M. Balme; G. Lawall; L. Miraglia; T. F. Bórri Tradução e adaptação para o português Húdson Canuto
ATHENAZE Introdução ao grego antigo
1
2
2
Sumário AOS ESTUDANTES........................... .......................................... ............................. ............................ ............................ ...................5 .....5 A LÍNGUA GREGA .......................... ......................................... ............................. ............................ ............................ ..........................8 ............8 ALFABETO, PRONÚNCIA E ESCRITA ............................ .......................................... ............................ ..........................9 ............9 O alfabeto e a pronúncia .............. ............................ ............................. ............................. ............................ .......................9 .........9 Os espíritos ........................... ......................................... ............................ ............................. ............................. ............................ ..............11 11 Os sinais de pontuação.................... pontuação.................................. ............................ ............................ ............................. ...................11 ....11 Os acentos .......................... ......................................... ............................. ............................ ............................ ............................. .................11 ..11 As vogais breves e longas .......................... ......................................... ............................. ............................ .....................12 .......12 EXERCÍCIOS DE ESCRITA E PRONÚNCIA ............................ .......................................... ............................ .................12 ...12 CAPÍTULO I .......................... ......................................... ............................. ............................ ............................ ............................. ...................15 ....15 Gramática I ............................................................................................. 19 Exercício I .......................... ........................................ ......................... ...................... ................... ..................... ........................ ........... 22 O camponês ateniense.......................... ........................................ ............................ ............................. ........................23 .........23 CAPÍTULO II ........................... .......................................... ............................. ............................ ............................ ............................. .................25 ..25 Gramática II ....................... ..................................... ......................... ...................... ................... ...................... ........................ .......... 33 Exercício II ......................... ....................................... ......................... ..................... .................. ...................... ......................... ........... 37 A escravidão ............................ .......................................... ............................ ............................. ............................. .....................40 .......40 CAPÍTULO III .......................... ......................................... ............................. ............................ ............................ ............................. .................42 ..42 Gramática III ......................... ...................................... ........................ ...................... ................... ...................... ...................... ........ 52 Exercício III ........................ ...................................... ......................... ...................... .................. ..................... ........................ .......... 54 O demo e a cidade........................... ......................................... ............................ ............................. ............................. ..............57 57 CAPÍTULO IV .................................................................................................. 59 Gramática IV .......................................................................................... 79 Exercício IV ....................................................................................... 86 As mulheres .......................... ......................................... ............................. ............................ ............................ ........................89 ..........89 CAPÍTULO V .................................................................................................... 91 Gramática V ......................................................................................... 101 Exercício V ........................................................................................... 104 Deuses e homens.......................... ......................................... ............................. ............................ ............................ ...............108 .108 Anexo .......................... ......................................... ............................. ............................ ............................ ............................. .................110 ..110
3
4
AOS ESTUDANTES O objetivo de Athenaze é de ensinar-lhes a ler o grego antigo com a maior destreza, completude e vontade possíveis, e isso dentro do contexto da cultura grega antiga, ou seja, dentro do contexto da vida cotidiana dos gregos antigos como ele recebeu a sua forma e o seu sentido graças aos desenvolvimentos históricos, aos fatos políticos e à vida do espírito, revelada esta última pela mitologia, pela religião, pela filosofia, pela literatura e pela arte. As histórias que vocês lerão em grego dão o contexto cultural fundamental dentro do qual aprenderão a língua grega, e a maior parte dos capítulos contêm ensaios com ilustrações tomadas de obras de arte antigas e com informações sobre o ambiente cultural, para aprofundar sua compreensão de certos aspectos da história e da cultura dos gregos. O curso inicia com a história dum camponês ateniense, chamado Diceópoles, e de sua família; moram em um povoado que se chama Colide, a cerca de vinte milhas a sudeste de Atenas. Os fatos são imaginários, mas foram colocados num contexto histórico bem preciso: do outono de 433 à primavera de 431 a.e.c. A democracia ateniense, guiada por Péricles, está no seu ápice; os atenienses dominam os mares e possuem um império, mas o seu poderio suscitou o medo e a inveja de Esparta e dos seus aliados no Peloponeso, e especialmente de Corinto. Na primavera de 431, Atenas e a liga peloponesa já estavam envolvidas numa guerra, que levará, vinte e seis anos mais tarde, à derrota e à ruína de Atenas. A história começa com a vida no campo da família de Diceópoles, mas, no capítulo 6, inicia uma história na história, a narração mitológica de Teseu e do Minotauro. Essa narração mitológica inserida na história principal continua no capítulo 7 com a história de Ulisses e do Ciclope, e ainda até ao capítulo 10, ao fim de cada capítulo, com outras breves histórias tiradas da Odisseia. A história principal continuada no capítulo 8, quando a família vai a Atenas para uma festa, e o ritmo torna-se mais veloz. A trama tem sua reviravolta com uma horrível desgraça que golpeia a família no capítulo 10; que é entrecortada por narrações das grandes batalhas das guerras persas, fundadas no testemunho que dá o historiador Heródoto. Enquanto a trama principal chega à solução nos capítulos 18-20, no início do livro II, a família está envolvida nas tensões entre Atenas e Corinto que foram a causa da guerra do Peloponeso, e desse modo prepara-se a cena dos capítulos seguintes. As experiências da família de Diceópoles no início da guerra do Peloponeso, narrada nos capítulos 21-23, fundam-se na narração que da guerra nos deixou o historiador Tucídides. Quando o filho Filipe deixou Atenas para me5
lhorar sua educação, chegamos a saber alguma coisa sobre as opiniões de Platão em matéria justamente de educação (capítulo 24), e depois leremos umas histórias tiradas de um exemplar das Histórias de Heródoto que dá a Filipe seu mestre (capítulos 25-28)). Trata-se de algumas das mais famosas narrações de Heródoto, entre as quais aquelas que dizem respeito a Sólon, o ateniense, e o seu encontro com Creso, rei de Lídia. No capítulo 28 se lê a narração, feita pelo poeta lírico Baquílides, do salvamento milagroso de Creso da pira fúne bre. Com os capítulos 29 e 30 voltamos à guerra do Peloponeso e às descrições de Tucídides das batalhas navais e das brilhantes vitórias do general ateniense Formião. O curso conclui-se com excertos de Aristófanes que nos mostram Diceópoles nas vestes de pacificador. Deste ponto em diante você já estará pronto para seguir lendo qualquer autor grego à sua escolha, com muita confiança na sua capacidade de entender o que os gregos antigos tinham a dizer. O grego para boa parte da narração das vicissitudes principais foi construído em função das finalidades didáticas deste livro. A maior parte das histórias secundárias funda-se nos escritos de gregos de Homero, Heródoto e Tucídides, e aproximam-se muito do grego original ori ginal desses autores. Os excertos de Baquílides e de Aristófanes estão inalterados, exceto nalguma passagem. Nos capítulos iniciais as leituras são simples no que diz respeito ao conteúdo e à estrutura gramatical. Elas estão construídas de tal modo que, com auxílio das notas marginais, dos desenhos e das glosas que foram postas no roda pé, seja possível ler e compreender o grego antes de estudar a gramática. De pois de ter lido toda a história em voz alta e de tê-la compreendido, deve-se estudar a descrição formal dos pontos gramaticais, que, frequentemente, com preende exemplos tirados da passagem lida. Seguem, em seguida, exercícios de tipo variado, que servem para ajudar o estudante a consolidar sua compreensão da gramática, e dar-lhe capacidade de manipular as formas e as estruturas novas da língua enquanto elas são aprendidas. A gramática, inicialmente, será introduzida a conta-gotas, e devem ser constantemente revistas. Recomendamos ainda reler muitas vezes as histórias, que será melhor se for em voz alta: este é o melhor modo de tornar a pronúncia mais perfeita, de melhorar o conhecimento da gramática e a própria habiliūram librī (porque dade em ler o grego ad apert ūram (porque este é o escopo principal de qualquer curso de grego). No início de cada seção da narrativa encontra-se uma figura com uma legenda em grego: a partir da figura dever-se-ia estar em grau de deduzir o significado da legenda. Tenha-se muita atenção a essas legendas, já que todas foram escolhidas com muito cuidado com o objetivo de introduzir, e ao mes6
mo tempo, de consolidar, um ou mais elementos fundamentais da estrutura gramatical da língua grega que deverão ser apreendidos naquele capítulo. Entenda-se que o vocabulário que se dá nas listas no fim de cada capítulo deve ser aprendido inteiramente. Aprender o vocabulário é mais fácil se as palavras foram estudadas em voz alta, unindo assim as vantagens da vista e do ouvido. Umas palavras encontram-se postas em evidência com um destaque na glosa de rodapé a cada parágrafo das leituras, mas não se exigiria um conhecimento ativo, mas tão-só a capacidade de reconhecer o significado quando elas forem encontradas novamente no contexto. A capacidade de ler fluentemente depende da aquisição, o mais rápido possível, de um vasto vocabulário ativo. Para ajudar o estudante a aprendê-las, as palavras importantes são continuamente reintroduzidas nas leituras deste curso. Atentar certos princípios fundamentais da formação das palavras aumenta muito no discente a habilidade de reconhecer o significado de palavras gregas que não tenha ainda encontrado precedentemente: por essa razão, fixamos alguns destes princípios fundamentais, e incluímos no curso um grupo coerente de exercícios sobre a formação das palavras. Um dos escopos que são, ademais, atribuídos ao estudo das línguas clássicas é o melhoramento da compreensão do português. No que toca ao estudo do grego, trata-se, mais que isso, conhecer as raízes, os prefixos e os sufixos gregos que aparecem nas palavras portuguesas. A influência do grego no português (e em todas as línguas europeias) foi notável, especialmente na terminologia científica e médica, mas é evidente também na linguagem da política, da filosofia, da literatura, das artes. Por isso incluímos nos capítulos deste curso umas seções dedicadas ao estudo das palavras: essas seções esclarecem a influência do grego no léxico português e faz que o estudante adquira uma certa prática em reconstruir o significado de palavras portuguesas compostas com elementos de derivação grega.
7
A LÍNGUA GREGA O grego pertence, como o latim e o sânscrito (antiquíssima língua sacerdotal indiana), à família das línguas indo-europeias. Confrontando as diversas línguas faladas, algumas já em tempos muito remotos, em quase toda a Europa e em uma parte da Ásia (sobretudo na Índia e na Pérsia), os linguistas desco briram uma grande afinidade entre elas e, através de conjecturas, conseguiram reconstruir, nos elementos fundamentais, o antepassado comum, a que deram o nome de indo-europeu: trata-se, mais que de um idioma único, de um grupo de dialetos afins, falados, em época pré-histórica, por diversas tribos que ocu param um território cujos confins, muito vastos, não podem ser facilmente determinados (talvez a Europa centro-oriental); daqui, a partir do fim do III milênio a.e.c., os povos de língua indo-europeia apareceram em grande número, em ondas sucessivas, na direção das suas sedes históricas, onde, também por contacto com as línguas locais, as suas falas distinguiram-se ulteriormente, mas sempre conservando os sinais evidentes da parentela originária (basta pensar numa palavra comuníssima como «pai»: sânscrito pit ā’r -, gergo πατήρ [leia-se patér ], latim pater etc.). A Grécia foi invadida, no início do II milênio a.e.c., pelos aqueus, de língua indo-europeia; eles encontraram na ilha de Creta uma florescente civilização minoica, e justamente, pela fusão dessas duas culturas nasceu a civilização micênica, cantada por Homero na Ilíada. Mais tarde (talvez por volta de 1100 a.e.c.) a Grécia sofreu ainda outra, destrutiva, invasão, a dos dórios, cuja fala era igualmente indo-europeia. O grego pré-histórico originário devia ser uma fala relativamente unitária ( grego comum), mas, em contacto com os idiomas indígenas e pelas sucessivas vicissitudes históricas, fragmentou-se em muitos dialetos ( jônico, ático, eólico, dórico etc.), documentados nas inscrições e nos textos literários. Todavia, os dialetos literários são frequentemente muito artificiais e longe do efetivo uso falado: assim, por exemplo, os poemas homéricos foram escritos numa língua composta, de base jônica, mas rica, sobretudo, de eolismo. Como em português, pelo prestígio literário de João Soares de Paiva, D. Diniz e Camões, o dialeto galego foi aceito pelos outros portugueses e tornou-se língua comum da nação, assim, o grego que hoje se estuda com o nome de clássico é o dialeto ático, pela excelência das obras dos grandes prosadores da época de Péricles (V século a.e.c.) que escreveram naquele dialeto, como o filósofo Platão e os historiadores Tucídides e Xenofonte. Assim, pois, o ático é o grego que vocês encontrarão descrito neste livro; depois que se tiverem adonado, nos primeiros momentos do estudo, do dialeto de Atenas, lerão, porém, nos outros momentos também textos noutros dialetos. 8
Após as conquistas de Alexandre Magno (morto em 323 a.e.c.), impôs-se não só à Grécia, mas a todo o mundo mediterrâneo, como língua de comunicação e de cultura, a língua comum, ou coiné (ἡ κοινὴ διάλεκηος), de base ática, mas priva dos traços mais típicos daquele dialeto. Essencialmente, da coiné derivam os sucessivos desenvolvimentos do grego bizantino (isto é medieval) e moderno, mas uma importante corrente literária, o chamado aticismo, manteve-se por séculos fiel ao mais puro ático do V século.
ALFABETO, PRONÚNCIA E ESCRITA O alfabeto e a pronúncia A pronúncia descrita aqui é a tradicional usadas nas escolas europeias; para outras informações, e para uma descrição da pronúncia da idade clássica, reconstruída pelos estudiosos, v. a Gramática de consulta , § 1. ALFABETO GREGO Maiúsculas Minúsculas Valores Pronúncia A a a Alp a B b b Beta G g g Gamma D d d Delta E e e Épsilon Z z z, sd Zeta H h e Eta h Q q t Theta I i i Iota K k k Kappa L l l Lambda M m m Mü N n n Nü X x cs Csi O o o Ômicron P p p Pi R r r Rô S s( j ss Sigma T t t Tau U u ü Üpsilon h F f p Phi C c ch Chi Y y ps Psi W w o Ômega 9
Duas das formas do sigma minúsculo, o segundo (ς) usa-se só no fim de palavra e o primeiro (ζ) em qualquer outra posição: sw,matoj. O k e o g pronunciam-se sempre duros (velares), como em cão e gato, mesmo se seguidos de e, h, i, n: kefalh, = kefalé, gignw,skw = guignosco. O g lê-se, contudo, como n de monga (nasal velar) quando for seguido por outro g, um k, um c ou um x: ag; geloj = ánguelos. O pronuncia-se também como um c duro ou, melhor, como o ch alemão de ach, nach (o som que se produz quando se arranha a garganta). O q lê-se como o th inglês de think , ou, melhor, com o t português; é desaconselhável pronunciá-lo como um ts: qhsauro,j = tesaurós. O z soa sempre como ds: tra,peza = trápeddsa. O u (ípsilon) possui o mesmo valor do u francês de lune, o do ü alemão de über ; este som pode ser produzido facilmente tentando pronunciar um i pondo os lábios na posição de u: u[mnoj - hü’mnos (para o espírito áspero ou forte sobre o inicial v. abaixo). O e e o h, o o e o w quando forem acentuados ler-se-ão abertos (e aberto, o aberto), como em português em café e cipó: le,gw = légo, sw/ma = sóma.
Os ditongos Chama-se ditongo a sucessão de duas vogais numa mesma sílaba. Em grego duas vogais consecutivas formam ditongo só quando a primeira seja um a (α, ᾱ), um e (ε, ) ou um o (ο, ω) e a segunda seja um i (ι) ou um u ( σ): αι, ᾳ (= ᾱι v. abaixo), ει, ῃ (= ι), οι ῳ (= wi); ασ, ᾱσ (raro), εσ, σ, οσ, ωσ (raro), há enfim o ditongo σι. Na pronúncia, as duas vogais conservam o seu valor; mas, quando for segundo elemento de ditongo o σ lê-se como u português (não como o u francês): ai;rw - áiro, auvto,j = autós, ei;kosi = éicossi, feu/ = féu, hu[rhka = héureca, oi;moi = óimoi. Οσ não é um verdadeiro ditongo, porque lê-se u: bou,lomai = búlomai, σι pronuncia-se üi: σἱός = hüiós. Perceba-se que os acentos (e também os espíritos, sobre isso v. abaixo) escrevem-se sobre o segundo elemento do ditongo, mas leem-se sobre o primeiro: ai;rw = áiro (não aíro!). Vejam ainda que o ι que segue uma vogal longa (ᾱ, , ω) escreve-se sob a mesma vogal (iota subscrito): ᾳ, ῃ, ῳ. O iota subscrito não se pronuncia: ᾄδω = ádo. 10
Todavia, após uma letra maiúscula o iota escreve-se na linha, e não sob a vogal: pro.j th| / krh,nh|, mas ΠΡΟ ΣΗΙ ΚΡΗΝΗΙ (pronúncia, em ambos os casos, prós té créne). Note-se ainda, que na escrita em todas as maiúsculas (como nos títulos das leituras deste livro) não se usam acentos ou espíritos, e não se assinalam as vogais longas (v. abaixo). V. também a Gramática de consulta , § 1, n. 2.
Os espíritos As palavras gregas que começam, na escrita, com uma vogal (ou um ditongo) têm sempre sobre a vogal (ou no segundo elemento do ditongo) um dos dois sinais seguintes: ‟ (espírito doce ou fraco) ou „ (espírito áspero ou forte). O espírito áspero indica que a vogal inicial é, em verdade, precedida, na pronúncia, por um som aspirado (como o h do alemão Haus ou do inglês hou se); mas o espírito doce indica a ausência de tal aspiração: αἱρέω = hairéo, ἐγώ = egó. O σ e o ditongo σι inicial são sempre aspirados, e, portanto, têm sempre o espírito áspero: ὕμνος = hü’mnos, σἱός = hüiós. Também a consoante ρ, quando for inicial de palavra, terá sempre o espírito áspero (ῥ-) ῥήηωρ (confronte-se o latino rhētor ). É oportuno que nos habituemos desde o início a pronunciar o espírito áspero, mesmo porque isso nos ajudará a distinguir palavras cuja diferença está só no espírito, como ἤ = é «ou, ou então» e ἥ = hé «a qual».
Os sinais de pontuação O ponto e a vírgula escrevem-se como em português. O ponto no alto (\) equivale aos dois pontos, o ao ponto e vírgula. Um sinal idêntico ao nosso ponto e vírgula (;) tem o valor do nosso ponto de interrogação.
Os acentos Quase todas as palavras gregas têm um sinal de acentuação: agudo (ηίς), grave (ηὸ) ou circunflexo (o`rw). O acento grave pode cair só na sílaba final; ele substitui o acento agudo na sílaba final duma palavra quando essa for seguida imediatamente, sem nenhum sinal de pontuação, por outra palavra: assim, em vez de to. dw/ ron, escreve-se to. dw/ ron. Para outras observações, e para as regras fundamentais sobre o uso dos acentos v. a Gramática de consulta, § 4 e 5. 11
As vogais breves e longas Em grego, como em latim, as vogais podiam ser breves ou longas: as primeiras pronunciavam-se num tempo maior a respeito das segundas. Essa distinção não se faz sentir na pronúncia tradicional usada nas escolas da Europa, mas é muito importante para a acentuação, para a métrica (isto é, para o ritmo dos versos) e para outros motivos ainda. Lembremos-nos de que são sempre longas as duas vogais e ω, são sem pre breves as outras duas ε e ο, enquanto o α o ι e o σ podem ser, segundo os casos, seja breve seja longo. Nesse caso, estas últimas três vogais, quando são longas, têm sempre, na escrita minúscula, um tracinho acima (ᾱ, ῑ , ῡ); se não têm o tracinho (α, ι, σ), é sinal de que são breves: θιλίᾱ (os dois iotas são breves, enquanto o alfa é longo). Só excepcionalmente, as breves serão indicadas com um semicírculo acima (ᾰ, ῐ, ῠ). As vogais que têm acento circunflexo, e o alfa do ditongo ᾳ (= ᾱι), são sempre longos; por isso não se usou o tracinho em cima. V. ainda a Gramática de consulta, § 1, 1.
EXERCÍCIOS DE ESCRITA E PRONÚNCIA Esforcem-se em pronunciar corretamente as palavras seguintes, imitando o seu professor. Depois, copiem-nas e escrevam um derivado português de cada uma delas.
Veja-se a pág. XX do livro.
12
ᾱ
13
14
15
16
17
18
Ench ī ridion CAPÍTULO I Começando o nosso curso travando conhecimento com o protagonista da nossa história: uma história narrada em grego, e que poderemos compreender imediatamente, depois de ter praticado só um pouquinho com o alfabeto e a pronúncia. Diceópoles, como já se pode compreender, é um camponês ateniense, um auvtourgo,j; essa palavra grega é formada por dois elementos auvto- e er v g-, e significam aproximadamente «quem trabalha para si mesmo», quer dizer, um cultivador independente, um pequeno proprietário de terra, não submetido a um patrão. Acompanharemos Diceópoles nas muitas vicissitudes que o envolverão e também sua família, e, agindo assim, aprenderemos sua língua: uma língua que era falada na Grécia há mais de dois mil anos. Para conseguir compreender bem os textos que nos são propostos, deveremos sempre, antes de tudo, dar uma olhada nos vocábulos que aparecem no rodapé de cada página; e então, lendo, considerar sempre a margem lateral, que muito nos ajudará na compreensão. Nela há, de fato, além de muitas imagens que ilustram o significado dos vocábulos novos, vários sinais convencionais que servem para dar explicações de modo claro e conciso. Um sinal de igualdade (=) colocado entre duas palavras ou expressões significa que elas têm o significado mais ou menos idêntico; seria como dizer em português: «calor = quentura». O sinal (:) significa «quer dizer» e serve para explicar melhor uma palavra; seria como dizer em português: «bom : não malvado». O sinal (↔) indica que duas palavras ou expressões têm significado contrário; como dizer: « bom ↔ mau». Por fim, encontra-se, às vezes, o sinal (<), que quer dizer «origina-se de» e serve para mostrar que uma palavra deriva de outra que já se conhece; como em «bondade < bom». Nas notas marginais nem sempre se faz referência a uma derivação em sentido preciso: às vezes, trata-se de uma relação, ou de uma pertença a uma mesma família de vocábulos, como seria em português se escrevêssemos «trabalho < trabalhar». Leremos, porém, mais adiante que o uso desse sinal serve para indicar as transformações históricas de certas palavras. Às vezes, no rodapé, podem encontrar-se expressões traduzidas postas em evidência com um fundo cinza: estas expressões são antecipações de formas gramaticais ainda não explicadas: servem só para compreensão do texto, mas não serão ainda aprendidas. Então Diceópoles é ateniense, VAqhnai/oj, evstin. Ser camponês ateniense, porém, para um homem do V século a.e.c., não significa necessariamente que ele morasse na cidade de Atenas propriamente dita: de fato oivkei/ o` Δικαιόπο19
λις οὐκ ἐν ηαῖς Ἀναις ἀλλὰ ἐν ηοῖς ἀργοῖς. É um cultivador: Γεωργεῖ οὖν ηὸν κλῆρον καὶ πονεῖ ἐν ηοῖς ἀργοῖς. Observe-se que οἰκεῖ, γεωργεῖ e πονεῖ têm uma parte final sempre igual, -ει. Considerem-se agora os verbos portugueses: (eu) am-o, (nós) am-amos, (tu) am-as. É fácil observar que mesmo nessas distinguem-se uma parte inicial, sempre igual, am- e uma parte final variável -o, -amos, -as (e ainda, continuando com os exemplos, -a, em am-a, -ais em am-ais e assim por diante): diremos que am- é o radical deste verbo, e -o, -amos etc. são as desinências. Note-se que o radical comunica o significado fundamental da palavra (nesse caso a ideia de «amar»), enquanto as desinências verbais dizem-nos, entre outras coisas, a pessoa e o número: destarte, am-o é uma primeira pessoa do singular («eu»), am-ais uma segunda do plural («vós»). As mesmas coisas podem ver-se no latim ( am-ō, am-āmus, am-ās etc.) e, como veremos logo, também em grego. Nos verbos gregos que seguem, o radical e as desinências são diferenciados pelo hífen. Neste capítulo introduzimos a terceira pessoa do singular do presente. O verbo grego que significa «desligar, libertar» (radical λῡ-) serve como exemplo dos verbos regulares. A partir do radical λῡ-, então, acrescentando a desinência -ει, forma-se a terceira pessoa singular λύει, «ele desliga, liberta». O verbo que significa «amar» (radical θιλε-) tomado como exemplo de verbo contraído: os verbos contraídos são aqueles cujo radical termina na vogal α, ε ou então ο, e no encontro dessa vogal com a vogal do ditongo inicial das desinências seguem umas contrações. Do radical θιλε-, acrescentando a desinência -ει, forma-se a terceira pessoa do singular θιλέ-ει, que se contrai em θιλεῖ , «ele ama». Para indicar transformações desse tipo, usaremos o sinal >, que se lê «do qual», isto é, significa que da forma à esquerda deriva a da direita; mas o sinal < lê-se «de», isso significa que a forma à esquerda é derivada daquela da direita (por exemplo, θιλεῖ < θιλέ-ει). A terceira pessoa do singular do presente do verbo «ser», um verbo irregular naturalmente de uso comuníssimo, é ἐζηι ou ἐζηιν. Usa-se ἐζηιν em vez de ἐζηι em dois casos: a) diante de uma pausa (expressa graficamente por um sinal de pontuação: ponto, ponto no alto, vírgula etc.); b) quando a palavra seguinte começa com vogal. 20
Esse - ν final chama-se ν efelcístico (literalmente «jogado para trás») ou móvel ; ademais, em ἐζηιν encontra-se, nos mesmos casos, em várias outras palavras, que serão indicadas no tempo certo. A palavra ἐζηι(ν) é enclítica, isto é, não possui um acento próprio, ma a poia-se na acentuação da palavra que a antecede: por essa razão, escrevemo-la sem acento. Para uma explicação das enclíticas e das regras que dizem respeito a elas v. Gramática de consulta, § 7: é importante que aprendamos bem tais regras antes de começar a escrever frases em grego, porque deveremos aplicá-las frequentemente. Em nossa língua há só dois gêneros, o masculino e o feminino; mas o grego, como o latim, reconhece um terceiro, o neutro (do latim genus neutrum, quer dizer nem masculino nem feminino), do qual fazem parte, especialmente, os substantivos que indicam objetos concretos. Quando aprendermos um substantivo grego, para recordar bem o gênero, é bom fazer sempre preceder o artigo: ὁ para os masculinos, ἡ para os femininos e ηό para os neutros (nas listas de vocábulos deste capítulo I encontram-se só substantivos do gênero masculino, precedidos, pois, do artigo masculino ὁ). Nos substantivos e também nos adjetivos (como também nos verbos), distinguem-se o radical , quer dizer, a parte inicial invariável, e as diversas desinências: o radical exprime o significado fundamental da palavra (κλρ-, «fazenda, campo», anv qrwp- «homem», μῑκρ- «pequeno»), enquanto as desinências nominais, como no latim, indicam, além do número ( singular ou plural ), a função sintática na frase (se é sujeito, complemento objeto etc.), ou seja, o caso. Nós distinguimos o radical e as desinências com um hífen. Em grego, há cinco casos (um a menos que em latim, porque não existe em grego o ablativo). Neste capítulo I, consideraremos dois deles: o nominativo e o acusativo. O ` klh/ro,j evsti m ῑ kroj) `O a;nqrwpoj gewrgei/ to.n klh/ron) Nominativo singular : o` klh/ r&oj. O nominativo indica o sujeito da frase; co-
loca-se no nominativo também o predicativo do sujeito, isto é, o substantivo ou o adjetivo que se une ao verbo «ser». Acusativo singular : to.n klh/r&on. Esse caso indica o complemento objeto com os verbos transitivos. Atente-se ainda à forma do artigo! Notemos que, como em latim, o significado fundamental da frase deve ser buscado nas desinências, não na ordem das palavras; assim, o mesmo signifi21
cado da primeira frase apresentada como exemplo poderia ser muito bem ex pressa com outra ordem de palavras: por exemplo, dizendo μῑκρός ἐζηιν o` klh/roj; da mesma forma, o conteúdo da segunda frase podia ser expresso de maneira equivalente dizendo por exemplo: to.n klh/ron gewrgei/ o` a; nqrwpoj, visto que bastam as desinências para dizer que klh/r&on é complemento objeto e an; qrwp&oj sujeito. Em português quando dizemos «Diceópoles ama o filho» e «O filho ama Diceópoles», dizemos coisas muito diferentes: no primeiro caso Diceópoles é sujeito, no segundo é complemento objeto. Isso não quer dizer, contudo, que a ordem das palavras seja irrelevante em grego: como em latim, isso possui, sobretudo, uma função estilística, e pode ser dito em particular que, frequentemente, põe-se no início da frase a palavra a que se quer dar maior evidência; assim, dizendo: to.n klh/ron gewfgei/ o` a;nqrwpoj quer dizer-se que «É o terreno que o homem cultiva», «O homem cultiva o campo» (e não, por exemplo, o pomar). O artigo e os adjetivos concordam com os substantivos a que se referem em gênero, número e caso. Como vimos, essa regra vale também para o predicativo do sujeito não só em caso (nominativo), mas ainda em gênero e número: o` klh/ro, j evsti μῑκρός (masculino, singular). Ademais, o grego usa ou despreza o artigo nos mesmos casos em que se usa ou se despreza em português. Percebamos, entretanto, que em grego os nomes próprios de pessoas usam o artigo mesmo masculinos: ὁ Δικαιόπολις, «Diceópoles». 1) skopei/, «olha, observa» 2) sofi,a, «sabedoria» 3) lo,goj, «palavra, discurso» Exercíci o 1a Traduzir estas parelhas de frases: 1. ~O po,noj evsti. macro, j. ________________________________________
2. 3.
A casa é pequena. ___________________________________________ Kalo,j evstin o` oi= koj. _________________________________________ O homem é forte. ____________________________________________ ~O Dicaio,polij to.n oi=kon filei/._________________________________ 22
4. 5.
O homem fornece o grão. ______________________________________ Polu. n. si/ton pare,cei o` klh/ roj. _________________________________ O campo dá [fornece] muito trabalho. ____________________________ ~O a;nqrwpoj ouv ponei/ ev n toi/j avgroi/j. ____________________________ Diceópoles não vive em Atenas. ________________________________
Ler este excerto, e depois responder às perguntas.
O KLHROS Makro,j evstin o` po, noj kai. calepo, j) ~O de. auv tourgo.j ouvk ovknei/ av llVav ei. gewrgei/ to. n klh/ron) Kalo.j ga,r evstin o` klh/ roj kai. polu. n si/ton pare,cei) Cai,pei ou=n o` a; nqrwpoj\ ivsc ῡro.j ga,r evsti kai. ouv polla, kij ka,mnei)
[
adia, hesita, está inerte]
1. O que está fazendo o nosso personagem agora? O que ele faz sempre? _______________________________________________________________ 2. O que produz o campo? _______________________________________________________________ 3. Por que nosso personagem está alegre? _______________________________________________________________ Exercíci o 1b Traduzir em grego:
1. Diceópoles é um camponês. ______________________________________ 2. Trabalha sempre no campo. ______________________________________ 3. Está, muitas vezes, então, cansado; de fato, o trabalho é longo. ____________________________________________________________ 4. Mas ele não hesita; de fato ama a casa. _____________________________
O camponês ateniense
D
iceópoles vive num povoado da Ática chamado Colide, a uns vinte quilômetros a sudeste de Atenas. Apesar de Atenas e o seu porto, o Pereu, constituírem um aglomerado ur bano muito grande para o mundo antigo, a maior parte dos atenienses vivia e trabalhava no campo. O historiador Tucídides (V séc. a.e.c.) conta que quando, em previsão da invasão espartana de 431, os moradores do condado tiveram que transferir-se para a cidade, «a evacuação foi decerto dolorosa para 23
pessoas como aquelas, que estavam mais habituadas a viver sempre nos cam pos» ( A guerra do Peloponeso, II. 14). Estas pessoas eram em sua maioria camponeses, como Diceópoles. Suas fazendas eram pequenas: em média de quatro a oito hectares. O que era cultivado dependia ainda da zona: na planície nos arrabaldes de Atenas, os produtos típicos eram verdura e grão; mas a Ática é, em grande parte, montanhosa, e o terreno pobre era mais adequado para os vinhedos, os olivais e o pastoreio de ovelhas e cabras (geralmente não criavam vacas de leite). Todos os camponeses aspiravam a autossuficiência, mas poucos deles conseguiram isso (dois terços do grão consumido pelos atenienses eram importados): se sobrava, por exemplo, azeite ou vinho, levavam-no ao mercado de Atenas para vendê-lo, e poder, assim, comprar o que não podiam produzir por si mesmos. Sob a óptica administrativa, a civilização ateniense estava dividida em quatro classes, segundo um critério de censo. A classe mais alta, os pentacosiomedimnos (hoje poderíamos chamar de milionários), era constituída por aqueles (eram obviamente pouquíssimas pessoas) cujas posses fundiárias produziam pelo menos quinhentos medimnos de grão por ano (um medimno ático equivale a cerca quarenta e dois litros). A segunda classe, também muito reduzida, era a dos cavaleiros ( i`ppei/j), cujas terras eram suficientes só para manter um cavalo (i[ppoj); os membros dessa classe constituíam, no exército, a cavalaria. A terceira classe, a mais numerosa, era a dos camponeses como Diceópoles, que, possuindo uma junta de bois (zeu/goj), eram chamados zeugitas; os zeugitas formavam, no exército ateniense, a infantaria pesada (oplitas). A quarta classe eram os tetos, trabalhadores assalariados que não possuíam terras, ou o que possuíam era só para manter uma família. Nossas fontes apresentam-nos os camponeses como a espinha dorsal da democracia ateniense: fortes, laboriosos, frugais e simples, mas também pers picazes; nas comédias de Aristófanes eles são frequentemente contrapostos a políticos ambiciosos, cavaleiros decadentes e comerciantes ávidos. O nome do protagonista de nossa história, Diceópoles, é formado pelas palavras di,kaioj, «justo», e po,lij, «cidade», e significa, pois, algo como «cidadão honesto» ou «o que vive numa cidade justa»; Diceópoles é uma personagem da comédia de Aristófanes intitulada Os acarneses, que foi representada pela primeira vez em 426 (leremos algumas passagens ao final desse curso).
24
25
26
27
28
29
30
31
32
CAPÍTULO II A vida do camponês, há dois mil e quatrocentos anos, assim como hoje, é muitas vezes bastante monótona: Diceópoles enfrenta-a com o empenho que lhe advém do amor pelo seu pedacinho de terra; não da mesma forma o seu escravo Xântia, que não parece ter tanta vontade de trabalhar, e prefere dormir: por isso Diceópoles pergunta-lhe: dia. ti, kaqeu,deij* Mas como todos os preguiçosos, Xântia está pronto a dar justificativas, e nega que seja preguiçoso, dizendo: Ouvk ᾱ rv go,j eivmi avlla. h;dh speu,dw. Em grego, as terminações verbais indicam não somente, como já sabemos, quem pratica a ação, quer dizer a pessoa e o número («eu», «nós», «tu» etc.), mas também o modo do verbo. Os modos verbais exprimem, justamente, modos diferentes de considerar a ação indicada pelo verbo: em particular, como em português e em latim, o modo indicativo serve para fazer afirmações, ou também perguntas, a respeito de fatos reais. VElau,nw tou.j bou/j (conduzo os bois); Dia. ti, kaqeu, deij* (por que dormes?) No capítulo anterior aprendemos a terceira pessoa do singular do presente do indicativo; neste capítulo encontrámos todas as demais pessoas do singular do mesmo tempo e modo. Do radical l ῡ-, «soltar, desligar», formam-se, acrescentando as terminações: -w, - eij, - ei, a primeira pessoa do singular é l ῡ -, w, «eu solto», a segunda l ῡ ,- eij «tu soltas», e a terceira l ῡ ,- ei, «ele solta». Da mesma forma, do radical file-, «amar», obtêm-se file,-w > filw/, «eu amo», file,- eij > filei/j, «tu amas», e file,- ei > filei/ «ele ama». É muito importante aprender as frequentíssimas formas do verbo «ser, estar»: eivmi, «eu sou, estou», ei=, «tu és, estás», esv ti(n), «ele é, está». Eivmi e esv ti(n) são formas enclíticas1. Tema: l ῡ& «soltar» file& «amar» esv & «ser» conduzir I sing. I I sing. I I I sing.
l ῡ &, w l ῡ &, eij l ῡ &, ei
file,&w > filw/ file,&eij >f ilei/ j file,&ei > filei/
1
eivmi ei= esv ti$n%
Chamam-se enclíticas as formas, que não tendo acentuação própria, apoiam-se na palavra precedente. N. do T. 33
Note-se que o grego, como o português e o latim (mas contrariamente a muitas línguas modernas, entre as quais o francês, o alemão e o inglês), não expressa, por regra, os pronomes pessoais do caso reto [pronomes-sujeito] («eu», «tu» etc.), pois as terminações verbais declaram já suficientemente a pessoa que pratica a ação. Os pronomes-sujeito são expressos, porém, quando se lhe queira dar um particular destaque, como nas contraposições. O grego tem uma particular propensão ao uso frequente de contraposições: tenham-se presente as comuníssimas partículas correlativas me,n… de,… egv w. me. n tonw/( su. de. kaqeu, deij
Eu trabalho, mas tu dormes (Enquanto eu trabalho, tu dormes) Na leitura, no início deste capítulo, Diceópoles, para apressar Xântia, usa a forma verbal speu/de, que significa «apressa-te!» e é, pois, uma forma do imperativo. O modo imperativo é usado em grego, como em português e em latim, para expressar uma ordem (ou também uma prece, uma exortação, um conselho etc.). Eis as segundas pessoas do singular do imperativo presente dos três verbos que já conhecemos: lu/- e, «solta (tu)!»; fi,le- e > fi,lei, «ama (tu)!»; i;sqi, «sê (tu)!».
Atente-se às primeiras duas formas a terminação - e, que em file,w contraise com o e do radical. O imperativo negativo exprime-se com a negação mh, seguida do imperativo (enquanto em português usa-se o não e o presente do subjuntivo: «não pegues!», «não sejas!» etc.) Mh. la, mbane to. a; rotron (Não pegues o arado!) Mh. ᾱ rv go.j i;sqi (Não sejas preguiçoso!) Para as primeiras noções sobre os acentos v. p. 11. Recorde-se, de modo especial, que o circunflexo pode cair só em vogais longas ou ditongos (os ditongos são sempre longos): por isso omitimos, pois julgamos supérfluo, o sinal de longo sobre as vogais com o circunflexo (por exemplo em lu/ e). Lem34
bremo-nos, ademais, que, enquanto o agudo pode cair nas três últimas vogais, o circunflexo pode cair somente nas duas últimas. Lembremo-nos, contudo, que o agudo pode cair na antepenúltima vogal, e o circunflexo na penúltima, só se a última vogal for breve . Recordemo-nos ainda que no verbo o acento é regressivo, isto é cai sempre o mais para trás possível (noutras palavras, o mais possível próximo ao início da palavra); «o mais possível», dissemos, isto é, sempre nos limites da lei exposta acima. Note-se, entretanto, a diferença entre ekv bai,nw, ekv bai,neij, ekv bai,nei, com o agudo na penúltima porque a antepenúltima é longa, e o imperativo ek; baine, com o agudo na antepenúltima pois que a última é breve; e pelo mesmo motivo o acento está na antepenúltima, por exemplo, em la,mbane, el; aune, ka,qeude, imperativos de lamba,nw, elv au,nw, kaqeu,dw, e ainda em fi,lee, po,nee, que em ático, por contração, fi,lei e po,nei, imperativos de file,w e pone,w. Perceba-se, enfim, que o circunflexo em lu/w e speu/de, que se deve à lei do troqueu final: quando o acento cai na penúltima vogal, se esta for longa e se a última vogal for breve, então o acento será sempre circunflexo .
Sabemos que no meio do campo está a casinha de Diceópoles: o` oi=k-oj. Diceópoles ama a sua casinha: filei/ t-o.n oi=k-on. No alvorecer, todos os dias, o nosso Diceópoles sai de casa: ekv t-ou/ oi;k-ou. No arrebol, retorna morto de cansando: só em casa é que pode, de fato, repousar de verdade: env t-w|/ oi;k-w|. Como se pode ver, acrescentando ao radical de um substantivo as diversas terminações, obtêm-se todos os cinco casos: nominativo, vocativo, acusativo, genitivo e dativo. Teremos assim, a partir do radical agv r-, «campo» os seguintes casos: nominativo avgr-o,j, vocativo agv r- e,, acusativo agv r-o,n, genitivo agv rou/, dativo agv r-w| ./ Nom. Voc. Acu. Gen. Dat.
35
o` w= t-o.n t-ou/ t-w| /
kal-o.j kal- e. kal-o.n kal-ou/ kal-w| /
Masculino agv r-o,j agv r- e, agv r-o,n agv r-ou/ agv r-w| /
Do mesmo modo declinam-se (quer dizer, assumem as mesmas terminações para indicar os casos e os números) os adjetivos masculinos, como kalo,j, e o artigo, que liga a terminação ao radical t-, com uma única exceção do nominativo masculino o` e do nominativo e acusativo neutro to, (a palavra w=, que se costuma antepor ao vocativo, não é um artigo, mas uma interjeição: «ó»). Os substantivos neutros declinam-se como os masculinos, mas possuem uma só terminação (-on) no nominativo, no vocativo e no acustivo (N.A.V.: os três casos retos): to. Nom. kal-o.n de,ndr-on w= kal-o.n de,ndr-on Voc. Acu. t-o. kal-o.n de,ndr-on Gen. t-ou/ kal-ou/ de,ndr-ou Dat. t-w| / kal-w| / de,ndr-w| Como já sabemos, ficam no nominativo o sujeito da frase e o predicativo do sujeito (adjetivo ou substantivo) depois do verbo «ser, estar». ev stin = O campo é bonito. Sabemos também que o acusativo indica o complemento objeto com verbos transitivos: kalei/ auv to.n; regem, ainda, o acusativo algumas preposições, dentre essas as que exprimem ideia de deslocamento para um lugar . badi,zei = Caminha para casa. O vocativo é usado para dirigir a palavra a uma pessoa; frequentemente, como dissemos já, vem precedido de w=, «ó» (mas a interjeição ó é muitas vezes omitida em português). VElqe. deu/ ro( w= = Vem cá, escravo! Quanto ao genitivo, por ora o encontrámos só depois de certas preposições; particularmente, regem o genitivo as que significam deslocamento de um lu gar . = Sai de casa. VEkbai,nei Também vimos o dativo, por ora, só que se usa depois de algumas preposições, e, particularmente, daquelas que indicam permanência num lugar . = Dorme em casa. Kaqeu,dei
36
Exercíci o 2a Ler em voz alta e traduzir em português: 1) To.n dou/lon kalw/) 2) ~O dou/loj evn tw| /oi; kw| ponei/ ) 3) Dia. ti, ouv s peu, deij* 4) Ou;k eivmi ᾱ rv go,j) 5) VIsc ῡro.j ei=) 6) To. a; rotron fe,rei) 7) Pro.j to.n avgro.n speu,dw) 8) Dia. ti, kalei/ j to.n dou/lon* 9) ~O dou/lo,j estin ᾱ rv go,j) 10) ~O dou/loj evkbai,nei evk tou/ oi; kou) Exercíci o 2b Traduzir em grego:
1. Não se apressa. ________________________________________________ 2. Por que não trabalhas? _________________________________________ 3. Carrego o arado. ______________________________________________ 4. Tu vais apressado (= te apressas) para o campo. ______________________ _____________________________________________________________ 5. É preguiçoso. _________________________________________________ 6. Eu não sou forte. ______________________________________________ 7. Tu não és um escravo. __________________________________________ 8. O escravo não trabalha. _________________________________________ 9. O escravo leva o arado para o campo. ______________________________ 10. Eu sou preguiçoso. ___________________________________________ Exercíci o 2c Ler em voz alta e traduzir em português: 1) E ; kbaine evk tou/ oi; kou( w= Xanqi,ᾱ( kai. ev lqe. deu/ ro) 2) Mh. ka, qeude( w= dou/ le( avlla. po, nei) 3) Mh. ou[ tw calepo.j i;sqi( w=d e,spota) 4) La,mbane to. a; rotron kai. speu/ de pro.j to.n avgro,n) 5) Ka,lei to,n dou/lon( w= de, spota) Exercíci o 2d Completar estas frases com as formas apropriadas do artigo : 1) ____ dou/ lon) 5) ____ a; rotron) 2) VEn ____ av grw| )/ 6) ~Upo. ____ de,ndrw| ) 3) ____ a; nqrwpoj) 7) VEn ____ oi; kw| /) 4) VEk ____ oi; kou) 37
Exercíci o 2e Completar estas frases, dando aos verbos, substantivos e adjetivos as terminações corretas; depois traduzir as frases em português : 1) ~O dou/loj speu,d ____ pro. j to.n avgr ____ ) 2) ~O Dikaio,polij to.n avrg ____ dou/ lon kal ____ ) 3) VElq ____ deu/ r kai. sulla,mban ____ ) 4) VEgw. ev lau,n ____ tou. j bou/j evk tou/ avgr ____ ) 5) Mh. calep ____ i; sqi( w= dou/ l ____ ( avlla. po, n ____ ) Exercíci o 2f Traduzir esta parelha de frases: 1. ~O dou/ loj ouvk e=stin VAqhnai/oj. ________________________________
Xântia não é forte. ____________________________________________ 2. ~O Dikaio,polij evkbai,nei evk tou/ oi; kon kai. kalei/ to. n dou/lon. ____________________________________________________________ O escravo vai depressa (=apressa-se) para o campo e leva o arado. ___________________________________________________________ 3. ~O dou/loj ouv sullamba, nei avlla. kaqeu,dei u`po. tw| /de,ndrw| . ___________________________________________________________ O homem não trabalha, mas caminha para casa. ___________________________________________________________ 4. Ei;selqe eivj to.n oi=kon, w=X anqi, a, kai. fe,re to.n si/ton. ____________________________________________________________ Apressa-te, escravo, e traz para fora (evx elau, nw ) os bois. ____________________________________________________________ 5. Mh. ka, qeude, w= Xanqi, ᾱ, alv la.p o,nei . ___________________________________________________________ Não venhas para cá, homem, mas trabalha no campo. ___________________________________________________________ Ler este excerto e, depois, responder às perguntas.
~O auvtourgo.j speu,dei eivj to.n avgro.n kai. kalei/ to. n dou/lon) ~O de. dou/ loj ouv pa, restin\ kaqeu,dei ga.r u`po. tw| / de, ndrw|) ~O ou=n despo,thj badi,zei pro.j auvto.n kai. le, gei\ «VElqe. deu/ ro( w= dou/ le avrge,( kai. po,nei)» ~O ou= n dou/loj badíiz, ei pro.j auvto.n kai. le, gei «Mh. calepo. j i;sqi( w= de, spota\ h;dh ga.r pa,remi egv w. kai. fe, rw soi to. a; rotron)» ~O ou= n despo,thj le,gei\ «Speu/de( w= Xanqi, a\ mikro.j me.n ga.r evstin o`a gro, j( makro.j de. o` po, noj)» a ti, te] @ 38
1. O que está fazendo o nosso homem? 2. Que está fazendo o escravo? 3. O que faz o escravo quando lhe é dito para vir ajudar? 4. Por que o patrão exorta o escravo a apressar-se? Exercíci o 2g Traduzir em grego:
1. Diceópoles não trabalha mais (não mais = ouvk e,t i), mas solta os bois. ____________________________________________________________ 2. E, depois, chama o escravo e diz: «Não trabalhes mais (não mais = mhke,t i), mas vem cá e traz o arado; de fato, eu conduzo para (na direção de) casa os bois, tu (su,) , porém, leva o arado!» ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ___________________________________________________________ 3. Diceópoles, então, leva os bois para fora do campo, e (use-se me,n …de,) o escravo pega o arado e leva-o para casa. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ___________________________________________________________
Formação das palavras Na leitura deste capítulo encontrámos algumas preposições: eivj, «para, na direção, para dentro»2, ekv , «de [origem], para fora de» (movimento desde um lugar)3, env , «em» (estada em um lugar)4 e pro,j, «para, na direção» (movimento para um lugar)5. As preposições são frequentemente antepostas aos verbos, chamando-se, assim, prevérbios; nos verbos compostos as preposições conservam o seu significado fundamental: bai,nei, «vai, caminha» &bai,nei, «vai para fora, sai» Deduzir o significado destes verbos compostos:
1) prosfe,rei 2) ekv fe,rei 2
Eivj: exatamente como o in + acus., em latim. N. do T. 3 E v k: exatamente como o ex + abl., em latim. N. do T. 4 E v n: exatamente como o in + abl., em latim. N. do T. 5 Pro,j: exatamente como o ad + acus., em latim. N. do T. 39
3) proselau,nei 4) prosbai,nei 5 ekv kalei/ Ser-nos-á fácil, habitualmente, deduzir, como fizemos agora, o significado dos verbos compostos desse tipo, que são muito frequentes em grego. É im portante, muito geralmente, que desde o início, habituemos a buscar o sentido de diversas palavras novas a partir de outras que já conhecemos. Para encora jar-nos a exercitar essa habilidade, nas listas de vocábulos, a partir do próximo capítulo, não serão apresentados os verbos compostos cujo significado pode ser deduzido movendo o significado do verbo simples e do prevérbio; somente nalguns casos, quando o sentido dos verbos compostos não é facilmente dedutível, encontrá-lo-emos nas listas de vocábulos.
A escravidão
A
população masculina adulta da cidade Estado de Atenas em 431 a.e.c. foi calculada como segue: cinquenta mil cidadãos, vinte cinco mil estrangeiros residentes, cem mil escravos. Os estrangeiros residentes ( metecos) eram homens livres com condição jurídica particular: não podiam possuir terras na Ática ou contrair matrimônio com atenienses, mas gozavam da proteção dos tribunais e prestavam serviço militar, tomavam parte nas festas religiosas e eram muito ativos no comércio e na indústria. Os escravos não gozavam de qualquer direito, e eram propriedade do Estado ou dos indivíduos privados; Aristóteles, o famoso filósofo do IV século a.e.c., descreve o escravo como «uma propriedade animada» e um instrumento do patrão. Nasciam escravos ou eram feitos prisioneiros de guerra ou de piratas, e vendidos; quase todos eram bárbaros, isto é, não gregos (num documento de 415 fala-se da venda de catorze escravos: cinco provinham da Trácia, dois da Síria, três da Cária, dois da Ilíria, um da Cícia e um de Cólquida): fazer escravos dentre os gregos era considerado imoral, e acontecia muito raramente. A economia do mundo antigo, que fazia pouco uso de máquinas, estava toda fundada no trabalho escravo. Às vezes, eram usados pelo Estado, por exemplo, nas minas de prata; alguns trabalhavam nas oficinas (a maior dessas, segundo sabemos, era uma fábrica de escudos, onde trabalhavam cento e vinte escravos); por fim, cada cidadão esperava possuir um escravo que o ajudasse em casa e nos trabalhos dos campos, mas nem todos conseguiam: Aristóteles observa que para os pobres «o boi toma o lugar do escravo». Não se deve, pois, crer que os escravos fossem todos tratados de modo desumano. Um escritor do V século, de tendência retrógrada, diz: 40
Ora, quanto aos escravos e metecos , em Atenas eles levam uma vida muito indisciplinada, e não é permitido castigá-los, nenhum escravo te dará passagem. Dir-vos-ei o porquê deste costume local: se a lei permitisse que um homem livre casti gasse um escravo, ou um meteco ou um liberto [= um escravo alforriado], muitas vezes, este mesmo castigaria um atenien se, pensando que fosse um escravo; de fato, quanto à indumentária as pessoas não se distinguem em nada em Atenas dos escravos e dos metecos , nem sequer pela aparência (Pseudo-Xenofone, A constituição dos atenienses, I. 10).
Escravos e cidadãos frequentemente trabalhavam juntos e recebiam o mesmo pagamento, como sabemos a partir dumas inscrições que se referem à construção de edifícios públicos; podia até acontecer que os escravos acumulassem dinheiro suficiente para comprar a liberdade a seus patrões, apesar de isso não ser tão frequente em Atenas como era em Roma. No campo, os escravos dos camponeses viviam e alimentavam-se, solitamente, com seus patrões; nas comédias de Aristófanes os escravos são personagens vivazes e insolentes, em nada submetidos a um domínio tirânico e opressivo. Demos também a Diceópoles um escravo, Xântia (Xanqi, aj, un típico de escravo que significa «louro, galego»).
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
CAPÍTULO III No capítulo 2, aprendemos as três pessoas do singular do presente do indicativo de l ῡ w , , file,w e eivmi; encontrámos agora as três pessoas do plural: l ῡ -, ousi(n) «eles soltam», file,-ousi(n) > filou/si(n) «eles amam» eivsi(n), «eles são». Perceba-se que as terceiras pessoas do plural em -si (e também as terceiras do singular em -si, por exemplo, fhsi) apresentam o n efelcístico nos casos que já aprendemos no capítulo 1. As formas do imperativo que já aprendemos no capítulo 2 eram todas da segunda pessoa do singular: speu/de, fi,lei, i;sqi, elv qe,. Ora, na leitura inicial deste capítulo, encontrámos algumas formas plurais do imperativo, usadas para ordenar (ou aconselhar, exortar etc.) a mais de uma pessoa (ou a mais de um animal). Eis as segundas pessoas do plural dos imperativos vistos há pouco: speu,d- ete, filei/te (< file,- ete), es; te, el; q- ete. Imperativo 2.ª pessoa do singular 2.ª pessoa do plural speu/de( «apressa-te!» speu,d&ete( «apressai-vos!» fi,lei( «ama!» filei/te $file,&ete%( «amai!» i;sqi( «sê!» es; te( «sede!» elv qe,( «vem!» el; q&ete( «vinde!» Na leitura, no início deste capítulo, Xântia diz a Diceópoles: «Me,gaj evsti.n o` li, qoj, […] ouv dunato, n evstin ai; rein auvto,n». Mais adiante, ele confirma o conceito, sustentando que não é possível carregar a pedra: «Ouv dunato, n evstin auvto.n fe, rein ». As formas ai;rein e fe,rein são infinitivos, como as correspondentes formas portuguesas «levantar» e «carregar». Eis os infinitivos dos nossos três verbos habituais: l ῡ ,- ein, file,- ein > filei/n, ei=nai. Como se vê, o infinitivo forma-se, por regra, acrescentando a terminação - ein ao radical do verbo. O infinitivo do verbo «ser, estar», ei=nai, é irregular. No capítulo 2, já aprendemos todas as formas do singular do artigo, dos ad jetivos e dos substantivos masculinos e neutros. No plural, os masculinos terminam em -oi no nominativo e no vocativo, em -wn no genitivo e em -oij no dativo. Os neutros têm as mesmas terminações no
52
genitivo e no dativo (casos oblíquos), mas, como já se disse para o singular, têm os três casos retos iguais, terminando em - a6. Recordemos que em grego, como em latim, todos os substantivos, adjetivos e pronomes neutros (e até o artigo) têm nos três casos retos as mesmas terminações (uma para o singular e uma para o plural) .
O artigo declina-se do mesmo jeito, tomando como base o tema em t-, exceto no nominativo masculino, oi`, e nos casos retos do neutro singular to,. Pelo que diz respeito aos acentos, note-se que o genitivo e o dativo, singular e plural, do artigo usam o circunflexo. Recordemos ainda que os substantivos e os adjetivos deste tipo que têm no nominativo o agudo na última (oxítonas, por exemplo, agv ro,j e kalo,j) mudam o agudo para circunflexo (quer dizer tornam-se perispômenos) no genitivo e no dativo tanto singular quanto plural. No que diz respeito à acentuação do ditongo -oi do nominativo plural é considerado breve: por isso o plural de an; qrwpoj, por exemplo, é an; qrwpoi (lembremo-nos que o agudo pode cair na antepenúltima vogal só se a última for breve). Masculino Nom. Voc. Acu. Gen. Dat.
o` w= t-o.n t-ou/ t-w| /
Singular kal-o.j avgr-o,n kal- e. avgr- e, kal-o.n avgr-o,n kal-ou/ avgr-ou/ kal-w| / avgr-w|/
Plural oi` w= tou.j tw/n toi/j
kal-oi. kal-oi. kal-ou/j kal-w/n kal-oi/j
avgr-oi, avgr-oi, avgr-ou/j avgr-w/n avgr-oi/j
Neutro Nom. Voc. Acu. Gen. Dat.
6
to. w= t-o. t-ou/ t-w| /
Singular kal-o.n de,ndr-on kal-o.n de,ndr-on kal-o.n de,ndr-on kal-ou/ de,ndr-ou kal-w| / de,ndr-w|
Plural ta. w= tou.j tw/n toi/j
kal- a. kal- a. kal- a. kal-w/n kal-oi/j
de,ndr- a de,ndr- a de,ndr- a de,ndr-wn de,ndr-oij
A mesma regra para os neutros latinos: N.V.A.: verb-um (sing.), verb-a (pl.). 53
Exercíci o 3a Encontrar três infinitivos na leitura do início deste capítulo. Exercíci o 3b Ler em voz alta e traduzir : 1) Oi` bo, ej ouvke,ti e[lkousi to. a; rotron) 2) {O te Dikaio,polij kai. o` dou/ loj proscwrou/si kai. ble, pousi pro.j to. a;rotron) 3) ~O Dikaio,polij( «ivdou,(» fhsi, n\ «li,qoj me,gaj to. a; rotron evmpodi,zei)» 4) Ai=re to.n li,qon kai. e. k; fere evk tou/ av grou/) 5) ~O de. dou/ loj( «ivdou,(» fhsi, n\ «mé e,gaj evsti.n o` li, qoj\ ouv dunato, n evstin ai;rein auvto,n)» 6) {O te Dikaio,polij kai. o` dou/ loj to.n li,qon ai;rousi kai. ev kfe,tousin evk tou/ avgrou/) 7) Mh. me, nete( w= bo, ej( avlla. speu, dete) 8) Oi` bo, ej ouvke,ti me,nousin avlla. to. a; rotron au=qij e[lkousin) Exercíci o 3c Traduzir em grego:
1. Os bois dormem no campo. ______________________________________ 2. Vinde aqui e trazei para fora ( evx elau,n w ) os bois, escravos ( w= dou/loi). _____________________________________________________________ 3. Eles pegam o aguilhão ( to. ke,n tron ) e aproximam-se lentamente dos bois (toi/j bousi, @n# ). _______________________________________________________________ 4. Apressai-vos, bois, não durmais no campo. _______________________________________________________________ ) . ) são fortes (ivs c ῡ roi, 5. Não é possível levar para fora os bois, pois (ga, r _______________________________________________________________ Exercíci o 3d Completar estas frases com as formas apropriadas do artigo: 1) ____ av nqrw,pouj) 6) ____ V Aqhnai, wn) 2) ____ dou/ loi) 7) ____ a; rotron) 3) VEn ____ oi; koij) 8) ____ cro, non) 4) VEk ____ av grw/n) 9) ____ po, noi) 5) Pro.j ____ de, ndra) 10) ____ dou, louj)
54
Exercíci o 3e Completar estas frases, dando aos verbos, substantivos e adjetivos as terminações certas, que lhes estão faltando; depois traduzir em português: 1) Oi` dou/l ____ pon ____ ev n toi/j avgr ____ ) 2) Oi` a;nqrwp ____ speu, d ____ pro. j to.n oi=k ____ ) 3) {O te Dikaio,polij kai. o` dou/ l ____ me, n ____ evn t ____ avgrw| )/ 4) Lei,p ____ ta. a; rotr ____ ( w= dou/ loi( evn tw| /av gr ____ ) 5) Ai;r ____ tou. j li,q ____ ( w= dou/ loi( kai. ev kefe,r ____ ev k tw/n avgr ____ ) 6) Ouvd unato. n evsti tou.j li,qouj ai;r ____ kai. ev kfe,r ____ ) Exercíci o 3f Traduzir estas parelhas de frases: 1. ~O me.n Dikaio,polij evlau,nei tou.j bou/j( oi` bo, ej ouvke,ti e[lkousi to. a;rotron) de,) os escravos não trazem O patrão chama os escravos, mas (use-se me,n…
os bois. 2. Mh. kaqi, zete evn tw| / oi; kw|( w= pai/ dej (de pai/j) ( avlla. e; lqete deu/ro kai. sullamba,nete)
Não permaneçais nos campos, moços, mas caminhai para casa e dormi. 3. Oi` pai/ dej ivsc ῡroi, eiv sin\ li,qouj ga.r mega,louj fe,rousin) Os escravos são preguiçosos, de fato, não trabalham mais. 4. Lamba,nete ta. a; rotra( w= fi, loi( kai. speu, dete pro.j tou.j avgrou,j) Soltai os bois, escravos, e deixai os arados no campo. 5. Dia. ti, feu, rete (=fugi)( w=p ai/dej* VAndrei/ oi e;ste) Por que esperais, moços? Não sejais preguiçosos! Ler este excerto, depois responder às perguntas:
{O te despo,thj kai. o` dou/loj badi, zousi pro.j to.n avgro,n) ~O me.n dou/loj to. a;rotron fe,rei( o` de. despo, thj evlau,nei tou.j bou/j) VEpei. de. tw| / av grw| / proscwrou/sin( oi` bo, ej ouvke,ti bai,nousin) ~O ou=n despo,thj kalei/ auv tou.j kai.( «mh. me, nete( w= bo, ej(» fhsi, n( « avlla. speu, dete eivj to.n avgro,n)» Oi` de. bo, ej e;ti me,nousin) ~O ou=n despo,thj to.n dou/lon kalei/ kai, ( « elv qe. deu/ ro( w= Xanqi, ᾱ(» fhsi, n( kai. sulla, mbane) Oi` ga. r bo, ej me,nousi kai. ouv dunato, n evstin evlau,nein auvtou.j eivj to.n avgro,n)» ~O me. n ou=n dou/loj proscwrei/ kai,( « avlla. dunato, n evstin(» fhsi,n\ «ivdou,( » kai. kentei/ tou. j bou/j) Oi` de. ouv ke,ti me,nousin avlla . speu,dousin eivj to.n avgro,n)
[
eles, lhe
e eles, e aqueles ]
55
1. O que estão fazendo o patrão e os escravos? _______________________________________________________________ 2. O que acontece quando se aproximam do campo? _______________________________________________________________ 3. O que está fazendo o patrão, e com que resultado? _______________________________________________________________ 4. O que faz, então, o patrão em dificuldade? _______________________________________________________________ 5. O que faz o escravo? O que o patrão não fez? Com que resultado? _______________________________________________________________ Exercíci o 3g Traduzir em grego:
1. O patrão vai apressado para o campo. _______________________________________________________________ 2. Ele olha para (na direção do) o campo e diz: «Há tantas pedras no campo! Não é possível arar. Vem cá, ó escravo, e leva as pedras para fora do cam po!» _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 3. Mas (de,) o escravo diz: «Não é possível levar tantas pedras para fora do campo. Ajuda-me, pois, tu!» _______________________________________________________________ ______________________________________________________________
Formação das palavras Deduzir o significado destes verbos compostos com preposições :
1% 2% 3% 4% 5%
eivsp ῑ ,ptw evkp ῑ p , tw eivsa,gw prosa,gw prosble,tw
56
O demo e a cidade
C
omo já sabemos, Diceópoles vive em Colide, um vilarejo a cerca de vinte quilômetros de distância a sudeste de Atenas. Estes distritos eram chamados demos (algo semelhante às nossas prefeituras); na Ática havia cento e setenta destas, muito diferentes umas das outras pela superfície e pela população. Cada demo tinha uma assembleia própria, da qual podiam participar todos os cidadãos masculinos adultos; a assembleia elegia um demarco (uma espécie de prefeito) e aprovava as leis que diziam respeito a questões de interesse local, seja em matéria civil seja religiosa; e registrava, ademais, os nascimentos: quando um homem atingia a maioridade, os seus direitos como cidadão de pendiam do seu registro num demo. Em todas as circunstâncias oficiais dava-se o próprio nome com o do pai e do demo, por exemplo Periklh/j Xanqi,ppou Colargeu,j («Péricles, filho de Xantipo, do demo de Colargo»). Os edifícios públicos dessa vila eram, demais, pelo que sabemos, pequenos e sem pretensões: a casa típica era constituída por uma ordem de cômodos que davam para uma sala interna ( auvlh,); num canto havia uma torre de depósito (pu,rgoj), em cujo plano superior encontravam-se os apartamentos das mulheres, donde se retiravam em caso de visitas de estranhos. Dentro não havia fontes de água, e era preciso ir a buscar a cada dia nalguma fonte; a luz provinha de candeias de barro alimentadas com azeite de oliva, que era usado também na cozinha e para lavar. Pode presumir-se que a maior parte dos camponeses vivia num povoado e dali saíam todos os dias para ir a trabalhar nos seus cam pos, como ainda hoje fazem os camponeses de certas regiões da Grécia e tam bém em nosso País, onde as casas geralmente não se encontram nos campos, mas estão reunidas em vilarejos. Os homens trabalhavam nos campos por boa parte do dia, e, sem dúvida, de tarde passavam o tempo na taberna da avgorᾱ ,, isto é, da praça principal, discutindo sobre agricultura e política com os amigos. A vida alegrava-se por uma série de festas religiosas: numa inscrição proveniente do demo de Erquia lê-se uma lista de mais de cinquenta sacrifícios públicos anuais; no inverno, durante a festa das Dionísias rurais, certas companhias teatrais ambulantes de Atenas levavam também aos demos os espetáculos. Havia ainda cerimônias privadas, que obedeciam a rituais tradicionais, e especialmente celebrações de nascimento, matrimônios e funerais. O horizonte do camponês não era, contudo, por nada limitado ao seu demo: quando tinha mais vinho, por exemplo, ou olivas do que era necessário para o seu sustento, ia à cidade para vender os seus produtos e para comprar os de que tinha necessidade e que ele mesmo não podia produzir. Em Atenas havia, 57
pois, festas religiosas para cada período do ano (veremos isso melhor no enchī ridion do cap. 10), e ele podia participar com a mulher e a família; estas festas compreendiam ainda competições musicais, dramáticas e esportivas. O camponês, à medida que era cidadão ateniense, era obrigado a cumprir algumas funções políticas importantes. Quarenta vezes por ano reunia-se a assembleia popular ateniense ( ekv klhsi, a), da que participavam todos os cidadãos masculinos adultos; em verdade, os cidadãos, empenhados como estavam no trabalho dos campos, não podiam participar a todas as sessões. Todos os anos a assembleia do demo elegia depois os seus representantes no Conselho dos quinhentos (boulh,), que era o comitê executivo da assembleia; os conselheiros (os buleutos) deviam ter pelo menos trinta anos, e ninguém podia ser eleito por mais de duas vezes. Calculou-se que, antes ou depois, quase todo cidadão ocuparia este ofício, que podia comportar a necessidade de residir na cidade, pois que o conselho reunia-se todos os dias. Enfim, os camponeses formavam, no exército, a infantaria pesada (os oplitas). Quando atingiam a idade adulta eram obrigados a submeter-se ao serviço militar, pois que combater entre os oplitas exigia muita prática e disciplina. No IV século a.e.c. todo cidadão de dezoito anos, e mesmo depois, podia ser convocado em caso de emergência. No final do primeiro ano da grande guerra entre Atenas e Esparta (por volta de um ano depois do início de nossa história) o general ateniense Péricles pronunciou um discurso fúnebre como recordação pelos mortos na guerra; em seu discurso ele exaltou os ideais da democracia ateniense, pelos quais aqueles homens tinham morrido. Eis algumas das palavras de Péricles: As mesmíssimas pessoas cuidam de nós e dos seus interesses particulares e das questões públicas: os outros, então, que se dedicam a atividades particulares são perfeitos conhecedores dos problemas políticos; posto que o cidadão que delas absolutamente não cuidem somos os únicos a não considerá-lo não mais um homem pacífico, mas seguramente um inútil (Tucídides, A guerra do Peloponeso, II. 40).
A vida do camponês sob a democracia ateniense, não obstante as condições materiais muito primitivas, era, em resumo, o contrário de obscura e monótona.
58
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
72
73
74
75
76
77
78
CAPÍTULO IV Já encontrámos exemplos de todas as seis pessoas do presente do indicativo singular e plural; agora só nos falta aprendê-las bem: singular : l ῡ ,&w( l ῡ &, eij( l ῡ ,&ei* plural : l ῡ &, omen( l ῡ &, ete( l ῡ &, ousi$n%. Do radical file&: singular : filw/ (< file,&w), filei/j (< file,&eij) filei/ (< file,&ei); plural : filou/men (< file,&omen), filei/te (< file,&ete), filou/si$n% (< file,&ousi@n#). O verbo «ser, estar» é, como já dissemos, irregular: singular : eivmi, ei=, esv ti$n%; plural : esv men, esv te, eivsi$n%. Sing. I II III
l ῡ& l ῡ &, w l ῡ &, eij l ῡ &, ei
Singular
esv & eivmi I ei= II v ti$n% I I I es
Plural
Singular
Plural
l ῡ &, omen l ῡ &, ete l ῡ &, ousi$n%
file& file,&w > filw/ file,&eij > filei/ j file,&ei >f ilei/
file,&omen > filou/ men file,&ete > filei/ te file,&ousi$n% >f ilou/si$n%
Plural esv men esv te eivsi$n%
Como podemos ver, todas as vozes do presente de eiv mi são enclíticas, exceto a segunda do singular ei=. Tendo em vista o escopo prático, até aqui distinguimos, nas diversas formas verbais, a parte final variável (p. ex.: &omen) e a parte inicial invariável (p. ex.: l ῡ &, ), chamando a primeira desinência e a segunda radical , e distinguindo-as com um hífen: l ῡ &, omen. Na verdade, sob uma análise histórica as coisas revelam-se mais complexas: por exemplo, em l ῡ o, men a desinência da primeira pessoa do plural é &men, como se pode ver, confrontando com esv &men, e por outro lado o radical é l ῡ ,o&. Em l ῡ o, &men( l ῡ e, &te observem-se as duas vogais &o& e &e&, que se chamam vogais temáticas porque são as vogais finais do que, em sentido rigoroso, é o tema; nas outras pessoas, seguindo diversos fenômenos fonéticos, as vogais temáticas &e& e &o& não se podem reconhecer, mas, mais adiante, serão evidenciadas em muitas formas. Como já dissemos, file,w é um exemplo de verbo contraído, quer dizer, de um verbo cujo tema ( file&) termina numa vogal que se contrai com as vogais 79
iniciais das desinências. Até aqui observamos as contrações de file,w em todas as formas que pouco a pouco aprendemos; podemos agora fixar, para as contrações do presente dos verbos em &e&, estas simples regras práticas: e ! e > ei; e + o > ou; nos outros casos o e cai: e + w > w, e + ei > ei, e + ou > ou. Note-se que o acento, nas formas contraídas vistas, é sempre circunflexo (veja-se sobre o acento nas contrações a Gramática de consulta, § 8). Nos capítulos 2 e 3 aprendemos as formas do singular e do plural dos substantivos masculinos e neutros, e do artigo e dos adjetivos concordados com eles. Na leitura no início deste capítulo encontrámos diversos substantivos femininos que se declinam seguindo o modelo krh,nh (fonte, manancial); ainda destes apresentou-se-nos a declinação completa do singular e do plural, sem pre unindo o artigo e um adjetivo ao substantivo (que, como sempre, concordaremos com o substantivo em gênero, número e caso). Feminino Nom. Voc. Acu. Gen. Dat.
h` w= t- hn. t- hj/ t- h |/
Singular kal- h. krh,n- h kal- h. krh,n- h kal- hn. krh,n- hn kal- hj/ krh,n- hj kal- h |/ krh,n- h|
Plural ai` w= tᾱ j. tw/n tai/j
kal- ai. kal- ai. kal-ᾱ j. kal-w/n kal- ai/j
krh/n- ai krh/n- ai krh,n-ᾱj krhn-w/n krh,n- aij
Atentemos que o genitivo plural do artigo, de todos os substantivos e de todos os adjetivos gregos terminam sempre em - wn . Igualmente , o dativo sin gular termina sempre em - i , que, às vezes (como aqui) , aparece subscrito, outras vezes não.
Com no masculino e no neutro, também no feminino o genitivo e o dativo, singulares e plurais, do artigo têm o acento circunflexo. Ademais, de novo, como no caso dos masculinos e neutros, os substantivos e adjetivos do tipo krh,nh (ou seja da primeira declinação, como diremos logo) que no nominativo são oxítonos (quer dizer têm o acento na última sílaba) tornam-se perispômenos (isto é, têm o acento circunflexo na última sílaba) nos casos oblíquos (genitivo e dativo) singulares e plurais.
80
O ditongo - ai da terminação do nominativo e vocativo plural (como -oi do masculino) é considerado breve no que diz respeito à acentuação: por isso o nominativo plural de krh,nh é krh/nai (para a lei do troqueu final, v. p. 21). Recordemos que o genitivo plural de todos os substantivos da primeira declinação é perispômeno (circunflexo na última): krhn&w/n. Até agora, como nos verbos, também nos substantivos e adjetivos distinguimos sempre a parte final variável (p. ex.: -oj no nominativo masculino singular, -on no acusativo singular) e a parte inicial invariável (p. ex.: klhr-), chamando a primeira desinência (de dado caso e número) e a segunda radical , e distinguindo-as com um hífen: klh/r&oj, klh/r&on. Fizemos isso por motivos práticos, já que deste modo é mais fácil reconhecer as diversas formas dos substantivos e decliná-los corretamente. Mas, de fato, como já observamos para os verbos, a análise histórica mostra-nos uma realidade muito mais complexa: por exemplo, em klh/roj e em klh/ron as desinências são só -j e -n, e o o pertence ao tema, que é, pois, klhro-; exceto que na maior parte das formas (p. ex.: em klh/-re( klh,rou( klh,rwn) este tema, seguindo diversos fenômenos fonéticos, tornou-se irreconhecível, e só com os instrumentos da linguística histórica é possível reconstruí-lo. A seguir, deveremos usar, geralmente, a noção de tema no seu significado histórico, e já precisamos isso acima, para que não fosse motivo de maravilha e assombro o fato que, por exemplo, imediatamente depois diremos que os substantivos do tipo de klh/roj têm o tema em &o&. Os substantivos gregos dividem-se em três grandes classes, chamadas declinações7, que se distinguem, além do som final do tema, também pelas diversas desinências dos casos: por exemplo, o dativo singular de klh/roj é klh,rw|, mas o dativo singular de krh,nh é krh,nh|, porque klh/roj e krh,nh pertencem a duas declinações diferentes. VAgro,j e de,ndron, que estudámos nos capítulos 2 e 3, pertencem à segunda declinação, que compreende os substantivos cujo tema termina em -o-. VAnh,r, gunh,, quga,thr (filha) e mh,thr, que encontrámos na leitura deste ca pítulo são substantivos da terceira declinação. As terminações da terceira declinação ser-nos-ão apresentadas mais adiante, por ora, poderemos sempre
7
Em grego são três declinações, ao passo que em latim são cinco! (N. do T.) 81
reconhecer o caso e o número dos substantivos da terceira que encontraremos, somente prestando atenção ao artigo que os acompanha! Krh,nh, e os outros substantivos femininos que se declinam da mesma maneira, pertencem, enfim, à primeira declinação; nos substantivos da primeira o tema termina, por regra, em -ᾱ-, mas este -ᾱ- pode mudar-se em - h-. A primeira declinação compreende diversos substantivos femininos e alguns masculinos. Consideremos agora os femininos, que terminam, no nominativo, em - h (krh,nh), em -ᾱ (oivki, a) ou em -ᾰ (qa,latta). Antes de tudo, façamos uma observação importante: no plural, todos os substantivos da primeira declinação (incluídos os masculinos, que estudaremos mais adiante) declinam-se da mesma forma , quer dizer, como krh,nh; as diferenças dizem respeito, pois, só ao singular. Como já dissemos, o tema dos substantivos da primeira termina, por regra, em -ᾱ-; mas em dialeto ático este ᾱ originário final do tema, mudou-se em h, exceto quando vinha precedido de e, i ou r; costuma-se chamá-lo alfa puro o ᾱ precedido de e, i, r que, em ático, se conserva. No primeiro caso (temas não em alfa puro, ou em alfa impuro), havia os substantivos como krh,nh, que no nominativo terminam em - h e conservam este h em todo o singular (veja a declinação de krh,nh na p. 34 deste enchīrid ion ou na p. 76 do Athénaze). Outros exemplos: eo` rth, Murri,nh. No segundo caso (temas em alfa puro), havia, entretanto, substantivos como , «casa», que no nominativo terminam em -ᾱ, nos quais este ᾱ permanece em todo o singular: então, o nominativo e o vocativo terminam em - ᾱ, o acusativo em -ᾱn, o genitivo em -ᾱj e o dativo em - a|. O plural, como já dissemos, é igual ao de krh,nh. Como oivki, a declina-se, p. ex., u`dri,ᾱ. Há poucas exceções à regra do alfa puro e impuro, entre elas ko,rh, «donzela, virgem, moça». Dissemos que os substantivos da primeira declinação têm o tema em - ᾱ-, mas acrescentamos ainda «por regra»: há, de fato, um grupo de femininos da primeira que se declinam no singular, partindo não de um único tema, mas sim de dois temas diversos: dum tema em -ᾰ- nos casos retos (nominativo, vocati82
vo e acusativo) e dum tema em -ᾱ- nos casos oblíquos (genitivo e dativo); o ᾱ dos casos oblíquos passa, em ático, a h, exceto quando vem precedido de e, i ou r (alfa puro). Esses substantivos reconhecem-se, pois, porque o nominativo deles termina em -ᾰ: como exemplo tomamos qa,lattᾰ «mar», e ma,cairᾰ «faca» (que seja breve o a final, vê-se aqui por causa do agudo na antepenúltima). Observe-se, pois, que qa,lattᾰ tem no genitivo e no dativo singulares um h, ao passo que ma,cairᾰ tem um ᾱ, e que, se se prescinde do comprimento do - a-, os substantivos com ma,caira têm a mesma declinação de oivki, a. quais serão o genitivo e o dativo de Me,litta? Temas em -ᾰ- nos casos retos e em &ᾱ- (> - h- se não precedido de e( i( r nos casos oblíquos: Singular Plural Nom. Voc. Acus. Gen. Dat.
h` qa,latt&ᾰ w= qa,latt&ᾰ th.n qa,latt&ᾰn th/n qala,tt&hn th| / qala, tt&h|
Singular Nom. Voc. Acus. Gen. Dat.
h` w= th.n th/n th| /
ai` qa, latt&ai w= qa, latt&ai tᾱ j. qala,tt&ᾱj tw/n qalatt&w/n tai/ j qala,tt&aij
Plural
ma,cair&ᾰ ma,cair&ᾰ ma,cair&ᾰn macai,r&ᾱn macai,r&ᾱ |
ai` ma, cair&ai w= ma, cair&ai tᾱ j. macai,r&ᾱj tw/n macair&w/n tai/j macai,r&aij
Os substantivos masculinos da primeira declinação: Singular Nom. Voc. Acus. Gen. Dat.
o` Xanqi,&ᾱj w= Xanqi,&ᾱ to.n Xanqi,&ᾱn tou/ Xanqi,&ou tw| / Xanqi, &a|
Singular Nom. Voc. Acus. Gen. Dat.
Plural
o` despo, t&hj w= de,spot&a to.n despo,t&hn tou/ despo,t&ou tw| / despo,t&h|
oi` despo, t&ai w= despo, t&ai tou.j despo,t&ᾱj tw/n despot&w/j toi/ j despo,t&aij 83
Como já dissemos, a primeira declinação compreende ainda um certo número de substantivos masculinos. Esses tomam no nominativo singular um -j, de tal modo que terminam em -ᾱj (quando o -ᾱ- do tema é precedido por e, i ou r: temas em alfa puro) ou em - hj (nos outros casos): Xanqi, &ᾱj, despo,t&hj; como vemos, os masculinos da primeira distinguem-se muito facilmente dos femininos. O genitivo singular termina sempre, como na segunda declinação, em -ou, o vocativo singular em -ᾱ ou, respectivamente, em -ᾰ (temas em alfa impuro: w= de, spot&ᾰj; v. a Gramática de consulta, § 17); para o resto, os masculinos declinam-se como os femininos oivki,ᾱ (temas em alfa puro) e krh,nh (tema em alfa impuro). De Xanqi,ᾱj, já que é um nome próprio, existe, naturalmente, só o singular; mas já sabemos que o plural de todos os substantivos da primeira, femininos e masculinos, tem as mesmas terminações. Em despo,thj, note-se que o vocativo singular, que neste substantivo tem acento, excepcionalmente, retraído: w= de, spota. O genitivo plural, como em todos os substantivos da primeira declinação, é perispômeno, quer dizer, possui o acento circunflexo na última vogal: &w/n. Muitos adjetivos declinam-se segundo a primeira e a segunda declinação dos substantivos (adjetivos de primeira classe): assim, por exemplo, kalo,j( kalh,( kalo,n, que vimos unido aos substantivos agv ro,j( de,ndron e krh,nh nas páginas 28 e 34 deste enchī ridion. Esses adjetivos declinam-se, pois, seguindo o modelo de agv ro,j no masculino, de krh,nh no feminino e de de,ndron no neturo. Observe-se que, como o nominativo é oxítono, os casos oblíquos são peris pômenos (cf. pp. 28 e 34). Os adjetivos em que a terminação -oj e precedida por e( i( r declinam-se no feminino como o substantivo h o` ivki, ᾱ (temas em alfa puro). Observe-se a acentuação do feminino: no singular o acento desloca-se regularmente para a penúltima, posto que a última é longa; no plural notem-se o nominativo e o vocativo r` a d|, iai e o genitivo r` ad| i,wn: diversamente dos substantivos da primeira, essa forma é perispômena.
84
Nom. Voc. Acu. Gen. Dat.
r` a |d, i&oj r` a |d, i&e r` a |d, i&on r` a|di,&ou r` a|di&w|
Singular r` ad| i,&ᾱ r` ad| i,&ᾱ r` ad| i,&ᾱn r` ad| i,&ᾱj r` a d,| i&ᾱ |
Plural r` a |d, i&on r` a |d, i&on r` a |d, i&on r` a|di,&ou r` a |d, i&w|
r` a |d, i&oi r` a |d, i&oi r` a|di,&ouj r` a|di,&wn r` a|di,&oij
r` a|d, i&ai r` a|d, i&ai r` a|di,&ᾱj r` a|di,&wn r` a|di,&aij
r` a d,| i&a r` a d,| i&a r` a d,| i&a r` ad| i,&wn r` ad| i,&oij
Doravante das listas dos vocábulos os adjetivos de primeira classe serão indicados de forma abreviada, p. ex.: kalo,j( &h,( &o,n( ou r` a d,| ioj( &ᾱ( &on (fácil, cômodo; ligeiro) Dois adjetivos de uso comum são irregulares nalgumas formas: me,gaj( mega,lh( me,ga, «grande» e polu,j( pollh,( polu,, «muito» (no plural «muitos»); as formas irregulares são só as dos casos retos do singular masculino e neutro, que derivam dos temas mais curtos mege& e polu& me,ga&j( me,ga( me,ga&n* polu,&j( polu,( polu,&n. Para o resto me,gaj e polu,j declinam-se regularmente como os adjetivos de primeira classe, pelos temas megalo- e pollo- (masculino e neutro), megalᾱ- e pollᾱ- (feminino).
Nom. Voc. Acu. Gen. Dat.
M
Singular F
N
me,gaj me,gaj me,gan mega,l&ou mega,l&w|
mega,l&h mega,l&h mega,l&hn mega,l&hj mega,l&h|
me,ga me,ga me,ga mega,l&ou mega,l&w|
M
Plural F
N
mega,l&oi mega,l&oi mega,l&ouj mega,l&wn mega, l&oij
mega,l&ai mega,l&ai mega,l&ᾱj mega,l&wn mega,l&aij
mega,l&a mega,l&a mega,l&a mega,l&wn mega,l&oij
Singular Nom. Voc. Acu. Gen. Dat.
polu,j
poll&h,
Plural polu,
poll&oi,
Não há documentação polu,n poll&ou/ poll&w/ |
poll&h,n poll&h,j poll&h/ |
poll&ai,
poll&a,
Não há documentação
polu, poll&ou/ poll&w/ |
poll&ou, j poll&w/ n poll&oi/ j
poll&ᾱ j, poll&w/n poll&ai/j
poll&a, poll&w/n poll&oi/j
Para a formação dos advérbios de modo (correspondentes às formas em -mente) vale, quase sempre, esta simples regrinha: o advérbio obtém-se do genitivo plural do adjetivo correspondente mudando o -n final em -j (e sem mudar o acento): kalo,j «belo», gen. plur. kalw/n: kal&w/j, «belamente, bem». 85
Junto aos substantivos da primeira e segunda declinação já aprendemos todas as formas do singular e do plural do artigo. Singular Plural Nom. Acu. Gen. Dat.
o` h` to,n th,n tou/ th/j tw/ | th/ |
to, to, tou/ tw/ |
oi` tou, j tw/n toi/ j
ai` ta, ta, tᾱ j, tw/n tw/n tai/j toi/j
Recordar-nos bem de todas essas formas ser-nos-á muito útil quando encontrarmos substantivos que não aprendemos ainda a declinar, já que exatamente o artigo permitir-nos-á reconhecer os diversos casos: por exemplo, em tou/ av ndro,j o artigo tou/ esclarece que avndro,j é um genitivo singular. O vocativo, que, como em português, não possui artigo, vem, frequentemente, precedido da interjeição w=. Exercíci o 4a Encontrar seis formas verbais da primeira e segunda pessoa do plural na leitura do início deste capítulo. Exercíci o 4b Dizer o genitivo dos substantivos ou das expressões que seguem:
1. __________________________________________________ 2. h `Me, litta ___________________________________________________ 3. h k` alh. oiv ki,ᾱ _______________________________________________ 4. h k` alh. ~eorth , _______________________________________________ 5. h k` alh. krh, nh ________________________________________________ 6. o` makro. j po,noj ______________________________________________ 7. h `m ῑ krᾱ .qa, latta ______________________________________________ 8. to. kalo. n de,ndron _____________________________________________ Exercíci o 4c Completar estas frases com a forma apropriada do artigo : 1) ____ kalai. gunai/ kej) 5) VEk ____ gh/ j (=terra)) 2) VEn ____ av grw| )/ 6) VEn ____ oiv ki, aij) 3) Para. ____ krh, nh) 7) ____ mega,la de, ndra) 4) ____ a; llwn avndrw/n) 8) ____ a; ggeloi) Exercíci o 4d Pôr no plural e traduzir as frases seguintes: 1) ~H ko,rh a;gei th.n fi,lhn evk tou/ av grou/) 2) ~H dou,lh th,n u`dri, an fe,rei pro.j th.n krh,nhn) 3) Kalh, ev stin h` ko, rh\ a=rVouvk evqe,leij auvth.n (=a [pron.])) 86
4) Cai/re( w= ko, rh\ a=ra badi,zeij pro.j th.n oivki, an* 5) VEn nw| /e; cw lei,pein th.n u`dri, an evn th| /oiv ki, a |kai. sullamba, nen) Exercíci o 4e Colocar no singular e traduzir as frases seguintes : 1) Ai` fi,lai me,nousi pro.j tai/j krh,naij) 2) Oi` a;nqrwpoi fe,rousi ta. a;rotra evk tw/n avgrw/n) 3) VAkou, ete( w= fi, loi\ evn nw| /e; comen badi,zein pro.j ta.j oivki, aj) 4) Ti, (=quê?) poiei/ te( w= dou/ loi* Mh.o u[tw skaioi. (funesto) e; ste) Exercício 4f Encontrar cinco advérbios terminados em -wj na leitura das pp. 66-67. Exercíci o 4g Dizer o caso e o número do artigo e do substantivo nas expressões seguintes: 1) tou.j a;ndraj 9) tai/j gunaixi, 2) th| /mhtri, 10) tou/ kuno, j 3) tw| p/ aidi, 11) oi` ku, nej 4) th.n nau/n 12) th/j mhtro,j 5) w= pa, ter 13) toi/j paisi, 6) to.n basile, a 14) to.n pate,ra 7) th/j po,lewj 15) w= basileu/ 8) tou/ despo, tou Ler este excerto, depois responder às perguntas. (V. p. 83 Athenaze.)
Pollai. gunai/ kej h[kousin eivj th.n krh,nhn) VEn w|- de. gemi, zousi tᾱ j. u`dri,ᾱj( a;ggeloj proscwrei/) VEpei. De. pa, restin( « akv ou, ete( kunai/kej( » fhsi,n\ «oi` ga. r VAqhnai/oi e`orth.n a;gousin) +ArVouvk evqe,lete auvth.n qewrei/n* Pei,qete ou=n tou.j a;ndraj ῡ m ` aj evkei/se a;gein)» Ai` de. gunai/ kej cai,rousi kai. le, gousin\ «Ma,lista eqv e,lomen qewrei/n kai. ev n nw| / e;comen tou. j a;ndraj pei,qein)» T ᾱ j. ou=n u`dri,ᾱj tace,wj gemi,zousi kai. oi; kade speu,dousin) VEpei. de. h[ kousin oi` a; ndrej evk tw/n avgrw/n( e`ka,sth h` gunh. le, gei\ «:Akoue( w= fi, le a;ner\ a;ggeloj ga.r pa,resti kai. le,gei o[ti oi` VAqhnai/oi e`orth.n poiou/sin) +ArVouvk evqe,leij me evkei/ s/ e a;gein*» Kai. r` a|di,wj pei,qousin auvtou,j\ oi`ga. r a;ndrej auvtoi. ev qe,lousi th.n e`orth.n qewrei/n)
[ῡ
vós (acus.)
lá;
cada uma]
1. O que estão fazendo as mulheres quando se aproxima o mensageiro? _______________________________________________________________ 87
2. O que fazem os atenienses? _______________________________________________________________ 3. O que se diz que faz o mensageiro às mulheres? _______________________________________________________________ 4. Qual é a reação das mulheres ao anúncio do mensageiro? _______________________________________________________________ 5. O que se apressam a fazer as mulheres? _______________________________________________________________ 6. O que fazem as mulheres quando os maridos delas retornam dos campos? _______________________________________________________________ 7. Por que elas conseguem persuadir os maridos? _______________________________________________________________ Exercíci o 4h Traduzir em grego:
1. Diceópoles aproxima-se de Mírrina e diz: «Salve, querida esposa ( gu,n ai); o que estás fazendo?» _______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 2. «Vou apressada (=apresso-me) à fonte, porque (= ga, r ) quero trazer água para casa. E (de,) tu que estás fazendo?» _______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 3. «Eu e o escravo vamos com pressa para o campo. Mas escuta!» _______________________________________________________________ 4. «Os atenienses, de fato, fazem uma festa; desejas vê-la?» _______________________________________________________________ 5. «Eu desejo muitíssimo vê-la; então não vás (mh. i; qi) ao campo, mas conduze-me à cidade ( to. a;s tu ).» _______________________________________________________________ ______________________________________________________________
A formação das palavras Que relação há entre as palavras de cada uma das quatro duplas seguintes? Busque-se o significado das palavras da direita daquele, que é já conhecido, da palavra da esquerda. 1) o` coro, j 2) o` dou/ loj 3) to. a; rotron 4) o` i[ ppoj («cavalo»)
coreu,w douleu,w arv otreu,w i`ppeu,w 88
As mulheres
P
erto do fim de seu discurso fúnebre (v. p. 53 Athenaze), Péricles disse algumas palavras às viúvas dos caídos: Se depois devo acenar também às virtudes das mulheres que ora serão viúvas, indicarei tudo com uma breve exortação. O não ser mais frágil de quanto convém à vossa natureza será uma grande vantagem para vós, e será uma glória se muito pouco se falará de vós entre os homens, com louvou ou vitupério (Tucídides, A guerra do Peloponeso, II, 45).
As mulheres viviam à sombra dos homens, como é claramente demonstrado pela sua posição jurídica: eram tratadas pela lei como menores de idade, e estavam sob a tutela do pai (ou do tutor) até que se casassem, após isso, estavam sob a tutela do marido; não podiam ter propriedades por direito próprio; na vida pública não tinham nenhuma função, não tinham direito de voto na assembleia e não podiam ser juradas nos processos. O centro da sua vida era a oi=koj, e ali eram importantes e respeitadas. Xenofonte, um escritor ateniense do V-IV séc. a.e.c., numa obra intitulada Econômico (Oivkonomiko,j, que quer dizer «livro sobre a administração da casa», não «econômico» no sentido moderno) dá este conselho a uma jovem esposa: O teu dever […] será de estar em casa e mandar para fora juntos os escravos que devam trabalhar fora, superintendendo o trabalho dos que devem ficar dentro de casa. Deverás receber as coisas que serão levadas para casa, e distribuir uma parte para as despesas necessárias, cuidando de conservar o resto; deverás estar atenta ao que há de bastar para um ano não seja consumido em um mês. E quando te for entregue a lã, deverás cuidar que se façam capas para os que deverão tê-las. Deverás preocupar-te ainda que o grão seco seja bem comestível. E há outro dentre os teus deveres […] que t alvez te pareça assaz ingrato: se um dos teus escravos cair doente, deverás empenhar-se para que cure
(VIII. 35-37). Os deveres da esposa de um camponês eram semelhantes a esses; só que, em vez de dirigir o trabalho dos escravos, deveria fazê-lo ela mesma. O trabalho e interminável, e deixava às mulheres pouquíssimo repouso. 89
As moças podiam ser prometidas já aos cinco anos de idade e casar-se aos quinze; os matrimônios eram organizados pelos pais, frequentemente, por interesses econômicos. Todavia, a arte ateniense mostra-nos diversas cenas de vida familiar serena, e as inscrições falam-nos de matrimônios felizes: «Nesta tumba jaz Queréstrara. Seu marido amou-a quando estava viva e chorou-a quando morreu» (O Pireu, IV ou III séc. a.e.c.). O marido era o protetor da esposa e guardava-a dos perigos da vida fora de casa. Mesmo em casa ela não tinha nenhum contacto com homens estranhos à família: em caso de visitas, retirava-se para o cômodo das mulheres (ou gineceu). Na cena inicial de Electra, uma tragédia de Eurípedes, Electra fala com algumas mulheres do vilarejo fora da porta de casa, quando aparecem dois estrangeiros; ela diz logo às mulheres: “Vós fugi pela estrada, eu refugiar -me-ei em casa”. Mais tarde, enquanto Electra está falando com os homens que asseguram que trazem notícias de seu irmão, aparece o marido, um camponês, que diz: “Forasteiros, e diante de minha porta! Quem são eles? Que querem, e por que vieram aqui, à cabana de um camponês? Estão procurando por mim?” e a Electra: “Não é bonito que uma mulher esteja fora de casa e fale com mancebos”. Mas a vida das mulheres não era sempre tão retirada como poderia parecer do que ficou dito até agora: elas participavam das festas religiosas, quer do demo quer da cidade, e também, provavelmente, dos espetáculos dramáticos; tinham obrigações importantes no culto: eram sacerdotisas em mais de quarenta ritos públicos, formavam coros e tomavam parte às procissões. Algumas das figuras mais fascinantes da tragédia grega são mulheres, e todos os três grandes trágicos, mas especialmente Eurípedes, demonstram uma profunda com preensão do espírito feminil e representam-no com simpatia. Semônides, um poeta do VI século, escreve sobre a mulher virtuosa: O homem que é destinado a ela É feliz! A ela somente, crítica Jamais se preocupa, e próspera e florida Para ela torna-se a vida. Amada envelhece Com o esposo que ela ama, e bela e ínclita É a sua estirpe, insigne é entre as mulheres Todas , e cinge-a uma divina graça: Nem se compraz de estar com as mulheres conversando, Posto que são os seus discursos lúbricos (fr. 7)
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
100
CAPÍTULO V » . As amigas, enMelita diz às companheiras: « VEgw. ta. pro, bata ouvc o` rw/ ta. pro, bata evn tw| /a v grw| /) +Ara kai. su. o` ra| /j ta. tretanto, dizem-lhe: «~Orw/ men pro,bata*». Quando, pois, chega improvisamente Fedro e seu escravo, Melita e s in , e Melita diz às amigas: « +Ara o` ra/ t e* ». suas companheiras veem-nos, o` rw/ / e Quando Filipe vê algo ou grita, vimos que se usam as formas verbais o` ra| boa| / . Essas são todas as formas verbais dos verbos contraídos o` ra, w e boa,w . Neste capítulo encontramos diversa forma de verbos contraídos cujo tema termina em - a-, ao invés de - e- como nos contraídos que já estudamos. Tomemos como exemplo o verbo t ῑ ma,w (< t ῑ mw/), (honro): o presente do indicativo será t ῑ mw/ (< t ῑ ma,w), t ῑ ma| j/ (< t ῑ ma,&eij), t ῑ ma| / (< t ῑ ma,&ei); no plural, t ῑ mw/men (< t ῑ ma,&omen), t ῑ ma/te (< t ῑ ma,&ete), t ῑ mw/si$n% (< t ῑ ma,&ousi@n#). O imperativo será t ῑ m , ᾱ (< t ῑ m , a&e), t ῑ ma/te (< t ῑ ma,&ete). O infinitivo é t ῑ ma/n (< t ῑ ma,&ein). Para as contrações observem-se estas regras: a ! w, ou ou > w; a ! e > ᾱ; a ! ei > a | (o infinitivo faz exceção a essa última regra). Note-se que em grego, quando o sujeito é um substantivo neutro plural, o verbo geralmente fica no singular : Ta. de, ndra kala, evstin (as árvores são bonitas)* Ta. a; rotra m ῑ kra, evs tin (os arados são pequenos); Ta. pro, bata evn tw| / avgrw| / me,n ei (as ovelhas ficam no campo). O grego usa frequentemente o artigo seguido de de, no início da frase para indicar uma mudança de sujeito; em português, a essa expressão grega corres ponde normalmente um pronome, com frequência precedido duma conjunção como e ou mas: ~O despo,thj to.n dou/lon kalei/\ o` de. ouv pa,restin = O patrão chama o escravo, mas ele não está; ~O path.r th.n ko,rhn kalei/\ h` de. tace, wj proscwrei/ = O pai chama a serva 8, e ela rapidamente aproxima-se. Em grego, quando uma palavra termina em vogal breve antes de uma palavra que comece por vogal, a última vogal da primeira palavra, muito frequentemente, é suprimida; esse fenômeno chama-se elisão e é representado graficamente pelo apóstrofo. Não nos esqueçamos de que, em grego, a elisão só é possível quando a vogal final da primeira palavra for breve: di‟ovli,gou = dia. ovli,gou( a=r‟ eqv e,leij = ar= a evqe,leij( avll‟ivdou, = alv la. iv dou,. Se a palavra que segue começa com uma vogal aspirada (quer dizer, com uma vogal que tenha o espírito áspero), a consoante que fica no fim da primei8
A serva, ou a moça (ko,rh). 101
ra palavra torna-se, se é possível, também ela aspirada: praticamente, o p torna-se f; o t, q e o k, c; p. ex.: kata. h` me,rᾱn, «todo dia», torna-se kaq‟ hm` e,rᾱn. Note-se que os fenômenos que descrevemos (elisão e eventual aspiração da consoante) acontecem sempre mesmo nos verbos compostos, quando o prevérbio termina em vogal e o verbo simples começa com vogal. avna& ! ai;rw > anv ai,rw ep v i& ! ai;rw > epv ai,rw para& ! eivmi > pa,reimi avpo& ! evlau,nw > apv elau,nw avpo& ! a~ire,w > avfaire,w kata& ! ~ora,w > kaqora,w Nos capítulos precedentes encontrámos os pronomes pessoais egv w,, «eu», e su,, «tu» (nominativos singulares), auvto,n, «ele, o», e auvto,, «ele, isso» (acusativos singulares). Nas leituras deste capítulo, Melita pergunta à mãe: «+Ar‟ouvk eqv e,leij su. h` mi/ n le,gein toiou/ ton mu/qon*» Filipe, porém, repreende-a, e afirma: j de. ta. av ndrei/ a meira,kia ouv fi «~ Ῡ mei/ j me. n ai` ko, rai ouvk ivsc ῡrai, ev ste\ h` mei/ lou m/ en tou.j peri. korw/ n m ῡ q, ouj». Mírrina, convidando os filhos a escutar, diz: « VEgw. ῡ ` n kalo. n mu/qon mi/ le,gein me,llw». Quando Filipe chama Xântia e diz-lhe para não dar pedradas kalei/ j*» no pobre Argo, o servo responde: «+ArVev me. Essas, e muitas outras que podemos encontrar, são formas dos pronomes pessoais. Eis a declinação do pronome pessoal de primeira pessoa egv w,, «eu»: 1.ª pessoa 2.ª pessal Singular Plural Singular Plural Nom. Acus. Gen. Dat.
egv w, em v e,( me em v ou/( mou em v oi,( moi
h` mei/j h`ma/j h`mw/n h`mi/n
su, se,( se sou/( sou soi,( soi
ῡ m` ei/j ῡ m` a/j ῡ m` w/n ῡ m` i/n
Lembremo-nos de que, em geral, o grego não exprime os pronomes pessoais sujeitos (v. p. 19). Note-se que para o acusativo, o genitivo e o dativo singulares o grego usa duas séries de formas, acentuadas ( emv e,( evmou/( evmoi/* se,( sou/( soi,) e enclíticas (me( mou( moi* se( sou( soi ). As formas acentuadas usam-se: a) depois de preposições: parVevme,( pro.j evmoi,( avpVevmou; 102
b) no início de frase: soi. le, gw, «A ti falo»; c) em qualquer outro caso em que se queira da particular relevo ao pronotVevmoi, moi,( ouv soi. le, gei, «diz estas coisa a mim, não a ti» (em vez de: me: tau/tVev tau/ta ta moi le,gei gei, «diz-me estas coisas», tau/ta soi le,gei gei,«diz-te estas coisas). Com o valor de acusativos, genitivos e dativos dos pronomes pessoais de terceira pessoa do singular e do plural usam-se as formas de auvto, to,j, «ele mesmo», que se declina em em tudo e para tudo como um adjetivo adjetivo (por exemplo em vez de kalo,j), exceto no nominativo e acusativo neutro, que termina em -o, em -o,n. to,j( j( auvth,( auvto, to,* auvtoi, toi,( auvtai, tai,( auvta, ta, usam-se só como Os nominativos auvto, formas enfáticas, com o valor de «ele mesmo» (ou «exatamente ele», «ele em rei to.n li,qon qon = Ele pessoa», como o ipse latino), «ela mesma» etc.: Auvto.j ai;rei mesmo levanta a pedra. M F N Singular Nom. Acus. Gen. Dat.
auvt&o,j auvt&h, auv t&o, auvt&o,n auvt&h,n auvt&o, t&o, auvt&ou/ auvt&h/ j auvt&ou/ t&ou/ auvt&w| / auvt&h| / auv t&w| /
Nom. Acus. Gen. Dat.
auvt&oi, auvt&ou,j auvt&w/n auvt&oi/j
Plural auvt&ai, auv t&a, auvt&a, t&a, auvt&ᾱ j, auvt&w/n auvt&w/ t&w/n auvt&ai/j auvt&oi/ t&oi/j
Nos diversos di versos casos do nominativo, pelo contrário, as formas de auvto, to,j têm, como dissemos, o significado de normais pronomes pessoais e traduzem-se «ele (o)», «a ele (lhe)» etc., segundo os casos. Note-se, enfim, que o pronome de terceira pessoa concorda em gênero e número com o substantivo a que se refere: ~O Xanqi,ᾱj ai;rei rei to,n li,qon) qon) Ai;rei rei auvto, t o,n n = = Xântia levanta a pedra. Ele levanta-a. to,n é traduzido como «a» (porque Aqui auvto, (por que em português pedra é feminino), mas é masculino, porque concorda no gênero como o precedente li,qon qon, a que se refere. vmo,j( &h,( &o,n, «meu»; Os possessivos declinam-se como normais adjetivos: emo, so,j( j( &h,( &o,n, «teu»; hme, m ` e,teroj( teroj( &ᾱ( &o,n, «nosso»; ῡ mé m ` eé teroj( ,teroj( &ᾱ( &o,n, «vosso». 103
Na prosa ática com o valor dos possessivos de terceira pessoa «seu, dele» e to,jÇ jÇ «seu, deles» empregam-se frequentemente as formas do genitivo de auvto, auvtou/( auvth/ th/j( j( auvtou/ tou/, «dele», «dela», «disso», «seu» (em latim ēius); auvtw/ tw/n, «deles, delas» = «seu» (lat. eōrum, eārum). to,j colocam-se sempre fora do grupo constituído pelo Os genitivos de auvto, artigo e pelo substantivo (diz-se que estão em posição predicativa, como ex plicaremos mais abaixo) e, como as correspondentes formas latinas ēius, eōrum, eārum, referem-se sempre a uma pessoa diferente do sujeito (diz-se que cairan têm valor não reflexivo): ~O pappoj tw|/ paidi. bohqei/\ o` de. th. n ma,cairan auvtou/ lamba, nei = chega o avô para ajudar o rapaz, e ele [o rapaz] pega a sua faca [= a faca do avô, em latim ēius cultrum].
Notemos nas duas frases seguintes a posição do adjetivo: h ` kalh. oiv ki,ᾱ ou h `oiv ki,ᾱ h` kalh, ,«a bela casa». Em ambos os casos, diz-se que o adjetivo está em posição atributiva: ele encontra-se ou entre o artigo e o substantivo (primeiro exemplo) ou depois repetindo o artigo (segundo exemplo). Nos dois exemplos seguintes, o adjetivo está, pelo contrário, em posição predicativa, quer dizer, encontra-se fora do grupo formado pelo artigo, não repetido, e pelo substantivo (note-se que as que seguem são duas frases com pletas, em que, como como é comum em frases deste tipo, está subentendido o verbo «ser»); Kalh. h` oiv ki,ᾱ, ou então ~H oivki, ki,ᾱ kalh, = «A casa é bela». Como já dissemos, os genitivos de auvto,j usados com valor de adjetivo pospredicativa: h m sessivo («seu», «seus») têm sempre a posição predicativa ` a, caira auvtou/ tou/. A segunda declinação compreende ainda alguns substantivos femininos (p. ex.: h o` ` do,j) que se declinam em tudo como os masculinos. E x ercí er cíci o 5a Encontrar sete formas f ormas de verbos contraídos em -a - na leitura do início deste capítulo. E x ercí er cíci o 5b Ler e traduzir estas formas verbais, depois dizer as formas singulares corres pondentes: 5) poiou/men men 1) t ῑ ma/ ma/te te 6) bow/sin sin 2) filou/si si 7) o`ra/ ra/te te 3) o` fw/men men 8) ponou/si si 4) oivkei/te te 104
E x ercí er cíci o 5c Ler e traduzir estas formas verbais, depois dizer as formas plurais pl urais correspondentes: 5) boa| /j 1) t ῑ ma| ma| / 6) oivkei/ kei/ 2) filei/j 7) fi,lei lei 3) zhtw/ 4) o`rw/ rw/ 8) t ῑ m , ᾱ) E x ercí er cíci o 5d Traduzir as duplas de frases: 1. ~O ku,wn wn to.n lagw.n o`ra| ra| /kai. diw, kei pro.j a;kron kron to. o; roj)
_____________________________________________________________ O pai grita forte e chama o escravo para fora da casa. _____________________________________________________________ ra/te te to.n lagw,n* n* Dia. ti, ouv l ῡ ,ete to.n ku,na* na* 2. +ArVo`ra/ _____________________________________________________________ O que estais fazendo, amigos? Por que q ue estais calados ( s ῑ ῑ ga, )? ga,w w )? _____________________________________________________________ 3. Ou[tw tw kwfo,j (= surdo) ev stin o` av nh.r w[ste ste av ei. me,ga bow/men) _____________________________________________________________ O rapaz é tão corajoso que nós honramo-lo grandemente me, (me,ga ) _____________________________________________________________ ra/n. 4. VEn nw| /e; comen pro.j to. a; stu (a cidade) badi, zein kai. tou. j corou.j o`ra/ _____________________________________________________________ Queremos caminhar para o templo (to. i` ). i`ero, e ro,n n ) e honrar o deus (o` qeo, qeo, j j ). _____________________________________________________________ sqi( w= pai/\ i; qi pro.j o;roj roj kai. zh, tei to.n ku,na na. 5. Mh. ou[ tw r` a ,|q ῡmoj i;sqi( _____________________________________________________________ Não sejas tão duro, duro, vovô: de fato não tenho culpa (= não não sou culpável). _____________________________________________________________ E x ercí er cíci o 5e Tornar às leituras 3a e 5 b e e encontrar, em qualquer leitura, pelo menos oito exemplos de pronomes pessoais e de formas f ormas de auvto, t o,j j . E x ercí er cíci o 5f Ler em voz alta e traduzir : 1) VElqe. deu/ro( w= pai/ \ o` ga. r h`me, me,teroj teroj despo,thj thj h`ma/ ma/j kalei/) 2) Ti, poiei/ te( w= dou/ loi* VEgw. me. n ga.r ῡ ma/ m , a/j kalw/( ῡmei/j de. ouv k avkou, kou, ete) 3) +ArVouvk avkou, kou, ete, mou* Fe, rete, moi to. a; rotron) 105
4) VAllV( w= de, spota( nu/n fe,romen auvto, soi) 5) Ka,qize meqVh`mw/n( w= pai/( kai. le, ge moi ti, pa, sceij) 6) To.n evmo.n ku,na zhtw/( w= pa, ter\ o` de. feu, gei avna. th, n o`do.n kai. ouv k evqe,lei ep v anie,nai (= voltar, tornar) 7) Qa,rrei (=tem coragem)( w= pai/ \ evgw. ga. r th.n fwnh.n (=voz, palavra) auv tou/ avkou,w) Zh,tei ou=n auvto,n) 8) ~Orw/a uvto. n evpi. a; krw| tw| /o; rei\ ivdou,( nu/n tre,cei pro.j h`ma/j) 9) :Agrioj me.n o` lu, koj kai. me,gaj( o` de. pai/ j th.n ma,cairan lamba,nei kai. tu,ptei auvto,n) 10) ~O me.n pa,ppaj h;dh pa,restin( o` de. Fi, lippoj th.n ma,cairan auvtou/ lamba, nei kai. av poktei,nei (=mata) to. n lu,kon) Ler este excerto, depois responder às perguntas .
{O te Fi,lippoj kai. path. r brade,wj badi,zousin avna. th.n o`do,n\ zhtou/sin ga.r ta. pro, bata) VEpei. de. eiv j a;kron to. o;roj h[kousin( ta. pro,bata o` rw/sin\ me,nei ga.r pro.j th| / o` dw| / kai. polu. n qo,rubon poiei/) ~O ou=n Dikaio,polij( «ti, pa,scei ta. pro,bata* » fhsi, n\ «speu/de kata. th. n o`do,n( w= pai/ ( kai. gi, gnwske dia. ti,t osou/ ton qo,rubon poiei/)» ~O ou= n Fi,lippoj speu,dei kata. th. n o`do,n) VEpei. de. toi/j probaá t, oij proscwrei/( me,gan lu,kon o`ra| /\ to.n ou=n pate,ra kalei/ kai. boa| /\ «VElqe. deu/ ro( w= pa,ter( kai. boh, qei\ me,gaj ga.r lu,koj pa,resti kai. me, llei toi/j proba,toij evmp ῑ p , tein)» @kata. th.n o`do,n pela estrada, ao longo da estrada -me #
! ajuda-me! socorre-
1. O que procuram Filipe e seu pai? _____________________________________________________________ 2. Onde veem o rebanho? O que fazem as ovelhas? _____________________________________________________________ 3. O que Filipe vê quando se aproxima do rebanho? _____________________________________________________________ 4. Qual a exortação que faz o pai? _____________________________________________________________ ~O ou=n Dikaio,polij to.n ku,na l ῡ e, i kai,( «i;qi dh,( :Arge(» fhsi, n\ «to.n lu,kon di,wke\ su. de,( w= pai/ ( me,ne evntau/qa)» ~O me.n ou= n Fi,lippoj me,nei pro.j th| / o` dw| (/ o` de. :Argoj u` laktei/ kai. ou[ twj avgri,wj o`gma| / evpi. to. n. lu,kon w[ste o` lu,koj avpofeu,gei) ~O de. Fi, lippoj kai. o` path. r tre,cousi metVauvtou.j kai. bow/ si 106
kai. li, qouj ba,llaousin) VEntau/qa dh. to. n ku,na kalou/si kai. ta. pro, bata oi;kade elv au,nousin) lançam, arremeçam]
5. O que Diceópoles está fazendo? _____________________________________________________________ 6. Filipe obedece a seu pai? _____________________________________________________________ 7. O que está fazendo Argo? Com que resultado? _____________________________________________________________ 8. O que fazem Filipe e seu pai no fim da história? _____________________________________________________________ Exercíci o 5g Traduzir em grego:
1. Não vemos muito lobos nas colinas, e raramente ele saem para os campos. _____________________________________________________________ 2. Então, admiramo-nos que Filipe tenha matado (avpe, ktone ) um lobo. _____________________________________________________________ 3. O rapaz é bom e guarda bem ( eu=) as ovelhas, mas nem sempre diz a verdade (ta. avl hqh/) . _____________________________________________________________ 4. Então temos intenção de ir apressadamente à colina e procurar a carniça ( o` nekro,j ). _____________________________________________________________ A for mação das palavr as Movendo do significado, que nos é notório, dos verbos a esquerda deduzir o significado do substantivos à direita. 1) boa,w h` boh, 2) t ῑ ma,w h` t ῑ mh, 3) o`rma,w («precipito-me») h` o`rmh, 4) n ῑ ka,w («venço») h` n ῑ k, h 5) teleuta,w («termino, morro») h` teleuth,
107
Deuses e homens uando Diceópoles está para começar a arar, faz, antes de tudo, uma oração a Demetra, a deusa das colheitas; antes de levar a família a Atenas, para a festa de Dionísio, deus do vinho, vai ao altar que se encontra no pátio de sua casa e faz uma libação (quer dizer, derrama umas gotas de vinho) a Zeus, o pai dos deuses e dos homens. A religião impregnava toda a vida dos gregos; a oração e as ofertas eram obrigações cotidianas. Hesíodo, o poeta do VIII século, diz:
Q
Santificado e purificado, sacrifica aos deuses imortais segundo as tuas possibilidades; queima a eles coxas reluzentes de vítimas; noutros dias propicia-lhes libações e ofertas, seja quando vais dormir, seja quando desponta a sacra luz, de tal modo que os deuses tenham um ânimo bem disposto para contigo; tu, então, estarás em grau de comprar uma fazenda de outro, não, porém, outros a tua ( A obras e os dias, 336-341).
Os gregos eram politeístas, isto é, veneravam muitos deuses, e a sua religião nascia da fusão de elementos de proveniência diversa: quando pela primeira vez, talvez nos alvores do II milênio a.e.c., entraram do norte na Grécia povos de língua indoeurpopeia (v. p. 8), eles trouxeram consigo como sua principal divindade «Zeus pai» (Zeu.j path,r; confronte-se com o latino Iuppiter , cujo segundo elemento é igualmente pater ), deus do arco celeste luminoso; na religião dos primitivos habitantes da Grécia a figura divina mais importante era, ao invés, uma deusa, a «Terra mãe», venerada sob diversos nomes, entre os quais o de Demetra (Deméter). A família dos doze deuses olímpicos reunia divindades de logos diferentes e de diversas regiões; eram chamados olímpicos, porque cria-se que viviam no cume do monte Olimpo, e cada um deles tinha a sua própria influência: Zeus era o senhor do raio e o pai dos homens e dos deuses; Hera, sua mulher, a deusa patrona das mulheres; Atenas, sua filha, a deusa da sabedoria e das artes; Apolo, filho de Zeus, o deus da luz, da profecia e da medicina; Ártemis, irmã de Apolo, era uma virgem caçadora e a deusa da lua; Poseidon (Posidão, Posídon, Possêidon), irmão de Zeus, o deus do mar; Afrodite, a deusa do amor; Hermes, filho de Zeus, era o mensageiro dos deuses e portador de boa sorte; Hefesto (Hefaísto) o deus do fogo e dos ferreiros; Ares, filho de Zeus, o deus da guerra; Dionísio, também ele filho de Zeus, o deus do vinho; Demetra (Deméter), irmã de Zeus, a deusa das colheitas. Além dos grandes deuses olímpicos, havia muitas divindades menores, como Pã e as ninfas, e muitos deuses estrangeiros, cujo culto foi introduzido na Grécia em épocas diversas. 108
Na religião grega não havia nem um igreja, dogmas, nem sacerdotes única e exclusivamente encarregados do culto. Construíam-se templos, que eram considerados como as moradas das divindades a quem eram consagrados; nos templos não se celebravam ofícios divinos, e o altar sobre o qual se faziam as ofertas achava-se fora do templo, ao ar livre. Os deuses eram honrados com preces e ofertas, quer privadamente, pela família, quer publicamente, pelo demo e pelo Estado, com festas que aconteciam em datas fixas durante o ano. O culto privado consistia, frequentemente, de uma libação de vinho, derramado no altar ou na oferta, da oferta de um pouco de incenso, queimado no fogo que estava numa cavidade da pedra horizontal do altar. Os ritos públicos culminavam no sacrifício dum animal, feito pelo sacerdote; o sacrifício era seguido de um banquete público. Aos deuses eram atribuídas formas e características humanas (antropomor fismo); eles eram imortais e poderosos, mas o seu comportamento era frequentemente arbitrário. Mais que à moralidade do comportamento dos homens, eles estavam interessados em ver-se reconhecida a honra que lhe era devida, e nisso eram exigentes e ciumentos; por outro lado, quem lhe desse as honras e as ofertas devidas podia esperar-se de ser recompensado com a sua ajuda e proteção. No início da Ilíada, Crixo, secerdote de Apolo, a quem os gregos se refutam de devolver a filha primogênita, ora ao deus com estas palavras: “Escuta-me, ó Arco de prata, que Crixo protege, E Cila divina, e reges sobrerano em Ténedo, Esminteu, se alguma vez te agradei erigindo um templo, E se te queimei coxas gordas De touros ou cabras, atende-me este voto:
Paguem os gregos as lágrimas minhas com os teus dardos.”
(I. 37-42) Crixo invoca Apolo com os seus títulos (o significado do segundo, Esminteu, é incerto) e nomeando três centros de seu culto (os deuses não eram oni presentes, e Apolo podia encontrar-se em qualquer um destes lugares); ele recorda ao deus os serviços que lhe prestou no passado, e só depois faz sua súplica, que Apolo castigue os gregos golpeando-os com uma doença (as flechas de Apolo traziam doença e morte, como ele era o deus da saúde, era, igualmente, o deus que mandava as enfermidades). A oração foi ouvida, e os gregos foram golpeados com a peste.
109