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Serie D"• ~E;:E \~jEditoraSepal
-Reflexao e Teologia Pastoral
Recomenda~6es
aos Jovens Te61ogos e Pastores
Helmut Thielicke
1
Recomenda~6es
aos Jovens Te61ogos e Pastores
Prtmeira Ed1~o - Dezembro / 1990 SETE EDITORA SEPAL Hehnut Thielicke Cr1a~o e Arte Oswaldo Pahio Jr. Produ~o GrM1ca C1daPaiao Tradu~o
Glauber Meyer Pinto Ribeiro Revisao de Texto Elisabeth Fernandes Ivone Brito Impressao Imprensa da Fe © Todos os direitos reservados por SETE
Caixa Postal 723 4 - 507 12 - Recife - PE EDITORA SEPAL Catxa Postal 30.548 - 0 1051 - Sao Pa u lo I SP 2
Sumario Prefacio .................. ................ .. 05 Capitulo 1- Uma Conversa Preliminar com 0 Leitor ............... . 09
Capitulo II - A Ansiedade do
Cristao Sobre a Teologla .............. 1 3
Capitulo III - Infeliz Experlencia
no Retorno de urn Jovem Te610go .. 17
Capitulo IV - A Adolescencia
Teo16g1ca .. ...... .......... .................... 21
Capitulo V - A Ofensa d a Vaidade
por Conceitos Teo16g1cos .............. 27
Capitulo VI - A Patologla do
Jovem Te610go .................. ............ 31
Capitulo VII - A Sabedorla do
Mundo como Alia da d a Fe ............ 37
3
Capitulo VIII - 0 Instinto dos
Filhos de Deus ....... .. ................... 43
Capitulo IX - Elevada e D1ficll
Arte da Dogmattca ........................ 47
Capitulo X - 0 Per1go do Belo ...... 53
Capitulo XI - Estudando Teologia
em Ora<;ao ........ ..... ..................... 57
Capitulo XII - Teolog1a Sagrada e
Teolog1a D1ab611ca ... .. ................... 61
Capitulo XIII - 0 Labor Teo16g1co
nas Grandes Alturas ... ...... .. ......... 65
4
PREFA.CIO
Aconteceu em Minas, pouco antes do que seria meu primeiro dia de aula no seminarto. Caminhavamos, minha amtga e eu, discutindo sobre a estrada de terra que se havia de fazer da vida. Eu havia onfessado minha decisao de estudar :-eologla, e eIa estava chorando (por que?): - "Quem val para 0 Sel1liruirto volta diferente..... FOi 0 meu primeiro encontro com a quilo que Helmut Thielicke chama de -instinto espiritual dos mhos de Deus". Este pequeno livro e a transcric;ao da aula introdut6ria de urn curso de !)ogmatica (a mesma disciplina que alguns de nossos seminarios chamam 5
de "Teologta Sistematica"). Thielicke, que nao d eve s er confundido com seu quase hom6ntmo Paul Tilich, ja influenciou muita gen te atraves de seus serm6es profundamente blbllcos e humanos, nas cidos de u rn m1n1s terio capaz de lotar u m a grande igreja na Alemanha secu larizada do p6s-guerra. 0 que a SETE e a EDITORA SEPAL colocam agora nas maos dos sem1nartstas, pastores, e lideres da Igreja b r asUeira, e urn texto que fala diretamente a realidade do estudante de Teologta. Seja nas grandes universidades alemas , produtoras de muito do pensar teol6gico deste seculo, seja no Brasil, onde es tu d ar Teologia, na maioria das vezes, nao e ingressar numa atividade academica, mas uma aventura de resul tados intelectuais e espirituais incertos, questionada de dentro e de fora, solitarla e mal-com preendida pelos irmaos da igreja, para a qual 0 seminarista rara m en te esta preparado. Nao se trata aqui simplesmente de repeUr as velhas palavras de cautela sob re 0 intelectualismo excessivo das aula s de s eminario. Alias, em muitas de n ossas ins tituic;6es de ensino teol6gico 0 6
problema e oposto: flca-se a ansiar por :.un pouco mats de conteudo intelectual. Estamos no Brasil, nao na Alemanha, e cada urn faz 0 que podell 0 autor faz urn ""1uestionamento muito mats profundo, do pr6prio relacionamento entre a fe que se apren de e a fe que se vive. Em sua m aneira simples de ver as coisas, esta a explica<;ao para m uitos dos problemas do seminarista e do pastor que Uem _ prega" seminaristas em sua igreJa. Acima de tudo, e urn livro que nao podiamos guardar para n6s mesmos. --m livro que acompanhara 0 leitor multo alem de seu curso teol6gico, por toda a sua vida ministerial. Palavras pastorats que podem aJuda-lo a voltar do semi ::lflrio multo Udiferente": intelectualmente e espiritualmente maduro ; urn lider fiel e eficaz para a IgreJa brasileira!
Rev. Glauber Meyer Pinto Ribeiro
SETE
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Capitulo I
Uma Conversa Preliminar com 0 Leitor (orlglnalmente com os alunos, na sala de aula)
Johann Tobias Beck, 0 velho pro fessor de Tublngen, linha 0 costume de, ·ez por outra, introduzlr dlgressoes em suas aulas, transformando asslm 0 estrado do professor em pUlpito. Na minha op1nHio, algo assim nao pode fazer mal a n6s , professores e alunos de hoje. Meu alvo aqul e uma dlscussao paralela deste ttpo. 0 leitor certamente compreendera, e sera tolerante, porque estes obiter dicta sao muito dlstlntos, em forma e conteudo, do estllo e assunto pr6prlos aos dlscursos teo16g1cos for mats. Tenha em mente que estas dlgres soes preclsam necessarlamente ser dl tas de manelra natural e esponUmea, 9
Reco me nd~ 6es
aos Jouens Te61ogos e Pastores
enquanto 0 discurso formal nao pode dlspensar os rigores do metodo, nem as s u as salvaguardas. Pensoque vez por outraeu preciso ver e ouvtr aqueles que assistem minhas aulas nao apenas com o alunos, mas como a lmas confiadas ao meu c uidado. E a alma do estudante de Teoiogia esta em grave perigo, perIgo que nao e apenas dos dias de hoJe, mas talvez especlalmente neles. Este e 0 tema do restante deste p equeno livro. Talvez atraves destas reflex6es 0 pastor no ministerio aUvo possa nao apenas reviver algumas lembran<;as Isto ele certamente fara! - mas possa tambern sentir-se desafiado em seu problema teol6gico concreto , da mesma forma que eu quls falar dos meus. Possivelmente tambem, fora d o alcance normal de urn professor de Teologia, 0 Irm ao na pratica do pastorado possa encontrar nestas notas uma expl1ca<;ao, ou uma aJ uda a compreensao da estra nha conduta de urn estudante de Teolo gia, ou de urn assis tente mals Jovem. Ele podera, assim, encarar estas paginas como u ma reportagem sobre 0 que esta 10
Um a Conversa Prellmtnar com 0 Lelto r
acontecendo hOJe em nossos cu rsos de Teologia. Mas talvez multa coisa se a pliqu e a sua vida tambem, penetrando n o recondito de seu escr1t6rio pastora l. Ja se tornou u rn lugar-comum , rantas vezes repetido por n6s m esmos, que a Teologia tern a ver com a vida. Sendo assim, nada mais n a tu ral que come<;:ar nossas aulas com uma m edi 'a<;:ao sobre 0 que acontece com a n oss a i da crista dentro de urn curso de Teolo gia , como esta vida caminha na estrada do estudo teol6gico - e nao apenas caminha, mas pode tambem se tornar mais rica, profunda e frutifera . Tenha a bondade d e encarar es te \ '[0 como urn pequeno exercicio espiri u al, qu e eu gostaria de usar como prefacio para 0 curso em si, e que ocu p a na Teologia u rn lugar semelhante ao da medlta<;:ao espiritual e da ora<;ao que 0 coloca bem no principio de suas es pecu a<;6es, em seu Pr61ogo.
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Capitulo /I
A Ansiedade do Cristiio Comurn
Sobre a Teologia
Se Rudolf Otto dtsse que 0 Sa e nao apenas fasctnante, mas -ambem assustador (numen tremen d um e numen fascinosum) , 0 mesmo erta ser dtto, com uma ponta de ~on1a, da Teologta: a muttos ela as ;~ado
~ sta.
o cristao comum, membro de .greja, 0 equtvalente espiritual daquele h ornem da rua", tern diversas raz6es ?ara temer a Teologla. Provavelmente :mo ha estudante de Teologla que nao enha stdo alertado por alguma alma piedosa contra a estranha ativldade de . atar a Biblia com ferramentas clentffi a s. contra a tentativa de resolver todos S "pontos obscuros", e contra entregar e despreparado nas maos daquele 13
Recamendw;:6es aos Jovens Te%gos e Pastores
monstro faminto que e 0 professor des crente. S6 preciso apelar a mem6ria do leHor. Mas 0 que ha na raiz destes avi sos, destas ansiedades, deste misterio que sempre nos assusta?
o cristao comum nem quer discu tir a validade ou nao de se abordar a Palavra de Deus com qualquer outro prop6sito alem da mais simples fe, sem qualquer muleta intelectual a sup orta la, sem qualquer orgulho na sabedoria deste mundo. Em outras palavras, por que qualquer aparato "alem d a fe" seria necessario para compreender a Biblia? Quanto mais cedo se levanta esta ques tao no seminario, mais facti achar tudo uma tolice, e mais facilmente 0 aluno orgulhoso se considerara parte do pequeno grupo esoterico dos ··iniciados". Ele pode ate pensar que os cristaos comuns naoconseguem entender certas coisas, como por exemplo as questocs hist6rico-criticas do estudo da Bibl1a, e que e inut1l tentar explica-Ias . Porem, se o te6logo nao consegue levar a serio as objec;6es levantadas pela lavadeira ou pelo operarl0 comum, e se ele pensa (embora dificilmente venha a dize-lo) que 0 proletariado espiritual nao tern 14
A Ansledade do CrLstdo Comum Sobre a Teologla
conscH~ncla
das questoes mats del1ca das , e nao deve se envolver com elas esta e a l1nguagem dos membros de clu bes esoterlcos - entao certamente ha algo de errado com a Teologla. Resumindo, se a congregac;ao comum (por assim dizer) desconf1a urn pouco da Teologla, nao e por pura In genuldade. E uma desconfianc;a apolada, sem duvida, por argumentos de principl0 e de experienc1a. E Ja que nos, como te6logos, estamos todos 1nteressados neste problema - pols, na medlda em que estamos decldldos a ser verdadeiros te6logos, nosso pensamento ocorre dentro d a comunidade do povo de Deus, pen samos por esta comunidade e em nome d esta comunidade: (como dlzer 1sto?) pensamos como pessoas que fazem parte esta comunidade - e porque esta comurudade esta muito certa em preo cupar-se com a nossa saude esplritual, eu gostarla de dlscutir brevemente este problema.
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Capitulo 11/
Infeliz Experiencia no Retorno de urn Jovern Te61ogo
Eu disse que as pessoas comuns d a igreja podem usar argumentos de ex periencia e de principio. Vejamos em pri metro lugar os argumentos de experien cia. Para impressiona-Io bern , preciso ser drastico no uso de urn evento que nao deve ser desconhecido de todos os leitores, e que alem disto, repete-se com triste monoton1a em muitas variar;oes, e que me fOi relatado por Wilhelm Busch, o competente pastor de mocidade em Essen, com 0 seu est1lo todo peculiar de humor iron1co. Imagine urn jovem vivo e ativo, querido por seus colegas na mocidade da Igreja. Ele encontrou Jesus CrIsto e quer dar testemunho. E ocasionalmente 17
Reco mend~6es
a os Jo ue ns Te ologos e Pastores
ja ate dirige estudos bibl1cos. Nao usa comentarios, mas tern 0 cuidado de consultar 0 material1mpresso que existe para estas ocasioes, e as vezes tira algumas duvidas com 0 pastor. No mais, ele pede a Deus que 0 ajude a entender tudo certo e 0 guarde de dizer bobagens. Tudo que vern de uma fe viva, e vivo ta mbem. E os joven s ficam satis feitos . Alem disto, 0 jovem lider esta entusiasmado com seus pIanos de es tudar Teologia, porque espera aprofun dar -se mais na Bibl1a e entender m uita coisa que agora the parece obscura. Ele esta feliz de poder entrar n u ma ocu pac;ao em que seu principal trabalho en volve aquilo que ele ama. Quem nao gostaria de viver segundo 0 desejo de seu corac;ao? Quando volta para casa ap6s 0 seu primeiro semestre de estudo, aos olhos de seus antlgos camaradas ele sofreu uma mudanc;a subita e horrivel. Se urn deles, 0 Jovem artesao, d irige urn estudo biblico tiplcamente lelgo, la esta ele com ar de enfado no rosto. Ap6s 0 f1m da reuniao, ele explica a seu amigo como uma [o[oqueira que quase nao 18
Infellz Experlencta no Retorno de urn Jovern Teologo
agiienta 0 peso das n ovidades - 0 que "as inves Uga<;oes m ats recentes" tern desco ber to n os campos da m itologia, len das e criUcas das formas. E mesmo antes que seu com panhetro possa recu perar-se d o susto, ja foi class1f1ca do s egundo a term inolo gia clerical aprendida nos corredores do seminario. Ele d iz a seu amigo leigo: "Sua s opinioes s ao Upicamen te p ieUs tas", ou "tipicamente ortodoxas", ou talvez, "metodistas·'. Ele the d 1z: "Voce pertence a escola de Osiander, que nao compreende ainda 0 ca rater forense da justlftca<;ao", e paternalisUcamente ex plica 0 significado destas estranhas palavras de erudi<;ao, que sao os efeitos colaterais questionaveis de seu estud o cientifico. Quando novamente ele esta em casa, ap6s seu terceiro semestre - neste interim, seu amigo n unca mais teve a ousadla de exibir sua exegese ingenua dlante de oUvidos tao s ablos - ele e convidado a dirigtr uma m edita¢o. Todo coral amador tern urn interesse natural em saber como u rn de seus me mbros , que satu para estudar em uma academ ia 19
ReClJmend~6es
aos Jovens Te6/ogos e Pastores
de muslca, val cantar em sua prlmelra volta a cldade natal. Muitas vezes, 0 desapontamento e Indescritivel: atras de uma Incrivel demonstrac;ao de care tas e gesticulac;ao frenetica, 0 jovem cantor produz sons muito mms deplo ravels do que quando estava em casa, cantando amadorlsticamente em uma socledade coral. Deixando esta ilustrac;ao de lado, lsto acontece tambem com 0 estudante de Teologla. Atras de uma extblc;ao impresslonante da terminologla exegetlca clentlfica, e cercado por uma aura de In1 clado, ele apresenta trlvial1dades terrivels e Infelizes, e a exuberante forc;a Interlor de urn jovem crlstao ativo e horrlvel mente esmagada por uma courac;a for mal de Idelas abstratas. Se havia alguma esperanc;a para a dlscussao ap6s 0 es tudo, aqul tambem ele desenvolve uma Incrivel hab1l1dade para introduzlr in jec;6es paraltzantes de Idelas em toda conversa viva, livre e Informal.
E compreensivel por que tao pou cas 19rejas sentem-se encorajadas por estas experienclas a valorlzar a Teologla como ela e ensinada nas universidades 1 20
Capitulo IV
A Adolescencia Teo16gica
Longe de mim querer s1mples mente acusar 0 estudante de Teologia ou caricatur.:l-Io, embora, por raz6es de clareza e concisao, eu tenha falado com urn certo grau de ironia amigavel. 0 problema que estamos abordando tern duas causas. Em prlmelro lugar, estamos 11 dando com 0 fen6rneno tao natural do cresc1mento. 0 pensarnento teol6g1co pode (e deve) tomar conta de alguem como verdadelra pa1xao. Mas dedlca<;ao apa1xonada slgnif1ca uma maneira de pensar e falar que quase sempre e emprestada dos arnblentes em que a pessoa tern se rnovtmentado. A Teologla l1da com a forma dada pela reflexao as experlenclas esplrituals ao longo dos seculos, e especialrnente 21
RecomendG.foes aos Jovens Teologos e Pastores
atraves das grandes figuras d a historia da igreja. Digamos que urn r apaz de vinte anos apren de sobre os problemas relacionados com a doutrtna da Trindade. Sobre estes problemas, ao longo dos seculos, amarga s batalhas se tr avaram, batalh as de vida e morte . A estes proble m a s, os grandes lideres da 19reja dedi cara m enorm e esforGo esplritual, e por tras dlsto tudo estao experienClas es pl rituals con cretas . Voce pode ver que 0 jovem teologo nao esta de maneira alguma a altura destas doutrlnas em seu proprio desenvolvimento espiritual, m esmo se for capaz de entender bern a loglca do sistema - ou seja, a casca daquilo que era n o inicl0 urn problema esplrltual, eo curso legitimo e logtco do desenvolv1mento vivo na historla d a doutrlna. Assim, fica claro por que e onde, em tais circunstanclas, as crises serias surgtrao. Existe urn hiato entre 0 cresci mento espiritual real do jovem te61ogo e aquilo que ele conhece intelectu almente sobre a possibilldade de cresci mento espiritual. Podemos dizer que ele esta vestido como uma crianGa d a ro<;a, com calGas grandes demais, dentro das quais ele devera crescer; da me sm a 22
A Adolescencia Teol6gica
forma que a pessoa que acaba de fazer sua Confirmac;iio 2 precisa ainda cres cer dentro das roupas do Catecismo 3 . Enquanto Isto. a roupa larga. solta ao redor de seu corpo. nao e urn espetaculo bOnito de se ver.
o jovem aIuno esta provavelmente multo longe de suspeitar. espiritu aImente. e de conhecer na prattca . como cristao que ora. que apesar de toda a nossa rebel1ao contra Deus. podemos atnda vtver confia ntes s ob 0 seu perdao. em l1berda de. Mas intelectualmen te. ele ja com ec;;a a pensar atra ves da dialetica de lei e evangelho. e do paradoxo de Lutero (simuljustus et peccator ) sob o qual 0 h omem e ao mesmo tempo Jus to e peca dor. Dialetica e paradox~s sao a maneira como a igreja. desejosa de cumprir a lei de Deus. consegue s u perar as m ais incriveis tensoes. Sao 0 resu l tado de enormes e repetldas frustrac;oes. profundissima ansiedade e m aravllho sos momentos de consolo . o mesmo homem que esta em condlc;oes d e repetir uma palestra sobre Lutero. ou ate de faze-Ia sozinho . prova velmente conhece nada ou quase. n ada 23
Recomend~iles
aos Jovens Te61ogos e Pastor es
destas coisas, e nem pode conhecer. Em seu livro sobre Goethe, Gundolf fala, refertndo-se a casos como este, de ex periencia meramente conceitual. Alguma verdade nao fOi "assimilada" como ex periencia de primeira mao, mas foi substttuida pela "percep<;ao" daquilo que outra pessoa (Lutero, por exemplo) des cobriu por experiencia pr6pria. It assim que se vive por empresUmo.
•
Mas , como uma percep<;ao assim, da religiosidade ou espiritualidade de outrem , pode ser extremamente viva e ate apaixonada, e facil cair em auto sugestao. como se a pr6pria pessoa Uvesse vivido e experimentado tudo aquilo . Ele cai numa ldentifica~ao ilegitima com outra pessoa. It possivel ser enfeiti<;ado ~ntelectualmente pelos poderosos pensamentos do jovem Lute ro e cair, entao, na ilusao de que aquilo que e intelectualmente apreendido, e provoca uma impressao tao forte. e fe genuina. Na realidade. e apenas urn defeito de percep<;ao, uma s edu<;ao da experiencia con ceitual. Em sua pr6p ria vida. em sua pr6pria fe. a q uele jovem ainda nao foi tao longer Te610gos jovens costumam exibtr alguns efeitos intelec 24
A Adolescencia Teologlca
tua1s exagerados que. na real1dade. nao valem coisa alguma. Falando nguradamente. 0 estudo de Teologla frequentemente produz crl anc;as crescldas cujos 6rgaos internos nao se desenvolvem tanto quanta 0 exte rlor. Isto e caracteristlco da adolescencla. Existe realmente uma especle de puber dade teol6g1ca. Todo professor sabe que isto e apenas sinal do cresclmento natu ral. e nao deve dar motivo para preocu pac;ao. As 19rejas tambem preclsam entender. e preclsam que alguem lhes expl1que esta situaC;ao de todas as maneiras possivels.
It urn erro colocar alguem que acaba de entrar neste estagio a frente da 19reja para ensinar. Ele ja passou da fase de Inocencla em que no trabalho com a mocldade. poderla ter feito 0 seu papel. Ele a1nda nao atingiu aquela maturl dade em que sera capaz de absorver em sua pr6prla vIda e reproduzlr na vital1 dade de sua fe pessoal as colsas que Imaglna intelectualmente. e que the sao acessivels pela reOexao . Precisamos ter paciencla e esperar. Por estas razoes. eu nao permlto sermoes de jovens te6logos 25
Reco mend~6es
aos Jovens Te61ogos e Pastores
d o pr1me1ro semestre, que acabaram de ser embrulhados em suas togas, como em fraldas.E prec1so saber flcar calado. No periodo em que a voz esta mudando, nao se canta, e neste periodo formativo na vida do estudante de Teolog1a, ele nao prega tambem.
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Capitulo V
A Ofensa da Vaidade
por Conceitos Teo16gicos
Muitos de n6s Ja observamos tn cldentes em dlscuss6es de estudantes de eologla que ilustram 0 que aca barnos de dlzer. Nao Importa sobre qual escola, especlficamente, estamos pen sando: Gotttngen, Heildelberg, Erlangen, Tublngen, Hamburg... Por exemplo, urn Jovem estudante de Medlctna tern uma pergunta para fazer no perfodo de dls cuss6es ap6s 0 estudo bfbl1co, e esta ansloso por lsto. Sob a pressao de colo car sua dUvida em palavras, sua pul sa~ao come~a subir. Mas ftnalmente ele consegue controlar seu nervoslsmo, fi car de pe e comunicar sua duvida, com uma ou duas obje~6es crfticas. Neste momento, voce deverla ver os jovens te610gos "proftsslonals" senttndo-se desafiados. Lan~as em rlste, 27
Recomend~6es
aos Jouens Teologos e Pastores
e a pleno galope, com seus labios aper tados, mal repr1mlndo urn uivo de tri unfo, eles se lan<;am sobre 0 colega. Entao, os termos tecnicos voam de todas as d1re<;6es em volta dos ouvidos igno rantes do pobre J~igo . Entao irrompem sobre ele palavras como "trad1<;ao sinotica", "principio hermeneutico", "es catologia realizada", "encurtamento profetico da perspectiva temporal", "aqui e agora", "para sempre e sempre", "uso legit1mO e llegitiP1o", "pressupostos" e "em d1re<;ao ao flm almcjado", de tal forma que ele foge apavorado, prote gendo 0 rosto com uma mao enquanto agita a bandeira branca com a outra. E imed1atamente eles sup6em que este arm1sticio provocado pela falta de me10s de defesa e uma vHor1a, e que acabam de convencer seu colega. Mas na verdade, ao inves de conquista-Io, eles s1mplesmente apl1caram uma espec1e de tratamento de choque (que nao e "tratamento" de maneira nenhuma!). Eles sufocaram a pr1me1ra pequenina chama de uma vida espiritual, e destruiram uma pr1me1ra e tim1da aproximaGao com o exttntor de tncendio de sua erudiGao. It perfettamcnte possivel estrangular e 28
A OJensa da VaJdade por Conceitos Teol6g1cos
sufocar alguem desta forma!
o estudante de Medicina estava realmente interessado. Quem tern in teresse genuino, reage com sensibili dade fora do comum. E seu instinto 0 leva a dizer, com razao: "Embora minha vida e meu destine estivessem em jogo, estas pessoas cairam em cima de mlm com sua prattca habitual (rotina). Nao 'Vi neles sinal algum de vida ou de verdades aprendidas por experiencia pr6pria. s6 encontrei corpos de ideias mortas. Pre firo ir aos me us colegas pagaos, eles sao menos duros. Sim, eles nao tern multo a me dizer, eo pouco que tern esta prova velmente errado, mas pelo menos e autentico. Estava procurando urn cris tao em quem pudesse ver uma chama. Encontrel apenas alguns trapos quelma dos. Talvez ainda haja urn pouco de calor escondido. mas tenho pouca pratica. e nunca serei capaz de encontrar este fogo escondido." Eu sei, meus caros alunos, que machuca quando falo desta forma brusca, e provavelmente exagerada. Mas eu precisava mostrar a voces de forma dramatica como e serio este meu con 29
Recomend~6es
aos Jovens Te%gos e Pastores
selho que, acima de tudo voces sejam discretos com seus conceitos teo16gicos. Certamente e algo para pensarmos, 0 fato que as reuni6es rel1giosas sao fre quentemente multo mats livres e vivas nas universldades que nao possuem faculdades de Teologia 4. Voces me co nhecem multo bern, e sabem que nao estou questionando 0 valor do estudo teo16g1co em universidades - estou bern convencido deste valor - mas estou apenas tratando do problema da "pu berdade teo16gica".
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CAPiTULO VI
A Patologia do Jovem Teologo
Embora por urn lado esteJamos lidando aqui basicamente com a coisa mais normal do mundo. sobre a qual nao ha motivo para nos preocuparmos demais. olhando par outro angulo. e bern possivel que as cenas descritas ha pouco. na volta ao lar do Jovem es tudante de Teologia. mostrem alguns slntomas de uma verdadeira doen<;a. It possivel- e os leigos conseguem percer b er isto multo bern - que a Teologia desperte a vaidade do Jovem te6logo. fazendo n ascer nele uma especie de orgulho agn6stico. 0 principal motivo disto e que em n6s. seres humanos. raramente a verdade e 0 amor andam juntos. Tambem podemos dlzer exa tamente por que . A verdade mui facil 31
ReClJmenda~oes
aos Jovens Te6/ogos e Pastores
mente nos seduz a uma especie de ale gria de posse: eu consegui entender isto e aquilo, aprendi, compreendi. Saber e poder. Por isto, eu sou melhor que aquela outra pessoa, que nao sabe isto nem aquilo. Tenho maiores possibilidades e tambem maiores tentac;6es. Qualquer pessoa que lida com a verdade - como os te610gos certamente fazem - sucumbe facilmente a psicologla do possuldor. Mas 0 amor e exatamente 0 oposto da vontade de possuir. 0 amor e altruista; nao se vangloria, antes humilha a si mesmo. Veja, e quase demoniaco que mesmo no caso do te6logo, a alegria de possuir pode matar 0 amor. E demoniaco porque a verdade da Teologia envolve exatamente 0 amor de Deus, sua vinda ao mundo, sua busca e seu cUidado pelas almas. Assim 0 te610go, e espe cialmente 0 te610go jovem, entra num terrivel conflito interior. Ele esta es tudando Cristologia, que significa que esta lidando com 0 Salvador dos peca dores, 0 Irmao dos perdidos. Relacionado com isto ele aprende, por exemplo, 0 credo de Calced6nia e a hist6ria da composic;ao dos Sin6ticos. E, possuindo 32
A Patologla do Jovem Te61ogo
esta verdade, despreza - claro, da manel ra mats sublime - as pessoas que, como simples crlstaos, oram a este Salvador dos pecadores e confiam em cada urn dos seus (lendarios, talvez?) mllagres. No distanciamento reflexivo, 0 te6 logo sente-se superior aqueles que, em seu relaclonamento pessoal com Cristo, Ignoram completamente os problemas relaclonados ao Jesus hist6rIco, ou a demitologlzac;ao, ou a objetiv1dade da salvac;ao. Este desdem e uma verdadelra espirituaI. Ele resIde exatamente no conf1lto entre verdade e amoT. Este conflito, exatamente, e a doen~a dos te61ogos. Como as doenc;as infantis, ela e as vezes especialmente severa. Ate mesmo pastores ordenados podem pegar esta doenc;a, que nao se torna menos mal1gna com a Idade. doen~a
Alguns anos atras, urn seminartsta de Tubingen entrou numa discussao sobre Bultmann com seu senhorl0, urn digno e respeltavel pleUsta da Suabla. (Com sua compreenslvel preocupac;ao com a reputac;ao de Bultmann, 0 pletista 33
Reoomend~Oes
aos Jovens Te61ogos e Pas/ores
via nele a pr6pr1a encarnaC;ao do mal). Agora, acontece que a estudante era urn daqueles chamados bultmar1ano - na verdade, urn Upo com quem este mestre ter1a tanto direito de se desgostar quanto Karl Barth e RUsch!, com os seus bar Uanos e ritschl1anos. Nao f01 por alguma efervescenc1a de zelo que 0 estudante defendeu tao ardorosamente seu 1ncom preend1do mestre. Ao 1nves d1sto, havia urn senUmento farisaico de tr1unfo quando ele enfiou nas maos daquele homem, que nao sabia nada de grego, a Teologia do Novo Tes t amento escrita pelo Professor de Marburg, toda subl1 nhada em azul e vermelho. Seu proposlto tnquestionavelmen te era 0 de esmagar aquele homem, extbtndo uma erudiC;ao que ele nunca poderia alcan<;ar, reduzindo-o, ass1m, a urn senUmento de incapacidade. A combtnaC;ao da impotencia tntelectual do senhorio pieUsta mais 0 nervosismo provocado pelas heresIas, que s6 podIa aumentar vendo-as destacadas em ver melho e azul, provocou, sem duvIda, uma alegrla maldosa no estudante - e Irrltou 0 pleUsta. 34
A Patologla do Jovem Teologo
Ninguem dlra que 0 dubio prazer daquele estudante tern algu ma rela<;ao com 0 verdadeiro amor cristao ao proximo, nem mesmo n uma forma extrem amente demitologizada. 0 objetivo de sua ati tude nao era dar a o outro alguma intro du<;ao sobre 0 que os teologos tern pas sado, ou conduzi-lo mansamente a u rn nivel superior de conhecimento, m as faze-Io sentir-se incapaz - a este homem que, em virtude de sua educa<;ao ante rior , nao p oderia aproveitar 0 livro que fOi colocado diante dele - sufocando assim suas obje<;6es, bern simples, talvez, sobre o estudo historico-critico da Biblia, soter rando-o debaixo de uma pesada massa de argumentos . Assim , a verdade e usada como meio·para 0 triunfo pessoal e, ao mesmo tempo, meio d e marte , 0 que esta no maiar contraste possivel com 0 amor. Desta maneira s urge, dentro de alguns anos, aquela especie de pastor que age nao para instrulr, mas para destrllir sua igreja. E se os anciaos, a igreja e os jovens come<;am a gerner, se eles protes tam as autoridades eclesiasticas, e fi nalmente deixam de freqiientar os cuI tos, este homem ainda e farise u ao ponto 35
Recomend~6es
aos Jovens Te6/ogos e Pastores
de nao dar a minima atenC;ao. Ao contra.rl0, ele contempla trlun fantemente os bancos vazlos e fala con slgo mesmo: "Regala-te, 6 alma, pols pela tua verdade produz1ste urn escandalo de verdade, e podes agora ter-te por JusUflcada." Ou ate mesmo: "Grac;as de dou, 6 Deus, porque nao sou urn lnven tor de nOvidades ou soluc;6es facels, como aqueles pastores cujas 19rejas toda a cldade quer freqiientar. Estes bancos vazlos testificam a meu favor." Os lrmaos que, com fidel1dade lnabalavel ao pastorado, estao dla a dla se gastando com muito pouco resultado, devem perdoar-me este ultimo exemplo. Nao quls ofende-lo, pols estes sao ho mens de outra esttrpe. Asslm como as crlanc;as de petto podem dar louvor a Deus, 19rejas vazlas podem testemu nhar sobre fidel1dade do ministro, mas de forma muito diferente destes colegas, com sua dlaletlca vergonhosa.
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Capitulo VII
A Sabedoria do Mundo como Aliada da Fe
Mas existe ainda urn outro angulo, no qual deve-se levar a serio as obje<;oes que 0 cristao comum faz a Teologia. Alem das questoes de experH~ncIa, ja men cionadas, ha tambem umacertadescon fian<;a baseada em principios. Esta e a argumenta<;ao caracteristlca. Por que, alem da fe, deveria ser necessarI0 algum Upo de conhecImento adicional, que a sustente? Nao e ar rogancia demals pensar que s6 atraves de analise critlca da Bibl1a podem ser es tabelecidos fundamentos firmes para a fe? Isto nao seria fazer da sabedoria do m undo juiza da Palavra de Deus? Claro, dita asslm, esta obje<;ao a Teologta parece urn tanto Ingenua. Mas Isto nao deveria nos Impedlr de descobrir nela urn 37
Recome~6es
aos Jovens Te6/ogos e Pastores
problema real, que d everla deixar nossa auto-critica de pronUdao. Se perguntarmos por que e ne cessarl0 urn suporte clentifico para a fe, podemos estar completamente fora de perspectiva em rela<;ao ao trabalho teo 16glco. Normalmente, 0 te610go nao tern desejo nenhum de destrulr a fe com sua Teologla. Mas estamos tentando desco bru 0 que ha por tras desta critica feita por p essoas pledosas. Eles estao defendendo nada menos que os principlos reform ados de "somen te a fe" e "somente as escrituras". Eles suspeitam da Teologla porque pensam que esta deseja dllulr a ousada aventura da fe com a aJuda do conhecimento. Eles sentem que 0 principlo de "somente as Escrituras" e enfraquecldo porque crite rlos humanos como intel1glb1l1dade e analise raclonal sao apl1cados, e a sa bedorla do mundo torna-se 0 criterl0 dom inante no estudo das Sagradas Escrituras. Pode haver a qui algumas lembran<;as da forma da Teologla tiu m1n1sta, que esta pratlcamente superada. mas cUJas tendenclas a buscar 0 mel0 termo entre fe e razao ainda afetam as 38
A Sabedorta do Mundo como Allada da Fe
pessoas simples ate a terceira e quarta gera<;ao, e alem. Por outro lado, qualquer iniciado sabe que estas duvidas nunca chegam a ser respondidas de forma completa. Precisamos apresenta-las com firmeza e decisao a diversas figuras atuais da Teologia. Por exemplo, certos principios de interpreta¢o que sao moda no campo da Teologia do Novo Testamento hOje parecern claramente merecer este es tigma de sabedoria mundana. Mais ainda, quando prestamos aten<;ao a estas obje<;oes feltas de forma tao ingenua - que 0 ultimo fundamento da fe sera dissolvido pela analise atraves da alta critica, de forma que sera ne cessario definlr dentro da Palavra de Deus 0 que pode ser crido, 0 que e hist6ria verdadelra, qual a essencia d o evangelho (Kerigma) - nao conseguimos talvez ouvir nestas obje<;oes aquilo que Martin Kahler dlsse de forma tao convin cente, com argumentac;ao multo m elhor e mais b ern fundamentada, contra 0 que ele chama de metodo da subtra¢o critlca. Em seu conhecldo livro Der sogenannte historische Jesus und der geschicht 39
Recome~oes
aos JOl!ens Te6/ogos e Pastores
Uche biblische Cristus ("0 Jesus HIst6rico e 0 Cristo Bibl1co da Hist6ria"), Kahler chamou atenc;ao para dois Hens:
Em prlmetro lugar, a fe s6 faz sentido como fe incondicional, porque envolve nosso destino eterno. Nao e possivel que isto dependa e seja condi cionado pelos resultados instaveis da pesquisa hIst6rIca, ou pela opiniao cientifica que esteja em moda. Em segundo lugar, Kahler mostrou -nos que a pessoa de Jesus CrIsto nao pode ser separada de seu Impacto, ou seja, da pregaC;ao movtda pelo Espirito e es tabelecida na tgreja. Perde-se 0 prop6stto fundamental dos relatos dos Evange lhos se eles sao encarados nao como testemunho de fe, mas apenas registros de Interesse hist6rico e bIogrrulco. Da mesma forma como todo metodo de pesqulsa e determinado pela coisa pesquisada, precisamos levar a serio 0 fato que 0 "assunto" da Teologla, Jesus Cristo, s6 pode ser entendldo cor retamente se estivermos preparados para encontra-Io no plano em que Ele atua, ou seja, na igreja crIsta. 56 0 Fllho conhece 0 Pat; s6 0 servo conhece 0 seu 40
A Sabedor1a do Mundo como AlLada da Fe
Senhor. Deixando de lade os pontos que devem ser criticados na obra de Kahler, ele disse de maneira muito convincente que a reconstruc;ao hist6rlca isolada da fe nao pode se constitulr em base para a fe e, portanto, nao pode de maneira alguma haver tal coisa como cooperac;ao da ciencia como suporte ou substituto para a fe , mas cada esforc;o da Teologia esta envolto no pr6prio ate da fe.
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Capitulo VIII
o
Instinto dos Filbos de Deus
Em outras palavras, a Teologia Jamals podera servir de "prova" para a prega<;ao, mas tern fun<;ao paralela a da prega<;ao; a Teologia tambem e uma forma de testemunho, embora com outros metodos e meios. Asslm, 0 seu carater cientifico, sua rela<;;ao correta com 0 assunto, sua obJetividade no sentido pleno da palavra, expressa-se somente quando ela se considera urn testemunho que atua atraves da reflexao . E este carater clentifico nao vern da ambi<;;ao no sentido de incluir no estudo teol6gico alguns capitulos cheios de erudi<;;ao "independente da fe". Pelo menos, e assim com a Teologia Dogmatica. (Mas, de monstrar isto de forma detalhada e tarefa para as aulas de dogmatica.) Gostaria de acrescentar que a 43
Recome~6es
aos Jooens Te%gos e Pastores
igreja tern a priori todo 0 direito de nos questionar, mesmo quando ela nao pode ou nao consegue compreender os de talhes de nosso trabaIho; pOis estamos realizando a obra da Teologia no meio da igreja, tao certo como somos membros desta igreja. Portanto, este questio namento, mesmo quando denota urn envolvimento incom pleto com algumas de nossas ideias teol6g1cas, pode ser altamente relevante, e e urn fogo pelo qual precisamos estar constantemente passando. Na essencia, estas perguntas sempre tern em mente a vida crista por tras de nossas reflexoes teol6gicas . Sao, portanto, questionamentos acerca da sande de nossa fe. A igreja e 0 nosso pastor. Isto lmplica em que estas pergun tas devem ser sempre levadas a serio, e nunca liquidadas com base em questoes de detalhes. Por exemplo, eu mesmo ja recebi pilhas de cartas com duvidas sobre "demitolog1zaC;ao". Em parte, elas sao caracterizadas par uma tr1ste 19 noranc1a da verdade1ra natureza do problema, e, freqiientemente, par uma demonstrac;ao daquele orgulho que ge ralmente aparece (mesmo entre cr1s 44
taos) junto com a ignorancia. Mas, ape sar de tudo isto, elas trazem urn sinal daquilo que eu gosto de chamar de ins tinto espiritual dos filbos de Deus. Eu sempre tive consciencia de que este instinto nao e para ser desprezado e que, d1ante dele, mio posso fugir de minha responsabilidade. Gostaria que voces colocassem este instinto junto a todo 0 conhecimento de natureza teo l6g1ca que consegutrem obter neste curso, e que mantivessem urn diaIogo vivo teol6g1co mesmo - com todos os filhos de Deus. Oculta<;ao esoter1ca de conheci mento com base na perfida argumen ta<;ao de que "nao posso esperar que 0 pavo esteja a altura disto" pode ate mesmo levar aquela ofensa contra os peque ninos, sobre a qual Jesus cr10u a for midavelimagem da pedra de moinho.
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Capitulo IX
A Elevada e DUtcH
Arte da Dogmatica
A Teologia. porem. ll<10 e apenas aquela eoisa assustadora que pareee ser para a eomunidade dos erentes. mas e tambem urn obJeto de faseinac;ao. Urn te6logo bern eonheeido disse eerta vez que a DogmMiea e uma arte difieil e elevada. Isto e verdade. primeiramente por causa de seu proposito. Ela reflete sobre as liltimas eOisas; ela indaga a verdade sobre nosso destino temporal e eterno. E esta pergunta forma urn areo que une a manha da eriac;ao do mundo e 0 anoiteeer do mundo do juizo final; atinge desde 0 mais simples. a orac;ao pelo pao nosso de eada dia. ao mais grandioso. a orac;ao pela vinda do Reino. Mas a DogmMiea e uma parte difieU e elevada por causa de seu as 47
Recomenda,.6es aos Jovens Te6logos e Pastores
sunto tambem. Ela pressupoe 0 estudo cientifico e religioso dos textos bfblicos. avalia 0 pensamento da igreja por mais de dois mil anos. entra em diaIogo com a filosofia e a arte. observa os problemas modernos. e pesquisa 0 homem. quem e este ser com quem ela precisa lidar. e em que abismo ele vive. Nada que e humano e es tranho a ela. se everdadeira Teologia DogmMica e nao mera recitac;ao de tex tos reformados e ortodoxos. A Dogmatica viva nunca permite que os seus proble mas sejam auto-gerados. como por nascimento virginal. mas esta sendo constantemente fecundada. atingindo seu impulso produtivo grac;as aos proble mas de seu tempo. A Dogmatica existe num estado de tensao viva.
Alem disto, a Dogmatica e uma disciplina sistematica. ou seja, procura lidar com a totalidade da revelac;ao. e classiflcar os detalhcs segundo seu lugar no todo. It. portanto. por assim dizer. completamente anti-sectaria. pOis a caracteristica marcante do sectarismo e da heresia, e separar urn membra do corpo de ensino e absolutiza-lo, defor mando todo 0 corpo. numa elefantiase que acaba por destrui-lo. 48
A Elellru::ta e Dificll Arte eta Dogmatlca
Grac;as a este prop6s ito sis tematico, a Dogmatica possui algo como u ma forma arquitet6n1ca. Ela cria urn edificio de estrutura convtncente, qu e revela u m a certa 16gica na construc;ao, e possui urn grande fascinlo estetico, m esm o para quem tern multo pou ca a tr ac;ao pelos obJetos da cultura . Para mim, s 6 uma pessoa muito limita da n ao seria atingida por uma alegria estetlca ao contemplar a estrutura da Dogmatica de S chleiermacher, com s uas linhas de llgac;ao em extensao e profundidade, com suas proporc;6es e s1metrias. Mas , agora que estou d e certa forma louvando a Dogmatica, falando de s u a fasctnac;ao estetica e quas e cor re ndo 0 risco de me entuslasmar, nova men te aparece uma questao qu e e deci siva p ara nossa vida espiritual. Pois este fascin10 mesmo traz -nos novamen te, de outra direc;ao, 0 problema que eu defin1 anteriormente com os termos "ex perien cia de primeira mao" e "experiencia conceitual" . Q uando somos vencidos pela beleza de uma ideia teo16gica - digamos , a ideia d e "ju izo salvador" (servu m arbi 49
Reco mendCI\=Oes aos Jovens Te%gos e Pastores
trium), de Lu tero, ou
ensin o d e Kier kergaard sobre 0 paradoxo e a comu nhao indireta - e m u1to facti nos esquecer mos de que estamos sendo sedu zidos pela mera forma da fe que n os chega atraves da reflexao. A p rontidao com q ue aceitamos esta reflexao, e deixamos que eia n os domine , e m esmo entendendo-a e sendo aben<;oados por eIa, nao signi fica que estejamos sendo conduzidos peia verdadeira fe . 0
It possivel fic ar enfeiti<;ado pelo clima do pensamento cristao primitivo, digamos, pelas compridas somb ras que o sol poen te do jUizo final d o mundo projeta sobre a palsagem . Asslm, e possivel alguem se tornar urn escatolo gista romantico e urn neu r6 Uco apo caliptico. Ha casos concretos disto, meus caros alun os, embora a prudencla me aconselhe a nao cHar nomes agora. Apesar de tudo, esta pes soa nao com preendeu atnda nem u rn centavo do que significa viver no campo de batalha de Deus, en tre a primeira e a segunda vin da d o Senhor, esperando e Granda como cristao. Os alunos mats talentosos , visio 50
A Elevada e DiflcU Arte da Dogmatica
n arios e entusiasmados das clas ses ele mentares d e Dogmatica sao os que facil mente absorvem esta m a gica do pensa mento que carece de qualquer verdadeiro p eso de fe. Por isto as discuss 6es dos alunos de Teologia freqftentemente pare cern estranhas para 0 ouvinte mats velho. Elasassemelh am-se, paraele, alutas de drag6es de sombras, sem qualquer corpo s 6lido de vida por tras.
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Capitulo X
o
Perigo d o Belo
Nao estou mutto certo se devo ou n ao dizer 0 que vou d1zer agora. Pois nao desejo privar 0 combate esp1rttual de sua alegrla, e nem gostarla de ver 0 entuslasmo lntelectual e estetico, e a ben<;ao do arnor tntelectual a Deus serem trocados pelas lmaglna<;6es cansadas de urn velho (que, espero, voces nao pensem que eu sou!). Permtta-me expor agora a hlpertrofia do esteta teo16gico (quem negaria que este tipo encontra-se fac11 mente em muttas catedras de Teologla?) como uma doen<;a multo real, embora possa as vezes ser tambern uma feb re benigna . Minha tese e a segutnte: cada ideIa:- teo16g1ca que impressionar voces , deve ser considerada como desafio a fe . Nao acelte sem pensar que voce realmente 53
ReCQme~Oes
aos Jouens Te6/ogos e Pastores
cre em tudo qu e 0 impresslona teologl camente, em tudo que 0 satisfaz Intelec tualmente. Serno, subltamente voce nao estani mats crendo em Jesus Cristo, mas em Lu tero, ou em urn de seus professores d e Teologla. Urna das expertenclas mats dificels para 0 professor de Teologla combater vern do fato de que, pelas raz6es que ja m encloneI, a Teoiogia boa e respettavel nao apenas a Teoiogia dissoluta e fervi lhante de heresias - pcxle ser uma ameac;a a nossa vida pessoal de fe . A fe precisa ser mats do que urn mero objeto enlata do nos livros ou engarrafado nos cader nos, de onde pode, no momenta certo, ser transferido para nosso cerebro. Ness e interim, uma nova forma de pensamento nos invade. Nao dlzemos m ats, como 0 homem de orac;ao:"Senhor Jesus Cr Isto, Tu prometeste", nos comec;amos a dlzer: "0 Keryg ma nos deixa perceber que ... ". Enquanto esta diferenc;a e apenas p arte da tecnica de nosso artesanato teol6g1co, nao ha problema . A tecnica preclsa de seus c6dIgos essenclats, e do vocabul,lrl0 academico convenclonal. Em nosso tra 54
o Pertgo do Belo
balho, por assim dizer, nao podemos estar constantemente usando a lin guagem da liturgia. Mas para quantos esta diferen<;a tornou-se multo mais, urn sintoma das condi<;6es de sua fe (ou melhor, de sua falta de fe), do estado dtluido de sua fe?
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CapftuloXI
Estudando Teologia em
Ora~ao
o estudante de Teologia e,
espe cialmente, 0 es tu dante de Dogmatica, precisa vigiar-se constantemente contra o perIgo de pensar na terceIra, ao 1nves da segunda pessoa. Voces sabem 0 que eu quero dizer com isto. Esta transic;ao de urn para outro m vel de pensamento, do relaclonamento pessoal com Deus para uma mera referencla tecnica, ocorre geralmente em exata sincronia com 0 momenta em que eu deixo de ler a palavra das Escrituras como palavra dirigida a mlm, para ser apenas obJeto de meu labor exegetico. Este e 0 primeiro passo para a plor e m als dissemlnada doenc;a pastoral. Pols 0 p astor raramente con segue expor u rn texto como se fosse uma carta enderec;ada a ele pr6prio, e s6 Ie a Bibl1a sob a pressao de como encaixar 0 texto em urn serm ao . 57
Reco mend~6es
aos Jo vens Te61ogos e Pastores
Eu ja ful pastor, e falo com ex perlencla pr6prla. Lembre -se que Anselmo come<;ou sua demonstra<;a o da existencla de Deus no Pr61ogo com uma ora<;ao, e que a sua DogmaUca e, por tanto, Dogmauca fetta em espirtto d e ora<;ao. Estariamos compreendendo este fato extraordincirto de manetra completa mente errada se 0 conslderassemos apenas como uma introdu<;flO edlf1cante que demonstra urn Upo especIal de pledade. Anselmo busca expressar algo de forte relevancla teol6g1ca: 0 pensa mento teol6g1co s6 pode resPtrar numa atmosfera de dlalogo com Deus. Essenclalmente, 0 metoda d a Teologla leva em conta 0 fa to que Deus falou, e agora 0 qu e ele falou precls a ser entend ldo e res pondldo. Mas a fala de Deus somente sera entendlda quando eu: (1) reconhecer que 0 que fol dUo dlrige -se a mim, e (2) envolver-me na formula<;a o de uma resposta. S6 dentro deste dlalogo 0 metodo teo16gico torna-se compreensivel (GaJa tas 4.9). Tenha em mente que a primeira 58
Es tudando Teologla em
Ora~do
'ez que alguem falou de Deus na terceira pessoa (falou sobre Deus, e nao mats com Deus), foinoexatomomentoemque soou a famosa pergunta: .oF: assim que Deus disse ... ?,,(Genesis 3.1). Este fato deveria fazer-nos pensar. Contrastando com isto, Jesus crucificado, dentro da mats profunda escuridao de abandono por Deus, nao fal a aos homens, nao reclamasobre este Deus que 0 abandonou . Ele fala com Deus, e ate nesta hora - na segunda pessoa. Ele 0 chama de meu Deus, e ate expressa sua queixa numa Palavra de Deus, como se fechasse 0 circulo entre ele e seu Pat. Esta observac;ao tambem deveria fazer -nos pensar. Na hist6ria recente da Teologia, 0 mesmo fato - mudanc;a da segunda para a terceira pessoa - e visto naquele fen6meno chamado "Escola da Hist6ria das Religi6es" (Religionsgeschichte). Embora seja muito dificil ver isto tratado assim nos livros, 0 acha tamento e rela tivizac;ao do evangelho e consequencia de urn fa to espiritual muito su til e no principio quase imperceptivel: uma troca de papeis, de alguem recebendo pes 59
Recomenda<;oes aos J ovens Te61ogos e Pastores
soalmente a m ensagem divina, para urn observador neu tro; uma mudanc;a de segunda para terceira pessoa. Aquieu vejo tambem umprlncipl0 para 0 metodo do estudo da hlst6rla da Teologia - os m eus alunos sabem dlsto que nao apenas 0 desenvolvimento das formas de reflexao teo16gica (por exem plo , 0 confronto com a idealismo, com a mos ofia extstencla1ista e tc.) deve ser mostrado com o hist6ria espiritual legitlma, mas toda reflexao teol6g1ca deve ser vista como crlstalizac;ao de dilemas espirituais. Posso arriscar a seguinte d efinic;ao: a hist6ria da Teologia e a hist6ria dos cristaos e de suas deci s6es tomadas s ob a fe, apresentada na forma das reflex6es provocadas por estas decis6es.
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Capitulo XII
Teologia Sagrada e
Teologia Diab6lica
Mas sendo asstm, au seja, se a vida e a morte do pensamento teo16g1co dependem dec1sivamente da atmos fera de relac10namento de "segunda pessoa" e do fato que a Teologla Dogmatica e essenc1almente teologia-em-orac;ao (pa lavras de Wilhelm Stahlin), entao, ma1s uma vez, 1sso naturalmente faz urn desafio a nossa vida como cr1staos. Qualquer pessoa que deixe de ser esp1 ritual, automaticamente estara desen volvendo uma Teolog1a fa lsa, mesmo se seu pensamento for puro, or todoxo e afinado com sua trad1c;ao confessional. Neste caso, "ha morte na panela". A Teologta pock ser uma frta cam1sa de ferro que nos esmaga . e nos congela ate a morte. Pode ser tambem - para isto 61
Recomend~6es
aos Jo vens Te6/ogos e Paslores
elaexiste - acon sCienciadacongrega<;ao crista, sua bussola, e 0 canto de louvor das ideia s. Qual das duas possibilidades se concretizara, depende do grau em que ha cristaos que ouvem e oram p or tras do labor teol6gico. Como cristao, como urn cristao que ouve e ora, cada urn de voces precisa lutar para nao ser es magado pela Teologla e tornar -se, ao inves de urn soldado de Cristo, mera mente mats urn corpo no campo de b a talha. Assim , Teologla sagrada nao e urn termo que possamos usar sem cuidado. A Teologia e uma atividade sumamente hum ana , e urn artesanato e, as vezes , uma arte. Em Ultima aruilise, ela e sempre amb ivalente. Pode ser Teologia sagrada ou Teologla diab6lica. Depende das maos e cora<;6es envolvidos . E nao e neces sariamente 0 criterio de ortodoxia ver sus heresia que define com qual d a s duas estamos lidando. Nao creio que Deus viva neuroticamente procuran do erros n a s ideias teol6gicas . Aquele que con cede perdao a vida do pecador, e tambem certamente urn j uiz generos o das reflex6es teo16gicas . Mesmo urn te610go ortodoxo pode estar espiritu 62
Teologla Sagrada e Te% gla Dlab611ca
almente morto, enquanto talvez 0 herege esgueira-se por atalhos prolbldos e en contra as fontes da vida. Como e supremamente importante que uma vida esplritual vigorosa, unida a Sagrada Escritura e no mel0 da comu nldade crlsta, seJa a esplnha dorsal de todo trabalho teol6glco, e que as ldelas informes ganhem vida e substancla desta fonte! Tudo lsto torna-se muito claro para mim observando a forma como 0 estudo hlst6rico-criUco da Biblia afeta a muitos te610gos mats Jovens. Por que, apesar de tao tndispensavel, este estudo provoca ferimentos tao serlos, ou ate mortais? Por ou tro lado, se tomarmos qualqu er pessoa s imples, mas espiritual, como por exemplo algum colega de mais idade e tradl<;ao pietista, e explicarm os a ele as quest6es da alta-critica, m os trando como a unidade do testemunho biblico nao e destruida por ela, mas ao contrario, a sinfonia de testemunhos e a plenitude da mensagem sao ate enri quecidos, nao creio que ele ficaria chocado. Talvez ate se sentisse enri quecido. 63
Capitulo XIII
o Labor Teo16gico nas Grandes Alturas Parece-me que ha uma explicaC;ao simples para 0 fato que 0 efeito provo cado por este conhecimento varia tao drasticamente em funC;ao da idade do aluno. Antes que 0 jovem calouro tenha realmente conhecido 0 que e mais im portante, a hist6rta da salvaC;ao na Bfblia, por exemplo. a hist6ria da CriaC;ao e da Queda. antes que possa conhecer os picos alpinos dos pensamentos de Deus em toda a sua majestade. ele se fam ilia riza com as tecnicas de analise m inera 16gica da pedra. Mas quem estuda Geo logia em mapas e grMlcos. e memoriza dados de tabelas mineral6gicas. s em nunca ter escalado uma montanha. esta multo mal equipado para saber como os Alpes realmente s ao. 65
Reco me~6es
aos Jovens Teologos e Pas /o res
Confesso que para mim, uma das perplexidades Insohivels do ensino teo 16g1co e que mio parece haver uma maneira pratica de fazer com que estas experlenclas venham na ordem certa e saudavel. Mas isto s6 torna mais impor tante insistir sempre , e quase sendo mon6tono, que qua lquer pessoa que se dedica a estudar Teologia e espiritu alm ente doente, a nao ser que esteja lendo a Bibl1a com freqiH~ncla acima do normal, e aproveUando ao m
o Labor Te%gleo nas Grandes Alturas
todas as colsas com simpl1cldade. Aqul trabalhamos como no labo rat6rl0 de mlneralogla. Mas, em rela<;ao ao verdadeiro conhecimento, estara tudo errado, a nao ser que voces mesmos tenham a experlencla de subir as mon tanhas para conhecer como e 0 ar la em clma. Todos conhecemos personagens saidos de laborat6rios de Teologia, e frios arquttetos da fe, cujo pr6prio halito e mortal. Todos corremos 0 risco de apo drecermos no laborat6rio, ao inves de chegar as grandes alturas, onde pode mos achar vida. Resumindo, esta bern de acardo com a essencla da Teologla, ou, como costumam dizer hOje em dla, e teologicamente "legitimo" que a classe de Dogmattca seja composta par uma congrega<;ao de alunos cristaos. Eu set, caros alunos, que esta e uma estranha maneira de come<;ar urn curso de Teologla. Mas eu precisava colocar este pequeno exercicio espiritual bern no principI0, porque rninha familia ridade com urn grande numero de tur mas faz-me lembrar constantemente das necessldades que pode existir por tnis do estudo teol6glco, e porque eu de 67
Recomend~iies
aos Jovens Te6/ogos e Pastores
sejavajustlficar a mim mesmo e ao meu trabalho diante da igreJa de Cristo. Foi exatamente este ana e meio em que eu · tive apenas encargos admlnistrativos, sem poder lecionar, que colocou-me na perspectiva em que esta situac;ao apare ceu de forma especialmente niUda. A ligac;ao que existe entre 0 te610go e 0 homem espirttual velo a m im com forc;a ren ovada. Espero qu e voces tambem percebam isto, mesmo quando estiver mos p ercorrendo os vastos espac;os do pensamento abstrato, e mesmo se esta exortac;ao a "higiene" espiritual a que me permit! na primeira aula nao venha a se repetir exatamente nesta forma. Se qwse rem, guardem na memoria estas obser vac;6es prel1mtnares, detxem que elas sejam 0 lema que dara sentido a todo 0 trabalho que voces fizerem em Teologia Dogmatica. 1 N.T.Na Europa, vta de regra, 0 curso de Teologla faz parte da universldade . No Brasil, 0 tenno poderla ser subtendldo por semlnarlos, ja que se trata do local onde a Teologla e ens1nada.
2 c 3 Trata-se
de express6es do domfnlo luterano para referlr-se ao ato de conftnnac;ao do batlsmo, medi ante a profissao de fe pessoal. 68
o Labor Teologleo nas Grandes Alturas N.T.Novamente aqul ha uma refen~ncla ao fato de que, n a Europa, os cursos de Teologta estao Junto a u ma Unlversldade.
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