As Cidades Na Economia Global Saskia Sassen

As Cidades na Economia Global Saskia Sassen O potencial de dispersão que aparece com a globalização e a telemática - a transferncia de fábricas para o e!terior" a e!pansão das redes globais de filiais e subsidiárias" a mudança das unidades de apoio administrati#o para os sub$rbios e para fora dos centros urbanos - le#aram muitos obser#adores a afirmar que as cidades se tornariam obsoletas neste conte!to econ%mico& 'e fato" muitos dos antigos grandes centros industriais dos pa(ses altamente desen#ol#idos sofreram um acentuado decl(nio& )or*m" contrariando todas as pre#is+es" um n$mero significati#o de grandes cidades tamb*m #iu ele#arse a concentração de seu poder econ%mico& Enquan Enquanto to o decl( decl(nio nio dos centro centross indust industria riais is decorre decorrente nte da intern internaci aciona onaliz lizaç ação ão da produç produção ão iniciada nos anos , foi amplamente documentado e e!plicado" at* recentemente não se podia dizer o mesmo da ascensão das grandes cidades de ser#iços nos anos .& /o0e" 0á possu(mos uma no#a e rica cultura" repleta de debates e di#ergncias" sobre as cidades na economia global& O que e!plica esse papel no#o ou radicalmente ampliado de um tipo particular de cidade na economia mundial desde o in(cio dos anos .1 Ele resulta basicamente da interseção de dois grandes  processos& O primeiro * o agudo crescimento da globalização da ati#idade econ%mica" que aumentou a escala e a comple!idade das transaç+es" estimulando desta forma o crescimento das funç+es de comando das matrizes de multinacionais de primeira lin2a e o incremento da prestação de ser#iços 3s empresas" em especial os ser#iços empresariais a#ançados& O segundo * a intensidade crescente dos ser#iços na organização da economia" processo e#idente em empresas de todos os setores industriais" da mineração 3s finanças& O processo c2a#e desde a perspecti#a da economia urbana * a demanda crescente de ser#iços por   parte de empresas de todos os setores da ind$stria e o fato de que as cidades são os locais preferenciais  para produção desses ser#iços" a n(#el global" nacional e regional& A crescente intensidade dos ser#iços na organização econ%mica em geral" assim como as condiç+es espec(ficas da produção de ser#iços empresariais a#ançados" incluindo aquelas em que as tecnologias de informação estão dispon(#eis" se combinam para tornar certas cidades" uma #ez mais" locais c2a#e de 4produção5" papel que perderam quando a manufatura em massa se tornou o setor econ%mico dominante& Essas são as cidades globais" ou cidades mundiais" foco de uma no#a literatura t*cnica& 6uantas são" sua 2ierarquia #ariá#el e o que representam em termos de no#os desen#ol#imentos são temas de discussão& 7as e!iste um crescente acordo sobre o fato de que algumas grandes cidades do 8orte e do Sul formam uma rede de centros de coordenação" coordenação" controle e prestação de ser#iços para o capital global&

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Em resumo" a combinação de dispersão geográfica das ati#idades econ%micas com a integração sistmica que 0az no coração da *poca econ%mica atual contribuiu para a reno#ação e a ampliação das funç+es centrais: e a comple!idade das transaç+es ele#ou a demanda das empresas por ser#iços altamente especializados& Ao in#*s de se tornarem obsoletas com a dispersão propiciada pelas tecnologias da informação" as cidades passaram a concentrar funç+es de comando" se tornaram locais de produção p;sindustrial para as empresas de ponta deste per(odo" se0am financeiras e de ser#iços especializados" e mercados transnacionais onde empresas e go#ernos podem se utilizar dos produtos e ser#iços do mercado financeiro e contratar ser#iços especializados& Esse enfoque nos permite conceber a globalização como constitu(da por uma rede global de lugares estrat*gicos que emergem com uma no#a geografia de centralidade& A no#a economia urbana  8ão se está dizendo que tudo na economia dessas cidades mudou& Ao contrário e!iste muita continuidade e muita similaridade com as cidades que não são nodos globais& Os altos preços e os altos n(#eis de apro#eitamento do setor internacionalizado e de suas ati#idades subsidiárias" como restaurantes e 2ot*is" por e!emplo" tornaram cada #ez mais dif(cil" nos anos ." a competição de outros setores por  espaço e in#estimentos& uenos Aires" >angkok" ?aipei" Cidade do 7*!ico são apenas alguns e!emplos& Cruciais para o desen#ol#imento desses no#os n$cleos nessas cidades foram tamb*m a desregulamentação dos mercados financeiros" o aumento dos ser#iços financeiros e dos ser#iços especializados" a integração aos mercados mundiais" a especulação imobiliária e a gentrificação comercial e residencial de alta renda& A abertura dos mercados de aç+es a in#estidores estrangeiros e a pri#atização das empresas de ser#iços p$blicos constitu(ram arenas institucionais fundamentais para essa articulação& Considerando o enorme taman2o de algumas cidades" o impacto desse no#o comple!o econ%mico nem sempre * tão e#idente como no centro de @ondres ou de rankfurt" mas a transformação de fato ocorreu& Acompan2ando as altas ta!as de crescimento dos ser#iços ao produtor B9" 2ou#e" ao longo dos anos ." um aumento do n(#el de especialização do emprego em neg;cios e ser#iços financeiros nas grandes cidades& E!iste 2o0e uma tendncia geral de forte concentração de empresas financeiras e de D

certos ser#iços ao produtor nos centros urbanos dos grandes centros financeiros internacionais de todo o mundo& 'e ?oronto e Sidnei a rankfurt e urique" #emos uma crescente especialização em administração financeira e ser#iços associados& Essas cidades emergiram como importantes prestadoras de ser#iços ligados 3 e!portação" com uma tendncia 3 especialização BD& 8o#a Forque e @ondres lideram em produção e e!portação de ser#iços financeiros" contabilidade" publicidade" consultoria de neg;cios" ser#iços 0ur(dicos internacionais e outros ser#iços em-presariais& 'e um total de D". mil2+es de empregos no setor pri#ado em 8o#a Forque em dezembro de 9H" quase 9"I mil2+es esta#am orientados  para a e!portação Bnacional e internacional& Cidades como 8o#a Forque estão entre os mais importantes mercados internacionais para esses ser#iços" sendo a primeira na e!portação de ser#iços& /á" por outro lado" tendncias de especialização entre diferentes cidades dentro de um mesmo  pa(s& 8os E
como medimos ou apenas contamos as sedes de empresas& reqNentemente a referncia usual * o taman2o da empresa em termos de emprego e receita total B& 8este caso" algumas das maiores empresas do mundo são" ainda" firmas manufatureiras e muitas delas tm sua sede nas pro!imidades de seu comple!o manufatureiro principal" impro#á#el de estar localizado numa grande cidade de#ido a restriç+es de espaço& ?ais empresas" no entanto" tm" pro#a#elmente" sedes secundárias para funç+es altamente especializadas nas principais cidades& Al*m disso" muitas empresas manufatureiras estão orientadas para o mercado nacional e não precisam estar localizadas em cidades& Se alteramos a medida" os resultados podem mudar radicalmente= no caso de 8o#a Forque" por e!emplo" P das empresas norte-americanas com metade de sua receita oriunda das #endas internacionais tm as suas sedes nesta cidade BH& Em segundo lugar" 2á o fator da natureza do sistema urbano do pa(s&
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Ambos os tipos de empresas precisam" no entanto" de um comple!o de ser#iços empresariais para se estabelecerem em determinado lugar& Onde este comple!o será localizado *" pro#a#elmente" cada #ez menos importante na perspecti#a de muitas sedes de grandes empresas" embora não de todas& 'o ponto de #ista das que prestam ser#iços ao produtor" um comple!o especializado deste tipo mais pro#a#elmente de#erá se localizar no n$cleo de uma cidade do que num parque de escrit;rios no sub$rbio& O sub$rbio será um lugar para empresas de ser#iços ao produtor mas não para um comple!o de ser#iços& E somente um tal comple!o * capaz de satisfazer as demandas empresariais mais a#ançadas e complicadas& E!iste" nos E
at* onde as formas de centralidade constitu(das no espaço eletr%nico podem c2egar na substituição de algumas das funç+es comumente associadas 3s formas organizacionaisQgeográficas da centralidade1 A topologia do e-space= cidades globais e cadeias globais de #alor  Esta no#a e #asta topografia econ%mica que #em sendo implementada por meio do espaço eletr%nico * um momento" um fragmento" de uma cadeia econ%mica ainda mais #asta que está em boa  parte embutida em espaços não-eletr%nicos& 8ão e!iste nen2uma firma totalmente #irtualizada nem nen2uma ind$stria totalmente digitalizada& 7esmo as mais a#ançadas ind$strias da informação" como a financeira" estão apenas parcialmente instaladas no espaço eletr%nico& O mesmo #ale para as que fabricam produtos digitais" como as de criação de softare& A crescente digitalização das ati#idades econ%micas não eliminou a necessidade de grandes centros financeiros e de neg;cios internacionais e nem dos recursos materiais que eles concentram e da infra-estrutura corrente de telemática ao talento intelectual& Como 0á dissemos" a telemática e a globalização emergiram como forças fundamentais que reconformam a organização do espaço econ%mico& A telemática ma!imiza o potencial de dispersão geográfica e a globalização imp+e uma l;gica econ%mica que ma!imiza a atrati#idadeQlucrati#idade dessa dispersão& A transformação dos correlati#os espaciais da centralidade por meio das no#as tecnologias e da globalização engendra uma problemática totalmente no#a em torno da definição do que constitui 2o0e a centralidade" em um sistema econ%mico onde parte das transaç+es se dá por meio de tecnologias que neutralizam distMncia e lugar" e o fazem em escala global& A centralidade materializou-se 2istoricamente em um certo tipo de ambiente constru(do e forma urbana" isto *" o distrito central de neg;cios& Al*m disso" a e!istncia de uma no#a geografia da centralidade" mesmo que transnacional" cont*m  possibilidades de imposição regulat;ria que estão ausentes em uma geografia econ%mica carente de  pontos estrat*gicos de aglomeração& Eis aqui duas s*ries de quest+es sobre as quais precisamos de mais pesquisa= 9 Os setores econ%micos de ponta altamente digitalizados requerem lugares estrat*gicos dotados de enormes concentraç+es de infra-estrutura" de mão-de-obra" de talentos e de edif(cios& Fsto #ale para o setor financeiro e para as ind$strias multim(dia que usam processos de produção digital e produzem  produtos digitalizados& 6ual o alcance e qual a e!pressão espacial da articulação entre os componentes organizacionais #irtuais e reais1 6uais as implicaç+es para o espaço urbano1 D As agudas desigualdades na distribuição da infra-estrutura do espaço eletr%nico" se0am redes  pri#adas de computadores ou a Fnternet" nas condiç+es de acesso ao pr;prio espaço eletr%nico" e" dentro ,

do espaço eletr%nico" nas condiç+es de acesso aos segmentos e aspectos altamente dinMmicos" contribuem todos para a formação de no#as geografias da centralidade" no espaço territorial e no espaço eletr%nico& O que isto significa para as cidades1 O lugar da manufatura na no#a economia de ser#iços Outro tema de pesquisa e debate * a relação entre a manufatura e o setor de ser#iços ao produtor  na economia urbana a#ançada& A no#a economia de ser#iços se beneficia da manufatura porque ela alimenta o crescimento do setor de ser#iços ao produtor" este0a este localizado em uma área particular" em outra região ou no e!terior& Enquanto a manufatura" a mineração e a agricultura" sob este aspecto" alimentam o crescimento da demanda por ser#iços ao produtor" sua efeti#a localização * de secundária im portMncia no caso de empresas de ser#iços de n(#el global= uma empresa manufatureira ter" portanto" sua fábrica no estrangeiro ou no pa(s de origem pode ser absolutamente irrele#ante desde que ela compre seus ser#iços daquelas firmas de primeira lin2a& Em segundo lugar" a dispersão territorial das fábricas" principalmente se internacional" aumenta a demanda por ser#iços ao produtor de#ido 3 crescente comple!idade das transaç+es& Este * ainda um outro significado da globalização= o de que o crescimento das empresas de ser#iços ao produtor sediadas em 8o#a Forque" @ondres ou )aris pode ser alimentado por manufaturas localizadas em qualquer lugar  do mundo se elas fizerem parte de uma rede empresarial multinacional& Tale lembrar aqui que" enquanto a General 7otors transferia a produção para o e!terior" de#astando a base de empregos de 'etroit" sua sede administrati#o-financeira e de relaç+es p$blicas" situada em 8o#a Forque" se apre-senta#a mais dinMmica e mais mo#imentada do que nunca& Em terceiro lugar" boa parte do setor de ser#iços ao produtor * alimentado por transaç+es financeiras e ne-g;cios que pouco ou nada tm a #er com a manufatura" como ocorre em muitos dos mercados financeiros globais ou para as quais a manufatura * incidental" como em boa parte da ati#idade de fus+es e incorporaç+es que está de fato centrada na ati#idade de compra e #enda em lugar da compra  propriamente dita de empresas manu-fatureiras& )recisamos de muito mais pesquisas sobre aspectos  particulares da relação entre o setor manufatureiro e o de ser#iços ao produtor" espe-cialmente em um conte!to de dispersão espacial e de organização transnacional da manufatura& ?amb*m relacionada com a questão da manufatura * a importMncia da infra-estrutura con#encional para a operação dos setores econ%micos que são fortes usuários da telemática& Este * um tema que tem merecido pouca atenção& A noção dominante parece ser a de que a telemática elimina a U

necessidade de infra-estrutura con#encional& 7as" * precisamente a natureza do processo de produção das ind$strias a#ançadas" quer elas operem 3 escala global ou nacional" que contribui para e!plicar o #ertiginoso aumento das #iagens a neg;cios" obser#adas em todas as economias a#ançadas durante a $ltima d*cada& O escrit;rio #irtual * uma opção muito mais limitada do que uma análise puramente tecnol;gica poderia sugerir& Certos tipos de ati#idades econ%micas podem ser dirigidas desde um escrit;rio #irtual localizado em qualquer lugar& 7as" para processos de trabal2o que requerem m$ltiplos insumos especializados" considerá#el ino#ação e tomada de riscos" a necessidade de interação direta com outras firmas e especialistas permanece um fator locacional c2a#e& 'a(" a metropolização e regionalização de um setor econ%mico terem fronteiras estabelecidas em função do tempo que se gasta em uma #iagem 3 principal ou principais cidades da região& A ironia da atual era eletr%nica * que a antiga noção de região e as antigas formas de infra-estrutura ressurgem como aspectos cr(ticos para setores c2a#e da economia& Este tipo de região diferencia-se" sob muitos aspectos" de outras formas de região& Ela corresponde a um no#o tipo de centralidade R uma rede metropolitana de nodos conectados #ia telemática& )ara que esta rede digital funcione" a infra-estrutura con#encional R idealmente do tipo mais a#ançado R * tamb*m uma necessidade&  8o#as formas de marginalidade e polarização Os no#os setores de crescimento" as no#as capacidades organizacionais das firmas e as no#as tecnologias R os trs interrelacionados R estão contribuindo para produzir não apenas uma no#a geografia da centralidade mas tamb*m uma no#a geografia da marginalidade& As e#idncias para os E
insumos" bens e ser#iços são #alorizados& Fsto tem produzido efeitos de#astadores sobre algumas localidades e ind$strias& 'esse modo" os salários dos especialistas em finanças e os lucros dos ser#iços financeiros dispararam nos anos . ao mesmo tempo que afunda#am os salários dos trabal2adores não qualificados e os lucros de muitas firmas manufatureiras tradicionais& A cidade global e o Estado nacional A globalização transformou o significado e os lugares do comando da economia& Algumas das  principais propriedades da fase atual na longa 2ist;ria da economia mundial são a ascensão das tecnologias da informação" o crescimento" a elas associado" da mobilidade e da liquidez do capital e o resultante decl(nio das capacidades regulat;rias dos Estados nacionais sobre setores c2a#es de suas economias&
ainda" outra dimensão desta triangulação& 7uitos pesquisadores estão e!plorando a transnacionalidade a  partir da base" um processo particularmente e#idente nas cidades globais& inalmente" 2á um debate atual sobre o retorno das cidades-estado" diante das condiç+es que caracterizam as cidades globais= forte articulação com mercados globais" m$ltiplas formas de transnacionalidade e articulação enfraquecida com a economia nacional e o estado nacional& Estas transformaç+es em aspectos c2a#es do Estado moderno e do a#ançado sistema inter-Estados assinalam uma abertura conceitual e prática para a inclusão de localidades que são estrat*gicas para a economia global e que contribuem para tornar triangular aquilo que um dia foi uma parceria a dois&

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