O QUE É VEDANTA Alguns conceitos: A Unidade Unidade da Existência (Unidade na Diversidade)
A unidade de existência é um dos grandes temas da Vedanta e um pilar essencial da sua filosofia. A unidade é a canção da vida; é o grande tema que subjaz às ricas variações que existem em todo o cosmos. O que quer que vemos e o que experimentamos é apenas uma manifestação dessa eterna unidade. A divindade no âmago do nosso ser é a mesma divindade que ilumina o sol, a lua e as estrelas. Não há nenhum lugar onde nós, infinitos em nossa natureza, não existimos. Embora o conceito de unicidade possa ser intelectualmente atraente, sem dúvida é muito difícil colocá-lo em prática. Não há nenhuma dificuldade em sentir essa unidade com os
grandes e nobres seres ou com aqueles que já amamos. Também não é difícil experimentarmos um sentimento de unidade com as árvores, com o mar e com céu. Mas a maioria de nós se recusa a experimentar a unidade com seres repelentes tais como a barata ou o rato – sem falar no antipático colega de trabalho a quem mal conseguimos tolerar. No entanto, é justamente aí que precisamos aplicar os ensinamentos do Vedanta e perceber que todos estes múltiplos aspectos da criação estão unidos em e através da divindade. O Ser que está dentro de mim, o Atman, é o mesmo Ser que está dentro de você, não importa se o ―você‖ em questão é um santo, um assassino, um gato, uma mosca, uma árvore, ou um motorista irritante com quem cruzamos no trânsito. ―O Ser está em toda parte‖, diz o Isha Upanishad. ―Aquele que vê todos os seres no Ser, e o Ser em todos os seres, não odeia ninguém. Para quem vê a unicidade em todos os lugares, como pode haver decepção ou
tristeza? ‖ Todo o medo e toda a infelicidade surgem de nosso senso de separação da grande unidade cósmica, a rede do ser que nos envolve. ―Existe o medo do segundo/do outro‖, diz o Brihadaranyaka Upanishad. A dualidade, o nosso sentimento de separatividade em relação ao resto da criação, é sempre um equívoco, uma vez que implica na existência de algo além de Deus. Não pode haver nenhum outro. ―Esta grande pregação, a unidade de todas as coisas, que faz de nós um com tudo o que existe, é a grande lição a aprender‖, disse Swami Vivekananda um século atrás. …. O Ser é a essência do universo, a essência de todas as almas…. Você é uno com o universo. Aquele que diz que é diferente dos outros, mesmo que apenas por um fio de cabelo, torna-se imediatamente infeliz. A felicidade pertence àquele que conhece essa unidade, que sabe que ele é uno com o universo.
A Vedanta declara que nossa natureza real é divina: pura, perfeita, eternamente livre. Não temos que nos tornar Brahman, nós somos Brahman. Nosso verdadeiro Ser, o Atman, é um com Brahman. Mas, se nossa natureza real é divina, por que, então, estamos tão incrivelmente inconscientes disso? A resposta para essa pergunta está no conceito de , ou ignorância. Maya é o véu que encobre nossa natureza real e a natureza real do mundo à nossa volta. Maya é fundamentalmente insondável: não sabemos por que ela existe e não sabemos quando ela começou. O que realmente sabemos é que, como qualquer forma de ignorância, maya deixa de existir com o raiar do conhecimento, conhecimento, o conhecimento da nossa natureza divina. Brahman é a verdade real da nossa existência: em Brahman, vivemos, movemo-nos e existimos. ―Tudo isto é verdadeiramente Brahman‖, declaram os Upanishads – as as escrituras que compõem a filosofia Vedanta. O mundo mutável que vemos à nossa volta
pode ser comparado às imagens que se movem na tela do cinema: sem a tela imutável por trás, não pode haver filme. Da mesma forma, por trás deste mundo mutável, é o imutável Brahman – o substrato da existência – quem dá ao mundo sua realidade. Porém, para nós, essa realidade é condicionada, como um espelho deformado, por tempo, espaço e causalidade – a lei de causa e efeito. Além disso, nossa visão da realidade ainda é obscurecida pela identificação equivocada: nós nos identificamos com o corpo, a mente e o ego, em vez de nos identificarmos com o Atman, o Ser divino. Essa percepção equivocada original cria mais ignorância e dor, num efeito dominó: ao nos identificarmos com o corpo e a mente, tememos a doença, a velhice e a morte; ao nos identificarmos com o ego, sofremos de raiva, ódio e centenas de outros tormentos. Ainda assim, nada disso afeta nossa natureza real, o Atman.
Maya pode ser comparada às nuvens que encobrem o sol: o sol permanece no céu, porém a nuvem densa nos impede de vê-lo. Quando as nuvens se dispersam, tornamo-nos conscientes de que o sol lá esteve o tempo todo. Nossas nuvens – maya, que surge como egoísmo, ódio, ganância, luxúria, raiva, ambição – são sopradas para longe quando meditamos sobre nossa natureza verdadeira, quando nos ocupamos de ações altruístas e quando agimos e pensamos consistentemente nas formas de manifestarmos nossa real natureza: isto é, por meio de veracidade, pureza, contentamento, autocontrole e paciência. Essa purificação mental afasta as nuvens de maya e deixa nossa natureza divina brilhar. Shankara, o grande sábio-filósofo da Índia do século sétimo, usava o exemplo da corda e da cobra para ilustrar o conceito de maya. Andando por uma rua escura, um homem vê uma cobra; seu coração bate mais forte, sua pulsação acelera. Examinando mais de perto,
a ―cobra‖ vem a ser um pedaço de corda enrolada. Uma vez que a ilusão se desfaz, a cobra desaparece para sempre. Assim, andando pela rua escura da ignorância, vemos a nós mesmos como criaturas mortais, e, à nossa volta, o universo do nome e da forma, o universo condicionado por tempo, espaço e causalidade. Ficamos cientes de nossas limitações, escravidão e sofrimento. ―Examinando mais de perto‖, tanto a criatura mortal quanto o universo não são outra coisa senão Brahman. Uma vez que a ilusão se desfaz, nossa mortalidade e também o universo desaparecem para sempre. Vemos Brahman existindo em todo lugar e em todas as coisas. Karma e Reencarnação O sofrimento humano é um dos mistérios mais constrangedores da religião. Por que pessoas inocentes sofrem? Por que Deus permite o mal? Deus não pode fazer nada ou Ele escolhe não fazer? E se Ele decide não fazer, isso significa que é cruel? Ou simplemente
indiferente? A Vedanta tira o problema da jurisdição de Deus e firmemente o entrega a nós. Não podemos culpar nem Deus nem um demônio. Nada nos acontece pelo capricho de algum agente externo: somos nós mesmos os responsáveis pelo que a vida nos traz; todos estamos colhendo os resultados de ações anteriores, nesta vida ou em vidas passadas. Para entender melhor isso precisamos primeiro entender a lei do karma. A palavra karma vem do verbo sânscrito kri, fazer. Apesar de karma significar ação, significa também o resultado da ação. Qualquer ação que tenhamos feito ou qualquer pensamento que tenhamos tido criaram uma impressão, tanto em nossas mentes quanto no universo ao redor de nós. O universo nos devolve o que demos a ele: ―Colhemos o que plantamos‖, disse Cristo. Bons pensamentos e ações criam bons efeitos, maus pensamentos e ações criam efeitos maus. Impressões mentais
Sempre que realizamos alguma ação e sempre que temos algum pensamento, uma impressão – um tipo de marca sutil – é criada na mente. Essas impressões ou marcas são conhecidas como samskaras. Algumas vezes somos conscientes desse processo de impressão; mas, com a mesma frequência deixamos de ser. Quando ações e pensamentes se repetem, as marcas se tornam mais profundas. A combinação dessas ―marcas‖ – samskaras – cria nosso caráter individual e também influencia fortemente nossos pensamentos e ações subsequentes. Se sentimos raiva com facilidade, por exemplo, criamos uma mente raivosa predisposta a reagir com raiva em vez de agir com paciência ou compreensão. Da mesma forma que a água ganha força quando se dirige a um canal estreito, também as marcas na mente criam canais de padrões de comportamento que se tornam extraordinariamente difíceis de resistir ou reverter. Mudar um hábito mental arraigado torna-se literalmente uma batalha morro
acima. Se nossos pensamentos predominantes são de bondade, amor e compaixão, nosso caráter reflete isso e esses mesmos pensamentos retornarão a nós cedo ou tarde. Se enviamos pensamentos de ódio, raiva ou mesquinhez, esses pensamentos também voltarão a nós. Nossos pensamentos e ações agem mais como bumerangues do que como flechas – eles acabam encontrando o caminho de volta. Os efeitos do karma podem vir imediatamente, mais tarde na vida ou em uma outra vida; o que é absolutamente certo, contudo, é que em algum momento aparecerão. Até que se alcance a liberação, vivemos e morremos nos limites da lei do karma, o grilhão da causa e do efeito. Reencarnação O que acontece na morte se não atingimos a liberação? Quando uma pessoa morre, somente o corpo físico ―morre‖. A mente, que contém as
impressões mentais da pessoa, continua após a morte do corpo. Quando a pessoa renasce, é um novo corpo físico acompanhado pela antiga mente com as impressões ou ―marcas‖ das vidas anterior es que ―nasce‖. Quando o ambiente favorece, esses samskaras manifestam-se outra vez na nova vida. Felizmente, esse processo não continua eternamente. Quando atingimos a realização de Deus ou autorrealização, a lei do karma é transcendida, o Ser abandona sua identificação com o corpo e mente e reconquista sua liberdade, perfeição e bem-aventurança originais. Um universo absurdo? Quando analisamos friamente o mundo a nossa volta, ele não parece fazer muito sentido. Se julgarmos pelas aparências, pode parecer que muitas pessoas escaparam do laço do destino: muitas pessoas más morreram em
paz em suas camas. Pior do que isso, pessoas boas e nobres sofreram sem causa aparente, e tiveram sua bondade retribuída com ódio e tortura. Pensem no Holocausto; pensem no abuso de crianças. Se olharmos apenas a superfície, o universo parece absurdo no melhor dos casos, e perverso no pior. Mas isso acontece porque não estamos olhando profundamente; estamos apenas vendo o período desta vida, não as vidas que a precederam nem as vidas que poderão vir. Quando vemos uma calamidade ou um triunfo, estamos apenas vendo uma imagem congelada de um filme muito, muito longo. Não podemos ver nem o começo nem o final do filme. O que com certeza sabemos, contudo, é que cada um, não importa o quão depravado possa ser, terminará, no curso de muitas vidas e sem dúvida de muito sofrimento, por realizar sua própria natureza divina. Esse é o inevitável final feliz do filme. Karma = fatalismo? A lei do karma não faz da Vedanta uma
filosofia fria e fatalista? De forma alguma. A Vedanta confere poder pessoal e, ao mesmo tempo, profunda compaixão. Primeiro, se criamos – por nossos próprios pensamentos e ações – a vida que estamos tendo hoje, temos também o poder de criar a vida que teremos amanhã. Quer gostemos ou não, quer queiramos ou não assumir a responsabilidade, isso é o que estamos fazendo a cada passo do caminho. A Vedanta não nos autoriza a por a culpa em qualquer outra coisa: cada pensamento e ação constrói nossa experiência futura. A lei do karma implica então que devemos ser indiferentes em relação aos outros pois, afinal, eles apenas estão obtendo o que merecem? Definitivamente, não. Se o karma de uma pessoa a faz sofrer, temos uma oportunidade para aliviar aquele sofrimento de qualquer
forma que nos for possível: agindo assim cria-se bom karma. Não precisamos ser indevidamente heroicos, mas podemos sempre oferecer uma ajuda ou ao menos uma palavra gentil. Se escolhermos não fazer o que quer que esteja em nosso limitado alcance para suavizar a dor dos que estão à nossa volta, estamos delineando um mau karma para nós mesmos. Na verdade, estamos apenas nos machucando. A unidade é a lei do universo, e essa verdade é a real raíz de todos os atos de amor e compaixão. O Atman, meu verdadeiro Ser, é o mesmo Espírito que habita em todos; não pode haver dois Atmans. A consciência não pode ser dividida; é todo-penetrante. Meu Atman e seu Atman não podem ser diferentes. Por essa razão, a Vedanta diz: ame o seu próximo como a si mesmo pois o seu próximo É você mesmo. A Harmonia das Religiões Talvez o mais antigo sentimento religioso um dia expresso pela humanidade tenha sido o discurso, contido nos Vedas, sobre a harmonia
das religiões: ―A Verdade é uma; os sábios a chamam por nomes diversos‖. Desde então, o mesmo sentimento tem ecoado e reecoado continuamente nos corredores do tempo, amplificado por pessoas iluminadas de diferentes religiões, em diferentes partes do mundo. Pode ser lembrada aqui a resposta do pensador romano Quintus Aurelius Symmachus a Santo Ambrósio, o dogmático bispo de Milão:―O cerne de tão grande mistério‖, teria dito Symmachus, ―jamais poderia ser atingido seguindo-se apenas uma estrada‖. E Ibn’Arabi, o grande místico sufi do século XIII, escreveu em seu livro Tarjuman al-Ashwaq ( A Interpretação do Amor Divino ): Meu coração é capaz de toda forma Clausura para o monge Templo para ídolos Pasto para gazelas A Caaba do devoto As tábuas do Torá O Corão
O amor é meu credo Não importa em que direção Ele conduza seus camelos O Amor ainda será Meu credo e minha fé Apuleius, o filósofo platônico do século II de nossa era, tinha a firme convicção de que o Divino era ―adorado através do mundo, de diversas maneiras, segundo costumes variáveis e sob múltiplos nomes‖. Embora a verdade da harmonia entre as religiões tenha sido proclamada a cada geração pelos raros iluminados, a humanidade como um todo não se tem sensibilizado tanto a esta idéia quanto talvez fosse desejável. No mundo contemporâneo as diferenças religiosas ainda continuam a produzir atrito, desarmonia, desentendimento e desconfiança mútua. As seguintes perguntas vêm à baila: Como lidar com essas diferenças? Elas tenderão a desaparecer com o passar do tempo, ou não? São de alguma forma reconciliáveis? É
possível descobrir alguma conexão entre elas que favoreça a idéia de harmonia? Qual o sentido de tantas tradições religiosas na história da humanidade? Tais são as questões com que se deverá confrontar todo estudante sério do fenômeno religioso. Para lidar com elas é possível pensar-se em mais de uma abordagem. Aqui, apenas delinearemos os principais traços de cada uma dessas possíveis abordagens: 1. A Abordagem Exclusivista A forma mais fácil de se lidar com as dúvidas supraexpostas, relativas à pluralidade das manifestações religiosas, é simplesmente negá-la: apenas uma religião é verdadeira. As outras supostas religiões, ou são falsas, ou correspondem a desvios de rota, e portanto, não merecem ser chamadas de religiões. Subjacente a este discurso, sempre se encontra a idéia de que minha religião é a única verdadeira. Um corolário necessário desta idéia é que, caso o mundo viesse a ser unificado sob a égide de uma única religião,
forçosamente esta religião seria a minha.Toda tradição religiosa tem alguns adeptos dessa posição. O Arcebispo de Cantuária declinou o convite para participar do Parlamento Mundial de Religiões, realizado em Chicago em 1893, sob a seguinte alegação: ―… a religião cristã é a única religião. Eu não posso compreender como o representante de uma dada religião possa aceitar ser membro de um Parlamento de Religiões, de que participem representantes de outras tradições, sem estar implicitamente reconhecendo a posição equânime de seus pares e a validade de suas posições e demandas‖. A destruição por parte de fundamentalistas muçulmanos de locais de adoração pertencentes a outras fés, por exemplo, foi decorrência da crença de que o Islam era a única religião verdadeira e que, portanto, tais atos eram atos de fé. Certamente houve fatores políticos e econômicos informando as guerras medievais, mas, em muitas delas, foi a postura exclusivista face à religião que forneceu o
pretexto, a justificativa, a motivação. O proselitismo agressivo que caracterizou tantas vezes o comportamento quer de cristãos (salvando as almas de pagãos e hereges do fogo do inferno, frequentemente através do fogo terráqueo ), quer de muçulmanos, foi devido ao sentimento de que aquela religião específica era a única verdadeira e, portanto, universalmente aplicável, até pelo uso da força, da tortura, da morte. A reivindicação dos judeus no sentido que sua religião seja a única verdadeira advém da crença de que os judeus são o Povo Eleito pelo Senhor. E não pode ser negado que, mesmo em certos segmentos do Hinduísmo e do Budismo, verificou-se a mencionada abordagem exclusivista à religiosidade. Num conselho realizado em Búfalo, em 1805, Sagoyewatha (literalmente Jaqueta Vermelha), um chefe indígena da tribo Sêneca, teria perguntado a um missionário: ―Irmão, se existe uma e apenas uma forma de adorar e servir ao Grande Espírito, se existe
apenas uma religião verdadeira, porquê, então, vocês brancos se dividem tanto em relação a essa questão?‖. A mesma questão foi colocada por Vivekananda em 1900, durante sua conferência em Pasadena: ―Se fossem verdadeiras as pretensões de uma dada religião de ser o repositório de toda a verdade, e de que toda essa verdade tenha sido posta por Deus num determinado livro, ou conjunto de livros, porquê, então, há tantas seitas? Não se passam cinquenta anos sem que surjam vinte seitas fundadas a partir do mesmo livro. Se Deus houvesse posto toda a verdade em determinados livros, Ele não o teria feito para que brigássemos em torno da interpretação dos textos… Veja a Bíblia, por exemplo, e todas as seitas que se consideram igualmente cristãs: cada uma delas têm interpretação própria a respeito do mesmo texto sagrado e a privilegia acima de todas as demais, que considera simplesmente erradas. Isto vale para qualquer religião. Há várias seitas entre muçulmanos e budistas, e centenas
entre hindus. Trago esses fatos à consideração de vocês para que fique bem claro que qualquer tentativa de trazer a humanidade a uma única forma de pensamento espiritual tem sido e será sempre um fracasso‖. 2. A Abordagem Sincretista Embora admitindo as limitações das atuais religiões, alguns pensadores acham que uma nova religião poderá eventualmente emergir, ou ser criada, pela combinação dos melhores aspectos de cada uma das religiões existentes e a concomitante omissão de seus elementos menos inspirados. Os adeptos desta abordagem, dita sincrética, não enfatizam o chão comum donde brotam todas as religiões, mas mantêm que os elementos díspares verificáveis nas diversas formas de manifestação religiosa não conflitam uns com os outros. Tentam, assim, combinar alguns dos que consideram bons elementos de todas as religiões para constituir uma nova religião. O mais notório exemplo do que acabamos de descrever foi a religião Din-ilahi, criada por
Akbar, o imperador mogul (mongol) da Índia no século XVI. Ele convocou um Conselho Geral e convidou para dele participarem líderes, sábios e pensadores proeminentes de todo o reino. Em seguida, informou-os de seu desejo de unir seus súditos ―de forma a que fossem ao mesmo tempo um e todos; com a vantagem de não precisarem abdicar de qualquer elemento positivo de uma dada religião, enquanto ganhavam qualquer elemento tido como melhor de uma determinada outra. Desta maneira, Deus seria honrado, o povo viveria em paz e o Império teria segurança‖. O sincretismo de Akbar constituiu-se numa religião que poderia ser vista como um monoteísmo panteísta – uma colcha-de-retalhos de elementos tomados por empréstimo ao Islã, ao Cristianismo, ao Hinduísmo, ao Jainismo e ao Zoroastrianismo. Enquanto religião, não teve sucesso, embora tenha tido alguns êxitos políticos de curto prazo. Seu fracasso enquanto religião
universal é até compreensível, pois, como dito anteriormente, é impossível submeter toda a humanidade a uma única via de acesso a Deus. Apesar de seu insucesso a nível coletivo, muitas pessoas vêm tentando aplicá-la a nível pessoal nos tempos que correm. 3. A Abordagem Teológica Esta abordagem se fundamenta na crença de que uma dada religião – e, como na abordagem exclusivista, isto significa quase sempre minha religião – é a realização do que há de melhor e mais verdadeiro nas demais. Deve haver algum propósito divino na existência de tantas religiões diferentes, e seria errôneo questionar-lhes a utilidade. As outras religiões não são inteiramente falsas ou mal orientadas, tendo, portanto, alguns aspectos verdadeiros – que, no entanto, só se revelam plenamente na minha religião. As outras religiões se baseiam em conhecimento natural em vez de em revelação divina, sendo, por consequência, incompletas (ou primitivas). Eventualmente terão que
convergir para a minha religião – que, por ser revelada, é completa e perfeita. Nos últimos anos, alguns teólogos cristãos propuseram uma versão mais sutil e sofisticada desta posição, que implicava uma espécie de revelação evolucionária ou progressiva embutida em todas as religiões, com o Cristianismo representando o ponto mais alto dessa escala evolutiva. R.C. Zaehner, um professor católico de Oxford, é um dos mais conhecidos defensores dessa perspectiva. Por outro lado, como o Islam é a mais recente das chamadas grandes tradições (a religião Mormon é mais recente ainda, mas não costuma ser considerada como membro deste seleto clube), teólogos muçulmanos argumentam que o Judaísmo e o Cristianismo não são propriamente religiões falsas mas preparações para a revelação final do Profeta Maomé. Esta teoria das preparações foi proposta por um bispo, já em 1893, antes de abertas as sessões do Parlamento das Religiões, em Chicago. Escreveu ele:
―Um dos resultados [do Parlamento das Religiões] será o de mostrar que o Cristianismo nunca foi objeto de fé mais abrangente ou mais esclarecida, nem Jesus Cristo seguido com maior adoração. A Civilização, que, está unificando o mundo, também está preparando o caminho para que todas as religiões se agrupem em torno de seu verdadeiro centro – Jesus Cristo‖. 4. A Abordagem Pluralista Esta abordagem não apenas reconhece a diversidade religiosa, mas procura fazer-lhe face de forma positiva. Ela aceita a validade de cada religião, segundo seus próprios termos e objetivos. Esta é a única abordagem aceitável a homens e mulheres ponderados e razoáveis do mundo de hoje. Mas ela coloca sérios desafios, tanto a nível individual quanto coletivo. Em países que adotaram uma constituição secular, o pluralismo religioso vem-se mostrando um dos mais graves problemas político-sociais. Dada sua
abrangência, a postura pluralista dá margem a diversas subposições sob sua égide. Mencionam-se abaixo algumas dessas subabordagens, hoje largamente seguidas. 4.1. A Subabordagem que se Funda na Discreção e no Respeito Mútuo Acreditam seus seguidores que, já que precisam conviver com membros de outras fés, o melhor é desenvolver as virtudes do respeito mútuo e da tolerância, visando à paz e ao bem-estar coletivos. Que a religião seja uma questão particular de cada indivíduo – não é preciso alardeá-la socialmente, quando forem muito grandes as possibilidades de choque com outras opções religiosas. Sejamos religiosos em nossa vida privada e seculares na pública. Em países pluralistas, como os EUA e a Índia, esta postura governamental foi incorporada às respectivas constituições desses países. 4.2. A Subabordagem Dialógica Há muitos pensadores e acadêmicos que
mantêm a posição de que é melhor não ter respostas prontas relativas à verdade ou superioridade de qualquer dada religião, ou concernentes à relação entre duas ou mais dadas religiões. Advogam que o fundamental é estabelecer um diálogo com essas outras fés, num espírito de respeito mútuo, pertencimento e abertura criativa. É preciso aprender a ouvir os pontos de vista alheios sem preconceitos. Tal interação dialógica pode, no devido tempo, produzir maior compreensão mútua e alterar radicalmente, para melhor, a projeção que fazemos hoje a respeito do possível relacionamento futuro entre as religiões. O fluxo massivo de mestres e de idéias orientais para o Ocidente, entre 1960 e 1970, e o concomitante esvaziamento de mosteiros e paróquias, forçaram as igrejas ocidentais – quer a católica quer as protestantes – a buscarem o diálogo com esses novos interlocutores, em parte visando a seu próprio enriquecimento e desenvolvimento, mas
sobretudo para produzirem imagens de instituições liberais e abertas. Talvez a melhor dentre as opções advindas da perspectiva pluralística seja a corrente Vedanta representada por Sri Ramakrishna e Swami Vivekananda. Sua abordagem da pluralidade do fenômeno religioso poderia ser chamada de harmônica. Tal abordagem, tratada no item 5 a seguir, traz a vantagem particularíssima de atender às aspirações de todos, sem necessariamente destruir-lhes a fé original. 5. A Abordagem Harmônica A perspectiva harmônica de Sri Ramakrishna não evoluiu a partir de posições acadêmicas ou intelectuais mas, ao contrário, empiricamente, através de experiência espiritual direta. Ele jamais se propôs provar a harmonia das religiões. Ele tinha a alma intoxicada por Deus. Tendo atingido a bem-aventurança suprema e transcendental, como resultado de seu intenso anelo por Deus, sob a forma da Divina Mãe, ele se tornou
ansioso para experimentar a forma como Deus era adorado em outras tradições. Seu amor abrasador por Deus fê-lo iniciar-se não só em diversas escolas do Hinduísmo e suas práticas, mas também em outras tradições. Este foi um experimento único, que teve resultados extraordinários. Para sua alegria e encantamento quase infantis, Sri Ramakrishna descobriu que todos esses caminhos levavam à consciência última de Deus como Espírito Supremo. Assim, através de experiência empírica, Sri Ramakrishna, que originalmente não tinha esta intenção, acabou provando que todas as religiões eram igualmente válidas. Isto o induziu a formular os três princípios fundamentais, que se constituem na pedra-de-toque da perspectiva harmônica ao fenômeno da pluralidade religiosa: 1. Todas as religiões têm o mesmo objetivo último, qual seja a realização de Deus; qualquer outro aspecto de qualquer forma religiosa deve ser visto como secundário. Liberta de toda firula teológica, qualquer
religião tem, como propósito maior, a transcendência das limitações humanas visando ao contato com a Realidade Superior. 2. Só há uma única Realidade Transcendente, Última, que se manifesta sob formas diversas, com atributos variados – podendo até ser vista como amorfa ou indefinida – e que recebe nomes diferentes (Isto, evidentemente, é um velho truísmo indiano. A intuição milenar dos sábios vedas foi reconfirmada em nossa era pela experiência direta de Sri Ramakrishna). 3. A Realidade Última pode ser realizada através dos vários caminhos propostos pelas muitas tradições. Toda religião tem o poder inerente de levar seus seguidores ao desenvolvimento máximo da alma humana. Em termos práticos, estes três princípios implicam que as religiões do mundo não são contraditórias nem antagônicas umas em relação às outras, mas, ao contrário, são complementares. Ninguém precisa mudar de religião ou persuadir quem quer que seja a fazê-lo. Toda religião é igualmente verdadeira
e autêntica. Dizer que todas as religiões são igualmente verdadeiras evidentemente não significa que todas as religiões sejam idênticas ou que todas as diferenças sejam meramente superficiais. Não. Cada tradição tem sua ênfase, seu viés, um traço característico, um aspecto único. Por exemplo, a característica dominante do Islam é o espírito de igualdade e fraternidade; do Cristianismo, o amor e o sacrifício – tais como exemplificados por Jesus; do Budismo, a renúncia, a compaixão, a racionalidade; e do Hinduísmo, o princípio da consciência da unidade básica do universo, a insistência na necessidade da experiência mística pessoal direta, o espírito de aceitação e seu extraordinário poder de assimilação. Da mesma maneira, dizer que cada religião tem sua própria feição única não é o mesmo que dizer que as religiões não têm vários aspectos em comum. Ao contrário, há muito a compartilhar e a aprender uns dos outros; e se realmente nos empenharmos nesse sentido,
veremos que as diversas tradições têm muito mais facetas em comum do que normalmente é reconhecido. Apesar da diversidade das manifestações religiosas e das indiscutíveis diferenças entre elas, não há como negar que todas as tradições compartilham, por exemplo, a preocupação com os problemas existenciais da humanidade, com transcendência, com a Realidade Última, com santidade, com companheirismo e com a expressão simbólica de experiências interiores. A abordagem harmônica consiste no reconhecimento deste chão comum e no enriquecimento da vida espiritual de cada um através da absorção dos melhores aspectos de religiões outras que não a própria, sem, no entanto, abdicar da própria tradição. Swami Vivekananda o colocou de forma extremamente sucinta ao dizer: ―Não se trata de que o cristão venha a se tornar hindu ou budista, nem que o hindu ou budista se transforme em cristão. Mas cada um deveria assimilar o espírito das outras tradições, enquanto mantivesse sua própria
individualidade e se desenvolvesse segundo seu r itmo, sua lei de crescimento pessoal‖. Sri Ramakrishna oferece como exemplo a situação de uma nora, que serve com amor e dedicação a todos os membros da família de seu marido, mas que, com ele, mantém uma relação de natureza especial. Da mesma forma, é possível estar-se ciente da harmonia subjacente a todas as religiões e, no entanto, manter-se uma relação de caráter diferenciado com a própria. O que implica o reconhecimento da prerrogativa de ter-se um elo com a tradição de origem que seja de fato específico. É hora de aprendermos que o amor por nossa religião não aumenta por vir acompanhado do ódio pelas demais. Quando o amor verdadeiro surge no coração, deixa de haver lugar para o ódio. Os dois sentimentos não podem conviver. Assim, de acordo com a abordagem em pauta, poderemos todos viver juntos numa única família internacional de religiões, dentro da qual serão compartilhados sem barreiras o amor, a compaixão e a
cooperação. As diferentes tradições, ou rótulos – tais como o Cristianismo, o Islam, o Judaísmo, o Budismo, o Hinduísmo, o Taoísmo -, são de fato muros dividindo a consciência religiosa da humanidade. Esses muros são necessários, pois têm sua utilidade. Sri Ramakrishna o explica através do exemplo de uma cerca, construída para proteger uma tenra planta em crescimento do estouro de uma boiada. Uma vez transformada em robusta árvore, a cerca não se faz mais necessária, podendo até se constituir em estorvo. Similarmente, as tradições religiosas protegem o neófito de forças antirreligiosas. Breve, porém, o neófito precisará se desenvolver e ultrapassar esse confinamento, até então necessário. Além dos muros que separam uma religião da outra, há o universo da Religião sem fronteiras, o espaço sem limite da Religião além das religiões, da Tradição infra ou supraestrutural às tradições. 6. Da Harmonia à Universalidade Toda religião existente é meramente uma
expressão do aspecto transcendental da Religião, assim com a verdade que cada religião representa é uma expressão da Verdade absoluta, transcendental. A Religião além das religiões não apenas transcende todas as religiões como está presente em cada uma delas. É a totalidade das religiões. Swami Vivekananda explica: ―O homem está imbuído da idéia de que só pode haver uma única religião, um único Profeta, uma única Encarnação. Mas essa é uma falsa idéia. O estudo das vidas desses grandes mensageiros nos mostra que cada um deles estava destinado a representar um papel – mas apenas um. A harmonia consiste num conjunto de notas e não em apenas uma. A soma é a grande harmonia‖. É esta grande harmonia – a totalidade – que se expressa de diferentes maneiras: ―Esta única religião eterna se aplica a diferentes planos da existência, se aplica às opiniões de várias mentes e várias raças.
Nunca houve a minha ou a sua religião, minha religião nacional ou sua religião nacional; nunca houve muitas religiões – mas apenas uma única. Uma religião infinita sempre existiu e sempre existirá, por toda a eternidade, e é esta religião que se vem expressando de formas diversas em países diversos‖. Uma vez que todas as religiões são expressões da Religião além das religiões, não apenas cada uma delas é verdadeira e autêntica, como há um fio de harmonia as conectando. Este fio pode ser descoberto, e a harmonia subjacente a todas as tradições, experienciadas por pessoas verdadeiramente religiosas. Por religioso entenda-se não aqueles que apenas acreditam em algum dogma ou aceitam algum tipo de salvador. Religião verdadeira ―não é conversa, ou doutrinas, ou teorias; nem sectarismo… É a relação entre a alma e Deus … Religião não consiste na ereção de templos, ou na construção de igrejas, ou no comparecimento a formas sociais e públicas
de adoração. Não é algo a ser encontrado em livros, ou em discursos, ou em sermões, ou em instituições. Religião implica realização … Precisamos realizar Deus, sentir a Deus, ver a Deus, falar com Deus … Isto é religião‖. Doutrinas, dogmas, rituais, livros, templos, igrejas são importantes e têm sua utilidade, mas são apenas detalhes secundários da religião. Os aspectos primários da religião são a experiência suprassensorial de Deus e nossos esforços para realizá-la e viver de acordo com e em função dela. Assim, religião não é uma porção de atitudes, comportamentos ou crenças a serem aceitas com base na fé, mas o esforço ativo em busca das raízes espirituais de cada um, culminando com a experiência direta de Deus. Qualquer um pode ter essa experiência, através da prática intensiva e sincera da própria religião. Corresponde a um estágio avançado desta prática aquele em que o buscador se alça acima de sua própria tradição e começa a buscar inspiração diretamente a
partir da Religião além das religiões. A harmonia subjacente a todas as religiões torna-se palpável, neste elevado domínio, onde, se intui, todas as religiões são ―apenas um passeio, um emergir de diferentes homens e mulheres, em meio a várias condições e circunstâncias, em direção ao mesmo objetivo‖ (Swami Vivekananda – Obras completas). Neste ponto pode-se argumentar: se a verdade é uma só, como é possível que todas as religiões sejam igualmente verdadeiras? Responde Vivekananda: ―Devemos tomar consciência de que a verdade pode ser expressa sob centenas de formas diferentes, e que cada uma dessas expressões é verdadeira a sua maneira. Devemos tomar consciência de que a mesma coisa pode ser olhada segundo centenas de ângulos e, no entanto, continuar sendo uma única e mesma coisa‖. Numa palestra proferida na Igreja Universalista de Passadena, Califórnia
(EEUU), em 1900, ele desenvolveu esta idéia através de um exemplo: ―Tire quatro fotografias desta igreja, a partir de quatro pontos distintos. Elas parecerão todas diferentes entre si. Da mesma forma, estamos sempre, todos, olhando a verdade a partir de pontos-de-vista distintos, que variam em função das circunstâncias de nosso nascimento, de nossa família, do ambiente em que vivemos, de nossa educação etc. Estamos olhando para a verdade, e neste processo, usufruindo dela o quanto o permitam as circunstâncias citadas acima, colorindo-a com nossos corações, compreendendo-a com nosso intelecto, apreendendo-a com nossa mente. Da verdade só podemos perceber, por um lado, o quanto as circunstâncias nos relatem, o quanto nos é dado perceber por elas, e por outro, o quanto estamos aptos a apreender. Tais fatos são responsáveis pelas diferenças entre as perspectivas individuais, aparentemente contraditórias, de cada homem. No entanto, estamos todos no mesmo barco e, como tal,
somos todos parte da mesma verdade universal‖. A compreensão intelectual desta idéia pode preceder a experiência empírica a ela relacionada, que ocorreria apenas quando se penetra a esfera da Religião além das religiões. Este processo será consideravelmente acelerado caso a consciência dos aspectos transcendentes da religião sejam cultivados desde o começo. Observa-se que aqueles que lograram estabelecer contato com a Religião além das religiões são absolutamente livres de fanatismo, estreiteza mental, mesquinhez, suspeita e medo. Eles vêm a marca de uma Religião única por toda parte. Eles percebem que cada oração – proferida não importa em que língua, diante de qual altar ou em qual templo, acompanhada por quais rituais, dirigida a qual nome ou forma de Deus – atinge o mesmo Deus, que é ao mesmo tempo Pai e Mãe de todos nós. Eles também percebem que é possível atingir a Religião
além das religiões mesmo sem rituais ou orações, uma vez que existem outros caminhos como a ioga, a meditação za-zen etc. Deus Todo-Misericordioso não nega Seu amor, Sua graça, Suas bençãos a qualquer de Seus filhos apenas porque eles ou elas não usam o rótulo que as caracteriza como pertencentes a esta ou àquela tradição. O exame das várias denominações religiosas abre diante de nós um leque de inúmeras práticas e disciplinas, que podemos adotar livremente, sem a necessidade de proceder à operação formal de trocar de religião. Assim, podemos demarcar nossa trilha pessoal, integrando os melhores elementos de outras religiões a nossa vida religiosa particular. É preciso fazer um esforço consciente para dar-se conta do fio condutor que conecta todas as religiões, formando linda guirlanda a adornar o Ser Supremo, que nunca é Hindu, ou Judeu, ou Taoísta, ou Cristão, ou Budista, ou Muçulmano. Todas as tradições pertencem a Ele, mas Ele as transcende a
todas. Quando o espírito de harmonia religiosa animar nossas almas e a consciência da Religião além das religiões tocar nosso espírito, a Vida terá um sentido novo e mais rico para nós. Poderemos, então, nos unir a Swami Vivekananda e dizer: ―Aceito todas as religiões do passado e adoro segundo todas; adoro a Deus em cada uma delas, não importando sob que forma O adorem. Irei à mesquita muçulmana; à igreja do cristão, ajoelhando-me diante do crucifixo; entrarei no templo budista, onde encontrarei refúgio no Buda e em sua lei; penetrarei a floresta e sentar-me-ei em meditação com o hindu, que estará procurando ver a luz que ilumina o coração de todos‖. ―Não apenas farei todas essas coisas, como manterei meu coração aberto a todas as formas particulares d’A Tradição que venham a surgir no futuro. Estará completo o livro de Deus? Ou é este livro um processo de revelação, contínuo, sim, mas ainda em andamento? É
um maravilhoso livro, este, que expressa as revelações de Deus aos homens. A Bíblia, os Vedas, o Corão não correspondem senão a um número – necessariamente e por definição – limitado de páginas, permanecendo, evidentemente, um número infinito de páginas a serem escritas. Deixaria, repito, aberto meu coração a cada uma destas novas páginas a serem ainda produzidas. Estamos no presente, mas abrimo-nos ao futuro infinito. Incorporamos tudo aquilo em que se constitui o passado; usufruímos da luz do presente; e abrimos cada janela do coração a tudo aquilo que trará o futuro. Saudações a todos os profetas do passado, a todos os grandes do presente, e a todos os que virão no futuro!‖ Talvez o mais antigo sentimento religioso um dia expresso pela humanidade tenha sido o discurso, contido nos Vedas, sobre a harmonia das religiões: ―A Verdade é uma; os sábios a chamam por nomes diversos‖. Desde então, o mesmo sentimento tem ecoado e reecoado continuamente nos corredores do
tempo, amplificado por pessoas iluminadas de diferentes religiões, em diferentes partes do mundo. Pode ser lembrada aqui a resposta do pensador romano Quintus Aurelius Symmachus a Santo Ambrósio, o dogmático bispo de Milão:―O cerne de tão grande mistério‖, teria dito Symmachus, ―jamais poderia ser atingido seguindo-se apenas uma estrada‖. E Ibn’Arabi, o grande místico sufi do século XIII, escreveu em seu livro Tarjuman al-Ashwaq ( A Interpretação do Amor Divino ): Meu coração é capaz de toda forma Clausura para o monge Templo para ídolos Pasto para gazelas A Caaba do devoto As tábuas do Torá O Corão O amor é meu credo Não importa em que direção Ele conduza seus camelos O Amor ainda será
Meu credo e minha fé Apuleius, o filósofo platônico do século II de nossa era, tinha a firme convicção de que o Divino era ―adorado através do mundo, de diversas maneiras, segundo costumes variáveis e sob múltiplos nomes‖. Embora a verdade da harmonia entre as religiões tenha sido proclamada a cada geração pelos raros iluminados, a humanidade como um todo não se tem sensibilizado tanto a esta idéia quanto talvez fosse desejável. No mundo contemporâneo as diferenças religiosas ainda continuam a produzir atrito, desarmonia, desentendimento e desconfiança mútua. As seguintes perguntas vêm à baila: Como lidar com essas diferenças? Elas tenderão a desaparecer com o passar do tempo, ou não? São de alguma forma reconciliáveis? É possível descobrir alguma conexão entre elas que favoreça a idéia de harmonia? Qual o sentido de tantas tradições religiosas na história da humanidade?
Tais são as questões com que se deverá confrontar todo estudante sério do fenômeno religioso. Para lidar com elas é possível pensar-se em mais de uma abordagem. Aqui, apenas delinearemos os principais traços de cada uma dessas possíveis abordagens: 1. A Abordagem Exclusivista A forma mais fácil de se lidar com as dúvidas supraexpostas, relativas à pluralidade das manifestações religiosas, é simplesmente negá-la: apenas uma religião é verdadeira. As outras supostas religiões, ou são falsas, ou correspondem a desvios de rota, e portanto, não merecem ser chamadas de religiões. Subjacente a este discurso, sempre se encontra a idéia de que minha religião é a única verdadeira. Um corolário necessário desta idéia é que, caso o mundo viesse a ser unificado sob a égide de uma única religião, forçosamente esta religião seria a minha.Toda tradição religiosa tem alguns adeptos dessa posição. O Arcebispo de Cantuária declinou o convite para participar do Parlamento
Mundial de Religiões, realizado em Chicago em 1893, sob a seguinte alegação: ―… a religião cristã é a única religião. Eu não posso compreender como o representante de uma dada religião possa aceitar ser membro de um Parlamento de Religiões, de que participem representantes de outras tradições, sem estar implicitamente reconhecendo a posição equânime de seus pares e a validade de suas posições e demandas‖. A destruição por parte de fundamentalistas muçulmanos de locais de adoração pertencentes a outras fés, por exemplo, foi decorrência da crença de que o Islam era a única religião verdadeira e que, portanto, tais atos eram atos de fé. Certamente houve fatores políticos e econômicos informando as guerras medievais, mas, em muitas delas, foi a postura exclusivista face à religião que forneceu o pretexto, a justificativa, a motivação. O proselitismo agressivo que caracterizou tantas vezes o comportamento quer de cristãos (salvando as almas de pagãos e hereges do
fogo do inferno, frequentemente através do fogo terráqueo ), quer de muçulmanos, foi devido ao sentimento de que aquela religião específica era a única verdadeira e, portanto, universalmente aplicável, até pelo uso da força, da tortura, da morte. A reivindicação dos judeus no sentido que sua religião seja a única verdadeira advém da crença de que os judeus são o Povo Eleito pelo Senhor. E não pode ser negado que, mesmo em certos segmentos do Hinduísmo e do Budismo, verificou-se a mencionada abordagem exclusivista à religiosidade. Num conselho realizado em Búfalo, em 1805, Sagoyewatha (literalmente Jaqueta Vermelha), um chefe indígena da tribo Sêneca, teria perguntado a um missionário: ―Irmão, se existe uma e apenas uma forma de adorar e servir ao Grande Espírito, se existe apenas uma religião verdadeira, porquê, então, vocês brancos se dividem tanto em relação a essa questão?‖. A mesma questão foi colocada por Vivekananda em 1900, durante sua
conferência em Pasadena: ―Se fossem verdadeiras as pretensões de uma dada religião de ser o repositório de toda a verdade, e de que toda essa verdade tenha sido posta por Deus num determinado livro, ou conjunto de livros, porquê, então, há tantas seitas? Não se passam cinquenta anos sem que surjam vinte seitas fundadas a partir do mesmo livro. Se Deus houvesse posto toda a verdade em determinados livros, Ele não o teria feito para que brigássemos em torno da interpretação dos textos… Veja a Bíblia, por exemplo, e todas as seitas que se consideram igualmente cristãs: cada uma delas têm interpretação própria a respeito do mesmo texto sagrado e a privilegia acima de todas as demais, que considera simplesmente erradas. Isto vale para qualquer religião. Há várias seitas entre muçulmanos e budistas, e centenas entre hindus. Trago esses fatos à consideração de vocês para que fique bem claro que qualquer tentativa de trazer a humanidade a uma única forma de pensamento espiritual
tem sido e será sempre um fracasso‖. 2. A Abordagem Sincretista Embora admitindo as limitações das atuais religiões, alguns pensadores acham que uma nova religião poderá eventualmente emergir, ou ser criada, pela combinação dos melhores aspectos de cada uma das religiões existentes e a concomitante omissão de seus elementos menos inspirados. Os adeptos desta abordagem, dita sincrética, não enfatizam o chão comum donde brotam todas as religiões, mas mantêm que os elementos díspares verificáveis nas diversas formas de manifestação religiosa não conflitam uns com os outros. Tentam, assim, combinar alguns dos que consideram bons elementos de todas as religiões para constituir uma nova religião. O mais notório exemplo do que acabamos de descrever foi a religião Din-ilahi, criada por Akbar, o imperador mogul (mongol) da Índia no século XVI. Ele convocou um Conselho Geral e convidou para dele participarem líderes, sábios e pensadores proeminentes de
todo o reino. Em seguida, informou-os de seu desejo de unir seus súditos ―de forma a que fossem ao mesmo tempo um e todos; com a vantagem de não precisarem abdicar de qualquer elemento positivo de uma dada religião, enquanto ganhavam qualquer elemento tido como melhor de uma determinada outra. Desta maneira, Deus seria honrado, o povo viveria em paz e o Império teria segurança‖. O sincretismo de Akbar constituiu-se numa religião que poderia ser vista como um monoteísmo panteísta – uma colcha-de-retalhos de elementos tomados por empréstimo ao Islã, ao Cristianismo, ao Hinduísmo, ao Jainismo e ao Zoroastrianismo. Enquanto religião, não teve sucesso, embora tenha tido alguns êxitos políticos de curto prazo. Seu fracasso enquanto religião universal é até compreensível, pois, como dito anteriormente, é impossível submeter toda a humanidade a uma única via de acesso a Deus. Apesar de seu insucesso a nível coletivo,
muitas pessoas vêm tentando aplicá-la a nível pessoal nos tempos que correm. 3. A Abordagem Teológica Esta abordagem se fundamenta na crença de que uma dada religião – e, como na abordagem exclusivista, isto significa quase sempre minha religião – é a realização do que há de melhor e mais verdadeiro nas demais. Deve haver algum propósito divino na existência de tantas religiões diferentes, e seria errôneo questionar-lhes a utilidade. As outras religiões não são inteiramente falsas ou mal orientadas, tendo, portanto, alguns aspectos verdadeiros – que, no entanto, só se revelam plenamente na minha religião. As outras religiões se baseiam em conhecimento natural em vez de em revelação divina, sendo, por consequência, incompletas (ou primitivas). Eventualmente terão que convergir para a minha religião – que, por ser revelada, é completa e perfeita. Nos últimos anos, alguns teólogos cristãos propuseram uma versão mais sutil e sofisticada desta
posição, que implicava uma espécie de revelação evolucionária ou progressiva embutida em todas as religiões, com o Cristianismo representando o ponto mais alto dessa escala evolutiva. R.C. Zaehner, um professor católico de Oxford, é um dos mais conhecidos defensores dessa perspectiva. Por outro lado, como o Islam é a mais recente das chamadas grandes tradições (a religião Mormon é mais recente ainda, mas não costuma ser considerada como membro deste seleto clube), teólogos muçulmanos argumentam que o Judaísmo e o Cristianismo não são propriamente religiões falsas mas preparações para a revelação final do Profeta Maomé. Esta teoria das preparações foi proposta por um bispo, já em 1893, antes de abertas as sessões do Parlamento das Religiões, em Chicago. Escreveu ele: ―Um dos resultados [do Parlamento das Religiões] será o de mostrar que o Cristianismo nunca foi objeto de fé mais abrangente ou mais esclarecida, nem Jesus
Cristo seguido com maior adoração. A Civilização, que, está unificando o mundo, também está preparando o caminho para que todas as religiões se agrupem em torno de seu verdadeiro centro – Jesus Cristo‖. 4. A Abordagem Pluralista Esta abordagem não apenas reconhece a diversidade religiosa, mas procura fazer-lhe face de forma positiva. Ela aceita a validade de cada religião, segundo seus próprios termos e objetivos. Esta é a única abordagem aceitável a homens e mulheres ponderados e razoáveis do mundo de hoje. Mas ela coloca sérios desafios, tanto a nível individual quanto coletivo. Em países que adotaram uma constituição secular, o pluralismo religioso vem-se mostrando um dos mais graves problemas político-sociais. Dada sua abrangência, a postura pluralista dá margem a diversas subposições sob sua égide. Mencionam-se abaixo algumas dessas subabordagens, hoje largamente seguidas. 4.1. A Subabordagem que se Funda na
Discreção e no Respeito Mútuo Acreditam seus seguidores que, já que precisam conviver com membros de outras fés, o melhor é desenvolver as virtudes do respeito mútuo e da tolerância, visando à paz e ao bem-estar coletivos. Que a religião seja uma questão particular de cada indivíduo – não é preciso alardeá-la socialmente, quando forem muito grandes as possibilidades de choque com outras opções religiosas. Sejamos religiosos em nossa vida privada e seculares na pública. Em países pluralistas, como os EUA e a Índia, esta postura governamental foi incorporada às respectivas constituições desses países. 4.2. A Subabordagem Dialógica Há muitos pensadores e acadêmicos que mantêm a posição de que é melhor não ter respostas prontas relativas à verdade ou superioridade de qualquer dada religião, ou concernentes à relação entre duas ou mais dadas religiões. Advogam que o fundamental
é estabelecer um diálogo com essas outras fés, num espírito de respeito mútuo, pertencimento e abertura criativa. É preciso aprender a ouvir os pontos de vista alheios sem preconceitos. Tal interação dialógica pode, no devido tempo, produzir maior compreensão mútua e alterar radicalmente, para melhor, a projeção que fazemos hoje a respeito do possível relacionamento futuro entre as religiões. O fluxo massivo de mestres e de idéias orientais para o Ocidente, entre 1960 e 1970, e o concomitante esvaziamento de mosteiros e paróquias, forçaram as igrejas ocidentais – quer a católica quer as protestantes – a buscarem o diálogo com esses novos interlocutores, em parte visando a seu próprio enriquecimento e desenvolvimento, mas sobretudo para produzirem imagens de instituições liberais e abertas. Talvez a melhor dentre as opções advindas da perspectiva pluralística seja a corrente Vedanta representada por Sri Ramakrishna e
Swami Vivekananda. Sua abordagem da pluralidade do fenômeno religioso poderia ser chamada de harmônica. Tal abordagem, tratada no item 5 a seguir, traz a vantagem particularíssima de atender às aspirações de todos, sem necessariamente destruir-lhes a fé original. 5. A Abordagem Harmônica A perspectiva harmônica de Sri Ramakrishna não evoluiu a partir de posições acadêmicas ou intelectuais mas, ao contrário, empiricamente, através de experiência espiritual direta. Ele jamais se propôs provar a harmonia das religiões. Ele tinha a alma intoxicada por Deus. Tendo atingido a bem-aventurança suprema e transcendental, como resultado de seu intenso anelo por Deus, sob a forma da Divina Mãe, ele se tornou ansioso para experimentar a forma como Deus era adorado em outras tradições. Seu amor abrasador por Deus fê-lo iniciar-se não só em diversas escolas do Hinduísmo e suas práticas, mas também em outras tradições. Este foi um
experimento único, que teve resultados extraordinários. Para sua alegria e encantamento quase infantis, Sri Ramakrishna descobriu que todos esses caminhos levavam à consciência última de Deus como Espírito Supremo. Assim, através de experiência empírica, Sri Ramakrishna, que originalmente não tinha esta intenção, acabou provando que todas as religiões eram igualmente válidas. Isto o induziu a formular os três princípios fundamentais, que se constituem na pedra-de-toque da perspectiva harmônica ao fenômeno da pluralidade religiosa: 1. Todas as religiões têm o mesmo objetivo último, qual seja a realização de Deus; qualquer outro aspecto de qualquer forma religiosa deve ser visto como secundário. Liberta de toda firula teológica, qualquer religião tem, como propósito maior, a transcendência das limitações humanas visando ao contato com a Realidade Superior. 2. Só há uma única Realidade Transcendente, Última, que se manifesta sob formas diversas,
com atributos variados – podendo até ser vista como amorfa ou indefinida – e que recebe nomes diferentes (Isto, evidentemente, é um velho truísmo indiano. A intuição milenar dos sábios vedas foi reconfirmada em nossa era pela experiência direta de Sri Ramakrishna). 3. A Realidade Última pode ser realizada através dos vários caminhos propostos pelas muitas tradições. Toda religião tem o poder inerente de levar seus seguidores ao desenvolvimento máximo da alma humana. Em termos práticos, estes três princípios implicam que as religiões do mundo não são contraditórias nem antagônicas umas em relação às outras, mas, ao contrário, são complementares. Ninguém precisa mudar de religião ou persuadir quem quer que seja a fazê-lo. Toda religião é igualmente verdadeira e autêntica. Dizer que todas as religiões são igualmente verdadeiras evidentemente não significa que todas as religiões sejam idênticas ou que todas as diferenças sejam meramente superficiais.
Não. Cada tradição tem sua ênfase, seu viés, um traço característico, um aspecto único. Por exemplo, a característica dominante do Islam é o espírito de igualdade e fraternidade; do Cristianismo, o amor e o sacrifício – tais como exemplificados por Jesus; do Budismo, a renúncia, a compaixão, a racionalidade; e do Hinduísmo, o princípio da consciência da unidade básica do universo, a insistência na necessidade da experiência mística pessoal direta, o espírito de aceitação e seu extraordinário poder de assimilação. Da mesma maneira, dizer que cada religião tem sua própria feição única não é o mesmo que dizer que as religiões não têm vários aspectos em comum. Ao contrário, há muito a compartilhar e a aprender uns dos outros; e se realmente nos empenharmos nesse sentido, veremos que as diversas tradições têm muito mais facetas em comum do que normalmente é reconhecido. Apesar da diversidade das manifestações religiosas e das indiscutíveis diferenças entre elas, não há como negar que
todas as tradições compartilham, por exemplo, a preocupação com os problemas existenciais da humanidade, com transcendência, com a Realidade Última, com santidade, com companheirismo e com a expressão simbólica de experiências interiores. A abordagem harmônica consiste no reconhecimento deste chão comum e no enriquecimento da vida espiritual de cada um através da absorção dos melhores aspectos de religiões outras que não a própria, sem, no entanto, abdicar da própria tradição. Swami Vivekananda o colocou de forma extremamente sucinta ao dizer: ―Não se trata de que o cristão venha a se tornar hindu ou budista, nem que o hindu ou budista se transforme em cristão. Mas cada um deveria assimilar o espírito das outras tradições, enquanto mantivesse sua própria individualidade e se desenvolvesse segundo seu ritmo, sua lei de crescimento pessoal‖. Sri Ramakrishna oferece como exemplo a situação de uma nora, que serve com amor e dedicação a todos os membros da família de
seu marido, mas que, com ele, mantém uma relação de natureza especial. Da mesma forma, é possível estar-se ciente da harmonia subjacente a todas as religiões e, no entanto, manter-se uma relação de caráter diferenciado com a própria. O que implica o reconhecimento da prerrogativa de ter-se um elo com a tradição de origem que seja de fato específico. É hora de aprendermos que o amor por nossa religião não aumenta por vir acompanhado do ódio pelas demais. Quando o amor verdadeiro surge no coração, deixa de haver lugar para o ódio. Os dois sentimentos não podem conviver. Assim, de acordo com a abordagem em pauta, poderemos todos viver juntos numa única família internacional de religiões, dentro da qual serão compartilhados sem barreiras o amor, a compaixão e a cooperação. As diferentes tradições, ou rótulos – tais como o Cristianismo, o Islam, o Judaísmo, o Budismo, o Hinduísmo, o Taoísmo -, são de fato muros dividindo a consciência religiosa
da humanidade. Esses muros são necessários, pois têm sua utilidade. Sri Ramakrishna o explica através do exemplo de uma cerca, construída para proteger uma tenra planta em crescimento do estouro de uma boiada. Uma vez transformada em robusta árvore, a cerca não se faz mais necessária, podendo até se constituir em estorvo. Similarmente, as tradições religiosas protegem o neófito de forças antirreligiosas. Breve, porém, o neófito precisará se desenvolver e ultrapassar esse confinamento, até então necessário. Além dos muros que separam uma religião da outra, há o universo da Religião sem fronteiras, o espaço sem limite da Religião além das religiões, da Tradição infra ou supraestrutural às tradições. 6. Da Harmonia à Universalidade Toda religião existente é meramente uma expressão do aspecto transcendental da Religião, assim com a verdade que cada religião representa é uma expressão da Verdade absoluta, transcendental. A Religião além das religiões não apenas
transcende todas as religiões como está presente em cada uma delas. É a totalidade das religiões. Swami Vivekananda explica: ―O homem está imbuído da idéia de que só pode haver uma única religião, um único Profeta, uma única Encarnação. Mas essa é uma falsa idéia. O estudo das vidas desses grandes mensageiros nos mostra que cada um deles estava destinado a representar um papel – mas apenas um. A harmonia consiste num conjunto de notas e não em apenas uma. A soma é a grande harmonia‖. É esta grande harmonia – a totalidade – que se expressa de diferentes maneiras: ―Esta única religião eterna se aplica a diferentes planos da existência, se aplica às opiniões de várias mentes e várias raças. Nunca houve a minha ou a sua religião, minha religião nacional ou sua religião nacional; nunca houve muitas religiões – mas apenas uma única. Uma religião infinita sempre existiu e sempre existirá, por toda a eternidade, e é esta religião que se vem
expressando de formas diversas em países diversos‖. Uma vez que todas as religiões são expressões da Religião além das religiões, não apenas cada uma delas é verdadeira e autêntica, como há um fio de harmonia as conectando. Este fio pode ser descoberto, e a harmonia subjacente a todas as tradições, experienciadas por pessoas verdadeiramente religiosas. Por religioso entenda-se não aqueles que apenas acreditam em algum dogma ou aceitam algum tipo de salvador. Religião verdadeira ―não é conversa, ou doutrinas, ou teorias; nem sectarismo… É a relação entre a alma e Deus … Religião não consiste na ereção de templos, ou na construção de igrejas, ou no comparecimento a formas sociais e públicas de adoração. Não é algo a ser encontrado em livros, ou em discursos, ou em sermões, ou em instituições. Religião implica r ealização … Precisamos realizar Deus, sentir a Deus, ver a Deus, falar com Deus … Isto é religião‖. Doutrinas, dogmas, rituais, livros, templos,
igrejas são importantes e têm sua utilidade, mas são apenas detalhes secundários da religião. Os aspectos primários da religião são a experiência suprassensorial de Deus e nossos esforços para realizá-la e viver de acordo com e em função dela. Assim, religião não é uma porção de atitudes, comportamentos ou crenças a serem aceitas com base na fé, mas o esforço ativo em busca das raízes espirituais de cada um, culminando com a experiência direta de Deus. Qualquer um pode ter essa experiência, através da prática intensiva e sincera da própria religião. Corresponde a um estágio avançado desta prática aquele em que o buscador se alça acima de sua própria tradição e começa a buscar inspiração diretamente a partir da Religião além das religiões. A harmonia subjacente a todas as religiões torna-se palpável, neste elevado domínio, onde, se intui, todas as religiões são ―apenas um passeio, um emergir de diferentes homens e mulheres, em meio a várias condições e
circunstâncias, em direção ao mesmo objetivo‖ (Swami Vivekananda – Obras completas). Neste ponto pode-se argumentar: se a verdade é uma só, como é possível que todas as religiões sejam igualmente verdadeiras? Responde Vivekananda: ―Devemos tomar consciência de que a verdade pode ser expressa sob centenas de formas diferentes, e que cada uma dessas expressões é verdadeira a sua maneira. Devemos tomar consciência de que a mesma coisa pode ser olhada segundo centenas de ângulos e, no entanto, continuar sendo uma única e mesma coisa‖. Numa palestra proferida na Igreja Universalista de Passadena, Califórnia (EEUU), em 1900, ele desenvolveu esta idéia através de um exemplo: ―Tir e quatro fotografias desta igreja, a partir de quatro pontos distintos. Elas parecerão todas diferentes entre si. Da mesma forma, estamos sempre, todos, olhando a verdade a partir de
pontos-de-vista distintos, que variam em função das circunstâncias de nosso nascimento, de nossa família, do ambiente em que vivemos, de nossa educação etc. Estamos olhando para a verdade, e neste processo, usufruindo dela o quanto o permitam as circunstâncias citadas acima, colorindo-a com nossos corações, compreendendo-a com nosso intelecto, apreendendo-a com nossa mente. Da verdade só podemos perceber, por um lado, o quanto as circunstâncias nos relatem, o quanto nos é dado perceber por elas, e por outro, o quanto estamos aptos a apreender. Tais fatos são responsáveis pelas diferenças entre as perspectivas individuais, aparentemente contraditórias, de cada homem. No entanto, estamos todos no mesmo barco e, como tal, somos todos parte da mesma verdade universal‖. A compreensão intelectual desta idéia pode preceder a experiência empírica a ela relacionada, que ocorreria apenas quando se penetra a esfera da Religião além das
religiões. Este processo será consideravelmente consideravelmente acelerado caso a consciência dos aspectos transcendentes da religião sejam cultivados desde o começo. Observa-se que aqueles que lograram estabelecer contato com a Religião além das religiões são absolutamente livres de fanatismo, estreiteza mental, mesquinhez, suspeita e medo. Eles vêm a marca de uma Religião única por toda parte. Eles percebem que cada oração – oração – proferida proferida não importa em que língua, diante de qual altar ou em qual templo, acompanhada por quais rituais, dirigida a qual nome ou forma de Deus – Deus – atinge o mesmo Deus, que é ao mesmo tempo Pai e Mãe de todos nós. Eles também percebem que que é possível atingir a Religião além das religiões mesmo sem rituais ou orações, uma vez que existem outros caminhos como a ioga, a meditação za-zen etc. Deus Todo-Misericordioso não nega Seu amor, Sua graça, Suas bençãos a qualquer de Seus filhos apenas porque eles ou elas não
usam o rótulo que as caracteriza como pertencentes a esta esta ou àquela tradição. tradição. O exame das várias denominações denominações religiosas abre diante de nós um leque de inúmeras i númeras práticas e disciplinas, que que podemos adotar livremente, sem a necessidade de proceder à operação formal de trocar de religião. Assim, podemos demarcar nossa trilha pessoal, integrando os melhores elementos elementos de outras religiões a nossa vida religiosa particular. É preciso fazer fazer um esforço consciente para dar-se conta do fio condutor que conecta todas as religiões, formando linda guirlanda a adornar o Ser Supremo, que nunca é Hindu, ou Judeu, ou Taoísta, ou Cristão, ou Budista, ou Muçulmano. Todas as tradições pertencem a Ele, mas mas Ele as transcende a todas. Quando o espírito de harmonia religiosa animar nossas almas e a consciência da Religião além das religiões tocar nosso espírito, a Vida terá um sentido novo e mais rico para nós. Poderemos, então, nos unir a
Swami Vivekananda e dizer: ―Aceito todas as religiões do passado e adoro segundo todas; adoro a Deus em cada uma delas, não importando sob que forma O adorem. Irei à mesquita muçulmana; à igreja do cristão, ajoelhando-me diante do crucifixo; entrarei no templo budista, onde encontrarei refúgio no Buda e em sua lei; l ei; penetrarei a floresta e sentar-me-ei em meditação com o hindu, que estará procurando ver a luz que ilumina o coração de todos‖. ―Não apenas farei todas essas coisas, como manterei meu coração aberto a todas as formas particulares d’A Tradição que venham a surgir no futuro. Estará completo o livro de Deus? Ou é este livro um processo de revelação, contínuo, sim, mas ainda em andamento? É um maravilhoso livro, este, que expressa as revelações de Deus aos homens. A Bíblia, os Vedas, o Corão não correspondem senão a um número – número – necessariamente necessariamente e por definição – definição – limitado de páginas, permanecendo, permanecendo, evidentemente, um número infinito de páginas
a serem escritas. Deixaria, repito, aberto meu coração a cada uma destas novas páginas a serem ainda produzidas. Estamos no presente, mas abrimo-nos ao futuro infinito. Incorporamos tudo aquilo em que se constitui o passado; usufruímos da luz do presente; e abrimos cada janela do coração a tudo aquilo que trará o futuro. Saudações a todos os profetas do passado, passado, a todos os grandes do do presente, e a todos os que virão no futuro!‖ Talvez o mais antigo sentimento religioso um dia expresso pela humanidade tenha sido o discurso, contido nos Vedas, sobre a harmonia das religiões: ―A Verdade é uma; os sábios a chamam por nomes diversos‖. Desde então, o mesmo sentimento tem ecoado e reecoado continuamente nos corredores do tempo, amplificado por pessoas iluminadas de diferentes religiões, em diferentes partes do mundo. Pode ser lembrada aqui a resposta do pensador romano romano Quintus Aurelius Symmachus Symmachus a Santo Ambrósio, o dogmático bispo de Milão:―O cerne cerne de tão grande
mistério‖, teria dito Symmachus, ―jamais poderia ser atingido seguindo-se apenas uma estrada‖. E Ibn’Arabi, o grande místico sufi do século XIII, escreveu em seu livro Tarjuman al-Ashwaq ( A Interpretação do Amor Divino ): Meu coração é capaz de toda forma Clausura para o monge Templo para ídolos Pasto para gazelas A Caaba do devoto As tábuas do Torá O Corão O amor é meu credo Não importa em que direção Ele conduza seus camelos O Amor ainda será Meu credo e minha fé Apuleius, o filósofo platônico do século II de nossa era, tinha a firme convicção de que o Divino era ―adorado através do mundo, de diversas maneiras, segundo costumes variáveis e sob múltiplos nomes‖.
Embora a verdade da harmonia entre as religiões tenha sido proclamada a cada geração pelos raros iluminados, a humanidade como um todo não se tem sensibilizado tanto a esta idéia quanto talvez fosse desejável. No mundo contemporâneo as diferenças religiosas ainda continuam a produzir atrito, desarmonia, desentendimento e desconfiança mútua. As seguintes perguntas vêm à baila: Como lidar com essas diferenças? Elas tenderão a desaparecer com o passar do tempo, ou não? São de alguma forma reconciliáveis? É possível descobrir alguma conexão entre elas que favoreça a idéia de harmonia? Qual o sentido de tantas tradições religiosas na história da humanidade? Tais são as questões com que se deverá confrontar todo estudante sério do fenômeno religioso. Para lidar com elas é possível pensar-se em mais de uma abordagem. Aqui, apenas delinearemos os principais traços de cada uma dessas possíveis abordagens:
1. A Abordagem Exclusivista A forma mais fácil de se lidar com as dúvidas supraexpostas, relativas à pluralidade das manifestações religiosas, é simplesmente negá-la: apenas uma religião é verdadeira. As outras supostas religiões, ou são falsas, ou correspondem a desvios de rota, e portanto, não merecem ser chamadas de religiões. Subjacente a este discurso, sempre se encontra a idéia de que minha religião é a única verdadeira. Um corolário necessário desta idéia é que, caso o mundo viesse a ser unificado sob a égide de uma única religião, forçosamente esta religião seria a minha.Toda tradição religiosa tem alguns adeptos dessa posição. O Arcebispo de Cantuária declinou o convite para participar do Parlamento Mundial de Religiões, realizado em Chicago em 1893, sob a seguinte alegação: ―… a religião cristã é a única religião. Eu não posso compreender como o representante de uma dada religião possa aceitar ser membro de um Parlamento de Religiões, de que
participem representantes de outras tradições, sem estar implicitamente reconhecendo a posição equânime de seus pares e a validade de suas posições e demandas‖. A destruição por parte de fundamentalistas muçulmanos de locais de adoração pertencentes a outras fés, por exemplo, foi decorrência da crença de que o Islam era a única religião verdadeira e que, portanto, tais atos eram atos de fé. Certamente houve fatores políticos e econômicos informando as guerras medievais, mas, em muitas delas, foi a postura exclusivista face à religião que forneceu o pretexto, a justificativa, a motivação. O proselitismo agressivo que caracterizou tantas vezes o comportamento quer de cristãos (salvando as almas de pagãos e hereges do fogo do inferno, frequentemente através do fogo terráqueo ), quer de muçulmanos, foi devido ao sentimento de que aquela religião específica era a única verdadeira e, portanto, universalmente aplicável, até pelo uso da força, da tortura, da morte. A reivindicação
dos judeus no sentido que sua religião seja a única verdadeira advém da crença de que os judeus são o Povo Eleito pelo Senhor. E não pode ser negado que, mesmo em certos segmentos do Hinduísmo e do Budismo, verificou-se a mencionada abordagem exclusivista à religiosidade. Num conselho realizado em Búfalo, em 1805, Sagoyewatha (literalmente Jaqueta Vermelha), um chefe indígena da tribo Sêneca, teria perguntado a um missionário: ―Irmão, se existe uma e apenas uma forma de adorar e servir ao Grande Espírito, se existe apenas uma religião verdadeira, porquê, então, vocês brancos se dividem tanto em relação a essa questão?‖. A mesma questão foi colocada por Vivekananda em 1900, durante sua conferência em Pasadena: ―Se fossem verdadeiras as pretensões de uma dada religião de ser o repositório de toda a verdade, e de que toda essa verdade tenha sido posta por Deus num determinado livro, ou conjunto de livros, porquê, então, há tantas
seitas? Não se passam cinquenta anos sem que surjam vinte seitas fundadas a partir do mesmo livro. Se Deus houvesse posto toda a verdade em determinados livros, Ele não o teria feito para que brigássemos em torno da interpretação dos textos… Veja a Bíblia, por exemplo, e todas as seitas que se consideram igualmente cristãs: cada uma delas têm interpretação própria a respeito do mesmo texto sagrado e a privilegia acima de todas as demais, que considera simplesmente erradas. Isto vale para qualquer religião. Há várias seitas entre muçulmanos e budistas, e centenas entre hindus. Trago esses fatos à consideração de vocês para que fique bem claro que qualquer tentativa de trazer a humanidade a uma única forma de pensamento espiritual tem sido e será sempre um fracasso‖. 2. A Abordagem Sincretista Embora admitindo as limitações das atuais religiões, alguns pensadores acham que uma nova religião poderá eventualmente emergir, ou ser criada, pela combinação dos melhores
aspectos de cada uma das religiões existentes e a concomitante omissão de seus elementos menos inspirados. Os adeptos desta abordagem, dita sincrética, não enfatizam o chão comum donde brotam todas as religiões, mas mantêm que os elementos díspares verificáveis nas diversas formas de manifestação religiosa não conflitam uns com os outros. Tentam, assim, combinar alguns dos que consideram bons elementos de todas as religiões para constituir uma nova religião. O mais notório exemplo do que acabamos de descrever foi a religião Din-ilahi, criada por Akbar, o imperador mogul (mongol) da Índia no século XVI. Ele convocou um Conselho Geral e convidou para dele participarem líderes, sábios e pensadores proeminentes de todo o reino. Em seguida, informou-os de seu desejo de unir seus súditos ―de forma a que fossem ao mesmo tempo um e todos; com a vantagem de não precisarem abdicar de qualquer elemento positivo de uma dada religião, enquanto ganhavam qualquer
elemento tido como melhor de uma determinada outra. Desta maneira, Deus seria honrado, o povo viveria em paz e o Império teria segurança‖. O sincretismo de Akbar constituiu-se numa religião que poderia ser vista como um monoteísmo panteísta – uma colcha-de-retalhos de elementos tomados por empréstimo ao Islã, ao Cristianismo, ao Hinduísmo, ao Jainismo e ao Zoroastrianismo. Enquanto religião, não teve sucesso, embora tenha tido alguns êxitos políticos de curto prazo. Seu fracasso enquanto religião universal é até compreensível, pois, como dito anteriormente, é impossível submeter toda a humanidade a uma única via de acesso a Deus. Apesar de seu insucesso a nível coletivo, muitas pessoas vêm tentando aplicá-la a nível pessoal nos tempos que correm. 3. A Abordagem Teológica Esta abordagem se fundamenta na crença de que uma dada religião – e, como na
abordagem exclusivista, isto significa quase sempre minha religião – é a realização do que há de melhor e mais verdadeiro nas demais. Deve haver algum propósito divino na existência de tantas religiões diferentes, e seria errôneo questionar-lhes a utilidade. As outras religiões não são inteiramente falsas ou mal orientadas, tendo, portanto, alguns aspectos verdadeiros – que, no entanto, só se revelam plenamente na minha religião. As outras religiões se baseiam em conhecimento natural em vez de em revelação divina, sendo, por consequência, incompletas (ou primitivas). Eventualmente terão que convergir para a minha religião – que, por ser revelada, é completa e perfeita. Nos últimos anos, alguns teólogos cristãos propuseram uma versão mais sutil e sofisticada desta posição, que implicava uma espécie de revelação evolucionária ou progressiva embutida em todas as religiões, com o Cristianismo representando o ponto mais alto dessa escala evolutiva. R.C. Zaehner, um
professor católico de Oxford, é um dos mais conhecidos defensores dessa perspectiva. Por outro lado, como o Islam é a mais recente das chamadas grandes tradições (a religião Mormon é mais recente ainda, mas não costuma ser considerada como membro deste seleto clube), teólogos muçulmanos argumentam que o Judaísmo e o Cristianismo não são propriamente religiões falsas mas preparações para a revelação final do Profeta Maomé. Esta teoria das preparações foi proposta por um bispo, já em 1893, antes de abertas as sessões do Parlamento das Religiões, em Chicago. Escreveu ele: ―Um dos resultados [do Parlamento das Religiões] será o de mostrar que o Cristianismo nunca foi objeto de fé mais abrangente ou mais esclarecida, nem Jesus Cristo seguido com maior adoração. A Civilização, que, está unificando o mundo, também está preparando o caminho para que todas as religiões se agrupem em torno de seu verdadeiro centro – Jesus Cristo‖.
4. A Abordagem Pluralista Esta abordagem não apenas reconhece a diversidade religiosa, mas procura fazer-lhe face de forma positiva. Ela aceita a validade de cada religião, segundo seus próprios termos e objetivos. Esta é a única abordagem aceitável a homens e mulheres ponderados e razoáveis do mundo de hoje. Mas ela coloca sérios desafios, tanto a nível individual quanto coletivo. Em países que adotaram uma constituição secular, o pluralismo religioso vem-se mostrando um dos mais graves problemas político-sociais. Dada sua abrangência, a postura pluralista dá margem a diversas subposições sob sua égide. Mencionam-se abaixo algumas dessas subabordagens, hoje largamente seguidas. 4.1. A Subabordagem que se Funda na Discreção e no Respeito Mútuo Acreditam seus seguidores que, já que precisam conviver com membros de outras fés, o melhor é desenvolver as virtudes do respeito mútuo e da tolerância, visando à paz e
ao bem-estar coletivos. Que a religião seja uma questão particular de cada indivíduo – não é preciso alardeá-la socialmente, quando forem muito grandes as possibilidades de choque com outras opções religiosas. Sejamos religiosos em nossa vida privada e seculares na pública. Em países pluralistas, como os EUA e a Índia, esta postura governamental foi incorporada às respectivas constituições desses países. 4.2. A Subabordagem Dialógica Há muitos pensadores e acadêmicos que mantêm a posição de que é melhor não ter respostas prontas relativas à verdade ou superioridade de qualquer dada religião, ou concernentes à relação entre duas ou mais dadas religiões. Advogam que o fundamental é estabelecer um diálogo com essas outras fés, num espírito de respeito mútuo, pertencimento e abertura criativa. É preciso aprender a ouvir os pontos de vista alheios sem preconceitos. Tal interação dialógica pode, no devido tempo, produzir maior
compreensão mútua e alterar radicalmente, para melhor, a projeção que fazemos hoje a respeito do possível relacionamento futuro entre as religiões. O fluxo massivo de mestres e de idéias orientais para o Ocidente, entre 1960 e 1970, e o concomitante esvaziamento de mosteiros e paróquias, forçaram as igrejas ocidentais – quer a católica quer as protestantes – a buscarem o diálogo com esses novos interlocutores, em parte visando a seu próprio enriquecimento e desenvolvimento, mas sobretudo para produzirem imagens de instituições liberais e abertas. Talvez a melhor dentre as opções advindas da perspectiva pluralística seja a corrente Vedanta representada por Sri Ramakrishna e Swami Vivekananda. Sua abordagem da pluralidade do fenômeno religioso poderia ser chamada de harmônica. Tal abordagem, tratada no item 5 a seguir, traz a vantagem particularíssima de atender às aspirações de todos, sem necessariamente destruir-lhes a fé
original. 5. A Abordagem Harmônica A perspectiva harmônica de Sri Ramakrishna não evoluiu a partir de posições acadêmicas ou intelectuais mas, ao contrário, empiricamente, através de experiência espiritual direta. Ele jamais se propôs provar a harmonia das religiões. Ele tinha a alma intoxicada por Deus. Tendo atingido a bem-aventurança suprema e transcendental, como resultado de seu intenso anelo por Deus, sob a forma da Divina Mãe, ele se tornou ansioso para experimentar a forma como Deus era adorado em outras tradições. Seu amor abrasador por Deus fê-lo iniciar-se não só em diversas escolas do Hinduísmo e suas práticas, mas também em outras tradições. Este foi um experimento único, que teve resultados extraordinários. Para sua alegria e encantamento quase infantis, Sri Ramakrishna descobriu que todos esses caminhos levavam à consciência última de Deus como Espírito Supremo. Assim, através de experiência
empírica, Sri Ramakrishna, que originalmente não tinha esta intenção, acabou provando que todas as religiões eram igualmente válidas. Isto o induziu a formular os três princípios fundamentais, que se constituem na pedra-de-toque da perspectiva harmônica ao fenômeno da pluralidade religiosa: 1. Todas as religiões têm o mesmo objetivo último, qual seja a realização de Deus; qualquer outro aspecto de qualquer forma religiosa deve ser visto como secundário. Liberta de toda firula teológica, qualquer religião tem, como propósito maior, a transcendência das limitações humanas visando ao contato com a Realidade Superior. 2. Só há uma única Realidade Transcendente, Última, que se manifesta sob formas diversas, com atributos variados – podendo até ser vista como amorfa ou indefinida – e que recebe nomes diferentes (Isto, evidentemente, é um velho truísmo indiano. A intuição milenar dos sábios vedas foi reconfirmada em nossa era pela experiência direta de Sri Ramakrishna).
3. A Realidade Última pode ser realizada através dos vários caminhos propostos pelas muitas tradições. Toda religião tem o poder inerente de levar seus seguidores ao desenvolvimento máximo da alma humana. Em termos práticos, estes três princípios implicam que as religiões do mundo não são contraditórias nem antagônicas umas em relação às outras, mas, ao contrário, são complementares. Ninguém precisa mudar de religião ou persuadir quem quer que seja a fazê-lo. Toda religião é igualmente verdadeira e autêntica. Dizer que todas as religiões são igualmente verdadeiras evidentemente não significa que todas as religiões sejam idênticas ou que todas as diferenças sejam meramente superficiais. Não. Cada tradição tem sua ênfase, seu viés, um traço característico, um aspecto único. Por exemplo, a característica dominante do Islam é o espírito de igualdade e fraternidade; do Cristianismo, o amor e o sacrifício – tais como exemplificados por Jesus; do Budismo, a
renúncia, a compaixão, a racionalidade; e do Hinduísmo, o princípio da consciência da unidade básica do universo, a insistência na necessidade da experiência mística pessoal direta, o espírito de aceitação e seu extraordinário poder de assimilação. Da mesma maneira, dizer que cada religião tem sua própria feição única não é o mesmo que dizer que as religiões não têm vários aspectos em comum. Ao contrário, há muito a compartilhar e a aprender uns dos outros; e se realmente nos empenharmos nesse sentido, veremos que as diversas tradições têm muito mais facetas em comum do que normalmente é reconhecido. Apesar da diversidade das manifestações religiosas e das indiscutíveis diferenças entre elas, não há como negar que todas as tradições compartilham, por exemplo, a preocupação com os problemas existenciais da humanidade, com transcendência, com a Realidade Última, com santidade, com companheirismo e com a expressão simbólica de experiências interiores. A abordagem
harmônica consiste no reconhecimento deste chão comum e no enriquecimento da vida espiritual de cada um através da absorção dos melhores aspectos de religiões outras que não a própria, sem, no entanto, abdicar da própria tradição. Swami Vivekananda o colocou de forma extremamente sucinta ao dizer: ―Não se trata de que o cristão venha a se tornar hindu ou budista, nem que o hindu ou budista se transforme em cristão. Mas cada um deveria assimilar o espírito das outras tradições, enquanto mantivesse sua própria individualidade e se desenvolvesse segundo seu ritmo, sua lei de crescimento pessoal‖. Sri Ramakrishna oferece como exemplo a situação de uma nora, que serve com amor e dedicação a todos os membros da família de seu marido, mas que, com ele, mantém uma relação de natureza especial. Da mesma forma, é possível estar-se ciente da harmonia subjacente a todas as religiões e, no entanto, manter-se uma relação de caráter diferenciado com a própria. O que implica o
reconhecimento da prerrogativa de ter-se um elo com a tradição de origem que seja de fato específico. É hora de aprendermos que o amor por nossa religião não aumenta por vir acompanhado do ódio pelas demais. Quando o amor verdadeiro surge no coração, deixa de haver lugar para o ódio. Os dois sentimentos não podem conviver. Assim, de acordo com a abordagem em pauta, poderemos todos viver juntos numa única família internacional de religiões, dentro da qual serão compartilhados sem barreiras o amor, a compaixão e a cooperação. As diferentes tradições, ou rótulos – tais como o Cristianismo, o Islam, o Judaísmo, o Budismo, o Hinduísmo, o Taoísmo -, são de fato muros dividindo a consciência religiosa da humanidade. Esses muros são necessários, pois têm sua utilidade. Sri Ramakrishna o explica através do exemplo de uma cerca, construída para proteger uma tenra planta em crescimento do estouro de uma boiada. Uma vez transformada em robusta árvore, a cerca
não se faz mais necessária, podendo até se constituir em estorvo. Similarmente, as tradições religiosas protegem o neófito de forças antirreligiosas. Breve, porém, o neófito precisará se desenvolver e ultrapassar esse confinamento, até então necessário. Além dos muros que separam uma religião da outra, há o universo da Religião sem fronteiras, o espaço sem limite da Religião além das religiões, da Tradição infra ou supraestrutural às tradições. 6. Da Harmonia à Universalidade Toda religião existente é meramente uma expressão do aspecto transcendental da Religião, assim com a verdade que cada religião representa é uma expressão da Verdade absoluta, transcendental. A Religião além das religiões não apenas transcende todas as religiões como está presente em cada uma delas. É a totalidade das religiões. Swami Vivekananda explica: ―O homem está imbuído da idéia de que só pode haver uma única religião, um único
Profeta, uma única Encarnação. Mas essa é uma falsa idéia. O estudo das vidas desses grandes mensageiros nos mostra que cada um deles estava destinado a representar um papel – mas apenas um. A harmonia consiste num conjunto de notas e não em apenas uma. A soma é a grande harmonia‖. É esta grande harmonia – a totalidade – que se expressa de diferentes maneiras: ―Esta única religião eterna se aplica a diferentes planos da existência, se aplica às opiniões de várias mentes e várias raças. Nunca houve a minha ou a sua religião, minha religião nacional ou sua religião nacional; nunca houve muitas religiões – mas apenas uma única. Uma religião infinita sempre existiu e sempre existirá, por toda a eternidade, e é esta religião que se vem expressando de formas diversas em países diversos‖. Uma vez que todas as religiões são expressões da Religião além das religiões, não apenas cada uma delas é verdadeira e autêntica, como
há um fio de harmonia as conectando. Este fio pode ser descoberto, e a harmonia subjacente a todas as tradições, experienciadas por pessoas verdadeiramente religiosas. Por religioso entenda-se não aqueles que apenas acreditam em algum dogma ou aceitam algum tipo de salvador. Religião verdadeira ―não é conversa, ou doutrinas, ou teorias; nem sectarismo… É a relação entre a alma e Deus … Religião não consiste na ereção de templos, ou na construção de igrejas, ou no comparecimento a formas sociais e públicas de adoração. Não é algo a ser encontrado em livros, ou em discursos, ou em sermões, ou em instituições. Religião implica realização … Precisamos realizar Deus, sentir a Deus, ver a Deus, falar com Deus … Isto é religião‖. Doutrinas, dogmas, rituais, livros, templos, igrejas são importantes e têm sua utilidade, mas são apenas detalhes secundários da religião. Os aspectos primários da religião são a experiência suprassensorial de Deus e nossos esforços para realizá-la e viver de
acordo com e em função dela. Assim, religião não é uma porção de atitudes, comportamentos ou crenças a serem aceitas com base na fé, mas o esforço ativo em busca das raízes espirituais de cada um, culminando com a experiência direta de Deus. Qualquer um pode ter essa experiência, através da prática intensiva e sincera da própria religião. Corresponde a um estágio avançado desta prática aquele em que o buscador se alça acima de sua própria tradição e começa a buscar inspiração diretamente a partir da Religião além das religiões. A harmonia subjacente a todas as religiões torna-se palpável, neste elevado domínio, onde, se intui, todas as religiões são ―apenas um passeio, um emergir de diferentes homens e mulheres, em meio a várias condições e circunstâncias, em direção ao mesmo objetivo‖ (Swami Vivekananda – Obras completas). Neste ponto pode-se argumentar: se a verdade é uma só, como é possível que todas as
religiões sejam igualmente verdadeiras? Responde Vivekananda: ―Devemos tomar consciência de que a verdade pode ser expressa sob centenas de formas diferentes, e que cada uma dessas expressões é verdadeira a sua maneira. Devemos tomar consciência de que a mesma coisa pode ser olhada segundo centenas de ângulos e, no entanto, continuar sendo uma única e mesma coisa‖. Numa palestra proferida na Igreja Universalista de Passadena, Califórnia (EEUU), em 1900, ele desenvolveu esta idéia através de um exemplo: ―Tire quatro fotografias desta igreja, a partir de quatro pontos distintos. Elas parecerão todas diferentes entre si. Da mesma forma, estamos sempre, todos, olhando a verdade a partir de pontos-de-vista distintos, que variam em função das circunstâncias de nosso nascimento, de nossa família, do ambiente em que vivemos, de nossa educação etc. Estamos olhando para a verdade, e neste processo,
usufruindo dela o quanto o permitam as circunstâncias citadas acima, colorindo-a com nossos corações, compreendendo-a com nosso intelecto, apreendendo-a com nossa mente. Da verdade só podemos perceber, por um lado, o quanto as circunstâncias nos relatem, o quanto nos é dado perceber por elas, e por outro, o quanto estamos aptos a apreender. Tais fatos são responsáveis pelas diferenças entre as perspectivas individuais, aparentemente contraditórias, de cada homem. No entanto, estamos todos no mesmo barco e, como tal, somos todos parte da mesma verdade universal‖. A compreensão intelectual desta idéia pode preceder a experiência empírica a ela relacionada, que ocorreria apenas quando se penetra a esfera da Religião além das religiões. Este processo será consideravelmente acelerado caso a consciência dos aspectos transcendentes da religião sejam cultivados desde o começo. Observa-se que aqueles que lograram
estabelecer contato com a Religião além das religiões são absolutamente livres de fanatismo, estreiteza mental, mesquinhez, suspeita e medo. Eles vêm a marca de uma Religião única por toda parte. Eles percebem que cada oração – proferida não importa em que língua, diante de qual altar ou em qual templo, acompanhada por quais rituais, dirigida a qual nome ou forma de Deus – atinge o mesmo Deus, que é ao mesmo tempo Pai e Mãe de todos nós. Eles também percebem que é possível atingir a Religião além das religiões mesmo sem rituais ou orações, uma vez que existem outros caminhos como a ioga, a meditação za-zen etc. Deus Todo-Misericordioso não nega Seu amor, Sua graça, Suas bençãos a qualquer de Seus filhos apenas porque eles ou elas não usam o rótulo que as caracteriza como pertencentes a esta ou àquela tradição. O exame das várias denominações religiosas abre diante de nós um leque de inúmeras práticas e disciplinas, que podemos adotar
livremente, sem a necessidade de proceder à operação formal de trocar de religião. Assim, podemos demarcar nossa trilha pessoal, integrando os melhores elementos de outras religiões a nossa vida religiosa particular. É preciso fazer um esforço consciente para dar-se conta do fio condutor que conecta todas as religiões, formando linda guirlanda a adornar o Ser Supremo, que nunca é Hindu, ou Judeu, ou Taoísta, ou Cristão, ou Budista, ou Muçulmano. Todas as tradições pertencem a Ele, mas Ele as transcende a todas. Quando o espírito de harmonia religiosa animar nossas almas e a consciência da Religião além das religiões tocar nosso espírito, a Vida terá um sentido novo e mais rico para nós. Poderemos, então, nos unir a Swami Vivekananda e dizer: ―Aceito todas as religiões do passado e adoro segundo todas; adoro a Deus em cada uma delas, não importando sob que forma O adorem. Irei à mesquita muçulmana; à igreja
do cristão, ajoelhando-me diante do crucifixo; entrarei no templo budista, onde encontrarei refúgio no Buda e em sua lei; penetrarei a floresta e sentar-me-ei em meditação com o hindu, que estará procurando ver a luz que ilumina o coração de todos‖. ―Não apenas farei todas essas coisas, como manterei meu coração aberto a todas as formas particulares d’A Tradição que venham a surgir no futuro. Estará completo o livro de Deus? Ou é este livro um processo de revelação, contínuo, sim, mas ainda em andamento? É um maravilhoso livro, este, que expressa as revelações de Deus aos homens. A Bíblia, os Vedas, o Corão não correspondem senão a um número – necessariamente e por definição – limitado de páginas, permanecendo, evidentemente, um número infinito de páginas a serem escritas. Deixaria, repito, aberto meu coração a cada uma destas novas páginas a serem ainda produzidas. Estamos no presente, mas abrimo-nos ao futuro infinito. Incorporamos tudo aquilo em que se constitui
o passado; usufruímos da luz do presente; e abrimos cada janela do coração a tudo aquilo que trará o futuro. Saudações a todos os profetas do passado, a todos os grandes do presente, e a todos os que virão no futuro!‖ O Avatar: Deus na forma Swami Shivananda, um dos discípulos de Sri Ramakrishna, disse: ―Se Deus não descende como um ser humano, como poderão os seres humanos amá-Lo? Eis a razão pela qual Ele nos vêm em forma humana. As pessoas poderão amá-Lo como a um pai, mãe, como a um irmão ou amigo; poderão escolher quaisquer desses aspectos. E Ele virá a cada um sob a forma que mais agrade àquela pessoa.‖ Através das eras, a renovação espiritual chega à humanidade por meio da manifestação de Deus sob forma humana. A palavra sânscrita avatar significa literalmente ―descenso de Deus‖. A maioria das religiões do mundo receberam o impulso e a orientação dados por esses gigantes espirituais – as encarnações, os
profetas e mensageiros de Deus. Jesus e Buddha, Rama e Krishna, Moisés e Maomé, Chaitanya e Ramakrishna – foram todos luminares no mundo da espiritualidade, espargindo nova energia nas religiões que estavam indulgindo em hipocrisia e autocomplacência. Há milhares de anos o Bhagavad Gita proclamava: Quando a bondade se enfraquece, Quando o mal se faz maior, Assumo um corpo. A cada era eu retorno Para liberar os santos, Para destruir o pecado do pecador, Para estabelecer a retidão. Uma das grandes diferenças entre o pensamento ocidental e o oriental é que o ocidente tende a pensar em termos de tempo linear – o mundo e a história humana tendo um começo, um meio e um fim bem definidos. Em contraste, o oriente pensa em termos de grandes ciclos: ascensão e descensão, criação
e destruição, crescimento e decadência; estes ciclos se sucedem continuamente como ondas em um eterno processo cósmico. As civilizações, as religiões e os indivíduos, são todos partes desse ciclo contínuo. A aparição do avatar é fundamental para esse eterno movimento de declínio espiritual seguido de sua regeneração. Conforme a Vedanta, a verdade espiritual é eterna e universal – nenhuma religião ou seita em particular pode ter seu monopólio. A verdade que Cristo descobriu é a mesma que foi revelada aos sábios dos Upanishads; da mesma forma, é a verdade que Krishna e Buddha igualmente ensinaram. Gautama disse que existiram muitos Budas antes dele. e que, na sequência do tempo, muitas serão as manifestações de Deus na Terra. Existe algum propósito em tudo isso? Sim. Primeiro, cada avatar tem uma mensagem específica para transmitir à humanidade. Maomé ensinou a igualdade e a irmandade da humanidade; Cristo revelou a primazia do
amor de Deus sobre a letra morta da Lei; Buda rejeitou o sacerdócio e predicou às pessoas que fossem luminares para si mesmas; Krishna transmitiu equanimidade mental e ação desapegada; Ramakrishna predicou o ideal da harmonia das religiões. Cada encarnação tem uma mensagem particular para a época em que se manifesta. A segunda razão pela qual o avatar se encarna é o restabelecimento da única e eterna religião – a verdade espiritual. Embora tenham seus próprios ensinamentos, todas as encarnações vêm para acender a chama espiritual em um mundo imerso na mediocridade religiosa. Não importa em qual lugar o avatar apareça na Terra, o mundo inteiro é elevado e é regenerado com seu advento. Isso significaria, de acordo com a Vedanta, que Deus só poderia ser realizado por meio de seu aspecto pessoal? Não. A Vedanta diria que devemos pensar em Deus como uma pessoa? Não. O que a Vedanta diz é que Deus pode se
manifestar, e se manifesta, através de forma humana e que, para a maioria das pessoas, é mais fácil meditar n’Ele e amá-Lo como um Deus com forma, do que com os vagos conceitos de infinitude, de consciência e de bem-aventurança. Isso, contudo, depende do temperamento de cada indivíduo. Muitas pessoas atingem o desenvolvimento espiritual por meio da meditação no avatar: são os seguidores do caminho da devoção (bhakti-yoga). No entanto, para outros, esse é um enfoque totalmente equivocado; aqueles que são mais intelectuais do que emocionais poderão alcançar maior consciência espiritual pela jñana yoga. O Caminho do Conhecimento Jñana-yoga é a yoga do conhecimento — não o conhecimento no sentido intelectual — mas o conhecimento de Brahman e do Atman e a realização de sua unidade. Enquanto o devoto que pratica o caminho do bhakti-yoga segue os apelos de seu coração, o jñani usa os poderes da mente para discriminar entre o real
e o irreal, o permanente e o transitório. Os jñanis, seguidores da vedanta não-dualista ou advaita vedanta, podem também ser chamados de monistas, pois afirmam a realidade única de Brahman. Certamente todos os seguidores da vedanta são monistas: todos os vedantistas afirmam a realidade única de Brahman. A diferença aqui reside na prática espiritual: enquanto todos os vedantistas são filosoficamente monistas, na prática, aqueles que são devotos de Deus preferem pensar em Deus distintos de si mesmos a fim de desfrutar da doçura de uma relação. Os jñanis, por outro lado, sabem que toda dualidade é ignorância. Não é necessário buscar a divindade fora de nós: nós mesmos já somos divinos. O que nos impede de conhecer nossa verdadeira natureza e a natureza do mundo em nossa volta? O véu de maya. A jñana-yoga é o processo de desvelar completamente esse véu, rasgando-o por uma dupla abordagem. Um Universo Irreal
A primeira parte da abordagem é negativa, o processo de neti, neti – isso não, isso não. Tudo o que irreal – isto é, impermanente, imperfeito, sujeito a mudança – é rejeitado. A segunda parte é positiva: tudo o que é entendido como perfeito, eterno, imutável – é aceito como real no sentido mais elevado. Estaremos dizendo que o universo que percebemos é irreal? Sim e não. No sentido absoluto, é irreal. O universo e nossa percepção dele têm apenas uma realidade condicional, não definitiva. Voltando à nossa referência anterior à corda e à cobra: a corda, isto é, Brahman, é percebida como uma cobra, isto é, o universo tal como o percebemos. Enquanto estamos vendo a cobra, ela tem uma realidade condicional. Nossos corações palpitam em reação à nossa percepção. Quando vemos a ―cobra‖ pelo que ela é, rimos de nossa ilusão. Da mesma forma, tudo o que apreendemos por nossos sentidos, nossas mentes, nossos intelectos, é inerentemente limitado pela
própria natureza de nossos corpos e mentes. Brahman é infinito; não pode ser limitado. Portanto, este universo de mudanças – de espaço, tempo e causação – não pode ser o infinito e onipresente Brahman. Nossas mentes estão restringidas por todas as condições possíveis; seja o que for que a mente e o intelecto apreendem não pode ser a infinita plenitude de Brahman. Brahman deve estar além do que a mente normal pode compreender; conforme declaram os Upanishads, Brahman está ―além do alcance da fala e da mente‖. Ainda assim, o que percebemos não pode ser diferente de Brahman. Brahman é infinito, onipresente e eterno. Não pode haver dois infinitos; o que vemos a todo momento só pode ser Brahman; qualquer limitação vem somente de nossa percepção equivocada. Os jñanis vigorosamente removem essa percepção equivocada pelo processo negativo do discernimento entre o real e o irreal e pela abordagem positiva da Auto-afirmação.
Auto-Afirmação Na auto-afirmação, continuamente afirmamos o que é real em nós mesmos: não somos limitados a um pequeno corpo físico; não somos limitados por nossas mentes individuais. Somos Espírito. Nunca nascemos; nunca morreremos. Somos puros, perfeitos, eternos e livres. Essa é a grande verdade a respeito de nosso ser. A filosofia subjacente à Auto-afirmação é simples: você se torna o que você pensa. Temos nos programado por milhares de vidas para pensar que somos limitados, insignificantes, fracos e impotentes. Que mentira horrível e medonha é essa e quão incrivelmente autodestrutiva! É o pior veneno que podemos ingerir. Se pensamos que somos fracos, agiremos de acordo. Se pensamos que somos impotentes pecadores, sem dúvida agiremos de acordo. Se pensamos que somos Espírito – puros, perfeitos, livres – também agiremos de acordo. Da mesma maneira que por inúmeras vezes
martelamos os pensamentos errados em nossas mentes e criamos as impressões erradas, devemos reverter o processo martelando em nossos cérebros os pensamentos certos – pensamentos de pureza, pensamentos de força, pensamentos de verdade. Como declara o Ashtavakra Samhita, um texto advaita clássico: ―Sou sem mácula, tranquilo, pura consciência, e além da natureza. Todo esse tempo fui enganado por ilusões.‖ A jñana-yoga faz uso de nossos consideráveis poderes mentais para por fim ao processo de engano, para saber que somos já agora – e sempre fomos – livres, perfeitos, infinitos e imortais. Ao realizar isso, reconheceremos também nos outros a mesma divindade, a mesma pureza e perfeição. Não mais confinados às dolorosas limitações do ―eu‖ e ―meu‖, veremos o único Brahman em todos os lugares e em todas as coisas. O Caminho da Ação Karma-yoga é a yoga da ação ou trabalho;
especificamente, karma-yoga é o caminho do trabalho consagrado: é a renúncia aos resultados de nossas ações ao realizá-las como uma oferenda espiritual, em vez de acumular os resultados das ações para nós mesmos. Como já mencionamos antes, karma é a ação e o resultado da ação. Aquilo que vivenciamos hoje é o resultado do nosso karma – bom e mau – criado por nossas ações anteriores. Essa corrente de causa e feito que nós mesmos criamos pode ser quebrada pela karma-yoga : combatendo o fogo com o fogo, usamos a espada da karma-yoga para interromper a reação encadeada de causa e efeito. Desvinculando o ego do processo de trabalho pelo oferecimento dos resultados a um poder mais alto – seja um Deus pessoal ou ao Ser interno – interrompemos todo o processo, que cresce como uma bola de neve. Tenhamos ou não essa percepção, todos nós agimos todo o tempo, visto que até mesmo sentar e pensar são ações. Uma vez que a ação é inevitável, é parte integral de estar vivo,
precisamos reorientá-la para um caminho que leve à realização de Deus. Como lemos no Bhagavad Gita, uma das mais sagradas escrituras do hinduísmo: Qualquer que seja a sua ação, Alimento ou adoração; Qualquer que seja o presente Que você dê a alguém; O que quer que você prometa Ao trabalho do espírito… Coloque isso também Como oferendas diante de Mim. Todos nós temos a tendência de agir com expectativas em nossas mentes: trabalhamos duro em nossos empregos para conseguir o respeito e apreciação de nossos colegas e promoções por parte do patrão. Limpamos nossos jardins e os deixamos adoráveis com a esperança de que nossos vizinhos os apreciem, se não ficarem decididamente invejosos. Trabalhamos duro na escola para alcançar boas notas, prevendo que isso nos trará um bom futuro. Preparamos uma esplêndida
refeição com a expectativa de que será recebida com aplausos e elogios. Vestimo-nos com capricho esperando a apreciação de alguém. Uma parte tão grande das nossas vidas é dispendida na expectativa de resultados futuros que isso acaba sendo feito automaticamente, inconscientemente. Esse, entretanto, é um padrão perigoso. De um ponto de vista espiritual, todas essas expectativas e antecipações são como cavalos de Tróia que, cedo ou tarde, nos trarão sofrimento. O sofrimento é inevitável porque nossas expectativas e desejos são intermináveis e insaciáveis. Viveremos de desapontamento em desapontamento pois nossa motivação é satisfazer e engrandecer o ego; ao invés de quebrar os grilhões do karma, estamos forjando novas correntes. Seja qual for o nosso temperamento, devocional, intelectual ou meditativo, a karma-yoga pode facilmente ser praticada em conjunto com os outros caminhos espirituais. Mesmo aqueles que levam uma vida
predominantemente meditativa se beneficiam da karma- yoga, pois os pensamentos podem produzir amarras tão efetivas quanto as ações físicas. Assim como os devotos oferecem flores e incenso em sua amorosa adoração a Deus, as ações e pensamentos também podem ser oferecidos como uma adoração divina. Sabendo que o Senhor existe nos corações de todas as criaturas, os devotos podem e devem adorar a Deus servindo a todos os seres como manifestações vivas de Deus. Parafraseando Jesus: aquilo que fazemos pelo último de nossos irmãos e irmãs, fazemos para o próprio Senhor. Diz o Bhagavad Gita :‖Um yogi vê a Mim em todas as coisas, e todas as coisas em Mim.‖ O mais elevado de todos os yogis, continua o Gita, é aquele ―que se inflama com a felicidade e sofre a tristeza de cada criatura‖ dentro do seu próprio coração. Os jñanis(aspirantes seguindo pelo caminho do discernimento ou da razão) tomam uma posição diferente mas igualmente efetiva. Eles
sabem que embora o corpo e a mente realizem ações, na verdade eles mesmos não trabalham de modo algum. No meio de intensa atividade, os jñanis repousam na profunda quietude do Atman. Mantendo a atitude de uma testemunha, eles recordam continuamente que não são nem o corpo, nem a mente. Eles sabem que o Atman não está sujeito à fadiga, à ansiedade ou ao excitamento; puro, perfeito e livre, o Atman não tem luta pela qual se engajar, nem objetivo para alcançar. O objetivo de todas as yogas é espiritualizar toda a nossa vida, em vez de compartimentalizar nossos dias em zonas ―secular‖ e ― espiritual‖. Com relação a isso, a karma-yoga é particularmente efetiva, já que não nos deixa usar a atividade como um escape. Por insistir que a própria vida pode ser sagrada, a karma-yoga nos dá as ferramentas da vida diária para talhar nosso caminho rumo à liberdade. Citando novamente o Bhagavad Gita com relação à karma-yoga: Assim você se livrará dos bons e dos maus
efeitos de suas ações. Ofereça tudo a Mim. Se seu coração está unido a Mim, você se verá livre do karma nesta mesma vida, e vem para Mim ao final. Karma-yoga é a yoga da ação ou trabalho; especificamente, karma-yoga é o caminho do
trabalho consagrado: é a renúncia aos resultados de nossas ações ao realizá-las como uma oferenda espiritual, em vez de acumular os resultados das ações para nós mesmos. Como já mencionamos antes, karma é a ação e o resultado da ação. Aquilo que vivenciamos hoje é o resultado do nosso karma – bom e mau – criado por nossas ações anteriores. Essa corrente de causa e feito que nós mesmos criamos pode ser quebrada pela karma-yoga : combatendo o fogo com o fogo, usamos a espada da karma-yoga para interromper a reação encadeada de causa e efeito. Desvinculando o ego do processo de trabalho pelo oferecimento dos resultados a um poder mais alto – seja um Deus pessoal ou ao Ser interno – interrompemos todo o processo, que
cresce como uma bola de neve. Tenhamos ou não essa percepção, todos nós agimos todo o tempo, visto que até mesmo sentar e pensar são ações. Uma vez que a ação é inevitável, é parte integral de estar vivo, precisamos reorientá-la para um caminho que leve à realização de Deus. Como lemos no Bhagavad Gita, uma das mais sagradas escrituras do hinduísmo: Qualquer que seja a sua ação, Alimento ou adoração; Qualquer que seja o presente Que você dê a alguém; O que quer que você prometa Ao trabalho do espírito… Coloque isso também Como oferendas diante de Mim. Todos nós temos a tendência de agir com expectativas em nossas mentes: trabalhamos duro em nossos empregos para conseguir o respeito e apreciação de nossos colegas e promoções por parte do patrão. Limpamos nossos jardins e os deixamos adoráveis com a
esperança de que nossos vizinhos os apreciem, se não ficarem decididamente invejosos. Trabalhamos duro na escola para alcançar boas notas, prevendo que isso nos trará um bom futuro. Preparamos uma esplêndida refeição com a expectativa de que será recebida com aplausos e elogios. Vestimo-nos com capricho esperando a apreciação de alguém. Uma parte tão grande das nossas vidas é dispendida na expectativa de resultados futuros que isso acaba sendo feito automaticamente, inconscientemente. Esse, entretanto, é um padrão perigoso. De um ponto de vista espiritual, todas essas expectativas e antecipações são como cavalos de Tróia que, cedo ou tarde, nos trarão sofrimento. O sofrimento é inevitável porque nossas expectativas e desejos são intermináveis e insaciáveis. Viveremos de desapontamento em desapontamento pois nossa motivação é satisfazer e engrandecer o ego; ao invés de quebrar os grilhões do karma, estamos forjando novas correntes.
Seja qual for o nosso temperamento, devocional, intelectual ou meditativo, a karma-yoga pode facilmente ser praticada em conjunto com os outros caminhos espirituais. Mesmo aqueles que levam uma vida predominantemente meditativa se beneficiam da karma- yoga, pois os pensamentos podem produzir amarras tão efetivas quanto as ações físicas. Assim como os devotos oferecem flores e incenso em sua amorosa adoração a Deus, as ações e pensamentos também podem ser oferecidos como uma adoração divina. Sabendo que o Senhor existe nos corações de todas as criaturas, os devotos podem e devem adorar a Deus servindo a todos os seres como manifestações vivas de Deus. Parafraseando Jesus: aquilo que fazemos pelo último de nossos irmãos e irmãs, fazemos para o próprio Senhor. Diz o Bhagavad Gita :‖Um yogi vê a Mim em todas as coisas, e todas as coisas em Mim.‖ O mais elevado de todos os yogis, continua o Gita, é aquele ―que se inflama com
a felicidade e sofre a tristeza de cada criatura‖ dentro do seu próprio coração. Os jñanis(aspirantes seguindo pelo caminho do discernimento ou da razão) tomam uma posição diferente mas igualmente efetiva. Eles sabem que embora o corpo e a mente realizem ações, na verdade eles mesmos não trabalham de modo algum. No meio de intensa atividade, os jñanis repousam na profunda quietude do Atman. Mantendo a atitude de uma testemunha, eles recordam continuamente que não são nem o corpo, nem a mente. Eles sabem que o Atman não está sujeito à fadiga, à ansiedade ou ao excitamento; puro, perfeito e livre, o Atman não tem luta pela qual se engajar, nem objetivo para alcançar. O objetivo de todas as yogas é espiritualizar toda a nossa vida, em vez de compartimentalizar nossos dias em zonas ―secular‖ e ― espiritual‖. Com relação a isso, a karma-yoga é particularmente efetiva, já que não nos deixa usar a atividade como um escape. Por insistir que a própria vida pode ser
sagrada, a karma-yoga nos dá as ferramentas da vida diária para talhar nosso caminho rumo à liberdade. Citando novamente o Bhagavad Gita com relação à karma-yoga: Assim você se livrará dos bons e dos maus efeitos de suas ações. Ofereça tudo a Mim. Se seu coração está unido a Mim, você se verá livre do karma nesta mesma vida, e vem para Mim ao final. Karma-yoga é a yoga da ação ou trabalho; especificamente, karma-yoga é o caminho do
trabalho consagrado: é a renúncia aos resultados de nossas ações ao realizá-las como uma oferenda espiritual, em vez de acumular os resultados das ações para nós mesmos. Como já mencionamos antes, karma é a ação e o resultado da ação. Aquilo que vivenciamos hoje é o resultado do nosso karma – bom e mau – criado por nossas ações anteriores. Essa corrente de causa e feito que nós mesmos criamos pode ser quebrada pela karma-yoga : combatendo o fogo com o fogo, usamos a espada da karma-yoga para interromper a
reação encadeada de causa e efeito. Desvinculando o ego do processo de trabalho pelo oferecimento dos resultados a um poder mais alto – seja um Deus pessoal ou ao Ser interno – interrompemos todo o processo, que cresce como uma bola de neve. Tenhamos ou não essa percepção, todos nós agimos todo o tempo, visto que até mesmo sentar e pensar são ações. Uma vez que a ação é inevitável, é parte integral de estar vivo, precisamos reorientá-la para um caminho que leve à realização de Deus. Como lemos no Bhagavad Gita, uma das mais sagradas escrituras do hinduísmo: Qualquer que seja a sua ação, Alimento ou adoração; Qualquer que seja o presente Que você dê a alguém; O que quer que você prometa Ao trabalho do espírito… Coloque isso também Como oferendas diante de Mim. Todos nós temos a tendência de agir com
expectativas em nossas mentes: trabalhamos duro em nossos empregos para conseguir o respeito e apreciação de nossos colegas e promoções por parte do patrão. Limpamos nossos jardins e os deixamos adoráveis com a esperança de que nossos vizinhos os apreciem, se não ficarem decididamente invejosos. Trabalhamos duro na escola para alcançar boas notas, prevendo que isso nos trará um bom futuro. Preparamos uma esplêndida refeição com a expectativa de que será recebida com aplausos e elogios. Vestimo-nos com capricho esperando a apreciação de alguém. Uma parte tão grande das nossas vidas é dispendida na expectativa de resultados futuros que isso acaba sendo feito automaticamente, inconscientemente. Esse, entretanto, é um padrão perigoso. De um ponto de vista espiritual, todas essas expectativas e antecipações são como cavalos de Tróia que, cedo ou tarde, nos trarão sofrimento. O sofrimento é inevitável porque nossas expectativas e desejos são
intermináveis e insaciáveis. Viveremos de desapontamento em desapontamento pois nossa motivação é satisfazer e engrandecer o ego; ao invés de quebrar os grilhões do karma, estamos forjando novas correntes. Seja qual for o nosso temperamento, devocional, intelectual ou meditativo, a karma-yoga pode facilmente ser praticada em conjunto com os outros caminhos espirituais. Mesmo aqueles que levam uma vida predominantemente meditativa se beneficiam da karma- yoga, pois os pensamentos podem produzir amarras tão efetivas quanto as ações físicas. Assim como os devotos oferecem flores e incenso em sua amorosa adoração a Deus, as ações e pensamentos também podem ser oferecidos como uma adoração divina. Sabendo que o Senhor existe nos corações de todas as criaturas, os devotos podem e devem adorar a Deus servindo a todos os seres como manifestações vivas de Deus. Parafraseando Jesus: aquilo que fazemos pelo último de
nossos irmãos e irmãs, fazemos para o próprio Senhor. Diz o Bhagavad Gita :‖Um yogi vê a Mim em todas as coisas, e todas as coisas em Mim.‖ O mais elevado de todos os yogis, continua o Gita, é aquele ―que se inflama com a felicidade e sofre a tristeza de cada criatura‖ dentro do seu próprio coração. Os jñanis(aspirantes seguindo pelo caminho do discernimento ou da razão) tomam uma posição diferente mas igualmente efetiva. Eles sabem que embora o corpo e a mente realizem ações, na verdade eles mesmos não trabalham de modo algum. No meio de intensa atividade, os jñanis repousam na profunda quietude do Atman. Mantendo a atitude de uma testemunha, eles recordam continuamente que não são nem o corpo, nem a mente. Eles sabem que o Atman não está sujeito à fadiga, à ansiedade ou ao excitamento; puro, perfeito e livre, o Atman não tem luta pela qual se engajar, nem objetivo para alcançar. O objetivo de todas as yogas é espiritualizar toda a nossa vida, em vez de
compartimentalizar nossos dias em zonas ―secular‖ e ― espiritual‖. Com relação a isso, a karma-yoga é particularmente efetiva, já que não nos deixa usar a atividade como um escape. Por insistir que a própria vida pode ser sagrada, a karma-yoga nos dá as ferramentas da vida diária para talhar nosso caminho rumo à liberdade. Citando novamente o Bhagavad Gita com relação à karma-yoga: Assim você se livrará dos bons e dos maus efeitos de suas ações. Ofereça tudo a Mim. Se seu coração está unido a Mim, você se verá livre do karma nesta mesma vida, e vem para Mim ao final.
O Caminho da Meditação Raja-yoga é o caminho real da meditação. Assim como um rei controla o seu reino, podemos nós também manter controle sobre o nosso ―reino‖ – o vasto território da mente. Na raja-yoga, usamos nossos poderes mentais para realizar e conhecer o Atman, por meio de um processo de controle psicológico.
A premissa básica da raja-yoga é que a nossa percepção direta do Ser está obscurecida pelas perturbações mentais. Se a mente puder ser mantida em estado calmo e puro, o Ser brilhará automaticamente, instantaneamente. Como diz o Bhagavad Gita: Quando, por meio da prática da yoga, A mente cessar os seus movimentos inquietos E tornar-se calma O aspirante espiritual realizará o Atman. Se pudermos imaginar um lago açoitado pelas ondas, contaminado pela poluição, tornado lamacento pelos turistas e turbulento pelos barcos, poderemos entender qual é o estado usual da mente, na maioria das pessoas. Se alguém tiver dúvida disso, que essa alma intrépida sente-se calmamente por alguns minutos e pense sobre o Atman. O que acontecerá? Milhares de pensamentos diferentes nos atacam, todos eles levando a mente para baixo. A mosca que voa nas redondezas torna-se repentinamente muito importante. Talvez surja o pensamento sobre o
jantar. Não nos lembramos onde deixamos as chaves. A discussão fervorosa que tivemos ontem torna-se ainda mais poderosa; assim é o repertório que compusemos durante a nossa ―meditação‖. No mesmo momento em que deixamos um pensamento, outro pula sobre nós com a mesma força. Se não fosse tão trágico, seria até engraçado. Na maior parte do tempo, não estamos conscientes dos movimentos mentais erráticos, pois estamos habituados a ―soltar as rédeas‖ de nossa mente: nunca nos preocupamos em observá-la, muito menos em controlá-la. Da mesma maneira que pais indisciplinados criam filhos cuja companhia todos evitam; da mesma forma, nossa falta de disciplina mental criou uma mente turbulenta, má-comportada e que nos traz dificuldades sem fim. Sem a disciplina psicológica, a mente torna-se igual a um macaco selvagem. E todos nós, é triste afirmar, já sofremos na vida muita agonia mental por causa disso. Dominando a mente
Enquanto podemos ter nos acostumado a viver com uma mente descontrolada, nunca devemos assumir que esse estado é aceitável, nem inevitável. A Vedanta diz que podemos controlar a mente, e que, pela prática constante, podemos torná-la nossa serva em vez de sermos suas vítimas. Agora, ao invés do lago poluído que imaginamos anteriormente, pense em um lago bonito e límpido. Nenhuma onda, nem poluição, nem turistas, nem barcos. Ele está transparente como um vidro: calmo, quieto, tranquilo. Olhando para o fundo, através das águas cristalinas, podemos ver claramente o fundo do lago. O fundo do lago, metaforicamente falando, é o Atman que reside no fundo dos nossos corações. Quando a mente tona-se pura e calma, o Ser não permanece escondido de nossa vista. E a Vedanta diz que essa mente pode ser sua. Mas como? Citemos novamente do Bhagavad Gita: Pacientemente, pouco a pouco, os aspirantes
espirituais devem se libertar de todas as distrações mentais, com a ajuda da vontade inteligente. Devem fixar suas mentes no Atman e não pensar em mais nada. Não importa por onde anda a mente inquieta, ela deve ser trazida de volta e submetida somente ao Atman. A mente pode ser purificada e tranquilizada por meio da prática repetida de meditação, e da prática das virtudes morais. Deixando de lado a sabedoria popular, é impossível praticar meditação sem praticar virtudes morais, lado a lado. Tentar de outra forma será tão efetivo quanto navegar no oceano com um barco de casco furado. Para realizar essa tarefa hercúlea de conhecer o Atman, todas as áreas mentais devem ser totalmente engajadas. Não podemos compartimentar nossas vidas e assumir que podemos ter ambos: uma área ―secular‖ (na qual podemos viver como desejamos), e uma área ―espiritual‖. Assim como não podemos cruzar o oceano com o barco de casco furado,
não podemos cruzar o mesmo oceano com as duas pernas em dois barcos diferentes. Devemos integrar completamente todos os aspectos da vida e direcionar todas as energias para a grande meta, que é única. Isso não significa que, para realizar Deus, a pessoa deva renunciar o mundo completamente e viver numa caverna, num mosteiro ou num convento. O que realmente importa é que todos os aspectos de nossas vidas sejam espiritualizados, de forma a poderem ser direcionados na obtenção da meta espiritual, que é a realização de Deus. Uma vez que a raja-yoga é o caminho da meditação, ela é – quando praticada exclusivamente – seguida por aqueles que levam vidas contemplativas. A maioria de nós nunca se enquadrará nessa categoria. A raja-yoga é, entretanto, um componente essencial de todos os outros caminhos espirituais, pois a meditação está incluída na absorção de amor por Deus, no discernimento da razão, e é parte essencial para balancear as
ações abnegadas. Meditação As instruções e ensinamentos de como meditar, e de qual deve ser o objeto da meditação, devem ser aprendidas diretamente de um mestre espiritual qualificado. A meditação é um assunto intensamente pessoal; somente um mestre espiritual genuíno pode medir com acurácia as tendências pessoais de seus estudantes e lhes direcionar a mente da maneira adequada. Além disso, a espiritualidade é algo que deve ser absorvida, e não ensinada. Um mestre espiritual genuíno acende a chama da espiritualidade contida no estudante, pelo poder de suas próprias realizações interiores. Diríamos que a vela do estudante é acesa pela chama do mestre. Nossas velas não podem ser acesas por livros, assim como também não podem ser acesas por mestres desqualificados, que falam de religião mas não vivem o que pregam. A verdadeira espiritualidade é transmitida: somente os mestres de mente
pura, inegoístas, que tiveram certo despertar espiritual, são capazes de acender nossas velas apagadas. Levando tudo isso em conta, algumas instruções básicas podem ser dadas: qualquer conceito de Deus – seja com forma ou sem forma – que nos agrada é bom e útil. Podemos pensar que Deus existe tanto fora quanto dentro de nós. Sri Ramakrishna, no entanto, recomendou que meditássemos em nosso interior, dizendo: ―O coração é um lugar esplêndido para se meditar‖. A repetição de qualquer nome de Deus que nos agrade é boa, assim como é benéfica a repetição da sílaba ―Om‖. É muito bom e aconselhável ter um período regular e diário para meditação, de forma a criar o hábito; na mesma linha, é uma grande ajuda à meditação ter um lugar constante para as práticas, que seja calmo, limpo e tranquilo. Raja-yoga é o caminho real da meditação. Assim como um rei controla o seu reino, podemos nós também manter controle sobre o
nosso ―reino‖ – o vasto território da mente. Na raja-yoga, usamos nossos poderes mentais para realizar e conhecer o Atman, por meio de um processo de controle psicológico. A premissa básica da raja-yoga é que a nossa percepção direta do Ser está obscurecida pelas perturbações mentais. Se a mente puder ser mantida em estado calmo e puro, o Ser brilhará automaticamente, instantaneamente. Como diz o Bhagavad Gita: Quando, por meio da prática da yoga, A mente cessar os seus movimentos inquietos E tornar-se calma O aspirante espiritual realizará o Atman. Se pudermos imaginar um lago açoitado pelas ondas, contaminado pela poluição, tornado lamacento pelos turistas e turbulento pelos barcos, poderemos entender qual é o estado usual da mente, na maioria das pessoas. Se alguém tiver dúvida disso, que essa alma intrépida sente-se calmamente por alguns minutos e pense sobre o Atman. O que
acontecerá? Milhares de pensamentos diferentes nos atacam, todos eles levando a mente para baixo. A mosca que voa nas redondezas torna-se repentinamente muito importante. Talvez surja o pensamento sobre o jantar. Não nos lembramos onde deixamos as chaves. A discussão fervorosa que tivemos ontem torna-se ainda mais poderosa; assim é o repertório que compusemos durante a nossa ―meditação‖. No mesmo momento em que deixamos um pensamento, outro pula sobre nós com a mesma força. Se não fosse tão trágico, seria até engraçado. Na maior parte do tempo, não estamos conscientes dos movimentos mentais erráticos, pois estamos habituados a ―soltar as rédeas‖ de nossa mente: nunca nos preocupamos em observá-la, muito menos em controlá-la. Da mesma maneira que pais indisciplinados criam filhos cuja companhia todos evitam; da mesma forma, nossa falta de disciplina mental criou uma mente turbulenta, má-comportada e que nos traz dificuldades
sem fim. Sem a disciplina psicológica, a mente torna-se igual a um macaco selvagem. E todos nós, é triste afirmar, já sofremos na vida muita agonia mental por causa disso. Dominando a mente Enquanto podemos ter nos acostumado a viver com uma mente descontrolada, nunca devemos assumir que esse estado é aceitável, nem inevitável. A Vedanta diz que podemos controlar a mente, e que, pela prática constante, podemos torná-la nossa serva em vez de sermos suas vítimas. Agora, ao invés do lago poluído que imaginamos anteriormente, pense em um lago bonito e límpido. Nenhuma onda, nem poluição, nem turistas, nem barcos. Ele está transparente como um vidro: calmo, quieto, tranquilo. Olhando para o fundo, através das águas cristalinas, podemos ver claramente o fundo do lago. O fundo do lago, metaforicamente falando, é o Atman que reside no fundo dos nossos corações. Quando a mente tona-se pura e calma, o Ser não
permanece escondido de nossa vista. E a Vedanta diz que essa mente pode ser sua. Mas como? Citemos novamente do Bhagavad Gita: Pacientemente, pouco a pouco, os aspirantes espirituais devem se libertar de todas as distrações mentais, com a ajuda da vontade inteligente. Devem fixar suas mentes no Atman e não pensar em mais nada. Não importa por onde anda a mente inquieta, ela deve ser trazida de volta e submetida somente ao Atman. A mente pode ser purificada e tranquilizada por meio da prática repetida de meditação, e da prática das virtudes morais. Deixando de lado a sabedoria popular, é impossível praticar meditação sem praticar virtudes morais, lado a lado. Tentar de outra forma será tão efetivo quanto navegar no oceano com um barco de casco furado. Para realizar essa tarefa hercúlea de conhecer o Atman, todas as áreas mentais devem ser
totalmente engajadas. Não podemos compartimentar nossas vidas e assumir que podemos ter ambos: uma área ―secular‖ (na qual podemos viver como desejamos), e uma área ―espiritual‖. Assim como não podemos cruzar o oceano com o barco de casco furado, não podemos cruzar o mesmo oceano com as duas pernas em dois barcos diferentes. Devemos integrar completamente todos os aspectos da vida e direcionar todas as energias para a grande meta, que é única. Isso não significa que, para realizar Deus, a pessoa deva renunciar o mundo completamente e viver numa caverna, num mosteiro ou num convento. O que realmente importa é que todos os aspectos de nossas vidas sejam espiritualizados, de forma a poderem ser direcionados na obtenção da meta espiritual, que é a realização de Deus. Uma vez que a raja-yoga é o caminho da meditação, ela é – quando praticada exclusivamente – seguida por aqueles que levam vidas contemplativas. A maioria de nós
nunca se enquadrará nessa categoria. A raja-yoga é, entretanto, um componente essencial de todos os outros caminhos espirituais, pois a meditação está incluída na absorção de amor por Deus, no discernimento da razão, e é parte essencial para balancear as ações abnegadas. Meditação As instruções e ensinamentos de como meditar, e de qual deve ser o objeto da meditação, devem ser aprendidas diretamente de um mestre espiritual qualificado. A meditação é um assunto intensamente pessoal; somente um mestre espiritual genuíno pode medir com acurácia as tendências pessoais de seus estudantes e lhes direcionar a mente da maneira adequada. Além disso, a espiritualidade é algo que deve ser absorvida, e não ensinada. Um mestre espiritual genuíno acende a chama da espiritualidade contida no estudante, pelo poder de suas próprias realizações interiores. Diríamos que a vela do estudante é acesa pela
chama do mestre. Nossas velas não podem ser acesas por livros, assim como também não podem ser acesas por mestres desqualificados, que falam de religião mas não vivem o que pregam. A verdadeira espiritualidade é transmitida: somente os mestres de mente pura, inegoístas, que tiveram certo despertar espiritual, são capazes de acender nossas velas apagadas. Levando tudo isso em conta, algumas instruções básicas podem ser dadas: qualquer conceito de Deus – seja com forma ou sem forma – que nos agrada é bom e útil. Podemos pensar que Deus existe tanto fora quanto dentro de nós. Sri Ramakrishna, no entanto, recomendou que meditássemos em nosso interior, dizendo: ―O coração é um lugar esplêndido para se meditar‖. A repetição de qualquer nome de Deus que nos agrade é boa, assim como é benéfica a repetição da sílaba ―Om‖. É muito bom e aconselhável ter um período regular e diário para meditação, de forma a criar o hábito; na mesma linha, é uma
grande ajuda à meditação ter um lugar constante para as práticas, que seja calmo, limpo e tranquilo. Princípios Éticos: Yama Yama consiste em não-violência, veracidade, não roubar, castidade ou celibato, e não receber presentes. Niyama consiste de pureza (limpeza), contentamento, austeridade, estudo e autoentrega para Deus. Não-violência: Enquanto muitas dessas disciplinas parecem autoevidentes, algumas delas necessitam de uma explicação adicional. ―Sérios aspirantes espirituais‖, disse Swami Vivekananda, ―não devem pensar em ferir ninguém, por pensamentos, palavras ou atos. A misericórdia não deve existir apenas em relação aos seres humanos, mas deve ir além, e abraçar o mundo inteiro.‖ Veracidade não significa apenas falar a verdade, mas também aderir à verdade em pensamentos, palavras e atos. Ramakrishna disse que ―tornar uno o coração e os lábios‖
era a disciplina espiritual de nossa era. Não roubar também significar não cobiçar: ou seja, não desejar as coisas que pertençam aos outros e não se apropriar de pertences alheios. Mesmo usar palavras ou ideias de outrem, apresentando-as como nossas próprias sem o devido reconhecimento de sua fonte é um tipo de roubo. Castidade ou celibato é enfatizado por duas razões: Primeiro, os sérios buscadores espirituais necessitam conservar a energia geralmente direcionada para o sexo e redirecioná-la para a autorrealização. Segundo, a atividade sexual, seja ela física ou mental, reforça a ideia que temos de nós mesmos como sendo corpos e não como sendo Espírito. Se quisermos progredir na vida espiritual, nós necessitamos olhar para as outras pessoas como seres humanos – como manifestações de Deus – e não como corpos de homens e mulheres. Devemos adicionar aqui que a Vedanta existe para todos – não simplesmente para aqueles
que têm tendências monásticas. A Vedanta reconhece que o desejo sexual é, em sua essência, o anseio pela união com Deus. Enquanto o estrito celibato é enfatizado para os monásticos, a Vedanta advoga a responsabilidade sexual e o autocontrole para os não-monásticos. Para os não-monásticos, castidade significa fidelidade para com o cônjuge. Além do mais, quando temos a correta abordagem, o casamento é um caminho espiritual sagrado. O cônjuge é também o parceiro espiritual e deve ser olhado como uma manifestação da divindade. Não receber presentes (favores ou favorecimentos): As virtudes éticas listadas acima parecem bastante razoáveis, mas qual o problema com o recebimento recebimento de presentes? presentes? Podemos ver por essas instruções quão cuidadosamente cuidadosamente os antigos sábios hindus observavam os trabalhos da mente. Para eles, aceitar presentes de outras pessoas nos faz sentir obrigados a eles: podemos nos tornar pessoas manipuláveis manipuláveis e perder nossa
independência. Alguns presentes são subornos disfarçados: se nos sentirmos mesmo vagamente em débito para com aquele que nos presenteou, nossas nossas mentes se tornarão contaminadas. Algumas vezes o efeito é óbvio, algumas vezes é sutil; mas ele existe de qualquer forma. Por essa razão, não devemos aceitar nenhum presente, a menos que ele seja dado sem outro motivo, exceto puro amor. De outra forma, seremos fantoches que irão pular sempre que os fios invisíveis sejam puxados. Princípios Éticos: Niyama Niyama consiste de limpeza, contentamento, austeridade, estudo e autoentrega a Deus. li mpeza Limpeza não significa apenas a limpeza física, mas também a limpeza interior ou pureza moral. Quando Quando nossas mentes são invejosas, desconfiadas, rancorosas ou simplesmente mesquinhas, mesquinhas, elas estão ―sujas‖. Podemos tomar todos os banhos do mundo, que, ainda assim, vamos carecer de pureza caso nossas mentes estejam poluídas. A alegria é um fator essencial para a limpeza li mpeza da
mente. Contentamento está ligado à pureza mental, pois uma mente insatisfeita insatisfeita é uma mente turbulenta e infeliz. Temos que ficar contentes com nossa condição atual, e ir em frente. Contentamento não significa preguiça: não significa que temos que nos contentar com nosso estágio atual de progresso espiritual. Devemos ter um descontentamento divino, porém, ao mesmo mesmo tempo, ficarmos satisfeitos com o que temos exteriormente. Austeridade é um termo que geralmente faz as pessoas tremerem. Mas elas não deveriam, pois todos nós praticamos austeridade, austeridade, o tempo todo, nós simplesmente não usamos essa palavra. Nenhum grande projeto terá sucesso sem austeridade: um aluno precisa estudar muito para tirar boas notas, um pai ou uma mãe, às vezes, precisa abrir mão do sono para tomar conta conta do filho doente. Nossos trabalhos exigem muitas horas de trabalho duro. A austeridade espiritual é muito mais doce do
que todas as outras juntas, pois a meta a ser alcançada é a mais elevada. A austeridade, na Vedanta, significa disciplinar o corpo e a mente a fim de colocá-los à nossa disposição para a realização de de Deus. Também significa manter a calma durante as tempestades da vida. A vida normalmente nos apresenta o que a Vedanta chama de ―par de opostos‖: elogio e crítica, saúde e doença, prosperidade e pobreza, alegria e sofrimento. sofrimento. Não podemos podemos ter um deles sem, no fim das contas, ter o outro; são dois lados da mesma moeda. Manter nossa tranquilidade mental no meio de tudo isso é a verdadeira austeridade: nem ficar exaltado com o elogio nem se deprimir com a crítica, nem ficar orgulhoso na prosperidade nem abater-se na pobreza. Equanimidade mental sob quaisquer condições é a austeridade genuína, pois assim o ego não terá oportunidade de vir à tona. que inclui não só o estudo dos textos Estudo – que sagrados, mas também a repetição do mantra
ou do nome de Deus – é fundamental para os aspirantes espirituais. Regularidade firme na prática também inclui a disciplina do estudo. Embora a rotina possa parecer contraproducente em relação ao desenvolvimento espiritual, ela é, na verdade, crucial. A força do hábito do estudo espiritual garante que – gostando ou não, cansados ou não, interessados ou não – nós busquemos obstinadamente nossos mais altos ideais. A natureza da mente é inconstante: às vezes, ela está de bom humor, outras vezes, não. Às vezes, está cheia de energia, outras vezes, preguiçosa. Não podemos deixar que nossa vida espiritual seja refém dos caprichos da mente. O hábito regular do estudo cria uma atmosfera mental favorável: na hora marcada, a mente ficará naturalmente quieta, já que foi treinada a repetir o hábito e a reagir daquele modo. Autoentrega a Deus é uma atitude de paciência constante, combinada com perseverança, sem se preocupar em demasia
com os frutos das práticas espirituais. Swami Saradananda costumava dizer que ―impaciência é um dos maiores obstáculos ao progresso espiritual do aspirante.‖ Realizando suas práticas com sinceridade e constância, o praticante não tenta medir o seu progresso, mas tem plena confiança no poder superior que o está guiando para a meta. Niyama consiste de limpeza, contentamento, austeridade, estudo e autoentrega a Deus. Limpeza não significa apenas a limpeza física, mas também a limpeza interior ou pureza moral. Quando nossas mentes são invejosas, desconfiadas, rancorosas ou simplesmente mesquinhas, elas estão ―sujas‖. Podemos tomar todos os banhos do mundo, que, ainda assim, vamos carecer de pureza caso nossas mentes estejam poluídas. A alegria é um fator essencial para a limpeza da mente. Contentamento está ligado à pureza mental, pois uma mente insatisfeita é uma mente turbulenta e infeliz. Temos que ficar contentes
com nossa condição atual, e ir em frente. Contentamento não significa preguiça: não significa que temos que nos contentar com nosso estágio atual de progresso espiritual. Devemos ter um descontentamento divino, porém, ao mesmo tempo, ficarmos satisfeitos com o que temos exteriormente. Austeridade é um termo que geralmente faz as pessoas tremerem. Mas elas não deveriam, pois todos nós praticamos austeridade, o tempo todo, nós simplesmente não usamos essa palavra. Nenhum grande projeto terá sucesso sem austeridade: um aluno precisa estudar muito para tirar boas notas, um pai ou uma mãe, às vezes, precisa abrir mão do sono para tomar conta do filho doente. Nossos trabalhos exigem muitas horas de trabalho duro. A austeridade espiritual é muito mais doce do que todas as outras juntas, pois a meta a ser alcançada é a mais elevada. A austeridade, na Vedanta, significa disciplinar o corpo e a mente a fim de colocá-los à nossa disposição
para a realização de Deus. Também significa manter a calma durante as tempestades da vida. A vida normalmente nos apresenta o que a Vedanta chama de ―par de opostos‖: elogio e crítica, saúde e doença, prosperidade e pobreza, alegria e sofrimento. Não podemos ter um deles sem, no fim das contas, ter o outro; são dois lados da mesma moeda. Manter nossa tranquilidade mental no meio de tudo isso é a verdadeira austeridade: nem ficar exaltado com o elogio nem se deprimir com a crítica, nem ficar orgulhoso na prosperidade nem abater-se na pobreza. Equanimidade mental sob quaisquer condições é a austeridade genuína, pois assim o ego não terá oportunidade de vir à tona. Estudo – que inclui não só o estudo dos textos sagrados, mas também a repetição do mantra ou do nome de Deus – é fundamental para os aspirantes espirituais. Regularidade firme na prática também inclui a disciplina do estudo. Embora a rotina possa parecer
contraproducente em relação ao desenvolvimento espiritual, ela é, na verdade, crucial. A força do hábito do estudo espiritual garante que – gostando ou não, cansados ou não, interessados ou não – nós busquemos obstinadamente nossos mais altos ideais. A natureza da mente é inconstante: às vezes, ela está de bom humor, outras vezes, não. Às vezes, está cheia de energia, outras vezes, preguiçosa. Não podemos deixar que nossa vida espiritual seja refém dos caprichos da mente. O hábito regular do estudo cria uma atmosfera mental favorável: na hora marcada, a mente ficará naturalmente quieta, já que foi treinada a repetir o hábito e a reagir daquele modo. Autoentrega a Deus é uma atitude de paciência constante, combinada com perseverança, sem se preocupar em demasia com os frutos das práticas espirituais. Swami Saradananda costumava dizer que ―impaciência é um dos maiores obstáculos ao progresso espiritual do aspirante.‖ Realizando
suas práticas com sinceridade e constância, o praticante não tenta medir o seu progresso, mas tem plena confiança no poder superior que o está guiando para a meta. Niyama consiste de limpeza, contentamento, austeridade, estudo e autoentrega a Deus. Limpeza não significa apenas a limpeza física, mas também a limpeza interior ou pureza moral. Quando nossas mentes são invejosas, desconfiadas, rancorosas ou simplesmente mesquinhas, elas estão ―sujas‖. Podemos tomar todos os banhos do mundo, que, ainda assim, vamos carecer de pureza caso nossas mentes estejam poluídas. A alegria é um fator essencial para a limpeza da mente. Contentamento está ligado à pureza mental, pois uma mente insatisfeita é uma mente turbulenta e infeliz. Temos que ficar contentes com nossa condição atual, e ir em frente. Contentamento não significa preguiça: não significa que temos que nos contentar com nosso estágio atual de progresso espiritual.
Devemos ter um descontentamento divino, porém, ao mesmo tempo, ficarmos satisfeitos com o que temos exteriormente. Austeridade é um termo que geralmente faz as pessoas tremerem. Mas elas não deveriam, pois todos nós praticamos austeridade, o tempo todo, nós simplesmente não usamos essa palavra. Nenhum grande projeto terá sucesso sem austeridade: um aluno precisa estudar muito para tirar boas notas, um pai ou uma mãe, às vezes, precisa abrir mão do sono para tomar conta do filho doente. Nossos trabalhos exigem muitas horas de trabalho duro. A austeridade espiritual é muito mais doce do que todas as outras juntas, pois a meta a ser alcançada é a mais elevada. A austeridade, na Vedanta, significa disciplinar o corpo e a mente a fim de colocá-los à nossa disposição para a realização de Deus. Também significa manter a calma durante as tempestades da vida. A vida normalmente nos apresenta o que a
Vedanta chama de ―par de opostos‖: elogio e crítica, saúde e doença, prosperidade e pobreza, alegria e sofrimento. Não podemos ter um deles sem, no fim das contas, ter o outro; são dois lados da mesma moeda. Manter nossa tranquilidade mental no meio de tudo isso é a verdadeira austeridade: nem ficar exaltado com o elogio nem se deprimir com a crítica, nem ficar orgulhoso na prosperidade nem abater-se na pobreza. Equanimidade mental sob quaisquer condições é a austeridade genuína, pois assim o ego não terá oportunidade de vir à tona. Estudo – que inclui não só o estudo dos textos sagrados, mas também a repetição do mantra ou do nome de Deus – é fundamental para os aspirantes espirituais. Regularidade firme na prática também inclui a disciplina do estudo. Embora a rotina possa parecer contraproducente em relação ao desenvolvimento espiritual, ela é, na verdade, crucial. A força do hábito do estudo espiritual garante que – gostando ou não, cansados ou
não, interessados ou não – nós busquemos obstinadamente nossos mais altos ideais. A natureza da mente é inconstante: às vezes, ela está de bom humor, outras vezes, não. Às vezes, está cheia de energia, outras vezes, preguiçosa. Não podemos deixar que nossa vida espiritual seja refém dos caprichos da mente. O hábito regular do estudo cria uma atmosfera mental favorável: na hora marcada, a mente ficará naturalmente quieta, já que foi treinada a repetir o hábito e a reagir daquele modo. Autoentrega a Deus é uma atitude de paciência constante, combinada com perseverança, sem se preocupar em demasia com os frutos das práticas espirituais. Swami Saradananda costumava dizer que ―impaciência é um dos maiores obstáculos ao progresso espiritual do aspirante.‖ Realizando suas práticas com sinceridade e constância, o praticante não tenta medir o seu progresso, mas tem plena confiança no poder superior que o está guiando para a meta.
Aquele que liberta Tradução do Khandana Bhava Bhandana, composto originalmente por Swami Vivekananda em bengali Nós Te adoramos, ó Tu que rompes os laços mundanos, Tu que és honrado por toda a humanidade! És ao mesmo tempo o Ser transcendente sem atributos e a Pessoa Divina com atributos, ó Tu sem pecados, materializado como homem! Ó redentor de todos os pecados! Ó jóia de todos os mundos! Ó pura consciência materializada! Teus olhos, santificados pelo colírio de jñana, destroem a ilusão da ignorância. Tu és realmente um oceano de sentimentos espirituais luminosos e sublimes, sempre açoitado
pelas ondas do amor inebriante. Tu és um verdadeiro barco para cruzar o oceano do samsara. Senhor do universo, manifestado na idade moderna, para ajudar a humanidade em sua busca espiritual. Por Tua graça eu vejo isto com clareza, ó Tu cuja mente está sempre estabelecida em transcendente samadhi! Ó destruidor de todas as aflições! Misericórdia materializada! Tremendo trabalhador! Tua vida é uma oferenda de amor para a redenção da humanidade, o poder que destrói as correntes que nos prendem. Tu és o conquistador da luxúria e da cobiça, Aquele que rejeita todas as tentações das atrações sensoriais. Concede-nos um amor firme pelos Teus pés abençoados, ó Senhor de todos os renunciantes,
ó Tu o mais nobre dos homens! Nós Te adoramos, ó destruidor dos laços mundanos! Ó Tu, honrado por toda a humanidade! Vitória ao Grande Guru!
Perguntas Frequentes P. A Vedanta é o mesmo que hinduísmo? R. A Vedanta é predominantemente a filosofia do hinduísmo. O hinduísmo inclui todas os costumes religiosos e sociais de todos os que vivem no subcontinente da Índia, que não sejam muçulmanos, cristãos, judeus, sikhs, zoroastrianos e budistas. Existem muitas seitas no hinduísmo. É uma coleção complexa de muitas tradições religiosas. A Vedanta é a filosofia subjacente a todas elas.
P. O hinduísmo é panteísta? R. O hinduísmo acredita na Suprema Realidade que a tudo permeia, que em sânscrito é chamada ―Brahman‖. Brahman é aquela realidade infinita, indivisível, imutável, que está por detrás de tudo o que experimentamos, por detrás do universo inteiro. A infinita natureza de Brahman impede que Ele seja compreendido pela mente, ou descrito em palavras. Os vários deuses e deusas pelos quais o hinduísmo é famoso, são portanto tidos como as mais elevadas representações d’Aquele que não pode ser inteiramente representado. Isso permite que o aspirante espiritual escolha a representação que melhor ressoe ao seu coração. E o fato de saber que Brahman nunca poderá ser adequadamente representado promove o respeito pela variedade de caminhos nos quais Ele é representado e adorado.
P. Deus é feminino ou masculino? R. Deus, em Sua realidade última, não é masculino nem feminino, mas pode manifestar-Se de ambas as formas. Durga, Kali, Saraswati e Lakshmi são as deidades femininas mais familiares. As deidades masculinas mais familiares são Brahma, Vishnu, Shiva e Ganesha.
P. O hinduísmo nega a vida? R. Algumas seitas do hinduísmo enfatizam a natureza ilusória do mundo e a futilidade de tomar parte nele. A corrente principal do hinduísmo, no entanto, reconhece quatro principais metas na vida: dharma (a busca da retidão), artha (riqueza), kama (prazeres sensórios e artísticos), e moksha (liberação). Ainda que o mundo seja ilusório se comparado a Brahman, é ainda uma manifestação da divindade e uma realidade
temporária. Por isso, a pessoa deve cumprir com suas responsabilidades e participar no mundo de uma forma que vai leva-la à liberação ao invés de maior escravidão. P. Cristo disse: “Ninguém entrará no reino do céu senão por mim”. Vocês não estão
preocupados de estarem trilhando o caminho errado? R. Não. Krishna e Buda disseram coisas similares. Ramakrishna, também, teve uma experiência espiritual de união com Cristo. Ele sentiu sua unidade com Cristo, Rama e Krishna. Como podemos explicar isso? Existem três explicações possíveis: ● Esses grandes mestres, às vezes, sentem-se totalmente identificados com a Realidade Una. É nesse sentido que eles usam a palavra ―eu‖.
● Eles estavam falando para um grupo local de pessoas que não iriam ouvir sobre outras encarnações de Deus. ● Os seus ensinamentos foram alterados por outros que, vindo mais tarde, queriam manter o poder e o controle sobre as pessoas.
P. Se não há um demônio, como podemos entender o mal? R. Brahman está além do bem e do mal. Quando a Unidade aparece como multiplicidade, ela deve, necessariamente, manifestar-se como pares de opostos. Bem e mal são inevitáveis consequências do Uno aparecer como múltiplo. O bem é aquilo que nos ajuda finalmente a ver através da ilusão de que somos muitos. O mal é aquilo que perpetua nossa ignorância de nossa verdadeira natureza divina.
P. Se tudo é uma ilusão, então o que importa o que fazemos? R. Se você realmente realizar sua própria natureza divina, não apenas aceitar a ideia intelectualmente, então a sua própria natureza não permitirá que você pratique qualquer mal. Você verá tudo como obras de Deus. Você verá tudo tão pleno de Deus. Até esse momento, estamos atados pelas leis do karma.
P. E sobre o pecado? R. É importante compreender que nossa verdadeira natureza é divina. O que algumas pessoas chamam ―pecados‖ nós vemos como ações que não são conducentes à nossa meta espiritual. Elas são erros. A conduta pode ser julgada certa ou errada. Mas nós sentimos que não é saudável considerar a si mesmo ou aos outros como pecadores. Isso coloca o foco em nossa natureza impermanente, imperfeita. Ao
invés disso, pense em si mesmo como permanente, sempre puro. Nós devemos aprender com nossos erros e seguir adiante.
P. O que é a lei do karma ? R. A lei do karma é similar à ideia bíblica: ―porque tudo o que o homem semear, isso também colherá‖. Na física, a lei análoga é ―para cada ação há uma reação igual e oposta‖. A lei do karma simplesmente coloca a responsabilidade de nossas vidas sobre nós mesmos. Se a má sorte ou boa fortuna vier em nosso caminho, devemos, de alguma forma, merecê-la por causa de nossas ações passadas. Estas ações passadas podem ter acontecido numa vida passada. Caso contrário, quando observamos as diversas situações da vida, Deus parece ser um Deus arbitrário e parcial.
P. Vida passada significa reencarnação?
R. Sim. O hinduísmo acredita que este não é o nosso primeiro nascimento. Quando alguém morre, é somente o corpo que morre. A essência espiritual da pessoa segue vivendo e carrega consigo as impressões sutis ( samskaras) das ações passadas ( karmas). Quando chegar o momento certo, a essência espiritual encarna num novo corpo. Nossas ações passadas nos dão as tendências, os talentos e as deficiências.
P. É possível renascer como um animal ou uma planta? R. As escolas filosóficas diferem nesse ponto. As escrituras hindus e os sábios dizem que se pode renascer como um animal. Mas, nesse caso, isso não constituiria uma regressão evolutiva, mas, sim, uma maneira de ―esgotar‖ os maus karmas cometidos durante a vida humana. Uma vez que esses karmas negativos tenham sido trabalhados, a alma volta a nascer
num corpo humano e continua seu processo evolutivo. Não devemos ficar muito presos na tentativa de descobrir os detalhes de como o karma e reencarnação trabalham. É importante lembrar que nossa verdadeira natureza é divina, somos unos com Brahman. É apenas uma ilusão a de que nascemos em um corpo, morremos e renascemos. Mas, sob a influência de maya (ilusão cósmica),se nos afigura que a lei do karma opera e que a alma se reencarna. Sempre haverá detalhes que permanecerão vagos e que não poderemos saber com certeza. Quanta certeza você pode ter sobre uma ilusão, afinal?
P. Por que alguns deuses e deusas hindus têm tantos braços? R. Lembre-se de que os deuses e deusas hindus são manifestações de uma única Realidade, Brahman. Cada um manifesta
certas energias arquetípicas, poderes ou atributos da existência infinita que é Brahman. Para simbolizar os vários atributos que se manifestam, as deidades são representadas com muitos braços, segurando diferentes símbolos em cada mão.
P. Rama e Krishna são deidades? R. Rama e Krishna são encarnações divinas de Deus, ou avatares – Deus nascido em forma humana. Buda, Cristo e Ramakrishna são também considerados, por muitos, como avatares.
P. Eu não gosto de pensar em Deus como uma pessoa, e as divindades hindus parecem estranhas para mim. Ainda assim, posso praticar a Vedanta? R. Sim. Deus manifesta-se em diferentes formas para o bem dos devotos de diferentes
temperamentos. Quase todas as religiões têm algum símbolo para Deus. Deus pode ser pessoal ou impessoal, com forma ou sem forma. Deus pode ser alcançado por diferentes caminhos. A filosofia Vedanta pode ser usada com qualquer aspecto de Deus. Para a prática espiritual não é necessário que (o praticante) se atenha à um aspecto pessoal de Deus. No entanto, usar uma forma pessoal de Deus pode nos ajudar a focalizar o componente emocional-devocional da nossa natureza para nos ajudar ao longo do nosso caminho espiritual. Cristo, Mãe Maria, Buda, ou outros grandes seres espirituais podem ser usados como símbolos de uma forma pessoal de Deus.
P. Os hindus adoram vacas? R. As vacas têm sido reverenciadas na Índia por milhares de anos por causa de sua natureza gentil e por suas capacidades de dar sustento à
vida. Os hindus permitem que elas vivam livremente e é um ato hediondo matar uma vaca. Por isso, os hindus não comem carne. Não é correto dizer que os hindus adoram vacas ou as consideram sagradas. De forma geral, os hindus não comem carne porque, nos momentos em que o alimento é escasso, seria miopia matar uma vaca para se alimentar no curto prazo, quando ela pode prover leite por muitos anos. As vacas são consideradas na Índia, da mesma forma que animais de estimação são considerados em outros países, ou como um cavalo para um amante de cavalos. Nós não comemos carne de cachorro e de cavalo neste país. Os hindus não comem carne de vaca. P. Os hindus são vegetarianos? R. Alguns são, outros não. Se ser vegetariano o ajuda a manter sua mente em Deus e a manter seu corpo saudável, então isso é bom. Se o torna um fanático contra aqueles que não são vegetarianos ou se enfraquece sua saúde, então isso não é bom. O ponto é fazer aquilo
que o ajude a pensar em Deus e o que o ajude a manter seu corpo saudável, para que você possa estar a serviço dos outros e para poder fazer suas práticas espirituais. P. É necessário adotar vestimentas indianas e restrições alimentares hindus para ser um vedantista? R. Não. Hábitos alimentares e de vestimenta são coisas culturais, não coisas espirituais. A filosofia Vedanta é universal, pode ser adaptada à qualquer cultura e a qualquer tempo. P. Você pratica exercícios de yoga? R. Exercícios de hatha yoga podem ser muito bons para promover a saúde, o relaxamento e a concentração. Dessa forma, a hatha yoga pode ser benéfica para a vida espiritual. No entanto, a Ordem Ramakrishna, em geral, não adota o ensino desse tipo de yoga como parte de seu trabalho. Ela não é essencial para a vida espiritual. Muitas pessoas no ocidente erroneamente pensam que ser capaz de
praticar hatha yoga irá automaticamente torná-las espirituais. Existe também o perigo da pessoa se tornar demasiadamente focada no corpo e em sua longevidade, ao invés de focar em seu desenvolvimento espiritual. P. E sobre pranayama ou exercícios de respiração? R. Em geral, nós não recomendamos praticas exercícios respiratórios sem o aconselhamento de um mestre qualificado ( guru). Existem casos de pessoas que desenvolveram sintomas de severas doenças mentais por praticarem formas extremas de exercícios respiratórios, sem a adequada supervisão. Geralmente, isso ocorre quando alguém pensa que se um pouco é bom, mais será melhor. Esse não é o caso com o pranayama. Ele pode ser extremamente perigoso. Todos os benefícios do pranayama podem ser cultivados, de forma segura, praticando-se japa (a repetição de um nome de Deus ou de uma frase sagrada chamada mantra) e meditação. No entanto, Swami Vivekananda descreve alguns exercícios
muito simples de respiração em seu livro Raja Yoga. Consulte seu mestre espiritual antes de dar início a esse tipo de exercícios. P. Por que existe um limite de idade (35 anos) para se juntar a uma comunidade monástica? R. Os rigores da vida em comunidade necessitam uma pessoa mais jovem por ter mais probabilidade de se ajustar física e psicologicamente. P. A Vedanta é o mesmo que hinduísmo? R. A Vedanta é predominantemente a filosofia do hinduísmo. O hinduísmo inclui todas os costumes religiosos e sociais de todos os que vivem no subcontinente da Índia, que não sejam muçulmanos, cristãos, judeus, sikhs, zoroastrianos e budistas. Existem muitas seitas no hinduísmo. É uma coleção complexa de muitas tradições religiosas. A Vedanta é a filosofia subjacente a todas elas. P. O hinduísmo é panteísta? R. O hinduísmo acredita na Suprema Realidade que a tudo permeia, que em
sânscrito é chamada ―Brahman‖. Brahman é aquela realidade infinita, indivisível, imutável, que está por detrás de tudo o que experimentamos, por detrás do universo inteiro. A infinita natureza de Brahman impede que Ele seja compreendido pela mente, ou descrito em palavras. Os vários deuses e deusas pelos quais o hinduísmo é famoso, são portanto tidos como as mais elevadas representações d’Aquele que não pode ser inteiramente representado. Isso permite que o aspirante espiritual escolha a representação que melhor ressoe ao seu coração. E o fato de saber que Brahman nunca poderá ser adequadamente representado promove o respeito pela variedade de caminhos nos quais Ele é representado e adorado. P. Deus é feminino ou masculino? R. Deus, em Sua realidade última, não é masculino nem feminino, mas pode manifestar-Se de ambas as formas. Durga, Kali, Saraswati e Lakshmi são as deidades
femininas mais familiares. As deidades masculinas mais familiares são Brahma, Vishnu, Shiva e Ganesha. P. O hinduísmo nega a vida? R. Algumas seitas do hinduísmo enfatizam a natureza ilusória do mundo e a futilidade de tomar parte nele. A corrente principal do hinduísmo, no entanto, reconhece quatro principais metas na vida: dharma (a busca da retidão), artha (riqueza), kama (prazeres sensórios e artísticos), e moksha (liberação). Ainda que o mundo seja ilusório se comparado a Brahman, é ainda uma manifestação da divindade e uma realidade temporária. Por isso, a pessoa deve cumprir com suas responsabilidades e participar no mundo de uma forma que vai leva-la à liberação ao invés de maior escravidão. P. Cristo disse: ―Ninguém entrará no reino do céu senão por mim‖. Vocês não estão preocupados de estarem trilhando o caminho errado?
R. Não. Krishna e Buda disseram coisas similares. Ramakrishna, também, teve uma experiência espiritual de união com Cristo. Ele sentiu sua unidade com Cristo, Rama e Krishna. Como podemos explicar isso? Existem três explicações possíveis: ● Esses grandes mestres, às vezes, sentem-se totalmente identificados com a Realidade Una. É nesse sentido que eles usam a palavra ―eu‖. ● Eles estavam falando para um grupo local de pessoas que não iriam ouvir sobre outras encarnações de Deus. ● Os seus ensinamentos foram alterados por outros que, vindo mais tarde, queriam manter o poder e o controle sobre as pessoas. P. Se não há um demônio, como podemos entender o mal? R. Brahman está além do bem e do mal. Quando a Unidade aparece como multiplicidade, ela deve, necessariamente, manifestar-se como pares de opostos. Bem e
mal são inevitáveis consequências do Uno aparecer como múltiplo. O bem é aquilo que nos ajuda finalmente a ver através da ilusão de que somos muitos. O mal é aquilo que perpetua nossa ignorância de nossa verdadeira natureza divina. P. Se tudo é uma ilusão, então o que importa o que fazemos? R. Se você realmente realizar sua própria natureza divina, não apenas aceitar a ideia intelectualmente, então a sua própria natureza não permitirá que você pratique qualquer mal. Você verá tudo como obras de Deus. Você verá tudo tão pleno de Deus. Até esse momento, estamos atados pelas leis do karma. P. E sobre o pecado? R. É importante compreender que nossa verdadeira natureza é divina. O que algumas pessoas chamam ―pecados‖ nós vemos como ações que não são conducentes à nossa meta espiritual. Elas são erros. A conduta pode ser julgada certa ou errada. Mas nós sentimos que
não é saudável considerar a si mesmo ou aos outros como pecadores. Isso coloca o foco em nossa natureza impermanente, imperfeita. Ao invés disso, pense em si mesmo como permanente, sempre puro. Nós devemos aprender com nossos erros e seguir adiante. P. O que é a lei do karma? R. A lei do karma é similar à ideia bíblica: ―porque tudo o que o homem semear, isso também colherá‖. Na física, a lei análoga é ―para cada ação há uma reação igual e oposta‖. A lei do karma simplesmente coloca a responsabilidade de nossas vidas sobre nós mesmos. Se a má sorte ou boa fortuna vier em nosso caminho, devemos, de alguma forma, merecê-la por causa de nossas ações passadas. Estas ações passadas podem ter acontecido numa vida passada. Caso contrário, quando observamos as diversas situações da vida, Deus parece ser um Deus arbitrário e parcial. P. Vida passada significa reencarnação? R. Sim. O hinduísmo acredita que este não é o
nosso primeiro nascimento. Quando alguém morre, é somente o corpo que morre. A essência espiritual da pessoa segue vivendo e carrega consigo as impressões sutis ( samskaras) das ações passadas ( karmas). Quando chegar o momento certo, a essência espiritual encarna num novo corpo. Nossas ações passadas nos dão as tendências, os talentos e as deficiências. P. É possível renascer como um animal ou uma planta? R. As escolas filosóficas diferem nesse ponto. As escrituras hindus e os sábios dizem que se pode renascer como um animal. Mas, nesse caso, isso não constituiria uma regressão evolutiva, mas, sim, uma maneira de ―esgotar‖ os maus karmas cometidos durante a vida humana. Uma vez que esses karmas negativos tenham sido trabalhados, a alma volta a nascer num corpo humano e continua seu processo evolutivo. Não devemos ficar muito presos na tentativa de descobrir os detalhes de como o karma e
reencarnação trabalham. É importante lembrar que nossa verdadeira natureza é divina, somos unos com Brahman. É apenas uma ilusão a de que nascemos em um corpo, morremos e renascemos. Mas, sob a influência de maya (ilusão cósmica),se nos afigura que a lei do karma opera e que a alma se reencarna. Sempre haverá detalhes que permanecerão vagos e que não poderemos saber com certeza. Quanta certeza você pode ter sobre uma ilusão, afinal? P. Por que alguns deuses e deusas hindus têm tantos braços? R. Lembre-se de que os deuses e deusas hindus são manifestações de uma única Realidade, Brahman. Cada um manifesta certas energias arquetípicas, poderes ou atributos da existência infinita que é Brahman. Para simbolizar os vários atributos que se manifestam, as deidades são representadas com muitos braços, segurando diferentes símbolos em cada mão. P. Rama e Krishna são deidades?
R. Rama e Krishna são encarnações divinas de Deus, ou avatares – Deus nascido em forma humana. Buda, Cristo e Ramakrishna são também considerados, por muitos, como avatares. P. Eu não gosto de pensar em Deus como uma pessoa, e as divindades hindus parecem estranhas para mim. Ainda assim, posso praticar a Vedanta? R. Sim. Deus manifesta-se em diferentes formas para o bem dos devotos de diferentes temperamentos. Quase todas as religiões têm algum símbolo para Deus. Deus pode ser pessoal ou impessoal, com forma ou sem forma. Deus pode ser alcançado por diferentes caminhos. A filosofia Vedanta pode ser usada com qualquer aspecto de Deus. Para a prática espiritual não é necessário que (o praticante) se atenha à um aspecto pessoal de Deus. No entanto, usar uma forma pessoal de Deus pode nos ajudar a focalizar o componente emocional-devocional da nossa natureza para nos ajudar ao longo do nosso caminho
espiritual. Cristo, Mãe Maria, Buda, ou outros grandes seres espirituais podem ser usados como símbolos de uma forma pessoal de Deus. P. Os hindus adoram vacas? R. As vacas têm sido reverenciadas na Índia por milhares de anos por causa de sua natureza gentil e por suas capacidades de dar sustento à vida. Os hindus permitem que elas vivam livremente e é um ato hediondo matar uma vaca. Por isso, os hindus não comem carne. Não é correto dizer que os hindus adoram vacas ou as consideram sagradas. De forma geral, os hindus não comem carne porque, nos momentos em que o alimento é escasso, seria miopia matar uma vaca para se alimentar no curto prazo, quando ela pode prover leite por muitos anos. As vacas são consideradas na Índia, da mesma forma que animais de estimação são considerados em outros países, ou como um cavalo para um amante de cavalos. Nós não comemos carne de cachorro e de cavalo neste país. Os hindus não comem
carne de vaca. P. Os hindus são vegetarianos? R. Alguns são, outros não. Se ser vegetariano o ajuda a manter sua mente em Deus e a manter seu corpo saudável, então isso é bom. Se o torna um fanático contra aqueles que não são vegetarianos ou se enfraquece sua saúde, então isso não é bom. O ponto é fazer aquilo que o ajude a pensar em Deus e o que o ajude a manter seu corpo saudável, para que você possa estar a serviço dos outros e para poder fazer suas práticas espirituais. P. É necessário adotar vestimentas indianas e restrições alimentares hindus para ser um vedantista? R. Não. Hábitos alimentares e de vestimenta são coisas culturais, não coisas espirituais. A filosofia Vedanta é universal, pode ser adaptada à qualquer cultura e a qualquer tempo. P. Você pratica exercícios de yoga? R. Exercícios de hatha yoga podem ser muito
bons para promover a saúde, o relaxamento e a concentração. Dessa forma, a hatha yoga pode ser benéfica para a vida espiritual. No entanto, a Ordem Ramakrishna, em geral, não adota o ensino desse tipo de yoga como parte de seu trabalho. Ela não é essencial para a vida espiritual. Muitas pessoas no ocidente erroneamente pensam que ser capaz de praticar hatha yoga irá automaticamente torná-las espirituais. Existe também o perigo da pessoa se tornar demasiadamente focada no corpo e em sua longevidade, ao invés de focar em seu desenvolvimento espiritual. P. E sobre pranayama ou exercícios de respiração? R. Em geral, nós não recomendamos praticas exercícios respiratórios sem o aconselhamento de um mestre qualificado ( guru). Existem casos de pessoas que desenvolveram sintomas de severas doenças mentais por praticarem formas extremas de exercícios respiratórios, sem a adequada supervisão. Geralmente, isso ocorre quando alguém pensa que se um pouco
é bom, mais será melhor. Esse não é o caso com o pranayama. Ele pode ser extremamente perigoso. Todos os benefícios do pranayama podem ser cultivados, de forma segura, praticando-se japa (a repetição de um nome de Deus ou de uma frase sagrada chamada mantra) e meditação. No entanto, Swami Vivekananda descreve alguns exercícios muito simples de respiração em seu livro Raja Yoga. Consulte seu mestre espiritual antes de dar início a esse tipo de exercícios. P. Por que existe um limite de idade (35 anos) para se juntar a uma comunidade monástica? R. Os rigores da vida em comunidade necessitam uma pessoa mais jovem por ter mais probabilidade de se ajustar física e psicologicamente. P. A Vedanta é o mesmo que hinduísmo? R. A Vedanta é predominantemente a filosofia do hinduísmo. O hinduísmo inclui todas os costumes religiosos e sociais de todos os que vivem no subcontinente da Índia, que não
sejam muçulmanos, cristãos, judeus, sikhs, zoroastrianos e budistas. Existem muitas seitas no hinduísmo. É uma coleção complexa de muitas tradições religiosas. A Vedanta é a filosofia subjacente a todas elas. P. O hinduísmo é panteísta? R. O hinduísmo acredita na Suprema Realidade que a tudo permeia, que em sânscrito é chamada ―Brahman‖. Brahman é aquela realidade infinita, indivisível, imutável, que está por detrás de tudo o que experimentamos, por detrás do universo inteiro. A infinita natureza de Brahman impede que Ele seja compreendido pela mente, ou descrito em palavras. Os vários deuses e deusas pelos quais o hinduísmo é famoso, são portanto tidos como as mais elevadas representações d’Aquele que não pode ser inteiramente representado. Isso permite que o aspirante espiritual escolha a representação que melhor ressoe ao seu coração. E o fato de saber que Brahman nunca poderá ser adequadamente representado
promove o respeito pela variedade de caminhos nos quais Ele é representado e adorado. P. Deus é feminino ou masculino? R. Deus, em Sua realidade última, não é masculino nem feminino, mas pode manifestar-Se de ambas as formas. Durga, Kali, Saraswati e Lakshmi são as deidades femininas mais familiares. As deidades masculinas mais familiares são Brahma, Vishnu, Shiva e Ganesha. P. O hinduísmo nega a vida? R. Algumas seitas do hinduísmo enfatizam a natureza ilusória do mundo e a futilidade de tomar parte nele. A corrente principal do hinduísmo, no entanto, reconhece quatro principais metas na vida: dharma (a busca da retidão), artha (riqueza), kama (prazeres sensórios e artísticos), e moksha (liberação). Ainda que o mundo seja ilusório se comparado a Brahman, é ainda uma manifestação da divindade e uma realidade
temporária. Por isso, a pessoa deve cumprir com suas responsabilidades e participar no mundo de uma forma que vai leva-la à liberação ao invés de maior escravidão. P. Cristo disse: ―Ninguém entrará no reino do céu senão por mim‖. Vocês não estão preocupados de estarem trilhando o caminho errado? R. Não. Krishna e Buda disseram coisas similares. Ramakrishna, também, teve uma experiência espiritual de união com Cristo. Ele sentiu sua unidade com Cristo, Rama e Krishna. Como podemos explicar isso? Existem três explicações possíveis: ● Esses grandes mestres, às vezes, sentem-se totalmente identificados com a Realidade Una. É nesse sentido que eles usam a palavra ―eu‖. ● Eles estavam falando para um grupo local de pessoas que não iriam ouvir sobre outras encarnações de Deus. ● Os seus ensinamentos foram alterados por
outros que, vindo mais tarde, queriam manter o poder e o controle sobre as pessoas. P. Se não há um demônio, como podemos entender o mal? R. Brahman está além do bem e do mal. Quando a Unidade aparece como multiplicidade, ela deve, necessariamente, manifestar-se como pares de opostos. Bem e mal são inevitáveis consequências do Uno aparecer como múltiplo. O bem é aquilo que nos ajuda finalmente a ver através da ilusão de que somos muitos. O mal é aquilo que perpetua nossa ignorância de nossa verdadeira natureza divina. P. Se tudo é uma ilusão, então o que importa o que fazemos? R. Se você realmente realizar sua própria natureza divina, não apenas aceitar a ideia intelectualmente, então a sua própria natureza não permitirá que você pratique qualquer mal. Você verá tudo como obras de Deus. Você verá tudo tão pleno de Deus. Até esse
momento, estamos atados pelas leis do karma. P. E sobre o pecado? R. É importante compreender que nossa verdadeira natureza é divina. O que algumas pessoas chamam ―pecados‖ nós vemos como ações que não são conducentes à nossa meta espiritual. Elas são erros. A conduta pode ser julgada certa ou errada. Mas nós sentimos que não é saudável considerar a si mesmo ou aos outros como pecadores. Isso coloca o foco em nossa natureza impermanente, imperfeita. Ao invés disso, pense em si mesmo como permanente, sempre puro. Nós devemos aprender com nossos erros e seguir adiante. P. O que é a lei do karma? R. A lei do karma é similar à ideia bíblica: ―porque tudo o que o homem semear, isso também colherá‖. Na física, a lei análoga é ―para cada ação há uma reação igual e oposta‖. A lei do karma simplesmente coloca a responsabilidade de nossas vidas sobre nós mesmos. Se a má sorte ou boa fortuna vier em
nosso caminho, devemos, de alguma forma, merecê-la por causa de nossas ações passadas. Estas ações passadas podem ter acontecido numa vida passada. Caso contrário, quando observamos as diversas situações da vida, Deus parece ser um Deus arbitrário e parcial. P. Vida passada significa reencarnação? R. Sim. O hinduísmo acredita que este não é o nosso primeiro nascimento. Quando alguém morre, é somente o corpo que morre. A essência espiritual da pessoa segue vivendo e carrega consigo as impressões sutis ( samskaras) das ações passadas ( karmas). Quando chegar o momento certo, a essência espiritual encarna num novo corpo. Nossas ações passadas nos dão as tendências, os talentos e as deficiências. P. É possível renascer como um animal ou uma planta? R. As escolas filosóficas diferem nesse ponto. As escrituras hindus e os sábios dizem que se pode renascer como um animal. Mas, nesse
caso, isso não constituiria uma regressão evolutiva, mas, sim, uma maneira de ―esgotar‖ os maus karmas cometidos durante a vida humana. Uma vez que esses karmas negativos tenham sido trabalhados, a alma volta a nascer num corpo humano e continua seu processo evolutivo. Não devemos ficar muito presos na tentativa de descobrir os detalhes de como o karma e reencarnação trabalham. É importante lembrar que nossa verdadeira natureza é divina, somos unos com Brahman. É apenas uma ilusão a de que nascemos em um corpo, morremos e renascemos. Mas, sob a influência de maya (ilusão cósmica),se nos afigura que a lei do karma opera e que a alma se reencarna. Sempre haverá detalhes que permanecerão vagos e que não poderemos saber com certeza. Quanta certeza você pode ter sobre uma ilusão, afinal? P. Por que alguns deuses e deusas hindus têm tantos braços? R. Lembre-se de que os deuses e deusas
hindus são manifestações de uma única Realidade, Brahman. Cada um manifesta certas energias arquetípicas, poderes ou atributos da existência infinita que é Brahman. Para simbolizar os vários atributos que se manifestam, as deidades são representadas com muitos braços, segurando diferentes símbolos em cada mão. P. Rama e Krishna são deidades? R. Rama e Krishna são encarnações divinas de Deus, ou avatares – Deus nascido em forma humana. Buda, Cristo e Ramakrishna são também considerados, por muitos, como avatares. P. Eu não gosto de pensar em Deus como uma pessoa, e as divindades hindus parecem estranhas para mim. Ainda assim, posso praticar a Vedanta? R. Sim. Deus manifesta-se em diferentes formas para o bem dos devotos de diferentes temperamentos. Quase todas as religiões têm algum símbolo para Deus. Deus pode ser
pessoal ou impessoal, com forma ou sem forma. Deus pode ser alcançado por diferentes caminhos. A filosofia Vedanta pode ser usada com qualquer aspecto de Deus. Para a prática espiritual não é necessário que (o praticante) se atenha à um aspecto pessoal de Deus. No entanto, usar uma forma pessoal de Deus pode nos ajudar a focalizar o componente emocional-devocional da nossa natureza para nos ajudar ao longo do nosso caminho espiritual. Cristo, Mãe Maria, Buda, ou outros grandes seres espirituais podem ser usados como símbolos de uma forma pessoal de Deus. P. Os hindus adoram vacas? R. As vacas têm sido reverenciadas na Índia por milhares de anos por causa de sua natureza gentil e por suas capacidades de dar sustento à vida. Os hindus permitem que elas vivam livremente e é um ato hediondo matar uma vaca. Por isso, os hindus não comem carne. Não é correto dizer que os hindus adoram vacas ou as consideram sagradas. De forma
geral, os hindus não comem carne porque, nos momentos em que o alimento é escasso, seria miopia matar uma vaca para se alimentar no curto prazo, quando ela pode prover leite por muitos anos. As vacas são consideradas na Índia, da mesma forma que animais de estimação são considerados em outros países, ou como um cavalo para um amante de cavalos. Nós não comemos carne de cachorro e de cavalo neste país. Os hindus não comem carne de vaca. P. Os hindus são vegetarianos? R. Alguns são, outros não. Se ser vegetariano o ajuda a manter sua mente em Deus e a manter seu corpo saudável, então isso é bom. Se o torna um fanático contra aqueles que não são vegetarianos ou se enfraquece sua saúde, então isso não é bom. O ponto é fazer aquilo que o ajude a pensar em Deus e o que o ajude a manter seu corpo saudável, para que você possa estar a serviço dos outros e para poder fazer suas práticas espirituais. P. É necessário adotar vestimentas indianas e
restrições alimentares hindus para ser um vedantista? R. Não. Hábitos alimentares e de vestimenta são coisas culturais, não coisas espirituais. A filosofia Vedanta é universal, pode ser adaptada à qualquer cultura e a qualquer tempo. P. Você pratica exercícios de yoga? R. Exercícios de hatha yoga podem ser muito bons para promover a saúde, o relaxamento e a concentração. Dessa forma, a hatha yoga pode ser benéfica para a vida espiritual. No entanto, a Ordem Ramakrishna, em geral, não adota o ensino desse tipo de yoga como parte de seu trabalho. Ela não é essencial para a vida espiritual. Muitas pessoas no ocidente erroneamente pensam que ser capaz de praticar hatha yoga irá automaticamente torná-las espirituais. Existe também o perigo da pessoa se tornar demasiadamente focada no corpo e em sua longevidade, ao invés de focar em seu desenvolvimento espiritual.
P. E sobre pranayama ou exercícios de respiração? R. Em geral, nós não recomendamos praticas exercícios respiratórios sem o aconselhamento de um mestre qualificado ( guru). Existem casos de pessoas que desenvolveram sintomas de severas doenças mentais por praticarem formas extremas de exercícios respiratórios, sem a adequada supervisão. Geralmente, isso ocorre quando alguém pensa que se um pouco é bom, mais será melhor. Esse não é o caso com o pranayama. Ele pode ser extremamente perigoso. Todos os benefícios do pranayama podem ser cultivados, de forma segura, praticando-se japa (a repetição de um nome de Deus ou de uma frase sagrada chamada mantra) e meditação. No entanto, Swami Vivekananda descreve alguns exercícios muito simples de respiração em seu livro Raja Yoga. Consulte seu mestre espiritual antes de dar início a esse tipo de exercícios. P. Por que existe um limite de idade (35 anos) para se juntar a uma comunidade monástica?
R. Os rigores da vida em comunidade necessitam uma pessoa mais jovem por ter mais probabilidade de se ajustar física e psicologicamente. a vida monastica O monasticismo refere-se a um modo de vida em preparação ou já sob votos religiosos. Segundo a Vedanta, a meta de nossa vida é realizar nossa verdadeira natureza em união com o Ser Supremo. E cada um deve decidir qual o caminho que melhor o capacita para agir com eficiência, a fim de alcançar este objetivo. O caminho da maioria das pessoas geralmente envolve o casamento. Em família, as pessoas podem servir a Deus enquanto servem umas às outras. Podem servir à sociedade despertando nas crianças valores fundamentais, além de contribuir com seu trabalho. Elegem prioridades no emprego, família e vida espiritual e assumem sua ação em todos os setores da vida como prática espiritual.
Já o caminho da vida monástica envolve a renúncia à vida familiar e a adoção do celibato, a fim de que o indivíduo possa dedicar-se à vida espiritual com mais energia e empenho. Várias tradições espirituais contam com monásticos, como a hindu, a budista e a cristã. Na Ordem Ramakrishna, o propósito da vida monástica é o trabalho pela liberação individual e a capacitação para melhor servir aos outros, dentro dos ensinamentos de Sri Ramakrishna, Sri Sarada Devi e Swami Vivekananda. Rotina Monástica Numa certa medida, o caminho espiritual de cada um é diferenciado e essas diferenças serão levadas em consideração pelo Chefe do Centro ou Monastério. As quatro Yogas – Karma Yoga, Bhakti Yoga, Jnana Yoga e Raja Yoga – são combinadas da maneira mais conveniente ao temperamento de cada pessoa. Em nossas vidas, tentamos agir com dedicação, mas de forma desapegada: adoração, trabalho e prece como devoção a
Deus; estudo, discussão e reflexão sobre as escrituras sagradas, reafirmando nossa verdadeira natureza; e meditação, em vários momentos do dia. Nossa rotina monástica consiste basicamente de trabalho no templo, meditação, estudo individual e participação nas aulas nos Centros. Tais atividades variam conforme o Centro, mas também incluem tarefas domésticas, tais como cozinhar e limpar, manutenção, jardinagem, deveres no templo e rituais. Assumimos tarefas de Secretaria, as quais incluem administração do monastério e do templo, organização da biblioteca, venda de livros, correspondências e editora. Depois de certo tempo, o monge envolve-se em aulas e palestras, escritos, publicações e atendimento ao público, na difusão dos ensinamentos da Vedanta e do serviço a Deus através dos inúmeros visitantes que comparecem ao Centro. Requisitos para tornar-se monge Os candidatos devem ter até 35 anos. A razão
para este limite de idade é que as exigências da vida comunitária necessitam pessoas jovens, as quais podem se adaptar mais facilmente às rotinas, tanto no aspecto físico como no psicológico. Além deste critério, devem ter concluído ao menos o Ensino Médio, ser razoavelmente saudáveis e obter aprovação em exame médico. Antes do ingresso, são necessários seis meses de abstinência sexual, de álcool e também de drogas ilegais. Os candidatos devem estar isentos de quaisquer dívidas financeiras. A decisão de assumir a vida monástica não deve ser tomada de maneira leviana ou precipitada, pois não é um estilo de vida fácil. As qualidades necessárias àqueles que desejam ter êxito na vida espiritual são as mesmas que trazem sucesso em qualquer empreendimento: determinação, perseverança e paciência, consigo mesmo e com os outros. A experiência da vida comunitária pode ser comparada a pedras batendo umas contra as outras dentro de um (tambor) barril em
movimento. Você terminará brilhante, polido! Quatro itens são necessários na vida monástica: devoção a ideais elevados; renúncia aos prazeres comuns e satisfação dos sentidos; espírito de serviço; afinidade e espírito de doação e partilha. Estágios da vida monástica A vida monástica tem várias etapas. Os primeiros seis meses constituem o período pré-probatório. Durante esta fase, o Centro fornece alojamento e alimentação em troca do trabalho que o candidato realizar; no entanto, gastos pessoais, roupas e despesas médicas não são cobertos pelo Centro. O período seguinte, chamado probatório, tem a duração de um mínimo de três anos. A partir dessa fase, o Centro provê um subsídio para gastos indispensáveis mensais. Quando o diretor do Centro conclui que o candidato está preparado, este assume os votos de
brahmacharya (prova de renúncia). Há então
mais um período de no mínimo quatro anos até que o candidato seja considerado apto para os votos de sannyasa (renúncia final). Geralmente é um período mais longo. Recomendamos aos interessados na vida monástica residir próximo a um Centro Vedanta para participar regularmente das atividades, a fim de que possam conhecer mais sobre a Vedanta e relacionar-se com os moradores do Centro. Este contato frequente proporciona ao diretor e demais monges residentes a oportunidade de conhecer melhor os aspirantes. Nesse caso, se a vida monástica parecer atraente, poderão tratar diretamente sobre a possibilidade de ingresso junto ao chefe do Centro. A principal motivação na escolha da vida monástica não deve ser a fuga de algum problema ou desagrado, mas sim a busca de um ambiente que seja mais conducente à vida espiritual. E não é um caminho para evitar responsabilidades e ocupação. Há
oportunidade de meditar e estudar regularmente junto com outros aspirantes e de envolver-se num trabalho significativo. Enfim, como em qualquer situação, você vai retirar da vida monástica o que colocar nela. Aqueles que têm êxito são os que podem se desfazer com mais facilidade dos prazeres transitórios da vida comum e trabalhar devotadamente pelo objetivo maior da vida humana, Deus, ou a Realização espiritual. O mundo está repleto de distrações e oferece menos suporte para a prática espiritual do que a vida monástica. O objetivo de se viver num monastério é o de constantemente recordar nossa natureza divina e o ideal espiritual. Se você deseja conversar com um monge da Ordem Ramakrishna a respeito da vida monástica, ou sobre algum assunto espiritual, escreva para
[email protected] As mensagens serão confidenciais. Advaita A escolar não dualista da filosofia Vedanta
que afirma a unidade da alma individual, Deus e o universo. Aranyakas Aquela seção dos Vedas que dá a interpretação espiritual para a porção ritualística dos Vedas. É também chamada de ―os tratados da floresta‖ porque era originalmente destinada aos ascetas que viviam nas florestas. Ashrama or Ashram Um centro de estudo espiritual ou meditação. Um retiro, eremitério ou monastério. Ashtavakra Nome de um sábio, autor do Ashtavakra Samhita. Ashtavakra Samhita Um texto clássico da Advaita Vedanta. Atman O espirito Divino no homem, o Ser que é uno com Brahman, a toda-penetrante existência divina, a Base do universo. Avadhuta Gita
Um texto classico da Advaita Vedanta. Avatar Uma encarnação de Deus. Avidya Ignorância, individual ou cósmico, que esconde a natureza da Suprema Realidade de nossa visão. Badarayana Autor dos Brahma Sutras. Pouco se sabe sobre ele, ainda que a tradição identifique-o com Vyasa, o autor do Mahabharata, que viveu na Índia entre 500 e 200 a.C. Bhagavad Gita Literalmente, a ―Canção de Deus‖, o Gita é uma das mais reverenciadas escrituras do hinduísmo, e consiste de 700 versos. Bhakti Amor a Deus. Bhakti yoga União com Deus através do caminho da devoção amorosa.
Bhasya Um comentário. Brahman A absoluta Realidade, a Unidade de tudo o que existe, o sem-forma, o Deus sem atributos. Brahma Sutras Também conhecido como os Brahma Sutras. Um tratado escrito por Badarayana sobre a filosofia Vedanta que interpreta os Upanishads, e discute o conhecimento de Brahman. Buddhi Inteligência ou faculdade de discernimento que classifica as impressões sensoriais. Chakra Um dos seis centros de consciência localizados ao longo da coluna vertebral. Chandi Também conhecido como Devi Mahatmyam. O Chandi é uma escritura sagrada hindu que louva a Divina Mãe do universo,
identificando-a como a Realidade última. Devi Lit. ―deusa‖. A palavra pode referir -se a qualquer deidade feminina no hinduísmo. Dharma Retidão, verdade ou responsabilidade religiosa. Dhruva (or Dhruba) smriti O estado de constante lembrança de Deus. Dhyana Meditação ou prolongada concentração. Durga Um aspecto da Divina Mãe do Universo, a consorte de Shiva. Durga é geralmente representada com dez braços, sentada em um leão. Ela é a protetora do universo, destruindo os demônios da ignorância e dando suas bênçãos de amor divino e conhecimento. Guna Lit. ―qualidade‖. Na filosofia hindu existem três gunas que constituem prakriti, ou
natureza: sattva, rajas e tamas. Tamas é caracterizada pela apatia, estupidez, inércia; rajas pela atividade, inquietude e paixão; sattva pela calma, pureza e sabedoria. Essas três qualidades são encontradas em proporções variadas no mundo externo e em todos os seres criados. Guru Mestre espiritual. Ishta O ideal escolhido (aspecto de Deus) do aspirante spiritual. Ishvara O aspecto pessoal de Deus; Deus com atributos. Janaka Um famoso rei que era tanto um conhecedor de Brahman, como o regente de um reino, Videha. Japa Repetição do nome do Senhor, usualmente o
próprio mantra. Jñana Conhecimento da Realidade última, alcançada através do processo da razão e do discernimento entre o real e o irreal. Jñana yoga Caminho de união com a Realidade última através do conhecimento espiritual e do discernimento entre o real e o irreal. Jñani Aquele que segue o caminho do conhecimento, discernindo entre o eterno e o transitório. Kali Um dos aspectos da Mãe Divina do universo. Kali era o Ideal Escolhido de Ramakrishna, e ele adorou sua imagem no templo de Dakshineswar por muitos anos. Kali é comumente representada em pé sobre o peito de seu consorte, Shiva. Em torno de sua cintura ela usa uma guirlanda de braços humanos, e em volta de seu pescoço uma
guirlanda de cabeças humanas. Ela tem quatro braços: com a mão inferior esquerda ela segura uma cabeça humana, com a superior ela segura um sabre. Com uma das mãos direitas ela oferece dádivas aos seus filhos e com a outra ela faz o sinal que dissipa o medo. Ela lida com a morte da mesma forma com que ela cria e preserva. Kali destrói a ignorância, preserva a ordem mundial, e concede suas bênçãos e liberação para aqueles que sinceramente as buscam. Enquanto Shiva representa o Absoluto, Kali representa o aspecto dinâmico ou relativo da Realidade Suprema. Karma Ação, ambas física e mental, e os efeitos da ação. Karma yoga Caminho da união com Deus através da ação abnegada. Karpanya O sentimento de desamparo; autoentrega.
Lokacharya, Pillai Filósofo e escritor vaishnava do século XII, que afirmava que a graça de Deus é espontânea; que deveria ser buscada não somente através de bhakti, devoção, mas também através de uma total autoentrega. Madhva Expoente da Vedanta dualista do século XII. Ele escreveu comentários sobre os Brahma Sutras, os Upanishads e o Bhagavad Gita. Mahamaya A Mãe do universo, a vontade divina. Mahamaya oculta Brahman, a absoluta Realidade, de nossa visão. Ainda assim, é através de sua graça que ela mesma retira o véu e nos permite realizar a identidade do Atman com Brahman. Mahavakya Literalmente, ―grande sentença‖. Uma formula vedântica que declara a unidade da alma individual com Brahman. Manana
O processo de raciocínio através do qual uma pessoa reflete sobre as palavras do mestre spiritual e medita sobre seu significado. Mantra O sagrado nome de Deus dado pelo guru ao discípulo. A repetição do mantra é chamada japa. Marga Caminho; jñana marga, por exemplo, é o caminho do conhecimento espiritual, e bhakti marga é o caminho da devoção. Maya Maya é o poder de Brahman, o aspecto criativo de Deus. É também a ilusão cósmica que cria a ignorância e oculta a visão de Brahman. Devido ao poder de maya, Brahman, a Realidade Uma, é percebida como o universo multifacetado. Nididhyasana Profunda meditação na verdade de Brahman. Nirvikalpa samadhi
Lit. ― samadhi sem movimento‖. O mais elevado estado de realização, no qual o aspirante espiritual alcança a unidade com o Absoluto. Om A mais sagrada palavra do hinduísmo; o som-simbolo de Brahman. Prakriti Natureza primordial; o princípio material do mundo que, em associação com Purusha, cria o universo. Prakriti é uma das duas realidades últimas da filosofia Samkhya. Prana No corpo físico, prana é o alento vital que sustenta a vida e se manifesta como pensamento, função corporal e ação física. No cosmos, o prana é a soma total de toda a energia primordial que se manifesta como movimento, gravitação, magnetismo, etc. Prarthana Oração.
Pratyahara Ação de retirar a mente dos objetos dos sentidos. Pravrajika Título feminino dado àquelas que tomaram os votos finais de renúncia, ou sannyasa. (O título masculino correspondente é Swami). O termo geralmente significa uma mulher ascética. Puja Ritual de adoração. Purusha Uma das realidades últimas da filosofia Samkhya. O divino Ser, a Realidade Absoluta, a pura Consciência. Raja yoga Literalmente, o ―caminho real‖; raja yoga é o caminho da meditação. É o caminho espiritual pelo qual se alcança a união com o Absoluto através do controle das forças internas e externas.
Rajas A guna que se expressa como inquietude, atividade e paixão. Ramakrishna, Sri (1836-1886) Um homem-Deus da Índia que é considerado por muitos como sendo uma encarnação de Deus. Sua mensagem enfatiza a unidade essencial de todas as religiões, a divindade inata da humanidade, e a realização de Deus como a meta da vida humana. Ramanuja O santo-filósofo do século XI, que propagou a escolar do não-dualismo qualificado, também chamada de Vishishtadvaita. Ramanuja escreveu comentário sobre os Brahma Sutra e o Bhagavad Gita, junto com outros tratados originais que defendia sua filosofia de devoção a Deus como o mais elevado ideal da vida humana. Ramprasad Místico e poeta bengali do século XVIII. Ele compôs músicas devocionais para Kali que
Ramakrishna gostava de cantar. Rishi Aquele que tem a visão da verdade spiritual. Normalmente, o termo se refere aos antigos sábios hindus para quem os Vedas foram revelados. Sadhana Disciplina espiritual. Samadhi O estado de supraconsciência no qual uma pessoa experimenta sua identidade com a Realidade última. Samskara Tendências herdadas de nascimentos anteriores que formam as propensões da pessoa nessa vida. Sannyasa Voto monástico final no qual o aspirante renuncia completamente a todas as coisas em função da realização da Realidade última. Sarada Devi, Sri
(1853-1920) Consorte de Sri Ramakrishna, também conhecida como Santa Mãe. Ambos, Ramakrishna e Sarada Devi, viveram vida de completo celibato; ambos foram ideais monásticos e ideiais de chefes-de-família. Sarada Devi era a personificação da maternidade espiritual; sua vida foi devotada ao serviço amoroso e ao auto-sacrifício. Ela é vista por muitos como uma encarnação da Mãe Divina. Satchidananda Existência ( sat ), Conhecimento (chit ) e Bem-aventurança (ananda); Brahman, a absoluta Realidade. Sattva A guna que se expressa como calma, pureza e sabedoria. Shakti Deus como Mãe do universo. Shakti é o poder de Brahman, a personificação da energia primordial. Shankara or Shankaracharya
O grande filósofo da Vedanta que viveu no século VIII d.C., e reavivou a Advaita Vedanta na Índia depois de mil anos de influência budista. Ainda que tenha vivido apenas 32 anos, ele organizou o sistema monástico que se mantém até os dias de hoje. Sua enorme contribuição literária inclui comentários sobre os Brahma Sutras, os principais Upanishads, e o Bhagavad Gita Bhagavad Gita. Ele também escreveu seu próprios tratados A filosóficos, tais como Vivekachudamani ( A Jóia Suprema do Discernimento Discernimen to) e o Upadeshasahasri. Além disso, Shankara compôs hinos, orações e vários trabalhos menores sobre a filosofia Vedanta. Shiva Deus em seu aspecto de destruidor do universo. Ele é a terceira pessoa na trindade hindu, sendo os outros dois Brahma, o criador e Vishnu o preservador. Em seu aspecto pessoal, Shiva é o yogi ideal, a personificação da renúncia, absorto em eterna meditação nos Himalayas. Ele é conhecido por sua
compaixão: aqueles que não encontram refúgio em nenhum outro lugar – lugar – mesmo mesmo as serpentes e os demônios – demônios – encontram encontram abrigo em Shiva. Para salvar o mundo, Shiva bebeu o veneno que surgiu durante a criação do mundo. Uma vez que esse veneno parou em sua garganta, ele é chamado Nilakantha (Aquele que tem o pescoço azul). Shiva é também o Absoluto, a Suprema Realidade. Ele é o aspecto transcenden t ranscendente te de Deus, enquanto Kali, ou Shakti, representa o aspecto relativo, dinâmico. Shraddha Fé inabalável guiada pela razão. Sravana Ouvir as mais elevadas verdades espirituais. Sri Um prefixo honorífico usado antes do nome de uma deidade, de uma pessoa santa, ou de um livro. É também o equivalente hindu do termo ―Senhor‖. Suresvara
Um filósofo-sábio da Índia que foi discípulo de Shankara. Ele escreveu tratados sobre Advaita Vedanta em livros tais como Naishkarmya Siddhi, Manosollasa e Varttika. Swami Lit. ―Senhor‖. Título dos monges que tomaram os votos finais de renúncia; sannyasa. Swamiji Na tradição da Ordem Ordem Ramakrishna, Swamiji Swamiji refere-se a Swami Vivekananda. É também uma forma respeitosa de se dirigir à qualquer swami. Tamas O guna que se expressa como apatia, estupidez e inércia. Tantra A filosofia religiosa na qual a Divina Mão do universo, ou Shakti, é adorada como a Realidade última. Tantras
As escrituras que são identificadas com a adoração da Mãe Divina. Tantrico Pertecente ao Tantra; um seguidor do Tantra. Turiya Lit. ―o quarto‖. O estado supraconsciente que está além dos três estados comuns de consciência: vigília, sonho e sono sem se m sonhos. É o estado da consciência unitária, pura bem-aventurança. bem-aventurança. De acordo com Shankara, esse não é um estado; é o Atman. Upasana Meditação; literalmente ―sentar -se próximo‖. Meditação é ―sentar -se -se próximo‖ próximo‖ de Deus. Upanishads As sagradas escrituras que aparecem no fim de cada um dos Vedas e contituem a sua porção filosófica, transcendental. Os Upanishads formam a base filosófica da Vedanta. Vaishnava Lit., um seguidor de Vishnu. Um adepto do
vaishnavismo – vaishnavismo – um um ramo dualista do hinduísmo. Os vaishnavas seguem o caminho da devoção a Vishnu, em sua maior parte através dos avatares como Rama, Krishna e Chaitanya. Vallabha Um santo-filósofo da Índia do século XVI que escreveu comentários aos Brahma Sutras e ao Bhagavatam.
Vartika Um verso-comentário. Vedanta Desika Filósofo e escritor do século XIII, um dos grandes sucessores de Ramanuja. Vedanta Desika, ou Desika, foi um escritor profícuo, tanto em sânscrito como em tâmil. Desika enfatizava, em contraste com Pillai Lokacharya, que ambos, a graça e o autoesforço, são necessários na vida espiritual. O autoesforço é necessário para se alcançar a graça de Deus. Vedas
Lit., ―Veda‖ significa conhecimento ou sabedoria. Os Vedas são as escrituras sagradas mais antigas dos hindus. Os hindus ortodoxos acreditam que os Vedas são o resultado direta da revelação divina; elas são consideradas a autoridade final em todas as questões espirituais. Existem quatro Vedas: Rig , Yajur , Sama e Atharva. Cada Veda consiste de uma porção porção ritual ou ―ação‖, e da porção filosófica ou ―conhecimento‖, conhecida como os Upanishads. A porção ritual consiste dos textos que discutem o Brahmanas – textos significado dos diferentes ritos sacrificiais – sacrificiais – e e os Samhitas – uma uma coletânea de mantras ou hinos, direcionados à deidades específicas tais como Indra ou Varuna. Também incluídas na porção ritual estão os Aranyakas que dão a interpretação espiritual dos rituais. Vidya Conhecimento que conduz à Realidade última. Vishishtadvaita
A filosofia do não-dualismo qualificado, fundada por Ramanuja. A vishishtadvaita afirma que a alma individual e a matéria insenciente são distintas de Brahman, mas Brahman é a base de suas existências e realidade. Vishnu O segundo aspecto da trindade tr indade hindu, Deus em seu aspecto de preservador do universo. Vishnu é frequentemente frequentemente representado com quatro braços, e ele segura em cada uma das mãos: um disco, uma maça, uma concha e uma flor de lótus. De acordo com a doutrina do avatar, Vishnu encarna como um ser humano em todas as eras para o bem do mundo. Vivekananda, Vivekananda, Swami (1863-1902) O mais proeminente discípulo de Ramakrishna, também conhecido como Swamiji. Swami Vivekananda foi para a America em 1893 como um representante do hinduísmo no Parlamento Mundial das
Religiões. Depois de seu sucesso triunfal no Parlamento, ele deu aulas e palestras por todo os Estados Unidos e na Europa, assim iniciando o movimento Vedanta no ocidente. Na Índia, Swamiji organizou a Ramakrishna Math e a Ramakrishna Mission. Yajna Sacrifício, cerimônia sacrificial; nos tempos védicos significava ―sacrificar coisas em favor da Divindade‖. Yajnavalkya Um santo mencionado no Brhadaranyaka Upanishad . Yoga Lit. ―unir‖ – o ato unir ou juntar. Yoga é a união da alma individual com a Realidade última. É também o método pelo qual essa união é alcançada. Existem quatro yogas: bhakti yoga, o caminho da devoção; jñana yoga, o caminho do conhecimento e do discernimento; karma yoga, o caminho da ação desapegada, e raja yoga, o caminho da