D I C A TÉC N I C A 8 3 A Embocadura Alciomar Oliveira
os instrumentos da família dos metais, em que a emissão sonora se dá através da vibração dos lábi os em em contato cont ato com o bocal, t orna-s orn a-see neces necesssário um condicionamento da musculatura labial e dos demais músculos músculos da face, para que o instrumenti instrum entissta pos p os-sa controlar e, obviamente, mudar a altura das notas da série harmônica. O fenômeno acima descrito é a embocadura. Em resumo, é a forma necessária para a geração geração do som nos n os instr instrument umentos os de bocal. bocal. O termo condicion con dicionamento amento parece ser o mais coerente quando nos referimos referim os à embocadura, uma um a vez vez que exist exist e todo to do um conjunto conjunt o de músculos músculos atu atuantes antes e que influenciinf luenciam definitiva definit ivamente mente a sonorid sonoridade ade do instrumento. instrument o. Todo tec t ecido ido muscular tem t em como caract caract eríst eríst icas prinpri ncipais t ensão ensão e relaxamento. relaxamento. O trabalho do ins i nstt rumentis ti sta em relação à embocadur a consist consist e basicamenbasicamente em aumentar a capacidade de tensão e relaxamento da musculatura musculatura da fac f ace, e, com a intenç int enção ão principal de obt er uma boa sonoridade (som (som “ aveluda aveluda-do” e uniforme) no instrumento. instrumento. Ainda sobre a embocadura, realizei o presente estudo. Tendo como principal objetivo minimizar problemas referentes à má formação da embocadura de músicos de instrumentos de metal, em especial a embocadura dos trombonistas. Des Desde os primeiros moment os da minha formação f ormação como trombonis tro mbonista, ta, f ui bem orientado orient ado no que diz resrespeito aos procedimentos necessários para uma embocadura cadura “ saudável” audável” . Obviament Obviamente, e, nunca pass passou pela minha cabeça que uma embocadura saudável fosse igual a das f otos ot os apresent apresentadas adas nas ilust ilust rações dos livros e métodos méto dos de alguns renomados renom ados es especialist pecialist as em tromt rombone. O meu pensamento pensamento sempre foi claro nnoo senti sentido do de entender que aqueles modelos mereciam os devidos ajustes referent es às dif erentes erent es caract caract eríst eríst icas anatômicas de cada cada instr instrumentis umentista. ta. A “ arcada arcada dentária” dentária” , o tamanho dos do s lábios, lábios, etc., inf luenciariam luenciariam diretamente diret amente na escolha do bocal e instrumento a ser usado com melhor desempenho desempenho e qualidade. qu alidade.
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Pass assados alguns algun s anos, anos, a obs ob servação foi fo i ficando f icando cada vez mais sistemática e rica em exemplos práticos sobre como se comport compor t ava a embocadur embocadura. a. O maior prop roblema, no meu entendimento, entendiment o, est est á diretamente ligado à falta de orientação correta por falta de um bom prof pro f ess essor e à vaidade de alguns didat as que inconsc in consci-ientemente entement e influenciam inf luenciam mal os es est udantes udant es no sent sentido ido de copiar copiar na íntegra um ou outro out ro instrumentis instrument ista ta bemsucedido sem f azer azer as devidas devidas contextuali cont extualizaç zações ões para a utilizaç uti lização ão ou não de d e determinada téc t écnica. nica. Com o senso senso crítico críti co bem aguçado, podemos po demos partir sem traumas à procura de algumas soluções a fim de eliminarmos elimin armos parte de nossos nossos problemas pro blemas que tanto t anto atraatr apalham e prejudicam prejud icam a qualidade de noss nossas as performanperf ormances e até mesmos levam ao abandono abandon o da práti pr ática ca musical em instrumentos de metal. O relato abaixo traduz o que aconteceu na prática na minha classe de trombone na Universidade de Brasília, onde atuo como prof pro f ess essor de trombo tr ombone: ne: Um aluno, músico profiss prof ission ional al com atuação na BanBanda da Aeronáutica, Aeronáut ica, com boa formação f ormação musical musical e boa orientaç orient ação ão no trombo t rombone ne tinha tin ha uma embocadura embocadura sausaudável dável até um acidente automob aut omobilís ilístt ico há alguns anos, anos, quando alguns fragmentos fr agmentos de vidro f eriram o seu seu ros r os-to na região da boca. Após sua feliz recuperação diante de tal acidente e transcorridos seis meses sem toca to car, r, volt voltou ou gradativame gradat ivament ntee a pratica prati ca de performanperfor mance. ce. Infelizmente Infelizment e notou noto u que teria t eria dificuldades dificuld ades,, pois no acident acidentee sof sofreu reu também um afastament afastamentoo nos dentes dianteiros. A natureza da atividade profissional que desempenhava desempenhava exigi exigiu-l u-lhe he o retorn ret ornoo às atividades ati vidades musicais, uma vez que os médicos o consideraram em condições de voltar a toca to carr o t rombone. rombo ne. Ao tocar o trombone, o aluno sentia sentia “ cert certa” a” instainstabilidade e desconforto para tocar as notas agudas e não cons con seguia vibrar vib rar os o s lábios para tocar t ocar os graves. graves. Em Em t orno da embocadura formava-s fo rmava-see uma bolsa de ar durante o sopro e conseqüe conseqüentemente ntemente uma “ treme tr emedeira deira”” involuntária involunt ária e incontroláve incont rolável,l, que prejudica pr ejudicava va subs substancitanci-
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almente a emissão de um som limpo, claro e sem vibrato de lábio. O ar passava por entre os dentes e os lábios não conseguiam vedar os cantos da boca. Após seis meses de aulas, onde constantemente eu tentava melhorar a situação do aluno, através de exercícios diários utilizados na prática musical dos trombonistas para formar uma boa embocadura, constatei que a estratégia adotada era um tanto quanto ineficiente. O aluno era realmente disciplinado e caprichoso na maneira de estudar com a regularidade necessária para suprir suas necessidades físicas e cumprir o repertório sugerido para a performance naquele semestre letivo. Apesar de todo esforço, precisávamos fortalecer a musculatura da embocadura. Mais precisamente precisávamos trabalhar o conjunt o de músculos que estava “ flácido” e que não conseguíamos fortalecer com os estudos específicos na emissão do som. Infelizmente, a performance profissional dos trombonistas exige um condicionamento diretamente ligado aos lábios e ao aparelho respiratório, bem como a saúde de todo o corpo. Mas para a nossa felicidade, ao depararmos com problemas temos também o motivo principal para solucioná-los. Freqüentemente acompanhava meu filho em seções com uma fonoaudióloga em uma Clínica Escola de Brasília. Devido a pouca idade e pouco discernimento, a terapeuta me delegava tarefas para ajudar no desenvolvimento da linguagem falada do meu filho. Ela explicou-me o porquê de alguns problemas e como era administrada a terapia a partir do diagnóstico de alguns problemas. Algumas crianças não emitem a letra “ R” por t erem dif iculdade em vibrar a língua, out ras não conseguem emitir as letras “ T” , “ D” , “ P” , “ B” e“ Q” por não terem a musculatura da língua desenvolvida o suficiente para articular tais letras. Parte destes problemas têm início quando o bebê começa a sugar o leite no seio da mãe para alimentar-se. Posteriormente, passam a sugar o leite na mamadeira. O exercício natural em buscar o alimento f ortalece o conjunto de músculos envolvidos nesta atividade básica do desenvolvimento da criança. Infelizmente, algumas mães preocupadas com a dificuldade que o f ilho apresenta na sucção do leite, desesperam-se e aument am o furo do bico da mamadeira. Mal sabe essa mãe, que
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com esse imediato benefício, está comprometendo o desenvolvimento de um conjunto import ante de músculos que no f uturo serão de grande import ância para a articulação correta das letras. Tal benefício imediato também pode ocasionar problemas relacionados com a capacidade respiratória. Exercícios tais como encher balão de aniversário, fazer bolhas com um canudo submerso dentro d’água, imitar sons onomatopéicos de carros, caminhões, helicópteros, metralhadoras, entre outros, ajudam o desenvolvimento e até mesmo a reabilitação da musculatura. Desenvolvi seqüências de exercícios a serem realizados com o auxílio de alguns aparelhos de simples construção, mas de grande eficácia, de acordo com as observações que sistematicamente t enho f eito com alguns alunos. O aparelho pode facilmente ser confeccionado pelos alunos interessados em realizar as atividades propostas para o desenvolvimento dos músculos da embocadura e até mesmo em sua reabilitação. No entanto convém salientar que os procedimentos devem ser realmente bem conduzidos, a fim de não terem seus objetivos frustrados. Nas minhas observações, não constatei nenhum problema negativo que viesse a prejudicar os meus alunos envolvidos. M ateriais necessários:
Um botão de 3,5 cm de diâmetro; 20 cm de elástico (de pasta organizadora de escritório).
Émuito importante salientar que estes exercícios não dispensam a orientação de um terapeuta especializado, quando se tratar de pessoascom comprometimentos graves e nem tampouco dispensam uma rotina de estudos adequados para a performance musical nos instrumen-
tos de embocadura. Os que vierem a realizar tais exercícios devem ter clareza quanto a propostas e não deturpar o pensamento inicial. O objetivo principal é que tais procedimentos sejam auxiliares no desenvolvimento da embocadura.
Alciom ar Oliveira é trom bonista, artista Weril, pr ofessor de Trombone, Música de Câmara, Improvisação, Regente da Orquestra de Música Popular e Teoria Musical (solfejo, ritmo, percepção e linguagem musical) na Universidade de Brasília (UNB). Contato:
[email protected]
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