CANTO PARA INICIANTES
PROFª ROSIMEIRE RODRIGUES
PERCEPÇÃO MUSICAL
O cérebro divide-se em dois hemisférios: o esquerdo, que é responsável pelo raciocínio, pela percepção da linguagem musical, da teoria e do ritmo; e o direito, que é responsável pela criatividade e processa a percepção dos diferentes timbres, da altura das notas e das melodias. Um bom músico deve procurar desenvolver os dois lados do cérebro para atingir maturidade musical plena. Se,
por
acaso,
eu
mostrasse
uma
“caneta”
e
perguntasse: o que é isto? Você diria: é uma caneta! Parece óbvio, mas se eu tocasse no piano algumas notas e pedisse para identificá-las apenas auditivamente, seria tão óbvio assim? Na grande maioria dos casos não, mas por que isso acontece? Estamos acostumados a prestar mais atenção nas coisas que vemos do que nas coisas que ouvimos. Pesquisas mostram que nos lembramos de 50% do que vemos e apenas 10% do que ouvimos o que significa que o som é relegado a uma posição inferior à da visão, em termos de percepção. O som do acorde não é visível como a caneta, e não possui massa. Certamente, mesmo de olhos fechados, apalpando a caneta, poderíamos reconhecer o objeto. Para desequilibrar de vez o ranking das percepções, devemos acrescentar a perda da sensibilidade auditiva ocasionada pela excessiva exposição de nossos
ouvidos ao “ruído urbano”, que faz com que criemos
um filtro de ruídos, que aumenta ainda mais nossa dificuldade de perceber sons. Matéria-prima dos músicos é o som e, portanto, temos obrigação de reverter esse processo de dessensibilização reaprendendo a “ouvir”, reaproximando-nos dele para que possa reapresentar sempre a expressão real de nossa sensibilidade.
ESTÁGIOS DA PERCEPÇÃO Podemos dividir a habilidade de ouvir em quatro estágios. Existem indivíduos que não conseguem ouvir devido a problemas físicos (surdez), ou psicológicos (incapacidade de ouvir sons). Outros ouvem, mas não conseguem memorizar os sons e, consequentemente, apresentam dificuldades para cantar afinado. Há aqueles que ouvem, memorizam e reproduzem o que ouviram como se fossem gravadores. Por último, temos aqueles que ouvem, memorizam e reproduzem um som, além de conseguirem entendê-lo musicalmente. Esses estágios são individuais e a mesma pessoa pode apresentar estágios diferentes para conceitos musicais diferentes (por exemplo, ouvir e entender musicalmente todos os intervalos e não conseguir reconhecer o timbre de um instrumento musical).
ESTUDANDO E DESENVOLVENDO SUA PERCEPÇÃO Você consegue acompanhar uma música estalando os dedos na pulsação correta? Consegue cantar uma melodia afinada com o cantor? Lembra-se com facilidade de melodias? Diferencia todos os instrumentos de uma música? Se a maioria das respostas foi NÃO é bom você prestar atenção nas sugestões que apresentarei a seguir. Utilize seus instrumentos mais próximos: a voz, as mãos, os pés e o corpo em geral. Cantar ajuda a memória auditiva e bater os pés ou as mãos e estalar os dedos melhora sua precisão rítmica e a execução no tempo. Não dedique menos tempo de estudo à percepção do que à técnica vocal. Ouça muita música e tente tirar músicas ou solos, pois são ótimos exercícios também. Nenhum método de ensino musical é completo sem o estudo da percepção musical. Dirijo-me principalmente aos cantores, mas todos os princípios aqui apresentados podem ser utilizados por quaisquer instrumentistas ou apreciadores de música. A Musicalização infantil é fundamental, pois exige muito da percepção, em um momento no qual a criança assimila tudo com incrível facilidade, sendo de grande valia na idade adulta. Se você tem filhos ou crianças em casa, incentive-a a ouvir música e a acompanhalas com palmas ou o bater dos pés. Caso você se considere detentor de um ouvido ruim pra música, acalme-se, pois hoje, devido ao avanço da Pedagogia Musical, conseguimos resultados
impressionantes, basta ter FORÇA DE VONTADE e PERSISTÊNCIA!!!
A QUALIDADE DA VOZ A voz a serviço da música, utiliza o sopro e possibilita modular, enriquecer e sustentar as sonoridades vocais e torná-las mais expressivas. Nenhum instrumento é comparável a ela, sendo a única a ter o privilégio de poder unir o texto à melodia. Mas, só emociona dependendo da sensibilidade e da musicalidade do intérprete que, além das notas e palavras, necessita conceber em suas interpretações a melhor forma de sentir e expressar o que não está escrito. Para o cantor, a voz passa a desempenhar o papel de instrumento musical, onde ele desenvolve a atividade artística e intelectual a qual a inteligência participa, mas a primazia é dada à expressão e à emoção. A voz é, para quem canta, o seu Eu interior que de forma vibrante, libera pensamentos e sentimentos. É também verdade que o cantor expressará de modos diferentes esse canto interiorizado e sentido segundo sua concepção da obra a ser interpretada e das infinitas nuances da sua voz. Seu poder expressivo refletirá tanto seu temperamento como sua
personalidade. A voz e a personalidade estão estreitamente relacionadas e são inseparáveis já que traduzem o ser humano na sua totalidade. Entre o corpo e a voz existe uma íntima relação. É com eles que o cantor exterioriza sua afetividade e desempenha o papel intermediário entre o público e a obra musical. Mas, para isso é preciso que ele possua uma técnica precisa e impecável a fim de poder dominar as inúmeras dificuldades que vai encontrar.
OS PARÂMETROS
O cantor pode variar voluntariamente as qualidades integrantes da voz, seja ao mesmo tempo ou isoladamente. No canto estas qualidades dependem da duração, dai a necessidade de desenvolver uma tonicidade e agilidade muscular que respondam a este imperativo. Frequentemente, é através do controle auditivo que o cantor modifica a qualidade de sua voz. Mas é necessário, também que ele o faça por meio de uma técnica apropriada, utilizando movimentos precisos e pela percepção de certas sensações musculares que determinam essas coordenações, sendo elas funções destes diferentes parâmetros. A Altura, A
Intensidade, O Timbre, A Homogeneidade, A Afinação , O Vibrato .
A seguir falarei brevemente sobre cada um desses parâmetros, um estudo mais detalhado só será possível em um curso avançado. A princípio para o aluno que não toca nenhum instrumento farei uma associação para distinguir o som grave do agudo. Lembre-se: o som GRAVE é o GROSSO o som ÂGUDO é o FINO dois.
e o som MÉDIO é o existente entre os
PARÂMETROS ALTURA Quando nos referimos a ALTURA na música, estamos falando dos sons graves, médios e agudos, e não do volume. Se é falado: - Essa música está muito alta ou baixa. Estamos nos referindo a tonalidade em que ela se encontra. A estrutura óssea, o tamanho da nossa caixa torácica, o tamanho e forma da cabeça, o tamanho e a estrutura da faringe, o tamanho da boca, tudo isso exerce influência na hora da produção do som. Ahhh, agora você descobriu por que as pessoas produzem sons diferentes uma das outras, não é?!! Isso funciona também quando o artesão vai fabricar um instrumento, assim como a voz é o nosso instrumento e todos os elementos já citados interferem no som, assim também o comprimento e a espessura das cordas de um violão, violino, piano, etc. Assim também como sua caixa acústica.
INTENSIDADE Agora sim estamos falando de volume. A intensidade aumenta com a tonicidade e está associada à altura tonal, dependendo das vozes, varia de 80 a 120 decibéis. Quando é pedido um som mais intenso, quer dizer mais alto, com maior vigor. TIMBRE Podemos ouvir a definição para timbre como sendo o colorido da voz, ou mesmo o atributo especial de cada som. Como sem ver você consegue saber que instrumento alguém está tocando? Pelas suas características sonoras, não é? Por exemplo: conseguimos diferenciar um violão de um sax, pois seus timbres são diferentes, não é mesmo? E duas pessoas que cantam soprano, como você consegue distinguir quem é quem? É por que cada um possui um timbre diferente, uma característica própria que só ele ( o indivíduo ) possui. Mas o ser humano possui inteligência dada pelo Criador que, se treinado pode até imitar o timbre de alguém. Quando necessário um regente pode pedir
para os sopranos, por exemplo, “timbrarem” a voz, ou
seja, tentarem cantar o mais parecido possível. A HOMOGENEIDADE
Trata-se de entoar o som da maneira mais uniforme possível, sem oscilações. É preciso treino para evitar essas oscilações. Ouvir-se é muito importante para adquirir a homogeneidade. A AFINAÇÃO A afinação é o par da homogeneidade. Tecnicamente falando, trata-se da pressão e da tonicidade bem distribuídas nas cordas vocais. A afinação é regulada por movimentos extremamente delicados. Ouvir com “atenção”, o som musical, tentando percebê-lo da melhor forma possível, e tentar reproduzi-lo é o caminho para uma boa afinação. Somos como um instrumento, o músico quando vai afinar as cordas de um violão, estica a corda um pouquinho aqui, solta um pouquinho ali, até que ela esteja afinada, nós também somos assim, ouvir várias vezes o som no qual queremos reproduzir é uma das maneiras existentes.
O VIBRATO Ele tem um efeito estético evidente e um papel primordial, por que dá a voz uma riqueza expressiva, uma leveza e um poder emocional. Lógico se executado corretamente! Um vibrato bem feito é de uma delicadeza e suavidade extrema, as ondulações devem ser percebidas com sutilidade, se essas ondulações são percebidas grosseiramente, é um sinal claro de que não está sendo feito da maneira correta.
A CLASSIFICAÇÃO VOCAL Como essa apostila destina-se ao iniciante no canto, não colocarei todas as vozes existentes, somente o básico. Existem vozes naturais que podem ser rapidamente classificadas. Outras só podem ser classificadas após um longo período, pois apresenta maior complexidade. Os fatores predominantes para essa classificação são a tessitura e a extensão vocálica. E é exatamente o que uso para classificar uma voz.
A tessitura seria o conjunto de notas que o cantor pode emitir facilmente. A extensão vocal é a tonalidade que a voz pode realizar.
VOZES MASCULINAS TENOR
- VOZ ÂGUDA (fina)
BARÍTONO - VOZ INTERMEDIÁRIA BAIXO
- VOZ GRAVE (grossa)
VOZES FEMININAS SOPRANO
-
VOZ ÂGUDA (fina)
MEZZO
-
VOZ INTERMEDIÁRIA
CONTRALTO -
VOZ GRAVE (grossa)
Lembrando que há ainda 1ª Soprano, 2ª Contralto, etc. Dependendo da complexidade da música.
COMO LEMOS A MÚSICA
Você deve estar se perguntando - Mas como saber o que eu vou cantar? Isso após descobrir a que voz a sua pertence. A música é expressa através da partitura musical. Trata-se de um sistema de códigos e símbolos no qual o músico faz a leitura das notas com precisão, tocando, no caso, em uniformidade com outros instrumentos. Abaixo temos um exemplo de partitura musical.
As partituras são escritas na clave de SOL e FA. Na clave de SOL encontram-se as notas referentes ao SOPRANO e ao CONTRALTO. No segundo pentagrama escrito na clave de FA encontram-se as notas referentes ao TENOR e ao BAIXO. Lembrando que ainda temos as claves de DÓ na 1ª,2ª,3º e 4ª linhas e a de FA na 3ª e 4ª. As mencionadas no início são as usuais. Vejamos outro exemplo no qual o maestro separa as vozes em pentagramas.
No exemplo a seguir, temos somente as notas referentes ao SOPRANO, cabe ao maestro através das cifras separar as outras vozes.
No outro exemplo abaixo não nos é apresentado nenhuma nota, cabe ao maestro através da tonalidade e da sequência de cifras separar cada uma das vozes.
É imprescindível ao cantor saber ler uma partitura, pois assim estará cantando a música com a precisão necessária, entoando o som correto e com sua exata duração. A leitura da partitura musical será ensinada no próximo bloco de estudos.
TÉCNICA VOCAL
Todos podem cantar e cantar bem! A voz é um instrumento (musical) como outro qualquer e que utilizamos com frequência. Pense... Uma pessoa que quer aprender a tocar piano ou violão, pode nunca em sua vida ter tocado uma só nota em um desses instrumentos. Entretanto a voz, você faz uso dela desde que começou a pronunciar as primeiras palavras. O segredo está na vontade de aprender, na metodologia adotada, na habilidade de quem ensina e na dedicação do aluno.
Curiosidade... De todas as artes a música , quando expressa através do canto, é a que mais atua no interior da emoção humana e melhor se comunica com o hemisfério direito do nosso cérebro que é o responsável pela emoção, pelos sonhos, novas ideias, criações e responsável direto por nosso estado de alegria ou tristeza. Quem não utiliza seu hemisfério direito do cérebro não libera SEROTONINA e não é feliz. Durante grande parte de nossas vidas buscamos cultivar somente as aptidões do hemisfério esquerdo que é verbal, racional, pontual e com isto, a outra metade do nosso cérebro, hemisfério direito, não é desenvolvida ou desenvolve-se muito pouco ao longo da nossa existência.
ALGUNS EXERCÍCIOS
Exercícios para aquecimento e afinação são chamados de VOCALIZES.
Assim como antes de praticarmos qualquer esporte é necessário fazer um aquecimento, para que não haja danos na musculatura, assim também ocorre com a voz. É necessário sempre antes de cantar fazer um aquecimento. As pregas vocais, mais conhecidas como cordas vocais na verdade são músculos, e estão ligados a todo o nosso corpo, então para a produção do som é necessário que o ar dos pulmões passe pelas pregas vocais, fazendo com que elas vibrem. Essa vibração é o som. Então precisamos antes de fazer os vocalizes, relaxar a musculatura. Alongamento: - Com os ombros relaxados e braços soltos ao longo do corpo, deixar a cabeça pender para o lado direito, por 20 segundos e depois para o esquerdo por mais 20 segundos. - Circular os ombros com movimentos para frente e depois para trás. - Pressionar levemente a região do pescoço onde se encontram as cordas vocais e massagear levemente. Respiração:
- Inspirar profundamente depois soltando o ar suavemente por 3 vezes. Agora alguns exercícios básicos para aquecimento das cordas vocais. Escolha 4 das opções abaixo e repita umas 10 vezes. Emitir os sons : Rrrrrrrrr Ssssssssss Trrrraaaaa Tshiiii (sabe quando você joga um pedaço de carne em uma frigideira quente) Xiiiiiiiii ( som quando queremos que alguém faça silêncio) a boca fechada) bem a boca)
a-e-i-o-u ( tentar emitir o som com Lha-Lhe-Lhi-Lho-Lhu
(articulando
Falar essas palavras na sequência: BRADRAGRA,PLATLACA,MANANHA,PATAKA. boca)
Ziuuuuuuuuuu ( articulando bem a
Exercícios para a afinação da voz deverão ser feitos pelo professor utilizando seus conhecimentos e acompanhado de seu instrumento.
CONSIDERAÇÕES A arte do canto poderia ser resumida em saber usar a voz, ter uma afinação, um gosto musical e uma veia interpretativa. Vozes não trabalhadas nunca renderão como as que sofreram a interferência das técnicas de respiração, controle muscular, afinação e impostação. Lembre-se de que o aparelho fonador é um instrumento musical vivo, faz parte de nosso organismo e requer cuidados, pois é delicado e depende muito do estado geral da saúde física e emocional. É na voz que temos a drenagem de nossas emoções, demonstrando os mais íntimos desejos. Cuidar bem da saúde vocal é cuidar de nosso estado emocional, transmitindo as sensações fortes, dramáticas, singelas, puras e simples. Não se pode abusar da voz apenas por ter uma boa técnica vocal.
*Dicas do professor - Evitar gelado. O seu corpo possui certa temperatura, e ingerir líquidos “gelados”, ou seja, em temperatura mais baixa que a de seu corpo, pode causar choque térmico e danificar as pregas vocais. - A maça é um ótimo adstringente, ela limpa a saliva. - Uma alimentação saudável é valiosa. - Chá de gengibre é ótimo, mas sem excessos, pois o gengibre tem efeito anestésico. - Tomar bastante água. Precisamos muito da água pra manter nosso corpo hidratado. - Evite gritar ou falar muito alto. Sem exaltações. Respeite seus limites e bom estudo! Profª Rosimeire Rodrigues Orgão, Piano e Canto pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Musicalização Infantil – Conservatório Beethoven ARCI – Associação de Regentes de Coro Infantil Outras especializações – Conservatório Santa Cecília