Símbolos e mitos no filme O Silêncio dos Inocentes - parte I * por Olavo de Carvalho
O Silêncio dos Inocentes ( Inocentes ( "The Silence of the Lambs" ) é bem mais do que o thriller habilmente habilmente realizado ou do que o drama passional que a crítica brasileira enxergou nele. Se toca to intensamente o cora!o da platéia é menos pelo fascínio macabro do tema pela destreza quase alucinante da dire!o ou pelas interpreta!#es interpreta!#es memor$%eis de &nthon' opins e de *odie +oster do que pelo simbolismo profundo da sua f$bula. ,esmo quando passe despercebido pela consci-ncia do espectador esse simbolismo no pode deixar de atingilo no /mago da sua condi!o humana pela for!a de uma linguagem uni%ersal. Seu alcance simb0lico ele%a o 1lme de *onathan 2emme 3 categoria de grande obra de arte. 4omo toda grande arte a rte este 1lme desencadeia consequ-ncias que se prolongam para muito além do gozo estético imediato e re%erberam em benefícios psicol0gicos de longa dura!o. 5unca desde M, o Vampiro de Düsseldorf de +ritz Lang ou Vergonha Vergonha de 6ngmar 7ergman este%e o cinema to perto de realizar um intuito equipar$%el ao da tragédia grega que nas pala%ras de &rist0teles era o de inspirar "terror e piedade" ou mais precisamente a piedade por meio do terror8 puri1car a alma do homem e inclin$lo ao bem pela %iso do absurdo e do mal inerentes 3 ordem c0smica. S0 que para desfrutar plenamente dos ganhos que esta obra nos traz é necess$rio ultrapassar o puro impacto estético da primeira hora e aprofundar uma consci-ncia intelectual do seu signi1cado. 9 educador que mostra e ad%erte dirigindo a aten!o do espectador para os pontos signi1cati%os e as estruturas profundas prolonga assim e potencializa o trabalho do artista abrindo os canais para o seu encontro com a alma do p:blico. ;ssa seria a rigor a tarefa da crítica. 5o consigo conceber o crítico militante seno como uma espécie de educador na linha proposta por ,athe< &rnold. 5o é de espantar portanto que com tanta frequ-ncia me decepcione com a crítica nacional se=a de 1lmes de li%ros ou de pe!as teatrais8 ela tem se reduzido ao mero notici$rio 3 aprecia!o segundo padr#es técnicoindustriais ou 3 expresso expresso de sentimentos pessoais do crítico. ;stas tr-s modalidades de antieduca!o foram exausti%amente exausti%amente praticadas a prop0sito de O Silêncio dos Inocentes. Inocentes. >erdeuse >erdeuse assim uma grande oportunidade pedag0gica. 5as p$ginas seguintes fa!o o que posso para remediar a perda. ***
4ome!o com um exemplo. ,$rcia 4ezimbra em seu artigo no caderno Idéias do Idéias do Jornal Jornal do Brasil Brasil coloca os leitores numa pista falsa pela qual =amais chegaro a compreender compreender o 1lme. ,as o erro de%e de%e ter passado despercebido =$ que muitos espectadores a quem consultei re%elaram ter entendido a hist0ria exatamente como ela8 uma f$bula do dese=o o drama da paixo entre um psicopata antrop0fago e uma bela agente do +76. ;sta interpreta!o foi também endossada por quase todos os críticos. ;u no teria a cara de me opor a toda essa respeit$%el unanimidade se ela no fosse contraditada também pelas declara!#es dos dois atores principais do 1lme feitas em entre%istas que ou no foram lidas ou no foram le%adas a sério no 7rasil. opins diz que o 2r. Lecter Lecter o suposto ob=eto dos dese=os da heroína 4larice Starling é realmente o 2em?nio. 5o um dem?nio um dem?nio mas o 2em?nio nome pr0prio. ; *odie +oster a1rma a1rma que 4larice é uma heroína %erdadeira como nunca hou%e uma na hist0ria do cinema porque no quadro de um drama mitol0gico ela tem de "lutar contra os dem?nios e conhecerse conhecerse a si mesma". +oi exatamente exatamente assim que entendi o 1lme8 a luta de uma heroína socr$tica para desenterrar a %erdade do fundo das tre%as da mentira e da loucura. *odie tem razo ao dizer que uma heroína heroína desse porte nunca hou%e na hist0ria do cinema (com a possí%el exce!o exce!o obser%o eu da Joanna da Joanna d’rc de @obert 7resson). ,as garotinhas fascinadas por monstros se!" so so uma banalidade que podemos %er toda semana em enlatados de TA moldados em #ing #ong ou #ong ou Bela e a $era. $era. Se *odie e opins t-m razo ento os críticos brasileiros se equi%ocaram profundamente. 9 moti%o de terem errado o al%o est$ certos cacoetes mentais que se disseminaram como epidemia entre os intelectuais brasileiros e que os fazem enxergar enxergar tudo por um %iés préfabricado. 5o 7rasil as pala%ras "dese=o" e "paixo" tornaramse nos :ltimos anos cha%es uni%ersais aplic$%eis a torto e a direito para a explica!o de tudo. B também um fen?meno local a onda de nietzscheanismo militante que s0 consegue enxergar enxergar algo de bom quando sob s ob a forma de um mal ao menos aparente e que procura em toda a1rma!o explícita explícita de %alores positi%os um sintoma de hipocrisia ou de falsa consci-ncia. >ara essa mentalidade tudo no mundo é disfarce e autoengano8 retirados os %éus do 1ngimento %em a tona a :nica realidade %erdadeira a qual em todos os casos e circunst/ncias consiste sempre e somente de paixo e dese=o com uns toques de maquia%elismo endossado como natural e so a título de "sinceridade" como se toda manifesta!o direta de sentimentos generosos fosse uma grossa perfídia inconsciente e no pudesse ha%er sinceridade seno no 1ngimento assumido ou na maldade explícita. & hermen-utica hermen-utica daí resultante e que seus cultores aplicam indistintamente 3 interpreta!o de sintomas psicopatol0gicos de obras de arte de sistemas 1los01cos de tudo en1m menos de suas
4ome!o com um exemplo. ,$rcia 4ezimbra em seu artigo no caderno Idéias do Idéias do Jornal Jornal do Brasil Brasil coloca os leitores numa pista falsa pela qual =amais chegaro a compreender compreender o 1lme. ,as o erro de%e de%e ter passado despercebido =$ que muitos espectadores a quem consultei re%elaram ter entendido a hist0ria exatamente como ela8 uma f$bula do dese=o o drama da paixo entre um psicopata antrop0fago e uma bela agente do +76. ;sta interpreta!o foi também endossada por quase todos os críticos. ;u no teria a cara de me opor a toda essa respeit$%el unanimidade se ela no fosse contraditada também pelas declara!#es dos dois atores principais do 1lme feitas em entre%istas que ou no foram lidas ou no foram le%adas a sério no 7rasil. opins diz que o 2r. Lecter Lecter o suposto ob=eto dos dese=os da heroína 4larice Starling é realmente o 2em?nio. 5o um dem?nio um dem?nio mas o 2em?nio nome pr0prio. ; *odie +oster a1rma a1rma que 4larice é uma heroína %erdadeira como nunca hou%e uma na hist0ria do cinema porque no quadro de um drama mitol0gico ela tem de "lutar contra os dem?nios e conhecerse conhecerse a si mesma". +oi exatamente exatamente assim que entendi o 1lme8 a luta de uma heroína socr$tica para desenterrar a %erdade do fundo das tre%as da mentira e da loucura. *odie tem razo ao dizer que uma heroína heroína desse porte nunca hou%e na hist0ria do cinema (com a possí%el exce!o exce!o obser%o eu da Joanna da Joanna d’rc de @obert 7resson). ,as garotinhas fascinadas por monstros se!" so so uma banalidade que podemos %er toda semana em enlatados de TA moldados em #ing #ong ou #ong ou Bela e a $era. $era. Se *odie e opins t-m razo ento os críticos brasileiros se equi%ocaram profundamente. 9 moti%o de terem errado o al%o est$ certos cacoetes mentais que se disseminaram como epidemia entre os intelectuais brasileiros e que os fazem enxergar enxergar tudo por um %iés préfabricado. 5o 7rasil as pala%ras "dese=o" e "paixo" tornaramse nos :ltimos anos cha%es uni%ersais aplic$%eis a torto e a direito para a explica!o de tudo. B também um fen?meno local a onda de nietzscheanismo militante que s0 consegue enxergar enxergar algo de bom quando sob s ob a forma de um mal ao menos aparente e que procura em toda a1rma!o explícita explícita de %alores positi%os um sintoma de hipocrisia ou de falsa consci-ncia. >ara essa mentalidade tudo no mundo é disfarce e autoengano8 retirados os %éus do 1ngimento %em a tona a :nica realidade %erdadeira a qual em todos os casos e circunst/ncias consiste sempre e somente de paixo e dese=o com uns toques de maquia%elismo endossado como natural e so a título de "sinceridade" como se toda manifesta!o direta de sentimentos generosos fosse uma grossa perfídia inconsciente e no pudesse ha%er sinceridade seno no 1ngimento assumido ou na maldade explícita. & hermen-utica hermen-utica daí resultante e que seus cultores aplicam indistintamente 3 interpreta!o de sintomas psicopatol0gicos de obras de arte de sistemas 1los01cos de tudo en1m menos de suas
pr0prias idéias é rígida mec/nica e repetiti%a até 3 dem-ncia. 5o é preciso dizer que a inclina!o a %er as coisas por essa 0tica maliciosa é um fen?meno sociol0gico brasileiro bras ileiro facilmente explic$%el explic$%el pela desiluso dos nossos intelectuais com a democracia to duramente conquistada e to rapidamente estragada. Aisto por essa hermen-utica o Sol é mo%ido pelas sombras e e%identemente o polo ati%o da trama de O Silêncio dos Inocentes s0 Inocentes s0 pode ser o 2r. Lecter. L0gico8 ele é o pior logo de%e ser o melhor. 9 dem?nio inteligente exerce um fascínio sobre a intelectualidade derrotada derrotada que %endo a %it0ria dos maus no mundo sonha em tornarse como elesC mas impotente para concorrer com os safados no campo da maldade pr$tica satisfazse em corromper as idéias e os signosC e hipnotizada pelo sorriso maligno do 2r. 2r. Lecter atribui seu pr0prio estado de alma a 4larice Starling sem reparar que com isto no est$ fazendo uma interpreta!o e sim uma pro=e!o. ist0rias de desmascaramento de %alores onde o bem s0 pode aparecer sob a forma in%ertida de um sincerismo do mal explícito continuam em moda no 7rasil por exemplo exemplo nas no%elas de TA. TA. So típicas de situa!#es de desencanto social onde uma intelectualidade marginalizada marginalizada se r0i de ressentimentos8 ressentimentos8 com que alí%io a lí%io o =o%em g-nio complexado no recebe a notícia de que 5ietzsche %aloriza%a o ressentimento como método hermen-utico hermen-utico de que +reud %ia na suspeita maliciosa a atitude interior mais propícia ao in%estigador psicol0gicoD ;n%enenar o ambiente expelindo ressentimento ressentimento e malícia por todos os poros passa ento a ser uma modalidade superior de conhecimento cientí1co o ob=eti%o :ltimo de toda ati%idade intelectual. ;ste é o estado de espírito dominante na intelectualidade brasileira pelo menos na sua parte mais barulhenta e aparentemente ninguém ninguém aí se d$ conta de que h$ uma contradi!o entre estimular a malícia e pregar a moralidade p:blica. ,as no cinema norteamericano o que se %- ho=e em dia é o contr$rio8 é uma tend-ncia para a a1rma!o explícita e literal de %alores positi%os como se nota pelo sucesso de Dan%a com &o'os &o'os uma apologia direta e "ing-nua" do bem e da honestidade. 5o seria mais l0gico interpretar O Silêncio dos Inocentes 3 Inocentes 3 luz dessa tend-ncia dominante no seu país de origem do que esprem-lo 3 for!a na moldura das preocupa!#es locais e moment/neas da intelectualidade brasileiraE 2ito de outro modo8 minha hip0tese é que o diretor *onathan 2emme e o roteirista Ted Tall' quiseram fazer um ap0logo sobre a luta entre a intelig-ncia humana e a ast:cia diab0lica e esta%am pouco se lixando para a paixo o dese=o +reud 5ietzsche e o escambau. & onda de +reud +reud e 5ietzsche nos ;F& =$ acabou e l$ no existiu nenhum 5elson @odrigues. >or aqui é que esto for!ando a barra para %er as coisas pelo lado do abismo e quando se pro=eta essa perspecti%a sobre alguma idéia ou obra que %em de fora o resultado é que se %- o que no existe e se persuade o p:blico a acreditar que existe. B assim que por uma cruel ironia o debate cultural
mesmo acaba por isolar este país do mundo fechando as =anelas que lhe incumbe abrir. B claro que existem paixo e dese=o na hist0ria de O Silêncio dos Inocentes mas esto l$ como elementos do assunto entre outros elementos e assuntos e no como determinantes da forma da estrutura e do sentido que nesta como em qualquer outra narrati%a cinematogr$1ca ou liter$ria so a coisa decisi%a. Também é claro que o 2r. Lecter é fascinante principalmente por seu feitio enigm$tico e ambíguo. ,as daí a dizer que esse fascínio conseguiu prender 4larice nas malhas de uma paixo abissal a dist/ncia é grande8 é a que existe entre possuir uma arma e cometer um homicídio. 9 2r. Lecter é fascinante sim mas 4larice é um bocado esperta. *$ na abertura do duelo de %ontades entre os dois o primeiro que baixa os olhos é Lecter no 4larice ( %i o 1lme de no%o s0 para tirar isto a limpo )C ela continua le%ando %antagem quando desa1a o canibal a conhecerse a si mesmo e ele pula fora irritadoC e en1m no sai do primeiro encontro sem obter ao menos uma parte do que dese=a%a. S0 no primeiro round ela =$ ganha de Lecter por tr-s a zero. ;la nunca cede nada. & :nica %antagem que oferece a Lecter é s0 aparente8 é um ardil concebido por *ac 4ra
(rimeira parte da transcri%)o de três palestras pronunciadas na *scola stroscientia, +io de Janeiro, em --, so' o t.tulo /Interpreta%)o Sim'0lica do $ilme O Silêncio dos Inocentes/1 2ma edi%)o em 'rochura foi pu'licada pela editora 3o4a Stella, mas ho5e se encontra esgotada1 *
Símbolos e mitos no filme O Silêncio dos Inocentes - parte II por Olavo de Carvalho
9 personagem Lecter é um bocado %istoso mas isto no nos de%e le%ar ao equí%oco de hipertro1ar o poder que ele tem na hist0ria. &1nal tudo o que acontece (excetuando uns acidentes de percurso que em nada
interferem no resultado 1nal) foi plane=ado de antemo pelo chefe de 4larice *ac 4rar0spero da Tempestade de Shaespeare que manipula os elementos sombrios e %encendo a improbabilidade consegue le%ar tudo a um 1nal feliz com a %it0ria do bem e da luz. Lecter por seu lado poderia de1nirse como o ,e1st0feles de Goethe8 Sou parte da *nergia 6ue sempre o Mal pretende e 6ue o Bem sempre cria1IJK Fm ditado franc-s diz que o diabo carrega pedrasC e a1nal alguém tem de fazer a parte su=a do ser%i!o. 4onsiderandose que Lecter no cria di1culdades para 4ra
domin$la no fundo é ele quem a idealiza e a cultua enquanto ela permanece 1rme e forte no cho de um realismo implac$%el. Sobre a mesa dele na gaiola montada para aprision$lo no +orum do 4ondado de Shelb' um dos seus desenhos mostra 4larice rodeada de um halo luminoso com um cordeirinho no colo. B um ícone. Tendo procurado sondar as profundezas da mente de 4larice Lecter sabe perfeitamente o que encontrou l$ dentro. 4omo poderia um dem?nio tarimbado deixar de reconhecer a Santa AirgemE &rrancada pelo olho suspicaz de Lecter a identidade exterior de professional 7oman o que aparece no fundo de 4larice no é um feixe de banais dese=os freudianos e sonhos de ascenso social de uma mocinha caipira e sim o pranto da Airgem inerme ante o sacrifício do 4ordeiro. B preciso estar cego pelo fanatismo anticristo para no perceber no 1lme uma refer-ncia e%angélica to patente. ,as a "bra%a 4larice" como ele a chama se é capaz de reconhecer com tanta sinceridade as fraquezas humanas que Lecter nela des%enda ignora no entanto a secreta identidade superior que ele descobriu por tr$s delas. >or isto ele pode continuar brincando de desprez$la e engan$la pela frente enquanto em segredo lhe de%ota %enera!o e ser%i!o. 9 2iabo também é ser%o de 2eus ainda que a seu modo ambíguo e recalcitranteC cioso de sua fama de rebelde o %elho embrulho procura sal%ar as apar-ncias. & ambiguidade de ser%ir ao bem com a pior das inten!#es é ali$s um dos seus tra!os de1nidores e ela o faz tradicionalmente antes um personagem de farsa que de tragédia. & literatura uni%ersal no deixou de explorar isso abundantemente de ,arlo
Lecter recomenda a 4larice "aterse ao essencial desprezando o acidental". Segundo uma antiquíssima teodicéia o mal no é propriamente um ser mas algo como o efeito acidental da conNu-ncia inoportuna de bens de diferente espécie (por exemplo é bom amar uma mulher e é bom ter um amigoC mas pode acontecer de amarmos a mulher do amigo). 9 mal é uma "rela!o" no uma "subst/ncia"C uma "sombra" no um "corpo". ;studando uma seita satanista contempor/nea um autor informado compara o mal a uma somat0ria de aus-ncias a qual d$ origem a uma for!a de suc!o que no podendo subsistir em si e por si se gruda e se ap0ia no lado obscuro ou mal conhecido das coisas.I OK S0crates e o %edantismo iam mais longe decretando que o :nico mal é a ignor/ncia. 9 fascínio a subser%i-ncia ante o mal brota =ustamente daquelas zonas da alma que nos so mais desconhecidas do "inconsciente" se quiserem dep0sito segundo o dr. +reud dos dese=os e imagens re=eitados pelo consciente. >rocurando esqui%arse do olhar malicioso que perfura as defesas conscientes a %itima amedrontada se prosterna ante o ad%ers$rio na esperan!a de obter sua clem-ncia. B precisamente este o Nanco que 4larice n)o oferece a Lecter8 quando ele tenta desmascar$la psicologicamente ela no foge no se resguarda atr$s de defesas %s nem procura enternecer o ad%ers$rio para aplacar a dureza do seu olhar penetranteC com singela franqueza ela reconhece a %eracidade dos sentimentos infantis que Lecter discerne em seu intimoC a transpar-ncia de seus moti%os e a 1rme aceita!o da %erdade acabam por transmutar o olhar suspicaz de Lecter sub=ugando e pondo a seu ser%i!o toda a malícia do pér1do doutor. >retendendo desarm$la Lecter encontra no fundo dela a fortaleza in%encí%el da inten!o reta. ; o diabo que despreza quem o cultua rendese com admira!o ante a heroína que ama a %erdade. ;m sua li!o de L0gica sobre a ess-ncia e o acidente Lecter cita ,arco &urélio. 9 imperador romano foi um dos grandes 1l0sofos do estoicismo escola que prega%a o a'stine et sustine8 desapego e 1rmeza. 5o é esta a :nica referencia est0ica no 1lme. Logo no come!o 4larice aparece treinando num bosque aos fundos da sede do +76 em Muantico. 5a entrada do bosque tr-s cartazes de madeira cra%ados nas ar%ores exortam o aprendiz de policia a suportar a dor a agonia e o sofrimento. Fm quarto cartaz acrescenta a mensagem est0ica o mandamento cristo8 me. 2uas gotas de estoicismo num s0 1lme so o bastante para despertar curiosidade. 4aso o 2r. annibal Lecter no se=a um intelectual brasileiro que cita sem ler %aler$ a pena darmos uma espiada nesse ,arco &urélio.
& mistura de mandamentos est0icos e cristos no e estranha. 2esde cedo os 1l0sofos cristos perceberam o %alor da ética est0ica e trataram de absor%-la no 4ristianismo. ,arco &urélio dizia por exemplo que o aspirante a s$bio no de%e fugir do mal mas habituarse a olh$lo de frente para neutraliz$lo tornandose imune ao seu fascínio. 2o alto de sua aphateia ("aus-ncia de emo!#es") o s$bio realizado poder$ ento extinguir o mal pela for!a do seu olhar ob=eti%o e sereno que chama as coisas pelos seus %erdadeiros nomes sem nada acrescentar nem tirar (é a "simplicidade" intelectual mencionada por Lecter). ,as no fundo da aphateia o s$bio de%e sempre conser%ar uma atitude de "clem-ncia compreensi%a". B uma espécie de bondade ou compaixo intelectual no emoti%a. 4onsiste em estar aberto 3 compreenso de tudo mesmo do que é %il e repugnante mas sem deixarse inNuenciar emocionalmente. IJK $austo 6 trad. *enn' Plabin Segall. IOK Qithall 5. >err' ;urd5ie< in the &ight of =radition London >erennial 7oos JR. Símbolos e mitos no filme O Silêncio dos Inocentes - parte II por Olavo de Carvalho
phateia e "clem-ncia compreensi%a" so =ustamente os termos mais adequados para descre%er a atitude de 4larice ante annibal LecterC ela no o odeia no o teme no o ama no o desprezaC ela o obser%a e o ou%e sem se fechar a nada nem se deixar sub=ugar por nada do que ele diz ou faz. ;la sustenta 1rmemente (sustine et a'stine) sua posi!o diante de Lecter sem se afastar um s0 milimetro da clem-ncia compreensi%a por um lado e por outro da 1delidade ao de%er. 9 que equilibra os dois pratos da balan!a est0ica no fundo é a compaixo pelas %étimas de 7uHalo 7ill8 os cordeiros a que ela dese=a sal%ar. 4larice personi1ca a síntese de estoicismo e cristianismo anunciada pelos cartazes do bosque. &lguns pensadores cristos repro%aram ao estoicismo o car$ter meramente passi%o e reati%o de sua ética8 ele enfatizaria demais a paci-ncia a resist-ncia a abstin-ncia e de menos o sacrifício ati%o e a luta pelo bem. &s %irtudes est0icas seriam em suma "femininas" exclusi%amente sem a marca %iril do 4risto@ei. Fm %erdadeiro estoicismo cristo para existir teria de in=etar alguma histamina no %elho e cansado ,arco &urélio.
,as o cristianismo no despreza enquanto tais as %irtudes "femininas". Sua epítome na %iso crista é =ustamente a Santa Airgem. ;la nada "faz" propriamente em toda a narrati%a e%angélica. S0 obedece padece espera e chora diante do ine%it$%el. 4larice também sofre passi%amente diante da impossibilidade de sal%ar os cordeirinhos de sal%ar mesmo que se=a um s0. Sofre também at?nita como os cordeiros diante da morte do pai. B desta dor inerme porém que nasce a %oca!o da 4larice combatente que enfrenta Lecter num dualo psicol0gico e abate a tiros 7uHalo 7illC tal como da Airgem "passi%a" nasce o 4risto prot0tipo do sacrifício ati%oC e tal como do pranto "in:til" da me aos pés da cruz nasce a multido inumer$%el dos 1eis. & antiqUíssima liturgia repete o ciclo onde da 6gre=a que padece nasce a 6gre=a que combate e desta a 6gre=a que triunfa. & mesma dialética do passi%o e do ati%o repetese no personagem complementar de 4larice *ac 4ra
dos tempos e as mudan!as da linguagem %o di1cultando 3s no%as gera!#es a compreenso direta da epopéia sacra. So narrati%as inici$ticas a Di4ina 9omédia de 2ante $lauta M>gica de ,ozart o $austo de Goethe a tragédia grega em sua totalidade Os &us.adas de 4am#es. +ainha das $adas de SpenserC e em nosso tempo José e seus Irm)os de Thomas ,ann. So epopéias sacras os poemas de omero o Bagha4ad:;ita o 9or)o o ntigo =estamento os *4angelhos etc8 & diferen!a entre epopéia sacra e narrati%a inici$tica consiste fundamentalmente em que os her0is da primeira so deuses semideuses ou num quadro monoteísta estrito aspectos de 2eus ou for!as de origem di%ina. 9s her0is da narrati%a inici$tica sem terem poderes di%inos nem falarem diretamente em nome de 2eus so seres humanos de excepcional en%ergadura protegidos ou guiados de perto por for!as di%inas cu=a presen!a e atua!o no mundo eles representam de maneira mais ou menos sutil e indireta. Tanto na epopéia sacra quanto na narrati%a inici$tica os personagens de mestres ou gurus representam sempre o ;spírito di%ino que conhece tudo de antemo e dirige do alto a caminhada de um discípulo o qual personi1ca a &lma humana em %ias de se espiritualizar ou di%inizar. Fma diferen!a marcante entre os dois g-neros é que na epopéia sacra o mestre é o ;spírito di%ino de modo literal e integral (na Odisséia ,entes é ,iner%a deusa da sabedoriaC no Bagha4ad ;ita Prishna é um aspecto de 7rahma etc.)C ao passo que na narrati%a inici$tica o personagem do mestre é apenas um ser humano ligado mais ou menos de perto a um saber di%inoC é um sacerdote um mago um s$bio e no um ser di%inoC por isto guiando "di%inamente" o discípulo no est$ isento de falhas humanas. >or exemplo ,erlin no Santo ;raal perde temporariamente a parada para ,organa Le +a'C Sarastro é temporariamente derrotado pela @ainha da 5oite etc. & narrati%a inici$tica embora possuindo leis estruturais que a de1nem pode ser enxertada numa in1nidade de g-neros narrati%os diferentes na literatura no%elística no teatro na poesia épica ou no cinema. Sua estrutura profunda é compatí%el com os re%estimentos mais di%ersos do fant$stico ao "realista". 9s :nicos elementos indispens$%eis so o mestre o discípulo o ad%ers$rio e as peripécias que puri1cam a alma do discípulo ou lhe re%elam um conhecimento. 9 ad%ers$rio pode ser uma pessoa (como na $lauta M>gica a @ainha da 5oite) ou uma situa!o ad%ersa e diab0lica que desa1a a intelig-ncia do her0i ou tenta sua alma como no (rocesso Mauri?ius de *aob Qasserman. 9 mestre também pode ser um personagem de carne e osso (como Sarastro) uma aluso mitol0gica (A-nus em Os &us.adas) ou um simples aspecto superior da alma do pr0prio discípulo (o m$gico pressentimento que guia
;tzel &ndergast no romance de Qasserman). 9 ponto que interessa o critério diferencial que nos certi1ca de estarmos em presen!a de uma narrati%a desse g-nero no é o conte:do material dos e%entos mas a rela%)o entre as for%as em suma8 a estrutura da trama. ,uitas obras de literatura do cinema e do teatro apelam para o uso de símbolos e mitos "esotéricos" sem que isto fa!a delas narrati%as inici$ticas. &o contr$rio os símbolos particulares contidos numa narrati%a s0 adquirem perfeita funcionalidade estética quando a estrutura profunda da obra é a de uma narrati%a inici$ticaC fora disto símbolos e mitos se tornam meros adornos pedantes. & estrutura total e os simbolismos particulares t-m de estar coeridos e amarrados um aos outros num arran=o org/nico reNetindo uma das principais leis da linguagem simb0lica que é a da correspond-ncia entre a parte e o todo o pequeno e o grande o micro e o macrocosmo. S0 artistas muito h$beis logram obter este encaixe moti%o pelo qual boa parte da arte "esotérica" em circula!o é puro lixo. Tanto pela estrutura como pelos símbolos a que alude ou pela obedi-ncia estrita ao princípio de correspond-ncia O Silêncio dos Inocentes se re%ela uma narrati%a inici$tica e das mais perfeitas que o cinema =$ nos deu. 5ele no existe uma :nica refer-ncia simb0lica ou mitol0gica que no se encaixe com extrema adequa!o e felicidade na estrutura total da obra reNetindo esse todo na escala do detalheC e a estrutura global por sua %ez tem todos os elementos requeridos8 o mestre o discípulo o ad%ers$rio diab0licos as peripécias re%eladoras e puri1cadoras. 2esse modo é bastante natural que encontremos entre 4larice e 4raro%id-ncia. & &lma na narrati%a inici$tica é passi%a diante do ;spírito mas ati%a diante do mundoC ela luta mas sua luta é para permanecer 1el ao ;spírito num mundo onde as ad%ersidades tenta!#es e enganos amea!am arrast$la para longe da sua %oca!o. Mue *ac 4raor enquanto o que interessa é notar que 4ra
(exceto por um lapso) e que no 1m se retira modestamente deixando para a discípula as honras da festa. Tal como o Sarastro de ,ozart que no 1m da $lauta M>gica ap0s ha%er articulado e dirigido de longe a luta de Tamino para libertar >amina desaparece num halo de luz deixando para os discípulos o gozo da %it0ria. B também um topos um esquema repetí%el. ,as como funcionaD Muanto a *ame Gumb (é este o nome de 7uHalo 7ill) est$ para Lecter como 4larice est$ para 4ra
controle (decide antecipar a morte de 4atherine num acesso de rai%a). 3o Lecter despreza suas %ítimasC Gumb tem ante as suas admira!o e
cobi!a.
4o Lecter come suas %ítimas as p#e para dentroC Gumb dese=a entrar
dentro delas %estindo sua pele.
5o Lecter é "superior" 3s suas %ítimasC é o dem?nio acusador que
=ulga e castiga (fazendo destarte um tipo de "=usti!a"). Gumb é "inferior" ele ataca =ustamente quem possui o que lhe falta.
6o Lecter extingue suas %ítimas para continuar a existirC ele a1rma sua
identidade 3s custas da extin!o dos outrosC Gumb ao contr$rio nega sua pr0pria identidade e dese=a transformarse morrer como homem feio para renascer como mo!a bonita.
2a compara!o salta aos olhos a 1gura tradicional do duplo aspecto do mal que a 7íblia personi1ca em L:cifer e Sat o dem?nio "superior" que per%erte a intelig-ncia e o dem?nio "de baixo" que incita 3s paix#es abissais e 3 destrui!o do corpo. 9 dem?nio como ad%ers$rio do ;spírito e como inimigo da &lma. 5este sentido Lecter é o ad%ers$rio de 4ra
9 paralelismo de Lecter com 4ra
Sua contribui!o é meramente intelectual. ;le 1ca "im0%el" no fundo do seu poro enquanto na superfície se desenrolam as in%estiga!#es de 4larice e os crimes de Gumb. 2o Tal como 4ra
se passando (que 4larice e Gumb no t-m). & diferen!a é que 4ra
no se conforma ao papel passi%o de mero fornecedor de informa!#es8 quer ser o analista e mestre de 4larice. ;sta sabendo que esse papel o lison=eia tira pro%eito da %aidade dele ("%im para aprender com o senhor"). 4ra
come!o ao tomar a garota apenas como uma caipira pretensiosaC depois o desprezo se transforma em admira!o e a admira!o em ser%i!o. 4ra
do pai a %ida estudantil). Lecter conhece todo o passado de Gumb e até conser%a no armazém de ,iss ,ofet um arqui%o %i%ente do come!o da carreira de Gumb como assassino. 6o &mbos se conhecem de longa data e se temem8 4ra
Lecter é capaz de tudoC Lecter est$ ciente de que 4ra
4larice e no consegueC 4ra
9 paralelismo com as posi!#es in%ersas arma o cen$rio para o "duelo dos magos". &s rela!#es entre Lecter e Gumb so o aspecto mais inquietante e enigm$tico da hist0ria. 9 1lme d$ a entender que se conheciam de longa dataC e tendo em %ista a diferen!a de intelig-ncia e de for!a psicol0gica entre os dois é inconcebí%el que Lecter no dominasse Gumb. Seria neste caso o seu guru que o iniciou na senda do crime. 9 epis0dio de 7en=amin @aspall deixa uma certa ambiguidade no ar8 parece que foi Gumb quem o matou mas 1ca e%idente que Lecter dese=ou ou se alegrou com esta morteC e se no a considerasse de algum modo obra sua por que conser%aria seus troféus no sinistro museu de ,iss ,ofetE 2e outro lado uma mente diab0lica capaz de induzir um criminoso ao suicídio com um simples discurso (que é o que ele faz com ,iggs) por que no seria capaz também de go%ernar a mente de "um =o%em assassino em muta!o"E $ um certo tom nost$lgico na %oz de Lecter quando ele diz estas pala%ras enigm$ticas. Tudo d$ a entender que ele te%e alguma participa!o nos "maus tratos sistem$ticos" que transformaram Gumb em criminoso. @essalto a pala%ra "sistem$ticos" que subentende8 intencionais. 9 1lme é tal%ez propositadamente obscuro quanto a este pontoC mas isto s0 faz refor!ar o seu tremendo impacto psicol0gico pois abre 3 nossa imagina!o a porta das especula!#es mais apa%orantes. ,as as refer-ncias mitol0gicas de que o 1lme est$ repleto falam em fa%or da hip0tese acima8 Lecter est$ para Gumb assim como 4raluto no seu trono de sombras quem é GumbE &s mariposas que ele cria so da espécie cheronita st"! . "&queronte" e ";stige" (o latim e o ingl-s conser%am a forma grega original st"! ) so os nomes dos dois rios que no mito grego separa%am o mundo dos %i%os do mundo dos mortos. 5a religio grega no existia um "céu" um "paraíso" exceto para os raros her0is que logra%am por feitos extraordin$rios le%antarse acima dos mortais e transformarse em
semideuses. Todos os demais humanos destina%amse ap0s a morte a uma exist-ncia obscura e sofredora no reino das sombras o ades. Fma %ariante da pala%ra "&queronte" é "4aron" ou "4aronte"8 o barqueiro ser%idor do inferno que atra%essa os mortos gritandolhes como no poema de 2ante8 ;uai a 4oi, anime pra4e@ 3on isperate mai 4eder lo cieloA i’ 4egno per menar4i all’altra ri4a nelle tene're eterne, in caldo e in gelo1 4aronte é ser%idor e discípulo de >luto o qual por outro lado foi depois ob%iamente identi1cado com o dem?nio bíblico. 9 paralelismo >lutoLecterV4aronteGumb se torna ine%it$%el quando reparamos que Gumb ap0s en1ar na garganta de suas %ítimas o casulo de uma mariposa com os nomes dos rios do inferno as le%a de barco e as atira ao fundo de um rio. 2a outra margem do fundo do seu subterr/neo o senhor das tre%as obser%a com e%idente satisfa!o os progressos do "=o%em assassino em transforma!o". Gumb no é um assassino qualquer. ;le trabalha com a coer-ncia estética de quem tem algo mais em %ista8 ele arremata os crimes com um halo de símbolos que lhes d$ a regularidade e a perfei!o de um rito m$gico. Se ele quisesse a pele das %ítimas apenas como matériaprima por que ha%eria de inserir em suas gargantas um símboloE ; por que esse símbolo para ele representa%a em suas pr0prias pala%ras algo de "belo e poderoso"E &o aspecto meramente físico e utilit$rio da opera!o criminosa ele acrescenta%a um suporte simb0lico destinado e%identemente a con%ocar o auxílio das pot-ncias tenebrosas para o sucesso da muta!o dese=ada. Muem lhe ensinara estas coisasE Muem fez do "=o%em assassino em muta!o" um misto de feiticeiro e carrascoE Muem o iniciou na arte tenebrosaE ; por que h$ em sua casa uma bandeira nazista que e%oca sob a 1gura do costureiro de peles humanas a dos carrascos que também mo%idos por sinistros moti%os "esotéricos" tira%am a pele dos prisioneiros =udeus e com elas manda%am costurar artísticas c:pulas de aba=urE 9s crimes de Gumb afastamse assim da moti%a!o psicol0gica mais 0b%ia e utilit$ria para adquirir uma re%erbera!o simb0lica tenebrosa que nas pala%ras de ad%ert-ncia do pr0prio 2r. Lecter ocultam algo de "muito mais inquietante". Símbolos e mitos no filme O Silêncio dos Inocentes - parte V por Olavo de Carvalho
& esta altura =$ no h$ mais escapat0ria8 este mero "thriller bem construído" que a crítica %iu nele esta %ulgar "f$bula do dese=o" oculta
nada menos que um combate dos de4as e dos asuras a guerra c0smica entre as pot-ncias luminosas e tenebrosas que disputam a alma humana e decidem o seu destino. & esta altura o leitor =$ de%e ter ad%ertido que no se trata de um simples drama policial e psicol0gico que se pode %er 3 dist/ncia na tranquilidade de simples espectador. & esta altura o "espectador" preso 3 poltrona por um misto de dor e p/nico =$ sabe que foi mexido até a medula8 de te fa'ula narratur "a hist0ria é a respeito de ti". &té mesmo os nomes dos personagens parecem signi1cati%os. Clarice Starling ob%iamente e%oca a claridade estelar. 5o mito grego as almas dos her0is se transformam em estrelas. Lecter é uma %ariante de lector 8 ele l- nos li%ros e nas almas. Gumb é uma corruptela de gum'e um tipo de tambor sudan-s feito... de pele. +inalmente Crawford um nome banal que poderia no signi1car nada comp#ese de cra7 "garganta" e de to ford "atra%essar". +orma claramente a idéia de "engolirW. >or que "engolir"E >ode ter sido escolhido a esmo mas no é uma coincid-ncia sugesti%a que a pista mais importante para a solu!o do mistério se=a encontrada precisamente na garganta das %ítimasE &demais pode parecer maluquice mas no me sai da cabe!a que 4ra
esotéricos do mundo sal%aro uma obra de perderse na banalidade e na impot-ncia. ;st$ aí o >aulo 4oelho que no me deixa mentir. 9 que no é acidental de maneira alguma é o paralelismo entre as %ítimas de Lecter e as de Gumb. &s de Lecter so todas gente da polícia ou ligadas ao aparato repressi%o. Sua morte "faz sentido" sendo desta forma um aspecto da "=usti!a" ainda que monstruoso e torcido. &s de Gumb so mo!as inocentes8 sua :nica culpa é serem gordas terem bastante pele. Sua morte é "absurda" "in=usta" e por isto elas so comparadas declaradamente aos cordeiros símbolos tradicionais da %ítima sacri1cial inocente. 5o é ento signi1cati%o que na noite de sua fuga Lecter pe!a para =antar costeletas de carneiro mal passadas e que em %ez de com-las coma em seu lugar os guardas isto é8 que em %ez do símbolo das %ítimas inocentes coma as %ítimas culpadasE 5esta imagem apocalíptica separamse como no *uízo +inal os inocentes e os culpados8 os carneiros e os bodes. Muem mata carneiros é Gumb o irracional o absurdo. Lecter sabe o que faz8 prefere os bodes. Gumb tornouse assassino por obra do sofrimento. ,ata os cordeiros numa tentati%a desesperada de sal%arse de uma identidade odiosa que o oprime. 9 paralelismo mais interessante do 1lme tal%ez se=a o que se forma nesse sentido entre ele e 4atherine. B elemento estrutural no acidental. 4atherine no fundo do desespero e do terror apossase da cachorrinha poodle de Gumb e amea!a mat$la. & cachorrinha branca e cacheada é um perfeito carneirinho. 9 esquema maior da trama reproduzido em escala pequena nesse detalhe d$ a ele a for!a e o alcance de um símbolo uni%ersal unindo o micro e o macrocosmo8 perseguido e maltratado pelos dem?nios o homem persegue e maltrata um animal inocente. ,as 4atherine é sal%a e sal%a =unto consigo a cachorrinha8 o gesto "in:til" da menina 4larice ao tentar resgatar o cordeirinho encontra 1nalmente sua resposta satisfat0ria. 5ada foi em %o. & %it0ria de 4larice que é também a de 4ra
as regras. & luta da mulher com a serpente iniciada na cria!o do mundo tem de prosseguir até o 1m dos tempos. 2o ;ênese ao pocalipse. 6niciada com %antagem para a serpente no *ardim do Bden s0 poder$ terminar com a %it0ria 1nal da mulher quando da consuma!o dos séculos. Símbolos e mitos no filme O Silêncio dos Inocentes - parte VI por Olavo de Carvalho
$ quem diga no entanto que quem %enceu foi Lecter8 que ele além de conseguir fugir ainda dominou psicologicamente 4larice e para c:mulo chegou a despertar nela com um simples toque de dedo algo que no seria demais chamar literalmente um teso dos diabos. B um exagero dos diabos isto sim. 9 pr0prio Lecter =$ respondeu a essa gente ao comentar8 "2iro que estamos apaixonados". 2iro sim porque no h$ limites para a burrice humana. & :nica tentati%a de erotizar as rela!#es entre Lecter e 4larice parte dele e é ir?nica para quem percebe. Toque de mo por toque de mo h$ um muito mais prolongado entre 4larice e 4raor mais desmoralizado que este=a o diabo no é nenhum %elho babo para estar se derretendo por uma sirigaita. 5o combina com Lecter. Se ele cede perante 4larice no é por dese=o er0tico mas por ter encontrado dentro dela uma for!a superior que ela mesma no sabe que tem. & Santa Airgem é a1nal representada tradicionalmente com um dos pés prendendo ao solo a cabe!a da serpente. 5otese8 ela no mata o dem?nio apenas o sub=uga. >or que de%eríamos esperar mais de 4larice StarlingE &demais sexualizar as rela!#es de Lecter e 4larice s0 pode parecer reconfortante a certas mentalidades que se pretendem esprits forts mas que no fundo so tímidas. 5o conseguem admitir a exist-ncia do mal em toda a plenitude da sua absurda presen!a e preferem reduzir
tudo a uma escala mais manobr$%el de paix#es infantis quase inofensi%as. Seria bom se o 2r. +reud explicasse tudoC mas +reud no explica%a o dem?nio e ali$s se borra%a de medo dessas "coisas sombrias" como confessou a *ung. Lecter na %erdade despreza a sexualidade física tem no=o dela como se %- pelo fato de matar o psicopata ,iggs s0 para punilo da brincadeira obscena que fez com 4larice (o que é bem característico do tipo de "=usti!a diab0lica" desproporcional e absurda que alguns tomam como a =usti!a propriamente dita). 5o o que h$ entre Lecter e 4larice no é teso. &o contr$rio dos índios da famosa tirada de 5oel 5utels o diabo no come ninguém a no ser por %ia oral. ,as no é de espantar que uma parte ao menos da platéia temendo enxergar as terrí%eis %erdades que este 1lme nos transmite pre1ra amortecer a consci-ncia caindo de =oelhos ante a atra!o hipn0tica do mal8 "entronizaro a 7esta" diz o pocalipse. ;sta tenta!o que se agita no fundo da alma do aterrorizado homem contempor/neo %em 3 tona diante de uma pro%oca!o to inquietante como a que nos é colocada pelo 1lme de *onathan 2emme. 4ertas interpreta!#es dadas a esta hist0ria pro%-m de um tr$gico engano interior8 o espectador incapaz de admitir com serenidade uma quota de mal superior ao que imagina possí%el acaba por buscar alí%io numa rea!o in%ertida trocando em fascínio a repugn/ncia. 4ai %ítima de Lecter e em seguida busca =usti1carse atribuindo a mesma rea!o a 4larice. 9 1lme no fecha totalmente essa porta a quem dese=a entrar por ela. Fma certa publicidade letal para as mentes fracas faz parte da regra constituti%a das narrati%as inici$ticas8 no h$ uma s0 delas que no possua em seu fundo um potencial de interpreta!o in%ertida falsa e obscurecedora 3 disposi!o de quem dese=e enganarse. 9 crítico canadense 5orthrop +r'e que é no mundo quem estudou mais profundamente esse g-nero narrati%o a1rma categoricamente8 "Toda imagem apocalíptica tem uma par0dia ou contr$rio demoníaco e %ice %ersa." & crítica nacional em peso decidiu compreender desta obra to somente a sua par0dia. 4ertamente no de%o ser acusado de inimizade quando ad%irto a esses críticos que h$ no fundo de sua op!o além de desconhecimento das leis da narrati%a coisa imperdo$%el num crítico também uma deciso moral e psicol0gica das mais gra%es e tanto mais gra%e quanto tomada com plena inconsci-ncia de suas implica!#es profundas8 de te fa'ula narratur .
Símbolos e mitos no filme O Silêncio dos Inocentes - parte VII por Olavo de Carvalho
&inda uma pala%ra sobre o g-nero. 9 g-nero é de1nido pela estrutura. 5este sentido O Silêncio dos Inocentes no tem em comum com os outros 1lmes e romances policiais seno o assunto. & estrutura é di%ersa. Também no t-m cabimento as compara!#es com o thriller hitchcociano que aNuíram 3 boca dos críticos ao primeiro exame. &s hist0rias de itchcoc obedecem sempre ao mesmo esquema de um her0i banal que se %- por acaso en%ol%ido em circunst/ncias complexas e ad%ersas. & guerra de 4larice e 4ra
2eus.
2o ,odalidade lendária8 o her0i é um simples ser humano mas
assistido de perto por pot-ncias transcendentes.
3o ,odalidade imitatia eleada8 o her0i é um ser humano de
excepcional en%ergadura de modo que sem o concurso explícito de for!as extraterrenas (que podem estar no entanto subentendidas) consegue realizar a!#es extraordin$rias. 4o ,odalidade imitatia bai!a8 o her0i é um ser humano comum sem
poderes superiores aos do leitor nem qualquer assist-ncia di%ina.
5o ,odalidade ir"nica8 o her0i tem menos poder do que o leitorC é um
incapaz ou uma %ítima das circunst/ncias.
2a compara!o entre o thriller hitchcociano e O Silêncio dos Inocentes a diferen!a salta aos olhos8 este pertence decididamente 3 modalidade imitatia eleada aquele 3 imitatia bai!a. 4larice é como ressaltou *odie +oster uma %erdadeira heroína. ,as isto no resol%e totalmente o problema do g-nero. 5o início do artigo falei da tragédia grega mas é claro que O Silêncio dos Inocentes no é uma tragédiaC e se obtém o mesmo efeito de "terror e piedade" é por meios totalmente di%ersos dos empregados pelo teatro grego e no sem um toque 1nal de alí%io de efeito %erdadeiramente c?mico quando %emos Lecter de peruca rui%a espreitando para =antar 4hilton.
Tragédia comédia policial thriller 8 o 1lme parece misturar um pouco de tudo. Se porém atentarmos para a sua estrutura %eremos que ela é similar 3 do uto da lma de Gil Aicente8 o 2iabo e o 4risto lutam pela posse de uma alma humana (4atherine que por sinal quer dizer "pureza"). 9 mesmo esquema b$sico est$ presente em muitas outras pe!as medie%ais e se Goethe e Thomas ,ann decidiram imit$lo em seus respecti%os $austos é porque o $austo é uma lenda medie%al. & brutalidade a sangueira toda também so medie%ais8 o homem da 6dade ,édia esta%a habituado a espet$culos que ho=e nos pareceriam repulsi%os8 deleita%ase com execu!#es p:blicas prociss#es de Nagelantes e leprosos e pensa%a continuamente em guerras mortes e epidemias que faziam parte do seu cotidiano. & higiene da época burguesa baniu essas imagens que outrora eram parte do tecido da %ida e naturalmente cenas habituais no teatro. Fma certa brutalidade crua do teatro de Shaespeare foi repetidamente quali1cada por historiadores como um elemento medie%al remanescente. S0 o fato de ha%er introduzido esse g-nero no cinema %estindoo com matéria policial =$ teria feito de O Silêncio dos Inocentes um momento memor$%el. ,as aqui o modelo tern$rio dos utos medie%ais aparece re%isto e potencializado pelo acréscimo de um toque original que o cura do seu esquematismo cong-nito da sua "ingenuidade" e lhe d$ uma for!a dram$tica fora do comum8 é que cada um dos tr-s arquétipos 4risto 2iabo e omem no aparece simplesmente representado por um personagem mas duplicado desdobrado cada um em dois aspectos opostos e complementares formando o seu encontro um cruzamento altamente explosi%o de tr-s eixos de contradi!#es. ,ais do que qualquer explica!o um diagrama pode dar conta da estrutura complexa e 1rmemente amarrada desta hist0ria. ;ste diagrama de%e ser imaginado como um disco horizontal atra%essado por um eixo %ertical 6 e cortado horizontalmente por outros dois eixos 66 e 6668
9 ;ixo 6 é o da culpa e da inoc-ncia8 em cima as %ítimas de GumbC em baixo as de Lecter. 9 ;ixo 66 representa o ,al o 666 o 7em. >orém o disco horizontal tem também uma parte branca que representa o ;spírito ou as for!as uni%ersais e uma parte escura que representa o mundo da corporalidade onde se desenrolam as a!#es particulares. $ portanto um mal espiritual (Lecter) e um mal corporal (Gumb) que disputa com um bem espiritual (4ra
numa simples luta de polícias e bandidos aqui ao contr$rio uma hist0ria policial é ampliada e potencializada num espelhismo dialético que condensando dramaticamente todas as ambiguidades e contradi!#es com que o mal se apresenta como bem e e%entualmente se transforma nele acaba por ele%ar o con=unto 3s dimens#es de uma guerra entre pot-ncias c0smicas pela deciso do destino humano.
2o & estrutura seten$ria do con=unto é repetida em plano pequeno nos
detalhes da narrati%a pelo menos tr-s %ezes8 so sete as %ítimas de Gumb sete policiais rodeiam 4larice enquanto ela sobe pelo ele%ador para a entre%ista com 4ra
3o 9 esquema seten$rio ou cruz de seis pontas que se usa
normalmente em astronomia para a descri!o da esfera celeste é considerado em simb0lica uma espécie de "símbolo dos símbolos" um instrumento hermen-utico com que se pode encontrar a cha%e estruturante de obras de arte de institui!#es de sistemas 1los01cos etc. & misti1ca!o popular do n:mero X é uma par0dia desse símbolo. Também é e%idente que o apro%eitamento artístico dessa estrutura coloca problemas de grande di1culdade que s0 um artista de primeira ordem consegue %encer. 4o 9 mesmo diagrama pode ser descrito de %$rias maneiras inclusi%e
in%ertendose as posi!#es e colocando em mo%imento os =ogos e dinamismos entre os %$rios polos. Somente isto permitiria obter uma compreenso detalhada da estrutura narrati%a mas e%identemente seria um estudo demasiado extenso para se realizar aqui. 5o 9s símbolos %ariados de que a narrati%a lan!a mo s0 obt-m sua
plena e1c$cia porque a estrutura no seu con=unto é simb0lica. & estrutura seten$ria das dire!#es do espa!o a partir de um ponto central foi desde a antiguidade considerada um modelo su1cientemente amplo e coeso para com ele se descre%er o con=unto da estrutura do homem como se %- pela correspond-ncia entre os sete planetas da astrologia antiga as faculdades cogniti%as humanas IJK e as sete &rtes Liberais que resumiam o essencial da educa!o medie%al IOK. & rela!o entre os símbolos particulares e a estrutura total é a pedradetoque para sabermos se estamos diante de uma aut-ntica narrati%a inici$tica ou de uma imita!o grosseira com pretens#es "esotéricas" descabidas. IJK 9la%o de 4ar%alho stros e S.m'olos So >aulo 5o%a Stella JRY. IOK 2ante II 9on4ito trat. 66 4ap. Z666C Titus 7urchardt (rincipes et Methodes de l’rt Sacré >aris 2er%'Li%res JRO. A. tb. a prop0sito dos g-neros8 9la%o de 4ar%alho Os gêneros &iter>rios1 Seus $undamentos Metaf.sicos (apostila) So >aulo 6nstituto de &rtes Liberais JRR[. Sobre os princípios do simbolismo %. @ené &lleau &a Science des S"m'oles1 9ontri'uition C l’tude des (rincipes et des Méthodes de la S"m'oli6ue ;énérale >aris >a'ot JRXX. Símbolos e mitos no filme O Silêncio dos Inocentes - parte VIII por Olavo de Carvalho
& interpreta!o aqui apresentada disse eu uns par$grafos atr$s se mantém de pé independentemente de algumas das raz#es secund$rias que aleguei para sustent$la. 6sto porém no me impede de acrescentar ainda outras menos a título de pro%a que de ilustra!o.
B muito instruti%a por exemplo a compara!o entre o roteiro do 1lme e o romance original de Thomas arris IJK. & adapta!o cinematogr$1ca da obra liter$ria é sempre ocasio de cortes e acréscimos que quando se demonstram obedientes a algum padro ou critério 1xo muito re%elam sobre os princípios estéticos do cineasta que podem ser muito diferentes daqueles do escritor. B este precisamente o caso. 9 diretor *onathan 2emme e o roteirista Ted Tall' mudaram tanta coisa na hist0ria original que 1zeram de seu 1lme uma obra independente inspirada em moti%os di%ersos e até mesmo opostos aos de arris. >orém mais que isto as modi1ca!#es que introduziram seguem uma uniformidade de sentido que nos permite facilmente discernir o espírito que as guiou. 5o creio errar quando digo que ti%eram por resultado principal (portanto como principal sentido) transpor a narrati%a da modalidade imitatia bai!a para a modalidade imitatia eleada. &s diferen!as mais fundas esto mostradas no Muadro que %em como &p-ndice 666 deste trabalho de modo que no é preciso exp?las aqui. &penas o leitor examinando o Muadro %eri1car$ se no tenho razo ao tirar delas a concluso acima. >osso acrescentar somente umas pala%ras de explica!o. Signi1cati%amente o roteirista amputou da hist0ria todas as refer-ncias a moti%a!#es íntimas e a circunst/ncias pessoais imediatas que pudessem tornar mais facilmente explic$%eis em termos de psicologia (ou de psicopatologia) os atos dos personagens centrais 4larice 4ra
suma que no pode ser reduzido a uma regra geral a uma média ou a uma tipicidade. >odese por exemplo explicar psicologicamente ou sociologicamente o comportamento de ,adame 7o%ar' sem nenhum pre=uízo para a apreenso estética da obraC de%ese ali$s faz-lo porque esta apreenso estética s0 se torna completa =ustamente ap0s a compreenso psicol0gica e sociol0gica das causas em =ogo que o comportamento da personagem ilustra como exemplo de uma regra geral. ,as o mesmo procedimento interpretati%o falha quando aplicado a amlet a +austo ou ao >ríncipe ,ichinC em face destes quanto mais procuramos reduzilos a express#es de leis gerais mais nos escapa o que h$ neles de essencial e de signi1cati%o. ;sta é a razo pela qual a abordagem psicol0gica é irrele%ante ou falha no caso de O Silêncio dos Inocentes8 perdese em especula!#es marginais deixa escapar o essencial. ,adame 7o%ar' é um tipoC e um tipo explicase pela regra geral que ele tipi1ca. amlet ,ichin (ou Lecter) so símbolosC e símbolos como bem resumiu Susanne P. Langer IOK so matri%es de intelec&'es8 destinamse a abrir 3 intelig-ncia no%as possibilidades de compreenso e explica!o e no a serem por seu lado capturados na grade de alguma explica!o preexistente. ;xplicar Lecter pela patologia ou 4larice pelo teso escondido é reduzir o símbolo a tipo é aplicar arti1cialmente 3 narrati%a imitati%a ele%ada um padro de %erossimilhan!a explicati%a que s0 cabe no caso do imitati%o baixo. 5o Muadro o leitor encontrar$ muitos outros indícios no mesmo sentido do que expus (por exemplo do li%ro para o 1lme o centro de interesse passou da in%estiga!o do esconderi=o de Gumb para a decifra!o do seu intuito secretoC isto é da a!o física para a tenso intelectualC etc. etc.). 5o %e=o necessidade de le%ar adiante por mim mesmo esta compara!o que ele poder$ realizar sozinho e com grande pro%eito. ;m suma8 O Silêncio dos Inocentes é uma narrati%a da modalidade imitati%a ele%ada estruturada segundo um modelo que sugere o dos utos medie%ais (4risto 2iabo e &lma) e que aqui se apresenta potencializado pelo recurso dialético do desdobramento dos personagens formando uma estrutura seten$ria similar 3 das dire!#es do espa!oC é uma narrati%a inici$tica realizada com plenitude de meios e extrema felicidade no emprego de símbolos tradicionais da religio e das mitologias. B uma aut-ntica imago hominis ou imago mundi. B grande arte. Sua %iso nos inspira o terror e a piedade nos predisp#e a uma consci-ncia aprofundada das for!as que presidem ao destino e neste sentido nos torna mais humanos. Sua hermen-utica aqui apenas esbo!ada a título pro%is0rio é um exercício de autoconsci-ncia que exige de n0s (além dos conhecimentos cientí1cos necess$rios) uma 1rmeza de prop0sitos e uma disposi!o de encontrar a %erdade en1m
uma atitude interior cu=o símbolo a obra mesma nos fornece na pessoa de 4larice Starling. ;ste exercício é também a ocasio de recordar uma coisa que anda fora de moda8 o sentido moral e pedag0gico de toda grande arte. Mue esse sentido possa ser perdido na banaliza!o e no pedantismo que ho=e so a t?nica da %ida intelectual no 7rasil é um dano lament$%el que aqui procurei compensar com os recursos de que dispunha. IJK Thomas arris O Silêncio dos Inocentes trad. &ntonio Gon!al%es >enna Oa ed. @io de *aneiro @ecord JRRJ. [2] V. Susanne K. Langer, Philosophy in a New Key. A Study in the Symbolism of Reason, Rite, and Art , New York, Mentor Book, 1952 (esp. !ap. "#.
Apologia do Estado em O Silêncio dos Inocentes (apêndice I por Olavo de Carvalho
Fma tradi!o %ener$%el da crítica brasileira ordena olhar todas as coisas por seu lado político e ideol0gico. 5o pretendo esqui%arme a esse mandamento (cu=a obedi-ncia alí$s me foi cobrada por mais de um ou%inte das palestras) embora com toda a e%id-ncia a abordagem ideol0gica no se=a a mais frutífera para a compreenso deste 1lme (se o fosse eu teria feito uma an$lise ideol0gica e no simb0lica pois segundo o %elho ad$gio escol$stico é a natureza do ob=eto que de%e determinar o método de estud$lo). Sociologicamente a coisa mais 0b%ia na hist0ria é que nela s0 existem dois grupos sociais8 criminosos de um lado funcion$rios p:blicos de outro. 5o h$ oper$rios patr#es ou classe média. & luta de classes est$ ausente se=a da trama se=a da estrutura da consci-ncia (ou do inconsciente) dos personagens. & hist0ria poderia passarse indiferentemente num país capitalista ou socialista pois uma s0 condi!o é requerida e ela se cumpre em ambos os casos8 a exist-ncia de uma ordem estatal e de um banditismo capaz de amea!$la. 9 conNito resumese na guerra entre o ;stado e os bandidos apresentada mais genericamente como confronto da razo com a %iol-ncia do humano com o antihumano da ordem com o caos8 é a polis lutando contra a in%aso das for!as tenebrosas. 9 ;stado é aqui apresentado como símbolo e epítome da razo a ordem estatal como prot0tipo de um mundo humanizado8 o abrigo do homem. 9 banditismo por seu lado tem uma dupla raiz8 sobrenatural (ou mais precisamente preternatural para usar o termo técnico com que os
te0logos distinguem o diab0lico) e hist0rica. 9 preternatural surge nas alus#es 3 magiaC o hist0rico na men!o fugaz mas signi1cati%a ao nazismo. 9 1lme é teologicamente exato ao apresentar o 2em?nio como inimigo no propriamente de 2eus mas do homem (e por extenso da polis se considerarmos com egel que o ;stado é a mais característica cria!o da mais caracteristicamente humana faculdade). ; que nazismo e diabolismo se=am no fundo uma s0 coisa é algo que se pode suspeitar seriamente sobretudo depois da leitura de dois cl$ssicos na matéria8 =he +e4olution of 3ihilismA Farning to the Fest, de ermann @auschning (5e< ]or &lliance 7oo JR^R) e =he &ast Da"s of Gitler de ugh @. Tre%or@oper (London ,acmillan JRX). Muanto 3 identi1ca!o do ;stado com a ordem humana (e por extenso com o 7em) =$ esto longe os tempos em que o malentendido ideol0gico le%a%a a rotular egel como apologista do totalitarismo8 egel é antes o in%entor da moderna no!o do ;stado de 2ireito. Leiam Bric Qeil Gegel et l’tat (>aris Arin JRY). O Silêncio dos Inocentes é ideologicamente uma apologia do ;stado de 2ireito hegeliano contra o "superhomem" do subsolo que se le%anta sedento de sangue para implantar o reinado do terror at$%ico e fundar uma religio de ritos m$gicos onde o sacrifício humano tenta aplacar em %o a fome de insaci$%eis di%indades tenebrosas. B de certo modo egel contra 5ietzsche. Se querem saber minha posi!o estou com o primeiro e no abro. __ Aoltar para o índice
O to!"e de m#o (apêndice II por Olavo de Carvalho
Fma coisa que esqueci de dizer mas que pode ser importante é a respeito do falado toque de mo entre Lecter e 4larice. ,uitos o in terpretaram como sinal de erotismo. *$ demonstrei que isto ele no poderia serC mas o que é entoE Sugiro ao leitor que re%e=a o 1lme e repare bem na forma dos gestos. Lecter estende o dedo indicador e toca de le%e a mo de 4larice. & tela parece brilhar o bre%e instante re%erbera para fora do tempo. >rocure agora uma c0pia da 9ria%)o do Mundo de ,ichelangelo (teto da 4apela Sixtina) e obser%e o detalhe em que a mo de 2eus toca a de &do insuNando no homem recémcriado a%ida do ;spírito.
5o é parecidoE 9 dedo índice corresponde na quirologia simb0lica a *:piter o astro da autoridade sacerdotal. Seu toque assinala a ben!o a marca de uma elei!o a descida de uma inNu-ncia espiritual iluminante. Tem o mesmo sentido do raio de \eus a re%ela!o que fulmina quem foge da %erdade e ilumina quem a busca. 9 toque de mo por entre as grades da cela no condado de Shelb' precede =ustamente a exploso intuiti%a com que 4larice até ento perdida na trama obscura dos indícios falsos percebe o primeiro claro da %erdade que a p#e na pista certa do criminoso (re1rome ao momento em que ela examina o mapa com o auxílio %e=am s0D da Srta. Mapp). 2eus cria o homem das tre%as do nada e insuNalhe em seguida com um toque do dedo índice a luz da intelig-ncia. 6sto o 2em?nio no pode fazer. ,as ele pode criar um simulacro uma c0pia em miniatura montando arti1cialmente uma trama de obscuridades enigm$ticas e deixando o homem debaterse nela para em seguida retir$lo de l$ com um toque de mo que de repente esclarece tudo. & intui!o ordenadora é mutatis mutandis uma recria!o do mundo. Lecter brinca de 2eus fazendo brotar das tre%as a luz na mente de 4larice. 9 toque do dedo índice é a b-n!o ritual que coroa o processo inici$tico. & heroína no se d$ conta do que acaba de acontecerC retirada pelos guardas ela protesta diz que Lecter 1cou lhe de%endo algo. ,as ele sorri porque sabe que =$ lhe deu o toque 1nal8 logo mais as brumas come!aro a se dissipar. ;le macaqueia é claro. ,as com que classeD A m"lher como símbolo da inteligência (apêndice III por Olavo de Carvalho
9aged Geat um 1lme anterior de *onathan 2emme que eu desconhecia na época em que redigi a primeira edi!o deste li%ro d$ uma plena con1rma!o 3s interpreta!#es que nele ofereci. B um 1lme francamente ruim com alguns momentos not$%eis. ,as o que interessa no caso no é a realiza!o e sim a proposta tem$tica. 5o todo e nos detalhes ela é a mesma da hist0ria de 4larice Starling8 a luta da intelig-ncia humana contra um princípio hostil diab0licamente racional na consecu!o de 1ns irracionais. &qui também a intelig-ncia é simbolizada por uma mulher ou melhor por um grupo de mulheres as detentas que procuram escapar do tratamento de reprograma!o cerebral praticado na priso por um psiquiatra maldoso uma antecipa!o tímida e canhestra mas signi1cati%a do 2r. Lecter. ,as se a classe dos psiquiatras parece encarnar para *onathan 2emme a 1gura mesma da
ast:cia mal intencionada os diretores de pris#es personi1cam a estupidez %aidosa que a de%o!o a uma moralidade de apar-ncias coloca de maneira mais ou menos in%olunt$ria a ser%i!o do mal8 a diretora do presídio de mulheres é o 2r. 4hilton a4ant la lettre1 5ela como nele a fraqueza b$sica que abre o Nanco 3 a!o do dem?nio é a de%assido oculta sob um %éu de honorabilidade. &penas as propor!#es so in%ertidas8 em 4hilton o %éu é to transparente que torna c?micos os esfor!os do personagem para fazerse de respeit$%elC ao passo que na diretora a autocensura repressi%a é um muro de chumbo cu=o peso chega a torn$la paralítica 1sicamente e por tr$s do qual os dese=os no podem se expressar seno na linguagem %elada dos sonhos. &crescido ao fato de que a personagem é uma mulher bela e fr$gil isso termina por fazer dela menos uma caricatura como 4hilton do que a amplia!o expressionista de uma tr$gica impot-ncia de humanizarse. ;la nos inspira rai%a e pena no desprezo. Fma signi1cati%a analogia in%ersa é que aparecendo aqui como for!as em luta exatamente as mesmas classes sociais de O Silêncio dos Inocentes delinquentes 4ersus funcion$rios p:blicos as fun!#es morais esto in%ertidas cabendo aos marginais a personi1ca!o da normalidade humana e aos ser%idores da burocracia estatal a encarna!o da frieza diab0lica. 6sto mostra claramente que o fundo ideol0gico discernido em O Silêncio dos Inocentes no é um elemento essencial e sim acidental con1rmando o que foi dito no &p-ndice 6 isto é que na an$lise desse 1lme o pontode%ista ideol0gico no é o mais frutífero e de%e estar subordinado 3 abordagem simb0lica e moral. 4omparando os dois 1lmes %emos que se para *onathan 2emme o ;stado pode representar por um lado a ordem e a seguran!a que protegem o ser humano contra os assaltos da %iol-ncia demoníaca de outro lado o cineasta est$ consciente de que essa ordem e seguran!a podem incorporar também a frieza maquinal de um engenho demoníaco %otado 3 destrui!o do humano no homem. Meno male8 quem sente a ambiguidade da no!o hegeliana do ;stado matriz da liberal democracia tanto quanto do comunismo e do fascismo s0 pode respirar ali%iado ao %er como a intui!o certeira do artista bem intencionado é uma espécie de prote!o instinti%a contra a tenta!o de enganosos simplismos ideol0gicos. 9 que é rigorosamente igual nos dois 1lmes é a apologia da intelig-ncia humana normal e s que aliada 3s qualidades morais b$sicas lealdade coragem aus-ncia de pretens#es pode %encer tanto a escorregadia dialética do 2r. Lecter quanto a parafern$lia policial psiqui$trica do presídio de mulheres. ;ssa síntese de qualidades cogniti%as e ati%as recebe o nome tradicional de fr0nesis que se traduz como "prud-ncia" ou sabedoria pr$tica. ;m ambos os 1lmes ela é representada por uma mulher ( ou um grupo de mulheres ) que combate
e %ence for!as diab0licas de ordem tanto "masculina" quanto "feminina"8 a ast:cia penetrante de Lecter est$ para o passionalismo macabro de Gumb exatissimamente como a frieza s$dica do médico do presídio est$ para a in%e=a rancorosa da diretora. & mulher simbolizando a sabedoria8 por queE >orque ora bolas ninguém precisa de uma razo especial para repetir um simbolismo uni%ersal8 a fr0nesis é "grandeza da Terra" do I 9hing é &tena é a "mulher forte" da 7íblia é 7eatriz e Laura é tudo aquilo en1m que as intelectuaizinhas enragées de ho=e s0 conseguiro ser no dia em que a diretora do presídio puder libertarse da cadeiraderodas da pseudoracionalidade arrogante aceitar o caminho da modéstia leal e tornarse uma 4larice Starling. +io, H de maio de --1 $es"mo do enredo (apêndice IV por Olavo de Carvalho $ar%&e Star$%ng, po$%&%a$ estag%'r%a, eer&%ta)se nu +osue atr's -a se-e -e B/ e 0uant%&o. !aa-a para ua entre%sta &o o &!ee -o 3epartaento -e %4n&%as -o oportaento, e$a &rua a entra-a -o +osue, on-e tr4s &artaes -e a-e%ra &raa-os nas 'rores eorta o asp%rante a suportar a -or, a agon%a e o sor%ento. 6 uarto &arta or-ena7 8e. 1-
2 ( Aestida com uma blusa azulceleste ela sobe pelo ele%ador rodeada
de sete aspirantes homens de blusas %ermelhas.
5o escrit0rio do chefe ela %- pelas paredes os recortes de =ornal em que o assassino conhecido como "7uHalo 7ill" é apontado como autor de crimes hediondos8 pela quinta %ez ele acaba de matar uma =o%em e esfolar o cad$%er abandonandoo num rio. 9 chefe *ac 4raor seus conhecimentos e sua ast:cia Lecter era um tipo difícil para os psic0logos do manic?mio e no colabora%a com as tentati%as de sondar sua mente.
4larice topa a oferta e 4ra
fanfarro metido a conquistador 4larice desce ao poro do manic?mio para entre%istarse com Lecter. 4omo 4hilton diz que Lecter o odeia e o considera sua 5-mesis 4larice prefere fazer a entre%ista sozinha. ;la atra%essa o "corredor da morte" onde loucos assassinos a espreitam de dentro das grades. Fm deles ,iggs apelidado ",iggs ,:ltiplas" (subentendendose8 ",:ltiplas ;re!#es") lhe grita obscenidades. 5o 1m do corredor ela a%ista o 2r. annibal numa cela que em %ez de grades (por onde ele poderia en1ar as mos) est$ separada do corredor por um grosso %idro blindado com buraquinhos para a respira!o. ,uito polido mas com um sorriso maligno Lecter procura sondar a mente de 4larice em %ez de ser sondado por ela. >or um bre%e exame de suas roupas e pelo cheiro do perfume ele tra!a o seu per1l socio econ?mico e daí conclui tra!os de sua personalidade8 por tr$s de seu "bomgosto adquirido" e da sua apar-ncia de pro1ssionalismo e maturidade ele re%ela em 4larice a mocinha interiorana tímida e ambiciosa. 4larice aceita sem ob=e!#es o per1l tra!ado e reconhecendo o saber psicol0gico de Lecter diz que dese=a aprender com ele. Lecter diz ento que 4ra
4 ( ;la sai da entre%ista perturbada e passam pela sua mente
recorda!#es de seu pai um policial morto por bandidos quando ela tinha dez anos. 5o dia seguinte ela 1ca sabendo por 4ra
saber por que ele a ludibriou ao mesmo tempo que a a=udou8 a1nal segundo ela descobrira ,iss ester ,ofet no existia era apenas um anagrama de the rest of me ("o resto de mim"). 2e quem era o cad$%erE Lecter cumprimentaa por sua arg:cia e lhe informa que a cabe!a era de um seu expaciente 7en=amin @aspail que fora amante de 7uHalo 7ill ento "um assassino principiante em muta!o" (Lecter no explica o que quer dizer com isto). Lecter ao mesmo tempo que oferece a=uda para capturar 7uHalo 7ill continua a tentar sondar a mente de 4larice. 2esta %ez quer saber do interesse sexual de 4ra
blusa e extasiado examina a pele das costas. & :nica testemunha do sequestro é um gatinho.
7 ( 5o%amente 4larice interrompe um treino para atender ao chamado
de 4ra
5o caminho 4larice esbo!a teorias sobre a psicologia de 7uHalo 7ill. 4ra
com o prop0sito de obter informa!#es sobre o assassino das mo!as desculpandose de no a ha%er informado sobre o intuito da misso8 ele explica que se ela esti%esse consciente desse prop0sito Lecter poderia ler seus pensamentos e manipul$la. 5o %el0rio de ;l @i%er Qest Airginia 4larice 1ca na sala rodeada de sete guardas de uniforme preto enquanto 4ra
4larice o casulo8 pertence a um tipo de mariposa a cherontia st"! que %i%e na `sia e s0 pode ter %indo parar em Qest Airginia pelas mos de algum criador. ;nquanto isso na casa de 7uHalo 7ill ou%ese uma %oz desesperada que do fundo de um po!o clama por socorro. * ( >ela TA 4larice 1ca sabendo que a mo!a recémsequestrada por
7uHalo 7ill (a sétima %ítima) ainda de%e estar %i%a8 é 4atherine ,artin 1lha da senadora @uth ,artin que por uma rede nacional emite dram$ticos apelos 3 compaixo e generosidade de 7uHalo 7ill. 1+ ( 4larice %olta pela terceira %ez ao poro do manic?mio onde aplica
um ardil concebido por 4ra
11 ( 7uHalo 7ill em sua casa est$ costurando alguma coisa 3 m$quina.
2o fundo do po!o os gritos soam cada %ez mais angustiados. 6ndiferente aos gritos 7uHalo 7ill =oga um %idro de lo!o ao fundo do po!o ordenando que 4atherine passe a lo!o nas costas. 4atherine enlouquecida de medo obedece. 12 ( 9 2r. 4hilton que enciumado por %erse excluído das
in%estiga!#es gra%ara por um microfone escondido a :ltima con%ersa de 4larice com Lecter resol%e tirar pro%eito da situa!o. ;ntra em contato com a senadora denunciando o ardil em que 4rare%endo o sucesso e prestígio que obter$ com esta manobra ele transmite a oferta a Lecter. ;ste aceita mas exige um encontro direto com a senadora. 13 ( ;m camisa de for!a e com uma m$scara de h0quei 3 guisa de
focinheira o que lhe d$ uma apar-ncia monstruosa compatí%el com a sua psique Lecter tem um encontro com a Senadora no aeroporto de ,emphis Tennessee. ;le lhe d$ informa!#es falsas sobre a identidade e o paradeiro de 7uHalo 7ill e ainda faz com ela um grace=o sinistro sobre um de seus seios que segundo ele percebe fora extirpado logo ap0s a amamenta!o de 4atherine. & senadora 1ca profundamente abalada. 14 ( Lecter é transferido para uma =aula no Y andar do +orum do
4ondado de Shelb' Tennessee enquanto aguarda remo!o para a cadeia mais confort$%el que lhe fora prometida. 4larice %ai procur$lo a contragosto dos guardas para protestar pela falsidade das informa!#es dadas 3 senadora (ela percebera que o nome fornecido por Lecter era apenas um anagrama de sulfeto de ferro a pirita ou "ouro dos tolos" fora tudo uma piada). ;la exige a informa!o %erdadeira. Lecter lembra o seu trato e exige por sua %ez no%as informa!#es sobre a inf/ncia de 4larice. 4larice angustiada pela urg-ncia pois sabe que em poucos minutos %iro buscar Lecter consente em responder. ;la conta ento que na fazenda onde fora morar ap0s a morte do pai despertara uma noite ou%indo gritos de medo. +ora ento até o celeiro e %eri1cara que os gritos %inham de cordeiros e o%elhas que esta%am sendo abatidos pelo fazendeiro. ;nto ela abrira o porto para os cordeiros fugirem mas atarantados eles no fugiram8 1caram apenas ali gritando. 4larice pegara ento um deles no colo e fugira com ele para o mato na esperan!a de poder sal%ar pelo menos um. ,as fora in:til8 a polícia acabou por peg$la e o cordeiro de%ol%ido ao dono foi abatido como os outros.
Lecter diz ento que ao tentar sal%ar 4atherine das mos de 7uHalo 7ill 4larice est$ tentando repetir a ut0pica boa a!o da inf/ncia8 sal%ar todo o rebanho numa s0 o%elha. ;le adi%inha que ela ainda agora acorda 3s %ezes de madrugada ou%indo o grito aterrorizado das o%elhas. 4larice como sempre admite que ele tem razo. Muando 4larice lhe cobra sua parte no acordo Lecter come!a a falar sobre 7uHalo 7ill. ;le recomenda a 4larice citando o 1l0sofo ,arco &urélio que se atenha 3 ess,ncia do problema descartando o acidental. 9 assassino em 7uHalo 7ill é acidental8 o essencial é a cobi&a e "s0 cobi!amos o que %emos com frequ-ncia". Muando 4larice exige en1m o nome do assassino é tarde demais8 o 2r. 4hilton =$ %em entrando com os guardas para retir$la. >uxada para fora pelos guardas 4larice aos gritos cobra ainda de Lecter o nome do assassino e ele lhe responde com tranquilidade ener%ante que tudo =$ est$ no dossi- sobre 7uHalo 7ill que lhe fora entregue pela pr0pria 4larice. ;la des%encilhase dos guardas e %olta correndo para apanhar os papéis da mo de Lecter. ;ste ento apro%eita para tocar com o dedo indicador a mo de 4larice. 15 ( Lecter é bem tratado em sua no%a resid-ncia. ;m sua =aula de Shelb' ele tem li%ros um gra%ador que toca as -aria&'es de Goldberg
de 7ach e boa comida. Sobre a mesa esto seus desenhos (ele é artista exímio)8 um deles mostra 4larice com um halo de luz em torno da cabe!a e um cordeirinho no colo. 4omo um ícone. Lecter pedira um segundo =antar e os guardas %-m traz-lo8 costeletas de carneiro mal passadas. 9 que eles ignoram é que Lecter sabese l$ como roubara uma caneta do 2r. 4hilton e com a presilha 1zera uma cha%e. Muando eles o algemam num canto da =aula para colocar a bande=a sobre a mesa ele facilmente se liberta algema um dos guardas nas grades de =aula e a%an!a sobre o outro matandoo a mordidas sacudindo sua cabe!a entre os dentes como um co que de%ora um rato. ;m seguida %oltase contra o outro e o mata a pauladas. 9u%emse tiros soa o alarme. Fm %alente sargento a%an!a pelos corredores armado e ao chegar 3 =aula %- horrorizado um dos guardas cruci1cado nas grades com o rosto dilacerado e as tripas 3 mostra enquanto o outro agoniza no cho. Fma equipe da SQ&T %asculha o prédio em busca de Lecter. ;ncontram no teto do ele%ador um corpo que =ulgam ser de Lecter mas enquanto isto Lecter na ambul/ncia retira o escalpo de um dos guardas com que cobrira o pr0prio rosto e de%ora os paramédicos fugindo. +ora ele
quem disparara os tiros para colocar a polícia na pista falsa %estindose de guarda em seguida. 16 ( 4larice con%ersa com sua amiga &rdelia ,app e assegura que
Lecter no %ir$ procur$la pois seria "demasiado %ulgar para ele". &rdelia encontra no dossi- uma anota!o de Lecter sobre o mapa que mostra%a os lugares onde se tinham encontrado os cad$%eres das %ítimas de 7ill. 9 computador no encontra nenhum padro de regularidade na distribui!o desses locais e Lecter escre%era8 "5o parece ha%er uma desordem proposital na escolha dos locaisE" 6sto era tudo. Trocando idéias com &rdelia 4larice lembrase da frase de Lecter8 "S0 cobi!amos o que %emos com frequ-ncia". ;la puxa do dossi- a fotogra1a da primeira %ítima de 7ill +rederia 7immel. ";nto ele a conhecia" exclama &rdelia. 17 ( 4larice d$ uma busca na casa de +rederia. Fm gatinho mia
procurando a dona. 5o quarto 4larice %- um %estido formado nas costas de um padro de losangos iguais ao formato dos cortes feitos na pele de uma das %ítimas. +rederia era costureira. 2e s:bito tudo se esclarece8 7ill era costureiro também conhecia +rederia de algum lugar. ;le esta%a fazendo "%estido de mulher" com a pele das %ítimas. @e=eitado nos centros de cirurgia para mudan!a de sexo por no apresentar os tra!os de personalidade do aut-ntico transexual ele esta%a procurando fazer com seus pr0prios meios a "transforma!o" a que aspira%a. 1) ( 4larice comunica o resultado das in%estiga!#es a 4ra
este a bordo de um a%io =$ esto indo para a cidade de 4alumet 4it' 9hio onde acredita localizar 7uHalo 7ill. *$ tem a identidade dele8 4hamase *ame Gumb é de fato um costureiro e é criador de mariposas. 4ra
mat$la se Gumb no a libertar ou no lhe entregar um telefone para ela chamar a polícia. Gumb num acesso de f:ria %ai buscar seu re%0l%er para dar cabo de 4atherine. 2e sob uma bandeira nazista =ogada entre os manequins e %estidos ele retira um enorme 9olt niquelado e est$ %oltando ao po!o quando soa a campainha. B 4larice. Gumb atendea com tranquilidade diz que comprara essa casa da Sra. Lippman dois anos antes e quando a pedido de 4larice ele %ai %asculhar uns cart#es de %isita para achar o endere!o do 1lho da Sra. Lippman 4larice %- uns carretéis de linha sobre a mesa e es%oa!ando em torno deles uma mariposa cherontia st"! . ;la saca o re%0l%er e d$ %oz de priso a Gumb mas este foge pela cozinha apanha o 9olt e desaparece pelo poro. 4larice de arma em punho %asculha o poro sombrio encontra numa banheira uma espécie de m:mia (a Sra. Lippman) e en1m encontra 4atherine que berra por socorro enquanto a cachorrinha no p$ra de latir. 4larice continua procurando Gumb e as luzes se apagam. ;la tateia no escuro enquanto Gumb a espreita por tr$s de bin0culos militares infra%ermelhos. ;la treme e se encosta 3 parede. Gumb na escurido quase toca seus cabelos. 2e repente ela ou%e o "clic" do 4olt que Gumb engatilha e sem %er nada dispara nessa dire!o toda a carga de sua Magnum. Fm dos tiros acerta na =anela e pela luz que entra ela %- Gumb que agoniza no cho. & polícia chega e 4atherine é libertada saindo amparada pelos guardas enrolada num cobertor e com a cachorrinha branca de Gumb no colo. 4larice %em logo atr$s. 1* ( 5o ,inistério da *usti!a os no%os agentes especiais do +76 entre
eles 4larice e &rdelia recebem seus diplomas. 4ra
2epois os colegas oferecem uma festa em homenagem a 4larice. 4ra