FACULDADE ADVENTISTA DA AMAZÔNIA SEMINÁRIO ADVENTISTA LATINO AMERICANO DE TEOLOGIA
DANIEL DOS SANTOS ALMEIDA DAVID LOPES BARROS ILOS MCROSWELL CANTÉ ALMEIDA IOHSHANAN ROGÉRIO ROCHA DA SILVA JURACY SOUZA DA SILVA LUCAS SEVERINO DOS SANTOS SILVANO MARTINS DE QUEIROZ
TEORIA DOS ATOS DA FALA (John Austin)
Benevides 2012
DANIEL DOS SANTOS ALMEIDA DAVID LOPES BARROS ILOS MCROSWELL CANTÉ ALMEIDA IOHSHANAN ROGÉRIO ROCHA DA SILVA JURACY SOUZA DA SILVA LUCAS SEVERINO DOS SANTOS SILVANO MARTINS DE QUEIROZ
TEORIA DOS ATOS DA FALA (John Austin)
Trabalho escrito como requisito avaliativo parcial da disciplina de Português Instrumental da Faculdade Adventista da Amazônia/SALT - Seminário Adventista Latino Americano de Teologia. Orientador (a): Profª Maria Célia
Benevides 2012
Teoria dos Atos de Fala Introdução A filosofia da linguagem é uma das principais áreas da filosofia contemporânea. É essa corrente que é responsável pelos estudos dos fenômenos lingüísticos e como a linguagem interagem como o mundo. Todos nós usamos a linguagem e a aprendemos espontaneamente com a simples observação dos falantes que nos cercam. Dentro dessa corrente foram criadas várias teorias que tentam compreender como a linguagem (sistema de signos) tem papel fundamental na comunicação do homem. Como exemplos, temos: os jogos de linguagem (Wittgenstein), a teoria da ação comunicativa (Habermas), a Teoria dos Atos de Fala (Austin) que será o tema examinado neste trabalho. A Teoria dos Atos de Fala foi proposta inicialmente por Austin (1962), que ao longo de doze conferências tece uma série de reflexões a respeito de como é possível, ao dizer coisas, praticar ações. Ele destacou a performatividade da linguagem como um todo, significando que a linguagem não se presta apenas a dizer, mas a propiciar a ação no mundo. Conforme o autor, não basta proferir certas palavras para realizar os atos de fala. Antes, determinadas condições, as quais denomina condições de felicidade, necessitam ser atendidas para que o ato de fala seja bem-sucedido. Concretamente, é necessário que a) exista um procedimento convencionalmente aceito e as pessoas envolvidas sejam adequadas para realizá-lo; b) o procedimento seja realizado correta e completamente; c) as pessoas envolvidas tenham pensamentos e sentimentos sinceros e intenção de se manter com a conduta. O filósofo dá diferentes pesos às regras quebradas: ao violar as condições a e b, tem-se os desacertos, em que o ato se torna nulo ou vazio; ao violar a condição c, tem-se os abusos, que são as insinceridades (cf. AUSTIN, [1962] 1990, p. 31-32). Além disso, conforme explica Levinson (2007, p. 300), Austin aponta três dimensões do ato de fala, que ocorrem simultaneamente: a) o ato locucionário: a enunciação de uma sentença com sentido e referência determinados; b) o ato ilocucionário: o ato de realizar uma ação ao enunciar uma sentença, em virtude da força convencional associada a ela; c) o ato perlocucionário: o ato de causar efeitos no público por meio da enunciação da sentença.
Além disso, Austin distingue cinco classes gerais de verbos e os classifica de acordo com sua força ilocucionária: a) vereditivos: constituem uma estimativa, um cálculo, uma apreciação; b) exercitivos: consistem no exercício de poderes, direitos ou influências; c) comissivos: caracterizam-se por prometer ou assumir algo; d) comportamentais: grupo heterogêneo que está relacionado com atitudes e comportamento social; e) expositivos: esclarecem o modo como os proferimentos se encaixam no curso de uma argumentação ou conversa. Ao romper com o quadro epistemológico vigente na Filosofia da Linguagem, Austin abre espaço para o surgimento de diferentes perspectivas. Sua teoria influenciou a perspectiva de Grice a respeito das implicaturas conversacionais e, mais recentemente, as abordagens de estudo da enunciação. Segundo afirma Rajagopalan (1996, p. 112), “Austin era no mínimo um problematizador” e, embora
muitas vezes ele não seja compreendido em sua essência e seja muito criticado, sua contribuição é inegável na medida em que considera o contexto e o uso da linguagem para fins de análise.
DESENVOLVIMENTO Austin chama a atenção para os limites de uma abordagem que considere que as frases produzidas em uma língua qualquer sejam formas de representação da realidade e que possam ser avaliadas simplesmente como verdadeiras ou falsas. Ele mostra que um grande número de frases produzidas usualmente pelos falantes não fazem representações do mundo, mas são formas pelas quais os falantes realizam determinadas ações. A formulação de Austin foi posteriormente retomada por outro filósofo britânico, John R. Searle, no livro Speech Acts: an essay in the philosophy oflanguage (Atos de fala: um ensaio de filosofia da Iinguagem)3, obra na qual aprofundou o tratamento dos atas de fala, sobretudo pela discussão das conseqüências que a produção de determinados tipos de sentença desencadeia. Antes desses estudos, os enunciados eram tomados como afirmações sobre um determinado estado de coisas. Por exemplo, uma afirmação como (1) é uma forma de representação de um determinado mundo (seja real ou não) e será considerada verdadeira se corresponder ao que acontece nesse mundo: (1) O gato subiu no telhado.
Uma frase como essa contém tipicamente a representação de elementos do mundo. Há seres (gato, telhado) e um desses seres (o gato) executa uma determinada ação (subir) que afeta o outro ser (o telhado). O falante que enuncia essa frase representa lingüisticamente um evento (o gato subiu no telhado) e sua frase será verdadeira se o gato tiver efetivamente subido no telhado no mundo representado, caso contrário, será falsa. Mas nas interações correntes entre os falantes, há vários tipos de proposições que não se restringem a uma representação de situações do mundo. Para iniciar a discussão, observe os seguintes enunciados: (2) Pedro continua solteiro. (3) Pedro continua solteiro? (4) Pedro, continue solteiro! (5) Tomara que Pedro continue solteiro.
Considerando que um falante use esses enunciados em contextos apropria dos, podemos observar que há diferenças entre o tipo de ação que ele realiza em cada caso. Na frase (2), há uma asserção, uma afirmação sobre determinado
estado de coisas, análoga ao exemplo (1) comentado acima. Já ao enunciar a frase (3), o falante não faz uma afirmação (verdadeira ou falsa) sobre a realidade, mas formula uma pergunta. Ao enunciar a frase (4), ele faz um pedido, dá uma ordem, faz uma sugestão. Na frase (5) manifesta uma vontade. Esses exemplos simples mostram que, ao falar, os indivíduos executam atos diversos, esses atos são chamados de atos ilocucionários por Austin e Searle. Os exemplos anteriores (1) a (5) seriam representativos de alguns desses atas: afirmar, perguntar, pedir, manifestar um desejo. Além dos que foram exemplificados, poderíamos identificar vários outros. Searle aponta os seguintes: afirmar, descrever, advertir, observar, comentar, solicitar, ordenar, pedir, criticar, pedir desculpas, censurar, aprovar, cumprimentar, prometer, contrapor-se, exigir, alegar. Além desses, basta pensar um pouco para aumentar bastante a lista. Sintetizando, podemos adotar a seguinte conceituação de atos de fala: Ato de fala (speeeh oer) - uma tentativa de fazer alguma coisa simplesmente falando. Uma quantidade de coisas que podemos fazer, ou tentar fazer, apenas falando. Podemos fazer uma promessa ou uma pergunta, ordenar ou exigir que alguém faça alguma coisa, fazer uma ameaça, dar nome a um navio, declarar duas pessoas marido e mulher, e assim por diante. Cada uma dessas coisas é um ato de falo específico. É interessante observar que a definição de Trask não caracteriza os atas de fala como fazer alguma coisa simplesmente falando mas como uma tentativa de fazer alguma coisa simplesmente falando. O que ele procura destacar com essa definição é que não basta alguém fazer um pedido, dar uma ordem, dizer que alguém está nomeado ou demitido. Para tanto são necessárias várias condições relacionadas às circunstâncias em que a frase é produzida e aos interlocutores. Tomemos a conhecida frase usada nas cerimônias de casamento: "Eu vos declaro marido e mulher". Esse enunciado tem o poder de transformar o estatuto da relação entre duas pessoas, alterando substancialmente os direitos e deveres entre os noivos e do novo casal perante a sociedade. No entanto, para que a frase produza tais resultados, é necessário que ela seja pronunciada por alguém investido da autoridade para tal, um padre no interior de uma cerimónia religiosa altamente convencional, é necessário também que seja precedida da concordância explícita
dos noivos em aceitar as condições do estatuto de casados que passarão a assumir daí em diante. As condições específicas que tornam válido um ato de fala sáo chamadas de condições de felicidade. define nos seguintes termos as condições de felicidade: Na maior parte dos casos, não faz sentido perguntar se um enunciado que constitui um ato de fala é verdadeiro ou falso. Enunciados como Arrume seu quarto; VoeI! me emprestaria uma caneta; Prometo comprar um ursinho de pelúcia para vocé; e eu vos nomeio cavaleiro, dom Eurico não têm valor de verdade, mas podem ser mais ou menos adequados às circunstancias ou, como também se diz, podem ser mais ou menos felizes. Um enunciado como "Arrume seu quarto!" é um enunciado infeliz se a pessoa não tiver autoridade sobre a outra, e um enunciado como "Eu vos declaro marido e mulher" não surte efeito a menos que tenham sido preenchidas uma série de condições. Assim como se diz que os enunciados podem ser mais ou menos felizes, as condições exigidas para que um ato de fala tenha sucesso são freqüentemente chamadas condições de felicidade. O conceito de atos de fala é muito interessante e esclarece o funcionamento de aspectos relevantes do uso da linguagem. No entanto, a incorporação desse conceito para os estudos lingüísticos traz uma série de dificuldades. Uma é a complexidade inerente à interpretação do conjunto de condições necessárias para a realização de qualquer ato de fala. Além da complexidade da interpretação das condições de felicidade, estas apresentam diferenças consideráveis entre uma cultura e outra. Outra dificuldade encontrada no uso dos atos de fala é a ausência de uma correspondência regular entre as formas lingüísticas e os atos de fala que realizam. Observe o enunciado (6): (6) Você tem horas? Embora esse enunciado tenha a forma de uma pergunta, o falante está fazendo um pedido, tanto que se a resposta for simplesmente "Tenho" esta será considerada uma resposta inadequada e não cooperativa. Suponha que o gerente de uma empresa faça a seguinte pergunta a um funcionário: (7) Você poderia trazer o relatório de custos do último mês? É evidente que o ato de fala realizado não é uma pergunta. Considerando a relação hierárquica entre o gerente e o funcionário e o contexto de trabalho em que
a pergunta foi feita, ela é interpretada como uma ordem. Se a mesma pergunta fosse feita por um colega de trabalho, ela seria interpretada como um pedido. Essas dificuldades de interpretação e a necessidade de uma análise cuidadosa das circunstâncias em que cada enunciado é produzido tornam pouco produtivo o uso da teoria dos atas de fala para as análises lingüísticas. As enunciações performativas Conforme Austin (1970, p. 40) aponta, é possível reconhecer em qualquer língua casos em que a enunciação de certas frases corresponde à realização de ações. Veja alguns exemplos: (8) Eu batizo este barco com o nome de Rainha Elizabeth. (9) Deixo para meu irmão a coleção de discos dos Beatles. (10) Por este instrumento de procuração, nomeio José da Silva meu representante junto à Receita Federal.
Os verbos utilizados nesses exemplos têm a propriedade de realizarem ações, por isso foram chamados por Austin de performativos. Como se faz uma promessa? Dizendo "eu prometo': Como se faz uma nomeação? Dizendo "eu nomeio" Mas não é qualquer uso do verbo prometer que constitui o ato ilocucionário de fazer uma promessa. Para tanto, é necessário que a forma seja usada na primeira pessoa, no tempo presente e na voz ativa (AUSTIN, 1970, p. 26). Caso contrário, o enunciado que contêm esse verbo passará a ser um enunciado comum, que faz a representação de um evento ocorrido no mundo. Compare as frases (8) a (7) com as correspondentes (8') a (10): (8') Pedro batizou o barco com o nome de Rainha Elizabeth. (9') Cláudia deixou para seu irmão a coleção de discos dos Beatles. (10) Fernando da Silva nomeou José da Silva seu representante junto à Receita Federal.
Esses exemplos confirmam o que afirmamos anteriormente: a análise dos atos de fala deve levarem conta tanto as formas lingüísticas empregadas quanto um conjunto de condições adicionais; ou seja, a realização dos atas de fala leva em conta, por um lado, a escolha de determinadas formas lingüísticas e, por outro, as condições pragmáticas do seu uso. ~ o atendimento das condições de felicidade que faz com que o falante seja ou não bem-sucedido ao realizar ações com a linguagem.
Tipos de atos de fala Em seu estudo sobre os atas de fala, Austin mostra também que é possível distinguir três níveis em qualquer ato de fala: Ele inicia pela distinção de três aspectos do ato que consiste em fazer qualquer coisa pela fala: há o ato locucionário (a produção de sons que pertencem a um vocabulário e a uma gramática, e aos quais são ligados um ·sentido· e uma ·referência ou seja, uma ·s ignificação no sentido clássico do termo); o ato ilocucianário (produzido ao dizer qualquer coisa, e que consiste da manifestação de como as palavras devem ser compreendidas naquele momento as mesmas palavras podem ser compreendidas como um conselho, uma ordem etc.); e o ato perlocucionário (produzido pelo fato de dizer qualquer coisa, ou seja, o ato dá lugar a efeitos ou conseqüências para os outros ou para a própria pessoa). Essas distinções são incorporadas e reelaboradas no estudo de Searle, como veremos a seguir. Atos locucionários O reconhecimento de que o falante produz um ato locucionário é o primeiro estágio da análise dos atas de fala. Trata-se do reconhecimento de que ele se utiliza de uma seqüência de palavras que constituem frases bem-estruturadas na língua utilizada. Com o reconhecimento desse primeiro nível para a análise dos atas de fala, Austin (1970) e Searle (1981 ) colocam em evidência que a primeira condição para que um enunciado possa ser reconhecido como um ato de fala é o fato de ser produzido segundo as convenções de uma IIngua natural em todos os seus níveis: fonologia, sintaxe, semântica. Antes de se atribuir ao enunciado produzido por um falante uma intenção e de analisar suas conseqüências, é necessário reconhecer que ele é constituído por frases compreensíveis na língua usada pelos interlocutores. Atos ilocucionários Como comentamos acima, os atos ilocucionários correspondem às ações que os falantes pretendem realizar quando produzem os enunciados. Os atos ilocucionários correspondem à realização de ações como pedir, cumprimentar, prometer, exigir, desculpar-se, censurar etc. Veja alguns exemplos:
(12) (13) (14) (15) (16) (17)
Por favor, traga-me um cinzeiro. (pedido) Não entre agora, aguarde o chamado da atendente. (ordem) Boa tarde! (cumprimento) Se você tirar boas notas vai ganhar uma bicicleta no Natal. (promessa) Cuidado, o rio é muito fundo. (advertência) É proibido fumar aqui, você poderia ir para a área de fumantes? (ordem)
Para que um ato ilocucionário seja bem-sucedido é necessário que atenda às condições de felicidade. Searle procura sistematizar as condições para que alguns atos ilocucionários de ocorrência freqüente sejam bem-sucedidos. Vamos sintetizar a seguir alguns exemplos de condições de felicidade associadas a esses atos, a partir dos esquemas apresentados em Searle: • Ato de pedir - o ato de pedir corresponde a uma ação a ser realizada no futuro pelo ouvinte. Uma primeira condição é a sinceridade do pedido: o falante quer que o ouvinte realize a ação solicitada. Outra condição é que o falante acredite que o ouvinte esteja em condição de realizar a ação solicitada e que este realmente possa fazê-lo. O pedido é uma tentativa que o falante faz de conseguir que o ouvinte realize a ação solicitada . • Ato de perguntar- há dois tipos de perguntas, as reais e as de exame. Nas perguntas reais, o falante quer saber (descobrir) a resposta; nas perguntas de exame, o falante quer saber se o ouvinte sabe. Uma primeira condição para que o ato de perguntar seja bem-sucedido (no caso da pergunta real) é que o falante seja sincero, que queira realmente obter a informação. Outra condição é que o falante não saiba a resposta. A pergunta é uma tentativa de obter a informação. • Ato de aconselhar - o ato de aconselhar corresponde a um ato futuro do ouvinte. Uma condição para que o conselho seja bem-sucedido é que o falante tenha alguma razão para acreditar que o ato beneficiará o ouvinte. Outra condição é que O falante assume que o ato sobre o qual se dá o aconselhamento é de grande interesse para o ouvinte. Ao contrário do que se poderia supor, aconselhar não é uma espécie de pedido. Aconselhar alguém não é tentar conseguir que ele faça algo de forma análoga ao pedido. Aconselhar é dizer a alguém o que é melhor para ele.
Ato de agradecer - o ato de agradecer remete a um ato passado realizado pelo ouvinte. Esse ato beneficia o falante e este sabe disso. Uma condição para que o agradecimento seja bem-sucedido é a sinceridade do falante, que este seja efetivamente grato ao ouvinte pelo ato. O agradecimento é uma expressão de gratidão ou apreciação. • Ato de avisar - o ato de avisar remete a um evento ou estado futuro. Uma condição para queo aviso seja bem-sucedido é que o ouvinte acredite que o evento ocorrerá e que não é do seu interesse. Outra condição é a sinceridade do falante, que acredita que o evento sobre o qual recai o aviso não é do interesse do ouvinte. Avisar é como aconselhar e não como pedir. Não é necessariamente uma tentativa de fazer com que alguém proceda de modo a evitar o evento ou estado, mas que esteja preparado para as conseqüências que virão. Esses são alguns dos atos ilocucionários que Searle analisa. É interessante observar que em todas as análises um dos componentes fundamentais das condições de felicidade é a sinceridade do falante. Toda a análise dos atos ilocucionários tem a sinceridade como um dos seus pilares. Para que esse modelo de análise fosse adotado por outras comunidades de fala diferentes dos britânicos, seria necessário um estudo preliminar para avaliar quais seriam as normas de interação vigentes para cada grupo. As diferenças culturais podem levar à formulação de condições bem diferentes associadas aos atos ilocucionários. •
Atos perlocucionários Finalmente, um terceiro nível proposto por Searle (1 984, p. 37) para a análise dos atos de fala é o per!ocucionário. Se considerarmos a noção de ato ilocucionário é preciso também considera r as conseqüências ou efeitos que estes têm sobre as açôes, pensamentos ou crenças dos ouvintes. Por exemplo, ao sustentar um argumento, podemos persuadir ou convencer alguém; se o aviso de qualquer coisa, posso assustá-lo ou alarmá-lo, pedindo alguma coisa, posso levá-lo a fazê-Ia; informando-o posso convencê-lo (esclarecê-lo, edificá-lo, inspirá-lo, fazê-Io tomar consciência). O conceito de ato perlocucionário formulado por Austin e Searle não recebe na obra desses autores o mesmo destaque que o ato ilocucionário. A análise
desse último tipo de ato de fala implica em um estudo mais aprofundado sobre as formas de interpretação dos atos de fala produzidos pelos falantes. Para fazer esse estudo, seria necessário em primeiro lugar fazer um levantamento dos atos ilocucionários e das possíveis conseqüências desses atos para os ouvintes, ou seja, seria necessário elaborar uma tabela de correspondência entre os dois conjuntos de atas de fala: Ato lIocucionário Avisar Informar Prometer
Atos perlocucionários correspondentes Assustar, alarmar... Esclarecer, edificar, inspirar, fazer tomar consciência ... Criar expectativas...
Nem Austin nem Searle se dedicam ao aprofundamento do conceito de atas perlocucionários. É significativa a conclusão que Trask apresenta sobre a incorporação desse conceito aos estudos de pragmática mais recentes: Austin distinguiu inicialmente três aspectos de um ato de fala: o ato locuciondrio (ou ato de dizer alguma coisa), o ato ilocuciondrio (aquilo que você está tentando fazer, com sua fala) e o ato perlocuciondrio (o efeito daquilo que você diz). Hoje, porém, o termo ato de fala é freqüentemente usado para denotar especificamente um ato ilocucionário e o efeito de um ato de fala é sua força ilocucionária. A conclusão de Trask mostra como os estudos recentes de pragmática incorporam o essencial da teoria dos atos de fala, sem dar a mesma importância a algumas distinções menos relevantes formuladas pelos filósofos britânicos.
Considerações Finais A Teoria dos Atos de Fala nasceu na filosofia da linguagem e tem como base doze conferências de Austin, publicadas sob o título "How to do things with words" em 1976. A grande contribuição de Austin para a lingüística foi considerar a linguagem como forma de ação. Dessa forma, a Teoria dos Atos de Fala tem importância significativa para a pragmática, a qual estuda as condições que governam a utilização da linguagem, os fatores lingüísticos e extralingüísticos que contribuem para a produção de sentido numa dada situação comunicativa. Em seqüências específicas de enunciados, muitas vezes, os aspectos fônicos, sintáticos e semânticos do sistema de uma língua não conseguem explicar, por si só, como são construídos, por exemplo, o humor, a ironia, o subentendido e outros fenômenos. Assim, não é novidade que os usuários da língua normalmente comunicam muito mais do que as palavras e frases significam. Daí, a pragmática, como um dos domínios da lingüística, contribui para a análise e compreensão daquilo que ultrapassa os limites da sintaxe e da semântica. A contribuição de Austin para a pragmática linguística é tal, que sem ele não teria havido pragmática linguística, não como a conhecemos hoje, pelo menos. Austin fixa-se nos enunciados de polaridade afirmativa, com um verbo na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, voz ativa e com as seguintes características: não descrevem nada e não são, pois, nem verdadeiros nem falsos; correspondem à execução de uma ação. A finalidade central de Austin era fazer frente à convicção instalada de que a língua serve para descrever um estado de coisas, avaliado como verdadeiro ou falso. Austin chama a atenção para os limites de uma abordagem que considere que as frases produzidas em uma língua qualquer sejam formas de representação da realidade e que possam ser avaliadas simplesmente como verdadeiras ou falsas. Ele mostra que um grande número de
frases produzidas usualmente pelos falantes não fazem representações do mundo, mas são formas pelas quais os falantes realizam determinadas ações, sendo assim Austin através dos seus estudos contribuiu de maneira significativa para a lingüística e mostrou que a língua é muito mais do que uma simples ferramenta que se limita a descrever se determinado enunciado pode ser classificado como verdadeiro ou falso.
Bibliografia AUSTIN, John L. Quando dizer é fazer. - Trad. Danilo Marcondes de Souza Filho. Porto Alegre: Editora: Artes Médica, 1990. MARCONDES, Danilo. A Pragmática na filosofia contemporânea. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. Atos de Fala e Ações Sociais: sobre a distinção entre Ilocuções e Perlocuções na Teoria do Agir Comunicativo" por Marina Velasco (2004) http://www.hipertextus.net/volume6/Hipertextus-Volume6-Amanda-CavalcanteLedo_Benedito-Gomes. http://www.filologia.org.br/viiifelin/41.htm http://www.ifcs.ufrj.br/mvelasco/Textos/ACCIOSOC.pdf http://filosofandoalinguagem.blogspot.com.br/2010/06/teoria-atos-de-fala-austin.html http://www.nee.ueg.br/seer/index.php/temporisacao/article/view/20/29 http://www.ciberduvidas.pt