RICARDO A. D. PIMENTEL © 2016 Todos os direitos reservados
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1919
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Foi a Organização das Testemunhas De Jeová Escolhida Neste Ano?
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Índice 1. Origens (p.3) 2. Quem é afinal, realmente realmente,, o “escravo fiel e prudente”? (p.12) 3. Uma nova reviravolta doutrinal cheia de inconsistências (p. 14) 4. A data de 1919 é indissociável de 1914 (p.20) 5. Porquê em 1919? (p. 24) 6. Um Escravo Purificado e Designado Para Servir Alimento Espiritual de Qualidade? (p. 31) 7. Uma Impressionante Produção de Alimento Espiritual Imprestável (p. 41) 8. Uma parábola, não uma profecia (p.53) 9. Conclusão (p. 56)
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Índice 1. Origens (p.3) 2. Quem é afinal, realmente realmente,, o “escravo fiel e prudente”? (p.12) 3. Uma nova reviravolta doutrinal cheia de inconsistências (p. 14) 4. A data de 1919 é indissociável de 1914 (p.20) 5. Porquê em 1919? (p. 24) 6. Um Escravo Purificado e Designado Para Servir Alimento Espiritual de Qualidade? (p. 31) 7. Uma Impressionante Produção de Alimento Espiritual Imprestável (p. 41) 8. Uma parábola, não uma profecia (p.53) 9. Conclusão (p. 56)
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Foi a Organização das Testemunhas De Jeová Escolhida Neste Ano? “Em 1919, Jesus escolheu “o escravo fiel e prudente” para dar “alimento no tempo apropriado” ao povo de Deus que já estava limpo. Nesse mesmo ano, o povo de Deus foi liberto de Babilónia, a Grande”.- ws 3/16 p.29
1. Origens Durante a maior parte da sua existência, a Sociedade Torre de Vigia (Watchtower Bible & Tract Society), a organização por detrás das Testemunhas de Jeová, o ano de 1914 tem sido muito destacado como sendo um ano de alto significado profético. No entanto, o significado atribuído a esse ano tem variado muito, de acordo com o correr dos anos. Apenas um único significado profético se tem mantido constante profético desde que este grupo religioso apontou o ano de 1914 como sendo “marcado”: A crença de que este era o ano em que terminariam os “tempos dos gentios” da profecia de Daniel 4:16-32. Em Outubro de 1876, nas páginas do periódico Bible Examiner de George Storrs, um Examiner jovem de 24 anos chamado Charles Taze Russell escreveu um artigo intitulado: “Tempos dos Gentios: Quando Terminam?” nesse artigo (p.27) ele afirmou: %&'()* &+ ,-.-/0* &+ "123 &* !"#$% '()*"+%,
“Os sete tempos terminarão em A.D. 1914.” - Bible Examiner, Volume XXI, nº 1, p.27-28 $
Os movimentos cristãos com forte inclinação escatológica têm uma concepção linear da história, em que haverá um fim que marcará a consumação de todas as coisas, um tempo em que o propósito de Deus para com o universo, a terra e os homens se cumprirá de acordo com a sua vontade. O judaísmo tinha este elemento muito vincado, e o cristianismo herdou esta marca do judaísmo. Esta tensão entre um “agora” que é imperfeito e insatisfatório e um “depois” que será perfeito e feliz marcou definitivamente o primitivo Cristianismo, que aguardava ansiosamente o prometido retorno do seu líder messiânico. Ao passo que esse prometido retorno tardava em consumar-se, também o foco das principais religiões cristãs se voltou para outros aspectos da doutrina. No entanto, a promessa por cumprir faz com que, em cada geração, haja sempre cristãos que, com maior ou menor intensidade, se preocupem com as questões relativas ao fim dos tempos. Um desses períodos de frenesim quase histérico com a questão da segunda volta de Cristo aconteceu nos EUA no período entre 1790 e 1840 com o movimento do Second Great Awakening (Segundo Grande Reavivamento). Este foi um fenómeno marcadamente Protestante, liderado pelas nascentes igrejas Metodista e Baptista, que, alicerçadas no trabalho entusiástico de ferverosos pregadores itinerantes, levavam a igreja até ás pessoas, procurando através do populismo reavivar o seu zelo cristão, e convertendo pessoas em massa, usualmente á custa de outras igrejas mais conservadoras e tradicionalistas. O sucesso deste labor está sociológicamente ligado ao espírito da Revolução Americana; a resistência do povo ao poder político elitista, autoritário e centralizador encontrava um paralelo religioso nos ataques dos pregadores evangélicos ás religiões tradicionalistas e conservadoras, onde o elitismo intlectual do clero e a centralização do poder eclesiástico irritava uma população sedenta de independência e liberdade e cansada da severidade de um Deus distante e austero da teologia protestante calvinista. Estes pregadores eram leigos, trabalhadores árduos, carismáticos, apaixonados pela sua mensagem, críticos das elites religiosas e políticas, e confiavam na capacidade dos seus ouvintes de pensarem por si próprios; muitos americanos das classes trabalhadoras reviam-se mais 4
neles do que nos clérigos tradicionais. Estes pregadores ofereciam uma teologia simples: a salvação e regeneração é possível através da fé pessoal e das obras de devoção piedosa de cada um. Esta era uma mensagem diferente do Calvinismo tradicional, em que a salvação dependia da voltade arbitrária de um Deus severo (através da graça ou da escolha ou da predestinação); nesta mensagem evangélica, o livrearbítrio do ser humano pesava decisivamente na balança do julgamento divino. No fundo, cada homem e mulher tomava nas suas mãos a responsabilidade de produzir a sua própria salvação, e esta mensagem encontrou um eco profundo nas populações da metade leste dos Estados Unidos, em particular na costa leste e no sudoeste, onde o fervor evangélico se espalhou como um fogo incontrolável.
“Comício de Campo” de pregadores baptistas itinerantes
Uma das características da mensagem inicial dos pregadores do Second Great Awakening era a preocupação com a segunda volta de Cristo, ou advento, que se julgava iminente com o aproximar do novo milénio. As correntes pré-milenaristas viam a segunda volta de Cristo como um acontecimento que precederia o reino de mil anos de Revelação 20:1-6, ou seja, em que o advento estava separado do dia do juízo final; ao passo que as correntes pós-milenaristas viam o advento ocorrer apenas no final do milénio, sendo imediatamente sucedido pelo juízo final. A implicação do pré-milenarismo era a de que o Reino milenar de Cristo iria de alguma forma dominar físicamente sobre toda a terra após um peíodo de tribulação, e no final do qual se daria um juízo final. A implicação do pós-milenarismo é a de que o reino de cristo de mil anos é 5
apenas sobre a igreja cristã, findo o qual se dará a volta de Cristo e o juízo final. As correntes pré-milenaristas ganharam maior força á medida que o movimento do Second Great Awakening foi amadurecendo, e diversos pregadores e seus seguidores ficaram obcecados com o apocaliptismo e a procura de sinais que indicavam o iminente retorno de Cristo; os problemas sociais da época eram vistos como “sinais dos tempos” e indicadores da rápida aproximação do advento. O dispensacionalismo, desenvolvido por John Nelson Darby (1800-1882) e popularizado pela “Bíblia Anotada” de Cyrus I. Scofield (1843-1921) via a história humana dividida em “eras”, ou dispensações divinas, e em “planos divinos”, ou propósitos divinos distintos para Judeus e Cristãos, que seriam cumpridos de acordo com um cronograma préviamente determinado por Deus. Os adeptos das idéias dispensacionalistas eram cristãos fundamentalistas que estavam profundamente interessados na futurologia – por tentar determinar quando Cristo retornaria. Na segunda metade do século 19, o dispensacionalismo viria a convergir com o evangelicanismo e a fundir-se com este. Alguns pregadores prémilenaristas da tendência dispensacionalista desenvolveram uma obcessão pelas questões da cronologia da Bíblia, julgando descortinar uma ligação oculta entre vários textos proféticos, que, tal como uma chave, se interpretariam uns aos outros para revelar o cronograma de Deus, oculto nas páginas da Bíblia, esperando o tempo certo para ser discernido pelos “verdadeiros cristãos”. O mais notável destes pregadores foi William Miller (1782-1849).
William Miller (1782-1849)
Miller era um miliciano e fazendeiro de origem modesta e com pouca instrução formal da costa leste dos EUA que tinha um grande envolvimento na vida comunitária. Ávido estudante independente da Bíblia, concluíu que os ‘dois mil e trezentos dias’ de Daniel 8:14 representavam 2300 anos literais, começando em 457 AC e terminando em 1844 AD. A partir de 1831, com 50 anos, começou a pregar a outros as suas descobertas, a mais bombástica de 3
todas: Cristo iria retornar entre a primavera de 1843 e a primavera de 1844. O interesse nas suas idéias cresceu rápidamente e ele publicou-as em 1834 num tratado de 64 páginas onde apresentava as evidências que, na sua óptica, provavam que o advento da volta de Cristo se daria por volta de 1844. Por volta de 1840 o movimento millerita era millerita era já um fenómeno que se tinha espalhado por toda a América do norte estimando-se que tenha chegado a ter até 500.000 adeptos. Embora Miller tivesse reticências quanto a escolher uma data concreta dentro do período estimado, vários dos seus discípulos propuseram datas, as quais foram sendo ultrapassadas sem que as suas expectativas se cumprissem; até que 22 de Outubro de 1844 foi marcada como a data para o advento. Mas também esse dia passou e nada aconteceu, para consternação de Miller e seus seguidores, naquele que ficou conhecido como “O “ O Dia Do Grande Desapontamento”. Desapontamento”. Miller continuou convicto até á sua morte em 1849 de que o advento era iminente, mas não sabia explicar o seu erro no cálculo da cronologia. Muitos seguidores desiludidos de Miller abandonaram o movimento; outros, preplexos, procuraram explicações para o que havia sucedido. Alguns adoptaram a idéia que qu e a data estava correcta, mas a natureza do sucedido tinha sido mal compreendida: a segunda vinda tinha de facto ocorrido, mas no domínio espiritual, invisível. Na conferência de Albany em 1845, os Milleritas adoptaram a denominação de “Adventistas”, mas não conseguiram chegar a acordo sobre uma teologia comum, e dividiram-se em quatro denominações: Os Adventistas Evangélicos, A Igreja Cristã do Advento; A Igreja Adventista do Sétimo Dia; e a União Vida e Advento. O fundador do movimento adventista União George Storrs Vida e Advento foi George Storrs, que 1 6-18 estabeleceu a sua denominação em 1863; mas já desde 1842 que vinha publicando um periódico chamado Bible Examiner.. Examiner Storrs, bem como outro pastor de nome George Stetson, era presença frequente num grupo de estudo da Bíblia independente iniciado por 2
Joseph L. Russell e seu filho Charles Taze Russell na cidade de Allegheny, no estado da Pensilvania. O jovem Charles Taze Russell, de Pittsburg, Pennsylvalia, filho de emigantes escoceses, havia passado por um período de crise de fé, que o havia levado a abandonar a Igreja Nelson Barbour Presbiteriana e depois a Igreja (1824-1905) Congregacionalista; em 1870, aos 18 anos, ele escutou um discurso do pastor adventista Jonas Wendell, que lhe restaurou a fé no cristianismo. Juntamente com o seu pai, Charles Taze Russell passou a associar-se com pastores adventistas e foi por eles muito influenciado. Meses antes de escrever o anteriormente citado artigo no Bible Examiner Examiner de George Storrs, o jovem Russell entrou em contacto com outro editor adventista e ex-membro do movimento millerita chamado Nelson H. Barbour. Tal como o seu anterior mestre, Barbour tinha ficado fascinado pelo tema da cronologia profética, mas foi um dos que ficou decepcionado com o fracasso do Dia do Grande Desapontamento de 1844, e sofreu uma crise na sua fé.
O periódico Herald periódico Herald Of The T he Morning, Morning , de N.H. Barbour foi publicado até 1903. Note-se o nome de C..T.Russell como Editor-Adjunto
Abandonando todos os seus empreendimentos religiosos, estudou medicina, e mais tarde emigrou para a Austrália para prospectar ouro. Durante a viagem de regresso, uma 1
discussão com um clérigo reavivou a sua paixão pelas profecias da Bíblia e pela cronologia. Barbour começou a divulgar as suas idéias, e juntamente com Jonas Wendell, advogaram que 1873 (e depois 1874) seria o ano da volta de Cristo. Quando isso não se verificou, Barbour, juntamente com um associado, Benjamin W. Keith, abraçou a idéia de que a volta de Cristo se daria em duas fases, primeiro invisível, e depois visível, e que Cristo tinha efectivamente retornado em 1874. Em Janeiro Janeir o desse mesmo ano, Barbour iniciou a publicação de um periódico ao qual deu o nome de Herald de Herald Of The Morning (Arauto Morning (Arauto da Manhã). Russell recebeu uma cópia do Herald Of the Morning Morning de Janeiro de 1876, e ficou interessado nas suas idéias, patrocionando depois algumas palestras de Barbour. Pouco tempo depois, passaram a colaborar em projectos editoriais, e Russell passou a ser editor-adjunto do Herald do Herald . No entanto, quando Barbour avançou no Herald com com a data de 1878 como data do arrebatamento dos cristãos e isso não se cumpriu, as relações entre os dois ficaram tensas e começaram a divergir sobre entendimentos doutrinais e de cronologia. Pontos de vista inconciliáveis sobre as doutrinas do resgate e da expiação levaram Russell a afastar-se de de Barbour e do seu Herald . Com o tempo, Barbour afastou-se do Adventismo e abraçou o Restitucionalismo, mas continuou a criticar os escritos de Russell. Antes de falecer, Barbour ainda avançou com mais duas datas para a volta de Cristo, 1896 e 1907.
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A experiência amarga com Nelson Barbour convenceu Russell da necessidade de ele mesmo fundar o seu próprio movimento religioso, onde não dependesse de outros para desenvolver as suas idéias. Desejoso de liderar um novo movimento de reavivamento religioso, ele fundou em 1879 o seu próprio periódico, a que chamou Zion’s Watch Tower And Herald Of Christ’s Presence. (A Torre de Vigia de Sião e Arauto da Presença de 6
Cristo, hoje A Sentinela). Para dar personalidade jurídica á empresa editorial que montou para publicar as suas idéias, em 1881 foi constituída a Zion’s Watch Tower Tract Society sendo o filantropo William Henry Conley presidente e C.T. Russell tesoureiro. Em 1884 o nome foi mudado para Watch Tower Bible & Tract Society of Pennsylvania, sendo Charles Taze Russell o presidente. Estava lançado o movimento dos Estudantes da Bíblia. O termo “Arauto da Presença de Cristo” derivava do entendimento que Russell tinha herdado de Barbour, de que Cristo já tinha vindo de forma invisível e estava presente desde 1874 e que o Reino teria tido o seu início no céu em 1878. Esta presença (“parousia” ) de Cristo deveria continuar até 1914, altura em que terminariam os “tempos dos gentios”; Russell ensinava que neste ano as nações da terra e as religiões seriam destruídas no Armagedom e os cristãos 79I9 &9 0+E';.9 7"2+89 -)./0 123%, )+: ;%,)$: <= >0,"9.89 ?,%9%+/% +D "6H6 consagrados morreriam e seriam ressuscitados para a vida no céu; em 1914 os justos da antiguidade pré-cristã seriam ressuscitados para a vida na Terra e homens como Abraão, Moisés, Sansão e Davi governariam a terra a partir de Jerusalém, onde ficaria a sede da parte visível do Reino de Deus. Em boa verdade, nenhuma das predições que Russell fez relativamente ao significado de 1874, 1878 e 1914, bem como a idéia que as medidas da Pirâmide de Gizé apontavam para o ano de 1914 eram originalmente suas. Todas elas já haviam sido publicadas nas páginas do Herald antes mesmo de Russell ter entrado em contacto com Barbour. "H
“Acredito que, apesar do evangelho da dispensação terminar em 1878, os Judeus não serão restaurados á Palestina até 1881; e que os “tempos dos gentios”, ou seja, os seus sete tempos proféticos, de 2520 anos, ou duas vezes 1260, que tiveram início quando Deus entregou tudo nas mãos de Nabucodonosor, em 606 AC, não terminarão até 1914 AD; quarenta anos depois disto” – The Herald Of The Morning, Setembro 1875 “estas 33 polegadas que foram adicionadas ás 1881 [polegadas] da medida do chão da Grande Galeria [da Grande Pirâmide], fazem de 1914 a data do fim dos “Tempos dos Gentios.” – The Herald Of The Morning, Janeiro 1876 Este breve resumo permite perceber o enquadramento histórico, sociológico e religioso do movimento fundado por Charles Taze Russell; que influências ele recebeu, e como essas idéias vieram a moldar o seu pensamento doutrinal e o seu entendimento das profecias bíblicas. Ao contrário do que por vezes parece ser a idéia corrente entre as Testemunhas de Jeová, o fundador da Sociedade Torre de Vigia e as suas idéias não surgiram no vácuo, nem ele era um homem visionário á frente do seu tempo. Pelo contrário, Russell é inteiramente um produto do seu tempo e lugar: uma cidade americana (Pittsburg) no ultimo terço do século 19, dominada por empreendedores emigrantes escoceses e irlandeses, tornada próspera pela industria de armamento que forneceu a Guerra Civil Americana (1861-1865), na esteira do Second Great Awakening e do embaraço Adventista, mas fervilhando de zelo religioso evangelizador. Russell era tanto um homem de sincera inclinação espiritual e amor pelas Escrituras, como um esperto e enérgico empreendedor de negócios, dotado de dinheiro, carisma, capacidade de liderança e talento para a escrita e oratória. Que melhor veículo para estas características pessoais do que uma nova organização religiosa? Apesar de não ser realmente original nas suas idéias, e de nenhuma das suas prediçoes se ter cumprido, durante toda a sua vida como presidente da empresa editorial que fundou, e para lá dela, Charles Taze Russell continuou a ser reverenciado pelos seus discípulos (ou “associados”, como são normalmente tratados nas publicações da Sociedade Torre de Vigia) como o “servo especial” de Deus, ou, por outras palavras, o “escravo fiel e prudente” da parábola de Mateus 24:45 – um homem escolhido por Cristo para uma missão especial ""
2. Quem é, afinal, realmente o “escravo fiel e prudente”? Até 2012, o Corpo Governante da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, a liderança colegial da Organização das Testemunhas de Jeová, explicava assim a sua doutrina acerca do “escravo fiel e discreto” de Mateus 24:45: “O escravo fiel começou a existir no Pentecostes do ano 33 e recebeu a responsabilidade de cuidar dos domésticos de Jesus. Desse ano em diante, como grupo, todos os cristãos ungidos que estão vivos na Terra são o escravo. Os domésticos são os ungidos individualmente, não como grupo. Em 1919, Jesus deu ao escravo fiel a responsabilidade de cuidar de “todos os seus bens”, ou seja, tudo na Terra que é usado para apoiar a pregação do Reino.” - ws13 15/7 pp.20-25 Entretanto, na Reunião Anual da Watch Tower Society em 2012 foi anunciada uma mudança importante neste entendimento acerca da identidade do “escravo fiel e prudente”: “Então, quem é o escravo fiel e discreto? O escravo é um pequeno grupo de irmãos ungidos que participam diretamente em preparar e distribuir o alimento espiritual desde 1919. (…) Os irmãos ungidos que formam o escravo fiel têm servido na sede mundial durante os últimos dias deste sistema. Hoje, esse escravo é o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. (…) Quando foi que Jesus deu ao escravo fiel a responsabilidade de cuidar dos domésticos? (…) [Jesus] e seu Pai vieram e inspecionaram o templo, de 1914 ao começo de 1919. (Malaquias 3:1) Eles ficaram contentes ao ver o pequeno grupo de leais Estudantes da Bíblia, que mostravam amor verdadeiro a Jeová e à sua Palavra. É verdade que esse grupo ainda precisava ser purificado. Mas os Estudantes da Bíblia foram humildes e se deixaram corrigir durante um período de dificuldades. (Malaquias 3:2-4) Eles eram cristãos verdadeiros, o trigo da ilustração de Jesus. Em 1919, Jesus escolheu irmãos ungidos qualificados que estavam nesse grupo para servir como o escravo fiel e discreto e lhes deu a responsabilidade de cuidar dos domésticos.”- ws13 15/7 pp.2025 Assim, em 2012, o novo entendimento implicou que o “escravo fiel e discreto” não era mais o conjunto dos cristãos ungidos no tempo do fim, "#
que era representado pelo Corpo Governante, mas passou a ser identificado com o próprio Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. Mas o que mais importa aqui tratar não é tanto a interpretação da parábola, mas uma data – 1919 – e as implicações do significado que lhe é atribuído pela liderança da Organização. É que, apesar do novo entendimento, mantém-se esta data de J9E'& KI:9C+L D+D/0* &* 7*0I* M*E+0C9C.+L +NI:9C9C&* * C*E* +C.+C&'D+C.* ;*/0+ * 1919 como o momento em O+;P09E* Q'+: + &';P0+.*R +D #H"# que Jesus dá ao escravo uma designação especial. Isto dá-se após um período de inspecção e avaliação, após o qual Jesus toma a decisão de, entre todas as religiões cristãs, escolher os estudantes da Bíblia e o seu Corpo Governante para levar a cabo o seu propósito no tempo do fim. O ano de 1919 continua, mesmo sob o novo entendimento, a ser o momento-chave para se estabelecer a legitimação teocrática da liderança das Testemunhas de Jeová. E as perguntas que se devem fazer são as seguintes: 1. Qual é a base bíblica para afirmar que o ano de 1919 tem um significado profético? 2. Em que base foram os Estudantes da Bíblia escolhidos naquele ano para representarem a Deus e a Cristo na terra? 3. Que evidências existem dessa designação? 4. Está o Corpo Governante á altura da designação que reivindica ter? Esta questão pode parecer trivial, mas na realidade é fundamental,
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porque se trata de perceber porque é que as Testemunhas de Jeová acham que elas – e não qualquer outra organização religiosa – são a única Organização que representa a Deus e a Cristo aqui na Terra. Trata-se de perceber se a reivindicação de autoridade teocrática por parte da liderança da Watchtower Society (ou JW.ORG) tem validade. Se a alegação tiver validade, então teremos todo o interesse em estar alinhados com esta Organização. Mas, se estas alegações forem infundadas, então a Organização mente, é uma fraude, não foi escolhida por Deus e por Cristo, e não precisamos de lhe obedecer ou de estar ligados a ela. Não é, pois, um assunto pouco relevante. Trata-se de investigar se a base em se se fundamenta a afirmação de legitimidade do poder do Corpo Governante tem, ou não, razão de ser. E aqui é que a questão relativa ao ano de 1919 se revela crucial.
3. Uma nova reviravolta doutrinal cheia de inconsistências Talvez lhe tenha passado despercebido que o artigo de A Sentinela de Julho de 2013 traz uma reviravolta doutrinal profunda; é que a Organização abandonou o ensino de que a segunda volta de Cristo ocorreu em 1914! Ou seja, aquilo que por muitas décadas constava de publicações proeminentes das Testemunhas de Jeová, afinal não é mais verdade: “Jesus respondeu á pergunta dos seus discípulos, registada em Mateus 24:3 (...) essa profecia tem o seu cumprimento principal no período desde 1914, o tempo da “presença de Cristo e da terminação do sistema de coisas.” – Adore o Único Deus Verdadeiro (2002), p. 177 “...considerámos a evidência bíblica de que Cristo voltou e começou a dominar no meio dos seus inimigos no ano de 1914.” – Poderá Viver Para Sempre Num Paraíso Na Terra (1989) p. 149 O entendimento acima foi tornado obsoleto pelo artigo da Sentinela de Julho de 2013. Agora afirma-se:
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“Por muitos anos, pensávamos que a grande tribulação havia começado em 1914 com a Primeira Guerra Mundial (p. 3-4) … quando as Nações Unidas (a atual “coisa repugnante”) atacar a cristandade (santa aos olhos dos cristãos nominais) e o restante de Babilônia, a Grande. O mesmo ataque é descrito em Revelação 17:16-18. Esse acontecimento será o começo da grande tribulação. (p. 4-5) (...) Realmente, um estudo de toda a profecia de Jesus deixa claro que cada uma dessas oito referências à sua vinda se aplica ao futuro período de julgamento durante a grande tribulação. (p. 8) Quando Jesus chega? A resposta se encontra no contexto. Lembre-se de que, quando os versículos anteriores falam de Jesus como “vindo” isso se refere ao tempo em que ele vem para proferir e executar o julgamento no fim deste sistema. (Mateus 20:30, 42, 44) Assim, a ‘chegada’, ou ‘vinda’, de Jesus mencionada na ilustração do escravo fiel ocorre durante a grande tribulação” (p. 24-25).” Portanto, de acordo com o novo entendimento, a “volta” de Cristo ainda não ocorreu, mas é um acontecimento ainda para o futuro, coincidente com o início da “grande tribulação”. Russell ensinava que os “últimos dias” tinham iniciado em 1799; que o advento da volta de Cristo havia ocorrido em 1874; que o Reino tinha tido o seu início em 1878; e que em 1914 terminariam os “tempos dos gentios”, implicando que o Armagedom teria o seu clímax neste ano, a religião falsa seria destruída, os governos humanos dissolvidos, os justos ressuscitados para a vida na terra e os cristãos ressuscitados para a vida no céu, e a terra iria começar a sua transformação para um paraíso, com a capital em Jerusalém. “Tenha em mente que o término de 1914 não é a data para o início, mas para o final do tempo de tribulação”. – Zion’s WatchTower 15/7/1894 p. 226 Desonestamente, a Organização ensina que as Testemunhas de Jeová tinham sempre e antecipadamente entendido que 1914 era a data do início do “tempo do fim”: “As testemunhas de Jeová apontaram para o ano de 1914, com décadas de antecedência, como marcando o início da “terminação do sistema de coisas.” – g73 22/1 p.8
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“Desde meados da década de 1870, os do povo de Jeová esperavam que os eventos catastróficos começassem em 1914 e marcassem o fim dos Tempos dos Gentios”. – Revelação Clímax (1988) p. 105 As declarações acima são, obviamente, uma falsidade; os Estudantes da Bíblia não esperavam que 1914 fosse o início da “terminação do sistema de coisas”, e sim, esperavam que o sistema terminasse nesse ano. Só posteriormente, quando os factos se encarregaram de demonstrar que as predições de Russell estavam erradas, é que os Estudantes da Bíblia alteraram o seu entendimento quanto ao significado de 1914. A Sociedade tenta por todos os meios branquear o facto de que promulgou uma falsa profecia. Este entendimento de que Cristo havia retornado em 1874 continuou a ser a doutrina oficial até pelo menos 1930, ou seja, 11 anos após 1919: “...desde o início da presença do Senhor em 1874 que o Diabo utilizou o sistema papal como o instrumento principal na oposição ao Reino de Deus...” – w30 p. 275 Foi apenas em 1943, 24 anos depois de 1919, que a Organização reescreveu a doutrina, e claramente afirmou que 1914, e não 1874, fora o ano em que teve início a “presença” de Cristo. “A presença do Rei, ou ‘parousia’, teve início em 1914.” – A Verdade Vos Tornará Livres (1943) p. 324 inglês Agora, em 2013, a Organização volta a alterar esse entendimento. , :'E0* @ A%,:):% A29 12,+),B C"D,%9 ?"64$AS TU-'L I+:9 I0'D+'09 E+= -D 9V-;.+ C9 P0*C*:*W'9 9:.+0*- 9 &9.9 &* 'CGP'* &9 I0+;+C(9 &+ 70';.* 909 "6"4S
No entanto, esta alteração acarreta uma enorme confusão. É que, apesar de afirmar agora sem rodeios que a “volta” e “presença” do Senhor ainda é um acontecimento para o futuro, coincidente com o vindouro início da “grande tribulação”, o Corpo Governante continua simultaneamente a afirmar que Cristo veio
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em 1914, o que significa que estão a advogar uma TERCEIRA VOLTA DE CRISTO. Como assim? Comentando sobre o período da suposta “inspecção ao templo”, o artigo de 2013 diz: “Para resolver essa questão, Jesus começou a inspecção do templo espiritual em 1914” ws13 Julho p. 11-12 “Jesus acompanhou o Pai ao templo espiritual para fazer uma obra de inspecção e purificação muito necessária”. – w13 Julho p. 15-19 É preciso notar desde logo uma inconsistência: Quem faz a inspecção e purificação? Jeová? Jesus? Ou ambos? A organização tanto diz uma coisa como diz outra. Em 2012 a Organização afirmava que era Jesus que fazia a inspecção ao templo, após a sua “chegada”: “Em 1919 houve uma chamada para acordar! Jesus havia chegado ao templo espiritual de Deus, iniciando um período de inspecção. Alguns, porem, foram reprovados nessa inspecção”. – ws12 15/9 p. 23-27 De qualquer modo, é imperioso levantar a pergunta: Como pode Jesus participar numa inspecção ao templo da adoração sem que de algum modo “venha” e “esteja presente” para fazer essa inspecção e purificação? Afinal, a profecia de Malaquias em que se baseia esta afirmação, é inequívoca: “E de repente o verdadeiro Senhor, aquem vocês procuram, virá ao Seu templo. E o mensageiro do pacto, de quem vocês se agradam, virá. Ele certamente virá”, diz Jeová dos Exércitos” – Malaquias 3:1 Consegue perceber a inconsistência neste ensino? Por um lado, a profecia de Malaquias 3:1 inequivocamente associa a inspecção ao
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templo com a “vinda” do Senhor e do mensageiro do pacto; a Organização ensina que esta profecia se cumpriu entre 1914-1918. Simultaneamente, a Organização ensina que a “vinda” e “presença” de Jesus ainda não ocorreu! Ora, só é possível conciliar estas duas posições incompatíveis entre si se se afirmar que existem TRÊS VINDAS do Senhor Jesus Cristo! Isto é bíblico? Existe ainda outra incongruência grave. A parábola de Mateus 24:43 levanta a pergunta: “Quem é realmente o escravo fiel e prudente, a quem o seu senhor encarregou dos seus domésticos, para lhes dar o alimento no tempo apropriado?” – Mateus 24:43 Pergunte-se: Quando é que o “escravo” é considerado “fiel e prudente”? Não é antes de ser encarregado de cuidar dos domésticos? Não é precisamente essa a razão pela qual ele é encarregado dos domésticos? Porque o Senhor já o considerava fiel e prudente? De acordo com o entendimento anterior a 2012, o “escravo” tinha começado a existir em 33 EC: “No passado, nossas publicações diziam o seguinte: No Pentecostes de 33 EC, Jesus designou o escravo fiel sobre seus domésticos. O escravo representa todos os cristãos ungidos como grupo na Terra em qualquer época desde aquele tempo. Os domésticos referem-se aos mesmos ungidos como indivíduos. Em 1919, Jesus designou o escravo fiel “sobre todos os seus bens” —todos os seus interesses terrestres do Reino.” - ws13 15/7 p. 2021 Esta interpretação ajustava-se satisfatóriamente á fraseologia da parábola de Jesus. Jesus conhecia pessoalmente os seus apóstolos, sabia que, como grupo, eram fiéis e discretos, e encarregou-os de “cuidar dos domesticos” pouco depois de ascender aos céus em 33 EC., conforme evidenciado pelo derramamento do espírito santo. Fazia sentido.
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Mas o novo entendimento faz com que o “escravo fiel e prudente” não esteja presente no cenário até 1919: “Será que os Estudantes da Bíblia nos anos anteriores a 1914 eram o canal designado por meio do qual Cristo alimentaria suas ovelhas? Não. (…) O escravo é um pequeno grupo de irmãos ungidos que participam directamente em preparar e distribuir o alimento espiritual desde 1919… Em 1919, um período de reavivamento espiritual, Jesus selecionou dentre eles irmãos ungidos capazes para ser o escravo fiel e discreto e os designou sobre seus domésticos.” - ws13 15/7 p.18-19, 22-23 Este novo entendimento não se ajusta á fraseologia da parabola de Jesus. Nesta, claramente o escravo tanto existe como já é considerado fiel e prudente antes mesmo de ser encarregue de cuidar dos domesticos. Aliás, esse é precisamente o motivo de ele receber essa incumbência: o amo já o conhece e o considera “fiel e prudente”.
Então como podia ser ele considerado “fiel e prudente” pelo Senhor se ainda não existia em 1919 para ser avaliado? Parece um pouco como a pescada: antes de ser, já o era. E, se em 33 EC, o Senhor deu evidência inequívoca de favorecer os apóstolos e seus discípulos por derramar o seu espírito santo sobre eles, que evidência tangível forneceu Jesus de que tinha escolhido o Corpo Governante da Sociedade Torre de Vigia em 1919 para uma tarefa não menos importante? Finalmente, uma outra inconsistência introduzida por este novo entendimento: Na teoria do Corpo Governante, Jesus sempre alimentou a muitos pela mão de poucos: “Em harmonia com o padrão de Jesus de alimentar muitos pelas mãos de poucos, esse escravo se compõe de um pequeno grupo de irmãos ungidos diretamente envolvidos na preparação e distribuição de alimento espiritual durante a presença de Cristo.” – ws13 15/7 p. 21-22
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É preciso questionar que “padrão” é esse que Jesus terá instituído. Afinal, a definição de “padrão” é a de uma “norma; modelo de referência para avaliação”. Se o modelo de referência original envolvia dois milagres de distribuição de alimento literal não é justificada a conversão de alimento material em alimento espiritual. Mais uma vez, a Organização vai “além das coisas escritas”. Na teoria do Corpo Governante, o “escravo fiel e prudente” do tempo do fim faz um trabalho semelhante áquele que os apóstolos fizeram após a partida do amo em 33 EC. Mas essa incumbência terá sido interrompida com a morte do ultimo apóstolo. Afirma o Corpo Governante: “…com a morte do último apóstolo, a apostasia criou raízes e floresceu durante um longo período de crescimento que durou muitos séculos (…) Não havia um canal constante e organizado para prover alimento espiritual.” ws13 15/7 p. 18 Ora, se não houve uma linha de continuidade ininterrupta, herdada de geração em geração, desde os apóstolos do primeiro século até ao século XIX, com base em quê foram os líderes da Sociedade Torre de Vigia inspeccionados, seleccionados, purificados e designados por Cristo? Debrucemo-nos então sobre a data de 1919. Em primeiro lugar, é preciso compreender que, de acordo com a teologia das Testemunhas de Jeová, o ano de 1919 depende inteiramente do ano de 1914.
4. A data de 1919 é indissociável de 1914 O ano de 1919 surge na teologia das testemunhas de Jeová desligado de qualquer cronologia bíblica directa e independente; pelo contrario, depende inteiramente de o ano de 1914 ter um verdadeiro significado profético e estar correctamente identificado como o ano em que terminaram os “tempos dos gentios” e Jesus Cristo foi investido como Rei do Reino de Deus. Há duas implicações disto:
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1) Se o cálculo de 1914 estiver incorrecto, necessáriamente 1919 também será invalidado.
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2) Se 1914 não tiver um significado ligado ao início do Reinado de Cristo, então 1919 deixa de ter qualquer significado. Para uma discussão porque 1914 está incorrectamente calculado podem ser aduzidos muitos argumentos. O livro The Gentile Times Reconsidered (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados) é a resposta definitiva á pergunta sobre as evidências históricas acerca da data da destruição de Jerusalém e as inconsistências levantadas por se procurar determinar a data desse acontecimento a partir dos textos da Bíblia. O autor, Carl Olaf Jonsson, era uma Testemunha de Jeová á data em que fez a extensa pesquisa, e submeteu-a á apreciação do Corpo Governante, na expectativa que isso pudesse ajudar a liderança das Testemunhas de Jeová a rever a sua posição com relação á data de 1914. A sua pesquisa foi liminarmente rejeitada e Jonsson foi desassociado. Só após isso é que decidiu publicar as suas pesquisas neste livro. No entanto destaco aqui brevemente quatro diferentes linhas de evidência que provam que 1914 não é a data do fim dos “tempos dos gentios”: , :'E0* <9 1%*E29 F29 G%+."29 H%/2+9":%,):29
1) A profecia já teve o seu cumprimento. Daniel 4:25 refere-se a uma visão de um rei pagão, Nabucodonosor, na qual se refere que o seu reino será cortado durante “7 tempos” e posteriormente restituído. Que essa profecia teve o seu cumprimento no espaço de um ano no próprio Nabucodonosor é atestado por Daniel 4:31,32. No entanto, sem qualquer nexo lógico, o Corpo Governante afirma que a duração dos “tempos dos gentios” de Lucas 21:20 é determinada por uma profecia que teve o seu cumprimento consumado num rei pagão que viveu seis séculos antes de Cristo! Não há nada que ligue estes dois textos a não ser #"
a palavra “tempos”. Ainda assim, a Organização afirmou por décadas que esse esse episódio é um “tipo” profético que prefigurou um cumprimento “antitípico” no tempo do fim. No entanto, a própria Organização, tão recentemente como 2015, fez a segunte reflexão sóbria a respeito deste método: “Alguns escritores que viveram nos séculos seguintes à morte de Cristo caíram numa armadilha: eles viam tipos proféticos em tudo. (...) Os humanos não podem saber quais relatos bíblicos são sombras de coisas futuras e quais não são. Qual é o melhor caminho a seguir? Quando as Escrituras dizem que uma pessoa, um acontecimento ou um objeto são tipos proféticos de outra coisa, nós aceitamos. Do contrário, devemos ter cautela ao dizer que certa pessoa ou relato são antítipos de algo, se não há base bíblica específica para isso.” – ws15 15/3 p. 17, 18 Sabemos bem que três dos presidentes da Sociedade Torre de Vigia, Russell, Rutherford e Franz, eram entusiastas do uso de “tipos” e antitipos” como método de interpretação e promoção de profecias. Também eles “viam tipos proféticos em tudo” e hoje a Organização tem vindo sucessivamente a abandonar muitas dessas interpretações á base de “tipos” e “antitipos”. Neste caso, de facto, não há a menor base bíblica para estabelecer uma ligação entre Lucas 21.20-24 e Daniel 4:25. Como tal, não se pode saber qual a duração dos “tempos dos gentios” – mas com certeza não se pode afirmar que são sete. 2) “7 tempos” não são necessáriamente 2520 anos. Para fazer com que 7 tempos correspondam a 2520 anos, a organização socorre-se daquilo que chama uma “regra profética”: Um dia por um ano. A idéia de que existe uma regra bíblica de “um dia por um ano” para calcular cronologia bíblica foi inventada por Ticónio em 380 EC e por Fausto de Riez no século V, com base na conversão (fundamentada) dos 3,5 dias de Revelação 11:9 em 3,5 anos. Mas não existe fundamentação para extrapolar esse cálculo para toda e qualquer profecia do novo e antigo testamento! Nem a própria Organização é consistente na sua aplicação, conforme veremos adiante. Foi William Miller que recuperou este "princípio" no inicio do século 19 e aplicou-o arbitrariamente a outras profecias bíblicas extra-Revelação, nomeadamente no livro de Daniel - com resultados invariavelmente decepcionantes de previsões falhadas. A experiência tem mostrado que não existe fundamento para a idéia de que exista uma “regra profética” ##
generalizada na bíblia para converter dias em anos. 3) A data de início da contagem está históricamente errada. 607 AEC não foi comprovadamente a data histórica da destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, e sim 585/586 AEC; portanto, calcular 2520 anos a partir da data em que Jerusalém foi efectivamente destruída não nos leva a 1914 mas a outra data diferente, anterior. X+0-;9:YD C)* Q*' &+;.0-G&9 +D 3H2 T%7L + ;'D +D 515Z513 T%7
4) Anos lunares calculados sobre anos solares. O cálculo que converte os “tempos dos gentios” em 2520 anos é feito com base em anos lunares (de 360 dias/ano), mas depois é aplicado a um calendário solar (de 365,25 dias/ano). 2520 anos lunares são 907.200 dias, mas 2520 anos solares são 920.430 dias. Trata-se de uma discrepância de 13.230 dias, ou seja, mais de 32 anos! Se o cálculo dos “sete tempos” for feito com base em anos solares, então 7 tempos x 365,25 dias = 2556 anos e 9 meses. (os quais, se contados a partir de 607 AEC não terminam em 1914). Ou então, se contarmos 2520 anos lunares a partir de 607 AEC sobre um calendário solar, vamos chegar a uma data por volta de 1881 (novamente, não terminam em 1914).
Assim como 10 centímetros não é o mesmo comprimento que 10 polegadas, 2520 anos solares não é o mesmo tempo que 2520 anos lunares .
Toda a metodologia que está adjacente aos cálculos que levam a 1914 é irracional, ilógica, sem fundamento bíblico e é contrariada por factos históricos bem estabelecidos. A data de 1914 só é mantida por pura conveniência da Organização.
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Portanto, a primeira coisa a ter em mente é: Se o cálculo de 1914 está errado, então com certeza não ocorreu nenhuma designação do “ecravo” por Cristo em 1919.
5. Porquê em 1919? A autoridade do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová pode ser resumida na seguinte preposição: A organização conhecida por “Watchtower Bible & Tract Society” (ou JW.ORG) foi escolhida por Deus e Jesus como o seu único e exclusivo canal de comunicação com a terra em 1919; A organização é actualmente liderada pelo Corpo Governante, identificado como o “escravo fiel e prudente” da parábola de Mateus capítulo 24; submeter-se a esta organização e á sua liderança é, por consequência, submeter-se a Jeová e a Cristo; questionar ou discordar desta organização é equivalente a resistir ou rebelar-se contra Jeová e Cristo; saír desta organização significa separar-se de Deus e de Cristo. Estas afirmações assentam num conjunto de premissas que precisam ser provadas préviamente: 1) Que Deus necessita de um canal para se comunicar com os humanos; 2) Que Deus usou no passado e continua a usar hoje algum tipo de canal para se comunicar com os humanos; 3) Que Deus escolheu exclusivamente um único canal de comunicação com os humanos; 4) Que esse canal assume a forma de uma organização visível composta por humanos; 5) Que Deus sempre usou uma organização visível como instrumento de comunicação da sua vontade para a terra; 6) Que a sujeição a Deus implica estar sujeito a essa organização visível; 7) Que qualquer questionamento ou discordância equivale a rebelião contra a organização; 8) Que o questionamento ou discordância com a organização equivale a rebelião contra Deus e Cristo. 9) Que essa organização visível de Deus é a Watchtower Society ou JW.ORG #4
Todos os pontos acima carecem de demonstração e sólido fundamento bíblico. Mas, por ora, vamos presumir que não são contestáveis e vamos apenas concentrar-nos no ponto 9, que é aquele que se liga directamente á questão de 1919. Será que a organização visível de Jeová na terra é a Sociedade Torre de Vigia, representada pelo Corpo Governante das Testemunhas de Jeová? Essa afirmação é feita repetidamente nas publicações. Afirma-se que C.T. Russell e seus associados, desde a década de 1870, através do estudo diligente da bíblia, recolheram diversas verdades bíblicas que estavam fragmentadas por diversas denominações religiosas e reconstituíram um corpo doutrinal coeso, na verdade, restaurando o cristianismo “puro” do primeiro século. (Nota: Não foram os únicos na sua época. A estas correntes chama-se restauracionismo ou primitivismo cristão). Quando chegou o tempo para o Reino de Deus nascer em 1914 e a obra de divulgação desse reino ser feita, alega-se que Cristo, após examinar todas as religiões ditas “cristãs” apenas encontrou um grupo suficientemente digno para fazer essa obra, e, em 1919, designou o Corpo Governante da Watchtower Society para fazer essa obra e agir como porta-voz e representante de Jeová e de Cristo na terra. Como chegaram as Testemunhas a saber que 1919 foi o tempo dessa designação? Como vimos, esta data depende exclusivamente de 1914 para ser válida. Se 1914 não tiver validade, então 1919 cai por terra. Mas, vamos por ora assumir que Outubro de 1914 é a data do estabelecimento do Reino de Deus de modo invisível no céu. Como se “calcula” 1919? É interessante que, para uma data com tamanha importância para o estabelecimento da autoridade teocrática do Corpo Governante, o suporte bíblico seja mínimo e absolutamente irracional e ilógico. Raras vezes o Corpo Governante se dá ao trabalho de explicar porquê 1919 tem este significado nas suas publicações. Apenas se afirma que tem, sem qualquer outra explicação. De seguida veremos porquê o Corpo Governante não quer mexer muito neste assunto.
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Esta doutrina assenta quase por inteiro no trecho de Revelação 11:3-11. Ali diz: “3 Farei as minhas duas testemunhas profetizar por 1.260 dias vestidas com pano de saco.” (...) 7 Quando tiverem terminado de dar seu testemunho, a fera que sobe do abismo guerreará contra elas, as vencerá e as matará (...) 9 Povos, tribos, línguas e nações olharão para os seus corpos por três dias e meio e não permitirão que os seus corpos sejam colocados num túmulo. (...) 11 Depois dos três dias e meio, entrou neles espírito de vida da parte de Deus, e eles ficaram de pé, e os que os viram ficaram com muito medo.” Em primeiro lugar, é preciso acreditar que as “duas testemunhas” de Apocalipse 11:3 são um paralelo com o “escravo fiel e prudente” de Mateus 24:45. Antes de Revelação não há qualquer menção feita a “duas testemunhas”, pelo que a ligação ao “escravo” de Mateus é meramente uma questão de conveniência, sem qualquer suporte bíblico lógico ou racional. Depois, a contagem dos 1260 dias é feita a partir de Dezembro de 1914. (1260 dias, 3,5 dias/anos e 42 meses são períodos de tempo equivalentes, baseados no calendário lunar de 360 dias). “No começo do dia do Senhor, houve um período marcado de três anos e meio em que as experiências duras dos do povo de Deus tinham um paralelo com os eventos profetizados aqui – começando em Dezembro de 1914 e continuando até Junho de 1918.” – Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo! (Ed. 2006) p. 164. Voltamos a encontrar aqui a mesma inconsistência que encontramos no método de cálculo para 1914. Como é que um período de tempo calculado com base num calendário anual lunar de 360 dias é depois aplicado a um calendário anual solar de 365 dias? E, se o Reino de Deus supostamente nasceu no início de Outubro de 1914, qual o motivo para que os 1260 dias / 3,5 anos começassem a ser contados a partir de Dezembro de 1914? Nenhuma explicação é dada sobre esta discrepância de dois meses. Nenhum acontecimento digno de nota ocorreu em Dezembro de 1914. O Corpo Governante simplesmente espera que esta afirmação seja aceite sem escrutínio. Porquê? #3
Porque o que verdadeiramente interessa ao Corpo Governante é a data em que terminam esses 1260 dias: Junho de 1918. O que aconteceu neste mês? Ora, a 21 de Junho os directores da Sociedade Torre de Vigia, entre os quais o seu presidente J. F. Rutherford, foram sentenciados a penas de prisão de 20 anos sob diversas acusações de sedição, ao abrigo da Lei de Espionagem de 1917. De acordo com a interpretação do Corpo Governante, este é o cumprimento da visão em que as “duas testemunhas” são mortas e os seus corpos expostos ao vitupério público. “Ferviam sentimentos nacionalistas, e em meados do primeiro semestre de 1918 os inimigos religiosos das duas testemunhas se aproveitaram da situação. Manobraram-se as instituições jurídicas do Estado para que ministros responsáveis dos Estudantes da Bíblia fossem encarcerados sob acusações falsas de sedição. Colaboradores fiéis deles ficaram atordoados. A actividade do Reino quase que parou. Era como se a obra de pregação estivesse morta.” – Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo! (Ed. 2006) p. 167 Os factos mostram que esta versão dos acontecimentos é intencionalmente distorcida. Em primeiro lugar J.F. Rutherford foi francamente inábil para evitar a sentença desfavorável. O Presidente Woodrow Wilson hesitava em envolver os EUA na guerra, apesar da opinião pública americana ser largamente favorável á entrada dos EUA no conflito. Desde 1915, os submarinos alemães vinham atacando navios americanos no Atlântico e havia um forte sentimento anti-germânico. Foi no contexto de guerra iminente que em 1917 e 1918 foram promulgados o Espinonage Act e um conjunto de emendas conhecidas como Sedition Act (entretanto revogadas em 1921), um conjunto de leis destinadas a impedir a interferência com operações Texto do Sediction Act de 1918 militares e o recrutamento militar,
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prevenir a insubordinação militar, e o apoio aos inimigos dos EUA em tempo de guerra. A Sociedade veio a estar na mira do FBI por causa de várias tomadas de posição anti-guerra e anti-nacionalistas; mas uma passagem do recentemente publicado O Mistério Consumado esteve na base do processo em tribunal: “...Satanás ergueu uma certa ilusão, que é aptamente descrita pela palavra ‘patriotismo’, mas que na realidade é assassínio, o espírito do próprio diabo. Se argumentas que a esta é uma guerra de defesa contra a uma intolerável e arbitrária agressão, eu devo responder que resta provar que a Alemanha tenha qualquer intenção de nos atacar. A guerra é em si mesmo errada. A sua realização será um crime. Não existe nenhuma causa, nenhuma questão ou assunto envolvido que justifique a perda da vida de um dos nossos marinheiros no mar ou de um dos nossos soldados nas trincheiras.” – O Mistério Consumado (1917) É verdade que alguns clérigos e igrejas, que anteriormente haviam sido alvo de violentos ataques nas páginas das publicações da Sociedade, denunciaram a orientação pró-germânica deste texto, e mais tarde rejubilaram com a condenação de Rutherford e seus associados; mas é uma fasidade afirmar que foram os “inimigos religiosos” da Organização que conspiraram com o poder politico e judicial com o intuito de silenciar os Estudantes da Bíblia. Na realidade, outras personalidades públicas da época foram condenadas á base de acusações semelhantes fundamentadas nas mesmas leis: O congressista e editor Victor Berger (1919), o politico e sindicalista Eugene V. Debs (1918), os anarquistas Emma Goldman e Alexander Berkman (1917); portanto, J.F. Rutherford não foi o primeiro nem o último a estar a contas com a justiça Os oito directores da Sociedade Torre de por violação do Espionage Vigia que foram condenados a penas de risão em Junho de 1918
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Act , e é abusivo pretender insinuar que a Sociedade Torre de Vigia foi particularmente visada por uma qualquer conspiração. As autoridades deram a Rutherford vários avisos e ordens no sentido de ele retirar do Mistério Consumado as páginas que continham os trechos considerados em violação da lei. No entanto, Rutherford escolheu afrontar as autoridades, não acatando as ordens oficiais, atacando nas publicações da Sociedade e em discursos as instituições governamentais e os tribunais dos EUA e, jogando a cartada da vitimização, berrando que estava a ser vítima de uma perseguição por parte de autoridades que eram marionetas dos seus inimigos religiosos. Quando percebeu que esse era um jogo que não iria ganhar, Rutherford finalmente aceitou comprometer a sua posição inicial e retirar as páginas que continham os trechos problemáticas do livro O Mistério Consumado, e apelar á participação dos Estudantes da Bíblia num “dia de oração e súplica” decretado pelo Congresso Norte-Americano para 30 de Maio de 1918, mas já era tarde demais. A 21 de Junho, Rutherford e mais sete membros da directoria da Sociedade (incluindo os escritores do livro O Mistério Consumado, Clayton Woodward e George Fisher), foram condenados a pesadas penas de prisão, a serem cumpridas na penitenciária de Atlanta, na Geórgia. Foi, portanto a ostensiva e reiterada desobediência á lei, a estratégia deliberada de confrontação e a inabilidade de Rutherford que determinaram o seu encarceramento, e não uma qualquer “conspiração politico-religiosa” Afirmar que obra “morreu” durante esse período em virtude da sentença é um relativo exagero. É verdade que o choque da prisão dos directores da Sociedade levou a que muitos associados ficassem temerosos da perseguição e vissem nisso um sinal de que Deus havia retirado a sua bênção da Organização liderada por Rutherford e abandonaram a obra. No entanto, A Sentinela continuou a ser impressa ininterruptamente, e até em 1 Janeiro de 1919 uma assembléia dos accionistas da Sociedade Torre de Vigia em Pittsburg reelegeu Rutherford como presidente. Se a obra estava estagnada, já o estava nos meses anteriores á sentença, e isso deveu-se sobretudo ás querelas internas e ao êxodo maciço de membros que se seguiu á tomada forçada do controle da Sociedade por Rutherford e seus capangas e ás subsequentes purgas de ‘opositores’ contestatários que ocorreu após a morte de Russell.
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A profecia de Revelação 11:11 diz que ao fim de três dias e meio “as duas testemunhas” são ressuscitadas, para grande temor dos seus inimigos. Como interpreta a Organização este trecho? Naturalmente, aplica isso ao momento em que Rutherford e os demais directores da Sociedade são libertos sob fiança da prisão em Atlanta, em Março de 1919 [e posteriormente exonerados das acusações em Maio de 1920]. Estabelecendo, novamente sem qualquer justificação ou nexo lógico, uma associação entre Revelação 11:11 e a visão do “vale dos ossos secos” de Ezequiel 37:1-14, o Corpo Governante escreveu: “Estas duas profecias, em Ezequiel e em Revelação, tiveram o seu notável cumprimento moderno em 1919, quando Jeová devolveu vida vibrante ás suas testemunhas ‘mortas’. Que choque isso foi para os seus perseguidores! (...) os ministros cristãos, que eles haviam tramado lançar na prisão estavam novamente livres e foram mais tarde completamente inocentados.” - Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo! (Ed. 2006) p. 169. Pensemos um pouco: De acordo com a interpretação do Corpo Governante, a “morte” das “duas testemunhas” aconteceu em Junho de 1918; ao passo que o reavivamento delas cumpriu-se com a libertação da prisão, que aconteceu em Março de 1919. Entre um e outro acontecimento mediaram 9 meses. Mas, não diz a profecia (11:11) que o tempo em permaneceram mortas foram “três dias e meio”? E não interpretou a organização os 1260 dias em que as “duas testemunhas” pregaram (11:3) como um período literal de três anos e meio (seguindo a regra de um dia por um ano: 1260 dias / 360 = 3,5 anos). Então e agora os 3,5 dias já não seguem a regra de um dia por um ano e mágicamente correspondem a 9 meses?? Com que justificação? Com que lógica? Resposta: Nenhuma. A organização simplesmente espera que aceitemos sem contestar que agora 3,5 dias não são nem um período literal de 84 horas nem um período se 3,5 anos mas um período simbólico de ... 9 meses. Faz sentido? Não? Pois, não admira.... Vejamos: Que motivos existem para pensarmos que a libertação da prisão de J.F. Rutherford e demais directores da Sociedade Torre de Vigia implica que foram escolhidos como o “escravo fiel e prudente” que seria designado para produzir alimento espiritual daí em diante ás ordens do amo Jesus Cristo? O Corpo Governante, no seu mais recente entendimento, escreve:
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“[Jesus] e seu Pai vieram e inspecionaram o templo, de 1914 ao começo de 1919. (...) Eles ficaram contentes ao ver o pequeno grupo de leais Estudantes da Bíblia, que mostravam amor verdadeiro a Jeová e à sua Palavra. É verdade que esse grupo ainda precisava ser purificado. Mas os Estudantes da Bíblia foram humildes e se deixaram corrigir durante um período de dificuldades. Eles eram cristãos verdadeiros, o trigo da ilustração de Jesus. Em 1919, Jesus escolheu irmãos ungidos qualificados que estavam nesse grupo para servir como o escravo fiel e discreto e lhes deu a responsabilidade de cuidar dos domésticos.” – ws13 15/7 p.20-25 De acordo com a interpretação da Organização, durante o período que mediou entre 1914 e 1919, os Estudantes da Bíblia foram refinados e corrigidos. Findo esse tempo de provação e refinamento, a liderança da Organização estava ‘purificada’ e ‘qualificada’ para servir como “escravo fiel e prudente” e dar o alimento espiritual no tempo apropriado aos “domésticos”. Será que isso corresponde aos factos? Será que imediatamente após 1919 o “escravo” estava a dar o “alimento espiritual” apropriado conforme a votade do Senhor? Na realidade, os factos mostram que, nem os Estudantes da Bíblia estavam mínimamente conscientes do momento histórico que estavam a viver; nem a libertação da prisão é evidência de que tenham recebido um qualquer favor especial da parte de Deus ou de Cristo (aliás, eles foram libertados por causa de erros processuais, e não por terem sido considerados inocentes; o final da Guerra deixou as autoridades com pouca vontade de repetir o processo, pelo que ele foi anulado); nem a libertação da prisão implicou que deixassem de pregar falsidades e de impor essas falsidades como “verdades” ás Testemunhas de Jeová, conforme veremos a seguir. O ponto a reter desta parte é o seguinte: a justificação bíblica para a designação do Corpo Governante como o “escravo fiel” em 1919 é mínima, e mesmo essa é irracional, ilógica; e “martelada” para se acomodar a uma narrativa distorcida de eventos eventos que rodearam a história das Testemunhas de Jeová entre 1914-1919.
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6. Um Escravo Purificado e Designado Para Servir Alimento Espiritual de Qualidade? Uma das curiosas (mas nada inocente) implicações do novo entendimento de 2013 sobre o “escravo fiel” é o seguinte: uma vez que o escravo só passou a dar ‘alimento no tempo apropriado’ sob a supervisão do Senhor a partir de 1919, significa isto que a Organização pode agora descartar toda a obra de C.T. Russell (que faleceu em 1916, e, como tal, nesta óptica, nunca fez parte do ‘escravo’) como não tendo sido produzida sob a supervisão directa do Senhor, e portanto, não devendo ser tomada demasiado a sério, como pouco mais do que uma mera curiosidade histórica. E assim, sem cerimónia, a Sociedade Torre de Vigia renega o legado do seu fundador. O que a organização pretende é prestar homenagem àquele que verdadeiramente é o fundador das Testemunhas de Jeová: Joseph Franklin Rutherford. Afinal, C.T. Russell foi o fundador do movimento dos Estudantes da Bíblia, mas esse movimento entrou em crise logo após a sua morte, com cerca de três quartos dos seus membros a abandonarem a tutela da Watchtower Society quando Rutherford se apoderou da presidência por meios ínvios, invalidando o testamento de Russell. Nesses momento histórico entre 1917 e 1919, os dissidentes fundaram vários movimentos cismáticos independentes que ficaram mais ou menos fiéis ao legado doutrinal de Russell entre os quais os o Pastoral Bible Institute, o Berean Bible Institute, o Steadfast Bible Students Association, o Friends of Man, e o Layman’s Home Missionary Movement. Anúncio do discurso “O Mundo Acabou! Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão”, or J.F. Rutherford
A partir de 1919, sob a enérgica e
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tempestuosa liderança de Rutherford, uma nova religião foi sendo forjada sob a capa aparentemente contínua da Sociedade Torre de Vigia. Um após outro, os ensinos de Russell foram sendo abandonados, e apenas uns poucos restaram. Rutherford tinha menos carisma pessoal do que Russell, era truculento, vociferante e conflituoso, e a sua figura imponente intimidava os demais. Além de que era dado á bebida e á vulgaridade. No entanto, escrevia com muito vigor e convicção e poder de argumentação, características que tinha desenvolvido como advogado. Mas faltava a Rutherford o talento para a interpretação profética que Russell tinha tido, e para isso confiava no seu primeiro delfim, Clayton Woodward como a pessoa a quem escutava na formulação de interpretações de profecias. Woodward, por seu turno era um personagem estranho, fantasioso, inclinado para o ocultismo e para a medicina não convencional. Foi Woodward que escreveu algumas das mais estranhas páginas alguma vês publicadas pela Sociedade: O livro O Mistério Consumado (em co-autoria com George Fisher) e inúmeros artigos absurdos e ridículos nas revistas A Idade de Ouro e Consolação, das quais foi editor responsável. Pressionado pela necessidade de ter um êxito espectacular para fazer esquecer o fiasco das predições para 1914, Rutherford elegeu mais uma “data marcada” para o Armagedom: 1925. Em consequência, o discurso “O mundo terminou! Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão!” foi lançado em 1918 e tornou-se central nos ensinos da Sociedade Torre de Vigia, ao passo que apontava para o ano de 1925 como o tempo em que a Cristandade seria destruída, a terra seria restaurada a um paraíso, os mortos fiéis da antiguidade seriam ressuscitados, e os judeus seriam restaurados á Palestina (Sionismo). Porém, 1925 passou e nada do que foi predito veio a acontecer. Marcado
Programa do Congresso de 1931 em Columbus, Ohio. As letras JW eram o prenúncio da adopção do novo nome Jehovah’s Witnesses Testemunhas de Jeová
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pelos fracassos das suas predições, que levaram a mais cismas e ao decréscimo de aderentes, Rutherford percebeu que o “seu” ramo dos Estudantes da Bíblia estava desacreditado e prestes a caír na total irrelevância. Algo precisava ser feito para mudar o curso desastrado da Sociedade Torre de Vigia. Rutherford estava muito preocupado em se demarcar dos restantes movimentos de Estudantes da Bíblia que entretanto se tinham afastado da Sociedade Torre de Vigia. Acessorado pelo jovem teólogo em ascenção Frederick Franz, iniciou em 1926 o caminho para a mudança de marca do seu movimento religioso. Em 1926, com um artigo no número de 1 de Janeiro de A Sentinela intitulado “Jehovah”, foi dado o primeiro passo para o destaque dado ao nome Jeová. Em 1929 o livro Profecia deu mais um passo marcante nesta estratégia de diferenciação suportada no nome Jeová, ao afirmar que a principal doutrina do Cristianismo era a vindicação do nome de Deus, que inclusivamente superava em importância a bondade e a graça de Deus para com a humanidade. Em 1931, no congresso em Columbus, Ohio, os Estudantes da Bíblia adoptaram o novo nome Testemunhas de Jeová. Estava consumado o rebranding da religião pregada pela Sociedade Torre de Vigia. Um facto curioso é que o nome “testemunhas de Jeová” não foi primeiro cunhado por Rutherford. O teólogo e pastor fundamentalista Harry A. Ironside (1876-1951), associado ao movimento Plymouth Brethren, desde pelo menos 1909 usava o termo “testemunhas de Jeová” para identificar os membros do seu rebanho nos seus sermões, de acordo com Isaías 43:10. Nem neste assunto a Sociedade Torre de Vigia foi original. Um dos mais significativos e duradouros legados de Rutherford, é a doutrina da “organização teocrática”, que ainda hoje é um termo amplamente usado pelo Corpo Governante para se referir á Organização das Testemunhas de Jeová como um todo. A Sociedade explicava assim o termo em 1940: “Teocracia é a prometida administração dos assuntos terrestres por Jeová Deus, o Criador, através de um Rei designado para esse propósito, Cristo Jesus. (...) A teocracia é presentemente administrada pela Watchtower Bible and Tract Society, da qual o
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juíz Rutherford é o presidente e gestor principal.” – Consolação 4/9/40, p. 25. O crescimento da organização foi sofrível até ao virar da década de 1940 (pelo menos tendo em conta as horas gastas e a literatura distribuída) porque acontecia que saíam quase tantas pessoas como as que eram baptizadas. Por vários motivos: A personalidade conflituosa e autoritária de Rutherford, o fiasco de 1925, e os constantes conflitos com os anciãos nas congregações que resistiam á perda da sua autonomia novo arranjo “teocrático” centralizador sediado em Brooklyn, cuja justificação não era muito convincente do ponto de vista doutrinal. Afinal, até á sua morte Russell tinha advogado que a existência de uma organização centralizadora era contrária á noção de liberdade cristã: “Uma organização visível estaria em desarmonia com o plano divino.” –w 1/1894 p. 1743 “Cuidado com “organização”; é inteiramente desnecessária” – w1895 13/9, p.1866 “Tenhamos em mente que a Sociedade não exerce autoridade, não faz criticas, mas simplesmente oferece conselho; e faz isso no interesse da Causa do senhor e do Seu povo.” – w1916 15/8 p. 248 Rutherford tinha outras ideias. O seu conceito de “teocracia” e “organização teocrática” foi introduzido brutalmente e sem grandes subtilezas doutrinais ou fundamentação bíblica: “Devem as companhias [congregações] do Povo de Deus eleger bispos e superintendentes na igreja? Não. A razão é que o espírito de Deus, ao agir como conselheiro e advogado, suscitou alguns como superintendentes dentre os anciãos, mas desde a volta do Senhor ao templo de Deus, o Espírito Santo deixou de agir como conselheiro e advogado. O próprio Senhor Jesus está agora a dirigir a Organização.” – w32 9/1 p. 232 Portanto, o argumento de Rutherford era: Até ao momento da inspecção de Cristo ao Templo, o Espírito Santo estava envolvido na eleição dos anciãos, conforme Russell havia ensinado. Mas agora o Senhor tinha substituído o Espírito Santo nessa função, porque ele estava a dirigir pessoalmente a Organização, e Cristo opera, não de forma democrática,
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mas de forma autoritária, usando o presidente da Sociedade Torre de Vigia. (ver w32, 15/9 p. 266). Em muitas congregações, os anciãos perceberam a jogada de Rutherford por detrás desta mudança doutrinal, e opuseram-se vigorosamente a ela. Ainda hoje, esses anciãos são denegridos nas publicações da Sociedade, que lhes chama prejorativamente de “anciãos electivos”. No entanto, a vontade férrea do presidente da Sociedade prevaleceu, e tais anciãos acabaram por ser removidos e substituídos por outros fiéis á “teocracia” hierarquizada de Rutherford. No entanto, esas longas tensões internas dividiram o rebanho e muitas Testemunhas, desiludidas com as mudanças radicais que estavam a observar, abandonaram a religião nestes anos. Por volta de 1938, de acordo com A.H. Macmillan [membro da directoria da Sociedade a partir de 1918 até 1966] apenas sobrava um punhado de seguidores originais de Russell entre os seguidores de Rutherford. Todos os outros se tinham afastado, juntaram-se a movimentos russelitas ou tinham sido simplesmente corridos. Rutherford não conseguia competir com a memória da personalidade magnética e carismática de Russell, mas teve a inteligência de perceber que teria mais êxito se afastasse o foco da devoção do rebanho da sua pessoa para a “organização” que representava os interesses do Reino de Deus na terra. Não é de admirar, pois, que foi durante o consulado de Rutherford que se abandonou a crença generalizada de que Russell era o “escravo fiel” de Mateus 24:45. Não só o novo presidente da Sociedade estava desejoso de se livrar do fantasma do seu sucessor, que em virtude do atribulado processo de sucessão pairava sempre como uma nuvem negra sobre a sua cabeça, como procurava legitimar um novo paradigma de governação da Organização, mais centrado no papel colectivo da directoria da Organização do que na sua pessoa - embora decididamente Rutherford fosse um autocrata que tudo decidia e que esmagava quem quer que se atravessasse no seu caminho. (Que o diga o advogado da Sociedade Olin Moyle, que foi desassociado sumáriamente e vilipendiado publicamente e por nome por Rutherford nas páginas de A Sentinela porque teve o atrevimento de chamar á atenção de Rutherford
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para o seu flagrante problema de alcoolismo. Moyle processou Rutherford por difamação e ganhou o processo.) Foi, pois através da doutrina da “teocracia” que Rutherford chamou a si o controle total e centralizado de todos os assuntos e detalhes das congregações em todo o mundo (que eram, por determinação de Russell, semi-autónomas), ao se intitular como o administrador de topo da hierarquia da organização teocrática, um pouco ao estilo de um monarca ‘por direito divino’. A pouco e pouco, as Testemunhas foram convencidas que a submissão a Deus e a Cristo dependia da total submissão e apoio incondicional á organização que os dizia representar. Essa mentalidade persiste até aos nossos dias. É esse o legado principal de Rutherford, pelo o qual o Corpo Governante actual lhe presta homenagem com o “novo entendimento” de 2012/2013 sobre o “escravo fiel e prudente”.
J. F. Rutherford discursando em 1919. A sua doutrina da “teocracia” justificou a concentração do poder autoritário total na pessoa do Presidente da Sociedade , e hoje no Corpo Governante das Testemunhas de Jeová.
De acordo com o entendimento anterior a 2013, Cristo teria voltado em 1914, inspeccionado o templo em 1918 e encontrado o pequeno grupo de Estudantes da Bíblia associados com Russell a produzir e distribuir o “alimento espiritual no tempo apropriado”, e recompensou-os em 1919 por designá-los sobre “todos os seus bens”. Neste cenário, os ensinos pré-1918 assumiam uma grande importância, porque era com base nesses ensinos que o amo os aprovava e recompensava. No entanto, o paradigma muda radicalmente com o novo entendimento de 2013.
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Agora, os ensinos pré-1918 deixam de ser o critério pelo qual o “escravo” é avaliado, uma vez que esses ainda não eram “alimento espiritual no tempo apropriado”, que só passou a ser dado em 1919. Então qual foi o critério? O artigo que explana o novo entendimento não podia ser mais vago e até desconcertante: “[Jeová e Jesus] ficaram contentes ao ver o pequeno grupo de leais Estudantes da Bíblia, que mostravam amor verdadeiro a Jeová e à sua Palavra. É verdade que esse grupo ainda precisava ser purificado.” ws13 15/7, p.20-25 Uma preplexidade levantada pelo novo entendimento é esta: Se em 1919 o “escravo” passou a produzir alimento espiritual no tempo apropriado sob a supervisão do Senhor, no mínimo ele teria de estar consciente dessa designação na época em que ela occoreu, e não muitas décadas (quase 100 anos) depois! Mas, estava a liderança da Sociedade Torre de Vigia consciente de que Cristo os tinha incumbido da designação de prover alimento espiritual até ao irrompimento da “grande tribulação”? Não! Em 1919, os Estudantes da Bíblia acreditavam que: @
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Russell era o “escravo” de Mateus 24:45 (e ele tinha morrido e recebido a sua recompensa espiritual, portanto, não havia mais “escravo”) Cristo já havia retornado em 1874 O Reino tinha sido estabelecido no céu em 1878 A “grande tribulação” teve início em 1914 O Armagedom ocorreria em 1920 e o Reino seria estabelecido na terra em 1925
A afirmação de que o Corpo Governante da Sociedade Torre de Vigia foi designada em 1919 é contrariada pelos factos. Eles não estavam minimamente conscientes de que tinham recebido uma designação. Como é que alguém pode ser designado para algo sem ter a mínima percepção de que está a aceitar essa designação? Mais: De que forma aqueles Estudantes da Bíblia “mostravam amor verdadeiro a Jeová”, se só a partir de 1926 é que o nome de Jeová, que até então era pouco utilizado nas publicações, começou a merecer amplo destaque? E que dizer do “amor á Palavra de Deus”? Sem dúvida que $1
aquele grupo estudava com afinco as Escrituras, mas nesse assunto não eram mais diligentes do que outros grupos cristãos, em particular os que surgiram na esteira do movimento do Segundo Grande Reavivamento no início da terceira década século XIX nos EUA, que estavam obcecados com o assunto da volta de Cristo, e que produziram pregadores notáveis como William Miller (Adventismo), Barton Stone, Thomas e Alexander Campbell (Movimento Restauracionista, de onde saíram também os Mórmons, Baptistas e Shakers), e John Wesley, Phoebe e Walter Palmer (Metodismo e Movimento da Santidade). Todos eles amavam a Bíblia tanto quanto Russell e seus associados. Sem falar, naturalmente, das igrejas cristãs tradicionais, tanto nos EUA como em outras partes do mundo. Entre estas outras igrejas, menciono dois casos curiosos: 1) A congregação do pastor Pentecostal Joshua W. Sykes. Este pastor, com grade actividade na Califórnia, considerado um excêntrico nos meios pentecostais, já desde 1908 que advogava a integração racial na sua congregação (brancos e negros sentados lado a lado; A Watch Tower publicou artigos racistas advogando a superioridade da raça branca e a inferioridade da raça negra até á década de 1940 e só na década de 1970 se tornou globalmente uma congregação racialmente integrada); Sykes foi preso durante a primeira guerra mundial por fazer campanha anti-guerra e por proibir os membros da sua congregação de participar de qualquer forma no esforço de guerra (Rutherford foi também preso, mas apelou aos Estudantes da Bíblia que comprassem títulos do tesouro norte-americano para ajudar no esforço de guerra, e só durante a Segunda Guerra Mundial a Sociedade adoptou uma postura estritamente neutral quanto ao esforço de guerra); as crianças da sua congregação foram expulsas das escolas por se recusarem a saudar a bandeira dos EUA e recitar o Juramento de Fidelidade, que acreditavam ser um acto de idolatria; Sykes era anti-trinitarista; usava o nome “Jeová”; pregava o iminente advento da volta de Cristo; ensinava que os membros da sua igreja não eram cidadãos dos EUA, mas cidadãos do Reino dos Céus (algo que a Sociedade advoga desde a década de 1950, mas não levando essa doutrina até ás suas últimas consequências); Sykes ensinava que Jeová, o Pai, e Jesus, o Filho, são pessoas diferentes. Porque não foi o grupo de Skyes o escolhido em
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1919, quando já ensinava doutrina que as Testemunhas de Jeová só vieram a adoptar mais tarde? 2) A Iglesia Ni Cristo, de Félix Y. Manalo. Fundada em 1914 nas Filipinas por um ex-adventista, esta igreja tem um conjunto de crenças notavelmente parecidas ás das Testemunhas de Jeová do fim do século XX, incluindo a rejeição da Trindade, a rejeição da crença na alma imortal, a crença no Reino Milenar de Cristo; praticam o baptismo por imersão total, empenham-se em proselitismo, não comem sangue, acreditam na ressurreição, aceitam que o nome de Deus é YAHWEH e as semelhanças continuam ... eles já existiam quando Cristo supostamente inspeccionou o templo. Porque não foram eles os escolhidos? A pergunta inevitável é: Se os critérios que levaram á suposta escolha da Watchtower Society e da sua liderança eram apenas o “amor a Jeová” e o “amor á sua Palavra”, com a agravante que “ainda precisavam de ser purificados” – então, em quê eles eram realmente tão melhores ou diferentes das outras igrejas cristãs, grandes ou pequenas, em 1918, que lhes merecesse essa tão elevadíssima distinção de se tornar “o único e exclusivo canal de Deus para a terra” e “organização visível de Jeová” com a incumbência de “anunciar as boas novas do Reino” a todo o globo terrestre e produzir “alimento espiritual” de qualidade superior a todos os outros? A resposta é: Não mereciam. Trata-se apenas de afirmações pretensiosas e vazias de fundamento que procuram justificar a reivindicação de serem os únicos detentores da “verdade”. Como disse o ministro da propaganda do partido nazi: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade” – Joseph Goebbels A repetição ad nauseum da mentira ‘nós fomos escolhidos por Deus’ torna-se verdade na mente das Testemunhas de Jeová á força de ser repetida tantas vezes. A mente fica entorpecida e acrítica e passa a aceitar essa afirmação como uma verdade estabelecida. É o poder da propaganda. E a Sociedade Torre de Vigia sabe muito sobre técnicas de propaganda. É o core business da sua empresa religiosa.
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Mas, mesmo que aceitemos que os ensinos e crenças dos Estudantes da Bíblia nos anos anteriores á inspecção do Templo em 1914-1918 não contam como critério de selecção, o que dizer dos ensinos e crenças dos Estudantes da Bíblia / Testemunhas de Jeová que foram sendo proclamados após a “purificação” e “refinamento” de 1914-1918? Foram eles “alimento espiritual no tempo apropriado”, reflectindo a perfeita supervisão de Jeová e de Jesus Cristo sobre a organização? Uma vez purificados e aprovados em 1919, será que esse pequeno grupo de cristãos encarregues de alimentar a muitos passou a promover ensinos e crenças estáveis e confiáveis? Vejamos.
7. Uma Impressionante Produção de Alimento Espiritual Imprestável O livro O Mistério Consumado Em 1919, a publicação mais usada pela Organização era ainda O Mistério Consumado, um comentário versículo por versículo dos livros de Revelação e Ezequiel, escrito no decurso de 1917 por Woodward e Fisher, e publicado em 1918, alegadamente a partir de anotações dispersas deixadas por Russell, e que era anunciado como o “sétimo volume dos Estudos Nas Escrituras” e “obra póstuma de CT Russell”. Descontando o facto de ambas as afirmações serem patentemente abusivas e oportunistas, que bom alimento espiritual continha este livro? Coisas como estas: @ @ @ @
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O Pastor Russell é o “escravo fiel” de Mateus 24:45 (p.4) e o “secretário com o tinteiro” de Ezequiel 9 (p. 418-420) O “restante” será levado para o céu em 1918 (p. 64) Os sete mensageiros de Revelação são Paulo, João, Ário, Waldo, Wycliffe, Lutero e Russell. (p. 64 ilustração) As “sete trombetas” de Revelação 8:2 são os Luteranos, os Anglicanos, os Presbiterianos, os Baptistas, os Metodistas, a Aliança Evangélica e os Estudantes da Bíblia. (p. 64, gráfico) Jesus começou oficialmente a reinar em 1878 (p.66)
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Lista de textos bíblicos que provam que a segunda volta de Cristo ocorreu em 1874 (p. 68-71) Jó 40:15-25 – O “beemote” é a máquina a vapor (p. 83) Jó 42:1-19 – O “leviatã” é a locomotiva a vapor (p. 84) Naum 2:3 – Os homens valentes são o condutor da locomotiva e o bombeiro (p.93) O Cavaleiro no cavalo branco de Revelação 6:2 é o Bispo de Roma, que é o “representante pessoal de Sanatás” (p. 106) O “grande terramoto” de Revelação 6:12 é literalmente o terramoto de Lisboa de 1755, e simbolicamente a Revolução Americana (p.119) A Palestina será restabelecida em 1925 (p. 125) Os demónios irão invadir as mentes dos membros da cristandade e irão conduzi-los á destruição em 1918 (p. 128) A terra foi criada há 48.000 anos atrás (p. 138) Russell continuou a supervisionar a obra da colheita após a sua morte (p. 144, 256) O “tempo do fim” começou em 1799 (p. 171) @ A “grande tribulação” começou em 1914 (p. 178) @ Miguel Arcanjo é o Papa de Roma (p. 188) @ Revelação 14:20 contém profeticamente a distância exacta entre Scranton, Pennsylvania (onde o livro foi escrito) e o Betel de Brooklyn, a saber 137,9 milhas (p. 230) @ As repúblicas irão desaparecer em 1920 e as nações serão subvertidas pela anarquia (p. 258) @ A “voz dos céus” de Revelação 18:4 é a voz da Watchtower (p. O Mistério Consumado ( 1917) 276) Note o símbolo pagão egípcio @ O Deus sentado no trono em do disco solar alado impresso Revelação 19:4 é Jesus (p. na sua ca a. 290)
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Deus é quem assume total responsabilidade pelos volumes Estudos Nas Escrituras (p. 295) De acordo com Revelação 21:17, o número total de ‘ovelhas’ no final dos mil anos será de 20,736 biliões (p. 323) O Dia da Vingança de Deus começou em 1914 e terminará em 1918 (p. 404) De acordo com Ezequiel 17:22 e 20:42, o Sionismo e o Judaísmo irão prosperar e dominar na terra na fase “terrestre” do Reino, uma vez que os seus líderes serão Abraão, Isaque e Jacó, entre outros por ocasião da sua ressurreição (p. 450, 462) A “primeira ressurreição” ocorreu em 1878 (p. 539) Ezequiel 40:1 mostra que o Reino será estabelecido na terra 13 anos após 1918 (p. 569)
Estas são apenas algumas “pérolas de sabedoria” e “conhecimento exacto” contidas no livro O Mistério Consumado, mas o livro ainda contém mais gemas semelhantes a estas. Ainda em publicações recentes a organização fala deste livro num tom bastante elogioso. O livro Revelação Climax (p. 208) mencionou que este livro fazia parte do cumprimento das pragas de Revelação capítulo 11. Olhando para a quantidade de disparates, falsas predições e ensinos que entretanto foram abandonados, pode honestamente dizer-se que este livro foi “alimento espiritual no tempo apropriado”? E quem o imprimiu e distribuiu por anos após 1919 – era realmente um “escravo fiel e prudente” a actuar sob a supervisão directa de Jeová e de Cristo? 1925 - Milhões Que Viviam (em 1918) Jamais Morreriam ? A partir de 1918 a Organização começou a anunciar que “Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão”, na perspectiva que o Reino de Deus seria estabelecido na terra no ano de 1925, que Jerusalém seria a capital do Reino de Deus e que em seguida se daria a ressurreição dos notáveis servos justos de Deus do passado. “O ano de 1925 é uma data claramente e definitivamente marcada nas escrituras, ainda mais claramente do que 1914...” – w24 15/7 p.211
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Em 1929, com fundos provenientes de contribuições voluntárias, e o generoso patrocínio de um Estudante da Bíblia chamado William P. Heath Jr., herdeiro da fortuna de um dos fundadores da CocaCola e que se veio a casar com Bonnie Boyd, a assistente pessoal de Rutherford, foi Rutherford posando com um dos Cadillacs adquirida em San Diego, em Beth Sarin para uma reportagem de um jornal de San Diego Califórnia uma propriedade de luxo ao qual foi dado o nome de Beth Sarim [“casa dos príncipes”], bem como dois luxuosos Cadillacs que supostamente serviriam para providenciar acomodações condignas a homens como o Rei Davi, Abraão, Moisés, Josué, entre outros. A própria escritura de aquisição da propriedade refere que a propriedade da casa é doada a esses homens do passado. Mas ... se a capital do Reino seria em Jerusalém, para quê alojar os “príncipes” em San Diego, na Califórnia? Menos conhecido é o facto de que a Organização comprou uma segunda propriedade muito próxima de Beth Sarim, á qual chamou de Beth Shan; esta propriedade, com Vista aérea da propriedade de Beth Shan uma área muito superior a Beth Sarin, compunha-se de uma grande residência, quinta, estábulos e uma pequena pista de aviação em terra batida. Debaixo de um desses estábulos foram construídos dois “bunkers” anti-bombas. Ainda hoje não é claro qual era o propósito para o qual foi adquirido Beth Shan, mas a construção do bunker é consistente com o ensino de que, antes do Armagedom haveria um período de “grande tribulação” e anarquia; possivelmente Rutherford e os directores da Sociedade planejavam esconder-se ali até que o Armagedom estivesse concluído.
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Na realidade o único “principe” que alguma vez utilizou Beth Sarin e se fez transportar nos luxuosos Cadillacs foi o próprio J. F. Rutherford. Ele havia contraído uma pneumonia grave e só um dos seus pulmões funcionava e o seu médico o havia aconselhado a passar o maior tempo possível no ameno clima da Califórnia. A partir de 1929, Rutherford iria passar os invernos a trabalhar em Beth Sarim. Após a sua morte em 1942, a Sociedade decidiu vender as propriedades de São Diego, porque ‘já haviam cumprido o seu propósito’. Passaram 98 anos desde 1918; Será que existem na terra pelo menos dois milhões de pessoas vivas que tenham 98 anos de idade? Estima-se que em 2015 o número de pessoas centenárias em todo o mundo era de 451.000. Parece bastante seguro dizer, mesmo do ponto de vista meramente aritmético, que a predição de Rutherford foi uma falsa profecia, porque o tempo se encarregou de demonstrar que não se cumpriu. Pergunte-se: O fiasco de 1925 é evidência de um profeta que falou em nome de Jeová, ou de um falso profeta? Será que um “escravo fiel e discreto” que produz e distribui “alimento espiritual no tempo apropriado” sob a supervisão directa do Senhor iria produzir falsa profecia? O Corpo Governante quer fazer as Testemunhas de Jeová crer que isso é possível. Mas lá na década de 1920 muitos abriram os olhos para a realidade e abandonaram a organização. Em 1925 participaram na comemoração 90.434 pessoas, mas em 1928 a assistência foi de apenas 17.380. Ou seja, cerca de 80% dos Estudantes da Bíblia perceberam o logro e desligaram-se da Sociedade Torre de Vigia. Hoje, o Corpo Governante conta com a passagem do tempo para fazer esquecer e branquear esses disparates que apenas servem para demonstrar á saciedade que esta é uma organização de homens com quem Deus e Cristo nunca tiveram nada que ver. Armagedom em 1941 – Possívelmente agitado por pressentir que estava perto da morte (de cancro do cólon) e desejando estar vivo para ver a batalha do Armagedom, Rutherford começou a promover a idéia de que o final do sistema estava iminente Foi então dito: “1940 é o ano mais importante até á data, porque o Armagedom está iminente. Compele todos os que amam a justiça a envidar todos os esforços para anunciar a Teocracia enquanto esse privilégio ainda está disponível.” 45
(Informante 4/40 p.1 inglês) . Em 1941, o livro Filhos foi publicado. Nele se advogava que, em vista da iminência do Armagedom, as Testemunhas deveriam adiar quasquer planos para casar e ter filhos neste velho sistema de coisas. Comentando o lançamento do livro por Rutherford no congresso de 1941, foi escrito: “Ao receberem o presente [o livro, das mãos de Rutherford], as crianças marcharam com ele nas mãos; não era um brinquedo ou objecto de brincadeira, mas um instrumento providenciado pelo Senhor para um trabalho mais eficiente nos meses que restam até ao Armagedom.” - w41 15/9 p.288 inglês Rutherford morreu em 1942 sem ver o seu desejo realizado, mas mais uma vez, a organização provou ser um falso profeta. E quem tomou a decisão de se privar de casar ou ter filhos? Paciência… Armagedom em 1975 – Entre 1966 e 1975, as publicações da Sociedade Torre de Vigia repetidamente indicaram de modo implícito que o Armagedom chegaria em 1975. (Ver Vida Eterna Na Liberdade Dos Filhos de Deus p. 26-30; g66 8/10 p. 19-20; w66 15/10 p. 629-631; km 3/68 p. 4; w68 15/8 p. 494; w70 1/5 p.273; g71 8/10 gráfico; w74 15/12 p.766; w75 1/5 p. 285 inglês) Discursos feitos por representantes da Sociedade em congressos de distrito em 1967 e 1968 explícitamente Frederick W. Franz foi o mencionaram Outubro de 1975 responsável pela especulação ao como a data do Armagedom. Ao redor da data de 1975 invés de conter o entusiasmo que essa especulação provocou entre as Testemunhas, o Corpo Governante cavalgou a histeria e aproveitou essa histeria para aumentar o número dos seus membros, sem se importar muito com os efeitos na vida das Testemunhas de Jeová.: “Se você é um jovem, terá também de enfrentar o facto de que 43
você nunca chegará a envelhecer neste presente sistema de coisas (…) portanto, nunca chegará a realizar nenhuma carreira neste velho sistema de coisas. Se está no liceu e cogita obter instrução universitária, tal significará quatro, seis talvez oito anos ou mais até se graduar para uma carreira especializada. Porém, onde estará o sistema de coisas então? Estará bem próximo do seu final, se é que não terá terminado já! ” – g69 22/5 p.15 “Recebemos relatórios de irmãos que venderam as suas casas e propriedades e planejam terminar o resto dos seus dias neste velho sistema de coisas no serviço de pioneiro. Certamente esta é uma maneira excelente de gastar o curto tempo que resta antes do fim do mundo iníquo.” - km 5/74 p.3 inglês Quando 1975 passou e nada sucedeu, o desapontamento instalou-se e muitos abandonaram a Organização. Em vez de assumir a responsabilidade pela histeria colectiva, o Corpo Governante culpou as Testemunhas de Jeová por não seguirem o conselho de Jesus e estarem a servir a Jeová com uma data específica em mente. ( w76 15/7 p.440 inglês) Em vez de humildemente assumir que foi – mais uma vez – um falso profeta e que enganou os crentes, o Corpo Governante pelo contrário ensina que esse foi um tempo de peneiramento que mostrou quem realmente era um cristão genuíno. ( Proclamadores, p. 633 inglês) A “geração” de Mateus 24:34 - A Organização já mudou o entendimento sobre a “geração” pelo menos seis vezes. Até 1927 acreditava-se que a “geração” se aplicava á humanidade em geral e que a sua duração tanto podia ser de 100 anos (1780 a 1880) ou 36 anos e meio (1878 a 1914) - O Dia da Vingança (1897) p.604-605 inglês @ Em 1927 Rutherford mudou a aplicação da “geração” da humanidade em geral para os ungidos, e afirmou que abragia todo o tempo entre Jesus Cristo até ao Armagedom, ou seja, mais de 1900 anos. w27 15/2 p.62 @ Em 1951, Knorr reverteu o entendimento, aplicando o termo “geração” á humanidade em geral sobre quem cairia o julgamento. O início desta geração passou a ser 1914 e “inquestionávelmente” terminaria até que o “sinal” se cumprisse, dentro do período de vida das pessoas que estavam vivas antes de 1914. w51 1/7 p. 404 inglês @
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Em 1951 deu-se a entender que a duração da “geração” de 1914 era na realidade de 36,5 (37) anos, o que tornava á época, o Armagedom num acontecimento eminente para aquele mesmo ano. w51 15/3 p.179 inglês @ Quando 1951 passou sem incidentes, a duração da “geração” foi novamente estendida para 70 ou 80 anos. - w52 1/9 p. 542-543 inglês @ Em 1968 foi dito que uma pessoa com cerca de 15 anos á data de 1914 (portanto, nascida em 1899) poderia discernir o significado dos acontecimentos desse ano. Assim, adicionando 70-80 anos, o final da “geração” aconteceria durante a década de 70, o que permitia fazer com que a predição de que o Armagedom ocorreria em 1975 parecesse credível. - w68 1/5 p.272; g68 8/10 p.13 @ Em 1980 a idade para ter discernimento foi ajustada de 15 para 10 anos, mas excluindo bébés; (w80 15/10 p.31; SobrevivênciaPara Uma Nova Terra, p. 28) Aproximava-se o ano de 1984, 70 anos após 1914, e a “geração” atingiria então 80 anos. Uma série de Sentinelas foi publicada nesse ano focando-se no ano 1914, @
Capa de A Sentinela de 15 de Maio de 1984 com fotografias de Testemunhas de Jeová “ungidas” e a afirmação categórica de que essa geração não passaria sem vir o Armagedom. O último deles faleceu em 2008.
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incluindo uma onde na capa figuravam membros idosos do “restante ungido” e o título: “1914 – A Geração Que Não Passará”. Todos eles já faleceram. Em Maio de 1984 a “idade para ter discernimento” já não era um critério, e bébés passaram a ser incluídos no conceito de “geração” (w84 15/5 p.5 inglês). Em 1988 afirmou-se que uma geração poderia ser de 75 anos. Ora 75+1914 = 1989. A implicação disto é que o Armagedom poderia ocorrer até 1989. (g88 8/4 p.14) Em 1989 foi sugerido que a obra de pregação estaria terminada antes do ano 2000. Eventualmente a “geração que viu 1914” foi reduzida para um pequeno número de indivíduos de longevidade excepcionalmente longa. -w91 15/4 p.7 Em 1995 ocorre uma mudança de paradigma: a “geração” não mais tinha de obrigatóriamente abranger as pessoas que tinham nascido em 1914; simplesmente a geração de pessoas vivas em 1914 iria coincidir com outras gerações subsequentes que tinham sido contemporâneas desta primeira geração. E já não se refere aos “ungidos” mas a qualquer pessoa. Isto permite estender o conceito de “geração” cerca de 200 anos após 1914, sendo que o Armagedom poderá ocorrer a qualquer momento dentro deste período. w95 1/11 p.20; w95 15/12 p.30 inglês Em 2008 a “geração” voltou a ser aplicada aos ungidos, mas desta vez a partir do tempo de Cristo. - w08 15/2 p.23-24 Em 2010 a “geração” é de nova a geração que inicia em 1914, agora só dos “ungidos”, mas que coincide com a geração contemporânea seguinte que se sobrepõe por um tempo áquela primeira. - w10 15/4 p.10; w10 15/6 p. 5 inglês
Quantas mais cambalhotas doutrinais de interpretação profética terão ainda de acontecer antes de ficar claro para todos que os entendimentos proféticos da “geração” publicados por este “escravo” não são guiadas por orientação divina através do espírito santo, mas antes, são guiadas pela necessidade de salvar a todo o custo um mito fundamentado em cronologia irracional – a saber, que 1914 é a data do início do Reino de Deus por Cristo? A Bíblia mostra que o teste definitivo da credibilidade de um profeta é verificar se as suas profecias ou predições se cumprem. 46
“‘Se um profeta presunçosamente falar em meu nome alguma palavra que eu não lhe mandei falar ou falar em nome de outros deuses, esse profeta deverá morrer. Mas talvez você diga no seu coração: “Como saberemos que Jeová não falou essa palavra?” Quando o profeta falar em nome de Jeová e o que ele disser não acontecer nem se cumprir, então Jeová não falou aquela palavra. O profeta a falou presunçosamente. Você não deve ficar com medo dele.’ – Deuteronómio 18:20-22 A Bíblia diz a respeito de Jeová: “Desde o princípio anuncio o final, e desde os tempos antigos as coisas que ainda não foram feitas. Digo: ‘O que eu decidi ficará de pé. E farei tudo o que for do meu agrado.’(...) Eu falei e realizarei. Estabeleci o meu propósito e o cumprirei.” – Isaías 46:10, 11 Por incrível que pareça, o Corpo Governante tem a desfaçatez de argumentar, negando as Escrituras, que as profecias falhadas não são um sinal de falso profeta. Porquê? “Será que esta admissão de cometer erros os classifica [á Watchtower] como ‘falsos profetas’? De modo algum, pois um falso profeta não admite ter cometido erros.” - w72 1/11, p.644 inglês O argumento é, no mínimo, ridículo. É como alguém dizer: Eu roubei. Mas não sou ladrão, porque pedi desculpa. Que outros ensinos foram promovidos pelo suposto “escravo fiel e prudente” após 1919 sob a supervisão de Jeová e de Cristo que revelaram ser alimento espiritual de péssima qualidade? A Grande Pirâmide de Gizé foi construída sob a direcção divina e as suas medidas corroboram a cronologia bíblica relativa a 1914. Foi ensino reafirmado em 1922 (w22 15/6 p.187 ) e 1925 (w25 15/5 p.148); Em 1928 esse ensino foi abandonado. Agora a Grande Pirâmide era uma obra do Diabo. (w28 15/11 p.344) A questão da ressurreição dos sodomitas tem um historial 5H
hilariante. Russell acreditava que seriam ressuscitados (w1879 1/7 p. 8 inglês); Em 1955: Não vêm á ressurreição (w55 1/04, p. 200 inglês); Em 1965, vêm á ressurreição (w65 1/8 p. 479 inglês); Em 1967, não vêm á ressurreição (w67 1/7 p.409 inglês); Em 1974, vêm á ressurreição (g74 8/10 p.20 inglês); Em 1988, não vêm á ressurreição ( Revelação Climax p. 273 inglês); Em 1988 (no mesmo ano!) vêm á ressurreição ( Estudo Perspicaz V.2 p. 984); Em 1988 (no mesmo ano!!!) não vêm á ressurreição (w88 1/6 p.30-31); Em 1989, não vêm á ressurreição ( Poderá Viver Para Sempre p.179). Se a ‘luz do conhecimento’ é progressiva, porquê as constantes reversões no entendimento para entendimentos anteriores? Em que momento, afinal se tinha a verdade? Quem são as “autoridades superiores” de Romanos 13:1? Até 1929 eram os governos seculares (O Plano Divino das Eras p.250); Entre 1929 e 1952 eram Jeová e Jesus Cristo (w29 1/6 p.163 e w29 15/6 p.183); Em 1962, a Sociedade voltou ao ensino do tempo de Russell – as autoridades superiores são os governos (Caíu Babilónia A Grande! p. 548; w90 1/11 p.11). A mudança de entendimento em 1929 deveu-se á necessidade que Rutherford tinha de justificar a desobediência das Testemunhas ás leis seculares, como por exemplo no caso do consumo de álcool durante a Lei Seca (w29 p.121) e o serviço militar (w29 p.117 ), saudação á bandeira, cantar o hino nacional, proibição de pregar e outros. Quando a Página do Anuário de 1945 onde foi teologia da “sujeição relativa” publicado o Pacto Social revisto da foi mais tarde desenvolvida por Sociedade. Em destaque, a passagem ue advo a a adora ão de Jesus. Franz, já não havia necessidade de dizer que as “autoridades superiores” eram Jeová e Cristo, e regressou-se ao entendimento original de Russell. Mais uma vez, se o entendimento da verdade é 5"
‘progressivo’, porque voltar atrás e adoptar entendimentos que foram descartados por não serem mais “a verdade”? Adoração a Jesus. Até 1954, as Testemunhas de Jeová adoravam Jesus. “Sim, acreditamos que o nosso Senhor Jesus enquanto estava na terra foi de facto adorado e era apropriado que assim fosse. Era apropriado que o nosso Senhor recebesse adoração tendo em conta que era o filho unigénito do Pai e seu agente na criação de todas as coisas, inclusivamente, do homem.” ( Zion’s Watchtower 1898 15/7 p.216 inglês.) “Jeová Deus ordena a todos que adorem a Cristo Jesus porque Cristo Jesus é a expressa imagem do seu Pai, Jeová, e porque ele é o Agente Executivo de Jeová na prossecução do propósito de Jeová.” - w39 15/11 p. 339 inglês “Jeová fez dele [Jesus] infinitamente mais alto do que os anjos, ou mensageiros, e concordemente ordena-lhes que o adorem. (...) todos os que O adorem [a Jeová] devem igualmente curvar-se e adorar o Agente Principal de Jeová nessa Organização capital, nomeadamente Cristo Jesus, o seu co-regente no trono da Teocracia.” - w45 15/10 p. 313 inglês Em 1945, o pacto social da Sociedade Torre de Vigia foi alterado por Knorr para dizer: “Os objectivos desta Sociedade são: (...) enviar missionários, professores e instrutores da Bíblia e de literatura bíblica e para a adoração cristã pública do Deus Altíssimo e de Cristo Jesus”. Anuário 1945. Só em 1999 é que o pacto social foi emendado para remover esta referência á adoração de Jesus Em 1954, no entanto, a adoração a Jesus passou a ser considerada como idolatria e as orações não mais lhe deveriam ser dirigidas. (w54 1/1 p.31 inglês) Como é possível que, num assunto de capital importância como a adoração exclusiva de Jeová Deus o “escravo” tenha passado 36 anos a ensinar uma blasfémia? Aniversários e Natal – Apesar de admitir que 25 de Dezembro não era a data correcta do nascimento de Cristo, e que tinha origens pagãs, os Estudantes da Bíblia, inclusive os membros da família de Betel, celebravam o Natal. ( Zion’s Watchtower 1904 1/12 p.364 inglês) O
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Natal foi celebrado em Betel até 1926. Foi só em 1927 ( A Idade de Ouro 1927 14/12) e 1928 ( Anuário 1975 p. 147 ) que foi adoptada a posição actual, de rejeição da celebração do Natal por causa das suas origens pagãs. Os aniversários continuaram a cer celebrados entre as Testemunhas de Jeová pelo menos até á década de 1940 ( w40 1/1 p.16 inglês) Foi apenas em 1951 que foi claramente ensinado que a celebração de aniversários era inaceitável. (w51 1/10 p.607 inglês). Porque o “escravo fiel” promoveu celebrações que ofendem a Deus e a Cristo por décadas após 1919? Há muitos mais exemplos de ensinos que foram promovidos após 1919, e que foram completamente descartados ou revertidos, mas isso tornaria este artigo muito mais extenso do que já o é. Acho que o ponto fica demonstrado á saciedade: O registo mostra claramente que o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová não tem a mínima autoridade para se atribuir a si mesmo o estatuto profético de “escravo fiel e prudente”. O seu registo de predições falhadas e doutrinas falsas – antes e também depois de 1919 – não lhes confere a menor credibilidade. Juntamente com algum “alimento espiritual” saudável, produziram uma enorme quantidade de “alimento espiritual” podre e envenenado, demonstrando que não podem ter sido escolhidos por Deus e por Cristo para qualquer missão especial, em nenhum momento da história.
8. Uma Parábola, Não Uma Profecia
Quando Jesus pronunciou a parábola do “escravo fiel e prudente” em Mateus 24, ele fez isso no contexto mais amplo de uma profecia sobre o tempo do fim. Depois de ilustrar que o dono de uma casa, por ficar vigilante, não será surpreendido por um ladrão á noite, ele disse: “Vocês também mostrem-se prontos [outras traduções usam o termo “vigilantes”] porque o Filho do Homem vem numa hora em que vocês não imaginam.” (Mateus 24:44) É neste contexto da necessidade de estar vigilantes e prontos para a volta de Cristo que Jesus então passa a contar a parábola do “escravo fiel e prudente”: “Quem é realmente o escravo fiel e prudente, a quem o seu senhor encarregou dos seus domésticos, para lhes dar o alimento no
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tempo apropriado? Feliz aquele escravo se o seu senhor, quando vier, o encontrar fazendo isso! Digo a verdade a vocês: Ele o encarregará de todos os seus bens. “Mas, se aquele escravo mau disser no coração: ‘Meu senhor está demorando’, e começar a espancar seus coescravos, e a comer e beber com os beberrões, o senhor daquele escravo virá num dia em que ele não espera e numa hora que ele não sabe; ele o punirá com a maior severidade e lhe designará um lugar entre os hipócritas. Ali é que haverá o seu choro e o ranger dos seus dentes” – Mateus 24:45-51 Em primeiro lugar, o que é uma parábola? Uma parábola é uma pequena narrativa que usa alegorias para transmitir uma lição moral. As parábolas são comuns na literature judaica e oriental e consistem em histórias que pretendem trazer algum ensinamento de vida, e, como tal, possuem simbolismos, onde cada elemento da história tem um significado específico e se destinam a uma mais fácil memorização de um ensinamento. Jesus recorreu frequentemente a parábolas para ilustrar certos ensinos de uma maneira que fosse fácil de lembrar, mas ao mesmo tempo, de modo que apenas os iniciados e os genuínamente interessados pudessem compreender. Uma parábola, portanto, não é uma profecia. Antes, é uma lição de moral. Portanto, é preciso lembrar que a narrativa do “escravo fiel e prudente” não é em si mesma uma profecia, mas apenas uma parábola que se destinava a enfatizar um ponto que Jesus queria deixar bem claro no final do seu discurso profético acerca do “tempo do fim” e da sua “segunda vinda”: a necessidade de cada um dos seus discípulos estar vigilante e atarefado na obra que ele os encarregou, porque o seu regresso se poderia dar a qualquer momento no futuro, e eles não sabiam quando seria isso. A lição moral é: Na volta de Cristo os discípulos diligentes e vigilantes seriam recompensados, ao passo que os negligentes e displicentes seriam rejeitados. Esta era tão simplesmente a mensagem que Jesus pretendeu transmitir com esta narrativa e nada mais. Sendo que se trata de uma parábola alegórica, e não de uma profecia, é fútil e fantasioso procurar atribuír a esta narrativa um significado profético literal; um cenário em que Jesus intencionaria ensinar que existiria uma entidade literal que seria identificada com o “escravo”, que em um ano literal receberia uma designação literal para cuidar de outros escravos “domésticos” literais, por lhes providenciar alimento, e que, se 54
se mostrasse fiel e vigilante, tal escravo seria designado sobre todos os bens do amo. Na realidade, este exercício especulativo vai frontalmente contra a regra que Paulo invocou em 1 Coríntios 4:6: “Não vades além das coisas que estão escritas”. A interpretação que a Organização das Testemunhas de Jeová tem feito desta parábola tem imensos problemas de consistência interna. Por exemplo, entende-se que o “amo” é uma pessoa literal (Jesus Cristo); que o “escravo fiel e prudente” se trata de uma entidade literal (singular ou compósita, consoante as diferentes interpretações já propostas); que o momento da designação para providenciar alimento é um momento literal na história; que a designação para providenciar alimento no tempo apropriado é uma designação formal literal ; que os “domésticos” são um grupo de pessoas literais; que a designação posterior sobre todos os bens do amo é uma designação formal literal . No entanto, afirma-se que o alimento não é literal, mas um simbólico “alimento espiritual”; que os bens do amo não são bens literais mas “os interesses do Reino” no céu e na terra, que incluem bens tangíveis, mas também pessoas e doutrinas. E o “escravo mau” já foi tanto uma entidade literal (a cristandade, os apóstatas, consoante o momento) como uma entidade meramente hipotética. Estas inconsistências de interpretação são bem reveladoras da intenção que lhes está subjacente: interpretar as Escrituras de tal forma que elas “provem” uma determinada posição teológica préviamente assumida. Isto é um processo falacioso de interpretação chamado de “eisegese”, que se opõe ao método considerado mais credível, que é o de “exegese” [ou hermenêutica], que consiste numa análise crítica de um texto, levando em conta aspectos de linguagem, contexto, antecedents culturais do autor e do público para o qual foi escrito, o gênero literário, características gramaticais e sintáticas. Neste caso, o objectivo da interpretação espúria que é feita nas páginas de A Sentinela acerca da parabola de Jesus, é pura e simplesmente a busca da legitimação “bíblica” da autoridade do Corpo Governante sobre as Testemunhas de Jeová. No entanto, é importante reter o ponto: A narrativa de Jesus é apenas e só uma parabola, uma lição de moral. Não é uma profecia, nem nunca 55
foi proferida com a intenção de o ser.
9. Conclusão “Precisamos examinar, não apenas aquilo em que pessoalmente acreditamos, mas também aquilo que é ensinado por qualquer organização religiosa com a qual estejamos associados ... Se somos amantes da verdade, não há nada a temer desse exame.” – A Verdade Que Conduz Á Vida Eterna (1968), p. 23 Inglês Diz o adágio popular que é pela boca que morre o peixe. Bem se pode dizer o mesmo acerca da organização das Testemunhas de Jeová. Basta procurar na literatura que a própria Sociedade Torre de Vigia produziu desde 1879 para encontrar ali mesmo as evidências de ensinos, predições e tomadas de posição que foram sendo descartados porque mostraram ser falsidades embaraçosas. Jesus disse: “Os homens prestarão contas no Dia do Julgamento por toda a declaração sem valor que fizerem; pois pelas suas palavras você será declarado justo e pelas suas palavras será condenado.” – Mateus 12:36, 37 Ao longo da sua existência, a Organização publicou um impressionante acervo de “declarações sem valor” que foram sendo abandonadas e substituídas por novos entendimentos, os quais, frequentemente, também foram descartados e substituídos por outros. Embora figuras do passado como C.T. Russell, J.F. Rutherford e F.W. Franz sejam tratados com muita reverência, a verdade é que os seus escritos não mais são impressos e já não são disponibilizados pela Organização. Quem os quiser ler terá de procurar em colecções pessoais, em leilões na internet, e pode esperar ser criticado por andar a ler livros com entendimentos ultrapassados. Até as citações na literatura actual dos escritos desses tempos são extremamente limitadas e escolhidas a dedo para não causar embaraços. Mas, em cada momento da sua história, a Organização afirmou dogmaticamente que o que estava a publicar era “a verdade”; que é o 53
único canal que Deus usa para comunicar as verdades da Bíblia á humanidade; e que as publicações da Sociedade Torre de Vigia são produzidas sob a supervisão pessoal de Jeová e que têm um valor e autoridade semelhantes aos da Bíblia: “Jeová providenciou a sua organização visível, o seu “escravo fiel e discreto” composto de cristãos ungidos com o espírito, para ajudar cristãos em todas as nações a entender e aplicar a Bíblia nas suas vidas. A menos que estejamos em contacto com este canal de comunicação que Deus está a usar, não faremos progresso na estrada da vida, não importa quanta leitura da Bíblia nós possamos fazer.” – w81 1/12 p.27 em inglês. “Era de esperar que o Senhor tivesse um meio de comunicação com o seu povo na terra, e ele tem mostrado claramente que a revista chamada A Sentinela é usada para este propósito.” – Anuário de 1939 p. 85 em ingês.
Os directores da Sociedade Torre de Vigia em 1971. Em cada momento, a liderança da Organização dogmaticamente reclamou para si o estatuto de “ecravo fiel e prudente” e “porta-voz de Deus”, mas os seus ensinos acabam por ser descartados e substituídos por outros. O que isso revela?
“Jeová providenciou a sua santa Palavra escrita para toda a humanidade e ela contém toda a informação que é necessária para os homens encontrarem um rumo que os conduz á vida. Mas Deus não fez com que essa Palavra falasse de modo independente ou iluminasse verdades vitais por si própria. (...) É através da sua organização que Deus providencia esta luz (...) Se queremos andar na luz da verdade temos de reconhecer não apenas Jeová Deus como nosso Pai mas a sua organização como a nossa mãe.” – W57 1/5 p.274 em inglês
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“Considere também o facto de que, em toda a terra, apenas a organização de Jeová é dirigida pelo espírito santo de Deus, ou força activa.” – w73 1/7 p.402 em inglês “ A organização é teocrática, ou seja, é dirigida por Deus ... nos nossos dias o Corpo Governante ... está instalado na sede mundial das Testemunhas de Jeová.” – Adore o Único Deus Verdadeiro (2006) p.132 inglês “[A organização foi] comissionada para servir como porta-voz e agente activo de Jeová ... comissionada para falar como profeta em nome de Jeová.” – As Nações Terão De Saber Que Eu Sou Jeová – Como?” (1971) p. 58, 62 inglês “Os seis volumes dos Estudos Nas Escrituras são práticamente a Bíblia numa forma ordenada por tópicos. Quer isto dizer, eles não são meramente comentários acerca da Bíblia, mas são básicamente a própria Bíblia (...) se alguém meramente ler os [Estudos nas Escrituras] com as suas referências, não tendo lido uma única página da própria Bíblia, ele estará na luz ao fim de dois anos.” – w1910 15/9 “A Sentinela não é o instrumento de nenhum homem ou grupo de homens, nem é publicada pelo capricho de homens. Não é a opinião de nenhum homem que é publicada em A Sentinela. Deus é quem alimenta o seu próprio povo.” – w31 1/11 p.327 em inglês “Esses homens [apóstatas] eram críticos dos artigos de A Sentinela, não a aceitando pelo que ela é ... o canal da verdade de Deus.” – w92 15/11, p. 19-20 Nas trascrições do caso Moyle vs Franz, o então vice-presidente da Sociedade Torre de Vigia Frederick W. Franz teceu as seguintes considerações sobre a revista A Sentinela: Tribunal: “Não declarou que em 15 de Outubro de 1931 que A Sentinela descontinuou a publicidade dos nomes do comitê editorial, e que então Jeová Deus se tornou o editor?” Franz: “Eu não disse que Jeová se tornou o editor. Foi notado que Jeová é quem realmente edita essa publicação, e portanto, nomear um comitê editorial não era apropriado.” Tribunal: “Seja como for, Jeová Deus é presentemente o editor da publicação, é correcto?” Franz: “Ele é hoje o editor da publicação”
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Tribunal:”Por quanto tempo tem ele sido o editor da publicação?” Franz:”Desde o seu início que ele a tem dirigido.” @ retirado das transcrições do julgamento, secções 25962597, páginas 866-867 “Para nos apegarmos á liderança de Cristo é portanto necessário obedecer á organização que ele está pessoalmente a dirigir. Fazer o que a organização diz para fazer é fazer o que Cristo manda; resistir á organização é resistir a Cristo.” – w59 1/5 p.269 inglês Pergunte-se: Se Jeová é o “Deus da verdade” (Salmos 31:5), “com quem não há variação da virada da sombra” (Tiago 1:17) e que não muda (Malaquias 3:6) e cada ‘palavra que sai da sua boca terá êxito certo’ (Isaías 55:11), então não seria de esperar que a única organização que ele supostamente usa e as publicações que ele supostamente supervisiona pessoalmente reflectissem essas características? Não seria de esperar que “a verdade”, conforme publicada pelas Testemunhas de Jeová, fosse desde o seu início até aos nossos dias, consistente e permanecente, sem correcções, reversões e repúdios? E que quaisquer novos entendimentos apenas expandissem os ensinos iniciais, sem nunca os abandonar? E que todas as predições e expectativas se cumprissem infalivelmente conforme elas foram inicialmente publicadas? Isso é o que se esperaria de uma organização dirigida por Jeová e de publicações supervisionadas directamente pelo TodoPoderoso pelo poder do espírito santo. No entanto, estas reviravoltas doutrinais mostram claramente que Deus nunca, nem desde a sua concepção, esteve por detrás da Organização nem dos ensinos das suas publicações. Veja-se um exemplo caricato que ilustra bem este ponto: O fascínio do fundador C.T. Russell com a Grande Pirâmide de Gizé. Gráfico desdobrável no livro O Plano Divino Das Eras, de C.T. Russell. Note o papelchave da Grande Pirâmide na determinação das “eras”.
No primeiro volume dos seus Estudos nas Escrituras, O Plano Divino das Eras (1881), a Grande Pirâmide surge num gráfico 56
como a base de cálculo para a cronologia do “plano de Deus”. Russell escreveu: “A Grande Pirâmide (...) não é de algum modo uma adição á revelação escrita. Essa revelação é completa e perfeita e não carece de adições. Mas é uma forte testemunha corroborativa do plano de Deus (...) a sua construção foi planeada e dirigida pela mesma sabedoria divina (...) Se, então, foi construída sob a direcção de Deus, para ser uma das suas testemunhas para os homens, podemos razoavelmente esperar alguma alusão a ela na palavra escrita de Deus. (...) Jeová ... preparou a Grande Pirâmide como uma parte instrumental para convencer o mundo da sua sabedoria.” – Estudos Nas Escrituras, Vol.3 Venha o teu Reino (1891) p.309-376 Russell argumentou que a passagem de Isaías 19:19-20 só se podia referir ao monumento de Gizé, e fez extensas considerações sobre como as medidas do monumento suportavam a cronologia Bíblica, conforme ele a entendia. Tal era o seu fascínio com as pirâmides, que um monumento funerário ao lado da sua campa tem a forma de uma pirâmide. Russell faleceu em 1916; sob a presidência de Rutherford, a Organização continuou a publicar artigos até 1925 em que defendia a mesma idéia de Russell:
Sepultura de Russell com o monumento funerário da Sociedade Torre de Vigia em forma de irâmide.
“Nas passagens da Grande Pirâmide de Gizé, o acordo de uma ou duas medições com a cronologia da verdade presente poderia parecer acidental, mas a correspondência de dezenas de medições prova que o mesmo Deus delineou tanto a pirâmide como o plano...” – w22 15/6, p.187
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No entanto, em 1928 Rutherford mudou de idéias: “È mais razoável concluír que a grande pirâmide de Gizé, assim como as outras pirâmides adjacentes e a esfinge, foram construídos por governantes do Egipto e sob a direcção de Satanás, o Diabo ... Então Satanás colocou este conhecimento em pedra morta, que bem se pode chamar de a Bíblia de Satanás e não de a ‘testemunha de Deus em pedra’...” w28 15/11 p.344 E em 1956 a Organização arrumou de vez o assunto: “a Grande Pirâmide não foi construída sob a orientação de Deus (...) não foi construída por aqueles comprometidos com a adoração verdadeira de Jeová Deus, mas por aqueles dedicados á astrologia, uma manifestação da religião do Diabo, e foi construída para o avanço dessa religião.” – w56 15/5 p. 297-298 O livro Proclamadores orgulhosamente liga o seu entendimento das Escrituras ao trabalho de Russell. Diz-se a respeito das Testemunhas de Jeová: “O seu actual entendimento das verdades bíblicas e as suas actividades remontam á década de 1870 e á obra de C.T. Russell e de seus associados, e de lá á Bíblia e ao cristianismo primitivo” Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus (1993), p. 41 Mais tarde, como é hábito da Organização, a culpa foi branqueada da liderança da Sociedade e atirada para cima de irmãos anónimos: “ Alguns estudantes da Bíblia entusiasmaram-se com a medição de várias partes da pirâmide para determinarem assuntos tais como o dia em que seriam levados para o céu! – w02 1/1. A realidade é que não foram “alguns estudantes da Bíblia” inconsequentes e sem responsabilidades de ensino; foi o próprio venerado fundador das Testemunhas de Jeová que introduziu esse interesse.
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Em anos recentes o Corpo Governante tem procurado desvalorizar a figura e os ensinos de Russell. Em vez de uma reverenciada figura-chave na história moderna do povo de Deus, a Russell á agora creditado o papel mais obscuro de precussor, semelhante a João Baptista (ver A Sentinela 15/7/2013 p.9-14) Apesar de razoável, esta comparação esbarra no seguinte facto: João Baptista, apesar de limitado no seu entendimento do papel de Jesus, nunca ensinou mentiras, falsas profecias ou promoveu ensinos satânicos! Compreende-se o incómodo da Organização: No actual corpo de doutrina das Testemunhas de Jeová resta muito pouco daquilo em que Russell acreditava. Na realidade, se alguém hoje numa congregação fosse defender doutrinas defendidas por Russell (como, por exemplo, a universalidade da esperança celestial para todos os cristãos), tal pessoa seria desassociada por apostasia! O problema da Sociedade Torre de Vigia (ou da sua incarnação mais recente, JW.ORG) e das suas lideranças, é que elas não têm um registo minimamente credível como porta-vozes de Deus. As suas supostas “credenciais” são falsas. A eles aplicam-se aptamente as duras palavras encontradas em Ezequiel: “Ai dos profetas insensatos que seguem as suas próprias idéias sem terem visto coisa alguma! (...) Eles têm visões falsas e predizem uma mentira; estão dizendo: ‘Esta é a palavra de Jeová’, apesar de Jeová não os ter enviado, e ainda esperam que a sua palavra se cumpra. Por acaso não são falsas as visões que vocês têm e não é uma mentira o que predizem? Vocês dizem: ‘Esta é a palavra de Jeová’, apesar de eu não ter dito nada. Portanto, assim diz o Soberano Senhor Jeová: “Visto que vocês falam falsidades e suas visões são mentirosas, eu estou contra vocês.” – Ezequiel 13:3-8 Entre as muitas “visões falsas” e “predições mentirosas” está a data de 1914. Directamente desta data depende a crença que em 1919 a liderança da Sociedade Torre de Vigia foi escolhida por Cristo para representar a Jeová e a Jesus como porta-vozes e canal de comunicação aqui na terra. Essa é uma visão profética falhada. Deus não lhes disse nada, não lhes deu qualquer designação, não os escolheu para nada, 3#
nem no passado distante, nem no passado recente, nem agora, nem no futuro. Russell, assim como Rutherford, Knorr, Franz, Henschel e o actual Corpo Governante nomearam-se a si próprios como representantes de Deus na terra e exigiram das Testemunhas de Jeová que os escutassem e obedecessem sem questionar. Mas, se tal designação nunca ocorreu, nem em 1879 nem em 1919, sucede que a Organização não tem qualquer autoridade para exigir tal obediência. A noção de que Deus necessariamente tem uma Organização na terra e que a salvação é impossível á parte desta Organização é uma mentira engenhosamente montada ao longo de mais de um século para manter mentalmente cativos as Testemunhas de Jeová que imaginam estar a agradar a Deus e a Cristo por se sujeitarem á liderança humana da Organização. Afinal, pergunte-se: Se fosse verdade que Deus sempre teve uma organização na terra, porque é que Russell não se juntou a ela, ao invés de fundar uma nova religião? “Jeová está a usar hoje apenas uma organização para cumprir os seus propósitos. Para receber vida eterna num paraíso terrestre temos de nos identificar com essa organização e servir a Deus como parte dela” – w83 15/2, p.12 Esta afirmação é uma fraude e estas são palavras vazias; ninguém precisa ficar refém delas. A Organização violenta a liberdade de adoração das Testemunhas de Jeová e maltrata aqueles que, ainda que desejando sinceramente adorar a Jeová e seguir a Cristo, não concordam com muitos dos ensinos e práticas advogadas por esta Organização. Mas lembre-se: Não temos de ter medo deles, porque eles não representam a ninguém a não ser a si mesmos. Alguns raciocinam que o facto desta ser a ‘única organização que leva o nome de Jeová’ deve com certeza significar que ela tem a aprovação do Deus todo-Poderoso. No entanto, qualquer pessoa pode ir a um cartório e registar uma empresa onde conste o nome “Jeová”. Por exemplo, a expressão “Jeová-Jireh” (Jeová Proverá) é o nome de uma pastelaria na 3$
cidade de Cariacica, estado do Espírito Santo e de uma lavagem de automóveis na cidade de Camaçari, na Baía, e de uma empresa de transportes na cidade de Igarapé, em Minas Gerais [Brasil] Será que, pelo mero facto de a gerência ter escolhido colocar o nome de Jeová na actividade da empresa (sem dúvida com motivação devocional) faz dessa organização a organização de Jeová Deus? Do mesmo modo, ter Rutherford escolhido o nome “Testemunhas de Jeová” como denominação da igreja que ele dirigia não faz dela a Organização de Deus.
Colocar o nome “Jeová” em um qualquer empreendimento não faz desse empreendimento uma obra descolhida por Deus.
Acresce que o nome “Jeová” é uma invenção de um monge espanhol do século XIII chamado Raymundo Martini, que em 1278, na sua obra anti-judaica PUGEO FIDEI interpolou as letras do tetragrama latinizado com as vogais de “Adonai” (Senhor), resultando no nome “YOHOUA”. Este facto é do perfeito conhecimento da Sociedade Torre de Vigia. (ver w80 2/1 p. 11 inglês). A expressão “Jeová” é uma impossibilidade fonética no Hebraico. Embora não se conheça a pronúncia original do nome divino em Hebraico, os linguistas hebraicos sabem no entanto que é IMPOSSÍVEL que tenha sido algo parecido com “Jeová” ou “Jehovah”. Ora, a Lei era bastante clara em que o nome divino não devia ser usado de forma imprestável. (Êxodo 20:7; Levítico 24:16) Se esta Organização que, apesar de se dizer cristã, recorre tantas vezes a “princípios” da Lei para justificar as suas práticas, porque não aplica o “princípio” de não utilizar o nome de Deus de forma inapropriada? A resposta é: Porque do ponto de vista do marketing religioso precisa ter este nome como elemento diferenciador das demais religiões cristãs, nem que para isso tenha de desavergonhadamente usar de dois pesos e 34
duas medidas nos seus próprios critérios doutrinais. Portanto, a importância do facto de a organização levar o nome de Jeová é pouca ou nenhuma, porque a motivação pelo qual isso é feito parte da manutenção de um mito criado pela própria Organização. É uma técnica básica do marketing: 1º: Cria-se uma necessidade onde ela não existe (‘é preciso restaurar o nome de Deus que é da maior importância e foi escondido das pessoas!’); 2º: Oferece-se um produto que satisfaz perfeitamente essa necessidade (‘somos a religião que restaurou o nome de Deus e o publica, e isso prova que somos favorecidos por Ele!’). É apenas marketing. Mas tem funcionado por quase 90 anos. Muitas Testemunhas de Jeová estão hoje perplexas, incrédulas e desconfortáveis com as mudanças radicais que estão a ser operadas na Organização e os diversos escândalos que têm vindo a lume, e estão indecisos sobre se ficam ou saem; raciocinam que, apesar da situação actual da sua religião parecer bastante desconcertante, ainda assim esta é a Organização que Jeová e Jesus escolheram lá no passado, e que, á semelhança do que se passou no antigo Reino de Israel, a seu tempo Deus irá corrigir a “degeneração” da actual Organização. No entanto, não deixa de ser notável o paralelo entre momento presente, que se vive desde a resignação de Milton Henshel em 2002 e ainda está em progresso, e aquelas duas décadas de transição agitada que mediaram entre o desaparecimento de Russell e o emergir da nova religião das Testemunhas de Jeová, sob a batuta de Rutherford, que teve o seu culminar na adopção da B'P90 *- I90.'0[ , &':+D9 &+ U-+D teologia das “duas esperanças”, 9I0+C&+ 9 E+0&9&+ 9 0+;I+'.* &9 em 1935. Assim como os O\+0&9&+R Estudantes da Bíblia deram lugar ás Testemunhas de Jeová, as Testemunhas de Jeová, por sua vez, estão em processo acelerado de transformação para o jw.org. E, tal como no passado, a !metamorfose vai deixar a muitos pelo caminho, incapazes de compreender e de acompanhar a mudança (ou concordar com ela) e perceber o processo de rebranding que está em curso.
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A diferença crucial entre os nossos dias e as décadas de 1920 e 1930 é a quantidade colossal de informação disponível para pesquisa e a democratização do acesso á informação, que faz com que a Sociedade tenha perdido o controlo absoluto dos fluxos de informação e de quem acede a essa informação. A Organização não mais consegue esconder os embaraços dos seus ziguezagues doutrinais, das profecias falhadas, dos escândalos em que tem estado envolvida. A internet foi o adversário mais temível com que a Organização já teve alguma vez de lidar. Porque dá o poder a cada indivíduo de tomar decisões e fazer escolhas com base em informação factual, e não apenas com base na informação que interessa á Sociedade. Os cristãos são livres de terem uma relação pessoal com Jeová e Jesus Cristo sem precisarem de uma organização que se coloque de permeio e lhes faça a exigência que só através dela podem chegar a ter a aprovação de Deus e de Cristo. Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.” – João 14:6 e, no livro de Revelação, o ressuscitado Jesus faz o convite: “Escutem! Estou em pé á porta e estou batendo. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei na sua casa e tomarei a ceia com ele, e ele comigo”. – Apocalipse 3:20 Nunca Jesus mencionou que iria constituir uma organização que serviria como intermediária entre o crente e Deus. Ele mesmo era o caminho, e cada um individualmente poderia escolher ouvir a voz de Jesus e abrir a porta da sua vida para ele, sem necessidade de uma organização liderada por homens. Os cristãos que se deixam vencer por esta mentira, seja ela ensinada pela JW.ORG ou qualquer outra organização religiosa acabam sendo cativos de homens e de ensinos de homens e nunca encontrarão a almejada “liberdade dos filhos de Deus”. (Romanos 8:21) O caminho de libertação da escravidão á Organização pode ser penoso e cheio de interrogações. Talvez a mais desconcertante seja esta:
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