COMO ADIVINHAR NA BOLA DE A.
O FUTURO CRISTAL
HERNA NDEZ
Y ALONSO
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
1976 DIREITOS RESERVADOS À EDITORA
Ilustração da Capa
NILTON MENDONÇA
Clichês e fotolitos CLICHERIA GARCIA LTDA.
Impresso na Folha Carioca Editora S.A. Publicado pela EDITORA MANDARINO LTDA. C.G.C. 34.026.245/0001-00 — INSC. 396.286.00
Rua Marquês de Pombal, 172 — Caixa Postal 11 000 ZC-14 — Tel.: 321-5016 — Rio de Janeiro - RJ - Brasil
A. HERNANDEZ Y ALONSO
COMO ADIVINHAR O FUTURO NA BOLA DE CRISTAL Sistema prático para a obtenção de visões e de comu nicações com o Anjo da Guarda e espíritos de outras naturezas, por intermédio da BOLA DE CRISTAL e dos espelhos mágicos.
Contendo a maneira prática de fabricar e usar e todas as indicações necessárias para o uso completo e pleno desse gênero de prática da Magia.
EDITORA
ECO
índice Prefácio
7
Introdução
9
Os Habitantes do Mundo Invisível
19
Regiões do Mundo Astral — Nomes das 72 Inteligên cias Superiores — A Magia Cerimonial e os Espelhos Mágicos Anjos que Governam as Horas do Dia
27
Anjos que Governam as Horas da Noite
28
Qual é a Utilidade dos Espelhos Mágicos
29
Cerimônias da Consagração dos Espelhos Mágicos
31
Rito de Consagração Empregado por Nostradamus — Consagração dos Espelhos Segundo os Magistas Oci dentais da Idade Média — O Que é Preciso para Obter Visões — Do Operador — Do Vidente — Do Espelho Mágico Como se Fazem os Espelhos Mágicos
41
Espelho dos Feiticeiros — Espelho Cagliostro — Espe lho do Barão du Potet — Espelhos Swendeborg — Espelho Mágico Magnético — Espelho Mágico Hindu (A BOLA DE CRISTAL) — Espelhos Mágicos Narcóticos — Espelho Galvânico — Espelhos Cabalísticos — Es-
5
pelho Mágico de Santa Helena — Espelho dos Bhatahs — Espelho Mandeb — Espelho Teúrgico Maneira de Fixar o Mercúrio
87
Conjuração de Quarta-Feira — A mesma Conjuração em Português — Comunicação de um Espírito Pla netário Clarividência A Realização da Clarividência
93 105
Primeiro Exercício (Abstrações das Sensações Físi cas) — Segundo Exercício (Educação do Mental) — Terceiro Exercício (Realização) Noções Complementares Sobre a Clarividência
113
Método Para Desenvolvimento da Clarividência, Segundo os Ensinos da Teosofia (Concentração)
117
Meditação e Contemplação
125
Alguns Métodos e Processos Existentes, Imperfeitos, Er rôneos ou Perigosos Para o Desenvolvimento da Cla rividência
131
Prefácio Houve um tempo em que o homem possuía tanto poder sobre as forças invisíveis da natureza que acabou por destruir seus grandes impérios mágicos. Atlântida, Lemúria, Antigo Egito, a Terra dos Brâmanes, enfim to dos estes reinos dourados e maravilhosos viveram e mor reram por causa das artes mágicas. Posseidonis, onde a arte da adivinhação chegou ao clímax, foi engolida pe las águas. No vale do Indus a ruína afastou para longe, para as montanhas geladas, os magos e videntes. No Egito só restaram do passado grandioso as pirâmides e a esfinge com seu sorriso enigmático. Mas, embora to dos os livros destas terras envoltas em lendas e repletas de templos cabalísticos tenham sido destruídos, alguma coisa desta imensa cultura sobreviveu. A arte de adivi nhar o destino é uma destas heranças do passado. É o grande mistério dos Iniciados. A chave dos segredos. Nostradamus, Sir Kenelm Digby, Van Helmont, Del la Porta, Cipriano de Antioquia, Sarpi, Ptolomeu, Agri pa, Mirándola, Lulle, Alighieri, estudaram a arte da adi vinhação por meio de espelhos, entranhas de animais, bolas de cristal, bacias com água pura, invocações se cretas e círculos mágicos. Cada um deles apresenta par tes de uma verdade total. Como sibilas, estes profetas da 7
adivinhação penetraram no mundo dos feiticeiros e bru xos. Reviraram fórmulas, queimaram incensos, chama ram por Satã e pelos setenta e dois gênios da Cabala. A. Hernandez Y Alonso é um desses alquimistas mo dernos, que se envolveu no universo oculto dos bruxos, e de lá tirou a maneira certa de adivinhar o futuro na bola de cristal. Com dedicação este pesquisador recolheu inscrições em manuscritos sarracenos, em papiros de Menris e Tinis, em incunábulos amarelecidos deixados por monges católicos. E o resultado aí está. É obra única no gênero. E sem dúvida virá a suprir uma lacuna na li teratura ocultista, que necessitava de novos temas, de pesquisas profundas, de comentários sobre a tão amada arte da previsão e da clarividência. Cheios de inscrições e magnetismo os espelhos con sagrados surgirão aos vossos olhos, leitor, mostrando os caminhos da magia, da fantasia, dos cultos aos elemen tares e anjos. Brilhantes como a lua cheia, e tão misteriosas como Ísis, as bolas de cristal revelarão as estradas que levam aos Eloins, aos Arcanjos e às ninfas. E, deixando-se envolver por toda a extraordinária mensagem desta obra, você, leitor, aprenderá que há existências não visíveis, que a intuição capta, mas que a razão nega. Aprenderá que no espaço infinito há muita coisa que está além de nossa filosofia e de nossa ciência positiva.
A Editora
8
Introdução Apesar das negações da ciência positiva, no que con cerne à existência de inteligências infra e super-humanas, hoje, como nas épocas passadas, o homem desprovi do de preconceitos sente por intuição que acima do seu poder sobre a natureza e acima e abaixo da sua própria natureza, outras forças e outros poderes existem, aos quais ele não pode negar a sua atenção e a sua admi ração. Essa intuição, repetimos, sempre existiu, e existe ho je tão aprofundada como em outros tempos. A imponente popularidade das doutrinas materia listas é mais aparente do que real e repousa simplesmen te em dois fatores principais: a coação e a sugestão. Vamos procurar demonstrar como esses fatores agem: Toda a educação superior, atualmente recebida nas escolas, tem um cunho de materialismo. Sabemos que no Brasil o estudo dos livros sagrados foi abolido; nenhuma espécie de doutrina ou escrito re ferente a religiões ou conhecimentos metafísicos é ado tado ou tolerado, quer no ensino primário, quer no su perior. 9
Os homens que galgam posições, quer públicas, quer industriais, comerciais ou artísticas, premidos pelas ne cessidades da vida, terminam apressadamente os seus estudos positivos, tencionando deixar para mais tarde, quando uma posição de conforto for conquistada, a me ditação do que eles julgam assunto de menor impor tância. É, pois, perfeitamente compreensível que a opinião desses homens, de educação insuficiente, seja isenta de conhecimentos metafísicos, e que eles, pela posição de ascendência sobre o povo, a massa trabalhadora, influ am em seus pensamentos e crenças. Dá-se, assim, o fenômeno da coação moral e da su gestão, porque o trabalhador, ainda mais forçado pela necessidade, também não tem tempo para aprofundar-se nesses assuntos, assim como também não o tem para os demais conhecimentos — falta que o coloca na depen dência dos primeiros. Quem tem estudado, por pouco que seja, os fenô menos da sugestão, correlacionados ao estudo do hipno tismo, pode fazer idéia da importância que, na opinião da massa popular, têm as convicções dos seus superio res sociais. O característico do homem de curta evolução men tal é a imitação. Todo o habitante das grandes cidades sabe que a preocupação do operário é parecer-se com o burguês e o industrial, o qual, por sua vez, procura con fundir-se, nos trajes, nos modos, costumes e lugares que freqüenta, com o ministro ou o banqueiro. 10
Por um princípio falso de orientação, pela perse guição de um fim errôneo na vida (produto das asseve rações materialistas) o homem, de qualquer situação so cial, nunca está satisfeito e julga que a causa de sua mortificação está em não ser o que é um outro, mais bem colocado que ele, de modo que, já que não é como o outro, ao menos deseja fazer ver que se lhe parece ou que tem condições para o ser. Nas mulheres, principalmente, é que esse fenôme no melhor pode ser observado e é por isso que as vemos às vezes envergando trajes ridículos que de maneira ne nhuma lhes vão bem ao corpo, simplesmente porque já viram idêntico no corpo de outra a qual faz questão de marchar na vanguarda da moda. Assim, os costumes e as opiniões são efeitos da imi tação e da sugestão. Entretanto, e este é o ponto que queríamos che gar: este fenômeno sugestivo é mais freqüente nas gran des cidades (em que a vida agitada e a exibição luxuosa predominam) do que nas aldeias, no campo, onde há maior simplicidade nos costumes e onde o homem, mais em contato com a natureza, possui as suas faculdades de intuição mais puras. Aí encontramos comumente, senão um conhecimen to perfeito da razão de ser do respeito do homem às leis divinas, ao menos menor ousadia para a sua completa negação. Nestas rápidas linhas não queremos nos encarregar da tarefa de defender a razão da existência das religiões, mesmo por que julgamos que o leitor poderá melhor em11
pregar o seu tempo meditando sobre produções de auto res que mais abalizadamente o têm feito. Estas nossas digressões têm mais por fim abrir ca minho ao assunto de que vamos tratar. Ele faz parte de um estudo de grandes horizontes e não é senão um pe queno ramo de uma grande árvore. O pequeno combate que julgamos dever dar às filo sofias materialistas não tem outra razão de ser além de querermos fazer compreender ao leitor menos ilustrado que os ocultistas não são, como à primeira vista muitos acreditam, indivíduos ingênuos, principiantes em filoso fia e desconhecedores do valor dos argumentos dos seus adversários. Eles sabem muito bem que o materialismo é uma fase inerente à evolução humana, e não são tão inimigos dele como possa parecer, assim como sabem que a verda deira ciência, amiga da verdade, não está longe de acei tar como exatas muitas asseverações da verdade oculta. *** A principal divergência entre a filosofia positiva e a metafísica, ao lado da qual enfileiram-se todas as re ligiões, está em reconhecer ou não a existência de in teligências infra ou super-humanas, isto é, inteligências de outra natureza que a humana, vivendo em outras con dições, possuindo faculdades diferentes, superiores ou in feriores. Entre os que reconhecem essa existência estão os ocultistas, anteriores a qualquer religião. 12
Um simples raciocínio analógico, que se nos afigu ra inédito, parece-nos suficiente para fazer compreender que os ocultistas, afirmando a existência de entidades extra-humanas, não cometem nenhum absurdo. Sabemos que nas extensas regiões do oceano, assim como na superfície da terra, entre o intrincado das sel vas, e no próprio ar que respiramos, existem entidades diferentes do homem, dotadas de inteligência apropria da ao meio em que habitam. A classificação da geologia, da zoologia e da botânica é extensa. Cada espécie de ani mal, de vegetal e de mineral encerra um gênero de inte ligência, ou, antes, um modo de manifestação da Inteli gência. Quem não reconhece uma consciência no modo de agir das árvores, dos cristais, das formigas, das abe lhas e de outros animais? Entretanto, o homem, que se julga obra prima da natureza, o Rei da Criação, não tem podido, pelos seus processos científicos positivos, entrar em relações com esses entes a ele inferiores; não tem podido perscrutar a essência das suas ações, nem mesmo imitar, muitas vezes, os seus trabalhos de arte, ou surpreender os segre dos da sua indústria. Lembremo-nos agora de que essas inteligências ru dimentares, que constituem ainda enigmas para a inte ligência do homem, habitam no mesmo plano que ele, no plano físico, na superfície, no ambiente ou nos recessos do mesmo globo, nutrindo o seu corpo, da mesma subs tância, repartida por todo o orbe, e, em seguida, procure13
mos fazer uma idéia da extensão do Espaço perdido nas profundezas do qual o nosso globo não representará o que para nós representa um ínfimo grão de areia. Vejamos o que disseram os instrutores de Allan Kardec acerca do Espaço: "O espaço é infinito, pois que se torna impossível supor-lhe algum limite, e porque apesar da dificuldade que temos de conceber o infinito, nos é entretanto mais fá cil ir eternamente ao espaço por pensamento, do que deter-nos num lugar qualquer, onde depois do qual não encontraremos mais extensão a percorrer. Para figurarmos, tanto quanto o permitem as nos sas limitadas faculdades, o infinito do espaço, suponha mos que, partindo da terra, que se acha perdida no meio do infinito, para um ponto qualquer do universo, e isto com a velocidade prodigiosa da faísca elétrica, que trans põe milhares de léguas num segundo, apenas deixando este globo, e já tendo percorrido milhões de léguas, nos achamos num lugar de onde a terra só nos aparece co mo uma pálida estrela. Um momento depois, seguindo a mesma direção, nos aproximamos das estrelas longín quas, que dificilmente se distinguem da nossa estação terrena; e dai, não somente a terra está inteiramente perdida para os nossos olhos, nas profundezas do céu, mais ainda o sol, em seu esplendor, está eclipsado pela extensão que nos separa dele. Animados sempre pela mesma velocidade do relâmpago transpomos sistemas de mundos, a cada passo que avançamos na imensidade, 1
1
14
A Gênese.
ilhas de luzes etéreas, vias estelares, paragens suntuosas onde Deus espargiu os mundos com a mesma profusão com que semeou as plantas nos prados terrestres. Ora, há apenas alguns minutos que caminhamos e já centenas de milhões e milhões de léguas nos sepa ram da terra, já milhares de mundos passaram debaixo das nossas vistas; entretanto, não avançamos, em reali dade, um só passo no Universo. Se continuarmos, durante anos, séculos, milhares de séculos, milhões de períodos cem vezes seculares, e incessantemente com a mesma velocidade do relâmpago,
não teremos avançado mais, e isto para qualquer lado que caminhemos e para qualquer ponto que nos dirija mos, desde o grão invisível que deixamos e que se cha ma a Terra. Eis o que é o Espaço!" Comentando sabiamente estas asserções dos instru tores de Allan Kardec, o Sr. Gabriel Delanne, em seu livro A alma é imortal, diz: "Essas poéticas e grandiosas definições concordam com o que sabemos de positivo acerca do Universo? Sim, porque sucessivamente a luneta astronômica, o telescó pio e a fotografia nos têm feito penetrar, cada vez mais longe, nos campos do infinito. Durante séculos, nossos antepassados imaginaram que a criação limitava-se à terra que eles habitavam, e que acreditavam chata. O céu era apenas uma abóbada esférica, da qual pendiam pontos brilhantes, chamados estrelas. 15
O sol aparecia como um archote móvel, destinado a distribuir claridade, e nós éramos os únicos habitantes da criação, feita especialmente para nosso uso. A obser vação permitiu, mais tarde, reconhecer-se a marcha das estrelas, o movimento da abóbada celeste, arrastando consigo todos esses pontos luminosos; depois, os estu dos dos movimentos planetários, a fixidez da estrela polar, induziram Thales de Mileto ao reconhecimento da esfericidade da terra, da obliqüidade da elíptica, e da causa dos eclipses. Pitágoras conheceu e ensinou o movimento diurno da terra sobre seu eixo, seu movimento anual em torno do sol e ligou os planetas e cometas ao sistema solar. Estes conhecimentos precisos datam de 500 anos an tes de Jesus Cristo; porém, essas verdades, sendo apenas patrimônio de raros iniciados, foram esquecidas, e o povo ignaro continuou a ser o joguete da ilusão. É preciso chegar-se à época de Galileu e da desco berta da luneta astronômica, em_1610, para que con cepções justas venham retificar os antigos erros. Desde então, o universo aparece como ele é realmen te. Os planetas são reconhecidos como mundos seme lhantes aterra e muito provavelmente habitados; o sol não é mais que um astro entre muitos outros; o teles cópio permite observar as estrelas e as nebulosas disse minadas em distâncias incalculáveis, no espaço sem li mites; finalmente a fotografia e a televisão permitem revelar a presença de mundos, que os olhos humanos, ajudados pelos mais poderosos instrumentos, não ti nham jamais contemplado. 16
As placas fotográficas, que hoje se sabe preparar, não são somente sensíveis aos raios elementares que ex citam a retina, pois estendem ainda o seu poder às re giões ultravioletas do espectro e às regiões opostas do calor escuro (infravermelho) onde o olhar se detém impotente. Foi assim que os irmãos Henry divisaram estrelas de décima sétima grandeza, que não haviam sido ainda percebidas pelos olhos humanos. Também descobriram uma nebulosa invisível, por causa do seu afastamento, além das Plêiades. À proporção que se estendem os nossos processos de investigação, a natureza recua os limites do seu império. Nos lugares em que os mais poderosos telescópios não revelavam, numa parte do céu, mais que 625 estre las, a fotografia deu-nos a conhecer 1.421. Assim, por tanto, em nenhuma parte existe o vácuo; por qualquer lado e perenemente desenvolvem-se as criações em nú mero infinito. As insondáveis profundezas da extensão fatigam a mais ardente imaginação, com a sua imensidade; e nós, pobres seres habitantes de um imperceptível átomo, não podemos elevar-nos até essas sublimes realidades!"
* Continuando o nosso raciocínio, meditemos se não está nos limites do possível admitir-se a existência, nes ses espaços infinitos, de seres possuidores de faculdades e de poderes superiores e inferiores ao homem, o qual 17
para compreendê-los, assim como às suas obras e à dire ção dos seus ideais, é insignificante. Desde a origem das sociedades teve o homem a in tuição da existência desses seres superiores, habitantes de outros planos. Criatura miserável e solitária, lutando sem cessar contra a fatalidade, intuitivamente encon trou em si mesmo uma lógica para guiar seus passos, uma luz para encorajar sua esperança. A adivinhação nasceu dos gritos de angústia e da interrogação que faziam os nossos antepassados a gran de voz das águas, ao cântico das florestas e às estrelas. O pássaro, pairando nos espaços, o animal encontrado no caminho, o meteoro iluminado à noite, forneceram respostas às suas interrogações inexprimidas. A nature za física foi, pois, a primeira a contribuir para a edifica ção da grande ciência dos presságios.
18
Os
Habitantes
do
Mundo
Invisível
Tentemos agora, que defendemos a nossa crença na existência de seres extra-humanos, pela evocação que fizemos da analogia que deve existir entre a manifesta ção da vida no nosso plano físico — a Terra visível — t nos planos invisíveis, quer ainda pertencentes ao nos so globo, quer às diversas cadeias de globos, quer intraplanetários — tentemos penetrar com o leitor mais além nos mistérios dessa Alma organizadora que reconhece mos precedentemente; tentemos, guiados pela analogia e pela narração dos videntes, descrever as inumeráveis células que a compõem, começando pelas REGIÕES
DO MUNDO ASTRAL
Analogicamente, pode-se dizer, em princípio, que o invisível é formado, como o visível, de ambientes e de individualidades, e que uns como outros podem ser di vididos em três grandes planos: o terrestre, o lunar e o solar. ~ Em cada um desses três planos existem forças análogas às que agem sobre o homem: forças de atra ção, de repulsão, de projeção, generadoras, receptoras, de adaptação e de síntese. Para que um homem pu19
desse compreender de visu — ensinam as tradições es critas e os Instrutores iniciados atuais — o mecanismo dessas forças seria necessário adaptar-se a um triplo de senvolvimento, para a realização do qual poucos possu em mentalidade, conhecimento e vontade suficientes; se ria necessário um conhecimento perfeito dos ciclos, leis e qualidades das diversas direções das forças cósmicas. Isso quanto ao que poderíamos chamar, em lingua gem terrena, as forças da natureza. Tratando-se dos in divíduos, das entidades viventes que povoam os diver sos planos do Invisível, recebem, de um modo geral, as denominações de elementais, elementares e anjos. Os elementais são espíritos dos elementos, cujo nú mero é incalculável. São os Saganes de Paracelso. Cada ser, cada erva, cada pedra, tem seu espírito — diz a Cabala. Os estreitos limites do nosso trabalho não nos dão margem a longas explanações a respeito dos habitantes do mundo invisível 1. Basta por enquanto que o leitor saiba que eles escapam a uma nomenclatura, e que a divisão em elementais, elementares e anjos deixa muito a desejar. Não se pode, porém, em nenhum ensino, e muito principalmente neste, dizer tudo de uma vez, e para o leitor pouco familiarizado com escritos deste gê nero, uma longa enumeração, acompanhada dos termos por que ela é resumida e incompletamente feita pelos es critores orientais, poderia prejudicar, em vez de escla recer, o seu aproveitamento. Por isso seguiremos os da dos fornecidos pelos cabalistas, que, atualmente, sinte1 Consultar "O Mundo Astral", de C. W. Leadbeater.
20
tizam, a nosso ver, com algumas exceções, a melhor adaptação ao nosso grau de evolução mental, dos ensi namentos da Sabedoria Esotérica. Os elementais são as manifestações, as forças plás ticas, os exércitos inumeráveis da natureza: os "Shadain". Há os tristes, cinzentos, de olhos glaucos, amo dorrados no seio morno das estagnações e dos pauis; há os que brincam sobre a crista irisada das vagas; os tri tões, as ondinas caprichosas, amigas do homem às vezes, sempre perigosas; formas maravilhosas de paixão, cuja atração lança o homem sobre os escolhos do crime e da loucura. Os elementais são os operários da natureza e mani festam-se nos três reinos, em todas as temperaturas, promovendo a construção e a demolição de todas as ma ravilhosas formas que extasiam os nossos olhares e de todas as monstruosas nuanças do horrível que nos horripilam. Conforme o reino em que desenvolvem a sua ativi dade e de que são fatores invisíveis, os elementáis cha mam-se : Gnomos — espíritos da terra (dos sólidos). Ondinas — espíritos da água (dos líquidos). Lutins — espíritos do ar (dos etéreos). Salamandras — espíritos do fogo (dos gasosos). Paraçelso disse que os elementáis nascem, vivem, casam-se, procriam e morrem, mas depois do tempo de sua existência terrestre não conservam consciência; eis por que a tradição os considera mortais e por que eles
21
aspiram, sobretudo os dois reinos inferiores, aproxima rem-se do homem. Em geral nós somos invisíveis aos elementáis, como eles o são a nós. Entretanto, eles respondem ao nosso apelo, e tornam-se, para aqueles que os evocam, prote tores ou obsessores. A Cabala chama Rouchins os elementáis machos, e Lilins os fêmeas. Os gnomos e as ondinas são governa dos pelo Príncipe Asmodeu; as salamandras são dirigi das por Raphael e sete ministros; os lutins, por Michael e sete ministros. Ruchiel e três ministros governam os espíritos dos ventos; Gabriel os dos trovões; Nariel os da neve. Os gnomos dos rochedos obedecem a Maktuniel; os das árvores frutíferas a Alpiel e os das outras árvores a Sachiel. Mesannabet é o rei dos ventos. Cassiel e três ministros governam os elementáis do gado. Os animais da terra e do mar vivem sob a dependência de Sanael e os pássaros sob a de Anael. * * *
Os elementares são esses com os quais os nossos con temporâneos acreditam entrar mais facilmente em co municação: são as almas dos mortos. Essa comunica ção com os elementares não se realiza em todas as práti cas chamadas espíritas. Em geral outras são as forças e as entidades que se manifestam; às vezes, os espíritas conseguem atrair e dar momentaneamente vida aos res tos astrais dos mortos, às coques, como chamam os teó sofos, (corpo de matéria astral, deixado pelo espírito 22
que consegue entrar em Devachan) quando não se tra ta de uma criação no astral, produzida pelo pensamen to do próprio evocador e dos presentes. Entretanto, as almas dos mortos estão às vezes liga das à terra por um desejo não satisfeito; os pais e os avós descem voluntariamente ao círculo santo do lar fa miliar, quando os seus descendentes o invocam com amor, e tomam-se facilmente visíveis no Espelho Má gico. Mas a vã curiosidade não deve perturbar o seu repouso e a Cabala condena como prejudicial à felici dade dos mortos qualquer tentativa de evocação que, nesse caso, só deve ser feita em condições especiais. Entre os elementares, alguns, cujas energias terre nas foram consagradas exclusivamente a fins egoístas, tombam nas orbes malditas do satélite sombrio, o oita vo globo. Aí se oprimem os vampiros, os mágicos negros, os Irmãos Inversivos, entregues aos sofrimentos em no me da desintegração total. Aí se torna um fato a lei da morte, em seu sentido o mais rigoroso e absoluto. * * *
Na terceira classificação: anjos, devemos compre ender entidades conscientes, superiores e não iguais ao homem, cuja evolução já não caminha ou nunca cami nhou ao mesmo par da sua, embora estejam a ela sujeitas. Como seria demasiado extenso e sairia dos limites deste trabalho darmos a extensa nomenclatura das in teligências, deuses, semideuses e anjos, a cujo governo 23
ou influência está submetido o nosso globo, reduziremola tanto quanto possível, nas linhas seguintes, adaptan do-as às necessidades do estado com os Espelhos Mági cos. Vão em seguida os nomes das 72 inteligências supe riores e dos anjos que predominam nas horas do dia e da noite 1. * * *
Como já dissemos, todas as práticas da Magia Cerimonial estão subordinadas a determinadas horas, nas quais, somente certos efeitos poderão ser obtidos. Aqui, porém, tratamos somente de evocações na Bo la de Cristal, o que, embora faça parte da Magia, não acarreta suas dificuldades e perigos. Algumas evocações, para obtenção de respostas sim ples, dispensam qualquer conhecimento e observação a horas e nomes dos espíritos. As tabelas que em seguida damos, portanto, só são necessárias para o estudante que desejar aprofundar os seus estudos e conhecimentos um pouco mais fortemente, mergulhando-se nos insondá veis mistérios e nos inumeráveis modos de manifes tação da Sabedoria, Divina. l Na Magia não se contam as horas como astronomica mente. Serve-se de tempo especial, que compreende 12 horas de dia e 12 horas de noite. As horas do dia começam ao levantar do sol e terminam ao pôr do sol. As horas da noite começam ao pôr do sol e terminam ao levantar. O valor de cada uma dessas horas, chamadas planetárias, é, pois, desigual: varia cada dia. Além disso, as horas da noite não são Iguais às do dia senão nos equinócios.
24
NOMES DAS 72 INTELIGÊNCIAS SUPERIORES (Segundo o
ou a Clavícula de Salomão ou o Verdadeiro Grimoário, manuscrito da Biblioteca do Arsenal de França, que pertenceu ao Car deal de Roham. See. XVIII). 1 2 3 4 5 6 7
8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Vehuiah Jeliel Siraël Elemiah Mahasiah Jesaël Achaiah Cachetel Hasiel Aladiad Laviah Nahaiad Zazaël Mobaël Hariel Ackamiah Lomiah Caliel Leuviah Rahaliah Nolchaël Zeiriel Melael Hamiah
Segredo dos Segredos,
25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48
Nithaiah Haariah Jerathel Seofiah Reifiel Secabel Vasariah Zehniah Leabiah Cavakiah Manadel Arriei Haamiah Vehaël Zeazel Sehaliah Ariel Asaliah Michel Veshuel Daniel Kahaziah Immamiah Nanaël
49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72
Nithaël Mehaliah Poyel Nemamiah Zehiaël Harel Misraël Uniahel Zaahel Anavel Melriel Damabiah Menachel Esaël Saluiah Vochel Zabamiah Haiaël Mumiah Ezaël Sahuiah Habrel Michael Voraliah
25
ANJOS QUE GOVERNAM AS HORAS DO DIA N.°
1 2
Nome da hora
Domingo
2. Feira
3. Feira
4. Feira
5. Feira
6." Feira
Sábado
Yai'n
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Ianor
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Sachiel
Anael
Cassiel
Samael
a
a
a
a
3
Nasnia
Raphael
Michael
Gabriel
4
Salla
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
5
Sadedali
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
6
Thamur
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
7
Ourer
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
8
Thanir
Mishael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
9
Nerón
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
10
Gayón
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
11
Abay
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
12
Natalon
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
ANJOS QUE GOVERNAM AS HORAS DA NOITE N.°
Nome
2. Feira
3. Feira
4." Feira
5. Feira
6. feira
Sábado
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Baral
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
3
Thami
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
4
Athiz
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
5
Mathon
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
6
Rana
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
7
Netos
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
8
Tapac
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
9
Saffur
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Aglo
Michael
da hora
Domingo
1
Berom
2
10 11
Calerva
12
Saiam
a
a
a
a
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
_
.,„
ANJOS QUE GOVERNAM AS HORAS DA NOITE N.°
Nome
2. Feira
3. Feira
4." Feira
5. Feira
6. feira
Sábado
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Baral
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
3
Thami
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
4
Athiz
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
5
Mathon
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
6
Rana
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
7
Netos
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
8
Tapac
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
9
Saffur
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Aglo
Michael
da hora
Domingo
1
Berom
2
10 11
Calerva
12
Saiam
a
a
a
a
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
Raphael
Sachiel
Raphael
Sachiel
Anael
Cassiel
Michael
Gabriel
Samael
_
A MAGIA CERIMONIAL E OS ESPELHOS MÁGICOS
As operações da Magia Cerimonial oferecem dificul dades que não se encontram encontram na interrogação interrogação aos Espe lhos Mágicos. Nela todas as operações, mesmo as mais simples, estão subordinadas ao prévio conhecimento dos espíritos a evocar, por sabermos que cada qual tem tem sua especiali especiali dade, e essa evocação, para ter êxito, depende ainda de cerimônias, mais ou menos trabalhosas, e da escolha do momento oportuno, momento que só pode ser conhecido pela consulta às posições dos astros, razão por que a prá tica da Magia Cerimonial relaciona-se intimamente ao estudo da Astrologia. A consulta à maioria dos Espelhos Mágicos entre tanto tanto dispensa o cerimonial cerimonial e a escolha escolha da ocasião. Qualquer momento pode servir.
.,„
A MAGIA CERIMONIAL E OS ESPELHOS MÁGICOS
As operações da Magia Cerimonial oferecem dificul dades que não se encontram encontram na interrogação interrogação aos Espe lhos Mágicos. Nela todas as operações, mesmo as mais simples, estão subordinadas ao prévio conhecimento dos espíritos a evocar, por sabermos que cada qual tem tem sua especiali especiali dade, e essa evocação, para ter êxito, depende ainda de cerimônias, mais ou menos trabalhosas, e da escolha do momento oportuno, momento que só pode ser conhecido pela consulta às posições dos astros, razão por que a prá tica da Magia Cerimonial relaciona-se intimamente ao estudo da Astrologia. A consulta à maioria dos Espelhos Mágicos entre tanto tanto dispensa o cerimonial cerimonial e a escolha escolha da ocasião. Qualquer momento pode servir. As regras a observar são simplesmente a concentra ção, um forte desejo de obter o fenômeno e um relativo silêncio.
28
Qual é Mágicos
a
Utilidade
Dos
Espelhos
O Espelho Mágico é um instrumento, um veículo, de que se servem os espíritos evocados para dar respos tas às perguntas feitas feitas pelo operador. operador. Se a interrogação é digna digna de resposta, esta esta será dada em forma forma de de imagem, visível ao vidente, vidente, embora não existente existente para as demais demais pessoas. Qualquer pergunta pode ser feita. Não podemos aqui indicar quais as interrogações que não merecerão respos ta, pois isso nos nos levaria a alongar este nosso trabalho, ao qual apenas desejamos dar um cunho prático, fugin do o mais possível das longas dissertações. Entretanto, são de utilidade aqui algumas conside rações para orientar os leitores menos ao corrente corrente das razões ocultas do segredo. É fato conhecido, pelos espíritas que costumam fa zer interrogações aos seus guias e protetores, que nem todas as suas perguntas são respondidas claramente. Muitas Muitas vezes esses guias servem-se de uma linguagem linguagem simbólica, metafísica, que deixa a desejar, não satisfa zendo completamente a curiosidade do interlocutor. Duas razões há para explicar esse fato. Em primei ro lugar e principalm principalmente, as entidades do mundo espi ritual, cujas maneiras de ver e sentir são extraordinaria29
mente diferentes das do homem, sentem verdadeira re pugnância e impossibilidade em exprimir suas idéias pe lo modo que nós outros o fazemos. A sua linguagem é por isso metafísica e sua interpretação deixada à intui ção do evocador. Quando uma entidade espiritual dese ja instruir um homem acerca de coisas extra-humanas, na impossibilidade de se servir de palavras, pois o voca bulário humano não as possui capazes, costuma provo car no discípulo um estado superior de inteligência, des pertando momentaneamente suas faculdades latentes e assim apresentando-lhe a instrução sob um aspecto sim bolicamente metafísico. Essa é a razão da existência das imagens simbólicas, inscrições, figuras geométricas e desenhos, indecifráveis ao consultor profano, que se encontram nos livros de ori gem esotérica de todas as religiões do globo. Não se trata aí, na maioria das vezes, como à pri meira vista costumam supor, de um meio fácil de velar a verdade, mas simplesmente é isso conseqüência da im possibilidade material de fazer uso de uma linguagem cujos elementos não encerram significação apropriada para a expressão de idéias de origem diferente. A outra razão da insuficiência das respostas de ori gem espiritual está na própria natureza das leis de pro gresso e de evolução do consultante, ou melhor, no seu Karma . 1
l "Karma" é uma palavra oriental e encerra a idéia por nós outros expressa pela palavra "destino" ou "sorte", mas muito mais extensa e complexa. "Karma" é um dogma da Filosofia Oriental, segundo o qual todas as nossas atividades atuais estão limitadas pelo resultado de nossas atividades an teriores, executadas em anteriores encarnações. 30
Cerimônias Espelhos
da Consagração Mágicos
dos
É regra fundamental de toda experiência oculta não se servir jamais de nenhum objeto sem antes o ha ver consagrado ao Invisível. Assim, toda tentativa de clarividência deverá ser precedida de uma consagração do instrumento — o Es pelho Mágico. Vamos aqui enumerar alguns ritos necessários, que, a nosso ver, deverão ser aplicados a todos os espelhos des critos neste livro, embora alguns dos seus autores, de onde extraímos as receitas de fabricação, a eles não se refiram de um modo claro. Observemos, em primeiro lugar, a classificação dos espelhos em: Saturnianos. — Os espelhos de cor preta. Estes es pelhos não podem tornar visíveis senão espíritos inferio res ou maus e objetos físicos. Não existe para eles uma consagração especial. Convêm melhor aos rapazes. Lunares. — Os copos de cristal cheios de água. Os mais adequados às mulheres. Solares — Os compostos de esferas e lâminas me tálicas. 31
RITO DE CONSAGRAÇÃO EMPREGADO POR NOSTRADAMUS
O ritual de Nostradamus foi freqüentemente empre gado, com sucesso, na evocação dos espiritos planetá rios e outros, pelos adeptos no século XIX. É um dos mais elevados e mais puros deste gênero. Somente o rito secreto dos Tshelas ou Chelas hindus lhe é superior. Deve-se procurar uma prece boa e clara, por meio da qual não se tenha ainda evocado nenhum espírito, podendo-se fazer uso dela para todos os assuntos, me nos para os maus.
Isto não quer dizer que ela servirá somente para usos de instrução espiritual e caridade, pois muitas per guntas frívolas e fúteis poderão ser feitas, mesmo sobre conhecimentos mundanos, mas é necessário tomar a re solução de não a empregar para usos ímpios e maus. De ve-se antes dedicá-la a Deus, por meio de uma prece fer vorosa. Não empregueis intermediário para esta prece, mas esperai com firmeza e humildade que Deus vos ponha em possessão de um espírito guardião, para que obtenhais em seguida as visões desejadas. Isto feito, inspecionai o Espelho Mágico e antes de pedir para ver qualquer visão perguntai o nome do vosso anjo guardião. APELO. — "Em nome de Deus todo-poderoso, para realização de cuja vontade vivemos e a quem devemos nossa existência, suplico humildemente ao Senhor Deus Criador que se digne deixar-me saber, por intermédio deste Espelho, o nome do meu Anjo da Guarda." 32
Logo que souberdes o nome do vosso Anjo da Guar da, pedi para vê-lo empregando o mesmo apelo e mudan do somente os dizeres no que se refere ao vosso segundo pedido. Quando o Anjo aparecer pedi-lhe para vos dar al gum conselho, que ele julgue conveniente. Perguntailhe os dias e as horas em que ele queira aparecer, assim como os dias e as horas em que podereis evocar outros espíritos. Perguntai-lhe se deseja tomar sob sua guarda o es pelho e impedir que os maus espíritos nele apareçam. Pedi-lhe que vos dê aviso quando algum tente vos ata car, a fim de que possais defender-vos. Tudo isso estando feito, pedi ao vosso espírito guar dião que se retire, em nome de Deus, não fazendo nesse dia nenhuma outra pergunta. A primeira evocação não deve durar mais de uma meia hora. Quando o evocardes pela segunda vez, deveis fazer o exorcismo seguinte, três vezes, com vontade firme e determinada, antes de fazer-lhe qualquer pergunta: EXORCISMO. — "Em nome de Deus todo-poderoso, para realização de cuja vontade vivemos e a quem de vemos nossa existência, eu despeço e reenvio o espírito atualmente visível neste espelho, se não é o meu Anjo da Guarda (dizer o nome) ou se não é um bom e verda deiro espírito." Este exorcismo deve ser pronunciado três vezes, com voz muito enérgica e muito severa, tendo-se um dedo so bre o espelho. Se o espírito não desaparece, podeis então contar com ele, absolutamente. 33
Podeis então continuar as evocações, durante o tem po que quiserdes ou segundo vossa combinação com o vosso Anjo da Guarda. Se ele desejar ir-se embora, pode rá fazê-lo sem que o possais deter, mas é necessário não vos esquecerdes de fazer o reenvio, sempre que acabar des uma sessão. REENVIO, — "Em nome de Deus, etc, eu despeço e reenvio aos seus lugares todos os espíritos que desceram sobre este espelho, e que a paz de Deus seja para sempre entre eles e mim." Esta conjuração deve também ser dita três vezes, mesmo que não tenha aparecido no espelho nenhum es pírito. O esquecimento desta formalidade acarretará a ruína do espelho. PARA VER UMA PESSOA. — "Em nome de Deus, etc, peço-te (Fulano) aparecer neste espelho, se isto te convém e te é agradável." (não esquecer estas últimas palavras). Quando aparecer a pessoa pedida, deveis fazer o exorcismo que já demos, mudando o nome do Anjo da Guarda pelo da pessoa evocada a fim de vos assegu rardes se é a própria. CONSAGRAÇÃO DOS ESPELHOS SEGUNDO OS MAGISTAS OCIDENTAIS DA IDADE MÉDIA
Esta consagração, segundo diversos manuscritos das Clavículas, feita pelos magistas da Idade Média, era apli cada especialmente aos espelhos metálicos. 34
Sobre uma placa de aço reluzente e bem polida, li geiramente côncava, escrevei com o sangue de um pom bo branco, macho, nos quatro cantos, o seguinte : Jehovah Mittatron
Elohim Adonay
Em seguida, metei o Espelho Mágico em um tecido novo e branco. Quando vier a lua nova, à primeira hora, após o sol posto, aproximai-vos de uma janela, olhai pa ra o céu com devoção e dizei: "ó Eterno! ó Rei
Eterno! Deus inefável, que criaste todas as coisas por meu amor e por um desígnio oculto, para a felicidade do homem, atendei e olhai para mim (Fulano), vosso muito indigno servidor, e considerai mi nha pura intenção. Dignai-vos enviar-me vosso anjo ANAEL sobre este espelho, a ANAEL, que impera e dis põe de seus companheiros, que para serví-lo vós os crias tes, ó todo-poderoso que tendes sido, que és e que serás eternamente! Que em vosso nome eles me atendam, se gundo as vossas leis, ó Deus Eterno, a fim de me instruir e me esclarecer sobre o que eu lhes perguntar." Sobre carvões ardentes, acesos num pequeno foga reiro novo, de terra argilosa ou ferro, atirai o perfume conveniente, que é o açafrão oriental, e ao atirá-lo dizei: "Neste, por este e com este que lanço diante de vos sa face, ó meu Deus, que és tri-um e soberanamente bom, que na mais sublime elevação vedes por cima dos que rubins e dos serafins e que deveis julgar os séculos pelo fogo, escutai-me, ó Deus Eterno." 35
Neste momento, perfuma-se o espelho, expondo-o ao fumo do açafrão, segurando-o com a mão direita e re petindo três vezes a oração acima, terminado o que, so prai três vezes sobre o espelho e dizei: "Vinde ANAEL, vinde, e que vos seja muito agradá vel e de vossa vontade vir a mim, em nome do Padre to do-poderoso + 1 , em nome do Filho muito sábio +, em nome do Espírito Santo muito amável +. Vinde ANAEL, em nome do terrível Jehovah! Vinde ANAEL, pela vir tude do imortal Elohim! Vinde ANAEL, pelo braço do todo-poderoso Mettatron, vinde a mim (Fulano) (dizer vosso nome sobre o espelho), e ordenai a vossos espíritos que, com amor, alegria e paz, façam ver a meus olhos as cuias que me estão ocultas. Que assim seja. Amem". Depois de terdes feito isto, elevai os olhos para o céu e dizei: "Senhor todo-poderoso, que fazeis mover tudo que vos apraz, escutai minha prece e que meu desejo vos seja agradável. Atentai, Senhor, para este espelho, e bendizei-o a fim de que ANAEL, um dos vossos servidores, se aproxime dele, com seus companheiros, para satisfazer (Fulano), vosso pobre e miserável servidor, ó Deus ben dito e muito exaltado por todos os espíritos celestes, que viveis e reinais na eternidade dos bons! Que assim seja." Fazei então o sinal da cruz + sobre vós e sobre o es pelho, estando pronta a cerimônia, que deve ser executa da depois quarenta e cinco dias seguidos, findos os quais l Deve-se fazer o sinal da cruz em cada lugar que houver este sinal: +.
36
ANAEL aparecerá, sob a forma de um belo anjo e orde nará seus companheiros a vos obedecer. Nem sempre são necessários quarenta e cinco dias para a consagração do espelho, podendo ANAEL apare cer desde o décimo quarto dia. Isso depende da intenção, da devoção e do fervor do operador. (Não se esquecer de fazer a oração de reenvio, mes mo que nenhum espírito apareça.) Uma vez consagrado o espelho e tendo-vos já comu nicado com o espírito, quando desejardes ver no espe lho e obter o que vos agradar, não será necessário recitar todas as orações descritas. Bastará, após perfumar o es pelho, dizer: "Vinde ANAEL, vinde, e que vos seja muito agra dável, etc." Terminada a operação, despedir o espírito, dizendo: "Eu vos agradeço, ANAEL, por teres acedido aos meus rogos e satisfeito ao meu pedido. Ide-vos agora em paz, e vinde sempre que vos chame, em nome de Deus, amém." O perfume de ANAEL é açafrão. O QUE É PRECISO PARA OBTER VISÕES
Para obter visões com os Espelhos Mágicos e respos tas às perguntas feitas, três coisas são essencialmente ne cessárias: 1º — o operador. 2º — O vidente. 3º — O instrumento (o Espelho Mágico). 37
DO OPERADOR
Qualquer pessoa para preencher o papel de opera dor. O êxito, porém, depende do grau de pureza de suas intenções, do estado calmo do espírito e de uma certa quantidade de força magnética. Muitas pessoas possuem essa força naturalmente; outras necessitam desenvol vê-la durante algum tempo, por meio de exercícios diá rios de meditação e submissão a um regime alimentício adequado, uso moderado e em ocasiões próprias de ex citantes e exercícios tendentes a implantar o domínio da vontade sobre as impulsões, os apetites e as comoções. Para as pessoas que não sabem fazer os exercícios, vamos dar aqui dois, muito suficientes para o fim em questão. Cada exercício deve ter 10 minutos diários de duração. Primeiro. — Deitar-se comodamente de barriga pa ra cima, e com o corpo bem esticado (não importa o con forto da cama) em lugar perfeitamente silencioso, e, tendo o corpo absolutamente abandonado, sem nenhum movimento, formular no pensamento a noção do NADA, procurando ler mentalmente essa palavra e aprofundar bem na sua significação: pensar em NADA. Segundo. — Nas mesmas condições do primeiro e podendo também ser feito à hora de levantar-se da ca ma. — Fazer uma aspiração pelo nariz, vagarosamente, formulando no pensamento o desejo de armazenar em si força magnética ; reter a respiração, o ar nos pulmões, 1
1 O fluido magnético está à disposição de todos nós e existe em abundância no ar que respiramos. Ele provém dos raios do sol, fonte de toda a vida. Por um esforço de vontade 38
o máximo de tempo possível; e deixá-lo depois sair, mui lentamente, pela boca, persistindo no mesmo pensamen to. (Este exercício dá também resultados ótimos na cura de enfermidades.) DO VIDENTE
Os melhores videntes são,as crianças até l0 anos de idade, as moças até 14 ou 15 e as mulheres muito ner vosas. Isso não quer dizer que não se possam obter boas visões com indivíduos adultos de ambos os sexos, mor mente sendo pessoa de hábitos são e fisicamente desen volvida. Em estado de sonambulismo magnético é fácil obter visões com qualquer pessoa. DO ESPELHO MÁGICO
Há diversas maneiras de construir um Espelho Má gico. Pode-se dizer que eles têm sido tantos quantos os operadores e magnetizadores. Cada um tem a sua fórmula, a sua maneira de ver e por isso cada qual tem procurado introduzir melhora mentos nesses instrumentos físicos. Pela descrição que em seguida vamos dar dos diver sos espelhos conhecidos, o leitor poderá ver quanto o estudo e a perscrutação do Invisível têm preocupado os homens. podemos captá-lo e assimilá-lo ao fluido que nos é próprio, assim como o estômago e o intestino delgado assimilam o substrato dos alimentos que ingerimos e o transformam em sangue, misturando-o ao que já existe em nossas veias e artérias. 39
Como se Fazem os Espelhos Mágicos ESPELHO DOS FEITICEIROS A maneira de os chamados feiticeiros operarem com o Espelho Mágico é tão simples quanto natural. Eles se servem do primeiro espelho que encontram, ou de uma vasilha com bastante água límpida e quieta. Operando com o espelho, colocam-no de modo que a pessoa que deve olhar não possa ver a própria imagem refletida, o que conseguem inclinando um pouco o espe lho. Fazem a pessoa sentar-se alguns palmos de distân cia e recitam mentalmente ou em alta voz uma conju ração ao espírito familiar, que, de pai a filhos, lhes tem dispensado sua benéfica proteção. Se a pessoa pode ou deve ser satisfeita, a visão não se fará esperar; nesse caso é que o espírito conjurado tem poder sobre o objeto ou a pessoa que aparece na vi são e pode por consequência influenciar, dizem eles, so bre o resultado da operação. Quando a consulta é feita por causa de roubo, por exemplo, o ladrão aparece ao vidente e quase sempre é obrigado, pelo espírito que o dominou, a restituir o fruto do seu crime, se ainda está de posse dele. Em uma con sulta de qualquer outro gênero, o consultante ou o viden41
te recebe no espelho uma solução alegórica, mais ou me nos verdadeira. Operando com uma vasilha cheia de água, a posi ção do consultante é em pé, de modo que os pés toquem na vasilha, a cabeça pendida sobre a mesma, de manei ra que possa mergulhar o seu olhar no centro, onde deve aparecer a imagem. A evocação do espírito familiar é a mesma, assim como os resultados. ESPELHO CAGLIOSTRO
Cagliostro 1 era um sábio cabalista e filósofo her mético, tratado de charlatão por uns e de sábio por ou tros, que, tanto quanto outros herméticos e ocultistas, ofereceu ao mundo científico fatos que a crítica unica mente pôde explicar negando-os ou ridicularizando-os. Cagliostro servia-se comumente de Espelhos Mági cos, tanto para pasmar e confundir os incrédulos, como para os seus estudos particulares. Em público costumava recorrer a pupillos, nome que ele dava a crianças virgens, e nos seus estudos pra ticava o sonambulismo lúcido, com a ajuda de uma lú cida de primeira ordem. Os seus espelhos eram simplesmente compostos de uma garrafa de água bem clara, que ele pedia que lhe arl Conde Alexandre de Cagliostro, cujo verdadeiro nome era Giuseppe Bálsamo, nasceu em Palermo, em 1743 e faleceu em 1785. Teve uma vida aventureira e acidentada, em viagens constantes, mormente pelo Oriente, Pérsia e Arábia, onde ad quiriu grandes conhecimentos do Ocultismo. •42
ranjassem, quando lhe rogavam que desse prova do seu saber sobre o assunto. Se não tinha à mão os seus pupillos, Cagliostro ser via-se da primeira criança que encontrava entre as pes soas da casa onde se achasse. Ele fazia, igualmente, uma prece secreta ou con juração ao seu espírito familiar, conjuração mental, que ninguém conhecia. Colocava a garrafa cheia de água so bre uma mesa coberta com um pano branco, iluminada, de cada extremidade posterior, com uma vela; depois co locava a criança em pé, diante do espelho, dizendo-lhe que fixasse bem a água, até o momento em que o espíri to evocado se manifestasse. Cagliostro conservava-se em pé, por trás da criança, impondo-lhe uma mão sobre a cabeça, com tal gravidade, que se impunha aos assis tentes. Quando a criança dizia ver o espírito evocado, o ope rador fazia-lhe então dirigir as perguntas, às quais o es pírito respondia por meio de quadros alegóricos ou de imagens exatas. A criança não via sempre o espírito, mas comumente dizia ver imagens que maravilhavam todo o auditório, enchendo-o de espanto. ESPELHO DO BARÃO DU POTET
Dá-se esse nome ao Espelho Mágico imaginado pelo Sr. Barão du Potet. Este magnetizador tomava um pedaço de carvão ve getal ordinário, com o qual traçava um círculo preto, de dez centímetros, mais ou menos, sobre o soalho do seu 43
salão, pedia em seguida às pessoas que desejavam ex perimentar para ficar a alguns pés de distância desse círculo, de pé, e olhar bem fixa e atentamente o seu cen tro. Após alguns minutos de espera a visão tinha ou não lugar. Ignora-se se o Sr. Du Potet influenciava pelo pensamento ao sujet que desejava obter a visão, o que é bas tante provável. Esse espelho produzia efeitos acidentais, pois, co mo em todos os outros espelhos, esses efeitos não tinham lugar senão sobre as pessoas suscetíveis a esse gênero de visão. Os videntes nele apercebiam imagens fugitivas, que o magnetizador parecia não haver evocado, e menos ainda tentava tirar partido (pois poucas dessas visões são citadas nas obras desse autor). Em todo caso elas da vam em resultado a constatação de uma verdadeira vis ta à distância, retrospectiva ou futura, de fatos interes santes a estudar. Todos os discípulos do Sr. Barão Du Potet, a exem plo do seu mestre, puseram-se a fabricar diversos gêne ros de Espelhos Mágicos, com os quais obtiveram efeitos semelhantes, mas não superiores. Um desses espelhos, que parece haver subsistido aos demais, constitui-se em um pedaço de cartão, cortado em forma oval, de dez cen tímetros, aproximadamente, de comprimento, tendo uma folha de estanho colada sobre um dos lados, e um teci do preto sobre o outro. Para operar com ele, o magnetizador deve magne tizá-lo fortemente com o seu fluido e trazê-lo constante mente consigo, e ao querer servir-se dele deve tomá-lo 44
com a mão direita, colocando-o contra a palma e envol vendo os bordos com os dedos encurvados, como pontos magnéticos pelos quais se escapam os fluidos, apresen tando qualquer dos lados a um palmo de distância, mais ou menos, da raiz do nariz da pessoa que deseja ver. Dez minutos de fixação são suficientes para a visão, se ela se puder realizar. ESPELHOS SWENDEBORG Dá-se igualmente a este Espelho o nome do espí rito que ensinou o modo de fabricá-lo e que Cahagnet menciona nos seus Arcanos. Toma-se uma pequena quantidade de plumbagina, bem tamisada, que se dilui em uma quantidade suficien te de azeite de oliveira, numa vasilha que possa ir ao fo go, de maneira a formar uma pasta bastante clara. Põese esta preparação sobre um fogo brando, para melhor facilitar a diluição. Toma-se então uma lâmina de vi dro, limpo, e aproxima-se lentamente do fogo, para co locá-la em temperatura própria a poder receber a mistu ra de plumbagina sem estalar e partir. Coloca-se a lâmina sobre dois pedaços de madeira e entorna-se sobre ela a pasta. Inclina-se então a lâmina para diversos lados, a fim de facilitar o líquido a cobrir igualmente toda a superfície, o que é preferível a servirse de um pincel, que deixaria deformidades na distribui ção da massa. Uma vez estendida a massa sobre a lâmina de vidro, se ela ficar muito clara e mole, basta pulverizar com 45
plumbagina seca, bem tamisada também, para obter uma amálgama completa. Coloca-se então o vidro sobre um móvel, horizontal mente e não se deve servir dele senão passados alguns dias, colocando-o numa moldura. Este espelho tem a vantagem, sobre os estanhados, de não fatigar a vista e tornar as imagens mais per feitas. Para operar com ele deve-se colocá-lo no lugar es colhido, de maneira a não refletir a imagem da pessoa que deseja ter a visão. O operador deve ficar atrás da pessoa, fixando-a magneticamente no cerebelo (a parte do encéfalo que ocupa o lado inferior traseiro da cabeça), com a inten ção de que o fluido assim projetado pelo seu olhar vá juntar-se ao do sujet, para iluminá-lo. A maior parte dos magnetizadores juntam a essa ação uma prece mental ao anjo da guarda do vidente. ESPELHO MÁGICO MAGNÉTICO
Chama-se assim o espelho magnético constituído de um globo redondo de cristal, da capacidade de um litro, mais ou menos, que se enche de água límpida clarifica da e fortemente magnetizada. Coloca-se o globo sobre um pequeno suporte de ma deira, de maneira a que não entorne, e põe-se tudo so bre um móvel fixo, fazendo-se então o sujet olhar para o centro do globo, durante dez minutos. Os magnetizadores que não crêem na influência dos espíritos, neste gênero de visões, limitam-se a agir mag46
neticamente sobre a pessoa que tenta a experiência, e muitas vezes obtêm os mesmos resultados que os magne tizadores espiritualistas, que durante a operação, implo ram, pela prece mental, a assistência de espíritos supe riores, nos quais tenham confiança. Contudo, a prática leva-nos a afirmar que, desta úl tima maneira, as visões costumam ser mais claras, mais compreensíveis e menos cheias de erros. Na falta dos globos a que aludimos, que, pela for ma esférica, são preferíveis a todos os outros, pode-se servir de garrafas ou copos, igualmente cheios de água magnetizada. As crianças geralmente vêem melhor, neste gênero de espelhos, do que as pessoas adultas. ESPELHO MAGICO HINDU
(A Bola de Cristal) Um dos mais eficazes Espelhos Mágicos é o usado ultimamente pelos estudantes de psiquismo das duas partes do globo: a Europa e a América, especialmente a Inglaterra e os Estados Unidos. Queremo-nos referir à Bola de Cristal. Os escritores ocultistas americanos, modernos, consideram o uso da Bola de Cristal como uma forma nova do que os antigos chamavam Espelhos Mágicos e a acham o melhor método de desenvolvimento do poder psicossomático. O uso da Bola de Cristal serve para 47
evocar o desejo concentrado, a vontade e o pensamento da pessoa de modo a se tornar o ponto de partida de uma espécie de tubo astral. Para operar eis o que é preciso fazer: — Limpa-se bem a BOLA DE CRISTAL, de maneira que na sua su perfície não se notem grãos de poeira, e que a transpa rência seja a melhor possível. Em seguida, aquece-se-a entre as mãos do operador e envolve-se-a num pedaço de veludo roxo ou preto. A obscuridade será quase com pleta e o quarto em que se opera, orientado na direção Norte. O clarão da lua é muito favorável a este gênero de adivinhação. O operador senta-se comodamente, também voltado na direção do Norte e toma a BOLA numa das mãos ou deposita-a sobre o veludo que a envolve, uma vez desdo brado, sobre uma mesa ou outro móvel qualquer, coloca do diante da cadeira em que se instalou o observador. Este fixa o cristal bem no centro, a uma distância idênti ca àquela em que se disporia um livro que se quises se ler. As experiências devem ser feitas duas horas, pelo menos, depois da última refeição. É preciso esperar, no mínimo, cinco ou seis minutos antes que se perceba alguma coisa. Uma pessoa não edu cada neste gênero de operações pode ter uma visão im perfeita. Todavia, ao cabo de um pequeno número de ten tativas, as visões aumentarão de nitidez e de precisão. Como se vê a experiência é facílima, e, não raro, pro duz resultados de um efeito surpreendente, maravilhoso. 48
Quando olharmos na BOLA DE CRISTAL devere mos resguardá-la de reflexos, de modo que ofereça aos olhos uma superfície uniforme sem partes brilhantes.
Para alcançarmos isso, devemos voltear a BOLA com um pedaço de seda escura ou de veludo, ou segurando-a na mão em posição côncava, ou mesmo na ex tremidade dos dedos, contanto que as condições já referi das sejam observadas. A BOLA deverá ficar afastada dos nossos olhos na distância habitual. O olhar não deve unicamente repousar na superfí cie da BOLA, mas procurar penetrar no interior da mes ma o que não é difícil conseguir. As causas que por este método, baseado na experi ência, determinam o desenvolvimento das percepções in teriores são várias e múltiplas. Deve-se fixar a BOLA com intensidade, evitando-se, porém, fatigar os olhos; manter-se em estado de comple ta passividade, tendo a consciência livre de todas as im pressões e, se possível, até da presença da própria BOLA. As experiências não deverão jamais ir além de 15 a 20 minutos consecutivos. Terminada a experiência no prazo determinado, embrulha-se a BOLA no pano es curo e aguarda-se tranqüilamente outra oportunidade para refazer a experiência. A BOLA deve ser conserva da no seu pano e em uma caixa onde ela esteja só. A BOLA deve ser usada diariamente à mesma hora e, se for possível, no mesmo local, observando-se sempre 49
com cuidadoso interesse as instruções referidas, quer quanto à posição, passividade, etc, etc. O operador deverá estar sempre só, porque o isola mento é muito favorável ao desenvolvimento da clarivi dência. O fazer penetrar o olhar no interior da BOLA não é uma coisa difícil, e o próprio reflexo do rosto do expe rimentador, com o tempo, cessará de perturbar a vista quando este se aprofunda na BOLA. Algumas pessoas obtêm resultados imediatos, outras só o conseguirão depois de 15 ou 20 minutos de es forço; e, a certo número de pessoas, porém poucas, só o podem conseguir após 8, 10 ou mais sessões. Quando não se obtêm resultados pelos processos an tes indicados, será bom experimentar o seguinte: Levantar a BOLA até aproximá-la o mais possível de um dos olhos, o esquerdo, por exemplo e, então, fechar o olho direito e com o outro olhar fortemente a BOLA. O experimentador, já exercitado, observará refleti do na superfície da BOLA TUDO QUANTO DESEJAR SABER; por exemplo, o que faz certa pessoa em deter minado momento e isso ainda que esteja em local dis tante; o passado e o presente; o próprio futuro será des vendado naquilo em que for permitido. Mediante um pequeno ensaio de duas a três vezes ao dia, quase todos poderão desenvolver esse poder oculto; e a nitidez das imagens obtidas, aliada com a seguridade do fenômeno, proporcionarão ao experimentador con50
tinuas surpresas, servindo-lhe de poderoso estímulo pa ra prosseguir. De qualquer forma, desde que se deseje obter resul tados importantes, jamais se deverá desanimar, ainda que sejam infrutíferos os primeiros resultados. Assim, pois, desde que se obtenham as condições fa voráveis, deve-se fixar o olhar com toda calma na BOLA DE CRISTAL e as imagens ir-se-ão apresentando clara mente, aumentadas umas ou reduzidas outras, confor me o grau de força da faculdade. Em vários casos e para algumas pessoas, a BOLA apresenta uma superfície negra e sobre este fundo escuro movem-se figuras no começo informes, porém, que, pou co depois, adquirem formas definidas; e notar-se-á que vultos e rostos de diversas formas se apresentarão e de saparecerão. Observamos que as imagens refletidas na BOLA correspondem sempre à vontade da pessoa e de acordo com a sua inteligência; por isso é indispensável conseguir o mais elevado grau da faculdade, desenvolvendo em si próprio a clarividência, de cuja existência muitas vezes se tem apenas uma vaga percepção. Esta faculdade positivamente poderá também ser vir de poderoso fator à realização de nossas aspirações, porquanto o espírito do experimentador exercita-se pe la concentração, conseguindo aprofundar-se em suas me ditações, podendo igualmente melhor gravar na memó ria o que lhe dizem e o que vê e obtendo maior soma de energia moral e material. 51
Encontram-se à venda BOLAS BOLAS DE CRISTAL, CRISTAL, apro priadas para o estudo agora ministrado, ministrado, na Publieco Publieco Pro moções Ltda. Caixa Postal, Postal, 11.000-ZC. 14 Rio-20.000
Enviam-se pelo Reembolso Postal. ESPELHOS MÁGICOS NARCÓTICOS
O Espelho Mágico Narcótico é de invenção do mag netizador netizador A. A. Cahagnet Cahagnet e compõe-se compõe-se de globos iguais iguais aos do Espelho Mágico Magnético, descrito páginas antes i— cheios de água destilada de plantas narcóticas. Vamos dar a palavra ao próprio autor autor para descre ve-los : "ESPELHO NARCÓTICO NARCÓTICO —Dei esse esse nome nome a seme seme lhantes lhantes globos de cristal, cristal, mas cheios de água destilada de plantas narcóticas. Tive a idéia de de construir tais espe espe lhos, como teria de outros, se as minhas posses e minha saúde o permit permitiss issem. em. Concebi sua composiç composição ão segundo as noções que tenho da especialidade narcótica das plan tas tas de que me sirvo, apoiando minha opinião a esse res peito sobre as proposições seguintes: 1º — De que manei maneira ra os corpúsculos dessas plan plan tas (sendo absorvida absorvidass interiormente) produzem produzem,, por sua ascensão ao cérebro, os efeitos de visão que lhe são atribuídos? 2º — Qual Qual é o volum volume e de cada cada um desses corpús culos? 3º — Exis Existem tem neles mesmos essas criações ou pro duzirão simplesmente o movimento dessas imagens em nosso domínio? 52
4º — Agindo eles diretamente diretamente no nervo nervo óptico, ou sobre as ramificações ificações internas internas desse nervo, nervo, produzirão produzirão o mesmo resultado? É difícil responder matematicamente a essas per guntas. guntas. O que que poderei poderei dizer é que a quanti quantidade dade ou vo lume desses corpúsculos não nos deve deter a atenção, pois pessoas de certa organização, ao simples contato do seu aroma, entram no estado de visão que eles provo cam, como podemos observar na eterização, no magne tismo, etc. Sobretudo, foi o fluido magnético que prendeu mi nha atenção, sabendo que algumas pessoas podem cair cm estado magnético, um grande número de vezes, e em estado sonambúlico durante um certo tempo, pelo sim ples contato contato de um anel anel ou de outro qualquer objeto objeto magneti magnetizado zado e por ver ver que me é suficiente suficiente fixar, fixar, sim sim plesmente, durante um segundo, um sujet sensível à mi nha ação, para o mergulhar nesse estado de visão. Concluo, pois, que a absorção, por insignificante que seja, desses corpúsculos, não importa como ela seja feita, é suficiente para os resultados desejados, e que, por conseqüência, conseqüência, um globo globo de cristal cristal,, no qual haja haja uma quantidade cem vezes maior que a necessária da substância em questão, questão, não constitui absolutamente obstáculo obstáculo à passagem dos corpúsculos e à sua comunica ção com os raios visuais visuais que se venham im imergi ergir r em seu seio, pela fixidez do olhar. Acreditei Acreditei assim poder poder dirigir mais direta diretam mente, à sede onde deve produzir-se sua manifestação, esses cor púsculos narcóticos, e fundei sobre esse esse sistema sistema uma es53
perança que não foi desmenti desmentida. da. Se o êxito não é geral, ao menos é bastante grande, e eu me apresso a dar aqui conhecimento da maneira por que preparo esse globo. Tomo uma forte pitada de cada uma das seguintes substâncias substâncias:: beladona, meimendro, meimendro, mandrágora e flo flo res de cânhamo, e, em seguida, uma cabeça de dormidei ra (papoula) (papoula) moída e três gramas gramas de ópio, ópio, pondo tudo a macerar, durante 48 horas, em um frasco de vidro de bico curvo, próprio para destilação, da capacidade de dois litros, litros, mais ou menos, metade cheio de bom vinho maduro. Decorrido esse tempo, ponho tudo ao fogo, para destilar e obtenho assim um líquido muito claro, com o qual encho o meu meu globo, que, bem arrolhado, serve para fazer minhas experiências. Tenho o cuidado de não deixar este líquido à mão de curiosos, que poderiam levar sua investigação até be bê-lo e sentir sentir efeitos efeitos que, sem ser mortais, mortais, poderiam consideravelmente perturbá-los. Para operar procedo como com os outros outros Espelhos Espelhos Mágicos. Tem-se Tem-se o costume costume de fazer experiências à noit noite, e, (em que é preciso, naturalmente, servir-se de luz convenien te) porque é à noit noite e que que a tranqüilidade tranqüilidade é mais perfei ta, mas também podem ser feitas de dia e não se deve absolutamente preferir a noite pelo dia." ESPELHO GALVÂNICO agnetiL. A. Cahagnet narra no seu livro Magie Magnetique como foi spelho Mágico foi levado à descoberta do Espelho Galvânico. 54
Um dia, olhando maquinalmente para uma moeda de cobre de dois cêntimos, muito brilhante, sentiu uns picotamentos sobre o bordo das pálpebras, que lhe pa receram extraordinários. Pareceu-lhe que eles deveriam ser produzidos pela espécie de liga dos metais que en tram na composição dessa moeda, que dava em resul tado desprender-se delas uma corrente galvânica. É conhecida a idéia que têm quase todos os magne tizadores de que o fluido magnético possui grande ana logia com o fluido elétrico, havendo mesmo certas opi niões de que eles só diferenciam na espécie de movimen to de que são possuídos. Isso justifica o motivo por que Cahagnet julgou encontrar no metal constituinte da moeda um excelente acumulador de fluidos. Lembrou-se ele então de ajustar um disco de zinco do mesmo tamanho sobre a moeda que tinha na mão. Fixou-lhe a vista, como antes, e sentiu que a ação era mais forte. Refletindo sobre a facilidade de tirar partido da ação dos metais sobre o nervo óptico, pôs-se a polir o melhor que pôde os dois discos, imaginando que, quanto mais o polido fosse brilhante mais conseguiria deixar a desco berto os póros dos metais, e, por conseqüência, obteria dessa forma verdadeiros tubos, emanantes de uma luz que, por invisível que fosse, em seu estado material e condensado, nem por isso deixaria de ser a mais pura e a mais bela das luzes materiais conhecidas até os nossos dias, uma vez restituida à sua liberdade corpuscular. Cahagnet diz que não se enganou, pois o polido deu às peças de metal toda a pujança de efeito que poderia 55
esperar, isto é, uma força tripla ou quádrupla da que tinham em seu estado bruto. Não tendo podido, com o auxílio de uma simples li ma doce e papel-esmeril (lixa) obter senão um belo poli do, mas não um belo brunido, encarregou o Sr. Lecocq, relojoeiro da marinha, de tornear um par de discos de cada metal (cobre e zinco), sendo o disco de cobre con vexo e o de zinco côncavo, e apresentando ambos, quan do perfeitamente ajustados, as duas superfícies exterio res planas. O Sr. Lecocq fez-lhe uma verdadeira jóia, na qual Cahagnet reconheceu uma grande força, pois o esplen dido brunido da peça de cobre, convexa, reenviava a seus olhos, com grande intensidade, os raios magnéticos que deles escapavam, iluminando-lhe a vista a tal ponto que ele podia distinguir formas e imagens muito belas e cheias de vida. Cahagnet enviou alguns desses discos a um seu ami go residente em Strasburgo, o qual os submeteu ao exa me de uma excelente sonâmbula lúcida. Apenas ela viu e tocou nos discos, disse que eram muito bons, mas que achava que eram muito fracos. A mesma sonâmbula lú cida, então, estando sob a inspiração de um espírito de sencarnado, que durante a sua passagem na terra ti nha tido afeição muito pronunciada pelo estudo da eletricidade, submeteu à sua apreciação os discos. O espí rito disse-lhe que aconselhasse o seu amigo a seguir exatamente os detalhes que ele ia dar e que foram estes: "Escolha um pedaço de cobre do mais vermelho e corte um disco de 15 centímetros de diâmetro, devendo 56
pesar 25 gramas. Corte um disco igual de zinco com o mesmo peso . Dê esses discos a um torneiro para os acer tar um sobre o outro e fazer no de cobre uma cavidade de um centímetro de profundidade, e no de zinco um relevo da mesma altura, de modo que o relevo do disco de zinco encaixe na cavidade do disco de cobre, e fiquem ambos os discos perfeitamente unidos e certos. É preci so que o polido do interior dos discos não deixe nada a desejar, principalmente do disco de cobre. Deve-se então magnetizar esses discos durante nove dias, duas vezes por dia e dez minutos de cada vez, ten do-se o cuidado de, antes de começar cada magnetiza ção, chamar em seu auxílio um espírito desencarnado, no qual se tenha fé para esse gênero de operação, a fim de que ele influencie com todo o seu poder o Espelho, paira lhe comunicar a propriedade desejada. Depois desses nove dias, pode-se servir do Espelho, tendo a parte convexa (zinco) na palma da mão esquer da e fixando MUITO ATENTAMENTE o centro da par te côncava (cobre) que se deve ter sobre a palma da mão direita, com um grande desejo de aí ver o objeto, o lugar ou a pessoa que der motivo à consulta. Ficai convencido, continua o espírito, que esses es pelhos, feitos com cuidado e nas condições que acabo de descrever, produzem efeitos superiores a todos os espe lhos até agora conhecidos." "O meu amigo enviou-me cópia da ata dessa ses são, pedindo-me que lhe mandasse fazer um espelho, con forme havia sido descrito pelo espírito, o que eu fiz, ime57
diatamente, encomendando diversos a um operário fun didor e torneiro. Logo que eles ficaram prontos, dei-me pressa em mergulhar o olhar em sua face polida, mesmo sem a magnetizar ou invocar espíritos, o que não me impediu de distinguir diversas personagens, assim como um lugar à distância que, embora não apresentasse detalhes per feitamente exatos em todos os pontos, era exato nos fa tos principais, o bastante para não poder ser recusado. O primeiro espírito que vi nesse Espelho foi o de Swendeborg, mas somente do busto para a cabeça. Enviei então ao meu amigo o Espelho que lhe era destinado, e pouco tempo depois ele afirmou ter visto ne le muitas coisas. O meu amigo fez diversas experiências do Espelho com pessoas do seu conhecimento, que di ziam perceber diferentes objetos. Mas, como em tudo, o hábito de ver facilmente o que se deseja faz esquecer ou não ligar grande impor tância a essa faculdade; e o meu amigo passou muito tempo sem mais falar no seu Espelho Mágico. Ultimamente, porém, recebi dele uma carta, em que dizia que, levado por um complemento de indicação da parte do Espírito que lhe havia ensinado a confeccionar o Espelho, o havia magnetizado durante um mês, duas vezes por dia, em vez de nove dias, antes recomendados, e que havia invocado em seu auxílio dois Espíritos desen carnados em vez de um só. Terminava a carta dizendo que possuía agora um Espelho que correspondia perfei tamente aos seus desejos. Expedi também um Espelho semelhante para Niort, 58
a um amador para o qual já havia feito confeccionar di versos, de diferentes maneiras, com os quais só obtinha um resultado secundário. Mas com este não aconteceu o mesmo. A primeira pessoa a quem esse senhor pediu pa ra experimentar com o Espelho, ficou de tal modo agi tada que o repeliu para longe dela, depois de ter perce bido uma imagem qualquer. Em uma segunda experiência, os resultados foram os mesmos, o que fez essa pessoa tomar aversão pelo Es pelho, não querendo mais tocar nele. Essa pessoa não tinha podido nunca perceber qualquer coisa em qualquer dos Espelhos com que tinha experimentado antes. O meu amigo de Niort, reconhecendo uma virtude no Es pelho, superior a todos os outros, pensou em submetê-lo a apreciação da Sra. M., excelente sonâmbula lúcida, muito conhecida, residente nas proximidades dessa ci dade. O Sr. M., marido e magnetizador dessa sonâmbula, disse ao meu amigo: "Minha mulher não verá nesse Espelho mais do que tem visto em todos os outros que lhe tenho apresentado, inclusive aquele de que fala o Sr. Cahagnet em seu livro Les Arcanes. Acho que é inútil experimentarmos." Mas o meu amigo insistiu e a experiência foi feita, sendo os seus resultados bem diferentes dos resultados obtidos com outros Espelhos, "pois a Sra. M., — escre veu-me o meu amigo de Niort, na mesma noite — está num estado nervoso em que até agora não a vimos. A ação magnética do seu marido não tem poder sobre ela, e ela acha-se de cama, bastante doente". 59
Perguntava-me então esse senhor se eu não havia influenciado esse Espelho, garantindo que, por sua par te, em tal não havia pensado. Eu respondi que havia somente fixado a vista alguns minutos no Espelho, antes de o enviar, mas sem ne nhum pensamento de magnetizá-lo ou influenciá-lo de nenhum modo, do que, aliás, seria incapaz, por me pa recer semelhante proceder tanto criminoso como co varde. Acrescentei ainda que o Sr. M. não se assustasse, pois o incidente não teria conseqüências. Algum tempo depois, encontrei-me com o meu ami go de Niort, em Paris, onde ele tinha vindo, e de novo con versamos a respeito do Espelho em questão, dizendo-me que ele não tinha querido mais experimentar, desde en tão. Pedi então a Adélia, uma sonâmbula por mim for mada, estando ela em sono magnético, que examinasse essa superfície convulsiva e me dissesse se lhe encontra va alguma má influência. Adélia examinou-a em todos os sentidos e declarou achar o centro do Espelho muito ardente, mas não maléfico. Ela não podia fixar a vista na parte côncava por mais de meio minuto, assegurando-me ainda que esse Espelho era o mais forte de todos quantos tinha examinado até então. Opinou, como a lúcida de Strasburgo, que o Espelho devia ser posto sob a influência de bons espíritos. Essa série de incidentes e fatos foram de bastante força para levar o Sr. Cahagnet a não abandonar o es tudo iniciado no seu Espelho Mágico Galvânico, sobre60
tudo quanto aos seus efeitos elétricos, magnéticos e me dicinais. Eis aqui, em suma, os aperfeiçoamentos que ele ain da introduziu no seu maravilhoso aparelho: Mandou polir e brunir a parte de zinco (convexa) de maneira a ficar resplandescente e límpida como a par te de cobre (côncava). Bastava então fixar o seu olhar durante 10 minutos na parte côncava para sentir uma forte pressão na raiz do nariz e na fronte, assim como vivos picotamentos no bordo das pálpebras; a sua vista se iluminava a tal ponto que, em qualquer lugar para que olhasse via um nevoeiro de faíscas elétricas, de for mas azuladas, faíscas que acabavam por fasciná-lo. Teve então a idéia de olhar para a parte de zinco (convexa) e pareceu-lhe experimentar uma sensação de frescor, calmante e benfazeja, que lhe tornava a cabeça leve. O Sr. Cahagnet formulou, pois, a sua teoria do se guinte modo: No primeiro caso, os raios visuais-magnéticos que se escapavam dos olhos, convergindo ao centro côncavo do instrumento, eram reenviados aos olhos com uma força superior, o que fazia com que ele se magnetizasse a si mesmo sem o querer nem supor. O fluido magnéti co, junto ao fluido galvânico-elétrico, que se escapava dos dois discos, saturavam-lhe o cérebro com atividade incrível. O que o cimentou na sua opinião foi a aproxi mação que ele fez dessa proposição com as colhidas no estudo da física, a propósito dos espelhos côncavos, que são conhecidos como possuindo a propriedade de re61
percutir, muito longe, os raios luminosos que recebem de qualquer corpo inflamado. Essa experiência é feita assim: colocam-se dois es pelhos metálicos côncavos, de três a seis pés de diâmetro cada um, um defronte do outro, a uma distância conve niente. Aproxima-se um fogareiro cheio de carvão aceso, a algumas polegadas do centro de um dos espelhos. A luz corpuscular refletindo no centro metálico, não tarda a se projetar em linha horizontal, para o centro do segun do espelho, que a reenvia, por sua vez, a uma matéria qualquer inflamável, colocada igualmente a algumas po legadas do centro, que se incendeia. Essa poderosa e invisível força, cuja descoberta cons ta dever-se a Arquimedes 1, foi por ele utilizada na de fesa da sua pátria contra a invasão estrangeira, segun do narra a história. Mas, voltemos às demonstrações do Sr. Cahagnet: "Estudando a parte de zinco do Espelho, minha aten ção fixou-se em uma idéia diferente, observando que os mesmos raios visuais divergiam, ao contrário, para a pe riferia do disco, o que, por conseqüência, descarregavame o cérebro. Não encontrei nada de novo nesse resul tado. Observei, simplesmente, melhor apreciando, a ação dos dois pólos que existem em todas as formas criadas. Não fiquei, porém, ai, pois convenci-me ter encon trado um caminho que devia conduzir-me a outras ob1 Arquimedes, o maior geômetra da antigüidade, nasceu em Siracusa no ano 287, antes de Jesus Cristo, e morreu em 212; visitou o Egito em sua mocidade e inventou diversos apa relhos hidráulicos e físicos. É dele a célebre frase: "Dêem-me um ponto de apoio e levantarei o mundo." 62
servações. Com efeito, se eu reconhecia em um dos dois lados do espelho uma faculdade emanante e em outro la do uma faculdade absorvente, fácil era concluir ter en contrado o motivo por que certas pessoas ordinariamente não podem ver nada em nenhum outro espelho, e isto por que em uns não encontram quantidade suficiente de eletricidade para saturar sua vista, enquanto que em outros a encontram em demasia. O espelho galvânico, convém, pois, perfeitamente e se adapta a todas as pessoas, visto reunir as duas facul dades — emanante e absorvente — necessárias confor me o caso. As pessoas por si mesmo muito carregadas de ele tricidade podem aliviar-se um pouco fixando a parte convexa do espelho (zinco), e as que possuem eletricida de em pequena dose podem saturar-se dela, fixando a parte côncava (cobre). Sempre acreditei que a causa principal da dificul dade na obtenção das visões estava na pequena ou de masiadamente grande quantidade de eletricidade que ca da um de nós possui no olhar: esse é o único motivo de que todos não possam facilmente gozar de uma faculda de que todos os seres deviam possuir. Os sonâmbulos lúcidos dão-nos muito boas indica ções a esse respeito, quando pedem ao seu magnetizador que os descarreguem de fluido ou que lho aumentem. O que acabo de dizer não é mais que uma hipótese, uma proposição, como já deveis ter compreendido. Igno ro até que ponto estou com a verdade; entretanto, al guns fatos por mim estudados abonam essa hipótese. 63
Eis os fatos: Se aplicardes esse espelho à pele nua ou ligeiramente coberta (sobre uma dor reumatismal, um ingurgitamento sangüíneo, uma condensação de flui dos, ou uma inflamação qualquer), durante alguns mi nutos, facilmente ficareis sabendo qual dos dois lados é o preferível e conveniente à moléstia, pois um redobrará, em certos casos, o mal, e o outro acalmará quase instan taneamente. Nunca vi nada, nessas circunstâncias, de uma ação ativa como a desses discos, que, de resto, não oferecem nada de novo à ciência, que emprega há muito tempo o galvanismo no tratamento de certas moléstias. Mas devo observar que o gênero, a forma, e sobretudo o poli do desse par de discos merecem ser estudados, a fim de se reconhecer, como eu afirmo e creio, que a emissão do fluido galvânico é mais considerável e mais pura sain do com uma só força por milhares de poros, postos assim a nu por esse belo polido, o qual, aplicado contra a pele, nela produz uma espécie de sucção, muito mais forte e sensível do que as placas brutas, que se empregam ordi nariamente em semelhantes circunstâncias.. Não deveis perder de vista esta proposição e deveis refletir que as correntes galvânicas como as elétricas, encontram um obstáculo que tende a anulá-las nas ma térias graxeas, e que a nossa pele é um conjunto inesgo tável de glândulas de matérias gordas, impregnando fa cilmente as placas que nela repousem. As placas têm, pois, necessidade de serem constan temente limpas, se não se quer que as correntes galvâ nicas fiquem isoladas pelas matérias a que nos referi64
mos. Eu o faço, assim, cuidadosamente, cada vez que me sirvo delas, seja para aplicação sobre um doente, seja para experiências de visão espiritual. Coloquei cada disco do espelho galvânico de que nos ocupamos em um quadrado de madeira, que sobrepus um ao outro, mas de modo que nem a parte de cobre, nem a de zinco, pudessem tocar contra coisa alguma que as arranhasse. Fiz de cada lado dos quadrados de madei ra, à direita e à esquerda, um buraco, pelo qual introduzi dois pequenos fios de cobre vermelho, fazendo com que a ponta de um tocasse na parte de cobre e a ponta do ou tro tocasse na parte de zinco, de maneira a estabelecer duas correntes. Em seguida enrolei cada um dos fios que ficavam da parte de fora em forma de anel. Esses anéis servem para por eles segurar e suspen der todo o aparelho. À pessoa que quer fazer uma expe riência de visão espiritual recomendo que o segure en tre a primeira falange do polegar e a primeira do indica dor de cada mão. Faço colocar-se essa pessoa com as costas voltadas para a luz do dia, de maneira a receber os raios de luz no centro do espelho, para onde peço fixar a vista atenta mente e sem nenhuma distração, durante dez minutos, mais ou menos, bem compenetrada do assunto da expe riência, pois todo o êxito reside nisso. Não tenho podido, até hoje, ocupar-me tanto quan to desejava com as experiências de visão espiritual, mas, em compensação, tenho adquirido provas irrecusáveis dos bons efeitos que se podem esperar do emprego des65
ses discos, na cura ou no alívio das moléstias de que já falei. Há poucos dias, uma moça de minhas relações dese jou tentar uma experiência de visão espiritual. Eu a fiz colocar-se de pé, a uma distância de alguns pés do es pelho, que estava pendurado à altura dos seus olhos. No momento, prestava pouca atenção à moça, mas, pas sados alguns minutos, percebi que ela continuava de pé, olhos fechados, sem nenhum movimento. Dirigi-lhe a palavra, depois de havê-la desembara çado dos fluidos e a fiz sentar-se. Ela disse-me que tinha entrado nesse estado dois minutos depois de começar a fixar o espelho. Estava em sonambulismo e prometia tornar-se uma boa lúcida se eu tivesse tempo para desenvolvê-la. Não quero aqui falar do meu testemunho em favor do espelho galvánico, pois também vejo bem nos outros; entretanto, posso assegurar que nunca vi melhor em qualquer outro. Devo ainda fazer uma recomendação: em caso de te servires dele para aliviar dores, e que encontres algu ma pessoa que não possa suportar a sua aplicação, por motivo de sobrecarga de eletricidade que essa mesma pessoa possua, te aconselho a não aplicar sobre ela senão a parte de zinco, colocando então dois pequenos fios con dutores, de cobre, um em cada anel, fazendo-os descer até ao chão, descarregando desse modo a eletricidade em demasia. Farás o oposto, caso se trate de uma pessoa que pos sua pouca eletricidade, isolando-a do solo por meio de 66
duas tábuas de madeira, sobre as quais deveis colocar a sua cadeira. Debaixo das tábuas, deveis colocar, em ca da canto, um pedaço de vidro, de cera ou de resina, bons isolantes. Para fazer-se uso do Espelho Mágico nas experi ências de visão espiritual, certos autores recomendam a evocação aos espíritos. Ignoro se ela é necessária em todos os casos; ensino aqui o que um espírito me reco mendou. Entretanto, cada um pode fazer o apelo ao espí rito ou ao santo de sua crença ou simpatia. Nas experiências que tenho feito isso nunca me foi indispensável; entretanto, se é verdade que em física, em química ou em medicina obtém-se sempre resultados idênticos, sem ser necessária a evocação — no gênero de experiência de que tratamos não se poderá garantir ou tro tanto. Se, estudando os efeitos, apelarmos para as causas, é racional que o resultado seja mais satisfatório. Antes de começar qualquer experimentação, tenho por costume dirigir a Deus uma prece mental, que con sidero mais eficaz, na sua simplicidade, que todas as complicadas conjurações dos melhores grimórios. Eis a minha prece mental: "Dignai-vos, ó meu Deus, espa lhar sobre mim (ou sobre Fulano) um raio da vossa di vina luz, a fim de nos orientar no estudo que desejamos fazer sobre os vossos santos mistérios, se para isso nos julgais dignos." Quando me dirijo a um espírito de um amigo meu, morto, ou amigo de algum consultante, para que ele 67
me inspire na direção das operações que quero fazer, ou para qualquer outra pergunta, não o faço senão quando sei que a sua conduta durante a sua vida na terra foi pura e que as suas afeições correspondiam aos estudos que desejo fazer. Peço-lhe lacônica e fraternalmente pa ra me ajudar com as inspirações que julgar úteis e que Deus permita. A muitos parecerá esse modo de proceder pouco de acordo com a Cabala e os rituais da Magia, mas eu jul go que é da única maneira que deve proceder um cora ção humilde, que, simples operário do Eterno, deve es tar sempre pronto a obedecer à sua vontade e nunca a ultrapassá-la. Creio que a prece assim feita é tão poderosa (senão mais) que todas essas invocações e evocações, em um estilo bizarro e ridículo, recomendadas em alguns livros de Magia." ESPELHOS CABALÍSTICOS
Os Espelhos Cabalísticos são compostos de metais. Os cabalistas têm sido e são ainda hoje os mais árduos estudantes da ciência hermética. Os cabalistas e os ocul tistas constituem duas escolas que não são mais que uma nos fins das suas investigações, embora diferentes nos meios. Os filósofos herméticos nunca admitiram nos seus trabalhos senão sete metais, que são: o ou ro, a prata, o ferro, o mercúrio, o estanho, o cobre e o chumbo, aos quais eles dão, alegoricamente, os nomes de SOL (ao ou ro) , de LUA (à prata), de MARTE (ao ferro), de MER68
CÜRIO (ao mercúrio), de JÚPITER (ao estanho), de VÉNUS (ao cobre), e de SATURNO (ao chumbo). Esses nomes são dados igualmente, pela mesma ra zão alegórica, aos sete globos que compõem nosso siste ma planetário, assim como aos sete dias da semana. A segunda-feira acha-se colocada sob a influência da LUA; a terça-feira, sob a de MARTE; a quarta-feira, sob a de MERCÚRIO; a quinta-feira, sob a de JÚPITER; a sextafeira, sob a de VÉNUS; o sábado, sob a de SATURNO; e o domingo, sob a do SOL. Esses nomes não representam, aos olhos dos filósofos herméticos, globos, metais e dias da semana, em estado de inércia na criação; ao contrário, ligando uns aos ou tros por uma influência recíproca, eles os admitem como inteligências de primeira ordem, às quais se dirigem e de dicam a combinação de seus trabalhos, tanto materiais como espirituais. As poderosas virtudes que os cabalistas e herméti cos atribuem a essas inteligências planetárias se encon tram, segundo eles, encerrada nos sete metais que aci ma descrevemos, virtudes que não podem ser extraídas senão em certas condições e por certos trabalhos, envol tos nos véus do mistério, para o comum dos homens. Assim é que eles atribuem especialmente ao ouro a virtude de tornar o homem imortal e de enriquecer o seu espírito de todos os conhecimentos desejáveis; mas, para isso, é necessário que o metal seja absorvido em estado de gérmen, em estado espiritual, espécie de composição medicinal, à qual deram o nome de Elixir de longa vida, etc. 69
Não entramos aqui em breves detalhes senão para dar uma fraca idéia da base teórica desses filósofos, que o mundo tem em todos os tempos respeitado por seu sa ber, os quais admitem que o reino metálico não é um reino indigno da nossa observação, mas que, estudado sem prevenção, pode nos proporcionar a descoberta de forças e faculdades desconhecidas ou negadas pela ge neralidade dos homens. Eis aqui algumas noções que julgamos úteis acres centar às que acabamos de dar, para facilitar a compre ensão do que nos resta dizer a este respeito. Vamos tomar emprestadas essas noções a uma pe quena obra: Le Messager de la Vérité. É uma obra das mais fáceis a consultar, entre as da rica biblioteca her mética, pois que evita, tanto quanto possível, as alego rias que pululam neste gênero de literatura. Eis aqui as suas aplicações sobre as influências pla netárias e metalúrgicas e dos dias da semana sobre o or ganismo humano: "O SOL (ouro), Domingo — Domina sobre o co ração; A LUA (prata), Segunda-feira — Domingo sobre o cérebro; MARTE (ferro), Terça-feira — Domina sobre o es tômago; MERCÚRIO (mercúrio), Quarta-feira — Domina so bre os pulmões; JÚPITER (estanho), Quinta-feira — Domina sobre o fígado;
70
VENUS (cobre), Sexta-feira) — Domina sobre os rins; SATURNO (chumbo), Sábado — Domina sobre o baço." Tratando-se dos planetas, os cabalistas admitem sua influência direta sobre os órgãos citados; mas, tra tando-se dos metais, dizem ser necessário passar cada um por uma certa preparação, em que se extraem as suas virtudes medicinais. Continuamos a dar, segundo a mesma obra citada, a sua dominação sobre os nossos diversos humores: "O SOL (ouro) preside ao calor vital e ao coração, que é o princípio da vida e do movimento do animal. A LUA (prata) governa as forças naturais e todas as partes do corpo que dependem dessas faculdades. SATURNO (chumbo) tem império sobre a melan colia e as partes que se entretém desse humor. JÚPITER (estanho) tem por apanágio a massa do sangue e os vasos que o contêm, e aperfeiçoa os elemen tos, convertendo-os em sangue. MARTE (ferro) domina sobre a bilis. VÉNUS (cobre) prepara o sêmen e exerce seu poder sobre os órgãos necessários à geração. MERCÚRIO (mercúrio) faz trabalhar os espíritos animais; como sua missão é constantemente girar em torno do sol, vivifica o cérebro e estimula as funções."
71
Quanto ao poder dos astros sobre as ações humanas, os cabalistas herméticos assim o discriminam: "SATURNO — Repartir os tesouros e revelar os se gredos. JÚPITER — Distribuir as dignidades, as honras, o respeito e os deleites.
MARTE — Dar a vitória. O SOL — Dar a amizade dos Reis, dos Príncipes e dos poderosos. VÉNUS — Conceder o amor das mulheres a paz e a concórdia. MERCÚRIO — Dar as ciências, a felicidade c o mercial e no jogo. A LUA — Facilitar as viagens e remover as des graças." Para se conseguir êxito no apelo às influências be néficas desses planetas, sobre os seus correspondentes metálicos, que são os globos cabalísticos de que já fa lamos, é necessário fazê-ilo com ordem, na época em que esses planetas reinam em seu trono. É necessário, pois, magnetizar e servir-se de cada globo (que, segundo a descrição já feita, deve ser fabri cado do metal correspondente ao planeta), somente nas épocas seguintes: "Do globo OURO, no signo de Leão. Do globo PRATA, no signo de Câncer. Do globo COBRE, nos signos do Touro e da Ba lança. 72
INFLUÊNCIA PLANETÁRIA SOBRE O CORPO HUMANO O Aquário começa em 21 de janeiro
Os Peixes
ti
19 de fevereiro
e termina em ii
u
ii
19 de
fevereiro
20 de março !
it
20 de março
i*
«i
ÍÍ
20 de
abril
a
20 de abril
U
íí
íí
21 de
maio
ÍÍ
21 de maio
íí
íí
íí
21 de
junho
O Câncer
a
21 de junho
íí
íí
íí
23 de
julho
O Leão
a
23 de julho
íí
íí
íí
23 de
agosto
A Virgem
tt
23 de agosto
íí
ff
ff
23 de
setembro
A Balança
a
23 de setembro
íí
íí
23 de
outubro
O Escorpião
a
23 de outubro
ff
íí
ff
22 de
novembro
a
22 de novembro
ff
tf
ff
22 de
dezembro
ti
22 de dezembro
ff
ff
íí
21 de
janeiro
O Carneiro
M
O Touro »
Os Gêmeos
»
O Sagitário O Capricórnio
14
Do globo MERCÚRIO, nos signos dos Gêmeos e da Virgem. Do globo ESTANHO, nos signos do Sagitário e dos Peixes. Do globo CHUMBO, nos signos de Capricornio e de Aquário. Do globo FERRO, nos signos de Carneiro e do Es corpião." Esses signos correspondentes começam e terminam nas datas seguintes, com pequena variação: O globo PRATA deve ser utilizado, obedecendo às tabelas expostas, na segunda-feira, para conhecer os mis térios da criação, estudar a metafísica e meditar sobre a harmonia da natureza. A resposta às perguntas feitas aparecerá a super fície do globo, sob a forma de imagens alegóricas ou de caracteres de escrita, traduzindo textualmente a res
Do globo MERCÚRIO, nos signos dos Gêmeos e da Virgem. Do globo ESTANHO, nos signos do Sagitário e dos Peixes. Do globo CHUMBO, nos signos de Capricornio e de Aquário. Do globo FERRO, nos signos de Carneiro e do Es corpião." Esses signos correspondentes começam e terminam nas datas seguintes, com pequena variação: O globo PRATA deve ser utilizado, obedecendo às tabelas expostas, na segunda-feira, para conhecer os mis térios da criação, estudar a metafísica e meditar sobre a harmonia da natureza. A resposta às perguntas feitas aparecerá a super fície do globo, sob a forma de imagens alegóricas ou de caracteres de escrita, traduzindo textualmente a res posta planetária à pergunta proposta. O globo FERRO, possuindo a força e presidindo, sob o nome de Marte, os combates, as querelas, as inimi zades e convulsões de toda a espécie, deve ser invocado na terça-feira, que é seu dia simpático. O globo MERCÚRIO, pelo mesmo poder alegorica mente simpático, deve servir na quarta-feira, para todas as questões comerciais e de interesse qualquer. O globo JÚPITER representado pelo estanho, ser virá, na quinta-feira, para obter noções sobre o devota mente e a sinceridade das pessoas que nos servem ou nos são agregadas, assim como esclarecimentos sobre a pos sibilidade ou não de obter um emprego ou um favor. 74
O globo COBRE, representando Venus, servirá, na sexta-feira, em todas as questões de ligações amorosas, de reuniões ou separações. O globo SATURNO, que é o de chumbo, deverá ser consultado no sábado, para todas as perguntas com rela ção a objetos perdidos ou escondidos, e a segredos de to da a natureza. O globo OURO, representante do sol, servirá para conhecer os poderes celestes e terrestres, isto é, entrar em relação com os espíritos superiores libertos da maté ria, assim como com os grandes espíritos do nosso globo, que governam os homens, e obter o apoio de uns e de outros. Finalmente, se o leitor teve coragem e benevolência para chegar até estas linhas, na leitura deste capítulo, chegamos ao momento de fazer-lhe conhecer como e quando devem ser preparados os Espelhos Cabalísticos. Para a questão oportuna do tempo, seguiremos as indicações, mais ou menos exatas, que já determinamos linhas anteriores, na tabela que indica a conjunção dos diversos planetas com o nosso. O diâmetro de cada globo não deve ser superior a sete centímetros. Cada um deve ser colocado sobre uma base de madeira, à qual devem ser incrustados, e em seguida religados um ao outro por uma pequena cor rente, composta de um anel de cobre e outro de zinco, intervalados, enlaçados um no outro em todo o com primento necessário à corrente, a qual deve partir do globo Ouro, colocado ao centro dos demais e dominan75
do-os em altura, (deveis colocar esse globo sobre um pe daço de madeira, à altura de 21 centímetros). O globo SOL (ouro), dedicado ao Domingo, deve rá ser de ferro dourado fortemente. É preferível que seja dourado, em vez de ser de ouro puro, por dois motivos: o primeiro é o seu menor custo, o segundo é que o ouro do dourado, junto ao ferro, com o qual tem muita afi nidade, desenvolverá uma corrente galvânica, de gran de conta, para o desenvolvimento da visão. O globo LUA será de prata muito delgada. O de MARTE, de ferro. O de MERCÚRIO deve ser de vidro cheio desse metal, que é muito difícil de fixar sobre as partes esféricas. O de JÚPITER será fabricado de estanho, o de VÉNUS, em cobre vermelho e o de SATURNO, em chum bo apurado. Todos esses globos deverão ser torneados com pre cisão, e brunidos com cuidado, no lado interior, assim como no exterior. Cada um deve em seguida ser enchido com o suco de diversas plantas narcóticas, correspondendo, por suas propriedades, às dos metais, assim distribuídas: No globo PRATA, a dormideira (papoula); no glo bo FERRO, o meimendro; no globo ESTANHO, a flor de cânhamo; no globo COBRE, algumas gramas de ópio, e no globo CHUMBO, a beladona. O globo OURO não tem necessidade de nenhum es timulante, por personificar a luz por si mesmo. 1
1 Vide o capítulo sob o título: "Maneira de fixar o mer cúrio." 76
A dormideira convém à meditação; o meimendro às querelas; a flor do cânhamo às ciências, o ópio ao ato venéreo, e a beladona à inteligência. Uma vez assim preparados os globos, deveis satu rá-los nos dias de sua dominação, com uma boa dose do fluido magnético com a intenção do objeto de estudo de cada um. ESPELHO MAGICO DE SANTA HELENA
Fazei uma cruz em um pedaço de cristal, com azei te de oliveira (azeite doce), e sobre a cruz escrevei: "Santa Helena". Em seguida dai-o a segurar a uma criança virgem, nascida de matrimônio legítimo, pondo-vos de joelhos por trás dela e dizendo três vezes a oração seguinte: "Deprecor, Domina Helena, mater regis Constantini, etc." Logo que a criança veja alguma coisa sobre o cristal, pode-se fazer as perguntas desejadas. ESPELHO DOS BHATAHS
Cinco oficiais ingleses, entre os quais o narrador 1, assistiram um dia à dança de iluminação dos MuntraVallahs, ou Brahmas magistais. Este rito se celebrava em Muntra (no Império da Agra, à margem oeste de Djumna). l
O Coronel Stephen Fraser. 77
Esta cidade é famosa pelo consumo que nela se faz de instrumentos mágicos e por ser a fonte de origem das verdadeiras Pedras de Cevar, afamados talismãs. É um dos dois únicos lugares do mundo em que se conhe ce o segredo da preparação da Paraftalina, pasta gomosa empregada para a visão ao espelho. Esses Brahmas chamam ao estado de iluminação: "Sono de Siolam". Vamos, entretanto, resumir a longa descrição do Coronel Fraser: "No dia convencionado, os nossos cinco oficiais chegaram, através das gargantas do ChoekiHills, à vileta em que devia se efetuar a misteriosa dan ça "Sebeiyeh". O cheique, ancião mais que centenário, a julgar pelo seu ar venerável e pelas barbas brancas dos seus filhos mais moços, recebeu-os com cortesia e fez imediatamente começar os preparativos para a ceri mônia. Em primeiro lugar, dois casais de jovens noivos des creveram um círculo no chão. Esses dois casais traziam consigo vasilhas de barro, contendo um líquido preto, viscoso, semelhante ao alcatrão. O cheique tomou deles essa substância, colhida nas fendas vulcânicas dos Mahadeo-Hills (Gondivana, Decan) por rapazes e raparigas que não tinham ainda atin gido a idade da puberdade. Não se encontra essa subs tância senão durante o mês de junho. Após ser colhida, essa substância é submetida à preparação oculta, du rante quarenta e nove dias, por outros rapazes e rapa rigas em vésperas de seu casamento. 1
1 Estas pedras são vendidas pela PUBLIECO PROMO ÇÕES LTDA. Caixa Postal 11.000 - ZC-14 - Rio. 78
O círculo havia sido descrito em redor de um pe queno altar, formado de pedras, sobre o qual queimava sem cessar o fogo sagrado dos Garunahs. Uma trempe sustentava acima do fogo um grande recipiente de barro, onde os quatro jovens operadores entornaram uma quarta parte do conteúdo de cada uma das suas vasilhas. Algumas centenas de assistentes estavam colocadas em redor do círculo e uma parte deles fazia frenetica mente ressoar tambores e grosseiros címbalos, prelu diando de uma maneira estranha os próximos entusias mos sagrados. Enquanto isto, o cheique indicava aos oficiais os símbolos do fogo, alma universal da natureza, sempre em ação; acima dele, entretanto, estão os três poderes divinos de Para Brahm: triângulo ideal da criação, da preservação e da transformação. Uma vara revestida de peles de serpentes e coroada por um coco estava espetada em terra, junto ao altar. Era a imagem do poder criador da divindade, a força máscula, rígida, penetrante, enquanto que o vaso sub metido à ação do fogo representava o poder passivo, fundamental, encerrando a força feminina. Entretanto, ao ritmo das vozes suplicantes, aos sons agudos de flautas de cobre e ao ruído de tambores e outros instrumentos selvagens, teve começo uma dança estranha, incandescida pelos gritos perfurantes das mu lheres e raparigas, pouco a pouco exaltadas até o furor religioso, enquanto que os ecos das montanhas vizinhas 79
respondiam a esse imenso concerto, como vozes dos De vas propícios aos desejos dos mortais. Avançando em um movimento voluptuoso e doce, no qual todo o corpo parecia tomar parte, as moças, leves e graciosas, ornamentadas com todo os esplendo res do luxo oriental, exprimiam com um encanto indi zível, pelas flexões de seus bustos graciosos, por suas ligeiras genuflexões, pelos gestos envolventes de seus braços, a mais ideal poesia de amor; elas volteavam em torno do emblema fálico, remexendo, à medida que dan çavam, com uma espátula de prata, o conteúdo do vaso que carregavam — enquanto os dois casais de jovens que haviam inaugurado a cerimônia, executavam ritmos simétricos. O velho brâmane tomou então a palavra; mas sua voz sem timbre, longe de interromper o estado de con templação em que este espetáculo e essas músicas ha viam mergulhado os estrangeiros, penetrava com um poder magnético até ao âmago de seus espíritos, para os modelar, como a uma cera mole, às primeiras direções da prática oculta. E ele então lhes revelou, em uma linguagem esmal tada das flores preciosas da poesia oriental, a verdadeira natureza da paixão; lhes mostrou como a raiz secreta da alma humana, como o sustentáculo de toda sua existên cia, como a força invisível que faz agir toda criatura — pura essência ao começo, depois dividida em uma inu merável hierarquia de Forças — é o elixir para quem a conquista é sagrada e revela-se como o braço todo-poderoso daquele que a domina. 80
"A substância contida nesses vasos — ajuntava o cheique — está carregada de paixão. E pelo mágico po der da paixão, quando os cristais forem cobertos por esse líquido, será que 03 videntes poderão neles contem plar, não somente não importa qual cena da vida ter restre, mas também ainda os quadros encantadores da morada dos deuses. Tal a verdadeira Porta — concluiu o brâmane, num verdadeiro murmúrio." Os músicos haviam durante esse tempo acelerado o seu ritmo e as dançarinas, seus movimentos; dos dois primeiros casais de noivos destacava-se sempre a mais idosa das raparigas — e enquanto que seus comparsas começavam a remexer a massa negra suspensa sobre o fogo, proferindo magnéticas encantações — ela tirava, continuando a dançar, sua túnica de ouro, para oferecer aos olhos extasiados a real esmola da sua beleza nua. Os contornos perfeitos do seu fresco busto banha vam-se no ar luminoso do crepúsculo, com transparên cias de opala; o emaranhado de seus cabelos negros de satados avivava a delicadeza de seus seios e as nobres curvas de seus flancos. Como a flor maravilhosa de algu ma planta de sonho, o oval agudo de sua cabeça coroa va o esplendor do busto da jovem dançarina, enquanto o movimento deleitoso de suas lânguidas pálpebras dis persava sobre todas as coisas o prestígio mágico de seus olhos. Sua arte ignorava os movimentos precipitados da nossa coreografia. Símbolos vivificados à força da ciên81
cia das altas concepções do santuário, cada um de seus passos revelava um Arcano e cada um de seus gestos evo cava um poder. Ondulosas flexões do dorso e balancea mento dos quadris acompanhavam o enlaçamento de seus formosos braços enquanto o seu divino olhar de virgem parecia elevá-la toda a ideal Bem-Amado. Eram as próprias palpitações da alma que se acreditava ver traduzirem-se nas manifestações do corpo, de uma ma neira inenarrável e tão casta. As vagas ondulações de seus movimentos voluptuosos prestavam-se à expressão de mil nuanças do desejo e do pudor, que adivinhavam, extasiados, os seus espectadores mudos — pois a bele za reside unicamente no mistério inexprimível. O Coronel Fraser foi, de repente, furtado à sua con templação admirativa, pela hierática dançarina, que o convidava a lançar um golpe de olhar sobre o conteúdo do grande vaso mágico. Em lugar de uma massa negra e fervente, ele, aí percebeu, maravilhado, as mais delicadas cores, que se transformavam a todo instante, trocando-se por formas sem cessar variadas de flores cintilantes. O cheique verteu então uma camada desse líquido sobre a água, onde o nosso herói informante viu amigos e parente* seus, religados pelo afeto, assim como diver sas outras cenas extraordinárias."
Os leitores perdoarão a extensão desse extrato que acabamos de transcrever e traduzir de uma excelente 82
obra de Sedir. Acabamos de assim colocar o leitor mís tico sobre a senda de um dos mais poderosos segredos do Templo Oriental. ESPELHO MANDEB
O espelho mágico empregado pelos árabes consiste em um pequeno círculo de tinta, que o mágico entorna na mão esquerda de uma criança. Podem-se encontrar narrações detalhadas de visões nas obras do Conde de Laborde e de W. Lane. Eis aqui uma descrição sucinta da operação, segun do o Conde Leon de Laborde: "Antes de qualquer outra operação, as fórmulas são escritas sobre os dois lados de um papel; a primeira é uma sentença do Alcorão (capítulo 59, versículo 21); a outra consiste na invocação seguinte: "Tarschoun! Tarzuschoun! Desce! Desce! Que este jas presente! Onde foram o Príncipe e seu exército? Onde foi El-Amar? O Príncipe e seu exército? Aparecei, servidores deste nome!" Esta encantação é repetida sobre seis pedaços de pa pel, enquanto que a sentença do Alcorão é atada à ca beleira do vidente. Antes disto, todos os escritos são expostos ao fumo de um incenso composto de partes iguais de Taket Mabachi e de Kinsonbra Diaon (incenso e grãos de coriander) aos quais se junta âmbar indiano. 83
Estando desenhada a figura do espelho na mão da criança, o mágico joga no fogo a primeira fórmula de conjuração, salmodiando estas palavras: Auzilu aiouha el Anzilu
betakki
Dschemonia et matalahontontron
Dshennoum. aleikum.
etc. (duas vezes). Anzilu, etc. (três vezes). Taricki, etc. (duas vezes). Taricki,
O operador continua segurando a mão do vidente, até que apareça no espelho a figura do varredor 1 Quando ele se vai o mágico faz aparecer no espelho as sete bandeiras planetárias, na seguinte ordem: Marte, Saturno, Lua, Vénus, Júpiter, Mercúrio e Sol, após ha ver queimado a segunda fórmula; depois, quando as ban deiras planetárias desaparecem, a terceira porção das fórmulas escritas sobre o papel é igualmente queimada; o vidente vê, então, aparecerem no espelho tropas, que levantam tendas, matam um boi, o cozinham e o co mem. Só então é que o vidente está em condições de res ponder às perguntas dos assistentes. 1 O "Varredor" é a imagem de um homem varrendo uma praça pública, que João Dée e Kelly igualmente dizem apare cer no começo de suas evocações no Espelho Mágico. Karl Kiesewetter, em sua obra "Akademische Monatshefte" (72-82, Munich) julga poder interpretar nessa imagem "o sím bolo da destruição dos obstáculos materiais à clarividência'. Pode-se considerar essa interpretação como particular a um cir culo de iniciação. Nas experiências desse gênero, efetuadas no nosso meio e em Paris, desde há alguns anos, não temos ouvido falar em semelhante símbolo.
84
ESPELHO
TEÚRGICO
Este espelho compõe-se de um globo de cristal cheio de água muito límpida, que se coloca sobre uma mesa coberta por uma toalha branca; em redor do globo, põemse três velas de cera, acesas, em forma de triângulo. Em seguida faz-se ajoelhar uma criança de 8 a 12 anos, recomendando-lhe olhar para o centro do globo. Coloca-se, então, a mão direita sobre a cabeça da crian ça, dizendo: "Que Deus permita ao anjo encarregado desta crian ça de lhe mostrar o que quereis que ela possa descobrir." Ao fim de alguns minutos, se o resultado é bom, o anjo aparecerá e poder-se-á lhe dirigir as perguntas, às quais ele responderá simbolicamente ou por escrito. Este espelho é muito elevado e puro.
85
Maneira
de
Fixar
o
Mercúrio
Cumprimos aqui a promessa feita páginas atrás, quando descrevemos a maneira de fazer os globos metá licos componentes do Espelho Cabalístico. Como o mer cúrio não se encontra no mercado em estado sólido, é ne cessário submetê-lo a um processo oculto para dar-lhe essa qualidade e com ele poder-se trabalhar, como com qualquer outro metal. Extraímos esta receita de uma antiquíssima edição do Pequeno Alberto, editada em Paris, em época desco nhecida. Não temos uma experiência pessoal sobre o valor da receita e exatidão dos processos nela ensinados. Entre tanto, o fato de ela ter sido constantemente transcrita e citada por autores sobre ocultismo e magia, faz-nos de positar-lhe confiança, pois é de crer que se nenhum va lor tivesse a autoridade do Pequeno Alberto, não teria merecido as honras de tão constantes e unânimes refe rências. Portanto, embora a nossa experiência pessoal nada possa afirmar sobre o valor da receita que vamos em se guida dar, cremos que basta unicamente o fato de ela ter 87
sido adotada por grandes especialistas franceses, para aboná-la com todas as vantagens ante os olhos dos nos sos leitores. Eis a receita: É necessário escolher um dia de quarta-feira, da primavera, em que a constelação de Mercúrio esteja em bom aspecto com o Sol e com Vênus. Após terdes sabido quais os espíritos e gênios dire tores da influência de Mercúrio, deveis conjurá-los da seguinte maneira: CONJURAÇÃO DE QUARTA-FEIRA
"Conjuro et confirmo vos, angeli fortes, sancti et potentes, in nomine fortis, metuendissimi et benedicti Adonay, Elohim, Saday, Saday Saday, Eye, Eye, Eye, Asanie, Asarie, et in, nomine Adonay, Dei Irael, qui creavit luminária magna, ad distinguendum diem á nocte; et per nomem omnium angelorum, deservientium in exercitu secundo coram terra angelo majori, atqui forti et potenti; e per nomem stallae, quoe est Mercurius et per nomem sigilli, quo sigillatur à Deo, fortíssi mo e honorato, per omnia proedicta, super, te, Raphael, angele magne, conjuro, qui es proepositus diei quartae; et per nomem sanctum, quod est scriptum in fronte Aaron, sacerdotis altíssimo Creatoris; e per nomina an gelorum, qui in gratiam Salvatoris confirmati sunt, et per nomem sedis animalium habentium senas alas, quod por me labores, &tc." 88
A MESMA CONJURAÇÃO EM PORTUGUÊS
"Eu vos conjuro, Anjos fortes, santos e poderosos, pe los nomes muito invencíveis e poderosos de Adonay Elohim, Saday, Saday, Saday, Eye, Eye, Eye, Asanie e Asarie; em nome de Adonay, Deus de Israel, que criou a grande luz, para distinguir o dia da noite; em nome de todos os Anjos que servem na segunda Legião; às or dens ou Anjo, três vezes grande, forte e poderoso; em nome do astro Mercúrio, por seu sinal sagrado e reve renciado; por todos os anjos acima pronunciados, eu vos conjuro, ó grande anjo Raphael, vós que presidis ao quarto dia; pelo nome santo, escrito sobre a fronte de Aarão, sacerdote do Altíssimo Criador, e por seus An jos, que foram confirmados na graça do Salvador, e emfim pelo nome do trono dos animais que têm seis asas, vos conjuro a vir em meu socorro, para que se cumpra a minha vontade." (Aqui pede-se o que se deseja, isto é, a boa realiza ção da operação em vista.)
As drogas necessárias para a preparação do mer cúrio são as seguintes, que já devereis ter obtido de antemãos antes de proceder à conjuração dos espíritos, o mesmo acontecendo quanto aos demais ingredientes ne cessários, que vereis no decorrer da exposição. Sal amoníaco, verde-gris e vitríolo romano, 60 gra mas de cada um. Depois de bem pulverizadas todas es sas drogas, deveis po-las, juntamente, em uma marmita ou panela de ferro ou de barro, absolutamente nova, com três litros de água, colocando-a ao fogo e deixando-a fer89
ver, até que, pela evaporação, o liqüido se reduza a três centilitros. Juntam-se então 60 gramas de bom mercúrio vivo, mexendo-se tudo com uma espátula, até que essas drogas fiquem bem misturadas e formem uma matéria espessa. Em seguida, deixa-se esfriar e faz-se sair o pouco dágua que tenha ficado, por filtração. Ao fundo da panela, encontrar-se-á, então, uma pas ta de terra escura, que se deve lavar com água comum, duas ou três vezes, fazendo sempre escorrer a água por meio de filtração. Depois se estenderá a referida pasta de matéria es cura sobre uma tábua lisa de madeira dura, bem polida, deixando-a secar ao sol. Depois de bem seca a pasta, juntam-se-lhe 60 gra mas de Terra Merita e igual porção de tutia 1 de Ale xandria em pó, encerrando tudo dentro de uma panela de barro, que deve ser hermeticamente fechada com outra, de maneira que as duas fiquem formando uma só peça, sem abertura, e que nada se possa evaporar, quando puserdes sobre o fogo de retificação. As duas pa nelas colam-se uma sobre a outra com o auxílio de uma pasta feita de terra gordurosa, excremento de cavalo e pó fino de limalha de ferro. É preciso não colocar as pa nelas no forno antes que a composição posta na juntura esteja bem seca. l "Tutia" — (do árabe "tutia", pedra mineral de cor ver de azulada l. A pelugem que se levanta na fundição do cobre, e bronze, da mina de zinco, chamada "calamina"; usada na farmácia; unguento cuja base é o óxido de chumbo, e aplica-se nas oftalmias".
90
Posta em um forno bem quente a vasilha, com a matéria em questão dentro, deixa-se ai ficar durante uma hora, aumentando depois o fogo até que o forno fi que em brasa. À terceira hora, aumenta-se ainda o fogo, soprando sempre com um fole: Passadas as três horas, deixa-se o fogo apagar e es friar a panela, a qual se descolará, encontrando-se no fundo o mercúrio em gremalha. Toma-se então o mer cúrio, até os mais pequenos grãos, e coloca-se tudo em outra panela, com um pouco de bórax, para fundir, feito o que, tereis um bom mercúrio, próprio, por sua pureza, para o fabrico de um dos globos de Espelho Cabalístico, assim como para a fabricação de talismãs e anéis mis teriosos, que terão a propriedade de atrair sobre a vossa pessoa as benignas influências do planeta Mercúrio, uma vez que sejam exatamente trabalhados, segundo as re gras da arte. COMUNICAÇÃO DE UM ESPÍRITO PLANETÁRIO
"Todas as vezes que os espíritos chamados Anjos da Guarda, ou os anjos da mais alta ordem, se movem no mundo espiritual, o ar 1 que os cerca purifica-se de tudo o que, a um grau qualquer, é mais grosseiro que eles. l Não devemos compreender aqui "ar" como o faz a concepção materialista-científica. Para o ocultista o ar não existe, pois que todo o Cosmos é habitado por seres, que se en trecruzam e se interpenetram, pertencentes a diversos mundos suprafísicos. Portanto, na expressão acima "o ar que os cerca" deve-se compreender o ambiente em seu torno, mas supondo-se sempre um composto de seres viventes. 91
Assim, quando um espírito atmosférico encon tra-se com um espírito celeste, o atmosférico cede à pres são do ar que envolve o outro e retira-se para lhe dar passagem. Dessa maneira, os espíritos superiores visitam nos sa atmosfera e as esferas mais baixas que as suas pró prias, como a terra, sem jamais pôr-se em contato com as individualidades inferiores a eles, a menos que assim o desejem. Quando um espírito é chamado a comunicar-se com seres humanos, o pensamento do Evocador, ou antes, a sua vontade, o atinge imediatamente, e ele aparece, se parando e afastando de diante dele todas as influências menos angélicas do que a sua." 1
1 Os espíritos de que aqui falamos, assim como em todo o livro, não devem ser confundidos com os "espíritos" de per sonalidades humanas extintas, segundo a concepção dos espí ritas. Trata-se aqui de espíritos extra-humanos, superiores (ce lestes) ou inferiores (astrais) à humanidade. Todas as práticas da magia tendem a provocar a comunicação com esses espíritos, e só em casos raríssimos o mágico recorre aos finados, cujo progresso espiritual só pode com isso ser prejudicado. 92
Clarividência A clarividência é a faculdade de ver além do que se encontra ao alcance dos nossos olhos físicos ordinários. Pode-se exercer a clarividência com relação ao Tem po e ao Espaço. O clarividente que exercer sua faculdade em rela ção ao Tempo descobre as coisas futuras (pressentimen tos, profecias, etc), ou deixa-se impressionar pelas coi sas passadas. A clarividência aplicada ao Espaço produz o que mo dernamente se chamam alucinações telepáticas visuais. A clarividência é o resultado de uma percepção e somos levados aqui a afirmar que ela é uma faculdade um pouco superior à vista ordinária, como que um grau mais elevado, ou, em outras palavras, exercida por órgãos hiperfísicos, existentes em todos os homens e cujo desenvolvimento se pode auxiliar. No Oriente tradicional é onde se encontra a maior parte de estudantes de Ocultismo, e é da experiência que sobre o assunto eles possuem que vamos pedir em prestadas as noções abaixo, constituindo uma exposição do método necessário para a realização da clarividência. Entretanto, todos os escritos originais desses indi víduos estão impregnados de uma fraseologia verdadei93
mente incompreensível ao leitor ocidental que pela primeira vez procura aprofundar-se em conhecimentos sobre o Oculto. Como o nosso desejo é tornar claro e prático o ensino que empreendemos, somos obrigados a abandonar essa fraseologia, substituindo-a por termos e comparações mais ao alcance do leitor. A clarividência é, como dissemos, uma percepção superior de um dos nossos sentidos (o da vista) exercida pelo corpo astral. Os sentidos do nosso corpo físico, como sabemos, são cinco: a visão, a audição, a olfação, o gosto, o tato ou sensibilidade. Cada um desses sentidos é exercido por um órgão correspondente: a vista (olhos); o ouvido (um par de aparelhos auditivos); o nariz (aparelho olfativo), a boca (língua, etc, constituindo o aparelho da gustação); e a epiderme, em toda a superfície do corpo, com sede especializada nas mãos correspondente ao tato ou sen sibilidade. O corpo astral, invisível aos olhos ordinários, é em tudo análogo ao corpo físico e possui exatamente os mesmos órgãos que ele, ou, por outras palavras: o corpo astral é uma duplicata, uma contra-parte, do corpo fí sico, existindo no lugar dos olhos físicos, olhos astrais correspondentes; no lugar do nariz físico, nariz astral correspondente. Isto não quer dizer, porém, que o corpo astral necessite desses órgãos para ter percepções sobre o mundo astral, pois na realidade essa percepção é rea94
lizada por todas as partículas do corpo astral, sem dis tinção. Funcionando no mundo astral, independente do corpo físico, as percepções do corpo astral perdem a analogia que possuem com as físicas, mas conservamnas enquanto existir dependência. O corpo astral é também denominado pelos Teóso fos: Linga Sharira. Os investigadores psiquistas cha mam-no duplo etéreo, duplo astral. Os Vedantins cha mam ao corpo astral e ao seu veículo (Prana) Pranamaya Kosha. Na Inglaterra tem o nome de Wraith; na Alemanha, Doppelganger. Paracelso, celebre ocultis ta e magista, dava-lhe o nome de Evestrum. O clarividente vê, portanto, com os olhos do corpo astral e percebe coisas formadas de matéria astral, tão perfeitamente como os olhos físicos vêem as coisas fí sicas. A dúvida e a negação sobre a existência da matéria astral, de que se compõe a maior parte das aparições e dos fantasmas, repousa no fato de ela não poder ser per cebida pelos olhos físicos e na crença errônea de que não existe outra espécie de matéria além da física, gros seira, e que tudo mais pertence à espiritualidade. A matéria astral é a imediatamente superior à ma téria física, mas não é ainda a última forma de exis tência material. E por ser a imediatamente após, é por ela que deve começar o estudo de quem deseje se dedicar ao conhecimento prático do ocultismo. O estudo do astral faz mesmo parte, nas Escolas de Iniciação aos Mistérios, em primeiro lugar, do ensino dado. 95
A clarividência é um dos ramos desse estudo, e a sua iniciação tem por nome: desenvolvimento da vista astral.
Para o desenvolvimento da vista astral o estudante deve começar por esforçar-se em compreender perfei tamente o que deseja executar. A vontade e a convicção são as principais forças Quando desejamos levantar um braço fazemo-lo por um esforço de vontade. A facilidade com que os membros do nosso corpo executam as ordens emanadas do espírito sendo co mum, nós acabamos por confundir um com o outro. A verdade, entretanto, é que o princípio pensante, inteligente, e o corpo, por intermédio de quem o pri meiro sente e se exprime, são coisas distintas. Embora não nos quiséssemos alongar em explicações minuciosas, para poder fazer compreender ao leitor o mecanismo da clarividência, somos obrigados a fazer aqui um rápido detalhe resumido dos diversos princí pios ocultos do corpo humano . É necessário acentuar mais uma vez que os conhe cimentos e instruções que divulgamos neste pequeno livro, não tiveram e não terão ainda, durante um longo prazo, sanção da ciência oficial; longe disso, cada afir mação aqui contida tem fornecido motivo para tenazes contestações e mesmo tem-se procurado ridicularizá-las. 1
2
1 A convicção é adquirida pelo estudo. Estude, para isso, o livro O Plano Astral, de C. W. Leadbeater. 2 Para melhores informações leia o livro da Sra. Annie Besant: O homem e os seus corpos.
96
Não importa. O autor está muito bem ao corrente do quanto a ciência positiva tem dito e possa dizer sobre as afirmações dos ocultistas. Não está nos moldes deste livro a controvérsia científica. Outros autores de maior autoridade já se têm encarregado disso e brilhan temente. Demais, os fatos sucedem-se e, melhor do que tudo que se possa escrever, acabarão por dar razão a quem a tiver. A exposição teórica aqui apresentada também não é descoberta ou invenção do autor. Repousa sobre co nhecimentos adquiridos por meios que a ciência desco nhece e tem em negligência, A eles unicamente nos es coraremos, e, uma vez por todas, declaramos não nos ocuparmos, por enquanto, com os processos da crítica científica. Dissemos que, quando desejamos levantar um bra ço, o fazemos por um esforço de vontade. Compreende-se, pois, que a vontade é uma facul dade distinta do corpo; não pode ser uma função do corpo, pois que predomina sobre ele, fazendo-o executar movimentos. A vontade é uma função do espírito, é uma das suas manifestações e quase se confunde com ele próprio. Quando executamos um movimento com o corpo, quatro fenômenos se operam: 1º — O nosso corpo mental dá nascimento ao dese jo de fazer o movimento. 2º — Esse desejo depois de submetido à aprecia ção e ao julgamento do espírito (o nosso eu) transfor97
ma-se em vontade, que é a verdadeira força operante, se não há motivo para que seja anulado. 3º — A Vontade apropria-se então da Força, que envia aos músculos do corpo, a fim de que o movimento se opere. 4º — Os músculos, recebendo a impulsão da Von tade, executam o movimento ordenado. O Desejo, a Vontade e o Pensamento merecem re ceber definições mais claras, para não causarem confu sões no entendimento do estudante. Em geral, nos estudos até hoje feitos literariamente, essa distinção não é feita, e mesmo na maioria dos livros que ultimamente têm aparecido entre nós, tratando des tas delicadas questões de psiquismo, faz-se geralmen te emprego de dissertações sobre os poderes da Vontade, do Pensamento, do Espírito etc, antes de procurá-los definir com exatidão. O espírito é a verdadeira individualidade que ani ma o homem, subsistindo a todas as mudanças e trans formações que este possa sofrer, através da experiência das suas diversas encarnações. Ele é inatacável e incor ruptível. Centelha dimanada do próprio seio da Causa das Causas, descendo à matéria para instruir-se e dela obter a ciência, contínua, nas suas diversas manifesta ções, a ser sempre o mesmo, embora o seu característico exterior sofra alterações radicais. O azeite que dá vida a diversas lâmpadas — segun do a expressão de acatado Mestre — tem a mesma origem; as lâmpadas, porém, podem variar em coloração, 98
em formato, em tamanho, variando também o poder e qualidade de sua luz. Assim o Espírito. O Pensamento não deve ser confundido com o Espí rito, pois que é, pode-se dizer, no estado atual da nossa evolução ascendente, um seu produto. O Pensamento é de natureza mais material, é um corpo composto, for mado de matéria mental, e, como essa matéria, carre gado de força constituindo uma verdadeira potência. A melhor prova de que o pensamento é coisa bem distinta do Espírito é que nós podemos provocá-lo e abandoná-lo. Quando pensamos, uma coisa material se forma: quanto mais a idéia é nítida e persistente, mais forte, e bem formado é o pensamento. Quando passamos de uma idéia a outra o pensamen to antes formado destaca-se e, se é fraco, morre daí a instantes, desfazendo-se e entrando a matéria de que era formado de novo na fonte originária — a matéria mental. Se o pensamento é vigoroso, persiste durante muito tempo e pode ir influenciar outras pessoas. Por isso alguns autores dizem que "os pensamen tos não são propriedade nossa; nos são comunicados, nos chegam de fora e os absorvemos, os transformamos, de acordo com os nossos desejos, necessidades e tendências". E em outro lugar diz: "Um pensamento qualquer que nos chega faz vibrar a nossa matéria mental, e as suas vibrações se propagam em torno de nós por ondula ções, de um modo que não deixa de ter a sua analogia 1
2
1 Durville, Magnetismo Pessoal. 2 Obra citada. 99
com os movimentos ondulatórios que se observam na su perfície de uma água tranqüila, sobre a qual se haja ati rado uma pedra, tudo volta à sua ordem ao cabo de um instante, se a impressão não foi demasiado violenta. Se, porém, o pensamento se impõe à nossa atenção, se é in tenso, se com freqüência se apresenta no campo da cons ciência e se forte foi a impressão, ele põe em movimen to uma certa quantidade de matéria mental, que se des loca, circula em nosso derredor e acaba por envolver-nos e formar a atmosfera, a aura, etc". Essa maneira de explicar a ação do pensamento vin do do exterior, a nosso ver, pode satisfazer, mas nada nos prova que todos os pensamentos que abrigamos por algum tempo no nosso cérebro tenham vindo de fora. A maior parte virão, de fato, e se transformarão ao contato dos que já existem, mas não todos. Se assim fos se, de onde viriam os primeiros? Quem criaria os pri meiros? Multiford diz que existem poucos criadores de pen samentos. A maioria dos indivíduos assimilam os pensa mentos exteriores e deles se apropria. Julgamos não ser tão geral a regra, pois o espírito criador de pensamen tos existe em todos os indivíduos e todo aquele que é capaz de perceber os pensamentos exteriores também é capaz de os expedir próprios, embora não superiores. Continuando a nossa tentativa de classificação, exa minemos agora o Desejo. O Desejo, como o Pensamento, é um atributo do ho mem, uma faculdade que se manifesta em certas circuns100
táncias. O Desejo é uma faculdade inferior e tem origem material e grosseira. A sua sede particular é um dos princípios consti tuintes do homem, que, como todos os demais também grosseiros, perecerão, para só subsistir a verdadeira in dividualidade (o ego) 1. Durante a vida terrena e no homem em curto perío do evolutivo, o Desejo subsiste à Vontade, que não existe ainda, e quase absorve toda a personalidade. Para o co mum da humanidade, na época atual, o Desejo é uma expressão da Vontade, uma sua modalidade mais fraca. Aquele que deseja não quer; experimenta o desejo, mas espera que alguém se mova para satisfazê-lo e pode mes mo não pensar em satisfazê-lo ao passo que a Vontade tem uma expressão mais forte, podendo-se fazer da Von tade a definição seguinte: "Produto de um Pensamento que deu origem a um Desejo, a Vontade representa a re solução tomada pelo Espírito de obrar, de agir." É, pois, a Vontade uma força superior ao Pensa mento e ao Desejo, pois tende à realização, enquanto eles podem não passar de devaneios e não produzir re sultado algum. ***
Para levar a bom êxito qualquer ramo do estudo de Ocultismo, é necessário, uma vez adquiridas as noções sobre as forças e matérias que entram na produção dos l Consulte a obra citada: O homem e os seus corpos.
101
fenômenos, saber cultivar a Vontade, pois tais estudos, dependendo simplesmente do desenvolvimento de prin cípios que já possuímos em estado latente, só com uma Vontade educada poderão ser levados a bom termo. Voltemos agora à explicação da clarividência ou vi são no plano astral, intuito deste capítulo. O ato de ver com os olhos do corpo astral depende, pois, principalmente, de dois fatores principais; a con vicção perfeita da existência dessa faculdade e o querer exercê-la. Para o desenvolvimento dessa faculdade, como de to das as que fazem parte dos conhecimentos ocultos, é ne cessário que saibamos perfeitamente conter, dominar e dirigir nossas emoções. O nosso caráter deve ser comple tamente dominado, a fim de que nada do que possamos ver ou entender seja capaz de despertar em nós uma irri tação, cujas conseqüências seriam muito mais graves so bre o plano astral do que o são sobre o plano físico. "A força do pensamento tem sempre uma ação enor me, mas no plano físico encontra-se entravada, enfra quecida pelas grosseiras células cerebrais, que têm neces sidade de pôr em movimento. No mundo astral, é ela muito mais livre e poderosa, a tal ponto que um senti mento de cólera experimentado nesse plano por um ho mem que possua as suas faculdades inteiramente desper tas, sentimento esse dirigido a uma outra pessoa, acarre taria para esta última conseqüências perigosas, talvez mesmo fatais K" l Leadbeater, Os auxiliares invisíveis.
102
Por esse motivo a aplicação dessas faculdades, que confere a quem as adquire poderes bem extraordiná rios, só pode ter uma utilidade de real valor quando exer cida por pessoas adestradas em preceitos morais rigorosos e que tenha uma consciência bastante clara para poder distinguir os efeitos bons dos maus em cada uma de suas aspirações. As responsabilidades, portanto, são maiores no pla no astral que no físico, e as conseqüências da má direção dada às faculdades exercidas nesse plano atingem de uma maneira mais intensa e durável os destinos futuros do seu provocador. "É necessário não somente saber-se dominar, mas ainda possuir grande dose de sangue frio, a fim de que nenhum dos espetáculos fantásticos ou terríveis que se poderão oferecer a nossos olhos seja capaz de amortecer nossa inquebrantável coragem. Para compreender em toda a sua plenitude as pa lavras de Leadbeater, já citadas, precisamos fazer uma idéia do que seja o plano astral e seus povoadores, o que não podemos fazer aqui senão imperfeitamente, visto desejarmos apresentar o assunto simplesmente sob um aspecto prático. O leitor poderá se reportar ao que dissemos na Introdução, quanto à classificação dos ha bitantes do astral. Entre eles, os que maior papel repre sentam, quanto aos perigos acessíveis ao estudante neó fito, estão os elementáis. Vejamos o que diz sobre eles, em diversos pontos de sua obra 1, um autor famoso e autorizado: l Papus, Tratado elementa?' de Magia. 103
"O caráter essencial dos elementais é de animar ins tantaneamente todas as formas da substância astral, que se condensa em torno deles. Assim, aparecerão, tão de pressa como uma multidão de olhos fixados sobre o in divíduo, como sob a forma de pequenos pontos lumino sos e brilhantes, envoltos de substâncias fosforescentes e obedientes às ordens do verbo humano, ou ainda sob a aparência de animais estranhos, desconhecidos sobre a terra, ou de combinações heteróclitas de formas animais e humanas." "O elemental não tem em si mesmo nada de mau e é tão inofensivo como um pobre animal, quando se o dei xa tranqüilo. Para entrar em relação com os elementais é preciso entrar no plano astral. Pode-se chegar a esse resultado pessoalmente, por meio de um treinamento psíquico e pela meditação, ou por intermédio de um sujet sonambulico."
104
A
Realização
da
Clarividência
Nem todas as pessoas são aptas de modo igual à rea lização da clarividência, embora todas possam chegar a um resultado qualquer. Os Cabalistas, submetendo a sua maneira de ver e julgar às normas da tradição, preten dem que a interpretação do horóscopo astrológico permi te estabelecer o temperamento de um indivíduo de ma neira suficiente para indicar até que grau os sentidos psíquicos podem ter nele desenvolvimento. Dizem eles que se pode encontrar o característico da clarividência nas influências dos planetas superiores, Urano e Netuno, que não se acentuam senão em casos excepcionais e so bre indivíduos superiormente colocados, em relação ao resto da raça atual. Quando Netuno impera, seus aspectos com o sol e a lua tendem consideravelmente a produzir a clarivi dência. Netuno não deve ser considerado como em ati vidade, no estado de progresso atual da humanidade, se não quando se encontre próximo da extremidade das ca sas I, X, VII e IV, isto é, quando em posição angular, em que o seu influxo é poderoso 1." l
Selva, Traité d'astrologie genethliaque. 105
"Rafael também pretende ter observado que as quadraturas e as oposições de Urano com Saturno ten dem a produzir a clarividência." Ainda segundo a opinião de autores herméticos, existem muitas outras posições de diversos planetas que podem favorecer às pessoas que nascem sob a sua influ ência o desenvolvimento dessa faculdade. Os modernos tratados astrológicos já citados, e alguns outros, dão ex celentes instruções a esse respeito. Entretanto não é fácil utilizar-se da ereção de um tema genérico, que é uma operação minuciosa e longa — sobretudo quando se deseja fazer uma experiência rá pida. Alguns herméticos, para facilitar o estudo, reco mendam a teoria da classificação dos quatro tempera mentos, publicada em uma brochura por Colti e Gary, que "não é absolutamente um sistema secamente analí tico, mas uma rigorosa e fecunda adaptação do Grande Arcano do Verbo às formas do rosto humano ." Deixemos, entretanto, em paz os herméticos com as suas teorias e adaptações da Tradição Ocidental, e tentemos estudar a questão da realização da clarividên cia debaixo do nosso ponto de vista. 1
2
PRIMEIRO EXERCÍCIO Abstrações das Sensações Físicas
Uma das principais condições para a realização de exercícios tendentes a desenvolver qualidades psíquicas 1 Guide to Astrology. 2 Sedir, Les Mirois Magiques. 106
é a abstração quase completa do uso das sensações e per cepções do corpo material. Encerrando-se em um quarto perfeitamente escuro e despido de móveis, roupas ou objetos que se possam des tacar na escuridão, o estudante pode facilitar a realiza ção de uma parte do exercício, isto é: a não função dos olhos, o não ver nada físico, apesar de ter os olhos aber tos. Para isso melhor será construir propositalmente um pequeno gabinete, fechado a chave, forrado ou pintado de preto, mas com respiradores, junto ao chão e no alto, disfarçados, a fim de não causar dano à vida fisiológica. Sentando-se em uma cadeira longa e confortável, on de o corpo fique perfeitamente à vontade, e não se mo vendo, pode-se realizar outra parte, que é a anulação do tato. Se tivermos escolhido um local onde ninguém faça barulho e onde nenhum perfume ou cheiro de espécie alguma o perturbe, realizaremos assim a anulação de ou tros dois sentidos: o ouvido e o olfato. Quanto ao paladar, poderemos anulá-lo conservan do o aparelho gustativo imobilizado. Para perfeito preenchimento de todos esses requisi tos, a vontade deve estar alerta, exercendo uma espécie de controle sobre os órgãos de sensação descritos, a fim de que eles se abstraiam perfeitamente. Não há nenhum perigo em que este exercício seja prolongado e executado a qualquer hora do dia. À noite, porém, sendo mais fácil obter-se um perfeito silêncio e 107
uma obscuridade completa, é mais preferível operar du rante ela. Em certos paises, onde está começando a ser estu dado sob um ponto de vista experimental o ensino ocul to, na América do Norte especialmente, existem asso ciações onde os seus membros encontram as maiores fa cilidades para os estudos e exercícios. A Associação Vedanta inaugurou uma Câmara de Meditações, para uso de seus consórcios. Compreende-se bem quanto a associação e a cooperação dos homens au xilia e torna possíveis e fáceis os trabalhos que a um só seria impossível realizar. Se isto é verdade que salta aos olhos, falando-se de esforços materiais, também o é quando se trata de práticas psíquicas, espirituais ou di vinas. Entretanto, não é fácil obter bons auxiliares, mor mente tratando-se de questões que ainda não puderam ser apresentadas de modo a ser bem compreendidas por todas as inteligências. Se é verdade que dois pensamen tos uniformes podem mais do que muitos divergentes, também às vezes basta o intrometimento de um discor dante para prejudicar e mesmo anular o esforço dos de mais, especialmente tratando-se de principiantes. Quando puderdes vos aliar a um ou dois companhei ros ajuizados e sensatos, pessoas inteligentes e capazes de bem compreender o que desejam, essa aliança vos pro porcionará enormes vantagens. Deveis, porém, ser escru puloso em extremo, mais valendo estudar só, se julgais não preencher nenhuma pessoa do vosso conhecimento as condições requeridas. 108
SEGUNDO
EXERCÍCIO
Educação do
Mental
Não deveis passar ao segundo exercício sem ter bem realizado o primeiro durante muitos dias. Esse prazo (muitos dias), não podemos aqui determinar. Há pes soas que em dez ou vinte vezes que experimentam, logo conseguem realizar com perfeição o primeiro; outras necessitam mais tempo, de modo que seria sem valor uma determinação de prazo. Este deve ficar aos cui dados do próprio estudante, que irá, pouco a pouco, sen tindo-se senhor da compreensão exata do que realiza. Tendo obtido a perfeita execução do primeiro exer cício, o estudante está apto para começar o segundo, que deve constar da educação do mental. Educar o mental é educar o pensamento e a vonta de, a fim de que possa dirigi-los e mantê-los numa dire ção determinada. Este exercício, repetimo-lo, só deve ser tentado e ini ciado depois do estudante estar familiarizado com o pre cedente, pois sem isso não dará resultado e poderá trazer em conseqüência desarranjos fisiológicos. É, pois, um exercício em continuação, e antes de começá-lo deve-se executar o precedente, que como que preenche o papel de preparador. Trata-se então de fixar o pensamento no que se de seja obter, que é a vidência no astral, a clarividência. Para não fatigar o cérebro, impondo-lhe logo ao começo a fixação de um pensamento único, o estudante deve, 109
nesse estudo de isolamento e concentração, meditar so bre o que tiver lido nas páginas precedentes e em outras obras, a respeito do mundo astral, pois deve chegar a fa zer uma idéia muito aproximada do que vai ver antes de pretender ver realmente. Esse saber pode ser mais rapidamente adquirido se o estudante, munido de uma grande boa vontade de sin ceramente ser útil aos seus semelhantes, invocar a pro teção de um espírito superior que ele saiba capaz de, por seus conhecimentos e poderes sobre o assunto, poder inspirá-lo com sabedoria. Desse modo, com muita constância, tenacidade e boa fé, poderá conseguir compreender quais sejam os po deres que lhe conferirão a visão no astral, e como apli car essa faculdade em proveito do seu adiantamento in telectual e espiritual, em muitas ocasiões da vida. 1
TERCEIRO
EXERCÍCIO
Realização
Relembramos que os exercícios devem ser executados na ordem dada, e não se deve passar a fazer o segundo sem ter compreendido e executado com perfeição e in teligência o primeiro. Este terceiro exercício é o que pro priamente se refere à clarividência, constituindo os dois primeiros preliminares adaptáveis a todos os desenvolvi mentos psíquicos. l É de grande necessidade consultar o livro O PLANO ASTRAL, de C. W. Leadbeater.
110
No primeiro exercício procurou o estudante alhearse das coisas visíveis, abstraindo as suas sensações físi cas e procurando interromper o laço que liga o seu eu do exterior. Neste terceiro exercício tratar-se de estender a cons ciência aos planos da matéria astral, de modo que é ne cessário reduzir ainda mais a atividade dos órgãos físi cos dos sentidos, a fim de que a força nervosa que os faz funcionar, deixando-os, possa, dirigida pela vontade, lançar-se com proveito sobre esses planos. Pode-se chegar a esse resultado por meio de auxilia res, tais como a música monótona (para o ouvido), um perfume delicado e brando (para o olfato), e uma pe quena luz, convenientemente disposta. Esses auxiliares têm por fim completar o que o estudante tentou no pri meiro exercício: o adormecimento dos sentidos físicos, e conseqüente desenvolvimento dos sentidos astrais. Essa faculdade não aparecerá logo, em toda a sua plenitude, mas só ao fim de reiterados esforços. As pri meiras coisas percebidas serão vagas e incompreensíveis, algumas mesmo horrorosas. O estudante não deve desanimar, pois nesses casos as grandes dificuldades estarão vencidas e para um com pleto êxito bastará vontade e pertinácia raciocinada.
111
Noções A
Complementares
Sobre
Clarividência
Deixando à margem os ensinamentos da tradição Oriental e Cabalista e dirigindo nossa atenção para os casos de clarividência entre os médiuns e entre os so nâmbulos-magnéticos, vemos constantemente que os vi dentes, sobretudo os magnéticos, vêem quase sempre as pessoas com as quais o magnetizador (se se trata de um sonâmbulo) ou a sua vontade (se se trata de um es pírita), o pôs em relação, mas não ouvem o que essas mesmas pessoas dizem. Se o médium ou o sonâmbulo em vez de vidente é ouvinte quase sempre ouve, mas não vê. Indivíduos há, sonâmbulos e médiuns, que são ao mesmo tempo videntes e ouvintes, mas raríssimas vezes exercem ambas as faculdades em um mesmo instante. A sua vontade e a sua atenção, dirigidas a um sen tido, nele concentram-se, não podendo presidir a outro. Pode-se concluir daí que os sentidos astrais, hiperfísicos. se são semelhantes aos sentidos físicos, em qua lidades, não podem ser, sobretudo para um estudante que principia, semelhantes no funcionamento, e isso explica a teoria de que essa função não se exerce senão à custa 113
de um esforço, um dispêndio de força nervosa arrancada do corpo físico, capaz de momentaneamente poder fazer funcionar os órgãos do corpo astral, mas incapaz de dar a todos capacidade, a um só tempo. Esta nossa observação tem a vantagem de mostrar ao estudante que não deve ao mesmo tempo querer de senvolver todas as faculdades do astral, pois que isso se ria impossível. Se o seu desejo é obter a clarividência, a ela somen te deve dirigir os seus esforços. Com o tempo e depois desta adquirida, então poderá dedicar-se a outras fa culdades psíquicas, com muito mais facilidade até, mas não deve querer cultivar mais de uma ao mesmo tempo. Os sentidos do corpo astral existem, embora suas manifestações sejam raras. E por quê? Porque nós não temos consciência da sua atividade. O campo da consci ência ainda não se estendeu até ao plano astral. Todo segredo do desenvolvimento da clarividência, assim como das demais faculdades do corpo astral, resi de, pois, em uma só coisa: a extensão e o desenvolvimen to do campo da consciência. Busquemos definir com exatidão esta palavra — consciência, pois assim poderemos depois encontrar ra pidamente o meio de desenvolvê-la. A consciência é a fa culdade que tem o nosso eu de reconhecer sua distinção de outros eus ou coisas, e é a relação que se estabelece entre o eu e o não eu, por meio das percepções. A experiência ensina-nos que nós percebemos um objeto tanto mais nitidamente quanto mais atenção lhe 114
dedicamos. Esta atenção é um ato voluntário e espontâ neo do nosso eu. Pode-se, pois, concluir que a clarividência, sendo uma percepção do espírito, um meio de que este se uti liza para entreter relações com o exterior, é indubitavel mente uma percepção resultante do desejo e da vontade, que levam a atenção para o ponto necessário e provocam o exercício da faculdade. Tudo se reduz, pois, a um ato capital, o funciona mento da vontade. Segundo os ensinamentos orientais, os sentidos da vista astral estão localizados no plexo cavernoso. "Para conduzir à consciência as impressões desse órgão é suficiente .— dizem os Upanishads — fazer pas sar Kundalini por Agneya Chakram", isto é, em lingua gem comum: concentrar, por um ato voluntário, toda a força nervosa do corpo ao meio das sobrancelhas (na raiz do nariz) ponto em que se encontra a sede da* visão men tal (o olho de Siva). Para chegar a esse resultado, está bem visto, é necessário possuir a força nervosa, que é sempre o resultado de uma vida simples, uma alimenta ção sem excitantes e uma economia de forças físicas. O método necessário para o desenvolvimento das fa culdades físicas ou astrais não é dos mais fáceis, sendo mesmo bastante difícil na execução. Exige uma vigilân cia constante sobre o organismo astral, cuja sensibilidade se torna extrema desde que a vontade se volve para o Invisível. É necessário dedicar-se e decidir-se a trilhar 115
uma nova senda, imprimindo aos nossos hábitos nova di reção. Para ter probabilidades de êxito nesse tentâmen, o homem obrigado a viver em contato com a luta que de termina a necessidade da manutenção física e as cenas que essa luta nos apresenta a cada momento, precisa re confortar a sua vontade por meio de auxiliares, adequa dos aos três princípios ou organismos que compõem o ser humano. Esse ser humano, para as necessidades da nossa ex posição, são: O homem inteligente e pensante. O homem anímico ou psíquico. O homem físico. O primeiro pode ser auxiliado pela meditação, que é a aplicação e extensão dos exercícios que anteriormente demos. O segundo se desenvolverá esforçando-se por subs tituir as emoções pessoais pelas que sensibilizam o Uni verso Cósmico. O terceiro, enfim, o homem físico, pode fechar-se às impressões externas por meio de auto-sugestão ou autohipnose. Para perceber o invisível é necessário começar por abstrair-se do visível. Não se pode chegar a ser ao mesmo tempo conscien te no visível e no invisível senão depois que houvermos habituado o organismo a se deixar completamente do minar pela vontade. 116
Método Para Desenvolvimento da Clarividência, Segundo os Ensinos da Teosofia Concentração
A maior parte das minudências que aqui a seguir detalhamos acerca dos exercícios para a concentração, a meditação e a contemplação foi tomada de emprésti mo à excelente obra do conhecido autor teosófico Sr. C. W. Leadbeater, (de que já temos feito citações) L'Autre Côté de la Morte, tradução francesa proficientemente feita pelo Sr. Gaston Revel. A concentração consiste em um exercício da nossa vontade sobre o nosso mental. Poucas pessoas conhecem o que seja o mental, e mesmo para muitas essa palavra é completamente desconhecida. Isso é natural, pois que a filosofia que atualmente tem por intuito fazer conhe cer ao homem a sua verdadeira natureza, entre nós ape nas agora começa a ser conhecida. O mental é a parte da nossa constituição encarrega da de elaborar o nosso pensamento. Em qualquer ocasi ão da vossa vida diurna, quando em passeio pela rua, por exemplo, suspendei por um instante a corrente de vos117
sos pensamentos e meditai a fim de poderdes rememorar os pensamentos que nos últimos cinco minutos atraves saram vossa mente, sem aí deixar nenhuma impressão. Acabareis por compreender que todos esses pensamen tos não eram vossos, e, se pareciam ser, não tinham um fim determinado e em nada cooperaram para o vosso adiantamento moral ou intelectual. Quando em uma reunião de duas ou três pessoas, que conversam ao acaso, sem fim determinado, para ma tar o tempo, observai o motivo que dá princípio à con versa, e ao cabo de meia hora, de quinze minutos mes mo, vereis que a palestra depois de ter versado sobre mui tos assuntos sem importância, termina do mesmo modo, despedindo-se as pessoas que faziam parte do grupo, umas das outras, sem aproveitamento. Se desejais adquirir uma faculdade superior qual quer, a verdadeira clarividência, por exemplo, deveis co meçar por adquirir o governo sobre o vosso mental, fu gindo às conversações vagas, entretidas por pessoas ociosas. É necessário criar uma ocupação para o mental, em lugar de o deixar vagabundar à vontade. O pensamento é uma função constante. Quer estejamos trabalhando, quer passeando, quer isentos de qualquer preocupação séria, o mental está sempre trabalhando. Pensar em nada ou não pensar, é impossível. O pensamento é uma coisa constante e uma faculdade que nos pode prestar grandes serviços, se sabemos dela aproveitar com sabedoria. Quando não impomos ao nosso mental uma tarefa de terminada, ele devaneia infrutiferamente, atraindo a si 118
pensamentos que não são nossos e dos quais não temos necessidade. O mental deve ser nosso servidor e não nos so patrão. A sua educação é o primeiro passo no cami nho que nos pode conduzir à verdadeira clarividência, pois ele é o primeiro instrumento de que nos devemos servir para o exercício dessa faculdade superior, sendo assim necessário que se submeta às nossas ordens e que fique inteiramente sob o governo e vigilância da nossa vontade. A importância da educação do mental, por muito que aqui disséssemos sobre ela, não ficaria demonstrada suficientemente. Só um esforço, um raciocínio próprio vos levará a compreender perfeitamente. Quando ouvi mos falar em pessoas que gozam de faculdades extraor dinárias, como os magnetizadores, que podem adorme cer um indivíduo com um simples olhar, fazendo-o ver e sentir tudo quanto desejam; quando lemos narrações acerca de proesas praticadas por hipnotizadores e ilusio nistas, que fazem às vezes um enorme auditório de pes soas ilustradas ver e acreditar em coisas maravilhosas, momentaneamente embora, mas de modo tal que nin guém se pode furtar à ilusão; quando nos dizem existir indivíduos que descrevem as particularidades da vida de pessoa que vêm pela primeira vez, com toda exatidão, ou desenvolvem com proficiência uma descrição das suas enfermidades — quando sabemos da existência dessas faculdades, dizíamos, a nossa primeira idéia que se tra ta de faculdades sobrenaturais, maravilhosas, não se apresentando ao nosso cérebro nenhuma outra explica ção, mais abalizada. 119
A impressão que esses indivíduos extraordinários nos causa é de respeito admirativo, misturado de receio, pois os julgamos sempre capazes de penetrar no nosso ínti mo e de lá arrancar o que julgamos segredo de nossa propriedade. Muitas pessoas julgam que esses indivíduos possuem dons sobrenaturais, com os quais já nasceram e com os quais foram dotados pelo Criador, sem um mo tivo apreciável. No entanto, os fatos são todos naturais, pois o so brenatural e o maravilhoso não existem senão para os olhos dos que não podem ver e para os cérebros que não podem entender. Não há efeito sem causa e as causas são sempre na turais. As faculdades que nos parecem maravilhosas têm a sua causa no desenvolvimento de certos princípios, la tentes na natureza humana, e que um dia hão de fazer parte do estado normal de todos. Sabemos que as sementes contidas em um mesmo fruto ou provenientes de uma mesma árvore, geram plantas que atingem desenvolvimento desigual. Se to mardes as sementes existentes em uma flor, na bauni lha, por exemplo, e as entregardes a uma porção de terra preparada, observareis que grande parte não conse gue germinar; outra parte germinará, dando produtos raquíticos, inferiores ao tipo de que provém; outra par te ainda, maior, atingirá um desenvolvimento normal, obtendo vós espécimes tão belos como aquele de que vos servisteis para tomar a semente; entre esses produtos bem desenvolvidos é possível, é provável mesmo que al120
gum ultrapasse em vigor, crescimento e beleza da flor, o tipo de que teve origem. Podereis então compreender que a evolução é um fato. Aplicai por analogia o resultado desse ensino ao gênero humano, e sabereis porque, ensinando a tradição e a ciência Secreta que todos temos a mesma origem e somos filhos do mesmo Criador, podemos apresentar, em uma determinada época, diferenças enormes na nossa evolução, inteligência a graus diferentes, assim como explicar o desenvolvimento de certas faculdades desa brochadas em uns, enquanto outros estejam ainda em estado de nem mesmo as poder compreender. O fato observado no exemplo acima dado, o pode rá ser também no reino vegetal, no reino animal e em outros. As faculdades que nos parecem maravilhosas não são mais do que um grau de evolução, atingido por al guns indivíduos, mas não só todos nós chegaremos a pos suí-las e ultrapassá-las, como é de grande aproveitamen to o conhecê-las, estudá-las e preparamo-nos para os esforços da natureza. Todos os que conhecem a lei da reencarnação podem fazer idéia do que seja a evolução humana. A nossa in teligência não poderá imaginar os seus limites. Como ajudar a natureza na evolução e provocar o desenvolvimento dessas faculdades? — perguntará o lei tor. A resposta já tem sido dada, implicitamente, no de correr destas páginas. Meditai sobre as leis morais en sinadas pela vossa religião, qualquer que ela seja, e aí encontrareis a chave do verdadeiro progresso, assegurando-vos de que o conforto material e a fortuna de bens 121
terrenos não cooperam em nada para isso, se o essencial nos falta. Às religiões, entretanto, falta o senso da ada ptação. Como que organizadas para uma só medida de inteligência, as suas leis, os seus ritos e o seu modo de manifestação exterior parecem não ter sabido prever muitas lacunas que o futuro criaria, e por isso atual mente começam a não estar em condições de satisfazer as necessidades de alguns espíritos que se adiantaram em evolução intelectual-material. A esses, só os méto dos ensinados pela Teosofia poderão dar o que necessi tam. É necessário demonstrar as verdades que encerram as religiões sob um aspecto intelectual, dar-lhes um cunho científico, e é esse o intuito em vista. Por meios que alcança a inteligência e a razão, sem fazer apelo à fé cega, é que o homem chegará a compreender que até agora fez uma idéia mesquinha e ra quítica de si próprio e da natureza maravilhosa colocan do a flor dos seus ideais a uma altura irrisória, e isso por desconhecer as vastidões incomensuráveis que abraça uma mais verdadeira e grandiosa concepção da obra de Deus. A Concentração, a Meditação, e a Contemplação são as três divisões da escala a observar para a boa realiza ção de um progresso raciocinado, no terreno das verda des divinas, como no terreno, conseqüente, de todas as demais verdades. Para as pessoas pouco ilustradas e pou co acostumadas ao exercício do mental, a concentração é uma das coisas mais difíceis. Para aquelas, porém, que tem o hábito de pensar, grande parte do trabalho já es tá feito. 122
Concentrar-se é dirigir a corrente dos nossos pen samentos para o assunto especial que nos ocupa ou o trabalho que executamos, sendo dessa forma possível executar a concentração concentração em qualquer moment momento o em to dos os nossos nossos trabalhos. trabalhos. Seja qual for a ocupação ocupação à qual qual vos apliqueis, no vosso meio de vida, ofício, negócios, etc, executai-a com toda a atenção e empregai nela to das as forças do vosso espírito, sem vos incomodar com o que se passa em redor. Fazei como se nada existisse, existisse, além além do vosso trabalho, e começareis a compreender o que é a concentração e que auxílio poderoso ela encerra para o desenvolvimento das vossas habilitações pessoais e da vossa inteligência. Se escreveis uma carta, não penseis em outra coisa, até que ela esteja esteja term terminada, e ela será mais mais bem redigi redigi da. Se lerdes lerdes um livro, fixai vosso espírit espírito o sobre o seu con teúdo, e ponde todo o esforço para para compreender compreender o pen samento do autor. Compreendida Compreendida desta forma, a con centração, embora fácil na execução, é dificílima se se trata de pessoas cuja vontade é fraca. Qualquer conhe cimento, todos nós o sabemos, não pode ser adquirido de um dia para outro. outro. O hábito hábito de concentrar-se não foge à mesma regra. Como Como tudo, depende de um esforço da vontade, esforço esforço esse que será cada vez vez menor, à me dida que se for sendo mest mestre re na sua execução. Sabei sempre dirigir o pensamento vosso sobre o as sunto sunto escolhido pela vossa vontade, pois que a vontade o dirigirá depois, como mecanicamente, para trabalhos de maior valor, inteligentemente. 123
É recomendável um exercício preliminar, se julgar des impossível impossível executar executar a concentração em em qualquer lu lu gar e a qualquer moment momento. o. Nesse caso caso encerrai-vos em um quarto ou ide para um ermo silencioso, onde tenhais a certeza de que ninguém ninguém vos vos interromperá. interromperá. Se puder puder des obter um local onde nenhum ruído vos atinja e nin guém vos interrompa, interrompa, não havendo também também objetos objetos ou animais que vos possam possam atrair, atrair, melhor podereis podereis concentrar concentrar o espírito sobre o assunto assunto que escolherdes. O que que deveis deveis fazer fica fica a vosso cuidado. O resul resul tado do exercício não está no gênero da ocupação, mas sim sim no exercício exercício vigilante vigilante da vontade, obrigando o men men tal a ocupar-se com tenacidade tenacidade no mesmo assunto. assunto. O jogo de damas damas,, de xadrez, ou de cartas cartas também também pode concorrer para a educação do mental. mental. Pouco a pouco ireis percebendo que sois capaz de deter-vos em um pensamento, na solução de um problema, sem dis tração. Mais tarde, vosso espírito espírito adquirirá adquirirá o poder poder de se absorver tão completamente, que mal podereis es cutar o que disserem disserem ou fizerem fizerem em torno de você, uma vez que não queirais a isso ligar atenção. Quando puderdes atingir a esse grau de concentra ção pela influência influência da vontade e em estado de perfeita calma, devereis então experimentar a prática da medi tação.
124
Meditação
e
Contemplação MEDITAÇÃO
Embora não seja das coisas mais fáceis, pode ser classificada classificada a meditação editação entre as coisas possíveis. possíveis. Mui Mui tas são as pessoas que a realizam a todo o momento que o desejam: O vosso menta mental, l, tendo chegado a tornar-se um instrumento dócil à vontade, escolhei para a medita ção uma hora hora fixa e um local local onde tenhais tenhais a certeza certeza de não ser incomodado. A manhã, ao levantar-se levantar-se da cama, é a melhor melhor hora; entretanto, entretanto, se não vos for possível de manhã, isso não será de prejuízo considerável. Escolhei, em todo caso, a hora mais conveniente, mas que seja invariave invariavelmente lmente sempre a m mes esma ma e que nenhum nenhum dia dia se passe sem realizar realizar o vosso esforço regu lar. Todos nós sabemos que quando desejamos progredir em exercícios físicos, ginásticos ginásticos ou de força, é por uma uma prática regular e fazendo esforços metódicos que se che ga a um resultado positivo, e não fazendo um dia um exercício violento, para depois esquecê-lo durante toda a semana. O mais importante é, pois, para ter êxito, no assunto de que tratamos, a regularidade. Assentai-vos confortavelmente e aplicai o poder de 125
concentração de que já gozais sobre um assunto esco lhido, um pensamento útil e elevado. Os motivos para a meditação não são escassos, felizmente. Se preferir des, escolhei uma qualidade moral, como o aconselha a Igreja Católica. Se assim o escolherdes, procurai anali sar em vosso espírito tudo o que comporta essa quali dade; compreender e apreender o seu valor como uma virtude essencialmente divina; analisar como ela se manifesta na natureza como tem sido praticada pelos grandes homens da antigüidade, como pode ser posta em ação na nossa vida de todos os dias, e, enfim, como e por que vos haveis talvez, esquecido de praticá-la, etc. A meditação sobre uma virtude altamente moral é sem pre um excelente exercício, pois não somente fortifica o mental, mais ainda concorre para que um bom pensa mento esteja constantemente presente a nosso espírito. A princípio deveis escolher para assunto da medi tação problemas concretos. Quando estes tenham-se vos tornado familiares, podereis então passar para as idéias abstratas e tirar delas grande proveito. Com a conti nuação e o hábito, quando puderdes praticar a medi tação sem sentir cansaço ou dificuldade, sem que um pensamento importuno se venha introduzir no vosso mental, podereis então passar à contemplação. Não vos esqueçais, porém, que para poder ter resultado nesse sentido é absolutamente necessário que tenhais já apren dido a dominar o vosso mental. Durante muito tempo ainda verificareis, experimentando a meditação, que vossos pensamentos tendem a fugir, procurando outros substituí-los, e de repente apercebereis que pensais, em126
bora em lances rápidos, em assuntos diferentes do ob jeto principal da meditação. Isso, entretanto, não vos deve diminuir a coragem: a todos sucede semelhante mente. Apressai-vos simplesmente em chamar ao seu dever o mental indisciplinado ainda, cem vezes, mil ve zes, se for necessário, pois o único meio de conseguir uma completa vitória é nunca admitir a possibilidade de uma derrota. Quando, nesse combate silencioso, enfim, chega a vitória, quando o vosso mental estiver definitivamente dominado, esperai com confiança chegar ao fim já pró ximo da vossa preocupação, fim para o qual todo o resto não tem sido mais que uma preparação necessária. CONTEMPLAÇÃO
Na contemplação, em lugar de procurar aprofun dar-vos sobre a natureza de uma alta qualidade moral, representai em vossa mente, formulai o ideal mais ele vado que conhecerdes. Pouco importa qual seja ele ou qual o nome que lhe deu. Um teósofo escolherá pro vavelmente como ideal um dos grandes Seres, — um membro dessa grande Fraternidade de Adeptos a que chamamos Mestres — sobretudo se ele, teósofo, tiver a ventura de gozar o privilégio de poder entrar em comunicação com um deles. Um católico escolherá cer tamente a Virgem Maria ou um Santo qualquer; um cristão escolherá sem dúvida Jesus Cristo; um Hindu escolherá Khishna; um Budista, Buda, etc. Os nomes pouco importam, pois trata-se aqui de realidades. Mas para vós este ideal deve ser o mais elevado, aquele que 127
vos desperte o mais intenso sentimento de veneração, de amor e de devoção. Em lugar da vossa meditação habitual, deveis criar em vosso coração uma imagem mental desse ideal, tão viva e perfeita como puderdes, e, esforçando-vos em di rigir para Ele vossas aspirações mais ferventes, dese jar, com toda a vossa força, elevar-vos até Ele, tornarvos um com Ele, em uma palavra, enfim, fundir-vos em sua glória e sua magnificência. Se assim o fizerdes, se desejardes verdadeiramente elevar vossa consciência, um momento virá em que sereis verdadeiramente um com esse ideal, um momento em que o podereis compreender melhor do que jamais o ha veis compreendido, pois uma nova e maravilhosa luz se espalhará sobre o vosso ser, transformando o mundo a vossos olhos. Sabereis, então, pela primeira vez, o que é viver, e toda a vossa vida até então vos parecerá, com parativamente, obscuridade e morte. Depois esse deslumbramento cessará. De novo vol tareis à luz terrena, de todos os dias, que vos parecerá bem turva. Mas a recordação da vossa contemplação vos seguirá, e aquele glorioso momento se repetirá, tor nando-se sua duração cada vez mais longa, até o dia em que essa vida superior torne-se para vós, definitivamen te, não mais uma faiscação fugitiva, um luar celeste, mas uma possessão permanente, uma coisa maravilhosa, e incessante, para todos os dias da vossa existência. Desde esse dia, então, o dia e a noite não serão mais que uma consciência contínua, uma magnífica vida, empre gada a trabalhar para ajudar vossos semelhantes, e 128
ainda essa situação, por mais inconcebível e indescrití vel que seja, não será senão uma preparação, para en trardes em pleno gozo da herança que vos deve caber, assim como a todos os filhos dos homens. Olhando então em torno vosso, vereis e compreen dereis muitas coisas de que até então nem havíeis sus peitado a existência, salvo se já estiverdes previamente familiarizado com as investigações de vossos predeces sores nesse caminho. Continuai vossos esforços, e sereis elevado mais alto ainda. A vossos olhos maravilhados se abrirá a revelação de uma vida cuja grandeza ultrapassa tanto a vida no plano astral, como esta ultrapassa a vida física. Uma vez mais, ainda, compreendereis o que é a verdadeira vida, pois vos aproximareis mais e mais da Vida Una, que, somente, é a verdade perfeita, a Be leza perfeita. ***
Entretanto, é este um método de desenvolvimento que exige anos, pois, praticando-o, procurareis, em uma vida, atingir um grau de evolução que, normalmente, não pode ser conseguido senão no curso de diversas vi das; mas lio resultado e à recompensa vale bem a pena de consagrar vosso tempo e vossos esforços. Ninguém poderá ao certo dizer qual o tempo neces sário para cada caso individual, pois ele dependerá da quantidade de energia e de decisão postas em atividade para vos arrancar às influências terrestres. Não será possível afirmar que chegareis a esse re sultado em tantos ou tantos anos; o que vos poderei di129
zer é que muitas pessoas têm experimentado e consegui do. Todos os grandes Mestres da Sabedoria passaram pe lo nosso período, como homens, no mesmo nível do nosso, e assim como eles se elevaram também podemos nos ele var. Muitos de entre nós, mais humildemente, têm expe rimentado também e têm chegado mais ou menos a um sucesso, e nenhum ainda se arrependeu dos esforços fei tos, pois tudo o que ganharam ficou para toda a eterni dade. Seja qual for o resultado obtido, mesmo que não se ja o ideal imaginado, vós o possuireis desde então em ple na atividade e em plena consciência. As faculdades adquiridas pelos métodos indicados pe la teosofia são as únicas que apresentam, sob o ponto de vista de uma verdadeira evolução, um valor real, pois permanecerão como parte integrante da alma.
130
Alguns Métodos e Processos Existentes, Imperfeitos, Errôneos Perigosos, da
Para
o
ou
Desenvolvimento
Clarividência
Muitos outros processos para o desenvolvimento da clarividência existem, mas a faculdade obtida por esses meios, além de inferior e incompleta, reduz-se a um po der da personalidade terrestre, desaparecendo com a morte desta, enquanto que com o método teosófico assi nalado linhas atrás, uma vez adquirida essa faculdade, jamais se perde; é uma faculdade, então, do verdadeiro homem, e não do homem exterior e grosseiro, que habita as escalas inferiores. Entre as tribos da índia, pertencentes à raça aria na, a clarividência é obtida pelo uso de drogas, como o haschish, o "bhang", e outras do mesmo gênero, que exercem sobre o corpo físico uma ação anestésica, per mitindo ao corpo astral do homem exteriorizar-se, como geralmente o fazemos durante o sono, mas com muito menos probabilidades de ter disso consciência, ao regres sar à prisão física. 131
Antes de ingerir as drogas, o praticante determinase voluntária e fortemente tentar por seus sentidos as trais em atividade, e uma vez estes libertos do corpo fí sico, tenta fazer uso de suas faculdades. Com um pou co de prática, pode chegar a um resultado, de maior ou menor valor, e, ao despertar no corpo físico, conservar mais ou menos uma lembrança de suas visões, procuran do então interpretá-las. Desse modo, colocado em estado de transe, o prati cante pode pôr-se em comunicação com uma personali dade extinta — um espírito, como chamam os espíritas — que pode falar por seu intermédio, tal como fazem os médiuns, adquirindo dessa maneira muitas vezes a repu tação de clarividente e mesmo de profeta. Outros podem colocar-se nesse mesmo estado respi rando vapores espasmódicos, geralmente produzidos por uma mistura de drogas análogas. É de presumir que a clarividência das pitonisas da antigüidade fosse obtida dessa maneira. Depois de ter respirado esses vapores durante um certo tempo, o má gico cai em transe, e qualquer espírito desencarnado po de então falar por seu intermédio. Não é difícil compreender quanto esses métodos são pouco recomendáveis, sob o ponto de vista de um real desenvolvimento, assim como tendo em conta a saúde física. Alguns autores recomendam, para o desenvolvi mento da faculdade denominada clarividência, um mé todo baseado em exercícios que tendem a regularizar a respiração. Esse método é mesmo empregado em gran132
de escala na índia. Segundo a opinião de abalizado au tor teosófico, é verdade que uma espécie de clarividên cia pede ser adquirida por esse meio, mas, muitas vezes, à custa da ruína da saúde física e mental. É pois, tam bém, um método que não merece recomendação. Nume rosas tentativas têm sido feitas, baseadas nesse método, na Europa e na América, mas os resultados obtidos estão longe de ser satisfatórios. O Sr. C.W. Leadbeater, em seu livro O outro lado da morte, diz conhecer pessoalmente pessoas que arruina ram sua constituição, chegando mesmo a adquirir afec ções mentais, devido a esse método perigoso. Algumas outras pessoas, diz ele ainda, conseguiram desenvolver essa faculdade o suficiente para serem constantemente assombradas e perseguidas por visões horríveis; outras, finalmente, nada conseguiram, a não ser comprometer seriamente a sua saúde e enfraquecer o seu mental. Ra ras são as pessoas, na sua opinião, que declaram ter ob tido, por meio dessas práticas, um resultado favorável. Isso nos faz facilmente compreender o perigo que pode resultar do emprego de certos métodos, fórmulas e cerimônias, recomendados por certos autores, neste como em outros assuntos concernentes à magia, pois, supondo-se mesmo que uma virtude exista nesses méto dos, quase sempre um perigo também existe, sendo ne cessário um conhecimento profundo da matéria para poder utilizar-se das vantagens e das virtudes sem ficarse exposto aos perigos. Com relação ao método baseado em exercícios res piratórios, com o fim de desenvolver a clarividência, é
133
verdade que é usado nas índias, pelos Hatha-Yogis, de nominação que distingue os estudantes de ocultismo, nesse país, que procuram o desenvolvimento de poderes ocultos por meios físicos, não ligando nenhum valor ao desenvolvimento do mental e do corpo espiritual. Mas, mesmo entre os Hatha-Yogis, essas práticas não são exer cidas indiferentemente, por qualquer, mas o são sempre sob os cuidados diretos de instrutores responsáveis, que observam atentamente os efeitos que os exercícios pres critos produzem sobre os estudantes e os fazem suspen der imediatamente, se julgarem que lhes podem ser pre judiciais. Para as pessoas, entretanto, que não têm ne nhuma noção desses assuntos, é pouco prudente e mes mo perigoso entregar-se descuidadamente a essas prá ticas, que se podem ser excelentes para uns, também podem ser perigosíssimas para outros. Outro método, por meio do qual se pede desenvol ver a clarividência, é o mesmerismo, também chamado magnetismo. Em magnetismo chama-se geralmente ao estado em que o paciente vê com os órgãos astrais: clarividência magnética ou lucidez magnética, pois a lucidez, deve acompanhar a clarividência, a fim de que o magnético possa descrever o que vê. A eficácia desse método depende quase que exclusi vamente da conduta e do grau de saber do magnetiza dor, pois o sonâmbulo fica submetido à sua vontade e quase sempre tudo o que vê e descreve é de acordo com a concepção que o magnetizador faz do mundo astral. 134
Muito bom resultado tem sido obtido por meio do sonambulismo, como nos podemos convencer lendo as narrações feitas por alguns dos investigadores que a es se ramo da Ciência Oculta se têm dedicado. Essa leitura, entretanto, faz-nos compreender que tais experiências, para que fiquem ao abrigo de qualquer perigo, necessi tam da combinação de extraordinárias circunstâncias auxiliantes e de uma elevação quase super-humana de pureza de intenção, tanto da parte do operador como da parte do praticante. O papel representado pelo sonâmbulo magnético é quase que o mesmo representado pelo médium espírita, com a diferença que este coloca o seu organismo psíqui co em estado de completa passividade, permitindo que ele possa ser dirigido por uma entidade qualquer habi tante do plano astral, e sem poder exercer domínio al gum sobre ele, enquanto que no magnetismo é uma pes soa viva, o magnetizador, que o governa por meio de sua vontade. Desta última forma, o sonâmbulo pode também entrar em comunicação com um espírito desencarnado, mas em vez deste se utilizar do seu organismo, como lhe aprouver, a vontade do magnetizador é quem dirige e vela o contato, podendo-o sustar quando julgue conve niente. Entretanto, o sonambulismo não é somente um meio de obter comunicação com os mortos, como erra damente pensam alguns adeptos do espiritismo, pois o magnetizador pode perfeitamente dispensar o concurso dos habitantes do astral e induzir o sonâmbulo a, por si mesmo, investigar, aprender, retirando noções do que vê em torno de si. 135
Toda a confusão proveniente desse gênero de estu dos provém de que, geralmente, tanto o magnetizador como o sonâmbulo não têm nenhum conhecimento sério acerca do plano astral, o que faz, tanto a um como a outro, julgar o que percebem de acordo com a concepção, mais ou menos errônea, que possam fazer do outro mun do. Acresce que a opinião do sonâmbulo é modelada pe la do magnetizador, do qual depende, nesse momento, a organização psíquica do mesmo. Facilmente podere mos fazer uma idéia do quanto o sonambulismo pode conduzir-nos a falsas noções, se imaginarmos que as fa culdades astrais, o mundo astral e as coisas que o sonam bulismo aí possa ver, dificilmente podem ser traduzidas pela linguagem e que o cérebro físico, não estando exer citado e aparelhado para a interpretação do mundo as tral, ao fazer esta interpretação, desvia-se longamente da verdade. Junta-se a isso o império que o magnetiza dor, pela sua religião fluídica, exerce sobre o sonâmbu lo, e conceber-se-á qual a causa de tantos erros, e o mo tivo por que as opiniões de diversos sonâmbulos sobre a vida no outro mundo apresentam enormes divergências e contradições. Lendo as narrações que Cahagnet faz no seu livro Les arcanes de la vie future devoilés, das ex periências por ele feitas com uma sonâmbula de nome Adélia, apercebemo-nos de que foi unicamente a con cepção que ambos, sob o ponto de vista católico, poderiam fazer do supramundo, que deu origem a tais visões e des crições fantásticas. Concluindo, repetimos: tanto o mesmerismo, o espiritismo, como alguns outros processos pa ra obter a clarividência, podem ter o seu valor, se exer136
cidos com escrúpulos e tática, mas nenhum concede as vantagens, isentas de erros e perigos e representa um real progresso para a evolução da alma, como o método ensinado pela Teosofia, cuja procedência superior e cujo alvo de ideal perfeição moral o colocam a um pla no a que nenhum outro, fruto da concepção e da inves tigação humanas, poderão jamais atingir. Possam estas mal elaboradas reflexões induzir o lei tor ao esforço necessário para a sua realização. Nada do que os dissemos poderá dar uma idéia do valor, da be leza e do elevamento da recompensa que está destinada aquela que a isso se decidir.
137
Como Preparar o Espelho Mágico de Salomão — O Mais Famoso de Todos os Espelhos Esse espelho tem a finalidade de permitir ao prati cante ver o que quiser, isto é, coisas e pessoas distantes, o passado, o presente e o futuro. Podendo ver tudo o que quiser, terá, naturalmente, a possibilidade de ter êxito em todos ou quase todos os empreendimentos humanos, pois, o SABER é a base e a fonte de todo êxito. É o seguinte o processo para se preparar o "Espe lho Mágico de Salomão". 1º — Prepare uma placa de aço muito fino e muito polido, que tenha forma um pouco convexa; 2º — Durante sete dias consecutivos conserve a mais absoluta castidade, isto é, o praticante não deve manter relações sexuais, nem ao menos pensar nesse as sunto, durante o período acima prescrito; 3º — No oitavo dia, sacrificará um pombo branco, sobre um pedaço de pano de linho branco, com uma fa139
ca de aço puríssimo que tenha sido adquirida no dia e hora de Marte; 4º — Recolherá esse sangue, num recipiente branco e limpo e, com uma pena nova, adquirida na hora de Marte e num dia favorável a esse planeta, escreverá nos quatro cantos do espelho (do lado côncavo): Jehovah, Elohim, Metratom, Adonay. Depois, envolverá o espelho num pano de linho branco. 5º — No primeiro dia da Lua Nova, uma hora de pois do pôr do Sol, com a frente voltada para o Norte, di ga em voz baixa: "Oh, Deus Eterno, Inefável que criaste os céus e a terra e tudo quanto neles existe! Eu . . . (nome da pes soa que faz a prece), te suplico que, para o meu próprio benefício e no dos meus semelhantes, permitas que o An jo Anael apareça no espelho que acabo de preparar pa ra orientar-me e instruir-me no meu próprio interesse e no dos meus semelhantes, para maior Glória Tua e das Tuas criaturas. Assim seja". 6º — Acenda alguns carvões e lance um pouco de açafrão sobre os mesmos, de modo a se exalar o perfume de Anael; passe o espelho sobre a fumaça que se produz e diga em voz baixa: "Oh, Deus Eterno, Inefável, criador de todas as coi sas que existem no céu e na terra, Senhor de todo o Uni verso e de toda a Eternidade! Eu te suplico que mandes teu Anjo Anael aparecer neste espelho para Tua Glória, meu benefício e dos meus semelhantes. Assim seja". 140
7º — Conserve o espelho sobre os carvões acesos, re cebendo, portanto, a fumaça e o perfume do açafrão e diga três vezes: "Em nome de Deus Eterno e Inefável, eu te invoco, Anael, e te suplico que te manifeste neste espelho para atender aos meus desejos. Assim seja". Nota: A operação mencionada no item 69 deve ser repetida todos os dias, até que Anael apareça. Sua pre sença é semelhante à de uma criança. Quando ele aparecer, peça-lhe o que quiser, sem receio e sem demora, por isso, deve estar prevenido para pedir prontamente o que quiser, com convicção; o prati cante não deve ter dúvidas quanto ao pedido que vai fa zer, nem esperar até que Anael apareça para se resolver a pedir alguma coisa. Quando proceder à invocação já deve saber de antemão o que QUER. Depois que Ele aparecer na primeira vez, aparece rá mais facilmente nas demais, bastando repetir a invo cação constante do item 69. Depois que o paciente tiver feito o pedido, esperará um momento e, não tendo qualquer coisa a responder a Anael, o despirá, empregando, para isso, os seguintes termos: 'Em nome de Deus eu vos agradeço Anael, por ter des vindo e terdes atendido". Advertimos ao praticante que, invocando Anael em nome de Deus, que é o único meio não deve, de modo al gum, pedir qualquer coisa que seja má ou prejudicial a quem quer que seja.
141
Tanto durante o período preparatório, como duran te as invocações de Anael, não deve pensar em nada de mau, nem nos desafetos ou inimigos, não se lembrar de qualquer mágoa, não proferir qualquer termo obceno ou ofensivo a alguém. Deve, portanto, conservar a mais absoluta pureza de pensamentos, atos e palavras.
142