Aos Jovens, por Piotr Kropotkin É aos jovens que quero falar hoje. Que os velhos — os velhos de coração e de esprito, !e" entendido — ponha" o livro de lado para não fati#are" inutil"ente seus olhos co" u"a leitura que nada lhes dir$. %...& '"a pri"eira questão, sei disso, se apresenta. () que eu "e tornarei*+ torna rei*+ ococ- se per#untou "uitas vees. /o" efeito, quando se 0 jove", co"preende1se que, ap2s ter estudado u"a profissão ou u"a /i-ncia durante v$rios anos — 3 custa da sociedade, o!serve !e" —, não 0 para faer dela u" instru"ento de e4ploração, e seria preciso ser !e" depravado, !e" carco"ido pelo vcio, para nunca ter sonhado, u" dia, aplicar sua inteli#-ncia, sua capacidade, seu sa!er, para ajudar a li!ertação daqueles que pulula" hoje na "is0ria e na i#nor5ncia. oc- 0 daqueles que sonhara", não 0 verdade* 6e", o que far$ para que seu sonho se torne u"a realidade* %...& 7ão sei e" que condiç8es voc- nasceu. nasceu . 9alve, 9alve, favorecido pela sorte, concluiu os estudos cientficos: ser$ "0dico, advo#ado, ho"e" de ;etras ou de /i-ncia: u" a"plo ca"po de ação a!re1se a sua frente: entrar$ na vida co" vastos conheci"entos, as aptid8es desenvolvidas: ou, então, ser$ u" honesto artesão, cujos conheci"entos cientficos li"ita"1se ao pouco que aprendeu na escola, "as que teve a vanta#e" de conhecer de perto o que 0 a vida de rude la!uta do tra!alhador de nossos dias. %...& e a /i-ncia a!strata 0 u" lu4o e a pr$tica da ?edicina u"a falsa apar-ncia: se a ;ei 0 u"a injustiça e a desco!erta t0cnica, u" instru"ento de e4ploração: se a escola, as voltas co" a sa!edoria do pr$tico, est$ certa de ser vencida: se a Arte, se" id0ia revolucion$ria, s2 pode de#enerar, o que "e resta, então, a faer* Pois !e", eu responderei@ — '" i"enso tra!alho, atraente no "ais elevado nvel, u" tra!alho no qual os atos estarão e" co"pleto acordo co" a consci-ncia, u" tra!alho capa de envolver as natureas "ais no!res, as "ais vi#orosas. %...& A resposta e f$cil. 6asta sair deste "eio do qual voc- se encontra e onde 0 usual dier que o povo nada "ais 0 senão u" "onte de i#naros: venha para este povo e a resposta sur#ir$ por si "es"a. er$s que e" todos os lu#ares, na
suas recla"aç8es por u"a destas canç8es cuja "elodia parte o coração, que os servos do s0culo C cantava", e que ainda os ca"poneses eslavos canta": ele tra!alha, co" a consci-ncia do que ele fe, e contra todos os o!st$culos, por sua li!ertação. >eu pensa"ento se e4ercita, a"iDde, e" adivinhar o que se deve faer a fi" de que a vida, ao inv0s de ser u"a "aldição para tr-s quartos da Eu"anidade, seja u"a felicidade para todos. Ble a!orda os pro!le"as "ais $rduos da >ociolo#ia e procura resolv-1los co" seu !o" senso, seu esprito de o!servação, sua rude e4peri-ncia. Para Par a se entender co" outros "iser$veis co"o ele, procura a#rupar1se, or#aniar1se. /onstitui1se e" sociedades sustentadas co" dificuldade por pequenas cotiaç8es: procura o entendi"ento atrav0s das fronteiras e, "elhor que os ret2ricos filantropos, prepara o dia e" que as #uerras entre os povos tornar1se1ão i"possveis. Para sa!er sa !er o que fae" seus ir"ãos, para "elhor conhec-1 los, para ela!orar as id0ias e para propa#$1las, ele sustenta — "as ao pre#o de "uitas privaç8es, de "uitos esforços= — sua su a i"prensa oper$ria. Bnfi", che#ada a hora, hor a, er#ue1se e, aver"elhando co" seu san#ue os paraleleppedos das !arricadas, lança1se na conquista destas li!erdades que, "ais tarde, os ricos e os poderosos sa!erão corro"per e" privil0#ios para volt$1los ainda contra ele. Que s0rie de esforços contnuos= Que luta incessante= Quanto tra!alho reco"eçado constante"ente, ora para preencher os vaios for"ados pelas deserç8es — e" conseqF-ncia da lassidão, da corrupção, das perse#uiç8es —, ora para reconstituir as fileiras a!ertas pela fuilaria e pela "etralhada: ora para reto"ar os estudos !rusca"ente interro"pidos pelo e4ter"nio e" "assa= >eus jornais são criados por ho"ens, que deve" ter rou!ado da sociedade parcelas de educação, privando1se de sono e ali"ento: a a#itação 0 sustentada por trocados retirados do "ni"o necess$rio, a"iDde pão seco: e tudo isto so! a apreensão contnua de ver, e" pouco te"po, a fa"lia reduida a "ais atro das "is0rias, tão lo#o o patrão perce!a que (seu oper$rio, seu escravo, tra!alha pelo socialis"o=+ Bis o que ver$, ao ca"inhar e" direção ao povo. B nesta luta se" fi", quantas vees o tra!alhador, sucu"!indo so! o peso dos o!st$culos, não se per#untou e" vão@ ()nde estão, pois, esses jovens, que estudara" 3 nossa custa* Bsses jovens que ali"enta"os e vesti"os enquanto eles estudava"* Para que", co" o dorso curvo so! o fardo, e o ventre vaio, constru"os essas casas, essas acade"ias, esses "useus* Para que, co" o rosto p$lido, i"pri"i"os esses !elos livros que não pode"os sequer ler* )nde estão esses professores, que die" possuir a /i-ncia hu"anit$ria e para que" a Eu"anidade não vale u"a esp0cie rara de la#artas* Bsses ho"ens, que fala" de li!erdade e nunca defende" a nossa, pisoteada todos os dias* Bsses escritores, esses poetas, esses pintores, todo esse !ando de hip2critas que, e" u"a palavra, co" l$#ri"as nos olhos, fala" do povo, e que nunca se encontrara" ao nosso lado para nos ajudar e" nossos tra!alhos*+ 'ns satisfae"1se e" sua covarde indiferença: outros, a "aioria, desprea" (a canalha+GHI e estão prontos a precipitar1se so!re ela, no caso de ela ousar tocar e" seus privil0#ios.
e ve e" quando che#a u" jove", que sonha co" ta"!ores e !arricadas e ve" procurar cenas de sensação, "as deserta a causa do povo tão lo#o perce!e que o ca"inho da !arricada 0 lon#o, que o tra!alho 0 penoso pen oso e que, neste ca"inho, as coroas de louro que ele conquistar estarão "isturadas a espinhos. /o" "aior freqF-ncia, são a"!iciosos insaciados, que, ap2s tere" fracassado e" suas pri"eiras tentativas, procura" captar os votos do povo, "as "ais tarde serão os pri"eiros a troar contra ele, assi" que este quiser aplicar os princpios que eles pr2prios professara": talve aponte" os canh8es contra a (vil "ultidão+, se ela ousar se "over antes que eles, os chefes, tenha" dado o sinal. Acrescente a estDpida injDria, o arro#ante despreo, a covarde calDnia por parte da "aioria, e ter$ tudo o que o povo a#ora rece!e por parte da juventude !ur#uesa, para ajud$1la e" sua evolução social. B depois disso ainda per#untar$@ () que faer*+, quando tudo est$ por ser feito= Quando todo u" e40rcito de jovens teria co"o aplicar toda a força de suas ener#ias, de suas inteli#-ncias, de seus talentos para ajudar o povo na i"ensa tarefa, que ele e"preendeu= oc-s, a"adores de /i-ncia pura, se fosse" tocados pelos princpios do socialis"o, se co"preendera" todo o alcance da revolução, que se anuncia, não o!serva" que toda a /i-ncia deve ser refeita para que seja colocada de acordo co" os novos princpios: que se trata de realiar neste do"nio u"a revolução cuja i"port5ncia deve ultrapassar de "uito aquela que se realiou nas /i-ncias no s0culo C* 7ão co"preende" que a Eistoria — hoje (f$!ula convencionada+, so!re a #randea dos reis, das #randes persona#ens e dos parla"entos — deve ser toda refor"ulada do ponto de vista popular, do ponto de vista do tra!alho realiado pelas "assas nas evoluç8es da Eu"anidade* Que a Bcono"ia social — hoje, consa#ração da e4ploração capitalista — deve ser toda ela!orada de novo, tanto e" seus princpios funda"entais quanto e" suas inu"er$veis aplicaç8es* Que a Antropolo#ia, a >ociolo#ia, a Ética deve" ser por inteiro re"anejadas e que as pr2prias /i-ncias 7aturais, encaradas so! u" novo ponto de vista, deve" sofrer u"a profunda "odificação quanto 3 "aneira de conce!er os fen"enos naturais e ao "0todo de e4posição* Pois !e", faça= /oloque sua inteli#-ncia a serviço de u"a !oa causa= >o!retudo, por0", venha nos ajudar co" sua l2#ica ri#orosa para co"!ater os preconceitos seculares, para ela!orar, pela sntese, as !ases de u"a or#aniação "elhor: so!retudo, ensine1nos a aplicar e" nossos raciocnios a ousadia da verdadeira investi#ação cientfica e, dando o e4e"plo, "ostre1nos co"o se sacrifica 3 vida pelo triunfo da verdade= oc-, "0dico, ao qual a dura e4peri-ncia fe co" que co"preendesse o socialis"o, não se canse de dier, hoje, a"anhã, e" cada dia e e" cada ocasião, que a Eu"anidade ca"inha para a de#eneresc-ncia, se continuar nas atuais condiç8es de e4ist-ncia e de tra!alho: que suas dro#as per"anecerão i"potentes contra as doenças, enquanto LLM da Eu"anidade ve#etar e" condiç8es a!soluta"ente contr$rias ao que a /i-ncia quer: que são as causas das doenças que deve" ser eli"inadas, e o que 0 preciso para eli"inar estas causas. enha co" seu escalpelo dissecar co" "ão fir"e esta sociedade e" via de deco"posição, dier1 nos o que u"a e4ist-ncia racional deveria e poderia ser e, co"o verdadeiro "0dico, repetir que nin#u0" deve se deter diante da supressão de u" "e"!ro #an#renado, quando ele pode infeccionar todo o or#anis"o.
oc- que tra!alhou nas aplicaç8es da /i-ncia na indDstria, venha nos contar co" franquea qual foi o resultado de suas desco!ertas: faça entrever aqueles que ainda não ousa" lançar1 se co" ousadia para o futuro, o que o sa!er j$ adquirido tra de novas invenç8es, e" seu !ojo, o que a indDstria poderia ser e" "elhores condiç8es, o que o ho"e" poderia produir, se produisse se"pre para au"entar sua su a produção. 9ra#a ao povo a ajuda de sua intuição, de seu esprito pr$tico e de seus talentos de or#aniação, ao inv0s de coloc$1los e" !enefcio dos e4ploradores. oc-s, poetas, pintores, escultores, "Dsicos, se co"preende" sua verdadeira "issão e os pr2prios interesses da Arte, venha", então, colocar sua caneta, seu pincel, p incel, seu !uril e" favor da revolução. /onte1nos e" seu estilo fi#urado ou e" seus quadros surpreendentes as lutas tit5nicas dos povos contra seus opressores: infla"e" os jovens coraç8es co" esse !elo sopro revolucion$rio, que inspirava nossos ancestrais: di#a 3 "ulher o que a atividade de seu "arido te" de !elo se ele d$ sua vida 3 #rande causa da e"ancipação social. ?ostre ao povo o que a vida atual te" de feio e faça1nos tocar nas causas desta feiDra: di#a1nos o que u"a vida racional teria sido, se ela não se chocasse a cada passo contra as in0pcias e as i#no"nias da orde" social atual. Bnfi", voc-s todos, que possue" conheci"entos, talentos, se t-" coração, venha", pois, voc-s e seus co"panheiros, coloc$1los a serviço daqueles que "ais precisa". B sai!a" que, se viere", não co"o senhores, "as co"o ca"aradas de luta: não para #overnar, "as para se inspirar e" u" novo "eio: "enos para ensinar do que para conce!er as aspiraç8es das "assas, adivinh$1las e for"ul$1las, e depois tra!alhar, se" descanso, continua"ente, co" todo o "peto da juventude, a fa-1los entrar na vida — sai!a que, então, "as s2 então, voc- viver$ u"a vida co"pleta, u"a vida racional. er$ que cada u" de seus esforços feitos neste sentido produ a"pla"ente seus frutos — e este senti"ento de acordo, esta!elecido entre seus atos e "anda"entos de sua consci-ncia, lhe dar$ forças que vocnão suspeitava e4istir e" voc- "es"o. A luta pela verdade, pela justiça, pela i#ualdade, no seio do povo — o que voc- encontrar$ de "ais !elo na vida* %...& É f$cil para "i" ser "ais !reve falando aos jovens do povo. A pr2pria força das coisas os leva a se tornar socialistas, por "enos cora#e" que tenha" para raciocinar e a#ir de acordo. ) socialis"o "oderno saiu das pr2prias profundeas do povo. >e al#uns pensadores, oriundos da !ur#uesia, !u r#uesia, viera" traer1lhe a sanção da /i-ncia e o apoio da
soldados, co"preenda" seus direitos e venha" conosco: venha" tra!alhar co" seus ir"ãos para preparar a revolução que, a!olindo toda escravidão, que!rando todas as correntes, ro"pendo co" as velhas tradiç8es e a!rindo a toda Eu"anidade novos horiontes, vir$ enfi" esta!elecer nas sociedades hu"anas a verdadeira #ualdade, a verdadeira ;i!erdade, o tra!alho para todos, e ta"!0" para todos o pleno #oo dos frutos de seu tra!alho, o pleno #oo de todas suas faculdades: a vida racional, hu"anit$ria e feli= Que não venha" nos dier que so"os u" pequeno punhado, "uito fraco para alcançar o o!jetivo #randioso que visa"os. 72s vencere"os, ainda que s0culos de luta nos espere". 1111111111111111111111111111111111111111111111111111111 GHI (/analha+, no sentido de proveniente das ca"adas "ais !ai4as do povo: da ral0, co"o os !ur#ueses a cha"a". %7.9.& %7.9.&