Table of Contents Nota do Autor TORÁ E CIÊNCIA A ciência contradiz a Torá? Qual dos dois tem razão? Como explicamos o fato dos milhares de anos trazidos pela ciência aos nossos “quase” 5780 anos? O "Duelo" entre a Religião e a Ciência Será que o avanço tecnológico coloca a veracidade da Torá em risco? Qual é a opinião da Torá em relação à Ciência? "Quem não deve não teme" A "Dança da Chuva" 6000 anos ou... 15 bilhões? Judeu x Judaísmo "Sempre aprendemos sobre a perfeição da Torá e – por outro lado – encontramos tantos religiosos que não se comportam da forma correta. Quem tem a razão?" A Primeira Mitsvá "Qual a primeira Mitsvá que devemos cumprir para começar nosso caminho no judaísmo?" Qual Mitsvá seria a responsável pela preparação e limpeza do corpo? CASAMENTOS MISTOS "O judeu é melhor que os outros? Por que não se envolver com culturas diferentes e nos tornamos mais completos?" A preocupação de casar-se somente com alguém do mesmo povo não seria considerado um preconceito? Seria o converso considerado inferior ao judeu de nascença? Então, qual seria o problema de um integrante do Povo de Israel se casar com alguém de outro povo? A Família CABALA "Qual sua origem? Por que não estudamos de forma revelada? O que nos acrescenta o misticismo?" Qual é a fonte desta forte atração pela Cabala e temas místicos? Um breve histórico da Cabala O que realmente é ensinado na Cabala? Por que a Cabala não é ensinada de forma revelada? Existem vários níveis de entendimento Um insight na Cabala – A força do Ser humano As Sefirót O Potencial Está Presente A Relação Entre o Corpo, a Alma e a Torá A Relação Entre o Corpo e a Criação A Relação Entre os Nossos Atos, a Criação e a Providência O Destino Final
O Valor Real do Tempo O MASHIACH (MESSIAS) Acreditamos no Mashiach? Como saberemos a hora certa e a pessoa certa? Detalhes e consequências... O Conceito “Mashiach” A Função do Mashiach Um dos 13 princípios primordiais Um Breve Histórico da Criação O tempo de existência do mundo Como o Povo de Israel chegará à perfeição? A Ressurreição Para que necessita a ressurreição? Se o prazer no mundo espiritual é maior do que o prazer no mundo m undo material, para que voltar? Como poderia o corpo – após haver sido enterrado e deteriorado – voltar a viver no momento da ressurreição re ssurreição dos mortos? A incógnita “deteriorou“deteriorou-se” "A Dolli" O Grande Julgamento O Objetivo dos Dias Messiânicos Quem Será o Mashiach? Guerra ou Paz? O MUNDO VINDOURO O que acontece após a morte? Nos transformaremos em pó ou continuaremos vivos de outra forma? É possível continuar sem a ajuda do corpo? Paraíso e Inferno – Verdade ou Ficção? Quem sou eu? Uma Alma Satisfeita A Partida A Preparação – Um Mundo de Provas Os Primeiros Momentos Após a Morte O Relato de Outros Estágios Pós Vida O Prazer Espiritual Seria possível captar um pouco desse prazer? O Sofrimento espiritual Cremação Se o corpo se deteriorará, por que seria proibido cremá-lo? O que fazer quando a própria pessoa pediu, antes de falecer, para que os seus descendentes cremassem o seu corpo? A Grande Feira Comercial TODA A TORÁ EM UM PÉ SÓ Podemos encontrar em um só conceito um resumo de toda a Torá? Esse conceito é suficiente para nos completar? Um conceito que resume toda a Torá
“Três Princípios que se Completam” A Conexão Entre os Três Preceitos Uma Nova Visão de Mundo SOFRIMENTOS "Se Deus é tão bom, como podemos ver em nosso dia a dia tantas pessoas sofrerem? Isso é justiça? Quais são os caminhos e julgamentos Divinos?" A Mais Antiga Pergunta O Motivo dos Sofrimentos Conceitos A Origem da Dúvida A Atuação do Bem e do Mal Torá Oral Existem duas “Torót”? A Torá Oral é Divina? Qual a diferença entre a Torá Oral e a Torá Escrita e sua necessidade? Todas as leis, por mais que aparentem ser simples, dependem da explicação oral Por que chamamos a explicação da Torá de “Torá Oral”? Por que Rebi decidiu escrever a Torá Oral e não deixou a transmissão seguir como da forma anterior? Por que existem diferenças de costumes em cada comunidade? Como saber onde se encontra a “verdadeira Torá”? Como podemos saber que a Torá não foi distorcida? LIVRE ARBÍTRIO Realmente existe o Livre Arbítrio? Se Deus já sabe o que vamos fazer, como podemos ter livre arbítrio? Como cumprir com tantos preceitos e ainda assim ser considerado livre? A Essência do Ser Humano Nem Tudo Está Sob Nosso Poder de Decisão Conquistando o Próprio “Eu” Todavia nos resta perguntar... Se o poder de decisão é um fato, então como Deus pode saber o que vamos decidir? O Quê Expressa a Criação do Tempo? Uma Questão Extremamente Complexa e Profunda Sabedoria ou Decreto? Uma Prova de Múltipla Escolha Uma Pessoa Livre Por quê a Torá é tão rígida ao ponto de comparar o cumprimento dos Seus preceitos com a vida e as transgressões com a morte? MITZVÓT Por que as mitsvót foram dadas? Qual o motivo de termos tantos preceitos? Como podemos dar conta de tudo e termos uma vida normal? A Função das Mitsvót Por que Deus não poderia nos entregar todo este benefício de presente? Para que Ele condicionou este prazer com
nossas ações? De Todas Formas, Por Que Tantas Mitsvót? 613! O Número Exato! Será que as Mitsvót não Limitam a Pessoa? Seriedade X Felicidade Um Peixe Fora D'água Será que tem valor cumprir as mitsvót por medo das consequências ou por algum outro interesse? O "Robô" O Jogo de Futebol Os Limites de uma Mitsvá Questão de Fé Quando você vai comprar um cartão na loteria, você pega o primeiro que lhe oferecem ou deixa sua sorte pegar outro? Quem é premiado, o cartão ou você? Estatística X Sorte A Realidade Sobre a Realidade Cartões trocados – Providência intacta Deveria uma pessoa procurar mudar a sua sorte jogando na loto? Rico ou Pobre? Quando a Sorte da Pessoa poderá ser Modificada? O Ladrão sempre sai perdendo! METAS – OBJETIVOS Estamos nos aproximando de nossos objetivos ou apenas nos afastando cada vez mais? Uma Vida Com Metas – Uma Vida Com Sentido O Crescimento Gradual – O Sucesso Real Pressão X Progresso “Correndo pelas ruas” A Grande Pergunta O Labirinto O quê falou o Rei Salomão? Seria o objetivo deste mundo se alegrar e se divertir? Deveríamos desfrutar desta brilhante criação de forma espontânea (ou seja, simplesmente seguir vivendo) ou será que existe um objetivo por detrás de todo este cenário? Será que seria melhor não ter nascido? A Visão Aparente O Equívoco O Cenário A Perplexidade O Ideal O Trabalho – O Dinheiro Conselhos de Sucesso O Mundo – Uma Roda Gigante Um Tema Para Meditar
"SHABAT SHALOM" Um Dia de Descanso e Santidade O quê é o Shabat? Será que é um dia como outros, ou existe algo mais? O quê a eletricidade tem a ver com isso? O quê transformou esse dia no maior parceiro de nosso povo? Descanso ou Férias? Primeiro Passo – Uma Visão Básica, Terminando Com os Mal Entendidos Segundo Passo – Uma “Visão Panorâmica” do Shabat Terceiro Passo – A Existência em Potencial e na Prática Quarto Passo – O Fio de Conexão Quinto passo – A Luz do Shabat Sexto Passo - “Três Shabatót Históricos” Sétimo Passo – A Conexão com o Sobrenatural A 'Prisão' de Luxo
SAIBA O QUE RESPONDER Perguntas e Respostas Sobre Temas Centrais do Judaísmo
Shimshon Bisker
Autor:
Shimshon Bisker
Correção:
H.B.B.
Revisão Final:
Iakov Orgler
Projeto gráfico e editoração eletrônico: Capa:
Israel B.A. Design David Barzilai
Terceira Edição © Todos os direitos reservados 5775 – 2014 (Primeira Edição: 2012) Para qualquer assunto em relação ao livro entre em contato:
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Índice NOTA DO AUTOR TORÁ E CIÊNCIA A ciência contradiz a Torá? Qual dos dois tem razão? Como explicamos o fato dos milhares de anos trazidos pela ciência aos nossos “quase” 5780 anos? O "Duelo" entre a Religião e a Ciência Será que o avanço tecnológico coloca a veracidade da Torá em risco? Qual é a opinião da Torá em relação à Ciência? "Quem não deve não teme" A "Dança da Chuva" 6000 anos ou... 15 bilhões? JUDEU X JUDAÍSMO "Sempre aprendemos sobre a perfeição da Torá e – por outro lado – encontramos tantos religiosos que não se comportam da forma correta. Quem tem a razão?"
A PRIMEIRA MITSVÁ "Qual a primeira Mitsvá que devemos cumprir para começar nosso caminho no judaísmo?" Qual Mitsvá seria a responsável pela preparação e limpeza do corpo? CASAMENTOS MISTOS "O judeu é melhor que os outros? Por que não se envolver com culturas diferentes e nos tornamos mais completos?" A preocupação de casar-se somente com alguém do mesmo povo não seria considerado um preconceito? Seria o converso considerado inferior ao judeu de nascença? Então, qual seria o problema de um integrante do Povo de Israel se casar com alguém de outro povo? A Família CABALA "Qual sua origem? Por que não estudamos de forma revelada? O que nos acrescenta o misticismo?" Qual é a fonte desta forte atração pela Cabala e temas místicos? Um breve histórico da Cabala O que realmente é ensinado na Cabala? Por que a Cabala não é ensinada de forma revelada? Existem vários níveis de entendimento Um insight na Cabala – A força do Ser humano As Sefirót O Potencial Está Presente A Relação Entre o Corpo, a Alma e a Torá A Relação Entre o Corpo e a Criação A Relação Entre os Nossos Atos, a Criação e a Providência O Destino Final O Valor Real do Tempo O MASHIACH (MESSIAS) Acreditamos no Mashiach? Como saberemos a hora certa e a pessoa certa? Detalhes e consequências... O Conceito “Mashiach” A Função do Mashiach Um dos 13 princípios primordiais Um Breve Histórico da Criação O tempo de existência do mundo Como o Povo de Israel chegará à perfeição? A Ressurreição Para que necessita a ressurreição? Se o prazer no mundo espiritual é maior do que o prazer no mundo material, para que voltar? Como poderia o corpo – após haver sido enterrado e deteriorado – voltar a viver no momento da ressurreição dos mortos? A incógnita “deteriorou-se”
"A Dolli" O Grande Julgamento O Objetivo dos Dias Messiânicos Quem Será o Mashiach? Guerra ou Paz? O MUNDO VINDOURO O que acontece após a morte? Nos transformaremos em pó ou continuaremos vivos de outra forma? É possível continuar sem a ajuda do corpo? Paraíso e Inferno – Verdade ou Ficção? Quem sou eu? Uma Alma Satisfeita A Partida A Preparação – Um Mundo de Provas Os Primeiros Momentos Após a Morte O Relato de Outros Estágios Pós Vida O Prazer Espiritual Seria possível captar um pouco desse prazer? O Sofrimento espiritual Cremação Se o corpo se deteriorará, por que seria proibido cremá-lo? O que fazer quando a própria pessoa pediu, antes de falecer, para que os seus descendentes cremassem o seu corpo? A Grande Feira Comercial TODA A TORÁ EM UM PÉ SÓ Podemos encontrar em um só conceito um resumo de toda a Torá? Esse conceito é suficiente para nos completar? Um conceito que resume toda a Torá “Três Princípios que se Completam” A Conexão Entre os Três Preceitos Uma Nova Visão de Mundo SOFRIMENTOS "Se Deus é tão bom, como podemos ver em nosso dia a dia tantas pessoas sofrerem? Isso é justiça? Quais são os caminhos e julgamentos Divinos?" A Mais Antiga Pergunta O Motivo dos Sofrimentos Conceitos A Origem da Dúvida A Atuação do Bem e do Mal TORÁ ORAL Existem duas “Torót”? A Torá Oral é Divina? Qual a diferença entre a Torá Oral e a Torá Escrita e sua necessidade? Todas as leis, por mais que aparentem ser simples, dependem da explicação oral Por que chamamos a explicação da Torá de “Torá Oral”? Por que Rebi decidiu escrever a Torá Oral e não deixou a transmissão seguir como da forma anterior? Por que existem diferenças de costumes
em cada comunidade? Como saber onde se encontra a “verdadeira Torá”? Como podemos saber que a Torá não foi distorcida? LIVRE ARBÍTRIO Realmente existe o Livre Arbítrio? Se Deus já sabe o que vamos fazer, como podemos ter livre arbítrio? Como cumprir com tantos preceitos e ainda assim ser considerado livre? A Essência do Ser Humano Nem Tudo Está Sob Nosso Poder de Decisão Conquistando o Próprio “Eu” Todavia nos resta perguntar... Se o poder de decisão é um fato, então como Deus pode saber o que vamos decidir? O Quê Expressa a Criação do Tempo? Uma Questão Extremamente Complexa e Profunda Sabedoria ou Decreto? Uma Prova de Múltipla Escolha Uma Pessoa Livre Por quê a Torá é tão rígida ao ponto de comparar o cumprimento dos Seus preceitos com a vida e as transgressões com a morte? MITZVÓT Por que as mitsvót foram dadas? Qual o motivo de termos tantos preceitos? Como podemos dar conta de tudo e termos uma vida normal? A Função das Mitsvót Por que Deus não poderia nos entregar todo este benefício de presente? Para que Ele condicionou este prazer com nossas ações? De Todas Formas, Por Que Tantas Mitsvót? 613! O Número Exato! Será que as Mitsvót não Limitam a Pessoa? Seriedade X Felicidade Um Peixe Fora D'água Será que tem valor cumprir as mitsvót por medo das consequências ou por algum outro interesse? O "Robô" O Jogo de Futebol Os Limites de uma Mitsvá QUESTÃO DE FÉ Quando você vai comprar um cartão na loteria, você pega o primeiro que lhe oferecem ou deixa sua sorte pegar outro? Quem é premiado, o cartão ou você? Estatística X Sorte A Realidade Sobre a Realidade Cartões trocados – Providência intacta Deveria uma pessoa procurar mudar a sua sorte jogando na loto? Rico ou Pobre? Quando a Sorte da Pessoa poderá ser Modificada? O Ladrão sempre sai perdendo! METAS – OBJETIVOS
Estamos nos aproximando de nossos objetivos ou apenas nos afastando cada vez mais? Uma Vida Com Metas – Uma Vida Com Sentido O Crescimento Gradual – O Sucesso Real Pressão X Progresso “Correndo pelas ruas” A Grande Pergunta O Labirinto O quê falou o Rei Salomão? Seria o objetivo deste mundo se alegrar e se divertir? Deveríamos desfrutar desta brilhante criação de forma espontânea (ou seja, simplesmente seguir vivendo) ou será que existe um objetivo por detrás de todo este cenário? Será que seria melhor não ter nascido? A Visão Aparente O Equívoco O Cenário A Perplexidade O Ideal O Trabalho – O Dinheiro Conselhos de Sucesso O Mundo – Uma Roda Gigante Um Tema Para Meditar "SHABAT SHALOM" Um Dia de Descanso e Santidade O quê é o Shabat? Será que é um dia como outros, ou existe algo mais? O quê a eletricidade tem a ver com isso? O quê transformou esse dia no maior parceiro de nosso povo? Descanso ou Férias? Primeiro Passo – Uma Visão Básica, Terminando Com os Mal Entendidos Segundo Passo – Uma “Visão Panorâmica” do Shabat Terceiro Passo – A Existência em Potencial e na Prática Quarto Passo – O Fio de Conexão Quinto passo – A Luz do Shabat Sexto Passo - “Três Shabatót Históricos” Sétimo Passo – A Conexão com o Sobrenatural A 'Prisão' de Luxo
Carta do Rabino de Ramat Elchanan e Rosh Kolel Beit David em Cholon Ha'Rav Ha'Gadol R. Itzchak Zilbershtein Shlita
Agradecimento Especial
s perguntas deste livro foram elaboradas pelo Rabino Shlomo Safra – Diretor do Makom, como fruto de seu empenho intensivo em propagar a sabedoria milenar judaica, contatando-se com o grande público – dos mais laicos aos mais devotos. Devido à sua grande experiência ao longo dos anos, selecionou e elaborou as perguntas mais frequentes, de forma precisa, para esclarecer os temas de interesse público para todos que desejam receber uma informação organizada e estruturada de acordo com nossas fontes tradicionais de sabedoria da Torá. Que seja a vontade do Criador que sempre siga crescendo, com os meios necessários para cada vez mais proporcionar e difundir a sabedoria da Torá pela humanidade; que os dias de sua vida e de sua família se alarguem com muita Luz da Torá, saúde e berachá em tudo o que for necessário.
A
Nota do Autor elizmente a procura pela nossa sabedoria milenar cresce a cada dia... Por outro lado, o mal entendido em relação aos temas básicos da Torá é ainda maior; também, os pensamentos não fundamentados e a deturpação nessas questões são frequentes; portanto, seguindo o conselho do R. Shlomo Safra, esta obra foi realizada com o objetivo de esclarecer esses importantes temas segundo a nossa sabedoria tradicional.
F
Esta obra foi escrita de forma dinâmica e poderá servir para as pessoas que desejam responder as suas próprias perguntas e também para as pessoas que apesar de sentirem já conhecer as respostas, ainda não encontram as devidas palavras para expressá-las. Inclusive, para quem já teve acesso a esta sabedoria, poderá servir de auxílio, acrescentando informações, ou simplesmente, ajudando na elaboração dos temas de forma organizada e com as fontes assinaladas. Também poderá ser utilizado em aulas, debates e inclusive como fonte de temas para serem debatidos ou falados nas refeições de Shabat, encontros de grupos ou em palestras. De todas formas, o desejo principal desta obra é oferecer “luz” para iluminar os caminhos daqueles que realmente estão interessados em sentir uma proximidade mais íntima com a “Luz da Torá”.
I
TORÁ E CIÊNCIA A ciência contradiz a Torá? Qual dos dois tem razão? Como explicamos o fato dos milhares de anos trazidos pela ciência aos nossos “quase” 5780 anos?
O "Duelo" entre a Religião e a Ciência
E
stamos acostumados com a ideia de que a Religião e a Ciência estão continuamente em conflito. Qual é a origem deste fato? Realmente este conflito existe?
A resposta para esta questão é muito simples... Em várias Ideologias e Religiões – tidas como Divinas, se encontram várias informações científicas; portanto, existe o medo que, através do avanço tecnológico, venha a ser revelado pela ciência falhas nessas informações... Assim, seria revelado que elas estão simplesmente erradas... Ficaria claro que, quem escreveu tal religião ou Ideologia de vida, não possuía o real conhecimento do mundo... Ou seja, não foi realmente Deus. Este foi o motivo da grande violência empregada por certas instituições a quem viesse a apresentar dados científicos contraditórios aos conceitos pregados por elas... Também explica o grande conflito entre as instituições religiosas e a ciência... Na verdade isto acontece com qualquer ideologia baseada e estabelecida através da compreensão humana, pois, sem os meios tecnológicos necessários, como poderiam imaginar que chegaria o dia em que poderiam revelar se realmente as informações extrapoladas estão corretas? Simplesmente escreveram dados que naquela época eram tidos como óbvios, porém, como o avanço tecnológico começaram a ser questionados... Nos resta perguntar... Este “duelo” entre a Religião e a Ciência, também se encontra em relação a Torá? Qual a visão da Torá em relação à Ciência? Será que o avanço tecnológico coloca a veracidade da Torá em risco? Está escrito no livro dos Salmos (145,4): “Cada geração (que chega) louvará Teus atos (mais do que as anteriores)...” (tradução seguindo os comentários do Malbim). Através da criação podemos reconhecer a grandeza do Criador. Cada geração que chega acrescenta mais entendimento (estudo) sobre a Criação e revela ainda mais a complexidade da natureza. Assim, reconhece novas sabedorias e maravilhas que estavam ocultas da geração anterior, portanto louvará ao Criador pelos Seus feitos mais do que as gerações anteriores (Malbim). Portanto, o avanço científico simplesmente nos mostra cada vez mais a complexidade da Criação – em cada detalhe, em cada célula – tanto no microcosmo quanto no macrocosmo; qualquer pessoa que queira ser honesta consigo mesma verá claramente a existência de um Criador. Traremos agora as palavras do Cientista Dr. Sir Frederick Hoyle (Cambridge University) – Prêmio Nobel de Física, que se expressou através de uma parábola... “A chance da vida ter sido desenvolvida casualmente – sem um programador – pode ser comparada com
a chance de um furacão soprar sobre um campo cheio de sucata e formar casualmente um avião Boeing 747 a par tir do material que se encontrava ali no local”. O Dr. Francis Crick, que recebeu o Prêmio Nobel pela descoberta do novo modelo da construção do DNA, se expressou da seguinte forma: “Uma pessoa reta, possuidora de todos os tipos de informações atuais, lhe resta somente constatar que, em certo aspecto, a aparição da vida é um milagre. Tantas são as condições necessárias para possibilitar a vida, que chega ao ponto em que já não há mais para onde escapar; sendo uma prova científica que o mundo foi criado por um Criador, além do material, que controla todas as forças e aciona o funcionamento do mundo inteiro”. Toda esta Criação não foi em vão... Ninguém faria um trabalho tão elaborado e complexo sem ter um objetivo. Nos resta perguntar: “Quão grandioso seri a o objetivo que, para alcançá-lo, foi necessário toda esta Criação?!” Na verdade, é justo o contrário! Não é como várias pessoas pensam... Muito pelo contrário... O avanço tecnológico é um grande aliado da Torá, ele comprova a Sua veracidade... E, em contra partida, derruba teorias científicas anteriores. Através do avanço tecnológico, continuamente, nos é revelado que antigas teorias científicas – que eram tidas como certas – na verdade estavam erradas, uma atrás da outra foram caindo... As teorias vão se modificando de acordo com as novas revelações obtidas pelo desenvolvimento tecnológico; teorias que atualmente nos parecem certas, amanhã poderão ser colocadas em dúvida; ou ser comprovado como frutos de falsas especulações. Por outro lado, a Torá segue imutável... Muitas informações científicas que se encontram na Torá – já há milhares de anos – eram tidas como absurdas pela falta de conhecimento cientifico (pois não havia meios tecnológicos de analisá-las e pareciam ser ilógicas), inclusive foram ridicularizadas pelos sábios de outros povos ao longo da história; e, com o avanço tecnológico, finalmente foram confirmadas pelos cientistas. Citaremos alguns exemplos... A Torá relata o número de estrelas criadas no universo, um número tão exagerado que parecia ser um absurdo! Sem a ajuda do telescópio os cientistas falavam em algumas dezenas de milhares de estrelas... Quem poderia imaginar que uma estela vista a olho nu, na verdade poderia ser uma gigantesca constelação de vários bilhões de estrelas... Um grande motivo para criticar e debochar da Torá... Porém, em nossos dias, com o avanço tecnológico ficou claro... As velhas teorias cientificas caíram e a Torá seguiu imutável. [ Nota: Há cerca de 2000 anos atrás, Aristóteles dizia existir 2400 estrelas no céu; seus alunos, no entanto, disseram que seu mestre errou, argumentando que existem em torno de 30000 estrelas. Em 1951, nos EUA (após a descoberta do telescópio), já falavam que existiam entre 3 a 4 milhões de estrelas. Em 1969, quando Amstrong foi à lua e viu o céu estando fora da atmosfera, disse ser impossível calcular o número de estrelas existentes no céu. Porém, hoje em dia, a NASA
divulga ter um número de estrelas parecido com aquele que está escrito no Talmude. No Tratado Berachót (32b), a Guemará descreve todas as divisões espaciais e divulga o número de estrelas em cada uma. No total encontramos o seguinte número de estrelas: 1.064.340.000.000.000.000.000, este é o número de estrelas que foram criadas – O Livro de Yoná Cap. Torá e Ciência]. De fato, encontra-se na própria Torá um versículo que insinua um número 'astronômico' de estrelas: “...Te abençoarei e multiplicarei tua descendência como as estrelas do céu e como a areia que se encontra na beira do mar...” (Gênesis 22, 17). Neste versículo Deus promete a Avraham que chegará o dia em que a sua descendência alcançará um número “incontável”, assim como os grãos de areia que se encontram à beira mar e as estrelas que se encontram no Céu. Portanto, na própria Torá Escrita, já está implícito – a mais de 3300 anos atrás – que o número de estrelas é “incontável”; Somente em sua viajem à lua, Amstrong, ao deixar a atmosfera terrestre, confirmou este fato. Está constatado na Torá que o ar tem peso, esta informação era um grande motivo de risos... Os antigos filósofos debochavam da Torá (e de Seus Sábios) por escrever que o ar tem peso; com o argumento que para todos parecia ser bem lógico – consideravam que não havia resposta... “Caso o ar tem peso, como poderia, todo este espaço – desde a cabeça da pessoa até o céu – estar cheio de ar e a pessoa não sentir o seu peso? Se realmente é verdade, todos nós já estaríamos esmagados pelo peso da grande camada de ar existente! Eles não conheciam a informação que a pressão interna das criaturas existentes em nosso mundo anulam a pressão externa causada pelo ar; de todas formas, atualmente é desnecessário provar algo tão simples e conhecido... [Quem não conhece a experiência com dois balões de gás, um cheio e um vazio, colocados em dois pratos de uma balança? Quem não sabe que, enchendo um balão com gás Hélio, por ser mais leve que o ar encontrado na atmosfera, ele sobe]. Simplesmente devemos lembrar que, há algum tempo atrás, esta informação parecia absurda – totalmente ilógica; somente foi comprovada pelo progresso tecnológico (Livro Iedei Chaim página 76; Livro Chasdei Avót 5, 22 – Rabi Yossef Chaim – o “Ben Ish Chai”). [ Nota: Está escrito no Livro Iov (Jó 28, 25): “Fez peso para o vento e determina a quantidade de água (que precipitará)”. O Sábio, conhecido como Malbim, explica: “Fez peso para o vento” – pois o ar tem peso – este fator é responsável para que o vapor suba às nuvens, pois o peso do ar que se encontra embaixo é mais pesado do que o leve vapor; o Malbim continua... Deus, através deste sistema, controla a quantidade de água que descerá (através das chuvas) para os rios e mares (Malbim Iov, 28, 25). Nos resta analisar... Por que o versículo utiliza a palavra “vento” (“Fez peso pa ra o vento”) para expressar “ar”? Pode-se concluir que, está implícito no versículo, a seguinte explicação... “Fez peso (para o ar) para formação do vento”, e, desta forma, trazer a chuva para terra, como conclui o versículo... “e determina a quantidade de água (que precipitará)”; é sabido que ao vapor subir, causa deslocamento de ar – ou seja, o vento – que por sua vez desloca as nuvens para os continentes.] Há milhares de anos a Torá já cita que a Terra é redonda e que existem pessoas que vivem tanto na parte de cima da Terra quanto na parte de baixo... “Parece um absurdo... Como alguém pode viver na parte de baixo da Terra e não cair?” – argumentavam as pessoas. Portanto a Terra não pode ser redonda” – concluíam. Eles não conheciam a lei da gravidade... Realmente esta informação parece ser um absurdo. Atualmente, com o avanço
tecnológico, ficou confirmado. [ Nota: Está escrito no Zohar (Vaikrá 10a) que a terra é redonda como uma bola, existindo pessoas tanto em cima quanto embaixo, havendo entre as pessoas diferenças segundo as condições ambientais de onde vivem; mesmo que em certos locais da Terra seja dia em outros noite, existem locais que sempre é dia, exceto um pequeno período que é noite. Desta passagem concluímos que já possuíamos o conhecimento de que o mundo é redondo, e que vivem pessoas nos dois lados, tanto em cima quanto embaixo, ou seja, que a força da gravidade, embora desconhecida, já era insinuada; também, já se tinha conhecimento de que as pessoas diferem fisicamente segundo a diferença ambiental, e que parte do mundo é dia e parte noite, e que existem partes do mundo que o dia é mais longo do que a noite, e que a noite dura somente um curto período. Nos escritos de outras religiões, como por exemplo no Corão (escrito há cerca de 1300 anos), é afirmado que a terra é plana. Até mais ou menos 400 anos atrás, certas instituições condenavam quem falasse que o mundo era redondo, porém a Torá já há milhares de anos continua imutável, sendo possível atualmente comprovar a Sua veracidade – O Livro de Yoná Cap. Torá e Ciência]. Consta no livro Iedei Chaim (página 77; e no livro Chasdei Avót 5, 22) que os antigos filósofos também debochavam da Torá e de Seus Sábios por afirmarem que existe, simultaneamente, um local na Terra que é dia e outro que é noite. Vários outros exemplos podem ser encontrados no livro do Rabino Zamir Cohen – “A Revolução Iminente” – que foi recentemente traduzido à língua portuguesa. Como pode ser?! Quem se atreveria escrever tais informações sem os meios tecnológicos necessários para obtê-las? Como os Sábios da Torá obtiveram informações além da capacidade tecnológica existente em seus tempos? Seria fruto de uma mera especulação? Como “adivinhariam” um número tão “exagerado” de estrelas sem a ajuda de um telescópio... muito além do número imaginado pelos cientistas daqueles tempos? Parecia ser um absurdo – uma “santa” ignorância... Porém, foi confirmado... Trilhões de trilhões de estrelas... Sem exagero... Como eles sabiam? O sábio e comentarista da Torá, Ramban (Nachmandies), explica na introdução do livro Bereshit (Gênesis), que Moshe Rabeinu recebeu todos os conhecimentos sobre a criação junto com a Torá, tanto das criaturas superiores quanto das inferiores; algumas destas sabedorias foram escritas de forma explícita e outras foram insinuadas de alguma maneira nas Escrituras. Parte desta sabedoria foi transmitida de geração em geração e escritas no Talmud ou nos Midrashim pelos nossos Sábios, e partes se perderam ao longo da história. De todas formas, de alguma maneira tudo está codificado na Torá através de insinuações, numerologia, pelas formas das letras ou de suas modificações, etc. Está escrito no Zohar que Deus olhou para a Torá e criou o universo (em outras palavras... A Torá é a “planta” do universo). Apreciando a nossa complexa Criação
Como já citamos anteriormente, outra consequência proveniente do avanço tecnológico foi nos permitir, ainda mais, apreciar esta tremenda criação... “...Cada geração que chega acrescenta mais entendimento (estudo) sobre a Criação e revela ainda mais a complexidade da natureza. Assim, reconhece novas sabedorias e maravilhas que estavam ocultas da geração anterior, portanto louvará ao Criador pelos Seus feitos mais do que as gerações anteriores” (Malbim, Salmos 145,4). Assim, o Fundador da astronomia moderna, Johannes Kepler, se expressou: “Agradeço ao Criador... eu revelei à humanidade a Glória de Sua Criação; o quanto meu limitado entendimento pôde captar do Infinito” (Johannes Kepler's life and Letters 1951; p.133). Qual é a opinião da Torá em relação à Ciência? O Grande Sábio Maimônides (Rambam, 1135-1204), nos seus tempos, desejava estudar as ciências naturais como uma forma de abordar as maravilhas da criação e a sabedoria infinita do Criador. O Sábio Bechaie Ibn Pakuda (1050-1120), no seu grande trabalho “Os Deveres do Coração”, defende o estudo da natureza e outros aspectos do universo físico como uma forma de interiorização do conceito da bondade Divina. O Maharal de Praga (1525-1609) escreve o seguinte: “Tudo o que possamos fazer para permitir a pessoa entender a natureza do mundo, é um dever fazê-lo, pois toda a natureza é um trabalho de D’us. Deve-se compreender tudo para, através disto, reconhecer o seu Criador.” O Gaón de Vilna (1720-1797) (um dos maiores sábios dos últimos séculos) era um grande defensor do estudo de todas as artes e ciências como uma forma de melhorar o entendimento Divino.
"Quem não deve não teme" Os nossos Sábios e Rabinos de todos os tempos reconheceram a importância de examinar o mundo físico para promover o conhecimento da Torá – inclusive várias decisões legislativas dependem do conhecimento científico – como consta em várias passagens do Talmud; e há uma fartura de escritos sobre este assunto. Muitos dos nossos maiores Rabinos demonstraram isto através do conhecimento de Medicina, Matemática,
Astronomia, Linguística, Música, Filosofia, Psicologia e Agricultura. Somente é necessário estudar o Talmud para perceber quão eruditos e cultos eram os nossos Sábios. Os cientistas descobrem como funciona o mundo, ou seja, procuram entender os fatos a partir de seu funcionamento; com o objetivo de entender e também desenvolver novas técnicas de utilização construtiva... ou até mesmo destrutiva... Porém, a Torá nos explica como utilizar o mundo de forma correta. Portanto a Torá e a Ciência vão juntos... Ninguém vai contra ninguém, simplesmente se complementam. O conflito entre a Torá e a Ciência, surge à partir de teorias não comprovadas e de especulações – divulgadas segundo os interesses pessoais; cada jornal, cada revista, cada pessoa, divulga a opinião que lhe convém – de acordo com as ideias que pretende transmitir. “Devemos saber que, inclusive o que est á além de nosso alcance – de fato existe; revelando-se com uma inteligência Suprema e com a mais elevada beleza; de tal forma que, as nossas rudes ferramentas, somente podem captar de forma primitiva. Esta sabedoria, este sentimento, se encontra no centro do enfoque religioso verdadeiro” (Albert Einstein, Comme Je Vois le Monde) Em essência, a Torá não busca a validação da ciência, ou de outro conhecimento secular. Sendo assim, então, por que tentar fazer uma ponte entre a Torá e a ciência? A resposta para isto está inerente na sabedoria da Torá, e a visão do mundo do judaísmo que, pela sua natureza busca a revelação da unicidade do mundo desde a unidade de Deus até as suas criaturas mais interconectadas [Robbs, Itzchak J., Living in Divine Space (Vivendo no Espaço Divino)]. A Torá incute a ideia da unidade em todos os aspectos da vida, desde as disciplinas práticas até as místicas e a sabedoria da Torá. De fato, a fonte fundamental de todo o conhecimento e sabedoria é a Torá, como está escrito: “Ocupe-se com Ela mais e mais, pois tudo está Nela [na Torá]” (Pirkei Avot, 5:26). Portanto, ao procurar uma linguagem em comum com a ciência, nós não estamos procurando a validação do ponto de vista da Torá, mas sim, procurando revelar “insights” novos e valiosos na natureza da realidade. Quanto mais profunda a nossa compreensão das ciências e das artes, mais significativo se torna o nosso conceito da Torá. Quanto mais aprendemos Torá, maior é a nossa apreciação das leis e da estética da natureza. O objetivo, em muitos casos, é simplesmente mostrar, em princípio, que aquilo que parece ser duas visões de mundo diferentes, na realidade, são duas descrições das mesmas ideias e fenômenos. A "Dança da Chuva" Gustavo , um jovem que vinha se aprofundando nos estudos da Torá, em certa ocasião, viajava de carro com seu tio, do Rio de Janeiro para Teresópolis. O seu tio, um judeu
laico, formado em Engenharia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, sempre gostava de tocar em temas religiosos com Gustavo, o seu querido sobrinho que havia se fortificado no cumprimento do judaísmo. Muitas vezes, a intenção de seu tio era somente provocá-lo; logo no princípio da viagem, o inevitável diálogo surgiu... Tio: “Você não acha que rezar pela chuva é coisa de índio?” Gustavo: “Para ser sincero eu não conheço a ideologia dos índios... Eu pre firo não falar sobre as culturas que eu não conheço...” Tio: “Uma vez eu assisti a uma reportagem onde os índios cantavam e dançavam com a esperança de trazer a chuva...” Gustavo: “Desculpe-me, eu não sei o que eles pensam...” Tio: “Eu formularei a pergunt a de outra forma... Você não acha que rezar pela chuva é a consequência da ignorância sobre o conhecimento do ciclo da água... Até o ano 1803 a ciência não sabia que a chuva era formada pela evaporação da água...” [ Nota: A descoberta da evaporação se deu por John Dalton – talvez o maior de todos os químicos teóricos – em 1793 e.c. este novo conceito foi publicado no primeiro volume de seus ensaios meteorológicos – mostrando que a água existe no ar como um gás, totalmente independente. Em 1801 ele deu uma completa solução a este problema. Porém, a relação entre a evaporação da água e a precipitação – chuva, somente se deu uns anos mais tarde... Em 1803 Luke Howard publicou seu memorável trabalho sobre as nuvens no “Philosophical Magazine”; ele afirmou que as nuvens eram compostas de vapor que previamente havia subido da terra, contradizendo as opiniões daqueles que acreditavam que elas eram formadas pela união de hidrogênio e oxigênio existentes no ar. Ele se opunha às ideias dos outros cientistas.] O tio continuou: “...As pessoas, sem saber como uma quantidade tão grande de água poderia cair do céu, apelaram para uma força maior a que chamaram de Deus; desta maneira criaram um 'deus' e para ele começaram a rezar... Portanto está claro que a tradição de rezar pela chuva surgiu pelo fato do desconhecimento do fenômeno natural do ciclo da água.” Gustavo: “Você acha que, caso eles soubessem do ciclo da água, não rezariam pela chuva?” Tio: “É óbvio que não rezariam... Me parece claro que rezar pela chuva era uma forma de se relacionar com o desconhecido. Uma vez que, graças ao avanço tecnológico o ciclo da água foi revelado, já não há mais desconhecido... Logo não 'apelariam' para Deus.” Gustavo: “Eu tenho certeza que rezariam pela chuva mesmo conhecendo o ciclo da água... Ainda mais... Eu acho justo o oposto... Que este pensamento que você trouxe é consequência da ignorância dos conhecimentos básicos da Torá!” Tio: “Como você pode ter tanta certeza?” Gustavo: “Muito simples... Você sabe a quanto tempo atrás nós recebemos a Torá?” Tio: “Não exatamente... Talvez uns 3000 anos...” Gustavo: “Exato! Na verdade um pouco mais de 3300 anos.” O Gustavo continuou: “Eu vou te ler uma breve passagem da Torá, no começo do livro Gênesis que todas as crianças judias estud am no primário: “...o vapor subirá da terra e regará toda a face da Terra (capítulo 2 vers. 6)”; Veja só o que está escrito no
Talmud... O Sábio Rabi Eliezer explica que o mundo inteiro “bebe”, ou seja, é irrigado das águas dos oceanos, como consta na Torá : “E o vapor subirá da terra e regará toda a face da Terra”. Se a maior parte da água é evaporada do mar, por que a Torá cita que o vapor sobe da terra e não do mar? O Sábio Rabi Eliezer continua a explicar... Na Torá está escrito que o vapor subirá da terra, para nos ensinar que também da terra sobe vapor. Aprendemos por lógica que, se mesmo da terra sobe vapor é óbvio que do mar sobe muito mais. Portanto, Rabi Eliezer deduziu deste versículo que o mundo inteiro é irrigado pelas águas (evaporadas) dos oceanos. Perguntaram-lhe, então: porém, sendo a água do oceano salgada, a chuva também deveria ser salgada; o Sábio respondeu que, ao se evaporar, a água deixa de ser salgada.” (Tratado Taanit 9b) Gustavo: “Vemos que esta sabedoria já se encontra na própria T orá de forma detalhada... e você sabe o que está escrito no versículo imediatamente anterior a este?” Tio – meio que envergonhado: “Não...” Gustavo: “que as plantas não cresciam, pois Deus não havia ainda feito chover sobre a terra e, além disso, ainda não havia pessoas para cultivá-la. Rashi explica que somente depois que surgiu o homem, e ele soube que a chuva era necessária para o mundo, ele rezou pela chuva: então, choveu e as árvores e plantas cresceram. E no próximo versículo nos conta a Torá como Deus trouxe a chuva: “E o vapor subirá da terra e regará toda a face da Terra” (Gênesis cap.2, vers.5 e 6) Gustavo: “Me parece que Deus se preocupou em escrever na Torá desta forma para responder a tua pergunta.” Então, Gustavo concluiu: “Portanto está constatado que eles rezavam pela chuva... mesmo conhecendo o ciclo da água!” Tio: “Está bem... Porém, eu ainda não entendo, se a chuva é um processo na tural, para que é necessário rezar por ela?” Gustavo: “Mesmo conhecendo o fenômeno natural da chuva – ou de qualquer outro processo natural – nossos Sábios ensinam no Talmud que a chuva não cairá – obrigatoriamente – nos locais onde poderemos usufruir de suas águas; como por exemplo no mar ou no deserto, também poderá cair de forma destrutiva ou talvez não cairá a quantidade necessária; o Criador, através de mudanças naturais decidirá onde, quanto e como a chuva cairá em cada lugar – dependendo de nossos mé ritos.” [Nota: Esta é uma das maneiras pelas quais Deus se comunica conosco, como consta no Tratado Taanit, que nas épocas de seca fazíamos jejuns e rezas públicas – reconhecíamos as nossas falhas e nos arrependíamos de nossos erros. Desta forma, Deus nos dava a oportunidade de nos aperfeiçoar e crescer como pessoas. Assim como a falta de chuva, qualquer outro tipo de calamidade que acontece é uma advertência para que nosso comportamento seja aperfeiçoado como está escrito no Tratado Yevamot 63. Hoje em dia, nas épocas de seca, as rezas também são intensificadas. O Tratado Taanit tem como enfoque principal nos ensinar como nos comportar em momentos de calamidades públicas. Nossos Sábios nos orientaram como consertar os nossos atos e, desta forma, cancelar os maus decretos. As rezas interferem nos mundos espirituais, e depois, se expressarão em nosso mundo físico de alguma maneira.] Gustavo: “Você sabe que a ciência descobriu – através de satélites – uma nova fonte de chuva?” Tio: “Não...”
Gustavo: “O físico Louis Frank há mais ou menos 20 anos atrás descobriu que meteoros feitos de gelo ao entrar na atmosfera se transformam em chuva; inclusive, este fenômeno foi fotografado e comprovado...” Gustavo continuou: “Você acha possível que tal informação se encontra na Torá?” Tio: “Impossível, quem se atreveria dar tal informação sem os meios tecnológicos necessários?” Gustavo: “Não Senhor... é 'possível e possível' – duplamente possível! Também esta informação se encontra no Talmud (Tratado Taanit 9b) escrito há mais de 1500 anos atrás, em nome de Rabi Yehoshua (que viveu em torno de 2000 anos atrás), através de uma análise de um versículo da Torá (escrita a mais de 3300 anos atrás), constando que o mundo também é irrigado pelas águas superiores, e não somente da água que foi evaporada da Terra”. Tio: “Uau! Realmente impressionante!” 6000 anos ou... 15 bilhões? Todavia, nos resta esclarecer: Como entender a diferença entre a Torá e a Ciência em relação à idade do universo? Como entender os quase 6000 da existência segundo a Torá contra os 15 bilhões comprovado pela Ciência? Para tratar deste tema, traremos uma palestra do R. Rony Bisker, formado em Engenharia de Obras Hidráulicas pela UFRJ, publicada no Livro de Yona (Cap. Torá e Ciência). A idade do universo Fui chamado para dar uma palestra para um grupo de jovens recém chegados a Israel. Estavam vivendo em um centro de absorção em Jerusalém, dedicado às pessoas que deixaram seus países e vieram viver em outra cidade, em outro país. Eram jovens inteligentes, bem preparados, com nível universitário, porém sem muito estudo de judaísmo. O conhecimento que possuíam nesta área, era o mesmo que tinham aos 14 anos, o que aprenderam no colégio judaico; um conhecimento que já estava esquecido parcialmente, apesar do esforço que os professores fizeram para educá-los nesta área. Seguramente, conheciam ciência muito bem. Aprenderam no secundário, também na universidade, lendo revistas, assistindo televisão e até se aprofundando em livros sobre o tema. Eu sabia que seria perguntado sobre questões essenciais do judaísmo que aparentam ser contradições gritantes entre a ciência e o ensino da Torá. Não teria um trabalho fácil pela frente. Comecei a palestra parabenizando-os pela difícil decisão de deixarem seu país, sua cultura, seus amigos, e virem morar em um país até então desconhecido para eles. Logo entramos no tema que havia sido decidido para aquela noite, “a comida casher”. Porém, como já esperado, 10 minutos depois de iniciada a palestra, perguntas sobre o tema de Torá e Ciência iam surgindo: “A Torá pensava que a terra era plana?”, “Existem
extraterrestres segundo a Torá?”. Também muitas vezes, não vinha em forma de perguntas, mas afirmações: “A Torá e a Ciência são contraditórias”. Mas a pergunta que imediatament e “ascendeu” os ânimos foi: “Há quanto tempo existe o Universo? Como a Torá pode afirmar que são 6.000 anos se a ciência já provou que o mundo tem 15 bilhões de anos?” Aqui eu já sabia que teria de deixar o tema escolhido de lado e entrar nesta pergunta, porque se não desenvolvêssemos o assunto, qualquer outro tema pareceria desnecessário. Em essência, a Torá não busca a validação da ciência ou de outro conhecimento secular. A verdade existe em muitos níveis, e as verdades da Torá são independentes da análise científica. Sendo assim, então por que tentar fazer uma ponte entre a Torá e a ciência? A resposta seria que é necessário esclarecer os limites da Torá e os limites da ciência e comprovar que realmente não se contradizem. Quando nos referimos à ciência, em geral, nos referimos tanto aos experimentos científicos quanto aos conhecimentos científicos comprovados. Por exemplo, ao descobrir um fenômeno novo, a ciência vai tentar explicálo através da criação de teorias. Teorias estas que poderão ser descartadas ou comprovadas. Vamos citar mais exemplos para ficar mais clara esta diferença. Quando a ciência não sabia a forma da terra, havia teorias que a terra era plana e teorias que a terra era redonda. A teoria que a terra era plana também era chamada de ciência. Quando foi comprovado que a terra era redonda, foi comprovado que a teoria da terra plana estava errada, e a da terra redonda estava certa. A partir de então, quem dissesse que a terra é plana, não seria aceito como um cientista sério... A partir desta distinção, podemos então dizer que não há contradição entre a Torá e a ciência, se uma teoria da ciência não estiver de acordo com a Torá. Somente haveria contradição se uma teoria comprovada estivesse em desacordo com o que está referido na Torá. Então, o Big-Bang, teoria comprovada por Penzias e Wilson, dois pesquisadores da Bell Laboratories, finalmente resolveu uma grande disputa que a Torá tinha com a ciência. Por mais de 20 séculos os cientistas acreditaram que o universo era estático, ou seja , que o mundo sempre existiu, enquanto os judeus acreditavam que o mundo foi criado e começou a existir. Então, em um espaço de 40 anos, entre 1920 e 1960, mesmo com a resistência dos principais físicos, incluindo Albert Einstein, a teoria do universo estático, de que ele sempre existiu, foi por água abaixo. Arnold Penzias, um dos cientistas que conseguiram comprovar a teoria do Big Bang, era um judeu ortodoxo. Os cientistas, hoje em dia, creem que o universo antes do Big-Bang, estava todo condensado em um minúsculo ponto. Justamente como Ramban, Rabino que viveu no século XI, descrevia o início da criação, que o mundo inteiro tinha um tamanho menor que um grão de mostarda (Gênesis1:1).
Bem, já estávamos prontos, depois desta pequena introdução, a entrarmos no tema da idade do universo. A ciência, atualmente, aceita que o universo tem aproximadamente 14 bilhões de anos. Enquanto a Torá diz que tem 5770 anos e mais 6 dias! Bem, por mais que a data da ciência seja aproximada, não creio que alguma conta possa chegar perto do valor afirmado pela Torá... Então, como resolver esta grande diferença? Nesta hora, percebi que todos faziam o sinal de “sim” com as cabeças, parecendo que eles perceberam que eu havia entendido a pergunta deles. Isso, por si só, já foi um grande alívio para eles; pois, viram que eu não estava fugindo do tema, tentando me esquivar ou responder a esta ou a outro tipo de pergunta. Depois desta introdução que fizemos, aposto que vocês também pensaram que nem voltaríamos mais à pergunta do título deste texto... Saber a idade do universo, só tem sua relevância para a prática do judaísmo por contradizer a ciência, porém nenhuma das mitsvót depende desta informação. Portanto, a Torá não responde a esta pergunta diretamente, porém os grandes Sábios, ao longo dos séculos, abordaram este tema. Vamos citar alguns deles abaixo. Maharal, que viveu no século XV, nos traz que o tempo, por ser parte da Criação de Deus, é relativo; e de acordo com a teoria da relatividade o tempo se expande e também se contrai. A partir deste conceito, Gerard Schroeder (Em 1965, Schroeder recebeu seu Ph.D. em física nuclear e em ciências terrestre e planetária) calculou que, para o tempo de 6 dias no centro do universo, passariam 15 bilhões de anos nas bordas do universo. A causa disso seria a massa gigantesca no centro do universo que comprimia o tempo... Bem, esta explicação já entra na área dos Doutores em física... quem quiser se aprofundar pode entrar no Google e buscar pelo nome dele... Nós, simples mortais, seguimos buscando outras visões, mais fáceis de captar para esta pergunta... Rav Akiva Tatz, aborda por outro ângulo. Ele afirma que, o sol e os astros só foram criados no quarto dia, e a Torá diz claramente que as regras da natureza, como as conhecemos hoje, só foram estabelecidas no sétimo dia, e elas não se aplicavam aos primeiros 6 dias. Portanto, ao observarmos o mundo hoje, com as leis da natureza que conhecemos, não podemos saber o que ocorreu nos 6 primeiros dias. Rav Shimon Schwab, resolve a questão com a diferença entre anos terrestres e anos celestiais. Os 6 primeiros dias da criação se referiam a anos celestiais enquanto que os 6000 anos se referem a anos terrestres. Estes dias celestiais seriam bilhões de anos terrestres, conforme veremos abaixo. Esta explicação está baseada no Rav Itschak de Ako, que viveu no século XI, e traz que o mundo tem bilhões de anos, mais precisamente, 15 bilhões, 340 milhões e 500 mil anos!!! Como Rav Itschak de Ako chegou a este número? Ele leu a American Scientific dos últimos anos? Claro que não, ele viveu há quase mil anos. Respire fundo e veja as contas abaixo...
Segundo o Sefer Hatmuná (por volta do século XII), o mundo terá 7 ciclos de 7 mil anos cada. Estamos no último. Portanto já se passaram 6 ciclos antes da criação de Adam Harishon (o primeiro homem). Então 6 ciclos x 7 mil anos = 42.000 se passaram antes deste ciclo em que estamos (no ano 5770). “Seguimos?” – perguntei ao grupo, pois me pareceu que nem todos já estavam acompanhando... Porém, já não havia mais risinhos no ar. As pessoas estavam tentando escutar cada palavra, já com certa reverência a tanta informação sobre o assunto de fontes tão antigas. Uma vez que estes anos se referem a um período anterior à criação do homem então a contagem deles seria de acordo com os anos Divinos. Um dia Divino vale mil anos terrestres (segundo fontes judaicas de 2000 anos atrás, Midrash), portanto quanto um ano Divino vale? Vamos lá, regra de três, todos nós aprendemos no colégio... 1 ano = 365 ¼ dias. Se um dia vale 1000 anos, então 365 ¼ valem 365.250 anos. Ou seja um ano Divino vale 365.250 anos terrestres. Seguimos? Portanto, os 42.000 anos multiplicados por 362.250 anos resultam em 15.340.500.000 anos !!! No ano de 1100 este valor já circulava pelos meios dos alunos do Ramban, o Rav Itschak de Ako... Bem, neste ponto já sentia que a questão havia sumido. Somente precisava fazer um sumário do que falamos. Podemos resumir as opiniões dizendo que algumas interpretações vão de acordo com a cosmologia atual (Dr. Schroeder) enquanto outros deixam a questão em aberto (R. Shimon Schwab), outros ainda dão outros tempos distintos dos 6 mil anos usuais (Ramban). Seria correto então dizer que nós não sabemos, definitivamente, a partir de uma perspectiva da Torá, como calcular o tempo de 6 dias relativo a interpretação dos dias da criação. Um judeu pode, neste contexto, ser completamente aberto para a tabela de tempo segundo a cosmologia moderna, uma vez que vai de acordo com a opinião de vários Sábios de Torá, sem necessariamente decidir decisivamente em favor dela. Nesta hora me pus à disposição de quem quisesse seguir o tema, fornecendo meu e-mail aos jovens. E senti uma grande satisfação de poder participar de um debate com pessoas abertas à opiniões diferentes das suas, aproximando as mentes e, consequentemente, os corações.
II
Judeu x Judaísmo "Sempre aprendemos sobre a perfeição da Torá e – por outro lado – encontramos tantos religiosos que não se comportam da forma correta. Quem tem a razão?" “Eu vi 'fulano', que é religiooooso, fazendo 'tal coisa'!”
F
requentemente escutamos este tipo de expressão em diversas ocasiões e em diferentes versões. Desta forma essas pessoas desprezam o cumprimento do judaísmo.
Realmente este é o sentimento natural despertado nas pessoas ao ver um “religioso” atuando de forma errada. Portanto, conhecendo a natureza do ser-humano, fomos orientados pela Torá a nos preocupar em comportar-nos de forma que não cause suspeitas ou “mal entendidos” e, com muito mais razão, nos preocupar em não difamar os preceitos Divinos aos olhos das outras pessoas. Consta no Talmud (Yomá 86a) que devemos estudar Torá e nos comportar com as pessoas de maneira agradável e, indiretamente elas também valorizarão a Torá que ele estuda. Porém, se a pessoa estuda Torá e não se comporta com as outras pessoas de maneira agradável, então elas indiretamente também desvalorizarão a Torá e dirão: “Veja só, “fulano” que estuda Torá como se comporta mal...” e, desta forma, estará difamando o nome de Deus e afastando as pessoas da Torá. Contudo, mesmo sendo “fulano” uma pessoa considerada religiosa, não obrigatoriamente todos os seus atos estarão coerentes com os ensinamentos encontrados na Torá. Todos os seres-humanos nascem com certas tendências e desejos pessoais. A Torá simplesmente nos ensina a quantidade e a forma correta de utilizá-los. Quanto mais uma pessoa considerada religiosa conseguir colocar os seus atos em harmonia com a sua consciência, mais ela estará cumprindo com os preceitos da Torá. Poderá haver certas características que ela não se aprimorou suficiente ou simplesmente deixou de lado para não abrir mão de seus desejos ou por outra razão qualquer; portanto nesses assuntos ela estará indo contra a Torá e, no futuro (no mundo espiritual), ela terá que prestar contas não somente pelas transgressões em si, como também por ter causado que outras pessoas desprezassem a Torá. De todos modos, os preceitos da Torá continuarão intactos, sempre nos ensinando como atuar com benevolência e justiça – eles não dependem dos atos de cada um.
Nos resta perguntar: Pelo fato de “fulano” atuar de “tal maneira” eu teria que abrir mão de viver da forma correta? - Pois este é todo o objetivo da Torá, nos ensinar como viver de forma correta... Vamos trazer um exemplo para um melhor entendimento do tema em questão; um estudante de medicina descobriu que o médico que tratava de sua família deturpava os diagnósticos de seus pacientes para se beneficiar financeiramente. Revoltado com a situação ele poderia pensar: “Se é desta forma que os médicos atuam eu abandonarei a medicina!” Porém qualquer pessoa entenderia que não seria correto deixar de ser médico e ajudar a salvar vidas de pessoas, e também abandonar a fonte de sustento de sua família, pelo fato que existem doutores que atuam de má fé - contra as próprias normas e princípios da medicina. Muito pelo contrário, ela deveria se preocupar e se empenhar mais ainda para ser um médico honesto pois, desta forma, proporcionaria um atendimento eficiente e verdadeiro a uma parcela maior do público. Igualmente, ao ver alguém desonesto no cumprimento da Torá, causando que outras pessoas se afastem dela, deveríamos nos preocupar e empenhar ainda mais em nosso aprimoramento pessoal e crescimento espiritual, estimulando desta forma, uma parcela maior de nosso povo a conhecer a beleza de nossa Torá. Podemos agora entender também em um aspecto mais profundo... O alimento de nossa alma é adquirido através do cumprimento da Torá que é formada por 613 mitsvót em paralelo aos 613 órgãos espirituais que formam a nossa alma - os quais estão correlacionados com o nosso corpo físico. Cada mitsvá ao ser cumprida pelo nosso corpo físico alimenta o órgão espiritual referente a ela. No futuro, quando a alma deixar a sua vestimenta material, ou seja, o corpo, a mitsvá será a vestimenta da alma - e quanto às mitsvót que estamos impossibilitados de cumprir, ao estudá-las recebemos, de certa forma, a sua influência (Baseado no livro Shaarei Kedusha). Portanto, uma pessoa que despreza a uma Mitsvá e se comporta de forma errada, mesmo sendo religiosa, é como estivesse desprezando uma parte da formação de sua alma. Agora poderíamos traduzir a mesma pergunta da seguinte maneira: “Pelo fato de “fulano” não cuidar de sua perna, eu teria que abrir mão da minha vida?!”
O Talmud (Yomá 86a) enfatiza a gravidade de difamar os mandamentos Divinos – distanciando as pessoas de seu cumprimento. Portanto uma pessoa que se veste como religioso e age de forma errada está transgredindo duplamente os preceitos da Torá; algumas pessoas falarão “Você sabe... ele fez isso porque é religioso, assim são os religiosos...”; ou seja, existem pessoas que t endem a pensar que o fato de ser religioso foi o que causou a pessoa a atuar dessa maneira, e elas pensarão que todos os religiosos são assim – Desta forma ele difamou a Torá e seus mandamentos.
Maurício, empresário bem sucedido, se encontrou com um Rabino em uma loja de aparelhos elétricos. Ele ficou olhando para o Sábio como que quisesse iniciar um diálogo... Sábio: “Boa tarde... Você deseja falar comigo?” Maurício: “Desejo sim... É verdade que vocês pregam a honestidade e a justiça?” Sábio: “Justo... acredito que todos estão de acordo...” Maurício: “Uma vez eu fiz um negócio com um empresário – que é um Rabino – e ele me enganou. Pelo fato dele ser um Rabino eu confiei nele, paguei adiantado como ele me solicitou, porém no final ele não me entregou a mercadoria... Como pode ser?” Sábio: “Você tem certeza que ele é um Rabino?!” Maurício: “Ele tinha barba e usava solidéu!” Sábio: “Você sabe que este é o estereotipo religioso; todas as pessoas que nascem em certa comunidade tendem a se vestir de maneira compatível. Independente do nível espiritual, todas as pessoas que nascem em uma família religiosa tendem a se vestir de acordo com o costume de sua família”. O Sábio continuou: “Provavelmente essa pessoa não é um Rabino, ele é um empresário que nasceu em uma família que se veste desta forma”. Maurício: “De qualquer maneira ele é religioso; e ele me roubou. Ele deveria respeitar mais os outros”. Sábio: “É óbvio que ele deveria!” “Eu gostaria de explicar um novo conceito... Independente do título 'religioso' todos os seres humanos possuem defeitos. A Torá tem como objetivo nos ensinar a maneira correta de atuar. Nós temos o dever de nos aprimorar como pessoa vencendo nossas tendências negativas. Uma pessoa que se preocupa em cumprir os preceitos da Torá receberá um grande estímulo para atuar de forma correta – segundo os Seus mandamentos, conquistando passo a passo um novo nível de perfeição – não enganar e não roubar são parte dos mandamentos, portanto também nestas questões deverá aprimorar-se”. Maurício: “E ntão por que ele me enganou?" Sábio: “...é justamente o que eu queria concluir... Quanto mais uma pessoa estuda e entende a importância da Torá, mais ela se preocupará em seu aprimoramento pessoal e crescimento espiritual; de modo contrário, ou seja, uma pessoa que não está preocupada em seu crescimento pessoal, continuará seguindo – como sempre – os seus instintos naturais – também os negativos. As suas características negativas seguirão crescendo... Mesmo uma pessoa 'religiosa' – de barba e solidéu... Porém neste caso ela não estará cometendo uma transgressão somente contra o seu semelhante, ele de fato estará cometendo duas – para Deus: além de estar transgredindo um preceito também está causando que outras pessoas se afastem de Sua sabedoria...” De todas formas nós devemos sempre nos esforçar em analisar os acontecimentos de forma positiva e tentar julgar favoravelmente os atos suspeitos de nossos semelhantes – quando se trata de uma pessoa que em geral tenta ser correta; e não procurar de imediato desqualificá-la. Traremos como exemplo um caso citado no Talmud (Taanit 23): ...Nas épocas de seca, os Sábios enviavam mensageiros ao Justo Aba Chilkia para que ele pedisse – através de suas preces – pela piedade do Criador para que lhes trouxessem
chuva. Uma vez, dois Sábios foram enviados como mensageiros; chegaram na casa do Justo e não o encontraram ali; foram procurá-lo no campo e logo encontraram-no arando o solo; cumprimentaram-no porém ele não respondeu. Então os dois Sábios esperaram o Justo finalizar o trabalho – ao anoitecer. Observaram-no colocar a madeira e os instrumentos de trabalho sobre um de seus ombros e uma veste dobrada sobre seu outro ombro. Caminhou todo o trajeto descalço e justo quando havia água no caminho, calçava os sapatos; quando haviam plantas espinhosas dobrava as calças descobrindo a parte inferior das pernas. Ao chegar na cidade observaram que sua esposa veio recebê-lo toda enfeitada e adornada; também observaram que antes a sua esposa entrou em casa e logo depois ele entrou e então entraram os Sábios [A conduta correta – segundo a Torá – seria que antes entrasse o homem e depois a mulher por questões de recato – pois caso contrário poderia causar pensamentos indecentes ao observar a mulher andando na sua frente]. O Justo arrumou a mesa para refeição e não os convidou para participar. Os mensageiros observaram como ele dividia as porções: para o filho mais velho serviu um pedaço de pão e para o mais novo dois pedaços. O Justo Aba Chilkia comentou com sua esposa em silêncio: “Eu sei que os Sábios estão me procurando para que eu suplique pela chuva – vamos subir no terraço e pedir pela piedade de Deus, quem sabe Ele receberá nossas orações e nos trará chuva; desta forma parecerá aos olhos deles que a chuva não chegou pelas nossas preces e não receberemos toda a honra”. Subiram no terraço e se pararam cada um em outro canto do terraço. As nuvens começaram a chegar pelo lado onde sua esposa rezava e somente depois chegaram nuvens pelo lado onde ele rezava. Quando desceram do terraço, o Justo Aba Chilkia perguntou para os dois Sábios que vieram lhe procurar: “Por que vieram?” “Nós fomos enviados para que o Sr. reze pela piedade do Criador que nos traga chuva” – responderam os Sábios. Concluiu o Justo: “Vejam só, graças a Deus a chuva chegou e vocês não precisam de mim!” “Nós sabemos que a chuva veio por sua causa” – retrucaram os Sábios... “Porém nos explique o seu comportamento, nós estamos simplesmente perplexos.” (Os Sábios queriam aprender novos princípios através de sua conduta). 1. “Por que o Senhor não respondeu quando nós lhe cumprimentamos?” O Justo respondeu: “Eu recebo o salário pelo tempo de trabalho, portanto durante o período que eu estou trabalhando não posso parar – pois estaria recebendo dinheiro pelo t empo que não trabalhei”. 2. “Por que o Senhor colocou a madeira em um de seus ombros e a veste no outro ombro – o correto não seria colocar as madeiras sobre as vestes para que não machuquem os ombros?”
O Justo respondeu: “A veste não é minha, eu peguei emprestada para vesti-la e não para proteger-me das madeiras que poderiam rasgá-las”. 3. “Por que o senhor caminhou descalço durante todo o caminho e justo quando passava pela água colocava os sapatos – o correto não seria vesti-los durante todo o caminho e retirá-los ao passar pela água para não encharcá- los?” O Justo respondeu: “Eu posso ver o que se encontra no caminho e posso caminhar descalço, porém, eu não vejo o que se encontra dentro da água – pode haver algum réptil perigoso e me picar, portanto eu necessito proteger-me – O Justo Aba Chilkia era pobre e não possuía meios para comprar novos sapatos, portanto os calçava o mínimo necessário para não estragá-los. 4. “Por que o senhor dobrava as calças ao passar por plantas espinhosas?” O Justo respondeu: “A minha perna pode curar -se dos arranhões – porém – se minha calça rasgar eu não tenho como comprar novas”. 5. “Por que a sua esposa veio te receber toda enfeitada e adornada?” O Justo respondeu: Para que eu fique satisfeito com ela; e maus pensamentos – em relação a outras mulheres – não venham me perturbar”. 6. “Por que a sua esposa entrou primeiro e depois o senhor entrou e nós entramos por último?” O Justo respondeu: “Eu não ofereci para vocês entrarem primeiro pois a conduta correta é que primeiro entre o dono da casa e logo os convidados; também não me pareceu correto entrar primeiro deixando a minha esposa do lado de fora sozinha com vocês; tampouco me pareceu correto que vocês entrassem logo depois de minha esposa para que não viessem a caminhar detrás dela; portanto foi ela quem entrou primeiro, logo eu entrei para convidá-los a entrar”. 7. “Por que o senhor não nos convidou para participar da refeição?” O Justo respondeu: “Pois eu não tenho comida suficiente para oferecê -los... Pensei... mesmo os convidando para comer não haveria o que servi-los, portanto eu receberia gratuitamente a honra por ter lhes convidado.” 8. “Por que o senhor entregou para o filho mais velho um pedaço de pão e para o mais novo dois pedaços – não haveria de ser o contrário?” O Justo respondeu: “O meu filho mais velho se encontra em casa e sempre pode encontrar algo para “colocar na boca” – porém o mais novo se encontra estudando fora de casa e não come nada durante todo o dia”. 9. “Vimos o senhor e sua esposa rezando no terraço... Por que as nuvens chegaram primeiro pelo lado dela e logo chegaram também pelo lado do senhor?” O Justo respondeu: “Pois minha esposa sempre se encontra em casa e quando um pobre solicita por ajuda, é ela quem oferece a ele uma porção de comida; também quando eu me encontro em casa e chega um pobre, eu ofereço dinheiro e ele todavia tem que
comprar comida e prepará-la para depois ingerir – a minha esposa já oferece comida pronta sendo a sua benevolência mais meritória. Ou pelo fato que haviam uns maus elementos em nossa vizinhança, eu orava perante o Criador contra eles, porém, ela rezava para que eles retornassem ao bom caminho... e realmente retornaram – talvez por isso as nuvens chegaram primeiro pelo lado onde ela se encontrava. Em outra passagem do Talmud os Sábios louvaram a grande justiça de Aba Chilkia até o ponto onde explicaram que o Salmos, no capítulo 15; versículos 1 e 2 – “...Deus, quem habitará em Tua tenda? Quem se assentará em Teu sagrado monte? Uma pessoa íntegra que atua com justiça...” – está fazendo uma insinuação ao Justo Aba Chilkia.
III
A Primeira Mitsvá "Qual a primeira Mitsvá que devemos cumprir para começar nosso caminho no judaísmo?"
E
m muitas pessoas – ao se conscientizarem da importância do cumprimento da Torá – surge a vontade de cumprir os seus preceitos, porém, nem todos estão em condições de realizar uma mudança de “180 graus” de uma só vez. De todos modos, várias vezes, a vontade e a necessidade de começar a cumprir pelo menos “algo” da Torá estão presentes em seus sentimentos. Então surge a pergunta: “Com que Mitsvá começar?”
Para dar início ao tema faremos uma correlação entre o mundo físico e o mundo espiritual; pois, toda a criação foi estabelecida com uma coerência geral – ou seja – o mundo físico foi criado como uma expressão do mundo espiritual, portanto, ao analisarmos o funcionamento natural do mundo físico, podemos aprender conceitos espirituais. Em nosso caso, para entendermos como começar uma “construção espiritual”, podemos analisar como funciona uma construção material e utilizar dos mesmos conceitos em um paralelo espiritual. Qualquer pessoa, ao observar a obra de um prédio, perceberia que a primeira preocupação da construtora é a de preparar o terreno – limpando todo lixo, sucata, pedras, etc. – para depois começar a construção das bases e etc. Portanto, a primeira preocupação para uma construção em âmbito espiritual, também seria preparar o terreno, ou seja, o corpo, para estar limpo e reto; e logo poderá começar a construção das bases, ou seja, das Mitsvót básicas e o aprimoramento pessoal. Qual Mitsvá seria a responsável pela preparação e limpeza do corpo? O nosso corpo é formado pela comida que comemos. A comida influencia diretamente em toda a construção do corpo – tanto no aspecto físico quanto no espiritual. Nossos Sábios explicam que a comida não casher afeta a pureza do pensamento... Em relação à alimentação proibida – está escrito na Torá: “...não se impurifique com eles” – a influência da comida proibida pela Torá entra em todos os órgãos da pessoa, os impurificando - e logo distorce os seus pensamentos (como foi explicado no Talmud – Tratado Yomá 39a; Rabi Chaim Eliahu Shterenberg). A comida proibida não afeta a capacidade mental da pessoa, ela afeta em seu pensamento e sentimento espiritual e Divino. A sensibilidade espiritual voltada para o lado da pureza será afastada, assim como os sentimentos de elevação espiritual vindo das forças puras. Também causará limitação em um entendimento mais profundo dos conceitos da Torá (Rabi Yossef Pinkassi, Ymrei Pi). Gabriel , estudante de medicina, sempre honrou e valorizou o judaísmo; apesar de ser um jovem laico, procurava ler e pesquisar sobre as suas raízes... Finalmente encontrou um estudioso de Torá com quem se identificou e pediu para que lhe ensinasse a sabedoria da Torá semanalmente – uma hora por semana. Assim, vários meses estudaram, sempre em um clima ‘super’ agradável e sereno. Certa vez, quando estudavam sobre a proibição de causar sofrimento desnecessário aos animais, o Sábio percebeu que Gabriel estava inquieto, ele já não estava conseguindo se concentrar no estudo... "Hoje você me parece meio preocupado...” - comentou o Sábio. Gabriel: “Eu estou confuso...” “Em que eu posso te ajudar?” - perguntou o Sábio.
Gabriel: “O Senhor sabe que eu sempre respeitei a Torá... Porém, eu nunca havia pensado em cumprir os Seus preceitos...” Sábio: “Eu sei... Já na primeira vez que nós nos encontramos eu senti isso... Mas agora, o que mudou?” Gabriel: “Agora, já há algum tempo, eu sinto vontade de cumprir os mandamentos da Torá... Mas, para mim, é difícil começar a cumprir todos eles de uma só vez... Porém o meu coração deseja esta conexão... eu sinto que necessito me desenvolver no cumprimento do judaísmo. Com qual dos mandamentos eu deveria começar esta nova conexão espiritual? Sábio: “Seria adequado começar com algo que te proporcionasse uma nova atmosfera espiritual e um acréscimo de energia e sabedoria...” Gabriel: “Eu não entendo... o Sr. Poderia ser mais claro?” “É claro!” - Respondeu o Sábio. “Eu vou explicar... Assim como antes de construir devemos preparar o terreno; antes de plantar devemos preparar o campo... assim também para que possamos conquistar novos níveis espirituais devemos nos preparar criando uma nova atmosfera espiritual e um acréscimo de energia e sabedoria...” Gabriel: “Estou começando a entender... porém todavia não está claro...” “Eu sei... agora mesmo eu esclareço...” - completou o Sábio. “Seria digno começar com ações que criarão uma relação mais íntima com o Criador. Sentir que Ele faz parte de nossa vida... Na verdade é Ele Quem controla e sustenta todos os seres espirituais e materiais – toda a Criação. Portanto desenvolver o sentimento de que Ele está próximo... está nos escutando... se expressar, agradecer e pedir – como uma relação entre um filho com o seu pai – criará uma nova atmosfera espiritual – uma atmosfera positiva. [Confira no livro ‘O Místico’ que, muitas vezes, a busca de uma conexão espiritual alternativa – fora do judaísmo – causa o efeito contrário – distanciar-se do Criador] “E quanto ao acréscimo de energia e sabedoria que o Sr. se referiu?” - Perguntou Gabriel. Sábio: “A própria conexão direta com o Criador causará um acrésc imo de energia... Porém uma vez que existem certos fatores que obstruem a recepção desta energia, deveríamos começar nos preocupando em retificá- los.” Gabriel: “Por exemplo?!” Sábio: “Você sabe que o nosso corpo é formado pela comida que nós ingerimos. Ao comer uma comida que está vinculada com as forças de impureza – automaticamente nosso corpo se impurifica – obstruindo de forma significativa a absorção da energia espiritual proveniente do lado da pureza, pois para ela repousar e se conectar com a pessoa, necessita uma compatibilidade. Portanto seria aconselhável esforçar-se no cumprimento dos mandamentos voltados à alimentação... eles colaborarão na formação corporal da pessoa – em um novo nível – compatível com as forças espirituais relacionadas ao lado da pureza. Isto lhe proporcionará um acréscimo significativo na absorção energética positiva”. “Ao ingerir comida impura, a própria alma da pessoa fica impura” (Ór Hachaim, Vaikrá 11, 43). “Os alimentos que foram proibidos pela Torá são os alimentos que es tão
relacionados com as energias negativas e, ao ingeri-los, a pessoa também absorve esta energia” (Rabi Yakov Lugassi, Beemunató Ichiê). O Sábio continuou: “E quanto ao acréscimo de sabedoria é muito simples... O conhecimento é indispensável! Seria de fundamental importância participar ou pelo menos escutar aulas de Torá de forma mais frequente”. Infelizmente, todos nós estamos influenciados pelas definições populares deturpadas dos conceitos espirituais; o que causa um entendimento equivocado, limitado e – muitas vezes – a ‘ridicularização’ de conceitos profundos e verdadeiros. Traremos um exemplo: Certas instituições – para ilustrar a imagem do inferno – por ignorância ou simplesmente para amedrontar o povo de forma geral (com o objetivo de conquistar novos adeptos) formaram a imagem do diabo que vive nas trevas queimando as pessoas que não se comportam bem – com o objetivo de castigá-los através do sofrimento... Uma imagem superficial que ridiculariza um conceito espiritual muito mais profundo. Agora, quando a palavra “inferno” for usada no judaísmo logo causará uma certa repulsão, pois a associação com a definição deturpada é inevitável. Na verdade não deveríamos mais utilizar a palavra “inferno”, pois ela já foi “queimada” por ele – Na visão judaica, o “inferno” é o processo de retificação da alma através da autoconsciência ao perceber que ela trocou valores eternos e verdadeiros por seduções temporárias que terminaram junto com o ato. Realmente isto causará uma forte dor de consciência e, se reflexionarmos bem sobre o tema, poderemos chegar à conclusão que esta dor é inclusive maior que a dor do fogo – porém está longe da imagem deturpada e superficial que ridiculariza um conceito elevado e profundo. Outro exemplo: A visão popular foi influenciada pela ideia que uma entidade boa é caracterizada pelos atos de benevolência – entregar presentes, sempre estando pronto para ajudar independente de qualquer pré-condição... esta ideia causa uma deturpação no conceito da palavra “Deus”. Quando f alamos que Deus é bom, estaremos limitando a Sua atuação por este falso conceito – logo este “deus” não será o verdadeiro Deus citado na Torá, é outro “deus”, como se fosse uma idolatria com o mesmo nome de Deus. Pois um controle justo e verdadeiro exige uma atuação diferente para cada caso. Um pai para fazer o seu filho crescer e prosperar terá que repreendê-lo em diversas ocasiões – desta forma ele será um bom pai de verdade. A bondade é um dos atributos de Deus, existe também o atributo de justiça – entre outros – em cada caso haverá um equilíbrio apropriado de bondade e justiça para que o bem verdadeiro possa ser alcançado. Existem muitos exemplos; praticamente todos os conceitos estão popularmente incompletos e deturpados. Portanto, o estudo é essencial para retificarmos a verdadeira imagem do judaísmo. O estudo também ampliará os horizontes para o entendimento de novas leis ou das próprias leis que já decidimos cumprir.
Um exemplo – Uma pessoa que decide fazer benevolência, ajudar financeiramente um necessitado. Existem vários níveis diferentes de doações. O próprio ato de entregá-lo em mãos já seria uma grande ação. Porém, o ato seria maior, caso o necessitado não soubesse de quem recebeu – isto evitaria um certo constrangimento, um sentimento de vergonha. O ato receberia novas proporções caso o doador nomeasse um intermediário de confiança para entregar à um necessitado, sem que ele saiba para quem foi entregue, e tampouco o necessitado saiba de quem recebeu. Todavia, o ato alcançaria um nível ainda maior, caso o doador conseguisse uma oportunidade de trabalho fixo para o necessitado. Assim ele poderia sustentar-se com dignidade sem necessitar de favores alheios. Porém, muitas vezes, sem perceber, o doador está buscando a honra, querendo que sint am que “é ele” quem está sustentando, ou sentir-se controlando os outros... Portanto – em nosso caso – seria essencial estudar o tema; pois, desta forma, o doador receberá o conhecimento dos critérios de valores e logo desejará – quando possível – realizar a mesma doação de forma mais digna e eficiente, conquistando com o mesmo ato uma posição espiritual mais elevada para toda a eternidade... E assim também em qualquer outro tema da Torá. Outra Mitsvá que uma pessoa deve se esforçar em cumprir em espec ial, é “a pureza do lar” – não manter relações matrimoniais nos períodos proibidos pela Torá. Citaremos alguns motivos: a. A Torá coloca uma grande ênfase neste preceito. Durante toda a história do judaísmo houve uma grande preocupação no cumprimento rigoroso deste mandamento. Em qualquer descoberta arqueológica onde havia assentamentos judaicos, ali se encontra uma mikve, com os mesmos critérios legais que até hoje em dia mantemos, porém sem o mesmo luxo com que é construído atualmente. b. Os órgãos internos de nossos corpos possuem uma forte proteção natural contra seres estranhos (vírus, bactéria, etc.) que possam vir a prejudicá-los. No caso dos órgãos que chegam até o útero o corpo produz uma acidez elevada, matando estes seres estranhos e, desta maneira, protegendo a mulher. Quando o sangue passa por ali, ele neutraliza esta acidez e, neste período do ciclo menstrual, a mulher fica sem esta proteção contra todos esses agentes daninhos. O nível de acidez retorna ao seu nível adequado para a proteção da mulher no meio de seu ciclo menstrual, até o seu complemento. Estes dados são fatos que a medicina já conhece há mais ou menos 150 anos. Segundo as leis da Torá, a partir da saída do sangue do útero, o relacionamento matrimonial fica proibido até a sua finalização, e após isto, ainda mais sete dias. Somente depois de terem passado esses sete dias sem ter visto sangue, a mulher pode se purificar na mikve e voltar a ter relações matrimoniais com seu marido. O relacionamento matrimonial no período em que o interior do útero está machucado e delicado e o corpo da mulher sem a proteção natural – pois foi neutralizada pelo sangue
(e mesmo após ter terminada a secreção do sangue ainda demora alguns dias até a acidez retornar ao nível desejado) – podem causar sérios danos para a saúde da mulher e, inclusive, chegar a causar câncer em seu sistema reprodutor. Justo neste período o relacionamento matrimonial está proibido pela Torá, voltando a estar permitido após a purificação, que ocorre quando o organismo já está novamente preparado e protegido, e o útero recomposto. Não é por acaso que as pesquisas comprovam que a porcentagem de casos de câncer no útero de mulheres que cumprem estas leis estão muito abaixo da porcentagem de mulheres que não as cumprem. Uma vez que o Criador nos ordenou a cumprir um mandamento, é óbvio que este mandamento não nos causará danos. A própria Torá nos ordena a cuidar de nossa saúde. Deus criou para o homem um organismo adequado para os Seus mandamentos; porém, não é este o motivo dos mandamentos, e sim um benefício lateral que nos dará condições para continuarmos vivendo e cumprindo com a nossa função. [Baseado no livro “O Livro de Yona”, capítulo Torá e Ciência] c. Sucesso na vida conjugal. O homem e a mulher se completam no momento da união matrimonial – os dois juntos são considerados uma só entidade – “um ser humano completo”; os Sábios comparam o dormitório do casal com um santuário, pois ao se juntarem em uma união perfeita, também no aspecto espiritual – seguindo as regras estabelecidas pelo Criador – haverá uma união perfeita, portanto, a emanação Divina se juntará a eles; a Luz formada neste relacionamento influenciará em todos os campos da vida do casal. Através de um relacionamento realizado sem “a pureza do lar” este objetivo não será alcançado; este laço sofrerá uma danificação. Os frutos que nascerão desta união também serão influenciados pelo nível de pureza do relacionamento. Este preceito, “a pureza do lar”, é um dos pri ncipais contribuintes para o sucesso do casal – assim consta no Talmud (Tratado Nidá) – como consequência de um período onde o relacionamento matrimonial não está permitido – as saudades crescem e ambos esperarão – um ao outro – como se estivessem casando novamente; o relacionamento não se “deteriorará” com o tempo, como aconteceria naturalmente. As saudades renascerão a cada mês. Comer casher e cuidar da “pureza do lar” são passos bem significativos, porém, qualquer ato que uma pessoa acrescente em sua vida para cumprir com a vontade do Criador – por menor que seja – tem um valor imenso. Essa atuação transcende qualquer valor material – a conquista de um novo laço espiritual eterno com a fonte da existência. Portanto seria aconselhado preocupar-se em acrescentar – em paralelo aos passos mais significativos – pequenas formas de expressar a vontade de aproximar-se do Criador; traremos alguns exemplos: honrar os pais – servindo-os e sempre quando possível preocupar-se em satisfazê-los; preparar algo saboroso na sexta feira para comer no Shabat e desta forma honrá-lo, fazer kidush na noite de sexta feira (“leil Shabat”) e no sábado de manhã antes de comer; preocupar-se em fixar boas mezuzót nos portais da casa; preocupar-se em não ofender ou magoar outras pessoas, etc... Outra mitsvá que devemos desenvolver é o cumprimento do Shabat – veja mais detalhes sobre este tema no capítulo “Shabat Shalom”.
Sábio: “Uma pessoa pensa que vai “sair perdendo” ao começar a cumprir os preceitos da Torá; porém, quando ela percebe que, na verdade, quem “está de fora” é que está perdendo, logo todos os medos vão embora e automaticamente as dúvidas desaparecem... As dúvidas eram frutos do medo... o medo de começar um novo estilo de vida” “Aqueles que conectam-se com o Eterno terão as suas forças renovadas (Ishaiau
40, 31); sempre serão irrigados com novas forças pelo Criador (Ibn Ezra); ...a cada momento – novas forças (Metsudat David)”
IV
CASAMENTOS MISTOS "O judeu é melhor que os outros? Por que não se envolver com culturas diferentes e nos tornamos mais completos?" A preocupação de casar-se somente com alguém do mesmo povo não seria considerado um preconceito?
C
omo a própria palavra expressa: “pré” “conceito” – um conceito prévio; descriminar uma pessoa por algum conceito religioso, nacionalista, racista ou algo do gênero – simplesmente por ela pertencer a um grupo determinado.
No judaísmo não existe preconceito – qualquer pessoa de qualquer outro povo pode se juntar ao povo judeu; independente de sua raça, religião ou nacionalidade – todos serão bem-vindos. Seria o converso considerado inferior ao judeu de nascença? De forma alguma! Inclusive existe um preceito que nos ordena amar à um converso de forma especial: “E amarás aos conversos ...” (Deuteronômio 10, 19)
“Um converso que vive convosco será como aquele que é nato entre vocês. E o amarás como a si próprio...” (Levítico 19, 34)
Fomos ordenados a amar os conversos; ou seja, devemos nos cuidar para não causar nenhum tipo de sofrimento a eles, prestar favor e praticar benevolência – segundo o necessário e as possibilidades de cada um. Além do preceito geral de amar todos os nossos semelhantes – nos foi acrescentado um preceito de amar aos conversos em especial. Da mesma forma, em relação ao preceito de não enganar e oprimir nossos semelhantes – se torna ainda mais grave quando se trata de um converso, pois a Torá retornou a ordenar de forma especial: “E ao converso não enganareis e não oprimireis...” (Êxodo 22, 20). Os nossos Sábios alertaram: Quão digno e louvado é ajudar e tratar especialmente bem a uma pessoa que deixou o seu povo de origem, família e a casa de seus próprios pais para se juntar com um outro povo (o Povo de Israel) – simplesmente por amá-lo e buscar a verdade... (Chinuch preceito 431) Portanto, um judeu que descrimina um converso – simplesmente pelo fato de ter vindo de um outro povo – está atuando contra os princípios da Torá. Então, qual seria o problema de um integrante do Povo de Israel se casar com alguém de outro povo? Como já citamos anteriormente, uma pessoa de outro povo que se converteu, aderindo-se verdadeiramente ao judaísmo – seguindo os critérios da Torá – integrou-se ao Povo de Israel e realmente não haverá nenhum problema de um judeu de nascença casar-se com ela. Muito pelo contrário, estará cumprindo com o preceito de amá-lo duplamente. Porém, no caso de um não-judeu que não se converteu ao judaísmo, o próprio Criador – Conhecedor de todos os mundos espirituais e de nosso mundo físico – revelou que o relacionamento não será permitido; ou seja, um integrante do Povo de Israel não poderá casar-se com um integrante de outro povo. A proibição não é consequência de um preconceito – como já foi citado anteriormente que qualquer pessoa pode se juntar ao nosso povo – a proibição é simplesmente um fruto da incompatibilidade espiritual – para evitar uma conexão que causará danos espirituais irreparáveis para ambos os lados. Daniel, um jovem brasileiro, que vinha frequentando aulas semanais de Torá, aproveitou a oportunidade para esclarecer um tema que lhe incomodava bastante... um velho amigo que se sentia descriminado pelos outros companheiros, simplesmente porque estava prestes a se casar com uma jovem de outro povo... Logo após o término da palestra, ele chamou o Sábio para uma conversa em particular... Daniel: “O Senhor sabe que eu tenho um amigo de infância que está para se casar com uma garota de outro povo... Ele me contou que sente uma certa resistência de alguns amigos...”
Sábio: “E o que você quer saber?” Daniel: “Eu queria saber se o judaísmo é racista?” Sábio: “De forma alguma!” Daniel: “O Senhor me falou que existem diferenças entre um judeu e um não - judeu!?” Sábio: “Verdade... Porém, as diferenças não são por racismo, elas dependem da função de cada um. Cada um tem a sua função; porém, independente de tudo, deve-se haver um respeito mútuo.” Daniel: “De todas formas, vemos que para os judeus existem mais preceitos...” Sábio: “Mais preceitos também significa mais responsabilidade... Me parece que este tema está meio que bagunçado na sua cabeça... Por favor, permita-me explicar- te...” Daniel: “Por favor...” Sábio: “Cada povo tem a sua função... Na verdade essa história começou a muitos anos atrás... O nosso antepassado Avraham (Abrão) nasceu em uma geração onde todos praticavam idolatria – exceto umas poucas pessoas que viviam isoladas. Refletindo sobre a ordem existente na natureza, Avraham chegou à conclusão de que, obrigatoriamente, existe um Deus que criou e controla toda a criação, e que não existe nenhuma força independente Dele. Para ele, estava claro que todas as pessoas que se relacionavam com as forças dos elementos da natureza, como forças independentes, estavam equivocadas – elas praticavam idolatria. Avraham começou a influenciar o mundo, demonstrando a existência de um Criador, ele inclusive estava pronto para sacrificar a própria vida para cumprir a vontade do Criador... Mais do que Deus escolheu a Avraham, Avraham escolheu a Deus! Itschak (Isaac), o filho de Avraham, perpetuou a sua missão. Seu neto Yaakov (Jacob) também assim o fez; o título “Israel” – em hebraico bíblico “Israel” é formado por duas palavras “Iashar El” - “Diretamente com Deus” – estava guardado para quem recebesse a função de estudar e transmitir os estatutos de Deus. Avraham, Itschak e Yakov – três gerações – após haverem sido provados várias vezes e terem demostrado uma grande submissão para cumprir a vontade do Criador, finalmente conquistaram o título “Israel”; ele foi entregue a Yakov – que passou a se chamar “Israel”. Deste foi formado o Povo de Israel, que reconheceu a unicidade de Deus. Portanto, foi este o povo escolhido para receber e transmitir a Torá, Livro Sagrado, que instrui, auxilia e que inspira os nossos atos no mundo em que vivemos para alcançar o objetivo determinado por Deus. A partir desse momento – ou seja, a partir do momento em que o título “Israel” foi entregue a Yaakov e seus descendentes – uma pessoa de um outro povo que queira receber esta função – a função de “Israel” – deverá se juntar ao Povo escolhido para esta função seguindo os critérios determinados; junto com o título “Israel” eles também receberão a respectiva responsabilidade – uma nova situação espiritual e o julgo do cumprimento de todos os preceitos da Torá. Daniel: “O que acontece com um não - judeu que não queira se converter ao judaísmo?” Sábio: “Diferente das outras religiões que eu conheço, o judaísmo não exige que os integrantes dos outros povos se junte ao Povo de Israel; eles podem cumprir com suas funções sem modificar o “status” – cumprindo os sete preceitos de Noé e suas ramificações – desta forma eles serão dignos de receber recompensa pelos seus atos eternamente no mundo vindouro. Simplesmente, caso um não -judeu queira novas
responsabilidades, recebendo a função de cumprir, estudar e transmitir para a humanidade os estatutos da Torá, será bem- vindo.” Daniel: “Então, a diferença entre a quantidade de preceitos é consequência das diferentes funções de cada um?” Sábio: “Exato!” Então o Sábio concluiu: “Qualquer pessoa, de qualquer outro povo, pode se juntar ao povo judeu; independente de sua raça, religião ou nacionalidade – todos serão bemvindos; inclusive existe um preceito que nos ordena amar a um converso de forma especial. Nossos Sábios exclamaram: Quão digno e louvado é ajudar e tratar especialmente bem a uma pessoa que deixou o seu povo de origem, família e a casa de seus próprios pais para juntar-se com um outro povo (o Povo de Israel) – simplesmente por amá-lo e buscar a verdade...” Daniel: “Eu já vi um judeu de nascença descriminando um converso...” Sábio: “Eu também... Podem haver judeus de nascença que descriminam conversos; porém, eles estão atuando contra os princípios da Torá – Eles devem imediatamente modificar a forma de agir e de pensar...” Daniel: “Eu entendo que haja diferenças nas funções... mas ainda não entendo por que o judaísmo não aceita casamentos mistos. Por que o casamento misto é tão grave? O que seria mais importante, casar com a pessoa que parece ser o “amor de nossa vida” ou simplesmente manter a tradição da Torá?” Sábio: “Primeiramente existe uma razão muito simples e técnica... Este preceito é uma forma de manter o Povo de Israel existindo. Um povo tão pequeno e perseguido... Atualmente com tanta assimilação na diáspora, veja como o nosso povo está diminuindo... Imagine só, caso fosse permitido casar-se com pessoas de outros povos... dentro de uma ou duas gerações quantos integrantes permaneceriam em nosso povo?” Daniel: “Uau... É verdade... Eu não tinha pensado nisso!” Sábio: “Em segundo lugar, devemos saber que o Judaísmo – A Torá – não é tradição... Muitas pessoas se enganam pensando dessa forma. A tradição faz parte do judaísmo, mas não é tudo. A Torá vai muito além disso, Ela nos revela a realidade da existência... Nos ensina a ver e entender o mundo de forma real e como nos relacionar com ele para obtermos benefícios reais... eternos...” O Sábio continuou: “Em terceiro lugar, já esclarecemos que existem diferenças nas funções de cada povo... A diferença entre a quantidade de preceitos é consequência das diferentes funções... essa diferença também reflete uma diferença na formação espiritual – pois os preceitos da Torá estão correlacionados com a formação espiritual.” [como está explicado no capítulo “Cabala”] O Sábio concluiu: “A proibição não é gratuita... causará danos para ambos os lados.” Daniel: “Então, por que vemos casais mistos ‘super’ felizes, onde um complementa o outro? Em resumo, parece que nasceram um para o outro – e em contra partida, muitas vezes vemos desgraça em casamentos entre pessoas de um mesmo povo?”
Daniel seguiu: “Inclusive, eu conheço casais de judeus que não vivem em harmonia... em muitos casos, até mesmo se divorciaram...” Sábio: “Infelizmente é verdade. Casar com alguém do mesmo povo não é o único critério para o sucesso. Várias pessoas se ocupam buscando excessivamente os prazeres
superficiais – essa busca leva a um estilo de vida hedonista, que não visa a auto superação e o esforço em cumprir aquilo que é correto. Uma pessoa que vive dessa forma adquire valores superficiais e perde a sensibilidade para distinguir os verdadeiros valores em seus companheiros; provavelmente, ela encontrará um cônjuge também superficial que, aparentemente, atende suas necessidades. A preocupação em saciar os seus prazeres pessoais faz com que a pessoa seja egoísta. O egoísmo é a origem de vários problemas... Principalmente em uma vida conjugal...” O Sábio continuou: “Além do mais, saiba que por este motivo, nem sempre duas pessoas que foram destinadas a formar um casal ideal se encontrarão...” Daniel : “Como pode ser ? Com quem elas casarão? Sábio: “Os critérios para a escolha deste novo par estão diretamente ligados à conquista dos méritos de cada um. Deus não deseja interferir no poder de decisão das pessoas... Independente da opção quanto ao estilo de vida, cada um poderá sentir que encontrou o seu par ideal. A pessoa poderá seguir vivendo segundo as suas escolhas pessoais e o livre-arbítrio global não será afetado. Você sabe... Mesmo que uma pessoa assimile-se, casando-se com alguém de outro povo, encontrará alguém que, aparentemente, foi destinado para ela. Deus não interfere no momento de decisão, no momento da opção em fazer o que é correto, pois este é todo o objetivo da criação. Daniel: “O quê? Existe uma pessoa de outro povo – em potencial – que foi destinada para quem quiser se assimilar?” Sábio: “Exato. Eu explicarei o tema melhor... Como eu já falei antes, nem sempre duas pessoas que foram destinadas a formar um par ideal se encontrarão, pois, poderá haver incompatibilidade entre elas; isso se deve ao caminho escolhido por cada um durante a vida. Por exemplo, no caso de uma determinada mulher, destinada a um certo homem. Digamos que ela tenha optado por um caminho digno, com metas nobres; e seu par ideal, que teria sido destinado para ser sua alma gêmea, tenha optado por um caminho menos qualificado. Mesmo que, potencialmente, eles pudessem ter formado um casal ideal, isto já não será mais possível na prática. Portanto, será decretado para cada um deles um novo par, de acordo com a situação em que se encontram ; denominado de “o segundo par”; também existe “o terceiro par”, quarto, quinto... e inclusive um par de outro povo, criando a possibilidade dela se assimilar desconectando-se de seu próprio povo; o poder de decisão sempre seguirá nas mãos da pessoa; este é o objetivo da Criação – optar em fazer o correto.” Daniel: “Como poderemos encontrar o nosso par ideal? A nossa alma gêmea?” Sábio: “Quando as duas partes destinadas a formar um casal se esforçam em cumprir o correto, isto é, optam por um caminho digno, acontecerá o verdadeiro encontro. Conscientes da maneira em que suas características se completam, procurarão formar uma família fundamentada em verdadeiros valores. A energia consumida em esforçarse para fazer o que é correto, em última instância, eleva o indivíduo – transformando superficialidade e impulsividade em altruísmo e autocontrole. Ela saberá valorizar as características pessoais de seus familiares, permitindo com que impere o respeito e consideração mútua em cada decisão a ser tomada ao long o da vida em família.”
Não existe nenhuma possibilidade de duas pessoas com incompatibilidade espiritual serem "almas gêmeas" Quarenta dias antes da fecundação, é decretado no mundo espiritual quem será a sua alma gêmea, assim é anunciado: “A filha de fulano para beltrano...” (Talmud, Tratado Sotá 2a). Originalmente – no mundo espiritual – as almas são formadas tanto com o aspecto masculino quanto com o feminino. Antes de chegar à este mundo – ou seja, antes do nascimento, a alma se separa em duas partes – a parte masculina e a parte feminina – elas serão chamadas “as almas gêmeas” (pois as duas partes juntas formam uma só alma – possuem a mesma origem – elas se completam); Às vezes, a parte feminina da alma nasce antes da masculina; ela poderá se encontrar com outra pessoa que não seja a sua alma gêmea e casar-se com ela. O que acontecerá quando chegar o momento do tão esperado encontro – ou seja, de se encontrar com a sua verdadeira alma gêmea? Caso a parte masculina da “alma gêmea” possuir méritos para se juntar com a sua parte feminina; e a pessoa que se encontra casada com ela for um transgressor... Em um período que o Atributo de Justiça for despertado no mundo, poderá ser decretado que essa pessoa (que se encontra casada com a parte feminina da alma gêmea) deixará de viver; ou simplesmente eles se desquitarão... Logo as “almas gêmeas” se encontrarão. Porém se a parte masculina da “alma gêmea” não possuir méritos – por não ser uma pessoa reta e justa – mesmo que a parte feminina de sua “alma gêmea” casou -se com outra pessoa, ela já não terá méritos para junta-se à ela...” (Zohar Vaielech 283b) A Família Existe aquele que preocupa-se em demasia com a sua situação neste mundo, esforçando-se duramente na conquista de novos prazeres imediatos, na busca do status ou de poder aquisitivo mais alto. Todo este investimento tem efeito apenas por algumas dezenas de anos. Deduzimos então, o quanto deveríamos nos preocupar em nos aperfeiçoar, construindo uma família digna com respeito mútuo entre os seus membros, nos preocupar em transmitir amor e não somente procurar o prazer, pois isto nos proporcionará um nível elevado e um prazer qualitativo, não somente durante nossos poucos anos neste mundo, e sim, conquistaremos um nível espiritual real, intrínseco em nossas almas, para toda a eternidade.
V
CABALA
"Qual sua origem? Por que não estudamos de forma revelada? O que nos acrescenta o misticismo?"
H
oje em dia a palavra “cabala” está altamente relacionada com moda e dinheiro – cursos e livros seduzem as pessoas utilizando termo “cabala” – ao escrever a palavra “cabala” em um produto, crescem as chances do sucesso. Qual é a fonte desta forte atração pela Cabala e temas místicos?
Está escrito no Tanach, no decorrer de uma passagem que relata as maldições que virão nos finais dos dias, o seguinte versículo: “Eis que virão os dias – diz o Eterno Deus – que enviarei fome na terra, (porém) não fome de pão e não sede de água, e sim, de se escutar as palavras do Eterno” ( Amós 8, 11) – Ou seja – haverá fome e sede espirituais... Aparentemente, a fome e a sede espirituais é algo positivo. Então, como entender o fato deste versículo estar escrito entre o relato das maldições? Para explicar esta questão, faremos uma comparação entre a fome espiritual e a fome material – Assim como o nível de exigência, na qualidade dos alimentos a serem ingeridos por uma pessoa que foi atacada pela fome extrema, diminuirá de acordo com a sua necessidade, da mesma forma em um âmbito espiritual; uma pessoa estando sedenta por espiritualidade é atraída por ofertas que prometem saciá-la. Esta mensagem está aludida no versículo supracitado. Haverá uma fome e sede espirituais, portanto, de várias maneiras as pessoas poderão ser seduzidas pelas amplas propostas para suprir a falta espiritual existente; este novo cenário – de fome espiritual – nos exige analisar cuidadosamente a cada proposta oferecida. [Este foi o objetivo do livro “O Místico” - explicar e orientar em questões relacionadas a este tema] Um breve histórico da Cabala “Cabala” – significa: “Recepção” – O próprio nome indica a origem... Recebemos de geração em geração a sabedoria oculta da Torá. Moshe Rabeinu recebeu a explicação da Torá revelada e oculta no Monte Sinai – porém a explicação oculta da Torá foi transmitida – “silenciosamente” – somente para as pessoas que eram aptas a recebê-la. Em torno de 2000 anos atrás – o conhecido Tana Rabi Shimon Bar Yochai recebeu a permissão de escrevê-la através de uma revelação espiritual – assim foi escrito o livro “Zohar”; de todas formas ele foi escrito de forma bem oculta, o qual serviria como base do estudo das partes ocultas da Torá por todas gerações; porém, requerendo todavia uma transmissão pessoal – de mestre para discípulo – permitindo o entendimento da sabedoria oculta, aludida nas palavras escritas no Zohar. À cerca de 500 anos atrás, o grande Sábio cabalista conhecido como Ari Zal revelou vários conceitos ocultos da Torá; ele ensinou vários alunos, porém, o único a quem ele permitiu escrever em seu nome foi o Rabi Chaim Vital – que escreveu todas as
obras conhecidas como “Kitvei Ari” - “Os escritos de Ari”; posteriormente, alguns Sábios destacaram-se nas explicações da parte oculta da Torá revelada pelo Ari Zal – Ramá MePano, Ramchal, Rashash e outros (Baseado na introdução do livro Otsar Chaim com Otsar Mefarshim). O que realmente é ensinado na Cabala? Deus Se relaciona com Sua Criação e criaturas através de diferentes tipos de Emanações. A análise desses diferentes tipos de Emanações – a partir de suas consequências nos mundos inferiores – e a análise das conexões existentes entre os próprios tipos diferentes de Emanações Divinas são estudados na parte oculta da Torá (Klalim Rishonim, Ramchal). Em outras palavras... A Cabala é o entendimento do processo de atuação de Deus na criação do mundo, sua manutenção e suas regras, traçando o paralelo entre as leis da natureza e o processo da Providência Divina; pois, tudo que existe neste mundo é um reflexo de alguma força existente no mundo espiritual. Portanto, através do entendimento dos fenômenos da natureza e de seus acontecimentos, também é possível entender os seus conceitos espirituais – correlacionados. E, da mesma forma, ao conhecer o processo da atuação de Deus, podemos extrair determinados conceitos relativos à ordem de Sua criação e das leis da natureza, e entender Seu comportamento em relação à mesma (Kinat H”T, Ramcha”l). Por que a Cabala não é ensinada de forma revelada?
Para poder entender corretamente os conceitos da Cabala, uma pessoa deve possuir, entre outras condições, uma forte base no estudo da Torá – nos seus aspectos legais e éticos – e comportar-se de forma digna, compatível com todos os seus ensinamentos. Aquele que não estiver verdadeiramente preparado, não chegará a um entendimento real e poderá até sofrer danos ao tentar aprofundar-se em conceitos tão abstratos. “Quatro pessoas penetraram nos níveis profundos da Cabala: um deles morreu (por ter tentado explorar lugares que estavam além de seu nível de alcance), outro ficou debilitado (enlouqueceu), o terceiro se voltou contra os preceitos estabelecidos pelo Criador e, somente o quarto, o Sábio Rabi Akiva, saiu ileso (Chaguiga 14b)”. Portanto é fundamental analisar com muito cuidado dois aspectos, antes de começar a estudar os temas de Cabala: o primeiro, saber se estamos realmente aptos a estudar esses temas, ou se fomos tomados apenas pela curiosidade; o segundo, saber de quem vamos aprender. Muitas pessoas, pensando em ganhar dinheiro — ou tirar algum tipo de proveito — buscando a honra influenciando outras pessoas, entram nesse ramo. Portanto, devemos nos precaver e checar muito bem as nossas fontes.
Porém, é possível adquirir um nível de conhecimento básico dos temas místicos através de livros tradicionais, como por exemplo, o livro Derech Hashem - “Os Caminhos de Deus” do Sábio Chaim Luzzato. Existem vários níveis de entendimento A cabala foi escrita de tal forma que cada pessoa poderá entender – naturalmente – de acordo com o seu nível de sabedoria e dedicação. À medida que a pessoa for crescendo em seus estudos e conquistando novos conceitos, também poderá captar novos ensinamentos que, até este momento, estavam – para ela – escondidos “por detrás” das palavras. Em um nível básico e abrangente pode-se aprender conceitos primários, eles também servirão de preparação – abrirão os horizontes para uma nova forma de entender os acontecimentos mundanos; colocando mais ênfase aos valores espirituais verdadeiros. Este nível de estudo está acessível para todos; por exemplo – saber a formação básica da alma ou conhecer como os nossos atos e nossas palavras interferem em um mundo espiritual superior – cada ato causa uma interferência que posteriormente se expressará em nosso mundo físico de alguma forma... Como e quanto a pessoa poderá captar de forma correta e verdadeira – sem deturpação e imaginação – dependerá de seu nível de pureza espiritual. Para níveis mais profundos de entendimento será indispensável colocar em prática os ensinamentos e os preceitos da Torá. Caso uma pessoa tente desvendar ensinamentos herméticos e transcendentes à matéria que estão acima de seu nível atual, afetará seu bem estar espiritual, uma vez que esses ensinamentos não estarão totalmente corretos e provavelmente estarão misturados com deturpações. Porém, é importante procurar entender os conceitos espirituais através de livros convencionais e sob a orientação de um sério estudioso da Torá – que cumpre rigidamente os Seus preceitos.
Um insight na Cabala – A força do Ser humano A Sabedoria Contida na Torá
Independente do nível de sabedoria e entendimento de Torá que a pessoa adquirir, nunca deverá dizer: “O que poderei mais aprender?” – pois ela poderá sempre adquirir mais sabedoria – novas revelações que não havia visto ou escutado... (Gaón de Vilna, Provérbios 2, 10). Uma vez que toda a Criação foi estruturada a partir da Torá – todas as informações existentes estão contidas Nela (Zohar Toldot 134). As Sefirót David: “Sempre que eu escuto alguém f alar de Cabala, explicam sobre as Sefirót – eu não tenho a mínima ideia do que isso quer dizer... O Sr. poderia me definir de forma clara o que são as Sefirót? E por que sempre que falam de Cabala citam as Sefirót?” Sábio: “Eu vou explicar o que são as S efirót e... automaticamente você entenderá porque esse tema recebe uma posição central no estudo da Cabala!” O Sábio seguiu: “Deus criou o mundo através de uma Emanação de Sua Luz – uma Emanação Divina... Ou seja, Ele renovou uma Emanação de forma necessária para criação do mundo – não somente dos Mundos Superiores que nós não conhecemos, e sim, de todos os mundos – inclusive os mais inferiores; essa Emanação é chamada de Sefirót. Esta Emanação Divina foi estabelecida pelo Criador com regras e leis que são as raízes de toda a natureza dos mundos inferiores. A fonte de toda existência atual. Tanto a natureza espiritual quanto a material estão incluídas, de alguma forma, nesta Emanação. Ela é formada pela revelação de diferentes aspectos da Providência Divina que, por sua vez, refletem na formação de diferentes situações e acontecimentos que se encontram na criação e nas criaturas – segundo decretado pela inteligência Superior”. Nós não temos meios de captar a essência dessa Emanação, somente podemos analisar como ela se expressa na Criação. Sábio: “Eu posso continuar? Você está acompanhando?” David: “Eu acho que estou... As Sefirót seriam a revelação de diferentes aspectos da Emanação Divina que serve de fonte para toda a Criação... Correto?” Sábio: “Correto!” David: “Se a Emanação Divina é única, por que falam sempre de dez Sefirót?” Sábio: “Boa pergunta... Como eu falei anteriormente, esta Emanação é formada por diferentes aspectos da Providência Divina... Todos esses aspectos se enquadram em dez tipos – conhecidos como 'as dez Sefirót' – ou seja, dez tipos gerais de diferentes aspectos da revelação da Providência Divina.” David: “De qualquer modo, eu não entendo o significado desse tema em nossas vidas...” Sábio: “Eu explicarei de forma mais especí fica... As Sefirót estão presentes na Criação segundo o necessário para possibilitar a existência... Os diferentes aspectos da Emanação Divina vão se desencadeando – como uma corrente – desde os níveis superiores até os níveis inferiores.” David: “Como assim?” Sábio: “Eu vou dar um exemplo... Imagine um pintor que formou em sua mente uma certa figura a ser pintada; a mesma figura que se encontra em seu pensamento, sairá
de seu pensamento para a tela... Enquanto estava na mente do pintor se expressava como ondas cerebrais; na tela se expressa como uma figura de fato. Da mesma forma as Sefirót; elas se expressam em cada nível espiritual de forma compatível para esse nível... elas vão se desencadeando de nível a nível até chegar ao mundo em que conhecemos – ond e se expressam de forma material.” “Agora poderei te explicar o próximo passo... Entender de forma mais profunda como a influência de nossos atos interferem fortemente na Criação...” O Potencial Está Presente Quando Deus criou o mundo, introduziu na terra a força necessária para que pudesse fazer crescer árvores e plantas... Tudo foi introduzido e ocultado dentro das propriedades da terra – também a força de produzir novos frutos... (Zohar Vaierá 97a) A força já foi colocada na terra... O que ela produzirá? Dependerá do que for plantado! Se plantar árvores frutíferas – produzirá frutos; se plantar ervas venenosas – produzirá veneno. O homem foi criado da terra e também foi comparado pela Torá com a árvore; por sua vez, a Torá foi comparada com a água – Ela regará a “terra” e fará crescer a “árvore”... O homem foi criado para crescer e prosperar... O que ele produzirá? Isto dependerá do que ele plantar! A Relação Entre o Corpo, a Alma e a Torá O alimento de nossa alma é adquirido através do cumprimento da Torá que é formada por 613 mitsvót em paralelo aos 613 órgãos espirituais que formam a nossa alma – os quais estão correlacionados com o nosso corpo físico; cada mitsvá ao ser cumprida pelo nosso corpo físico alimenta o órgão espiritual referente a ela. No futuro, quando a alma deixar a sua vestimenta material – ou seja, o corpo – a mitsvá será a vestimenta da alma (baseado no livro Shaarei Kedusha, R' Chaim Vital z"l) . [E quanto às mitsvót que estamos impossibilitados de cumprir, ao estudá-las recebemos – de certa forma – sua influência] A Relação Entre o Corpo e a Criação Toda a criação, assim como o mecanismo de atuação do Criador em relação à ela, faz um paralelo ao corpo do ser humano. Todo o mundo é um “grande corpo”, e o ser humano é um “pequeno mundo”, e não há nada que esteja em um, para o qual não exista um paralelo no outro (Ramchal, Kinat H”T – O Místico Cap. Quiromancia). Assim como o nosso corpo é dividido em órgãos, toda a Criação com suas criaturas também são divididas em partes – o mesmo número de partes encontradas em nosso corpo; não existe um órgão de nosso corpo que não esteja relacionado com alguma parte da Criação. O corpo do ser humano e o mundo estão estruturados como a Torá; pois, toda a Criação foi formada a partir da Torá (Zohar Toldot 134 com os comentários Matok Midvash).
A Relação Entre os Nossos Atos, a Criação e a Providência Quando Deus criou o mundo – estruturou o mundo inferior no molde do mundo superior (o mundo espiritual); pois, tudo o que se encontra neste mundo possui uma raiz no mundo espiritual; e para tudo o que foi criado neste mundo, existe um paralelo no mundo espiritual que finalmente servirá – neste mundo – de receptáculo para ele... porém, a criação do ser humano está por cima de tudo; ele foi a razão de toda a Criação – ele recebeu a função de mantê-la, criando harmonia entre os mundos – conectando o mundo inferior com o mundo superior através de seus atos (Zohar Vaigash 205b com os comentários Matok Midvash). Junto com a Torá, Deus nos entregou as “chaves” da Criação; ou seja, Ele conectou a influência de nossos atos com a Criação e com a Sua Providência em relação à ela. Os nossos atos determinarão o desencadeamento dos acontecimentos em nosso mundo – eles despertarão os Atributos Divinos correspondentes – que traçarão o rumo da história pessoal e global. Cada ato da pessoa causa uma interferência no mundo espiritual que, posteriormente, se expressará em nosso mundo físico de alguma forma... Portanto, uma pessoa ao crescer e prosperar – adquirindo novos níveis de entendimento no estudo da Torá e no cumprimento das mitsvót, além de estar formando a sua própria vestimenta espiritual que lhe acompanhará eternamente, também estará contribuindo no aperfeiçoamento de toda a Criação e aproximando o mundo de seu objetivo; pois eles – o ser humano, a Criação e a Torá – estão correlacionados.
O Destino Final Porém, o destino final – para onde a Criação está sendo guiada – é exclusivamente fixado pela Providência Divina; os nossos atos somente definem o decorrer do caminho... No final do tempo fixado pelo Criador, será revelado como cada acontecimento – através dos atos de cada pessoa – interferiu e contribuiu na conclusão deste objetivo. Então a unicidade do Criador ficará clara para todos. Entenderemos como Ele estava presente “montando” este grande “quebra-cabeça”. Finalmente, a posição espiritual e eterna de cada pessoa será determinada e fixada segundo o quanto ela interferiu – contribuindo – na formação deste objetivo. O Valor Real do Tempo Devemos aproveitar cada momento de vida – pois, cada momento utilizado para esta finalidade, deixará de ser um período de tempo limitado e passará a ser eterno – pois,
conectou-se com o objetivo da Criação; agora ele faz parte desse “grande quebra -cabeça”. Podemos transformar o nosso tempo de vida limitado em eterno – cada momento de vida poderá nos produzir frutos eternamente! “...A Torá é a ''árvore da vida'' , através dela a pessoa adquire vida tanto neste mundo quanto no próximo...” “Feliz é aquele que se ocupa com o estudo da Torá e sabe os caminhos do Criador
sem se desviar dele para a direita ou para esquerda... Como está escrito: Os caminhos de Deus são retos, os justos o seguirão...” (Zohar Behaalotchá 148b; Idem 151b)
VI
O MASHIACH (MESSIAS) Acreditamos no Mashiach? Como saberemos a hora certa e a pessoa certa? Detalhes e consequências... O Conceito “Mashiach”
O
conceito “Mashiach” (Messias), assim como vários outros conceitos da Torá, está “meio queimado” aos olhos do Povo de forma geral. Quando fala-se de Messias, muitas pessoas já olham com o rosto “entortado...” Por que isto acontece? Por que o termo Messias ficou “meio queimado” aos olhos do público?
O motivo... Cada religião aparece com o seu Messias. Argumentam que justo o Messias dela é o verdadeiro. Até mesmo no nosso próprio Povo – o Povo de Israel – em cada geração e geração aparece um novo “Messias”...
Uma vez eu estava viajando em Israel, o trânsito estava congestionado e o carro parou embaixo de um viaduto; ali eu reparei colado em um muro dois cartazes, cada um deles anunciando um diferente Messias. Inclusive o Grande Sábio Rabi Akiva foi confundido pela surpreendente atuação de Bar Korva pensando que ele fosse o Messias [na sequência dos acontecimentos , Rabi Akiva, através de certos sinais, percebeu o seu equívoco e voltou atrás deixando de apoiá-lo; porém, somente após a morte de Bar Korva ficou claro para todos que realmente ele não era o Messias (Radva'z Melachim 11, 4)]; o Sábio Rabeinu Abarvanel escreve em seus comentários sobre o Tanach que, provavelmente este foi um dos motivos da sofrida morte de Rabi Akiva – haver decretado a chegada de um falso Messias (Ieshuót Meshichó 3, 1; página 31). Agora está claro o motivo que dificulta várias pessoas aceitarem a ideia de um Messias... Qual seria a visão da Torá em relação ao Messias? Qual é a sua função? A Função do Mashiach A função do Mashiach não é modificar a Torá, a própria Torá nos alerta... Não devemos nos deixar impressionar com pessoas que revelam o futuro ou que fazem maravilhas sobrenaturais e, desta maneira, nos aproximam de suas práticas. Deus permite que elas realizem esses feitos somente para provar nossa fidelidade... Ele deseja nos proporcionar o poder de escolha; por este motivo, Ele concedeu aos que dominam certos tipos de forças, poderes para realizar feitos atrativos (Deuteronômio 13, Rashi). A Torá foi entregue perante milhões de pessoas, todos presenciaram a entrega da Torá diretamente de Deus. Está escrito na Torá que toda a humanidade estava consciente do ocorrido... Somente através desse surpreendente evento recebemos as Leis da Torá, as “instruções do Fabricante” de como utilizar a Sua Criação. Deus não fez uma revelação individual, Ele quis deixar claro, sem um “pingo de dúvida” que a Torá foi entregue por Ele; este evento serviria de base ao longo de toda a história até o momento quando o objetivo da Criação for alcançado. Portanto, qualquer pessoa que queira modificar algo da Torá não terá nenhuma credibilidade. Este é o motivo pelo qual nenhuma outra cultura ou religião teve a audácia de anular a Bíblia – e sim argumentam que chegou um novo profeta ou um messias que modificou as regras; pois é inviável argumentar que um fato enraizado em toda humanidade não existiu... ninguém lhe daria ouvidos. Por que eles não argumentam o mesmo? Ou seja, que também a verdade que eles pregam foi entregue perante milhões de pessoas? Muito simples, facilmente a mentira seria desvendada; não é possível que um evento tão surpreendente, perante milhões de pessoas e envolvendo toda a humanidade, não esteja registrado em algum lugar... Como pode ser que ninguém escreveu sobre isso? Como pode ser que ninguém escutou sobre isso até hoje? Portanto, não restou outra alternativa, somente o argumento que chegou um único “enviado” para renovar as Leis da Torá, renovar o povo escolhido...
Porém, além de ser ilógico (como citamos anteriormente; pois, caso o Criador desejasse modificar as regras entregues perante milhões de pessoas e envolvendo toda a humanidade, não o faria em particular, na presença de uma única pessoa; para quem refletir no tema, rapidamente chegará na conclusão que este argumento é totalmente ilógico) também é contra a própria Bíblia – que nos alerta que está proibido modificar as Leis da Torá [como está escrito: “...para nós e nossos descendentes, para sempre cumprirmos os ditos desta Torá” (Deuteronômio 29, 28); “Não acrescentareis e não subtraireis sobre as Leis que Eu vos ensino...” (Deuteronômio 4, 2 e assim consta também no Deuteronômio 13, 1)] . Mesmo um integrante de um outro povo que queira cumprir a Torá, ele deve cumprir as 7 Leis de Noé e suas ramificações, elas são as Leis Universais ditadas pela Torá para toda a humanidade, porém, de forma alguma criar uma nova religião... O Rambam escreve em seu livro livro Igueret Teiman – Todo profeta que aparecer e disser que um dentre todos os preceitos que se encontram na Torá foi anulado, ele é um falso profeta, ele estará contradizendo a própria Torá, como está escrito: “...os temas revelados pela Torá nos pertence, pertence, a nós e a nossos descendentes descendentes para sempre – para cumprirmos todos os ditos desta Torá” (Deuteronômio 29, 28) . Prossegue o Rambam explicando que não devemos nos surpreender pelos feitos surpreendentes desses falsos profetas que querem modificar as Leis da Torá, como está escrito (Deuteronômio 13, 2-4) que, 2-4) que, mesmo se ele fizer milagres, não devemos escutá-lo. Saiba que essas maravilhas são efetuadas através de truques ou bruxaria... Uma vez que está escrito na Torá que Ela permanecerá para sempre, qualquer profeta que disser que a partir de agora ela foi modificada – está constatado que ele é um falso profeta, está contradizendo a Torá; portanto, não devemos procurar “sinais”, pois, mesmo que haja “sinais” e maravilhas, a Torá nunca poderá ser modificada (vide Rambam Melachim 11, 3). 3) . Então, prossegue a pergunta... Qual é a verdadeira função do Mashiach? [Esta Mashiach? [Esta questão será tratada passo a passo na sequência do tema] Um dos 13 princípios primordiais O Rambam inclui o princípio do Messias entre os 13 princípios primordiais do Judaísmo; por que esperar pelo Messias seria tão importante ao ponto de ser enquadrado entre os 13 princípios fundamentais do Judaísmo – até o ponto que desqualifica uma pessoa que não acredita? Para explicar a importância do Conceito “Messias”, traremos trar emos um breve histórico da Criação baseado no Livro Derech Hashem e no Zohar...
Um Breve Histórico da Criação
O tempo de existência do mundo
Foi estabelecido pelo Criador um tempo determinado para as pessoas se esforçarem em aprimorar suas ações, de modo a permitir que a Criação se complete e alcance o seu objetivo final; quando, então, o mundo será renovado, propiciando o início do período em que as pessoas que forem dignas receberão o prazer eterno. Pela contagem da Torá, nós já passamos do ano 5770. O tempo determinado para o mundo chegar a este novo estágio é o ano 6000. Ainda antes deste ano chegar, o Povo de Israel deverá estar íntegro em suas funções.
Como o Povo de Israel chegará à perfeição?
Para este objetivo será enviado uma pessoa, descendente do Rei David, para ajudar o Povo de Israel a alcançar esta meta. Ele será o Messias, através do qual o Povo de Israel, toda a humanidade, e a Criação, serão reparados; o bem se propagará e o mal será eliminado, trazendo tranquilidade e satisfação, não havendo mais ignorância, pois todos serão sábios e espiritualizados, estarão felizes com o grande bem que haverá e se conectarão com o Criador de forma completa.
A Ressurreição Ressurreição
Porém, todos terão que passar pelo processo da morte, mesmo que seja por um pequeno período de tempo, antes da ressurreição dos mortos. Tanto os justos quanto os transgressores se levantarão na ressurreição e, então, os transgressores que ainda não completaram os seus processos de purificação, terão que completá-los cumprindo as sentenças que lhes foram julgadas. Uma vez que tocamos em um tema tão complexo – “A Ressurreição” – faremos – faremos um adendo para esclarecê-lo e logo regressaremos à próxima etapa do breve histórico da Criação – “O Grande Julgamento” – que – que haverá após a ressurreição. Para que necessita a ressurreição? Se o prazer no mundo espiritual é maior do que o prazer no mundo material, para que voltar? voltar?
O corpo serviu de instrumento para a alma, portanto ele também participará da recompensa... Na ressurreição, o corpo já não ocultara a presença da alma, ambos crescerão harmonicamente – passo a passo – e juntos alcançarão novos níveis espirituais, como citaremos mais adiante.
Como poderia o corpo – após haver sido enterrado e deteriorado – voltar a viver no momento da ressurreição dos mortos?
Esta pergunta já consta no Talmud (San'hedrin Talmud (San'hedrin 90b): 90b) : O imperador de Roma perguntou ao Sábio Raban Gamliel: “Vocês dizem que, no futuro, os mortos voltarão a viver... Ora, uma vez que eles se transformaram em terra, como poderão viver novamente? A filha do imperador, que se encontrava no recinto, se voltou ao Sábio e pediu: “Deixe me responder...” E assim ela perguntou ao seu pai – o imperador: “Dois artesões se encontram em nossa cidade, um deles esculpia obras utilizando argila, o outro esculpia obras a partir de líquidos... Qual dos dois é mais competente? “Este que esculpe obras a partir de líquidos” – Respondeu o imperador... “É uma habilidade inédita construir 'objetos líquidos'!” “Sendo assim...” – – Continuou Continuou a filha do imperador... “Deus, que constrói um feto a partir do líquido – ou seja, do sêmen – é claro que poderá reconstruí-lo na ressurreição dos mortos a partir de matérias sólidas...” Na sequência, o Talmud cita um outro exemplo e xemplo em nome do Sábio Rabi Ra bi Ami... Um rei pediu para os seus súditos construírem um palácio em certo local onde não havia terra e tampouco água para fabricar barro (antigamente, as pedras de uma construção eram fixadas através do barro); de todas formas os súditos do rei conseguiram construir o palácios solicitado. Após um certo período de tempo, o palácio desmoronou e o rei retornou a pedir para que eles construam um novo palácio, porém, desta vez, em um local onde havia terra e água. Os seus súditos responderam que não estavam capacitados. O rei ficou enfurecido e exclamou: “Em um local onde não havia terra, e tampouco água, vocês conseguiram construir, em um local onde há terra e água, é óbvio que vocês podem construir!” Da mesma forma, se Deus pôde criar todo o Universo e suas criaturas do nada, é óbvio que Ele poderá reconstruir o corpo – no momento da ressurreição – a partir de matérias já existentes (Talmud San'hedrin 90b com Rashi). Rashi) . “Quem acredita que Deus criou e mantém a Criação, com muito mais razão acreditará na ressurreição dos mortos... como consta no Talmud: Se o ser humano – que não existia – foi criado do nada, uma pessoa que já foi criada, é claro que poderá ser reconstruída...” reconstruída...” (Kli yakar, Shemot 6, 3 “Ve ynian tchiat ha'metim...”) .
A incógnita “deteriorou-se”
Porém, em nossos dias, este tema deixou de ser uma incógnita. De fato, foi a incógnita que “deteriorou”! Através do avanço tecnológico e o descobrimento do DNA, onde, em cada célula do corpo de um ser vivo, encontram-se todas as informações de sua formação – nos mínimos detalhes – até mesmo em uma célula de um fio, de um de seus fios de cabelo, não seria tão inviável reconstruir um corpo a partir de um de seus ossos; no final das contas, todo o 'plano de construção' do corpo já se encontra ali presente.
"A Dolli"
Quem não escutou falar da famosa “Dolli”, a ovelha formada a partir dos códigos genéticos de outra ovelha. O Doutor Escocês Ian Wilmut, um dos cientistas mais importantes na área da genética, ficou bem famoso após o processo de clonagem que realizou com sucesso. Ele transplantou os códigos genéticos de uma ovelha em um óvulo fecundado de outra ovelha (após esvaziá-lo de seus códigos genéticos originais) – “um transplante genético” – daí nasceu a famosa “Dolli”. Ficou constatado que, a partir do código genético que se encontra em cada célula do corpo, é possível – mesmo de forma natural – reconstruir todo o seu organismo; com muito mais razão, Deus, que não está limitado pelas leis naturais, poderá reconstruir o corpo dos seres vivos... Deus não necessita do DNA para reconstruir um corpo deteriorado, Ele não está limitado pelas nossas limitações... Somente que, estando consciente da existência do DNA, mesmo para alguém que questione sobre a atuação do Criador baseando-se nas limitações da natureza, a ressurreição dos mortos deixou de ser uma incógnita.
O Grande Julgamento
Após a ressurreição haverá o dia do grande julgamento, o Criador julgará cada pessoa e decidirá quem estará apto a receber a vida eterna e quem deixará de existir. A pessoa que for escolhida para a existência eterna permanecerá neste novo mundo, em um nível compatível com o seu comportamento em vida, conforme for estabelecido em seu julgamento. Este será o nível desta pessoa para toda a eternidade. Então, eternamente ela desfrutará do prazer adequado ao seu nível [Baseado no livro Maamar HaYkarim do Ramchal, cap. “BaGueulá”].
Como se encontrará o mundo antes de seu objetivo ser concretizado? Quando chegar o enviado, que preparará a Criação para alcançar o objetivo para o qual ela foi criada, ou seja, antes da revelação do Messias, o mundo passará por grandes e seguidas dificuldades. Os inimigos do Povo de Israel crescerão, mas no final, eles sofrerão uma grande derrota.... Neste período haverá muito sofrimento, que ocorrerá para selecionar aqueles que continuarão fiéis ao Criador. Todos os povos se reunirão contra o Povo de Israel, contra quem planejarão duros decretos. Todos juntos, com um só coração, atacarão o Povo de Israel, causando-lhe muitos sofrimentos. Então, começarão a ocorrer fenômenos estranhos na natureza.... A guerra Mesmo depois do Messias ser revelado, vários povos tentarão guerrear contra ele. Inclusive integrantes do Povo de Israel se juntarão aos outros povos para atacar o seu próprio povo. Haverá uma escuridão de quinze dias, e neste período muitos integrantes do Povo de Israel perecerão. A morte deles expiará pelas suas transgressões, porém aqueles que se juntaram aos outros povos para guerrear contra o Povo de Israel, se perderão para sempre. Todos se encontrarão em guerra, quando o mundo estará muito confuso, até o Criador mostrar a Sua força para toda a humanidade, quando então todo o mundo conhecerá o Rei-Messias. Neste dia haverá um grande ruído, e com a sua força torres e outras construções cairão, e grandes governantes morrerão (Zohar Balak 212b, Shemot 7b a 10a). E os redimidos pelo Eterno retornarão [para a sua terra] e virão a Tsión com cânticos e alegria eterna sobre eles [a mesma alegria que sentiram ao sair do Egito]; a felicidade e a alegria os “perseguirão”; a dor e a angústia “fugirão” de sua presença (Tanach Ishaia 35, 10). Nos dias do Messias o mundo continuará existindo com as mesmas leis existentes atualmente, somente não haverá mais o julgo de outros povos sobre o Povo de Israel (Rambam). Logo, haverá sossego, não haverá mais guerras, viveremos em paz e tranquilidade espiritual; não haverão mais influências negativas e enganosas. Haverá um cenário ideal para o cumprimento dos Mandamentos Divinos de forma completa – uma verdadeira preparação para alcançarmos um nível muito mais elevado – o Mundo da recompensa... Um Mundo Eterno...” (Siftei Chaim, Época do Messias Parte 2, 3). O Objetivo dos Dias Messiânicos
O objetivo dos dias messiânicos não será dominar aos outros povos, tampouco controlar o mundo; não visamos desprezar nem maltratar aos outros povos ou ser louvados por eles – Deus me livre – também, não teremos como objetivo ficar comendo, bebendo e nos divertindo... (Rambam Melachim 12, 4). Então, qual será o objetivo desses dias tão especiais? O objetivo será criar uma atmosfera de despreocupação de todos os problemas; estaremos livres para poder nos dedicar e desenvolver no estudo e no entendimento. Não haverá impedimentos para que possamos nos preparar para a conquista de um mundo com valores verdadeiros e eternos... Não haverá fome, guerras, injustiça... E [as nações] romperão as suas espadas para [fazer delas] arados, e suas lanças para [fazer delas] foices, [pois] uma nação não levantará [mais] a espada contra outra e não aprenderão mais a guerrear. [Então...] se sentará cada pessoa debaixo de sua videira e debaixo de sua figueira e ninguém os amedrontará [todos viverão tranquilos, não haverá mais injustiça e maldade], pois assim disse o Eterno... (Tanach, Michá Cap.IV) Todos desejarão entender mais sobre os feitos do Criador, todos serão Sábios e desvendarão as sabedorias ocultas e profundas... entendendo mais sobre a sabedoria do Criador – segundo as nossas possibilidades – como está escrito: “A terra se encherá de sabedoria”. O homem não será mais guiado pelas vontades, ele desejará, naturalmente, fazer o que seja apto – o correto. E será no fim dos dias [nos dias messiânicos] o monte de Deus [onde estará construído o Grande Templo] construído na principal montanha, será exaltado... e fluirão a ele muitos povos [ali eles se encontrarão]... Para ali virão muitos povos e falarão: “Vinde e subamos ao monte do Eterno e à Casa de Deus de Yakov e [o Messias] nos ensinará Seus caminhos e caminharemos em Suas sendas; pois [somente] de Tsión 'sairá' a Torá; e todos os ditos do Eterno de Jerusalém; e [o Messias] julgará sobre vários povos [as questões jurídicas] e decidirá [questões] de povos poderosos e distantes [todos o procurarão para que ele estabeleça a justiça nos julgamentos]. (Michá, Ibid.) Esta mudança não será imediata, acontecerá paulatinamente; a sabedoria irá crescendo e se aprimorando; em contra partida, a vontade de praticar o mal irá diminuindo – até ser totalmente eliminada. Desta forma o mundo seguirá se elevando passo a passo, cada vez mais. (Baseado no Livro Siftei Chaim) Portanto o princípio do Messias, e esperar por sua chegada, seria como um testemunho em que a pessoa olha para o mundo na sua perspectiva verdadeira. Ela não se deixa “engolir” pelos valores mundanos, e sim, espera continuamente, que o mundo chegue finalmente no objetivo pelo qual ele foi criado e todos vivam de forma íntegra com o Criador reconhecendo a Sua Grandeza. Agora podemos entender o motivo pelo qual o Rambam incluiu o princípio do Messias entre os 13 princípios primordiais do Judaísmo.
Quem Será o Mashiach? O Mashiach será um descendente do Rei David, mais inteligente que o Rei Salomão (o mais inteligente de todos os homens), ensinará e orientará todo o Povo no cumprimento dos Mandamentos Divinos... (Rambam). Será uma pessoa nascida de pai e mãe como todas as outras pessoas (Ramban Sefer Havikuach 88). Ele será uma pessoa totalmente conectada com Deus, todos os seus atos serão direcionados para Servi-lo; influenciará a humanidade, através de seu grande nível espiritual, para reverência e amor ao Criador (Midrash Tanchuma Toldot, 14; ver R.Abarvanel, Ieshuót Meshichó 3, 1). Será uma pessoa que deseja fazer somente o bem; ele estará em um nível que já não será necessário superar-se ou controlar-se para não fazer o mal – pois terá eliminado de sua personalidade toda inclinação para o mal. Sentirá um grande desejo natural de atuar corretamente – isto seria uma consequência da anulação do mal de sua personalidade (Siftei Chaim, Época do Messias parte 2, 3).
O Sábio Maimônides, o Rambam, escreveu que, uma pessoa que se dedicar desta forma no cumprimento da Torá Escrita e Oral, também dedicar-se para que todos sigam os Mandamentos da Torá e lutar pelos interesses Divinos, será um indício que esta pessoa poderá ser revelada como Messias; porém, somente será constatado que realmente ele e o Messias quando concretizar os seguintes feitos... Reunirá todo o Povo de Israel em sua terra, estabelecerá um novo reino em Israel, destruirá os inimigos, restabelecerá o San'hedrin (o Grande Tribunal de 120 Grandes Sábios) e construirá o Grande Templo em Jerusalém (Rambam Melachim 11,4) – Assim encerra o Sábio Maimônides suas palavras em relação ao Mashiach... “Caso não concluir todos estes feitos ou morrer, saiba que não é ele o Messias que a Torá nos prometeu” (Rambam Edição Jewish Chronicle july 3, 1885; em várias edições dos livros do Rambam estas palavras finais foram censuradas). Guerra ou Paz? O diálogo aconteceu no decorrer de uma aula, em um dos centros de estudos de Torá em Israel, após o palestrante citar as seguintes palavras em nome do Sábio Rabi Chaim Kanievsky... Palestrante: “Está escrito no livro Aleinu Leshabeach (do R. I. Zilbershtein, parte 2, página 11) que os duros eventos que estão acontecendo nestes últimos tempos são – de fato – parte das dificuldades relacionadas ao “fim dos dias”... Este é o momento de se conectar com o Criador e pedir para que finalmente Ele nos revele a Sua Providência.” Aluno: “Eu escutei o termo “fim dos dias”... Às vezes eu também escuto o termo “final dos tempos”... Tudo vai terminar? O mundo será destruído?” Palestrante: “Haverá uma transformação.”
Aluno: “Como assim?” Palestrante: “A expressão “fim dos dias” não quer dizer que o mundo terminará... Simplesmente quer dizer que o objetivo pelo qual o mundo foi criado será revelado. O mundo continuará... Porém começará uma nova etapa.” Aluno: “Seria como o segundo tempo de um jogo?” Palestrante: “Não, seria como o término do jogo! A luta para superar -se terminará; não haverá mais o impulso para fazer o mal ou de saciar os desejos às custas de outras pessoas; tudo estará claro e todos desejarão somente a prática do bem e o crescimento espiritual – o cenário do mundo será reconstruído para este novo objetivo...” Aluno: “De todas formas, eu me lembro que o Senhor citou em outra ocasião que, provavelmente, haverá uma grande guerra no final dos dias; hoje em dia, com tantas bombas atômicas e de hidrogênio, realmente não haverá o risco do mundo ser totalmente destruído?” Palestrante: “Realmente tudo indica que haverá uma grande guerra... Porém, ela fará parte do processo da revelação final, tudo estará sendo guiado e calculado pela Providência Divina – ninguém poderá mais interferir... Mesmo se chegar um momento onde a situação estará preocupante e terrível quando, aparentemente, não haverá mais nenhuma esperança de melhoria, não devemos desistir e desesperar, pois – de repente – florescerá a grande revelação!” Aluno: “Nessa guerra será utilizada a bomba atômica?” Palestrante: “Está escrito no Tanach que nessa guerra dois terços do mundo serão destruídos; é interessante que o Gaón de Vilna (em seus comentários sobre a Mechilta Shemot 14, 20) explica que toda essa destruição acontecerá em poucas horas... em somente três horas... imagine que na época em que ele vivia, as lutas ainda eram com cavaleiros e espadas... De todas formas, atualmente nós entendemos que não precisa de muito tempo para destruir... Porém, o mundo não será totalmente destruído, está escrito na mesma profecia que um terço do mundo se salvará...” Aluno: “A Torá fala algo sobre o Irã?” Palestrante: “Fala sim... O Midrash – escrito à cerca de 2000 anos atrás – pergunta: Porque este império (onde se encontra atualmente o Irã) é chamado (em hebraico bíblico) “Parás”? [a raiz da palavra “Parás” em hebraico é formada pelas mesmas letras da raiz da palavra “parús” - que quer dizer “fatiado”]. O Midrash responde: Pois o seu reino recebeu a força em “fatias”; ou seja, ele crescerá em três épocas distintas... a primeira nos dias de Tirdá (a rainha de Parás), a segunda nos dias de Aderechian, e a terceira nos dias que antecederão a grande revelação – no fim dos dias” (Midrash Ester Rabá 1, 18). Aluno: “E a Torá explica como será o decorrer dessa guerra?” Palestrante: “ Explica... Está escrito no Talmud (Tratado Yomá 10a) em nome de Rabi Yehuda Bar Elay que no futuro – no fim dos dias – “Romi” (ou seja, o império de Edom conhecido como Romi) cairá nas mãos de Paras (Irã), porém Rav, outro Sábio do Talmud, diz o oposto – que Paras cairá nas mãos de Edom (assim também consta na Braita que no futuro Paras cairá nas mãos de Edom); o Sábio Rav concluiu afirmando que o Messias não chegará até que o reinado de Romi (Edom) domine todo o mundo...” O palestrante fez uma pequena interrupção e perguntou: “Você sabe quem é Edom?” Aluno: “Não exatamente...”
Palestrante: “Edom é o nome do povo oriundo da terra de Edom que se encontrava nas cercanias de Israel, depois ele se espalhou por todo o mundo – eles são os países ocidentais – de cultura católica (assim explica o Sábio Abarvanel em seus comentários ao Tanach, Ovada 1).” O palestrante seguiu explicando: “Como podemos entender esta passagem do Talmud? Por um lado vemos que Paras vencerá e, em contrapartida, vemos que Edom vencerá... até o ponto que o Sábio Rav afirmou que o Mashiach não será revelado até que Edom domine todo o mundo?” O palestrante seguiu... “Aí vai a explicação... Está escrito no Midrash que no ano da revelação final haverá uma grande ameaça de guerra mundial, o soberano do Paras (Irã) causará sofrimento ao mundo inteiro... Essa guerra será principalmente entre os países ocidentais e os países árabes. Haverá uma grande disputa... Agora vamos entender o trecho do Talmud, que eu citei anteriormente, seguindo os comentários do Sábio Abarvanel... No princípio os países ocidentais atacarão ao Irã e pensarão que estará tudo terminado... Porém, em seguida, o Irã (e seus aliados) se levantarão e se vingarão deles, causarão um grande estrago no mundo (esta vingança será uma vitória parcial – esta vitória está indicada nas palavras do Sábio Yehuda Bar Elay: “Edom Cairá nas mãos de Paras”); de todas formas, próximo do momento da grande revelação, finalmente os países ocidentais vencerão e o Irã cairá em suas mãos; em seguida eles dominarão ao mundo inteiro (Tossafot Avodá Zará 2b). Aluno: “Se é assim, qual é a relação de Israel com essa guerra?” Palestrante: “O Sábio Abarvanel segue explicando que todo esse processo será em torno de Jerusalém; ou seja, Jerusalém estará no centro das discussões; desta forma Israel será envolvido na história. Na sequência da guerra todos se voltarão para conquistar Jerusalém – como consta no Tanach (Icheskel 38, 4- 16).” Aluno: “Como o Senhor sabe que a segunda guerra mundial não foi a grande guerra mencionada?” Palestrante: A segunda guerra não atendeu todos estes requisitos que eu mencionei em relação a grande guerra que antecederá a revelação final... Por exemplo, não foi uma guerra entre o Irã (e seus aliados) contra o mundo ocidental, dois terços do mundo não foram destruídos e tampouco entraram na Terra de Israel... Na verdade, já consta nos comentaristas do Tanach, que haverá um total de três guerras mundiais... Somente na terceira eles entrarão em Jerusalém... (como consta nos comentários do Malbim sobre Zechária 14, 1-2; vide também Malbim Zechária 12, 6). O Sábio R. Eliahu Lopian (no livro Lev Eliahu Shemot, Itró página 172) traz em nome do Chafets Chaim que os Sábios do Talmud explicam que a grande guerra que haverá no fim dos dias será dividida em três etapas distintas... Após a primeira guerra mundial o Chafets Chaim disse que esta foi a primeira guerra de Gog Hu'Magog (nome da guerra que haverá no final dos tempos), ele seguiu explicando que em torno de 25 anos haverá uma outra guerra mundial muito maior que a primeira; após esta segunda guerra haverá a terceira guerra de Gog Hu'Magog, muito sofrida, antes da revelação final... O Sábio Elchanan Wasserman concluiu que este processo inevitavelmente ocorrerá e devemos nos preparar e fortificar, e, quem sabe, possuir méritos para ver o consolo de Tsión e de Yerushalaim... Aluno: “O que nós temos que fazer para nos salvar dessa provável guerra?” Palestrante: “Está escrito no livro Aleinu Leshabeach (parte 4, página 60) em nome do Chafets Chaim que todos perguntam o que fazer para escapar da grande e possível
guerra que haverá antes da revelação final.... Alguém é capaz de dar uma resposta melhor do que o Talmud? Esta pergunta já está escrita no Tratado Sen'hedrin (98b)... O que fará uma pessoa para se salvar dos duros decretos que antecederão à grande revelação? Responde o Talmud: A pessoa deverá se ocupar com o estudo da Torá e em benevolência... Logo, podemos concluir que além de pedir ao Criador para que revele a Sua Providência, devemos fortificar a nossa conexão – o quanto possível – com o estudo da Torá e também nos preocupar com o bem estar de nossos companheiros... Tanto quanto as necessidades materiais quanto as espirituais. O Rav Zilbershtein conclui que não há necessidade de estar entre as 36 pessoas mais justas existentes para salvar-se, não será cobrado de ninguém fazer além de suas possibilidades... a única exigência é se conectar com a Torá e Suas Leis – uma conexão íntima com o Criador, e se afastar definitivamente dos costumes de outras culturas (Aleinu Leshabeach Parte 2, página 192).
VII
O MUNDO VINDOURO O que acontece após a morte? Nos transformaremos em pó ou continuaremos vivos de outra forma? É possível continuar sem a ajuda do corpo? Paraíso e Inferno – Verdade ou Ficção?
I
nfelizmente, todos nós estamos influenciados pelas definições populares deturpadas dos conceitos espirituais; causando um entendimento equivocado, limitado e – muitas vezes – a ‘ridicularização’ de conceitos profundos e verdadeiros.
Na verdade, praticamente todos os conceitos estão popularmente incompletos e deturpados. Em especial o tema do 'Paraíso e Inferno' – A luta entre Deus e o Diabo que, na verdade, nunca existiu... Onde a imaginação de diferentes culturas e ideologias transformaram ideias herméticas e elevadas em imagens materializadas e fictícias. Portanto o estudo é essencial para retificarmos a verdadeira imagem do judaísmo que, por sua vez, infelizmente também foi deturpada pelas influências de outras culturas. Este seria o motivo básico da necessidade do estudo – esclarecer os conceitos corretamente e saber
como aplicá-los em nossas vidas. [Também existem motivos mais ocultos e complexos relacionados ao estudo da Torá – vide livro Decisões Entre Vidas e Vidas Cap. 'Palavra Final'] O Rambam explica que todos os termos que os nossos Sábios escreveram para expressar o prazer vivenciado pela alma no mundo espiritual são metafóricos, uma vez que não temos como captar claramente como será este intenso prazer (Rambam Halachót Teshuvá cap.8, 6). Para dar partida ao desenvolvimento do tema, devemos esclarecer uma questão primordial... Quem sou eu? O Sábio Rabi Chaim Vital explica que o corpo é, na verdade, uma roupagem para a alma. Ao sair deste mundo, a alma despe-se deste adorno e veste-se com um outro tipo de manto, mais puro e espiritual (Shaarei Kedusha, parte 1, cap.1; Zohar Itró 76a); Ou seja, a alma é a essência do ser humano. O corpo é seu receptáculo temporário. Após deixá-lo, a alma passará por um longo processo. O processo de separação entre o corpo e a alma é distinto em cada caso, de acordo com o nível espiritual de cada um. Uma Alma Satisfeita Com a ideia de alimentar o corpo nós já estamos familiarizados... Porém, como podemos alimentar a nossa alma? Ela é espiritual! O alimento da alma é o cumprimento da Torá, composta por 613 mandamentos. Cada um destes mandamentos está ligado a cada um dos seiscentos e treze órgãos presentes no corpo físico. Cada órgão físico tem seu paralelo na dimensão espiritual. Cada mandamento efetuado por cada um destes órgãos físicos alimenta aos seus respectivos correspondentes espirituais. Futuramente, ao deixar a sua veste material, a alma usufruirá dos mandamentos cumpridos pelo corpo para tecer seu novo manto transcendente (baseado no livro Shaarei Kedusha, Rabi Chaim Vital z"l). Aos mandamentos que estamos impossibilitados de cumprir, nos cabe estudá-los — e por tal estudo alimentaremos aos seus correspondentes órgãos espirituais. [ Nota: A mais especial dentre todas as influências emanadas pelo Criador, foi conectada por Ele nas palavras da Torá; ao pronunciá-las, a pessoa recebe uma emanação desta influência – com a condição que estude com reverência e busque o aperfeiçoamento dos atos – pois toda a força da Torá se deve ao fato de Deus ter conectado nela a sua preciosa influência; sem esta conexão, o estudo da Torá seria como um outro estudo natural qualquer que, simplesmente, traria a sabedoria do tema estudado. A força da emanação que a pessoa recebe através do estudo é proporcional ao nível de reverência colocado e a vontade de aprimorar-se. Quanto mais a pessoa adquirir o conhecimento e o entendimento, maior será o nível de emanação extraído e absorvido por ela; o nível de influência que receberá alguém que entendeu o significado simples de um versículo não será o mesmo nível de alguém que entendeu também a intenção “por trás” do versículo que, por sua vez, não será igual ao nível da emanação que receberá alguém que se aprofundou ainda mais em seu entendimento; porém, qualquer nível
de estudo, de alguma forma, trará certa conexão com esta influência preciosa e especial. Cada tipo de estudo proporcionará influência para outra parte da alma da pessoa em particular e também influenciará um outro campo da criação... A influência causada pelo estudo dos versículos da Torá escrita (Tanach – Torá, Profetas e Escritos) não é a mesma causada pelo estudo das Mishnayot (a base da Torá Oral) que, por sua vez, não é a mesma influência causada pelo estudo da Guemará – cada um deles fará com que uma parte distinta de sua alma, e também da Criação, sejam completadas; dentro do estudo do Talmud se encontram todos eles (Baseado no Livro Derech Hashem 4, 2)].
A Partida
No momento da partida (deste mundo), o corpo é anulado em um sopro. A essência, eterna, permanece. E o indivíduo segue seu caminho, como se mudasse de cidade... (Alei Shur, Shaar Hamávet). Nossos dias neste mundo passam como uma sombra. Não como uma sombra de um muro ou de uma árvore... os dias passam como a sombra de um pássaro voando. Todos nós sabemos, e reconhecemos verbalmente, que chegará o dia em que deixaremos este mundo, porém agimos como se este dia nunca fosse chegar... (Midrash Rabá, Bereshit 96, 2). A morte não atinge a alma, e sim ao corpo exclusivamente. Aquele que durante a vida identificou-se somente com o corpo — sem desejar aproximar-se de Deus — estará desconectado de suas raízes. Neste caso, a morte o atingirá de forma integral. Por outro lado, aquele que durante a vida identificou-se com a sua alma, desejando ligar-se a Deus através do cumprimento de Sua vontade, estará conectado às suas raízes — a este a morte afetará apenas ao corpo de fato. A partir do conceito descrito acima, podemos entender o ensinamento de nossos Sábios: “Os justos, mesmo depois da morte são chamados de vivos, e os pecadores, mesmo durante a vida são chamados de mortos”. Em outras palavras, os justos têm plena consciência de que a vida real é a vida eterna, não esta vida, mundana e passageira. Focamse em realizações que lhes trarão benefícios eternos, procurando unir-se a Deus com todo o coração. Estes vivem para sempre, mesmo depois da morte. E, desafortunadamente, aqueles que optam por seguir uma vida dedicada à superficialidade, sem ética ou em falta com os valores eternos, colocam ênfase apenas nas preocupações referentes a este mundo fugaz. Estes últimos são chamados de “mortos”, pois mesmo durante o seu tempo de vida, todos os seus esforços são desperdiçados ao investir seu tempo em algo temporário, que um dia verá seu fim (Alei Shur, Shaar Hamávet). A Preparação – Um Mundo de Provas
Porém, ao nascer, a pessoa recebe uma inclinação para atuar segundo as suas próprias vontades. Ela chegou em um mundo onde terá que se esforçar para cumprir com o seu objetivo... Cumprir com o correto. Portanto, desde cedo, um ser humano comum, inicia sua busca pela satisfação e pela honra, que perdura ao longo de seus anos de vida. As inclinações negativas tentam seduzir cada pessoa segundo suas tendências, levando a cometer transgressões. Todos, no entanto, têm em suas mãos a opção do autocontrole, de fazer o que é correto e de abdicar de seguir impulsivamente os seus instintos. A tendência natural à inércia nos leva a seguir vivendo, sem acreditar que para todos chegará o dia em que será inevitável ter que deixar este mundo. Ao partir, todos seremos encaminhados para o mundo espiritual. Cada alma terá o seu lugar adequado, dependendo da maneira como se portou durante a vida (Gaón de Vilna, Ester, Derech HaRemez). “Vive-se com a impressão de que este mundo estará sempre à disposição, e que todos nele permanecerão de geração em geração, imaginando que viveremos para sempre [ocupando-se às vezes exclusivamente de negócios e esquecendo-se do objetivo principal de se ter vindo ao mundo]. Porém, chega o dia em que acontece alguma doença [ou acidente, ou algo do gênero]. Enquanto sua mente está ocupada com a cura, a pessoa está sendo julgada — se terá ou não mérito para continuar neste mundo” (Zohar Nassó 126, com Matok MeD’vash). Os Primeiros Momentos Após a Morte
Traremos, inicialmente, o trajeto vivenciado nos primeiros momentos após a pessoa deixar este mundo baseado em estudos científicos; e, na sequência, os relatos das respectivas fontes nos livros de Torá. O Doutor em psicologia Keneth Ring escreveu em seu livro “Life at Death” que, unicamente nos Estados Unidos, o Instituto Gallup publicou que em torno de 8 milhões de pessoas passaram pela morte clínica; e que aproximadamente 37% das pessoas investigadas se lembraram e especificaram detalhadamente, de forma impressionante, tudo o que se passou ao seu redor, mesmo estando inconscientes. Há dezenas de anos que este tema vem sendo estudado por vários médicos e psicólogos. No livro “At the Hour of Death” , o psicólogo Carlis Ossis entrevistou 877 médicos que relataram o que se passou com seus pacientes que “voltaram a viver” após estarem por determinado momento clinicamente mortos. Quase todos esses médicos entrevistados, chegaram à conclusão que, obrigatoriamente, existe vida após a morte. Crianças e adultos, praticantes como não-praticantes de todas as religiões, pessoas cultas e ignorantes, que inclusive não sabiam ler e escrever, foram investigadas. Todas essas pessoas revelaram, de forma exata e detalhada, tudo o que ocorria em seu redor no momento em que passavam pela morte clínica, com as ondas cerebrais e o coração parados.
Também revelaram os mesmos tipos de experiências espirituais com uma incrível semelhança entre os relatos, mesmo tendo, cada uma delas, uma vida totalmente diferente da outra, não somente em distintas épocas como em distintas culturas, descartando qualquer possibilidade de uma mera visão cerebral imaginária. Quanto mais longa e profunda a experiência experimentada pela pessoa, mais detalhado e impressionante foi o relato. Após numerosas investigações, foram registradas as onze etapas em que estas experiências espirituais podem ocorrer. Várias destas pessoas, segundo os seus relatos, passaram por parte destas etapas, porém todas as experiências contadas por todos os entrevistados se enquadram em algumas destas onze etapas. A experiência espiritual vivenciada após a morte clínica pode ocorrer nas seguintes etapas: 1. O momento em que a alma da pessoa se separa do corpo. 2. A consciência do que se passa ao seu redor, mesmo a alma estando fora do corpo. 3. A pessoa percebe que possui um corpo espiritual. 4. Ela é levada por um túnel. 5. Ela se encontra com parentes e conhecidos (que já faleceram). 6. Agentes espirituais acompanham e guiam a pessoa. 7. A percepção de uma luz incrível. 8. A pessoa se comunica através do pensamento. 9. Todos os atos que a pessoa realizou em sua vida são mostrados para ela. 10. A pessoa é puxada de regresso para o seu corpo, argumentando que o momento ainda não chegou. 11. A pessoa recebe uma missão. [ Nota: Todos estes estágios estão baseados nas investigações feitas pelos médicos e psicólogos com as pessoas que passaram pela morte clínica, e depois voltaram a viver, como consta no livro “Chaim Acharei a Mavet” - “A Vida Após a Morte- investigações e dados”, publicado pela instituição Arachim. Porém, uma pessoa que passa pela morte definitiva, ou seja, que não volta mais a viver, passa por outros estágios (ver mais detalhes na sequência do capítulo)]. Estas longas pesquisas modificaram o enfoque da ciência em relação ao corpo humano, que deixou de ser considerado “pura matéria” e passou a ser considerado uma combinação de corpo e alma. Também pesquisas por profissionais de outros ramos foram desenvolvidas, provando a existência da vida após a morte; por exemplo, hipnose e regressão, parapsicologia, conexões com espíritos, pesquisas no ramo de reencarnação. Porém, para estudiosos da Torá, isto não é nenhuma novidade. Como em todos os outros campos, com o desenvolvimento científico, a ciência se aproxima da Torá – que permanece estável desde o dia em que foi entregue há mais de 3300 anos atrás; Em seguida, traremos relatos que se encontram em nossos livros tradicionais correlacionados com as etapas reveladas através das pesquisas científicas...
Fontes da Torá Etapa 1. O momento em que a alma da pessoa se separa do corpo – No momento da partida (deste mundo), o corpo é anulado em um sopro. A essência, eterna, permanece. E o indivíduo segue o seu caminho, como se estivesse mudando de cidade... (Alei Shur, Shaar Hamávet). A alma se separa do corpo ao perceber a presença Divina (Zohar Metsorá 53). Etapa 2. A consciência do que se passa ao seu redor, mesmo a alma estando fora do corpo – O Talmud, depois de uma análise de certos versículos da Torá, conclui que os mortos sabem o que se passa em seu redor. Deve-se tomar o cuidado necessário para não se comportar perante um defunto de forma que poderá envergonhá-lo, pois ao fazê-lo eles exclamarão: “Amanhã eles estarão conosco e agora estão nos envergonhando” (Berachót 18). Etapa 3. A pessoa percebe que possui um corpo espiritual – Também o fato de recebermos um corpo espiritual ao saímos de nosso corpo físico, se encontra em vários livros de estudo da Torá. Nossos Sábios explicam que o corpo da pessoa não é a pessoa, e sim uma roupagem para a sua alma. Na verdade, a pessoa é a sua alma, e ao sair deste mundo ela deixa a sua roupagem e se veste com outro tipo de vestimenta, mais pura e espiritual – Como já citamos anteriormente em nome do Rabi Chaim Vital. Etapa 4. Ela é levada por um túnel – Também, o fato de passar por um túnel está melhor explicado no livro Zohar (escrito pelo Sábio Rabi Shimon Bar Yochai a cerca de 2000 anos atrás). Quando a alma deixa este mundo ela sobe para o mundo espiritual pela caverna que se encontra na cidade de Chevron em Israel, onde estão enterrados Adão e Eva – o primeiro homem e a sua esposa, Abrahão e Sara, Isaac e Rebeca, Jacob e Lea, pois ali se encontra a entrada das almas para o mundo espiritual. Etapas 5. e 6. Ela se encontra com parentes e conhecidos (que já faleceram) e agentes espirituais acompanham e guiam a pessoa – Entes espirituais acompanham e guiam a pessoa como consta no Talmud (Tratado Ketuvót 104a). Esta passagem do Talmud nos relata que diferentes tipos de entes espirituais acompanham a pessoa, dependendo de seu nível espiritual. Isto está detalhado no livro Zohar (Vaiechi 218b), e ali nos é revelado que os familiares e amigos da pessoa vêm ao seu encontro. Se eles aparentam estar felizes é um bom sinal para esta alma, e se eles aparentam estar tristes é um mal sinal para ela. Etapa 7. A percepção de uma luz incrível – A incrível luz que a pessoa sente, na verdade é a Luz de Deus, como consta no livro Zohar (Metsorá 53), que a alma não deixa o seu corpo até que a Luz de Deus se revele para ela, quando então, ela vai ao seu encontro. Está escrito no Zohar que a alma sente um grande prazer com esta Luz (Kedoshim, 8). Etapa 8. A alma da pessoa se comunica através do pensamento – As almas se comunicam através do pensamento, como nos explica Ramban (Shaar Hagmul), estando
escrito no Talmud sobre o tema das almas que conversam, que a conversa da alma não é com os lábios, como nós conversamos, existindo uma transmissão e captação de informações. Etapa 9. Todos os atos que a pessoa realizou em sua vida são mostrados para ela – Os atos da pessoa são mostrados para ela, como consta em várias fontes da Torá; uma delas aparece no Talmud (Tratado Taanit 11a), onde está escrito que todos os atos que a pessoa fez em sua vida se apresentam à sua frente, e sendo por ela confirmados. Etapa 10. A pessoa é puxada de regresso para o seu corpo – Como consta no Talmud (Tratado Baba Batra 10b) a possibilidade da pessoa regressar após vivenciar a experiência da morte clínica; o Talmud traz o relato de um Sábio que regressou da morte; Também no Zohar que traremos em seguida consta o relato de um Sábio que voltou à vida após vivenciar o processo da morte. Etapa 11. A pessoa recebe uma missão – Cada pessoa veio ao mundo com uma função; as características da pessoa estão relacionadas com a sua função, pois cada um, de acordo com suas tendências, terá que passar pelas provas que lhe serão colocadas. E esta é a sua missão neste mundo (Sábio R.Chaim Luzzato; Ver “Derech Hashem” Parte 2, Cap.3,1) . Consta no Zohar um episódio onde o Sábio Rabi Yossei vivenciou a experiência da morte e retornou, pois todavia deveria viver mais 22 anos para cumprir com a missão que recebeu de transmitir os ensinamentos de Torá para o seu filho (Zohar Balak). Até aqui, trouxemos um paralelo entre as pesquisas realizadas no campo científico e os ensinamentos da Torá. Porém, as pesquisas não revelam o que acontece com a alma da pessoa quando ela deixa o mundo definitivamente... Eles não entrevistaram as pessoas que não regressaram da morte clínica... Então, o que acontece com a alma de quem deixa o mundo definitivamente?
O Relato de Outros Estágios Pós Vida
Antes da pessoa deixar este mundo, todos os seus atos são analisados, tanto os bons quanto os ruins; caso for decretado pela justiça superior que ela deixará este mundo, os méritos dos bons atos realizados já não poderão ajudá-la a seguir vivendo (Gaón de Vilna, Yona, em nome do Zohar). Alternativamente, aquele que terminou de cumprir sua função também terá que deixar este mundo (independente dos méritos). Cada pessoa receberá recompensa por cada bom ato realizado, por menores que tenham sido. No momento de deixar este mundo, a pessoa poderá ver a entidade espiritual responsável por este evento. Esta entidade espiritual pingará na pessoa a “tipá mará” (a “gota amarga” – um termo espiritual – como está escrito no Talmud, Tratado Avodá Zará 20b); após este episódio se dará início ao processo de decomposição do corpo e já não será possível evitar a sua partida (somente por um milagre).
Esta entidade espiritual, responsável pela morte, mostrará ao falecido os motivos do veredito final que o tirou deste mundo (Anaf Yossef sobre a passagem do Talmud citada) . Ao ver esta entidade espiritual, a pessoa arregala os olhos e a alma desconecta-se dos membros do corpo; estando ela pronta para partir. Neste momento inicia o grande juízo pós vida (Zohar Nassó 126b-127); esta será a primeira das sete sentenças que a pessoa passará ao deixar o mundo. Imediatamente antes da partida, ela percebe a Luz Divina e vai em seu encontro retirando-se definitivamente do corpo (Zohar, na continuação). Feliz será a pessoa que poderá se conectar definitivamente à esta Luz, e pobre daquele que não possuirá meios de conectar-se à Ela – Isto dependerá da preocupação de manter-se conectado à Ela durante os seus dias de vida neste mundo (Zohar, ibid.). A dificuldade vivida no momento da morte será proporcional ao apego aos prazeres vividos exclusivamente no plano material (ver Shaarei Teshuvá 2, 17). O Zohar (Vaiechi, 218) explica que o dia em que se parte deste mundo é um dia difícil e muito intenso. “A alma passará por um grande julgamento; caso ela seja considerada inocente causará uma felicidade reverberada em todos os mundos espirituais. E, caso seja considerada culpada, pobre dela e de sua porção”. A pessoa não será julgada somente pelo ato em si, ela será julgada também por todas as consequências de seus atos (Nefesh HaChaim 1,12). Os bons atos praticados em vida formam a nova vestimenta da alma. Cada mandamento Divino cumprido ao longo da vida terá seu papel na composição da roupagem espiritual (Zohar Vaiechi 218). A alma vestirá seu novo traje com alegria e permanecerá no mundo das almas (Gan Éden HaTachton) até o momento em que for determinada sua partida. Nesta primeira fase, não poderá usufruir de seu nível espiritual real (no Gan Éden HaElión). Haverá um local intermediário, onde ela será preparada, ou, em outras palavras, “curada”, dos danos que lhe foram causados por suas próprias transgressões (Zohar Vaiechi 218). Qualquer transgressão cometida causa um dano em sua alma, comparável com a lepra em um corpo físico (Gaón de Vilna, Ester, Derech HaRemez). Trinta dias após o dia da morte a alma é elevada novamente (Zohar Vaiakel). Durante os primeiros trinta dias a alma recebe as sentenças aplicadas ao corpo. Esta é a explicação para a sequência aplicada às leis relativas ao luto — durante os primeiros trintas dias existem leis mais restritas de luto (Guesher HaCahim cap. 27, Tratado Moed Katan 27). Ao final dos trinta dias, e incluindo estes próprios dias, inicia-se um período de um total de doze meses, ao final do qual a alma é elevada novamente, e abandona todos os assuntos referentes a este mundo. Ela atrela-se à sua fonte superior e não lhe interessa mais inteirar-se do que se passa no plano inferior. Ao longo destes primeiros doze meses, a alma ainda transita entre o mundo espiritual e a dimensão terrena. Depois de doze meses, eleva-se e não torna a regressar (Tratado Shabat 152b). No entanto, sempre restará uma
pequena conexão ao local onde o seu corpo está sepultado. Quando se trata do falecimento do pai ou mãe, parte das restrições relativas ao luto seguem-se durante todos os doze meses (Guesher HaCahim cap. 27). Todos os anos, no mesmo dia em que faleceu — completando o seu ciclo de vida — a alma terá a oportunidade de ser novamente elevada, atingindo novos níveis espirituais. Dependerá, no entanto, de seus descentes e dos “descendentes” dos seus bons atos – ou seja, das consequências positivas geradas pelos seus atos, já que, somente neste mundo do livre arbítrio, é possível coletar louros para coroar sua ascensão espiritual. E, assim como um doente fica na expectativa de ser curado, a alma aguarda ansiosamente por sua elevação e maior aproximação a Deus. É por esta razão que, na data do falecimento de um ente querido, deve-se preocupar em realizar certos atos que possam atrair méritos para a elevação de sua alma (Livro Sukat Shalom página 38, veja Shulchan Aruch Ór HaChaim 568, 7 e 8, e Yorê Deá 396).
O Prazer Espiritual
O prazer espiritual está além do nosso campo de imaginação. Nós vivemos em um mundo material limitado e não temos meios de avaliar prazeres incorpóreos além de nossos sentidos. Porém, a Torá nos revelou... “É preferível um momento de satisfação no mundo vindouro mais do que todos os prazeres deste mundo...” (Ética dos Pais, 4). Apesar de não termos capacidade de avaliar ou mesmo imaginar a grandeza do prazer existente no Mundo Vindouro, sabemos que, no nosso mundo, não se encontra nenhum tipo de prazer que possa ser igualado a ele (Baseado nos comentários do Rabeinu Yona) . O Livro de Ester (Cap.1, 6-7) relata detalhadamente todo o luxo que havia no banquete oferecido pelo rei Assuero... Os caros tecidos, os assentos feitos de ouro e prata, o piso revestido com pedras preciosas, todos os utensílios de ouro... Por que seria necessário descrever detalhadamente todo o luxo que havia naquele banquete? Escreve o Gaón de Vilna que, uma vez que não temos como captar a grandeza do prazer na dimensão espiritual, as escrituras nos relataram todo esse luxo para que possamos sentir de forma mais palpável qual será o nível de prazer dos justos no Mundo Vindouro; pois, se é preferível um momento de prazer no Mundo Vindouro mais do que todos os prazeres deste mundo, então... veja nesta passagem do Livro de Ester o nível de prazer que se pode alcançar mesmo estando neste mundo e saiba que o prazer espiritual está além deste prazer.
Seria possível captar um pouco desse prazer?
Quando pensamos em prazer, logo surge em nossa imaginação os prazeres dentro de nossas limitações materiais... Podemos, mesmo que inconscientemente, desprezar – de
certa forma – o prazer espiritual e eterno por estar além de nossa imaginação... Para entender um pouco do prazer espiritual, devemos fazer uma introspecção... O primeiro passo seria imaginar como seriam os nossos prazeres sem o corpo físico... Logo, todos os prazeres materiais perderiam a força – pois na verdade a função deles foi, simplesmente nos dar estímulo e provas para conquistarmos novos níveis de prazer verdadeiro e eterno... Para captar, mesmo que um pouco do prazer em um aspecto espiritual, não bastará refletir uma única vez, deve-se exercitar este pensamento diversas vezes, podendo cada vez mais introduzir em nosso campo de imaginação os prazeres mais espirituais que alguma vez sentimos em nossas vidas – por exemplo, a felicidade que sentimos ao nascer um filho, a doce sensação de amar alguém, o prazer que sentimos ao conquistar algo que nos parecia ser importante... Ao formarmos em nossas mentes a possível sensação de um prazer espiritual, chegou o momento de passar para o segundo estágio... O segundo passo... Refletir que estes prazeres mais espiritualizados que vivenciamos em nossas vidas é somente uma amostra mínima do grande prazer em potencial, já que nossas mentes já estão acostumadas e moldadas pelos prazeres materiais; sendo assim, durante a nossa estadia neste mundo, não existe maneira de captar, realmente, como será este intenso prazer (como já escreveu o Rambam Halachót Teshuvá Cap.8) . Este foi o motivo pelo qual os nossos Sábios utilizaram termos metafóricos para expressar os prazeres espirituais vivenciados pela alma após a morte, essas metáforas seriam meios de desenvolver um certo sentimento palpável pelos nossos sentidos, porém, é claro que não devemos parar por aí... e sim, extrapolar – a partir deste sentimento inicial – para um prazer em outra dimensão; mesmo que estamos impossibilitados de captá-lo por completo, de todas formas, podemos sentir – passo a passo – um pouco mais de sua grande potência. Após concluir o segundo estágio do exercício de introspecção, ou seja, sentir a força, em potencial, existente no prazer espiritual (cada pessoa em seu nível de captação), começará o terceiro estágio... Sentir que este prazer será contínuo... ininterrupto... eterno... e refletir que todo este prazer dependerá do nível de conexão que a pessoa desejou obter com o Criador.
O Sofrimento espiritual
Assim como o prazer espiritual está além do campo de captação de nossos sentidos corpóreos, da mesma forma estão os sofrimentos que se encontram nesta outra dimensão. Em seguida, explicaremos – dentro do possível – como entender este tema de forma mais profunda retificando a visão errônea e superficial existente no mundo afora. O primeiro fator fundamental que devemos ter em mente é que todo sofrimento vivenciado pela alma é para o seu próprio bem e não uma mera vingança ou castigo sem fundamento; ele vem como efeito de seu processo de retificação.
Uma nova visão Ao sair do corpo a alma terá uma nova e ampla visão do mundo. Poderá ver o que não lhe era permitido conhecer enquanto estava neste mundo. Ela constatará que todo o tempo dedicado às futilidades, como por exemplo, juntando dinheiro e bens como um fim e não como um meio, não lhe trouxe nenhum benefício no mundo espiritual — evidentemente que o oposto se aplica ao tempo dedicado à aquisição de bens com fins de sustentar a família, ajudar os necessitados, apoiar o estudo e o cumprimento da Torá ou qualquer fim construtivo e prudente. Àquele que se dedicou a uma vida fútil, resta somente o sofrimento por a ter desperdiçado, deixando de conquistar os prazeres eternos. Nossos Sábios nos ensinam que um momento bem utilizado — realizando uma boa ação, ou arrependendo-se de algum erro cometido — proporciona um prazer incrível para toda a eternidade (Ética dos Pais 4, 17). Ao separar-se do corpo, a alma percebe quantas oportunidades foram perdidas em todos os momentos da vida em que dedicou seu tempo a atividades vazias. A dimensão do arrependimento é inimaginável, e sua desolação vai crescendo a cada instante. Caso ainda estivesse neste mundo, não seria possível suportar nem mesmo uma minúscula parte deste sofrimento. Ela fica inconsolada: “Como pude trocar os prazeres verdadeiros e eternos por prazeres vãos e passageiros?” A alma então enche-se do desejo de regozijar e usufruir — ali mesmo no mundo espiritual — da Luz Divina – e logo em seguida se dá conta de que não está capacitada. Sua alma teria sido deteriorada por suas transgressões. Assim, a alma fica contente quando lhe é apresentada a oportunidade de retificar-se, para que possa subsequentemente desfrutar deste grande prazer (Shaarei Emuná 144, em nome do Gaón de Vilna). Cada transgressão cometida ao longo da vida causa dano à alma, distanciando-a de Deus. Esta só poderá unir-se à Luz do Criador quando estiver livre de qualquer resíduo das transgressões que cometeu (Ramban, Levítico 4,2). Existem dois caminhos para o refinamento da alma: a. Arrependendo-se de seus erros durante a vida. [ Nota: O Arrependimento: Uma pessoa pode se arrepender de suas transgressões até mesmo no seu último dia de vida. Mesmo uma pessoa que não tenha vivido de forma correta durante toda a sua vida poderá não ter nenhuma transgressão lembrada quando for julgada após a sua morte, caso seu arrependimento seja completo. Quanto mais jovem for a pessoa, mais elevado o nível de seu arrependimento. Se o arrependimento vier como consequência do amor a Deus, e não pelo medo do castigo, seu nível é ainda mais elevado, e todas as suas transgressões se transformarão em méritos. Está escrito no Pirkei Avót (Ética dos Pais) que todos nós temos que retornar, ou seja, arrepender-nos dos nossos maus atos, um dia antes de nossa morte. Mas já que não sabemos qual será o dia da nossa morte, devemos nos manter sempre “limpos” e buscar o arrependimento a cada dia. O que se deve fazer para que o
arrependimento seja completo e a transgressão seja totalmente apagada? Primeiro, deve-se interromper o ciclo e não repetir a transgressão cometida. Em seguida, deve-se removê-la de seus pensamentos. E por fim decidir intimamente não repeti-la, arrependendo-se da transgressão cometida e confessando-a a Deus em suas próprias palavras. Seguindo esses passos, a transgressão será totalmente apagada (Ver Leis de Teshuvá do Rambam 2,2). Existe ainda mais um nível de arrependimento superior, no qual, após passar pela etapa inicial, retorna-se exatamente à mesma situação e mesmas condições em que cometera a transgressão inicial, antes do arrependimento. E, desta vez, o autocontrole impede que a transgressão aconteça (Rambam 2,1). Segundo certos comentaristas, as palavras do Rambam indicam que basta que o arrependimento seja tão forte a ponto de Deus testemunhar que a pessoa não voltará a cometê-la, mesmo que ela se encontre exatamente na mesma situação em que se encontrava quando cometeu tal transgressão. Segundo esta opinião, até mesmo aquele que não volte a ser submetido à prova pode alcançar este nível máximo de arrependimento (Assim explica o Rabeinu Yona, Shaarei Teshuvá 1,49 e 1,9)] b. Passando por um processo de retificação ao deixar o corpo (Nefesh HaChaim 1,12; Ramcha”l, Adir BaMarom). Estas etapas assemelham-se às etapas de cura vividas por um enfermo que necessita de tratamento médico. O período de internação no hospital faz-se por vezes necessário para proporcionar a recuperação e permitir que o indivíduo siga vivendo. Da mesma forma a alma debilitada necessita curar-se, passando por um processo de purificação — comparado a um “hospital para as almas” — do qual ela sairá recuperada e estará pura e pronta para o encontro com a Luz Divina. No tempo determinado, chega o momento da ascensão ao seu lote, o seu local, a parte que lhe cabe, e que expressa seu nível espiritual. Ela poderá ir se elevando gradualmente a níveis cada vez mais altos, de acordo com os méritos conquistados durante a sua vida (Zohar Vayechi 218 e Gaón de Vilna, Ester Derech HaRemez).
Cremação
Como já mencionamos anteriormente, ao chegar o momento da partida deste mundo, a essência da pessoa – ou seja, a alma – parte e o corpo se anula... Poderíamos nos enganar e pensar... “Uma vez que o corpo foi anulado e se deteriorará, então do que importa o que será feito à ele?” Isto é um equívoco, pois está totalmente proibido cremar o corpo de um falecido ou mesmo participar de qualquer forma no processo de cremação.
Se o corpo se deteriorará, por que seria proibido cremá-lo?
Existem vários preceitos referentes aos cuidados e respeito em relação ao corpo de um falecido... Caso não fosse mais relevante o que se passasse com ele, por que a Torá
deveria ser tão severa quanto ao seu tratamento... Se tudo termina, o que importa o que será feito com os restos vitais... Por que tantos cuidados? Por que tanto respeito? Existe um preceito da Torá de enterrar o corpo do falecido (Rambam; Sefer Hamitsvót 231; Rambam Avelut 12, 1; Sifri Deuteronômio 21, 23). Assim como todos os preceitos da Torá, ao cumprir com os preceitos relacionados ao corpo do falecido, além de estar realizando a vontade do Criador, também estará proporcionando benefícios à ele. No momento da morte, a alma não se desconecta totalmente do corpo, sempre resta uma conexão; o processo de elevação da alma está intimamente relacionado com o processo do enterro e decomposição do corpo. Alguém que crema o corpo de um falecido, já não terá mais como retificar o dano causado à ele. A alma não pode partir de forma adequada até que o corpo esteja totalmente desintegrado. O enterro proporciona com que o corpo e a alma passem por este processo gradualmente; uma separação imediata causa à alma uma grande agonia, o enterro é para o benefício da alma do falecido e não para o benefício dos vivos. Uma pessoa que pede, antes de falecer, para que seus restos sejam cremados, não se pode fazer Shivá (sentar em luto) por ela, não se recita Kadish, não se acende velas – tampouco no dia de aniversário do falecimento; não se aplica à ele nenhum sinal de luto e, mesmo se a família queira que suas cinzas sejam enterradas em um cemitério judaico, não está permitido enterrá-lo [Kovets Beit Hilel, R. Eliahu Shleizinguer em nome do Chaiei Olam]. Essas leis não se aplicam para quem foi cremado por forças maiores, contra a sua vontade ou para santificar o nome de Deus – nestes casos é uma mitsvá enterrar as cinzas com grande honra (Lechem Mishna Avelut 12; Shut Sheelat Yavets P.2, 169).
O que fazer quando a própria pessoa pediu, antes de falecer, para que os seus descendentes cremassem o seu corpo?
Uma pessoa que, antes de falecer, ordena aos seus filhos não construírem “matsevá” (a pedra que se coloca sobre o túmulo), não recitarem o kadish, vender o seu corpo para experiências ou cremá-lo, em todos estes casos, não está permitido cumprir a sua ordem; pois, caso o falecido estivesse consciente dos grandes benefícios que estes procedimentos proporcionariam à sua alma, ele não haveria ordenado (Livro Beit Nachem, Cap. Beit Halmin em nome do livro Yabia Omer 6, Y”D 31 e Guesher Hachaim 5); Apesar de haver pedido em vida para que cremassem o seu corpo, agora, estando no mundo espiritual, ele já não deseja mais que façam como ele pediu (Yerushalmi Ketuvót 11, 1). Em certos casos, por falta de conhecimento, uma pessoa pode desejar que seu corpo seja cremado; porém, como já citamos, ela estará causando para si própria um grande problema. Além disso, vemos que, desde nossos patriarcas, existiu uma grande preocupação em que enterrassem os seus restos vitais... Os filhos de Isaac enterraram seu pai (como consta no Livro Gênesis 25, 9-10) ; Abrahão enterrou Sarah (como consta no Livro Gênesis 23, 19), inclusive pagou uma fortuna para enterrá-la; Até mesmo Yossef que morreu
no Egito exigiu de seus descendentes a garantia que seus ossos fossem levados para serem enterrados em Israel (como consta no Livro Gênesis 50, 25) . Vários Sábios em toda a história pediram para que seus ossos fossem transportados para serem enterrados na Terra de Israel – e de forma alguma – cremá-los para que suas cinzas fossem transportadas de forma mais fácil. Mesmo o Kohen Gadol (na época do Grande Templo) que estava absolutamente proibido de impurificar-se com mortos, quando não havia quem enterrasse uma pessoa, ele estava obrigado a fazê-lo, mesmo se impurificando e consequentemente desqualificando-se de seu trabalho (até ser purificado novamente). [Kovets Beit Hilel, R. Eliahu Shlezinguer]
A Grande Feira Comercial [Baseado no Livro Shem Olam do Chafets Chaim, página 255]
Chegou o dia da grande feira comercial, onde comerciantes, fabricantes, representantes do mundo inteiro se encontram para fecharem negócios. Dezenas de milhares de pessoas chegaram de todos os cantos. Como de costume, os organizadores preparam para os participantes deliciosas guloseimas para criar um clima agradável. Dentre os participantes encontram-se todos os tipos de pessoas... Têm os mais inteligentes, os tolos e também os intermediários... Cada um trata de seus negócios de acordo com a sua capacidade. Porém, mesmo os mais tolos não vão pensar que o objetivo da grande feira comercial seria comer as guloseimas – apesar delas serem atraentes e eles estarem famintos... Eles “beliscarão” aqui e ali algumas guloseimas, porém, estão totalmente conscientes do objetivo pelo qual se encontram na feira comercial. Nenhum participante deseja viajar em vão. Podemos provar este fato facilmente... Caso perguntássemos a qualquer um dos participantes para que viestes a feira? Ele imediatamente responderá o motivo... Vejamos agora.... Nossas vidas... Após uma longa viajem até que chegamos aqui neste mundo [A alma de uma pessoa, até chegar neste mundo, transporta-se desde os níveis mais elevados – onde se encontra o assentamento das almas (no Olam HaBriá) – viaja de nível à nível (Yetsirá, Galgalim) até chegar neste mundo]... Quando perguntamos à alguém: “Por que tu viestes à este mundo?” Será que todos saberão responder tão facilmente o motivo? Vários pensarão que o principal motivo de estar aqui é festejar, satisfazer-se e aproveitar ao máximo com todos os tipos de prazeres possíveis... Porém elas não pensam... “Qual será o final? Ora, não chegará o dia que finalmente terei de sair daqui?” Como está escrito: “A alma retornará a Deus” (Kohelet) e então deverá expor toda a “mercadoria” que adquiriu em sua estadia neste mundo... Que frustração será mostrar as “malas vazias”. Pensando Bem...
Uma pessoa está disposta a dedicar-se vários e vários anos para conquistar uma posição econômica e social favorável. Todos os anos de estudo no colégio, primário, ginásio – depois faculdade... Horas sobre horas estudando para as provas, muitos dias e inclusive noites... Depois, em muitos casos, mestrado, doutorado... Depois começa a jornada do trabalho, sempre com a expectativa de crescer e prosperar. Quantas horas de trabalho e novos aprendizados, praticamente todos os dias de sua vida, às vezes dias e noites, para conquistar uma posição financeira e social elevada... Vamos refletir agora, honestamente... Se a pessoa está disposta a tanto investimento e dedicação, muitas vezes com grande esforço e abnegação, praticamente durante todos os seus anos de vida, para conquistar melhores condições neste mundo – para usufruir algumas dezenas de anos – mesmo sendo um mundo passageiro e inevitavelmente terá que deixá-lo, ela não está disposta em viver de forma medíocre... Não deveria ela, com muito mais razão, preocupar-se com a situação de sua alma que continuará vivendo não somente por umas dezenas de anos, tampouco centenas... e sim, seguirá a sua jornada para sempre... Não seria ilógico que, para a sua situação de algumas dezenas de anos, ela está disposta a tanta abnegação; e para a sua situação que perdurará para sempre ela não se importa de viver de forma medíocre? (Baseado no livro Messilat Yesharim).
VIII
TODA A TORÁ EM UM PÉ SÓ Podemos encontrar em um só conceito um resumo de toda a Torá? Esse conceito é suficiente para nos completar? Um conceito que resume toda a Torá
parentemente seria impossível resumir o conhecimento milenar da Torá – transmitido de geração em geração por milhares de anos – tão amplo, profundo e abrangente em somente um conceito. Como imaginar que um simples conceito dentro de milhares e milhares de ensinamentos serviria de sustentáculo para todos os outros; e também seria suficiente para nos completar? De fato, não é surpreendente a reação do Sábio Shamai quando lhe pediram para ensinar toda a Torá em um pé só...
A
A Torá em “um pé só” – Parte I
Um não-judeu se encontrou com o Sábio Shamai e fez um estranho pedido... “Me converta para o judaísmo, porém, com a condição que me ensine toda a Torá 'em um pé só', ou seja, me ensine um único fundamento que sustente toda a Torá (Marsha). O Sábio Shamai o expulsou de sua presença (como em outros casos citados na Guemará, Shamai não aceitava converter pessoas que ditavam certas pré condições). [Na sequência, traremos a continuação deste episódio que está relatado na Guemará (Tratado Shabat 31a)]
Os 10 Mandamentos Certas pessoas equivocaram-se pensando ser suficiente cumprir os Dez Mandamentos abdicando-se dos demais; finalmente, deixaram de lado inclusive a eles... Na Torá está escrito que não está permitido agregar ou retirar nenhum preceito, pois todos eles são necessários para a formação do Ser humano. Tampouco está em nossas mãos modificar ou reformar qualquer informação, uma vez que no final das contas a verdade não será modificada por falsas interpretações – todos serão julgados devidamente – de acordo como se utilizar deste mundo, influenciando-o para o bem ou para o mal; tanto no aspecto individual como no global. Porém, de fato, a raiz de todos os preceitos da Torá se encontram – de alguma forma – inclusos nos Dez Mandamentos; “Não Cobiçarás” é o último dos Dez Mandamentos; pois, de alguma forma, ele engloba todos os outros Nove – que por sua vez – englobam todos os outros preceitos da Torá. Logo, podemos concluir que “Não Cobiçarás” é a raiz de todos os demais preceitos da Torá; e, ao cumpri-lo – em certo aspecto – é como se a pessoa estivesse cumprindo com todos os outros preceitos (Midrash Hagadá). Como podemos entender este fato? Como entender que a cobiça – inveja – seja o princípio central da Torá? Como pode, um preceito tão crucial, ser um sentimento... uma vontade... que, aparentemente, está além de nosso controle? “Três Princípios que se Completam”
Encontramos três fontes distintas onde nossos Sábios estabeleceram um único preceito como central no cumprimento de toda a Torá. Na sequência, com o desenvolvimento do tema, explicaremos como, na verdade, eles formam três aspectos de um único fundamento. Eles são três princípios que se completam. O primeiro é a cobiça – como já mencionamos. O segundo...
A Torá em “um pé só” – Parte II
No princípio deste capítulo, trouxemos o caso de um não-judeu que procurou ao Sábio Shamai para se converter com a precondição que lhe ensinasse a Torá em um pé só; ou seja, um único fundamento que sustente toda a Torá... Como se desencadeou a história? Logo, essa pessoa foi ao encontro do Sábio Hilel e fez o mesmo pedido... Hilel respondeu: “Pois não... O que é indesejável para você, não faça ao seu companheiro, este fundamento resume todos os preceitos da Torá e o resto é a explicação...” (Tratado Shabat 31a) Vemos daqui, o segundo preceito central, estabelecido pelos nossos Sábios, no cumprimento de toda a Torá – Não fazer ao seu companheiro o que for indesejável para si próprio. E o terceiro... Confiança no Criador O Profeta Chabakuk estabeleceu a Torá em um princípio central: “O Justo viverá com a sua fé” (Chabakuk 2, 4) – A confiança no Criador. Pois, este fundamento é o mais global de toda a Torá, se aplica em todos os tempos... Todos os outros preceitos – de alguma forma – estão incluídos na confiança em Deus (Marsha). Portanto, daqui fica constatado o terceiro preceito estabelecido como central no cumprimento de toda a Torá: “Confiar no Criador” A Conexão Entre os Três Preceitos Em seguida, analisaremos o tema de forma mais profunda para entendermos a relação existente entre os três preceitos e, dessa forma, definir um único fundamento central que servirá de base para toda a Torá; e também para nos completar. Citamos anteriormente que, os Dez Mandamentos, encerram-se com “Não Cobiçarás”, pois ele engloba todos os demais preceitos. Perguntamos... Como pode, algo tão central no cumprimento da torá, aparentemente, estar além de nosso controle? Como é possível não cobiçar? É automático!
Aparentemente, a cobiça está além de nosso controle. Ao ver algo que desejamos, automaticamente poderá vir a cobiça! “O olho vê e, automaticamente, o coração deseja!” – Várias pessoas perguntam perplexas em relação a este preceito... Como poderia o homem não desejar algo que, aos seus olhos, se vê maravilhoso? (Ibn Ezra). Como pode existir um preceito que está além da nossa capacidade de cumpri-lo? Em um segundo pensamento, chegaríamos na seguinte conclusão... Se fomos ordenados, é claro que é possível! Assim consta no Livro Chinuch (Mitsvá 416): “Está nas mãos da pessoa evitar a cobiça e controlar os seus pensamentos; está em suas mãos controlar os sentimentos do coração para tudo o que você desejar”. Porém, nos resta perguntar... Como? Evitando a cobiça O trabalho a ser realizado para evitar a cobiça é indireto (explicaremos em seguida). Não temos como “atacar” o sentimento da inveja – cobiça – diretamente... Dizer “A partir de hoje, eu não cobiçarei!” Não funcionará! Para saber como dominá-la, devemos entender... O quê causa a cobiça? A causa da cobiça A cobiça é a expressão do nível de emuná – Confiança no Criador – em que a pessoa se encontra; ou seja, o quanto ela reconhece, de fato, a Providência Divina; seria como um “termômetro” para medir o quanto ela confia no Criador. A cobiça é somente a consequência... Portanto, fica claro que o trabalho a ser feito é indireto... teríamos que “preparar o terreno” para que, quando aparecer algo que estimule a cobiça, ela não se despertar automaticamente. “Preparando o terreno”
Imaginem a seguinte situação: Um dos moradores de um prédio residencial, presenciou o carteiro distribuir as correspondências... Ele percebeu que o carteiro trouxe para o seu vizinho de porta uma carta de um determinado banco, e ele mesmo recebeu uma carta de um banco distinto... “Por que você entregou a carta do banco 'a' para o meu vizinho e para mim a carta do banco 'b'? - Perguntou o morador ao carteiro enfezado... Antes de receber a resposta, novam ente o atacou: “Eu reparei que você entregou duas cartas para o meu vizinho e para mim somente uma...” Para todos está claro o absurdo dos argumentos do morador; todos sabem que não é ao acaso que uma carta chega ao destinatário... cada carta possui um remetente que, por algum motivo, está enviando a correspondência para o destinatário... A carta do banco 'a' não está relacionada ao cliente do banco 'b' – mesmo que o cliente do banco 'a' receba duas, três ou mais cartas, não afetará nas correspondências do banco 'b' em relação aos seus clientes... Simplesmente dependerá dos temas de cada cliente com o
seu banco; também não tem motivo de ficar nervoso com o carteiro... Isto está claro para todos! Da mesma forma, devemos ter a consciência, que a aquisição das pessoas neste mundo não é casual... Cada benefício que chega à pessoa é exatamente como 'a carta do banco' que mencionamos, que chega a seu cliente devido aos temas relacionados unicamente a ele. Não há motivo de invejar as aquisições de seu companheiro... Por de trás delas existe um Remetente... O padrão de vida de uma pessoa, os seus filhos e o seu tempo máximo de vida foi decido pelo Criador, para cada um, segundo a função que ela veio exercer neste mundo. O nascimento dos filhos, o tempo de vida e a fonte do sustento de alguém não dependem diretamente de seus esforços, mas são pré-estabelecidos segundo a função que se terá de exercer durante a sua vida (Zohar Pinchas 216; e no Talmud Moed Katan 28a). Também no Tratado Nidá (16b) consta que se a pessoa será valente ou fraca, inteligente ou tola, rica ou pobre, já foi decretado antes de seu nascimento. Portanto, toda pessoa honesta em seus pensamentos, deve saber que, uma bela moça ou um belo moço, uma bela casa ou o dinheiro não se encontram com o seu semelhante por acaso, e sim, somente pela decisão Divina. Quando este princípio estiver claro para a pessoa, ela não desejará e não cobiçará; ao saber e sentir em seu coração que a posse de seu companheiro não cabe a ela – ou seja, não faz parte de sua função neste mundo – ficará mais claro do que 'a carta do carteiro' que os bens de seu amigo não se relacionam à ele – pois foi o Próprio Criador Quem determinou o que caberá à cada um... Foi Ele o “Emissário da carta...” Portanto a cobiça já não brotará automaticamente. O que a pessoa está consciente que não lhe cabe – ela não deseja. Conectamos dois dos três preceitos... a cobiça é consequência do nível de confiança... Porém como entender a conexão com o terceiro preceito de não fazer ao seu companheiro o que for indesejável para si próprio? Adquirindo a confiança O próximo passo... transferir a confiança no Criador em um sentimento real Sempre que o tema da confiança permanecer unicamente no pensamento, não fará uma mudança significativa na personalidade da pessoa. Como em todos os temas, para que ele se enraíze na personalidade da pessoa, ele deve ter uma expressão prática. Fazer parte de nosso dia-a-dia. Porém, como adquirir a confiança? Como fazer para que ela faça parte de nossas vidas... de nossas personalidades? Como transferi-la em um sentimento real?
Aqui entra o terceiro princípio... Não fazer ao seu companheiro o que for indesejável para si próprio! Para um melhor entendimento do tema, traremos um episódio que se passou há vários anos atrás...
“A Vida Sem Confiança”
Aconteceu em Jerusalém, o seguinte caso entre dois vizinhos, Reuven (Rubens) e Shimon (Simão)... Reuven resolveu ampliar a sua casa e começou a preparar o seu pátio para a construção. Tudo estava limpo e preparado; logo a construção começou... Shimon percebeu que Reuven, inintencionalmente ultrapassou os limites de seu terreno... Reuven havia entrado em torno de 50 centímetros ao logo dos 25 metros de largura do terreno de Shimon. O que fez Shimon? Se calou! Ele decidiu esperar para processar Reuven no final de suas obras... Os lucros seriam certos. Assim foi. No final das obras, Shimon convidou Reuven para uma “conversinha”... Shimon: “Reuven, você está consciente que a sua construção invadiu o meu terreno?” Reuven: “Sério?” Shimon: “Seríssimo!” Reuven: “Vamos conferir...” Na sequência... “Tem razão!” - exclamou Reuven. “Vamos fazer a conta.... 25 metros por 50 centímetros... 12,5 metros quadrados de terreno... não tem problema, eu te reembolso tudinho, e aind a pago um preço acima do mercado para te recompensar...” Shimon: “Nada disso, eu quero que você retire os 50 centímetros de construção de dentro de meu terreno...” Reuven: “Shimon, para isso eu teria que demolir toda a obra... Como você faria isso comigo?” Shimon: “Eu sinto muito... Eu quero o meu terreno limpo!” Logo Shimon entrou na justiça contra Reuven e foi decretado que Reuven deveria pagar uma imensa indenização para Shimon para não ter que demolir a sua obra”. Na sequência dos acontecimentos, ocorreu um sério acidente com Shimon e ele faleceu... Um Grande Sábio da Torá, ao ouvir o ocorrido, explicou para os ouvintes que se encontravam no local... Sábio: “Na verdade, aos olhos de todos aqui, Shimon parece ser uma pessoa extremamente má... porém, a mesma ideia que passou na cabeça de Shimon, passaria na cabeça da maioria das pessoas... a única diferença é que, para ele, houve a oportunidade de colocá-la em prática... Saibam que um grande número de pessoas em seu lugar faria o mesmo.”
O Sábio quis nos transmitir a seguinte ideia... A maioria das pessoas não estão continuamente preocupadas em superar-se para cumprir o preceito de não fazer ao seu companheiro o que é indesejável para si próprio. Ao contrário... Quando surge a oportunidade de lucrar, mesmo que às custas de outras pessoas, uma grande parte delas perdem o controle... Elas pensam somente em seus próprios lucros... Caso Shimon tivesse parado para pensar honestamente... “Eu gostaria que fizessem isso comigo? É claro que não! Como eu me sentira se fosse ao contrário... Caso Reuven se calasse ao ver que eu invadi inconscientemente o seu terreno? Com certeza, eu ficaria ‘super’ magoado, decepcionado, depressivo, irritado... Portanto, está claro que não é correto fazer isso com ele...” Provavelmente, em um segundo pensamento, poderia surgir o desejo de lucrar facilmente uma bela quantia de dinheiro... Shimon poderia justificar-se: “O problema é dele que não se preocupou em não invadir o meu terreno!” Logo, seria necessário acessar o grande fundamento da confiança... “O lucro de cada um já foi decretado pelo Criador... Cada um receberá exatamente o que foi decretado para ele, eu não vou alterar em nada. Somente estarei deturpando as minhas qualidades pessoais e me distanciando do objetivo pelo qual eu fui criado...” Assim, cada caso que acontecer em seu dia-a-dia, com seu conjugue, filhos ou amigos, estará enraizando em sua personalidade – em sua alma – a Crença no Criador; com o passar do tempo, ela finalmente será uma pessoa completa e tranquila. Ela já não será facilmente seduzida por ideias corruptas... Ela saberá que o principal em sua vida é superar-se para cumprir o objetivo pelo qual ela foi criada estando íntegra com o Criador. Portanto, a cobiça; ou seja, a consequência da falta de confiança no Criador, além de ser a causa direta dos preceitos relacionados entre uma pessoa e o Criador, também é a causa direta de vários preceitos da Torá entre uma pessoa e seu semelhante (Sforno; Aviezer; Mechilta; Poskim); pois, quem reconhece a Providência Divina e tem a consciência que as conquistas e o sucesso de seu companheiro não interfere – de forma alguma – em suas próprias conquistas, poderá apoiá-lo e proporcioná-lo florescer, da mesma forma que o faria consigo mesmo. Portanto, fica constatado que a cobiça é a raiz dos preceitos existentes entre uma pessoa e o seu companheiro (como, por exemplo, roubar, enganar, dedurar, falar mal, etc.). Assim consta no Livro Chinuch (Mitsvá 38) – Fixar no pensamento a vontade de possuir algo de seu companheiro – o desejo – é a causa de vários males, inclusive poderá levar à violência.
Em Resumo Os Três Aspectos de Confiança no Criador
a. A Própria Confiança – como estabeleceu o Profeta Chabakuk. O reconhecimento de que cada acontecimento – tanto em âmbito geral quanto pessoal – não é casual, está sendo controlado pelo Criador; e, no final de contas, cada pessoa recebe exatamente o que cabe à ela... Portanto a cobiça inclui a negação da Providência Divina. b. A Consequência – A Cobiça – como estabeleceu o Midrash Hagadá. O grau de confiança adquirido pela pessoa se expressará através do desejo e cobiça que sentirá em relação às aquisições de seus companheiros – cada pessoa no campo que lhe atraí... c. Na Prática – Não fazer ao semelhante o indesejável – como estabeleceu o Sábio Hilel. O preceito chave que contribuirá na aquisição da Confiança no Criador é o de 'não fazer ao companheiro o que for indesejável para si próprio'; através deste princípio a pessoa se acostumará a superar os seus impulsos para não invadir os limites de seus semelhantes estimulando a ideia que cada pessoa recebe o necessário para cumprir a sua função; desta forma, enraizará em seus sentimentos a confiança no Criador. No princípio, a pessoa poderá se controlar e não prejudicar o seu companheiro; porém, poderá ocorrer em diversas ocasiões, que a vontade todavia se encontrará dentro dela... Com o tempo – praticando este princípio – refletindo que, de fato, o mundo não está jogado ao acaso; que existe um “endereço” para cada “bem”, este sentimento fará parte de sua essência e, em geral, ela já não necessitará se controlar. Uma Nova Visão de Mundo Uma pessoa não poderá interferir no que foi decretado ao seu semelhante, tampouco sairá lucrando às custas de outras pessoas. A atuação de uma pessoa simplesmente foi o caminho que ela optou para servir de meio para levar à tona os decretos do Criador, porém, no final das contas, chegará a cada um segundo o que lhe foi decretado por Ele. Sendo assim, por que não ser o intermediário para proporcionar o bem para as demais pessoas? Para que tentar impedir o sucesso dos companheiros? Se o sucesso não foi decretado para determinada pessoa, de qualquer forma ela não terá sucesso, então, para que se colocar como intermediário de seu fracasso, recebendo para si esta responsabilidade? Muito pelo contrário, caso o sucesso foi decretado ao seu companheiro, de todas formas ele chegará, e então, por que não ser o intermediário para proporcioná-lo este bem, e desta forma, aprimorar-se como pessoa e também conquistar novos níveis espirituais?! Desta forma, quanto mais o seu companheiro obter o sucesso, também os méritos de quem o ajudou serão maiores. Portanto, é indispensável refletir sobre este tema e no momento de prova... superarse... dia-a-dia... “O que for indesejável para você, não faça ao seu companheiro!” Conclusão Portanto, a consciência de que o Criador controla toda a Criação é o conceito chave, a raiz de toda a Torá; ela também nos levará ao caminho da perfeição – será o meio para nos
completarmos em nossas vidas. Este princípio é a raiz de todos os preceitos, não somente levará ao cumprimento de todos os preceitos referentes ao relacionamento entre o homem e o Criador, como também levará ao cumprimento dos preceitos entre o homem e seu semelhante. Quanto mais este conceito estiver claro e fizer parte de nossas vidas, mais estaremos perto da perfeição. Uma pessoa que sabe que tudo o que ela tem é exatamente o que ela necessita para se completar – pois o Criador controla tudo e coloca cada um na situação ideal onde poderá completar-se – não pensará em roubar (ou adquirir bens de forma ilegal) ou causar danos à outras pessoas. Sabendo que tudo o que lhe acontece é um decreto Divino, por algum objetivo determinado – pois foi o Criador, que controla todos os acontecimentos, Quem determinou esta situação – ela não será vingativa. Ao contrário, ela será uma pessoa tranquila e realizada. Cada dificuldade que enfrentar, encarará como uma prova; um desafio a superarse e conquistar um novo nível de aproximação com o Criador.
"O Rico" Alexandre , um aluno que há cerca de um ano e meio havia começado a cumprir os preceitos da Torá, ficou perplexo ao deparar-se com o preceito de não cobiçar... Em uma das aulas que ele frequentava, esperou pela oportunidade e abordou o seu Rabino... Alexandre: “Como eu posso controlar a inveja? Eu vejo, logo me vem a vontade... Um lindo carro... uma bela pessoa... um apartamento espaçoso... Rabino: “Alexandre, você sabe quem é realmente uma pessoa rica?” Alexandre: “Eu sei, está escrito na Ética dos Pais... Quem é rico? Aquele que está feliz com o que possui...” "De todas formas... Como é possível estar feliz com o que possui e não desejar o que está faltando?” – questionou Alexandre. Rabino: “Você tem razão, o desejo nasce quando a pessoa sente que lhe está faltando... Logo, do desejo, brota a inveja (como está escrito no Rambam Hilchót Gzelá 1, 11)” Alexandre: “Então... este é o problema...” Rabino: “Agora que chegamos no ponto do problema, temos a possibilidade de resolvê lo...” O Rabino seguiu... “De passagem, este é um dos objetivos da propaganda... estimular o desejo – a cobiça... Em geral, elas tentam despertar na pessoa o sentimento que lhe está faltando justo o produto que eles querem vender... Tentam transmitir que a felicidade será conquistada ao adquirir 'tal' produto... Para superar o sentimento de falta, a pessoa se vê obrigada a comprar o produto...”
“Devemos questionar, o quê leva a pessoa a sentir que lhe está faltando?” - completou o Rabino. Alexandre: “Muito simples, uma vez que o rico é aquele que está feliz com o que possui, o necessitado é o oposto – aquele que não está feliz com o que possui...” Rabino: “Correto... Porém, volt amos ao ponto inicial... Como estar feliz com o que possuímos?” Alexandre: “Este é o problema...” Rabino: “Também está escrito na Ética dos Pais que a inveja, o desejo e a honra retiram a pessoa do mundo.” (cap.IV, Mishná 28) Alexandre: “Não entendo a conexão.” Rabino: “Repare que ambos os fatores citados nesta passagem da Ética dos Pais têm um ponto em comum... eles tratam da busca em encontrar uma posição de vida alheia, ou seja, o desejo de viver em uma posição de vida diferente de sua realidade atual... A inveja é o sentimento de ter algo que não lhe pertence, também o desejo é a vontade de alcançar algo que todavia não possui; e a honra é a vontade de receber um status extra – uma posição que todavia não lhe pertence.” Alexandre: “Interessante!” Rabino: “Veja, sempre que a pessoa está buscando ter o que ela não tem ou ser alguém que ela não é, está sendo enquadrada entre as pessoas que estão sendo retiradas do mundo.” Alexandre: “O que isso significa?” Rabino: “Você sabe que cada pessoa foi colocada no m undo com uma função. Cada pessoa veio a este mundo com o objetivo de aprimorar-se e completar-se... Cada pessoa necessita consertar suas características pessoais e desenvolver-se também no aspecto espiritual – cada uma segundo o nível em que se encontra... A situação de cada um neste mundo é calculada exatamente para o seu trabalho de aperfeiçoamento individual. Cada um foi colocado em sua posição ideal para tal objetivo... Portanto, está tudo claro, ao desejar se encontrar em uma posição que não lhe pertence, ela está deixando de lado o trabalho pelo qual ela veio ao mundo... Ela está vivendo uma situação que não lhe pertence... Está simplesmente se retirando do mundo.” Alexandre: “Realmente está ficando claro... De todas formas, o que devo fazer?” Rabino: “Não só você, mas todos nós devemos refletir sobre o tema, saber que existe um Criador que controla todos os acontecimentos e que é Ele que coloca para cada um exatamente o que é necessário para se completar como pessoa... Cada um é colocado em sua posição ideal. Devemos também colocar esta ideia em prática, em nosso dia-adia, quando surge a vontade de se irritar com alguém, quando surge a vontade de lucrar algo desonestamente, etc., etc.; aos poucos vamos adquirindo um novo nível de confiança no Criador e a inveja já não será despertada facilmente...” Alexandre: “Como eu posso saber se estou crescendo neste caminho?” Rabino: “Confira no termômetro! Analise continuamente e veja com o tempo, se o nível de desejo e cobiça está diminuindo...”
IX
SOFRIMENTOS "Se Deus é tão bom, como podemos ver em nosso dia a dia tantas pessoas sofrerem? Isso é justiça? Quais são os caminhos e julgamentos Divinos?" "Eu tinha uma tia ‘super boa’... Não entendo... Por que ela teve que sofrer tanto?” "Fulano era uma pessoa que sempre se preocupava com os demais... Por que justo ele passou por um acidente tão grave?” “Por que existem pessoas boas que sofrem... e pessoas ruins que vivem tão bem?” Quem não deparou-se com uma pergunta desse estilo? A Mais Antiga Pergunta
E
sta questão não é tão moderna quanto parece... Entre as pessoas que se viram perplexas por esta incógnita encontra-se – nada mais, nada menos – que o próprio Moshe Rabeinu; na verdade ele foi a primeira pessoa – que está registrado nos escritos da Torá – a levantar a questão.
“Por favor, mostre-me os Seus caminhos...” – perguntou Moshe a Deus – “Por que para certos justos tudo vai bem... Porém, para outros, ocorre sofrimentos?” (Talmud, Berachót 7a)
[Mais adiante traremos a passagem do Talmud que relata a pergunta de Moshe Rabeinu e a resposta que ele recebeu]
A Resposta... O Motivo dos Sofrimentos Por vários motivos uma pessoa boa pode vir a sofrer. O ser humano, por suas limitações, não possui meios de entender o motivo de cada sofrimento em particular; portanto, não estamos aptos a julgar outras pessoas – dizendo que os seus sofrimentos são consequências de “tal” atuação ou de “tal” comportamento. De fato, para cada sofrimento existe um motivo; para isso existem regras determinadas pelo Criador – elas serão explicadas em seguida. Cada sofrimento se enquadra em alguma dessas regras. “Para cada pessoa Deus deu uma parte da sabedoria que permite conhecer o funcionamento do mundo. No entanto, nenhum ser humano é capaz de conhecer e entender todos os caminhos traçados pelo Criador, tampouco é capaz de saber o momento de sua morte” (Kohelet - Eclesiastes 3, 11 com Rashi) Devemos ter em mente que cada situação em nossas vidas é criada com o objetivo de consertar – ou seja – completar o objetivo pelo qual nós fomos criados, com uma grande precisão, a partir de uma visão global de toda a Criação. Para que seja possível entender como todos acontecimentos estão relacionados, o ser humano teria que inteirar-se de todos os detalhes da Criação; e isto está além de sua capacidade. Porém, os conceitos gerais para entender as regras da Providência Divina em relação aos sofrimentos nos foram reveladas – Este conhecimento por si só já é uma grande aquisição e nos oferecerá meios para que possamos nos relacionar com a realidade de forma produtiva. Neste capítulo traremos os conceitos básicos que explicam os motivos do sofrimento de forma geral. Apesar de não estarmos aptos a julgar outras pessoas pelos sofrimentos com os quais elas se encontram; tampouco estamos capacitados a entender o motivo do sofrimento em cada caso em particular, de todos modos, os conceitos nos foram revelados... Conceitos
1. Causar uma reavaliação dos atos – de forma geral; ou consertar determinada transgressão – de forma particular Caso a pessoa perceba que sofrimentos chegaram em sua vida – ela deve fazer uma análise de seus atos, como está escrito (Eichá 3, 40): “Procuremos analisar nossos caminhos e retornaremos para o Eterno” (Berachót 5a). Este tipo de sofrimento é causado pelos nossos próprios atos, ele tem como objetivo despertar a pessoa à apegar-se mais aos valores verdadeiros e eternos. Inclusive uma pessoa justa, por cometer certa transgressão ou por algum costume errôneo, poderá passar por uma situação de sofrimento para proporcioná-la a retificação e o aprimoramento. Assim, cabe a cada um descobrir em que áreas falhou e onde cometeu erros – refletir e arrepender-se dos mesmos. Caso, após a análise, não encontrar nenhuma falha – provavelmente o motivo é por não dedicar-se suficiente ao estudo da Torá – como está escrito: “Feliz o homem que, por ser reprendido por Deus, se interessa pelos ensinamentos da Torá” (Tehilim 94, 12 com o comentário do Metsudat David). 2. “Acerto de contas” Geralmente, a falta do conhecimento global dos acontecimentos causa a impressão de uma aparente injustiça... Por exemplo, imaginem a uma pessoa que começa a assistir pela primeira vez o capítulo 26 de uma novela... Quantas perguntas surgirão? “Coitadinho... Por que ele foi preso?” “Por que essa mulher está no hospital?” “Por que essa jovem está gritando com o pobre homem... O que foi que ele fez para ela?” etc., etc... Porém ela não sabe que no capítulo 6, esse homem que está sendo preso, havia assaltado um museu; no capítulo 20, a mulher que se encontra no hospital havia dado a luz; no capítulo 25, o “pobre homem” tentou agredir a jovem; etc., etc... Consta no Midrash que, quando Moshe Rabeinu pediu para que Deus lhe mostrasse Seus caminhos, Ele mostrou para Moshe um acontecimento aparentemente injusto. Moshe percebeu que a bolsa de um homem havia caído e ele partiu deixando a bolsa para trás. Logo chegou uma outra pessoa, encontrou a bolsa e se foi com ela. O primeiro homem retornou para procurá-la e deparou-se com uma outra pessoa que se encontrava naquele local. Ele o repreendeu: “Você agarrou a minha bolsa!” Esta outra pessoa respondeu honestamente: “Eu não agarrei nada!” Então o primeiro homem, pensando que esta pessoa roubou a sua bolsa, agrediu-a fortemente e ela morreu. Ao ver esse episódio, Moshe Rabeinu – abismado – pediu para Deus explicar-lhe o ocorrido. Atendendo a seu pedido Deus lhe explicou: “Tudo o que você viu é justo; o
primeiro homem – o “dono” da bolsa – de fato, é um ladrão, a bolsa que estava em sua posse havia sido roubada justamente dessa pessoa que a encontrou – recuperando dessa forma a sua própria bolsa; e essa última pessoa – que foi assassinada – havia matado o pai desse homem que o matou. Logo o filho veio acertar as contas de seu pai (porém, a história não terminará assim; pois, esse novo assassino, também será julgado pelo assassinato que cometeu, logo, também ele terá que acertar as contas... como está escrito no Tratado Ética dos Pais (Cap.II): “...Pelo fato de ter afogado uma pessoa, você foi afogado; porém, finalmente, quem te afogou também será afogado”). [Moshav Zkenim, Baalei HaTossafot, Mishpatim] Em seguida traremos um caso semelhante onde o famoso Sábio, conhecido como Baal Shem Tov, explica os motivos de aparentes injustiças através do conceito da reencarnação. 3. Reencarnação 3a. “Acerto de contas” de outra reencarnação Uma das regras reveladas – explica que uma das causas do que ocorre com as pessoas neste mundo é causado pela própria conduta da pessoa em outra reencarnação; isso ocorre segundo os critérios estabelecidos pelo Criador para completar todos os temas pendentes. As contas que não foram acertadas em uma mesma reencarnação, serão acertadas em outra... Por exemplo, certas crianças nascem com alguma deficiência física, com problemas de saúde ou com um nível de pobreza excessivo como consequência de sua vida anterior (Chafets Chaim, Parashat Haazinu); uma pessoa que matou alguém poderá trazê-la de volta em outra encarnação, como seu filho por exemplo. Assim, da mesma forma que ela o tirou deste mundo terá de fazê-lo regressar (Ramak no livro Shiur Chochmá); uma pessoa que roubou algo de outra pessoa e não devolveu, os dois poderão voltar em uma nova encarnação, e o furto será reembolsado (Gaón de Vilna, Mishlei 14,25; em seguida taremos uma história do Baal Shem Tov para ilustrar este conceito). A alma da pessoa que roubou não terá conserto até que reembolse o furto (Chafets Chaim, Sfat Tamim cap.4). Certas condições em que uma pessoa se encontra na sua vida atual podem ter sido determinadas por atos cometidos em outras vidas. A propósito, esta é uma das explicações para o fenômeno aparentemente injusto do sofrimento que ocorre com as pessoas justas (Livro Derech Hashem, “Os Caminhos de Deus”, parte 2 cap.3). Está escrito no Zohar (Zohar Chadash, Ki Tetsê) — possivelmente serão decretadas algumas dificuldades na vida de uma pessoa que em sua vida anterior não tenha sido tão justa. Deus poderá dar uma nova oportunidade para a alma regressar e concretizar o objetivo destinado originalmente. Porém, certas condições serão impostas à nova jornada. Estas condições serão necessárias para retificar os atos realizados na encarnação anterior. Ao deparar-se com dificuldades em sua vida atual — concedida como uma oportunidade de
reparar o dano em sua vida anterior — deve-se ter em mente que o mérito de cada ato será proporcional ao esforço exigido em sua realização. Estas dificuldades exigirão da pessoa um acréscimo de esforço para superá-las. E, evidentemente, o reparo para sua alma também será maior, chegando a poder retificar todo o mal causado em sua vida anterior (O Místico Cap. Reencarnação). Um dos alunos do Sábio conhecido como Baal Shem Tov, pediu para que seu mestre lhe explicasse o motivo pelo qual o Zohar trouxe o tema da reencarnação justo na passagem da Torá que explica sobre as leis de perdas e danos (Parashat Mishpatim)... Em uma certa oportunidade o Baal Shem Tov disse para ele viajar à um determinado local que se encontrava em um bosque, ali ele encontraria uma árvore e uma fonte de água embaixo dela; pediu para que ele esperasse e observasse o que aconteceria; e quando fosse seis horas em ponto viesse procurá-lo. O aluno viajou para o local indicado por seu mestre e logo percebeu que uma pessoa armada chegava com seu cavalo; ela estava cansada... comeu dos frutos, tomou da água e seguiu a viagem... porém, ele seguiu sem a carteira, pois havia esquecido ali no local. Depois, chegou ali outra pessoa que, quando estava pronta para descansar embaixo da árvore, encontrou a carteira, e foi embora com ela. Logo depois chegou ali uma pobre pessoa que estava cansada, comeu o pão que trazia consigo, tomou da água da fonte e deitou-se para descansar. Então, chegou a primeira pessoa que havia esquecido a carteira... Ele perguntou para o pobre homem que descansava embaixo da árvore onde estava a carteira que havia esquecido ali... Ele respondeu honestamente que não sabia. A pessoa que havia esquecido a carteira não acreditou no que ouvia e espancou fortemente o pobre homem exigindo que o devolvesse a carteira... As seis horas em ponto o aluno de Baal Shem Tov foi procurá-lo em sua casa, como o combinado, e contou para ele tudo o que havia presenciado. Então o Baal Shem Tov lhe explicou... “Em uma outra reencarnação, a primeira pessoa – que havia perdido a carteira – devia a mesma quantia de dinheiro que se encontrava na carteira para a segunda pessoa que a encontrou e não lhe havia pago; naquela outra reencarnação, eles foram para um tribunal onde o juiz era – nada mais e nada menos – que essa terceira pessoa que foi espancada; naquela outra reencarnação – como juiz – ele havia atuado negligentemente em seu veredito; ele isentou o culpado de pagar a dívida sem averiguar o tema devidamente; portanto, ambos regressaram e se encontraram nesta nova reencarnação para acertar as contas... A primeira pessoa finalmente pagou a sua dívida para a segunda; e o juiz recebeu o seu castigo por julgar com negligência. Dessa forma o Baal Shem Tov explicou para o seu aluno o motivo do Zohar explicar o tema da reencarnação justo na passagem da Torá que trata das leis de perdas e danos. [Baal Shem Tov Al Hatorá, Mishpatim, Heará 1; vide Hakdamá Sefer Haguilgulim com Matok Midvash página 5] 3b. “Mazal” – As condições de vida necessárias para o cumprimento de sua função
Às vezes, a situação de sofrimento que a pessoa se encontra, é parte intrínseca de sua função no mundo – ou seja, superar as suas provas através do cumprimento das mitsvót nestas condições de dificuldades é a maneira desta pessoa cumprir com a missão que lhe foi designada; possivelmente, esta situação é um fruto de sua vida em outra reencarnação. Neste caso, mesmo tendo conquistado grandes méritos, a sorte da pessoa não mudará, como consta no Talmud (Tratado Taanit 25a) em relação ao Rabi Elazar ben Pedat, que apesar dos seus grandes méritos, nunca conseguiu mudar a sua má sorte (Michtav MeEliahu parte 4, Páginas 98 a 100). Assim explica o Zohar (Tikun 69, folha 100b), que apesar do Rabi Elazar ben Pedat ter sido um justo perfeito, uma vez que veio consertar uma transgressão que cometeu em outra encarnação, recebeu uma sorte (mazal) desfavorável em suas condições de vida – pois somente desta forma poderia consertar o estrago que a transgressão de outra vida causou em sua alma. 4. Meio de adquirir benefícios Existem dois tipos de acontecimentos na vida de uma pessoa: a. quando o acontecimento serve de meio para alcançar um objetivo; b. quando o acontecimento é o próprio objetivo. a. Os acontecimentos que nos chegam como objetivo – Este tipo de acontecimento se enquadra em um dos motivos enumerados neste capítulo. b. Os acontecimentos que nos chegam como um meio – Eles servirão de meio para alcançar alguma meta; ou seja, através deles chegará à pessoa – ou à um terceiro – um outro acontecimento como objetivo – Por exemplo, a vaca de uma determinada pessoa quebrou a perna e, como consequência deste transtorno, ela terminou encontrando um tesouro enterrado no local... (Midrash Eliahu Hanavi) Está escrito explicitamente em Isaias (57,1- 2 com Rashi): “O Tsadik faleceu e as pessoas não entendem que, pelo mal que virá e m um futuro próximo, ele faleceu”; as pessoas pensarão que não existe justiça (Malbim) em vez de pensar “Por que será que eles faleceram?”; Porém Deus o retirou deste mundo para o seu próprio bem; para partir deste mundo em paz e não ver o mal que virá (em seguida)... 5. Estímulo Uma pessoa de nível intermediário, ou mesmo de nível elevado que, todavia possa alcançar novos níveis espirituais, poderá receber algum tipo de sofrimento como estímulo – algo que fará a pessoa quebrar a rotina diária e intensificar o seu aprimoramento pessoal e espiritual. Deus não quer que a pessoa se desvie de seu objetivo – de sua função – é uma pena desperdiçar uma conquista que lhe trará frutos para toda eternidade por algum motivo supérfluo – portanto, por algum mérito adquirido, certos sofrimentos poderão chegar à pessoa para despertá-la. Caso ela não perceba a mensagem, então poderá receber novos sofrimentos como expiação.
Às vezes, certos acontecimentos poderão vir para nos impedir de concretizar uma ação que, apesar de nos parecer ser correta, por algum motivo desconhecido, não será para o nosso bem... O Grande Sábio conhecido como Chafets Chaim, tentou algumas vezes mudar-se para a Terra de Israel. Estranhamente, percebeu que, a cada tentativa de mudança, sucedia algum tipo de impedimento. O Sábio recebeu este fato como um sinal Divino para que não deixasse o lugar onde estava vivendo – pois percebeu que, por algum motivo desconhecido, havia algo impedindo-o de fazê-lo (Sábio Yehuda Ariê no livro Kuntras sheelót metsuiót, parte 3, página 90). [ Nota: Não se deve extrair conclusões a partir de sinais irracionais; porém, quando o sinal observado tem relação direta com a finalização ou realização de alguma tarefa — como no exemplo supracitado, em que o Sábio Chafets Chaim tenta finalizar uma ação e percebe que há algo impedindo-o de fazê-lo — a conclusão segue uma sequência lógica então, o surgimento de repetidos obstáculos pode ser interpretado como um sinal de Deus para que esta ação seja interrompida. É claro que cada caso terá que ser analisado segundo o seu entorno (Vide O Místico Cap. Crenças vãs e superstições)] 6. Expiação 6a. Expiação pessoal Moshe Rabeinu em uma profecia – querendo entender este tema – pediu para Deus uma explicação... “Por favor , mostre-me os Seus caminhos...” – perguntou Moshe a Deus – “Por que para certos justos tudo vai bem... Porém, para outros, ocorre sofrimentos?” Moshe recebeu a resposta... “Para uma pessoa totalmente justa – tudo vai bem; porém, para um justo não completo – ou seja, que cometeu certas transgressões – ocorrerão sofrimentos. Uma pessoa totalmente perversa tem uma vida sofrida; porém, uma pessoa perversa que possui méritos – por certas boas ações que realizou – poderá encontra-se com boas condições de vida...” (Talmud Berachót 7a). Consta no Talmud (Kidushin 39b com Rashi): Todas as pessoas que seus méritos são maiores que suas transgressões – provavelmente – alguns sofrimentos virão à ela; ela poderá ser considerada, pelo público de forma geral, um transgressor; eles pensarão: “Ora, se ele fosse uma pessoa justa, por que haveria de sofrer?” Por outro lado, todas as pessoas que suas transgressões são maiores que seus méritos – provavelmente – receberão benefícios; a pessoa poderá ser considerada, pelo público de forma geral, um justo que cumpre todos os preceitos da Torá; eles pensarão: “Certamente todos esses benefícios vieram a ele pelo mérito de suas boas ações...”. Como podemos entender esta passagem do Talmud? Justo o oposto!?
Uma pessoa que possui mais méritos do que transgressões – a Providência Divina se preocupará em acertar as contas dela neste mundo – para consertá-la; possibilitando-a chegar de forma digna no mundo espiritual e usufruir dos méritos conquistados pelos seus bons feitos; portanto, alguns sofrimentos virão à ela; portanto, parecerá aos olhos do público – que não conhecem os caminhos da Providência Divina – um transgressor; o contrário acontece com uma pessoa cujas transgressões superam os seus méritos – que receberá benefícios neste mundo como recompensa dos bons feitos realizados por ela, deixando de receber os benefícios no mundo espiritual. 6b. Expiação de toda geração Uma pessoa justa pode receber sofrimentos para expiar as transgressões de outros indivíduos que vivem em sua geração. Uma vez que o justo recebe esses sofrimentos de forma correta, trará benefícios para toda geração e, por sua vez, o próprio justo – que serviu de meio para todo esse benefício – usufruirá de uma grande elevação espiritual – ele receberá uma posição especial para a eternidade. Às vezes existe um duro decreto para a geração – e o justo com os seus sofrimentos – revoga o decreto salvando à todos. 7. Concluir determinadas metas da Criação Com o aumento das transgressões – a clareza espiritual e o bem real ficaram cada vez mais ocultos. O mundo encontra-se em uma situação muito ruim (degradado), de todas formas, o Criador fará que tudo chegue à seu devido conserto. Uma pessoa que cometeu uma transgressão causou com que o bem se ocultasse, portanto ela própria é que deveria servir de meio para recompor o mal que causou; porém, nem sempre ela está capacitada para este fim; portanto, um justo íntegro, poderá consertar o que os outros estragaram – Desta forma, ele também receberá novos méritos e suas forças serão renovadas – inclusive poderá consertar os estragos feitos em uma outra geração... é claro que esta pessoa se encontrará em uma posição eterna mais elevada. 8. Provar a pessoa; e proporcioná-la atingir o máximo de seu potencial. Existem situações de sofrimentos que vem para provar a pessoa – para testá-la de acordo com o nível em que ela se encontra. Ao passar pelas provas, ela será duplamente recompensada e seus méritos multiplicados. De acordo com o nível de dificuldade será o nível do benefício conquistado. [Para expressar este conceito traremos uma passagem extraída do livro “O Livro de Yona” (capítulo O Poço de Luz de Rabi Akiva)]
Raban Gamliel, um Sábio que viveu a cerca de dois mil anos atrás nos relata que uma vez estava viajando em um barco e viu um outro barco se romper e naufragar, sentiu muita dor em especial pela vida do grande Sábio Rabi Akiva que se encontrava naquele barco. Raban Gamliel, após ter chegado de viagem, surpreendeu-se ao ver Rabi Akiva chegar e se ocupar com o estudo de Torá na sua frente. Raban Gamliel impressionado perguntou ao Rabi Akiva: "Quem te salvou?" Rabi Akiva respondeu: "Uma tábua que se soltou do barco apareceu perante mim...", então Rabi Akiva se agarrou a esta tábua. Rabi Akiva continuou a narrar: "...Quando uma onda do mar vinha em meu encontro eu mergulhava a minha cabeça dentro da água, até que a onda passava por sobre mim e continuava adiante". Desta forma Rabi Akiva aproveitava do impulso da onda, "onda trás onda", até que chegou em terra firme e se salvou. Nossos Sábios revelaram que por trás do significado simples desta história, ela foi escrita no Talmud também para nos transmitir ensinamentos em um outro nível de entendimento, assim como as demais histórias que foram relatadas no Talmud. Análise do relato em um outro nível de entendimento Em um outro nível de entendimento, o mar também faz uma alusão a este mundo, as ondas uma alusão aos sofrimentos que a pessoa passa em sua vida e a água alusão a Torá. Rabi Akiva explicou: "Quando uma onda do mar vinha em meu encontro...", ou seja, neste outro nível de entendimento, quando uma dificuldade ou sofrimento aparece na vida de uma pessoa... "...eu mergulhava minha cabeça dentro da água...", ou seja, neste momento de dificuldade e sofrimento a pessoa deve fazer uma introspecção, ocupar a sua cabeça e analisar como aperfeiçoar os seus atos, como melhorar suas qualidades pessoais e como cumprir melhor com suas responsabilidades neste mundo se baseando na sabedoria da Torá ("mergulhar a cabeça dentro da água")... "...até que a onda passava por sobre mim...", desta forma Rabi Akiva aproveitava o impulso da onda, "onda trás onda", até que chegou em terra firme e se salvou, ou seja, caso nós atuarmos desta maneira nos momentos de dificuldade, nós vamos estar crescendo como pessoa, as dificuldades vão passar por nossas vidas, e ao superá-las, nós estaremos usando do "impulso" deixado para o nosso aprimoramento pessoal e crescimento espiritual, e assim, "impulso trás impulso" estaremos conquistando novos níveis de formação pessoal. Em uma nova análise podemos concluir que na verdade tanto o mar quanto as ondas são formadas de água, ou seja, na realidade, nossas vidas e as dificuldades ou os sofrimentos que passamos fazem parte de um grande cenário no qual o único objetivo é nos dar as condições necessárias para que possamos atingir o máximo de nosso potencial. Rabi Akiva passou por várias dificuldades em sua vida, somente com quarenta anos começou a se dedicar com muita dificuldade ao estudo da Torá, passou pela
destruição do Segundo Templo, destruição da grande cidade de Beitar, passou por duros decretos e inclusive foi aprisionado. A última e maior "onda" que passou pela vida de Rabi Akiva foi o momento de sua sofrida morte, porém mesmo neste momento ele não quis perder a oportunidade de aproveitar o “grande impulso” que lhe estava sendo proporcionado. Portanto, também neste momento ele recebeu sobre si a unicidade de Deus, reconhecendo que inclusive aquele difícil episódio fazia parte de um grande cenário criado para o seu crescimento pessoal. O Talmud (Berachót 61a) conclui este relato exclamando “Feliz é Rabi Akiva cuja alma partiu enquanto recebia a unicidade de Deus (inclusive naquele momento tão difícil), feliz é você Rabi Akiva que está convidado a entrar diretamente no Mundo Vindouro”. Conclusão... É claro que não devemos julgar uma pessoa pelos sofrimentos em que ela se encontra, tampouco temos capacidade de entender cada caso em particular – porém os conceitos gerais nos foram entregues... Devemos ter em mente que a essência de cada acontecimento é aproximar a Criação do objetivo pelo qual ela foi criada; todos esses temas são controlados pelo Criador. Atualmente, por nossa limitação física, não é possível alcançar uma visão suficientemente clara para entender o motivo real de cada caso em particular; esta visão nos será entregue no momento em que finalmente o objetivo da Criação for concretizado. Está escrito no Midrash: “Até a geração de Itzchak, os sofrimentos não faziam parte da vida das pessoas; Itzchak suplicou para Deus trazer sofrimentos. .. “Criador do universo, caso as pessoas morrerem sem haverem sofrido durante suas vidas, após a morte elas chegarão no mundo espiritual carregando todas as transgressões que cometeram e receberão uma dura sentença... Caso elas recebam uma dose de sofrimento durante a vida, poderão expiar pelas transgressões e a sentença será bem mais branda. Deus respondeu em uma profecia: “Pedistes algo bom...” (Baseado em Bereshit Rabá 65, 9 com Matanót Kehuná) A resposta que Itzchak recebeu (assim como a resposta que Moshe Rabeinu recebeu, como citamos anteriormente) nos ensina que os sofrimentos de um justo, em outra dimensão – mais elevada e real, é para o seu próprio bem... Pode ser comparado com a operação de um tumor... A OPERAÇÃO Dr. Luís Carlos, médico cirurgião, estava preparando-se para assistir em sua casa o vídeo de uma complicada operação realizada por seu companheiro de trabalho. Ele desejava assistir como o seu amigo retirava um complicado tumor em determinada situação; em seguida, ambos encontrar-se-iam para debater o tema, dessa forma desenvolveriam e aperfeiçoariam novas técnicas de trabalho.
O filho de sete anos – percebendo o grande entusiasmo ao redor do tema – sentou-se com o seu pai para assistir este “interessante” filme. Logo viram o corpo de uma pessoa deitada na mesa de operação. O médico começou a cortar o local previamente marcado... O filho perplexo perguntou: “Pai, esse homem é bom ou é mau?” Pai: "Ele é bom, meu filho”. Filho: “Então por que ele está cortando essa pessoa que está dormindo?” Pai: “Ele é um médico. Ele quer salvá -la!” Filho: “Se ele quer salvá-la, ele teria que fazer para ele coisas boas... Dar para ele chocolate, uma bala, não deveria estar cortando esse pobre coitado...” Pai: “Meu filho, dentro do corpo dessa pessoa tem uma doença – um tumor – se ele não retirar de dentro dela esse tumor, ela não viverá muito tempo. Este é o motivo que levou o médico a atuar dessa forma; ele quer retirar o tumor para salvá-la. Realmente pode parecer que ele está fazendo algo ruim; em geral, cortar o copo de outra pessoa é um ato ruim. Porém, neste caso, é o contrário – se ele não cortar o corpo dessa outra pessoa, ele não terá como salvá-la. Logo, ele seria uma pessoa ruim se não cortasse!!!” Filho: “Mas pai... Como pode ser... Quem colocou esse tumor dento dela?” Pai: “Meu filho... um tumor pode nascer em uma pessoa por vários motivos...” Assim também ocorre com as pessoas que – por falta de uma visão global – recebem uma imagem limitada da Providência Divina. Elas analisam o “corte” sem a consciência da existência de um “tumor”; ou mesmo estando conscientes da presença de um “tumor” não entendem o motivo de seu crescimento... Porém, tendo a consciência de que o “corte” está sendo realizado por um “Doutor confiável”, podemos confiar que existe um objetivo que torna esta “operação” necessária.
A Origem da Dúvida Devido o ‘infinito’ de Deus, podemos entender somente parte de Sua providência que nos foi revelado na Criação ou nas escrituras, porém, nossas limitações, não nos permite entender de Sua essência em absoluto. Ele é único e não existe nenhum outro poder fora Dele ou que tenha se juntado a Ele. Porém, ao perceberem em nosso mundo a existência do bem e do mal, muitas pessoas se equivocam ao concluir que existem dois poderes independentes – o poder do bem “nas mãos” de Deus, e o poder do mal “nas mãos” do “diabo” ou algo do gênero. Muitas vezes, esta falsa conclusão é proveniente de uma visão limitada da atuação Divina... A visão popular foi influenciada pela ideia de que uma entidade boa é caracterizada pelos atos de benevolência – entregar presentes, sempre estando pronto para ajudar independente de qualquer pré-condição... esta ideia causa uma deturpação no conceito da palavra “Deus”. Quando falamos que Deus é bom, estaremos limitando a Sua
atuação a este falso conceito – logo este “deus” não será o verdadeiro Deus citado na Torá, é outro “deus”, como se fosse uma idolatria com o mesmo nome de Deus, pois um controle justo e verdadeiro exige uma atuação diferente para cada caso. Um pai para fazer o seu filho crescer e prosperar tem que repreendê-lo em diversas ocasiões – desta forma ele será um bom pai de verdade. A bondade é um dos atributos de Deus, existe também o atributo de justiça – entre outros – e em cada caso haverá um equilíbrio apropriado de bondade e justiça para que o bem verdadeiro possa ser alcançado. A pessoa imagina o que seria uma pessoa extremamente bondosa e transfere essa definição para Deus, formando desta forma a imagem de Deus em sua mente dentro dessas limitações. Assim, o cenário para o erro já está formado; agora qualquer acontecimento que, segundo o seu entendimento, contradiz este princípio – por exemplo: o sofrimento de uma pessoa boa, uma guerra, um desastre ecológico, etc. – causará uma contradição na existência de um Deus ou à conclusão da existência de um poder independente do lado do mal, o que é considerado idolatria. Porém, somente a imagem que estava formada na cabeça da pessoa foi contradita, pois na verdade esse deus que estava formado em sua cabeça nunca existiu; era simplesmente uma imagem ilusória formada pelo entendimento limitado do “bem” existente nessa pessoa. Como uma criatura limitada pode definir o Criador que não está limitado? O bem de Deus é ilimitado; Ele visa preparar a pessoa para usufruir um prazer eterno.
A Atuação do Bem e do Mal
No mundo em que vivemos, podemos perceber a atuação do bem e do mal; as suas diferenças estão visíveis aos nossos olhos. Porém – ocultamente, por detrás da atuação do bem e do mal, encontra-se a interferência da integridade Divina – direcionando todos os acontecimentos da Criação para um bem mais elevado. Todo o objetivo da existência do mal foi proporcionar o livre arbítrio, oferecendo ao ser humano a possibilidade de optar em que caminho seguir – com quem se conectar; ao ser concluído, os planos de Deus serão revelados; a presença e a atuação do mal serão eliminadas, pois a sua existência já não será mais necessária. [Baseado em Derech Hashem]
X
Torá Oral
Existem duas “Torót”? A Torá Oral é Divina? Qual a diferença entre a Torá Oral e a
Torá Escrita e sua necessidade?
E
scutamos um velho argumento na boca de várias pessoas: “Eu acredito na Torá Escrita, porém não na Torá Oral!” “Quem disse que realmente a Torá Oral é verdadeira?”
Em seguida, analisaremos esta questão de forma básica e profunda. A primeira informação que se deve ter em mente é que a própria Torá Escrita menciona a existência da Torá Oral. Está escrito no Livro Levítico (26, 46): 46): “Estes são os estatutos e as leis e as Torót (a palavra Torá Escrita no plural – ou seja, duas Torót) que deu o Eterno entre Si e o Povo de Israel, no Monte Sinai, através de Moshé (Moisés)” – A palavra Torá Torá está escrita no plural para nos ensinar que foram entregues no Monte Sinai duas Torót – uma escrita e outra oral (Rashi, Sifra). Sifra). A Torá começa com a letra “Beit” – – a segunda letra do alfabeto judaico – para nos aludir à existência de duas Torót – escrita e oral (Meiri; Torá Meirá 1). Eduardo, uma pessoa interessada em entender um pouco mais a respeito de sua religião – o judaísmo – encontrou-se encontrou-se “casualmente” ao lado de um estudioso da Torá e não perdeu a oportunidade. oportunidade. Entre outros temas, Eduardo olhou para o Sábio e perguntou: “Estou de acordo somente que a Torá Escrita foi entregue por Deus... porém, quem disse que a Torá Oral também é Divina?” “Está bem” - respondeu o Sábio ; “Você afirma estar de acordo que, pelo menos, a Torá Escrita é verdadeira; então vamos lá! Você está disposto a tentar cumpri-l a?” cumpri-l a?” “Estou” - respondeu Eduardo ; “me ensine aos poucos as leis que estão escritas na Torá e me esforçarei em cumpri-las”. cumpri- las”. sábio. “A Torá nos fala sobre os “Começaremos por uma lei bem simples...” - propôs o sábio. Tefilin... você sabe o que são os Tefilin?” Eduardo: “É claro, várias vezes eu já coloquei Tefilin antes de sair para o trabalho”. “Você está vendo esta etiqueta?” - perguntou o Sábio. Sábio. Eduardo: “Estou”. “A partir de hoje, em vez de colocar o teu Tefilin, você – todos os dias – deverá colocála – ou qualquer outro adesivo de sua vontade – sobre a tua mão e entre os teus olhos, ou em cima de teu nariz; nariz; assim está escrito na Torá... Amarrarás como um sinal sobre sobre tua mão e ...entre os teus olhos; se você preferir coloque uma fatia de pepino, uma bolinha amarela ou simplesmente faça um desenho; qualquer coisa servirá de sinal!” “Vou parecer um palhaço com Tefilin colorido, todo mundo sabe o que é um Tefilin!” respondeu Eduardo , meio que em estado de choque. choque. Sábio: “Como todo mundo sabe?” Eduardo: “Assim foi sendo passado de geração em geração, desde que a Torá foi entregue, que o Tefilin é quadrado, pintado de preto, etc... exatamente como todos nós conhecemos. Quem mudar vai ficar parecendo um palhaço”.
Sábio: E Sábio: E como a geração que recebeu a Torá sabia como fazer um Tefilin? – A Torá não explica!?” Eduardo: “Isso deve ter sido explicado para eles – para que pudessem cumprir com este mandamento”. mandamento”. Sábio ; “Exatamente “Justo!!!” - exclamou o Sábio ; “Exatamente isto é a Torá Oral”. “Neste ponto eu concordo, uma vez que e les tinham que saber como colocar Tefilin, é óbvio que também receberam a explicação de como fabricá-lo, onde e como amarráEduardo. lo; porém nos outros temas eu não concordo!” - retrucou Eduardo. Sábio: “Está bem, passaremos para o próximo mandamento básico... co mer casher; também este mandamento está na Torá Escrita. Vários mandamentos da Torá estão em torno de nossa alimentação – quais animais estão permitidos comer e quais estão proibidos; as espécies de peixes permitidas e as proibidas; não misturar carne com leite, etc... – tudo está explícito na Torá. Você está pronto para começar?” Eduardo: “É claro, eu já não falei que acredito na Torá Escrita?! Tampouco me parece difícil, vários lugares vendem comida casher; também eu tenho um amigo que come casher, ele poderá po derá me ajudar!”. Sábio: “O que você pretende fazer? Como você comerá casher? Eduardo: “Como assim? Vou comprar comida em uma loja que vende casher!” Sábio: “Como você sabe que lá vende casher?” Eduardo: “Provavelmente deve ter um certificado...” Sábio: “Você pode comprar em um açougue normal, é mais barato!” - propôs o Sábio. Eduardo: “Mas não é casher...” “Por que não?” - perguntou o Sábio ; “Ali eles também abatem o boi com um golpe fatal... assim está escrito escrito na Torá: E abaterás abaterás de teu gado gado ou do teu rebanho... como Eu te ordenei, e (então) comerás... (Devarim 12, 21) Eduardo: “O que o Sr. Já está querendo insinuar?” Sábio: “Justo!!! você já sabe o que eu estou pensando; outra vez eu te pergunto... como poderemos abater um animal – a Torá não está explicando como fazer; tampouco explica todo o processo de como preparar a carne para ser considerada casher... Você sabe que, além da maneira adequada de abater o animal, também existem leis de salgamento, separação das partes proibidas; devemos averiguar os órgãos do animal, etc... sem o cumprimento restrito destas leis a carne não será considerada casher”. O Sábio continuou: “Desta vez a Torá enfatizou explicitamente ...como Eu te ordenei... – esta é uma prova de que a Torá Escrita veio junto com uma explicação oral; or al; na Torá Escrita não encontramos as explicações; então à que se refere o versículo ...como Eu te ordenei... Quando foi ordenado? Obrigatoriamente houve uma explicação oral – pois, caso contrário, não haveria como cumprir este e os demais mandamentos – Isto não seria lógico! – uma vez que o objetivo da Torá é nos orientar como atuar, como Ela nos ocultaria o mais importante?... Ou seja, a explicação de como atuar!?! Todas as leis, por mais que aparentem ser simples, dependem da explicação oral
Em relação à mezuzá está escrito “...e escreverão nos portais de tua casa...” – O quê escrever? Onde escrever? Onde colocar? Poderíamos escrever diretamente nos portais como consta no versículo? Ou necessitaria um pergaminho? Com que tinta escrever? Que cor usar? Que tipos de portais requerem uma mezuzá? Assim explicaram os nossos sábios – Não existe uma mitsvá, por menor que seja, que poderíamos saber a sua explicação sem uma grande sabedoria... Além de não saber exatamente como atuar, também chegaríamos à falsas conclusões – contrariando, desta forma, as verdadeiras verdadeiras intenções da Torá (Beer Hagolá Beer 4, página 50). A Torá Escrita está “entrelaçada” com a Torá Oral, elas “vão juntas”. Poderíamos comparar com as peças de um jogo e as suas regras. Sem saber quais são as regras, não teremos como alcançar o proveito desejado de suas peças. Seguindo o nosso exemplo, a Torá Escrita seria comparada com as peças do jogo; e a Torá Oral com as suas regras. Nos resta perguntar... Como poderíamos cumprir e usufruir de seus preceitos sem o conhecimento adequado de como cumpri-los?! A Torá nos adverte uma porção de vezes em relação ao cumprimento do Shabat e da pureza do lar (ou seja, os períodos onde o relacionamento matrimonial deve ser interrompido) – leis básicas e fundamentais no judaísmo; poderíamos questionar... Por um lado a Torá enfatiza a importância dessas mitsvót, porém, como poderíamos cumpri-las? A Torá não explica de forma clara e abrangente as suas regras! Novamente, quem desejar cumprir adequadamente esses preceitos, obrigatoriamente deverá recorrer à Torá Oral; receber as explicações que foram entregues no Monte Sinai junto com a Torá Escrita. Quem atuar de forma distinta estará optando em utilizar os conceitos da Torá segundo uma interpretação especulativa – humana – deturpada; desconectando-se, desta forma, da verdadeira influência Divina adquirida pelo cumprimento da Torá. Ao modificar as regras, mesmo utilizando as mesmas peças, o jogo já não será o mesmo. Quando as regras da Torá são modificadas passará a ser uma outra Torá. O Talmud (Tratado Shabat 31a) relata o seguinte caso que ocorreu a cerca de 2000 anos atrás... Uma pessoa de um outro povo – ou seja, um não-judeu – apresentou-se perante o sábio Hilel e lhe perguntou: “Quantas Torót vocês possuem?” “Duas” – respondeu – respondeu o sábio – “Uma escrita e uma oral”. “Na Torá escrita eu acredito, porém na Torá Oral eu não acredito!” – afirmou a pessoa. pessoa. “Gostaria que o Sr. me convertesse ao judaísmo com a condição de me ensinar somente a Torá Escrita” – concluiu. – concluiu. “Está bem!” – Concordou – Concordou o sábio. “Hoje eu te ensinarei as primeiras letras do abecedário hebraico – Alef, Beit, Guimel, Dalet...”
No dia seguinte a pessoa regressou para aprender novas lições. Porém desta vez, para a sua surpresa, o sábio lhe ensinou o oposto; explicou que o antigo “Alef” era o “Beit”, e que o “Beit” era o “Alef”... tudo ao contrário. “Ontem o Sr. não me explicou desta forma!?” – comentou a pessoa. Então, o sábio concluiu: “Como você pode saber qual das letras é realmente a “Alef” e qual é a “Beit”? Somente através dos meus ensinamentos; você confiou nas minhas explicações orais para saber as letras, portanto também confie nas minhas outras explicações da Torá – a Torá Oral”. Não haveria inclusive como começar a ler sem considerar a transmissão oral!!
Por que chamamos a explicação da Torá de “Torá Oral”?
Todas as mitsvót foram entregues a Moshe Rabeinu no Monte Sinai junto com suas respectivas explicações – como está escrito (Shemot 24, 12): “Eu te dei as tábuas da lei, a Torá e os preceitos” , “Torá” - é a Torá Escrita; “preceitos” - são as explicações, pois devemos cumprir com a Torá seguindo as explicações que recebemos. Moshe Rabeinu, antes de deixar este mundo, escreveu toda a Torá com suas próprias mãos e entregou um livro para cada tribo, também escreveu e um livro para ser colocado no Aron Hakodesh (Arca Sagrada) para servir de testemunho. Porém, as explicações que recebeu de como cumprir os preceitos da Torá, Moshe não escreveu; ele transmitiu para os anciãos, para Yeoshua e também para todo o Povo de forma geral, portanto foi chamada de Torá Oral. Os Sábios de cada geração recebia a Torá Oral dos Sábios da geração anterior (Rambam, Introdução Yad HaChazaka). Originalmente, as explicações da Torá encontravam-se somente “na boca” das pessoas – ou seja – somente na mente dos integrantes de nosso povo e não foi escrita em um livro. Portanto, o pacto com o Povo de Israel foi firmado através da Torá Oral; pacto e conexão entre o Transmissor e o receptor (Maharal, Tiferet Israel; ver Tratado Guitin 60b). Desde os dias de Moshe Rabeinu até os dias de “Rebi” – Rabeinu Hakadosh, nenhuma obra explicando a Torá Oral foi escrita com o objetivo de ser ensinada em público (Rambam Hakdama Yad Chazaka). [Vide a nota no final do capítulo a corrente de transmissão da Torá Oral ao longo das gerações] Como a Torá Oral era registrada até os dias de Rabeinu Hakadosh? Em cada geração, O Sábio principal do tribunal Rabínico ou o Profeta daquela geração anotava para si próprio os ensinamentos que recebia de seus mestres para não esquecêlos; da mesma forma, cada pessoa escrevia para si próprio – segundo o seu nível de
entendimento – a explicação da Torá que recebia de seus Rabinos. Os ensinamentos que foram deduzidos através das regras pelas quais a Torá é estudada – e foram aceitos pelo Grande Tribunal Rabínico – também foram escritos. Assim continuou até a época do Rabeinu Hakadosh – conhecido como Rebi – quem coletou todos os ensinamentos que receberam desde os dias de Moshe Rabeinu e – a partir deles – escreveu as Mishnayot . Ele ensinava para os Sábios publicamente e finalmente as Mishnayot foram divulgadas e escritas por todo o Povo de Israel. Por que Rebi decidiu escrever a Torá Oral e não deixou a transmissão seguir como da forma anterior? Rebi percebeu que os estudiosos da Torá estavam diminuindo e os sofrimentos de nosso Povo crescendo; O Império Romano se expandia pelo mundo e o Povo de Israel fugindo de canto a canto, portanto – 34 gerações após a entrega da Torá – decidiu escrever uma obra que estaria presente nas mãos de todos para que pudessem estudar rapidamente os conceitos da Torá Oral – dessa forma ela não seria esquecida. Passaram-se mais seis gerações – ou seja, 40 gerações desde Moshe Rabeinu – quando Rav Ashi escreveu o Talmud Bavli, cerca de 100 anos após Rabi Yochanan ter escrito o Talmud Yerushalmi. Os dois “Talmudim” são explicações das Mishnayot, esclarecimento de sua profundidade entre outros temas que foram desenvolvidos; eles – juntos com as outras obras que vieram explicá-los – serviram de base para formar o código de leis judaico – como foi transmitido de geração em geração desde Moshe Rabeinu. Após Rav Ashi ter escrito o Talmud Bavli o Povo de Israel foi disperso por todos os países, incluindo as distantes ilhas; os conflitos se espalharam pelo mundo, o livre acesso entre os países foi interrompido pelas tropas; portanto, o estudo de Torá diminuiu bastante. Por que existem diferenças de costumes em cada comunidade? Após o encerramento do Talmud, em cada comunidade judaica em todas as partes do mundo, quando o tribunal rabínico local – por algum motivo – implantava um novo costume ou declaravam uma nova lei para a sua comunidade ou também para as comunidades vizinhas, esses costumes e sentenças não se espalharam para todo o Povo de Israel pela distância e dificuldades de acesso entre as comunidades. Um tribunal regional não tem a autoridade de impor os seus novos decretos para comunidades de outras regiões; uma vez que o Grande Tribunal de 71 Sábios anulou-se alguns anos antes do encerramento do Talmud, já não havia um tribunal com força de decidir uma orientação única para todo o Povo de Israel – em relação às novas dúvidas e costumes que surgiram após o Talmud ser finalizado. Porém, todos os ensinamentos encontrados no Talmud foram aceitos por todo o Povo de Israel – sem exceção – portanto, são obrigatórios para todas as comunidades de todos os países do mundo; todos eles foram baseados nas explicações que receberam de geração em geração desde Moshe Rabeinu.
Como saber onde se encontra a “verdadeira Torá”?
Assim ensinaram nossos Sábios à milhares de anos atrás – Em um futuro distante, como os nossos descendentes poderão saber onde se encontrará o caminho correto? Como poderão saber quem realmente estará com a “verdade em suas mãos”? Nós possuímos um sinal – um pacto; através dele, sempre poderemos saber onde se encontra o verdadeiro caminho... Simplesmente verifique com quem se encontra o conhecimento da Torá Oral – Saiba que ali se encontra o verdadeiro caminho... O caminho original! Como podemos saber que a Torá não foi distorcida? Para escrever um novo Sefer Torá – Livro da Torá escrito no pergaminho – deve-se ter em frente outro livro da Torá, pois não é permitido escrever, mesmo que uma só letra da Torá, sem copiá-la de outro livro. Deve-se ler cada palavra antes de escrevê-la; Deve-se escrever claramente cada letra, caso uma das letras escritas se pareça com outra letra do alfabeto hebraico, invalida todo o livro – até consertá-la; várias outras regras também são necessárias para que o escrivão possa escrever um livro da Torá casher; e mesmo depois de tantas precauções, o novo livro terá que ser conferido por peritos do ramo (Shulchan Haruch, Yorê Dea a partir do cap. 270). Qual foi a consequência de tantas exigências para poder escrever um novo livro de Torá? A Torá manteve-se imutável! Mesmo os pergaminhos dos livros de Torá encontrados em comunidades judaicas totalmente isoladas – após milhares de anos sem nenhum contato com as demais comunidades, estão escritos exatamente da mesmo forma como os nossos pergaminhos. Imaginem... Mesmo quando participamos do conhecido jogo do “telefone sem fio” – em cinco minutos, em um mesmo salão, com umas poucas pessoas – inclusive uma pequena sentença, muitas vezes “no final da linha” se encontra totalmente deturpada ou certamente alterada. Então... quantas alterações deveriam se encontrar nos pergaminhos da Torá? Milhares de anos passaram-se, comunidades inteiras em todas partes do mundo – muitas delas totalmente isolada das demais comunidades – vivenciaram guerras, extermínios, destruições... No entanto a Torá permaneceu imutável – em todos os locais do mundo. Mesmo em relação à Torá Oral – que por 34 gerações permaneceu somente nas mentes dos integrantes de nosso povo (quando as Mishnayot foram escritas; porém, o Talmud foi finalizado somente 40 gerações após a entrega da Torá) – não surgiram divergências e discussões em relação aos princípios básicos e fundamentais da Torá; e inclusive as divergências que surgiram ao longo das gerações no entendimento da Torá Oral são limitadas e foram registradas com grande precisão no Talmud (Rambam, introdução Mishnayot).
Para ilustrar a ideia supracitada – transmitida pelo Rambam – analisaremos em seguida uma famosa divergência em relação ao preceito dos Tefilin que surgiu em torno de 1000 anos atrás entre Rashi e Rabeinu Tam. Eles discutiram a ordem que deveriam ser colocados os pergaminhos do Tefilin da cabeça. Uma pessoa, ignorante em relação ao tema, poderia argumentar: “Veja só, como podemos saber se realmente os preceitos do Tefilin existiram? Inclusive os Sábios discutiram como ele deve ser feito!? Em tudo tem discussão?” Porém, será que essa pessoa realmente estaria interessada em entender o grande absurdo que está afirmando? Analisaremos em que estágio de entendimento surgiu a discussão. Ambos – Rashi e Rabeinu Tam – estão de acordo que existe algo chamado Tefilin; ambos concordam que existem dois preceitos relacionados ao Tefilin; ambos concordam que um dos preceitos se refere ao Tefilin que deve ser amarrado no braço – junto ao coração – e o outro em relação ao Tefilin da cabeça – que deve ser amarrado acima da testa entre os olhos. Ambos concordam que eles devem ser de couro; que o couro deve ser de um animal casher; que o animal não necessita ser abatido segundo os rituais da shechitá para ser utilizado no Tefilin; que o couro deve ser pintado de preto; que tipo de tinta usar; como amarrá-los no braço e na cabeça; o número de vezes que deve-se enrolar; que deve ter um nó na parte superior do braço e outro na parte inferior da nuca e de que forma fazê-los; que trechos da Torá deve-se colocar dentro dos Tefilin; que o Tefilin do braço deve ter somente um compartimento e o da cabeça deve ter quatros compartimentos; como escrever os pergaminhos e outras centenas e centenas de grandes e pequenas regras... Somente discutiram a ordem que se deve colocar os pergaminhos dentro dos Tefilin da cabeça... Ou seja, muito menos de 1% das regras entraram em discussão. Após milhares de anos de transmissão – este é o nível de discussão que surgiu nas explicações orais dos preceitos da Torá. “Com Israel Eu estabelecerei o Meu pacto – diz o Eterno. Mesmo na longa
diáspora... as palavras da Torá que Eu coloquei em tua boca para serem (estudadas e) ensinadas – jamais serão esquecidas. Não se apartarão de tua boca, nem da boca de toda a tua descendência – diz o Eterno – desde agora até o final de todas as gerações”
(Baseado em Yeshaiáhu 59, 21 com os comentários de Rashi e Metsudat David) Nota: Corrente de transmissão da Torá Oral: Todas as mitsvót foram entregues a Moshe Rabeinu no Monte Sinai junto com suas respectivas explicações; Elazar, Pinchas e Yeoshua receberam de Moshe; porém, Yeoshua foi ordenado a dar continuidade, transmitindo a Torá Oral depois de Moshe. Portanto, em todos os seus dias, preocupou-se em transmiti-la oralmente e vários Sábios receberam a Torá Oral através dele. Eli recebeu dos Sábios e de Pinchas. Shmuel recebeu de Eli e de seu tribunal, David recebeu de Shmuel e de seu tribunal; e assim os Sábios das novas gerações foram recebendo dos Sábios das gerações anteriores e de seus tribunais na seguinte ordem: Achia Hashiloni, Elisha, Yeoiada, Zecharia, Hoshea, Amós,
Yeshaiá, Michá, Yoel, Nachum, Chabakuk, Tsfania, Irmia, Baruch Ben Neria, Ezra (e seu tribunal que era formado por Chagai, Zecharia, Malachi, Daniel, Chanania, Mishael, Azaria, Nechemia ben Chachlia, Mordechai Balshan, Zerubavel e vários Sábios que formavam um total de 120, o último deles foi Shimon Hatsadik que recebeu a Torá Oral de todos), Antigonos Ish Sochó, Yossei Ben Yoezer Ish Tsreidá e Yossef Ben Yochanan Ish Yerushalaim, Yehuda Ben Tabai e Shimon Ben Shetach, Shmaia e Evtalion, Hilel e Shamai, Raban Yochanan Ben Zakai e Raban Shimon filho de Hilel (Rabi Yochanan Ben Zakai possuía 5 alunos que foram os principais Sábios que receberam dele a Torá Oral: Rabi Eliezer Hagadol, Rabi Yehoshua, Rabi Yossei Hakohen, Rabi Shimon Ben Netanel e Rabi Elazar Ben Arach), Rabi Akiva e seus companheiros (receberam de Rabi Eliezer Hagadol), Rabi Ishmael e Rabi Meir (Rabi Meir e seus companheiros também receberam de Rabi Ishmael; os companheiros de Rabi Meir são: Rabi Yehuda, Rabi Yossei, Rabi Shimon, Rabi Nechemia, Rabi Elazar Ben Shamua, Rabi Yochanan Hasandlar, Rabi Shimon Ben Azai, Rabi Chanania Ben Teradion; os companheiros de Rabi Akiva são: Rabi Tarfon, Rabi Shimon Ben Elazar, Rabi Yochanan Ben Nuri), Raban Gamliel Hazaken (recebeu a Torá Oral de seu pai Raban Shimon filho de Hilel), Raban Shimon filho de Raban Gamliel recebeu de seu pai; e transmitiu para seu filho que também se chamava Raban Gamliel; e transmitiu para seu filho que novamente se chamou Raban Shimon, Rabi Yehuda filho de Raban Shimon recebeu de seu pai e foi conhecido como Rabeinu Hakadosh (também recebeu de Rabi Elazar Ben Shamua e de seu companheiro Rabi Shimon). Rabeinu Hakadosh (também conhecido como Rebi) escreveu as Mishnayot. Os principais Sábios que formavam o tribunal de Rabeinu Hakadosh receberam a Torá Oral dele (assim eles se chamavam: Rabi Shimon e seu filho R.Gamliel, Rabi Efess, Rabi Chanina Ben Chama, Rabi Chia – que escreveu a Tossefta explicando temas das Mishnayot, Rabi Yanai, Bar Kapara, Shmuel, Rabi Yochanan, Rabi Hosháia – que junto com Bar Kapara escreveram as Braitót explicando as Mishnayot; e com eles milhares e milhares de Sábios); Rabi Yochanan continuou recebendo a Torá Oral de Rabi Yanai e transmitiu para Rav – Rabi Yochanan escreveu o Talmud Yerushalmi em Jerusalém cerca de 300 anos depois da destruição do Grande Templo; e Rav escreveu a Sifra e Sifri explicando princípios das Mishnayot; em paralelo, Shmuel recebeu a Torá Oral de Rabi Chanina Ben Chama; Rav, Shmuel e Rabi Yochanan transmitiram para os seus respectivos alunos (Os principais Sábios que receberam a Torá Oral de Rav e Shmuel foram: Rav Huna, Rav Yehuda, Rav Nachman e Rav Kahana. Os principais Sábios que receberam de Rabi Yochanan foram: Raba Bar Rav Chana, Rabi Ami, Rabi Assi, Rav Dimi e Rav Avin); Raba e Rav Yossef receberam de Rav Huna e Rav Iehuda; Abaie e Rove receberam deles e também de Rav Nachman; Rav Ashi e Ravina receberam de Rove; Mar Bar Rav Ashi recebeu de seu pai – Rav Ashi e de Ravina. Todos estes Sábios citados foram os Grandes Sábios de suas gerações e com eles haviam dezenas de milhares estudiosos de Torá que aprendiam seus ensinamentos. Ravina e Rav Ashi foram os últimos Sábios do Talmud. Rav Ashi escreveu o Talmud Bavli na terra de Shinar em torno de 100 anos após Rabi Yochanan ter escrito o Talmud Yerushalmi – ambos, junto com a Tossefta, Sifra, Sifri e outras obras que vieram explicar as Mishnayot, serviram de base para formar o código de leis judaico. Após o encerramento do Talmud, os Sábios que seguiram com a sabedoria da Torá Oral foram conhecidos como Gueonim; eles continuaram a esclarecer a sabedoria do Talmud profundamente, muitos de seus ensinamentos também foram registrados; As dificuldades e as perseguições foram aumentando ao longo da história de nosso povo e a sabedoria do Talmud
diminuindo. Desde então, a cada geração, foram necessárias novas obras para esclarecer os ensinamentos do Talmud.
XI
LIVRE ARBÍTRIO Realmente existe o Livre Arbítrio? Se Deus já sabe o que vamos fazer, como podemos ter livre arbítrio? Como cumprir com tantos preceitos e ainda assim ser considerado livre? Existe o Livre Arbítrio? poder de decisão é um fato! Não temos como negar a realidade. Todas as pessoas conhecem e vivenciam o livre arbítrio. Todos os dias utilizamos o nosso poder de decisão... Para onde ir... O quê fazer... Estudar para a prova ou ir à praia ou ao clube? Sair para ajudar o meu pai carregar as sacolas do supermercado ou seguir deitado no sofá? Ir ao estádio de futebol ou visitar meu amigo que está doente? Inclusive em questões mais supérfluas, como que estação de rádio escutar, viajar de carro ou de ônibus, que sorvete comprar... Praticamente em todas as nossas decisões estamos livres para optar entre duas ou várias opções. Não resta a mínima dúvida!
O
Além do mais... O poder de decisão é um princípio fundamental do judaísmo, como está escrito:
“...Coloquei diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Tu deves escolher a vida, para que tu e teus descendentes vivam!” (Deuteronômio 30, 19) – Ou seja, o poder de escolher entre o bem e o mal foi colocado diante de cada um. O Criador não força e não decreta ao ser humano fazer o bem ou o mal – Ele colocou em nossas mãos o poder de escolher. Os nossos atos é que expressam esta escolha (Baseado no Rambam, ibid.)
A Essência do Ser Humano De fato, a essência do ser humano é o poder de opção que lhe foi concedido. Assim escreveu o Grande Sábio Rabi Chaim Vital: “Se pararmos para pensar, qual criação foi a principal dentre as demais, logo podemos perceber que os minerais, os vegetais, e os animais não são os principais, pois eles não possuem o poder de decisão; este nível de consciência e entendimento foi entregue somente ao ser humano; e, os frutos das decisões do ser humano dão razão à existência – são eles quem interferem no fluxo de influência dos acontecimentos de toda a criação. (Derech Ets Chaim, página 189) Além do poder de decisão ser um fator determinante no ser humano, ele constitui o objetivo da criação. Portanto, apesar de existir a possibilidade de atuar contra a vontade do Criador, Ele não interfere no livre arbítrio da pessoa. Em geral, quando Deus quer impedir alguém de executar suas vontades, Ele limita a capacidade de atuação desta pessoa – porém, não o seu poder de decisão... O Rambam explicou esta ideia intuída no seguinte versículo da Torá: “Eis que o homem foi criado como um de Nós para saber o bem e o mal... T alvez ele estenda a sua mão e agarre também da árvore da vida (após haver comido do fruto proibido); comerá e viverá para sempre.” (Gênesis 3, 22) O Rambam explica: “Eis que o homem foi criado como um de Nós para saber o bem e o mal”, ou seja, somente o homem – dentre todas as criaturas – foi criado semelhante a Deus – em relação à capacidade de saber distinguir entre o bem e o mal, possuindo o poder de atuar segundo a sua vontade... “Talvez ele estenda a sua mão e agarre também da árvore da vida”, ou seja, ele poderá utilizar do livre arbítrio que Eu lhe concedi para atuar contra a Minha vontade e comer também dos frutos da árvore da vida... Portanto, o homem foi retirado do Gan Éden para não ingeri-lo (como consta no versículo seguinte); vemos que, apesar de não ser a vontade do Criador que o homem comesse da árvore da vida, de todas formas ele poderia utilizar de seu livre arbítrio para fazê-lo. Uma vez que, neste caso, Deus não desejava a realização deste acontecimento, logo, Ele preferiu limitar o campo de atuação do homem, afastando-o – tecnicamente – da árvore, anulando de forma prévia a possibilidade de ingeri-lo, para não vir a interferir em seu poder de decisão (pois Deus não deseja interferir no livre arbítrio concedido ao ser humano, sendo este o objetivo da Criação). [Halachót Teshuvá 5, 1]
Nem Tudo Está Sob Nosso Poder de Decisão Realmente, existem vários fatores que estão além de nossa liberdade de escolha – Por exemplo – Onde nascemos, quem são os nossos pais, as nossas características naturais, dentre vários outros fatores. Contudo, sempre existirá a área onde poderemos utilizar o poder de opção que nos foi concedido. Podemos inclusive alterar certas limitações de fatores pré-estabelecidos em nossas vidas (como consta mais detalhadamente no capítulo “Questão de Fé”). O Doutor Escocês Ian Wilmut do instituto Roslin, um dos mais importantes cientistas da área genética, se expressou em uma entrevista “...A nossa sorte já foi traçada e a nossa personalidade já foi determinada antes de termos respirado pela primeira vez fora do ventre de nossas mães.” (Jornal Ediót Achronót); Ou seja, apesar de termos o poder de decidir como agir em cada situação, de todas formas, vários fatores de nossas vidas já foram traçados antes mesmo de nosso nascimento... Hoje em dia, com o avanço tecnológico e o conhecimento do DNA – onde todas as informações físicas da pessoa já estão registradas – mais uma vez podemos comprovar cientificamente conceitos relatados na Torá. Conquistando o Próprio “Eu”
O poder de crescer e florescer foi concedido para cada indivíduo. De fato, várias condições que compõem o “cenário de vida” – ou seja, a situação atual onde cada pessoa se encontra – foram predestinados por Deus, de todas formas, para todos foi proporcionado a possibilidade de desenvolver e conquistar o seu próprio “eu” – embelezá-lo e valorizá-lo; fazendo florescer dignamente a essência que já se encontra dentro de si próprio. Apesar de vários fatores já terem sido previamente decididos, o fator determinante – se a pessoa será digna e correta – está nas mãos de cada um! (Baseado no Rambam Halachót Teshuvá 5, 2) A pessoa é totalmente livre para tomar decisões segundo a sua vontade. Como já citamos anteriormente, dentre todas as criaturas existentes na terra, a única que tem a consciência de estar fazendo o bem ou o mal é o ser humano. Portanto esta é a essência do ser humano – optar pelo bem; conquistar cada vez mais o “status de ser humano”, ou seja, seguir aperfeiçoando-se cada vez mais... Em resumo, ser correto e ser bom! “Não é pelo decreto Supremo que acontece o mal e o bem” (Eichá 3, 38) – ou seja, o Criador não decreta se o ser humano será uma pessoa boa ou uma pessoa má. Sendo assim, alguém que opta pelo mal estará causando o mal para si próprio e será responsável pelas consequências...
Portanto seria digno que ele se arrependesse de seus erros e do mal que causou para si próprio (Rambam Halachót Teshuvá 5, 2). Todavia nos resta perguntar... Se o poder de decisão é um fato, então como Deus pode saber o que vamos decidir? O primeiro fator que devemos ter em mente é a que a capacidade de Deus não está limitada pela nossa capacidade de entendimento. Nós vivemos de acordo com as leis e as regras estipuladas por Ele; e toda a nossa lógica está influenciada por estas limitações. Porém, Ele está além dessas limitações. Ao perguntarmos: Como Deus pode fazer “tal coisa” , estamos perguntando sobre as Suas capacidade. Uma vez que Ele não está limitado por nossas limitações, como haveria a possibilidade de compreender por completo o alcance de Seus atos e de Sua capacidade? Em resumo, o fato de não podermos entender os feitos de Deus não limita a Sua capacidade em absoluto! De todas formas – dentro do possível – trataremos de entender esta questão... O Início do Tempo Quando começou o tempo? O tempo foi criado ou sempre existiu? Está escrito na Torá: “No princípio criou Deus o Céu e a terra”
(Gênesis 1, 1)
Quando a Torá cita “No princípio” se refere ao princípio do tempo. O tempo todavia não existia e este “princípio” foi o momento da criação do tempo (Sforno). O tempo iniciouse junto com o processo de toda a criação. O Quê Expressa a Criação do Tempo? Em um plano mais elevado e espiritual o tempo não existe [Nota: Atualmente, através das fórmulas de Einstein, ficou constatado cientificamente que o tempo está relacionado com a matéria]. Para possibilitar que as emanações espirituais que chegam das esferas superiores se conectem e se expressem nas esperas inferiores, foi necessário a criação do tempo. Desta forma essas influências podem se expressar de forma gradual segundo a formação e a capacidade de recepção dos mundos inferiores; porém, nos mundos Superiores, todas essas influências atuam simultaneamente – de forma contínua – não havendo a necessidade do tempo. Em resumo, a criação do tempo foi necessária para as criaturas. Desta forma elas podem receber as influências espirituais adequadamente, segundo a sua capacidade de recepção (Ramchal, Pitchei Chochmá Ve’Da’at 71) . Deus está além desta limitação. O tempo simplesmente é uma de Suas criações. Toda a existência se encontra revelada continuamente perante a Sua presença. Traremos agora as palavras do Rambam....
Uma Questão Extremamente Complexa e Profunda Talvez alguém poderia pensar: “Ora, Deus sabe tudo o que acontecerá; Ele já sabia quem se tornaria uma pessoa justa ou perversa... Se Deus já sabia que “tal pessoa” seria um justo – como ela própria poderia ter a opção de se transformar em um perverso?” Saiba... Concluiu o Rambam, que a resposta para esta questão é extremamente complexa e exige o conhecimento de vários princípios profundos... Porém, nós devemos entender que Deus não está subordinado às nossas limitações... Como está escrito na própria Torá (Êxodo 33, 20): “Uma pessoa não tem a capacidade de ver-Me e viver – ou seja, entender por completo a Minha forma de atuar – estando em vida (com as suas limitações)”. “Pois não são os Meus pensamentos como os vossos; tampouco os vossos caminhos – ou seja, a forma de atuar – como os Meus caminhos...” (Isaías 55,8) De todas formas, nós sabemos – sem nenhuma dúvida, concluiu o Rambam – que os atos do ser humano estão em suas mãos. Deus não força ninguém a fazer o bem ou o mal. Alguns anos após o Rambam, viveu o Grande Sábio conhecido como Raavad – ele expressa em seus comentários sobre as escrituras do Rambam estar perplexo com as suas palavras; em seguida traremos o que ele escreveu em relação a elas... Sabedoria ou Decreto? “Não entendo por que o Rambam tocou em um tema t ão profundo e complexo... Um tema que está além da capacidade de entendimento de várias pessoas... e não explicou!? Somente escreveu que esta questão é extremamente complexa e que Deus não está limitado pelas nossas limitações... Seria melhor se ele não houvesse tocado neste tema para não causar mal entendidos!”; “De todas formas...” - continuou o Sábio Raavad - “...eu trarei uma resposta parcial...” Assim explicou o Sábio Raavad: O conhecimento Divino não é um decreto – o fato de Deus possuir a sabedoria dos futuros acontecimentos não está decretando que “assim” será... Poderíamos comparar a uma pessoa que adquiriu informações astrológicas ou informações do futuro através de outros meios; embora o astrólogo (ou o ‘médium’) tenha como acessar informações relacionadas aos futuros acontecimentos de certa pessoa, ele não tem em suas mãos o domínio das decisões dela. Simplesmente ele sabe que os seus futuros acontecimentos estão de alguma maneira “aludidos” no zodíaco. Assim podemos entender também em relação ao Criador. Embora Ele tenha o poder de conhecer informações relacionadas ao futuro de cada um, Ele não interfere em seu poder de decisão – são dois temas distintos. Em resumo, o conhecimento Divino não é um decreto – ou seja –
não determina e não influência no poder de decisão do ser humano. [Nota: Podemos dizer também que o Criador, conhecendo as forças da influência astrológica no ser humano, sabe com antecedência se ele terá força de superá-las ou não. De todas formas, esta sabedoria não é um decreto - Para outros detalhes sobre a questão confira os comentários do Raavad]
Uma Prova de Múltipla Escolha “Olha, vou falar a verdade... Me parece uma contradição... Por um lado, a Torá fala que temos que cumprir os Seus preceitos; por outro lado, Ela fala que nós temos o livre arbítrio, ou seja, nós temos a liberdade de optar o que fazer. Se eu tenho a obrigação de cumprir a Torá, então eu não sou livre! Ao contrário, se eu tenho a liberdade de decidir, então eu posso decidir se vou, ou não vou, cumprir os preceitos da Torá! Alguém que decide cumprir terá que comer casher, cumprir Shabat, etc... Alguém que decide não cumprir, está livre de tudo isso!” Imaginem uma prova de múltipla escolha... Na frente da pessoa, para cada pergunta, cinco opções distintas; ela tem o poder de decidir que opção marcar... a, b, c, d ou e... Ela é livre para marcar o que bem desejar. Ela se lembra muito bem do que ela estudou, e também se lembra das aulas que escutou de seu professor, de todas formas, em suas mãos se encontra a possibilidade de marcar uma opção distinta... Ela tem o poder, a liberdade em suas mãos... Porém, saiba... o que ela marcar não modificará a realidade, a resposta correta é uma só... A sua nota dependerá exclusivamente de suas próprias respostas. Se ela ut ilizar o “poder de liberdade” para marcar as opções corretas então ela receberá uma nota elevada e receberá o diploma ou será aceita na universidade... Do contrário, ela arcará com as consequências. O fato de poder optar não modificou a realidade, ou seja, as verdadeiras respostas; a sua performance depende de quanto utilizar corretamente a sua liberdade de opção. Assim também em relação à nossa questão... De fato a pessoa tem o poder de decidir em cumprir ou transgredir os preceitos da Torá... Roubar ou ser honesto, comer casher ou taref, casar e construir uma família no momento adequado ou seguir solteiro para o seu “bel prazer”, respeitar o Shabat ou profaná -lo... Porém, a decisão da pessoa não modificará a realidade... Cada um será o responsável pelos seus atos; ela poderá utilizar de seu livre arbítrio para cumprir os preceitos da Torá e se aproximar do Criador, ou para deixá-los e se afastar Dele. Como está escrito: “...Coloquei diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Tu deves escolher a vida, para que tu e teus descendentes vivam!” Uma Pessoa Livre O que é realmente ser livre? Uma pessoa que não tem força de controlar os desejos, na verdade não é livre, ela está escravizada por eles, ela não é livre para agir de acordo com a sua consciência... Ser livre é ter a capacidade de agir independente de seus desejos... Ela poderá agir corretamente, continuamente, mesmo quando os seus desejos pessoais a seduzem para agir de forma contrária. Desta forma ela poderá dedicar-se em questões que
lhe trarão benefícios reais e eternos; por outro lado, quem está preso às suas tendências naturais, perderá várias oportunidades de adquirir novos níveis de conquistas eternas que poderia levar consigo também após a morte... Por quê a Torá é tão rígida ao ponto de comparar o cumprimento dos Seus preceitos com a vida e as transgressões com a morte?
No momento em que a pessoa deixa este mundo, sua alma segue em outras dimensões espirituais... A morte não atinge a alma, e sim ao corpo exclusivamente. Portanto, aquele que durante a vida identificou-se somente com o corpo — sem desejar aproximar-se do Criador — estará desconectado de suas raízes. Neste caso, a morte o atingirá de forma integral. Por outro lado, aquele que durante a vida identificou-se com a sua alma, desejando ligar-se a Deus através do cumprimento de Sua vontade, estará conectado às suas raízes — a este a morte afetará apenas ao corpo de fato. A partir do conceito descrito acima, podemos entender o ensinamento de nossos Sábios: “Os justos, mesmo depois da morte são chamados de vivos, e os pecadores, mesmo durante a vida são chamados de mortos”. Em outras palavras, os justos têm plena consciência de que a vida real é a vida eterna, não esta vida, mundana e passageira. Focamse em realizações que lhes trarão benefícios eternos, procurando unir-se a Deus com todo o coração. Estes vivem para sempre, mesmo depois da morte. E, desafortunadamente, aqueles que optarem por seguir uma vida dedicada à superficialidade, sem ética ou em falta com os valores eternos, colocarão ênfase apenas nas preocupações referentes a este mundo fugaz. Estes últimos serão chamados de “mortos”, pois mesmo durante o seu tempo de vida, todos os seus esforços terão sido desperdiçados ao investir seu tempo em algo temporário, que um dia verá seu fim (Alei Shur, Hamávet). Portanto, vemos expressado na Torá: “...Coloquei diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Tu deves escolher a vida, para que tu e teus descendentes vivam!”
XII
MITZVÓT Por que as mitsvót foram dadas? Qual o motivo de termos tantos preceitos? Como podemos dar conta de tudo e termos uma vida normal? Por que Deus nos Ordenou Cumprir as Mitsvót?
P
or que Deus nos ordenou cumprir as mitsvót, Ele necessita de nossos feitos? É claro que o Criador não necessita de nada em absoluto! Então, para que Ele nos ordenou? Podemos concluir que o objetivo das mitsvót não é para suprir as necessidades do Criador; ao contrário, é para o benefício do próprio ser humano. A Função das Mitsvót
Traremos em seguida a explicação do Grande Sábio R. Chaim Luzzato... De fato, o ser humano foi criado para desfrutar de um prazer real e completo; este prazer será superior a todos os outros prazeres conhecidos; ele será fruto de uma conexão hermética com a Presença Divina – não existe nenhum tipo de prazer comparável a este; contudo, ele deverá ser conquistado! O Criador preparou um local com as condições ideais, proporcionando à pessoa que usufrua deste prazer – O Mundo Vindouro. O mundo em que vivemos atualmente é o caminho que levará a este local. Seria como um corredor que antecede ao salão. A pessoa poderá caminhar pelos caminhos da vida e se aproximar do objetivo da criação utilizando dos meios necessários para esta aquisição. Quais são os meios que levarão a pessoa à esta conexão? Os meios para este fim, são os preceitos que o Criador nos ofereceu, sendo este mundo físico o único local onde recebemos a oportunidade de cumprilos – “o corredor”! Então, após a sua estadia neste mundo, a pessoa poderá usufruir de todo este prazer que conquistou através desses meios. Em relação a este fenômeno se referiram nossos Sábios: “Hoje é tempo de realizar e amanhã de receber” (Eruvin 22a). Por que Deus não poderia nos entregar todo este benefício de presente? Para que Ele condicionou este prazer com nossas ações?
Todo projeto tem um objetivo. O objetivo do Criador foi criar criaturas para poder beneficiá-las. Pois, por definição, o bem deseja proporcionar benefícios aos demais; Sendo o Criador o bem completo, também a sua Vontade é proporcionar o bem completo para as suas criaturas. Para este “máximo bem” ser alcançado, foi necessário a criação do mundo como nós o conhecemos, como explicaremos em seguida... A vontade do Criador foi nos proporcionar este bem sem nos causar vergonha em recebê-lo. Um prazer para ser completo deve ser conquistado. O pobre quando recebe esmola sente uma sensação de inferioridade e vergonha... Por outro lado, uma pessoa que recebe um salário pelo seu trabalho não sente nenhuma vergonha em recebê-lo; ao contrário, ela sente que está recebendo algo que realmente cabe a ela. O valor que colocamos e o prazer que recebemos de algo conquistado pelo nosso próprio esforço é muito maior do que o valor e o prazer adquirido por algo que recebemos de presente. Portanto, no primeiro estágio, Deus criou um mundo de provas e decisões, onde nós temos que nos esforçar e superar-nos para cumprir os Seus preceitos, e, em seguida, no segundo estágio, Deus criou o local ideal para nos proporcionar este bem máximo, para cada um segundo as suas conquistas. De Todas Formas, Por Que Tantas Mitsvót? “Deus quis beneficiar o Povo de Israel, portanto Ele nos deu 'uma porção' de mitsvót.” (Ética dos Pais) O R. Iechiel Yakovzon contou em uma de suas palestras que, certa vez, em sua infância, caminhava pelas ruas nas cercanias de sua casa; ele se deparou com o Grande Sábio Rabi Shlomo Zalman z”l, a vontade de falar com o Sábio era tão grande que, impulsivamente, ele “pensou” em voz alta... “Rabino, eu tenho uma pergunta...” O Sábio, escutou a voz do menino e pediu para as pessoas que estavam em sua volta abrirem o caminho para ele se aproximar... Sábio: “Pois não, o que você deseja perguntar?” O menino se viu parado frente a frete com o Sábio, parecia um sonho... Sem ter nada preparado para perguntá-lo, de imediato, se recordou de uma questão que havia em sua mente... Menino: “Está escrito que Deus quis beneficiar ao Pov o de Israel, então ele nos deu uma porção de mitsvót... Se Deus quis nos beneficiar, por que nos deu tantas mitsvót? Não seria melhor dar umas poucas? Seria bem mais fácil!” Sábio: “Posso te fazer uma pergunta? Você calça sapatos antes de sair de casa?” Menino: “É claro!” Sábio: “Me explique, qual é a ordem que você os calça?” Menino: “Eu faço como está escrito nas leis judaicas... primeiro calço o lado direito e depois o lado esquerdo.” Sábio: “e como você os amarra?” Menino: “Primeiro o esquerdo e logo o direito... Como está escrito...” Sábio: “E como você os retira?”
Menino: “Também como está escrito... antes o lado esquerdo e logo o lado direito.” Sábio: “Você está vendo que mérito nós temos... De qualquer forma, todas as p essoas calçam, amarram e descalçam os sapatos... Tanto o direito quanto o esquerdo... Independente de sua cultura ou religião... O que importaria para alguém calçar o lado direito antes do esquerdo? Você simplesmente se acostumou a calçá-los, amarrá-los e descalçá-los segundo os critérios da Torá e por isso está recebendo méritos... Está vendo... esta é a explicação, vários e vários atos de nosso dia a dia que, de qualquer forma, haveríamos de realizá-los, receberemos méritos por realizá-los seguindo a orientação do Criador... Simplesmente pelo fato que Deus quis nos beneficiar...” O R. Iechiel Yakovzon contou nesta palestra que, a partir deste episódio – ainda como um menino – procurava relacionar com alguma mitsvá todos os atos que realizava, e desde então ele sentiu vontade de transformar atos “neutrais” (ou seja, mundanos) em atos eternos... 613! O Número Exato! Os bons atos são os fios que compõem o tecido usado para fabricar a futura “vestimenta” da alma. Cada mandamento Divino cumprido ao longo da vida terá seu papel na composição da roupagem espiritual (Baseado em Zohar Vaiechi 218). Explicaremos mais detalhadamente... O alimento da alma é o cumprimento dos preceitos da Torá, composta por 613 mandamentos. Cada um destes mandamentos está ligado a cada uma das seiscentos e treze partes presentes no corpo físico. Por sua vez, cada parte do corpo físico tem seu paralelo na dimensão espiritual. Portanto, cada mandamento efetuado por cada um destes órgãos físicos alimenta aos seus correspondentes espirituais respectivamente. Futuramente, ao deixar a sua veste material, a alma usufruirá dos mandamentos cumpridos pelo corpo para tecer seu novo manto transcendente (baseado no livro Shaarei Kedusha, R' Chaim Vital z"l). Aos mandamentos que estamos impossibilitados de cumprir, nos cabe estudá-los — e por tal estudo alimentaremos aos seus correspondentes órgãos espirituais. Através das transgressões ocorre justamente o oposto. No mundo espiritual, a alma vestirá o seu novo traje – cada um vestirá o traje que teceu através de suas próprias decisões. Será que as Mitsvót não Limitam a Pessoa? Existem várias áreas no judaísmo onde cada um poderá exercer a sua função segundo as suas tendências e características; porém, uma pessoa poderá seguir em sua área atual onde ela se encontra e trabalha... Mesmo ali – no mesmo local onde ela se encontra – ao cumprir com os preceitos da Torá, ela deverá utilizar de toda a sua criatividade para poder cumpri-las de forma propícia. Ao contrário de se limitar, o cumprimento das mitsvót exigirão que ela desenvolva a sua criatividade...
Uma vez eu conversei com o representante de um dos países na ONU que se encontrava em Israel, ele estava se aproximando do judaísmo e começando a cumprir os preceitos da Torá paulatinamente. Ele me contou como conseguia recitar o 'bircathamazon' (a prece que recitamos após comermos pão) em diferentes situações... e como pesquisou o que poderia reduzir em situações mais difíceis; e como evitava de comer comidas não casher... uma verdadeira arte... As mitsvót não restringiram o seu potencial – ao contrário – elas exigiram que ele o utilizasse com criatividade. Ele via cada caso como um desafio que o fez crescer; também me relatou que sentia uma grande satisfação e uma felicidade interna por haver passado, cada vez, um novo desafio. Os seus atos simplesmente foram direcionados para um objetivo... Seriedade X Felicidade Um judeu observante da Torá, em certas ocasiões, pode aparentar ser uma pessoa mais séria e menos feliz... Realmente, uma pessoa mais séria sobre as questões da vida, que encara a vida em um aspecto mais profundo, pode aparentar, de forma superficial, menos feliz... Contudo, de fato, a felicidade que ele sente é muito mais profunda e intensa do que uma felicidade superficial. Ele sente o prazer de estar se portando corretamente, se aprimorando como pessoa e crescendo também em um âmbito espiritual... Isso causa uma felicidade com outro nível de qualidade, uma felicidade interna e verdadeira... uma sensação mais intensa e espiritual. Uma vida onde o mesmo objetivo vigora – do princípio até o final; ao contrário de uma pessoa que vive ao acaso, onde cada etapa de sua vida visa um novo objetivo... Quando não tem para onde sair ou já está sem forças, provavelmente sente-se meio deprimido... Não tem um objetivo definido; a felicidade que sentia ontem já não faz parte de seu presente. Porém, para alguém que realmente vive os valores da Torá e Suas mitsvót, cada situação em sua vida, por mais difícil que seja, passa a ser uma nova oportunidade de superar-se, aperfeiçoar-se e finalmente elevar-se, passo a passo, rumo à integridade... Uma felicidade do começo ao fim, até o último momento da vida. A felicidade não é uma meta direta, onde a pessoa deverá “correr” atrás dela... A verdadeira felicidade nasce como consequência do encontro da pessoa com o objetivo pelo qual ela foi criada. Um Peixe Fora D'água Denis e Bruno, dois amigos inseparáveis, ambos admiradores do judaísmo; orgulhavam-se de pertencer ao Povo de Israel... Bruno, com uma tendência mais espiritual, sempre convidava o seu grande companheiro a participar de uma conversa explicativa sobre o judaísmo com o seu Rabino; ele queria que o seu amigo o acompanhasse em seu processo progressivo de cumprimento dos preceitos da Torá, porém Denis estava com receio... Após muito esforço, finalmente Denis concordou em acompanhá-lo. Ao término da conversa, Denis e Bruno iniciaram um sério diálogo...
Denis: “Realmente, a Torá me parece bem bacana... Eu sinto muito respeito e admiração pelo judaísmo, mas, por que eu deveria mudar a minha vida por causa de uma tradição?” Bruno: “Eu te entendo... Você sabe muito bem que eu pensava como você... Eu também, apesar de honrar a Torá, pensava que Ela era uma mera tradição... Contudo, eu constatei que a Torá não é tradição... A tradição também tem o seu papel no judaísmo, porém, a Torá em si não é tradição! ” Denis: “Se Ela não é tradição, que outra hipótese restou?” Bruno: “A Torá é muito mais que uma tradição, na verdade Ela nos revela a realidade!!” Denis: “Como assim? A realidade eu posso ver com os meus olhos!” Bruno: “Eu vou explicar... Todas as definições dos conceitos de nossas vidas são traçados pela Torá... Por exemplo, “em seus olhos”, uma pessoa pode pensar que ela nunca fez nada de mal à ninguém... Porém, ela não sabe o que se enquadra em fazer mal para outra pessoa... A Torá define em cada situação, o que se enquadra nesta regra; o que cada pessoa pensa não modificará a realidade. Uma pessoa pode pensar que somente falar mal de outra não tem nenhum problema, pois cada um é livre para falar o que pensa... Porém, segundo a Torá, eu estudei que falar mal de uma pessoa sem um motivo justo e construtivo é muito grave... A Torá traça os conceitos... Ela nos revela a realidade...” Denis: “Eu nunca havia pensado nisso...” Bruno: “Pois é... Eu também... Imagina que nós vivemos sem saber dos conceitos que definirão o nosso futuro... O que cada um acha não vai mudar o que realmente é... Existem conceitos em relação a danos e furtos, conceitos de como respeitar os pais, conceitos de como fazer empréstimos sem transgredir as Leis da Torá, assim em todos os campos... Como cumprir o Shabat e a cashrut... a Torá traça os conceitos... Sendo assim, também o nosso futuro no mundo espiritual depende deles, os nossos atos serão julgados de acordo com esses conceitos; não é uma mera tradição.” Denis: “Bruno... Eu vou te falar a verdade, eu acredito no que você está falando... Apesar de eu falar que a Torá é tradição, eu sempre senti que Ela é algo além disso; porém, me parece que eu uso deste argumento para me isentar de cumpri-la... Me parece 'meio pesado'...” Bruno: “Realmente, cada preceito pode parecer ser um peso em nossa vida... uma moléstia... algo que nos limita...” Denis: “Justo... É isso mesmo o que eu sinto.” Bruno: “De fato, sempre que houver contradição entre as expectativas que a pessoa tem na vida e a responsabilidade de cumprir as mitsvót, elas parecerão ser um peso... uma moléstia... Para me expressar melhor, vou lhe contar um exemplo... Uma pessoa carregava uma enorme quantidade de água em suas costas e sempre reclamava... “Eu não suporto a água, ela é pesada... Eu não aguento mais...” O seu amigo, que escutava todas as reclamações, o aconselhou... “Em vez de carregar tanta água, por que você não entra dentro dela dá uma relaxada, você vai ver como a água é agradável...” Assim ele fez; logo sentiu um grande prazer...” Então, Bruno concluiu: “Da mesma forma, a Torá é comparada pelos nossos Sábios com a água, para quem a carrega nas costas será um peso, porém, para quem
mergulhar e entrar dentro dela será um prazer... Sempre que a pessoa tentar limitar a veracidade da Torá segunda a sua disposição de cumpri-la, ou seja, para não modificar o seu estilo de vida, haverá contradição entre suas expectativas da vida e o cumprimento das mitsvót, portanto, cada mitsvá será um peso para ela... Porém, quando a pessoa está disposta em aceitar honestamente a Sua veracidade e decidir direcionar a sua vida seguindo os parâmetros da Torá, o prazer será uma consequência...” “Porém”, interferiu o Rabino de Bruno, que presenciava o diálogo: “A vontade de cumprir as mitsvót tem que vir da própria pessoa; ninguém possui o poder de decisão de seu companheiro em suas mãos; porém, muitas vezes – por falta de conhecimento – a pessoa não sente vontade em se aprofundar no tema... Você acha que seria correto uma pessoa jogar fora a herança milenar e respeitada que recebeu de seus antepassados antes de dar uma olhadinha mais a fundo e pesquisar sobre ela? Depois, cada um poderá pensar e decidir sinceramente se a deixará... Veja só, as pessoas se interessam e pesquisam tantos temas que não contribuem praticamente nada em suas vidas, será que elas não deveriam se interessar também em analisar este tema tão central... Um tema que inspirou toda a humanidade?” Denis: “ Estou de acordo, porém, eu quero ser sincero... Me parece pesado cumprir as mitsvót.” Rabino: “Ninguém necessita fazer além de suas possibilidades, uma pessoa pode começar com as mitsvót mais fáceis, assim como fez o seu amigo Bruno...” Denis: “Eu me sinto 'meio que' hipócrita se respeitar umas mitsvót e não a outras... e eu não estou em condições de cumprir tudo de uma vez...” Rabino: Este pensamento é baseado em um entendimento errôneo... Isto é, as pessoas sentem que ao cumprir alguns mandamentos deixando a outros de lado é pelo fato de concordar com certos preceitos e discordar de outros... Isto realmente causa a sensação de hipocrisia... Porém, a pessoa deveria encarar esta questão de forma diferente, o pensamento correto seria o seguinte... “apesar de eu estar de acordo que todos os preceitos são verdadeiros, atualmente eu não me vejo possibilitado em cumpri-los integralmente – reconhecer que a fonte da questão é a dificuldade própria e não a veracidade das mitsvót; e desejo investir – dentro do possível – certo esforço para progredir gradualmente no cumprimento de novos preceitos. Não é exigido de uma pessoa atuar além de suas possibilidades!” Medo ou Amor Será que tem valor cumprir as mitsvót por medo das consequências ou por algum outro interesse? Não é ideal cumprir os preceitos da torá pelo medo do castigo ou ansiando a recompensa... o ideal seria cumprir com amor a nossa função. Cumprir o correto simplesmente por ser o correto – sem interesses alheios – mesmo tendo a consciência que,
no final das contas, será recompensado. Como está escrito: “E amarás o Eterno...”; adquirindo o devido amor, também cumprirá os Seus preceitos com amor. Contudo, conquistar um nível de amor completo não é fácil... Portanto, ensinaram os nossos Sábios que, a princípio, deve-se estudar a sabedoria da Torá e cumpri-la mesmo quando a intenção seja a aquisição de méritos e boas condições neste mundo e no próximo, ou mesmo o medo de estragar ou desqualificar a alma... Pois à medida que a sabedoria da pessoa for crescendo, ela poderá adquirir gradualmente novos níveis de amor ao Criador e, cada vez mais, estudar e cumprir os Seus preceitos simplesmente por serem os Seus preceitos – por amor e não por nenhum outro motivo. Quanto mais a pessoa se juntar à Sua sabedoria – mais crescerá o amor! (Baseado em Rambam, Halachót Teshuvá, 10)
O "Robô" O judaísmo estimula o desenvolvimento do entendimento e a análise de cada aspecto da vida. Outra vez, o contrário da imagem popular deturpada, onde em várias ocasiões, escutamos pessoas se expressarem em relação aos que cumprem a Torá com o termo “robô”; e, de fato, eles não sabem que – em grande maioria – são eles próprios que vivem seguindo os critérios ditados pela sociedade, sem pensar para onde estão sendo levados e o que levarão com eles para toda a eternidade – atuam realmente como verdadeiros “robô”. A base do estudo da Torá é o Talmud. Ele foi escrito de forma didática, com perguntas e respostas – verdadeiras discussões – para desenvolver e esclarecer os temas de forma completa; vários pensamentos são levantados, nos proporcionando ferramentas para uma nova visão do mundo, muito mais profunda e bonita, criando também uma felicidade espiritual e um verdadeiro amor ao Criador. Este seria o motivo básico da necessidade do estudo – esclarecer os conceitos corretamente e saber como aplicá-los em nossas vidas. Porém existe também motivos mais ocultos... Dentre todas as influências emanadas pelo Criador, existe uma especial – a mais elevada e preciosa que se encontra em toda a existência. Em paralelo, Deus criou as palavras da Torá e conectou nelas esta influência, de forma que, ao pronunciá-las, a pessoa recebe uma emanação desta influência – com a condição que obedeça certos requisitos – a. Estudar com reverência; b. o aperfeiçoamento dos atos – pois toda a força da Torá se deve ao fato de Deus ter conectado nela a sua preciosa influência; sem esta conexão, o estudo da Torá seria como um outro estudo natural qualquer que, simplesmente, traria a sabedoria do tema estudado. A força da emanação que a pessoa receberá através do estudo será proporcional ao nível de reverência colocado e a vontade de aprimorar-se.
Outro fator também determinará o nível de influência que o estudo proporcionará. Quanto mais a pessoa adquirir o conhecimento e o entendimento, maior será o nível de emanação extraído e absorvido por ela; o nível de influência que receberá alguém que entendeu o significado simples de um versículo não será o mesmo nível de alguém que entendeu também a intenção “por trás” do versículo que, por sua vez, não será igual ao nível da emanação que receberá alguém que se aprofundou ainda mais em seu entendimento; porém, qualquer nível de estudo, de alguma forma, trará certa conexão com esta influência preciosa e especial. O estudo – além desta conexão pessoal, que dependerá do nível de dedicação e esforço de cada um – também proporcionará uma influência necessária para completar o objetivo da Criação de forma geral. Como pode ser? Cada parte da Criação está correlacionada com uma parte da Torá e ao estudá-la, a pessoa estará proporcionando a conexão desta respectiva parte da Criação com a incrível influência extraída pelo estudo desta parte da Torá. Através do estudo, uma certa parte dentro de toda a Criação será completada. Cada tipo de estudo proporcionará influência para outro campo da criação. A influência causada pelo estudo dos versículos da Torá escrita (Tanach – Torá, Profetas e Escritos) não é a mesma causada pelo estudo das Mishnayot (a base da Torá Oral) que, por sua vez, não é a mesma influência causada pelo estudo da Guemará – cada um deles fará com que uma parte distinta da Criação seja completada. [Baseado no Livro Derech Hashem 4, 2] Dentro do estudo do Talmud se encontram todos eles – análises dos versículos da Torá, Profetas e Escritos, Mishnayot e Guemará – que também inclui “hagadót” (onde o estudo de pensamentos filosóficos e místicos podem ser extraídos) e halachót (as leis da Torá); um estudo complexo desenvolvendo e desvendando o significado profundo no entendimento de todos esses campos da Torá. Portanto, com certeza, através dele a pessoa estará criando uma forte emanação e conexão pessoal com esta influência preciosa e especial; também, graças ao seu estudo, todos os campos da Criação de alguma maneira estarão sendo completados; no futuro a pessoa receberá méritos por tudo o que o seu estudo influenciou em todos os campos da Criação. Através desta conexão especial com o Criador, aprofundando-se no entendimento de Suas mitsvót, florescerá gradualmente uma felicidade interna e um verdadeiro amor a Ele e às Suas mitsvót. “Com Israel Eu estabelecerei o Meu pacto – diz o Eterno. Mesmo na longa diáspora... as palavras da Torá que Eu coloquei em tua boca para serem (estudadas e) ensinadas – jamais serão esquecidas. Não se apartarão de tua boca, nem da boca de toda a tua descendência – diz o Eterno – desde agora até o final de todas as gerações ” (baseado em Yeshaiáhu 59, 21 com Rashi e Metsudat David) .
A promessa de que os ensinamentos da Torá prosseguirão de geração em geração – até a última geração – já existe! Porém está nas mãos de cada um a opção de participar dessa corrente... Citamos – anteriormente – que as mitsvót não limitam a pessoa, simplesmente direcionam seus atos para alcançar um objetivo; Traremos uma parábola fazendo um paralelo entre este conceito e um jogo de futebol para “iluminar” esta ideia... O Jogo de Futebol Escrito por R. Rony Bisker Às vezes parece estranho, tantas regras... Por exemplo, em relação às leis de Shabat… A pessoa não pode andar de carro, não pode acender a luz, não pode isso... não pode aquilo... Por quê? Para que tantas regras? Para que tantas mitsvót? Vamos então contar o que aconteceu com nosso querido Joe, um americano que veio de intercâmbio para o Brasil ... Mal Joe chega ao Brasil, Ricardo, o seu amigo brasileiro, já comunica que domingo terá um joguinho de futebol com os amigos. Joe, que adorava futebol, fica muito contente. Chegam ao campo e dão o pontapé inicial para ele – Joe, que ao ouvir o apito do juiz, se abaixa pega a bola com as mãos e a atira para trás. Todos ficaram perplexos... “Que isso??? Com a mão???” Joe responde: “Ué... não é com a mão? Então, como é?” “Com o pé, Joe, com o pé...” - Já responderam irritados com a igno rância dele...“Não pode pôr a mão na bola... Isto não é futebol americano, Joe...” O juiz não sabia se era considerado falta ou não, porque o jogo ainda não havia começado; então, decidiram começar de novo, desta vez com o pé. Logo, a bola sai pelo lado e Joe vai bater o lateral. Joe não pensa duas vezes, põe a bola no chão e dá um chute. Outra vez ele vê as pessoas irritadas... “Joe, é com a mão!” Joe: “Mas vocês falaram que não pode pôr a mão na bola?” Amigos: “Quando sai pode” Joe já acha estranho esta estória... “Cada vez uma regra diferente e contraditória” pensa ele. Não demorou muito e a bola sai pela linha de fundo... Escanteio! E lá vai nosso Joe bater o escanteio...Com as mãos.... E logo vem os gritos: “Não é com a mão, Joe, é com os pés, PÉS, ouviu? PÉÉÉÉÉSSSS!!!”; desta vez estava clara a irritação de seus amigos. Joe pergunta ingenuamente... “Mas vocês falaram que quando a bola sai, é com as mãos!?” Amigos: “Joe, quando sai na linha de fundos e com o PÉ! PÉ!” Joe pensa ... “Que jogo louco... tudo sem lógica...” Bom, Joe vai se acostumando com as regras e até que ele recebe um passe que o deixa na frente do gol, era só ele e o goleiro, Joe chuta e com facilidade o goleiro agarra a bola com as mãos.
“AH! falta! Ele pôs a mão na bola!!!!” – Grita Joe entusiasmado. E, para a sua surpresa, escuta: “Joe, ele pode, ele é o goleiro.” “Como assim? Todos somos iguais. Por que ele pode? Isto é proteção!?” Amigos: “Joe, fica quieto e joga!” Joe já estava começando a se arrepender de ter vindo ao Brasil quando recebe outro passe; desta vez toma o cuidado de chutar forte, por cima do goleiro, e a bola passa bem acima da trave também... “Gooooooool ! Gooooooool ! Gooooooooool !” – Grita Joe. Você está louco??? Além de perder um gol feito ainda comemora?” - Reclamaram os amigos. Joe: “Como assim? Gol não é quando a bola passa por cima da trave?” Amigos: “Joe, isto não é futebol americano... Aqui, gol é por debaixo da trave!” Joe: “Mas o goleiro está ali na frente? Assim fica difícil...” “Uffff...” - As pessoas já estavam sem paciência com Joe... “Vai para a defesa, vai!”; Os amigos preferiram deixá-lo longe do ataque, talvez ele faria menos problemas... Quando acontece o pior.... Um dos jogadores da outra equipe vem sozinho... e, entre ele e o goleiro, só havia o nosso querido Joe... Amigos: “Para ele Joe, Para ele! não deixa ele se aproximar do gol...” Joe pensou: “Isto eu sei fazer bem!” Quando o atacante passou pelo Joe com facilidade, Joe deu um salto com as duas mãos estendidas e derruba o atacante no chão e os dois rolaram pelo gramado. E Joe, seguiu segurando ele com toda a força... Toda a equipe adversária veio para cima do Joe, o juiz com o cartão vermelho estendido – cartão vermelho este que nunca conseguiu usar... Pois, logo começou uma pancadaria geral no gramado... Até as pessoas entenderem que era assim no futebol americano... ninguém mais estava no espirito de jogar futebol e foram para casa. Claro que, depois de um ano no Brasil, Joe já jogava futebol e até gostava... Vamos nos perguntar “S erá que a FIFA faz as regras do futebol para irritar? Existe uma lógica para elas?” Claro que sim! O Lateral é batido com as mãos, para que cada lateral não vire um lance de cruzamento para a área do adversário; o escanteio é batido com os pés, para gerar um lance perigoso. O goleiro pode pôr as mãos na bola, para aumentar a habilidade exigida para se fazer um gol – tornando o futebol mais desafiante. Não se pode “ir no corpo” do adversário, e sim “na bola”, para que o drible seja possível. Sem as regras não tem jogo... Vira uma tremenda bagunça! De fato, as mesmas regras que limitam a atuação dos jogadores, lhes oferecem a possibilidade de jogar... Os limites foram colocados para extrair ao máximo o benefício em potencial existente dentro deste evento. Voltando ao nosso tema... Será que as mitsvót e as regras de Shabat em particular, têm um objetivo? Se a FIFA não faz regras sem motivo, será que D-us nos entregou estas regras sem motivo?
Mais ainda... de acordo com o número de regras pode-se perceber a complexidade do “jogo”. Um jogo de damas tem menos regras que um jogo de xadrez – O jogo de xadrez, por sua vez, é muito mais complexo... Através do número de preceitos da Torá e, em particular, o número de regras existentes no cumprimento do Shabat, podemos entender que este “jogo” é bem complexo. As mitsvót têm um objetivo; um objetivo muito central na vida da pessoa... Assim como o nosso Joe, que no princípio não aproveitava o jogo por estar preocupado em cumprir com as suas regras, também uma pessoa, que toda via não se familiarizou com as regras da Torá – de forma geral, ou no cumprimento do Shabat em particular, preocupa-se mais com as suas regras do que com o “jogo em si” - ou seja, com o objetivo que se encontra por trás de todo este cenário... Joe, no começo, só pensava nas novas regras que aprendeu e em como fazer para não transgredi-las; assim como no princípio, as regras da Torá, ou do Shabat em particular, parecem nos deixar paralisados... Depois que se acostumou com as regras do futebol, Joe, assim como todos que curtem um joguinho, já podia aproveitar, sem mesmo se tocar que estava seguindo tantas regras... Naturalmente! Assim também em relação à Torá, ao começar a se acostumar e entender as regras – começará aproveitar e sentir o prazer de estar participando do “jogo”; começará a sentir o quanto estava perdendo por estar de fora... Podemos perguntar a qualquer pessoa que não cumpria o Shabat, e depois começou a cumprir, se ela gosta do Shabat. Praticamente todas dirão que sim. Porém, caso perguntarmos se no começo elas também gostavam, quase todas dirão que era muito difícil e queriam que o Shabat acabasse logo... Vamos nos despedir de nosso Joe e começar a jogar o nosso “jogo”; o “jogo” de nosso povo! O “jogo” de nossa vida! Os Limites de uma Mitsvá De todas formas, os mais profundos motivos de uma mitsvá, ou seja, o entendimento completo do verdadeiro alcance da influência de uma mitsvá, ainda não foi revelado para nenhum ser humano, exceto a Adão – o primeiro homem – antes de haver transgredido o preceito Divino; a este fato os nossos Sábios expressaram- se : “Adão, o primeiro homem, podia observar até o final do mundo” (Talmud, Tratado Chaguiga 12a) – Pois, os verdadeiros entendimentos dos princípios da Torá, estão além de qualquer outra compreensão” (Nefesh Hachaim 1, 22).
XIII
Questão de Fé Quando você vai comprar um cartão na loteria, você pega o primeiro que lhe oferecem ou deixa sua sorte pegar outro? Quem é premiado, o cartão ou você? Estatística X Sorte
Q
ual seria o motivo que leva certas pessoas a comprarem vários cartões de loto? Não seria suficiente comprar um único cartão?
Está claro para todos – e estatisticamente constatado – que as chances de ganhar na loto com um único cartão são menores do que as chances de ganhar com dois ou mais cartões... Quanto mais cartões uma pessoa compra, as suas chances aumentam... Portanto, está óbvio o motivo pelo qual essas pessoas preenchem o maior número possível de cartões; elas realmente desejam ganhar o prêmio e finalmente realizarem o sonho de ficarem ricas... Como fechar os olhos para a realidade? Estatística é um fato, ninguém discute com a realidade!
A Realidade Sobre a Realidade Realmente Deus rege ao mundo seguindo as leis naturais que Ele próprio criou – Então, por que haveria problema em comprar vários cartões? Seguindo as leis naturais, as chances realmente aumentam...
O Mundo Não é uma Roleta O raciocínio supracitado seria verdadeiro se o mundo estivesse “jogado ao acaso” – Se não houvesse um objetivo para cada situação e acontecimento ocorrente na vida de cada pessoa. De fato, Deus rege ao mundo de forma que tudo pareça natural – dentro das estatísticas – para não acabar com o nosso livre arbítrio; exceto em certas situações que, por algum motivo pessoal ou outro motivo qualquer, o Criador revela um pouco mais de Sua Providência para determinadas pessoas. Porém, tudo tem um objetivo e está sendo guiado por Ele para criar o cenário propício para oferecer a cada indivíduo a possibilidade de retificar-se e aprimorar-se. Então, quantos cartões comprar? O número de cartões comprados não modificará a sorte da pessoa, eles não mudarão a função pela qual ela veio ao mundo. Caso esse dinheiro tenha sido decretado à pessoa, o sorteio indicará os números que ela apostou; porém, caso esse dinheiro não foi decretado à ela, mesmo comprando centenas de cartões, os seus números não serão sorteados. Portanto, estando uma pessoa consciente deste princípio, não necessita desperdiçar dinheiro... Basta comprar um único cartão... Cartões trocados – Providência intacta Um senhor, proprietário de um pequeno negócio, comprou um cartão de loto. Ele percebeu que o seu fiel funcionário também comprou um cartão. Reconhecendo a grande integridade de seu funcionário, estava convencido que ele receberia o grande prêmio. Ele pensou... Há anos venho comprando cartões de loto e nunca ganhei um prêmio, vou trocar o meu cartão com o dele, quem sabe se dessa forma finalmente eu ganharei o prêmio... Ele aproveitou a primeira oportunidade e trocou os cartões. Porém, ele ficou terrivelmente assombrado ao saber que o seu vizinho ganhou na loto o primeiro prêmio e... justo com o seu cartão... ou melhor, com o seu “ex -cartão”.
Ele perdeu a noção do bom senso, foi ao encontro de seu funcionário para recuperar o seu “ex -cartão”... Proprietário: “Escutei que você ganhou na loteria...” “Graças a Deus” - Respondeu o funcionário. Proprietário: “Eu queria te revelar algo que fiz...” Funcionário: “Pois não.” Proprietário: “Eu sei que não agi bem... Porém, eu troquei os cartões...” Funcionário: “Que cartões?” Proprietário: “Eu vou te explicar... Eu também comprei um cartão da loto... Quando eu vi que você também comprou, eu pensei que certamente você ganharia o prêmio – pois eu reconheço que você é uma pessoa extremamente justa e... na primeira oportunidade... eu troquei os nossos cartões... Na verdade o cartão premiado é meu! Meu! Por favor, gostaria que você regressasse o meu cartão, o prêmio é meu!” Funcionário: “De forma alguma... Se você realmente trocou – está trocado! De todas formas eu concordo em perguntar para um Sábio da Torá como devemos fazer... Amanhã, nós dois iremos juntos perguntar à um Grande Sábio; eu concordo em fazer de acordo com a orientação dele. Desta forma poderemos ficar tranquilos que não haverá injustiça.” No dia seguinte eles foram na casa de um dos Grande Sábios de Torá e expuseram o caso claramente com todos os detalhes... Depois de estar tudo claro, ambos perguntaram apreensivos: “Então, qual é a Lei da Torá neste caso?” Sábio: “De verdade, quem é sorteado não são os números... É a pessoa! O decreto conveniente para cada um é que decide o sorteio...” O Sábio virou-se para o proprietário e falou à ele: “Uma vez que foi decretado que seu funcionário recebesse o prêmio, foram sorteados os números que constavam no cartão que estava em sua posse... De qualquer forma você não ganharia um prêmio que não lhe foi decretado, mesmo se você não houvesse trocado os cartões! Portanto, o prêmio pertence ao seu funcionário .” [Baseado nas aulas do R. Zilbershtein e no livro Toratecha Shaashuai página 108]
Deveria uma pessoa procurar mudar a sua sorte jogando na loto? Existem pessoas que depositam muita confiança e todo o coração nos cartões da loto... imaginam que o melhor para elas, sem um pingo de dúvida, seria ganhar uma bela quantia de dinheiro; realmente, o dinheiro poderia trazer soluções para muitos problemas – além de criar novos... De todas formas, o status da pessoa – independente de receber uma fortuna – não é casual... Uma vez que, para cada momento de vida existe um objetivo, também todo o cenário que adorna a nossa vida é minuciosamente preparado para que possamos extrair o benefício máximo de cada situação, para concluir o objetivo pelo qual nós fomos colocados neste mundo. A Mishná, na Ética dos Pais, pergunta: “Quem é o verdadeiro rico?” - e responde: “Quem está contente com a sua porção” (cap.4, 1). Sempre pensamos que seremos felizes após conseguirmos realizar determinada tarefa ou certo desejo... E assim, a pessoa segue de
tarefa em tarefa, de desejo em desejo sempre procurando preencher a felicidade. Porém, nossos Sábios revelaram que a felicidade depende de como nós encaramos a realidade que vivenciamos... A riqueza é relativa... Portanto, o que define “a riqueza” em sua essência, é o sentimento de satisfação; uma pessoa que realmente sente que não lhe falta nada, é uma pessoa rica de verdade!
Rico ou Pobre?
A situação financeira de uma pessoa neste mundo – sua riqueza e sua sorte – o Criador define através da influência do sol sobre o indivíduo. Em relação à esta influência, disseram os nossos Sábios, que “tudo depende da mazal (influência astrológica)” , e isto se dá de acordo com a posição do sol em relação aos astros (Gaón de Vilna, Yona).
Qual é o parâmetro que define a posição financeira da pessoa? O padrão de vida que uma pessoa desfrutará é pré-determinado segundo o papel que ela terá que cumprir em sua vida. Em geral, não é possível modificar a sua sorte (Talmud, Tratado Moed Katan 28a). Contudo, existem exceções...
Quando a Sorte da Pessoa poderá ser Modificada?
A situação financeira de uma pessoa pode ser parte intrínseca de sua função no mundo; ou, simplesmente um meio para levá-la a cumprir com a sua função. Quando a situação na qual a pessoa se encontre é somente um meio e não um fim – ou seja, ela simplesmente serviu de intermediário para colocá-la em uma determinada posição, onde, ali, poderá cumprir com a sua função – uma vez que ela já esteja encaminhada para sua realização, sua sorte poderá mudar através de seus méritos. Somente quando a situação em que uma pessoa se encontra é parte intrínseca de sua função no mundo — ou seja, superar as suas provas através do cumprimento das mitsvót nestas condições de dificuldades é a maneira desta pessoa cumprir com a missão que lhe foi designada — neste caso, ela não terá como mudar a sua sorte, como consta no Talmud (Tratado Taanit 25a) em relação ao Rabi Elazar ben Pedat, que apesar dos seus grandes méritos, nunca conseguiu mudar a sua má sorte. Assim explica o Zohar (Tikun 69, folha 100b) que, apesar do Rabi Elazar ben Pedat ter sido um justo perfeito, uma vez que veio consertar uma transgressão que cometeu em outra encarnação, recebeu uma sorte (mazal ) desfavorável em suas condições de vida – pois somente desta forma poderia consertar a sua alma (Michtav MeEliahu parte 4, Páginas 98 a 100) .
Contudo, existem casos em que, apesar de que tenha sido decretada a boa sorte financeira, o sujeito não se comportou adequadamente, e então, possivelmente como um estímulo para que melhore seu comportamento, esta pessoa poderá vir a encontrar-se em situações difíceis. E uma vez corrigidos seus atos, ela retorna automaticamente a conectarse com a sua influência natural. “Forçando a Sorte”
Infelizmente, presenciamos pessoas que procuram lucrar um dinheiro extra ilegalmente... e em vários casos elas têm sucesso... Se a sorte já foi decretada, como poderia uma pessoa lucrar com um roubo? Inclusive constatamos que, em certos casos, mudam definitivamente a sua situação econômica desonestamente... Como pode ser?
O Ladrão sempre sai perdendo!
“...Dois comerciantes fecharam um acordo depois de muitas negociações. O produto em questão era um elemento necessário na produção de um determinado produto medicinal – cada quilo seria vendido por uma moeda de ouro local; agora faltava somente pesar cada quilo, entregá-lo ao comprador e receber dele uma moeda de ouro. Uma vez que seria uma negociação de valor muito elevado, o comprador sugeriu: “A cada dez quilos pesados eu colocarei uma moeda de ouro sobre a mesa como sinal; no final nós multiplicaremos o número de moedas que se encontrarem sobre a mesa por dez, e então esta será a quantid ade verdadeira de moedas que eu te entregarei”. “Confirmado” – concluiu o vendedor. À medida em que os quilos iam sendo pesados – o monte de moedas sobre a mesa ia crescendo. O vendedor ao ver as atraentes moedas de ouro brilhando sobre a mesa foi atacado pelo desejo de adquiri-las; esperou uma oportunidade... Quando percebeu que o comprador se virou para ajeitar a mercadoria adquirida em um canto da sala onde se encontravam, começou a roubar as moedas que se encontravam sobre a mesa; e assim fazia a cada oportunidade... Pela grande tentação em adquiri-las ele se esqueceu que cada moeda lhe custaria dez moedas; logo cada moeda de ouro roubada lhe faria perder outras nove. Ele estava convencido de estar “lucrando” uma moeda de ouro em cada roubo efetuado, porém – na verdade – estava perdendo nove”. Uma pessoa nunca lucrará com o roubo; aparentemente poderá lhe parecer estar ganhando, porém, na verdade, estará perdendo muito mais. Através do roubo uma pessoa poderá estar recebendo neste mundo o pagamento de suas boas ações, mas, quando sua alma retornar ao mundo espiritual já não será recompensada; no momento do roubo ela
poderá se sentir feliz pelo “lucro” obtido, mas chegará o momento onde deparar-se-á com a amarga realidade – neste mundo ou no próximo. [Baseado nas fábulas do Sábio Israel Meir – HaChafets Chaim]
“O destino de todo ladrão é a autodestruição” – O roubo lhe parece doce e agradável,
porém na verdade está destruindo a sua própria alma. (Baseado em Provérbios 1, 19)
XIV
METAS – OBJETIVOS Estamos nos aproximando de nossos objetivos ou apenas nos afastando cada vez mais? Uma Vida Com Metas – Uma Vida Com Sentido
V
iver com metas acrescenta qualidade de vida. Ao contrário, uma vida sem objetivos, é uma vida vazia. Alguém que vive sem metas, provavelmente, não saberá valorizar o tempo de sua vida... Ele sentirá a vida passando e nada concreto se realizando; inclusive, esta situação poderá causar – em certos casos – uma fraqueza mental e um desequilíbrio interno “inexplicado”...
Uma pessoa que vive com metas estará sempre pensando como investir o tempo de sua vida de forma produtiva; ela pensará como adquirir as ferramentas necessárias para alcançar as metas desejadas – aonde e quanto se dedicar para cada tarefa e também para o lazer; uma vida equilibrada e satisfatória.
O Crescimento Gradual – O Sucesso Real Pressão X Progresso Todas as pessoas, de forma geral têm como objetivo crescer e prosperar – independente de seu campo de atuação. De um lado existe o desejo de crescer e chegar ao objetivo desejado rapidamente. Por outro lado, existem as nossas limitações; nem sempre encontramo-nos em condições que possibilitem alcançar e suprir os nossos desejos de imediato. Em nossa frente duas opções: a pressão ou o progresso; agora explicaremos... A Pressão Em muitos casos, a pressão surge quando alguém deseja concluir uma meta em um período que está além de suas condições atuais; isto é, quando uma pessoa anseia adquirir algo ou se encontrar em determinada situação de imediato, e as suas condições atuais não a possibilitam fazê-lo – pois existem barreiras que bloqueiam o processo de realização imediata de suas metas, ela se sentirá pressionada; isto ocorre quando ela visa somente a conclusão do objetivo final e não se enfoca em sua posição real. Em resumo, quando uma pessoa deseja de imediato algo que a sua realidade não lhe permite alcançar, ela será dominada pela pressão. Esta situação poderá causar também uma intranquilidade e insegurança... Pois, ela não estará vivenciando o seu verdadeiro “eu”, e ao contrário, ela estará vivenciando o que ela não é capaz... Uma vez que ela está concentrada em algo que todavia ela não pode alcançar, sentirá a sensação do “vazio”... Para esclarecer melhor este tema, traremos a segunda opção – O progresso... O Progresso Como seria o comportamento correto? De fato, a pessoa deve ter em mente o seu objetivo – saber aonde ela quer chegar; porém, ela não deve desejar estar ali de imediato... isto é, ela deverá ter consciência do local onde se encontra e de suas limitações, e, segundo a sua capacidade, estar sempre avançando no sentido de concluir o seu objetivo final. Ela deve vivenciar a sua realidade – o seu verdadeiro “eu”; viver o que ela é capaz, e, a partir de
onde ela se encontra, estar continuamente avançando – segundo a sua capacidade – para alcançar o desejado. Assim ela estará concentrada em suas conquistas, no seu sucesso, e não no que está lhe faltando. Desta forma ela será uma pessoa segura e tranquila. Para expressar melhor este conceito traremos um exemplo... “Correndo pelas ruas”
Imaginem a seguinte situação... Uma pessoa caminha pelas ruas em direção à sua casa. Ela está bem apressada e ansiosa, e já não vê a hora de se encontrar com a sua família; em resumo, ela gostaria de chegar em casa imediatamente! Então, o que ela faz? Começa a correr pelas ruas apressadamente, apressadamente, se tomba com outras pessoas, atravessa as ruas fora do sinal passando entre os carros... A cabeça dela já está em casa, ela não vive a realidade do cenário onde se encontra... As chances de ser atropelada ou ferida aumentam de forma significativa; e quem garante que ela conseguirá chegar em casa inteira? A pressão é causada pela vontade de se encontrar em um local ou em uma situação que está além de suas limitações atuais. Como ela deve agir? Primeiramente ela deve estar consciente de seu objetivo; ou seja, ela quer chegar em casa o quanto antes possível... Por outro lado, ela deve ter a consciência das condições do local onde se encontra atualmente. Sendo assim, ela deverá levar consigo uma leve preocupação em progredir continuamente no sentido de seu objetivo – chegar em casa; e não se desviar com atrações ou assuntos alheios; contudo, ter em mente men te que todavia existe um caminho com “barreiras” entre ela e a sua casa... Ela não deve atuar de forma impulsiva; deve caminhar firme e continuamente, continuamente, contudo, saber quando parar e esperar para concluir o seu objetivo de forma propícia... Deixar de correr pelas ruas descontroladamente descontroladamente e esperar o “sinal abrir” não é tempo perdido, é um investimento! Desta forma, provavelmente, ela terá êxito. Isto seria viver a realidade, ou seja, ter consciência do local onde se encontra e adiantar passo a passo segundo as condições apresentadas. Uma vez que ela vive a realidade, não haverá pressão, somente uma leve preocupação positiva em estar caminhando em direção ao “alvo”; ao contrário da pressão, isto lhe causará tranquilidade e satisfação! [Baseado nas palestras do R. R . Reuven Loichter, aluno do R. Wolbe z”l] Este conceito é válido tanto no aspecto material como no espiritual Por exemplo – no aspecto material – uma pessoa querendo conquistar a riqueza, poderá levar o seu negócio à falência. A vontade de ver a sua firma prosperar de imediato, poderá causar com que ela faça investimentos desproporcionais à sua realidade. Portanto, o crescimento gradual seria o ideal; para isso a pessoa deve conhecer a situação real de sua firma e “dar passos” compatíveis às limitações limitações atuais. Além deste procedimento proporcionar um crescimento real, causará à ela uma satisfação a cada passo realizado, pois ela estará vivenciando as suas conquistas e não o que lhe está faltando.
No aspecto espiritual – uma pessoa visando adquirir sabedoria, poderá desejar estudar e saber, de imediato, todo o Talmud; ou se transformar em um justo de um dia para o outro... Isto causará pressão, pois uma pessoa não tem condição de saber tudo e de se aperfeiçoar integralmente de um dia para o outro; isto is to será possível somente através de um processo gradual. Portanto, o correto seria ter em mente, continuamente, a leve preocupação positiva de conquistar a sabedoria e de se aprimorar; contudo, ter consciência de suas condições atuais e se concentrar somente nas conquistas e não no que lhe está faltando. Assim ela estará vivenciando o seu sucesso, estará tranquila e feliz com as suas novas aquisições. A Grande Pergunta “Para que deveríamos nos preocupar cada vez mais com novas conquistas? Ou mesmo, qual seria o objetivo de viver se no final – de qualquer forma – não levaremos conosco nada? Se no final todas as lembranças se apagam e tudo termina, qual é o benefício deste pequeno período intermediário?” (Perguntou Sílvia – 12 anos, para sua irmã de 14)
O Labirinto A vida do ser humano pode ser comparada a um complexo labirinto onde, em seu final, encontra-se uma torre que permite observar todos os caminhos de cima – podendo ver claramente o destino de cada bifurcação... Porém, quem todavia se encontra dentro do labirinto não sabe o destino de cada caminho. Existem caminhos que aparentam aproximar a pessoa do objetivo final – mas, de fato, estão somente complicando a sua situação; e, ao contrário, existem caminhos que aparentam estar lhe afastando do objetivo, sendo ele, de fato, o único que levará a ele – não existindo outra alternativa. Por outro lado, uma pessoa que já passou pelo labirinto e se encontra sentada, observando pela janela da torre todas as opções, poderá guiá-la... Ela está vendo todas as opções estiradas à sua frente; ela sabe para onde cada caminho levará! (Messilat levará! (Messilat Yesharim). Assim também conosco – nos “caminhos da vida” – não – não sabemos aonde levará cada decisão; cada opção apresentada poderá estar nos afastando ou nos aproximando de nossos objetivos... Como podemos identificar? Devemos consultar a pessoa que já passou por este “labirinto” e está observando todos os caminhos ali da “torre” e escutar a sua orientação... “Quem é esta pessoa? Onde ela se encontra? Com certeza todos nós gostaríamos de encontrá-la...” encontrá- la...” Aproveitando a Vida “Adoidado”! “Adoidado”? “Ad oidado”?
Escutamos de várias pessoas a seguinte expressão: “A vida é uma só, temos que aproveitá-la aproveitá-la ao máximo!” Porém, de imediato, surge a seguinte incógnita: “Como aproveitáaproveitála ao ao máximo?” Este é um tema para refletir... Talvez o principal tema. Deveríamos dedicar longos momentos de profundas reflexões... Quem poderia nos ajudar? O consagrado sábio e líder que recebeu o título de “o mais inteligente dentre todos os homens” – o – o Rei Salomão, se dedicou profundamente neste tema; inclusive escreveu uma incrível obra onde nos revela uma grande pesquisa em busca da resposta para esta incógnita. Ele apresenta dados impressionantes, nos oferecendo desta forma, meios para uma encantadora reflexão de como aproveitar a vida “adoidado”, quer dizer... ao máximo! Quem seria melhor do que ele para nos transmitir esta ideia? O quê falou o Rei Salomão? O Rei Salomão escreveu, entre outras obras, o livro Kohelet – registrando uma análise profunda e objetiva sobre o objetivo de nossa vinda à este mundo... Portanto, empenhamonos em uma análise mais profunda de suas palavras utilizando esclarecimentos de vários outros Sábios que dedicaram-se em estudá-las. Seria o objetivo deste mundo se alegrar alegra r e se divertir? Várias pessoas com excesso de alegria e em busca de diversão, causam sérios danos para elas mesmas e também para a sociedade; é claro que a alegria e o bem estar são fundamentais, eles também nos proporcionam meios fantásticos para o cumprimento de uma determinada função; eles são ótimas “ferramentas”. Contudo, o Rei Salomão chegou à conclusão que a busca da alegria e diversão – por si só – não pode ser o objetivo de nossas vidas, como traremos em seguida... Deveríamos desfrutar desta brilhante criação de forma espontânea (ou seja, simplesmente seguir vivendo) ou será que existe um objetivo por detrás de d e todo este cenário? Vários indícios se encontram no mundo para nos mostrar que ele por si só, de verdade, não é o objetivo final... Por exemplo, continuamente, uma geração chega e outra se vai; e o mundo continua... A cada dia o sol nasce e ele se põe; e outra vez nasce... Os rios levam água continuamente ao mar, porém o mar não transborda... pois, através do ciclo da água, elas retornam aos rios... A natureza é composta de ciclos para nos mostrar que tudo que se encontra no mundo volta para o seu lugar e não temos como retirar dele absolutamente nada. Portanto, de imediato, podemos chegar à primeira conclusão: qualquer ato que tenha como objetivo unicamente o benefício em um âmbito material, não pode ser o objetivo da criação, pois do mundo material não podemos retirar absolutamente nada.
Todos os feitos que visam um objetivo unicamente mundano – terminarão! Eles não trarão benefícios para as pessoas no mundo que virá... Assim escreveu o Sábio R. Moshe Chaim Luzzato: Pense sinceramente... Não é possível – para alguém que reflita – acreditar que o objetivo da criação do ser humano seja unicamente usufruir de sua situação em seu período de estadia neste mundo. O que é a vida neste mundo? Quem realmente vive totalmente feliz e satisfeito? Eis que uma pessoa vive somente 70 ou 80 anos – sendo estes os principais anos na vida de uma pessoa – depois desta idade ela começa a enfraquecer-se de forma mais intensa; e, em sua maioria, os seus dias estão ocupados com o trabalho e dureza... Ora, vejam quantos tipos de sofrimentos encontramos – doenças, dores e preocupações... e no final de contas a pessoa se vai... Dificilmente encontraremos, inclusive uma dentre mil pessoas, que possamos afirmar que está aproveitando a vida de forma integral... mesmo encontrando alguém nesta situação, como ela estará aos 100 anos de vida? Portanto, fica constatado que o objetivo da criação não se limita unicamente na situação da pessoa neste mundo passageiro. (Baseado em Messilat Yesharim, 1)
Se este mundo não é o objetivo final, deveríamos pensar então... Qual seria o objetivo? O Rei Salomão adverte... Pensar neste tema poderá causar incômodo – pois, não poderemos entender todos os acontecimentos mundanos. Aparentemente, a injustiça “reina” de forma “escancarada”... Será que seria melhor não ter nascido? Assim refletiu o Rei Salomão... Aparentemente, seria preferível não vir ao mundo, pois estando aqui, infelizmente, presenciamos todo o sofrimento e a aparente injustiça existente. Ele observou pessoas más, totalmente corrompidas; mesmo quando se preocupam em fazer o bem é para os seus próprios interesses... Abusos, roubos, mentiras, subornos... Como poderia uma pessoa com um bom coração presenciar tudo isso e desejar nascer? A Visão Aparente Superficialmente, todos os acontecimentos são simplesmente um fruto do acaso, ou seja, uma expressão da natureza; na verdade, em um enfoque mais profundo, é o Criador Quem está controlando e manipulando os acontecimentos do mundo através das leis da natureza que Ele estabeleceu – para se ocultar e nos possibilitar o poder de escolha – porém, todos os acontecimentos são, de fato, uma expressão dos decretos Divinos.
O Equívoco Poderíamos pensar, equivocadamente...“Se todos os acontecimentos são simplesmente uma expressão dos decretos do Criador, então uma pessoa que agride e fere a outra, não seria culpada, ela somente estaria colocando em prática o que já foi decretado por Deus.” Isto não é verdade! Pois, uma vez que a pessoa optou por agredi-lo, ela adquiriu a responsabilidade de seu ato e terá que arcar com suas consequências. Mesmo que tenha sido decretado – por algum motivo – que o seu companheiro tivesse que ser ferido, Deus poderia cumprir o Seu decreto de outra forma, portanto, uma vez que esta pessoa optou em fazer o dano, ela adquiriu a culpa para si e terá que arcar com as consequências de seu ato. Após observar a grande “aparente injustiça” existente e a dificuldade em obter o sucesso honestamente, o Rei Salomão nos adverte... “Não devemos nos apressar em reclamar e realizar julgamentos com relação à Providência Divina. Devemos confiar na Justiça Superior. Chegará o momento em que todos os perversos receberão exatamente o que eles merecem.” O Cenário Nos resta perguntar... Por que a aparente injustiça deveria receber um papel de destaque no “cenário” da criação? Não estamos questionando os motivos pelos quais uma pessoa boa sofre ou uma pessoa má prospera... Este tema já foi tratado no capítulo “Sofrimentos”; simplesmente gostaríamos de esclarecer o motivo pelo qual o Criador possibilitou o mal prosperar em nosso mundo... O Sábio R. Moshe Chaim Luzzato explica... O ser humano foi criado para receber prazer; um prazer incomensurável que receberá através de sua conexão com a Presença Divina. Para o prazer ser completo ele deve ser conquistado. Desta forma receberemos este prazer pelos nossos próprio méritos. Portanto, antes de nos proporcionar este incrível prazer, o Criador preparou um local propício para conquistar e um local propício para receber. Este mundo foi criado com os meios necessários para a conquista dos méritos. Aqui, o bem e o mal estão misturados... vemos aparentes injustiças... os valores estão misturados... Neste mundo, uma pessoa má poderá prosperar... O objetivo disto tudo é criar o cenário que possibilitará a cada um o poder de escolha... o livre arbítrio... desta forma, cada um poderá optar por que caminho tomar... Optar por um caminho digno e cumprir com os preceitos do Criador exigirá um esforço, a pessoa terá que superar certas tendências naturais, controlar certos desejos... Na verdade, cada caso ou acontecimento na vida de cada um visa a este objetivo. Desta forma, no momento e local propício, a pessoa receberá todo esse intenso prazer que está guardado para ela por mérito e não por esmola – receberá por cada vez que agiu corretamente, por cada vez que superou-se, por cada vez que deixou de cometer alguma transgressão, por cada bom pensamento e até mesmo pelas consequências indiretas de seus atos e de seus descendentes.
A Perplexidade Apesar de entendermos que a possibilidade de existir a aparente injustiça também faz parte do roteiro traçado pela Providência Divina, o papel de destaque que ela recebeu pode confundir as pessoas... Elas perguntam e exclamam: “Por que tanta injustiça? Isto me deixa perplexo!” Felizmente, em nosso mundo encontram-se pessoas com bom coração que se importam com os seus semelhantes; por outro lado, infelizmente, também cruzamos com pessoas que se preocupam somente com as suas condições pessoais, desconsiderando em absoluto as necessidades alheias; inclusive estão dispostas a causar danos em seus companheiros com o objetivo de suprir os seus desejos. De todas formas, o Rei Salomão questiona... Vemos que tanto uma pessoa boa quanto uma pessoa má terminam no mesmo local, ou seja, chega o dia em que todos deixam este mundo... Será que realmente eles vão para o mesmo local também em um âmbito espiritual – em suas pós vidas? Nós não temos meios naturais de observar o que se passa ali – em suas pós vidas, portanto, o fato de que ambos se encontrarão no mesmo local, poderá causar uma confusão para as pessoas, dando a impressão de que não existe uma Providência... Primeiro, vivenciamos um mundo aparentemente injusto, logo ficamos ainda mais perplexos ao ver que nada se passa, todos terminam exatamente no mesmo lugar... De todas formas, o fato dela saber que um dia terá que deixar este mundo, servirá de estímulo para retificar os seus atos e os seus valores. Deus dirige o mundo seguindo as regras naturais que Ele criou – a fonte de tudo o que acontece são os Seus decretos... Apesar de tudo estar aparentemente caminhando de forma natural, no final haverá o acerto de contas; cada um será responsável pelos seus atos. Finalmente, cada um será julgado pelo mal que realizou ou que ajudou seu companheiro a realizar. Então, tudo estará claro, cada acontecimento será perfeitamente entendido e “encaixado” em um grande e complexo “quebra-cabeças”. Sabemos que para cada acontecimento existe um objetivo; portanto, cada um deles foi colocado pelo Criador devidamente em seu tempo e lugar. Durante o nosso período de vida, estamos impossibilitados de enxergar todo este sistema de forma integral – não temos a capacidade de compreender inclusive os limites de influência de um único acontecimento. Isto faz parte das regras estabelecidas pelo Criador; porém, é possível após uma reflexão, entendêlo parcialmente – ou seja, entender parcialmente a conexão entre alguns acontecimentos. Esta visão parcial da Providência, junto à ciência que chegará o dia em que tudo será revelado e a justiça será executada, e também a ciência que chegará o momento em que teremos que passar para uma vida em outra dimensão, servirão de estímulo para colocar em nossas vidas a ênfase em valores verdadeiros – novas “medidas” de preocupação com o próximo, honestidade e estudo para entendermos os preceitos Divinos.
O Ideal Portanto, o ideal seria nos satisfazer com a situação e a posição que recebemos neste mundo; e também tentar, dentro do possível, ajudar a suprir as necessidades de outras pessoas; pois somente no período de vida possuímos a oportunidade de realizar estes atos louváveis. O Trabalho – O Dinheiro De fato, quem não se preocupa em adquirir sustento não terá o que comer... de todas formas, é preferível e correto receber honestamente pouco, do que receber muito cometendo transgressões; também seria melhor para a pessoa optar por um trabalho que permita a ela viver de forma tranquila – mesmo com um lucro menor, ao invés de optar por um trabalho que exige um esforço exagerado, diminuindo a sua qualidade de vida. A função do trabalho é nos proporcionar os meios necessários para viver, não sendo ele o objetivo por si só. Portanto, devemos ser cuidadosos em não agir de forma imprópria para obter lucros maiores, pois, desta forma, estaríamos trocando um valor principal – atuar honestamente – por um valor imaginário. A visão correta em relação ao trabalho O trabalho é um meio de adquirir meios para cumprir com uma função mais elevada. Uma pessoa que adquiriu bens, deve preocupar-se com as demais pessoas e não guardar tudo para si; além do mais, haverá ocasiões onde ele também dependerá da ajuda alheia. O Rei Salomão constatou que existem pessoas que já saciaram todos os seus desejos e de todas formas não estão satisfeitas, estão sempre “sedentas” - procurando ampliar as suas aquisições; elas não se importam com a situação dos necessitados e não ajudam aos seus familiares e companheiros... Saiba, concluiu, que o futuro de uma pessoa não depende de sua posição neste mundo, foram poucas as pessoas que souberam como agir para conquistar uma posição elevada no mundo verdadeiro – o mundo que seguirá em sua pós vida. Portanto, uma pessoa não deve objetivar a ampliação contínua dos seus bens materiais, mesmo com boas intenções, e sim, estar satisfeita e contente com a sua situação – a sua porção; e no quanto for possível, acrescentar tempo no estudo da Torá e em atos filantrópicos – sem a intenção de receber algo em troca; no final das contas, são estes os atos que proporcionarão benefícios espirituais – os quais a pessoa levará consigo em sua pós vida. Conselhos de Sucesso
Traremos alguns conselhos baseados nos ditos do Rei Salomão. Se nós perguntássemos para alguém... “De quem você gostaria de receber conselhos de vida, conselhos que poderão contribuir para sua formação – em resumo – para ter uma vida melhor?” Certamente, todos gostariam de receber conselhos de alguém que entende profundamente de todos os temas relacionados à psicologia e à formação humana e de toda a criação... Quem poderia ser melhor que o Rei Salomão – que dominou com a sua inteligência o mundo inteiro – também em âmbito espiritual? Portanto, traremos uma coletânea de conselhos encontrados em sua obra Kohelet... “O Tolo”
A atitude do tolo revela a sua essência. São as próprias palavras de um tolo que levam as pessoas a desprezá-lo; ao contrário das palavras do Sábio que são bem aceitas pelas pessoas. Como reconhecer um tolo? O tolo fala mais do que o necessário e faz promessas inclusive em questões que estão fora de seu controle; o tolo se esforça desnecessariamente. O Rei Salomão afirma: A pessoa inteligente se preocupa com o futuro; portanto, ela pensa o que lhe trará benefício para sua pós vida – que é eterna – e os tolos somente pensam em sua diversão momentânea. Para cada feito existe o seu momento propício. Não adianta fazer algo bom em um momento impróprio; pois, desta forma, não obterá o benefício adequado. De todas formas, as características pessoais de um indivíduo não garante o seu sucesso; existem acontecimentos que estão além de nosso controle e não sabemos quando acontecerá algum imprevisto. “O Amigo”
Todos aqueles que querem dominar aos demais, simplesmente causarão o mal para si próprio... Aquele que controlou o seu companheiro para lhe fazer o mal, no final, este mal retornará para ele. O contrário também é verdadeiro... uma pessoa será beneficiada pelo bem que proporcionou aos seus semelhantes. É melhor repreender – educadamente – uma pessoa por sua transgressão do que “rir para ela” e, desta forma, deixá-la seguir em seu caminho deturpado. Saiba que, uma pessoa de má influência pode afastar e impedir várias outras de desenvolver a sua sabedoria. “Ser Amigo de Si Próprio”
Devemos superar a preguiça e consertar um problema enquanto ele ainda está pequeno, para que ele não venha a crescer; pois do caso contrário, será bem mais difícil consertá-lo. No momento em que uma pessoa faz o mal, ela não sente o que está causando; portanto, poderá parecer aos olhos dela que não há nenhum problema... Isto acontece para não interferir em seu livre arbítrio. Todo o bem que podemos fazer enquanto estamos em vida, devemos realizá-lo; pois após a morte já não poderemos alterar a nossa sentença. Uma pessoa deve ter cuidado para não se conectar com certos prazeres – relacionados às transgressões – pois, depois de se conectar, será difícil para ela se separar deles. Porém, quem está satisfeito com o que tem, não procurará satisfazer-se de forma proibida. Alguém que busca e se esforça na realização de uma meta correta, poderá vencer mesmo sem possuir boas condições. Não devemos temer os acontecimentos cotidianos, pois o futuro está oculto; sendo assim, devemos seguir agindo de forma natural. “Eu Sou Eu”
Devemos analisar os nossos atos e não devemos acreditar em tudo o que ouvimos. A única forma de retificar a nossa forma de atuar é analisando o nosso comportamento e pensar em soluções para aperfeiçoá-lo gradualmente. Devemos refletir sobre “os dias que virão”, uma vez que eles serão mais longos que os dias de nossa vida atual e, ali, não haverá mais a possibilidade de nos aprimorarmos como pessoas. Não devemos construir nossas vidas baseando-nos nos conselhos daqueles que se enfocaram unicamente na obtenção do sucesso mundano; deixando de lado a sabedoria daqueles que nos proporcionam também o sucesso para toda a eternidade. Uma vez que no final das contas todos perecerão, o esforço em acumular aquisições mundanas é em vão... Devemos averiguar os temas da vida verdadeiramente e, desta forma, adquirir sabedoria... Tudo o que nós fazemos – de verdade – está sob o controle do Criador; devemos respeitar os Seus Mandamentos – pois, para isto nós fomos criados; devemos ter sempre em mente que cada ato será analisado – tanto os bons quanto os outros... O Mundo – Uma Roda Gigante “Reflexões em um parque de diversões”
Em seguida, traremos o relato de um velho companheiro após passar um dia com seus filhos em um parque de diversões... “Em certa oportunidade, vivenciei uma bela tarde com meus filhos em um parque de diversões. Aproveitei a oportunidade para observar e refletir sobre o comportamento e o sentimento de uma criança no parque... No pula-pula, ela pula e pula; e volta para o mesmo lugar... O que ficou? A sensação de pular mais alto... No carrossel... ela gira-gira e volta para o mesmo lugar... ficou a sensação de girar... Na roda gigante... roda-roda e permanece no mesmo lugar... deixou a sensação de rodar... A montanha russa sobe-desce e não leva a nenhum lugar... deixou a sensação do medo e da aventura... O trem fantasma... a sensação do desconhecido, suspense... e do susto... Para sentir cada sensação – a disposição de pagar pelo ingresso, esperar nas longas filas, no calor... A sensação de alegria, de se divertir, de viver, de estar simplesmente aproveitando a vida... A criança cresce e a busca continua... Os meios de aquisição de prazeres crescem... e o parque se expande... A “criança” brota dentro do coração do adulto... A pessoa roda-roda, gira-gira... vive sensações – medo, aventura – e retorna para o local inicial... A mesma criança que chegou – partiu! E o preço? O tempo! Também o investimento para adquirir cada sensação, cada prazer... Ou seja, a própria vida. O precioso e limitado tempo de vida. “Temos que aproveitar a vida” - esta é a expressão que se encontra na “boca do povo”... Verdade! Temos que aproveitar; realmente aproveitar a vida... Então, qual seria o melhor investimento? Devemos transformar o tempo limitado em prazer eterno, um prazer que não terminará com o próprio ato... Um prazer real e eterno. Estou vendo dois palhaços – aqui no parque de diversões – várias crianças em volta deles; eles são o centro das atenções... recebem honra e audiência por estarem vestidos de forma estranha e fazendo bolinhas de sabão... Assim, também se comportam várias pessoas, que, para adquirir importância e atenção, procuram expressar o “palhaço” de dentro delas... Porém, qual é a verdadeira honra? A honra que perdurará para sempre? Isto nós já sabemos... “Ein Kavod êla Torá” - “Não existe honra, exceto adquirindo Torá” (Ética dos Pais).” Um Tema Para Meditar Temos o dever de refletir – pois, caso contrário, seguiremos vivendo casualmente, sem sabedoria, seguindo as futilidades deste mundo até o final de nossos dias, quando teremos
que prestar contas por não termos utilizado do potencial que nos foi entregue. (R. Chaim Moshe Luzzato, Livro Derech Ets Chaim 186)
A pessoa, na maior parte de seus anos, se dedica aos cálculos de seus negócios neste mundo passageiro; por que não deveria ela se dedicar e refletir – mesmo por um pequeno período – diariamente, sobre os seguintes temas: “Quem sou eu? Por que eu vim para cá? O que Deus espera de mim? O que será no final das contas? Esta é a fórmula para obter sucesso em nossos dias de vida; através de um pequeno investimento a pessoa colherá grandes frutos. Para uma pessoa que não reflete sobre estes assuntos, as chances de realmente chegar na meta desejada serão mínimas. (Derech Ets Chaim página 177) Primeiramente devemos meditar... Qual foi a intenção de Deus, para que e por que Ele criou toda esta grandiosa criação? Poderíamos erroneamente pensar “Quem somos nós para entendermos os feitos de Deus?” Ao contrário... Os segredos do Criador serão revelados para quem se aproxima Dele, como consta nos Salmos (25, 14). Estes segredos contém a razão de todos os Seus feitos... todos eles visam um único objetivo... (Derech Ets Chaim página 188) A pessoa deve esclarecer qual é a sua obrigação segundo as condições onde ela se encontra; e não basear-se na atitude ou nas imposições da sociedade. Apesar do objetivo da criação ser o mesmo para todos, de todas formas, cada um deve cumprir o seu papel segundo as condições onde se encontra – ou seja, segundo as condições que recebeu; portanto, não é aconselhado copiar os feitos de outras pessoas... Ou desejar estar na posição de seu companheiro... As condições de cada um variam de acordo com a sua função. Cada um possui a sua própria função, portanto, não existe duas pessoas exatamente nas mesmas condições.
XV
"SHABAT SHALOM" Um Dia de Descanso e Santidade O quê é o Shabat? Será que é um dia como outros, ou existe algo mais? O quê a eletricidade tem a ver com isso? O quê transformou esse dia no maior parceiro de nosso povo? Descanso ou Férias?
E
m geral, o entendimento em relação ao descanso está relacionado com férias... Pensamos em praia, piscina, poltrona, cama, etc... Traremos em seguida “expressões familiares”, ou seja, argumentos que escutamos com frequência em nosso dia a dia em relação ao Shabat...
“Para quê um dia de descanso? Não seria mais efetivo descansar quando necessário? Se eu não estou cansado, para quê preciso descansar?” “Se o Shabat é um dia de descanso, o quê é mais lógico... Subir de escada ou de elevador? Não seria mais confortável utilizar o carro ao invés de andar por um longo caminho?” "A única forma que eu posso chegar na sinagoga é de carro... Me parece óbvio que é mais importante ir na sinagoga do que não andar de carro.” “Qual é o problema de andar com dinheiro no bolso? Por acaso a roupa fica mais pesada?” Em contra partida, podemos retrucar: se o Shabat fosse somente um dia para descansar, por que a Torá colocaria tanta ênfase em seu cumprimento? Por que a Torá
salientaria tanto a sua importância ao ponto de incluí-lo entre os Dez Mandamentos? Por que a Torá é tão severa em relação às suas leis? Logo, entendemos que esta definição em relação ao “descanso do Shabat” não está fundamentada nos verdadeiros princípios da Torá. Assim como em vários outros temas, surgiram mal entendidos e deturpações provenientes de um entendimento superficial de pessoas que não se empenharam no estudo do Talmud e nos ensinamentos – conceituais e práticos – dos preceitos da Torá transmitidos pelas autoridades legislativas legisla tivas confiáveis. Neste capítulo tentaremos explicar o conceito “Shabat” de forma profunda e complexa... O tema será construído passo a passo – em um total de 7 passos – para transmiti-lo de forma clara e proporcionar o benefício adequado. Primeiro Passo – Uma Visão Básica, Terminando Com os Mal Entendidos O Conceito do Trabalho no Shabat Daremos início ao tema explicando a natureza dos trabalhos relacionados ao Shabat. Os trabalhos proibidos neste dia não são trabalhos físicos. Existem 39 tipos diferentes de trabalhos relacionados ao Shabat; eles estão correlacionados com os trabalhos que foram necessários para construir o Mishkan (Templo) no deserto (Talmud, Shabat 49b). O Grande Templo – tanto o Mishkan no deserto quanto o Templo na Terra de Israel – fazem um paralelo e estão correlacionados com as influências de todos os níveis espirituais. Eles são como “maquetes” que refletem toda a existência – – De alguma forma eles estão conectados com as forças existentes em todos os campos da criação (Nefesh criação (Nefesh Hachaim Shaar 1, 4, na haga'á). Sendo assim, os trabalhos necessários para construir o Grande Templo, fazem um paralelo e estão correlacionados com os trabalhos utilizados pelo Criador no momento da criação. De fato, a necessidade dos 39 tipos de trabalhos utilizados na construção do Templo é uma consequência dos 39 tipos de forças utilizadas na criação (R. criação (R. Tsvi Rotberg, Livro Modá La'Biná). La'Biná). Portanto, esses 39 trabalhos – utilizados na construção do Templo – são uma expressão em nosso mundo das forças espirituais utilizadas pelo Criador na criação do mundo, cessando no Shabat; ao fazermos um desses trabalhos em nosso mundo físico, acessamos a influência de sua respectiva força no mundo espiritual. Assim, entendemos que a definição de “trabalho” - que está proibido no Shabat, não está relacionada ao trabalho físico e sim aos trabalhos que estão correlacionados com as forças da criação.
“E os Filhos de Israel cuidarão do Shabat, para fazer o Shabat...” (Shemot 31, 16). Está cuidarão do Shabat para fazer o Shabat”. Daqui aprendemos que, ao cuidar escrito: “ cuidarão do Shabat para fazer o aqui embaixo do Shabat – cessando os trabalhos proibidos, também ali em cima – nas esferas espirituais – a influência de suas respectivas forças cessarão (Baseado em Rabeinu Bechaie, Shemot 31, 16). O Significado do Cumprimento do Shabat A Torá relaciona o cumprimento do Shabat com dois temas te mas distintos: a. A criação... “E os Filhos de Israel cuidarão do Shabat... Ele (o Shabat) será um sinal Entre Eu e os Filhos de Israel – pois em seis dias fez o Eterno os Céus e a Terra e no sétimo dia cessou...” (Shemot 31, 16 e 17); “Lembre do sétimo sétimo dia para santificá-lo... pois, em seis dias fez o Eterno os Céus e a Terra... e cessou no sétimo dia...” (Shemot 20, 8 e 11). b. A saída do Egito... “E lembrarás que escravo foste na terra do Egito e o Eterno – Teu Deus – te tirou de lá... port anto, anto, te ordenou o Eterno, Teu Deus, cumprir com o dia do Shabat” (Devarim 5, 14 e 15) O cumprimento do Shabat está relacionado com estes dois temas fundamentais... Ao cumprirmos os preceitos relacionados ao Shabat estamos testemunhando – demostrando na prática – que a existência tem um Criador - “E os filhos de Israel cuidarão do Shabat...p ois em seis dias fez o Eterno... e cessou no sétimo...” ; sétimo...” ; e também testemunhando que Ele continua controlando toda a criação - “Escravo foste na terra do Egito e o Eterno, Teu Deus, te tirou de lá... portanto te ordenou ... cumprir... o Shabat” ; Shabat” ; uma vez que – na saída do Egito – Deus modificou os rumos da natureza para fazer de acordo com a Sua vontade, ficou constatado para toda a humanidade que, além de ter criado tudo, Ele continua guiando e controlando a Sua criação (Baseado em Ramban, Devarim 5, 15). A Severidade do Shabat Shaba t Podemos entender agora o motivo pelo qual a Torá é tão severa em relação a quem profana o Shabat. Assim como, através do cumprimento do Shabat, a pessoa demostra a sua crença no Criador e em Sua Providência, o contrário acontece com alguém que não o cumpre.
Muitas pessoas afirmam acreditar em Deus e em Sua Providência; porém, devemos levar em consideração, que existe a possibilidade de cada pessoa formar em sua mente uma imagem distinta de “deus”; o que cada pessoa define ser “deus”, não necessariamente está compatível com a verdadeira definição de Deus. A pessoa poderá viver toda a sua vida acreditando em um “deus” que ela mesma criou em sua mente sem estar comprometida e envolvida com o verdadeiro Deus. Temos um sinal que comprova que o Deus que a pessoa acredita e confia é realmente o Deus que criou e que continua guiando os rumos da Sua criação – O Shabat! “...Ele “...Ele (o Shabat) será um sinal Entre Eu e entre os Filhos de Israel...” (Shemot 31, 16 e 17); A severidade com que a Torá trata a quem profana o shabat não é um castigo, e sim, uma expressão da realidade na qual se encontra essa pessoa (Baseado no Livro Shabat dia de eternidade do R. Aryeh Kaplan). "Através do Kidush nos despertamos para a importância e grandeza do Shabat; desta forma, fixamos em nosso coração uma íntima conexão com o Criador, confirmando a nossa fé em Sua Providência contínua nos acontecimentos da criação.” (Baseado em Chinuch, Mitsvá 31) Um Mundo Passageiro Outro tema existente no Shabat é nos recordar – a cada semana – que este mundo é passageiro... Temos que preparar a comida do Shabat na sexta feira. O que preparamos, é o que comemos! Assim também, em nossas vidas, preparamos e preparamos... No final, somente levaremos conosco – para o mundo espiritual – o que preparamos neste mundo... Ao chegar ali, não podemos mais preparar, somente desfrutaremos do que conquistamos em nossos anos de vida. “Hoje (em nossa estadia neste mundo) é tempo de fazer, amanhã (no próximo mundo) é tempo de receber os benefícios” (Baseado no Talmud, Eruvin 22a). “A nossa principal estadia não é neste mundo passageiro... Os trabalhos (que não estão permitidos no Shabat) nos relacionam com as forças ligadas a este mundo. No Shabat – Paramos! Não interferimos no processo de forças mundanas... O seis dias de trabalho – em um outro nível de entendimento – estão relacionados com os nossos dias de estadia neste mundo – o tempo de conquistar novos níveis espirituais; porém, o Shabat em si, alude ao Mundo Espiritual. Quando chegamos no Shabat – ou seja, no Mundo Espiritual – Cessamos! Pois ali, já não é possível conquistar novos níveis espirituais .” (Reshit Chochmá, Kedushá)
Segundo Passo – Uma “Visão Panorâmica” do Shabat O Objetivo do Sétimo dia
Nós vivemos em uma realidade onde estamos obrigados a relacionar-nos e conectarnos com questões mundanas; como consequência desta realidade, nós estamos envolvidos continuamente por uma atmosfera física e não espiritual; portanto, foi necessário proporcionar às criaturas uma determinada elevação espiritual para que elas não sejam totalmente envoltas pelas questões materiais. O tempo foi dividido em ciclos de sete dias; este é o período apropriado para que as emanações espirituais exerçam as influências necessárias para possibilitar a existência de mais um estágio completo de toda a criação. O último dia de cada ciclo é o Shabat – ele foi criado com a força de elevar também aos outros seis dias da semana. Através da influência do Shabat, o ser humano pode receber uma inspiração e uma visão da vida mais elevada para toda a semana, oferecendo desta forma, a oportunidade de conquistar um estilo de vida mais profundo e elevado. [Baseado no Livro Derech Hashem] O objetivo do ser humano é conectar o espiritual ao material, utilizando do material para elevá-lo. (R. Tsvi Rotberg, Modá La'Biná); Para realizar o kidush utilizamos uma taça de vinho; consta no midrash que o vinho representa o materialismo – ou seja, ele é usado como um símbolo que representa os prazeres materiais; no kidush nós seguramos a taça de vinho em nossas mãos – representando também, que não devemos nos desfazer do lado material, e sim, direcioná-lo e utilizá-lo corretamente; desta forma ele é elevado – pois está servindo de meio para cumprirmos nossos objetivos; nós seguramos a taça em nossas mãos – ou seja, somos nós quem dominamos ao material para utilizá-lo em nossos objetivos; e não deixar que seja ele quem nos domine. Devemos nos relacionar com a influência do Shabat segundo as suas qualidades. Uma vez que a influência do Shabat é espiritual e muito elevada, devemos nos desconectar – em certo nível – de questões que nos prendem e nos relacionam aos assuntos mundanos; o nível propício desta desconexão foi determinada pelo Criador – Os seus limites estão relacionados aos trabalhos que não estamos permitidos realizar no Shabat. Além desta desconexão parcial das questões mundanas, devemos, em contra partida, nos conectar ativamente com a influência emanada no Shabat – portanto, devemos honrálo e separá-lo dos demais dias da semana (através do kidush – no princípio do Shabat, e a havdalá – ao final dele), e fazer dele um dia de satisfação. Assim, estaremos demonstrando respeito a esta grande influência emanada diretamente pelo Criador; e também nos conectando com Ele. [Baseado no Livro Derech Hashem] Existem vários níveis de conexão com a Luz emanada no Shabat; o nível de conexão conquistado será relativo ao nível de cumprimento dos preceitos e ao nível de entendimento dos temas relacionados ao Shabat. À medida em que a pessoa vai se aprimorando, mais ela eleva o seu nível de conexão (Baseado nos comentários do Gaón Me'Vilna, Imrei Eliahu). Por este motivo, trataremos de esclarecer – no próximo passo – de
forma mais profunda, o processo de influência transmitida no Shabat – pois, como citamos, através do entendimento podemos usufruir de novos níveis de conexão. Terceiro Passo – A Existência em Potencial e na Prática Para dar início a este tema, traremos uma breve análise do seguinte versículo: “E terminou Deus, no sétimo dia, o trabalho que fez; e cessou no sétimo dia, todo o trabalho que fez.” (Tradução literal; Bereshit 2,2) No princípio do versículo está escrito que terminou o trabalho que fez – não está escrito que terminou “todo” o trabalho; contudo, na continuação do versículo, está escrito que cessou “todo” o trabalho que fez. Portanto, surge a pergunta: por que no final do versículo está escrito que cessou todo o trabalho e no princípio, em relação ao término do trabalho, não está escrito que terminou todo o trabalho? Resposta: No começo, o versículo nos relata que, naquele momento, Deus terminou a obra de toda a criação para todas as gerações – porém, somente em potencial – contudo, na prática, Ele renova a criação a cada dia; ou seja, Ele coloca em prática – a cada dia – o que já estava potencializado no momento da criação (Sidur Ha'Gr”á, Siach Itschak em nome do Gaón Me'Vilna). Podemos comparar este fenômeno à uma semente cujo interior já possui – em potencial – a força de fazer crescer uma árvore com frutos e várias outras sementes que, cada uma delas, possui a força de fazer crescer uma nova árvore com várias outras sementes... Portanto, a força de formar uma grande floresta já se encontra em potencial colocada dentro desta única semente; de todas formas, esta força vai sendo colocada em prática passo a passo. Assim também, a cada dia, o Criador renova a criação – colocando em prática a 'influência potencial' de seu respectivo dia; portanto, cada dia recebe a sua influência possibilitando a sua existência na prática. Porém, existe uma exceção... O Shabat! No Shabat tudo cessou. A influência do Shabat é enviada no dia anterior. Junto com a influência da sexta feira chega também a influência necessária para a existência do Shabat. Sendo assim, no princípio do versículo está escrito que Deus terminou o trabalho – e não está escrito “todo” o trabalho – pois, se refere ao trabalho em potencial; ou seja, D’us, naquele estágio, terminou o trabalho em potencial para todas as gerações, porém, todavia faltava colocá-lo em prática, portanto, não está escrito “todo”. Contudo, na sequência, o versículo relata que D’us cessou “todo” trabalho; pois no sétimo dia, D’us cessou totalmente – inclusive o processo de colocar em prática a influência em potencial; ou seja, a força de existência do Shabat também foi entregue na sexta feira – pois, no próprio Shabat, também este trabalho cessou! (Sidur Ha'Gr”á, Siach Itschak).
Este conceito também se expressa em nosso mundo prático... Nós trabalhamos e preparamos o Shabat na sexta feira e, no próprio Shabat, somente servimos o que já está preparado. Porém, nos resta perguntar... Qual é o objetivo deste procedimento? Por que a influência do Shabat é entregue na sexta feira? Por que o Shabat deve estar livre de qualquer trabalho? Este tema será tratado no próximo passo... Quarto Passo – O Fio de Conexão Todo este procedimento é para possibilitar e preparar o dia do Shabat para algo muito especial e elevado. Este dia – O Shabat – foi destinado para exercer uma função de extrema importância; ele será como um “fio de conexão” responsável em absorver influências de Emanações Superiores e transmiti-las para todos os outros dias da semana. É necessário que o Shabat permaneça livre de qualquer trabalho para que uma conexão com os mundos espirituais mais elevados seja realizada. Através desta conexão, será transmitido para toda a criação uma grande Emanação com a “influência em potencial” necessária para a existência da próxima semana. Traremos um exemplo: “Um anfitrião desejava servir suco aos seus convidados – ele segurava uma jarra de suco e servia nos copos de cada um. Encheu o copo do primeiro convidado, do segundo, do terceiro... Quando chegou no sexto convidado, serviu dois copos para ele e o suco terminou. O que ele fez? Muito simples, foi à cozinha, encheu novamente a jarra e seguiu servindo... Enquanto servia – não enchia; enquanto enchia – não servia.” Assim também ocorre no Shabat – comparado com a jarra – nesse dia, a criação recebe a influência em potencial da existência para a próxima semana; e, depois, ela é distribuída em seu respectivo dia. Na sexta feira é “servido” duas porções – pois, a influência para existência do Shabat é entregue na sexta feira, para que ele – o Shabat – possa estar livre de “servir” e possa “encher” novamente o seu depósito para a próxima semana. Porém, o depósito do Shabat não é preenchido com suco, e sim, com influência de vida – sendo ele a fonte de influência para a existência de toda criação por mais uma semana (portanto, o Shabat é chamado de “Mekor Haberachá”). Quinto passo – A Luz do Shabat “E disse Deus: Seja Luz! E foi Luz. E viu Deus a Luz que era boa e separou...” (Bereshit 1, 3-4) A Luz Divina que foi revelada no primeiro dia da criação é uma Luz impressionante e extremamente forte – ela foi ocultada para o futuro. Somente será revelada após a criação alcançar o seu objetivo – no Mundo Vindouro (Baseado em Rashi). Porém, a cada Shabat, esta Luz Divina se expressa. Esta é a Luz espiritual que emana no Shabat (Portanto, o Shabat é comparado com o Mundo Vindouro - “Me'ein Olam Habá, Yom Shabat Menucha” ). Esta influência Divina que ocorre no Shabat requer dois tipos de atitudes: a. Parar! Ou seja, não interferir na criação através dos trabalhos proibidos no Shabat; este é o
preceito de cuidar do Shabat - “Shamór” ; b. Nos conectar! Absorver desta luz; este é o preceito de lembrar do Shabat - “Zachór”. O efeito do Shabat depende destas duas atuações; preparamos o terreno para receber as influências do Shabat através do “Shamór” – Cuidando de não profaná-lo através dos trabalhos proibidos que interferem na criação; pois, como já citamos, parando de “servir”, podemos “encher”. Contudo, absorvemos as influências do Shabat através do “ Zachór” – Ao lembrá-lo (com kidush e havdalá) e apreciá-lo, com deliciosas refeições, belas vestimentas, etc.; os nossos Sábios ensinaram que o preceito de cuidar do Shabat e o preceito de lembrar do Shabat foram ditos simultaneamente; pois, através de ambos, juntos, depende a força de influência do Shabat (Baseado nos comentários do Ramban). As Canções do Shabat O cântico está relacionado com a conquista de uma realização – quando alcançamos o nosso objetivo, estamos aptos a nos expressar com o cântico... (Baseado em Michtav Me'Eliahu, Parte 3, 152). Assim também, o cântico no Shabat é uma expressão da conquista de uma nobre realização, onde a criação alcança – dentro do possível – uma conexão ideal; ela está se conectando com o seu objetivo de existência. Através do cântico podemos nos relacionar com esta realização. Dois aspectos de cântico – correlacionados aos dois tipos de atitudes requeridas no Shabat: a. “Zemirót” – Quando a pessoa entende a grandeza da revelação espiritual que ocorre no Shabat; um cântico de reverência como expressão deste entendimento; b. “Shirá” – Expressão da nobre realização de se conectar e absorver da Luz espiritual que emana no Shabat. Um cântico de amor para expressar esta conexão. Sexto Passo - “Três Shabatót Históricos” Existem três Shabatót que determinam um marco no processo de influência das emanações recebidas no Shabat: 1. O Shabat da criação – o primeiro Shabat. 2. O Shabat da entrega da Torá. 3. O futuro Shabat – quando a criação alcançará um nível contínuo de Shabat - “Yom she kuló Shabat”. O Shabat da criação – em sua essência foi enraizado as propriedades do Shabat – de ser o receptáculo de influência necessária para a existência da próxima semana. Todo o processo de funcionamento dessa influência foi estabelecido neste primeiro Shabat. O funcionamento deste processo – possibilitando a continuidade da existência – seguiu desde o início da criação, de Shabat a Shabat, unicamente através da Providência Divina – até o Shabat da entrega da Torá, quando o Povo de Israel recebeu a “herança do Shabat”. Neste dia, o Povo de Israel recebeu a responsabilidade de cumprir o Shabat; neste
estágio, o processo de suprir a criação com a influência necessária para dar continuidade à existência, é acessado através de nossa atuação. Isto explica, de forma mais profunda, o ensinamento de nossos Sábios que, através do cumprimento do Shabat, nós somos considerados como sócios no processo da criação (Reshit Chochmá, Shabat Cap.2). As “chaves” do Shabat nos foram entregues até o futuro Shabat – ou seja, o dia em que toda a criação se elevará ao nível do Shabat – a este fenômeno os nosso Sábios chamaram: “Yom She kuló Shabat” - a época em que todos os dias serão Shabat. A primeira refeição – na noite de Shabat, e a primeira reza (Kabalat Shabat e Arvit ) estão relacionados com o 'Shabat da Criação' (o primeiro Shabat). A segunda refeição (a primeira refeição do dia) e a segunda reza (Shacharit ) estão relacionados com o 'Shabat da entrega da Torá'. A terceira refeição (seudat shlishit ) e a terceira reza (minchá) estão relacionadas com o 'futuro Shabat'. Surge a seguinte pergunta: Qual é o motivo desta ordem de relação entre os três Shabatót “chaves” e as três refeições e rezas de cada Shabat? Por que na noite de cada Shabat nos relacionamos com o 'Shabat da criação', na manhã de cada Shabat nos relacionamos com o 'Shabat da entrega da Torá', e na tarde de cada Shabat com o 'futuro Shabat'? A resposta: Para podermos receber as influências emanadas no Shabat, devemos inicialmente “preparar o terreno”... Porém, como preparamos o terreno? Em seguida explicaremos... Como já foi citado anteriormente, as propriedades do Shabat foram enraizadas no 'primeiro Shabat'; naquele momento ele foi destinado a ser um dia diferente; este fenômeno determinou os limites do Shabat – as suas regras. Ele preparou a “fórmula” do Shabat para todas as gerações. Este fenômeno está relacionado com o processo de cuidar do Shabat – deixando de interferir nas forças de criação – através da paralisação dos trabalhos determinados; pois, parando de interferir nessas forças, possibilitamos a atuação das novas forças de influência que chegam no Shabat; portanto, primeiramente – de noite – devemos “preparar o terreno” para possibilitar a conexão e a absorção da Luz espiritual que emana neste dia. Contudo, no 'Shabat da entrega da Torá', o Povo de Israel foi incumbido de ativar o processo de influência do Shabat – naquele momento, foi criado um elo entre a Luz do Shabat e o Povo de Israel; Este processo de conexão se expressa na manhã do Shabat, pois, após “preparar o terreno” de noite, estamos prontos para criar uma conexão mais íntima com a Luz que emana neste dia. [Baseado no Rabeinu Bechaie, Derech Haremez] Após nos conectarmos mais intimamente com a Luz do Shabat, poderemos, finalmente, adquirir uma proximidade contínua com este nível de conexão; assim chegamos no final do Shabat, com a influência do 'futuro Shabat' – quando o nível de conexão com essa Luz será eterno.
Três Etapas de Conexão – Três Refeições, Três Rezas – e o Descanso do Shabat As influências transmitidas no Shabat, chegam às criaturas, direto das esferas espirituais Superiores, em três etapas – uma mais elevada do que a outra. Isto ocorre durante as três refeições de Shabat, consecutivamente. Como já citamos anteriormente, os nosso atos neste mundo físico, estão correlacionados com seus paralelos espirituais respectivamente. O ato de comer e de nos alimentar – aqui embaixo – está conectado – ali no mundo espiritual – com o ato de nutrir a existência através da influência Superior. Neste momento – na refeição de Shabat – a criação recebe a influência necessária para a existência da próxima semana; a influência necessária para cada dia será liberada em seu respectivo dia. Da mesma forma, consecutivamente, no processo das três rezas do Shabat, a nossa alma recebe – gradualmente – acesso à um novo nível de conexão espiritual; eles estão correlacionados com o nível de influência que podemos receber em cada etapa – respectivamente. Este fenômeno é chamado de “a alma extra” (“neshamá Yeterá”) que recebemos no Shabat. O apogeu se encontra após a terceira reza (minchá), na tarde de shabat, este é o período mais elevado da semana; as mitsvót – incluindo a terceira refeição do Shabat, e o estudo de Torá que nos ocupamos neste momento, mais do que em qualquer outro momento, proporcionam um benefício extraordinário para as nossas almas – uma influência de outras proporções para todos que estão íntegros no cumprimento do Shabat – cada um em seu respectivo nível. Esta influência que vai crescendo paulatinamente – a partir do início do Shabat até os momentos finais – afasta da pessoa todos os tipos de influências negativas; então, emana sobre a pessoa, uma intensa Luz espiritual – através de seus novos níveis de conexão conquistados – assim, a pessoa se encontrará em paz. Este é o verdadeiro descanso do Shabat. (Baseado em Zohar Itró 88a em diante) “Através do cumprimento do Shabat, a pessoa está protegida; pois, as forças de impureza são canceladas neste dia em que o Povo de Israel se encontra em paz...” (Baseado em Midrash Tehilim) Sétimo Passo – A Conexão com o Sobrenatural No Shabat, nós cessamos o processo de influência natural. Esta paralisação permite que uma influência mais refinada e espiritual, que está ocultada pela natureza, seja revelada. Através da abstinência do processo superficial, enfatiza-se uma existência mais profunda; este fenômeno também se expressa na própria pessoa, revelando uma força que
se encontrava guardada – em potencial – dentro de si. Este novo nível recebido pela pessoa, permite que ela se relacione com este nível mais refinado de influência que emana no Shabat – portanto, neste dia, ela poderá sentir um outro nível em sua conexão com o espiritual. [Baseado no Livro Pachad Itschak] A Origem da Conexão O processo de influência natural está diretamente relacionado com a influência astrológica; portanto, seguindo as leis da natureza, deveríamos estar subordinados ao zodíaco... Entre as forças de existência em um âmbito natural, também foram criadas as forças de impureza; portanto, alguém que vive segundo o processo natural de acontecimentos, está acessível também a essas forças. O Talmud cita que o Povo de Israel está além da influência astrológica (Tratado Shabat 156a). O nome Israel – em hebraico – é formado por uma junção de duas palavras “Iashar” “E-l” - diretamente (conectado com) Deus. Este status é recebido pelo mérito do cumprimento do Shabat; através do Shabat a pessoa testemunha a existência de um Criador e de Seu controle contínuo sobre a criação; portanto, se coloca por opção, sob Sua Providência direta. Porém, segundo o que explicamos, podemos entender esta “conexão direta com o Criador” de forma mais profunda... Esta conexão se faz no próprio Shabat, quando a pessoa 'paralisa' o processo natural de influência e se conecta direto com a Luz do Criador; e, como já citamos, também no Shabat chega a influência para toda a semana; desta forma, toda a semana estará sob esta influência sobrenatural – portanto, citaram os nossos Sábios que Israel está além das influências astrológicas; e inclusive, pela conexão adquirida com o cumprimento do Shabat, a possibilidade do acesso das forças impuras (através de magias, bruxarias, etc.) será escassa – isto dependerá também da forma que a pessoa cumprir e apreciar o Shabat. “Uma vez que, no Shabat, essa Luz emana na criação, todas as forças de impureza, inclusive aquelas que pretendem nos causar danos, são repelidas” (Baseado em Zohar, Vaiakel) “Nos dias de Shabat e nas outras festividades (yamim tovim), o poder de atuação das forças de impureza são cancelados pela presença da Luz do Criador” (Zohar, Pinchas) A 'Prisão' de Luxo André, muito bem casado e com dois filhos pequenos, procurava – junto com sua esposa – as suas raízes espirituais; eles consultaram “sites” e se encontraram com distintos tipos de Rabinos. Uma vez que realmente estavam sérios nesta busca, não se satisfaziam com qualquer explicação... Finalmente encontraram-se com um Rabino
sério e sábio, e com ele decidiram criar um relacionamento amigável; eles se encontravam esporadicamente e esclareciam assuntos relacionados ao judaísmo e à vida de forma geral... Por um lado, André e sua esposa estavam admirados com tanta sabedoria... Por outro lado, sentiam tantas barreiras e empecilhos – estavam tão distantes... Aconteceu em uma noite de terça feira... Eles estavam se sentido muito incomodados com a situação em que viviam e, espontaneamente, procuraram o Rabino diretamente em sua casa, simplesmente bateram em sua porta... O Rabino veio recebê-los e André afoito, foi logo falando... André: “Desculpe-nos Rabino, que chegamos assim tão de repente... Estamos nos sentindo muito incomodados com a nossa situação e precisamos esclarecer algo... Rabino: “Pois não... Sobre que tema vocês gostariam de conversar?” André: “Sobre o Shabat.” Rabino: “Por favor...” André: “Rabino, o Senhor sabe que nós não estamos acostumados a respeitar o Shabat... Diga-me, sinceramente, como nós poderíamos ficar presos em casa – mofando – o dia inteiro?! Como poderíamos ficar em casa vendo pelas grades da janela todos indo à praia ou ao clube?! Nos sentiríamos como que... em uma prisão!” André seguiu: “Desculpe-me, Rabino, que eu me expresse dessa forma, mas eu sinto que necessito ser sincero para que o Senhor possa nos orientar...” O Rabino e o casal permaneceram em um profundo silêncio por alguns minutos... Na realidade, o Rabino possuía uma porção de argumentos e ótimas explicações; porém, ele sentia que não poderia transmitir naquele momento tantas informações de uma só vez... Como ele poderia mostrar, de imediato, todos os benefícios relacionados ao Shabat – tanto em uma visão espiritual quanto material? O silêncio prosseguia, os olhares se trocavam; o casal estava comovido, eles esperavam ansiosamente alguma resposta... O Rabino também estava comovido, ele sentia a seriedade do casal e não sabia como transmiti-los tudo de uma só vez... Os olhos de ambos os três se encheram de lágrimas, elas não escorriam porém, percebia-se claramente que elas estavam ali... Finalmente o Rabino se encorajou, respirou, e suavemente sugeriu ao casal um convite atrativo... Rabino: “Vocês gostariam de passar um Shabat conosco... aqui em nossa casa? Vocês podem se alojar no segundo andar, ali se encontram duas suítes e um frigobar, vocês terão toda a privacidade desejada... Então, teremos tempo de conversar tranquilamente ao longo do Shabat...” “O que você acha?” - perguntavam os conjugues , simultaneamente, através de olhares... O Rabino chamou a sua esposa e perguntou: “O que você acha da ideia de convidá -los a passar um Shabat conosco?” “Maravilhoso!” - Respondeu a esposa espontaneamente, com uma grande alegria; “Os nossos filhos adoram quando vêm convidados no Shabat! Por favor, venham... venham sim...”
Após presenciarem a grande vontade de recebê-los, eles se sentiram confortáveis em aceitar o convite... Na tarde de sexta feira eles chegaram; os preparativos para o Shabat estavam no estágio final. Eles foram muito bem recebidos e se alojaram com muito conforto no segundo andar da casa; eles já estavam ansiosos para esta nova experiência de vida que vivenciariam. De fato, eles desejavam cumprir pelo menos aquele Shabat de forma mais séria, eles pretendiam aproveitar a oportunidade única de estar em um ambiente que facilitaria cumprir e sentir – nem que seja por uma só vez – a inspiração do Shabat. André quis participar, junto com o Rabino e os seus filhos mais velhos, da reza noturna de 'Kabalat Shabat' na sinagoga... Regressaram, entraram em casa e se depararam com as velas acesas, a mesa arrumada; eles viram as suas esposas conversando, pareciam ser velhas amigas, e os filhos brincando... Um ambiente maravilhoso. André pensava em seu coração: “Nunca presenciei, em toda a minha vida, um ambiente tão agradável, tão familiar, tão espiritualizado... Interessante que todavia não conversamos nada de espiritual, porém, eu sinto a espiritualidade no ar”; impressionante que, quando André contou à sua esposa de seus sentimentos, ela lhe relatou que estava tomada exatamente pelos mesmos pensamentos... Entraram, cumprimentaram-se, conversaram brevemente e logo todos se sentaram em torno da mesa, cantaram juntos o famoso 'Shalom Haleichem' e 'Eshet Chail'; todos os filhos participavam alegremente. O Rabino fez o Kidush, experimentaram do vinho e logo foram fazer 'netilat iadaim' (ritual de lavar as mãos antes de comer pão). “Interessante...” - pensou André ; “Eu estou acostumado a ver as pessoas simplesmente pegarem a comida e colocá-la na boca... Agora, o que me chamou a atenção, foi o fato de que inclusive as crianças sabem que existe um procedimento... Antes cantam um pouquinho, depois fazem kidush, depois lavam as mãos... Até mesmo elas adquiriram um auto controle... realmente interessante, ninguém agarra a comida e vai comendo...” O Rabino fez em voz alta a berachá do pão para todos e logo distribuiu um pedaço da deliciosa chalá (pão) para cada um; o restante colocou em uma bandeja que se encontrava no meio da mesa... “Agora, cada um pode se servir!” - Disse o Rabino ; logo, ele se voltou ao casal e complementou: “Para iniciar, eu vou servir um pouco das salada para cada um; porém, na sequência – por favor – sintam-se em casa e sirvam-se de acordo com a quantidade e o gosto desejado... Somente levem em consideração que tudo isto é só o começo... Começamos com saladas, depois traremos a sopa, depois da sopa o prato principal e no final a sobremesa...” Casal: “Muito obrigado, nós estamos realmente nos sentindo em casa...” “Uau, que saladas saborosas” - Pensou André ; “Será que é assim todo Shabat? Ou será que só prepararam para honrar-nos?” “...Todas as semanas temos o mesmo problema...” - Seguiu o Rabino- “...Todos 'enchem a barriga' com as saladas e já não conseguem saborear o prato principal... Porém, para
a sobremesa, as crianças sempre deixam um cantinho na barriga... Eh, eh... Não é verdade, crianças?” “Está respondido!” - pensou André . Todos conversavam, os filhos contavam experiências e os casos que vivenciaram na semana, cada um dava a sua opinião como poderia ter reagido em “tal” caso, os filhos menores olhavam, mesmo sem entender muito bem, o que estava sendo falado... O ambiente estava ‘super’ agradável...” “Que legal...” - Pensou a esposa de André ; “Quase nunca vejo os pais conversando com os filhos com tanta tranquilidade e por tanto tempo... Como pode ser? Ah... Parece que estou percebendo algo que nunca pensei... Um dia sem telefone, sem computador, sem trabalho... e sem a preocupação de para onde sair... um dia onde toda a família se encontra, todos estão livres para sentar e conversar... Uau... Um dia que estamos 'presos' para curtir a família...” “O que você preparou para nos falar neste Shabat?” - Perguntou o Rabino ao seu filho mais velho de 14 anos. O Rabino sabia que seus filhos mais velhos sempre preparavam algum ensinamento da Torá para falar nas refeições de Shabat. Filho: “Eu preparei um ensinamento sobre a proibição de envergonhar outra pessoa, esta proibição é ainda mais grave quando se encontra frente a outras pessoas. Eu gostaria de falar da seguinte questão... Será que seria permitido responder de regresso a alguém que está nos ofendendo mesmo que causaria a ela se envergonhar em público, ou será que seria melhor se calar e não reagir?” Surgiu um pequeno debate sobre o tema entre o Rabino a sua esposa e seus filhos e logo o filho mais velho trouxe a solução... André e sua esposa refletiam no que estava acontecendo... “Eu nunca vi tal coisa!!! Como pode ser? Jovens e crianças desenvolvendo temas de valores junto com seus pais, questões tão importantes... Não envergonhar outras pessoas... Controlar a raiva e não responder insultos... Como seria possível se controlar quando alguém nos insulta em público? Em que casos está permitido responder, em que casos está proibido... Nunca parei para pensar nestes temas... Nunca parei para pensar que isto está relacionado com nossas obrigações...” O tempo foi passando, e os filhos menores iam adormecendo no sofá. À medida que adormeciam, iam sendo levados cada um para a sua cama; os mais velhos seguiam e participavam das conversas; de tempo em tempo eles também cantavam as tradicionais músicas de Shabat. Na manhã seguinte o Rabino foi na sinagoga com seus filhos mais velhos; André e sua esposa dormiam satisfeitos junto com seus filhos no segundo andar; eles praticamente não dormiram naquela noite, pois ficaram trocando ideias sobre a encantadora experiência que estavam vivenciando, eles acordaram e desceram para a segunda refeição de Shabat. Assim como a primeira refeição, foi a segunda (na manhã de Shabat)... e a terceira (no final da tarde de Shabat) longas conversas, comida saborosa, temas interessantes, sabedoria e canções...
Entre uma e outra refeição, eles descansaram, fizeram um breve passeio, o Rabino estudou um pouco com cada filho e ainda sobrou tempo para baterem um 'papinho'... O tempo passou bem rápido, de todas formas os casais conversaram de vários temas, porém um tema ficou de lado e esquecido – Eles não conversaram sobre o tema do Shabat! Rabino: “Eu estou envergonhado!” André: “Por que? O que aconteceu?” Rabino: “O Shabat foi ‘super’ agradável, nós conversa mos de vários temas, porém, o principal dos temas pelo qual vocês vieram passar aqui o Shabat foi esquecido... Nós esquecemos de conversar sobre o próprio Shabat... Que vergonha...” André e sua esposa começaram a rir, e não paravam... “Por que vocês estão rindo?” - Perguntou o Rabino curioso. Casal: “Já não é mais necessário... Todas as nossas perguntas já foram respondidas!” Rabino: “Como assim? Nós nem tocamos no tema do Shabat!” O Casal seguiu explicando: “Nós percebemos algo interessante...” Rabino: “Por favor...” Casal: “Nós chegamos à conclusão que somos nós que estamos perdendo... Todos os fatores que temíamos 'sair perdendo' por cumprir o Shabat, na verdade são 'puro lucro'... Nós percebemos que todas as “limitações” do Shabat proporcionam construir um ambiente familiar, um estímulo para escutar as experiências dos filhos, debater sobre temas importantes e elevados – Sem telefone e computador... o marido está somente com a esposa e filhos – comer tranquilamente em um ambiente espiritualizado, investir na conexão familiar e no crescimento dos filhos... e, de quebra, receber todos os benefícios espirituais relacionados ao Shabat... isto não é uma 'prisão' qualquer, é uma 'prisão' ideal, uma 'prisão' de luxo! É uma pena ter que deixá-la no domin go...” Rabino: “Vocês estão me confirmando um pensamento que escutei, o qual dizia: Um sentimento vale mais que mil explicações!” O Rabino seguiu: “Tudo o que vocês falaram é verdade; porém, nem todos que cumprem o Shabat usufruem deste ambiente... Para chegar à esta harmonia deve-se investir um pouco em pensamento e preparação.” Casal: “O Senhor poderia explicar um pouco mais sobre este ponto?” Rabino: “Pois não... Existem pessoas que cumprem o Shabat porém, pensam somente em comer e dormir... e não tiram o olho do relógio esperando o término do Shabat para prosseguirem com os seus afazeres cotidianos. De fato, comer e dormir faz parte do Shabat... Contudo, eles se esquecem do principal, usufruir dos benefícios do Shabat e colocar em casa o 'clima' apropriado. Sentar-se tranquilamente, se preocupar em escutar os filhos e não encará-los como uma moléstia, tentar participar de suas experiências e de seus pensamentos, preparar alguns temas interessantes – sobre os ensinamentos da Torá – para debatê-los nas refeições – por exemplo, pode-se selecionar pontos interessantes de algum livro – e, em cada refeição criar um debate sobre um deles... Isto criará um clima familiar construtivo e, desta forma, todos absorverão das elevadas influências espirituais que nos envolvem neste dia.”
Casal: “Rabino, saiba... O medo de cumprir o Shabat era o maior empecilho em nossa decisão de cumprir de forma mais séria os preceitos da Torá; agora, ao contrário, sentimos que o Shabat será o nosso maior estímulo para seguirmos em fr ente!”
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Por de Trás da Mística O MÍSTICO 2 “Aprofundando na Mística” Esta obra aprofunda e desenvolve temas tratados no livro ‘O Místico’ e aborda também outros temas: MAGIA & BRUXARIA: OS TRABALHOS DE BRUXARIA QUE AFETARAM AOS JUSTOS; O INCRÍVEL CASO DA PESSOA QUE SE ENVOLVEU COM AS FORÇAS DA BRUXARIA; POR TRÁS DA CHUPÁ ” (CASAMENTO): QUEM VEM PARA PARTICIPAR DA FESTA?; ONDE ESTÁ MINHA ALMA GÊMEA?; CASAMENTO – UMA NOVA “PÁGINA” NA VIDA; O TEMPO DE VIDA II: “PERDER TEMPO” OU “PERDER O TEMPO?”; COMO ADQUIRIR MÉRITOS PARA RECEBER UMA
NOVA FUNÇÃO?; A INFLUÊNCIA DAS PEDRAS: QUAL É A ORIGEM DA FORÇA DE INFLUÊNCIA TRANSMITIDA PELA PEDRA?; AS DOZE PEDRAS; O MAU OLHADO: A VISÃO DA TORÁ EM RELAÇÃO AO MAU OLHADO, MAU OLHADO CONTRA INOCENTES, “QUAL SERIA A PROTEÇÃO CONTRA O MAU OLHADO?”; QUIROMANCIA II: AS LINHAS DA MÃO DE IOSSEF,; SONHO: CARACTERÍSTICAS DE UM SONHO VERDADEIRO, NÃO DEVEMOS NOS PREOCUPAR COM SONHOS; A AURA II; ASTROLOGIA E SINAIS: A ASTROLOGIA E NOSSOS ANTEPASSADOS, ACREDITAR OU DESPREZAR?; “ALTERANDO A SORTE”; A VIDA APÓS A MORTE II: SE O CORPO SE DETERIORA DE QUALQUER MODO, POR QUE É PROIBIDO CREMÁ-LO?
Por de Trás da Mística O MÍSTICO 3 “Nome, Energia, Influência e Providência” Temas tratados no livro: Nomes: O Nome de Toda Criatura, O Nome Não é Obra do Acaso; Influência e Providência; Contato com os Mortos: Qual é o sentido de rezar no local em que um justo foi enterrado?; Psicografia – A escrita do espírito; “A brincadeira que não é brincadeira” ; A Influência das Cores: As Cores e a Providência, As cores do arcoíris; Superstições: A influência de cada dia, Sinais irracionais, “Linguagem dos Pássaros - Sinais que se encontram na natureza”; “Pressionando a Sorte”; Medicina Alternativa: A Obrigação de se Tratar, Consultar Médicos Especialistas, A Energia, Energia Universal; Espiritualidade Alternativa: As Forças de Impureza, Qual será o final dessas forças?; Com quem se juntar?; Estudo dos Versículos: Os nove temas que foram proibidos pela Torá; Torá Expressão da Realidade: “O Sábio e o Imperador”.
Decisões Entre Vidas e Vidas “Um orfanato que está em chamas. Caberia arriscar a própria vida para tentar salvar essas crianças? Um terrorista prestes a realizar um atentado. Seria permitido atacá-lo, causando a morte de inocentes? O médico anuncia: “Se a vida de qualquer um dos dois não for sacrificada, ambos (mãe e feto) perecerão.” O que fazer nesse caso? Seria permitido entregar minha própria vida para salvar um amigo? É correto delatar um só indivíduo para que se possa salvar um grupo de pessoas?” O objetivo desta obra é desenvolver o pensamento da Torá, oferecendo ferramentas para um entendimento mais abrangente das variáveis que cercam questões fundamentais como estas. O livro vem permeado de referências, indicando as fontes textuais que foram utilizadas. No livro ‘Decisões Entre Vidas e Vidas’ estão incluídos também diversos temas relacionados à preservação da vida — como ‘cuidar da vida’, o aborto, o suicídio, as consequências ao envergo nhar uma pessoa em público, entre outros.
O Livro de Yona - O Profeta Jonas
O Livro do Profeta Jonas traduzido e explicado de forma filosófica e mística, fazendo um paralelo entre a história do Profeta Jonas com a vida após a morte, reencarnação, astrologia e a passagem da alma desta vida para a próxima. Também nos traz orientação quanto ao tema do arrependimento, aprimoramento pessoal e desenvolvimento espiritual.
Coleção “O Encanto do Pincel"
O Criador e a Criação uma Obra de Arte “A conexão do mundo espiritual em nosso mundo físico através do pintor, do pincel e
de uma tela!” A Influência das cores e o poder das pedras “O significado das cores no mundo espiritual e a sua influência em nosso mundo físico” “A origem da força das pedras e sua influência em nosso mundo”
Coleção Israel Israel – O Florescimento Olhando Para Israel e Vivenciando as Profecias “17 Profecias que se Realizaram Recentemente e as Profecias que Estão Para se Realizar” Israel – A Terra Prometida O Segredo Sobre o Conflito Árabe-Judeu e as Profecias Vontade de viver “Não pedimos por sofrimentos. Porém, eles nos proporcionam construir um ‘eu’ muito mais profundo” Existem acontecimentos que vão além de nosso entendimento; e existem sentimentos que vão além dos acontecimentos. Não temos como saber porque cada pessoa passa por cada acontecimento que ela vivencia. Esta questão vai além de nossa limitada visão. Já que a visão do ser humano é limitada, ninguém tem a aptidão de julgar à ninguém. Uma pessoa que se encontra em uma situação de saúde delicada se encontra com uma visão mais real da vida. A situação delicada da pessoa elimina as atrações e a tendência à busca de futilidades que impedem o aproveitamento Máximo de seu tempo. Ninguém pede para estar em uma situação difícil ou em uma situação de saúde delicada... Contudo, sem dúvida, esses momentos podem ser os momentos de uma experiência de vida mais profunda que a pessoa jamais sentiu. Alguém que já se encontra em uma situação assim, recebe a oportunidade de ver e analisar o mundo de forma mais real.