Rainha do Romance Hist órico 14 – 14 – Bodas Bodas de desafio – Candace Candace Camp
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BODAS DE DESAFIOS (The Wedding Challenge)
Brincar de cupido pode ser perigoso... Lady Calandra deveria ter pretendentes batendo a sua porta. Mas seu irmão
superprotetor, o duque de Rochford, conseguiu espantar todo cavalheiro adequado. Menos um: o misterioso conde de Bromwell. Callie se vê atraída pelo enigmático nobre, apesar dos violentos protestos de seu irmão. Desafiando as ordens do duque, ela planejou ver Bromwell novamente, contando com o auxílio da casamenteira Francesca Haughston. Mas quando os segredos sombrios sobre o duque e o conde vêm à tona, talvez seja tarde demais para Callie perceber que caiu direto numa armadilha... Digitalização: Silvia Revisão: Projeto Revisoras
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BODAS DE DESAFIOS (The Wedding Challenge)
Brincar de cupido pode ser perigoso... Lady Calandra deveria ter pretendentes batendo a sua porta. Mas seu irmão
superprotetor, o duque de Rochford, conseguiu espantar todo cavalheiro adequado. Menos um: o misterioso conde de Bromwell. Callie se vê atraída pelo enigmático nobre, apesar dos violentos protestos de seu irmão. Desafiando as ordens do duque, ela planejou ver Bromwell novamente, contando com o auxílio da casamenteira Francesca Haughston. Mas quando os segredos sombrios sobre o duque e o conde vêm à tona, talvez seja tarde demais para Callie perceber que caiu direto numa armadilha... Digitalização: Silvia Revisão: Projeto Revisoras
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HARLEQUIN 2012
PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II RV/S.à.r.l. Todos os direitos reservados Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. f ictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Titulo original: THE WEDDING CHALLENGE
Copyright © 2008 by Candace Camp Originalmente publicado em 2008 por HQN Books Arte-final de capa: Isabelle Paiva Paiva Editoração eletrônica: EDITORIARTE Tel.: (55 XX 21) 2569-3505 Impressão: RR DONNELLEY Tel.: (55 XX 11) 2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Distribuição exclusiva para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A. Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900 Para solicitar edições antigas, entre em contato com o DISK BANCAS: (55 XX 11) 2195-3186 / 2195-3185 / 2195-3182 Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Correspondência para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971 Aos cuidados de Virginia Virginia Rivera
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Capítulo Um
O baile de aniversário de lady Odélia Fencully foi o acontecimento da temporada... embora a temporada ainda não tivesse começado. Não ter sido convidado era motivo de profundo constrangimento social. Ser convidado e não comparecer seria impensável. Pelo sangue ou pelo casamento, lady Pencully tinha relações de parentesco com a metade das famílias mais ricas e aristocráticas da Inglaterra. Filha de um duque e condessa pelo casamento, a dama era um pilar da alta sociedade, e raramente alguém ousava contrariá-la. No auge da juventude, dominara o ton como dominava sua família, com uma língua afiada e uma vontade de ferro. E, embora a idade a levasse a preferir permanecer cada vez por mais tempo em sua propriedade rural, quase nunca indo a Londres, nem mesmo para a temporada, ainda tinha grande poder. Sendo uma extraordinária correspondente, ela mantinha-se informada sobre as mais recentes notícias e escândalos e jamais deixava de enviar uma carta se achasse que alguém precisava do beneficio de seus conselhos. Assim, naquele ano, quando anunciara que celebraria seu aniversário de 85 anos com um grande baile, imediatamente a festa se tornara um evento que ninguém, com posição social ou pretensões a tê-la, poderia se arriscar a perder, embora fosse em janeiro e, em Londres, era a época do ano mais fora de moda e que apresentava as maiores dificuldades de locomoção. A neve, o frio e o trabalho de abrir as casas na cidade para uma breve visita não seriam impedimentos para o comparecimento das damas do ton. Elas que garantiam a si mesmas que aquele ano, como de costume, não aconteceria de, em janeiro, ninguém estar na cidade, já que todos os que tinham alguma importância iriam à festa de lady Odélia. Entre os que deixaram suas propriedades rurais e viajaram para Londres, estavam o duque de Rochford, sua irmã, lady Calandra, e sua avó, a duquesa viúva de Rochford. O duque, uma das raras pessoas que ousavam desafiar lady Odélia, decidira não fazê-lo. Afinal, era sobrinho-neto da grande dama e acreditava em responsabilidades familiares. Além disso, precisava cuidar de negócios em Londres. A duquesa viúva decidira comparecer porque, embora jamais tivesse realmente gostado da irmã mais velha de seu falecido marido, lady Pencully era uma das poucas pessoas vivas de sua geração... Apesar de a duquesa lembrar sempre que a cunhada era muitos anos mais velha do que ela. Além disso, fazia parte de um número cada vez menor de pessoas que a duquesa considerava de posição social igual à dela. Lady Pencully era, simplesmente, um dos membros do grupo ao qual a duquesa pertencia, apesar de sua chocante falta de maneiras. Dos três que estavam na carruagem e esperavam na longa fila que se arrastava pelo Cavendish Crescem, em direção à porta de lady Pencully, apenas a mais jovem, lady Calandra, demonstrava entusiasmo pela noite. Com 23 anos de idade, Callie, como era conhecida pela família e amigos, já havia participado de cinco temporadas. Assim, um baile em Londres, especialmente um oferecido por uma parenta idosa, normalmente não seria motivo de excitação para ela. Entretanto, acabara de passar muitos e longos meses em Marcastle, uma das Projeto Revisoras
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propriedades rurais da família Lilles, os quais haviam se tornado ainda mais enfadonhos por um número extraordinário de dias chuvosos e a presença constante da avó. De modo geral, a avó ficava grande parte do ano em sua casa em Bath, feliz por governar a gentil e lenta cena social daquela comunidade, e apenas de vez em quando, particularmente na temporada, ia a Londres para se assegurar de que a neta estivesse se comportando com propriedade. No entanto, no fim da última temporada, a duquesa decidira que já passava da hora de lady Calandra se casar e adotara como sua ocupação principal fazer com que a menina ficasse noiva... Evidentemente, do tipo certo de cavalheiro. Com esta finalidade, sacrificara sua estadia normal em Bath durante o inverno e permanecera nos aposentos gelados e cheios de correntes de ar da propriedade histórica da família em Norfolk. E, assim, Callie passara os últimos meses presa, na mansão, pelo clima inclemente e ouvindo os constantes sermões da velha dama sobre seu comportamento, conselhos sobre seu dever de se casar e suas opiniões com relação à adequação de diversos pares do reino. Como resultado, a perspectiva de um baile de verdade, com danças, amigos, mexericos e música, a deixara trêmula de excitação. Para tornar as coisas ainda mais interessantes, do ponto de vista de Callie, a festa de lady Odélia seria um baile de máscaras. Para Callie, isto não apenas lhe proporcionaria a diversão adicional de pensar numa fantasia adequada como daria à noite um intrigante ar de mistério. Depois de pensar cuidadosamente nas muitas opções e discutir o assunto com sua costureira, decidiu se vestir como uma dama do reinado de Henrique VIII. Não apenas a apertada touca Tudor ficava muito bonita nela, mas a profunda cor carmesim do vestido era a ideal para lhe realçar os cachos negros e a pele muito branca... além de ser uma mudança muito bem-vinda do eterno branco ao qual uma jovem solteira, como ela, ficava limitada. Callie olhou para o irmão, sentado no banco diante dela na carruagem. Rochford, naturalmente, dispensara a fantasia e usava seu costumeiro traje negro de noite, a camisa muito branca e a gravata também branca e engomada, com um nó perfeito. Sua única concessão ao baile era a máscara negra que lhe cobria apenas os olhos. Com a bela aparência morena, parecia muito romântico e ligeiramente sinistro, o que faria a maioria das damas no baile olhar para ele com admiração e suspiros. Ele percebeu o olhar de Callie e lhe lançou um sorriso afetuoso. — Feliz porque vai dançar de novo, Callie? Ela lhe sorriu de volta. Outros poderiam considerar seu irmão um pouco distante e frio, até mesmo proibitivo, mas ela sabia que não era nem um pouco assim. Era apenas reservado e cauteloso e demorava a se tornar caloroso com as pessoas. Callie compreendia bem sua maneira. Ela também aprendera que, quando se era um duque ou mesmo a irmã de um duque, muitas pessoas se aproximavam não por amizade, mas pelos benefícios sociais e financeiros que esperavam receber. Suspeitava que Sinclair houvesse tido experiências ainda mais amargas do que ela, porque herdara o título e a riqueza ainda muito jovem e não tivera a proteção e os conselhos de um irmão mais velho. O pai deles morrera quando Callie tinha apenas 5 anos, e a mãe, uma mulher doce com uma expressão constante de tristeza, fora para o túmulo nove anos depois, ainda de luto pelo marido. O irmão era a única família de Callie, exceto, é claro, pela avó. Sinclair, quinze anos mais velho do que Callie, assumira o papel de guardião, além do de irmão e, como resultado, fora mais um pai jovem e indulgente para ela do que um irmão. Callie acreditava que um dos motivos pelo qual se dispusera a ir a Londres para a festa da tiaavó tinha sido o conhecimento do quando ela mesma gostaria de participar. — E verdade, estou ansiosa pela festa. Acho que nunca mais dancei desde a festa de casamento de Irene e Gideon. Projeto Revisoras
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A família e os amigos de lady Calandra sabiam bem que ela era do tipo ativo, que preferia cavalgar ou caminhar pelos campos a se sentar com a agulha e um bordado diante de uma lareira e, mesmo no fim de uma temporada, jamais se cansava de dançar. — Mas houve o Natal — lembrou o duque, com um brilho nos olhos. Callie rolou os olhos. — Dançar com o irmão enquanto a acompanhante da avó toca piano não conta. — Tem sido um inverno tedioso — admitiu Rochford —, mas logo iremos para Dancy Park, prometo. Callie sorriu. — Será maravilhoso ver Constance e Dominic de novo. As cartas dela são cheias de felicidade, principalmente agora que vai ter um bebê. — Realmente, Calandra, este não é o tipo de assunto para conversar com um cavalheiro — lembrou a duquesa. — É apenas Sinclair — lembrou Callie suavemente, engolindo um suspiro. Estava muito acostumada com as opiniões severas da avó sobre o comportamento adequado de uma jovem dama e seria melhor não ofendê-la, mas, depois de três meses ouvindo os sermões da duquesa, os nervos de Callie estavam começando a sofrer. — Sim — concordou Rochford, com um sorriso para a irmã. — Sou apenas eu e estou bem consciente dos modos lamentáveis de Callie. — Pode rir — retorquiu a avó —, mas uma dama da posição de Callie precisa sempre agir com o máximo de discrição. Especialmente quando ainda não é casada. Um cavalheiro não escolhe uma noiva que não se comporta apropriadamente. O rosto de Rochford mostrou a expressão de altivez gelada que Callie chamava de "o rosto de duque" quando disse: — Há algum cavalheiro que ousaria considerar Calandra indiscreta? — E claro que não — respondeu depressa a duquesa. — Mas, quando uma jovem está procurando um marido, precisa ser especialmente cuidadosa com o que diz e faz. — Está procurando um marido, Callie? — perguntou Rochford, lançando um olhar zombeteiro para a irmã. — É novidade para mim. — Não, não estou — respondeu Callie apenas, com a voz sem expressão. — É claro que está — contradisse a avó. — Uma jovem solteira está sempre procurando um marido, admita ou não. Você não é mais uma menina na sua primeira temporada, minha querida. Tem 23 anos e praticamente todas as jovens que debutaram na mesma temporada que você já estão comprometidas... Até mesmo aquela filha com cara de lua de lorde Thripp. — Com um "conde irlandês que tem mais cavalos do que perspectivas"? — perguntou Callie. — Não foi assim que o descreveu na semana passada? — É claro que espero um marido muito melhor do que ele para você — respondeu a avó. — Mas é constrangimento demais aquela garota ter ficado noiva antes de você. — Callie tem muito tempo para encontrar um marido — disse Rochford à avó descuidadamente. — E posso lhe garantir que há muitos homens que me pediriam a mão dela se tivessem um mínimo de encorajamento. — O que, se posso lembrar, você nunca deu a nenhum deles. — A voz da duquesa foi áspera. As sobrancelhas do duque se ergueram. — Certamente, minha avó, não gostaria que eu permitisse que devassos e caçadores de fortuna cortejassem Calandra. — E claro que não. Por favor, não se faça de idiota. — A duquesa viúva era uma das poucas pessoas que não temiam Rochford e, assim, não hesitava em lhe dar sua opinião. — Estou apenas dizendo que todos sabem que, se mostrarem algum interesse na sua irmã, certamente receberão uma visita sua. E muito poucos homens estão ansiosos para enfrentá-lo. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Não
tinha percebido que sou tão temível. — A expressão de Rochford era suave. — De qualquer maneira, não compreendo por que Callie se interessaria por qualquer homem que não estiver disposto a enfrentar uma conversa comigo para lhe fazer a corte. — Virou-se para Callie. — Está interessada em algum cavalheiro em particular? Callie balançou a cabeça. — Não, estou muito bem como estou. — Você não continuará para sempre a jovem mais atraente de Londres — advertiu a avó. — Então deve desfrutar disto agora — declarou Rochford e eficazmente deu um fim à conversa. Grata pela intervenção do irmão, Callie voltou a atenção para a cena do lado de fora e puxou um pouco a cortina da janela para olhar as carruagens despejarem seus passageiros à frente deles. Mas não era tão fácil ignorar as palavras da avó. Callie dissera a verdade: de um modo geral, estava muito satisfeita com as coisas como eram. Gostava do redemoinho social de Londres durante os meses da primavera e do verão... de dançar, ir ao teatro, à ópera... E, pelo resto do ano, se mantinha bem ocupada. Tinha amigos que podia visitar e, nos últimos meses, se tornara muito próxima de Constance, a esposa do visconde Leighton. E, quando o duque estava em Dancy Park, Callie passava muito tempo com ela, já que Redfields, o lar de Dominic e Constance ficava a apenas alguns quilômetros de distância de Dancy Park. O duque tinha muitas outras residências, que visitava periodicamente, e Callie muitas vezes o acompanhava. Rararamente se sentia entediada, gostava de cavalgar e fazer longas caminhadas pelo campo. Também desfrutava da companhia dos moradores locais e dos serviçais. Era a administradora das residências do duque desde que tinha 15 anos, assim, sempre havia coisas a fazer. No entanto, sabia que a avó tinha razão. Estava chegando o momento em que precisaria se casar. Em dois anos, teria 25 anos, e a maioria das jovens de sua posição social já estaria casada. Se continuasse solteira depois disto, logo seria considerada uma solteirona, o que não era uma situação muito agradável. Callie não tinha nada contra o casamento, pelo contrário. Não era como sua amiga Irene, que sempre declarara que jamais se casaria... uma convicção da qual desistira recentemente, quando conhecera lorde Radbourne. Não, Callie esperava se casar, queria um marido, filhos e uma casa só dela. O problema é que jamais conhecera um homem com quem tivesse vontade de se casar. Ah, houve uma ocasião ou duas em que se sentira atraída, quando o sorriso de um homem lhe fizera o coração disparar, ou os ombros largos de outro, num uniforme dos Hussar, lhe aquecera as veias. Mas tinham sido coisas ligeiras, que logo passaram, e precisava ainda conhecer um homem com o qual achasse que poderia ser feliz ao vê-lo diante dela, no café da manhã, todos os dias... E se entregar a ele daquela maneira vaga, verdadeiramente fascinante e ligeiramente intimidadora dos rituais do leito nupcial. Callie ouvira, muitas vezes, outras jovens falarem, entusiasmadas, sobre um cavalheiro ou outro e se perguntara sempre como seria mergulhar com tanta facilidade no abismo profundo do amor. Imaginava se aquelas meninas teriam alguma ideia do lado amargo do amor... As lágrimas que vira a mãe derramar, anos depois da morte do marido, o suave e triste fantasma em que se transformara muitos anos antes da própria morte. Perguntava-se se era porque estava consciente das dores e mágoas que o amor podia causar que ela achava difícil se apaixonar ou se simplesmente faltava alguma coisa nela. Deixou de lado os pensamentos sombrios quando a carruagem ducal parou diante da escada da casa brilhantemente iluminada. Não permitiria que nada, nem as críticas da avó nem suas dúvidas, estragasse sua primeira noite de diversão em muito tempo.
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Ergueu a mão para verificar se sua delicada máscara, que cobria apenas metade de seu rosto, estava no lugar, sobre seus olhos, então tomou a mão que o irmão lhe estendia e desceu da carruagem. Foram recebidos no salão de baile por lady Francesca Haughston, facilmente reconhecível, apesar da máscara estreita de cetim azul-escuro que usava. Lady Francesca, uma visão em creme, dourado e azul, se vestira de pastora. Não de verdade, é claro, mas como o ideal romântico. Seus cachos louros estavam presos por fitas azuis, que combinavam com a fita larga enrolada em torno do pequeno cajado branco de pastora. Usava uma veste externa de cetim azul, drapeada, para revelar um conjunto de folhos brancos na saia, cada folho preso por uma roseta também azul. Os pés estavam calçados em sandálias douradas. — Bo Peep, suponho — disse Rochford, a fala arrastada enquanto se debruçava sobre a mão de lady Francesca e ela lhe fazia uma reverência. Estava, é claro, se referindo à linda personagem da história infantil. — Você, como vejo, não se deu ao trabalho de usar fantasia — disse ela. — Eu devia saber. Bem, terá que se explicar a lady Odélia, ela estava determinada a ter um baile de máscaras, você sabe. Fez um gesto em direção à mulher que se sentava do outro lado do salão, num trono... não havia outra palavra para descrever a cadeira de espaldar alto e forrada de veludo azul... colocado sobre uma plataforma alta. Usava uma peruca alaranjada, e o rosto estava pintado de branco. Um círculo de ouro se misturava à massa de cachos brilhantes, e uma gola alta com gomos muito engomados se erguia do vestido. Colares longos de pérolas lhe circundavam o pescoço e caíam até o estômago, coberto por um vestido de brocado. Havia anéis em todos os dedos. — Ah, a boa rainha Bess — comentou Rochford, depois de seguir o olhar de Francesca. — Suponho que em sua fase envelhecida. — Não a deixe ouvir você dizer isto — advertiu Francesca. — Ela não consegue ficar em pé por muito tempo para receber os convidados, assim, decidiu receber seus súditos, o que é bem apropriado, eu acho. Francesca se virou para Callie, as mãos estendidas e um sorriso afetuoso nos lábios. — Callie, minha querida, pelo menos, posso contar com você. Está adorável. Callie cumprimentou Francesca com um sorriso. Conhecia-a a vida toda, já que lady Haughston era irmã do visconde Leighton e crescera em Redfields, à pouca distância da propriedade do duque, em Dancy Park. Quando criança, Callie sentia por ela encantamento e afeição. Então Francesca se casara com lorde Haughston e se mudara de Redfields, mas Callie continuara a se encontrar com ela de vez em quando, sempre que Francesca ia visitar os pais. Mais tarde, depois que Callie debutara, haviam se visto com frequência, já que lady Francesca, viúva nos últimos cinco anos, era uma das damas mais importantes do ton. Tinha um senso impecável de estilo e, embora já estivesse no começo da casa dos 30 anos, ainda era uma das mulheres mais lindas de Londres. — Você está muito mais bonita do que eu, posso lhe garantir — disse Callie a Francesca. — Está absolutamente linda. Mas como tia Odélia conseguiu que você desempenhasse o papel de anfitriã e recebesse os convidados? — Ah, minha querida, ela fez muito mais do que isto. Sentiu que não poderia preparar um baile em sua própria homenagem, então isto recaiu sobre a irmã dela, a viúva lady Radbourne e, é claro, sobre a nova condessa de Radbourne... Você conhece Irene... — Francesca se virou para incluir a mulher em pé ao lado dela. — E claro — admitiu Callie. O ton não era um grupo grande, e Callie conhecia lady Irene superficialmente havia alguns anos. Passara a conhecê-la melhor a partir de alguns meses antes, quando se
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casara com Gideon, lorde Radbourne, que era, de uma forma colateral, parente de lady Calandra e do duque. Irene sorriu na sua maneira franca e sincera. — Oi, Callie, bom ver você. Francesca está lhe contando como abusei de sua boa vontade? — Dificilmente um abuso — contestou Francesca. Irene riu, divertida. Era uma mulher alta, com uma massa de cabelo louro cacheado, e estava maravilhosa com uma roupa de seda branca drapeada à moda grega antiga. Seus estranhos olhos dourados brilhavam de diversão. O casamento, pensou Callie, fazia bem a Irene, pois estava mais linda do que nunca. — O que Francesca quer dizer é que foi muito pior do que isto — explicou Irene, lançando um olhar afetuoso a Francesca. — Sabe como sou péssima para organizar festas. A coisa toda recaiu sobre os ombros de Francesca, assim, deve cumprimentá-la por tudo ter saído tão bem... ou por a festa ter sido realizada. Francesca sorriu amavelmente e se virou para cumprimentar os convidados seguintes enquanto Callie se movia pela linha de anfitriões em direção a Irene e ao marido dela, lorde Radbourne. Gideon, lorde Radbourne, participava da festa vestido como um pirata e era, refletiu Callie, uma fantasia que lhe caía muito bem, com sua aparência tão pouco convencional. Com o cabelo escuro e levemente despenteado e uma estrutura física poderosa, pareciase mais com alguém que capturaria um navio e o roubaria do que com um cavalheiro, e não dava o menor sinal de desconforto por ter um facão na cintura. — Lady Calandra — cumprimentou Gideon com uma reverência breve, mas adequada. — Obrigado por vir. — Por um instante, um sorriso lhe tornou as feições severas bem mais calorosas. — É bom ver um rosto familiar. Callie sorriu. Todos sabiam que Gideon não se sentia à vontade com seus parentes... Uma série de eventos bizarros em sua infância o afastara da família, e ele crescera na mais abjeta pobreza nas ruas de Londres. Mas sobrevivera e até mesmo enriquecera usando apenas suas habilidades e inteligência. Quando fora devolvido à família, já adulto, adaptara-se mal ao ton. Não gostava muito de conversar e conseguia evitar a maioria das ocasiões sociais. Mas Irene era sua parceira perfeita, fr anca demais e que não se importava nem um pouco com a opinião alheia, assim como ele. Nas ocasiões em que Callie o encontrara, considerara-o um homem muito interessante. — É um prazer estar aqui — garantiu-lhe Callie. — O inverno, em Marcastle, foi muito monótono. Além disso, seria praticamente impossível não participar do baile de aniversário de tia Odélia. — Este parece ser o caso de metade de Inglaterra — disse Gideon, com um olhar para o salão de baile lotado. — Deixe-me levá-la para cumprimentar a convidada de honra — sugeriu Irene, enquanto passava o braço pelo de Callie. — Traidora — acusou o marido em voz baixa, mas o sorriso afetuoso que dirigiu à esposa desmentia a palavra cáustica. — Está simplesmente aproveitando a oportunidade para fugir desta maldita linha de recepção. Irene riu, depois lançou um sorriso provocante para lorde Radbourne. — Pode muito bem se juntar a nós se quiser. Tenho certeza de que Francesca conseguirá lidar maravilhosamente com os que chegarem. — Hum. — Lord Radbourne adotou uma postura exagerada de quem considerava essa uma questão muito importante. — Receber convidados ou enfrentar tia Odélia... uma escolha realmente difícil. Não há um terceiro caminho mais atraente... talvez, quem sabe, correr para um edifício em chamas? — Gideon sorriu para a esposa de uma forma que era quase uma carícia. — É melhor que eu fique aqui ou tia Odélia, sem dúvida, me fará
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um sermão porque não vim como Sir Francis Drake, como ela sugeriu, com um globo sob o braço. — Um globo? — repetiu Callie em voz baixa, enquanto ela e Irene se afastavam. — Sim, por navegar por todo o mundo, você sabe... embora eu não saiba, com certeza, se Sir Francis Drake realmente circunavegou o globo. Mas isto não teria a menor importância para tia Odélia. — Não é de admirar que Radbourne não quisesse usar esta fantasia. — Não, mas não foi o globo que o incomodou, foram aqueles calções curtos com tufos. Callie riu. — Fiquei surpreendida por você ter sido capaz de conseguir que ele viesse fantasiado. Sinclair nem mesmo considerou o assunto, além de uma simples máscara. — Sem dúvida, o duque tem mais dignidade a perder — respondeu Irene em tom leve. — Além disso, descobri como é impressionante o poder de persuasão de uma esposa sobre o marido. Os olhos dela brilharam atrás da máscara dourada e havia uma curva suave e provocante na boca. Callie sentiu um leve rubor lhe cobrir o rosto diante da implicação das palavras de Irene, e uma fisgada de curiosidade lhe percorreu o corpo. As mulheres geralmente eram rápidas em mudar de assunto quando falavam sobre o leito matrimonial se alguma jovem solteira se aproximasse, portanto Callie sabia muito pouco do que acontecia na privacidade do quarto de um casal. Mas, como era o caso de uma jovem criada no campo, tinha algum conhecimento do básico do ato sexual, pelo menos, entre cachorros e cavalos. Mesmo assim, Callie não conseguia se impedir de imaginar os sentimentos, incluindo as emoções e as sensações físicas, envolvidos neste ato humano muito particular. Perguntar diretamente seria, é claro, impensável, assim tinha que se contentar com o que pudesse descobrir nas conversas que ouvia sem ser vista ou quando uma delas inadvertidamente deixava escapar alguma coisa. O comentário de Irene era, pensou, diferente do que geralmente ouvia de mulheres casadas. Embora ligeiramente divertido, havia um tom de satisfação na voz... Não, mais do que isto, havia quase um ronronar, como se desfrutasse plenamente daquela "persuasão" Callie lançou um olhar de lado a Irene. Se havia alguém que podia lhe contar coisas a respeito daquilo, pensou, seria Irene. Imaginou se haveria alguma forma de manter a conversa naquela direção, mas, antes que pudesse encontrar qualquer coisa a dizer, olhou para o outro lado do salão, e sua mente ficou vazia. Um homem estava em pé, encostado em um dos pilares que se alinhavam de cada lado do salão. Parecia muito à vontade, de uma forma negligente, os braços cruzados, um dos ombros no pilar. Usava a fantasia de um Cavalier, o chapéu de abas largas preso de um lado da cabeça e, do outro, uma pluma longa descia em direção ao rosto. Luvas de pelica lhe cobriam as mãos e o começo dos braços. A calça, de um castanho-claro, estava dentro de botas elegantes, que terminavam bem abaixo dos joelhos, e leves esporas douradas circundavam os tornozelos. Acima da calça, usava um gibão da mesma cor, sem nenhum ornamento, e sobre ele, uma capa curta, amarrada casualmente no pescoço. Uma espada fina e elegante pendia da cintura. Podia ter saído de um quadro com os nobres que haviam lutado e morrido por seu rei, o infeliz Carlos I, elegante, magro e com uma aparência perigosa. A máscara escura, que lhe escondia a porção superior do rosto, aumentava o ar de romance e mistério que o circundava. Observava o salão com uma expressão arrogante e levemente enfadada, então seus olhos encontraram os de Callie e pararam.
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Ele não se mexeu nem mudou de expressão, no entanto, de alguma forma, Callie soube que ele ficara alerta, de imediato e intensamente. Ela o olhou de volta e quase tropeçou. Um sorriso lento se espalhou pelo rosto dele, que, tirando o chapéu, fez-lhe uma reverência exagerada. Callie percebeu que o encarava e, ruborizando, deu dois passos rápidos para alcançar Irene. — Conhece aquele homem? — perguntou num sussurro. — O Cavalier? Irene olhou ao redor. — Onde... ah, não, acho que não. Quem é? — Virou-se para Callie. — Acho que nunca o vi antes — explicou Callie. — Ele parece... fascinante. — Sem dúvida, é a fantasia — disse Irene, cínica. — Os homens mais impossivelmente enfadonhos parecem arrojados nas roupas de um realista. — Talvez — concordou Callie, nem um pouco convencida. Ficou tentada a se virar para olhar o homem, mas resistiu ao impulso. — Calandra! Aí está você! — exclamou lady Odélia em sua voz ressonante, quando se aproximaram da plataforma onde a velha dama se sentava. Callie sorriu enquanto subia para cumprimentar a tia-avó. — Posso lhe dar os parabéns, tia Odélia? Lady Odélia, uma mulher de aparência formidável mesmo quando não estava fantasiada de rainha Elizabeth I, fez um aceno régio e chamou Callie com um gesto que a própria rainha teria usado. — Venha aqui, menina, e me dê um beijo. Deixe-me olhar para você. Callie se debruçou, obediente, e beijou o rosto da tia-avó. Lady Odélia tomou as duas mãos de Callie e observou-a cuidadosamente. — Linda como sempre — anunciou, com a voz satisfeita. — A mais linda de todas, sempre disse. Das Lilles, quero dizer — informou a Irene. Irene acenou que compreeendera e sorriu. Era uma das poucas mulheres do ton que não tinham medo de lady Pencully. Na verdade, gostava da mulher e de seus modos rudes. Muitas vezes, tinha discussões com ela, e as outras pessoas logo se apressavam a deixar a sala onde as duas mulheres se enfrentavam, muito coradas, os olhos vivos e extremamente satisfeitas consigo mesmas e uma com a outra. — Não posso imaginar o que há de errado com os homens de hoje — continuou lady Odélia. — No meu tempo, uma garota como você teria sido agarrada em seu primeiro ano na sociedade. — Talvez lady Calandra não queira ser "agarrada" — sugeriu Irene. — Agora não vá encher a cabeça dela com suas ideias radicais — advertiu lady Odélia. — Callie não tem a menor vontade de ficar solteira, tem, querida? Callie reprimiu um suspiro. — Não, tia. — Jamais conseguiria ficar livre daquele assunto? — É claro que não! Que garota inteligente iria querer? E hora de pensar bem no assunto, Calandra. Peça àquela menina Francesca para ajudá-la. Sempre pensei que tinha mais cabelo do que cérebro, mas conseguiu levar esta para o altar. — Lady Odélia fez em gesto em direção a Irene, que rolou os olhos de um modo cômico para Callie. — Jamais acreditei que isto acontecesse. — Na verdade, tia — interrompeu Irene —, quem ouve você e lady Radbourne falar pensaria que seu sobrinho-neto e eu não tivemos nada a ver com a questão, apenas lady Francesca. — Aha! Se tivesse ficado por conta de vocês dois, ainda estaríamos esperando — retorquiu lady Odélia o brilho nos olhos desmentindo a dureza das palavras. As duas continuaram a se insultar de maneira brincalhona, e Callie percebeu, com uma onda de gratidão, que Irene havia habilidosamente afastado o interesse da velha
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senhora sobre seu estado civil. Lançou um olhar de agradecimento à amiga, e Irene respondeu com um sorriso. Callie ficou ali em pé, distraidamente ouvindo as duas conversarem sobre uma lista aparentemente infinita e familiar de itens sobre os quais discordavam. Ergueu os olhos para Irene quando ela se calou e viu que a amiga olhava por cima do seu ombro. Quando começou a se virar para ver o que causara o súbito interesse de Irene, uma voz masculina profunda soou atrás dela. — Perdão, Majestade, mas vim pedir o favor da mão desta linda donzela para a próxima dança. Callie se virou, e seus olhos se abriram ao ver o rosto mascarado do Cavalier à sua frente.
Capítulo Dois
O homem era, percebeu Callie, ainda mais fascinante de perto. A máscara negra escondia a porção superior do rosto, mas também enfatizava o queixo forte e cinzelado e a boca benfeita e sensual. Os olhos, vistos pelos buracos da máscara, estavam fixos nela com uma expressão calorosa, além do que exigia a polidez. Era alto, com ombros largos e cintura estreita e exsudava uma poderosa masculinidade, que se devia apenas em parte à fantasia que usava. Devia se recusar a dançar com ele, Callie sabia, pois tinha certeza de que não conhecia o homem, o que o tornava audacioso demais por tê-la convidado. Entretanto, descobriu que não tinha a menor vontade de desprezá-lo. Na verdade, queria colocar a mão na dele e deixá-lo levá-la para a pista de dança. Porém, Callie tinha certeza de que não poderia dançar com ele, já que lady Odélia, sem dúvida, lhe recusaria o pedido e o faria se arrepender da ousadia. Callie esperou, com um suspiro interno de pena, pelas palavras da grande dama. — E claro — disse lady Odélia... Na verdade, quase ronronou, pensou Callie enquanto olhava para a velha dama, surpresa. O rosto de Irene registrou um choque semelhante enquanto também olhava para lady Odélia. Mas a senhora sorria com o que podia ser considerado um grande prazer para o Cavalier e, quando Callie não se moveu, acenou-lhe com um gesto de despedida. — Vá, menina, não fique aí presa no chão. Vá para a pista de dança antes que a orquestra comece a tocar de novo. Callie não precisou receber a ordem de novo para fazer o que queria. Uma permissão de lady Odélia para dançar com aquele homem satisfazia as exigências da propriedade e impedia que sua avó lhe fizesse um sermão. Mas, sem dúvida, havia alguma coisa ilícita em dançar com um perfeito estranho que achava fascinante. Rapidamente colocou a mão sobre o braço que o estranho lhe estendia e, juntos, desceram o degrau da plataforma em direção à pista de dança. Callie estava muito consciente do braço do homem sob sua mão, os músculos rijos sob o tecido macio. — Não devia dançar com você, sabe. — Sentiu-se um pouco surpreendida com o tom de flerte de suas palavras. — Verdade? E por quê? — Os olhos que abaixou para os dela tinham um brilho divertido. — Não o conheço, senhor. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Como pode ter certeza? Afinal, estamos usando máscaras. — Mesmo assim, sei que somos estranhos. — Mas não é este o objetivo de um baile de máscaras? Que você não saiba quem é
todo mundo? E assim, certamente, é apenas de se esperar que uma jovem dance com um estranho. As normas comuns não se aplicam. — O olhar dele lhe percorreu o rosto de uma forma que fez Callie se sentir subitamente quente. — Nenhuma delas? — O tom era leve. — Na verdade, senhor, isto parece perigoso. — Ah, mas é isto que torna tudo excitante. — Compreendo. E é excitação que procura? — E prazer que procuro, milady. — Verdade? — Callie arqueou uma das sobrancelhas e pensou que devia cortar imediatamente aquele tipo de conversa. Estava se tornando familiar demais... E, no entanto, não conseguiu controlar o arrepio de prazer que lhe percorreu o corpo diante das palavras dele, de seu sorriso. — Verdade sim... O prazer de dançar com você. — A luz nos olhos dele lhe dizia que estava consciente de para onde se desviara a mente dela. Os doces compassos de uma valsa começaram, e ele estendeu as mãos para ela. Callie se moveu para os braços dele, o coração um pouco acelerado. Era ainda mais ousado dançar uma valsa com um estranho. Teriam que ficar tão próximos durante os passos, a mão segurando a dela, o braço lhe circulando a cintura. Era uma dança íntima demais, e muitas vezes, não era permitida em salões mais conservadores do campo. Mesmo na sociedade de Londres, raramente dançara uma valsa com um homem com quem jamais dançara antes. Certamente jamais fizera aquilo com um homem do qual nem mesmo sabia o nome. Mas Callie não podia negar que, a despeito da estranheza de tudo, gostava da maneira como se sentia nos braços dele e sabia que o rubor que lhe subia pelo pescoço era devido apenas em parte ao esforço dos passos. A princípio, não conversaram, e Callie se concentrou em combinar seus passos com os dele. Sentia-se quase como quando participara de seu primeiro baile: ansiosa, com medo de cometer um erro ou parecer desajeitada. Mas rapidamente descobriu que seu parceiro era um excelente dançarino, a mão em sua cintura firme e segura, os passos no ritmo perfeito da música. Ela relaxou, começou a se divertir e ergueu os olhos para ele pela primeira vez. E descobriu que o Cavalier tinha os olhos no rosto dela, o que fez sua respiração parar. Os olhos eram cinzentos, da cor de um céu de tempestade naquela luz baixa, e tão fixos nela que se sentiu perdida em seu olhar. Estavam tão perto que podia ver os cílios, espessos e negros, que lhe sombreavam a expressão. Quem poderia ser? Não via nada de familiar nele. Certamente nenhuma fantasia poderia disfarçar alguém que conhecesse bem. No entanto, como poderia não tê lo encontrado nos últimos cinco anos? Seria um intruso, alguém que aproveitara a oportunidade que um baile de máscaras oferecia para invadir uma festa para a qual não tinha sido convidado? Mas lady Odélia aparentemente o reconhecera, portanto certamente não era o caso. Supunha que podia ser um recluso, alguém que não gostava da sociedade e geralmente a evitava. Entretanto, se fosse isto, por que estava ali, nessa festa enorme? Com certeza, os modos dele não eram os de um homem tímido ou solitário. Talvez estivesse no exterior durante os últimos anos? Um soldado ou um oficial naval, talvez? Um membro do corpo diplomático ou simplesmente um viajante por prazer? Ela sorriu de leve para si mesma diante de seus pensamentos fantasiosos. Sem dúvida, a explicação seria alguma coisa perfeitamente comum. Afinal, não conhecia todo mundo do ton. — Gostei de ver isto — disse o estranho. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — O quê? — Callie ficou intrigada. — Este sorriso. Você ficou me olhando com a testa franzida por tanto tempo que tive
medo de tê-la aborrecido sem nem mesmo saber como. — Descul... — começou Callie, então percebeu o que ele admitira. — Então concorda que somos estranhos. — Sim, admito, não a conheço. Sei que reconheceria uma mulher com sua aparência... mesmo numa fantasia. Não pode esconder sua beleza. Callie sentiu o rosto esquentar e ficou surpreendida consigo mesma. Não era mais uma menina para ficar tão facilmente confusa e abalada por um elogio galante. — E você, senhor, não pode esconder que tem um flerte terrível. — Você me magoa. Pensava que era extremamente habilidoso. — Callie riu e balançou a cabeça. — O fato de sermos estranhos pode ser facilmente consertado — continuou ele, depois de um momento. — Simplesmente me diga quem é, e lhe direi quem eu sou. Callie balançou a cabeça de novo. Apesar de estar muito curiosa sobre aquele homem, achou agradável dançar e flertar sem que ele soubesse quem ela era. Não precisava se preocupar com seus motivos ou intenções. Não precisava pesar cada palavra para saber a verdade ou se perguntar se ele estava flertando com ela... ou com uma herdeira. Mesmo os homens que não precisavam de sua fortuna ou a perseguiam por causa dela eram sempre muito conscientes de sua posição. Sua linhagem e fortuna eram tão parte dela quanto sua risada ou seu sorriso. Jamais poderia saber o que qualquer deles sentiria por ela se fosse apenas a filha de um cavalheiro, e não a filha e a irmã de um duque. Era muito agradável, percebeu, saber que, quando aquele homem flertava com ela, apenas a via, estava atraído apenas por ela. — Ah, não, não podemos revelar nossos nomes. Isto terminaria com todo o mistério. Não acabou de me dizer que este é o objetivo de um baile de máscaras. .. o mistério e a excitação de não saber? Ele riu. — Ah, linda dama, você me feriu com minhas próprias palavras. E justo, você acha, que alguém com sua beleza tenha também uma inteligência tão aguda? — Pelo que compreendo, você está acostumado a vencer suas discussões — retorquiu Callie. — Em certas ocasiões, não me importo de perder. Mas esta não é uma delas. Ficaria muito arrasado se a perdesse. — Se me perdesse, senhor? Como pode perder o que não tem? — Perderia a oportunidade de vê-la de novo. Como a encontrarei sem saber seu nome? Callie lhe lançou um olhar provocante. — Tem tão pouca fé em você mesmo, tão pouca confiança? Acredito que encontraria um modo. Ele sorriu de volta. — Milady, sua fé em mim é muito gratificante. Mas certamente pode me dar uma pista, não pode? — Nenhuma — retorquiu Callie, alegre. Havia, descobriu, uma liberdade maravilhosa em não ser ela mesma, em não ter que considerar se alguma palavra que dissesse se refletiria mal em seu irmão ou no nome de família. Era muito agradável, na verdade, ser, por alguns momentos, apenas uma jovem flertando com um cavalheiro bonito e atraente. — Estou vendo que preciso abandonar toda a esperança quanto a isto, mas pode, pelo menos, me dizer o que sua fantasia representa?
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Não consegue perceber? — Havia uma indignação fingida e alegre no tom de Callie. — Na verdade, senhor, você me deixa arrasada. Pensei que minha fantasia fosse
óbvia. — Uma
dama Tudor certamente — pensou em voz alta. — Mas não do período da nossa rainha lady Pencully. Do reino do pai dela, acho. Callie inclinou a cabeça. — Está completamente certo. — E não poderia ser mais nada a não ser uma rainha. Ela lhe deu outro aceno régio. — Provavelmente, então, deve ser a tentadora Anne Boleyn. Callie deixou escapar uma pequena risada. — Ah, não, temo que tenha escolhido a rainha errada. Não perderia a cabeça por homem nenhum. — Catherine Parr, é claro, devia ter adivinhado. Linda a ponto de ganhar um rei e inteligente a ponto de mantê-lo. — E você? É um Cavalier em particular ou apenas um dos homens do rei? — Apenas um realista — franziu o nariz. — Foi ideia da minha irmã... Tenho a sensação desagradável de que estava brincando quando a sugeriu. — Mas também precisava do cabelo — lembrou Callie. — Uma peruca de cabelo longo, cacheado e negro, talvez. Ele riu. — Não, dispensei a peruca. Ela tentou me convencer, mas neste ponto, fui firme. — Sua irmã está aqui esta noite? — Callie olhou ao redor do salão de baile. Talvez conhecesse a irmã dele. — Não, eu a visitei a caminho de Londres. Ela só virá quando a temporada começar. — Estudou-a, os olhos brilhantes de humor. — Está tentando adivinhar quem sou? Callie riu. — Você me pegou, senhor. — Devo lhe dizer que pode facilmente tirar a informação de mim. Meu nome é... — Ah, não, não seria justo. Além disso, descobrirei quando souber quem eu sou e vier me visitar. — Verdade? — As sobrancelhas se ergueram e os olhos se iluminaram, de repente, com uma luz que não era de humor. — Tenho sua permissão para visitá-la? Callie dobrou a cabeça para o lado e fingiu estar pensando no assunto. Na verdade, ficara surpreendida com o que dissera. Não pensara nisto antes de as palavras lhe escaparem. Era muito audacioso dar a um homem que acabara de conhecer permissão para visitá-la... mesmo antes que ele pedisse. Era, bem, atrevido da parte dela, e sua avó, uma mulher rígida, ficaria horrorizada. Provavelmente devia dizer-lhe não, mas Callie descobriu que não tinha a menor vontade de retirar as palavras. — Ora, sim — disse com um sorriso. — Acho que tem. A dança terminou logo depois, e Callie sentiu uma fisgada de pesar quando ele a acompanhou para fora da pista de dança. Ele lhe fez uma reverência, levou-lhe a mão à boca e roçou os lábios nela. E, embora não pudesse sentir os lábios dele através do tecido da luva, um calor lhe tomou o corpo. Observou-o enquanto se afastava, o homem mais atraente do salão, e se perguntou, de novo, quem seria. Ele a visitaria?, perguntou-se. Teria sentido a mesma onda de atração que ela? Ele se daria ao trabalho de descobrir quem era ou estava apenas passando o tempo com um flerte sem consequências? Callie sabia que seriam necessárias apenas algumas perguntas às pessoas certas para descobrir o nome dele, mas, estranhamente, percebeu que gostava de não saber. Aumentava a antecipação, o pequeno arrepio de excitação, tentar adivinhar se ele realmente a visitaria.
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No entanto, não teve muito tempo para pensar no Cavalier, porque logo todas as danças foram tomadas, e ela passou o resto da hora seguinte na pista de dança. Estava descansando ao lado de Francesca, tomando um ponche e conversando, quando viu a avó se aproximar, a mão sobre o braço de um homem solene de cabelo cor de areia. Callie gemeu baixinho, e Francesca olhou para ela. — Algum problema? — Minha avó, e está trazendo outro candidato, aposto. Lady Haughston se virou e viu a duquesa viúva. — Ah, compreendo. — Ela está obcecada com a ideia de que preciso me casar logo. Acho que pensa que, se não ficar noiva na próxima temporada, passarei o resto da minha vida como uma solteirona. Francesca olhou de novo para o casal que se aproximava. — E acha que Alfred Carberry seria adequado para você? — Franziu de leve as sobrancelhas. — Acha que Alfred Carberry seria adequado para ela — replicou Callie. — É herdeiro de um condado, mas, já que o avô ainda está vivo e saudável, sem mencionar o pai, acredito que só herdará o título quando já tiver mais de 60 anos de idade. — Mas ele é um tipo terrivelmente enfadonho — acentuou Francesca. — Como todos os Carberrys, aliás. Acho que não podem evitar, todos eles vivendo juntos em Northumberland. Mas não acredito que você vá gostar de estar casada com ele. — Sim, mas você compreende, ele é tão respeitável! — Hum, e esta é uma das coisas que o tornam tão enfadonho. — Mas é disto que minha avó gosta. — E ele tem quase 40 anos de idade. — Ah, mas os homens de idade próxima da minha podem ser muito volúveis e fazer alguma coisa muito pouco respeitável. Não, minha avó os prefere enfadonhos e sem imaginação... e, naturalmente, de boa família. Riqueza seria bom, mas ela não dá muito valor a isto. Francesca riu. — Acredito que sua avó está destinada a um desapontamento. — Sim, e eu estou destinada a ouvir seus sermões. Fez isto o inverno quase todo. — Ah, céus. — A expressão de Francesca era de solidariedade. — Talvez você deva me fazer uma visita. Meu mordomo tem ordens para se descartar de todos os homens enfadonhos e sem imaginação... e mulheres também. Callie riu e abriu o leque para esconder a boca. — Não deixe minha avó ouvir isto ou ela me proibirá de visitá-la. — Calandra, querida, aí está você. Não está dançando? E lady Haughston, adorável como sempre. — Obrigada, duquesa. — Francesca fez uma reverência. — Devo retornar o elogio, está com uma aparência maravilhosa. Era verdade, é claro, já que a avó de Callie, com sua massa de cabelo branco como a neve e o corpo esguio e rijo, ainda era uma mulher muito atraente. Callie sabia que tinha sido linda na juventude e sempre tivera um gosto excelente para se vestir. Para Callie, era uma sorte, já que a duquesa jamais reclamava de sua escolha de roupas... com a exceção de uma ocasião, na primeira temporada de Callie, quando a avó recusara, com firmeza, permissão para que ela usasse um vestido de baile que não era branco. — Obrigada, minha querida. — A duquesa sorriu de maneira régia, recebendo o elogio como se fosse exatamente o que merecia. — Você conhece o senhor Alfred Carberry, não conhece? — Virou-se para o homem ao lado dela, manobrando as coisas de tal maneira que ficou diante de Francesca e o senhor Carberry próximo de Callie, então apresentou as mulheres a Carberry. — Lady Haughston e minha neta, lady Projeto Revisoras
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Calandra. Diga-me, lady Haughston, como está sua mãe? Precisamos nos reunir e ter uma boa conversa. Acredito que não a vejo desde o casamento de lorde Leighton. Repousou uma das mãos no braço de Francesca e lançou um olhar para Callie e o senhor Carberry, separando-os com grande habilidade dela mesma e de Francesca. Então sorriu, indulgente. — Sem dúvida, vocês, jovens, preferem não ouvir nossos mexericos. Por que não convida lady Calandra para dançar, senhor Carberry, enquanto lady Haughston e eu colocamos nossos assuntos em dia? As sobrancelhas de Francesca se ergueram ligeiramente ao ser incluída na mesma idade da duquesa, enquanto o senhor Alfred, pelo menos, sete ou oito anos mais velho do que ela, era considerado um jovem. Entretanto, sabia quando tinha sido manobrada com habilidade e, assim, lançando um olhar divertido a Callie, deixou que a duquesa a levasse para longe. Callie sorriu com um pouco de rigidez. — Por favor, não se sinta obrigado a dançar comigo, senhor, só porque minha avó... — Bobagem, minha garota — disse o senhor Carberry, na voz empostada e falsamente alegre que usava para falar com seus parentes mais jovens. — Seria uma honra rodopiar pelo salão com você. Está se divertindo, não está? Callie se resignou, pensando que seria mais fácil evitar conversar com o homem se estivessem dançando. Ficou satisfeita ao constatar que era uma animada quadrilha, o que permitia pouco tempo para falar, embora fosse, infelizmente, muito mais longa do que uma valsa. Descobriu-se olhando pelo salão enquanto davam os passos ensaiados, procurando por uma pluma curvada no chapéu de um Cavalier. Então não teve tempo para mais nada além de um sorriso e ouvir os agradecimentos pela dança antes que sua mão fosse reclamada pelo parceiro seguinte, o senhor Waters. Conhecia-o superficialmente, vira-o apenas uma vez e suspeitava que o homem estava em busca de uma esposa rica, mas pelo menos, tinha uma conversa espirituosa e dançava bem. Quando a dança terminou, o senhor Waters sugeriu uma caminhada em torno do salão, e Callie concordou. Eram quase dez horas, o que significava que logo a dança terminaria, e os convidados seguiriam para a ceia, que seria servida no salão de baile menor do outro lado do hall. Callie temia que a avó se aproximasse com algum outro homem "apropriado" para levá-la para a ceia, assim decidiu que seria melhor ficar longe do olhar da duquesa por alguns momentos. Começaram a andar pela periferia do salão. O senhor Waters dedicou-se a uma conversa polida e idiota sobre a grandeza do baile, a música viva e alegre e o calor do salão depois da dança. Então parou perto de uma das portas, aberta para o terraço e que permitia a entrada de um pouco do ar frio da noite. — Ah, isto é muito melhor, não é? A dança pode provocar muito calor. Callie acenou, distraída, e pensou que a conversa do senhor Waters não era tão interessante quanto pensara. Olhou em torno do salão e viu a avó, conversando com lorde Pomerance, e engoliu um gemido. Certamente a avó não lhe infligiria aquele insuportável saco de vento! Era mais jovem do que o senhor Carberry e menos pomposo, mas seu senso de autoimportância era insuperável e acreditava que todos estavam profundamente interessados nos menores detalhes de sua vida. — Aqueles dois tiveram a ideia certa — continuou o senhor Waters. — O quê? — O olhar de Callie estava fixo na avó. Seu acompanhante fez um gesto de cabeça em direção ao terraço. — Sair para tomar um pouco de ar fresco. — Sim, suponho que sim. — A duquesa virou a cabeça, olhando pelo salão, e Callie soube que estava procurando por ela, então lhe deu as costas. — Sim — disse rapidamente. — Você tem razão... um pouco de ar fresco. Projeto Revisoras
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Ela atravessou a porta, e seu acompanhante, surpreso, hesitou pela fração de um segundo, então sorriu e se apressou a segui-la. Callie afastou-se depressa do salão de baile e andou em direção aos pontos mais escuros do terraço. O ar do inverno era frio em seus braços e pescoço nus, mas, aquecida como estava pela dança no salão abafado, no momento, a sensação era muito agradável. Parou quando chegou à balaustrada que marcava o fim do terraço superior, bem além de onde a avó poderia vê-la se olhasse para fora do salão. — Desculpe — disse, com um sorriso leve. — Deve achar que estou louca, correndo para cá assim. — Não louca, talvez impetuosa. — Waters sorriu e estendeu a mão para tomar a dela. — Posso apenas presumir que está tão ansiosa como eu para ficarmos sozinhos. — Enquanto Callie o olhava em silêncio atônito, ele lhe ergueu a mão enluvada para os lábios e a beijou. — Não tinha compreendido... tinha esperanças, mas não sonhei que pudesse retornar minha afeição. — O quê? — Callie tentou libertar a mão, mas Waters a segurava com força. Então percebeu o erro que cometera com seu anseio impulsivo de escapar das manipulações da avó. Com algum outro cavalheiro, alguém que conhecesse melhor, tudo teria dado certo. Ele riria de seu aborrecimento com a duquesa e prometeria ajudá-la. O senhor Waters, obviamente, havia tirado a conclusão errada... ou talvez tivesse apenas visto uma oportunidade de ouro para fazer uma investida. Callie não podia esquecer suas suspeitas de que o homem era um oportunista. Ela deu um passo para trás, mas ele a seguiu, ainda lhe segurando a mão e olhando-a com fervor. — Deve conhecer a profundidade do meu sentimento por você, o amor que me queima o coração... — Não! Senhor Waters, temo que tenha compreendido mal. — A voz de Callie era firme. — Por favor, solte minha mão. — Não até que tenha me respondido. Lady Calandra, eu lhe imploro, faça meus sonhos se... — Senhor Waters, pare! — Com um puxão, Callie arrancou a mão da dele. — Lamento se, sem querer, lhe dei a impressão errada, mas, por favor, vamos terminar esta conversa. Começou a passar por ele, mas Waters lhe segurou os braços e a manteve no lugar. — Não, me escute. Amo você, Calandra. Meu coração e minha alma queimam por você. Eu lhe imploro, diga que também se importa comigo, que há uma chama... — Pare imediatamente — ordenou Callie. — Vamos voltar para dentro e esquecer que isto aconteceu. — Não quero esquecer, cada momento com você é precioso demais. Callie cerrou os dentes. As palavras melosas a aborreceram, e a cada segundo, estava mais convencida da insinceridade dele. O homem não se importava com ela, apenas com seu grande dote, e não se preocuparia mais em ferir seus sentimentos. — Aposto que gostaria de esquecer este momento se contar ao meu irmão! — E tentou se livrar das mãos dele. Mas os dedos mergulharam em seus braços e a impediram de sair. Ele sorriu, a máscara amorosa abandonando seu rosto tão depressa quanto se instalara. — Seu irmão? — O tom era de desprezo. — Pretende contar ao duque que andou namorando no terraço? Vá em frente, conte-lhe, imagino que insistirá num compromisso imediatamente. — E um idiota se acredita nisto. Não estou namorando você e, quando lhe contar o que aconteceu, terá sorte se ele não lhe arrancar a cabeça.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Mesmo? — Uma
luz perigosa surgiu nos olhos dele. — E estará tão disposto a me dispensar com sua reputação totalmente comprometida? — Puxou-a para ele e abaixou a cabeça para beijá-la. — Ah! Callie deixou escapar uma exclamação de raiva e frustração e ergueu as mãos para empurrá-lo enquanto girava, se mexia e afastava o rosto do dele. Então conseguiu lhe acertar um pontapé na perna. Waters praguejou enquanto lutava para dominá-la e a arrastou pelo terraço para prendê-la contra a parede. Callie sentiu a pedra áspera contra o tecido fino do vestido e mergulhou os dedos na camisa do homem, agarrando-lhe a carne e beliscando-a. Ele deixou escapar um grito muito gratificante de raiva e dor. E então, no instante seguinte, ele foi arrancado de perto dela, arquejando para respirar enquanto uma mão muito grande e poderosa lhe circulava o pescoço, apertava-o e o puxava contra o peito largo do Cavalier. — O quê? — o Cavalier perguntou, numa voz perigosamente suave, apertando ainda mais a mão. Os olhos de Waters ficaram esbugalhados enquanto tentava inutilmente se livrar. — Nada a dizer, sem palavras corajosas e atrevidas quando não é uma mulher que ataca? — Não, por favor, não o sufoque. — A voz de Callie era ligeiramente trêmula enquanto se afastava da parede. — Tem certeza? — Seu salvador a observou. — Acho que o mundo não sentirá falta dele. — Lady Odélia pode não gostar de ter um homem morto no terraço da casa dela no seu baile de aniversário — comentou Callie secamente. Ele sorriu e diminuiu o aperto no pescoço do homem. — Está bem. Se é o que quer, eu o deixarei partir. Waters respirou com força. — Vai se arrepender... — começou. A mão do Cavalier lhe apertou o pescoço de novo e lhe cortou a voz. — Já estou arrependido — disse apenas. Então soltou o pescoço de Waters, agarrou-lhe os ombros, virou-o e o empurrou contra a balaustrada. Agarrou-lhe a frente da camisa e o debruçou para trás. — Talvez não conheça bem a casa de lady Pencully e não saiba que há uma queda de seis metros daqui até o jardim, mas eu conheço. Se fosse você, pensaria bem no assunto antes de fazer ameaças a mim ou esta jovem de novo. Lady Pencully não gostaria que alguém levasse um tombo desagradável do terraço na sua festa de aniversário. Mas garanto-lhe que superaria bem depressa o aborrecimento, e ninguém duvidaria de que um convidado bêbado poderia cair sobre a balaustrada e bater a cabeça no caminho de pedras do jardim. E ninguém duvidaria da minha versão dos eventos se você, infelizmente, morrer. Deixei as coisas bem claras para você? Waters, com os olhos enormes na escuridão, acenou, mudo. — Ótimo, então nos compreendemos bem. — O Cavalier deu um passo para trás e permitiu que Waters endireitasse o corpo, mas não o libertou de imediato. Olhou-o dentro dos olhos e continuou: — Se algum dia ouvir uma palavra sobre este incidente ou o mais leve rumor de escândalo com relação a esta dama, saberei sua origem e lidarei com você. Então, sugiro que mantenha a boca fechada. Na verdade, acho que seria uma boa ideia se partisse de Londres imediatamente. Uma longa estadia no campo seria definitivamente do seu interesse. Fui claro? Waters acenou depressa sem ousar olhar para o homem ou para Callie. — Então está bem, agora vá. O Cavalier o soltou, deu um passo para trás, e Waters se afastou depressa sem olhar para eles. O salvador de Callie se virou para ela. — Você está bem? Ele a feriu? Callie acenou e estremeceu, percebendo pela primeira vez, como estava gelada. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Sim, estou bem. Obrigada, eu... — Não conseguiu respirar. — Tome, você está gelada. — Tirou a pequena capa e a enrolou
nos ombros de
Callie. — Obrigada. — Ela apertou a capa e olhou para ele.
Os olhos dela brilhavam na escuridão com lágrimas não derramadas. O Cavalier respirou profunda e rapidamente. — Você é tão linda, não é de admirar que um canalha como ele tentasse tirar vantagem de você. Não devia permitir que um tipo daquele a trouxesse para fora do salão. — Eu sei, fui uma idiota. — Callie lhe deu um sorriso trêmulo. — Não sou tão ingênua a ponto de sair para o terraço com um homem que mal conheço. Estava... estava tentando fugir de minha avó e agi impulsivamente. — Fugir de sua avó? — Os olhos dele brilharam, maliciosos. — E uma avó malvada? — Não, apenas uma casamenteira. — Ah, compreendo, é quase tão ruim quanto uma mãe casamenteira. Callie sorriu. — Foi muita sorte minha você ter chegado, e tenho uma eterna dívida de gratidão. Obrigada por vir em meu socorro. — Estendeu a mão com solenidade para apertar a dele. Ele lhe tomou a mão, os longos dedos dele circulando os dela, e a ergueu para os lábios, então os pressionou suavemente contra as costas da mão de Callie. — Estou feliz por ter podido ajudá-la. Mas não foi sorte, eu o vi trazê-la para cá e não gostei da expressão dele. — Estava me observando? — Callie se sentiu quente ao pensar que ele a procurara assim como ela o procurara. — Tinha começado a atravessar o salão para lhe pedir outra dança, mas então a música parou e percebi que era a hora da ceia. Então ele a trouxe para fora. — Mesmo assim, foi gentil de sua parte vir à minha procura. — Qualquer homem teria feito a mesma coisa. — Não. — Ela lhe deu um pequeno sorriso. — Nem todos. — Abaixou o olhar para as mãos ainda unidas. — Ainda está com a minha mão, senhor. — Sim, eu sei. Quer que a devolva? — A voz se aprofundou, sensual. Callie ergueu o olhar e estremeceu à expressão dos olhos dele. — Eu... não, na verdade, não. — Ótimo, porque eu também não quero. — O polegar lhe acariciou de leve as costas da mão, e embora fosse um movimento mínimo, Callie sentiu seu efeito em todo o corpo. — E agora que mandei embora aquele canalha... acho que mereço um pequeno favor, não acha? — Que favor? Callie estava com dificuldade de respirar. Estava tão perto que podia sentir o calor do corpo dele, seu cheiro masculino e limpo. O coração batia com força, mas não era de medo, como antes. Era da antecipação que crescia nela. — Seu nome, milady. — Calandra. — A voz era muito suave. — Calandra — repetiu também suavemente, estendendo as sílabas. — É um nome mágico. — Não tão mágico assim, e aqueles que são meus amigos me chamam de Callie. — Callie. — Ele ergueu a outra mão e lhe acariciou a linha do queixo com o polegar. — Combina com você. — Mas agora estou em desvantagem porque não sei seu nome. — Bromwell, mas aqueles que são meus amigos me chamam de Brom.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Brom — repetiu
Callie num suspiro, estremecendo com o toque que lhe causava
arrepios. — Nos seus lábios, parece maravilhoso. Passou o polegar pelo lábio inferior de Callie, e o calor aumentou nas entranhas dela. Os olhos dele seguiram o movimento do polegar, e o brilho neles cresceu, os próprios lábios se tornando suaves. Ele debruçou a cabeça sobre a dela, e Callie soube que pretendia beijá-la. E não hesitou ou se afastou. Em vez disso, esticou-se para cima, para encontrar-lhe a boca. Os lábios dele tomaram os dela, e ela se sentiu explodir de calor. Cada nervo do corpo de Callie subitamente ganhou vida e se adaptou ao lento e delicioso movimento da boca na dela. Jamais sentira nada igual. Embora alguns poucos homens tivessem ousado lhe roubar um beijo, nenhum tinha sido parecido com aquele... tão suave e quente, tornando-lhe os lábios tão sensíveis à pressão aveludada dos dele. E nenhum daqueles homens havia movido a boca contra a dela, abrindo-lhe os lábios para a língua audaciosa, assustando-a e lhe causando uma onda de prazer intenso. Callie deixou escapar um som baixo de surpresa e anseio. Suas mãos se ergueram instintivamente para o pescoço dele e o puxaram para ela, enquanto os braços dele a circularam e a apertaram contra o corpo longo e rijo. A pluma elegante do chapéu lhe roçou o rosto, e aquele toque também lhe excitou os nervos sensíveis da pele. Ele fez um som de impaciência e frustração e ergueu a mão para arrancar o chapéu e jogá-lo para o lado enquanto os lábios pressionavam com mais força os dela. Os dedos de Callie mergulharam no tecido rico do gibão. Sentia-se caindo, mergulhando numa torrente selvagem de fome e desejo, e ficou, ao mesmo tempo, amedrontada e mais viva do que nunca. Percebeu que o corpo dele se tornava cada vez mais quente através do tecido das roupas e a envolvia com seu calor. De repente, ele ergueu a cabeça, inspirou profundamente e a olhou com intensidade. Ergueu a mão, segurou-lhe a máscara e a empurrou para cima, revelandolhe o rosto. — Você é tão linda — suspirou. Então tirou a própria máscara e a deixou suspensa entre os dedos. Callie observou-lhe o rosto e percebeu, com surpresa, que era ainda mais atraente sem a máscara dramática. Ossos malares altos e agudos equilibravam o queixo forte, e as sobrancelhas escuras e retas acentuavam os olhos cinzentos. Era o rosto de um anjo, pensou com uma veia poética incomum nela... Não um anjo com harpas e nuvens fofas, mas do ripo severo, que guarda os portões do paraíso com uma espada feroz. — Você também é — disse ela com franqueza, então ruborizou diante das palavras sinceras e ingênuas. Alguma coisa brilhou nos olhos dele, seguida por uma pequena risada trêmula. — Minha querida Calandra... é perigoso demais para você ficar aqui sozinha comigo. — Acha que não posso confiar em você? — O tom de voz deixava claro que ela confiava plenamente nele. — Acho que é perigoso confiar em qualquer homem da maneira como parece... e sente o que sente. — A voz se tornou rouca nas últimas palavras, e ele passou as mãos lentamente pelos braços dela, descendo-as com relutância e então as afastando. Deu um passo para trás. — Devemos entrar. Devolveu-lhe a máscara, e Callie a colocou de novo. Detestava se afastar dele, daquele momento e daquelas novas sensações que a dominavam. No entanto, ao mesmo tempo, as palavras dele apenas fortaleceram o que sentia. Então sorriu. — Talvez queira saber todo o meu nome. — Isto tornaria as coisas mais fáceis — admitiu, sorrindo. — Mas, acredite, encontrarei você de qualquer maneira.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Então deve ir a... — Callie se interrompeu ao ouvir a voz do irmão no terraço atrás
deles. — Callie? Calandra!
Ela se virou e olhou para o longo terraço. O duque estava em pé, bem do lado de fora da porta, olhando ao redor. Começou a andar, o rosto fechado, chamando-lhe o nome mais uma vez. — Que o diabo o carregue! — praguejou Callie baixinho. As sobrancelhas do Cavalier se ergueram ao ouvir as palavras tão pouco adequadas a uma dama, e ele abafou uma risada. — Não é quem você gostaria de ver? — Meu irmão — explicou Callie. — E certamente vai me passar um sermão. Ah, bem, não vale a pena esperar, vamos logo acabar com isto. — Começou a andar com a confiança de uma pessoa que jamais recebera nada mais forte d o que um sermão. O Cavalier deu de ombros, saiu atrás dela e a alcançou quando ela chamou: — Aqui! Está tudo bem, Sinclair, por favor, não grite. Rochford se apressou em direção a eles, o rosto relaxando com o alívio. — Que, diabos, está fazendo aqui? Você está bem? Quando chegaram ao ponto iluminado do terraço, Callie ouviu o acompanhante respirar profundamente e parar. Estava começando a se virar em direção a ele, curiosa, quando um olhar ao irmão mostrou que ele também havia parado de repente. Rochford olhou fixamente para o homem em pé ao lado de Callie, as sobrancelhas franzidas numa expressão de raiva. — Você! — rosnou para o Cavalier. — Afaste-se da minha irmã!
Capítulo Três
Callie arquejou para o irmão, atônita com sua grosseria incomum. — Sinclair! — dirigiu-se para ele, a mão estendida num gesto tranquilizador. — Por favor, não, você compreendeu mal a situação. — Compreendo perfeitamente — retorquiu Rochford, os olhos não se afastando nem por um segundo do rosto do outro homem. — Não, não compreende. — A voz de Callie se tornou severa. — Este homem não fez nada para me ferir, ele me ajudou. Virou-se para o acompanhante, que olhava para o duque com uma expressão tão feroz quanto a de Rochford. Reprimiu um suspiro diante daquele insensato comportamento masculino. — Senhor, permita que o apresente ao meu irmão, o duque de Rochford. — Sim. — A voz do Cavalier era gelada. — Conheço o duque. — Ah. Callie olhou de um homem para o outro e percebeu que havia ali algum sentimento mais forte, alguma coisa não relacionada com o encontro dela com um homem no terraço. — Lorde Bromwell. — Os modos de Sinclair eram ainda mais rijos do que o normal. Sem olhar para Callie, ordenou: — Calandra, entre. — Não — respondeu Callie. — Sinclair, seja razoável, me deixe explicar. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Callie! — A voz de Sinclair foi dura como uma chicotada. — Você me ouviu, entre.
Callie ruborizou, atingida pelo tom peremptório. Dirigira-se a ela como se fosse uma criança teimosa que se recusava a ir para a cama no horário. — Sinclair! Não fale comigo desta... Ele se virou rispidamente para ela. — Eu já disse... Vá para dentro. Agora! Callie inspirou com força, a mágoa e a raiva lhe percorrendo o corpo com a mesma intensidade. Começou a protestar, a exigir que o irmão deixasse de tratá-la daquela maneira, mas percebeu, antes mesmo de falar, que não poderia criar uma cena na festa da tia Odélia. Alguém poderia sair pela porta a qualquer momento. Poderia até haver alguém no jardim naquele instante, ouvindo. Não queria ser apanhada numa discussão com o irmão. Já se sentia constrangida com a situação, ao ser tratada como uma criança diante daquele homem que mal conhecia. Os olhos brilharam, mas engoliu as palavras. Fez um leve aceno para lorde Bromwell, então se virou e passou pelo irmão sem mais uma palavra. O duque ficou parado, observando o outro homem em silêncio, até Calandra desaparecer no salão. Então se dirigiu a ele com uma voz tranquila e dura como aço: — Deixe minha irmã em paz. Bromwell pareceu divertido enquanto cruzava os braços sobre o peito e estudava o homem diante dele. — Que coisa deliciosamente irônica... ouvir o duque de Rochford tão preocupado com a honra de uma jovem mulher. Mas, então, suponho que é diferente quando a jovem mulher é a irmã do duque, não é? Com um olhar desdenhoso para Rochford, começou a passar por ele, mas o duque estendeu a mão e lhe segurou o braço. Bromwell ficou imóvel, e os olhos cinzentos gelaram. Olhou para a mão do duque em seu braço, então ergueu os olhos para o rosto dele. — Tome cuidado, Rochford. — A voz era muito baixa e suave. — Não sou o menino que era quinze anos atrás. — Verdade? — Rochford deixou a mão cair para a lateral do corpo. — Você era um idiota então, mas é dez vezes mais idiota agora se acha que vou permitir que magoe minha irmã de qualquer maneira. — Acredito que lady Calandra é uma mulher adulta, Rochford. E o idiota é você se pensa que pode impedir que o coração dela se dirija para onde quiser. Um brilho diabólico acendeu os olhos escuros do duque. — Maldição, Bromwell, estou avisando... fique longe da minha irmã. Lorde Bromwell olhou-o de volta, a expressão determinada, então se virou sem mais uma palavra e se afastou. Callie estava furiosa. Não se lembrava de jamais ter sentido tanta raiva do irmão... na verdade, tanta raiva de ninguém... como sentia agora. Como ousara falar com ela como se fosse seu pai? E diante de outra pessoa! De um estranho! A garganta estava fechada com um nó, e as lágrimas faziam seus olhos arderem. Mas se recusava a chorar. Não lhe permitiria ver, não permitiria que ninguém visse como as palavras de Sinclair a haviam afetado. Atravessou o salão de baile sem olhar para a direita ou para a esquerda, sem saber ao certo para onde ia, apenas se afastando o mais depressa que podia do que havia acontecido no terraço. Através do nevoeiro vermelho da raiva, percebeu que o salão estava virtualmente vazio e que os músicos não se encontravam sobre o pequeno palco no fim do salão. Ceia. Os convidados estavam todos se servindo no bufe informal preparado no pequeno salão do outro lado do hall. Callie começou a se dirigir para ele e, no último segundo, se lembrou de que ainda levava sobre os ombros o manto curto da fantasia de
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp
Cavalier de lorde Bromwell. Ergueu as mãos, desamarrou-o e o dobrou num pacote pequeno de tecido enquanto entrava no pequeno salão e olhava em volta. Finalmente viu a avó, sentada a uma mesa pequena com tia Odélia e outra dama idosa, seus pratos cheios dos alimentos delicados ainda diante delas. Lady Odélia, é claro, dominava a conversa. A duquesa ouvia polidamente, a espinha rija como sempre, sem tocar as costas da cadeira, os olhos vagos de tédio. Callie se aproximou da mesa, e a avó a viu quando se virou. — Calandra! Aí está você. Onde estava? Não a encontrei em lugar nenhum, então mandei Rochford procurá-la. — Sim, ele me encontrou — respondeu Callie simplesmente. Olhou para as duas mulheres que acompanhavam a duquesa. — Vovó, gostaria de ir embora agora se não se importa. — Ora, é claro. — A duquesa pareceu francamente aliviada e começou a se levantar. — Você está bem? — Eu... eu, sinto muito, mas estou com dor de cabeça. — Callie se virou para a tiaavó. — Lamento, tia Odélia, é uma festa maravilhosa, mas não estou me sentindo muito bem. — Bem, é claro, toda esta excitação, sem dúvida — respondeu a velha dama com um leve ar presunçoso. Virou-se para as companheiras com um aceno que fez a peruca alaranjada ficar torta. — Descobri que as meninas de hoje não têm a estamina que tínhamos. — Voltou a atenção para Callie. — Vá para casa, menina. — Vou mandar um lacaio encontrar Rochford e lhe dizer que queremos partir — disse a duquesa a Callie, virando-se em seguida e fazendo um gesto imperioso para um dos criados. — Não! Quero dizer... não podemos apenas partir? — pediu Callie. — Minha cabeça está latejando, e tenho certeza de que Rochford será muito capaz de voltar para casa sozinho. — Ora, sim, suponho que sim. — A duquesa pareceu preocupada e rodeou a mesa para olhar o rosto de Callie. — Você realmente parece um pouco febril. Talvez tenha apanhado um resfriado. — Tenho certeza de que lady Odélia tem razão, é apenas excitação demais — replicou Callie. — Todas estas danças e o barulho... — Vamos então. A duquesa fez um aceno de despedida para as companheiras e começou a se encaminhar para o hall. Então olhou para as mãos de Callie . — O que é isto que está carregando, criança? — O quê? Ah, isto. — Callie olhou para a capa dobrada na mão, e seus dedos a apertaram com força. — Não é nada, estava segurando para uma pessoa, não tem importância. A avó olhou com estranheza para a neta, mas não comentou nada enquanto continuavam em direção à sala dos casacos. Quando passaram pelas portas duplas do salão de baile, ouviram a voz de Rochford. — Vovó, espere. A duquesa se virou e sorriu. — Rochford, que sorte encontrá-lo. — Sim — respondeu ele apenas. Não parecia mais tão furioso, percebeu Callie, mas seu rosto estava rijo e sem expressão. Olhou para ela, e Callie afastou o olhar sem dizer nada. — É hora de partir. — Então agora temos que partir porque você mandou? — reclamou Callie. A duquesa lançou um olhar curioso à neta. — Mas, Callie, querida, você acabou de me dizer que quer ir para casa. — É claro que devemos ir. — Rochford lançou um olhar de advertência à irmã. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp
Callie gostaria de reclamar do tom dele, assim como da ordem peremptória para que partissem, mas não podia fazer nada daquilo sem parecer uma idiota, então apenas inclinou a cabeça e se virou sem mais uma palavra. — Sinto muito, Sinclair — a avó se desculpou por Callie. — Temo que ela não esteja se sentindo muito bem. — É evidente — replicou o duque, num tom sarcástico. Um lacaio lhes entregou as capas, e eles se dirigiram para a carruagem. A caminho de casa, a duquesa e Rochford trocaram alguns comentários sobre a festa, mas Callie não participou da conversa. A avó lhe lançou olhares intrigados de vez em quando. O irmão, por sua vez, olhou para ela tão raramente quanto ela olhou para ele. Callie sabia que seu comportamento era infantil ao se recusar a conversar com Rochford ou lhe encontrar o olhar, mas não podia se obrigar a agir como se tudo estivesse bem. E não tinha certeza se podia lhe revelar o que sentia sem derramar lágrimas de raiva... e se recusava a fazer isto. Bem melhor, pensou, parecer infantil ou tola do que permitir que ele pensasse que chorava porque ele a ferira. Quando chegaram em casa, Rochford desceu agilmente da carruagem e estendeu a mão para ajudar a duquesa e depois Callie, que ignorou a mão dele e passou para dentro de casa. Ouviu o suspiro do irmão, que então se virou e a seguiu pela escada até o foyer. Ele parou para entregar o chapéu e as luvas ao lacaio enquanto Callie se dirigiu para a ampla escadaria que levava ao andar superior, a avó se movendo mais lentamente atrás dela. Rochford começou a caminhar pelo hall em direção ao escritório, então parou e se virou. — Callie. — Ela não se virou e tomou o primeiro degrau da escada. — Callie, pare! — A voz dele se tornou mais áspera e ecoou no imenso espaço vazio da grande entrada. Como se o som da própria voz o tivesse assustado um pouco, continuou num tom mais amável: — Calandra, por favor, isto é ridículo. Quero conversar com você. Ela se virou e olhou para ele, abaixo dela. — Vou me deitar. — Sua voz era gelada. — Não até termos conversado. Volte aqui, vamos para o meu escritório. Os olhos escuros de Callie, tão parecidos com os do irmão, brilharam com a raiva que vinha mantendo sob controle pela última meia hora ou mais. — O quê? Agora não posso nem ir para o meu quarto sem a sua permissão? Devemos obedecer a você nos mínimos detalhes de nossas vidas? — Maldição, Callie, sabe que não é assim! — A voz de Rochford demonstrava sua impaciência. — Não? Isto é tudo o que você fez na última hora: e dar ordens. — Callie! — A duquesa olhou de um para o outro, atônita. — Rochford! O que é tudo isto? O que aconteceu? — Nada com que precise se preocupar — disse Rochford apenas. — Não, nada, exceto que meu irmão, de repente, se transformou num tirano. — Callie estava evidentemente furiosa. Rochford suspirou e passou a mão pelo cabelo escuro. — Meu Deus, Callie, sabe que não sou um tirano. Quando é que já fui um? — Nunca, até agora. — Piscou para afastar as lágrimas que lhe enchiam os olhos. Na verdade, era o comportamento anterior de Rochford, sempre gentil e complacente, que tornava sua atitude atual tão difícil de suportar. Sempre fora o mais amoroso e tranquilo dos irmãos, e ela apreciava ainda mais seu relacionamento quando ouvia outras meninas falarem sobre seus irmãos ou pais, que davam ordens e esperavam obediência cega. — Sinto muito, Callie, se a ofendi esta noite. — A voz era tão seca quanto a postura do corpo, mas o rosto mostrava uma expressão de paciência que atingiu ainda mais os nervos já esticados da irmã. — Desculpe se fui áspero demais. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Áspero? — Ela
deixou escapar uma risada curta, sem humor. — É assim que considera seu comportamento esta noite? Áspero? Eu o chamaria de arbitrário ou talvez de ditatorial. O duque fez uma pequena careta. — Estou vendo que se aborreceu, mas devo lembrá-la que é minha função protegêla. Sou seu irmão, e é minha responsabilidade cuidar de você. — Não sou mais criança! Sou muito capaz de cuidar de mim mesma. — Não foi isto que vi — respondeu o duque, furioso —, já que a encontrei sozinha no jardim com um homem estranho. A duquesa respirou fundo, chocada. — Não! Callie! Callie ruborizou. — Eu não estava no jardim, estávamos no terraço e não houve nada de errado. Bromwell foi um perfeito cavalheiro. Na verdade, ele me ajudou. Mandou embora outro homem que não foi nada cavalheiro. — Ah! — A avó de Callie ergueu uma das mãos para o coração, a boca aberta de espanto. — Callie! Você ficou sozinha com dois homens no jardim? — Não era no jardim! — Isto faz pouca diferença — comentou Rochford. — Acho que vou desmaiar. — A voz da duquesa era fraca, mas é claro que não desmaiou. Apenas deu alguns passos e se colocou bem entre Callie e o irmão. — Não acredito no que ouvi — disse a Callie. — Como pode ter feito uma coisa tão escandalosa como esta? Não se importa comigo? Com sua família? Sinclair tem razão, é claro que é responsável por você. E seu irmão e o chefe da família. Tem todo o direito de lhe dizer o que deve fazer, e você tem que obedecer. O que deu em você para ir para o terraço com um homem? E se alguém a tivesse visto? Devia estar grata ao seu irmão por tê-la socorrido. Tremo ao pensar no que poderia ter acontecido se ele não a tivesse ajudado. — Nada teria acontecido, eu lhes disse, estava perfeitamente segura e não provoquei um escândalo. — O rosto de Callie estava flamejando. — Até ter se casado e ter uma casa sua, está sob o controle do seu irmão — disse a duquesa, com a voz sem expressão. — E então ficarei sob o controle do meu marido! — respondeu Callie, cada vez mais furiosa. — Agora está parecendo Irene Wyngate. — Não há nada de errado com Irene — replicou Callie. — Gostaria de me parecer com Irene. Pelo menos, ela tem coragem, ao contrário da maioria das mulheres que conheço. — Vovó, por favor... — Rochford sabia bem que a duquesa não estava ajudando a acalmar Callie ou a fazê-la compreender o ponto de vista dele. — De qualquer maneira, não tem importância, já que jamais me casarei enquanto meu irmão tratar meus pretendentes como se fossem criminosos — declarou Callie, com raiva. Rochford deixou escapar uma risada sem humor. — Bromwell jamais será um de seus pretendentes. — Tenho certeza de que não, depois que você me humilhou diante dele. — Bromwell? — A duquesa pareceu assustada. — O conde de Bromwell? — Sim. — Os olhos da avó brilharam de interesse, mas, antes que pudesse falar, Callie continuou: — O que há de errado com lorde Bromwell? Por que é tão terrível ficar na companhia dele? — Você não devia estar no terraço sozinha com homem nenhum — respondeu Rochford.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Mas por que
disse que ele jamais seria um pretendente meu? — continuou Callie. — Por que disse "Você!" naquele tom, quando o viu? Por que é tão particularmente inadequado? Rochford ficou calado por um longo momento, depois deu de ombros. — O homem não é meu amigo. — O quê? — As sobrancelhas de Callie se ergueram. — Ele não é seu amigo? Não posso me casar com um homem se ele não for seu amigo? Com quem gostaria que me casasse? Com um de seus velhos e enfadonhos amigos acadêmicos? Com o senhor Strethwick talvez ou Sir Oliver? — Diabos, Callie, sabe que não foi isto que quis dizer. — O tom de Rochford demonstrava total impaciência. — Não precisa se casar com um dos meus amigos e sabe disto. — Não, não sei! E, no momento, sinto como se não o conhecesse. Jamais imaginaria que você pudesse ser tão intimidador, tão descuidado com os meus desejos e sentimentos. — Descuidado? — Havia espanto na exclamação. — É precisamente porque me importo com você. — Por quê? O que torna o homem tão inadequado? — exigiu Callie de novo. — Sua família não é boa o bastante? Sua posição não é alta o bastante? — Não, é claro que não é nada disso. O homem é um conde. — Então é um caçador de fortuna? Está atrás do meu dinheiro? — Não, é muito rico, pelo que soube. — A boca de Rochford se fechou numa linha de irritação. — O conde de Bromwell é considerado um excelente partido — informou a duquesa. — É claro, não é um duque, mas há tão poucos deles afinal. E não seria nada bom se casar com alguém da realeza. Um conde seria muito bom para você, na verdade, e a família é antiga e distinta. — Virou-se para o neto. — Não são parentes de lady Odélia, de alguma forma? — Sim, parentes distantes — concordou Rochford. — O problema não é sua família. — Então qual é o problema? — persistiu Callie. O duque olhou da irmã para a avó antes de falar. — É uma questão antiga, e não é este o ponto. — Enrijeceu o queixo. — Agi no seu melhor interesse, Callie, quando disse a ele que se afastasse de você. — Você chegou a dizer a ele que se afastasse de mim? — O tom de Callie era horrorizada Ele acenou de leve. — Como pôde fazer isto? — exigiu Callie, sentindo-se como se tivesse sido privada de ar. — Não posso acreditar que me humilhou desta maneira! Dizer a ele que não posso vê-lo, como se fosse uma criança ou... uma incapaz. Como se eu não tivesse vontade própria ou capacidade de fazer um julgamento justo. — Não disse isto! — Estava cada vez mais impaciente. — Não precisava — retorquiu Callie. — Está implícito ao determinar com quem não posso me relacionar. — As lágrimas lhe encheram os olhos de novo, e ela piscou com força. — Fiz o que é melhor para você! — E eu, é claro, não podia ter uma opinião sobre o assunto! Callie estava rígida de raiva, os punhos fechados nas laterais do corpo. Estava tão furiosa, tão magoada que mal podia confiar em si mesma para falar com alguma coerência. Virou-se e começou a subir a escada. — Callie! — gritou Rochford e começou a andar rapidamente em direção a ela, então parou ao pé da escada e ficou olhando para ela, frustrado. Virou-se para a avó, como se buscasse uma resposta. Projeto Revisoras
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A duquesa cruzou os braços sobre o peito e olhou para ele. — É culpa sua ela se comportar desta maneira, por tê-la criado com tanta complacência. Sempre fez as vontades dela e a deixou se comportar exatamente como queria. Você a mimou terrivelmente, e é este o resultado. O duque deixou escapar um som baixo de frustração, então deu as costas à escadaria e começou a se dirigir para o escritório. Parou e se virou para a avó. — Vou terminar logo meus negócios em Londres. Por favor, prepare tudo para voltarmos para o campo depois de amanhã. Callie entrou no quarto bufando de raiva. Sua criada, Belinda, a esperava para ajudá-la a se despir, mas ela mandou a jovem para a cama. Estava irada demais para ficar imóvel enquanto Belinda lhe desabotoava o vestido. De qualquer maneira, certamente não se deitaria calmamente para dormir. A criada lançou-lhe um olhar inseguro, então saiu. Callie andou de um lado a outro do quarto, fumegando de raiva. Enquanto andava, ouviu os passos lentos da avó passarem por sua porta, mas não ouviu os do irmão. Sem dúvida, havia se retirado para seu aposento predileto, o escritório. E, provavelmente, estava lendo pacificamente algum livro ou carta ou estudando documentos comerciais para se preparar para o encontro com seu homem de negócios no dia seguinte. Ele não estaria cerrando os dentes ou queimando de raiva pela injustiça. Afinal, no que dizia respeito a ele, o assunto estava encerrado. Callie fez uma careta ao pensamento e se jogou na poltrona ao lado da cama. Não admitiria ser colocada naquela posição. Até então, pensara em si mesma como uma jovem dama que vivia em seus próprios termos, pelo menos, dentro dos limites das regras da sociedade. Se alguém lhe tivesse perguntado, teria dito que era livre para fazer o que quisesse, que dirigia sua própria vida. Cedia demais aos desejos da avó, é claro, para manter a paz em casa, mas sabia que aquela era uma decisão que tomara, não alguma coisa que tinha que fazer. Ia aonde queria, recebia quem tinha vontade, participava ou não de peças de teatro e festas que escolhia. Os empregados a procuravam para receber as ordens, comprava o que queria usando o próprio dinheiro e, se era o agente do irmão que realmente pagava as contas dela, bem, simplesmente era assim que as coisas aconteciam. As contas de Sinclair geralmente também eram pagas daquela maneira. E, embora Sinclair investisse seu dinheiro para ela, explicava tudo antes e lhe perguntava o que queria fazer. Se sempre concordava com o que ele sugeria era apenas porque era o melhor caminho, o mais sensato e lucrativo. Sinclair administrava seus próprios negócios havia anos e se saía muito bem. Mas agora compreendia que sua visão da própria liberdade era apenas uma ilusão. Simplesmente jamais havia contrariado o irmão antes. Quem ela via, para onde ia, o que comprava, as decisões que tomava etc. jamais haviam sido contrariadas antes. Mas o que presumira ser liberdade, não era. Apenas vivera numa gaiola tão grande que jamais tocara as barras. Até agora. Callie se levantou num pulo. Não podia permitir que aquilo continuasse. Era uma adulta, tinha a idade de uma mulher já casada e com filhos. Era cinco anos mais velha do que Sinclair tinha sido quando herdara o título. Não aceitaria suas ordens com submissão, fazer isto era o mesmo que aceitar que ele tinha autoridade sobre ela. Não iria para a cama e se levantaria no dia seguinte como se nada tivesse acontecido. Ficou parada por um momento, pensando, então se virou e foi até a pequena escrivaninha encostada à parede. Rapidamente escreveu uma nota e a assinou, então a dobrou e a fechou com seu selo e escreveu o nome do duque na parte da frente antes de colocá-la sobre o travesseiro.
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Pegou a capa da cadeira sobre a qual a havia jogado, vestiu-a de novo e a amarrou. Abriu a porta com cuidado e colocou a cabeça para fora, olhando para um lado e outro do corredor largo. Então, movendo-se silenciosamente, seguiu até a escadaria dos fundos e desceu. Tudo estava quieto na cozinha, o menino da copa estava dormindo encolhido no cobertor ao lado da lareira acesa. Ele não se moveu quando ela passou por ele na ponta dos pés nem quando abriu a porta da cozinha e saiu. Callie fechou a porta cuidadosamente depois de sair e se esgueirou pelo caminho estreito que levava da lateral da casa para a rua. Olhou para um lado e o outro da avenida larga e escura, não viu ninguém, então colocou o capuz da capa sobre a cabeça e começou a descer a rua com ousadia. Do outro lado da rua e a algumas portas de distância da mansão ducal, estava uma carruagem parada. Já estava lá havia algum tempo, e o cocheiro, enrolado em seu grande casaco, começara a cochilar. Dentro, dois homens estavam sentados, um diante do outro. Um deles, o senhor Archibald Tilford, se recostava com uma expressão entediada enquanto girava sem parar, com os dedos, o punho de uma bengala com castão de ouro. Diante dele, olhando pela janela aberta, para a Lilles House, se sentava o primo de Archibald, o conde de Bromwell. — Puxa, Brom, por quanto tempo vamos ficar aqui? — O tom de voz de Tilford era tão impertinente quanto o de uma criança manhosa. — Tenho uma garrafa do Porto e cartas de sorte me esperando agora no Seaton. E o tijolo quente que o cocheiro colocou aqui está esfriando. Meus pés ficarão como uma pedra de gelo em dez minutos. O conde lhe lançou um olhar frio. — Ora, Archie, por favor, tente suportar mais um pouco. Chegamos há menos de quinze minutos. — Bem, não consigo imaginar o que pretende, olhando para uma casa escura. O que espera ver a esta hora da noite? — Não tenho certeza — replicou Bromwell, sem tirar os olhos da casa. — É evidente que ninguém virá aqui a esta hora. Não posso imaginar o que lhe passou pela cabeça para observar a casa de Rochford. Deus do céu, foi há quinze anos, não foi? Pensei que tinha se esquecido do duque. Bromwell lançou um longo olhar ao homem. — Jamais vou esquecer. Tilford deu de ombros e ignorou, devido à longa experiência, o olhar feroz que amedrontava a maioria dos homens. — Já se passou muito tempo e, além disso, Daphne se casou. — Bromwell não respondeu e, depois de um momento, Tilford continuou: — O que pretende fazer? Bromwell respondeu à pergunta do primo com outra. — O que você sabe sobre a irmã de Rochford? Archie respirou fundo. — Lady Calandra? — Hesitou, então disse com cuidado: — Não está pensando em... algum tipo de jogo envolvendo a irmã do duque, está? Todos sabem que ele é malditamente protetor com ela... como você saberia também se não tivesse passado os últimos dez anos da sua vida enterrado em sua propriedade fazendo dinheiro. Bromwell fez uma careta. — Nunca o ouvi reclamar do dinheiro que ganhei para a família. — Que Deus proíba. — O tom de Archibald foi suave. — Mas você já ganhou muito e agora pode desfrutar dele. Não foi por isto que veio para Londres, para se divertir um pouco? Bromwell deu de ombros. — Suponho que sim. — Bem, uma vida normal não inclui ficar sentado em carruagens geladas espionando casas fechadas e às escuras. — Você ia me falar sobre lady Calandra. Archie suspirou. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Está bem. A dama é jovem, linda e rica. — Pretendentes? — É claro, mas rejeitou todos... pelo menos,
aqueles que não ficaram com medo demais do duque e tentaram cortejá-la. Segundo os rumores, ela nunca se casará. Dizem que os Lilles são uma família fria. O canto da boca do conde se moveu de leve. — Não vi nada de frio na dama. Archibald se mexeu, inquieto. — Então me diga, Brom, no que exatamente está pensando? Um meio-sorriso brincou nos lábios de Bromwell. — Estava pensando em como o duque ficou nervoso esta noite ao me ver com lady Calandra. Foi muito divertido e esclarecedor. As palavras não pareceram tranquilizar o primo, que adotou uma expressão ainda mais alarmada. — O duque lhe comerá o fígado e os olhos se magoar lady Calandra. Bromwell lançou um olhar de esguelha ao primo. — Acha mesmo que tenho medo do que o duque possa me fazer? — Não, diabos o levem, tenho certeza de que não. Mas, francamente, eu tenho medo suficiente para nós dois. O conde sorriu. — Não fique aflito, Archie, não pretendo ferir a garota. Na verdade... — Seus lábios se curvaram num sorriso que era tudo, menos tranquilizador. — Pretendo ser muito encantador com ela. Tilford deixou escapar um gemido baixo. — Eu sabia, você está planejando alguma coisa. E isto vai acabar muito mal, tenho certeza. Por favor, Brom, não podemos apenas ir embora e esquecer tudo isto? — Está bem — concordou Bromwell, distraído. — De qualquer maneira, vi tudo o que queria. — O conde começou a soltar a cortina que cobria a janela, mas então se debruçou, olhou com mais cuidado e ergueu uma das mãos. — Não, espere, alguém está saindo. Uma mulher. — Uma criada? A esta hora? — Archibald também pareceu interessado e se virou para abrir o outro lado da cortina da janela. — Um encontro, você acha, com algum lacaio ou... — Diabos! — A exclamação de Bromwell foi baixa e forte. — É a própria dama. Observou enquanto a mulher cobria a cabeça com o capuz da capa, escondendo o rosto e a cabeça, e então começava a caminhar pela rua. Tomou a bengala da mão relaxada de Archie e a usou para abrir a portinhola quadrada ao lado da cabeça do cocheiro, então lhe deu algumas instruções em voz baixa e autoritária. Depois se recostou no assento e puxou a cortina para o lugar, o que escondia os dois passageiros enquanto a carruagem começava a seguir a mulher. — Acha que é lady Calandra? — Archie não conseguia acreditar. — O que ela estaria fazendo na rua, sozinha, a esta hora da noite? — O quê, mesmo? — repetiu o conde, pensativo, batendo os dedos de leve nos lábios. Archie abriu uma fresta mínima na cortina. — Passamos por ela. — Eu sei. Na rua seguinte, a carruagem dobrou à direita e andou um pouco antes de parar, então Bromwell abriu a porta e saiu. — Brom! O que acha que está fazendo? O conde respondeu com suavidade: — Bem, não posso deixar uma dama andar sozinha pela rua a esta hora, posso? Com um sorriso e erguendo de leve o chapéu, Bromwell fechou a porta e se afastou. Projeto Revisoras
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Capítulo Quatro
Callie andava depressa, seus passos ecoando na rua vazia. Quando fizera seu plano, não tinha realmente pensado em como as ruas, à noite, seriam escuras e vazias. Parecera-lhe importante apenas que ninguém a visse saindo ousadamente de casa, sem a companhia de alguém, como uma criada. Mas agora, enquanto passava rapidamente pelas estruturas escuras das mansões, ocorreu-lhe que seria bom ter alguém ao seu lado, mesmo uma pessoa tão frágil quanto sua criada. Em geral, não era uma pessoa medrosa, mas agora, enquanto caminhava, a raiva que a levara para a solidão da noite começava a desaparecer e a ser substituída pela compreensão de que aquele era o momento em que ladrões e outros malfeitores tomavam conta da cidade. Essa era, é claro, a melhor região de Londres e, portanto, deveria ser muito mais segura do que outras áreas, mas ela não conseguia deixar de se lembrar das histórias que ouvira sobre cavalheiros sendo seguidos quando saíam bêbados de tavernas e eram atacados a caminho de casa. E, certamente, se alguém iria roubar uma casa rica, agora seria o momento em que o ladrão invadiria a mansão às escuras. Mais ainda, mesmo se não houvesse ladrões nas imediações, sabia que cavalheiros, principalmente se tivessem bebido demais, podiam ser muito perigosos... e com certeza, presumiriam que uma mulher sozinha nas ruas, àquela hora, não era decente, vendendo rotineiramente sua virtude. Callie não queria ser confundida com uma prostituta procurando negócios. O som de uma carruagem atrás dela a assustou, mas não se virou, apenas continuou a andar com a confiança que conseguiu reunir. Talvez o ocupante da carruagem presumisse que era um homem numa capa longa, sem perceber a barra do vestido sob ela, ou talvez nem mesmo a olhasse. Deixou escapar um suspiro de alívio quando a carruagem a ultrapassou, fazendo barulho sobre as pedras do calçamento, dobrando na esquina seguinte e desaparecendo na rua perpendicular. Callie passou rapidamente pela esquina, atravessou a rua e voltou à calçada do outro lado. Os poucos quarteirões até a casa de lady Haughston, uma distância tão curta durante o dia, pareciam horrivelmente longos e amedrontadores agora. Callie pensou em voltar, mas disse a si mesma para não ser uma idiota e continuou. Â frente, no fim do quarteirão que percorria, uma figura virou a esquina e andou em direção a ela. Callie hesitou, o coração subindo para a garganta, então voltou a caminhar mais devagar. Pensou que, se virasse agora e corresse, o estranho poderia se sentir impelido a persegui-la, no mínimo, por curiosidade. Além disso, havia alguma coisa intrigante sobre o homem, alguma coisa que a fez andar em direção a ele, estreitando os olhos para ver melhor à luz fraca dos postes de iluminação. O homem não usava um casaco ou capa ou... que estranho!... e nem mesmo um chapéu. E, embora claramente um homem, havia alguma coisa esquisita sobre sua roupa. Não usava as roupas de noite de um cavalheiro... ou, na verdade, nenhum tipo de roupa que poderia identificar. As mangas da jaqueta eram largas e engomadas, e a calça era muito larga, acima das botas até quase os joelhos. Também parecia ter pendurado a Projeto Revisoras
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bengala na lateral do cinto. Inicialmente pensou que ele poderia ter bebido demais, em seguida que... mas não, aquilo era impossível! Callie parou de repente. O homem continuou a caminhar em direção a ela no mesmo passo tranquilo e, a cada um, ela se tornava mais segura de que seus olhos não estavam lhe pregando uma peça. — Lorde Bromwell! No instante seguinte, desejou não ter deixado as palavras lhe escaparem. Devia, pensou, ter se virado e voltado para casa. Ele pensaria que era uma louca... não, pior do que isto, presumiria que era uma mulher imoral. Ninguém imaginaria que a irmã de um duque se venderia, é claro, mas sabia que qualquer um pensaria que o motivo para ela estar na rua sozinha àquela hora seria para um encontro romântico. Para uma mulher casada, aquele comportamento seria escandaloso, mas, para uma jovem solteira, era desastroso. Seu estômago afundou ao compreender que aquele homem provavelmente agora a consideraria digna de desprezo. E, se ele contasse a alguém que a vira naquelas circunstâncias, sua reputação estaria arruinada, e seu irmão e sua família cairiam em desgraça. Alguém que a conhecesse bem, esperava, não presumiria que estava fazendo alguma coisa repreensível, e mesmo que pensassem mal dela, muitos cavalheiros evitariam espalhar a história para poupar a família da vergonha. Mas este homem mal a conhecia e, pior, Sinclair o tratara com hostilidade. Na verdade, Callie considerava que a atitude do irmão com relação ao conde tinha sido furiosa, até mesmo de desprezo. Odiava pensar em como Sinclair falara com ele depois que ela saíra. Bromwell não teria motivos para proteger sua reputação ou a do irmão. Pior, poderia agarrar com alegria a oportunidade para se vingar do duque. E por que seu irmão havia agido daquela maneira? A intromissão de Sinclair e sua fria presunção de que podia lhe dizer o que fazer a haviam irritado tanto que realmente não parara para se perguntar o motivo por ele ter ficado tão transtornado ao encontrá-la sozinha com aquele homem em particular. Seria a reputação de Bromwell que alarmara seu irmão? Teria o duque exigido que ele se mantivesse longe dela porque sabia que o homem tinha um histórico de seduzir jovens inocentes? Sua mente pulava de um pensamento para outro, cada um mais pavoroso naquele instante em que se mantivera congelada no lugar. Seu último pensamento, um que sabia ser apenas um anseio sem fundamento, foi que ele talvez não tivesse reconhecido sua voz e não podia ver seu rosto, mergulhado no capuz da capa. Ainda podia se virar e fugir. Mas na fração de segundo, a esperança desapareceu, já que ele se apressou em direção a ela, o rosto mostrando choque. — Lady Calandra? É você? Callie engoliu em seco e enrijeceu os ombros. Tinha que enfrentar aquilo, não importava o resultado. Tinha que fazer o possível para manter o nome da família a salvo de seu comportamento impulsivo. — Lorde Bromwell, não é de admirar que esteja surpreso. A mente funcionava depressa enquanto tentava encontrar uma justificativa razoável para estar ali àquela hora e sozinha. — É verdade, no começo, pensei que meus olhos me enganavam. — Parou diante dela. — Isto não está certo, não devia estar fora de casa a esta hora. Onde está sua família? Callie fez um gesto em direção à rua atrás dela. — Estão na cama, e eu... eu não consegui dormir. — Então decidiu sair para uma caminhada? — As sobrancelhas se ergueram, mostrando a incredulidade que seu tom de voz educado não revelou. — Sei que vai me achar muito idiota. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Ah,
não — disse, sorrindo. — Tenho uma irmã, e sei bem como são limitadoras as restrições da sociedade, como as normas pesam sobre uma jovem dama. Callie não conseguiu se impedir de sorrir de volta para el e. Seus temores não tinham razão de ser, disse a si mesma. Ele não parecia desaprovar nem um pouco suas ações. Na verdade, o sorriso, o rosto, a voz dele... tudo parecia gentil e compreensivo. Nem havia nada nele que sugerisse o libertino. Nenhuma expressão, nenhuma sugestão inadequada. — Então não vai... contar a ninguém? — Sobre encontrá-la caminhando? — terminou. — É claro que não. Não há nada de importante em encontrar uma jovem dama fazendo uma caminhada, há? — Não, não há. — Callie se sentiu quase tonta de alívio. — Mas, por favor, me permita acompanhá-la de volta para sua casa. — Ofereceu o braço educadamente. — Não vou para casa. Estou a caminho da casa de lady Haughston. Ele pareceu um pouco intrigado, mas para o alívio de Callie, não comentou como era estranho que ela decidisse andar até a casa de Francesca àquela hora da noite. — Então ficarei feliz em escoltá-la até a casa de lady Haughston se você me mostrar o caminho. Como pode ter adivinhado, não conheço bem Londres. — Pensei que nunca tivesse estado por aqui — admitiu Callie e lhe tomou o braço para voltar a caminhar. — Passei quase todo o meu tempo na minha propriedade quando herdei o título — contou. — E lamento dizer que estava em péssimas condições. Não tive muito tempo para... — interrompeu-se e deu de ombros. — Frivolidades? — sugeriu Callie . Ele sorriu e olhou para ela. — Não quis insinuar que uma vida passada aqui é frívola. Calhe sorriu. — Não me sinto ofendida, garanto. Na verdade, sei que grande parte dela é frívola. — Não há nada de errado com um pouco de frivolidade. Havia alguma coisa muito excitante em caminhar ao lado daquele homem. Até mesmo as palavras mais comuns pareciam pesadas com uma sensação de ousadia e excitação. Era extremamente raro para ela passar algum tempo sozinha com um homem que não fosse seu irmão. E jamais ficara sozinha com qualquer homem àquela hora da noite, numa rua escura. Callie nunca fizera nada que pudesse chocar tanto as pessoas que conhecia, no entanto, não conseguia se arrepender. Não se sentia, percebeu com um pouco de surpresa, nem um pouco assustada, culpada ou fazendo alguma coisa errada. Tudo o que havia nela era a sensação de liberdade e excitação. Como era uma mulher franca e sincera consigo mesma, também soube que suas sensações não eram devidas inteiramente à aventura de estar ali, naquele lugar e momento. Na verdade, a bolha de excitação que crescia dentro dela era causada especificamente por aquele homem. Lançou-lhe um olhar de esguelha, observando as linhas rijas do queixo, a curva angular dos malares, a leve sombra da barba no rosto assim tão tarde da noite. Havia alguma coisa rija e poderosa nele; não apenas a óbvia força física dos ombros largos e da estrutura alta, mas no ar de confiança e competência que o cercava. Sentia que, mesmo enquanto sorria e conversava, estava alerta e vigilante, os olhos cinzentos sempre procurando, os músculos tensos e preparados. Ele era, pensou Callie, o tipo de homem para quem as pessoas se voltavam naturalmente numa crise. E, ao mesmo tempo, suspeitava que também fosse um homem do tipo que não deveria ser contrariado. Ocorreu-lhe, de repente, com um leve susto, que, neste sentido, era muito parecido com o irmão. Não tão urbano e polido quanto o duque e com uma espécie de charme mais aventureiro. Mesmo assim, sabia que havia nele um núcleo duro como o de Sinclair,
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um centro sombrio, imutável e primitivo que desmentia os disfarces e as gentilezas da aristocracia britânica. Como se sentisse os olhos dela nele, Bromwell a observou, os olhos escuros e sombrios. Não sorriu nem falou, apenas olhou para ela, mas Callie sentiu uma atração intensa lhe percorrer o corpo. Desviou o olhar, temendo revelar como era físico o que surgira nela. Lorde Bromwell a perturbava, reagia a ele de uma forma como jamais se sentira sobre qualquer homem. Mas, estranhamente, a incerteza e a novidade das sensações a atraíam, não a repeliam. Queria poder saber o que Sinclair não gostava naquele homem, por que reagira com tanta intensidade ao vê-lo com ela. — Preciso lhe pedir desculpas pela maneira como meu irmão agiu — começou, olhando de novo para ele. Ele deu de ombros, aparentemente despreocupado. — É apenas natural que um irmão se preocupe com a irmã e queira protegê-la. Como também tenho uma irmã, eu compreendo. — Espero que não seja tão tirânico ao protegê-la — Callie sorriu. Ele riu. — Certamente não. Ela me tiraria o couro se tentasse lhe dizer o que fazer. E alguns anos mais velha do que eu, embora não goste de me ouvir dizer isto, e está mais acostumada a me dar ordens do que eu a ela. — O brilho desapareceu do olhar dele, e um tom de aço lhe surgiu na voz. — Mesmo assim... enfrentaria qualquer homem que tentasse feri-la. — Adoro meu irmão e minha avó, mas algumas vezes, eles podem ser um pouco sufocantes — admitiu Callie. — E é porque são sufocantes que está caminhando sozinha tão tarde da noite para a casa de lady Haughston? Callie hesitou, então saiu pela tangente. — Vou à casa de lady Haughston lhe pedir um favor. Ficou aliviada quando ele não comentou que não havia respondido à pergunta ou que era um momento muito estranho para pedir um favor. Callie estava consciente demais do fato. Tinha sido uma tolice ter saído tão impulsivamente de casa. E havia sido uma grande sorte ter encontrado lorde Bromwell, e não algum bandida — Você deve me achar muito jovem e tola. — Ela enrubesceu. — É evidente que agi sob o calor da raiva. — Não. — Ele abaixou os olhos para ela e sorriu. — Acho que é muito jovem e muito linda. — Fez uma pausa, então acrescentou, com um brilho malicioso no olhar: — E talvez dê muito trabalho aos seus parentes superprotetores. Callie riu. — Sem dúvida, eles pensam assim. Ergueu o olhar para o dele e achou terrivelmente difícil desviá-lo. Precisou de um esforço consciente para afastar os olhos e soube que havia mantido o olhar nele por um tempo longo demais. A garganta estava seca, e sua mente parecia vazia. Tentou encontrar alguma coisa para dizer, advertindo a si mesma que estava agindo como uma colegial em seu primeiro baile. — Vejo que não está usando seu chapéu... — E então gemeu em silêncio ao comentário idiota. — Não, eu me livrei dele. Descobri que não suportaria parecer tão idiota na rua. — Idiota! Não, nada disso! — brincou. — Achei seu chapéu muito elegante. Seu pulso acelerou ao perceber que estava flertando com ele de novo, como fizera antes, na festa. Ele respondeu da mesma maneira leve e brincalhona que, no entanto, tinha um calor subjacente e um significado, os olhos brilhantes presos nos dela. — Você também não trocou a roupa. — Estendeu a mão e empurrou um pouco o capuz para trás, mostrando a ponta do arranjo de cabeça que ela ainda usava. — Estou Projeto Revisoras
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contente, é uma linda peça. — Callie percebeu que haviam parado de andar e estavam muito próximos, os dedos dele se demorando na borda do capuz. — Mas estou mais contente por ter tirado a máscara. — A voz ficou rouca. — Seu rosto é lindo demais para ficar escondido, mesmo que uma pequena parte dele. Os dedos lhe roçaram muito de leve o rosto, e a respiração de Callie ficou presa na garganta. Pensou que iria beijá-la de novo, e seu coração disparou. Lembrou-se do calor que surgira entre eles, da pressão dos lábios nos dela, suaves como veludo, mas firmes e exigentes. Mas então a mão dele caiu, ele se virou e começou a andar de novo. Callie o acompanhou, o pulso disparado, os joelhos trêmulos. Perguntou-se o que ele sentira, se o desejo o percorrera naquele momento ou teria sido apenas nela. Logo chegaram à casa elegante na qual Francesca vivia, e o coração de Callie se apertou um pouco enquanto davam os últimos passos. Forçou um sorriso quando parou ao pé da escada diante da porta de Francesca. — Aqui estamos. — Estendeu a mão educadamente. — Obrigada por me acompanhar. Espero não tê-lo afastado muito do seu caminho. — Foi um prazer — garantiu o conde, tomando-Ihe a mão. Mas, em vez de se curvar sobre ela, ficou simplesmente parado olhando para o rosto de Callie. — Mas precisa me prometer não fazer nada tão perigoso de novo. Deve me mandar um bilhete, se pretender fazer outros passeios à meia-noite, e eu virei para acompanhá-la, mantê-la em segurança. — Garanto que serei mais cuidadosa no futuro, não precisarei de você. — Tem certeza? Ergueu uma sobrancelha, provocante. E então, com uma rapidez que a surpreendeu, passou o outro braço em torno dela, puxou-a para junto do corpo e abaixou a cabeça para beijá-la. O beijo de Bromwell era tudo o que ela lembrava e mais. Os dentes lhe comprimiam os lábios com torça, a língua macia se insinuava entre seus lábios. Ele tinha gosto de vinho do Porto e uma fome sombria, atraente. Callie sentiu os joelhos amolecerem e passou o braço pelo pescoço dele, ancorando-se enquanto o beijava de volta. Ele lhe soltou a mão e levou-a para as costas, onde deslizou até as nádegas. A palma envolveu a carne macia, e os dedos mergulharam nela e a ergueram para ele. Callie sentiu a rigidez do desejo dele contra sua suavidade e ficou, ao mesmo tempo, assustada e intrigada... Ainda mais quando, em reação, um calor úmido lhe tomou a região entre as pernas. Ela deixou escapar um som leve e ansioso e ouviu o gemido da resposta dele. Então ele ergueu a cabeça e a observou por um longo momento, os olhos brilhantes, uma expressão mista de surpresa e desejo no rosto. — Não — murmurou. — Acho que entendi errado... é você que é perigosa. — Respirou fundo e a soltou enquanto dava um passo para trás. — Vou lhe dizer adieu, milady. — Deu mais um passo para trás, então sorriu e avisou: — Vamos nos encontrar de novo, prometo. Então se virou e se afastou, mas Callie percebeu que parou à sombra de uma árvore, duas portas além, e se voltou para observá-la. Sentiu-se bem ao compreender que ele esperava para vê-la entrar em segurança e, ao mesmo tempo, protegia sua reputação ao não aparecer à porta junto com ela. Escondeu um sorriso, subiu a escada para a porta de Francesca e, com um suspiro profundo para se acalmar, estendeu a mão e bateu. O silêncio foi a resposta à batida e, pela primeira vez, ocorreu a Callie que Francesca podia não estar em casa. Na verdade, poderia muito bem estar ainda na festa de tia Odélia. Afinal, era evidente que lorde Bromwell estava a caminho de casa, voltando da festa. Ou, é claro, todos na casa poderiam já estar dormindo. Lembrou a si mesma de que, em algum momento alguém ouviria a batida e atenderia, mesmo se todos já estivessem na cama. O mordomo de Francesca a Projeto Revisoras
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reconheceria e a deixaria entrar, por mais estranho que achasse sua chegada àquela hora. Mesmo assim, sentiu-se aliviada quando a porta se abriu depois de alguns momentos e um lacaio levemente desarrumado apareceu. A princípio, abriu apenas uma fresta. A visão de uma jovem mulher, ele ergueu as sobrancelhas e abriu mais a porta. — Senhorita? — Parecia perplexo. — Lady Calandra Lilles — apresentou-se Callie, com sua expressão mais aristocrática. Ele pareceu duvidar um pouco, mas naquele momento, o mordomo de Francesca surgiu, usando um roupão de noite e um gorro de dormir. — Milady! — Voltou-se severamente para o lacaio: — Afaste-se, Cooper, e deixe milady entrar. — Desculpe chegar a esta hora tão tardia, Fenton — disse Callie ao mordomo enquanto entrava. — Ah, milady, nem pense numa coisa dessas — disse Fenton. — A senhora é sempre bem-vinda nesta casa. Cooper a levará ao salão amarelo enquanto aviso lady Haughston de que a senhora está aqui. Com uma reverência e um aceno severo ao lacaio, o mordomo se dirigiu apressadamente para a escadaria. Callie seguiu o lacaio para o pequeno salão no fim do corredor. Não era o mais luxuoso dos salões, mas ela sabia que era o favorito de Francesca, com janelas que se debruçavam sobre o pequeno jardim lateral e que recebia o sol da manhã. Também, devido ao tamanho, ainda estava aquecido pelo fogo que se extinguia. Callie se aproximou da lareira para aproveitar o calor ainda existente. Apenas alguns minutos depois, Francesca entrou rapidamente no salão, ainda amarrando a faixa do roupão de brocado. O longo cabelo louro descia pelas costas, e seu lindo rosto de porcelana estava marcado pelas rugas da testa franzida de preocupação. — Callie? O que aconteceu? — Dirigiu-se para Callie com as mãos estendidas: — Há algum problema? — Ah! Não! — Callie se sentiu culpada. — Desculpe... não pensei. Não tive a intenção de alarmar você. Não há nada de errado. O alívio tomou o rosto de Francesca. — Graças a Deus! Pensei... bem, não sei bem o que pensei. — O rosto enrubesceu um pouco, e ela deixou escapar uma leve risada de desprezo por si mesma. — Desculpe, deve pensar que sou uma idiota. — Ah, não. — Callie se apressou em acalmá-la. — Na verdade, fui eu que me comportei como uma idiota. Não devia ter vindo aqui a esta hora. É apenas natural presumir que há alguma coisa errada, e peço desculpas por alarmá-la. Francesca fez um leve aceno de mão, descartando o pedido de desculpas. — Venha, sente-se. Quer um chá? — Não, já dei trabalho demais aos criados. Estou bem — garantiu Callie. Ela se sentou na beirada de uma cadeira, e Francesca se acomodou na ponta de uma namoradeira diante dela, observando-a com preocupação. — Está mesmo? — O olhar de Francesca era perspicaz. — Compreendo que não há uma emergência, mas... — Olhou ao redor de maneira significativa. — Veio para cá sozinha? Callie acenou. — Sim. Sei que não é a coisa mais segura a fazer, mas apenas... não pude ficar naquela casa nem mais um momento! Francesca pareceu assustada. — Na Lilles House? Callie acenou.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – 14 – Bodas Bodas de desafio – Candace Candace Camp — Desculpe ter invadido sua casa a esta hora. Você
deve estar querendo que eu vá para o inferno. Mas não sabia quem mais poderia procurar. — Mas é claro que pode sempre vir a mim. — Francesca estendeu a mão e tomou a dela. — E não se preocupe com a hora, ainda não estava deitada. Apenas escovava o cabelo. E Fenton adora um pouco de excitação. Não me admiraria se ele entrasse em alguns minutos com chá e bolinhos. — Você é muito gentil. — Callie sorriu e acrescentou, um pouco tímida: — Sabe, sempre pensei em você como, bem, quase uma irmã. A expressão de Francesca Francesca se suavizou, suavizou, e ela apertou um pouco a mão de Callie. — Ora, obrigada, querida, estou comovida. Sinto-me assim também com relação a você. — Houve uma época — disse Callie, quase pesarosa — em que realmente achei que nos tornaríamos irmãs. Não me lembro bem do motivo exato, mas pensei assim por algumas semanas... até Sinclair me esclarecer esclarecer as coisas e, é claro, eu era muito jovem. Um silêncio recaiu sobre elas. Callie percebeu que Francesca estava intrigada, mas esperando educadamente educadamente que ela explicasse sua visita àquela hora da noite. — Sinto muito, agora que estou aqui não sei bem o que dizer. — Fez uma pausa. — O fato é que Sinclair e eu tivemos uma discussão horrível esta noite. Os olhos de Francesca se abriram. — Você e Rochford? Ora, o que aconteceu? Pensei que vocês dois se dessem muito bem. — Nós nos damos, de modo geral — concordou Callie. — Mas esta noite... Ela parou, relutante, sem querer explicar o desacordo familiar mesmo para alguém que conhecera durante toda a sua a vida. — Não precisa me contar se não quiser — garantiu Francesca com gentileza. — Podemos apenas conversar sobre... Ah, sobre a festa de lady Odélia, por exemplo. Foi um grande sucesso, não acha? — Sim, foi. — Callie sorriu para a amiga. — E você é uma anfitriã perfeita. Mas preciso lhe contar. Preciso contar a alguém e... e acho que talvez possa me ajudar, se estiver disposta. — Ora, é claro — garantiu Francesca, a curiosidade plenamente despertada. — Então apenas me conte e não se dê ao trabalho de enfeitar o assunto. Conheço seu irmão há mais tempo do que conheço você e posso jurar que nada do que me disser me chocará. — Ah, não é nada chocante — apressou-se Callie em dizer. — Na verdade, é muito comum. É apenas que nunca soube que Sinclair pudesse ser tão, bem, tão autoritário. — Ah. — Bem, pelo menos, não comigo. Foi excessivamente rude com um cavalheiro com quem dancei, um homem que até minha avó disse ser um pretendente perfeitamente aceitável. E ele me tratou... como se eu fosse uma criança! — A lembrança da raiva e da vergonha fez o rosto de Callie ruborizar e sua voz tremer. — Sei que não devia estar no terraço com ele, mas não foi culpa do conde. Na verdade, ele me ajudou a me livrar de um homem que estava sendo impertinente. Mas Rochford nem mesmo me deixou explicar, apenas me ordenou que saísse, como se eu tivesse 5 anos de idade e ele me mandasse para o meu quarto sem jantar. Eu me senti humilhada. — Tenho certeza de que sim — simpatizou Francesca. — Sem dúvida, Rochford compreenderá quando tiver tempo para se acalmar... — Ah, por favor, não fique você também do lado dele! — Não, querida, é claro que não. Sei que ele agiu de maneira abominável. Os homens quase sempre agem assim, mas certamente, quando refletir sobre o assunto, lamentará ter sido tão precipitado.
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Sinceramente, duvido muito — respondeu Callie com amargura. — Tentei conversar com ele quando chegamos a casa, mas ele continuou a se recusar a me deixar explicar. Tudo o que disse foi que agiu em meu interesse... E eu devo me contentar com isto! — Hum, muito desagradável — concordou Francesca. — Então minha avó também começou, me disse que ele estava certo e eu tinha que fazer o que ele mandava, que, até eu me casar, estarei sob o controle dele. E, é claro, também sob o controle dela. Francesca, que conhecia bem a duquesa viúva, acenou com simpatia. — Não é de admirar que você tenha ficado aborrecida. Callie deixou escapar um suspiro de alívio. — Sabia que você compreenderia! — Compreendo. E muito difícil suportar os parentes nos dizendo o que fazer. Agora que havia desabafado e recebido de imediato toda a simpatia e a compreensão de Francesca, Callie pensou perversamente que talvez tivesse parecido um pouco infantil e sorriu um pouco desconcertada para Francesca. — Desculpe, não há motivo para lhe infligir tudo isto. É apenas que... estou tão cansada de tantas regras e restrições. Minha avó ficou conosco quase todo o inverno, falou sem parar sobre minha idade e reclamou por eu ainda não estar casada. Até tia Odélia me disse esta noite que estou prestes a me tornar uma solteirona! Francesca fez uma pequena careta. — Não pode deixar que lady Pencully a convença a fazer nada. Sei que é mais fácil dizer do que fazer porque, para falar com franqueza, morro de medo de lady Odélia. Acho melhor simplesmente evitá-la sempre que puder. — Sim, mas ela não é sua tia-avó. De qualquer maneira, não me importo muito com o que ela faz. Pelo menos, não fala sem parar sobre meus deveres e minha obrigação de não falhar com a família, de não fazer nada que possa se refletir mal sobre o duque ou a família. — As famílias podem ser uma carga terrível — concordou plenamente Francesca. — Minha mãe exigiu que eu fizesse um bom casamento no meu primeiro ano em sociedade. — O que você fez? — Callie ficou realmente curiosa. Francesca deu de ombros. — Eu a desapontei. Mas lhe garanto que não foi nem a primeira nem a última vez. — Estou tão cansada de tentar agradar as outras pessoas. — Talvez esteja tentando agradar gente demais por tempo demais — sugeriu Francesca. — Talvez precise pensar mais em você. — Foi exatamente por isto que vim procurá-la! Sabia que era a pessoa certa para me ajudar. — Não compreendo. — Francesca pareceu intrigada. — Certamente eu a ajudarei, se puder, mas lamento dizer que minha opinião conta muito pouco para Rochford ou a duquesa. — Ah, não, não quero que converse com eles. Quero que você me ajude a encontrar um marido.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp
Capítulo Cinco
Francesca olhou para Callie, perplexa. — Desculpe? — Decidi me casar, e todos me garantem que você é a pessoa certa para ajudar quando se está procurando um marido. — Mas, Callie... — Francesca pareceu em dúvida. — Pensei que você estivesse aborrecida porque sua avó e lady Odélia estão tentando obrigá-la a se casar. Parece que você está apenas tentando agradá-las de novo. — Não, de verdade, não estou — afirmou Callie, ansiosa. — Compreende, não é que eu seja contra o casamento. Não sou uma destas intelectuais que preferem passar a vida sozinhas, lendo e estudando, sem se casar. E não sou independente como Irene ou tenho medo de ligar minha vida à de um homem. Quero me casar, quero ter um marido, filhos e um lar meu. Não compreende? Não quero passar o resto da minha vida como a irmã de Rochford ou como a neta da minha avó. Quero uma vida própria, e a única forma de tê-la é me casando. — Mas, certamente, se quer viver por conta própria... tem mais de 21 anos e é muito rica. — Está sugerindo que eu me estabeleça sozinha? E tenha todo o beau monde indagando o que houve entre mim e Rochford? Ou ouvir minha avó me fazer um sermão sobre minha ingratidão e meu dever com meu irmão e com ela? Não quero romper com a minha família. Quero apenas ter uma vida separada da deles, ficar livre das restrições. Mas ainda ficaria submetida a elas se montasse uma casa para mim. Teria que contratar uma companheira mais velha, de preferência uma viúva, para viver comigo e ainda seria uma jovem solteira, incapaz de ir a qualquer lugar ou fazer qualquer coisa sozinha. Você sabe como é, Francesca. Só depois que uma mulher se casa é que tem um mínimo de liberdade. Adoraria ter um vestido de baile verde, um profundo azul-real ou qualquer outra cor que não seja este branco permanente! Francesa começou a rir. — Eu me lembro desta sensação. Mas realmente não pode se casar apenas para usar azul-real! — Algumas vezes, acho que poderia. — Callie suspirou. — Mas é claro que não é apenas isto. Quero me casar. Algumas vezes, sinto que estou apenas flutuando pela vida, sem ir a lugar nenhum, somente esperando para a minha vida começar. E agora quero que comece. Francesca se debruçou, a expressão ansiosa. — Mas, minha querida, você certamente tem muitos pretendentes. Acho que precisaria apenas fazer um gesto e uma dúzia de homens estaria à sua porta, pedindo sua mão a Rochford. — Ah, não me faltam pretendentes — admitiu Callie com um suspiro. — Mas muitos deles são caçadores de fortuna. Acho que há outros homens que relutam em se aproximar de mim por causa de quem sou. Não querem ser considerados oportunistas ou acreditam que jamais os consideraria como possíveis maridos porque sua riqueza não é muito grande ou seu nome de família não é tão nobre quanto o meu. As pessoas Projeto Revisoras
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presumem, mesmo sem me conhecer, que sou orgulhosa demais, mas você sabe que não sou. — Não, você não é. — E outros têm medo de Rochford. Isto é ótimo quando o pretendente é um caçador de fortuna ou alguém insuportável, mas Sinclair é tão intimidador que amedronta também homens perfeitamente agradáveis. — O duque pode ser bem apavorante — admitiu Francesca secamente. — Essa é uma avaliação bem modesta. E, se eu reclamo, ele apenas faz sua "cara de duque"... — Callie fez uma imitação razoável de uma expressão altiva e distante — e me diz que é do meu maior interesse. Francesca não conseguiu deixar de rir. — Sim, conheço bem esta expressão. E a usa sempre que não quer ser questionado. — Exatamente. — Você... quem sabe... Tem algum homem em particular em mente? — A pergunta foi feita em tom muito delicado. — Ah, não — respondeu Callie depressa. Mas seus pensamentos se voltaram imediatamente para lorde Bromwell. Seria ele alguém com quem gostaria de se casar? Havia alguma coisa muito atraente nele, mais do que uma boa aparência ou um sorriso caloroso. Quando estava com ele, se sentia diferente... mais viva, mais feliz, como se brilhasse. Mas, é claro, sabia que seria tolice até mesmo pensar nele e em casamento na mesma frase. Ora, mal conhecia o homem e, de qualquer maneira, seu irmão claramente não gostava dele. Callie balançou a cabeça para enfatizar a negativa. Francesca lhe lançou um olhar astuto, mas não fez comentários e, quando Callie não disse mais nada, começou cuidadosamente: — Não acha que talvez deva esperar um pouco? Afinal, ainda não passou da idade de se casar. Ora, Irene e Constance se casaram com mais de 25 anos de idade, e você ainda tem 23. Não precisa se apressar para nada. O homem certo para você pode muito bem aparecer. Callie sorriu com um pouco de malícia. — Quer dizer que acha que posso me apaixonar, que algum belo estranho me fará ver estrelas, perder o chão? — De novo, seus pensamentos se dirigiram involuntariamente para o estranho que conhecera naquela noite, mas afastou-os depressa. Isso, lembrou a si mesma, não era sobre ele, de jeito nenhum. Balançou a cabeça. — Eu costumava pensar que uma coisa assim me aconteceria, quando eu tinha 17 ou 18 anos e ansiava pela minha primeira temporada. — Deu de ombros. — Mas não demorou muito, depois de começar a frequentar o ton, para eu perceber como isto era improvável. Conheci muitos bons partidos, e nenhum me abalou o coração. Ah, imaginei que acontecera com um ou dois, pelo menos, por algum tempo. Flertei um pouco e dancei com eles, ouvi seus elogios e, por uma semana ou duas, pensava ''talvez seja este homem”. Mas nun ca foi. Depois de algum tempo, comecei a perceber que isto ou aquilo estava errado com eles ou a notar um traço que me desagradava. Em pouco tempo, começava a me perguntar o que vira neles. — Seu rosto se cobriu com uma leve máscara de tristeza enquanto continuava. — Acho que talvez os membros da minha família não sejam pessoas que se apaixonam. Por exemplo, veja Rochford... ele tem sido o alvo de cada mãe casamenteira da cidade e nunca se apaixonou. — Não, suponho que não — murmurou Francesca. — E pode imaginar a duquesa se esquecendo de si mesma a ponto de mergulhar numa emoção tão plebeia? Tenho certeza de que se casou com meu avô apenas porque foi a união mais vantajosa. Projeto Revisoras
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Francesca teve que rir. — É difícil imaginar a duquesa entregue ao amor. — Algumas vezes, me pergunto se há alguma coisa que falta em nós. Mas talvez seja mais fácil ser como Sinclair e eu. Minha mãe amou profundamente meu pai e sofreu por ele até morrer. Acho que se sentiu quase feliz em morrer, para se juntar a ele. Tudo o que me lembro dela é sua tristeza. Passava os dias como um fantasma, uma concha vazia cujo coração tinha sido roubado. — Callie balançou a cabeça. — Acho que talvez seja melhor não ter um coração. — Talvez — concordou Francesca. — Mesmo assim, quando olhamos para Constance e Dominic... Um amplo sorriso tomou o rosto de Callie. — Eles são tão claramente apaixonados um pelo outro, até o ar parece mais brilhante em torno deles. Deve ser emocionante sentir isto por alguém. — Sim, deve — concordou Francesca. Callie pareceu um pouco desejosa. — Você alguma vez já se apaixonou assim? — Pensei que sim — respondeu Francesca secamente. Callie lhe lançou um olhar e enrubesceu. — Ah! Desculpe, não tive a intenção... Como pude ser tão rude e descuidada? Esqueci completamente que já foi casada. — Hum... hoje em dia eu também me esqueço disto com frequência — disse Francesca, a voz indiferente. Mas havia alguma coisa em seu rosto que disse a Callie que Francesca preferia esquecer completamente seu casamento. — Sinto muito — repetiu Callie e, debruçando-se impulsivamente, tomou a mão de Francesca. Não conhecera bem o marido da amiga, já que ele morrera no ano de sua primeira temporada e raramente ia a Redfields com Francesca quando ela visitava a família. Mas Callie tinha uma clara impressão, embora não soubesse o motivo, de que seu irmão não gostava do homem e ouvira a avó observar uma vez que Francesca tivera muitas razões para lamentar o dia em que se casara com lorde Haughston. — Não se aflija — disse Francesca a Callie e lhe apertou a mão com carinho. — De qualquer maneira, não estamos aqui para falar sobre mim, estamos conversando sobre você. Callie soltou a mão da amiga e educadamente aceitou a mudança de assunto. — Está bem. Você vai me ajudar? — É claro que sim, nem devia duvidar. Entretanto, não estou certa do que posso fazer além do que você e sua avó fariam facilmente. A duquesa conhece todos os membros do ton. E você certamente não precisa de ajuda no que se refere a estilo ou charme. — É muito gentil da sua parte dizer isto. Mas minha avó me garantiu que você tem um toque de ouro para encontrar o parceiro ideal para uma pessoa. Ora, apenas se lembre dos últimos meses. Desde a última temporada, você reuniu dois casais, e eles são muito felizes. — Acho que o fato de Constance e Irene encontrarem o amor de suas vidas se deve mais a elas e aos seus maridos do que a mim. — Francesca deixou escapar uma pequena risada. — Na verdade, tinha planejado outro homem para Constance. — Você não dá o devido valor ao seu papel na questão — disse Callie. — Sei bem que é uma especialista em todos os aspectos da sociedade, e ninguém pode me ajudar melhor do que você nesta iniciativa. Minha avó conhece muitos bons partidos, é verdade, e é muito diligente em apresentá-los a mim. Mas seus padrões não são os meus. Ela pensa apenas em riqueza, família e título, sem dar importância a questões como aparência, compatibilidade ou temperamento. Duvido que leve em consideração coisas como senso de humor num possível marido. Mas você sabe como são as pessoas, não Projeto Revisoras
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apenas seu lugar na sociedade. Ora, você percebeu logo como Irene e Gideon eram adequados um para o outro... mesmo antes de ela perceber. — Ah, mas eu não estava determinada a não perceber, como Irene estava — informou Francesca. — Mas você compreende o que estou dizendo, não compreende? Francesca acenou. — Sim, você quer encontrar um marido adequado a você, não à sua avó. — Exatamente, não à minha avó, ao meu irmão ou ao ton, apenas a mim. — Espero que não esteja confiando demais em minhas habilidades, mas certamente a ajudarei de todas as maneiras que puder. — Ótimo. — Callie sorriu. — Estou tão contente por você dizer isto porque, compreende, tenho outro, e ainda maior, favor a lhe pedir. As sobrancelhas de Francesca se ergueram numa interrogação. — Mas é claro. Precisa apenas dizer o que é. — É terrivelmente rude da minha parte, eu sei. Mas eu... seria tão bom se pudéssemos começar logo nossa procura. E preciso pedir... isto é, você seria tão gentil a ponto de... de permitir que eu fique hospedada com você? — O rosto ruborizou, e antes que Francesca pudesse falar, Callie se apressou em dizer: — Sinclair pretende voltar para a propriedade no campo quando terminar seus negócios em Londres. Mas eu gostaria de ficar aqui e começar meu projeto de imediato. Não posso ficar na Lilles House sem uma dama de companhia e, embora seja possível persuadir minha avó a ficar comigo, bem... francamente, não a quero. Não quero que fique me vigiando o tempo todo, me dizendo o que sabe sobre esse homem ou aquele, assim como não quero voltar para Marcastle e ouvir seus sermões sobre cumprir meus deveres. — Perfeitamente compreensível — replicou Francesca. — E é claro que deve ficar comigo. Será muito divertido. Podemos planejar nossa campanha, fazer compras e avaliar todos os candidatos adequados. Será bom ter um começo antes da temporada, e eu me sentirei muito feliz em tê-la comigo. Mas acha que Rochford aprovará? — Tenho certeza de que sim — Callie pareceu surpreendida. — E por que não aprovaria? Sinclair não está muito contente comigo no momento, mas não iria tão longe a ponto de me negar uma visita a você. Tenho certeza de que você é uma das poucas pessoas que ele aceita como acompanhante para mim. E minha avó não pode dizer nada depois de elogiá-la tanto comigo. — Muito inteligente. Visitarei a duquesa amanhã para lhe fazer o convite. — Obrigada! Você é muito, muito gentil! — Bobagem, vou gostar demais de ter você comigo. Na verdade, é bem enfadonho aqui até a temporada começar, e ter uma amiga comigo tornará a vida mais animada. Além disso, teremos um projeto! — Francesca sorriu. — Agora — a voz se tornou decisiva enquanto ela se levantava —, acho que é hora de dormirmos um pouco. Não quer passar a noite aqui? Enviarei um bilhete para a duquesa dizendo que você está comigo, para que eles não se preocupem. O que acha? — Deixei um bilhete para Sinclair sobre meu travesseiro, para que eles não se preocupem comigo quando acordarem e descobrirem que não estou em casa. — Callie sorriu, um pouco envergonhada. — Sem dúvida, eles se preocuparão de qualquer maneira. Não devia ter saído de casa tão impulsivamente, mas senti que poderia explodir se tivesse que ficar lá mais um minuto! — Compreendo exatamente como se sentiu — garantiu Francesca. — E foi delicado de sua parte deixar um bilhete. O que acha de eu escrever outro bilhete para ele e lhe dizer que você chegou bem à minha casa e está em segurança? — Obrigada, você é muito gentil. — Callie sorriu com um pouco de malícia. — Especialmente já que você, sem dúvida, está preparando o caminho para uma visita do meu irmão bem cedo pela manhã. Projeto Revisoras
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Francesca não se surpreendeu ao descobrir que as palavras de Callie tinham sido proféticas. Sua criada a acordou, na manhã seguinte, com a informação de que o próprio duque a esperava. — E parecendo feroz como uma tempestade de verão — acrescentou Maisie. — Fenton não ousou dizer a ele que a senhora ainda não estava recebendo visitas e o levou para o salão da frente. Mas, pela expressão dele, precisamos aprontá-la depressa ou ele subirá e baterá à sua porta. — Não se preocupe — garantiu Francesca. — O duque jamais seria tão rude, mesmo se a casa estivesse queimando. Tudo o que faria seria dizer: "Por favor, diga à sua senhora que há um ligeiro problema com fogo aqui" Maisie riu enquanto tirava do armário um simples vestido matinal e o entregou a Francesca. — Se assim diz, milady... Mas aviso que ele está parecendo muito, muito aborrecido. Francesca suspirou. Tinha a impressão de que Rochford não aprovaria a ideia de Callie de ficar com ela mesmo antes de a temporada começar. Apesar do que Callie lhe dissera, jamais sentira que Rochford a considerava uma dama de companhia adequada para sua jovem irmã. Na verdade, se alguém lhe perguntasse qual era a opinião do duque sobre ela, diria que ele a achava frívola. Rochford sempre tivera uma postura muito severa com relação ao mundo. Francesca fez sua higiene matinal e se vestiu, então permitiu que Maisie lhe escovasse o cabelo rapidamente e fizesse um coque simples. Não era sua toalete usual antes de receber visitas e odiava não se sentir com sua melhor aparência diante de Rochford, mas não podia evitar. Encontrou o duque em pé, à janela do salão da frente, olhando para a rua, as mãos cruzadas nas costas. Seu casaco azul-escuro e calça creme estavam impecáveis como sempre, suas botas muito bem engraxadas, a gravata habilmente amarrada e o cabelo preto curto e bem penteado. No entanto, a expressão que lhe mostrou quando se virou era, como Maisie dissera, severa, e os olhos escuros sob as sobrancelhas negras estavam preocupados. — Rochford. Bom dia. — Ela avançou, com a mão estendida. — Peço desculpas pela hora tão matinal, lady Francesca. — Moveu-se rigidamente em direção a ela e se curvou sobre sua mão. — Não tem importância, percebo que está... preocupado. — Ela se sentou e fez um aceno em direção ao sofá diante de sua poltrona. — Sim. — O queixo dele enrijeceu. — Espero... espero que lady Calandra esteja bem. — Ah, sim, ainda está dormindo. Pensei que seria melhor se conversássemos primeiro. Ele acenou e evitou o olhar dela. — Agradeço ter me mandado o bilhete. Teria ficado extremamente preocupado esta manhã se já não soubesse que ela estava bem e em segurança em sua casa. Francesca viu, como uma indicação do tumulto interno que o abalava, o fato de que ele, geralmente o mais urbano e o mais suave dos homens, falasse daquela maneira tão rija e desconfortável, então não pôde deixar de sentir simpatia pelo homem. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele continuou: — Foi muito gentil de sua parte recebê-la, e devo me desculpar por ela se impor assim a você. — Bobagem — disse Francesca com firmeza. — Não foi uma imposição, e Callie é sempre bem-vinda em minha casa. Fiquei muito contente por ela sentir que podia vir a mim. A expressão dele ficou ainda mais severa, se isto fosse possível. — Suponho que Callie lhe contou que ela e eu... tivemos um desentendimento. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Contou.
Ele a olhou, pareceu prestes a falar, então deixou escapar um suspiro e se recostou no sofá. — Com os diabos, Francesca! — A voz era áspera. — Acho que cometi um erro muito grave com a menina. — Sim, talvez tenha cometido. Ele entrecerrou os olhos para ela, e por um momento, a diversão lhe iluminou as feições, fazendo com que se parecesse mais consigo mesmo. — Minha cara Francesca, podia, pelo menos, fingir que não aceitava minha admissão de incompetência. Francesca riu. — Ah, mas qual seria a vantagem? — Ela se debruçou e colocou a mão levemente sobre o braço dele, numa demonstração de solidariedade. — Não se preocupe, tenho certeza de que não estragou tudo entre você e sua irmã. É evidente que Callie ama você, e ela também se sente mal por vocês estarem afastados. — Espero que tenha razão. — Havia mais fervor em sua voz do que geralmente demonstrava. — Sei que fui severo demais e lidei muito mal com as coisas, mas queria apenas protegê-la. Francesca deu de ombros. — Dom me disse que esta é simplesmente a maneira como os irmãos se comportam. De vez em quando, é muito bom, posso lhe dizer como uma irmã. Posso lhe dizer também que há momentos em que a proteção de um irmão pode causar muito aborrecimento. Callie é uma jovem muito ajuizada, você sabe, e também não é nenhuma menina na sala de estudos. Tenho certeza de que jamais faria alguma coisa idiota. — Não foi em Callie que não confiei — respondeu Rochford, a expressão sombria. — Foi no homem que estava com ela. Francesca franziu a testa. — Quem é ele para você considerá-lo tão horrível? Callie pensou que era um cavalheiro muito adequado. Ele começou a falar, olhou para ela e rapidamente desviou os olhos. — Suponho que é. Mas ele não gosta de mim, acho. — Balançou a cabeça, como se descartando todo o assunto. — Não foi nada, de verdade. Apenas, quando o vi com ela... bem, posso ter sido severo e áspero demais. Posso apenas esperar que Callie não fique com raiva de mim para sempre. — Tenho certeza de que não ficará — Francesca respondeu distraída, a mente ocupada com o fato de ele não ter dito o nome do homem. Por que Sinclair estaria relutante em revelar a identidade do homem? Tentou se lembrar de alguém que fosse conhecido como inimigo de Rochford, mas, francamente, não podia pensar em ninguém. Rochford não era o tipo de homem de quem as pessoas não gostavam. Pelo contrário, tinham mais interesse em se relacionar bem com ele. E, na verdade, não dissera que o homem era um inimigo, apenas que não gostava dele. Tudo em que pôde pensar foi que, daquela maneira tipicamente masculina e muito aborrecida, Rochford sentia que, o que quer que houvesse de errado no homem, era alguma coisa que considerava indelicado demais para os ouvidos femininos. Era fácil, pensou, perceber por que Callie havia ficado tão irritada. — Tenho uma ideia — sugeriu Francesca. — Uma coisa que pode ajudar você e Callie a... superar este pequeno obstáculo. — Verdade? — Voltou os olhos para ela com cautela. Francesca riu. — Não olhe para mim com tanta suspeita, eu imploro, não é nada terrível. Convidei Callie a ficar em Londres comigo, pelo menos, até o começo da temporada. Na verdade, também durante a temporada, se você concordar ou se não quiser voltar a Londres Projeto Revisoras
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durante esse período. Acho que Callie fica um pouco entediada em Marcastle, e a duquesa... bem... Ela se interrompeu, e Rochford não pôde deixar de sorrir. — Ah, sim, a duquesa. — Callie é uma jovem animada, e tenho certeza de que é cansativo para a duquesa precisar cuidar dela — continuou Francesca diplomaticamente. — E, embora Callie seja muito grata por tudo o que a avó tem feito por ela, sente-se um pouco presa sob o controle dela, eu acho. — Sim, eu sei, e não é de admirar. Vovó raramente encontra uma situação que não consiga piorar com seus sermões. Sei que abalou os nervos de Callie durante o inverno. Não sei por que ela decidiu passar tanto tempo conosco, em vez de tomar as águas em Bath, com seus amigos. — Parece que ela está ficando ansiosa com o fato de Callie ainda não ter se casado. Rochford gemeu. — Ela age de tal maneira que leva uma pessoa a desistir completamente do casamento apenas para aborrecê-la. — Lançou um olhar levemente desconcertado a Francesca. — Vai me achar ingrato, eu sei, por falar assim sobre ela, depois que fez tanto por Callie e por mim... recebendo-nos na casa dela quando devia estar se preparando para um repouso muito merecido na velhice. Mas ninguém consegue viver de acordo com os padrões dela. — Não espere que eu tenha pena de você, Rochford, conhece meus pais. — A voz de Francesca era leve. — Mesmo assim, por mais que saiba que a duqueza é devotada e determinada a cumprir seu dever, acho que gostaria de um pouco de descanso da tarefa de acompanhar uma jovem alegre e cheia de energia. Mas eu, por outro lado, ficaria muito contente com a companhia de Callie. A cidade é sempre enfadonha nesta época do ano, e será muito mais agradável ter alguém comigo. O duque entrecerrou os olhos enquanto a estudava. — Minha irmã pediu isto a você? Francesca riu. — Você é cheio demais de suspeitas. É claro que Callie não desgosta do plano, mas posso lhe garantir que eu aprecio muito a companhia dela. Algumas vezes, é um pouco solitário viver sozinha aqui. Ele a olhou longamente enquanto pensava. Então, um pouco para a surpresa de Francesca, ele deu de ombros, e sua expressão se tornou quase vazia. — É claro, se você e Callie querem assim, estou muito disposto a permitir que ela fique com você. Sabe, apesar do que Callie possa ter lhe contado, ela realmente não precisa da minha permissão para visitar uma amiga por algumas semanas. Afinal, tem mais de 21 anos, e eu não sou um tirano. — Tenho certeza de que não é — concordou Francesca. Então acrescentou com o encantador sorriso um pouco felino, que era uma de suas características mais marcantes: — Mas não se esqueça, conheço você há muito tempo para saber que pode ser um pouco, digamos, imperioso. — Ah, é mesmo? — Suas sobrancelhas negras e retas se ergueram. — Eu a desafio a me dar um exemplo disto. — Posso lhe dar uma centena deles — retorquiu. — Lembro-me de que, quando tinha 10 anos, cavalguei meu pônei pela entrada da sua casa e amedrontei aquele horrível pavão que costumava se exibir no gramado da frente. E você me disse que Dancy Park era propriedade sua e não admitia que eu perturbasse sua ave. — Deus do céu, tinha me esquecido do pavão. — Ele riu. — Uma coisa malditamente barulhenta. Eu realmente lhe disse isto? Estou surpreso por não tê-la aplaudido. Bem, se vai cavar tão longe para encontrar exemplos, devo lembrá-la que você era uma criança sem modos, e tenho certeza de que, se lhe disse o que devia fazer, você, sem dúvida, merecia ouvir. Projeto Revisoras
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Francesca protestou, rindo, e estavam trocando lembranças de maneira agradável, quando Callie entrou depressa no salão. Ela parou, apreciou a cena e sorriu de alívio. Quando a criada lhe levara o chá com torrada matinal e lhe dissera que o duque estava na casa, tendo chegado muito cedo, Callie temera o pior. A perspectiva de outra cena com Rochford a amedrontara, mas estava determinada a não permitir que Francesca suportasse sozinha todo o peso de seu desagrado. Então se vestiu o mais depressa possível e quase correu até o salão. Agora, olhando o quadro diante dela, disse a si mesma que devia ter se lembrado de que lady Francesca era uma especialista em transformar qualquer desastre social num triunfo. Sem dúvida, encantar um duque furioso era uma tarefa fácil para ela. — Oi, Rochford — Callie entrou no salão um pouco tímida, ainda se sentindo insegura em função da discussão da noite anterior. Ele se voltou, sorrindo para ela e se levantando do sofá. — Callie, minha querida. Um nó de angústia que apertava o peito de Callie se desfez, e ela se aproximou do irmão, com as mãos estendidas para ele. — Ah, Sinclair, desculpe por ter saído de casa ontem à noite daquele jeito. Sei que deixei você e a vovó preocupados e não devia. Ele lhe tomou as mãos e sorriu mais abertamente. — Sua avó nem sabe nada sobre o assunto. O lacaio me levou o bilhete de lady Haughston assim que o recebeu esta manhã, e eu logo soube que você estava aqui e em segurança. Mandei o lacaio dizer à sua criada que não a acordasse e fui ao seu quarto, onde peguei seu bilhete. Saí antes de a duquesa se levantar e descer para tomar o desjejum. Sem dúvida, ela ficará surpresa por você ter decidido me acompanhar numa visita tão matinal, mas... — Ele deu de ombros e olhou o vestido que Francesca lhe emprestara na noite anterior. — Assim, a menos que ache que vovó saberá que este vestido não é seu, não haverá problemas. — Um vestido matinal de musselina é muito parecido com qualquer outro — replicou Callie. — Se ela perceber, simplesmente direi que o esqueci na Lilles House na última temporada e, por isso, ela não me viu usá-lo recentemente. — Menina inteligente e atrevida. — O duque sorriu afetuosamente para ela. — Suponho que sua facilidade em inventar histórias devia me deixar nervoso, mas acho que vou preferir ignorar. Agora lady Francesca me disse que foi muito gentil e a convidou para ficar com ela até o começo da temporada, e eu respondi que sabia que você gostaria muito. — Sim, gostaria, demais. — Callie abriu um grande sorriso. — Sabe que aprecio muito Marcastle, mas... — Eu sei, eu sei, a vida no campo está começando a se tornar enfadonha. Certamente está tudo bem comigo se você ficar aqui, mas devo avisar a lady Francesca que você a arrastará para todas as lojas de Bruton Street. — Na verdade, você é injusto comigo! — objetou Callie, mas estava rindo. — Bem, é melhor pegar sua capa e sua touca, para irmos até em casa e você fazer as malas para sua visita. Sem dúvida, terá também uma lista de coisas para a governanta lhe enviar depois. — Ah, não — retorquiu Callie alegremente. — Simplesmente comprarei o que precisar. Com outro sorriso brilhante, ela se virou, saiu do salão e subiu alegremente a escadaria. Rochford se voltou de novo para Francesca. — Não diga que não a avisei. — Acho que sou capaz de me cuidar quando se trata de fazer compras — respondeu Francesca sorrindo.
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tem sua mesada e pode também tirar mais dinheiro para roupas e coisas assim. Mas é claro que vou dizer ao meu homem de negócios para lhe fornecer uma quantia adequada para cobrir as despesas da casa. Francesca enrijeceu. Podia sentir o calor lhe subindo ao rosto. Seria possível que Rochford suspeitasse de suas dificuldades financeiras? Teria adivinhado como lorde Haughston a deixara perigosamente perto da pobreza quando morrera, cinco anos antes? Como ainda estava na mesma situação, conseguindo sobreviver com os "presentes" que recebia de pais agradecidos por guiar suas filhas pelos caminhos perigosos da temporada? — Bobagem — disse friamente. — Não vou permitir que uma convidada pague por sua estada. O que quer dizer com isto? Rochford se esticou em toda a sua altura, que era considerável, e abaixou o olhar para ela com uma expressão de altivez gelada... Tão exatamente a "cara de duque" que Callie imitara na noite anterior que Francesca quase riu apesar de seu constrangimento. — Minha cara lady Haughston — ele falou como se não a conhecesse desde que ela era um bebê —, acredita honestamente que tenho maneiras tão ruins a ponto de jogar minha irmã sobre você... e não precisa protestar porque sei muito bem que foi Callie que lhe pediu para recebê-la, e não o contrário... e espere que você a abrigue e a alimente, tudo à sua custa? — É claro que eu não... — começou Francesca, então parou. — Quero dizer... — Como era possível que Rochford sempre conseguisse fazer uma pessoa se sentir errada, não importava o quanto estava convencida de que estava certa? Seu olhar firme e orgulhoso a fez querer se contorcer e se virar, e não pôde deixar de se perguntar se realmente o ofendera. — Então tudo bem — disse o duque, com um aceno de cabeça. — Está tudo combinado. — Mas... — Vou mandar meu homem de negócios fazer os arranjos apropriados com seu mordomo — concluiu. — Agora preciso me despedir. Ele passou o curto período de tempo até Callie descer, agradecendo a Francesca, de novo, por receber a irmã, pedindo desculpas pela visita tão matinal e, em geral, mantendo um fluxo constante de delicadezas sociais. Então, com uma reverência graciosa, saiu da casa com a irmã e deixou Francesca imaginando exatamente qual deles fora mais esperto do que o outro.
Capítulo Seis
Sua volta a Lilles House não foi tão ruim quanto Callie havia esperado. O duque não abordou de novo o incidente que havia dado origem a tudo, e ela também ficou feliz em falar de outras coisas. E já que Sinclair havia gentil e inteligentemente escondido da duquesa que ela não havia dormido em seu quarto na noite anterior, não precisou suportar um longo sermão da avó. A duquesa ficou um pouco surpresa ao saber que eles haviam feito uma visita tão matinal a lady Haughston e ainda mais quando soube que Francesca havia convidado Projeto Revisoras
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Callie a ficar com ela. Afirmou que não podia imaginar por que Callie preferiria ficar em Londres nos meses vazios antes do começo da temporada e não queria voltar para Marcastle. Mas seu protesto foi apenas superficial, e Callie teve certeza de ver um brilho de alívio nos olhos da duquesa. No fim do dia, a avó já estava pensando em ir para Bath, para visitar os amigos nos poucos meses seguintes, em vez de voltar para Marcastle com Rochford. Foi muito fácil supervisionar a arrumação das malas, já que Callie levaria essencialmente o que trouxera, além de algumas das roupas que já estavam na casa. Havia algumas coisas que gostaria de mandar buscar no campo, como o irmão previra, assim precisou escrever uma lista para ele entregar à governanta de Marcastle. Mas tudo levou pouco tempo e precisou de pouco esforço. E Callie foi capaz de se despedir da avó e do irmão no fim da tarde e partir para a casa de Francesca. Sinclair a acompanhou, como ela soubera que ele faria, mas não se demorou. Apenas cumprimentou Francesca, despediu-se de Callie e se afastou com o mordomo de Francesca para uma conversa breve que pareceu deixar os dois muito satisfeitos. Callie e Francesca passaram o resto da tarde e o começo da noite sentadas muito confortavelmente na pequena sala de estar, onde fizeram planos para as semanas seguintes. Concordaram que a primeira e fundamental providência seria sair para comprar roupas. Afinal, mulher nenhuma podia começar uma temporada com vestidos do ano anterior e, se começariam a temporada mais cedo, era evidente que deviam ter roupas novas mais cedo. Assim, na primeira manhã da visita de Callie, saíram em direção à Bruton Street e à Conduit Street, onde se localizavam as melhores modistas e chapeleiras, e só voltaram no fim da tarde, ambas cansadas e geladas pelo clima frio do dia, mas completamente satisfeitas. — Acho que visitamos todas as chapeleiras da cidade — comentou Callie com um suspiro, enquanto pegava a chávena de chá que o eficiente mordomo de Francesca levara para elas apenas alguns momentos depois de sua volta. — Se não visitamos, logo visitaremos — prometeu Francesca. — Ainda não encontrei exatamente o que quero para as tardes de verão. Mas acho que fizemos um ótimo trabalho com os vestidos. — Sim, mas queria usar alguma coisa diferente de branco — reclamou Callie. — Adoraria ter um vestido verde de baile... ou até mesmo um em rosa mais claro. Francesca riu. — Apenas se sinta contente por ficar tão bem de branco, com este glorioso cabelo negro e pele de pêssego com creme. Pense em como é horrível para as louras. Nós ficamos positivamente insípidas de branco. Callie sorriu para Francesca. — Tenho certeza de que você jamais ficou insípida em qualquer vestido. Todos sabem que é a rainha da beleza de Londres desde que debutou. — Obrigada, minha querida. E adorável ouvir isto, embora tenha a certeza de que não é verdade. De qualquer maneira, acho que aqueles enfeites azuis em seu vestido de baile de cetim compensaram o fato de ser branco. — Tem toda razão. — Callie pensou no desenho que escolhera para o brilhante vestido de cetim branco. Uma saia sobre um apanhado de tule branco com gomos, cada ponto alto enfeitado com uma roseta do mais suave azul-bebê e com uma faixa de cetim azul em torno da cintura alta, além de fitas azuis terminando as pequenas mangas bufantes do corpete. — E a renda e as pérolas no outro vestido de baile também são adoráveis. Além disso, não devia reclamar de nada quando faço compras com você, é tão melhor do que com minha avó. Ela sempre insiste em mandar levantar os decotes. — Ah, céus. — Francesca fez um biquinho de aflição. — Vou ter problemas com a duquesa? Não achei que nenhum dos vestidos fosse decotado demais. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Não
são — garantiu Callie. — Todo mundo, mesmo a mais jovem das meninas, em sua primeira temporada, mostra mais o colo do que minha avó me permite. Não posso imaginar o motivo. Quando ela era jovem, os vestidos tinham decotes muito mais ousados. Mas mesmo ela não ousaria dizer nada sobre um vestido que você aprovou. Sempre me disse que você tem o melhor senso de estilo entre todas as mulheres do ton. — Este é um elogio para guardar como um tesouro. Todos sabem que a duquesa de Rochford é o epítome da elegância. As duas mulheres passaram mais alguns minutos discutindo alegremente seus acessórios e contentes com as barganhas feitas com fitas, botões, enfeites e xales quase tanto quanto as pelicas e vestidos das mais caras modistas. Fenton levou uma bandeja de bolinhos, sanduíches e chá, e elas comeram tudo com enorme prazer. Finalmente, ao chegarem ao fim da refeição e da conversa, Francesca deixou a chávena sobre uma das mesinhas. — Agora, se você estiver cansada e não quiser, precisa apenas me dizer, mas pensei que poderíamos começar nosso pequeno projeto esta noite, indo ao teatro. — Ah, não, estou totalmente recuperada. — Os olhos escuros de Callie brilharam de interesse. — O programa me parece ótimo. — Então está bem, vou mandar um bilhete para Sir Lucien. Sempre posso contar com ele para me escoltar — disse Francesca e se levantou da poltrona para se sentar à pequena escrivaninha ao lado da janela, onde começou a escrever ao amigo. — Pensei que isto nos dará a oportunidade de fazer um pouco de reconhecimento do terreno, descobrir quais homens solteiros estão na cidade e quem vale a pena conhecer. E, é claro, precisamos decidir quais as características que um futuro marido seu deve ter. — Na verdade, não sou exigente — informou Callie. — Ele não precisa ser rico ou pertencer às famílias mais aristocráticas. Minha avó está sempre me dizendo que sou igualitária demais. — Suspirou. — Embora ache que uma fortuna razoável e um bom nome sejam necessários para eu ter a certeza de que não está se casando com meu dinheiro e minha família... — E a aparência? — Não é tão importante também, embora fosse bom ele não ser feio demais. Não precisa ser bonito... Mas gosto de um rosto forte e olhos inteligentes. — A imagem de olhos cinzentos lhe surgiu na mente. Nunca tinha percebido, pensou Callie , até conhecêlo, que o rosto do conde de Bromwell era exatamente o tipo de rosto masculino que a atraía. Mas é claro, lembrou a si mesma que não era tão tola a ponto de escolher um marido com base em sua aparência. — Precisa ser fácil conversar com ele — continuou Callie com firmeza. — E é essencial que tenha senso de humor. Não suportaria um marido que fosse sempre sério e não quero um acadêmico. Muitos dos amigos de Rochford me entediam, pelo modo como falam e sobre o que falam, como história, ciências e outras coisas. — Lançou um olhar divertido a Francesca e riu. — Devo lhe parecer muito vazia. — De jeito nenhum, tenho certeza de que os amigos acadêmicos de Rochford teriam o mesmo efeito sobre mim. — Francesca soprou o bilhete para secar a tinta, dobrou-o e o selou. — Mas também não quero um ignorante — lembrou Callie. — Quero dizer, Rochford não é tedioso até se cercar daqueles homens com quem se corresponde, cientistas e historiadores e coisas assim. Mas não gostaria de alguém que não soubesse dar uma resposta inteligente ou não pudesse compreender o que Sinclair diz. — Fez uma pausa. — Ah, céus, estou começando a achar que tenho muito mais exigências do que pensava. — E deve mesmo. Você é, minha querida, um prêmio no mercado casamenteiro. Será necessário um homem muito especial para ganhá-l a. Além disso, agora é muito mais fácil elaborar uma lista de pretendentes adequados. Ora, ao simplesmente eliminar todos os ignorantes, vamos deixar de fora um grande número de homens do ton. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Você é malvada — riu Callie. — Apenas digo a verdade. — Francesca se levantou da escrivaninha e tocou a campainha para chamar um criado — Pronto, convidei Sir Lucien para jantar conosco
antes do teatro. Embora Sir Lucien fosse um grande amigo e um acompanhante fiel, Francesca sabia que era sempre melhor garantir sua presença com um convite para jantar. Solteirão convicto e um homem de estilo e gosto impecáveis, os bolsos de Sir Lucien estavam geralmente vazios... em parte, devido à insignificância de seus rendimentos e ainda mais ao fato de que gastava a maior parte desses rendimentos em roupas e nos pequenos aposentos que ocupava na parte mais elegante da cidade. Assim, estava acostumado a jantar fora com frequência, usando seus dotes básicos de boa aparência e bom gosto para manter uma corrente constante de convites de numerosas anfitriãs. Depois de enviado o convite, as duas subiram para seus quartos, para se preparar para a noite diante delas. Afinal, o objetivo de qualquer membro da sociedade, ao passar uma noite no teatro, não era assistir a uma peça, mas ter a oportunidade de ver e ser visto. E, no caso, era necessário estar com a melhor aparência, tão boa quanto a que precisava ter para um baile. Um pequeno cochilo com os olhos cobertos por um lenço ensopado com lavanda foi o suficiente para descansar Callie e restaurar-lhe a bela aparência. Depois ela tomou um banho e se vestiu com a ajuda de sua criada Belinda. Escolheu seu vestido de noite favorito, enfeitado na barra e no decote com debrum branco. Gostaria de poder usar as sandálias de veludo de um verde-escuro que ordenara naquela tarde, mas, é claro, ainda não estavam prontas. Assim teve que se contentar com um par de sandálias de brocado. A única joia que usou foi um colar curto de pérolas, com brincos combinando. Um leque elegante e luvas longas completariam a toalete. Callie se sentou diante da penteadeira, e a criada lhe penteou o cabelo, erguendo-o num coque no alto e deixando diversas mechas caírem, formando cachos longos e cuidadosamente arrumados. A criada deixou as mechas mais curtas formarem cachos naturais, para emoldurarem as feições delicadas. Callie sabia que Belinda se esforçara para fazer um penteado atraente por causa da criada de Francesca, Maisie, que era considerada uma artista. Callie lhe agradeceu, sorrindo, então desceu para se reunir a Francesca. Encontrou Sir Lucien sentado com sua anfitriã, conversando enquanto desfrutavam de um cálice de xerez antes do jantar. Sir Lucien se levantou imediatamente quando Callie entrou no salão e fez uma reverência graciosa. — Lady Calandra! Não pode imaginar minha alegria por me ser permitido escoltar duas damas tão adoráveis ao teatro. Os deuses realmente sorriram para mim. — Sir Lucien. — Callie sorriu calorosamente para o homem. Sir Lucien era urbano, espirituoso e bonito, o perfeito acompanhante... E Callie suspeitava, mais interessado nas roupas das mulheres do que na mulher dentro delas. É claro, ninguém falava daquelas coisas diante de uma jovem solteira, mas não demorara muito para Callie perceber que os flertes e os elogios de Sir Lucien eram mais um jogo agradável para ele do que qualquer coisa em que houvesse sentimentos reais. Embora ele apreciasse muito a beleza em qualquer forma, fosse um rosto, um corpo ou o corte de um vestido, jamais vira, nos olhos dele, o brilho do calor que surgia nos olhos de alguns homens quando a fitavam. Por exemplo, nos de lorde Bromwell... Houvera uma intensidade em seu olhar, um calor palpável que emanava de seu corpo quando ele a tomara nos braços e a beijara. — Estou tão contente por ter vindo — disse Callie a Sir Lucien, afastando determinadamente seus pensamentos ingovernáveis de lorde Bromwell. — Mas temo que nosso ganho tenha sido à custa da perda de alguma pobre anf itriã. Sir Lucien deu de ombros de maneira graciosa.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Estava
planejando ir ao sarau musical da senhora Doddington esta noite e posso apenas lhes agradecer por me salvar disto. A mulher sempre tem excelentes canapés e bebidas... O pobre Lethingham vem tentando lhe roubar o cozinheiro há anos. Mas seu gosto em matéria de música é execrável e sempre insiste que suas filhas participem, o que é mais do que as pessoas podem suportar, para dizer a verdade. Ele manteve este tipo de conversa leve e agradável durante todo o jantar. Era, afinal, um dos motivos por que jamais lhe faltavam convites. Era capaz de impedir que qualquer jantar ou festa se tornasse insuportavelmente enfadonho. Para Callie, depois de meses tranquilos demais em Marcastle, foi uma bem-vinda e informativa reintrodução na cena da sociedade de Londres. Sir Lucien sabia dos mexericos mais recentes sobre todo mundo e de tudo o que havia acontecido no beau monde... que cavalheiro estava prestes a fugir do país para evitar a prisão dos devedores, qual a dama tivera um bebê que não se parecia em nada com o marido e qual filho de uma casa nobre havia desafiado alguém para um duelo por causa de um jogo de cartas. Não fez perguntas sobre a volta antecipada de Callie à cidade. Na opinião de Sir Lucien, qualquer pessoa que não fosse insana aceitaria, sem um segundo de hesitação, a oportunidade de trocar qualquer propriedade bucólica, não importava o quanto fosse aristocrática e rica, por uma estada em Londres. Mas, mais tarde, quando já estavam instalados no camarote do teatro e Callie e Francesca haviam começado a discutir as possibilidades na audiência, Sir Lucien ficou curioso e se debruçou em direção a Callie, para olhá-la nos olhos. — Minha cara menina, a menos que meus ouvidos me enganem, você parece... seria possível... avaliar os cavalheiros aqui como material para casamento? Callie enrubesceu um pouco, mas Francesca respondeu com atrevimento: — Mas é claro, Lucien... o que mais as damas de Londres fazem? Cada temporada é um novo mercado. — Mas lady Calandra? — Ergueu as sobrancelhas. — Decidiu partir o coração de metade dos homens de Londres e se acomodar no casamento? — Duvido que este seja um acontecimento tão trágico. — Callie sorriu de leve. — Mas, sim, estou pensando no assunto. — Já tem algum homem de sorte em mente? Ou esta temporada será um torneio aberto para a sua mão? — Lucien...— advertiu Francesca. — Espero que não esteja pensando em espalhar esta notícia. Neste caso, teremos todos os aventureiros da cidade à nossa porta. — Minha querida Francesca! — O homem colocou uma das mãos sobre o coração e assumiu uma expressão de imenso desgosto. — Como pode me acusar desta maneira? É claro que não divulgarei uma só palavra se você e lady Calandra não quiserem. Além disso — um sorriso malicioso lhe iluminou o rosto —, será muito mais divertido observar o desenrolar dos acontecimentos. — Virou-se e, erguendo o pincenez que estava pendurado numa fita negra de seda presa à lapela, observou a audiência. — Vamos ver... Em quem estão pensando? Bertram Westin? Ele é diabolicamente bonito, mas soube que gosta muito de jogo. — Não, jamais gostei do homem — replicou Callie, enquanto lançava um olhar ao redor. Estivera fazendo isto disfarçadamente desde que haviam chegado. Esperava não dar a impressão de que procurava por alguém em particular, embora, se fosse honesta consigo mesma, precisaria admitir que não acharia desagradável ver lorde Bromwell. Não que o estivesse considerando um possível candidato ao casamento. Mesmo assim, não conseguira tirar o homem da mente nos últimos dias e lhe era impossível não observar a multidão de vez em quando para ver se ele havia entrado no teatro. — Lá estão lorde e lady Farrington — disse Francesca, erguendo o leque para falar atrás dele. — O terceiro camarote a partir do palco diante de nós. Seu filho mais velho vai
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herdar uma fortuna. — Franziu a testa. — Mas ele é raramente visto na sociedade e me pergunto o motivo. — Ouvi dizer que é tímido — informou Sir Luden. — E que prefere relacionamentos de natureza mais, digamos, comercial. É mais fácil do que enfrentar uma fila de jovens damas, compreendem? — Ah, céus — exclamou Francesca. — Bem, suponho que teremos que riscar seu nome da lista. — Que tal Sir Alastair Surton? — Sir Lucien parou o pincenez sobre um homem na plateia abaixo deles. Callie deixou escapar um gemido. — Ele fala sem parar em seus cavalos e cachorros e apenas nisto. Gosto de cavalgar tanto quanto qualquer um, mas prefiro conversar sobre outros assuntos. — Verdade — concordou Sir Lucien. — Ele é muito tedioso. Temo que a seleção seja pequena até o começo da temporada. — Estamos fazendo apenas uma avaliação preliminar, um reconhecimento. Não é assim que vocês a chamam? — Eu não, é militar demais para o meu gosto — observou Sir Lucien. Francesca estendeu a mão e lhe deu uma palmadinha no ombro com o leque fechado. — Sabe, lady Calandra — a voz de Sir Lucien era seca -, não precisa procurar muito longe para encontrar um marido perfeito. Está sentado bem aqui neste camarote. — Está se oferecendo como candidato? — Francesca ergueu uma sobrancelha, incrédula. — Todos sabem que você é um solteirão convicto. — Talvez eu apenas ainda não tenha encontrado o incentivo certo — protestou Sir Lucien, o brilho de diversão nos olhos desmentindo suas palavras. — Precisam admitir, senhoras, que seria difícil encontrarem um homem mais agradável ou divertido do que eu. E sou um dançarino maravilhoso. — Isto é verdade — concordou Callie, sorrindo. — E quem é o melhor para conversar com todas as parentas velhas e tediosas? — Ninguém — admitiu Francesca. — E — acrescentou, triunfante — sempre terá alguém para aconselhá-la sobre seus vestidos de baile. — O que mais uma mulher poderia pedir? — perguntou Callie. — O único problema é que você teria que se casar, Lucien — lembrou Francesca. — Isto é uma enorme desvantagem — concedeu Sir Lucien, então dirigiu um sorriso brilhante a Callie . — Mas, no caso de alguém tão linda quanto lady Calandra, certamente o sacrifício valeria a pena. Callie riu. — Cuidado, Sir Lucien, um dia alguém vai levar a sério uma de suas brincadeiras e então o que vai fazer? Ele lançou a ela um olhar sorridente. — Há sempre uma viagem para o continente. Ainda com um sorriso nos lábios, Callie se virou para olhar para a plateia de novo. Seu olhar foi atraído pelo movimento de uma porta que se abria num dos camarotes em frente, e dois homens entraram, conversando. Um deles era o conde de Bromwell. O coração de Callie disparou, e ela desviou rapidamente os olhos. Manteve o rosto virado com determinação e deixou que algum tempo se passasse antes de fazer outra lenta observação do teatro. Era, realmente, o seu Cavalier da outra noite, vestido mais sobriamente com roupas de noite, casaco e calça negros, camisa e gravata muito brancas e engomadas entre as lapelas do casaco. Havia tirado o sobretudo e agora se sentava numa das cadeiras, o outro homem ao lado. Seu braço descansava na balaustrada do camarote e estava meio de lado, olhando para o companheiro. Projeto Revisoras
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Callie não conseguiu ver sua expressão, mas se lembrava muito bem de como ele era: o sorriso que começava com pequenas rugas em torno dos olhos e se estendia aos lábios, o cinza dos olhos que se transformava em prata ou escurecia para se parecer com uma nuvem de tempestade, dependendo da emoção que lhe cobria o rosto. Callie se virou para os amigos. — Quem são aqueles cavalheiros no camarote à frente, à nossa direita... quase no meio do teatro? Um deles tem cabelo escuro e o outro é quase louro. Francesca se virou para observar os camarotes em frente. — O camarote ao lado do de lady Whittington e sua filha? Callie se virou para verificar, e desta vez, encontrou lorde Bromwell e seu companheiro olhando diretamente para seu camarote. A cor lhe cobriu o rosto. O conde sorriu de leve e fez um aceno de cabeça para ela. — Sim. — A voz de Callie era constrangida, e ela desviou rapidamente o olhar para as próprias mãos. — Você o conhece? — Francesca pareceu atônita. — Não exatamente. Eu... ele estava na festa de lady Pencully. — E quem não estava? — perguntou retoricamente Sir Lucien, enquanto também voltava o olhar para os dois homens. — Não reconheço o moreno, mas o outro é Archibald Tilford. — Olhou de novo para Callie. — Ele não é alguém que você deva considerar. Um homem agradável, mas vive de uma mesada que seu primo lhe dá... Espere. — Sir Lucien fez uma pausa, a testa um pouco franzida enquanto se virava e olhava de novo para o camarote. — Sim, aquele pode ser o primo dele, o conde de Bromwell. Se for, ele seria definitivamente um excelente candidato. Eu o conheci há alguns anos, mas só o encontrei uma vez. Sim, aquele pode ser ele. — O conde de Bromwell... — Francesca pareceu considerar o homem. — Não acho... Ah. — Ela se enrijeceu um pouco. — Você quer dizer, o irmão de lady Swithington? Sir Lucien acenou. — Ele raramente vem a Londres. Viveu em sua propriedade no Norte, em Yorkshire, desde que herdou o título... ahn, há, bem, dez anos. Não muito depois de eu deixar Oxford. O velho conde tinha gastado quase toda a sua fortuna quando morreu, mas dizem que o filho a recuperou. Melhor do que isto, na verdade, soube que o homem está positivamente nadando em dinheiro agora. — E como ele fez todo este dinheiro? — perguntou Callie. Sir Lucien lhe lançou um olhar divertido. — Minha cara, não tenho a menor ideia, mas sei que a família não gosta de falar no assunto. Um cheirinho de comércio, você sabe. — Não posso imaginar por que as pessoas sentem que precisam esconder o f ato de que alguém consegue enriquecer. Sinclair sempre diz que não vê motivo para a fidalguia incluir a pobreza. — Sinto dizer que, para alguns, a fidalguia é o único atributo — explicou Sir Lucien. — E, infelizmente, um que não tem um bom valor de mercado — acrescentou Francesca secamente. Francesca continuou a estudar o homem no camarote em frente. Ele e o companheiro não olhavam mais na direção do dela, estavam de novo conversando. De vez em quando, o conde olhava para a plateia abaixo. Finalmente, Francesca disse, com a voz cautelosa: — Callie, quer acrescentá-lo à sua lista de prováveis candidatos? Callie deu de ombros, fazendo o melhor que podia para parecer despreocupada, como se seu estômago não desse saltos mortais sempre que ele olhava para ela. — Eu... na noite da festa, ele me pareceu... agradável.
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Observou Francesca. Havia, no olhar da amiga, uma expressão de... não estava muito certa do quê. Inquietação, talvez? Francesca olhou para Sir Lucien, então para as próprias mãos. — O que é? Sabe alguma coisa sobre este homem? — Callie franziu a testa. — Há alguma mancha em seu passado? — Não, na verdade, não sei nada sobre ele — garantiu Francesca, se mexendo um pouco na cadeira. Callie entrecerrou os olhos, estudando-a, e Francesca continuou: — Conheço a irmã dele... superficialmente. — E sabe alguma coisa ruim sobre ela? — Eu... realmente não a conheço bem — gaguejou Francesca. — Eu... ela viveu os últimos anos em Gales, acho, na propriedade do marido idoso. No entanto, soube que ele morreu recentemente e agora ela é viúva. Sem dúvida, voltará logo para Londres, para encontrar outro marido rico. Callie reconheceu um traço claro de veneno na voz de Francesca e se perguntou o motivo. Não era característico de Francesca demonstrar aquele tipo de emoção negativa. Normalmente, descartava algum comentário malicioso feito perto dela ou disfarçava os próprios comentários mais maldosos ao adotar uma atitude leve e espirituosa. Mas era evidente que não gostava da irmã do conde. Callie gostaria de descobrir mais, mas era claro que Francesca não queria continuar a falar do assunto. — Ah, vejam, a peça vai começar — avisou Francesca e se virou em direção ao palco com uma expressão de alívio. Callie também se preparou para assistir à peça e disse a si mesma que abordaria mais tarde o assunto da irmã do conde, durante o intervalo, quando Sir Lucien certamente deixaria o camarote para buscar bebidas para todos. A peça não era muito excitante, e Callie precisou se esforçar para manter a atenção no palco. Estava consciente de um impulso forte e constante de olhar para o camarote do conde, mas não se permitiu fazer isto. Não seria nada bom deixá-lo perceber que estava interessada nele. Mas não conseguiu controlar a mente, que ia para onde queria... e o que ela queria era sempre se voltar para o homem. Por que seu irmão fazia objeções a ele? Francesca e Sir Lucien, dois dos principais líderes do ton, nem mesmo o haviam reconhecido e sabiam, muito mais do que Sinclair, de todos os rumores. O conde não podia ser um libertino conhecido, o que tinha sido o temor de Callie depois do modo como Sinclair reagira ao fato de ele estar sozinho com ela no terraço na noite da festa. Se o conde fosse um homem acostumado a seduzir donzelas, Callie tinha certeza de que Sir Lucien saberia, mesmo se Francesca não soubesse, o que seria praticamente impossível. Callie também tinha certeza de que Sir Lucien encontraria uma forma delicada de adverti-la contra o homem e tentaria afastá-la dele. Assim, se não havia escândalos ligados ao nome dele, por que Sinclair não gostava do conde? Era evidente que o irmão conhecia lorde Bromwell. Mas, de acordo com Sir Lucien, o conde passava praticamente todo o tempo em suas propriedades em Yorkshire, portanto Callie não tinha ideia de como Sinclair até mesmo o conhecia. Que Callie soubesse, o duque não tinha terras em Yorkshire e certamente nunca fora lá com ele. Talvez, em algum momento, Sinclair tivesse feito negócios com ele. Ao contrário de muitos nobres, Sinclair não apenas tinha uma participação ativa na administração de suas muitas terras como também sabia como investir seu dinheiro... além da própria e menor fortuna de Callie. Supunha que Sinclair poderia ter considerado que o conde havia agido de forma eticamente errada nos negócios. Callie tinha certeza de que Sinclair não faria objeções ao homem simplesmente porque estava envolvido em fazer dinheiro, embora muitos membros da aristocracia considerassem aquele um comportamento grosseiro e abaixo de sua dignidade. Projeto Revisoras
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Ou, pensou Callie, talvez Sinclair tivesse apenas reagido com excesso diante da situação. Ele se importava com seu bem-estar. Estivera procurando por ela. E, quando a encontrara sozinha no terraço com um homem, talvez tivesse ficado tão alarmado que simplesmente concluíra que ele devia ser um canalha, embora não o conhecesse. Isto, pensou, seria o mais provável. Se Sinclair tivesse chegado a uma conclusão errada, certamente perceberia que havia agido de forma impulsiva e, quando avaliasse melhor a situação, com certeza, perceberia que agira de maneira apressada, injusta e sem conhecimento real do homem. E, como Sinclair era um homem justo, admitiria que estivera errado ao julgar o homem tão depressa e com tão poucas provas. Quando era possível fazê-lo compreender que cometera um erro, Sinclair sempre o admitia e pedia desculpas. Certamente seria o caso com o conde de Bromwell. Br omwell. Por outro lado, Callie não podia esquecer que Sinclair o havia chamado pelo nome. E isto significava, é claro, que ele realmente o conhecia, mesmo se Francesca e Sir Lucien não o conhecessem. Parecia-lhe que o conde também havia reconhecido Sinclair. Ainda estava pensando no problema quando as luzes do teatro acenderam e a audiência começou a se mexer e a se levantar. Sir Lucien se ofereceu para ir ao lobby, buscar taças de ratafia para as duas mulheres. Assim que ele saiu, Callie se virou para Francesca, determinada a descobrir mais sobre a irmã de Bromwell, mas Francesca mal terminara de fazer um comentário sobre a peça quando houve uma batida na porta. Callie reprimiu a irritação quando Francesca respondeu à batida com um convite educado para que a pessoa entrasse. Era um costume generalizado fazer visitas aos camarotes durante o intervalo de uma peça ou ópera. Callie tinha esperado conseguir trocar algumas palavras com Francesca antes que os visitantes começassem a chegar, mas obviamente não era este o caso. Como Francesca, ela se virou em direção à porta com um sorriso de boas-vindas. A porta se abriu para mostrar o homem louro que Sir Lucien havia identificado como o senhor Tilford. E, ao lado dele, estava o conde de Bromwell.
Capítulo Sete
A mão de Callie se fechou no cabo do leque, e seu pulso disparou, tumultuado, mas ela conseguiu, como ordenou a si mesma, manter uma máscara de interesse frio e polido. — Lady Haughston — começou o jovem, de forma um pouco tímida. — Espero que não me ache presunçoso demais. Nós nos conhecemos na festa de lady Billingsley, na última temporada. Sou Archibald Tilford. Como Francesca não soubera a identidade do homem, Callie teve certeza de que ela não se lembrava do encontro, mas ele parecia tão nervoso e inseguro que Francesca ficou com pena dele e sorriu graciosamente para o cavalheiro. — É claro, senhor Tilford. Por favor, entre. — Obrigado, é muito gentil — disse Tilford depressa, parecendo aliviado, e ele e o acompanhante entraram no camarote.
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Callie percebeu que o camarote, que até então considerara bem espaçoso, agora parecia muito apertado. Não havia para onde olhar a não ser para o homem que havia ocupado tanto sua mente nos últimos dois dias. Callie havia imaginado que talvez a fantasia de Cavalier tivesse feito lorde Bromwell parecer mais atraente, mais ousado do que realmente era. Na verdade, pensou enquanto o observava agora, Bromwell era ainda mais bonito nas roupas simples do cotidiano. Seu corpo longo e esbelto, mas de ombros largos, não precisava das almofadas do gibão, e a calça apertada que estava na moda enfatizava a forte musculatura das pernas. Não havia necessidade da espora dourada ou da espada para aumentar a aura masculina que o cercava. — Lady Haughston, por favor, permita que lhe apresente meu primo Richard, conde de Bromwell — continuou o senhor Tilford. — Como vai? — Francesca cumprimentou educadamente o conde e lhe ofereceu a mão. Ela e Callie haviam se levantado e se virado quando os dois homens entraram no camarote. Agora Francesca fez um gesto em direção a Callie e a apresentou: — Lady Calandra Lilles. Havia um brilho de diversão nos olhos de Bromwell quando ele se virou para Callie e fez uma reverência respeitável. — Lady Calandra e eu já nos conhecemos... se você se lembra, milady. — Mas é claro — replicou Callie, satisfeita por sua voz parecer relaxada e natural. — Como seria possível esquecer o baile de máscaras de lady Pencully? — Ah, então devo ser desculpada por não reconhecê-lo, lorde Bromwell — comentou Francesca. — Já que todos estávamos disfarçados. — Mas algumas pessoas são memoráveis mesmo disfarçadas — disse o conde suavemente. — Como a senhora, lady Haughston... uma linda pastora, se me lembro corretamente. — Na verdade, senhor, era. — E lady Calandra como Katherine Parr, embora ela seja muito mais jovem do que aquela dama quando ela foi rainha. — Era esta quem você era? — perguntou Francesca, virando-se para Callie. — E eu que presumi que você devia ser Anne Boleyn... — Apenas uma dama Tudor, realmente — explicou Callie . — Foi tudo o que pretendi ser. Foi lorde Bromwell que me elevou à realeza. — Ficou logo evidente para mim que era à realeza que você pertencia — afirmou ele. Houve outra batida na porta, e mais dois homens jovens entraram, o que encheu quase completamente o camarote, especialmente depois que Sir Lucien chegou com os refrescos para Francesca e Callie. Pareceu natural que Bromwell se afastasse para o lado, deixando mais espaço para os outros, e seu movimento o levou para mais perto de Callie, onde ficou entre ela e a balaustrada do camarote. — Soube que o duque deixou Londres — comentou ele casualmente. — E me surpreendeu encontrá-la aqui esta noite. — Estou fazendo uma visita a lady Haughston — explicou Callie. — Ela gentilmente me convidou para ficar com ela até a temporada começar, quando minha família f amília estará de volta. Agora que estavam tão próximos, ela precisava dobrar a cabeça para trás para olhar para ele. Os olhos dele, percebeu Callie, eram de um cinza-escuro às luzes fracas do teatro, da cor de nuvens de tempestade. Ele a estudava, e ela desejou poder saber no que ele pensava. Teria pensado nela nos últimos dias? Teria sua surpresa ao vê-la sido misturada com prazer? Ele viera com o primo visitar o camarote delas, mesmo sendo evidente que Francesca nem se lembraria de ter conhecido o senhor Tilford. E, embora Projeto Revisoras
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Callie soubesse muito bem que podia ter sido a beleza loura de Francesca que atraíra os homens, não achou que fosse vaidade supor que Bromwell fora até lá para vê-la. Afinal, ele não ficara perto de Francesca e, sim, manobrara para se aproximar dela. Callie desviou o olhar para disfarçar a alegria que o pensamento despertara nela. — Estou muito grato a lady Haughston — declarou o conde. — Temia que talvez não pudesse vê-la antes de precisar voltar para o Norte. — É lá que ficam suas propriedades? — Callie não demonstrou que ficara a par, uma hora antes e por intermédio de Sir Lucien, de tudo o que era possível saber sobre o homem e suas propriedades. — Em Yorkshire. Sou uma excentricidade no ton. Deixarei Londres quando todo mundo estiver começando a chegar para a temporada. Mas descobri que a primavera e o verão são períodos importantes demais para abandonar as propriedades. — Ergueu uma sobrancelha. — Agora vai ficar chocada e perguntar se pretendo mesmo, sozinho, administrar minhas terras. — Na verdade, não. Acho que é sábio cuidar pessoalmente de suas terras. De que outra maneira pode ter certeza de que sua propriedade está sendo administrada adequadamente? Ou que seus arredantários são tratados com justiça? — Então é uma dama incomum. Geralmente me dizem que me falta fidalguia. — Posso ver, pelo seu sorriso, que este tipo de avaliação não o incomoda nem um pouco. — Geralmente não me preocupo com a opinião que as outras pessoas têm de mim — admitiu o conde. — É outro motivo pelo qual não me adapto bem ao ton. — Nem todo mundo tem uma mente tão estreita — protestou Callie . Ele sorriu. — Estou muito feliz por você não ter. Ela olhou para baixo, ligeiramente perturbada pela maneira como o sorriso dele a fazia se sentir. Não era o tipo de reação que estava acostumada a ter com relação a homem nenhum. Não era uma garota recém-saída das salas de aula. Já passara cinco anos frequentando a sociedade. Estava muito acostumada a flertes e a olhares expressivos e sorrisos atraentes. Há muito tempo, aprendera a dar pouco valor a elogios e jamais ficava sem fôlego quando um homem olhava para ela. Mas, com aquele homem, tudo era diferente. Ele precisava apenas olhar para ela para fazer seu coração disparar e, quando sorria, sentia nós nas entranhas. Callie se perguntou se ele teria alguma ideia da confusão que provocava em seus sentidos. Bromwell lançou um olhar ao primo, então se virou de novo para Callie. — Preciso ir agora. Estou vendo que deixo o pobre Archie nervoso. Ele teme que eu o constranja ficando por tempo demais aqui. Teme que eu tenha perdido meu verniz urbano nos anos que passei fora de Londres... se é que, na verdade, algum dia tive algum. — Tenho certeza de que exagera, milorde. Ele deu de ombros. — Nunca fui bom na arte da conversa polida. Tenho uma tendência forte demais a dizer o que penso. — Isto seria uma desvantagem em ambientes sociais — concordou Callie levemente. — Mas me pareceu que você se saiu muito bem conversando comigo na outra noite. Se me lembro bem, foi f oi muito habilidoso com seus elogios. — Ah, mas para você, é fácil dizer coisas bonitas, porque só preciso dizer a verdade. — Está vendo? — Callie ergueu uma sobrancelha. — Habilidoso. Ele sorriu. — Agora que fomos formalmente apresentados, posso ousar esperar que você me permita visitá-la? Ela sorriu e abaixou o olhar, um gesto mais tímido do que estava acostumada a fazer, mas precisava ganhar um pouco de tempo. Não podia negar a onda de felicidade Projeto Revisoras
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que a tomou diante das palavras dele. Era bom saber que queria vê-la de novo, e sabia que também queria vê-lo. Mas estava muito consciente das fisgadas de dúvida que lhe tomavam a mente. Sinclair lhe dissera para não ver Bromwell novamente. Se permitisse que o conde a visitasse, estaria agindo de forma totalmente contrária aos desejos de Sinclair, uma coisa que jamais fizera, pelo menos, não de maneira séria. Se apenas soubesse por que Sinclair desgostava tanto do homem... Haveria alguma coisa escondida sob seu belo exterior, alguma fraqueza interna ou doença da alma que fazia Sinclair reagir tão fortemente à perspectiva de ela ficar sozinha com ele? Sabia que era possível um homem fingir muito bem ser quem não era. Callie acreditava que sua experiência de anos no ton lhe ensinara a ser uma boa juíza de caráter, mas havia alguns homens capazes de enganar mesmo a mais cínica e desconfiada das pessoas. Além disso, aprendera, há muito tempo, que a fachada que os cavalheiros apresentavam às damas frequentemente era muito diferente da que os outros homens viam. Seria mais seguro fazer o que o irmão lhe ordenara. BODAS DE DESAFIOS 147 E no entanto... o sorriso dele lhe despertava sensações que nenhum outro sorriso jamais conseguira. E, quando se lembrava da maneira como a havia beijado, seu corpo se enchia de calor e ansiava pelo dele. Queria se pressionar nele, sentir seus músculos rijos mergulharem em sua carne macia. Só de pensar, se sentia ruborizar. Queria vê-lo de novo. Francamente, queria sentir os lábios dele nos dela mais uma vez. Talvez fosse imoral da parte dela, pensou. Sem dúvida, seria desobediente e deixava de cumprir seu dever. Mas, no momento, não se importava. Por uma vez na vida, faria o que não devia, mas o que queria de todo o coração. Então ergueu o rosto. — Gostaria de vê-lo de novo, milorde — disse, ousada. — No entanto, acho que se esqueceu... estou hospedada na casa de lady Haughston, é dela que precisa receber a permissão para me visitar. Um leve sorriso brincou nos lábios dele, e havia uma luz em seus olhos que aqueceu o sangue de Callie. — Na verdade, não esqueci, mas queria saber quais eram os seus sentimentos sobre o assunto. Com isto, curvou-se diante dela, então se virou e se encaminhou para a porta, onde Francesca estava parada conversando educadamente com o senhor Tilford e um dos outros visitantes. Enquanto Callie observava, o conde falou com Francesca, claramente se despedindo com uma reverência. Francesca lhe sorriu, e quando ele lhe disse mais alguma coisa, ela voltou o olhar rapidamente para Callie. Então se voltou de novo para o conde, um sorriso nos lábios, e disse mais algumas palavras. Callie teve certeza de que ela dera ao conde permissão para visitá-las. O resto da noite se arrastou. A peça não conseguiu manter o interesse de Callie, e ela precisou resistir à tentação de se virar e olhar para o camarote do conde quando houve outro intervalo, depois do segundo ato. Houve mais visitantes no camarote naquele momento, e ela conversou com eles de maneira superficial, com a mente distante. Ficou satisfeita quando a peça terminou e puderam voltar para casa. Durante a viagem na carruagem, Callie ficou calada e percebeu que Francesca também. Quando Sir Lucien brincou com elas sobre seu silêncio incomum, Francesca sorriu levemente e admitiu que seu dia fazendo compras a deixara bastante cansada. — Então não vou mantê-las acordadas por mais tempo — prometeu Sir Lucien. Cumprindo a palavra, quando chegaram à casa de Francesca, escoltou-as até o foyer e lhes deu seu adieu. Entretanto, depois que subiram a escada em direção aos seus quartos, Francesca fez um gesto para a porta do quarto dela e disse: Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Por que não entra por um momento? Podemos conversar. — Está bem — concordou Callie e então passou por Francesca
para dentro do
quarto. Um pouco ansiosa, perguntou-se qual seria o objetivo de Francesca. Teria Sinclair especificamente lhe dito para não permitir que visse o conde? Estaria Francesca arrependida de sua decisão de permitir que Callie ficasse com ela? — Alguma coisa errada? — Não, ah, não. — Francesca sorriu. — Espero que não pense que pretendo lhe dar um sermão. Callie balançou a cabeça e devolveu a ela o sorriso. — Sei que não me passaria um sermão, mas achei que talvez estivesse arrependida de me deixar ficar com você. — Não, é claro que não! — exclamou Francesca. — Estou adorando ter você comigo. Apenas me perguntei... — Hesitou, uma leve ruga se formando na testa. — Isto é, não tenho certeza se Rochford gostaria que o conde de Bromwell nos visitasse. — Você sabe de alguma coisa contra ele? — Callie se aproximou mais de Francesca. — Você não gosta dele? — Não, ao contrário, achei-o muito agradável, fala bem e é muito educado. E muito bonito, como suspeito que você percebeu. — Lançou um olhar provocante a Callie. Callie não conseguiu impedir o rubor que lhe cobriu o rosto, mas disse apenas: — Estou muito consciente disto. — Não sei quase nada sobre ele... apenas o que Lucien nos contou — continuou Francesca. — Eu o vi, pela primeira vez, esta noite. Callie sabia que devia contar a Francesca que Sinclair lhe havia dito para não se encontrar com o conde. Devia revelar que o irmão advertira o conde para ficar longe dela. Não era justo para com Francesca deixá-la agir involuntariamente contra a vontade do duque. Mas Callie não conseguiu dizer nada. — Se não o conhece — começou, cuidadosa —, por que acha que não devo vê-lo? Francesca balançou a cabeça. — Não é que pense que você não deva vê-lo, é apenas que estou... insegura. — Fez uma pausa, então perguntou diretamente: — O conde é o homem sobre quem você discutiu com Rochford? — Sim — admitiu Callie. Não podia mentir para a amiga. — Sinclair estava me procurando e nos encontrou no terraço. Mas não havia nada de errado. Não fomos juntos para lá, fui tola e permiti que outro homem me manobrasse para fora e, então, quando quis voltar, ele se tornou muito rude e me agarrou os braços. — Callie! — exclamou Francesca. — Ele... — Ele tentou me beijar! — contou Callie, o rosto em chamas de constrangimento e raiva à lembrança. — Fiquei furiosa, mas então lorde Bromwell chegou e me livrou do homem. Ele... nós... bem, precisei de um momento para recuperar a calma. E foi quando Sinclair apareceu procurando por mim e me encontrou com o conde. — Você explicou a Rochford? — Eu tentei — lembrou Callie, indignada. — Mas ele não quis me ouvir. Não deu a nenhum de nós a oportunidade de explicar. Nem me deu um motivo para agir daquela maneira... E agora você diz que acha que ele não vai gostar, mas você também não me conta o motivo! Francesca comprimiu os lábios e deu as costas a Callie, que teve uma forte suspeita de que Francesca queria lhe dizer mais alguma coisa, mas não se permitia. — O que é que você sabe? — perguntou rapidamente. — Por que não me conta? — Não sei por que Rochford reagiu daquela maneira e não me cabe contar nada. — Francesca parecia claramente desconfortável.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Talvez
você não saiba, mas suspeita de alguma coisa — persistiu Callie. — Certamente tenho o direito de saber, pois o assunto me interessa. — Sim, é claro, mas... — Francesca fez uma pequena careta. — Isto deve ser entre você e Rochford. — Mas ele não me conta nada! Francesca suspirou. — Acredito que é a irmã do conde que preocupa seu irmão, mais do que o próprio conde. Se Rochford tem alguma coisa específica contra Bromwell, então não tenho ideia do que é. — Ele faz objeções a... como disse que o nome dela é? Lady Smittington? — Swithington — esclareceu Francesca, e mais uma vez, Callie percebeu uma certa animosidade no tom de voz quando falava da mulher. — Lady Swithington. Daphné. — Então você a conhece? Francesca acenou. — Sim, ela estava em Londres quando debutei. Era viúva na ocasião. Seu primeiro marido era muito mais velho do que ela e morreu um ano mais ou menos antes disso. Houve... houve muitos mexericos sobre ela, tinha um comportamento escandaloso, todos sussurravam sobre ela. Não tenho certeza do quanto era verdadeiro. Como você sabe, jovens solteiras, especialmente aquelas que estavam em sua primeira temporada em Londres, não ficavam sabendo de todos os rumores, especialmente os mais licenciosos. Mas sua reputação era a de uma mulher de moral frouxa. Mesmo antes da morte do marido. — Ela tinha casos? Francesca acenou. — Sim, era o que diziam. — Mas certamente Sinclair não pode culpar o irmão pelo comportamento dela! — Callie estava claramente indignada. — Não, tenho certeza de que ele não faz isto, mas talvez sinta que o conde tem a mesma visão da vida — sugeriu Francesca. — Mas isto é simplesmente especulação. Ele não sabe. Francesca deu de ombros. — Não tenho ideia do que Sinclair sabe sobre o homem. Posso apenas dizer que nunca ouvi nada sobre ele — disse Francesca. — Mas você sabe como é frágil a reputação de uma jovem dama. Talvez Rochford não goste que seu nome seja ligado ao de alguém que não tenha os mais rígidos princípios morais. Ou talvez não queira que você se case com o homem por causa do escândalo que manchou o nome de lady Swithington. E, se não puder se casar com ele, então seria melhor que não tenha nenhum contato com ele. — Mas isto é injusto! — Callie abriu os braços num gesto de frustração e começou a andar de um lado para o outro no quarto. — É errado estender a mancha na reputação dela para lorde Bromwell só porque eles são irmãos. — Virou-se e olhou para Francesca. — É isto que você pensa de lorde Bromwell? Que ele é um homem mau? Francesca olhou para ela, aflita, e finalmente deu de ombros. — Não... não sei como ele é, mal conheço o homem. Parece uma ótima pessoa, mas sei que o que parece ser não é necessariamente o que é. Talvez, como é irmão de lady Daphné, seja da mesma espécie. Por outro lado, não tenho certeza se todos os membros de uma família são iguais. Tenho dois irmãos, um é maravilhoso, o outro é mau. — O rosto adorável de Francesca ficou duro. — E odiaria pensar que alguém presumiria que sou como Terence simplesmente porque somos irmãos. — Aí, está vendo? — A expressão de Callie era triunfante. — É errado presumir que lorde Bromwell é como a irmã. Francesca pareceu lutar para conseguir uma resposta adequada, mas finalmente disse: — Sim, seria errado, se é isto que seu irmão está fazendo. Mas não podemos saber seus motivos e, se não quer que você veja este homem... Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Mas
e quanto a mim? — indagou Callie. — E quanto ao que eu quero? Por que meu irmão pode ter o direito de tomar decisões por mim? Sou uma mulher adulta, por que não posso ser a pessoa a decidir quem devo ou não ver, com quem passo meu tempo? — Sim, é claro que deve ser você — concordou Francesca. — Não vou fazer nada idiota — mostrou Callie. — Sou capaz de perceber se um homem está tentando tirar vantagens de mim. Não concorda? — Sim, certamente. — Então me parece que não é a opinião de Sinclair sobre o conde que interessa, mas a minha. — Tenho certeza de que Rochford está tentando protegê-la — lembrou Francesca. — Sem dúvida — retorquiu Callie. — Mas estou ficando muito cansada de pessoas que tentam me proteger me dizendo o que posso ou não fazer sem me dar os motivos. — E claro que está. — E gostaria que me permitissem tomar minhas próprias decisões. Francesca acenou de novo. — Eu sei, minha querida. Eu sei. — Então vai me permitir fazer isto ou vai me dizer que ele não pode nos visitar? As sobrancelhas de Francesca se ergueram com a surpresa. — Ah, minha querida... não estava dizendo isto, pensei apenas em adverti-la. Não tinha certeza se você estava consciente de como Rochford se sentiria sobre isto. — Também não tenho certeza — admitiu Callie . — Sinclair ficou muito zangado naquela noite, mas agiu de modo tão diferente do que sempre foi. Ao pensar no que aconteceu, me pergunto se não foi simplesmente porque estava preocupado por não conseguir me encontrar logo. Talvez não tenha relação nenhuma com o conde, talvez tivesse reagido da mesma maneira se fosse qualquer outro homem... Ou, pelo menos, um homem que não conhece bem. Francesca deu de ombros. — Isto pode ser verdade. — Ele se arrependeu de ter ficado com raiva, acho. — Callie fez uma pausa. — Mesmo assim, não posso mentir para você. Sinclair realmente me disse para não ver mais lorde Bromwell. — Compreendo. Mas você pretende vê-lo? Callie esticou o corpo e ergueu o queixo. — Eu... eu quero decidir por mim mesma o que penso dele. Sinclair não tem o direito de dirigir minha vida. Amo meu irmão, mas não viverei de uma certa forma apenas porque me diz para fazê-lo. Entretanto, certamente compreenderei se não quiser aborrecer Sinclair. O queixo de Francesca se ergueu exatamente como o de Callie. — Não tenho medo do duque de Rochford. — Mas, se não quiser permitir que lorde Bromwell nos visite, não ficarei zangada com você. — Obrigada, minha querida. — A voz de Francesca era calma, mas os olhos brilhavam de raiva. — Mas ficaria zangada comigo mesma se deixasse que a opinião do duque, ou de qualquer outra pessoa, determinasse quem eu permito que venha à minha casa. Disse ao lorde Bromwell que é bem-vindo aqui, e ele é. E se seu irmão não gostar... bem, terá que lidar com a situação. Você e eu não estamos sob o comando dele. — Obrigada, Francesca. — Callie sorriu para a amiga e, impulsivamente, correu para ela e a abraçou. — Estou tão contente por estar aqui. — Também estou. — Francesca lhe deu palmadinhas nas costas, e com outro abraço, Callie lhe deu boa-noite e saiu do quarto. Francesca se virou e andou até a janela. Estava cansada, mas se sentia também inquieta. Abriu um pouco a cortina pesada e olhou para a noite escura. Perguntou-se se havia feito a coisa certa. Seria errado da parte dela fazer qualquer coisa que tornasse Projeto Revisoras
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Callie vulnerável ao sofrimento. Não podia deixar de se preocupar com o fato de que talvez lorde Bromwell fosse igual à irmã. E o quanto sua decisão de não se submeter aos comandos de Rochford derivava de sua convicção de que Callie tinha o direito de fazer o que queria e o quanto de um longo e constante ressentimento? Francesca disse a si mesma que vigiaria de perto Callie e Bromwell. Procuraria, e acharia, qualquer sinal de que Bromwell era um libertino, um canalha. Nada, prometeu a si mesma, magoaria Callie enquanto estivesse sob seu teto. Mesmo assim, preocupava-se com a questão de informar ou não Rochford sobre lorde Bromwell e sobre os sentimentos de Callie. Mas não podia trair Callie... assim como não pudera escrever para Rochford ou conversar com ele sobre aquela ocasião quinze anos antes. E não era de admirar, disse a si mesma, ao se lembrar de que Rochford evitara contar a Callie o motivo por que haviam discutido. Isto a deixava com uma única opção: contar a Callie o que sabia. Mas como poderia, quando Rochford, sem dúvida, desejava que Callie ficasse afastada do conde porque não queria que sua irmã se envolvesse com o homem cuja irmã havia sido amante dele?
Capítulo Oito
Dois dias depois, lorde Bromwell se apresentou na casa de Francesca. Ficou menos de trinta minutos, que era a duração apropriada para uma visita vespertina. Francesca permaneceu no salão o tempo todo e, nos últimos dez minutos da estada dele, também em companhia de lady Tollingford e sua filha, lady Mary, que haviam acabado de chegar. Assim, não houve oportunidade para qualquer tipo de contato particular entre Callie e lorde Bromwell, e a conversa jamais se afastou dos tópicos socialmente aprovados, como o clima, a peça que haviam visto duas noites antes e o baile de gala que o príncipe daria em quinze dias em homenagem a um príncipe de Gertensberg, que iria à Inglaterra em missão oficial. Callie não havia esperado nada mais. Uma primeira visita era simplesmente o prelúdio, a primeira ação de uma longa campanha de corte, além de uma oportunidade para o candidato receber ou não a aprovação da companheira, mãe ou guardiã de uma dama jovem e solteira. Lorde Bromwell, alto e de ombros largos em seu paletó bem cortado de um fino tecido azul-escuro e calça creme bem justa, tinha passado facilmente pela inspeção. Era bonito, polido e obviamente conhecia todas as delicadezas sociais, apesar de ter vivido, por tantos anos, longe da cidade. No entanto, não havia nada de escorregadio em suas maneiras ou assuntos, nenhuma indicação de que tentava conquistar a atenção da jovem ou mostrar uma aparência falsa. Callie soube, apenas olhando para Francesca, que a visita daquela tarde havia amenizado um pouco de sua incerteza anterior. Ninguém compreendia melhor os ins e outs do beau monde do que lady Haughston e, se alguém era capaz de desmascarar um aventureiro, ou o que o irmão de Francesca, Dominic, chamaria de um "bestalhão" seria ela. Mas, durante o tempo em que o conde ficou lá, Callie viu que Francesca relaxava um pouco a cada minuto que se passava, o sorriso se tornando mais fácil e mais sincero, as
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palavras se desviando da conversa polida e superficial para assuntos um pouco mais profundos. E quando Bromwell lançou um sorriso rápido a Callie, os olhos cinzentos cheios de charme, ela não conseguiu evitar lhe dar um sorriso de volta, uma grande excitação começando a se construir em sua mente. No dia seguinte, lorde Bromwell apareceu de novo, desta vez, para levá-las para um passeio no Hyde Park, em sua leve carruagem aberta, puxada por dois cavalos. Eram cinco horas da tarde, a hora mais elegante para a aristocracia se exibir no parque. Muitos caminhavam, outros cavalgavam e um grande número passava em suas equipagens mais luxuosas, mostrando roupas, carruagens, cavalos e, em muitos casos, sua habilidade com as rédeas. Era um pouco apertado, já que o veículo esportivo de Bromwell era pequeno e construído mais para a velocidade do que o conforto, além de geralmente levar apenas duas pessoas. Entretanto, Callie percebeu muito bem que Francesca não lhe permitiria passear sozinha com lorde Bromwell no Hyde Park, mesmo numa carruagem aberta. Callie se perguntou se Francesca não saberia mais do que dissera sobre o motivo de seu irmão não gostar de Bromwell. Não parecia provável que Sinclair reagisse a ele com tanta raiva simplesmente porque a irmã tinha má reputação. Callie acreditava que era alguma coisa bem mais pessoal. Mas se Francesca realmente sabia de mais alguma coisa, por que não lhe contara? Callie achava difícil acreditar que Francesca pensasse que havia alguma coisa errada com lorde Bromwell, já que ainda estava disposta a recebê-lo. Ela não devia saber nada, garantiu Callie a si mesma. A amiga estava se comportando de maneira circunspecta demais apenas porque não queria que Rochford lhe fizesse cobranças. Mesmo assim, Callie não pôde deixar de desejar que Francesca não levasse tão a sério seu papel de acompanhante. Mal podiam conversar, a não ser de forma muito superficial, com Francesca sentada entre eles no banco da carruagem. Durante a semana seguinte, pareceu que lorde Bromwell estava em toda parte aonde iam. Visitou-as mais duas vezes, então apareceu na festa informal de lady Battersea, no grande jantar formal da senhora Mellenthorpe e depois no sarau dos Carrington. Entretanto, para a frustração de Callie, Francesca ficou ao lado dela durante toda a duração de cada evento social, logo nunca houve oportunidade para ficar um minuto a sós com o conde. O mais próximo que chegava dele era quando ele se curvava sobre a mão dela quando a cumprimentava ou se despedia. Pensou que Francesca estava levando as coisas longe demais. Afinal, o que podia acontecer entre eles no meio de uma festa cheia de gente? Callie não estava mais acostumada a uma vigilância tão rígida. Já haviam se passado muitos anos desde que fora apresentada à sociedade, quando era pouco mais do que uma menina em sua primeira temporada, e até sua avó lhe permitia mais liberdade numa festa. Francesca jamais a deixava sozinha. Simplesmente garantia que estaria sempre ao lado dela se lorde Bromwell aparecesse. Callie suspeitava de que, se estivessem num baile e Bromwell a convidasse para dançar, Francesca garantiria estar bem lá quando saíssem da pista de dança. Não haveria como escapar para uma conversa numa alcova ou no terraço. Callie supunha que devia se sentir grata. Nem mesmo o irmão dela poderia se zangar sobre ela estar na mesma festa que Bromwell, quando ficava sob a vigilância cerrada de Francesca o tempo todo. No entanto, descobriu-se irritada sob aquela restrição gentil, mas firme. No sábado, ela e Francesca foram à festa informal dos Fotheringham. Como qualquer outro evento do tipo, estava lotado. Callie procurou por lorde Bromwell em vão e, depois de meia hora, decidiu, com desapontamento, que ele não iria. Estava em pé, Projeto Revisoras
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conversando com Francesca, Irene e Gideon, que também haviam decidido permanecer em Londres, quando virou a cabeça e viu Bromwell passando pelas portas duplas do grande salão de recepção. Callie ficou imóvel, os dedos apertando o cabo do leque. Ao lado de Bromwell, a mão passada pelo braço dele de modo muito familiar, estava uma ruiva estonteante. Alta e estatuesca, com uma grande massa de cachos cor de cobre penteada à la Meduse, usava um vestido de cetim negro de baile ricamente decorado na bainha e no decote com renda negra e contas também negras. O decote baixo mostrava seus elegantes ombros muito brancos e parte do colo, os seios cheios se erguendo sob uma nuvem de renda negra. Embora a cor fosse sombria, era a moldura perfeita para o brilhante cabelo ruivo, a pele pálida e os olhos azuis muito claros. A boca talvez fosse fina demais para sua beleza ser perfeita, mas mal era percebida na imagem atraente que compunha. Havia um suave sorriso em seus lábios, e ela se virou uma ou duas vezes para o homem ao lado dela, sorrindo para ele com afeição evidente. Callie sentiu um frio lhe crescer no estômago enquanto observava Bromwell virar a cabeça, abaixar os olhos para a mulher e sorrir. Como se sentisse a mudança em Callie, Francesca se virou e seguiu o olhar de Callie com o dela. Francesca enrijeceu e praguejou baixinho. Callie olhou para ela, assim como Irene e Gideon. — Quem é...— começou Irene, então parou. — Ah, sim, agora me lembro, — Virouse para Gideon. — Ela estava no baile no Park quando ficamos noivos, não estava? Lady... — fez outra pausa, tentando lembrar o nome dela. — Não me pergunte, não me lembro da mulher — disse Gideon. Parecia absurdo que qualquer homem fosse capaz de não se lembrar daquela mulher, mas Callie suspeitava que, com Gideon, aquilo fosse verdade. Estava totalmente apaixonado por Irene e mal olhava para outra mulher. — Swithington — revelou Francesca, numa voz áspera. — Lady Daphné Swithington. — Ah! — Callie ficou surpresa e um pouco abalada com o alívio que a tomou. — É a irmã de lorde Bromwell. — Sim. Aparentemente, veio à cidade para a temporada. — Francesca não parecia nem um pouco contente com a perspectiva. Callie olhou de novo para a amiga. Certamente havia mais alguma coisa incomodando Francesca além do fato de a reputação de lady Swithington ter sido má. Afinal, pelo que a própria Francesca dissera, fazia muitos anos desde que a irmã do conde tivera um comportamento escandaloso, e ela estivera fora da sociedade desde então. Embora sua chegada tivesse causado comoção no salão, ninguém estava lhe dando as costas ou evitando cumprimentá-la. Mesmo se lady Swithington ainda estivesse no ostracismo, Callie achava que aquilo não levaria Francesca, que não era nem um pouco arrogante, a congelar como estava agora. Callie não conseguiu deixar de imaginar se o marido já morto de Francesca teria sido um dos muitos homens com quem se dizia que lady Daphné tivera um caso. Embora acenassem para uma ou duas pessoas enquanto passavam, lorde Bromwell e a irmã não pararam até chegarem a Callie e seus amigos. — Lady Haughston, lady Calandra, permitam-me lhes apresentar minha irmã, lady Swithington — começou o conde. O sorriso de Francesca era gelado. — Sim, lady Swithington e eu somos velhas conhecidas. — Ah, sim — confirmou a mulher, com um sorriso muito menos reservado do que o de Francesca. De perto, Callie viu que era muito mais velha do que parecera do outro lado do salão. Havia rugas minúsculas nos cantos dos olhos e, quanto não estava sorrindo, outras maiores se formavam nos cantos da boca. — Lady Haughston e eu nos conhecemos bem, não é? E, lady Calandra — voltou o sorriso para Callie —, estou tão Projeto Revisoras
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feliz por finalmente conhecê-la. Conheci seu irmão, é claro, mas você era então apenas uma garotinha. — Deixou escapar uma pequena risada de autodesprezo. — Agora estou revelando nossa idade, não estou, Francesca? Que coisa horrível! O sorriso de Francesca havia desaparecido completamente e, ignorando as palavras da mulher, fez um gesto em direção a Irene e Gideon. — Acredito que conhece lorde e lady Radbourne. — Sim, é claro, na sua festa de noivado, não foi? — O sorriso de lady Swithington se tornou mais brilhante ao voltá-lo para o casal. — Na ocasião, ainda estava de luto, mas senti que não seria errado participar da festa, já que fui convidada pela querida lady Odélia. Ela é prima do nosso pai pelo casamento, compreendem, e sempre foi muito bondosa conosco. Não foi, Brom querido? — Virou-se para o irmão com um sorriso afetuoso. — Sim, lady Odélia é uma gracinha — respondeu Bromwell com ironia, e a irmã, brincando, lhe bateu no braço com o leque fechado. — Bromwell... você dará a todo mundo a ideia errada. Gideon riu. — Não é provável... todos nós também somos parentes de lady Odélia. — Agora que lady Daphné está aqui — sugeriu Bromwell —, espero que possamos reunir um grupo para ir ao Richmond Park na próxima semana. Sem dúvida, nosso primo, o senhor Tilford, irá conosco, e terei muito prazer se vocês também forem. — Olhou para todos os presentes no pequeno grupo. — Lorde e lady Radbourne? Lady Haughston? — Seus olhos foram para Callie por último, mas foi nela que pararam. — Lady Calandra? — Parece que será um programa muito agradável se o tempo continuar firme — disse Callie rapidamente, já que suspeitava que Francesca pudesse dizer que não. — Confesso que estou ficando inquieta, e uma longa cavalgada parece ser o remédio perfeito. — Sim, não é? — concordou Francesca, com muito menos entusiasmo. — No entanto, sinto dizer que lady Calandra e eu não temos montarias na cidade. Acho difícil encontrar tempo para cavalgar, assim só faço este exercício quando estou em Redfields. E, como lady Calandra só veio a Londres para me visitar, os cavalos da Lilles também não estão aqui. — Não precisa se preocupar com isto — tranquilizou Bromwell. — Fui a Tattersall's esta semana e ainda não mandei para a propriedade os cavalos que comprei. Gostaria muito da oportunidade de vê-los em ação. — E nós temos nossos cavalos aqui — acrescentou lorde Gideon. — Tenho certeza de que, juntos, poderemos encontrar montarias para todos. — Então é claro que iremos — concordou Francesca com gentileza. — Parece maravilhoso. Callie sentiu que Francesca não era muito sincera, mas não reclamaria. A perspectiva de uma cavalgada através dos espaços verdes do Richmond Park parecia muito agradável. E não era apenas o fato de que uma expedição daquele tipo ofereceria uma situação social com muito mais liberdade do que uma festa. Não tinha se dado conta de como se sentia confinada na cidade, já que adorava cavalgar e o fazia com frequência quando estava em uma das propriedades da família no campo. Mesmo na cidade, estava acostumada a fazer cavalgadas tranquilas ao longo de Rotten Row, pelo menos, duas vezes por semana e sentia muita falta do exercício e do ar fresco. Assim, ficou combinado que iriam ao parque na terça-feira seguinte, desde que não chovesse, o que estragaria o passeio. Bromwell e a irmã ficaram mais alguns minutos conversando. Francesca estava mais calada do que de costume, mas lady Daphné facilmente preencheu a lacuna com uma narrativa espirituosa de sua viagem desde a remota propriedade do marido até Londres, que parecia ter sido amaldiçoada por todo tipo de atraso, desde a falta de sorte de terem que voltar para recuperar um baú que havia Projeto Revisoras
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sido esquecido até a quebra de uma das rodas da carruagem e a necessidade de sua permanência numa taverna de um condado do Oeste por três dias, devido a uma tempestade de neve. Depois de algum tempo, Irene e Gideon pediram licença e se afastaram. E, poucos minutos depois, Bromwell e lady Daphné também se despediram. Lady Daphné tomou a mão de Callie calorosamente e lhe disse o quanto se sentia ansiosa pela oportunidade de conversar com ela no passeio programado para a semana seguinte. Bromwell se curvou sobre a mão de Callie na sua maneira habitual, roçando os lábios macios como veludo em sua pele. Os dedos dela apertaram involuntariamente os dele, e ele a observou enquanto erguia o corpo, os olhos cinzentos subitamente quentes e íntimos. Depois que se afastaram, Callie aproximou a cabeça da de Francesca, para dizer suavemente: — Você não precisa ir a Richmond Park se não quiser. Irene e Gideon irão e certamente serão a companhia adequada para mim. Será perfeitamente correto, e eu direi que você não se sentiu bem na manhã em que iremos. — E deixar Daphné feliz com a ideia de que não tive a coragem de passar um dia na companhia dela? — retorquiu Francesca. Havia um brilho de aço que Callie jamais vira nos profundos olhos azuis. — Bobagem, estarei perfeitamente bem. — Enrijeceu o queixo e resmungou: — Denunciando nossa idade! Como se ela não fosse, pelo menos, seis anos mais velha do que eu! Callie escondeu um sorriso atrás do leque. Não se lembrava de jamais ter visto Francesca demonstrar veneno feminino. Confiante em sua beleza e seu lugar na sociedade, parecia não sentir ciúmes ou inveja. Quando outras mulheres se comportavam assim com ela, geralmente se desviava com habilidade, mas sem amargura ou desgosto. Era bem satisfatório descobrir que Francesca era tão capaz como qualquer pessoa de fazer uma exibição de mau humor e aborrecimento. Calhe tivera a impressão de que lady Daphné era uma pessoa agradável e calorosa, embora certamente não tivesse a intenção de mencionar esta imagem a Francesca. E não mais se atreveria a perguntar à amiga por que desgostava tanto de lady Daphné. Era uma pergunta rude demais e muito pessoal, especialmente devido ao fato de que Callie suspeitava de que a resposta provavelmente tinha relação com o falecido marido de Francesca, que, segundo os boatos, tinha sido um libertino. Era uma pena, na verdade, já que Callie gostaria muito de saber o que lady Daphné havia feito a Francesca para lhe despertar um sentimento tão negativo. Entretanto, olhando para o rosto de Francesca, Callie soube que sua curiosidade não seria satisfeita. Mesmo as mais delicadas das perguntas não extrairiam nada de Francesca naquela noite, assim Callie deixou-as de lado e permitiu que sua mente se desviasse para tópicos muito mais agradáveis, como o passeio, na terça-feira seguinte, na companhia de lord Bromwell. — Bem, bem... — murmurou lady Swithington, enquanto se afastavam de Calandra e Francesca. — Então você está interessado na irmãzinha do duque. Que fascinante. — Lançou um olhar de esguelha para o rosto do irmão. — Devia ter lhe contado antes — disse Bromwell, em tom de desculpas. — Mas, quando as vimos assim que chegamos, me pareceu uma oportunidade perfeita. Queria ver a expressão dela quando conhecesse você. — Por quê? — A boca de Daphné afinou. — Certamente não esperava que uma orgulhosa Lilles demonstrasse remorso. — Apenas queria saber se ela tinha alguma ideia do que o irmão dela lhe fez — explicou o conde. — Sentia que não sabia, foi há tantos anos. Mesmo assim, me senti curioso. — E o que descobriu? Ele balançou a cabeça.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Ela não sabe de nada, tenho certeza. — Voltou-se e olhou para ela. — Não posso
dizer o mesmo sobre lady Haughston. — Aff... — Daphné fez um leve som de desprezo e se abanou com seu elegante leque de marfim. — Francesca sempre foi uma tola. Ela se abanou languidamente enquanto passavam pela multidão e chegavam ao outro lado do salão. Viraram-se e olharam para trás. De vez em quando, à medida que as pessoas se moviam, podiam ver Callie e Francesca ainda paradas no mesmo lugar, conversando. — Então... quais são exatamente os seus planos com relação à pequena lady Calandra? — O tom de Daphné tinha uma certa arrogância. — Espero que não queira que eu acredite que a está cortejando seriamente. — Ah, sou muito sério com relação a isto — respondeu o irmão, uma certa severidade no tom. — Mas não para se casar. — Certamente você me conhece bem demais para pensar assim. Não lhe faria o insulto de me ligar aos Lilles. — Eu realmente o conheço bem — concordou, com um sorriso um pouco presunçoso. — Então o que pretende? Seria adequado que o duque pagasse na mesma medida. Bromwell lhe lançou um olhar assustado. — O que quer dizer? Certamente não pensa que eu seduziria a menina e a abandonaria. Daphné deu de ombros, o rosto endurecendo. — Parece uma vingança bem adequada para o que o irmão dela fez comigo. Não tão severa, é claro, como a engravidando e se recusando a se casar com ela. — Não, mas não sou como Rochford — replicou Bromwell, a testa franzida. — Tenho certeza de que você realmente não gostaria que qualquer mulher tivesse um destino como este. — Algumas vezes, me esqueço de como você é bom. É claro que tem razão, não gostaria que qualquer mulher sofresse a vergonha que sofri por causa de Rochford. Apenas me parece injusto demais que o duque nunca tenha sido castigado de maneira nenhuma. — Observou o irmão enquanto ele continuava a olhar para o outro lado do salão, com os olhos fixos em lady Calandra, e então franziu a testa. — Não seria nada mau se um dos orgulhosos Lilles sofresse uma pequena humilhação. Ele acenou. Era o mesmo sentimento que revelara ao primo Archie pouco tempo antes. Mesmo assim, uma ruga se formou em sua testa. — Mas não seria justo com Callie. — Callie? — A irmã ergueu as sobrancelhas numa interrogação. — É assim que lady Haughston e lady Odélia a chamam. Calandra é um nome formal demais para ela. — Não me diga que você tem afeição por esta garota — exigiu Daphné com raiva. — Não, é claro que não. — A ruga na testa se aprofundou. Olhou para a irmã. — E uma linda garota, mas sem importância para mim. — Estou feliz de ouvir isto. Nunca é sábio confiar num Lilles. — A voz de Daphné era cheia de amargura. — Eu sei. Depois de uma ligeira pausa, Daphné continuou: — Então quais são suas intenções com relação a lady Calandra? — Deixar o duque um pouco preocupado. — Um lado da boca se ergueu num sorriso sem humor. — Gostaria que ele dançasse sobre uma trempe quente, se perguntando o que pretendo fazer. O que contarei à irmã sobre ele. Se conseguirei voltála contra ele... ou mesmo tomá-la dele. Ou se farei exatamente o mesmo que ele: Projeto Revisoras
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despertar sua afeição e então me descartar dela. Descobri que um homem sem honra espera o mesmo comportamento dos outros. — Ele certamente não gostará de vê-lo cortejando-a — concordou lady Daphné. — Na verdade, não gostará e já me advertiu para ficar longe dela. — É mesmo? — Ela pareceu intrigada. — O que ele fez? O que disse? — Foi o arrogante de sempre, me disse para ficar afastado da irmã. Como se tivesse apenas que dar uma ordem e o resto do mundo obedeceria. — O que você fez? — Pensei em lhe estragar um pouco o rosto com um soco — admitiu, um brilho malicioso nos olhos. — Mas sabia que lady Odélia poderia não gostar, já que foi no seu baile de aniversário. Cavalheiros aos murros no terraço dela certamente tirariam o brilho de sua testa. — Deu de ombros. — De qualquer maneira, percebi que seria mais interessante atormentá-lo um pouco primeiro. Deixá-lo ver que o mundo não dança conforme sua música... nem mesmo a irmã dele. No fim, imagino, quando souber que desobedeci à ordem dele... que ela desobedeceu ... ele virá furioso para a cidade, rosnando como um urso ferido, e então... — Sorriu de repente. — Então ele virá me visitar. — Os olhos cinzentos brilharam, prateados, com satisfação. — Quer dizer que ele o desafiará para um duelo? — Daphné pareceu apreensiva. — Mas, Brom, não! Ele tem a reputação de ser um excelente atirador. Você pode ser morto! — Você se esquece, minha querida... eu também sou um excelente atirador. — Sim, eu sei que é. — O tom era quase presunçoso. — Mas, mesmo assim... arriscar sua vida... é demais! — De qualquer maneira, duvido muito que chegue a isto. Rochford nunca se meteu num duelo, não acredito que comece agora. — Mas com provocação suficiente... Ele deu de ombros de novo. — Acho mais provável resolvermos tudo de imediato, com nossos punhos. — Sorriu com severidade, e suas mãos se fecharam em antecipação. — Tem certeza? Da última vez... Ele descartou a objeção dela com um gesto da mão. — Da última vez, eu tinha 17 anos. Desafiá-lo para um duelo foi um gesto infantil. Agora já sou maduro e sei que será muito mais satisfatório chutar seu traseiro arrogante. — Bem, é claro, querido, se é isto que quer fazer — concordou Daphné, no tom de um adulto que admite dar a um menino um presente. E, feliz, colocou a mão no braço dele. — E parece exatamente a coisa certa. A terça-feira seguinte amanheceu clara, e um sol pálido brilhava no céu de fevereiro. Havia uma brisa fresca, e o dia era perfeito para sair da cidade numa cavalgada até o parque real. Callie, entusiasmada com a perspectiva da expedição que realmente se realizaria, passou o desjejum conversando, muito animada, com Francesca, bem menos excitada. Mas lady Haughston era gentil demais para estragar o prazer de Callie, então sorriu e acenou, concordando que o dia era adorável, a companhia seria muito agradável e que era maravilhoso que as roupas de montaria não apenas mostravam bem o corpo como também não precisavam ser brancas. A de Callie era de veludo verde, e ela nunca a usara, já que a encomendara na modista por um impulso, quando fizeram as compras para sua estadia na casa de Francesca. Ao contrário da moda do momento, o paletó era comprido e apertado na cintura, com enfeites negros na frente e nos punhos. O chapéu também era verde, com arremates em negro, e ficava muito bem na cabeça de Callie, a aba ligeiramente caída na frente, de um modo meio atrevido. Francesca observou a amiga e constatou como estava encantadora na roupa de cavalgar, então achou que valia a pena suportar a companhia de lady Daphné por um dia para que Callie pudesse exibir uma figura tão atraente para lorde Bromwell. Projeto Revisoras
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Foi um grupo muito alegre que saiu para o Richmond Park uma hora mais tarde. Além de lorde e lady Radbourne, lorde Bromwell e sua irmã, e Francesca e Callie, também faziam parte do grupo o primo de Bromwell, Archie Tilfòrd, a senhorita Bettina Swanson e o irmão dela, Reginald, um jovem sorridente que acabara de se formar em Oxford. A senhorita Swanson e o irmão estavam no elegante landau dos Radbournes em companhia de lorde Radbourne, que cedeu sua montaria para Francesca. — Tenho certeza de que meu cavalo ficará grato por ter uma amazona tão hábil em suas costas, em vez do eterno aprendiz que sou — disse a Francesca com um sorriso. Devido à infância infeliz, lorde Radbourne jamais se tornara um bom cavalheiro, como tantos dos aristocratas seus contemporâneos. — É, para você, milady — disse Bromwell a Callie, enquanto lhe tomava o braço e a levava para uma graciosa égua —, pensei que Belíssima seria muito adequada. — Um sorriso lhe iluminou os olhos e rapidamente desapareceu. — O nome certamente é apropriado a você. Ela é obediente, mas não dócil demais, e vem de uma boa linhagem. Não sabia que tipo de amazona você é. — Sou capaz de montar — disse ela, com um sorriso altivo. — Isto deve significar que você é um verdadeiro centauro e, sem dúvida, sofrerei uma grande vergonha por lhe escolher uma montaria que não a merece. Callie riu e estendeu a mão para acariciar o nariz da égua. — Tenho certeza de que Bellissima merece até mais do que eu. Não merece, criatura adorável? — Virou-se para Bromwell. — Obrigada, milorde, sei que foi uma escolha excelente, e vou desfrutar completamente da cavalgada. — Espero que sim. — Fez uma pausa, então acrescentou: — Por favor, me chame de Bromwell ou de Brom, como todos os meus amigos. Calhe olhou para ele. Suas palavras a deixaram um pouco tonta e sem fôlego. — Certamente não nos conhecemos tão bem assim, milorde. — Não? — Ela viu nos olhos dele o conhecimento partilhado dos beijos, do calor que os atravessara. Então ela desviou os olhos e disse num tom bem mais leve: — Mas espero que venhamos a nos conhecer muito bem. Ele se virou de lado. — Aqui, me deixe ajudá-la a montar. —Juntou as duas mãos, debruçou-se um pouco e, quando ela colocou o pé sobre elas, deu-lhe um impulso para ela se sentar na sela, então ajustou os estribos depois de tirar as luvas de montaria para poder executar o trabalho com mais facilidade. Callie sentiu seu braço roçar-lhe a perna enquanto ele mexia no estribo e, mesmo através das botas de montaria e da roupa pesada, o toque a excitou. Observou-lhe os dedos enquanto ele ajustava a tira; eram longos e ágeis e se moviam com firmeza. Callie se perguntou como seria sentir aquelas mãos lhe tocando o pescoço, escorregando para o rosto. Desviou rapidamente o olhar e segurou as rédeas com força. Era absurdo, disse a si mesma, a maneira como seus pensamentos pareciam ter vida própria sempre que estava perto de Bromwell. Teve certeza de que ele podia senti-los. Havia uma expressão conhecedora nos olhos dele quando os desviou para ela... Ou talvez fosse simplesmente que ele se lembrasse de como ela reagira nas duas vezes em que a beijara. Ela o beijara de volta de uma maneira que podia ser descrita apenas como totalmente entregue. Ele pensaria que era diferente do que demonstrava? Que era uma mulher experiente naqueles assuntos? Seu irmão não gostava dele porque o considerava um canalha, um libertino? Bromwell a estaria cortejando porque presumia que era uma mulher sem moral? Sentia-se culpada ao saber que lhe dera motivos para considerá-la assim... ao sair de casa tarde da noite, sozinha, como ele a encontrara naquela primeira noite. E então permitindo que a beijasse sem nenhum protesto. Na verdade, desmanchando-se nos braços dele. Projeto Revisoras
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A ansiedade lhe apertou o peito num nó duro, gelado. Não queria acreditar que aquele fosse o motivo por trás de sua corte. E, afinal, seria o comportamento normal de um libertino passar tantas tardes e noites em visitas e festas com ela rigidamente vigiada por Francesca? Certamente um homem interessado apenas numa mulher sem moral encontraria uma presa muito mais fácil em outro lugar. Não podia deixar de acreditar que um comportamento como o dele demonstrava um interesse mais profundo do que o que um libertino teria. Por outro lado, era realista e percebia que talvez aquilo fosse apenas o que ela gostaria de pensar. Afastou o olhar de Bromwell e o dirigiu para os outros, que também estavam montando seus cavalos. Encontrou, então, o olhar de lady Swithington, que a estudava. E naquele olhar, Callie viu uma expressão fria e intensa de raiva.
Capítulo Nove
A mão de Callie se fechou involuntariamente nas rédeas, e a égua se moveu, nervosa. Quando conseguiu controlá-la e olhou novamente para a irmã de Bromwell, viu que lady Daphné sorria suavemente para ela. — Que visão maravilhosa você é sobre este cavalo, lady Calandra! — Havia enorme admiração na voz de lady Daphné. — Este seu cabelo negro e um cavalo branco... ora, temo que você nos deixe a todas à sombra. — Ninguém pode deixar sua beleza à sombra, lady Swithington — garantiu o senhor Swanson. — Na verdade, é impossível — concordou Archie Tilford. — Quero dizer, não que lady Calandra também não seja extremamente linda. Ninguém pode ser mais linda. — Olhou ao redor, e o rosto começou a ficar vermelho. — É claro, lady Haughston, lady Radbourne, senhorita Swanson, vocês não são menos adoráveis. Quero dizer, ninguém pode comparar Afrodite a Helena de Tróia, não é? Exceto, é claro, que vocês são cinco, não duas, e, bem... Lorde Radbourne soltou uma risada alta, que transformou depressa numa tosse, o que levou lady Radbourne a se voltar de costas, a mão na boca, os ombros balançando. — Esqueça tudo, Archie, por favor — disse lorde Bromwell francamente ao primo. — Não temos tempo para esperar que você consiga desemaranhar este nó. Senhoras, que seja suficiente dizer que todas vocês são absolutamente lindas e que não há um só cavalheiro em Londres que não desejaria trocar de lugar conosco. E agora acho que devemos começar nossa excursão. Todos concordaram e deram a partida, alguns em frente à carruagem, outros atrás. Era necessário ter concentração para cavalgar pelas ruas apinhadas de gente, e eles se espalharam, assim não houve muita conversa no começo. Callie ficou contente com o silêncio, já que estava perdida em pensamentos. Sua mente se voltava sempre para aquela expressão de raiva... seria demais chamá-la de ódio?... que vira nos olhos de lady Swithington. Teria mesmo visto aquilo ou fora apenas um truque da luz? Não podia imaginar como poderia ter se enganado. Mas por que a irmã de Bromwell teria raiva dela?
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Seus pensamentos a mantiveram ocupada por algum tempo, mas então a conversa aumentou quando chegaram à periferia de Londres, e ela deixou o incidente de lado, determinada a desfrutar da tarde e do passeio. O grupo se dividiu, e duas ou três pessoas se reuniram, conversando e rindo, quando chegaram ao campo. Callie tinha se preocupado com a perspectiva de Francesca e a irmã de Bromwell ficarem juntas, mas percebeu, desde o princípio, que lady Swithington decidira cavalgar ao lado da carruagem, para flertar com o jovem Reginald Swanson... e tentar também flertar com lorde Radbourne. Callie lançou um olhar a Irene, que, depois de observar o grupo em silêncio, simplesmente rolou os olhos e continuou a conversar alegremente com Francesca, que cavalgava ao lado dela. Callie compreendeu a falta de preocupação de Irene. Gideon, em vez de flertar também, parecia muito entediado, e seu olhar se desviava sempre para a esposa, a alguma distância dele, e não para lady Daphné, que cavalgava bem ao lado dele. Bromwell se colocou ao lado de Callie e, um pouco para a surpresa dela, Francesca parecia satisfeita em deixá-los cavalgar juntos sozinhos e continuou ao lado de Irene. Como o senhor Tilford parecia ter se designado a escoltar aquelas duas damas, isto deixava Callie sozinha com Bromwell pela maior parte da cavalgada. Embora durante a última semana ou mais ela estivera ansiosa para ter exatamente aquela oportunidade, agora se sentia subitamente tímida e insegura, sem saber o que dizer. Era uma novidade para ela, já que sempre fora uma pessoa alegre e extrovertida. As instruções severas da avó antes de uma festa tinham sido sempre para não falar demais, não chamar a atenção para si mesma, embora Callie fosse a primeira a admitir que não se esforçava muito para segui-las. Ela percebeu que sua reticência derivava do fato de que, talvez pela primeira vez em sua vida, importava-lhe muito que seu acompanhante a achasse agradável. Finalmente, deixando de lado um comentário sobre o clima, por ser comum demais, e outro sobre a beleza do cenário, por ser inteiramente insípido, ela começou: — Você comprou uma égua maravilhosa. Imediatamente lhe ocorreu que o que dissera talvez fosse pior do que os assuntos de que cogitara antes, mas Bromwell se virou para ela e sorriu, e suas críticas mentais desapareceram numa onda de calor. — Você gostou dela? Tive esperança de que gostasse. Pensei em você quando a comprei. — Ele parou de repente, uma expressão estranha nos olhos como se o que tinha dito o tivesse surpreendido, então continuou rapidamente: — Quero dizer, tinha pensado em fazer um passeio no Richmond Park e esperava que você e lady Haughston pudessem vir conosco. Eu a comprei para a propriedade, é claro, mas me ocorreu que você poderia usá-la para a cavalgada ao parque. — Estou muito contente por ter feito isto. — Callie estendeu a mão para acariciar o pescoço da égua, escondendo a onda de prazer que suas palavras lhe causaram. — Ela tem um passo suave, mas também é muito viva. — Tive receio de que talvez fosse viva demais — confessou ele. — Mas era boa demais para ser descartada. E posso ver que não precisava me preocupar com sua habilidade de lidar com ela. — Meu pai me montou num pônei assim que fui capaz de andar. — Callie sorriu de leve. — Ele era um cavalheiro entusiasmado. Na verdade, uma das poucas coisas de que me lembro a respeito dele era de vê-lo andando ao lado do meu pônei para me equilibrar se eu precisasse. Bromwell olhou para ela e franziu a testa de leve. — Ele morreu jovem? Sinto muito. Callie acenou. — Sim, ele contraiu uma febre num inverno e morreu poucas semanas depois. Eu nem mesmo o vi antes de morrer, pois minha mãe temia temi a que eu fosse contaminada. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – 14 – Bodas Bodas de desafio – Candace Candace Camp — Lamento
muito — repetiu. — Detesto ter despertado lembranças dolorosas em
você. Ela lhe sorriu. — Obrigada, mas não são dolorosas. Na verdade, mal me lembro do meu pai. Tinha apenas cinco anos de idade quando ele morreu e te nho apenas algumas lembranças bem vagas. Às vezes, não tenho certeza se me lembro do rosto dele por tê-lo visto ou por causa do retrato dele pendurado no quarto de minha mãe. Invejo meu irmão por tê-lo conhecido por muito mais tempo. — Para alguns de nós, não é uma alegria ter conhecido o pai por muito tempo. — Havia uma expressão amarga na boca de Bromwell. Calhe lhe lançou um olhar. — Você não... quero dizer... — Parou de repente, ciente de que a pergunta provavelmente era pessoal demais. — Não, eu não — respondeu, a voz sem expressão. — Não gostava dele enquanto estava vivo e não senti sua falta quando morreu. — Deu de ombros. — Lamento tanto! — Callie estendeu a mão para ele, então se lembrou dos outros e a recolheu. — Não, sou eu que lamento. É considerado desleal, imagino, não honrar o pai. Mas não sou bom em fingimento e não consigo mentir e dizer que o honro. Foi um homem duro e rígido que se importava apenas consigo mesmo e garanto que seria difícil encontrar muitas pessoas que lamentaram sua morte. Mas não devia ter introduzido um tópico tão desagradável na nossa conversa. — Sorriu para ela. — E vou abandoná-lo neste instante. Vamos falar sobre você, de como seu treinamento em cavalgar continuou depois da morte do seu pai. Sua mãe era uma amazona entusiasmada também? — Ah, não. — Callie deixou escapar uma risada. — Minha mãe não gostava muito de cavalgar. Mas ela sabia que eu gostava e queria fazer o que meu pai desejaria. Isto era muito importante para ela, pois amava-o muito. Assim, o cavalariço-chefe me ensinou, como já havia feito antes da morte do meu pai, e Sinclair também. — Olhou para ele. — E por isto que meu irmão é tão... protetor comigo. De muitas maneiras, foi tanto um pai quanto um irmão para mim. Acostumou-se a cuidar de mim. — Não posso censurar seu irmão por cuidar da irmã — afirmou Bromwell. — Na verdade, eu também faria tudo para proteger a minha. Enquanto falava, ele olhou para a irmã, que ainda cavalgava ao lado da carruagem aberta. Ela ria de alguma coisa espirituosa que o senhor Swanson dissera, a cabeça linda atirada para trás, o pescoço branco dobrado de maneira adorável. Sua roupa negra de montaria era severa, mas ela não precisava de ornamentos para sua beleza e, como acontecera com o vestido que usara na festa, o tom sombrio era o fundo perfeito para seu colorido vibrante. Enquanto olhavam, lady Daphné estendeu a mão e deu uma palmadinha brincalhona no ombro do senhor Swanson. O jovem ficou f icou rubro até a raiz r aiz do cabelo cor de areia. Callie olhou para a irmã dele, que tinha uma expressão amarga. Gideon os ignorava e fazia algumas anotações numa pequena caderneta que tinha na mão. Callie , que ouvira muitas histórias sobre a maneira como lorde Radbourne desprezava as normas sociais, escondeu um sorriso. Voltou o olhar para o rosto de Bromwell e viu que ele tinha uma pequena ruga na testa. — As pessoas, muitas vezes, interpretam mal lady Daphné. Ela é uma pessoa muito viva e calorosa — disse ele. — Ela me pareceu muito agradável. — Callie não tinha muita certeza do que dizer. — E é linda. Bromwell lhe lançou um sorriso.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Sim,
e tem orgulho disto. Mas sua beleza lhe custou muito caro de muitas maneiras. As mulheres, com frequência... não se sentem dispostas a fazer amizade com ela. Calhe pensou no pouco que Francesca lhe contara sobre lady Swithington. Sua reputação poderia ter sido exagerada, distorcida? Ela apenas gostava um pouco demais de flertar? Callie sabia como era fácil despertar a censura da sociedade de Londres. E uma linda mulher frequentemente causava ciúme nas mulheres menos afortunadas neste quesito. Por outro lado, as palavras de Bromwell poderiam ser apenas uma defesa da irmã feita por um irmão afetuoso. Já vira o amor tornar as pessoas cegas para as faltas da pessoa amada. E não podia se esquecer daquele brilho de raiva intensa que vira nos olhos de Daphné quando partiram da casa de Francesca. O que aquilo significaria? Certamente não combinava com as palavras amigáveis e elogiosas que lhe dirigira ou com o doce sorriso que lhe lançara. Mesmo assim, qualquer que fosse a verdade, Callie não podia deixar de respeitar a lealdade de Bromwell. — Vocês são os únicos filhos em sua família? Ele acenou. — Sim, e nossas propriedades são bastante isoladas. Assim, Daphné e eu fomos os únicos amigos que cada um de nós teve na infância. Meu pai achava que nenhuma das famílias das redondezas era igual à nossa em nascimento, portanto, jamais éramos encorajados a socializar com elas... Além disso, nenhuma delas vivia muito perto de nós e não nos víamos com frequência. E minha irmã é muitos anos mais velha do que eu. — Lançou um olhar divertido a Callie. — Não que eu diga isto perto dela. Mas, enfim, não pude ser um companheiro para ela, e minha irmã teve que cuidar muito de mim. E, é claro, quando eu tinha 7 ou 8 anos, ela estava muito mais interessada em roupas e penteados do que em me ajudar a fazer coleções de insetos ou qualquer outra coisa do tipo. Quando tinha 11 anos, ela veio para Londres debutar e então se casou. — Parece que você viveu muito sozinho. Ele acenou. — Muito. Mas felizmente sempre fui um tipo solitário. — Eu nunca fui — revelou Callie. — Mas também não convivi com crianças da minha idade. Passava a maior parte do tempo com os serviçais. A cozinheira, minha babá, as criadas dos quartos... Isso deixava minha avó e scandalizada. — Sua mãe também, imagino — comentou Bromwell. Callie deu de ombros. — Minha mãe nunca... se envolveu muito de perto com minha criação. Ele a olhou com surpresa. — Ela não era afetuosa? — Parou, então disse: — Desculpe, não devia ter feito esta pergunta. — Não, está tudo bem, não me importo de falar sobre ela. E não posso fazer isto com minha família, acho que deixa Sinclair triste. Sabe, como aconteceu com nosso pai, ele a conheceu por muito mais tempo do que eu. Ele se lembra de como ela era antes de nosso pai morrer. Era uma pessoa muito calorosa, amorosa e, quando meu pai era vivo, ia com frequência aos nossos aposentos para nos ver. Lembro-me de que me levava para passear no jardim e apontava todas as plantas e flores e me dizia seus nomes. Adorava o jardim, cortava as flores no verão e me deixava ajudá-la a arrumá-las em vasos. — Parece ter sido uma mãe maravilhosa. — Ela era, e sei que me amava. Mas, depois que meu pai morreu, ela mudou. Tinha um grande amor por ele, e sua morte lhe causou uma dor imensa, que apagou toda a sua alegria de viver. Era como se tivesse morrido com ele e deixado apenas seu corpo entre nós. Sei que ainda me amava, mas não estava... muito interessada em nada. Parou de cuidar do jardim, nunca mais voltou a cortar flores e arrumá-las. E, embora andasse muito, jamais me levava... ou mais ninguém... com ela. Andava pelas alamedas do jardim sozinha e parava para se sentar nos bancos e apenas... ficava lá, olhando para o nada. — Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp
Callie se virou para ele. — Deve me achar terrivelmente egoísta em me queixar por ela não me dar atenção quando estava sofrendo uma grande tragédia. — Não, não acho que você seja egoísta — garantiu ele suavemente. — Você também sofreu uma tragédia, perdeu seu pai... e, com ele, sua mãe também. — Sim. Callie ficou surpresa e um pouco constrangida ao sentir lágrimas lhe encherem os olhos. Havia muitos anos que seu pai e sua mãe tinham morrido, e não se emocionava assim por causa deles há muito tempo. Mas, de alguma forma, a calma compreensão daquele homem do que sofrera despertara uma sensação tão grande de dor, gratidão e ternura misturadas que as lágrimas se tornaram inevitáveis. Piscou para afastá-las e desviou os olhos para os campos enquanto controlava suas emoções. — Então você consegue compreender. — Sim, e muito bem. Minha mãe morreu logo depois que nasci, e minha babá se tornou como uma mãe para mim... Embora, é claro, quando tive idade para ter uma governanta, ela tenha deixado de ser minha babá. Mas sempre que podia, eu fugia para visitá-la. Era uma viúva, irmã de um dos nossos arrendatários, e o filho dela morreu logo depois de minha mãe, então combinávamos bem neste sentido. O irmão dela tem um filho de idade próxima da minha, Henry. Era o meu único amigo além de Daphné, portanto, sim, eu compreendo. — Você ainda vê Henry? — Ah, sim. — Ele sorriu. — E, para o escândalo da sociedade, ainda é meu único amigo. Agora é meu administrador. Seu irmão mais velho dirige a fazenda, mas Henry sempre foi inteligente. Aprendeu a ler e a escrever e a lidar com números comigo quando éramos crianças, e eu levava meus livros para ele. Quando herdei o título, contratei-o como administrador. O homem do meu pai o roubou durante anos, e meu pai, é claro, sendo um cavalheiro, nem pensava em se rebaixar para verificar as contas. As fazendas sofreram, e ele, assim como meu pai, conquistou a hostilidade de todos os arrendatários. — Parou de repente. — Desculpe, não tinha a intenção de ficar falando sem parar sobre um assunto tão entediante. Sem dúvida, vai lamentar o dia em que concordou em vir a esta excursão. — De modo algum. — Callie foi totalmente sincera. — Já conversei muito com meu irmão sobre seus negócios... pelo menos, sobre a administração das propriedades. Confesso que suas operações na bolsa de valores não me interessam muito. Mas as fazendas são outra coisa totalmente diferente. Não são apenas números, dos quais não gosto muito. São pessoas, compreende, com rostos e histórias e todo o tipo de conexões, e disto eu gosto muito. Há muito tempo, participo ao lado de Sinclair das festas das propriedades e cumprimento todos os arrendatários e suas famílias e lhes dou as boasvindas no Natal. Precisa se lembrar de que passei grande parte dos meus dias de infância e adolescência com os serviçais e, quando fiquei mais velha, cavalgando pelas propriedades na companhia de um cavalariço. Conheço todos os fazendeiros e suas famílias, pelo menos, em Marcastle e em Dancy Park. Confesso que não sou tão familiar com suas outras propriedades, nunca passei muito tempo nelas. — Deus do céu, quantas residências o duque tem? — Bem, além do chalé na Escócia, sem muitas terras em torno... ele só vai lá sozinho, para pescar e, acho, para descansar de ser tanto o duque, compreende? Ele tem a mansão nos Cotswolds, que foi parte do dote de minha mãe. Esta, diz ele, será parte do meu dote, mas ele a administra para mim. E então há a propriedade na Cornuália, onde a casa não é grande coisa, apenas um antigo castelo de aparência severa que, segundo Sinclair, não vale muito a pena manter. Mas há minas de estanho nas terras, então ele tem que ir lá para saber como são administradas. E há outra mansão com terras em Sussex. Acho que é tudo. Isto é, sem falar na Lilles House, em Londres, mas isto não é uma propriedade, não há terras. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Tudo? — Bromwell
deixou escapar uma risada e virou a cabeça para trás. — Você acabou de me colocar no meu lugar. Aqui estava eu, me congratulando por ter pago todas as dívidas da minha propriedade em Yorkshire e em fazê-la render bem a ponto de eu poder comprar uma casa em Londres. O rosto de Callie ficou muito vermelho. — Ah! Ah, não, de verdade, não tive a intenção de me gabar. O que vai pensar de mim? É só porque ele é um duque, entende? Bem, quero dizer, meu irmão é muito eficiente em administrar todas estas coisas. Mas há tantas propriedades apenas porque alguns duques do passado se casaram com herdeiras e suas terras passaram para o controle de Rochford. E, é claro, começamos como barões, então, cada vez que um dos meus ancestrais recebeu outro título, havia mais terras ligadas a ele... — Ela se calou e pareceu terrivelmente constrangida. — Estou tornando as coisas ainda piores, não estou? Mas tudo é do meu irmão, não meu. — Menos a mansão nos Cotswolds — lembrou ele, com os olhos brilhando de diversão. Callie deixou escapar um gemido baixo. — Desculpe, realmente não é... — E parou, sem saber bem o que queria negar. O conde riu, divertido. — Não, não peça desculpas. Não achei que estava se gabando. É apenas a verdade. Você é uma mulher de posição muito a lta. Callie rolou os olhos. — Detesto que pensem sobre mim desta maneira. Isto me faz parecer tão... tão presunçosa. — Você? Acho que ninguém pensaria em você como presunçosa. Você, querida dama, é encantadora. — Não, temo ser uma tagarela. Minha língua está sempre trabalhando por conta própria, independente da minha mente. Minha avó lhe diria que esta é uma das minhas piores faltas. — Sua avó me parece uma pessoa extremamente desagradável. Callie riu. — Sou injusta com ela. Simplesmente tem muito orgulho da família do marido e não se pode considerar isto uma falha. Sempre cumpriu seu dever, mesmo quando isto significava criar uma garota indisciplinada quando já havia passado muito da idade de ter que lidar com crianças. E espera que todos também cumpram seu dever. É apenas que não há relação nenhuma entre o que querem e o que gostam. — E o que é que você quer? — Não tenho certeza. Não ter que me casar com um tipo de homem pomposo e esnobe apenas porque ele é um duque, então ter o número exigido de filhos para agradar à família dele, tudo porque sou irmã de um duque. — Deixou escapar um suspiro. — Às vezes, gostaria... não sei... de ser apenas a senhorita "Alguém", sem nenhuma fortuna. — Acho que você acharia não ter uma fortuna extremamente desconfortável. — Eu sei. E devo parecer uma criança mimada e ingrata. Tenho certeza de que não seria nem um pouco feliz tendo que economizar centavos ou... ou reformar chapéus, costurar minhas roupas ou fazer alguma coisa apenas para ganhar dinheiro e me sustentar. E só que sinto, de vez em quando, como se, quando me olham, todos me vissem apenas como a irmã de Rochford e não uma pessoa independente, não eu. — Posso lhe garantir — ele se virou para olhar nos olhos dela — que, quando olho para você, vejo você e apenas você. Ao olhar de volta para ele, Callie sentiu, de repente, como se tudo o mais no mundo em torno deles tivesse desaparecido. Como se não houvesse mais uma estrada, seus acompanhantes, o campo invernal. Tudo o que podia ver eram os olhos dele, prateados à luz do sol e emoldurados por cílios espessos e negros. E tudo o que sentia era esta Projeto Revisoras
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coisa... dentro dela, crescente, que a deixava sem fôlego e espiralava até ela achar que explodiria. E viu nos olhos dele o brilho de uma miríade de emoções, que brilhava com a mesma força e rapidez que havia no dela. Ele virou o rosto de repente, de forma abrupta, e inspirou com força. Callie também desviou o olhar e lutou para controlar a expressão, para esconder do mundo o que, temia, a iluminava por dentro como uma flama. — Ah, lá está o Park — exclamou Bromwell de repente, a voz cheia de alívio. Callie acenou, e eles tomaram a trilha que levava ao parque. A terra se estendia gentilmente a distância, sem casas ou construções à vista, apenas uma ampla expansão de terra emoldurada por árvores de cada lado e além, onde o terreno descia. Não era o campo verdejante que seria mais tarde, na primavera. E as árvores ainda estavam sem folhas. Havia apenas o verde permanente dos teixos e lariços, mas ainda era uma cena de beleza prateada, iluminada pelo pálido sol do inverno. Como se para completar a pacífica cena rural, alguns cervos ergueram a cabeça para olhar para eles, interessados. Então fugiram, uma visão de graça e agilidade. Com um olhar risonho para Bromwell, Callie enterrou os calcanhares na lateral da égua e afrouxou a rédea. A égua pulou para frente, claramente ansiosa para correr. Atrás dela, Bromwell soltou um grito alegre e soltou também as rédeas do garanhão. Voaram pela trilha e deixaram o resto do grupo para trás. Callie se deliciou com o vento no rosto e a força da égua debaixo dela. A velocidade combinou com a onda de emoções que a tomava e lançava seu espírito para o alto. O vento agarrou o pequeno e lindo chapéu e o lançou no ar, fazendo-o cair para trás, mas ela apenas riu, absorta demais no momento para se importar. Bromwell a alcançou e, embora ela exortasse a égua a correr mais, ele lhe dirigiu um breve sorriso e a ultrapassou. Então ele começou a diminuir a velocidade, e ela também, até estarem apenas trotando. Tinham se afastado bem dos outros, agora escondidos por uma ligeira elevação do terreno. Era, pensou Callie, uma boa coisa estarem isolados, já que Bromwell virou o cavalo em direção a ela e se aproximou, o rosto tenso, o objetivo evidente. O braço dele se estendeu quando a alcançou, enlaçou-lhe a cintura e a puxou do cavalo dela para o dele. Então a sentou diante dele. Seu outro braço lhe circundou as costas, apoiando-a, e a mão se ergueu para seu rosto, então mergulhou em seu cabelo. O calor dele a envolvia. Seu peito subia e descia com rapidez. Ele nada disse, mas a intenção era evidente no rosto, nos olhos brilhantes. Callie ergueu o rosto para o dele, tão sem fôlego quanto ele. Ficaram perfeitamente imóveis por um instante, os olhos presos, então a boca desceu para cobrir a dela. O fogo a percorreu, lhe queimou a pele e se instalou profundamente dentro dela. Callie estremeceu no abraço dele, ansiosa e dolorida, enquanto a boca de Bromwell a alimentava e lhe aumentava a fome ao mesmo tempo. A mão dela se ergueu para a nuca de Bromwell e se curvou para puxá-lo para mais perto dela. Ele gemeu e aprofundou o beijo. Beijou-a até ela pensar que explodiria com o calor e o desejo que cresciam dentro dela. — Callie... Callie — murmurou, afastando a boca da dela para trilhar um caminho de fogo por sua pele, descer até a curva do queixo. A mão deixou o cabelo, deslizou pelo pescoço e parou sobre o seio coberto pela roupa. — Quis fazer isto o dia inteiro. Não, Deus, quis fazer isto por quinze dias. Callie riu de leve e virou o rosto para descansá-lo no ombro dele. — Eu também. — A voz era apenas um sussurro. A reação dela o fez gemer, e Callie sentiu o corpo dele esquentar ainda mais enquanto a pressionava contra ele. Beijou-a de novo, a mão escorregando pela frente do corpete. Finalmente, ela ergueu a cabeça. — Não podemos, eles logo nos verão.
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Ele hesitou, observando-lhe o rosto. Os olhos escureceram e, por um instante, Callie pensou que ignoraria as próprias palavras. Mas então ele virou a cabeça com uma praga dita em voz suave. Beijou-a de novo, com força e rapidez, então a fez escorregar do cavalo para o chão e desmontou. Então se virou para ela. — Precisamos procurar seu chapéu. — Hum — Callie concordou, perturbada. Achava difícil pensar em qualquer outra coisa além da sensação de formigamento nos lábios ou da dor que lhe fazia os seios pesarem... ou da pulsação insistente e profunda no ventre. Olhou para ele, e a respiração de Bromwell se prendeu na garganta. O rosto dela estava vermelho, os lábios rosados e úmidos, os escuros olhos castanhos enormes e suplicantes. Uma mecha do cabelo se soltara quando o chapéu fora arrancado pelo vento e lhe emoldurava o rosto, encostando-se nele. Era a própria imagem de uma mulher interrompida enquanto fazia amor, e ele sentiu o desejo lhe apertar as entranhas, como as garras de um animal feroz. Por um momento, não conseguiu falar. Os dedos se fecharam em punhos, e ele estremeceu. — Callie, não olhe assim para mim ou perderei a honra que ainda tenho. Ela piscou e se esforçou para se afastar do devaneio sensual. Os olhos perderam a expressão vazia e se focalizaram, e ela curvou os lábios num sorriso deliciosamente provocante. Então se virou, ajeitou a roupa e andou em direção à égua branca para segurar as rédeas. Eles andaram de volta pelo caminho que haviam percorrido sem dizer uma palavra. Cada um estava consciente demais do que havia acontecido e do calor que ainda fluía entre eles para conseguir conversar casualmente. Callie ergueu as mãos para o cabelo e tentou prender as mechas soltas. Bromwell estendeu a mão para segurar as rédeas da égua para deixar-lhe as mãos livres. Seus dedos roçaram a mão dela e, mesmo com aquele leve toque, o calor cresceu neles. Quando chegaram ao topo da pequena elevação, viram o grupo a distância, reunido num ponto abrigado à margem das árvores. O cocheiro e o cavalariço estavam tirando as cestas da carruagem, e os outros estavam espalhados pelas imediações. Callie suspirou de alívio ao perceber que ainda tinha alguns minutos para se controlar antes de precisar enfrentar os olhos sagazes das outras mulheres do grupo. Um momento depois, encontraram o chapéu perdido, e Bromwell o pegou e o entregou com uma reverência. — Meu penteado está direito? — A expressão era ansiosa quando encontrou o alfinete do chapéu, que, felizmente, continuara preso a ele, então o prendeu à cabeça. — Você está adorável. — Sorriu para ela, o olhar preso em seu rosto. — Não me olhe assim. — Tentou parecer severa, mas não conseguiu evitar sorrir também para ele. — Do jeito como as coisas estão, sem dúvida, todos estão se perguntando o que estivemos fazendo quando ficamos fora da visão deles. — Imagino que possam ter suspeitas, mas não se passou tempo suficiente para fazermos muita coisa. E posso lhe garantir que minha irmã e meu primo não dirão nada. — Sei que lorde e lady Radbourne e Francesca também não falarão sobre o assunto — concordou Callie. — E, por sorte, o senhor Swanson está encantado demais com a sua irmã para perceber qualquer coisa. Ele riu. — Imagino que seja verdade, o que deixa apenas a senhorita Swanson, que é, eu acho, muito jovem e sem sofisticação. Continuaram andando em silêncio por um momento, então Bromwell disse: — Espero que não pense que tive a intenção de desrespeitá-la. Geralmente não sou dado a agarrar mulheres jovens e arrancá-las de seus cavalos.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Verdade,
não é mesmo? — murmurou, lançando um olhar de esguelha para ele. — No entanto, me pareceu muito competente ao fazer isto. Os lábios dele se mexeram, divertidos. — Você é uma garota atrevida. Estou tentando me desculpar. — Não precisa, eu, bem, participei ativamente do que aconteceu. — Callie não conseguia olhar diretamente para ele enquanto falava; seu rosto já estava vermelho demais. Ele olhou para ela, surpreendido, e Callie ergueu o olhar. O rosto dele estava vermelho, e ela pensou, a princípio, que ele ficara constrangido com o que ela dissera, mas então viu o brilho nos olhos dele e percebeu que suas palavras haviam lhe despertado, de novo, o desejo. — Minha querida lady Calandra... — murmurou. — Você ainda me fará fazer uma cena. — Eu? E como faria isto? — Quando estou perto de você, me vejo a cada momento à beira de... — Então parou abruptamente. — A beira de quê? — Callie estava realmente confusa. — A beira de fazer alguma coisa como acabei de fazer, por um lado. E de mostrar ao mundo exatamente como são pouco cavalheirescos os sentimentos que tenho por você, por outro. Ela o olhou, perplexa, então compreendeu o significado de suas palavras e ficou intensamente ruborizada. — Lorde Bromwell! — Está vendo? Perco até a habilidade de me engajar numa conversa civilizada com você. — Compreendo. Então está dizendo que, se é "pouco cavalheiresco" a culpa é minha? — Callie ergueu as sobrancelhas para ele. — Não encontro outra explicação para o meu mau comportamento, a não ser que você que me leva a ele — concordou, a expressão leve, um sorriso ligeiro brincando nos lábios. — E certamente sabe disso, deve ter o hábito de enlouquecer os homens. — Não, você é o primeiro. — O tom era seco. — Não posso acreditar. Parece que tudo em você é destinado a enfeitiçar, enlouquecer. — Olhou para ela, e os passos se tornaram mais lentos enquanto continuava: — Seu cabelo, seus olhos, o modo como seus lábios se curvam quando sorri e que me fazem pensar apenas em tocá-los com os meus. Callie ficou ainda mais ruborizada e com dificuldade para respirar. — Brom... Ele parou de andar, e ela também, então se virou para ele. Por um momento, até o ar entre eles pareceu vibrar com o calor e a fome. Com um enorme esforço, Callie lhe deu as costas. — Temo que você não esteja nos ajudando... — a voz tremia — na tentativa de parecermos normais quando nos reunirmos aos nossos amigos. — Você tem razão. — Respirou profundamente e deixou escapar um suspiro. Então voltou a andar novamente e disse, o tom da voz leve: — Então, lady Calandra, é um dia adorável de inverno para uma cavalgada, não é? Ela deu uma pequena risada e começou a andar ao lado dele. E assim, conversando sobre amenidades, caminharam de volta para junto dos outros e, quando chegaram ao grupo, aparentemente estavam como sempre, apenas um pouco desarrumados pela corrida. Por dentro, porém, tudo era completamente diferente. Por dentro, Callie achava que jamais seria a mesma pessoa.
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Capítulo Dez
As mulheres do grupo estavam sentadas sobre um cobertor estendido no chão, os homens ainda em pé. Callie percebeu que Francesca e lady Daphné estavam sentadas o mais separadamente possível, e havia um leve rubor no rosto de Francesca, o que mostrou a Callie que ela não estava no melhor dos humores. A senhorita Swanson e Irene estavam entre as duas, a última parecendo determinada a mostrar uma expressão vazia e, a outra, totalmente inconsciente da tensão existente. — Ah, lady Calandra! E Bromwell! Crianças levadas, fugindo desta maneira! — A voz de lady Daphné era brincalhona, e ela apontava um dedo acusador a eles. — Vão fazer as más línguas trabalharem com este tipo de comportamento. — Não, a menos que alguém decida espalhar rumores, lady Swithington. — A voz de Francesca era áspera enquanto lançava à outra mulher um olhar gelado. — Bem, é claro que nenhum de nós faria comentários — respondeu lady Daphné, parecendo magoada. — Todos sabemos o que é ser jovem e cheio de vida, não sabemos? Então sorriu encatadoramente para os homens. — Acho que descobrirá que não precisa se preocupar com a reputação de lady Calandra, lady Swithington — interrompeu Irene com calma. — Todos sabem que o caráter de Callie está acima de censura. — É claro que está — concordou Bromwell, enquanto se dirigia para onde a irmã estava e se sentava ao lado dela. Callie se sentou perto de Francesca, que se virou para ela com um sorriso. — E um dia maravilhoso para uma cavalgada. Foi uma boa corrida? — Ah, sim. — Callie seguiu a bem-vinda mudança de assunto de Francesca. — A égua de lorde Bromwell é uma criatura adorável. E evidente que ele sabe escolher cavalos. — Sim, ele sabe — concordou a irmã, orgulhosa. — Brom sempre cuidou destas coisas para mim... e também para o meu querido e falecido marido. A conversa, previsivelmente, se concentrou em cavalos, e Callie se recostou e deixou a conversa fluir, fazendo um comentário de vez em quando. Não se permitiu pensar no que havia acontecido entre ela e Bromwell, deixaria isto para a noite, quando estivesse de volta ao seu quarto, sozinha, e pudesse se lembrar de todos os detalhes. Depois de um almoço de frios, Callie e Francesca saíram para uma caminhada, acompanhadas por Archie e pela senhorita Swanson. Os outros ficaram onde estavam para descansar e conversar. Mais tarde, depois de todo o grupo reunido cavalgar um pouco pelo parque, iniciaram a viagem de volta para a estrada de Londres agradavelmente cansados. — Foi um passeio delicioso — declarou lady Daphné. A senhorita Swanson acrescentou seus elogios aos dela e garantiu que tinha sido o dia mais agradável que passara em Londres até então. O senhor Swanson também deu sua opinião, afirmando que o dia tinha sido "supimpa" — Precisamos programar outro passeio — continuou lady Daphné, sorrindo. — Agora, o que poderia ser divertido? Já sei, uma coisa perfeita... os Vauxhall Gardens. Projeto Revisoras
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A senhorita Swanson bateu palmas de entusiasmo e o senhor Swanson e o senhor Tilford concordaram que era uma excelente ideia. Francesca sorriu secamente e apenas murmurou alguma coisa vaga. — Na próxima terça-feira? — pressionou lady Daphné. — Por favor, diga que sim, lady Calandra. Callie lançou um olhar a Francesca, que, suspeitava, não queria ir a lugar nenhum com lady Daphné, dada a tensão de sua postura. — Não tenho certeza — disse Francesca, ganhando tempo. — Preciso verificar meus compromissos. — Mas certamente lady Calandra poderá ir — afirmou lady Daphné, sem parecer nem um pouco incomodada pela perspectiva da ausência de Francesca. — Afinal, seremos um grupo grande, e isto será companhia suficiente para estas jovens. Lorde e lady Radbourne também irão, não é? — Olhou para Irene e Gideon com uma expressão de apelo. Irene olhou de lady Daphné para Francesca e Callie. — Bem, sim, acho que sim. — Então, estão vendo? — Lady Daphné sorriu, triunfante. — É claro que lady Calandra é livre para fazer o que quiser — disse Francesca apenas. Dividida, Callie se virou para Francesca. Queria participar do passeio, mas se sentia um pouco culpada, como se estivesse abandonando Francesca. — Eu... isto é, devo ir com lady Haughston para, um... — Bobagem. — Francesca sorriu e deu uma palmadinha no braço de Callie. — Não há necessidade de você se sacrificar. Lembro-me agora de que é simplesmente uma visita a uma velha amiga. Vá e se divirta. — Então está combinado e vai ser muito divertido. — A irmã de Bromwell lançou um sorriso brilhante ao grupo. Então ela e a senhorita Swanson começaram a conversar sobre os dominós e máscaras que usariam para o evento. Callie continuou a cavalgar ao lado de Francesca e Irene. — Francesca, mais tarde posso enviar um bilhete para lady Swithington dizendo que não posso ir. — A voz de Callie era baixa, para apenas Francesca e Irene ouvirem. Francesca sorriu para ela. — Não, eu me sentiria muito mal se você abrisse mão de sua diversão apenas porque não consigo suportar a companhia daquela mulher por mais do que algumas poucas horas. Deus sabe que não confio em lady Swithington como uma companhia para você, mas se Irene e Gideon estiverem lá, será perfeitamente adequado. E sei que você quer ir. — Garanto que o decoro será mantido — concordou Irene, debruçando-se para falar com Callie, que estava do outro lado de Francesca. Era de conhecimento geral que muitos se comportavam com liberdade excessiva nos Vauxhall Gardens. Mas, desde que houvesse cavalheiros no grupo para desencorajar os audaciosos jovens que gostavam de caminhar em frente aos camarotes encarando mulheres desacompanhadas, e uma senhora casada para dar respeitabilidade ao evento, um passeio aos jardins era uma diversão muito agradável. Callie já estivera lá na companhia do irmão e sempre lhe parecera uma espécie de lugar mágico, com suas trilhas, fontes e ruínas falsas, tudo banhado pelo brilho quente de lanternas penduradas ao longo dos caminhos e nas árvores circundantes. E, se não fosse o bastante, havia a orquestra no pavilhão, danças, cantores e, algumas vezes, até mesmo acrobatas que andavam sobre cordas atravessadas sobre os caminhos. Esperava, ansiosa, pela oportunidade de ver tudo aquilo sem estar sob a observação cerrada do irmão. E a ideia de caminhar pelas trilhas em companhia de lorde Bromwell era ainda mais atraente. Projeto Revisoras
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Callie sorriu para Irene. — Obrigada. — E desviou o olhar para Francesca de novo. — Se você tem certeza... — Sim, tenho certeza. — Francesca sorriu. — Acho que nem mesmo sua avó censuraria um passeio aos jardins se estiver na companhia de um grupo grande que inclua Irene e Gideon. E, se não for sem mim, terei que suportar uma noite na companhia daquela mulher, o que jurei que nunca mais faria. Callie lançou um olhar interrogador a Irene, que apenas deu de ombros e ergueu ligeiramente uma sobrancelha. — Está bem — concordou Callie, então sorriu para Francesca com afeição. — Obrigada. — Não seja tola, não há motivo para você se privar de um prazer apenas porque eu permito que aquela mulher me dê nos nervos. — Sorriu para Callie. — E agora acho que vou correr um pouco e ver se consigo melhorar meu humor. Ela incentivou o cavalo para um trote e logo deixou todo o grupo para trás. Callie observou Francesca diminuir um pouco o passo do cavalo e ficar à frente de todos. Então Callie se virou para Irene. — Você sabe o motivo por que lady Swithington a aborrece tanto? — Não tenho certeza, além do fato de que lady Swithington pode ser muito desagradável. Entretanto, já vi Francesca sorrir e suportar mulheres muito piores, entre elas minha cunhada. Callie, que conhecia lady Wyngate, esposa de Humphrey, irmão de Irene, não conseguiu deixar de sorrir. — Sei que a reputação de lady Swithington não era muito boa — continuou Irene —, mas isto foi há anos atrás. Eu nem mesmo me lembro dela. E, como viveu em Gales ou algum lugar assim desde então, não pode ter causado muito escândalo lá. Ou, pelo menos, nenhum de que tivéssemos tomado conhecimento. Ela é, evidentemente, muito entusiasmada com um flerte. — Irene parecia placidamente despreocupada com o fato, já que o marido dela tinha sido o objeto do flerte da mulher. — Mas não vejo por que isto incomodaria Francesca, fui eu que quis dar uns t apas nela. — Você quis? — Callie estava surpresa. Irene riu. — Bem, poderia querer, mas Gideon ficava me lançando olhares tão angustiados, pedindo socorro, que não pude deixar de me divertir um pouco com a situação, que foi realmente ridícula. Um sorriso curvou a boca de Irene e, por um momento, houve um brilho tão sensual nos olhos dela que Callie teve que desviar o olhar, sentindo que vira alguma coisa muito particular. Então o brilho desapareceu, e Irene deu de ombros. — Acho que Francesca se aborreceu com o fato de lady Swithington falar constantemente sobre você. Não o tipo de coisa que não gostaríamos de ouvir... sobre como você é adorável, que maneiras refinadas você tem, como monta bem a cavalo. Suponho que lady Daphné esperava apenas reforçar a corte do irmão, mas teria sido mais prudente não dizer nada, como se isto apenas lembrasse a todos que você não estava lá, e sim com Bromwell. Com outras pessoas, ou se você fosse outra mulher, menos conhecida, ela poderia provocar mexericos. Callie sentiu o r osto esquentar. — Houve conversas sobre nós? Não percebi que ficamos distantes por tanto tempo. Eu... foi apenas muito agradável correr. — Olhou para o lado sem querer enfrentar o olhar claro de Irene, aqueles olhos de um castanho-dourado tão francos. — Não, é claro que não. Sua reputação é tão boa que seria necessário um comportamento muito pior para abalá-la. E, de qualquer maneira, logo vocês estavam à vista de novo. — Irene fez uma pausa. — Lady Swithington mencionou também seu parentesco com o duque mais de uma vez. Francesca provavelmente pensou que ela estava se exibindo, se mostrando íntima demais de uma família de alta posição.
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Callie acenou. Mas ainda acreditava que teria que haver alguma coisa além daquelas pequenas maldades que Irene mencionara para fazer a geralmente tranquila Francesca desgostar tanto de lady Swithington. Mas Callie não queria fazer mexericos sobre suas suspeitas, nem mesmo com Irene. A cavalgada para casa ocorreu sem incidentes. Lorde Bromwell não deu atenção exclusiva a Callie de novo. Ela sabia que o comportamento dele era sábio. Não podia mostrar uma preferência muito grande pela companhia dela depois de ter passado todo o tempo ao lado dela na ida até o parque. Mesmo assim, não conseguiu negar que sentiu falta da presença dele ou que gostaria de construir mais lembranças para guardar e repassar em sua mente à noite, quando estivesse na cama. Ele se despediu de maneira formal em frente à casa de Francesca e apenas o brilho caloroso nos olhos revelou um sentimento especial por ela. Então voltou a montar e partiu com a irmã e os amigos. Irene e Gideon também se despediram e recusaram o convite de Francesca para ficar mais um pouco e tomar um chá tardio com elas. Depois de trocarem um olhar, Francesca e Callie concordaram que tudo o que queriam era tomar um banho, descansar, fazer uma refeição leve no jantar e então se retirar para seus quartos para dormir. Callie gostou de ficar sozinha pelo resto da noite. Por mais que apreciasse a companhia de Francesca, no momento, queria apenas ficar a sós com seus pensamentos. Mergulhou na tina de banho, a criada surgindo ocasionalmente para aquecer a água com uma chaleira. Então, embrulhada no roupão, se sentou num tamborete baixo diante da lareira e escovou o cabelo para secá-lo. Mergulhou em suas lembranças da tarde, pensando em cada palavra e cada gesto, demorando-se nos beijos que havia partilhado com Bromwell, na expressão dos olhos cinzentos enquanto se fixavam em seu rosto. Sentiu-se ruborizar quando pensava no que haviam feito e na maneira como reagira a ele. Só de lembrar tudo aquilo, seu sangue esquentou de novo. Jamais se sentira assim, e era, ao mesmo tempo, delicioso e alarmante. Não fazia ideia do que iria acontecer ou mesmo do que queria que acontecesse. Sabia apenas que desfrutava a vida com mais intensidade do que nunca, que acordava cada manhã com uma sensação de ansiedade e excitação. Aquilo teria que terminar, ela sabia. E também sabia como era pequena a probabilidade de que terminasse bem. Sinclair certamente voltaria a Londres mais cedo ou mais tarde... ou alguma mexeriqueira intrometida escreveria para seu irmão ou sua avó e lhes contaria que o conde de Bromwell estava muito ocupado fazendo a corte a lady Calandra. Callie não sabia o que o irmão faria quando descobrisse que havia desafiado suas ordens claras de não ver Bromwell, mas não tinha pressa nenhuma de descobrir. Odiava o pensamento de uma discussão com o irmão e não sabia se ele a mandaria voltar para Marcastle pelo resto da temporada. Não permitiria que ele dirigisse sua vida, mas, por outro lado, não suportaria um afastamento entre eles. O que faria se a situação chegasse àquele ponto? Se tivesse que escolher entre Sinclair e Bromwell? Isto, é claro, levava à pergunta maior do que exatamente estaria escolhendo se preferisse Bromwell. Ele lhe demonstrava uma atenção marcante, mas para onde esta atenção se dirigiria? E, na verdade, para onde queria que fosse? Não sabia o que Bromwell sentia por ela. Parecia fascinado, todos os sinais estavam lá. Mas não podia deixar de lado uma certa inquietude causada pelas advertências de Sinclair contra o homem. Sinclair não era uma pessoa irracional nem alguém que se preocupava com facilidade. Sentia-se com tanta intensidade que ela não devia ver Bromwell, que não podia deixar de se perguntar se havia alguma coisa errada com o conde, alguma coisa que não conseguia ver, não conseguia saber. Bromwell não seria sério em sua corte a ela? Estaria fazendo algum tipo de jogo?
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Ele nada dissera sobre suas intenções, mas ainda era cedo demais para isto. Ora, nem mesmo sabia quais eram as intenções dela mesma. Se Bromwell a pedisse em casamento no dia seguinte, não sabia o que responderia. Sentia por ele o que jamais sentira por homem algum. Seu toque a fazia estremecer. O pensamento de vê-lo de novo quase a deixava tonta. E, quando a beijava, causava nela uma dor diferente, nova e completamente maravilhosa. O dia em que não o via lhe parecia mais vazio do que qualquer outro dia do passado e, sempre que ele entrava numa sala, era como se uma luz se acendesse dentro dela. Seria amor ou apenas uma paixão? Callie não sabia. Tudo do que tinha certeza era que queria continuar a se sentir daquela maneira. Como prometera, lady Swithington as convidou para se juntar ao seu grupo para uma visita aos Vauxhall Gardens na terça-feira seguinte. Não as convidou por escrito, mas visitou-as pessoalmente para fazê-lo. Francesca, com um sorriso seco, reiterou seu compromisso para encontrar uma velha amiga fictícia, mas acrescentou que esperava que Callie pudesse ir. Na verdade, Francesca sentia uma grande inquietação com o programa. Sabia o quanto Callie queria ir, mas odiava pensar em qual seria a reação do duque de Rochford ao saber que sua irmã estava passando o tempo em companhia de sua notória examante. É claro, a culpa de o duque se encontrar naquela posição precária com relação a lady Swithington era completamente dele, e não de Francesca. Ele não podia, pensou Francesca, esperar ser protegido pelo que, afinal, tinha sido sua própria idiotice. Mas sentia que era seu dever proteger Callie e, na opinião de Francesca, lady Swithington não era uma pessoa adequada para o convívio de Callie. Entretanto, todo mundo do beau monde parecia ter perdoado, ou pelo menos esquecido, a reputação que lady Daphné conquistara antes de seu casamento com lorde Swithington, quinze anos atrás. Mais ainda, Francesca não sabia, com certeza, o quanto a ligação da mulher com o duque era conhecida. O duque era, em geral, um homem muito discreto e conservador e, embora a perseguição determinada de Daphné a ele tivesse sido muito pública, Francesca sabia que poucas pessoas tinham sido testemunhas, como ela tivera a pouca sorte de ser, da cena de Rochford e Daphné deixando o lugar de um de seus encontros clandestinos. Francesca nunca ouvira dizer que lady Daphné não era recebida por qualquer uma das anfitriãs da sociedade. Lady Odélia Pencully, uma grande força do ton, tinha uma afeição estranha pela mulher. Assim, Callie teria dificuldade em compreender por que não devia se associar a lady Swithington, se esta associação fosse subitamente proibida. E Francesca não podia revelar o motivo pelo qual Rochford não gostaria de ver Callie ao lado de Daphné sem lhe contar aquilo que o duque não gostaria que Callie soubesse. Ela mesma devia se juntar ao grupo, Francesca sabia, mas achara insuportável a companhia de lady Swithington no dia do passeio a Richmond Park. Pensara que quinze anos deviam ter cicatrizado todos os ferimentos, mas, na verdade, a presença de Daphné, ao contrário, havia-a feito se lembrar, de novo, de todos os motivos pelos quais não gostava dela. Cada vez que Daphné mencionara Rochford, Francesca ficara tão rígida que teve medo de se quebrar. E, afinal, Irene e Gideon estariam lá, além de diversas outras pessoas. Não era como se Callie fosse ficar sozinha com lady Daphné e seu irmão sem outras companhias ou se associando muito de perto com a mulher. E Callie estaria usando um dominó e uma máscara que a encobririam. Ninguém jamais saberia que ela estivera lá, e nada aconteceria a Callie ou à sua reputação. E, se Rochford ficasse aborrecido, pensou ela com um pouco de implicância, então deveria ter sido mais cuidadoso com o que fizera quinze anos atrás.
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Assim decidida, Francesca não participou do grupo nem tentou persuadir Callie a não comparecer ao evento. Mesmo assim, não conseguiu reprimir uma fisgada de inquietação quando, na terça-feira seguinte, observou Callie entrar na carruagem que lady Swithington havia enviado. Callie, porém, não sentiu o menor desconforto. Acenou um adeus a Francesca e então se acomodou para a curta viagem até a casa de lady Daphne, onde o grupo se reuniria para o passeio. Usava um vestido de noite branco com debrum de renda prateada e, sobre ele, um dominó de cetim negro forrado de cetim branco. Tomara o dominó emprestado de Francesca, já que não levara o seu da Lilies House, e achou que era, ao mesmo tempo, elegante e dramático. O capuz tinha uma dobra para revelar o forro branco e, como era largo, grande parte do forro era visível, um contraste rico com seus cachos negros. Com a meia-máscara sobre os olhos, achou que parecia sofisticada e misteriosa. Riu de leve ao pensamento, porque a verdade era que, por dentro, Callie não se sentia nem um pouco sofisticada ou misteriosa. Estava muito excitada, como uma garota prestes a comparecer ao seu primeiro baile, e pensou que suas sensações deviam brilhar dentro dela como uma lâmpada acesa. Um porteiro estava diante da casa de pedras cinzentas de lady Swithington, festivamente brilhante com as luzes, e se curvou e abriu a porta para Callie. Quando entrou, um mordomo a levou até a sala de estar, onde um grupo alegre conversava e ria. Além de lady Swithington, estavam lá também os irmãos Swanson, o senhor Tilford, dois outros jovens e uma moça que Callie não conhecia. — Lady Calandra! — Daphné andou em direção a ela para saudá-la, as duas mãos estendidas. — Estou tão contente por você estar aqui. Venha, deixe-me lhe apresentar os outros membros do nosso pequeno grupo. Os homens estavam vestidos na última moda, com todos os seus ornamentos e afetações. Um deles usava um ramalhete do tamanho de um punho fechado no botão da lapela, e a corrente do relógio do outro continha tantos berloques que era um milagre ela não se partir. Sua conversa era salpicada de gírias e divertiam um ao outro com frequentes piadinhas tolas. Callie se perguntou por que se achavam tão engraçados. Entretanto, a senhorita Swanson e a outra jovem, uma garota loura que ria muito alto, pareciam achar os dois jovens extraordinariamente encantadores e bebiam cada palavra que diziam, soltando trinados de risadas sempre que um deles f azia um bon mot. Lady Daphné, que se encolheu um pouco quando a garota loura soltou uma risada particularmente alta, apresentou os outros a Callie. A jovem loura era a senhorita Lucilla Turner, e os cavalheiros eram o senhor William Pacewell e o senhor Roland Sackville. Assim que foram apresentados, Callie se viu incapaz de se lembrar quem era quem, mas, como percebeu logo que tinha pouco interesse em conversar com qualquer um deles, achou que realmente não tinha importância. Acenou para o senhor Swanson e sua irmã e ficou aliviada ao ver pessoas que conhecia. Então olhou em torno da sala em busca do resto do grupo. — Ah, vejo que está procurando pelo meu irmão. — Lady Daphné lhe dirigiu um sorriso conhecedor. — Ele não está aqui, vamos encontrá-lo mais tarde no Vauxhall. Sabe como é, homens jovens são tão ocupados. — Compreendo. — Callie sorriu e fez o melhor que podia para esconder seu desapontamento. — Suponho que lorde e lady Radbourne ainda não chegaram. — Não, mas ainda é cedo. Deixe-me mandar buscar alguma coisa para você beber enquanto esperamos por eles. Lady Daphné fez um gesto para um criado e, em pouco tempo, Callie tinha uma taça de ratafia na mão. Ela tomou um pequeno gole e conversou com lady Daphné, sentindose um pouco estranha e fora de lugar. Callie não era uma pessoa tímida, mas a ausência de pessoas que conhecia bem a deixou mais calada do que o normal. Também achou a exibição dos jovens muito barulhenta e desagradável. Projeto Revisoras
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Os minutos se arrastavam e Irene e Gideon não chegavam. Lady Daphné começara a olhar repetidamente para o relógio, então passou a sorrir e dizer levemente que certamente eles tinham sido detidos e logo estariam lá. Finalmente, porém, depois de a senhorita Turner perguntar mais uma vez quando sairiam, lady Daphné suspirou. — Bem, suponho que seria melhor se fôssemos logo para Vauxhall. Afinal, não vai demorar para lorde Bromwell nos encontrar lá. — Mas e lorde e lady Radbourne? — perguntou Callie. — Não sei por que eles ainda não chegaram. Mas, sem dúvida, estão apenas um pouco atrasados. Deixarei um recado com o mordomo para eles se juntarem a nós no Vauxhall. — Talvez eu deva esperar por eles — começou Callie, inquieta. Sabia que Francesca não gostaria que fosse com lady Swithington e os outros sem Irene e Gideon. — Céus, não — replicou lady Swithington, o tom alegre. — E se um deles ficou doente e eles decidiram não vir? Então você perderá toda a diversão. Ou eles podem simplesmente decidir, depois de se atrasarem tanto, nos encontrar lá, e nem venham até aqui. Não vai querer ficar aqui sozinha a noite toda. Aquilo era certamente verdade. Callie não tinha a menor vontade de ficar numa casa estranha sozinha por horas, sem nada para fazer. Sabia que devia dizer a lady Swithington que voltaria para a casa de Francesca, mas não encontrava um meio delicado de dizer à irmã de Bromwell que Francesca... e, sem dúvida, sua avó e seu irmão... não considerava lady Daphné uma companhia adequada para protegê-la. Com certeza, Irene e Gideon chegariam em algum momento, então teria perdido tudo por nada. Além disso, queria muito se encontrar com Bromwell e caminhar com ele pelas trilhas românticas e iluminadas dos jardins. De qualquer maneira, lembrou a si mesma, não podia pedir aos outros que esperassem ainda mais enquanto a carruagem de lady Daphné a levava de volta para casa. Assim, apenas sorriu e concordou. — Você tem razão, é melhor irmos logo. As quatro mulheres entraram na carruagem de lady Swithington. Os homens chamaram uma carruagem de aluguel e partiram para os jardins. As dúvidas de Callie diminuíram enquanto faziam a viagem. A conversa com apenas as mulheres foi muito mais tranquila e agradável e, a cada momento que se passava, ela ficava cada vez mais ansiosa para ver os brilhantes jardins e, mais do que tudo, para estar com Bromwell. Vauxhall tinha uma aparência mágica, como sempre, e a inquietação de Callie desapareceu quando desceram da carruagem e entraram. Os homens compraram as entradas e, para a ceia, reservaram um dos camarotes que alinhavam o passeio principal. Caminharam ao longo da larga avenida até chegarem ao seu camarote, localizado perto do pavilhão onde a orquestra logo estaria tocando. Sentaram-se e começaram a observar a parada de pessoas que passavam. Havia alguma coisa maravilhosamente livre, pensou Callie, em estar vestida com um dominó e uma máscara. Podia ver todos que estavam passeando com a segurança de saber que ninguém saberia quem era e que não haveria mexericos que pudessem irritar a duquesa. Um garçom levou a ceia de fatias muito finas de presunto, galinha e diversas saladas e serviu com abundância o ponche de aguardente de arroz pelo qual os jardins eram famosos. Era uma bebida muito forte e, embora Callie tomasse apenas alguns pequenos goles, logo se viu relaxando sob sua influência e se instalou mais à vontade para se divertir. Era muito agradável observar as pessoas que passavam em todos os formatos, tamanhos e classes. Havia muitos jovens de sociedade, alguns deles almofadinhas, outros com a estrutura atlética dos corintianos, além de um bom número de mulheres desacompanhadas, que flertavam ousadamente com os homens. Callie os observava Projeto Revisoras
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com uma certa fascinação e, de vez em quando, ruborizava com comentários maliciosos que atiravam uns para os outros. Um pouco para sua surpresa, alguns dos jovens encaravam abertamente as mulheres sentadas em seu camarote. A senhorita Swanson e a senhorita Turner correspondiam aos olhares ousados com risadinhas, mas Callie ficou um pouco chocada ao ver que lady Daphné erguia o leque sedutoramente e flertava com alguns dos jovens impertinentes. Callie esperava que os homens em seu grupo as livrassem daqueles homens. Podia bem imaginar como Sinclair reagiria a tanta impertinência. É claro, quando fora até lá com o irmão, sua presença no camarote tinha sido suficiente para impedir que qualquer homem dirigisse comentários e olhares inadequados a ela. A orquestra começou a tocar no pavilhão, e as pessoas se reuniram diante dele para dançar. Por polidez, Callie dançou com o senhor Tilford e então com o senhor Pacewell. Pelo menos, pensou que era o senhor Pacewell, mas ele dançava muito mal e lhe pisou os pés, o hálito tão pesado de álcool que ela decidiu, depois disto, não dançar mais, pelo menos, até que Bromwell chegasse... se é que chegaria. Estava começando a ter dúvidas. Até então, lorde e lady Radbourne não tinham chegado nem Brom. Callie começou a sentir que sua diversão com o passeio diminuía. As vozes no camarote ficavam cada vez mais altas e turbulentas à medida que o tempo passava e mais ponche era consumido. As risadinhas das garotas aumentavam, e os risos dos homens ficavam mais exagerados. Suas palavras se tornavam indistintas e tendiam a colocar os copos com muita força sobre a mesa. E, uma vez, o senhor Sackville, ou talvez fosse o senhor Pacewell... quanto mais bêbados ficavam, mais difícil era para Callie distingui-los... não conseguiu encontrar a mesa e seu copo caiu com força no chão. Todos, menos Callie, acharam aquilo hilariante e, na verdade, o senhor Swanson riu tanto que tropeçou para trás, bateu numa cadeira, derrubou-a e acabou caindo sentado no chão, o que causou novas e ainda maiores tempestades de gargalhadas em todos. Callie tomou mais um gole da bebida e tentou ignorar o que estava acontecendo. Mas isto se tornava mais e mais difícil a cada momento que se passava. O senhor Pacewell... ou quem quer que ele fosse, aquele que não havia derramado a bebida... se debruçava sobre a senhorita Turner e abaixava o olhar ousadamente sobre o corpete do vestido dela, enquanto lhe murmurava alguma coisa na orelha, os lábios quase a tocando. Callie desviou rapidamente o olhar e o dirigiu para lady Swithington. Entretanto, se esperava que aquela dama restaurasse alguma semelhança de decoro, mas percebeu rapidamente que estava enganada. Daphné estava sentada à frente do camarote, os braços sobre o balaústre, debruçada para frente e conversando em voz baixa com um homem em pé do lado de fora. O homem também se debruçava em direção a Daphné, um sorriso lhe brincando nos lábios, e enquanto Callie observava, ele estendeu a mão e trilhou o dedo pela mão dela, subindo pelo braço até o cotovelo. Callie desviou de novo o olhar, muito insegura sobre para onde devia olhar. Tomou um gole nervoso da bebida, então arquejou com a potência da mistura que lhe queimou a garganta. Onde estaria Bromwell? Por que ainda não chegara? Desejava desesperadamente que ele estivesse lá. Ele, pensou, colocaria tudo em ordem. Pelo menos, achou com um pouco de dúvida, esperava que fosse verdade. E se, quando ele chegasse, agisse da mesma maneira que os outros homens do grupo? E se ele se juntasse à diversão embriagada, olhando ousadamente as mulheres dos outros camarotes e as que caminhavam? Outro homem parou e se debruçou para dentro do camarote, para conversar e, logo, para o horror de Callie , lady Daphné e a senhorita Swanson convidaram os estranhos a entrar. Callie empurrou sua cadeira para os fundos do camarote, o mais distante possível dos outros, e pensou no que deveria fazer. Projeto Revisoras
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Havia perdido completamente a esperança de que Irene e Gideon chegariam, e suas dúvidas com relação a Brom cresciam. A noite tinha se tornado uma verdadeira farra, sem decoro ou modéstia, e Callie estava muito consciente de que não deveria ficar lá. O problema é que não sabia como poderia se afastar. O pensamento de sair sozinha e atravessar a multidão do lado de fora do camarote a fazia estremecer. Este não era o tipo de lugar onde uma mulher sozinha estaria a salvo de comentários rudes e olhares lascivos... E, suspeitava, de coisa muito pior. E ela mal conhecia qualquer um dos homens do grupo. Não tinha certeza, dada a maneira como estavam agindo, se poderia contar com algum deles para protegê-la dos avanços de outros homens... ou se seria confiável. E mesmo se pudesse confiar em algum deles, não sabia se estaria sóbrio o bastante para ajudá-la. Callie deixou o copo sobre uma mesa ao lado dela e passou os dedos na testa. Seus pensamentos estavam um pouco confusos e se perguntou o quanto teria bebido do ponche forte. Uma taça... não, duas. Lembrava-se de que, toda vez que colocava a taça meio vazia sobre uma mesa, outra cheia a substituía. Lady Daphné cuidara para que todos ficassem sempre bem providos de bebidas. Enquanto Callie pensava no assunto, um garçom surgiu ao seu lado e lhe encheu a taça de novo. Ela balançou a cabeça para ele, mas o homem pareceu não ver, ou dar importância, já que apenas deixou a taça ao lado dela e se afastou. Callie suspirou e tentou clarear a mente. Decidiu não tomar mais nenhum gole da bebida, não importava o quanto se sentia nervosa. Precisaria de uma cabeça clara para lidar com a situação. — O quê, completamente sozinha? — Uma voz masculina, lenta e dizendo as palavras de maneira arrastada, de um dos estranhos que Daphné havia convidado para o camarote, se sentou pesadamente na cadeira mais próxima da de Callie. — Não posso aceitar que isto aconteça com uma coisinha linda como você. Sorriu para ela de uma forma que, sem dúvida, achava que seria encantadora. — Estou perfeitamente bem sozinha. — A voz de Callie era gelada. Por algum motivo, ele pareceu achar a observação divertida e riu. — Ora, ora, altiva demais, você, não é? — Pegou a taça que ela abandonara e a ofereceu. — Não pode se divertir assim, pode? Aqui, tome um gole, isto tornará você mais agradável. — Não, obrigada. Ele deu de ombros e tomou toda a bebida, então se debruçou, olhando-a no rosto. — Qual é o problema, não quer se divertir? Callie se encolheu. O hálito dele cheirava a álcool, e os olhos estavam vermelhos. — Não — respondeu com firmeza. — Agora, por favor, afaste-se para qualquer outro lugar. Normalmente Callie não era rude, mas era evidente que nenhuma resposta educada teria efeito sobre ele. Olhou-a por um momento, os olhos entrecerrados e, por um instante apavorante, pensou que ele diria alguma coisa muito, muito rude. Mas então deu de ombros, levantou-se e se dirigiu, inseguro, para a saída. Callie então percebeu, consternada, que, enquanto o homem a distraía, seu grupo havia diminuído muito. Virou-se para olhar em direção ao passeio e viu que a senhorita Swanson e a senhorita Turner haviam decidido dançar com os dois almofadinhas, e rezou para que voltassem logo. Enquanto olhava, eles foram engolidos pela multidão. Ela se virou de novo para ver os demais ocupantes do camarote. Parecia que o senhor Swanson havia atingido seu limite e estava debruçado sobre uma das mesas, os olhos fechados, e roncando. Naquele momento, o senhor Tilford pegou uma taça, encheua de ponche e então se dirigiu, tropeçando, para a porta dos fundos, aparentemente em busca de uma companhia mais animada. Callie olhou para lady Swithington, que estava sentada entre os dois desconhecidos que convidara para o camarote, conversando, rindo e flertando, de vez em quando, Projeto Revisoras
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dobrando o leque para dar uma palmadinha de brincadeira no braço de um ou do outro. Um deles lhe tomou a mão e a ergueu para os lábios, demorando-se mais do que era conveniente. Mas Daphné não fez nada para libertar a mão. Simplesmente riu, rouca, e se debruçou para sussurrar alguma coisa no ouvido do homem. — Lady Swithington. — Havia urgência na voz de Callie. — Eu... eu preciso ir embora, tenho certeza de que Francesca está preocupada comigo. Foi necessário um momento para Daphné focalizar Callie. — Mas, minha querida, ainda é cedo, não pode querer ir embora agora. — Eu... lorde e lady Radbourne não vieram e... e acho que não deveria estar aqui. Se puder mandar chamar sua carruagem... — Não sabia como poderia chegar em segurança à carruagem, mas sentia que precisava deixar aquele lugar e logo, antes que a situação ficasse ainda pior. Lady Daphné riu e sacudiu a mão, descartando os temores de Callie. — Ora, não pode ir embora já, Brom ainda nem chegou. Não pode deixar que lorde e lady Radbourne estraguem sua diversão. — Estou... acho que lorde Bromwell não virá — disse Callie, tentando manter a voz firme. — Já é muito tarde. Lady Daphné se levantou, rindo. — A noite mal começou, não pode ir embora. Venha. — Estendeu uma das mãos para Callie. — Venha conosco, vamos dançar. O pobre Willoughby precisa de uma parceira, não precisa, senhor Willoughby? O homem em questão examinou Callie, então balançou a cabeça. — Não, ela não irá, é puritana demais. — Lady Swithington... — começou Callie de novo. — Realmente não quero dançar. — Está vendo? — O homem bêbado balançou a cabeça sabiamente. — Eu disse. — Quero ir embora — continuou Callie . — E acho que a senhorita Swanson e a senhorita Turner também devem ir. Estão no meio daquela multidão sem ninguém para cuidar delas. — Bem, é claro, é claro, se é isto que quer — disse Daphné, magnânima. — Poderá partir assim que Brom chegar. Mas duvido que a senhorita Turner e a senhorita Swanson apreciem que as arraste daqui. — Deu uma risada. — Agora, se tem certeza de que não quer dançar conosco... — Virou-se, tomou os braços dos dois homens e lhes lançou um sorriso brilhante. — Venham, cavalheiros, estou louca para dançar. O homem que não era Willoughby riu e disse: — Ansiosa por muito mais, espero. Lady Swithington riu e não pareceu nem um pouco ofendida pelas palavras sugestivas; disse apenas: — Bem, veremos, não é? — Lady Swithington! — chamou Callie, atônita, enquanto os três andavam em direção à porta dos fundos. Daphné pareceu não ouvi-la e saiu do camarote, depois fechou a porta. Callie ficou lá em pé, olhando, completamente confusa, e devagar se virou e observou a cena. Estava sozinha, exceto pelo senhor Swanson, desmaiado em sua cadeira. Na verdade, jamais se sentira tão sozinha. Olhou para a cena tumultuada do lado de fora do camarote. Lady Daphné e seus dois companheiros haviam desaparecido na multidão e não conseguiu ver nenhum dos outros do grupo com quem havia ido até lá. Callie franziu a testa e se sentou para pensar no que faria. Queria demais simplesmente fugir pela multidão até a entrada e lá tomar uma carruagem de aluguel para levá-la para casa. Entretanto, não podia deixar de se preocupar com a senhorita Swanson e a senhorita Turner, que evidentemente deviam ter tomado mais ponche do que deveriam... E eram, para começar, bem tolas, para dizer a verdade.
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Os homens que estavam com elas dificilmente eram pessoas em quem podiam confiar. Devia ter feito alguma coisa para impedi-las de continuar com aquele comportamento, pensou. E parecia irresponsabilidade simplesmente deixá-las lá. — Bem, o que está fazendo aí completamente sozinha, coisinha linda? Callie pulou, assustada, e se virou para ver um homem de meia-idade debruçado na abertura do camarote. Ela se levantou, o coração aos pulos, e suas mãos se fecharam em punhos nas laterais do corpo. — Por favor, vá embora, meu irmão voltará logo — improvisou, a mente estudando o que o camarote poderia oferecer em matéria de armas. Uma das garrafas vazias serviria, pensou, e começou a deslizar em direção à mesa onde o senhor Swanson estava sentado, a cabeça sobre os braços. — Irmão, é? — O sorriso mostrava sua incredulidade. — Ele devia ter mais juízo do que deixar uma coisinha adorável como você completamente sozinha. Talvez eu deva entrar e lhe fazer companhia até ele voltar. — Não, não deve. — Callie alcançou a mesa e sua mão se fechou no gargalo de uma garrafa. O homem riu. — Ah, está querendo uma confusão? — Colocou as mãos sobre a balaustrada, como se fosse pular sobre ela e entrar no camarote. Calhe jogou a garrafa nele e se surpreendeu ao atingi-lo, embora no peito, e não na cabeça, que tinha sido seu alvo. O homem parou e olhou para ela, surpreso. — Ei — disse com ressentimento —, não havia necessidade de fazer isto. — Arrumou o paletó, lançou a ela um olhar de desgosto, então se virou e saiu, tropeçando. Callie deixou escapar um suspiro de alívio e se afastou mais da frente do camarote. Olhou ao redor e encontrou outra garrafa vazia que poderia usar se precisasse de uma arma de novo. Endireitou-se e descobriu outro homem olhando para dentro do camarote. Assustada, ela gritou e ergueu a garrafa. — Callie, é você? — perguntou o homem e, apoiando a mão sobre a balaustrada, pulou agilmente para dentro do camarote. — Que, diabos, está fazendo aqui sozinha? — Brom! — A garrafa caiu de sua mão e, com um pequeno soluço, Callie correu e se jogou em seus braços.
Capítulo Onze
Bromwell abraçou Callie com força. — Callie, o que aconteceu? O que está errado? — Ah, Brom... — Ela se agarrou apertadamente a ele. — Nada aconteceu, não há nada de errado. E, por mais estranho que parecesse, pensou Callie, era a verdade. Agora que Bromwell estava lá, tudo estava bem. Ela não se sentia mais ansiosa ou com medo, não com seu peito lhe apoiando a cabeça, seu coração batendo num ritmo tranquilo sob sua orelha. — Onde está todo mundo e por que você está aqui sozinha? — Não estou sozinha. — A voz de Callie era tranquila, e ela o soltou com um pouco de relutância e deu um passo para trás. Com um sorriso desapontado, ela fez um gesto em direção ao corpo desmaiado do senhor Swanson. Projeto Revisoras
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O conde se virou para olhar para ele, a ruga na testa se aprofundando. — Maldição! O homem está incapacitado? Callie acenou. — Francamente, acho que todo mundo tomou ponche demais e até eu me sinto um pouco tonta. — Mas onde está minha irmã? Onde estão lorde e lady Radbourne e os outros? For que saíram e a deixaram aqui sozinha? — Não sei por que Irene e Gideon não estão aqui, eles nunca chegaram. Os outros foram dançar. — Fez um gesto vago em direção à área de passeio. — E eu estava começando a pensar que você não viria também. — É claro que eu viria, Daphné disse... — Parou e a ruga na testa se tornou ainda mais profunda. — Há quanto tempo vocês estão aqui? — Não tenho certeza, me parece que desde sempre. — Claramente tempo o bastante para o senhor Swanson se embebedar — comentou Bromwell, o tom de voz seco. — Sim, chegamos bem antes das dez, já que a senhorita Swanson estava ansiosa para estar aqui, antes que a orquestra começasse o segundo turno. Bromwell observou a multidão no passeio por um longo momento e então suspirou. — Não posso imaginar o que deu na minha irmã para deixá-la aqui apenas com o senhor Swanson. Ele estava assim quando ela saiu? Callie acenou, o sorriso seco. — Ele não é uma grande proteção. — Certamente não. — Fez uma pequena careta. — Peço desculpas por não ter chegado antes. Devo ter confundido a hora que Daphné me deu. Agora será um milagre se lady Haughston me permitir bater à porta dela de novo. — Talvez seja melhor se lady Haughston não tomar conhecimento do que aconteceu aqui esta noite — disse Callie. — Vai apenas se preocupar. E tenho certeza de que não há probabilidade de acontecer de novo. Porque jamais cometeria o erro de aceitar outro convite de lady Swithington, acrescentou Callie para si mesma. Bromwell acenou e pareceu um pouco desconcertado. — Bem... conversarei sobre isto mais tarde com Daphné. No momento, acho que o melhor é levá-la para casa. — Sim, gostaria muito — concordou Callie, então hesitou. — Mas a senhorita Swanson e a senhorita Turner ainda estão aqui e precisamos garantir que fiquem bem. — Certamente não estão sozinhas também. — Não, estão dançando com o senhor Pacewell e o senhor Sackville. — Santo Deus, Pacewell e Sackville, aqueles dois pavões. — Bromwell rolou os olhos. — São dois idiotas, mas as damas provavelmente não correm perigo com eles. O importante é levar você para casa, então voltarei e encontrarei os outros. Callie sorriu. — Obrigada. Ele finalmente se permitiu sorrir e ergueu a mão para lhe empalmar o rosto. — Lamento profundamente. Callie, que você tenha sido submetida a este desastre. — Não foi tão ruim — mentiu. Mas, na verdade, olhando para os olhos dele, a lembrança de sua ansiedade estava desaparecendo rapidamente. — É muito gentil da sua parte dizer isto, mas sei bem demais que esta noite não foi o tipo de situação a que está acostumada. Vou conversar com minha irmã a este respeito. — Não quero ser o motivo de nenhum tipo de sentimento negativo entre você e lady Svvithington. — Não se preocupe. — Ele sorriu. — Não vamos nos afastar um do outro. Mas temo que Daphné tenha vivido tempo demais longe da sociedade. Talvez ela não se lembre de como são rígidas as normas que governam o comportamento de uma jovem dama Projeto Revisoras
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solteira. Nem está acostumada ao tipo de ponche forte que servem aqui. É evidente que ela não pensou. Agora vamos colocar o capuz do dominó, temos que enfrentar esta multidão louca. Combinando as palavras com a ação, ele estendeu a mão, pegou as pontas do capuz e gentilmente o colocou sobre os cachos escuros de Callie. Suas mãos se demoraram um pouco no tecido enquanto ele lhe observava o rosto. Então, como se despertasse de um devaneio, as mãos se afastaram, ele se virou e ofereceu a Callie o braço. Ela colocou a mão sobre o braço dele, saíram pela porta dos fundos e rodearam o camarote em direção ao largo passeio. Pararam por um instante, e Callie olhou a cena em torno. Agora que sua ansiedade desaparecera, foi capaz de desfrutar da visão dos jardins. Desejou que Bromwell tivesse estado lá a noite toda, então poderia ter se divertido com tudo sem preocupações. Virou-se para ele, suplicante. — Não podemos andar um pouco por aí antes de irmos? Não vi quase nada dos jardins. Ele pareceu dividido. — Não é correto você estar sem uma dama de companhia. — Mas não corro nenhum perigo — protestou. — Você está comigo. — Muitos diriam que o perigo sou eu. Callie sorriu. — Mas nós dois sabemos que você não é. Apenas alguns minutos antes, lembrouse, tinha se perguntado, dolorosamente, se Bromwell agiria como os outros. Mas, assim que ele chegara, soubera que tinha sido tolice até mesmo considerar a possibilidade. Não tinha muita certeza do que acontecera aquela noite ou por quê. As ações de lady Swithington tinham sido extremamente estranhas, mais do que admitiria para o irmão dela, e Callie suspeitava de que a maneira como as coisas haviam se desenrolado tinham sido planejadas por lady Daphné, embora não compreendesse os motivos dela. Mas, o que quer que lady Daphné tivesse feito, por acidente ou deliberadamente, Callie estava segura que lorde Bromwell não tinha nada com isto. Também tinha certeza de que, se ele estivesse lá durante toda a noite, não teria permitido que as coisas ficassem tão fora de controle. O espanto, até mesmo a raiva, que vira na expressão dele quando chegara, lhe dissera tudo o que ela precisara saber. Ele sorriu para ela, o rosto suavizando. — Está bem, vamos caminhar um pouco. Está na hora dos fogos de artifício e seria uma pena se você perdesse o espetáculo. Callie concordou, e eles começaram a caminhar lentamente pelo passeio. Bromwell abandonou o caminho principal e escolheu uma das trilhas que se estendiam entre as árvores. Lanternas estavam penduradas ao longo dos caminhos e os iluminavam com um brilho suave. Havia lanternas também entre as árvores além, piscando como pequenas estrelas através dos galhos. De vez em quando, viam uma "ruína" artisticamente iluminada ou uma fonte de água brilhante. Ouviram uma pequena explosão e pararam para olhar os fogos de artifício que se espalhavam, brilhantes e em belos formatos, pelo céu. O espetáculo continuou por alguns minutos com uma exibição impressionante de cores. Eles continuaram a caminhar, parando de vez em quando para admirar uma explosão particularmente gloriosa de cores e luzes. Enquanto caminhavam, as trilhas se tornaram cada vez mais estreitas e vazias, até que ficaram completamente sozinhos. A distância, Callie ouviu uma risada feminina seguida pelo som de pés que corriam. Depois disso, houve apenas o sil êncio e a solidão. Chegaram a um banco de pedra, instalado ao lado de uma pequena fonte, e se sentaram para observar o fim espetacular da exibição de fogos. Então, finalmente, tudo terminou, deixando apenas o silêncio e o cheiro acre de pólvora, que se demorou no ar. — Foi adorável — disse Callie. — Obrigada por ter concordado em ficar. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Apenas
lamento que o resto da noite tenha sido um estrago para você. — Ele
sorriu para ela. Callie balançou a cabeça. — Não tem mais importância. Ele estendeu a mão e passou o dedo pelo rosto dela. — Você é tão linda. Queria... — Queria o quê? — Callie perguntou, quando ele se interrompeu. Bromwell balançou a cabeça. — Não tenho certeza, apenas que as coisas fossem diferentes. Callie franziu levemente a testa. — Que coisas? O que quer dizer? — Nada, não preste atenção em mim. Lamento dizer que me sinto estranho esta noite. Levantou-se e foi até a fonte. Callie também se levantou e o seguiu, então estendeu as mãos e tomou uma das dele. — Estranho como? Posso ajudar de alguma forma? — Gostaria que pudesse. — Virou-se e abaixou o olhar para ela, os olhos famintos lhe percorrendo o rosto. — Tenho pensado em você desde nosso passeio a Richmond Park. Na verdade, desde que a conheci, que a vi pela primeira vez. Às vezes, acho que você me enfeitiçou. — A voz era áspera, as palavras pareciam ser arrancadas dele. Um calor se espalhou pelo corpo de Callie , e ela pensou que ele devia senti-lo em suas mãos. — Não tive esta intenção. — A voz era um pouco trêmula. — Eu sei, isto é parte do seu encanto. Você é natural, sem fingimentos, no entanto, consegue atrair um homem para você apenas com um olhar. — Nunca percebi que sou tão irresistível — comentou, tentando manter um tom leve. — Então talvez seja apenas eu que sinta seu poder. — Ergueu-lhe a mão e a beijou. Seus lábios eram como veludo na pele dela e a fizeram estremecer. — Na verdade, fico feliz que seja assim. Ele lhe virou a mão e lhe beijou a palma. Inconscientemente, Callie fechou a mão, como se prendesse lá o beijo. Estava muito consciente do sangue pulsando em suas veias. Podia senti-lo sendo bombeado do coração e correndo por todo o corpo. Queria os braços dele em torno dela de novo. Queria lhe provar a boca, ser envolvida no calor e no cheiro dele, sentir seu corpo rijo pressionando o dela, como acontecera no parque. Não conhecera a tentação com nenhum outro homem, mas, com esse, ficava consumida por ela. Bromwell ergueu a cabeça, mergulhou os olhos nos dela, e no instante seguinte, Callie estava em seus braços. Seus lábios se encontraram e se prenderam. O fogo os percorreu, intenso e exigente. Ele a apertou contra o corpo, a boca tomando a dela com fúria e anseio, e Callie passou os braços em torno dele, querendo apenas ficar mais perto, cada vez mais perto. Ele gemeu, e ela sentiu o tremor que lhe percorreu o corpo rijo. Os lábios dele lhe abandonaram a boca e trilharam um caminho de fogo em seu rosto, em direção à orelha, e ele mordiscou de leve o lóbulo sensível e brincou com ele com os dentes. Bromwell murmurou o nome de Callie, a voz grossa e áspera de desejo enquanto lhe beijava a orelha, o rosto, o pescoço. A pele de Callie queimava onde quer que os lábios dele tocassem. E ela estremeceu, cheia de anseios desconhecidos. Com o último vestígio de razão, ele a puxou para fora da trilha, para as sombras das árvores. Callie o seguiu de boa vontade, impulsionada pela pulsação entre as pernas. Eles se beijaram de novo e de novo, e as mãos dele mergulharam sob o dominó e lhe percorreram o corpo, famintas, ansiosas. Ela sentia o calor da pele dele mesmo através do tecido do vestido e, quando a mão escorregou para cima, para o monte dos seios Projeto Revisoras
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acima do decote, seu toque a queimou. Ele lhe acariciou os seios e os dedos escorregaram entre a pele e o tecido, e Callie desejou profundamente sentir as mãos dele daquela maneira em todo o seu corpo. Bromwell abriu os lados do dominó e abaixou a boca para a carne macia e trêmula dos seios. Callie inspirou rapidamente com o prazer surpreendente e mergulhou os dedos no casaco dele, segurando-o, como se precisasse se ancorar num mundo que girava em torno dela. Seu corpo era um estranho para ela... sua virilha pulsava, e uma sensação úmida e quente crescia entre as pernas, tão prazerosa que era quase dor. Queria estar com ele, conhecê-lo de uma forma profunda e primitiva. Compreendeu, chocada, que queria envolvê-lo com as pernas e se comprimir nele da maneira mais íntima. As mãos de Bromwell desceram por suas costas e se curvaram em suas nádegas, os dedos mergulharam nos montes macios de carne e a puxaram contra a extensão rija do seu desejo. Callie estremeceu, a respiração se tornou ainda mais áspera. Tornou-se consciente de que, de alguma forma, se equilibrava à beira de um precipício, ansiosa, insegura e apenas um pouco amedrontada, tudo ao mesmo tempo. Ele emitiu um som baixo, frustrado, e então a soltou. — Deus do céu, Callie... Enrolou-a apertadamente com o dominó, tomou-a novamente nos braços com força e descansou a testa no cabelo dela. Callie ouvia sua respiração áspera e irregular e se sentia envolvida pelo calor dele. Ficaram assim por um longo momento e, gradualmente, os pulsos dos dois voltaram ao ritmo normal. — Se continuarmos assim — disse Bromwell finalmente —, esquecerei completamente minha honra. — Comprimiu os lábios no cabelo dela. — Preciso levá-la para casa. Ele estava certo, Callie sabia, mas não queria partir. Queria que aquele momento durasse para sempre. Queria seguir em frente e terminar o que seu corpo desejava tão ardentemente. Então lhe ocorreu que estava em pé, no meio de um jardim público, escondida apenas pelas sombras e beijando Bromwell de uma forma que todos considerariam muito mais ousada do que o comportamento de qualquer das mulheres que estavam no camarote naquela noite. Era hipócrita da parte dela, supunha, ter ficado tão chocada com a exibição que lady Daphné fizera de si mesma com seus flertes e, no entanto, se jogar nos braços do irmão dela e abraçá-lo e beijá-lo de modo tão apaixonado. Tinha certeza de que agira da maneira mais imoral. No entanto, não conseguia se sentir arrependida. Na verdade, no momento, lamentava apenas não poder continuar a beijá-lo. Callie abriu os olhos, dobrou a cabeça para trás e ergueu os olhos para o rosto de Bromwell. Os lábios dele estavam ligeiramente avermelhados e sensualmente relaxados, os olhos escuros, as pálpebras pesadas. Apenas a visão dele, tão claramente marcada pelo desejo, a excitou. Havia uma diferença, pensou, entre ela e lady Daphné. Daphné havia se atirado a um homem que mal conhecia, e Callie suspeitava que qualquer homem que passasse serviria. Mas Callie não podia se imaginar sentindo daquela maneira com qualquer outro homem no mundo. Era lorde Bromwell, e apenas ele, que lhe despertava aquela paixão. Inspirou, trêmula, e sentiu, mais uma vez, que se equilibrava à beira de alguma coisa. E isso, pensou, era ainda mais amedrontados Porque, se caísse, não seria apenas sua virtude que perderia, mas seu coração. Bromwell e Callie conversaram pouco em seu caminho para a casa de Francesca, a mente de ambos ocupada exclusivamente com a paixão que ainda existia entre eles. Era uma coisa que nenhum dos dois queria discutir, e precisavam de uma concentração cuidadosa para mantê-la a distância. Ele desceu da carruagem com ela, levou-a até a porta de Francesca e entrou apenas para se despedir. Então se virou e voltou para a carruagem de aluguel, o rosto Projeto Revisoras
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fechado em linhas severas. Algumas palavras ao cocheiro o l evaram de volta rapidamente aos Vauxhall Gardens. Quando chegou, Bromwell se dirigiu depressa para o camarote da irmã. Foi recebido pela visão de diversos homens jovens completamente bêbados, assim como a senhorita Swanson e outra jovem mulher que não conhecia. Sua irmã estava sentada no colo de um homem que ele nunca vira, o camarada ousadamente lhe acariciando o pescoço com o nariz. Mais uma vez, entrou no camarote pulando pela janela da frente, em vez de perder tempo dando a volta em busca da porta dos fundos. Andou diretamente até a irmã, envolveu-lhe o braço com força com uma das mãos e a puxou. Ela deixou escapar um arquejo e se virou para ele com um rosnado antes de perceber quem era. — Brom! Oi, querido, estava me perguntando onde você estaria. — E se perguntou onde lady Calandra estava? — A voz era dura e áspera. — Presumi... — Um sorriso lhe curvou a boca enquanto lhe lançava um olhar malicioso. — Que ela estava com você. — Foi uma sorte para você e para todos aqui ela estar comigo — respondeu, os olhos brilhantes com uma raiva intensa e gelada. Daphné piscou, tão atônita que não conseguiu falar. — Ei, você! — O homem em cujo colo Daphné estivera sentada se levantou. — Quem pensa que é? Devia desafiá-lo para um duelo por falar assim com... com... a dama. — Sou o irmão da "dama" e lhe garanto que aceitaria o desafio apenas de um cavalheiro. Com homens do seu tipo, apenas dou uma li ção física sobre respeito. — O quê? Por Deus, senhor! — O homem ergueu os braços numa posição que lembrava ligeiramente a postura de um pugilista. — Diga isto na minha cara! Eu o desafio! — Acabei de dizer. Com os lábios curvados numa expressão de desprezo, Bromwell agarrou as lapelas do homem e o puxou. Então o levantou e o fez debruçar sobre a balaustrada do camarote. Com a outra mão, pegou as pernas do homem e o jogou para fora, fazendo-o cair no chão. Então avançou em direção a dois outros homens, sentados do outro lado da cadeira ocupada pelo homem que tivera Daphné no colo e que o olhavam, pasmos e completamente bêbados. A sua aproximação, ambos se levantaram, trôpegos, se dirigiram para a porta dos fundos e saíram. — Primo! — Archie Tilford se levantou e executou uma reverência perfeita, estragada apenas por ele ter se debruçado muito, perdido o equilíbrio e precisado se segurar nas costas de uma cadeira para não cair de cara no chão. — Contente de ver você. Boa coisa se livrar daqueles caras. Não gostei deles. — Maldição, Archie, por que não fez alguma coisa antes? — Era evidente a exasperação de Bromwell. — Bem... — Tilford considerou a pergunta. — Não é o tipo de coisa que faço, você sabe, é o tipo de coisa que você faz. Bromwell fez uma careta e se virou para os almofadinhas senhor Pacewell e senhor Sackville, agora parecendo bem menos elegantes. — E vocês dois! Está todo mundo aqui completamente bêbado? Todos olharam uns para os outros, como se não tivessem certeza. — Deus do céu! — exclamou Bromwell, cheio de desgosto. — Archie, você e seus amigos carreguem o senhor Swanson. Cuidarei para que as damas voltem para a casa da minha irmã. Os homens se apressaram a obedecer. Tiraram o corpo mole de Swanson da cadeira, jogaram seus braços sobre os ombros deles e o arrastaram do camarote. A senhorita Swanson, agora em lágrimas,e a senhorita Turner reuniram seus dominós e suas máscaras, que haviam descartado havia muito tempo, e seus leques. A senhorita Projeto Revisoras
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Turner parecia ter perdido um de seus sapatos e não fazia ideia de onde ele poderia estar. Bromwell lançou à irmã um olhar fulminante. — Bem, você terá simplesmente que sair descalça e pegar emprestado um par com lady Swithington. Quando chegarmos à casa dela, ela escreverá um bilhete para os pais de vocês duas... ou quem quer que sejam as pobres almas que têm a guarda de vocês... e lhes dirá que, devido à hora tardia e ao cansaço de todos, vocês passarão a noite com ela. Espero que isto sirva para lhes salvar a reputação... Desde que ninguém que as conheça as tenha visto aqui nesta noite sem os disfarces. As palavras provocaram uma nova tempestade de lágrimas e soluços na senhorita Swanson, e até mesmo a expressão tola da senhorita Turner começou a se transformar e a mostrar um pouco de temor. O conde as ignorou e, virando-se para a irmã, ergueu as sobrancelhas. — Está bem, Brom — disse ela, aborrecida, e juntou suas coisas. — Estou pronta. Céus, mas você se transformou num puritano. É influência de lady Calandra? Tenho que dizer, não é nem um pouco agradável. — Pare. — O rosto dele estava rijo; os olhos, duros. — Nem mesmo mencione o nome dela ou temo que você vá ouvir muito mais do que espera. Discutiremos tudo mais tarde, depois que as moças estiverem na cama. Ela deu de ombros, embrulhou-se no dominó e se retirou do camarote, as duas jovens apressando-se atrás dela. Bromwell escoltou-as até a casa de Daphné em silêncio, a senhorita Swanson ainda fungando e enxugando os olhos com um lenço, e a senhorita Turner parecendo submissa e até mesmo um pouco doente. Lady Daphné manteve o rosto voltado para a janela, embora a cortina fechada a impedisse de ver qualquer coisa. Quando chegaram, a criada de lady Daphné levou as duas moças para a cama enquanto Daphné se sentava com um suspiro para escrever os bilhetes para os pais delas, como Bromwell ordenara. Depois de enviá-los por um lacaio, Daphné se virou para o irmão e cruzou os braços sobre o peito. — Muito bem, fale logo antes que engasgue — disse, curta. — Que, diabos, achou que estava fazendo — explodiu Bromwell — deixando lady Calandra sozinha daquele jeito? Não percebe o dano que isto causaria à reputação dela? — Realmente, Brom, quando se transformou num puritano? Estava tentando ajudálo. — Tentando me ajudar, expondo Callie a bêbados vulgares? Abandonando-a no meio dos Vauxhall Gardens? — Agora você está exagerando, não acha? — retorquiu Daphné. — Faz parecer que a abandonei no meio da calçada, quando estava bem segura dentro de um camarote. — Onde qualquer estranho que passasse poderia olhar para dentro e ver que ela estava sozinha — gritou de volta. — Ah, exceto, é claro, pelo homem que estava completamente bêbado e deitado sobre a mesa! — Eu sabia que você chegaria logo — explicou Daphne, razoável. — E que ela não ficaria lá por muito tempo. Não estava nos meus planos que aquele garoto idiota do Swanson desmaiasse. Como podia saber que não era capaz de suportar a bebida? Simplesmente quis arranjar as coisas para que você e ela ficassem juntos sozinhos. — O rosto suavizou e ela se aproximou do irmão e lhe estendeu as duas mãos. — Vamos, Brom, por favor, não fique zangado comigo. Queria apenas ajudá-lo em sua iniciativa. Vi como aquela mulher Haughston mantinha o olho sobre lady Calandra. Apenas tentei criar uma situação em que você pudesse tê-la para si mesmo por algum tempo. — Daphne sorriu, um pouco presunçosa. — O suficiente para você atingir seu objetivo. — Como, arruinando seu bom nome? — Não estendeu as mãos para as dela. — Daphné, como pôde pensar que eu queria fazer isto? Eu lhe disse que não tinha a Projeto Revisoras
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intenção de destruir a reputação dela. Por que ela deve ser magoada, quando foi o irmão dela que feriu você? E ele que deve pagar, não Callie. — O que importa se ela ficar magoada? Ela é uma Lilles, exatamente como ele, e tenho certeza de que é altiva e fria como o duque. Ou aquela cadela Francesca Haughston! São todos iguais! Damas tão finas, ares tão delicados, como se nunca tivessem tido um pensamento mau em suas vidas! Ah, não, são refinadas demais até mesmo para pensar em se deitar com um homem. A expressão dela era dura e amarga, e o irmão a olhou com um pouco de choque. — Daphne! Nunca a ouvi falar de maneira tão... parecer tão... — Tente viver preso em Gales por quinze anos com um velho horrível! — exclamou. — Nunca ser capaz de vir a Londres ou se divertir. Uma viagem a Bath era considerada o máximo de excitação! E todo o tempo eu envelhecia, perdia minha beleza.... — Lágrimas lhe tomaram os olhos e lhe desceram pelo rosto. — Daphné... — As lágrimas o comoveram e dissolveram grande parte da raiva. Bromwell se aproximou e lhe envolveu os ombros com um dos braços. — Lamento muito, detesto pensar que você teve que se casar com um homem velho que não amava. E então perder seu bebê antes de ele nascer, depois de fazer aquele sacrifício... Foi terrível, e você não devia ter que fazer aquilo. Queria ter sido mais velho, mais sábio, devia ter feito alguma coisa além de procurar Rochford e tentar desafiá-lo para um duelo. Mas você não está velha e ainda é a mulher mais bonita de Londres. Daphné relaxou o corpo contra o dele ao ouvir aquelas palavras e se virou para erguer o rosto para o dele, sorrindo apesar das lágrimas que brilhavam como diamantes. — É mesmo? Você acredita realmente que sou a mulher mais bonita de Londres? A imagem de Callie brilhou-lhe na mente, mas ele a afastou. — É claro que acredito. Você é, sempre foi e sabe disto. — Sim, sabia que não podia amá-la mais do que me ama. — O rosto demonstrava satisfação enquanto ela limpava as lágrimas com os dedos. — Amá-la mais do que a você? É claro que não. — Bromwell tirou um lenço muito branco do bolso, entregou-o, libertou-a e deu um passo para trás. — Como pode pensar assim? Não a amo de maneira nenhuma. Apenas não quero que nenhuma pessoa inocente sofra, unicamente o duque de Rochford. Eu lhe disse, quando conversamos sobre este assunto antes. Nunca tive a intenção de lhe arruinar a reputação, quero só que Rochford saia de seu esconderijo e seja obrigado a lidar comigo. — E o que pensou que aconteceria com ela? — perguntou Daphné. — Como pode ferir Rochford sem magoar a irmã dele? Se você faz a corte a uma mulher, ela certamente espera alguma coisa de você. Um cavalheiro não cobre uma mulher de atenções a menos que pretenda seduzi-la ou pedir sua mão em casamento. Certamente é um constrangimento se não lhe fizer uma oferta. Todo o ton fará mexericos a respeito. — Mas apenas comecei a lhe fazer a corte, eu não... — interrompeu-se. — Você não o quê? Não visitou-a praticamente todos os dias? — O tom de Daphné era cheio de sarcasmo. — Convidou-a para uma cavalgada ao Richmond Park ou a levou para passear em sua carruagem aberta? Ou apareceu em todas as festas a que ela foi? Bromwell franziu a testa. — Talvez a tenha procurado mais do que pretendia — admitiu. — Acho que não esperava que fosse tão severamente vigiada. Pensei que seria capaz de passar mais tempo com ela sozinha. — Foi exatamente por isto que planejei aquele pequeno interlúdio nos Vauxhall Gardens — exclamou Daphne, triunfante. — Para que você tivesse a oportunidade de ficar a sós com ela. Se não houver algum escândalo, por que Rochford ficaria alarmado? Ele suspirou e passou a mão pelo cabelo. — Não sei o que dizer. Se você estiver certa, então já lhe causei dano. — Isto é verdade — concordou Daphné. — Então... Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Talvez eu deva parar. — O quê? — Daphné o
olhou, atônita. — Quer dizer, parar tudo? Não fazer nada
com ela? Com Rochford? A boca de Bromwell se dobrou num arremedo de sorriso. — Ainda tenho a esperança de receber uma visita de Rochford. — Mas e lady Calandra, vai parar de procurá-la? — Não tenho certeza. — Ele pareceu abalado. — Preciso pensar a respeito. A irmã abriu a boca para falar, mas ele não estava mais prestando atenção. Virou-se e andou pelo corredor em direção à porta de saída e deixou Daphné olhando para suas costas. Bromwell recebeu o casaco e o chapéu do lacaio e saiu. Colocou o chapéu e jogou o casaco sobre os ombros enquanto descia as escadas em direção à calçada. Uma brisa fria ergueu as pontas do tecido e atingiu-lhe o corpo, mas ele não se deu ao trabalho de vestir e abotoar o casaco enquanto andava pela rua, a expressão severa. Deveria parar de visitar Callie? Sentiu um aperto nas entranhas ao pensamento e soube que não queria deixar de vê-la. Pensou em seu sorriso, nos olhos brilhantes e alegres, nos grossos e lustrosos cachos do cabelo escuro que lhe davam coceiras nos dedos com a vontade de tocá-los. A ideia de nunca mais ver todos aqueles encantos, de nunca mais tomá-la nos braços ou pressionar os lábios nos dela como fizera aquela noite o fazia querer socar alguma coisa. No entanto, se continuasse a vê-la, como tudo terminaria? Com toda a probabilidade, numa luta corporal entre ele e o irmão de Callie, quando tentariam matar um ao outro. Seriam pistolas ao amanhecer ou, na melhor das hipóteses, uma briga com os punhos nus. A única certeza é que não terminaria como a sociedade esperaria... com um pedido de casamento. Deixou escapar um rosnado à imagem da reação de Rochford se ele lhe pedisse a mão da irmã em casamento. Rochford jamais aceitaria, é claro, e Bromwell sabia que jamais a pediria. Aliar-se à família do homem que desgraçara sua irmã? Impensável. Seria uma traição a Daphné, uma coisa completamente desonrada a fazer. Mas, se não tinha a intenção de se casar com Callie. não devia continuar a vê-la. Daphné tinha razão, é claro, sua corte a Callie tinha sido constante e determinada. Todo mundo, incluindo Callie, esperaria uma proposta de casamento se continuasse a cortejála daquela maneira. Mesmo aquelas poucas semanas em que a visitara e a encontrara em todas as festas a que ela estivera presente, causariam mexericos se parasse de vê-la. O pensamento de Callie sendo sujeitada aos sussurros dos mexeriqueiros lhe dava nó nas entranhas, mas sabia que seria muito, muito pior se adiasse o fim. Cada dia de visita, cada ramalhete entregue em sua casa, cada dança que partilhassem num baile, aumentariam a certeza de todo mundo de que a pediria em casamento. Assim, quando parasse de vê-la, os mexericos seriam ainda piores, mais escandalosos. E se terminasse com Rochford explodindo de raiva e chegando às pressas à cidade para confrontá-lo, então o escândalo seria ainda mais grave e provavelmente acompanharia Callie pelo resto da vida. A expressão de Bromwell se tornou ainda mais grave. Por que pensara que cortejar Callie seria uma vingança tão perfeita contra Rochford? Devia ter acertado logo suas contas com o homem com um golpe de direita no queixo. Afinal, nada disso tinha relação com Callie. Ela nada fizera para merecer punição e, no entanto, seria a mais ferida de todos. Lembrou-se de suas palavras a Archie, de como tinha descartado a ideia de que Callie. Era inocente e não merecia ser ferida. Ficara zangado com Daphné poucas horas antes por fazer uma coisa que poderia abalar a reputação de Callie, no entanto, ele se determinara a se vingar sem pensar o quanto ela f icaria magoada com seus planos. Tinha sido um idiota, pensou, um idiota desumano.
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Não havia nada que pudesse fazer para compensar o mal que já causara a ela. Agora, só o que podia fazer era garantir que não fosse ainda mais magoada. Não visitaria mais Callie. Mas por que fazer a coisa certa o deixava se sentindo tão vazio?
Capítulo Doze
Callie ficou um pouco surpresa e desapontada quando lorde Bromwell não a visitou na manhã seguinte. Mas não deu grande importância, afinal, ela mesma não estava se sentindo muito animada. Sua cabeça doía, o estômago estava um pouco embrulhado, e a luz fraca do inverno, que entrava pelas janelas da sala matinal de Francesca, lhe feria os olhos. Tudo, sabia, era consequência do ponche forte que tomara na noite anterior. Callie jamais bebera nada mais pesado do que vinho branco no jantar ou um copo de ratafia ou xerez. Dada a maneira como se sentia, preferia continuar assim no futuro. Francesca lhe fez algumas perguntas sobre a saída da noite anterior e, embora Callie tivesse planejado não lhe contar nada sobre os acontecimentos nos Gardens, sabia que precisava revelar que lorde e lady Radbourne não tinham ido, já que eram amigos, e o assunto certamente seria abordado da próxima vez que se encontrassem com lady Irene. Assim, de pois de falar um pouco sobre a beleza da iluminação e dos fogos de artifício, revelou: — Lorde e lady Radbourne não foram. — O quê? — Francesca, que estava cerzindo uma meia enquanto conversavam, deixou a costura cair no colo e se contraiu na cadeira — Eles não estavam lá? — Não. — Mas o quê... quem... ah, Deus, eu sabia que devia ter ido — gemeu Francesca. — Não se preocupe, não aconteceu nada. Lady Swithington estava lá e lorde Bromwell também. Era um grupo bem grande. A senhorita Swanson e o irmão dela, além de uma outra jovem dama, também estavam lá. — Não posso imaginar por que Irene não nos avisou que não poderia ir. — Francesca parecia muito preocupada. — Bem, pelo menos, você usava um dominó e uma máscara. Você ficou com eles a noite toda, não ficou? — Ah, sim, ninguém poderia me reconhecer — garantiu Callie. — Nem mesmo fui à pista de dança — mentiu. Francesca acenou, parecendo um pouco aliviada, mas uma r uga ainda lhe cruzava a testa. — Sabe, acho que vou fazer uma visita a Irene esta tarde. — Acha que talvez um deles esteja doente? — Não sei o que pensar — replicou Francesca, aborrecida. — Mas gostaria de descobrir por que eles não foram. Irene não é do tipo volúvel. Gostaria de ir comigo? Callie recusou. Não estava com vontade de sair e tinha a esperança de que dormir um pouco, à tarde, com um lenço molhado em lavanda sobre os olhos, poderia lhe amenizar a dor de cabeça. Além disso, quase sempre preferia ficar em casa devido às frequentes visitas de lorde Bromwell.
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Ele também não apareceu à tarde, mas o sono no quarto escuro lhe fez tão bem que, quando Francesca voltou, Callie estava se sentindo muito melhor e a recebeu com alegria. Francesca, no entanto, parecia muito menos alegre. Na verdade, seus profundos olhos azuis brilhavam de raiva, e o queixo tinha uma posição belicosa. — Aquela mulher Swithington! — respondeu furiosa, quando Callie lhe perguntou se havia alguma coisa errada. — O que quer dizer? — Quero dizer — disse Francesca, mordendo cada palavra — que Irene me contou que lady Swithington lhe enviou um bilhete no domingo dizendo que lamentava informar que o passeio aos Vauxhall Gardens tinha sido cancelado, mas que esperava programar outro para uma das próximas semanas. — Ah. — Callie não ficou muito surpresa, embora tivesse esperado que tudo não houvesse passado de um incidente infeliz. Francesca continuou a andar de um lado para o outro na sala, comentando raivosamente a impostura de lady Swithington, mas Callie a ouviu sem muita atenção, a mente ocupada com o que lady Daphné havia feito. Era evidente, agora, que ela arranjara tudo para que as coisas ocorressem como haviam ocorrido. Não quisera a influência restritiva de lorde e lady Radbourne... Ou, talvez, pretendera evitar sua respeitabilidade. Também era claro que não queria que Callie soubesse que Gideon e Irene não fariam parte do grupo, já que fingira ignorância sobre a ausência deles e lhe afirmara repetidamente que, sem dúvida, eles chegariam mais tarde. Portanto, não era apenas que quisesse ficar livre para se comportar de forma escandalosa, também queria que Callie estivesse lá e participasse de tudo. Mas por quê? Não fazia sentido para Callie, já que o único resultado seria fazê-la não confiar mais em lady Daphné. Brom certamente não tivera conhecimento do que quer que a irmã tivesse planejado. Ele ficara chocado e zangado quando a encontrara sozinha no camarote. Também esperava que Irene e Gideon estivessem lá. E, pensou Callie, não dera nenhuma indicação de que não pudera chegar mais cedo. De fato, parecera muito surpreso ao saber por quanto tempo já estavam lá e, quando Callie comentara que tivera medo de ele não ir, ele parecera atônito e dissera alguma coisa como "Daphné disse..." e então se interrompera. Callie tivera certeza de que ele iria dizer que a irmã havia lhe dito para não chegar mais cedo. Callie foi obrigada a chegar à conclusão de que, por algum motivo, Daphné desgostava dela profundamente, apesar da maneira doce com que agia com relação a ela. Será que esperava, de alguma forma, influenciar o irmão contra ela? Se Callie não tivesse jogado uma garrafa contra aquele sujeito que tentara invadir o camarote, teria ele tentado pular a abertura para tirar vantagem dela? E o que Brom pensaria se chegasse ao camarote e encontrasse Callie completamente sozinha nos braços de um homem? Callie estremeceu de leve. Se este fora o motivo de Daphné para agir da maneira como agira na noite anterior, devia ser uma pessoa muito fria e indiferente para fazer tanto mal a outra mulher. Também lhe parecia que o resultado seria muito incerto, e havia uma grande possibilidade de as coisas ocorrerem como, de fato, ocorreram, com Bromwell chegando e ficando aborrecido por Callie ter sido deixada sozinha. Estava contente por não terem um compromisso social naquela noite. Não tinha a menor vontade de sair, especialmente se houvesse alguma possibilidade de encontrar lady Swithington por acaso. Era realmente muito bom passar uma noite tranquila em casa e conseguiu escrever cartas para a avó e o irmão. Entretanto, tinha que admitir, pelo menos para si mesma, que sentia muita falta de lorde Bromwell. Tentou se lembrar de um dia inteiro que tivesse se passado sem vê-lo na última quinzena e não conseguiu. No dia seguinte, Callie esperou sua visita com antecipação, mas, surpreendentemente, ele não apareceu. No fim da tarde, Francesca perguntou: Projeto Revisoras
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está seu amigo lorde Bromwell? Tenho que dizer, passei a ficar muito acostumada a vê-lo. Callie balançou a cabeça, consciente de uma pequena dor no coração. — Não sei. Francesca franziu a testa, mas apenas comentou, de leve: — Que estranho... Bem, vamos lhe dar um sermão por sua negligência da próxima vez que o virmos. Mas elas não o viram... nem naquela noite, quando foram ao sarau da senhora Cutternan, nem na tarde seguinte, quando receberam visitas. Callie manteve um sorriso polido e determinado no rosto enquanto conversavam com os visitantes e fez o melhor que pôde para não parecer ansiosa, como se esperasse que, a qualquer momento, lorde Bromwell chegasse. Mas mal conseguiu prestar atenção nos assuntos das conversas. Pensava apenas em lorde Bromwell e se ele apareceria mais tarde. E, se não, por que motivo? Teria dito alguma coisa errada, feito alguma coisa errada? Teria ele considerado que agira com imprudência na noite anterior, que deveria ter deixado Vauxhall assim que as coisas desandaram? Ou que nem deveria ter ido sem a companhia de Irene e Gideon? Mas certamente não poderia ser tão injusto a ponto de culpá-la por ter feito o passeio na companhia da própria irmã. Se lady Swithington não tivesse agido de forma tão vulgar, se tivesse exercido um controle mais rígido sobre o grupo, nada teria degenerado para o que quase podia ser chamado de orgia. Ele realmente culparia Callie, quando era evidente que cabia à irmã dele agir de forma mais responsável? Por outro lado, raciocinou, talvez não fosse nada daquilo. Talvez tivesse sido seu próprio comportamento depois que os dois haviam saído do camarote. Não quisera voltar para casa, mas lhe pedira para ficar mais um pouco. Pensaria que tinha sido ousada demais? Que não parecera excessivamente abalada pela experiência? Teria lhe parecido mundana demais, experiente demais? Ou Bromwell achava que ela havia se comportado como uma vadia? A lembrança dos beijos que haviam partilhado junto à fonte ainda a fazia corar. Não podia deixar de se perguntar se ele a considerara atrevida demais, ousada demais. Era injusto, é claro, já que ele certamente havia participado dos beijos e carícias tanto quanto ela. Mas sabia bem demais que os homens frequentemente eram injustos em seu julgamento moral das mulheres. Um homem jovem podia ter relações com uma mulher e ninguém pensaria mal nenhum. Uma mulher jovem, porém, seria arruinada se dormisse com um homem. Um homem podia querer dormir com uma mulher e, se ela cedesse, então ele se recusaria a se casar com ela. Era uma história que ouvia desde que fora apresentada à sociedade. Podia ver que Francesca lhe lançava olhares preocupados de vez em quando. Quando o último visitante saiu, Francesca se virou para ela e disse, calmamente: — Talvez lorde Bromwell tenha sido obrigado a viajar por algum motivo. Pode ter havido uma emergência em sua propriedade e não teve tempo de deixar uma mensagem. — Sim, suponho que sim. — Callie conseguiu lhe dar um sorriso. — Ou talvez seja do tipo volúvel. Sei que alguns homens são assim. — Ele não me pareceu ser deste tipo. — A ruga na testa de Francesca se aprofundou. — Cheguei a pensar... Ah, bem, não vale a pena falar disto agora, vale? Precisamos esperar e ver se ele escreve e nos diz o que aconteceu ou talvez simplesmente chegue aqui amanhã com uma explicação perfeitamente razoável. Calhe não tinha certeza de qual seria uma explicação adequada, já que lhe parecia que, o que quer que tivesse acontecido, ele poderia ter enviado um bilhete para justificar sua ausência. Entretanto, estava ansiosa para pôr um fim àquela conversa, já que se tornava cada vez mais difícil, a cada segundo que passava, impedir que suas preocupações e temores se revelassem. Temia que, se Francesca continuasse a falar no assunto, começasse a chorar. Projeto Revisoras
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Felizmente, Francesca pareceu tão disposta quanto ela a abandonar as especulações sobre a ausência inexplicável de lorde Bromwell e começou a falar sobre o que deviam usar para a ópera naquela noite. Callie respondeu facilmente, grata por Francesca ser capaz de suportar mais do que sua parcela da conversa. Foram à ópera com Irene e Gideon e ocuparam o luxuoso camarote de lorde Radbourne. Callie deu uma atenção especial às roupas e ao penteado, incapaz de reprimir a esperança de que poderia ver Bromwell naquela noite. Se ele estivesse lá, era de importância vital que estivesse com sua melhor aparência... e que parecesse muito alegre e sem preocupações. Entretanto, ele não estava na ópera, e Callie não tinha certeza se estava infeliz ou aliviada. Porque, se ele estivesse lá, isto significaria que não tinha deixado a cidade, estava doente ou qualquer outra coisa. Significaria também que simplesmente não tivera vontade de visitá-la. Na tarde seguinte, ela decidiu fazer uma série de visitas. Ficara em casa demais ultimamente, esperando uma visita de lorde Bromwell, e não queria passar mais nem uma tarde assim. Sentia um temor constante de que ele aparecesse e ela não estivesse em casa, mas se recusou a se entregar a ele. Ele então perceberia que não ficava em casa, esperando e ansiando por ele. Mesmo assim, quando voltou, não conseguiu se impedir de examinar os cartões de visitas deixados em sua ausência, apenas para saber se o de Bromwell estava entre eles. Não estava. Francesca, notável por seu tato impecável, não mencionou mais lorde Bromwell desde sua breve conversa na tarde anterior. Callie só podia admirar a habilidade da amiga em encontrar tantas outras coisas sobre as quais conversar, além do assunto que lhes ocupava a mente quase exclusivamente. A noite seguinte era a do baile de lady Smythe-Furling. Não era conhecida pela excelência de suas festas, mas era o único entretenimento social daquela noite, e Callie agora estava determinada a sair em todas as oportunidades. Queria desesperadamente se manter ocupada, dançar, conversar ou fazer alguma coisa, qualquer coisa, para afastar os sentimentos e dúvidas deprimentes. Quase imediatamente depois de entrarem, porém, Callie desejou que não tivessem ido. Enquanto fazia sua reverência a lady Smythe-Furling e suas duas filhas, olhou em volta do salão. E lá, em pé, à margem da pista de dança, conversando com lorde Westfield, estava Bromwell. O coração de Callie parou uma batida, e ela lutou para manter o controle da expressão. Ele estava ali! A esperança a tomou, não importava o quanto tentasse abafála. Ele a veria, pensou. Se voltaria e sorriria e então caminharia para ela. Tudo ficaria bem de novo e poderia parar de se preocupar. Mas ele não se virou e sorriu. Callie se afastou, com cuidado, para não tomar a direção daquela parte do salão onde ele estava. Recusava-se a procurá-lo. Se quisesse falar com ela, iria até ela. Mas ele não foi. Callie dançou com seu anfitrião e com o marido da filha mais velha de lady SmytheFurling. Dançou com o bom amigo de Francesca, Sir Lucien... E se sentiu muito grata pela presença dele ao lado dela por grande parte da noite. Sabia que tinha certeza de que fora Francesca que pedira a ele, mas tinha sido, pensou Callie, muito gentil da parte dele devotar sua noite a ela, amenizando-lhe o desconforto. Também estava grata por sua lista de parceiros de dança estar completa e ter sido capaz, pelo menos, de parecer estar se divertindo. Conversou, riu e até flertou um pouco... Era fácil flertar com Sir Lucien, que, para dizer a verdade, conseguia até flertar consigo mesmo. Por dentro, porém, tudo nela doía. Bromwell estava ali... o homem que a beijara tão apaixonadamente poucas noites antes, o homem que se devotara totalmente a ela nas Projeto Revisoras
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últimas semanas... E nem mesmo se aproximara para cumprimentá-la. Tinha sido melhor assim, pensou, porque não sabia como manteria a compostura. Já tinha sido difícil demais sem ter que enfrentá-lo de frente. As horas se passaram com dolorosa lentidão. Tudo o que Callie queria era ir para casa, atirar-se na cama e chorar, mas não se permitiu sair cedo do baile. Não daria a ninguém a oportunidade de perceber como estava transtornada. Sabia que já havia sussurros. Lorde Bromwell tinha sido tão assíduo em suas atenções a ela recentemente que era evidente, para todos, que não a procurara naquela noite. Callie sentiu os olhares dirigidos a ela, percebeu que as conversas paravam no meio quando olhava em direção a alguém. Isto piorava a dor que tinha que suportar... e, ao mesmo tempo, tornava ainda mais imperativo que não a revelasse. Percebeu que Francesca começou a fingir estar cansada muito antes de seu horário normal e, de vez em quando, disfarçava um bocejo com o leque, pedindo desculpas muito graciosamente aos que estavam em torno dela por sua sonolência. Callie suspeitou que fazia isto em benefício dela, para que pudessem sair da festa mais cedo. Não se surpreendeu quando Francesca anunciou que simplesmente não podia ficar mais tempo, e começaram a fazer as despedidas. Callie suspirou de alívio quando se sentou no banco da carruagem e se recostou no couro macio. — Obrigada — disse suavemente a Francesca. — De qualquer maneira, foi uma festa muito tediosa — respondeu Francesca levemente. Estendeu a mão e a descansou no braço de Callie. — Você está bem, querida? Callie acenou. — Sim, é claro. Um pouco perplexa, admito, mas... — Terminou a sentença dando os ombros. Francesca acenou. Callie sabia que não ficara convencida com a resposta, mas Francesca era educada demais para fazer perguntas. Então, apenas disse: — Suponho que ninguém deve subestimar os caprichos masculinos. Entretanto, estou convencida de que o comportamento de lorde Bromwell foi influenciado, de alguma forma, por sua detestável irmã. Callie não conseguiu se impedir de rir. — Querida Francesca, só você para me fazer rir. — Sim, minha mãe uma vez me disse que sou capaz de tornar trivial o mais grave dos acontecimentos. — Fez uma pausa e acrescentou, com um sorriso na voz. — E acho que não teve a intenção de me elogiar. Com sua costumeira sensibilidade, Francesca não disse mais nada durante o resto da viagem para casa. Quando chegaram, simplesmente deu boa-noite a Callie , encaminhou-se para sua sala matinal "para cuidar de alguns assuntos" e deixou Callie sozinha. Callie subiu rapidamente a escadaria, as lágrimas, há muito reprimidas, lhe enchendo os olhos. A criada esperava por ela, mas Callie a dispensou com algumas palavras breves e ignorou a expressão perplexa da garota. Então, finalmente e pela primeira vez naquela noite, se viu sozinha. Ficou parada por um momento, deixando cair as barreiras que mantivera erguidas todo o tempo. Recusarase a se permitir sentir, até mesmo pensar em sua dor, determinada a apresentar ao mundo uma expressão fria e calma. Mas agora deixou que a dor se aprofundasse com a constatação: o ardor de lorde Bromwell esfriara. Por algum motivo, não estava mais interessado nela. E precisaria aprender a viver sem ele. Um som profundo, primitivo, lhe escapou da garganta... parte gemido, parte soluço... e ela se jogou na cama e se entregou às lágrimas. Na manhã seguinte, Callie estava distraída, os olhos vermelhos, e recusou a sugestão de Francesca de não receber visitantes. Projeto Revisoras
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terei que encontrá-los em algum momento e me recuso a permitir que qualquer pessoa tenha pena de mim. Sei que farão mexericos sobre o fato de lorde Bromwell ter se cansado da minha companhia, mas, pelo menos, não lhes darei mais alimentos para comentários, definhando como uma tola. — Você é uma menina muito corajosa — admitiu Francesca. — Mas infelizmente acredito que seremos inundadas por visitantes. Na verdade, o número de visitantes não foi tão grande quanto Francesca temera, mas a tarde foi cheia, e Callie se manteve ocupada, fingindo que mal percebera a ausência de lorde Bromwell e que se importava ainda menos com isso. Entretanto, foi um grande alívio quando ficou tarde demais para visitas, e elas puderam se instalar para tomar o chá. Callie realmente não tinha a menor vontade de comer, mas ninguém teria permissão de perturbá-las, pelo menos, naquela hora. Francesca havia começado a servir o chá, porém, quando a casa ecoou com o som de uma batida forte à porta da frente. Francesca e Callie se entreolharam, perplexas, mas continuaram a tomar o chá. Ficaram ainda surpreendidas quando o mordomo de Francesca surgiu à porta um momento depois, parecendo dividido entre duas tarefas igualmente fundamentais. — Ah...—hesitou, então continuou depressa: — Sua graça, o duque de Rochford, está aqui para vê-la, milady. — Evidentemente o duque era alguém que nem Fenton ousaria dispensar. Francesca e Callie se entreolharam de novo, o alarme nascendo em suas expressões. Era, pensou Callie, o fim horrível para um dia perfeitamente horrível. Sinclair devia ter ouvido falar das visitas de Bromwell e viera lhes tomar satisfações. — Sim, Fenton, faça-o entrar, é claro. — Francesca reprimiu um suspiro e se levantou. Ao lado dela, Callie também se levantou. Um momento depois, o duque entrou na sala. Estava vestido para cavalgar e era aparente, pela condição menos do que perfeita de suas botas, que fora diretamente para a casa de Francesca sem parar na Lilles House para se trocar. Seu cabelo estava despenteado, o rosto severo, e havia uma luz nos olhos dele que não prenunciava nada de bom para as duas ocupantes da sala. — O que está acontecendo aqui desde que viajei? — exigiu sem preâmbulo. — Recebi uma carta de minha avó dizendo que você tem sido vista, por toda parte da cidade, com o conde de Bromwell. Ela disse que diversas de suas correspondentes até mesmo insinuaram que devemos esperar um "anúncio importante" logo. — Lamento se as cartas de vovó o aborreceram, Sinclair — respondeu Callie friamente. — Mas realmente não acredito que seja necessário que você venha pessoalmente me informar do fato. — Maldição, Callie! Não adote esta máscara inocente comigo. Eu lhe disse para não ver aquele homem de novo! E você... — Virou-se subitamente para Francesca. — Meu Deus, como pôde ser tão complacente, tão irresponsável a ponto de permitir que aquele homem fizesse a corte à minha irmã? — Perdão? — A voz de Francesca era puro gelo. —Tem a impertinência de me repreender sobre quem eu permito que visite minha casa? — Não compreende qual é a intenção dele? — rosnou Rochford. — Não teve a prudência de impedir que um homem que me odeia tentasse conquistar minha irmã? — Se desaprova tanto as pessoas que recebo em minha casa, então, sem dúvida, vai querer retirar Callie dos meus cuidados — respondeu Francesca, na mesma voz gelada. — Se tenho padrões tão complacentes, se me importo tão pouco com quem recebo ou com quem me associo, posso apenas ficar surpresa por ter permitido que Callie me fizesse uma visita. O duque pareceu assustado, e suas sobrancelhas se cerraram, mas, antes que pudesse falar de novo, Callie deu um passo à frente e disse, com a voz furiosa: — Ninguém vai me "retirar" de lugar nenhum. Sou uma mulher adulta e ficarei onde quiser. Projeto Revisoras
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para Francesca. — A menos, é claro, que você não queira mais que eu fique aqui por causa do comportamento grosseiro de meu irmão. Francesca amoleceu o suficiente para sorrir para Callie. — Você é sempre bem-vinda aqui, Callie, sabe disto. — O rápido olhar que lançou ao duque deixou claro que o convite não era extenso a ele. Virou-se de novo para Callie. — Agora acho melhor eu me retirar e deixar você e o duque sozinhos para discutir o assunto. — Não, Francesca, de verdade, você não precisa sair... — começou Callie. Francesca a fez parar com um gesto de mão. — Acredito que seu irmão não pensa assim. É evidente que o conde de Bromwell e a família dele são um assunto pessoal para o duque. Ela se virou, lançou um olhar gelado a Rochford, deixou a sala e fechou a porta discretamente. O duque a observou sair, o queixo enrijecendo ainda mais. Virou-se para enfrentar a irmã, mas Callie atacou primeiro. — Como pode falar assim com Francesca? — Os olhos brilhavam de indignação. — Você foi absolutamente abominável e agiu como se tivesse o direito de dizer a ela o que fazer! Quem ela pode ou não ver! Realmente, Sinclair! — Sei perfeitamente que não exerço nenhum controle sobre lady Haughston. — A voz era tão rija quanto sua postura. — Entretanto, pensei que tivesse mais juízo e não permitisse que um homem a visitasse tantas vezes que você se tornaria o assunto da cidade. Especialmente Bromwell, entre todas as pessoas! — A culpa não foi de Francesca. Ela teve um enorme cuidado de estar sempre em minha companhia o tempo todo que passei aqui. Ninguém ousaria sugerir que fiz qualquer coisa escandalosa. — Não, é claro que não. — Havia uma grande impaciência agora na voz de Rochford. — E como Francesca saberia que você reagiria desta maneira se um homem solteiro e bom partido me fizesse a corte? Ela nem conhecia lorde Bromwell até eu vir para cá. — Pensei que fosse suficiente eu ter lhe dito explicitamente para não vê-lo — retorquiu Rochford. — Evidentemente, você não me deu a menor atenção. — Não sou uma criança para você me dizer o que fazer ou quem ver, sem me dar qualquer explicação para as suas ordens! Se há alguma coisa errada com Bromwell, devia ter me contado o que é. Rochford mexeu os pés, parecendo desconfortável. — O que é? O que há de tão errado com lorde Bromwell? — persistiu Callie. — Por que você detesta o homem? — Não o detesto. — A rigidez de Rochford aumentou. — Não tenho nenhum sentimento por ele, bom ou mau. É ele que me detesta e tem me detestado por muitos anos. Temi que ele tentasse se ligar a você para magoá-la... apenas para me ferir de alguma forma. — Por quê? — voltou Callie a perguntar. — Ele nunca disse nada sobre odiar você. Acho que nem mesmo falou sobre você. Por que teria tanta raiva de você a ponto de me fazer a corte apenas para feri-lo? — Não é o tipo de coisa que um homem discute com uma dama — começou o irmão. Os olhos escuros de Callie brilharam com uma chama de indignação. — Então temo que você e eu não tenhamos mais nada para dizer. — Deu um passo em direção à porta. — Maldição, Callie, estou tentando protegê-la!
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Tenho
certeza de que é uma atitude muito nobre de sua parte. Mas, se me proteger significa me tratar como alguma coisa menos do que uma adulta, menos do que uma pessoa, então não quero sua proteção. Os lábios de Rochford se apertaram. Callie suspirou, e inesperadamente, lágrimas lhe encheram os olhos. Voltou a se encaminhar para a porta. — Espere. — Ele se virou e estendeu a mão para ela. — Callie, pare, não vá, vou lhe contar. Ela se virou e olhou para ele, esperando. — Quinze anos atrás, Bromwell me desafiou para um duelo — Fez uma pausa, então acrescentou: — Por desonrar a irmã dele.
Capítulo Treze
Callie o encarou. — O quê? Como ele pôde pensar isto? — Um leve sorriso tocou os lábios do duque. — Nem pergunta se a acusação era verdadeira? — É claro que não. Realmente, Sinclair... que tipo de idiota acha que sou? — A voz de Callie era áspera. — Sei que você jamais desonraria qualquer mulher, muito menos uma dama. Não sou tão ingênua a ponto de não saber que você teve... relacionamentos com mulheres. Mas tenho certeza de que foram perfeitamente adequados e... bem, profissionais. Ele riu e balançou a cabeça. — Por que cheguei a pensar que você ficaria abalada com este assunto? — Não sei, mas fico atônita por Bromwell ter acreditado numa coisa dessas. Ele não é um homem estúpido. Rochford deu de ombros. — Era muito jovem na ocasião e foi muito mal informado. Não me conhecia, não sabia que não sou o tipo de homem que se impõe a uma mulher. .. ou seduz uma mulher de virtude. E não teria sido difícil para ele acreditar que eu... eu me senti atraído por lady Daphné. Quase todos os homens do ton eram... fascinados por ela. — E você era? — Não. — O irmão balançou a cabeça. — Na verdade, na ocasião eu estava atraído por uma dama bem diferente, mas... lady Daphné estava interessada em mim. Era uma jovem viúva e claramente tinha a intenção de se casar com alguém com mais dinheiro do que da primeira vez. Sempre foi gananciosa e acreditava que nenhum homem era imune à sua beleza. Ela me escolheu como sua vítima seguinte. Mas eu não tinha interesse em me casar com ela... ou ter qualquer outro tipo de relacionamento com ela. Quando deixei claro que suas esperanças eram inúteis, ficou furiosa comigo. — Deu de ombros. — Não estava acostumada a ser rejeitada. Suponho que, por vingança, convenceu o irmão de que eu tinha brincado com suas afeições. Pelo que ele me disse, acredito que ela lhe contou que estava grávida de um filho meu. — Não! — Callie arquejou. — Então ele o desafiou? Rochford acenou. — Sim, pistolas ao amanhecer. E não quis me ouvir. — E você o enfrentou? Projeto Revisoras
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claro que não. — O duque fez uma pequena careta. — Bromwell era apenas um menino, tinha 17 ou 18 anos, apenas um estudante de Oxford. Não podia tirar-lhe a vida assim e certamente não tinha a intenção de me deixar matar quando não tinha feito nada de errado. — Você não era exatamente um velho — lembrou Callie. — Quinze anos atrás, você tinha apenas 23 anos. — Pode ser, mas tive que amadurecer rapidamente porque recebi minha herança muito jovem. Na ocasião, já estava administrando minhas propriedades havia cinco anos. Eu me sentia décadas mais velho do que aquele jovem de cabeça quente. Mas... — suspirou e balançou a cabeça — não lidei bem com a situação Estava muito zangado com Daphné por suas mentiras e com... bem, todo mundo, suponho. Fui felino com o menino, falei com ele com sarcasmo, com desdém. Deixei claro que o considerava um garoto atrevido e que não merecia me encontrar num campo de duelo. Em resumo, eu o constrangi horrivelmente. E foi no meu clube, diante de diversos homens. Os jovens são muito orgulhosos e sensíveis. Ele me odiou, não apenas pelo que achava que eu havia feito com a irmã dele, mas também por humilhá-lo aos olhos do ton. Voltou para Oxford e alimentou seu ódio. Callie se aproximou do irmão e colocou a mão em seu braço. — Sinclair, lamento muito. Gostaria que tivesse me contado antes. — Não é o tipo de história que se conta para uma irmã. Não foi nada bonito o que fiz. — Lorde Bromwell o odeia desde então? — Callie compreendia tudo agora... por que Brom lhe havia feito a corte e por que parara tão abruptamente. Seu único objetivo, em tudo aquilo, tinha sido magoá-la para se vingar do irmão. — Ele nunca soube a verdade? Rochford deu de ombros. — De vez em quando, alguém me conta que ele ainda me detesta e despreza. Lady Daphné encontrou outro homem com quem se casar. Acredito que ela nunca teve um filho, mas isto é fácil de atribuir a um acidente, outra tragédia que lhe aconteceu. Sempre foi uma mentirosa muito habilidosa. Seu irmão não é o único a quem enganou. O rosto dele estava severo, e Callie lhe apertou o braço para mostrar solidariedade. — Mais uma vez, sinto muito. Mas certamente ninguém que o conhece acreditaria que você brincaria com as afeições de uma mulher. — Talvez não acreditassem que agi de maneira desonrosa com ela. Mas alguns pensaram que me envolvi com ela. — A mulher em quem você estava interessado? — A pergunta foi um pouco tímida. Ele sorriu de leve. — Sinto dizer que ela se apaixonou por outro homem. Não posso culpar Daphné por tudo e descobri que ninguém escolhe a quem amar. Callie franziu a testa, e uma grande tristeza a tomou. Jamais pensara na possibilidade de que o irmão pudesse um dia ter amado ou que perdera um amor. Francamente, nunca lhe ocorrera que qualquer mulher descartaria a oportunidade de se casar com ele. Sentiu-se um pouco culpada também por ter apenas presumido que Rochford era frio e distante demais para amar e que era por isto que continuava solteiro. Como se lesse seus pensamentos, Rochford voltou ao assunto do conde. — De qualquer maneira, suspeito que Bromwell jamais soube como sua irmã é realmente. O amor pode cegar para todo tipo de coisa. E nenhum deles realmente viveu muito tempo no ton. Acho que ele foi para o exterior depois que se formou em Oxford e então, há muitos anos, quando herdou o título e as propriedades, preferiu viver nelas. O segundo marido de Daphné foi muito prudente e a manteve distante de Londres. Por muitos anos, ela não frequentou a sociedade. E duvido que alguém ouse discutir a moral da irmã diante do homem. Talvez ele ainda acredite que ela foi uma vítima inocente.
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que acredita — concordou Callie. — Ele não me contou nada do que aconteceu, mas sempre falou com muita admiração sobre a irmã. Na verdade, eu a conheci, e ela foi muito... agradável. — Ah, Daphné é excelente em subterfúgios. Há muitas pessoas que gostam dela... Odélia, por exemplo. Não posso culpar Bromwell, eu mesmo detestaria qualquer homem que a magoasse de qualquer maneira. Como temo que ele a feriria. — Você devia ter me contado. — Eu sei, agora eu compreendo. Estou acostumado demais a considerá-la minha irmã caçula e me esqueço de que você é uma mulher... uma mulher maravilhosa e muito inteligente. — Talvez não tão inteligente — contestou Callie , com um sorriso amargurado. — Não percebi a falsidade de lorde Bromwell, acreditei que estava sinceramente me fazendo a corte. Mas agora compreendo por que foi tão assíduo em suas atenções. Mas não precisa se preocupar, já parou de me visitar. Acho que buscou se vingar de você assim. Foi muito atencioso e conseguiu que todos percebessem. Então, de repente, parou de me procurar, e todos foram testemunhas do meu constrangimento. Tenho sido objeto de mexericos e, de uma forma menor, foi o tipo de coisa que aconteceu com a irmã dele. — Lamento tanto, Callie. — O duque passou os braços em torno dela e a abraçou com força. — Daria tudo para evitar que você fosse magoada assim. Callie recostou a cabeça no peito dele por um momento e se permitiu usar, apenas um pouco, sua força e absorver a sensação, como fizera quando era criança, de que Sinclair, de alguma forma, faria com que tudo ficasse melhor. Mas então se afastou e sorriu para ele. — Não se preocupe mais. É evidente que teria sido melhor se eu tivesse agido como me pediu. Não posso deixar de perceber que fui magoada por causa da minha própria imprudência. De qualquer maneira, não fui muito ferida, sinto-me apenas aborrecida, principalmente por ter sido tão idiota. Não é nada além de um pouco de constrangimento social. É embaraçoso, mas nada mais. Meu bom nome continua limpo e posso suportar um pouco de mexericos sobre mim. Tudo terminará em algumas semanas. Logo acontecerá alguma coisa mais importante do que meu pequeno problema. — Temi que ele tivesse intenções muito piores quando soube que estava lhe fazendo a corte. — Sinclair sorriu. — Devia ter percebido que você teria o bom senso de não se deixar manobrar para uma posição comprometedora. Callie pensou nos beijos e carícias que partilhara com Bromwell e não conseguiu encontrar os olhos do irmão. — Não sei se alguma vez ele pretendeu fazer mais do que me tornar objeto de riso da sociedade. — Estou contente por saber que não é tão mau a ponto de forçar suas atenções a você. Apesar de me detestar, tive um pouco de respeito pelo homem por sua lealdade à irmã, por mais enganado que estivesse. Um silêncio recaiu sobre eles. Rochford estava claramente desconfortável por conversar sobre aqueles assuntos com a irmã, e Callie, sentindo-se culpada por ter permitido tanta liberdade a Bromwell, não queria falar, por medo de a culpa se mostrar em sua voz. Callie se mexeu, e Rochford limpou a garganta. — Eu... bem, preciso voltar para Marcastle. Saí muito de repente e ainda há muito a ser feito. Também tenho alguns assuntos a resolver em Dancy Park, portanto não posso ficar. — Olhou para Callie, um sorriso leve brincando em seus lábios. — Não se preocupe, não vou exigir que volte comigo. Posso ver que está bem e que é muito capaz de cuidar de si mesma. Foi idiotice minha vir correndo para Londres. — Sim, um pouco — concordou Callie com um sorriso. — Mas estou feliz por você se importar tanto comigo para fazer isto. Projeto Revisoras
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claro, seu bem-estar é tudo o que importa. Não vim aqui por causa de um "dever familiar" pelo "nome da família" ou qualquer coisa do tipo. — Eu sei. — Mas... se quiser... bem, se afastar da cidade por algum tempo, ficarei feliz em levá-la comigo. — Lançou-lhe um olhar preocupado. — Quer dizer, até que os mexericos desapareçam? — Callie balançou a cabeça. — Não, acho que não. Não gosto de ser motivo de sussurros ou de olhares divertidos... ou penalizados. Mas me recuso a me esconder só por causa de um pequeno constrangimento. De qualquer maneira, apenas daria ao assunto mais importância do que tem. Será melhor se eu ficar e enfrentar até que desapareça. O orgulho ficou evidente no sorriso dele. — Sabia que diria isto. — Francesca ajuda demais com relação a isto, torna tudo muito melhor do que se eu estivesse sozinha... ou com minha avó. — Olhou para ele com severidade. — No entanto, você precisa pedir desculpas a ela pelas coisas que lhe disse. Não foi culpa dela. Francesca tentou me advertir, de uma forma muito delicada, me dizendo que a reputação da irmã dele não é das melhores. Disse também que você poderia não gostar... o que, é claro, eu já sabia. Agora entendo o motivo por que ela ficou um pouco relutante em explicar melhor. — Sim, imagino que tenha ficado. — Ela foi muito meticulosa em seu papel de companhia para mim, embora saiba que, muitas vezes, tenha sido excessivamente enfadonho para ela. — Compreendo que minhas palavras foram injustas, nunca disse a ela que você não deveria ver Bromwell. E, de qualquer maneira, sei que ela não tem controle sobre você. Estava fora de mim com a raiva e, é claro, vou pedir desculpas a ela. Entretanto, temo que a opinião que lady Haughston tem sobre mim já existe há alguns anos. Encontraram Francesca na sala de estar formal, na parte fronteira da casa, sentada ao piano. Não tocando, mas olhando, sem ver, para a parede, as mãos cruzadas e imóveis no colo. Pararam à porta e então o duque entrou na sala. — Lady Haughston. Francesca se virou ao som da voz dele e se levantou, com uma expressão de fria civilidade no rosto. — Vossa graça. O canto da boca de Rochford se moveu com o aborrecimento, mas apenas disse: — Você tem razão de estar zangada comigo, e peço desculpas pela maneira como me comportei. Não tinha o direito de repreendê-la, como me mostrou. Naturalmente você e minha irmã são livres para ver quem quiserem. Em minha defesa, posso apenas alegar meu anseio em proteger Calandra. Espero que me perdoe. O aceno de Francesca foi régio quando respondeu: — É claro, não precisa se preocupar. Jamais levei a sério suas críticas. — Fico aliviado em saber. — A voz era seca. — Estou voltando agora para o campo, e Callie gostaria de ficar com você, se aceitar. — Certamente, Callie é sempre bem-vinda aqui. — Um estranho poderia não perceber a ligeira ênfase que Francesca deu ao nome de Callie. — Obrigado. — Fez uma reverência, com os olhos no rosto dela. — Então vou me despedir. Callie o levou para fora e, quando chegaram à porta da frente, ele lançou um olhar para a sala de estar onde Francesca estava. — Não se preocupe. — Callie se sentiu um pouco divertida. — Farei o que puder para suavizar os sentimentos de Francesca com relação a você. De qualquer maneira, nunca a vi guardar rancor de ninguém, tem uma natureza muito gentil e perdoa com grande facilidade. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Verdade? — Ele
sorriu de leve. — Mas não se dê muito ao trabalho, Callie, lady Haughston e eu estamos... acostumados um com o outro. Despediu-se, e Callie o observou se afastar, uma pequena ruga na testa. Pela primeira vez, perguntou-se o que exatamente havia entre seu irmão e Francesca. Sempre aceitara que Francesca era parte de sua vida, uma amiga da família. Diria que Sinclair e Francesca eram amigos, mas, agora que pensava no assunto, percebia que havia alguma coisa diferente na maneira como se tratavam. Não havia aquela afeição fácil, brincalhona, que Francesca partilhava com Sir Lucien ou com seu irmão Dominic. Nem Francesca adotava aquele modo leve de flerte com que tratava frequentemente outros homens do ton. Havia, refletiu Callie, mesmo numa conversa agradável, uma espécie de tensão sutil entre os dois. Lembrou-se então da expressão de surpresa no rosto de Francesca quando lhe dissera que ela era uma das poucas pessoas a quem Sinclair confiaria a irmã. E poucos minutos antes, seu irmão dissera, com sarcasmo, que a opinião de Francesca sobre ele já "existia" havia alguns anos, e não insinuara que era uma boa opinião. Callie podia tê-los considerado amigos antes, mas agora não tinha certeza se algum dos dois teria dito a mesma coisa. Por outro lado, tinha certeza de que não desgostavam um do outro. Até aquela noite, Francesca jamais fizera um comentário negativo para ou sobre Sinclair de que Callie pudesse se lembrar, e sabia que, sempre que o nome de Francesca surgia numa conversa, o irmão sempre ouvia com interesse. Em praticamente todos os bailes a que ambos compareciam, Sinclair sempre dançava uma valsa com Francesca. Com outro homem, isto podia não indicar nada, mas Callie sabia que o irmão não gostava muito de dançar. Mas o que tudo aquilo significaria? Ainda intrigada com o assunto, Callie entrou e se dirigiu para a pequena sala de estar, para onde acreditava que a amiga havia voltado. Seus instintos se provaram corretos, pois Francesca estava sentada no sofá. E, o que era incomum para ela, segurava um bastidor de bordado. Quando Callie entrou, Francesca ergueu os olhos para ela, sorriu, então voltou a atenção para seu bordado. — Você e o duque conseguiram se acertar? — perguntou, com o tom leve. — Sim. — Callie fez uma pausa. — Por que não me contou que lorde Bromwell detesta meu irmão? O rosto de Francesca ficou rosado, e ela olhou para Callie, então afastou os olhos. — Eu não... não tinha certeza se lorde Bromwell detestava Rochford ou de quanto era profunda sua raiva dele. Pensei que, certamente, ele poderia... por causa do... do duque e, bem... — Interrompeu-se, insegura. — E lady Daphné? — completou Callie. O olhar atônito de Francesca voou para o rosto de Callie. — Ele lhe contou? Callie deu de ombros. — Havia pouco que ele pudesse fazer. Sabia que eu não lhe permitiria evitar me explicar por que fazia uma oposição tão forte à minha amizade com lorde Bromwell. O motivo por que tinha tanto medo das intenções dele com relação a mim. E me contou que uma vez Bromwell o desafiou para um duelo... — O quê? — O bordado de Francesca escorregou de suas mãos e caiu no chão sem que ela percebesse. — Ele desafiou Sinclair para um duelo? — Sim, você não sabia? Francesca sacudiu a cabeça com tanta força que seus cachos balançaram. — Não! Ele devia estar louco! Todos sabem que Rochford é um atirador exímio, mortal! — Acho que ele estava com raiva demais para pensar — explicou Callie . — Sinclair disse que ele tinha apenas 17 ou 18 anos, e pensou... bem, acreditou que Sinclair havia
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sido um canalha com a irmã dele, que a seduzira e a abandonara. Foi disto que ele o acusou, embora, é claro, Sinclair não tenha usado palavras tão explícitas. Francesca deixou escapar um som curto e sem palavras para mostrar sua incredulidade. — Como se algum homem precisasse seduzir lady Daphné! — Bromwell ama demais a irmã, já me falou sobre ela. Tenho certeza de que não percebia o tipo de pessoa que ela era. Era muito jovem, ainda estava na universidade. — É claro, e sem dúvida, Daphné lhe contou que tinha sido enganada. Estava tentando forçar a mão do seu irmão, tenho certeza. Queria demais ser a duquesa de Rochford. — É evidente que não conhecia Sinclair muito bem — comentou Callie. Um breve sorriso curvou os lábios de Francesca. — Não, suponho que não. Rochford não reage bem à pressão. — Balançou a cabeça. — Rochford lhe contou o que aconteceu? Certamente ele não lutou contra o menino. — Não, é claro que não. Mas disse que se arrepende da maneira como lidou com o assunto. Aparentemente, foi desdenhoso e acha que feriu o orgulho de lorde Bromwell. E Brom... quero dizer, Bromwell... deve ter alimentado um rancor contra ele todos estes anos. E quando teve a oportunidade de se vingar um pouco de Sinclair, aproveitou-a. — Callie deu de ombros. — Cortejou a irmã do duque e, então, sem a menor cerimônia, abandonou-a, expondo-a aos mexericos do ton. — Ah, Callie, sinto tanto. — Francesca estendeu a mão e tomou a da amiga, e Callie viu que os olhos azuis estavam nadando em lágrimas. — Não tinha ideia de que tivesse tanto rancor contra o duque. Nunca ouvi falar sobre o desafio, estava... ocupada com minha primeira temporada, e lorde Haughston havia acabado de me pedir em casamento. Estava tão envolvida em meus próprios assuntos que acho que não ouvi todos os mexericos. — Francesca não viu necessidade de acrescentar que, na ocasião, fazia o possível para evitar qualquer menção ao duque de Rochford. — Tive um pouco de suspeita sobre lorde Bromwell no começo — continuou Francesca —, mas principalmente porque é irmão de lady Swithington, e pensei que podia ser parecido com ela: avaro, ambicioso, licencioso. Suspeitei também de seus motivos para cortejá-la, porque pensei que ele poderia ter algum ressentimento contra Rochford, mas senti que não podia falar sobre seu irmão e a irmã de Bromwel. Não me pareceu adequado. E não tinha a menor ideia sobre a força dos sentimentos de Bromwell ou que ele buscaria se vingar do duque através de você. Sinto terrivelmente, não devia ter permitido que ele nos visitasse. Devia ter mantido mais vigilância sobre ele. Callie sorriu e apertou a mão da amiga, confortando-a. — Você é um doce de pessoa, mas acho que não havia nada que pudesse fazer. Eu sabia que Sinclair não gostava dele, que não o queria perto de mim. Se alguém errou, fui eu... por ser teimosa e obstinada e me recusar a seguir o conselho do meu irmão. Fui uma boba... e pronta demais a acreditar que lorde Bromwell se importava comigo. — Ele é desprezível! — declarou Francesca. — Determinar-se a lhe partir o coração! Prometo a você... vou planejar para ele uma queda social bem dolorosa! Callie riu, como sabia que era a intenção de Francesca. — Não, na verdade não é tão terrível. Ele não me partiu o coração. Eu lhe disse, quando vim para cá, que não sou romântica e não me apaixonei perdidamente por ele. Como disse a Sinclair, o pior que sofri foi um pequeno constrangimento. Ora, não é nem mesmo o auge da temporada ainda. Metade das pessoas que conheço ainda não está aqui. E em algumas semanas, haverá alguma coisa muito mais interessante sobre a qual as más línguas poderão se ocupar do que eu e meu orgulho ferido. Francesca ainda parecia preocupada, mas abandonou o assunto, e Callie se sentiu grata. Sabia que suas palavras não tinham sido inteiramente verdadeiras, e era difícil Projeto Revisoras
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manter a alegria falsa. Realmente acreditava que os mexericos sobre ela morreriam logo e, embora não gostasse de saber que as pessoas falavam sobre ela, conseguia suportar aquilo sem muita dificuldade. Mas mentira sobre a dor em seu coração. A verdade é que se sentia profundamente triste com a atitude de Brom e com sua ausência. Não fora apenas seu orgulho que ficara ferido. Não havia se apaixonado por ele e fazia questão de lembrar este fato a si mesma com frequência. Mas não podia negar que seus dias eram muito enfadonhos sem ele. Sentia falta de conversar com ele e de ver seu rosto. Tinha saudades de seu sorriso, de sua risada, da maneira como sua presença enchia uma sala. Na noite anterior, quando o vira do outro lado do salão de baile, seu coração dera um pulo. O problema, pensou, é que se sentia solitária longe dele, infeliz. Cada manhã, quando acordava, sentia-se como antes por um momento, então se lembrava de que Brom estaria ausente de sua vida, então uma tristeza mansa se instalava nela. Entretanto, estava determinada a não permitir que o mundo visse que estava infeliz. Cerrou os dentes e se dedicou à sua rotina social. Uma Lilles, afinal, tinha que manter as aparências. Assim, enquanto os dias se passavam, ela fez ou recebeu visitas todas as tardes e acompanhou Francesca às festas, sorrindo e conversando com amigos e conhecidos, como se não tivesse uma única preocupação na vida. E, se havia noites em que chorava até dormir ou manhãs em que desejava não precisar se levantar, não desistiu nem demonstrou. Uma noite, no teatro, Sally Pemberton, uma jovem loura com uma expressão presunçosa, apareceu para uma visita ao camarote delas em companhia da mãe. Depois das amenidades comuns, ela disse, maliciosa: — E estranho, não é, como raramente encontramos lorde Bromwell nos últimos dias? — É mesmo? — Callie lhe lançou um olhar. — Não tinha percebido. — Não percebeu? Mas, minha cara, o homem estava praticamente aos seus pés, não estava? Em cada festa, cada jantar. Ora, pela maneira como a cercava, juro que esperava ouvir um anúncio feliz muito em breve. E agora... — Ela deu de ombros. — Bem, não se pode deixar de imaginar o que aconteceu. — Aprendi que é o jogo de um tolo levar um homem a sério... tanto o que diz como o que faz. É precisamente por causa da volubilidade de um homem jovem que uma mulher é sempre sábia em manter o coração fechado. — Callie sorriu serenamente para a senhorita Pemberton. E se tinha que fechar as mãos em punho no colo, as unhas mergulhando nas palmas para impedir que qualquer emoção se revelasse em seu rosto, ou se choraria em seu travesseiro de novo aquela noite... bem, pelo menos, as senhoritas "Pembertons" deste mundo não saberiam. Tinha certeza de que Francesca suspeitava que as noites de Callie eram inquietas. Dificilmente teria deixado de perceber quando Callie descia para o desjejum com os olhos inchados de chorar ou cercados por olheiras escuras causadas pela falta de sono. Mas Francesca, com seu tato, jamais comentava nada sobre sua aparência. Callie sabia também que Francesca dispensara diversos visitantes, escolhendo apenas alguns para deixar evidente que Callie não estava trancada em casa cuidando de um coração partido. E também percebeu que a amiga estava sempre ao seu lado em qualquer festa, rápida em levar a conversa para um novo caminho se houvesse alguma insinuação de problemas ou se alguém tivesse a ousadia de repetir os mexericos que ainda circulavam sobre Callie e lorde Bromwell. E Callie pensou que, por isto, se não Houvesse nenhum outro motivo, Francesca teria sempre um lugar especial em seu coração.
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Não viu Bromwell em nenhuma das festas a que compareceu. Pensou que talvez ele tivesse saído de Londres. Afinal, viera apenas passar algum tempo para fazer uma visita, e era evidente que preferia ficar em sua propriedade no campo. Mas ouvia o nome dele de vez em quando nas festas, e Sir Lucien contou a Francesca que Bromwell frequentava com assiduidade o Cribb's Parlour, um estabelecimento voltado para a diversão daqueles cavalheiros que tinham um grande interesse no pugilismo. Também, de acordo com o amigo de Francesca, passava diversas tardes no Jackson's Saloon, onde recebera a grande honra de se despir até a cintura e lutar boxe com o próprio senhor Jackson. Callie se perguntou se Bromwell estaria ainda em Londres para avaliar por si mesmo que tipo de dano havia infligido à irmã de Rochford. Este pensamento a fez enrijecer a espinha e a levou a decidir participar de uma ou duas festas às quais estava relutante em ir por medo de encontrá-lo. Parecia que mais e mais membros do ton chegavam a Londres quase todos os dias, e Callie sabia que a temporada, em breve, estaria no auge. O número de convites que recebiam diariamente estava crescendo rapidamente e passavam mais e mais noites em uma festa ou outra. Calhe pensou nos meses à frente e no exaustivo turbilhão de festas e visitas, então estremeceu. Não sabia se conseguiria suportar passar pela primavera e continuar até junho num círculo constante de compromissos sociais, enquanto se sentia pesada e vazia por dentro. Quanto ao plano original de aproveitar a temporada para encontrar um marido... bem, isto não tinha mais importância para ela. Quando pensava em seu projeto, perguntava-se por que jamais tivera a ideia de que queria se casar, e menos ainda de gastar tempo e esforço em busca de um candidato adequado. Pensou com anseio em ir para Marcastle, para ficar com Sinclair... ou, ainda melhor, para Dancy Park. Poderia passar os dias cavalgando pela propriedade ou fazendo longas caminhadas pelos campos. Havia amigos a visitar... Dominic e Constance... e tudo seria calmo e tranquilo. Não haveria olhos curiosos procurando em seu rosto sinais de tristeza ou embaraço. Não teria que pensar no que faria se visse lorde Bromwell numa festa. Mas sabia que não podia se ausentar de Londres. Era cedo demais, e as línguas mexeriqueiras teriam ainda mais assunto. Ninguém viajava no auge da temporada a não ser por bons motivos, e todos saberiam, com certeza, que o seu era um coração partido. Teria que ficar, pelo menos, mais dois meses, até maio, e quase chorou ao pensamento. — Pensei que deveríamos ir esta noite ao sarau musical de lady Whittington — disse Francesca numa tarde. Calhe mal conseguiu segurar um gemido. — Sim, eu sei — concordou Francesca. — São terrivelmente enfadonhos de modo geral. — De modo geral? — Bem, sempre. Entretanto, têm uma clara vantagem. Não passam nunca de dez horas da noite e não é preciso conversar o tempo todo. Pode fingir que está ouvindo a música horrível. — Se gostamos de atuar — concordou Callie . — Mas você tem razão, ter que ficar fora apenas duas horas é muito bom. Assim, com um pouco menos da relutância que normalmente sentia, Callie se vestiu para a noite, permitiu que sua criada passasse alguns minutos extras cuidando de seus cachos, então ela e Francesca saíram para o sarau. Francesca, como sempre, cuidou para que elas entrassem mais tarde do que a maioria dos convidados. Tal comportamento sempre fora considerado simplesmente a maneira como lady Haughston era, mas Callie estava consciente do fato de que isto reduzia muito o tempo que teria que passar mantendo sua pose de indiferença alegre à ausência de lorde Bromwell. Encontraram lady Manwaring e sua irmã, a senhora Beltenham, assim que entraram no foyer, e andaram juntas para a sala de música, parando para procurar cadeiras. O Projeto Revisoras
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olhar de Callie foi atraído para a parede oeste, do lado contrário das janelas, e seu coração parou uma batida. Em pé lá, o cotovelo descansando com negligência num pedestal de mármore e olhando diretamente para ela, estava lorde Bromwell. Callie sentiu, de repente, que não conseguia respirar. Havia mais de uma semana que não o via e duas desde que passara algum tempo com ele, e ficou abalada de novo pela sua beleza rija e severa. Ele se endireitou quando seus olhares se encontraram, e Callie pensou, sentindo um pouco de pânico, que se aproximaria dela. Não poderia suportar aquilo, não ali, na frente de todas aquelas pessoas, então se virou rapidamente e tocou o braço de Francesca. — Eu... eu estou sentindo um pouco de dor de cabeça. Se me der licença... — Ah, céus, quer ir embora? — Francesca perguntou depressa. — Talvez você esteja adoecendo. Soube que há uma febre grassando na cidade. — Não, não, acho que está apenas... um... um pouco quente aqui. Por favor, não se preocupe, apenas se sente e desfrute a música. Voltarei num minuto. Calhe se virou, sem ousar olhar para Bromwell, e fugiu da sala.
Capítulo Quatorze
Callie atravessou depressa o corredor, sem prestar atenção para onde ia. A porta de uma pequena biblioteca estava aberta, e ela entrou e fechou a porta. Com um pequeno suspiro de alívio, deixou-se cair num poltrona, as pernas trêmulas. Por um momento, desejou não ter fugido daquela maneira. Alguém teria percebido? Temia que sim, mas apenas esperava que não tivesse parecido tão angustiada quanto se sentia. Era tão mais difícil manter a expressão de indiferença quando Bromwell estava presente! No começo, quando ele interrompera as visitas, tinha esperado, com um pouco de trepidação, vê-lo todas as vezes em que entrava numa festa. Acreditava estar preparada, fortalecida para o encontro... e esperançosa de que, quando o visse, de alguma maneira, as coisas voltassem a ser como eram antes. Mas agora se acostumara a não vê-lo. Havia baixado a guarda, e a visão dele tinha sido um choque. Além disso, agora que sabia o motivo pelo qual Brom a assediara e então a rejeitara, não havia mais esperanças em seu coração, apenas dor ao vê-lo. Sabia que precisava voltar, que não podia se esconder ali durante todo o sarau... nem mesmo por alguns minutos. As pessoas notariam sua ausência e haveria mexericos. Se demonstrasse o quanto lorde Bromwell a havia magoado, então todo o trabalho cuidadoso das últimas duas semanas teria sido em vão. Callie fechou os olhos e tentou se preparar para o que precisava enfrentar a seguir. De repente, a porta se abriu. Callie se assustou com o som e abriu os olhos... Lorde Bromwell estava em pé no umbral. Ela o olhou fixamente, cada nervo do corpo esticado. Então se levantou, as mãos se fechando em punhos nas laterais do corpo, como se estivesse realmente preparada para lutar. — Lorde Bromwell — disse apenas, satisfeita por sua voz parecer muito mais firme do que ela se sentia. Ele entrou e fechou a porta, mas não se aproximou dela. — Pensei... Você está bem? Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Estou
ótima. — A voz de Callie era fria. — Se esperava me encontrar com o coração partido por sua causa, temo que terá um desapontamento. — É claro que não tinha a esperança de lhe partir o coração! — Havia indignação no tom de voz, e os olhos emitiam um brilho prateado. — Eu... — Interrompeu-se, a indignação substituída por frustração e começou a andar de um lado para o outro na sala. — Maldição! Nunca tive a intenção de magoá-la. Queria apenas aborrecer um pouco o duque. Callie enrijeceu. — Sei muito bem que seu único interesse em mim era ferir meu irmão. Entretanto, acho que alguns mexericos sobre eu ter perdido um pretendente não causará grandes danos a Rochford. Sem dúvida, você lamenta o fato de não ter sido capaz de manchar meu nome — acrescentou com grande sarcasmo. — Teria sido um escândalo muito maior. Bromwell parou de andar e se virou depressa para encará-la. — Jamais tive a intenção de fazer isto! É isto que pensa de mim, que sou o tipo de homem capaz de envergonhar uma dama apenas para me vingar do irmão dela? — O que mais devo pensar? — replicou Callie, o corpo rijo de fúria. Seus músculos tremiam enquanto a raiva e a dor, por tanto tempo abafadas, subiam à superfície. Toda a dor, todas as lágrimas, todas as preocupações e dúvidas a tomaram, enchendo-a de tanta raiva que não conseguia mais impedir que transbordassem. — Por que outro motivo você me procuraria com tanta insistência? É nisto que meu irmão acredita, foi por isto que me advertiu a não ter nenhum tipo de relacionamento com você. Você queria manchar o nosso bom nome. E qual seria a maneira mais fácil de conseguir isto do que esta? — Ah, é mesmo? — Bromwell deu um longo passo e se aproximou mais dela. — E se este era o meu objetivo, como explica o fato de que não "manchei" o seu nome? — Falta de sorte sua, suponho. — A raiva ainda era intensa. A mão dele se estendeu e lhe agarrou o braço, os dedos mergulhando na carne. — Falta de sorte? — Parecia incrédulo. — É nisto que acredita? De que maneira não tive sorte? Certamente não foi por falta de oportunidade... e você, certamente, estava mais do que disposta. — Puxou-a para ele, os olhos furiosos mergulhados nos dela. — E aposto que ainda está. Abaixou a cabeça e a beijou, a boca reclamando a dela com uma intensidade selvagem que, Callie sabia, devia tê-la amedrontado e a repelido. Mas não lhe causou nenhum desses sentimentos, percebeu, abalada. Em vez disso, o beijo áspero, possessivo, esfomeado acendeu um fogo dentro dela, um fogo que subiu e lhe tomou todo o corpo, transformando-lhe a pele em chamas, e se instalou profundamente, como um nó doloroso, em seu ventre. Os braços dele a envolveram e a apertaram contra ele. E ela ergueu as mãos e lhe abraçou o pescoço, puxando-o para ela. Eles se pressionaram um contra o outro, as bocas presas, devoradoras. As mãos dele se moveram sobre o corpo dela, famintas. Detido pelo tecido que lhe frustrava o desejo de tocá-la, ele enrolou a saia na mão e a puxou para cima até finalmente seus dedos poderem passar sob a saia. Abriu a mão sobre a carne macia da coxa, separada dele apenas pelo leve algodão da roupa de baixo. A mão subiu em busca do calor úmido do centro dela, e a trilha dos dedos a fez tremer de paixão. Enquanto sua boca a possuía, ele lhe acariciou e apertou a coxa, escorregou a mão por suas nádegas, então a levou para f rente, entre seus corpos. Callie arquejou e se moveu involuntariamente de surpresa, quando a mão dele ousadamente escorregou por seu ventre e mergulhou entre suas pernas. Nunca imaginara ser tocada daquela maneira, mas descobriu que aquilo a excitava além da medida. Então se moveu, querendo mais... precisando de mais. Brom deixou escapar um som profundo na garganta, a fome o despedaçando quando encontrou a fenda quente e úmida entre as pernas. Seus dedos acariciaram e se dobraram, doendo para lhe tocar a pele sem o tecido entre eles. Abandonou-lhe a boca e Projeto Revisoras
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lhe beijou o queixo, o pescoço e desceu até a carne macia dos seios, que se erguiam acima do decote. Provou-lhe a pele com os lábios e a língua e traçou padrões quentes e molhados pela carne, que mordiscou gentilmente. Callie estremeceu, certa de que enlouqueceria com o toque de seus dedos e sua boca. O prazer era avassalador, e o calor dentro dela aumentou de maneira insuportável. Ansiava por senti-lo em todo o corpo, para tomá-lo dentro dela. Estava consciente de uma necessidade profunda e primitiva de lhe abraçar o corpo com as pernas e abri-las para sua rija força masculina. Com a outra mão, Bromwell puxou o decote do vestido, abaixou-o junto com a combinação até que finalmente um dos seios se libertou. Ele parou e ficou imóvel, olhando por um longo momento o macio globo branco e o círculo rosado do mamilo. Então se debruçou e circulou o mamilo com a língua, tornando-o ainda mais rijo. Em seguida, soprou suavemente onde a língua tocara e, como se possível, o pequeno botão endureceu ainda mais, e uma linha de sensação pareceu partir dele e se dirigir diretamente para o ventre de Callie e a encher de desejo. Lentamente, completamente, ele a amou com a boca, usando os dentes e a língua e os lábios para excitar o botão rijo do mamilo. Finalmente o sugou, puxando-o com fortes e profundas carícias enquanto os dedos se moviam no mesmo ritmo entre as pernas dela. As garras do desejo lhe feriam a virilha, como uma besta selvagem, e tudo o que queria era deitá-la no chão e tomá-la, rasgar-lhe as roupas e mergulhar nela até se aliviar. Sentiu a pele de Callie queimar sob ele, sentiu-a se mover e gemer suavemente ao prazer que ele lhe dava, e sua reação o encheu de tanto fogo e fome que pensou que explodiria. Os seios de Callie incharam e doeram, sua virilha pulsava numa batida firme e constante. Ela arqueou contra ele, silenciosamente procurando mais. Alguma coisa que não conhecia, que jamais experimentara, se construía dentro dela, intensa e exigente. Com uma praga baixa e suave, Bromwell a afastou e se virou de costas. Ela oscilou, desequilibrada, e olhou para ele, atônita e desolada. Queria segui-lo, atirar-se a ele e lhe implorar que a tomasse, que lhe desse a satisfação pela qual seu corpo ansiava. Apenas um último vestígio de orgulho a tornou capaz de ficar onde estava, em silêncio. Brom se debruçou sobre a mesa da biblioteca, as mãos espalmadas nela, o peito subindo e descendo, com a respiração profunda. Callie olhou para as costas dele. Todo o seu corpo tremia, a mente nublada, e se sentiu incrivelmente macia e dolorosa, vulnerável, como uma criatura que tivesse perdido sua concha. Lentamente se recuperou e com gestos inseguros puxou o decote para cima e arrumou a saia numa aparência de modéstia. Afastou-se, trêmula, e sem olhar para ele, disse: — Bem... deve estar feliz, agora que me humilhou. — Humilhei você? — Os dentes estavam cerrados. — Sou eu que não posso sair desta sala. O corpo dela ainda estava quente e dolorido, ainda ansiando pela satisfação, mas não discutiria com ele sobre quem sofria mais de desejo. — Não há objetivo nenhum nisto. — A voz era áspera, e ela levou as mãos ao rosto quente. Podia sentir a dor crescendo nela, dominando o calor de seu desejo. — Não permitirei que me use para atingir meu irmão. — Lutou para manter a voz firme. — Qualquer que seja o sentimento louco que é capaz de despertar em mim, não será suficiente para me fazer arruinar meu bom nome e o dele. Tomarei todas as medidas necessárias para nunca mais ficarmos juntos sozinhos. — Não tinha a intenção de fazer isto. — Os dentes estavam cerrados. — E não precisa ter medo de mim. Ou do que quero de você. — Virou-se e a encarou, a expressão dura e cheia de dor. — Não pensei no que aconteceria a você quando comecei isto e peço desculpas. Queria apenas provocar o duque e fazê-lo ter medo de que eu pudesse fazer a você o que ele fez com minha irmã. Tinha um pouco de esperança de que isto poderia, até mesmo, trazê-lo a mim e me confrontar pessoalmente... para terminar o que Projeto Revisoras
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começou quinze anos atrás. Mas jamais pensei em feri-la — continuou. — E, Deus sabe, jamais tive a intenção de terminar querendo-a tanto que quase me enlouquece. Não esperava passar cada dia contando os minutos até poder estar com você novamente. Ou me tornar o tipo de idiota que frequenta uma coisa enfadonha, como o sarau de lady Whittington, apenas com a esperança de vê-la de novo. Calhe olhou, perplexa, para ele, dividida entre a esperança e o desespero. — Mas, se é assim que você se sente, por que parou de me visitar? Por quê... — Porque não pode haver um futuro para mim e a irmã do duque de Rochford! — Passou as mãos pelo cabelo e as pressionou na cabeça, como se tentasse impedir que explodisse. Virou-se, andou até a parede e voltou. — Seu irmão destruiu minha irmã!Ele a enganou, seduziu-a e engravidou-a, e então se recusou a se casar com ela. — Sinclair jamais faria uma coisa assim! — exclamou Callie. — É um homem honrado, jamais magoaria uma mulher desta maneira. Eu sei, ele me contou que jamais tocou em sua irmã. Os lábios de Bromwell se dobraram num sorriso sardônico. — E é claro que você acreditou. — É a verdade. — Não, minha irmã me contou a verdade. Sei o que aconteceu. — Ela mentiu para você. Os olhos dele se encheram de fúria. — Não. — Está dizendo que ela nunca mentiu? Ela mentiu para mim, me disse que lorde e lady Radbourne estariam conosco naquela noite, em Vau-xhall, mas não estavam. Quando perguntamos a lady Radbourne sobre a ausência deles, Irene disse que sua irmã lhes informara que o passeio havia sido cancelado. Ela me enganou para eu estar lá sem companhia alguma e então me deixou lá sozinha. Ela tentou... — Eu sei, eu sei! Estava tentando me ajudar. Pensou que isto me agradaria, sabia que eu queria você. É diferente. Ela não mentiria para mim sobre... sobre isto. — E meu irmão não mentiria para mim. Ele a olhou, sofrimento e angústia em seus olhos. — Então você vê como é. É tão leal ao seu irmão quanto sou à minha irmã. Não resta mais nada para nós. Callie segurou a respiração, com a dor, enquanto Bromwell se afastava. Ele abriu a porta, parou e se virou para olhar para ela. — Lamento, Callie, por ter magoado você. Eu... — Balançou a cabeça, saiu e fechou a porta. Callie ergueu o punho fechado até a boca para abafar o soluço que se ergueu dentro dela. Arrastou-se até uma poltrona e se sentou, lutando para impedir que as lágrimas lhe descessem pelo rosto. Não podia ficar ali e não se importava mais se as pessoas falassem sobre sua reação a lorde Bromwell. Tinha que buscar o refúgio de seu quarto para sofrer com privacidade. Engoliu com força e deixou a biblioteca. No foyer, encontrou um lacaio e lhe pediu para avisar Francesca que estava indo embora. No momento em que outro lacaio encontrava o manto de Callie e a ajudava a vesti-lo, Francesca saiu depressa da sala de música, parecendo preocupada. — Callie, querida, está doente? Vamos embora imediatamente. Callie acenou. — Mas você não precisa sair. — Bobagem. — Francesca já fazia um gesto ao lacaio para pedir seu casaco. — Não poderia ficar me sentindo preocupada com você. Disse a lady Manwaring que você se sentia mal, e ela pedira nossas desculpas a lady Whittington.
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Callie acenou e ergueu o capuz do manto, grata pela privacidade que oferecia. Saíram, e Francesca levou-a rapidamente para a carruagem, subindo logo em seguida. — O que aconteceu? — Sentou-se ao lado de Callie e lhe segurou a mão. — Vi lorde Bromwell sair da sala de música logo depois de você. Ele lhe falou? É por isto que... — Sim... ah, sim! — exclamou Callie, incapaz de segurar suas emoções, as lágrimas a dominando. — É impossível. Foi tolice minha até mesmo ter a esperança de... — Interrompeu-se e um soluço escapou. — Ah, Francesca! Ele jamais poderá ser desleal à irmã, não mais do que eu a Sinclair! Não importa o que sinto ou mesmo o que ele sente por mim. É totalmente sem esperanças. — Ah, minha querida. — Lágrimas de simpatia brilharam nos olhos de Francesca, e ela abraçou Callie, que se desmanchou contra ela numa tempestade de lágrimas.
Lorde Bromwell estava em pé quando a irmã entrou na sala de estar. Ele deixara o sarau e fora diretamente para a casa de Daphné, as emoções uma tempestade dentro dele. — Brom! — exclamou lady Daphné, aproximando-se com as duas mãos estendidas para tomar as dele, sorrindo com tanta alegria que Brom sentiu uma pontada de culpa. Não a havia visitado ultimamente. Não quisera ver ninguém, nem mesmo a irmã, e passara a maior parte do tempo no clube, bebendo, ou em casa, também bebendo, e alternando as bebedeiras com exercícios pugilísticos no Jackson's. Esmurrar alguma coisa ou alguém parecia a única coisa que lhe dava algum alívio. — Estava com medo de você ainda estar zangado comigo por causa daquele fiasco nos Vauxhall Gardens — continuou Daphné, apertando-lhe as mãos. — Venha, sente-se ao meu lado. — Sei que você fez o que achou melhor — disfarçou Bromwell. — Sim, fiz. — Sorriu, recebendo suas palavras como aprovação. — Sabe que você é tudo o que me importa. Ele conseguiu sorrir. — Bem, acho que fico em posição de igualdade com jóias e roupas. — Ah, você! — Daphné lhe deu um pequeno empurrão no braço de brincadeira. — Vamos fazer alguma coisa juntos esta noite? Você tem planos? Ouvi falar de um novo e excelente clube de jogos. E claro que nem pensaria em ir lá sozinha, mas com uma companhia masculina é muito diferente. Ele balançou a cabeça. — Não estou com disposição para jogar, sinto muito. Guarde para algum dos do seu batalhão de beaux. Vim para lhe dizer que vou deixar Londres. Daphné olhou fixamente para ele. — Deixar Londres? O que quer dizer? Para onde vai? — De volta à propriedade. Sinto-me melhor lá. — Mas e quanto a Rochford? E quanto a lady Calandra? — Terminei com isto. — Levantou-se e cruzou a sala até a lareira. Pegou o atiçador e empurrou um pouco as toras que queimavam e encarou as chamas com uma expressão fechada. — Ouvi dizer que você não está mais cortejando a irmã dele, mas não pensei que fosse o fim da questão. Ele colocou o atiçador de volta ao seu lugar e se virou para olhar para ela. — O duque não veio me confrontar, então não vejo sentido em continuar. — Não vê sentido? — Daphné se levantou, agitada. — Pensei que você pretendia vingar o que ele me fez! — O que quer que eu faça, Daphné? Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Alguma coisa além de ridicularizar publicamente aquela garota! — Isto não é o suficiente para uma mulher inocente? — Não! — Havia ferocidade na expressão da voz. — Não é! Não paga o que o
irmão
dela me fez! — Não posso mudar o que lhe aconteceu. — Bromwell parecia ansioso. — Por Deus, queria poder. Faria qualquer coisa para tirar de você aquela dor, para apagá-la de sua mente e do seu coração Mas não posso, e ferir Callie ainda mais não vai fazer você feliz. — Quero arruiná-la! — O belo rosto de Daphné se contorceu com a raiva, e por um instante, toda a beleza se transformou em alguma coisa muito feia. Bromwell olhou para a irmã, chocado com as palavras e a expressão. — Daphné! Você não pode querer isto, sua mágoa e amargura pelo que o duque lhe fez estão impedindo-a de pensar com clareza. Você realmente não iria querer que eu infligisse um dano tão severo à reputação de uma dama jovem e inocente. Quando conversamos na outra noite, achei que você havia percebido que não gostaria que eu fosse o tipo de homem capaz de fazer uma coisa dessas. Daphné respirou fundo, então sorriu para o irmão, com um leve tremor. — Não, é claro, você tem razão. Não quero que nenhum dano seja causado à menina. Não de verdade, apenas... apenas pude ver que você a quer e... — Deu-lhe as costas e estendeu a mão para arranjar uma almofada sobre o sofá. — Mesmo assim — continuou, enquanto pegava outra almofada e a afofava, depois brincava com as barras nas pontas —, odeio pensar que você vai partir. Vi você tão pouco nos últimos anos. Tinha esperança de passarmos a temporada juntos em Londres. — Eu sei, mas tenho assuntos da propriedade para resolver. E há pouco para fazer aqui, além de me corresponder com meu administrador e conversar com meu agente de negócios. — Ah, estas coisas enfadonhas. O que você precisa é se divertir, não trabalhar tanto, afinal, você é um cavalheiro. — Sou um cavalheiro que precisa ter alguma coisa para fazer. — Já sei! — Daphné se alegrou. — Por que não vai para o chalé de caça de lorde Swithington? Pode descansar lá por alguns dias antes de voltar para a propriedade. Ele sorriu, contente por ela ter superado seu desapontamento. Odiava ver como o passado a deixara amargurada, seu desejo de vingança e seu rancor empanando sua natureza feliz. — Mas, Daphné — ressaltou —, nem é ainda a estação de caça, não há nada para fazer lá. — Mas é exatamente este o motivo, não é? — A voz era cheia de alegria. — Você pode caminhar pelo campo e ler em frente à lareira, à noite. — Posso fazer tudo isto em casa. — Sim, mas é tão longe. No chalé, você não estará muito distante de Londres, posso ir até lá de carruagem dentro de alguns dias e me juntar a você. Assim que passar o dia do baile da lady Wentwhistle. Preciso ficar aqui para participar, prometi ontem a ela que não lhe falharia, mas faltam apenas alguns dias. Depois do baile, irei para lá, e podemos passar algum tempo juntos. Não será divertido, apenas nós dois, como quando éramos crianças? Podemos conversar e conversar... sobre qualquer coisa. Desde que estamos aqui, venho pensando no quanto senti sua falta durante todos estes anos. Ele riu. — Daphné, nós visitamos um ao outro duas ou três vezes por ano desde que você se casou com lorde Swithington. — Sim, eu sei, e sem dúvida, vai pensar que é tolice minha. — Ela franziu os lábios num biquinho. — Mas tem sido tão bom nestas últimas semanas, vivendo perto de você.
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E não quero que termine ainda. Por favor, diga que você irá ou terei certeza de que você ainda está aborrecido comigo por causa daquela bobagem que fiz no Vau -xhall. Ele sorriu para ela. — Está bem. Sei que está acostumada a ter as coisas do seu jeito e que vou terminar concordando. — É claro que vai — aceitou Daphné com uma risada encantadora, então se aproximou e lhe segurou o braço. — Vai ser tão divertido, vai ver. Agora vou escrever um bilhete para a governanta esperá-lo depois de amanhã. O que acha? — Está bem, vai ser muito bom. E de qualquer maneira, preciso de um dia para deixar meus negócios em dia. — Maravilhoso. — Daphné praticamente ronronava. — Você não se arrependerá.
Na manhã seguinte, Francesca declarou que Callie havia feito o bastante para demonstrar que não estava com o coração partido. — Acho que deve ficar em casa por algum tempo — disse a Callie, enquanto tomavam o desjejum. Callie, que comera muito pouco e praticamente se limitara a empurrar a comida no prato, olhou para Francesca com uma ansiedade que não conseguiu disfarçar. — Você realmente pensa assim? De verdade? Haverá mexericos. — Sempre há mexericos — retorquiu Francesca. — Mas você mostrou a todo mundo que não está magoada, que mal percebe ou se importa se um de seus admiradores se afastou. Já faz duas semanas que você tem se mostrado alegre e despreocupada, então acho que foi o suficiente para fazer todas as línguas descansarem. — Mas sei que as pessoas estão comentando meu comportamento de ontem à noite — lembrou Callie, com uma pequena careta. — Queria ter sido mais capaz de me controlar. — Por favor, não se preocupe com isto. O que aconteceu ontem à noite apenas fará nossa história parecer mais verdadeira. Você ficou doente de repente e, por isto, deixou o sarau. Para que todos acreditem, acho que deve continuar doente por, pelo menos, uma semana, talvez até duas. Quem sabe? Talvez sua doença exija uma volta ao campo para você se recuperar. Callie sorriu fracamente. — Isto me parece ótimo, devo dizer. Mas não tenho certeza se quero estar às portas da morte. — Bem, talvez não. Todos vão atormentá-la com perguntas sobre a doença. Mentiras muito elaboradas são difíceis de se manter. Talvez apenas uma semana. Então, depois, você pode sair um pouco. Mas insistirei, é claro, que você tome muito cuidado. Não deve se cansar e provocar uma recaída. — Francesca sorriu, a covinha ao lado da boca surgindo daquela maneira que tornava quase impossível não sorrir de volta. — Muito bem — concordou Callie. — Você me convenceu. Não nego que não ver ninguém por algum tempo será um enorme alívio. — Então está combinado — decidiu Francesca, com um aceno. — Eu cumprirei nossas obrigações sociais sozinha pelos próximos dias... embora sinta que devo reduzilas, é claro. Afinal, preciso me devotar aos cuidados com você. Senão que espécie de amiga eu seria? Assim, naquela tarde, Callie se retirou para o quarto com um livro e deixou Francesca para atender quem quer que chegasse para visitar. Estava, disse a Francesca, enormemente aliviada de não ter que fingir uma calma e um bom humor que não sentia. Na verdade, não tinha certeza se conseguiria manter aquela aparência.
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Seus olhos ainda estavam inchados e vermelhos de sua tempestade de lágrimas da noite anterior, seguida de uma prolongada insônia e mais lágrimas. Era um assombro, pensara naquela manhã, que ainda tivesse lágrimas no corpo, no entanto, se viu piscando para afastar a umidade dos olhos quando olhou para o vestido que Belinda havia separado para ela... o mesmo que usara quando Bromwell lhes fizera a primeira visita. Sentira a falta dele nas últimas duas semanas, mas seu encontro na noite anterior a deixara desolada. Agora sabia, sem nenhuma dúvida, que ele nunca seria parte da vida dela de novo. Chegara tão perto de amá-lo... e isto tornava sua perda ainda mais intensa... Ou talvez, pensou Callie, já fosse tarde demais. Estava começando a acreditar que havia, finalmente, se apaixonado... por um homem com quem jamais poderia se casar. Francesca estava sentada à escrivaninha no começo da tarde do dia seguinte, perguntando-se como era possível que, de repente, ficasse tão fácil pagar suas contas do mês anterior, especialmente porque haviam comido tão bem e não haviam tido que economizar carvão e velas. Suspeitava que tinha alguma relação com a visita que o agente do duque fizera ao seu mordomo para discutir as despesas de lady Calandra. Não podia decidir se Fenton conseguira extorquir do agente do duque mais dinheiro do que seria necessário ou se o próprio duque instruíra o homem a pagar mais do que precisava, o que a deixava insegura sobre com quem deveria se zangar. E claro, sabia que jamais extrairia a verdade de Fenton, que era a pessoa mais discreta que existia. Quando o mordomo entrou na sala, ela pensou, por uma fração de segundos, que seus pensamentos o haviam conjurado, mas então ele anunciou que lady Pencully chegara para uma visita e a esperava na sala de estar formal. A notícia fez desaparecer da mente de Francesca todos os pensamentos sobre números. Não importava qual era a idade de Francesca ou por quanto tempo cuidava dos próprios assuntos, lady Odélia sempre a fazia se sentir como se fosse de novo uma adolescente. De alguma forma, quando lady Odélia erguia o pince-nez para olhar para ela, Francesca sempre tinha certeza de que a mulher via tudo o que estivesse errado com ela. Desejou, de maneira bem covarde, que não tivesse decidido fingir que Callie estava doente. Apesar de sua juventude, Callie jamais parecia se sentir intimidada pela tia-avó. Antes de sair da sala, Francesca se olhou rapidamente no espelho pendurado ao lado da porta para ter certeza de que seu cabelo estava bem penteado e de que não havia nenhuma mancha de tinta no rosto, e ajeitou a saia enquanto se dirigia para a sala de estar formal. Lady Odélia sempre fazia suas visitas numa hora impossivelmente matinal, pensou Francesca. Assim, não podia nem mesmo ter a esperança de que outros visitantes interromperiam a conversa entre elas. — Lady Odélia — disse com falsa alegria e fazendo uma reverência educada, quando entrou na sala de estar. — Que bom ver a senhora, estou surpresa por não ter saído da cidade. Pretende ficar para a temporada? — Oi, Francesca. — A velha dama fez um gesto em direção ao lugar ao lado dela no sofá, como se ela fosse a anfitriã, e não Francesca. Como sempre, estava usando roupas que estavam fora de moda havia, pelo menos, dez ou quinze anos, o cabelo grisalho num penteado alto e elaborado e enfeitado com plumas. — Sente-se, menina, não me faça dobrar o pescoço para olhar para você. — Enquanto Francesca se sentava, lady Odélia continuou: — Ainda não decidi, na verdade. Pretendia não ficar, mas tenho me sentido muito bem desde a minha festa. Nada como fazer 85 anos para duvidar da sabedoria de passar a vida em tédio total no campo em Sussex. — Muitas pessoas gostam de visitar Bath, especialmente no verão — sugeriu Francesca. — Sim, bem, mas não vim aqui para discutir meus planos de viagem. — O tom de lady Odélia era enérgico.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Não,
é claro que não — concordou Francesca. Perguntou-se se a velha dama teria algum outro esquema para o qual precisava da ajuda de Francesca. Sua última iniciativa envolvera o casamento de seu sobrinho-neto, lorde Radbourne. É claro, aquilo tinha sido um sucesso, mas mesmo assim, Francesca não pôde deixar de se sentir um pouco desconfiada. Lady Odélia gostava demais de obrigar outras pessoas a trabalharem para ela. — Seu mordomo, Fenton, me disse que minha sobrinha-neta está doente — continuou Odélia. — Sim, está. — Francesca esperava que lady Odélia não conseguisse perceber que estava mentindo, outra das coisas que Francesca sempre tinha certeza de que lady Odélia era capaz de fazer. — Ela adoeceu ontem durante o sarau de lady Whittington. — Doente... ou apenas sentindo falta daquele malandro do Bromwell? — Não havia dúvida de que lady Odélia era uma velha dama muito astuta. — Lady Calandra não tem expectativas sobre lorde Bromwell. — O tom de voz dela era muito tranquilo. — Ora, ela mal conhece o homem. Acho que o encontrou, pela primeira vez, no seu baile de aniversário. — Sim, bem, o tempo não é sempre o que interessa — decretou lady Odélia. — Garoto maldito. Não sei o que deu nele. Soube que voltou para sua propriedade no campo, e eu tinha esperanças, com relação a ele e Callie. Ah, bem... — A velha dama deu de ombros. — Ela não ficará sem pretendentes por muito tempo. — Não, tenho certeza de que não. — O que você vai fazer amanhã? — Lady Odélia perguntou abruptamente. Francesca congelou. — Um... não tenho certeza. — Procurou ganhar tempo. Não sabia o motivo de sua mente, sempre tão ágil em criar mentiras sociais, parecer parar de funcionar perto de lady Pencully. — A que horas amanhã? — O dia todo. Tenho pensado em visitar a duquesa de Chudleigh, madrinha de sua mãe. — Pareceu pensar que Francesca não saberia quem era. — Ah. — Francesca sentiu um vazio no estômago. — Pensei que seria uma boa ideia você ir comigo. Ela vive em Sevenoaks, você sabe, uma viagem curta de carruagem. Imagino que ela gostaria de ver você, e poderá escrever para sua mãe e lhe dizer como a duquesa tem passado. Ela ficou bem doente neste inverno, você sabe. — Acredito que minha mãe mencionou o fato — concordou Francesca, sentindo-se derrotada. A perspectiva de passar grande parte do dia fechada numa carruagem com lady Odélia e a outra conversando com as duas velhas mulheres, que gritavam uma para a outra... a duquesa era completamente surda e se recusava a usar uma corneta de ouvido, alegando que a fazia parecer velha... não tinha a menor atração para ela. Entretanto, como lady Odélia fez questão de enfatizar, uma visita à velha dama seria o que sua mãe esperaria dela. Era seu dever e, como Callie, Francesca fora criada para cumprir seus deveres. Sabia que não podia olhar nos olhos de lady Odélia e lhe dizer que não iria visitar a idosa madrinha de sua mãe, não importava o quanto quisesse fazer isto. Mesmo se tivesse coragem, Francesca sabia que lady Odélia logo a venceria pelo cansaço numa discussão e, no fim, extrairia dela uma concordância. Podia muito bem aceitar logo graciosamente e não perder mais tempo. — Bem, suponho que Callie ficará bem sozinha por um dia — começou Francesca, relutante. — É claro que ficará. — Parecia que jamais ocorria à velha dama ter dúvidas sobre qualquer coisa. — Ela tem uma casa cheia de criados para cuidar dela. Estará muito bem.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Está
bem — capitulou Francesca, reprimindo um suspiro. — Irei com a senhora
amanhã. — Excelente! — Lady Odélia sorriu, satisfeita. — Estarei aqui às nove para apanhála. — Nove? — repetiu Francesca, deprimida. — Da manhã? — Sim, é claro, da manhã. — Lady Odélia lhe lançou um olhar estranho. — A viagem vai levar o dia inteiro... melhor sair cedo. — Naturalmente. Com a missão realizada, lady Pencully não se demorou muito e logo se despediu. Sem dúvida, pensou Francesca com amargura, para amedrontar outra pobre alma e obrigá-la a fazer alguma coisa que não queria. Francesca subiu para contar a Callie o que a aguardava no dia seguinte, e Callie riu. — Bem, estou contente por deixar você contente com minha falta de sorte. — A indignação de Francesca era evidentemente falsa. Na verdade, estava feliz por ver Callie rir pela primeira vez em dias. — Sinto muito, de verdade — disse Callie, os olhos brilhando de divertimento. — Sei que vai ser um horror para você, mas estou tão feliz por você ter dito que estou doente! — E deve mesmo — disse Francesca, incapaz de se impedir de sorrir. — Ou eu a teria arrastado conosco. Callie estremeceu de maneira exagerada. — Tem certeza de que não quer ir, mesmo doente? — provocou Francesca. — Podemos dizer que teve uma recuperação milagrosa. Afinal, será muito entediante para você ficar aqui sozinha. — Melhor solitária do que passar a metade do dia fechada numa carruagem com lady Odélia. — Callie não demonstrava a menor solidariedade com Francesca. — Acha que ela levará aquele seu horrível cachorrinho que não para de fungar? — Aquele velho anãozinho! — Francesca pareceu horrorizada. — Nem pense nisto! Callie caiu na risada diante da expressão de Francesca, grata pela oportunidade de rir. Não era do tipo que gostava de mergulhar em tristeza. No dia seguinte, pensou, encontraria alguma coisa para fazer, alguma coisa que lhe distraísse a mente de seus problemas. Assim, no dia seguinte, depois que se levantou e tomou um calmo desjejum sozinha na pequena sala de refeições, Callie tocou a campainha para chamar a criada e passou as horas seguintes arrumando seu closet, separando os vestidos ou sandálias que precisavam de conserto com fitas ou flores e os que daria a alguém ou apenas jogaria fora. Infelizmente, o trabalho não tomou muito tempo, já que tinha apenas as roupas que levara com ela de casa ou que comprara recentemente, assim havia pouco a consertar ou do que se desfazer. Ao meio-dia, a tarefa estava terminada. Se estivesse em casa, teria ido ao sótão e o limparia de coisas que não seriam mais usadas e se divertiria com alguns vestidos ou brinquedos antigos. Mas dificilmente poderia fazer aquilo na casa de Francesca. E então, sem mais nada para ocupá-la, sua mente começou a se voltar para os caminhos já muito visitados a respeito de Brom. Não faria aquilo, disse a si mesma, e se dirigiu para a sala matinal de Francesca para procurar um livro para ler. Talvez uma história lúgubre de autoria da senhora Radcliffe lhe di straísse a mente. Estava procurando nas prateleiras quando Fenton entrou na sala, a expressão ansiosa bem diferente de seu rosto geralmente impassível. — Milady... — Sim, Fenton, o que é? — Há um homem aqui, e ele diz que tem uma mensagem urgente para milady. Disse, milady, que... sua graça, o duque, está ferido.
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Capítulo Quinze
Callie olhou atônita para o mordomo, o sangue lhe deixando o rosto. — O quê? Meu irmão? Passou rapidamente por Fenton em direção ao hall e viu um homem à entrada, o chapéu na mão. Parecia cansado e tinha as roupas manchadas pela viagem. Callie atravessou o hall rapidamente em direção a ele. — Tem uma mensagem do duque de Rochford? — perguntou, antes de chegar a ele. — Ele está ferido? — Está vivo, milady — disse o homem depressa. — Mas sofreu um acidente. Aqui está uma carta para milady. — Estendeu uma folha de papel dobrada e selada para ela. Callie a pegou. Na frente, estava escrito Para lady Calandra Lilles. Virou rapidamente o papel e quebrou o selo. Com mãos trêmulas, desdobrou o papel. No alto, à direita, estavam escritas as palavras Blackfriars Cope Cottage, Lower Upton e a data. Então começou a ler: Cara lady Calandra Lilles, Lamento informá-la de que o duque de Rochford se envolveu num acidente de carruagem perto do meu chalé. Meu marido e seu valete o carregaram para nossa casa, e o médico foi chamado. O duque quebrou uma perna e diversas costelas, mas, excetuando-se isso, está bem. Está acordado e me pediu que lhe escrevesse lhe pedindo que venha o mais depressa possível. O médico não quer que ele seja removido. Sinceramente, Senhora Thomas Farmington
Callie deixou escapar um pequeno suspiro de alívio e olhou para o mensageiro. — Ele realmente está bem? — Eu não o vi, senhorita, sei apenas o que a senhora Farmington me contou. Mas ela disse que ele está bem. — Irei imediatamente. Se puder me dizer exatamente onde fica Lower Upton... — É em Buckinghamshire, milady. A senhora Farmington me disse para alugar uma carruagem para levá-la para lá assim que lhe trouxesse a mensagem. — Obrigada, isto será muito bom. Vou apenas arrumar uma maleta, então poderemos ir. O homem acenou e saiu e, quando Callie se virou, viu o mordomo em pé, a alguns passos, atrás dela, a expressão novamente sob total controle. — Bom, então você ouviu? — Quando Fenton acenou, ela continuou: — Vou preparar uma maleta e partir imediatamente. Deixarei um bilhete para você entregar a lady Haughston. — Muito bem, milady, vou enviar a criada para milady. Callie acenou e voou pela escada. Seus pensamentos se misturavam, e seu coração batia com força. Qual seria a gravidade do estado de Sinclair? A senhora Farmington tivera o cuidado de lhe garantir que ele estava bem, mas a mulher, sem dúvida, relutaria em dizer claramente se sua condição fosse realmente muito ruim. Ele poderia estar seriamente ferido, até mesmo perto da morte. E embora pudesse ter apenas alguns o ssos quebrados, Callie sabia muito bem como uma coisa daquelas poderia se transformar numa febre perigosa ou numa doença, até mesmo na morte. E, se isto não acontecesse, Projeto Revisoras
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Callie tinha certeza de que ele estaria sofrendo muita dor e precisando dos cuidados de alguém próximo, que não fosse um estranho. Estava determinada a chegar até ele o mais depressa possível. Buckinghamshire não era assim tão longe, pensou enquanto abria gavetas e jogava roupas na cama para colocar na maleta, então certamente conseguiria chegar lá naquela mesma noite. Belinda entrou no quarto, os olhos enormes no rosto pálido. — Sua graça está ferido, milady? — Sim, mas tenho certeza de que ficará bem. — Callie não poderia aceitar outra ideia. — Ele quebrou alguns ossos, e vou ao encontro dele imediatamente. — Sim, milady, vou começar a fazer a mala agora. — Apenas ponha algumas coisas necessárias para um dia ou dois — instruiu Callie. — Preciso partir de imediato. Mas posso precisar ficar algum tempo, assim prepare um baú com mais roupas, e você o levará para mim pela carruagem do correio logo que lhe enviar uma mensagem. Não sei qual é a situação. Se pudermos removê-lo, voltaremos para Lilles House. Enquanto Belinda fazia sua mala, Callie se sentou para escrever um bilhete para Francesca, explicando para onde ia e por quê. Fenton contaria a Francesca toda a história, Callie sabia, mas pensou que seria melhor ela mesma contar os detalhes e dizer a Francesca onde Sinclair estava. Terminou o bilhete com a promessa de que enviaria notícias assim que visse o irmão e pudesse descrever melhor sua condição. Embora Rochford e Francesca não tivessem se separado no melhor dos termos da última vez em que ele estivera em Londres, Callie tinha certeza de que Francesca gostaria de saber como ele estava. Com a tarefa terminada, dobrou e selou o bilhete, então o entregou a Fenton, para entregá-lo a lady Haughston assim que ela voltasse. Quando Belinda terminou de fazer sua maleta, o mensageiro já havia voltado com uma carruagem de aluguel. Callie não perdeu tempo trocando a roupa para um traje de viagem, simplesmente substituiu as sandálias macias por um par de botas e jogou uma capa pesada sobre os ombros. Entrou na carruagem e logo partiram, pouco mais de meia hora depois que ela recebera a mensagem. Callie se instalou um pouco sem fôlego no banco e, pela primeira vez, se permitiu pensar em outra coisa além dos problemas práticos de correr para o lado do irmão. Sua mente se voltou primeiro para os ferimentos dele. Tirou o bilhete da senhora Farmington do bolso do vestido, onde o guardara depois de lê-lo, e o estudou novamente, desta vez, com mais cuidado e lentidão. Infelizmente, não conseguiu descobrir mais nada, então começou a imaginar como o acidente teria ocorrido e qual seria a gravidade de seus ferimentos. A informação seca de uma perna e algumas costelas quebradas realmente não formava uma imagem positiva da condição de Sinclair. É claro, a mulher, sem dúvida, escrevera o bilhete com muita pressa, e Callie realmente não podia censurála por não dar muitos detalhes. Mas gostaria de saber mais sobre o assunto. Teria a fratura sido muito grave? Ela vira ou ouvira falar sobre ferimentos do tipo enquanto estava nas propriedades para saber que havia uma grande diferença entre uma simples fratura do osso, facilmente consertada, e uma perna quebrada em mais de um lugar ou uma fratura exposta, que rompesse a carne e a pele. Ela estremeceu às imagens que ela mesma provocava e tentou pensar em outra coisa. Estaria o próprio Sinclair dirigindo sua carruagem esportiva aberta ou estaria na grande carruagem ducal dirigida por Haskell, o chefe dos cocheiros? Nenhum deles era do tipo de sofrer acidentes, assim ela presumiu que o erro teria sido cometido pelo cocheiro da carruagem contra a qual o veículo do duque teria batido. Mas a senhora Farmington não havia mencionado que outra pessoa estava ferida. Mas, de novo, a mulher não desperdiçara tempo explicando o acidente em detalhes. Projeto Revisoras
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E, de qualquer maneira, o que Sinclair estava fazendo em Bukinghamshire? Ele lhe dissera que estava voltando para Marcastle e, embora não fosse muito boa em geografia, tinha certeza de que jamais haviam passado por Buckinghamshire quando viajavam de Marcastle para Londres. De qualquer maneira, seu irmão havia saído de viagem há tempo demais para ainda estar viajando para casa. Supunha que podia ter sido detido, mas, se tivesse ficado em Londres, certamente teria entrado em contato com ela. Nada daquilo fazia sentido. Ou ele poderia ter começado a viagem para Marcastle, então mudado de ideia e decidido viajar para outro lugar, embora não fizesse parte do caráter do irmão agir de forma tão impulsiva. Sinclair geralmente fazia o que dizia, assim o mais provável era que tivesse voltado para Marcastle, terminado seus negócios lá, então partira para qualquer outro negócio. Ele dissera que provavelmente iria para a casa deles, em Dancy Park, mas, de novo, Buckinghamshire não ficava entre os dois lugares. Devia haver alguma outra propriedade que decidira visitar. Supunha que, se fosse para suas terras na Cornuália, poderia ter viajado por aquele caminho se não quisesse passar por Londres. Não era típico de Sinclair evitar passar alguns dias em Londres a caminho de algum lugar, quando poderia visitá-la. Mas talvez, pensou com tristeza, ele ainda estivesse desgostoso com ela por desobedecer às suas ordens e não quisesse vê-la. Mas, de novo, talvez ele tivesse simplesmente decidido visitar um amigo ou mesmo procurado alguma propriedade para comprar. E, é claro, não fazia diferença qual era o motivo para ele estar lá. A questão era de muito menor interesse do que a gravidade de seus ferimentos ou qual a dimensão da dor que estaria sofrendo ou quanto tempo levaria para ela chegar a Blackfriars Cope, as dúvidas que lhe ocuparam a mente durante toda a tarde e o começo da noite. Interromperam a viagem apenas para trocar os cavalos, e nestas ocasiões, Callie desceu da carruagem para esticar as pernas. Numa das tavernas onde pararam, ordenou uma refeição leve de carnes frias, queijo e pão, mas tinha pouco apetite e terminou deixando quase tudo à mesa. Sabia que estavam viajando o mais depressa que podiam, já que trocaram os cavalos com frequência, mas mesmo assim, a viagem pareceu demorar uma eternidade. Ficou ainda mais lenta depois que escureceu, porque não tinha mais a paisagem para distraí-la. O tempo teria passado mais rapidamente, sabia, se tivesse conseguido dormir, mas não foi capaz nem de cochilar. Sua mente estava tomada por dúvidas, temores e imagens horríveis de Sinclair deitado numa cama, pálido, machucado e cheio de curativos. Mais de uma vez, Callie desejou que Francesca não tivesse viajado com lady Odélia naquele dia. Nada teria sido tão ruim se Francesca estivesse lá para conversar com ela, distraí-la e ajudá-la. Tinha certeza de que Francesca iria com ela, para lhe fazer companhia. Mas não era apenas da companhia e do conforto que sentia falta. Francesca tinha grande capacidade de conseguir que as coisas fossem feitas, sempre sabia que atitude tomar e, com um sorriso e algumas palavras, conseguia obter os melhores resultados possíveis das pessoas. Quando a carruagem parou de novo, Callie presumiu que haviam chegado a mais uma taverna para substituir os cavalos, mas, quando puxou a cortina, viu que haviam parado em frente a uma casa de campo. Não era o pequeno chalé coberto de sapé que imaginara quando lera o bilhete da senhora Farmington, mas sim uma casa grande e bem construída, de dois andares, com lintéis de pedra sobre a porta e as janelas. Certamente não era uma taverna, e ela percebeu que deviam ter chegado ao seu destino. — Aqui é Blackfriars Cope? — perguntou ao mensageiro, que havia viajado junto com o cocheiro e agora a ajudava a descer da carruagem.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Sim,
milady, e parece que ainda estão acordados esperando pela senhora. — Olhou em direção à casa, onde as janelas acima da porta da frente e uma ao lado estavam iluminadas por um brilho dourado. — Obrigada — disse Callie, depois de descer. Sabia que Sinclair devia ter dado dinheiro ao homem para pagar o aluguel da carruagem e a mudança de cavalos, além da remuneração pelo trabalho que tivera, mas deu-lhe uma moeda de ouro. Uma chuva leve começara a cair, e ela ergueu o capuz da capa para proteger a cabeça e o rosto enquanto andava depressa em direção aos degraus que levavam à porta da frente. Ao chegar, bateu a aldrava. Poucos momentos depois, a porta foi aberta por uma mulher gorda e baixa, que usava um vestido simples de musselina e um avental branco. — Sim? — Senhora Farmington? — Callie estava muito ansiosa. — Sim, sou eu. — Sou lady Calandra Lilles. Ele ainda está acordado? Onde está? — No escritório, senhorita. — A mulher se virou para apontar para o fim do corredor, iluminado por uma luz que saía de uma porta aberta. — Obrigada. — Callie apressou-se pelo corredor, mal percebendo o som da porta da frente que se fechava. Ela abaixou o capuz e tirou as luvas enquanto caminhava e as jogou sobre uma mesa do corredor, então entrou rapidamente na sala que a senhora Farmington havia apontado. E então parou de repente, atônita com a cena diante dela, incapaz, por um momento, de ver o sentido daquilo. Lorde Bromwell estava meio reclinado num sota, uma perna calçada com bota esticada sobre sofá e a outra, dobrada, o pé plantado no chão. Apoiava a cabeça no braço do sofá, um pouco virado de lado, de modo que parte do torso ficava no canto. O casaco e o chapéu estavam jogados sobre uma cadeira próxima, e o paletó estava aberto, a camisa parcialmente desabotoada sobre o peito. Ao lado, no chão, estava uma bandeja de prata na qual havia um decantador de vidro meio cheio com um líquido escuro, e ele tinha numa das mãos um copo com o mesmo líquido. Por um momento, os dois apenas se olharam, atônitos. Ele se recuperou primeiro e exclamou: — Callie! — Colocou o copo com um baque sobre a bandeja e se ergueu, o movimento ágil prejudicado apenas por um leve desequilíbrio. — O que foi? — Pareceu alarmado e deu um passo em direção a ela. — O que aconteceu? Você está bem? — O que você está fazendo aqui? — exclamou Callie, finalmente se recuperando e conseguindo falar. Teria Bromwell se envolvido no acidente que seu irmão sofrera? Teria sido mesmo um acidente ou uma luta entre os dois homens? — Não compreendo. Onde está Sinclair? Ele está bem? O que aconteceu? — Sinclair? — Parecia perplexo. — Quem é... — Seus olhos se arregalaram. — Quer dizer, seu irmão? Rochford? Por que ele estaria aqui? — Mas o bilhete! Callie começou a levar a mão ao bolso para tirar o bilhete que recebera, mas parou, a mente subitamente em tumulto. Dezenas de coisas estranhas lhe voltaram à lembrança e então tudo fez um sentido horrível: a letra elegante do bilhete supostamente escrito por uma mulher do campo que vivia num chalé, o fato de que a mesma mulher endereçara corretamente um bilhete para a filha de um duque, a improbabilidade de seu irmão estar em Buckinghamshire naquela ocasião, o fato de a viagem ter sido tão bem programada e paga e, no entanto, o irmão não ter lhe escrito uma só palavra ou assinado o bilhete para garantir que estava bem. — Você me enganou! — Sentiu o sangue lhe fugir do rosto e ficou tonta. Bromwell continuou a olhar para ela, perplexo. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — O quê? Do que você está falando?
Mas Callie não o ouvia mais. Percebia que estava a quilômetros de qualquer lugar, sozinha, tarde da noite, junto de um homem e sem a companhia de outra mulher além da senhora Farmington... se é que este era mesmo o nome dela... que, sem dúvida, estava a serviço de lorde Bromwell. Sua reputação ficaria arruinada. Então, logo depois deste pensamento, surgiu outro ainda mais aterrorizador: tudo isto não teria sido arranjado apenas para lhe arruinar a reputação. Certamente ele pretendia também lhe roubar a virtude. Pensara que havia chegado ao fundo do poço de suas emoções na outra noite, quando percebera que não havia esperanças de um futuro com Brom, mas via agora que podia sofrer ainda mais. Bromwell não só não se casaria com ela, não a amava e nunca a amaria, mas a desprezava tanto que a arruinaria de maneira brutal e completa. Mentira para ela, pretendia usá-la para obter uma espécie de vingança sórdida e distorcida contra seu irmão, sem nenhuma consideração por sua dor e humilhação. — Ah, Deus! — soluçou, as lágrimas lhe tomando os olhos e a mão erguida para a boca, sentindo-se enojada. — Que idiota eu sou! Tenho sentido sua falta, chorado por você, enquanto todo o tempo você ficou sentado aqui, planejando... — Interrompeu-se e fugiu da sala. Ouviu-o chamar seu nome, mas não parou nem olhou para trás. Seu único pensamento era chegar à carruagem antes que ela se afastasse. Contaria a eles o que acontecera e certamente não seriam tão cruéis a ponto de deixá-la com ele. Não havia sinal da mulher que abrira a porta, mas Callie não queria mesmo a ajuda dela. Podia ouvir Bromwell, que corria atrás dela, ouviu-o praguejar e chamar seu nome. Ela abriu a porta com um safanão e correu para fora, então parou, horrorizada... a carruagem desaparecera. Em pânico, olhou para a direita, depois para a esquerda, mas não havia sinais do veículo em lugar algum. Era evidente que partira assim que ela entrara. Sem dúvida, o cocheiro tinha instruções para se afastar de imediato. Provavelmente a senhora Farmington havia partido com eles... E, mesmo se não tivesse, Callie não tinha esperanças de que a ajudasse. Soluços lhe tomaram o peito, ameaçando explodir, mas Callie os sufocou e começou a correr. — Callie! — Bromwell, que havia parado no umbral da porta atrás dela enquanto ela olhava pelo pátio, começou a correr atrás dela de novo. — Volte aqui! Estava chovendo mais forte agora, a chuva batia com força em sua cabeça, terrivelmente fria, mas ela não se deu ao trabalho de erguer o capuz. Apenas levantou as saias até os joelhos e correu o mais depressa que conseguiu. Ele estivera bebendo, pensou. Talvez não fosse capaz de alcançá-la. Poderia tropeçar e cair. Se pudesse chegar até as árvores, talvez fosse capaz de se esconder dele. Percebeu rapidamente a futilidade de suas esperanças. Depois de poucos metros, ele a alcançou, segurou-a pelo braço e a fez parar. Callie se virou e lutou, tentando, em vão, se libertar do aperto da mão dele. — Solte-me! — gritou, piscando para impedir que descessem as lágrimas de raiva e frustração e dor. — Rochford vai matá-lo! Não, eu mesma vou matá-lo! — Estendeu a mão livre e afundou as unhas no braço dele, arranhando-o. — Maldição! — Ele lhe agarrou o outro pulso e o afastou do seu braço. — Que diabos! O que está errado com você? Enlouqueceu? — Jamais teria acreditado que fosse capaz disso! Jamais pensaria que seria tão baixo! — Lutou contra ele com selvageria, gritando enquanto se retorcia e puxava, atingindo-o com os pés. Conseguiu libertar um dos braços sem nem mesmo sentir dor e lhe bateu com força no rosto. — Maldição, Callie, pare com isto!
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Virou-a, passou os braços em torno dela por trás, prendendo-lhe os braços junto ao corpo, e a ergueu. Ela lutou por mais um momento, mas os soluços contra os quais lutara não podiam mais ser controlados, e ela começou a chorar, a respiração difícil. Finalmente seu corpo perdeu as forças e se encostou ao dele. A chuva gelada caía sobre eles, ensopando-os. Bromwell a tomou nos braços, como se ela fosse uma criança, e abaixou a cabeça para a dela, murmurando: — Callie... minha querida... Os lábios dele roçaram-lhe o cabelo por um instante, então ele se virou e levou-a de volta para a casa. Ela ficou deitada contra ele, fraca e sem resistência, gelada até os ossos e atordoada pela tempestade de emoções. Dentro de casa, ele a colocou em pé e chamou: — Senhora Farmington! Desamarrou a capa ensopada de Callie e a deixou cair no piso de pedra. O cabelo dela estava molhado, todos os grampos haviam se perdido durante a luta. Agora o cabelo lhe descia pelas costas, a água pingando dele. O vestido também ficara molhado, e suas botas estavam cobertas de lama. — Senhora Farmington! — gritou de novo. — Maldição, onde está a mulher? Estava ainda mais molhado do que Callie, já que não usava nenhum agasalho. Sua camisa branca, completamente ensopada, grudava no peito, e o cabelo pingava água. Ele estremeceu de frio, os dedos trêmulos enquanto estendia a mão para desabotoar o vestido de Callie. — Olha, você precisa tirar este vestido. — Não! — Ela se afastou dele, embora estivesse cansada demais para correr ou lutar. Ele suspirou. — Então se sente neste banco. Segurou-lhe os braços e empurrou-a até o banco de madeira que ficava ao lado da porta de entrada. Ele a obrigou a se sentar sem nenhuma gentileza. — Fique aqui — ordenou. Callie gostaria de desobedecer só pelo princípio da coisa, mas teve dificuldade em se mover. Encostou a cabeça contra a parede. Estava terrivelmente fria, sabia, mas se sentia atordoada e desconectada demais para fazer qualquer coisa a respeito, então estremeceu, e os dentes começaram a bater. Bromwell reapareceu, segurando um cobertor de tricô que envolveu em torno dela bem apertado. — Pronto, isto deve esquentá-la um pouco. Tirou o paletó e a camisa molhados e os jogou no chão. Os olhos de Callie se arregalaram de suspeita, mas ele não fez nenhum movimento em direção a ela, apenas enrolou outro cobertor em torno de si mesmo, como se fosse um xale. Sua figura era tão ridícula que, em outras circunstâncias, ela teria rido. Ele passou a mão pelo cabelo e o torceu para tirar a água, então estendeu a mão e fez o mesmo com o cabelo de Callie. Ela ergueu as mãos para afastar as dele, mas havia pouca força nelas, e Bromwell ignorou-lhe os fracos esforços. Então se ajoelhou diante dela e começou a desamarrar suas botas. — Pare — disse ela, a voz também fraca. — Quieta! Você está congelando e molhada, e me recuso a deixar que morra de frio simplesmente porque enlouqueceu. — Não estou louca — protestou sem convicção. Ele se sentou sobre os calcanhares e ergueu uma sobrancelha. — Não, é claro que não. Você aparece aqui... embora não saiba por que ou como sabia onde eu estava. Começa a delirar sobre seu irmão, então a gritar e corre diretamente para a chuva, se dirigindo Deus sabe para onde. E, quando tento impedi-la, Projeto Revisoras
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para descobrir qual é o problema, você me ataca. O que, em tudo isto, é qualquer coisa a não ser loucura? — Quando ela não respondeu e apenas olhou para ele revoltada, ele continuou: — Muito bem, fique com seus sapatos. — Levantou-a de novo. — Venha cá. — Para onde? — Enrijeceu o queixo, obstinada. — Ah, droga! — Ele a tomou nos braços de novo e desceu o corredor em direção ao escritório, ignorando suas contorções de protesto. Colocou-a em pé diante do fogo e pegou o atacador para avivar as chamas. O calor era maravilhoso contra sua pele gelada, e Callie não conseguiu reprimir um suspiro de prazer. Sentou-se num tamborete diante do fogo e automaticamente virou a cabeça, para que o cabelo caísse para o lado mais próximo do fogo. Bromwell se aproximou do decantador e do copo que ainda estavam na bandeja e encheu o copo de novo. Voltou para Callie e o estendeu para ela. — Beba isto. Vai esquentá-la mais depressa do que o fogo. Ela o olhou com suspeita e cerrou a boca. — Beba — mandou. — Ou derramarei a bebida em sua garganta. Com uma pequena careta, Callie tomou um gole da bebida, que passou queimando pela garganta. Arquejou, mas o calor logo a tomou por dentro e se sentiu imediatamente melhor. Ele tomou o copo dela e bebeu, então o devolveu a ela e se agachou diante do fogo ao lado dela. Calhe tomou outro gole menor da bebida e lançou um olhar de esguelha a Bromwell. Ele havia retirado o cobertor desajeitado que jogara sobre os ombros, e a luz do fogo brincava sobre seu peito e ombros nus. Havia alguma coisa primitiva sobre ele, agachado daquele jeito, os braços descansando nos joelhos, aquecendo-se diante do fogo, o cabelo desarranjado e molhado, secando com o calor. De repente, a garganta dela secou, e Callie se sentiu humilhada ao perceber o calor que lhe tomava o ventre, um calor que não tinha relação nenhuma com o fogo e toda com o homem diante dela. Então ele virou a cabeça e a flagrou olhando para ele. Ela desviou o olhar rapidamente, o rubor lhe cobrindo o rosto, mas ele estendeu a mão, tomou-lhe o queixo nos dedos e lhe ergueu o rosto para o dele. Não disse nada, apenas deixou os olhos passearem por seu rosto e observou os cachos molhados e desfeitos, o vestido úmido que grudava nos seios e revelava os mamilos rijos contra o tecido. A boca de Bromwell suavizou, e seus olhos brilharam de desejo. O polegar lhe acariciou o queixo e subiu para o lábio inferior. O toque da pele dele na carne sensível da boca de Callie lançou setas de fogo pelo corpo da menina, e ela percebeu, aborrecida, que estava tentada a lhe pegar a mão e comprimir os lábios nela. Apesar de tudo, algum anseio primitivo e profundo dentro dela reagia ao desejo que via nos olhos dele e queria vê-lo crescer ainda mais. Então se levantou de repente. — Não! Não pense que pode me seduzir. Não vou sucumbir a você. Não serei uma parte voluntária do seu plano para manchar meu nome! Ele também se levantou, olhando para ela, e o calor nos olhos dele agora eram mais de raiva do que de desejo. — Eu jamais faria isto. Sabe que não faria. — É mesmo? — O sarcasmo parecia pingar de sua voz. — Espera que eu acredite que me atraiu para cá para conversar? Ele abriu os braços num gesto de perplexidade. — Não a atraí para cá de maneira nenhuma! Não tenho ideia sobre o que está falando e nem tive desde o momento em que você entrou por aquela porta, tagarelando sobre Rochford! — Como pode dizer isto? — De alguma forma, doía ainda mais, porque ela queria tanto acreditar nas palavras dele. — Não sou uma idiota. Recebi uma carta me dizendo
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para vir depressa para cá porque meu irmão havia sofrido um acidente com a carruagem e, quando cheguei, não havia mais ninguém aqui a não ser você. — O quê? — Continuava a olhar para ela, perplexo. — Callie, não lhe mandei carta nenhuma. Não sei do que está falando. Eu jamais... juro, por tudo o que me é precioso, que jamais tentei atraí-la para cá e tirar vantagem de você. Como pode até mesmo pensar nisto? Callie olhou dentro dos olhos dele, o cinzento prateado aquecido pelo dourado do fogo e, naquele momento, soube, com toda a certeza, que estava dizendo a verdade. E soube igualmente quem devia ter planejado a emboscada para ela. Em silêncio, estendeu a mão para dentro do bolso e tirou o bilhete dobrado que recebera. Com dedos que tremiam um pouco, estendeu-o para ele. Com a testa franzida, Bromwell pegou o bilhete e o abriu. Guardado dentro do bolso, sob a capa, não ficara ensopado, apenas um pouco úmido, e as palavras ainda eram legíveis. Ao olhar a expressão no rosto de Bromwell, Callie soube que havia reconhecido a letra. Leu o bilhete duas vezes e o devolveu a ela. Evitou olhá-la nos olhos quando disse: — Isto não foi escrito pela senhora Farmington. Ela é a governanta do chalé, e nem mesmo sei se é capaz de ler e escrever. Seu irmão jamais esteve aqui. Vim para esta casa quando deixei Londres depois... depois que conversamos no sarau da lady Whittington. — O que é este lugar? — O nome é mesmo Blackfriars Cope. — Finalmente ele a olhou nos olhos. — Era o chalé de caça de lorde Swithington. — E, naquele momento, pareceu muito cansado e mais velho do que era. Com um suspiro, ele se virou e acrescentou: — E a letra se parece muito com a de Daphné. — Pegou o copo e bebeu tudo. — Lamento, Callie, não posso lhe dizer o quanto lamento. — Afastou-se, foi até a escrivaninha e colocou o copo lá, então se virou para ela. — Talvez ela tenha pensado que, de alguma forma, estava me ajudando. Ela sabe que eu... sinto mais por você do que devia. Talvez tenha acreditado que eu gostaria da oportunidade de estar numa situação como esta com você. — Balançou a cabeça. — Não sei o que está errado com Daphné. Ela tem agido... de maneiras como nunca a vi agir. Tem dito e feito coisas que não combinam nem um pouco com ela. Ela... tudo em que consigo pensar é que se tornou tão obcecada por tudo o que sofreu que perdeu um pouco a razão. É impulsionada pela necessidade de vingar o mal que foi feito a ela. — Brom... — Callie se aproximou, colocou a mão sobre o braço dele e o olhou dentro dos olhos. — Sinclair jurou para mim que não engravidou sua irmã. Ele me disse que nem mesmo teve um caso com lady Daphné. Os olhos dele brilharam de raiva, e o braço enrijeceu sob a mão dela. Ele a afastou e andou pela sala. — É claro que ele negaria. — Meu irmão é um homem honrado. Sente-se muito mal pela maneira como o tratou. Sabe que lidou de modo muito errado com a situação. Sabe, não era muito mais velho do que você na época. Mas jurou que o que você o acusou de fazer não era verdade. E acredito nele. Sei que não mentiria para mim. — Já falamos sobre isto antes e é claro que você acredita nele. É seu irmão. — Já ouviu alguma outra coisa desabonadora sobre ele? Pergunte a qualquer pessoa, e todos lhe dirão que o duque de Rochford é um cavalheiro. Ele jamais seduziria uma dama e a abandonaria, muito menos se estivesse grávida de um filho dele. E sua irmã não teve a criança, teve? — Não, ela a perdeu pouco depois de se casar com lorde Swithington. Mas isto não prova nada. Mulheres frequentemente perdem os bebês. — Você estava com ela quando isto aconteceu? Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Não,
é claro de não, estava em Oxford. — O rosto não tinha expressão. — Isto não quer dizer que não aconteceu. Callie não disse nada, apenas olhou para ele e, depois de um momento, ele abaixou os olhos. Mas ela vira a dúvida que brilhara neles. Sabia que devia estar lutando contra a nascente compreensão de que aquilo em que acreditara, pelos últimos quinze anos, havia sido uma mentira, que a irmã que ele amava e em quem confiava o havia enganado. — De qualquer maneira, isto não tem importância agora. — A voz era áspera. — Não podemos mudar a situação e não diz respeito a nós. — Mas certamente nos afeta — retorquiu Callie, zangada. — Eu sei. — Ele lhe encontrou o olhar diretamente agora. — Não pense que não me incomoda profundamente a situação em que Daphné a colocou. Quaisquer que sejam seus motivos, sei quanto mal ela lhe causou, e me recuso a permitir que você sofra. É com isto que devemos nos preocupar. Precisamos garantir que sua reputação não sofr a. — Deve haver uma aldeia nas proximidades... esta Lower Upton. Certamente há uma taverna, e eu irei para lá e alugarei um quarto. — Sua carruagem partiu — lembrou. — Tenho um cavalo no estábulo, mas apenas um. Não pode cavalgar sozinha por terrenos desconhecidos no meio da noite. O cavalo pode carregar nós dois ou eu posso caminhar ao seu lado enquanto você cavalga. Mas qualquer dos casos, dificilmente resolverá o problema. Se você chegar depois... — olhou as horas no relógio acima da lareira — de meia-noite, cavalgando sozinha ou com um homem e alugar um quarto só para você, tudo parecerá muito estranho. Estamos tentando evitar rumores, não criá-los. — Mas quem vai saber? — argumentou Callie. — As pessoas da aldeia não me conhecem, e usarei um nome falso. — É melhor que ninguém nem mesmo a veja. — A voz não tinha expressão. — Alguém sabe que você está aqui? — Não posso imaginar quem saberia. O mensageiro me levou o bilhete e parti imediatamente na carruagem que ele alugou. Não havia ninguém comigo quando ele chegou, apenas os criados, e eles são leais a Francesca. Nem mesmo Francesca estava lá, tinha saído para fazer uma visita com tia Odélia. — Parou e uma expressão estranha lhe passou pelo rosto. — O quê? — perguntou Bromwell. — O que está errado? — Nada, realmente, apenas me perguntei se isto também não foi planejado. Se Francesca estivesse em casa quando recebi a notícia sobre Sinclair, ela certamente me acompanharia, o que estragaria o plano. Bromwell suspirou. — Lady Odélia gosta muito de minha irmã e de mim. Ela diz que nós a fazemos rir. Tenho certeza de que sua tia-avó não faria nada para lhe causar mal, mas, se Daphné sugerisse, com naturalidade, que ela devia visitar alguém e acrescentasse que Francesca adoraria ir com ela, lady Odélia provavelmente concordaria. Podia até pensar que Daphné tinha algum plano, mas jamais acreditaria que fosse alguma coisa muito ruim. Callie acenou. Apesar de furiosa com Daphné pelo que tentara fazer a ela, estava quase tão irritada pela dor descuidada que causara a Br omwell. — De qualquer maneira — continuou Callie, animada, esperando desviar a mente dele da dor de descobrir como o caráter da irmã era desagradável e mau —, Francesca sabe onde estou e o que me disseram, porque deixei um bilhete para ela, para que não se preocupasse. Mas é a única pessoa, e tenho certeza de que jamais diria uma palavra que pudesse me causar mal. Sempre confiei e confiarei nela. — Então se ninguém a vir na aldeia, não há motivo pelo qual alguém algum dia descubra que você esteve aqui. Acho que só há uma coisa a fazer... Você deve passar a noite aqui.
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Capítulo Dezesseis
— Aqui? — indagou Callie . — Mas isto certamente arruinará minha reputação! — Quem saberá que você está aqui, a menos que você ou eu contemos? Garanto-
lhe que a senhora Farmington não dirá uma palavra por medo de perder o emprego. Amanhã irei a cavalo até a aldeia e alugarei uma carruagem para você voltar para Londres, e ninguém poderá dizer que você se ausentou da cidade. A menos... — pareceu preocupado — que Francesca tenha contado aos amigos que o duque está f erido e aqui. — Ela não faria isto, Francesca não é mexeriqueira. E duvido que tenha recebido visitas ou saído esta noite. Deve estar exausta por ter passado o dia todo com tia Odélia. Além disso, ficará esperando notícias minhas sobre a condição de Sinclair. — Ótimo, então ninguém saberá. Callie acenou lentamente e pensou que eles ainda ficariam sozinhos na casa. Lembrou-se de como a luz do fogo brincara sobre o peito nu dele, dourando a pele e enfatizando as curvas suaves dos músculos. — Prometo que não farei nada com você — disse ele, com a voz suave. — Mas, se você se sentir melhor, dormirei no estábulo, assim ficará realmente sozinha na casa. É evidente que a senhora Farmington já voltou para sua choupana na aldeia, e você pode também trancar as portas e janelas. — Não, não há necessidade de fazer isto. — Callie não lhe diria que se preocupava mais com a enorme atração que sentia por ele do que com uma possível tentativa dele de seduzi-la. — Acredito em você. — Obrigado. Os olhos se encontraram e se fixaram por um momento, então ambos os desviaram, sentindo-se, de repente, desconfortáveis. Bromwell limpou a garganta e olhou em torno da sala, como se pudesse encontrar alguma resposta lá. — Acho que você gostaria de dormir um pouco — disse finalmente. — Devo lhe mostrar seu quarto? — Sim, por favor. — Eu, bem, talvez encontre alguma coisa para, quero dizer, você vestir para dormir — disse ele enquanto saíam da biblioteca, o rubor lhe cobrindo os malares altos. — Uma das minhas camisas ou... — A voz desapareceu. Callie pensou em dormir vestindo uma das camisas de Brom, e seu ventre esquentou de desejo. Parecia íntimo demais, quase como se ele estivesse lá com ela. Perguntou-se se o tecido ainda guardaria o cheiro dele. Começaram a caminhar pelo corredor em direção à escada, que ficava perto da porta da frente. Então Callie viu a pequena mala que trouxera e que ficara esquecida ao lado da porta. Supunha que devia estar ali desde que chegara, embora não a tivesse percebido quando fugira em pânico por aquela porta. — Veja, é minha maleta. — Dirigiu-se até ela e a pegou, mas Brom a tomou. — Aquele homem deve tê-la trazido para dentro, e eu não percebi. — Ótimo, então você terá suas roupas. — Não olhou para ela enquanto dizia aquelas palavras. Tudo parecia estranho agora, disse Callie a si mesma. Perguntou-se se, como ela, ele não conseguia deixar de pensar no fato de que estavam juntos e sozinhos. Não havia Projeto Revisoras
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damas de companhia, ninguém para contar histórias. Ninguém, além deles, saberia o que estava acontecendo naquela noite. Ele a levou para cima, passou à frente dela no corredor e a conduziu até a última porta. — Este é o seu quarto. Temo que esteja muito frio. Vou acender a lareira, se me der um momento. O quarto estava realmente gelado, e era evidente que não fora usado por algum tempo. Bromwell deixou a mala sobre uma cadeira, acendeu a lâmpada que estava sobre a mesa ao lado da cama, então deixou o quarto. Voltou alguns instantes depois, os braços carregados com lenha e material para acender o fogo. Callie observou também que ele dedicara algum tempo para vestir uma camisa, embora não tivesse se dado ao trabalho de prendê-la sob a calça. Bromwell se ajoelhou diante da lareira e começou a preparar o fogo. Era habilidoso na tarefa, e em pouco tempo, as chamas emitiam um calor muito agradável. Callie, que ficara em pé observando-o, embrulhada no cobertor que ele lhe dera, se aproximou da lareira, e ele sorriu para ela. — Espero que não tenha apanhado um resfriado. — Estendeu a mão e afastou um cacho de cabelo que lhe cobria o rosto. Calhe se viu querendo encostar o rosto na mão dele, como uma gatinha, fechar os olhos e se entregar à sensação maravilhosa de estar com ele, de sentir sua pele na dela. A mão dele abaixou, e Brom se afastou, andando em direção à janela. Abriu as cortinas e ficou parado lá, olhando para a noite escura. Depois de um momento, sem se virar, disse: — Acho que lhe contei que minha mãe morreu quando eu era muito pequeno. Minha babá costumava chama r Daphné de minha "mãezinha” Ela cuidou de mim, brincou comigo. Éramos tudo o que tínhamos enquanto crescíamos. Meu pai era... — Seus lábios se curvaram numa expressão de desgosto. — Sempre jurei que nunca seria uma pessoa como meu pai. Não compreendia crianças e não gostava delas. Esperava que nos comportássemos como adultos e não dava um desconto para a infantilidade ou a falta de força ou de habilidades. — Lamento muito. — O coração de Callie se encheu de solidariedade. Ele olhou para ela e sorriu. — Não tive a intenção de pedir sua piedade, queria explicar sobre Daphné. Ela me protegeu dele. Suas punições eram severas, até mesmo cruéis, e ela tentava impedir que eu as recebesse. Ela me escondia, justificava minhas ações, até mesmo assumia a culpa por alguma coisa que eu havia feito, porque não suportava me ver ser castigado tão brutalmente. Há muitas coisas pelas quais sou grato a ela. — Eu sei. — O sorriso de Callie era triste. Ela compreendia o amor dele pela irmã. Daphné tinha sido a única pessoa que o amara na infância. Ela sabia que ele jamais abandonaria a irmã, não importava o quanto suas ações fossem erradas. — Ela teve que suportar muita coisa. Eu era jovem demais para ajudá-la, e meu pai exigia que ela fizesse um casamento vantajoso. Era linda e havia muitos homens que a queriam. Casou-se com um homem muito mais velho do que ela, que não amava, e fez isto por nós, para impedir que a propriedade fosse engolida pelas dívidas do meu pai. Lembro-me de ouvi-la chorar em seu quarto na noite anterior ao casamento. E então, quando finalmente ficou livre dele e poderia ter uma vida nova, uma vida boa, apaixonouse por Rochford. Eu o odiei pela infelicidade que causou a ela. Por obrigá-la a se casar com outro velho e desperdiçar sua vida pelos últimos quinze anos, tão distante de tudo o que amava. — Virou-se para Callie, uma ruga profunda na testa. — E agora... agora sinto que não a conheço. As coisas que fez para tentar magoar você. Esta situação, aquela noite nos Vauxhall Gardens. Mal consigo acreditar que esta é a minha irmã, capaz de se rebaixar a ponto de planejar este truque. O coração dela está cheio de amargura e ódio. E Projeto Revisoras
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agora eu... agora não posso deixar de me perguntar se algum dia a compreendi. Teriam sido mentiras todas as coisas que ela me contou? Teria sido a mesma coisa então e eu apenas não percebi? Eu era simplesmente jovem demais e idiota demais para reconhecer a verdade? A expressão no rosto de Bromwell era tão desolada que Callie se aproximou e colocou a mão no braço dele. — Sinto muito. A voz era muito suave, e os olhos, erguidos para ele, brilhavam de compaixão, grandes e calorosos no delicado rosto com formato de coração. E, mais uma vez, ele se sentiu abalado pela beleza dela. O rosto, pensou Bromwell, era perfeito de todas as maneiras, emoldurado por uma massa de cachos negros. Os lábios eram cheios e rosados, e Brom não conseguiu deixar de se lembrar como era sentir aquela boca na dele. E, embora estivesse do outro lado do quarto, longe do fogo da lareira, de repente, sua pele queimava. O cobertor havia escorregado quando ela erguera a mão para tocá-lo, e os olhos dele desceram para seus ombros e peito. O decote do vestido simples que usava revelava apenas uma fatia de carne ao redor do alto dos seios, mas o tecido, ainda ligeiramente úmido, revelava todas as curvas. O coração de Brom batia com força, a respiração se tornou rápida e difícil. Enquanto olhava para ela, seus mamilos enrijeceram e se apertaram contra o tecido numa exibição clara de desejo. E, de repente, ele teve dificuldade de pensar. Sabia que devia afastar o olhar dela, mas não conseguiu. O corpo todo pulsava, consciente demais da mão dela em seu braço, que agora queimava onde ela tocava. — Eu, bem... devo ir — disse ele vagamente. — Não, não vá. — Callie sabia que todos lhe diriam que o que estava fazendo era errado, mas parecia absolutamente certo para ela. A dor das últimas semanas parecia ter destruído todo o medo, todas as dúvidas. O calor nos olhos dele, enquanto olhava para ela, despertara-lhe um anseio profundo e primitivo. Queria sentir de novo o que sentira com ele antes, queria experimentar tudo o que havia além, ainda inexplorado. Callie escorregou a mão para cima pelo braço dele, passou-a para o peito, consciente da curva suave dos músculos sob o tecido da camisa. Sua inspiração rápida, forte e a súbita mudança de expressão a excitaram. Viu que a queria, e este conhecimento lhe despertou a fome. — Fique aqui comigo — murmurou, os olhos nos dele. — Callie... — Ele liberou uma respiração trêmula. — Você está brincando com fogo. Ela sorriu lentamente, sensualmente, os olhos pesados de significado. — Ah, mas gosto do calor. Olhando para ele, vendo o desejo que lhe tomava as feições, Callie se sentiu tonta com seu poder, cheia do conhecimento triunfante de que era capaz de abalá-lo tanto, e ansiava para testar os limites daquele poder. Adorava as sensações que lhe percorriam o corpo e quis mais, quis tudo... ela o quis. — Ultimamente, só consigo pensar em beijar você. — A energia que lhe pulsava pelo corpo a tornava ousada. — Não pensa nisto também? Esticou-se na ponta dos pés para lhe dar um beijo, leve como uma pluma, na linha da mandíbula e sentiu o estremecimento que o percorreu. — Deus do céu, Callie, não penso em mais nada. — Ela virou a cabeça e o beijou do outro lado do queixo. — Você está louca em fazer isto. — Talvez eu esteja, um pouco — admitiu. — Você se importa? — Temo que você se importe... amanhã. — Isto não acontecerá — prometeu Callie, e pressionou os lábios no queixo dele. Ela se esticou ainda mais para cima, os lábios suaves atraindo a boca de Bromwell, doces e cheios de promessas. Ele sabia que devia se afastar, um cavalheiro jamais tirava Projeto Revisoras
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vantagem de uma mulher daquela maneira. Mas parecia não conseguir fazer suas pernas se mexerem e certamente não se sentia um cavalheiro naquele momento. Callie pressionou os lábios contra os de Brom, suavemente, como a mais leve das brisas, então repetiu o gesto para prová-lo de novo, desta vez, se demorando mais antes de se afastar. Então o olhou nos olhos, escuros de desejo, e esperou. Podia sentir o calor que emanava do corpo dele, a tensão que o percorria. As mãos dele estavam fechadas em punhos, como se lutasse com todas as suas forças para manter o controle. Com os olhos fixos nos dele, ela se ergueu de novo na ponta dos pés, a boca se erguendo para a dele. Então Bromwell deixou escapar um gemido rouco do fundo da garganta, e seus braços a enlaçaram enquanto a boca descia para tomar a dela. A paixão, por tanto tempo sufocada por ambos, transbordou, rápida e impossível de ser contida. Os braços se apertaram para puxar um ao outro para ainda mais perto enquanto as bocas se devoravam, desesperadas. Afastaram-se apenas o suficiente para arrancar as roupas um do outro, voltando a se unir um instante depois, incapazes de suportar um momento a mais separados, movendo-se numa dança constante e selvagem de desejo que os levou para cada vez mais perto da cama. As botas de Bromwell logo foram descartadas, e a camisa, desabotoada e jogada no chão. Os inúmeros botões do vestido se provaram mais difíceis, mas eles também foram conquistados, embora muitos tivessem sido arrancados no processo. Num único movimento ágil, ele a despiu do vestido e revelou sua forma esguia, coberta apenas pela roupa íntima fina e delicada. Os seios de Callie empurravam o algodão fino da combinação, erguiam-se acima do decote enfeitado com fitas, os botões dos mamilos rijos e visíveis através do tecido transparente. Ele parou, os olhos descendo para os montes suaves e brancos, o decote apenas acima dos mamilos, mantendo-os sedutoramente fora de vista e de alcance. Lentamente, quase com reverência, ele traçou com o dedo a linha do decote, a pele áspera arranhando de leve a suave carne branca. Callie estremeceu ao toque, e um gemido suave lhe escapou. Com a mesma deliberação, os dedos dele engancharam nas tiras da combinação e puxaram o tecido para baixo. Apesar de fino, sua ligeira aspereza roçou os mamilos sensíveis e os deixou ainda mais rijos enquanto ele lentamente puxava-o para baixo até finalmente os mamilos surgirem, livres, duros e voltados para ele, rosados na excitação, desafiando-o. Então ele se tornou apressado e puxou a combinação, sem se importar em ouvir o leve som de tecido que se rasgava. Os seios se libertaram, firmes e deliciosamente redondos, globos cheios e brancos que pareciam ter sido f eitos para suas mãos. Bromwell estendeu-as e os tomou, sentindo-lhes o peso, saboreando a suavidade de seda da pele. Os polegares se moveram sobre os mamilos, circulando-os e provocando-os. A cada carícia, Callie sentia o desejo crescer e espiralar, a virilha se desmanchar, tornando-se quente e líquida. Não conseguia ficar imóvel, sua carne pulava e estremecia sob o toque dele. Suas pernas se moviam, inquietas, unindo-se como se pudessem impedir o anseio que crescia entre elas. Queria que cada momento durasse para sempre e, ao mesmo tempo, sentia-se cheia de uma necessidade urgente, uma ansiedade para encontrar, agarrar e ter tudo imediatamente. Calhe estendeu as mãos, encontrou o cós da calça e começou a desabotoá-la. Podia sentir o movimento insistente debaixo do tecido, a prova física da necessidade dele, e não resistiu à vontade de escorregar a mão sob o tecido e acariciar a ereção pulsante. Brom deixou escapar um gemido baixo, que a encorajou a explorar ainda mais, levando a mão para ainda mais baixo entre as pernas dele, então de volta para cima, para ultrapassar o primeiro botão solto. Tudo era completamente desconhecido para ela, a
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sensação da pele lisa como cetim sobre a rigidez de aço, a aspereza dos pelos, os movimentos ansiosos da carne. E tudo era estranhamente excitante. Ele lhe tomou os lábios num beijo feroz, a boca devorando a dela enquanto ela continuava sua exploração sensual e inexperiente. Ele lhe acariciava os seios, gentilmente apertando-os e afagando-os. O desejo a tomou completamente a cada movimento das mãos dele. De repente, como se não pudesse mais esperar, Brom a soltou e recuou um pouco para desabotoar a calça e arrancá-la do corpo. Callie mal teve tempo para reagir antes de ele lhe desamarrar a combinação e a anágua, tirando-as e jogando-as em direção a uma cadeira. Ele caiu sobre um dos joelhos, assustando-a até perceber que estava lhe tirando as botas. Ergueu-lhe um dos pés para tirá-la, e ela colocou uma das mãos sobre seu ombro para se equilibrar. Bromwell ergueu os olhos para ela enquanto suspendia o outro pé e tirava a bota. Os olhos dele eram intensos e brilhantes de promessas. De repente, Callie teve dificuldade para respirar. Brom escorregou a mão para cima, sob a perna da calça, seguindo a curva da panturrilha e chegando até a coxa. Enganchou os dedos na liga e lentamente a desceu junto com a meia, as mãos escorregando pela carne nua com infinita lentidão. Callie engoliu com força. A pele formigava sob seu toque, e suas pernas pareciam fracas demais e incapazes de suportar seu peso. Com o mesmo cuidado, ele removeu a outra meia, então se levantou, as mãos lhe roçando as pernas até chegar ao cós da calça. Lentamente, os olhos prendendo os dela, ele puxou a fita e desfez o laço. As mãos escorregaram sob o cós solto e tiraram do caminho a peça leve enquanto as mãos acariciavam as curvas luxuriosas dos quadris. A calça caiu no chão, e ela ficou diante dele, finalmente e completamente nua. Os olhos dele passearam sobre o corpo dela, o rosto cheio de fome. Callie pensou que devia se sentir constrangida ao senti-lo observando-a daquele jeito... e talvez estivesse, um pouco... mas, para sua surpresa, o olhar dele a excitou, como se fossem seus dedos que lhe percorressem a carne. Podia sentir a umidade crescendo entre suas pernas, a carne tenra pulsando. — Você é tão linda. — A voz de Bromwell era rouca enquanto se debruçava para tomá-la nos braços e carregá-la até a cama. Ele a deitou sobre o colchão e se esticou ao lado dela, então ergueu a cabeça e a apoiou na mão, o cotovelo dobrado. A outra mão se estendeu sobre o peito dela, os dedos abertos sobre o ventre plano, então viajando para cima e se curvando sobre os seios, depois descendo para o estômago, acariciando-lhe o ventre, os quadris e finalmente se movendo para a lateral da perna. Os dedos buscaram finalmente a região entre suas pernas, separaram-nas e lentamente retraçaram o caminho para cima, em direção ao ponto onde ela os queria. A respiração de Callie se tornou curta e rápida enquanto os dedos dele trilharam o caminho para cima, provocando a pele suave da parte interna das coxas, movendo-se para cada vez mais perto de seu destino. Então, finalmente, ele atingiu o centro de sua feminilidade, as dobras secretas e macias que a guardavam. O calor a percorreu enquanto ele a tocava lá, gentilmente separando e explorando aquela mais íntima das partes do corpo dela. Callie mordeu o lábio, tão súbito e intenso foi o prazer, e arqueou contra a mão dele. Jamais sonhara que houvesse alguma coisa assim, que seu corpo pudesse reagir e se desmanchar ao simples toque dos dedos dele. Gemeu e se moveu sob sua mão, e ele sorriu para ela, o rosto pesado de triunfo sensual. Debruçou-se e lhe tocou os seios com os lábios, e ela arquejou com a nova sensação. Os lábios se moveram sobre a carne macia e branca, beijando e mordiscando gentilmente, provocando-a com a ponta da língua até chegar ao botão rijo do mamilo. Lá ele parou e concentrou sua atenção, Projeto Revisoras
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circulando e provocando até finalmente a boca o tomar e começar a sugá-lo, lenta e completamente. Um tremor sacudiu o corpo de Callie ao prazer, provocado, ao mesmo tempo, pela boca e pelos dedos. Ela sentiu como se cada partícula de seu corpo estivesse em chamas, e o centro líquido daquela chama se localizava em seu ventre, onde pulsava e queimava com uma necessidade desesperada. Ela se contorceu sob suas carícias e afundou os pés e as mãos na colcha debaixo dela. — Por favor, por favor — implorou, sem saber bem o que pedia, sentindo que morreria, que explodiria. Ele se deitou sobre ela e lhe abriu as pernas para recebê-lo. Levou as mãos para baixo dos quadris de Callie e os ergueu, então ela sentiu a ponta do membro procurando, acariciando a carne tenra de sua intimidade. Callie arqueou o corpo, feliz por recebê-lo dentro dela, e ele a penetrou lentamente, cuidadosamente, o corpo rijo com a tensão do controle que precisava manter. Ela sabia que sempre havia dor na primeira vez, mas não sentiu nenhuma, apenas uma maravilhosa sensação de completude quando ele a tomou, esticando-a e preenchendo-a totalmente. Callie deixou escapar um grito baixo e rouco de prazer, chamando o nome dele, e Bromwell enterrou o rosto em seu pescoço, inspirando seu cheiro enquanto começava a investir para dentro e para fora. Ela enlaçou-lhe o corpo com as pernas e se moveu no ritmo de suas longas e firmes estocadas. A respiração de Bromwell era áspera e forte em seu ouvido, e o calor intenso que emanava dele a envolveu. Callie se sentiu cercada por ele, imersa nele, e amou a sensação. A tensão começou a se construir profundamente dentro dela e crescia a cada movimento que ele fazia, uma espiral de fogo que se comprimia cada vez mais até finalmente explodir numa bola de fogo de um prazer tão grande que ela gritou. Brom estremeceu e grunhiu, e investiu nela selvagemente enquanto também atingia o pico do prazer e, juntos, amoleciam, gastos e exaustos e totalmente repletos. Brom murmurou o nome dela enquanto rolava para o lado, os braços ainda a enlaçando. Então ele estendeu uma das mãos, puxou o cobertor e o enrolou em torno deles, como um casulo. E, juntos, se entregaram ao sono. Callie acordou devagar, consciente, a princípio, de que estava muito quente e, depois, que alguma coisa muito pesada quase a esmagava. Os olhos se abriram, e ela se viu olhando para uma grande expansão de carne firme e pelos lhe fazendo cócegas no nariz. Ela piscou e, um momento depois, estava totalmente desperta e consciente. O calor se originava do grande corpo de Brom, contra o qual estava pressionada, o rosto no peito dele. E o peso era o braço dele jogado sobre ela. As lembranças da noite anterior lhe atropelaram a mente, e ela sorriu para si mesma. Uma mulher mais virtuosa, pensou, sem dúvida, estaria constrangida, até mesmo envergonhada. Ela, no entanto, estava quase explodindo de felicidade. Não havia nela lugar para qualquer outro sentimento. Apesar do calor, ficou imóvel por mais algum tempo, saboreando a nova sensação do corpo, vivo com a marca dos prazeres da noite e agradavelmente dolorido. Finalmente se levantou devagar e deixou o cobertor cair sobre o corpo de Brom. Olhou em torno do quarto, um meio-sorriso no rosto. As roupas estavam espalhadas por toda parte. Lembrou-se dos leves sons de tecido rasgado enquanto despiam um ao outro e teve a impressão de que suas roupas não eram mais adequadas para o uso. Ainda bem que levara diversos outros vestidos na mala. O fogo morrera e havia apenas cinzas na lareira, mas ela mal sentiu o frio enquanto andava até a janela. O quarto ainda estava escuro, mas a luz que passava por uma fresta da cortina a fez compreender que passava muito do nascer do sol. Puxou uma ponta da cortina grossa e olhou. Realmente já era manhã. A paisagem estava banhada pela luz do sol. Deixou a cortina cair e se virou para olhar o quarto. Projeto Revisoras
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Seu vestido era uma pilha no chão diante de uma cadeira, a anágua era uma bola aos pés da cama e os dois pés das botas estavam bem distantes um do outro. E sua combinação era apenas um trapo amarrotado perto da porta. Caminhou pelo quarto, pegando as peças. Então se virou em direção à cama e viu Bromwell, os olhos abertos, a cabeça numa das mãos do braço dobrado no cotovelo, observando-a. Ela arquejou e deixou cair as roupas de surpresa. Ele sorriu. — Ah, agora ficou muito melhor, estas roupas estavam escondendo demais. — O que está fazendo? — Zangou. — Você me assustou! — Observando-a. — Por que não disse alguma coisa? Não sabia que estava acordado. — Eu sei e foi muito mais agradável assim. — Ele sorriu, sem arrependimento. Ela se debruçou para recuperar as roupas e segurou-as diante do corpo, com o rosto vermelho. — Não, não se esconda, gosto de ver você toda. Callie sorriu de leve, sentindo-se estranhamente tímida e, no entanto, excitada também, o agora familiar calor começando em sua virilha. — Isto não é justo, já que está recatadamente coberto. Aquilo não era bem verdade, pois o cobertor escorregara para a cintura dele, e ela podia ver toda a expansão do peito e dos braços, o que, era a primeira a admitir, era uma visão muito agradável. Brom sorriu e empurrou o cobertor para o lado. — Pronto. Agora você pode olhar tanto quanto eu. O rosto de Callie enrubesceu quando seus olhos, por conta própria, passearam por todo o corpo dele, observando a carne firme e bronzeada, a curva suave dos músculos... e pararam na evidência inconfundível de sua excitação. — Ah! Os olhos dela se abriram, e o rubor aumentou, mas sentiu que a visão o membro rijo aprofundava o calor que já existia nela. — Sim — admitiu Brom, com um sorriso. — Sou seu escravo. — Um escravo dos próprios desejos, eu diria. A atitude era atrevida, mas ela deixou as roupas caírem e andou até a cama, o leve constrangimento superado pela sensação de prazer quando viu que os olhos dele, pesados de desejo, lhe percorriam todo o corpo. — Apenas no que se refere a você — garantiu, então estendeu o braço para pegá-la e puxá-la para a cama. Ele se virou e se sentou na beirada da cama, apoiou os calcanhares no chão e, com as mãos nos quadris dela. puxou-a para ele. Callie sorriu dentro dos olhos dele, colocou as mãos em seus ombros e as moveu lentamente para baixo e para cima, então para mais embaixo, no peito dele. Sentiu a ereção contra o ventre e sorriu, maliciosa. — Você gosta disto, não gosta? — Mergulhou o nariz no pescoço dela. — Da ideia de me ver sofrer. — Não — discordou, e trilhou para baixo as unhas levemente sobre o peito dele. — É o pensamento de pôr um fim em seu sofrimento que me faz sorrir. Ele riu, o hálito quente na nuca de Callie, e mordiscou-a de leve. — Isto, milady, eu gostaria muito que você fizesse. Com estas palavras, os braços dele a envolveram, e ele a deitou de costas na cama junto com ele, então rolou rapidamente para que ela ficasse debaixo do seu corpo forte. Ergueu os braços dela acima da cabeça, firmou-os com uma das mãos e começou a beijá-la por todo o corpo. Seus lábios se demoravam na pele, e ele levou o tempo que quis explorando-a. Ela se contorceu e puxou as mãos, mas ele continuou a segurá-las sob a dele.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Não,
ainda não — murmurou. — Primeiro é minha vez de lhe dar prazer. Então poderá fazer o que quiser. Ele fez amor com ela lenta e docemente com a boca e as mãos, levando-a cada vez mais perto daquela selvagem e deliciosa explosão de paixão que experimentara na noite anterior. Mas, a cada vez, recuava, apenas para levá-la de novo para a margem do precipício. Enquanto a boca amava seus seios, os dedos buscavam o centro quente e pulsante do desejo dela, acariciando as dobras macias e lisas e provocando o pequeno e rosado botão entre elas. Callie arqueou contra a mão dele, quase soluçando de necessidade. Finalmente os dedos se firmaram nela e a acariciaram com ritmo, até ela ficar completamente tensa. E então, com um pequeno grito, sentiu as ondas de prazer a percorrerem. Ficou deitada lá, gasta, exausta e feliz, olhando para Brom com olhos escuros e entorpecidos. Ele se debruçou e lhe beijou gentilmente os lábios, então se moveu para o meio das pernas dela. — Ah, não. — Callie sorriu, a voz rouca. Apoiou as mãos no peito dele e o empurrou. Ele caiu de costas, sem reagir, e sorriu de volta. — O quê, chega para você? Já quer parar? — Não, parar não, adiar. É minha vez agora, lembra? Você disse que eu poderia ter você do meu jeito depois. O sorriso dele cresceu. — Disse mesmo, milady. Então, me conte, o que planejou? — Acho que vou inventar à medida que prossigo. Ainda estou aprendendo, lembra? Ele ergueu as mãos acima da cabeça, juntou-as e adotou uma postura relaxada, desmentida apenas pelo membro rijo. — Então fique à vontade para improvisar. Callie se moveu sobre ele, montou-o, e os olhos dele escureceram com a expectativa Ela passou as mãos pelo peito dele e explorou o corpo tão completamente masculino. Suas mãos eram firmes e encontraram nele texturas diferentes de ossos rijos e músculos ressaltados, de pele macia e pelos ásperos. Seus dedos deslizaram sobre mamilos pequenos e os fizeram ficar rijos e vivos. Então se debruçou e tomou um deles na boca, como ele fizera com ela, lambendo-o e circulando-o até que ficasse duro como uma pedra rosa-escura. Ela se sentou e moveu o corpo sobre o dele. Brom deixou escapar um gemido baixo, e Callie sorriu, sensual. Mexeu-se de novo e sentiu o membro se erguer e pulsar contra sua carne. Roçou o corpo sobre o dele, excitando os dois enquanto carne escorregava sobre carne, os pelos ásperos do peito dele arranhando de leve os mamilos tão sensíveis. As mãos dele lhe tomaram os quadris para erguê-la sobre sua ereção rija, mas Callie sorriu e balançou a cabeça. — Ah, não, ainda não, ainda não terminei. Ora, nem mesmo o beijei ainda. Ela se ergueu sobre os joelhos e os braços e subiu um pouco, até o rosto estar sobre o dele, olhos nos olhos. A pele de Brom estava esticada sobre os ossos, a boca macia e sensual, os olhos brilhando com uma luz febril. Há muito ele desistira da pose casual, as mãos entrelaçadas acima da cabeça. Agora agarrava com força o cobertor abaixo dele, esforçando-se para manter o controle. Callie abaixou a cabeça e lhe beijou a testa de leve, apenas a roçando com os lábios. Fez um caminho pelo rosto dele, beijando-lhe a pele macia das pálpebras fechadas, os malares rijos que a fascinavam, o forte queixo masculino e a mandíbula e, finalmente, parando na boca. Beijou-o longa e profundamente. Podia sentir seus músculos tremerem abaixo dela e soube que ele estremecia e queimava, como acontecera antes com ela. Callie ergueu a cabeça e escorregou para fora do corpo dele. Brom fez um som de protesto e estendeu a mão para segurá-la, mas ela a afastou e começou a lhe beijar o peito enquanto a mão deslizava pelo corpo dele, cada vez mais para baixo. Os dedos Projeto Revisoras
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percorreram, leves como uma brisa, o peito e o estômago, então para baixo, para os ossos altos dos quadris, depois se desviaram para o centro, coberto com os pelos cacheados que rodeavam a ereção. Ele estremeceu e rosnou, e as pernas se moveram, inquietas. Os dedos dela provocaram o lado interno da virilha até encontrarem os testículos pesados entre as pernas. Ela hesitou, um pouco tímida, então gentilmente moveu a ponta dos dedos sobre eles. Brom inspirou com força e moveu os quadris involuntariamente. — Você gosta disto? — sussurrou, os lábios pressionados no pescoço de Brom. A resposta foi um som baixo, urgente, no fundo da garganta. — Vou entender isto como um sim! — E então os tomou na palma. Ele estremeceu sob o movimento gentil, e ela se tornou mais ousada. Escorregou os dedos pelo lado interno da ereção e curvou-os em torno dela. Movia-se devagar e explorava meticulosamente a pele macia como cetim que cobria o membro rijo e pulsante. Então, com um grunhido baixo, ele lhe segurou os braços e, de repente, com um movimento rápido e ágil, virou-a de costas e a cobriu, o resto do corpo entre suas pernas, o membro a penetrando. Callie deixou escapar um soluço suave diante da doçura de se sentir preenchida de novo por ele. As pernas o enlaçaram e o apertaram enquanto ele a tomava repetidamente, com força e rapidez, e a levava com ele para aquela explosão alucinante da satisfação do desejo de ambos. Ficaram deitados por um longo tempo, num estado de completa felicidade, flutuando em algum lugar entre o sono e a consciência. Callie estava encolhida de lado, a cabeça no braço de Brom, o outro braço dele a envolvendo. Sentia-se deliciosamente exausta e preguiçosa, e sua mente vagava numa névoa de prazer. Finalmente, porém, e com um suspiro, Bromwell afastou o braço. — Preciso ir à aldeia e alugar uma carruagem. — Mais tarde — murmurou Callie, e se aninhou mais contra ele. Ele riu e passou a mão pela lateral do corpo dela. — Atrevida. Não pode me tentar e me afastar do meu objetivo. Ela virou a cabeça e lançou-lhe um olhar brilhante. — É um desafio? Ele riu e lhe beijou o ombro nu. — Não, porque sei que não o venceria. Então lhe beijou a boca, mais lentamente, mas se afastou depois de um momento. — Não, preciso ir. Temos que conseguir que você volte para Londres antes que alguém descubra que não está lá. Ela acenou, consciente da verdade de suas palavras, embora relutasse em desistir daquele momento. Uma vez que partisse de Blackfriars Cope, tudo mudaria. Bromwell não se deu ao trabalho de recolher suas roupas, pegou apenas as botas e deixou o quarto para se dirigir para o dele e se vestir. Com um suspiro, Callie também se levantou. O quarto estava gelado, então ela se embrulhou no mesmo cobertor leve que Brom lhe dera na noite anterior, quando a tirara da chuva. Pegou a mala e tirou a muda de roupa que a criada providenciara. Felizmente, ela tivera a precaução de colocar um vestido matinal simples, abotoado na frente, portanto foi fácil para ela se vestir sem ajuda. Estava muito amarrotado, mas não havia ninguém para reparar e, de qualquer forma, logo estaria ainda mais amarrotado com a viagem. Brom voltou alguns minutos depois, já vestido, com um jarro de água para o lavatório e lhe disse que desceria para ver se a governanta já chegara para trabalhar. Callie se lavou e se vestiu depressa, escovou o cabelo completamente embaraçado e, com um pouco de dificuldade, conseguiu enrolá-lo num nó frouxo no alto da cabeça. Então desceu rapidamente e seguiu para os fundos da casa, seguindo o som de louça e de panelas de metal. Encontrou Brom sozinho na cozinha, ocupado em pôr pratos e
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talheres sobre uma grande mesa de madeira. Ele a olhou e sorriu, um pouco maliciosamente. — A senhora Farmington não veio, mas fiz chá e encontrei manteiga e geléia. E também cortei algumas fatias de pão para fazer torradas. — Parece perfeito. — Callie também sorria. A torrada ficou um pouco queimada de um lado e crua do outro, e o chá estava terrivelmente forte, mas Callie pensou que aquele era o melhor desjejum que já tivera em toda a sua vida. Brom descreveu seus esforços culinários de maneira bem-humorada, e ela riu o tempo todo. Conversaram enquanto comiam, e ele continuamente estendia a mão para lhe acariciar o braço, a mão, o rosto ou tirar uma mecha solta de cabelo do rosto dela, como se não conseguisse parar de tocá-la. Tinham acabado de comer e começavam a se levantar, relutantes, quando Callie ouviu um som no pátio da frente e virou a cabeça para ouvir melhor. — É um cavalo que estou ouvindo? — Callie olhou pela janela, mas não conseguiu ver nada além do pátio lateral e os estábulos. Brom ficou imóvel. — Sim, é alguém cavalgando com pressa. Saíram da cozinha e estavam no meio do corredor quando ouviram uma batida muito forte na porta da frente. Callie e Brom se entreolharam, e ela se sentiu inquieta de repente. As batidas continuaram, e Brom foi até a porta, que abriu com um safanão. O duque de Rochford estava no umbral.
Capítulo Dezessete
O duque estava vestido para cavalgar. Suas roupas estavam manchadas pela viagem, e as botas, cobertas de lama. Levava o chapéu e o chicote numa das mãos. E havia uma fúria gelada no rosto. — Então é verdade! — rosnou. E, com um passo à frente, esmagou o punho no queixo de Bromwell, que foi lançado para trás, tropeçou e caiu sobre as portas da sala de estar, que se abriram. — Sinclair! — gritou Callie. — Não! Ela correu para Bromwell, para ajudá-lo a se levantar, mas ele lhe afastou a mão enquanto se erguia com agilidade. Os olhos brilhavam, prateados, presos em Rochford, e ele ergueu uma das mãos para limpar um fio de sangue que lhe descia pelo queixo, onde o punho de Rochford o atingira. — Você quer brigar? — A voz de Bromwell era perigosamente suave, e um canto da boca se ergueu. — Brom, não! — gritou Callie. — Quero matar você! — Rochford jogou o chapéu e o chicote sobre o banco no foyer. — Sinclair! Ela se virou para o irmão, exasperada, mas nenhum dos dois homens lhe deu a menor atenção enquanto começavam, ao mesmo tempo, a tirar os paletós e jogá-los para o lado, então enrolavam as mangas das camisas. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Podem parar por apenas um minuto? — pediu Callie, a voz uma mistura de medo irritação. — Por favor? Podem me ouvir? Sinclair, estou bem, não há a menor
e necessidade... — Há toda a necessidade — disse o irmão apenas, sem nem mesmo olhar para ela. — Callie, fique fora disto! — Bromwell falou ao mesmo tempo. — Ficar fora disto? — Callie olhou para ele. — Como posso ficar fora disto? Vai lutar contra meu irmão. Como posso ficar fora disto? Mas era evidente para ela que eles continuariam a ignorá-la, não importava o que dissesse. Olhou em torno da sala, tentando encontrar inspiração enquanto os dois homens se aproximavam, cautelosamente circulando um ao outro, as mãos erguidas e fechadas em punhos. Então, como um relâmpago, Bromwell lançou com força a mão esquerda, mas Rochford, com a mesma rapidez, se moveu para o lado, de forma que o golpe o atingiu no ombro, e não no rosto. Bromwell imediatamente deu um golpe alto com a mão direita, que atingiu diretamente o queixo de Rochford e o jogou para trás, sobre um armário alto. Houve o som de um baque, e um bibelô de porcelana caiu e se despedaçou no chão atrás dele. Bromwell correu para outro golpe, mas Rochford se desviou agilmente e, agarrando o braço de Bromwell, atirou-o contra o mesmo armário. Bromwell atacou de volta, com socos, e os dois homens caíram com força sobre o sofá, que virou de costas e caiu, enquanto os dois, no chão, se agarravam e se socavam, as leis do pugilismo esquecidas. Callie gritou para eles pararem, mas não adiantou nada. Ela correu para a lareira e pegou o atiçador, então se virou para os dois homens. Eles rolavam no chão, batendo em mesas e cadeiras, e ela correu até eles, o atiçador erguido. Mas não conseguiu bater em nenhum dos dois com ele. Estava parada lá, indecisa, o atiçador ainda erguido na mão, quando uma fria voz feminina atrás dela se fez ouvir. — Realmente, Rochford... brigando na sala de estar? E antes do desjejum? Que coisa tão terrivelmente primitiva! Callie se virou rapidamente em direção à voz e seu queixo caiu. Lá estava Francesca ao pé da escada, parecendo absolutamente calma e composta num vestido de um azul muito claro, completamente a grande dama. Callie não conseguiu pensar em nada para dizer, atônita com aquela visão inesperada. Aparentemente, o surgimento de Francesca foi o bastante para fazer os dois homens pararem no meio da briga, porque eles, também, olhavam com igual perplexidade para Francesca. — Falando sério, Rochford, por favor, se levante. Você parece idiota demais aí no chão. Assim como você, lorde Bromwell. Tenho que dizer, pensava que os homens fossem capazes de encontrar alguma coisa melhor para fazer do que quebrar a mobília. Estou certa de que, quem quer que seja o dono desta casa encantadora, ficará muito aborrecido pelos danos que vocês causaram. Quando nenhum dos dois respondeu, Francesca andou até a porta aberta, parou no umbral e olhou para os dois homens estendidos no chão. — Os dois são membros de clubes de boxe, por acaso? — continuou Francesca, enquanto os dois homens se levantavam, totalmente perplexos. — Acho que poderiam ter se dedicado à sua diversão no pátio. Fizeram tanto barulho que me acordaram. Agora terei grandes círculos escuros sob os olhos, tenho certeza, especialmente depois da hora tardia em que Callie e eu fomos dormir, depois de viajar até aqui na escuridão. — Francesca fez uma pausa, magnânima, então continuou: — Entretanto, estou contente por encontrar você inteiro, Rochford. Acho que não gostaria muito de ter uma perna e algumas costelas quebradas. O duque finalmente encontrou sua voz. — Do que você está falando, Francesca? Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Ora,
de seus ferimentos, é claro. — A voz dela era muito doce. — Viemos assim que recebemos a carta dizendo que você estava gravemente ferido. Pode imaginar nossa surpresa quando chegamos e não conseguimos encontrá-lo em lugar nenhum. — Você... você quer dizer que estava aqui com Callie? — O tom da voz de Rochford demonstrava o quanto estava atônito. — Sim, é claro. Viemos com a maior pressa assim que recebemos a carta de... qual é mesmo o nome, Callie? — Senhora Farmington — informou Callie, esforçando-se, ao máximo, para suprimir o sorriso que queria lhe dobrar os lábios. — Sim, Farmington, é claro. Bem, dificilmente poderia permitir que Callie fizesse a viagem sozinha. Ficamos totalmente atônitas, é claro, quando não o encontramos aqui, mas lorde Bromwell foi muito gentil e nos permitiu passar a noite. Era muito tarde, sabe, e achei que uma taverna não seria um lugar onde nos sentiríamos confortáveis. — Não compreendo. De que carta está falando? Por que estão aqui? E por que ele também está? — Olhou com aversão para Bromwell. — Moro aqui — informou lorde Bromwell. — Ou, pelo menos, estou vivendo aqui por alguns dias. — E Callie e eu fomos atraídas para cá pela carta. Acabei de lhe contar, Rochford. — Virou-se para a amiga. — Você ainda a tem, Callie? Por que não sobe até o nosso quarto e a pega, querida, para mostrá-la ao seu irmão? Talvez faça algum sentido para ele. Callie acenou e se apressou a subir para o quarto. Em sua ausência, Rochford olhou, desconfiado, de Francesca para lorde Bromwell, que havia cruzado os braços sobre o peito e o olhou de volta com arrogância. Francesca apenas olhou para o duque com a mesma expressão fria e levemente zombeteira. Quando Callie voltou, um momento depois, entregou a carta ao irmão, e ele a leu rapidamente, com a testa franzida. Quando terminou, ergueu o olhar para ela, então para Francesca. — O que isto significa? Quem enviou isto para vocês? — Virou-se para Bromwell, a expressão severa. — Isto foi um truque sujo seu? — Não! — exclamou Callie depressa. — Ele não sabia nada sobre isto. Ficou tão atônito quanto eu... e Francesca — acrescentou rapidamente. — Estávamos muito cansadas e decidimos ir para a cama e tentar esclarecer todo o assunto esta manhã. Mas então você invadiu a casa urrando como um louco e distribuindo socos. — Por que não me disse que Francesca estava aqui? — perguntou Rochford a Callie. — Eu tentei! — Callie cruzou os braços, belicosa. — Se consegue lembrar, você se recusou a ouvir qualquer coisa que eu tivesse a dizer. — Ah. — O duque pareceu muito desconcertado. — Agora é a sua vez, Rochford — exigiu Francesca. — O que está fazendo aqui? — Também recebi uma carta. Dizia que minha irmã estava aqui com lorde Bromwell, que haviam fugido juntos. — Compreendo. — Os olhos azuis normalmente calorosos de Francesca se transformaram em pedaços de gelo. — Sim, acho que todos compreendemos. — A voz de lorde Bromwell era cheia de amargura. Ele se virou e se ocupou erguendo a mobília caída e ajeitando-a. O olhar de Francesca se prendeu ao de Rochford por um longo momento, então ela o virou para Callie. — Vamos, minha querida, que tal arrumarmos nossas coisas? Talvez Rochford queira nos escoltar de volta a Londres.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Isto
me lembra... — disse Rochford, a voz mais uma vez cheia de desconfiança. — Onde está sua carruagem? Não a vi quando cheguei. — Ora, no estábulo, é claro — respondeu Francesca, olhando para ele como se ele tivesse enlouquecido. — Onde mais poderia estar? No silêncio que se seguiu às palavras dela, ouviram o som de cavalos do lado de fora. Os quatro se entreolharam, surpresos, e Bromwell se dirigiu para a porta. Naquele momento, ouviram o som de vozes femininas e risadas, e Brom parou abruptamente. A porta se abriu, e lady Swithington entrou, acompanhada por outra mulher. Ela falava alegremente com a acompanhante, mas parou no meio de uma sentença quando viu o irmão parado diante dela, o rosto frio e sem expressão, como se feito de pedra. — Ora, Brom! — exclamou, parecendo surpresa. — Não esperava que já estivesse acordado. E lady Calandra... que prazer inesperado. — Os olhos dela se dirigiram para Callie e depois para o duque em pé além dela. — E Rochford. O que está fazendo aqui? — A voz era rica e suave como creme. Evidentemente contente, apesar da tentativa de parecer surpresa. — Oi, Daphné. — Até então Francesca estivera invisível, parada atrás da porta aberta. O olhar de Daphné pulou para Francesca, e seus olhos se abriram, numa expressão muito mais natural de choque. — Francesca! Que diabos... bem, isto é mesmo uma surpresa. — Ela parou por um momento, parecendo meio perdida, então se virou para a mulher que a acompanhava. — Desculpem, permitam que apresente minha amiga, a senhora Cathcart. Conhecem a senhora Cathcart, lady Calandra? Lady Haughston? — Sim, acredito que já nos conhecemos — respondeu Callie, obrigando-se a sorrir. — Como vai, senhora Cathcart? A mulher loura, que tinha uma expressão astuciosa, era uma das piores mexeriqueiras do ton. Era evidente que a irmã de Brom havia incluído aquela cena na situação que planejara para garantir que o escândalo fosse testemunhado por alguém que se apressaria a espalhá-lo por toda Londres. Lady Swithington continuou a fazer as apresentações. O duque havia se recuperado e desenrolara as mangas para fazer uma elegante reverencia para a senhora Cathcart. — É um prazer encontrá-la — disse ele, sorrindo na sua maneira graciosa que, ao mesmo tempo, atraía e impedia que a pessoa que o recebia se esquecesse de que estava na presença de um duque. — Espero que perdoe minha aparência, senhora Cathcart. Não esperava receber visitas. — É claro, vossa graça. — A senhora Cathcart sorriu e corou, claramente lisonjeada por conversar com o duque de Rochford. — Você está... bem desarrumado, Rochford — concordou lady Daphné. — E isto é sangue no seu rosto, Brom? O que vocês dois estiveram fazendo? Os dois homens se entreolharam, e Francesca se apressou em preencher o silêncio. — Eles estiveram trabalhando para consertar nossa carruagem. Não é de admirar que estejam sujos e desgrenhados. Uma roda caiu numa vala, e a carruagem virou. Uma coisa tão desagradável! A senhora Cathcart fez os sons adequados de choque e solidariedade, mas lady Daphné olhou para Francesca com olhos entrecerrados, e sua voz não tinha expressão quando falou: — Que horrível. Estou surpresa por vocês não estarem feridos. — Foi extremamente chocante, eu garanto — continuou Francesca — Não foi, lady Calandra? — Sim, com certeza. — Callie rapidamente entrou no espírito da história. — Tenho um hematoma horrível nas costas. Mas felizmente não houve ossos quebrados. — Olhou
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com firmeza dentro dos olhos de lady Daphné, garantindo que se fizera compreender muito bem. Houve um longo momento de silêncio. — Nossa, vocês devem ter passado um dia muito desagradável... e ainda não é meio-dia. Que sorte que sua carruagem quebrou aqui, onde meu irmão pode ajudá-las. — Sim, não foi? — A voz de Francesca era puro mel. — Lorde Bromwell foi muito gentil conosco, e todos somos muito gratos pela ajuda dele, não é, Rochford? — Virou-se para o duque e apenas aqueles que a conheciam bem poderiam perceber o tom de aço sob a voz. Um músculo pulou na mandíbula de Rochford, mas ele disse, um pouco rígido: — Sim, agradeço sua assistência. — O prazer foi meu — acrescentou Bromwell. — Lamento por sua viagem ter sido interrompida. — Então você compreende que devemos seguir nosso caminho — disse Rochford suavemente. — Foi um prazer conversar com a senhora, senhora Cathcart, mas temo que precise nos dar licença. — Para onde estão indo? Pensei que estivessem em Londres — tentou novamente lady Daphné. Rochford voltou para ela seu olhar mais aristocrático, o que usava para impedir perguntas impertinentes, mas Daphné não pareceu nem um pouco intimidada. — Íamos visitar amigos antes de viajar para Marcastle. — Ah, é mesmo? Quem iam visitar? Talvez eu os conheça. As sobrancelhas do duque se ergueram. — Duvido muito — respondeu apenas. — Chega de perguntas, Daphné — interrompeu Lord Bromwell, e havia uma aspereza em sua voz que a irmã jamais ouvira. — Nossos hóspedes precisam partir agora. Não queremos atrasá-los. — É claro que não. — Daphné lançou um sorriso brilhante para todos. — Vou ao estábulo dizer ao cocheiro que traga a carruagem para o pátio da frente — disse Rochford, o olhar se voltando para Francesca. — Isto me parece uma excelente ideia — disse ela, o sorriso calmo e sereno. Rochford fez uma reverência rápida para todos e deixou a sala. — Se as senhoras nos derem licença, Callie e eu gostaríamos de nos refrescar um pouco antes de partir. — Francesca se aproximou de Callie e lhe deu o braço. As duas sorriram para as outras mulheres e deixaram a sala. Callie evitou cuidadosamente olhar para Bromwell, com medo de que alguma coisa do que acontecera entre eles ficasse evidente em sua expressão. Ela e Francesca subiram a escada, o braço de Francesca apoiando Callie. Quando chegaram ao topo da escada, fora da visão dos que estavam embaixo, Francesca lhe soltou o braço, e Callie cambaleou e se encostou na parede. — Ah, Francesca. Francesca sacudiu a cabeça e a levou para o fundo do corredor. — Você tem uma mala ou alguma coisa assim? — A voz era baixa. Callie acenou e respondeu no mesmo tom baixo. — Sim, está aqui. Lembrou-se, naquele instante, do que havia acontecido naquele quarto na noite anterior, e um rubor lhe manchou o rosto. As roupas descartadas de Brom ainda estavam espalhadas pelo chão. — Vou pegá-la — disse, rapidamente, e correu para dentro do quarto. Em um momento estava de volta com a maleta. — Como vamos explicar isto? Talvez deva jogála pela janela ou guardá-la em algum armário. Francesca balançou a cabeça. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Vamos apenas passar com ela, geralmente é a melhor coisa a fazer.
Tomou a maleta da mão de Callie e começou a descer a escada. Na metade, começou a falar numa voz facilmente ouvida no andar de baixo: — Estou muito contente, Callie, por você ter pensado em trazer uma das minhas maletas. É tão difícil conseguir ficar arrumada sem escovas e grampos, não concorda? — Sim, muito difícil — concordou Callie, escondendo um sorriso. Confie em Francesca. — Esta é uma casa encantadora, lorde Bromwell — continuou Francesca quando chegaram ao foyer, sem dar tempo para ninguém mais falar. — Sempre foi de sua família? — É da minha irmã — esclareceu Bromwell. — Pertencia ao marido dela. — Ah, compreendo. — Francesca se virou para Daphné. — Que bondade a sua, lady Swithington, emprestá-la a ele. Mas, então, você está sempre pensando nos outros. — O olhar que Daphné lançou a Francesca estava cheio de veneno, mas Francesca apenas sorriu para ela e se voltou para Callie . — É melhor nos apressarmos ou o duque ficará impaciente. — Lançou um olhar divertido para a senhora Cathcart. — Aprendi que os homens não gostam de ter seus planos atrapalhados, não concorda, senhora Cathcart? — É verdade, lady Haughston, esta é invariavelmente a maneira como se comportam. Lamento vê-la partir tão depressa, antes de termos uma chance de conversar, mas compreendo perfeitamente. — Apenas me deixe pegar minha peliça e então poderemos partir. — Francesca se encaminhou para a cozinha e voltou um momento depois, carregando sua bolsa e com uma peliça de um azul-escuro sobre os ombros. Callie rapidamente pegou seu manto do banco onde Brom o jogara na noite anterior, e as duas mulheres se viraram para a porta da frente. — Vou acompanhá-las até o pátio — disse lorde Bromwell, aproximando-se delas. — Não há necessidade — murmurou Callie, e se obrigou a olhar para ele, esperando que não houvesse nada no rosto dela que refletisse as emoções que a dominavam. — Eu insisto — disse ele apenas, interrompendo qualquer objeção e lhe oferecendo o braço. Apenas olhar para o rosto dele a fazia querer sorrir e chorar, tudo ao mesmo tempo. Ansiava por erguer a mão e acariciar-lhe o rosto, no ponto onde o soco de Rochford o cortara. Queria intensamente tomar-lhe a boca num beijo e jogar os braços em torno dele. As lágrimas lhe arderam nos olhos. Mas ali, diante dos outros, não podia fazer nada do que desejava. Para o bem deles mesmos, tinha que manter aquela história fabricada. Assim, tudo o que podia fazer era sorrir educadamente e lhe tomar o braço, como se fosse apenas um conhecido. Francesca e Callie se despediram das outras duas mulheres. A senhora Cathcart evidentemente muito satisfeita com o encontro, já que não se movia normalmente no círculo de elite que lady Haughston e a família Lilles ocupavam. Lady Swithington parecia muito menos contente, e o sorriso que dirigiu a elas parecia que lhe partiria o rosto, os olhos azuis carregados de ressentimento. Os sentimentos de Callie com relação a ela eram, francamente, tão inamistosos quanto os dela, e seu aceno e suas palavras de despedida foram tão breves quanto possível, sem parecer hostil. Andaram em direção à porta da frente e deixaram lady Swithington e a senhora Cathcart para trás. Callie estava totalmente consciente do grande corpo de Bromwell ao lado dela. Sua mão no braço dele tremia um pouco. A carruagem de Francesca estava saindo do estábulo, o duque andando ao lado dela, e Francesca se adiantou e deixou Callie sozinha com lorde Bromwell por um momento. — Callie, eu... — começou Bromwell. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Não,
por favor, não. — A voz engasgada, ela ergueu o rosto para olhar para ele. Temia começar a chorar, mas precisava olhar para ele uma última vez. No fundo do coração, onde o nó frio e duro se localizava, ela sabia que não o veria de novo. A despeito do que a irmã dele fizera, temia que jamais se voltasse contra Daphné. Era sua carne e seu sangue, enquanto Callie era... na verdade, ela nem mesmo sabia o que significava para ele. Haviam partilhado uma noite de uma paixão incrível, mas ele não lhe dissera palavras de amor ou de compromisso. E era a irmã de um homem que ele havia detestado por anos, um homem com quem trocara socos menos de uma hora antes. — Preciso ficar e conversar com Daphné — explicou Bromwell. — Eu sei. Ela se virou e viu que o irmão os observava enquanto andava em direção a eles. Não podia mais conversar com Brom, pois estava perto demais de chorar. E, se Sinclair testemunhasse uma despedida lacrimosa, temia que toda a história criativa de Francesca tivesse sido para nada. E a única coisa que não podia suportar, de forma alguma, era que os dois homens que amava lutassem um contra o outro. — Callie, espere, não vá ainda. — Bromwell começou a estender a mão para ela. — Não. Por favor, não. — Callie olhou para ele. Sabia que os olhos estavam cheios de lágrimas, mas não podia evitar. — Preciso ir. Adeus, Brom. — Fechou a boca com firmeza e engoliu as palavras que lutavam para escapar: amo você. Callie se virou e se apressou em direção à porta da carruagem. Viu que Francesca se aproximara de Sinclair para que pudesse passar por ele e entrar na carruagem sem que a olhasse ou falasse com ela. O duque viu a irmã passar por ele, mas sua atenção estava toda em Francesca naquele momento. Ergueu uma sobrancelha cética para ela, então acenou em direção aos cavalos que puxavam a carruagem. — Encontrei o cocheiro cuidando dos cavalos. Eles parecem bem, mas exaustos, depois de passarem a noite no estábulo. — Estranho — comentou Francesca, despreocupada. — É claro, não são meus cavalos. Tivemos que trocá-los na viagem para cá, mas, mesmo assim, meu cocheiro é muito bom nos cuidados com os animais. Talvez ele estivesse cansado demais e dormiu assim que chegamos e deixou para cuidar deles hoje. Sei que eu dormi. — Dormiu mesmo? — O olhar do duque era penetrante. Francesca olhou para ele sem piscar. — Sim, é claro que dormi. Por que mais diria que dormi? Se não acredita, pode perguntar à sua irmã. O chalé de caça é pequeno, assim tivemos que dividir um quarto. Ele manteve o olhar nela por um longo momento, então acenou de leve. — Muito bem. Vamos embora antes que aquela maldita mulher decida sair e nos atormentar com mais perguntas. Rochford ajudou Francesca a entrar na carruagem e se afastou para montar seu cavalo, ainda amarrado a um mourão junto à entrada. Francesca se sentou ao lado de Callie e se virou imediatamente para ela. — Você está bem, minha querida? — Tomou a mão de Callie com carinho. Callie acenou, mas Francesca percebeu quando ela ergueu a mão para enxugar as lágrimas. — Tem certeza? Pode me contar tudo, você sabe. Prometo que ninguém jamais saberá. — Não há nada para contar. — A voz de Callie era baixa, e ela tentou sorrir, sem perceber como era pouco convincente. — Muito bem então, não precisa — garantiu Francesca. — Vamos falar de outras coisas, está bem? Callie acenou e então, como se não conseguisse se segurar, exclamou: Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Ah,
Francesca! Eu o amo! — Compreendera na noite anterior, quando olhara nos olhos de Brom e soubera que ele dizia a verdade. Ao confiar nele, acreditar nele, dera-lhe também seu coração. — E ele jamais me pedirá em casamento, eu sei — continuou Callie. — Tem certeza? — Havia dúvida no tom de Francesca. — Certamente ele sabe que a irmã preparou aquela cena. Não só a colocou numa posição comprometedora como garantiu que Rochford chegaria e a encontraria daquele jeito! E então entrar naquele momento exato, na companhia da pior mexeriqueira da cidade. Até eu fiquei atônita com a extensão de sua desonestidade, e eu a desprezo há anos! — Sei que ele compreendeu tudo, mas não quer pensar mal dela. É muito próximo dela e acredita que lhe deve muito. Ele me contou, na noite passada, como ela o criou depois que a mãe deles morreu, como o pai era uma pessoa horrível e como ela o protegeu dele. Não importa o que ela fez, acredito que jamais romperá com ela. E, mesmo que faça isto, como poderia se casar com a irmã de um homem a quem odiou por tanto tempo? Percebi que está começando a ter dúvidas sobre a história dela a respeito de Sinclair. Mas não quer acreditar que ela mentiu para ele. — Ela tem uma capacidade impressionante de enganar os homens. — Havia um toque de amargura no tom de Francesca. — Mesmo assim, o amor é uma coisa muito poderosa. — Eu não disse que ele me ama, apenas que eu o amo. — As lágrimas começaram a descer pelo rosto de Callie , e ela não se deu ao trabalho de enxugá-las. — Vi como ele olha para você — afirmou Francesca. — Aquilo é desejo, não amor — retorquiu Callie. — Ele nunca disse que me ama. E acredito que nunca mais o verei. As últimas palavras terminaram num soluço, e ela começou a chorar. Francesca passou um braço pelo ombro de Callie e a puxou para si. Callie descansou a cabeça no ombro de Francesca e deixou as lágrimas jorrarem.
Capítulo Dezoito
Demorou algum tempo para os soluços de Callie começarem a diminuir, mas ela finalmente se ergueu, sentou-se e pegou um lenço que Francesca lhe oferecia para limpar as lágrimas. Então deixou escapar um longo e trêmulo suspiro. — Desculpe, esta é a segunda vez que choro em cima de você. Deve me achar uma mulher sem controle. — Não, acho que está passando por momentos muito difíceis. Acredite, houve ocasiões, em minha vida, em que não fiz nada além de chorar. — Francesca lhe deu uma palmada carinhosa na mão. — Não há necessidade de pedir desculpas. — Obrigada. — Callie conseguiu lhe dar um sorriso desanimado. — E também pelo que fez antes. Você me salvou. E estava com medo de Brom e Sinclair se matarem. — Apenas estou feliz por ter chegado a tempo. — Como conseguiu? Nunca fiquei tão surpresa quanto quando você entrou. — Bem, quando voltei da minha visita à duquesa de Chudleigh, Fenton me deu seu bilhete, dizendo que Rochford tinha sido ferido e para onde você tinha ido. Assim, mandei que preparassem minha carruagem e saí atrás de você. Projeto Revisoras
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Então não percebeu que eu tinha caído numa armadilha? — Não, não tinha a menor ideia. Percebi que Daphné estava
por trás do convite de lady Odélia. Ela mesma deixou escapar quando voltávamos para casa. Lady Odélia comentou que a "querida Daphné" estava certa. Ela mesma achava que eu não gostaria de ir, mas Daphné lhe garantira que, sem dúvida, eu adoraria visitar a madrinha de minha mãe. Bem, pode imaginar como me senti. Se Daphné estivesse lá, eu lhe daria uns tapas. Mas, é claro, tive que engolir a raiva e sorrir. No entanto, não pensei que Daphné tivesse um plano maior, que envolvia a minha ausência de casa quando seu mensageiro chegasse. Simplesmente presumi que ela fizera aquilo para rir de mim. — Compreendo. — Um sorriso curvou a boca de Callie. — Então saiu correndo para o chalé apenas porque pensou que Sinclair estava ferido. Você gosta dele, não gosta? Pela primeira vez, Francesca pareceu não encontrar o que dizer. Olhou para Callie por um momento, então se esticou em toda a sua altura, lançou um olhar frio a Callie e disse, severa: — É claro que gosto de Rochford. Afinal, eu o conheço a vida inteira. Além disso, presumi que você poderia precisar da minha ajuda para cuidar dele se estivesse ferido. Tenho certeza de que é terrível quando está doente. — Ah. — Callie lhe deu um sorriso conhecedor. — Compreendo. Francesca franziu a testa, mas continuou: — A viagem foi muito lenta. Já era noite então e, algumas vezes, nos pontos mais escuros, um lacaio tinha que andar na frente dos cavalos com uma lanterna. Quando finalmente paramos no pátio, esta manhã, vi o cavalo de Rochford amarrado no pátio da frente. Pensei que era muito estranho, já que, supostamente, estava preso a uma cama com ossos quebrados. E, no instante em que desci da carruagem, ouvi os gritos dele e todo o barulho da luta, assim soube que não estava ferido. Foi quando percebi que aquilo era algum tipo de truque... sem dúvida, de autoria de Daphné. — Você pensou depressa ao mandar a carruagem para o estábulo. — Não tive tempo nenhum para pensar nas coisas. Sabia que precisava convencer Rochford de que eu estivera com você o tempo todo, assim a carruagem não podia ficar no pátio. Disse ao cocheiro para levá-la para o estábulo e cuidar dos cavalos, então corri para os fundos e entrei pela porta da cozinha. Então fingi que acabara de descer a escada, vindo do quarto. — Graças a Deus pelo que fez. — Callie estendeu a mão e apertou a de Francesca com fervor. — Você nos salvou do desastre. — Bem, prometi ajudá-la de todas as maneiras. — A voz de Francesca era leve. — Você fez mais por mim do que eu poderia imaginar — confessou Callie. — E lhe agradeço muito. — Hesitou, então continuou: — Mas acho que vou voltar para Marcastle com Sinclair. Pensei que gostaria de ficar durante quase toda a temporada apenas para impedir que as más línguas continuassem a falar de mim, mas isto não me parece mais importante. — Ah, Callie... — O rosto de Francesca demonstrava sua profunda solidariedade. — Lamento muito e gostaria tanto que você ficasse... Não só pela companhia, embora a casa vá ficar muito vazia sem sua presença, mas odeio pensar que você está desistindo... — De encontrar um marido? — completou Callie. — Acho que não estou mais interessada nisto e duvido que algum dia queira me casar. — Não, quis dizer, desistir de encontrar o amor — corrigiu Francesca gentilmente. — Acho que não fui feita para isto. — Callie sorriu de leve. — Não pareça tão triste. Não lamento as últimas semanas. Não perderia tudo o que fiz, aprendi e senti por nada no mundo. Não pensei que fosse capaz de sentir um grande amor e estava disposta a aceitar alguma coisa menor... conforto e companheirismo. Mas descobri o que é o amor verdadeiro, experimentei-o e agora sei que alguma coisa menor jamais me bastaria.
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Rainha do Romance Hist órico 14 – Bodas de desafio – Candace Camp — Callie,
por favor, não desista totalmente do conde. É evidente o quanto você o
ama. — Sim, mas não é suficiente que eu o ame. Preciso que ele me ame.
O sorriso de Callie era triste, e o tom, resignado. Francesca sabia que não havia mais nada a dizer. Acenou, consciente de uma antiga dor no fundo do coração. Então, as duas ficaram em silêncio e, enquanto a carruagem continuava o caminho lentamente, elas ficaram apenas ali sentadas, de vez em quando erguendo a cortina para ver a paisagem, mas na maior parte do tempo simplesmente perdidas em seus próprios pensamentos. Finalmente, Callie, exausta pelas lágrimas, dormiu, aninhada num dos cantos da carruagem. Viajaram devagar a princípio, porque os cavalos estavam cansados, e logo pararam para trocá-los. Rochford até mesmo decidiu deixar seu cavalo na estalagem onde haviam feito a troca e, com relutância, entregou-o aos cuidados do cavalariço de Francesca, com ordens para levar o animal para Londres no dia seguinte. Então fez companhia às duas damas na carruagem. Com cavalos descansados, a velocidade aumentou e, ao cair da noite, estavam de novo em Londres. Callie havia dito ao irmão que queria voltar para Marcastle com ele, assim ele a deixou na casa de Francesca para fazer as malas enquanto foi para a Lilles House, preparar tudo para a partida dos dois. — Enviarei a carruagem para você amanhã de manhã — prometeu a Callie. — Suponho que você e lady Haughston queiram passar esta noite juntas para se despedir. — Obrigada. — Callie se ergueu na ponta dos pés e lhe beijou o rosto. Ele a olhou, surpreso. — Suponho que isto significa que não está mais zangada comigo. Ela sorriu de leve. — Não aprovei seu comportamento, atacando lorde Bromwell. Com certeza, não. Mas estou contente por você se importar tanto comigo a ponto de sair correndo para me proteger. Estou convencida de que não há um irmão melhor no mundo. Ele sorriu. — Vou lembrar-lhe destas palavras na próxima vez em que estiver com raiva de mim. Virou-se para Francesca. — Lady Haughston. — Rochford. — Estendeu-lhe a mão. — Espero que a próxima vez que nos encontrarmos seja sob circunstâncias mais... auspiciosas. — Quando quer que seja e onde quer que seja — um canto da boca se ergueu —, tenho certeza de que não será enfadonho. Tomou-lhe a mão e fez uma profunda reverência sobre ela. E, um pouco para a surpresa de Francesca, ele a segurou uma fração de segundo a mais do que era costumeiro. Os olhos dela se ergueram rapidamente para os dele, e ela percebeu que ele olhava intensamente para o rosto dela. Então lhe apertou a mão por um instante e disse, simplesmente: — Obrigado. Ela respondeu com o mais leve dos acenos, reconhecendo a palavra com todos os sentidos subjacentes a ela. Ele se afastou, e as duas mulheres se voltaram para a tarefa de arrumar as coisas de Callie para sua partida. Felizmente, a criada de Callie já havia embalado um baú com suas roupas, esperando as instruções para levá-lo para Blackfriars Cope, portanto não havia tanto a fazer, como Callie temera. Não levaram muito tempo para terminar tudo, já que Callie estava mais interessada em velocidade do que em esmero. Normalmente, teria consertado o que estivesse rasgado, pregado botões que faltavam ou se assegurado de que todas as roupas estavam limpas e passadas, mas havia tempo demais para isto quando voltasse para casa. No momento, queria apenas partir. Projeto Revisoras
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Não precisavam ficar acordadas até tarde para terminar e se deitaram logo, mas Callie se viu incapaz de dormir bem. Virou-se na cama, mudando de posição e, quando dormia um pouco, era acordada por sonhos estranhos e confusos. Sentia-se inquieta e fora de lugar, como se não pertencesse àquele quarto que fora um lar para ela por quase dois meses. Uma vez se levantou e foi até a janela. Abriu as cortinas pesadas e olhou a rua. Havia muito pouco para ver, apenas a rua escura. Mas depois de um momento percebeu que a inquietação que a atormentava derivava de uma esperança vaga, profundamente enraizada, de que Bromwell cavalgasse pela noite e viesse até ela. Descansou a testa no vidro frio da vidraça e disse a si mesma que não fosse uma idiota, que ele não apareceria. Finalmente, afastou-se da janela e voltou para a cama, onde passou o resto da noite na mesma inquietude. A carruagem ducal chegou cedo na manhã seguinte, pouco depois de Francesca e Callie terminarem o desjejum. Era a carruagem da cidade, não a que geralmente usavam para viajar, já que era menor e mais elegante do que o coche pesado e puxado por quatro cavalos que agora estava em Marcastle. O cocheiro explicou, com uma expressão levemente insultada, que o patrão havia alugado uma carruagem para levá-los de Lilles House para a propriedade, já que na carruagem da cidade não havia espaço para toda a bagagem. Na verdade, o duque tinha razão, e foi difícil acomodar toda a bagagem de Callie na carruagem elegante. Duas pequenas valises tiveram que ser colocadas dentro da carruagem, para ir com ela. Francesca acompanhou Callie até a carruagem e então Callie se virou e abraçou a amiga. — Aqui — disse Callie , tomando a mão de Francesca e pressionando nela um pequeno objeto. — Gostei tanto de passar estas semanas com você... — As lágrimas lhe apertaram a garganta. — E quero lhe dar uma coisa. Francesca olhou para a mão, onde repousava um delicado camafeu de marfim e âmbar-negro, preso a uma corrente de ouro. — Ora, Callie, isto é lindo, mas... — Não, por favor. Foi de minha mãe, e quero que seja seu. Os olhos de Francesca se abriram muito. — Não, Callie, pense! Não pode querer me dar isto, e não posso aceitar. De verdade! Tentou devolver a joia para Callie, mas ela balançou a cabeça. — Não. Repito que quero que seja seu. Não é a única coisa que tenho de minha mãe, e gostaria de pensar que estamos ligadas... quase como se fôssemos irmãs. Por favor? Francesca pareceu preocupada. — Tem certeza? — Sim, absoluta. É importante para mim. — Está bem, se é isto que quer. — A mão de Francesca se fechou sobre o camafeu. Então, impulsiva, ela abraçou Callie de novo. — Por favor, não se enterre em Norfolk. Prometa que voltará... Para a pequena temporada, talvez? — Talvez. E você irá a Redfields, não é? Pretendo persuadir Rochford a passar uma longa temporada em Dancy Park. — Sim, é claro que irei. Francesca sentiu lágrimas muito raras lhe apertarem a garganta enquanto Callie sorria e subia na elegante carruagem preta. Então o veículo se afastou pela rua, e Callie se debruçou à janela para dar um último adeus. Francesca acenou de volta e observou até a carruagem virar a esquina, então caminhou de volta para a casa e subiu a escadaria para seu quarto. A criada Maisie estava lá, sentada a um tamborete junto à lareira, reformando uma das saias de Francesca. Projeto Revisoras
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Bem, lady Calandra partiu, Maisie. — Francesca suspirou e se sentou à penteadeira. — Vou sentir falta dela, e você? — Sim, milady, ela é encantadora, ela é mesmo. Por mais que Maisie gostasse de lady Calandra, tinha que admitir que sentiria muito mais falta das abundantes refeições que a generosa mesada do duque garantira para toda a casa. Lady Francesca faria objeções, é claro, se soubesse quanto dinheiro o agente do duque entregara ao mordomo m ordomo para pagar pelas despesas de lady Calandra. Na verdade, teria devolvido tudo a sua graça, furiosa. Mas, felizmente, Fenton era esperto demais para lhe contar. O homem de negócios do duque lidara diretamente com Fenton, que certamente não revelaria a lady Francesca os detalhes do arranjo. Maisie sorriu levemente para si mesma enquanto se lembrava do fato de que Fenton também fora bem esperto ao guardar um pouco do dinheiro para uso futuro. Assim, talvez a despensa não ficasse vazia demais, pelo menos, por mais um mês ou dois. Francesca abriu a caixa de joias que ficava sobre a penteadeira e puxou uma gaveta, então manipulou um prendedor e uma gaveta secreta se abriu do fundo falso. Guardou cuidadosamente o camafeu ao lado de um lindo bracelete de safiras e um conjunto de brincos de safira. — Não posso continuar a receber presentes que não tenho coragem de vender, Maisie, ou vamos morrer de fome. — Francesca fechou a pequena gaveta e se virou para Maisie. — Nesta temporada, preciso encontrar alguém por quem não tenho o menor sentimento e promover seu casamento. — Sim, milady — concordou Maisie com toda a calma, então cortou o fio e deu um nó. Foi uma curta viagem até Lilles House, que Callie poderia ter feito a pé se não fosse pela bagagem. Uma carruagem de aluguel esperava em frente a casa, e os criados estavam ocupados carregando-a, supervisionados pelo mordomo. O bom homem deixou a tarefa de lado por um momento para ajudar Callie a descer da carruagem e lhe dar as boas--vindas, como se ela e a criada não tivessem estado lá na semana anterior para fazer uma visita. Ela se perguntou se os criados também teriam ouvido os mexericos e sentiam pena dela. Provavelmente, eles sempre pareciam saber tudo sobre todos os últimos escândalos. — Callie. Rochford saiu da casa para recebê-la, e ela percebeu que uma feia mancha vermelha na maçã do rosto e outra junto ao olho haviam se transformado em hematomas azulados desde o dia anterior. — Oi, Sinclair. — Ela sorriu quando ele se aproximou e lhe tomou o braço, parando um momento para verificar o trabalho tr abalho de descarregar uma carruagem e carregar a outra. — Estaremos prontos para partir assim que acabarem de transferir sua bagagem. E a cozinheira preparou uma cesta enorme para levarmos conosco. Está convencida de que a comida das tavernas certamente nos deixará doentes. Callie entrou para conversar com a cozinheira e a governanta, sabendo que as duas ficariam magoadas se ela não fizesse isto. Quando voltou, a carruagem estava completamente carregada e esperando apenas que o cocheiro fizesse mais uma verificação de cada uma das tiras e correias. Rochford havia se virado para oferecer a mão para ajudar Callie a subir na carruagem, quando houve um grito e o som de patas de cavalo. Ambos se viraram e viram um homem cavalgando pela rua, numa velocidade muito além da normal... ou da segurança. Um instante depois, Callie percebeu que era lorde Bromwell.
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Ela inspirou profundamente, atônita, o coração batendo, de repente, com força. Era seu devaneio se transformando em realidade? Brom correndo para impedi-la de partir. — Esperem! — gritou quando chegou mais perto, então fez a montaria parar e pulou para o chão. — Não partam! — Jogou as rédeas para um dos lacaios e se aproximou rapidamente de Callie e Rochford. — Graças a Deus alcancei vocês. — Por muito pouco. — O duque observou o homem com alguma cautela. — Fui primeiro à casa de lady Haughston, pensei que estariam lá. Ela me disse que iriam partir para casa e tive medo de não alcançá-los. — O olhar de Bromwell se virou para Callie. — Tinha que conversar com minha irmã, como lhe disse ontem. Ela me contou... tudo. Como planejou as coisas para ontem, porque queria se vingar do duque. Como ela... — Interrompeu-se, os músculos da mandíbula pulando antes de continuar, olhando para o duque. — Como mentiu sobre você, Rochford, todos esses anos atrás. Vim para lhe pedir desculpas por... por tudo e lhe dizer que sinto muito. O que ela fez foi errado e desprezível. — Ele parecia arrasado, quase doente. — Espero que aceite minhas desculpas pela artimanha que ela preparou para todos nós ontem. — Seu olhar se dirigiu para Callie de novo, então rapidamente se desviou. Por que ele não olhava para ela?, perguntou-se Callie. Não era assim que havia imaginado a volta de Brom. Onde estava a apaixonada declaração de amor? A garantia de que não podia viver sem ela? Na verdade, parecia que Bromwell estava muito mais interessado em falar com seu irmão do que com ela. Bromwell enrijeceu os ombros e enfrentou o duque diretamente. di retamente. — Senhor, lamento minhas ações imprudentes e impulsivas de quinze anos atrás. Fui um tolo em acreditar em minha irmã. E eu... eu sinto muito por tê-lo acusado erradamente. Espero que encontre em seu coração a generosidade de me perdoar. Senão, posso compreender, embora lamente profundamente. Rochford hesitou por um momento, então ofereceu a mão a Bromwell. — É apenas natural que um homem defenda sua irmã. — Eu sei. — Bromwell apertou-lhe a mão e alguma estranha e masculina comunicação pareceu passar entre eles. — Rompi relações com minha irmã — continuou Bromwell, ainda olhando para o duque. O rosto refletia a dor que aquela decisão lhe causara. — Sei que ela não pode fazer parte de nossas vidas depois de tudo o que fez, e eu não poderia esperar que você concordasse que me casasse com sua irmã se ela fosse da família. E é por isto que estou aqui. Vim lhe pedir permissão para fazer a corte a lady Calandra. Callie olhou para ele, atônita, mas Rochford, estranhamente, não pareceu surpreso. — Acho que vai descobrir que lady Calandra toma suas próprias decisões, mas tem minha permissão. — Obrigado. — Bromwell acenou para ele, então se virou para Callie. — Lady Calandra... Callie ergueu as sobrancelhas. — Ah! Finalmente percebeu que estou aqui? Tenho permissão para dizer alguma coisa sobre este assunto? Pensei que talvez você e meu irmão fossem simplesmente escrever um contrato de casamento, decidir qual é o meu dote e tudo estaria resolvido. — Callie? — Havia insegurança na voz de Brom. — Sou dona de mim mesma — disse ela, furiosa. — E, se quer se casar comigo, é a mim que deve fazer o pedido, não a ele! Lágrimas lhe queimaram o fundo dos olhos e ameaçaram descer pelo rosto. Callie se virou e correu de volta para casa, entrou e bateu a porta com força. Bromwell se virou de volta para o duque, parecendo confuso. — O que aconteceu? O que foi que eu fiz? Rochford deu de ombros e virou as mãos com as palmas para cima, no gesto universal de um homem desconcertado pelo comportamento das mulheres. Projeto Revisoras
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Bromwell se virou e subiu a escada atrás de Callie. Um dos lacaios tentou abrir a porta para ele, mas Bromwell já havia entrado. — Callie! Ela estava em pé no enorme foyer da casa, com seu teto alto. Os criados, que até então estavam por ali, haviam discretamente desaparecido para alguma outra região, e ela estava sozinha diante de uma mesa redonda. Com os braços cruzados, ela parecia estudar um grande vaso que estava no centro da toalha. A voz de Bromwell, ela se virou e lhe lançou um olhar maligno. — Callie, não compreendo. — Aproximou-se dela. — Eu... eu pensei que você... eu pensei que você aceitaria se casar comigo. Não sabia que fazia... alguma objeção. — Não tenho a intenção de me casar com você para acalmar sua consciência. — A voz de Callie era dura, mas havia uma leve indicação de lágrimas. — Não tenho vontade de me casar com você porque sente que julgou erradamente meu irmão quinze anos atrás, porque é a coisa adequada a fazer ou porque sua irmã nos preparou uma armadilha e nos colocou numa posição comprometedora. — Do que você está falando? — protestou, a raiva surgindo agora. — Nunca disse nenhuma dessas coisas! — Não precisava, é bem evidente que tudo o que sou é uma carga para você. Não me dirigiu uma única palavra... nem um sorriso, nem um olhar... E foi diretamente ao meu irmão pedir desculpas a ele! Como se ele fosse a pessoa mais importante em tudo isto e eu certamente fizesse qualquer coisa para ser agradável com ele! — Não! Falei com ele porque queria fazer tudo da maneira certa. Queria fazer as pazes com Rochford para que não houvesse motivo para uma briga entre você e seu irmão. Não é ele que me importa, é você. E meu desejo de me casar com você não tem relação nenhuma com o duque. Nem tem relação nenhuma com minha irmã, com mexericos ou com o que quer que todas as pessoas do ton pensem agora ou pensarão no futuro. — Então por que quer se casar comigo? — desafiou Callie. Ele olhou para ela, atônito. — Porque eu amo você, maldição! Porque não suportaria viver sem você na minha vida. Quando estava no chalé de caça, antes de você chegar, não tinha nada mais a fazer a não ser contemplar os dias de desespero do resto da minha vida. Dias infinitos, amargos, solitários, porque você não faria parte deles. Amo você tanto que minha vida não tem valor sem você. E é por isto que quero me casar com você! — Ah, Brom! — As lágrimas agora lhe tomaram os olhos e desceram, sem que ela notasse. Ela se adiantou e jogou os braços em torno do pescoço dele. — Este é o motivo certo. Ele passou os braços em torno dela e a abraçou com força, então enterrou o rosto no cabelo dela. — Então aceita se casar comigo? Ou preciso me ajoelhar? — Não, não. — Callie chorava e ria. — Fique exatamente onde está. E, sim, eu me casarei com você. Ele a beijou então, um longo, profundo e satisfatório selo para seu acordo. Ergueu a cabeça e a olhou nos olhos. — Amo você, Callie , mais do que já sonhei que pudesse amar alguém. — E eu amo você. Olhava para ele com estrelas nos olhos. Havia ido para Londres para encontrar um marido, pensou, e em vez disso, encontrara o amor. Com um sorriso, ela se ergueu na ponta dos pés e o beijou.
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Epílogo Francesca olhou em volta do salão de baile da Lilles House, decorado com o que pareciam ser todas as flores de primavera num raio de 75 quilômetros de Londres e ocupado pela metade do ton. Mais cedo, a catedral também estava lotada para a cerimônia. Não era uma surpresa. Aquele era, afinal, o casamento do ano. Não era todos os dias que a irmã de um duque se casava, especialmente a única e muito amada irmã. Nenhuma despesa deixou de ser feita, para o casamento ou para o jantar de casamento depois. E o ton estivera em completo estado de excitação desde o momento em que o noivado fora anunciado. Os convites eram procurados com mais ansiedade do que os vouchers para o Almacks, e ninguém queria admitir que não tivesse sido convidado. Francesca passou pela linha de convidados em direção ao casal feliz. Estavam em pé ao lado do duque e da avó de Callie. Francesca sabia que a irmã de lorde Bromwell também fora convidada, apesar de tudo o que havia feito. Sabendo o quanto Brom amava a irmã, o coração de Callie era suave demais para permitir que ele se afastasse completamente de Daphné. Entretanto, pelo menos, lady Daphné não estava recebendo os convidados com eles, e Francesca esperava conseguir evitar se encontrar com a mulher. O duque, como sempre, era o homem mais bonito no salão. Ele fez uma reverência sobre a mão de Francesca, nos olhos um brilho divertido. — Ah, a linda dama que foi a responsável por tudo isto. — Dificilmente posso aceitar o crédito — negou Francesca, sem muita convicção. — Foi o amor que triunfou. Descobri que geralmente triunfa. — Especialmente quando o amor tem um general tão capaz quanto você. — Francesca! — Callie estendeu os braços para abraçar a amiga. O rosto de Callie brilhava de felicidade, e seus grandes olhos castanhos brilhavam como estrelas. — Oi, Callie. Bromwell. Desejo que sejam muito felizes. — Francesca sorriu. — Mas posso ver que já são. — É verdade — concordou Bromwell, e ergueu a mão da esposa para lhe beijar os dedos de leve. — Como poderia ser diferente, quando me casei com a mulher mais linda do mundo? Callie corou e sorriu e, enquanto olhavam um para o outro, era evidente que o restante do salão mal existia para eles, que tinham olhos apenas um para o outro. Sorrindo, Francesca se afastou, pensativa. Precisava começar a procurar alguém para guiar através das águas traiçoeiras da temporada. Já estava em plena realização, e seu tempo estava ficando curto. Tinha pensado em encontrar alguém assim que Callie deixara sua casa, mas fora envolvida nos preparativos do casamento e não pudera fazer sua pesquisa. Mas a verdade, ela sabia, era que não estava muito entusiasmada em preparar nenhuma outra garota para encontrar um marido. No último ano, tivera momentos tão maravilhosos e se tornara uma amiga tão próxima de cada uma das mulheres que ajudara que o pensamento de um arranjo mais comercial tinha pouca atração. Alguns minutos mais tarde, ouviu um murmúrio da multidão e se virou para ver Callie e Brom se dirigindo para a pista de dança. Eles pararam no meio, esperando que a Projeto Revisoras
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orquestra tocasse os compassos iniciais da primeira valsa que dançariam como marido e mulher. Olhando para eles e vendo o amor que brilhava em seus rostos, Francesca precisou piscar para fazer desaparecer uma lágrima. Pensou que, de todos os casais que unira, sentira mais felicidade com esse. Callie era como uma irmã para ela. Na verdade, pensou, uma vez imaginara que Callie seria sua irmã de verdade. Francesca afastou aquele pensamento com impaciência, mas não conseguiu evitar que seu olhar procurasse a figura alta e elegante do irmão de Callie, que estava em pé, à margem da pista de dança, observando a irmã dançar com o marido. O duque se virou naquele momento, e seu olhar se prendeu ao de Francesca. Olharam-se por uma fração de segundo, então Francesca desviou os olhos e rompeu a conexão. Olhou para as mãos enluvadas e se ocupou alisando cada dedo. — Bem — disse uma voz de mulher, bem atrás do ombro dela —, tenho certeza de que está muito feliz agora. Francesca se virou e se encontrou olhando para os olhos azuis muito claros de lady Swithington. — É claro que estou contente por lady Calandra e lorde Bromwell. — A voz de Francesca era fria. — Tenho certeza de que serão muito felizes. — Naturalmente. — Daphné lançou um olhar sardônico aos recém-casados. — Dois pombinhos apaixonados. — Virou-se de novo para Francesca. — Mas, quis dizer, você. Deve estar explodindo de felicidade por descobrir que menti sobre Rochford. — Os olhos de Daphné estavam cheios de veneno. Francesca deu de ombros. — Jamais acreditaria que Rochford a engravidou e se recusou a se casar com você. Ele não é o tipo de homem que faz isto. De qualquer maneira, jamais ouvi esta história na ocasião, assim dificilmente tem importância para mim. Daphné sorriu, desdenhosa. — Mas você certamente o recusou, não foi? Os olhos de Francesca brilharam. — Dificilmente poderia me casar com um homem que estava tendo um caso com outra mulher, mesmo se ele não tivesse motivos para se casar com ela. — Fez uma pausa e olhou para o rosto subitamente devastado de Daphné. Foi tomada por uma onda gelada e disse, a voz trêmula: — Você mentiu sobre isto também, não foi? Apenas fez parecer que haviam sido apanhados em flagrante. Foi outro de seus esquemas! Os lábios de Daphné se curvaram num sorriso cheio de satisfação consigo mesma. — É claro que não era verdade. Rochford sempre foi fiel, a ponto de ser completamente enfadonho. Se você estivesse um pouco menos apaixonada por si me sma e um pouco mais por ele, teria compreendido logo. Francesca deu as costas a Daphné, os olhos atravessando o salão em direção ao duque de Rochford. Sentiu-se fraca e doente, os joelhos tremendo tanto que teve medo de cair. Cega, andou em meio à multidão sem olhar para os lados. Alguém lhe segurou o cotovelo com firmeza, e ela ouviu a voz de Irene. — Francesca? Está se sentindo mal? Francesca olhou para ela. — Um pouco, acho. — Aqui, sente-se. — Na sua maneira enérgica e competente, Irene guiou Francesca até um sofá e se sentou ao lado dela. — Vou buscar alguma coisa para você beber. — Não, está tudo bem. Precisava apenas me sentar. Tive um choque, é tudo. — O que aconteceu? Vi você conversando com aquela odiosa lady Swithington. Sem dúvida, ela lhe disse alguma coisa que a aborreceu. — Ao aceno de Francesca, Irene continuou: — Não deve acreditar nela, tenho certeza de que foi uma mentira. — Não, eu realmente acredito que, desta vez, não foi. — A voz de Francesca era cansada e cheia de dor. — Temo ter cometido um erro terrível muitos anos atrás. Fui injusta com Rochford.
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