A Idéia de Decadência na História Ocidental (de Arthur Herman) 1° parte: As Linguagens da Decadência Capítulo 3: Pessimismo Histórico e Cultural: Jacob Burckhardt e Friedrich Nietzsche; pg.104 (...) A Europa moderna perdeu a centelha vital da grandeza, proclamava Nietzsche; a dura verdade é que nunca a teve. A fim de se livrar desse mundo agonizante, os homens devem agora partir em busca de uma nova cultura, com novos hábitos e “novos instintos”. O antídoto de Nietzsche para o pessimismo histórico de Burckhardt era o heroísmo romântico. Ele lançou um apelo ao que chamava de “homens redentores” - filósofos, artistas e escritores –, “indivíduos escolhidos (...) prontos para obras grandes e duradouras”. (...) pg.108 Para Nietzsche, toda a história vem a ser uma luta metafísica entre dois grupos: aqueles que exprimem a vontade de poder e o instinto vital e aqueles que não os exprimem. "Os pobres de vida, fracos", empobrecem a cultura; "os cheios de vida, fortes, enriquecem-na".¹ Nietzsche explicou que toda civilização é obra de "seres predadores p redadores que ainda estavam cheios de energia e 'apetite de poder', que se lançavam sobre as raças mais fracas, mais civilizadas, mais pacíficas (...) ou sobre culturas antigas e amadurecidas, cuja vitalidade mesmo naquela época estava cintilando em esplêndidos fogos de artifício de ânimo e corrupção.² Esses caçadores a quem Nietzsche chamou de arianos - termo de Gobineau - se tornaram a classe classe dominante da nova sociedade. "A casta nobre sempre foi a casta bárbara", escreveu Nietzsche, porque eles são seres realmente mais animados e completos do que os depauperados sofisticados que conquistam. ¹ Nietzsche, Will to Power , pg.30. ² Nietzsche, Beyond Good and Evil , pg.201-02. pg.108 Os arianos de Nietzsche respiram um vitalismo que Gobineau facilmente reconheceria. De fato, a evidência da influência de Gobineau sobre Nietzsche pode ser indireta, mas é convincente.¹ Da mesma forma que Gobineau, Nietzsche Nietzsche admirava o aristocrata como o modelo de força vital vital da sociedade. "Toda a melhora do tipo 'homem'", escreveu, "foi até agora obra de uma sociedade aristocrática - e assim será repetidas vezes". A “cultura schopenhaueriana” do gênio e da contemplação se submetem ao mundo vital e espontâneo do samurai japonês e do herói homérico, e à Alemanha e à Escandinávia viking, onde predominam a força, a honra e um desprezo por formas de vida inferiores. ¹ Ver Boisseul, Comte de Gobineau , pg.259: W.D. Willians, em Nietzsche and the French (Oxford, 1952),pg.140, salienta a influência de The Renaissance. A irmã de Nietzsche, Elisabeth Förster-Nietzsche, também menciona o interesse do irmão por Gobineau em Life of Nietzsche, vol.2, pg.382-383. Naturalmente, o testemunho de Elisabeth sobre as preferências intelectuais do irmão nem sempre podem ser levadas em consideração, e o fato de Nietzsche não mencionar Gobineau em suas obras levou outros a duvidarem do papel de Gobineau no pensamento de Nietzsche (por exemplo, Kaufmann, Nietzsche, pg.296, n.97). Todavia é interessante que, embora Nietzsche aceitasse a teoria da civilização indo-européia ariana, ele intencionalmente se tivesse distanciado de qualquer outra equivalência ariano-teutônica – o que leva a crer que sua fonte era mesmo Gobineau, em vez de seus seguidores alemães nacionalistas (da Liga Pangermânica). pg.108-109 No entanto a "besta loura", ariana e vigorosa, de Nietzsche, não é um tipo racial mas cultural. Sua principal característica é sua capacidade de espontaneamente "criar valores" para si mesma e para sua sociedade. A forte classe aristocrática cria sua própria definição de honra, dever e
beleza (que é o que quer que lembre a maneira dos aristocratas). Ela cria a própria versão de certo e errado e decide o que é verdadeiro e falso. Esses valores são então impostos pelos conquistadores aos conquistados, tal qual confiscaram suas terras e seus bens como espólio de guerra. Nietzsche não lamenta a brutalidade da conquista na história. Antes a admira, porque “a própria vida é essencialmente apropriação, injúria, domínio sobre o que é alheio e mais fraco”.¹ ¹ A exploração não pertence a uma sociedade corrupta ou imperfeita e primitiva; ela pertence ao que vive, como função orgânica básica; é uma conseqüência da vontade de poder, que está depois da vontade de viver.” (Nietzsche, Beyond Good and Evil , pg. 41,203) pg.109 A vitalidade e a criatividade, incluindo a criação de valores, é o "privilégio do forte", ou seja, dos conquistadores, aristocratas, acrescenta Nietzsche, artistas. A moral, por outro lado, é a criação da subclasse, a vingança de seus superiores vigorosos. (...) Na sociedade aristocrática, tal como o Japão dos samurais e a Grécia homérica (do colérico Aquiles, que assassina e humilha Heitor: bom pai, filho, marido, irmão, general...), os atos e assassinatos dos guerreiros são celebrados e preservados na arte e na poesia (como na Ilíada ou Nibelungenlied); na sociedade decadente ou democrática, eles são acusados de monstros. O guerreiro ariano "emerge de uma repugnante procissão de assassinato, incêndio criminoso, estupro e tortura, de alma alegre e impassível", mesmo que suas ressentidas vítimas e inferiores secretamente tramem sua ruína. Já que não podem derrotá-lo no campo de batalha, fazem-no por meio da cultura. Produzem o que o Iluminismo (de Edmund Burke) chamou de polidez e sociabilidade e Nietzsche chama de "moral do escravo". pg.109-110 De um lado, portanto, está a moral superior dos guerreiros aristocráticos. Ela valoriza os "estados orgulhosos e exaltados da alma", diretamente vivenciados através da "guerra, aventura, caça, dança, jogos de guerra e, em geral, tudo o que envolva a atividade vigorosa, livre e alegre". A moral do nobre molda uma concepção de mundo necessariamente centrada em si mesma; "tal moral é uma autoglorificação".¹ Do outro lado está a moral do escravo, nascida do ressentimento (Nietzsche usa o termo francês ressentiment , com conotação reativa) dos exploradores e controlados por seus vigorosos superiores naturais. (...) A verdadeira felicidade e virtude, afirmam eles, dependem de ajudar os oprimidos. "Piedade, a mão complacente e prestativa, o coração afável, a paciência, diligência, humildade, benevolência, todos são apreciados" pelas vítimas da "besta loura" ariana, a fim de envergonhá-la e derrotá-la. ¹ Nietzsche, Beyond Good and Evil , pg. 204-205 pg.110 Em contraste total com a moral do nobre, “a moral do escravo é essencialmente a moral da utilidade”. A palavra “utilidade” é crucial. Toda civilização material e progresso econômico, Nietzsche está dizendo, inclusive a da classe média européia, se baseiam na moral do escravo. Ela nutre as virtudes do animal gregário, que “dá a ele mesmo a aparência de ser a única espécie de homem permissível e glorifica seus atributos, atributos esses que o fazem manso, dócil, útil ao rebanho”. Os novos imperativos sociais passam a ser bondade, modéstia e conformidade – e mediocridade. “Tudo que eleva um indivíduo acima do rebanho e intimida o vizinho é daqui por diante chamado de mal." Todo o processo civilizador consiste na vitória da maioria fraca sobre a minoria vigorosa, o sacrifício da perfeição aristocrática em prol do homem comum. Nietzsche não requer o apelo de Gobineau para a mistura biológica de raças a fim de explicar o processo de corrupção; ao contrário, o rebanho de forma deliberada debilita e polui os valores culturais da sociedade. Mas a sociedade também paga um preço fatal. Civilizando suas elites aristocráticas, ela introduz “uma
vontade de negação da vida” no todo, “um princípio de desintegração e declínio”.¹ A culpa por essa “revolta escrava” recai exatamente sobre o cristianismo. Tal qual Gobineau, Nietzsche conclui que o cristianismo é a “religião antiariana por excelência”, mas novamente não por razões raciais. ¹ Nietszche, Genealogy of Morals, pg. 30-31; Nietzsche, Beyond Good and Evil , pg.209. pg.115-116 O pessimismo histórico assiste a um presente enfraquecido ou decadente desfazendo de modo sistemático as realizações do passado. O pessimismo cultural nietzschiano vê o presente como uma simples extensão dos mesmos valores corruptos e sem sentido do passado; a saúde cultural verdadeira, conclui, requer a rejeição de ambos. O colapso iminente de uma civilização decadente não é uma tragédia de ambos. O colapso iminente de uma civilização decadente não é uma tragédia mas motivo de comemoração. Ela ilumina o caminho para algo novo e sem precedentes, uma ordem cultural rejuvenescida erigida sobre um princípio completamente novo. Esse novo princípio talvez fosse racial. Afinal de contas, a filosofia de Nietzsche procedia dos mesmos pressupostos vitalistas de Gobineau. Toda civilização, ambos afirmaram, baseava-se num reservatório de força vital orgânica durante sua existência, ou seja, vontade de poder. No entanto a influência mais decisiva de Nietzsche seria exercida não sobre pensadores raciais mas sobre artistas e críticos culturais. Nietzsche os inspiraria a verem a si próprios como força contrária a uma ordem social decadente. O artista moderno não pretendia ser o salvador da sociedade moderna uma vez que nada havia a ser salvo. Ao contrário, Nietzsche encorajava a noção de que atacar a tradição ocidental cultural e moral do Ocidente era em si uma expressão de saúde e renovação. O pensamento crítico no sentido nietzschiano era o primeiro estágio de uma “reavaliação de todos os valores”.¹ O artista, o crítico antiestablishment , e o “imoralista” - de Picasso e Bertolt Brecht a Sex Pistols e Madonna – de uma nova aristocracia no vazio cultural moderno. ¹ Nietzsche, Will to Power , pg.3, 71; 14-15. 2° parte: Profetizando a Decadência do Ocidente Capítulo 7: A Estagnação do Pensamento Alemão: Oswald Spengler e A decadência do Ocidente; pg.238 (...) Após 1900 os escritos de Nietzsche se transformaram em instrumentos de trabalho disponíveis a toda a gama de facções ideológicas da Alemanha. Socialistas aproveitaram seus ataques à burguesia e ao cristianismo organizado. Pangermanistas puderam explorar seus ataques ao judaísmo; sendo Elisabeth Förster-Nietzsche profundamente anti-semita, Nietzsche se transformou (sem o conhecimento dele) em um porta-voz do arianismo anti-semita. (...) (...) Nietzsche de uma hora para outra se tornou o filósofo antiliberal do século XX. Ele provou ser mais importante neste aspecto do que Karl Marx, pois, enquanto as teorias de Marx se tornaram reféns do partido comunista depois de 1917, Nietzsche permaneceu um ícone cultural compartilhado pela esquerda e pela direita. (...) pg.239 Este era Nietzsche – “o profeta dos profetas” – que inspiraria Oswald Spengler e talharia sua visão do destino da Alemanha e da Europa ocidental na sombria obra-prima: A decadência do Ocidente. Todavia, em aspectos decisivos, o Nietzsche de Spengler era um Nietzsche expurgado. Sem seu conhecimento ou aprovação, Nietzsche fora transformado no porta-voz do nacionalismo radical alemão e vinculado a outra tradição antiliberal, tradição essa do pessimismo racial völkish. A crença na vontade de poder serviu para justificar o autoritarismo interno e a
agressão externa, enquanto a “moral do nobre” de Nietzsche, baseada nas desaparecidas aristocracias da Europa feudal e do Japão, fundia-se com a imagem dos alemães teutônicos como o novo super-homem da Europa pós-burguesia. (...) A civilização de Spengler é aquela que W.E.B. Du Bois teria reconhecido: a Zivilisation destruidora de almas no pior estágio. De seu colapso, acreditava Spengler, surgiria uma nova Europa centrada não nas antigas e decadentes potências do século XIX – França e GrãBretanha – mas, na Alemanha. A combinação de Kultur , disciplina militar e a vontade de poder nietzschiana criaria o “caráter de liderança” necessário para forjar um novo destino. Ia ser difícil; “ainda há de correr muito sangue”, escreveu após a Primeira Guerra Mundial. Porém, mesmo depois da derrota da Alemanha, Spengler estava confiante de que “a raça dominante (...) depara uma tarefa para a qual está preparada”.¹ ¹ Wohl, Generation of 1914, pg.126-29 pg.240 (...) Spengler devorou os trabalhos de Nietzsche como um estudante de escola secundária e encontrou neles o mesmo que o romancista Thomas Mann, também jovem, encontrara: uma sensação de “autotranscendência”. O estudante Spengler se formou na Universidade de Halle, uma coleção dos cadernos de Nietzsche surgiu como Vontade de potência. Embora cuidadosamente editado e expurgado por Elisabeth Förster-Nietzsche e seus assistentes, Vontade de potência continha uma crítica afiada à sociedade burguesa decadente. Nietzsche argumentava de modo implacável que a vontade de poder podia servir como um “martelo (...) potente” para “quebrar e eliminar as raças degeneradas e deterioradas e constituir uma nova ordem de vida”. Ele prosseguiu: “É preciso uma doutrina bastante poderosa para servir de agente da procriação; fortalecendo o forte, paralisando e destruindo o fraco. O extermínio das raças decadentes (...) o poder sobre a terra como meio de produzir um tipo mais alto.” pg.242 (...) Na verdade, cada uma das décadas entre 1870 e 1914 seria descrita como a década crítica na qual a nação alemã seria forçada a escolher entre sua integridade e saúde cultural e a destruição nas mãos da modernidade. (...) Em Vontade de potência, o confronto entre a Kultur vital e a Zivilisation superficial foi esclarecido pela questão da decadência. “A civilização tem propósitos diferentes dos da cultura”, declarou Nietzsche. “A época em que a domesticação do homem ('civilização) foi desejada e imposta foi um tempo de intolerância contra as índoles mais corajosas e espirituais.” Por outro lado, a cultura encontra seu apogeu em tempos que são, “moralmente falando, tempos de corrupção”, como o fim do século XIX.¹ ¹ Nietzsche, Will to Power , pg.75. pg.245-246 (...) Eram conhecidos a inveja e o ressentimento que intelectuais não-universitários sentiam por seus colegas universitários na Alemanha, mas eles também recebiam influência de suas sugestões e atitudes. Enquanto o Ordinarien (professores) na “torre de marfim” minava a autoconfiança deles com o receio da decadência cultural, sob eles florescia uma subcultura de escritores e intelectuais mercenários que atirava seus produtos mais radicais em um público de leitura crescente. A crise cultural da Alemanha e os temas que obcecaram os gigantes das universidades – os
vínculos entre Kultur , Geist e Volk – alardeavam transformações ainda mais radicais e esotéricas. (...) pg.246-247 (...) O próprio Minha luta, de Hitler, era um produto típico dessa cultura intelectual nãouniversitária medíocre. Como seus superiores intelectuais acadêmicos, Hitler escreveu sobre o “ergotismo” e a “decadência” do país, lamentando os sinais do “declínio de nossa cultura e de nosso colapso geral”. A geração de Hitler foi a primeira geração européia educada sob o pessimismo cultural nietzschiano. Isso cultivou os mesmos rancores (capitalismo industrial, liberalismo cruel, degradação cultural) que seus mentores acadêmicos e muitos dos mesmos objetivos. Porém havia uma diferença importante. Radicais como Eckhart, Rosenber e Hitler estavam dispostos a refletir sobre a ação direta para discutir o que eles viram como uma civilização doente, e não apenas falar sobre o assunto. Eles também concordavam com seus superiores intelectuais em um ponto essencial: a necessidade de a Alemanha se afirmar no palco internacional. O nacionalismo era, como foi, sua última ilusão burguesa – alguns até viam em Guilherme II a personificação do super-homem nietzschiano. Mas as aspirações nacionalistas eram muito diferentes daquelas do patriotismo convencional dos funcionários públicos e professores que se juntaram a grupos como a Liga da Marinha ou a Liga Pangermanista.¹ Para os radicais culturais a luta em si, e não quaisquer objetivos geopolíticos, era importante. A luta era um tema recorrente – Mein Kampf quer dizer “Minha luta” - um teste de forças vitais na arena onde, conforme Ernst Troeltsch declarou, “a plenitude dos espíritos nacionais combativos (...) revela suas forças espirituais mais elevadas”. Thomas Mann via a Alemanha permanentemente envolvida numa “batalha terrível, perigosa e irracional contra a entente mundial da civilização”.² Como no darwinismo de Ersnt Haeckel, a luta implicava o surgimento de elementos vitais e criativos e a extinção do fraco – isto é, o Ocidente burguês. Anos antes Nietzsche abraçara o crescente “desenvolvimento militar” e a “anarquia” da Europa dominante, uma guerra geral como uma possível rota de salvação. “Só a luta leva à felicidade na terra”, dissera Nietzsche, “o bárbaro em cada um de nós se afirma; e a besta selvagem também.” “A guerra é a criadora de tudo” era a máxima do filósofo grego favorito de Nietzsche, Hieráclito – que também vinha ser tema da dissertação de Spengler.³ ¹ Chikering, We Man Who Feel Most German, pg.95-97 ² Mann, Reflections of a Non-Political Man, pg.34 ³ Nietzsche, Gay Science, pg.57-58; Will to Power , pg.78 pg.262 Spengler pretendia transformar a própria história (como Nietzsche poderia dizer) em “um martelo poderoso” para “acabar com as raças degeneradas e decadentes a fim de construir uma nova ordem de vida”. (...) [...] Porém sob a elite de Spengler também pulsam os ritmos austeros e firmes da vontade de poder de Nietzsche. A reviravolta total da sociedade pelos princípios socialistas seria uma verdadeira tresvaloração dos valores, acreditava Spengler, à medida que tudo ia sendo transformado numa única totalidade de Estado, homem e máquina. “Não precisamos mais de ideólogos”, insistia, “precisamos de firmeza, precisamos de ceticismo destemido, precisamos de uma classe de mestres socialistas.” E acrescentou de forma melodramática: “E repito, socialismo significa poder, poder e poder.”¹ ¹ Spengler, Prussianism and Socialism, pg.130 pg.263
Conforme mostrou H. Stuart Hughes, o crítico mais perceptivo de Spengler, um certo esnobismo também teve seu papel na hostilidade de Herr Doktor Spengler contra Hitler, um boêmio radical vulgar. A reação de Hitler foi rápida e direta: “Acusam-me de ser um bárbaro”, disse a um associado. “Claro que somos bárbaros, Estamos orgulhosos e ser bárbaros.”¹ Mas talvez a objeção definitiva de Spengler em relação a Hitler era de que a visão nazista de salvação por meio de um movimento de massa ofendia seu significado nietzschiano de relativismo histórico. ¹ Observações de Hitler a Walter Rauschning citadas em Toland, Life of Adolf Hitler , vol,1, pg.331 pg.265-266 (...) No verão de 1933, sob pressão dos amigos e aliados políticos, Spengler finalmente concordou em conhecer Hitler, mais precisamente no Festival de Bayreuth. Foi um momento estranho. Esses dois homens, o veterano convertido em damagogo anti-semita e o estudioso universitário transformado em mago político, se encontravam no topo do mesmo monte que Richard Wagner e Friedrich Nietzsche haviam subido juntos, debaixo de chuva, em 1876, quase sessenta anos antes. Eles representavam a confluência de dois canais profundos e velozes atravessando a paisagem cultural alemão: um fluindo de Gobineau a Wagner e Houston Chamberlain, o outro, de Nietzsche e seus seguidores nacionalistas radicais. Spengler e Hitler, ao modo deles, eram os próprios profetas do pessimismo cultural. (...)