A Autoimagem Autoimagem da Sociedade brasileira em “O Cortiço”
Álvaro César P. de Souza-FSLF
!troduç"o O presente artigo visa trazer à reflexão o papel que certas obras literárias têm no processo de construção da autoimagem de uma determinada sociedade. Em nosso caso, selecionamos a obra O !ortiço", de #lu$sio #zevedo. %endo sido uma de suas mais impo importa rtant ntes es obra obras, s, O !o !ort rtiç iço" o" repr repres esen ento touu a c&eg c&egad adaa do ideá ideário rio que que nutr nutria ia o 'aturalismo, retratando as mazelas da sociedade brasileira ( o meio social escol&ido pelo autor encontra)se no *io de +aneiro ( e o caráter não muito elogiável de seu povo. # obra de #zevedo, publicada em fins do sculo --, causou grande impacto na sociedade de então por desnudar as afliç/es e o esp$rito dos moradores do bairro carioca de 0otafogo. 1ese2a)se, assim, tentar mostrar, sem aprofundar muito por conta da delimitação de espaço, como a autoimagem do povo brasileiro, representado pelos moradores do *io de +aneiro, retratada e intro2etada no imaginário coletivo como verdade absoluta. #ntes de elencarmos as evidências presentes no livro de #lu$sio de #zevedo, parece)nos ser interessante trazer ao leitor as principais caracter$sticas da corrente literária do 'aturalismo. O 'aturalismo, segundo nos diz #fr3nio !outin&o 45678, p. 599: 599:,, sign signifi ifica ca para para a ;ilo ;iloso sofia fia "a dout doutri rina na para para a qual qual nada nada tem tem sign signifi ifica cado do supernatural, e, portanto, as leis cient$ficas, e não as concepç/es teol
6)599?: e sua teoria da Evolução das Espcies, &ouve um grande crescimento em pesquisas, não s< biol
( ou a Bociologia (, que buscarão dar conta dos diversos fenCmenos que a fazem adoecer. Os fatos são investigados, tomando)se como base os mesmos critrios e mtodos utilizados pelas ciências naturaisD tudo deve ser cientificamente mensurado, registrado e explicado. Os estudos sociol>>:. O presente trabal&o não pretende enumerar os diversos personagens e suas patologias" na obra de #lu$sio de #zevedo de forma a comprovar o que foi exposto. @assemos, então, aos fragmentos retirados de O !ortiço" que retratam o ol&ar cr$tico e escrutinizante do autor e que apontam as caracter$sticas peculiares dos brasileiros. isto como um verdadeiro Eldorado", o 0rasil retratado como o pa$s das oportunidades ( principalmente para os portugueses que aqui fixaram residência,
abrindo seus pr>A, p. 5>:. @ara sacramentar a sua completa dominação sobre a infeliz 0ertoleza, ap:. 'ota)se, neste fragmento a import3ncia da questão raça" como uma maneira de ascensão social para 0ertoleza. # sua condição de negra, ainda que forra, seria determinante para o seu destino. +untar)se a algum de raça superior à sua" seria a sa$da. @ercebe)se, tambm, que a ingenuidade" de 0ertoleza vai at certo pontoD a troca de interesses, a permuta, o toma lá dá cá" faz parte de nossa cultura e isto o autor deixa bem claro. 'ão &á ingênuos completos. Fá trocas e permutas. m outro caso que serve bem para exemplificar o exposto aquele que envolve um outro português e uma brasileira branca, e com fumaças de nobreza", de fam$lia tradicional do *io de +aneiro. %rata)se de Kiranda, um comerciante de tecidos e sua mul&er, 1. Estela. Embora a questão raça" aqui não se faça presente para a convivência dos dois debaixo do mesmo teto, não difere da relação entre +oão *omão e 0ertoleza no que se rerefe à permuta, à troca de interesses. Bupostamente, 1. Estela &avia tra$do Kiranda, em mais de uma ocasião, causando)l&e muitas tristezas e vergon&as perante
seus empregados. 1uvidava ele, inclusive, de que Sulmira fosse de fato sua fil&a. Esta dIvida trazia)l&e aversão à menina e >A, p. 5P:.
Em outro trec&o da obra, ainda envolvendo Kiranda e 1. Estela, a cr$tica feita ao meio e à raça 4brasileira: fica bem evidente. nfeliz por não ter tido o mesmo sucesso empresarial que seu compatriota +oão *omão tivera com a exploração da pedreira e a construção do cortiço, cada vez maior e mais lucrativo, Kiranda lembra)se de uma carta que &avia enviado a um colega em @ortugal, na qual afirmava ser o 0rasil uma cavalgadura de din&eiro, cu2as rdeas um &omem fino empolgava facilmente" 4p. ?U:. @orm, via)se como um asno, incapaz de tornar)se sen&or do 0rasil, tendo se tornado um escravo de uma brasileira mal)educada e sem escrIpulos de virtudes" 4p.?P:. @ara ele, sortudo &avia sido +oão *omão porque era moço e podia gozar muito, e mesmo que viesse casar e a mul&er se sa$sse outra Estela era s< mandá)la para o diabo com um pontapV @odia fazê)loV @ara esse que era o 0rasilV" 4p.?P:. #ssim constru$da a autoimagem do pa$s e de seu povo. m pa$s como fonte de riquezas para os exploradores estrangeiros, cu2o povo não tem educação, independentemente de sua posição social. O 0rasil e seu povo equivaliam à Wfrica explorada no sculo -. 'ão era somente a falta de traque2o social ou o desprovimento de bons modos que caracterizaria o esp$rito do povo brasileiro. # indolência, a preguiça e o v$cio, aliados à sensualidade deste povo teriam o poder de enfeitiçar" e corromper o mais correto dos &omens. +erCnimo e @iedade, portugueses que foram morar no cortiço de +oão *omão, eram o clássico exemplo de fam$lia unida. #p
pai exemplar e se fosse levado pelos encantos da sensual *ita 0aiana, uma das lavadeiras do cortiço. Fomem srio e compenetrado, vivia ainda ligado às coisas da pátria, como se vê na letra da canção entoada por sua guitarra que se ouvia do nX UA, seu quarto no cortiçoD Kin&a vida tem desgostos,YZue s< eu sei compreender...YZuando me lembro da terra,Y@arece que vou morrer,Y%erra min&a que te adoro,YZuando que eu te torno a ver[YMeva)me deste desterroY0asta 2á de padecer...4p.78:.
@orm, o assdio de *ita 0aiana virou)l&e a cabeça e fê)lo tornar)se um brasileiro", adepto não mais da guitarra, mas do doce violão baiano, e as moquecas baianas, alm de seu corpo perfumado, lavado três vezes ao dia com ervas aromáticas. O resultado foi que o português abrasileirou)se para sempre, fez)se preguiçoso, amigo das extravag3ncias e dos abusos, luxurioso e ciumentoT fora)se)l&e de vez o esp$rito da economia e da ordemT perdeu a esperança de enriquecer G...H" 4p. ?>P)?>A:.
Algumas co!sideraç#es !omo apontamos no in$cio deste texto, não era o nosso ob2etivo esgotar a análise da obra de #lu$sio de #zevedo no que concerne às diversas patologias" individuais dos membros da sociedade de então. 'osso intuito, e por força da delimitação de espaço, trazer à reflexão do leitor, principalmente os estudantes dos cursos de Metras, a import3ncia de certas obras que se posicionam alm da mera esttica literária. 'o ol&ar do autor, e este ol&ar nos passado em diversas instancias dentro do texto, o 0rasil era um pa$s onde se enriquecia com facilidade, desde que se tivesse a força de vontade, o empreendedorismo concreto e, acima de tudo, as condiç/es materiais necessárias, obtidas por &erança, por dote ou por mrito pr
nosso presente pelo nosso passado.
!onfirmou)se, acreditamos, a teoria por trás da corrente naturalista, que defende os pressupostos do determinismo, ou se2a, de que o &omem influenciado pelas forças
externas que o cercam, modificando)o e alterando seu comportamento, privando)o de seu livre)arb$trio, para o bem ou para o mal, como pudemos ver.
$e%er&!cias A'()(*O+ Alu,sio. O Cortiço. #venida Lráfica e Editora, Mtda. Bão @aulo, B@. ?>>A.
CO/0O+ A%r1!io. !troduç"o 2 Literatura !o 3rasil. Editora !ivilização 0rasileira, B.#. *io de +aneiro, *+. 5678.
C($(4A+ 5illiam $.6 7A8AL09(S+ :ereza Coc:ar. Literatura 3rasileira. ?\ Ed. #tual Editora. Bão @aulo, B@. ?>>>.