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CIP-Brasil. Cataloga"o-na-Publica"o C$mara Brasileira do Livro, SP
Bruno, Giordano, 1548-1600. B922s Sobre o infinito, o universo e os mundos / Giordano Bruno. O ensaiador / Galileu Galilei. A cidade do sol / Tommaso Campanella ; tradu%es de Helda Barraco, Nestor Deola e Aristides L 'bo. ( 3. ed. ( S "o Paulo : Abril
Cultural, 1983. (Os pensadores) Inclui vida e obra de Bruno, Galileu e Campanella. Bibliografia, 1. Filosofia italiana 2. Fil)sofos modernos I. Galileu Galilei, 1564-1642. II. Campanella, Tommaso, 1568-1639. III. T*tulo: Sobre o infinito, o universo e os mundos. IV. T*tulo: O ensaiador. V. T*tulo: A cidade do sol. VI. S+rie.
83-0814 CDD-195 -921.5 *ndices para cat-logo sistem-tico:
1. Filosofia italiana 195 2. Fil)sofos italianos 195 3. Fil)sofos italianos : Biografia 921.5 4. It-lia : Filosofia 195
GIORDANO BRUNO
SOBRE O INFINITO, O UNIVERSO E OS MUNDOS GALILEU GALILEI
O ENSAIADOR TOMMASO CAMPANELLA
A CIDADE DO SOL
1983
VIDA E OBRA Consultoria: Jos Amrico Motta Pessanha Em 1609, Galileu Galilei, professor da universidade italiana de P "dua, teve not$cia de que na Holanda fora inventado um telesc %pio. Imediatamente procurou melhores informa ')es sobre ele. A partir de ent*o p +s-se a aperfei'oar o instrumento; duplicou sua capacidade de aumento e come 'ou a fazer observa')es astron+micas. Um ano depois, publicava um livro intitulado O Mensageiro Celeste, no qual descrevia o aspecto montanhoso da superf $cie lunar, revelava a exist,ncia de in -meras estrelas at ent*o desconhecidas e mostrava que J-piter possui quatro satlites. Logo depois, atrav s de outras observa')es, descobria as fases do planeta V ,nus, as formas de Saturno e as manchas solares. Todas essas descobertas constitu$am grandes inova')es para a filosofia da natureza definida pelos te%logos da Igreja, fundados na f$sica e astronomia aristot licas, puramente especulativas. Mostravam o verdadeiro caminho para o conhecimento da natureza: a observa'*o dos fen+menos tais como ocorrem e n*o como os explica a pura expe-cula '*o. / observa'*o o professor de P"dua ajuntaria a experimenta'*o e a matem"tica (menosprezada por Arist%teles), que consideraria como a verdadeira linguagem da natureza. Desse modo, Galileu tornou-se um dos principais criadores do moderno mtodo cient$fico.
oposi'*o de Galileu Galilei ao esp $rito teol%gico e metaf$sico manifestava-se havia muito tempo. Nascido em Pisa, no dia 15 de fevereiro de 1564, Galileu matriculou-se na Escola de Artes da cidade natal para estudar medicina, em 1581. Quatro anos depois, abandona-a para dedicar-se exclusivamente 1 matem"tica e, em 1589, torna-se catedr"tico dessa disciplina na Universidade de Pisa. Nessa poca come'a a fazer as primeiras investiga ')es no campo da f$sica, particularmente em mec2nica, tentando descrever os fen+menos em linguagem matem"tica. Isso suscita violenta oposi '*o da ci,ncia oficial, representada por seguidores de Arist%teles, que discordam da aplica '*o da matem"tica aos dom$nios da f$sica. Essa nova orienta '*o metodol%gica seria a maior contribui'*o de Galileu 1 hist%ria das idias. Em 1604, Galileu elabora a lei da queda livre dos corpos, fundamental para todo o desenvolvimento posterior da mec2nica racional. Seis anos depois, come 'a a fazer observa')es astron+micas, passando a trabalhar em Floren 'a, junto a Cosimo II de Medici. Em 1612, publica o Discurso sobre as Coisas que Est o sobre a "gua, no qual ridiculariza a teoria aristotlica dos quatro elementos sublunares e do ter, suposto compenente -nico dos corpos celestes e respons "vel por sua "perfei'*o". Ao mesmo tempo, adota o atomismo de Dem%crito na explica '*o do universo f$sico. Mais uma manifesta '*o antiaristotlica viria, em 1613, na
Hist$ria e Demonstra&o sobre as Manctias Solares, onde ap%ia a teoria de Cop rnico e mostra o erro da concep'*o segundo a qual o Sol, como os demais astros, seria um corpo composto de um -nico elemento, o ter. A descoberta das manchas solares foi criticada violentamente pelos te %logos, que viam na tese de Galileu uma destrui'*o da perfei'*o do cu e uma nega'*o dos textos b $blicos. Galileu escreveu, ent*o, uma carta para seu aluno Benedetto Castelli, afirmando que as passagens b $blicas n*o possu$am qualquer autoridade no que diz respeito a controvrsias de cunho cient$fico; a linguagem da B$blia deveria ser interpretada 1 luz dos conhecimentos da ci ,ncia natural. A carta come'ou a circular em in-meras c%pias manuscritas e a oposi'*o ao autor cresceu progressivamente. As autoridades, contudo, limitavam-se a instru$-lo para que n*o defendesse mais as idias copernicanas do movimento da Terra e estabilidade do Sol, por serem contr "rias 1s escrituras sagradas. Durante alguns anos Galileu permaneceu em sil,ncio. Mas, em 1623, depois de polemizar com um jesu $ta sobre a natureza dos cometas, voltou a ridicularizar as teorias aristot licas no livro O Ensaiador e come'a a redigir o Di(logo
sobre os Dois Maiores Sistemas. Neste livro confronta as id ias de Ptolomeu 3 segundo o qual a Terra seria est"tica e o Sol giraria em torno dela 3 e de Coprnico, que afirmava exatamente o contr "rio. Porque nenhum editor desejava correr maiores riscos, a obra s % seria publicada em 1632. Foi quando o perigo se declarou: em outubro do mesmo ano, o autor foi convocado para enfrentar um tribunal do Santo Of$cio.
Condenado em junho de 1633, Galileu obrigado a abjurar suas teses, sob pena de ser queimado como herege. Prefere viver e se retrata, mas n *o se ficou sabendo exatamente em que termos. Sobre o acontecimento correram vers )es muito diferentes, 1s vezes contradit%rias. Seja como for, Galileu continuou a viver e, em 1638, publicou clandestinamente o Discurso a Respeito de Duas Novas
Ci)ncias. Recapitulan-do os resultados de suas primeiras experi,ncias e acrescentando algumas reflex )es sobre os princ$pios da mec2nica, essa obra seria a mais madura de todas que escreveu. No mesmo ano Galileu perdeu a vis*o. Morreu quatro anos depois, no dia 18 de janeiro de 1642.
Galileu tornou-se o criador da f$sica moderna, quando enunciou as leis fundamentais do movimento; foi tambm um dos maiores astr+nomos de todos os tempos, pelas observa ')es pioneiras que fez com o telesc %pio. Essas descobertas, contudo, foram resultado de uma nova maneira de abordar os fen+menos da natureza e nisso reside sua import 2ncia dentro da hist%ria da filosofia. No campo das idias filos%ficas, Galileu mais importante pelas contribui ')es que fez ao mtodo cient$fico do que propriamente pelas revela ')es f$sicas e astron+micas encontradas em suas obras. O primeiro princ$pio do mtodo galileano a observa'*o dos fen+menos, tais como eles ocorrem, sem que o cientista se deixe perturbar por preconceitos extra-cient $ficos, de natureza religiosa ou filos%fica. Quando Galileu aperfei'oou o telesc%pio e p+s-se a observar os astros, deixou de lado as idias de perfei'*o dos corpos celestes, tal como afirmava a astronomia aristot lica. Essa astronomia partia da pressuposi'*o de que os corpos celestes descreviam %rbitas circulares uniformes, concluindo que esses corpos seriam compostos exclusivamente de um elemento (o ter) e seriam, conseq4entemente, homog,neos e perfeitos. A observa '*o das manchas solares, feita por Galileu, destruiu tal teoria e mostrou que o pressuposto da perfei'*o dos corpos celestes n *o deveria ser levado em considera'*o pelos astr +nomos. O segundo princ$pio do mtodo de Galileu consiste na experimenta'*o. Segundo esse princ $pio, nenhuma afirma'*o sobre fen+menos naturais, que se pretenda cient $fica, pode prescindir da verifica-
'*o de sua legitimidade atrav s da produ'*o do fen+meno em determinadas circunst2ncias. Em obedi,ncia a esse preceito, certa vez Galileu subiu 1 torre de Pisa e deixou cair dois corpos livremente, a fim de mostrar como era incorreta a afirma'*o do senso comum (endossada pelos aristot licos) de que a queda livre dos corpos depende de suas massas e de que suas velocidades seriam diferentes. O terceiro e -ltimo princ$pio da metodologia galileana estabelece que o correto conhecimento da natureza exige que se descubra sua regularidade matem "tica. Foi o que Galileu fez, por exemplo, ao revelar que a velocidade adquirida por um corpo que cai livremente, a partir do repouso, proporcional ao tempo e que o espa'o percorrido proporcional ao quadrado do tempo empregado em percorr,-lo. Formulando esses princ$pios, Galileu estruturou todo o conhecimento cient $fico da natureza e abalou os alicerces que fundamentavam a concep '*o medieval do mundo. Destruiu a idia de que o
mundo possui uma estrutura finita, hierarquicamente ordenada e substituiu-a pela vis *o de um universo aberto, indefinido e at mesmo infinito. Em lugar de conceber o mundo como dividido em duas partes, uma superior, constitu$da pelo cu, e a outra inferior, a Terra em que vive o homem, mostrou que todos os objetos f $sicos devem ser concebidos como sendo da mesma natureza e tratados de modo id,ntico, pelo menos por aqueles que desejam conhecer cientificamente o Universo. P +s de lado o finalismo aristot lico e escol "stico, segundo o qual tudo aquilo que ocorre na natureza ocorre para cumprir des$gnios superiores; e mostrou que a natureza fundamentalmente um conjunto de fen+menos mec2nicos, tal como afirmara Dem %crito na Antig4idade. Demonstrou o engano do esp$rito puramente l%gico e dedutivo da filosofia aristotlico-escol"stica, quando aplicado 1 explica'*o dos fen+menos f$sicos. E mostrou, finalmente, que "o livro da natureza est" escrito em caracteres matem"ticos" e que, "sem um conhecimento dos mesmos, os homens n*o poder*o compreend,-lo".
3 Galileu Galilei nasce em Pisa, a 15 de fevereiro. Nasce Shakespeare. 3 Galileu ingressa na Universidade de Pisa, para estudar medicina. 3 Galileu inicia seus estudos de matem(tica. 3 Abandona a universidade sem obter grau. 1
3 Galileu obt+m a c(tedra de matem(tica em Pisa. 3 , nomeado para a c(tedra de matem(tica na Universidade de P(dua. 3 Da unio de Galileu com Marina Camba nasce Virg .nia. 5 publicado o Mysterium Cosmographicum de
Kepler. Condena'*o e morte de Giordano Bruno.
3 Galileu escreve a Defesa contra as Cal-nias e Imposturas de Baldes-sar Capra. 1
3 Aperfei&oa o telesc$pio. 3 Descobre os sat+lites de J/piter. Escreve o Mensageiro Celeste. 3 Publica o Discurso sobre as Coisas que Est *o sobre a 7gua e a Hist%ria e Demonstra')es sobre
as Manchas Solares. O dominicano Lorini denuncia a doutrina de Coprnico como hertica.
3 Lorini aponta Galileu ao Santo Of.cio. 3 Galileu escreve o Discurso sobre o Fluxo e Refluxo do Mar. , convocado para depor perante o cardeal Belarmino. Um decreto da Sagrada Congrega'*o do Index pro$be a obra de Coprnico. Galileu retorna a Floren&a, em junho.
3 Galileu inicia o Di"logo sobre os Dois Maiores Sistemas. 3 O Di"logo + impresso em fevereiro. Em outubro, Galileu recebe ordem de apresentar-se em Roma. 1
3 A\presenta-se em Roma, em abril. Em 22 de junho abjura e o processo se encerra. 3 Galileu publica o Discurso sobre Duas Ci,ncias Novas. 3 Morre a 18 de janeiro.
Edizione Nazionale delle Opere di Galileo Galilei, 20 vols., editada por Ant +nio Favaro, Floren 'a, 1909, reimpressa em 1939. MoNDOLFo, RODOLFO : Figuras e Id+ias da Filosofia da Renascen&a, Mestre Jou, S*o Paulo, 1967. KoYR5, ALEXANDRE: ,tudes d'Histoire de Ia Pens +e Scientifique, Presses Universi-tairesde France, Paris, 1966. CEYMONAT, LUDOVICO: Galileo Galilei, Mil*o, 1957. RuGGiERo, G. de: Galileo Galilei, nel 3.1 Centen(rio dei Dialogo sopra i Due Massimi Sistemi dei Mondo in
Archivio di Storia delia Filosofia, 1932. DuHEM, P.: Essai sur Ia Notion de Th+orie Physique de Platon 2 Calil+e in An-nales de Philosophie Chr+tienne, Paris, 1908. BANFI, A.: Calileo Calilei, Mil*o, 1948. RoM8o, MATTOS: Galileu e o M+todo Cient.fico, vol. I, Lisboa, 1944. TuR$N, JUAN: Calileo Atl3ntico y Kant Copernicano, C%rdova, 1944. WoHLwiLL, E.: Galileu und sein Kampf f4r Kopernikanische Lehre, Leipzig e Hamburgo, 1910.
Tradu'*o e notas de Helda Barraco
O ENSAIADOR ONDE COM PERFEITO E JUSTO EQUIL9BRIO RACIOCINA-SE SOBRE AS COISAS CONTIDAS NA "BALANCA ASTRON;MICA E FILOS=FICA" DE LOTARIO SARSI SIGENSANO ESCRITA EM FORMA DE CARTA AO ILUSTR9SSIMO E REVEREND9SSIMO MONSENHOR D. VIRGINIO CESARINI ACAD>MICO LINCEU MESTRE DE SALA DE N. S. PELO SENHOR GALILEU GALILEI ACAD>MICO LINCEU NOBRE FLORENTINO FIL=SOFO E MATEM7TICO PRINCIPAL DO SEREN9SSIMO GR8O-DUQUE DA TOSCANA
Nesta felicidade relativa ao estudo das boas letras 2, poder .amos dizer da mesma virtude, enquanto a cidade em peso, e especialmente a Santa S+, mais esplendorosa que nunca por serdes. Vossa Santidade, colocada na Santa S+ por vontade divina, e no existe mente alguma que no esteja louvavelmente empolgada a estudar e a venerar os dignos experimentos3, imitando exemplo to eminente, comparecemos em Vossa presen&a, cheios de obriga&5es infinitas pelos benef.cios recebidos sempre de Vossa M o Benigna, e cheios de alegria e contentamento para ver, em uma S+ assim sublime, um Patro to ex.mio. Apresentamos, como demonstra&o de nossa devo&o e como tributo de nossa servid o 1
O Papa Urbano Oitavo foi o Cardeal Barberini, nomeado em 1623, que, grande admirador de Galileu, como o demonstra este trabalho e uma obra sua publicada justamente em honra deste pesquisador italiano, Adula&o Perniciosa, tornou-se o maior inimigo de Galileu depois que ele publicou O Di(logo sobre os M (ximos Sistemas em 1632. 2 Consideravam-se boas letras, neste per $odo, n*o alguma forma particular de estudo, mas toda a pesquisa que se mantivesse de aco rdo com os c2nones eclesi"sticos, encontrando-se todos os autores citados no Ensaiador no per$odo entre a Reforma e a Contra-Reforma, quando a f $sica e a matem"tica estavam se libertando da filosofia. 3 O termo "digno" aqui possui o mesmo significado do termo "boas letras", lembrando como grande parte da autoridade cat %lica, compreendido neste caso o pr %prio papa, ocupava-se com experimentos cient $ficos. 4" Por toda a Idade M dia, at a Renascen'a, o termo "her%ico" n*o possui algum significado pol$tico, mas preferivelmente o significado "luta pelo sucesso" em sua m "xima extens*o.
verdadeira, o Ensaiador do nosso Galilei, descobridor florentino, n o de novas terras, mas de partes do c+u jamais vistas. O Ensaiador cont+m investiga&5es sobre aqueles celestes esplendores que produzem a maior maravilha. Dedicamo-lo e presenteamo-lo a Vossa Santidade, por ter a alma cheia de verdadeiros adornos e esplendores, e por haver dedicado sua mente her$ica4 a a&5es muito sublimes; desejando que este discurso sobre as faces desconhecidas do c+u seja um sinal de nossa mais viva e ardente dedica&o ao servi&o de Vossa Santidade para merecer sua gratido. Prostrados humildemente aos Vossos p+s, portanto, Vos suplicamos de conceder os favo res costumeiros aos nossos estudos com a cortesia e o calor de Sua dign.ssima prote&o. Roma, aos 20 de outubro de 1623. De Vossa Santidade Servos Humil$ssimos e Devot$ssimos Os ACAD>MICOS DOS LINCEUS
GALILEU GALILEI ACAD>MICO DA ACADEMIA DOS "LINCEI", FILOSOFO E MATEM7TICO PRINCIPAL DO SEREN9SSIMO
GR8O-DUQUE DE TOSCANA
ESCRITO EM FORMA DE CARTA AO ILUSTR9SSIMO E REVEREND9SSIMO SENHOR DOM VIRGINIO CESARINI ACAD>MICO DA ACADEMIA DOS "LINCEI", MESTRE DE QUARTO DE N. S. Eu nunca pude entender, Ilustr $ssimo Senhor, de onde srcinou-se o fato de que tudo aquilo que dos meus estudos achei conveniente publicar, para agradar ou servir aos outros, tenha encontrado em muitas pessoas uma certa animosidade em diminuir, defraudar e desprezar aquele pouco valor que, se n*o pela obra, ao menos pela minha inten '*o, eu esperava merecer. Mal acabara de sair o meu
Nunzio Sidereo, onde foram reveladas tantas novas e extraordin "rias descobertas referentes ao c u, que ali"s deviam ser do agrado de todos os apaixonados da verdadeira filosofia, que imediatamente levantaram-se, em todos os lugares, invejosos daqueles louvores devidos a t *o importantes descobertas: nem faltaram aqueles que, somente para contradizer minhas palavras, n *o se preocuparam de p+r em d-vida todas aquelas demonstra')es que viram e reviram 1 vontade com os pr%prios olhos. O Seren$ssimo Gr*o Duque Cosme II5, meu Senhor, de gloriosa mem %ria, obrigou-me a escrever meu parecer sobre as causas do boiar ou afundar das coisas na "gua; e, para satisfazer a esta ordem, tendo colocado no papel tudo o que tinha lembrado a mais da doutrina de Arquimedes, que, d "-se o caso, toda a verdade que, com efeito, podia-se afirmar em rela '*o a essa matria, eis imediatamente todas as 4 5
Cosme de Medici, Gr*o Duque da Toscana, de 1609. Filho da Princesa Cristina de Lorena, que convidou Galileu para dar aulas de matem"tica ao pequeno duque herdeiro, que, mais tarde, em 1610, o nomear " matem"tico e fil%sofo da Corte. Em 1606 Galileu dedica-lhe As Opera&5es do Compasso Geom +trico e Militar. Cosme II morre durante a compila'*o do Ensaiador que ele havia encomendado a este fil%sofo.
tipografias cheias de libelos contra o meu Discurso ; nem aguardando que tudo o que fosse apresentado por mim seria confirmado e conclu$do com demonstra')es geomtricas, contradisseram a minha opini*o, nem perceberam (tanta foi a for 'a da paix*o) que se opor 1 geometria negar abertamente a verdade. As Letras sobre as Manchas Solares por quantos e em quantas maneiras foram combatidas? E aquela matria que deveria abrir campo a tantos intelectos para extraordin"rias especula')es por muitos foi desprezada ou ridicularizada completamente, seja por n *o ter sido acreditada, seja por n *o ter sido considerada; outros, para n *o querer aceitar meu racioc$nio, apresentaram contra mim rid $culas e imposs$veis especula')es; e outros, levados com convic'*o por minhas raz)es, procuraram me despojar daquela gl%ria que me pertencia, e, escondendo o fato de ter j" lido meus textos, tentaram depois de mim proclamar-se primeiros descobridores de coisas t *o estupendas. N*o mencionarei algumas das minhas conversas particulares, demonstra ')es e pareceres, os quais n*o publiquei, todas elas maldosamente impugnadas ou consideradas sem valor; n *o faltaram aquelas que esbarraram, muitas vezes, sobre alguns daqueles que, com muita habilidade, tentaram atribuir-se a honra de t,-las descoberto pelo pr%prio intelecto. Eu poderia citar muitos destes usurpadores; prefiro, por m, silenciar porque os primeiros roubos pareceram merecer castigos muito menos graves que os roubos seguintes. Contudo, n*o quero mais calar-me sobre o segundo roubo que com aud"cia demais foi perpetrado voluntariamente por aquela mesma pessoa que muitos anos atr "s tinha cometido outro, apropriando-se da inven '*o dos meus compassos geomtricos, quando eu, muitos anos antes, j " o tinha mostrado e demonstrado a muitos senhores, e finalmente publicado: e seja-me perdoado se, contra a minha pr %pria natureza, contra o meu costume e inten '*o, talvez sinta demais e reclame de ter-me calado por muitos anos. Eu me refiro a Simon M"rio Guntzehuzano, que foi aquele que, em P"dua, onde naquela poca eu me encontrava, traduziu, em l$ngua latina, o manuseio deste meu compasso, e, atribuindo-o a si mesmo, o fez publicar por um disc $pulo seu, com seu nome, e logo em seguida, provavelmente para fugir ao castigo, voltou 1 sua terra, deixando o seu aluno, como se diz, em maus len '%is; contra o qual eu fui obrigado a proceder, na aus,ncia de Simon M"rio, da forma que ficou manifesta na Defesa que naquela
poca elaborei e publiquei. Este mesmo, quatro anos depois da publica '*o do meu Nunzio Sidereo, acostumado a querer gabar-se dos trabalhos alheios, n*o se envergonhou de proclamar-se autor das minhas descobertas publicadas naquela obra; e, imprimindo-o com o t $tulo Mundus Jovialis etc.7, afirmou temerariamente ter observado ele antes de mim os planetas Mediceus que giram ao redor de J -piter. Mas, como raramente a verdade suprimida pela mentira, eis que ele mesmo, em sua obra, por sua inadvert,ncia e escassa intelig ,ncia, oferece-me a possibilidade de poder venc ,-lo com testemunhos irrefut"veis e demonstrar claramente sua culpa, fazendo ver como ele n*o somente n*o tinha observado essas estrelas antes de mim como tamb m n*o as tinha visto, seguramente, nem dois anos depois: e 6 7
Este discurso aquele "referente"s coisas que se encontram boiando na "gua ou que nela se Mundo de J -piter. Em refer,ncia ao planeta J-piter e aos seus planetas menores.
digo mais, provavelmente, pode-se afirmar, ele jamais as observou. E eu, apesar de poder tirar de numerosas passagens de seu texto provas evident $ssimas daquilo que estou afirmando, quero, deixando as outras para outra ocasi *o, para n*o me estender demais e afastar-me de meu principal objetivo, relatar um -nico trecho. Simon M"rio diz na segunda parte de seu Mundus Jovialis, sobre o sexto fen+meno, ter observado cuidadosamente como os quatro planetas nunca se encontram na linha reta paralela 1 ecl$ptica, a n*o ser quando est*o nas maiores digress)es de J-piter; porm, quando se encontram fora daquelas digress)es, sempre declinam, com diferen'a not"vel, da linha reta; declinam sempre, afirmo eu, rumo ao norte, quando se encontram na parte inferior das pr %prias circunfer,ncias, e, ao contr "rio, rumam sempre para o sul, quando se encontram nas partes superiores: para salvar esta manifesta '*o, Simon M"rio estabelece que as circunfer ,ncias daqueles planetas resultam inclinadas em rela '*o ao plano da ecl$ptica rumo ao sul, nas partes superiores, e rumo ao norte, nas partes inferiores. Esta sua teoria repleta de erros que claramente demonstram e testemunham sua fraude. Em primeiro lugar, n*o verdade que as quatro circunfer ,ncias dos planetas Mediceus sejam inclinadas em rela'*o ao plano da ecl$ptica; pelo contr"rio, lhes s *o eq4idistantes. Em segundo lugar, n*o verdade que as mesmas estrelas n *o estejam nunca entre elas pontualmente em linha reta a n *o ser quando se encontram nas digress)es m"ximas de J-piter; pelo contr"rio, acontece que elas, em qualquer dist2ncia, ou seja, m"xima, mdia e m$nima, podem ser vistas em linha perfeitamente reta, e encontrando-se, mesmo em movimentos contr "rios e muito pr%ximas de J-piter, juntam-se num ponto de tal forma que duas parecem ser uma. Enfim, falso que, quando declinam em rela '*o ao plano da ecl$ptica, rumam sempre para o sul quando est *o nas metades superiores das pr %prias circunfer,ncias e rumo ao norte quando est*o nas inferiores; pelo contr "rio, somente em alguns per $odos procedem assim e em outros procedem ao contr "rio, isto , rumo ao norte quando se encontram no meio das circunfer,ncias superiores e rumo ao sul quando se encontram no meio das inferiores. Por m, Simon M"rio, por n*o haver entendido nem observado esta situa'*o, revelou sem querer a sua falha. A situa'*o dos planetas assim: As quatro circunfer ,ncias dos planetas Mediceus s *o sempre paralelas ao plano da ecl $ptica; e porque estamos colocados no mesmo plano, acontece que 1s vezes J-piter n*o possuir" latitude, mas encontrar-se-" ainda sob o plano da ecl $ptica, os movimentos dessas estrelas ent*o parecem desenrolarse numa mesma linha reta, e as suas conjun ')es realizadas em qualquer lugar parecer*o sempre corporais, isto , sem declina'*o alguma. Porm, quando o mesmo J-piter se encontrar fora do plano da ecl$ptica, acontecer" que, se a sua latitude for rumo ao norte em rela '*o a seu plano, mesmo que as quatro circunfer,ncias dos planetas Mediceus continuem paralelas 1 ecl $ptica, as suas partes superiores parecer*o rumar para o sul em rela '*o 1s inferiores, as quais nos parecer *o colocadas mais ao norte; ao contr"rio, quando a latitude de J -piter for austral, as partes superiores das mesmas pequenas circunfer,ncias nos parecer *o mais setentrionais que as inferiores; assim, as declina ')es das estrelas
parecer*o fazer o contr "rio quando J-piter for austral; isto , no primeiro caso as veremos declinar rumo ao sul quando se encontrarem na metade superior das circunfer,ncias, e rumo ao norte nas inferiores; mas no outro caso declinar *o ao contr"rio, isto , rumo ao norte nas metades superiores, e rumo ao sul nas inferiores; e tais declina ')es apresentar-se-*o maiores ou menores, conforme a latitude de J-piter seja maior ou menor. Ora, Simon M "rio afirmara haver observado que as supramencionadas quatro estrelas declinam sempre rumo ao sul quando se encontram na metade superior das pr %prias circunfer,ncias. Suas observa ')es foram feitas no per $odo em que J-piter possu$a latitude boreal: mas quando eu conduzi minhas primeiras observa ')es J-piter era austral, e assim permaneceu por longo tempo, e nem tornou-se boreal, assim que as latitudes das quatro estrelas pudessem mostrar-se da forma que as descreve Simon, sen *o mais que dois anos depois: assim, se alguma vez, por acaso, ele as viu e as observou, isto n*o se verificou a n*o ser dois anos depois de mim. Ei-lo assim, por suas pr %prias deposi')es, j" vencido pela mentira de ter feito tais observa ')es antes de mim. Mas eu acrescento mais, afirmando que muito provavelmente podemos acreditar que ele nunca o fez: pois ele afirma n *o t,-las observado nem visto jamais colocadas perfeitamente em linha reta a n*o ser quando essas estrelas se encontram na maior dist2ncia de J-piter; e a verdade que quatro meses inteiros, isto , da metade de fevereiro at a metade de junho de 1611, em cujo tempo a latitude de J-piter foi pouqu$ssima ou quase nula, a coloca '*o dessas quatro estrelas foi sempre em linha reta, em todas as suas posi ')es. E note-se a sagacidade com a qual ele quer mostrar-se anterior a mim. Escrevi em meu Nunzio Sidereo ter feito minha primeira observa'*o no dia 7 de janeiro de 1610, continuando as outras nas noites seguintes. Simon M"rio, apropriando-se das minhas pr %prias observa')es, imprime no t $tulo de seu livro, e at na obra, ter feito suas observa')es at o ano de 1609, dando assim aos outros a impress *o de sua anterioridade. Todavia, a mais antiga observa '*o que ele relata como feita por ele a segunda realizada por mim; por m ele a relata como feita no ano de 1609 e n*o avisa o leitor que, sendo ele separado da nossa Igreja e n *o tendo aceito a reforma gregoriana 8, o dia 7 de janeiro de 1610 de n%s cat%licos o mesmo que o dia 28 de dezembro de 1609 daqueles hereges. Esta toda a proced,ncia de suas falsas observa ')es. Ele atribui a si mesmo, tamb m falsamente, a descoberta dos movimentos peri %dicos desses planetas, encontrados por mim depois de vig$lias demoradas e enormes fadigas, e publicadas em minhas Cartas Solares e tambm no tratado que publiquei das coisas que se encontram acima da "gua, tratado conhecido por Simon, como se percebe claramente pelo seu livro, e do qual, sem d-vida, ele deduziu tais movimentos. Percebo, contudo, ter-me deixado levar a uma digress*o longa demais, al m daquilo que, provavelmente, pedia minha presente situa '*o. Porm, voltando ao racioc$nio iniciado, continuarei a afirmar que, devido a tantas provas clar $ssimas, n*o permanecendo d-vida alguma de existir maldade e obstinada a'*o contra minhas obras, decidi permanecer completamente tranq 4ilo, para afastar de mim 8
A Reforma Gregoriana a Reforma do Calend "rio, realizada em 1582. Para retornar 1s datas certas, o in$cio das esta')es, o Papa Greg%rio XIII (por isto a Reforma tomou o nome de Gregoriana) estabeleceu que o dia depois da quinta-feira de 4 de outubro de 1582 se tornasse a sexta-feira de 15 de outubro (em vez de 5 de outubro).
mesmo a causa daqueles desgostos que senti em ser alvo de t *o freq4entes ironias e tirando dos outros a possibilidade de exercer t *o lastim"vel talento. 5 verdade que me teria faltado a oportunidade de publicar outras obras, provavelmente ura tanto inusitadas para as escolas filos%ficas e de conseq4,ncias n*o menores, daquelas publicadas at agora, para a filosofia natural. Estas raz )es foram t*o fortes que exigi o parecer e o julgamento de alguns gentis-homens, verdadeiros e sincer $ssimos amigos meus, com os quais, raciocinando e discutindo sobre minhas reflex)es, gozei daquele prazer que nos oferece a possibilidade de comprovar aquilo que, de cada vez, nos ministra o intelecto, evitando ao mesmo tempo a renova'*o daqueles sofrimentos que tive anteriormente com tanto aborrecimento. Estes Senhores, meus amigos, mostrando muito apre 'o pelos meus racioc$nios, procuraram com v"rias raz)es mudar esta minha decis*o. Primeiramente tentaram persuadir-me a n*o tomar conhecimento dessas t*o obstinadas oposi ')es, quase que, voltando-se elas enfim contra os pr %prios opositores, tornavam mais vivo e mais brilhante meu racioc $nio e mostravam claramente quanto foram inusitados meus trabalhos, afirmando todos que a vulgaridade e a mediocridade, consideradas pouco ou nada, ser *o deixadas de lado, e a intelig,ncia humana deve voltar-se 1 descoberta do extraordin"rio e ao fora de limite, coisa esta que, nos intelectos mal formados, faz nascer imediatamente a inveja e com ela, logo em seguida, a cal-nia. E apesar de tais racioc $nios, apresentados pela autoridade desses Senhores, quase conseguirem tirar minha convic'*o de n*o mais escrever, meu desejo de viver tranq4ilo, porm, sem tantas lutas, prevaleceu. Firme, assim, na minha decis *o, acreditei ter feito calar todas as l $nguas que mostraram, at agora, um enorme desejo de se opor. Porm, este plano resultou in -til, e nem calando-me consegui desviar este meu destino, porque sempre existe algum que quer escrever e lutar contra mim. Permanecer calado n*o me ofereceu vantagem alguma, pois meus inimigos, t *o desejosos de me atrapalhar, chegaram a atribuir-me as obras dos outros escritores; e, tendo-me atacado 1 base destes textos, chegaram a fazer coisas que, a meu parecer, pertencem claramente a 2nimos fan"ticos e sem racioc$nio. E por que n*o p+de o Sr. M"rio Guiducci9, por causa de seu of $cio, discutir em sua Academia e depois publicar seu Discurso sobre os Cometas, sem que Lot"rio Sarsi10, pessoa completamente desconhecida, tivesse se voltado contra mim, e sem respeito algum por este gentil-homem, me considerar autor daquele Discurso, onde minha -nica participa'*o foi a estima e a honra que ele me dedicou em concordar com minha opini *o que o Sr. Guiducci conheceu atravs daquelas discuss)es com aqueles senhores, meus amigos, com os quais ele muitas vezes gostou de se encontrar? E mesmo que todo aquele Discurso sobre os Cometastivesse sido obra minha (por m, onde for conhecido o Sr. M"rio, isto n*o poder" ocorrer a ningum), que finalidade teria tido o Sarsi, querendo eu permanecer inc%gnito, em 9
M"rio Guiducci, florentino, aluno e amigo de Galileu, morto em 1646, apresentou, na Academia de Floren 'a, onde exercitava o cargo de c+nsul, o seu Discurso Referente aos Cometas deduzido, em grande parte, dos estudos astron +micos de Galileu. M"rio Guiduci fez parte tambm da Academia da Crusca e dos Linceus. 10 Esta personagem muito confusa; o nome Lot "rio Sarsi Sigensano o anagrama de Horatio Grassi Salonensi, que o pseud +nimo que o padre jesu$ta Hor "cio Grassi assumiu para replicar diretamente ao Discurso sobre os Cometas de Galileu, com a sua Balan&a Astron6mica e Filos$fica. Sarsi, ou melhor Grassi, foi professor de matem "tica em G,nova e Roma; e era muito conhecido napoca por sua inven '*o de um barco que n*o afundava e por ser o arquiteto da Igreja de Santo In "cio, incorporada ao Col gio Romano, muito lembrado neste texto.
desvendar-me e desmascarar-me com tanto atrevimento? Por isso, obrigado por este inusitado e ins%lito comportamento, quebro minha resolu '*o de nunca mais publicar obras minhas; por m espero que n*o permane'a ignorada a falta de considera '*o a mim feita e espero tirar a vontade de algu m de cutucar o c*o que dorme (como diz o ditado) e querer briga com quem permanece calado.11 E apesar de considerar que este nome, nunca escutado no mundo, de Lot"rio Sarsi, sirva de pseud+nimo para algum que quer permanecer desconhecido, n *o procurarei, como fez Sarsi, armar uma luta com algum por querer desmascar"-lo, pois n*o acho digna esta a '*o, nem de alguma ajuda a esta minha obra. Pelo contr"rio, considero que tratar com uma pessoa desconhecida oferece mais clareza ao meu racioc$nio e simplifica a tarefa de explicar mais livremente minha opini *o. Porque, muitas vezes, aqueles que permanecem inc%gnitos, ou s*o pessoas temerosas que sob aquele disfarce querem se fazer passar por senhores e gentis-homens e desta maneira, por alguma finalidade pessoal, valer-se daquela honra que a nobreza traz consigo, ou 1s vezes s*o gentis-homens que deixando cair, assim disfar'ados, o respeito devido ao pr %prio grau, atribuem-se o direito, como costume em muitas cidades italianas, de poder falar livremente de qualquer coisa com qualquer um, achando extremamente divertido que algum, seja quem for, possa com eles discutir sem respeito e ironiz "-los. E a este segundo grupo deve pertencer, acredito eu, aquele que se esconde sob a m"scara de Lot"rio Sarsi (pois, se pertencesse ao primeiro grupo, pouco lhe agradaria ter querido jogar t *o forte), e acredito tamb m que, assim como 1s escondidas ele resolveu falar contra mim porque cara a cara ele provavelmente teria se recusado, assim tambm n*o deveria queixar-se de que, valendo-me do privil gio concedido contra as m"scaras, possa trat"-lo com liberdade, nem seja examinada, por ele ou por qualquer outro, cada minha palavra que por acaso eu possa proferir com mais liberdade do que ele desejaria. Eu quis, Ilustr$ssimo Senhor, que o senhor seja o primeiro espectador desta minha resposta; pois que, sendo muito entendido no assunto e, por suas extremamente nobres qualidades, imparcial no
2nimo, informar" corretamente a respeito do meu comportamento e n *o deixar" de reprimir a aud"cia daqueles que, igualmente entendidos no assunto, por m fan"ticos (porque dos ignorantes pouco me preocupo), quiserem, junto 1 multid*o que n*o entende, distorcer malevolamente o meu racioc $nio. E apesar de ter tido a inten '*o, quando pude ler pela primeira vez o trabalho de Sarsi, de compilar numa simples carta enviada a V. E. Ilustr $ssima todas as respostas, todavia, no momento de o fazer, multiplicaram-se de tal forma as coisas dignas de ser anotadas sobre a obra de Sarsi que, necessariamente, tive de passar os limites duma simples carta. Porm, continua minha resolu '*o de falar com V. E. Ilustr$ssima e de escrever-lhe, qualquer que seja a forma desta minha resposta, a qual eu quis intitular O Ensaiador, usando a mesma met"fora empregada por Sarsi. Porm, como me pareceu que, examinando as opini )es do Sr. Guiducci, ele tenha usado uma balan'a grande demais, eu quis utilizarme duma balan'a de experimentadores, t*o exata que pesa menos dum sescentsimo de gr*o. Com ela, 11
Na verdade, Galileu, primeiro, havia contestado a tese dos padres do Col gio Romano sobre o aumento dos corpos celestes, por meio da luneta, iniciando, assim, uma pol ,mica ofensiva que perdurar " por muito tempo.
usando todo o cuidado poss$vel, n*o deixando nenhuma opini*o de lado apresentada por ele, experimentarei todas elas; anotarei e numerarei todas aquelas experi,ncias de tal modo que, se por acaso, forem vistas por Sarsi e queira ele responder, possa faz ,-lo com facilidade, sem deixar para tr "s alguma coisa. Chegando agora 1s considera')es espec$ficas, ser", certamente, coisa %tima (para que n*o permane'a nada sem ser observado) dizer algo sobre a inscri'*o da obra que o Sr. Lot"rio Sarsi intitula
Balan&a Astron6mica e Filos$fica. Explica no epigrama, que ele acrescenta, a raz *o que o empolgou a cham"-la assim, isto , que o pr%prio cometa, nascendo e aparecendo no signo da Balan 'a, quis misteriosamente indicar-lhe para pesar exatamente e ponderar as coisas contidas no tratado dos cometas publicados pelo Sr. M "rio Guiducci. 5 aqui que eu percebo como Sarsi come'a, o mais cedo poss$vel, a transformar com enorme liberalidade as coisas (estilo que ele manteve em todo o seu trabalho) para acomod"-las 1 sua finalidade. Tinha percebido a brincadeira da correspond ,ncia de sua
Balan&a com a Balan&a celeste, e porque lhe pareceu que sua met"fora resultasse mais arguta com o aparecimento do cometa, se este aparecimento se verificasse no signo da Balan 'a, afirma sem base alguma que o cometa nasceu naquele signo, n*o se preocupando em contrariar a verdade, e, duma certa forma, contradizer a si mesmo e a seu pr%prio Mestre, que na sua Discusso, na VII parte, conclui assim:
Verdadeiramente a primeira apari&o do cometa verificou-se naquele lugar do c+u, que sempre foi chamado signo do Escorpio; e doze versos mais abaixo afirma: , claro que tendo nascido no Escorpio, que + a casa principal de Marte; e pouco mais abaixo continua: Eu, pelo que me toca, pesquiso a p(tria daquele que afirmo ter nascido no signo de Escorpio, de acordo com a opinio de todos. Ent*o teria sido muito mais justo e mais verdadeiro, em rela'*o 1 sua pr%pria publica'*o, t,-la intitulado O Astron6mico e Filos$fico Escorpio, constela'*o chamada pelo nosso soberano poeta Dante: figura do frio animal "que chicoteia as pessoas com a cauda". Verdadeiramente n*o lhe faltam pontadas dirigidas contra mim muito mais graves que aquelas dos escorpi)es, pois estes, como amigos dos homens, n *o ferem a n*o ser quando atacados e provocados, mas Sarsi me morde apesar de eu nunca, nem em pensamento, t ,-lo molestado. Sorte minha que conhe'o o ant$doto e o remdio imediato para tais pontadas! Despeda'arei, ent*o, e esfregarei o mesmo escorpi*o sobre as feridas onde o veneno absorvido novamente pelo pr %prio cad"ver me deixe livre e s*o. 1. Passemos agora ao texto, e o primeiro ensaio diz respeito a algumas palavras do pro ,mio, isto
, do Unus, quod sciam, at o Doluimus12. Relataremos esta introdu'*o inteiramente, com texto latino completo, porque n*o queremos que falte nem um jota.
O ano passado, ap $s brilharem no c+u tr)s fogos com luz ins$lita, no existiu homem de mente to cega que no os fitasse 2s vezes e no observasse admirado a vivacidade do brilho extraordin(rio nesse tempo. O vulgo, entretanto, sendo como + na realidade avid .ssimo de conhecimento e muito pouco apto a estudar as causas dos fen 6menos, exigia conhecer, como + de seu direito, o motivo dos fen 6menos to ins$litos daqueles a quem mais competia a observa&o das estrelas e do 12
"O -nico que eu conhe'a" at "lamentamos", que o in$cio da parte n ? 2.
mundo todo. O povo considerou, ento, oportuno consultar imediatamente as academias dos fil$sofos e astr6nomos. E o que foi que resolveu esta nossa Academia Gregoriana que, insigne por grande n/mero de disciplinas e de acad)micos, facilmente compreendia ser indicada entre as outras para a tarefa, e que a ela, acima de todas as outras, eram dirigidas as perguntas e que dela esperavam-se as respostas? No pude evitar, ento, a prop$sito desta questo, mesmo duvidosa, cumprir ao menos com o pr$prio dever e satisfazer de qualque r forma aos desejos daqueles que formulavam as perguntas. Isto resolveram fazer aqueles aos quais incumbia a obriga &o de cumprir esta tarefa; e no o fizeram de forma indigna se consideramos a aprova&o dos cientistas, mesmo os mais cotados. Que eu saiba, o /nico a no aprovar, na verdade um tanto acremente demais, a nossa disserta&o foi Galileu. Nas -ltimas palavras, isto , o -nico que eu saiba, ele afirma que n %s temos violentamente recusado a discuss*o de seu Mestre. Por ora n*o vejo necessidade de responder coisa alguma, pois sua afirma'*o absolutamente falsa: porquanto procurei com cuidado no texto do Sr. M"rio o lugar (j" que Sarsi n*o o relata) e n*o consegui encontr"-lo. Mas a respeito disto teremos depois muitas outras ocasi)es para falar. 2. Continua depois (e este meu segundo ensaio): No in.cio ficamos magoados em saber que o Discurso no tivesse agradado a um homem de tanto renome; por+m, depois tivemos a consola&o de ver o pr$prio
Arist$teles, Tycho e outros que no foram tratados por ele com muito maior gentileza nest a discusso. Sem d/vida no teria sido necess(rio elaborar outra defesa por aqueles que esto em comum com estas grandes intelig)ncias, pois, mesmo que eles silenciem suas raz5es, defendem-se sozinhos frente a uma banca de Ju.zes honestos. Aqui afirma ter escutado que, no come'o, eu n*o tinha gostado daquele Discurso, porm acrescenta que ficara consolado ao ver que o pr %prio Arist%teles, Tycho13 e outros foram recusados com semelhante aspereza; assim, eles n *o precisavam de outras defesas, pois que as acusa ')es feitas por intelectos eminent$ssimos demonstravam a sua emin ,ncia, mesmo no sil ,ncio, por justos ju $zes, e este sil,ncio era eloq4ente e os defendia. Destas palavras parece-me entender que, segundo o julgamento de Sarsi, aqueles que t,m o costume de contradizer os autores de grande intelig ,ncia n*o devem ser estimados e nem vale a pena que algu m se preocupe em defender os autores atacados cuja autoridade suficiente para manter o bom conceito que deles t,m os que entendem. Quero que aqui V. E. Ilustr$ssima perceba como Sarsi, qualquer que seja a causa disto, inadvertida, ou voluntariamente, agrava bastante a reputa '*o do Pe.Grassi, seu preceptor, cuja finalidade principal, no seu Problema, foi contradizer a opini*o de Arist%teles referente aos cometas, como resulta claramente da sua publica'*o e como o pr%prio Sarsi relata e confirma nesta sua obra, na parte VII; ent *o, se aqueles que se op)em aos homens eminent$ssimos devem ser deixados de lado, Pe. Grassi devia encontrar-se entre eles. Todavia, n*o somente n*o o temos deixado de lado como lhe temos atribu $do a mesma estima que temos dos grandes intelectos, juntando-o a eles, com este argumento particular, ele em nosso conceito t *o considerado quanto rebaixado no conceito de seu disc $pulo. N*o vejo como Sarsi, como desculpa, 13 Tycho Brahe, famos$ssimo astr+nomo dinamarqu,s, morto em 1601. publicou em 158 aetheri recentioribus phenomenis, isto , Sobre os Mais Recentes Fen 6menos da Atmosfera. seu De Mundi
possa apresentar outro argumento a n *o ser que ele quisesse significar que entre aqueles que se op)em
1s intelig,ncias eminent$ssimas devem ser deixados de lado os vulgares, mas, pelo contr "rio, exaltar aqueles que j" s*o eminent$ssimos, entre os quais ele intencionou colocar seu Mestre, e colocar a n %s entre os vulgares, enquanto que, por aquele respeito que era devido a seu Mestre, devia acusar-nos. 3. Continua em seguida (e este o terceiro ensaio): Por+m, tamb+m para homens muito s(bios pareceu
oportuno levar em conta que existisse ao menos algu+m que examinasse, com uma certa di lig)ncia, a disserta&o de Galileu, quer onde ele se oponha 2s conclus5es alheias, quer onde manifeste as conclus5es pr$prias; eu resolvi faz )-lo em forma breve. O sentido destas palavras, seguindo o das anteriores, parece-me ser este: os opositores 1s intelig,ncias eminent$ssimas devem ser deixados de lado, como j " foi dito, e silenciar a respeito deles, e mesmo se fosse necess"rio responder-lhes, este encargo seja dado a pessoas inferiores em vez de importantes; e que por esta raz *o pareceu mais conveniente 1quelas grandes intelig ,ncias que n*o fosse o Pe. Grassi ou outro de igual reputa '*o, mas ao menos algum para responder a Galileu. At aqui eu n*o afirmo nem reputo nada, pois, conhecendo e confessando minha inferioridade, inclino-me perante o parecer de tais personagens. Admiro-me bastante de que Sarsi, espontaneamente, tenha escolhido ser aquele ao menos algum e se preocupe tanto com este trabalho que, segundo a opini *o de homens muito s"bios e segundo o parecer dele pr%prio, devia ser deferido a alguma outra personagem inferior. Nem entendo claramente como, sendo instinto natural de cada um tributar a si mesmo m ritos maiores em vez de menores, Sarsi rebaixe tanto sua condi '*o que seja induzido a considerar-se um ao menos
algu+m. Esta coisa inveross $mil deixou-me na d-vida bastante tempo, e finalmente pareceu-me veross$mil acreditar que em seus termos possa existir um erro de imprensa, isto , onde foi impresso ut
esset saltem aliquis qui Galilaei disputationem diligentius expenderet, deva-se ler ut esset qui saltem aliqua in Galilaei disputatione paulo diligentius expenderet14: cuja vers*o eu considero verdadeira e leg $tima, porque se adapta melhor ao resto da obra, enquanto a outra n*o se enquadra com a considera '*o que, eu acredito, Sarsi tenha de si mesmo. Perceber " ent*o V. E. Ilustr $ssima, examinando comigo a publica '*o de Sarsi, quanto verdade aquilo que afirmo, isto , de tudo aquilo que o Sr. M "rio publicou, ele examinou somente o termo Aliqua, ou Saltem aliqua, ou seja, algumas min-cias de pouca import2ncia em rela'*o 1 finalidade principal, deixando de lado as conclus)es e o racioc $nio principal. Foi obrigado a fazer isto porquanto sabia, em consci ,ncia, n*o poder fazer nada mais que louvar e confessar verdadeiras todas elas, o que contrariava a sua inten '*o, que era a de condenar e contestar, como escreve na parte XIII com estas palavras: Estas coisas sejam relatadas a prop$sito do parecer
de Galileu, por aquilo que diz respeito estritamente ao cometa. Ele mesmo nos pro.be de falar mais, ele que exp6s numa comprida disserta&o seu pensamento somente com poucas e enroladas palavras, impedindo-nos de expor mais coisas a respeito deste argumento. Como refutar, com efeito, aquilo que ele no manifestou e n$s no podemos adivinhar? 14
A frase: "Deveria existir ao menos algum que examinasse com um certo cuidado a exposi '*o de Galileu" deveria ser lida: "Existiu algum que examinou com um certo cuidado ao menos algumas partes da exposi '*o de Galileu".
Nestas palavras, alm de tornar-se clara a finalidade j " declarada de somente contestar, eu percebo mais duas coisas: uma, sua simula '*o de n*o ter entendido muitas coisas por terem sido escritas (afirma ele) obscuramente, que seriam aquelas onde ele n*o encontrou possibilidade alguma de contradizer; a outra, sua declara'*o de n *o ter podido contradizer as coisas que eu n*o manifestei e que ele n*o p+de adivinhar. Todavia, V. E. Ilustr$ssima poder" perceber que a verdade que a maior parte das coisas que ele contesta s *o aquelas que n*o foram manifestadas por n%s, mas adivinhadas, ou melhor, imaginadas por ele. 4. Espero fazer algo muito grato a muitos daqueles que no puderam aprovar, sob nenhum ponto de vista, o
trabalho de Galileu: farei isto nesta disserta &o de tal modo que me absterei daquelas palavras que so mais ind.cios de esp.rito exacerbado e irado do que cient.fico. Esta forma de responder, se algu+m o deseja, deixarei, de boa vontade, a outros. Em suma, ele quer que a discusso seja conduzida tamb+m atrav+s de mensageiros e int+rpretes assim como no foi ele que fez a exposi &o diretamente, mas atrav+s do c6nsul da Academia. M(rio tornou manifesto a todos os segredos de seu esp.rito, seja ento permitido a mim tamb +m, no c6nsul por+m estudioso de disciplinas matem(ticas, expor aquilo que escutei de meu mestre, Oracio Grassi, sobre as /ltimas descobertas de Galileu, n o para uma /nica academia, mas para todos aqueles que conhecem o latim. Em primeiro lugar, o pr$prio Galileu confessa bastante claramente, em cartas enviadas a alguns amigos romanos, que aquela discusso havia sido produto de seu esp.rito; depois, uma vez que o pr$prio M(rio muito candidamente confessa haver publicado com inteira confian &a, no suas pesquisas, mas aquelas como se fosse Galileu que tivesse ditado, permitir(, acredito eu, sem muito constrangimento, que eu, por enquanto, discuta sobre este argumento com as argumenta&5es que ele lhe ditou, do que com aquela do c 6nsul. Em toda esta parte que resta do pro,mio eu percebo, antes de tudo, que Sarsi pensa ter feito coisa grata a muitos com sua oposi '*o e pode ser que isto se tenha verificado com alguns que, por acaso, n*o tenham lido a publica '*o do Sr. M"rio, mas que tenham aceito sua informa'*o. Esta tendo sido feita particularmente, isto (como se costuma dizer), cara a cara, quanto ter " sido diferente das coisas publicadas, pois, no seu texto impresso, Sarsi apresenta muitas coisas como escritas pelo Sr. M"rio, as quais nunca se encontraram em sua publica'*o nem mesmo na nossa imagina'*o? Acrescenta, depois, querer abster-se daquelas palavras que demonstram um 2nimo ofendido e magoado, em vez de sabedoria: e logo em seguida perceberemos aquilo que Sarsi observou. No momento percebo, pela sua confiss*o, que ele esteja internamente ofendido e encolerizado, pois, se ele assim n *o o fosse, querer abster-se de tratar disto teria sido, se n *o fora de prop%sito, ao menos suprfluo, porque onde n*o existe costume ou aptid*o n*o existe abstin,ncia. A respeito daquilo que ele escreve a seguir, isto , de querer, como terceira pessoa, relatar aquelas coisas que ouviu do Pe. Oracio Grassi, seu preceptor, referente 1s minhas -ltimas descobertas, eu absolutamente n*o acredito e tenho certeza de que o padre mencionado acima nunca tenha dito nem pensado nem visto escritas estas fantasias de Sarsi, fantasias estas afastadas demais, sob qualquer ponto de vista, daquelas teorias que se lecionam no Col gio onde o Pe. Grassi professor, como espero fazer
entender claramente. E sem me distanciar demais deste ponto, que seria aquele que, nem tendo um pequeno conhecimento da prud,ncia daqueles padres, poderia ser induzido a acreditar que alguns deles tivessem escrito e publicado que eu, em cartas particulares escritas em Roma para amigos meus, me proclamasse abertamente autor da publica'*o do Sr. M"rio? Isto n*o verdade e, mesmo que tivesse sido verdade, a sua publica'*o teria insinuado prazer em espalhar alguma semente que pudesse fazer nascer entre amigos $ntimos alguma sombra de desconfian 'a. E qual o resultado de tomar a liberdade de imprimir as obras particulares alheias? 5 bom, porm, que V. E. Ilustr$ssima seja informada da verdade deste fato. Durante todo o tempo que o cometa era vis$vel, eu me encontrava acamado, onde, freq4entemente visitado por amigos, muitas vezes a discuss *o caiu sobre os cometas, ocasi *o em que me ocorreu manifestar alguns dos meus pensamentos que demonstravam ser duvidosas as teorias apresentadas at agora. Entre os outros amigos, apareceu diversas vezes o Sr. M"rio, anunciando-me, um dia, querer falar a respeito dos cometas, na Academia, onde, se eu concordasse, ele levaria as coisas que tinha coletado de outros autores e as que ele mesmo tinha elaborado, bem como aquelas que tinha escutado de mim, j " que eu n*o estava em condi'*o de poder escrever. Considerei bem oportuna a sua gentil oferta e fiquei muito grato, por m n*o a aceitei. No entanto, quer de Roma, quer de outros lugares, outros amigos e patronos que talvez ignoravam a minha enfermidade, perguntavam-me continuamente se tinha alguma coisa a dizer sobre esta mat ria. Respondia-lhes que n *o tinha nada a n*o ser algumas d-vidas sobre as quais n*o podia escrever devido 1 minha doen'a e esperava que bem breve poderiam ficar conhecidas minhas opini )es e d-vidas inseridas num discurso dum gentil-homem, amigo meu, que em minha honra tinha-se dado ao trabalho de colet "-las e inseri-las numa publica '*o sua. Isto tudo o que tenho a ver com este assunto e, em numerosas passagens, foi relatado pelo mesmo Sr. M"rio. Assim, ningu m pensou que Sarsi pudesse, acrescentando, em verdade, introduzir cartas minhas, nem algu m pensou que ele pudesse dar ao Sr. M "rio t*o pouco lugar numa publica'*o que era dele (onde ele tem uma import2ncia maior que a minha), quase dando-lhe o lugar de copista. Agora, j " que ele quis assim, continue, ent *o, assim; e o Sr. M"rio, em compensa'*o da honra a mim feita, aceite a defesa da sua publica'*o. 5. E voltando ao texto, leia novamente V. E. Ilustr $ssima as palavras abaixo transcritas: Em
primeiro lugar, ele sente muito haver sido maltratado em nosso Discurso quando argumentamos a respeito da luneta que no aumenta nada o cometa, n$s deduz.amos disto que o mesmo encontra-se muito distante de n $s. Afirma, com efeito, haver declarado muito antes, com toda clareza, que este argumento no + de nenhuma import3ncia. Mesmo que haja afirmado, porventura os ventos trazem de novo em seu devi do lugar para meu mestre as coisas por ele pronunciadas? , verdade que a fama espalha geralmente as palavras dos grandes homens, por+m de suas palavras (que se pode fazer?) no chegou at+ n $s nem uma s.laba sequer. E mesmo que dissimulasse, ele soube todavia, atrav+s, tamb+m, do testemunho de muitas pessoas, que o esp.rito de meu mestre era muito benevolente para com ele, como, em discursos particulares e discuss5es p/blicas, ele no poupara elogios a seu respeito. Com certeza n o pode negar que nunca ningu+m foi mais
especificamente chamado a participar por meu mestre do que ele, e que nunca ningu+m foi to particularmente lembrado com alguma palavra. Se alguma d/vida, entretanto, o atormentasse, podia tamb+m lembrar-se de haver sido recebido um dia com toda honra neste Col +gio Romano pelos matem(ticos do pr$prio Col+gio e quando foi discutido publicamente em sua presen&a, mesmo que ele ouvisse e (qual mod+stia) corasse ante os seus louvor es a respeito dos astros Mediceus e da luneta, e quando depois por um outro, que, no mesmo lugar e com igual multido de gente, falou dos flutuantes, sempre e com prazer foi exaltado Galileu. N o podemos entender ento qual foi a causa pela qual, por sua vez, pareceu-lhe t o desprez.vel a dignidade deste Col+gio Romano, a ponto de chamar os mestres que l( ensinam de ignorantes em l$gica e afirmar, sem constrangimento, que nossas argumenta&5es sobre os cometas eram fundamentadas sobre argumentos f/teis e falsos.
A respeito destas publica')es particulares, afirmo primeiramente nunca me ter queixado por
haver sido maltratado no discurso do Pe. Grassi, porquanto tenho a plena certeza de que nunca Sua Rever,ncia pensou em minha pessoa para me ofender; e mesmo que, hipoteticamente, houvesse pensado que o Pe. Grassi, ao se opor 1queles que davam pouca import2ncia ao argumento do aumento do cometa, houvesse compreendido15 entre eles a mim tambm, Sarsi n*o deve pensar que isto tivesse sido motivo de desgosto e de queixa. Isto poderia ter acontecido se minha opini *o houvesse sido falsa, e como tal, descoberta e publicada; mas, sendo mais que verdadeiro meu racioc$nio, e falso o outro, a multid*o dos opositores, e especialmente o Pe. Grassi, com todo o seu valor, podia aumentar-me mais o prazer que a dor, uma vez que mais prefer$vel sair vitorioso de um numeroso e valoroso exrcito que de poucos e fracos inimigos. E por causa dos avisos que de muitas partes da Europa chegaram para seu Mestre (como escreve o Sarsi), alguns, passando por aqui, nos faziam sentir que geralmente todos os mais clebres astr+nomos fundamentavam-se muito sobre este argumento, nem faltavam ao nosso redor e na pr %pria cidade estudiosos com a mesma opini *o; eu, desde a primeira palavra que escutei, deixei bem claro que considerava muito v*o este argumento, e da$ ele muito zombar de mim, especialmente quando, em favor deles, apareceu o testemunho e a confirma'*o, dignos de toda confian 'a, do matem"tico do Colgio Romano. Isto (n *o posso neg"-lo) deu srcem a n *o pouco trabalho, pois, encontrando-me na necessidade de defender minha palavra de tantos contraditores, os quais, tendo-se tornado mais fortes por causa de tanta ajuda, mais imperiosamente levantavam-se contra mim, n*o conseguia contradiz,-los sem incluir tambm o Pe. Grassi. Ent *o, n*o foi minha escolha mas um acidente necess "rio, mesmo sendo ocasional, que dirigiu minha oposi '*o tambm por aquele lado que eu menos haveria desejado. Porm, se fosse minha pretens *o (como Sarsi acrescenta) que meu parecer tivesse que ser espalhado at Roma, como s%i acontecer com os pareceres dos homens clebres e importantes, isto vai muito al m dos limites da minha ambi '*o. 5 verdade que a leitura da Balan&a me proporcionou maravilhas, isto . que minhas palavras n*o tivessem chegado ao ouvido de Sarsi. E n *o espantoso que coisas que nunca 15
O termo "compreender", nessa poca, possui, quase sempre, n *o o significado moderno de "entender" -as o significado num rico de "estar compreendido em uma quantia".
falei nem pensei, das quais grande n-mero relatado em seu Discurso, fossem-lhe levadas e as outras, proferidas por mim mil vezes, lhe fossem desconhecidas? Pode ser que os ventos que levam as nuvens, as quimeras e os monstros que v *o se formando neles em tumulto n *o tenham for'a de levar consigo as coisas s %lidas e pesadas. Pelas palavras que v,m depois, parece-me que Sarsi me atribui como grande falta n *o ter retribu$do com outra tanta delicadeza grande honra a mim prestada pelos padres do Col gio em ministrar aulas p-blicas sobre minhas descobertas celestes e sobre minhas especula ')es a respeito das coisas flutuantes. O que que eu devia fazer? Sarsi responde-me: elogiar e aprovar o Discurso do Pe. Grassi.
Porm, Sr. Grassi, j " que as coisas entre mim e o senhor devem equilibrar-se e devem, como se
diz, ser tratadas tecnicamente, eu pergunto ao senhor se aqueles Reverend$ssimos Padres consideraram verdadeiras as minhas teorias ou as consideraram falsas. Se as consideraram verdadeiras e as louvaram como tais, o senhor me pediria agora, com juros demasiados, a devolu'*o do emprestado, querendo que exaltasse com o mesmo louvor as coisas que eu sei serem falsas. Se eles as consideraram v *s e mesmos assim as exaltaram, eu posso agradecer-lhes pela boa considera'*o; porm, teria gostado muito mais que me tivessem indicado o erro e me tivessem manifestado a verdade, porque eu considero de muito maior utilidade as verdadeiras corre')es do que a grandiosidade das ostenta ')es v *s: e, como eu acredito que aconte'a o mesmo a todos os bons fil %sofos, assim, nem de um lado nem do outro, sentiame obrigado. Poderia o senhor afirmar que eu talvez deveria ter-me calado. A esta obje '*o respondo em primeiro lugar que, estritamente, t $nhamo-nos obrigado um ao outro, o Sr. M"rio e eu, antes da publica'*o do texto do Pe. Grassi, a manifestar nossas id ias; calar-se, pois, teria feito jorrar sobre n %s um desprezo e uma goza '*o quase gerais. Ainda acrescento que me teria esfor 'ado e talvez teria at pedido para que o Sr. Guiducci n *o publicasse seu Discurso se tivesse constatado nele alguma coisa prejudicial 1 dignidade daquele famos$ssimo Colgio ou 1 dignidade de alguns dos seus professores. Porm, quando as opini )es impugnadas por n%s pertenceram todas elas a outros antes que ao matem"tico professor do Col gio, n*o entendo por que, somente com ter-lhe V. E. concedido o assentimento, nos obrigasse a dissimular e esconder a verdade para favorecer e manter vivo o erro. A acusa'*o, ent*o, de entender pouco de l %gica recai sobre Tycho16 e outros que geraram um equ$voco com aquele argumento, equ$voco este que foi por n %s descoberto n*o para acusar ou reprovar algum, mas para salvar outras pessoas de um erro e para manifestar a verdade, e nunca eu soube que a '*o semelhante pudesse ser logicamente reprovada. Sarsi, ent*o, n*o tem raz*o de afirmar que por minha causa tenha sido diminu$da a dignidade do Colgio Romano. Justamente pelo contr "rio, quando a voz de Sarsi sa$sse daquele Colgio teria eu a ocasi*o de considerar que os meus conhecimentos e minha reputa'*o n*o somente naquele momento espec $fico mas, talvez, por todos os tempos teriam sido subestimados demais, visto que nesta Balan&a nenhum dos meus pensamentos tem aprova '*o nem se 16
Padre Grassi sustentava a tese de Tycho, isto , de que os cometas s *o verdadeiros astros e n *o meteoros da atmosfera terrestre.
podem ler outras coisas a n *o ser contradi')es, acusa')es e reprova')es, e alm daquilo que se encontra escrito (se se deve prestar ouvido aos boatos), h" uma clara vaidade de conseguir destruir todas as minhas teorias. Mas, como n *o acredito nisso nem acho que desejo algum desse tipo exista naquele Colgio, prefiro imaginar que Sarsi deriva de sua filosofia igualmente o poder de louvar e reprovar, confirmar e rejeitar as mesmas teorias, de acordo com os impulsos da benevol ,ncia ou do desgosto. Faz-me lembrar a esta altura um professor de filosofia que se encontrava no meu tempo, no Est-dio de P"dua, estando desgostoso, como 1s vezes acontece com um concorrente seu, afirmou que, se ele n*o tivesse mudado de jeito, teria mandado, 1s escondidas, algu m espionar as teorias expostas por ele em suas aulas e que, por vingan'a, teria sempre sustentado as contr"rias. 6. Agora leia V. E. Ilustr$ssima: Mas para no perder tempo com vs discuss5es, no vejo, antes de mais
nada, com qual direito pode-se acusar meu mestre e culp (-lo, no de ter feito, mas de parecer ter feito uso das palavras de Tycho, como era natural, e de ter seguido em toda a sua parte as v s argumenta&5es dele. Mas tudo isto + claramente falso, pois, executada a forma de apresentar as provas e os m +todos atrav+s dos quais procura-se o lugar do cometa, nenhuma outra coisa poderia encontrar em nosso Discurso que haja seguido Tycho, como testemunham essas claras palavras. Os
.ntimos sentimentos de seu esp.rito, apesar de ser astr6nomo linceu, no olhou certamente com sua luneta; mas vamos conceder que tamb+m meu mestre haja aderido a Tycho. Que grande crime + este? A quem dever.amos seguir, de prefer)ncia? Por acaso Ptolomeu, cujos seguidores dizem que Marte, situado mais perto, amea&a com a espada desembainhada na garganta? Cop+rnico ento? Mas este, que + religioso, afastaria antes todo mundo dele, pois uma hip$tese condenada agora mesmo ser( condenada e no aceita por ele igualmente. Entre todos sobrava somente Tycho para ser tomado como guia pelo ignorado caminho dos astros. Por que razo, ento, censura meu mestre, que no o despreza? Em vo Galileu invoca S)neca, em vo Galileu chora a triste situa &o dos nossos tempos, pois no se conhece a disposi&o verdadeira e certa das partes do mundo, em vo deplora a triste situa&o deste s+culo, no existindo nada de melhor para alegrar esta idade que, segundo seu parecer, ao menos em rela&o a este assunto, + m.sera. Pelo que Sarsi escreve aqui, parece-me claro que n *o tenha lido com a devida aten'*o, n*o somente o Discurso do Sr. M"rio, mas nem aquele do Pe. Grassi, pois apresenta proposi ')es que n*o podem ser encontradas nos textos de nenhum dos dois. 5 bem verdade que, para poder conseguir acusar-me de ter relatado n*o sei qual das teses, ele teria necessitado que eu as tivesse escrito; assim, n*o as tendo encontrado, quis coloc"-las ele mesmo. Em primeiro lugar, n*o se encontra no texto do Sr. M "rio manifestado claramente, de forma alguma, nem considerado como falta do Pe. Grassi de ter jurado fidelidade a Tycho e seguido inteiramente suas v*s elucubra')es. Eis os lugares citados por Sarsi, na p "gina 18: Farei refer)ncia ao
professor de matem(tica do Col+gio Romano, o qual, numa publica&o sua editada recentemente, parece aceitar cada proposi&o deste Tycho, acrescentando novas raz 5es para confirmar o seu parecer. Em outro lugar, encontra-se na p"gina 38: O matem(tico do Col+gio Romano aceitou da mesma forma, a respeito deste /ltimo cometa, a mesma
hip$tese; e com esta afirma&o, al+m daquele pouco que foi escrito pelo autor que est ( de acordo com a posi&o de Tycho, mais me empolga ver, no resto de toda a obra, como ele concorda com as outras hip$teses de Tycho. Agora veja, V. E.
Ilustr$ssima, se aqui pode atribuir-se coisa alguma 1 culpa ou 1 falta. Alm disso, torna-se bem claro que, n*o se tratando na obra inteira a n *o ser de acidentes relativos aos cometas, sobre os quais tinha escrito Tycho t*o grande volume, dizer que o matem"tico do Colgio concorda com as outras hip %teses de Tycho, n*o pode ser referente a outro assunto que n*o seja 1quele dos cometas; assim, comparar as posi')es de Tycho e aquelas de Ptolomeu e Cop rnico, que nunca trataram de assuntos relativos a cometas, parece-me aqui fora de lugar. Aquilo que Sarsi afirma, isto , que no texto do seu Mestre n *o se pode encontrar nada que o coloque como seguidor de Tycho, com exce '*o das demonstra')es necess"rias para encontrar o lugar do cometa, para dizer a verdade, n *o bem assim; pelo contr"rio, nada menos exato que tal demonstra'*o. GALILEU
Gra'as a Deus que nisto o Pe. Grassi n*o imitou Tycho nem percebeu, com refer,ncia ao modo de investigar a dist2ncia do cometa pelas observa')es conclu$das em dois lugares diferentes da Terra, quanto fosse necess"rio conhecer os primeiros elementos das matem "ticas. E para que V. E. Ilustr$ssima veja claramente que eu n*o estou falando assim sem fundamento, observe a demonstra '*o que ele inicia na p "gina 123 do Tratado sobre o Cometa de 1577,que se encontra na -ltima parte de seus
Progimnasios, onde, querendo provar que n*o era inferior 1 Lua atravs da confer,ncia das observa')es que ele mesmo fez em Uraniburg17 e no Tadeu Agecio em Praga 18: tirada, antes, a corda AB do arco do orbe terrestre que media a dist2ncia entre os supramencionados lugares e olhando do ponto A a estrela fixa colocada em D, sup)e-se que o 2ngulo D A B seja reto; isto imposs$vel porque, sendo a linha AB corda de um arco menor de 6 graus (como o pr%prio Tycho afirma), torna-se necess "rio, ent*o, que o supramencionado 2ngulo seja reto e que a estrela fixa D esteja longe do z,nite de A ao menos 3 graus. Isto completamente falso, pois sua dist 2ncia m$nima de mais de 48 graus, sendo (como o pr %prio Tycho afirma) a declina '*o da estrela fixa D, isto , a estrela "guia, conhecida tambm por Abutre, de 7,52 graus para o norte e a latitude de Uraniburg de 55,54 graus. Ele escreve ainda que a mesma estrela fixa pode ser vista dos dois lugares A e B no mesmo lugar da oitava esfera, porque a Terra inteira, e n*o somente a pequena parte AB, n *o possui sens $vel propor'*o com a imensidade dessa oitava esfera. Porm, que Tycho me perdoe: a grandeza e a pequenez da Terra n*o t,m nada a ver com este caso, porque o fato de se poder enxergar por toda parte a mesma estrela no mesmo lugar deriva do fato de 17
Observat%rio criado por Tycho na ilha de Huen, re alizado com a ajuda de Frederico II da Dinamarca. Tadeu Agecio de Praga, morto em 1600, professor de matem"tica no Col gio Carol$neo de Praga e depois m dico dos imperadores Maximiliano II e Rodolfo II. 18
ela se encontrar realmente na oitava esfera, e n *o de outra coisa; justamente da mesma forma que os sinais que se encontram nessa folha, jamais em rela '*o * mesma folha mudar*o de lugar, apesar de qualquer mudan'a mesmo muito grande que o olho de V. E. Ilustr $ssima, que os est" enxergando, possa produzir. Um objeto colocado entre o olho e o papel, ao movimento da cabe 'a, mudar" de lugar aparentemente em rela'*o aos sinais, pois o mesmo sinal poder " ser visto ora pela direita, ora pela esquerda, ora mais alto, ora mais baixo. Da mesma forma mudam aparentemente de lugar os planetas no orbe estrelado, vistos de diversas partes da Terra, porque encontram-se muito distantes dele; e aquilo que neste caso opera a pequenez da Terra que, variando menos de aspecto os mais longe de n%s e variando mais aqueles que se encontram mais perto, por um que se encontre bem longe, a grandeza da Terra n*o suficiente para produzir uma tal variedade sens $vel. Depois, aquilo que ele afirma acontecer conforme as leis dos arcos e das cordas, veja V. E. Ilustr$ssima como ele se encontra longe de tais leis e at dos primeiros elementos de geometria. Afirma serem as duas retas AD e BD perpendiculares 1 reta AB, o que imposs$vel, porque somente a reta que procede do vrtice perpendicular 1 tangente e 1s suas paralelas, e estas n *o procedem do vrtice nem AB tangente ou paralela a esta. Al m disso, ele as quer paralelas e em seguida afirma que elas se juntar *o no centro: assim, alm da contradi'*o de serem paralelas e concorrentes, que, prolongadas, passam muito longe do centro. E finalmente conclui que, procedendo do centro rumo 1 circunfer,ncia em rela'*o ao termo AB, elas resultam ser perpendiculares. Ora, isto imposs$vel quanto imposs$vel que das linhas tiradas do centro rumo a todos os pontos da corda AB, somente aquela que cai no ponto mediano lhe perpendicular, enquanto que aquelas que caem nos termos extremos s *o, mais que todas as outras, inclinadas e obl $quas. Veja, ent*o, V. E. Ilustr$ssima quais e quantas extravag2ncias teria Sarsi feito aceitar pelo seu Mestre, quando a verdade seria aquilo que escreveu a este prop%sito, isto , que seu Mestre tenha seguido as formas de racioc$nio e as demonstra')es de Tycho em procurar o lugar dos cometas. Veja mais o pr %prio Sarsi como eu, melhor que ele, sem usar de astrologia nem telesc%pio, tenha penetrado, n *o direi os sentidos internos de seu esp$rito porque para estud"-los n*o possuo nem olhos nem orelhas, mas o significado de suas proposi')es, significado este que n *o muito claro e manifesto, n*o havendo necessidade de olhos perspicazes, gentilmente introduzidos por Sarsi com a finalidade, acredito eu, de zombar um pouco da nossa Academia. E como V. E. Ilustr $ssima e outros Pr$ncipes e Grandes Senhores conhecem, da mesma forma que eu, esta brincadeira, eu ent *o, pelas teorias acima manifestadas por Sarsi, n*o me preocupando muito com suas palavras, trabalharei sob a sombra destas teorias, ou melhor, iluminarei minha sombra com o seu esplendor. Voltando ao assunto anterior, veja V. E. como novamente ele quer que eu tenha considerado como grande falta do Pe. Grassi ter aderido 1s teorias de Tycho, e, com reprova '*o, pergunta: a quem devia ele seguir? Por acaso Ptolomeu, cuja teoria das novas observa ')es, com respeito a Marte, claramente falsa? Ou talvez Coprnico, do qual todo mundo se h" de afastar o mais r"pido poss$vel, por
causa de suas teorias ultimamente condenadas? Aqui eu percebo v "rias coisas: primeiramente, rejeito como falso eu ter reprovado o Pe. Grassi de seguir Tycho, mesmo que eu tivesse tido raz)es para faz,lo, como ficar" bem claro a seus adeptos por causa do Antitycho do Cavaleiro Chiaramonte 19. Aquilo que Sarsi relata aqui est" fora do assunto, e muito mais fora do assunto a introdu'*o de Ptolomeu e Coprnico, dos quais nunca soubemos existirem obras atinentes a dist 2ncias, grandezas, movimentos e teorias relativas a cometas, somente das quais estamos tratando e n *o de outras coisas, porque da mesma forma podiam ser introduzidos S %focles, Bartolomeu ou L$vio. Parece-me tambm perceber em Sarsi s%lida cren'a que, para filosofar, seja necess "rio apoiar-se nas opini )es de algum clebre autor, de tal forma que o nosso racioc $nio, quando n*o concordasse com as demonstra')es de outro, tivesse que permanecer estril e infecundo. Talvez considere a filosofia como um livro e fantasia de um homem, como a Il.ada e Orlando Furioso20, livros em que a coisa menos importante a verdade daquilo que apresentam escrito. Sr. Sarsi, a coisa n *o assim. A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos (isto , o universo), que n*o se pode compreender antes de entender a l$ngua e conhecer os caracteres com os quais est " escrito21. Ele est" escrito em l$ngua matem"tica, os caracteres s*o tri2ngulos, circunfer,ncias e outras figuras geom tricas, sem cujos meios
imposs$vel entender humanamente as palavras; sem eles n%s vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto. Porm, admitindo igualmente, segundo o parecer de Sarsi, que o nosso intelecto deva tornarse escravo do intelecto de outro homem (deixo a ele, transformando todos n %s em copiadores, louvar em si mesmo aquilo que reprovou no Sr. M "rio) e que nas contempla')es dos movimentos a Ptolomeu e a Coprnico, de ambos os quais possu $mos os sistemas inteiros do mundo, com grande habilidade constru$dos e finalizados. Isto parece-me n*o ter sido feito por Tycho, se j " n *o suficiente para Sarsi ter renegado os outros dois e ter-nos prometido um outro, se bem que depois n*o cumpriu. Nem gostaria que algum atribu$sse a Tycho haver convencido os outros dois de falsidade, porque, quanto ao sistema ptolemaico, nem Tycho nem os outros astr+nomos nem o pr%prio Coprnico mesmo podiam abertamente convenc,-lo, sendo que a principal raz*o deduzida dos movimentos de Marte e V,nus sempre contrariava o sentido. Pois, demonstrando-se o disco de V ,nus nas duas conjun')es e separa')es do Sol muito pouco diferente em grandeza em rela '*o a si mesmo e o disco de Marte no perigeu apenas tr,s ou quatro vezes maior que quando no apogeu, nunca Sarsi teria se persuadido de mostrar verdadeiramente este quarenta e este sessenta vezes maior num estado do que no outro, como teria sido necess "rio acontecer quando as suas convers )es tivessem sido realizadas ao redor do Sol, segundo o sistema copernicano. Todavia, que essa teoria verdadeira e clara para os sentidos, eu mesmo o demonstrei e deixei 1 m*o de quem quisesse ver um telesc %pio perfeito para testar. Depois, em rela'*o 1 hip%tese de Coprnico, mesmo que para benef$cio de n%s cat%licos da mais soberana 19
Scipione Chiaramonti, fil %sofo aristotlico do Est -dio de Pisa, foi, logicamente, opositor de todas as doutrinas contr "rias ao seu Mestre. Il.ada, texto de epop ia grega, por Galileu considerado aqui "livro" no sentido de "realidade hist %rica". Orlando Furioso, poema extraordin"rio de Ludovico Ariosto, considerado por Galileu uma "fantasia" e n*o "uma realidade hist%rica". 21 Base de toda a filosofia naturalista da Renascen'a. 20
sabedoria n*o tivssemos sido esclarecidos em nossos erros e iluminada a nossa cegueira, n *o acredito que uma tal gra'a e benef$cio tivessem podido obter-se pelos racioc $nios e pelas experi ,ncias expostas por Tycho. Sendo, ent *o, certamente falsos os dois sistemas e nulo o de Tycho, n *o deveria Sarsi reprovar-me se com S,neca desejo a verdadeira constitui'*o do universo. E mesmo que o desejo seja grande e muito querido por mim, n*o deploro, por m, entre l"grimas e tristezas, como escreve Sarsi, a misria e a calamidade deste s culo, nem h" o m $nimo vest$gio de tais lamenta')es em todo o texto do Sr. M"rio. Sarsi, contudo, necessitando encobrir e sustentar algum pensamento que ele deseja explicar, vai remanejando ele mesmo e fazendo a si aquelas acusa ')es que n*o lhe foram atribu$das por outros. E mesmo que eu lamentasse este nosso infort -nio, n*o vejo como exatamente possa Sarsi afirmar que minhas lamenta')es foram v*s, n*o possuindo eu nem modo nem faculdade de destruir tal misria, porque parece-me que justamente por isto eu teria raz*o de me queixar, e, pelo contr "rio, as lamenta')es ent*o n*o teriam lugar, uma vez que eu pudesse afastar este infort-nio. 7. Mas leia agora V. E. Ilustr$ssima: Desde que aqui no in.cio da discusso devo me opor 2quilo que me parece de menor import3ncia com
respeito 2quele homem to humano que como tal todo mundo o conhece, n o haveria sem d/vida imaginado nunca que, mais severo quase que o pr$prio Cato, se opusesse to fastidiosamente a alguma brincadeira e piada, propositalmente por n$s utilizadas no discurso, e antes para gozar afirmava que a natureza no deleita os poetas. Eu, por+m, quanto me encontrava longe desta opinio! At+ hoje considerei a natureza uma poetisa. Ela quase nunca d( fruto sem que haja antes, quase para brincar, manifestado as flores. E quem haveria imaginado Galileu to severo assim, que julgasse dever excluir nas quest5es importantes algum agrad(vel al.vio? Este comportamento+ in dicado mais para um est$ico que para um acad)mico. Todavia, com razo nos acusaria se houv+ssemos tentado, com brincadeiras e s(tiras, iludir, em vez de explicar, to importantes quest5es; mas, quem pro.be alguma brincadeira divertida e alguma piada no meio da severidade de s +rias quest5es? Eis que o acad)mico o pro.be. No obedeceremos. Ele no gosta da nossa forma de espirituosidade? Muitos, no menos s(bios que ele, gostam. Com efeito, no foi este o parecer de homens famos.ssimos, quer pela nobreza quer pela sabedoria, que estiveram presentes 2 nossa discusso, os quais lhes pareceu tudo sabiamente discutido que o cometa, triste e infausto press (gio para o vulgo, fora tratado com um certo ben+volo linimento de palavras e quase diminu.do. Por+m, voc) afirma que estas so coisas superficiais. E justo e por isto devem ser ligeiramente dilu.das. De acordo com aquilo que est" escrito aqui, resumindo-o em poucas palavras, afirmo que nem o Sr. M"rio nem eu somos de natureza t*o austera que as brincadeiras e as suavidades po ticas nos enjoem. Sejam testemunho disto as outras brincadeiras inseridas habilmente em seu texto pelo Pe. Grassi, sobre as quais o Sr. M "rio n*o proferiu palavra alguma de reprova '*o; pelo contr "rio, foram lidos com grande deleite o nascimento, o ber 'o, as habita')es, os funerais do cometa, e o ter-se ele acendido para iluminar o encontro e a ceia do Sol e de Merc -rio; nem ficamos incomodados que as luzes permanecessem escondidas vinte dias depois da ceia, nem ficamos incomodados sabendo que onde existe o Sol s *o in-teis e suprfluas as velas, e que o Sol n*o ceia, almo'a somente, isto , ele come de dia e n*o de noite, per$odo de tempo que lhe completamente desconhecido. Todas estas coisas foram relatadas de forma a n*o deixarem em n%s escr-pulo algum, pois n*o nos deixariam nada a
desejar sobre a verdade do conceito contido nestas brincadeiras, o qual, por ser not%rio e manifesto por si mesmo, n*o tinha necessidade de outra mais profunda demonstra'*o. Porm, que numa quest*o t *o importante e t*o dif$cil, qual o querer nos persuadir de que exista realmente e fora de qualquer brincadeira na natureza um orbe celeste particular para cometas, enquanto que Tycho n *o pode dar uma explica'*o da deformidade do movimento aparente deste cometa, meu racioc$nio ent*o deve parar de raciocinar e satisfazer-se com um requinte potico, o qual n*o produz fruto algum, isto , aquilo que o Sr. M"rio recusa, e com raz *o e com verdade afirma que a natureza n *o se deleita com poesias. Afirma'*o esta bem verdadeira, se bem que Sarsi aparente n*o acreditar e finja n*o conhecer os mitos e as fantasias, pois, sem a natureza e a poesia, n *o podem subsistir. Estas mentiras s *o t*o detestadas pela natureza que mais poss $vel encontrar nela alguma mentira do que encontrar trevas na luz. Mas agora j" tempo de tratarmos do assunto de maior import2ncia. Leia V. E. Ilustr $ssima o seguinte: 8. Vou tratar agora de coisas muito mais s+rias. Meu mestre achou que fosse necess(rio procurar o lugar do
cometa especialmente atrav+s de tr)s argumentos: primeiro, sem d /vida, pelas observa&5es da paralaxe; segundo, pelo seu movimento; terceiro, pelas coisas que se observam nele atrav+s da luneta. Galileu procura minimizar cada um deles e priv(-los de sua import3ncia. Tendo-nos demonstrado que o cometa apareceu com uma pequena diversidade de aspecto nas v(rias observa&5es de lugares diferentes, e por causa disto fora necess (rio coloc(-lo al+m da Lua, Galileu afirma que o argumento srcinado pela pesquisa referente 2 paralaxe no + de peso algum se antes no se estabelecer se de fato as coisas observadas so reais e est (veis ou puras apar)ncias em movimento. Est( certo, mas no havia necessidade. Por que argumentar a respeito, se tudo isto j( estava assentado? Sem d/vida, como n$s +ramos contr(rios ao parecer dos peripat+ticos principalmente, cuja opinio + ainda important.ssima para os numerosos seguidores, em vo poder.amos ter exclu.do os cometas do n/mero das coisas irreais, pois que esta d /vida no existia no esp.rito de nenhum de n$s. E o pr$prio Galileu, contradizendo Arist$teles, no usa argumento mais convincente nem mais v(lido do que aquele srcinado pela paralaxe. Por que, ento, para uma questo em tudo semelhante, no nos era permitido usar livremente a mesma argumenta&o? Para conhecer qual o teor das coisas aqui relatadas, ser " suficiente resumir brevemente aquilo que o Sr. M"rio afirma e aquilo do qual sofreu oposi '*o. De uma forma geral o Sr. M"rio escreveu:
Aqueles que pela paralaxe querem determinar o lugar do cometa precisam antes estabelecer se ela + uma coisa fixa e real e no uma vaga apar)ncia, porque a lei da paralaxe deriva da realidade de um objeto e no da apar)ncia, como ele exemplifica com abund2ncia de particulares. Acrescenta depois que a falta de paralaxe n *o compat$vel com as duas preposi')es Aristotlicas22 que afirmam que o cometa fogo, isto , uma coisa bem real e que se encontra no espa'o bem perto da Terra. A isto op )e-se Sarsi, afirmando: Est( tudo bem, por+m no
tem nada a ver com o nosso assunto, porquen$s discutimos contra Arist$teles, e teria sido vo o esfor&o de provar que o cometa no seja uma apar)ncia, pois n$s concordamos com ele que seja coisa real, e nosso argumento como de coisa real,
22
A filosofia aristotlica pressup)e um mundo cosmol%gico pr-constru$do, im%vel e organizado, que contrasta, ent *o, com as teorias sobre os cometas destes autores.
porque derivado de paralaxe, conclui assim. Acrescenta at+ que o pr $prio advers(rio no utiliza o argumento mais v(lido contra Arist$teles; e se chega a utiliz (-lo, por que no podemos, pelo mesmo motivo, utiliz(-lo livremente n$s tamb+m? Ora, n*o entendo o que Sarsi pretende aqui nem em que ponto pensa ele contestar o Sr. M "rio, pois que ambos relatam as mesmas coisas, isto , que a lei da paralaxe n*o vale nas coisas aparentes, porm bem vale nos objetos reais, e conseq 4entemente vai contra Arist%teles, enquanto quer que o cometa seja coisa real. Aqui, se temos que dizer a verdade, com permiss *o de Sarsi, n*o podemos dizer outra coisa a n *o ser que ele, disfar 'ando as palavras do Sr. M"rio, quis ofuscar a vista do leitor para que este permane'a na opini *o de que o Sr. M"rio tenha-se exprimido fora do prop %sito. Porque, querendo que a obje'*o de Sarsi vigorasse, seria necess "rio que, onde o Sr. M"rio, falando em geral para o mundo inteiro, diz Quem quer que o argumento da paralaxe se refira ao cometa, + necess(rio provar antes que
aquela coisa seja real, precisasse, afirmo, ter dito: Se o Pe. Grassi quer que o argumento da paralaxe seja contra Arist$teles, que considera o cometa uma coisa real e no aparente, + necess(rio que prove antes que o cometa seja uma coisa real e no aparente. Assim as palavras do Sr. M"rio seriam de fato um enorme desprop%sito, que como tal Sarsi gostaria que parecessem. Por m o Sr. M"rio nunca escreveu nem pensou estupidezas semelhantes. 9. Mas deveriam ter sido discutidas tamb+m as opini5es de Anax(goras, dos pitag$ricos e de Hip$crates.
Todavia nenhum deles havia afirmado que o cometa + uma iluso $ptica. Anax(goras, com efeito, afirmou que o cometa + uma reunio de estrelas bem verdadeiras. Tanto Hip$crates como Esquilo no diferem em nada dos pitag$ricos. Arist$teles, na verdade, quando exp 6s a opinio dos pr$prios pitag$ricos que dizem que o cometa + uma das estrelas errantes vagarosamente aproximando-se de n$s e rapidissimamente afastando-se, acrescenta: "De maneira igual enunciaram tamb+m aqueles que seguiram Hip$crates de Quio e seu disc .pulo Esquilo, mas afirmam que o cometa n o possui uma cauda em si mesmo, por+m 2s vezes adquire por causa do lugar enquanto anda vagando, ficando nossa vista refratada pelo fluido23 atra.do por ele mesmo para o Sol". Galileu, na verdade, no in.cio de sua disserta&o, quando examina as opini5es deles, afirma que eles consideram o cometa uma estrela que, uma vez chegada perto da Terra, atrairia a si alguns vapores, mesmo da Terra, com os quais acomodariapara si convenientemente no a cabe&a mas a cauda. Diga-se de passagem que Galileu julga com menos oportunidade que o cometa seja srcinado por aqueles mesmos lugares acreditados pelos pitag$ricos, que achavam que ele existia por causa da refra&o da luz; na realidade, eles n o perceberam nada de ilus$rio no cometa, com exce&o da cauda. Entende, ento, que a nenhum deles pareceu que o cometa, se falarmos de sua cabe&a, deve ser considerado pura apar)ncia. Ento, pois, todo o mundo estava de acordo em rela&o a este argumento, por que dever.amos ter despojado este brilhant.ssimo fogo daqueles fantasmas ou daqueles jogos de luzes, e afastar dele aquela culpa que homem algum, cuja opinio tivesse um certo valor, lhe imputava? Cardano e Tel +sio, com efeito, dos qu ais Galileu parece haver tirado alguma coisa a prop$sito deste assunto caindo em uma est+ril e infeliz filosofia, n o sendo alegrados por descend)ncia alguma, deixaram livros para a posteridade, no filhos. Para n$s e Tycho + suficiente afirmar que no discutiram erradamente 23
De acordo com a teoria naturalista renascentista, o cosmo inteiro era animado e "ativo" internamente. Esta "vida" ou "alma" interna (que srcinar " o termo "filosofia animista") a causa de qualquer fen +meno.
aqueles que nunca suspeitaram que o cometa fosse um fantas ma vo e falso, o que fizeram, segundo o testemunho do pr$prio Galileu, as academias de todos os fil$sofos existentes at+ agora. Pois, se existiu algu+m que eloq4entemente ensinou que estes fen6menos devem ser colocados entre os fen6menos puramente aparentes, eu lhe mostraria, no momento certo, se no estou errado, quanto os cometas so diferentes, em seu comportamento e em seu movimento, do arco-.ris, dos halos e das coroas, e com quais argumentos se chega 2 concluso de que o cometa, com exce&o da cauda, no se movimenta segundo o mando e o desejo do Sol, o que + comum a todos os astros aparentes, mas movimenta-se livremente e percorre sua
$rbita para a qual sua natureza o impelir e levar. Querendo aqui tambm mostrar universalmente que a d-vida levantada pelo Sr. M"rio era v* e suprflua, afirma que nenhum escritor antigo ou moderno, digno de alguma considera'*o, poderia alguma vez ter pensado que o cometa pudesse ser uma simples apar ,ncia, e que por isto seu Mestre, que s% com eles discutia e que aspirava exclusivamente 1 vit%ria sobre eles, n *o se esfor'ava nada para tir"-la dos puros simulacros. A isto eu respondo afirmando em primeiro lugar que Sarsi, mesmo com um racioc$nio semelhante, podia deixar de lado o Sr. M "rio e a mim porque n*o pertencemos ao n-mero daqueles antigos e modernos contra os quais discutia seu Mestre, e temos tido a inten '*o de falar somente com aqueles (sejam eles antigos ou modernos) que procuram com todas as for 'as investigar n*o importa qual verdade na natureza, deixando completamente na pr %pria opini*o aqueles que, s% para ostentar estrondosas discuss )es, aspiram, com um grandioso aplauso popular, a serem julgados n *o pesquisadores de verdades, mas somente serem superiores aos outros; nem devia empenhar-se t *o ansiosamente para derrubar coisas que nem para ele mesmo, nem para seu Mestre, eram prejudiciais. Ele devia, em segundo lugar, considerar que muito mais excus "vel a algu m que em alguma profiss*o n*o se engane em alguma particularidade relativa a esta profiss *o, e especialmente quando nem mil outros, que tenham a mesma opini*o, lembraram e concordaram com uma coisa que v* e in-til naquele assunto. Assim, ele podia e devia antes confessar que seu Mestre, como nenhum dos seus antecessores, n*o tinha nem pensado que o cometa podia ser uma apar,ncia, em vez de esfor'ar-se para declarar v* a dedu'*o 1 qual n%s chegamos. Porquanto, uma semelhante admiss *o, alm de n*o ser nenhuma ofensa para seu Mestre, teria sido ind$cio de uma liberdade ing,nua, que, n*o podendo aceitar isto sem ofensa 1 minha reputa'*o (quando ele tivesse conseguido o intento), antes sinal de esp$rito alterado por alguma paix *o. O Sr. M"rio, na esperan 'a de fazer algo agrad"vel e prof$cuo para os estudiosos da verdade, prop+s, com toda modstia poss$vel, que no futuro fosse mais conveniente considerar a ess,ncia do cometa para verificar se ele pudesse ser algo n*o real mas simplesmente aparente, e n*o reprovou, de forma alguma, nem o Pe. Grassi nem outros por n *o o terem feito at aquele momento. Sarsi se levanta e com mente alterada procura demonstrar que a d -vida tinha sido colocada fora de prop%sito e que era manifestamente falsa. Todavia, para se encontrar, como se diz, pronto para as duas possibilidades 24, sob qualquer forma em que ela pudesse aparecer digna de alguma considera'*o, para despojar-me daquele elogio que dela derivaria, ele a declara como opini *o velha j" 24
"In utrumque paratus."
apresentada pelo Cardano 25 e pelo Telsio26, porm desprezada pelo seu Mestre como fantasia de fil%sofos fracos e sem seguidor algum; e no mesmo instante finge e n *o percebe com qu*o pouca caridade ele despoja e tira toda a reputa '*o daqueles fil%sofos para encobrir uma pequen$ssima verruga daquele seu Mestre. Sarsi, se o senhor se torna disc $pulo daqueles venerandos Padres seguidores da filosofia natural, o senhor n *o se torna, por m, seu disc$pulo na moral porque ningu m acreditaria no senhor Aquilo que o Cardano e o Telsio escreveram eu n*o o vi, porm, por outros relacionamentos que faremos depois, posso facilmente conjeturar que Sarsi n *o tenha compreendido bem as teorias deles. Seria uma falta de minha parte deixar de demonstrar, como advert ,ncia para ele e como defesa para aqueles fil%sofos, como carecem de l %gica as conclus )es do Sarsi, que afirma ser pouca a profundidade da ci,ncia filos %fica deles devido ao pequeno n-mero de seus disc$pulos. Por acaso acredita Sarsi que bons fil%sofos podemos encontr "-los em todas as quadras, dentro de cada recinto dos muros? Eu, Sr. Sarsi, acredito que os fil %sofos voam como "guias e n*o como p"ssaros pretos. 5 bem verdade que as "guias, por serem raras, oferecem pouca chance de serem vistas e muito menos de serem ouvidas, e os p "ssaros pretos, que voam em bando, param em todos os cantos enchendo o c u de gritos e rumores, tirando o sossego do mundo. Mas queira Deus que os verdadeiros fil%sofos fossem como as "guias e n*o como a f ,nix. Sr. Sarsi, infinito o bando dos est -pidos, isto , daqueles que n*o entendem nada; muitos s *o aqueles que sabem alguma coisa de filosofia; poucos s *o aqueles que entendem um pouco de filosofia; pouqu $ssimos s*o aqueles que conhecem alguma parte dela; um s %, Deus, o que a entende toda. Assim que, para relatar aquilo que eu deduzi, ocupando-me da ci ,ncia que atravs de demonstra')es e de discurso humano se pode conseguir dos homens, eu acredito firmemente que quanto mais ela participar da perfei '*o tanto menor n-mero de conclus)es prometer" ensinar, tanto menor n -mero delas demonstrar", e, conseq4entemente, tanto menos agradar", e tanto menor ser" o n-mero de seus seguidores. Pelo contr "rio, porm, a magnific,ncia dos t$tulos, a grandiosidade e a abund2ncia das promessas, atraindo a natural curiosidade dos homens, mantendo-os entretidos perpetuamente com mentiras e quimeras, sem nunca proporcionar-lhes o prazer da profundidade de uma -nica demonstra'*o, onde o gosto uma vez apurado saiba reconhecer a falta de sal nos alimentos costumeiros, conseguir *o desta forma manter ocupado grande n-mero deles. E grande sorte ter" algum que, iluminado por uma luz natural, saber" sair dos confusos labirintos nos quais teria continuado a caminhar com o comum e no entanto sempre mais amarrado. Julgar, ent *o, as teorias de algum em matria de filosofia pelo n -mero dos seguidores, considero pouco exato. Mesmo considerando que possa ser reduzid$ssimo o n-mero de seguidores da melhor filosofia, n *o chego porm 1 conclus*o de que aquelas opini )es e doutrinas, por terem poucos seguidores, sejam necessariamente perfeitas; porque compreendo muito bem que algu m possa considerar certas opini )es 25
Girolamo Cardano, fil%sofo e cientista entre os mais famosos da Renascen'a, foi lembrado mais pelas suas obras de magia que por sua resolu'*o da equa'*o do cubo. 26 Bernardino Telsio, calabr,s, com Giordano Bruno e Tommaso Campanella, sistematizou completamente a filosofia animista da poca, escreveu o De natura rerum iuxta pr $pria principia ("Sobre a natureza das coisas segundo seus verdadeiros princ .pios "). Contrariamente 1 opini*o de muitos, todos os fil %sofos naturalistas ou animistas, que o mesmo, foram sempre contr "rios 1s opini)es peripat ticas
t*o erradas que sejam recusadas por todos os outros. Ora, de qual das duas raz )es srcina-se a escassez de seguidores dos dois autores chamados por Sarsi infecundos e desgra&ados, eu n*o sei nem estudei suas obras para que me fosse poss$vel julg"-los. Voltando ao nosso assunto, afirmo que tarde demais para Sarsi querer demonstrar que o seu Mestre, n*o porque n*o raciocinasse sobre o argumento, mas porque desprezou como coisa extremamente v* a idia de que o cometa pudesse ser uma simples apar ,ncia, e que nestes n*o vinga o argumento da paralaxe, n*o fez nem men'*o. Muito tarde, digo, uma desculpa, porque quando ele escreveu no seu Problema: Afirmo que se uma coisa qualquer + colocada entre o c+u e a Terra, assim que possa ser 27
vista de lugares diferentes, aparecer( tamb+m em diversas partes do c+u , claramente demonstra n*o ter pensado a respeito do arco- $ris, do halo, dos peri lios e outras teorias que n*o repousam sobre esta lei, teorias que ele deveria mencionar e colocar como exce '*o, especialmente ele que, deixando Arist %teles e seguindo Kepler28, afirma que o cometa pode consistir em um reflexo. Continuando, parece-me que Sarsi faz grande diferen'a entre a cabe'a do cometa e a cauda, aceitando que a cauda pode ser mesmo uma ilus*o da nossa vista e verdadeiramente apar,ncia, e que como tal a tenham considerado aqueles pitag%ricos mencionados por Arist %teles. Quanto 1 cabe'a, considera, por m, necess"rio que ela seja tida como coisa real e que ningu m jamais tenha considerado de modo diferente. Neste ponto, gostaria de fazer uma bem clara distin'*o entre aquilo que o Sarsi entende como real e aquilo que entende como aparente, e qual a raz*o que faz ser real aquilo que verdadeiramente real e aparente aquilo que verdadeiramente aparente. Porquanto, se ele chama real a cabe'a por ser de matria e subst2ncia real, eu afirmo que tambm a cauda real; assim, se algum afastasse aqueles vapores onde nossa vista se reflete face ao Sol, destruir-se-ia a cauda tambm, da mesma forma que tirando as nuvens, tiram-se o arco- $ris e o halo. E se afirmar que a cauda n *o real porque sem o reflexo do Sol n*o existiria, eu afirmo que este mesmo racioc$nio deve-se atribuir 1 cabe'a, porque, quer a cauda quer a cabe 'a, n*o s*o outra coisa que reflexos de raios em uma mat ria qualquer, pois, enquanto eles s *o puras apar,ncias, enquanto matria s*o coisas reais. E se Sarsi admite que em rela'*o 1 mudan'a de lugar do observador pode verificar-se mudan'a em rela'*o ao lugar da srcem da cauda na mat ria, eu afirmo que a mesma coisa pode acontecer em rela '*o 1 cabe'a. E n*o acredito que aqueles antigos fil %sofos tivessem opini)es diferentes, porque se, por exemplo, tivessem acreditado que a cabe 'a fosse realmente uma estrela em si mesma, brilhante e consistente, e que somente a cauda fosse aparente, teriam dito que quando, por causa da obliq4idade da esfera, n*o se verifica a refra'*o de nossa vista face ao Sol, n *o se percebe mais a cauda, mas a estrela que a cabe'a do cometa. Isto nunca foi afirmado por eles, pelo contr"rio, afirmam que neste caso o cometa n *o era vis$vel. Mas, mesmo que os antigos tenham ou n *o tenham feito tais afirma ')es, elas est *o sendo elaboradas agora pelo Sr. M "rio com v"lidas raz)es para 27
"Statuo, rem quamcumque inter firmamentum et Terram constituam, si diversis ex locis spectetur, diver-sis etiam firmamenti partibus responsarum." 28 Jo*o Kepler, astr+nomo alem*o de enorme import 2ncia, morto em 1630, assistente de Tycho. ao qual sucedeu no cargo, autor de numerosas obras, contr"rio a Galileu no come 'o, acabou concordando com o matem "tico italiano.
duvidar, raz)es que devem ser ponderadas, como faz o pr%prio Sarsi. N%s, de nossa parte, tra'aremos considera')es sobre aquilo que ele escreve. 10. Por enquanto continue V. E. Ilustr $ssima a ler: Exatamente da mesma forma devo responder 2s
obje&5es sobre o argumento oriundo do movimento. Pela forma como se encontram os lugares do cometa nos dias determinados, lugares que aparecem em plano, seguindo o movimento hor(rio, em linha reta, n$s infer.amos que aquele movimento se verificava necessariamente em uma circunfer)ncia m(xima: mas Galileu replica: "N*o se deve deduzir isto necessariamente; pois, se o movimento do cometa tivesse sido verdadeiramente em linha reta, suas posi')es tambm, realizando-se em movimento hor"rio, teriam formado uma linha reta; todavia este movimento n*o teria se verificado atravs de um c$rculo m"ximo". Entretanto, mesmo sendo bem verdade, o movimento retil.neo deveria ter sido representado tamb+m com uma linha reta. Como todavia era uma controv +rsia contra
aqueles que, ou no haviam tido d/vida alguma a respeito do movimento circular do cometa, ou no haviam pensado nunca sobre este movimento retil.neo, isto +, contra Anax (goras, os pitag$ricos, Hip$crates e Arist$teles, perguntava-se somente se o cometa, que se considerava movimentar-se circularmente, percorre ria $rbitas maiores ou menores, no desreguladamente, mas ordenadamente; pelo movimento aparente em linha reta deduzia-se que o c.rculo descrito pelo movimento era uma circunfer)ncia m(xima: ningu+m, com efeito, havia apresentado este movimento reto e perpendicular. Apesar de Kepler, antes de Galileu, em algumas breves notas a respeito do movimento dos cometas, procurar explicar este movimento por meio de linhas retas, percebeu todavia em qu antas dificuldades iria afundar-se. Por isso n o afirmou este movimento perpendicular 2 Terra, mas sim transversal, no igual mas mais vagaroso no in.cio que no fim, com velocidade m(xima no ponto m+dio. Al+m disso, achou que este movimento deve ser refor &ado pelo movimento circular da pr $pria Terra, para explicar todos os fen 6menos dos cometas: isto no + de modo algum permitido a n $s cat$licos. Eu ento resolvi considerar nula aquela opini o que no podia ser sustentada com argumenta&5es piedosas e santas. Pois, se Galileu com poucas altera&5es Julgou dever-se atribuir aos cometas este movimento retil.neo, no havendo ele explicitado isto claramente, eu mostrarei isto minuciosamente mais adiante. Saiba, por enquanto, que n $s no pecamos contra as leis da l$gica quando do movimento aparente em linha reta deduzimos que foi tra&ada a mesma parte do c.rculo m(ximo. Qual era, com efeito, a necessidade de excluir aquele movimento retil .neo e perpendicular que era bem conhecido por n o fazer parte em nada dos cometas? O Sr. Guiducci, com a finalidade mais que honesta de facilitar mais o caminho daqueles que pesquisam a verdade, havia tomado em considera '*o os equ$vocos daqueles que, havendo percebido que o cometa movimentava-se em linha reta, ficaram acreditando que o movimento do j " mencionado cometa procedesse atravs de uma circunfer,ncia m"xima, considerando que, apesar de o movimento atravs de uma circunfer,ncia m"xima possuir a apar ,ncia de movimento retil $neo, o contr"rio, porm, n*o era necessariamente verdadeiro, isto , que o movimento que fosse percebido como reto fosse srcinado de uma circunfer ,ncia m"xima, como havia sido afirmado por aqueles que do aparente movimento reto deduziam que o cometa se movimentava atravs de uma circunfer,ncia m"xima. Entre eles estava o Pe. Grassi, o qual, apoiando-se talvez na autoridade de Tycho, que por primeiro se havia equivocado, passou por cima dele chegando a um ponto onde ele n *o haveria chegado se n*o tivesse
tido tal precursor. Para mim excus"vel o pequeno erro do Padre que, acredito eu, considerou de capital import2ncia o aviso do Sr. M"rio, atribuindo-lhe grande import 2ncia. Agora vem Sarsi e, continuando segundo seu feitio costumeiro, esfor 'a-se por fazer aparecer o aviso como uma inadvert,ncia e como falta de considera'*o, acreditando salvar desta forma seu Mestre: por m, pareceme que surte efeito contr "rio (se o Padre fosse de acordo com as desculpas e defesas do Sarsi) e que, para evitar um -nico erro, ca$a em muitos. Em primeiro lugar, continuando Sarsi a considerar v *o e suprfluo o aviso relativo 1quelas coisas que nem ele nem outro haviam feito, afirma que, contestando seu Mestre, Arist %teles e os pitag%ricos que nunca haviam introduzido em rela '*o aos cometas movimento reto, estaria fora de cogita'*o que seu Mestre houvesse advertido a respeito. Por m, se refletirmos cuidadosamente, esta desculpa n*o ajuda em nada o Padre, porque aqueles advers "rios seus n*o havendo introduzido jamais em rela'*o aos cometas o movimento por circunfer,ncias menores, da mesma forma suprfluo demonstrar que eles se movimentam por circunfer ,ncias m"ximas. Sarsi precisa, ent *o, afirmar que aqueles antigos fil%sofos tenham escrito que os cometas se movimentam por circunfer,ncias menores ou confessar que seu Mestre tenha procedido superficialmente ao considerar o movimento provir de uma circunfer,ncia m"xima, como teria acontecido considerar o movimento proceder de linha reta. E mais (e seja como segunda coisa), aceitando o jogo de Sarsi, muito maior falta foi deixar sem investiga'*o o movimento reto, pois o pr%prio Kepler j" o havia atribu$do aos cometas e o pr %prio Sarsi o coloca em seu texto. Nem me parece que a desculpa que ele apresenta seja completamente suficiente, isto , para se tirar esta opini *o de Kepler referente 1 mobilidade da Terra, opini*o que pia e santamente n*o pode ser aceita, Sarsi por isto a considerava in-til, pois isto devia antes ser-lhe est $mulo para destru$-la e manifest"-la imposs$vel. Talvez n*o seja errado demonstrar tambm com raz)es naturais, quando isto poss$vel, a falsidade daquelas proposi')es que s*o declaradas contr"rias 1s Sagradas Escrituras. Terceiro, resta ainda uma falta de Sarsi, porque n*o somente o movimento verdadeiramente reto nos aparece em linhas retas, mas qualquer outro, todas as vezes que ele se realiza no mesmo plano do olho que o est" observando, e isto foi relatado tamb m pelo Sr. M"rio. Assim, ser " necess"rio para Sarsi achar um modo de persuadir-nos que movimento algum fora do circular foi atribu $do alguma vez aos cometas; coisa esta n *o muito f"cil de realizar; porque, mesmo que ningu m mais o tivesse afirmado, ele mesmo o relatou poucas linhas abaixo, quando, em defesa da mudan 'a local do Sol de mais de 90 graus, ele d" lugar ao movimento circular, mesmo em linha oval, e, por necessidade, em qualquer outra linha irregular. Torna-se, ent*o, necess"rio que o mesmo movimento se apresente, 1s vezes circular, 1s vezes oval, 1s vezes completamente irregular, conforme necessidade de Sarsi; de outra forma, dever" admitir que a defesa de seu Mestre defeituosa. Quarto, o que acontecer" quando eu admitir que o movimento do cometa circular n*o somente pela opini*o comum mas de verdade e por necessidade? Pensar " talvez Sarsi que por isto
mesmo, quer pelo seu Mestre quer por outros, ser " demonstrado de forma concludente que o movimento se realiza atrav s de uma circunfer,ncia m"xima porque ele nos aparece em linha reta? Sei, por certo, que Sarsi acreditou nisto at agora; ele enganou-se; eu o tiraria do erro se soubesse que n *o lhe causaria desgosto; por isto eu lhe perguntaria quais s *o na esfera aquelas circunfer,ncias que ele considera m"ximas. Sei com certeza que me responderia serem aquelas que passando pelo centro daquela (que tambm o centro da terra) a dividem em duas partes. Ent *o afirmaria eu que as circunfer,ncias realizadas por V ,nus, Merc-rio e pelos planetas Mediceus n *o s*o circunfer,ncias m"ximas, pelo contr"rio, s*o muito pequenas, tendo estas como centro J -piter, e aquelas o Sol. Contudo, se observarmos quais s *o os movimentos que nos apresentam, veremo-los aparecer em linha reta, o que acontece por se encontrar nosso olho no mesmo plano das circunfer ,ncias realizadas por aquelas estrelas acima mencionadas. Conclu$mos, portanto, que, pelo fato de aparecer-nos um movimento retil$neo, n*o podemos concluir a respeito dele outra coisa a n *o ser que ele est" se realizando com a mesma probabilidade atrav s de uma circunfer,ncia m$nima. Podemos, ent*o, concluir que este movimento manifesta-se no plano que passa atravs do olho, isto , no plano de uma circunfer,ncia m"xima e que, em si mesmo, aquele movimento pode ser srcinado por uma linha circular, ou tambm por alguma outra, irregular como se queira, pois sempre nos aparecer " como movimento reto; ent *o, n*o sendo substitu$veis as duas proposi')es por n%s j" examinadas, aceitar uma pela outra equivocar-se, o que um procedimento il%gico. Se eu acreditasse que Sarsi n *o ficasse de mal comigo, gostaria poder levantar a seu respeito outro engano semelhante que, como vejo, passou desapercebido a homens de grande talento, e que talvez o pr%prio Sarsi deixou passar. Entretanto, n *o gostaria de deix"-lo desgostoso demonstrando como eu e muitos outros mais perspicazes que eu n *o o deixamos passar desapercebido. Mas, qualquer que seja a sua rea'*o, quero discuti-lo com V. E. Ilustr$ssima. Foi observado com muita agudeza que a extremidade da cauda, a cabe'a dos cometas e o centro do disco do Sol se percebem sempre segundo a mesma linha reta, deduzindo-se disto que a cauda um comprido reflexo da luz solar, diametralmente oposta ao Sol. Que eu saiba n *o houve ningum, por aquilo que podemos conhecer at agora, que tenha cogitado que a forma de se manifestar do Sol e todo o peda 'o do cometa em linha reta que possa concluir que necessariamente a linha reta tirada pela extremidade da cauda e pela cabe 'a do cometa alcance, prolongada, o Sol. Para aparecerem em linha reta, tr ,s ou mais elementos, suficiente que sejam colocados no mesmo plano que o olho. Assim, Marte ou a Lua poder*o ser vistos diretamente no meio de duas estrelas fixas, mas nem por isto a linha reta que uniria as duas estrelas passaria atrav s de Marte ou da Lua. Ent*o, do aparecer da cauda do cometa diretamente em oposi '*o ao Sol, n*o podemos concluir outra coisa a n *o ser que ele se encontra no mesmo plano do olho. E agora, como quinta coisa, pode-se perceber, direi assim, uma certa inconst 2ncia nas palavras finais lidas por V. E. Ilustr $ssima e por mim examinadas, onde Sarsi preocupa-se em querer, mais abaixo, demonstrar como eu, isto , o Sr. M"rio, erradamente atribuiu ao cometa o movimento reto, e
depois, tr,s linhas mais abaixo, afirma n *o existir necessidade alguma de excluir este movimento reto, o qual era certo e manifesto n*o se encontrar nos cometas. Mas se a impossibilidade deste movimento clara e evidente, por que preocupar-se em querer exclu $-lo? E de que forma ele claro e manifesto se, pelas mesmas palavras de Sarsi, ningum jamais n*o somente n*o a relatou como nem alguma vez a considerou? Somente Kepler, afirma ele, considerou este movimento. Mas Kepler n *o o impugna, pelo contr"rio, o introduz como poss$vel e verdadeiro. Parece-me que Sarsi, percebendo que podia fazer outra coisa, procura emaranhar o leitor, mas eu procurarei livr"-lo. 11. Mas quando se op5e ainda sobre este ponto: Se o cometa se movimentasse ao redor do Sol, quando ele se afastasse do mesmo Sol por um quadrante inteiro, ele desceria um dia, at a Terra, talvez Galileu no perceba que o cometa pode movimentar-se ao redor do Sol no s$ de um modo. E se a $rbita, atrav+s da qual
movimentava-se, tivesse sido exc)ntrica ao Sol, e em sua maior parte tivesse sido colocada ou acima do Sol ou virada para o norte? E se o movimento no tivesse sido circular mas el.ptico e por isto comprimido na parte mais alta e na mais baixa, muito alongado nos lados? E se no tivesse sido nem mesmo el.ptico, mas completamente irregular, pois, segundo o sistema do mesmo Galileu, o cometa p6de movimentar-se sem empecilho algum em uma dire&o qualquer? Assim, no haveria tido nada a temer que a Terra e o T(rtaro nunca haveriam de ver de perto a luz dos cometas. Primeiramente, se admito aqui ser verdadeira a acusa '*o que Sarsi me faz, isto , de ser superficial por n*o haver eu considerado os diversos movimentos que podem ser atribu$dos ao cometa, n*o sei de que forma conseguir" Sarsi desculpar seu Mestre, que nem sequer considerou a possibilidade de o cometa poder movimentar-se em linha reta. E se ele desculpa seu Mestre afirmando que um racioc$nio semelhante haveria de ser considerado suprfluo, pois este movimento n *o fora tomado em considera'*o por nenhum outro autor, n*o percebo ent*o de que forma poderia ser acusado eu de superficialidade. Pelo contr"rio, devo ser desculpado da mesma forma que seu Mestre, n*o se encontrando, com efeito, nenhum autor que haja introduzido estes movimentos desconhecidos, relatados aqui por Sarsi. E mais, Sr. Sarsi, cabia ao seu Mestre e n*o a mim raciocinar sobre estes movimentos, atravs dos quais se pudesse explicar convenientemente as grandes mudan'as de lugar dos cometas. E se existisse algu m apto a dar esta explica '*o, seu Mestre devia cit"-lo e aceit"-lo com exclusividade, e n*o deix"-lo em sil ,ncio e introduzir com Tycho o simples movimento circular ao redor do Sol, inapto a explicar uma apar ,ncia semelhante, e querer que n *o ele mas n %s ter$amos errado, por n*o adivinhar que ele pudesse internamente ter abrigado pensamentos bem diferentes daqueles que tinha relatado. Alm disso, o Sr. M "rio nunca afirmou que n*o exista na natureza forma alguma de salvar a mudan'a de lugar de uma quarta29 (pelo contr "rio, se tal mudan'a de lugar existiu, claro que existe tambm a possibilidade de saber bem como ela tinha sido), mas afirmou: "Pela hip%tese recebida do Padre, n*o poss$vel esta mudan'a de lugar sem que o cometa toque a Terra e at a penetre". 5 muito v*, ent*o, a desculpa de Sarsi. Pode ser que pretenda que qualquer desculpa, mesmo em matria sem import2ncia, deva ser admitida em favor de seu Mestre, mas que para mim seja 29
Termo usado seja para medida celeste seja para medida terrestre.
proibida qualquer desculpa, mesmo em matria de suma import2ncia. Se isto verdade, com muita boa vontade me calo e livremente o concedo. E, em segundo lugar, apresento outra desculpa para mim mesmo (como se eu fosse o Sr. M"rio), confessando ingenuamente n*o ter pensado nos movimentos exc,ntricos ou nas linhas ovais ou nas outras irregulares. Isto aconteceu porque n *o meu feitio prestar ouvido aos conceitos que n *o est*o ligados ao argumento de que se est " tratando. E qual a finalidade de Sarsi ao transformar o movimento ao redor do Sol em uma figura oval, para transportar de uma quarta o lugar do cometa? Acredita ele, por acaso, que alongando de um lado e restringindo de outro uma figura possa ele alcan'ar seu intento? Certo que n*o, mesmo que ele a prolongasse ao infinito. A mesma impossibilidade apresenta-se no exc ,ntrico que se encontra na parte menor embaixo do Sol. E, por causa da intelig,ncia de Sarsi, V. E. Ilustr$ssima poder" alguma vez, depois de t ,-lo encontrado, propor-lhe duas linhas retas AB, CD, das quais a reta CD seja perpendicular 1 reta AB, e dizer a Sarsi que, supondo a reta DC ser aquela que se prolonga do olho para o Sol, aquela pela qual se h " de ver o cometa transportado de lugar 90 graus, necess"rio que seja a reta DA, isto , DB, sendo comumente aceito que o movimento aparente do cometa se encontre no plano de uma circunfer ,ncia m"xima. V. E. Ilustr$ssima pe'a depois para Sarsi que, por
causa do nosso ensinamento, descreva o movimento
exc,ntrico ou o movimento oval afirmados por ele, atravs dos quais o cometa, ao se movimentar, possa abaixar-se tanto que possa ser visto na linha @DB, porque confesso que eu n*o conseguiria fazer. At agora conseguimos excluir dois modos propostos; falta o outro exc,ntrico com o centro em decl$nio 1 direita ou para a esquerda da Unha DC, e a linha irregular. Quanto ao exc ,ntrico, verdade que n*o de todo imposs $vel desenh"-lo numa determinada maneira que d, srcem 1 mudan'a procurada; porm ponho Sarsi de sobreaviso que, se ele delinear o Sol com os orbes de Merc -rio e de V,nus ao redor, e al m disso a Terra circundada pelo orbe da Lua, como necess"rio fazer em rela'*o aos dois, e depois se ele tentar introduzir o exc ,ntrico do cometa, acredito com toda certeza que se lhe apresentar*o tantos excessos e monstruosidades que, mesmo que pudesse ajudar com tais desculpas a seu Mestre, ele ficaria com medo de faz ,-lo. Com respeito 1s linhas irregulares, n *o temos d-vida alguma de que n*o somente esta apar ,ncia como qualquer outra apar,ncia pode ser salva. Por m, quero avisar a Sarsi que a introdu'*o de uma tal linha n *o s% n*o ajudaria em nada a causa de seu Mestre como o prejudicaria mais gravemente, e n *o por n*o t ,-la nunca citado, pelo contr"rio, aceitou a teoria da linha circular regular$ssima, sobre todas as outras, para assim dizer, mas porque cit"-la seria um engano ainda maior. Isto o pr %prio Sarsi poderia entender todas as vezes que ele considerasse o que uma teoria de linha irregular traz consigo. S *o chamadas linhas regulares aquelas que, tendo uma -nica linha de movimento e sendo ela sempre constante e determinante, podem ser definidas e podem-se demonstrar os seus acidentes e propriedades: assim a espiral regular e considera-se srcinada por dois movimentos uniformes, um reto e o outro circular, e el $ptica, nascendo de uma sec'*o do cone e do cilindro, etc. As linhas irregulares, por m, s*o aquelas que, n*o tendo determina'*o alguma, s*o infi-
nitas e casuais e por isto indefin $veis; nem destas, por conseq 4,ncia, pode-se demonstrar propriedade alguma nem pode-se afirmar que se conhe 'a alguma coisa a seu respeito. Assim, dizer "um tal acidente acontece por causa de uma linha irregular" a mesma coisa que dizer "eu n*o sei por que acontece". A introdu'*o de um tal tipo de linha n *o em nada melhor para simpatias, antipatias, propriedades ocultas, influ,ncias e outros termos usados por alguns fil %sofos para m"scara da verdadeira resposta que seria "eu n*o sei", resposta muito mais aceit "vel que as outras, porque uma sinceridade c 2ndida muito mais linda que uma mentira enganadora. O Pe. Grassi foi, ent *o, muito mais inteligente, n *o propondo tais linhas irregulares como suficientes para satisfazer 1 pergunta, do que seu disc$pulo, ao cit"-las.
5 bem verdade, se tenho que expressar livremente a minha opini*o, acredito que o pr%prio Sarsi tenha compreendido muito bem a inefic "cia de suas respostas e que pouco fundamento houve a respeito, pois me parece prov "vel devido 1 brevidade de sua exposi'*o com refer,ncia a esta teoria, mesmo que este fosse o ponto important $ssimo na matria que estamos tratando e fossem grav$ssimas as obje')es promovidas pelo Sr. M"rio. E ele me um bom testemunho daquilo que estou afirmando, pois na parte 16, falando de um determinado argumento usado por seu Mestre, escreve: Por outro lado, de
quanta import3ncia era para n$s este argumento, penso que podia ser compreendido bem facilmente pelo fato de haver sido exposto por meio de poucas e (ridas palavras, enquanto que os dois outros argumentos de prefer)ncia haviam sido explicados muito mais cuidadosa e amplamente.30 E com quanta superficialidade e brevidade ele tenha tocado neste assunto, pode ver-se, n *o por outras coisas, mas por n *o ter reproduzido as figuras dos exc,ntricos e das elipses introduzidas para salvar o todo. Mais abaixo encontraremos depois uma quantidade de desenhos inseridos em um longo discurso como prova de um experimento que, afinal das contas, n *o de vantagem nenhuma para a demonstra'*o principal que se acha naquela passagem. E, sem querer ir longe demais, aproxime-se V. E. Ilustr $ssima de um mar de distin ')es, silogismos e outros termos l %gicos, e poder" verificar que Sarsi considerara important $ssimas determinadas coisas que eu considero, podendo falar livremente, ainda menos importantes que discursos vazios.
30
"Caeterum, quanti hoc argumentum apud nos esset, satis arbitror exeo poterat inteiligi, quod paucis adeo ac plane ieiune propositum fuerit, cum prius reliqua duo longe accuratius ac fusius fuissent explicata."
12. Mas J( que Galileu acusa meu mestre de ignor 3ncia em mat+ria de l$gica, permita-me que n$s tamb+m
mostremos com quanta exatido ele pr$prio haja respeitado as leis desta l$gica, e, n o precisando de muitas palavras, nos limitaremos a um ou outro exemplo. Hav.amos afirmado que as estrelas, observadas atrav+s da luneta, ofereciam 2 vista um aumento m.nimo. Mas, como as estrelas, afirma ele, cujo grande n/mero foge aos olhos mais perspicazes, podem ser enxergadas atrav+s da luneta, deve-se dizer que elas no receberam da luneta um aumento insens.vel, mas antes infinito. Nada, pois, nem alguma coisa est ( separado com efeitos por um intervalo infinito. Pelo fato, ent o, de que ver alguma coisa que antes no se via, Galileu deduz um aumento infinito do objeto, um aumento, afirmo eu, ao menos aparente, de quantidade. Mas eu acredito que no seja poss.vel deduzir nem aumento infinito nem aumento algum. Primeiramente, embora seja verdade que entre o ser visto e o n o ser visto existe uma dist3ncia infinita, ao menos de um lado, contudo entre as duas coisas existe aquela propor&o que existe entre o nada e alguma coisa, isto +, nenhuma propor&o. Entretanto, quando aquilo que no existia antes come&a a existir, no podemos dizer que cresce ou aumenta, pois cada aumento pressup5e sempre algo, tanto + que no afirmamos que o mundo, quando foi srcinariamente criado por Deus, aumentou infinitamente, visto antes nada existir. Com efeito, crescer significa tornar maior aquilo que antes era menor. Por isto, do fato de que alguma coisa que antes no podia ser vista depois por+m + vista, no se pode deduzir, nem sequer vis.vel pela razo, um aumento infinito. Mas no momento n o quero continuar sobre isto; chame-se mesmo de aumento 2 passagem do no-ser ao ser: prefiro ir para a frente. O pr$prio Galileu, quando deduziu, por ter visto atrav+s da luneta as estrelas no percebidas antes, que as estrelas haviam recebido pela luneta um aumento infinito, deveria ter-se lembrado de ter afirmado alhures que a mesma luneta aumenta tudo na mesma propor&o. Ento, se aumenta numa determinada propor&o, por exemplo c)ntupla, as estrelas que percebemos a olho nu, aument ar( na mesma propor&o tamb+m aquelas estrelas bem pequenas que fogem 2 vista, quando ele as torna evidentes, e por isto o aumento delas no ser( infinito, pois isto no admite propor&o alguma. Em segundo lugar, quando entre vis.vel e invis.vel coloca-se um aumento infinito na quantidade aparente (este, com efeito, + o significado da palavra aumento por ele usada), + necess(rio mostrar que entre quantidade percebida ou n o percebida existe uma diferen&a infinita quantitativamente; por outro lado, este aumento infinito no ser( nunca deduz.vel. Com efeito, se algu+m raciocinasse assim: "Quando alguma coisa passa do in vis.vel para o vis.vel, ento aumenta infinitamente; as estrelas passam de invis .veis a vis.veis; logo, aumentam infinitamente", dever-se-( distinguir a premissa maior: que aumentem infinitamente em rela &o 2 visibilidade + aceit(vel: que aumentem em rela&o 2 quantidade deve ser negado. Assim, tamb+m, o que deriva disto resolve-se com a mesma distin&o: aumentam em rela&o 2 visibilidade mas no 2 quantidade. Disto resulta que o termo aumento no + usado da mesma forma na tese maior e em sua deriva&o. Na primeira significa aumento de visibilidade e na segunda aumento de quantidade. Quanto tudo isto esteja de acordo com as leis da l$gica, reflita Galileu. Em terceiro lugar, afirmo que aumento algum pode ser deduzido daqui. Com efeito, + lei da l$gica que todas as vezes que um efeito pode possuir numerosas causas, + dif.cil do mesmo efeito deduzir uma s$ daquelas causas. Por exemplo, como o calor pode obter-se do calor, do movimento, do Sol e de outras ca usas, dificilmente algu +m poderia dizer: "Existe calor, logo deriva do fogo". Quando, portanto, do fato de que se torna vis.vel algo que antes era invis .vel pode proceder de mais causas, n o se pode deduzir daquela visibilidade uma /nica causa. E que este efeito pode ser referido a
numerosas causas, acredito que + bem claro. Com efeito, perm anecendo o mesmo objeto imut(vel, se aumentado o poder da visibilidade em si mesma ou tirado qualquer impedimento que existir ou por meio de algum instrumento, como as lunetas, torna-se mais forte o poder ou o poder permanece imut(vel, o objeto mesmo torna-se mais claramente iluminado ou aproxima-se mais perto da vista ou, enfim, seu volume aumenta; um destes elementos ser( suficiente para produzir o mesmo efeito. Ento, quando, pelo fato de perceberem-se as estrelas que antes permaneciam ocultas, deduz-se que elas receberam um aumento infinito, esta teoria n o est( bem de acordo com a regra dos $lgicos, pois foram deixadas de lado outras causas das quais podia se srcinar o mesmo ef eito. Com certeza no h( motivo por que Galileu atribua este aumento 2 luneta; com efeito, se ele abrir os olhos de uma vez por to das, afirmar( com igual verdade que todas as coisas aumentam infinitamente porque antes no se viam e agora so vistas. Depois, afirma dever-se falar s$ sobre os efeitos que se podem obter por meio da luneta, pois no texto tratava-se s$ da luneta, e por isto pude deixar de lado as outras causas; respondo-lhe que nem isto + suficiente para um argumento verdadeiro. A mesma luneta, com efeito, no mostra de um
/nico modo os objetos que sem ela no so vistos, primeiro, possibilitando a vis o dos objetos sob um 3ngulo maior, dando assim a possibilidade de v )-los maiores; segundo, reunindo raios e imagens assim que ajam sobre a viso mais eficazmente: uma destas coisas + suficiente para fazer ver aquilo que antes no v.amos. Por isso no foi poss.vel deste efeito deduzir uma s$ daquelas causas. Quarto, no est( de acordo nem com as leis dos l$gicos que as estrelas, se n o so aumentadas pela luneta, por uma qualidade espec.fica do instrumento, que se iluminem. A partir destes argumentos, parece que Galileu reparte adequadamente em duas partes os efeitos da luneta, como se afirmasse: "O telesc$pio ou aumenta as estrelas ou as ilumina; no as aumenta, logo as ilumina ". Todavia, + outra lei dos l$gicos aquela que diz que nas divis5es em partes devem ser inclu.das todas as partes a serem divididas. Mas nesta diviso de Galileu no esto inclu.dos todos os efeitos da luneta, nem os efeitos apresentados so pr$prios da luneta. Com efeito, a ilumina&o, como acredita o mesmo Galileu, no pode ser efeito srcinado pela luneta, e ele deixou de lado tamb+m a jun&o dos raios ou imagens, que + caracter.stica particular da luneta; sua divis o era ento errada. No acrescento mais nada: mas, deixando de lado as outras coisas no momento, eu quis assinalar estas poucas que casualmente encontrei em algumas partes do texto, para faz )-lo compreender
&o questo agora de relatar uma coisa que que sua disserta &o possui os mesmos erros que ele reprova nos outros. Mas (fa Galileu ainda no ouviu), e se eu conseguir demonstrar que se deve atribuir 2 luneta uma prerrogativa que Galileu mesmo no ousa atribuir-lhe? A luneta, afirma, ou aumenta os objetos ou, com uma for&a oculta e incr.vel, os ilumina. 7 exatamente assim: a luneta ilumina mais todas as coisas luminosas. Se conseguir demonstr ar isto, tenho esperan &a de conseguir as boas gra&as de Galileu; atribuindo 2 sua luneta (de cujo poder de aumento ele se gloria) tamb +m esta incr.vel particularidade. Pois bem, os objetos so aumentados pela luneta porque chegam aos olhos por meio de um 3ngulo maior do que aquele que possuem quando so ob servados a olho nu. Todas as coisas que s o observadas sob um 3ngulo maior so vistas, segundo o parecer dos $pticos, como maiores. A luneta, por+m, enquanto dirige e re/ne quase num /nico ponto as imagens luminosas e os raios dispersos, toma muito mais luminoso o cone visivo ou a pir3mide luminosa atrav+s da qual v )em-se os objetos, e por isto mostra os objetos atrav+s de uma pir3mide mais luminosa. Ent o, da mesma forma, pode-se afirmar que a luneta ilumina as estrelas assim como podemos afirmar que as aumenta. Como, pois, um 3ngulo maior ou menor, sob o qual v )-se uma coisa, mostra a coisa maior ou menor, a ssim a pir3mide mais ou menos luminosa,
atrav+s da qual enxerga-se o corpo luminoso, mostrar( igualmente o objeto com uma maior ou menor luminosidade. As experi)ncias e a pr$pria raz o demonstram com suficiente clareza como a pir 3mide $ptica torna-se mais luminosa com o juntar-se dos raios. A razo ensina que a fonte luminosa, quanto mais + contida em menor espa&o, mais ilumina o lugar onde se encontra situada. Por outro lado, os raios reunidos em um /nico lugar encerram a mesma luz num espa&o menor e por isto o iluminam tamb +m mais. Esta mesma coisa poder( esclarecer a experi)ncia se ficarmos expondo ao Sol uma lente de vidro: perceberemos, ento, que os raios reunidos em um /nico lugar no somente queimam a madeira e derretem o chumbo mas podem cegar a vista, por causa da luz muito brilhante. Por tudo isto afirmo ser to verdade que as estrelas tornam-se iluminadas pela luneta como tomam-se aumentadas por ela. Esta nossa luneta torna-se, assim, um instrumento extremamente afortunado, pois as estrelas e o Sol, clar.ssimas luzes, podem agora, por meu pr $prio merecimento, ser iluminadas ainda mais claramente. Aqui, como V. E. Ilustr$ssima pode perceber, em vez do equ$voco no qual o Pe. Grassi havia incorrido, como adverte o Sr. Guiducci, seguindo o rumo de Tycho e dos outros, Sarsi quer mostrar que eu, outro tanto ou ainda mais, havia errado no racioc $nio l%gico. Para demonstrar que o aumento do telesc%pio o mesmo para as estrelas fixas que para outros objetos, e que este aumento n *o impercept$vel ou nulo, como havia afirmado o padre, argumentou-se desta forma: muitas estrelas completamente invis $veis a olho nu tornam-se vis $veis com o telesc %pio; ent*o, este argumento deveria chamar-se infinito em vez de nulo. Contra isto insurge-se Sarsi, que com demoradas discuss )es esfor'ase para me tachar de p ssimo l%gico por ter eu chamado este aumento de infinito. Contra tudo isto, j " que estou farto de sobra com todas as discuss)es das quais eu mesmo me deleitava quando ainda jovem e estudante, responderei breve e simplesmente que Sarsi parece mostrar a todo mundo aquilo que ele diz de mim, isto , pouco conhecedor de l%gica, enquanto ele considera absoluto o que relativo. Nunca se afirmou que o aumento das estrelas fixas fosse infinito. Mas, tendo escrito o Padre ser aquele considerado nulo e havendo o Sr. M"rio avisado sobre o engano, pois uma quantidade enorme de estrelas tornam-se vis $veis depois de terem sido invis $veis, acrescentou que este aumento haveria de ser chamado antes infinito que nulo. Quem t*o simpl%rio assim de n*o entender que um lucro de mil sobre cem de capital possa ser chamado grande e n *o nulo, e que o mesmo lucro sobre dez de capital possa ser chamado enorme e n*o nulo, e n*o entenda que o lucro de mil sobre nada de capital possa ser chamado mais infinito que nulo? Mas quando o Sr. M "rio falou de aumento absoluto, Sarsi sabe muito bem, porque o escreveu ele mesmo em muitos lugares, que quis fazer refer ,ncia a todos os outros objetos observados com o mesmo instrumento. Assim, pois, quando aqui Sarsi quer acusar o Sr. M "rio de pouca mem%ria por n*o haver lembrado a afirma '*o feita anteriormente, isto , que o mesmo instrumento aumentava todos os objetos na mesma propor '*o, esta acusa'*o v*. Pelo contr"rio, mesmo que sem outra refer,ncia o Sr. M"rio o tivesse chamado de infinito, eu n *o haveria acreditado na exist,ncia de algum t*o cuidadoso que lhe desse import 2ncia, sendo um modo de falar de todos os dias o uso do termo infinito em vez do termo grand $ssimo. Campo vasto ter " Sarsi em mostrar-se mais l%gico que todos os outros escritores do mundo nos textos dos quais eu asseguro que ele encontrar " a
palavra infinito usada nove vezes em dez em vez de grande ou grand.ssimo. Ainda mais, Sr. Sarsi, se o s "bio levantar-se contra o senhor e disser: " 5 infinito o n -mero dos est-pidos"31, qual ser" a atitude do senhor? Ficaria com esta teoria e sustentaria que esta proposi '*o falsa, provando, at com a autoridade das pr%prias Escrituras, que o mundo n*o eterno e que, tendo sido criado no tempo, n *o podem existir nem ter existido homens infinitos? E n *o obstante n*o poder acontecer que esta teoria seja alguma vez poss $vel, mesmo que todos os homens presentes, passados e at , direi, futuros fossem t*o est-pidos de afirmar uma coisa parecida, imposs $vel, aos seres humanos, mesmo que a dura'*o do mundo fosse eterna, que eles fossem infinitos? Voltando ao assunto, o que poderemos afirmar da outra mentira, com tanta intelig,ncia descoberta por Sarsi, em rela '*o ao fato de n %s chamarmos aumento aquilo que se verifica num objeto que de invis$vel torna-se vis$vel por meio de telesc%pio? Isto, afirma ele, n*o pode ser chamado aumento porque o aumento pressup )e antes alguma quantidade, e aumentar n *o outra coisa que tornar maior o que era menor. Em rela'*o a este argumento eu n*o saberia mais o que dizer que sirva de desculpa ao Sr. M"rio, sen*o que ele demonstrou ser um pouco superficial. Acreditando ele que a faculdade do telesc%pio por meio do qual ele nos apresenta aqueles objetos, os quais eram invis $veis sem ele, fosse a mesma faculdade daquela com a qual nos mostra muito maiores aqueles objetos vistos anteriormente, e sabendo que esta faculdade era chamada em linguagem comum aumento da espcie ou do objeto vis $vel, deixou-se induzir a chamar aquela faculdade com o mesmo nome. Esta faculdade, como agora nos ensina Sarsi, deveria ter o nome, n *o de aumento, mas de tr 2nsito do n*o-ser para o ser. Da mesma forma que, por exemplo, quando um %culo nos permite ler mesmo de uma grande dist2ncia aquelas letras que n *o poder$amos enxergar sem ele sen *o as mai-sculas, para falar logicamente dir$amos que os %culos aumentam as mai-sculas mas que em rela'*o 1s min-sculas as faz transitar do n*o-ser para o ser. Contudo, se n*o poss$vel usar sem erro a palavra aumento onde n*o se suponha antes alguma coisa em ato que possa receber este aumento, ser " que a palavra tr3nsito ou
passagem ser" ainda mais usada arbitrariamente por Sarsi, n*o existindo algum dos dois termos, isto , nem o termo de onde se saia nem o outro aonde se chegue? Mas quem sabe se o Sr. M "rio n*o fosse e n*o seja da opini *o de que dos objetos, mesmo que muito distantes, cheguem at n %s as espcies sob 2ngulos t*o agudos que permane'am impercept$veis ao nosso sentido, como se n *o existissem, mesmo que elas sejam de fato alguma coisa (porque, se devo manifestar meu parecer, considero que, mesmo que elas fossem nada, n *o seriam suficientes todos os
%culos do mundo para torn "-las alguma coisa); mesmo que as espcies das estrelas invis$veis sejam, n*o menos que aquelas das vis $veis, difundidas pelo universo e que conseq4entemente seja poss$vel tambm a respeito delas, desculpando-nos Sarsi e com plena l %gica, afirmar o aumento? Mas por que ponho eu em d-vida algo do qual tenho necessariamente prova sens$vel? Aquela luminosidade nublada das estrelas n*o est" realmente nas estrelas, mas no nosso olho, visto que da estrela nos chega a esp cie nua 31
"Stultorum inflnitus est numerus."
e definida. Sabemos com certeza que uma nebulosa n *o outra coisa que um conjunto de estrelas pequenas a n%s invis$veis; com tudo isto, n*o nos invis$vel aquele campo que ocupado por elas, mas se nos apresenta como uma mancha alva, srcinada pela jun '*o dos brilhos que circunda cada uma das pequenas estrelas. Sendo que estas irradia')es luminosas n*o est*o sen*o em nosso olho, torna-se necess"rio que cada esp cie destas pequenas estrelas exista real e distintamente no olho. Daqui podemos deduzir outra teoria, isto , as nebulosas e a Via L "ctea n*o existem no cu, mas s*o uma simples particularidade do nosso olho. Assim, pois, para aqueles que possuem uma vista t *o aguda que possam distinguir aquelas diminutas estrelas, as nebulosas e a Via L "ctea n*o se encontrariam no cu. Estas conclus )es, at agora nunca afirmadas por outros, acredito que n *o deveriam ser admitidas por Sarsi, e acredito que ele gostaria muito que o Sr. M "rio tivesse errado ao chamar aumento aquilo que para Sarsi deveria ser chamado tr 2nsito do ser para o n *o-ser. Mas, seja o que for, eu tenho a permiss *o do Sr. M"rio (para n*o criar novas brigas) de conceder a Sarsi a vit%ria completa desta discuss *o e de tudo aquilo que deriva de posi')es semelhantes onde Sarsi se contentar que a descoberta das estrelas fixas invis$veis possa ser chamada aumento infinito em rela'*o ao vis$vel mas n*o em rela'*o 1 intensidade. Tudo isto lhe seja concedido com a condi '*o de que nos conceda que as estrelas invis $veis e vis$veis, mesmo crescendo da forma que a S"rsi agrada mais, cres'am porm de uma maneira que tornem totalmente falsas as afirma')es de seu Mestre, que escreveu que elas n*o aumentavam de forma alguma. Sobre tudo isto fundamentava-se a terceira das raz )es com as quais ele tinha come 'ado a demonstrar a primeira proposi'*o de seu tratado, isto , o lugar do cometa. Mas, o que dever$amos n%s responder ao outro erro, tamb m de l%gica, que Sarsi nos atribui? Apresentamos este erro e depois assumiremos as opini )es que nos parecerem mais oportunas. Sarsi, n*o satisfeito de haver demonstrado como o conhecimento, j" in-meras vezes mencionado, das estrelas fixas invis$veis n*o deve ser chamado aumento infinito, passa a provar que a afirma '*o de que este aumento proceda do telesc%pio um grave erro de l %gica, cujas leis querem que, quando um efeito pode srcinar-se de causas m -ltiplas, muito dif$cil srcinar-se um efeito de uma -nica causa. Poder ver agora aquilo que antes n*o se podia ver um dos efeitos que podem depender de numerosas causas, alm daquela do telesc%pio, como demonstra claramente Sarsi, citando-as umas depois das outras; e todas estas causas haviam de ser removidas, mostrando como elas n *o eram separadas do ato que nos permitia ver por meio do telesc %pio as estrelas invis$veis. Assim o Sr. M "rio, para fugir da acusa'*o de Sarsi, em primeiro lugar devia demonstrar que o encostar o telesc%pio no olho n*o era um aumentar em si e por si o poder visivo (que tambm uma causa por meio da qual, sem outro aux $lio, pode-se ver aquilo que antes n*o era poss $vel); em segundo lugar, devia demonstrar que a mesma aplica '*o n*o era tirar as nuvens, as "rvores, os telhados ou os outros empecilhos intermedi"rios; em terceiro lugar, devia demonstrar que n*o era poss$vel servir-se de um par de %culos comuns (estou, como V. E. Ilustr $ssima pode ver, relatando todas as causas colocadas pelo pr %prio Sarsi, sem mudar nada); em quarto lugar, devia demonstrar que tal procedimento n*o iluminar o objeto mais claramente; em quinto lugar, devia
mostrar que este procedimento n*o traz as estrelas 1 Terra ou nos leva ao c u, assim que o intervalo diminua; em sexto lugar, devia demonstrar que o efeito n *o consiste em faz,-las inchar, de modo que, aumentadas, tornem-se vis $veis; em stimo lugar, devia mostrar que este n*o um abrir os olhos fechados: a')es todas, cada uma das quais (e especialmente a -ltima) suficiente para nos mostrar aquilo que antes n%s n*o v$amos. Sr. Sarsi, eu n*o sei o que lhe dizer, sen*o que discute brilhantemente. Somente sinto que todas estas acusa ')es recaiam todas sobre vosso Mestre, sem tocar de forma alguma no Sr. M"rio ou em mim. Eu vos pergunto se algumas destas causas por v %s relatadas como aptas a fazer-nos ver aquilo que sem elas n *o se poderia ver, como, por exemplo, aproxim "-lo, interpor vapores ou cristais, etc, pergunto-vos se alguma destas causas pode produzir o efeito de aumentar os objetos vis$veis, assim como faz o telesc %pio. Creio que responder $eis que sim. Ent *o acrescentaria eu que este comportamento seria uma manifesta acusa'*o de ilogicidade para com o vosso Mestre que, falando em geral para todo o mundo, reconheceu o aumento da Lua e de todos os outros objetos como obra caracter$stica do telesc%pio, sem excluir alguma das outras causas, como, segundo vossa opini *o, teria obriga'*o de fazer. Obriga'*o esta, porm, que n*o toca ao Sr. M "rio, uma vez que, falando exclusivamente com o vosso Mestre e n*o mais a todo o mundo, e querendo mostrar falso aquilo que ele havia afirmado sobre o efeito deste instrumento, considerou-o (nem podia proceder diferentemente) da mesma forma que seu opositor. A vossa acusa '*o de l%gico inexperiente recai tanto mais gravemente sobre vosso Mestre porque ele, em outra ocasi*o muito importante, transgrediu esta lei, isto , deduzir a circula'*o da apar,ncia do movimento reto atravs da m"xima circunfer,ncia, podendo ser causa do mesmo efeito o movimento realmente reto e qualquer outro movimento realizado no mesmo plano do olho, de cujas tr ,s causas podiam duvidar com muita raz*o tambm os homens extremamente sensatos. At o vosso pr%prio Mestre, segundo vossas palavras, aceitou o movimento oval ou mesmo irregular. Porm, duvidar se alguma das vossas sete causas acima mencionadas pudesse verificar-se na apari'*o de estrelas invis$veis, enquanto que com o telesc%pio s*o observadas, se me for permitido falar livremente, n*o acredito que pudesse ser cogitado, a n*o ser por pessoas extremamente simples. Neste grupo, porm, Ilustr$ssimo Senhor, n*o entendo por que colocar Sarsi; pois, mesmo que ele tenha se deixado levar por esta teoria, todavia, percebe-se bem claro que n *o falou sinceramente32, porquanto no fim quase que ele aceita em conceder que, sendo causa relativa ao telesc %pio, pudessem ser deixadas de lado todas as outras causas. No entanto, concedendo isto abertamente, destruiu a acusa'*o anterior e o conceito que pudesse talvez ter influenciado algum de seus leitores de eu ser um pssimo l%gico; para evitar tudo isto, acrescenta que tal coisa suficiente para uma exata argumenta '*o. E a raz*o de o telesc %pio n*o apresentar aquilo que se via sob um -nico aspecto mas em dois : o primeiro consiste em levar o objeto aos olhos sob um 2ngulo maior para permitir que apare 'a maior; o outro consiste em unir os raios e as esp cies onde operem com mais efic "cia. Como um s% dos dois suficiente para tornar manifesto aquilo que antes n*o se percebia, n *o se deve deduzir deste efeito uma 32
"Ex corde."
-nica causa. Estas s *o as suas exatas palavras das quais n*o saberia penetrar no seu sentido $ntimo, pois ele generaliza demais quando deveria especificar mais, podendo sua declara'*o ser entendida de muitos modos, dos quais aquele que por acaso o primeiro a ocorrer na mente cont m uma contradi'*o manifesta. Com efeito, apresentar os objetos sob 2ngulo maior, para aparecerem maiores, resulta ser um efeito contr"rio ao estreitar-se dos raios e esp cies, porque, sendo os raios aqueles que conduzem as espcies, n*o aparece claro de que forma, em conduzi-las, se estreitem e ao mesmo tempo realizem um
2ngulo maior. E se Sarsi imaginava um outro modo por meio do qual os raios pudessem, juntando-se, formar um 2ngulo maior (coisa que eu n *o nego que possa por acaso ser verdade), devia declar "-lo e distingui-lo do outro, para n*o deixar o leitor em d-vidas e equ$vocos. Mas, aceitando por enquanto que o telesc%pio tenha estas duas formas de operar, eu gostaria de saber se ele trabalha sempre com ambas simultaneamente ou uma vez com uma e outra vez com outra separadamente; assim, quando ele se serve do aumento do 2ngulo deixa de lado a conjun'*o dos raios, e quando estreita os raios deixa o
2ngulo em sua quantidade anterior. Se ele opera simultaneamente com ambos os meios, grande ingenuidade de Sarsi, que acusa o Sr. M "rio por n*o ter aceito e citado um e exclu $do o outro. Porm, se ele opera com um s %, tambm errou Sarsi em n*o o mencionar, excluindo o outro, e mostrar que quando n%s olhamos para a Lua, por exemplo, que aumenta enormemente, ele opera com o aumento do 2ngulo, mas quando se olha para as estrelas o 2ngulo n*o aumenta mas somente juntam-se os raios. Eu, naquilo que posso testemunhar de verdade, por ter infinitas vezes, ou melhor, muit $ssimas vezes olhado com este instrumento, n*o pude perceber diversidade alguma em seu modo de operar, pois acredito que ele opere sempre da mesma maneira, e assim eu penso que Sarsi acredite o mesmo. Para que isto se verifique, toma-se necess"rio que as duas opera ')es, o aumento do 2ngulo e o juntar-se dos raios, verifiquem-se juntas. Isto coloca completamente fora de quest*o a oposi'*o de Sarsi. Porque bem verdade que, quando um efeito que pode depender de mais causas separadamente, outros fazem derivar uma particular, cometendo um erro; mas, quando as causas s *o entre elas insepar "veis, assim que necessariamente verifiquem-se sempre todas, pode-se arbitrariamente deduzir aquilo que se quer, porque todas as vezes que o efeito est " presente a causa tamb m est" presente. Assim, para dar um exemplo, quem afirmasse "Fulano acendeu o fogo, logo, serviu-se do espelho ust%rio" erraria, podendo o acender do fogo ser efeito do bater de um ferro, da espingarda e da isca, da fric'*o de dois paus e de outras causas. Mas quem afirmasse "eu escutei o vizinho acender o fogo batendo" e acrescentasse "ent *o ele possui uma pedra", sem raz *o seria ele repreendido por quem opusesse o argumento que, participando de tal opera '*o, alm da pedra, a espingarda, a isca e o f%sforo, n*o era poss$vel logicamente deduzir definitivamente a pedra. E assim, se o aumento do 2ngulo e a uni*o dos raios participam sempre da opera '*o do telesc%pio, de cujas opera')es uma fazer ver o invis$vel, por que deste efeito n *o se pode inferir qual das duas causas mais agrada? Acredito penetrar em parte no pensamento de Sarsi que, se n *o estou enganado, gostaria que o leitor acreditasse naquilo que ele mesmo n*o acredita em absoluto, isto , que o poder ver as estrelas que antes eram invis $veis
derivasse n*o do aumento do 2ngulo mas da uni*o dos raios; pois se fizeram vis $veis n*o porque sua espcie se tornasse maior, mas porque os raios se tornaram mais fortes. N *o quis, por m, revelar abertamente porque s*o demais contra ele as outras raz )es do Sr. M"rio silenciadas por ele, e em particular aquela que faz perceber os espa 'os entre uma estrela e outra na mesma percep'*o que os objetos aqui embaixo, cujos espa 'os n*o deveriam aumentar nada se as estrelas tamb m n*o aumentassem, sendo esses espa 'os t*o distantes de n%s como as estrelas. Mas, para acabar com o assunto, tenho certeza de que quando Sarsi resolver se manifestar sobre como entende estas duas opera')es do telesc %pio, isto , da conjun'*o dos raios e do aumento do 2ngulo, haver" de declarar n*o somente que eles ocorrem sempre juntos mas que nunca acontece de poder juntar os raios sem aumentar o 2ngulo e que eles todos s*o a mesma coisa. Se ele tivesse uma outra teoria, teria que mostrar que o telesc%pio, algumas vezes, junta os raios sem aumentar o 2ngulo e que isto se verifica justamente na contempla'*o das estrelas fixas. Isto ele nunca poder " mostrar, porque uma v* quimera, ou, para falar mais francamente ainda, uma falsidade. Eu n*o acreditava, meu Ilustr$ssimo Senhor, ter que gastar tantas palavras com estas superficialidades, mas, j" que foi feito o maior, vamos fazer o menor. E quanto 1 outra acusa'*o, de transgredir as leis da l %gica, na divis*o dos efeitos do telesc %pio, o Sr. M"rio colocou l" um que n*o existe e passou por cima do outro que devia ser colocado, quando disse: o telesc$pio torna vis.veis as estrelas,
quer aumentando as suas esp+cies, quer iluminando-as, em vez de dizer: aumentando ou juntando as esp+cies e os raios, como queria Sarsi que fosse dito. Respondo que o Sr. M "rio nunca teve a inten'*o de operar uma divis*o a respeito daquilo que uma coisa s%, isto , a opera'*o do telesc%pio em representar-nos os objetos, como eu e ele acreditamos. E quando o Sr. M "rio afirmou: "Se o telesc%pio n*o nos torna vis$veis as estrelas aumentando-as, necess"rio que as ilumine de alguma forma", n *o introduziu a ilumina'*o como efeito aceito, mas o contrap+s ao outro, para que sobressa $sse mais sua verdade; e esta
uma forma de se falar muito usada, como quando se diz: "Se os inimigos n *o subiram a montanha, necess"rio que eles tenham ca $do do cu". Se Sarsi acredita mesmo poder com louvor se opor a esta forma de falar, abre-se outra porta para ele, al m daquela acima mencionada relativa ao infinito, de triunfar em duelo de l%gica sobre todos os escritores do mundo. Cuide, por m, que em querer aparecer como grande l%gico n*o apare'a como um grande sofista. Parece-me ver V. E. Ilustr$ssima quase sorrir, pensando: Mas que quer este aqui? Sarsi tinha resolvido escrever opondo-se ao texto do Sr. M "rio, e para isto teve necessariamente que se agarrar a qualquer argumento. Eu, por mim, n *o somente o desculpo mas o louvo, e parece-me que ele tenha feito o imposs$vel. Mas, voltando ao assunto, j" est" claro que o Sr. M"rio n*o colocou a ilumina '*o como efeito srcinado do telesc %pio. E que mais? O pr%prio Sarsi admitiu t,-lo colocado como efeito imposs$vel. Ent*o ele n*o dividiu seu pensamento daquele do Sr. M"rio, porque n*o existe divis*o. Depois, no que diz respeito 1 uni*o das espcies e dos raios, lembrada por Sarsi como parte n*o considerada pelo Sr. M"rio, seria %timo que Sarsi especificasse de que forma esta segunda opera'*o diferente da primeira, porque n %s at agora a entendemos como
igual. E quando tivermos certeza de que as duas s *o diversas, ent*o compreenderemos ter errado; mas o erro n*o ser" de l%gica no dividir mal, mas de perspectiva por n*o ter percebido bem todas as fun')es do instrumento. Quanto 1 conclus*o, onde Sarsi afirma n *o querer por ora relatar erros al m daqueles poucos encontrados por acaso numa parte s %, deixando de lado os outros, eu, antes de tudo, agrade 'o a Sarsi pela piedosa afei'*o para conosco; depois alegro-me com o Sr. M"rio, o qual pode ter certeza de n*o ter cometido no texto todo m$nima falha de racioc $nio l%gico. Pois, mesmo que Sarsi afirme que existem ali muitos outros, todavia creio ao menos que estes, relatados e descobertos por ele, tenham sido considerados os maiores; deixo agora para ele julgar a qualidade e as conseq 4,ncias produzidas pelos outros. Vou considerar finalmente a -ltima parte, onde Sarsi, para me fazer um grande favor, quer enobrecer o telesc%pio como uma admir"vel condi'*o e faculdade de iluminar os objetos que podemos observar por meio dele, como tamb m de nos aumentar estes mesmos objetos. Mas, antes de proceder, quero agradecer-lhe pelo seu afeto, porque duvido que sua obje'*o tenha muito resultado depois de ter investigado a for 'a de sua demonstra'*o, demonstra'*o que me parece ser esta, apesar de o autor, ao explic"-la, ir, n*o sei por que, emaranhando-a e replicando sempre as mesmas opini )es. O telesc%pio representa os objetos em forma maior porque os apresenta sob um 2ngulo maior do que quando s*o observados sem aquele instrumento. O mesmo telesc %pio, quase restringindo a um ponto as esp cies dos corpos luminosos e os raios esparsos, toma o cone visivo, isto , a pir2mide luminosa, por meio da qual podem ser observados os objetos enormemente mais brilhantes; por isto, os objetos igualmente brilhantes se nos apresentam aumentados e iluminados com uma luz maior. Depois, o fato de que a pir 2mide %ptica se torne mais brilhante pelo restringir-se dos raios, provado pela raz*o e pela experi ,ncia. Com efeito, a raz*o nos ensina que a luz recolhida num espa 'o menor deve necessariamente ilumin"-lo mais; e a experi ,ncia nos demonstra que colocada uma lente cristalina ao Sol, no ponto onde os raios se encontram, n *o somente a lenha se queima mas o chumbo derrete e a vista perde a vis*o; pelo que se conclui novamente poder-se afirmar com igual verdade que o telesc%pio ilumina as estrelas e as aumenta. Em recompensa da delicadeza e da bondade que teve Sarsi em exaltar e enobrecer muito este admir"vel instrumento, eu n*o posso fazer outra coisa que consentir, por enquanto, com todas as proposi')es e experi,ncias acima mencionadas. Porm, muito me entristece ver que serem elas verdadeiras lhes mais prejudicial que serem falsas. A principal conclus *o que devia ser demonstrada por meio delas de todo falsa e nem acredito que possa existir possibilidade de sustentar que n *o peque em l%gica aquele que de proposi ')es verdadeiras deduz uma conclus *o falsa. 5 verdade que o telesc%pio aumenta os objetos colocando-os sob um 2ngulo maior; verdadeira a prova que nos d*o os pesquisadores de perspectiva; nem menos verdadeiro que os raios da pir 2mide luminosa quanto mais est*o juntos mais a tornam brilhante, assim como os objetos observados por meio dela; verdadeira a
raz*o apresentada por Sarsi, isto , que a mesma intensidade de luz num espa 'o menor ilumina mais; finalmente, verdadeira a experi,ncia da lente que, juntando-se os raios solares, queima e cega. 5, porm, falso que os objetos luminosos se nos apresentem mais brilhantes com o telesc %pio que sem ele, pelo contr "rio, vemo-los mais escuros. Se Sarsi, ao observar por exemplo a Lua com o telesc %pio, tivesse aberto o outro olho e com este livre tivesse olhado a mesma Lua, teria podido comparar sem esfor'o o brilho da Lua maior, vista pelo instrumento, com a menor, vista a olho nu. E observando este fen+meno teria com certeza escrito que a luz vista a olho nu era muito maior que a outra. Extremamente clara , ent*o, a falsidade da conclus *o: falta agora mostr "-la falsa mesmo de premissas verdadeiras. Parece-me que aqui aconteceu a Sarsi aquilo que aconteceria a um comerciante, o qual, ao verificar em seus livros sua situa'*o, ficasse lendo s % o lado do haver e ficasse assim persuadido de ser bem rico, conclus *o que exata se n*o existisse a outra parte, isto , aquela do dever.
5 verdade, Sr. Sarsi, que a lente, isto , o vidro convexo, junta os raios e por isto multiplica a luz e favorece vossa conclus*o. Mas, onde o senhor deixa o vidro c+ncavo, que no telesc%pio a contralente e a mais importante por ser aquela onde se fixa o olho e atravs da qual passam os -ltimos raios e o
-ltimo balan'o do haver e dever? Se a lente convexa junta os raios, n *o sabe que o vidro c+ncavo os amplia e forma o cone inverso? Se tivesse experimentado receber os raios atrav s de ambos os vidros do telesc%pio, como observou aqueles que resultam da refra'*o de uma -nica lente, teria percebido que onde eles se juntam num ponto v *o ampliando-se sempre mais ao infinito, ou, para dizer melhor, a um espa'o enorme. Esta experi ,ncia pode facilmente ser comprovada recebendo sobre uma folha de papel a imagem do Sol, como quando se desenham suas manchas, e sobre este papel, conforme ele se afaste sempre mais da extremidade do telesc%pio, sempre maior circunfer ,ncia realiza o cone dos raios solares, e quanto maior ele se torna tanto menos luminoso ele se torna em compara'*o com o restante da folha onde pousam os raios livres do Sol. E como o senhor n *o tivesse conhecido esta e qualquer outra experi,ncia, me dif$cil acreditar que nunca escutou dizer que os vidros c+ncavos, quanto maior mostram um objeto, o que verdade, mais escuro o mostram. Como afirma, ent*o, com a mesma intensidade a a'*o do telesc%pio de aumentar e de iluminar? Sr. Sarsi, deixe de procurar exaltar este instrumento com estas suas novas faculdades t *o admir"veis, se n *o quer faz,-lo desprezar por aqueles que at agora pouco o estimaram. E sabe que na minha exposi'*o aceitei como verdadeira uma opini*o sua que falsa, isto , que a luz refor'ada mediante a jun'*o dos raios torne o objeto mais brilhante. Seria verdade isto quando esta luz reca $sse sobre o objeto, mas ela se dirige para o olho, coisa esta que produz o efeito contr"rio; assim, alm de ofender a vista, torna o meio mais luminoso e o meio mais luminoso faz aparecer (como acredito que saiba) os objetos mais escuros; esta a -nica raz*o por que as estrelas aparecem mais brilhantes 1 medida que a noite fica mais escura, e no clarear tornam-se mais foscas. Estas coisas, como V. E. Ilustr $ssima pode ver, s*o t*o manifestas que n*o me deixam acreditar poder ser desconhecidas por Sarsi. Creio que ele, em vez de mostrar a agilidade de seu racioc $nio, haja preferido mostrar um paradoxo, em vez de pensar que esta fosse mesmo a opini *o dele. E sua -ltima
conclus*o me firma nesta minha opini*o, porque, para mostrar (acredito eu) que estava brincando, termina com estas palavras: Afirmo ento que se pode acreditar ser verdade que o telesc $pio ilumina as estrelas da
mesma forma que ele as aumenta. V. E. Ilustr$ssima sabe muito bem que ele e seu Mestre afirmam sempre, e afirmam ainda agora, que ele n *o as aumenta nada: conclus*o que Sarsi se esfor 'a por sustentar ainda, como podemos perceber naquilo que segue. 13. Leia ent*o V. E. Ilustr $ssima: Apresso-me em passar ao terceiro argumento, que acredito dever relatar
com suas pr$prias palavras, para que todo mundo entenda qual foi, depois de tudo, a coisa pela qual Galileu considera-se to veementemente ofendido. A situa&o + esta: "Daquela conclus o deduz, em terceiro lugar, que o cometa observado pela luneta no sofreu aumento algum; por longa experi)ncia encontrou-se e mostrou-se tamb+m atrav+s da $ptica que tudo aquilo que se olha atrav+s deste instrumento aparece maior do que aquilo que aparece a olho nu, obedecendo por+m 2 lei de que aparece to menos aumentado pela luneta quanto mais long e se encontra do olho; por isto, as estrelas fixas, muito longe de n$s, no recebem da luneta nenhum aumento sens.vel. Como, pois, o cometa pareceuaumentar s$ um pouco, ser( necess(rio consider(-lo muito mais longe de n $s do que a Lua, mostrando-se esta, uma vez observada pela luneta, muito maior. Sei, por+m, que este argumento teve pouco valor para algumas pessoas; mas pode ser que eles investigaram pouco os princ.pios $pticos, os quais do muita for&a ao mesmo argumento que quer mostrar que n$s temos razo ". Sobre este ponto devo, antes de tudo, explicar por que tal argumento foi colocado em nosso Discurso: no gostaria, com efeito, que ele fosse considerado mais importante pelos outros que por mim: nem somos daqueles que enganam os compradores mas vendem as pr$prias mercadorias pelo pre&o que valem. Meu Mestre recebeu not.cias de muitas partes da Europa sobre observa&5es de astr6nomos ilustres, entre os quais no havia ningu+m que no acrescentasse, mesmo no fim, que o cometa por ele observado atrav+s de uma luneta bastante comprida no tivesse tido um certo aumento; desta observa &o deduziam que era necess(rio coloc(-lo ao menos al+m da Lua. E discutindo sobre a questo, bem como sobre as outras, no faltou quem aberta e livremente afirmasse que a este argumento no era necess(rio prestar f+, porque a luneta oferece aos olhos s$ apar)ncias e ilude o esp.rito com v(rias imagens. E assim como no mostra exatamente e sem enganos nem as coisas que olhamos de perto, assim n o poder( mostrar outras coisas a no ser as que esto muito longe de n$s. Ento como nos parecia ter concedido algo 2s observa&5es dos amigos e hav.amos reprovado a ignor3ncia daqueles que no consideravam de nenhum valor a luneta, consideramos oportuno colocar em terceiro lugar este argumento e acrescentar as /ltimas palavras que Galileu afirma t)-lo ofendido, na esperan&a de merecer antes elogio que reprova&o, em defender da cal/nia dos invejosos esta luneta que, se no + seu filho, com certeza + seu disc.pulo. Al+m disso, a estima&o que n$s t.nhamos por este argumento podia facilmente ser compreendida, penso eu, pelo fato exposto em poucas palavras e aridamente; enquanto que os dois precedentes haviam sido desenvolvidos mais longa e pormenorizadamente. Nem isto passou despercebido a Galileu, par a dizer as coisas como so na realidade. Com efeito, soubemos que ele havia se chocado com aquele argumento porque acreditava que com aquelas palavras se quisesse atacar a ele somente. Meu mestre preocupou-se em fazer chegar a seu conhecimento, por meio de amigos, que pensamento algum havia sido to estranho 2 sua mente quanto aquele de prejudic(-lo com palavras ou escritos; mesmo que Galileu mostrasse 2queles por meio dos quais soube estas coisas esp.rito tranq4ilo e satisfeito com as palavras deles, preferiu contudo, depois, quanto p6de, perder um amigo do que uma opinio.
Em rela'*o 1s coisas aqui expostas, apresenta-se 1 minha considera'*o, em primeiro lugar, a raz*o pela qual Sarsi tenha escrito sobre eu haver lamentado muito a posi '*o do Pe. Grassi referente a mim. Pois no texto do Sr. M "rio n*o aparece nem sombra de queixas minhas e jamais com algu m nem comigo mesmo lamentei, mesmo que tivesse havido raz)es para lamentar. Acho que mostraria grande ingenuidade aquele que lamentasse que homens de grande renome possu $ssem opini)es contr"rias 1s suas, mesmo que ele tivesse a possibilidade de poder mostrar ser verdadeiras e evidentes, como aconteceu comigo. Por isso, n *o encontro outra explica'*o a n *o ser que Sarsi, com estas suas palavras enganadoras, tenha querido esconder, n *o sei por que, motivos particulares que o levaram a ir contra mim. Disto me queixei um pouco porque teria gostado mais de ter aproveitado este tempo em algum outro estudo do meu gosto. Que o Pe. Grassi n*o tivesse inten '*o de me ofender ao considerar pouco inteligentes aqueles que desprezavam o argumento resultante do pouco aumento do cometa por meio do telesc %pio, o acredito com Sarsi; porm, havendo eu j " declarado encontrar-me naquele n -mero de pessoas, deviame ser permitido apresentar minhas raz )es de defender minha causa, especialmente sendo ela justa. Quero ainda admitir com Sarsi que seu Mestre com boa inten'*o sustentasse aquela opini *o, acreditando guardar e aumentar a reputa'*o e o valor do telesc%pio contra as cal-nias daqueles que o consideravam fraudulento e enganador em %ptica, e procuravam assim despoj "-lo de suas in-meras qualidades. Em rela'*o a isto, parece-me ser boa e louv"vel a inten'*o do Padre, porm a escolha e a qualidade da defesa parecem-me ruins e danosas enquanto querem defender, contra a falsidade dos maldosos, os verdadeiros efeitos do telesc %pio atribuindo-lhe outros efeitos errados. Este n *o me parece um bom argumento para persuadir da nobreza deste instrumento. Portanto, permita Sarsi desculpar-me se n*o me apresento com aquela abund2ncia que talvez pare'a a ele conveniente, como se eu tivesse obriga '*o para com as novas qualidades e honras atribu $das a este instrumento. E com que raz*o pretende ele que deve aumentar em mim a obriga'*o e a afei'*o para com eles por causa dos v*os e falsos atributos, enquanto eles, porque com minhas afirma ')es verdadeiras os tiro do engano, condenam-me a perder a sua amizade? Segue, depois, e n *o sei com quanta oportunidade se chame o telesc %pio disc$pulo meu e se chegue a descobri-lo at como sendo meu filho. O que faz, Sr. Sarsi? Enquanto tenta fazer-me interessar pelas grandes obriga')es, pelos benef $cios feitos 1quele que eu considerava meu filho, afirma que n*o nada mais que um disc$pulo? Que ret%rica a sua? Tinha antes acreditado que em tal ocasi *o tivesse tentado apresent"-lo como meu filho, quando estava bem certo de que n*o era. Qual parte eu tenha no descobrimento deste instrumento, e se eu possa com raz *o cham"-lo produ'*o minha j " h" muito tempo o esclareci em meu Aviso Sidereo33, escrevendo como a Veneza, onde me encontrava naquele tempo, chegou a not $cia de que um holand,s havia apresentado ao Sr. Conde Maur $cio34 uma 33 34
O texto Avviso Sidereo conhecido tamb m com o nome Sidereus Nuncius ou Nunzio Sidereo. Trata-se do Conde Maur$cio de Nassau, staatholder da Holanda, Pr $ncipe de Orange desde 1618.
luneta com a qual as coisas long $nquas percebiam-se t*o perfeitamente como se estivessem bem perto; nada mais foi acrescentado. Voltando a P "dua, onde me havia estabelecido, comecei a raciocinar sobre este relato e na primeira noite depois de minha volta achei uma solu '*o. No dia seguinte fabriquei o instrumento e comuniquei o acontecido em Veneza aos mesmos amigos com os quais no dia anterior eu havia discutido sobre este problema. Dediquei-me logo 1 constru'*o de outro mais perfeito que seis dias depois levei para Veneza, onde, com grande admira '*o minha, foi observado por quase todos os principais gentis-homens daquela rep -blica, por mais de um m,s em seguida, com grande aborrecimento meu. E, por conselho de um meu aficionado mecenas, apresentei-o ao Pr $ncipe, em pleno Colgio, de cuja estima e admira'*o s *o testemunhas as cartas ducais que ainda eu possuo e que mostram a grandiosidade daquele Pr$ncipe Seren$ssimo, confirmando-me para a vida inteira, em recompensa da inven'*o apresentada, no cargo de leitor no Estudo de P "dua, com ordenado duplicado em rela'*o 1quilo que eu recebia antes, que era j " tr ,s vezes mais do que qualquer outro ordenado de qualquer outro dos meus predecessores; Todos estes acontecimentos, Sr. Sarsi, n *o se passaram num bosque ou num deserto, mas em Veneza, onde, se o senhor tivesse permanecido, n*o teria me chamado de simples mentiroso. Por gra'a divina, vive ainda l" a maior parte daqueles senhores, bem cientes de tudo, por meio dos quais o senhor pode ser bem informado. Pode ser que algum afirmasse ser de bastante ajuda, para solucionar qualquer problema, ficar ciente antecipadamente da verdade da conclus *o e ficar certo de n*o estar procurando o imposs $vel, e que por isso o conhecimento e a certeza de que a luneta havia j " sido constru$da foram-me de tanta ajuda que sem eles eu n*o a teria talvez encontrado. Respondo a isto dizendo que a ajuda oferecida pelo conhecimento da exist ,ncia do telesc%pio me impulsionou a pensar sobre o assunto, porque pode ser que sem ele eu nunca teria pensado nisto; por m, que o conhecimento de sua exist ,ncia possa ter facilitado minha inven'*o, n*o acredito; e afirmo mais, que encontrar a solu '*o de um problema j" marcado e conhecido obra de racioc$nio muito maior do que daquele que necess"rio para encontrar a solu'*o de um problema ainda n *o pensado nem conhecido, pois naquela hip %tese pode haver influ,ncia do acaso em grande parte, mas nesta -ltima obra do desenvolvimento l%gico. E estamos certos de que o holand,s, primeiro inventor do telesc%pio, era um simples fabricante de %culos comuns, que, casualmente manuseando v"rios tipos de vidros, encontrou, ao olhar ao mesmo tempo atrav s de dois deles, um convexo e outro c+ncavo, colocados a dist2ncias diferentes do olho, e desta forma verificou e observou o efeito derivado, e inventou o %culo. Eu, porm, empolgado por este invento, encontrei a mesma coisa, mas por continuidade l %gica; e porque esta continuidade l%gica bastante f"cil, quero explic"-la a V. E. Ilustr$ssima para que, relatando-a se for o caso, ela possa com a sua facilidade tornar mais cr dulos aqueles que, como Sarsi, querem privar-me daquele louvor, qualquer que ele seja, que me pertence. Meu racioc$nio l%gico foi ent*o este: este %culo ou consta de um -nico vidro ou mais de um; n*o pode se srcinar de um -nico vidro porque ou a sua figura resulta convexa, isto , mais espessa no
meio do que na orla, ou resulta c +ncava, isto , mais fina no meio, ou resulta ser compreendida entre superf$cies paralelas. Por m, esta -ltima n*o altera em nada os objetos vis $veis aumentando-os ou diminuindo-os; a c +ncava os diminui e a convexa os aumenta suficientemente, mas os faz aparecer indistintos e esfuma'ados; portanto, um vidro s% n*o pode produzir este efeito. Tomando-se ent*o dois vidros, e sabendo que o vidro de superf$cies paralelas n*o altera nada, como acabamos de dizer, conclu$mos que este efeito n*o podia ser produzido pela jun '*o de um destes com qualquer um dos outros dois. Assim, restringi-me a experimentar aquilo que produzia a composi'*o dos outros dois, isto
, do convexo e do c +ncavo; percebi, assim, que solucionava meu problema. E o progresso relativo ao meu invento foi t*o grande que n*o me foi de ajuda conhecer a verdade da conclus *o. Porm, se Sarsi ou outros pensam que a certeza da conclus*o seja de grande ajuda para produzir um determinado efeito, leiam eles as hist %rias onde encontrar*o que Arquita35 produziu uma pomba voadora, Arquimedes, um espelho que ardia a enorme dist 2ncia e outras maquinarias extraordin"rias, que foram acesas luzes perptuas e cem outras conclus )es estupendas. Raciocinando a respeito disto, poder *o, sem muito esfor'o e com grande honra e utilidade, encontrar o sistema de constru '*o ou, se ao menos isto n *o se verificar, tirar*o o benef$cio de esclarecer melhor que a facilidade que eles se prometiam em conhecer antecipadamente a verdade do efeito era muito menor do que aquilo que acreditavam. Mas quero voltar 1quilo que em seguida escreve Sarsi para evitar ser for 'ado a afirmar que o argumento sobre o m$nimo aumento dos objetos muito remotos n *o vale nada, porque falso. Afirma que este mesmo argumento n*o foi muito bem aceito, sendo claro isto porque seu Mestre falou a prop%sito com muita brevidade, enquanto os outros dois argumentos aparecem completos e amplos, sem economia de palavras. Assim posso afirmar que n*o pela abund2ncia mas pela efic "cia das palavras que se deve argumentar a estima que os outros possuem das coisas relatadas. Como todo mundo sabe, existem demonstra')es que por pr%pria natureza n*o podem desenvolver-se sem abund2ncia de explica')es, e outras cuja abund 2ncia de explica')es resultaria de todo suprflua e ma'ante. E aqui, se devemos observar as palavras, o argumento foi relatado com palavras suficientes para uma explica'*o clara e perfeita. Mas, al m disso, o pr%prio Pe. Grassi, escrevendo que tal argumento, como claramente se deduz dos princ$pios %pticos, possui uma for 'a muito grande de convencimento, nos mostra tamb m claramente quanta import2ncia ele lhe atribuiu. Quero admitir com Sarsi que esta import2ncia tenha sido internamente pouqu $ssima, e este racioc$nio leva-me n*o 1 brevidade da explica'*o, mas a outro racioc $nio muito mais s%lido, isto , que o Pe. Grassi procura demonstrar que o lugar do cometa h" de ser bem long $nquo; recebendo do telesc %pio aumento insens$vel, ele imita em tudo as estrelas fixas afastadas; quando, porm, ele se aproxima a uma limita '*o mais espec$fica deste lugar, o Pe. Grassi coloca o cometa na categoria dos objetos que recebem, do mesmo telesc%pio, um enorme aumento. Verifica-se isto embaixo do Sol, que ele faz aumentar centenas e milhares de vezes, como sabem o pr %prio padre e o pr%prio Sarsi. Porm Sarsi n*o entendeu o grande 35
Tirano de Tarento, no s culo IV antes de Cristo, foi c lebre por seus estudos e pesquisas matem"ticas de cunho pitag %rico
artif$cio de seu Mestre junto com o qual quis, ao mesmo tempo, agradar a seus amigos e alimentar o gosto deles em rela'*o 1 nova inven'*o e, face 1queles de maior entendimento e menos fan "ticos, quis, como se fala, mostrar-se sutil e inteligente, imitando aquele ato generos $ssimo daquele grande senhor que jogou fora sua argumenta'*o para n*o interromper a felicidade que impregnava o jovem pr$ncipe, seu advers"rio, pela vit%ria j" prometida pelo velho de cinq 4enta e cinco anos, j " descoberta e apresentada. O Sr. M"rio, porm, de forma um pouco mais severa, quis amplamente expressar seu conceito e mostrar a falsidade e a pequenez daquele argumento visando a outro fim, isto , antes corrigir os defeitos e eliminar os erros fazendo sofrer os fan"ticos do que aumentar os erros e aliment"los para n*o desiludi-los. Em rela'*o 1quilo que Sarsi escreve por -ltimo, isto , que seu Mestre n*o houvesse pensado em ofender a mim, opondo-se 1queles que ca'oavam do argumento, n*o necess"rio que eu fale mais nada porque j" afirmei acreditar em suas palavras e n*o ter acreditado nunca em outras coisas. Entretanto, quero que Sarsi acredite tambm que eu, ao demonstrar falso o argumento, n *o tive a inten'*o de ofender seu Mestre, mas, pelo contr "rio, tive a inten '*o de auxiliar todos aqueles que se encontravam no erro. Nem entendo com muita clareza por que eu deva aqui querer, para n*o perder uma linda frase, perder um amigo; nem consigo perceber que sutileza existe em dizer "este argumento n*o verdadeiro" para que esta frase deva ser considerada sutil. 14. Continue V. E. Ilustr $ssima a ler: Discutimos agora mais claramente sobre a questo. Afirmo que neste
argumento no se encontra nada contr(rio 2 verdade. Com efeito, afirmamos antes de tudo que objetos, observados pela luneta, quanto mais encontram-se perto mais ficam aumentados, acontecendo o contr(rio quando afastados. Nada de mais verdadeiro. Galileu o nega. E se ele o admitisse? Pergunto-lhe, pois, quando ele pegar em sua luneta, com certeza - $tima, se por acaso pretender observar alguma coisa fechada em um quarto ou em um quintal, no ser( necess(rio que ele o encompride muit.ssimo? Assim +, afirma ele. Se realmente se quiser observar com este instrumento, pela janela, uma coisa muito long.nqua, afirma ele que ser ( necess(rio diminu.-lo e reduzi-lo 2 forma menor. Assim, se perguntar a causa daquele encompridar e diminuir, ser ( necess(rio recorrer 2 natureza do instrumento cuja condi&o + tal que, segundo os princ.pios da $ptica, deve ser encompridado para observar as coisas mais pr$ximas, diminu.do para ver as mais afastadas. Portanto, como do encompridar e do diminuir da luneta nasce necessariamente um maior ou menor aumento dos objetos, como ele afirma, ser( l.cito que eu formule este argumento: "Tudo aquilo que + observado exclusivamente com a luneta encompridada recebe necessariamente maior aumento; tudo aqui lo que + observado exclusivamente com a luneta diminu.da necessariamente aumenta menos; todas as coisas pr$ximas so observadas exclusivamente com a luneta encompridada e todas as coisas long.nquas exclusivamente com a luneta encompridada e todas as coisas long.nquas exclusivamente com a luneta diminu.da. Ento, necessariamente, todas as coisas pr $ximas aumentam mais e todas as long.nquas menos ". Se conseguirmos neste racioc.nio demonstrar verdadeiros o aumento e a diminui&o, no poder( negar-se aquilo, acredito, que deles deriva necessariamente. Ele admite espontaneamente a primeira proposi&o, a segunda resulta tamb+m muito certa; para as coisas que se observam numa meia milha, ele no necessita de prova alguma; e se as coisas que se encontram mais para l ( so observadas com a luneta sempre encompridada, isto se faz n o porque realmente ela no deva ser diminu.da
sempre mais e mais, mas porque esta diminui&o + contida entre limites to diminutos que no apresenta muita diferen&a se + omitida, e ento, na maioria das vezes, n o + realizada. Por+m, se observarmos a natureza da coisa e falarmos com rigor geom+trico, esta diminui&o resultar( sempre maior. Da mesma forma acontece com quem afirma que qualquer coisa vis.vel mais encontra-se longe do olho mais percebe-se sob um 3ngulo menor, cuja proposi&o + bem verdadeira; por+m, quando a coisa que se oferece a nosso olhar chega a uma determinada dist3ncia que torne o 3ngulo visual muito pequeno, mesmo que se afastasse bem mais longe, o 3ngulo no diminui sensivelmente; todavia poder( ser demonstrado que se tornar( sempre menor. Assim, mesmo que al+m de uma determinada dist 3ncia m(xima os objetos variem apenas os
3ngulos de incid)ncia das imagens nas lentes da luneta (co m efeito, seria a mesma coisa que se todos os raios ca.ssem perpendicularmente), e, por conseq4)ncia, nem o comprimento do instrumento h( de variar sensivelmente, + necess(rio guardar ainda como verdadeira a proposi&o que afirma que a natureza da luneta + tal que, quanto mais longe se encontrarem os objetos tanto mais, paraobserv(-los, deve ser ela diminu.da, e por isto os aumenta menos dos pr$ximos, e se for necess(rio, como afirmava eu, falar seriamente, afirmo que as estrelas devem ser observadas com a luneta mais curta do que seria para observar a Lua. Aqui, como V. E. Ilustr$ssima pode ver, prepara-se Sarsi com admir"vel franqueza, em virtude de silogismos sutis, para querer sustentar que nada mais verdadeiro do que a supramencionada proposi'*o, isto , que os objetos observados com o telesc %pio tanto mais aumentam quanto mais perto se encontrem, e tanto menos quanto mais longe se encontrem; e sua confian 'a tanta que quase espera a minha confirma'*o, mesmo que at agora eu a negue. Mas eu entendo antecipadamente que ele, ao colocar esta hip %tese, se encontre emaranhado em suas filas daquilo que ele imagina agora enquanto a est" colocando, assim que dever " depois declarar-se amarrado36, amarrado, afirmo eu, 1quele que com uma certa considera'*o examinar" as conclus)es onde ele acabar", que ser*o as mesmas "at as unhas"37 daquelas descritas pelo Sr. M "rio, mas manuseadas e interpoladas de tal forma e com tantas variedades de palavras, ou jogadas em algum canto, que 1s vezes, 1 primeira vista, para quem observa menos cuidadosamente, podem parecer alguma coisa de diferente daquilo que realmente s*o. No momento, para n*o desanim"-lo, acrescento-lhe que, como resulta ser verdadeiro aquilo que ele est" tentando, n*o s% o argumento que se ap %ia nesta proposi '*o que seu Mestre e os outros astr+nomos amigos utilizaram para encontrar o lugar do cometa o mais engenhoso e conclusivo, mas afirmo, alm disso, que o efeito do telesc %pio enormemente superior aos outros, por causa das conseq4,ncias que ele traz; e fico extremamente admirado e nem entendo bem como pode acontecer que, considerando-o verdadeiro, Sarsi tenha afirmado pouco antes que ele e seu Mestre deram-lhe muito menor import2ncia que aos outros dois, um belo moto circular e o outro pela pequena paralaxe, os quais em verdade n*o s *o dignos nem de ser servos dele. Senhor, se esta coisa verdade, eis aberta para Sarsi a estrada para admir "veis inven')es, procuradas por muitos e nunca encontradas por ningum; eis n*o s% medida num -nico ponto qualquer dist 2ncia da Terra, mas, sem erro algum, eis 36 37
Aqui Galileu usa o termo "convicto" com o significado latino de "amarrado" ou "obrigado" "Ad unguem."
estabelecidas as dist2ncias dos corpos celestes. Pois, observado, mesmo uma -nica vez, por exemplo, um c$rculo longe uma milha, este, se mostrado a n %s, visto atravs do telesc%pio, com um di2metro trinta vezes maior que a olho nu, logo que percebermos a altura de uma torre crescer, por exemplo, dez vezes, teremos certeza de que ela se encontra a tr,s milhas de dist2ncia; e aumentando o di2metro da Lua tr,s vezes mais daquilo que o mostra o olho nu, poderemos afirmar que ela se encontra longe umas dez milhas e o Sol umas quinze, se seu di 2metro aumentar somente duas vezes; ou, se com um excelente telesc%pio n%s pudssemos ver a Lua aumentar em di2metro, por exemplo, dez vezes, a qual dista mais de cem mil milhas, como escreve justamente Pe. Grassi, a bola da c -pula da dist2ncia de uma milha aumentar" duas vezes e o di 2metro mais de um milh *o de vezes. Eu, ent *o, para ajudar naquilo que posso uma a '*o t *o maravilhosa, levantarei algumas pequenas d-vidas que brotaram em mim no decorrer do desenvolvimento do racioc$nio de Sarsi, as quais V. E. Ilustr $ssima, se assim gostar, poder " em alguma ocasi*o mostrar para ele, para que ele, tirando-as, possa ainda melhor esclarecer tudo. Querendo ent*o Sarsi persuadir-me de que as estrelas fixas n *o recebem sens$vel aumento do telesc%pio, ele come'a a demonstra'*o pelos objetos que se encontram na sala e me pergunta se, para observ"-los com o telesc%pio, devo necessariamente encomprid"-lo muito; eu lhe respondo que sim; passa depois aos objetos fora da janela muito distantes e afirma que para observ "-los necess "rio diminuir muito o instrumento; eu o afirmo e acrescento depois que isto deriva, como ele mesmo escreveu da natureza do instrumento que, para observar os objetos muito perto, precisa de uma bem maior longura de cano, e menor para os mais long$nquos; alm disso, confesso que o cano mais longo mostra os objetos maiores do que o cano mais curto; e finalmente concedo-lhe por enquanto, o silogismo inteiro, cuja conclus *o que geralmente os objetos pr %ximos aumentam mais e os long $nquos menos, isto (adaptando-a aos supramencionados elementos), as estrelas fixas, que s *o objetos long$nquos, aumentam menos que as coisas colocadas em uma sala ou em um pal "cio, em cujos limites parece-me que Sarsi compreenda as coisas que ele chama pr %ximas, n*o possuindo muito longe seus limites. Porm aquilo que foi afirmado at agora n*o me parece que possa satisfazer por muito tempo 1 necessidade de Sarsi. Pergunto-lhe, ent *o, se considera a Lua na classe dos objetos pr %ximos ou na classe dos long$nquos. Se a coloca entre os objetos long $nquos, h" de se dizer, a respeito dela, o mesmo daquilo que se diz a respeito das estrelas fixas, isto , o pouco aumento (o que em tudo contr"rio 1 inten'*o de seu Mestre que, para colocar o cometa acima da Lua, necessita que a Lua seja daqueles objetos que aumentam enormemente; assim escreveu que ela, com efeito, aumentava muito, enquanto o cometa aumentava pouco); por m, se Sarsi a coloca entre os pr %ximos, que s*o aqueles que aumentam muito, eu lhe responderia que ele n*o devia restringir, no come'o, os limites das coisas pr %ximas entre os muros de uma casa, mas devia ampli "-los ao menos at o cu da Lua38. Suponhamos que estejam ampliados at l " e que Sarsi volte 1s suas primeiras perguntas e me pergunte se, para poder ver com o 38
Neste per$odo o termo "c u" n*o possui o nosso significado, isto , de ab%bada celeste que envolve todo o restante; ele uma parte determinada desta ab%bada. Esta teoria gera o sentido desta frase de Galileu: "cu da Lua", onde o termo "c u" adquire um car"ter explicativo, em rela'*o 1quela determinada parte da ab %bada
telesc%pio os objetos pr %ximos, isto , que n*o se encontrem al m do c$rculo da Lua, seja-me necess"rio encompridar demasiadamente o telesc%pio. Eu lhe responderia que n*o; eis aqui quebrado o arco do duelo e terminado o arremesso de flechas dos silogismos. Portanto, se n%s voltarmos a considerar melhor este argumento, o encontraremos defeituoso, havendo tomado como absoluto aquilo que n *o pode ser entendido sen*o como relativo, isto , haver entendido como determinado aquilo que indeterminado, em suma, ter sido feita uma divis *o diminuta (isto s*o erros de l%gica), enquanto Sarsi, sem colocar um termo e um limite entre proximidade e longinq4idade, repartiu os objetos vis $veis em afastados e pr%ximos, errando da mesma forma que erraria aquele que afirmasse que "as coisas do mundo ou s *o grandes ou s *o pequenas", em cuja posi'*o n *o se encontra nem verdade nem falsidade, como n*o existiria erro em dizer que "os objetos ou s *o pr %ximos ou s*o afastados", de cuja indetermina'*o decorre que as mesmas coisas poder *o ser chamadas bem pr%ximas e bem afastadas, muito grandes e muito pequenas, e as mais pr%ximas poder*o ser chamadas afastadas e as mais long $nquas pr%ximas, e as maiores poder *o ser chamadas pequenas e as pequenas grandes, e poder-se-" dizer: "Esta uma colina pequen$ssima", "Este um grand$ssimo diamante"; aquele mensageiro chama brev $ssima a viagem Roma3N"poles, enquanto aquela senhora queixa-se de que a igreja esteja longe demais de sua casa. Para evitar estes equ $vocos, se eu n*o estou enganado, Sarsi devia fazer ao menos uma tr $plice divis*o afirmando: "Dos objetos vis $veis, uns s*o pr%ximos, uns afastados e outros colocados numa dist2ncia med$ocre", assim colocando um certo limite entre os pr %ximos e os long $nquos. Nem devia parar aqui, mas devia acrescentar mais uma determina'*o precisa relativa 1 dist2ncia deste limite, afirmando, por exemplo: "Eu chamo dist 2ncia med$ocre aquela que mede uma lgua"; grande aquela que mede mais de uma l gua; pequena aquela menos de uma lgua". Nem entendo muito bem por que ele n*o o tenha feito, a n*o ser que percebesse ser muito mais conveniente para ele jogar com equ $vocos entre pessoas mais simples, em vez de concluir firme entre as mais inteligentes. 5 de fato uma grande vantagem possuir um papel pintado dos dois lados e poder, por exemplo, afirmar: "As estrelas fixas, sendo long$nquas, aumentam muito pouco, mas a Lua aumenta muito, porque est" pr %xima", e outra vez, tendo necessidade, afirmar: "Os objetos da sala, sendo pr%ximos, aumentam demais, porm a Lua pouco, porque se encontra muito longe". Valha esta minha exposi'*o como primeira d-vida. Segundo, j" o Pe. Grassi colocou em um -nico cap$tulo a causa do aumento vari"vel dos objetos observados atravs do telesc%pio, variabilidade devida ao menor ou maior afastamento dos mesmos objetos, nem falou nada a respeito do encompridar ou diminuir o instrumento; e nada, afirma Sarsi, agora, pode ser mais verdadeiro. Todavia, quando ele se prop)e a demonstr"-lo, n*o lhe suficiente o breve ou o enorme afastamento do objeto, mas necessita acrescentar o maior ou menor comprimento do telesc%pio, e construir o silogismo desta forma: "A proximidade do objeto causa do encompridar do telesc%pio; porm, este encompridar causa do aumento maior; logo, a proximidade do objeto causa do aumento maior". Parece-me que Sarsi, aqui, em vez de auxiliar seu Mestre, o dificulta mais,
levando-o a se equivocar entre o acidental 39 e o essencial40; assim, cairia em erro aquele que quisesse colocar a avareza entre as regras de sa -de41 e afirmasse: "A avareza causa do viver parco; a temperan'a causa de sanidade; logo, a avareza nos mantm sadios": onde a avareza um elemento ocasional, ou seja, uma bem remota causa ocasional 42 de sanidade que se encontra fora da inten'*o prim"ria do avarento, pois para o avarento sua finalidade a economia. E isto que eu afirmo t*o verdadeiro que provarei t*o conseq4entemente que a avareza causa de doen'a, pois o avarento, para economizar, freq4entemente aceita convite de amigos e parentes, e a freq 4,ncia de convites gera diversas doen'as; logo, a avareza causa de doen'as. De toda esta exposi'*o percebe-se, enfim, que a avareza, do ponto de vista da avareza, n *o tem nada a ver com a sanidade, da mesma forma que n *o tem nada a ver a proximidade do objeto com seu maior aumento. A raz*o por que, ao observar os objetos pr%ximos, encomprida-se o instrumento, remover a confus *o que sombreia o objeto que n%s observamos, confus*o que se evita com o comprimento maior; mas porque ao encompridar segue um maior aumento, fora da inten'*o prim"ria que foi aquela de esclarecer e n *o de aumentar o objeto, assim que a proximidade n*o pode ser chamada sen*o de ocasional, ou seja, a remot $ssima causa ocasional43 do aumento maior. Terceiro, se verdade que s% ela e n*o outra deve ser a causa que colocada gera sempre o efeito, e tirada tira o efeito, s % o encompridar do telesc%pio poder" ser considerado causa de maior aumento, mesmo que o mesmo objeto se encontre a uma dist2ncia qualquer, por cada pequeno aumento de comprimento segue um claro aumento; por outro lado, todas as vezes que o instrumento for colocado no mesmo comprimento, aproximando o objeto quanto se queira, mesmo que da dist2ncia de cem mil passos chegue-se 1 dist2ncia de cinq4enta, o aumento, em rela'*o ao olho nu, n*o ser" em nada maior. Porm, bem verdade que aproximando-o a dist2ncias pequen$ssimas, como quatro passos, dois, um ou meio, a espcie do objeto mais e mais enturva-se e ofusca-se, assim, para observ"-lo distinto e claro, convm encompridar sempre mais o telesc %pio, e deste encompridar segue um aumento sempre maior. E derivando este aumento s % do encompridar e n*o do aproximar-se, deve ser regulado em rela'*o
1quele e n*o a este; pois, n *o dando resultado no afastamento superior a meia milha para observar os objetos claros e distintos mexerem com o instrumento, n*o se verifica muta'*o alguma em seus aumentos, mas todos realizam-se com a mesma propor'*o. A superf$cie de uma bola, por exemplo, observada com o telesc%pio 1 dist2ncia de meia milha, aumenta mil vezes, mil vezes mais, e n *o menos, aumentar" o disco da Lua, outro tanto aumentar" o de J-piter, e enfim o mesmo tanto o de uma estrela fixa. Nem acontece aqui que Sarsi queira estud"-la cuidadosamente, do ponto de vista geomtrico, porque, quando ele a tiver reduzido a "tomos e tiver deduzido todas as vantagens, seu ganho n *o chegar" 1quele do 39
"Per accidens." "Per se." 41 "De sanitate tuenda." 42 Per accidens." 43 "Per accidens." 40
pesquisador que cuidadosamente ia procurando atravs de que porta da cidade podia sair para ir mais rapidamente 1 $ndia. Enfim, ser" mais conveniente para Sarsi confessar (como parece fazer, em parte, no fim do trecho lido por V. E. Ilustr $ssima) que, tratando com toda severidade o telesc %pio, n*o se deva diminuir seu comprimento ao observar as estrelas fixas mais que ao observar a Lua. Mas, de toda esta cuidadosa pesquisa, o que resultar" que possa ajudar Sarsi? Absolutamente nada, pois n*o acontecer" nada mais que, por exemplo, aumentando mil vezes a Lua, as estrelas fixas aumentam novecentas e noventa e nove; enquanto que, em sua defesa e em defesa de seu Mestre, seria necess "rio que elas n*o aumentassem nem duas vezes, porque aumentar o dobro n *o passa despercebido, e os dois afirmam que as estrelas fixas n*o aumentam sensivelmente. Eu sei que Sarsi entendeu perfeitamente estas coisas, mesmo lendo a obra do Sr. M "rio; mas quer, quanto pode, manter vivo seu Mestre com silogismos sutilmente apresentados (seja-me permitido falar assim, porque logo em seguida ele considerar" minuciosas demais algumas coisas do Sr. M "rio que s*o, em vez, bem mais importantes que as dele). Mas, para finalizar minhas d -vidas, lembro-me de salientar mais alguma coisa em rela'*o ao exemplo apresentado por Sarsi, tirado dos objetos observados a olho nu. A respeito deles afirma que quanto mais eles se afastam do olho sempre mais percebem-se sob um menor 2ngulo, e quando se chega a uma certa dist2ncia na qual o 2ngulo reduz-se muito, porquanto afasta-se sucessivamente o objeto, o 2ngulo porm n*o diminui sensivelmente; todavia, afirma ele, pode-se demonstrar que ele se torna menor. Contudo, se o sentido deste exemplo aquele que eu imagino, e aquele que deve ser para concordar com o conceito apresentado, eu raciocino diferentemente de como Sarsi raciocina. Com efeito, parece-me que ele quer que o 2ngulo visual, afastando-se do objeto, diminua continuamente mas sempre progressivamente com menor propor '*o; assim, depois de uma determinada dist 2ncia, mesmo que o objeto se afaste ainda mais, de pouco diminui o 2ngulo; eu, por m, sou de parecer contr"rio e afirmo que a diminui'*o torna-se sempre proporcionalmente maior 1 medida que o objeto se afasta. E para explicar-me mais claramente, fa 'o notar, primeiramente, que querer determinar as grandezas aparentes dos objetos vis $veis por meio das quantidades dos 2ngulos com os quais elas se nos apresentam bom racioc$nio quando se trata de partes de alguma circunfer,ncia de um c$rculo em cujo centro esteja colocado o olho. Por m, em rela'*o a todos os outros objetos, encontra-se em erro, pois as grandezas aparentes s *o determinadas n*o pelo 2ngulo visual mas pelas cordas dos arcos subentendidos a este 2ngulo. Estas quantidades aparentes v*o sempre diminuindo de acordo com a propor '*o contr"ria 1quela das dist2ncias; assim, o di2metro, por exemplo, de uma circunfer ,ncia observada a cem bra'as de dist2ncia mostra-se a mim a metade daquilo que se mostraria a cinq4enta bra'as de dist2ncia, e vista a mil bra 'as de dist2ncia mostrar-se-ia duas vezes aquilo que se mostraria se a duas mil bra'as, e assim sempre com todas as dist2ncias. Nem acontecer " nunca que ele, qualquer que seja a dist2ncia, possa aparecer-me t*o pequeno que n*o pare'a a metade da dist 2ncia dupla. Mas se queremos tamb m determinar as grandezas aparentes atravs da quantidade dos 2ngulos, como acontece com Sarsi, isto ser" ainda pouco favor"vel
para ele, pois tais 2ngulos j" n*o diminuem em propor'*o ao aumento das dist 2ncias, mas em propor'*o menor. Porm, aquilo que se op)e 1s palavras de Sarsi que, feita a compara'*o entre os
2ngulos, eles v*o diminuindo em propor '*o maior nas dist2ncias maiores que nas dist 2ncias menores; assim, se, por exemplo, o 2ngulo de um objeto colocado 1 dist2ncia de cinq4enta bra'as em rela'*o ao
2ngulo do mesmo objeto colocado a cem bra 'as de dist2ncia , por exemplo, na propor'*o de cem a sessenta; o 2ngulo do mesmo objeto 1 dist2ncia de mil em propor'*o ao 2ngulo * dist2ncia de duas mil ser", por exemplo, na propor'*o de cem a cinq 4enta e oito, e aquele 1 dist2ncia de quatro mil, e aquele
1 dist2ncia de oito mil ser " na propor'*o de cem a cinq4enta e cinco, e aquele * dist2ncia de dez mil e aquele 1 dist2ncia de vinte mil ser" na propor'*o de cem a cinq4enta e dois; e sempre a diminui'*o do 2ngulo tornar-se-" em maior e menor propor'*o, sem porm chegar a ser a mesma das dist 2ncias tomadas sem permutas. Assim, se eu n *o me engano, aquilo que Sarsi escreve, isto , que o 2ngulo visual, tornando-se por causa das grandes dist 2ncias muito agudo, n*o continua diminuindo por outros enormes afastamentos na mesma propor '*o que assumia com dist2ncias menores, resulta t *o falso quanto a teoria de que esta diminui'*o assume propor'*o maior. 15. Leia agora, V. E. Ilustr$ssima: Ele afirmara que agir assim n o significa usar o instrumento da mesma
forma e que, por isto, se estamos falando da mesma luneta, aquela afirma&o + falsa. Com efeito, apesar de serem iguais, seja as lentes seja a luneta, todavia se ela resultar uma vez mais comprida, uma vez mais curta, no ser( sempre o mesmo instrumento. Longe de n$s estas sutilezas! Ento, se um fula no, falando com um amigo, disser as palavras em voz baixa para ser escutado s $ de perto, depois, visto um outro de longe cham(-lo com voz alt.ssima, dir-se-( que usa uma goela e uma boca diferentes porque + necess(rio no primeiro caso contrair estes instrumentos da voz e no outro caso dilat(-los e aument(-los? Realmente, quando observamos os tocadores de ombone, tr impulsionando e retraindo a direita, encompridar, para dar o som mais grave, aquele instrumento curvo e dobrado, e fazer o contr(rio para o som agudo, afirmamos por isto que esto usando trombones diferentes? Aqui, como pode ver, Sarsi, convencido pela for'a de seus silogismos, leva-me a recorrer, para me salvar, a um ataque qualquer, mesmo fraco, e a dizer, mesmo, que seja verdade que as estrelas fixas n*o recebem aumento como os objetos pr %ximos, que este saltem44 n*o servir-se do mesmo instrumento, pois nos objetos pr %ximos deve-se encompridar; e me diz, com um apage, que eu uso o recurso de coisas sutis demais. Por m, Sr. Sarsi, eu n*o prefiro recorrer ao saltem e 1s sutilezas. Tivestes necessidade de dizer que somenos e demasiada sutileza nas idias geomtricas considerar que as estrelas fixas exigem a diminui'*o do telesc%pio mais que a Lua, de onde se srcinava, como frisei antes, que aumentando a Lua mil vezes as estrelas fixas aumentariam novecentas e noventa e nove, enquanto que, para sustentar vossas palavras, t $nheis necessidade de que elas n*o aumentassem nem meia vez. Isto, Sr. Sarsi, significa reduzir-se a saltem e fazer como aquela cobra que, ferida e machucada, n*o tendo mais vitalidade que na extremidade da cauda, continua movendo-a para fazer acreditar aos transeuntes ser ainda sadia e forte. Assim, dizer que o telesc %pio encompridado outro instrumento do precedente, 44
"Ao menos."
, na teoria que estamos expondo, coisa essencial $ssima e bem verdadeira, e nem Sarsi haveria raciocinado diferentemente se n*o se houvesse equivocado sobre a mat ria, a forma ou a figura, por bem dizer, coisa que se pode facilmente declarar mesmo sem se afastar de seu exemplo. Eu pergunto a Sarsi por que os tubos do %rg*o n*o tocam todos em un$ssono, mas alguns produzem um tom mais grave e outros menos. Afirmar" talvez que isto se verifica porque eles s *o de materiais diversos? Certo que n*o, sendo todos de chumbo; mas tocam notas diversas porque s *o de grandezas diversas, e, naquilo que diz respeito ao material, este n *o tem influ,ncia alguma sobre o tipo de som pois os tubos constru $dos alguns de madeira, outros de estanho, outros de chumbo, outros de prata, outros de papel tocar *o todos em un$ssono, o que se verificar " quando todos os comprimentos e larguras deles sejam iguais; e, pelo contr "rio, com o mesmo material em n -mero, isto , com as mesmas quatro libras de chumbo, colocando-o em maior ou menor recipiente, formarei diversas notas. Assim, no que diz respeito 1 produ'*o de som, diversos s *o os instrumentos que possuem grandeza diversa, e n*o aqueles que possuem material diverso. Agora, se desmanchando um tubo formar-se com o mesmo chumbo um outro tubo mais comprido, e conseq4entemente de tonalidade mais grave, hesitar " Sarsi em afirmar que este seja um tubo diverso do primeiro? Quero acreditar que n *o. Porm, se outros encontrassem um jeito de formar o segundo cano mais comprido sem desmanchar o primeiro, n*o seria o mesmo? Certamente que sim. Porm, o jeito ser " faz,-lo de dois peda'os assim que um entre no outro, porque assim se poder " encompridar e diminuir, em suma, segundo o nosso arb$trio fazer devir diferentes canos, procurando formar diversas notas; e esta a natureza do trombone. As cordas da harpa, mesmo sendo do mesmo material, d *o sons diversos porque s*o todas de comprimentos diferentes; porm, aquilo que produzem muitas delas o produz uma -nica corda do ala-de, enquanto que com o movimento dos dedos se produz o som ora de uma ora de outra parte, que o mesmo que encompridar e diminuir o instrumento, por aquilo que diz respeito * produ'*o do som, com cordas diferentes. A mesma coisa pode-se afirmar do tubo da garganta, o qual, variando em comprimento e em largura, aparelhando-se a formar v"rias vozes, pode-se sem erro afirmar que se torna tubos diversos. Assim e n*o de outra forma (porque o maior e o menor aumentos n *o consistem na matria do telesc%pio mas na figura, pois o mais comprido parece maior), quando, conservando a mesma mat ria, mudar-se-" o intervalo entre vidro e vidro, constituir-se-*o instrumentos diversos. 16. Escutemos agora o outro silogismo que Sarsi constr %i: Fique claro para Galileu que n o estou
agindo polemicamente. Mesmo que sejam instrumentos diversos, a luneta ora mais ora menos comprida, de novo, mudando pouco, provarei o mesmo argumento. Todas as coisas que devem ser observadas com instrumentos diversos recebem tamb+m do instrumento aumentos diversos; as coisas pr$ximas e long.nquas devem ser observadas com instrumento diferente; ento as coisas pr$ximas e long.nquas recebem do instrumento aumento diferente. Iguais so, ento, a maior e a menor, igual h( de ser a conseq4)ncia. Depois de ter exposto estes argumentos, parece-me ter demonstrado suficientemente que at+ agora nada foi dito de estranho 2 verdade nem ao pensamento de Galileu quando afirmamos que este instrumento aumenta menos as coisas long.nquas que as pr$ximas, pois, por sua natureza, necessita ser encompridado para poder ver umas e
diminu.do para ver outras. Todavia, poder-se- ( afirmar sem equ.voco que ele + o mesmo instrumento, usado por+m de modo diferente. Eu aceito este argumento na $ntegra, porm n*o entendo como ele possa concluir desfavoravelmente ao argumento do Sr. M"rio, nem favoravelmente 1 causa de Sarsi; porque de proveito algum para ele que os objetos muito pr %ximos observados com um telesc%pio encompridado aumentem mais que os long $nquos observados com um diminuto, que a conclus*o do silogismo, muito diversa, por m, da tarefa assumida por Sarsi. Tarefa que devia conseguir provar dois pontos b"sicos: um, que os objetos at a Lua, e n*o s% aqueles que se encontram na sala, aumentam enormemente; mas as estrelas fixas aumentam insensivelmente, apesar de serem observadas todas com o mesmo instrumento; o outro, que a diversidade de tais aumentos srcina-se da diversidade das dist 2ncias desses objetos e que se verifique em propor'*o. Estas coisas ele n *o conseguir" nunca provar, pois s*o falsas. Da inutilidade do presente silogismo, mesmo pertencendo 1 mat ria examinada, seja nosso testemunho o argumento que eu apresentarei na forma costumeira para demonstrar conclus)es contr"rias. Os objetos que necessitam ser observados com o mesmo instrumento recebem dele o mesmo aumento; por m, todos os objetos, desde um quarto de milha para a frente at a dist2ncia de mil milh)es, necessitam ser observados com o mesmo instrumento; todos eles, ent *o, recebem o mesmo aumento. N*o conclua, portanto, Sarsi ter escrito de acordo com a verdade e comigo, pois de minha parte, ao menos, asseguro-lhe que ele at aqui concluiu coisa contr "ria 1 minha inten'*o. No -ltimo trecho deste per$odo, onde ele afirma que o telesc%pio comprido agora curto podese chamar o mesmo instrumento, por m diversamente usado45, existe, se n*o estou enganado, um pequeno equ$voco; parece-me at que o assunto proceda em sentido completamente oposto, isto , que o instrumento seja diverso e o uso ou a aplica '*o seja o mesmo. Afirmamos que um mesmo instrumento usado diversamente quando, sem alter"-lo em nada, aplica-se a diversos usos. Assim, a
2ncora foi a mesma, mas usada diversamente pelo piloto, para pegar o fundo, e por Orlando, para pegar baleias. No nosso acontece tudo ao contr "rio, pois o uso do telesc%pio sempre o mesmo porque aplica-se a observar objetos vis $veis, porm o instrumento diversifica-se mudando-se nele uma coisa essencial$ssima, isto , o intervalo entre vidro e vidro. 5, por conseguinte, evidente o equ $voco de Sarsi. 17. Mas continuemos mais 1 frente: Afirma ele que estas coisas so bem verdadeiras se a questo vem
observada segundo o sumo direito da geometria; isto em nossocaso no acontece; pois, ao menos para poder observar a Lua e as estrelas, a luneta costuma ser usada sem diferen&a de comprimento, nem aqui ser( de alguma import3ncia a maior ou menor dist3ncia em causar um maior ou menor aumento do objeto. Seja assim; seno existe algum outro motivo para que o telesc$pio aumente menos as estrelas que a Lua, o argumento ser( de menos peso. Quando todavia atribui-se, al +m disso, a este instrumento a a&o de privar todas as coisas daquela larga radia&o com a qual so co mo que coroadas, do qual, ainda que as estrelas talvez recebam o mesmo aumento da Lua, parecem aumentar menos (sendo manifestadamente diverso aquilo que se observou atrav+s da luneta daquilo que se enxergava antes a olho nu, pois o olho nu enxergava tanto 45
Aqui Galileu usa o verbo "usurpar" em vez de "usar".
a estrela como o esplendor que a circunda, enquanto que quando se usa a luneta aprese nta-se 2 vista s$ uma pequena part.cula da estrela), + tamb+m muito verdadeiro que, consideradas todas as coisas que dizem respeito 2 $ptica, que as estrelas recebem deste instrumento, ao menos na apar)ncia, menor aumento que a Lua, e at+ algumas vezes, acreditando-se nos olhos, no aumentam nada, mas, gra&as a Deus, tornam-se at+ menores, o que nem Galileu nega. No se admire, ento, de nos haver afirmado que as estrelas resultam insensivelmente maiores com a luneta, pois nem examin (vamos a causa de tal apar)ncia, mas a pr$pria apar)ncia. Repare aqui, V. E. Ilustr $ssima, como minha predi'*o, colocada na parte 14, come 'a a verificarse. Sarsi, corajosamente, afirmou l " que coisa alguma mais verdadeira do aumento dos objetos percebidos com telesc%pio quanto mais se encontram pr %ximos, e tanto menos quanto mais longe; assim, as estrelas fixas estando muito longe, n *o aumentam sensivelmente; mas a Lua aumenta porque est" pr%xima. Agora parece-me que aqui se possa perceber uma grande mudan'a e uma manifesta confiss*o: primeiro, que a diversidade das dist 2ncias dos objetos n*o seja mais a verdadeira causa dos diversos aumentos, mas que seja necess "rio recorrer ao encompridamento e diminui'*o do telesc%pio, coisa esta nem afirmada nem acenada, talvez nem pensada por eles antes do aviso do Sr. M "rio; segundo, que nem este tenha muito peso neste caso, admitindo que mudan'a alguma verificar-se-ia no instrumento, pois, desaparecendo este -ltimo ponto ainda, o aumento que se baseava sobre isto anulase totalmente. Em terceiro lugar, percebo que se faz refer ,ncia a causas afastad$ssimas daquelas consideradas no in$cio como -nicas verdadeiras, e afirma-se que o pouco aumento aparente nas estrelas fixas n*o depende mais nem da grande dist2ncia nem da diminui'*o do instrumento, mas que uma ilus*o do nosso olho; o qual, sem instrumento, percebe as estrelas com um grand $ssimo halo irreal e que porm nos parecem grandes, mas com o instrumento percebe-se o corpo real da estrela, corpo que, apesar de nos aparecer maior como todos os outros objetos, n *o aparece assim comparado 1s mesmas estrelas observadas a olho nu, em rela '*o 1s quais o aumento aparece bem pequeno; conclui-se assim que, a menos por aquilo que diz respeito 1 apar,ncia, as estrelas fixas apresentam um aumento pouco sens$vel, e eu n*o devo ficar admirado de que eles hajam falado isto, pois n *o procuravam a causa de tudo isto, mas somente pesquisavam o aspecto. Por m, Sr. Sarsi, desculpai-me; enquanto procurais n*o deixar-me admirado a prop%sito desta coloca '*o, v%s me deixais admirado com as novas causas apresentadas e at aumentais minha admira'*o. Em primeiro lugar, admiro-me bastante de ver em que forma doutrin"ria apresentastes este precedente argumento, quase querendo ensin"-lo a mim, enquanto o aprendestes palavra por palavra do Sr. M"rio; e alm disso acrescentais que eu n*o nego estas coisas, acredito, com a finalidade de colocar no leitor a idia de que eu mesmo tivesse na m *o a resolu'*o da dificuldade, mas que eu n*o a tivesse reconhecido nem tivesse sabido us "-la. Admiro-me, em segundo lugar, da vossa afirma'*o de que o vosso Mestre n*o procurou a causa dos aumentos insens $veis das estrelas fixas, mas s% o efeito, mesmo afirmando repetidamente ser a causa disto a imensa dist 2ncia. Porm, aquilo que mais me admira, em terceiro lugar, que v%s n*o percebeis que, se isto for verdade, v%s estareis colocando vosso Mestre,
erradamente, numa posi'*o desprovida ainda daquela comun$ssima l%gica natural, em virtude da qual cada pessoa, mesmo idiota, desenvolve e conclui acertadamente suas proposi ')es. E para provar a verdade das minhas afirma')es tirais o racioc$nio sobre a causa e introduzis s % o efeito (pois afirmais que vosso Mestre n*o procurou a causa mas s% o efeito) e depois, desenvolvendo o assunto, afirmais:
As estrelas fixas aumentam insensivelmente e o cometa tamb+m aumenta insensivelmente. Ent*o, Sr. Sarsi, o que concluireis? Respondeis: Nada, se quereis responder que seja poss $vel, pois, se pretendeis tirar uma conclus*o, eu pretenderei tirar, ent *o, mil. E se pensais em poder afirmar: O cometa est( muito distante
porque tamb+m as estrelas fixas esto, com maior raz*o eu afirmarei: "Ent*o o cometa incorrupt$vel porque as estrelas fixas s *o incorrupt$veis", e acrescentarei: "Ent*o o cometa brilha porque as estrelas brilham", e com a mesma raz*o poderei afirmar: "Ent*o o cometa brilha com luz pr %pria, porque assim acontece com as estrelas fixas". E se eu tirar estas conclus )es v%s rireis de mim como se fosse um l%gico sem racioc$nio l%gico, e tereis mil raz )es; depois v %s me advertireis cortesmente que daquelas premissas n*o posso deduzir outra coisa em rela '*o a cometa a n*o ser aqueles acidentes particulares que est*o em necess"ria, ali"s, necessar$ssima conex*o com o insens$vel aumento das estrelas fixas; pois este aumento n*o depende nem possui conex *o alguma com a incorruptibilidade, nem com o brilho, nem com a luz pr%pria, ent*o nenhuma destas conclus )es pode-se derivar do cometa. E aquele que quiser deduzir que o cometa muito distante, necessitar" ter bem esclarecido antes o insens $vel aumento das estrelas como srcinado necessariamente da sua grande dist 2ncia, porque de outra forma n*o resultaria verdadeiro o inverso, isto , que aqueles objetos que aumentam insensivelmente s *o obrigatoriamente muito distantes. Observais, ent *o, quantos erros de l %gica v%s imputais ao vosso Mestre imerecidamente, afirmo imerecidamente, pois que esses erros pertencem a v%s e n*o a ele. 18. Leia agora V. E. Ilustr$ssima o fim deste primeiro exame:
Neste ponto, perceba Galileu, com quanta razo, desta e das muitas outras coisas expostas por ele no texto Nunzio Sidereo, deduzimos que o cometa deve se encontrar al+m da Lua. Ele mesmo afirma que, entre os astros,
alguns brilham com a luz nativa e pr$pria, e nesse n/mero ele coloca o Sol e asestrelas chamadas fixas; outros, n o dotados de brilho algum pela natureza, rece bem toda a luz do Sol, como + costume pensar dos seis planetas que sobram. Galileu observou, ademais, que as estrelas amam muito aquela v coroa&o de luz no pr$pria e que costuma fazer crescer uma cauda; os planetas, em vez, especialmente a Lua, J /piter e Saturno, n o t)m quase nenhum brilho; contudo, Marte, V)nus e Merc/rio, apesar de no serem providos de luz pr$pria, tiram, pela vizinhan&a do Sol, tanta luz que, sendo quase igual 2quelas das estrelas, imitam seus raios circunst antes e seu brilho. Portanto, como o cometa, segundo Galileu tamb+m, no possui luz pr$pria por natureza, mas a recebe do Sol, e junto com outros astr6nomos de grande fama o consideramos planeta tempor(rio, devia-se raciocinar sobre ele do mesmo modo como sobre a Lua e outros planetas, e cuja condi&o + tal que quanto menos so distantes do Sol tanto ma is brilham, e revestidos de um brilho maior (que deriva disto), observados com a luneta parecem aumentar menos; enquanto o cometa recebe deste instrumento quase o mesmo aumento de Merc/rio, podemos no com muita probabilidade deduzir que o cometa no irradiou aquela luz circundada mais que Merc/rio e por isso no se encontra muito longe; por outro lado, como era aumentado menos que a Lua,
precisava coloc(-lo circundado de uma luz maior e mais perto do Sol? De tudo isto pode-se compreender com quanta razo afirmamos que o cometa, pois pareceu aumentar muito pouco, deve ser considerado muito mais longe de n$s do que a Lua. Sem d/vida, pela paralaxe observada e tamb +m pelo curso do cometa quase sid+reo, n$s conhec.amos bastante seu lugar; como, al+m disso, a luneta o aumentava quase quanto Merc /rio, certamente nenhuma razo teria podido sustentar o contr(rio; foi l.cito tirar daqui um corol(rio tamb+m de grande import3ncia e peso a favor de nossa teoria. Mesmo que soub+ssemos, com efeito, que estas coisas podiam ser srcinad as por muitas causas, justamente por causa da analogia que este corpo luminoso guardava junto a todos os outros corpos celestes em todosos seus fen6menos, pensamos ter recebido da luneta um beneficio bastante grande, pois nosso parecer, j ( firmado pelo peso de outros argumentos, confirmava ainda mais com o peso do pr$prio assentimento. Quanto ao restante, por+m, acrescentado ao argumento, isto +, as palavras: "Sei que este argumento foi considerado por alguns de pouca import3ncia ", etc, clara e honestamente hav.amos lembrado antes para que fim estas palavras haviam sido acrescentadas: naturalmente contra aqueles que, enfraquecendo a f + neste instrumento, completamente ignaros das disciplinas de $ptica, proclamavam-no enganador e indigno de qualquer confian&a. Compreende, ento, Galileu, se no me engano, com quanta falta de racioc .nio lutou contra nossa opinio a respeito da luneta, que ele considera em tudo de acordo com a verdade e com as suas pr$prias opini 5es: haveria podido conhecer tamb+m antes se a tivesse examinado com esp.rito mais calmo. Como, ento, haver.amos podido imaginar que ele no haveria de gostar dessas id+ias que consider(vamos suas pr$prias? Mas como estas coisas, segundo a nossa opinio, parecem suficientes, vamos examinar a opinio do pr$prio Galileu. Aqui, primeiramente, como V. E. pode ver, iniciamos uma argumenta'*o recortada, como se diz, de velho pano, consistente em diversos fragmentos de proposi ')es, para provar que o lugar do cometa era entre a Lua e o Sol; proposi'*o esta que o Sr. M"rio e eu podemos conceder-lhe por completo, sem preju$zo algum, n*o tendo n%s nunca afirmado nada em rela '*o ao lugar do cometa, nem negado que ele possa se encontrar al m da Lua, mas falou-se somente que as demonstra ')es at agora apresentadas pelos autores oferecem d -vidas. E para tir"-las n*o de ajuda nenhuma que Sarsi apresente agora uma nova demonstra'*o, mesmo que ela fosse necess "ria e conclusiva, e provar que esta conclus*o seja verdadeira, mesmo que tamb m em torno de conclus)es verdadeiras se possa argumentar e silogizar falsamente. Todavia, pelo desejo que eu possuo de p+r 1 luz as coisas escondidas e chegar a verdadeiras conclus)es, apresentarei algumas considera')es em rela'*o a estas proposi ')es. Para maior clareza e compreens*o o farei com a maior brevidade poss$vel. Afirma ele ter deduzido do meu Nunzio Sidereo que as estrelas fixas, sendo aquelas que brilham com luz pr%pria, brilham com uma luz n*o real, mas aparente. Os planetas, sendo desprovidos de luz pr%pria, n*o agem assim, especialmente a Lua, J -piter e Saturno, mas mostram-se quase sem brilho; porm, V,nus, Merc-rio e Marte, mesmo privados de luz pr %pria, brilham muito por causa da vizinhan'a do Sol, pelo qual s *o mais abundantemente atingidos. Afirma, alm disso, que o cometa, segundo meu parecer, recebe sua luz do Sol, e acrescenta haver ele, junto com autores de renome, considerado o cometa, desde muito tempo, um planeta; assim, a respeito dele pode-se raciocinar como a respeito dos outros planetas, os quais, quanto mais encontram-se perto do Sol mais brilham, e por
conseq4,ncia menos podem ser observados pelo telesc%pio, e, aumentando o cometa pouco mais que Merc-rio e muito menos que a Lua, com muita raz*o podia-se concluir que n*o estivesse muito mais longe do Sol do que de Merc-rio, mas muito mais perto daquele que da Lua. Esta a teoria que muito bem se ajusta 1 necessidade de Sarsi, como se a conclus*o, deduzida antes dos princ$pios e meios, dependesse n*o aquela destes, mas estes dela, e tivessem sido preparados por ele n *o da grandiosidade da natureza mas da arte muito sutil. Pesquisemos, porm, quanto ela seja conclusiva. Em primeiro lugar, completamente falso que eu tenha escrito no Nunzio Sidereo que J-piter e Saturno n*o brilhem quase nada e que Marte, V ,nus e Merc-rio sejam coroados de muitos raios, porque eu separei s% a Lua do resto das outras estrelas, quer fixas quer errantes. Em segundo lugar, n*o sei se para concluir que o cometa seja quase um planeta e que, sendo tal, lhe sejam convenientes as propriedades dos outros planetas, seja suficiente que Sarsi e seu Mestre junto com outros autores o tenham considerado e chamado assim. Pois, se a opini *o deles fosse t*o importante a ponto de fazer aceitar as coisas por eles propostas, eu os rogaria que considerassem e chamassem ouro muitos velhos peda 'os de ferro que possuo em casa. Mas, deixando os nomes de lado, qual a teoria que os induz a considerar o cometa quase um planeta desde muito tempo? Brilhar como os planetas? Mas qual a nuvem, qual a fuma'a, qual a madeira, qual o muro, qual a montanha, atingidos pelo Sol, que n *o brilham do mesmo tanto? N *o percebeu Sarsi no Nunzio Sidereo minha demonstra'*o, isto ,que nossa Terra brilha mais que a Lua? Mas qual minha opini*o sobre o brilho do cometa como um planeta? Eu, por mim, n *o considero imposs $vel que sua luz possa ser t *o fraca e sua subst2ncia t*o sutil e rala, que, quando algum se aproximasse dela, sumisse da vista completamente, como acontece com alguns fogos-f "tuos que saem da Terra, que s*o percebidos s% durante a noite e de longe, mas de perto desaparecem 46; da mesma forma que as nuvens distantes s*o percebidas bem determinadas, e depois, de perto, mostram um pouco de nebulosidade t *o indeterminada que algum, entrando nela, quase n *o distingue os limites, nem sabe separ "-la do ar cont$guo. E aquelas proje ')es de raios solares entre as nuvens, t *o semelhantes aos cometas, por quem s*o percebidas se n *o por aqueles que lhes s*o distantes? Tem o cometa alguma coisa em comum com os planetas por causa do movimento? E qual ser " a coisa separada da parte elementar 47 que, obedecendo ao estado terrestre, n *o ter" o moto diurno de acordo com o resto do universo? Mas se falamos do outro movimento, aquele transversal, este n *o tem nada a ver com o movimento dos planetas, n*o sendo criado nem por aquele rumo, nem regulado, nem talvez circular. Mas, deixados de lado os acidentes, acreditar" talvez algum que a subst2ncia ou a matria do cometa tenha alguma coisa a ver com a dos planetas? Pode-se acreditar que ela seja solid$ssima, como nos convida a pensar em particular a Lua e em universal a figura bem determinada e imut"vel de todos os planetas; e, ao 46
Aqui Galileu est" falando a respeito dos fogos-f "tuos. Nesta poca considerava-se que tudo. no universo, constava de prop riedades particulares, t$picas de cada coisa, e de outras acidentais, ampliando-se esta teoria ao infinito. 5 daqui que se srcinar " a filosofia de Locke, sensualista ingl,s, com seu tratado sobre as qualidades prim"rias e qualidades secund"rias. 47
contr"rio, pode-se acreditar que a do cometa dissolva-se em poucos dias; e sua figura, n *o determinada ao redor, mas confusa e indistinta, nos mostra que a sua subst 2ncia mais sutil e mais rala que a n voa e a fuma'a. Assim ele quase poderia ser chamado mais um planeta pintado que real. Em terceiro lugar, eu n*o sei com quanta perfei '*o ele possa ter paragonado os raios e o aumento do cometa com o aumento de Merc -rio que, podendo ser observado rar $ssimas vezes, em todo o tempo da apari '*o do cometa, ele n *o apareceu nunca, nem deu a possibilidade de ser observado, encontrando-se sempre muito perto do Sol; posso sem escr-pulo acreditar que Sarsi n*o fez esta compara'*o, dif$cil de se realizar e muito incerta, mas que ele afirma ter realizado porque, sendo assim, serviria melhor para sua causa. Outro ind $cio que mostra como ele n*o conseguiu fazer esta experi,ncia -me fornecido pelo fato de que, ao referir-se 1s observa')es relativas a Merc-rio e 1 Lua, com os quais compara as do cometa, parece-me que ele esteja confundindo muito. Aceitando, para concluir, que o cometa se encontre mais longe do Sol que de Merc-rio, precisava afirmar que o cometa possu$a menos raios que ele, e observado com o telesc %pio aumentava mais que ele; todavia, afirmou o contr"rio, isto , que n*o possu$a mais raios que Merc-rio e que aumentava quase a mesma coisa, o que significa afirmar que possu $a mais raios e menos aumento que Merc-rio. Comparando depois o cometa com a Lua, escreve a mesma coisa (mesmo afirmando escrever o contr "rio), isto , que aumentava menos que a Lua e possu$a mais raios. Todavia, para chegar a uma conclus *o, deduz da identidade das premissas conclus)es diferentes, isto , que o cometa encontra-se mais perto do Sol que a Lua, por m mais distante que Merc-rio. Para finalizar, afirmando Sarsi ser um l %gico exato, n*o me faz entender por que, na divis*o dos corpos luminosos que se irradiam mais ou menos, e que por conseq 4,ncia, observados com o telesc%pio, recebem um aumento maior ou menor, ele n *o haja registrado nossas luzes elementares; pois as velas, as tochas acesas observadas a qualquer dist2ncia, qualquer pedrinha, lenho ou corp -sculo, at as folhas e as gotas de orvalho atingidas pelo Sol, resplandecem, e de um certo 2ngulo irradiam a par de qualquer estrela mais brilhante, e vistas pelo telesc %pio observam no aumento o mesmo teor que as estrelas. Assim, termina completamente aquela ajuda a mais 48 que os outros haviam esperado do telesc%pio para conduzir o cometa no c u e tir"-lo da esfera elementar49. Abandonai, portanto, Sarsi, a idia de poder ajudar vosso Mestre e estai certo de que, para querer sustentar um erro, necess"rio perpetrar cem outros e, coisa ainda pior, n *o conseguir o intento. Gostaria tamb m de pedir-vos para n*o replicar mais, como o fazeis no final desta vossa parte, que estas s *o teorias minhas, pois nunca escrevi coisas parecidas, nem as falei, nem as pensei. Basta a respeito do primeiro trecho em exame. 19. Passemos ao segundo: Apesar de ningu+m at+ hoje ter falado que o cometa deve colocar-se entre as
apar)ncias vs, onde no haver.amos necessidade de libert(-lo da acusa&o de inanidade, pois Galileu acreditou enveredar por outro caminho para explicar o cometa completa e sabidamente, + justo parar e expor com cuidado esta sua nova teoria. 48 49
Aqui Galileu refere-se ao uso da ajuda de custo, j " praticado na poca, aplicando este termo, por ila '*o, ao telesc%pio. O termo "elementar" usado, nesta frase, com o mesmo significado explicado na nota 47, e se refere 1 esfera terrestre.
So duas hip$teses que ele cogitou: uma relativa 2 subst3ncia, outra referente ao movimento do cometa. No que diz respeito 2 primeira, Galileu afirma que esta luz + daquelas qu e, mostradas mais que criadas pela refra&o de outra luz, parecem ter mais o nome de sombras de corpos luminosos que ser corpos luminosos, como, por exemplo, os arco-.ris, os halos, os par+lios e muitas outras coisas semelhantes. No que diz respeito 2 segunda, Galileu afirma que o movimento dos cometas sempre foi retil.neo e perpendicular 2 superf.cie da Terra. Revelando estas suas descobertas, acreditou poder destruir com facilidade as opini 5es dos outros. N$s vamos examinar agora com poucas palavras, e sem ret$rica, quanto de pr$prio se deva atribuir a estas opini5es (pois a verdade, mesmo nua, + bastante ornada). Mesmo sendo dif.cil abranger singularmente estas duas proposi&5es, pois so to conexas que parecem depender uma da outra e sustentar-se reciprocamente, n$s nos preocuparemos para que os leitores n o fiquem lesados. Por isso, contra a primeira posi &o de Galileu, afirmo que o cometa n o foi simulacro vo de uma luz que iludia os olhos daqueles que o observavam e isto parece-me que n o necessita de outra prova para aquele que, ao menos uma vez, seja a olho nu, seja com a luneta, haja observado o cometa. A simples vista manifestava a natureza d esta luz, porque, em compara&o a outras luzes real.ssimas, qualquer um poder( com facilidade julgar se o observado era falso ou verdadeiro. Tycho, examinando as observa&5es de Tadeu Agezio, deduz isto: "O corpo do cometa naqueles dias foi igua l, em grandeza, a J /piter e V )nus, e revestiu-se de uma luz n.tida e de um grande esplendor, puro e belo, e sua subst3ncia pareceu pura demais para ser conveniente a mat+rias s$ elementares, mas era, de prefer )ncia, an(loga 2quela dos corpos celestes ". Tycho acrescenta a isto: "Tadeu foi bom juiz relativamente a este aspecto, haveria podido concluir claramente que este cometa no era elementar". Sarsi andou figurando antes e arbitrariamente os princ $pios e os meios que fossem de acordo com as conclus )es que ele queria demonstrar; agora parece-me que vai imaginando conclus )es para contradiz,-las como teorias do Sr. M "rio e minhas, muito diversas, ou, ao menos, muito diversamente tomadas, de como s*o relatadas no Discurso do Sr. M"rio. Que o cometa seja, sem d-vida, uma imagem v* e uma simples apar,ncia, nunca foi afirmado com certeza, mas s% foi posto em d-vida e levado 1 considera'*o dos fil%sofos com aqueles racioc$nios e cogita')es que parecem poder garantir que seja verdade. Eis aqui as palavras do Sr. M"rio a este prop%sito: "Eu n*o afirmo resolutamente que o cometa produza-se assim, mas afirmo que s*o duvidosos, seja este modo seja os outros dos demais autores; os quais pretender *o estabelecer com certeza seus pareceres. e ter *o a obriga'*o de demonstrar que esta e todas as outras posi')es s*o v *s e falsas". Mesmo sendo o texto t *o diferente, Sarsi afirma que n%s temos por certo que o movimento do cometa deve ser necessariamente reto e perpendicular 1 superf$cie terrestre. Isto n*o foi apresentado desta forma, mas simplesmente foi cogitado como ser mais conforme 1s apar,ncias e satisfazer 1s mudan'as observadas no cometa. Esta hip %tese t*o superficialmente apresentada pelo Sr. M "rio que no fim ele declara: "Porm mais conveniente para n%s contentarmo-nos com aquele pouco que podemos cogitar mesmo sem ter muita clareza". Por m Sarsi quis mostrar que estas opini)es eram t*o firmemente aceitas por mim que imaginou pod ,-las destruir com facilidade e com meios mais eficazes. Se ele conseguir o agradecerei, pois no futuro deverei preocupar-me com uma hip%tese a menos todas as vezes que me venha a idia de filosofar
sobre tal matria. Por enquanto, pois parece-me que ainda subsiste alguma coisa de vivo no racioc $nio do Sr. M"rio, moverei algumas obje')es 1s obje')es de Sarsi. Opondo-se Sarsi com grande firmeza 1 primeira conclus*o, afirma que aquele que, mesmo por uma vez, houvesse observado o cometa, n *o necessitaria mais de argumento algum para conhecer a natureza desta estrela; estrela que, comparada com as outras verdadeiras estrelas, mostrava muito claramente ser verdadeira e n*o falsa. Assim, como V. E. Ilustr $ssima entende, Sarsi confia tanto no sentido da vis*o que considera imposs $vel ser enganado todas as vezes que tentamos fazer uma compara'*o entre um objeto falso e um real. Eu confesso n *o ter a vis *o t *o perfeita, pelo contr "rio, confesso ser como aquele macaco que acredita firmemente ver no espelho um outro macaco, e nem reconhece seu erro se quatro ou seis vezes n *o tenha ido atr"s do espelho para agarrar a imagem, tanto aquela imagem se lhe apresente viva e verdadeira. Supondo, ent *o, que aqueles que Sarsi v, no espelho n*o sejam homens verdadeiros e reais, mas imagens v *s, como n%s vemos nossa imagem no espelho, gostaria ardentemente de saber quais s*o aquelas diferen'as visuais por meio das quais t*o rapidamente distingue o verdadeiro do falso. Quanto a mim, encontrei-me mil vezes em alguma sala de janelas fechadas, e atravs de algum pequeno buraco pude perceber o Sol refletindo-se sobre um muro oposto, julgando assim esta mancha, pela vista, uma estrela t*o brilhante quanto a Can $cula e V,nus. E andando contra o Sol no campo, quantos milhares de corp-sculos, pedrinhas, lisos ou molhados, transformar-se-
*o pelo reflexo do Sol em estrelas brilhant $ssimas? Mesmo cuspindo no ch *o, Sarsi sem d-vida perceber" onde cuspiu, pela reflex*o solar, uma estrela natural $ssima. Alm disso, qual corpo colocado a grande dist2ncia, atingido pelo Sol, n *o aparecer" como uma estrela, especialmente se for t*o alto que possa ser enxergado durante a noite, como se enxergam as outras estrelas? E quem distinguiria a Lua, vista durante o dia, de uma nuvem atingida pelo Sol, sen*o pela diversidade do aspecto e pela grandeza? Ningum, com certeza. E enfim, se a simples apar ,ncia deve determinar a ess,ncia, necess"rio que Sarsi aceite que os s%is, as luas e as estrelas, observados em "gua parada e em espelhos, sejam verdadeiros s%is, verdadeiras luas e verdadeiras estrelas. Em rela '*o a esta parte, mude mesmo Sarsi de opini*o, nem acredite que, citando a autoridade de Tycho, de Tadeu Agezio ou de muitos outros, melhore sua condi'*o, a n*o ser que, por ter tido tais homens como companheiros, desculpe mais seu erro. 20. Continue V. E. Ilustr $ssima a ler: "Pois, por todo o tempo que nosso cometa brilhou, Galileu, segundo
ouvi dizer, permaneceu de cama por uma doen&a, e nunca talvez p6de, por causa da doen&a, observar aquele corpo brilhant.ssimo, e por isso pensamos dever-se discutir com ele por meio de outraargumenta&o. Afirma ele mesmo que 2s vezes, de alguma parte da Terra, um vapor fumacento levanta- se acima da Lua e tamb+m acima do Sol, e, logo que sa.do do cone sombreado da Terra, olhou para a luz do Sol da qual como que concebeu e gerou o cometa; e o movimento ou a subida de um tal vapor no + vago ou incerto mas retil .neo e sem ser desviado para parte alguma. Assim afirma ele, mas n$s colocamos na nossa balan&a o peso destas afirma&5es. Primeiro, sabemos que esta mat+ria fumacenta e /mida, tendo subido casualmente da Terra nos dias em que, dominando amplamente o c+u b$reas violent.ssimas, facilmente poderia
haver sido dispersada e dissipada. , pois, digno de admira&o como impunemente corp/sculos to sutis e leves, entre a ira do vento violent.ssimo, puderam ter chegado at+ o alto com um proceder constante atrav+s do caminho enveredado no come&o, quando nem pesos consider(veis confiados ao vento podiam vencer o .mpeto e a for&a. Eu considero muito contradit$rio que um vapor muito leve subae suba em linha reta, e mal acredito que isto haja podido acontecer entre as v(rias mudan&as do vento. E acrescenta que, garante Galileu, nem nas mais altas regi5es dos planetas faltam condensa &5es e rarefa&5es de tais corpos fumacentos, e por isso nem aque les movimentos vagos e incertos pelos quais + necess(rio que sejam levados. Que os vapores fumacentos de alguma parte da Terra subam alm da Lua, e at al m do Sol, e que sa$dos do cone da sombra terrestre sejam engravidados pelos raios solares e que ent *o gerem o cometa, nunca foi escrito pelo Sr. M "rio nem foi afirmado por mim, apesar de Sarsi atribu$-lo a mim. Aquilo que o Sr. M"rio escreveu que n*o imposs$vel que algumas vezes possam elevar-se da Terra exala')es e outras coisas parecidas, mas muito mais sutis que de costume, que subam al m da Lua e possam ser matria geradora do cometa, e que 1s vezes srcinem-se sublima ')es extraordin"rias relativas 1 matria dos corp-sculos, exemplificando-o por meio da aurora boreal. Porm n*o afirma que aquela seja numericamente a mesma matria dos cometas, que necessita ser muito mais rala e sutil que os vapores dos corp-sculos e do que a mat ria da assim chamada aurora boreal, tendo aceito que o cometa resplende muito menos que a aurora; assim, se o cometa se ampliasse, por exemplo, rumo ao oriente, na c 2ndida alvorada, enquanto o Sol n *o se encontrasse longe do horizonte mais do que 6 ou 8 graus, sem d-vida n *o se perceberia, por ser menos brilhante do que seu pr %prio ambiente. E com a mesma probabilidade, n *o certeza, atribuiu-se 1 mesma matria o movimento retil$neo em ascens*o. E isto seja afirmado n*o para retratarmo-nos por medo das oposi')es de Sarsi, mas s% para mostrar que n*o nos afastamos do nosso h "bito, que consiste em n*o afirmar como verdadeiras a n*o ser as coisas que conhecemos como indiscut$veis, como nos ensina nossa filosofia e nossa matem "tica. Agora, partindo do ponto de vista de que houvssemos verdadeiramente afirmado aquilo que Sarsi fala, examinemos suas posi')es. Sua primeira oposi'*o baseia-se na impossibilidade de os vapores subirem ao c u, em linha reta, enquanto que verificamos que um papagaio empurrado pelo ar com movimento transversal, assim como as outras coisas que se encontram nele; e o mesmo verificou-se por muitos dias depois do aparecimento do cometa. A oposi '*o verdadeiramente inteligente, mas perde muito de sua for 'a l%gica porque, segundo not$cias seguras, naqueles dias, nem na P rsia nem na China verificaram-se perturba')es atmosfricas; e eu acreditarei que de umas daquelas regi)es se srcina a mat ria do cometa, se Sarsi provar que ele n *o srcin "rio de l", mas de Roma, onde ele percebeu o vento boreal. Mas, mesmo que o vapor sa$sse da It"lia, quem pode saber se ele n *o se houvesse posto em viagem antes dos dias de vento, muitos dias antes de sua chegada ao orbe do cometa, longe da Terra, segundo a rela'*o do Mestre de Sarsi, quatrocentos e setenta mil milhas mais ou menos; porque, para empreender uma viagem t*o comprida, necess "rio bastante tempo, pois a subida dos vapores, por aquilo que
podemos observar em rela '*o 1queles perto da Terra, n*o atinge a velocidade do v+o das aves; assim n*o seriam suficientes quatro anos para concluir tamanha viagem. Mesmo aceitando que estes vapores pudessem se movimentar em poca de vento, Sarsi, que acredita piamente nos historiadores e nos poetas, n*o poder" negar que o impulso dos ventos n *o sobe mais de duas ou tr ,s milhas, j" que existem montes cujo cume vai al m da regi*o dos ventos. Assim, o m "ximo que ele poder" concluir que dentro deste espa'o os vapores movimentam-se transversal e n *o perpendicularmente; por m, fora deste espa'o desaparece o impedimento que os desvia do caminho retil$neo. 21. Veja mais V. E. Ilustr$ssima: Aceitamos que estes vapores possam manter, atrav+s dos ventos, suas
dire&5es e rumar para onde possam receber os raios diretos do Sol, enviando-os a n$s refletidos. Por que, ent o, recebendo em toda a sua extenso a luz do Sol, no-la mostram somente em uma m.nima parte de si? Com certeza, sendo o pr$prio Galileu testemunha, quando nos dias de vero um vapor no diferente indo rumo ao norte mais alto que de costume apresenta-se 2 luz do Sol, ento, imergido em luz brilhant.ssima, mostra-se muito brilhante em todas as suas partes, para utilizar sua pr $prias palavras, nos reflete mesmo de noite a aurora boreal; e no se mostra to avarento do esplendor recebido que no permita que a reflexo da luz do Sol, que ele recebeu em toda a sua extenso, nos apare&a apenas atrav+s de um pequeno buraco. Eu mesmo verifiquei, no somente em tempo de vero, mas no m)s de janeiro, quatro horas depois do p6r-do-sol, algo ainda mais maravilhoso, isto +, uma pequena nuvem, c3ndida e brilhante, to rarefeita que no encobria nem as estrelas menores, e os dons de luz que havia recebido do Sol ela os expandia livremente, com alma generosa, por todos os cantos. Ento todas as nuvens (admitindo que tenham alguma afinidade com a mat+ria do cometa), se s o t o densas e obscuras que no possam refletir livremente os raios do Sol, ao menos na parte virada para o Sol o refletem para n$s com generosidade rec.proca; por+m, se so ralas e sutis, e a luz facilmente as penetre integralmente, no mostram obscuridade em parte alguma, mas oferecem aos olhos inundados uma luz esplendoros a. Ento, se o cometa no se forma de outra mat+ria que no seja vapores fumacentos, no Juntados globalmente mas, como o pr$prio Galileu afirma, ocupando um espa&o suficientemente vasto do c+u, brilhando em toda parte com a luz do Sol, qual + a causa pela qual brilham sempre para aqueles que o observam s$ de um pequeno e estreito disco, e as outras partes deste mesmo vapor, iluminadas pelo Sol com mesma luz, no aparecem? Dificilmente tudo isto pode ser explicado com o exemplo do arco-.ris, em cuja forma&o acontece a mesma coisa que evidentemente s$ de uma parte da nuvem volta ao olho, quando, entretanto, em todo o espa&o iluminado pelo Sol a pr$pria diversidade das cores seja gerada de sua luz. Com efeito, o arco-.ris e outros meteoros, se existirem, requerem de prefer)ncia mat+ria /mida e com tend)ncia a mudar-se em (gua; pois esta mat+ria s$ quando se derrete em (gua, imitando a natureza dos corpos lev es, puros e transparentes, reflete a luz s$ na parte onde formam 3ngulos de reflexo e de refra &o necess(rios a tudo isto, como percebemos nos espelhos, na (gua e no gelo. Depois, se alguma emana&o encontrar-se mais rarefeita ou mais seca, acontece porque ela n o possui superf.cie lisa como os espelhos, nem reflete muitos raios. Visto necessitar-se de um corpo liso para que haja re flexo e necessitar-se de sua densidade para a refra&o (coisas que nunca se encontram nas impress 5es meteorol$gicas, a no ser quando a natureza delas possue muita (gua, como ensinaram no s $ Arist$teles mas tamb+m todos os mestres de $ptica, e a pr $pria raz o persuade com muita efic(cia), segue disto necessariamente que emana&5es semelhantes possuiro, por natureza pr$pria, um certo peso, e por isto menos aptas a subir acima da Lua e do Sol, pois o pr$prio Galileu admite que devem ser muito sutis
e leves aqueles que voam at + l ( em cima. Portanto, n o daquele vapor fumacento e rarefeito, e na verdade de peso algum, poder( refletir para n$s aquela imagem brilhante de luz: o vapor aguado, na verdade, sendo pesado, no poder( subir deforma alguma. Depois de observado por muitas experi,ncias, parece-me ser esta a condi'*o humana em rela'*o 1s coisas intelectuais: quanto menos entende-se e sabe-se, com tanta mais for 'a quer-se discutir; e, pelo contr "rio, mais coisas s *o conhecidas menor a tend,ncia de discutir resolutamente sobre qualquer novidade. Nasceu em um lugar muito solit"rio um homem dotado por natureza de grande intelig,ncia e de extraordin"ria curiosidade. Criando por prazer grande diversidade de aves, gostava enormemente do seu canto, e com muita admira'*o observava de que modo, por meio do pr %prio ar que respiravam, conseguiam formar ao seu arb $trio cantos diferentes e todos suav$ssimos. Acontece que uma noite perto de casa escutou um som delicado, e, nem podendo imaginar que fosse outra coisa a n*o ser uma pequena ave, foi busc "-la. Chegando 1 estrada encontrou um pequeno pastor que, assoprando num peda'o de madeira furada e movimentando os dedos sobre a madeira, uma vez fechando e uma vez abrindo determinados buracos, conseguia produzir aquelas vozes diferentes, semelhantes 1s de um p"ssaro, mas de forma bem diversa. Admirado e movido pela sua curiosidade natural, deu de presente um bezerro ao pastor para obter aquela flauta. De regresso 1 sua casa e percebendo que se n*o houvesse encontrado por acaso aquele pastor nunca haveria aprendido que existiam na natureza duas formas diversas de criar vozes e cantos suaves, quis sair de casa procurando encontrar outras aventuras. Aconteceu que no dia seguinte, passando perto de uma pequena cho 'a, escutou ressoar dentro dela uma voz semelhante. Para ter certeza se era uma flauta ou um p"ssaro, entrou e encontrou um menino que estava serrando, com um pequeno arco segurado na m*o direita, alguns nervos estendidos sobre um lenho c +ncavo, enquanto sustentava com a m *o esquerda o instrumento sobre o qual, movimentando os dedos e sem sopro algum, extra$a dele vozes diversas e suaves. Qual foi seu espanto pode ser julgado facilmente por aquele que possuir a mesma intelig ,ncia e a mesma curiosidade dele que, vendo aumentar, de duas novas formas, a maneira de produzir uma voz e um canto t*o inusitados, come'ou a acreditar poderem existir ainda outros na natureza. Mas qual foi sua surpresa quando, entrando em um determinado templo, come'ou a olhar atr"s da porta para ver quem estava tocando e percebeu que o som havia sa $do dos ferros da porta ao abri-la? Em outra ocasi*o, empolgado pela curiosidade, entrou em um boteco e, acreditando encontrar outra vez algu m que com o arco tocasse as cordas de um violino, viu uma pessoa que, esfregando o dedo sobre a orla de um copo, conseguia produzir um som suav $ssimo. Mas logo que observou que as abelhas, os pernilongos e as moscas, com o rapid $ssimo bater das asas, e n *o como suas primeiras aves que respirando formavam vozes ininterruptas, produziam um som perptuo, tanto aumentou sua admira'*o que diminuiu sua confian'a sobre o conhecimento da srcem do som. Nem todas as experi ,ncias j" observadas haveriam sido suficientes para fazer-lhe entender ou acreditar que os grilos, n*o voando, conseguiam, n*o por meio do sopro mas com o movimento das asas, produzir sons t *o doces e
sonoros. Mas quando acreditou n *o poderem existir outras formas poss $veis de produzir vozes, depois de haver observado, alm das maneiras j " relatadas, ainda tantos %rg*os, trompas, flautas e instrumentos de corda de todos os tipos, at chegar 1 aquela pequena l2mina de ferro que, suspensa entre os dentes, usava de forma muito esquisita a cavidade bucal para dar corpo 1 amplifica'*o do sopro permitindo a passagem do som, quando, repito, na hora que acreditava haver conhecido tudo, encontrou-se ainda mais no escuro e na ignor2ncia, quando, havendo encontrado uma cigarra que nem fechando-lhe a boca e nem fechando-lhe as asas conseguia diminuir seu alt $ssimo estridor, n*o percebeu movimento algum de escamas nem de outras partes. Finalmente, levantando-lhe a caixa dos pulm )es e observando embaixo dela algumas cartilagens duras mas sutis, e acreditando que o som fosse srcinado do seu movimento, resolveu quebr"-las para faz,-la parar, mas tudo foi em v*o. Ent*o, enfincando uma agulha mais funda no corpo da cigarra, passando-a, tirou-lhe junto com a voz a vida e assim n*o pode mais pesquisar se o canto era srcinado verdadeiramente por aquelas membranas. Tornou-se t*o descrente sobre seus poss $veis conhecimentos em rela'*o aos sons que todas as vezes que algum lhe perguntava sua opini *o sobre a srcem dos sons, generosamente respondia n*o conhecer causa alguma, mas que estava resolvido a acreditar que pudessem existir cem outras maneiras, ainda desconhecidas e impens "veis. Eu poderia dar muitos exemplos da variedade da natureza em produzir seus efeitos de maneira inimagin"vel para n%s, se o sentido e a experi ,ncia n*o nos explicitassem sem, muitas vezes, suprir nossa incapacidade. Assim, se eu n *o souber, com exatid*o, determinar a produ'*o do cometa, dever*o ser aceitas minhas desculpas, especialmente porque nunca afirmei poder dar esta explica '*o sabendo que ela poderia verificar-se de forma muito alheia 1 nossa imagina '*o. A dificuldade de entender como se forma o canto da cigarra, enquanto ela canta na m*o, desculpa de sobra n *o saber como pode formar-se um cometa t*o longe de n%s. Para frisar, ent*o, a primeira inten '*o do Sr. M"rio e minha, isto , promover aquelas d-vidas que parecem abalar as opini)es manifestadas at agora e propor alguma nova teoria para examinar se existe alguma coisa que possa esclarecer e abrir o caminho rumo 1 verdade, continuarei a raciocinar sobre as teorias manifestadas por Sarsi, que considerou improv"veis nossos argumentos. Continuando Sarsi sua exposi '*o e aceitando serem os vapores ou outra mat ria aptos a formar o cometa, seu elevar-se da Terra e subindo muito alto, onde pudesse receber diretamente os raios solares refletindo-os para n %s, dif $cil imaginar de que forma, sendo completamente iluminada, reflita at n%s s% a luz de uma pequena parte, e n *o acontece como aqueles vapores que nos apresentam aquela intempestiva aurora boreal, vapores que, sendo todos iluminados, mostram todos suas luzes. Afirma depois ter observado, pelo meio da noite, uma coisa maravilhosa, isto , uma pequena nuvem no z,nite que, sendo toda iluminada, refletia livremente seu brilho de todas as suas partes, e acrescenta que, se todas as nuvens forem espessas e opacas, nos refletem a luz do Sol com toda a sua parte vis $vel, porm se elas forem ralas, assim que a luz as penetre, mostrar-se-*o a n%s brilhantes e n *o opacas;
ent*o, se o cometa forma-se com tais vapores fumacentos muito espalhados, como afirma o Sr. M "rio, e n*o reunidos em c$rculo, sendo atingidos pelo Sol por todas as partes, por qual raz *o n%s recebemos sua reflex*o de uma pequena parte e n*o de todo o restante igualmente iluminado? Mesmo que as solu')es destas perguntas estejam completamente resolvidas no Discurso do Sr. M"rio, eu as relatarei aqui colocando-as acertadamente e acrescentando alguma outra considera '*o, conforme for solicitado pela matria. Em primeiro lugar, Sarsi deveria sem dificuldade conceder que s % de um lado particular de toda a matria sublimada pelo cometa verifica-se a reflex *o da luz do Sol a uma vis *o particular, apesar de ser toda iluminada; tendo n %s mil experi,ncias semelhantes a favor, contra uma que pare 'a ser contr"ria, facilmente, entre as de Sarsi contr "rias a esta posi '*o, encontraremos muitas outras favor"veis. 5 certo que qualquer espelho plano exposto ao Sol fica por ele iluminado em toda a sua superf$cie; o mesmo acontece com qualquer p2ntano, lago, rio, mar, ou seja, com qualquer superf $cie lisa de qualquer material; porm, a uma vista particular n *o corresponde a reflex*o do raio solar, a n *o ser de um lugar particular desta superf$cie, cujo lugar muda, mudando o olho do observador. A superf$cie externa de nuvens sutis, mas muito espalhadas, toda iluminada pelo Sol de forma igual; todavia, o halo e os peri lios n*o aparecem a um olho particular a n *o ser em um -nico lugar, e este, com o movimento do olho, muda de lugar dentro da nuvem. Sarsi afirma: Aquela mat+ria sutil sublimada que produz aquela aurora boreal v)-se tamb+m toda iluminada,
como ela o + de verdade. Porm, pergunto eu a Sarsi de onde lhe vem esta certeza. E ele pode responder-me somente que n*o percebe parte alguma que n*o seja iluminada, assim como acontece com o resto da superf$cie dos espelhos, das "guas, dos m"rmores, alm daquela pequena parte que reflete a viva luz do Sol. Porm advirto-o de que, se a matria fosse transparente, n*o distinguiria nada mais que aquele espl,ndido raio refletido, como acontece 1s vezes que a superf$cie do mar n*o se distingue do ar, mesmo que se veja imagem reflexa do Sol; e assim, colocado um vidro sutil a uma determinada dist2ncia, poder" mostrar-nos aquela sua pequena parte que reflete alguma luz, ficando o resto invis $vel por causa de sua transpar ,ncia. Este erro de Sarsi semelhante 1quele dos que afirmam que criminoso algum deve confiar que seu crime possa ficar oculto, nem percebem a incompatibilidade que existe entre permanecer oculto e ser descoberto, e quem quisesse ter duas cadernetas, uma dos delitos que permanecem ocultos e outra daqueles que s *o descobertos em cuja caderneta dos ocultos nunca poderia registrar-se coisa alguma. Afirmo, ent*o, que n*o me oponho 1 cren'a de que a matria da aurora boreal seja muito ampla e uniformemente iluminada pelo Sol 50; como, por m, n*o posso descobrir e observar a n*o ser aquela parte cuja refra'*o meu olho pode captar, permanecendo invis $vel todo o restante, tenho a ilus *o de perceber tudo. E que mais? A prop %sito dos vapores crepusculares que circundam a Terra, n*o permanece iluminado pelos raios solares sempre um hemisf rio? Com certeza sim; todavia, aquela parte que se interp)e diretamente entre o Sol e n %s mostra-se a n%s muito mais 50
A srcem da aurora boreal, considerada diferentemente que agora, na poca de Galileu, prevalecendo a tese de ser produto solar.
luminosa do que as partes mais distantes. Mas esta, como ainda outras, pura apar,ncia e ilus *o de nosso olho, pois, encontrando-nos em qualquer lugar, sempre observamos o Sol como centro de um c$rculo luminoso, mas que gradualmente vai perdendo o brilho, segundo se encontre 1 direita ou 1 esquerda deste centro; para outros, mais para o boreal, parece mais escura aquela parte que a mim parece mais clara, e mais brilhante aquela que a mim apresentava-se mais escura. Podemos, assim, afirmar a exist,ncia de um halo perptuo e grande ao redor do Sol, figurado na superf $cie convexa que termina a esfera de vapor, cujo halo, da mesma forma que o outro, que 1s vezes nasce de uma nuvem sutil, muda de lugar segundo a mudan'a do observador. Em rela '*o 1 pequena nuvem que Sarsi afirma ter observado brilhar na noite profunda, poderia perguntar-lhe que certeza tem ele de ela n*o ser maior do que aquela que aparece, especialmente afirmando ele que era t *o transparente que n*o escondia estrelas fixas, mesmo m $nimas, pois n *o possu$a ind$cio algum para garantir que ela se ampliasse invisivelmente como transparente, muito e muito al m da parte brilhante observada: por isso ainda duvidoso se ela n*o uma apar,ncia que muda como as outras segundo a mudan 'a do olho. Alm de n*o haver nada em contr"rio que ela apare'a inteiramente brilhante e seja, da mesma forma, uma ilus *o, o que acontecer" se ela n*o fosse maior do que aquele espa 'o que vem a ser ocupado pela imagem do Sol, assim que, observando a imagem do Sol, por exemplo, ocupar num espelho tanto espa 'o quanto uma unha, n%s cort"ssemos fora o restante, n *o h" d-vida de que este pequeno espelho poder" nos aparecer brilhante de todo. Al m disso, quando o pequeno espelho fosse menor do que a imagem, ent*o poder-se-ia observar n *o s% tudo iluminado mas sua imagem n*o pareceria movimentar-se a cada movimento do olho, como no espelho grande; e at por ser ele incapaz de toda imagem do Sol, segue que, movendo-se o olho, veria a reflex *o ora de um lado ora de outro do disco solar; assim a imagem pareceria im%vel, at que o olho se dirija 1 parte que n*o produz reflex*o, ela se perderia completamente. 5 muito importante, ent *o, considerar a grandeza e a qualidade da superf$cie que reflete, pois, conforme a superf $cie seja menos limpa, a imagem do mesmo objeto se apresentar " sempre maior, pois, 1s vezes, antes que a imagem passe por todo o espelho, ser " necess"rio que o olho passe por muito espa'o, e esta imagem parecer" fixa ent*o, mesmo que na realidade seja m%vel. Para explicar melhor um ponto important$ssimo e que talvez possa solicitar, n *o digo Sarsi, mas algum outro, pense V. E. Ilustr $ssima encontrar-se numa praia com um tempo tranq4ilo e o Sol j " descendo no ocaso. Perceber ", ent*o, sobre a superf $cie do mar que est" na metade do c$rculo m"ximo da esfera celeste que passa pelo disco solar, o reflexo brilhant $ssimo do Sol, mas n *o muito amplo; se, pelo contr"rio, como j " falei, a "gua for muito calma, ver" a imagem do disco solar bem definida como num espelho. Se uma pequena brisa come 'a a movimentar a superf$cie da "gua, na mesma hora ver " V. E. Ilustr$ssima a imagem do Sol quebrar-se em muitas partes, ampliando-se e difundindo-se. E, enquanto pr%xima, poderiam se distinguir cada uma das partes da imagem quebrada; todavia, sendo longe, n*o se perceberia esta separa '*o, quer pelos breves intervalos entre as partes, quer pelo grande brilho das partes cintilantes, que se misturaram, como acontece com muitos fogos perto entre si e que
de longe parecem ser um s%. Se a "gua se movimentar sempre mais por espa 'os sempre maiores, ampliar-se-" a multid*o dos espelhos que refletir *o, segundo as diversas inclina ')es das ondas, a imagem do Sol quebrada. Mas distanciando-se sempre mais e subindo numa colina ou outra eleva '*o para poder enxergar melhor o mar, o campo brilhante parecer " -nico e cont$nuo. Aconteceu-me enxergar de cima de uma montanha alt$ssima e distante do mar de Livorno sessenta milhas, com um tempo sereno mas de ventania, uma hora antes do p +r-do-sol, uma tira brilhant $ssima 1 direita e 1 esquerda do Sol, que ocupava em comprimento muitas dezenas, at muitas centenas de milhas, a qual era, porm, como as outras, uma mesma reflex*o da luz do Sol. Agora, imagine, Sarsi, que da superf$cie do mar, com o mesmo movimento de ondas, grande parte tivesse se retra$do para as orlas deixando s % no meio, isto , face ao Sol, um comprimento de duas ou tr,s milhas: esta, com certeza, seria observada completamente iluminada, e im%vel mesmo, com respeito a qualquer movimento que o observador houvesse realizado 1 direita ou 1 esquerda; s% depois de movimentar-se por alguma milha come 'aria a desaparecer a parte esquerda da imagem, se ele estivesse caminhando para a direita, e a imagem esplendorosa diminuiria at que, adelga'ando-se, desapareceria por completo. Disto resulta que a imagem m%vel em rela'*o 1 imagem do observador, pois, mesmo observando-a toda, perceber $amo-la toda ainda movimentar-se, encontrando-se seu meio sempre 1 direita do Sol, apesar de aparecer a muitos outros que a observem no mesmo momento como encontrando-se em outros pontos do horizonte. Eu n*o quero esconder de V. E. Ilustr $ssima aquilo que eu lembrei neste ponto para a solu '*o do problema do mar. Espertos marinheiros conhecem 1s vezes o vento que chegou a eles depois de algum tempo, observando o ar que, nesse caso, mostra-se mais claro, daquele lado, do que deveria ser. Imagine V. E. Ilustr $ssima se isto poderia derivar do fato de se encontrar j " naquela parte o vento que, movimentadas as ondas, faz nascer, como por espelhos multiplicados infinitamente e difundidos amplamente, o reflexo do Sol muito maior do que se o mar fosse tranq 4ilo, permitindo que seja muito mais iluminada por esta nova luz aquela parte do ar vaporoso por meio do qual este reflexo difunde-se, cujo ar ofere'a ainda algum reflexo de luz aos olhos dos marinheiros, os quais, encontrando-se embaixo, n*o podiam perceber a primeira reflex *o daquela parte de mar j" movimentada pelos ventos e distante deles vinte ou trinta milhas; e que esta seja a sua previs*o do vento distante. Mas, continuando nosso primeiro discurso, afirmo que os raios solares n *o refletem, com a mesma grandeza, a imagem do Sol sobre todos os materiais, isto , sobre todas as superf $cies; mas sobre algumas (isto , as planas e lisas como um espelho) nos aparece o disco solar semelhante ao verdadeiro, nas superf $cies convexas mas lisas nos aparece menor, e nas c +ncavas 1s vezes menor e 1s vezes maior, 1s vezes mesmo igual, segundo as diversas dist2ncias entre o espelho, o objeto e o olho. Porm, se a superf$cie n*o for igual mas sinuosa e cheia de cavidades ou eleva')es e como se fosse composta por milhares de pequenos espelhos colocados com v"rias inclina')es, expostas aos olhos de mil modos, ent*o a mesma imagem do Sol chegar" ao nosso olho de mil partes e dividida em mil
peda'os, os quais ampliar-se-*o, imprimindo nesta superf$cie um amplo conjunto de pequenas manchas brilhantes, cuja freq4,ncia srcinar " a ilus*o de um -nico campo de luz cont$nua visto de longe, mais brilhante e viva no meio que nas extremidades, onde diminui e desaparece, enfim, quando por causa da obliq4idade do olho em rela'*o a esta superf $cie os raios vis$veis n*o encontram mais ondas que se refletem contra o Sol. Esta imagem resulta ainda m%vel de acordo com o movimento do olho, se, porm, alm de seus limites, continua a superf $cie que reflete; mas, se a quantidade da mat ria ocupar um pequeno espa'o, muito menor do que o da imagem inteira, poder " acontecer que, ficando fixa a matria e movimentando-se o olho, ela continue a aparecer brilhante, at que, tendo chegado o olho
1quele termo do qual, pela obliq4idade dos raios incidentes sobre a matria, as reflex)es n*o se dirigem mais rumo ao Sol, a luz desaparece e perde-se. N*o concordo com Sarsi que quando ele v , uma nuvem suspensa no ar, bem determinada e toda brilhante, que permanece tal apesar de o olho ir se movimentando, n*o pode ter a certeza de que esta luz seja mais real do que um halo, do que os perilios, do que o arco-$ris, e do que a reflex*o sobre a superf$cie do mar; porque afirmo-lhe que a sua consist,ncia e sua aparente estabilidade podem depender da pequenez da nuvem que n*o consegue receber toda a amplid*o da imagem do Sol; e esta imagem, em rela'*o 1 posi'*o das partes da superf$cie da nuvem, ampliar-se-ia, se n*o lhe faltasse matria, num espa'o muito maior da nuvem, e quando se visse inteiro e o campo das nuvens se adiantasse a ele, afirmo que apareceria movimentando-se inteiramente em rela'*o ao movimento do olho. Prova-o o fato de termos visto muitas vezes, ao nascer e ao p+r-do-sol, muitas pequenas nuvens colocadas perto do horizonte, das quais as que se encontram face ao Sol tornam-se brilhant $ssimas e quase de fino ouro, das laterais as menos distantes do meio s *o ainda mais brilhantes do que as mais distantes, as quais v*o aparecendo gradualmente menos claras at ficar praticamente nulo o brilho das mais distantes: nulo para n %s, mas, para quem se encontrasse num lugar onde elas permanecessem entre seu olho e o lugar onde o Sol se p )e, mostrar-se-iam brilhant$ssimas para ele e obscuras a n %s as mais esplendorosas. Entenda, ent *o., Sarsi, que se as nuvens n*o fossem quebradas mas fossem uma longa extens*o cont$nua, a sua parte central pareceria brilhante a qualquer um dos observantes e gradualmente menos claras as laterais, conforme a dist2ncia de seu meio, porque onde eu posso ver o maior brilho, para outros o menor. Mas algum poderia agora afirmar que, uma vez que aquela parte da nuvem permanece fixa e sua luz n *o parece movimentar-se pela mudan'a de lugar do observador, isto seria suficiente para fazer com que a paralaxe opere na determina'*o de sua altura, e que, podendo acontecer o mesmo com o cometa, o uso da paralaxe seja suficiente para quem queira mostrar o lugar dela. Poder-se-ia responder a esta obje '*o que este argumento resultaria verdadeiro se fosse demonstrado antes que o cometa n*o uma inteira imagem do Sol, mas s% uma parte da imagem, assim como a matria que forma o cometa n *o s % toda iluminada mas que a imagem do Sol maior que ela, de modo que bastante para iluminar um campo muito maior, existindo matria apta a refletir a luz. Isto n *o foi demonstrado e pode ser diferente, isto , que o cometa seja uma inteira imagem, n*o mutilada, como nos faz acreditar sua apar ,ncia bem regulada e
simtrica. E daqui pode-se deduzir uma resposta f "cil e razo"vel 1 pergunta que Sarsi coloca, isto , como pode acontecer que, acreditando, segundo a coloca '*o de M"rio, o cometa esteja num campo muito extenso em altura que n*o se ilumine inteiramente mas nos reflita s% um c $rculo parcial, sem que as outras partes, mesmo atingidas pelo Sol, n *o apare'am nunca. Farei, ent *o, a mesma pergunta a ele e ao seu Mestre, que n*o desejando que o cometa seja um fogo, mas querendo acreditar (se n *o me engano) que ao menos sua cauda seja uma reflex *o dos raios solares, se eles acreditam que o material que produz uma reflex*o seja recortado da medida desta cauda, inteiro, que tenha de algum lado; e se sobrar (como acredito que me responda), por que n *o percebida, uma vez que atingida pelo Sol? N*o se pode afirmar que o reflexo seja srcinado pela subst 2ncia do ter, subst2ncia que, muito transparente, n*o serve para isto, nem pode-se srcinar em outro material que, mesmo apto 1 reflex*o, seria tambm apto a refletir os raios solares. Al m disso, n*o sei por que raz*o ele chama um pequeno c$rculo a cabe'a do cometa que seu Mestre conseguiu medir em 87 127 milhas quadradas, n*o sei com quais inteligent$ssimos c"lculos, quando nuvem alguma, acredito eu, pode alcan'ar tal medida. Acrescenta Sarsi, imitando aquele que por muito tempo acreditou que o som pudesse ser produzido de uma -nica forma, n*o ser poss $vel que o cometa se srcine do reflexo daqueles vapores fumacentos, e que o exemplo do arco- $ris n*o resolve a dificuldade, sendo ele uma ilus*o visual: pois o arco-$ris e outras coisas semelhantes s *o srcinados pela umidade da mat ria que j" est" se transformando em "gua, que s% naquele momento, imitando a natureza dos corpos l $quidos, reflete a luz daquela parte onde se produzem os 2ngulos da reflex*o e da refra'*o, procurados como acontece nos espelhos, na "gua e nas bolas de cristal; mas, nos outros materiais ralos e secos, n *o possuindo superf$cie lisa como os espelhos, n *o se srcina muita refra '*o, procurando-se, ent *o, para esta finalidade, uma matria aguada, por conseguinte, muito pesada e inapta a subir al m da Lua e do Sol, aonde podem chegar (tambm segundo minha opini*o) s% exala')es lev$ssimas. O cometa, ent*o, n*o pode ser produzido por tais fumacentos vapores. Uma resposta suficiente a toda esta argumenta '*o seria afirmar que o Sr. M"rio nunca limitou-se a afirmar qual seja a mat ria srcin "ria e precisa do cometa, nem se ela -mida ou fumacenta, seca ou lisa, e sei que ele n *o se envergonhar" em afirmar que n*o a conhece. Por m, vendo que em vapores, nuvens ralas e n *o aguacentas, e naquelas que se dissolvem j " em pequenas gotas, nas "guas paradas, nos espelhos e outras matrias, aparecem por reflex*o e refra'*o muitas imagens ilus%rias, considerou n*o ser imposs $vel que na natureza exista ainda uma matria apta a nos oferecer mais uma imagem diversa das outras, isto , o cometa. Tal resposta, afirmo eu, bem adequada 1 pergunta, se cada parte da pergunta for exata: todavia, o desejo de ajudar (como muitas vezes j" confirmei) a pesquisa da verdade, pelo que me cabe, leva-me a fazer algumas considera ')es sobre determinados particulares contidos nesses discursos. Em primeiro lugar, verdade que numa emana'*o de pequen$ssimas gotas de "gua recebemos a ilus*o do arco-$ris, mas n*o acredito que, pelo contr"rio, uma ilus*o semelhante n*o se verifique sem uma tal emana'*o. O prisma triangular cristalino perto dos olhos nos apresenta todos os objetos das
cores do arco-$ris; muitas vezes, v,-se o arco-$ris tambm em nuvens secas, sem que caia chuva alguma. N*o podemos ver tambm as mesmas ilus)es de cores diversas nas penas de muitas aves, enquanto o Sol as atinge de v"rias formas? E que mais? Gostaria de anunciar a Sarsi alguma novidade se existisse alguma novidade a contar. Pegue ele qualquer mat ria, seja pedra, madeira ou metal, e. expondo-a ao Sol, observe-a atentamente e poder " observar nela todas as cores repartidas em pequen$ssimas partes; e se ele usufruir, para observ "-las melhor, de um telesc%pio adaptado a observar os objetos muito pr%ximos, muito mais distintamente perceber" aquilo de que estou falando, sem necessidade que aqueles corpos transformem-se em orvalho ou vapores -midos. Alm disso, aquelas pequenas nuvens que ao p+r-do-sol mostram-se brilhant$ssimas e refletem a luz do Sol t *o viva que quase nos cega, s *o das mais ralas, secas e est reis nuvens que existem no ar, e as -midas, em vez, quanto mais est*o cheias de "gua mais se mostram a n%s escuras. O halo e os perilios verificam-se sem chuvas e sem umidade nas mais ralas e secas nuvens ou vapores que se encontrem no ar. Segundo, verdade que as superf$cies bem lisas, como as dos espelhos, nos oferecem um poderoso reflexo da luz do Sol; assim, a muito custo podemos observ"-la sem ofender a vista; por m, tambm verdade que superf$cies n*o muito lisas refletem com menos for 'a se menor for a sua limpeza. Veja agora, V. E. Ilustr$ssima, se o esplendor do cometa daqueles que cegam a vista, ou daqueles que por fraqueza n*o ofendem em nada; e disto julgue se para produzi-lo seja necess "rio uma superf$cie semelhante 1quela de um espelho, e seja suficiente uma menos lisa. Eu gostaria de mostrar a Sarsi um modo de srcinar uma reflex *o muito semelhante 1quela do cometa. Pegue V. E. Ilustr $ssima uma garrafa de vidro bem limpa, e com uma vela acesa n*o muito distante do recipiente perceber ", em sua superf$cie, uma imagem bem pequena desta luz, clara e determinada. Pegando depois com a ponta do dedo uma m$nima quantidade de qualquer matria que possua um pouco de gordura, de modo que se junte ao vidro, engordure o mais sutilmente que puder aquela parte onde se percebe a imagem da luz at que a superf$cie fique um pouco nublada. Movimente depois a garrafa de maneira que a imagem saia da gordura e pare ao contato com ela; passe depois o dedo uma -nica vez horizontalmente sobre a parte gordurosa. Imediatamente ver" srcinar-se um raio reto como a cauda do cometa, e este raio cortar" transversalmente e em 2ngulos retos a linha do dedo que V. E. produziu, e, se V. E. voltar a passar o dedo numa outra dire'*o, este raio srcinar-se- " em outra dire'*o. Isto acontece porque, devido 1 pele dos nossos dedos n *o ser lisa, mas marcada por algumas linhas sinuosas para permitir melhor o tato e perceber as m $nimas diferen'as entre as coisas tang $veis, movimentando o dedo sobre esta superf$cie gordurosa, deixa alguns sulcos sutis no interior dos quais produzem-se os reflexos da luz, os quais, sendo muitos e dispostos ordenadamente, apresentam depois uma Unha brilhante, em cuja extremidade, se produzirmos, movimentando o vaso, aquela primeira imagem realizada na parte n *o gordurosa, perceber-se-" a cabe'a da cauda mais brilhante e a cauda menos brilhante; o mesmo efeito produzir-se-" se, em vez de se engordurar o vidro, ficar emba'ado soprando em cima. Eu pe 'o a V. E. Ilustr$ssima que, se alguma vez por acaso Sarsi chegar a conhecer esta brincadeira, explique por mim
bem claramente que eu n*o entendo com isso afirmar que exista no c u uma grande garrafa e algum que a engordure, produzindo assim o cometa; simplesmente eu apresento este exemplo e poderei apresentar muitos outros que possam encontrar-se na natureza, ainda indefinidos a n %s, como argumentos de sua riqueza de modos diferentes entre eles para produzir seus efeitos. Em terceiro lugar, que reflex*o e refra'*o n*o podem ser produzidas por matrias e impress )es meteorol%gicas51 a n*o ser quando cont,m muita "gua, porque s% neste caso apresentam superf $cies lisas e limpas, condi ')es estas necess"rias para produzir tal efeito, asseguro que n *o verdade que n*o possa ser diferente. No que diz respeito 1 limpeza, afirmo que mesmo sem ela produzir-se-" a reflex*o da imagem unida e distinta. Afirmo assim porque a imagem quebrada e confusa produzida por todas as superf$cies, desiguais e "speras; porm, aquela imagem de um pano colorido, que se v , distint$ssima num espelho oposto, v ,-se confusa e quebrada sobre o muro que reproduz uma determinada sombra da cor deste pano. Se V. E. Ilustr $ssima pegar uma pedra ou uma ripa de madeira n*o t*o lisa que reflita perfeitamente as imagens, e colocar-se em dire'*o obl$qua ao olho, como se quis ssemos verificar se ela
plana e reta, perceber " distintamente sobre ela as imagens dos objetos que se encontrarem encostados do outro lado da ripa, t*o distintas que, apoiando um livro em cima, poder" ser lido comodamente. Mas se este experimento for conclu$do colocando-se o olho perto da extremidade de algum muro reto e comprido, primeiro perceber-se- " um perptuo curso de exala')es em dire'*o ao cu, especialmente quando o muro for atingido pelo Sol, assim como todos os objetos parecem tremer; depois, o muro do outro lado parecer" aproximar-se, e ver" que, quando estiver bem perto, sua imagem se apresentar " refletida naqueles vapores ascendentes, nem -midos nem pesados, pelo contr "rio, secos e leves. E que mais? N*o chegou ainda ao ouvido de Sarsi tudo aquilo que foi falado, especialmente por Tycho, a prop%sito das refra')es que se operam nas exala ')es e vapores que circundam a Terra mesmo que o ar seja sereno, seco e sem chuva e umidade? Tamb m n *o se ap%ie, como ele faz, sobre a autoridade de Arist%teles e de todos os mestres de perspectiva, porque ele n*o poder" fazer outra coisa que afirmar que eu sou um observador mais cuidadoso que eles, o que, segundo meu parecer, de todo contr"rio 1 sua inten'*o. Parece-me que tudo o que expus uma resposta suficiente ao argumento de Sarsi. Passemos, pois, ao segundo. 22. Se por acaso algu+m se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado
ao alto por alguma for&a, cause assim refra&o e reflexo do cometa (parece-me que no existe outra solu&o: por longa experi)ncia foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, me nos brilham, ao menos em apar )ncia, o contr(rio quando so grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luzot intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os pr$prios planetas, sua mat+ria dever( ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a ma deira, sendo grand.ssima sua refra&o, esbranqui&ada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi t o grosso de refletir uma luz t o brilhante e intensa, e se, como 51
De acordo com a teoria naturalista da poca, o verbo "imprimir", do qual deriva o termo "impress )es", n*o pode referir-se a nenhuma qualidade prim"ria (elementar, particular) de um elemento, porque elas j " surgem com o pr%prio elemento; deve por isso ser relacionado a algum elemento "acidental". Ent *o a frase "impress)es metereol%gicas" adquire o sentido de "varia ')es atmosfricas".
Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do c +u, que aconteceu nas estrelas que brilhavam atrav+s deste vapor embaixo, no suportavam refra&o alguma ins$lita e no apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o maisexatamente poss.vel a dist3ncia entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas n o eram diferentes das de Tycho; todavia, a experi)ncia nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas dist3ncias variam pela interfer)ncia de tais vapores. , necess(rio, ento, afirmar ou que estes vapores foram to leves e ralos que n o impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, por+m, j( demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refra&o) ou, o que + muito mais verdadeiro, que foram nulos. Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que n *o me parece ser do agrado de Sarsi. Em primeiro lugar, nem o Sr. M "rio nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumenta '*o que se ap%ia na impossibilidade desta posi '*o cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto 1 apar,ncia, conforme sejam mais ralos e not "veis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado atravs de longas experi,ncias, eu o considero bem errado. Confirma-me esta teoria uma -nica experi,ncia, isto , observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de m "rmore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, n *o percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matria do cometa mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, al m disso, n*o tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Por m, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matria, se n%s percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, n*o era necess"rio que ele produzisse tanta diferen 'a nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refra '*o nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contr"rio, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatid*o. Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu n *o vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatid*o as dist2ncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de n *o ter tido a possibilidade de fazer tais observa ')es com a tranq4ilidade que teria sido necess "ria, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que n *o se leve em muita conta suas observa')es experimentais. A outra que eu n*o sei de que forma explicar para V. E. Ilustr $ssima, com a modstia e reserva que desejo, a minha d -vida de que o Sr. Sarsi n*o entende perfeitamente o que sejam estas refra')es, e como e quando elas se srcinam e produzem seus efeitos. Por m V. E., que sabe faz,-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em 2ngulos retos, ficando o objeto 1 vista, a superf$cie daquele ar que produz a refra'*o, n *o se manifesta refra'*o onde
existe possibilidade de refra '*o. Porm, as estrelas, rumo ao v rtice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares 1 superf$cie esfrica dos vapores que circulam a Terra, n *o sofrem refra'*o; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por conseq 4,ncia sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superf $cie, sempre mais produzem uma refra '*o, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o tamb m de que, sendo o limite desta mat ria n*o muito alto, onde a esfera com vapores n *o muito maior que o globo terrestre52, em cuja superf $cie n%s nos encontramos, a incid ,ncia dos raios srcinados pelos pontos pr %ximos do horizonte muito obl$qua, obliq4idade que se tornaria sempre menor quanto mais a superf $cie dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua dist 2ncia compreendesse muitos semidi 2metros da Terra, os raios que chegassem a n%s de qualquer ponto do cu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superf$cie, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que o mesmo que dizer que eles s*o perpendiculares 1 sua superf$cie. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, n*o se poderia verificar refra'*o alguma, e por conseguinte nenhuma sens$vel apar,ncia de diversidade de lugar nas estrelas fixas. N *o necess"rio, ent*o, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refra'*o, e muito menos necess "rio que os tire de tudo. Ca$ram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a subst2ncia celeste n*o difere da pr%xima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido 1 diversidade das refra')es realizadas em tantos di"fanos diferentes; este discurso v *o, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares di "fanos diferentes entre eles, n *o produziria 1 nossa vista refra'*o alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes. 23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a mat+ria do cometa no difere da mat+ria dos
corp/sculos que se movimentam ao redordo Sol com revolu&o estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. No nego isto, pelo contr(rio, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um m)s inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, no sem razo, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminos.ssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banhoespalhados pelo c+u, ele pr$prio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira po+tica? Volto ao meu discurso. Admitamos, ento, que cometas e manchas, por a ssim dizer solares, possuam a mesma mat+ria; como, ento, esta mat+ria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular 2 Terra, o que + que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da ecl.tica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves + de ir rumo ao alto, por que, ento, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis to determinadas? Se por acaso algu +m afirmar que ele, por causa da sua for&a poderos.ssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente 2 sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder r+gio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros 52
Na poca de Galileu, altura atmosf rica era considerada muito menor de quanto n %s sabemos que hoje.
corpos formados pela mesma mat+ria encontram-se to unidos ao Sol, s$ o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais poss.vel e prefira apagar-se entre as g +lidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombre(-lo interpondo o pr$prio corpo. Por+m estes so racioc.nios f.sicos mais que matem(ticos. Sarsi continua, como j " relatei mais acima, apresentando conclus )es arbitr "rias, atribuindo-as ao Sr. M"rio e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opini)es absurdas e falsas. O Sr. M"rio, para exemplificar ser poss $vel que matrias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma mat ria que o cometa. Por isso, n*o satisfeito ainda, opinando que a reflex *o da luz n*o se pudesse verificar com outras condi')es atmosfricas a n*o ser as -midas, atribuiu ao Sr. M"rio e a mim a afirma '*o de que os vapores -midos e pesados sobem ao c u formando o cometa. Acontece que n%s afirmamos que a matria do cometa a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. M "rio para demonstrar como ele acha que a matria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas mat rias53, mas nunca para afirmar que elas srcinem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustr $ssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa n *o deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa n*o foi nem rid$culo nem fora de prop%sito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares s*o da mesma matria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposi ')es de Sarsi, porque n*o tenho medo de afirmar e sustentar minha posi '*o. Ele n*o gosta de afirmar que uma matria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando l ", procede em %rbita; porm, por que n*o perdoa o argumento apresentado pelo Sr. M"rio, nem perdoa Arist%teles e os peripatticos que fazem subir o fogo em linha reta at a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que imposs$vel que um peda'o de madeira caia do alto perpendicularmente num rio r"pido, e chegado 1 "gua comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais v "lida seria, na verdade, a outra hip%tese colocada por ele, isto , como pode verificar-se que, querendo todas as outras matrias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela s% tenha fugido afastando-se rumo ao norte. Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo n *o tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a "gua, da qual srcinava-se o cometa, ele n *o houvesse declarado de ter a opini*o que a matria das manchas solares sai do Sol e n *o procede em dire'*o ao Sol.
53
Como j" foi afirmado, a maior parte dos autores naturalistas contesta as teorias aristotlicas; aqui contestada a teoria da incorruptibilidade da matria.
24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos $pticos que provam, com
muita efic(cia, que nunca o cometa foi iluso v e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refra&o da luz, mesmo que no exista realmente, como o arco-.ris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz + gerado com movimento cont.nuo e obrigat$rio, qualquer que seja a dire &o. Assim o arco-.ris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o v +rtice de seu semic.rculo em H, se considerarmos que o Sol subir( de A para D, descer ( na parte oposta e inclinar ( o v+rtice H rumo ao horizonte de seu semic.rculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se- ( o v+rtice H do arco-.ris; de modo que o arco-.ris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar tamb+m nos halos, nas coroas e nos peri+lios, pois tendo forma de coroa numa determinada dist3ncia, ao redor de um corpo luminoso do qual s o gerados, so tamb+m levados no mesmo rumo, por seu pr$prio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superf.cie do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de n$s tanto mais afasta-se ela tamb+m, at+ que, depois de se p 6r, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superf.cie do mar, insensivelmente diferente de uma superf.cie plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no come&o em F, transportem-se de D osraios FD e DA, de maneira que formem os 3ngulos ADB, FDE de incid)ncia e de reflexo iguais em D: ent o a luz do Sol ser( vista em D. Des&a agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linh as que formam com a reta BE 3ngulos de incid)ncia e de reflexo iguais: elas coincidiro no ponto E e no em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, ent o, aparecer( em E: e pela mesma razo, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecer ( em I. O contr(rio acontece todas as vezes que esta mesma luz + produzida nas (guas pelo Sol nascente: ent o, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso z)nite, assim tamb+m a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecer( em I, depois em E, enfimem D. Qualquer um poderia entender que estas apar)ncias luminosas movimentam-se sempre em dire&o ao mesmo lado onde vo os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controv+rsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir tamb+m o rumo dele; se no o faz, no pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, ento, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto +, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagit (rio, e tendendo ainda rumo ao Capric$rnio, necessariamente em todos os sucessivos dias at+ ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela +poca estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do g)nero das luzes produzidas por refra&o ou reflexo, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi t o diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele
nada teve do Sol mais daquilo que t )m os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles iro livremente. Se por acaso algu+m apresentar alguma outra regra de reflexo e refra&o, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma ra zo oculta, + necess(rio ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se algu+m quer isto, seja como quiser. Era pr$prio dos cometas no movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contr(rio; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, por+m, voltando o Sol para o norte, pela mesma razo ir rumo ao sul. Ento quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto +, na +poca do solst.cio de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contr(rio, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que n o existe rela&o alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em dire&o a um lado ou a outro, o cometa avan&a com o mesmo rumo que havia escolhido desde o in.cio.
Qual fora a seq4,ncia dos tr,s argumentos apresentados antes, ficou bem claro at agora; e acredito que o pr%prio Sarsi n*o lhes tenha dado, por serem f$sicos, muita considera'*o, considerando mais os seguintes, derivados das demonstra ')es %pticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro ind$cio de n*o ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que algu m que queira nos persuadir a respeito de uma coisa sen *o falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prov "veis, hip%teses, exemplos veross$meis, sofismas, alicer 'ando-se e escondendo-se atr"s de textos muito claros, atr "s da autoridade de outros fil%sofos, de naturalistas, de ret %ricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstra')es geomtricas perigoso demais para aquele que n*o as sabe utilizar bem; pois, como em rela'*o a uma coisa54 n*o existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstra ')es necess"rias ou aceitamos conclus)es indubit"veis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distin')es distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em p, mas necess"rio, com palavras breves e na primeira vez, permanecer Csar ou nada. Esta exatid*o geomtrica permitir" que eu, com maior brevidade e menor t dio para V. E. Ilustr $ssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei %pticas ou geomtricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria. Como V. E. Ilustr$ssima pode perceber, Sarsi tem a inten '*o de concluir, neste quarto argumento, que o cometa n*o pertence ao g,nero das imagens s% aparentes, srcinadas pela reflex *o e 54
"Ex parte rei."
pela refra'*o dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que n%s sabemos ser apar ,ncias puras, como os arco- $ris, o halo, os peri lios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em rela'*o ao cometa aconteceu o contr"rio, ent*o n*o uma ilus*o. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que n *o h " necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco- $ris, do halo e das outras imagens j " nomeadas, pois diferente do arco-$ris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obriga '*o, se Sarsi n*o quiser ter mais pretens )es em rela'*o a mim, pois alguma argumenta'*o sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada in-til. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em rela'*o ao cometa e 1s puras imagens contr"rio 1quele e de acordo com estas sejam concludentes ou n*o. Se ele responde n *o, toda a sua demonstra'*o resulta v*, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, justo que me seja permitido tambm, para concluir que o cometa uma ilus*o, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma v * imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar uma tal imagem n *o nem necess"rio que eu parta de um exemplo fornecido pelo pr%prio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa contr"rio ao desta imagem; o que n*o me parece contr"rio, mas um exemplo muito justo. Observe, ent*o, V. E. Ilustr$ssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflex*o solar sobre a superf $cie do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem
percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se- " sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecer" na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no c u atravs de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em rela'*o ao cu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, necess"rio continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no cu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se atrav s da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Ent*o, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: por m isto, Sr. Sarsi, movimentar-se ao contr"rio do Sol e n*o no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustr$ssima, formulo esta afirma'*o porque n*o posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa t*o clara. Alm disso, em suas explica ')es Sarsi usa palavras muito impr%prias e inusitadas s % para acordar com suas necessidades aquilo que n *o se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de lED um verdadeiro e real$ssimo aproximar-se e movimentar-se em dire'*o ao olho A; porque a necessidade de Sarsi poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol atravs do arco GF um aproximar-se ao
ponto A e ir para o vrtice o mesmo que ir para o centro. Ainda mais not "vel o fato de ele dissimular n*o perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contr "rio, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustr $ssima o que derivaria disto. Tire-se do trmino do di2metro O a linha reta OR que cai fora do c $rculo, e com a linha BO, que contenha qualquer 2ngulo, prolonguem-se at ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: claro que, quando o objeto real estiver em movimento atravs da linha PQR, a imagem se realizaria atravs da lED e porque este um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, ent *o objeto, movimentando-se do t rmino P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, alm disso, que as considera ')es de Sarsi a este respeito, isto , sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, s*o formuladas como se a matria onde se deve formar a imagem permane'a sempre im%vel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirm"ssemos que tambm esta matria se movimenta, muitas outras conseq4,ncias derivariam a respeito da apar ,ncia e da imagem. Em rela'*o 1quilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa n*o voltou atr"s na volta do Sol, n*o se poder" deduzir nunca nada, se antes n *o ficar determinado o estado e o movimento da mat ria onde o cometa se produziu.
25. Passo, ent*o, ao quinto argumento: Al+m disso, se o cometa se encontrava no n /mero das imagens
aparentes, foi necess(rio v)-lo sob um 3ngulo bem determinado, como acontece com o arco-.ris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: por+m, neste ponto Galileu deve lembrar-se de te r afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma regi o bastante vasta no c+u: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunfer)ncia, ou arco de uma circunfer)ncia. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que so vistas sob um 3ngulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado 3ngulo forma-se: mas este bem determinado 3ngulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposi&o circular: ento o cometa ser( observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior + cert.ssima e no precisa de demonstra&o alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto+, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe tamb+m as outras partes colocadas ao redor de A, o que o pr $prio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida atrav+s do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D
ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o tri3ngulo IAD; ser( o 3ngulo IAD o 3ngulo bem determinado sob o qual nos so enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o tri3ngulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; ento o v+rtice daquele A descrever( um arco de c.rculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formaro sempre o mesmo 3ngulo lAD: mas sendo alcan&ados pelo v +rtice A nesta sua rota&o, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-( aquele 3ngulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: ento em todo o arco da circunfer)ncia BAC que toca o vapor aparecer( o cometa: com certeza pela mesma razo pela qual as nuvens /midas provocam o arco-.ris e os halos fo rmam-se circularmente ou em arcos de c.rculo. Ento, se nada de semelhante ser( observado no cometa, no dever( ser posto por isso no n /mero das imagens aparentes, no se mostrando semelhantes a eles em nada.
Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admira'*o que nasce vendo qu *o freq4entemente Sarsi dissimula a percep'*o das coisas que ele tem 1 frente dos olhos, na esperan 'a talvez de que sua dissimula'*o deva parir nos outros n*o uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de c$rculo ou de parte de c$rculo, porque o mesmo acontece com o arco- $ris, o halo, a coroa e as outras v "rias imagens. N*o entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflex*o no mar das imagens solares e aquelas proje ')es das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acrscimos, a demonstra '*o %ptica que ele apresenta conclui necessariamente sua inten '*o referente ao cometa. Duvido, porm, e parece-me que, se n*o estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de l %gica), isto , a disposi'*o local, em rela'*o ao olho, da superf $cie daquela matria onde deve verificar-se a reflex *o, disposi'*o55 esta que Sarsi n *o considera; e esta a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignor 2ncia, pareceme uma falta muito maior. A considera'*o desta disposi'*o inclui o todo; pois a demonstra '*o de Sarsi n*o ter" conclus*o a n*o ser que a superf $cie do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superf$cie; pois, girando, ent*o, o tri2ngulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter-' minando continuamente nessa superf $cie e descrevendo uma circunfer,ncia de c$rculo; uma vez que a 55
Mais uma vez Galileu refere-se 1 teoria animista, que considera o universo inteiro, em suas partes, empolgado por v "rias disposi')es internas, que o tornam um "todo" vivente.
supramencionada superf$cie fosse exposta ao olho obliquamente, o 2ngulo A a alcan'aria em um -nico ponto e no girar do tri 2ngulo o mesmo 2ngulo A o penetraria alm desta superf$cie ou n*o chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apare'a circular, necess"rio que a superf$cie onde ela produzida seja plana e exposta diretamente 1 linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que n*o pode nunca verificar-se a n*o ser na oposi'*o diametral 1 linha que passa atravs dos centros do olho e do Sol: porm, o arco-$ris visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas n*o sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposi '*o ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstra'*o, passasse alguma vez pela cabe'a de Sarsi chamar aquela matria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, "gua marinha, ele teria percebido que sua argumenta'*o teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, conclu $do que a reflex*o no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contr"rio, o engano de seu silogismo. 26. Examinemos agora o sexto argumento: , /til confirmar isto com palavras do pr $prio Galileu.
Afirma ele, o que + bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as srcina; assim, se algumas dessas imagens fossem srcinadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas srcinadas pe lo Sol possuem sua pr$pria diversidade de aspecto. Al +m disso, ao combater a teoria de Arist$teles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa fogo e colocado abaixo da Lua imposs$vel, pois op)e-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observa'*o de muitos astr+nomos importantes. Concluo assim a questo. Segundo Galileu, todas as puras
apar)ncias produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa no admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele no + algo de aparente produzido pelo Sol. Se algu+m est( em d/vida sobre a proposi&o menor deste silogismo, compare as observa&5es de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observa&5es, considerou demonstrada a dist3ncia do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, s$ de duzentos e onze semidi3metros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinq4enta semidi3metros e a Lua sessenta. Em rela &o a esse nosso racioc.nio, se cada um quisesse lembrar as observa&5es que, na Disserta'*o proferida por um dos padres, meu mestre, exp6s, flcar-lhe-( suficientemente clara a verdade desta proposi&o;
com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observa&5es semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observa&5es corretas, de acordo com c(lculos astron6micos operados por grandes astr6nomos.
5 completamente falso que o Sr. M "rio e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contr "rio, o Sr. M"rio, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em rela'*o a estas imagens, em algumas a paralaxe nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". N *o se encontra no texto do Sr. M "rio a afirma'*o de que a paralaxe seja igual 1 do Sol ou da Lua, a n*o ser no halo; nos outros e tamb m no pr%prio arco-$ris, diferente. E falsa, ent *o, a primeira proposi '*o do silogismo. Observemos agora quanto seja
verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as v *s imagens deve ser igual 1 do Sol. Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe necess"rio) que a paralaxe observada nos cometas maior daquela do Sol, mas n *o fornece observa')es particulares de Tycho e de muitos outros astr+nomos de renome, enunciadas em rela '*o 1 paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor n*o perceba como s *o diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou s *o exatas ou s*o erradas; se s*o exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, necess"rio concluir que ou o pr %prio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firma-mento,ou, por n*o ser ele um objeto fixo e real mas vago e v *o, n*o ligado 1s leis dos elementos fixos e reais; por m, se tais observa')es s*o erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma atravs delas; e o pr%prio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais 1 sua determina'*o antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e V,nus. Em rela'*o depois 1s outras observa')es apresentadas por seu Mestre, elas s*o t*o diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera n *o aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observa')es foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necess "ria considera'*o das horas e da refra'*o e de outras circunst2ncias; por outro lado, ele mesmo n *o leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma -nica observa'*o que, n*o necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antep )e a todas as outras: e esta foi a conjun'*o perfeita da cabe'a do cometa com uma estrela fixa, conjun'*o que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto , de todo contr"rio
1s vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais 1 autoridade dele para confirmar vossa proposi '*o, isto , que tal paralaxe maior que aquela do Sol. Observai, ent *o, como os pr%prios autores por v%s citados testemunham contra a vossa tese. Depois, em rela'*o 1quilo que afirmais de que n%s mesmos confessamos que as observa ')es dos grandes astr+nomos foram realizadas com muita exatid*o, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreender $eis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opini *o de Arist%teles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. N*o sabeis que o vosso pr %prio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da regi *o suprema do ar, pode srcinar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto verdade, n*o poder*o ser chamadas observa ')es exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um -nico grau, diferem entre elas de poucos minutos? 27. Leia agora V. E. Ilustr$ssima o -ltimo argumento: Enfim, no podemos omitir aquele argumento que
mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que no possui uma determinada forma est(vel, que ilude os olhos dos homens com imagem v de cor e luz, acaba sua pr$pria vida em tempo brev.ssimo, e em brev.ssimo tempo tamb+m
muda em v(rias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, no aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o est(vel movimento e aspecto do cometa,mostra quanta disc$rdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vs. Por isso, se no encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum v.nculo? Antiq4.ssimos e $timos fil$sofos o afirmaram, e o afirmaram tamb+m os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu op5e-se a eles; mas parece que a verdade, se no me engano, op5ese a Galileu. Sarsi considera tanto esta argumenta '*o que lhe parece que somente esta suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu n*o percebo a efic"cia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens v*s, intervm o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matria; portanto, o eficiente perptuo, quando n*o se aliena da mat ria, e o arco- $ris, o halo, os perilios e todas as outras apar ,ncias s*o perptuas; a breve, ent*o, ou a longa dura'*o da estabilidade e posi'*o da matria deve ser aceita. Qual racioc $nio nos dissuade de que possa existir acima das regi )es elementares alguma matria mais dur"vel do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matrias elementares assim como a reflex*o ou a refra'*o do Sol realizada neles nos mostre o arco-$ris, os perilios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que uma refra'*o dos raios solares na regi*o de vapores, e as reflex)es na superf$cie marinha n*o s*o elas perptuas apar,ncias, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superf $cie do mar permanecessem sempre na mesma posi '*o, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha espl,ndida sobre a "gua? Alm disso, deriva-se da menor ou maior dura'*o uma diferen'a essencial pouco conclusiva; at dos pr%prios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou at no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se n*o existem, mesmo com freq4,ncia, algumas que permane'am n*o somente poucos dias mas tambm poucas horas, mas que por serem muito pequenas n *o possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os pr %prios cometas no-lo asseguram, srcinando-se de mat ria ou em matria n*o celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouqu $ssimo tempo, assim a d-vida ainda se aquilo que produzido nesta mat ria seja uma pura e simples reflex*o de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma ap %ia a argumenta'*o do Sr. Sarsi, nem a concluir " se ele primeiramente n*o demonstrar que a matria do cometa n*o apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito 1 dura'*o de poucos ou muitos dias, a dura'*o dos pr%prios cometas nos d" mais que certeza. 28. Passemos agora 1 segunda quest*o deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu
afirma ter sido retil.neo, coisa que eu nego com boas argumenta&5es. Estou induzi do a fazer isto especialmente pela razo que ele ingenuamente confessa de n o saber ou no ousar explicar isto: aquela razo + t o evidente e to eficaz para nos
dissuadir do movimento retil.neo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu no conseguiu dissimul(-la. Se com efeito (so palavras suas) atribu$mos ao cometa apenas este movimento, n *o se pode explicar de que forma aconteceu que n*o s% ele se aproximou sempre mais do z,nite mas at alcan'ou o p%lo: onde, ou
necess"rio abandonar esta maravilhosa teoria, e n *o conseguiria faz ,-lo, ou necess"rio acrescentar outro movimento, e n*o ousaria. Assim, + muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido
tomado por um repentino terror, qual seja, o de no ousar pronunciar um discurso j ( estudado. Eu, na verdade, n o o consigo imaginar. Aqui, antes de prosseguir, n*o posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusa'*o, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusa'*o muito longe de minha profiss*o, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada mais contr"rio que a falsidade e a dissimula '*o. O Sr. M "rio, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem p +de fingir, pois que, tudo aquilo que prop+s de novidade, apresentou-o sempre como d -vida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu consider "vamos duvidoso, no m"ximo prov"vel, e expusemos 1 considera'*o dos mais inteligentes que n%s, para alcan 'ar, com a ajuda deles, a confirma '*o de alguma conclus*o verdadeira e a exclus *o total das falsas. Por m, se o texto do Sr. M"rio verdadeiro e sincero, o vosso cheio de dissimula '*o, Sr. Lot"rio, pois que, para abrir caminho 1s confuta')es, nove vezes sobre dez fingis n *o entender aquilo que o Sr. M "rio escreveu, dando um sentido muito alheio 1s inten')es dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a mat ria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contr"rio, permane'a na idia de n%s termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi at agora observado por mim e ser" observado igualmente no restante do texto. Mas chegando ao ponto, qual a raz*o que vos leva a escrever que n%s temos desejado fortemente, mas n*o podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retil$neo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao v rtice, nem se afastando nunca dele? Quem vos fez ciente desta conseq 4,ncia, a n*o ser o pr%prio Sr. M"rio, que a descreve? Conseq 4,ncia que ele, com certeza, haveria podido dissimular e v %s, por vossa amabilidade, haver $eis disfar'ado sua dissimula'*o. E que mais? Mesmo v%s, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei n*o saber ou n*o ousar explicar este racioc $nio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimul"-la. E n*o uma contradi'*o, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresent "-la, escrev,-la e public "-la, e depois v%s afirmardes que ele tenha desejado dissimul "-la e escond,-la? Realmente, Sr. Lot"rio, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo. Examinemos agora se neste texto, onde n *o dissimulamos nada, n *o existe, em vez, alguma dissimula'*o de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o
campo 1 sua declara'*o de que eu sou um ge+metra muito ignorante por n*o ter chegado a entender aquelas conseq4,ncias que, por demonstra'*o, n*o precisam de ci ,ncia maior que algumas pequenas j " repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto n %s afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em dire'*o ao vrtice e z,nite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar at o vrtice e o z,nite. 5 necess"rio que Sarsi confesse aqui, ou n*o haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simula'*o, atribuir-nos uma mentira. N*o acredito que seja verdadeira a primeira hip%tese, pois, assim, deveria ele considerar tambm que a afirma'*o "navegar rumo ao p%lo" e "atirar uma pedra em dire'*o ao cu" chegariam a significar que a nave alcan'a o p%lo e a pedra o cu; ent*o nos resta a afirma '*o de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas obje')es. Alm disso, Sarsi n*o refere com sinceridade estas palavras do Sr. M "rio, mesmo em um outro ponto, pois, onde ele afirma ser necess "rio ou eliminar o movimento retil $neo atribu$do ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, necess"rio acrescentar alguma outra raz *o pela devia'*o aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra raz *o" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer inten '*o minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui v"rias teses v*s. Finalmente conclui Sarsi n *o ser ele um adivinho, por m com muita freq4,ncia chega a querer penetrar os profundos racioc$nios alheios. 29. V. E. Ilustr$ssima preste aten'*o: Pergunto eu, ento, se este outro movimento que poderia explicar tudo
e que Galileu no se atreve a levar 2 frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pare&a movimentar-se s$ aparentemente. Acredito que a primeira hip $tese no seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retil .neo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor + levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruir( o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, ser( necess(rio afirmar, ento, que tudo isto srcina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa s$ do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte s$ aparentemente. Se isto for verdade, no entendo de qual corpo seja srcinado este movimento. Pois, com efeito, para Gali leu, no existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, no existe nada de s$lido no c+u, no acreditar(, ento, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera no existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto no sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Te rra. Longe de mim esta palavra contr(ria 2 verdade e desagrad(vel para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinio de Galileu, opinio que no se encontrava baseada sobre este falso fundamento. Com efeito, se a Terra no est( em movimento, este movimento retil.neo no est( de acordo com as observa&5es sobre o cometa; para os cat$licos + certo que a Terra no se move; ser(, portanto, igualmente certo que este movimento retil.neo no
concorda em absoluto com as observa&5es de cometas e por isso deve-se julgar no apto para nossa questo. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso. Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribu $do ao pr%prio cometa ou a outro corpo mundano n*o pode manter movimento retil $neo, movimento introduzido pelo Sr. M"rio substituindo junto o aparente desvio do vrtice. Este discurso de todo suprfluo e v*o, pois nem o Sr. M "rio nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos c us ou seja de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; ent*o ele mesmo se responda, e n *o tenha a pretens *o de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele n*o afirmou, n*o escreveu nem pensou, segundo confiss *o do pr%prio Sarsi, que abertamente admite n*o acreditar que eu haja tido a idia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar um tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se assim, com que prop%sito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostr "-lo inapto a uma tal necessidade? Parece-me melhor prosseguir. 30. Continue V. E. Ilustr $ssima a leitura: Se no estiver enganado, no foi um movimento qualquer do
cometa que atormentou Galileu e o obrigou a inventar alguma coisa que desconhecia ou que no se atrevia a expor, mas o atormentou apenas aquele movimento mediante o qual, al +m do nosso v+rtice ou z)nite, ele aproxima-se mais do p$lo. Ento, se o cometa no tivesse chegado al+m do z)nite, no haveria existido a necessidade de Galileu cogitar a respeito deste outro movimento. Ele mesmo parece admitiristo com suas pr$prias palavras quando diz: Se n*o colocarmos outro movimento a n*o ser o movimento reto e perpendicular, afirmaremos, ent*o, que o cometa sobe s% em linha reta em rela '*o ao nosso z ,nite e n*o ir" mais para a frente. Admitamos, ento, que nunca
cometa algum haja ido al+m do nosso z)nite; afirmamos, todavia, que mesmo assim seu movimento pode explicar-se com este movimento retil.neo. Com efeito, consideremos o globo terrestre ABC, sendo B o lugar de onde sobe o vapor; o olho do espectador encontrar-se-( em A, tendo sido observado o cometa no come&o, por exemplo, em E, e seja G o lugar a ele correspondente no c+u; consideremos que o cometa se movimente para cima ao longoda linha BO, por espa&os iguais E, F, FM, MO: afirmo que, mesmo que todo aquele vapor suba ao longo da linha DO, nunca, por toda a eternidade, alcan&ar( o nosso z)nite, nem aparentemente. Com efeito, vamos tra&ando uma linha AR paralela 2 BO: nunca o movimento aparente do cometa resultar( ser amplo quanto o GR e nunca o raio visual poder ( coincidir com a linha AR. Como, com efeito, o raio vis.vel deve sempre encontrar-se com a reta BO, ao longo da qual aparece o cometa, e como o raio AR + paralelo 2 linha BO, no poder( nunca encontrar-se co m as camadas paralelas: portanto, nunca o raio por meio do qual v)-se o cometa poder( alcan&ar R; e, por conseq4)ncia, o movimento aparente do cometa no somente no alcan&ar( nosso z)nite S mas nem o ponto R que se encontra muito longe do z)nite. Aparecer(, com efeito, no come&o em G, depois em F, depois em I, enfim em L, etc; mas nunca alcan&ar( R. Sarsi volta, como V. E. Ilustr $ssima percebe, a alterar o texto do Sr. M "rio, querendo demonstrar que ele escreveu que o movimento perpendicular 1 Terra tivesse a finalidade de conduzir o cometa ao ponto vertical; isto n *o se encontra em seu texto, mas encontra-se, pelo contr "rio, que tal movimento procederia rumo ao vrtice: segundo meu parecer, Sarsi age assim para ter ocasi *o de nos
apresentar esta demonstra'*o geomtrica, constru$da sobre fundamentos n*o mais profundos que o racioc$nio sobre a defini '*o das linhas paralelas, de cuja a '*o algum poderia talvez deduzir uma conclus*o n*o muito honrosa para Sarsi. Pois, ou ele acha esta sua conclus*o e demonstra'*o uma coisa muito inteligente e invulgar, ou algo que podia haver sido demonstrado tamb m por crian'as: se ele a considera uma coisa infantil, pode ter certeza de que nem o Sr. M"rio nem eu nos encontramos num n$vel de conhecimento t*o infeliz que por falta de tal conhecimento tivssemos que errar; porm, se ele a considera como coisa sutil e nova, eu n *o saberia como evitar pensar que ele de uma intelig,ncia pobre e que precisa retornar 1 disciplina do Mestre. A verdade, ent *o, que o movimento perpendicular 1 superf$cie terrestre n*o alcan'a nunca o vrtice (com exce'*o, porm, daquele que sai do mesmo lugar do observador, coisa esta que talvez Sarsi n*o nota), mas tambm verdade que nunca n%s afirmamos que ele o alcance.
31. Al+m disso, desde que, como Galileu mesmo afirma, o movimento do cometa pareceu mais r(pido no come&o e
diminuiu pouco a pouco, + necess(rio ver em que propor&o a diminui&o do movimento deve proceder nesta linha reta. Com certeza, se examinarmos afigura de Galileu, quando o cometa encontrar-se em E, veremos que aparecer( em G; quando depois, percorrendo os espa&os iguais EF, FM, MO, mostrar seu movimento aparente nos pontos F,I, L, ver-se-( que seu movimento alcan&a a diminui&o m(xima; porque o arco FI resulta ser apenas a metade de GF, e IL a metade de FI, e assim para os outros, o movimento aparente do cometa deve diminuir, ento, na mesma propor&o. , necess(rio saber, por+m, que o movimento observado do cometa no diminui nesta propor&o: pelo contr(rio, nos primeiros dias sua diminui&o foi to insignificante que n o era percebida com facilidade. Com efeito, percorrendo no in .cio mais ou menos tr)s graus por dia, tendo j( decorrido vinte dias, pareceu haver diminu .do apenas um pouco aquela velocidade inicial. Se quisermos at+ julgar os cometas de Tycho dos anos de 1577 e 1585, poderemos com clareza entender como permaneceram afastados daquela grande diminui&o. Se algu+m me perguntar agora em que consistir(, ento, a medida do movimento aparente do cometa ascendente em linha reta, respondo: se o cometa come&ar a aparecer quando o vapor que o produz no se encontra muito distante da Lua, coisa muito prov(vel, e al+m disso considerarmos que o lugar do globo terrestre do qual o vapor se eleva seja distante de n$s sessenta graus, respondo que o movimento aparente do cometa, por todo o tempo de sua dura&o, transpor( menos de um grau em 31 minutos. Com efeito, seja o globo terrestre ABC, a concavidade da Lua GFH, distante do centro D da Terra 33 semidi3metros, segundo Ptolomeu; Tycho, na realidade, coloca uma dist3ncia
quase dupla, o que seria mais vantajoso para mim; e seja A o lugar do qual enxerga-se o cometa, B o lugar do qual sobe o vapor. Afirmo que quando se vir o cometa em E, o 3ngulo DE A ser( de um grau e 31 minutos; por isso, se tra&armos AF paralela a DE, o 3ngulo FAE ser( tamb+m de um grau e 31 minutos, pois + alternado com DAE entre as mesmas paralelas; ento as duas retas, AE e AF, interceptar o no c+u o arco de um grau e 31 minutos. Mas a reta AF, paralela a DE, n o alcan&ar( nunca o cometa como ficou assentado an tes: ento ele no concluir( nunca o movimento de um grau e 31 minutos. O fato de o 3ngulo DEA encontrar-se no c6ncavo da Lua com um grau e 31 minutos + facilmente demonstr(vel. Porque, como + conhecido por hip$tese, o 3ngulo EDA havendo sessenta graus no tri 3ngulo ADE, e al +m disso o lado AD de um semidi3metro terrestre, e o lado DE de 33 semidi(metros; aceitando que 36, soma dos dois lados AD, DE, est( para 32, diferen&a dos mesmos lados, assim 173 205, tangente da semi-soma dos outros dois 3ngulos, isto +, do 3ngulo de sessenta graus, est( ao quarto n/mero, encontrar-se-( 163 036, tangente do 3ngulo de 58 graus e 29 minutos, os quais, subtra.dos de sessenta graus, isto +, da metade dos dois 3ngulos remanescentes, deixaro o 3ngulo DEA de um grau e 31 minutos, segundo regras trigonom+tricos.
Eu acreditei, pela demonstra'*o anterior de Sarsi, que ele tivesse visto, e talvez entendido, o primeiro livro dos Elementos da geometria; porm aquilo que ele escreve aqui me coloca em grande d-vida a respeito de sua habilidade matem"tica, pois, pela figura delineada arbitrariamente, quer tirar a propor'*o da diminui'*o da velocidade aparente do movimento atribu $do pelo Sr. M"rio ao cometa onde ele j" havia demonstrado n *o haver observado que em todos os livros dos matem"ticos nunca ningum se preocupou com as figuras, todas as vezes que relatada a descri'*o; e que em astronomia particularmente seria de todo imposs $vel querer manter, nas figuras, as propor')es que realmente existem entre os movimentos, as dist2ncias e as grandezas dos orbes celestes, propor ')es que sem preju$zo algum da ci,ncia alteram-se tanto que aquele c $rculo ou 2ngulo que deveria ser mil vezes maior que um outro n*o alcan'a nem dois ou tr,s graus. Observe-se, agora, tambm o segundo erro de Sarsi, isto , imaginar que o mesmo movimento deve aparecer realizado com as mesmas aparentes desigualdades por todos os lugares de onde ele seja observado e por todas as dist 2ncias ou alturas onde o objeto m %vel se encontre. Todavia a verdade que, havendo marcado no movimento retil $neo, ascendente em forma perpendicular, muitos espa 'os iguais, por exemplo, os movimentos aparentes de quatro partes pr%ximas da Terra apresentar*o no cu entre elas muta')es muito mais desiguais que aquelas de quatro outras partes bem afastadas; assim, a desigualdade, que nas partes baixas era grand $ssima, estando longe, nas outras permanecer ", em vez,
insens$vel Assim da mesma forma, em outra propor'*o, parecer*o realizar-se os mesmos atrasos se o observador estiver perto do in$cio da linha do movimento, e n *o parecer*o estar longe. Contudo Sarsi, pois encontra na figura (p"g. 179) que os arcos GF, FI, IL, isto , os movimentos aparentes, diminuem grandemente e muito mais daquilo que n*o foi percebido no movimento do cometa, persuadiu-se de que tal movimento n*o pode ser apto de forma alguma, para ele, nem percebeu como tais diminui ')es podem aparecer sempre menos desiguais, conforme a altura do objeto m%vel seja maior. Ele sabe muito bem que nas figuras n*o se observam, nem muito importante observar, as devidas propor ')es, o que ele mesmo nos testemunha naquela figura onde mostra que o 2ngulo DEA s% de um grau e meio apesar de mostrar-se a n%s no desenho com mais de quinze graus, e o semidi 2metro da concavidade lunar DE apenas triplo do semidi2metro terrestre DB, que ele afirma ser 33 vezes maior; isso devialhe ser suficiente para conhecer qu *o grande a ingenuidade daquele que quisesse descobrir o racioc$nio de um ge+metra medindo com os instrumentos suas figuras. Ent *o, concluindo, afirmo, Sr. Lot"rio, que pode existir muito bem, em um mesmo movimento retil $neo e uniforme, uma aparente diminui'*o, grande, mdia, pequena, m$nima ou mesmo n*o percept$vel; e se quiserdes provar que nenhuma delas corresponde ao movimento do cometa, ser " necess"rio que desenheis outra figura em vez de medir as j" desenhadas; e vos asseguro que escrevendo v %s tais coisas n *o receber$eis o aplauso de outros, a n*o ser daqueles que n*o entendem nem o Sr. M "rio nem mesmo a v%s e que d*o vit%ria ao mais prolixo e 1quele que fala por -ltimo. Escute, V. E. Ilustr $ssima, aquilo que apresenta Sarsi por -ltimo. Ele quer provar, segundo meu parecer, por aquilo que relata sobre a pequenez do movimento aparente que o movimento retil$neo, j" muitas vezes lembrado, n*o absolutamente apto para o cometa (acredito nisto mas n *o tenho certeza, pois o mesmo autor, depois de suas demonstra ')es e c"lculos, n*o conclui nada). Por causa disso pressup)e ele que o cometa, em sua primeira apari'*o, distasse da Terra 32 semidi 2metros terrestres, e que o observador estivesse colocado sessenta graus longe do ponto da superf $cie terrestre que perpendicularmente encontra-se abaixo da linha do movimento deste cometa; manifestadas as duas hip%teses, demonstra que a quantidade do movimento aparente pode alcan 'ar, no cu, apenas um grau e meio; e termina aqui sua exposi '*o, sem finalidade e sem chegar a conclus *o alguma. Porque Sarsi n*o o fez, vou tirar eu, ent *o, duas conclus )es: a primeira ser" que o mesmo Sarsi gostaria que o leitor ing,nuo chegasse a uma conclus *o por si mesmo, e a outra que verdadeiramente deriva daquela premissa e que n*o fruto de pessoas ignorantes. Eis a primeira: "Ent*o, leitor, em cujo ouvido ressoa aquilo que foi demonstrado acima, isto , que o movimento aparente de nosso cometa percorreu o c u, por muitas e muitas dezenas de graus, raciocine agora e fique certo de que o movimento retil$neo do Sr. M"rio de forma alguma se lhe assenta, pois, com muita dificuldade, pode por meio dele superar um
-nico grau e meio". Esta a conclus*o dos ing,nuos. Mas quem possuir elementos de l %gica, juntando as premissas de Sarsi com as conclus )es, formar" este silogismo: "Aceitando que o cometa, em seu aparecer, fosse alto 32 semidiametros terrestres, e que o observador se encontrasse sessenta graus longe
da linha de seu movimento, a quantidade de seu movimento aparente n*o podia exceder-se de um grau e meio; mas ele excedeu-se dezenas e dezenas de graus; (agora surge a verdadeira conseq 4,ncia) ent*o, no tempo das primeiras observa')es, nosso cometa n *o se encontrava 32 semidiametros acima da Terra, nem o observador se encontrava sessenta graus longe da linha do seu movimento". De boa vontade seja concedido isto a Sarsi, porque esta uma conclus*o que destr%i suas pr%prias premissas: mesmo que, de um certo ponto de vista, seu silogismo permane 'a imperfeito, nem se oponha ao Sr. M"rio, o qual j" abertamente escreveu que um simples movimento retil $neo n*o suficiente para satisfazer 1 aparente muta'*o do cometa, mas necess"rio acrescentar alguma outra causa de seu desvio; este racioc$nio, esquecido por Sarsi, tira toda for 'a a qualquer racioc$nio seu. Mas bem conhecido, al m disso, outro grande erro de l %gica em seu discurso. Sarsi quer, pela grande mudan'a de lugar do cometa, demonstrar que o movimento retil$neo do Sr. M"rio n*o lhe era adequado, porque a mudan'a que se srcina de um tal movimento pequena: e, pois, a verdade que a este movimento retil$neo podem seguir mudan'as pequenas, med$ocres e mesmo muito grandes, conforme o objeto m%vel se encontre mais acima ou mais abaixo, e o observador mais ou menos longe da linha deste movimento, Sarsi, sem perguntar para o opositor a que altura ou a que dist 2ncia se encontra o objeto e o observador, coloca ambos em lugares adaptados 1 sua necessidade e n*o 1 do opositor, e afirma:
Aceitamos que o cometa, em princ.pio, seja alto 32 semidiametros, e o observador afastado sessenta graus. Porm, Sr. Lot"rio, se o opositor disser que o cometa n *o se encontrava a muitas milhas de dist 2ncia e o observador tambm bastante perto, o que fareis deste silogismo? Qual ser" vossa conclus *o? Nenhuma. Haveria sido necess"rio que n%s, e n*o v%s, houvssemos atribu$do ao cometa e ao observador tais dist2ncias e ent*o nos haver $eis destru$do com as nossas pr%prias armas; e, mesmo querendo nos destruir com as vossas era necess "rio provar antes que tais eram verdadeiramente as dist2ncias adequadas (o que n*o fizestes), em vez de imagin"-las arbitrariamente, escolhendo outras mais prejudiciais por causa do advers "rio. Este particular j" me leva a crer um pouco que seja mesmo verdade aquilo que nunca quis acreditar, isto , que v%s fostes disc$pulo daquele mesmo do qual vos declarastes porque cai ele pr%prio, se n*o estou enganado, no mesmo erro, enquanto quer demonstrar errada a opini*o de Arist%teles e dos outros que consideraram o cometa como coisa elementar 56 com sua resid,ncia tambm na regi*o elementar. A eles, por m, op)e-se, como enorme inconveniente, o volume desmedido que o cometa deveria possuir, e seria incr$vel que a Terra pudesse dar-lhe lugar e alimento; situa-o depois, para mostr "-lo como uma m"quina enorme, e sem permiss*o dos advers"rios, na parte mais alta da esfera elementar, isto , na mesma concavidade da esfera lunar, e daqui, aparecendo da forma que n%s o vemos, ele deduz que seu volume deve ser pouco menos que quinhentos milh)es de milhas c-bicas (note o leitor que o espa 'o de uma -nica milha c -bica t*o 56
A interpreta'*o desta frase amb$gua porque o termo "elementar" pode ser referido tanto ao significado "terrestre", isto . que o cometa seja de srcem terrena, tanto ao significado "prim "rio", isto , que o cometa seja pr -existente e no acidental. A clara refer ,ncia aos peripat ticos e ao pr %prio Arist%teles nos faz optar, contrariamente a muitos editores de Galileu, pela segunda vers *o, por ser ela muito mais de acordo com a mentalidade filos %fica da poca e do autor em exame.
grande que poderia conter mais de um milh *o de navios, que provavelmente nem existem no mundo), m"quina ent*o anormal e desonesta demais, e cara demais para o g,nero humano que a tivesse que sustentar. Porm Arist%teles e seus disc $pulos responder*o: "Pai nosso, afirmamos que o cometa elementar e pode acontecer que esteja longe da terra cinq4enta ou sessenta milhas ou talvez nem isso, e n*o 121 704, como v%s o considerais arbitrariamente. Portanto, seu corpo n *o de tantos milhares de milhas, nem imposs $vel de ser saciado e alimentado"; aqui s% resta, ao opositor, aceitar e calar-se. Quando se deve convencer um advers"rio, necess"rio enfrent"-lo com suas melhores e n*o com as piores afirma')es, do contr"rio deixar-se-ia a ele sempre a possibilidade de retirar-se livre, deixando o opositor atordoado e sem mais racioc $nio, como aconteceu com Rogrio ao aparecer de Anglica. 32. Vejamos agora como ele continua e queira ler V. E. Ilustr $ssima este quarto argumento:
Apesar de a Terra estar im$vel e no ser prudente para um homem religioso afirmar isto, todavia, se algu+m quer saber de mim se com o movimento da Terra pode-se explicar o movimento do cometa em linha reta, respondo: se outro movimento algum no pode ser concebido sobre a Terra a n o ser aquele pensado por Cop+rnico, nem assim com este movimento retil.neo conseguimos salvar os fen6menos do cometa. Apesar de que pelo movimento anual de Cop+rnico, o Sol, segundo seu parecer, v)-se do equador mover-se quer ao sul, quer ao norte (e todavia el e considera im$vel), contudo qualquer um desses movimentos realiza-se em um semestre inteiro e naquele breve espa &o de quarenta dias, quando apareceu o cometa, o Sol pareceu movimentar-se s$ um pouco, isto +, tr)s graus, e n o muito maior, por causa deste movimento da Terra, p6de ser percebido o desvio aparente do cometa; o qual, mesmo acrescentando-lhe todo aquele movimento que se srcinava aparentemente de seu movimento retil.neo, nunca poder( igualar o movimento observado do cometa. Sarsi quer demonstrar aqui que nem colocando o movimento da Terra, como foi colocado por Coprnico, poder-se-ia explicar e sustentar este movimento retil$neo e aquele desvio do vrtice; porque, mesmo que o movimento da Terra srcine o aparente desvio do Sol quer rumo 1 regi*o austral, quer rumo 1 boreal, todavia no espa 'o de cento e quarenta dias, quando foi observado o cometa, este desvio n*o foi de mais que tr,s graus, nem muito maior que isso podia aparecer o cometa; assim, esta medida junto com aquele -nico grau e meio que podia srcinar a outra dependente do pr %prio movimento retil$neo nos deixa bem longe daquele grand $ssimo movimento que se percebeu nele. N *o havendo n%s afirmado nem falado que este aparente desvio seja causa de qualquer movimento de qualquer outro corpo, especialmente corpo terrestre, que o pr %prio Sarsi confessa saber que n%s o consideramos falso, aparece com muita clareza que ele o introduziu arbitrariamente para fazer aumentar o seu volume. Assim, n*o temos obriga '*o alguma de responder sobre aquilo que nunca afirmamos. Por m, n*o quero me abster de afirmar que duvido fortemente de que Sarsi esteja j" com uma idia perfeita dos movimentos atribu$dos 1 Terra, nem das v"rias e numerosas apar,ncias que por causa deles haver$amos de perceber nos outros corpos mundanos. Vejo que Sarsi, sem diferen 'a alguma de posi'*o, embaixo ou fora da ecl$ptica, dentro ou fora do grande orbe, no norte ou no sul, perto ou longe da Terra, considera que, da mesma forma que um desvio aparece no corpo solar, colocado no centro desta ecl$ptica, deve da mesma forma ou um pouco diferente ser percebido em qualquer outro objeto vis$vel,
colocado em qualquer lugar do mundo; isto est" bem longe de ser verdade, n*o resultando contradi '*o alguma do fato de que, por meio de postura diferente, aquela mudan'a que no Sol aparece de tr ,s graus possa aparecer em um outro objeto de dez, vinte, trinta graus. Concluindo, se o movimento atribu$do 1 Terra, que eu, como pessoa piedosa e cat %lica, considero falso e inexistente, adequado para justificar tantas e t*o diferentes apar ,ncias como podem ser observadas nos corpos celestes, n *o quero assegurar que este movimento t*o errado n*o possa tambm responder erradamente a prop%sito das apar,ncias dos cometas, se Sarsi n*o expuser racioc$nios mais l%gicos que aqueles que produziu at agora. 33. Leia agora V. E. Ilustr$ssima o quinto argumento: Tudo isto ter-se-ia verificado se o movimento de
todos os cometas que existiram at+ agora tivesse sido igualmente breve e regular. Po r+m, se observarmos os outros cometas, cujo movimento procedeu de forma completamente diferente disto, com muito mais clareza, tornar-se-( evidente ser poss.vel ou no admitir movimento retil.neo para os cometas. Pesquisamos Cardano; segundo Pontano, ele afirma isto: "Foi percebido por n$s um cometa com cabe&a pequena e cauda curta, que pouco depois, adquirindo uma grandeza maravilhosa, dirigiu-se do oriente para o norte, com movimento 2s vezes r(pido, 2s vezes vagaroso; e at+ a volta de Marte e Saturno, ele procedia ao contr(rio, isto +, indo a cauda para a frente at + chegar 2s Ursas; donde, logo que Saturno e Marte come&aram a movimentar-se com movimento retil.neo, desceu para oeste to rapidamente que pe rcorreu num dia trinta graus; e, logo que se dirigiu para "ries e Touro, no foi mais percebido ". Al +m disso, no mesmo autor, segundo Regiomontano, encontramos: "Nos idos de janeiro de 1475 foi percebido por n$s um cometa sob a Libra co m as estrelas da Virgem, cuja testa movimentou-se lentamente at+ encontrar-se perto da Espica; caminhando antes atrav +s das pernas de Boote para a esquerda, afastando-se, tanto assim que descreveu, num dia normal, um arco de ci rcunfer)ncia m(xima de quarenta graus, onde, encontrando-se no meio do C3ncer, estava distante do zod.aco 67 graus no m(ximo; indo, ento, atrav+s dos dois p$los do zod.aco e do equin$cio at+ o meio dos p+s de Cefeu, e em seguida atrav+s do seio de Cassiop+ia, sobre o ventre de Andr6meda; depois, avan&ando ao longo do Pisce boreal, onde diminu.a muito seu movimento, aproximava-se, ento, do zod.aco, etc.". Por isso, no come&o e no fim, movimentou-se com movimento bem vagaroso, no meio, em vez muito r(pido, o que se op5e bem abertamente a este movimento retil.neo; com efeito, este movimento + sempre mais r(pido no come&o e depois diminui devagar; por+m, op5e-se a tudo isto com grande evid)ncia o cometa de Pontano, vagaroso no come&o e muito r(pido no fim. Escuta aquilo que se pode ler nasMeteoras: "Lembro que uma vez ca.do da estrela de 8caro, levava para a frente uma pequena cauda e com movimento lento caminhava sob o frio c+u boreal; aqui colocava novamente a cabe &a em frente, e com movimento favor(vel rumava para oeste, avan&ando rapidamente, at+ chegar entre os ferozes cornos do Touro de Agenor ". Nestes dois cometas, com muito maior dificuldade, pode-se explicar aquele movimento retil.neo, havendo eles percorrido com o pr$prio movimento um inteiro semic.rculo m(ximo em pouqu.ssimo tempo; com efeito, para explicar este movimento ser( de pouca ajuda qualquer movimento da Terra. N o possuo a m.nima inten&o de oferecer um elenco dos cometas e de seus v(rios movimentos, por+m, se algu+m pesquisar aqueles que trataram destes argumentos, encontrar( muitas coisas que no combinam de forma alguma com o movimento retil.neo. Falamos at+ demais a respeito do movimento e da subst3ncia do cometa. Aqui Sarsi, relatando as outras v "rias mudan'as realizadas por outros cometas e descritas por outros autores, acaba confirmando suas palavras. Mas aquilo que escrevi antes responde tambm a esta
tese, nem necess"ria outra coisa, se antes, deixando de lado Sarsi os racioc$nios gerais e levando em vez em conta as caracter$sticas particulares dos cometas, n *o comece a verificar se eles eram altos, baixos, austrais ou boreais, se apareceram em poca de solst$cios ou equin%cios; particularidades que Sarsi n*o observou, e necessar $ssimas para um exato racioc$nio, como ele mesmo poder" verificar todas as vezes que prestar maior aten'*o a esta pesquisa. 34. Vou apresentar agora a -ltima quest*o do nosso exame: Agora resta pesquisar a barba ou
cabeleira do cometa ou, como voc) gosta de cham(-la, cauda, que com aquela curvatura le va os astr6nomos a brigar. Todavia Galileu acha poder oferecer uma explica &o satisfat$ria tamb+m para isto. Por+m aqui devo, em primeiro lugar, acrescentar que no existe motivo algum para que ele considere seu este novo sistema de explicar a cauda, pois Galileu exp6s esta sua teoria que j ( havia sido delineada por Kepler e publicada por ele com suficiente clareza. Com efeito, procurando os motivos pelos quais as caudas dos cometas 2s vezes parecem curvas, afirma que isto n o deriva da paralaxe, o que foi demonstrado tamb +m em outro lugar, nem da refra&o, apresentando muitas provas desta teoria; por+m, no fim, afirma que este fen6meno deve ser deixado entre os v(rios segredos da natureza. Quis, ento, prevenir isto, pois Galileu afirma no ter encontrado ningu+m que tenha escrito a respeito, al +m de Tycho. Kepler e Galileu diferem entre eles s $ nisto: Galileu apresentou a hip$tese que aquele no julgou de import3ncia alguma, deixando assim, por causa desta pouca import3ncia, a questo no resolvida. Sarsi, na verdade, mostra-se desejoso demais de me tirar completamente qualquer vest $gio de gl%ria: e n*o satisfeito de descobrir como falso e n *o concludente o racioc $nio apresentado como meu pelo Sr. M"rio, isto , que a cauda do cometa 1s vezes nos parece em forma de arco, acrescenta que eu n*o apresentei nada de novo, pois tudo havia sido j" publicado, e em seguida recusado como errado por Jo*o Kepler; assim, no esp $rito do leitor, todas as vezes que se examinasse a rela'*o de Sarsi ficaria o conceito de eu ser um ladr *o de idias alheias, mas ladr*o de pouca conta, que vai juntando at coisas recusadas. Porm, quem sabe se a pequenez do roubo n *o me fa'a ser considerado, por Sarsi, at mais culpado do que se eu me tivesse aplicado a roubos maiores, por ter uma maior intelig,ncia? E se por acaso, em vez de roubar uma coisinha sequer, me tivesse dedicado com maior afinco 1 procura de textos n*o muito conhecidos em nossos pa $ses, e, havendo encontrado alguma publica '*o de algum bom autor, houvesse eu tentado suprimir o seu nome e atribuir a minha autoria a obra inteira, talvez este procedimento lhe tivesse parecido her %ico e grande, enquanto o outro lhe pareceria desastrado e infame. Porm eu n*o sou t*o generoso e livremente confesso minha covardia. Por m, mesmo sendo muito pobre de coragem e for 'as, sou rico de honra; assim n*o quero, Sr. Lot"rio, permanecer com esta honra, mas quero, com toda liberdade, escrever e demonstrar vossa falta, deixarei que a explique melhor na apresenta'*o de vossas desculpas. O pr%prio Tycho quis dar uma explica '*o a esta aparente curva da cauda, derivando-a de algumas hip%teses apresentadas por Witelo, mas o Sr. M "rio demonstrou que ele n *o havia compreendido aquilo que Witelo havia publicado, por serem elas de todo insuficientes para demonstrar esta curva. O pr%prio Sr. M"rio acrescentou aquela teoria que a ambos parecia ser a -nica causa
verdadeira desta curvatura. Op)e-se Sarsi, e, querendo contest "-la e ainda mais querendo atribu$-la a Kepler, cai no mesmo erro que Tycho, declarando n*o ter entendido nada a respeito daquilo que escrevem Kepler e o Sr. M "rio, ou ao menos fingindo n *o entender nada de ambos, querendo que ambos escrevam a mesma coisa quando escrevem duas coisas fatalmente diferentes. Kepler quer explicar a raz*o da curva como se a cauda do cometa fosse curva de verdade e n *o uma apar,ncia; o Sr. M"rio a sup)e reta e procura a causa da apar ,ncia da curva. Kepler a reduz a uma diversidade de refra')es dos pr %prios raios solares, srcinadas da mesma mat ria celeste da cauda, mat ria que s% naquela parte que serve 1 produ'*o da cauda (mais ou menos densas segundo os graus de aproxima '*o com uma estrela mais ou menos densa) produz tantas refra ')es que, de todas elas, resulta uma -nica refra'*o distensa n*o retamente mas em arco. O Sr. M"rio introduz uma refra'*o srcinada n *o pelos raios do Sol mas pelas caracter $sticas do cometa, n *o da matria celeste aderente 1 sua cabe'a mas srcinada pela esfera vaporosa que circunda a Terra: assim, a for 'a eficiente, a matria, o lugar e a maneira destas produ')es s*o muito diferentes, nem existe outra igualdade entre estes dois autores a n *o ser a
-nica palavra refra&o. Eis as precisas palavras de Kepler: "A refra '*o n *o pode ser causa desta curva, a menos que imaginemos alguma coisa prodigiosa, alguma matria mais ou menos densa segundo os graus de aproxima'*o desta estrela, excetuando-se o lado onde vira a cauda". Ser" poss$vel, Sr. Lot"rio, que vos deixastes levar pelo desejo de diminuir minha honra, qualquer que ela seja em rela'*o 1 ci,ncia, assim de n*o levar em considera'*o n *o s % minha reputa'*o mas nem aquela de muitos outros amigos vossos? E a esses amigos, com mentiras e falsidades, procurastes fazer acreditar que vossa teoria fosse verdadeira e bem fundamentada e dessa forma adquiristes o seu aplauso e seus elogios, mas agora, se eles lerem esta minha publica '*o, atravs dela compreender*o quantas vezes e de que forma quisestes trat"-los de ing,nuos, eles considerar-se-*o ofendidos por v%s, e a considera'*o que eles tiveram de v%s mudar". Bem diferente, ent*o, o racioc$nio apresentado e recusado por Kepler, pessoa que eu sempre considerei honesta, sincera e s "bia, e que, com certeza, confessaria que minha teoria completamente diversa da dele, e da mesma forma que a sua teve que ser recusada a minha deve ser aceita, pois claramente comprovada, mesmo que Sarsi procure contest"-la. 35. Vamos examinar qual a for'a de sua contesta '*o: Pesquisemos se, como afirma Galileu, a curva
da cauda p6de nascer da refra&o. Com efeito, o cometa no parece haver observado as leis descritas por Galileu a seu respeito: curvar-se somente todas as vezes que caminhasse rumo ao horizonte indo quase paralela a ele, cortando-o verticalmente; rumar ao z)nite todas as vezes que virasse naquela dire&o. Com efeito, guardou sua primitiva curvatura s $ tr)s ou quatro dias, quer perto quer longe do horizonte; depois pareceu desviar-se da linha que podia alcan&ar o Sol, atrav+s da cabe&a do cometa, no mostrando, por+m, curva alguma, apesar de o caminho da cauda aparecer ami/de inclinado para o horizonte. Por+m, se Galileu falasse a verdade, deveria ser percebido no in .cio muito mais reto que quando subia para o alto. Com efeito, levantou-se tanto sobre o horizonte que se mostrou quase vertical; assim, subindo avan&ava sempre mais inclinado para o horizonte, cortando muitos planos verticais, como qualquer um pode perc eber por meio do pr$prio globo, observando-se, por exemplo, em qualquer globo celeste, o lugar do cometa e o caminho da cauda correspondente ao dia 20
de dezembro. Com efeito, naquela +poca, a cauda passava entre as duas /ltimas estrelas da cauda da Grande Ursa, e a cabe&a do cometa era distante de Ar tur 25 graus e 54 minutos e da Coroa 24 graus e 25 minutos. Se, ento, for encontrado o cometa sobre um globo e for descrito o caminho da cauda, esta aparecer( na mesma volta do globo que emerge do horizonte, mais ou menos segundo um plano vertical; subindo mais, encontrar-se -( depois mais ou menos paralela ao horizonte: todavia, mesmo nesta posi&o no apresenta curva alguma. Esta uma forma ineficiente demais para confutar uma demonstra '*o de perspectiva que alcance uma conclus*o, pois Sarsi quer que outros consigam mais com suas hip %teses, as quais podem ser alteradas e acomodadas 1 sua necessidade. Perdoe-me Sarsi, para suspeitar assim, pois ele pr %prio mais freq4entemente d" ocasi*o de n*o nos permitir acreditar naquilo que ele apresenta. Que crdito se deve dar 1s hip%teses de algum em rela'*o aos acontecimentos passados, dos quais n *o sobra nada, enquanto o mesmo, falando de coisas permanentes, atuais, p -blicas, impressas, de dez hip%teses apresentadas nove s*o alteradas e at relatadas ao contr"rio? Reafirmo que a demonstra'*o apresentada pelo Sr. M"rio justa, geomtrica, perfeita e necess "ria; Sarsi devia procurar antes entend,-la com perfei'*o e depois, se n *o lhe parecesse exata, mostrar sua falsidade, seja demonstrando falsos argumentos, seja demonstrando falso o desenvolvimento do racioc$nio, o que, ali "s, n*o fez nada disso ou talvez muito pouco. Nossa demonstra'*o prova que o objeto observado, sendo colocado em linha reta e srcinado fora da esfera vaporosa, perto e inclinado para o horizonte ou muito acima dele, apresentar-se-" curvo ao olho longe do centro desta esfera de vapor, porm, se aquele surgir no horizonte ou for muito acima dele, apresentar-se- " a n%s completamente reto ou com uma curva impercept$vel. O cometa que estamos pesquisando agora, que nos primeiros dias foi visto abaixo e inclinado, visto inclinado tamb m; subindo, mostrou-se reto e assim ficou, pois sempre apareceu muito alto; o cometa de 77, que eu observei continuadamente, pois manteve-se sempre baixo e muito inclinado, foi sempre visto com muita curva: outros menores, que observei bem altos, apresentam-se retos: assim, o efeito da curva estar " de acordo com essas conclus )es todas as vezes que procedermos com observa')es verdadeiras. Verifiquemos aquilo que Sarsi contesta 1 nossa demonstra'*o e quanta import2ncia possuem suas hip %teses. 36. No vejo como pode acontecer que Galileu aceite com tanta certeza que uma regio vaporosa tenha aparecido
ao redor da Terra, quando ele mesmo ensina fundamentalmente que esses vapores srcinam-se em lugares mais altos que os outros, querendo alicer&ar sua teoria sobre o movimento retil .neo. Ele at+ afirma que os pr$prios cometas so formados s$ por aqueles vapores sa.dos do cone de sombra da Terra. Ento, se o vapor se afasta da superf.cie da Terra tr)s mil passos aqui e l( estende-se ainda por mais de mil l+guas, mesmo assim esta regio vaporosa conservar( uma figura esf+rica? Com certeza aqueles que at+ hoje relataram os rudimentos da esfera ensinam que a parte mediana do ar, que consta especialmente de vapores (mesmo mantendo uma figura determinada), + um esfer$ide mais oval que redondo, pois, nas partes abaixo dos p$los, os vapores se dissolvem menos pelo Sol e sobem por isto mais alto que nas partes abaixo do c.rculo dos equin$cios e da zona tropical, onde se dissolvem com mais facilidade pela proximidade do calor do Sol. Ento, se esta regio n o pode ser esf+rica e no se afasta homogeneamente da Terra, e n o possui igual densidade em todas as
suas partes, a curva da cauda no poder( nunca srcinar-se da esfericidade desta re gio que no existe. Afirmo tudo isto em rela&o ao parecer de Galileu sobre a quilo que diz respeito diretamente ao cometa. Ele mesmo impede que se acrescente outra coisa, pois numa longa exposi&o apresentou aquilo que pensava dizer a respeito com poucas palavras, nos impedindo, ento, de falar mais sobre o assunto. Como poder.amos, com efeito, haver refutado alguma coisa que ele no apresentou e que no pod.amos adivinhar? Vamos em frente. Como V. E. Ilustr$ssima pode claramente perceber, Sarsi contesta que nossa demonstra '*o se ap%ia sobre um falso fundamento, isto , que a superf$cie da regi*o vaporosa esfrica, o que ele, de muitos modos, prova ser errada. Em primeiro lugar, diz que n %s afirmamos muitas vezes que estes vapores sobem mais de um lugar que de outro. Mas esta hip%tese n*o se encontra no texto do Sr. M"rio: verdade que ele relata que em tempos determinados aconteceu que alguns vapores subiram mais que de costume; mas isto verificou-se poucas vezes e por muito pouco tempo; porquanto afirmar, por causa disso, que a figura da regi*o vaporosa n*o redonda uma afirma'*o arbitr"ria de Sarsi. Alm disso, afirma outra falsidade, isto , que n%s relatamos ser o cometa srcinado por aqueles mesmos vapores que, ultrapassando o cone de sombra, formam a aurora boreal; isto tamb m n*o se encontra na texto do Sr. M"rio. Acrescenta em terceiro lugar: Se um tal vapor subisse a um lugar por tr )s
milhas e em outro mil l +guas, dever-se-ia ainda considerar esta figura como esf+rica? N*o senhor, Sr. Sarsi, e aquele que afirmasse uma coisa parecida seria um grande ignorante, segundo meu parecer; por m, n*o encontro ningum que a tenha afirmado, nem sonhado, acredito eu. Citai o nome de algu m. Em rela'*o aos cientistas que ele coloca em quarto lugar, ou seja, aqueles que ensinam os primeiros elementos da esfera, e que afirmam que a figura desta regi *o mais oval que redonda, respondo que Sarsi n*o deve ficar admirado por ter chegado ao conhecimento disto e eu n *o; pois eu n *o aprendi astronomia com esses mestres de pouco fundamento, mas com Ptolomeu, que n *o me parece que haja escrito a prop%sito. Mas, mesmo aceitando que esta figura fosse de verdade oval e n *o redonda, o que concluir$eis, Sr. Lot"rio? Nada mais que a cauda do cometa n *o dobrada em forma de arco de uma circunfer,ncia, mas em linha oval; coisa que eu posso conceder sem preju $zo para nossa explica '*o e para nosso m todo de demonstrar a causa desta curva aparente; por m n*o posso conceder-vos aquilo que gostar$eis de deduzir afirmando: Se esta regio vaporosa no + esf+rica, nem uniformemente longe da Terra, nem
uniformemente densa (tese apresentada por tr ,s vezes, com palavras diversas, para espantar os ing ,nuos), a curva da cauda no pode derivar de uma tal coisa redonda que no existe. Esta conclus *o n*o se deduz logicamente das nossas premissas, o m "ximo que pode derivar que esta curva n*o parte de uma circunfer,ncia mas de uma linha oval: e este seria vosso muito m $sero ganho, mesmo que tiv sseis certeza de que esta regi*o era oval e n *o esfrica. Com efeito, se esta curva for uma figura de arco de circunfer,ncia ou de elipse ou de linha parab %lica ou hiperb%lica ou espiral ou outras, n *o acredito que algum o possa determinar com certeza, pois as diferen'as dessas inclina ')es, num arco de dois ou tr,s graus no m"ximo, resultam de todo impercept$veis.
Devo ainda considerar as -ltimas palavras das quais concluo misticamente v "rias conseq4,ncias e v"rias idias ocultas de Sarsi. Primeiro, entende-se bem claramente que ele pesquisou o texto do Sr. M"rio n*o objetivamente, com a finalidade de estud "-lo ou louv"-lo, mas com a firme resolu'*o de impugn"-lo (como percebi desde o come 'o); desculpando-se de n*o hav,-lo confutado mais, afirmou:
Como contestar coisas que ele n o relatou e que eu n o podia adivinhar? A verdade bem o contr"rio, isto , ele n*o contestou outras coisas a n *o ser aquelas n*o apresentadas pelo Sr. M "rio, que ele procurou adivinhar. Acrescenta que o Sr. M "rio escreveu com palavras obscuras, e que numa disserta '*o bem longa n*o esclareceu o significado. Respondo a isto que o Sr. M "rio teve uma inten '*o bem diferente da do Mestre de Sarsi. Este Mestre, como claro no in$cio do texto de Sarsi, escreveu para o vulgo, para ensinar-lhe com suas explica ')es aquilo que sozinho n *o poderia compreender. Mas o Sr. M "rio escreveu para os mais s"bios que n%s, e n*o para ensinar, mas para aprender, e por isso apresentou sempre em forma de d-vida e n *o doutrinariamente, fazendo refer ,ncia 1s doutrinas dos mais s "bios: e se nossa publica'*o parecesse t*o obscura para Sarsi, devia, antes de censur "-la, esclarec,-la e n*o contestar aquilo que n *o entendeu, com perigo de queimar-se. Por m, se eu devo expor abertamente meu parecer, na verdade n*o acredito que Sarsi passe para a frente sem impugnar a maior parte das coisas escritas pelo Sr. M "rio por n*o t,-las compreendido, mas, ao contr "rio, porque elas eram abertamente claras e verdadeiras, e por isso considerou melhor afirmar n*o entend,-las do que, contra a sua vontade, aceit"-las e louv"-las. Quero referir-me agora ao terceiro exame, onde Sarsi, por meio de quatro proposi ')es, coletadas livremente entre mais de cem que encontramos no Discurso do Sr. M"rio, se esfor 'a por fazernos parecer pouco inteligentes: todas as outras, mais importantes que estas, passa-as sob sil ,ncio e as vai acomodando 1 sua opini*o, acrescentando, tirando e torcendo sempre alguma coisa. 37. Veja V. E. Ilustr $ssima: Antes de examinar corri maior cuidado algumas teorias de Galileu, como vou
fazer, gostaria que todo mundo ficasse ciente de que nada est( mais fora de minhas inten &5es que combater em favor de Arist$teles. No me preocupo, no momento, em pesquisar se so verdadeiras ou falsas as teorias daquele grande homem. Quero demonstrar que as m(quinas postas em movimento por Galileu foram de pouca resist)ncia e validade, as tentativas foram vs, e, para falar abertamente, as proposi&5es principais sobre as quais, como sobre suportes, apoiava-se todo o peso de sua demonstra&o no t)m apar)ncia alguma de verdade, e, se algu +m quiser examin(-las com cuidado, as considerar(, acredito, falsas. Na tentativa de contestar, ent o, o parecer de Arist$teles, afirma entre outras coisas que o ar n o pode movimentar-se no mesmo sentido do +cu lunar; disto se segue que nem por este movimento pode ser acendido, como Arist$teles deduzia. Como, pois, afirma Galileu, aos corpos celestes deve ser atribu $da uma figura perfeit$ssima, ser", ent*o, necess"rio afirmar que a superf$cie c+ncava deste cu esfrica e lisa, sem permitir aspereza alguma; porm, aos corpos lisos n *o aderem nem ar nem fogo; por isso, n *o se movimentar*o com o movimento deles. Ele prova tudo isso com um argumento tirado de uma experi )ncia. Com efeito, afirma ele, fa'ase virar ao redor de seu centro um vaso semi-esf rico liso e sem aspereza alguma; o ar contido n *o se
movimentar" com seu movimento, o que nos mostra uma vela acesa colocada n *o longe da superf$cie interna do vaso, cuja chama n *o se dobra para lado algum com o movimento do vaso; ao contr "rio, se o ar fosse levado junto com o movimento do vaso, levaria consigo aquela chama tambm. At+ aqui fala
Galileu. Nisto voc) poder( encontrar coisas que so aceitas como verdadeiras e outras que no o s o, outras que no s o nem mesmo consideradas verdadeiras e demonstradas falsas. Antes de tudo, se algu+m negar a afirma&o apresentada por Galileu, isto +, que ao c6ncavo lunar deve-se atribuir figura esf+rica e lisa, de que forma poder( ser demonstrado o contr(rio ? Com efeito, se se deve atribuir aos corpos celestes uma forma lisa e redonda, deve-se faz )-lo especialmente para que no resulte impedido seu movimento. Pois, se as superf.cies segundo as quais os orbes esto em contato permitissem alguma aspereza, sem d/vida esta atrasaria seu movimento. Al +m disso, a superf.cie externa do c+u superior, segundo Arist$teles, necessita ser redonda para no deixar surgir um vazio em seu movimento, vazio que se manifestaria se existissem 3ngulos. Por+m, todos esses racioc.nios no possuem for&a alguma neste caso. Com efeito, se esta superf.cie c6ncava no c+u lunar no
+ nem redonda nem lisa, mas (spera, no + tolice alguma, pois ao seu movimento no se pode opor o corpo pr$ximo, seja ele ar ou fogo, e no surge vazio algum, pois sempre + introduzido um corpo no lugar do outro. Al+m disso, se admitimos esta aspereza, muito melhor se conserva a jun&o de todos os corpos m$veis: com efeito, de acordo com o movimento do +cu, movimentam-se os elementos superiores cujos movimentos percebemos gerar cada dia muitas coisas e destruir muitas outras. Na verdade, Galileu, afirmando dever-se atribuir necessariamente aos corpos mais nobres uma forma redonda, desejar( que os homens, muito mais nobres que o c+u, sejam redondos e lisos? Por+m, segundo os or(culos dos s(bios, preferimo-los quadrados. Haveria preferido, ento, afirmar que a cada um fosse melhor atribuir a figura que + mais apta para conseguir sua finalidade. Disto, no sem razo, algu+m poderia concluir assim: portanto, como a concavidade da Lua deve, de certa forma, coligar e juntar estes corpos infe riores 2queles superiores, foi necess(rio fabric(-los (speros e compactos, em vez de lisos. Sem ir mais para a frente, encontramos aqui sempre as mesmas artimanhas de Sarsi. Primeiro, n*o se encontra no texto do Sr. M "rio a afirma'*o, segundo Sarsi feita por n %s, de que a corpos lisos e limpos n*o adere nem ar nem fogo: Sarsi nos imp )e esta falsidade arbitrariamente para abrir caminho 1 teoria, exposta um pouco mais abaixo, de um certo lastro de vidro. Al m disso, Sarsi finge n *o perceber que a nossa afirma '*o relativa 1 concavidade lunar como superf$cie de todo esfrica, lisa e limpa, n *o verdadeira por ser uma hip%tese nossa, mas porque Arist%teles assim afirma bem como os seus seguidores, cuja opini*o contestamos sem aceitar as premissas 57. E, fingindo encontrar no texto do Sr. M"rio aquilo que n*o existe, simula n*o perceber aquilo que muitas vezes repetimos abertamente, isto , que n%s n*o admitimos aquela multiplicidade de orbes s %lidos at agora aceita, mas consideramos difundir-se nos imensos campos do universo uma sutil subst 2ncia etrea por meio da qual os corpos s%lidos mundanos v*o vagando com movimento pr%prio. Mas que estou eu afirmando? Lembro-me agora de que Sarsi havia percebido tudo isto antes, na parte 34, onde afirma: Pois, para Galileu, n o exis-
57
"Ad hominem."
tem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo o sistema do pr$prio Galileu, no encontramos no c+u nada de s$lido5 . N*o pode, assim, o Sr. Sarsi esconder o fato de haver internamente entendido que n %s afirmamos que a concavidade lunar perfeitamente esfrica e lisa, falamos n *o porque a aceitamos como tal, mas porque assim considerou Arist%teles, contra o qual 59 estamos nos opondo. Porque se tiv sseis acreditado ser mesmo a nossa opini *o, nunca ter$eis nos perdoado esta contradi'*o, isto , negar completamente qualquer diferen'a entre orbes e solidez para depois admitir os dois: erro muito mais grave que todos os outros que levastes em considera'*o. Muito v*o , ent*o, todo o restante do vosso racioc$nio, onde vos esfor'ais em provar que a concavidade da Lua deve ser sinuosa e "spera em vez de lisa e limpa; este esfor'o v *o, reafirmo, e n*o vou dar nenhuma resposta. Todavia, quero que (como afirma o grande poeta) "entre n%s se lute como cavaleiros"60, e considerar qual a for'a da sua opini*o. Afirmais, Sr. Sarsi: Se algu+m negasse que a superf .cie c6ncava lunar fosse lisa e limpa, de que forma e com
que meio seria poss.vel afirmar o contr(rio? Acrescentais depois, como se fosse uma prova apresentada pelo advers"rio, um discurso fabricado arbitrariamente e de f "cil confuta'*o. Com efeito, se o advers "rio respondesse e afirmasse: "Sr. Lot "rio, aceitando que os orbes celestes sejam de mat ria s%lida e diversa da concavidade lunar, assevero-vos que necess"rio que esta superf$cie c+ncava deva ser limpa e lisa mais que um espelho: pois, se ela fosse sinuosa, as refra ')es das estrelas vis $veis, chegando at n%s, apresentariam continuamente uma srie de extravag2ncias, como nos acontece justamente quando observamos os objetos externos atrav s de uma janela cujos vidros s *o polidos e alisados, ou atrav s de outra, cujos vidros n*o est*o trabalhados; e seja porque os objetos est*o em movimento ou seja porque movimentamos a vista, as figuras que passam atravs dos vidros lisos n*o sofrem altera'*o alguma, mas passando atravs de vidros n*o trabalhados imposs$vel contar quantas e quais formas extravagantes apresentam; o mesmo aconteceria se a concavidade lunar fosse sinuosa e ficar $amos admirados em ver com quantas mudan'as de figuras, movimentos e situa')es as estrelas fixas ou errantes se nos apresentariam de acordo com a passagem atravs de um ou outro orbe lunar; mas, n*o percebendo diversidade alguma, ent*o a concavidade lisa". O que responder$eis a tudo isto, Sr. Sarsi? Precisar " de muito trabalho para nos persuadir de que este discurso n *o novo para v%s, mas que o considerastes suprfluo, e que n*o me pertence, mas de outros, j" abandonado como obsoleto e superado, e que melhor, enfim, enterr"-lo. Este , pois, o meu racioc $nio para provar que a concavidade lunar lisa e n*o sinuosa. Observamos agora qual o apresentado por v%s para provar o contr"rio, e lembramos que estamos discutindo sobre os elementos superiores, isto , se eles s *o levados ao redor pelo movimento celeste ou n*o (pois este o ponto controverso da conclus*o), isto : "Ar e exala')es n*o podem ser movimentados com o movimento celeste" 61 havendo eu afirmado que o c+ncavo lunar liso e havendo-o provado com a uniformidade das 58
"Cum enim nulli Galilaeo sint caelestes Ptolomaei orbes, nihilque, ex eiusdem Galilaei systemate, in coelo solidi inveniatur." "Ad hominem." 60 "Tra noi per gentilezza si contenda"; uma frase de Ariosto. 61 "Aer et exhalatio ad motum caeli moveri non possunt." 59
refra')es. V%s, provando o contr "rio, afirmais: Se aceitamos que a concavidade + sinuosa, resulta muito melhor
explicada a conexo de todos os corpos m$veis, pois, assim, movimentam-se os elementos superiores de acordo com o movimento celeste. Mas, Sr. Lot"rio, este o erro que os l%gicos chamaram de peti'*o de princ$pio, pois considerais aceito aquilo que colocado como pergunta, e que eu nego j ", isto , que os elementos superiores se movimentem. Possu $mos quatro conclus)es, duas minhas e duas vossas. A minha primeira : "A concavidade lisa" e a segunda: "Por isso os elementos n *o s*o levados em movimento". Que a concavidade seja lisa foi provado por mim atravs das refra')es das estrelas, e a conclus*o clara. A vossa primeira : A concavidade + (spera e a segunda: Leva consigo os elementos. Provais que a concavidade "spera porque assim , e com o movimento dela s*o levados os elementos celestes, e deixais o advers"rio na mesma situa '*o que antes, sem ganhar nada, o que poder" continuar a afirmar que a concavidade n*o "spera nem leva consigo os elementos. Era necess "rio, ent*o, para sair do c$rculo fechado, que tivsseis demonstrado uma das duas conclus)es com outro meio. Nem replique que demonstrastes satisfatoriamente a desigualdade da superf$cie afirmando que assim juntam-se melhor as coisas superiores com as inferiores, pois para junt "-las suficiente uma simples uni *o, e v%s mesmo mais abaixo aceitais a mesma ader ,ncia e uni*o tambm quando a concavidade lisa e n*o
"spera, porque esta prova resultaria superficial demais. Nem a outra teria mais for 'a, se por acaso tivestes a pretens*o de ter provado que levam consigo os elementos superiores, pois por meio deste movimento produzem-se os nascimentos e as mortes, e talvez por causa dele s*o puxados para baixo o fogo e o ar superior, que s *o tambm fantasias fundadas no ar; e muito tarde conseguir $amos nos esquentar se tivssemos que esperar a expuls *o do fogo para a Terra e especialmente que v%s agora mesmo declarastes que ele empurra para cima, e por isto faz for'a, e empurrando, de uma certa forma, adere sempre mais 1 superf$cie da Terra: racioc $nios e discursos infantis, pois aceitam e contestam as mesmas coisas, segundo uma ing ,nua inconst2ncia. 38. Verifiquemos agora com quais outros meios prova no argumento seguinte a mesma conclus*o: Mas devo eu procurar em outras partes argumentos contra Galileu, quando ele mesmo os oferece
abundantemente? Segundo a opinio dele, nada + mais verdadeiro do que a Lua ser n o somente (spera, mas, como uma segunda Terra, possuir seus Alpes, Olimpo, C(ucaso, descer em vales, estender-se em vastas plan.cies, quando sem d/vida montes lunares no podem ser admitidos na Lua. E a Lua no +, por acaso, um corpo celeste muito nobre? Porventura no + muito mais nobre do que o pr$prio c+u, no qual se move como carruagem e que habita como se fosse sua casa? Por que a Lua, ento, no deve ser bem lisa, mas (spera e montanhosa? As pr$prias estrelas no possuem, segundo o testemunho de Galileu, uma figura variada e cheia de 3ngulos? E o que existe de mais nobre entre as subst3ncias celestes? Acrescento que nem mesmo o Sol, se voc) acredita nas apar)ncias, foi agraciado com uma figura t o nobre; pois nele v)emse algumas luzes muito mais claras que em outras partes suas que o mostram a n $s como (spero e de luz no uniforme. Por isso, se o argumento de Galileu no + persuasivo, e + poss.vel admitir que na concavidade lunar existe aspereza, acredito que ningu+m poder( negar que possam ser levados com ela vapores e ar. Galileu, por+m, no provar( facilmente que esta aspereza no pode ser admitida. A este ponto no podemos deixar de lado aquilo que ele escreve na carta n /mero
3, dirigida a Marcus Welser, isto +, que as manchas solares so vapores fumacentos conduzidos em volta pelo movimento do corpo solar. Ento o corpo solar + liso e no poder( levar consigo tais vapores, ou + (spero e montanhoso, e assim o mais nobre dos corpos celestes no + nem esf+rico nem liso. Ademais, na segunda carta ao mesmo Marcus, Galileu afirma: O Sol movimenta seu ambiente ao redor de seu centro: por m o corpo ambiental deve ser muito mais leve que o pr%prio ar. Por isso, se o corpo solar s$lido movimenta-se por causa do movimento de um corpo muito ralo e
leve que se encontra ao redor, n o entendo por que o mesmo c+u s $lido no possa levar consigo, com seu movimento, um corpo que lhe seja inclu.do, o mais leve poss.vel, isto +, a esfera elementar. Antes de continuar, volto a replicar, contra Sarsi, que n*o minha opini *o que o cu, corpo muito nobre, tenha figura muito nobre, isto , uma esfera perfeita, mas opini*o do pr%prio Arist%teles, contra o qual o Sr. M "rio argumenta diretamente.62 Por aquilo que me diz respeito, n *o havendo nunca lido as cr +nicas de nobreza das figuras, n *o posso saber quais sejam as mais ou menos nobres, ou as mais ou menos perfeitas; por m, creio que sejam todas elas igualmente antigas e nobres, ou, para especificar melhor, que n*o sejam mais nobres ou mais perfeitas nem menos nobres e menos perfeitas, a n*o ser pela sua utilidade, isto , que as figuras quadradas sejam mais aptas para as constru')es do que as redondas, e que para movimentar carruagem as figuras esfricas sejam mais aptas que as triangulares. Voltando ao argumento de Sarsi, ele afirma que eu lhe ofereci muitas raz )es para provar a aspereza da concavidade da superf $cie do cu, visto eu mesmo falar que a Lua e os outros planetas (corpos tamb m celestes e muito mais nobres e perfeitos do que o cu) possuem superf$cie montanhosa, "spera e desigual; e se tudo isto for verdade, por que n*o se deve afirmar que esta desigualdade pode-se encontrar tambm na figura celeste? O pr%prio Sarsi pode responder aqui da mesma forma que ele faria com algum que lhe quisesse provar que o mar deveria ser todo cheio de espinhas e escamas porque assim o s *o as baleias, os atuns e outros peixes que o povoam. A pergunta que me coloca, ou seja, qual deveria ser a causa que permite 1 Lua ser lisa e limpa, eu respondo que a Lua e os outros planetas todos, sendo por si mesmos escuros, resplandecem s % devido 1 ilumina'*o do Sol, sendo, assim, necess "rio serem de superf$cie "spera, porque, se fossem de superf$cie lisa como um espelho, n *o chegaria at n %s reflexo algum de luz, eles seriam completamente invis$veis para n%s, e, conseq4entemente, a influ ,ncia deles sobre a Terra resultaria nula, e nula seria a influ,ncia rec$proca,.em suma, sendo cada um nulo por si mesmo, n *o existiriam um para o outro. Ao contr"rio, uma enorme desordem se geraria se os c us fossem feitos de uma subst 2ncia s%lida e limitada por uma superf$cie n*o perfeitamente lisa, porquanto (como relatei mais acima), por causa das refra')es continuamente perturbadas sobre uma superf $cie sinuosa, nem os movimentos dos planetas nem suas figuras, nem as proje ')es de seus raios para n%s, e, por conseguinte, de seus aspectos, poderiam apresentar-se a n%s a n*o ser muito confusos e desregulados. Eis, Sr. Sarsi, uma raz *o muito eficaz para responder 1 vossa pergunta: e como pr,mio por esta resposta, tirais fora de vosso texto aquelas palavras onde afirmais eu haver relatado repetidamente serem as estrelas de figuras diversas e angulares, pois, 62
"Ad hominem."
sabeis muito bem que, em consci,ncia, isto uma mentira, e que nunca afirmei uma tese parecida; aquilo que pudestes entender ou haver lido que as estrelas fixas possuem luz viva e brilhante; assim, o pequeno corpo delas n *o pode ser percebido distintamente por ser circundado de raios de luz t *o brilhantes. A respeito daquilo que Sarsi relata, no final, a prop%sito do Sol e dos vapores fumacentos que se geram e nele se dissolvem e de seu ambiente, nunca afirmei qual dos dois segue o movimento do outro, visto que o desconhe'o, e poderia, por isso, verificar-se tambm que nem o ambiente nem o corpo solar se movimentam, mas que natural para ambos aquela convers*o, a qual conhe 'o bem porque a vejo, isto , que as manchas d*o uma volta inteira cada quatro semanas mais ou menos. Porm, quando se puder ter um exato conhecimento disso, n*o vejo qual seria a sua utilidade na nossa presente discuss*o, onde somente contra Arist %teles63' e raciocinando por hip %teses64, hip%teses 1s vezes at falsas, por causa da grande diferen'a da matria do Sol e do ambiente, estamos procurando se a concavidade lunar s%lida e lisa, como n *o parece ser, andando ao redor (outra teoria falsa), leva consigo a luz, que talvez n*o exista tambm. Acrescente-se outra enorme diferen'a, a qual Sarsi afirma n*o conseguir entender que deveria ser, pelo contr "rio, uma identidade, isto , que igualmente e com a mesma aptid*o e facilidade pode acontecer que um corpo fluido contido dentro de uma concavidade de um corpo s %lido esfrico, que se movimente ao redor, seja levado embora como se o conte-do fosse uma esfera s %lida e o ambiente um l$quido; que seria a mesma coisa algu m pensar que, do mesmo modo que o movimento de um rio leva consigo um navio, assim o movimento do navio deveria levar consigo a "gua de um p2ntano, o que completamente falso: porque, por experi ,ncia, vemos um navio, ou mesmo mil navios, que enchessem um rio inteiro, ser movimentado pelo movimento daquele, mas, ao contr "rio, o curso de um navio impulsionado a uma velocidade qualquer n*o seguido por nenhuma m $nima gota de "gua. A raz*o de tudo isto n*o deveria ser misteriosa, pois n *o se pode for'ar a superf$cie de um navio sem for'ar do mesmo modo a m"quina inteira, cujas partes, sendo s%lidas, isto , bem unidas e ajustadas, n*o podem ser separadas ou diferentes; assim, algumas cedem ao impulso do ambiente externo e outras n*o. Nada disso acontece nem com a "gua nem com outro fluido, cujas partes, n *o possuindo em si for 'a pr %pria interna65 ou for'a de ades*o sens$vel, com muita facilidade separam-se e diferenciam-se; assim aquele vu sutil de "gua, que toca o corpo do navio, suficiente para obedecer ao seu movimento, mas as outras partes mais afastadas, abandonando as mais pr %ximas, e estas as mais pr%ximas ainda, bem perto da superf $cie libertam-se completamente de sua for'a e poder. Acrescente-se a tudo isso que o impulso m %vel impresso conserva-se muito mais tempo e com muito mais for 'a nos corpos s%lidos e pesados, mais que nos fluidos e leves: como podemos observar quando um grande peso, pendendo de uma corda, conserva por muitas horas o impulso e o movimento dados uma vez s %; 63
"Ad hominem." "Ex suppositione." 65 Colocando uma for 'a interna nos elementos, torna-se sempre mais evidente que Galileu pertence ao grupo dos fil %sofos naturalistas, isto , animistas. 64
e, ao contr"rio, quando se quer agitar o ar de um quarto fechado, cessando o impulso que o movimenta, permanece im%vel completamente, sem reter o impulso. Quando, ent*o, o ambiente e o movente s*o l$quidos, e fazem for'a sobre um conte-do s%lido, encorpado e pesado, est " se imprimindo um movimento sobre um sujeito apto a receb,-lo e conserv"-lo por muito tempo; pois um segundo impulso que chegue encontra ainda o movimento impresso do primeiro, o terceiro encontra o impulso do primeiro e segundo, o quarto junta-se ao movimento do primeiro, segundo e terceiro, e assim por diante, onde o movimento do m %bil n *o permanece somente conservado mas tamb m aumentado: porm, quando o m%bil l$quido, sutil, leve e, por conseguinte, impotente para conservar o j" impresso, pois tanto o movimento que se imprime quanto aquele que se perde, querer imprimir-lhe velocidade trabalho v*o, como seria v *o querer encher a peneira das Belidas, que derrama tanto quanto se enche.66 Eis demonstrada, Sr. Lot "rio, a grande diversidade que se encontra nestas duas opera')es que vos pareciam uma coisa s%. 39. Passemos agora ao terceiro argumento: Concedemos a Galileu que a superf.cie interna deste orbe seja
lisa e redonda: nego que o ar n o possa aderir aos corpos leves. Com certeza a l 3mina de vidro B colocada sobre a (gua, apesar de bem lisa, n o boiar( menos que se fosse de outra mat+ria mais (spera, e o ar aderente a ela reter( a (gua A C, que se movimenta ao redor do vidro para que no deixe afundar a l3mina. Por que, ento, o ar no se afasta dela quando
+ impulsionada para longe da l3mina de vidro pelo peso da (gua que desce, mas adere com for&a a ele n o d( lugar, a no ser impulsionada por uma for&a maior? Al+m disso, se algu+m, havendo encontrado uma prancha de m (rmore bem lisa, colocar-lhe em cima outro corpo pesado, igualmente liso, depois movimentar de todos os lados a prancha de baixo, perceber( que estar( levando consigo tamb+m o corpo sobreposto; todavia, se se tirar o peso com o qual aquele corpo se ap$ia sobre a t(bua, ele no permanecer( aderente. Aquilo que obriga, ent o, o corpo sobreposto a movimentar-se com o movimento da prancha + a compresso com a qual o peso faz press o sobre a prancha posta embaixo, p6r-do-sol como cada um dos corpos + comprimido pelo outro, obrigando cada um a movimentar-se com o movimento do outro, assim, afirmo que a concavidade da Lu a, de uma certa forma, + comprimida pelo ar ou pelas ex ala&5es inclu.das, se ficarem rarefeitas, como acontece sempre: com efeito, quando se rarefazem, desprezando a limita &o do lugar anterior, expandem-se em um espa&o muito maior e impulsionam, segundo a pr $pria possibilidade, todas as partes dos corpos que formam o ambiente, e por isso as do pr$prio c+u, se alguma se opuser 2 dilata&o. No + necess(rio, ento, admirar-se que da compresso nasce alguma adeso que Junta e amarra estes dois corpos, e assim movimenta ambos com um /nico movimento. Sarsi continua nesta sua fantasia, querendo afirmar que eu tambm aceitei que o ar n*o adere aos corpos Usos, o que n *o foi dito nem por mim nem pelo Sr. M"rio. Ademais, eu n *o entendo bem o que ele queria significar por ader,ncia. Se ele entende uma c%pula que resiste 1 separa'*o de tudo e divide-se da outra superf$cie, e que n*o se toquem, afirmo que esta ader,ncia existe e muito grande, que, por exemplo, a superf$cie da "gua n*o se dividir" da superf$cie de uma prancha de cobre ou de outra matria a n*o ser por uma grande for 'a, neste caso n*o tem import2ncia se esta superf$cie seja ou 66
Segundo a mitologia, as Danaides, da estirpe de Belo, deviam, por puni '*o, encher de "gua uma peneira ininterruptamente.
n*o limpa e lisa, sendo suficiente um estranho contato: contato que os segura juntos t *o ajustados que
1s vezes as partes dos corpos s %lidos e duros n*o possuem outro gl-ten a n*o ser isto; porm, esse tipo de ader,ncia n*o de utilidade alguma para Sarsi. Mas se ele entende uma conjun '*o na qual as duas superf$cies, isto , a s%lida e a -mida, n*o possam, mesmo tocando-se, movimentar-se uma contra a outra, como seria necess "rio para Sarsi poder provar, afirmo que uma ader,ncia semelhante n *o existe entre s%lido e l$quido e nem mesmo entre dois s%lidos. Vemos, assim, que, em dois m "rmores planos e bem lisos, a primeira ader ,ncia tanta que levantando um o outro vai junto, mas o segundo tipo de ader,ncia t*o fraco que, se as superf $cies em contato n *o se encontrarem bem eq4idistantes do horizonte, mas um pouco inclinadas mesmo como um fio de cabelo, o m "rmore inferior logo descer " para a parte inclinada; e, ao movimentar-se uma superf $cie sobre a outra, n *o se encontrar " resist,ncia, mesmo que se haja percebido uma resist ,ncia muito grande querendo-as destacar e separar. Assim, a jun'*o de "gua com o barco, mesmo produzindo enorme resist,ncia para quem quisesse separar as duas superf$cies, encontraria, mesmo assim, m$nima resist,ncia em movimentar uma superf $cie sobre a outra, fazendo-a escorregar; e, como afirmei mais acima, o navio movido a grande velocidade n *o leva mais nada consigo a n *o ser aquele vu de "gua que o toca, 1s vezes pode acontecer que se dispa desta "gua para vestir-se com outra sucessivamente. Aposto que Sarsi aceitar " que, colocando-se no mar um navio molhado com vinho ou tinta, depois de ter percorrido uma meia milha, n *o ficar" vest$gio do primeiro l$quido que o circundava; podemos admitir que isso aconte'a igualmente com a "gua que o toca, isto , que continuamente vai mudando: e o sebo que envolve o navio inteiro, mesmo muito firme, depois de pouco tempo levado pela "gua que lhe escorrega em cima; o que n *o aconteceria se a "gua em contato com o navio permanecesse sempre a mesma, sem mudar.
No que diz respeito 1 prancha de vidro que b%ia entre duas pequenas represas, afirmo que estas represas n*o se sustentam pela ader ,ncia do ar com a prancha que n *o deixa escorrer a "gua sobre a mesma; pois, se fosse assim, deveria acontecer o mesmo se coloc "ssemos na "gua a mesma prancha um pouco -mida, porque n*o acredit"vel que a "gua possa aderir menos a uma superf$cie -mida que a uma superf$cie seca; todavia, percebemos que, quando a prancha -mida, o represamento n*o se realiza, mas a "gua desliza sobre a prancha. As represas, ent *o, formam-se por causa da ader ,ncia do ar sobre a superf$cie da prancha: e podemos perceber com freq4,ncia grande parte da "gua sustentar-se em abund2ncia particularmente sobre folhas de repolho e outras ervas, em camadas muito mais altas das das represas que se formam ao redor da prancha da qual demos um exemplo. Por -ltimo, quando ele afirma que comprimir ou pesar, sem outra for 'a que permita ader,ncia,
suficiente para que um corpo siga o outro, conforme o exemplo que ele nos oferece, isto , das pedras lisas colocadas uma sobre a outra, das quais a superior que comprime segue o movimento da inferior
levada em algum lugar, eu aceito a experi,ncia, mas n*o percebo o que ela tem a ver com a nossa argumenta'*o: primeiro, porque n%s estamos discutindo sobre um corpo l $quido e sutil, cujas partes n*o possuem tanta conex *o que ao movimento de uma deva seguir o movimento do conjunto, como acontece num corpo s %lido; segundo, Sarsi, superficialmente demais, prova que o fogo, o ar e as exala')es contidas dentro da concavidade lunar produzem um impulso e pesam sobre a superf $cie desta concavidade, enquanto introduz, como causa da compress *o, uma rarefa'*o cont$nua destas subst2ncias, as quais, dilatando-se, e por isso procurando sempre espa'o maior, produzem uma for'a que age contra seu recipiente, ficando assim, de certo modo, presas a este recipiente, seguindo seu movimento. Este discurso verdadeiramente superficial, porque, quando Sarsi afirma com certeza que as subst2ncias contidas se rarefazem e se dilatam continuamente, o advers "rio, com n*o menor raz*o (digo n*o menor, porque Sarsi n*o aduz raz*o alguma), afirmar" que elas v*o continuamente se juntando e se restringindo. Mas, aceitando que elas se rerefa 'am continuamente e disto nas 'a a conjun'*o 1 concavidade e, enfim, o movimento em conjunto, podemos acreditar que mil anos atr "s, quando a refra'*o era considerada uma utopia (como ainda agora Sarsi considera), o movimento em conjunto n*o devia existir, faltando a causa que o produzia. Com efeito, n*o existe nada que me impe'a de dizer para Sarsi que esta sua rarefa'ao, que se produz continuamente, n*o ainda t*o forte assim para obrigar e fazer press*o sobre a concavidade lunar, mas poder " alcan'ar isto daqui a dois ou tr,s anos; e neste tempo, concordo em aceitar que a esfera dos elementos superiores come 'ar" a movimentar-se, mas por enquanto conceda-me Sarsi aceitar que ela ainda n *o se moveu. N*o gostaria que, se Sarsi, por acaso, considerasse este tipo de resposta como rid $culo, come'asse a rir, pois ele mesmo que nos d" motivo, esquecendo tambm em sua publica '*o que algumas subst2ncias materiais se rarefazem e se dilatam perpetuamente. Mas eu quero ajudar o pr %prio Sarsi e mostrar-lhe um ponto a seu favor, ensinando-lhe que esta rarefa 'ao eterna e press*o contra a concavidade da Lua suprflua, logo que ele consiga demonstrar que o ar levado consigo com o balde, sobre o qual n*o se comprime e n*o pesa absolutamente, sendo ele colocado na mesma regi*o que o ar. 40. Mas observemos quanta verdade est( contida no experimento sobre o qual funda-se especialmente a opini o
de Galileu. Se uma gamela, afirma ele, se movimenta ao redor de seu centro e eixo, o ar incluso n *o indo atr"s dele, pelo contr "rio permanecendo parado, n *o levado a parte alguma. Uma vez chegara ao meu
conhecimento, por meio de pessoas .ntimas de Galileu, que ele tinha o costume de afirmar a mesma coisa em rela&o 2
(gua contida na gamela, isto +, ela tamb+m no se movimenta com o movimento do vaso. A prova era que, havendo colocado sobre a (gua parada dentro do vaso um corpo leve e com possibilidade de boiar, por exemplo, um pequeno pau, ou um pequeno cani&o, perto da orla da gamela, fazendo depois o vaso girar, o cani&o permanecia sempre no mesmo lugar. Sei por certo que esta e outras experi)ncias deram muito valor 2 intelig)ncia de Galileu que, por meio de coisas de muito pouca import3ncia, bem 2 vista de todo mundo, com enorme faci lidade levava os homens ao conhecimento de coisas tremendamente dif.ceis. No quero diminuir-lhe a import 3ncia deste merecimento: por+m, no que diz respeito 2 presente discusso, encontrei serem falsas as duas experi )ncias (perdoe-me, Galileu, mas estou afirmando a verdade). Com efeito,
acredito que se ele fez virar a gamela s$ uma ou duas vezes para no fazer perceber o movimento da (gua, por+m, se continuasse a vir(-la, ento compreenderia realmente se a (gua se movimentaria com o movimento da gamela ou se permaneceria parada. O cani&o ou pauzinho colocado sob a (gua, se no for colocado muito longe da orla da gamela, virar( com muita velocidade, e mesmo que a gamela pare o cani&o continuar( a movimentar-se, e poder-se-( ver que a (gua e os corpos colocados em cima, por causa do impulso recebido, continuaro virando por muito tempo, mesmo que com sempre maior lentido. Na verdade, ningu+m, cogita que realizamos estas experi )ncias descuidadamente, pois explico que pegamos um vaso semi-esf+rico de metal I escavado habilmente com o torno e procuramos fazer que virasse ao redor de um eixo CE, unido 2 pr $pria gamela, e assi m passasse por seu centro, comose, prolongado, tivesse a forma de eixo esf +rico; constru.mos uma base bem est(vel, para que no fosse movimentada com o movimento do vaso, e havendo feito passar o eixo pelo buraco E, e apoiando-o no suporte na parte mais baixa, fixamo-lo verticalmente: assim, virando o eixo com a mo, necessariamente a gamela movimentava-se com o mesmo movimento. Na verdade no s$ a (gua se movimenta com o movimento do recipiente mas o ar tamb+m, que + o exemplo dado por Galileu. Tudo isto demonstra que a chama da vela, colocada pr$xima da superf.cie do vaso, dobra-se com pequeno desvio na mesma dire&o onde se movimenta o recipiente. Tudo isto + demonstrado com muito maisclareza pela folha de papel A, suspensa por uma sutil linha de seda, da qual um lado encontra-se perto da superf.cie interna do vaso. Com efeito, se movimentarmos agora a gamela de um lado, o papel tamb+m virar( na mesma dire&o; e, se virarmos a gamela na parte oposta com rec.proca rota&o, levar( consigo a folha de papel na mesma dire&o sua com o ar que lhe adere.
E desta verdade e certeza tenho muitos s(bios testemunhos: antes de tudo, muitos padres do Col +gio Romano; entre outros, todos aqueles que quiserem conhecer o que aprendi do meu mestre , e foram muitos. No quero passar sob sil)ncio o nome daquele que, famos.ssimo por seus conhecimentos como por sua nobreza, pode enaltecer-me, bem como minhas teorias, e testemunhar minhas palavras; isto +, Virginio Cesarini67, que muito se admirou como uma coisa, at+ aquele momento considerada verdadeira por muitos, pudesse ser arg4ida como falsa com tanta certeza; e, contudo, assistiu
2 realiza&o daquilo que a maioria negava poder ser realizado. Tudo isto foi demonstrado por experi)ncia, mas, mesmo que no houvesse sido experimentado nunca, a razo o haveria provado. O ar e a (gua, sendo da natureza dos corpos /midos, cuja caracter.stica + aderir aos pr$prios corpos lisos, no podero nunca aderir 2 superf.cie do vaso; por isso, se admitirmos esta ades o, + necess(rio admitir tamb+m o
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5 o mesmo D. Virginio Cesarini da dedicat %ria.
movimento dos corpos/midos. Primeiro, com efeito, a parte que toca o recipiente movimentar-se-( com o seu movimento, do mesmo modo daquela que adere ao vaso; segundo, esta parte movimentada desta forma levar( consigo aquela que lhe adere; esta segunda parte levar( uma terceira, etc; e, pois, que este movimento apresenta quase uma espiral, n o + de admirar-se que com uma ou duas voltas da gamela no foi percebido o movimento da (gua; porquanto as primeiras partes desta espiral encontram-se muito perto da superf.cie do recipiente e por isso o movimento n o se espalhou nas partes mais internas, pois elas se rarefazem, e por isto no seguem logo o movimento daquela parte que as leva consigo. No se admire ningu+m se o movimento do ar, nessas nossas experi)ncias, mostre ser m.nimo, m(ximo em vez o da (gua. Com efeito, o ar ficando rarefeito enquanto a (gua se condensa mais, mesmo que o ar, pelo movimento do vaso ao qual ele est ( aderindo, movimente-se com mais facilidade, todavia no leva consigo com a mesma facilidade o ar pr$ximo, pois + segurado pela for&a das outras partes do ar parado, e com uma pequena compresso ou rarefa&o pode, por breve tempo, iludir a for&a do ar que o leva consigo. Contudo, aquele que queira experimentar com mais clareza se um corpo esf+rico virando leva consigo o ar, mande virar o globo A, por exemplo, sust entado sobre seus p$los B e C, com um eixo D, e suspenda um papel 2 linha sutil E, assim de modo que chegue quase em contato com o globo: quando se iniciar a rota&o da esfera para um lado, o papel F movimentado pelo ar + levado na mesma dire&o, especialmente se o globo for suficientemente amplo e for girado com muita velocidade. E o fato de que, seja na gamela, seja na esfera, percebemos muito pouco o movimento do ar, no poder( levar ningu+m a deduzir que na concavidade da Lua o mesmo movimento ser( muito pequeno; porque, entre outras, existe esta razo para o pequeno movimento do ar na esfera A e na gamela I em movimento; sendo a gamela e a esfera colocadas todas no ar, sendo movimentado o ar circunstante pelo movimento delas, resulta ser sempre menor a velocidade daquele que d( o movimento em rela&o 2quele que recebe. Com efeito, por exemplo, se, por causa do movimento da esfera A, a superf.cie BC deve movimentar o ar que lhe adere, expressa pelo c.rculo D, sendo ele maior do que o c .rculo BC, o maior dever( ser movimentado pelo menor: o mesmo acontecer( quando o c.rculo D levar consigo o c .rculo E. Por+m, na concavidade da Lua encontramos tudo isto ao contr(rio, sendo sempre maior a velocidade daquele que movimenta que do que + movimentado. Com efeito, coloque-se a Lua no c.rculo E, movimentando D que deve movimentar BC: sempre aquele que movimenta resultar( ser maior do que aquele que + movimentado, facilitando assim o movimento, que igualava o movimento da pr$pria gamela, mesmo que muito veloz: ento voc) poder( entender que todas as vezes que o motor for maior que o receptor, o movimento resultar( mais f(cil: com efeito, colocada sobre a gamela uma tampa AB, a superf .cie interna da gamela e da tampa com o movimento das quais o ar + movido + maior que o ar que deve ser movimentado, porque aquela superf.cie + recipiente e o ar + um conte/do.
Enfim, eu repeti o mesmo experimento, com o mesmo resultado, com uma esfera de vidro A, exata o mais poss.vel, furada s$ na extremidade C, para ser-lhe introduzida a l 3mina I. Colocada esta esfera sobre o eixo BD efeito girar o eixo, no s$ a esfera A mas tamb+m a l3mina I suspensa, apesar de se encontrar muito distante da superf .cie interna da esfera, foi percebida movimentar-se com muita ra pidez. Pensei, assim, no dever poupar esfor&o algum para provar com o maior n/mero de experimentos poss.veis esta teoria, da forma mais cuidadosa. Estas /ltimas experi)ncias foram presenciadas pelas pr$prias pessoas acima citadas, assim no h( necessidade de cham(-las outra vez como testemunhas. Achei melhor lembrar tamb +m que todas estas experi)ncias foram realizadas durante o vero, tempo em que o ar + mais quente e tamb+m mais seco, e por isso encontra-se mais perto da natureza do fogo, elemento que entre todos os outros Galileu considera o menos adequado para aderir. 68 Por tudo isso pode-se concluir que, seja a (gua, seja o ar, movimentam-se com o movimento da gamela e que o ar aderetamb+m aos corpos lisos, movimentando-se com o movimento deles; o que Galileu negou. Sarsi entra agora no abundante aparato de experi ,ncias para confirmar suas teorias e destruir as nossas. E como estas experi ,ncias foram realizadas em presen'a de V. E. Ilustr$ssima, eu confio no senhor, devendo esperar a respeito seu julgamento em vez de fazer o meu. Por m, se for de seu agrado, poder" continuar lendo aquilo que resta at o fim de nossa exposi '*o, porque eu simplesmente tocarei parceladamente em assuntos caracter$sticos e interessantes. Primeiro, a teoria que Sarsi procura me atribuir com sua primeira experi ,ncia falsa, visto que nunca afirmei que a "gua contida na gamela permane 'a, assim como o ar, im %vel enquanto o recipiente 68
Os termos latinos que Sarsi usa s *o "aptum adhesioni", supondo, como os outros fil %sofos da poca, uma for'a empolgante, interna e espec$fica que permita atua'*o de cada elemento. 5 uma das teorias b "sicas da filosofia animista.
se movimenta. N*o me admiro, porm, de que ele o tenha escrito, pois, se algu m anda referindo coisas escritas e publicadas por outros em sentido contr "rio, l%gico admitir que ele altere aquelas que ele afirma haver s% ouvido indiretamente. N*o parece que esteja dentro dos limites da educa '*o publicar coisas ouvidas por outros, especialmente quando, ou por n *o haver entendido bem, ou por pr %pria escolha, ele as relata de forma muito diversa daquilo que foi falado, como acontece neste caso. 5 assunto meu, Sr. Sarsi, e n *o vosso ou de outros, publicar minhas teorias e faz ,-las conhecer ao mundo; por que, quando (como acontece 1s vezes) algum durante um racioc$nio afirma alguma teoria n*o muito exata, deve existir logo algu m que tome nota e publique, privando-o do benef $cio do tempo e poder pensar melhor sobre o assunto, a fim de corrigir sozinho seu erro e mudar de opini *o, em suma, usar o talento de seu c rebro e de sua pena? Aquilo que Sarsi pode haver escutado, e pelo que vejo n*o muito bem entendido, uma determinada experi,ncia que eu mostrei a alguns s "bios em Roma, e 1s vezes na sala de V. E. Ilustr$ssima mesmo, em parte afirmando e em parte confutando um terceiro movimento atribu$do por Coprnico 1 Terra. Esta hip%tese parecia improv"vel a muitos e parecia perturbar toda a organiza'*o do sistema copernicano, isto , o terceiro movimento anual que ele atribui ao globo terrestre ao redor do pr %prio centro, ao contr"rio de todos os movimentos celestes, os quais, sendo considerados todos, quer os movimentos exc ,ntricos, quer os epic$clicos e tambm o diurno e o anual desta Terra, procedem no orbe magno de poente para levante, enquanto s % este movimento parecia realizar-se na pr%pria Terra de oriente para ocidente, contrariante aos outros dois particulares e contra todos os movimentos de todos os outros planetas. Eu tinha por costume remover esta dificuldade demonstrando que um tal fen+meno n*o s % podia verificar-se mas estava de acordo com a natureza e era quase necess"rio; e qualquer corpo colocado e sustentado livremente em um ambiente leve e l$quido, levado ao redor da circunfer,ncia de um c$rculo, convergir" espontaneamente sobre si mesmo, ao contr"rio do outro grande movimento. Isto podia ser verificado pegando um recipiente cheio de "gua e colocando nele uma b %ia; pois estendendo nosso bra'o e virando sobre nossos p s, percebemos imediatamente esta b%ia virar em dire'*o contr"ria 1 nossa e terminar sua convers *o no momento que terminamos a nossa. Assim, ningu m deveria se admirar por isto. pelo contr "rio, deveria se admirar se isto n*o acontecesse, sendo a Terra um corpo suspenso, e suspenso num meio l $quido leve, e levada ao redor de uma circunfer,ncia no espa 'o de um ano, ela n*o tivesse natural e livremente adquirido uma convers*o anual, tambm em si mesma, contr"ria 1 outra. Eu relatava isto para demonstrar prov"vel o sistema de Coprnico: acrescentando depois que, quem raciocinasse corretamente, conhecia ser falsa a atribui '*o copernicana de um terceiro movimento atribu$do 1 Terra, pois n*o era um movimento, mas um n*o movimento, e em repouso; porque verdade que a quem segura o recipiente parece movimentar-se em rela '*o a si mesmo e em rela '*o ao vaso, e a b %ia parece girar sobre si mesma; mas a mesma b %ia em rela'*o aos muros da sala e 1s coisas externas, n*o gira nem muda de inclina'*o, mas qualquer um de seus pontos que no in$cio encontravam-se frente a um termo de compara'*o externo marcado sobre a parede em algum outro lugar mais afastado, sempre encontrar-
se-iam na mesma rela'*o. Isto o que eu afirmei: isto, como V. E. Ilustr $ssima pode perceber, bem diferente do relatado por Sarsi. Esta experi ,ncia, e talvez alguma outra, pode dar ocasi*o, a quem se encontrou muitas vezes presente aos nossos discursos, de falar de mim aquilo que Sarsi falou, isto , que por um talento natural meu procuro explicar com exemplos f "ceis e claros coisas dif$ceis e ocultas, cujo elogio Sarsi n *o me nega de todo, mas, evidentemente, s% em parte; e por isto devo agradecer sua cortesia mais que sua aceita'*o, porque n*o me parece ser daqueles que com muita facilidade deixam-se persuadir por meus f"ceis exemplos, pois ele mesmo, considerando que o texto do Sr. M "rio fosse o meu, afirma no fim do exame anterior que aquele texto havia sido escrito com palavras t *o obscuras que n*o conseguiu adivinhar o significado. Como j" falei, em rela'*o a experi,ncias realizadas por Sarsi, entrego-me a V. E. Ilustr $ssima que as viu, e unicamente confutarei aquela j " relatada pelo Sr. M"rio na sua carta, depois de haver raciocinado um pouco sobre algumas causas que Sarsi faz derivar das experi ,ncias: causas que eu haveria pago para n*o serem relatadas, para manter a ele um certo respeito e a seu Mestre tamb m, se fosse verdade ser disc$pulo deste Mestre como afirma. Sr. Sarsi, que extravag 2ncias publicais? Se n *o houver um erro de imprensa, vossas palavras s *o estas: Veja-se que todas as vezes que o movente for maior que
o movido, ento muito mais f(cil ser( o movimento: colocando, com efeito, uma tampa AB sobre o recipiente, a superf .cie interna da gamela e da tampa tamb+m, com cujo motor o ar se movimenta, + maior que o ar que deve ser movimentado: com efeito, aquela superf.cie + um recipiente e o ar + um conte/do. Por favor, respondei-me, Sr. Sarsi, a superf $cie da gamela e da tampa, com o que a comparais, com a superf$cie do ar contido ou com o pr%prio ar, isto
, com o corpo areo? Se com a superf$cie, falso que a primeira seja maior que o segundo, porque elas s*o iguais, conforme o axioma de Euclides: "Coisas que se correspondem s *o iguais"69. Mas se comparais a superf$cie recipiente com o pr %prio ar, assim como parece, errais duas vezes: primeiramente, porque comparais duas quantidades de qualidades diferentes, por isto n*o compar"veis entre si como afirma outra vez Euclides: "Uma rela '*o se passa entre duas grandezas do mesmo g ,nero"; e n*o entendeis que aquele que afirma: "Esta superf $cie maior do que aquele corpo" comete o mesmo erro daquele que afirmasse: "A semana maior que uma torre" ou "O ouro mais pesado que uma anota'*o"? O outro erro o encontramos no fato de que, mesmo que fosse poss $vel proceder a uma compara'*o entre uma superf$cie e um s%lido, o assunto resultaria ser oposto a tudo aquilo que afirmais; pois n *o seria a superf $cie maior que o s %lido, mas o s %lido mil vezes maior que ela. Sr. Sarsi, n*o vos deixeis levar por semelhantes fantasias, porque nem mesmo a proposi '*o geral de que o recipiente maior que o conte-do pode ser tomada sem relacionar duas quantidades compar"veis entre elas. Dever$eis afirmar que, a prop%sito de um saco de l*, o saco ou o inv%lucro deve ser maior que a l* contida, por ser esta um conte -do e o outro um recipiente; e, sendo da mesma mat ria, o saco dever " pesar tambm mais. por ser maior. Eu estou certo de que vos equivocastes sobre uma teoria que verdadeira quando tomada em seu verdadeiro sentido, isto , que o recipiente maior que o conte -do 69
"Quae mutuo congruunt sunt aequalia.'
todas as vezes que se leve em considera'*o o recipiente junto com o conte-do: por exemplo, um quadrado tra'ado ao redor de um c$rculo maior do que este c $rculo, levando em conta o quadrado inteiro; mas se fazeis refer,ncia s% 1quilo que sobra do quadrado, subtraindo o c $rculo, este n*o resulta ser maior mas menor, apesar de o quadrado o conter. Mas n *o estou percebendo o tempo que passa? E continuo gastando meu tempo nestas infantilidades? Contra todas as experi,ncias de Sarsi, V. E. Ilustr$ssima poder" fazer colocar a gamela que gira sobre o pr %prio eixo; e para verificar o que acontece em rela '*o ao ar contido, enquanto gira com velocidade sempre maior, tomem-se duas velas acesas, e coloque-se uma dentro do vaso a uma dist2ncia de dois ou tr,s dedos da superf$cie, e guarde-se a outra na m *o, porm tambm dentro do vaso, a uma mesma dist2ncia da superf$cie; gire-se depois o recipiente com grande velocidade; se o ar se movimentar por um certo tempo de acordo com o vaso, sem d -vida, movimentando-se o vaso, o ar contido e a vela grudada dentro, tudo com a mesma velocidade, a chama da vela n *o se inclinar " para canto algum mas permanecer " im %vel (como acontece quando algu m corre com uma lanterna dentro da qual h" uma vela acesa, que n*o se apaga, n*o se dobra se o ar do ambiente movimentar-se com a mesma rapidez; efeito que pode ser percebido mais claramente no navio que se movimenta a grande velocidade, onde as luzes n *o mostram movimento algum mas encontram-se no mesmo estado navio); porm, a outra vela parada nos deixar " perceber o movimento do ar, que, chegando a ela, a dobrar ". Mas se o fen+meno transcorrer diferentemente, isto , o ar n *o seguir o movimento do vaso, a vela parada guardar" sua chama reta e im%vel, enquanto a outra, levada pelo movimento do vaso, chocandose contra o ar parado, dobrar-se- ". Contudo, nos experimentos dos quais participei sempre observei que a chama parada permanecia reta e im %vel, em vez, a outra, grudada no vaso, dobrava-se sempre e
1s vezes apagava-se: e a mesma coisa poder" observar V. E. Ilustr$ssima e qualquer outro que queira experimentar. Julgue agora, V. E. Ilustr$ssima, aquilo que deve ser falado em rela'*o ao ar. O mais que possa ser deduzido das experi,ncias de Sarsi que uma bem sutil parte de "gua, da grossura de um quarto de dedo cont$gua 1 concavidade do recipiente, levada ao redor do vaso; isto suficiente para demonstrar todas as hip %teses relatadas por Sarsi, e pode ser causa de tudo isto ou a aspereza da superf$cie, ou uma cavidade determinada, ou uma proemin ,ncia maior de um lugar que de outro. Mas, mesmo que a concavidade da Lua levasse consigo um dedo de profundidade das exala ')es contidas, o que quer demonstrar Sarsi? N *o acredite, por favor, que, se a gamela possui um meio dedo de profundidade, um vaso maior seja mais profundo; pelo contr "rio, acredito que ele possua uma profundidade menor; da mesma forma, n*o acredito que a velocidade m"xima com a qual esta concavidade lunar atravessa a circunfer,ncia inteira, em mais ou menos vinte e quatro horas, deva ser mais r"pida; pelo contr "rio, atrevo-me a afirmar que quase poderia ver, por imagina'*o, o seu movimento mais vagaroso que aquele que poderia fazer uma gamela que igualmente em vinte e quatro horas efetuasse um movimento de revolu'*o. Mas aceitemos a hip %tese de Sarsi de que a concavidade lunar leve consigo quanto foi afirmado da exala '*o contida: o que acontecer " depois? E o que ser"
contr"rio " opini*o do Sr. M"rio? Ser" verdade que a matria do cometa pode iluminar-se por causa deste movimento? Ou ser" verdade que n*o se iluminar" nem movimentando-se nem permanecendo im%vel? Assim acredito eu, porque, se tudo permanece parado, n*o se provocar " a ilumina'*o por meio da qual Arist%teles afirma a exist,ncia do movimento; mas, se tudo se movimenta, n*o existir" atra'*o nem fric'*o sem as quais n *o possuiremos calor nem ilumina '*o. Mas eis que tanto Sarsi como eu gastamos tantas palavras procurando saber se a concavidade s %lida do orbe lunar, que n*o pertence ao nosso mundo, movimentando-se ao redor, quando a Lua nunca se movimentou, leva consigo o elemento fogo, que desconhecemos existir l ", e com ele as exala')es que, por causa dele, deveriam iluminar-se e dar o fogo 1 matria do cometa, que n*o sabemos se existe naquele lugar e que sabemos, em vez, n*o ser um elemento que possa queimar. Aqui Sarsi me faz lembrar as palavras espirituos$ssimas daquele poeta: "Pela espada de Orlando que n*o possuem e que provavelmente n*o possuir*o nunca batem-se uns aos outros feito loucos".70 Mas hora de examinar a segunda proposi'*o; e, antes de faz,-lo, pois Sarsi afirma no fim dela que sempre neguei que a "gua se movimenta com o movimento do recipiente e que o ar e os outros corpos leves podem aderir aos corpos lisos, mais uma vez respondemos que ele n *o afirma a verdade, porque nunca, nem o Sr. M "rio, nem eu, falamos ou publicamos alguma coisa neste sentido, mas Sarsi, n*o sabendo onde se apoiar, fabricou alguns suportes para ele. 41. Examine agora, V. E. Ilustr $ssima, a segunda proposi '*o: Arist$teles afirma que o movimento +
causa de calor: esta hip $tese + explicada por todo mundo no sentido de que no se deva atribuir ao movimento o calor como efeito particular seu (com efeito, ele + um aumento do espa&o), mas porque, devido ao movimento local, os corpos se esfregam e o atrito gera calor, e por isso, ao menos em sentido mediato, afirmamos que o mo vimento gera calor. No existe motivo para que Galileu reprove Arist$teles por causa disso, pois n o relata nada de diverso das afirma &5es do outro. Quando afirma que no + suficiente qualquer atrito para produzir o calor, mas + necess(ria uma fort.ssima fric&o assim que se gaste alguma parte dos corpos esfregados, esta afirma&o + de Galileu e de nenhum outro. Com efeito, por que seria necess(rio este gasto de partes para produzir calor? Seria porque para produzir calor + necess(rio que os corpos se rarefa&am, e por cada rarefa &o os mesmos corpos parecem diminuir e algumas pequenas partes somem? Mas os corpos podem rarefazer-se sem separa&o alguma de partes, e por isto sem gasto. Ou precisamos desta diminui&o porque, sendo as part.culas mais pr$prias para conceber o calor, devem antes ser esquentadas e depois fornecer o calor ao restante do corpo? De modo nenhum; mesmo sendo pequen.ssimas, aquelas partes pr$prias para conceber o calor, assim como muitas vezes o p$ provocado pelo esfregamento do ferro torna-se fogo, logo que se separam no podem mais fornecer calor ao corpo ao qual no aderem. Sarsi quer, no come'o desta sua teoria, concordar com o Sr. M"rio e Arist%teles, mostrando que ambos chegaram 1 mesma conclus*o, porque um afirma que o movimento causa de calor e o outro 70 "Per la spada d'Orlando, che nom 1nno / e forse non son anco per avere / queste mazzate da ciechi si danro/." 5 uma parte do Orlando Apaixonado (Orlando Innamorato), de Bojardo.
afirma que n*o o movimento mas atrito de dois corpos s%lidos. E porque a teoria do Sr. M "rio verdadeira nem necessita de notas, Sarsi quer interpretar a outra afirmando que, aceitando que o movimento, como movimento, n*o causa de calor, mas o atrito; porm, n*o existindo atrito sem movimento, podemos afirmar que mesmo secundariamente o movimento causa de calor. Mas se sua inten'*o foi esta, por que Arist %teles n*o falou a palavra atrito? N*o entendo por que, quando um pode aplicar com palavras precisas e simples, deva utilizar uma palavra impr%pria e limitada que pode srcinar um equ$voco. Ademais, mesmo que tivesse sido este o sentido de Arist%teles, igualmente diferente do do Sr. M"rio, porque para Arist %teles suficiente qualquer atrito de corpos, mesmo leves e sutis, at o pr%prio ar; mas para o Sr. M "rio necess"rio que os corpos sejam s %lidos, considerando que querer moer o ar seja uma perda de tempo muito maior do que aquela de quem queira (como afirma o ditado) moer a "gua com um pil*o. Posso at admitir que esta teoria seja verdadeira, mesmo no sentido literal das palavras; e talvez poderia ela ter sa $do de alguma boa escola da Antig 4idade, mas Arist%teles, n*o havendo entendido bem o racioc $nio dos antigos, acredito que deduzisse conclus )es falsas. Talvez n*o seja s% esta a -nica teoria verdadeira em si mesma, mas interpretada erradamente em rela'*o 1s posi')es da filosofia peripat tica. Mas voltarei a falar logo mais. Acompanhemos agora Sarsi, que quer, contra o opini*o do Sr. M"rio, produzir o calor sem algum gasto dos corpos em atrito at ficarem quentes, teoria que Sarsi prova antes com demonstra')es e depois com experimentos. No que diz respeito 1 demonstra'*o, posso contestar com poucas palavras; pois, interrogando o Sr. M "rio, Sarsi mesmo responde em seu lugar, e depois contesta as respostas; assim, se eu afirmar que o Sr. M "rio nunca haveria respondido desta forma, Sarsi deve necessariamente silenciar, E na verdade, em rela'*o 1 primeira resposta, n*o posso acreditar que o Sr. M "rio afirmasse que para se esquentar necess"rio antes que os corpos se rarefa'am, e que, fazendo assim, se despedacem, e que as partes menores se percam, como escreve Sarsi. Desta resposta me parece entender que n*o aceita o racioc$nio do Sr. M"rio, e que, sendo necess"rio considerar nesta opera'*o seja o corpo que produz o calor, seja o corpo que recebe o calor, ac redito que ele queira que o corpo que produz o calor seja aquele que diminui; assim, n *o o receber mas o dar calor que faz diminuir um corpo. Como os corpos possam ficar rarefeitos sem separa'*o alguma das partes, e como se desenvolva esta teoria da rarefa'*o e condensa'*o, teoria muito costumeira em Sarsi, como parece, ele haveria gostado de t ,-la explicado bem mais, sendo para mim uma das mais dif$ceis e ocultas leis naturais.
5 claro que o Sr. M"rio n*o teria dado assim a segunda resposta, isto , que seja necess"rio um gasto de partes de tal modo que antes se esquentem as partes menores, mais pr %prias para se esquentarem por serem sutis, e depois, por meio delas, seja esquentado o restante do corpo; porque assim a diminui'*o verificar-se-ia tambm no corpo que deve ser esquentado, e o Sr. M"rio atribui esta qualidade ao corpo que deve esquentar. Devemos, porm, advertir que muitas vezes acontece ser o mesmo corpo aquele que produz o calor e aquele que o recebe; por exemplo, batendo em um prego,
suas partes, fazendo atrito, produzem calor, mas o mesmo prego que se esquenta a si mesmo. Aquilo que eu quis dizer at aqui que o gasto das partes depende do ato de produzir calor e n *o de receber calor, como explicarei mais abaixo. Examinemos, por enquanto, a experi ,ncia que Sarsi acredita adequada para a demonstra'*o, isto , produzir calor com o atrito sem algum gasto das partes. 42. Gosto de tomar exemplos da experi)ncia: o que aconteceria se um corpo, sem perda alguma de partes, se
tornasse quente por causa do movimento? Havendo eu pesado um pedacinho de cobre, tendo tirado qualquer ferrugem ou impureza para que no aderisse a ele, por acaso, algum p$, com uma pequena balan&a exat.ssima de banqueiro, com pesos bem pequenos (at+ q4ingent+sima d+cima segunda parte de uma on&a) e, havendo observado com cuidado o peso, transformei a marteladas o cobre em l3mina. O cobre, com as marteladas, esquentou tanto que por duas ou tr)s vezes no podia ser pego na m o. Tendo-se esquentado muitas vezes, quis experimentar com a mesma balan&a e os mesmos pesos se no havia diminu.do de peso; mas percebi que permanecera com o peso anterior; logo, aquele cobre esquentou por atrito, sem algum gasto de suas partes, o que Galileu nega. Havia j( escutado que coisas semelhantes acontecem com os encapadores de livros quando, por longo tempo e com muita for&a, comprimem na prensa os conjuntos de papel: com efeito, alguns deles experimentaram e viram que aqueles pap+is pesavam depois o mesmo que antes, e que todavia permaneciam muito quentes pelos golpes recebidos, at+ quase queimar. A esta altura, se algu+m afirmar que perdemos, + verdade, algumas pequenas partes, mas t o pequenas que quase n o s o percebidas por uma balan&a mesmo a mais pequena, eu perguntaria, ent o, de onde algu+m ficou sabendo desta perda, porque no vejo de que outra forma poderei examinar o problema cuidadosamente. Por outro lado, se esta perda de partes + to pequena que no pode ser percebida pelo sentido, como gerou tanto calor? Ademais, quando o ferro + alisado com uma lixa esquenta, todavia menos ou com cert eza no mais do que quando + fortemente batido com um martelo; mesmo assim, a disperso das partes + muito maior no caso do uso de lixa que no caso de marteladas. Que Sarsi com uma balan'a precisa n*o haja encontrado diminui'*o de peso em um pequeno peda'o de cobre batido e esquentado mais vezes, eu acredito; mas n*o que por causa disto o peda'o de cobre n*o diminuiu, porque pode muito bem acontecer que aquele cobre tenha diminu $do t*o pouco a ponto de n*o ser percept$vel com balan'a alguma. E antes, pergunto a Sarsi se, havendo pesado um bot*o de prata e depois havendo-o banhado em ouro, pesando-o novamente, acredita que o aumento seja not"vel e sens$vel. 5 necess"rio dizer n*o, pois que percebemos o ouro tomar-se t *o sutil que mesmo no ar muito parado segura-se mui vagarosamente e muito vagarosamente cai; mesmo assim, com tais folhas pode-se dourar metais. Ademais, este mesmo bot*o poder" ser usado dois ou tr ,s meses, antes que o banho de ouro se gaste; e finalmente gasta-se, claro, um pouco cada dia, at cada hora. Alm disso, pegue ele uma bola de 2mbar, musgo ou outras matrias perfumadas: afirmo que, usando-as no corpo por uns quinze dias, ela encher " de perfume mil salas e mil estradas, em suma, qualquer lugar onde estiver, mas isto acontecer" com diminui'*o da matria, porque de outra forma n*o se espalharia o cheiro; por m, voltando a pes"-la, depois de algum tempo, n*o ser" encontrada nenhuma diminui'*o sens$vel. Eis, ent*o, encontradas para uso de Sarsi, diminui ')es insens $veis de peso, operadas durante meses cont $nuos, que muito mais tempo que um oitavo de hora que gastou
martelando seu pedacinho de cobre. E muito mais precisa uma balan 'a de experimentador que uma balan'a filos%fica! Acrescento, al m disso, que pode muito bem acontecer que a mat ria, que diminuindo produz calor, seja ainda mais sutil que a subst2ncia perfumada, pois esta fechada em vidros e metais para n*o evaporar, mas o calor passa atravs de qualquer corpo. Sarsi apresenta aqui uma hip %tese: Se o movimento da balan&a n o + suficiente para nos mostrar um gasto
to pequeno, como poder.eis t)-lo conhecido? A obje '*o muito inteligente, mas n*o tanto que um pouco de l%gica natural n*o seja suficiente para dar uma solu '*o: e eis o desenvolvimento da quest *o. Sr. Sarsi, em rela'*o a alguns corpos que se friccionam um com o outro, certo que alguns n*o se gastam absolutamente, outros gastam-se enorme e sensivelmente, outros gastam-se, mas insensivelmente. Em rela'*o 1queles que esfregando-se n*o se gastam nada, como, por exemplo, dois espelhos muito lisos, o pr%prio sentido nos mostra que n *o se esquentam; em rela'*o 1queles que se gastam bastante, como, por exemplo, o ferro limando-se, temos certeza de que se esquenta; ent*o, em rela'*o 1queles dos quais temos d-vidas se ao friccionar-se se gastam ou n *o, se encontrarmos, por meio dos sentidos, que se esquentam, devemos ent*o acreditar e afirmar que se gastam, podendo afirmar que s % n*o se gastam aqueles que n*o se esquentam. Sobre aquilo que afirmei at agora, quero, antes de prosseguir, acrescentar, como ensinamento para Sarsi, que a afirma '*o: Este corpo, colocado na balan&a, no resultou haver diminu .do seu peso, ento, n o se
gastou deforma alguma uma proposi'*o muito falsa, porque pode acontecer que se gaste um corpo cujo peso n*o s% n*o diminua mas, pelo contr "rio, aumente; o que acontece sempre quando o corpo que se gasta for mais leve que o meio onde est" sendo pesado; por exemplo, pode acontecer que um peda 'o de madeira, por possuir muitos n %s e muitas ra$zes, colocado na "gua, afunde, e supondo que pese quatro on'as, e que cortando fora n*o a parte dos n %s nem da raiz, mas a parte mais rala e por isto menos pesada que a "gua que sustentava todo aquele volume, pode acontecer, afirmo eu, que o restante pese mais que a "gua necess"ria para sustent"-lo. A mesma coisa pode acontecer quando ao limar o ferro friccionando dois ferros ou duas pedras ou duas madeiras, desprenda-se alguma part$cula menos pesada que o ar, a qual, se fosse tirada, deixaria aquele corpo mais pesado que antes. E que tudo aquilo que estou relatando tenha alguma probabilidade e n *o uma simples fuga estrat gica, deixo ao advers "rio a tarefa de prov"-la. Observe-o, V. E. Ilustr $ssima, quebrando vidros e pedras ou alguma outra matria, e V. E. poder" perceber, em cada parte quebrada, sair uma fuma 'a bem vis$vel que sobe com o ar: argumento que demonstra como mais leve que ele. Observei isto antes no vidro, enquanto eu ia arredondando-o com uma chave ou outro peda 'o de ferro, onde, al m dos muitos peda'os que saltam fora em diversas grandezas, caindo porm todos no ch*o, sobe sempre uma fuma'a; e a mesma coisa se v, quebrando uma pedra; e, alm daquilo que a vista nos mostra evidente, o olfato tamb m nos d" um ind$cio muito claro de que, al m da fuma'a, sobem ao ar tambm outras partes mais sutis e por isso invis$veis, sulf-reas e carbon$feras, que se tornam manifestas a n%s por causa do cheiro.
Atente agora Sarsi como seu racioc$nio superficial e muito pouco profundo. Nem pense ele poder chegar a algum resultado falando-nos de limita ')es, distin')es, de acidentes, vontade pr%pria, mediatismo71 prim"rio, secund"rio ou outras superficialidades, porque garanto-lhe que, em vez de sustentar s% um erro, cometer" cem mais graves, produzindo mais elementos falsos; mais falsos ainda do que o que me falta considerar para findar esta pequena parte. Com efeito, ele se admira de que possa acontecer que, resultando impercept $vel na balan'a aquilo que se gasta, possa apesar disso produzir calor; depois acrescenta que, a prop%sito de um ferro lixado, grande parte dele gasta-se, e gasta-se muito mais quando se bate com o martelo, mas sabemos que esquenta muito mais lixando-o que martelandoo. 5 muito v* esta discuss *o, Sr. Sarsi, isto , querer medir a quantidade de uma coisa que n*o tem peso algum, coisa que bem leve e que sobe com o ar rapidamente; e mesmo que tamb m aquele que se converte em matria quente, durante um esfregamento, fosse uma parte do mesmo corpo s %lido, n*o deveria algum admirar-se de que uma pequena quantidade daquele corpo possa rarefazer-se e ampliarse em um espa 'o imenso, considerando que mesmo um pequeno peda'o de madeira pode transformarse em uma grande massa de mat ria quente, cuja chama vis$vel a menor parte, permanecendo muito maior a parte insens $vel 1 vista, mas bem sens$vel ao tato. No que diz respeito ao outro ponto, poderia ter uma certa consist,ncia a quest*o apresentada, se o Sr. M "rio tivesse declarado que todo aquele ferro que se gasta ao se lixar se transformasse em mat ria quente, porque assim pareceria razo "vel que se esquentasse muito mais o ferro gasto pela lixa que o martelado: mas n *o o p% lixado que esquenta, pelo contr"rio, outra subst2ncia muito mais sutil. 43. Mas continuemos: Eu acredito que seja muito importante a qualidade dos corpos esfregados em rela &o a
uma possibilidade maior ou menor de esquentamento, isto +, se so mais quentes ou mais frios, n o sendo f(cil estabelecer se tudo isto depende de muitas outras raz 5es. Com efeito, se voc) esfregar entre si ou com outro peda&o de lenha dois pedacinhos de bambu, corpos muito leves e muito pouco compactos, produzir( fogo em breve tempo: o mesmo no acontecer( com outros peda&os de madeira, mais d uros e mais compactos, mesmo que sejam friccionados mais tempo e com mais for&a at+ quase se consumirem. S)neca afirma: "O fogo surge com mais facilidade do atrito de corpos quentes ", declarando serem os rel3mpagos muito mais numerosos durante o vero, justamente por causa do calor. Ademais, o p$ de ferro jogado na chama arde, o que n o acontece com p$ de m(rmore, qualquer que seja. Por isso, se existirem no ar muitas exala &5es quentes, e houver atrito do ar com algum movimento violento, no percebo porque o ar no deveria esquentar e at+ pegar fogo; com efeito, quando o ar + muito denso e seco, e muito quente, + mais apto a pegar fogo. Sarsi, na hora que parece produzir melhores e mais cultas explica')es sobre a dif $cil matria tratada, acaba, em vez, nos apresentando velhas teorias que n*o se encontram em contraste com as do Sr. M"rio. Pois a afirma'*o de que contribui muito para a maior ou menor possibilidade do esquentar de um corpo ser da natureza quente ou fria72, e que muitas outras mais s*o as causas ainda ocultas deste fen+meno, acredito eu tambm: mas n*o consigo extrair nada disso porque a segunda parte de sua 71 72
"Per accidens", "per se", "mediate". Pela teoria animista, segundo a disposi '*o qualitativa interna de um corpo, sua a '*o ou rea'*o poder " apresentar enorme diferen 'a.
teoria oculta demais, e a primeira j " muito pesquisada e conhecida, pois Sarsi n *o afirma outra coisa a n*o ser que os corpos que est*o mais aptos a esquentar esquentam mais, acontecendo o contr "rio com os outros. A mesma coisa podemos dizer sobre a fric '*o de algum peda'o de lenha, isto , que os corpos mais leves e os menos compactos esquentam com mais facilidade que os mais duros e densos, mesmo que seja maior a fric '*o destes -ltimos; eu tambm acredito em tudo isto, mas n *o entendo como isto possa prejudicar o Sr. M "rio, que nunca afirmou o contr "rio. N*o de agora o meu conhecimento de que um peda'o de trapo pega fogo mais rapidamente que um peda'o de ferro, mesmo que um se encontre num ambiente n*o favor"vel e o outro sim. Em rela'*o 1quilo que ele acrescenta e quer fortalecer com o testemunho de S ,neca. isto , que no ver*o o ar esteja prenhe de muitas exala')es secas e por isto produza muitos rel 2mpagos, eu concordo; mas duvido muito sobre a forma de produ'*o destes rel2mpagos, isto , se isto acontece pelo atrito do ar com algum movimento. Eu haveria concordado com aquilo que Sarsi relata, se antes ele me tivesse demonstrado n*o existir na natureza algum outro modo de produzir fogo que estes dois, isto , ou aproximar a matria combust$vel a um fogo j " aceso, como quando se acende uma tocha com uma vela, ou com o atrito de dois corpos ainda apagad os. Mas existem outros modos, como, por exemplo, pelo reflexo dos raios solares em um espelho c +ncavo, ou pela refra'*o deles em uma bola de cristal ou de "gua, tendo-se observado tambm, alguma vez, pegar fogo nas ruas, por causa do excessivo calor, palhas e outros corpos sutis, sem nenhuma fric '*o ou movimento, pelo contr"rio, justamente quando o ar est" bem parado, e que, se fosse agitado pelo vento, n *o haveria fogo. Ent*o, porque, se j " vejo que existem outros modos de produzir fogo, n*o devo considerar que existam ainda outras probabilidades de produzir os rel2mpagos? Por que devo atribuir tudo isto a um movimento violento, se percebo, primeiro, que sem fric'*o de corpos s %lidos, os quais n*o existem nas nuvens, n*o h" fogo algum, e, alm disso, n*o se percebe movimento algum no ar ou entre as nuvens quando a freq 4,ncia dos rel2mpagos maior? Penso que a afirma '*o de Sarsi n*o mais verdadeira que a afirma'*o daqueles fil%sofos que atribuem o grande barulho dos trov )es ao rebentar-se ou ao chocar-se das nuvens; todavia, nos rel 2mpagos e nos trov)es n*o percebemos movimento algum das nuvens, nem mudan 'a da pr%pria figura, que deveria ser enorme num chocar-se ou rebentar-se. Deixo at de lado que estes mesmos fil%sofos, quando falarem depois a respeito do som, afirmar *o que sua produ'*o devida 1 percuss*o de corpos duros, e dir *o que por isso nem a l* nem os trapos produzem barulho quando batidos com for 'a; mas depois, por necessidade, afirmar *o que a neblina e as nuvens, ao se chocarem, produzir*o o maior de todos os barulhos. Que filosofia am "vel e benigna que com tanta generosidade e prazer se acomoda aos nossos desejos e 1s nossas necessidades! 44. Vamos agora em frente, examinando as experi,ncias da flecha atirada com arco e da bola de chumbo atirada com a balista, que pegaram fogo e foram destru $das no ar, segundo confirma a autoridade de Arist%teles, de muitos grandes poetas e de outros fil%sofos e historiadores.
Mesmo tentando Galileu ridicularizar e iludir o exemplo de Arist$teles a respeito da flecha, cujo ferro torna-se quente por causa do movimento, n o vai conseguir. Com efeito, n o s$ Arist$teles o afirma, mas in/meros homens de grande nome nos relataram exemplos pareci dos (sem d/vida a respeito de coisas presenciadas por eles ou recebidas pelos que presenciaram). Quer Galileu que agora eu passe a dar o nome de alguns entre os muitos que afirmaram tudo isto com eleg3ncia e racioc.nio? Iniciarei pelos poetas, limitando meu relato 2queles cuja autoridade em ci)ncias naturais + a melhor testemunha em questo de grande import3ncia e de muito peso. Ov.dio, perito no s$ em poesia mas tamb+m em matem(tica e filosofia, afirma que n o somente as flechas mas tamb+m as bolas de chumbo jogadas com balistas pegaram muitas vezes fogo durante o trajeto. Com efeito, escreve ele nas Metamorfoses: "No pega fogo de forma diferente de como acontece quando a balista joga o chumbo, ele esquenta no ar e os fogos que no teve os encontra nas nuvens:73. Encontramos as mesmas afirma&5es em Lucano, famoso pela
intelig)ncia e sabedoria: "Voam de l( fagulhas e pedras, e soltas no espa&o, e dissolvidas com corpo quente bolas de chumbo"74. E Lucr+cio, no menos fil$sofo que poeta, no afirma o mesmo em numerosos lugares? "... a bola de chumbo, que deve rolar por longo espa&o, derrete-se"75 e em outro lugar: "No acontece de forma diferente quando a bola de chumbo esquenta durante o caminho, quando pega fogo no ar, deixando cair muitas massas frias" 76 . A mesma coisa afirma Est(cio, dizendo: "As balas destinadas a arder pelo c +u"77 .O que dizer depois de Virg .lio, o maior dos poetas? No confirma tudo isto duas vezes com muita eloq4)ncia? Descrevendo os jogos troianos, assim fala a respeito de Aceste: "Com efeito, voando nas nuvens l.quidas, a flecha pegou fogo e marcou o caminho com chamas, desaparecendo depois, desmanchada pelos ventos leves"78; e diz, alhures, a resp eito de Mec+ncio: "Mec)ncio, tendo deposto as armas, viradas tr)s vezes ao redor da cabe&a as tiras, jogou a funda sibilante e, com o chumbo derretido, abriu a cabe&a daquele que se encontrava na sua frente e o jogou estendido no cho79" . Que um corpo mais duro possa ser gasto pela fric&o de um corpo mais mole + provado pela (gua, que com gotas continuadas escava tamb+m pedras dur.ssimas, e as vagas, que jogando-se contra as pedras as afinam e as alisam de forma maravilhosa; experimentamos tudo isto tamb +m com os cantos das torres e das casas que ficam corrompidos pelo vento. Ento, se o mesmo ar, quando se condensa e se movimenta com grande for&a, pode gastar at + os corpos mais duros, pode tamb+m ser gasto por corpos moles. Com certeza, o assobio que se escuta agitando afunda + prova de ar condensado; talvez foi isto que Est(cio quis significar, afirmando que o ar inclu.do nas voltas da funda + comprimido: ". . . com quantas voltas o soldado armado de funda fere e fecha de todo lado o ar inclu.do"80. A mesma coisa + provada pelo granizo, que
73
S*o versos das Metamorfoses de Ov$dio, poeta latino: "Non secus exarsit, quam cum Balearica plumbum / Funda iacit: volat illud et incandescit / et, quos non habuit, sub nubibus invenit ignes". 74 S*o versos do poeta latino Lucano: "Inde faces et saxa volant, spatioque solutae / aeris et calido liquefactae pondere glandes". 75 S*o versos do poeta latino Lucr cio: "... pl -mbea vero / glans etiam longo cursu volvenda liquescit". 76 S*o sempre versos de Lucr cio: "Non alia longe ratione ac pl -mbea saepe / fervida fit glans in cursu.cum multa rigoris / corpora demittens ignes concepit in auris". 77 S*o versos do poeta latino Est "cio: "... arsuras coeli per inania glandes". 78 S*o versos do poeta latino Virg $lio, muito valorizado durante a Idade Mdia: "Namque volans liquidis in nubibus arsit arundo, / signavitque viam flammis, tenuesque recessit / consumpta in ventos". 79 S*o sempre versos do famoso Virg $lio: "Stridentem fundam, positis Mezentius armis / ipse ter adducta circum caput egit habena / et media adversi liquefacto t ,mpora plumbo / diffidit. et multa porrectum extendit arena". 80 Mais uma vez s *o versos do poeta Est "cio: "... et flexae Baleari eus actor habenae / quo suspensa trahens vulnera tortu / inclusum quoties distringeret aera gyro".
quanto mais cai do alto tanto mais cai mi /do e redondo; o mesmo acontece com gotas dechuva que so maiores quando caem de lugares baixos, menores quando caem de lugares altos, pois se gastam no ar.
5 muito falso que eu ou o Sr. M"rio ridicularizamos a experi,ncia de Arist%teles, n*o se encontrando no texto do Sr. M"rio goza'*o alguma, nem outra coisa, por m n*o acreditamos que uma flecha fria, lan'ada com o arco, possa pegar fogo; pelo contr "rio, acreditamos que, lan'ando-a j" em chama, esfrie mais ligeiro que conservando-a parada: e isto n *o pode ser chamado ridicularizar, mas expor a pr%pria teoria. Referente 1quilo que ele acrescenta, isto , que n*o nos foi poss$vel demonstrar ser falsa esta experi ,ncia, porque n*o s% Arist%teles mas muitos outros grandes homens a confirmaram, respondendo que se para demonstrar uma teoria aristot lica como verdadeira necess"rio esperar que nenhum outro a tenha escrito, nem eu nem o Sr. M "rio nem o mundo inteiro v*o conseguir isto, pois aqueles que escreveram tais coisas acreditaram nela: porm, parece-me grande novidade que, a respeito de um acontecimento, algum prefira apresentar hip%teses humanas em vez de experi,ncias realizadas. Sr. Sarsi, apresentar tantas testemunhas n*o adianta nada, porque n *o negamos nunca que muitos hajam escrito e acreditado em tais coisas, mas simplesmente afirmamos que elas eram falsas; e a respeito da autoridade em rela'*o 1 falsidade ou n*o do fen+meno, tanto vale a vossa somente como aquela de mil outros. Contestais as experi,ncias que produzimos com a autoridade de muitos poetas. Eu vos respondo que, se aqueles poetas tivessem estado presentes 1s nossas experi,ncias, mudariam de opini*o e sem hesitar afirmariam ter escrito parabolicamente ou confessariam ter-se enganado. Mas como n*o mais poss $vel ter a presen'a dos poetas, que, acredito, aceitariam nossas experi ,ncias, pegai atiradores de arco e jogadores de bolas de chumbo e procurai convenc,-los, apresentando tantas autoridades, que as flechas e o chumbo atirados por eles pegam fogo e derretem no ar; assim podereis esclarecer melhor a for 'a da autoridade humana sobre os efeitos da natureza surda e inexor "vel aos nossos desejos. Poder $eis responder que n*o existem mais Acestes e Mec ,ncios ou companheiros t *o dignos; mas ficarei satisfeito que, n *o com um simples arco manual, mas com uma s %lida balista mec2nica que n*o poderia ser dobrada nem pela for 'a de trinta Mec,ncios, atirasse uma flecha ou dez ou cem; e poderemos observar se, n *o digo que o ferro de alguma possa pegar fogo ou possa pegar sua haste, ao menos as suas penas fiquem chamuscadas, perdendo a discuss*o e tambm o vosso favor, que eu estimo enormemente. Vamos, Sr. Sarsi, terminar, e n *o acrediteis que eu seja contr"rio a ceder 1 autoridade e ao testemunho de tantos poetas maravilhosos, e que n *o acrediteis ter acontecido alguma vez que as flechas e os metais pegaram fogo; mas afirmo que a causa destas maravilhas muito diferente daquela apresentada pelos fil%sofos, que atribuem 1s exala')es e atritos do ar e outras fantasias semelhantes que s*o todas erradas. Quereis conhecer a verdadeira raz *o? Escutai o poeta, n *o inferior a ningum, relatar o encontro de Rogrio e Mandricardo, com o choque das pr%prias lan'as:
As hastes pegaram fogo at o cu escreve Turpin, com relato verdadeiro, assim que dois ou tr,s ca$ram acesos para baixo que haviam subido 1 esfera do fogo.81 Talvez o grande Ariosto n*o desse motivo de d-vida a respeito desta verdade, que ela refor'a com o testemunho de Turpino, que todo mundo conhece como honesto e digno de confian'a. Mas deixemos de lado os poetas e suas hip %teses, e voltemos 1queles que consideram o atrito do ar causa deste fen+meno. Esta opini *o, considero-a falsa; e raciocino sobre aquilo que v %s apresentais, querendo demonstrar como os corpos muito duros , por causa do atrito com corpos moles, podem gastar-se, como o exemplo da "gua e do vento que, roendo e gastando os centros externos das torres resistent$ssimas, e gotejando a "gua sempre no mesmo lugar, escavam o m "rmore e as pedras duras. Aceito tudo isto por ser verdade; e acrescento, al m disso, n*o duvidar de que as flechas e as bolas de chumbo e tamb m de pedra e de ferro, percorrendo, lan'adas por artilharia 82, o ar com grande celeridade, podem gastar-se mais que as pedras do mar e das torres batidas pelas "guas e pelos ventos. Se para produzir uma diminui '*o percept$vel nas pedras s*o necess"rios duzentos ou trezentos anos, para gastar flechas e bolas seria suficiente que elas permanecessem no ar dois ou tr ,s meses somente: mas n*o entendo como pode produzir efeito not "vel o tempo necess"rio para movimentar a m*o para enviar um projtil. Ademais, torna-se dif$cil aplicar vossa teoria, verdadeiramente inteligente, a duas ou tr,s coisas: uma, que n%s estamos falando do derreter-se por meio de calor, e n *o gastar-se por meio de batidas; outra coisa que, no vosso caso, precisais que n*o seja um corpo s%lido mas um corpo mole e sutil o que se gaste, isto , o ar, que aquele que depois vai pegar fogo. Mas as experi ,ncias por v%s apresentadas provam que as pedras e n*o o ar e a "gua recebem o atrito; na verdade, acredito que o ar e a "gua podem bater, se o souberem fazer, mas nem por isso ficar *o mais sutis. Portanto, chego * conclus*o de que de muito pouca utilidade a discuss*o do exemplo do granizo e das gotas de "gua; aceito que elas, caindo do alto, diminuam; aceito-o, repito-o, n *o porque n*o acredite que possa ser verdadeiro o contr"rio daquilo que afirmais, mas porque n *o vejo o que tem a ver com o nosso caso. Poderei aceitar, para vos favorecer, que a funda, com seus assobios e estouros, contenha ar condensado em seu movimento; porm, sabei que isto ser " uma contradi'*o e um desastre para vossa teoria: pois at aqui haveis afirmado que o atrito produzido por causa do movimento excessivo, formando-se em seguida a rarefa'*o e enfim o fogo do ar, e agora, para demonstrar a raz *o do assobio da balista, e para dar um sentido 1s palavras muito obscuras de Est "cio, falais em condensa '*o; assim, aquele mesmo movimento que srcina a diminui '*o e o fogo torna mais ralo o ar e, para ajudar Est "cio e os atiradores de balista, o condensa. Mas escutemos os testemunhos hist %ricos. 45. Mas para que o testemunho dos poetas, mesmo pelo pr$prio nome de poeta, no pare&a suspeito a algu+m
(mesmo sabendo que eles falaram segundo a forma comum de pensar), passo a outros homens de grande autoridade e
81
Mais uma vez s*o versos do poeta Ariosto: "I tronchi sino al cielne sono ascesi / scrivi Turpin, verace in questo loco, / che d ue o tregine tornaro accesi / c'eran saliti alla sfera del foco". 82 Galileu usa aqui o termo moderno "artiglieria" com o mesmo sentido atual.
confian&a. Suida, com efeito, nas Hist%rias, na parte "peridinuntes" 8 , conta: "Os babil6nios, fazendo girar os ovos colocados na funda, bem entendidos em tudo aquilo que diz respeito 2 alimenta&o primitiva e 2 ca &a, e bem exercitados nos atos necess(rios 2 vida solit(ria, conseguiram cozinhar, por meio daquele movimento, um ovo cru". Assim afirma ele. Agora, se algu+m me pedir a causa de acontecimentos t o extraordin(rios, escute o fil$sofo S)neca, que entre outros + aprovado por Galileu, quando raciocina filosoficamente a respeito de tudo isso. Com efeito, S)neca, seguindo o parecer de Posid6nio, afirma: "Qualquer coisa no ar diminui, seca e esquenta". E, dep ois, segundo sua pr$pria opinio: "O movimento do ar no + constante mas todas as vezes que se esque nta mais por causa do movimento + impulsionado a correr". Mais abertamente afirma isto alhures, quando, procurando as causas do rel3mpago, fornece esta explica&o: "O rel3mpago verifica-se quando o ar rarefeito transforma-se em fogo nas nuvens e no encontra a for&a de ir para longe" (escute, Galileu, o que segue e reflita a pr op$sito): "Voc) n o se admirar(, acredito, se o movimento torna o ar rarefeito e a rarefa&o o faz pegar fogo; desta forma derrete-se a bola jogada pela funda e, pelo esfregamento do ar, srcina-se o fogo ". No sei se isto podia ser relatado de forma mais eloq4ente e mais clara. Ento, quem queira prestar f + aos melhores poetas ou aos fil$sofos, veja, no importa quem voc) seja e duvide a respeito desta mat+ria, que o ar pode gastar-se com o movimento e tamb+m esquentar tanto que por causa deste calor derreta at+ o chumbo. Com efeito, quem poderia pensar que homens, entre os mais eruditos, quando falam a respeito de coisas que na pr(tica militar eram de uso cotidiano, hajam querido com tanta singularidade e vergonha mentir? Eu no sou um que consegue marcar os s(bios com tanta desonra. N*o posso evitar admirar-me novamente de que Sarsi insistia em provar com testemunhos aquilo que tambm posso verificar com experimentos. Os testemunhos s *o examinados em coisas duvidosas passadas e que n*o s *o mais atuais, e n *o em coisas que duram at hoje; necess"rio que o juiz procure atravs de testemunhos saber se verdade que ontem Pedro feriu Jo*o, e n*o se Jo*o est " ferido, porque isto ele pode verificar e ver com os pr%prios olhos84. Mas eu afirmo que tambm nas conclus)es, nas quais n *o se pudesse chegar a uma investiga'*o, eu n*o daria maior import 2ncia ao racioc$nio dos muitos em vez dos poucos, porque muito bem sei que o n-mero daqueles que, nas coisas dif$ceis, raciocinam bem muito menor do que aqueles que raciocinam mal. Se raciocinar sobre um problema dif$cil fosse a mesma coisa que carregar pesos, ent *o muitos cavalos carregariam mais sacos de trigo que um cavalo s%, e eu concordaria mesmo que a opini *o de muitos valesse mais do que a de poucos; mas o raciocinar como o correr, e n *o como o carregar. Assim, um cavalo de corrida sozinho correr" sempre mais do que cem cavalos fris)es. Por isso, quando Sarsi me apresenta tanta multid*o de testemunhos, n*o me parece refor'ar muito suas teorias, pelo contr "rio, parece nobilitar a teoria do Sr. M"rio e minha, mostrando que n%s raciocinamos melhor que muitos outros homens bem acreditados. Se Sarsi quer que eu acredite em Suida, isto , que os babil+nios cozinhassem os ovos movimentandoos rapidamente com a funda, eu acreditarei; mas afirmarei que a causa deste fen +meno muito diferente da que foi imaginada, e demonstrarei a verdade assim: "Se n %s n*o conseguimos efetuar alguma coisa que os outros conseguiram efetuar, significa que nos faltou aquilo que srcinou o sucesso 83 84
Partic$pio do verbo grego peridineo, que significa "fazer girar". "Visu reperto.'
dos outros, e se nos falta s % uma coisa torna-se %bvio que aquela coisa a causa do fen +meno. Mas n*o faltam ovos para n%s, nem fundas, nem homens fortes que as fa 'am girar, e os ovos n *o cozinham, pelo contr"rio, se estiverem quentes esfriam rapidamente; e pois que n*o nos falta outra coisa a n*o ser a Babil+nia, ent*o ser babil+nio a causa do cozinhar os ovos, e n*o o atrito do ar", segundo aquilo que eu queria provar. 5 poss$vel que Sarsi, correndo a cavalo, nunca haja observado quanta brisa sopra em sua face por causa da cont $nua mudan'a de ar? E se o tiver percebido, acreditar " em coisas acontecidas dois mil anos atr"s, na Babil +nia, e referidas por outros, do que em coisas presentes que ele mesmo pode comprovar? Pe'o a V. E. Ilustr $ssima que fa'a ver uma vez a Sarsi, em pleno ver*o, congelar o vinho atrav s de um movimento bem r "pido, sem cujo movimento ele n *o o faria de outra maneira. Quais possam ser as raz )es de S,neca e dos outros para relatar aquele fen +meno que falso, deixo o senhor mesmo julg"-lo. Ao convite que Sarsi me faz para escutar com cuidado aquilo que S,neca conclui, perguntandome se era poss $vel explicar alguma coisa mais clara e sutilmente, eu concordo plenamente e confirmo que n*o era poss $vel contar, com tanta habilidade e clareza, uma mentira. Mas n*o gostaria que ele procurasse, como est" fazendo, colocar-me, por educa'*o, na necessidade de acreditar naquilo que reputo falso chamando de mentirosos aqueles homens que s *o a nata dos eruditos e, o que mais perigoso, soldados valorosos; porque eu tenho certeza de que eles acreditavam estar dizendo a verdade, e assim suas mentiras n*o s*o uma desonra; e enquanto Sarsi afirma n *o querer ser daqueles que ofendem homens s"bios n*o acreditando neles e contradizendo-lhes as palavras, eu afirmo n*o querer ser daqueles t*o mal agradecidos para com a natureza e para com Deus, que, havendo-me eles dado sentidos e racioc $nio, eu queira pospor dons t *o grandes 1s falsidades de um homem e, 1s cegas e estupidamente, crer naquilo que se ouve contar, e tornar serva a liberdade de meu racioc $nio 1quele que pode errar tanto quanto eu. 46. No deixarei de lado aquilo que Galileu poderia apr esentar contra isto: poderia dizer, com efeito, que nunca
for&a de fundas ou arcos foi tanta de igualar o impulso de uma espingarda ou de uma m (quina para destruir muralhas: por isso, se as bolas Jogadas por estas m(quinas n o se derretem mesmo tendo sido acrescentado o fogo da p $lvora, que j( deveria ser suficiente para faz )-las derreter, com muito mais razo podemos pensar que os exemplos relatados sejam inven&5es de poetas. Mas se Galileu pode com facilidade contestar assim, no poder( provar suas palavras com outra tanta facilidade. Pelo contr(rio, sei muito bem que as bolas de chumbo jogadas por bombardas derretem-se no ar. Homero Tortora, moderno e cuidadoso escritor de assuntos franceses, afirma que uma vez foi in/til para destruir os muros a grande for&a das bolas jogadas pelas m (quinas de guerra, porque, sendo antes pequenas e de ferro, depois aumentadas com chumbo derretido, tiveram efeitos maiores: "Explodindo elas contra os muros, pois o chumbo derretia no ar, s$ alcan&ava o muro a pequena bola interna de ferro, grande quanto uma avel ". Ademais, eu mesmo escutei, pela boca daqueles que o haviam presenciado (homens de muita confian &a), afirmarem que uma pequena bola de chumbo atirada por uma espingarda no bra&o de outro foi tirada n o mais deforma redonda mas oval, semelhante ao fruto do carvalho. Isto pode ser comprovado tamb+m com exemplos di(rios, pois as bolas de chumbo atiradas inutilmente pela espingarda e misturadas
entre as roupas dos inimigos no guardavam a forma primitiva mas eram encontradas amassadas, em peda &os, e destru.das. Isto prova que, tornando-se mais ralas por causa do calor, foram atiradas em vo. Sarsi continua, segundo o estilo usual, querendo provar com os relatos alheios aquilo que acontece hoje em dia e que pode ser observado por experi,ncia; e como para dar autoridade 1queles arqueiros encontrou homens importantes, assim, para fazer acreditar no derretimento das modernas bolas de espingarda e de artilharia, encontrou um historiador moderno n *o menos digno de f e de autoridade como qualquer outro antigo. N*o indigno a um historiador apresentar de um efeito natural verdadeiro uma raz*o n*o verdadeira, porque ao historiador pertence o efeito, enquanto a causa 85
pertence ao fil%sofo. Assim, acreditando eu no Sr. Homero Tortora , a prop%sito das bolas de artilharia que, por terem sido revestidas com chumbo, produziram pouco efeito ao destruir os muros inimigos, ousarei n*o aceitar a explica '*o que ele, tirando-a da filosofia comum, nos apresentou. Espero que o pr%prio historiador, como at agora acreditou aquele que encontrou escrito por tantos homens importantes, cuja autoridade foi suficiente para fazer acreditar em todas as palavras deles, assim escutando meus racioc$nios, mude a opini *o ou ao menos queira verificar com experimentos qual seja a verdade. Acredito, ent*o, no Sr. Tortora, quando afirma que as bolas de ferro cobertas de chumbo, nas artilharias de Corbel, n*o tiveram resultado, e que o interior delas fora encontrado sem o revestimento de chumbo; at aqui chega o campo do historiador. N*o acredito, por m, na explica'*o filos%fica86, isto
, que o chumbo se derretesse e que por isto fosse encontrado s % o interior de ferro; mas acredito que, chegando com aquela for'a extrema que o canh *o lhe proporciona para superar o muro, a cobertura de chumbo naquela parte que permanecia comprimida entre o muro externo e o interior da bola de ferro se amassasse e se quebrasse, e que acontecesse o mesmo ou pouco diversamente com a parte oposta, amassando-se a parte sobre o ferro. Assim, o chumbo todo, desfigurado e estragado, se dispersasse por todos os lados, chumbo que, sujado pelos detritos do muro, podia ser encontrado com muita dificuldade, e 1s vezes n*o era procurado com todo aquele cuidado necess "rio a quem quisesse pesquisar se ele fora exclu$do ou simplesmente quebrado; e o chumbo servindo quase de prote'*o para a bola de ferro, logo depois de dar e receber uma batida menor, ingratamente era estragado e destru$do, n*o se encontrando mais nem o cad"ver. Sabendo que o Sr. Homero se acha em Roma, se por acaso ele se encontrar com V. E. Ilustr$ssima, pediria a V. E. ler-lhe aquele pouco que escrevi a respeito e aquilo que escreverei em seguida; porque gostaria muito de ter a estima de uma pessoa t*o importante na nossa idade. Afirmo, ent *o, que se observarmos em quanto tempo a bola vai do canh *o ao muro, e aquilo que necess"rio operar neste espa 'o de tempo para fazer derreter o chumbo, ser " de admirar-se que algum queira persistir na opini *o de que isto possa acontecer. O tempo muito menor que uma pulsa'*o, tempo necess "rio para produzir o atrito do ar, acender o fogo, derreter o chumbo; mas, se 85 86
Galileu refere-se a um historiador contempor 2neo seu, n*o muito conhecido: Omero Tortora. que escreveu uma Hist$ria di Francia. Torna-se bem claro, com estas palavras de Galileu, que o campo da filosofia abrangia nesta poca o campo da f $sica e da matem "tica.
colocarmos a mesma bola de chumbo no meio de um forno ardente, ela n*o se derreter" nem em vinte pulsa')es: ser" of $cio de Sarsi, ent*o, persuadir algum de que o ar em atrito e aceso possui um calor enormemente maior do que o do forno. Ademais, a experi ,ncia nos mostra que uma bola de cera atirada por uma espingarda pode passar atrav s de uma t"bua, demonstrando que ela n *o se derrete no ar: ser" necess"rio, ent*o, que Sarsi mesmo explique porque o chumbo, derrete e a cera n *o. Ademais, se o chumbo derrete, chegando a algum lugar, com certeza ter " pouco efeito; assim, me admiro muito de que estes artilheiros n*o hajam ainda pensado em fazer bolas de ferro que n*o se derretam com tanta facilidade; mas continuam atirando com bolas de chumbo, cujo interior de ferro s % resiste, e naquelas que resistem encontra-se uma profunda marca mostrando que a bola est" amassada, mas n*o derretida. Nas aves mortas com espingarda usando chumbinhos, encontramos gr*os de chumbo inalterados; toca a Sarsi demonstrar como se derretem os chumbos de quinze ou vinte libras cada e n *o aqueles que s*o a trigsima milsima parte de uma libra. Que todos os dias se encontrem entre a roupa dos inimigos bolas de formas diversas, poderei acreditar, sendo que algumas se amassam na armadura, permanecendo assim entre a roupa; outras podem haver-se chocado de relance com alguma coisa e por isso podem ter adquirido uma forma alongada, atingindo sem for 'a a roupa de um outro, permanecendo ali sem machuc "-lo; em suma, numa pequena batalha podem acontecer mil acidentes, mas n*o o derretimento das bolas; porque, se existisse derretimento, seria necess "rio que o chumbo, perdendo-se em gotas menores que a "gua (como Sarsi bem sabe), caindo de lugares alt $ssimos e com grande velocidade, deveria perder-se completamente assim nenhuma parte seria encontrada. Deixo de lado a outra conclus *o de que a flecha e a bola, acompanhadas pelo ar ardente, deveriam, especialmente durante a noite, mostrar uma linha brilhante como a de um foguete 87, exatamente da forma que Virg$lio descreve a flecha de Alceste, que marcou todo o seu caminho com chamas; todavia, n *o se percebe nada disso a n *o ser poeticamente, apesar de os outros acidentes noturnos, como a luz de estrelas cadentes, serem facilmente percebidos pelo grande brilho. 47. No vemos isto acontecer diariamente. Na realidade, nem os autores por n$s lembrados afirmaram que todas
as vezes que a funda lan &a o chumbo este costuma derreter pelo movimento, mas simplesmente que isto havia acontecido no uma /nica vez; e por esta raz o esta coisa to ins$lita quase foi considerada como um milagre. N$s, mais acima, falamos que para gerar fogo por meio do atrito do ar + necess(rio grande quantidade de exala&5es do mesmo ar. Assim, acontece no raramente nos cemit+rios durante as noites de vero que o ar, movimentado pelo aproximar-se de uma pessoa ou pelo soprar de um pouco de vento, corrompido pelas exala &5es secas e quentes, pega logo fogo. E neste caso, qual + o atrito de corpos duros? Todavia, aquele ar pega fogo pelo movimento e atrito muito leves. Isto + o que Arist$teles quis dizer afirmando: "Quando + impelida e movimentada desta forma, em qualquer lugar que chegue, sendo bem temperada, muitas vezes pega fogo ". Estas palavras demonstram com clareza que isto no acontece a no ser nas circunst3ncias que relatamos mais acima. Assim, se alguma vez acontecer que o estado do ar seja tal que agite abundantemente estas 87
Galileu est" se referindo aos fogos de artif $cio
exala&5es, afirmo que as bolas de chumbo lan &adas com grande for&a pelas fundas esquentaro o ar, com o pr$prio movimento, e com ar esquentado, pegaro fogo; e no existe razo para que Galileu fa&a experimentos a respeito, afirmando-nos que tudo isto n o acontece voluntariamente, mas por acaso; e + muito dif.cil procurar o acaso quando queremos. Depois, se algu+m afirmar que as bolas lan &adas pelas m(quinas de guerra pegam fogo, no pelo atrito do armas por um fogo propulsor com o qual elas so jogadas, mesmo que no seja para mim muito persuasivo que grande massa de chumbo seja derretida por um fogo que a toque s$ por muito breve tempo, acredito haver demonstrado aqui suficientemente que, por causa desses exemplos, Galileu no pode fugir aos testemunhos de poetas e fil$sofos. O derretimento das bolas de chumbo, que quatro versos acima Sarsi disse ser confirmado com exemplos cotidianos, agora ele afirma acontecer t *o raramente que, sendo ins%lito, considerado quase milagre. Este voltar atr"s denota claramente que ele sabe estar necessitando de ajuda; e esta necessidade confirma continuamente sua pr%pria inconst2ncia, querendo ora uma coisa, ora outra: uma vez afirmando que para esquentar o ar suficiente o movimento de um ventinho, ou apenas a chegada de um pessoa viva a um cemit rio de mortos; outra vez (como afirmou mais acima e replicou no fim desta asser'*o) quer que um movimento muito forte, ou uma abund 2ncia de exala')es, ou uma grande rarefa'*o de matria, ou se h" outra coisa ainda que possa srcinar este fen +meno; eu concordo com este -ltimo requisito, mais que com todos os outros, tendo certeza de que n*o s% este acendimento mas outros maravilhosos e ocultos fen +menos naturais s*o produzidos quando existem requisitos suficientes. Gostaria de saber a que prop%sito Sarsi me pergunta, depois de ter afirmado que as chamas nos cemitrios se acendem pela simples chegada de uma pessoa ou por uma pequena brisa, onde se encontra aqui o potente atrito dos corpos s %lidos? Falei bem claramente que o atrito suficiente para acender o fogo s% aquele provocado pelos corpos s %lidos; agora n*o entendo qual a l %gica de Sarsi em deduzir destas minhas palavras que qualquer que seja o acendimento n *o pode ser srcinado sen *o de tal atra'*o. Respondo mais uma vez a Sarsi que o fogo pode ser produzido por muitos meios, entre os quais o atrito e a fric'*o de dois corpos s%lidos; e j" que este atrito n*o pode ser produzido por corpos sutis e fluidos, afirmo que os cometas e os rel 2mpagos, as estrelas cadentes, e tamb m as chamas dos cemitrios, n*o pegam fogo pelo atrito nem do ar, nem dos ventos, nem das exala ')es, pelo contr"rio, cada um destes inc ,ndios produzido na maioria das vezes nas maiores calmarias. Poder$eis talvez dizer-me: "Qual , ent*o, a causa destes fogos?" Eu vos responderia, para n*o provocar novas discuss)es, que a desconhe 'o, mas sei muito bem que jamais nem a "gua nem o ar podem quebrar-se nem pegar fogo nem esquentar, por n*o serem matrias quebr"veis nem inflam"veis. Se atear fogo a um s % fio de palha ou a um chapu de estopa, o fogo n *o p"ra at que toda a palha e a estopa, mesmo sendo cem milh)es de carros, n*o estiverem queimadas; e se ateasse fogo a um pedacinho de madeira queimaria toda a casa e depois toda a madeira do mundo que lhe estivesse cont$gua, se n*o se corresse logo para apag "-lo; quem poderia duvidar que o ar, t*o sutil e todo esquentado sem separa'*o, pegando fogo em uma pequena parte, n *o pegasse fogo em tudo?
Sarsi chega at ao ponto de afirmar com Arist%teles que, se alguma vez acontecer que o ar esteja t*o cheio de exala')es muito quentes, e com os outros requisitos mencionados, ent *o as bolas de chumbo ficar*o derretidas, n*o s% as da artilharia e das espingardas mas tamb m as atiradas com a funda. Ent*o, este devia ser o estado do ar na poca em que os babil +nios cozinhavam os ovos; assim era, por sorte dos sitiados, a situa '*o do ar durante a batalha da cidade de Corbel; e, sendo tal, pode-se, ent*o, alegremente ir contra as espingardas: mas porque enfrentar uma semelhante situa '*o coisa de sorte e que n*o acontece t*o freq4entemente, Sarsi afirma que n*o podemos recorrer aos experimentos, j" que estes milagres n*o se produzem por nossa vontade, mas por vontade do acaso, que muito dif$cil de encontrar. Tanto que, mesmo que o Sr. Sarsi tivesse feito experi ,ncia disto mil e uma vezes, em todas as esta ')es do ano e em qualquer lugar, e as tivesse visto contr "rias 1s palavras daqueles poetas fil%sofos e historiadores, isto n *o teria import2ncia, e dever$amos continuar acreditando nas palavras deles e n*o em nossos olhos. Se eu encontrasse para v%s um tipo de ar com todos aqueles requisitos que afirmais ser necess "rios, e que apesar disto n *o permita cozinhar ovos e derreter bolas de chumbo, o que dir$eis, ent*o, Sr. Sarsi? Porm, sou muito generoso e sempre ficar " a desculpa de afirmar que vos falta algum requisito necess "rio. Bem inteligentemente vos deslocastes a lugar seguro quando afirmastes ser necess"rio a este fen +meno um movimento violento, grande abund2ncia de exala')es, uma matria muito sutil e si quid aliud ad idem conducit88: aquele si quid aliud o que me intriga, e para v%s uma pedra de salva'*o, um asilo, uma imunidade. Eu haveria gostado de suspender a causa e deixar de lado tudo aquilo que n*o dissesse respeito ao cometa, acreditando que, naquele tempo de sua dura'*o, Arist%teles e v%s me conceder$eis que o ar, encontrando-se apto a atear-lhe fogo, se encontrasse tambm apto a derreter o chumbo e cozinhar os ovos, parecendo-me que tivestes procurado em ambos os fen+menos a mesma disposi'*o interna; ent*o gostaria que entr"ssemos mesmo no assunto das fundas, ovos, arcos, espingardas e artilharias e esclarec ,ssemos este problema; observaria se, sem se preocupar com cometas, o tempo oportuno seria mesmo o meio do ver *o, quando o ar est" cheio de rel2mpagos, srcinando-se todos estes fogos da mesma fonte; e duvido que, mesmo que n*o se verificasse nestes tempos o derreter-se das bolas e o cozinhar-se dos ovos, n *o concordaria comigo e dir-me-$eis que falta aquele si quid aliud idem conducens. Se me explicardes o que seja esta si quid aliud, eu me esfor'arei para pesquis"-la; se n*o, passarei por cima disto, o que, segundo meu parecer, ser" prejudicial para vossa teoria, se n *o em tudo, ao menos nesta parte, isto , que enquanto vamos procurando a causa natural de um efeito v%s vos limitais a querer que eu aceite que esta causa t*o rara que, mesmo v%s a colocais entre os milagres. Agora, como nem no movimento das fundas, nem no dos arcos, nem nas espingardas, nem nas artilharias n %s n *o percebemos nunca verificarem-se estes fen+menos muito discutidos j ", ou, se este fen+meno se verificou, foi t*o raramente que devemos consider"-lo milagre, e como tal atribu$-lo mais ao relato alheio que consider "-lo verdadeira prova, por que, ent*o, afirmo eu, se as coisas est *o assim, n*o deveis v%s aceitar que, verdadeiramente e n *o por 88
"Se alguma outra matria levasse ao mesmo resultado.'
efeito milagroso, os cometas n *o podem pegar fogo pelo atrito do ar, e limitar-vos a considerar milagre se algum v+-lo conceder que, uma vez cada mil anos, ele pegue fogo por atrito, existindo naquele momento todas aquelas circunst2ncias necess"rias que v%s procurais? Em rela'*o ao problema que Sarsi coloca e resolve, isto , que algum poderia talvez afirmar que n*o por causa do atrito mas por causa do fogo muito forte que as impulsiona que as bolas das espingardas e da artilharia se derretem, eu prefiro estar entre aqueles que se op )em, afirmando que elas n*o se derretem nem daquele nem de outro modo sequer. Com refer,ncia 1 resposta do problema, n *o sei por que Sarsi n*o haja apresentado aquela que a mais pr%pria e mais clara, afirmando que as bolas e as flechas atiradas com fundas e arcos, onde n*o existe fogo, revelam, abertamente, a falsidade da quest*o. Esta resposta, parece-me, teria sido muito mais de acordo com o problema que aquela apresentada por Sarsi, isto , que o tempo que a bola passa em contato com o fogo muito breve, o que verdade, mas igualmente verdade que muito mais breve o tempo que ela gasta em sua viagem para derret,-la com o atrito do ar. N*o sei o que responder quanto 1 sua -ltima conclus*o, porque n*o entendo em absoluto o que ele quer significar com a afirma'*o de que lhe suficiente ter mostrado que eu, atravs destes exemplos, n*o consegui fugir ao testemunho dos poetas e fil %sofos, cujos testemunhos, tanto escritos como relatados em mil textos, nunca eu procurei fugir deles, mas consideraria carente de racioc $nio aquele que tentasse uma coisa parecida. Eu afirmei que os relatos deles s*o falsos, e ainda agora os julgo assim. 48. Mas contesta ainda: apesar de se aceitar que alguma vez as exala&5es possam pegar fogo com o movimento,
no se entende como no se gastem logo que tiverem pegado fogo, como se )vcotidianamente acontecer com os rel 3mpagos, as estrelas cadentes e outros meteoros semelhantes. Eu acredito, ao contr(rio, que tudo isto possa ser entendido facilmente, se, tomando o exemplo daqueles fogos que foram encontrados pela habilidade e pesquisa dos homens, raciocinar-se igualmente sobre os produzidos pela natureza. Os nossos fogos so de d/plice esp+cie: uns, secos e ralos e n o aderentes por no terem cola, os quais, logo que recebem o fogo, queimam com grande brilho e grandes chamas imediatas, mas com fogo breve e r(pido, quase sem res .duo algum; outros, compostos por mat+ria mais resistente e fundidos juntos com piche l.quido, de longa dura&o, com chama cont.nua, nos iluminam durante as trevas noturnas. Por que no poderia acontecer algo de semelhante, ento, naquelas regi5es alt.ssimas? Com efeito, ou a mat+ria leve + t o rala e seca que no + mantida unida por liga alguma de umidade e pega fogo com brilho repentino e r(pido, como sendo destinada a morrer logo ao nascer, ou + escorregadia e grudenta e, e por acaso pega fogo, no se apaga logo, mas vive mais tempo que seu l.quido e do alto brilha para os mortais que a olham. V)-se claramente, de tudo isto, como possa acontecer que os fogos acesos no ar no se apagam imediatamente, mas brilhem por muito tempo, percebendo-se, assim, que o ar pode pegar fogo, especialmente se existem nele aqueles elementos que s o imprescind.veis para produzir o calor do atrito, isto +, o movimento impetuoso, a abund3ncia das exala&5es, a rarefa&o da mat+ria e qualquer outra coisa que produza o mesmo efeito. Leia V. E. Ilustr$ssima aquilo que resta at o fim desta teoria, a prop %sito da qual n*o tenho muito a dizer, pois falei muito a respeito mais acima. Assim, preocupar-me-ei mais com esta quest *o,
isto , como Sarsi. para manter que o fogo do cometa possa durar meses e meses, mesmo que os outros no ar, rel2mpagos, fa$scas, estrelas cadentes e coisas semelhantes, os considere rapid $ssimos, seja obrigado a admitir duas espcies de matrias inflam"veis: umas, leves, ralas, secas e sem algum elemento
-mido; outras, escorregadias, grudentas, e por isto ligadas por meio de algum elemento -mido. Sarsi quer que as primeiras produzam o fogo r"pido, as segundas o fogo perene, como acontece com o cometa. Mas aqui aparece uma clara contradi'*o: pois, se assim fosse, os rel 2mpagos e as fa$scas deveriam, como acontece com a matria rala e leve, formar-se nas partes mais altas, e os cometas, sendo esquentados em matria mais grudenta, encorpada e por conseguinte mais pesada, deveriam formar-se nas partes mais baixas: todavia. sucede o contr "rio, porque as fa$scas e os rel2mpagos n*o se formam altos da terra nem mesmo um ter'o de milha, assim como nos certifica o pequeno intervalo de tempo que passa quando vemos o rel 2mpago e escutamos o barulho do trov *o. Mas, que os cometas sejam indubitavelmente sem compara'*o muito mais altos, mesmo que ele n*o o demonstrasse suficientemente, verificamo-lo atravs de seu movimento do oriente para ocidente, semelhante ao das estrelas. E seja suficiente tudo isto em rela'*o a estas experi ,ncias. Resta agora que eu, conforme a promessa feita acima a V. E. Ilustr $ssima, relate um pensamento meu sobre a tese "O movimento causa de calor", mostrando de que modo ela possa ser verdadeira. Antes, porm, necess"rio raciocinar sobre aquilo que n%s chamamos "calor", cujo conceito duvido muito que seja considerado como universal 89, porque acredita-se que ele seja um mero acidente, qualidade secund"ria ou caracter$stica que realmente resida na mat ria com a qual n%s queremos esquentar-nos. Portanto, afirmo estar bem em condi'*o de sair deste aperto, concebendo uma mat ria ou subst2ncia corp%rea, como termo e aspecto daquela ou outra subst2ncia, grande ou pequena em rela '*o a outras, colocada naquele ou neste lugar, naquele ou neste tempo, movimento ou parada, em contato ou n*o com outro corpo, como sendo -nica ou poucas ou muitas, nem posso imagin "-la de forma alguma separada destas condi')es; porm n*o consigo, mesmo esfor 'ando-me, imagin"-la branca ou vermelha, amarga ou doce, sonora ou muda, perfumada ou n*o, considerando-a possuidora destas caracter$sticas: pelo contr "rio, se n*o possu$ssemos os sentidos para nos ajudar, o racioc $nio ou a imagina'*o n *o chegariam nunca a alguma conclus *o. Assim, eu considero que estes cheiros, sabores, cores, etc, em rela'*o ao sujeito onde nos parecem residir, n*o s *o outra coisa que puros nomes, mas residem em vez no corpo sensitivo, porque se tiramos a anima'*o todas as outras qualidades anulam-se completamente; havendo n%s imposto a ele nomes caracter $sticos e diferentes dos outros acidentes, acidentes prim"rios e reais, como se quisssemos acreditar que estas qualidades sejam verdadeira e realmente diversas das outras 90. 89
Segundo a teoria de Galileu e de outros fil %sofos naturalistas, as maneiras de produzir calor eram muitas, por isso c errado considerar universal a idia de calor, porque, na verdade, trata-se de "calores". 90 O Ensaio sobre o Intelecto Humano, de Locke, colocar" seu ponto focai justamente sobre estas qualidades, que ele chamar " tambm de "objetivas", que Galileu relata aqui.
Eu acredito que poderei explicar, com algum exemplo, muito mais claramente este meu conceito. Eu estou, neste momento, movimentando uma m*o sobre uma est"tua de m"rmore, e agora sobre um homem vivo. No que diz respeito 1 a'*o da m*o, em rela'*o 1 m*o, ela a mesma seja sobre um seja sobre outro objeto, que daqueles acidentes prim"rios, isto , movimento e contato, nem lhe atribu$mos outros nomes: por m o corpo animado, que recebe estas opera ')es, recebe sensa')es diversas, conforme as partes que est*o sendo tocadas. Por exemplo, mexendo embaixo da sola dos p s, sobre os joelhos ou embaixo das axilas, sente-se, al m do contato comum, uma outra sensa '*o, para a qual pusemos o nome particular de c %cega, cuja sensa'*o inteiramente nossa e n *o da m*o em absoluto; e parece-me que seria um grande erro afirmar que a m *o, alm do movimento e do contato, possa possuir outra faculdade diversa desta, isto , fazer c%cega, como se a c %cega fosse um acidente que residisse na m*o. Um peda'o de papel ou uma caneta, esfregado levemente sobre qualquer parte do nosso corpo, em rela'*o a esta a'*o, faz a mesma coisa, isto , movimento e contato; por m em n%s mesmos, se o contato se verifica entre os olhos, nas narinas, excita uma c %cega quase intoler"vel, enquanto nas outras partes do corpo quase n *o se sente. Esta c%cega contida em nosso corpo e n *o na caneta, e, removendo o corpo animado e sens $vel, ela n *o outra coisa que puro nome. Agora, de semelhante e n *o maior exist,ncia acredito que possa haver muitas outras qualidades que s*o atribu$das a corpos naturais, como sabores, cheiros, cores e outras. Um corpo s%lido , como dizemos, bem material, movimentado e aplicado sobre uma parte qualquer de minha pessoa, produz em mim aquela sensa'*o que n%s chamamos tato, que, mesmo ocupando todo nosso corpo, parece residir principalmente nas palmas das m *os, e especialmente nas pontas dos dedos, por meio dos quais percebemos as pequenas diferen'as de "spero, liso, mole, duro, quando, com as outras partes do corpo, n *o conseguimos distingui-las t*o bem. Destas sensa ')es, algumas nos s*o mais gratas, outras menos, segundo a diversidade das figuras dos corpos tang$veis, lisas ou "speras, agudas ou obtusas, duras ou moles, e este sentido, sendo mais material que os outros, sendo srcinado pela solidez da mat ria, est" em rela'*o 1 constitui'*o interna da Terra. E, sendo que alguns desses corpos separam-se continuamente em pequenas partes, umas delas, mais graves que o ar, descem, e outras, mais leves, sobem; e pode ser que nas 'am daqui outros dois sentidos, enquanto aquelas ferem duas partes do nosso corpo muito mais sens$veis que nossa pele, que n*o sente o contato de matrias muito sutis, ralas e moles: e aqueles pequenos corpos que descem, recebidos sobre a parte superior da l$ngua, penetrando, misturados com a sua umidade, com sua subst 2ncia, geram sabores, agrad"veis ou n*o, segundo a diversidade dos contatos das v "rias figuras destas pequenas partes, e conforme sejam poucos ou muitos, mais ou menos r "pidos; os outros, que sobem, entrando pelo nariz, ferem aquelas pequenas membranas que s*o o instrumento do olfato, e aqui s *o recebidos, da mesma forma, seus contatos e passagens, de nosso agrado ou n *o, conforme as figuras deles sejam de um modo ou de outro, e os movimentos lentos ou r "pidos, e estes $nfimos, poucos ou muitos. E resultam ser muito bem colocados em rela '*o ao lugar, 1 l$ngua e 1s narinas: a l $ngua estendida, embaixo, para
receber aquilo que desce, e as narinas, colocadas de forma a receber o que sobe: pode ser que sejam aptos a excitar os sabores, por uma certa analogia, os fluidos que descem por meio do ar, os perfumes e os elementos quentes que sobem. Resta ainda o elemento a reo dos sons, os quais chegam a n %s indiferentemente, de baixo, do alto, de lado, estando n%s colocados no ar, cujo movimento em sua regi*o verifica-se em todas as dire')es; e o ouvido colocado o mais poss $vel em posi'*o apta a receber tudo; e os sons, ent *o, s *o produzidos e escutados por n %s quando (sem outras qualidades sonoras ou transonoras) um tremor freq4ente do ar encrespado com ondas muito pequenas movimenta a membrana de um certo t$mpano, existente em nosso ouvido. Depois as maneiras externas, aptas a produzir este encrespar do ar, s *o muitas; talvez sejam reduzidas em grande parte ao tremor de algum corpo que se chocando no ar produz encrespamento, e atravs do ar, com grande velocidade, procedem as ondas, cuja freq 4,ncia srcina a agudez do som e a sua gravidade. Mas que nos corpos externos, para excitar em n%s os sabores, os cheiros e os sons, seja necess "rio mais que as grandezas, figuras e multiplicidade de movimentos vagarosos ou r"pidos, eu n*o acredito; acho que, tirando os ouvidos, as l$nguas e os narizes, permanecem os n -meros, as figuras e os movimentos, mas n *o os cheiros, nem os sabores, nem os sons, que, fora do animal vivente, acredito que sejam s% nomes, como nada mais que nome a c %cega, tiradas as axilas e a pele ao redor do nariz. E, da mesma forma que aos quatro sentidos s*o relacionados os quatro elementos, assim acredito que a prop %sito da vista, sentido mais importante que todos, a rela '*o verifica-se com a luz, mas com aquela propor'*o de primazia que existe entre o finito e o infinito, o temporal e o instant2neo, o quanto e o indivis $vel, a luz e as trevas. Dessas sensa ')es e das coisas relativas a elas eu n *o pretendo entender muito, e para explicar aquele pouco que entendo, ou melhor, para coloc "-lo por escrito, n*o seria necess "rio muito tempo, por isso passo por cima. Voltando ao meu primeiro prop%sito sobre este argumento, havendo j" relatado como muitas sensa')es, que s*o reputadas qualidades $nsitas nos sujeitos externos, n *o possuem outra exist,ncia a n*o ser em n%s, n*o sendo outra coisa sen*o nome fora de n%s; afirmo que, levado a creditar que o calor seja um fen+meno deste tipo, e que aquelas matrias que produzem e fazem perceber o calor em n%s, matrias que n%s chamamos com o nome geral de fogo, sejam uma multid *o de pequen$ssimos corpos, com determinadas figuras, movimentados com velocidade enorme. Estes pequenos corpos encontram nosso corpo e o penetram com a sua maior sutileza, e o contato deles, realizado na passagem atravs de nossa subst 2ncia e percebido por n%s, resulta ser aquilo que n%s chamamos calor, grato ou ingrato, segundo a multid *o e a velocidade maior ou menor daqueles pequenos corpos, que nos afetam e nos penetram. Esta penetra'*o torna-se agrad"vel quando por meio dela facilitada nossa transpira'*o, e desagrad"vel quando por meio dela srcina-se uma grande divis *o e solu'*o de nossa subst2ncia. Em suma, a opera '*o do fogo, por sua parte, n*o outra coisa que, por meio de movimento, entrar com sua sutileza m "xima em todos os corpos, dissolvendo-os, mais cedo ou mais tarde, segundo a multid*o e velocidade dos elementos $gneos e da densidade e raridade da mat ria
destes corpos; dos quais existem muitos que, no pr %prio desfazer-se, passam, na maior parte, em outros pequenos corpos $gneos, continuando a solu '*o at encontrar matrias sol-veis. Mas que exista, alm da figura, n-mero, movimento, penetra'*o e jun'*o, outra qualidade no fogo, e que esta qualidade seja o calor, eu n*o acredito; considero que o calor seja uma caracter $stica t*o nossa que, deixado de lado o corpo animado e sensitivo, o calor torna-se simplesmente um voc "bulo. E, aceitando que esta sensa '*o realize-se em n%s na passagem e contato das pequenas partes $gneas atravs da nossa subst 2ncia, claro que, se eles permanecessem parados, a sua a '*o tomar-se-ia nula. Com efeito, podemos perceber que uma quantidade de fogo, retido nos recantos de uma pedra, n *o nos esquenta, apesar de segur "-lo na m*o, porque ele est " parado; mas uma vez colocada a pedra na "gua onde por causa da sua gravidade pode-se movimentar melhor do que no ar, as pequenas partes $gneas, escapando e encontrando nossa m*o, a penetram e n%s podemos sentir o calor. Porque para excitar o calor n *o suficiente a presen'a das partes $gneas, mas necess"rio o movimento tambm, ent*o parece-me que foi afirmado com muita raz*o que o movimento havia de ser a causa do calor. Este aquele movimento por causa do qual pegam fogo as flechas e as outras lenhas e derretem o chumbo e os outros metais, enquanto as pequenas partes do fogo, movimentadas com velocidade ou por si mesmas, ou, n *o sendo suficiente a pr%pria for'a jogadas pelo vento impetuoso das m"quinas, penetram em todos os corpos e algumas delas mudam-se em outras pequenas partes $gneas voadoras, outras mudam-se em p % fin$ssimo, outras derretem-se e tornam-se fluidas como "gua. Mas toda esta teoria considerada pelo senso comum, isto , que, movimentada uma pedra, ou um ferro, ou um peda'o de madeira, podemos nos esquentar, foi uma afirma '*o muito v*. Ora, a fric'*o de dois corpos duros, quer solvendo uma parte em pequenas partes $gneas e voadoras, quer abrindo a sa $da aos pequenos $gneos contidos, coloca-os finalmente em movimento, onde, encontrando nossos corpos e por eles penetrando e passando, e a alma sensitiva, percebendo 91 o contato de sua passagem, sente aquela sensa'*o agrad"vel ou desagrad"vel, que n%s chamamos depois calor, queima '*o ou "esquentamento". E 1s vezes, enquanto a diminui '*o e o atrito permanecem e s *o contidos entre todas as partes pequenas, o movimento deles temporal e a a'*o somente calor $fica: depois, chegando 1 derradeira e important$ssima solu'*o em "tomos realmente indivis$veis, cria-se a luz por meio do movimento ou, queremos dizer, expans*o e difus*o instant2neas, e potente pela sua, n *o sei se deva cham"-la, sutileza, leveza, imaterialidade ou outra condi'*o diferente de todas estas e ainda sem nome, apta, afirmo eu, a encher espa 'os imensos. Eu n*o gostaria, Ilustr $ssimo Senhor, de avan'ar demais em um oceano infinito, onde n *o poderia depois voltar ao porto; nem gostaria, enquanto procuro remover uma d -vida, de dar motivo a levantar cem delas, como receio que tenha acontecido, ao menos em parte, com aquele pouco afastamento meu da beira da "gua: quero, para isto, reservar outra ocasi*o mais oportuna. 91
Galileu claramente demonstra aqui sua ades *o 1s teorias animistas, colocando a exist ,ncia de uma alma "sensitiva", que justamente aquele "senso interno" que Campanella explicar" maravilhosamente em seu De Sensu Rerum.
49. Quando Galileu fala a respeito do brilho que, ao redor dos corpos humanos, no permite distinguir o corpo
mesmo 2queles que o observam de longe, afirma ele, em primeiro lugar, que aquele brilho forma-se na superf .cie do olho por causa da refra&o dos raios do l.quido que existe nele, mas no existe realmente ao redor do astro ou da chama; acrescenta, em segundo lugar, que o ar n o pode ser iluminado; em terceiro lugar, afirma que se observamos os corpos luminosos atrav+s de uma luneta eles aparecem despidos daquela irradia&o. Para examinar a verdade destas teses dever.amos estudar antes de tudo aquilo que + colocado em segundo lugar, isto +, se o ar pode ser iluminado: com efeito, parece-nos que todo o restante deriva disto. Nesta questo + necess(rio antes de tudo supor que, segundo os $pticos e os f.sicos, uma luz n o pode ser percebida a no ser difundida e n o pode ser difundida a n o ser por meio de algum corpo opaco. Com efeito, um corpo transparente, na sua transpar )ncia, no delimita a luz mas lhe oferece passagem livre; em segundo lugar, + necess(rio que o ar seja muito transparente, e por isso menos apto a delimitar a luz; o ar impuro e misturado com muitos vapores pode tamb+m delimitar a luz e remet )-la ao olho. A primeira parte desta segunda tese + aceita espontaneamente por todos e pelo pr$prio Galileu; a segunda + provada por in/meras experi)ncias. Na alvorada, com efeito, ao surgir do Sol, e no crep/sculo, ao p6r do Sol, v)-se suficientemente que o ar impuro n o pode ser iluminado; a mesma coisa testemunham as coroas, halos, peri +lios e afins, que se verificam no ar com densidade suficiente. Galileu mesmo parece admitir isto no Nunzio Sidereo, onde coloca ao redor da Lua uma regi o de vapores semelhante 2quela difundida ao redor da Terra e afirma que + iluminada pelo Sol, o que parece afirmar tamb +m a respeito da regio de J/piter. Al+m disso, se algu+m observar a Lua ainda escondida atr(s do telhado de alguma casa, quando est( para aparecer, ver( no come&o grande parte do ar iluminado pelo raio da Lua mesma, quase uma aurora lunar; e ver ( este brilho aumentar tanto mais quanto a Lua estiver pr$xima a surgir. Seria rid .culo afirmar que a alvorada, os crep /sculos e outros brilhos semelhantes t )m srcem na refra &o do l.quido que se encontra no olho. O qu)? Quando observo a Lua e o Sol no alto, inclu.dos em um pequeno c.rculo, possuo 2s vezes os olhos mais enxutos que quando os percebo, perto do horizonte, num c.rculo mais amplo? Por est es exemplos torna-se mais claro que o ar impuro e misto de vapores pode ser iluminado, o que + demonstrado sem possibilidade de d/vida tamb+m pela razo. Com efeito, j( que a luz torna-se vis .vel por possuir em si mesma alguma opacidade e o ar torna-se mais denso e opaco por causa dos vapores, naquela parte onde + opaco poder( refletir a luz. Explicadas assim estas coisas, volto 2 questo proposta, na qual, quando no poucos e no desprez.veis autores afirmam que parte do ar ao redor do s corpos luminosos ilumina-se segundo a apar)ncia, no + necess(rio que estejam falando do ar puro e sem vapores, mas daquele ar que, formado opaca pelas exala&5es densas, pode reter a luz das estrelas e impedir que prossiga al+m. Quando afirmam que o Sol e a Lua mostram-se com forma maior na proximidade do horizonte do que quando so mais altos, di zem que isto acontece por causa do ar com vapores que se encontra interposto: da. resulta claro que eles n o esto falando de ar puro mas de ar polu.do e por isso mais opaco. , necess(rio ento, estabelecer que no se deve recusar (como quer Galileu) a opinio de que o ar possa ser iluminado pelas estrelas, quando esta opinio foi provada ser verdadeira por muitos experimentos, se a questo for sobre ar impuro. Ento, se o ar pode ser iluminado, poder( tamb+m alguma parte daquele halo luminoso, com o qual as estrelas se vestem, voltar atr(s ao ar iluminado. Mesmo que eu n o negue (como havia sido colocado no come&o) que aquela coroa luminosa divida em longos raios, que se movimente com qualquer movimento doolho, seja iluso $ptica, j( que os mesmos raios agora apare&am 2s vezes mais luminosos2s vezes menos, 2s vezes mais breves, 2s vezes mais compridos, segundo o movimento do
olho, Galileu no provou at+ agora que isto n o aconte&a por causa do ar iluminado em parte alguma daquela luz que n$s no distinguimos da verdadeira chama, da qual nem atrav +s da luneta podemos despojar os corpos luminosos. E a isto no se op5e nem o experimento relatado pelo pr$prio Galileu. Se voc, movimenta a m*o, afirma, colocada entre o olho e a luz, como se quisesse ocultar a luz, o brilho difundido n *o ser" mais coberto at n*o haver voc, escondido a luz verdadeira, mas os raios entre a m *o e o olho aparecer *o; porm, quando tiver coberto alguma parte da luz verdadeira, perceber " desaparecer a parte oposta dos raios; com efeito, se esconder a parte superior da luz, os raios inferiores n *o aparecer*o mais. Assim fala Galileu. E eu, por
experi)ncia, acho tudo isto verdade, quando considero s $ os raios mesmos, aqueles raios que, por causa do pr$prio movimento quase perp+tuo e por causa da diversidade da luz, di stingo mais que suficiente a luz verdadeira que resta: mas quando tento esconder a luz que resta, que eu considero verdadeira, daquela parte onde ponho a mo no meio, se no a escondo completamente, ao menos a diminuo e a ofusco. Repito ofusco; pois os objetos no podem permanecer escondidos por nenhuma interposi&o da mo afim de no serem vistos. Se, como estava dizendo, observarmos com cuidado enquanto estamos cobrindo com a mo a verdadeira chama de uma vela colocada longe de n$s, mesmo que a mo a tenha coberto at+ a ponta, enxergaremos ainda a chama entre a m o e o olho, e o dedo interposto parecer ( queimado por aquela chama e quase repartido em duas partes como acontece com o dedo A. Vou demonstrar como + que esta interposi&o do dedo no impede a viso da chama. Como a menina dos olhos no + indivis.vel, mas pode ser dividida em partes, poder( ser coberta em parte tamb+m, permanecendo descobertas as outras; e por isto, apesar de estar coberta uma parte da menina dos olhos, e no cheguem a ela as imagens do objeto luminoso, todavia, se as outras partes da menina dos olhos permanecerem descobertas e as imagens do objeto puderem alcan&(-la, a luz ser( ainda vis.vel. Por exemplo, coloque a luz BC, a menina dos olhos FA, o corpo opaco interposto seja D, que n o permite a chegada da imagem do ponto C em F; n o exista, por+m, empecilho algum para que de C chegue o raio CA 2 parte da pupila A; atrav+s do raio CA perceber-se-(, ento, a ponta da luz C; mas no se perceber( todavia to brilhante como quando com sua imagem enchia toda a menina dos olhos: mas a ponta C continua sendo vis .vel, antes que D cubra toda a pupila e impe &a que raio algum chegue a C. Assim, se o corpo D for muito menor que a pupila, por exemplo, um fio muito grosso encontrar-se-( pouco distinto da pupila, e a luz, em cruz, encontrar-se-( longe; de qualquer forma, este mesmo fio seja estendido entre o olho e a luz, n o esconder( nenhuma parte da luz, nem se tomar ( vis.vel a parte do fio colocado entre a chama e o olho, isto como se houvesse sido queimada: o que + srcinado da mesma causa. Com efeito, aquele fio,sendo menor do que a pupila, se no se encontrar muito longe dela, no pode impedir que todas as partes da chama, ao menos com algum raio, cheguem at+ o olho: assim, ao menos por meio deles, a chama ser( percebida.
No que diz respeito 2 terceira teoria, com a qual foi afir mado que as estrelas se despem daquele brilho casual quando permanecem observadas com a luneta, existem aqui tamb+m muitas coisas que permanecem sem explica&o. Se a luneta despisse as estrelas do brilho adquirido, este brilho n o deveria poder ser observado atrav+s da luneta: e todavia + percebido. Entre as estrelas fixas nenhuma + to fraca que se deixe despir pela luneta, dest e seu brilho, mesmo que ele n o seja uma caracter.stica delas; coisa que Galileu mesmo parece admitir quando relata que aquele brilho no pode nunca ser tirado completamente do Co e das outras estrelas: com efeito, tamb +m atrav+s da luneta percebemos nelas estes raios brilhantes. Mas o que + que estou dizendo com respeito 2s estrelas? Alguns planetas tamb +m so to resistentes neste brilho que nunca permitem que lhes seja tirado completamente: isto +, Marte, V)nus, Merc/rio, os quais nunca aparecero despidos, a no ser que voc) no apague a luz deles por meio de vidros coloridos aplicados 2 luneta. Na verdade, no vejo se por causa daqueles raios permane&a na superf.cie do olho, isto +, que seja o l.quido que se encontra sempre na pupila, porque se a luz da estrela, produzindo uma refra&o atrav+s da lente da luneta, cai sobre o mesmo l.quido, deve produzir refra&o novamente, mesmo 2s vezes de forma diferente, e produzir os mesmos raios de luz. Se admitimos, como + necess(rio admitir (e demos a prova disto mais acima), que o ar tamb+m + iluminado e por isto pode acontecer que a estrela aparece maior do que + realmente, Galileu no poder( negar, ao menos em rela&o a este ponto, isto +, que tamb+m a luz ao redor possa ser percebida atrav+s da luneta e por isto resulte aumentada: dever( admitir com certeza que atrav+s da luneta possam ser percebidas, e so aumentadas, as coisas colocadas al +m dele; assim, este brilho que se encontra al +m da luneta dever( ser tamb+m observado e aumentado. Todavia, se este aumento no pode ser percebido nas estrelas, + necess(rio procurar alhures a causa disto, e n o no fato de que esta radia&o encontra-se colocada entre a luneta e o olho, isto +, na superf .cie /mida do olho. Com efeito, que tudo isto possa acontecer em rela&o ao ar iluminado, se falamos n o daqueles raios vagos e distintos, mas da est(vel e constante coroa&o de luz bem ampla, provam-no os exemplos do Sol e da Lua que aparecem maiores perto do horizonte e no no z)nite: depois, se falamos dos pr$prios raios, pois so percebidos nas estrelas tamb+m atrav+s da luneta, no poder( ser atribu.do o pequeno aumento delas 2 perda dos raios, porque elas no os perdem. Veja agora V. E. Ilustr$ssima a terceira proposi'*o e releia-a com toda a aten'*o. Repito, com aten'*o, para que mais claramente se entenda com quanto artif $cio Sarsi continua querendo, segundo seu estilo, alterar a verdade, tirar, acrescentar, ridicularizar com sua exposi '*o e diminuir as teorias alheias a respeito, ofuscar a mente do leitor, assim, no fim, entre as coisas aprendidas por ele confusamente, lhe seja poss $vel fazer subsistir alguma opini*o que o Sr. M"rio n*o haja bem esclarecido em sua doutrina, de tal forma que outros n*o hajam encontrado nada para se opor. Sendo opini*o de muitos que uma pequena chama ardente apare'a muito maior a uma certa dist2ncia para se acender, e, por conseguinte, tome igualmente brilhante grande parte do ar que lhe est" ao redor, assim, de longe o ar iluminado e a chama verdadeira apare 'am como uma -nica luz; o Sr. M"rio, contestando isto, afirmou que o ar n*o pegava fogo nem se iluminava, e que o irradiar-se, por meio do qual se verificava o aumento, n *o acontecia ao redor da pequena chama, mas na superf$cie de nosso olho. Sarsi, querendo encontrar alguma coisa para opor a esta teoria verdadeira, em vez de
agradecer ao Sr. M"rio o haver-lhe ensinado aquilo que, com certeza, at aquele momento havia-lhe sido desconhecido, coloca-se em evid ,ncia e quer provar, contra as hip %teses do Sr. M "rio, que o ar se ilumina: e nesta empresa, segundo meu parecer, ele se engana muitas vezes. Primeiro, onde o Sr. M"rio, reprovando as teorias daqueles fil%sofos, afirmou que o ar n *o pegava fogo nem se iluminava, Sarsi deixa de lado a parte do pegar fogo e trata s % da parte da ilumina'*o. Assim, o Sr. M "rio, com muita raz*o, pode reprovar a Sarsi o haver falado de uma coisa enquanto ele contestava outra; haver falado, afirmo eu, do ar ao redor da pequena chama e da ilumina'*o que pode se srcinar de seu pegar fogo, e o outro haver falado da ilumina '*o que, sem haver pegado fogo, verifica-se acima do ar com vapores, colocada a qualquer dist 2ncia do objeto que a ilumina. Ademais, ele mesmo, em sua primeira tentativa, afirma que os corpos transparentes n *o se iluminam e entre eles coloca em primeiro lugar o ar, e depois acrescenta que, misturada com vapores muito densos e muito aptos a refletir a luz, ela fica iluminada. Ent*o, Sr. Sarsi, s*o os vapores pesados e n*o o ar aqueles que se iluminam. V %s me lembrais aquele que falava que o trigo lhe dava tontura e dor de cabe'a, quando porm era misturado com centeio. Mas, ent*o, o centeio e n *o o trigo aquele que ofende. V%s quereis nos ensinar que no ar cheio de vapores a alvorada se ilumina, e que mil outras pessoas alm do Sr. M"rio o escreveram antes de v%s em seis lugares. E que mais? V %s mesmo neste mesmo texto afirmais que ele o coloca at ao redor da Lua e de J-piter; ent*o, todas as provas e experi,ncias de alvorada, halos, peri lios e Lua escondida atr"s de algum empecilho resultam suprfluas, nunca tendo n%s duvidado, nem negado que os vapores difundidos pelo ar, as nuvens e a neblina podem iluminar-se. Mas o que v%s quereis, Sr. Sarsi, fazer desta ilumina '*o? V%s quereis afirmar talvez (como na verdade fizestes) que por meio dela aparecem os objetos prim "rios iluminados com tamanho aumento? E como n*o percebeis que, mesmo que isto fosse verdade, seria necess"rio que o Sol e a Lua se mostrassem grandes quanto a alvorada inteira e os halos inteiros, j " que o ar com vapores tanto e tudo participa da ilumina'*o? V%s, ent*o, Sr. Sarsi, porque encontrastes publicado (afirmo assim, porque v%s mesmo citais os fil %sofos e os autores de %ptica para confirmar e autorizar tais teorias) que a regi*o de vapores se ilumina, e al m disto que o Sol e a Lua perto do horizonte aparecem, mediante esta regi*o de vapores, com tamanho maior do que quando se encontram no meio do c u, v%s vos persuadistes de que desta ilumina '*o depende o aparente aumento deles. Ambas as teses s *o verdadeiras, isto , que o ar com vapores se ilumina e que o Sol e a Lua perto do horizonte, por causa dos vapores, aparecem maiores. Por m, falsa a conex*o das duas teses, isto , que o aumento dependa do fato de ser esta regi *o iluminada, e v%s vos enganastes, e seria melhor que abandon "sseis esta falsa posi'*o, porque, n*o por causa da luz dos vapores, mas por causa da figura esf rica da pr%pria superf$cie externa e por causa do afastamento maior dela em rela '*o ao nosso olho quando os objetos se encontram mais no horizonte, aparecem eles de tamanho maior do que a grandeza usual aparente, e isto acontece n*o s % com os luminosos mas com qualquer outro que seja colocado fora desta regi *o. Colocai entre vosso olho e qualquer objeto uma lente convexa cristalina, com dist 2ncia variada:
percebereis que, quando esta lente se encontra perto do olho, aumentar " de pouco o tamanho do objeto em observa'*o; mas, afastando-a, percebereis sucessivamente que ela estar " aumentando. E porque a regi*o com vapores termina em uma superf$cie esfrica, n*o muito mais alta do convexo da Terra, as linhas retas que, saindo de nosso olho, chegam 1 superf$cie acima mencionada, s *o desiguais, e a menor de todas a reta perpendicular ao vrtice, e das outras, aumentam sempre mais aquelas inclinadas para o horizonte que para o z ,nite. Por isso tamb m pode-se (seja dito de passagem), com maior veracidade, investigar a causa da figura oval aparente do Sol e da Lua em proximidade ao horizonte, considerando a grande dist2ncia do nosso olho ao centro da Terra, dist2ncia que a mesma daquela da esfera de vapores; cuja apar,ncia, como acredito que seja de vosso conhecimento, foi descrita como problema excessivamente complicado em muitas publica ')es, mesmo que toda a dificuldade n*o seja maior do que aquela que encontramos na teoria que explica por que raz *o uma circunfer,ncia, observada em sua melhor coloca '*o, nos apare'a de forma arredondada, e olhando de lado nos apare'a oval. Mas voltando ao nosso discurso, eu n *o sei a que prop %sito o Sr. Sarsi afirma ser rid$culo que a aurora e os crep-sculos e outros brilhos semelhantes sejam gerados pelo l$quido esparso acima do olho, e ser muito mais rid$culo se algum dissesse que, olhando para cima, tiv ssemos os olhos mais enxutos do que olhando para o horizonte, e que por isso a Lua e o Sol nos parecessem menores naquele lugar do que neste. N*o sei, repito, com que finalidade foram introduzidas na discuss *o estas estupidezes, n*o havendo ningum que lenha firmado algo parecido. Mas, enquanto Sarsi se projeta com os mais ignorantes, vejamos se esta sua teoria mais -til 1 sua tese ou 1 nossa. Aqui estamos falando daquela irradia'*o tempor2nea, por meio da qual as estrelas e as outras luzes, criando um halo, nos aparecem maiores do que se fossem observadas com aqueles pequenos corpos despojados destes raios, entre os quais, sendo menos brilhantes que a primeira e a verdadeira chama, este pequeno corpo permanece indistinto, j " que, seja ele, seja a irradia '*o, mostra-se como um objeto -nico, grande e brilhante. Sarsi quer colocar de lado esta irradia'*o e o aumento da luz, que pela refra '*o produzida no ar com vapores, e quer que por isto o Sol e a Lua se mostrem maiores no horizonte que no z ,nite, e, o que pior, quer que muitos outros fil%sofos tenham acreditado o mesmo: o que falso porque n*o erraram tanto. E que este seja um erro grand$ssimo, devia mostrar a Sarsi claramente a enorme diferen'a entre o brilho do Sol e da Lua e o outro brilho ao redor, onde se podia observar ambas aquelas luzes incomparavelmente mais brilhantes e melhor determinadas: o que n*o acontece com a irradia '*o das estrelas, onde o pequeno corpo da estrela permanece indistinto e cancelado por um brilho da mesma intensidade. Mas ou'o Sarsi, que responde dizendo que aquele Sol e aquela Lua de tamanho grande n *o s *o os corpos reais e verdadeiros, mas um conjunto do corpo real pequeno e da irradia '*o que os coroa e os circunda com uma luz n *o menor do que a primeira, resultando, assim, o grande disco aparente todo igualmente brilhante. Se esta a verdade, Sr. Sarsi, por que a Lua n *o se mostra a n%s com este grande
tamanho tambm no meio do cu? Talvez falte l" o ar com vapores apto a ser iluminado? Eu n *o sei o que v%s poder$eis responder, nem consigo imagin "-lo, porque n*o se podendo apresentar contra uma verdade uma falsidade ou fantasia, que, como bem sabeis, s *o infinitas, eu n *o poderia imaginar qual seria a fantasia escolhida por v %s. Mas, para colocar um ponto final definitivo e tirar a v%s e outros, se existem, do erro, seja suficiente dar-vos a prova concreta de que a Lua de tamanho grande que percebeis no horizonte a verdadeira, e n*o aumentada por outra luz tempor "ria e irradiada; seja suficiente, repito, ver suas manchas esparsas por toda a sua circunfer ,ncia at o limite extremo como um chapu que se mostre no meio do cu; porque, se fosse verdadeira a vossa afirma '*o, as manchas da Lua baixa e grande deveriam encontrar-se todas reunidas na parte do meio, deixando o arco ao redor brilhante e sem manchas. Ent *o, n*o por luz acrescentada, mas por um aumento geral por causa da refra'*o sobre a superf $cie remota com vapores, o Sol e a Lua mostram-se maiores quando est*o baixos do que quando est*o altos. Portanto, sabei que do Sol, da Lua e das estrelas, todos corpos brilhantes e constitu $dos fora e muito afastados da superf$cie da regi*o com vapores, sai um brilho que ilumina perpetuamente a metade desta regi*o; e deste hemisfrio iluminado, a extremidade ocidental nos traz a alvorada pela manh*, e a parte oposta nos deixa a noite no crep -sculo. Mas nenhum destes brilhos aumenta ou diminui ou altera de forma alguma a apar,ncia da grandeza do Sol, da Lua e das estrelas, que perpetuamente encontram-se no centro, ou melhor, no p %lo deste hemisfrio vaporoso por eles iluminado; cujas partes diretamente interpostas entre nosso olho e o Sol ou a Lua nos aparecem mais brilhantes que as outras que, gradualmente, ficam afastadas das partes medianas, cujo brilho paulatinamente desaparece; esta aquela luz que sinal do aparecimento da Lua, quando est " ainda escondida por algum telhado ou muro. Uma ilumina '*o semelhante verifica-se ao redor das pequenas chamas colocadas dentro da esfera vaporosa; mas ela t*o fraca que, se durante a noite escond,ssemos um brilho atr"s de algum muro e depois part$ssemos 1 sua procura, dificilmente poder $amos descobrir algum brilho irradiado ou ver $amos outra luz at que pudssemos descobrir a chama principal; e isto verifica-se com um ampliar-se em maior ou menor espa'o, n*o somente segundo a maior ou menor abund2ncia de l$quido, mas segundo a boa ou ruim disposi '*o do olho. Observei tudo isto comigo mesmo, quando, por uma certa indisposi '*o, comecei a perceber ao redor da chama da vela um halo luminoso e de di2metro de mais de uma bra'a, que me impedia a vis *o de todos os objetos colocados alm dele; diminuindo depois a indisposi '*o, diminuiu a grandeza e a intensidade deste halo, mas permaneceu ainda muito maior do que aquele que percebido por olhos perfeitos; e este halo n *o ocultado pela interposi '*o da m*o ou de outro corpo opaco entre a vela e olho, mas permanece sempre entre a m*o e o olho, at que n*o fique ocultada a pr%pria luz da vela. Atrav s desta luz n *o aumenta tambm a chama, cujo brilho muito mais fraco. Existe tambm um terceiro brilho, muito forte e luminoso, quase como a mesma luz principal, produzido pela reflex *o dos raios prim "rios sobre a umidade das orlas e sobre a extremidade das p"lpebras, cuja reflex*o amplia-se sobre o convexo da
pupila do olho: de cuja produ'*o temos certeza mudando a posi '*o da nossa cabe 'a; pois que, se nos abaixarmos, ou nos levantarmos ou nos colocarmos em posi '*o reta, oposta ao objeto luminoso, v ,-laemos com raios na parte s % de cima, ou s% na inferior, ou em ambas; mas n *o perceberemos nunca aparecer raios pela direita ou pela esquerda, porque os reflexos produzidos nos 2ngulos dos olhos n *o podem chegar acima das pupilas, sob cujo horizonte, por meio do fechar-se da p "lpebra sobre o olho que tem forma esfrica, encontram-se os 2ngulos; e se outros, calcando com os dedos sobre as p"lpebras, ampliarem o olho e afastarem as orlas das p "lpebras da pupila, n *o perceber*o raio algum nem para cima nem para baixo, pois os reflexos produzidos nestas orlas n *o se dirigem acima da pupila dos olhos. Esta a -nica irradia'*o pela qual as luzes pequenas nos aparecem grandes e brilhantes, e onde a chama verdadeira permanece sombreada e indistinta. As outras ilumina ')es n*o t ,m, Sr Sarsi, nada a ver, nada mesmo 92, com o aumento, porque s *o t*o inferiores, como luz, 1 luz prim"ria, que seria cego de todo aquele que n *o percebesse o limite e a distin'*o entre os dois; alm de (como j" falei mais acima) a circunfer,ncia do Sol e a da Lua, quando por causa daquela ilumina '*o se tornassem maiores, deveriam mostrar-se enormes como os imensos c $rculos de suas alvoradas. Por isso, quando afirmais que aceitais que aquela coroa luminosa uma sensa'*o do olho, mas que nem por isso eu consegui demonstrar j" que alguma parte n*o dependente do ar iluminado ao redor, desistis da misria de pedir esmolas t*o baratas? Que quereis que possa fazer aquela pequena luz misturada com aqueles brilhant$ssimos raios refletidos pelas p "lpebras? 5 o mesmo que faria a luz de uma tocha 1 luz do Sol da tarde. Desta luz esparsa no ar vaporoso, eu quero conceder n *o s% aquela pequena parte que me pedistes, mas tudo aquilo que diz respeito 1 alvorada e ao crep-sculo e a todo o hemisfrio vaporoso; e aceito que o corpo luminoso nunca possa ser despido disto nem pelo telesc %pio nem por algum outro meio; e aceito ainda, para vossa satisfa '*o completa, que ele seja aumentado pelo telesc %pio como todos os outros objetos, assim que, n *o somente seja adequado 1 luz da aurora, mas em espa'o mil vezes maior, se mil vezes maior pudesse ser percebido com a lente do telesc%pio; mas nada de tudo isto pode ajudar-vos, ou a vosso Mestre, pois ter $eis necessidade, para manter vossa teoria principal (que aquela das estrelas fixas, que, sendo muito afastadas, n*o recebem aumento algum do telesc %pio), ter$eis necessidade, repito, que a estrela e sua irradia'*o fossem uma -nica coisa, ou ao menos que a irradia '*o se produzisse verdadeiramente ao redor da estrela: mas nem aquilo nem isto verdade, porque a verdade reside no olho, e as estrelas recebem aumento tanto quanto qualquer outro objeto observado com o mesmo instrumento, como justamente escreveu e demonstrou o Sr. M"rio. Todas estas outras vossas brincadeiras, de ares vaporosos iluminados e de S%is e Luas altas e baixas, s*o, como se diz, remendos, e um querer fugir da escola e procurar desviar o leitor do primeiro argumento proposto. E entre as vossas muitas fantasias, esta que apresentais, com t *o longo racioc$nio, que interpondo um dedo n*o se impede a vis*o de uma pequena chama, e aquilo que afirmais a respeito de um fio sutil e de um corpo colocado no meio, menor que a pupila dos olhos, s *o todas coisas 92
"Poenitus.'
verdadeiras, mas, segundo meu parecer, em nada de acordo com a tese apresentada. Assim, percebo como internamente v%s mesmo haveis reconhecido, pois, quando era o momento de aplicar estas hip%teses 1 matria e concluir, vos retirastes, deixando-nos em suspenso, e passastes a outro argumento, e procurando, com o racioc$nio, provar coisas que cem experi,ncias clar$ssimas demonstraram ser erradas; e mesmo que v%s pudestes ver, olhando com o telesc %pio, a estrela de Saturno bem delimitada e com figura diferente das outras, a circunfer,ncia do Sol e aquela de Marte especialmente quando se encontram bem perto da Terra, perfeitamente redondos e delimitados, V ,nus, em seu tempo de apari'*o, com cornos e exatissimamente determinado, os pequenos globos das estrelas fixas, especialmente as maiores, muito bem distintos e enfim mil pequenas chamas de velas, colocadas a grande dist2ncia, t*o bem delineadas como se fossem perto, onde, sem telesc %pio, o olho nu n *o pode distinguir nenhuma destas figuras, mas as percebe todas sombreadas pelos raios estranhos e todas com a mesma figura irradiada, com tudo isto v%s quereis igualmente que o telesc %pio n*o as mostre sem raios, persuadido por algum racioc $nio particular vosso, do qual eu n *o seria obrigado a descobrir a falsidade, tendo eu experi ,ncia do contr"rio; todavia, para vossa utilidade, mostrarei vossos erros mesmo que brevemente. E para ser mais claro, eu vos pergunto, Sr. Sarsi, como que V,nus se circunda destes raios estranhos, assim de perder entre eles sua figura verdadeira, pois que, tendo-se apresentado, do momento da cria'*o at os nossos dias, muitas veze s pontudo, nunca foi visto assim por vivente algum, mas sempre apareceu com a figura costumeira, at que eu, por meio do telesc %pio, descobri suas mudan'as? Isto n*o acontece com a Lua, que mostra sua diversidade de figuras a olho nu, sem altera'*o not"vel que possa depender de raios tempor"rios. N*o ides me responder que isto acontece por causa do afastamento de V,nus e da proximidade da Lua; porque eu vos direi que aquilo que acontece com V,nus acontece tambm com as pequenas chamas das velas, as quais, em uma dist 2ncia de cem bra'as somente, confundem suas figuras com os raios e as perdem da mesma forma que V,nus. Se quereis responder exatamente, necess"rio que afirmeis que isto deriva da pequenez do corpo de V ,nus em rela'*o 1 grandeza aparente do corpo da Lua, e que consigais imaginar o comprimento daqueles raios que se produzem em nossos olhos, por exemplo, com a medida de quatro di2metros de V,nus, isto , a dcima parte do di2metro da Lua. Agora imaginai os cornos pequenos de V ,nus, coroado de um halo difundido a seu redor, afastado dele quatro di2metros, e junto 1 grand$ssima figura corneada da Lua com um halo mais ou menos da dcima parte de seu di 2metro: n*o ser" dif $cil entender como a forma de V,nus perder-se-" em seu halo, mas n *o aquela da Lua, que se mostrar" pouqu$ssimo alterada; acontece aqui justamente aquilo que aconteceria se vest $ssemos uma formiga com pele de cordeiro, cuja figura seria completamente escondida pela abund2ncia dos p,los, assim sua figura seria a mesma que um punhado de l*; porm o cordeiro, por sua grandeza, mostra muito distintamente seus membros da fam$lia das ovelhas. Afirmarei, al m disso, que recebendo este halo espl ,ndido colocado no olho uma certa limita'*o devido 1 conforma'*o do mesmo olho mais que a grandeza do objeto luminoso (e
percebemos facilmente apertando as p "lpebras, assim que pare'am sair do objeto luminoso raios muito compridos, n*o sendo maiores aqueles que nos chegam da Lua, aqueles de V ,nus ou de uma tocha), imaginais, ent*o, esta abund2ncia de halo; em cujo meio, se v%s pudestes perceber que existe um bem pequeno corpo luminoso, percebestes a figura, porque coroado de grandes halos; mas, colocando l " um corpo enorme, a figura real poder " finalmente ocupar no olho o espa 'o suficiente para que n*o sobre nada ao redor do halo; ent *o a imagem da Lua, por exemplo, poder" ocupar no olho um espa 'o maior da irradia'*o comum. Aceitando tudo isto, entendereis como o disco real, por exemplo, de J -piter ocupa em nossa vis *o um pequeno c$rculo, cujo di2metro seja a vigsima parte do halo ao redor dele, assim que em t*o grande espa'o, permanece indistinto o pequen $ssimo c$rculo verdadeiro. Mas o telesc%pio aumenta para mim a figura de J -piter com um di2metro vinte vezes maior; porm, o halo n*o aumenta, porque n*o passa atravs das lentes: ent*o poderei ver J-piter, n*o mais como uma estrela extremamente pequena e irradiada, mas como uma Lua redonda, bem grande e distinta. E se a estrela for muito menor que J-piter, mas de brilho muito forte e vivaz, como , por exemplo, o C*o, cujo di2metro n*o a dcima parte daquele de J-piter, mesmo assim sua irradia'*o pouco menor daquela de J-piter; o telesc%pio, aumentando a estrela e n *o o halo, faz com que, onde antes o pequen$ssimo c$rculo era impercept$vel em t*o grande esplendor, de quatrocentas vezes maior ou mais se possa distinguir e apare 'a com uma figura bem determinada. Raciocinai sobre todos estes dados fundamentais e podereis v%s mesmo chegar a uma conclus*o. E respondendo a todas as vossas perguntas, quando foi dito por mim e pelo Sr. M "rio que o telesc%pio despe as estrelas daquele halo brilhante, tudo isto n*o foi relatado com uma inten '*o de estar sob sindic2ncia de uma pessoa t *o exata como v%s que, n*o havendo outro ponto onde vos apegar, continuais insistindo at o desespero, com longos racioc $nios que toma o termo ousad$ssimo de infinito por "grand$ssimo". Quando n%s falamos que o telesc %pio despe as estrelas daquele halo, quisemos afirmar que ele opera, ao redor delas, de tal modo que nos mostra a forma dos corpos estelares distintos e determinados, como se fossem nus e sem algum obst "culo que possa ocultar sua figura a olho nu. 5 verdade, Sr. Sarsi, que Saturno, J-piter, V,nus, Marte, a olho nu, n *o mostram entre eles nenhuma diferen'a de aspecto, e pouca diferen'a de tamanho entre eles em tempos diversos? E verdade que com a lente do telesc%pio podem-se observar Saturno, como aparece nesta figura, e J-piter e Marte sempre daquela forma, e V ,nus em todas aquelas formas diversas? Assim que ele com cornos mostra seu disco quarenta vezes maior que quando redondo, e Marte sessenta vezes quando se encontra no perigeu do que quando apogeu, mesmo que a olho nu n *o mostra mais que quatro ou cinco vezes sua superf$cie? 5 necess"rio que admitais tudo isto, porque s *o coisas l%gicas e eternas, pois n*o poss$vel esperar para poder, atravs de silogis mos, fazer entender que a coisa procede de outra forma. Ora, usar o telesc%pio em rela'*o a estas estrelas assim como aquele halo que perturbava o olho nu e impedia a exata sensa'*o, a qual opera coisas important $ssimas, admir"veis e com grandes conseq4,ncias, justamente aquilo que n%s quisemos afirmar dizendo que o telesc %pio "despe as
estrelas do halo", que s*o palavras s% de um momento e de nenhuma consequ,ncia: palavras que, se v%s ainda estais no grau estudantil, e que por isto podem atrapalhar, podereis mud "-las a vosso gosto, como alterastes j" o nosso aumento com a vossa passagem do n*o-ser ao ser.
Em rela'*o 1quilo que afirmais, isto , que vos parece razo"vel que, assim como um objeto brilhante, chegando atravs do espa'o livre, produz em nosso olho a irradia '*o, mas n*o a produz na Lua, que com sua amplid*o ocupa em nossa pupila do olho um espa 'o maior do c$rculo irradiado, assim ela percebida limpa e n*o com halo; assim, o telesc %pio, dando-me a possibilidade de alcan 'ar com o olho o disco de J -piter seiscentas mil vezes maior que sua figura percebida a olho nu, opera assim como J-piter, com sua amplid*o, ocupa todo o halo, aparecendo semelhante a uma Lua cheia. Porm, o pequen$ssimo disco do C *o, mesmo aumentado mil vezes pelo telesc %pio, n*o consegue alcan'ar toda a amplid*o da superf$cie da nossa pupila, para poder aparecer-nos sem halo; e por serem os halos mais ou menos fracos na extremidade e repartidos entre eles, permanece ele vis $vel, e entre os intervalos dos raios ele percebe muito bem a continua '*o do globo da estrela, que com um instrumento que o aumentasse sempre mais se mostraria a n %s sempre mais distinto e com menos halo. Ent *o, Sr. Sarsi, a coisa est " neste p , e este efeito chamado "despojar J -piter de seu halo": se estas palavras n *o forem de vosso agrado, eu vos dei j " a permiss*o de mud"-las 1 vontade, e vos garanto usar no futuro a vossa corre'*o; mas n*o experimenteis querer mudar tudo isto, porque n*o conseguireis. E como j" estais replicando, a prop %sito desta conclus*o, ser necess "rio conceder que o ar ao redor ilumina-se, e que por isto a estrela aparece maior, eu volto a dizer-vos novamente que os vapores ao redor podem ser iluminados, mas nem por isso o corpo luminoso aumenta, porque a luz dos vapores sem compara'*o menor que a luz prim "ria: assim, o corpo brilhante, se for grande, permanece nu, se for pequeno, permanece, como sua irradia '*o provocada no olho, bem definido e distinto dentro da fraqu$ssima luz do ar com vapores. Repito mais uma vez, pois v %s mesmo me replicais muitas vezes que desististes daquela falsa opini *o de que o Sol e a Lua no horizonte aparecem maiores, por causa de uma coroa de ar iluminada que se acrescente aos seus c$rculos, porque esta hip%tese uma ingenuidade, como falei e provei mais acima. E para n*o deixar nada de intentado que possa vos tirar do erro e fazer que sejais capaz de entender tudo isto, 1s vossas -ltimas palavras, onde afirmais que, mesmo percebendo-se atrav s do telesc%pio esses raios luminosos ao redor das estrelas, n*o ser" poss$vel reduzir o m$nimo aumento delas na perda do halo, porque n *o se perdem; eu vos respondo que o aumento enorme, como em todos os outros objetos, e que vosso erro consiste (como
foi sempre falado) em fazer compara'*o entre a estrela com todo o seu halo, observado a olho nu, e o corpo verdadeiro da estrela observado, com o instrumento, distinto de seu halo brilhante, do qual 1s vezes ele aparece maior, 1s vezes igual, segundo a grandeza da estrela verdadeira e do aumento do telesc%pio; e quando aparece uma irradia'*o menor do que a dele, percebe-se ainda seu disco entre as extremidades do halo, como j " relatei. Uma %tima prova do grande aumento, igual em todos os objetos,
observar J-piter com a lente antes do amanhecer, e segui-lo at o nascer do Sol e mais ainda; perceber-se-" assim que seu disco, no telesc%pio, sempre do mesmo tamanho, e torna-se cinco ou seis vezes menor, e finalmente reduzido quase a um ponto invis$vel, com o nascer do sol, quando acaba desaparecendo. Porm, desaparecido para o olho nu, continua podendo ser observado o dia inteiro com seu tamanho e com seu halo, porque eu possuo um instrumento que o mostra a mim, quando est" perto da Terra, do mesmo modo como vemos a Lua a olho nu. Este aumento, ent*o, n*o m$nimo ou nulo, pelo contr"rio, grande, como o para todos os outros objetos. Eu quero, Sr. Sarsi, pegar-vos quando estiverdes cansado, se n*o puder pegar-vos correndo. V%s quereis uma nova demonstra '*o, como prova de que os objetos, em qualquer dist2ncia que se encontrem, aumentam na mesma propor'*o? Escutai-a. Eu vos pergunto se, colocados quatro, seis ou dez objetos vis$veis em dist2ncias diversas, porm de modo que todos eles sejam percept $veis na mesma linha reta, de maneira que o mais perto ocupe o espa 'o frontal de todos os outros, eu vos perguntarei, ent*o, se, mantendo o olho no mesmo lugar e observando os mesmos objetos com o telesc %pio, v%s os ver$eis todos em linha reta ou n *o, de modo que o mais perto n *o oculte os outros, mas permita que v%s os vejais? Acredito que v %s responder$eis que eles aparecem todos em linha reta, porque realmente se encontram dispostos em linha reta. Agora, a este ponto, imaginai quatro, seis ou dez varinhas retas, paralelas entre elas, colocadas a dist 2ncias desiguais do olho, e sendo elas tamb m de tamanho desigual, as mais afastadas sendo as maiores, e gradualmente as menores sendo as mais pr %ximas, de maneira que os termos extremos n*o sejam vistos dispostos em duas linhas retas, uma 1 direita e outra 1 esquerda; pegai depois o telesc %pio e observai-as: por tudo aquilo que j " falamos, seus termos, seja os da direita seja os da esquerda, ser *o percebidos em duas linhas retas como antes, por m abertas em um 2ngulo maior. E como isto aceito, Sr. Sarsi, por todos os ge +metras, necess"rio que aumentem todas aquelas linhas segundo a mesma propor '*o e n*o que aumentem mais as pr%ximas em vez das afastadas. Cedei, pois, e calai-vos. 50. Mas observemos aquilo que justamente Galileu toma como arma contra Arist$teles da doutrina peripat+tica
e dos experimentos. Ademais, afirma ele, que o cometa n*o era uma chama j" havia sido deduzido pela pr%pria experi,ncia e pelas teorias dos peripat ticos que afirmaram que corpo algum luminoso transparente. A experi,ncia ensina que a chama, mesmo pequena, de uma vela impede que os objetos colocados alm dela sejam percebidos: ent*o, se algum afirmar que o cometa uma chama, ser" necess"rio afirmar que as estrelas colocadas alm dela foram ocultadas: todavia, atravs da cauda do cometa
percebemos brilhar as estrelas esplendorosamente. Assim afirma Galileu; e no posso me cansar de admirar que
um homem, com to grande nome e to amante de experimentos, haja, com tanta eloq4)ncia, afirmado coisas que com tanta facilidade podem ser contestadas atrav+s de experi)ncias simples. Com efeito, se as palavras dos peripat+ticos, entendidas em seu justo sentido, so bem verdadeiras (todo corpo que pode ser iluminado ou que pode aparecer iluminado deve quase parar e apanhar a luz que viaja al+m: um corpo transparente, fazendo passar luz, no pode guard(-la, j( que + necess(rio afirmar que qualquer corpo ilumina-se com mais facilidade quanto mais + opaco e menos transparente), ningu +m negaria que podem ser encontrados corpos, em parte transparentes e em parte opacos, que podem conservar a luz, como, por exemplo, as nuvens mais ralas, a (gua, o vidro e muitas outras coisas semelhantes que ret)m a luz sobre a superf.cie de um ponto, e em outro ponto a deixam passar al+m. Por isso, no h( motivo, devido a esta afirma&o de Galileu, para que eu possa dar qua lquer import3ncia aos seus experimentos. Os experimentos so falsos. Afirmo, ento, que a chama da vela n o subtrai 2 vista os objetos colocados al+m dela, e no + transparente. Esto de inteiro acordo com esta afirma &o as Escrituras Sagradas, que relatam sobre Ananias, Azarias e Misael colocados no forno por ordem do rei. Assim, com efeito, eles fazem dizer ao rei: "Eis que eu vejo quatro homens soltos e andando no meio do fogo sem se queimar; o quarto + semelhante ao filho de Deus ". Mas para que algu +m n o possa chegar a pensar que tudo isto deve ser considerado milagre, a mesma coisa + provada pelo fato de que na chama da vela, bem no centro, pode-se perceber um ponto de cor escura ou incandescente. Ademais, quando se acende uma grande quantia de lenha, vemos facilmente entre as chamas das lenhas quase consumidas as brasas acesas, mesmo que a viol)ncia das chamas encontre-se entre o olho e as lenhas do centro. A chama, ento, resulta ser transparente. Em segundo lugar, qualquer coisa opaca, colocada entre o ol ho e o objeto, impede a viso do pr$prio objeto, quer diste ele muito ou pouco. Assim, por exemplo, um peda &o de madeira que encoste em alguma coisa ou lhe esteja longe (sendo, por+m, colocado entre ela e o olho) n o permitir( que ela seja vista: isto no acontece com a chama que, com efeito, sempre permitir( ver qualquer coisa colocada atr(s dela, se ela no for muito distante, e se a ilumina de perto abundantemente. Qualquer um pode com facilidade experimentar que, colocando algu ma coisa para ler, al+m da luz, na dist3ncia de um dedo, poder( ler com muito maior facilidade os caracteres iluminados pela chama: a chama, ento, deve ser transparente e luminosa; o que Galileu nega, colocando o contr(rio como princ.pio fundamental, preparando-se para discutir com Arist$teles. Se algu+m perguntar por que os objetos colocados al+m da chama, quando se encontram afastados dela, no podem ser vistos, apresento esta razo: sem d/vida, um objeto que com mais for&a consegue golpear a viso impede que sejam vistos outros objetos menos aptosa golpe(-la. Por isso, quanto mais os objetos se encontram perto da chama mais so iluminados, assim tanto mais s o aptos a golpearem a viso, e por isso so vistos: com efeito, iluminados por uma luz maior, quase disputam com a pr $pria chama. Ent o, se a chama brilha com luz mais ofuscada o objeto colocado al+m dela que + por si mesmo luminoso ou+ iluminado fortemente por outro, a chama colocada no meio nunca impedir( a viso, mesmo que o objeto se encontre muito afastado.
, bom confirmar isto com experi)ncias. Fa&a-se, ento, queimar vinho destilado, vulgarmente chamado bagaceira: sua chama, no sendo muito brilhante, deixa livre passagem 2s imagens dos objetos, de modo que seja permitido
ler tamb+m os caracteres muito pequenos. Acontece o mesmo com a chama srcinada pelo enxofre aceso que, mesmo sendo uma chama colorida e densa, impede s$ pouco as imagens dos objetos. Segundo, seja mesmo a chama de luz be m clara e brilhante, todavia, se voc ) afastar muito a luz de outra vela colocada al+m dela, perceber( atrav+s da luz da chama mais pr$xima brilhar a luz da chama mais afastada. Porque as estrelas so corpos luminosos e muito mais luminosos do quequalquer chama, no + de admirar, ento, que sua viso no possa ser impedida pela luz interposta do cometa: por isso, a opinio de Arist$teles no + diminu.da de forma alguma pelo racioc.nio de Galileu. Terceiro, nem s$ os corpos luminosos que brilham com luz pr $pria no podem permanecer ocultos por uma chama interposta mas tamb+m os corpos opacos, se forem iluminados por outra luz. Assim, se voc) tiver observado alguma coisa iluminada pelo Sol, chama alguma interposta poder( impedir a viso dela. Ento, + mesmo evidente, at+ demais, que as chamas so transparentes e isto no impede que o cometa possa ser uma chama.
5 tempo, Ilustr$ssimo Senhor, de concluir estes discursos compridos demais. Por isso, vamos examinar esta quarta e -ltima hip%tese. Aqui, como V. E. pode ver, Sarsi afirma que n *o pode conter sua admira'*o de que eu, tendo um nome de observador cuidadoso e de pesquisador muito dedicado a experi,ncias, possa ter chegado ao ponto de afirmar constantemente aquelas coisas que podem ser contestadas com muita facilidade atravs de experimentos claros e bem aparelhados, dos quais ele aborda m-ltiplos exemplos, onde ele aparece t *o cuidadoso e honesto pesquisador quanto eu apare 'o mal sucedido e mentiroso. Em primeiro lugar, direi muito brevemente aquilo que levou o Sr. M "rio a publicar, e eu a aceitar, que, como o cometa fosse uma chama, deveria nos ocultar as estrelas; depois analisarei os exemplos e a exposi '*o de Sarsi, deixando a V. E. Ilustr $ssima julgar qual de n%s seja mais mentiroso e mal sucedido em suas experi,ncias e em seu racioc$nio. Considerando n%s que a transpar,ncia de um corpo n*o outra coisa a n*o ser um deixar ver objetos colocados al m de si, n%s nos persuadimos de que quanto mais este corpo transparente for menos vis$vel tanto melhor ser " sua transpar,ncia; assim, o ar bem transparente invis$vel de todo; a
"gua limpa e os cristais bem polidos, colocados entre objetos vis$veis, n*o s *o percebidos com muita clareza: de tudo isto nos pareceu evidente que fosse muito f"cil concluir que quanto mais os corpos fossem vis$veis por si tanto menos transparentes seriam; e porque, entre os corpos vis $veis por si mesmos, as chamas por acaso pareciam n *o ser as -ltimas, julgamos porm que elas haviam de ser pouco transparentes: depois a autoridade de Arist%teles e dos peripatticos, acrescentada a este racioc$nio, nos confirmou a hip %tese. A prop%sito da autoridade destas personagens, parece-me oportuno salientar que Sarsi quer dar-lhe uma outra interpreta '*o que n*o aquela srcinal verdadeira; afirma que interpretada corretamente muito verdadeira, e que o sentido dela que os corpos, para poderem ser iluminados, n*o devem ser transparentes. Mas se Sarsi a interpreta neste sentido, porque assim a teoria parece ser verdadeira, necess"rio, ent*o, que ele abandone o restante porque lhe parece falso (todavia, no que diz respeito 1s palavras, elas s*o mais aptas a este que 1quele). Todavia, ele
mesmo, um pouco mais abaixo, afirma tamb m, e o confirma com numerosas experi,ncias, que os corpos luminosos impedem a vis *o das coisas colocadas al m delas, escrevendo: Com efeito, tamb+m eles
impedem a viso das coisas colocadas al+m deles93; e assim em seguida. Mas, voltando ao primeiro discurso, afirmo que, alm da autoridade dos peripatticos, nos levou a aceitar esta teoria o provar por experi,ncia que um vidro em fogo nos impede muito a vis *o dos objetos, enquanto o vidro frio nos deixa perceber tudo distintamente. E a mesma coisa produz a pequena chama de uma vela, especialmente em sua parte superior, muito mais brilhante que a inferior ao redor do pavio, o qual fumacento e nem t*o inflam"vel quanto a chama verdadeira. Ademais, havendo n %s observado que a espessura do corpo, mesmo n*o muito opaco por si mesmo, t*o importante que, por exemplo, uma neblina que por vinte ou trinta bra 'as n*o nos permita a vis *o de uma "rvore, multiplicada por uma altura de duzentas ou trezentas bra'as, nos tira tamb m a vis*o do pr%prio Sol, pensamos n *o estar longe do razo"vel acreditar que a n*o transpar,ncia e opacidade de uma chama n*o pudesse ser t*o pouca que, tornada mais densa a uma profundidade de centenas e centenas de bra 'as, n*o devesse nos ocultar o aspecto das estrelas menores. Portanto, conclu $mos que a profundidade da cauda do cometa (que necessariamente dever" ser, n*o direi com o Sr. Sarsi e seu Mestre setenta milhas, mas outras tantas bra'as), se ela fosse uma chama, deveria nos ocultar as estrelas; e n %s, observando que ela n *o fazia assim, pensamos possuir um argumento bem conclusivo para provar que ela n *o fosse de fogo. Agora, o Sr. Sarsi, preocupando-se pouco ou nada com a subst2ncia principal deste l%gico discurso, apegandose 1quele -nico ponto formulado pelo Sr. M "rio, de que a pequena chama de uma vela n *o transparente, persuade-se e aceita, todas as vezes que ele possa demonstr "-lo, que a pequena chama sempre mencionada possui alguma transpar ,ncia; e afirma que algum que aproximar dela uma folha escrita, assim que quase a toque, e procurar cuidadosamente, poder " ler os caracteres escritos: a isto eu acrescento "todas as vezes que ele esteja com vista perfeit $ssima", porque mesmo eu, que n*o sou vesgo, n*o consigo v,-los, nem servindo-me dos %culos nem indo o mais perto poss $vel.
5 bem verdade que, alm da supramencionada experi,ncia, muitas outras s *o apresentadas por Sarsi, entre as quais, por rever ,ncia, por piedade religiosa e por ser ela de suprema autoridade, devo ponderar primeiramente aquela que o mesmo Sarsi coloca em primeiro lugar, tirando-a das Sagradas Escrituras. Onde, junto com o Sr. M "rio, noto as palavras das Escrituras citadas anteriormente por Sarsi, que me parecem afirmar que, antes de o rei poder ver o anjo e os tr,s meninos andarem no forno, as chamas haviam sido retiradas; pois parece-me que sejam t*o atinentes as palavras do Texto Sagrado, que s*o estas94: "O anjo do Senhor desceu sobre Azarias e seus companheiros e removeu do forno a chama do fogo e fez com que o meio do forno possu $sse quase um vento que produz orvalho". 5
93
"Nam haec etiam rerum ultra ipas positarum aspectum impediunt." "Angelus autem Domini descendit cum Azaria et sociis eius. et excussit flammam ignis de fornace, etfecit mdium fornacis quasi ventum roris flantem." 94
conhecido que as Escrituras, dizendo "flammam ignis" 95, parecem querer fazer uma distin'*o entre chama e fogo; e quando mais abaixo se l , que o rei v, as quatro pessoas caminharem, est" falando a respeito do fogo e n *o da chama: "Eis, estou vendo quatro homens livres e andando no meio do fogo". Mas porque poderei redondamente me enganar em penetrar o verdadeiro sentido de mat rias que por um intervalo grande demais ultrapassam a fraqueza de meu racioc $nio, deixando tais determina')es 1 prud,ncia dos mestres em coisas divinas, eu raciocinarei simplesmente sobre estas doutrinas inferiores, confirmando estar sempre pronto para qualquer decreto dos superiores, apesar de qualquer demonstra'*o e experi,ncias que possam ser contr "rias.96 E voltando 1s experi,ncias de Sarsi, por meio das quais ele nos faz ver, em transfer,ncia, atravs de v"rias chamas, diversos objetos, afirmo que posso conceder-lhe livremente que tudo isto verdade, mas de ajuda alguma para sua teoria: porque para prov "-lo n*o suficiente que a chama interposta tenha um dedo de profundidade, e que os objetos encontrem-se o mesmo tanto pr %ximos dela, e o observador n*o esteja muito longe, isto , que os objetos se encontrem dentro das pr %prias chamas e na parte mais baixa dela, que aquela muito pouco brilhante. Mas necess"rio (n*o sendo poss $vel outra solu'*o) que nos demonstre sem d -vida poss $vel que uma chama, mesmo com centenas e centenas de bra'as de profundidade, encontra-se muito longe do observador e dos objetos vis $veis, n*o tanto, porm, que nos oculte a vis *o. Isto tudo o mesmo que se afirm"ssemos ser necess "rio provar que a chama impede menos do que se fosse uma neblina, cuja neblina tal que, mesmo passando n *o s % um dedo de espessura, mas quatro ou seis bra 'as, n*o impede nada, mas a profundidade de cem ou duzentas bra'as oculta o pr %prio Sol e at as estrelas. Enfim, n *o posso me conter de perguntar ao pr %prio Sarsi, que est" admirado por minha indesculp"vel falta de interesse no uso das experi,ncias: v%s, ent*o, Sr. Sarsi, me acusais de ser um p ssimo experimentador, enquanto no manuseio da experi ,ncia v%s errais t*o gravemente quanto poss$vel? V%s tendes necessidade de mostrar-nos que a chama interposta n*o suficiente, contrariando nossa teoria, para nos ocultar as estrelas, e para nos convencer com experi,ncias afirmais que experimentando n%s observar homens, brasas, escritas e velas colocadas alm das chamas, logicamente n %s poderemos observ"-los: nunca chegastes a afirmar que pod $amos observar as estrelas? E por que, ent *o, v %s n*o afirmastes logo de sa $da: "Colocai uma chama entre o olho e alguma estrela, assim v %s a podereis observar com tranq4ilidade"? Faltam talvez estrelas no c u? Isto significa ser um h"bil e bem sucedido pesquisador? Eu vos pergunto se a chama do cometa do mesmo g,nero das nossas ou de outra natureza. Se for de outra natureza, as experi,ncias realizadas com nossas chamas n *o s*o comprovantes em rela '*o a ela: se possui a mesma natureza que as nossas, deixemos, ent*o, de lado a brasa, os cogumelos e as outras coisas; e quando afirmais que depois da chama de uma vela podem ser vistas algumas escritas, podereis ter afirmado tamb m que eram vis$veis 95
Segundo Galileu, a especifica'*o: chama "de fogo" deixa subentender a exist,ncia de outros tipos de "chamas"; teoria esta semelhante 1 teoria dos "calores", da nota 90. 96 Esta frase mostra como Galileu aceitou a reprimenda feita a ele pelo Cardeal Belarmino em 1615, emnome do papa, por causa de sua interpreta'*o do texto b $blico.
algumas estrelas. Sr. Sarsi, quem quisesse discutir conosco, isto , 1 moda de comerciante, com uma balan'a muito sutil e exata, diria que v %s tivestes por obriga'*o acender uma chama bem afastada e enorme tanto quanto o cometa e nos mostrar, atrav s de sua transfer,ncia, as estrelas, pois, seja a grandeza da chama seja o afastamento do olho, s *o de enorme import2ncia a este respeito, e devem ser tidas em grande considera'*o: mas eu, para vos ajudar e para vos dar um pouco de vantagem, quero ficar com muito menos, e quero at preparar para v%s provas aptas 1s vossas necessidades. Primeiro, como estar a chama muito perto do olho coisa de extrema import2ncia em rela'*o 1 vis*o dos objetos, em vez de coloc "-la t*o afastada quanto o cometa, fico satisfeito em coloc "-la afastada somente cem bra'as. Ademais, como a profundidade e espessura do meio possuem a mesma import2ncia, em vez de colocar a mesma espessura do cometa que, como v %s bem sabeis, de muitas centenas de bra'as, fico satisfeito com dez bra 'as somente; ademais, porque o objeto que deve ser observado brilhante, o que ajuda enormemente, como v %s mesmo afirmais, fico satisfeito em aceitar como objeto uma daquelas estrelas que foram observadas atravs da cauda do cometa, cujas estrelas, segundo vossa opini *o, em vosso texto, s *o muito mais claras que qualquer chama. Depois, se com todo este aparelhamento t *o proveitoso para vossa teoria, v%s podereis conseguir mostrar-me a transpar,ncia desta chama e por meio dela a estrela, eu me confessaria convencido e vos consideraria o mais cuidadoso e sutil pesquisador do mundo, mas, n*o conseguindo nada disto, n *o procuro outra coisa de v%s a n*o ser que com o sil ,ncio termineis as contesta ')es, como espero que estejais para fazer. Pois, se por acaso virdes este meu texto, o qual fica ao arb $trio deste senhor, ao qual estou me dirigindo e que poder" mostr"-lo a quem quiser, podereis perceber como deve agir aquele que quer levar a fim o exame das obras alheias, que n *o deixar hip%tese alguma sem verifica'*o, e n*o (como v%s fizestes) andar, em forma de barata tonta, de um lado para outro, procurando alguma solu'*o. E para terminar esta parte, n *o podeis negar haver, v%s mesmo, entendido e confessado que as chamas interpostas, sendo elas um empecilho sens $vel, produzem um empecilho para o vosso olho, porque, se n*o ofuscassem nem um pouco, ent*o n*o haveria import2ncia alguma que os objetos se encontrassem mais ou menos afastados da chama, mais ou menos brilhantes, e as chamas fossem produzidas por enxofre ou bagaceira em vez de palha ou cera, como expusestes claramente: Sejam a
chama e o objeto quaisquer que se queira, no surge empecilho algum, mas pode-se enxerg ar atrav+s da chama como atrav+s de ar livre e puro. Alm de tudo isto, um pouco mais abaixo, falando a prop%sito das coisas que n*o brilham por si mesmas, como as chamas, mas s *o iluminadas por outras, afirmais que estas ainda impedem a vis*o dos objetos, onde o termo ainda mostra que admitis algum empecilho produzido pelas chamas. E que mais? Se elas n*o impedem nada, quem haveria pensado, ent*o, em afirmar que elas n*o s*o transparentes? Ent *o, v%s tambm admitis um certo ofuscamento sens$vel (digo v%s admitis, porque n%s e os outros admitimos um empecilho muito grande) e vossas experi ,ncias s*o realizadas ao redor de chamas t*o pequenas, que decididamente o empecilho de outra tanta neblina teria sido de todo insens$vel; ent*o, vossas chamas impedem mais de outra tanta neblina; mas tanta neblina quanta a
profundidade do cometa sombreia e tira por completo a vis *o do Sol: ent*o, se o cometa fosse uma chama, deveria ser de tamanho suficiente a nos ocultar a vis*o do Sol, e tamb m aquela das estrelas, as quais, porm, ele n*o nos oculta, logo, ele n *o uma chama. E como para sustentar uma opini *o falsa, os que a sustentam s *o poucos, e para estabelecer uma verdade abundam as experi,ncias contr"rias, eu quero fazer ressaltar a V. E. Ilustr $ssima um particular por meio do qual parece-me que fica confirmada sua falsa opini *o de Arist%teles. Como a natureza de todas as chamas conhecidas por n %s subir, permanecendo seu princ $pio e cabe 'a na parte inferior, sendo cauda do cometa uma chama e sua cabe 'a a matria que a srcina, seria necess "rio que a cauda subisse reta at o cu, de cujo movimento derivariam duas coisas, isto , ou que a cauda seria vista sempre como um halo ao redor da cabe'a (como aconteceria se o lugar do cometa fosse muito alto), ou (e isto aconteceria se ele se encontrasse pouco longe da Terra) seria preciso que, ao nascer, nascesse antes a extremidade da cauda e a cabe 'a por -ltimo, e subindo ao meio do c u, quanto mais a cabe'a se encontrasse perto do nosso z ,nite tanto mais a cauda deveria aparecer mais curta, e no pr%prio vrtice deveria aparecer nula ou ao redor da cabe 'a, e finalmente, indo rumo ao ocidente, a cauda deveria aparecer ao contr"rio, como se a cabe'a fosse vista inclinada para o ocidente antes dela; de forma contr"ria, quando a cauda fosse para a frente como quando nasce, seria necess "rio que a chama, contrariamente 1 sua natureza e 1quilo que ela fazia quando se encontrava nas partes orientais, fosse para baixo. Mas este fen+meno n*o se verifica no cometa e em seu movimento, por isto n *o uma chama. 51. No se pode omitir que, justamente com o argumento por meio do qual seop5e a Arist$teles, Galileu pode
ser vencido. Afirma ele: As chamas n*o s *o transparentes; a cauda do cometa transparente; logo, n *o uma chama. Mas retruco contra Galileu: os corpos luminosos no so transparentes; a cauda do cometa + transparente,
logo no + luminosa. Que seja transparente o demonstram as estrelas que n o pe rmanecem ocultas em parte alguma por causa de sua interposi&o. Ademais, que esta cauda seja luminosa, o mesmo Galileu o afirma quando sustenta que + formada por vapor iluminado: com efeito, o vapor iluminado + um corpo luminoso. E no diga que ele est( falando dos
+m impedem a viso dos corpos luminosos brilhantes de luz pr$pria, e no daqueles que recebem luz dos outros. Estes tamb objetos colocados al+m deles: com efeito, se iluminamos uma bola de vidro ou uma garrafa cheia de vinho ou de qualquer outra coisa, ela permitir( observar o vinho somente nos pontos onde no reflete a luz e onde n o aparece iluminada: naquela parte, em vez, que reflete a luz aos olhos, n o deixa ver a no ser alguma coisa de luminoso e candente. O mesmo acontece tamb+m nas (guas iluminadas pelo Sol, cuja parte que reflete o Sol no deixa ver nada que seja colocado al+m dela, enquanto as outras partes mostram as pedras e ervas que se encontram no fundo. Por isto dir-se-( que + caracter.stica dos corpos iluminados impedir a vis o dos objetos colocados al+m deles, mas estes corpos podero ser chamados de luminosos. Ento, se eles no permitem, segundo Galileu, transpar)ncia alguma, atrav+s da cauda do cometa, luminosa ou iluminada, no poderemos ver estrelas; por+m isto foi poss.vel; ento, a cauda do cometa foi iluminada e + transparente.
Eu exponho tudo isto com tanta boa vontade que qualquer um pode entender, pois esta concluso n o depende daquelas intrigas de linhas e 3ngulos, das quais nem todo mundo sabe se sair com igual facilidade; com efeito, aqui, aquele que possui olhos possui racioc.nio mais que suficiente. Como V. E. pode perceber, Sarsi torce meu pr %prio argumento contra mim mesmo; mas examinemos brevemente quanto sucesso ele consegue disto. Em primeiro lugar, quero sublinhar como ele, para levar a efeito esta sua inten '*o, incorre em alguma contradi '*o consigo mesmo e justamente isto que mais me admira sem necessidade. Mais acima, porque assim era necess "rio para sua teoria, esfor'ou-se muito para provar que as chamas s *o transparentes, assim, atrav s delas podiam-se observar as estrelas; agora, para me convencer com minhas pr %prias armas, necessitando ele que os corpos luminosos n*o sejam transparentes, esfor 'a-se para provar que assim, com muitas experi,ncias, parecendo, assim, que ele deseja que os corpos luminosos sejam e ao mesmo tempo n *o sejam transparentes, segundo suas necessidades. E ele cai neste inconveniente sem necessidade alguma, porque, sem se contradizer ao mostrar querer agora aquilo que pouco antes havia negado, era suficiente que ele afirmasse (sem passar depois a demonstr "-lo ele mesmo) que n %s hav$amos afirmado que geralmente os corpos luminosos s *o transparentes. Nem havia raz *o para temer que eu chegasse a distinguir os v"rios tipos de corpos luminosos, porque sempre acreditei que uma tal posi '*o servisse s% para aqueles que n*o souberam desde o in$cio colocar claramente suas teorias. E se o Sr. M "rio houvesse proclamado uma diferen'a entre estes corpos e aqueles, teria-o declarado antes, e n *o haveria esperado que o advers"rio tivesse tomado conhecimento desta sua falta. Afirmo, ent *o, ser absolutamente verdadeiro que qualquer ilumina'*o, pr%pria ou externa, impede a transpar ,ncia de corpo luminoso; mas n *o necess"rio, Sr. Sarsi, que v%s entendais que, afirmando n%s assim, queremos deduzir que para qualquer luz, mesmo m$nima, o corpo que a recebe deve tornar-se t*o opaco quanto um muro, mas que, segundo o maior ou menor brilho, perde mais ou menos sua transpar ,ncia. Assim, podemos verificar tudo isto ao come'ar da alvorada, quando a regi*o dos vapores come 'a a participar da luz, desaparecendo, assim, aos poucos as estrelas menores, depois, aumentando o brilho, desaparecem tambm as maiores; e finalmente, quando a luz chega ao ponto m"ximo, at a Lua come'a a ocultar-se. Ademais, quando por qualquer rompimento das nuvens n %s percebemos descerem at a Terra aqueles compridos raios do Sol, se v%s observardes cuidadosamente, podereis ver uma diferen 'a not"vel a respeito da percep'*o de partes de uma montanha do lado oposto ao vosso; porque aquelas que se encontram alm dos raios luminosos apresentam-se a n%s mais ofuscadas que as laterais, que n*o s*o atravessadas pelos raios. E da mesma forma quando um raio de Sol descido atrav s de alguma pequena janela, em um quarto sombrio, como alguma vez aparece por causa de um vidro quebrado de alguma igreja, todos os objetos colocados do lado oposto, de onde o raio passa, se v ,em distintamente, enquanto, porm, o observador se encontre em um lugar onde ele possa receber o raio luminoso distinto, o que n*o acontece em todos os lugares. Sendo verdade tudo isto, eu afirmo (e sempre foi afirmado por mim) poder acontecer que a matria do cometa seja muito mais sutil que o ar vaporoso, e
menos apta a se iluminar, como no-lo prova quando desaparece na alvorada e no crep -sculo, encontrando-se o Sol ainda abaixo do horizonte; assim, por aquilo que diz respeito ao brilho, n *o existe raz*o para ele nos ocultar as estrelas da regi *o vaporosa. No que diz respeito 1 profundidade, primeiro, a regi*o com vapores possui muitas milhas de espessura; segundo, n %s n*o temos necessidade de colocar uma cauda de profundidade desmedida no cometa, n *o havendo determinado nem quanto seja o di2metro da cabe'a, nem se redonda, nem a que dist2ncia se encontra. Apesar de tudo isto, mesmo que outros quisessem coloc "-la a uma profundidade de oito a dez milhas, n *o se v, inconveniente algum, porque, mesmo o ar de vapores numa profundidade t *o grande, e iluminado com a mesma intensidade da cauda do cometa, permite a vis*o das estrelas. 52. Galileu, al+m disso, reprova Arist$teles de haver erradamente falado, apoiando-se sobre a apari&o de um
cometa, que o ano no teria sido chuvoso, mas de prefer)ncia seco, tendo-se podido esperar ventos e terremotos muito fortes. Porque, afirma ele, os cometas n o so para Arist$teles outra coisa que fogos que apagam com enorme rapidez estas exala&5es, se tiv+sseis dito que eles no deixam nada disso atr (s de si, terieis falado com muito mais sabedoria. Eu penso, por+m, que se deva raciocinar deforma muito diferente. Com efeito, se em alguma cidade, nas pra&as e nas ruas, fosse espalhada com neglig)ncia grande quantidade de trigo, e se soubesse que as pessoas mais simples e os pobres comem sempre fartamente, n o deduziria Justamente por causa disto existir tanta abund 3ncia de trigo e de qualquer mantimento que, por muito tempo, no se apresentaria carestia naquela cidade? Parece-me que + uma afirma&o exata. Mas as exala&5es so sempre fechadas em confins li mitados, como o trigo no celeiro, nem se dirigem com facilidade para aquelas regi5es onde domina a chama feroz a no ser quando, por causa de seu grande n /mero, no podem ser contidas em regi5es inferiores, ento elas mesmas, tomando-se mais secas e ralas, ter o perdido toda a (gua. Por isso Arist$teles no errou em deduzir dos cometas, isto +, das exala&5es que chegam at+ o fogo, em grande n/mero, que as regi5es inferiores abundam delas. Daqui no deriva que aquele fogo no deva deixar um resto: com efeito, gasta s$ aquilo que nas regi5es mais baixas e mais estreitas levanta-se para a regio do fogo; este fogo no sobe depois para outras regi5es, mas, sempre parado em seu reino, atrai a si aquele que se lhe ap roximou demais ou, quase fugindo das sensa&5es /midas, rumou para o fogo; por isso Arist$teles p6de, por meio dos cometas, anunciar os ventos, o clima seco do ano e coisas semelhantes. Se por meio de nosso cometa algu+m houvesse anunciado alguma coisa parecida, haveria podido conf irm(-lo com muito )xito: com efeito, o ano foi mais seco que de costume, tivemos tempestade fort.ssima e grande parte da It(lia foi sacudida por terremotos, com muito, dano para cidades e castelos. N o falou, ento, muito sabiamente Arist$teles em rela&o ao cometa como o fez em rela&o a muitas outras coisas? O exemplo, em virtude do qual Sarsi acredita poder defender Arist %teles e mostrar errada a opini*o do Sr. M"rio, parece-me que n*o vem muito ao caso. Poder ver em ruas e pra 'as grande abund2ncia de cereais significa que eles possuem uma abund 2ncia maior que de costume, sendo muito logicamente de arb$trio dos donos exp+-los ou ocult"-los; ademais, mostr "-los n*o aumenta nem diminui a quantidade; e tudo isso n*o se verifica no cometa. Seria um exemplo muito mais apto se algum falasse assim: a ilha de Cuba abunda de cinamomo e canela, isto nos prova que os habitantes da ilha produzem fogo com eles continuamente. O racioc $nio concludente, porque, sendo do arb $trio
deles queim"-los ou n*o, se tivessem pouco os usariam para a comida, como n %s. Mas se tivesse acontecido que nos meses passados, por um acidente qualquer, tivesse pegado fogo a grande floresta dos cinamomos, e que os ilh us n*o tivessem conseguido extinguir as chamas, por estarem muito longe do lugar naquele momento; assim, ela se destruiria completamente. Se algum comerciante, por causa deste acidente ins%lito, quisesse anunciar aos seus vendedores de especiarias uma grande abund2ncia, pois, onde ordinariamente queimam-se pequenas quantias, esta vez queimou-se uma inteira floresta, acredito que ele seria considerado uma pessoa muito ing,nua; e aquele que, observando as chamas ao destruir os cereais maduros de sua propriedade, ficasse alegre e esperasse encher ainda mais que de costume seus celeiros, porque sua colheita suficiente para ser queimada, acredito que seria considerado completamente louco. A mat ria que comp)e o cometa ou a mesma daquela que comp)e os ventos, ou diferente; se diferente, n*o poss$vel, da abund2ncia dela, deduzir abund2ncia desta, como se algu m, observando uma grande abund2ncia de uva, esperasse uma grande colheita de azeite; se a mesma matria, uma vez que se lhe haja ateado fogo, queimar" por completo. 53. O que se pode deduzir de tu do isto, acho que se deva escutar no a mim mas a Galileu mesmo. Com efeito,
ele, depois de expor todos seus experimentos, acrescentou: Estas s*o nossas experi ,ncias, estas s*o as nossas conclus)es deduzidas atravs dos nossos princ $pios b"sicos e dos argumentos de %ptica. Se os experimentos resultarem falsos e os argumentos errados, os fundamentos de meus racioc $nios resultar*o fracos e sem valor. No acredito que se deva acrescentar alguma outra coisa. Isto + tudo aquilo que eu
propus a mim mesmo relatar nesta discusso, por defer)ncia minha para com meu m estre. Com tudo isto tentei, antes de mais nada, mostrar que Galileu (e esta foi a finalidade prim(ria de minha publica&o) ofereceu mat+ria de queixa para meu mestre, que sempre o teve em grande honra; porque na Discuss*o publicada no havia sido permitido medir, com as observa&5es da paralaxe e do movimento do cometa, a dist3ncia entre ele e a Terra, e que, pelo fato de que a luneta aumentava s$ de leve o cometa, nossa teoria recebia uma importante confirma&o; ademais, no era l.cito a Galileu excluir o cometa do n/mero dos corpos luminosos e prescrever leis to severas de movimento retil.neo; e que destas coisas deriva que o ar pode movimentar-se por causa do movimento do c+u, pode suportar atrito, esquentar e acender, e que do movimento por atrito pode-se desenvolver calor mesmo que no se perca parte alguma do corpo; o ar pode ser iluminado todas as vezes que + misturado com vapores densos, as chamas so luminosas e transparentes, coisas estas que Galileu negou; enfim, eram falsos aqueles experimentos sobre os quais fundavam-se suas opini5es. Mas eu quis simplesmente avisar, em vez de relatar extensamente o desenvolvimento destas teorias, porque elas no me parecem merecer mais, como+ claro a todos, que em nossa demonstra&o n$s no injuriamos a ningu+m, e que no foi 2 toa que n$s achamos melhor preferir a todas as outras teorias a teoria que fomos expondo. Aqui, como V. E. pode ver, Sarsi apresenta duas teses: a primeira contm implicitamente o ju$zo que algum deve fazer-se da fraqueza de nossas posi ')es fundamentais, apoiadas sobre falsas experi,ncias e raz)es faltosas, como ele pretende haver demonstrado; acrescenta depois, em segundo lugar, uma colet2nea de conclus)es contidas no Discurso do Sr. M"rio e por ele impugnadas e confutadas. Em resposta " primeira parte, eu, imitando Sarsi, remeto o julgamento que deve ser feito
sobre a exatid*o de nossa teoria para aqueles que cuidadosamente raciocinaram sobre as experi ,ncias apresentadas por uma e outra parte, esperando que a minha causa seja favorecida bastante por haver, ponto por ponto, examinado e respondido a todas as contesta ')es e experi,ncias produzidas por Sarsi, enquanto ele passou por cima da maior parte, especialmente da mais concludente entre aquelas do Sr. M"rio. Raz)es que eu havia pensado em registrar nesta minha publica '*o (para balan'ar a colet2nea de Sarsi), mas logo no come 'o faltaram-me as for'as e a vontade, vendo que eu teria de escrever de novo pouco menos que o texto inteiro do Sr. M "rio. Por isso, com menor amola '*o para V. E. Ilustr$ssima e minha, resolvi ser mais produtivo, recomendando a V. E. a leitura daquele mesmo texto.
Vida e obra
Cronologia Bibliografia O ENSAIADOR Para a Santidade de N. S. Papa Urbano Oitavo O Ensaiador Vida e obra
Cronologia Bibliografia A CIDADE DO SOL Di!logo entre o gr#o-mestre dos hospitalares e um almirante genov$s I Quest&es sobre a (tima Rep*blica A Cidade do Sol e a Doutrina Pol,tica II Sobre a comunidade dos bens externos III Sobre a comunidade das mulheres e filhos
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