PELOS MAUS BRASILEIROS
Percival Puggin a
PELOS MAUS BRASILEIROS Crônicas à margem da história contemporânea
Prefácio:
Olavo de Carvalho
A tomada do Brasil pelos maus brasileiros Percival Puggina Copyright 2015 © by Percival Puggina Os direitos desta edição pertencem à E������ C������� Rua Barão do Gravataí, 342, portaria – Bairro Menino Deus – CEP: 90050-330 Porto Alegre – RS – Telefone: (51) 9916-1877 – e-mail:
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R���������: Critério - Inteligência em Conteúdo E�����: Editora Concreta - Renan Martins dos Santos O����������, ����������� � �����: Mateus Colombo Mendes C���: Christiaan van Hattem (Crédito da fotografia: iStock)
I����������: Bebeto Daroz
F���� C������������ Puggina, Percival, ����P��� A tomada do Brasil [livro eletrônico] / coord. de Mateus Colombo Mendes, edição de Renan Santos. – Porto Alegre, RS: Concreta, ����. ���p. :p&b ; �� x ��cm ISBN ���-��-�����-��-� �. Jornalismo político. �. Política. �. História do Brasil. �. Cultura. I. Título. CDD-���.�����
Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer meio.
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SELO REAÇÃO
O
s trabalhadores de todo o mundo não se uniram. As idéias abstratas de Karl Marx (e de seu financiador, Friedrich Engels) não encontraram ressonância na vida real. Ao contrário do socialismo, aquilo que Marx chamou de capitalismo não é uma ideologia, mas o resultado de uma relação própria dos seres humanos: a relação de trocas. Da mesma forma, não encontra amparo na realidade aquilo que Marx chamou de “moral burguesa”, da qual, segundo a fábula Manifesto do Partido Comunista, os trabalhadores de todo o mundo viriam a querer libertar-se, por ser artificialmente construída e imposta por quem detém os meios de produção. Chamado de “conservadorismo”, esse conjunto de “regras” também não é um ideário (como o é o socialismo), mas uma percepção acurada do mundo real, do que deu certo e do que deu errado ao longo da História, com a base de uma moralidade sempiterna, de um Direito Natural fundado na Verdade com “v” maiúsculo. Esse eixo de certo e errado, fundador daquilo a que se chama conservadorismo, foi percebido em diferentes civilizações, em distintas regiões da Terra e em diversos momentos da História – e constitui o muro de contenção dos devaneios ideológicos. A realidade refutou (e segue refutando) Karl Marx de muitas maneiras, de modo que os intelectuais marxistas resolveram mudar de estratégia. À primeira metade do século XX, percebendo que a revolução não ocorreria naturalmente e que a imposição pela força não se sustenta, Antonio Gramsci, György Lukács, Jürgen Habermas e Max Horkheimer, entre outros, propuseram uma revolução cultural, através dos costumes, dos hábitos, do senso comum. Sua pretensão era de que o socialismo corroesse por dentro o
edifício da civilização, pondo abaixo as sólidas pilastras da moral judaico-cristã, da filosofia grega e do direito romano. A subversão seria imposta pelos costumes, através da cultura, garantindo à esquerda uma hegemonia que seria a base da tomada do poder através da política ou da revolução. O Brasil foi terreno mui fértil a essa estratégia – e a colheita viria ao começo do novo milênio. Nas décadas de 1960 e 1970, derrotada no campo político e militar, a esquerda se aproveitou da inexistência de uma sólida tradição cultural brasileira e passou a ocupar todos os espaços em redações de jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão, em universidades e em editoras. Em duas décadas, o marxismo passou a ser a base de toda a educação nacional, a chave de interpretação dos fatos em nosso jornalismo e a inspiração em nossa literatura. Mais duas décadas e, com a hegemonia cultural estabelecida, o poder político já era integralmente da esquerda. Nesse contexto, acostumamo-nos com um padrão de mercado editorial avesso à tradição literária e crítica, em permanente militância contra autores clássicos e suas obras perenes, fundadas na tradição da busca da compreensão e da representação da realidade. Com admirável tenacidade, preparo intelectual e resistência psicológica, poucos brasileiros nadaram contra a maré vermelha nesse tempo todo – um deles é Percival Puggina (outro é Olavo de Carvalho, prefaciador desta obra). Pouquíssimos seguiram buscando a Verdade de cada fato, mas sua insistência foi inspirando cada vez mais pessoas, criando um ambiente minimamente favorável a uma reação no campo cultural. Uma dessas reações se chama Editora Concreta, que, desde 2014, oferece ao malformado e maltratado leitor brasileiro clássicos de Filosofia, Teologia e Crítica Literária. Após anos de letargia generalizada, em que a imensa maioria dos brasileiros assistiu aos maus brasileiros ignorando a Verdade e subvertendo a realidade (primeiro, no campo cultural; depois, no político), começamos a reagir. Alunos do professor Olavo de Carvalho e demais interessados em entender a realidade antes de desconstruí-la se têm organizado para estudar, publicar livros, posicionar-se e, até mesmo, protestar. É neste novo momento, de retomada do Brasil, que surge o Selo Reação, uma iniciativa a qual tenho a felicidade quase-celestial de capitanear, ao lado do Renan Santos e de sua Editora Concreta, a fim de publicar autores contemporâneos que se dedicam a defender a sanidade geral da nação das investidas de ideólogos armados com as perigosíssimas idéias abstratas que, desde 1917, já mataram mais de 100 milhões de seres humanos. M����� C������ M����� Coordenador do Selo Reação
Agradecimentos aos colaboradores
Através de campanha no website da Concreta para financiar A tomada do Brasil , 591 pessoas fizeram sua parte para que este livro se tornasse realidade, um gesto pelo qual lhes seremos eternamente gratos. A seguir, listamos aquelas que colaboraram para ter seus nomes divulgados nesta seção: Adalberto Bueno Adenilton Ferreira Adriano Gabrieli Menegazzo Adriano Giacomelli da Silva Adriano Pereira Adriano Silva Adriano Veiga Adyson da Silva Diógenes Albert Kiss Aldemar Moreira Alexandre Haruo Tamagawa Alexandro Furquim Alfredo Salemi Filho Alice Muniz Retamal
Allan Rocha Silva Álvaro Trois Amantino de Moura Ana Nely Castello Branco Sanches André Arthur Costa André Erichsen Andre Flavio N. Silva Andre Luis de Castro Peixoto André Pimenta Andre Somavilla Andrea Azevedo Andry Soares Rilho Antônio César Landi Jr. Antônio Chiocca
Antonio Marcos Sauna Ari Bebber Arnaldo Bevilacqua Filho Artur Pojo Augusto Carlos Pola Jr. Austenir Maciel Coelho Benício Augusto Daminelli Branca Luiza Vaccari Brunno Adelizzi Bruno Arrienti Ferreira Bruno de Souza Pinto Bruno dos Santos Alves Bruno Gandolphi Bruno Giacomet Borges Bruno Libório Bruno Marinho Bruno Mendes Bruno Vallini Carla Farinazzi Carlos Adalto Wittkowski Carlos Alberto Escobar Carlos Alexander de Souza Castro Carlos Bach Carlos Crusius Carlos Eduardo C. Ribeiro Machado Carlos Eduardo de Aquino de Pádua Carlos Eduardo de Aquino Silva Carlos José Gnoatto Cássio Tagliari Célia Cunha Celio Antonio Pereira Jr. Cesar Cavazzola Jr. Cesar Day César Gavillon Cesar Rey Xavier Christian Marcucci Cibilia Schilahta Cicero Erivanio Araujo de Sousa
Claudia Freire Beux Cláudia Makia Claudio Gomes da Silva Claudio Karapetcov Cláudio Márcio Ferreira Cláudio Tulio Cleiton Krause Clelia Arana Clotilde Grosskopf Cristiano Azevedo Cristiano Beck Neviani Cristiano Eulino Cristiano Nunes Laureano Cristina Garabini Dagoberto Lima Godoy Daniel Camargo Daniel Cirne Daniel Custódio Pereira Daniel Felipe Bonfim da Silveira Daniel Freitas Daniel Klug Nogueira Danilo Cortez Gomes Danilo Henrique da Costa Décio Gröhs Demian Rossetti Denise Alves Diego Gomes Ferreira Diogo de Melo Takeuchi Diogo Fontana Djalma Maranhão Marques Dora Borges Dorian Uhlendorf Ederson Oliveira Eduardo Alves Eduardo Andriolo Eduardo Federizzi Sallenave Eduardo Fernandes Eduardo Juchem
Eduardo Lopes Eduardo Ramos Godinho Eduardo Ribeiro de Sá Eduardo Rodrigues Neto Eduardo Silva da Silva Eduardo Suga Eduardo Timponi de Moura Elaine Santos Elizabeth Sena Elpídio Fonseca Else Mandelli Emerson Baptista da Luz Emerson Silva Enilton Nascimento Enio Meregalli Erick Vilela Ernani Einloft Ernani Jeronimo Jr. Evandro Batista Evaristo Cenatti Everaldo Uavniczak Everton Silva Evilásio Lucena Evilasio Tenorio Silva Jr. Fabiano Dallacorte Fabio Aguilheiro Fabio Dias Fábio José Carvalho Faria Fabio Junglos Fabio Lauton Fabio Pereira Fábio Salgado de Carvalho Fabio Zampronio Fabio Zanlochi Fabricio Bernardi Felipe Moreira Felipe Weis Fernando Henrique Pereira Menezes
Fernando José Silva Fernando Ulrich Filipe Aprigliano Flávio Accioly Garcia de Freitas Flavio Aprigliano Filho Flávio Góis Francisco Carlos Siqueira Moura Francisco de Paula Fischer Ferraz Frank Costa Cavalcante Frederico Correa Filho Gabriel Henrique Knüpfer Gabriela Marotta Genesio da Silva Pereira Genésio Saraiva Geni Maria Batista Geraldo Correa Filho Gilvan Lopes Pires Gio Fabiano Voltolini Jr. Giovani Tesser Giovanni Sponhardi Giuliano Amorim Giuliano Araújo Lucas de Carvalho Giuliano Bastos Estrela Gleidson Macedo de Mesquita Grazielli Pozzi Menegardo Guilherme Batista Afonso Ferreira Guilherme Cerutti Müller Guilherme Ferreira Araújo Guilherme Macalossi Guilherme Péret Gustavo Braga Gustavo Frio Gustavo Rigon Narciso Gustavo Silveira Machado Gutemberg Campos Hamilton Belbute Heitor Utrini Helder Madeira
Hélio Angotti-Neto Hélio Telésforo Henrique Leonardo Maranduba Henrique Zandoná Hermano Zanotta Hermeto Silva Heron Bini da Frota Jr. Hestefani Lira Hilton Silva Jr. Humberto Campolina Humberto de Souza Meireles Humberto Rossitti Isadora Saraiva Israel Palhano Cavalcante Iuri Aguiar Ivo Kuhn Jackson Ferreira Silva Jair Portella Jane Reis Jean Carlos Diniz Lopes João Carlos Guerra João Medeiros Neto João N. Neves Jr. Joao Paulo João Payne João Stumpf João Tronkos Jônatas Alves Jorge Cunha Jorge Henrique Farias Nagel Jorge Ricardo Áureo Ferreira José Alexandre José Cláudio Aguiar Jose Guilherme Saez José Santos Silva Neto Jun Takahashi Junior Volcan Kênio Barro de Ávila Nascimento
Klaus Schumacher Jr. Konrad Scorciapino Krishnamurti Andrade Leandro Casare Leandro Cristóvão Leandro Linhares Rodrigues Leandro Taboni Liamara Silvestrin Polli Lília Fernanda Cardoso S. Ribeiro Lindoberto Ramos Lima Luciane Potter Luciano Gulin Luciano Pires Luciano Villano Almeida Luís Felipe de Aguiar Tesheiner Luiz Afonso Matos Luiz Carlos Vaccaro Filho Luiz Cláudio Ribeiro Luiz Felipe de Oliveira Luiz Hamilton Soares Luiz Mario Gomes de Almeida Jr. Luiz Militão Luiz Souza Luiz Tadeu Viapiana Lysandro Sandoval Manoel Guimarães Marcell Marques Marcelle Jaeger Anzolch Marcelo Assiz Ricci Marcelo Gois Matos Marcelo Rossa Marcelo Toledo Marcia Curvo Marcio Argachof Marcio Slomp Marcius Vinicius Júlio Marco Antonio Longo Marco Antonio Polo
Marco Oliveira Marco Silveira Fernandes Marcos Alves Marcus Kssesinski Margaret Tse Maria Aparecida dos Anjos Carvalho Maria Castanho Maria Cristina Hofmeister Meneghini Maria During Maria Lucchin Maria Martins Maria Rita Sulzbach de Aguiar Mariana Scolaro Marilene Costa Brandalise Mario Antunes Mario Barros Casuscelli Mário Jorge Freire Markian Kalinoski Mateus Corradi Mateus Rauber Du Bois Mateus Wesp Matheus Sturari Maurizio Casalaspro Mauro Matias dos Santos Filho Miguel Angelo A. P. de Barcellos Miriam Silveira Franco Misael Lima Ferreira Myriano Henriques de Oliveira Jr. Natanael Pereira Barros Neemias Félix Nelson de Cicco Nestor Visintim Filho Nilton José dos Santos Jr. Norberto Ximenes Ferreira Oacy Junior Odilon Silveira Santos Rocha Odinei Draeger Ofélia M. Rodrigues
Olivaldo Weiler Andrade Silva Orlando Tosetto Orly Lacerda Ovidio Rovella Paolo Baldini Paulo Eduardo Frederico Paulo Henrique Brasil Ribeiro Pedro Delgado de Paula Pedro Ivo Costa Lampert Pedro Ivo Silva Terra Pietro Pintaude Plinio G. Dutra Rafael Antunes Raquel Bundchen Reginaldo Magro Renan Zundt Gonfiantini Renata de Freitas Renato Albuquerque Guimarães Renato Jardim Renato Schilling Sardi Ricardo Gomes Ricardo Schiavão Rinaldo Oliveira Araújo de Faria Roberto Antonio Becker Roberto Dutra Roberto Granzotto Roberto Miglioli Roberto Smera Rodney Eloy Rodrigo Descalzo Rodrigo Logatti Corrente Rodrigo Moraes de Ataides Rodrigo Portolan Rodrigo Zampieri Castilho Rosani Pereira Samuel da Silva Marcondes Samuel Santos Sidgrei Spassini
Silvia Pagoto Silvio Donatangelo Silvio Livio Simonetti Neto Stefano Moniz Suzy Kummer da Rocha Tatiana Dornel Telmo Bezerra de Menezes Diniz Thales Gauze Thiago Quinalha Canato Thiago Rabelo Thiago Soares Tiago Aurich Tiago Toledo dos Santos Tito Claudio Moura Moreira Urubatan Junior Helou Vagner Regis
Valdemar Kjær Waldemar Penna Wallace Soares Walter Schley Werner Bing Wilson Fernandes Wilson Junior
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������������� �������� Agradeço especialmente àqueles que, com suas contribuições, viabilizaram a primeira edição deste livro, sobretudo aos bons brasileiros Urubatan Junior Helou, Eduardo Suga, Fernando Ulrich e Antônio Chiocca. — Percival Puggina
Que lição esplêndida a juventude brasileira vem proporcionando à Nação! Foram eles, os jovens, rapazes e moças, que, neste ano de 2015, levaram milhões às ruas nas grandes demonstrações de março, abril e agosto. Nenhum deles era nascido quando o PT surgiu. A maioria sequer se equilibrava em skate quando Lula foi eleito. Mas descobriram, em poucos anos, algo que a imensa maioria da população levou três décadas para ficar sabendo. E trataram de agir. Hoje, ensinam civismo aos congressistas. Representam-nos ante aqueles que nos deveriam representar. Falam pelos que calam. Cobram das instituições o cumprimento de seu dever. A eles dedico este livro.
Sumário
Prefácio: Um pinguim no Saara, por Olavo de Carvalho ................. ..........................21 .........21 Apresentação ................. .................................. .................................. .................................. .................................. .......................2 ......23 3
A ������� ��� ������. S��� �������? Um pinguim no deserto ................ ................................. .................................. .................................. ..........................31 .........31 No gueto, pensando .............................................. ............................................................... .................................. ................... 32 Inaceitáveis obviedades ................ ................................. .................................. .................................. ..........................33 .........33 A tomada do Brasil .................................... ..................................................... .................................. .............................35 ............35
I������ ������������� ��� �������� Como os maus brasileiros chegaram lá Alerta aos ainda ingênuos – Parte I ............................. .............................................. .............................41 ............41 Alerta aos ainda ingênuos – Parte II ................. .................................. .................................. .......................4 ......44 4 A crise dos trabalhadores em educação ............................. .............................................. .......................4 ......46 6 Qual vacas para touros ....................................... ........................................................ ................................. .................... ....48 48 Então como co mo é que é? ................................................ ................................................................. ................................50 ...............50 Os donos da educação............... ................................ .................................. .................................. .............................52 ............52
Veias abertas no idioma pátrio ................. .................................. .................................. ...............................54 ..............54 A derradeira flor do Lácio ................ ................................ ................................. .................................. .......................5 ......56 6 Brincando com coisa séria ................ ................................ ................................. .................................. .......................5 ......57 7 Renascimento cultural .............................. ............................................... .................................. ...............................60 ..............60 As Cruzadas, a Jihad e certos professores ............... ................................ ..................................62 .................62 Quando a educação será prioridade?................ ................................. .................................. .......................6 ......64 4 Tchutchucas e tigrões .......................................... ........................................................... .................................. .................... ...66 66 Jovens rebeldes, coroas irresponsáveis irresponsáveis ................. .................................. .................................. .................... ...68 68 Uma pérola da TV Brasil ............... ................................ .................................. ................................. .........................69 .........69 A gente não se vê nisso aí ................. ................................. ................................. .................................. .......................7 ......71 1 Pluralismo, multiculturalismo e tolerância.............. tolerância............................... ..................................74 .................74 ................................. .................................. .................................. ..................................76 .................76 Vanitas vanitatum ................ Sítio politicamente incorreto ........................................... ........................................................... .........................77 .........77 Olha a cabeça dos caras! ............... ................................ .................................. ................................. .........................79 .........79 Ao menos deixem os pregos p regos .................. ................................... .................................. ..................................81 .................81 Uma guerra nada santa .................................... ..................................................... .................................. .......................8 ......82 2 Paredes nuas................. nuas.................................. .................................. .................................. ................................. .........................84 .........84 Falemos de injustiça, então! ............... ................................ .................................. .................................. .................... ...86 86 Sapato 42 para pé p é 37 3 7 .................................. ................................................... .................................. ............................88 ...........88 Cotas raciais – uma ideia elitista .......................................... ........................................................... .................... ...89 89 Não precisa explicar................ ................................. .................................. .................................. ...............................91 ..............91 Herdeiros de Caramuru................. Caramuru.................................. .................................. ................................. .........................93 .........93 Quase uma jabuticaba ................ ................................. .................................. .................................. ............................95 ...........95 Viram no que deu? ........................... ........................................... ................................. .................................. .......................9 ......96 6 Está tudo dominado ......................... ......................................... ................................. .................................. .......................9 ......98 8 Elvis morreu, mas Stalin vive................. .................................. .................................. ................................101 ...............101 O totalitarismo veste Armani ............................................ ............................................................. ..................... ....103 103 Notas do cárcere ................................ ................................................. .................................. .................................. ................... 104 O direito e o direito à burrice bu rrice ................ ................................. .................................. ................................106 ...............106 A Comissão da “V “Verdade” erdade”................ ................................ ................................. .................................. ..................... ....108 108 Comissariado Nacional da História ................................ ................................................ .......................10 .......109 9
Eu me lembro muito bem ................ ................................. .................................. .................................. ..................... ....111 111 Um dia, um gato ............... ................................ .................................. .................................. ................................. .................. ..114 114 Os inimigos da Anistia ................................................ ................................................................. ...........................116 ..........116 As pernas da mentira................. mentira.................................. .................................. .................................. ...........................118 ..........118 Joãozinho e a Anistia ................ ................................. .................................. .................................. ...........................119 ..........119 Em busca da verdade................. verdade.................................. .................................. .................................. ...........................122 ..........122 Mãos ao alto, Brasil! .................................. ................................................... .................................. ...........................124 ..........124 Desarmados até os dentes................ ................................. .................................. .................................. ..................... ....125 125
P�������� � ���������� Quem são os maus brasileiros Carta a um professor petista ................................. .................................................. .................................132 ................132 Segunda carta a um professor petista .......................... ........................................... ...........................136 ..........136 O amor é lindo ............... ................................ .................................. .................................. .................................. ..................... ....138 138 Retórica do berro e do silêncio ................ ................................. .................................. ..............................140 .............140 O PT e o povo... QUE POVO? POVO? .................................... ..................................................... ...........................141 ..........141 No país das bolsas................ bolsas................................. ................................. ................................. .................................143 ................143 Arco do triunfo, arco do fracasso ............... ................................ .................................. ...........................145 ..........145 O PT sonha com controlar a mídia ..................................... ...................................................... ................... ..147 147 Briga de polegar com indicador ............... ................................ .................................. ..............................149 .............149 Dona Zelite e o custo de uma terapia ............... ................................ .................................. ..................... ....152 152 Lula e as elites ................ ................................. .................................. .................................. .................................. ..................... ....154 154 O filho do Brasil é a cara do pai ................. .................................. .................................. ...........................155 ..........155 O homem que desmoralizou a patifaria............... ............................... ................................. ................... ..157 157 Alô, alô, chamando a base............... ................................ .................................. .................................. ..................... ....159 159 O legado de Lula ............... ................................ .................................. .................................. ................................. .................. ..160 160 Ah, se aprendêssemos com os fatos .......................... ........................................... ..............................164 .............164 A overdose do petismo ................. .................................. .................................. .................................. ........................16 .......165 5 A misteriosa origem de muitos votos ................ ................................. .................................. ..................... ....166 166
E��������� � ��� Os companheiros dos companheiros Desde quando partido tem ONG? ................. .................................. .................................. ........................175 .......175 A usina da corrupção ........................... ............................................ .................................. .................................177 ................177 Enxaquecas institucionais ................... ................................... ................................. .................................. ................... ..178 178 A lebre que mia ................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................... ..180 180 O cardápio do estadista................ ................................. .................................. .................................. ........................182 .......182 Mais um golpe na federação............... ............................... ................................. .................................. ................... ..183 183 Por intolerável que pareça ............... ................................ .................................. ................................. ..................... .....185 185 O cisco e a trave ................ ................................. ................................. ................................. .................................. ................... ..187 187 Um comunista absolutamente exemplar ................ ................................. .................................189 ................189 Corrupção e sistemas econômicos econ ômicos ...................... ....................................... .................................. ................... ..190 190 Sempre enganando os bobos .................................... ..................................................... ..............................192 .............192 Consultem o PCC................. PCC................................. ................................. .................................. .................................194 ................194 Experiência e grana se associam ................. .................................. .................................. ...........................195 ..........195 Fidel, a História já te condena ................. .................................. .................................. ..............................198 .............198 O Louvre do comunismo................. comunismo.................................. .................................. ................................. ..................... .....200 200 Quem quer comprar? ................................. .................................................. .................................. ...........................201 ..........201 Não é o Brasil, senhores! ................. .................................. .................................. ................................. ..................... .....203 203 Quando a esquerda vai a Cuba ...................................... ....................................................... ........................205 .......205 Plano perfeito ..................................... ..................................................... ................................. .................................. ................... ..208 208 Duas décadas depois, inimaginável ................ ................................. .................................. ........................210 .......210 Dança com lobos............... ................................ ................................. ................................. .................................. ................... ..213 213 Montanhas ao mar ............... ............................... ................................. .................................. .................................215 ................215 Reflexões de um leigo sobre a CNBB................ ................................ ................................. ...................... .....217 217 Até quando, senhores da CNBB? ................ ................................. .................................. ...........................218 ..........218 Sobre péssimos negócios............... ................................ .................................. .................................. ........................220 .......220 A vaidade, a felicidade e a maldade ............... ................................ .................................. ........................222 .......222 O supremo de mal a pior................. pior .................................. .................................. ................................. ..................... .....224 224 Muito obrigado, senhores ministros! ................ ................................. ................................. ..................... .....226 226 A “inconstitucionalidade” da Constituição ............... ................................ ..............................227 .............227
O AI-5 do Supremo ................. ................................. ................................. .................................. ..............................229 .............229 Consulte o juiz ................................... .................................................... .................................. ................................. ....................230 230 Nas mãos dos ministros-constituintes............... ................................ .................................. ..................... ....232 232 De onde essa certeza, caras-pálidas? ................. .................................. .................................. ..................... ....233 233
L������� �� ���� 13 incontornáveis razões políticas p olíticas para o impeachment ..................... ......................... ....239 239 Pois é agora que tudo começa! .......................... ........................................... .................................. ..................... ....241 241 Alô, TSE! Que diabo de eleição foi essa? ............... ................................ .................................243 ................243 Os indignados e os que ainda não entenderam ente nderam ............... ................................ ........................24 .......2444 É impea impeachment, chment, sim! ..................... ...................................... .................................. .................................. ........................24 .......2466 Os verdadeiros golpistas............... ................................ .................................. .................................. ........................24 .......2488 O PT não piorou. Ele sempre foi assim................................... assim...................................................249 ................249 O crime de PT PT-fobia -fobia................. ................................. ................................. .................................. ..............................251 .............251 A miséria da d a educação e a educação da miséria ................. .................................. ..................... ....252 252 Alerta aos pais................ pais................................. .................................. .................................. .................................. ..................... ....254 254 A ditadura marxista na educação ............... ................................ .................................. ...........................255 ..........255 Comunismo, o filho da inveja ................ ................................ ................................. .................................257 ................257 Tudo vai muito bem (nos poderes da República) ............... ................................ ..................... ....258 258 O tráfico de drogas e a pena de morte ................. ................................. ................................. .....................259 259 Maioridade penal e desonestidade intelectual ................. .................................. ........................26 .......2611 Somos as próximas vítimas do delírio esquerdista continental................262 “Solidariedade” ou o u hipocrisia? ......................... .......................................... .................................. ..................... ....264 264 Estado Islâmico, coisa co isa nenhuma! ................ ................................. .................................. ...........................265 ..........265 PT e CNBB, 35 anos de união estável ............... ................................ .................................. ..................... ....266 266 Devoção a nossa senhora presidente................. .................................. .................................. ..................... ....268 268 Um STF para o PT chamar de seu ............................ ............................................. ..............................270 .............270 A revolução através das togas ............................... ................................................ .................................271 ................271 Brasil, o filho pródigo caiu em si? ............... ................................ .................................. ...........................272 ..........272 Acabou! Acabou! ................. .................................. ................................. ................................. .................................274 ................274 Confesso que chorei .............................. .............................................. ................................. .................................276 ................276
O melhor do Brasil, em muitas décadas ..................................................277 Irresponsável usina de crises ...................................................................279 O que fazer? ...........................................................................................281 Acusam-me! ...........................................................................................285 Posfácio..................................................................................................287
Prefácio
Um pinguim no Saara O���� �� C�������
D
ecorridos quarenta anos de decadência do jornalismo (digo do jornalismo porque no caso da literatura seria mais apropriado falar em desaparição), ler os artigos de Percival Puggina é um dos poucos consolos que restam a quem estreou na profissão na época de Nelson Rodrigues, David Nasser, Carlos Lacerda, Rubem Braga, Antônio Maria e não sei mais quantos. Naquele tempo, o jornalismo brasileiro era tão bom que Alceu Amoroso Lima teve de usar o melhor dos seus dons dialéticos para distingui-lo da literatura ( O jornalismo como gênero literário, Rio de Janeiro, Agir, 1960). Hoje em dia, quando se diz que um sujeito é jornalista, o que se entende é que ele não é de maneira alguma um escritor. Então, digo logo de cara: Percival Puggina não é um jornalista, é um escritor. Se adotou como gênero literário a breve crônica jornalística, não foi por incapacidade de realizar obra de maior fôlego, mas porque a isso o induziam as necessidades do momento, em que o escritor, se não quer falar para as paredes, tem de criar o seu próprio público, educando-o desde o bê-á-bá – empreendimento para o qual não há melhor veículo do que o jornalismo. É só ler suas crônicas em seqüência para notar que, tão bem articuladas numa convergência de perspectivas e na escalada de um raciocínio tão claro quanto irretorquível, elas são, já, a tal obra de maior fôlego, apenas apresentada em pedacinhos porque assim o exige o molde minimalista da mídia atual. Uma característica que salta aos olhos à primeira leitura dessas crônicas é precisamente aquela que, segundo Martin Amis, define a literatura: a guerra
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PERCIVAL PUGGINA · A TOMADA DO BRASIL
contra o clichê. Puggina jamais apela aos chavões consagrados, jamais macaqueia aquela língua-de-pau com que os colunistas iluminados da Folha e do Globo mostram diariamente ao público que são bons meninos. Cada linha da sua autoria vem marcada por aquelas “impressões autênticas”, pessoais e diretas, nas quais Saul Bellow, ecoando Amis à sua maneira, via a marca do escritor genuíno, em contraste com os propagandistas, demagogos e cabos eleitorais. Porque foram justamente esses personagens que “tomaram o Brasil”, era inevitável que a linguagem direta e franca de Percival Puggina o fizesse parecer, aos olhos dessas criaturas, “um pingüim no Saara”, como ele próprio o reconhece. Nem por isso ele posa de outsider, de incompreendido, de coitadinho. Com uma serenidade e um equilíbrio notáveis, ele simplesmente continua dizendo o que tem de dizer, sabendo que, numa época de loucura geral, a pura a simples normalidade é o maior dos escândalos.
Apresentação M����� C������ M�����
H
á controvérsias quanto à origem desta nossa característica, mas não resta dúvida de sua existência: nós, brasileiros, temos fixação por entidades abstratas. A cada tragédia, a cada problema, a cada desinteligência, bradamos: “Onde estão as autoridades!?”, “Exigimos providências do Poder Público!”, “O Estado tem de agir!”. Da mesma forma, a cada manifestação popular repetimos nossas lamúrias contra a “corrupção”. Ainda, notando a situação atual em que vivemos, as inversões psicóticas a que estamos submetidos, a corrosão de nossa cultura e o desmonte de nossas instituições, tendemos a culpar a esquerda. Equívocos. Nosso problema não é o Estado falho, mas seus agentes que prevaricam; não é a corrupção, mas corruptos e corruptores; não é a esquerda, mas os esquerdistas. E prevaricadores, corruptos, corruptores e esquerdistas têm nome. O Estado, por exemplo, é uma entidade de fácil definição jurídica, mas, sobretudo, é um ente abstrato, intocável e indelineável, o qual todos se sentem confortáveis para criticar, evitando o constrangimento de citar nomes e, Deus nos livre!, angariar antipatias. E a corrupção? Lembremo-nos das manifestações de junho de 2013: os cartazes e as palavras de ordem eram contra a fabular corrupção, jamais contra Lula, Zé Dirceu, José Genoíno e demais corruptos e corruptores. Ainda que nas manifestações em favor do impeachment de Dilma Rousseff – em março, abril, maio e agosto de 2015 – tenhamos dado nomes a alguns bois, ainda temos muito a fazer até que isso se reflita na política representativa, em que parlamentares demonstram imensa dificuldade em atacar os agentes e preferem limitar-se à crítica genérica às ações, e na imprensa, que se reveza entre não perceber e fazer de conta que não percebe que queremos o julgamento e a prisão deste e daquele
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corrupto e corruptor, não da corrupção, essa mal-afamada senhora que sequer existe de fato. A cada tragédia, a cada escândalo, a cada caso de violência, agimos como se o Estado fosse negligente sozinho, como se a corrupção pairasse no ar, como uma epidemia, pronta para nos assolar. É como se o sistema estivesse sempre lá, à espreita, esperando para puxar o gatilho da arma que ele mesmo, malvado que é, colocou na mão do bandido (essa sua pobre vítima, que só não sofre mais porque há ONGs que defendem os direitos humanos). Parece, então, que são esses seres fabulosos – Estado, sistema, corrupção – os culpados por todos nossos infortúnios. Do lado de cá, entre as pessoas que acreditam que existem a Verdade e uma lei moral superior, que trabalham honestamente e querem prosperar através da ação individual, não podemos cair no mesmo erro. Sempre que possível, temos de dar nomes aos bois. É o que Percival Puggina faz nesta obra, em que nomina os responsáveis por nossa miséria ética, moral e material, e os reúne sob uma classificação que não poderia ser mais precisa: maus brasileiros. Apesar de as causas e origens de nossas falhas estatais e de nossas corrupções serem mais amplas do que isso, a situação se tem agravado graças à ação dos maus brasileiros, que soem transitar pela via esquerda de nossa História. E os textos que compõem este livro, produzidos por Puggina ao longo dos últimos cinco anos, estão organizados de modo a oferecer explicações sobre esse processo. São comentários atuais e certeiros, crônicas inseridas em contextos específicos, mas que, articuladas como se apresentam, descrevem o status quaestionis da penúria brasileira. Os escritos de Puggina estão organizados em cinco seções, a fim de apresentar uma estrutura através da qual se compreenda o problema. No primeiro capítulo, “A verdade não existe. Será verdade?”, apresentamos o quê, introduzindo o problema da tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Seguimos com o como: de que forma, por que meios, com que métodos e providências se deu a “Invasão institucional dos bárbaros”. Depois vem o quem, dividido em duas partes: no terceiro capítulo, “Procustos à brasileira”, entendemos quem são essas pessoas, os maus brasileiros; na quarta parte, “Escorpiões e rãs”, conhecemos os companheiros de viagem desses bandoleiros – seus asseclas, cúmplices, comparsas, partidários e quejandos. Por fim, oferecemos os comentários mais recentes do escritor sobre nossa penúria política. Esta obra é fundamental porque estabiliza cinco anos de escritos de um dos pensadores mais originais e tenazes da jovem e cambaleante democracia
APRESENTAÇÃO
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brasileira. Boa parte dos artigos apresentados se referem a fatos já passados e, muito provavelmente, esquecidos por boa parte dos leitores. Mas é justamente aí que reside a importância deste livro. Em geral, trocando nomes e valores, os eventos de ontem são, em essência, os mesmos de hoje. Os milhões de reais e os parlamentares corruptos do Mensalão são como os bilhões de dólares e os empresários associados ao esquema petista do Petrolão. Os estelionatos eleitorais de 2014 possuem a mesma substância de engodo e mendacidade que possuíam em 2002, 2006 e 2010. Os corruptores de sempre, os líderes de um esquema de poder sem precedentes, são os elos entre os desvios de ontem e os de hoje, entre os fatos escabrosos pretéritos, presentes e – quem duvida? – futuros. As eleições de 2018 já estão na pauta. Este livro existe para que não nos esqueçamos de quem são os maus brasileiros que, há mais de década, nos afundam nos índices econômicos, educacionais, de segurança e de liberdade; para que saibamos identificar suas ações e seus parceiros – ou, melhor, seus companheiros – ou, melhor ainda, seus comparsas. Da revolução cultural ao desarmamento, das decisões do STF à Comissão da Verdade, passando por Foro de São Paulo, Partido dos Trabalhadores e Teologia da Libertação, nada escapa a Percival Puggina. Sorte nossa. Azar dos maus brasileiros.
nota do editor
Em respeito a um pedido feito exclusivamente pelo autor da obra, o texto da presente edição segue o último Acordo Ortográfico, assinado em 2009. Apesar da editora Concreta desprezar qualquer obrigatoriedade de um acordo tão contrário à boa preservação da língua portuguesa, deixando claro ao leitor que tal medida não foi e nem será seguida no restante de suas publicações (exceto em casos excepcionais, como o presente), jamais deixaríamos de reconhecer o direito de decisão do próprio autor, e muito menos de ignorar que ele tenha os seus motivos.
A verdade não existe. Será verdade?
“Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas”, disse Friedrich Wilhelm Nietzsche, o teórico da vontade de poder e do Übermensch (as autorizações filosóficas ao egoísmo do querer sem limites). O Ocidente acreditou; Nietzsche enlouqueceu, morreu e nos legou um não-postulado. Ora, nem mesmo a verdade que proclama que não há verdades é verdade? Se Nietzsche estivesse certo, sua assunção não teria validade e, portanto, Nietzsche não estaria certo. Esse é o homem que acha que matou Deus. Roger Scruton respondeu ao alemão e a seus pares: “O homem que diz que a verdade não existe está pedindo para que você não acredite nele. Então, não acredite.” Do lado de cá, onde um mais um segue sendo igual a dois, ficamos com o filósofo inglês. E com Percival Puggina.
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mitirei , neste relato, a identificação dos personagens e do local onde ocorreu o diálogo que me levou a este artigo. Direi, apenas, que era um programa de rádio e que o assunto surgiu durante um intervalo comercial. Não foi ao ar, portanto. Aos fatos. Enquanto a emissora cuidava de seus interesses, um dos participantes do programa, dirigindo-se a mim, afirmou: “Puggina, é inegável que tua posição está baseada na moral cristã.” Disse-o como se estivesse apontando um pinguim no Saara. Retruquei que isso era uma obviedade, posto que o assunto em pauta envolvia considerações de ordem moral, e a minha moral tinha, com efeito, fundamento cristão. E aproveitei para perguntar em que se baseava a posição moral que ele estava defendendo. Respondeu-me: “Os direitos humanos. São os direitos humanos.” Argumentei que direitos humanos não podem ser fundamentos de uma moralidade, posto que eles mesmos requerem algum fundamento anterior, a partir do qual os direitos humanos se distinguissem dos direitos dos animais, por exemplo. Diante disso, meu interlocutor deu sinais de surpresa. “Não estou te entendendo”, disse. Dado que nesse momento, outro participante do programa interveio usando a expressão “dignidade da pessoa humana” (que eu estava vendo se extraía espontaneamente do meu interlocutor), ele agarrou a expressão com as duas mãos: “É a dignidade da pessoa humana.” Chegáramos ao ponto que eu queria: “E em que se fundamenta a dignidade da pessoa humana, meu caro?” Ele voltou a dizer que não estava me entendendo e eu a lhe perguntar se as pessoas e os animais eram portadoras da mesma dignidade. Infelizmente, com o término do intervalo comercial, apenas tive tempo de lhe recomendar que meditasse sobre essa questão: em que se fundamenta a dignidade da pessoa humana? Estou convencido de que a única resposta capaz de preencher todos os requisitos filosóficos e de viabilizar corretos parâmetros morais à nossa existência é a que integra a Revelação e a subsequente tradição judaico-cristã: o homem é imago Dei! Imagem de Deus. Com ela e por ela todos somos iguais em essência e dignidade, a despeito das infinitas diferenças. Sem ela, nos tornamos vítimas em potencial das diferenças. No encontro dessa verdade de fé com a sã filosofia, nasce o Direito Natural, vertente de tudo quanto há de valioso no moderno constitucionalismo. 1 �� de agosto de ����.
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De alguma leitura e muita conversa, sei para onde provavelmente apontará a reflexão daquele meu interlocutor se fizer o que lhe pedi. Ele fundamentará a dignidade da pessoa humana na liberdade. Ora, a liberdade pode ser uma expressão visível dessa dignidade. É um valor moral e um atributo do ser humano. Não serve como vertente de sua dignidade. Tomada a liberdade como fundamento moral absoluto, a dignidade humana convive, por exemplo, com o aborto, a despeito da agressão que representa à dignidade e à vida do feto. É o que já acontece nos países ocidentais cujo Direito vem abandonando as raízes do Direito Natural para adotar o relativismo moral. Este tem fundamentos que repousam na combinação da liberdade com o querer sem limites e transformam a consciência num desconforto a ser removido, numa espécie de verruga que se instala na alma humana. Entre os muitos resultados dessa conduta, que se vai tornando dominante, ao expor convicção moral oposta, o sujeito passa a ser visto como um pinguim no deserto – e se queda sozinho, no gueto, pensando...
N� �����, ��������� E eis que aos poucos se foi impondo em mim essa sensação de que vivo num gueto. Sim, sim, eu caminho com liberdade, circulo, falo, opino. Correspondo-me com muitos. Vocês me leem. Jornalistas me perguntam o que penso. Eu respondo. E mesmo assim, ou quem sabe por isso, habito um gueto. Somos muitos nas mesmas condições. Estamos contidos num sítio existencial bizarro, cujas bordas são tão invisíveis quanto sensíveis, onde milhões de brasileiros, provavelmente a maioria de nós, vamos perdendo relevância, minguando em cidadania e sendo suprimidos até mesmo do direito de expressar nossas opiniões. A caçamba e a corda foram recolhidas. As instituições jazem no fundo do poço do descrédito. Do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) ao estudante da USP, do chanceler da República ao pagodeiro do Piauí, do ex-presidente ao menino birrento que trata a professora aos pontapés, perdeu-se a noção de limites. Mas não lhe passe pela cabeça, leitor, apontar causas para o que vê acontecer! Você acabará no gueto. Repita então, em concordância bovina, que são sinais dos tempos. Preferivelmente, assuma a responsabilidade por tudo. Diga que foi o seu mundo que gerou esse mundo. Ataque a corrupção, mas 2 �� de janeiro de ����.
A VERDADE NÃO EXISTE. SERÁ VERDADE?
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não faça mais do que falar mal dela (ela se lubrifica com a saliva dos críticos). Toneladas de palavras, hectolitros de saliva. Mas não lhe passe pela cabeça apontar as causas. Jamais aponte causas ou ofereça critérios! Concorde prontamente quando disserem que ela sempre existiu e é igual em toda parte. Jamais mencione os vocábulos “verdades”, “princípios” e “valores”. No Brasil que abre caminho no século 21, quem propuser algo relevante perderá importância. Observe os partidos políticos, por exemplo, e faça como eles. Aprenda a crescer com irrelevância. Quanto menos forem daquilo que deveriam ser, quanto menor seu conteúdo, mais importantes se tornam. Por isso estão fora do gueto. Os programas e ideários em torno dos quais se constituíram só cumprem fins higiênicos quando disponibilizados nos banheiros das sedes. Mas não ouse dizê-lo. E jamais sustente haver coisas que não se fazem porque o caminho dos princípios acaba no gueto. É óbvio que este país passa muito bem com pouco ou nenhum caráter, sem fé religiosa de qualquer espécie (à exceção da fé no grande demiurgo de Garanhuns), submissa à ditadura do politicamente correto, do pensamento fraco, da grosseria. É óbvio. Um país crescentemente macunaímico, cada vez mais canalha, precisa expurgar a virtude. Há que trancar a nação inteira no gueto, se isso for necessário para os arranjos do poder. Depois que as li, ainda adolescente, jamais esqueci as palavras com que Cyrano de Bergerac defendeu o amor próprio. É uma lição inesquecível. E uma condenação. “O que queres que faça? Almoçar cada dia um sapo e não ter nojo? Trazer os joelhos encardidos? Exercitar a espinha em todos os sentidos? Gastar o próprio ventre a caminhar de bojo? Não, muito obrigado!” As coisas de que a nação precisa são tão óbvias quanto incômodas. Por isso, a coerência se converte em vício constrangedor. O sujeito coerente é um antissocial, objeto de intrigas e maledicência. Se não quiser vir para o gueto, livre-se de suas convicções. Tudo isso é tão óbvio para nós quanto é inaceitável para eles, os maus brasileiros que tomaram este país.
I����������� ����������� Recebo muitas mensagens eletrônicas apontando o farisaísmo de quem critica a corrupção que vê e fecha os olhos para o extenso rol dos próprios desvios diários de conduta. Certo, é farisaísmo mesmo. Essa inquietante 3 �� de setembro de ���� (publicado no jornal Zero Hora).
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observação sobre os comportamentos individuais conduz, ademais, à conclusão de que não existem sociedades virtuosas. Se as pessoas não o são, a sociedade tampouco o será. Aliás, é esse lado obscuro da natureza humana que, entre outras coisas, torna necessária a existência da lei, dos poderes de Estado e da política. O artigo poderia terminar aqui se as proclamações feitas acima fossem as únicas verdades a serem ditas sobre o assunto, mas não é o caso. Aliás, quanto mais a toalha da renúncia à virtude for jogada no tablado da cultura contemporânea e quanto mais isso for objeto de indiferença social, maior será a corrupção dos corruptos e o farisaísmo dos fariseus. Chegará o dia em que, virado o fio, o vício se converterá em virtude e a virtude em vício. Não, não estamos longe disso, leitor, numa época em que o adjetivo “sacana” pega melhor que o adjetivo “virtuoso”. Ou não? E todos riem. Que somos imperfeitos, sabemos. O que parece haver sumido das nossas reflexões sobre a sociedade é o fato de que somos aperfeiçoáveis. Assim como sempre podemos fazer melhor o que fazemos, sempre podemos ser melhores do que somos. Portanto, as sociedades jamais serão plenamente virtuosas, mas nós, os indivíduos, temos um compromisso moral com o nosso aperfeiçoamento. O que se tornou saudável prática em relação ao condicionamento físico sumiu dos procedimentos em relação ao caráter. Tornamo-nos moralmente sedentários! Abandonamos os exercícios que envolvem a formação da consciência. Eis aí, então, um dos mais graves problemas da sociedade contemporânea. Podemos nos abraçar em muitos erros e vícios, mas fugimos das decorrentes responsabilidades morais e, principalmente, do mais tênue sentimento de culpa. Opa, culpa não! Culpa faz mal à saúde. No entanto, pergunto: como haver arrependimento e retificação das condutas sem que a consciência bem formada acuse o erro? Como corrigir o mal feito a outros sem que a percepção do erro, elaborada no plano da consciência, nos mobilize nessa direção? Em qual laboratório – que não no da consciência – pode nascer algo tão humano quanto o pedido de perdão? Cuidado! São muito claros os sinais de que estamos nos alinhando nos viciosos degraus de uma escada pela qual apenas poderemos descer. Onde anda o hábito de examinar a consciência, de refletir sobre ações e motivações, de corrigir erros, de pedir e oferecer perdão, de buscar o bem e evitar o mal? Todo esse percurso envolve etapas de ponderação e deliberação moral que, pouco a pouco, foram descartadas das práticas pessoais, familiares e mesmo religiosas. É como se a busca do bem tivesse deixado de ser saudável e o arrependimento fosse um desconforto a ser abolido do plano das consciências.
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Quer ser impopular? Diga que há um desastre civilizacional em curso, motivado pela corrosão dos valores da tradição judaico-cristã. Quer desagradar a muitos? Proclame ser escandalosa a conduta de uma sociedade inteira que joga sua cultura e moralidade nos cínicos labirintos do relativismo até se extraviar totalmente de uma e de outra – e, depois, se queixa das consequências. Quer ser condenado por olhares tão desdenhosos quanto ignaros? Comunique este fato inexorável: o país foi tomado!
A ������ �� B������ A nação está com as mãos erguidas e não é para rezar. Ninguém escapa à sanha dos bandidos, aos quais o Estado, miseravelmente, se rendeu. Era previsível. Foi prenunciado por uns poucos, entre os quais eu mesmo. Agora está aí, e todos percebem. Num país com 200 milhões de habitantes, a atividade contra o patrimônio alheio, por exemplo, tornou-se tão intensa que, do pirulito da criancinha à minguada pensão mensal da vovozinha, tudo já foi levado e todos já foram assaltados. Alguns, muitas vezes. Tenho nostalgia, já falei antes, do tempo dos trombadinhas. Eram meninos. Quase digo que eram meninos de boa formação, que sabiam estar fazendo coisa errada. Esbarravam na vítima, tomavam-lhe algo e saíam correndo. Tinham medo da vítima, da polícia e de que outros transeuntes os detivessem. De uns tempos para cá, o ladrão é bandido que ataca, ofende, maltrata e mata, motivada ou imotivadamente. Por uma dessas coisas da memória, vem-me à lembrança a descrição da Queda de Constantinopla, que o grande Daniel-Rops fez em sua História da Renascença e da Reforma. Após oito séculos da jihad contra a Roma do Oriente, Maomé II comandara a arremetida final. Quando a orgulhosa cidade caiu, o sultão entregou-a aos seus janízaros por três dias e três noites, conforme prometera. Sobrou pouca gente para contar a história. Encerrado o prazo, sangue escorria pelas calhas das ruas e era impossível encontrar, em Bizâncio, um simples pires de porcelana. Pois é isso que está acontecendo no Brasil, com a diferença de que o prazo é mais elástico. Sirvam-se os vitoriosos pelo tempo que quiserem! O que nos estão tomando são despojos de uma nação derrotada pelo que de pior nela existe. É a prerrogativa dos vencedores, quando os vencedores são 4 �� de março de ���� (publicado no jornal Zero Hora).
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criminosos. Sempre foi assim na história. A vitória dos bandidos representa estupro, morte e pilhagem. Coube-nos a fatalidade de viver nestes anos da tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Ensinaram ao trombadinha de ontem que ele é a vítima. Sopraram-lhe uma ideologia de boca de fumo, que fala aos “manos” de seus direitos humanos. Vivendo, ele aprendeu que o crime compensa. Percebeu, com fartura de exemplos, que roubar é direito de todos e dever do Estado – mão grande e hábil para cobrar impostos, miúda e inábil para as tarefas que lhe cabem. À sociedade, esse Estado confessou, por inúmeros modos, sua rendição. Num dia, a polícia fecha pela quarta vez um desmanche de automóveis e prende o mesmo sujeito. No outro, o bandido sai da delegacia antes de o lesado preencher o BO. Não faz muito, um exército de policiais foi mobilizado para prender bandidos que ... estavam presos. Deveriam estar, mas o semiaberto, sabe como é. Num assalto a mão armada, a ação do Poder Público começa e termina em burocrático “registro no sistema”. É crime de baixa lesividade, sabe? E volta e meia a pistola dispara sem quê nem porquê, e mata. Soltam presos porque os presídios estão superlotados. Por excesso de presos? Não. Por excessiva falta de presídios, que diabo! As vítimas, antes de mais nada, são vítimas da inutilidade do Estado. Do Estado que quer desarmar os cidadãos de bem, não move palha pelos lesados e enlutados, mas lastima a morte de cada bandido em confronto com sua polícia. E veja, leitor, eu apenas falei do submundo. Não disse uma palavra sobre o grand monde.
INVASÃO INSTITUCIONAL DOS BÁRBAROS Como os maus brasileiros chegaram lá
Não é obra do acaso a situação quase selvagem em que nos encontramos – e que é explicada na seção que aqui se inicia. Tampouco é por acaso o título deste capítulo. Trata-se de uma atualização do título Invasão Vertical dos Bárbaros , em que o filósofo Mário Ferreira dos Santos distingue as invasões territoriais de antanho das tomadas culturais e anticivilizacionais de agora:
Na verdade, a invasão que é a penetração gradual e ampla dos bárbaros não só se processa horizontalmente pela penetração no território civilizado, mas também verticalmente, que é a que penetra pela cultura, solapando os seus fundamentos, e preparando o caminho à corrupção mais fácil do ciclo cultural, como aconteceu no fim do Império Romano, e como começa a acontecer agora entre nós.5 As sementes dessa colheita maldita foram aradas no solo cultural, justamente quando – vejam vocês! – eram os militares os arrendatários do terreno. Temendo a ação da esquerda pelas armas, o regime militar deixou os filhos de Marx brincarem livremente no parquinho intelectual. As universidades, as editorias dos jornais e as emissoras de televisão foram tomadas por esquerdismo cultural, bem ao gosto de Antonio Gramsci, o teórico da revolução pelos costumes. Percebendo a impossibilidade do método marxista puro (os trabalhadores de todo o mundo não se uniram contra o espantalho criado por Karl Marx), Gramsci preconizou que o motor da revolução seriam os intelectuais, os detentores da informação. Com o italiano no bolso, nossos esquerdistas tomaram os meios de produção de notícias e conhecimento. Há quase meio século aquartelados nos gabinetes universitários e nas redações, e hoje no poder, reescrevem a História, com a pena maniqueísta do marxismo. Estabelecem a oposição imaginária entre eles próprios, os mocinhos. A invasão começou vertical e cultural; hoje, é institucional. O invasor despacha em órgãos públicos, diz se você pode construir ou não em determinada área, julga ações de todos os tipos, regula leis inexequíveis, enfim, delibera sobre praticamente tudo.
5 M���� F������� ��� S�����, Invasão vertical dos bárbaros , São Paulo, É Realizações, ����, página ��.
A História é uma só. Isso não impede que haja versões dos fatos; desde que sejam julgadas, a seu tempo, à luz da verdade, que, ainda que não seja encontrada, deve sempre ser buscada. A esquerda brasileira, contudo, sói contar e recontar a História da forma que mais lhe convém. Seus representantes fizeram isso por décadas, em salas de aulas e produções editoriais. Desde o começo dos anos 2000, com o acréscimo do poder político a seu já hegemônico poder cultural, a força da caneta e dos decretos lhes tem sido irresistível. Com verbas públicas, transformaram em heróis gente como Mari ghella e Luís Carlos Prestes, que fizeram ensaios bastante verossímeis para tornarem-se ditadores e assassinos (tal qual seus ídolos Lenin e Che Guevara). Com o erário e a caneta, empreenderam esforços em favor da reescrita dos fatos concernentes ao Regime Militar. Haverá uma seção específica sobre a Comissão Nacional da Verdade e tudo que ela representa. Portanto, o texto abaixo não está deslocado por acaso. Fala da instauração da CNV, um tribunal revisionista, extraoficial e unilateral, instaurado pelo Governo Federal do Partido dos Trabalhadores (PT). Começar este capítulo com o artigo que segue é começar pelo fim. Pois, agir da forma como descreve Percival Puggina no texto a seguir faz parte dos fins da revolução cultural engendrada pela esquerda. Com a cultura, a linguagem, a moral e os símbolos convertidos em panfletos marxistas, o exercício do poder pela esquerda é facilitado. A tomada do Brasil pelos maus brasileiros começou na cultura. E se consolida hoje no poder político. 6
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m Pombas e gaviões8 aduzi, já na capa, o alerta que caracteriza os dez textos que nele se contêm: os ingênuos estão na cadeia alimentar dos mal-intencionados. É uma preocupação que os últimos anos vieram
6 Todos os comentários aos textos de Percival Puggina são de autoria do coordenador do Selo Reação e organizador desta obra. 7 �� de outubro de ����. 8 Livro em que Percival Puggina apresenta dez reflexões (advertências) sobre temas sociais,
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acrescentar às que eu já tinha em relação ao futuro de nosso país. Com efeito, tenho como coisa certa, provada pelos fatos: que a única tese efetivamente abandonada pela esquerda para a tomada do poder é a tese da luta armada. O companheiro Gramsci acendeu um farol sobre a formação da hegemonia como estratégia alternativa e mais eficiente. Anote aí à margem: fazer do ENEM porta única para entrada da universidade é parte disso. O Senado Federal aprovou, como se esperava, a criação da tal Comissão da Verdade, constituída para “efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional” (artigo 1º da Lei nº 12.528, de 18/11/2011). Haverá prova mais contundente de que usam e abusam da nossa ingenuidade? E de que os encontram, no parlamento brasileiro, em número suficiente para aprovar uma coisa dessas? A ideia original de Lula e dos seus era bem outra. Era abortar a anistia ainda em 1979. O jornalista José Nêumanne Pinto (autor do livro O que sei de Lula), em entrevista a O Globo, no dia 29 de agosto de 2011, contou ter sido procurado, entre 1978 e 1979, pelo então presidente da Arena, Cláudio Lembo, para cumprir uma missão solicitada pelo General Golbery do Couto e Silva. Golbery queria apoio de Lula para a volta dos exilados. A reunião ocorreu num sítio. Qual a resposta de Lula, ouvida por Nêumanne? “Doutor Cláudio, fala para o general que eu não entro nessa porque eu quero que esses caras se danem. Os caras estão lá tomando vinho e vêm para cá mandar em nós? […]” O elevado critério moral de Lula não prevaleceu. A anistia aconteceu em 1979 e foi constitucionalizada em 1988. Pois eis que coube ao próprio Lula, três décadas depois daquela reunião solicitada pelo general Golbery, enviar ao Congresso Nacional, no ano passado, o projeto da Comissão Nacional da Verdade.9 O mundo deu umas quantas voltas, é certo, mas em nada se comparam ao efeito giratório que as conveniências políticas determinam sobre a moral de certas pessoas. É esse projeto que foi aprovado pela Câmara dos Deputados e acaba de sair do forno do Senado. Como Lula não conseguiu abortar a anistia em 1979 e a tentativa de matá-la quando já tinha 31 anos foi inviabilizada pelo STF, restou a alternativa da Comissão da Verdade. éticos, religiosos, políticos e institucionais, apontando causas (a ingenuidade da maioria, as "pombas") e consequências (o banquete dos "gaviões", que vivem às nossas custas). [Nota do coordenador do Selo Reação e organizador desta obra; doravante, N. C.] 9 O ex-presidente Lula, que se recusara a colaborar com a volta ao Brasil dos companheiros que tomavam vinho em Paris e em Santiago do Chile nos anos ����, enviou o projeto de criação da Comissão Nacional da Verdade ao Congresso em �� de maio de ����. [N. C.]
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Os ingênuos acreditam no que está estabelecido em seu artigo primeiro, parcialmente transcrito acima. No entanto, qualquer pessoa que junte “b” com “a” para fazer “ba” sabe que o julgamento pretendido pelos que queriam revogar a Lei de Anistia será substituído, agora, por mero linchamento, sem processo nem direito de defesa. Durante dois anos (anote aí que isso será prorrogado pelo tempo que convier politicamente à esquerda 10) teremos uma Comissão de sete membros, escolhidos autocraticamente pela presidente Dilma, para investigar metade da verdade, posto que os crimes cometidos pelos guerrilheiros da luta armada não integram o escopo da Comissão, segundo se depreende do conjunto de suas atribuições. A própria presidente tem interesses diretos em que não se acendam luzes sobre roubos, assaltos e assassinatos praticados e cometidos pela organização comunista que integrava. A mim não me convence essa defesa dos direitos humanos com foco ideológico e com as refrações óticas determinadas pelo tempo. O SOS Tortura, telefone de denúncia instalado de outubro de 2001 a setembro de 2002, registrou 25 mil comunicações! Relativas a fatos da atualidade. Mas a única tortura que interessa à esquerda militante é a ocorrida num tempo em que esse tipo de crime, embora sempre repugnante e hediondo, sequer estava tipificado como tal no Código Penal brasileiro antes de 1997. Por fim, esclareça-se: tortura é crime hediondo, coisa de degenerados. Torturador é um monstro que deve arder na cela mais quente do inferno. Junto com seus assemelhados do terrorismo. Mas a anistia pacificou e encaminhou o país para a normalidade institucional ao longo de três décadas. É importante que se acendam luzes sobre o passado, mas sem essas pretensões de linchamento público, de vender meia verdade como verdade inteira, ou de transformar em heróis da democracia aqueles que lutaram por um regime totalitário infinitamente pior do que o regime autoritário que combatiam. A verdade sobre períodos históricos nunca foi e jamais será determinada por uma comissão. Conceder autorização legal para que sete pessoas nomeadas por uma oitava interessada executem tal tarefa é um ato legislativo para cuja aprovação se somam a inequívoca malícia de uns, a inaceitável irresponsabilidade de outros e a ingenuidade das pombas frente à voracidade dos gaviões.
10 De fato, a CNV entregou seu relatório final apenas em �� de dezembro de ����, indo dois anos além da previsão inicial, conforme vaticinara Percival Puggina em ����. E, durante os quatro anos de re-redação da História, chegou ao extremo de revirar uma sepultura. [N. C.]
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Para que o Brasil chegasse a um estágio de dormência capaz de aceitar desmandos como os da Comissão Nacional da Verdade, um longo caminho foi percorrido. O começo desse trajeto se deu nas salas de aula de todos os níveis do ensino nacional. A relativização do conhecimento e a flexibilização da autoridade dos docentes, em favor da lisonja aos discentes, serviram a esse mister à exaustão. Apenas uma nação culturalmente sedada aceitaria tal comissão e, de pois, aceitaria uma manobra diversionista como a que foi executada quando do encerramento da CNV. Em meio às denúncias de retumbantes escândalos na maior empresa estatal do Brasil, a Petrobrás, o grupo finalmente encerrava suas atividades, em dezembro de 2014.
A����� ��� ����� �������� – P���� II �� Quando a nação fica sabendo que os muitos escândalos da Petrobras são apenas alguns dentre muitos outros, nascidos no seio fértil do governo recém reeleito, a Comissão da Verdade chega, célere, em seu socorro. Veio a lume neste 10 de dezembro de 2014 o relatório final. Sai da pauta a corrupção financeira e entra na pauta a corrupção da história. Imagine, leitor, que durante o governo Sarney, fosse deliberada a criação de uma Comissão da Verdade com o objetivo de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas durante a ditadura de Getúlio Vargas, “a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional”. Foram muitas e graves as violações. E a nação, decorridos, então, 40 anos da ditadura de Getúlio, se agitava indormida e irreconciliada ante a tenebrosa lembrança dos abusos cometidos por Filinto Müller e seus asseclas. Avancemos, com nossas suposições. Para compor a Comissão e desenvolver o histórico trabalho, o governo Sarney nomearia sete membros, escolhidos a dedo entre os remanescentes parceiros mais leais de Carlos Lacerda. Tudo gente da velha e combativa UDN. Uma tal comissão, não fosse apenas fruto de imaginação, concebida para compor o raciocínio que exponho neste texto, seria um disparate, um des11 �� de dezembro de ����.
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tampatório, motivo de gargalhadas, porque existem bibliotecas inteiras, centenas de trabalhos acadêmicos a respeito da Era Vargas e da ditadura getulista. Ninguém precisaria então, e não precisa ainda agora, de uma comissão para descrever o período e, menos ainda, de uma versão oficial dos fatos de então, narrados por seguidores de seu maior adversário. Acho que não preciso desenhar para ser entendido. A atual Comissão Nacional da Verdade era tão necessária quanto seria a CNV sobre Vargas ao tempo de Sarney. Não é assim que se faz historiografia. Versões oficiais são próprias de regimes totalitários. Nas democracias, abrem-se os arquivos para que os pesquisadores pesquisem e para que os historiadores escrevam, emitindo suas opiniões em conformidade com o conhecimento adquirido e à luz dos respectivos critérios. E já há centenas de trabalhos feitos. A nação custeou uma comissão que não deveria ser criada, cujo objetivo foi o de transformar comunistas terroristas, sequestradores, guerrilheiros, assaltantes, homicidas em “heróis do povo brasileiro”, lutadores por uma democracia que odiavam com o furor ideológico. Com o mesmo furor ideológico que motivou a luta armada dos comunistas, no mundo inteiro, naquele período da Guerra Fria, infelizmente muito quente por estas bandas. Passado meio século, muitos dos reverenciados pela CNV estão no poder e persistem nos mesmos afetos ideológicos e na mesma aversão à democracia representativa. Seu apego aos direitos humanos acaba quando visitam Cuba ou Caracas, ou quando elogiam a tirania comunista na Coreia do Norte. Quanto ao mais, tortura é crime odioso, terrorismo é crime odioso, comunismo e ditaduras são regimes odiosos e a anistia, ampla, geral e irrestrita, foi pedida pelos que hoje a querem revogar. O trabalho dessa Comissão é leviano, violador da lei que a criou, malintencionado, revanchista. E é o equivalente, em colarinho branco e bem remunerado, do popular linchamento.
É a Comissão Nacional da Verdade, pois, exemplo do quão devastador pode ser o casamento entre a revolução cultural e o poder na mão da esquerda. Trata-se da invasão institucional dos bárbaros na prática. Mas esse terreno começou a ser preparado muito antes dos trabalhos desse grupo. É o que Percival Puggina explica a seguir.
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PERCIVAL PUGGINA · A TOMADA DO BRASIL
A ����� ��� ������������� �� ���������� Houve um tempo, longo tempo, tempo que cruza os séculos, em que o professor era símbolo de autoridade no pequeno e gigantesco espaço da sala de aula. Note-se que autoridade é um atributo moralmente superior ao poder, mas, quando era necessário, a valiosa autoridade do professor, fundada no saber e na conduta, vinha respaldada por poder. Nas últimas quatro décadas, infelizmente, a educação brasileira foi atacada em dois flancos pela esquerda delirante. E tanto a autoridade quanto o valor econômico e social do trabalho dos professores, reconhecidos há milênios em todas as civilizações, desabaram fragorosamente em nosso país. Por um dos flancos, fustigou-a aquilo que Nelson Rodrigues chamava de Poder Jovem, acolhido entre aplausos por pedagogos de meia tigela como expressão de libertação para a criatividade. Todo poder ao jovem! A maturidade tornou-se um mal e a imaturidade, um bem a ser preservado. Era imprescindível erradicar as formas negativas da pedagogia. Coisas como certo e errado, sim e não, correção com caneta vermelha, entre outras práticas, precisavam ser substituídas por vaporosas sutilezas que não contrariassem os pupilos. Afinal, eles podem ser portadores natos de uma nova e superior forma de saber. Guardo como pérola desse disparate a frase do vate sergipano que adoça com sua voz aveludada os julgamentos do Supremo Tribunal Federal. No caso da reserva Raposa Serra do Sol, ele, o ministro Ayres Britto, em reverência à sabedoria indígena, lascou, citando Paulo Freire: “Não existe saber maior ou menor; existem apenas saberes diferentes.” De fato, o veterano Marco Aurélio Mello e o garoto Dias Toffoli exemplificam saberes diferentes, quantitativamente iguais, não é, ministro? E viva Paulo Freire. Pessoalmente ainda estou à espera de que algum desses guris mal-educados das universidades brasileiras, depois de tantos anos de sua completa libertação, apresentem alguma contribuição à ciência, à técnica e à cultura nacional. Ao contrário, o que se vê é o país ocupando o 93º lugar no componente educação, entre 169 pesquisados. E não me surpreenderei se encontrar por aí doutos pedagogos convencidos de que o mundo, por pura inveja, se recusa a cair de joelhos diante da qualidade muito peculiar e superior do saber construído por nossos jovens. De minha parte, vejo o sucesso sempre ao alcance dos que queimaram pestana sobre os livros, levaram a sério seus estudos ou cavoucaram com responsabilidade seus espaços na vida pública ou na iniciativa privada, mediante 12 �� de janeiro de ����.
INVASÃO INSTITUCIONAL DOS BÁRBAROS
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capacidade de renúncia ao bem atual com vistas ao investimento no bem futuro maior. Esses jovens agem no contrafluxo do deslizamento que descrevi, arquitetado por uma escola de viés marxista, que está levando três anos inteiros para alfabetizar uma criança, quando nos meus anos de curso primário se aprendia isso em seis meses de aula. A educação, caro leitor, conceitual e deliberadamente, deixou de lado seus objetivos essenciais e se voltou para formar cidadãos conscientes, politicamente engajados. Enquanto não chegam lá, os cidadãozinhos treinam sua cidadaniazinha desrespeitando e espancando os professores. Pelo outro flanco, e no mesmo tom, os professores politicamente engajados, abdicantes de sua autoridade, assumiram-se como “trabalhadores em educação”. O conselheiro tutelar, escolhido em pleito de baixíssimo comparecimento, por força de preceito contra o qual nenhuma voz se ergue com suficiência, exerce mais autoridade nas escolas do que os professores ou os diretores. Estes, a seu turno, são, também eles, eleitos num concurso de promessas e de simpatia, com participação e engajamento dos alunos. No Brasil, amigo leitor, aluno vota para diretor! Vota para reitor de universidade! E ninguém se escandaliza! Por que será que os praças não elegem os comandantes e os pacientes não escolhem os diretores dos hospitais e centros de saúde? Quando o poste passa a desaguar no cachorro e o aluno a meter o dedo na cara do professor, ainda há quem se surpreenda. Por estes primeiros dias de 2011, o Ministério da Educação está veiculando um comercial com o objetivo de ampliar o interesse pela carreira do magistério. Mostra uma obviedade: os povos que melhor se desenvolvem atribuem a seus professores o principal mérito por esses bons resultados. É claro que nossos professores ganham muito pouco, mas os maiores problemas, nesse particular, estão na péssima preparação dos graduados para o magistério e na falta de recursos didáticos nas escolas. De outra parte, veja quais os países bem-sucedidos em seus objetivos sociais, com mais elevado Índice de Desenvolvimento Humano, que se reportam prioritariamente a fundamentos marxistas nas salas de aula e na formação de seus educadores. Duvido que encontre algum. A crise dos trabalhadores em educação é uma responsabilidade deles mesmos e das idéias que abraçam. É responsabilidade deles mesmos, como professores dos professores nos cursos de Educação, como alunos desses cursos na recepção passiva de ferramentas de trabalho comprovadamente erradas e ineficientes, como reprodutores acríticos do mau conhecimento adquirido. É, também, uma decorrência de suas reivindicações equivocadas, da busca de uma autonomia para fazer o que bem entendem, que só é menor do que o desejo dos alunos de se comportarem do mesmo modo. É uma consequência