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MARCOS MONTEIRO
0 jumentinho caminha pela avenida sonhando em em provocara mesma esma comoção comoção que um companheiro seu causou dois mil anos anos atra atras, s, na cidade de J erusalém erusalém tm meio eio ao barulho, barulho, ele vai vai ruminando ruminando sua suas limitações pessoais e arrastando uma carroça (chamada igreja) cheia de objetos velhos e móveis móveis usados. usados. O que ele carrega na carroça desperta pouco interes*» interes*» E inpmr i h ►i mpun ido atrapalha e é atrapalhado, provoca e é provocado provocado em meio meio à complexa complexa realidade
Ao tirar a tala que limita a sua visão, o jum-nt jum-n tinlioohs inlioo hs^ ^i/aoqiie i/ao qiie iimii Ii u i tn /'iltd LU pil(tbei|ue i(ldul< min klli I - e enk 1 i ' rum rum u íti iw uc ruelas ruelas vias de chao batido batido c fav favelas. Ele começa a descobrir que os trastes de sua carroça, que muitos consideiam inúteis, sao objetos preciosos para um enorme contingente de pobies, que, para sua surpresa, surpresa, cons constituem tituem a maioi aioi parte parte da populaça populaçao o de sua sua cidade Ao andar por esses novos caminhos, ele reafirma sua identidade e reencontra a alegria e a dignida dignidade de de sei jumen jumento to No entanto, a lembrança da avenida ainda o incomoda incomoda e, e, ape apesai sai do novo novo sentido, sentido, surgem algumas perguntas. O que fazei com com a avenid avenida7 a7 Deveriam Deveriamos os volta voltaii ao tempo em que os jumentos podiam cam caminhar tra tranqu nquila ilamente mente pelas pelas ruas7 E a carroça, deveriamos deveriamos motoriz otorizá á-la7 la7 5 5
UM JUMENTINHO N A A V E N ID A
[A M IS S Ã O DA IG R E J A E A S C I D A D E S ]
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UM JUMENTINHO N A A V E N ID A [A M IS S Ã O D A IG R E J A E A S C I D A D E S ]
Editora Editora U ltima ltima to Viçosa, MG
UM J UMENTINH UMENTINHO O NA AVENIDA AVENIDA Categoria'. Igreja / Liderança / Missões
Copyright © 2007, Marcos Adoniram Lemos Monteiro Todos os direitos reservados Primeira edição: Setembro de 2007 Coodernação editorial: Bernadete Ribeiro Revisão: Heloisa Wey Neves Lima Capa: Panorâmica Com&Mkt
Ficha Catalográfica Preparada pela Seção de Catalogação e Classificação da Biblioteca Central da UFV Monteiro, Marcos Adoniram Lemos, 1951M775j M775j 2007
U m Jum entinh enti nho o na Avenida : a missão da igreja e as cidade cidadess / Marcos Monteiro. - Viçosa, M G : Ultimato, Ultimato, 2007. 184p. 21 cm. Inclui bibliografia ISBN 978-85-7779-014-2 1. Missão da igreja. 2. Religião e cultura. I. Título. CDD. 22.ed. 266
ttp: ttp: agrap a . ogspot.co t.com. r Publicado
n o Br a s ilil c o m a u t o r i z a ç ã o e c o m t o d o s o s direitos r es er er v a d o s
Ed i t o r a Ul t i m a t o Lt d a C aixa aixa P ostal 43 36570-000 Viçosa, MG Telefo T elefo ne: 31 3891-3149 3891-3149 Fax: 31 3891-1557 www.ultimato.com.br
S u m á r io
Prefácio
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1. Um jume ju men ntinh tinho na avenida avenida
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2. A missão integra integrall da Igreja e a cultura ultura
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3. A dúvida dúvida entre entre "o que faze faz e r" e "como co mo faze faz e r"
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4. A cidade cidade de Deu Deus na cidade cidade do homem homem
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5. De profetas profetas e de cant cantado adores res
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5. A Igreja E vangélica angélica e o Nordest ordes te bras brasileiro ileiro
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Notas
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Bibliografia
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PREFÁCIO
Conheci Marcos Monteiro em 1983, por intermédio do pastor Eliezer Lourenço. Desde então não foi difícil manter a grande amizade que desfruto com Marcos até hoje. Trabalhamos juntos na Visão Mundial Brasil na década de 80. Na mesma época, participamos ativamente do Primeiro Congresso Brasileiro de Evangelização, em Belo Horizonte, MG, e do Congresso Nordestino de Evangelização, em Recife, PE. Especialmente nesses momentos evidencia-se a capacidade do Marcos de mobi lizar pessoas, acolher os diferentes, criar condições para o exercí cio da unidade na diversidade do povo de Deus. Quando ele veio morar em Fortaleza, fui me apropriando de várias discipli nas espiritua espirituais is praticadas por po r ele ele — algumas permanecem permanec em em aprendizado contínuo. A radicalidade e o compromisso com que Marcos assume a causa dos pobres têm sido anúncio do evangelho e denúncia, aparentemente involuntária, das minhas práticas ainda reticentes. Depois Marcos mudou-se para Maceió, AL, e nossos encontros passaram a ser mais fortuitos. Ainda assim, cada momento que passávamos juntos se revestia de confissões, expressão de pensa mentos e idéias livres de preconceitos. Ao longo dos anos, nossa
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amizade tem se fortalec fortalecido. ido. Marcos M arcos é para mim um “amigo mais chegado do que um irmão” (Pv 18.24). Alguns dos nossos cole gas o chamavam de Marcos Mar cos Queiroz Qu eiroz e a mim de Carlos Monteiro. M onteiro. Esse humor nordestino sempre me pareceu um elogio. Com Marcos tenho aprendido a apreciar com reverência a experiência experiência de pessoas que qu e moram mo ram nas ruas ruas das grandes cidades e a me aproximar delas. Ele se tornou pastor de várias dessas pes soas, nas avenidas de nossas metrópoles. Acredito que é a partir dessa convivência com os estranhos na avenida que ele constrói seus textos e reflexões. Portanto, o que escreve é a sua própria história, formada pelos pedaços de várias outras histórias. Há muitas Marias, Paulos, Benés, Pedros e Josés, há muitas crianças sem nome — com apelido apelido apenas — nos contos e “en-ca “en-cantos” ntos” desse nosso poeta e profeta. Respeito muito a coerência de vida assumida pelo Marcos. Ele consegue ser profundo na reflexão sem perder sua devoção pessoal e sua prática sociopolítica. De maneira criativa exerce seu pastoreio itinerante pelo Nordeste brasileiro. É um dos pas tores na Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE. O pastor Paulo César, um dos membros do colegiadó de pastores em Bultrins, afirma: Para mim, Marcos representa a figura do caixeiro viajante; não tem hora nem dia para chegar, e quando chega sem pre traz alguma novidade no seu caçuá. Marcos é poeta armorial, a figura do brincante nordestino, que verseja nas suas palavras a lembrança das cantadeiras, dos emboladores e aboiadores, das toadas, loas e repentes cantados nos pá tios das feiras livres. Nas palavras de Marcos sempre en contraremos um Toinho, um Zezinho e outros ‘inhos’ que só conhece quem sai por aí soletrando a vida e trazendo sonoridade aos ouvidos dos que conheceram somente o seu lado ruim, o da sua aspereza. A vida do Marcos me traz à lembrança o livro Lunârio Perpétuo, o mais lido
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nos sertões do Nordeste nos últimos 250 anos, segundo Câmara Cascudo. Nele temos de tudo um pouco: astrologia, horóscopo, receitas médicas, mitologia, rudimentos de física, calendários, biografias de santos e de papas, conhecimentos agrícolas, generalidades, instruções para se conhecer a hora pela posição das estrelas, para se construir U m relógio de sol etc. Marcos é isto: de tudo tem um pouco (ou muito). E, se certo for que não existe verdade, mas versões, esta é a minha versão. Prefiro não comentar aqui o que o leitor terá o privilégio de ler ler nas próximas páginas. pá ginas. Primeiro, Primeiro, para p ara evitar evitar qualquer interfeinterferência na sua interação com as idéias do autor. Depois, porque precisamos saber se quem escreve tem o mínimo de autoridade para viver o que propõe. Posso garantir que Marcos é uma das poucas pessoas que dizem dizem muito menos do que q ue aquilo que praticam. Assumo o risco de não ter a aprovação do autor, pois, se o conheço bem, ele espalhará a quantos puder que o Marcos apresentado aqui é invenção minha. Não posso me sentir culpado, pois neste livr livro o ele ele também tam bém cria personagens como co mo Hermenegildo Herm enegildo e Zé da Lua, para mim tão reais quanto ele. Seja Marcos M arcos Monteiro, seja o mito que possivelment possivelmentee tenhatenhamos criado o autor desta obra, recomendo ao leitor que trilhe por estas páginas, em que autor, com leveza e profundidade, busca contextualizar o evangelho sem viseiras, semelhante a Um Jumenti Jumen tinho nho na Avenida. Avenida. Carlos Queiroz
Pastor na Igreja de Cristo em Fortaleza Diretor Nacional da Visão Mundial Brasil
Capítulo 1
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-Diante das transformações psicológicas, sociológicas, tecnológicas e culturais que têm ocorrido nas grandes cidades, qualquer pastor, com sua teologia bíblica e sua experiência mística, se sente tão anacrônico quanto um jumentinho puxando uma carroça em plena avenida. Enquanto caminha placidamente em meio à velocidade e ao barulho de motocicletas, automóveis, ônibus e caminhões, ele vai ruminando suas limitações pessoais e arrastando uma carroça (chamada igreja) cheia de objetos velhos e móveis usados. Fiel e preciso, ele repete as atividades dos jumentos de todos os tempos. O que ele carrega na carroça desperta pouco interes se, mas o seu anúncio anacrônico é triunfalista. Ele expõe dados estatísticos extraídos de pesquisas ultrapassadas para convencer o homem hom em da cidade cidade que não há nada melhor melhor no no mundo m undo do que ser um jumento e nada mais moderno que uma carroça. Sua visão da cidade e do século é propositadamente limitada e pessimista. Com suas viseiras bem ajustadas, ele insiste em
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afirmar que o burburinho e a agitação da cidade o impedem de trafegar e que os modernos automóveis à sua volta atrapalham o trânsito na avenida. E assim ele vai seguindo seu caminho, criticando as pessoas por se recusarem a voltar ao tempo das carroças. Esta reflexão foi escrita por um “jumentinho” que tirou as viseiras, mas manteve sua identidade. O jumentinho não pretende embarcar na onda de pessimismo nostálgico, como muitos dos seus companheiros, mas também não procura esconder, com esforço visível, suas orelhas de asno. Deseja apenas encontrar o seu lugar em meio à complexidade do século em que vive. Ao tirar a tala que limita a sua visão, o jumentinho passou a observar o que acontecia à sua volta, e isso o deixou inquieto e incomodado. incomodado . Come Co meçou çou a faze fazerr pergun perguntas, tas, e com isso isso passou tamtam bém a inquietar e a incomodar os outros. Aos poucos ele foi percebendo que tinha mais perguntas que respostas, mais perplexidades que soluções. O jumentinho trafega dialeticamente. Empurra e é empurrado, atrapalha e é atrapalhado, provoca e é provocado em meio à complexa realidade da avenida. D e repente ele ele percebeu percebeu que a cidade não n ão era feita só de aveavenidas e que existiam outros jumentos, puxando outras carroças não eclesiásticas. Então, ele deixou a avenida e passou a rumar através de caminhos, ruelas, vias de chão batido apinhadas de barracos, casebres e favelas. Seu interesse foi aumentando e ele começou a descobrir que os trastes de sua carroça, que muitos consideravam inúteis, eram objetos preciosos para um enorme contingente contingente de pobres que, para sua surpresa, surpresa, constituíam a maior ma ior parte da população de sua cidade. Ao andar por esses novos caminhos, ele reafirmou sua identidade e reencontrou a alegria e a dignidade de ser jumento. No entanto, a lembrança da avenida ainda o incomodava e, apesar do novo n ovo sentido, surgiram surgiram algumas perguntas. perguntas. O que fazer fazer com a avenida? Como resolver os problemas de tráfego? O que fazer
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com o século 21? Deveriamos voltar ao tempo em que os jumentos podiam caminhar tranquilamente pelas ruas? E a carroça? Deveriamos motorizá-la? Será que ele precisaria deixar de ser jum ju m e n to e se s e tran tr ansf sfor orm m ar em um daqu da quel eles es carr ca rros os d a F ó rmu rm u la Um para chamar a atenção na avenida? As respostas a essas perguntas não são tão óbvias assim e nos convidam a uma humilde reflexão. Esperamos com isso contri buir com co m aqueles que deseja d esejam m repensar r epensar a Igreja para então refaz refazêêla dentro da realidade das nossas cidades. Maceió, parábola do planeta — Você Você precisa ir embora. Não N ão pode ficar aqui. aqui. Não N ão tem chance nenhuma. Quer se casar, engordar, ficar batendo papo nos cafés e nas esquinas? Esta cidade mata. É uma areia movediça. Você tem que ir embora.1 Maceió, uma cidade do Terceiro Mundo, capital de um dos Es tados do Nordeste brasileiro, nos permite visualizar o que está acontecendo hoje em nosso planeta. O s bairros de elite elite remetem aos países do Primeiro Mundo, e estão minados pela invasão de barracos e casebres. Por outro lado, os imensos bairros popula res, que representam os países do Leste Europeu, estão cercados pela constante ameaça das favelas (o Terceiro Mundo), e ponti lhados, aqui e ali, por algumas casas luxuosas, marcando a pre sença das elites dominantes nesta cidade de 700 mil habitantes. Nela encontramos todos os problemas do nosso século, da prostituição à ameaça ambiental, da criança de rua à violência institucional. E também todas as vantagens do mundo atual: do shopping center ao microcomputador, da antena parabólica ao carro do último tipo. As mudanças e convulsões que atingem toda a humanidade também são captadas por esta cidade-síntese. A paralisia e a
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indefinição ideológica que imobilizaram o mundo com a implosão do Leste Europeu, o rápido e conflituoso processo de urbanização mun m undial, dial, provo pr ovocan cando do a faveli favelização zação e a anomia, anom ia, estão ali representados, com a vantagem de se apresentarem em proporções observáveis. Esta bonita cidade praieira, com suas belíssimas lagoas que tornam qualquer pôr-do-sol um espetáculo único, nos faz lem brar que a graça e a misericórdia de Deus se renovam na brisa, no brilho, no calor e na beleza de cada manhã. Ser pastor e ser igreja numa cidade como essa é um privilégio, mas é também um desafio, além de oferecer uma oportunidade inestimável de crescimento. Por isso, não podemos adotar uma postura pessi mista diante das mudanças que presenciamos. O fenômeno da urbanizaç urbanização ão tem demonstrado que é um pro cesso irreversível. Cada vez mais as pessoas filtram a sua experi ência de mundo pela vivência nas cidades. Isso não só é inevitá vel como determinante da nossa experiência. O teólogo Harvey Cox disse, algumas décadas atrás: Em nossos dias a metrópole continua sendo modelo de nossa vida em comum, tanto como símbolo de nossa con cepção de mundo. Se os gregos percebiam o cosmos como uma polis extensa, e o homem medieval como uma área feudal ampliada ao Infinito, experimentamos o universo como a cidade do homem.2 No entanto, apesar de irreversível, esse não é um fenômeno neutro, pois traz em seu rastro as patologias do século, que ge ram lesões irreparáveis tanto no tecido emocional como no social dos homens e das cidades. Entre essas patologias encontram-se, conforme confor me Konr Ko nrad ad Lorenz, a solidão, a ausência de relacionamen relacionamen tos profundos entre as pessoas e até mesmo a violência: O ajuntamento humano nas cidades modernas é, em gran de parte, o responsável pelo fato de que não somos mais
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capazes de descobrir o semblante do próximo na fantasmagoria das figuras humanas que mudam, se superpõem e se apagam continuamente...3 A superpopulação não só leva indiretamente a fenômenos de desumanização pelo esgotamento das relações, como também desencadeia comportamentos agressivos imediatos.4 Nesta cidade, igual a tantas outras do nosso país, o mundo religioso também se estabelece de forma parabólica. O misti cismo oriental, as crenças esotéricas, as religiões animistas, as diversas seitas e o cristianismo em suas versões católica e protes tante tante ocupam o cupam o imaginário simbólico e devocional devocional da população local, como acontece em todo o mundo. A Igreja, de igual forma, repete aqui a história e a geografia do desenvolvimento tenso e crítico dessa comunidade universal que se move em torno de um mesmo Jesus, de um mesmo Pai e de um mesmo Espírito. Igrejas carismáticas disputam espaço (e fiéis) com as igrejas tradicionais. Os movimentos jovens, os mu sicais com ritmos modernos, os movimentos evangelísticos, teo lógicos, políticos e ecumênicos ajudam a compor o mosaico da Igreja atual. Cruzadas evangelísticas, reuniões nos lares, grupos de estudo bíblico, bíblico, programas programa s de rádio e T V constituem os mé todos dessa d essa mesma Igreja. Igreja. As Comu Co munida nidades des Eclesiai Eclesiaiss de Base e o M ovimento ovim ento Católico Carismático Carism ático são as pontas ponta s entre entre as as quais quais se move o pedaço ainda maior representado pela Igreja Católica Romana. Por tudo isso, Maceió é como um pequeno e potente telescópio que nos permite observar o mundo inteiro. A questão que se coloca é o que significa ser ser pastor e ser ser Igreja Igreja nesta cidade tão parecida com tantas outras cidades do Terceiro Mundo. Encontrar os instrumentos adequados para responder a essa pergunta talvez signifique preparar-se para mudar sem perder a identidade ou, para ser mais preciso, mudar para manter a identidade.
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“O “O Deus do rico não é o Deus do pobre po bre” ” O primeiro e principal principal instrumento que a Igreja tem nas mãos m ãos é o teológico. E no silêncio da voz teológica que a ansiedade e a perplexidade perplexidade da Igreja extravasa extravasam m em gritos gritos e gemidos. A teolo teolo gia fornece alguns aspectos indispensáveis ao pastor e à Igreja que desejam se posicionar na cidade e oferece respostas para as dúvidas e inquietações que acompanham aqueles que se movi mentam. A teologia bíblica apresen apresenta ta três três momentos momen tos que muitas veze vezess se confundem e se sobrepõem: a rejeição da realidade, a revolu ção da realidade e a revelação da realidade. O primeiro momento é a rejeição imediata da realidade tal como a percebemos. Essa é uma característica de toda reflexão, mas de forma especial da reflexão teológica. Para o teólogo (que também é um pensador) as coisas não são o que aparentam ser e as realida realidades des não são fechadas em si mesmas — são enigmas enigm as e proposições que revelam e escondem, ao mesmo tempo, o objeto dado. O teólogo não rejeita a realidade em seu próprio nome ou em nome de alguma a lguma ciência, ciência, propós pro pósito ito ou causa — ele ele a rejeit rejeitaa em nome de Deus. M as a teologia é também tamb ém um incessante incessante e inca incansável nsável revo revolv lver er da realidade. Além de rejeitar, ela procura descobrir a verdade escondida atrás das aparências. Para tanto, utiliza, junto com a Bíblia, os recursos oferecidos pelas ciências humanas. A teologia se faz através de um trabalho paciente e contínuo sobre o mate rial bruto fornecido pela vida. É a difícil tarefa de sobrepor-se ao engano das falsas evidências. Por último, a teologia não só rejeita e revolve, mas também desmascara o mistério escondido por trás das aparências e conti do na essência das coisas. Rejeita a aparência, busca o auxílio das ciências, mas continua sua caminhada em busca das realidades
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últimas, procurando identificar e demonstrar a misteriosa ação de Deus em meio à história dos homens e à proposição das coisas. Esse mistério, revelado plenamente na pessoa de Jesus, faz com que a teologia seja, seja, acima a cima de tudo, tud o, uma um a reflex reflexão ão bíblica. bíblica. A Bíblia inteira está intimamente relacionada à pessoa de Jesus, revelação máxima de Deus, evento supremo da história. Por isso, isso, nossa porta de entrada das Escrituras é o próprio Jesus. Iss Isso o nos impede de cometer erros, tanto de um liberalismo cético quanto de um literalismo redutor. A partir dessa ótica, o Antigo Testamento pode ser estudado como com o a história e a teologia teologia do povo de Jesus, Jesu s, em que qu e a esperan esperança ça da vinda do Messias ocupa lugar fundamental, e também como a Bíblia do próprio Jesus. O Novo Nov o Testamento por sua vez vez dev devee ser ser entendido como o encontro da história e da teologia de Jesus com a história e a teologia da comunidade de Jesus (a Igreja). Assim, Jesus, a Palavr Palavraa de Deus De us encarnada, encarnada, ilumina toda a Bíblia B íblia e a torna relevante para todos nós. Isso faz da teologia uma um a atividade atividade subver subversiv siva, a, ao propo p roporr mum udanças fundamentais nos esquemas em que vivemos. vivemos. Eternamente insatisfeita, permanentemente crítica, a teologia é o terror dos tiranos, o cansaço dos cientistas e uma ameaça para todos os sistemas, inclusive os religiosos. A teologia praticada praticada no nosso século século é inadequada inadeq uada e inconsisinconsistente, tanto na forma como no conteúdo. Ela é insuficiente na forma por não rejeitar a realidade tal como se apresenta, não revolver essa mesma realidade com os instrumentos científicos de análise e não demonstrar (ou demonstrar apenas parcialmente) o mistério de Deus na história. Um exemplo exemplo disso é o mod m odo o como com o a Igreja aborda a si si mesma e à cidade. A Igreja percebe a cidade como fruto de um processo histórico contínuo e como uma extensão geográfica do campo, ou seja, algo perfeitamente natural e harmônico. Isso significa
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que a Igreja não sabe observá-la. A cidade atual representa uma descontinuidade, fruto de uma ruptura histórica e geográfica. A urbanização nos países do Terceiro Mundo acontece tão rapida mente que as cidades se transformam num câncer histórico não planejado, chegando mesmo a se assemelhar visualmente a um tumor cancerígeno: A imagem histológica das células tumorais, completamente uniformes e pobres em estruturas, tem semelhança desesperadora com a fotografia aérea de um subúrbio mo derno, com suas casas padronizadas projetadas por arqui tetos desprovidos de uma real cultura, fruto da concor rência apressada.5 O discurso da Igreja, exposto em suas liturgias, sermões e hinos, transmite uma falsa idéia de convivência fraterna entre a cidade e o campo. Há entre o mundo rural e o urbano um fosso geográfico que se traduz num abismo cultural cada vez maior. Esse abismo, não captado pela Igreja, impede-a de perceber as suas próprias contradições e inadequações. A reflexão teológica da Igreja acerca de si mesma reflete a sua própria situação formal e interfere na percepção da realidade circundante. Na verdade, a Igreja elabora sua auto-imagem a partir de de suas estruturas estruturas e imagina imagin a o mun m undo do a partir partir de sua autoimagem. Assim como sua estrutura é fracionada, sua teologia é denominacional e fragmentária. Por não experimentar uma uni dade formal, ela não se vê como uma única Igreja, nem trata a cidade como um todo complexo, mas como uma série de peda ços separados e estanques. Torna-se cada vez mais evidente o fato de que uma teologia denominacionalista, e, portanto fragmentária, não resolve defi nitivamente as questões do cristão que vive nas cidades. Uma das características principais da cidade é a facilidade de acesso e uma das característic características as da igreja é a sua diversidade diversidade de formas e modelos.
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O cristão urbano está em contato permanente com várias expressões da igreja e com irmãos de diferentes igrejas. Desse modo, ele tem experimentado na prática a realidade de uma única Igreja, porém poré m na igreja local local procuram procura m ensiná-lo ensiná-lo a celebr celebrar ar as divisões. É preciso muito discurso para fazer o recém-convertido entender que ele é diferente dos irmãos de outras igrejas. O discipulado da fragmentação fragmentação tem tomado tom ado o lugar lugar do discipulado discipulado da unidade. A unidade é a forma da Igreja dada pela revelação bíblica; a fragmentação fragmen tação é a forma form a que a realida realidade de dá a Igreja. Igreja. Um U m a teologia que aceita essa realidade sem revolvê-la e sem descobrir o misté rio da unidade que está além de toda aparência é impotente para servir à igreja e falha em sua reflexão, por fazê-la parcial e fracionadamente. Conseqüentemente, a estrutura divisionista da Igreja se mantém contra toda a realidade teológica, resultando em permanente tensão. O conteúdo de nossa reflexão teológica se relaciona muito mais a uma teologia de classe média do que a uma teologia bíblica. O Deus que apresentamos nos púlpitos de nossas igrejas é um Deus que não se posiciona e um Cristo que não toma tom a partido. Esse tipo de pregação mantém m antém as igreja igrejass omissas e passa ao largo das questões que afligem a cidade. N u m a visit visitaa a um irmão, recém-conver recém-convertido tido,, morado m oradorr de uma das favela favelass próximas próxima s a nossa igreja, igreja, ouvimos ouvi mos esta história história exemplar exemplar:: Ao entregar um quilo de carne na casa de um deputado, um açougueiro avistou avistou a mesa posta para o café café da manhã, com tudo que podia imaginar. — M esa farta farta,, doutor! doutor! — disse disse o açougueir açougueiro. o. — Graças Graças a Deus! Deus! — excla exclamou mou o deputad deputado. o. — É, doutor — repli replicou cou o açouguei açougueiro ro — , o Deus De us do rico rico não é o mesmo Deus do pobre. Na minha casa, quando tem pão
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falta manteiga e quando tem manteiga, falta pão. Por isso, doutor, o Deus do rico não pode ser o mesmo Deus do pobre. A teologia teologia bíblica bíblica nos apresent apresentaa um Deus De us que toma partido e um Jesus Jesu s Cristo C risto que se env envolv olvee ativamente com a realidade realidade que o cerca. A face distintiva de Javé, no Antigo Testamento, é a sua justiç jus tiça, a, qu quee o faz tom to m ar o parti pa rtido do do pobre, pob re, do opri op rim m ido id o e do marginalizado. Muitas vezes esse Deus bíblico faz ressoar a sua voz na cidade e age claramente ali, apesar da Igreja e de sua teologia. Sempre que surge uma reivindicação, um clamor ou uma luta na cidade, Deus está presente, não para apaziguar os ânimos ou acomodar as coisas, mas para tomar o partido dos injustiçados, dos empobrecidos e espoliados. Por isso a participação da Igreja em clamar por justiça é uma tarefa essencial; quando isso não acontece a Igreja peca por omissão. De modo semelhante, o Jesus da Bíblia é diferente do Cristo dos púlpitos. O Novo Nov o Testamento Testamento nos apresent apresentaa um Jesus que se compadece e se envolve com as pessoas, que enfrenta e confronta. Sua Su a posição é clarament claramentee favorável favorável ao pobre, pobre, ao oprimid opr imidoo e ao marginalizado, contra o rico e o opressor. Qualquer leitura clara dos evangelhos nos apresenta a figura de Jesus tomando o partido dos pequeninos e sendo visto com desconfiança pelos poderosos e dominadores, muitas vezes confrontados por ele duramente. Sem dúvida alguma, nós refletimos no púlpito a cisão artificial entre o Cristo da fé e o Jesus da história, provocando assim um abismo entre fé e vida, fé e história. Nada é mais evidente na cidade do que uma igreja que não se envolve com ela, e nada é mais evidente na Bíblia do que um Jesus envolvido, participando ativamente de sua época e história. A Igreja precisa assumir imediatamente o Deus e o Jesus dos pobres, a fim de servir mais claramente à cidade. É bom lembrar que, ao tomar o partido dos pobres, Jesus não os
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santifica automaticamente, só por serem pobres. Eles também precisam de redenção. Jesus se coloca como médico, o agente transformador de suas vidas. Tanto o rico como o pobre são pe cadores; mas ma s este último, últim o, além de pecador, é carente carente e vítima de injustiça, opressão e discriminação. Apresentar o Deus bíblico e o Jesus histórico como Deus dos pobres e Messias dos pobres não significa que eles estão excluídos da evangelização. Pelo con trário, os pobres devem ser os primeiros a receber a boa notícia da transformação radica radicall das pessoas e da história atravé atravéss do evan evan gelho do Reino de Deus.
Tirando o paletó e a gravata U m a das questões que tanto tanto o pastor como com o a Igreja que ser servem vem à cidade precisam considerar é quanto ao estilo estilo de vida. vida. Se adotar adotar mos como postura teologicamente verdadeira que o Deus que pregamos é o Deus dos pobres e que Jesus é o Messias dos po bres, bres, então a Igreja e, e, por p or conseguinte, cons eguinte, seus pastores, devem existi existirr em função dos pobres. Constitui Con stitui um escândal escândalo o o fato de a Igreja Igreja não ser a festa dos pobres na celebração da salvação em Jesus Cristo e na superação da pobreza, fruto de injustiça e opressão. A imagem do pastor é representada pelo uso de paletó e gra vata, vestes que indicam uma série de identificações e uma alie nação teológica. Ao vestir o paletó (numa cidade quente como Maceió), o pastor está adotando um estilo de roupa estrangeira, que o identifica com uma cultura estranha. Trata-se também de uma roupa cara, o que o identifica com a classe dominante, e uma roupa distintiva, o que o identifica com uma teologia clerical. Esse costume é tão arraigado em nossas igrejas que muitas são duramente criticadas por seus pastores deixarem de usar paletó e gravata gravata.. Porém Porém a quebra queb ra desse desse símbolo símb olo constitui uma
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verdadeira libertação para muitos pastores, principalmente nas cidades quentes do Nordeste. O ato de tirar o paletó e a gravata é uma tarefa que conduz a uma progressiva identificação da Igreja com a cidade e com seu povo, especialmente com os mais pobres. Esse processo, que te ologicamente chamamos de encarnação, processa-se primeiro interiormente, interiormente, mas deve ser ser exteriorizado exteriorizado para pa ra se tornar cada ca da vez vez mais eficaz. Em outras palavras, a identificação deve ocorrer prioritariamente no ser, mas ser, mas com desdobramentos inevitáveis no agir e agir e no ter. Nessa linha de reflexão, é bom lembrar que a pobreza não é um bem. Ao contrário, ela é um mal, e ao tomar o partido do pobre, Deus está lutando contra a pobreza, suas causas e conseqüências. A fartura, a opulência, o luxo e o excesso, só constitu em escândalo diante da pobreza, da miséria e da escassez. Isso coloca além da questão do ter, u ter, as questões do tenho enho p a r a que o que ou p ara ar a quem. A identificação com os pobres através da adoção de um estilo de vida mais simples não significa a busca pela pobreza, mas a busca da missão e da solidariedade. Sobre isto, vejamos as pala vras de Júlio de Santa Ana, aplicadas a determinados cristãos: Não foram pessoas que buscaram a pobreza material por que nela houvesse características de virtude, mas também não se sentiram grandes ou elevados espiritualmente. Fo ram, antes, pobres dispostos a partilhar com outros o pouco que tinham (e, portanto, estavam prontos ao exercício da caridade fraterna), não tornando motivo de orgulho sua condição humilde, mas também não sendo ávidos de ri quezas. Na realidade, sua pobreza era correlativa a uma esperança total e absoluta em Deus e se manifestava numa disponibilidade sem limites diante do Senhor.6 Ao buscar uma identificação com os pobres colocando-se a favor deles, a Igreja inicia um diálogo inevitável com os
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movimentos populares. Ali, onde se busca a justiça de forma organizada e insistente, se faz necessária a presença cristã como sal e luz. Como pastor, estivemos em contato com alguns desses movimentos: o Movimento dos Sem-Terra, o Movimento dos Sem-Teto e o Movimento dos Meninos de Rua. Em algumas ocasiões, estivemos na iminência de conflitos, chegando a pôr em risco nossa integridade física ao tomar parte no cordão hu mano de isolamento, cercado pela polícia fortemente armada. Graças a Deus, o conflito foi superado. N ossa os sa igreja igreja mantém um projeto com meninos m eninos de rua, rua, o Pro jeto jet o Camin Ca minhar har,, abrigan abr igando do em suas dependência depen dênciass pelo meno me noss vinte crianças retiradas das ruas. Esse trabalho tem dado sentido e significado às nossas vidas, como indivíduos e como igreja, ape sar das dificuldades e tensões da caminhada.
A roda grande giran gi rando do dentro dentr o da roda pequena peq uena Certa vez um homem simples, do campo, contou-me que quando era pequeno sempre ouvia seu pai repetindo uma fra se: “Vai vir um dia em que a roda grande vai girar dentro da roda pequena”. Na época ele não entendia o que aquilo que ria dizer, mas depois de adulto, compreendeu o significado daquelas palavras. A roda grande era o custo de vida e a roda pequena o salário! Tomemos emprestada essa frase da sabedoria popular para refletir sobre o momento atual, no qual a gigantesca roda do Espírito de Deus D eus está está girando dentro da pequenina roda de nos sos conceitos, vidas e estruturas limitadas. A Palavra de Deus nos diz que o Espírito Santo está soprando em nossas vidas, na vida da Igreja e na história. Somos o templo do Espírito. Nos N osso so corpo é a pequenina roda onde gira a grande grande roda do Espírito; a Igreja é o santuário de Deus e corpo de Cristo, mais uma roda pequena onde o Espírito de Deus gira;
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a última roda é a própria história, com suas contradições e limitações. Uma das primeiras implicações dessa verdade é o fato de que o Espírito de Deus tem agido intensamente na cidade-síntese de Maceió. A Igreja como com o um todo e individual individualmente, mente, em cada um de seus membros, tem sido ao mesmo tempo instrumento e limite dessa ação. Isso é visível na própria estrutura da Igreja atual, nitidamente litúrgica, literária e fragmentária, que impõe barreiras à ação do Espírito. O templo, além de ter uma estrutu ra rígida e localizável, santifica o lugar onde está situado, exau rindo a ênfase neotestamentária da santidade pessoal. Ao deixar de lado o templo, a Igreja transfere a ênfase dada aos lugares e edifícios para pessoas e vidas. As pessoas é que são santas, e não os edifícios ou lugares. Lugares santos criam uma descontinuidade na estrutura da cidade, além de tornarem a experiência e a igreja cristã localizáve localizáveis. is. Para perder perd er esse conceito conc eito de sagrado, o templo precisaria ser abolido ou usado de forma mais eclética. Talvez com isso a santificação voltasse a ser um processo total e pessoal, em vez de parcial e geográfico. Além disso, sem um lugar fixo para se reunir, a Igreja se tornaria mais enérgica e movimentada. A liturgia é a celebração da vida da Igreja. Porém, em muitas igrejas ela é a própria vida da igreja, existindo em formas crista lizadas e vazias de conteúdo. A presença de símbolos nos cultos nos estimula a um encontro restaurador com Deus e com os irmãos. Porém, se esse encontro só acontece nos momentos litúrgicos e os símbolos estão separados da realidade, o culto passa a ser apenas um ritual vazio e inútil, perdendo seu verda deiro deiro signific significado ado.. Quan Qu ando do “ Deus” Deu s”,, “comunhão”, “comunhão” , “missão” “missão” e “amor” “amor” perdem seu verdadeiro sentido e se tornam meras palavras, sím bolos ou canções, o culto deixa de existir de fato e se transforma numa peça teatral, de boa ou má qualidade.
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Um outro fator que limita a ação do Espírito é a estrutura literár literária ia do ensino nas igrejas igrejas.. Som So m os cada vez vez mais uma um a geração geração que não lê, marcada pela influência do vídeo e do computador. A situação é ainda mais grave na cidade de Maceió, onde a maioria da população é analfabeta. Uma Igreja que deseja fazer discípulos de Jesus em todos os segmentos da sociedade precisa reformular urgentemente o seu sistema de ensino. Poderia começar pesquisando os métodos de ensino mais adequados para as camadas mais pobres e quais os meios de comunicação disponíveis, do vídeo ao teatro de fantoches. Mas a maior limitação para a ação do Espírito é, sem dúvida, de natureza teológica. Para que o Espírito possa agir livremente nas cidades, a Igreja precisa adotar adot ar uma um a teologia teolog ia integral integral (holísti (holística) ca) que integre in tegre oração e ação, evangelização evangelização e reflexão reflexão teológica, missão mis são e cultura, fé e justiça, amor e verdade. Uma teologia fragmentária produz uma Igreja anêmica diante de uma cidade enferma, uma Igreja incapaz de curar as feridas e de promover saúde. De acordo com Harvey Cox: “Seja “Se ja qual for o caso, caso, a tarefa tarefa da Igrej Igrejaa na cidade secular é a de ser
diácono da
cidade, a serva que se
submete à luta pela sua integridade e saúde”.7 Por tudo isso, a Igreja é a roda pequena dentro da qual a roda grande do Espírito procura girar com a maior liberdade possível. U m fato ocorrido com um jovem univer universit sitári ário o é um bom exemexemplo dessa barreira à ação de Deus. Certa ocasião, um jovem estudante universitário me procurou para estudarmos a Bíblia juntos. Começamos a estudar o Novo Testamento, mas depois de certo tempo, as circunstâncias impediram que continuássemos a nos encontrar. Porém, o rapaz continuou a estudar sozinho o Novo Testamento. Passados alguns meses, nós nos encontramo en contramos, s, e ele ele me contou con tou que estava estava fascinafascinado pela leitura. Já havia lido os quatro Evangelhos, de forma pausada e meditativa, e repetido três vezes a leitura de Mateus
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para entender melhor seu conteúdo. Falou também do seu interesse pelas Escrituras e de como havia quebrado seus preconceitos em relação a Jesus. Porém, ele me confessou claramente que não se sentia atraído pela igreja, tal como a conhecia. Isso me fez pensar que a roda grande do Espírito tem girado na cidade de Maceió, mas a roda pequena da igre ja j a tem te m lhe tolh to lhid idoo a ef eficá icácia cia!! A hora e a vez do ju jum m en ento to
O jumentinho caminha pela avenida, sonhando em provocar a mesma comoção que um companheiro seu havia causado dois mil anos atrás, na cidade de Jerusalém. Seu desejo é oferecer o lombo e as rédeas ao mesmo Jesus da Palestina, para que ele entre de maneira triunfante na cidade-síntese de Maceió. Para isso, pretende desenvolver algumas estratégias: 3
Reunir todos os jumentos jumen tos da da cidad cidade, e, com suas suas carr carroç oças as,, para juntos refletirem sobre a cidade. E preciso deixar claro que a reflexão é tarefa de todos e não somente da Igreja.
O
Organizar Organizar juntamente com os outros jumentos, eclesiásticos e não-eclesiásticos (os movimentos populares), uma grande passeata pela principal avenida da cidade. É através da participação e do serviço que o pastor e a Igreja encontram o seu lugar na cidade.
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Faze Fazerr um balanço balanço do que está está dentro dentro da carroça carroça e jogar fora tudo que não tem utilidade. Livrar-se do paletó, da gravata e do púlpito, substituindo-os por aparelhos de vídeo e computador. Não é fácil decidir o que comprar e o que jogar fora, no entanto, sabemos que a Igreja tem sido beneficiada ao se desfazer de todos os seus símbolos de dominação e alienação. Paralelamente, a utilização
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adequada de instrumentos técnicos pode ajudar a Igreja a cumprir sua missão. Usar instrumentos musicais mais modernos, como batería e guitarra elétrica, mas sem deixar de lado o pandeiro, a viola e o acordeão. A música na igreja deve refletir tanto o universal e contemporâneo quanto o regional e tradicional. O
Trafegar Trafegar mais pelas favela favelass e menos meno s pelas avenidas. avenidas. A Igreja deve dar prioridade aos pobres, por razões estratégicas e por razões teológicas.
O
Proclamar Proclama r sempre, dia e noite e em todo to do lugar, lugar, a mensagem do evangelho, para que todos ouçam a voz de Deus. De us. A palavra da Igreja — palavra evange evangelizad lizadora, ora, disciplinadora disciplinadora e profética profética — precisa precisa ser ser difundida difun dida de forma constante e ininterrupta.
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