio se tam-"m ele tinha polução$ 5 o dito pecado, assim alternadamente, muitas ve+es, em diversos tempos e diferentes lugares, ora em casa, ora nos matos, ora em ri-eiras cometeram, e nesta ami+ade e conversação torpe duraram por espaço de um ano pouco mais ou menos, tendo os ditos auntamentos sodomíticos consumadamente, de três em três dias, e de dois em dois dias, e de semana em semana, e 9s ve+es em um dia duas ve+es, de
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maneira que do n8mero certo não " lem-rado de quantas ve+es cometeram o dito auntamento carnal, mas foram muitas e tam-"m muitas ve+es auntavam suas naturas por diante um com outro, e assim por diante se deleitavam, tendo o dito companheiro polução, mas ele confessante de si não afirma que teve$ 5 sendo perguntado, disse que -em sa-iam que era pecado e ofensa grande de Nosso Senhor, e que lhe parece que nenhuma pessoa os viu$ 5 foi admoestado que se aparte de semelhantes torpe+as e conversaçJes ruins, e que se v! confessar ao 0ol"gio da 0ompanhia de Cesus ao padre Pero 0oelho e traga escrito a esta mesa$ !2 * Con&iss,o de ?o,o -ei
:isse ser cristão velho, natural da Bo-adela, filho de 1aspar de Tuei#ada e de sua mulher *aria =igueira, de idade de de+ilegívelQ anos pouco mais ou menos, solteiro, morador em casa do governador :$=rancisco de Sou+a deste estado do Brasil, cuo paem "$ 5 confessando, disse que haver! um ano pouco mais ou menos que, em .is-oa, em casa do deão da S" de .is-oa, >fonso =urtado, parente do dito governador, ficou uma noite, ele confessante, agasalhando6se com seus criados e ficou com eles em uma cama na qual aconteceu a+er unto dele um paem do dito deão, que ora ser! de idade de de+oito ou de+enove anos pouco mais ou menos, o qual " mulato nascido na dita casa, cuo nome lhe não lem-ra, e de noite o dito mulato tentou com seu mem-ro penetrar pelo vaso traseiro dele confessante, e com sua mão tomou o mem-ro dele confessante e o meteu pelo seu traseiro, do dito mulato, e assim esteve ele, confesante, -reve espaço com a deleitação de penetrar, como de efeito penetrou, com seu mem-ro desonesto, no vaso do dito mulato, e não se afirma, antes se afirma -em, que nem dentro nem fora do vaso não teve polução, e desta culpa disse que se acusa e pede perdão nesta mesa, neste tempo de graça$ 5 sendo perguntado, disse que lhe parece que os companheiros da cama, que eram mais dois paens, estavam dormindo e não o sentiram, e que lhe parece que o dito mulato tem nome .eonardo, não se afirma nisto -em, e do costume disse nada$ 5 foi admoestado que lhe não aconteçam tais torpe+as e se afaste das conversaçJes que lhe podem acontecer, e foi mandado confessar e ter segredo$ !$ * Con&iss,o de Dona C-stdia de Faria0 7rist, no/a0 e3 $1 de 6aneiro de 1"92
:isse ser cristã nova, natural de *atoim desta capitania, filha de Bastião de =aria, cristão velho, e de sua mulher Beatri+ >ntunes, cristã nova, casada com Bernardo Pimentel de >lmeida, de idade de vinte e três anos, moradora no seu engenho de *atoim$
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5 confessando6se, disse que haver! dois anos, logo no comenos que ela casou, sendo ! casada com o dito seu marido, lhe morreu em casa um escravo seu, e nesse dia veio ter aí sua mãe, Beatri+ >ntunes, e lhe ensinou que lançasse a !gua fora que havia em casa porque era -om para os parentes do morto que ficavam vivos, sem lhe declarar mais nada, senão somente sua av3, dela confessante, lhe ensinara tam-"m isto, a qual, sendo moça, aprendera isto no reino de uma cristã velha$ 5 que ela, confessante, lançou aquela ve+ e mandou lançar fora toda a !gua de casa, simplesmente, sem entender que era cerimFnia de udeus e sem m! intenção, e da culpa que nisto tem de assim fa+er a dita cerimFnia e#terior, sem intenção interior ruim, pede miseric3rdia e perdão porque ela " muito -oa cristã$ 5 sendo perguntada quanto tempo h! que sua mãe lhe começou a ensinar a lei de *ois"s e as cerimFnias dela, respondeu que sua mãe não lhe nomeou lei de *ois"s, nem suas cerimFnias, e lhe parece, e assim tem por certo, que sua mãe " -oa cristã e lhe ensinou a dita coisa de -otar !gua fora tam-"m simplesmente, sem sa-er que era cerimFnia udaica$ Perguntada se quando sua av3 >na odrigues ensinou 9 sua mãe que isto era da lei dos udeus, se estava ela confessante presente, respondeu que não sa-e mais que di+er6lhe sua mãe que a dita sua av3 lhe ensinara isto, mas que não sa-e se lhe declarou logo ser cerimFnia udaica$ Perguntada que coisas mais lhe ensinou a dita sua av3 que ela agora entenda serem udaicas, ou isso mesmo sua mãe, respondeu que nada mais lhe ensinou sua mãe e que sua av3 não lhe ensinou mais nada, nem lhes viu fa+er nada de que ora tenha suspeita, senão somente, antes de ela casar, não sa-e quantos anos h!, morreu sua tia Aiolante >ntunes, mulher que fora de :iogo Aa+, tam-"m defunto, e no dia que ela morreu, que a trou#eram a enterrar 9 igrea de Nossa Senhora, que est! ora na fa+enda dela confessante, havia em casa de sua mãe, Beatri+ >ntunes, panela de carne para antar de vaca e galinhas e leitJes assados, porque havia em casa h3spedes, sem se sa-er que a dita sua tia era morta, a qual morreu em casa de Isa-el >ntunes, em -reve tempo de uma pustema que lhe arre-entou, quase uma l"gua da dita igrea, e chegada a nova como a tra+iam morta para a enterrar, sua mãe, Beatri+ >ntunes, não quis comer nada de carne aquele dia ao antar, nem quis comer nada senão, somente quando queria por6se o sol, a fi+eram comer e comeu então pei#e$ 5 foi admoestada pelo senhor visitador, com muita caridade, que ela faça confissão inteira e verdadeira de todas suas culpas, declarando tudo o que sou-er da dita sua mãe e av3 e mais parentes, porque com isso alcançar! miseric3rdia, porque estas coisas que ela di+ dão mui forte presunção que ela e sua mãe e av3 são todas udias e vivem afastadas da lei de Cesus 0risto, e têm a lei de *ois"s, que portanto declare sua intenção e peça miseric3rdia$ 5 respondeu que ela " -oa cristã e não tem a lei de *ois"s, e nunca a teve, e somente crê na lei de Cesus 0risto, e nunca no que dito tem teve intenção de cerimFnia udaica nem tal entendeu, nem suspeitou ser, e que somente agora, depois que ouviu
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pu-licar pu-licar o "dito da f" da Santa Inquisição, Inquisição, entendeu entendeu que isto era cerimFnia cerimFnia udaica, e por isso se vem acusar do dito e#terior e#terior que fe+, e tem dito a verdade, e do costume, costume, o que dito tem, e foi6lhe mandado pelo senhor visitador que não se saia desta cidade sem sua licença$ !4 * Con&iss,o de Beatri: Ant-nes 0 7rist, no/a0 no te3o da ra5a0 e3 $1 de 6aneiro de 1"92 150
:isse ser cristã nova, natural de .is-oa, na freguesia de São 1ião, filha de eitor eitor >ntunes, >ntunes, defunto, defunto, mercador, e de sua mulher mulher >na odrigues, cristãos novos, de idade de quarenta e três anos, mulher de Bastião de =aria, cristão velho, morador no seu engenho de *atoim, que veio para esta terra menina de seis ou sete anos com seu pai$ 5 confessando6se, disse que haver! vinte e nove anos ou trinta anos que " casada e que, de então para c!, lhe tem acontecido as coisas seguintesM quando em casa lhe morria algu"m, lançava e mandava lançar fora toda a !gua de casa e isto lhe aconteceu por de+essete ou de+oito ve+es pouco mais ou menos, e quando lhe morria parente ou parenta, parenta, como filho filho ou filha, filha, irmão ou irmã, irmã, , ou pai, por noo, nos primeiros primeiros oito dias não comia carne, e isto lhe aconteceu em três ou quatro noos da morte de seu pai e de sua filh filhaa Inês, e de suas irmãs, irmãs, Aiolan Aiolante te >ntunes >ntunes e Isa-el >ntunes$ >ntunes$ 5 que ura, quando quer afirmar alguma coisa, este modo de uramento @pelo mundo que tem a alma de meu pai, e que algumas ve+es, quando manda amortalhar os mortos de sua casa, os manda amortalhar em lençol inteiro, sem lhe tirar ramo, nem pedaço algum, por grande que o lençol sea, e at!6los amortalhados apenas com ataduras, e que isto lhe aconteceu por seis ou sete ve+es$ 5 que todas estas coisas lhe ensinou sua mãe >na odrigues, di+endo6lhe que era -om fa+ê6las assim, sem lhe declarar mais alguma outra ra+ão, nem causa, somente que tam-"m lha ensinaram, sendo moça em Portugal, na Sertã, uma sua comadre, parteira cristã velha, por nome Inês odrigues$ 5 que assim tam-"m, quando em casa se assava quarto de carneiro, lhe manda tirar a landoa por ter ouvido que não se assa -em com ela, e tam-"m não come lampreia, e mandando6lhe do reino duas ou três lampreias em conserva, ela não as comeu, não por outra coisa nenhuma, senão porque lhe tomou noo, mas come os mais pei#es sem sem escama, salvo salvo os dY!gua doce, e não come come coelho$ coelho$ 5 que fe+ todas as ditas coisas simplesmente, sem nenhuma m! intenção, e somente porque lhe disse sua mãe que não era -om coser os amortalhados com agulhas, e que não era -om tirar dos lenç3is das mortalhas ramo nem pedaço algum, e que não era -om dei#ar !gua em casa quando algu"m morria em casa ou na mesma rua da mesma parede, e que era -om não comer carne oito dias no noo, sem mais lhe dar outra 150 6
Presa a mando do visitador e mandada para .is-oa, onde permaneceu encarcerada, respondendo a processo, at" %)E($ 0ondenada a sair em auto p8-lico cele-rado em .is-oa, se#ta a-uração em forma que presume grave suspeita na f"Q, c!rcere e h!-ito perp"tuo desenhado com fogos, sem remissão$ remissão$ >N77, >N77, I., proc$''%$ pr oc$''%$
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ra+ão, e por isso fe+ as ditas coisas e#teriormente, sem ter nenhuma crença udaica nem ruim em seu coração, interiormente$ 5 foi logo admoestada pelo senhor visitador, com muita caridade, que todas estas coisas são mostras manifestas de ela e sua mãe serem udias e viverem afastadas da lei de Cesus 0risto, verdadeiro messias, e de terem a lei de *ois"s, e que portanto portanto ela usasse de -om conselho conselho e fi+esse confissão confissão verdadeira, verdadeira, declarando declarando sua intenção udaica, porque isso lhe aproveitava muito para alcançar miseric3rdia e perdão de suas culpas, pois est! em tempo de graça, porque " coisa muito dificultosa poder se crer que, sendo ela cristã nova toda, inteira, e fa+endo todas as ditas cerimFnias tão conhecidas dos udeus, as fi+esse sem intenção de udia, maiormente sendo ela mulher de -om entendimento como no seu falar se mostra$ 5 contudo, ela respondeu que nunca teve intenção de udia e nunca sou-e nem entendeu que as ditas coisas eram cerimFnias udaicas, nem que nelas ofendia a Cesus 0risto, senão depois que nesta terra entrou a Santa Inquisição$ Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio apost3lico$ !" * Con&iss,o de aria Grea0 3esti5a0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 $1 de 6aneiro de 1"92
:isse ser natural de Itaparica, filha de Coão 1rego, carpinteiro de naus, grego de nação, e de sua mulher 0onstança 1rega, índia deste Brasil, de idade de quin+e ou de+esseis anos pouco mais ou menos, casada com Pero :omingues, que não tem ofício$ 5 confessando, disse que depois que casou com o dito seu marido, com o qual " moradora na -arra de Paraguaçu, nunca at" agora o dito seu marido dormiu com ela pelo seu vaso natural, e com a mão a corrompeu e a deflorou, e muitas ve+es com a mão lhe anda por dentro do dito vaso natural e a deita de costas, e por cima da -arriga lhe alevanta os p"s dela at" os mem-ros, e assim se pJe em cima dela e lhe mete o seu mem-ro desonesto por -ai#o, pelo seu vaso traseiro, dela confessante, e dorme daquela maneira com ela, efetuando e consumando o pecado nefando da sodomia pelo seu vaso traseiro, como se fi+era pelo dianteiro natural, e depois que " casada com ele, todas as ve+es que teve auntamento carnal foi sempre desta maneira nefanda sodomítica$ 5 sendo mais perguntada, disse que o dito seu marido est! em seu siso quando fa+ os ditos pecados, e sa-e muito -em que os fa+, e por ela não querer consentir, ele lhe di+ que cale a -oca e que lhe cortar! a língua com uma faca, e que não diga isto a ningu"m, e que isto não " pecado, e que a h! de matar, e contudo ela confessante consente nos ditos pecados, sa-endo que o são, com medo do dito seu marido, e que ela desco-riu isto 9 sua mãe $ Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio$ 151
151 6
Isto "M contou para a sua mãe$
110 !% * Con&iss,o de an-el Ant@nio0 torneiro 0 7rist,o no/o0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 1 de &e/ereiro de 1"92 152
:isse :isse ser ser cris cristã tãoo no novo vo,, na natu tura rall de Aila ila do 0o 0ond nde, e, filho ilho de :iog :iogoo odrigues, tosador , e de sua mulher >na odrigues, defuntos, casado com Inês de Brito, de idade de trinta e dois ou trinta e três anos, morador em Paripe deste ecFncavo$ 5 confessando suas culpas, disse que haver! quatro anos que, em Paripe, disse que melhor estado " o de -om casado que as outras ordens dos eligiosos, e isto disse então uma ve+ não lhe lem-ra perante quem$ 5 que depois disso, haver! ora um ano pouco mais ou menos, em Paripe, tornou a di+er as mesmas palavras que melhor era o estado do -om casado que o dos religiosos, e que não lhe lem-ra perante quem isto tornou a di+er$ 5 foi logo perguntado se foi alguma das ditas ve+es repreendido por algu"m, respondeu que não lhe lem-ra$ 5 foi perguntado se andou algumas ve+es entre luteranos e se leu por livros luteranos, e quem lhe ensinou ou onde leu a dita heresia, respondeu que nunca conversou com luteranos nem saiu de de Portugal senão para este Brasil, nem leu livros de hereges, mas que ouviu di+er, muito tempo h!, estas palavras a uma pessoa, e por muita diligência que fa+ lhe não lem-ra quem foi, e de assim as ouvir, ficou ele enganado, cuidando sempre que era assim verdade, e que com o /dito da =" e o monit3rio geral da Santa Inquisição que se pu-licou ora na sua freguesia, se desenganou e entendeu a verdade, pelo que se vem acusar a esta mesa e pediu miseric3rdia, e prometeu prometeu ter segredo, segredo, e foi6lhe foi6lhe mandado mandado que que torne a esta mesa mesa no mês de de a-ril$ 153
! * Con&iss,o de Ana Rodri-es 0 7rist, no/a0 na ra5a0 e3 1 de &e/ereiro de 1"92 154
:isse ser cristã nova, natural de 0ovilhã e criou6se na Sertã, filha de :iogo :ias, mercador, cristão novo, e de sua mulher Ailante .opes, ! defuntos, vi8va, mulher que foi de eitor >ntunes, cristão novo, mercador, defunto, de idade de oitenta anos$ 5 confessando6se, confessando6se, disse que de quatro ou cinco cinco anos a esta parte não come cação fresco porque lhe fa+ mal ao estFmago, mas que o come salgado, assado, e outrossim, não come arraia, mas que nos outros tempos atr!s comia arraia e cação, e que de dois anos a esta parte costuma muitas ve+es, quando lança a -enção a seus
152 6 7orneiroM @o que leva o-ras de pau, marfim ou metal ao torno$ t orno$ 153 6 7osadorM artesão que @tosa os estofos de lã$ 154 6 Presa por eitor =urtado, em %&'(, e mandada para .is-oa$ 0ondenada
a ser @rela#ada ao -raço secular morte na fogueiraQ ap3s anos de c!rcere$ *oreu na prisão e foi queimada em efígie por sentença de 'U&U%)E;, a qual amaldiçoa sua mem3ria e ordena que seus ossos seam desenterrados e feitos em p3$ >N77, >N77, I., proc$ %%)%$
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netos, di+endo a @-enção de :eus e minha te cu-ra, lhes pJe a mão estendida so-re a ca-eça, depois que lhe aca-a de lançar a -enção, e isto fa+ por desastre $ 5 que haver! quin+e anos pouco mais ou menos que morreu o dito seu marido eitor >ntunes, e que no tempo do noo da sua morte ela esteve assentada detr!s da porta, tam-"m por desastre, por acontecer ficar ali assim aeito o seu assento$ 5 que haver! trinta e cinco anos que, estando ela na Sertã, morreu um filho por nome >ntão, e depois que morreu, lançou e mandou lançar !gua fora dos potes, !gua que estava em casa fora, e por noo de sua morte esteve os primeiros oito dias sem comer carne, e estas coisas não sa-e que eram de udia, porque lhas ensinou uma sua comadre cristã velha, Inês odrigues, parteira, vi8va, cuo marido fora um carpinteiro, a qual ora ! " defunta, e no dito tempo era muito velha e morava de fronte dela confessante na dita Sertã, em Portugal, a qual lhe ensinou isto di+endo ser -om, e por isso o fe+, e cuidando ela ser isto -om o ensinou tam-"m neste Brasil a suas filhas dona .eonor, mulher de enrique *uni+, e Beatri+ >ntunes, mulher de Bastião de =aria$ 5 que na dita Sertã, em Portugal, ouviu e lhe ensinou, não sa-e quem, este modo de uramento, @pelo mundo que tem a alma de meu pai, ou de meu marido ou meu filho, e que deste uramento usa ela muitas ve+es quando quer afirmar alguma coisa, mas nunca entendeu ser uramento de udeus$ 5 que, estando seu filho Nuno =ernandes doente, haver! três ou quatro anos, ela, com pai#ão, estava muitas ve+es algum dia sem comer at" a v"spera, e que haver! sete ou oito anos que esteve muito doente em *atoim, onde ela " moradora, dentro nesta capitania, na qual doença chegou a tresvaliar , e di+em que falava desatinos, mas ela não est! lem-rada se nesse tempo falou ou fe+ alguma coisa com ofensa de :eus$ 5 perguntada quem lhe ensinou as ditas coisas, respondeu que lhe não lem-ra que outra pessoa alguma lhas ensinasse, senão somente a dita parteira, que di+ia ser cristã velha, que lhas ensinou na Sertã h! mais de trinta e cinco anos, não lhe lem-ra a que prop3sito, nem lhe parece que lho ensinou em ruim intenção, porque lhe via fa+er o-ras de -oa cristã$ > qual lhe disse tam-"m que era -om -otar a !gua fora quando algu"m morria, porque lavavam a espada do sangue nela, e perguntada que espada ou que sangue era esse, respondeu que não lhe lem-ra que a dita parteira lhe declarasse mais $ Perguntada se lhe via fa+er estas coisas o dito seu marido, respondeu que não lhas via fa+er, nem ele sa-ia disto$ Perguntada se lhe declarou a dita parteira, quando lhe ensinou estas coisas, quem lhas tinha ensinado e como se se lhe veio a desco-rir que era udia, respondeu que lhe não declarou que era udia nem nada mais, e somente lhe ensinou as ditas coisas$ 155
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155 6
Isto "M por descuido, por acaso$
156 6 7resvaliar ou tresvariarM delirar, @ter o c"re-ro mal ordenado$ 157 6 No monit3rio do Santo Ofício, o rito de lançar !gua fora era
presumidamete associado a di+er que naquela !gua os defuntos se iam lavar ou que o >no nela iria lavar sua espada$
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5 perguntada de que idade era ela confessante no dito tempo, e a dita parteira que lho ensinou, respondeu que ela confessante seria então de idade de quarenta e cinco anos, e que a dita parteira seria então de alguns oitenta, e logo daí a pouco tempo morreu$ 5 perguntada se ensinou ela 9s ditas suas filhas outras mais cerimFnias udaicas, respondeu que não$ 5 perguntada quanto tempo h! que ela confessante começou a ser udia e a dei#ar a f" de Nosso Senhor Cesus 0risto, respondeu que nunca at" agora foi udia e sempre at" agora teve a f" de Nosso Senhor Cesus 0risto, mas que fe+ as ditas coisas e cerimFnias sem intenção alguma de udia, não entendendo nem sa-endo que eram cerimFnias udaicas, mas parvamente as usava por lhas terem ensinado como dito tem$ Perguntada quanto tempo h! que ela começou a ensinar 9s ditas suas filhas que fossem udias e cressem na lei de *ois"s, respondeu que ela nunca ensinou a suas filhas que fossem udias, nem a lei de *ois"s, nem ela teve nunca essa lei$ 5 logo foi admoestada pelo senhor visitador, com muita caridade, que ela use de -om conselho e que, pois est! em tempo de graça, que para ela a alcançar lhe " necess!rio fa+er confissão inteira e verdadeira nesta mesa e confessar a sua intenção udaica, e que confessando ela a sua intenção, e toda a verdade interior, lhe aproveitar! muito para alcançar perdão, respondeu que ela tem dito a verdade que nunca fe+ as ditas coisas com ruim intenção nem com coração de udia, nem de ofender a :eus, e nunca cuidou que nas ditas coisas o ofendia$ 5 logo, pelo dito senhor visitador lhe foi dito que est! mui forte a presunção contra ela que " udia e vive na lei de *ois"s, e se afastou da nossa santa f" cat3lica, e que não " possível fa+er ela todas as ditas cerimFnias de udeus, tão conhecidas e sa-idas serem cerimFnias de udeus, como -otar !gua fora quando algu"m morre, e não comer oito dias carne no noo, e urar pelo mundo que tem a alma do defunto, e não comer cação nem arraia, e pFr a mão na ca-eça aos netos quando lhes lançava a -enção, tudo isto são cerimFnias manifestamente udaicas e que ela não pode negar, e que por isso fica claro que ela " udia e que as fe+ como udia$ 5, contudo, ela confessante disse e afirmou que ela nunca fe+ as ditas coisas com intenção ruim de udia nem de ofensa de Cesus 0risto, mas que as fe+ por ignorGncia como dito tem, e não come o cação nem arraia fresco porque lhe fa+ mal, e quando punha a mão 9 ca-eça dos netos era por desastre, e que de toda a culpa que tem em fa+er as ditas coisas e#teriores, sem ter a dita intenção ruim interior, como dito tem, pede perdão e miseric3rdia neste tempo de graça$ 0onfessou mais, que a dita sua comadre, Inês odrigues lhe ensinou mais, que quando amortalhavam algum finado, não era -om dar agulha para coserem na mortalha, nem era -om tirar ramo nem pedaço fora do lençol em que se amortalhavam,
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mas que havia de ser com o lençol inteiro, e que não era -om, a vassoura com que varriam a casa, emprest!6la a nenhuma vi+inha para varrer a sua, e que ela confessante não se afirma -em se ensinou estas coisas a suas filhas, e prometeu ter segredo e foi6lhe mandado pelo senhor visitador que não se saisse desta cidade sem sua licença$
!! * Con&iss,o de Dona Leonor 0 7rist, no/a0 no te3o da ra5a0 e3 1 de &e/ereiro de 1"92 158
:isse ser cristã nova, moradora em *atoim, de idade de trinta e dois anos pouco mais ou manos, casada com enrique *uni+, cristão velho, morador no io de *atoim, dentro desta capitania$ 5 confessando6se, disse que haver! de+oito anos pouco mais ou menos que " casada com o dito seu marido, e do dito tempo at" agora lhe aconteceu muitas ve+es lançar e mandar lançar fora de casa toda !gua dos potes e vasos que havia em casa, das portas adentro, quando algu"m lhe morria, como filho ou filha ou escravos$ 5 que haver! quatro ou cinco anos que lhe morrera uma sua filha, e estando em noo por ela, não comeu oito dias carne$ 5 que de seis ou sete anos a esta parte, por ouvir di+er que " -om tirar as landoas aos quartos traseiros das reses mi8das, todas as ve+es que em sua casa se assavam quartos semelhantes, lhe mandava tirar a landoa para se assarem$ 5 que, haver! dois ou três anos, veio 9 sua casa uma lampreia que veio do reino em conserva e ela a não qui+ comer por haver noo dela, e vir fedorenta, e não por outra alguma coisa, e que come os mais pei#es sem escamas e lhe sa-em muito -em$ 5 que haver! um ano pouco mais ou menos que uma sua escrava degolou sua galinha defronte da sua porta, e que ela mandou lançar em cima do sangue que estava derramado no chão um pouco de p3 de serradura de madeira que se havia serrado, porque andava aí perto um porco e arremetia a ele para o comer, e isto fe+ porque o porco não ficasse inclinado a lhe comer os pintJes$ 5 que, de de+essete anos a esta parte em que seu pai faleceu, ela confessante, quando quer afirmar alguma coisa, tinha por costume ordin!rio urar pelo mundo que tem a alma de seu pai, e desta ura usava pela ouvir urar 9 sua mãe, >na odrigues, mas não entende o que esta ura quer di+er, e que todas estas coisas fe+ sem nenhuma m! intenção, e sem sa-er nem entender que eram cerimFnias de udeus$ 5 que tanto que ouviu di+er que, na pu-licação da Santa Inquisição, se declarou no /dito da =" que estas coisas eram cerimFnias dos udeus, ela confessante, por ver que " da nação simplesmente tinha feito estas coisas, ficou muito triste por ver que podiam cuidar que ela era udia, não o sendo ela, na verdade, porque " -oa cristã$ 158 6
5ra uma das filhas de >na odrigues$ =oi presa e enviada para .is-oa, encarcerada e processada$ Sentenciada, em %)E(, a sair no auto p8-lico, a-urar em forma e a c!rcere e h!-ito com fogos, perpetuamente, sem remissão$ >NN7, I., proc$%E<%)$
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5 perguntada quem lhe ensinou -otar !gua fora quando lhe morriam em casa, respondeu que sua mãe >na odrigues lho ensinou, di+endo que lho ensinara uma sua comadre, Inês odrigues, cristã velha, na Sertã, em Portugal, sem lhe declarar que era cerimFnia udaica$ 5 que a dita sua mãe lhe ensinou tam-"m que não comesse carne os ditos oito dias de noo da morte de sua filha, que lhe ensinara aquilo a dita sua comadre, e que tam-"m ouviu 9 dita sua mãe o dito modo de urar pelo mundo que tem a alma de seu pai, e a outras muitas pessoas que não lhe lem-ram os nomes, e que por isso ela usava tam-"m do dito modo de urar, sem nenhuma ruim intenção$ 5 que tanto " verdade que ela em todas as ditas coisas que fe+ nunca teve ruim intenção, e as fe+ simplesmente, que estando ela em conversação com Coana de S! e suas irmãs e mãe, mulher de Bastião 0avalo, moradoras em *atoim, ela confessante lhes contou que sua mãe >na odrigues lhe dissera que não era -om -e-er a !gua que havia em casa quando morria algu"m e que era -om lanç!6la fora$ 5 sendo perguntada perante quem lhe ensinou as ditas coisas e quando lhas ensinou, se lhes declarava logo que eram da lei udaica, respondeu que lhas ensinava perante sua irmã Beatri+ >ntunes, mulher de Bastião de =aria, cristão velho, e que não lhes declarou nunca que eram lei udaica, nem ela tal entendeu nem presumiu de sua mãe, e a tem por -oa cristã$ Perguntada se viu a dita sua mãe fa+er ou di+er outras algumas coisas contra nossa Santa =" 0at3lica, respondeu que nunca lhes viu fa+er nem di+er outras coisas mais do que dito tem$ Perguntada se no tempo que sua mãe esteve doente e se na sua doença lhe viu fa+er ou ouviu di+er alguma coisa contra nossa santa f" cat3lica, respondeu que nunca lhe viu fa+er nem di+er tal, mas que lhe lem-ra que esteve doida e falava muitos desatinos, e que lhe lem-ra que quando seu pai morreu, a dita sua mãe, por noo da sua morte, não comeu carne oito dias pela ra+ão so-redita de lho ter ensinado sua comadre$ 5 foi admoestada pelo senhor visitador, com muita caridade, que ella confesse todas suas culpas inteiramente, porque não " de crer que, sendo ela mulher de -om entendimento, como mostra em sua pr!tica, e sendo ela cristã nova, e fa+endo as ditas cerimFnias tão conhecidas de udeus, as não fi+esse com intenção de udia, e que por estas ra+Jes est! mui forte a presunção contra ela que " udia e vive na lei de *ois"s, e não tem a lei de Cesus 0risto, verdadeiro *essias, e que para que lhe aproveite sua confissão para alcançar graça e perdão e miseric3rdia, lhe " necess!rio fa+er confissão inteira e verdadeira, confessando sua intenção udaica, o que ela não fa+, antes nega$ 5 por ela foi respondido que tem dito toda a verdade de suas culpas, porque nunca nelas teve intenção de udia, e simplesmente as fe+ por lhas ensinarem da dita maneira$ 5 logo declarou mais, e confessou mais a dita :ona .eonor que, no dito tempo, depois de ser casada, lhe aconteceu duas ou três ve+es que, morrendo6lhe em
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casa gentes, mandou amortalhar mandando atar somente com uns fios e mandando que não cosessem com agulha e linha a mortalha do lençol, e que isto fe+ por lho ensinar a dita sua mãe >na odrigues, di+endo6lhe que não era -om coser na mortalha os defuntos com agulha e linha com que se cosia em casa, e tam-"m lhe ouviu di+er 9 dita sua mãe que não era -om tirar ramo nem pedaço de lençol em que se amortalhasse algu"m defunto, e o so-redito fe+ ela simplesmente, sem m! intenção$ 5 entende que tam-"m a dita sua mãe, simplesmente, lhe ensinou o so-redito sem malícia , tam-"m por lho ensinarem, sem entender que isso podia ser cerimFnia udaica, e da culpa que teve em fa+er a dita o-ra e#terior, não tendo dentro, no coração, nenhuma ruim intenção, pede miseric3rdia e perdão$ :isse mais, acusando6se a dita :ona .eonor, que lhe lem-ra que uma ve+, haver! ano e meio pouco mais ou menos que, morrendo6lhe uma menina de uma sua escrava, ela deu um pano de amortalharem e mandou que amortalhassem nelle assim inteiro, que lhe não rasgassem nem tirassem nada fora, e por não di+er mais, foi6lhe mandado ter segredo e que não se saia desta cidade sem licença dele, senhor visitador$ !9 * Con&iss,o de Isa=el Ant-nes0 3eia 7rist, no/a0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 3-l(er de Jenri-e N-nes0 7rist,o no/o0 e3 1 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser natural de *atoim, onde ora " moradora nesta capitania, meia cristã nova, filha de :iogo Aa+, cristão velho ! defunto, e de sua mulher Aiolante >ntunes, cristã nova, de idade de de+oito anos, casada com enrique Nunes, lavrador, o qual não sa-e de certo sua nação mais que somente lhe conhece um primo com irmão que " Coão Nunes, de Pernam-uco, mercador, o qual di+em que " cristão novo inteiro$ 5 confessando6se, disse que haver! quatro anos que na sua fa+enda lhe morreu um escravo menino e ela mandou 9 mãe do dito escravo lançasse fora a !gua da casa, e isto fe+ sem ter nenhuma intenção ruim, e sem entender que era nenhuma cerimFnia udaica, porquanto tinha ouvido di+er 9 sua mãe que era -om fa+er isto sem lhe declarar mais nada, e que ela não viu fa+er isto 9 dita sua mãe que ora ! e defunta$ 5 tam-"m ela confessante, morrendo6lhe uma sua filha e outras pessoas, nunca usou do so-redito mais que a dita ve+, por não lançar mão da dita coisa, e tam-"m desta o-ra que fe+ e#terior, sem ter ruim intenção interiormente no coração, da culpa que nela tem, fa+endo6a simplesmente, pede perdão e miseric3rdia$ 5 foi logo admoestada com muita caridade pelo senhor visitador que faça confissão inteira e verdadeira, porque, pois ela " cristã nova, e esta cerimFnia que ela fe+ " muito conhecida por ser dos udeus, fica sendo grande presunção que ela " udia e que est! afastada da f" de Cesus 0risto, verdadeiro *essias, e que vive na lei de *ois"s, maiormente sendo ela discreta como ", e de -om entendimento, fa+ muita suspeita que ela fe+ a dita cerimFnia com intenção de udia, e que portanto falasse 159
159 6
:iscrição, 9 "poca, significava, fundamentalmente, ter o discernimento do que " e#ato, usando de -oas sentenças e uí+o$
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verdade e desco-risse o seu coração, porque lhe aproveitar! muito para alcançar graça e miseric3rdia$ espondeu que ela mandou fa+er a dita cerimFnia de deitar a !gua fora sem sa-er que era cerimFnia de udeus, e sem intenção disso, mas ignorantemente, como moça$ 5 denunciou mais, que ouviu di+er 9 dita sua mãe ! defunta, muito tempo h!, não lhe lem-ra quando, que não era -om, quando levavam um pote para -uscar !gua fora de casa, tornarem com ele para casa va+io, mas não lhe declarou nenhuma m! intenção nisto, e do costume disse o que dito tem, e que nunca presumiu da dita sua mãe intenção ruim das ditas coisas$ 9# * Con&iss,o de Baltasar Andr0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 1 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural do Porto, filho de 0ristovão =ernandes, pescador, e de sua mulher *aria >ndr", moradores ora na -arra de Caguaripe, de idade de vinte e três anos, casado com *aria dos eis, cristã velha, mercador estante nesta cidade$ 5 confessando, disse que haver! quatro anos pouco mais ou menos que, indo ele confessante para a dita cidade do Porto, foram tomados pelos ingleses luteranos na paragem das ilhas e foram levados 9 cidade de >ntona , e na sua companhia os trou#eram alguns dois meses e meio no mar e terra, a sa-er, no mar poderiam andar em sua companhia alguns vinte dias, e em terra, todos eles, os ditos luteranos, sempre pela manhã e 9 noite fa+iam suas oraçJes luteranas, assentados, des-arretados, em língua inglesa, e ele confessante, com os mais seus companheiros, sempre quando eles fa+iam as ditas oraçJes luteranas, se punham tam-"m des-arretados assim como os ditos luteranos, e isto fa+iam parecendo6lhes que lhes contentariam, porque os luteranos o-rigavam a fa+er isso$ 5 depois de estarem na cidade de 8ntona, ele e seus companheiros, por seis ou sete ve+es foram 9s mesquitas e igreas dos luteranos, nas quais os ditos luteranos estavam e fa+iamQ as suas pregaçJes luteranas, nas quais igreas não h! ret!-ulo, nem imagem de :eus, nem de Santo, nem cru+, e somente nelas est! no meio no chão um pau, uma ave como corvo feita de metal, e est! mais nelas unm p8lpito donde pregam os luteranos por um livro, e estão mais uns -ancos co-ertos de panos finos, ro#os e a+uis, nos quais os luteranos comungam ao seu uso luterano, que " comerem umas fatias de pão e -e-erem a sua cervea, nas quais tam-"m estão muitos cu-ículos ao modo de confession!rios, dentro dos quais cada um com sua mulher e sua família se fecha$ 160
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160 6 161 6
7rata6se de Southampton$ O confitente ou o not!rio do Santo Ofício proetaram a imagem do templo dos mouros infi"is para as igreas anglicanas ou puritanas, porque o-viamente não era caso de haver mesquitas inglesas$
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5 nestas igreas luteranas entrou ele confessante por curiosidade e seus companheiros, estando os luteranosQ algumas ve+es pregando e outras comungando e outras re+ando ao seu uso luterano, e ele se punha de oelhos e se des-arretava assim como os luteranos fa+iam, e isso mesmo fi+eram tam-"m seus companheiros, por"m ele confessante sempre em seu coração teve firme a f" de 0risto e nunca creu na dita seita luterana, e destas culpas disse que pedia perdão$ 5 foi mais perguntado a declaração de seus companheiros, disse que os companheiros que no mar e na terra, nas igreas luteranas, fi+eram todas estas coisas, aoelhando6se, des-arretando6se como os ditos luteranos, como atr!s fica dito, a sa-er =rancisco Pires, marinheiro, e seu cunhado *arcos, naturais da cidade do Porto e seu arra-alde, os quais am-os estão nesta cidade, que vieram na nau =ortale+a que h! vinte dias que a esta cidade chegou, na qual ele tam-"m veio, de que " mestre Pedro Aelho, e assim foram mais >ntFnio de =reitas, mestre e em parte senhorio que era da nau em que foram tomados, e :iogo 1onçalves, dYalcunha *oleiro, piloto da dita nau, e >ntFnio 0arneiro, carpinteiro e marinheiro dela, todos moradores e casados na cidade do Porto e seu arra-alde, e :omingos :ias, mercador, morador em *eião, e outros moços cuos nomes lhe não lem-ram$ 91 * Con&iss,o de N-no Fernandes0 7rist,o no/o0 na ra5a0 e3 1 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristão novo, natural desta Bahia, filho de eitor >ntunes, mercador, defunto, e de sua mulher >na odrigues, cristãos novos, solteiro, de idade de trinta anos, morador em *atoim$ 5 confessando, disse que haver! quatro anos que sua irmã Aiolante >ntunes morreu, e que no dia que ela morreu, ele, com noo, não comeu nada todo o dia, e sendo domingo o dito dia, não quis comer carne e somente 9 noite comeu pei#e, por"m que não sa-ia que isto era cerimFnia udaica, nem ele com essa intenção o fe+, somente com noo$ =oi logo admoestado pelo senhor visitador, com muita caridade, que faça confissão verdadeira e confesse sua intenção, pois est! em tempo de graça para alcançar perdão, respondeu que tem dita a verdade e não teve intenção de udeu e que " -om cristão$ 0onfessou mais, que haver! quatro ou cinco anos que sa-endo ele que o livro chamado Jiana era defeso, ele contudo leu por ele muitas ve+es, não lhe lem-ra quantas, e outrossim confessou que tem &v'dio de etamaorgis em linguagem, não 162
162 6
7rata6se de etamorphoses, de Ovídio ;( a$c 6% d$cQ, de que havia edição em português proi-ida pela Inquisição no s"culo DAI$
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sa-endo ser defeso, eQ confessou mais, que sa-endo que 1urozina " defeso, leu por ele uma ve+$ 5 sendo perguntado pelos livros, disse que somente tinha o dito Ovídio, e foi6lhe mandado que o trou#esse a esta mesa, e prometeu ter segredo pelo uramento que rece-eu, eQ foi6lhe mandado que não se saia desta cidade sem licença do senhor visitador$ 163
92 * Con&iss,o de ?o,o Re3ir,o0 na ra5a0 e3 2 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristão velho, segundo lhe parece, natural de 0astro Aerde, no 0ampo do Ourique, filho de 4lvaro *artins, lavrador e cirurgião, defunto, e de sua mulher 0atarina 1onçalves, casado com 5sperança Batista, de idade de trinta anos, morador no seu engenho na freguesia dePass"$ 5 confessando, disse que haver! do+e anos pouco mais ou menos que ele foi para o sertão de 7apioães, por duas ve+es, em que poderia andar, de am-as as ve+es, untamente vinte meses pouco mais ou menos, e nas ditas ornadas assim nas quaresmas como nos mais dias que a igrea defende carne ele comeu carne podendo escusar de a comer, pelo menos a maior parte dos ditos dias$ 5 confessou mais, que haver! seis anos que reside e governa o dito seu engenho e sempre todos os domingos e santos, moendo o engenho depois do sol posto, mandou e consente mandarem seus feitores lançar a moer o engenho e carretar carradas de lenha e canas e fa+er o mais serviço pertencente 9 moenda nos ditos domingos e santos como se foram dias da semana, e tam-"m nos ditos domingos e santos, ainda pelas manhãs ante missa, manda carretar carradas de aç8car ao porto, e isto mesmo de moer e carretar nos ditos dias, vê ele que usam e costumam geralmente nesta capitania todos os senhores e feitores de engenho, sem e#ceção, e assim tam-"m muitos lavradores$ 5 sendo perguntado quais são as mais pessoas que tam-"m com ele comeram no dito sertão carne podendo6a escusar, respondeu que são os seguintesM :omingos =ernandes 7omaca8na, =rancisco >fonso 0apara, morador e casado em Pera-asu, e *anuel da =onseca, mameluco, vi8vo, morador em Pass", e :omingos de *eira, mameluco, irmão do dito 0apara, com ele morador, e 1onçalo >fonso, morador no >çu, solteiro, e outros mais defuntos e pessoas de que ora se não lem-ra, e de todas as ditas culpas pede perdão$ 5 foi admoestado que não as cometa mais pois são not!vel ofensa de :eus, que tão facilmente se pode escusar, e do costume disse nada, mas antes são amigos$ 163 6
7rata6se da com"dia 1urozina, de Corge =erreira de Aasconcelos, pu-licada em %&&& e depois proi-ida pela Inquisição$
119 9$ * Con&iss,o de Baltasar Ca3elo0 na ra5a e3 2 de &e/ereiro de 1"92
=e+ confissão de suas culpas, a qual vai escrita no segundo livro das denunciaçJes, folha
:isse ser mameluco, natural de Pernam-uco, filho de Coão :ias, homem -ranco que não sa-e se era cristão velho, se novo, e de .eonor, índia deste Brasil sua escrava, solteiro, de idade de trinta anos pouco mais ou menos, morador em Pera-asu, lavrador$ 5 confessando, disse que haver! dois meses que veio do sertão de .aripe, onde deu uma espada a um gentio infiel e viu que aos ditos gentios davam armas as pessoas seguintesM :iogo da =onseca, mameluco, morador em casa de 1aspar e-elo, em 7assuapina, deu um pistolete, e :omingos =ernandes 7omaca8na uma espingarda, e 0ristovão da ocha, tam-"m " fama certa que lhes deu uma espada e espingarda, e -andeira e tam-or de guerra, e cavalos e p3lvora, di+endo6lhes que, se l! fossem -rancos da Bahia, que se defendessem deles com aquelas armas$ 5 viu a >ntFnio :ias, mameluco de Pernam-uco, dar6lhes uma espada por uma peça, digo, que disse que o dito >ntFnio :ias deu a dita espada ao capitão 0ristovão da ocha e ele a deu ao gentio, e que da sua culpa pedia perdão$ 5 sendo perguntado, disse que os ditos gentios são infi"is que, quando acham tempo e ocasião, matam aos -rancos, e ! os gentios do dito sertão mataram -rancos$ 9" * Con&iss,o de i3,o L-is0 &ran7Hs0 &il(o de l-terano0 na ra5a0 e3 2 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser francês de nação, natural da cidade de a-ra Nova sicQ filho de o-erto .uis, luterano, e de sua mulher *argarida 1risel, cat3lica, que não sa-e se são vivos, se defuntos, vi8vo, lavrador e morador no io de Pera-asu, de idade de trinta e cinco anos$ 5 confessando6se, disse que, sendo ele moço de de+ anos, na sua terra, fugia da doutrina de sua mãe cat3lica e seguia a seita luterana que o dito seu pai luterano lhe ensinava$ 5 sendo da dita condição e idade, se veio em um navio da sua terra, o qual navio era tam-"m de luteranos, e com eles vinha ele guardando a sua seita , e desem-arcando na costa deste Brasil a -uscar pau , ele, quando foi o tempo da partida no rio de S$=rancisco, fugiu e se ficou em terra com os negros gentios deste Brasil, no sertão, e com os ditos gentios esteve dois anos, usando todas as gentilidades como os 164
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efere6se ao pau6-rasil$
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ditos gentios, de maneira que at" ser de idade do+e anos pouco mais ou menos ele não teve a lei de Cesus 0risto$ 5 depois de isto passar, fugiu dos ditos gentios para esta cidade e, em Aila Aelha, o cura o confessou e os padres do dito 0ol"gio da 0ompanhia de Cesus o doutrinaram, e de então at" agora vive catolicamente, por"m sempre em seu coração teve at" agora uma erronia, a qual " parecer6lhe e ter por certo que não era necess!rio re+ar aos Santos nem 9s Santas, nem honr!6los, nem rogar6lhes nada, mas que somente -astava honrar, rogar, pedir e re+ar a :eus, a Cesus 0risto e a Nossa Senhora, tendo para si que pois os Santos eram servos e :eus " o senhor, que não era necess!rio fa+er conta dos servos senão do senhor, e que destas culpas pede miseric3rdia, di+endo que ! " do conhecimento da verdade que os Santos devem ser venerados e honrados$ 5 foi6lhe mandado que no 0ol"gio de Cesus continuasse cada manhã estar de uma hora, estes dias seguintes, com o Padre Pero 0oelho, at" ele o instruir -em nas coisas de Nossa Santa =" e que lhe importam para a salvação de sua alma, e no fim se confesse a ele fa+endo confissão geral de toda sua vida, e que traga escrito a esta mesa de como tem satisfeito a isto$ 9% * Con&iss,o de ;ero Gon5al/es0 7rist,o /el(o0 na ra5a0 e3 2 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural de 1uimarães, filho de *anuel 1onçalves da Silva, lavrador, e de uma mulher por nome Senhorinha Pires, vi8vo, casado que foi com 0e+ilha 1omes, criado do Bispo deste estado e em sua casa morador, de idade de vinte e sete anos poouco mais ou menos$ 5 confessando6se, disse que haver! mais de dois anos que, vindo da cidade do Porto para estas partes do Brasil no navio de que era mestre e senhorio =rancisco 1omes, casado e morador em *iragaia de Porto, foi tomado na altura de S$ Aicente pelos ingleses luteranos e foram tra+idos por eles em sua companhia pelo mar alguns dois meses, no qual tempo os ditos luteranos, em todas as manhãs e tardes, fa+iam suas oraçJes e salvas luteranas na sua língua, lendo por seus livros em altas vo+es, assentados e des-arretados, sem terem imagem nem cru+, e ele confessante se achou sempre presente com os ditos luteranos nas ditas suas salvas e oraçJes luteranas, assentando6se e des-arretando6se como eles$ 5 que isto fa+ia por constrangimento dos luteranos e com medo de o espancarem, por"m que sempre teve em seu coração a f" de 0risto e nunca creu na seita luterana, e desta culpa pediu miseric3rdia$ 5 sendo mais perguntado quem eram seus companheiros que fi+eram o mesmo que ele fe+, respondeu que são .eonel *endes Pinto, cristão novo, mercador, estante nesta cidade, natural de 1uimarães, e Simão, que foi seu criado e ora o " de *anuel odrigues i-eiro, mercador, estante nesta cidade, e 1onçalo *endes, sapateiro, casado em 1uimarães na rua do 1ado, freguesia de Nossa Senhora da
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Oliveira, e um seu irmão que então parecia ser de idade de de+esseis anos, trigueiro do rosto, cuo nome lhe não lem-ra, e =rancisco, filho de 1onçalo 1onçalves, o =rade dYalcunha, morador no 0ano dos 1atos de 1uimarães :i+ que tam-"m Coão Borges, mercador que então seria de de+oito anos, filho de 1aspar :ias, cristão velho, morador na rua de 0ouros, em 1uimarães, e 4lvaro 1onçalves de 0arvalhal, que trata para a 0an!ria, que vai e vem de 1uimarães, e de 1uimarães natural, e Belchior odrigues, cutileiro , moço solteiro que mora na ua dos 1atos, freguesia de São Paulo em 1uimarães, que então parecia ser de de+oito anos, -ochechudo, trigueiro, e >ndr" 1onçalves, alfaiate, morador na rua das Oliveiras em 1uimarães, e Salvador Aieira, escudeiro que não tem ofício, neto de ui Aieira ou =ernão Aieira, mance-o de vinte anos, alvarinho de rosto, morador mesmo em 1uimarães, detr!s da igrea de S$ 7hiago, e =rancisco 1omes, senhorio da dita nau, e In!cio 0arvalho, segundo sua lem-rança o nome de pia In!cio, morador na rua da .adana, cidade do Porto, piloto da mesma nau, e outras pessoas mais cuos nomes -em lhe não lem-ram$ 5 confessou mais, que na companhia dos ditos luteranos comeu tam-"m carne muitos dias de se#tas6feiras e s!-ados em que a igrea a defende, porque não tinham outro mantimento senão o que lhe davam os luteranos$ 5 declarou que Baltasar i-eiro, solteiro, morador na cidade do Porto, mestre e senhorio de uma nau que ia de Pernam-uco para o eino, que tam-"m foi tomada pelos mesmos luteranos, tam-"m como os acima nomeados e outros muitos da mesma nau, que ele não conhece, comeram carne muitos dias em que a igrea a defende, e se achavam presentes e des-arretavam como os ditos luteranos nas ditas suas salvas$ 5 do costume disse nada, salvo que teve ! umas diferenças leves com .eonel *endes, por"m ! se correm e tratam, digo salvam, e que tem dito a verdade$ 5 foi6lhe mandado ter segredo e que torne a esta mesa no mês de março que vem$ 165
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9 * Con&iss,o de D-arte da Costa0 7rist,o /el(o0 na ra5a0 e3 4 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristão natural da 7orre de Penegate, arce-ispado de Braga, filho de Coão 5anes da 0osta, procurador do n8mero desta cidade, e de sua mulher >ntFnia odrigues, solteiro, de idade de trinta e três anos pouco mais ou menos, morador em Itaparica, na roça de seu pai$ 5 confessando, disse que haver! quatro anos que nesta cidade, em casa de seu pai dois ou três sa-ados comeu fígado de vaca, e assim o comeu seu pai, e isto sem necessidade e sem licença$ 165 6 7rigueiroM pouco -ranco, quase pardo$ 166 6 0utileiroM artesão de facas e assemelhados$ 167 6 Neste caso nada tem a ver com a 0avalaria,
mas " sinFnimo de paem, criado$
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5 que, outrossim, h! dois anos pouco mais ou menos que, indo para a guerra de Sergipe, foi convidado por um seu amigo, >ndr" *arante, solteiro, cunhado de 1aspar Nunes, e com ele morador em Itaparica, para comer carne uma se#ta6feira ou s!-ado, e am-os comeram, sendo tam-"m parceiros que a comeram :iogo de Santos, morador em Aila Aelha, e 1onçalo 1onçalves, criado do dito 1aspar Nunes, podendo escusar de a comer$ 5 que, outrossim, o mesmo, em Sergipe, outra ve+ em se#ta6feira ou s!-ado foi convidado em Peroasu para comer carne e com ele a comeu, sendo companheiros mais, que com o dito .!+aro >ranha a estavam ! comendo, Bento de .ima, criado que foi de 0ristovão de Barros, morador na -anda de Pera-asu, e Pedr4lvares, que no sertão foi ora para Pernam-uco, e >ntFnio :ias, mameluco que tam-"m di+em ir do sertão para Pernam-uco, podendo escusar de a comer$ 9! * Con&iss,o de aria 8arella0 7rist, /el(a0 na ra5a0 e3 4 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristã, natural da ilha 7erceira, filha de Pero :ura+eo, e de sua mulher Ilena 7ei#era, moradores nesta cidade, de idade de trinta anos pouco mais ou menos, casada com Simão da =onseca, moradora no seu engenho de Pernão *erim, freguesia de 7amararia deste recFncavo$ 5 confessando, disse que haver! de+ ou do+e meses pouco mais ou menos que, em sua casa, um dia, com agastamento so-re certa coisa que uma sua negra lhe veio di+er, mandando6a com um recado ao seu mestre do engenho, sem ela considerar o que di+ia, disse que cria tanto 9 sua negra como o evangelho de São Coão, e que desta culpa pede perdão$ 5 foi perguntada que pessoas estavam presentes e se a repreendeu algu"m, respondeu que não lhe lem-ra se estava algu"m presente, nem se foi repreendida$ 5 sendo mais perguntada, disse que não lhe lem-ra se foi antes, se depois de antar, e que estava em seu siso, por"m que com muita c3lera e agastamento disse as ditas palavras, das quais lhe pesou muito e se foi confessar delas$ 5 foi logo admoestada pelo senhor visitador que não lhe aconteça mais di+er semelhantes -lasfêmias porque os 5vangelhos são verdades infalíveis que não podem errar, os quais devem os cristãos de crer muito mais que em nenhuma pessoa pecadora humana, que tem por nature+a poder errar e enganar6se, e foi mandada confessar$ Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio apost3lico$ 99 * Con&iss,o de L-:ia Ca=elos0 7rist, /el(a0 na ra5a0 e3 4 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristã velha, natural desta cidade, filha de .uis de 13es, defunto, e de sua mulher *aria 1onçalves, vi8va, de idade de vinte anos, don+ela, moradora com sua mãe em Paripe deste recFncavo$
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5 confessando, disse que na quaresma do ano passado, estando ela na igrea da sua freguesia 9 missa do Santíssimo Sacramento, confessada pela o-rigação da quaresma, dando o Santíssimo Sacramento o vig!rio que ora ainda " *iguel *artins, antes de aca-ar de dar o Santíssimo Sacramento a todas as pessoas que estavam na dita mesa, depois de o ter ! dado a ela e a algumas mulheres que estavam a-ai#o dela, se lhe aca-aram as partículas, e então se tornou ao sacr!rio por mais partículas e, entretanto, ela e as mais tomaram o lavat3rio , e depois de o haver tomado, veio o dito vig!rio e cuidando que havia de começar a continuar a dar o sacramento dela confessante por diante, cuidando ele que ainda ela não tinha sacramentado, tornou a continuar a dita mesa começando dela, e lhe tornou a dar o Santíssimo Sacramento segunda ve+, e ela o rece-eu tendo ! tomado o lavat3rio$ 5 continuando o dito vig!rio com algumas mulheres que estavam a-ai#o dela que ! tam-"m tinham comungado, e vendo ela confessante que as ditas mulheres não tornaram a comungar, ficou entendendo que ela fi+era mal em comungar segunda ve+ e em não declarar ao vig!rio como ! tinha tomado o lavat3rio, assim como as ditas mulheres disseram, e disse que desta culpa pede miseric3rdia e perdão$ 5 foi perguntada se crê ela que na h3stia consagrada est! o verdadeiro corpo de Nosso Senhor e que são hereges os que isto negam, respondeu que assim o crê -em e verdadeiramente$ 5 foi perguntada se quando ela comungou segunda ve+, não estando em eum, tendo -e-ido o lavat3rio, sa-ia ela que rece-ia o verdadeiro corpo de 0risto ou se duvidou disso, respondeu que não duvidou tal mas que creu e -em entendeu que rece-ia o verdadeiro corpo de 0risto$ 5 sendo mais perguntada, respondeu que ela sa-ia muito -em que não se pode comungar estando em sa8de senão em eum, e que a isso era o-rigada, mas que estando ali assim na mesa, como moça de pouca e#periência, quando viu tornar o vig!rio com o sacramento, não advertindo ela que não tinha aca-ado de correr toda a mesa, pareceu6lhe que tornava a dar aquelas partículas por não ter sacr!rio em que as guardar e assim, simplesmente, sem consideração fe+ o so-redito, mas ! se confessou disso a seus padres espirituais e disse que estava muito arrependida$ Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio apost3lico$ 168
1## * Con&iss,o de ;ero Do3in-es 0 reo0 na ra5a0 e3 4 de &e/ereiro de 1"92 169
:isse ser grego de nação, natural de .esminirne , cidade de 1r"cia, filho de :omingos 1rego e de sua mulher Inês de =lor, gregos, de idade de vinte e oito anos, casado com *aria 1rega, alfaiate que ! não usa , morador na -arra de Pera-asu$ 170
171
168 6
4gua que se d! de -e-er depois da comunhão$ =oi processado, por"m a-solvido, por eitor =urtado, provando6se que as v!rias acusaçJes que lhe moveram resultavam de uma conspiração de *aria 1rega, sua esposa, e de sua família$ >N77, I., proc$?&?&$ 170 6 7rata6se de Smirna$ 171 6 Isto "M que ! não mais e#erce o ofício$ 169 6
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5 confessando, disse que h! perto de dois anos que casou com a dita sua mulher, que ora " de idade de tre+e anos, e depois que se casou com ela esteve com ela somente um mês e se foi para o sertão, donde tornou haver! um mês, e nestes dois meses que tem coa-itado com a dita sua mulher nunca dormiu com ela carnalmente pelo vaso natural, por ela ser moça !spera da condição e o não querer consentir$ 5 que uma ve+, antes de ir para o sertão, querendo ele por diante, naturalmente, ter c3pula com a dita sua mulher, resvalando seu mem-ro por -ai#o, a penetrou pelo vaso traseiro e nele cumpriu e consumou o pecado nefando, por"m que, quando isto lhe aconteceu ele estava cheio de vinho, e que fora desta ve+ nunca mais at" agora pecou com a dita sua mulher no dito nefando$ 0onfessou mais, que haver! três meses que, vindo do sertão, lhe aconteceu com uma sua escrava pagã, querendo dormir com ela por diante, resvalar6lhe o mem-ro ao vaso traseiro, por"m não penetrou$ >ssinou de cru+$ 1#1 * Con&iss,o de Ant@nio de A-iar 0 7rist,o /el(o0 solteiro0 na ra5a0 e3 " de &e/ereiro de 1"92 172
:isse ser cristão velho, natural desta Bahia, filho de Pero dY>guiar dY>ltero e de sua mulher 0ust3dia de =aria, morador com eles em *atoim deste recFncavo, de idade de vinte anos, solteiro$ 5 confessando, disse que haver! seis anos pouco mais ou menos que, sendo ele de idade de tre+e ou quator+e anos, e sendo seu irmão mais moço de idade de do+e ou tre+e anos, dormiam am-os untamente em uma cama, um mameluco forro criado em casa, por nome *arcos, que então seria de idade de de+essete ou de+oito anos, se ia de noite da sua rede em que dormia, 9s ve+es por si mesmo, 9s ve+es chamado por eles, deitar6se com eles na sua cama, o qual se deitava entre eles irmãos, e chegaram acontecer6lhes que ele *arcos e ele confessante pecaram o pecado nefando deitando6se ele confessante de -ruços e so-re ele se deitava o dito *arcos, metendo seu mem-ro desonesto pelo vaso traseiro dele confessante, e cumprindo nele por detr!s como homem com mulher por diante, consumando e efetuando o pecado de sodomia$ 5 pelo semelhante modo fa+ia ele confessante, lançando6se tam-"m de -arriga o dito *arcos e ele, confessante, pondo6se em cima dele por detr!s, dormindo com ele carnalmente como homem com mulher, penetrando com seu mem-ro o vaso traseiro do dito *arcos e cumprindo dentro em seu vaso traseiro, efetuando o dito pecado de sodomia de maneira que alternados o fa+iam$ 5 isto lhes aconteceu a cada um deles algumas quin+e ou vinte ve+es em espaço de um mês, que poderia durar esta desonesta conversação, e que duas ve+es entenderam eles que o dito seu irmão Bastião dY>guiar, que com eles estava na cama, os sentiu e entendeu o que eles fa+iam, pelo que o dito *arcos se pFs tam-"m so-re o 172 6
Processado pelo visitador$ epreendido na mesa e penitências espirituais$ >N77, I., proc$)(&$
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dito seu irmão na mesma feição sodomítica e essas duas ve+es sentiu ele confessante, ao dito ito seu seu irmão Basti astião ão dY> dY>guiar iar e ao dito dito *arc *arcos os,, au auntare tarem m6se 6se am-o am-oss amig amigav avev evel elme ment ntee na nass mesma esmass po post stur uras as de sodo sodom mia, ia, mas nã nãoo sa-e sa-e se am-o am-oss consumaram o dito pecado, e das ditas culpas disse que pedia perdão$ 5 sendo perguntado, disse que lhe parece que somente as ditas duas ve+es foi sentido do dito seu irmão, e que ningu"m outrem os viu, e que ele sa-ia que era pecado mas não não sa-ia que que era tão grave$ 5 que, um dia, acaso ouviu praticar no pecado nefando e então sou-e quão grave pecado ", e dali por diante se afastou da dita conversação e nunca mais cometeu o dito pecado e se arrependeu muito$ Sendo mais perguntado, disse que o dito *arcos se veio a fa+er ladrão e de ruins manhas, e fugiu de casa haver! cinco anos, e poder! ora dar ra+ão dele :iogo *artins 0ão, porque depois que fugiu esteve com ele quase de um ano$ 5 foi admoestado que lhe não aconteça mais semelhantes torpe+as e que se afaste de conversaçJes de que pode rece-er dano em sua alma, e foi6lhe mandado que se confesse no mosteiro de S$=rancisco e que traga escrito a esta mesa$
4 margem, no original manuscrito Seu irmão *astião de 8guiar est2 metido em Religião dos Padres da Companhia e az conissão neste livro, atr2s, ol<= 1#2 * Con&iss,o de Dona aria de Re=oredo0 7rist, /el(a0 na ra5a0 e3 " de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristã velha, natural de Setuvel, filha de enrique .o-o e de sua mulher Isa-el de e-oredo, defuntos, de idade de quarenta e seis anos, casada com :iogo *uni+ Barreto, moradora na sua fa+enda de Peroasu$ 5 confessando, disse que de três ou quatro anos para esta parte, pelo dito seu marido fa+er sem ra+Jes e dormir com as escravas moças da casa, e lhe dar muitas ocasiJes de se enoar e agastar, ela confessante, muitas ve+es, em diversos tempos, com c3lera e agastamento, se pFs a falar s3 com :eus, di+endo que assim como S$ 7om" não creu senão vendo as chagas, que assim ela, se não visse vingança do dito seu marido, seria como S$ 7om" e não creria em :eus, e que esta -lasfêmia disse muitas ve+es em diversos dias do dito tempo a esta parte, e que pede perdão e miseric3rdia$ 5 foi logo perguntada pelo senhor visitador se duvidou ela alguma ve+ da nossa Santa =" 0at3lica ou se descreu alguma hora, ou duvidou de crer ser :eus Nosso Senhor o verdadeiro :eus, respondeu que sempre teve e tem a Santa =" 0at3lica e que nunca duvidou nem teve intenção de descrer de :eus Nosso Senhor, mas que com a pai#ão pai#ão di+ia as ditas ditas palavras$ palavras$ 5 sendo mais perguntada, disse que lhe parece que nunca ningu"m a ouviu, e que est! muito arrependida, e que -em sa-e que errou muito em di+er as ditas -lasfêmias, -lasfêmias, e que não sa-e ler nem escrever, escrever, e que nunca nunca leu nem teve comunicaç comunicação ão de hereges nem luteranos, nem gente de m! suspeita$
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5 foi6lhe mandado que torne a esta mesa no mês de a-ril primeiro que vem e que tenha segredo$ Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio apost3lico$ 1#$ * Con&iss,o de Jeitor Gon5al/es0 7rist,o /el(o0 na ra5a0 e3 " de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural da ilha de Santa *aria, filho de Belchior .uis e de sua mulher *argarida 1onçalves, de idade de trinta anos pouco mais ou menos, casado com 0atarina de 13es, cristã velha, morador em 7oque 7oque, lavrador$ 5 confessando6se, disse que sendo ele moço de idade de oito at" quator+e anos pouco mais ou menos, foi pastor de gado na pr3pria ilha, e neste tempo dormiu carnalmente, por muitas ve+es, em diversos tempos e lugares, com muitas alim!rias, ovelha, -urras, vacas, "guas, metendo seu mem-ro desonesto pelos vasos das dirtas alim!rias, naturais delas, como se fora ele animal -ruto de semelhante esp"cie, e muitas ve+es cumpriu dentro nos ditos vasos das ditas alim!rias, consumando o pecado contra a natura de -estialidade, e que lhe lem-ra que cinco ve+es cumpriu por ser ! então de idade para isso $ 5 disse que destas culpas est! muito arrependido e ! se confessou delas e que pede miseric3rdia, e foi logo mandado que se confesse e que torne a esta mesa no mês de a-ril peimeiro que vem, e disse que lhe parecia que ningu"m o tinha visto fa+er os ditos pecados$ 173
1#4 * Con&iss,o de Andresa Rodri-es0 7rist, /el(a0 no te3o da ra5a
:isse ser cristã velha, natural do io dos Ilh"us, costa deste Brasil, filha de Simão odrigues, mestre de aç8car, e de sua mulher Ait3ria Corge, de idade de trinta anos, casada com >ntFnio de 13es, oleiro, morador no termo de Paraguaçu$ 5 confessando6se, disse que haver! dois anos que em sua casa, di+endo6lhe =elipa, =elipa, sua negra da terra, certas coisas ruins de seu cun cunhado hado *anuel de 13es, tam-"m tam-"m oleiro que ! não usa muito, ela, agastada contra o dito seu cunhado que lhe negava o que a negra dissera, disse que tanta verdade falava a dita sua negra como o 5vangelho de São Coão, e desta culpa disse que pedia perdão$ 5 foi perguntada se sa-e ela que a verdade do 5vangelho " infalível, em que nunca pode haver engano, e que a sua negra, ainda em caso que fale verdade, pode se enganar, respondeu que -em crê a certe+a infalível do 5vangelho, mas que, com agastamento, sem considerar, disse a dita -lasfêmia$ 5 sendo mais perguntada, disse que s3 o dito seu cunhado a ouviu$ 5 foi6lhe mandado ter segredo e que torne a esta mesa no mês de maio primeiro$ primeiro$ 173 6
No início do s"culo DAII, a -estialidade ou -rutalidade dei#ou de pertencer ao foro inquisitorial e retornou ao foro secular$
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5 declarou que o dito seu cunhado a repreendeu, di+endo6lhe que era caso da Santa Inquisição, e ela se não desdisse, mas arrependeu6se$ Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio apost3lico$ 1#" * Con&iss,o de L-7as dKs7o=ar0 3eio 7rist,o no/o0 na ra5a0 e3 % de &e/ereiro de 1"92
:isse ser meio cristão novo, natural de *atoim, termo desta cidade, filho de :iogo Aa+ 5sco-ar, cristão velho, defunto, e de sua mulher Aiolante >ntunes, cristã nova, defunta, solteiro, de idade de vinte e um anos, morador em *atoim$ 5 confessando6se, disse que haver! três anos pouco mais ou menos que, morrendo6lhe escravos em sua casa, ele va+ou e mandou va+ar fora toda !gua dos potes que havia em casa, e que isto fe+ três ou quatro ve+es nas mortes de três ou quatro escravos, sem sa-er que era cerimFnia udaica, mas somente tinha visto a dita sua mãe fa+er o mesmo por três ou quatro ve+es, morrendo6lhe tam-"m gente, e que sem sa-er a causa porque sua mãe o fa+ia, o fe+, parecendo6lhe que ia naquilo alguma coisa -oa$ 5 foi logo admoestado pelo senhor visitador, com muita caridade, que, pois est! em tempo de graça, que, para a alcançar, faça confissão verdadeira e declare sua intenção, porque não se pode presumir senão que ele " udeu e vive na lei de *ois"s e não tem a f" de Cesus 0risto, pois fa+ a dita cerimFnia tão conhecida e principal dos udeus, respondeu respondeu que que nunca nunca teve intençã intençãoo de udeu na dita cerimF cerimFnia$ nia$ 5 sendo mais perguntado, disse que nunca viu fa+er a dita cerimFnia senão 9 dita sua mãe, e que nunca ningu"m lhe ensinou a lei de *ois"s nem contra a de 0risto$ 5 foi6lhe mandado ter segredo e que não se saia desta cidade sem licença do senhor visitador$ 1#% * Con&iss,o de L-isa Rodri-es0 3esti5a0 na ra5a0 e3 % de &e/ereiro de 1"92
:isse :isse ser ser mamel ameluc uca, a, na natu tura rall de dest stee ecF ecFnc ncav avo, o, filh filhaa de =ran =ranci cisc scoo odrigues, escrivão, cristão velho, e de Isa-el odrigues, índia deste Brasil, defunta, de idade de vinte e um anos, casada com >ntFnio Pires, lavrador, morador na 7assuapina$ 5 confessando6se, disse que haver! seis ou sete anos, no tempo que se levantou a-usão da santidade entre os índios e cristãos desta capitania, que ela, como ignorante, creu na ditta erronia por espaço de de+ ou do+e dias, crendo que havia de tornar Nossa Senhora e Nosso Senhor a andar c! no mundo, e outros desprop3sitos que os seguidores da dita a-usão gentílica di+iam, mas que se foi confessar e o confessor a a-solveu, e ela est! muito arrependida de sua ignorGncia$ Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio apost3lico$
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1# * Con&iss,o de G-io3ar ;i5arra 0 7rist, /el(a0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 e3 % de &e/ereiro de 1"92 174
:isse ser cristã velha, natural de *oura, em Portugal, filha de Belchior Piçarra e de sua mulher *aria odrigues, ! defuntos, casada com *anuel .opes, lavrador, de idade de trinta e oito anos, moradora em Itaparica$ 5 confessando6se, disse que sendo de do+e ou tre+e anos, estando moradora no io Aermelho em casa de >ntFnio odrigues Belmeche, estava aí das portas adentro tam-"m uma negra de 1uin", ladina, por nome *"cia, alcorcovada, que então seria de idade de de+oito anos, e chegaram am-as a tão desonesta ami+ade que duas ou três ve+es, em diferentes dias, se austaram am-as em p" uma com a outra, com as fraldas afastadas, a-raçando6se e com-inando e auntando suas naturas e vasos dianteiros um com o outro, e assim se deleitavam como homem com mulher, por"m não se lem-ra nem se afirma se ela confessante cumpriu alguma das ditas ve+es, como costuma cumprir a mulher com o homem, nem sa-e se a ditas *"cia cumpriu$ 0onfessou mais, que haver! cinco ou seis meses que, um dia, 9 merenda, estando ela em sua casa, digo, em casa de 1aspar Nunes, lavrador, untamente com *aria Pinheira, mulher de Coão dY>guiar, e *aria Nunes, mulher de 1onçalo 1onçalves, lavrador e pescador, e >na >lveloa, mulher do dito 1aspar Nunes, todas amigas moradoras e vi+inhas em Itaparica, sendo s!-ado, a dita >na dY>lveloa mandou ir 9 merenda um tatu, que " caça do mato de carne, co+ido, e todas elas quatro comeram a dita carne no dito s!-ado 9 merenda, sa-endo ser s!-ado, e ela confessante sentia6se mal disposta e disse 9s outras que aquele dia era s!-ado, que não se podia comer carne, e que ela por doente a comeria e, contudo, todas quatro a comeram sem ter necessidade, nem desculpa$ 5 das ditas culpas disse que pede perdão e que est! muito arrependida, e que ! as confessou a seus confessores$ 5 foi logo poerguntada pelo senhor visitador se sa-ia ela que o dito auntamento carnal entre mulheres " sodomia, e que comer carne nos dias proi-idos " culpa heretical, respondeu que não sa-ia que eram senão pecados mortais de grande ofensa a :eus$ 5 sendo mais perguntada, disse que a dita >na dY>lveloa " mameluca e que a dita *"cia " ora casada com um negro alfaiate dos padres do 0ol"gio, e ela tam-"m " alfaiata, moradora nesta cidade$ 5 do costume disse nada, mas " amiga de todas e prometeu ter segredo, e foi6lhe mandado tornar a esta mesa no mês de maio$ 174 6
=oi processada mas, considerando6se que veio na graça, sofreu apenas repreensão na mesa e rece-eu penitências espirituais$ >N77, I., proc$%?<&$
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1#! * Con&iss,o de adalena ;i3entel0 7rist, /el(a0 na ra5a0 e3 % de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristã velha, natural de Pernam-uco, filha de Pero Pais e de Beatri+ da Silva, de idade de quarenta e seis anos pouco mais ou menos, vi8va, mulher que foi de Simão 1omes Aarela, moradora na sua fa+enda, na freguesia de Pass"$ 5 confessando6se, disse que sendo ela moça de nove at" on+e anos, teve ami+ade tola e de pouco sa-er com outras moças de sua mesma idade, a sa-er, *ícia de .emos, que ora " casada com Coão odrigues Palha, morador nesta cidade, e com 2ria Bar-osa, moça parda que ora " casada com >ndr" odrigues, mameluco, morador em Peroasu, e assim tam-"m com outra moça maior que ela, que parecia ser então de tre+e anos pouco mais ou menos, por nome >na =ernandes, filha de Beatri+ 5anes, a qual >na =ernandes est! nesta capitania e casada, mas não sa-e em que freguesia, e com cada uma das so-reditas teve auntamento carnal auntando seus vasos, alternativamente, ora uma de-ai#o, ora de cima, fa+endo como se fora homem com mulher por muitas ve+es em diversos tempos que não lhe lem-ra o n8mero, por"m nunca usaram de nenhum instrumento penetrante mais que somente com seus corpos$ 5 disse que das ditas culpas pede perdão e que ! delas se confessou a seus confessores$ 5 sendo perguntada, disse que lhe parece que nenhuma pessoa as viu, e que as ditas moças nem sa-iam umas as outras isto, mas que ela, confessante, com cada uma delas fe+ o dito pecado sem o dar a sa-er 9s outras$ Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio apost3lico$ 1#9 * Con&iss,o de aria ;in(eira 0 7rist, /el(a0 na ra5a0 e3 % de &e/ereiro de 1"92 175
:isse ser cristã velha, segundo lhe parece, natural desta cidade, filha de Coão Pinheiro, lavrador e de sua mulher Isa-el :ias, defuntos, de idade de trinta e oito anos, casada com Coão dY>guilar, lavrador, moradora em Itaparica$ 5 confessando6se, disse que haver! dois ou três anos, não lhe lem-ra o certo, que em casa de 1aspar Nunes, tido por cristão novo, em Itaparica, estando untas >na >lveloa, sua mulher, e *aria Nunes, vi8va, casada ora com 1onçalo 1onçalves, pescador, e 1uimar Piçarra, casada com *anuel .opes, todas vi+inhas e amigas, mandou vir para merendar a dita >na >lveloa um tatu, que " uma caça do mato, assado, de modo que sendo s!-ado ou se#ta6feira, todas o comeram sem terem necessidade de comer carne, salvo a dita >na >lveloa, que estava parida e sangrada, e ouviu di+er que a dita vi8va *aria Nunes estava prenhe, secretamente, sa-endo todas que não era dia de 175 6
=oi processada por ter omitido que Paula de Siqueira lia livro proi-ido$ Saiu em auto p8-lico, na Bahia, com vela acesa na mão, e a-urou de leve suspeita na f"$ >N77, I., proc$%E<;'$
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carne, e di+endo ela confessante que era velhacaria comê6la em tal dia, e disse que da dita culpa pede perdão e miseric3rdia$ 5 sendo perguntada, disse que todas estavam em seu siso e sa-iam o que fa+iam e que as não viu outrem, que lhe lem-re$ Por não sa-er assinou a seu rogo o not!rio apost3lico$ 11# * Con&iss,o de Isa=el ar-es0 3esti5a0 na ra5a0 e3 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser mameluca, natural desta cidade, filha de :iogo *arques, cFnego que foi desta S", defunto, e Isa-el, índia desta terra, tam-"m defunta, de idade de trinta e sete anos, casada com >ntFnio *achado, sapateiro que ! não usa, moradora na freguesia de Sergipe do 0onde de .inhares$ 5 confessando6se, disse que, sendo ela moça de de+ anos pouco mais ou menos, em Aila Aelha, termo desta cidade, foi a casa do Barão .ourenço, seu vi+inho, folgar com sua filha 0atarina Baroa, que então seria de idade de quator+e ou quin+e anos e ora " casada com :iogo odrigues, alfaiate, moradora em 7amararia deste ecFncavo$ 5 chegaram am-as a tão torpe auntamento que a dita 0atarina Baroa se pFs em cima dela, levantadas as camisas delas, e assim untaram seus vasos dianteiros como se fora homem com mulher, e isto por uma ve+, por um pequeno de espaço, sem haver entre ela instrumento penetrante mais que seus corpos$ 5 disse que lhe parece que ela confessante não cumpriu, e que não sa-e se a so-redita cumpriu$ 5 sendo perguntada, disse que viu a mesma 0atarina Baroa fa+er o mesmo pecado da mesma maneira duas ou três ve+es com outras moças menores de de+ anos, e que ningu"m outrem viu a ela confessante fa+er o dito pecado, e que ! se confessou dele a seu confessor$ Por não sa-er, assinou a seu rogo o not!rio apost3lico$ 111 * Con&iss,o de Fran7is7o ;ires0 7rist,o /el(o0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural da cidade do Porto de *iragaia, filho de :omingos Pires, pescador, e de sua mulher Aiolante 1onçalves, defuntos, de idade de trinta anos, casado com =elipa 1onçalves, cristã velha, contramestre de uma nau que veio do Porto por nome Nossa Senhora do 0astelo, que chegou a este porto aos quator+e deste aneiro passado$ 5 confessando6se, disse que haver! quatro anos que, indo ele em uma nau de que era mestre >ntFnio de =reitas, morador na cidade do Porto, desta cidade para o dito Porto, foram tomados na altura das Ilhas pelos ingleses luteranos, os quais os levaram 9 cidade de 8ntona, onde a ele confessante e a seus companheiros aconteceu
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que duas ve+es, em diferentes dias, entraram na igrea dos luteranos, onde não havia ret!-ulo, nem imagem, nem cru+ mais que somente no meio dela, so-re um pau, uma !guia de metal, e entraram des-arretados, e uma das ditas ve+es estiveram presentes a um -atismo de uma criança que os luteranos na mesma igrea -ati+aram, e sempre des-arretados, e outra terceira ve+ chegaram 9 porta da dita igrea e estiveram um pouco ouvindo o pregador luterano que estava pregando$ 5 destas culpas disse que pedia perdão, que nunca creu na seita luterana e sempre teve a f" de 0risto, e iam a dita igrea por curiosidade de verem$ 5 sendo perguntado pelos companheiros que fi+eram o mesmo como ele, nomeou os seguintesM o dito >ntFnio de =reitas, :iogo 1onçalves, piloto da mesma nau, morador em São Coão do Porto, 0ristovão Pires, marinheiro, morador da mesma cidade no arra-alde, >ntFnio 0arneiro, carpinteiro e marinheiro, 0osme 1onçalves, calafate e marinheiro, 1aspar 1onçalves, marinheiro, Baltasar >ndr", mercador, todos casados e moradores na dita cidade do Porto e seus arra-aldes, e :omingos :ias, mercador de *eião =rio, e declarou que o dito Beltasar >ndr" est! ora nesta cidade, que veio nesta nau$ 112 * Con&iss,o de Ant@nio de era0 7rist,o /el(o0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural da cidade de .is-oa, filho de :uarte de 13es de *endonça e de sua mulher =rancisca de 0arvalho, de idade de vinte e quatro anos pouco mais ou menos, solteiro, morador em Itapoã, freguesia de Pira!, lavrador$ 5 confessando6se, disse que haver! um ano que, indo ele de sua casa para a fa+enda de seu pai, que tudo " distGncia de três l"guas, um dia de s!-ado ou se#ta6 feira, ou outro de o-rigação de eum, ele, no caminho, almoçou carne de caça do mato assada, e que Coão i-eiro, morador lavrador de Paripe que presente estava o repreendeu, e contudo ele a comeu sem necessidade nem desculpa$ 5 que assim mais poucos dias disto, indo ele confessante pelo mato em -usca de uns negros que fugiram a seu pai, tam-"m sendo dia que a igrea defende carne, comeu carne de vaca assada, tam-"m podendo escus!6la e sem desculpa, porque tinha farinha para poder passar aquele dia, e disse que destas culpas pedia perdão$ 5 foi logo perguntado se sa-ia ele que estas culpas são hereticais, respondeu que sa-ia que era pecado e ofensa de :eus$ 5 sendo mais perguntado, disse que a dita carne de vaca lhe viu comer um criado de seu pai por nome =rancisco Pires, morador nesta cidade em casa de seu pai, o qual tam-"m o repreendeu$
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5 foi logo admoestado pelo senhor visitador que nunca mais coma carne em dias defesos porque ser! gravissimamente castigado$
11$ * Con&iss,o de Fran7is7o de A:e/edo0 7rist,o /el(o0 na ra5a0 e3 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural da quinta do 7elhado, comarca da cidade do Porto, filho de 0ristovão 1onçalves e de *aria de >+evedo, defuntos, de idade de vinte e seis anos, solteiro, morador em *atoim, em casa de Corge de *agalhães$ 5 confessando6se, disse que, na era de mil quinhentos e oitenta e cinco, vindo em um galeão chamado de Nossa Senhora dY>uda, chegando a um grau da -anda do norte, foram tomados de franceses luteranos em cua companhia andaram alguns três meses, no qual tempo todo, nos dias que a igrea defende carne, comeu ele sempre carne sem desculpa, porque a podia escusar$ 5 muitas ve+es, quando eles fa+iam suas oraçJes luteranas, ele se ia pFr des-arretado com eles sem ser constrangido a isso$ 5 tudo isso fa+iam seus companheiros, a sa-er, :iogo de Pina, mercador, e *iguel 1omes Bravo, mercador, e C!come odrigues, mercador, e 1aspar de Banhos, passageiro, todos moradores na cidade do Porto, e 1aspar 1onçalves, contramestre do galeão, morador em *iragaia, e um calafate, cunhado deste contramestre, e outros cuos nomes lhe não lem-ra$ 0onfessou mais, que na quaresma do ano passado comeu tam-"m carne sem necessidade nem desculpa, toda a quaresma, e com ele fi+eram o mesmo Baltasar 0amelo, ourives, e um castelhano por nome =rancisco odrigues, morador em casa do mesmo *agalhães, e :omingos =ernandes, alfaiate, morador na praça desta cidade, o-reiro, e >mador =ilgueira, mameluco$ 5 ouviu di+er que, em geral, em todo o arraial se comia carne, e assim mesmo a comia o capitão odrigo *artins, da 0achoeira, podendo muito -em escus!6 la, e disse que destas culpas pedia miseric3rdia$ 5 foi perguntado se sa-ia ele que comer carne nos dias defesos " culpa heretical, respondeu que sa-e ser pecado grave mortal, e foi admoestado pelo senhor visitador que não coma mais carne nos dias proi-idos porque ser! gravissimamente castigado$ 114 * Con&iss,o de ?o,o Bis7ain(o0 7astel(ano0 na ra5a0 e3 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser castelhano, natural de Baeca, filho de =rancisco Bescainho, lavrador, e de sua mulher 5lvira de Barrimão, casado com Branca *endes, mameluca, de idade de vinte nove anos, morador na Pitanga, no 0urral de Coão de Siqueira$
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5 confessando6se, disse que haver! oito meses que, sendo morador em 0otegipe, um dia, 9 noite em sua casa, estando agastado peleando com sua mulher, -lasfemou di+endo @arrenego de Cesus 0risto, e esta -lasfêmia disse uma s3 ve+ e que não sa-e se lha ouviu sua mulher ou outrem algu"m, e que estava em seu siso, e era antes de cear$ 5 sendo perguntado, disse que em seu coração não dei#ou de crer em 0risto nunca, nem duvidou dele, e que não sa-e ler nem andou entre luteranos, nem hereges$ vem$
5 foi6lhe mandado que torne a esta mesa no mês de maio primeiro que
4 margem, no original manuscrito, h2 um sinal do conessante /ue não sa#ia assinar 11" * Con&iss,o de L-7as Gato0 7rist,o /el(o0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural da Ilha 7erceira, filho de 1erFnimo Pereira, e de sua mulher Coana 1ata, de idade de vinte e três anos, solteiro, lavrador em Itaparica$ 5 confessando6se, disse que haver! dois anos que, em 7amararia, estando um dia em casa de >na odrigues, vi8va, praticando com um mance-o, o qual lhe não lem-ra quem ", acerca do mesmo mance-o que andava para casar, disse ele confessante que tão -om era o estado de -em casado como o estado dos religiosos, e estas palavras disse aprovando6as por verdade$ 5 o dito mance-o, que lhe não lem-ra quem era, repreendeu a ele confessante, e contudo ele confessante, porfiando, não se desdisse e ficou em seu dito, cuidando que essa era a verdade, at" que se confessou e o confessor o desenganou$ 5 desta culpa disse que pedia miseric3rdia$ 5 sendo mais perguntado, disse que a dita >na odrigues não era presente, nem outra pessoa alguma mais, e que não sa-e ler, e que nunca andou entre hereges nem luteranos, nem conversou com eles$ 5 foi6lhe mandado que torne a esta mesa no mês de maio que vêm$ >ssinou em cru+$ 11% * Con&iss,o de ;a-lo Adorno0 3esti5o0 no te3o do Re7@n7a/o0 e3 ! de &e/ereiro de 1"92
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:isse ser mameluco, natural desta Bahia, filho de =rancisco odrigues, homem -ranco, defunto, cristão novo, e de sua mulher 0atarina :ias >dorno, mameluca, vi8vo, de idade de trinta e nove anos, morador em *atoim$ 5 confessando6se, disse que no tempo que foi governador deste Brasil .uis de Brito dY>lmeida , foi duas ve+es ele confessante ao sertão, uma na companhia do capitão >ntFnio :ias >dorno, ! defunto, e outra ele e Br!s :ias, mameluco, morador na -arra de Caguaripe, am-os s3s, nas quais ornadas ele comeu carne por muitas ve+es em todo o tempo que elas duraram$ Tue a primeira, da companhia de >dorno, durou nove meses, e a outra durou três meses, e sem terem necessidade e podendo escusar carne, a comeram por muitas ve+es não lhe lem-ra n8mero certo, assim na quaresma como nos mais dias proi-idos, e nas ditas ornadas fi+eram o mesmo com ele o dito seu companheiro Br!s :ias, que " homem pretelhão muito -e#igoso, cuo pai foi morador em Aila Aelha, e assim tam-"m outros que ora lhe não lem-ram$ 5 que, outrossim, haver! três anos que foi ao sertão de Sergipe na companhia de 0ristovão de Barros, onde tam-"m comeu por muitas ve+es, o n8mero lhe não lem-ra, tam-"m em dias proi-idos, carne, podendo6a escusar e sem desculpa, e destas culpas disse que pedia perdão$ 5 sendo mais perguntado, disse que na dita ornada de 0ristovão de Barros, comeu tam-"m carne Coão i-eiro, seu camarada e morador em Paripe, e do costume disse nada$ 5 foi6lhe mandado ter segredo, e que torne a esta mesa no mês de maio primeiro que vem$ 176
11 * Con&iss,o de ;edro l/ares Aran(a0 7rist,o /el(o0 na ra5a0 e3 9 de &e/ereiro de 1"92
:isse ser cristão velho, natural de Ponte de .ima, filho de =ernão Pires da 0osta e de sua mulher *arta :ias, moradores em Ponte de .ima, solteiro, de idade de trinta anos, lavrador, morador em 0otegipe, freguesia de Paripe$ 5 confessando6se, disse que haver! dois anos pouco mais ou menos que, unto de São Bento, arra-alde desta cidade, um dia, estando ele praticando com dois amigos seus, os quais ora lhe não lem-ra quem foram, se veio a mover questão entre eles acerca dos estados, e ele confessante teve e afirmou e sustentou que o estado dos solteiros e casados era tão -om como o dos religiosos$ 5 nesta opinião ficou enganado at" agora que leu o "dito da f" e monit3rio geral pregado nas portas da sua freguesia, pelo que vem pedir miseric3rdia$ =oi6lhe mandado que torne a esta mesa no mês de maio primeiro que vem$ 5 sendo perguntado se leu alguns livros de hereges ou luteranos ou se comunicou e andou com eles em suas terras, ou em alguma outra parte, respondeu que não$ 176 6
=oi 1overnador entre %&<( e %&<$
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11! * Con&iss,o de N-no Fernandes0 7rist,o no/o0 na ra5a0 e3 9 de &e/ereiro de 1"92
>pareceu Nuno =ernandes, solteiro, cristão novo, morador em *atoim, que ! fe+ confissão neste livro, folhas %&E, e disse que pelo uramento que rece-ido tem lhe lem-ra mais, que usa muitas ve+es deste uramento, @pelo mundo que tem a alma de meu pai, e o dito uramento urou muitas ve+es, sem nunca sa-er nem entender que era uramento udaico$ 5 outrossim, disse que " costumado a vestir todos os s!-ados camisa lavada, por"m que a veste tam-"m todos os mais dias da semana e domingos, de maneira que cada dia a veste por limpe+a$ 5 que manda tam-"m nos domingos e santos tra-alhar aos seus a cortar em-ira para atar a cana e carregar a -arca, nos tempos da necessidade, porque vê que assim o costumam fa+er geralmente nesta terra$ 5 foi tornado admoestar que faça confissão verdadeira, respondeu que tem dito a verdade$ 177
119 * Con&iss,o de Fran7is7o ;ires 0 7rist,o /el(o0 na ra5a0 e3 1# de &e/ereiro de 1"92 178
:isse ser cristão velho, natural de vila do 0onde, filho de Coão Pires, carpinteiro da i-eira, e de sua mulher =elipa :ias, defunta, de idade de trinta e quatro anos, carpinteiro da i-eira, vi8vo, morador em Sergipe do 0onde$ 5 confessando6se, disse que de de+ ou do+e anos a esta parte, por muitas ve+es, em diversos tempos e lugares, e perante diferentes pessoas que ora lhe não lem-ram, disse e sustentou que o estado dos casados era melhor que os outros estados dos religiosos, pois :eus o fi+era$ 5 que este erro teve consigo todo o dito tempo, cuidando ser assim verdade, e assim lhe parece que o tinha ouvido a algumas pessoas que lhe não lem-ram, e não lhe lem-ra que algu"m alguma ve+ o repreendesse disso, mas que somente lhe lem-ra que, haver! dois meses pouco mais ou menos que, em Sergipe, em o porto de Baltasar Bar-osa, tra-alhando, ele confessante disse o mesmo, e assim tam-"m disse o mesmo >ntFnio de Sou+a, di+endo que ele, >ntFnio de Sou+a, tivera tam-"m para si o mesmo de ser o estado dos casados melhor que o do religioso$ *as que o comiss!rio de S$=rancisco, frei Belchior, lhe declarara que di+er isto era heresia, porque melhor era o dos religiosos, e logo ele confessante, respondeu que, pois, o dito 0omiss!rio di+ia que isso era o certo, e ele o não contradi+ia nem repugnava$ 177 6 178 6
5m-iraM planta cua casca " ria e serve para atar$ Processado apesar de confessar na graça e não ser denunciado$ a-urou de leve suspeita na mesa e rece-eu penitências espirituais$ >N77, I., proc$ %<%E$
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5 foi logo perguntado se leu em alguns livros de hereges ou luteranos, ou se andou entre eles, ou em suas terras, respondeu que não, e foi6lhe mandado que torne a esta mesa no mês de a-ril primeiro que vem$
12# * Con&iss,o de Do3inos Fernandes No=re0 de al7-n(a To3a7ana 0 3esti5o0 7rist,o /el(o0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 no lti3o dia dela0 e3 11 de &e/ereiro de 1"92 179
:isse ser cristão velho, natural de Pernam-uco, costa deste Brasil, mameluco, filho de *iguel =ernandes, homem -ranco, pedreiro, e de Coana, negra do gentio deste Brasil, defuntos, de idade de quarenta e seis anos, casado com Isa-el Beliaga, mulher -ranca, cristã velha, morador nesta cidade e não tem ofício$ 5 confessando suas culpas, disse que de idade de de+oito anos at" idade de trinta e seis anos viveu como homem gentio, não re+ando, nem se encomendando a :eus, cuidando que não havia de morrer nem tendo conhecimento de :eus, como verdadeiro cristão, e posto que se confessava pelas quaresmas, era por cumprir com a o-rigação, e sua vida no dito tempo foi mais de gentio que de cristão, por"m nunca dei#ou a f" de 0risto e essa teve sempre em seu coração$ 0onfessou que haver! vinte e dois anos pouco mais ou menos que, em Pernam-uco, pecou no pecado da carne com duas moças suas afilhadas, das quais ele foi padrinho quando, sendo elas gentias, as -ati+aram e fi+eram cristãs, parecendo6lhe que tanto pecado era dormir com elas sendo suas afilhadas como se não o foram$ 0onfessou que haver! vinte anos pouco mais ou menos que ele foi ao sertão de Porto Seguro em companhia de >ntFnio :ias >dorno, 9 conquista do ouro, e no dito sertão ele usou dos usos e costumes dos gentios, tingindo6se pelas pernas com uma tinta chamada urucum e outra enipapo, e empenando6se pela ca-eça de penas, e tangendo os pandeiros dos gentios, que são uns ca-aços com pedras dentro, e tangendo seus ata-aques e instrumentos, -ailando com eles, cantando suas cantigas gentílicas pela língua gentílica que ele -em sa-e, e que estas coisas fe+ por dar a entender aos gentios do dito sertão que ele era valente e não os temia, por andarem sempre em guerra$ 0onfessou que haver! de+esseis anos pouco mais ou menos que, por mandado de Coão de Brito dY>lmeida, que foi governador nesta capitania na ausência do governador, seu pai, .uis de Brito, que ia para a Paraí-a, foi ele confessante ao sertão de >ra-3, por capitão de uma companhia a fa+er descer o gentio para o povoado, na qual ornada gastou quatro ou cinco meses e, no dito sertão ele tinha mulheres, duas, 179
6 Processado pelo visitador$ >-urou de leve suspeita na mesa, onde foi @grandemente repreendido$ Penitências espirituais, pena pecuni!ria de & mil r"is e proi-ição de voltar ao sertão$ >N77, I., proc$%E<<)$
137
ao modo gentílico, as quais eram gentias filhas de gentios que lhas davam por mulheres, e se tingia ao seu uso gentílico, e -ailava e cantava e tangia com os gentios ao seu uso gentílico, e se riscou pelas co#as, n!degas e -raços ao modo gentílico, o qual riscado se fa+ rasgando com um dente de um -icho chamado paca, e depois de rasgar a carne levemente pelo couro, esfregam por cima com uns p3s pretos, e depois de sarado, ficam os lavores pretos impressos nos -raços e n!degas, ou onde os pJem, como ferretes, para sempre$ O qual riscado costumam fa+er os gentios em si quando querem mostrar que são valentes e que tem ! mortos a homens, e por ele confessante se ver então em um aperto dos gentios, que se levantavam contra ele, se fe+ riscar por um negro do dito modo para se mostrar valente e assim escapou, porque vendo isso os gentios lhe fugiram, e então se riscou com ele pela dita maneira =rancisco >fonso 0apara, morador em Pira!, termo desta cidade$ 0onfessou que haver! quin+e anos pouco mais ou menos que tornou ao mesmo sertão de >ra-3 desta capitania, por mandado do dito governador .uis de Brito, por capitão doutra capitania a fa+er descer gentios para o povoado, na qual ornada gastou alguns seis meses, e no dito sertão lhe deram tam-"m os gentios suas filhas gentias por mulheres, e tinha duas e três untamente por mulheres, como qualquer gentio, e -e-ia com eles o seu fumo, que " o fumo de uma erva que em Portugal chamam a erva santa , e -e-ia com eles os seus vinhos e -ailava e tangia e cantava com eles ao seu modo gentílico, e andava nu como eles, e chorava e lamentava propriamente como eles ao seu uso gentílico, as quais coisas todas fa+ia em descr"dito da lei de :eus porque os gentios, vendo6o fa+er as ditas coisas, o tinham tam-"m por gentio e lhe chamavam so-rinho e estas coisas fa+ia tendo em seu coração a f" de 0ristoQ, para os gentios lhe darem -om tratamento$ 0onfessou que haver! tre+e ou quator+e anos que, por mandado do mesmo governador, tornou ao sertão dos Ilh"us, onde gastou quator+e meses, e nele se empenou pelo rosto com almeçega e se tingiu com a tinta vermelha de urucum ao modo gentílico, e teve sete mulheres gentias que lhe deram gentios, e as teve ao modo gentílico, e tratou com eles e -e-eu seus vinhos e fe+ seus -ailes e tangeres e cantares, tudo como gentio$ 5 porque eles se levantaram contra ele e seus companheiros, ele confessante e Coão de emirão, senhor do engenho seu, que mora vi+inho de 7assuapina desta capitania, se fingiram serem feiticeiros da maneira que os gentios costumam ser, di+endo que lhes haviam de lançar a morte para todos morrerem, e fa+endo algumas invençJes e fingimentos para que eles assim o cuidassem e para escaparem que os não matassem, como escaparam$ 0onfessou que haver! vinte anos, no sertão de Pernam-uco, no io de São =rancisco, deu uma espada e rodelas, e adagas e facas grandes de >lemanha, e outras 180
180 6
7rata6se do ta-aco, e onde todos di+iam @-e-er entenda6se @fumar$
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armas aos gentios que são inimigos dos cristãos e os matam e guerreiam quando tem lugar para isso$ 0onfessou que haver! cinco ou seis anos pouco mais ou menos que, no sertão desta cidade, se alevantou entre os gentios uma erronia e a-usão a que eles chamavam Santidade, e tinham um gentio a que chamavam Papa, o qual di+ia ser :eus, e a outros chamavam Santos, e uma gentia chamavam mãe de :eus, e a outras chamavam santas, e fa+iam entre si -atismos com candeias acesas, lançando !gua pelas ca-eças dos -ati+ados, e punham 6lhe nomes a seu modo, os quais -atismos fa+ia o dito chamado Papa, autor e inventor da dita erronia e a-usão, o qual se chamava >ntFnio e era do gentio deste Brasil, e se criou em casa dos padres da 0ompanhia de Cesus no tempo que eles tinham aldeias em 7inhar", capitania dos Ilh"us, donde ele fugiu para o sertão$ 5 ordenou a dita erronia, arremedando e contrafa+endo os usos da igrea cristã, fa+endo os ditos -atismos e fa+endo igreas com altares e pias de !gua -enta, e mesas de confrarias e toucheiros, e contas de re+ar, e sacristia, e tinham no altar um ídolo de uma figura de animal que nem demonstrava ser homem, nem p!ssaro, nem pei#e, nem -icho, mas era como quimera , no qual adoravam, e a dita negra chamada mãe de :eus era mulher do dito Papa ao seu uso gentílico$ 5 sendo assim levantada esta a-usão, foi ele confessante, por mandado do governador *anuel 7eles Barreto, por capitão de uma companhia de soldados que consigo levou para desfa+er a dita erronia e prender e tra+er os sustentadores dela, dos quais muitos e a mor parte deles eram cristãos que, depois de serem cristãos, fugiram para o dito chamado Papa, que tam-"m era cristão$ 5 indo ele confessante ! pelo sertão dentro, achou que os sustentadores da dita a-usão fugiam por sentirem que iam contra eles, e topou com uma manga de negros do gentio deste Brasil, deles gentios e deles cristãos, os quais tra+iam consigo o dito ídolo, e vendo ele confessante o dito ídolo, lhe tirou o chap"u e o reverenciou fingidamente, por enganar aos que o tra+iam, dando6lhes a entender que cria naquela sua a-usão$ 5 pedindo6lhe os ditos negros que os dei#asse fa+er uma procissão com o dito ídolo, ele confessante lhes deu licença para isso, e mandou aos seus negros que consigo levava que os audassem a fa+er a dita procissão, e com eles fe+ ele seus sagrados e tangeu seus instrumentos gentílicos ao seu uso daquela sua a-usão chamada Santidade$ 5 então mandou ele confessante a alguns de seus companheiros com o dito ídolo que o levassem a =ernão 0a-ral de 7aíde, 9 sua fa+enda de Caguaripe, donde ele confessante tinha partido para o dito sertão, os quais companheiros eram :omingos 0amacho, natural do >lgarve, que ora est! nas 2ndias de 7ocumão , e Pantaleão 181
182
181 6
>l"m de significar @coisa imaginada, quimera era tam-"m @monstro fa-uloso com ca-eça de de leão, corpo de ca-ra e cauda de dragão$ 182 6 Possivelmente 7ucum!n, na >m"rica 5spanhola, noroeste argentino$
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i-eiro, lavrador e morador na fa+enda de :iogo 0orrea, pelos quais, com o dito ídolo, escreveu uma carta ao dito =ernão 0a-ral em que lhe di+ia que lhe mandava ali aquele ídolo com aquela gente seguidora da dita a-usão, que poderiam ser algumas sessenta almas, que lhes fi+esse -oa companhia enquanto ele confessante ia por diante ao sertão, por que não corresse ele perigo no sertão$ 5 que depois de assim despedir aos ditos seus companheiros que levaram a dita sua gente e ídolo, ele confessante foi por diante, levando ! consigo novo socorro de companheiros que lhe mandou o governador *anuel 7eles$ 5 chegando a um passo onde chamam Palmeiras 0ompridas, lhe mandou di+er o principal dos sustentadores daquela erronia, o qual chamavam papa, que ele não passasse daquele lugar so- pena de o-ediência, porque ele viria logo aí ter, e logo o dito chamado Papa veio vestido com uns calçJes de ra#a preta e uma roupeta verde e um -arrete vermelho na ca-eça, tra+endo consigo muitos dos seus sequa+es em fileiras de três, em ordem, e as fêmeas e crianças todas detr!s com as mãos levantadas$ 5 o dito chamado Papa, que vinha na dianteira, e os mais que o seguiam em fileiras, vinham fa+endo meneios e movimentos com os p"s e a mão e pescoço, e falando certa linguagem nova, que tudo era invenção e cerimFnia daquela a-usão chamada Santidade$ 5 ele, confessante, adorou ao dito chamado Papa e se aoelhou diante dele di+endo estas palavras, @adoro6te -ode porque h!s de ser odre$ 5 logo ele confessante fe+ tam-"m o pranto ao dito chamado Papa, segundo o costume gentílico, e saltou e festeou com ele ao seu modo gentílico, e -e-eu o fumo com ele, ao qual fumo os seguidores da dita a-usão chamavam sagrado, e tangeu e cantou com eles seus instrumentos e suas cantigas em suas linguagens, e consentiu que adorassem a ele confessante, e lhe chamassem filho de :eus e lhe chamassem tam-"m São .uis$ 5 que todas estas coisas fe+ e consentiu sem a intenção nem Gnimo de gentio, mas fingidamente, para enganar aquela gente daquela erronia e a tra+er consigo, como trou#e, para a dita fa+enda do dito =ernão 0a-ral$ 5 ao dito chamado Papa deu ele confessante uma espada de cavalgar, e dantes ! lhe tinha mandado um traçado e o dito vestido com que ele vinha vestido$ 0onfessou mais, que antes deste caso da dita a-usão, foi ele ao sertão desta capitania em companhia de .uis .opes Pessoa, com licença do governador .ourenço da Aeiga , que então governava este estado, para fa+erem descer gente do gentio e tra+ê6la consigo para o povoado, na qual entrada gastou um ano, e no dito tempo fe+ e usou com os ditos gentios os seus costumes gentílicos, fa+endo seus tangeres e cantares da maneira so-redita, e aceitou deles quatro mulheres que lhe deram por mulheres ao seu modo gentílico$ 183
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183 6 184 6
7raçado ou terçadoM espada curta$ =oi 1overnador de %&< a %&%$
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0onfessou mais, que haver! dois anos e meio que ele foi com licença da mesa do governo ao sertão, na companhia de 0ristovão da ocha, a fa+er descer gentio donde ora vem ao sertão de Pernam-uco, onde tam-"m consentiu e mandou fa+er uma dança de espadas e festas aos gentios do dito sertão de Pernam-uco, eQ tam-"m deu duas espingardas aos ditos gentios e tam-"m lhe deram seis mulheres que ele teve por mulheres$ 5 assim confessou que, em todos os ditos tempos que andou nos ditos sertJes, comeu sempre por muitas ve+es carne em todas as quartesmas e mais dias em que a igrea defende carne, e muitas ve+es disse que não queria vir6se nunca do sertão, pois nele tinha muitas mulheres e comia carne nos dias defesos, e fa+ia mais que queria sem ningu"m lhe tomar conta$ 5 disse que, de todas estas coisas e culpas que confessado tem, pede perdão neste tempo de graça$ 5 foi logo perguntado quanto tempo h! que ele " casado com sua legítima mulher Isa-el Beliaga e de que maneira tinha ele as mulheres do sertão, respondeu que h! vinte e três anos pouco mais ou menos que " casado, e que no sertão as mulheres que lhe davam, ele as não rece-ia por palavras algumas da Igrea, somente as tomava como " costume entre os gentios para conservação de mulheres para conversação desonesta$ 5 perguntado se podia ele escusar de comer carne nos tempos defesos, respondeu que sempre a comeu por necessidade, por não ter outro mantimento, e que quando tinha mantimento dei#ava de comer a carne$ 5 declarou que, no tempo que ele adorou o chamado Papa, ele disse aos seus companheiros que o adorassem por dissimular, por"m que estava diante de todos e não viu se adoraram, senão que o dito chanmado Papa lhe disse que se chamava >ntFnio e era cristão, e fora dos padres da 0ompanhia de Cesus de 7inhar", capitania dos Ilh"us$ 5 sendo perguntado que pessoas viu na dita sua companhia fa+er o mesmo que ele fe+, ou outras coisas semelhantes, respondeu que viu ao dito capitão 0ristovão da ocha dar aos gentios que são inimigos dos -rancos, e quando podem os guerreiam e matam, um instrumento de guerra, -andeira de seda, tam-or, cavalo, "gua, espingarda, espada, e assim se di+ia que dera uma -otia de p3lvora, e o viu tisnado pelo pescoço com tinta de enipapo ao costume gentílico, e lhe viu ter cinco ou seis mulheres ao modo gentílico, e viu a Pedro 4lvares, mameluco, morador ora em Sergipe o Novo, mandar dar uma espada aos ditos gentios por três peças, e viu a =ernão Sanches 0arrilho, homem -ranco dY>lenteo, que ora est! no rio de São =rancisco, dar aos ditos gentios uma coura , e viu a :omingos :ias, mameluco, riscado em um -raço ao modo gentílico, o qual ora lhe parece que est! em Paraguaçu$ 5 por não di+er mais, foi6lhe mandado ter segredo e assim o prometeu, e do costume disse que tem 3dio a 0ristovão da ocha$ 185
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0ouraM gi-ão de couro com a-as$
141 121 * Con&iss,o de Dona Ana Al7o&orada 0 7rist, no/a0 no te3o da ra5a do Re7@n7a/o0 no lti3o dia dele0 e3 11 de &e/ereiro de 1"92 186
:isse ser meia cristã velha e meia cristã nova, natural de *atoim desta capitania, filha de >ntFnio >lcoforado, cristão velho, e de sua mulher Isa-el >ntunes, cristã nova, defuntos, de idade de vinte e sete anos, casada com Nicolao =aleiro de Aasconcelos, lavrador, morador na sua fa+enda de *atoim$ 5 confessando6se, disse que haver! quatro anos que teve em sua casa um seu criado por nome Baltasar :ias dY>+am-uo, cristão velho, segundo ele di+ia, natural de Santo >ntFnio do 7oal, que ser! ora homem de trinta anos pouco mais ou menos, o qual ora " casado e morador na capitania dos Ilh"us com 0atarina 0ordeira, sua mulher, e vivem por sua lavoura, o qual antes de viver com ela confessante, viveu tam-"m alguns dias com sua tia :ona .eonor, mulher de enrique *uni+ 7eles$ 5 morrendo6lhe a ela confessante no dito tempo em casa um seu escravo, disse o dito seu criado, Baltasar :ias >+am-uo, perguntando que porque lançavam a !gua fora quando morria algu"m em casa, se era por noo, se por que$ 5 ela confessante nunca at" então tinha ouvido nem sa-ido que por morte de algu"m se lançava !gua fora, e lhe perguntou então porque di+ia ele aquilo, e ele lhe respondeu que o di+ia porque vira ! na sua terra entornar a !gua fora nas casas onde algu"m morria, mas não sa-ia o porquê, nem lhe declarou mais$ 5ntão, ela confessante, simplesmente, cuidando que seria aquilo alguma coisa -oa, mandou entornar e lançar fora a !gua que havia em casa, e dali por diante lhe aconteceu lhe morrerem, em diversos tempos, sete ou oito escravos, e quando lhe morriam, mandava lançar fora sempre e derramar a !gua que em casa havia, e que isto fe+ sem ter ouvido nem aprendido de nenhuma outra pessoa, em outra nenhuma parte, e sem o ter visto fa+er a ningu"m, senão somente por o ouvir di+er ao dito seu criado$ 5 outrossim, disse que ouviu urar 9 sua av3, >na odrigues, cristã nova, quando queria afirmar alguma coisa este modo de uramento, @pelo mundo que tem a alma de eitor >ntunes, o qual era seu marido, avF dela confessante$ 5 assim ouviu o mesmo uramento a muitas outras pessoas que lhe não lem-ram, e por isso ela tam-"m, simplesmente, sem nenhuma ruim intenção, usou muitas ve+es do dito modo de uramento, e quando quer afirmar alguma coisa di+, @pelo mundo que tem a alma de meu pai e de minha mãe$ 5 perguntada qual " este mundo que tem a alma de seu pai e de sua mãe, respondeu que ela não entende nem sa-e declarar o dito uramento que queira di+er, mas que fa+ este uramento simplesmente, pelo ter ouvido, e o urou muitas ve+es, perante suas parentas e outras pessoas, e não lhe lem-ra de quanto tempo a esta parte$ 5 foi logo admoestada pelo senhor visitador, com muita caridade, que faça confissão inteira e verdadeira, porque estas cerimFnias que fe+ de lançar !gua fora são 186 6
=oi presa e enviada para .is-oa com sequestro de -ens, onde permaneceu encarcerada at" %)E&$ 5scapou da condenação por ter havido perdão geral aos cristãos novos acusados, autori+ado por Breve papal contra o donativo de %
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muito conhecidas serem dos udeus, os quais costumam urar pelo @Orlon de mi padre, que quer di+er o mesmo @pelo mundo que tem a alma de meu pai, e que pois ela " cristã nova, não se pode presumir senão que ela fa+ as ditas cerimFnias e uramentos com intenção de udia, e que ela " udia e vive na lei de *ois"s e dei#ou a f" de Cesus 0risto, que portanto fale a verdade e descu-ra seu coração, porque lhe aproveitar! muito para alcançar graça, pois est! em tempo dela$ 5 ela respondeu que " -oa cristã e nunca sou-e nem teve nada da lei de *ois"s, mas que fe+ as ditas coisas sem entender que eram udaicas, e que depois que se pu-licou a Santa Inquisição nesta cidade, e ouviu contar as coisas que se declaravam no /dito da f", entendeu serem udaicas as que dito tem e nunca mais as fe+, e da culpa que tem em as fa+er e#teriormente, sem ter no coração erro algum da f" cat3lica, pede perdão e miseric3rdia$
-os one dias do ms de fe$ereiro in!#%si$e deste ano /resente de mi# %inhentos e no$enta e dois se a!aaram os trinta dias da graa %e o senhor $isitador do Santo :f!io ;eitor F%rtado de Not.rio do Santo :f!io nesta $isita*o do Brasi# %e es!re$i'