que se fizesse na mesma Aldeya hum monjolo para beneficiar as farinhas. Ordenou tãobem que se estabelecese húa Fazenda de Gado vacuum, para ser vir para o futuro de sustentação para os Missionários, e mais Índios; levantando-se então a pensão dos Bois. Para esta fundação determinou o numero de quatrocentas vacas. Man- dou tãobem, que os Soldados do Prezidio fossem pagos de três em três mezes, porquanto se dizia, que não sendo assim decertarião todos; pois desde o seu principio athé aquelle tempo não tinhão sido pela Fazenda Real. Toda despeza foi entregue a Francisco Rodriguez de Mattos, o qual no destrito da Natividade tem a seu cargo o Contrato dos Dízimos, e se achava prezente em S. Felix. Só não determinou quanto se devia dar para o guizamento da Igreja. Ao Thenente Coronel ordenou comprasse alguas pessas de algodão para fardar os Índios; alguns surrões de sal, e rolos de fumo para se distribuir com os mesmo Índios [...] 34.
Imitando, dessa forma, a participação dos jesuítas na política de ocupação colonial, D. Marcos de Noronha procurou dar início concreto às determinações que a ele foram delegadas: civilizar índios, mantendo-os em seus respectivos territórios para poderem ser utilizados como “barreiras” 35 do sertão, evitando, assim, a entrada na região aurífera. A completa viabilização de suas ações exigiu que o governador atuasse em duas frentes principais: uma no sul e outra no norte. Para a primeira região, em 1750, designou o Padre José de Castilho para criar a Aldeia de Santana do Rio das Velhas (1750), em Indianópolis, atual Triângulo Mineiro. Contou para a execução dessa tarefa com a ajuda do experiente sertanista Antônio Pires de Campos, que não só havia erguido a Aldeia do Rio das Pedras, em 1742, para abrigar os Bororos, como também participado de combates contra os Kayapó, visando liberar a estrada de São Paulo que dava acesso às minas do sertão goiano. Concomitantemente às ações do sul, desenvolveram-se as do norte, em especial na região de Natividade, Paranã e Terras Novas, lugares de grande densidade populacional de bravos indígenas e, portanto, palco de inúmeros conflitos e ataques aos arraiais de Natividade, Carmo, Chapada, Taboca e Alma36. Esses freqüentes combates, sem o almejado sucesso dos colonizadores, levaram D. Marcos de Noronha a duvidar da eficácia do método de persuasão e convencimento dos índios para o alcance da “paz” e a conseqüente conquista, notadamente em relação aos Akroá e Kayapó. Seguidas negociações sem o êxito esperado deixaram o governador desanimado com a hostilidade dos resistentes nativos da Capitania goiana e, inclusive, sem expectativas para a rápida e necessária formação de aldeamentos e a disponibilidade de cativos para auxiliá-lo na conquista de outras nações. A falta de tais condições o levou a solicitar à Coroa portuguesa que enviasse ordens aos governadores de Cuiabá e São Paulo para conseguirem indígenas já aldeados para ajudarem a “desembaraçar os caminhos e desinfetar as povoações”. Não obtendo retorno, D. Marcos convidou o capitão-mor do Piauí, o português Antônio Gomes Leite, para chefiar uma expedição contra os Akroá. No entendimento de D. Marcos, só as ricas experiências desse homem poderiam ajudá-lo na difícil empreitada que objetivava a redução desses índios. Apostando na perícia de Gomes Leite, o governador chegou até mesmo a
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AHU. Goiás . Doc. 771, 1755. Idem.
APOLINÁRIO, Juciene Ricarte. Os Akroá e outros povos indígenas nas fronteiras do sertão: políticas indígenas e indigenista no norte da capitania de Goiás, atual Estado do Tocantins, século XVIII. Goiânia: Editora Kelps, 2006, p.105.
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Segundo Apolinário, embora o regimento de D. Marcos de Noronha assinalasse que haveria de se praticar uma política de paz com os índios da Capitania, evitando o uso da violência, na região do norte abriu-se precedente para iniciar uma guerra contra os Akroá. APOLINÁRIO, Juciene Ricarte. Op. Cit ., p.101.