eEDUSC
SUMARIO /\7(,99p
Arostegui, Julio. A pesquisa hist6riea : teoria e metodo / Julio Arostegui ; tradu<;~o Andrea Dorc ; rcvisao tecniea Jose Jobson de i\J:Idrade Arruda. - Bauru, SP : Eduse, 2006. 592 p. ; 23 em. -- (Cole<;ao Hist6ria) Inclui bibliografia.
Tradu<;ao de: La invcstigacion historica: teo ria y metodo, e 1995.
ISBN 85-7460-300-7
I)
I. Historiografia. 2. Historia - Metodologia. 3. Hist6ria - Teoria. I. Titulo. II Serie. CDD 907.2
tNDlCE DE QUADROS
APRESENTA<,:AO
Hist6ria ou histriografia? Ciencia OU arte? II
PROLOGO A NOVA EDl<,:AO
PARTE
1
Teoria, hist6ria e historiografia ISBN (original) 84-8434-137 - I
Copyright© 1995 Y 200 I, Julio Ar6stegui
Copyrighl© 200 I de la presente edicion para Espana y America:
Editorial Critica, S.L., Proven<;a, 260, 08008 Barcelona
Copyright© de tradu<;ao - EDUSC, 2006
CAPiTULO
1
.u
IIist6ria e historiografia: os fundamentos
.)C,
A hist6ria, a historiografia e 0 historiador
;\ historiografia, a ciencia e a ciencia social
( ) conlelldo da teoria e os fundamentos do metodo historiogrti!;m
'''' ."Is:,
( :,\1' iTt 11.0 2 (),/ Tradll\,ilo realizada a partir da cdi,'ao de 200 I.
I lireitos ('XdllSivos de' 1'1Iblira,";o "111 lingua portlll',""sa
par" 0 llr
lei IIT( )I{/\ I lA tiN IVI'.HSII lAI) " I In SAl ;llAI)() (X )I{A( ,'AI)
Ih lll l""ll A' " II,,,I .. , I U ',11
( .1 P t 11111 11,11 1\,'\11 11 SI'
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l 'l l I
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"", 7 '1'1
I ••
( ) nascirilcnln c 0 descnvolvimcnlo d
/III/
( ) SIIIXilllt'IIto till "t:ihll·jll do hist()ria"
I 18
/1 t{/,om tlos .I!,1Wltll'S /llll'lllligll/IIS
I 3 1\ crise da historiografia e as perspectivas na virada do seculo
CAPiTULO
( :Al'iTlJl.O
I PI
/1'/ ) ()8 , j /
466
488
Uma teoria da documentarao hist6rica
465
A crise da historiografia As propostas renovadoras As perspectivas de mudanra
8
o processo metodo16gico e a documenta<,:ao hist6rica o processo metodol6gico na historiografia
9
Metodo e t~cnicas na pesquisa hist6rica
CAPiTULO i'AI(,I'E
2
513
1\ [coria da historiografia
( :AI'ITI JI.O
4
t;;1 So('icdade e tempo. A teo ria da hist6ria. :. ~· I
:71 '.'/0'1
.';"c·il,dl/de e hist6ria '/;'///1/0 (' hist6ria / /i~/e)rio como atribuirao ( :AI'ITlJI.O
( ) ohjeto te6rico da historiografia
I(M
A conformarao do objeto da historiografia Sistema, estado social, sujeito e acontecimento A anrJlise da temporalidade
!.!()
111)
CAPiTUl.O
6
l'l r,
1\ cxplica<,:ao e a representa<,:ao da hist6ria
ViS
A natureza da explicarao hist6rica A representarao do conhecimento hist6rico
!()'/
i'Alm :
()s
3
instrumentos da analise hist6rica
( :AI'ITIII.O
'I .) I
•
5
10 I
7
( ) m{'lodo cil'nLillco-social c a historiografia
1..:.1 ( ) "'01'(0 til' f'/'{t'rhlc;o: 0 /l//:/odo das (;el"rills sociois I:; I ;\ IIII/IIn' ?1/ tIo ",dodo 1,;s/o, ;0.\:/"(1/1('(1
537
As tecnicas qualitativas As tecnicas quantitativas
')59
REFERJ?NCIAS BlBLlOGRAFICAS
I,H:)
INDICE ONoMAsTICO
SIS
I
INDICE ·DE QUADROS
A e1aboracrao da linguagem cientifica ......................... 60
2 As ciencias sociais, segundo a classificacrao de Jean Piaget ....... .. 66
:~
Modelo de explicacrao nomol6gico-dedutiva .................. 365
4 Estagios 16gicos do metodo da ciencia . . ..................... 445
5 Metodo, praticas metodol6gicas e tecnicas .... ........ . .... ... 451
6 Os campos de pesquisa do hist6rico .. ....................... 475
7 Criterios para a classificacrao das fontes hist6ricas .............. 493
8 Fontes hist6ricas segundo sua intencionalidade ................ 497
9 A avaliacrao das fontes ..................................... 510
10 Natureza das tecnicas ..................................... 518
11 Perfis de discursos, segundo a regulacrao de "sublimacrao" ....... 531
12 Dados numericos tabulados dos combatentes
de Navarra na guerra civil, 1936-1939 ........................ 548
13 Emigrantes das provincias de Castela-Le6n
em Cuba, 1911-1920 (exemplo de matriz de dados) ...... ..... . 549
14 Exemplos de representacroes graficas ....... ........ ..... '..... 558
l
9
APRESENTAC;:AO
HISTORIA OU HISTRIOGRAFIA? CIENCIA OU ARTE? Ao completar 10 anos de existencia e mais de 600 titulos elencados em seu catalogo, a EDUSC tornoll-se referencia na area das humanidades, parti cularmente no campo da Historia e, mais especialmente ainda, no setor que poderiamos denominar das obras historiograficas. Segue, sem premeditar, urn movimento amplo de publicacr6es que exibem 0 vocabulo 'historiografia', mesmo que muitas del as nao tratem efetivamente do assunto e, no limite, nem mesmo tern conscienci~ do significado que a expressao ganhou em nossos elias, mas que, ao ostenta-Io, integram-se a corrente dominante na confraria dos historiadores. No fun do, expressa a crise permanente que ronda 0 bivaque dos historiadores, crise esta que se apresenta, em sua forma mais agressiva, na p6s-modernidade, e que exalta a necessidade da reflexao historiografica. Ao reyeS da tendencia entre nos, em que a historiografia confere status aos titulos publicados, a obra de Julio Arostegui, em suas mais de 500 paginas to\almente devotadas, a reflexao sobre 0 significado denso da hist9riografia, porta lim titulo c1assico A pesquisa hist6rica: teoria e metodo, bern ao estilo dos lIlesl res fundadores do saber historico na primeira metade do seculo 20, a ('x(,llIpio de Ilcnri Berr, para quem os historiadores jamais refletiam sobre a 11,1 1\I f'cza de sua ci{~ ncia. 0 resultado e urn notavel tratado sobre ciencia histo~ riol',I'.di(" ,I. 11111 diIlO/l que \till no excrcicio crftico permanente uma das mar
Aprese1ltt1fiio
Apresentafi'lO
dos inlelectuais catalaes, onde pontifica Josep Fontana. Publicad{) origi lI. dlllcnle em 1995,0 texto ora publicado foi reformulado e atualizado para a cclil,- ill) cspanhola em 2001. Demonstra enorme capacidade para reunir leitu l'ilS IIOS mais diferentes campos do conhecimento, travando urn cerrado dia logo com filosofos, soci610gos, lingiiistas, cujos pensamentos sao mobilizados "do alllor para pensar a ciencia historiografica. o estilo e £luente, claro, direto, objetivo, sem lugar para meiostons, "..I.. C'( lI~lo quando se trata de. desancar autores e obras incautas: urn livro mal . 1l.1I111'1ido, uma ideia indefensavel, um,a interpretac;ao ac;odada. A densidade .1.\ Id l,'xao, contudo, turva a transparencia aparente do texto. Nao eobra para ill I. !.II I II's. (\ estudo para quem navega nas aguas de Clio com urn certo desem 11.1I .lI,Il, l'spccialmente para os que se debrw;:am sobre as quest6es metodol6 H'c,I ', c' 1 ~,t')l'kas, sempre a exigir do leitor urn dhilogo mental acurado com 0 .llIl t II c' slIa nina, urn' exercicio dial6gico pleno, obrigando-se a acompanhar
lista, mais pr6xima da ciencia do que da arte, nada com piacente com 0 rclal i vismo ficcional. Privilegia sujeitos corp6reos que formam e modificam ciass('S, estruturas e sistemas; por isso, afirma no pr610go: "acreditamos em urn fUluro racionalista, e nao pragmatista, da historiografia". Para ele, ha dois patamarc~ ,I se.rem percebidos pdo historiador: a experiencia humana em sua vivencia lelll poral e a re£lexaosobre essa mesma experiencia. Para 0 primeiro, prescrvou a denominac;ao Hist6ria; para 0 segundo, reservou a expressao historiografia. que encerra a dimensao propriamente cientifica, iItrelada ao universo do conhecimento, concepc;ao essa que se traduz explicitamente nesta formul<\(,:ao• lambem inclusa no prologo: "a fundamentac;aoultima da historiografia niio St' baseia no que os historiadores fazem, senao, e antes, na critica do que fiIZl'Ill': I )istingue a entidade Hist6ria e 0 que podeni vir a ser uma disciplina do con hI.: c'imento da Hist6ria. Por isso, diz: "propomos decididamente adotar para t'sl,1 o nome de historiografia", cuja enfase e a re£lexao sobre a natureza do hisl<)ri '0, 0 modo pdo qual se conhece a Hist6ria. Ar6stegui nao pensa, porlanl o. IlIlm possivel terceiro andar, urn troisieme niveau, aquele em que a hislorioJ,ll ,I I ia iden tificaria nao a Hist6ria em si, nem a hist6ria traduzida pclos hislori lu 10 n's, mas a natureza das obras elas mesmas, vis-a-vis sua i"mersao no amhit'lIk ,"l1ural e ideol6gico do tempo em que foram produzidas. Nao que esla pOll.. I hilidade estivesse ausente de sua analise, gue a desconhec;a, pois retoma (,' d ( '~ ,.trIa) J. Topolsky, que distingue os fatos passados, as operac;6es empreclldid.l.. 1'01' Illn pesquisador para recupera-Ios e 0 resultado das mesmas, opt' ra~()I ·'. l'l'slIlIado esse que seria propriamente 0 objeto da historiografia. Ani~l q~1I 1 IIIVI'S[(' contra os historiadores franceses - Carbonell e Le Goff, entre dcs • pIli , I('tiilarctll ao term a 'historiografia' 0 significado de "hist6ria da hishiria", cit, 11',0 ('ada vez mais corrente na comunidade dos historiadores muntlo afi,ra . 11,1 I lI l'~ 1I1,1 limna que recusa a prisao do vocabulo 'historiografia' ao rcsull .lIl11 11,1 I""'qllisa, pois a reivindica para emblematizar um conhecimenlo l1lais 01111 1'10, In 11,,1 lalllb{'m a possibilidadc de adotar a expressflO histor;%g;lI. ~,Ipa:t ch I IIli lo".11' os anlllll'cimcnios t' a rcflcxiio sohre os IllCSI1l0S, cOllsidcl'alldo .1 ill.1 dc'c I' 1. 11 1,1 pOl' ciclIl i lici'J;ar cxccssivamcllie 0 cOllhecillll'lIlo hisl
~\I~
JIIII' ( tth;,11
os argumentos que se renovam na discussao permanentemente
1''' Ihlllll,ll i'l.a
ill II II
11111 11. 1(1 C' .1Ihi ll .IIIC1.
I'W\)"C' .I l"h",.1 I,I\III'"d.1
11111 11
IIlC'lnclll 411' llllflC II 'I"c'
/Ipresellt"{ilo
IIpresetliafiio
{) leva, a partir do empirico, a explicayOes contextualizaveis e plausiveis no con
alegoria de Hayden White, "Clio faz tambem poesia", A charmosa abertura nao
ll'rlo das demais ciencias humanas. Urn metodo,
,sub lima
0
percurso de urn caminho
enfrentamento decidido do tema; assume que a cultura e a amilise
0
!'.lrional e sistematico na busca de urn conhecimento inscrito nao no passado, lIlas 110 iemporal, que incit,li 0 tempo presente e a possibilidade de 0 historiador
cultural do pos-modernismo sao essenciais a compreensao das profundas Illudanc,:as ocorridas na Historia e sua escrita, Nascida como atitude intelectual
"" IlIsl rllir" suas fontes, tendo como pano de fundo as realidades que sao sempre
gcnerica, que se manifestou na arte, na literatura, na filosofia e na critica da cui
l\lllhais, posto que todas as atividades humanas sao entrelac,:adas, que as socieda .1,,\ s.: rt'alizam historicamente no mundo e que, por desdobramento, a Hist6ria
lura, era 0 resultado da crise do paradigma estruturalista e significava "a 16gi " ca cultural do capitalismo tardio", formulac,:ao essa colhida em Frederick
'," lIlpr(' global par ser uma ciencia-sintese. E$Sa perspectiva totalizadora da
Jameson, 0 pape! da nova conce~ao da analise da linguagem na e1aborac,:ao do
I I;'.IO/' i.1 ddineia 0 paradigma em que 0 autor se aloja. Mesmo reconhecendo que
conhecimento/escrita da Historia teve em Hayden White sua maxima expres sao. Suas incurs6es pela linguagem historica do seculo 191evaram -no a afirmar
I'
11111 lilli, 0 paradigma jamais se impos na pratica historiograiica, 1101 til
/11/'(,'
dc resistence,
0
que nao
0
0
marxismo e
impede de abardar, com propriedade, os
Ilhl I:, II.lr;\( Iigmas que lastreiam as ciencias humanas: 0 funcionalismo; 0 estru p6s-modernismo e suas derivac,:6es n0 campo da Hist6ria; 0 positi
"que a escrita da Historia era apenas uma forma a mais de escrita de ficc,:ao, scm ncnhum compromisso com a verdade e que, por decorrencia, a diferencicH,:ilu
I i 1\ ,di\lllO; (l
mtrc relato hist6rico e de ficc,:ao nao tern qualquer relevancia, sendo a prell'lI '
\'I!.I.I. ' ) 11Ir-loricista; 0 analista (dos Annales); 0 quantitativismo e 0 narrativismo."
sao H cientificidade uma i1usao ingenua, 0 que sobreleva a dimensao estetica.
,"arxismo conferiu a historiografia uma dimensao reflexiva ate , 111 ,1\) , k~(,ollhecida; por isso mesmo, deixou marcas indeleveis na escola dos
esl ilo, mais do que a propria explicac,:ao, no que foi seguido por filosoli)s do
(I
prillleiro movimento historiogr
lIi:,1I10 vlligar, empobrecedor, e a oxigenac,:ao representada por autores como
F. I'. Thompson, ao reivindicar urn lugar apropriado para a cultura das classes ~mj,l is,
sobrcludo em suas formas de representac,:ao,
0
que levaria
a formula
0
peso de Paul Ricoeur, ou historiadores como Ankersmit ou Kellner. Tais concepc,:6es, rotuladas de descontrutivistas, foram entendidas COIlIO II "cxpressao mais acabada dessa ideologia do pos-modernismo", par I\r6slcj\lIii contem uma indistinc,:ao entre realidade e linguagem, a ideia de que 0 texlo n ,IO resulta de urn contexto, pois tern vida propria e nao pode, portanto, exprl'ssill IIll1a realidade exterior que
0
historiador apreenderia nas fontes, significandll
II
e uma estrutura e sim uma cultura". Arostegui ace ita, incJu
liquefayao do proprio conceito de fonte historica, longamente acalcntado pd.1
'.;,,1'. qlll' it concepc,:ao de mentalidades coletivas seja, sem duvida, uma alter
hisloriografia, desde seus inicios. A sensayao de esmigalhamento cla IIiSl6ria C' .1 lIlaniiCslayao mais pungente da crise, mas ela tern a virtude de renovar as OI l1,(I("
\.111: "a c1assc nao
1I.lllva ao conceito mais abrangente de ideologia, pec,:a-chave do marxismo, IlI. I ~
Sl' rccusa a incorporar 0 subjetivismo idealista presente na obra de Ikllnkuo (:roce, segundo 0 qual a historia e uma construc,:ao mental do his 1111i,Hlm, mas n:conhece, com Johann Huizinga, que a "hist6ria
e uma cons
111\\.,0 (11I1I1ral". Sell
",lin sOl ial (' slIa klldencia a reilicar entidades lOlalizadoras. 1\ t'xl. h a~" .\O raciollalisla
tll·,!ItI;1
1),\
III 1'.11111'11/,1111.1 P4l1.11 "(,1\.111 "" ddl,lli' I)" Ifill I.,dll, Jil 1\'.1 111'111111'1111 t il l(, ',I
1'1. 11"11.111 1111',1 1111'11111'1
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Will flH"1l'
1.\ 1 1 1~I IIII, 1. lI.hl~' ,.. 1111111' p",I II,1 1.1, ", ' 1111 11 11, ,I ',1'1111'1"
ranc,:o ctnogr
de avanc,:o$ posteriores na medida em que recuperem a dimens;"lo cxpl i( .II i
va lIa Ilisl6ria. 0 retorno do "sujeilo': quc nao significa relorno ao indivi
,.l il1\1:lIloll
1'1l\IIJlados hislnriogr.ificos p()s- lIlodeI'1I0S, IlI clo nill1i( ,I/ll l'nll' sill
1 1'l1,.III[)'1 l lill':\pl{'Slo.I() "I',illlli lll\'lil.l;\Cl", I\ ~
hisloriogrMicas, muitas das quais nao passam de trivialidades neonarrali vi~I,'~,
0
rl'lIasn'r da lima IIisl6ria sociocultural pllllgClIll', em qlll' a
I d ,I\111I
"IHI " ,' ~.IO l' \'sl rill 111'<1 sao ai>sollilalllenle dialclicas, on
I~II
.1.
,'II'
',I I"dl'l.,d,1 p('lI, .1I.t CII 111 11.1 Ie II 111.1 ~()f I~ I it ,III.. ,I,' 11,111.11 iv., ,1111101'0111
rill<' .••" ,11'1111.1.' .1 n'lll'l itllli 101
.Ill ",.111<' ,10"
1111
"llIII 1:"lInl, (I ti ll d l"IIII'.1I
"/1(1", Ul",jljl Apresentatao
1I " t<'II'ico coletivo, Outro, e a Nova Historia Cultural, na fatura de Roger Chartier ,'Ill qlle, ao inves de privilegiar 0 social na apreensao das manifestac,:oes mentais, ,·,I/,llil.a os individuos eos gruposem sua atribuic,:ao de sentido ao mundo em que IV(,III, ou seja, a apropriac,:ao mesma que os individuos fazem de sua cultura, AI I(,S ,II,Ill'S hisl\'lril'as, as pr\'lprias i\
cujas ac,:6es, "0 fato social", somente pode ser captado como "falo SOCiOll'lIlpO ral". Nesses termos, os fatos, os eventos, as mudan<;:as e ale mesmo as dura<;oes nao ocorrem no tempo; pelo contrprio P'" 1 sente, 0 que significa que a "historia que escrevemos e uma conCep~ll(l '1" ' forja
0
homem do presente", finaliza Arostegui. Nas palavras do pr6prio autor, a finalidade ultima deste livro
l~ 0 dc:-.dll
de instaurar uma ciencia historiografica que subsumiria e, por fim, subst illlil ill a Historia como disciplina. 0 discurso historiognifico seria a rccolIslru<,il o 1111 representac,:ao que a historiografia faz da Hist6ria, urn produto clahorado, (.':-'1'" cHico, de feitio artistico ou cicntifico. Em suma, Hist{)ria ou hislori()I\I.,IiM I Iisloriografia, lato sensu, incorporando a Hist6ria, ou stricto SCIISII, a n'lh'x ,11I sobre as ohras hist6ricas? HistoriografJa como discurso ciclllilico Oil c1abll' ,I~,III arlisl ica? 'I(llalidades expressas nas rcla<;6es estruturais OIl mi~:roall:, l i~l':' n'lll l ,I das lias persollagclls? Problemas de funtlo ni\o ape1l
tit' /\ //(/",11,' 1\/ ,1/'/"
VII
~
PRGLOGO A NOVA EDI<::AO
Ha cinco anos surgiu a primeira ediyao desta obra, cujas intenyoes, op <;6es, expectativas e agradecimentos se fizeram constar do Pr610go escrito para aquela ocasiao. Surge agora uma segunda em cujo novo Prologo, com a pers pectiva que 0 tempo transcorrido e a experiencia adquirida acrescentam, gos laria de retomaraqueles e outros temas semelhantes aos que continha 0 ante rior. Mas e claro que a este proposito se impoe uma considerayao previa que 1l~1O posso evitar, e e esta: 0 que eu puder incorporar, retificar ou confirmar do que entao dizia esta inevitavelmente condicionado pela receps:ao que teve oli vro e pelo eco que dele me tern chegado. 0 fato de que se tome a editar, e que o scja com ostensivas reformas - que oxala sejam realmente para melhor -, diz por si mesmo algo que nao e preciso repetir. Mas nao diz tudo. E e especial flH'fllC isso 0 que gostaria de considerar. A recepyao it que me refiro tern muitos perfis dignos de alguns comen I.irios, Illas nao e 0 proprio autor do livro a pessoa mais indicada para faze-los. t:.flln: 0 que considero prudente dizer se ipclui 0 fato, lisonj~iro, de que aqueles ,I qUt'lI1 ullla obra como esta foi especialmente dirigida e outros a quem previ ',iwllll<'lIk scrviria de ajuda nao pareceram decepcionados, peIo que sei. Os ,IIII 11 0S qUl' l'lIfsam disciplinas de cuja materia ele trata, os profissionais inte 1t '1, ~>ld (ls 1I0S aspeclos mais estruturais de sua disciplina, alguns estudiosos de qlH'~.IIl~'1> lilllilro/C:s L' rdacionadas s~\o os casos mais significativos que conheyo. M .IS 111'111 Ilido fUllciollou conformc () csperado. As criticas e con trover 1,111', '1 11(' \' 11 ill1l1l', in,lv:l c, llalllralll1CIIlt', Icria agradccido, "daqucks profissio 11 .11 '. , . !.1I11·Hi" , til' ql WlII , S('1I1 duvid,l, vai rcu.., ht·1 IIf1l ;lIlgU lIlclllo lI1ais aquila
Pr%go a nova ediJyao
Pr6/ogo
1;1110 c, scguramente, mais severo", como entao diziamos, nao se produziram, oil li,ram feitas de forma pouco expressiva. Nao me aventurarei, no entanto, 1111111 plano como este, adiantando alguma explicac;:ao para urn fato que, cer ItIl lll~ lilc, pode ter varias explicac;:oes. Pelo que sei, 0 livro interessou muito Illili s
I'assando agora para questoes mais substanciais que acabam sendo, a IIH ' lIjUIZO, de comentario obrigatorio entre essas considerac;:oes previas, gos 1.lria de assinalar meu convencimentode que nos cinco anos transcorridos en II'I' as dllns cdic;:oes nao parece que se tenham produzido circunstfmcias, desen volvilllenio ou inovac;:oes que levem a pensar que as opc;:oes que este tratado 1'111;)0 assllmiu devam ser substancialmente retificadas. Nao desejaria, de Illodo algum, que esta observac;:ao soasse como urn protesto gratuito ou urn prlllHisilo desaforado de nao corrigi-la, ou como qualquer tipo de presunc;:ao, 1'01''1"(, nao l' essc verdadeiramente 0 espirito com que se faz . 0 que quero di ' .~" I; '1 l1C St' em meados dos anos 90 esse pequeno tratado de rellcxao hisloI iU)tI'iilil'a, CIII plella voragcm do impacto expansivo do pl)s-modernisll1o, da lill gihsi i( O.I I' da anlropologia, no dizcr de Lawrcnce Slonc 1I0S inicios da d{'ca d,l , Ilp ioll por lima vis,Io conerela
a nOI'a edifiio
elas, formalista no metodo, que se pronunciava por uma integrac;:ao dos sak res, flexivel em limites toleraveis e nada complacente com certas ret6ricas an uso - tal como 0 vejo hoje. Nao encontro, pelo menos por ora, razoes para 'lilt' deva ser substancialmente modificada; porque creio que na historiogra fia dn seculo em que entramos muitas coisas deverao mudar mas a formac;:ao do hi.\ toriador havera de permanecer 0 mais livre possive! de qualquer forllIa de propensao ao iiracionalismo, por mais na moda que esteja. Cabe supor que alguns leitores benevolos continuem entendendo quI' aqui se apresenta uma versao excessivamente " regulada" do que deveria SCI' ,I pratica historiografica, pois assim ocorreu com a prime ira versao do lexlo, I ia . quem considere algumas dessas propostas demasiado indistintas de Cil:lIlills sociais vizinhas. A insistencia sobre 0 valor e a efickia da pratica ao moJo cientifico refletida em suas paginas, seu distanciamento das versocs narra l ivis tas e retoricas, a visao decididamente reguladora - ainda que, certamclIll', nrll . dogmatica - do metodo sao materias que levariam a pensar em uma pn>po~ ta talvez excessivamente rigida. Mas me parece que essa nao e uma opilliao WOo' neralizada entre aqueles que, sem ter porque aprovar todas as suas posi 'rllt,/o. creem na oportunidade e sentido de urn livro como este. Esta obra nao se propoe, de modo algum, a reavivar 0 positivislllO, III,I!. nao e menos certo que contern uma proposta inequivocamente m(iOlllllt~11I Desde ja, 0 que este livro press'u poe e que 0 historiador se coloque 1ll1liiO l11aj~ proximo do cientista do que do artista. Nao se e corn pIacente, de lilfllla :llglI rna, com a historia-literatura, a "interpretativa", a relativista e a IIcciolla!' I k fende-se que a Historia esta longe de seruma questao de opini~io Oil de gOSh" Mas acredita-se, sem duvida, que tal Historia e feita por "sujeitos" corpc'lI ~'C1~ , t' qlle sao estes os que constituem e modificam classes, estruluras l' siSI\·lIl.IS, ( I sujeilo s6 se apreende, no entanto, na razao, tanto inslrumental mlllo hi:MII j ca, sc prclerir, nao na recreac;:ao impressionista, a-tc{,rica c a, nll ila. 1'01 i \~!1 acrc
lI i~lu,
I.\tlll
1.11,('111': h:.,.1 ()pini\io, ;linda qUl' lIao n:llila \'X.,I,IIII \.· lI ll' CI 'II W 11 livl" d ..., 1'(.'.11: P IlI"lII i lll, .1 III1 I(I.III1\' III ,I\.lIlld 11111,1 dol hisl'll (11)\1,11"1 1I,ln ~ (' halo\'i.1 lin qlle II!; II il.! II I i,lIloll" 1,111'111, ',111 ,10 , " "'S
\1'11 1 1' "WI' lI l1dt' 11'11" 1'1 ,111 0 1111:1 illil'Il\ .lo
Pr61ogo rl nova edifflD
anles, na critica do que fazem. A ideia pragmatica de que a historiografia e "0 que os historiadores fazem" nao esta precisamente entre as que eu aprecio. Nesse terreno ninguem tern direito apropriedade alguma nem tampoHco 0 de cobrar pedagio, mas nem tudo 0 que reluz e ouro.
o tempo transcorrido entre as duas edicroes tambem mostrou que e possivcl e necessario incorporar ao nosso tratamento muitas propostas que fo ram sendo acrescentadas a visao da disciplina nos finais dos anos 90. E na me did .. do possive! procuramos faze-lo aqui. Aqueles que tiveram por bern fazer o llll'nlarios sobre a edicrao anterior concordaram, em geral, em que segura IIU'lIll' (~lllava no texto urn maior desenvolvimento do que foi a hist6ria da pr6 pi i,1 ulltliguracrao da disciplina historiografica na epoca contemporfmea, quer di~l' l. deslle 0 comecro da sua construcrao no seculo 19, e era grande a insisten l lol "111 mlocar a pr
.IPI"' k i~o"r esse enfoque e por isso toda a primeira parte foi remodelada. As linhas basicas foram mantidas, ainda que procurando melhorar e ,II "d lii'.a,. slia exposicrao, as materias essenciais de que se constitui uma teoria do hislt'lrico atenta a algo mais do que a meras constatacroes empiricas, sem "Ill rill' no terreno da especulacrao filos6fica. Levamos em conta, no que nos 'OIlCCnle, 0 que de mais significativo tern sido produzido pela bibliografia d('sllt' 0 lanc,:amento da edicrao anterior. A proposta essencial ace rca da expli ,a~ .. o hist6rica nao variou e,quanto ao discurso historiografico, mesmo que ~l' illsisla na consideracrao de que 0 historicismo narrativista nao representa de «mila algllrna uma apreensao convincente da Hist6ria, pondera-se a necessi dade de que a explicacrao historico-social flexibilize suas vias, fa~a uso de dife I ellll's recursos, lanto forrnalistas como hermeneuticos. Estamos mais conven Lidos do que nunca de que as ciencias da sociedade, a historiografia entre eias, cslao por cncontrar, contudo, 0 ponto "galileano" de sua imagem do mundo, qll(' lIao poden} ser geomctrico mas que tampouco bastara que seja poetico. [':111 lIossa Illouesla ·torma de vcr as coisas, a hisloriografia - lima pala VI',I, lI' rlalllcllll', {llIl' lambcm nao parece agradar a todos - nao saiu com lim 111 11 i'/ olllc IlHlilo daro do ccrlo maraslllo 110 qllal se "fUlldoll nllll a crisc dos Jl, " kll lMl.\ "p;lnldigll1as" qllc IrilllllilVam nos alios (l() (' '/O,I:, l'vid" ll lr qlll' () rl' 1" 1',11. k~M'~ P' II ,ldil'\ l\l .l~ l; iltll'ossfwl I', "III lodo lilMl, illdl'M'jn vd . M,I S I I I ha lI"ld,1 "villi ,I ,111 11i11l ,11 . \liMII.," IhlO p ,IM.O II tI., 11111 ( 1,1\. II, ' 111 11 lI'qllillk~ d.. 'lIl1d,1
Prowgo II
/lOVa
edi,iio
lIIidiatica, potenciada pela expansao das formas pos-modernistas e tao vazia de idcias como de competencia tecnica. A volta do sujeito parece ser entendida il~ Vl'zes como 0 regresso do "contar hist6rias". E nem e preciso dizer que a Ilish'l ria parece prestar a cada dia melhores servicros a quem sabe utiliza-la ... Mas nenhuma experiencia eva. Nenhuma situacrao hist6rica, na ci~1I ria normal e na extraordinaria, representa urn passo para tras, Dessa for m,l, diria que, mesmo que parecra existir uma persistencia na crise da disciplina, I' l'vidcnte que dela vaG sendo extraidas as licroes adequad~s. Talvez a mais pro veilosa, ainda que nao totalmente gratificante, seja a de que depois de Vill ll' anos de incertezas, de buscas, e certo, de ensaios e descobertas parciais, csln 1lI0S convencidos de que se render aovale tudo (0 anything goes, que se diziil 1I0S momentos centrais da crise), a complacencia frente a qualquer ft'Jrmul a somente pelo fato de ser nova, aaceitacrao de qualquer proposta em nome tI" \111\ lolerante espiri.to de abertura nao leva, no melhor dos casos, a parle all~\l ma e, no pior, converte a pnitica historiografica em uma atividade cultu ra l il rcit:vante em si mesma mas, isto sim, facilmente manipuhivel. E, infclizllIt'Illc , 1l ~IO nos faltam bdns exemplos disso,
Poder-se-ia objetar que a Hist6ria goza de excelente saude, como I n'l'llI lIIuilOS pensadores, 0 que nao pode estar mais a vista, dado 0 muilo quI' ~l' produz, se vende e se difunde... Mas, desafortunadamente, esses argu melll\!' 1\,10 provam muita coisa. Porque, nesse sentido, estariamos falando da IIIl'SllI,1 sallde de qlie gozam as revistas de frivolidades, 0 romance hist6rico, os II\lV\\~ programas de "sociologia televisiva" e os esportes-espetaculo. Esse nilO Il;m'v' ser urn born instrumento de medida. Permitam-nos dizer que 0 problema da historiografia nesle WllI l'l,ll tit' st''Culo se rclaciona sobretudo, na nossa modesta opiniao, com a pCrlll <1l1c:lll l ' n'dll~:no da exigcncia em uma pratica respeitavel, com a trivializa<,:ao, as (llIbll ca~'I)cs sllpcrllu
Pro logo allova edi{:,10
,'sse rcspeito, admito que esta tambem e disFutfvel, pode clara mente ser me Ihorada e esta sujeita a muitas exce<;:oes.., A esperan<;:a pode se situar na decisao daqueles que nao estao - nao es lillIIOS - de acordo com a situa<;:ao, A alguns deles me referi, ainda que de for Ilia c1iplica, linhas acima, Sei que na profissao dos historiadores ha muitas I'l'SSOc\S oprimidas pelo fastio da repeti<;:ao e sempre prontas a reagir contra a illlp 'lilt' consideraram que a empresa valia a pena, De muitos deles ja falei til l f· )I)I " Nflo me importo em repetir erne alegro que a lista de nomes possa IIII I1H'IILa!'. COITIO sempre, e extremamente reconfortante que muitos alunos, ,k difi-r('f1 1es niveis, julguem este texto instrutivo e digno de ser discutido, ain dd 'lIlt' 11('1\1 lodas as suas passagens sejam faceis, Assim ocorreu com freqiien~ , iel lIc.; slcs cinco anos, dentro e fora da Espanha, Com humildade, agrade<;:o a IIlllilos "Iunos que aprenderam alguma coisa aqui, descobriram suas discre p.l llcias com 0 que encontraram e expressaram suas opinioes. Muitos desses alunos e professores sao de universidadesda America La lilla e deveriam ser nomeados, mas nao caberiam todos aqui. E muito gratifi (:tlll(' r('ilerar plenamente as palavras de Josep Fontana no prologo da segun d.1 cdi",lo de seu Historia,sobre 0 que ali podemos ler a nosso respeito, Tern .\(. s(,llIpre a dcsoladora impressao de que podemos e devemos fazer mais em ~ OI\1panhia daquelcs que falam e ensinam em nossa lingua do outro lado do t\11:1I11iw. ()uero limitar-me a agradecer a alguns colegas de hi 0 interesse tido 1,.lra IIwlhmar a obra. Estc e 0 caso de Jorge Saab, urn dos meus mais uteis co IIll'1I1arislas, de Jorge Saborido c Cristian Buchruckcr - estes ultimos par lilltall l alllallllenle oulras emprcsas comigo - c de outros rnuiLos colcgas \ 0111 qU Cl1I tcllito lIIe entcndido em Buenos Aires, La PlaIa, Rosario. Sanla I{ osn LI,' f ,n Palllpa (' 'i'lIculll,11l e de qllem sCl1Iprc (('!lito rCCl·hido cOlllcn f,1 1i ()~ ~olll>lrnl iv()s.
Pr%go a /lova edi,iio
( :lll'sla, Angel Duarte, Luis Enrique Otero, Sergio Riesco, Alberto Luis ~' lordi Canal. No casu de Juan A. Blanco, quero ademais agradecer sua C1jll dOl lanto na leitura detida do texto como na busca de alguns materia is. ( :.ISO especial e tambem 0 de Elena Hernandez Sandoica, col ega e compa IIheira de empresas historiograficas comuns, de quem recebi desde 0 r ri III~ iro momenta lim alento particular, e com quem as discrepill1cias illi e In . I lIais se convertem sempre em fonte de inspirayao. E quase ocioso acres e llLar que tenno escutado e levando em conta muitas opinioes solidas. ill lor illadas e atendiveis. Ao final, contudo, nenhum de meus amaveis CO lise II H: iros e comentaristas .pode nem deve se sentir co-responsave1 pclo qlle ,lIl'li sc defende. Agrade<;:o novamente 0 impulso inicial que representou para essa nbra a boa acolhida que Ihe deu Josep Fontana -e Gonzalo Ponton e a he IIl'volCllcia e a paciencia de todos os que na Editorial Critica contribuiralll !'.Ira quc as ideias ganhassem a forma de urn livro. Quero mencionar \' _I~ radeccr explicitamente 0 prazer da colaborayao com Gonzalo Ponl on, < :art lien Esteban e Silvia Iriso. Animo-me a pensar, enfim, que talvez nao seja esta a ultima VCI. quc' o livro devera sofrer um rejuvenescimento para adaptar-se as muda ll",I" qlle aportes incessantes de novas ideias e novas realiza<;:oes introd llz 1' 111 Ilossa larefa. Aportes que 0 tempo futuro parece nos anunciar em nlallU qllantidade e com maior contunde~cia. E assim, 0 destino que mais dl's{· jall)()s para a obra e 0 de que, por fim, seu principal significado e slI a lilt' Ihor fortuna sejam 0 de sempre dar conta de coisas novas e insistir lias qlll' lOlll iIluarem sendo indispensaveis. ' Julio Ar6s lC~1I1 Madri. dezembro dl' J.OOO,
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Parte I
Teoria. hist
A primeira parte deste livro pretende expor a problematica geral do w IIlIn il\lcoto da Hist6ria, da forma como e considerada hoje. Para tanio, pal II' '.(' da distinc;:ao cuidadosa entre 0 que e a entidade Hist6ria e 0 que podc SI'I II Ii 1.1 disciplina do conhecimento da Hist6ria.* Propomos decididamen lc mlo 1.11 para csta 0 nome de historiografia, por razoes que serao expostas COlli !.II I II W ille c1areza, assim 0 cremos, mais adiante e no corpo d~ texto. Como 10d. 1 d",1 iplina que procura elaborar e acrescentar urn corpo de conhecimeillos so 1111 ck" lerminada materia, que representem algo mais do que urn mem e Xt'n I , III ,l l" senso comum, a historiografia precisa dotar-se de algum conteudo Id, I h Mas ate hoje esta e uma de suas grandes carcncias. A Icoria de que falamos tern, segundo tambem se explicani depois, 11111 ,J 'lIllo sClllidoque convem igualmente distinguir. Em primeiro lugar, loda di .. , 'pllllll l10rmatizada constroi, de urn lado, urn corpo de explica<;6es arlinti,l .1,1" Ihll a dcfinir 0 objeto ao qual dedica seu estudo. Em nosso caso, a urn I I'll II.d llt) desse tipo corresponde adequadamente 0 nome espedfico de Leoria dll 1/ ,,101ill . f~ a teoria que deve buscar dar uma resposta convincente a pt·rH"III .I· o 1( 111' {. a I-listoria? Constitui urn saber substantivo e empirico que Irala lI,' d!' 'Illi l '1l1al C 0 campo da realidade que 0 historiador aborda e que dl' Illodl) .r! H" III cl(lIivaic ao "desenvolvimento" da Historia Universal, mas silll a rdll'xlllI \"h l(' a lIalureza do histOrico. Mas, em segundo lugar, existe outro lipo dt' 1\'11 11.1 1Il'~l' ss;iria: a que propoe estabelecer nao a que ea Historia, mas (Otll lI ~I' '1"1 '/1' 1/ IlisiOria. A este tipo de trabalho damos 0 nome de (coria till histfll //I !.!I"IICI. 1~la Irala de como se conhece a Hist6ria e como os conhecimelll o)' oh Ihlm \lodl'm agrupar-se de forma articulada em uma disciplina de (.(lIl II\·11 IIllll l o , SCIi tipo de saber e disciplinar ouformal. I ~xi s l('m , portanto, duas formas de teoria as quais 0 hisloriador dl'Vt' dc' .III ,II ."".1 all'lI<,:"o c, por conseguinte. nao confundir: a leoria da !l ill l,"1 ;,1 I' ,I 11 '1111<1 d ol Itisloriografia. Normalmenle, esta segunda conler;! a prillleir,•. N.. .. "11111,1 dl'~~;a s lard;ls se con f'1I nde em ailsoillto nem com a (illl.~(//i(/ da I list", h i 111'111 '"111 .1 "i.~III,.i(/ ti(/ hjsl(/,.i()~mll(/. Cada IIll1a d\.'ssas oiliras dll ilS ,'rc·.I~ dt· III ( I
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I'I " lud.1 ,I prill l<'j, a pa riI' 0101 ohla li~.l'IIIO ' COtll qlll' a pata vla I lbtf1li.1 .I(lnll .....·.' III· I' ~ III""
,,1111 II 11I111.l l llIllillsti d.1 !jll.l lldl> Sl' 1111. 11'11'1'('1 1< HI .) '\·"I I( "l d ~·"• •H' ' 11rjl' 1/.
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""II
PaOe J
Teoria. hist6ria e historiograjia
CapituLo I
teresse tern sua propria essencia, distinta da teoria, e nao e nosso objeiivo aqui, Olinda que ahist6ria da historiografia devamos dedicar uma aten<;aovreliminar c complementar, pelas raz6es que no devido momenta tambem exporemos. Da mesma forma, uma por<;ao importante desta primeira parte se de dica a expor, de maneira circunstanciada, como se tern constituido ate a atua
HISTORIA E HISTORIOGRAFIA:
lidadc todo urn corpl1s de doutrinas, escolas, preceitos e teorias que tern bus I ado I"undamentar a disciplina da hi storiografia desde suas origens contempo1';IIIl'aS, ja na segunda metade do seculo 19, ate os mais recentes aportes dos ul
OS FUNDAMENTOS
lilllOS anos do seculo 20, quando come<;a urn novo seculo e quando, sem du vida, lIilO se superou plenamente uma crise generalizada do conhecimento do ',(11
ial. I'rocurar-se-a expor quais sao e como tern sido entendidos ate agora os
hllliiallll'lItos para elaborar uma teoria da natureza do hist6rico, e mais do que I~\CI , do mnhecimento da Historia, ainda que sem propor agora urn delinea 1111'11 10 pn'lprio em profundidade. Podemos, no entanto, adiantar uma conclu
A
provis6ria: no nosso modo de ver, 0 conhecimento historiografico consti Illi hOil" lIlais uma especie no campo das ciencias sociais. Mais tarde desenvol
crise da Histaria [... J 0 estado inorganico dos estudos histarico, /... / provem do Jato de que um numero excessivo de historiwlon" jamais refletiu sobre a natureza de sua CiCllfiIJ.
1.. \(1
HENRI BIHII
A sintese em Ilisl lll ill
VC'/'C'II IOS sulicicntcmente esta ideia.
1'.tI"I'(:c dificil encontrar palavras mais apropriadas e significaliva:> q llt" 0 historiador I"rallll"1>
'I"" hgmam no inicio deste capitulo, com as quais 11 , 1\11 Ik l'r' come<;ava urn livro dedicado
a pr
da historiografia l'i\ "tk
lorllla<;ao cientifica do historiador, para qualificar urn mal CO 111 I 1111 dll 1111',',11 lI /iLio. Em tal afirma<;ao, cuja autoridade repousa no falo de Ll'l' :.ido 1'1111111 111 i,Ida por urn dos primeiros renovadores da historiografia 110 s(\.ulo '11 , 1111 11,1 se: lIIais sintom
I \II , HI ,I
I'" '\,11,1 , ri sc:. Os historiadores nao refletem sobre os fundamcnlos prolllll d(l~ .I, _,I II ' I" halho... Isso continua sendo valido quasc noventa anos dcpo b d~'~ h
1"II.lv r,ls
II llhl'lI
',,' U
II'I'CIll
sido escritas? Infelizmente, nao parcce quc haja ra'l.rn's p.II ,1
~l" lIlido. No nosso modo de vcr, c Icvando-se: cm conla luda:; .1\ I"
1II1.1~' II' '; d r "praglllalismo" que s(' tl'm kilo reccnll'lllcnll', apt-sar d.I' d I~ 1111\'11 " 'l il t' ~(' ria I'rctiso 1;\'1.(' 1' hojc enlre: dikrellll's hisl()riof~r;"ias, () plClhl.·
, ,1111'
111 'IUl. II I II ,(/1""/\ ,." /""1 1111/ , M (lx i, n: I Itl'l l", 10(d (C :1111'1 t "'" \.1 ('Villi .. jll ll d,'l.l 111I11I.III"hld ) l'IIIIII'\I " ,',h"tI' I'1I1" .,p.mh"l, 11.111111,,1.111.1"'I" lIl1d,1 ,-dl, .IO 11,111/1',.,1 .It 1'1',',,"11111111 IIIIV,' PI (,IIIK" ,' Apl'lI"I,,· "" .1111'11,1' 'IV
Parte I Teona, hi..... ,u,ia e htitoriogmfia
Capitulo I
His/(jrul e historiografia: as fundam entos
lila da reflexao, ao menos, da maio ria dos historiadores "sobre a natureza de Slla cicncia" continua em pe. 2
, I, ri ~" illiciando-se a partir do problema do nome adequado para a discil'li l1,1 hl~ I' Iri()grafica.
Urn progresso sustentado da disciplina da historiografia e impensavel SCIII que sc leve a efeito essa reflexao que Henri Berr, e outros antes e depois dele, solicitou. Infelizmente, nos pr6prios cfrculos dos historiadores conside n HI sc durante muito tempo que 0 historiador niio eurn te6rico, que sua ocu pa~iH> nao e filosofar, que historiar e narrar as coisas como realmente acontece 111111,
1\ IIISTORIA, A HISTORIOGRAFIA F ( ) H [STORIADOR
e outras coisas semelhantes. A resistencia quase instintiva a uma mera
.ldl"'1"ill,:ao e renovacrao da linguagem continua sendo muito forte. A formacrao do hisloriador continua sofrendo de uma flagrante precariedade. No entanto, 1\.10 parl'ce necessario reafirmar que posicr6es e realidades desse tipo s6 podem dili<.. lIllar de forma determinante todo impulso para 0 aperfeicroamento prati ,() ~. '\icllllllco" da historiografia. ( :om efeito, 0 historiador "escreve" a Hist6ria, mas deve tambem "teo
ti"" I1'" sobre cia, quer dizer, refletir e descobrir fundamentos gerais a respeito tI .. lIalureza do hist6rico e, alem disso, sobre 0 alcance explicativo de seu pr6 prio Irabalho.Sem teo ria nao ha avancro do conhecimento. E isso afeta essen l iallllcnie inclusive a pnitica historiografica, por mais que uma nuvem de teo rims litcnirios,criticos e "novos historicistas" tenha recentemente pretendido ';\zcr da escrita da historia nao mais do que literatura.:l Sem uma certa prepa ra~:{\() tcarica e sem uma pr
Illciro capitulo pretende-se, justamente, introduzir 0 assunto. E se procurara lad' -Io, na medida do possive!, no contexto do que fazem outras ciencias so
asrecomcndac,:oes de pragmatismo, aludimos ao livro de NOlRlEL, G. Sur III "crise" de l'llis/oire. Paris: Berlin, 1996. A "perspectiva pragmatista" para a solu
'1<'111 sido habitual comecrar todos os tratados de "perspectiva" hislorio
kmbre-se das obras ciassicas de Droysen, de Langlois e Seignohos, lk II, I II lr l'i111, de Bauer, de nosso Altamira, e de outras obras mais recentcs _., com , "" ',lti l'l'
, Quanto
de lotios os problemas da fragmentac,: ao da disciplina e certa renuncia a pes<]ui sa It'(u'ka vao se concretizando em muitas passagens do livro. Vcr tambcm sua H( :()1ll:1usi(JIl" (versao espanhola: Sohre La crisis de la l-Jistoria, Madrid: for(mcsis/Cu I('dra, I 'H7). Cr. a crilica desta obra de autoria de Madeleine Rebcrioux, Chrislo 1,1t" I'ro.. hassoll y lordi Canal em /.(, MOUVCr11CIII social, \',Iris, 11 . IX'1, p. 'it) 110,
111 h' 1'I lll ll I,;HAFIA: 0 TI':RMO EO CONCEITO
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1I I,\I' IVCI\\()S prillleiro quc
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nomc quc sc da ao conhccil\wllio J.. Il j~ ,
., 111.1 11.1 IlI lI il \l ll'llIl'o ofi:rccc problemas c, a nosso vcr, ncccssiia aillda 110;(' 1'IIII "h l !! '-"lh ld (, I 'a\n~'s.
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Parte I
Capitulo I
'[coria, histuri" e historiogm[ta
I-listurin e hisloriografia: os ftmdamentos
tre os quais 0 mais comum e sua aplicacrao a duas entidades diferentes: uma, a realidade do historico, e outra, a disciplina que estuda a Hist6ria. Praticamen te, nenhum historiador que tenha dedicado algumas linhas para comentar os problemas inerentes it sua pnitica deixou de destacar essa questao. Iniciemos ponderando a importfmcia que a precisao do vocabulario tern par~ uma pra tica como a pesquisa hist6rica.
A linguagem espedfica das ciencias Como regra geral, as ciencias ao se constituirem VaG criando lingua gens particulares, repletas de termos especificos, qqe podem transformar-se em complexos sistemas formais. s A ciencia, ja se afirmou algumas vezes, e, em . ultima instfmcia, uma linguagem. A terminologia filos6fica pode ser urn born exemplo do que significa esse "jargao" especializado no caso de linguagens verbais. As ciencias "duras" recorrem hoje it formalizacrao nao verbal, quando nao matematica, de suas proposicroes para a elaboracrao e desenvolvimento de suas operacroes cognoscitivas. 6 Em urn nivel bern mais modesto, as chamadas ciencias sociais 'usu fruem esse instrumento da linguagem pr6pria em menor ou maior grau, se guramente com importantes diferencras no seu desenvolvimento de' acordo com cada disciplina. Todas e1as, porem, possuem urn corpus mais ou menos extenso e preciso de termos, conceitos, proposicroes especificas, e tambem de IIlcl;ili.mls e analogias distintas do linguajar ordinario. Num nivel basico exis Ie, SCIII duvida, uma certa homogeneidade na linguagem dessas ciencias so ( iais, illlposta a partir do que foi obtido pelas disciplinas mais desenvolvidas.
:; Falamos de "Iinguagem formal" como a linguagem construida pdo homem de ma ncira planejada de acordo com regras estritas e em oposi<;ao a"Iinguagem natural", o falar do homem que se insere no pr6prio processo de hominiza<;ao. 6 A natureza particular da linguagem cientifica c analisada tanto pela pr6pria cpistc mologia e metodologia da ciencia, como pela filosofia da linguagem. Cr. () antigo, porcm interessante estudo de GRANGER, C. C. J-(nmalismo y (i('f/(im 1111/1/(/1/(15. Barcelona: Ariel, 1965. '])11l1bel11 trata do asslIllto 0 peqllcno livro dc 1{( m'l'Y, It i·:1 giro lillglifslim. Barcelolla: I'ai,k,s IIA B, 1')')0. I'anl as dilll 'l'\\lI tes I HI1H'f'\ I)\'~ .Ir d (' rl(i.l , d : F( :11 FVA IWI A, I. illl wr/rlffillll " /11 IUI""ltllI /llg!!1 tlr' III ,;"/11;/1 1,/ fl/II.\I,/III tI" 111 ( '11'1/1 !I I "11 ,'I "gil' X\ M.ldl ill, ( IIII·II'H. 1"')"
I I,i
I
1.1I 1i,· caracteristicos e foram absolutam.ente aceitos. Em todo caso, no enlall 111, .1 I'spccializacrao da linguagem e hoje uma das questoes mais problemalit.;lt.
11C1 1.1I1lPO das ciencias sociais. () problema terminol6gico na ciencia se manifesta primeiramenll' ,I 1t '~ II!' i lo do nome que uma disciplina constituida deve adotar. No que conce.. III .1 lIossa, esse e 0 primeiro problema que vamos abordar. Tem-se dito Will 1lIl l!I£l llcia que 0 emprego de uma mesma palavra para designar tanto ' tti lld Il. dl d.lI\c espedfica como 0 conhecimento de que se tern dela / constituiria II m ,l III j III ,I 1;1 Il Ie dificuldade para 0 estabelecimento de conceituacroes claras, SCIll IIIVl'lIla(\os; foi isso 0 que ocorreu a partir do seculo JR. Assilll, (. III' 1111 IIII !J Ill ' () Ilome de muitas ciencias nascidas da expansao do cOllhl'lil1WII t... 11 II llld.. desdl' cntao seja composto de uma particula que dcslTCVI' a 1110111 IIII." '111 ..1 ",' oI( rcscellta um sufixo que Clim neologismo qualificalivo (.Olllllll,' /"i' I,1 III I!,."w io do grego logos. Sociologia, filosofia, geologia, ele. ( )II ,:h VI' 1""(111 , dt's, ri~'ao: gcograli'. I Itll .I l1ld .. IlIll olilro kll{\n1 l' IlO Ilada illUlllIlIlll: '1tl
Capitulo I
Parle I Teori(l, histdria e hisloriografUl
de uma determinada ciencia, constituido por urn neologismo, da lugar, as ve I'.l'S, a urn nome diferenciado para 9 tipo de realidade a qual se dedica.
Hist6rill e historiograjia: as fill1dmnelllos
1101),01"11 White assinalou que 0 termo Hist6ria aplica-se "aos acontecimentos
d" 1',1~" >;I(lo, ao registro desses acontecimentos, a cadeia de acontecimentos qU (' nll',ll llIi 11m processo temporal compreendendo os acontecimentos do passa , It t, till prescnte, assim como os do futuro, aos relatos sistematicamente ordc.' II " . I"" d()s acontecimentos atestados pela pesquisa, as explicayoes desses rda I, '- ' 1',ll'lIlaticamente orden ados, etc": Essa nao e uma miscelanea qualquer. h,i 0 pensamento positivista que estabeleceu a necessidade de que as • "~ Il( 1,1', livessem urn nome pr6prio diferente daquele de seu campo de cslll dit I,ll IH'ccssidade parece obedecer a ideia, tipiGa do positivismo classico, til' qm' I'1 lIlIciro se descobrem os Jatos e em seguida se constroi a ciencia, ou, 0 I" f d,1 /III mesmo, que a ciencia busca, encontra e relaciona entre si "falos". I "j ,I , II IIW ciencia de algo se ha urn fato esped£1co que a justi£1que, idelllili !I II I dl,;tillga. Toda ciencia deve ter urn nome inconfundivel e dai que nao Sl' III ,11,," I II I recorrer a todo tipo de neologismo para atribuir-Ihe esse nome. ( I I'0sitivismo buscou a de£1niyao da hist6ria na descoberta, e claro, lit., WI! ''' IHlslo lato historico. 0 problema terminol6gico vern, assim, de tnllil() 11 (1'11 01 I'alavra Historia designa, para dize-lo de alguma forma, urn conjllll II! Old. 1I,Ido de "fatos hist6ricos", mas designa tambem 0 processo das opera , 1<' 111 ificas" que revdam e estudam tais fatos. Que a mesma palavra til' ",II, " bjl'\O" e "ciencia" pode parecer uma questao menor, mas na realidmk II ,II 1,1 1'111 scr embarayosa e abre espayo a di£1culdades reais de ordem episll' 1I 11 t1'III'('1. I lOll 0 filto de que se tenha tambem ensaiado prontamente a adoc;ao III 11111 11' 1 1110 cspedfico que designasse a pesquisa da Historia. 1\10 I'oslo, rcsulta que 0 fato de que 0 vocabulo J-list(Jria dcsiglH' .1(1 111 8 1111' 11'1111'0 lima realidade e seu conhecimento nao eo unico excllll'lo qlll' !" .IIII I()\, dizar de uma situac;:ao desse tipo. Na realidadc, uma dificlildad(' III;ih'I\,' ,l le'la oulras disciplinas das ciencias sociais c nalurais. Com c /c ilO, () 011:-11111' III (JI rl' (om a economia, por excmplo, e a linguagclll conllllll fl:~ 10 11' q !II.~ ' h IIIf 1 '~Sl' lalllh~11l no casu da ' psicologia, da gcologia e da gl'ogra fi,l: 01. IHH"v( ,hit, di ~( il'linas passaram a dl'signar rcalitladl's, COIIIO diss(.'llIo~. 1':111 j
Anfibologia do termo "Historia" /\s considerayoes sumarias que acabamos de fazer sao uteis para anali ' .. 11" 11111 problema amHogoe real de nossa disciplina, a saber: 0 da denomina \,11) III;lis adequada e distintiva para a pesquisa da Historia e para 0 discurso /w,/r)/;m normatizado que da produz. A "historiografia" e uma disciplina afe 1" .1 .1 CIII diversos sentidos pdo problema da linguagem em que sua pesquisa e ',1' \1 "di~(,lII"so" se plasmam. Por isso e preciso dele tratar agora. /\ qllestao comeya com 0 fato, comum a outras disciplinas, certamen k , el l' <1"(" lima so palavra, Historia, designou tradicionalmente duas coisas ili';1 wi ,lS: a II istoria como realidade na qual 0 homem esta inserido e 0 conhe dill/'11 10 I' rcgistro das situayoes e sucessos que assinalam e manifestam essa ill :"'I\ ao. (,: vcrdade que 0 termo istorie, empregado pelo grego Herodoto WIlIO lilulo da mitica obra que todos conhecemos, significava justamente "pI'squisa". Etimologicamente, portanto, uma "Hist6ria" e uma "pesquisa".' Mas logo a palavra Hist6ria passou a ter urn significado muito mais amplo e ;I idl'lItilicar-se com 0 transcurso temporal das coisas. /\ erudiyao tradicional alude sempre a esta incomoda an£1bologia esta l)('hl'lIdo a conhecida distinyao entre Hist6ria como res gestae - coisas suce didas - e llist6ria como historia rerum gestarum - relayao das coisas sucedidas ,distinC;ilo para a qual He'gel, pela primeira vez, chamou a atenyao: "a pala vra hisloria" - dissc 0 £1losofo - "reune em nossa Ifngua 0 sentido objetivo e 0 slIhjdivo: significa tanto historia rerum gestarum como as pr6prias res gestae, lallto a narraliva historica como os fatos e acontecimentos"." Na atualidade,
'I tll:,ROI)O),O. llis/llrill. Inlrodllcci6n dc F, Rlldriguez Adratills, Iradlln:i(lIl y Ilolas (r.- ( :al"lus Schrader. Madrid : (;rctios, 1977 (e cdi,,()cs sllccssivas), l,ellllHl' S(' ti(' (1"(' II h:xlo dl' 'i krbdolo ('(II S('II livro I cOIlll'"a
II Ji( ,II, (i W I'
",/,,1' I"
/, /"",/11/ IIr /,,If''/II' ,,/ 1 /1/ / 1'/'1,/1 / M,IIIt III Ali,1I1 I. 1'111'1 Ii , I'I I "'1',1'1,\1 ","II,IV,I'IIII' ,'"" ,' 1. 1111 ",1111111111 111.11" 01,, '1"1' 1111.,( I ,I~ 'I.I 1111",1< 11'11111/11"
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W 111 '1 I' , 11. 1:/, 1IIII"IIido d, ' /11 /orlllll , Nllfflllil"', d i l l llf,, " )' fI '/'fni '" II/II,;1 /11 '1011 "" 11,1111 1111\;1 1'. lId"~,, 1'1') .',1'. I','}. () lillll" ('Sll1l11hol 01" %01 1',,1>1 11 '11\1111 ,,,"1(1«((1, ' (I til
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'l i/ /;"/" .-.I' II/IIII,III
Parte 1 Teoria, his/oria e historiograJIa
Capitulo 1
HisMria e historiograjia: os fundamim/os
nosso caso, a palavra grega istorie (pesquisa) passou a designar 0 processo temporal cumulativo da Humanidade. E frequente tambem 0 uso de certas palavras com significados multiplos nas ciencias sociais, comoocorre com economia ou po/itica, entre outras. De nossa parte, e para 0 momento, e im portante assinalar que este problema terminologico nao corresponde a urn ca niter espedfico da historiografia. Mas valedestacar, igualmente, gue na situa c;:ao referente a Hist6ria nao ha razao para que essa polissemia se mantenha, da mesma forma que a tendencia tern sido no senfido de elimimi-Ia no caso de outros vocabulos que designam ciencias, como com a poHtica ou a polito logia. Ainda que a questao nao seja exclusiva, nem, talvez, crucial para a disci plina da Historia, e, sem duvida, de suma importancia. Quando falamos de Hist6ria e evidente que nao tratamos de uma rea lidade "material': tangivel. A "Historia" nao tern 0 mesmo carater corp6reo que tern, por exemplo, a luz e as lentes, as plantas, os animais ou a saude. A Hist6ria nao e uma "coisa", mas uma "qualidade" das coisas.'o Portanto, e mais urgente atribuir a escrita da Historia urn nome inequivoco do que faze-Io com as disciplinas que estudam essas outras realidades, que, por outro lado, tern nomes bastante precisos: 6ptica, botanica, zoologia ou medicina. E essencial deixar claro, desde a palavra que 0 design a, 0 que quer dizer "pesquisar a His toria". Nao se po de negar que no caso do estudo da Historia existem razoes su ficientes para supor que gran des esclarecimentos podem ser esperados de uma primeira elucidac;:ao eficaz dessa questao terminologica - e depois, natural mente, de todas as demais. 0 carater nao trivial da questao terminologica ja foi destacado ha tempos por correntes historiograficas como ados Annales, ou a marxista, e ambas falaram de uma "ciencia da Historia". A palavra Hist6ria tern, pois, como ja se disse, urn duplo significado, pelo menos. As vezes, porem, tem-se introduzido palavras ou rodeios espe ciais para expressar seus diversos conteudos semanticos. Assim ocorre com a clara distinc;:ao que faz 0 alemao atual entre "Historie" como realidaJe e "Ges chichte" como seu conhecimento, as quais se soma em seguida a palavra "llis torik", referindo-se ao tratamento dos problemas metodol6gicos. )crzy 'Ih polsky assinalou que a palavra Historia, ainda que scja usaJa apcllas para de
10 No (:al'll.lllo '1. n;! s")',lIl1da p,lIlr " ~'I>~:I Olll", n'lllcs" pr(II'I M " 111 ill.lck 11.1 1 1i ~1('1 hI.
Voll.lI(·lllI b .11 1;11.11
III' <) 11 1".1.11'1, 'I'll'
"1',1101 1 a atividade cognoscitiva do hist6rico, encerra ja urn duplo significado: !I ' II)I II,I 0 processo de pesquisa, mas tam.bem 0 resultado dessa pesquisa com O " 1, , Pllslrllyao na forma de uma serie de afirmac;:oes dos historiadores sobre (I~ i ,I , ,~ pussaJos"." Mesmo sendo esta uma sutileza desnecessaria, uma vcz lj lll' lill·\ I' ,IIIH'lItc nao ha pesquisa desvinculada de uma construc;:ao de seus rCSIII 1.1< 1"" , ,I observayao ajuda a compreender as consequencias nada banais dl'ssa • ', 111111 \1;\ anfibologia. Em suma, Topolsky acaba distinguindo tres significad(ls ,I.I !'1I 1.lvra Ilistoria: os "fatos passados': as "operac;:oes de pesquisa realizad as I'IIi 111 11 pcsquisador" eo "resultado das ditas operac;:oes de pesquisa". !':m al '1111\ l.!iolitaS, acrescenta Topolsky, 0 conhecimento dos fatos do passado [(' III It I" cles ignado por outra palavra, a historiografia. E e justamente ncla qlle , 11 11 It ' II HIS IlOS deter aqui com maior enfase. 'J()polsky afirma igualmente que a palavra em questao tern urn IIS0 (·s ,'III I.dlllcnlc auxiliar, em expressoes como "Hist6ria da Historiografia", il q..,, ' 1111 , It It.ll lloS acrescentar outras, como "Historiografia do tomate" Oll "l lisln 11111"" 11.1 dos canarios", por exemplo. Esse sentido auxiliar que assin al.1 '1 11 l,lt l',I,y 11.10 dimina, a nosso ver, a vantagem de que a palavra Hisloriogt ,I I'I.1 II III 1111101 sigllificayao univoca: "refere-se apenas ao resultado da pcsqlli s,I': I ";".11 I. ' ",,(·il ;\ sua ctimologia. No en tanto, continua 0 autor, ao nao i;Hlic;Jr 11( ' 11/11 1111 l'I 'llu'dimcnlo de pesquisa, 0 termo nao tern encontrado ampl.. lIlt' il ,1 ~,111, "111'1 11 seqller no seu sentido mais estrito': Para ele, "a tendencia tit' CII ljlH' , ,~. II II I q 1110 /Iis/e/ria, rnais uniforme, e obvia, apesar de que supik L1ll1a ~ n 1,1 l;ril .1 til' , Lll'cza': I.'
( ) lOIl(cito de "I-fistoriografia": pesquisa e esuita da I list", 1.1 vm,ihllio j,l foi proposlo para clllnprir cssa fUII,;ao: Ilis/ oliu/Oglli III, )\olvd '1111" do pOlliO dc vista IIlol{lgicn, cssa palavra desl'111 Pl' lIIhll III P" I I, ,lilli' ii I(' .1 l....d J de desigllal' a '\:ii:'ncia da liislbl'ia". Mas poss lli, 1111 ,'111, 111 Il', III" 1I1.I II II I,·III.lsiado pl'c\{'nsioso: 0 dt' SlJPOI' qlle a p('squisa hisl(H if.1p( III, fl ,.'11.,, 1,1,'1,.. 1.1 , srm l1laiol'es jllslilkalivas, lJl1l;I'\;i('II1 i,,': hli ()rl l·~. 1 y ( ;11 ...... ·' ( '111m
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I 'I ( 1"1 11 1,1\,', I AfI'/I,dll/llgJlIlll' 1" 1/'''"1111 M.uli 1\1 ("\11',11 .1. 1<1/1', I' , ;;.\ , '-,', 'Iud .,,. '.';
Parle I Teoria, hist6ria e historiogra[ta
quem propos 0 emprego de termo "Historiologia" para nomear uma ativida de que acreditava imprescindivei: "Nao se pode fazer hist6ria se nao se disp6e de uma tecnica superior, que e uma teoria geral das realidades humanas, 0 que chamo uma Historiologia".1 3 "Historiologia" e empregado tambem por mais alguns fil6sofos no sentido que aqui assinalamos, como pesquisa da Hist6ria, I"llljuanto certos historiadores, ao contnirio, 0 tern aplicado no sentido de re f lex,io meta- hist6rica que Ihe atribui Ortega, como Claudio Sanchez Albornoz (III Manuel Tun6n de Lara. 1'1 Conseqiientemente, a palavra Historiologia nao .Il1-lIde ao nosso prop6sito. Introduz novas dificuldades semimticas no lugar .It" Icsolvc-las. /can Walch fez algumas considerac,:6es extremamente interessantes a It',\lw ilo do uso das express6es Hist6ria e Historiografia. 15 Para Walch, 0 recur '.(1 .IOS dicionarios antigos ou modernos em qualquer idioma nao resolve 0 I'whlcllla da distinc,:ao entre essas duas palavras. Ele considera bastante pers pILa1. a ajuda que buscou Hegel no latim - res gestae, historia rerum gestarum para disLinguir as duas facetas. Mas a epistemologia deve proceder segundo prilldpios mais estritos que a linguagem comum. Para tanto, Walch prop6e que, em Lodos os casos em que possa haver ambigiiidade, seja aceito 0 termo "II isL{)ria" "para designar os fatos e os eventos aos quais se referem os histo riadores" e 0 de historiografia "quando se trata de escritos" - "celui d'historio graphic lorsque il s'agit d'ecrits"-. Isto explica com grande tlareza 0 modo como duas palavras podem efetivamente servir para designar duas realidades disl inLas: Hist6ria, a entidade ontol6gica do hist6rico; historiografia, 0 fato de cscrcver a Hist6ria. Pois bem, os "maus usos" da palavra Historiografia sao tam bern fre qlknLes. Certos autores, especialmente em lingua francesa, tem atribuido a
n
OIrl'EGA Y GASSET, J. Una interpretacion de la Historia Universal. En torno a ·I<>ynbcc. In : Ohms complelus. Madrid: Revista de Occidente- Aliall'l.a Editorial, 19113 . 1. IX, p. 147- 148.0 grifo e do autllr. Nesta e em outras obras de rcllcxiio so br" a Ili~I<)ria, Ortega explicita sua rna opiniao a respcito dos bistoriadores - jll~li Iicada? --, sell julgarnento do pedestrisl1lo illtclcctu
1,1 SANCIIIZZ Al.Il
Capftulo I
Hist6rin e /Jisloriografia: os fundamentos
I"II ,I VI.I "II istoriografia" significac,:6es que sua simples etimologia nao aulori I ' 'Jill" complicam a questao de forma completamente desnecessaria, gera n d.. "IjIIIVOCOS quanta a sua significac,:ao original. Naturalmente, tais erros to ,j ',l ldo.'; pcios franceses tern sido de imediato aceitos por seus imitadorcs I':; I l fl ll hCII.~ . Existem pelo menos dois usos impr6prios da palavra Historiogral1 .. ~. -11I'.IIIII.1S outras imprecis6es menores nada dificeis de evitar, em todo caso. () 1"111 11'1111 II () uso da historiografia como sinonimo de reflexoes sobre a Hislci il,', \111 (' ~Iil() do que fazia Ortega y Gasset com a palavra Historiografia. 0 Sl' 1'11 1111" I .1 aplicac,:ao, como sinonimo e termo coloquial, para designar a I/i" I,', "I "" I/isloriografia, quando nao, como se diz em algumas ocasi6es lamilCll1 II '" Illt I",~ f'ranceses, a hist6ria da hist6ria. 16 autor espanhol atual faz tambem da palavra em questao objclo de I!III I IItr l.lvd diatribe. "A palavra historiografia" - afirma - "e urn neo]ogisI1 H\ 11 '. 11111,1 pouco e que se utiliza em algumas poucas ocasi6es. Tern a vallia ii l .l, ,d crir-se a urn tipo de conhecimento sem confundi-Io - como 01. 0\ ""11 1"lIavra hist6ria - com seu objeto de estudo, mas tambem aprCs('III.1 "IV,' ill~ onvcniente. A disti'nc,:ao analitica entre saber e objeto podcr ia 11.,., I.! ff l' "tJ"I'll'r que os "fatos do passado" permanecem inseparavelmclll t' IIl1i hr ~ II" I Cl llh l'cimento que temos deles. A escassa beleza e rigor cngalll )s\) till t 11 11 ', h"I OI'iografia soma-se 0 problema de seus diversos significado:...."1 , Jill
I" "1'1111,10. qllc praticamente nao necessita de nenhuma exegese, dl'poilo d, 1 .~ It I , .J. lI, f OlllllllJila propriedade, qual a vantagem do termo - referir-sl>a 11111
Ilil ll" 11111'1110 S(,1I1 confundi-Io com seu objeto - adentra em epistemologi'lI' iIH pli,I.I·. " "111 ticcIanl<,:6es gratuitas, induindo as esteticas, para condu ir di Ih l\l'!,!i' ~I' ( ria 11111 confusionismo atribuindo difercntcs signiticados ao l,·I '.
" I ' ,,,lm.. I" .. ('I ('II'ira t'xpres~;I(llel11 akanc,:ado norlo cxito lIa l;ral1~'a, Elil (. "'111'11' " ,, 1.1 ,"I " , ""IIOS ('asos. pOl' 11111 livro lao prcll'llsioso c vazio, " dl' 111 0 ('SI'"I1I11',,' II ,J! 1,\ .1" I',lIll " ('~I "lIIhol. COIIIO 0 dl' I.F COFF./. /'i'llS/lf /a II isillria. 11.1f H·IIII hI 1',11
01 ..•.
,1)11' I' I I . I'a:..\i lll. "II isll'lria da II iSl6ria" (, Cl1lll1'l'I'.ado lalll(," II, . por 1'''''"11'1...
I II t ill 1.1 EI(, ( ;.; 'J'l JJ.A IU l. J. Ceill/ll /1/'('/1(//'(/1' /III Imhaill fil' I/ I\I/II/', ("/I 'IlId,," " I.', JllIII ' I II" " ,'11111,,: Oi klls 'I :111, Ii)X'), 1'. 1:1, I'assi 111 (WI ~;\() InU ll I'~,I c1 I' l' IIlK) Nil
,III
1I, .l1l1· i l'l1 11111111111 d,' aludil ., "III ~II ·III.I d., IIII,lillil'I:I,IlI" 'I, ' I, dl " ,ll. ,', '"lh"l" '1"1' 11 ()~SIl~ .rll lIll" d.1 11 ,.111'1 iu "Ilihllli ill d.1 hl\"" '"11' 111.1'. '
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1''''11...·.1111.... ,11\1.1'·11 ' .1 <'1.1 'l11'II' · 'III~I"IIIII \ I.lli ,i" III III '" I' 1, 11"" I!II I 1\'11 I" I JI ~ '" II"!: "'II" 1)','I, M·.I'" '''. I :, I',
1.1 . ! ,.'" I ,
Parte 1 Teoria, historia e historiografUl
Capitulo I
Histuria e historiografia: as IUI/darnerltos
mo, confusionismo para 0 qual inclusive contribui de forma notavel 0 proprio
IIIII dOl I Iistoria" com 0 uso de tal palavra para designar "a Historia da es. I il.1d.1 Ilist6ria", quer dizer, com a Hist6ria da Historiografia .
[lfi
titulo da publicac;:ao em que aparece essa argumentac;:ao. '8
C
o fato de que esses usos, cuja falta de univocidade ja denuncia uma im portante carencia de precisao conceitual em quem os pratica, ten ham sido fa
Ii
MoIS lambem se diz que a Historia da Historiografia "passou a convcr I ,I 11 11111 dominio de pesquisa diferenciado ao longo dos anos 70",22 0 q Ul"
justifi~aria ainda mais este usa e~pecifico que sustentamos da
vorccidos por alguns historiografos de reno me permite sua repetic;:ao de for
i" ,··d ,tlll.lria
ma bastante acritica. Urn autor tao celebrado como Lawrence Stone, por
1" ',I" IIIII:rafia como pesquisa da Historia. Mais uma prova da confusao de
C
{lilt'
l'xemplo, chama de "Historiografia" urn conjunto variado de reflexoes sobre a
I iI.uIl'I\ " ,I que evidencia Helge Kragh, que para diferenciar os dois usos da pit
hist6ria da historiografia, 0 oficio do historiador, a prosopografia e outras ins
I .. 1.1 III/.I,iria recorre a formulas como HI' ocurso dos acontecimentos, e "2'
questoes. '9 E ju,stamente devido a esses usos variados e equivocos que ,I qlll'stao recentemente voltou a ser colocada: "A palavra 'historiografia' e su
Quanto a palavra Historiografia, concorda que se emprc
I rill ivas
",11 '1 'lIhccimento,
IiI iClllemente ampla para abarcar uma visao in extenso da disciplina?': E tem
1(1J ~ "lIlido de H 2, mas que "tambem pode querer dizer teoria ou filosofia 01 .1 111·.101101 , ou seja, reflexoes teoricas a respeito da natureza da hist6ria"."
'il'
I' ll'
r('spondido: "no modo dos significados trad(cionais do vocabulo 'historio
gl'.d ia', a resposta deveria ser negativa".20 E essa posic;:ao negativa baseia-se, jus-
II I
1;11I1('l1lc, no fato de que por essa palavra se denomina tambem, entre outras
I
,oisas, a "historia da historiografia". Essas considerac;:oes ilustram bern as dificuldades relativas ao assunto qUl' V.10 alCm da simples questao terminologica. 0 primeiro dos maus usos pode deixar claro
0
pouco aprec;:o e atenc;:ao que os historiadores dispen'sam
a
reflexao teo rica, de forma que devem empregar uma palavra espedfica para
I'
( )~ clllprcgos tergiversadores sao e tern sido bastante freqilentes tambclll Il h hll lografla espanhola, ainda que nao sejam universais. Dois exemplos <':,1 lit
hilI os por sua procedencia bastarao para dar uma ideia. Urn aulor Illlli
I" I " IIIII'~ ,do cm seu tempo, 0 padre jesuita Zacarias Garcia Villada, dizia, elll 11\ 10 IIIctodol6gico muito recomendado, que "Historiografia" signifk ;lv,1
111"
II I.
P II
"toLio de escrever a Historia': quer dizer, designaria uma csp('lic de
I'll '-' I" IV, I
1 '- I' 1t1l\I ,ltla defini<,:ao.'- ' Outro autor espanhol mais recente inclui StIll
I II'
desigmi-Ia (como se ateoria sociologica se chamasse de forma espedfica "So
1I 1t 1l111 , I lIh ,l r'I~·o a "lIistoriografia" entre "as chamadas ciencias auxiliarcs dol
ciografia", ou talvez "Sociomania': ou a teoria polftica "Politografia"). 0 se gundo, que motiva as reticencias de Pasamar, procede, entre outras coisas, da
111 ' 1'"1.1 ': 1111110 (oIll a Geografia, Epigrafia e Bibliografia (sic), entre olilras,"
difusao de alguns livros ruins, como
0
de Ch. O. Carbonell, que teve em sua
vcrsao espanhola uma difusao muito alem da merecida. 21 Em certos textos confunde-se 0 uso simples e etimologicamente correto de historiografia como
'1IIldliSiIO, a confusao de historiografia com "reflexao tc6rico Ill" ! ,,, I, ,1 " )1.11.1 .~ol>rl' a pcsquisa historica" (Teoria da Historiografia, pa ra SCI hll
IX Publicaltao que, apressemo-nos em declarar, contem importantes c()l1triblli~()cs, como a de J. J.Carreras e a de Justo Serna e Anaclet Pons, quc comcnlarel1los mais
a frentc.
" " l l a not;ivel parlicularidadc de que a "hist{)ria da Ilisl()ri"~\ I:I 'i.r" irlllll.I,1.1 1'1'10 alltor sistelllaticarncntc dc "Historiografla".
, II", 1!,1i1l.I , I
, I ',\o,/\M A I{, (; . 1.11 /I;s/or;" Contl'm/)orlim'u. Aspectas lel/ricos .t'I,1 "I II II'I,is, lOOO. ". '!.
I 11 /\ 1,11, II. I,,/rot/lled,in
I'> STONE, L. t:l pusudo y el presente. Mexico: FeE, 19X6. 'Ii"ata -sc do titlilo qlll' rCI:l' he a primeira parte dessa obra, cujo contclHlo descrcVl'lllos.
m I'ASAMAR, C. l.a TTis/or;a Con/emporIIlICI.I. !I.~"cc/os /C'tll';COS (' iI;.\/or;ogrri/ims. Ma drid : Sintl'sis, J.()OO. p. '!. .'. 1 CAIWON IIJ.I ., C. n. 1.(/ /I;\lorio.~m/lt l. M c xiHI: 1'( :1'., I'IX(, (,'di ~,IO Ilal ln" ,1 tI" I'IX I ) '1', ,1' ,1 'I'
I' \ I
\
II
I'
I'
hi.
III I/is/oritl til" III Cit'nl"ill. Barcelolla: (: dl i"" I')H"
1
I, ""l 1/\ VII I.AI lA, I .. MI"/OI/%gi" yC'ri/im h;s/ilrims.Ban:ciolla: 1-:1 Alhll, 1'1 /1 p. " I I ," '1\111.11 d l·~.',(· I iVI II I; dt' I')J. l (' a i11.111 SI' cd il ava " Ill 1I1f" ~I'I lIa da 1;1 iIlIli\ 01,1.1, " ' jl l, , 1/111,1 1lI,lt\lJill' ,I 1"(lV;O dl' IIl1lilas
liwriil, hist6ria e hisl'Oriografia
Capitulo 1
Hist6ria e historiografia: os {lmdamen tos
mais preciso) ou com "Hist6ria dos modos de pesquisar e escrever a Hist6
il.l\' 1,111.1'.11;\ lIlais correta aCepyaO, ao falar em urn texto conhecido da "I lis
Parte 1
"'1' 1,11 101 (islo
ria" (Hist6ria da Historiografia), mesmo que nao seja, como dissemos, uma questao crucial da discipIina, representa, a nosso ver, urn sintoma das impre
c, a produyao escrita ace rca de temas hist6ricos)".27 No mUll
!1 1I1,hl '.. Ixao, essa palavra foi introduzida com a mesma acepyao que Ih"
I
cisoes corren tes entre os profissionais e os estudantes da materia. De fato, a
!! d l'I " III'" pdo filosofo W. H. Walsh, autor de uma obra basica da "filoso lia
palavra historiografia tern sido aplicada, nao se sabe muito bern por que ra
il!l! lill' I ' d,1 Ilist6ria,28 e e de uso com urn em lingua' inglesa.
zao, a coisas que surgiram modernamente - Teoria da Hist6ria e Hist6ria da llistoriografia - que tern 0 seunome ja perfeitamente adequado, violentan
I, 1!l tl • Ill pn'gada. Nao e assim, de forma alguma, 1mportantes historiadol'cs,
do absolutamente a etimologia do termo que propomos. A palavra, alem
It
'... 11.1 lalsa a impressao de que a palavra historiografia e universaln\(;n !,
, ,, ld ll'l Ida capacidade, influencia e persistente dedicayao aos temas de c;\
1"1 II Ill) mclodologico, tem- na utilizado sempre no seu sentido corrclo 111',/ ' k ldlVrc, P. Vilar, Thomas Kuhn, R. Samuel, J. Fontana, J. Topolsky,
disso, nao apresenta concomWlncia nem confusao alguma com a "Filosofia
h I
da llist6ria", atividade que, nem e necessario assinalar, os historiadores nao
r , M'
coslumam cultivar.
II
lIlagisterio que se deve impor. Alem disso, 0 uso da expressao ,,;~
problema de forma precisa, mas nao
j'I'wflll para designar a funyao disciplinar da pesquisa e escrita da Hisl 6ri.1
propos uma soluyao. Parece-nos hoje plausfvel que uma palavra ja bastante
ill ,llIdn progrcssivamente accito, ainda que alguns descordem, no vaslo
dirundida como Historiografia seja a aceita. A palavra historiografia seria,
tI 'I "! ol liS
Topolsky, sem duvida, destacou
0
hisloriadores,
0
que
e uma boa noticia.
como sugere tambem Topolsky, a que melhor resolve ria a necessidade de urn \(;rmo para designar a tarefa da il1vestigarao e escrita da Historia, frente ao ter
1\ Ii IIguagem da historiografia
mo Hist6ria, que denominaria a realidade historica. Historiografia e, na sua acepyao rna is simples, "escrita da Hist6ria". E historicamente pode aludir as di versas formas de escrita da Hist6ria que se sucederam desde a Antiguidade chlssica. Pode-se falar de " historiografia grega", "chinesa" ou positivista,' por exemplo, para referir-se a certas pniticas bern definidas de escrever a hist6ria em determinadas epocas, ambitos culturais ou tradiyoes cientfficas. Historio grafia seria a atividade e 0 produto da atividade dos historiadores e tambem a disciplina intelectual e academica por eles constituida. f: a soluyao proposta, afirmou Ferrater Mora, para dissipar a ambigiiidade existente entre os dois sentidos principais da palavra Hist6ria. 1sso tenderia a ser suficiente, acrescen ta, "mas nao e assim".26 Foi essa a significayao que deu a palavra urn dos primeiros te6ricos de nossa disciplina em sentido moderno, Benedetto Croce, em seu 1coria e l-iis
1\ q llt'sl,\o do nome nao e
0
unico problema terminologico
110 l'~ l II
I" " I 1 11 ~. I(iria , 1\ pesquisa hist6rica praticamente nao criou uma lill gll 'l III iii ,.pro i.lli/ada, 0 que e tambem urn sintoma do nivel de mew C()III I1,'1 i UI IIIIIll que a historiografia tern mantido desde muito tempo CO I1\ O II".. )1' 1.1111 da pesquisa historica. Existem apenas termos co115t~uidos lI i,\/(I
111, "1 "
I
tl'~t "I" ' '''' (' 11/1' para designar fen6menos espccificos. Algumas COIIO"I, tk~
11 "" I,i! '1\1\ . I ~ i
III
exprcss()CS como "1dade Media" -, alguns qualifical ivos
I'
I,'
,. 1:1 " 1': 11 11 dclcrmilladas conjunturas historicas - " RenascimclIlo" ,1111
I, dl
',411
In ladl' - " Feudalismo", " Capitalismo" - c cOl1ccilua,'ol'S ( Oi li ll
1!l " II. 1 oI l1 l , I ~ , I O", "colljunlura", C algumas outras, sao lcrrnos qUl~ Ilao pnlll' .It III d,l hll)',II,I):CIlI COllllltn, ou aos quais sc lem dado llilta Sigllil'il,I, ,\O I' ~
Loria da Historiografia; em italiano Storiografia tern 0 sentido preciso de escri La da Hist6ria. Esse e
0
uso que Ihe atribui lamhcm Pierrc Vilar
conhecidos lcxlos te6ricos e mClodol6gicos. J. Fonlana, por sua
CIIl
sells mais
Wi'.,
ulilizoll a
II,IN'IANA, I. lIi, /orill: AlI;ilisis dd pasado y proy<'clO s"cial. Ilan .-I"" W (;. ,111 ", 1'111 \ I' 'I , II /11 /i/".'o//II tid" illS/ Prill , M,'xi,,,: Siglo \XI, 1')(011 ( .1 1'111'11'11 " ... 11\ ,II ' " ,II' 1'1', I). I'"eI .. M' V ," il" ,II w , ( 0 111\'11 1,1 rio, 'I 'll' ,I 1'~1r II ' ~ I II'II" 1.1.' IIIIA\, W II /', " -/11"/ 11 '/" " //1 1'I1'I/otl,' ()II,IW,I, I ," I',\,~~(.., .I,' 1' 1IIHvl'. '.111" 01'1 1110,
'II WA I ', I I, W, 1I.IIII/Ot/II,, 'iOlI
II P fi l~ I~i\T I.I( M( !lV\, I I lud"II/II U1 '/1' h i/hili/II tI"lm/,,1/1I M.HIr ul AII ,)I!/,!. l' IXi I, I' 1/1
,q
I'JHH I' \',
I \'1 '1\'11
-Parte J Teori", lrist
CapilUIo J His/orill e hislOriagrafia: as fimdamentas
Que ninguem entre se nao for filosofo, se antes nao meditou sobre a natureza da hist6ria e a condic;:ao do historiador"."
A HISTORIOGRAFIA, A CIENCIA E A CIENCIA SOCIAL Por que uma discussao sobre 0- carater do conhecimento da Hist6ria, de suas possibilidades e seus limites, deve comec;:ar falando da ciencia? As ra zoes existentes para que seja indicado agir assim sao de importancia inques tionavel, mas e certo que nao ha unanimidade de criterio sobre elas. Desde muito tempo, difundiu-se entre os historiadores uma atitude ascdica ou reti cente, quando nao francamente contrchia, a respeito da pertinencia e utilida de desse genero de especulac;:oes em relac;:ao a historiografia. No mundo dos historiadores nunca houve acordo sobre a qualificac;:ao intelectual ou a capa cidade cognoscitiva propria da atividade de historiar. A questao se a historio gratia e ou nao uma atividade "cientifica", ou que outro tipo de conhecimen to e, nunca preocupou seriamente a maioria dos historiadores. Em outros ca sos, a resposta a perguntas desse genero nao recebeu mais do que conteudos meramente formais-, que nao procediam de uma reflexao realmente detida. E imprescindivel, no entanto, que se dedique certa atenc;:ao a esse tipo de problemas quando se espera entender 0 que e em seu nucleoa essencia do conhecimento que aporta, ou deve aportar, 0 historiador. Para uma considt, rac;:ao como essa, nao parece que haja urn marco adequado, ou urn ponto dl' partida melhor que 0 do conhecimento cientifico, com uma determinac;:ao tam bern essencial: 0 conhecimento cientifico aplicado a sociedade. Quer dizer, 0 marco da ciencia social. Que tipo de conhecimento cabe esperar da historio gratia? E possivel urn conhecimento cientifico da realidade socio-temporal. ou seja, da realidade hist6rica? Com perguntas desse genero, estamos no terreno em que se silua, o bri gatoriamente, a nosso ver, a discussao sobre a natureza do conhecimenlo hi~ torico. No presente capitulo se busca estabelecer balizamenlos para 11111 tlt-b:! te desse genero e ,para uma resposta que, necessariall1clll(', d('VI' sn prov isol i.1
-1 H M i\ I{ IH )\1, II. I. /0'1 , ,"IlIII1"II'IIIU li,I/,iI 1/" 11.1I1I 1,",,1 I ,III." , I'III/! JI I J
I
vital' a ausencia ate hoje de uma posic;:ao unanime sobre 0 as
1111 ., 1j11l'lll nllcnte, hoje em dici, essa resposta nao pode ser, como nito
~ .1 1l'g(lric~. Em nenhum sentido, nem positivo nem negativo.
l'l :i l r nl. 111 11,1 primeira constatac;:ao que nos parece inquestionavel: uma
if:, "I I ·.pt-t i(' nao pode tampouco ser procurada fora de urn marco
"I I . " I"" c'lIquadra urn problema que, de uma forma ou de outra, {:
1I /II !, 10 j, I I IIII' I( ,das as ciencias sociais: e possivel urn conhecimento cicll -'
It. l i""I1I\('
I': , l'lll lodo caso,
0
que se deve entender rigorosamente
pOl'
1, ","ll1'c 11I1l'lIlo? Na resposta a essa pergunta estarci incluida, sem dl'l
hi ,It 'I II '1\1 " fi ,1. 'ICntemos,.pois, comec;:ar, enfocando essa ultima queslao
II!N<:IA E AS CIENCIAS SOCIAlS
1"11\.1, ,,"IIiI',1 do conhecimento cientifico, que
e a vertente espedfilrl
I", 111 .\ '1 111 ,'qll i nos interessa, e abordada de maneira conc'r eta por II lllil I'i II,j " " '1/,1 do ((\lIhecimento que e a Epistemologia.'9 Ciencia e "um kr '111 1I n\\,1 1, 1 , ,I
11., di~'ao
1'"I,'v ...., ('Ill
filos6fica e mundana tern significados muilo d is seu scntido rnais preciso e correto, que e 0 qUl' elIl
"1'", oIc ... If\ lIa 0 que chamamos "ciencia moderna" por antolHlJlI:i I ,Ii'I I., 1t' 1I\ i.l l 011100 resultado da "revoluc;:ao cientifica" quc Icve: illl t' produziu a Mccanica newto'n iana, ou a Quil1'lica, dos I K, p~ ,IVIIII, os 110 conhccimento da e1etricidade no scculo Ill, .I~ '_IMII 1I11111\i\ ,I'> I II) s(', (lIlo 20, clc. II L\Jo I lIllo'lIlo
I !!f,1I Ii I t~11t II lIlillS dc("isiva e a difcrcncia<,:iio mais explicila do l.:llllhe
.if lllll " Ih l
11
111111 1"t'sl'cilo a Imlas as oulras t(xmas dc conhcccr sao .. dl'
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I
:ilia slIjci,'ao a rcgras dc ((\/I1pmVllfilO dl' 111<10 ()
411111'1 II 1(1 "a I'.I,iSlI'lIIologia, III J N( ;1\, M, l i/Jj,'/I'IIIII/II:.!/il
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I\lil'l, 11) 1I1. M()N SEl{Ri\' I ',J./ :l' , s 'nll ll/(/,~ f"t'I 'oI ""v" l'II'wlll "I j " " '" ill, 1\ 1111 1, Ii I "11101" .11 i""l's de la 1111 iV l'r~ lIl ad 1'<1 111 illl i,l :\1111111.", 11111 f I I I , til' 11111/""' '/. ' /11 (// '111/11 /'",/III'/11<1' .If' hi I,,~II/I '/,. I" /l1I'1',IIW'1 1011. ,,.,, I 111 ,. 11.1, Ai"" . 1'.lIdlll" 1'17'1. I' IA' :1::1, ,. 'lill/tIIlllti/' I ('S:/I'" 111111/11111111"1/111'"1/ '" I1l h ,," ~ 1',1101"", p , " , I N.II 11I.lk 1.1 )' OIl'I"tI", .II ' 1.1 PJlI ~ 1t 'I! "11,,,\1,1 I
I''',hl i l,IIo,\t1l1.l
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11111 t ,U,I , Ih ,,,,,.lt'! 11,'1/, ,,11"11/,",,1II VII'III! 1',,,,,,11,1. 1'1'1' I hllllllhH"""t.. Ii IIiI I' •
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"I"II, h',,,,,,,,,
afirma como prclcnsa wrdadc cil'lItilica. ( :onlo tollo U)(Ii1Cl1 111l'nltl•. 1 1 1I"m I parte, ao menos em seu aspecto It'lgico, da obscrvurllo,
IllaS
partinllo da "IN"
• """ It'III, lill 11 11111 dil
III. , . IIW III
ViI
«yao ou, se quisermos, partindo do conhecimento comum das coisa.~ ate ~·),W 1111 tro nivel do cientifico, e preciso percorrer um caminho sujeito a lllll 1//(11111/11, ' A titulo de introdu«yao, poderiamos adiantar que a ciencia se define como 1/1111/ ,,,
for conhecimento sistematico, que se baseia na 'observa«yao dirigida e orgalll zada da realidade, que constr6i os "dados" e os organiza dando resposlas
ItT
11111
1101111'111
III '
\1111
i,1
11111;1
calegoria (ll1ica de conhecimenlo. 1':sla illI1UI'III1...' tli..
"i ll' .1'. Ill'llI ias l' a que leve sua origem n
, 11I ~ loricista de finais do seculo 19, e foi a que eslabclecl'lI a tli
iii illi i.1
doi, gnl!ldes tipos: ciencias nomoteticas - do grcgo
1 1'11111
IIIJIll Llridadc -, ciencias dos comportamentos singulares. 'Jhl disl in ! d!)II III IV,II11l'nte estabelecida por W. Windelband S4 e passou a Sl:r 11111
te de descriroes e, tambem, de interpretaroes. As explica«yoes tern de ser univl"
I I "1I1f 1l 1l
i'lIl f d, l~ao com dois tipos de resultados da ciencia: 111 11, I, , /dim!'(/(I I' 0 que 0 faz como compreensao. ss ,
nao julga do ponto de vista etico ou de qualquer outro a realidade que expli ca. Tampouco e urn conhecimento de "essencias", mas sim de fenomenos. Pi nalmente, e esta e provavelmente a caracteristica mais decisiva, e testavel, pode ser "demonstrado", explicita 0 caminho pelo qual as proposi«yoes que se enull ciam podem ser -consideradas ou nao como verdadeiras.
o
. ' 111
lodos os tratamentos a respeito do caniter da cicncial' a 0
u)
que se aprcsclI
\'.'01 111, I'II'1l1anto as ciencias nomoteticas ou nomologicas, que Sl' telll Il ltl" .u l.. dllrante muito tempo com a ciencia natural, teriam como flll) ~al1 Ioil, I~ ,111 (lTkliiren); it ciencia idiografica, identificada com as cicncias dll II!~ III ' " I , i"lIcias da cultura, estaria reservada a compreensao (versleiIC' II). ," i(11t1 i.I·, do hom em nao estariam capacitadas para dar explica«yoes na '(II IHI (It' 'III' illS mas deveriam dedicar-se a compreender 0 significado das (\(;( \('s
epistemologo e metodologo neopositivista C. G. Hempel falou dl'
dois grupos fundamentais de ciencias: as empiricas e as nao empiricas. 53 Mas a classifica«yao mais conhecida e talvez a mais util, mesmo a partir de um cri terio mais externo, e
a que come«you distinguindo, desde finais
do seculo 19,
. entre dois ambitos do saber cientifico: 0 da natureza e do homem. Dai dedu ziu-se, apos sucessivas matiza«yoes, a distin«yao entre ciencias da natureza e
51 Toda a terceira parte desta obra dedica-se ao metodo. 52 Em todo caso, isso nao quer dizer que a ciencia possa ou deva estabelecer uma ex p!ica~iio unica para os fenomenos. 0 conhecimento humano e mais limitado que isso. A dencia nao estabelece nunca uma verdade para sempre, nem sequer na L6 gica, nem se pode dizer que urn conjunto de fenomenos nao admita diferen~es ex . plicai):oes. Mas nao se limita a descrever, nem deve se r confundido com interpretar. 53 HEMPEL, C. G. Filosofia de La ciencia natural. Madrid: Alianza, 1989. p. 13.
~()
1IOIII(I!>, I HlI
I 11' 111 ias do gcral, e ciencias idiograficas - do grego idios, carall,'
sais, coerentes em todas as suas partes e nao contraditorias; em sua forma ma il!
cimento da ciencia e fatico, e um conhecimento "de fatos" nao "de valores': qlll'
slI rg ill q 'l
Ih"lol. 11 1,1111 H , 11I1Ia vel'. que prevc de forma irreversivcl a IIcccssid mk de '
perguntas sobre os fenomenos, respostas, porem, com alto grau de gcnl'l'ali
perfeita adquirem a forma de teorias. Osfenomenos nao tern mais do que LlJl lil identidaae, nao podem ser e nao ser uma coisa ao mesmo tempo.S2 0 con hl'
( .11 ,H"I 111,1''' 1' '''
, I, UIII III ,Iillda mais ch\ssica, e mais dccisiva, ainda '1l1l' acahc ~" IIc111
.1
dade. A ciencia, em segundo lugar, produz explicaroes, quer dizer, algo di ft:I'~' 11
lll!)IIII.1 que I. hl'W)\I a .l l11hito (·sludado.
I iii ,Ii . 1111~ , ln 1'lI l n: , i(:ll~ia da lIalmel',a c cit'llria do
ma de conhecimento sistematico-explicativo, nao contradit6rio, fdlico (n{\() valor.1 tivo) e testavel. Vejamos com maiores detalhes 0 que querem dizer esses ll'nnm Com efeito, nao ha conhecimento cientifico, em primeiro lugar, Sl' 110111
II ' k ll'l I11..' .10
' I WIN I II',LBAND, W. Geschichte und Naturwissenschaft (Strasburg Rektorrl'd .. , I'I H I ), In: I UII),,t'II:
l'riiLuden, AuJsiitze und Reden zur Philosophie und ihrer Geschichtc.
'I'll
J. C. B. Mohr, 1921. Bd. 2, p. 136 et seq. Ha as tradui):oes fr-ancesa (puhlica
.\,1 lIa Ucvue de Synthese) e inglesa (na revista History and Theory) desse texto, l11a~, .It I '1UC saihamos, nunca foi traduzido para 0 espanhol. Os neologismos nomo((;( i ,,, ,. idiognifico se transformam as vezes em algunstextos espanh6is, em nomol.\ I" " C, de forma err6nea, em " ideografico". '.', ',,,llIT a compreensuo, em alemao verstehen, existem muitos estudos. Pode-se Vl'j' a ., IInpilai):ao dos escritos de WEBER, M. Ensayo9.sobre metodologia sociol6gica. \lilt' ,I( IS A ires: Amorrortu, 1982; GADAMER, H. G. Verdad y metoda. Salamanca: Sigllt' lilt', 1977. 2 V., HAI3ERMAS, J. La logica de las ciencias sociales. Madrid: TeCl1 o~ , 1')Ilil. E igualmente util para introduzir 0 assunto, MACElRAS, M.; TREBOLl .E,/. 1,(/ hermeneutica contemporanea. Madrid: Cincel, 1990.
principio, lima boa explicai):ao dessa oposii):ao se encontra no livro de WRIGI IT, II. von. ExplicaciQn y comprension. Madrid: Alianzjl, 1989 (a primeira edii):ao inglt' ~a e de 1971), em seu capitulo I intitulado "Dos tradiciones".
' ,(, i\
57
Capitulo J
Historia e historiografia: os fundamentos
Parte J Teoria, hist6ria e historiogra[UI
humanas. Isso esta estreitamente(elacionado com a filosofia hermeneutica. Como 0 fato de explicar ou compreender a realidade e 0 objetivo ultimo de todo conhecimento humano e a ciencia aspira precisamente a ser 0 conheci mento humano mais fiavel de todos, convem deter-se na maneirapela qual a ciencia da conta da realidade do mundo, seja 0 natural, seja 0 social. Em tempos mais recentes, mesmo com freqUencia, recorreu-se a uma triplice distin~ao entre ciencia natural ou fisico-natural, ciencia social, ou cien cia do home'm, e ciencia formal, sendo este ultimo 0 genero de conhecimento cientffico que, como a matemarica ou a 16gica- recentemente ampliado a campos como a computa~ao, por exemplo, ou a semi6tica, que apresentam urn carater proprio ainda que derivados daqueles outros - explora urn mun do de elementos simbolicos ou ordena~6es formais que nao tern referentes nas coisas materiais. Jon Elster, por sua vez, falou de uma triplice classifica~ao dos campos de investiga~ao da ciencia, fazendo distin~ao entre a fisica, a biologia e a ciencia social, assinalando que 0 que distingue realmente as ciencias e seu metodo. Referiu-se, portanto, a tres metodos essenciais: 0 hipotetico-deduti vo, 0 hermeneutico e 0 dialetico, e a tres formas tipicas de explica~ao: a cau sal, a funcional e a intencional. 57
III ~'(, lIlpre coincide com 0 caminho particular que os cientistas pn Ii i "u,,' ,i ria da ciencia mostra que se chegou aos grandes descobrimcll I, IIII III. I ~ 11I;lIlciras diferentes. Mas se nos atermos no que e a "arquitctura", 9 1111 .III ' I, do metodo da ciencia.l e preciso dizer que toda busca parI(' (i t' ., '.111 11.1. qlle para tentar responde-la se come<;:a observando a realidadl' II I. ,Ill' .ISO l' daborando conceitos ou, como poderiamos dizer de {(lI'IH,I "'1. 1• •,. , d dlldo nome as coisas. Logo se constroem enunciados ou proP(/ I' ll I 01111 '1'. Sl' lilzem afirma~6es ou nega~6es sobre as coisas e as rela
11 11 , •
pill ,1,'<10
111 1<
11111.,\ "II~
outras para formar uma argumenta~ao fundamentada. () 1,1 " .11,,10 prcll'nde, que e verdadeira (mas a verdade pretendida dcw I d' , I" III I ~ I I. \(la, mcsmo que ainda ~ao 0 esteja), deve ser contrast;lwi
I"
\Ii I
N,v,l'
Para caracterizar 0 funcionamento da ciencia, ainda que de forma extr(' mamente sirriplificada,s8a primeira coisa que se deve dizer e que 0 procedimcn to adotado para a constru~ao do conhecimento cientffico tern urn caminho /r)
antes da demonstra~ao da verdade, seja por meio d(
" ,III . I~·ao
hipotetica. A explica~o mais complexa, a que prl'lt'll
scja. cxplicar urn fcnomeno ou grupo de fcnClIlwllos Illljll lllll til' proposi<;ocs que constitui a teoria devc tn ullla
illt! • ,,1,, 1.1t " ',
J. El cambio tecno16gico. Investigaciones sobre la racionalidad y la tralls/ill
maci6n social. Barcelori'a: Gedisa, 1992. p. 19-20. 58 Existe uma vasta literatura a respeito da estrutura do conhecimento cientitico (. till procedimento da pesquisa cientifica. Limitaremo-nos a assinalar alguns titulos I )a~ tante conhecidos de diferentes graus de dificuldade. A apreensao pode COlllc\'ar I P ili os livros de urn born divulgador, CHALMERS, A. S. Que es esa casa I/II1/1I11ill !'i/'''' III:' Madrid: Siglo XXI, 1988 (e ediyoes posteriores) e l.a c:imc:ia y mma SI' 1'111/11)/'(/. M.I drid: Siglo XXI, 1992. Urn classiC() manual bastanlc conhccido (. (l dl' III IN< a', M. ia investigacilln cientifica. Barcelona: Ariel, 1975. lIlII liv.... lIIais lOlIlpl('X(\. ('III 'I"' se expoe c analiS<1 0 <]11" sc ,'hamoll a "('OIlC('P\·,101 h('rdad.1 da (i{·IIII...., 1( 1I l'! dll,I'I. ,I itlt'i.. d(' ('i'~JII i;llIasl'ida LOlli 0 lIl:oposiCivislIHlIIO alVOlI'lI'l dll'~ , III "~ /11111./1'1\11.. .1" nliliOIl IlI .lIi,.lIl u'nl,· ,odo 0 SI'\ nlll .'11, Slil' l"',!' /11 ,'\/1,.. " IIII,/" /" '. " ,,,, 111 '.• "'''''(1 , 0\ M ,hh HI \ J'I1V'·'~ltI.1I 1 N." 111111,1tI., IIIIH.H ,.111.1 1/" .1.1111 hi . 1'111(1 ,
.ISO,
"" 111",, ·\ l" llvas c a que, no caso mais perfeito, estabelece leis as q ll: lI,\. d~ IlitllI', ll.I, os knomenos obedecem, e a que se chama uma ICOtill I iii Iii iil" ..., illll'ks, as tcorias sao aqueles conjuntos de proposi
57 ELSTER,
I
,, !!!; ~ I,I d, 'II\ollslra
o procedimento da ciencia
e, definitivamente, urn conjunto de proposi~6es onlc
lilt· " que se encadeii por meio de urn raciocinio do tipo da ill III 01.1 IIt·tll/ll/lI, pdo qual se estabelece uma hierarquia de proposi
I
i'.I,
I I' hi
1"
"l
'I'" ' II
I
1111
illlnila t' Ull1
,I I it' lI( ia ,ollstr()i 11111<1 lillgl/llgC'r1'l com a qllal ' "lm n l.1 II
III1 :U III I"1 1I1I podl' Sl'r l'sqllclllatizado dl' acor
\iI !II I !, I \I~ "".~" V.I~IIt··.
, ,,",, ' (' .. II' .1... ", 11"11
1," ,,,,,"1,·,. II.• ,,'1. ,'11.'
11111 11', .11'1 111
II II "' I.ul" I ,'j Il l il lf ~, I • "1/" '/'/1 " I' t''(IIIiII
0'/1 /1111/'/10
I" M,III. .. 1 AI "IIII,' . IljhH
,I
Parle I
Teoria, his/ciria e his/ariagrafUl
Quadro 1 - A
elabora~ao
Capitulo I His/oria e hislariografia: as fundamenlas
da linguagem cientifica
IICbNCEIT~
• IPROPO~I~OES
Generalizac;oes empfricas
~observac;ao da realidade~ . i
_§:s •
,!!'
I
-
~ EX-PLlCA~bES
--------II
TEORIAS
7'
I
Considera-se, normal mente, que a explicayao cientifica obedece a urn desses tres modelos, segundo afirmava Elster, os chamados causal, Juncional c intencional, que corresponderiam respectivamente as ciencias fisicas, as cien cias biol6gicas e as sociais.6 1 As tradic;:oes positivista, raciona\ista e analitica tern sempre defendido a superioridade da primeira delas, a explicac;:ao causal baseada no mecanismo causa e efeito, que implica a presenc;:a de leis un'iver sais, seja sob urn modelo nomoI6gico-dedutivo, seja sob 0 probabilistico-in dutivo. Outra tradiyao da ciencia, mais difii::il de rotular, a idealista, antiposi tivista ou, mais cornu mente, hermeneutica, e a que tern defendido que 0 me.:' canismo causa e efeito nao esgota a explicac;:aode fatos, no que diz respeito ih intenyoes, aos objetivos, ao significado, etc. Quer dizer, todos os tipos de a¢ c.·s humanas. Para essas ac;:oes serviria muito mais a que Von Wright chama expli cayao teleol6gica, uma forma de explicac;:ao funcional. Urn gI."UpO importanll' de autores tern defendido tambem que a explicayao adequada para as cicnc..i .I~ sociais e a intencional, se bern que com proposiyoes que diferem em pOll los consideniveis e com 0 acrescimo de alguns elementos ~ a e1eic,:ao racional, a 10 gica da situacyao, de certa forma a teoria dos jogos, etc. - que as fazell1 diwi
61 ELSTER,
J. El camhia
( ema/i5.~i((/.{nvl.sligllr.i0/1f..~
macion social. Barn'lolla: (;('disa, 1'I')} . I'. I ~;.
1,111 ,1~lks intencionais convertem-se, em alguns casos"em "explk,l 1,1 " I III razoes':62 enquanto a explicac;:ao causal e, justamente, a qllt' , III I ,1II \.IS. Isso tern importancia consideravel para a explicac,:ao 1111 'j' I '" 1. 1. l 11 1110 veremos no devido momento. 11'1111 .11'1 1101 da explicac;:ao na ciencia social se relaciona, naturalmcll h', lit 1'1111111 111,1 que se apresenta tambem na ciencia natural: 0 da predi{,(/(/, I. lI l I k lll haslante abordado entre os metod610gos em relac,:ao ao t l) 1, 11111 .111 1• .1 c, com maior intensidade, ao caso das "leis da Hist6ria". 11a IIMUIIH 1"1111 ,' ,I" prcdizer os comportamentos humanos? Esse problema, por I I II I. II ,III II.. possibilidade de descobrir relac,:oes constantes enlre .IS 1111/'1vi'lIl nos fenomenos humanos, A resposta e imprecisa, lIl a~ I '.11"111,.1 de que a ciencia pode "predizer" a ocorrencia de falos :.ill IIt' l il .1 , i"II(ia fisica, A predic;:ao e sempre algo relacionado COlli .1\ ,n l ' [III' 11111 processo se desencadeia e cdm nosso conhecimenlo 011 '1'''''' 1,:glllal11 .'" Condic;:oes e leis, no caso das ciencias socia is. !t,ID tI, , ,,"IIl'I IlIll'nlo problematico dado que 0 homem concede sl'lllpn' 11111 "Iltll itil,ado".'" I
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mnccito das ciencias sociais
s(' a viragem intelectual de aceitar 0 modclo dOl dl'\ 11 11111.1 tI.. 1IIII IIdo IIsico para claborar tambem uma "cicncia SOl i.ll': 1.1 1' " 1/111'11\ i.1do h01l1cm. 0 fil6sofo Auguste ComiC (171)1{ I Hr '7). 1111101... 1, " I'~ 01" posil iv iSlI1o, desempcnharia em lodo esse 11I'l)lI ' ,,~.(j, Illdll 11111 1'11111'1ess!'lIcial. A possibilidadc c a nccessidadl' dl' l'sl.llll' j. 11'1,1 till ItOIllC.'llI " sao, l'1Il lodo caso, idCias anll'riorcs a AII ):lI ,\ 1I' • , 11 111 I 'i
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Parle I Teoria, ltisl6ria e hisloriografUl
Comte. Aparece ja durante 0 Iluminismo e e exposta por tratadistas como -Helvetius e 0 barao de Holbach. Da mesma forma que a ideia da irredutibili dade alma-corpo imp6s cada vez mais a necessidade de se criar uma ciencia da alma, as dassifica~oes primitivas das ciencias, como as de Bacon ou de Am pere, que tern tambem urn significado teorico, insinuam ja essa ciencia do ho mem-alma. Outro dos grandes pensadores ilustrados, Gianbattista Vieo, em seus Principios de uma Ciencia Nova, estabeleceu que nao h
65 Sao inumeros os escritos sohre essa rela<;:ao entre ciencia natural e ciencia social, a partir das posi<;:<:lcs que podem ser consideradas mais cl
Capitulo I
Histdria e ilisloriografitl: os fllntiamenlos
hllmanas, urn conjunto de disciplinas academic as cujas fronteiras estao longe (Ie serem claramente definidas - "ci~ncias': "humanidades': "tecnicas socia is': sao diferentes denomina~oes tambem atribuidas algumas vezes -, que eslu dam urn complexo numero de fen6menos, todos relacionados com a realida de especifica do ser humano, como individuo e como coletividade. Entre as (icncias sociais de maior desenvolvimento atualmente nos ambitos acadcm i ( os e intelectuais estao a economia, sociologia, politologia, demografia, psico logia, antropologia, geografia, lingOistica, semiotica, historia (sic) e outras de II.tO menor interesse, Os desacordos sobre 0 carater "cientifico" dessas discipli lias, sobre sua dassifica~ao e hierarquia, sobre 0 verdadeiro grau de seu dest'll volvimento, sobre seus respectivos campos e suas rela~oes com disciplina~ ,dillS, {oram e ainda sao objeto de especula~oes e continuos debates,67 Em resumo, e possivel, no sentido pr6prio, uma ciencia do homcm, d.1 1 ·.11l iccl ade? Evidentemente, a resposta estcl .sujeita ao que se entenda por cil /1 1111, segundo urn maior ou menor rigor e ao que se entenda por homem c ~(I , It,t!l/(le. A possibilidade de uma ciencia do homem tern recebido, em lill h.l ~ I'" rit is, (res tipos de resposta. A dos que a afirmam; a dos que a negam; l', pO I ,'dlilllO, a dos que creem que se pode fazer uma ciencia do homem, ma ~ quI' 1",1,1 sera diferente da ciencianatural. 68 Nao podemos aqui entrar na disC II<;!\.I(I dl'l.tlhada dessas tres posiyoes, mas podemos assinalar que, na realidadl'. II 1'1 111> ICIIl a concentra-se em ton'1o da capacidade de explicar os fen6ml'lHlS SCI I I,lis (om relayao a leis bastante gerais, A possibilidade disso afirma-sl' a p.1I III <1.ls posiyoes positivistas - com autores como Hempel, Nagel, RlI~lllcr, W.tI panorama descritivo mais completo desse mundo das cicncias so('iais wlllillll,1 -'i:lldo 0 que ofcrece J. Piaget, "La situaci6n de las ciencias del homhre deil ifo dd ~i"I I' llIa de las ciencias", que c 0 capitulo I da uhfa 'Ic/Ukm:ias tie III iIlVI',\lij!1II1tl1l <'II /'1' ci('//cills soc:ialcs. Madrid: ~Iianza : Unesco, 1<)75. p. ,1-1 - 120. Os PUSic:ioll:lIllI'IIIlI'o .It' I'iag<'l sao, el11 lodo caso, l11uito discutiveis em divcrsos ponlos (k Sll a~ "1'11I"lt' "..Ill'<' a elllidadc dc cada lima dcssas cifncias C de lIIodo parliclilar sohre ,I III~h l I i,l (II isloriografia). Vcr lambcm Mi\ IU)ON I;,S, J. M. I,'ilo-,o/III i/I'lm 111'11< 111\ //11/1/ " Iltl \ (' w, ;I/k.<, MII/{'f'illil's {/(1m l/I/(I/illllil/IIII'IIII/(iclll (il'IIJI/iel/. lIar< ('1011,'1: AIIIIII",,"'"
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Capilulo I
Parte I
Teoria, hist6ria e hisroriogru[ul
Histc>ria e historiografia: os fimdumenlOs
.
lace, Braithwaite, etc. A impossibilidade a partir das antipositivistas em geral - Hughes, Winch, Searle, Habermas. Os partidarios dessa ultima visao negam que as ciencias sociais possam explicar como 0 fazem as .naturais. Urn caso es c1arecedor e 0 de Peter Winch que, como muitos outros metodologos que cir culam na linha da hermeneutica de tradic;:ao alema;9ou na tradic;:ao weberia na, adjudica as ciencias sociais a capacidade de "com preen sao" e nao a de ex plicac;:ao, porque existe a barreira intransponivel do "significado", 0 "sentido" que tern as ac;:oes humanas e que constituiu a chave de seu entendimento.70 Os fatos naturais carecem desse significado ou sentido. Por sua c1areza argumentativa, outro exemplo notavel da posic;:ao nega tiva sobre a possibilidade de uma "ciencia do so<;ial" amlloga a ciencia natural e a do filosofo da linguagem John Searle, que as's inala precisamente este como "urn dos problemas intelectuais mais debatidos de nossa epoca"/' A caracte ristica essencial dos fenomenos sociais, afirma, e seu carcher de fenomenos mentais, de onde se deduz a impossibilidade de sua reduc;:ao a termos fisicos, porque nao e possivel a reduc;:ao em materia de termos mentais. Os fatos so ciais tern uma semantica, alem de uma sintaxe ... 0 dinheiro, a~ revoluc;:oes ou as guerras sao, por exemplo, fenomenos sociais que nunca poderiam ser redu zidos a elementos fisicos e, portanto, dos quais nao se podera fazer ciencia.72 A poIemica em torno do fato das ciencias socia is serem "ciencias, pseu dociencias, ciencias imaturas, ~iencias multiparadigmciticas ou ciencias mo rais"73 permaneceu, pois, aberta. As opinioes qut: negam a possivel cientifici dade dessa "ciencia social" revestiram-se, por fim, de multiplas formas / 4 E, sem duvida, indiscutivel que as ciencias sociais nunca atuaram sob 0 auspicio de urn unico paradigma, no sentido dado por Th. Kuhn a essa palavra, de ex
69 MACEIRAS, M.; TREBOLLE, J. La hermentiutica contemporanea. Madrid: Cincel, 1990.
Idl l :lyao do mundo do homem. Nao existiu uma visao absolutamente hegc lIuI llica e global, explicativa do humano, da mesma maneira que existiram l'S "I': sucessivas visoes globalizadoras na explicac;:ao da natureza. 0 proprio Th, 11Ihn ja expos essa distinc;:ao. 75 Isto conduz a que se diga que as ciencias socia is lidO podem estar sujeitas a urn paradigma unico e que esta e uma diferend .. ~, III hasica em relac;:ao as ciencias naturais e urn claro indicador das dificulJa I
ks dc se construir uma ciencia da sociedade.
No que diz respeito a sua formalizac;:ao e grau de teorizac;:ao, da segll de seus metodos, existe uma clara hierarquia entre as ciencias sOliais, 1: 111 sua epoca, Jean Piaget propos, senao entre as mais convincentes, pelos me IIc IS lima das mais c1aras dissecac;:oes da relac;:ao interna entre as ciencias sOliais I ' 'I'll', aUm disso, fez fortuna. As formulac;:oes de Piaget, ainda que dislUliwis, ',1' 111 duvida, apresentam urn notavel interesse na problematica cOmum a III d>ls as ciencias sociais. 76 Piaget fez uma peculiar reconversao da distinc,:;\O (.'11 II,' cicncias nomoteticas e idiognificas introduzida por Windelband para GII'al il' 1 izar as ciencias naturais e as humanas, respect iva mente, estabelecendo '11 11 '
1.IIU,·a
70 WINCH, P. La Idea de una ciencia social. Buenos Aires: Amorrortu, 1972. p. 32 et seq.
i'l KUIIN, T. I,a estructura de Ius revoluciones cientificus. Mexico: ~CE, 1'/11 (t-"I~,111 original inp;lesa de 19fi2). Urn livro extraordinario que mudoll a coll1pn'(' II ,,,11I .1.1
71 SEARLE, J. Mentes; cerebros y ciencia. Madrid: C ltedra, 1990. p. 81, no capitulo: Pers pectivas pa ra las ciencias sociales.
ill .i(1I na 111 os as id{'ias de Piaget do texto citado "La situaci{)n
72 Ibid, p. 83. 73 HUGHES, J. La filosofia de Ia investigacion social. Mexico: FCE, 1987. p. 3334. 74 GIBSON, Q. La logica de la investigacion social. Madrid: lecnos, I%H. '1(l(la a pri
meira parte trata de "Posturas anticicntificas en torno a la
inv('~l il\'"
ilill ',II, i,l l".
h isl(\ria da cienci
de las (il'lIrias .1,'/ h01 1l IlIc' d"lIlro del sistema de las ciencias", incluido IlO livro w\clivo I'IA( ;1''1', I., I .Ii ·lhl/l/'IIei".' (!I' I" illvcsligad6n alias ciencias s(lciales. Mad rid: 111H'.~<"O: Aliall/,I, l 'I,!,i " . '1'1 1/(/.
1'1 I'" I,ll \!, ('ssc'
I II I' S II 10
log II II tI,· I,, ·. c11'11' ill'
cklilll'allll'nto e aU'ilo por Ilah('nllas. ( :1. IIAIIFltMA .... I. I" Ma,II id : 'Ih II"', I~!ll! , 1', '1.1 c't , (,C(.
'/I' III It·.' .
Parte I 'feoria, hisl6ria e historiografia
Capitulo I
Histaria e historiografia: os Jimdamentos
.llIvida sobre como se deve entender, no caso das analises das sociedades, esse
Quadro 2 - As ciencias sociais, segundo a classificarao de Jean Piaget
Ijclivo tao utilizado, Nao se discute, igualmente, que tais disciplinas aprest'll 1.1111 urn tronco unico de fundamentos e de problemas, mas que; muito al t-III "isso, 0 grau de desenvolvimento e dedominio cientifico de seu pr6prio Lalli po 6 altamente desigual se comparados com outras. Afinal, sao irrebativcis al> , It
Nomoteticas
Historicas
juridicas
Psicologia cientifica Sociologia Etnologia LingiHstica Economia Demografia
I" )sic;;oes daqueles epistem610gos e metodologos que negam a possibilidaJt' ~c: ..,' lilzer uma ciencia do homem? o primeiro argumento que se deveria utilizar como res posta a tal per ,:1I111a e que hoje as diferencras entre as ciencias sociais sao de tal dimcIlsao 'III(' C bastante improvavel que se possa dar uma resposta em qualquer sCflli .10 flU qual poderiam estar compreendidas desde a demografia e a ecoIlolll ia .1 ,lIllropologia e a historiografia, por considerar uma gama muito ampla ,Il
J Disciplinas historiognificas
I Historiografias setoriais Direito
f Ciencias ju ridicas especiais Filosoficas·
I
""proximacroes cientificas" ao social. Portanto, nenhuma resposta seria hoj" IlIlt:iramente concludente e, ao mesmo tempo, 0 tema ja deixou de apaixolI'lI ,,~ Ira ladistas.
Logica? Epistemologia?
As posiyoes de Piaget sobre a categoria das ciencias hist6ricas - aspecto que nos interessa aqui - estabelecem que tal tipo de ciencia tern relacrao com o desenvolvimento diacronico dos fenomenos sociais; ocupa-se da "restitui crao do concreto". Mas, 0 mais interessante de tudo: aparentam nao ser senao "a dimensao diacronica" dos fenomenos de que se ocupam as demais ciencias 50
ciais. Dito de outra forma, se a historiografia tern alguma entidade estrutura da e a qoe as dimensoes de outras ciencias the concedem, ciencias estas cujos aspectos diacronicos saoconsiderados pela historiografia. Dessa forma, 0 his toriognifico, ou 0 hist6rico, nao constituiu urn campo autonomo de ciencia em si mesmo. Tal e 0 ditame nada lisonjeiro de Piaget.
No terreno rieopositivista, autores como Ernest Nagel, ou 0 de II willl diY lIlgac;;ao, Richard S. Rudner, admitiram que no terreno epistcfIl ohif',iu , " l( is lelll, para 0 estudo "cientifico" dos fen6menos humanos, aigulls 'OIl,1! "Ollanles negativos reais: 79 a relatividade das formayoes culturais C ilS 1"11> 'I( ' I iii is, a natureza subjetiva da observacrao e 0 vies valorativo da explil "tr,1 1! \ 11 , l,tI . No terreno metodoI6gico, destacavam as necessidades de um.1 ifl Vl'Sli g.1 \.1 0 nlllirolada e 0 conhecimento dos fenomenos sociais como varia wis M'III III r slljcitas a mudancras. Mas a conclusao final e parecida em ambos os t" MI~ II:, proccdimentos da ciencia natural tern tambem seu campo de aplicat,:ao 11.1 \ Ill llLia social. Marlin Hollis, num estudo mais recente, defendeu que as cic"ci a~ so li'llI como objeto comportamentos que se originam nos estados Illelll .w, " ~ I'I( ' , portanto, sao ciencias essencialmente da "acrao", ou da relacra() cnl n.: ill'\ I1 11I ura l' a aC;;ao, e atualmente nao se pode dizer que sigam nem tenhall1 ,Il' ~(' lli ti S
As
DIFICULDADES TEO RICO- EPISTEMOLOGICAS DAS CIENCIAS SOCIAIS
78
Ainda que hoje nao se discuta de fato nem a pertinencia nem a neces sidade de disciplinas que estudem 0 que e especificamente humano por meio de procedimento que se diz "cientifico", esta claro que se tornou mais aguda a
78 Deve-se entender que prescindimos aqui de todos os problemas d(' l i l i!> I'lOl'ria mente rrtC'/ot/o/{/gico, pois IralarclIlos dessa <]lIcsl;IO na park <1;1 "h l.l lh'~IIII,I " 11 .10 111 \'11 )(11, I'.
\ \11\\
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Ii" I ·,lpitilio H.
glll r os rolciros das ciencias naturais. Hollis faz ver a diferenc;;a enlre as ('xp ll
1'1 NA( ;1'1" E./ .iI eslruclura de la cienc;a. "roblemas de la I(},~icl/ de ,(/ illVl'Mlgm iOIl , /1'/1 IiI'UI. 1Il/('IIOS Aires: Paid6s, 1<)7'1, cf. as sec
Capitulo }
Hislorja e lzistoriograJicL" os tu"damentos
Parte J
Teoria, hisl6ria e historiografw
cacroes por causas e as explicacroes por razoes e assinala como nas Ciencias so ciais tem-se tentado ajustar ambos os tipos de explicacrao dos atos humanos. 8o Talvez 0 melhor procedimento para captar as reais dificuldades episte mologicas basicas que a construcrao de uma ciencia social apresenta e fazer urn percurso comparativo, de toda forma bastante breve, entre 0 que fazem as ciencias da natureza e os obstaculos que aparecem quando se busca aplicar es sas mesmas operacroes ao conhecimento pretensamente cientifico da socieda de. Faremos esse percurso da maneira mais sistematica possivel. a) A primeira das dificuldades refere-se aos modos de observa~ao dos fen6menos humanos e ao estabelecimento de uma correta descricrao deles, pois na observacrao da realidade encontra-se a origem de todo 0 processo de conhecimento cientifico. A impossibilidade da experimentacrao neste tipo de fen6meno, diferente do que ocorre com a maior parte dos fen6menos natu rais,''' e urn dos problemas mais importantes. Nao ap'enas se trata de dificul dades tecnicas, como de especificidades substantivas que a estrutura social possui, quer dizer, da qualidade fundamental da materia social que e a rejlexi- , vidade, ou a consciencia que tern de seu comportamento. A manipulacrao ex perimental nos fen6menos humanos "e possive! unicamente em condicroes preparadas e artificiais, tao artificiais que raras vezes as situacroes sociais tern, para os sujeitos submetidos a tais experimentos, urn significado equivalente ou companive! ao de uma situacrao natural".8' No entanto, e tambem reconhe cido, de maneira geral, que a possibilidade da experimentacrao nao e chave para a obtencrao de urn conhecimento realmente cientifico. b) A segunda dificuldade tern sido designada muitas vezes como a questao da objetividade, que se poe a mesa sempre que se trata de uma inves tigacrao s~cial. De forma equivocada, sem duvida, supoe-se as vezes que o pro blema da objetividade do conhecimento afeta apenas a materia social. A obje tividade do conhecimento humano significaria, em linhas gerais, que qual
80 HOLLIS, M, Filosofia de las ciencias sociales. Barcelona: Ariel, 1998, Especialmente sua Introdu<,:ao.
11"" 1 afirmacrao a respeito da realidade nao teria de estar "contaminada" pclof'> 11I 1 "I ~' sses, os desejos, as preferencias ou os prejuizos dosujeito que conhCl~" 1\1,,'. l'stamos aqui diante de urn problema filosofico, epistemologico, de r('so 111,•.10 hastante dificil e que hoje podemos considerar, na maior parte dos \.'(1 II',. , 01110 mal colocado. Nao existe nada parecido ao conhecimento absol ul.t 1111 II I I' objetivo em nenhuma esfera nem area do saber. Vale dizer que quando se afirma a verdade a respeito de algo, essa aliI' 11\.1\ .10 parece mais fiave! quanto mais intersubjetiva,'quanto mais compart id.1 1.1 101'.0 soci610go Norbert Elias assinalou a diferencra entre 0 "distanciamclI ',1 ' '1I1C 0 progresso do conhecimento humano consegue em relacrao a visao tI.I " II III eza frente ao "compromisso" que 0 homem ainda hoje nao pode, em gl' Iti . ('vi tar quando se defronta com fen6menos sociais. A atitude de compro 111I1.',tl (', Hesse caso, urn obstaculo <10 conhecimento objetivo.83 Mas nao cxisk . II' 1111 11111 conhecimento, ao menos considerado globalmente, que estcja inld \.IIIW Il Ie livre dos compromissos de quem os propoe. ( ) 1\ terceira dificuldade que se costuma assinalar afeta mais prof ull d,II\II' 1I Ie 0 proprio significado do conhecimento do homem e da so~ it·d.1 ,I, . .... ohjdivos finais de tal conhecimento e seu valor real. Refere-sc a P O\ 11'111I 1.lde de que os fen6menos sociais possam ser efetivamente explin" 1,,,. ', 1111111 j:i propunha, desde fins do seculo 19, a ciencia social part idal' iu .1,1 " · I/I/ ' /( ·(, II.~tI(). Ia nos referimos a funcrao explicativa ou comprcellsiv.I d.1 • II 1111 .1. ( ) problema e extrerriamente complicado para que possa sa n'so l \ 11 111 "111 POllCOS paragrafos e, ademais, voltaremos mais it frente ,. qlll'~ t l il l d .• , ' f' lil 'a~' ao da Historia, 0 que cabe agora dizer e que a capacidadc ex pl i , .III V,. d.ls cicl1cias sociais foi sempre uma questao discutida, n~io S(', IH I )<\'11 1/,1" il l ' qll(, scjam capazes ou nao de faze-lo, como tambcm 110 dc
81 Esta claro que se excluem de tais fen6menos natura is testiveis os c6smicos ou os geol6gicos, por exemph 82 WILLER, D. La Sociologia cientifica. Teoria y Metodo. Buenos Aires: A11101'1'01'1 II , 19li9. p. 211.
II)
I liA S. N. ( :(I/III' If"J/i.~p
y "i.'llllIt illll lt· /III1 . 1I,II l ('l l HIII'
PI ·lIfll~tl l u.
I" " U, II
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,'1',1 "1
Capitulo 1 His/6ria e historiografia: as fundamentos
Parte I Teoria. hist6ria e historiografia
a interpreta<,:oes efetivamente verifiC
Ih , II( ccisamente a uma presun<,:ao que e incompativel com esse conhe 1\1 11
I
• a de que a Historia e em si mesma uma realidade da qual h.' lIlifico:
I"" II
haver senao urn conhecimento sui generis que nao e equipanlvel a mas que pertence a uma categoria propria, a do "conhecimen
1110111 1 Ill1lro,
CONHECIMENTO CIENTIFICO-SOCIAL E HISTORIOGRAFIA
l .hllll U 0".
Sem prejuizo de voltarmos a esse assunto, estabele<,:amos agora
IIlais especifico e mais imaterial que seja 0 objeto historiografico, seu II I" • 1IIII'II to e, em sentido pleno, conhecimento social, objeto da ciencia so
,II' 1"'1
E entramos agora no ponto nodal de nossa explora<,:ao: de que manei ra 0 conhecimento da Historia participa ou nao dessas caracteristicas e pro blemas do conhecimento chamado cientifico e, em particular, do conheci mento cientifico do social? 0 conhecimento historico pode ser considerado, definitivamente, como mais urn entre os conhecimentos cientifico-sociais? Ressaltamos, em primeiro lugar, que afirma<,:oes do tipo daquela feita ja ha muito tempo por J. P. Bury, "a Hist6ria e uma ciencia, nem mais nem menos", nao podem ser tomadas como algo alem de desejos voluntaristas expressos as vezes em frases engenhosas. 85 Esses voluntarismos nao foram raros, em tem-' pos passados se disse muitas vezes coisas parecidas, desde meados do seculo 19, pelo menos. Antes de Bury, Johann Gustav Droysen afirmava, em 1858, que as "ciencias historicas" eram parte das ciencias do homem chamadas "ciencias morais".86 Mas ao se iniciarem as tres decadas finais do seculo 20 po dia-se dizer que "0 estatuto da Hist6ria como disciplina permanece insolu vel"."7 E sobre essa questao cita<,:oes de autoridades podem ser acrescentadas quase indefinidamente. Ha diversos generos de questoes previas que deveriam ser elucidadas an tes de se buscar uma resposta direta a questao de se a Historia pode ser obje to de conhecimento como 0 da ciencia. A que queremos abordar agora e a que
84 PIAGET, J. et al. Tendencias de la investigaci6n en las ciencias sociales. Madrid: Unesco: Alianza, 1975. p. 85. 85 Essa frase foi pronunciada na se<;:ao inaugural de sua catedra em Oxford em 1902 e publicada em The Science of History. Foi publicada tambem em STERN, F. (Ed.). Varieties ofHistory. New York: Harper and Row, 1966. p. 210 et seq.
I, d l 'il'.l !) III '"11 1110
que
0
historico e uma qualidade do social. Por conseguinte, 0 deli
correto de uma discussao assim nao pode ser feito senao no COil
III 1;II.tI da "cientificidade" possivel do conhecimento do homem na tolali
I,\!d•• k sellS enfoques, quer dizer, dentro do problema epistemologico geral h i. , 11111. ias sociais. Nan cabe negar, tampouco, que a velha polemica sobre
0
cientiJicisl//(/
hila parte, uma disputa retorica e terminologica e, em outra parle 1;.1111 . . I,ti,\ t ll ilsideravel, banal. Mas a alternativa do "vale tudo" pode ter efeitos Ill,lill Iii 1'.1l I v()s ainda. Nem 0 cientificismo a toda prova, nem a postula<,:Jo li t' 11111 III
,"tllI'l imcnto sui generis ou uma forma a mais de mero conhecimen to If , artistico, sao posi<,:oes satisfatorias como ponto de partida para 11'11 1111 lI'sponder a pergunta sobre a fiabilidade do conhecimento que c p()s~ivd .,IHI" da llist6ria. 0 certo e que so uma rigorosa pr<:itica regulada na Ob lc.'11~,'CI ,It , tillltecimentos assegura sua fiabilidade logica. Deve-se aceitar a condi" .ul " ,I ,1.'.!.,lI llen te formal dessas "ciencias historicas" que lhes e atribuida, CO III 0 vi 11111'•• por Piaget?;'" deve-se considerar a historiografia nao mais do que 11111 lit! IIhllli!-I IIO descritivista, no nivel dos conhecimentos comuns, como 0 qUl' plO dIll .1 cr{) nica, ou uma narra<,:ao literaria, ou uma forma de descri<,:
'..1 Pl'ili iao, pode valcr a pena abordar. A hisloriogralla chegou a ser, parlindo da cpoca de espicndor qll l' 1',11 Idiulil l 011l as dClllais Cil' llcias socia is 110S Irinta anos qlle s(' s~·glli l .1I 1I .1
86 DROYSEN, J. G. Historik: Vorlesungen tiber Enzyklopadie und Methodologieder Geschichte. Mtinchen: [s.n.], 1974. A edi<;:ao original apareceu em 1858. (Existc uma versao espanhola parcial. Hist6rica. Lecciones sabre la Enciclopedia y MClOt/olo gia de la Historia. Barcelona: Alfa, 1983.) . 87 LEFf; G. History anci Social TI1I'0l"),. LOlldoll: I'h,' M erlill Press, I <)(,'J. fl. II.
ias d" IIIOIIII" l' dCIII,() dd :;'.,It'III.1 eI,' I.,., ,11' 11 111: I'IA( ;IiT, 1. .... 1 ,I I, '/i'lId,',will', ,Ic'/II ,1I11I" " I!(I/tOll l'lIlr, \ I ,"11"'" ' II' ,1111'\ M,I
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Parle /
7eoria, hisl6ria e historiogra{",
Segunda Guerra Mundial, uma forma de investigac;:ao social cada vez mais in tegrada nesse campo do conhecimento. Apesar de suas origens rdativamente distintas, no seculo 20 a historiografia convergiu plenamente com as ciencias sociais. E, portanto, perfeitamente adequado sustentar que os problemas epis temologicos comuns a essas clisciplinas sao tambem os que se apresen'tam na historiografia, ainda que existam matizes particulares, na rpesma medida em que existem em cada disciplina concreta. 1sso nao tern rdac;:ao com 0 fato de que se possa discutir se a qualificac;:ao de ciencias no sentido estrito, "duro", · convem a esse conjunto de disciplinas. 0 que nao parecediscutivel e que, em .todo c~ so, nao se pode negar~lhes a condic;:ao de praticas organizadas e siste maticas de tipo cientifico, sujeitas a urn metodo explicito, aceito e controlado. A imputac;:ao bastante comum a partir da metodologia da ciencia de que 0 his toriador nao explicita seus pressupostos, seus principios explicativos, pode pa recer precisamente contniria ao que se diz aqui. 89 A unica resposta possivel e que, com efeito, nao ha pratica cientijica sem a explicitac;:ao de principios ex plicativos e·um processo metodologico. A pergunta sobre a natureza do conhecimento historico e, consequen temente, do mesmo nivel epistemologico que a que encontramos a proposito do conhecimento cientifico-social em seu conjunto. Poderia-se questionar se e inevitavel a disjunc;:ao entre conhecimento cientifico e' conhecimento co mum ou outras form as de conhecimento: nao existem formas de conheci mento intermediarias? Nao, nao ha situaC;:6es intermediarias, mistas, no co n\1ecimento, 0 que ocorre e que, em aparente contradic;:ao com 0 registrado no passado, hoje ninguem defende que entre 0 conhecimento cieritifico e outras formas do saber haja urn abismo intransponivel ou, dito de outra forma, que o conh~cimento cientifico seja uma forma monolitica: no conhecimento cien tifico existem diversos niveis.90 De forma complementar, deve-se ressaltar que no interior das ciencias sociais existem profundas descontinuidades. Ha ciencias desenvolvidas e ou
89 Com efeito, essa imputa<;:ii6 e comum no campo da filosofia analftica da hist6ria, a qu e pretende elucidar a fo rma como se constr6i 0 conhecimento historico. Ela 6 feita por W. H. Walsh, A. Danto e tambem , em outro tcrreno, Paul Ricoeur.
90 Sao numerosas as argumenta<;:oes embasadas a n'.~p ('il() d('ss;1 id6ia e se t'IKOlilralll em obras ja eitadas aqui, como as de C haiIlI crs, IIIIl\h\'h \. illlllg('. Cf. FI'.I{ NAN I )Fi'. IllJI':Y, F./~I ill/sitill cld II/('(Or/O. Id('(/.~ /111m 1111111, /1'/1'''''''111 "'1'11 (('III/'I '/lIdp, II,,,, do
Capil'u/o I
His/,)ri" e historiografia: os fimdamelltos
tras nem tanto. 0 objeto da historiografia, como conhecimento que tern como eixo inevitavd 0 comportamento no tempo dos sujeitos e entidades socia is. que tern de conhecer atraves de pegadas e que so pode formalizar por meio d~' tipologias, e, sem duvida, 0 mais problematico dos objetos da ciencia social. Dai que, entre as ciencias sociais, a historiografia, por seu desenvolvimento l' status metodologico presente enquanto pratica cientijico-,soci"ai discipiinar, S( ', pode acabar sendo colocada nos niveis de baixa formalizac;:ao e generalidadt'. Existe urn campo comum das ciencias sociais que apresenta uma clara senw lhanc;:a nos objetivose problemas basicos. Os objetos especificos condicionaJ1l graus de desenvolvimento desiguais.. Em ultimo caso, cabe perguntar-se: e imprescindivel, ou mesmo illl portante, a exposic;:ao dessa ordem de questoes para 0 futuro da historiogra fia, para sua pratica como disciplina reconhecida e autonoma? Nao mais so bre a resposta, mas sobre a pertinencia da propria pergunta, as opiniocs COil tinuam hoje; sem duvida, tambem muito divididas. 9 ' 0 ceticismo em tomo d,1 utilidade e necessidade de "teorias" e de "metodologias" ebastante amplo ~' conta com uma solida tradic;:ao entre os historiadores. E igualmente inl.' gfiwl. no entanto, que 0 desenvolvimento de certos setores da pesquisa histori ognl fica, as praticas interdisciplinares e outras influencias propiciaram laIII h('11I maiores preocupac;:oes relativas a fundamentac;:ao. Disso depreende-sc que St' se espera reorganizar a configurac;:ao disciplinar da historiografia, 0 trallal"" cleve comec;:ar, indubitavelmente, pdo tratamento desse tipo de problclll.IS,
(~
possIVEL UM CONHEC IM ENTO CIENTfFICO DA HISTORIA?
A. Marwick assinalou, ha anos, comindiscutivellucidez que "0 gralld(' valor de urn debate como 0 que envolve a questao 'c a Hisl6ria lima l icllt i.lf'
na: Critic;], 1991. lJmu posic,:ao cxtrcmamcnlc eril ica ~ idc:ia dc d i:'Il<'ia 111 0 1" ',1 ,I" racionalislllo (, a dc FFYERABEN[), 1'. COr/Ira el mftolio. Baret'lona: Arid , I'll] (" prillicira ('di,:ao (~ dc 1(70). [)c tom Illais profulldo l' in'\lIim (' do III <::'IIICI 1'1')'''''' h(,lId, Il;(ilogos .'olm' d (,()/IO(';mi('1IIo. Madrid: (:;ilcdra, 1'/'11. (TJ'adll~ idll d" fc<,101 ('III il;ili:IIIO.)
p"l1orallla Ii;\ hoa.~ l'Ollsi d l'ra~ lks 110 livl'O tic N( lIRl lil., (;, .'1"/1 1,'111'" I li' (ell ;11 . Malh id : l:rli ' 1l'~i s/( :,\\1'.1 ..,1, I lll)'/ . NI'sS\: ~,IMI il ll~'II'\:.'1 1',"11,., 1111 1111'1111' ',\'11, Hplllll" '. ~" It ... , 11 11'11101i,I, podl'!.
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"I' III
Parle J Teoria, histdria e historiogmfm
reside no modo como ajuda a esclarecer a natureza da historia (historiografia) e a delimitar 0 que a historia po de e nao po de fazer".'" A diferen<;:a entre 0 que faz a fisica e 0 que faz a historiografia nao pode, e certo, ser banalizada com a ideia de que em decadas recentes do seculo 20 a ciencia natural entrou na era do "relativismo", do "principio da incerteza", das logicas confusas e das certe zas probabilisticas, 0 que relativizaria a ciencia e suas exigencias estritas de metodo e resultados. Tem-se, as vezes, lan<;:ado mao de sse tipd de argumentos, que nao deixam de ser uma falckia, que desconhecem absolutamente 0 que tais coisas significam e, sobretudo, 0 caudal de trabalho "cientifico" que e pre ciso empregar para chegar a propria conclusao de que a ciencia nao da lugar a conhecimentos "seguros".93 E inegavel que uma segunda questao previa a esse problema do grau de cientificidade que poderia oferecer urn conhecimento da Historia, como qual quer outro conhecimento sobre 0 homem, e 0 erro freqiiente de aborda-lo pelo caminho, empreendido tantas vezes, em que se pretende a equipara<;:ao da ciencia social com a ciencia natural. Atualmente, existe urn convencimento ge ral de que 0 caminho possivel e bern diferente. A ciencia da sociedade e urn tipo particular de ciencia e esta ligado a ciencia natural no mesmo sentido e grau em que a cultura hu~ana se vincula as condi<;:oes da natureza. Esse e urn dos convencimentos rna is firmes que derivam do progresso das ciencias natu rais em nosso mundo, em especial da biologia, do progressivo conhecimento dos codigos da evolu<;:ao genetica. A ideia de cultura esta passando por uma profunda revisao e por 1SS0 mesmo, obviamente, a ideia de ciencias da cultu ra.9<1 Ciencia natural e ciencia social sao equiparaveis em seu sentido profun
92 MARWICK, A. The Nature of History. London: Macmillan, 1970. p. 98. 93 Urn caso tipico dessa maneira de proceder e 0 do Iivro de MARAVALL, J. A. TeoTia del saber histoTico. Madrid: Revista de Occidente, 1958 (2. ed. 1967), construido a partir da pretensao de que a Historia nao e rna is probabilistica do que a Fisica e que sua significa"ao como ciencia ve-se fortalecida pela "incerteza" da propria ciencia fisica.
cultura, ver algumas obras recen tes. No terreno antropol6gico, CARRITHERS, M. Por que los hombres lmemos cul tUTas? Madrid: Alianza, 1995 (I. ed. 1992). A partir da filosofia, MOSTER IN, J. i"i losofia de la Cultum. Madrid: Alianza, 1993, e SAN MARTIN SALA, J. 'I'c:or/II riC' III Cullum. Madrid: Sintesis, 1999. Uma revisao das velha.~ idCias sobre a rda<;;to ('Ill rc biologia e cultura WII.SON, E. O. Consilil'II(,('. /.11 IIItitlml tid col/ocil1lit'llill. lIar<·,·lo
Capitulo J
[-[ist
ell) na forma de conhecimento que pretendem, no terreno dos principios epis
II'JIlo!ogicos e dos fundamentos do metodo. Nao se trata do fato de terem 011 1<'livos diferentes - n'ao sendo aceitavel a dicotomia entre ciencia explicativlI C \ It~ ncia compreensiva - mas de seus objetos se manterem bastante distantes." " Como no caso das disciplinas sociais em seu conjunto, pode-se acres q 'ntar tambem as opinioes de muitos tratadistas que tern negado a possibili d"dc de considerar a historiografia como uma ciencia. Isso afeta desde as pr6 I'rias origens da teoria historiografica, posto que essa teoria constroi-se preci ~ ,lIncnte no tempo em que a ciencia e 0 conhecimento por excelencia. Para litiS referirmos apenas ao ultimo quartel do seculo 20,96 poderiamos, a titulo til: l'xemplo, citar como defensores dessa posi<;:ao nomes tao ilustres como os .1(' 1'. Veyne, F. Furet, G. Duby, G. Elton ou I. Berlin, para falar somente dc his I(lriadores. Analisando essas posi<;:oes numa perspectiva historica, percc\w s~' 'Ill(' quando se deu ao velho - e, na realidade, falso - problema da cientifid d.l ~k do estudo da Historia uma resposta ou solu<;:ao negativa, fez-se assim . ilt, ll lilllcira geral, a partir de U!l1a dessas considera<;:oes: a primeira, de quem neg,l ifill' sc possa construir urn conhecimento "cientifico" da Historia simplcslIll'll 10- porque nao se pode a\can<;:. A 11i~ I(iria seria, junto com a Filosofia, a Ciencia ou a Religiao uma ('sp6,:it., lit· I tlllltcci mento da mesma qualidade. Existiriam urn "conhecimento hi:.16, jut , 11111 llIetodo historico, mas nao uma disciplina da Hist6ria, Esta scria ,I plI~i ".1" de Bencdetto Croce, de Collingwood e dos idealistas. No t('freno oposto, quando a resposta foi positiva. as apostas a I, IVOI' 11,1 de ll lit it.idadc foram tCilas a partir de posi<;:oes que aprcscntam tam llt'tll 111)1 ,1
94 Par'a essa revisao das ideias sobre 0 significado da
Ila: (;alaxia (;III(,llhcf)\ (:irclilo dl' I.l'l h ll I"" 11)",
'I ', 1\ IIldhor ~xl'lic;I\'ao rcccnl(' desse prohlema c das proflilldas dilillddad,'" 41,1 .11'11 < i;1 ~od;tl (. a .I,' I f( >I ,I.IS, M. hlom(/(/ iiI' IlI,< cil'llcill,< socil/h's. II;lIU'lolI,l : I\lld, 1')111i 'II, I )(.,~,. 111<",1110 ;1% 111110 110 la sv .los 1I ,ltllwi~f, I~ IlII l i, , l lll il~o ~, ,I
1.,1.11 1'11,<1,. ,111 (,I pilldo M'I',lIi ll lc',
parti. do M'lu t"
(II,
Parte I TeoTia, hist6ria e historiogmfia
C"I,illllo I
ilistflrU:J e IIL.,toriogmfitt: os fimdimlelltos
vcis diferenyas entre si. Para comeyar, urn certo setor da historiografia rna is Iradicional, de car.iter "positivista", sempre falou, e continua falando, de uma "cicncia" da Hist6ria sem que haja, em ultimo caso, outra forma de conside rar essa express30 senao como metafora ou analogia. Seria 0 caso de G. Mo lIod, J. P. Bury, Henri Berr, mas tambem 0 de tratadistas mais recentes como Iialkin, Marrou, E. H. Carr, Federico Suarez ou Juan RegIa. Outra posiyao si lua-se na tradiyao germanica, que incluiria a historiografia entre as cicncias sociais de fundamento hermeneutico, historicista, como ciencias radicalmen Ie distintas da cicncia natural. Esta seria particularmente a maneira de julgar de fil6sofos e tratadistas fora do pr6prio campo historiografico, como Dilthey, Weber, Gadamer, Ricoeur ou Habermas. Uma terceira posiyao seria a sustentada pela metodologia neopositi vista, que defende que a ciencia da Historia deve operar, ao final das contas, com 0 mesmo mecanismo que todas as demais cicncias sociais, assimilavel, por sua vez, it da cicncia natural. As posiyoes de metodologos como Hem pel, com sua conhecida intenyao de aplicar 0 modele nomologico-dedutivo il ('xplicayao hist6rica;7 ou E. Nagel, apoiam essa visao. Enfim, mais uma po si~-a(), esta de historiadores, seria a que tern falado de uma "ciencia social his lI'nic,," ou "Hist6ria cicncia social" (Social Science History), corrente de que p,lrlicipam opinioes provenientes tanto do mundo anglo-saxao da Social 'ic il'I I(C, a familia Tilly, D. Landes, M. Postan, Ch. Lloyd, como tambem do 1',1'1 11I !l II ico da hist6ria social (a Historische Sozialwissensc:hachft) os Kocka, WI I\" kr, W. Mommsen e, em geral, a chamada "escola de Bielefeld":s E esta, ,,',11 11 11"111<', a posiyao mais pr6xima da situayao das ciencias sociais. Tudo 1,,·.11 ·,l·rt1 I.dar da cliometria, plenamente caracteriz
t)7 No capitulo 5, nos referiremos ao modelo de Hempel sobre a explicac;:ao hist6rica.
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Tlcmry. I.ondon: Melhllt'lI, 1979. p. 7. As cxprcss()CS citadas
"Ciencia" versus "pratica cientifica" Seja qual for 0 resultado de tudo isso, a cientificidade da prcitica histo riognifica depende, antes de mais nada, do grau de elaborac;ao e aplicayao de '"11 metodo que part~cipe das caracteristicas da ciencia e se adapte, mediante 11111 trabalho teorico rico e suficiente, as peculiaridades de seu objeto. A apli t acyao desse metoda, portanto, nao dispensa, de forma alguma, urn trabalho Il'(lrico paralelo. Nao ha uma hist6ria empfrica com pretensoes de conheci llIento cientifico se nao existe uma teoria da hist6ria. Quanto ao problema da ililpossibilidade de equiparar ciencia natural a ciencia social, isso reflete uma dilcrenya de carater metodol6gico ou supoe uma diferenc;a substancial e inso Ilivcl dos objetos envolvidos, como discutimos antes? Se nos concentrarmos 110 terreno do hist6rico, do objeto historiografico, mesmo que mais adiante nos detenhamos sobre a natureza do hist6rico, digamos que mesmo sendo a difcrenc;a dos objetos substancial e insoluvel, 0 historiador nao pode fazer a dcscriy30 e materializayao da realidade hist6rica simplesmente a partir da (onsiderayao de que se encontra irremediavelmente recluso na prisao da sin ,1!lIlaridade, na impossibilidade de generalizar. Pelo contrario, sua pratica deve recorrer a algo que e comum na ciencia: as generalizafoes, que sao uteis e ab solutamente necessarias no sentido de explicar a Hist6ria, mas que aqui nao parecem poder chegar a se estabelecer como leis. o conhecimento hist6rico nao pode estabelecer leis da Hist6ria nem, lIluito menos, produzir predifoes sobre a Hist6ria do futuro. Ambas as coisas sao atributos da ciencia no sentido "duro" e estao estreitamente ligadas. Em Lonseqiiencia, pode-se falar, rigorosamente, de uma Ciencia da Historia? No sClltido estrito da grande ciencia da natureza, como dissemos, da fisica em silas diversas variantes, incluindo a cosmol6gica, a quimica, e atualmente ullla grande parte da biologia, por exemplo, evidentemente niio. Mas convem LOll sidcrar duas nuances importantes. Primeira, que, contra 0 que acreditava Pill g<"l c acreditam tambem outros metod610gos, esse C 0 caso geral das cil'n da~ s()ciais hojc, apesar dos consideraveis progressos de algumas delas cm dirl'~,lo :, '\il'ncia dura". Segunda, que nao cabe falar de cicncia somentc quando M' Irala de l'slahdecer leis universais e predicy6cs do fUluro. POlIe-SC chamal til' (ll llhl'Cillll'lllo cicntifi(o construcy()es cognoscilivas lit H.' lIao ChCgllC1I1 a ll'r lt· .110 d(' lalnivd.
Parte J Teoria, hist6ria e hi5toriografUl
Capitulo I
l-list6ria e historiografia: os fundam entos
No nosso modo de ver, 0 problema de uma ciencia da His~oria mani festa-se em tres elementos essenciais, ainda que nao sejam os unicos, inseridos em seu objeto, ou seja, na temporalidade do social, que prop6em quest6es epistemologicas ainda nao resolvidas para alcanyar um conhecimento cientf fico. Sao elas: a singularidade dos atos humanos, a globalidade do meio em que e possivel compreende-Ios e a temporalidade que constituiu sua sucessao. A tudo isso subjaz, nos parece claro, 0 fato de que para 0 conhecimento cienti fico e, sobretudo, para 0 conhecimento cientifico do social, uma dificuldade essencial e a explicayao da mudanfa, para cuja compreensao 0 homem tem descoberto ate agora um limitado numero de leis, desde aquelas de escala as tronomica ate as das particulas elementares. E, seguramente, na analise do sig nificado do tempo historico que a reflexao historiognifica precisa insistir mais e e tambem ai que, com toda probabilidade, encontra-se a chave da constitui yaO de uma verdadeira teoria do historico. Mas e possivel constatar hoje a existencia de uma visao teorica historizadora de tudo 0 que existe e conjeturar que 0 seu aprofundamento nao se deteni. Com a historiografia, como com ou tras ciencias sociais, se nao cabe falar de uma ciencia no sentido pie no, pode se dizer que nos encontramos diante de uma prtitica cientifica, e que nao re nuncia a se-lo. Tentaremos explicar 0 significado dessa situayao. Foi 0 historiador frances Lucien Febvre, um dos fundadores da escola dos Annales, quem, nos anos 50, falou com cautela e com certa imprecisao, mas com sagaz capacidade de observayao, do que entendia como pnitica da historiografia: Em minha opiniao - escreveria Febvre -, a historia e 0 estudo cientificamente elaborado das diversas atividades e das diversas criac;:6es dos homens de outros tem pos, captadas em seu momento, no marco de sociedades extrema mente variadas ... A definic;:ao e urn pouco ampla, (mas) em seus proprios termos descarta, me pare ce, muitos falsos problemas. A isso se deve, em primeiro lugar, que se qualifique a hist6ria como estudo cientificamente elaborado e nao como ciencia.9?
Como traduzir e desenvolver essas palavras tao perspicazes no curso do que desejamos argumentar aqui? Febvre expressou ha cinqiienta anos uma ca racterizayao da funyao e resultado cognoscitivos da historiografia que, a nos
\, I.
11;11)
foi superada. A historiografia nao seria uma ciencia mas sim um es
" , ( 1"Jlli{icamente elaborado. Como isso e possivel? Primeiramente, porquc !I,ll I, !llIo pr~fissional do historiador nao e um conjunto de atividades arhi
Illcramente empfricas, subjetivas e ficcionais, mas diz respeito, prind p 11 ,111" ' 11', a atividades que tendem a estabelecer conjeturas sujeitas a regras Oil ! ' I 1111 Il"os reguladores, a urn metodo. Quer dizer, e visivel que 0 trabalho do i" "11,1 III! lor adquire 0 rigor metodologico dos procedimentos da ciencia. E, elll HlO ldo lugar, porque 0 historiador trata de buscar, para os processos hisl(l I j ' ' " .Ie qualquer nivel, explicafoes demonstraveis, intersubjetivas, contexlu
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1110 ,\ I.·";,, d.· 1'01'1"'1' I'Ill n:I
II,' tlilm . V," 1'( )I' I'I:, I~. K. It /.0 /c)gi, " cit' /" illl'('''igilrirlll fil'll/I{im . Madl lei : Ih II ..... .!J Illlti ll" I V •. \ I)" 111 \"1111 11 .1\ If \II • J(I,h'\l IIIIII/Il '/,'1, 111/(1, I 1111,"/1' ' '''III1/ IHI ( '/ IIIII'I/l//fI' I' 1,./111111 /,11/1" Ihh'lIl1~ '\ "1 '\; 1'.li , h'I~. 111(". p.") \ , I ',1'1 1 , I.o l u., .1 " dt~ 11Mh Ih,lt,, " tl. i Ir, ltl •. 1' lu... .' II-. .. t 1'1' 1 FSI'I" ,"11111'11 1.· OS ,
99 FEBVRE, J.. Vivir la /-listoria. Palahras de ini("i:H i"'II . In: Jlis/oria.llarn·lona: Arid, I 'i/O. p. -10. () 1'.1 do r 1111 '1'"
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de reproduzir 0 mundo, 0 ambito dc sell campo de explo n ..; a o ( ' 11\ ~Il,1 .111 soluta complexidade, senao que prop6e modclos para torn;i -Io llIais inldi givel. A hist6ria total, entendida como a "historia completa de tlldo () q .... acontece", ou ('a reconstruyao integra do pass ado", nas palavras de Miclw lt-1. tomada emseu sentido literal, e urn absurdo ao qual nos referiremos nova mente mais adiante, Christopher Lloyd escreve que "'Historical science' is a defensible 110 tion if is not considered in this quasi-positivist or indeed positivist way"~, Ii" Mas 0 que significaria exatamente uma "ciencia" que nao seja considerada no sentido quase-positivista ou positivista da expressao? lnicialmente, que nao caberia pensar na construyao de uma ciencia "totalizadora" do historico, uma ciencia das leis historicas,' Uma ciencia nao positivista do historico seria nao aquela de algumas poucas "leis da Historia" plausiveis, mas de algumas con tinuidades ou ruptura~ estruturais e de pniticas humanas que poderiam ser essenciais I?ara ajudar a expIicar 0 que sucede em nossa vida presente, Em todo caso, 0 trabalho historiognifico rigoroso inclui os mesmos passos meto dologicos e a mesma necessidade de "teorizayao" sobre os fenomenos que qualquer outra parcela do conhecimento cientifico e social. 0 problema resi de hoje em que, ao jnexistir, no campo da historiografia, uma teorizayao acei tavel de fato, ao nos movermos em urn mundo de teorias nao especificamen te historiograficas, mas referidas genericamente ao comportamento social, nao podemos falar de uma "ciencia", senao, cautelosamente, da aplicayao mais ou menos bern sucedida e frutuosa do "modeli:> de trabalho" do cientis ta a pesquisa historiografica, Nao e presumivel que existam leis universais as quais se ajuste 0 desen volvimento historico, global, das sociedades, porque nao podemos estabelecer e, portanto, predizer em termos cientificos, 0 sentido de uma mudanya como a historica, Mas e uma questao diferente a de que a historiografia se encontre suposta e eternamente prisioneira na jaula do singular, Sendo essa apreciayao . equivocadae por essa razao que, de certa forma, podemos falar de uma pniti
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ii lili,.I II.1 hi~lcll lol\'."i .. NUll ha po:.si\l ilh l,ltit' dc IK':.qllil.,1 ~(HI(l lIi"lod II' "11\1' Ilt'lIh lllll olilm lipo. qlll' nao fa~a IIS0 Ill- .1!(·//I'/'IIl;z(/\,(//,s. () blo do 11 ',11 " ,I 11i~IOI ia Sl'!' "I'llli( 0" lIao quer di:r.er qlle os "tipos" dl' kn(lmCnos his ! 11, 11" IO Il1tccidos sejalll irrcpctiveis ou que, sob uma tipologia slIlicil'ntl' iii I II I, 1',('lll' l'alizadora, 11;\0 possam ser cxplicados muitos fenomenos part it'll LIII;' "h'ssa idl'ia dc ~eneraliza'r~lo baseia-se 0 ldealtypus de Max Wchcr para " 110 ' " os a::;peclos gerais dos fenomenos ou processos hist6ricos,"" Essa car"~ O " 1 1/.I~,10 (kpendc do nivel de fenomenos que estudamos. 0 comportamelll It 11'1 ,o ral das sociedades mostra, indubitavelmente, regularidades, ao ",cnoS I III ' 11)',tlIlS de seus niveis. Se a Hist6ria nao fosse mais que 0 desenvolvimelllO 1111\1 11 .11' de individuos e grupos, 0 encadeamento de «fatos sucedidos", n~io s(' jllldl'lia estabelecer um conceito como 0 de historicidade, que dizer, 0 deillc.' h,I,Iv!.'1 sujeiyao ao tempo de tudo
0
que existe.
(\ IIISTORlOGRAFlA, CIENCIA SOCIAL
o historiador alemao Reinhart Koselleck, freqiientado r dos problcnHls Ic'oricos da historiografia, escreveu que "a hist6ria enquanto ciencia nao lem lIotoriamente nenhum objeto de conhecimento especifico, mas 0 partilh•• 10m todas as ciencias sociais e do espirito".'03 Essa afirmayao, que subscr('vc mos com alguma matizayao, jii vale por si s6 comouma definiyao comp\cta tla integrayao da historiografia no ambito das ciencias sociais e de seu complcto pertencimento a ele, E certo, porem, que, como ja se disse, aqueles que
102 M. Weber trata do conceito de idealtypus em muitas passagens de sua extensa obm , rtu Cf. Ensayos sobre metodologia sociol6gica. Buenos Aires: Amorro , 1982. * Em ingles no original. " 'Ciencia hist6rica' e uma no<;:ao defensavel se nao for con siderada no senti do quase-positivista ou mesmo positivista do termo". (N.T)
101 UDYD, C. The Structures of History. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. p. 132.
103 R, Koselleck, Vergangene Zukunft . Apud MOMMSEN, W. J. La storia come sciellztl sociale storica.ln: ROSSI, P.(Ed.). La teoria della stDriografia oggi. Milano: Monda
. .dori, 1988. p. 85. 104 MARWICK, A. The Nature of Hi story. London: MacMillan, 1970. p. 103.
HI
80
Capltll/o /
Parte 1 Teori" hist6ria e historiograJia
IIist6ria e hiSl"Oriograji(l: os jiirul(ww"tos
!! 11,11, .10 dc ideologias politicas, as "antiguidades", 0 jornalismo ou a de
sociais ou e negado ou e enfocado de maneira bastante problematica. Em di versos tipos de classificayoes oficiais, supostamente cientificas e, ao final das contas, pr6ximas do burocratico, a historiografia (ou a "Hist6ria") nao apare ce entre as ciencias sociais. Catalogos da UNESCO, guias de estudos universi
lI) J1,1111 1\lI\nio hist6rico para fins de exaltayao nacionalista. ),1" .\s vczes, 0 historico aparece tambem como uma realidade nao re II 'I I)'.lIl1la outra em proposiyoes da ciencia natural ou de sua filosofia.
tarios, catalogos e prateleiras de editoras, livrarias e bibliotecas, etc... colocam a "Hist6ria" em local distinto daquele ocupado pelas ciencias sociais. Urn co nhecido soci610go, Daniel Bell, em seu relato dos progressos das ciencias so
I' I' 1I1o:;i<,:i)CS cientifico-filos6ficas atuais, em relayao a problemas basi
II IIIUd o fisico, ou da cosmologia, apoiam claramente a expJicayao tem
, IIIIIu l.lliva dos processos do universo, 0 que equivale a dizer a explica ii i .\/ 1111 .( ."'" Em outras ocasioes, no entanto, ocorre que 0 reconhecinlcn ..
ciais registrados desde 0 fim da Segunda Guerra Mundial ate a decada de 1970 nao s6 nao analisa a trajet6ria da historiografia - 0 que se poderia atribuir it falta de competencia ou desejo do autor -, mas esta disciplina nao e sequer mencionada entre as tais ciencias. '05 Trata-se de uma posiyao muito america na. Urn dicionario sobre 0 vocabuhirio das ciencias sociais, editado na Espa nha, nao inclui como tal a historiografia, nem a palavra "Hist6ria" nele apare ce em nenhuma das acepyoes que costumamos atribuir-lhe.106 Ja conhecemos a posiyao de Jean Piaget que, sem expulsar a historio grafia do seio das ciencias sociais, a tinha por uma disciplina problematica, de forma que 0 historiografico seria dificilmente algo mais do que urn metodo. Urn soci610go de destaque como Talcott Parsons, pai do estruto-funcionalis mo na sociologia, fazia uma nitida distinyao entre a "ciencia social sistemati ca" e a "hist6ria" como pesquisa. '07 Para algumas das mais acreditadas tradi yoes te6ricas no interior das ciencias sociais, a Hist6ria nao e uma entidade passivel de ser pesquisada de forma autonoma por uma disciplina, senao que existiria, na verdade, urn metodo "hist6rico" - geralmente sinonimo de se quencia!, temporal, de t[(1S para frente, e pouco mais do que isso -, meramen te preliminar, de analises das realidades sociais no tempo.IOS Em outros casos, o historiognifico apresenta-se como uma contribuiyao a meio caminho entre
II! llllttli lo scnsivel
nao leva necessari'a mente ao reconhecimento da neces
°
l,iilll ,l, 11 111<1 pcsquisa autonoma. caso de K. R. Popper ao falar da Hist6 I'" I,It.JI' I ivo dos sociologos e urn exem plo ilustre dissO."0As posiyoes nc IV.I 11,11 1 ('sgolam 0 panorama das diversas teorias ou filosofias das ciencias 11,
1101 illlportantes tradiyoes na pesquisa social cujo fundamento episll'
!lh'llllllI " II ("cconhecimento da historicidade de todos os fenomenos socia is, 1[!Ild, 11 1I'h 11lO nao levando a urn reconhecimento imediato e explicito cia CII I'h li ,II hil>loriografia como disciplina social, conduz it considerayao oa I lill IliI • "" ttl lalm imprescindivel de toda pesquisa social, 0 que ja e algUlna wi (I
IthtllricisIllO, a tradiyao marxista, a hermeneutica, a tradiyao wclwrill ll ii.
IlIli ~
11
,,'l\le sociologia hist6rica, ou 0 estruturacionismo de Anthony (;i\l
,"11M, ,'U llt· olllras, movem-se dentro da considerayao indubitavel do pc rl ~'11
Im. 'Hli. d.t hislori(ografi)a ao proprio campo de pesquisa da ciencia soda l. AII "I" cm meio a controversias, com duvidas e reticencias, a agil
" .1,1 Ill) 11111ndo historiognifico, especial mente desde a apclriy30 'dlls 1\'1
It'! I Illli quc a relayao da historiografia com as ciencias sociais tn;li~ 'I " ".lid.III.ls s(' aprcsentassc, sobretudo no mundo frances, sob lima !lOV,1 I" ' _\"'1 1iv.1. 1\111 mcio ao progresso da historiografia no scculo 20, Il l OIlI .1 11l Hl lIl II" ,Iv all<,os dcssas outras disciplinas foi determinantc. As "Filllsoti
105 BELL, D. Las ciencias sociales desde La segunda guerra mundial. Madrid: Alianza, 1984. 106 REYES, R. (Ed.). TerminoLogfa cientffico-social. Aproximaccii51l aftica. Barcelona: . Anthropos, 1988. A palavra Historia nao aparece neste diciomirio senao para expli car 0 conceito de "historia de vida". A palavra Historiografia, obviarnente, aparecc rnenos ainda. 0 mesmo ocorre no Anexo it obra pubJicado posteriormentc. 107 "PARSONS,
t
La eslructura de La acci6n social. Madrid: Credos, 196il. I nl rodllc(i61l.
108 Na realidade, urn dos pais da "prcccptiva" historiogrMica, (:harll-s SI·igflllhos, lam bern acrcditavn l1isso, () 'lilt" IIlcn'n'li dl' L Pd lVr~' 0 U'I1I('II\ .il io 'I"" 1,1 " 11,('111 j,i "traIlSCn'V('I1It1S. M aih .u li,," I!" vo ll .1I 1'1111 ". ,I ,',,'., ' ,1,,',111 11 \1,
"lml llrici,lade" do Llnivcrso e h(}jc uma posic;ao ~cral da l"i(~I\(: ia :lllIpl,,"It''''' .11 ",, 111111., 'I"': \('111 IIllla imporlalllc rclac;ao corn a cOllsidl'rac;:ao glohal dlh ""111,, ", , III'~ 1,11111,,'111 IIa I'scala hllmalla. A qllcslao da "11"l"h" do Il'IlIPO", \111 ([ III' 1,11,11 ,1 I "
I'i" /I
,hllilioll , , '~I :i 110 plallo c\
I lit h" I , I 1/11'0,11 """/1 1/011 IIIWIII . M ill" 1,[ A".1111 II I /IM I 1" 11 , l" I ~·, 11l1 H~
"'I".,flll
algllm lugar no wnjunlo dos sabercs SOt i•• i... L. 1.1' I{oy ( ,.
III Apud LLOYD, C. The Structures of History. Cambridge: Ca mbridge University
Press, 1993. p. 124. A citac;:ao esta em Entre los l-listoriadoreL. 112 LANDES, C.; TILLY, C. History as Social Science. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1971. p. 9 et seq. 113 FONTANA, J. La Historia despues del fin de La Historia . Barcelona: Critica, 1992. p. 25 et seq. '
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IU " . Hh ll" " /'"
"4 /1,1",.,,,,. ",. .
I 1.1 , I! 11 11 11 •• 11.1 suh;a/., ,KL'rladalllcnlc, a adverlencia de que 0 peri • 1I 111'1I h " Il'sidt' precisamcnle no entendimento equivocado dos ''" ', I' " Ih II' II las lIa ciencia c do seu estado atual. Assim, muitas vezes, n, II I .I' .1I!:o qlle SL' desconhece ou cuja inutilidade e manifesta em 11111'01\, " "
a hisloriografia constitui, em ultimo caso, urn tipo parti i l. 111111 d .l ); pralicas cientifico-so~iais. E 0 historiador em seu pleno exer 01 '111I 1(llllIe acrcditou, na epoca contemporanea, uma maioria qualificada 1 '1111 'hilI I ollsliluiu, a bern da verdade, nenhuma garantia -, tern se consi I ,H I.. 11111 pralicante do metodo cientifico. A Hist6ria, ou 0 discurso histo I ""lt II rh- 11m certo nivel, produz seus conhecimentos por meio de meto "II III I Ii lOS que constituem uma pnitica estabelecida, sujeita a regras. 0 IIl l! ,I,· I\l'lIcralidade desse discurso e ainda baixo e a fragmentayao das prati " Iomil- a aumentar. Mas e urn discurso obrigatoriamente sujeito a possibi 1I. 1.1. 1t d\! lOmprovayao, como 0 de qualquer ciencia. Em todo caso, e inegavel I'" .1 hisloriografia como ciencia social necessita de fundamentayoes mais 1t'111't do que as que possuimos hoje. 0 grau de desenvolvimento de tais fun 1.1 1111 Illos e, scm duvida, mesmo hoje, debil. E continuamos scm consenso l illoll ilo ao caminho que se deve seguir para urn progresso sustentado. Ifl i .. · .. II IlIO,
I,"
( ) (:ONTEUDO DA TEO RIA E OS l:lINDAMENTOS DO METODO IIISTORIOGRAFICO Todas as ciencias sociais que se cultivam hoje, das mais antigas as mais I ('centes, coincidem ao menos em uma coisa: buscam sempre dotar-se de al I\llm conteudo explicativo de seu objeto que tenha 0 maior nivel de generali
114 A confusao gerada pela aplicac;:ao de conceitos e elaborac;:oes te6ricas das ciencias fisico -rnaternaticas as ciencias sociais ou as humanidades, busc:ando-se analogias que sao puro disparate, tern sido objeto da recente e bastante conhecida critica de urn fisico escritor, Alan Sokal, dirigida sobretudo a obra de varios p6s-estruturalis-': tas e pos-rnodernistas franceses~ Este parece ser, de alguma forma, 0 perigo para 0 qual adverte Fontana. Cf. SOKAL, A.; BRICMONT, J.lmposturas intelectuales. Bar celona: Paid6s, 1999 (primeira edic;:ao em ingles de 1998).
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Capitulo / . Historia e liistoriografia: os jimdamentos
Parte / Teoria, historia e liistoriogmfia
dade, seguranya e consistencia e que, se possive!, alcance 0 nive! da teori(l. Ra ras vezes ou nunca uma disciplina estabe!ecida e autonoma reconhece sua pcrmanencia no nive! da mera descriryao, inventario ou classificaryao de sua materia. Por definiryao, as materias disciplinares pretendem estabe!ecer conhe cimentos de alcance maior, no sentido espacial e temporal de seu objeto. Os fundamentos anaHticos de qualquer disciplina, nas ciencias naturais ou nas sociais, seu campo e objeto especifico, seu metodo e suas fronteiras no gerai, expansivas -,0 estadodos conhecimentos adquiridos, costumam ser expostos em urn tipo de livro que tern 0 nome ou a disposiryao de urn tratado sobre a totalidade da disciplina em questao, nao se descartando a possibilida dc de que sejam dedicados a somente uma parte de!a."s Nos tratados, que re conhecem 0 estado das disciplinas cientificas em urn dado momento, ex p() cm-se 0 corpo geral dos conhecimentos adquiridos por ela e 0 conjunto de suas operaryoes de conhecimento. Quer dizer, e isso e 0 importante, tais trata dos con tern como norma geral 0 tipo duplo de "teoria" que corresponde as dllas dimensoes que uma ciencia abarca: seu objeto de estudo, de urn lado, e a li)J"Jlla de organizar sua investigaryao, de outro. o grande historiador Pierre Vilar escreveu essas palavras na primeira li
lI"a dc urn conhecido texto sobre questoes de vocabulario e metodo histori ('Os: "tcnho sempre sonhado com urn 'tratado de Historia"', e acrescentava: "pois considero irritante ver nas estantes de nossas bibliotecas tantos 'tratados' (k 'smiologia', de 'economia', de 'politologia', de 'antropologia', mas nenhum de 1 II ,~ I \~ ri", como se 0 conhecimento historico, que econdirrao de todos os demais, 1<1 tillt' lot/II sociedade esta situada no tempo, fossc incapaz de se constituir
1111 111.' t. itncia"."6 Se a ausencia que Pierre Vilar lamentava responde a urn fato
I\·.d l" lIa() ha duvida quanta a isso - , por que nao se escreve urn tratado de
II ', Conviria assinalar que
0 fato de que nos pr6prios livros desse tipo nao apare<;:a a
I'alavra "tratado", termo qu e, certamente, tende ao desuso no meio academico,
nada altera essa situa<;:ao. Alguns exemplos de carater variado e c1assico poderiam induir tratados de Economia tao amplamente empregados como 0 de P. Samuel son , C:ursv de Economia Modema. Madrid: Aguilar, edi<;:5es a partir de 1950. Nao Ilwnos coilhecida na ci€:ncia politica e a obra de M. Duverger, In/roducci(in a la Po lilim. l\an:c1ona: Ariel, edit,:oes desde 1972. Um classico tratado de sociologia eo di
rigido pm CllRVITCII, C. 'I'm/ado de Sociologia. Buenos Aires: Kapcillsl., 1%2.2 v. No lilll, lIao h;i disl'iplina SCIll sell "tratado".
1.11, VII.I\ I{, I', 1/'1111 11 /01/ ,Ii l'O,,,IIIII,,rio tiel wltih.,i, '/i., {,irim.
I' 7 ( 1 1',11111 1'
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11I\((lria? Uma pergunta que po de e deve ser acompanhada, no entanto, de 1I111a possive!mente mais complicada resposta: 0 que deveria conter urn trata ,Ie I desse tipo? Ainda que tudo isso nao passe talvez do nivel do anedotico, representa Vl'rdadeiramente 0 sintoma de uma carencia patente, ao mesmo tempo que III11a realidade incontormivel: seria impossive! que urn "Tratado de Historia" eIIlIlivesse"o estado atual dos conhecimentos historicos" porque haveria de , Ollter e!e mesmo toda a Historia Universal. Assim, pois, a referencia das pa 1,lvras de Vilar, se tomamos sua expressao no sentido literal ou a consideramos ',11 II plesmente uma analogia ou uma metafora, teria de ser urn tratado de con11'1'1110 peculiar, so poderia refletir 0 estado atual da disciplina, nao 0 conjunto ,k seus conteudos. Em suma, isso equivale a dizer que 0 possive! tratado de II iSl6ria haveria de ser necessariamente urn tratado de historiografia, urn tra (,Id o sobre a natureza e desenvolvimento da disciplina que estuda a Historia, pela l6gica, nao poderia ocupar-se de outra coisa senao da teoria e do meto '/0 de tal discip lina.
I"
' 1'1':( lI{lA DA HrSTORlA E TEORIA DA HISTORIOGRAFlA
hi ressaltamos, em paragrafos anteriores, a conveniencia e a necessida cie dc distinguir de forma rigorosa a realidade da Historia da disciplina que se I" liP" de seu conhecimento e pesquisa: Os tratados que descrevem uma dis , iplina ocupam-se tanto de seu objeto - nesse caso a Historia -, como dos . I!l occdimentos de seu conhecimento - aqui a historiografia. 0 objeto de co
IIhecimcnto "Hist6ria" nao se toma urn tratado com 0 registro do curso da
II ist()ria scnao com a especularyao sobreessa pergunta que Lucien Febvre con
·,idcrava cspinhosa: 0 que e a Historia? No entanto, essa pergunta, por sua vez,
...., pode scr respondidano seio de uma questao mais ampla, a de como e pos ·.IVI'I ter lim conhecimento da Historia.
A I('oria e uma questao bern diferente da filosofia. Decididamente, 0 hll>l oriador nfio podc exercitar a funryao do filosofo, mas e preciso advertir 11111.1 Vl'Z llIais, tcorizar sobre a Historia e funryao do historiador. Isso nao i ll'll('dl' qlll' "tcoria" l' "filosofia" da I Iisl6ria tcnham estado historicamente
Il lU ,i l O rda( iOlladas t' ale allIalgallladas 110 pl'lISalllClllo ocidcntal, da mcs "
Parte 1 Teoria, hisloria e historiogmfia
rna maneira que tambem nao se tern conseguido distinguir com nitidez uma teo ria da Historia de uma teo ria da Historiografia. E, porem, comum que para encontrar respostas a essa tao mencionada e incontomavel per gunta, os proprios historiadores busquem ou se remetam aos filosofos. Esse e urn erro fundamental. Como tambem 0 e pensar que se de va buscar a res posta em algo bern diferente como e 0 metodo correto para tomar possive! seu conhecimento; ou busca-la ainda, 0 que nao acontece com menor fre quencia, no estudo da historia da historiografia. Na realidade, refletir teo ricamente sobre a Historia ja equivale a uma primeira "pesquisa" a respei to dela, equivale a se propor averiguar 0 que e e como se manifesta 0 histo rico frente a nossa experiencia. Consequentemente, 0 que e e como hav~ria de se constituir uma teoria da historia e da historiografia? Mas, em primeiro lugar, 0 que se en tende, com algum rigor, por teoria? Fizemos referencia a essa questao de forma sumaria ao falar anteriormente do procedimento do conhecimen to cientifico; assim, limitemo-nos agora a insistir no fato de que a teoria pode referir-se a urn fenomeno,a urn conjunto de fenomenos, a urn pro cesso repetitivo e, tambem, a propria forma em que se pode conhecer isso tudo. Nesse ultimo caso, nos encontramos diante de uma "teoria do co nhecimento". Como vimos repetindo, a ciencia maneja ambos os tipos de teorizac,:oes. E no caso das ciencias sociais, tam bern como ja dissemos, a maior dificuldade e a possibilidade de formular leis gerais. Ambas as di mensoes, teorizar sobre uma realidade dada e faze-lo sobre 0 conheci mento adequado ou possivel a respeito deJa, sao imprescindiveis no caso da Historia. E nao stfria demais uma terminologia clara que distinguisse entre essas duas operac,:oes. Para 0 historiador existem, pois, duas tarefas teoricas: uma, a de e!abo rar uma teoria constitutiva de seu objeto de trabalho e que nao e outra senao a teoria da natureza do hist6rico. Isso equivaleria a pronunciar-se sobre 0 que se chama Historia, 0 que e a dimensao historica para os seres humanos, 0 que e isso na 'experiencia de sua vida, como se manifesta essa atribuic,:ao de uma historia aos sujeitos e as sociedades, de que maneira se cria c sc cvidcncia a imersao no tempo, e outras questoes desse tipo. 0 que essa tcoria n~lo podc ra fazer, como nao pode a de nenhuma ciencia em rclac,:ilo a Sl'1I pn')prio oil
.
Capilulo 1
[[isloria e hisloriografia: os fundamentos
1"iI"
C atribuir urn sentido, uma finalidade ao curso da Historia, uma mellI ,
nao poderiamos argumentar sobre nenhuma dessas coisas com Os Ijl'll lllmentos de urn conhecimento demonstravel, contrastavcl, empir ic". lipo de questoes e proprio do que se tern denominado a filosofia "su b.~ (:1 11 1iva" ou "especulativa" da Historia, a que 0 idealismo alemao do seculo jl} ll7 I " , ..~ itou no seu mais alto grau. 0 propos ito e os meios do historiador v,l(I II I ()II tra direc,:ao. 1\ teoria da Hist6ria refere-se, entao, a isso, e tern sido sempre ullla 'Ii ln ;lao dificil porque, comumente, e confundida com 0 "filosofar sobre a ! 11j·,II'lria". Desde Voltaire, pe!o men os, passando por Kant, Hegel, Marx, Dil dw y. Rickert, Winde!band, os filosofos tern especulado sobre a Historia. Ue I " ,,'t, quando ja no seculo 20 estava plenamente constituida uma "disciplina" d" hisloriografia, pensadores sociais, filosofos ou historiadores de prollss;l() 11111 10 Croce, Ortega, Collingwood, Aron, Heidegger e muitos outros, prol()fI 1:,1!'.1I 11 cssa reflexao amalgamando-a, muitas vezes, com as observac,:oes sol lll' fI', " Iipos de Historia" existentes, sobre seu metodo e sobre 0 oficio dc hi ~l o I j, II , I kgcl pensava realmente em substituir os historiadores nessa e!abOrJ~,Hl. ( j l , IS() de Ortega y Gasset nao e menos explicito. Ele dira, como ja vimos, ql h ' 1'" l qlll'
,y,l'
I
I 1/ Independentemente de mais adiante voltarmos a isso, sao imprescindiveis a l ~llIll,I " rclCrcncias bibliograficas c1assicas. Foi WALSH, W. H. Introducci6n a la jilosoJlrl Ii,. Iii historia. Mexico: Siglo XXI, 1968,0 primeiro a referir-se a duas formas dt' tilIlS" 1:11' sobre a hist6ria, esta chamada substantiva ou especulativa e a chamada " fi l"MI fia analitica" ou critica, que trata das formas de conhecimento da Hist6ria. A lii, ) sofia do conhecimento da Hist6ria come<;a com 0 grupo de pensadores ao,~ q \I,II ,~ Raymond Aron agrupou como "filosofia critica da Hist(lria", a que chamllu 1:1111 hCllI "tcoria alema da hist6ria" e que compreendia Dilthey, Rickert, SiJ1l1ud I' WI' he r, alguns dos quais nao sao fil6sofos. ARON, It La philosophie cri/illlle til' /'1' 1)/(// n'. h~ll; sur unc lheorie allemande de l'hisloire. Paris: J. Vrin, 1%9 (h,\ llllW 1I IIdll \ao cspanhola). 0 p[(lprio Aron praticou esse tipo de fl(osolla, ARON, R. IlI lmt/lI, ';011 II III I,'iloso/lll de Iii [lisloria. 1!n5ayo soil((' los I[mill's til' III O/Jjl'/il';t/I/(/ hi\ IIII1I1I , (OIl/I,I,'llltio WffI /l'xIOS r('c;enll's. Buenos Aires: Siglo XX, I')IH. 7. v.l'od l' R(' VI" lilt ' 1l,ll;rdo Il'C(' lIle Illuilo ('OJ1lpicIO de lIIosoli;r d.. hishiri;r '111(' illdui ;lIllh;rs 1'l'1~'l'n liv.ls, III\ NAVI/) ES I.lICAS, M. I,'i/o"o/fll til' III lI;slori(/. Mau rid: Sill ll.'l>is, II}II'I .,., p,lIli l dl' 11111 "" Ii ''1II<' ""lilo dili'lI'II1t" (:IHli" M.I,';/(I)(I/I(/ til' llI 11;\1",;" . /'.'1 dl'/I",. ,"/I", l'IIII' /III U" ' " 111 Y ,}//O,' 11/0"" '/1111 ' 11"'1'111 /'\ . 11,11'1 (' I O/ I.I ~ 1',lit!j,\. , ' I'll '1;1I11 1wlI' ,,,11\'1 1:., H. I h I.). 1-1/'''/1/1/1 tldll 111 , 11111,/. rvl.l( " It I' ' 11 0" ,), 1'1'1 \ (I ' III II 1,,1" '" 1,1 II " ,,, '" IIH'IILIII,I d,' 1" "SOh,I , ',j
lAlpftttlo I
Parte 1 Teor;", Izislliria e historiografia
"nao se pode fazer Historia se 'nao se possui a tecnica superior, que e uma teo ria geral das realidades humanas, 0 que eu chama uma Historiologia".118A gra tuidade de parte dessa afirmayao orteguiana nao diminui 0 interesse de seu alerta sobre a necessidade de que a pnitica historiognifica possua essa especie de teoria geral das ciencias humamls que ele chama "Historiologia". Dito isto, a teoria do conhecimento da Hist6ria e outra questao, e a se gunda dastarefas teoricas, a que de forma generica temos de considerar uma teoria disciplinar, que nesse caso seria a teoria da historiografia propriamente dita, uma teorizayao da disciplina da historiografia. Uma reflexao desse tipo se ocuparia daquele conjunto de caracteristicas proprias em sua estrutura in terna que fazcm com que uma determinada parcela do conhecimento se dis tinga de outras. Teoria disciplinar sera a que pretenda caracterizar, por exem plo, a economia ou a psicologia como materias com seu objeto especifico que nao se confundem com nenhuma outra. 0 aspecto medular da teo ria discipli nar esta em mostrar a forma como uma disciplina articula e ordena seus co nhecimentos e a forma como organiza sua pesquisa, assim como os meios es colhidos para mostrar suas conclusoes. No caso da historiografia, e uma ana lise da construyao da disciplina que estuda a Historia. Esse tipo de teorizayao, evidentemente, tern sido muito menos cultiva do e rna is confundido ainda que 0 anterior. A teoria historiografica, confun dida com a metodologia, com a historia da historiografia, com a mera catalo gayao da "tematica" que a historiografia tern abordado sucessivamente desde a primitiva historia politica a amplitude de campos que hoje se cultivam, tern experimentado urn desenvolvimento bastante entrecortado. Ncsse caso, foram os historiadores de finais do seculo 19 os que mais se preocuparam com a ar ticulayao interna, 0' metoda e os objetivos do estudo da Hist6ria e das pecu liaridades da historiografia. Certas escolas, como ados Annales ja no seculo 20, fizeram na realidade teoria disciplinar, e praticamente nada de teoria da Historia, apesardas agudas consideray6es de Febvre. Conviria assinalar, para terminar, que a pretensao de instituir uma , " hist6ria teo rica" e urn mero disparate retorico, demonstrayao de uma confu
Histllr;a e Izj,toriografia: os fimdilt1lentos
.. 10 filos6fico-historiografica sobre a qual se deve chamar a atenyao. Ha quem 111'el enda, com efeito, que os historiadores se dediquern a duas tarefas: "uma 1".1 I ica': escrever trabalhos historicos, e "outra teorica, que os leva a refletir so I" (' esses trabalhos, sobre sua atividade e sobre sua profissao". E esta seglilldu .l'I i
'\ ' , PH :ULIARIDADES DO METODO HISTORIOGRAFICO
Sc vimos falando de uma estreita relayao teorica entre a natu n.'z,1 dll 11I',l orico C as suas formas de conhecimento, assim como da necessaria d isli ll ,.. 10 ('lIlre ambas as coisas, e preciso reforyar agora a impossibilidade d~' 11 111 .1 1"111 iii do conhecimento historiografico que nao estiver acompanhada d(' I,I'. LOllceps:oes tam bern sobre os principios fundamentais do metoda. P4l1 1','0 ' Ilslull1a-se assinalar, as vezes com muita confusao, que teoria e IlIclot/o It 'HIo I ('stao sempre unidas na pr I .II.1t II I hil. ,I S ftllldallll'lllais e previas sobre 0 mclodo do I rabalho hislori' ll\I .,111 " ,
,I"
II') i<"'fro 118 ORTEGA Y GASSET, J. Una interpretaci6n de 101 I lishlli.1 IJniwrsal. I-:tl lonto a Toynbee. In: Ohms comf11ew$. Madrid: 1~('vi ~t.1 .1(' ( Ii t It 1"111<' Alianza I~dilorial . 1983.v.IX,p. H7 - 14X.
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oilras, 1II':I(MEjO IIAIUU',I(A, J. ( ' iii 1IIIII1.1t
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Capitulo I
Hist6rw e historiografta: os fundametttos
Parte 1 Teorin, histOria e historiograjia
do que depois nos ocuparemos de forma detalhada em toda a terceira pari desta obra. o primeiro problema que esta analise traz e que a palavra metodll. vezes tambern a palavra metodologia, como ocorre com ciencia, com filos(//i" com tecnica e outras, aplica-se a tantas coisas e integra tantos contextos tli l rentes que, cada vez que se quer usa-Ia com rigor, e preciso primeiro uma tI pura<;:ao do sentido em que e empregada. Nao apenas na linguagem com'n mas tambern no terreno da prodw;:ao filosofica ou cientifica, a palavra IIH\ h do acaba sendomuito pouco univoca. Em sua forma mais primaria, na I'lilll logica, cuja alusao resulta sempre util na hora de oferecer precisoes, m~1t quer dizer 0 percurso de urn "caminho", 0 que, por uma associac;:ao simple. nao forc;:ada, nos leva a ideia de "processo", "procedimento", maneira 011 j( de fazer algo. A partir de uma pOsic;:ao urn pouco mais restritiva, as (01"11111 <;:6es filosoficas e tecnicas classicas, por exemplo, falam de metodo W il li! program a que regula previamente uma serie de operac;:6es que dewllI cumpridas e uma serie de erros que devem ser evitados para se akan,',lf III resultado determinado':'20 ou como "urn procedimento que aplica uma onl racional e sistematica para a compreensao de urn objeto':' 21 Metodo de uma determinada forma de conhecimento sera, pois. (J \un junto de prescri~oes que devem ser observadas e de decisoes que devcllI SL'I madas em certa disciplina para garantir, na ,medida do p,ossivel, um wllh mento adequado de seu objeto. Dizemos prescric;:6es porque um melodo ~ " conjunto de opera<;:6es que estao reguladas, que nao sao arbitnlrias, 1Il.'~ III tern uma ordem e uma obrigatoriedade. Mas dizemos tambem (il-l:is(ln pn que um metodo nao e um sistema fechado; mas sim que, dentro dl' !-o1l.1111111'1 de operac;:6es, 0 sujeito que 0 emprega deve decidir muitas vczcs pO l' .. i III mo. Em todo caso, ha determi~adas prescric;:6es as quais 0 mCtodo ('s la 111,11 soluvelmente ligado: as da logica. As quest~es do metodo.hist6rico foram tambem objclo (k gnllllk .11('n c;:ao por parte de'muitos historiadores a partir da segunda 1111'1
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momenta em que a historiografia comec;:ou a se co ns 11 111.1 dis(;iplina autonoma e seus estudiosos tenderam ase pro lis 11 111 1/ 1'l'Okssores nas universidades. Os debates sobre 0 mclod\! I" .tll)llIl lo das pesquisas sociais foram sempre presididos por IIl11il ... ." 1\'11 ,I wnsiderac;:ao de que 0 que existia realmente, e unicallll'lI II n"li",!" iIis(()rico que estava a disposi<;:ao de todas as ciendas sociai!-o 1.t ,i;1I1I 11' 11 em contextos determinados; ou a considerac;:ao de \fll(' 11;1\'1,11111101 disciplina cientifica, a historiografia, que era a pratican IiI! 1. 1 d, ' l,tlllIctodo e, em func;:ao disso, esta disciplina reclamava 11111 I • 11' 111 ias da sociedade. Veremos que essas alternativas nao sao, I 111 ),1 11 11.1, l'xcludentes: existe urn metodo proprio da pesquisa da Ii ' 11 1('\1110 tempo, uma perspectiva historica de toda pesquisa do / iilll It l IIl1la perspectiva sociologica, economica ou politol6giGI d.1 III 1,'11.1 M.lS () conhecimento da historia e seus problemas nao s(' I"
hil , I'''I~, 0 llletodo da pesquisa historica e, sem duvida, uma
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Iii" I I" "'I "isa da sociedade, da pesquisa social ou, se preferirnH)!-o. d.1 II .1, ,1 I ' . , ~(It ial. Portanto, 0 metodo do historiador coincide, en I II( ,. 1 OIl! " d~' olll ..as disciplinas como a economia, a sociologia OLJ a .111 i " ') IXl'IlIplo. 0 historiador estuda, como 0 fazem os eslwJiosm 111"1 ,Ii", il'lillas,jcnomenos sociais. Mas existe uma peculiaridadc ~llI(' l,d" 11I"llI l'iogrMico sua especificidade inequivoca e e 0 falo dl' 11111' ',il h.!' • ""dol US 1;llos sociais sempre em relac;:ao com seu compor(tllJl('/I il. ii,," ',llI l1 il ica qllc na historiografia e normal que nao possa hawl Ilil/ wl/l lI .I,' "ubscrvayaO direta" da realidadc. Por essa c olliras 1,1 T Ird 'I"I' ,I hisloriograila c, scm dLlvida, a disciplina social ql ll' fl,1 I. I "' ·tlll 11111 Illdodo lllcnos f()('malizauo, mcnos eslrlllllrado soh", I
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120 LALANDE, A. Vocabulaire technique el crilillue ill' /11 I'hi/oso/,hif'. Pill i 1, p. 624. 121 REYES, R, (Dir.). '(hlllil/%Xfll cll'II/fli('(l '(I(ill/, 1I/llll1illlll llllll IIflllll i\nlhrol'()~, I'JRX. p.1l0'). i\ tldilli\ao ,0aqlli hllll.lII,1 tI, · M .I~ 1:"1...",,., .til' IIi .\(/( ill/ ~I "'///1"
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Capltlilo 1
Historin e historiograjia: os [lIlIdamen/os
Parte I Teoria. lristIJria e histuriograjia
tern tendido com bastante frequencia a fazer abstra~o do suceder em gue to dos os fen6menos e processos sociais estao imersos. A pesquisa da Hist6ria, sempre que se entenda que e uma pesquisa do passado, estani ligada a algumas peculiaridades e constrangimentos que nao se apresentam, ou nao se apresen tam da mesma forma, em outras ciencias sociais. De tais peculiaridades pode riamos desta~ar os problemas derivados da observa~o e documenta-;:ao, da temporalidade e os que provem da globalidade de todo 0 devir ·hist6rico. Es tamos, portanto, diante da realidade com 0 maior,numero de variaveis que se
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Inais prejudicaram no passado 0 progresso disciplinar da hislo
II Iii 1IIIIa fante de informayao nunca e neutra, nem e dada de anteJ1lao.
, ~~ .. I' lalllbem absurda a ideia da "finitude" das fontes da Historia. lal Ie i'IIll'IHliam os autores de preceitos como Langlois e Seignobos. Me... (Ii , :11'1 illicira vista nao pare-;:a, 0 historiador deve, como qualquer oull'Cl 1111 .11 1111 social, "construlr" tam bern suas fontes, ainda que se 'enconln.. 1·11" Icn tll ,lI lo para realiza-lo a medida que retrocede no tempo. Pesquisar a hHI,1 1"1111\ dc modo algum, transcrevero que as fontes existentes dizl'Ill ... IIi ' 111,.10 da Iiist6ria, que e 0 resultado final do metodo de pesquisa, kill pode conceber. 1\ 1111. 11 Iliidigivel e explicavel 0 que as fontes ofere cern como informa<,:ao. A primeira especificidade e a mais censurada do metodo historiognifi \ ~I')~lllida das grandes determinayoes do metodo historiogrcifico l~ 1\ co reside, sem duvida, na natureza de suas [antes de in[orma~ao. A "materia" II,il' ,tI, i 1\'01 ILl (ll'rspectiva essencial da temporalidade como natureza do hisl 6 sobre a qual 0 historiador trabalha e de caniter muito peculiar: restos mate ,1111. () metodo historiografico correto e 0 que entende que investiga ~ I ' riais de atividades humanas, relatos escritos, relatos orais, textos de qualquer genero, vestigios de todo tipo, documentos administrativos, etc. Tem-se en I'" ',. 111. 11 .1 II istoria nao e meramente descobrir coisas ocorridas no passa lel·l 1IIl'\I I1')!'ia se havia perdido, mas dar conta de como as sociedadcs !>l' tendido tradicionalmente que 0 hist6rico nao pode ser outra coisa senao "0 111 111111, 1111 "l'voluem no tempo. Dai que se tenha dito que atuar Sell1prl' lh passado"; veremos que isso nao e inteiramente correto e que 0 hist6rico nao e 'c, I" "111 11111101 cronologia e outra das caracteristicas mais determinanll's elll precisamente 0 passado mas 0 temporal, porem, 0 fato e que as fontes de in 1,1,1. '11 '1)\1 ,, 11( '0, Illas que a cronologia de forma alguma representa por si IlH'S forma<,:ao indiretas, o que constitui os vestigios, restos ou testemunhos, sao a I,' I II 1I 11'"I'.tlidadc. Nao ha hist6ria possivel que nao esteja pautada pd ~1 SII materia informativa normal do historiador. " , , " j 1" 111 pO.' J! e 0 estabelecimento d~ "epocas" historicas tern sidn I ru,1i o deposito chissico da documenta-;:ao hist6rica, ainda que, em absolu ,II ' loti II II lilt· olltra das funyoes da historiografia, mas a cronologia, dt' f( )I1 I1 .1 to, nao seja hoje 0 unico, e se aproximam mudanyas dnisticas no futuro, tern 1 1~llItI' l . 1' ~I',()la 0 problema do tempo hist6rico e nao acaba nela a ncC('ssid,ltk sido 0 arquivo. A caracteristica de todos esses materiais que se referem a uma II i Ii j ;; " II j,\C lor l' do metodo historiografico de considerar todos os fClltlllH:1I0\ atividade do passado humano e que nao podem ser procurados nem prepara 111\ i'lh 11111 d.1 variavcl tcmpo. dos pela pr6pria atividade do historiador, que deve limitar-se a encontni-Ios. I ' k l \ l'iro f,ranclc aspccto, no que diz respeito as particularidadcs do Diz-se, por isso, que a historiografia e a ciencia social que nao pode construir II!f!f!ol". II h' l(' sc ao fain dc quc 0 proccsso historico de qualqucr ~ocicd ,ltk, suas fontes, elas ja se encontram feitas. Isso nao e, tampouco, absoh.itamente /iii 1Il101,',, dc' qll'''qllcr inslilncia humana cspccifica, lanto como a pn'lpria hi, certo, nem na concepyao do que significam os dados, que nunca sao realida ~1I 1 , '~( .1 1.1 IIl1iwrsal. s;10 rcalidades globais . .Qucr dizcr, a hisl{lI'ia lIl' 111 11 .1 des espontaneas, nem na pr6pria natureza do hist6rico, pois existe uma hist6 kil llile l\' IIIH' 1'111 si lolias as alividadcs quc os homclIs rcalizam C (lilt' ('S I .1I1 ria do presente cada vez mais afianyada, onde a quesUio se apresenta de manei iII l , · j,I~ .l cl oI" ,k lonlla illdissnh'lvd. /\ hisI6ria dl' lodas as soc.:il'dadl's du 11 11 11 1 ra muito distinta. I .. I" II ',1101 VI' '/., SI' ('IKOlllra lamllt'lIl clllrl'la,:ada, Oil IClldl' a cslar. Ikss,l Itll A liga-;:ao do metodo historiografico ao ass unto das [antes e tao estreita I' ." ,I ) 11'.11 '11 i.1 (, M' lIIpl't· glohal. () problema do Illdodo hisllirico rl.'sidl' .H II II que durante muito tempo a maioria dos tratamentos d:issicos do metodo his iiili
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toriografico iimitou-se a tratar de forma quase exclusiva 0 prohkllla das "fon tes da Hist6ria". E isso tamocm deu lugar a cria-;:ao do Wllll' illl til' ", ii'lIl ias au xiliares da Hist{lria". Essa fillsa idt~ia de que a {illlie c'· 1111/0 1'.11 ,I II 11I',ltlll,l(lor r
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,j, ,111 .11111" . I.lIlIlu'l11 111011\ .11 11111 11 (' IIl1 hl .,Io'I I\ ,ill f'\f\l'IlIIl., 11.111111'/,1tI" 1e<'"(1I1 I11,.11I
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Parle /
Teoria, his/oria e hislorwgra[1lI
em como dar conta ou como representar essa hist6ri~ global, 0 que continua sendo urn problema nao resolvido, por mais que a ideia de uma hist6ria total tenha sido proposta muitas vezes. Na pnitica historiognifica concreta, 0 que ocorre com maior freqilencia e 0 contnirio: a fragmentac;ao da hist6ria em se tores, em especialidades, que atneac;am com fraturas a unidade da disciplina, mas que sa,o inevitaveis na pratica cientifica de hoje. Urn ultimo ponto e a preparaC;ao tecnica 40 historiador a que nos refe rimos anteriormente. Mas 0 fato e que urn dos problemas mais comuns que afetam a preparaC;ao e a pratica, nao somente do historiador mas de qualquer pesquisador social, e a freqilente confusao entre metodo e tecnicas. Para escla recer esse assunto, que e importante na pnitica cientifica, dedicamos mais adian~e espac;o suficiente. Podemos aqui adiantar que 0 metodo e urn conjun to de prindpios sempre ligados a teoria, enquanto as tecnicas, que sao as que realmente devem se adaptar em cada caso a natureza do objeto investigado, podem ser compartilhadas e sao intercambiaveis entre diferentes disciplinas. Uma boa imagem do que seria a preparaC;ao tecnica de urn "pesquisa dor social" foi descrita 'por J. Hughes nos seguintes termos: "consistira nor malmente em aprender a dominar as tecnicas do questionario; osprindpios do esquema e da amilise da pesquisa; as complexidades da verificaC;ao, regres sao e correlayao estatisticas; analise de trajet6ria, analise fatorial e, talvez, ate programaC;ao de computadores, formatayao e tecnicas similares". 123 Em que pese 0 tom .i rremediavelmente tecnicista, inclusive mecanicista, dessa descri c;ao, e indubitavel que nela se fac;a urn inventario de habilidades sem as quais nao se concebe hoje 0 treinamento da materia social. E, tendo em vista que a historiografia e uma forma de pesquisa social, seria possivel pensar que tais habilidades se incluiriam no perfil da formac;ao de urn historiador? A luz da realidade atual, isso poderia nao passar de uma perigosa utopia ou, talvez, in clusive, uma profunaC;ao... No en tanto, ainda que custe a alguns, 0 futuro im pora muitas dessas tecnicas tambem ao historiador. E evidente que deveria impor algumas outras, por exetnplo a pratica da explorayao do arquivo c de outros tipos de Fontes nao escritas. Mas seria nos enganar nao admitir qU(o 'u ma suficiente preparaC;ao metodol6gica e tecnica ocupa urn lugar funda mental no horizonte do futuro da tarefado historiador. 0 contra rio sigllifka nos condenarmos a fazer uma "rna" Hist6ria.
Capitulo 2
NASCIMENTO E 0 DESENVOLVIMENTC)
DA HISTORIOGRAFIA:
OS GRANDES PARADIGMAS
h (i(1 ncias hist6ricas estao incluidas sob 0 nome das ciencias morais (' sap
uma parte dl'i(/ ~ . JOHANN GUSTAV iJl(OY "IN
Histo rik I llrillvia, niio tern sido suficientemente estudada a hist6ria de nosslI (i.'1/1 \"
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1ft! "In\l n F(;I'. I'm /I'.
10.
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sido estudado, de preferencia, 0 aspecto extemo... mas niio 0 tI"",,, voivimento interno da pesquisa e da conceNiio IlisMl i. II ERNST BI'.I(NI II.lM
Lehrbuch der historischcn Mdl!lIdt'.. II
'I\\O;<~ advcrtimos, este nao e urn livro de Hist6ria da Historiogrcl fiil .
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parecc pouco plausivel que
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prop6~ito de estabcleccr lIllla tl.'lIIl,l
i i.,lul lol (' d.. historiografia possa ser levado a cabo sem uma considenl\,ul. ,,, ," llnt 111 ( ' hislc'lrica, dos desenvolvimentos previos do pcnsamcllto c da pl.lli • 11I \IIII IClgralica ate sc chegar a situayao atual. A historiografia, tal
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III"., Oil':' lIo;c, cOllstilui-sc at raves de urn processo cuja analise.: lIao podr ';,'1
I, kv.ldora para cxplicar tanto os avanc;os como as carcilcias de 11111,1 d l~o I 1,lil LI ,pit" 1'llIt;l('(itcr f(mnal, tern pouco menos de dois sc:cllios dt'l'xi:.l~ m ill I h il 10 U lll lllll' a tC'c;ria cleve ('star anllnpanlaada da iaist{lria quallto 0 l"OII IIoIlICl F~, lIlIill;l1' a laist{lI'iil do slIrgillwllto c (\tosC'lIvolviIlIC'lltO chi disc ipllll.1 111 .11
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123 I IlJC;1IES, J.I ,II (;/o,oITII til'/" iltl,.'~llg(/'Il I "
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