ÀSA ÒSÁNYÌN – O RITUAL DAS FOLHAS Gostaria de esclarecer, que meu empenho neste tópico é de melhor esclarecer o que já se julga saber de domínio mais ou menos público, algumas informações sobre o “Ritual das Folhas”, preservando na esfera do silêncio os fundamentos, os segredos, os mistérios denominados de Awo. Embora estes denominados de “segredo” pertençam ao “Legado dos Orixás” acredito que estes devam permanecer à esfera de uma vivência privilegiada, de uma iniciação e consagração, que marque o caminho existencial de uma longa aprendizagem. Porém descrevo parcialmente sem violar o sagrado informações sobre este rito tão complexo, repleto de mistérios e de pouco entendimento para muitos adeptos. Tra rata ta-se -se de um uma a cer cerim imôni ônia a des destin tinad ada a ao Òrìsà Òsányìn, do qual comporta um conjunto de orin ewé – cantigas de folha denominadas sásányìn ìn se popula pop ularm rmen ente te ent entre re o po povo vo-de -de-sa -santo nto de sásány segu guid ido o de um conj co njun unto to de Adúrà – oraçõ ções es,, qu que e com omp ple lem ment nta a outr tros os doi ois s importantes ritos; os ritos de passagem - a iniciação e o rito r ito de sacrifício quando ofertado animais quadrúpede, sobretudo no rito do terceiro e sétimo dia após imolar os animais. O ri ritu tual al do sá sásá sány nyìn ìn” pa part rte e in inte tegr gran ante te do co comp mple lexo xo si simb mból ólic ico o subjacente a um dos ritos de passagem, a iniciação e a consagração den entr tro o do cul ulto to aos Òrìsà, é qu qua and ndo o pro roc ces ess sa a co con nstr tru uçã ção o da identidade dos noviços. Uma cerimônia que não esta no nível mental da comp co mpree reensã nsão, o, por porém ém na din dinâm âmica ica do com compor porta tame mento nto.. Es Esta ta bas basead eada a mai ais s em re refl flex exos os qu que e no ra raci cioc ocín ínio io,, re refl flex exos os es este tes s in indu duzi zido dos s po porr impulsos oriundos do fundamento cultural da sociedade. O que aqui relato é o que tenho aprendido com antigos sacerdotes do culto. Não que esta seja a verdade, a maneira correta ou que outras formas de realizar encontram-se equivocadas; porém esta é a minha mais que absoluta verdade, pois é desta maneira que procedo este ritual. Não sou infalível, posso estar errado, se estou, não se esqueçam de que, como vocês, vivo de um punhado de painço, de uns goles de água e de alguns sopros de ar. “O Homem não é e nunca será infalível” “
Aprendi com Aprendi com meu meu mestre” mestre” Aprendi Apren di com com meu meu pai” pai” Foi o que suguei no seio de minha mãe” “
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A priori qualquer Ègbón – ma mais is ve velh lho o ex expe peri rien ente te no as assu sunt nto o po pode de proced pro ceder er es este te rit ritual ual,, ma mais is aq aqui ui da darem remos os de desta staqu que e ao Bàbálòsányín como o “Mestre de Cerimônia das Folhas”. Uma vez que se considera a natureza como viva e animada pelas forças,
todo ato que a perturba deve ser acompanhado de um “comportamento ritual” destinado a preservar e salva-guardar o equilíbrio sagrado, pois tudo se liga, tudo repercute em tudo, toda ação faz vibrar as forças da vida e desperta uma cadeia de conseqüência cujo efeitos são sentidos pelo Homem. Este dito “comportamento ritual”, inclui a “abstinência sexual” no dia anterior, assim como a purificação do corpo através de banhos específicos. Despertará antes do amanhecer, em jejum absoluto, sem dirigir a palavra a quem quer que seja, fará o seu caminho de encontro com Òsányìn. Em alguns Terreiros ouve-se cantigas da ida e de volta daqueles que se aventuram na natureza. As de ida tem a conotação de “vá contente e volte satisfeito”; as de retorno “agracemos por ter voltado são e salvo”. Com um cesto de palha, munido com alguns owó – moedas; obì – noz de cola; ataare – pimenta da costa; lepe – fumo em corda desfiado, curtido em aguardente de cana, mel de abelha e vinho branco doce e eko – pudim de milho branco envolto em folha de bananeira. Ao chegar à seu destino, saúda Òsányìn masca um pedaço da noz de cola algumas pimentas da costa e com um pouco de água fresca borrifa em direção ao quatro cantos da floresta e com a boca fortalecida pelo àse da fala, invoca Òsányìn, lhe explica claramente o motivo de sua visita e na entrada da mata pagará tributos ao Senhor das Folhas. Entoa-se alguns sásányìn específicos e então inicia-se coleta das ervas. Cada maço de folha colhido, deverá ser deixado sobre o solo e ao finalizar a coleta, retornará pelo mesmo caminho, recolhendo as folhas e acomodando-as dentro do cesto. Ao sair da mata fara votos de agradecimento à Òsányìn, sobretudo o fato de não lhe “cegar”, afim de não encontrar as folhas necessárias, embora estivessem na mata. “As folhas são muito sestrosas e senão se faz as coisas direito elas desaparecem” O Bàbálòsányín ao retornar, acomoda-se por espécie as plantas, sobre uma esteira; oferece um pedaço de noz de cola, algumas pimenta da costa e água, tudo mascado e borrifado sobre as folhas e proferes algumas palavras de sorte. Este ato tem como finalidade receber o àse do representante oficial de Òsányín. Diante da esteira, coloca-se o Odo - almofariz, acompanhado de seu pilão; o Ematon - representação de Òsányín; O Otun – quartinha de barro; o Ewé Pèrègún – folha de nativo e o Ikoko Àgbo– pote de barro. Entoa-se o Mo Juba – Cerimônia de Invocação, do qual por deferência, o sacerdote, antes de inciar qualquer rito, dirige-se aos antepassados para pedir-lhes sua benção e que venham assisti-lo, a fim de evitar que a língua troque as palavras ou que ocorra um lapso de memória, que o levarias a alguma omissão. Inicia-se o ritual, entoando o sásányìn, porém estas cantigas denominadas de Orin Ewé, não pode serem cantadas aleatoriamente,
existem as cantigas das três primeiras folhas que “abrem” o ritual, são estas:
Ewé Tètè – Bredo ou caruru-de-porco Ewé Ètìpón ola – Erva tostão ou pega-pinto Ewé Pèrègún – Folha de Nativo ou Coqueiro de Vênus Antes de entoar cada cantiga, aquele que canta, deverá perguntar por por três vezes – Asa O O O e os presentes responderam - Eru a Je. A esta recitação denominamos de Ofò – são frase curtas nas quais muito frequentemente o verbo que define a ação esperada, o verbo atuante, é uma das sílabas do nome da planta ou do ingrediente empregado... Seu significado ainda esta obscuro, mas podemos interpretar como “saudação à cerimonia que o escravo funcione” aqui o escravo poderia estar referindo-se à Aroni – a divindade que acompanha Òsányín ou ainda refere-se as folhas substitutas denominadas de ewé eru. Após as três primeiras folhas forem “reverenciadas” , entoa-se um “corpo de cantigas” dependendo da divindade a ser iniciada e consagrada no noviço. Cada cântico deverá ser obrigatoriamente entoado por três vezes. A repetição imemorial das cantigas de sásányìn, seguindo uma rotina ancestre, já aufere a cada palavra um valor além do seu significado. O correspondência do número três dentro da liturgia, tem como origem a Tradição Ogboni e de Ifá, e seus múltiplos significados estão: harmonia e equilíbrio, por outro lado significa o poder dinâmico (agbara) tanto físico como metafisico, sendo obedecida uma numeração ímpar que conota movimento, a mudança de uma etapa para outra. “O número ímpar multiplicado ao infinito” Os cânticos são empregados para a transmissão de conhecimentos, agindo também, como indutores do transe. Nos textos dos cânticos, estão embutidos o nome das plantas e quando não, fazem menção à suas características morfológicas, as virtudes de cada uma e sua relação com a divindade. Nestes textos, estão também inseridos nomes de objetos e substâncias usadas dentro da liturgia. As cantigas de sásányìn assumem um papel relevante e desencadeadora de àse – o poder das forças latentes que permanecem silenciadas no interior das folhas. Ficam em estado de repouso até o instante que a fala, a invocação propriamente dita, venha colocá-las em movimento. Vivificadas pelos cânticos sagrados essas forças começam a vibrar. “Como um homem que se levanta e se volta ao ouvir seu nome”. Nas canções rituais e nas fórmulas encantatórias, a fala é, portanto a materialização da cadências; e se considerada como tendo o poder de agir sobre as divindades, é porque sua harmônia cria movimentos, movimentos que geram forças, forças essa que agem sobre as divindades que são, por sua vez as potencias em ação. Estes textos cantados são em linguagem litúrgica, em Ioruba arcaico,
que foi se alterando com o tempo e certamente perdendo o seu sentido literal sem perderem, todavia, seu significada ritual e o significado do texto. Apesar do desconhecimento da tradução literal de um expressivo número de palavras, muitos ainda possuem o domínio do sentido dos textos. Apesar das modificações por que têm passado, ainda é possível encontrar seus traços formais básicos, e como tudo leva a crer, seu aspecto essencialmente arcaico. Enquanto celebra o rito, as folhas são introduzidas no interior do almofariz, onde são piladas por grupo. O almofariz, onde as folhas sagradas são trituradas, é objeto ritual feito apenas com determinados tipos de madeira. Como na ferraria, a carpintaria simboliza as duas forças fundamentais: o almofariz representa, como a bigorna, o pólo feminino, enquanto o pilão representa, como o martelo, o pólo masculino. O que dentro do almofariz sai é “o elemento criado, o elemento procriado”. Algumas linhagem não o fazem uso do pilão, macera as folhas com as próprias mãos. As folhas trituradas serão colocadas em potes individuais para cada divindade a consagrar, será adicionado algumas substâncias dependendo da divindade a que se destina o preparo e por último verte-se água sobre as folhas trituradas. A este preparo damos o nome de Àgbo ou Omi Òrò Òsányìn. Muitos denominam este de Omi Èro – água qua acalma, porém ao meu entender não corresponde com a realidade, pois seja qual for a divindade a ser consagrada existem Ewé Èro – folhas que acalmam e Ewé Igègùn – folhas que agitam, assim como as folhas machos e fêmeas que mantem o equilíbrio com a paridade e a complementariedade. Ademas a palavra Èro também tema a conotação de antídoto, então Omi Èro é utilizado para curar um mal que assola alguém e não para ser usado durante as ritos de iniciação. Temos ainda o Omi Òrò T'orí do qual utiliza-se em casos extremos, de um complexo e detalhado modo de preparo, que consiste na composição de folhas, alguns ingredientes e água de alto mar e o Omi Òrò Mímú – denominados por muito de “o chá do ìyáwò”, que são infusões de folhas que o noviço deverá ingerir durante a reclusão dos ritos de iniciação. Uma de suas finalidade, consiste em incitar o transe e a purificação interna do corpo para receber a “energia do Òrìsà” Para finalizar inicia-se o grupo de Adúrà – orações, então entoa-se a cantiga para encerrar a cerimônia do sásányìn. Após o término do ato de sacrifício do animal quadrupede e seus animais complementares, entoa-se as cantigas de sásányìn, assim como as orações, denominadas de “oferecimento de matança”. Esta “cerimônia complementar” é a única que tem o poder de transportar a essência do Èjè – do sangue derramado, ao outro mundo – o Òrun em forma de àse, até então puro, para que retorne do além em “energia positiva”. Seria em outras palavras “destilar o sangue das vítimas imoladas”. Pode se afirmar que Òsányìn age como mensageiro entre
este mundo e o outro. Não podemos deixar de mencionar que o àse em sua essência é totalmente pura, podendo se transformar em energia positiva, negativa ou até mesmo nula. Cada linhagem, cada rama tem a sua maneira de cantar, diferenciando expressivamente o texto das cantigas, porém com o mesmo contexto ritual. Muitas desta cantigas alteradas são inexplicáveis do ponto de vista litúrgico e indicam uma menor preocupação, talvez por falta de conhecimento litúrgico mais completo por parte dos sacerdotes do culto, com os fundamentos sagrados. Novas cantigas aparecem frequentemente no repertório do sasányìn. Geralmente esta não são propriamente “cantigas compostas” e sim, cantigas de épocas remotas das quais ainda não se tornaram de conhecimento público. Quanto as “cantigas compostas, apesar de serem cantigas “inventadas” de acordo com os antigos sacerdotes e a própria tradição. Mas sem dúvida alguns improvisadores com domínio do Ioruba, de um vasto conhecimento sobre as folhas, desenvolvem cantigas da qual tendem a colocá-las dentro dos moldes tradicionais africanos. Os tempos atuais, comprovam que houve pouca transformação, isto é, as mesma cantigas tradicionais continuam a funcionar de acordo com a tradição. No entanto, o depoimento de vários antigos sacerdotes, indica, o desaparecimento do repertório de várias cantigas de sásányìn associadas com inúmeras folhas e objetos litúrgicos; ou ainda o fato de que jovens sacerdotes tem um conhecimento limitado do repertório tradicional. Os Iorubas, assim como seus descendentes no Novo Mundo são altamente conscientes do significado dos nomes e das palavras, mas gostam também de interpretar cada palavra que usam e não traduzi-las no sentido literário. Eles acreditam que cada nome e cada palavra é, na verdade, uma sentença que foi contraída através de uma série de elisões a uma só palavra. Naturalmente, na tentativa de reconstruir a frase original ou traduzi-lá, podemos chegar a vários significados. “Os nomes com vários significados possíveis nos remetem a questão do significado múltiplo das palavras” ou “Quanto mais as palavras têm um sentido oculto, somente compreendidas por aqueles que dominam o tema, mais são apreciadas pelos seus conhecedores.” Para a nova “geração” de sacerdotes, formada num contexto todo diferente dos moldes padrões, a tradição muitas vezes deixou de viver. São “Histórias de Velho!” afirmam. No entanto é preciso dizer que, de um tempo para cá, uma importante parcela de novos sacerdotes cultos, vem sentindo cada vez mais a necessidade de se voltar às tradições ancestrais e de resgatar seus valores fundamentais a fim de encontrar suas próprias raízes e o segredo de sua identidade profunda.