FICHAMENTO – PET
Nome: Bruna Rodrigues dos Santos Texto: BENSA, Alban: “Da micro- história a uma antropologia crítica”.In: REVEL, esca las. A experiência da microanalise. microanali se. Rio de Janeiro: Editora Jacques (org.). Jogos de escalas.
da Fundação Getúlio Vargas, 1998. (PP. 39-76) Página 39 Em primeiro lugar Alban Bensa aponta a constituição da Antropologia e da Sociologia libertadas do domínio da história. Alem disso, assinala que essas duas ciências em seu inicio tiveram a ambição de propor leis gerais do comportamento humano contaminadas pelas ciências da natureza. Página 40 A ruptura ocorreu somente anos mais tarde, a Sociologia com Durkheim diferenciando fato social de fato histórico e a Antropologia com Radcliffe-Browm e Malinowski opondo a explicação histórica análise funcional e sincrônica a princípios gerais e permanentes, a coesão social e as necessidades biológicas. Na história houve uma situação semelhante através da crítica de Simiand aos estudos das singularidades institucionais, de acontecimentos políticos e dos personagens marcantes. Os Annales com seu interesse pelo cotidiano e pela história de longa duração abriram caminho para uma aproximação entre história e antropologia. Contudo como abaliza Bensa, o encontro das duas disciplinas, quando a longa duração tornou-se vinculada na estrutura permaneceu problemático, o que acarretou diversas reflexões como as de Braudel, Levi-Strauss, Evans- Pritchard e outros. Página 41 A avaliação das diferenças entre antropologia e história, segundo Bensa não suscitaram os mesmos interesses. O autor quer salientar no presente texto, nessa direção, o grande paradoxo que envolve ambas as disciplinas. A antropologia envolvida pelo trabalho de campo e a compreensão de seus contemporâneos volta seu olhar para além das realidades presentes, a fim de reconstruir as sociedades ou de repensar problemas
filosóficos, enquanto que a micro-história privada de qualquer experiência vivida dos fatos, com grande preocupação de realismo procura restituir a contemporaneidade do passado em toda sua singularidade e através de um comparativismo que Bensa diz ser concreto. Página 42 Bensa quer mostrar a seu ver que as implicações mais fecundas da micro-história pode acrescentar uma crítica construtiva a antropologia como essa ainda é praticada especialmente na França como afirma o autor. As noções de contexto, de temporalidade, de escala de símbolo vindas das pesquisas de micro- historiadores são refletidas por Bensa baseadas ainda nas pesquisas do mesmo no oeste rural da França e no sul da Melanésia na Nova Caledônia. Páginas 43-44 No item contextos Bensa aponta que a micro-história faz análise de fatos circunscritos, e ressalta Carlo Ginzburg como um dos que desenvolve a preocupação com a análise detalhada de fenômenos individualizados, inspirado no método indiciário de Giovanni Morelli. Página 44 Nas obras de Ginzburg, portanto, mais precisamente em “O queijo e os Vermes” e “Os andarilhos do bem” as intenções circunstanciais dos acusados e dos juízes são levadas em conta. Bensa enfatiza, assim, que a análise micro-sociológica permite captar comportamentos “simbólicos” em confronto com problemáticas sociais particulares sem um hipotético fechamento de sistemas. Página 45 A micro-história como afirma Bensa, não renuncia a história geral, mas introduz a ela, com o cuidado de distinguir os níveis de interpretação: o da situação vivida pelo os atores, o das imagens, símbolos acionados conscientemente ou não e as condições históricas da existência de tais atores. Páginas 45-46
Essas propostas para Bensa interpelam os métodos e os esforços teóricos da antropologia. Enquanto a micro-história se resguarda de toda uma interpretação global a parti de uma massa documental, privilegiando situações sociais precisas, as vezes excepcionais levando em conta o contexto que as introduz. A antropologia quando postula a homogeneidade do social esmaga fatos, naturezas contraditórias e dinâmicas. Os diversos contextos muitas vezes contraditórios, nesse sentido, também precisam ser levados em conta no interior dos comportamentos dos atores. Página 47 Bensa ressalta também que a palavra contexto para um período determinado não pode ser confundido com cultura, esses precisam ser compreendidos como um conjunto de atitudes e de pensamentos dotados de sua lógica própria, todavia uma situação pode reuni-los no interior de um fenômeno. Os micro-historiadores pensam a cultura, segundo Bensa, iminente as relações sociais. A antropologia, para Bensa, não insistiu o bastante nessas dimensões problemáticas e contingentes da vida em sociedade. As experiências acumuladas alem disso, sobre as pessoas observadas e interrogadas pelo etnólogo, as avaliações da situação do momento e do futuro imediato influem nas falas e nos atos constituídos como “informações” pela abordagem etnográfica. Página 48-49 A micro-história se apóia nessa medida no exame de rupturas, de incoerências e incompreensões surgidas nos documentos, conferindo importância as trocas verbais. A insistência nas palavras proferidas, na linguagem, nos conflitos aproxima segundo Bensa a micro-história da experiência etnográfica. Contudo, essa última precisaria levar em conta as distorções causadas pelo seu trabalho de escrivã, a fala de seus locutores, o esclarecimento do sentido imediato para os mesmos, a noção de contexto. Página 49 Na sociologia, com Durkheim, os atos dos indivíduos e suas palavras assumidas com sentido objetivo, não ajudam entender o encadeamento histórico das transformações sociais, o papel singular que cada individuo pode desempenhar nele. Mas as noções de
estratégia e trajetória, na concepção de Bensa permitem entender a manobras dos atores e a reconstrução de sentido. Página 53 Em temporalidades Alban Bensa destaca que a micro-história reconstrói em torno de alguns personagens precisos aquilo que seu espaço social foi, alem de dar conta das incertas escolhas dos mesmos perante a conjuntura do momento. Tal conjuntura de vê o passado, segundo Bensa, descarta as coerências e impressões de homogeneidade, o passado torna-se dessa forma, nas palavras de Bensa “um sistema de contextos” que nunca param de agir uns sobre os outros tecendo cada indivíduo sua própria história.
Página 54 Bensa enfatiza ainda a micro-história como a que permite o acesso à presença da passada do tempo, a antropologia por sua vez descreve sociedades presentes. Por não datarem suas informações de campo e não se referirem a qualquer temporalidade dá a entender que descreve “sistemas” atemporais, que resistem ao desgaste do tempo, causando o espanto dos historiadores. Todavia, Bensa lança crítica a essa forma de proceder da etnografia, na medida em que os etnólogos muitas das vezes tem diante de seu trabalho vestígios de memória, em objetos ou em comportamentos residuais. O que deixa este trabalho suspeito na concepção do autor. Página 55- 56 O novo olhar lançado por Malinowski, segundo Bensa, propõe a seus colegas que os fatos etnográficos fossem tratados como fatos historizados, falas ou comportamentos inscritos num determinado período. A sincronia apareceria apenas como técnica de exposição, sem sustentar a idéia atemporal de equilíbrio. Dessa forma, segundo Bensa, não é legítimo confundir, um estado de uma sociedade com diferentes realidades históricas através de uma sincronia puramente metodológica a estruturas.
Página 57 Bensa crítica a não relação que a antropologia não faz de seus documentos com o contexto, crendo ser autorizada a não ter que distinguir o atual do antigo, alem de confundir o singular com o geral, o conjuntural com o estrutural. Página 58 Bensa enfatiza que mais que a tonalidade de um período particular é a importância para o etnólogo de definir os momentos que a pesquisa de campo se realiza. Página 59 A singularidade de uma época, para Bensa, convive com a tensão gerada pela a contemporaneidade das atitudes herdadas do passado, mais os comportamentos provocados por novas problemáticas. E é preciso distinguir i sso. A concretização de tal ambição que para Bensa a micro-história faz o convite exige a restituição de um estatuto teórico forte ao acontecimento. Como cita Bensa, para Marshall Sahlins a maneira como a irrupção dos acontecimentos é entendida pela sociedade revela se a mesma privilegia atitudes prescritivas, conforme normas estabelecidas, ou atos performativos que geram novos contextos. No entanto, segundo Bensa, tomando como exemplo a obra de Salhins “Ilhas de história” apesar de o acontecimento ser encarregado de reproduzir a ordem social, ou modificá-la, o que ele faz é mais destacar uma estrutura cultural do que introduzir à compreensão de um processo temporal. Bensa salienta, alem disso, que a antropologia ao excluir a dimensão do tempo da observação etnográfica, a antropologia corre o risco de ficar presa a filosofias rígidas da história ou as hipóteses estruturalistas atemporais. Página 61- (segue exemplos do autor a fim de assegurar os argumentos acima). Página 62 A antropologia na concepção de Bensa, não pode apenas ter como atribuição a tarefa de desvendar as “representações” do tempo, é preciso mostrar também em que medida os
modelos da temporalidade precondicionam as informações recolhidas ao longo de uma pesquisa. Essa concepção historizante, nessa direção, da antropologia ao restaurar a originalidade do “presente passado”, ou seja, do passado enquanto foi um presente, destaca a força do acontecimento e o papel determinante das individualidades, como afirma Bensa. A pergunta que o mesmo faz, é que se para isso é necessário a renúncia da generalidade . Página 63 No item “variações de escalas e recurso ao simbólico” Alban Bensa assinala que a micro-história privilegiou a análise de variação de escala, da maior para a menor. Nesse sentido, não só o pesquisador mais também o ator com suas estratégias se beneficiam dessa variação. Página 64 Bensa afirma que a antropologia ao contrário da micro-história se satisfez com a vinculação das observações mais detalhadas a significações gerais, sem se deter nos eventuais níveis semânticos imobiliários. Bensa censura, nessa medida, as grandes generalizações da antropologia. Página 65 Bensa enfatiza sua crítica contra o argumento metonímico antropológico que identifica uma parte duma sociedade como o todo, sem uma reflexão empírica e teórica das variações de escalas. Alem disso, a antropologia, na concepção de Bensa quase sempre descreveu as sociedades sem avaliar os quadros de observação que diferem de um “campo” para o outro. A antropologia, para Bensa, prefere generalizar a singularizar, fazer com que o todo englobe os elementos empiricamente separados, reabsorver fatos particulares numa lógica global. O autor o culturalismo, parti desse pressuposto. Página 66 Bensa critica o distanciamento das práticas, dos movimentos reais da sociedade através da visão de totalidade que o antropólogo quer manter de cima.
Página 67-68 Bensa aponta a noção do simbólico que a antropologia recorre ao atribuir aos atos e as declarações indígenas, como elementos de sistema de significações, de um código que tem por função o tratamento dos fatos sociais como elementos ligados entre si, assim como os fenômenos da língua. Bensa crítica essa importação do modelo linguístico à antropologia, na medida em que faz parecer que os comportamentos sociais podem ser vistos sem o seu contexto. Página 69 Bensa enfatiza a crítica ao uso de uma metalinguagem pelo etnógrafo, que quer entender os sentidos, sem a consideração dos contextos. Página 70 Um raciocínio de caráter macroscópico, como esse, segundo Bensa abre mão do individual, o temporal e o factual. Página 71 Contudo, essa visão “unificada do mundo social” na concepção de Bensa, é rompida quando as variações de escala são preferidas, principalmente a observação “microetnológica”. A análise “micro-sociológica” permite, nesse sentido, a visão empírica de densos e minuciosos detalhes. Os processos dialógicos de interação são entendidos como inseparáveis das normas dos contextos particulares. A avaliação de diferentes contextos em escalas diferentes é importante. Página 72 A grande diferença para Bensa das escalas “micro” e “macro” são os modos de comunicação escolhidos pelos interlocutores. Bensa salienta mais uma vez que os etnólogos ao impelirem as escalas maiores, descontextualizadas sobre escalas menores, infligem aos seus informantes significações quase cósmicas, essencialmente simbólicas.
Página 73 Bensa assinala que a analise micro-social considera os jogos dos homens com os signos, alem de elementos como a memória, o debate, o conhecimento vinculadas as formas retóricas. Enquanto que noção de simbólico tende a confundir metáfora e lógica de mente, construções circunstanciais e causas estruturais.
Página 74-75 Bensa destaca, todavia, que se a micro-história atribui importância às capacidades individuais dos atores, ela também corre o risco de esquecer que as noções de estratégias e de interesses são historicamente construídas. Enquanto que a antropologia estrutural com sua preferência pelo “inconsciente” sociológico, pelo simbólico, não convence.
Página 75-76 Bensa finaliza enfatizando sua crítica ao comparativismo antropológico, que faz dos códigos locais uns nos outros. Para o autor a referencia que esse comparativismo faz a “mentalidades” e a generalidade impede a visão mais importante: as configurações sociais, expressões semelhantes em culturas diferentes.