A sofredora do ver Maura Lopes Cançado
Trechos de Hospício Hospício é Deus págs. 28 a 32 !diç"o !diç"o do Círcu#o do Livro Livro 2$%&%'$' !s(ou de novo a)ui* e is(o é +++ ,or )ue n"o di-er D/i. 0erá por is(o )ue venho + !s(o !s(ou u no Ho Hosp spíc ício io** deus deus.. ! hosp hospíc ício io é es(e es(e 1ran 1ranco co se se * * onde onde nos nos arranca o coraç"o a cada ins(an(e* (ra-eno de vo#(a* e o rece1eos4 (réu#o* e5angue + e sepre ou(ro. Hospício s"o as 6ores frias )ue se co#a e nossas ca1eças perdidas e escadarias de árore an(igo* su1i(aen(e fu(uro + coo o )ue n"o se pode ainda copreender. 0"o "os #ongas #evandonos para n"o sei onde + para paradas das 1rus 1rusca cas* s* co corp rpos os sacu sacudi dido doss se e#eva e#evand ndo o inco incoen ensu surávei ráveis7 s7 Hospício é n"o se sa1e o )u* por)ue Hospício é deus. Acho Achoe e na 0eç" 0eç"o o Ti9eo i9eon( n( :on(e on(es* s* Ho Hosp spi( i(a# a# ;us( ;us(avo avo
i >i so-inh so-inha. a. ? )ue e (rou5e foi a necessidade de fugir para a#gu #ugar* aparen(een(e fora do undo. @?u de ++++++ !ra ("o grave. ,ro(eç"o Mas a)ui* onde n"o e parece )uerer 1e e sofri (an(o @B="o e )uerer 1eB (a#ve- sea i nha aneira nica de ser aada. Havia #á fora grande incopreens"o. 0o1re(udo pareceue es(ar so-inha. Es(o faria rir a ui(as pessoas7 eu (ra1a#hava no 0up#een(o Li(erário do Forna# do Grasi#* onde e cercava de grande a(enç"o e ui(o carinho.
espera de u i#agre )ue e proe(asse* os ou(ros e o#hando a(/ni(os @é ainda ais do )ue =o )uadrado de Foanna* é ainda ais. =ada acon(ecia a n"o ser eu* e repe(indo dia a dia. Minha ignorncia. Des(ruí (udo agredindo oc (e péssia e/ria* hein* Maura ="o e conforo e v#a de novo a)ui. + Tenho 1oa e/ria* sei o )ue e espera. Mas vi dispos(a a car. A senhora n"o pode en(ender. Le1rase de )ue e disse ou(ro dia )ue n"o saí da)ui recuperada !s(á (udo difíci#. :oos as duas ao E, @Ens(i(u(o de ,si)uia(ria* onde se fa-e in(ernaçNes. !#a* de #á* foi para casa. >o#(ei so-inha para es(e hospi(a#. Dou(or F. á n"o es(ava ais. Mandarae para a 0eç"o Cunha Lopes @n"o per(ence a dou(or F. A guarda )ue e rece1eu @ons(ro an(edi#uviano* Caé* e feiedia(aen(e (rocar o ves(ido pe#o unifore do hospi(a#. !n)uan(o (rocava de roupa* rece1ia de#a as in(iidaçNes7 B + ="o 1an)ue a sa1ida ne va#en(ona. ,ensa )ue por ser 1oni(a va#e ais do )ue as ou(ras 0ai1a #idar conosco @guardas* )ue se dará 1e. Kuei5as ao édico n"o adian(a. >ocs s"o doen(es eso. CopreendeuB C#aro )ue copreendi* Caé. !s(ou aprendendo há (rs anos. Depois do an(ar derae u )uar(o e dori so-inha a(é o dia seguin(e. !s(ava e5aus(a. De anh" chovia. ,userae no pá(io un(o co as ou(ras* perce1i )ue nenhua funcionária se dirigia a i. Ah* n"o7 dona Aída se dirigiu* dandoe u epurr"o* hora do café7 B + !n(re na #a. Kue es(á esperando Kuer )ue (e deos café na 1ocaB. !n(rei na (a# #a* ainda ui(o cansada para revidar a agress"o @das ou(ras ve-es e )ue es(ive a)ui es(a #a n"o e5is(ia. Depois do café fui para o pá(io. ?u* fui andada para o pá(io. Ainda chovia ui(o. ,areciae u sonho7 )ue#as u#heres enco#hidas de frio* desca#ças* fan(ás(icas. !u ne se)uer pensava. >ia* coo se nada e i
fosse ais )ue os o#hos* recoeçando nu pesade#o @vo#(ei* eu deus* vo#(ei. Duran(e o a#oço veio chaare ua guarda7 B + ? Dire(or )uer fa#ar#heB. Devia car es(upefa(a @por o(ivos /1vios* as ne ao enos )uei surpresa. 0e aeaçasse (irare os o#hos* n"o encon(raria e i )ua#)uer reaç"o. ! as coisas parecia cainhar ine5oráveis. :ui ao ga1ine(e de dou(or ,ai. oc n"o (e faí#ia ne a#gué )ue a apare. >ai (er agora u édico )ue (e audará. Dou(or A. é u rapa- es(udioso* á (e recoendei a e#e. 0u1a 0eç"o Ti##eon( :on(es* voc cará #á co e#e @udando de (o7 ningué vai fa-er#he a#* por )ue (e (an(o edo =ingué (e )uer a#. Tenha conança e dou(or A.B. ,ensei7 coo sa1e )ue n"o (enho faí#ia ne )ue e apare Agiu coo se (udo sou1esse* ou coo se fosse desnecessário ouvire. Fu#ga )ue sou o#igofrnica ! ainda (eve corage de pergun(are por )ue (enho edo da)ui. Coo nge ignorar a rea#idade. !n("o* por )ue se (e edo de u hospício !n(an(o7 B + =ingué (e )uer a#. ningué T! KO!< MALB. 0u1i ao (erceiro andar* 0eç"o Ti##eon( :on(es. =ingué e )uer a#* pensava co força* coo a pro(egere de (odos* principa#en(e de dona F#ia* a enfereirachefe + )ue (e sua residncia nes(a seç"o e e de(es(a. Conheci o édico e hoe fa#ei co e#e pe#a (erceira ve-. ? (ra(aen(o )ue e fa- (e o noe de psico(erapia. ="o sei ainda )ue é es(e hoe de 1oas aneiras )ue e ana#isa. ,reciso ganhar sua conança. Deve es(ar (en(ando o eso coigo. Kuando en(rei a prieira ve- no consu#(/rio dissee7 + !s(ou s suas ordensB. Acheio sos(icado* o#heio co ironia e respondi7 + 0ou eu )ue es(á s suas ordensB. !#e ignora )ue ano u pouco de psicaná#ise* á coecei u (ra(aen(o co ou(ro édico e a prieira frase )ue ouvi foi es(a7 B !s(ou s suas ordensB. Dou(or A. deve es(ar ui(o prevenido con(ra i. :i- e sofri isérias* a)ui den(ro. ;os(aria de sen(ire ais von(ade per(o de#e* e5por#he c#araen(e inhas necessidades. =ingué no undo necessi(a ais de u aigo do )ue eu. !#e é correio e cerionioso. Mos(roe pe(u#an(e e cínica. Dona Da#a(ie achao pouco in(e#igen(e. !spero )ue e#a es(ea enganada. Fá pra(i)uei esgria* veonos perfei(aen(e e)uipados7 !n garde. ,reciso desarare* car curada* dei5ar para sepre o hospi(a#. Há (epos escrevi u con(o* no )ua# di-ia ser a)ui Bua cidade (ris(e de unifores a-uis e a#ecos 1rancosB. !s(a cidade se copNe de seis edifícios* a1rigando* nora#en(e*creio* dois i# e )uinhen(os ha1i(an(es @n"o es(ou 1e cer(a do nero. Doen(es en(ais* ou coo (ais considerados. A#é
do hospi(a# onde e encon(ro e5is(e7 E, @Ens(i(u(ode ,si)uia(ria* onde se fa-e in(ernaçNes @es(ive #á dois eses. ! ca/(ico. G#oco MédicoCirrgico* Eso#aen(o @Hospi(a# Grau#e ,in(o + doenças con(agiosas* (u1ercu#ose principa#en(e* Hospi(a# ,edro EE e Ens(i(u(o de =europsi)uia(ria Enfan(i#. ? Eso#aen(o ca a)ui per(o. A noi(e* se n"o consigo dorir* ouço gri(os dos doen(es de #á. ="o copreendo u hospi(a# a1rigando (u1ercu#osos no !ngenho de Den(ro* onde o c#ia é o ais )uen(e do
Da ivi duran(e cinco eses e casa de eus sogros* (odo es(e (epo acredi(andoe apai5onada pe#o pai do eu arido... Mas sepre e cho)ue co eus princípios orais. @H/spício é Deus Diário E Maura Lopes Cançado. Coisas da e/ria ne nunca se e5p#ica. Acon(ece. A ve#ocidade faco )ue os re6e5os passe ui(o rapidaen(e pe#a ipressora do en(endien(o. =a hora de ver1a#i-á#os ou(ro desao. ="o conec(a. 0"o apos de épocas díspares. :oi esse es(ágio )ue vivi* de )uar(a para )uin(a feira* )uando #i nos ornais a respei(o do #ei#"o das Te#es e depareie co o
noe Andrade ;u(ierre-* do ;rupo A; Te#eco. Duran(e anos* fui aigo de ua escri(ora de grande (a#en(o* chaada Maura Lopes Cançado. Qraos co#egasco#a1oradores do 0up#een(o Doinica# do Forna# do Grasi#* )ue circu#ava aos sá1ados e defendia o concre(iso de :erreira ;u##ar e er. Ap#ausos gerais7 do saudoso Mário :aus(ino* de Assis Grasi# e ?#iveira Gas(os* )ue foi )ue sugeriu )ue os concre(os #esse 0ousndrade4 de Fai# :irino ,in(o* Car#os :ernando :or(es de A#eida e Hei(or 0a#danha4 de Ra#ir Aa#a* Lé#ia Coe#ho :ro(a e Car#os Hei(or Con. ? ano era de %'$8. Todos n/s es(ávaos pres(es a es(rear. Maura vinha de Minas* onde fora casada co u rico epresário. Con(ava his(/rias fan(ás(icas. !n(re ou(ras* a do (eco(eco )ue chegou a pi#o(ar e desa1ou e cia de uas casas* no 1airro onde orava. :ei(a a perícia* cons(a(ouse7 o apare#ho n"o apresen(ava )ua#)uer defei(o ecnico. Maura a1riu o ogo7 (inha von(ade de ver u avi"o cair e* es(ando den(ro de#e* a coisa #he parecia ui(o ais epo#gan(e. ! foi. ? casaen(o aca1ou* o arido (en(ou co#ocá#a nu hospício* os paren(es passara a o#há#a Bde 1andaB. Arruou a a#a* pegou o #ho* fugiu para o
passado por uas )ua(ro ou cinco c#ínicas de (ra(aen(o nervoso. Tornara se* coo e#e pr/pria di-ia* ua Bes)ui-ofrnica prossiona#B* de car(eirinha e (udo. Maura po1re* uas roupas a# cuidadas* as os esos sorrisos e os o#hos piedosos* coo se pedisse perd"o pe#as fa#(as coe(idas. ="o (endo dinheiro para nada* ne eprego* conou o garo(o a ua vi-inha. O dia* a u#her udou de apar(aen(o* )uando foi visi(ar a criança* n"o ais a encon(rou. 0eu es(ado eociona# agravouse. =ova in(ernaç"o. !5(reaen(e per(ur1ada* a(ou ua co#ega de enferaria* )ue es(ava BipregnadaB. Maura condenada a viver por #ongos anos no ManicJio Fudiciário. =unca fa#ou do crie* ne sa1ia direi(o por )ue es(ava Be(ida en(re (an(os #oucosB. ara Criina#* :rancisco Hor(a. Assuíaos a responsa1i#idade pe#a Bde(en(aB. Maura foi co#ocada nu pe)ueno apar(aen(o e Copaca1ana. !nfren(ou se ua (eporada de ui(os pro1#eas. !#a n"o es(ava conseguindo readap(arse Bvida #ivreB* criava pro1#eas co os vi-inhos e* e par(icu#ar* co os por(eiros Cer(a noi(e* apareceu #á e casa. Havia escri(o #onga car(a ao radia#is(a Haro#do de Andrade* (i(u#ar de ipor(an(e prograa na <ádio ;#o1o. Anunciava de(a#hes do suicídio )ue pra(icaria. Descreveu as perseguiçNes )ue vinha sofrendo por par(e de Andrade ;u(ierre-. ="o en(endi. Depois* #e1reie )ue u dos édicos* no ManicJio Fudiciário* chaavase ;u(ierre- e* por coincidncia* a io1i#iária responsáve# pe#o apar(aen(o era ;u(ierre- as* eviden(een(e* n"o (inha nada co o rico Andrade. =a ca1eça de Maura nada disso ipor(ava. Havia decidido )ue seu grande perseguidor era Andrade ;u(ierre- e pon(o na#. !5p#icou7 a perseguiç"o (inha várias fren(es* represen(adas pe#os por(eiros* o síndico* e(ade dos vi-inhos do prédio* o açougueiro da es)uina e a(é u Bperigoso assassinoB )ue se fa-ia passar por ingnuo aador de facas. ,rop/si(o dos Ba#fei(oresB7 en#ou)uec#a. Co esse o1e(ivo* pu#veri-ava u cer(o p/ )uíico na co-inha do apar(aen(o* us(o na hora e )ue preparava a coida. ,ara conseguir e5er nas pane#as* #evan(ava as (apas s/ u pouco* e e(ia as "os no vapor. ,ro(egeuse uns (epos co #uvas de 1orracha* as os dedos con(inuara inchando e ve- por ou(ra a(é sangrava. !5i1iu as "os. ,or causa do cop#J* es(ava sendo forçada a ua si(uaç"o esdr5u#a7 e(iase (oda noi(e nu Jni1us para 0"o ,au#o* doria a(é a rodoviária de #á* re(ornava na anh" seguin(e. Ap/s #er a car(a )ue encainharia a Haro#do de Andrade* de(evese no de(a#he7 B0erá )ue esse Andrade da ;#o1o n"o é paren(e dos ;u(ierre- 0e for* n"o ando inhas #(ias pa#avras a e#e. 0eria ua incoerncia da inha par(eB... Tran)9i#i-eia e* co ui(o ei(o* procurei fa-#a ver )ue cer(os (rechos da BissivaB es(ava #onge do es(i#o da ccionis(a Maura. Eniciouse #onga discuss"o. Ciosa de seus (e5(os* n"o adi(ia erros graa(icais. Kuase duas da adrugada ainda discu(íaos as )ues(Nes de es(i#o. ! )uando á n"o havia o )ue fa#ar a esse respei(o* passei a duvidar dos suicidas e de suas car(as.
dei5ar saudade4 )uerendo ser #e1rado. BMas eu n"o )uero dei5ar saudade. ="o )uero ne )ue sai1a )ue passei por es(e undinho noen(oB* re1a(ia Maura* e5a#(ada. Ensis(i na (ese do roan(iso. ;enera#i-ei7 (odo suicida é ron(ico ou* no ínio* parnasiano. Maura achou graça e foi aos poucos se aca#ando. 0en(ou* (oou u pouco de chá. Fá n"o via necessidade da car(a ser ("o #onga. :o#heou o pape#/rio )ue escrevera. Oas cinco ou seis fo#has de caderno. 0acudiu a ca1eça* decepcionada co a perda de (epo. 0orriu de novo e adiou sine die o suicídio. A ipor(an(e ccionis(a Maura Lopes Cançado orreria* ui(os anos depois* de infar(o* as sepre desconada co o Andrade ;u(ierre-.
,osfácio =ingué visi(a a in(erna do cu1ícu#o 2 @Margarida Au(ran* orna#is(a ? ;#o1oU !s(ou (ensa coo as cordas de u vio#ino. 0e re#a5ar eu orro. A (ens"o foi for(e deais7 há duas seanas* e seguida a ua insupor(áve# dor de ca1eça* a escri(ora Maura Lopes Cançado acordou cega do o#ho es)uerdo* coo pouco an(es á havia acon(ecido co o direi(o. Cega* presa nu cu1ícu#o de u e(ro iundo e infes(ado de perceveos* a1andonada p#os aigos* es)uecida p#os )ue a apon(ara coo a e#hor escri(ora de V8 por seu #ivro B? sofredor do verB* e#a é u ser huano e desespero. :ísica e psi)uicaen(e doen(e* desnu(rida* o#hos e den(es e5igindo cuidados iedia(os* se nenhu (ra(aen(o psi)uiá(rico* da Maura )ue surgiu coo reve#aç"o no B0up#een(o doinica# do Forna# do Grasi#B* e $8* res(a apenas a desconcer(an(e #ucide- e a surpreenden(e in(e#igncia. >í(ia do sis(ea psi)uiá(rico )ue e#a pr/pria foi das prieiras a denunciar e seu roance de es(réia* BHospício é deusB* #ançado e V$* Maura Lopes Cançado es(á hoe irregu#aren(e de(ida no Hospi(a# ,ena# da ,eni(enciaria Leos de Gri(o* un(o co presos couns por(adores de (odos os (ipos de o#és(ias con(agiosas. ,ara o ui- Genedi(o Mo((a Me##o* da >ara do 2W Tri1una# do Fri* onde e ou(u1ro de XY e#a foi considerada pena#en(e irresponsáve#* sua si(uaç"o é Bridícu#a e (ris(eB. >isi(a para a Maura A surpresa do guarda se us(ica. Há eses n"o aparece ningué para visi(ar a in(erna do cu1ícu#o 2. !* depois de inuciosaen(e revis(ada* ao con(rário do )ue acon(ece co os ou(ros visi(an(es* n"o sou condu-ida a ce#a* as a u pá(io in(erno* u árido (ringu#o cien(ado onde (rs
arvores desga#hadas s"o circundadas por 1ancos de cien(o. De1ai5o do 1anco )ue e é apon(ado* u ra(o or(o. + ?ra* is(o n"o é nada. De noi(e há cen(enas de#es correndo por a)ui. A(o con(ínuo* o guarda providencia a re(irada do ra(o* cuo cheiro p(rido (orna o ar irrespiráve#. O in(erno o pega co ua pá e o oga por cia de u por("o de ferro. ,or u 1uraco* espio o ou(ro #ado. ! a #avanderia do hospi(a#. + !#a vai deorar. Leva horas se arruando. A inforaç"o ve acopanhada de u riso de1ochado. Maura deora se arruando. Trs anos de cadeia n"o #he rou1ara a vaidade* o respei(o por seu pr/prio corpo. Ana# e#a surge* (rJpega* aparada e ofuscada pe#o so# )ue há ui(o (epo n"o a a)uece. ? 1anho de so# (a1é #he é negado. ,recoceen(e enve#hecida* os ca1e#os anchados por ua (in(ura an(iga* a# se e)ui#i1rando so1 os sapa(os de p#a(afora. Maura n"o procura disfarçar sua in(ensa eoç"o. ="o sa1e se acende o cigarro ou se en5uga as #ágrias. Te (an(o o )ue fa#ar* (an(o o )ue pergun(ar. 0eu nico con(a(o co o undo e5(erior é u radinho de pi#ha. =e #er e#a pode ais. 0o1re a íris do o#ho direi(o é visíve# u círcu#o 1ranco* coo ua #en(e de con(a(o opaca. + !u es(ava apavorada co aeaças de espancaen(o. Oa noi(e (ive ua dor de ca1eça horríve# e* de anh"* n"o en5ergava ais co es(a vis(a. ="o sei o )ue e acon(eceu. A)ui n"o (e of(a#o#ogis(a e eu n"o posso sair para ir a u édico. Co a ou(ra vis(a e#a (a1é v ui(o pouco* cada ve- enos desde )ue* ao ser (ransferida do ,resídio de Gangu para es(e #oca#* há oi(o eses* suira co seus /cu#os. De (odos os seus per(ences + #ivros* á)uina de escrever* a#gua roupa e produ(os de (oucador +* apenas os /cu#os e os originais de seu (erceiro #ivro desaparecera. ?s #ivros de Maura incooda por)ue e#a n"o (e edo de fa#ar. B!s(ou no hospício* deus. ! hospício é es(e 1ranco se * onde nos arranca o coraç"o a cada ins(an(e* (ra-eno de vo#(a* e o rece1eos7 (reu#o* e5angue + e sepre ou(ro. Hospício s"o as 6ores frias )ue se co#a e nossas ca1eças perdidas e escadarias de árore an(igo* su1i(aen(e fu(uro + coo o )ue n"o se pode ainda copreender. 0"o "os #ongas #evandonos para n"o sei onde + paradas 1ruscas* corpos sacudidos se e#evando incoensuráveis7 hospício é n"o se sa1e o )u* por)ue hospício é deusB. @BHospício é deusB* %'V$ Maura nasceu nua fa-enda do in(erior de Minas* rica e iada. :oi ua criança precoce* Bons(ruosaen(e in(e#igen(e* perp#e5a e so-inhaB. Aos ca(or-e anos )uis ser aviadora e* no aeroc#u1e onde pre(endia o1(er u 1reve de pi#o(o* conheceu u ove aviador pouco ais ve#ho do )ue e#a co )ue se casou. ? casaen(o durou do-e eses ao na# dos )uais
Maura se viu co u #ho e se condiçNes de rein(egrarse na preconcei(uosa sociedade ineira. Tinha apenas de-oi(o anos )uando se in(ernou pe#a prieira ve- nu sana(/rio. B=ingué en(endeu es(a in(ernaç"o a n"o ser eu esa7 necessi(ava desesperadaen(e de aor e pro(eç"o... ? sana(/rio pareciae ron(ico e 1e#o. Havia u cer(o is(ério )ue e a(raía. BA par(ir daí sua vida foi ua in(erináve# e sofrida peregrinaç"o por caros sana(/rios par(icu#ares e* )uando o dinheiro aca1ou* por hospi(ais p1#icos. :oi e sua (erceira passage pe#o Hospi(a# do !ngenho de Den(ro )ue e#a escreveu BHospício é deusB. ! foi na Casa de 0ade Dou(or !iras* duran(e ua crise + e va#endo se da decincia de segurança* indispensáve# nua casa especia#i-ada e doenças en(ais +* )ue Maura a(ou ua ou(ra in(erna. BDevo escrever sepre no princípio de cada página do eu diário )ue sou ua psicopa(a. Ta#ve- es(a araç"o venha a desper(are* os(rando a dura rea#idade )ue parece (reu#ar en(re es(a névoa #onga e difíci# )ue envo#ve eus dias* e o1rigando a archar* dura e sacudida + e se recuos.B @BHospício é deusB. =a segunda visi(a dei5ae ir a ce#a* u cu1ícu#o ínio a(u#hado de #ivros onde a# há espaço para ua pessoa se over. A#é da caa ha* de1ai5o da ane#a* u vaso sani(ário e ua pe)uena pia* onde Maura (oa 1anho* a#er(a ao visor da por(a )ue pode ser a1er(o a )ua#)uer oen(o por u guarda. An(es de#a es(a ce#a foi ocupada por u (u1ercu#oso. =a do #ado* conva#esceu u por(ador de hepa(i(e. =o cu1ícu#o Y& há u #eproso. ?u e#hor* Bhanseá(icoB* coo prefere o édico para n"o (raua(i-ar o doen(e. !ncon(ro ua Maura ais esperançosa* enos angus(iada* reoçada a(é e suas ca#ças copridas. !#a (oa café frio nua caneca de p#ás(ico encardida e pede )ue #he #eve fru(as @B="o gos(o de aça ne de pra. 0"o fru(as de doen(e. ,rero goia1a* ca)uiB. Kuando chega o an(ar* ua sopa pouco convida(iva nu pra(o de a#uínio* fo#heaos un(as ua revis(a de oda @e#a en5erga apenas so1ras co#oridas e pede )ue eu #he descreva as roupas. :a- a(é )ues("o de e os(rar suas 1o(as de cano #ongo. Maura Lopes Cançado foi u#gada na 2a >ara do %W Tri1una# do Fri. =o dia %$ de ou(u1ro de %'XY foi a1so#vida* Bconsiderada incapa- de a(ender ao cara(er criinoso do fa(o )ue pra(icouB. Mas o ui- ipNe a ré a edida de segurança de in(ernaç"o e anicJio udiciário pe#o pra-o ínio de seis anos. ! aí es(a o ipasse7 o anicJio udiciário n"o rece1e u#heres. !ra ipossíve# para Maura so1reviver e #i1erdade. Tinha edo de a(ar* de se a(ar. + :ui en("o ao ui- e pedi para e prender. !u pensava )ue nua cadeia a gen(e en(rava e* desde )ue casse )uie(inha nua ce#a* poderia #er* reescrever eu #ivro. Maura es(eve na carcerage feinina 0"o Fudas Tadeu* na de Agua 0an(a e Gangu @onde fe- ua en(revis(a co Lou para B:a(os e :o(osB e ua repor(age so1re o presídio* es(a nunca pu1#icada* no serviço de
Giopsico#ogia e agora es(á no Hospi(a# ,ena# da ,eni(enciária Leos Gri(o. Depois de (rs anos de ce#a e ce#a* viu )ue a cadeia n"o era 1e o )ue iaginava. BAo eso (epo ridícu#a e (ris(e é a si(uaç"o. ara do 2 W Tri1una# de Fri Maura* funcionária aposen(ada do Minis(ério da !ducaç"o e Cu#(ura* n"o (e condiçNes de pagar ua casa de sade par(icu#ar. ? ,inei* in)uirido pe#o ui-* di- )ue poderia acei(á#a* as Bno oen(o es(á e reforasB e indica o Hospi(a# ,edro H. !s(e nega se a rece1#a por)ue funciona coo hospi(a# a1er(o. ? Hospi(a# ,si)uiá(rico ,eni(enciário =e#son Hungria ne se)uer respondeu. Maura n"o pode esperar ais. Terceira visi(a. ? cu1ícu#o es(á cheio de #i5o* pon(as de cigarro por (oda par(e* (udo es(á e desorde e a#cheiroso* oscas so1revoa as canecas de café frio onde 1/ia forigas. 0o1re a caa* desa#inhada* fronha e #enç/is iundos. Maura e rece1e desca1e#ada* de caiso#a* (oda angs(ia. !s(a cega. + >oc n"o sa1e o )ue é car cega* o edo )ue a gen(e (e. O (roço inferna#. ="o (oo ais 1anho* co edo de pegar o sa1"o e ser u 1icho. ="o consigo dorir co edo de )ue ogue u ra(o pe#a ane#a. Co#oco e suas "os u sanduíche )ue (rou5e da rua. !#a o devora apressada* fain(a. + ="o coo ais a coida da)ui. ?u(ro dia e (rou5era ua coida podre* a carne cheia de 1ichos e fedoren(a. Me chaa de BadaeB* Binha (iaB* Binha av/B. ! dissera (a1e Bé presa* (e )ue coer escarrado* coida* cuspidaB. ="o posso ais coer. Tenho edo. 0en(i gos(o de aoníaco no café. Oa ve- u édico da Giopsico#ogia e disse7 B>"o procurar (e assacrar por)ue n"o gos(a de pessoas in(e#igen(es. >oc é ar(igo 22 e sua #igaç"o co a iprensa é ua faca de dois gues. 0e acei(ar se corroper* pode (er ua 1oa vida na cadeia. >oc (e forçaB. Agora o )ue eu )uero é sa#var inha vida. =ua pe)uena agenda e#a ano(a ua série de coisas e e pede )ue #eia. ! difíci#. 0e en5ergar* escreveu pa#avras superpos(as* gara(uas. :a#ando aos 1or1o(Nes* fa- u re#a(o de (udo o )ue viu e viveu nesses (rs anos. + 0e pusere voc nua cai5a cheia de pu#gas* as pu#gas v"o (er u va#or ienso para voc. >oc n"o vai se in(eressar p#os in(e#ec(uais* por e5ep#o* por)ue n"o (e nenhua re#aç"o e5(racai5a. !#a precisa urgen(een(e sair da cai5a. + ? ui- decre(a )ue a(é %'8& eu sou #ouca. A par(ir daí cessa inha pericu#osidade. ,or )ue es(a onipo(ncia* es(a oniscincia do ui- Depois o advogado gri(a )ue eu es(ou i#ega#en(e presa. ,or )ue en("o es(ou presa
Kua# será a rea# pericu#osidade de ua pessoa cega ? !s(ado n"o (e #oca# ade)uado para aco#her Maura Lopes Cançado. ="o seria o caso* en("o* de nanciar seu (ra(aen(o nua casa de sade par(icu#ar ! o Minis(ério da !ducaç"o* do )ua# e#a é pensionis(a BCoo punir a inconscincia é o )ue n"o en(endo. !n(re(an(o* o édico* depois de ro(u#ar u indivíduo de irresponsáve#* inconscien(e* e5ige des(e eso indivíduo a responsa1i#idade de seus a(os ao andar @ou peri(ir )ue se faça cas(iga#o. De )ue fa#(a pode u #ouco ser acusado De ser #ouco ! o )ue venho o1servando e sen(indo na carne. UMa(éria pu1#icada no orna# B? ;#o1oB e %'X8. Depois de cuprir sua pena. Maura chegou a viver e #i1erdade. ?perou a vis(a* vo#(ando a en5ergar. En(ernouse nua c#ínica par(icu#ar no