S
COMENTÁRIO GAUDIYA-VAISNAVA AO BHAGAVAD-GITA
S A R A R T H H A A V A A R S I N N I I T I I K A A
SRILA VISVANATHA CAKRAVARTI THAKURA
S a r a r t t h a V a r s i n i A Chuva d o s Significados Essenciais
Segunda Edição Autoria
Su a Divina Graça Srila Visvanatha Cakravarti Thakura Tradução d o Inglês
Bhagavan dasa (Dhanvantari Svami) Revisão
Prema vardhana devi dasi (Dhanvantari Svami)
Dedica Ded icado do a Sua Su a Santidade Dh Santidade Dhan anvv ant an t ari Svami, A Svami, Avv y ak t a Rup R upaa Prabhu, Giridhari Prabhu, Li Prabhu, Li l anan an anda da Prabhu e a todos os demais Prabhupadanugas, que qu e sempre sentem praz pra z er ouvindo er ouvindo as glórias do Senhor e Senhor e de Seus devotos.
Para o máximo aproveitamento deste material, recomenda se sua su a leitura em companhia dos do s versos sânscritos e Significados Bhak Bh ak t iv eda edant nt a da obra O B HA GA VA DGITA C O M O E LE É de Sua Su a Di v ina in a Graça A . C. Bhak Bh ak t i v eda edant nt a Svami Srila Prabhupada, undador acarya da ISK I SKCO CO N e BBT. BB T.
SUMÁRIO 1. S A I N YA D A R S A N A
10
2. S A N K H YA YO G A
16
3. K A R M A YO G A 4. JN A N A V I BH A G A YO G A
36 48
5. K R S N A S A N N YA S A YO G A 6. D H YA N A YO G A
59
7. V I JN A N A YO G A 8. T A R A K A BRA H M A YO G A
74
9. R A JA G U H YA YO G A 10. V I BH U T I YO G A
90
65
84
102
11. V I S V A R U P A D A R S A N A YO G A 12. BH A K T I YO G A
111
13. P R A K R T I P U R U S A V I V EK A YO G A 14. G U N A T R A YA V I BH A G A YO G A
126
15. P U R U S O T T A M A YO G A 16. D A I V A S U RA S A M P A D YO G A
142
17. S R A D D H A T R A YA V I BH A G A YO G A
153
18. M O K S A YO G A
158
SOBRE VISVANATHA C AKRAVARTI THAKURA
120
135
149
178
RESUMO D O S CAPÍTULOS Resu R esum m os como encontrados no significado ao prim pri m eiro e/ou último verso de cada capítulo.
1. S A I N YA D A R S A N A
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10
“Como Arju A rju na se torna confuso e cai em ignorância?”. O narrador do M ah ahab abha harat rat a, Vaisampayana, começou a explicar o explicar o tópico a Janm eja y a no Bhis Bh is m a Parva com as seguintes pa pala la v ras : “Dhrtarastra disse: ‘Por fa ‘Por fa v or, diga m e o qu quee meus fi lh os , encabeçados po por r Du Du ry od odha hana na,, e os fi lh os de Pandu, encabeçados po por r Yudhisthira, Yudhisthira, estavam fa z end endo, o, tendo se reunido pa para ra lutar em lutar em Kuruksetra’.”.
2. S A N K H YA YO G A
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16
N est e segundo capítulo, após destruir a escuridão da confusão e da lamentação de Arju A rju na através da distinção da alma e do corpo, Krsna fa la sobre as características da alma liberada. Por Po r apresentar claramente jn an anaa e karma e indiretamente bhakti, este capítulo é chamado Resu R esu m o do Conteúdo do Gita.
3. K A R M A YO G A
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36
N o terceiro capítulo, a ação oferecida ao Senhor sem Senhor sem desejo pes so al é descrita. é descrita. A A discriminação com o desejo de conquistar a luxúria e a ira também é demonstrada. Este capítulo fa la sobretudo de niskama karma como sadhana, e também fa la de jn de jn an ana, a, su a meta, de maneira secundária.
4. JN A N A V I BH A G A YO G A
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48
N o quarto capítulo, o Senhor fa fa la da dass razões pa para ra o Seu aparecimento, a natureza eterna de Seu aparecimento e de Suas atividades, e também fa la da excelência de jn an anaa em coisas como o brahma y ajna aj na.. N est e capítulo, o Senhor glorifica jn an anaa y oga oga,, a meta de niskama karma, qu quee Ele já havia mencionado no noss dois capítulos anteriores. Tendo fa la do de vários meios pa para ra a liberação, jn an anaa é pref erid o. M o. M as o meio pa para ra jn jn an anaa é niskama é niskama karma.
5. K RS N A S A N N YA S A YO G A
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59
Tendo fa la do de karma como superior a superior a jn an ana; a; a fi m de fo rt alecer al ecer essa essa idéia, neste capítulo, diz di z se qu quee jn an a é equivalente a karma. Este capítulo explica qu quee o jn an anii e o y ogi, ogi , através de niskama karma y oga oga,, realizando tanto atma quanto Paramatma, obtêm a liberação.
6. D H YA N A YO G A
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65
N o sexto capítulo, o método pa para ra controle da mente vacilante, cujo sucesso é alcançado pel o y ogi qu quee controla os sentidos pel sentidos pel o pro cess o de astanga y oga oga,, é descrito. é descrito.
7. V I JN A N A YO G A
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74
O sétimo capítulo descreve os po poderes deres de Krsna, os po poderes deres do Senhor qu quee é o mais digno de adoração. O s quatro tipos de pes so as qu quee adoram e os quatro tipos qu quee nã nãoo adoram Krsna também sã o descritos. Apen A penas as os devotos, enumerados como de seis tipos, qu quee sabem a verdade sobre o Senhor, transpassam maya.
8. T A RA K A BRA H M A YO G A
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84
N o Oitavo Capítulo, o Senhor fa Senhor fa la sobre bhakti pu pura ra e sobre y oga misra bhakti em resposta às pergunt pergu nt as de Arju A rju na na.. Ele El e também descreve os dois destinos do doss y ogis. ogi s. A superioridade do doss devotos fo i prev ia m ent e estabelecida, m as é melhor esclarecida neste capítulo, o qual também aponta a po posi si ção suprema do ananya bhakta entre todos os devotos .
9. R A JA G U H YA YO G A
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90
O aspecto majestoso do Senhor como o objeto de adoração, apropriado pa para ra Seus servos, e a excelência do devoto pu puro ro sã o expostos claramente no nono capítulo. O mais elevado segredo, a po posi si ção suprema da bhakti pu pura, ra, qu quee po por r seu contato pu purif rif ica todas as pes so as – quer pu quer pura ras, s, quer impuras –, é descrito neste nono capítulo.
10. V I BH U T I YO G A
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A pa part rt ir do sétimo capítulo, Krsna fa lo u sobre bhakti e sobre su a natureza exclusivista, revelando os po poderes deres do Senhor. Agora A gora,, no décimo capítulo, Ele fa la de bhakti ju nt am ent e com a descrição da dass vibhutis do Senhor.
11. V I S V A R U P A D A R S A N A YO G A
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N o décimo pri m eiro capítulo, Arj A rjun una, a, vendo a fo rm a universal, glorifica a em reverência. Quando Krsna mostra a Si novamente, Arju A rju na fi ca satisfeito. Arju A rju na na,, em virtude do doss eventos deste capítulo, entende qu quee su a vitória no campo de batalha depende unicamente do grande po grande poder der de de Krsna.
12. BH A K T I YO G A
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N o décimo segundo capítulo, a superioridade de todos os tipos de devotos em relação ao aoss jn an anis is é descrita; é descrita; e, entre os devotos, aqueles qu quee sã o dotados de maravilhosas qualidades, como a de ausência de ódio, sã o glorificados. As A s maravilhosas qualidades de bhakti, qu quee é suprema e pl ena de bem aventurança e qu quee po pode de ser fa fa cil m ent e pra t ica da po por r todos, todos, sã o explicadas neste capítulo.
13. P R A K R T I P U R U S A V I V EK A YO G A
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O Senhor resume Senhor resume o conteúdo do capítulo: “Aquele qu quee sabe a diferença entre os dois conhecedores do campo (ksetra jn ay oh oh), ), a ji v a e o Paramatma, ju Paramatma, ju nt am ent e com o campo, e também conhece o método para pa ra qu quee as entidades vivas (bhuta) se libertem (moksa) da pra k rt i, como a meditação, alcança a meta suprema”. Den suprema”. Den t re os conhecedores do campo; a ji v a, desfrutando da dass qualidades do campo, é atada, é atada, m as também é liberada é liberada pel o conhecimento. Este é o é o significado do décimo terceiro capítulo.
14. G U N A T R A YA V I BH A G A YO G A
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N o décimo quarto capítulo, o cativeiro causado pel os gunas e os sintomas de cada guna sã o descritos. O s vários sintomas do desaparecimento do doss gunas, e a causa de seu desaparecimento, bhakti, também sã o descritos.
15. P U R U S O T T A M A YO G A
PÁGINA 142
O décimo quinto capítulo estabelece qu quee o desapego é a é a causa da cessação de nascimentos, qu quee a alma é um a amsa do Senhor e qu quee Krsna é superior à matéria e à ji v a. N est e capítulo, as classes de matéria e consciência sã o relevadas, e também se explica a po posi si ção suprema de Krsna.
16. D A I V A S U R A S A M P A D YO G A
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N o décimo sexto capítulo, as qualidades dêvicas e assúricas, bem como o resultado dessas duas condições, sã o descritos. Em essência, este capítulo descreve como aqueles qu quee seguem as escrituras alcançam a meta suprema e como aqueles qu quee nã nãoo seguem v ão pa para ra o inferno.
17. S R A D D H A T R A YA V I BH A G A YO G A
PÁGINA 153
Este capítulo descreve como as atividades sáttvicas de várias esferas, se executadas com fé, conduzem à liberação.
18. M O K S A YO G A
PÁGINA 158
O décimo oitavo capítulo fa capítulo fa la acerca do doss três tipos de sannyasa, jn sannyasa, jn an anaa e karma, define liberação e indica bhakti como o maior de maior de todos os segredos.
A TRIPARTIÇÃO D O GITA Como encontrado em diferentes significados ao longo da obra. Este Bh Este Bh aga agavv ad gita, a coroa de todo conhecimento, com seus três grupos de seis capítulos, é o é o ba baúú qu quee contém o mais valioso e secreto tesouro de bhakti y oga oga.. O pri m eiro eir o grupo de seis capítulos, concernentes a karma, é o revestimento inferior fei inferior fei t o de ouro maciço. O último grupo de seis capítulos, concernentes a jn an ana, a, é a tampa também de ouro e incrustada com jó ia s. No N o grupo do doss seis capítulos intermediários; repousada entre o revestimento inferior e inferior e a tampa, brilha a jó ia qu quee nã nãoo conhece rival no noss três mundos, a jó ia de bhakti y oga oga,, a jó ia qu quee coloca Krsna so b controle. A controle. Ass sessenta e quatro sílabas do doss dois versos jó ia s (os versos 18.65 e 16.66) qu quee adornam a tampa do ba baúú também sã o pu puros ros e devem ser entendidos como servos de t al bhakti y oga oga.. N os seis pri m eiro s capítulos do Gita, sã o descritas jn an anaa y oga e astanga y oga oga,, qu quee conduzem à liberação e sã o dependentes da pu puri rifi fi caçã o prév ia do coração através de niskama karma y oga oga.. N os seis capítulos intermediários, dois tipos de bhakti sã o descritos: aquela bhakti qu quee pro du duzz salokya e outros tipos de liberação, sendo sem desejo ou com desejo, po por r causa da mistura de karma, jn an anaa e outros elementos; e o pri nci pa pall tipo de bhakti, a bhakti qu quee pro du duzz liberação na form fo rm a de tornar a tornar a pes so a um associado do Senhor em Senhor em prem a, e a qual é independente é independente de karma, jn karma, jn an anaa ou outros process pro cess os , e, além disso, pro du duzz independentemente todas as metas como svarga e moksa sem a execução de nenhum outro pro cess o. Embora de fá de fá cil execução pa execução para ra todos, esse segundo tipo de bhakti y oga é raríssimo. é raríssimo. N os seis capítulos intermediários, menciona se que, através de kevala bhakti, alcança se o Senhor, Bh aga agavv an an,, e então se descrevem três outros métodos de adoração, começando com aquele em qu quee se adora a si mesmo. Um niskama karma y ogi obtém a liberação através de bhakti misra jn an anaa (jnana misturada com bhakti), o qu quee é brevemente é brevemente descrito no noss seis pri m eiro s capítulos. O s seis últimos capítulos começam a explicar essa explicar essa jn jn an anaa em detalhes a pa part rt ir da ir da investigação do campo, do conhecedor do conhecedor do campo, do pro cess o de conhecimento e do objeto de conhecimento. O Gita é a é a essência de todas as escrituras, e a essência do Gita sã o os seis capítulos intermediários. O meio desses seis capítulos, os capítulos nove e dez, sã o a mais concentrada essência do doss seis capítulos.
C AP ÍT UL O P R IM EIR O – S A IN YA D AR SA NA
Capítulo Primeiro
SAINYA-DARSANA Verso 1 Dhrtarastra disse: Ó Sanjaya, que fizeram meus filhos e os filhos de Pandu depois que se reuniram no lugar de peregrinação em Kuruksetra, desejando lutar? “Como Arjuna se torna confuso e cai em ignorância?”. O narrador do Maha-bharata, Vaisampayana, começou a explicar o tópico a Janmejaya no Bhisma Parva com as seguintes palavras: “Dhrtarastra disse: ‘Por favor, diga-me o que meus filhos, encabeçados por Duryodhana, e os filhos de Pandu, encabeçados por Yudhisthira, estavam fazendo, tendo-se reunido para lutar em Kuruksetra’.”. “Mas você mesmo diz que eles estavam desejosos de lutar, então por que está perguntando o que eles fizeram?” “Este local é um local sagrado ( dharma-ksetra)”. O sruti diz: kuruksetram deva yajanam
“Kuruksetra é um lugar para se adorar o Senhor”. – Satapatha Brahmana, Madhyandinlya 14.1.1.2 “Ele é famoso como um local que produz dharma. Devido à associação com este local, o ímpio Duryodhana e suas companhias podiam abandonar sua ira e acatar ao caminho do dharma. Os Pandavas estão seguindo o dharma naturalmente. Então, ambos os lados poderiam ter inteligência para ver que eles provavelmente não matariam seus próprios parentes e amigos, e negociariam a paz”. Externamente, Dhrtarastra desejava mostrar a Sanjaya que ele ficaria aliviado se assim fosse. Internamente, todavia, ele achou difícil reter sua depressão, porque, se houvesse conciliação, então, seria difícil para seus filhos reivindicarem o reino. “Como Bhisma, que está do nosso lado, não pode ser derrotado por Arjuna, é melhor que lutemos. Deixemos que a guerra aconteça!”. Não era adequado, todavia, demonstrar tais desejos externamente. Há um significado oculto na palavra ksetra (campo) na frase dharma-ksetra . O campo era um local para o crescimento das sementes do dharma, na forma do piedoso Yudhisthira, que era a própria encarnação do dharma, juntamente com seu grupo. O campo, local para uma pessoa se ocupar no trabalho de cultivo, era o local no qual Krsna, o nutridor do dharma, encorajaria Yudhisthira. O campo, local para muitos projetos, como diques de irrigação e rega, era o local onde Krsna assistiria Yudhisthira de várias maneiras para estabelecer as sementes do dharma. O mesmo campo é também local para o crescimento de ervas daninhas. As ervas daninhas, inimigas das sementes, na forma de Duryodhana e outros, também cresceram ali, mas seriam destruídas por Krsna.
Versos 2 e 3 Sanjaya disse: Ó rei, após observar o exército disposto em formação militar pelos filhos de Pandu, o rei Duryodhana foi até seu preceptor e falou as seguintes palavras. Ó meu mestre, olha o grande exército dos filhos de Pandu, tão habilmente organizado por teu inteligente discípulo, o filho de Drupada. “Ó mestre, veja este grande exército dos filhos de Pandu, arranjado para batalha pelo seu inteligente discípulo, o filho de Drupada”. Entendendo que Dhrtarastra queria guerra, Sanjaya então falou a fim de alertá-lo dos obstáculos para a realização daquele desejo. Duryodhana, vendo as tropas ( vyudham) sendo dispostas pelos Pandavas, falou então por nove versos com medo interior, começando pelo verso três. Ele critica Dronacarya. Ele diz que ele é muito tolo porque Dhrstadyumna, o filho de Drupada, está dispondo as tropas do inimigo. Esse homem era aluno de Drona, tendo Drona o treinado mesmo sabendo que ele tinha nascido para matá-lo. “Dhrstadyumna é muito inteligente (dhimata) porque ele obteve de você, o inimigo dele, o conhecimento de como matá-lo. Veja o que resultará disto no futuro!”.
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Versos 4, 5 e 6 Aqui neste exército, estão muitos arqueiros heróicos que sabem lutar tanto quanto Bhima e Arjuna: grandes lutadores como Yuyudhana, Virata e Drupada. Há também grandes combatentes heróicos e poderosos, tais como Dhrstaketu, Cekitana, Kasiraja, Purujit, Kuntibhoja e Saibya. Há o possante Yudhamanyu, o poderosíssimo Uttamauja, o filho de Subhadra e os filhos de Draupadi. Todos esses guerreiros lutam habilmente em suas quadrigas. “Aqui estão Dhrstaketu, Cekitana, o valoroso rei de Kasi, Purujit, Kuntibhoja e Saibya, o melhor dos homens”. “Aqui estão o poderoso Yudhamanyu, o valente Uttamauja, Abhimanyu, e os cinco filhos de Draupadi, todos maharathas”. “Os líderes de suas tropas, tendo grandes arcos ( isvasa), não poderão ser derrubados”. Isso é o que se sugere com sua menção aos arcos. Yuyudhanah se refere a Satyaki. Saubhadrah se refere a Abhimanyu. Draupadeyah se refere aos cinco filhos dos Pandavas com Draupadi, tais como Prativindhya. eko dasa sahasrani yodhayed yas tu dhanvinam sastra-sastra-pravinas ca maharatha iti smrtah amitan yodhayed yas tu samprokto 'tirathas tu sah caikena yo yudhyet tan-nyuno'rdha-rathah smrtah
“Um maharatha é aquele capaz de lutar sozinho contra dez mil arqueiros, que é perito tanto nas armas quanto nas escrituras. Um atiratha é aquele capaz de lutar contra ilimitadas tropas (menos de que dez mil, mas mais do que mil). Um ratha é aquele capaz de lutar contra mil. Aquele capaz de lutar com menos do que isso é chamado ardharatha”.
Verso 7 Mas para a tua informação, ó melhor dos brahmanas, deixa-me falar-te sobre os capitães que estão especialmente qualificados para conduzir minha força militar. Entenda (nibodha) quem está do nosso lado. Falarei a você para que compreenda completamente ( samjnartham). A palavra é analisada como samyak (completo), jnana (conhecimento).
Verso 8 Há personalidades como tu, Bhisma, Karna, Krpa, Asvatthama, Vikarna e o filho de Somadatta chamado Bhurisrava, que sempre saem vitoriosos na batalha. Saumadatti se refere a Bhurisrava, o filho de Somadatta.
Verso 9 Há muitos outros heróis que estão preparados a sacrificar sua vida por mim. Todos eles estão bem equipados com diversas espécies de armas, e todos são experientes na ciência militar. “Eles estão inclinados a abandonar suas vidas a fim de me ajudarem ( tyakta-jivitah)”. Esse é o significado insinuado por Duryodhana, embora o significado literal seja “Eles abandonaram suas vidas”. De fato, todavia, Krsna irá dizer: mayaivaite nihatah purvam eva nimitta-matram bhava savyasacin
“Esses guerreiros já foram mortos por Mim antes da guerra começar. Você, seja Meu instrumento, Ó Arjuna”. – Bg. 11.33 Assim, o significado literal das palavras de Duryodhana é também completamente verdadeiro.
Verso 10 Nossa força é incomensurável, e estamos perfeitamente protegidos pelo avô Bhisma, ao passo que a força dos Pandavas, cuidadosamente cuidadosamente protegida por Bhima, é limitada. “Nossas tropas não estão no nível padrão ( aparyaptam): não podemos lutar contra os Pandavas”. “Muito embora protegidos por todos os lados por Bhisma, que tem excelente inteligência e é experiente em luta e em teoria, Bhisma é parcial para ambos os lados. Os Pandavas estão muito bem protegidos ( paryaptam abhiraksitam ) por
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Bhima, embora ele seja de inteligência rude e não inteiramente familiarizado com o combate prático e com a teoria. Em outras palavras, eles estão bem equipados para lutar conosco”. Nota:
A leitura deste verso por Visvanatha Cakravarti seria: “Nossa força é limitada” e não “incomensurável”, como a de Prabhupada. A diferença entre a leitura de Prabhupada e a de Visvanatha Cakravarti se dá devido à perícia diplomática de Duryodhana. Ele diz de forma que possa parecer tanto “limitada” quanto “incomensurável” “incomensurável” para assim incentivar os desmotivados e para deixar os excessivamente confiantes mais atentos em proteger Bhisma.
Verso 11 Todos deveis dar todo o apoio ao avô Bhisma, à medida que assumis vossos respectivos pontos estratégicos enquanto entrais na falange do exército. “Portanto, vocês devem ser muito cautelosos. Embora vocês estejam divididos em diferentes grupos ( yathabhagam) com o fim de cruzar as linhas inimigas ( ayanesu), vocês não devem abandonar sua posição designada no campo de batalha. Estando fixos em suas respectivas posições, protejam Bhisma de todos os lados, assim ele não é atacado pelas costas enquanto luta com outros”. A implicação aqui é “Apenas pela força de Bhisma sobreviveremos”.
Verso 12 Então Bhisma, o grande e valente patriarca da dinastia Kuru, o avô dos combatentes, soprou seu búzio bem alto, produzindo um som parecido com o rugido de um leão, dando alegria a Duryodhana. Bhisma, o ancião dos Kurus, satisfeito ao ouvir os respeitos oferecidos a ele; para satisfazer Duryodhana afastando seus medos, assoprou o seu búzio, que rugiu como um leão. A frase simha-nadam vinadya usa a mesma raiz duas vezes. O significado literal é rugindo o rugido de um leão. O significado subentendido é “rugindo como um leão”, de acordo com o sutra upamane karmani (Panini 3.4.45).
Verso 13 Depois disso, os búzios, tambores, clarins, trombetas e cornetas soaram todos de repente, produzindo um som tumultuoso. Quando Bhisma soprou o seu búzio; naquele momento, instrumentos e conchas começaram a ser tocados em seu exército. Abhyahanyanta é um verbo passivo reflexivo. Panava, anaka e gomukha são tipos de instrumentos. O som foi formidável quando foram tocados todos de uma vez.
Verso 14 No outro lado, o Senhor Krsna e Arjuna, acomodados numa grande quadriga puxada por cavalos brancos, soaram seus búzios transcendentais. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 15 e 16 O Senhor Krsna soprou Seu búzio, chamado Pancajanya; Arjuna soprou o seu, o Devadatta; e Bhima, o comedor voraz que executa tarefas hercúleas, soprou seu aterrador búzio, chamado Paundra. O rei Yudhisthira, filho de Kunti, soprou seu búzio, o Anantavijaya, e Nakula e Sahadeva sopraram o Sugosa e Manipuspaka. Os nomes dos búzios são listados aqui, começando pelo Pancajanya, de Krsna.
Versos 17 e 18 Aquele grande arqueiro, o rei de Kasi, o grande lutador Sikhandi, Dhrstadyumna, Virata, o invencível Satyaki, Drupada, os filhos de Draupadi, e os outros, ó rei, tais como o poderoso filho de Subhadra, todos sopraram seus respectivos búzios. A palavra aparajitah significa inconquistável. Todavia, em razão do sandhi, pode ser lido capa rajitah, que, nesse caso, significa “equipado com um arco”.
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Versos 19 a 23 O som arrancado destes diferentes búzios tornou-se estrondoso. Vibrando Vibrando no céu e na terra, ele abalou os corações dos filhos de Dhrtarastra . Naquele momento, Arjuna, o filho de Pandu, sentado na quadriga que portava a bandeira na qual estava estampada a marca de Hanuman, pegou do seu arco e preparou-se para disparar suas flechas. Ó rei, após ver os filhos de Dhrtarastra dispostos em formação militar, Arjuna então dirigiu ao Senhor Krsna estas palavras. Arjuna disse: Ó infalível, por favor, coloca minha quadriga entre os dois exércitos para que eu possa ver as pessoas aqui presentes, que desejam lutar, e com quem devo me digladiar neste grande empreendimento bélico. Deixa-me ver aqueles que vieram aqui para lutar, desejando agradar ao mal-intencionado filho de Dhrtarastra. Não é apresentado significado a estes versos.
Versos 24 e 25 Sanjaya disse: Ó descendente de Bharata, tendo recebido de Arjuna essa determinação, o Senhor Krsna conduziu a magnífica quadriga para o meio dos exércitos de ambos os grupos. Na presença de Bhisma, de Drona e de todos os outros comandantes do mundo, o Senhor disse: Simplesmente observa, Partha, todos os Kurus aqui reunidos. O Senhor, Hrsikesa, embora seja pessoalmente o controlador dos sentidos de todos, foi assim ordenado por Arjuna, controlado pelas palavras dele. Veja como o Senhor é controlado por prema! Essa é a implicação trazida por se chamar o Senhor de Hrsikesa. Aqui está o significado da palavra Gudakesa. Akesa significa Visnu (a), Brahma (ka) e Siva (Isa). Gudakesa significa aquele que dá a eles ( akesa) a experiência da doçura da afeição do Senhor assim como o açúcar ( guda) dá a experiência da doçura. Assim, Gudakesa se refere àquele que, por colocar Krsna sob seu controle, deu a Visnu, Brahma e Siva a oportunidade de experienciarem a doçura de Krsna. Se o Supremo Senhor Krsna, a jóia principal da coroa, fonte de todos os avataras, sendo controlado por prema, seguiu as ordens de Seu servo, Arjuna, como poderiam Visnu, Brahma e Siva, Suas meras expansões como guna-avataras, exibirem algum de seus poderes? Ao contrário, por exibirem sentimentos de afeição pelo Senhor (inspirados por Arjuna), eles se sentiram realizados. O Senhor do céu espiritual (Maha-Visnu) disse: dvijatmamaja me yuvayor didrksuna “Eu trouxe os filhos dos brahmanas aqui porque Eu queria ver vocês dois”. – SB 10.89.58 Gudakesa também pode significar senhor ( isa) do sono ( gudaka), o controlador dos sentidos. Mesmo Krsna, que é o controlador direto de maya, tornou-Se controlado pela prema de Arjuna. Assim, a maya abominável, ou sono, foi conquistada por Arjuna. Ele falou perante Bhisma, Drona e todos os reis. Embora a palavra pramukhatah esteja sintaticamente ligada apenas a Bhisma e Drona, ela se refere a todos. Portanto o significado é “colocar a quadriga dele perante Bhisma, Drona e todos os demais reis”.
Verso 26 Foi então que Arjuna pôde ver, no meio dos exércitos em ambos os grupos, seus pais, avós, mestres, tios maternos, irmãos, filhos, netos, amigos e também seus sogros e benquerentes. Putra e pautra se referem aos filhos e netos de Duryodhana e outros do lado oposto.
Verso 27 Ao ver todas essas diferentes categorias de amigos e parentes, o filho de Kunti, Arjuna, ficou dominado pela compaixão e falou as seguintes palavras. Não é apresentado significado a este verso.
Versos 28 e 29 Arjuna disse: Meu querido Krsna, vendo diante de mim meus amigos e parentes com esse espírito belicoso, sinto os membros do meu corpo tremer e minha boca secar. Todo o meu corpo está tremendo, meus pêlos estão arrepiados, meu arco Gandiva está escorregando da minha mão e minha pele está ardendo. “Vendo todos esses conhecidos, minha boca secou”. A sentença “estando aqui” deve ser adicionada ao começo da frase. “Estando aqui vendo isso, meus membros se tornaram fracos”.
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Verso 30 Já não sou capaz de continuar aqui. Estou esquecendo-me de mim mesmo e minha mente está girando. Parece que tudo traz infortúnio, ó Krsna, matador do demônio Kesi. A palavra nimita é usada no sentido de “resultado final”, assim como a meta do dinheiro é uma boa residência. “Não terei felicidade obtendo o reino se eu ganhar a guerra, senão que sofrerei pela lamentação, o resultado oposto”.
Verso 31 Não consigo ver qual o bem que decorreria da morte de meus próprios parentes nesta batalha, nem posso eu, meu querido Krsna, desejar alguma vitória, reino ou felicidade subsequentes. “Não vejo nenhum benefício em matar desta maneira ( na sreyo pasyami )”. As escrituras dizem coisas do tipo: dvav imau purusau loke surya-mandala-bhedinau parivrad yoga-yuktas ca rane cabhimukhe hatah
“O sannyasi ocupado em yoga e o guerreiro que morre confrontando o inimigo alcançam o planeta Sol”. – Parasara Smrti 3.30 “Assim, é melhor morrer do que matá-los, uma vez que não há piedade nessa matança”. “Mas, lutando, você obtém reino e fama”. “Não desejo vitória, reino ou felicidade”.
Versos 32 a 35 Ó Govinda, que nos adiantam um reino, felicidade ou até mesmo a própria vida quando todos aqueles em razão de quem somos impelidos a desejar tudo isto estão agora enfileirados neste campo de batalha? Ó Madhusudana, quando mestres, pais, filhos, avós, tios maternos, sogros, netos, cunhados e outros parentes estão prontos a abandonar suas vidas e propriedades e colocam-se diante de mim, por que deveria eu querer matá-los, mesmo que, por sua parte, eles sejam capazes de matar-me? Ó mantenedor de todas as entidades vivas, não estou preparado para lutar com eles, nem mesmo em troca dos três mundos, muito menos desta terra. Que prazer obteremos em matarmos os filhos de Dhrtarastra? Não é apresentado significado a estes versos.
Verso 36 O pecado nos dominará se matarmos tais agressores. Portanto, não convém matarmos os filhos de Dhrtarastra e nossos amigos. Que ganharíamos, ó Krsna, esposo da deusa da fortuna, e como poderíamos ser felizes matando nossos próprios parentes? Mas é dito: agnido garadas caiva sastra-panir dhanapahah ksetra-darapahari ca sad ete hy atatayinah
“O incendiário, aquele que ministra veneno, aquele que ataca com armas, o ladrão, aquele que rouba uma propriedade e aquele que rapta uma esposa são considerados agressores”. Vasistha Smrti 3.19 E é dito ainda: atatayinam ayantarh hanyad evavicarayan natatayi-vadhe doso hantur bhavati kascana
“Sem consideração, devem-se matar tais agressores, não havendo nenhum erro em matá-los”. – Manu Smrti 8.350 As escrituras, então, prescrevem matar no caso de agressores. Arjuna responde com este verso. “Matando-os, nós permaneceremos, mas seremos pecaminosos”. As instruções dharma sastra sastra. Yajnavalkya diz: acima são do artha sastra, mas essas instruções são mais fracas do que aquelas do dharma smrtyor virodhe nyayas tu balavan vyavaharatah artha-sastrat tu balavan dharma-sastram iti sthitih
“É estabelecido que quando há conflito de regras entre duas afirmações smrtis, a razão deve prevalecer para a dharma sastra sastra são mais fortes do que aquelas de artha escolha da regra correta. Todavia, em termos de razão, as regras de dharma sastra”. – Yajnavalkya Smrti 2.21
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“Assim, embora sejam agressores, eles também são acaryas. Matando acaryas, incorreremos em pecado. Também não podemos ser felizes nesta vida ou na próxima se o ato é contra as leis do dharma e contra a conclusão racionável”. Então ele diz: “Como podemos ser felizes, tendo matado nossa própria gente?”.
Versos 37 e 38 Ó Janardana, embora estes homens, com seus corações dominados pela cobiça não achem errado matar a própria família ou brigar com os amigos, por que deveríamos nós, que entendemos ser crime destruir uma família, ocuparmo-nos nestes atos pecaminosos? “Por que o lado oposto quer lutar, então?”. Ele responde com este verso. “Eles, tomados pela cobiça, não vêem nenhum erro em destruir a família, nem pecado em matar amigos”.
Verso 39 Com a destruição da dinastia, a tradição eterna da família extingue-se, e assim o resto da família se envolve em irreligião. “A conduta correta mantida pela família, que vem de muitas gerações ( sanatanah kula-dharmah ) será destruída com a destruição da família ( kula-ksaye)”.
Verso 40 Quando a irreligião é preeminente na família, ó Krsna, as mulheres da família se poluem, e da degradação feminina, ó descendente de Vrsni, vem progênie indesejada. “Quando adharma é prevalente, as mulheres da família se poluem ( pradusyanti) tornando-se adúlteras”.
Verso 41 Um aumento de população indesejada decerto causa vida infernal tanto para a família quanto para aqueles que destroem a tradição familiar. Os ancestrais dessas famílias corruptas caem, porque os rituais através dos quais lhe são oferecidos alimento e água são inteiramente interrompidos. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 42 Pelas más ações daqueles que destroem a tradição familiar, e acabam dando origem a crianças indesejadas, todas as espécies de projetos comunitários e atividades para o bem-estar da família entram em colapso. “Pelos problemas da mistura de castas, tanto as regras das castas quanto as regras da família são destruídas (utsadyate)”.
Versos de 43 a 45 Ó Krsna, mantenedor do povo, eu ouvi através da sucessão discipular que aqueles que destroem as tradições familiares sempre residem no inferno. Ai de mim! Como é estranho que estejamos nos preparando para cometer atos extremamente pecaminosos. Levados pelo desejo de desfrutar da felicidade régia, estamos decididos a matar nossos próprios parentes. Para mim, seria melhor que os filhos de Dhrtarastra, de armas na mão, matassem-me no campo de batalha, desarmado e sem opor resistência. Não é apresentado significado a estes versos.
Verso 46 Sanjaya disse: Arjuna, tendo falado essas palavras no campo de batalha, pôs de lado seu arco e flechas e sentou-se na quadriga com sua mente dominada pelo pesar. Sentando em sua quadriga ( rathopasthe) em meio à batalha ( sankhe), Arjuna abandonou suas armas.
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Capítulo Segundo
SANKHYA-YOGA Verso 1 Sanjaya disse: Vendo Arjuna cheio de compaixão, sua mente deprimida, seus olhos rasos d'água, Madhusudana, Krsna, disse as seguintes palavras. Neste segundo capítulo, após destruir a escuridão da confusão e da lamentação de Arjuna através da distinção da alma e do corpo, Krsna fala sobre as características da alma liberada.
Verso 2 A Suprema Personalidade de Deus disse: Meu querido Arjuna, como foi que estas impurezas desenvolveram-se em ti? Elas não condizem com um homem que conhece o valor da vida. Elas não conduzem aos planetas superiores, mas à infâmia. “Por que (kutah) tal confusão (kasmalam), neste momento crítico da guerra ( visama), tomou conta de você (upasthitam), confusão esta que não é para ser experimentada por pessoas firmemente estabelecidas nos princípios dhármicos (anarya-justam), que é contra tanto ao prazer na próxima vida ( asvargyam) quanto ao prazer nesta ( akirtikaram)?”.
Verso 3 Ó filho de Prtha, não cedas a essa impotência degradante. Isto não te fica bem. Abandona essa mesquinha fraqueza de coração e levanta-te, ó castigador dos inimigos. “Não se torne covarde ( klaibyam), impotente. Ó Partha, você é o filho de Prtha, mas, apesar disto, você age assim. Não ceda a isso. Essa fraqueza pode até ser vista em ksatriyas inferiores, mas em você, Meu amigo, isso não é nada apropriado”. “Não Se preocupe com minha falta de bravura; não pense que sou um covarde. Deve-se considerar os preceito do dharma em respeito a Bhisma, Drona e a outros mais velhos, e também considerar o aspecto de compaixão no que tange os filhos de Dhrtarastra, que, sendo mais fracos do que eu; afligidos por minhas armas, estão prestes a morrer”. “Isso não é discernimento baseado no dharma e na misericórdia, mas em confusão e lamentação, indicações de uma mente fraca ( ksudram hrdaya-daurbalyam ). Portanto, abandone essa fraqueza mental e erga-se. Ó conquistador dos parantapa); você, que aflige o inimigo, lute!”. inimigos ( parantapa
Verso 4 Arjuna disse: Ó matador dos inimigos, ó matador de Madhu, como é que na batalha posso contra-atacar com flechas homens como Bhisma e Drona, que são dignos de minha adoração? “De acordo com as escrituras dhármicas, não respeitar aqueles dignos de adoração é uma causa para condicionamento: praibadhnati hi sreyah pujya-puja-vyatikramah . Por isso me afasto da luta. Como posso matá-los?”. A parasmaipada) é usada ao invés da forma prati yotsye (atmanepada, para si mesmo). forma prati yotsyami ( parasmaipada “Mas aqueles dois anciãos estão lutando. Você não é capaz de lutar contra eles?”. “Não, eu não posso, pois eles são dignos de adoração ( pujarhau): Eu deveria oferecer flores a seus pés em devoção, e não flechas afiadas em ira. Ó amigo Krsna! Mesmo Você fere apenas Seus inimigos na batalha, e não Seu próprio guru Sandipani Muni ou Seus amigos, os Yadus, Ó Madhusudana, matador de Madhu!”. “Mas Eu sou um descendente de Madhu na antiga linhagem da dinastia Yadu, daí Meu nome Madhava. Como Eu poderia ter matado Madhu?”. “Não, não me refiro a esse Madhu. Estou falando sobre o demônio chamado Madhu, que era Seu inimigo ( arisudana)”.
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Verso 5 É preferível viver mendigando neste mundo a viver à custa das vidas de grandes almas que são meus mestres. Embora desejem conquistas terrenas, eles são superiores. Se forem mortos, tudo o que desfrutarmos estará manchado de sangue. “Se você não quer o reino, então, como viverá?”. “Não matando os mais velhos, viverei mendigando, embora se condene tal prática para o ksatriya. É melhor comer comida obtida através de mendicância. Digo, embora isso traga infâmia para esta vida, isso não será inauspicioso nas vidas futuras. Esses gurus não se tornaram orgulhosos. Deve-se rejeitar apenas os seguidores de Duryodhana que não sabem distinguir o certo do errado. As escrituras dizem: guror apy avaliptasya karyakaryam ajanatah utpathapratipannasya parityago vidhlyate
“Deve-se rejeitar o guru que é orgulhoso, que desconhece o comportamento adequado, que se ocupa em vida pecaminosa”. – Maha-bharata 5.178.24 “Eles, ao contrário, são grandes almas (mahanubhavan). Que falha há em Bhisma e em outros que têm controle sobre o tempo e a luxúria?”. “Mas Bhisma disse a Yudhisthira”: arthasya puruso daso dasas tv artho na kasyacit iti satyam maharaja baddho 'smy arthena kauravaih
“O homem é servo da riqueza. A riqueza é serva de ninguém. Ó rei, eu fui preso aos Kauravas pela riqueza”. – Maha-bharata 6.41.36 “Assim, o caráter grandioso deles não foi destruído por tal desejo por riqueza?”. “Isso é verdade, mas, se eu os mato, ficarei infeliz. Embora se matando os Kurus que ambicionam riqueza ( artha kaman) eu pudesse desfrutar a riqueza, ela estaria contaminada com o sangue deles. O significado é este: embora eles tenham desejo por riquezas, eles continuam sendo meus gurus. Por conseguinte, matando-os, porque eu cometi o pecado de matar um guru, meu desfrute seria misturado com tal pecado”.
Verso 6 Tampouco sabemos o que é melhor - vencê-los ou sermos vencidos por eles. Se matássemos os filhos de Dhrtarastra, não nos importaríamos em viver. Contudo, eles agora estão diante de nós no campo de batalha. “Além disso, não sei se eu devo ser vitorioso ou derrotado, mesmo estando eu preparado para matá-los. E eu não sei o que seria melhor, vitória ou derrota: se eu os conquisto ou se eles conquistam a mim. E mesmo se eu for vitorioso, isso é derrota, porque eu não quererei viver”.
Verso 7 Agora estou confuso quanto ao meu dever e perdi toda a compostura devido à torpe fraqueza. Nesta condição, estou Te pedindo que me digas com certeza o que é melhor para mim. Agora sou Teu discípulo e uma alma rendida a Ti. Por favor, instrui-me. “De fato, enquanto falando o significado das escrituras para chegar a uma conclusão; embora você seja um ksatriya, você decidiu se tornar um mendigo! Qual é a utilidade do Meu discurso?”. “Abandonar minha coragem natural de ksatriya é minha fraqueza (karpanyam). Minha inteligência se tornou confusa tentando entender a implementação do dharma, uma vez que o caminho do dharma é muito sutil. Portanto, é
melhor que Você decida e me diga”. “Mas se você derrota Minhas palavras posando como um erudito, o que Eu deveria dizer?”. “Sou Seu aluno, não irei mais me opor a Você inutilmente”.
Verso 8 Não consigo descobrir um meio de afastar este pesar que está secando meus sentidos. Não serei capaz de suprimilo nem mesmo que ganhe na Terra um reino próspero e inigualável com soberania como a dos semideuses nos céus.
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“Mas você tem um relacionamento amigável coMigo, não de respeito. Assim, como posso fazer de você Meu aluno? Você deveria, portanto, render-se a alguém como Veda Vyasa, a quem você venera profundamente”. Arjuna responde com este verso. “Não vejo sequer uma pessoa ( prapasyami: pra indica “em um nível superior”) em todos os três mundos, exceto Você, que possa remover ( apanudyat ) minha aflição. Não conheço alguém mais inteligente do que Você – nem mesmo Brhaspati. Portanto, a quem deve se render aquele que está em profunda aflição? Devido a tal aflição ( yad ), ), meus sentidos se secaram completamente, exatamente como o intenso calor do verão seca um pequeno lago”. “Agora você está cheio de pesar, mas, se você lutar, conquistando o inimigo, você obterá um reino. Absorvendose no desfrute de tal reino, seu pesar desaparecerá”. “Mesmo se eu obtivesse um reino superior a toda a Terra, ou soberania em svarga, controlando todos os devatas, meus sentidos continuariam secos”.
Verso 9 Sanjaya disse: Tendo falado essas palavras, Arjuna, o castigador dos inimigos, disse a Krsna, ‘Govinda, não lutarei’, e ficou calado. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 10 Ó descendente de Bharata, naquele momento, Krsna, no meio dos dois exércitos, sorriu e disse as seguintes palavras ao desconsolado Arjuna. “Você exibiu grande falta de julgamento!”. Rindo dele como um amigo, Krsna poderia colocar Arjuna em um oceano de embaraço por suas atividades indignas. Todavia, porque agora Arjuna aceitou a posição de aluno, rir seria impróprio. Então, Krsna suprimiu Seu riso fechando os Seus lábios. Ao invés de rir, Ele sorriu suavemente ( prahasann iva). O Senhor dos sentidos ( hrsikesa) foi previamente controlado pelas palavras de Arjuna devido ao Seu amor por ele (Bg. 1.24), e agora Ele Se tornou o controlador da mente de Arjuna, novamente por amor, para o benefício de Arjuna. A tristeza de Arjuna e o consolo de Krsna foram vistos diretamente por ambos os exércitos ( senayor ubhayor madhye ).
Verso 11 A Suprema Personalidade de Deus disse: Enquanto falas palavras sábias, estás lamentando aquilo com que não precisas te afligir. Os sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos. “Ó Arjuna, essa sua lamentação causada por apego aos amigos e parentes é a causa da confusão. Seu discernimento nascido de suas preocupações que começam no verso quatro com ‘como posso lutar contra Bhisma e Drona?’ é a causa da falta de sabedoria”. Isso é declarado neste verso. “Você está continuamente se lamentando ( anu-socah) por aquilo que não é digno de pesar ( asocyan). Assim, você está proferindo palavras de sabedoria para Mim, que estou tentando iluminá-lo. Você fala palavras ( vadan) de sabedoria prajna), como no verso quatro”. A intenção por trás das palavras do Senhor é o oposto: “De fato, você não tem ( prajna sabedoria”. “Isto porque aqueles que são sábios ( panditah) não se lamentam por aquele cuja vida partiu ( gata-asun) dos corpos grosseiros, uma vez que os corpos grosseiros são destrutíveis por natureza. Nem se lamentam pelos corpos sutis nos quais os ares vitais não cessam, pois os corpos sutis são indestrutíveis até a liberação. Eles não se lamentam porque aceitam a natureza inerente de todos os corpos grosseiros e sutis. Mas os tolos lamentam a partida dos ares vitais (corpos sutis) dos corpos grosseiros de seus pais e outros, e não se lamentam por seus corpos sutis, pois geralmente os desconhecem. Isso, infelizmente, é a extensão do conhecimento deles. Todos estes, incluindo Bhisma, são almas equipadas com corpos grosseiro e sutil. Por causa da natureza eterna de suas almas, não há razão para se lamentar. s astra é Anteriormente, você disse que dharma sastra era mais forte do que artha sastra. Mas Eu digo aqui que jnana sastra mais forte do que dharma sastra”.
Verso 12 Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem tu, nem todos esses reis; e, no futuro, nenhum de nós deixará de existir. “Agora, Ó amigo, far-lhe-ei uma pergunta. Quando você vê a morte de uma pessoa que você ama, você lamenta. Mas o objeto de afeição enquanto a pessoa está neste mundo é alma ou o corpo? Sukadeva diz que a alma é a o mais
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querido de todos os seres vivos: sarvesam eva bhutanam nrpa svatmaiva vallabhah (SB 10.14.50). Se a alma é o objeto de afeição, a alma não pode ser o objeto de lamentação, porque ela não pode ser morta dado que os dois tipos de atma – jiva e isvara – são eternos”. Assim Ele diz neste verso. “Não quer dizer que Eu, Paramatma, nunca tenha existido, mas, ao contrário, Eu sempre existi. Você também, jivatma, sempre existiu. Estes reis, jivatmas, também sempre existiram”. Aqui, o Senhor mostra que não-existência prévia prag-abhava) é algo ausente em todas as almas. “E isso não significa que Eu, você e todos estes reis ( sarve vayam) não ( prag-abhava existiremos no futuro. Senão que certamente continuaremos a existir”. Aqui o Senhor mostra que a alma é destituída de destruição (dhvamsa abhava). Através disso, Ele conclui conclui que, uma vez vez que Paramatma e a jiva são ambos eternos, não há razão para lamentação. O sruti diz: nityo nityanam cetanas cetananam eko bahunam yo vidadhati kaman
“Ele é o líder eterno entre os eternos. Ele é a entidade consciente líder entre todas as entidades conscientes. Aquele que sanciona as necessidades dos outros”. – Svetasvatara Upanisad 6.13
Verso 13 Assim como, neste corpo, a alma corporificada seguidamente passa da infância à juventude e à velhice; do mesmo modo, chegando a morte, a alma passa para outro corpo. Uma pessoa ponderada não fica confusa com tal mudança. “O corpo pessoal se torna objeto de afeição por ser relacionado ao corpo (que é o mais querido ao eu). Por se relacionar com o corpo, os filhos, irmãos e outros parentes se tornam objeto de afeição. E por se relacionar com eles, mesmo os filhos deles também se tornam objeto de afeição. Então, quando seus corpos perecerem, certamente haverá lamentação”. Em resposta a isso, Ele diz este verso. “No corpo pertencente à jiva (dehinah), alcança-se estágios como a infância. Quando a infância é destruída, alcança-se a juventude. Quando a juventude é destruída, alcança-se a velhice. Da yatha) a pessoa não se lamenta pela destruição do objeto de afeição mesma maneira, obtém-se outro corpo. Assim como ( yatha na forma da infância e da juventude do corpo, que são s ão queridas por serem relativas à alma, assim também ( tatha) a pessoa não deve se lamentar pela destruição do objeto de afeição, o corpo, que é igualmente querido por ser relativo à alma.” “Mas com a destruição da juventude e a obtenção da velhice a pessoa se lamenta”. “Com a destruição da infância e a obtenção da juventude, a pessoa regozija. Com a destruição dos corpos vestidos por Bhisma e Drona, eles obterão novos corpos e também regozijarão”. Outro significado é: Assim como em um corpo obtém-se vários estados, como a infância, a mesma jiva obtém vários corpos vida após vida.
Verso 14 Ó Filho de Kunti, o aparecimento transitório de felicidade e aflição, e seu desaparecimento no devido tempo, são como o aparecimento e o desaparecimento das estações de inverno e verão. Surgem da percepção sensorial, ó descendente de Bharata, e é preciso aprender a tolerá-los sem perturbar-se. “Sim, isso é sem dúvida verdade. Eu exibo essa falta de julgamento. Minha mente, produzindo coisas sem sentido, coberta de lamentação e confusão, causa-me sofrimento”. “Não é apenas a própria mente. As várias funções da mente, na forma dos sentidos, como a pele, experimentando seus objetos sensoriais, produzem esse problema ( anartha). A pessoa tem a experiência ( sparsa) do objeto sensorial (matra). Na estação quente, a água fria é prazerosa, e, na estação fria, é dolorosa. Isso acontece de forma descontrolada, aparecendo e desaparecendo ( ágama-apayinah). Você deve, portanto, tolerar tais experiências dos objetos sensoriais. Tolerá-las é parte do dharma descrito nas escrituras. Não se deve evitar banhar-se no mês de Madha porque é doloroso, pois tal banho é prescrito nas escrituras. Seguir o dharma conduz o seguidor gradualmente para longe de todas as qualidades baixas. Você deve tolerar que os filhos, durante seus aparecimentos e desaparecimentos temporários, trazem prazer quando nascem ou ganham dinheiro, e trazem lamentação quando morrem. Não se deve abandonar, por essa consideração, o próprio dever escrituralmente prescrito de lutar. Não executar o dever prescrito acaba por trazer grandes problemas”.
Verso 15 Ó melhor entre os homens (Arjuna), quem não se deixa perturbar pela felicidade ou aflição e que permanece estável em ambas as circunstâncias decerto está qualificado para alcançar a liberação.
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Praticando tolerância com esse discernimento, a experimentação dos objetos dos sentidos não mais irá, com o passar do tempo, trazer aflição. Quando a pessoa alcança esse estado no qual não há aflição proveniente dos objetos dos sentidos, ela é qualificada para a liberação ( amrtatvaya).
Verso 16 Aqueles que são videntes da verdade concluíram que o não-existente (o corpo material) não permanece, e que o eterno (a alma) não muda. Isto eles concluíram estudando a natureza de ambos. Este verso é falado para aqueles que não alcançaram o nível de discriminação. De fato, como afirma o sruti, a alma não é condicionada à matéria: asango hi ayam purusah (Brhad-aranyaka Upanisad 4.3.15). Portanto, a jiva não tem relação com os corpos sutil e grosseiro e com seus produtos, tais como lamentação e confusão. Essa relação é causada pela ignorância. Isso é explicado neste verso. “Não há existência (bhavah) para o corpo ( asatah), o abrigo da lamentação e da confusão, devido à sua natureza oposta à da alma, na qual tais coisas não existem. E não há destruição da jiva em sua forma real ( satah). A conclusão (antah) referente a ambos – ao corpo e à alma – é vista pelos videntes da verdade. Por esta compreensão, não haverá lamentação ou confusão devido a se ver o corpo e coisas relacionadas ao corpo; vê-se a alma eterna e indestrutível em Bhisma e em outros do grupo opositor, bem como em você e em seus aliados. Como podem Bhisma e outros serem destruídos, e por que você se lamenta por eles?”.
Verso 17 Deves saber que aquilo que penetra o corpo inteiro é indestrutível. Ninguém é capaz de destruir a alma imperecível. Este verso elucida o significado do verso anterior. Saiba que essa jiva (tat ), ), que se espalha por todo o corpo (sarvam idam tatam), é indestrutível. “Mas, espalhando-se por todo o corpo por ser consciente dele, a alma seria impermanente, porque o corpo é de tamanho mediano”. Não é assim, pois o Senhor diz que suksmanam apy aham jivah : “Das coisas pequenas, eu sou a jiva” (SB 11.16.11). De forma similar, o sruti diz: eso 'nur atma cetasa veditavyo yasmin pranah pancadha samvivesa
“Deve-se perceber a alma diminuta, que flutua nas cinco espécies de ares vitais, através da consciência pura”. – Mundaka Upanisad 3.1.9 balagra-sata-bhagasya satadha kalpitasya ca bhago jivah sa vijneyah
“Deve-se saber que a jiva é do tamanho de um dez mil avos da ponta de um fio capilar”. – Svetasvatara Upanisad 5.9 aragra-matro hy aparo 'pi drstah
“A forma da alma inferior é extremamente sutil”. – Aitareya Upanisad 5.8 Por essas afirmações do sruti, entendemos que a jiva é muito pequena. Ela tem o poder de se espalhar por todo o corpo assim como jóias pulverizadas ou ervas, quando aplicadas na cabeça, têm o poder de espalhar sua influência nutridora por todo o corpo. Não há nada de contraditório em ser pequena e se difundir pelo corpo. Presa a upadhis (identificações errôneas), ela vai para vários corpos no céu e no inferno. Desta forma a alma também é sarva gatah, ela vai a todo lugar. Dattatreya (na forma do brahmana avadhuta ) diz como a jiva, na forma do agregado de jivas no começo da criação, vai a diferentes corpos: tam ahus tri-guna-vyaktim srjantim visvato-mukham yasmin protam idam visvam yena samsarate puman
“De acordo com grandes sábios, aquilo que é a base dos três modos da natureza material e que manifesta os variados universos é chamado o sutra ou o mahat-tattva. Este universo, inclusive, repousa dentro desse mahat-tattva, e, devido à sua potência, a entidade viva prova a existência material”. – SB 11.9.20
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A distribuição penetrante da alma no corpo (continuando a ser diminuta) não é, portanto, contrária à sua natureza eterna apresentada no verso anterior. Então, a palavra avyayasya é usada neste verso também. Essa palavra se refere à alma como sendo eterna, ou nitya. Como diz o sruti: nityo nityanam cetanas cetananam eko bahunam yo vidadhati Kaman
“Ele é o líder eterno entre os eternos (as almas). Ele é a entidade consciente líder entre todas as entidades conscientes. Aquele que sanciona as necessidades de todos os outros”. – Svetasvatara Upanisad 6.13 Ou o significado do verso pode ser como se segue. O corpo, a jiva e o Paramatma são todos vistos em toda a parte em todas as formas, como as humanas e animais. Os dois primeiros, o corpo e a jiva, são mencionados no verso anterior. O terceiro, Paramatma, é mencionado neste verso. Ele é indestrutível e Se espalha por toda a parte do universo ( idam). A palavra tu serve para distinguir o Paramatma do corpo e da jiva. O Paramatma é por natureza diferente da matéria e da jiva.
Verso 18 O corpo material da entidade viva indestrutível, imensurável e eterna decerto chegará ao fim; portanto, luta, ó descendente de Bharata. Este verso também elucida o verso 16. O possuidor do corpo ( saririnah), a jiva, está além do poder de medição, ou é difícil de entender, porque é demasiadamente pequena ( aprameyasya). “Portanto você deve lutar” significa que você que, como prescrevem as escrituras, você não deve abandonar o seu dharma.
Verso 19 Nem aquele que pensa que a entidade viva é o matador nem aquele que pensa que ela é morta estão em conhecimento, pois o eu não mata nem é morto. “Ó amigo Arjuna! Você, também uma alma, não é nem o matador nem o objeto matado”. Isso é expresso neste verso. “Aquele que pensa que a jiva (enam) é o matador, que Arjuna é o matador de Bhisma e outros, e aquele que pensa que a jiva é morta, que Arjuna é morto por Bhisma, são ambos ignorantes. Assim, qual seu medo de infâmia das palavras provenientes de pessoas ignorantes que dizem que Arjuna matou o seu guru?”.
Verso 20 Para a alma, em tempo algum existe nascimento ou morte. Ela não passou a existir, não passa a existir e nem passará a existir. Ela é não nascida, eterna, sempre-existente e primordial. Ela não morre quando o corpo morre. A natureza eterna da alma é claramente provada aqui. A primeira linha nega a possibilidade de nascimento e morte para a jiva no momento presente. A segunda linha nega nascimento ou morte no passado e no futuro. Por conseguinte, ela é não-nascida ( aja): no passado, no presente e no futuro. Por não ter nascimento, ela não tem não prag-abhava). Ela existe em todos os tempos ( sasvatah), significando que, em nenhum momento do existência prévia ( prag-abhava passado, do presente ou futuro, ela pode ser destruída ( dhvamsa). Ela é, portanto, eterna ( nityah). “Mas, como a alma existe há muito tempo, ela pode envelhecer”. pura), é como se fosse nova ( na para nava, nova), por ser livre dos seis estados de “Não, embora seja velha ( pura transformação”. “Com a morte do corpo, ela não irá morrer junto com ele?”. “Ela não morre quando o corpo morre. Porque ela não tem relação com o corpo, a alma não é subserviente”.
Verso 21 Ó Partha, como uma pessoa que sabe que a alma é indestrutível, eterna, não-nascida e imutável pode matar alguém ou fazer com que outrem mate? “Com este conhecimento, nem você que está lutando nem Eu que estou lançando argumentos para você lutar podemos cometer alguma falha”. Aqui, a palavra nityam é usada como um advérbio: “Aquele que sabe constantemente que a alma é indestrutível, não-nascida, eterna...”.
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As palavras descrevendo a alma são usadas para negar as objeções de Arjuna sobre destruição. “A quem Eu ( sa purusah), o Senhor, motivo a ser morto (aconselhando-o a lutar)? E como Eu motivo alguém a ser morto? E a quem você mata? E como você mata?”.
Verso 22 Assim como alguém veste roupas novas, abandonando as antigas, a alma aceita novos corpos materiais, abandonando abandonando os velhos e inúteis. “Mas pelo meu lutar, a jiva abandonará o corpo conhecido como Bhisma. Então, Você e eu seremos a causa disto”.
“O que há de errado em uma pessoa abandonar roupas velhas e vestir novas? De forma similar, Bhisma irá abandonar um corpo velho e obterá um corpo novo e divino. Que erro pode ser apontando em Mim ou em você?”
Verso 23 A alma nunca pode ser despedaçada por arma alguma, tampouco pode ser queimada pelo fogo, umedecida pela água ou enxugada pelo vento. “Também, não é possível ferir de forma alguma a alma com as armas que você usa na batalha”. Isso é explicado neste verso. “Armas como espadas não podem cortá-la. Armas de fogo não podem queimá-la. A arma de chuva não pode molhá-la, nem a arma de vento pode secá-la”.
Versos 24 e 25 Essa alma individual é inquebrantável e indissolúvel, e não pode ser queimada nem seca. Ela é permanente, está presente em toda parte, é imutável, imóvel e eternamente a mesma. Diz-se que a alma é invisível, inconcebível e imutável. Sabendo disto, não te deves afligir por causa do corpo. O atma é descrito desta maneira (pegando a descrição do verso anterior): ela não poder ser cortada, queimada, seca ou umedecida. A repetição da palavra significando a natureza eterna da alma nesta seção (como o uso das palavras nitya e sanatanah neste verso, e afirmações de versos anteriores) é com o propósito de precisar a definição de alma para aqueles de intelecto confuso, assim como se pode repetir várias vezes para se ter certeza de que todos entendam: “Este é dharma de Kali-yuga, este é o dharma de Kali-yuga”. Sarva gatah (em toda a parte) significa que a alma passa por todos os tipos de corpos, como humanos, animais e de devas através de seu karma. Sthanu e acala têm o mesmo significado: “tendo estabilidade”; e sua repetição tem por fim tornar o significado claro. Porque ela é muito sutil, é chamada avyakta. Porque penetra todo o corpo com a consciência, é chamada acintya, inconcebível. Sendo destituída das seis mudanças, como o nascimento, é chamada de avikarya.
Verso 26 Se, no entanto, pensas que a alma sempre nasce e morre para sempre, mesmo assim, não tens razão para lamentar, ó pessoa de braços poderosos. “Eu apresentei a você a verdade conclusiva de acordo com as escrituras. Agora irei lhe apresentar a verdade de acordo com a visão material. Por favor, entenda isto”. Ele, então, diz este verso. “Se você acha que a alma é sempre nascida (nitya-jatam) quando o corpo nasce, e sempre morre ( nityam mrtam) com a morte do corpo, você não deveria se lamentar por ela. Ó Arjuna de braços poderosos, sendo um ksatriya valente, esta guerra é o seu dharma”. Como o Srimad-Bhagavatam afirma: ksatriyanam ayam dharmah prajapati-vinirmitah bhratapi bhrataram hanyad yena ghoratamas tatah
“O código dos deveres sagrados dos guerreiros estabelecido pelo Senhor Brahma dita que talvez se tenha de matar até mesmo o seu próprio irmão. Está é, certamente, a mais terrível das leis”. – SB 10.54.40
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Verso 27 Alguém que nasceu com certeza morrerá, e, após a morte, ele voltará a nascer. Portanto, no inevitável cumprimento do dever, não deves te lamentar. “Uma vez que (hi) a morte é certa (dhruvah) com o esgotamento dos karmas destinados a esta vida, e o nascimento também é certo devido às ações feitas por aquele corpo que acaba de morrer – uma vez que tanto a morte quanto o nascimento são inevitáveis –, não se lamente”.
Verso 28 Todos os seres criados são imanifestos no seu começo, manifestos no seu estado intermediário, e de novo imanifestos quando aniquilados. Então, qual a necessidade de lamentação? Para a alma não há nascimento ou morte (verso 20). Para o corpo, nascimento e morte são certos (verso 27). Então, os motivos para lamentação foram eliminados. Neste verso, ambas as causas são eliminadas de uma única vez. Devas, humanos e animais não são visíveis antes de seus nascimentos. Todavia, seus corpos sutis e grosseiros existem invisivelmente de forma potencial a partir da existência dos ingredientes causais, como a terra. Eles se tornam visíveis no período intermediário, e invisíveis após a morte. Mesmo no período do mahapralaya, esses corpos existem em uma forma sutil através da continuada existência em formas sutis de karmas e de outros elementos. Deste modo, todos os corpos das entidades vivas são invisíveis antes do nascimento e após a morte, e são visíveis no intervalo. Isso é estabelecido no Srimad-Bhagavatam pelos Vedas personificados: sthira-cara-jatayah syur ajayottha-nimitta- vujah
“Ó eternamente liberado, Senhor transcendental, Sua energia material faz com que as várias espécies móveis e inertes de vida apareçam ativando seus desejos materiais, mas somente quando e se Você olha brincando para ela de relance”. – SB 10.87.29 Que razão há para lamentação ( paridevana)? Como Narada diz: yan manyase dhruvam lokam adhruvam va na cobhayam cobhayam sarvatha na hi socyas te snehad anyatra mohajat
“Ó rei, em todas as circunstâncias, quer você considere a alma como sendo um princípio eterno, ou o corpo material como sendo perecível, ou tudo como existindo na Verdade Absoluta impessoal, ou tudo como uma inexplicável combinação entre matéria e espírito, sentimentos de separação são devidos unicamente à afeição ilusória e nada mais”. – SB 1.13.44
Verso 29 Alguns consideram a alma espantosa, outros descrevem-na como espantosa, e alguns ouvem dizer que ela é espantosa, enquanto outros, mesmo após ouvirem sobre ela, não podem absolutamente compreendê-la. “Que coisa surpreendente Você está descrevendo! E isto é mais surpreendente: Embora eu esteja sendo instruído por Você, minha falta de discernimento continua”. “Sim, o atma é realmente surpreendente”. O Senhor então diz este verso. A palavra enam neste verso significa tanto a alma quanto o corpo, a combinação de ambos, o mundo inteiro.
Verso 30 Ó descendente de Bharata, aquele que mora no corpo nunca pode ser morto. Portanto, não precisas afligir-te por nenhum ser vivo. “Então fale claramente. O que eu devo fazer e o que não devo fazer?”. “Não se lamente, lute”. Em dois versos, Krsna explica isso.
Verso 31 Considerando teu dever específico de ksatriya, deves saber que não há melhor ocupação para ti do que lutar conforme determinam os princípios religiosos; e assim não há necessidade de hesitação.
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“Porque a alma não pode ser destruída, você não deve temer matar. E considerando o ponto de vista de seus deveres em particular (uma vez que não há nada melhor do que lutar pelo dharma), você não deve temer. Essa é a relação dos dois versos”.
Verso 32 Ó Partha, felizes são os ksatriyas a quem aparece essa oportunidade de lutar, abrindo-lhes as portas dos planetas celestiais. “Além disso, até mesmo mais do que os vitoriosos, aqueles que morrem em uma batalha justa obtêm felicidade. Matando Bhisma e outros, você os faz felizes. Mesmo sem executar karma-yoga, pode-se alcançar svarga através da batalha, sem obstrução alguma (apavrtam)”.
Verso 33 Se, contudo, não executares teu dever religioso e não lutares, então na certa incorrerás em pecado por negligenciar teus deveres e assim perderás tua reputação de lutador. Por quatro versos, Ele descreve a falha que há em fazer o oposto.
Verso 34 As pessoas sempre falarão de tua infâmia e, para alguém respeitável, a desonra é pior do que a morte. Avyayam significa “continuamente”. Sambhavitasya
significa “de posição elevada”.
Verso 35 Os grandes generais que têm na mais alta estima o teu nome e fama pensarão que deixaste o campo de batalha simplesmente porque estavas com medo, e portanto te considerarão insignificante. “Aqueles que têm elevado respeito por você como guerreiro, mesmo como um inimigo, não mais irão respeitá-lo caso abandone a batalha. Os maharathas, como Duryodhana, vão achar que você fugiu do campo de batalha com medo. Eles não pensarão em nenhuma outra razão para um ksatriya deixar o campo de batalha senão o medo. Fortes laços de amizade não serão considerados”.
Verso 36 Teus inimigos te descreverão com muitas palavras indelicadas e desdenharão tua habilidade. Que poderia ser mais doloroso para ti? “Eles falarão de você com termos depreciativos, como ‘covarde’”.
Verso 37 Ó filho de Kunti, ou serás morto no campo de batalha e alcançarás os planetas celestiais, ou conquistarás e gozarás o reino terrestre. Portanto, levanta-te com determinação e lute. “Nesta batalha, minha vitória sequer é certa. Portanto, porque Você encoraja esta guerra?”. Krsna responde neste verso.
Verso 38 Lute pelo simples fato de lutar, sem levar em consideração felicidade ou aflição, perda ou ganho, vitória ou derrota — e adotando este procedimento nunca incorrerás em pecado. “De toda a forma, o seu lutar é um ato dhármico. Se você temer a luta, isso produzirá pecado; mas já lhe mostrei que a luta não trará pecado. Portanto, lute”.
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“Sendo equânime em felicidade e aflição, que são estados causados por obtenção e perda, como a obtenção e perda de um reino, que, por sua vez, tem por causa a vitória ou derrota na guerra, entendendo que ambos os resultados são iguais para uma mente de critério, e equipado com este conhecimento,você não incorrerá em nenhum tipo de pecado”. Isto será estabelecido mais adiante. lipyate na sa papena padma-patram ivambhasa
“Não se é tocado por pecado, assim como a folha de lótus não é tocada pela água”. – Bhagavad-gita 5.10
Verso 39 Até aqui, descrevi-te este conhecimento através do estudo analítico. Agora ouve enquanto eu o explico em termos do trabalho sem resultados fruitivos. Ó filho de Prtha, quando ages com esse conhecimento, podes libertar-te do cativeiro decorrente das ações. Neste verso, Krsna conclui a jnana-yoga que acabou de ensinar. Sankhya significa “aquilo pelo qual o verdadeiro conhecimento das coisas (vastu-tattvam) é perfeitamente (samak ) revelado (khyayate)”. Em outras palavras, sankhya significa um processo perfeito de conhecimento. A inteligência (esa) resultante desse processo foi explicada. Agora, ouça yoge), que será explicada agora. Equipado com esta inteligência que é sobre a inteligência resultante da bhakti-yoga ( yoge absorta no tema da bhakti-yoga, você abandonará o samsara (karma-bandham ).
Verso 40 Neste esforço, não há perda nem diminuição, e um pequeno progresso neste caminho pode proteger a pessoa do mais perigoso tipo de medo. Há dois tipos de yoga explicados nesta seção do capítulo: na forma de bhakti, incluindo ouvir, cantar e outras atividades similares; e na forma de atividades oferecidas ao Senhor sem desejo pessoal ( niskama-karma-yoga), que é expresso começando com o verso karmany evadhikaras te (Bg. 2.47). Antes disso, todavia, bhakti é discutida. Porque unicamente bhakti, e nenhum outro processo, está acima dos três modos, uma pessoa transcende os modos apenas por executar bhakti-yoga. Portanto, a afirmação nistrai-gunyo bhava para Arjuna (Bg. 2.45) indica que esta seção é sobre bhakti. A natureza nirguna de bhakti é também bem defendida pelas afirmações do Décimo Primeiro Canto do SrimadBhagavatam. Jnana e karma não podem ser tidos como nistrai-gunya por causa da presença de sattva em jnana, e de rajas em karma. E a bhakti encontrada em karma-yoga na forma de oferenda ao Senhor está ali apenas para livrar o karma de sua inutilidade e de seus frutos materiais. Esse processo de karma-yoga não tem a designação de bhakti propriamente porque a predominância de bhakti não existe nele. Se considera-se o karma oferecido ao Senhor como sendo bhakti, então a que a designação karma se referiria? Se alguém diz que isso se refere ao karma não oferecido ao Senhor, isso não é possível, pois Narada diz: naiskarmyam apy acyuta-bhava-varjitam na sobhate jnanam alam niranjanam kutah punah sasvad abhadram isvare na carpitam karma yad apy akaranam
“Conhecimento da auto-realização, muito embora livre de toda a afinidade material, não tem boa aparência se desprovido de uma concepção do Infalível [Deus]. Qual é, então, a utilidade das atividades fruitivas, que são s ão naturalmente dolorosas desde o começo e transitórias por natureza, se não são utilizadas no serviço devocional ao Senhor?”. – SB 1.5.12 Esta afirmação indica que karma destituído do Senhor é completamente inútil. Portanto, neste verso e nos versos até o 45, bhakti, caracterizada apenas por ouvir, cantar e outros atos devocionais, praticada apenas para se alcançar a doçura dos pés de lótus do Senhor, está sendo definida. É claro que niskama-karma-yoga também será definida. Ambas são indicadas pela palavra buddhi-yoga mencionada no verso 39. Na sentença dadami buddhi yogam tam yena mam upayanti te (Bg. 10.10), a palavra buddhi yoga indica bhakti-yoga. Na sentença durena hy avaram karma buddhi yogad dhananjaya (Bg. 2.49), a palavra buddhi yoga indica niskama-karma-yoga . Assim, este verso é uma glorificação ao processo de bhakti de ouvir e cantar, que está acima dos modos da natureza. Em bhakti-yoga, não há destruição ( nasah), e também não se incorre em pecado ( pratyavaya) se a prática acabou de ser iniciada (abhikrama) e é então interrompida. Se karma-yoga, todavia, é iniciada e então interrompida, há tanto a destruição dos frutos da karma-yoga quanto reação pecaminosa. “Mas, então, pela não-prática da bhakti que ele supostamente deve praticar, o aspirante a praticante também não deve obter resultado algum”.
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“Qualquer pequena bhakti que estava lá no começo da prática ( sv-alpam liberá-lo do condicionamento do samsara (mahato bhayat )”. )”. Isso é compreendido a partir de versos como os seguintes:
apy asya dharmasya )
certamente irá
yan-nama sakrcchravanat pukkaso 'pi vimucyate sarhsarad
“Meramente por ouvir o santo nome de Vossa Senhoria uma única vez, mesmo os mais baixa, tornam-se livres de toda a contaminação material”. – SB 6.16.44 E isso também é visto no exemplo de Ajamila e outros. Pode-se ver que a seguinte declaração feita pelo Senhor tem o mesmo significado:
candalas,
homens da classe
hy angopakrame dhvamso mad-dharmasyoddhavanv api maya vyavasitah samyan nirgunatvad anasisah
“Meu querido Uddhava, porque Eu pessoalmente o estabeleci, este processo do serviço devocional a Mim é transcendental e livre de qualquer motivação material. Um devoto certamente jamais sofre sequer a menor perda por adotar este processo”. – SB 11.29.20 No verso do Srimad-Bhagavatam citado acima, Krsna também mostra a causa da indestrutibilidade de bhakti. Estando acima dos gunas, ela jamais pode ser destruída. Essa idéia pode ser vista mesmo no verso em questão. Não se pode dizer, todavia, que niskama-karma-yoga , mesmo sendo um processo oferecido pelo Senhor, está além dos modos materiais, pois se declara: mad-arpanam nisphalam va sattvikam nija-karma tat
“Trabalho executado como uma oferenda a Mim, sem consideração pelo fruto, é considerado como estando no modo da bondade”. – SB 11.25.23 Este verso indica que niskama-karma-yoga , mesmo sendo um processo oferecido pelo Senhor, está no modo material de sattva (e, portanto, é sujeito à destruição).
Verso 41 Aqueles que estão neste caminho são resolutos, e têm apenas um objetivo. Ó amado filho dos Kurus, a inteligência daqueles que são irresolutos tem muitas ramificações. “Ademais, dentre todos os tipos de inteligências, aquela inteligência concentrada em bhakti-yoga é a melhor. Inteligência resoluta fixa em bhakti-yoga é apenas uma”. O significado disto é ilustrado como se segue. “Meu sadhana é servir os pés de lótus do Senhor, lembrar e glorificá-lO como me foi instruído por meu guru. Isso é também minha meta (sadhya). Isso se trata do remédio que mantém minha vida; não posso, portanto, abandonar sadhana e sadhya. Este é o meu objeto mais desejado, meu dever, e nada mais é meu dever; nada mais é desejado, sequer em sonhos. Talvez haja felicidade ou aflição. O samsara talvez seja destruído, ou talvez não seja. Não há perda para mim. Deixemos que haja apenas inteligência resoluta e fixa em bhakti pura”. É dito: tato bhajeta mam bhaktya sraddhalur drdha-niscayah
“Meu devoto deve permanecer feliz e Me adorar com grande fé e convicção”. – SB 11.20.28 A inteligência de outros, todavia, não é eka. Devido aos ilimitados desejos a serem satisfeitos em karma-yoga, tais intelectos são ilimitados (anantah) ao invés de serem focados em um único ponto. Os intelectos têm ramificações infinitas por causa da infinidade de ações em seus praticantes. Em jnana-yoga, a fim de purificar a mente, fixa-se a mente primeiramente em niskama-karma. Quando a mente está purificada, a inteligência passa então a abandonar a ação. Isso se chama karma-sannyasa. Em seguida, a inteligência se concentra em jnana, conhecimento. A inteligência, nesse momento, também se concentra em bhakti, para que jnana não se torne destituída de resultados. A inteligência então se concentra em abandonar jnana, como afirma o Senhor, jnanam ca mayi sannyaset , “deve-se abandonar tal conhecimento para obter-Me”. – SB 11.19.1 Deste modo, é dito que as inteligências, concentração em diferentes objetos, são infinitas ou muitas. E os ramos dos sadhanas respectivos também são infinitos, uma vez que karma, jnana e bhakti devem ser todos executados.
Versos 42 e 43 Os homens de pouco conhecimento estão muitíssimo apegados às palavras floridas dos Vedas, que recomendam várias atividades fruitivas àqueles que desejam elevar-se aos planetas celestiais, com o consequente bom
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nascimento, poder e assim por diante. Por estarem ávidos por gozo dos sentidos e vida opulenta, eles dizem que isto é tudo o que existe. (verso 42)
Este verso fala das pessoas de inteligência irresoluta, envolvidas com sakama-karma, que têm uma habilidade mental abaixo da média. Eles falam de forma excelente ( pra-vadanti) prazerosas palavras dos Vedas, que são como uma planta venenosa a brotar. Como a consciência deles foi iludida por aquelas palavras, eles não são dotados de inteligência fixa, (tayapahrta-cetasam vyavasayatmika buddhih samadhau na vidhiyate ). A declaração continua no verso 44. Em função da impossibilidade deles aceitarem, nem sequer se ensina outra coisa a eles. Eles adotam esse tipo de discurso porque são tolos ( avipascitah), porque eles interpretam as palavras dos Vedas ( veda-vada-ratah), como as seguintes: aksayyam ha vai caturmasya-yajinah sukrtam bhavati
“Aquele que executou adoração por meio de votos de esgotados”. – Apastambha Srauta Sutra, Krsna Yajur Veda 8.1.1
caturmasya
obtém créditos piedosos que nunca são
apama somam amrta abhuma
“Tomamos soma e nos tornamos imortais”. – Rg Veda 8.48.3 Eles dizem que não há outro Deus além disso ( na-anyat asti ). (verso 43)
Que tipo de palavras eles dizem? Eles dizem palavras sobre diversificados rituais que dão vários resultados em termos de poder e desfrute, palavras que dão bons resultados em termos de nascimento.
Verso 44 Nas mentes daqueles que estão muito apegados ao gozo dos sentidos e à opulência material, e que se deixam confundir por estas coisas, não ocorre a determinação resoluta de prestar serviço devocional ao Senhor Supremo. Aqueles cujas mentes estão atraídas pelas palavras floridas, que estão atraídos por poder e desfrute, não têm a inteligência determinada e firmemente fixa em um ponto ( samadhau) – no Senhor Supremo unicamente. A flexão do verbo na vidhiyate é reflexiva passiva (karma-kartari), significando, neste caso, “não se obtém”. Este comentário é de Sridhara Svami.
Verso 45 Os Vedas tratam principalmente do tema três modos da natureza material. Ó Arjuna, torne-te transcendental a esses três modos. Liberta-te de todas as dualidades e de todos os anseios advindos da busca de ganho e segurança e estabelece-te no eu. Abandone todos os sadhanas de dharma, artha, kama e moksa e simplesmente se refugie em bhakti-yoga. Os Vedas têm habilidade apenas para revelar karma e jnana e outros tópicos dos três modos (trai-gunya-visaya) para gratificação pessoal. O sufixo ya em traigunya visaya aqui denota interesse próprio. Essa afirmação obviamente significa que a maior parte dos textos lida com assuntos materiais. No entanto, os srutis dizem: bhaktir evainam nayati
“Apenas bhakti conduz ao Senhor”. – Mathara Sruti yasya deve para bhaktir yatha deve tatha gurau
“Deve-se ter tanta devoção pelo guru quanto se tem pelo Senhor” – Svetasvatara Upanisad 6.23 Também o pancaratra e as escrituras smrtis, e outros srutis como o Gita Upanisad e o Gopala-tapani Upanisad fazem de nirguna bhakti tema de discussão. Se os Vedas não falassem de bhakti em momento algum, então bhakti não poderia ser substanciada. “Não se envolva com aquelas declarações dos Vedas que lidam com jnana e karma afetados pelos três gunas (nistrai-gunyo bhava ). Senão que você deveria sempre seguir as declarações védicas que lidam com bhakti. Seguindo essas injunções, você está livre de falha”. sruti-smrti-puranadi-pancaratra-vidhim vina aikantiki harer bhaktir utpatayaiva kalpyate
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“Sem seguir as regras de sruti, smrti, puranas e pancaratra, a bhakti pura ao Senhor cria calamidades”. – Bhakti Rasamrta Sindhu 1.2.101, citação do Brahma-yamala. “Assim, deve-se entender que os Vedas lidam tanto com tópicos materiais quanto com espirituais, tópicos envolvendo os três gunas e tópicos além dos gunas. Mas você deve ser desprovido de gunas (nistrai-gunyo bhava ). Seguindo o caminho de nirguna bhakti oferecido por Mim, rejeite os caminhos que lidam com os três gunas”. Então, tal pessoa será livre das dualidades ( nirdvandah) dentro dos gunas, como respeito e desrespeito, e permanecerá com as entidades vivas eternas ( nitya-sattva), Meus devotos. Se alguém estava por dizer que nitya-sattvasthah significa estar situado em sattva guna , isso seria contraditório com a afirmação nistrai-gunya-bhava . Você ficará livre do desejo de adquirir o que lhe falta ( yoga) e de proteger o que você obteve ( ksema), devido ao seu gosto por Minha bhakti-rasa. Isto porque Eu, motivado por afeição por Meus devotos, carrego a responsabilidade: yoga ksemam vahamy aham (Bg. 9.22). Você ficará fixo na inteligência ( buddhi yukta ) dada por Mim ( atmavan). Deve-se considerar o significado de nistrai-gunya e trai-gunya. É dito no Décimo Primeiro Canto do SrimadBhagavatam: mad-arpanam nisphalam va sattvikam nija-karma yat rajasam phala-sankalpam himsa-prayadi tamasam
“Trabalho executado como uma oferenda a Mim, sem consideração pelo fruto, é considerado como estando no modo da bondade. Trabalho executado com desejo de desfrutar o resultado é no modo da paixão. E trabalho impelido por violência e inveja está no modo da ignorância”. – SB 11.25.23 Nesta declaração, nisphalam va significa “ocasionalmente destituído de desejo pelos resultados da execução de deveres”. kaivalyam sattvikam jnanam rajo vaikalpikam ca yat prakrtam tamasam jnanam man-nistham nirgunam smrtam
“Conhecimento absoluto está no modo da bondade, conhecimento baseado em dualidade está no modo da paixão, e conhecimento tolo e materialista está no modo da ignorância. Conhecimento baseado em Mim, todavia, é entendido como transcendental”. – SB 11.25.24 vanam tu sattviko vaso gramo rajasa ucyate tamasam dyuta-sadanam man-niketam tu nirgunam
“A residência na floresta está no modo da bondade, a residência na cidade está no modo da paixão, a residência em uma casa de jogos exibe a qualidade da ignorância, e a residência em um lugar onde Eu resido é transcendental”. – SB 11.25.25 sattvikah karako 'sangi ragandho rajasah smrtah tamasah smrti-vibhrasto nirguno mad-apasrayah
“Um trabalhador livre de apego está no modo da bondade; um trabalhador cego por desejos pessoais está no modo da paixão, e um trabalhador que se esqueceu completamente como distinguir o certo do errado está no modo da ignorância. Mas entende-se que um trabalhador que tomou abrigo em Mim é transcendental aos modos da natureza”. – SB 11.25.26 sattvikyadhyatmiki sraddha karma-sraddha tu rajasi tamasy adharme ya sraddha mat-sevayam tu nirguna
“A fé direcionada à vida espiritual está no modo da bondade, a fé enraizada em trabalho fruitivo está no modo da paixão, a fé que reside em atividades irreligiosas está no modo da ignorância, mas a fé em Meu serviço devocional é puramente transcendental”. – SB 11.25.27 pathyam putam anayastam aharyam sattvikam smrtam rajasam cendriya-prestham tamasam carti-dasuci
“Comida que é integral, pura e obtida sem dificuldade está no modo da bondade, comida que dá prazer imediato aos sentidos está no modo da paixão, e comida que não é limpa e que causa aflição está no modo da ignorância”. – SB 11.25.28 sattvikam sukham atmottham visayottham tu rajasam tamasam moha-dainyottham nirgunam mad-apasrayam
“A felicidade derivada do eu está no modo da bondade, a felicidade baseada na gratificação sensorial está no modo da paixão, e a felicidade baseada em ilusão e degradação está no modo da ignorância. Mas a felicidade encontrada dentro de Mim é transcendental”. – SB 11.25.29
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Os últimos versos, após apresentarem os objetos dos três modos da natureza, explicam a conquista dos três modos – situados, de certa forma, dentro de si mesmo – através do processo de nirguna bhakti , para que se alcance a completa transcendência dos modos. dravyam desas tatha kalo jnanam karma ca karakah sraddhavastha-krtir nistha traigunyah sarva eva hi
“Por conseguinte, substância material, localidade, resultado de atividade, tempo, conhecimento, trabalho, o executor de trabalho, fé, estado de consciência, espécie de vida e destino após a morte são todos baseados nos três modos da natureza material”. – SB 11.25.30 sarve gunamaya bhavah purusavyakta-dhisthitah drstam srutam anudhyatam buddhya va purusarsabha
“Ó melhor dos seres humanos, todos os estados de existência material são relativos à interação da alma desfrutadora com a natureza material. Seja visto, ouvido ou concebido apenas na mente, eles são todos, sem exceção, constituídos dos modos da natureza”. – SB. 11.25.31 etah samsrtayah pumso guna-karma-nibandhanah yeneme nirjitah s aumya gunajivena cittajah bhakti-yogena man-nistho mad-bhavaya prapadyate
“Ó gentil Uddhava, todas essas diferentes fases da vida condicionada manifestam-se do trabalho nascido dos modos da natureza material. A entidade viva que conquista esses modos – manifestados a partir da mente –, através do processo do serviço devocional, pode dedicar-se a Mim e então obter amor puro por Mim”. – SB 11.25.32 Apenas pelo processo de bhakti, portanto, podem-se transpor os três modos. Não há outra maneira. Posteriormente, em resposta à pergunta “Como se podem superar os três modos da natureza?”, o Senhor diz: mam ca yo 'vyabhicarena bhakti-yogena sevate , sa gunan samatityaitan brahma-bhuyaya kalpate
“Aquele que se ocupa em serviço devocional pleno, e não falha em circunstância alguma, transcende de imediato os três modos da natureza e chega então ao nível de Brahman”. – Bg. 14.26 Sridhara Svami explica este verso citado da seguinte maneira: a palavra ca indica exclusividade. Aquele que serve unicamente a Mim, o Senhor Supremo, através de indesviável bhakti-yoga, supera os gunas.
Verso 46 Todos os propósitos satisfeitos por um poço pequeno podem imediatamente ser satisfeitos por um grande reservatório de água. De modo semelhante, pode servir-se de todos os propósitos dos Vedas quem conhece o seu propósito subjacente. A glória da bhakti-yoga, sendo niskama e nirguna, é tamanha que tal glória é entendida como sem perda ou pecado, mesmo se o processo é iniciado e descontinuado. Que mesmo um pouco da execução de bhakti faz de seu executor bem-sucedido é afirmado por Uddhava no Décimo Primeiro Canto. na hy angopakrame dhvamso mad-dharmasyoddhavanv api maya vyavasitah samyan nirgunatvad anasisah
“Meu querido Uddhava, porque Eu pessoalmente o estabeleci, este processo de serviço devocional a Mim é transcendental e livre de qualquer motivação material. Um devoto certamente nunca sofre sequer a menor perda por adotar este processo”. – SB 11.29.20 Todavia, mesmo bhakti com desejos materiais (sakama-bhakti) é conhecida pelo termo vyavasayatmika buddhi . Isso é expresso através de um exemplo. O caso em particular é usado para indicar uma classe inteira de poços. “Qualquer propósito satisfeito pelos poços” é o significado de yavan artha udapane . Alguns poços são usados para limpar o corpo após se fazer as necessidades. Alguns outros são usados para escovar os dentes. Outros são usados para lavar roupas. Outros são usados para lavar o cabelo. Outros são usados para banho. Outros são usados para beber água. Todos os propósitos de todos os diferentes poços são supridos por um grande corpo d’água, como um lago. Nesse único lago, podem-se fazer todas as atividades, como banhar o corpo. E por usar diferentes poços para diferentes propósitos, a pessoa cansa de caminhar de um lado para o outro. Isso não acontece no caso de se usar o lago. A qualidade peculiar da água do lago, todavia, é seu sabor doce, enquanto que a água do poço não é saborosa. Portanto, todos os propósitos satisfeitos por se adorar todos os devatas mencionados em todos os Vedas são obtidos pela adoração ao único Senhor Supremo, adoração esta feita pela pessoa em conhecimento, pela pessoa que
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conhece os Vedas ( brahmanasya). Aquele que conhece o Veda, Vedas conhece o ponto mais importante dos Vedas, bhakti. Como é dito no Segundo Canto do Srimad-Bhagavatam:
brahma,
é chamado
brahmana.
Aquele que conhece os
brahma-varcasa-kamas tu yajeta brahmanah patim indram indriya-kamas tu praja-kamah prajapatim
“Aquele que deseja se absorver na refulgência brahmjyoti impessoal deve adorar o mestre dos Vedas, aquele que deseja poderoso vigor sexual deve adorar o rei celestial Indra, e aquele que deseja boa progênie deve adorar os grandes progenitores chamados Pratajapatis”. – SB 2.3.3 Mas, em seguida, é dito: akamah sarva-kamo va moksa-kama udara-dhih tivrena bhakti-yogena yajeta purusam param
“Uma pessoa de inteligência aguçada – quer repleta de todos os desejos materiais, quer sem nenhum desejo material, quer desejosa da liberação – deve, por todas as razões, adorar o completo supremo, a Personalidade de Deus”. – SB 2.3.10 Da mesma forma que o nascer do Sol, não misturado a nuvens e outras obstruções, é intenso; bhakti-yoga, não misturada a jnana, karma ou outros poluentes, é intensa ( tivrena bhakti-yogena ). Obtém-se a satisfação de muitos desejos através da adoração a vários devatas. Isso requer muitos tipos de concentração mental. Mas todos esses desejos podem ser obtidos a partir do Senhor único e supremo. Deve-se entender que esta concentração em uma personalidade – e a obtenção de vários objetivos – nasce da natureza espiritual do objeto de concentração.
Verso 47 Tens o direito de executar teu dever prescrito, mas não podes exigir os frutos da ação. Jamais te consideres a causa dos resultados de tuas atividades, e jamais te apegue ao não-cumprimento do teu dever. O Senhor queria falar sobre os processos de jnana, bhakti e karma-yoga para Arjuna, que era Seu amigo querido. Tendo falado de jnana e bhakti-yoga, o Senhor considerou que esses dois não eram adequados para Arjuna. Ele, então, falou de niskama-karma-yoga . “Você é qualificado para trabalhos. Mas aqueles que ambicionam os resultados são muito impuros de consciência. Mas você tem um coração quase puro. Eu posso dizer isso sobre você, pois Eu o conheço”. “Mas, por agir, algum resultado tem de vir”. “Agindo desejando certo resultado, você se torna a causa daquele resultado. Mas você não deve agir dessa maneira. Eu lhe dou essa benção. E não se torne atraído pela não execução do seu dever, ou em fazer pecado ( akarmani); ao contrário, você deve odiar fazer isso. Eu lhe dou essa benção também”. Todavia, no próximo capítulo, Arjuna diz: “Minha inteligência está confusa por essas palavras equívocas”. Essa aparente falta de comunhão entre os dois em relação às afirmações anteriores e posteriores deve ser entendida como intencional, tendo um propósito: “Assim como Eu fico de prontidão como seu quadrigário aguardando sua ordem, você também deve esperar Minha ordem”. Deve-se ver que Krsna e Arjuna estavam mentalmente de acordo.
Verso 48 Desempenhe teu dever com equilíbrio, ó Arjuna, abandonando todo o apego a sucesso ou fracasso. Tal equanimidade chama-se yoga. Com este verso, Krsna começa a ensinar o tópico niskama-karma. Agindo desta maneira, vendo vitória e derrota como iguais, ó Arjuna, você deve executar seu dever de lutar. Essa execução de niskama-karma-yoga se transforma em jnana-yoga . Jnana-yoga deve ser compreendida a partir do verso anterior a este e do seguinte.
Verso 49 Ó Dhanañjaya, através do serviço devocional, mantém todas as atividades abomináveis bem distantes, e, com essa consciência, rende-te ao Senhor. Aqueles que querem gozar o fruto de seu trabalho são mesquinhos. Krsna critica aqui o karma feito com desejos materiais. As ações feitas com desejo material ( avaram karma) são muito inferiores a niskama-karma-yoga oferecida pelo Senhor Supremo ( buddhi-yogat ). ). Refugie-se em niskama-karma yoga (buddhau). Neste verso, buddhi-yoga se refere, não a bhakti-yoga, mas a niskama-karma-yoga .
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Verso 50 Um homem ocupado em serviço devocional livra-se tanto das boas quanto das más ações, mesmo nesta vida. Portanto, empenha-te na yoga, que é a arte de todo o trabalho. yogaya yujyasva ). Entre todas as ações feitas com ou sem “Portanto, empenhe-se na yoga como descrita aqui ( yogaya desejo (karmasu), a ação executada com indiferença ao resultado ( yogah) é uma mestria ( kausalam)”.
Verso 51 Ocupando-se nesse serviço devocional ao Senhor, grandes sábios ou devotos livram-se dos resultados do trabalho no mundo material. Desse modo, eles transcendem o ciclo de nascimentos e mortes e passam a viver além de todas as misérias. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 52 Quando tua inteligência tiver cruzado a densa floresta da ilusão, tornar-te-ás indiferente a tudo o que se ouviu e a tudo o que se há de ouvir. “Em função da execução da niskama-karma-yoga oferecida pelo Senhor Supremo, você desenvolverá essa yoga). Quando sua inteligência tiver superado particular ( vi) e completamente (ati) a densidão da ilusão; neutralidade ( yoga nesse momento, você se tornará indiferente a todos os tópicos que você por ventura ouvirá, e àqueles que você já ouviu”. “Se eliminarei tudo o que foi ensinado e tudo o que será ensinado, então qual é a utilidade de eu ouvir as instruções das escrituras agora?”. “Por essas instruções, você considerará que, no presente, essas práticas precisam definitivamente ser feitas repetidamente e a todo o momento”.
Verso 53 Quando tua mente deixar de perturbar-se pela linguagem florida dos Vedas, e quando se fixar no transe da autorealização, então terás atingido a consciência divina. “Nesse momento, você se desapegará de ouvir sobre toda essa sorte de assuntos materiais e Védicos, por ser avesso à agitação criada por tais temas ( niscala). E sua inteligência ficará fixa em samadhi (samadhau acala ), como yogam descrito no Capítulo Seis. Nesse momento, obtendo realização direta, você obterá o status de jivan-mukta ( yogam avapsyasi)”.
Verso 54 Arjuna disse: Ó Krsna, quais são os sintomas daquele cuja consciência está absorta nessa transcendência? Como fala, e qual é sua linguagem? Como se senta e como caminha? Ao ouvir sobre inteligência fixa em samadhi (samadhav acala buddhih ), Arjuna pergunta sobre as características Sthiti prajna prajna, neste verso, tem o mesmo significado de acala buddhi do verso anterior: inteligência fixa. Quais desse yogi. Sthiti qualidades podem descrever o sthiti prajna (ka bhasa)? Quais são as qualidades da pessoa situada em samadhi, samadhi stha? Ambos os termos sthita-prajna e samadhi stha se referem a jivan mukta. O que essa pessoa diz ante felicidade e aflição, respeito e desrespeito, honra e condenação ( kim prabhaseta)? O que ela diz, seja externamente ou para ela mesma? De que forma seus sentidos se mantêm sem responder aos estímulos dos objetos externos ( kim asita)? De que forma seus sentidos respondem aos objetos ( vrajeta kim)?
Verso 55 A Suprema Personalidade de Deus disse: Ó Partha, quando alguém desiste de todas as variedades de desejo de gozo dos sentidos, que surgem da invenção mental, e, quando sua mente, assim purificada, encontra satisfação apenas no eu, então se diz que ele está em consciência transcendental pura. Krsna responde cada uma das quatro perguntas pouco a pouco, deste verso até o fim do capítulo. Este verso responde a primeira questão: Qual é a natureza da jivan-mukta?
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Ele abandona todos os desejos, assim não resta sequer um desejo por algum objeto. Ele é capaz de abandonar esses desejos porque eles pertencem à mente ( manogatan); eles não são qualidades intrínsecas da alma. Se fossem qualidades intrínsecas da alma, eles jamais poderiam ser abandonados, assim como o fogo nunca abandona o seu calor. A causa disso é estabelecida. Ele encontra satisfação na alma, cuja natureza é bem-aventurança ( atmana tustah), e na mente (atmani) que se desviou dos objetos sensoriais. O sruti diz: yada sarve pramucyante kama ye 'sya hrdi sritah atha martyo 'mrto bhavaty atra brahma brahma samasnute
“Quando se limpa de todos os desejos situados no coração, o mortal se torna imortal e desfruta o Brahman”. – Katha Upanisad 6.14
Verso 56 Quem não deixa a mente se perturbar mesmo em meio às três classes de misérias, nem se exulta quando há felicidade, e que está livre do apego, medo e ira, é chamado um sábio de mente estável. Neste verso e no verso seguinte, o Senhor responde a pergunta “Como ele fala?”. Sua mente não é perturbada pelo sofrimento de adhyatmika na forma de fome, sede, calor ou dor de cabeça, pelo sofrimento de adhibhautika vindo de cobras e tigres, ou pelo sofrimento de adhidaivika nascido de chuva ou vento excessivos. Quando alguém pergunta como ele lida com isso, ele simplesmente diz que é seu prarabdha karma , que ele terá que tolerar inevitavelmente. Ele não se agita com sofrimento ( duhkhesv anudvigna-manah ). Ele não diz nada para si mesmo ou em voz alta para outros. Essa ausência de repugnância por sua própria situação é entendida pelas pessoas inteligentes como o sintoma de uma pessoa imperturbada. Falsa indiferença ao sofrimento, a marca do impostor, todavia, é percebida pelo homem sábio. Tal farsante é chamado de caído ou depravado. Em face das oportunidades de felicidade, ele não tem desejo e diz a si mesmo e a outros que isto é simplesmente seu prarabdha karma , que ele tem de tolerar. E a pessoa inteligente reconhece sua qualidade de ser destituído de desejo por felicidade. Essas qualidades se tornam cada vez mais claras. Ele é destituído de apego ao desfrute (vita-raga), destituído de medo de coisas como tigres que querem devorá-lo. Ele é destituído de raiva para com aqueles amigos que o atacaram. Como exemplo, Jada-Bharata, perante a deusa Durga, não exibiu medo ou ira perante o líder candala que queria matá-lo.
Verso 57 No mundo material, quem não se deixa afetar pelo bem ou mal a que está sujeito a obter, sem louvá-los nem desprezá-los, está firmemente fixo em conhecimento perfeito. Tal pessoa é livre de afeições que são subordinadas a condições ( anabhisneha). Afeição incondicional motivada por misericórdia, todavia, deve permanecer em certo grau. Ele é fixo nessas qualidades. Ao receber algo favorável para si (subham), como respeito ou alimentação eventual, ele não desaprova; e, ao receber desrespeito ( asubham), como um soco, ele não desaprova. Ele não diz “Oh! Você é tão religioso, servindo um grande devoto. Eu o abençôo com felicidade”. Nem amaldiçoa a pessoa desrespeitosa dizendo: “Vá para o inferno, sua criatura pecadora”. Ele é prajna pratisthita, situado em samadhi (samadhim pratisthita), ou bem situado em prajna, ou samadhi.
Verso 58 Aquele que é capaz de retirar seus sentidos dos objetos dos sentidos, assim como a tartaruga recolhe seus membros para dentro da carapaça, está firmemente fixo em consciência perfeita. Este verso responde a questão “Como ele se senta?” ( kim asita). Ele recolhe seus sentidos, como o ouvido, dos objetos dos sentidos, como o som. Detendo o movimento dos sentidos independentes em direção aos objetos externos, ele os estabelece sem movimento interno. Este é o “sentar” de uma pessoa situada em prajna. Um exemplo é dado. Ele o faz da mesma forma que uma tartaruga fixa seus sentidos, como a boca e os olhos, dentro de si através de sua vontade.
Verso 59 A alma corporificada pode restringir-se do gozo dos sentidos, embora permaneça o gosto pelos objetos dos sentidos. Porém, interrompendo tais ocupações, ao experimentar experimentar um gosto superior, ela se fixa em consciência.
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“Mas mesmo o tolo é capaz de deter o movimento de seus sentidos através de jejum ou por estar influenciado por alguma enfermidade”. Para aquele que para de comer ( niraharasya), os objetos dos sentidos desaparecem, exceto pelo desejo de se ter os objetos (rasa-varjam). O desejo (rasa) pelos objetos não desaparece. Para aquele situado em prajna, todavia, tendo visto Paramatma, o desejo pelos objetos desaparece definitivamente. Ele não se desvia de suas qualidades. Isso implica que a habilidade para realizar diretamente a alma é algo que tem de ser obtido através de prática, não é algo naturalmente possível para todos, como pessoas ignorantes jejuando.
Verso 60 Os sentidos são tão fortes e impetuosos, ó Arjuna, que arrebatam à força até mesmo a mente de um homem de discriminação que se esforça por controlá-los. O esforço no estágio de significa “causar agitação”.
sadhana
é muito grande, sem poder para refrear completamente os sentidos.
Pramathini
Verso 61 Aquele que restringe os sentidos, mantendo-os sob completo controle, e fixa sua consciência em Mim, é conhecido como homem de inteligência estável. significa “Meu devoto”. “Sem devoção por Mim, ninguém pode conquistar os sentidos”. Isso será visto em toda a parte nos versos posteriores do Gita. Uddhava também disse: Mat parah
prayasah pundarikaksa yunjanto yogino manah manah visidanty asamadhanan mano-nigraha-karsitah athata athata ananda-dugham padambujam hamsah srayeran
“Ó Senhor de olhos de lótus, de maneira geral, aqueles yogis que tentam estabilizar a mente experimentam frustração por causa de sua inabilidade em aperfeiçoar o estado de transe. Assim, eles se enfastiam de suas tentativas de colocar a mente sob controle. Portanto, ó Senhor do universo de olhos de lótus, homens semelhantes a cisnes alegremente aceitam o abrigo de Seus pés de lótus, a fonte de todo o êxtase transcendental”. – SB 11.29.2-3 A pessoa cujos sentidos foram colocados sob controle (vase hi) é sthita-prajna. Isso o distingue do sadhaka, a pessoa tentando fazê-lo.
Verso 62 Enquanto contempla os objetos dos sentidos, a pessoa desenvolve apego a eles, e, de tal apego, desenvolve-se a luxúria, e, da luxúria, surge a ira. “O sthita-prajna também controla a mente. Essa é, de fato, a causa do controle dos sentidos. Se a pessoa, por outro lado, não tem controle da mente, por favor, escute o resultado disso”. Uma pessoa que pensa nos objetos dos sentidos desenvolve apego ( sanga) a eles. Do desejo, a ira nasce devido a obstruções por parte de alguém ou de algo para a realização do desejo.
Verso 63 Da ira, surge completa ilusão, e, da ilusão, a confusão da memória. Quando a memória está confusa, perde-se a inteligência, e, ao perder a inteligência, cai-se de novo no poço material. Da ira, desenvolve-se ausência de discriminação do que deve ser feito e do que não deve ser feito ( sammohah). Da confusão, desenvolve-se a perda da lembrança dos benefícios pessoais derivados das instruções escriturais ( smrtivibhramah). Daí vem a perda da determinação em seguir com as práticas espirituais ( buddhi-nasa). Então, cai-se no poço do samsara.
Verso 64 Mas quem está livre de todo o apego e aversão e é capaz de controlar seus sentidos através dos princípios reguladores, com os quais se obtém a liberdade, pode receber a completa misericórdia do Senhor.
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Este verso responde a pergunta “Como o sthita-prajna atua?” (vrajeta kim). O Senhor explica que não é uma falha aceitar os objetos dos sentidos se isso é feito com os sentidos controlados, sem apego aos objetos na mente. De acordo com o Amara Kosa, vidheya significa “submisso, situado em palavras, complacente, controlado, bemcomportado, educado e igual”. Aquele cuja mente (atma) é submissa a instruções (vidheya-atma), (que entra em contato com os objetos com os sentidos controlados pela mente, sentidos destituídos de apego e repulsa), alcança paz ( prasadam). Entrar em contato com os objetos dos sentidos não é uma falha. Ao contrário, é uma boa qualidade para aquele que o faz com controle. Em outras palavras, para o sthita-prajna, aceitar a renúncia do desfrute dos objetos, seja através do recolhimento dos sentidos (asana), seja através da ocupação dos sentidos ( vrajana), é benéfico.
Verso 65 Para alguém que sente essa alegria, as três classes de misérias da existência material deixam de existir; nessa consciência jubilosa, a inteligência logo se torna resoluta. A inteligência é completamente fixa em sua meta desejada ( pari-avatisthati). Toda a aflição é destruída, mas, por não haver desejo por gozo dos objetos, a pessoa, aceitando os objetos dos sentidos necessários para a sua sobrevivência, tem tranquilidade. Ela tem uma consciência pacífica ( prasanna-cetasah), apenas por causa de bhakti. O Primeiro Canto do Srimad-Bhagavatam afirma que, sem bhakti, não se pode ter mente pacífica. Vyasadeva, muito embora tendo escrito o Vedanta Sutra, não tinha felicidade mental, mas ele ganhou felicidade de coração através da bhakti ensinada por Narada.
Verso 66 Quem não está vinculado ao Supremo não pode ter inteligência transcendental nem mente estável, sem as quais não há possibilidade de paz. E como pode haver alguma felicidade sem paz? Krsna torna a Sua declaração clara expressando os efeitos da condição oposta. Para aquele que não controla a mente (ayuktasya), não há inteligência, não há prajna, fixa na alma. Para aquele que não tem tal prajna nascida do controle mental, meditação no Senhor Supremo ( bhavana) também não é possível. Não meditando (abhavanyatah), ele não tem paz, a cessação da agitação proveniente dos objetos sensoriais. Essa pessoa sem paz não obtém a bem-aventurança ( sukham) da alma.
Verso 67 Assim como um vento forte arrasta um barco na água, mesmo um só dos sentidos errantes em que a mente se detenha pode arrebatar a inteligência de um homem. Este verso examina a pessoa sem inteligência devido à falta de controle da mente ( ayuktasya buddhih na asti ) descrita no verso anterior. Assim como todos os sentidos se movem em direção aos seus respectivos objetos sensoriais, a mente segue atrás de um sentido. Desta forma, a pessoa segue cada um dos sentidos. Tal mente leva embora a inteligência, ou prajna, da pessoa, assim como um vento desfavorável tira um barco do curso em que este estava sendo conduzido na água.
Verso 68 Portanto, ó pessoa de braços poderosos, o indivíduo cujos sentidos são restringidos de seus objetos com certeza tem a inteligência estável. “Ó homem de braços poderosos, assim como você controla os seus inimigos com sua força, você deve também controlar a sua mente”.
Verso 69 Aquilo que é noite para todos os seres é a hora de despertar para o autocontrolado; e a hora de despertar para todos os seres é noite para o sábio introspectivo. O sthita-prajna é capaz de controlar seus sentidos com grande naturalidade. Há dois tipos de inteligência. Aquela direcionada à alma, atma-pravana, e aquela direcionada à matéria, visaya-pravana. A inteligência direcionada à alma é noite para todas as almas condicionadas.
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Assim como, à noite, as pessoas sonhando não sabem o que está acontecendo naquele momento, todas as entidades vivas condicionadas não conhecem as coisas que estão sendo percebidas pela inteligência direcionada à alma. Mas, durante aquela mesma noite, o sthita-prajna ou samyami, controlando os seus sentidos, está desperto, não sonhando. Em outras palavras, por fixar sua inteligência na alma, ele realiza a bem-aventurança de forma direta. Quando as entidades vivas estão acordadas, com inteligência direcionada aos objetos dos sentidos, elas realizam de forma direta a felicidade, a lamentação e a confusão daqueles objetos sensoriais nos quais a inteligência delas está fixa. Elas não estão sonhando. Mas isso é noite para o muni, o sthita-prajna, que não experimenta a fixação de seu intelecto nesses sentidos de forma alguma. Mas ele vê sim. Ele vê ( pasyatah) com desinteresse todos aqueles objetos sensoriais que trazem felicidade e aflição para as pessoas presas no samsara. Isto significa que ele aceita os objetos sensoriais requeridos para a sua sobrevivência sem ser afetado.
Verso 70 Só quem não se perturba com o incessante fluxo de desejos – que são como rios que entram no oceano, que está sempre sendo cheio, mas nunca se agita – pode alcançar a paz verdadeira, e não o homem que luta para satisfazer esses desejos. Este verso descreve a condição do sthita-prajna de não ser afetado ou agitado quando aceita os objetos sensoriais. Assim como, na estação chuvosa, os rios ( apah) entram por aqui e por ali no oceano quase o enchendo ( a, quase; se; puryamanam , cheio), mas não sendo capazes de de fazê-lo completamente, não sendo capazes de ir além da costa (acala pratistham ); de forma similar, os objetos para o desfrute dos sentidos ( kamah) vêm até o sthita-prajna para o seu usufruto (mas não podem perturbá-lo). Assim como, quer os rios entrem ou não no oceano, o oceano não é perturbado em nada; o sthita-prajna (sah) mantém-se imperturbado, quer ele obtenha os objetos de desfrute, quer não. Ele alcança o estágio de jnana (santim).
Verso 71 Aquele que abandonou todos os desejos de gozo dos sentidos, que vive livre de desejos, que abandonou todo o sentimento de propriedade e não tem falso ego – só ele pode conseguir a paz verdadeira. Este verso descreve a pessoa que, não tendo fé nos objetos dos sentidos, não os desfruta. Ele é destituído da idéia de posse e de ego em conexão ao corpo e a objetos relacionados ao corpo ( nirmamo nirahankarah ).
Verso 72 Este é o caminho da vida espiritual e piedosa, e o homem que a alcança não se confunde. Se, mesmo somente à hora da morte, ele atinge essa posição, ele pode entrar no reino de Deus. Este verso conclui o tópico. Brahmi significa aquilo que fornece a obtenção do Brahman. Se mesmo aquele que atinge essa posição no instante da morte (anta-kale) alcança o brahma-nirvana, o que dizer de alguém jovem que pratica a fim de alcançar tal estado desde a infância? Tendo apresentado claramente jnana e karma e indiretamente bhakti, este capítulo é chamado Resumo do Conteúdo do Gita.
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Capítulo Terceiro
KARMA-YOGA Verso 1 Arjuna disse: Ó Janardana, ó Kesava, por que queres ocupar-me nesta guerra terrível, se achas que a inteligência é melhor do que o trabalho fruitivo? No terceiro capítulo, a ação oferecida ao Senhor sem desejo pessoal é descrita. A discriminação com o desejo de conquistar a luxúria e a ira também é demonstrada. Tendo se rendido à superioridade de bhakti, que é, como previamente estabelecido, transcendental aos gunas, a jnana-yoga e a niskama-karma-yoga ; aqui, manifestando seus próprios desejos, Arjuna, de forma amigável, censura o Senhor por o estar encorajando a lutar de acordo com o seu dharma. “Se inteligência fixa (buddhi), bhakti, transcendente aos gunas, é superior ( jyayasi), então por que Você me ocupa nesta terrível ação na forma de guerra?”. “Ó Janardana, por Sua ordem Você está causando dor ( ardana) ao Seu próprio povo ( jana). Não é possível evitar seguir Sua ordem, Ó Kesava, controlador até mesmo de Brahma e Siva!”. Ka significa Brahma, Isa significa Siva, e va significa vayase, “você controla”.
Verso 2 Minha inteligência ficou confusa com Tuas instruções equívocas. Portanto, dize-me definitivamente o que me será mais benéfico. “Ó Meu amigo Arjuna, é verdade que bhakti, acima dos gunas, é suprema. Mas, uma vez que é obtida unicamente pela misericórdia de Meu grande devoto puro de maneira inesperada, ela não é obtenível pelos esforços do indivíduo. Assim, Eu lhe dei a benção: seja transcendental aos gunas (nistrai-gunya bhava ): seja transcendental aos gunas através da transcendental bhakti-yoga. Quando esta benção amadurecer, você obterá bhakti através da inesperada misericórdia de um devoto puro. Como isso é adequado para as circunstâncias presentes, direcioná-lo a se ocupar em atividades com as palavras karmany evadhikaras te também é válido”. “Então, por que Você não me diz claramente para me ocupar em atividade? Você me atirou em um oceano de dúvida. Você confunde minha inteligência através dessas palavras que são misturas de vários significados ( vyamisrena). Embora Você mencione sobre ação ( karmany-evadhikaras te), Você também fala de jnana usando a palavra yoga em declarações como as seguintes: yogasthah kuru karmani sangam tyaktva dhananjaya siddhy-asiddhyoh samo bhutva samatvam yoga ucyate
“Estando situado nesta niskama-karma-yoga , executa teus deveres, abandonando todo o apego, sendo igual no sucesso e no fracasso, Ó conquistador de riquezas! Tal equanimidade mental se chama yoga”. – Bg. 2.48 buddhi-yukto jahatiha ubhe sukrta-duskrte tasmad yogaya yujyasva yogah karmasu kausalam
“Aquele que está ocupado em niskama-karma-yoga abandona tanto as reações piedosas quanto as impiedosas. Portanto, ocupa-te nesta yoga. Dentre todos os tipos de ação, essa execução sem apego é uma mestria”. – Bg. 2.50 E Você só fala de conhecimento em afirmações do tipo yada te mohakalilam buddhir vyatitarisyati : quando sua inteligência tiver cruzado a densidade da ilusão...” (Bhagavad-Gita 2.52).
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A palavra iva indica que “Suas palavras, de fato, não estão cheias de vários significados, e não é o Seu desejo confundir a mim, pois Você é misericordioso. Nem é verdade que eu não sei o significado, mas Você deve falar isso claramente”. O sentido profundo é este: comparado a karma no modo da paixão, karma no modo da bondade é superior. Superior a este é jnana, que também é no modo da bondade. E bhakti, sendo superior aos modos, é superior a jnana. “Se Você diz que bhakti não é possível para mim, então me instrua apenas jnana. Assim eu devo ficar livre do condicionamento do samsara e de misérias”.
Verso 3 A Suprema Personalidade de Deus disse: Ó virtuoso Arjuna, acabei de explicar que há duas classes de homens que tentam compreender o eu. Alguns se inclinam a compreendê-lo pela especulação filosófica empírica e outros pelo serviço devocional. Aqui o Senhor responde. “Você Me pede para indicar claramente um entre karma-yoga e jnana yoga uma vez que Eu expliquei ambos de maneira imparcial. Os dois processos que expliquei são para aqueles qualificados para karma e jnana, de acordo com diferentes circunstâncias. Não quer dizer que essas pessoas são igualmente qualificadas para a liberação. Isso é agora explicado nestes versos. Eu expliquei no capítulo anterior ( pura prokta ) dois tipos de qualificação. Para aqueles ocupados em conhecimento ( sankhyanam), que ascenderam ao estado de conhecimento puro de coração, há constância em jnana-yoga . Este é o campo limitado deles. Eles são conhecidos neste mundo pelo cultivo de conhecimento”. Isso é expresso em versos como os seguintes: tani sarvani samyamya yukta asita mat-parah vase hi yasyendriyani tasya prajna pratisthita
“O yogi que é devotado a Mim, após restringir todos os sentidos, irá permanecer sentado, sem corresponder com os objetos sensoriais. Aquele cujos sentidos foram assim colocados sob controle é um sthita prajna”. – Bg. 2.61 “Para aqueles que não são capazes de ascender para uma plataforma de conhecimento através de um coração puro, há um meio de ascender a essa plataforma. Eles são fixos ou limitados às atividades de niskama-karma-yoga, sem desejos, oferecidas a Mim. Eles são conhecidos como aqueles ocupados em karma”. Versos como o seguinte ilustram essa yoga. sva-dharmam api caveksya na vikampitum arhasi dharmyad dhi yuddhac chreyo 'nyat ksatriyasya na vidyate
“Considerando teus próprios deveres, não deves ter medo. Não há nada melhor para um guerreiro do que lutar pela causa correta”. – Bg. 2.31 “O karmi e o jnani são diferentes apenas no nome. De fato, pessoas ocupadas em karma se tornam jnanis puros de coração através das ações. E o jnani se torna liberado por bhakti. Este é o significado de todas as Minhas palavras”.
Verso 4 Não é possível livrar-se da reação só porque se deixa de agir, nem pode alguém atingir a perfeição só porque pratica a renúncia. Este verso explica que, sem pureza de coração, jnana não pode se manifestar. Não se ocupando nas atividades recomendadas nas escrituras, não se pode obter jnana (naiskarmyam). Uma pessoa de coração impuro não pode obter jnana através da renúncia das atividades recomendadas nas escrituras ( sannyasat ). ).
Verso 5 Todos são irremediavelmente forçados a agir segundo as qualidades que adquirem nos modos da natureza material; portanto, ninguém pode deixar de fazer algo nem mesmo por um momento. Ao contrário, a pessoa de coração impuro que abandona as atividades escriturais se torna absorta em atividades materiais. Isso é explicado neste verso.
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“Mas sannyasa, renúncia das atividades, significa negação de todas as tendências, tanto das atividades Védicas quanto das materiais, certo?”. “Acima da vontade própria ( avasah), a pessoa se ocupará em ação de qualquer forma”.
Verso 6 Aquele que impede os sentidos de agir, mas não afasta sua mente dos objetos dos sentidos, decerto ilude a si mesmo e não passa de um impostor. “Mas vemos tais sannyasis destituídos das ações dos sentidos com seus olhos fechados”. Este verso responde. “Aquele que controla os sentidos de ação, como a fala ou as mãos ( karmendriyani), mas continua se lembrando dos objetos dos sentidos, sob a pretensão de estar meditando, é um enganador ( mithyacarah)”.
Verso 7 Por outro lado, se uma pessoa sincera utiliza a mente para tentar controlar os sentidos ativos e passa então a praticar karma-yoga sem apego, ela é muito superior. Em contraste a isso, o pai de família (não o sannyasi) que executa ações escriturais ( karma-yogam) sem ansiar pelos frutos de suas ações (asaktah) é superior. Ramanujacarya diz a este respeito que tal pessoa é superior àquela praticando jnana, isso em virtude da impossibilidade da primeira se desviar.
Verso 8 Executa teu dever prescrito, pois este procedimento é melhor do que não trabalhar. Sem trabalho, não se pode nem ao menos manter o corpo físico. “Portanto, você deve se ocupar em suas atividades obrigatórias diárias, como sandhya-vandana, a oferta de orações orações de manhã, manhã, à tarde tarde e à noite, noite, (niyatam karma). Isso é melhor do que a renúncia a essas atividades ( karmasannyasa). Renunciando todas as atividades, você não será capaz de manter nem mesmo o seu corpo”.
Verso 9 Deve-se realizar o trabalho como um sacrifício a Visnu; caso contrário, o trabalho produz cativeiro neste mundo material. Portanto, ó filho de Kunti, executa teus deveres prescritos para a satisfação dEle, e, desta forma, sempre permanecerás livre do cativeiro. “As escrituras smrtis dizem que se fica atado pelas ações: karmana badhyate jantuh (Maha-Bharata 12.241.7). Portanto, eu ficarei atado pela execução de ações”. “Não, a ação executada para o Senhor Supremo não ata”. Isso é explicado neste verso. “ Dharma oferecido a Visnu sem desejo pessoal é chamado yajna. As pessoas são presas pelo karma devido a qualquer outra ação para qualquer outro fim. Portanto, você deve executar ações para a perfeição de tal dharma”. “Mas mesmo se eu executar ações que são oferecidas a Visnu, se eu executá-las com desejos, então eu ainda ficarei atado por elas”. “Você deve se tornar livre do desejo por resultados ( mukta-sangah)”. Dessa forma, o Senhor fala a Uddhava: sva-dharma-stho yajan yajnair anasih-kama uddhava na yati svarga-narakau yady anyan na samacaret asmil loke vartamanah sva-dharma-stho 'naghah sucih jnanam visuddham apnoti mad-bhaktim va yadrcchaya yadrcchaya
“Meu querido Uddhava, uma pessoa que está situada em seu dever prescrito, prestando a devida adoração através dos sacrifícios Védicos, mas sem desejar os resultados fruitivos de tal adoração, não irá para os planetas celestiais; de forma similar, por não executar atividades proibidas, ela não irá para o inferno. Aquele que está situado em seu dever prescrito, livre de atividades pecaminosas e limpo das contaminações materiais, nesta mesma vida obtém conhecimento transcendental ou, com grande fortuna, serviço devocional a Mim”. – SB 11.20.10-11
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Verso 10
No início da criação, o Senhor de todas as criaturas enviou muitas gerações de homens e semideuses que deveriam dedicar-se a executar sacrifícios para Visnu, e abençoou-os dizendo: “Sede felizes com este yajña (sacrifício) porque sua execução outorgar-vos-á tudo o que é desejável para viverdes com felicidade e alcançardes a liberação”. “Portanto, uma pessoa de coração impuro deveria executar ações sem desejo ao invés de abandonar a ação. Agora, se você não pode agir sem desejo, então você deve continuar oferecendo suas ações com desejo a Visnu ao invés de abandonar completamente toda ação. Isto é explicado em sete versos”. Há muito tempo atrás, juntamente com o yajna, Brahma criou as criaturas qualificadas a fazer oferendas para Visnu e disse: “Aumentem mais e mais a população através deste dharma ou yajna. Que este yajna conceda todo o desfrute desejado (ista-kama-dhuk )”. )”. Ele indica, através dessa afirmação, que eles tinham desejos materiais. O composto saha-yajna é formado pela regra vopasarjanasya (Panini 6.3.82). O composto saha-yajna é usado no lugar de sa-yajna.
Verso 11 Os semideuses, estando contentes com os sacrifícios, também vos agradarão, e assim, pela cooperação entre homens e semideuses, a prosperidade reinará para todos. Este verso explica como o yajna concede todos os desejos. “Através deste yajna (anena), comprazem-se os devatas. Vocês os satisfazem através do sacrifício e eles também irão satisfazer vocês”. Bhava, neste verso, indica boa disposição.
Verso 12 Cuidando das várias necessidades da vida, os semideuses, estando satisfeitos com a realização de sacrifício, suprirão todas as vossas necessidades. Mas aquele que desfruta destas dádivas sem oferecê-las aos semideuses como reconhecimento é certamente um ladrão. Para tornar este ponto mais claro, Ele fala da falha que há em não executar essa atividade. Aquele que desfruta daquilo que é dado pelos devatas, como a comida vinda da chuva, sem oferecer algo a eles através da execução do pancamaha-yajna e outros rituais é um ladrão.
Verso 13 Os devotos do Senhor libertam-se de todas as espécies de pecados porque comem alimento que primeiramente é oferecido como sacrifício. Outros, que preparam alimento para o próprio gozo dos sentidos, na verdade, comem apenas pecado. Aqueles que comem o alimento remanescente de yajnas, como o vaisvadeva-yajna, tornam-se livre de todos os pecados frutificados dos cinco tipos de violência às entidades vivas. Os cinco atos de violência ( panca-suna) são descritos no smrti: kandani pesani culli udakumbhi ca marjani panca-suna grhasthasya tabhih svargam na vindati
“O grhastha não desfruta de svarga por cometer os cinco atos de violência contra outras entidades vivas causados pelo uso do almofariz, do moedor, do forno, da vassoura e da água”. – Visnu Smrti 59.19-20
Verso 14 Todos os corpos vivos subsistem de grãos alimentícios, que são produzidos das chuvas. As chuvas são produzidas pela execução de sacrifício, e o sacrifício nasce dos deveres prescritos. Deve-se executar o yajna porque ele causa o movimento cíclico do universo. Através do alimento, as entidades vivas existem. O alimento é a causa dos corpos das entidades, e, da comida, vem a saúde dos corpos das entidades vivas com sua transformação em sêmen e sangue. A causa da comida é a chuva. Através da chuva, a comida é produzida. A causa da chuva é o yajna. Devido à execução de yajna pelas pessoas, a nuvem produz chuva suficiente. A causa do yajna é o karma, ação. O yajna é produzido a partir das ações do sacerdote e do patrocinador.
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Verso 15
As atividades reguladas são prescritas nos Vedas, e os Vedas manifestam-se diretamente da Suprema Personalidade de Deus. Por conseguinte, a Transcendência Onipenetrante situa-Se eternamente nos atos de sacrifício. A causa destas ações é o Veda (brahma). As ações relacionadas ao yajna partem da audição das regras enunciadas nos Vedas. A causa dos Vedas é o Brahman ( aksaram), uma vez que os Vedas nascem do Senhor. O sruti diz: asya mahato bhutasya nihsvasitam etad rg-vedo yajur-vedah sama-vedo' thangirasah
“O Rg, Rg, o Yajur Yajur,, o Sama Sama e o Atha Atharv rvaa Veda Vedass é a resp respir iraç ação ão do Senh Senhor or Supr Suprem emo” o”.. – Brha Brhadd-ar aran anyak yakaa Upan Upanis isad ad 2.4. 2.4.10 10 O Senhor todo-penetrante ( sarva-gatam) está, portanto, presente no yajna. Isso significa que, através da execução do yajna, alcança-se o Senhor. Todavia, por causa e efeito, de comida ao Senhor, vários itens foram mencionados; dentre eles, o yajna é mencionada pelas escrituras como compulsório. Este processo também é mencionado no smrti. agnau prastahutih samyag adityam upatisthate adityaj jayate vrstir vrster annam tatah prajah
“A oferenda ao fogo vai para o Sol. Do Sol nascem chuva, comida e os corpos das entidades vivas”. – Manu Smrti 3.76
Verso 16 Meu querido Arjuna, aquele que, na vida humana, não segue esse ciclo de sacrifício estabelecido pelos Vedas certamente leva uma vida cheia de pecado. Vivendo apenas para a satisfação dos sentidos, tal pessoa vive em vão. Este verso fala do pecado referente a não executar o sacrifício. Aquele que não toma parte no ciclo estabelecido, movendo-o do começo ao fim – do yajna à chuva, da chuva ao alimento, do alimento à nutrição do homem, do homem à execução do yajna, do yajna à chuva – em consequência da execução de yajna – leva uma vida cheia de pecado. Quem não cairá no inferno? Nota:
O ciclo é o seguinte: Senhor Supremo, Vedas, ação, sacrifício, chuva, comida e produção de entidades vivas. A nova entidade viva então estuda os Vedas nascidos do Senhor, executa ação e executa sacrifício (com o Senhor presente interiormente) mais uma vez. Ao mesmo tempo, satisfazendo as necessidades materiais pessoais através do sacrifício, pode-se obter o Senhor. Ramanuja toma brahman como o corpo e aksara como a alma, que é necessária para o corpo funcionar. Então o ciclo é: alma no corpo, ação, sacrifício, chuva, alimento, nutrição do corpo (com uma alma bhutani); então ação, sacrifício, etc.. Madhva toma brahman como o Senhor e aksara como os Vedas. Os Vedas revelam o Senhor, o Senhor inspira ações prescritas, então sacrifício, chuva, comida, nutrição de corpos, estudos dos Vedas, revelação do Senhor, inspiração para a ação, etc..
Verso 17 Mas para quem sente prazer no eu e utiliza a vida humana para buscar a auto-realização, satisfazendo-se apenas com o eu, ficando plenamente saciado — para ele não há dever. Foi agora estabelecido que se a pessoa não pode viver sem desejos, ela pode executar ações com desejos. Mas aquele que alcança o estágio de jnana devido à pureza de coração jamais executa ações motivado por desejo. Isso é expresso em dois versos. “Porque ele está desfrutando no eu, estando bem-aventurado devido à realização da bem-aventurança do atma, ele não se envolve de maneira alguma com os prazeres dos objetos materiais. Estando envolvido apenas com o atma (atmany eva), ele não faz nenhuma ação relacionada aos objetos externos ( tasya karyam na vidyate )”.
Verso 18 Um homem auto-realizado não tem propósito a cumprir no desempenho de seus deveres prescritos, tampouco tem ele alguma razão para não executar tal trabalho. Nem tem ele necessidade alguma de depender de algum outro ser vivo. Pela execução de ação, não há acúmulo de resultados desejados. E por não se executar ação, não há perda, porque em nada em todo o universo, de Brahma aos objetos inanimados, vale a pena o refúgio para o propósito de tal homem. A palavra vyapasraya é similarmente usada nos Puranas como se segue:
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vasudeve bhagavati bhaktim udvahatam nrnam jnana-vairagya-viryanam neha kascid vyapasrayah
“Pessoas ocupadas em serviço devocional ao Senhor Vasudeva, Krsna, naturalmente têm conhecimento perfeito e desapego deste mundo material. Tais devotos, portanto, não estão interessados na assim chamada felicidade ou na assim chamada aflição deste mundo”. – SB 7.17.31 kirata-hunandhra-pulinda-pulkasa abhira-sumbha yavanah khasadayah ye 'nye ca papa yad-apasrayasrayah sudhyanti tasmai prabhavisnave namah
“Kirata, Huna, Andhra, Pulinda, Pulkasa, Abhira, Sumbha, Yavana, membros da casta Khasa, e mesmo outros adictos de atividades pecaminosas, podem se purificar tomando refúgio no devoto do Senhor, pois Ele é o Poder Supremo. Curvo-me a fim de oferecer minhas respeitosas reverências a Ele”. – SB 2.4 .18 argo 'syatha visargas ca vrtti-raksantarani ca vamso vamsanucaritam samstha hetur apasrayah
“Ó Brahmana, as autoridades no assunto entendem que um Purana contém dez tópicos temáticos característicos: a criação do universo, a subsequente criação dos mundos e seres, a manutenção de todas as entidades vivas, a proteção delas, o governo dos vários Manus, as dinastias de grandes reis, as atividades de tais reis, a aniquilação, a motivação e o abrigo supremo”. – SB 12.7.9 A partir dessas declarações, vê-se que a adição de apa a asraya tem o significado de “abrigo perfeito”.
Verso 19 Portanto, sem se apegar aos frutos das atividades, tem-se de agir por uma questão de dever, pois, trabalhando sem apego, alcança-se o Supremo. “Portanto (tasmad ), ), uma vez que você não tem qualificação para se estabelecer na plataforma de jnana, e executar ações com desejos não é adequado para você uma vez que você tem inteligência espiritual, você deve executar ação sem desejo. Isso é explicado neste verso. Você deve, portanto, executar as ações obrigatórias prescritas. Fazendo isso, você param)”. obterá a liberação ( param
Verso 20 Reis tais como Janaka alcançaram a perfeição com a simples execução dos deveres prescritos. Portanto, apenas para educar o povo em geral, deves executar teu trabalho. Ele embasa tais ações na primeira parte do verso. Na segunda parte do verso, ele diz que “se você pensa que você é qualificado para jnana, mesmo assim você deve executar ação a fim de ensinar as pessoas”.
Verso 21 Seja qual for a ação executada por um grande homem, os homens comuns seguem e o mundo inteiro procura imitar todos os padrões que ele estabelece através de seus atos exemplares. Neste verso, Ele explica como as pessoas aprendem: através do exemplo.
Verso 22 Ó filho de Prtha, não há trabalho prescrito para Mim dentro de todos os três sistemas planetários. Nem sinto falta de nada, nem tenho necessidade de obter algo — e, mesmo assim, ocupo-Me nos deveres prescritos. Em três versos, o Senhor usa a Si mesmo como exemplo.
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Verso 23
Pois, se alguma vez Eu deixasse de ocupar-Me na cuidadosa execução dos deveres prescritos, Ó Partha, todos os homens decerto seguiriam Meu caminho. Anuvartante
(eles certamente seguem) é empregada com o significado de anuvarteran (eles seguiriam).
Verso 24 Se Eu não executasse os deveres prescritos, todos estes mundos seriam levados à ruína. Eu causaria a criação de população indesejada e, com isso, Eu destruiria a paz de todos os seres vivos. “Tendo a Mim como exemplo, as pessoas, não executando o mistas. Eu seria a causa disto. Eu poluiria a progênie”.
dharma, seriam destruídas. O resultado seriam castas
Verso 25 Assim como os ignorantes executam seus deveres com apego aos resultados, os eruditos também podem agir, mas sem apego, com o propósito de conduzir as pessoas para o caminho correto. Ele resume aqui que ação deve ser feita mesmo por pessoas estabelecidas em jnana.
Verso 26 Para não perturbar as mentes dos homens ignorantes apegados aos resultados fruitivos dos deveres prescritos, o sábio não deve induzi-los a parar de trabalhar. Ao contrário, trabalhando com espírito de devoção, ele deve ocupálos em todas as espécies de atividades para que, pouco a pouco, desenvolvam a consciência de Krsna. “Você não deve perturbar a mente daqueles apegados à ação por causa da impureza de coração deles, dizendo: ‘Esse karma é desprezível! Abandone a ação e se torne bem-sucedido como eu pela prática de jnana’. Ao invés disso, deve-se ocupá-los em ação ( josayet ), ), dizendo: ‘Execute ação sem desejo e se torne bem-sucedido’. Fazendo tais ações, você estabelece exemplo para os demais”. “Mas, de acordo com o Bhagavatam, isso é contrário à afirmação do Senhor”. svayam nihsreyasam vidvan na vakty ajnaya karma hi na rati rogino 'pathyam vanchato 'pi bhisaktamah
“‘Um devoto puro que está plenamente situado na ciência do serviço devocional jamais instruirá uma pessoa tola a se ocupar em atividades fruitivas para o desfrute material, menos ainda irá ajudá-la em tais atividades. Tal excelente devoto é como um médico experiente, que nunca encoraja um paciente a comer alimento prejudicial à sua saúde, mesmo que o paciente o deseje’.”. – SB 6.9.50 “Verdade, mas isso é em relação a instruções dadas sobre bhakti. Isso não é contraditório em relação a instruções dadas sobre jnana. Jnana depende de pureza de coração, e pureza de coração depende de ação sem desejo. Mas bhakti é, por natureza, muito forte; e não depende sequer de pureza de coração. Se lhe é possível fomentar fé em bhakti, então você pode perturbar a mente daqueles apegados à ação, pois aqueles que têm fé em bhakti não têm nenhuma obrigação em executar karma. Isso deve ser compreendido a partir de afirmações como as que seguem”. tavat karmani kurvita na nirvidyeta yavata mat-katha-sravanadau va sraddha yavan na jayate
“Deve-se continuar a executar as atividades ritualísticas Védicas até que se torne verdadeiramente desapegado da gratificação sensorial material e se desenvolva fé em ouvir e cantar sobre Mim”. – SB 11.20.9 dharman santyajya yah sarvan mam bhajet sa tu sattamah
“Tendo tomado completo refúgio em Meus pés de lótus, todavia, uma pessoa santa definitivamente renuncia tais deveres religiosos ordinários e tem Minha adoração como a sua única ocupação. Ela é, então, considerada como a melhor dentre todas as entidades vivas”. – SB 11.11.32 sarva-dharman parityajya mam ekaih saranarh vraja
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“Abandone todos os dharmas e simplesmente renda-se a Mim”. – Gita 18-66 tyaktva sva-dharmam caranambujam harer bhajann apakvo 'tha patet tato yadi
“Se alguém abandona seus deveres ocupacionais e trabalha em Consciência de Krsna e então cai sem completar seu trabalho, que perda há para a sua parte? E o que alguém pode ganhar se executa suas atividades materiais com perfeição?”. – SB 1.5.17
Verso 27 Confusa, a alma espiritual que está sob a influência do falso ego julga-se a autora das atividades que, de fato, são executadas pelos três modos da natureza material. Talvez a dúvida apareça: como distinguir a pessoa em conhecimento ( vidvan) da pessoa ignorante se o homem em conhecimento também executa ações. Dois versos explicam a diferença. A pessoa ignorante pensa que ela é o executor de todas as ações, que são, de fato, completamente executadas pelos sentidos materiais, que, por sua vez, são produtos dos gunas ( prakrteh prakrteh gunaih).
Verso 28 Quem tem conhecimento da Verdade Absoluta, Ó homem de braços poderosos, não se ocupa a serviço dos sentidos e do gozo dos sentidos, pois conhece bem as diferenças entre trabalho com devoção e trabalho em busca de resultados fruitivos. A pessoa inteligente, todavia, sabe a verdade (tattva-vit ) sobre as divisões dos gunas e ações (guna-karmavibhagayoh). As divisões dos gunas são sattva, rajas e tamas. As divisões da ação são divididas de acordo com os efeitos dos gunas: devatas (sattva), sentidos (raja) e objetos dos sentidos ( tamas). Aquele que sabe a natureza desses dois é chamado tattva-vit . Os sentidos, como o olho (gunah), administrados por seus devatas, são ocupados com os objetos dos sentidos, como a forma (gunesu). A pessoa inteligente, sabendo disso, não é atada. Ela pensa: “Eu não sou os sentidos, nem os objetos sensoriais. Não há sequer a mínima relação entre mim e os sentidos ou os objetos dos sentidos”.
Verso 29 Confundidos pelos modos da natureza material, os ignorantes ocupam-se plenamente em atividades materiais e tornam-se apegados. Mas os sábios não devem inquietá-los, embora estes deveres sejam inferiores por causa da falta de conhecimento daqueles que os executam. “Se as jivas são distintas dos sentidos e dos objetos sensoriais, sem relação com eles, então por que se vê que pessoas são apegadas aos objetos sensoriais?”. Este verso responde. Pela absorção nos sentidos feitos de matéria, as jivas se tornam confusas. Assim como um homem possuído por um fantasma pensa que ele mesmo é o fantasma, as jivas absortas nos sentidos feitos de matéria pensam que elas mesmas são os sentidos. Então elas se tornam apegadas aos objetos sensoriais ( guna-karmasu). O homem que sabe tudo ( krtsnavit ) não perturba essas jivas que estão ignorantes. Ele não tenta fazê-las compreenderem que elas são diferentes dos sentidos, que elas não são os sentidos. Ao invés disso, ele as ocupa em ação sem desejo, o que irá remover a absorção nos sentidos. Uma pessoa não cura um homem possuído por um fantasma mesmo que o instrua por uma centena de vezes: “Você é um homem, não um fantasma!”. Senão que se cura o homem – removendo sua aflição – pelo uso de mantras, pedras preciosas e medicamentos.
Verso 30 Portanto, ó Arjuna, ofertando-Me todos os teus trabalhos, com pleno conhecimento de Mim, sem desejos de lucro, sem alegares ter alguma posse, e livre da letargia, luta. A palavra adhyatma é tida aqui como um avyayu-bhava composto, significando “relacionado com ( adhya) o atma” ao invés de significar a Alma Suprema. A sentença adhyatma-cetasa , portanto, significa “com consciência fixa no atma”.
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“Assim, oferecendo (sannyasa) todos os trabalhos para Mim, pela consciência fixa no eu ao invés de fixa em objetos materiais, estando livre de desejos por resultados, sendo niskama (nirasih), livre de qualquer senso de posse em todos os aspectos (nirmamah), lute”.
Verso 31 Aqueles que cumprem seus deveres de acordo com Meus preceitos e que, sem inveja, seguem fielmente este ensinamento livram-se do cativeiro das ações fruitivas. Neste verso, o Senhor fala de forma a encorajar as pessoas a aceitarem a Sua instrução.
Verso 32 Mas aqueles que, por inveja, rejeitam estes ensinamentos e não os seguem devem ser considerados desprovidos de todo o conhecimento, enganados e malogrados em seus esforços pela perfeição. Neste verso, o Senhor fala dos efeitos negativos resultantes de se fazer o oposto.
Verso 33 Até mesmo um homem de conhecimento age segundo sua própria natureza, pois cada qual segue a natureza que adquiriu dos três modos. Que se pode conseguir com a repressão? “Eles não ficariam com medo de não seguir suas instruções, as instruções do Senhor Supremo, ou seja, as instruções de um rei?”. “Não, eles não Me temem. Aqueles que ocupam seus sentidos no desfrute, mesmo que sejam inteligentes, não podem considerar as ordens do rei, o Senhor Supremo. Isso é devido à natureza deles”. O Senhor explica isto neste verso. “Se a pessoa de conhecimento se ocupa em pecado, ela receberá castigo infernal semelhante à punição aplicada por um rei. E ele também terá de suportar a infâmia. Ainda assim, mesmo a pessoa de discriminação executa ações que produzem cargas de sofrimento e segue seus hábitos pecaminosos passados”. “Todos, portanto, seguem suas naturezas. As instruções fomentadas nas escrituras ( nigrahah) por Mim ou pelo rei, na forma da fomentação de niskama-karma-yoga, são capazes de purificar e iluminar aquele de coração impuro, e, na forma de jnana-yoga, são capazes de purificar e iluminar aquele de coração puro. Mas nenhum dos dois pode purificar o extremamente impuro (nigrahah kim karisyati )”. “Mas a bhakti-yoga nascida de Minha misericórdia imprevisível pode liberar mesmo aquelas pessoas mais pecaminosas”. Como diz o Skanda Purana: aho dhanyo 'si devarse krpaya yasya te ksanat nico 'py utpulako lebhe lubdhako ratim ucyate
“Meu querido amigo Narada Muni, você é glorificado como o sábio entre os semideuses. Por sua misericórdia, mesmo uma pessoa de nascimento inferior, como este caçador, imediatamente tornou-se arrebatado de êxtase. Isso se chama bhava ou rati”.
Verso 34 Há princípios que servem para regular o apego e a aversão relacionados com os sentidos e seus objetos. Ninguém deve ficar sob o controle disso, porque essa absorção em apego e aversão é um obstáculo no caminho da autorealização. “Uma vez que as regras e restrições das escrituras não têm efeito sobre aqueles de natureza vil, os sentidos devem ser limitados tanto quanto necessário para que não se fique sob a influência da natureza pecaminosa que nasce dos hábitos pecaminosos passados”. Isso é descrito neste verso. A palavra indriya é repetida para indicar cada um dos objetos sensoriais de cada um dos sentidos. Apego ( raga) pelo que é proibido pelas escrituras, como dar presentes para as esposas de outros, ou ver e tocar seus corpos; ou repulsa (dvesa) por aquilo que é prescrito pelas escrituras, como dar presentes, servir, ver e tocar o guru, o brahmana, o local sagrado e os visitantes, está firmemente fixo (visesena avastithau ) em todos os objetos dos sentidos (forma, cheiro, sabor, tato e som). Não se deve ficar sob o controle ( vasam) do apego e da repulsa. Outro significado é este. Apego significa ver uma mulher (objeto dos olhos) e odiar aqueles que obstruem esse desfrute. A mente, assim, é atraída para aquilo que ajuda a pessoa a alcançar suas metas pessoais. A mente é atraída por
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arroz macio e saboroso uma vez que este é favorável para as suas metas pessoais, e a mente não gosta do sabor do arroz duro porque este vai de encontro a suas metas pessoais. A pessoa tem apego a ouvir e ver seus próprios filhos, mas não gosta de ver e ouvir os filhos de seus inimigos. Não se deve ficar sob o controle de tal apego e repulsa.
Verso 35 É muito melhor cumprir os deveres prescritos próprios, embora com defeito, do que executar com perfeição os deveres alheios. A destruição durante o cumprimento do próprio dever é melhor do que ocupar-se nos deveres alheios, pois seguir o caminho dos outros é perigoso. Neste verso, o Senhor responde àqueles que desejam executar os deveres dos outros, como não-violência, porque este é fácil de ser executado e também não independente do dharma, e por causa da sua inabilidade para batalhar devido a apego e repulsa. Devem-se executar os deveres pessoais destemidamente mesmo que eles talvez tenham alguma leve falha. Isto é melhor do que executar os deveres alheios, mesmo que esses deveres sejam bem executados e sejam cheios de boas qualidades. A razão é dada. Destruição no curso da execução dos próprios deveres é melhor. Executar os deveres dos outros é perigoso. O Sétimo Canto do Bhagavatam trata a execução dos deveres alheios, para-dharma, como irreligião: vidharmah para-dharmas ca abhasa upama chalah adharma-sakhah pancema dharma-jno 'dharmavat tyajet
“Há cinco ramos de irreligião, apropriadamente conhecidos como irreligião [ vidharma], princípios religiosos para os quais a pessoa é inadequada [ para-dharma], pretensa religião [abhasa], religião analógica [ upadharma] e religião enganadora [chala-dharma]. Aquele que está ciente da vida religiosa verdadeira deve descartar esses cinco sob o rótulo de irreligiosos”. – SB 7.15.12
Verso 36 Arjuna disse: Ó descendente de Vrsni, que impele alguém a atos pecaminosos, mesmo contra a sua vontade, como se agisse à força? Referindo-se ao verso 34, sobre raga e dvesa, Arjuna pergunta, neste verso, sobre apego aos objetos dos sentidos, como o desfrute com mulheres de outros, mesmo este sendo censurado pelas escrituras. “Embora não desejando se ocupar em pecado por causa do conhecimento das regras e proibições das escrituras (anicchan), por qual influência ( kena prayuktah) a pessoa se ocupa em atos pecaminosos, como se forçada?”. Isto significa que o desejo pelos objetos nasce fortemente sob a influência do estímulo do objeto.
Verso 37 A Suprema Personalidade de Deus disse: É somente a luxúria, Arjuna, que nasce do contato com o modo material da paixão e que mais tarde se transforma em ira, i ra, e que é o inimigo pecaminoso que tudo devora neste mundo. “A luxúria, composta do desejo pelos objetos sensoriais, impele o homem ao pecado. O homem, sendo instado pela luxúria, ocupa-se em pecado. Essa luxúria, aparecendo em uma forma diferente, torna-se visível como ira. Isto significa que a luxúria, sendo obstruída por alguém, transforma-se em ira. A luxúria nasce do modo da paixão; e, da luxúria, modo da paixão, nasce a ira, modo da ignorância”. “Mas, depois da satisfação do desejo, o desejo deve estar esgotado”. “Não, esta luxúria é um grande devorador ( maha-sanah). É impossível satisfazer as expectativas do desejo”. Como o smrti diz: yat prthivyam vrihi-yavarm hiranyam pasavah striyah nalam ekasya tat sarvam iti matva samam vrajet
“Entendendo que tudo o que há disponível na terra na forma de alimento, ouro, animais e mulheres não é suficiente para uma pessoa, deve-se seguir com a mente em paz”. – Maha-bharata, Anusasana Parva, Cap. 13 “Se não é possível fazer uma aliança com a luxúria através de lhe dar o que ela pede ( dana), então seria possível colocá-la sob controle através de sama e bheda?”. “Não, a luxúria é um grande demônio ( maha-papma)”.
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Verso 38
Assim como a fumaça cobre o fogo, a poeira cobre um espelho ou o ventre cobre um embrião, diferentes graus de luxúria cobrem o ser vivo. A luxúria não é inimiga de alguns, mas inimiga de todos. Isto é explicado com exemplos. O exemplo ilustra vários níveis de luxúria: o nível superficial, o profundo e o muito profundo. O fogo, embora encoberto pela fumaça, continua exercendo sua função de queimar. Por causa do desaparecimento de sua clareza natural, o espelho empoeirado não cumpre sua função de refletir imagens de maneira apropriada, embora seja reconhecido como espelho pela sua forma, mesmo enquanto coberto pela poeira. O feto encoberto pelo ventre não pode executar sua função de esticar as mãos e pés. Sua forma não pode ser conhecida dentro daquela cobertura. Quando a luxúria é superficial, é possível se lembrar das metas espirituais. Quando a luxúria é profunda, não é mais possível. Quando ela é muito profunda, a pessoa se torna inconsciente. Desta forma, o universo ( idam) é coberto de luxúria.
Verso 39 Assim, a consciência pura da entidade viva sábia é coberta por seu eterno inimigo sob a forma da luxúria, que nunca é satisfeita e queima como o fogo. Este verso explica que a luxúria é certamente a ignorância da jiva, porque é ela que cobre o conhecimento da jiva. A frase “inimigo eterno” indica que a luxúria deve ser morta por todos os fins e meios. Através desta ignorância na forma de luxúria, comparada a um fogo insaciável, o conhecimento é encoberto. Ca tem o significado semelhante ao deste verso. Ele diz: na jatu kamah kamanam upabhogena samyati havisa krsna-vartmeva bhuya evabhivardhate
“Assim como suprir manteiga ao fogo não diminui o fogo, senão que o aumenta mais e mais, o empenho em parar os desejos luxuriosos através do desfrute contínuo jamais poderá ser bem-sucedido”. – SB 9.19.14
Verso 40 Os sentidos, a mente e a inteligência são os lugares que servem de assento para esta luxúria. Através deles, a luxúria confunde o ser vivo e obscurece o verdadeiro conhecimento que ele possui. “Onde essa luxúria está situada?”. Este verso explica. As grandes fortalezas e cidades deste inimigo luxúria ( adhistanam) são os sentidos, a mente e a inteligência. E os objetos dos sentidos, começando pelo som, são as províncias regidas pelo rei luxúria. A luxúria confunde a jiva (dehinam) ao cobrir seu conhecimento usando os sentidos, a mente e a inteligência.
Verso 41 Portanto, ó Arjuna, ó melhor dos Bharatas, refreia desde o começo este grande símbolo do pecado regulando os seus sentidos e aniquila este destruidor do conhecimento e da auto-realização. A regra é essa, conquistando os abrigos do inimigo, o inimigo pode ser conquistado. Seu abrigo, ou o local onde a luxúria se refugia, são os sentidos, a mente e a inteligência, que são crescentemente mais difíceis de se conquistar. Os sentidos talvez sejam difíceis de se controlar, mas eles podem ser mais facilmente conquistados do que os outros itens. Deve-se, portanto, conquistar os sentidos primeiramente. “Você deve, definitivamente, controlar os sentidos”. Embora a mente descontrolada queira roubar as mulheres e propriedades de outros; considerando cuidadosamente a situação do funcionamento dos sentidos, como os olhos, os ouvidos, as mãos ou os pés, não se devem ocupar os sentidos em tais papmanam)”. Isso significa que, através da restrição dos sentidos, após algum tempo, a práticas. “Mate essa luxúria feroz ( papmanam mente se tornará livre da luxúria.
Verso 42 Os sentidos funcionais são superiores à matéria bruta; a mente é superior aos sentidos; por sua vez, a inteligência é mais elevada do que a mente; e ela, a alma, é superior à inteligência.
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Não se deve tentar conquistar a mente e a inteligência primeiramente, porque é impossível. Essa impossibilidade está implícita neste verso. “Os sentidos são considerados superiores, pois eles não podem ser conquistados sequer por guerreiros que conquistam as dez direções. Mas a mente é superior aos sentidos uma vez que ela é mais forte, não sendo nem mesmo destruída durante os sonhos – quando os sentidos não funcionam. Mas, se comparada à mente, a inteligência, na forma de vijnana, é mais forte. Durante o sono profundo, mesmo a mente não funciona, mas a inteligência permanece nãodestruída, estando presente de forma geral. Mas aquilo que é superior à inteligência em força porque existe em você mesmo quando a inteligência é destruída pela prática de jnana é conhecido como jivatma, e é a conquistadora da luxúria. Após conquistar os sentidos, a mente e a inteligência, a jivatma, que é mais forte do que todos os corpos, pode conquistar a luxúria. Entende-se assim que não se trata de uma tarefa impossível”.
Verso 43 Assim, sabendo que é transcendental aos sentidos, à mente e à inteligência materiais, Ó Arjuna de braços poderosos, a pessoa deve equilibrar a mente por meio de deliberada inteligência espiritual (consciência de Krsna) e assim — pela força espiritual — vencer este inimigo insaciável conhecido como luxúria. Este verso conclui o tópico. Entender que a jivatma é superior à inteligência, entender que ela é distinta de todas as coberturas, destrói a inconquistável luxúria através da fixação no eu através do eu. Este capítulo fala sobretudo de niskama-karma como sadhana, e também fala de jnana, sua meta, de maneira secundária.
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OG A C AP ÍT ULO Q UARTO – – J J ÑA N A V IB HA GA Y OG
Capítulo Quarto
JÑANA-VIBHAGA-YOGA Verso 1 A Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krsna, disse: “Ensinei esta imperecível ciência da yoga ao deus do Sol, Vivasvan, e Vivasvan a ensinou a Manu, o pai da humanidade, e Manu, por sua vez, ensinou-a a Iksvaku”. No quarto capítulo, o Senhor fala das razões para o Seu aparecimento, a natureza eterna de Seu aparecimento e de Suas atividades, e também fala da excelência de jnana em coisas como o brahma-yajna. Neste capítulo, o Senhor glorifica jnana-yoga (imam yogam), a meta de niskama-karma, que Ele já havia mencionado nos dois capítulos anteriores.
Verso 2 Esta ciência suprema foi então recebida através da corrente de sucessão discipular, e os reis santos compreenderam-na dessa maneira. Porém, com o passar do tempo, a sucessão foi interrompida, e, portanto, a ciência como ela é parece ter-se perdido. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 3 Esta antiquíssima ciência da relação com o Supremo é falada hoje a ti por Mim porque és Meu devoto bem como Meu amigo, e podes, portanto, entender o mistério transcendental que há nesta ciência. Neste verso, o Senhor apresenta a razão para estar falando essa yoga para Arjuna. “Você é Meu devoto (Meu servo) e Meu amigo”. Tal conhecimento é privado, ou secreto, porque não é apropriado falar sobre ele a uma pessoa que não seja favorável a Krsna.
Verso 4 Arjuna disse: O deus do Sol, Vivasvan, nasceu antes de Ti. Como poderei entender que, no começo, ensinaste-lhe esta ciência? Neste verso, Arjuna pergunta sobre a impossibilidade do que Krsna acabou de dizer. “Seu nascimento é recente (aparam) e o nascimento de Vivasvan é muito antigo ( param). Como posso entender que Você falou esse conhecimento para ele?”.
Verso 5 A Personalidade de Deus disse: Tu e Eu já passamos por muitos e muitos nascimentos. Posso lembrar-Me de todos eles, mas tu não podes, Ó subjugador do inimigo! Neste verso, o Senhor fala com a intenção de mostrar que Ele instrui através da ação de Seus avataras. “Eu apareço como vários avataras, e você também aparece como Meu companheiro nesses momentos. Eu sei, uma vez que sou onisciente, sendo o Senhor Supremo. Você não sabe, uma vez que Eu cubro seu conhecimento para cumprir o propósito de Meus passatempos. Com o conhecimento encoberto, Ó subjugador dos inimigos, você subjuga param) considerando-se nesta vida um ksatriya, o filho de Kunti”. (tapa) os inimigos ( param
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Verso 6
Embora Eu seja não nascido e Meu corpo transcendental jamais se deteriore, e embora Eu seja o Senhor de todas as entidades vivas; mesmo assim, em cada milênio, Eu apareço sob Minha forma transcendental original. Neste verso, Ele descreve a maneira de Seu aparecimento. “Embora Eu seja não-nascido, Eu apareço. Eu descendo na formas de devas, humanos e animais rastejantes e outras formas”. “Mas o que há de incrível nisso? A jiva é também, de fato, não-nascida, e nasce novamente após a destruição do corpo grosseiro”. O Senhor responde: “Eu tenho um corpo indestrutível ( avyaya-atma). A jiva é sem nascimento no sentido de ser uma alma distinta de seu corpo. Ela nasce nas ce unicamente por causa de sua relação com o corpo que produz ignorância. Mas a Minha condição de ser sem nascimento e o Meu nascer não são separados de Meu corpo uma vez que sou o Senhor. Tanto o Meu nascer quanto o Meu não ser nascido acontecem da mesma forma. Como tal coisa é difícil de acontecer, é certamente incrível e inconcebível. E não é que nascerei em todos os tipos de ventres como a jiva que está sob a influência de papa e punya, pois Eu sou o Senhor de todas as entidades vivas ( bhutanam-isvarah), fora do controle do karma”. “Mas a jiva recebe corpos de deva, de humano e de animal de acordo com o karma através de seu corpo sutil, a causa de seu condicionamento. Você, o Senhor Supremo, é destituído de corpo sutil, e Você é todo-penetrante e o controlador do karma, do tempo e de todos os demais elementos. O Sruti diz bahu syam: ‘que Eu Me torne muitos’ (Chandogya Upanisad 6.2.3). A partir daí, entende-se que Você é a forma de todo o universo. Quando você diz ‘Eu apareço nesta maneira em particular’, eu acho que isso deve significar que Seu nascimento significa simplesmente Sua revelação às pessoas da multitude de variedades de corpos em todo o universo, que são também eternos”. “Mas como isso pode ser possível? Eu faço o Meu aparecimento situado em Minha própria forma ( prakrtim svam adhisthaya )”. Se a palavra prakrti se referisse à energia material externa, então seu controlador, o Senhor Supremo, tornar-se-ia, por inferência, uma forma material, não um objeto especial de realização. Portanto, em conformidade com o significado do dicionário ( samsiddhi-prakrti tv ime svarupam ca svabhavas ca ), a palavra prakrti significa svarupa neste verso. Ela não se refere à energia material que nasce de Sua svarupa. A svarupa do Senhor é sac-cid-ananda. Em relação à palavra prakrti, Sridhara Svami diz: “Você é a prakrti que é composta de suddha-sattva”. Ramanujacarya diz: “Prakrti significa a natureza individual pessoal. A frase 'Estando situado em Minha natureza', portanto, significa 'Eu apareço com Minha svarupa por Minha vontade pessoal'.”. Assim, prakrti significa a natureza própria, que é sac-cid-ananda-rasa condensada, que é distinta da natureza material. A palavra svam junto com prakrti indica, portanto, 'Minha verdadeira forma pessoal', distinta de outras formas verdadeiras. O sruti diz: sa bhagavah kasmin pratisthitah sva mahimni
“Querido senhor, em que o Supremo Se situa? Ele Se situa em Sua própria glória”. – Chandogya Upanisad 7.24.1 Madhusudana Sarasvati apresenta o seguinte significado. “Eu apareço situado em Minha svarupa. Estando situado espiritualmente, Eu ajo sem dualidade de alma e corpo”. “Mas se Você tem corpos indestrutíveis como Matsya ou Kurma, então por que Sua forma presente e as formas anteriores não aparecem todas de uma vez?”. “Eu apareço através de Minha maya, que vem do Meu eu ( atma significa eu, logo atma-maya significa Minha maya pessoal), yoga-maya, a função da cit-sakti, que tanto encobre quanto revela Minhas svarupas. Eu apareço revelando Minha presente forma, tendo encoberto Minhas formas anteriores”. Sridhara Svami diz: “Eu apareço através de Minha energia de jnana, bala e virya, que se manifestam poderosamente (atma-mayaya)”. Atma-mayaya também pode significar “pelo Meu próprio conhecimento”, uma vez que maya pode significar conhecimento neste contexto: maya vayunam jnanam . O uso é apresentado por Ramanujacarya: “Ele continuamente sabe do pecado e da piedade de todas as entidades através do conhecimento ( mayaya)”. Madhusadana Sarasvati diz: “ Maya significa a consciência através desse corpo ( atma) de que Eu sou o Senhor, Vasudeva, destituído de diferença entre corpo e alma”.
Verso 7 Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente de Bharata, e um aumento predominante da irreligião – nesse momento, Eu próprio desço.
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“Quando Eu apareço?”. Este verso responde. “Eu apareço quando não consigo tolerar nem a destruição ( glani) do dharma nem o crescimento (abhyutthanam) do adharma; então realizo o Meu aparecimento a fim de reverter a situação. Eu crio o Meu corpo ( atmanam). Madhusudana Sarasvati diz: “Eu exibo Meu corpo, que existe eternamente, como se ele fosse criado por Minha energia”.
Verso 8 Para libertar os piedosos e aniquilar os canalhas, bem como para restabelecer os princípios da religião, Eu mesmo apareço, milênio após milênio. “Mas Seus devotos, os rajarsis e brahmarsis, podem deter a destruição do dharma e o crescimento de adharma. Então por que é necessário que Você tenha um aparecimento?”. “Isso é verdade, mas Eu venho e executo feitos que são muito difíceis para outros executarem”. Isto é expresso neste verso. “Eu apareço para libertar ( tranaya) Meus devotos dedicados ( sadhunam), cujos corações estão ardendo de saudades, sofrendo devido à devoção; para destruir as pessoas mal-intencionadas, como Ravana, Kamsa e Kesi, que trazem sofrimento aos Meus devotos e que não podem ser mortos por ninguém a não ser por Mim; e para estabelecer de forma decisiva o dharma supremo de meditar em Mim, adorar-Me, servir-Me e cantar sobre Mim, o que não pode ser instituído por alguém que não seja Eu ( samsthapanarthaya )”. “Eu faço isso em toda yuga, ou em todo kalpa (dia de Brahma)”. Quanto à Sua atuação, não se deve ficar preocupado pensando que o Senhor está prejudicando as pessoas mal-intencionadas ao puni-las. Por matá-las, o Senhor libera até mesmo os mais pecaminosos asuras do samsara, liberando-os das punições infernais que teriam de sofrer por suas várias atividades pecaminosas. A punição do Senhor na forma do matar deve ser entendida como Sua misericórdia.
Verso 9 Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu aparecimento e de Minhas atividades; ao deixar o corpo, não volta a nascer neste mundo material, senão que alcança a Minha morada eterna, Ó Arjuna. “Você será bem-sucedido simplesmente por conhecer em verdade sobre o Meu nascimento, que foi previamente descrito, e, após Meu nascimento, Minhas atividades”. Isto é expresso neste verso. Ramanujacarya e Madhusudana Sarasvati dizem que divya significa “não material, espiritual”. Sridhara Svami diz que divya significa “incomum”. Como isto quer dizer não haver relação com o mundo material, também significa “espiritual”. Ser espiritual, ser além dos gunas, significa que o nascimento e as atividades do Senhor são eternos. Jiva Gosvami também explica, citando o Srimad-Bhagavatam no Bhagavat-Sandarbha, que o Senhor não tem nascimento ou atividades: na vidyate yasya ca janma karma va na nama-rupe guna-dosa eva va tathapi lokapyaya-sambhavaya yah sva-mayaya tany anukalam rcchati
“A Suprema Personalidade de Deus não tem nascimento, atividades, nome, forma, qualidades ou falhas materiais. Para cumprir o propósito pelo qual este mundo material é criado e destruído, des truído, Ele vem na forma de um ser humano como o Senhor Rama ou o Senhor Krsna através de Sua potência interna original. Ele tem imensa potência; e, em várias formas, todas livres da contaminação material, Ele age de forma maravilhosa. Ele é, portanto, o Brahman Supremo. Ofereço-Lhe os Meus respeitos”. - SB 8.3.8 Ou a palavra divya pode significar “não abordável por lógica”, ou inconcebível, no peso das palavras do sruti e do smrti. O Purusa Bodhini Sruti (4.3), do ramo Pippaladi dos Vedas, diz: eko devo nitya-lilanurakto bhakta-vyapi bhakta-hrdayantaratma
“Ele, que é inconcebível ( deva), ocupado em eternos passatempos, expande-Se nos devotos e reside no coração dos devotos”. A natureza eterna do nascimento e das atividades do Senhor é também frequentemente mencionada no Srimad-Bhagavatam. “Yo vetti tattvatah significa 'aquele que sabe que Meu nascimento e Minhas atividades são verdadeiramente eternos baseando-se em Minhas afirmações de que Eu sou não-nascido e tenho um corpo indestrutível ( ajo 'pi san avyayatma) e de que Meus nascimento e atividades são não-materiais ( janma karma ca me divyam ), e não apenas aparentam ser eternos por meio de algum tipo de truque'.”. Yo vetti tattvatah também pode significar “aquele que Me conhece como a mesmíssima forma de Brahman”. Isso
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porque Krsna dirá posteriormente, om tat sad iti nirdeso brahmanas trividhah smrtah : “as três palavras om tat sat indicam o Brahman” (Gita 17.18). Portanto, tattva significa o estado de ser Brahman (tat ). ). Yo vetti tattvatah significa “aquele que Me conhece como a forma de Brahman”. “Tal pessoa não nasce novamente, mas, ao contrário, alcança-Me. As palavras tyaktva deham indicam apenas a última condição, pois não apenas ao abandonar o corpo a pessoa não aceita nascimento de novo, mas mesmo não abandonando o corpo, antes disso, ela Me alcança”. Ramanujacarya diz: “Destruindo, através do conhecimento de Meu nascimento nasci mento e de Minhas atividades espirituais, todos os pecados que são desfavoráveis à rendição a Mim, tomando refúgio em Mim nesta vida da maneira prescrita, tal pessoa que só tem a Mim por querido, constantemente pensando em Mim, alcança-Me”.
Verso 10 Estando livres do apego, do medo e da ira, estando plenamente absortas em Mim e refugiando-se em Mim, muitas e muitas pessoas no passado purificaram-se através do conhecimento a respeito de Mim — e, com isso, todas alcançaram transcendental amor por Mim. “Não apenas no tempo presente pode alguém alcançar-Me apenas por saber sobre a natureza de Meu presente nascimento e de Minhas presentes atividades, mas em tempos remotos também; quando apareci em kalpas anteriores, as pessoas Me alcançaram pelo conhecimento de Meu nascimento e de Minhas atividades”. Este é o significado deste verso. No que concerne ao significado de jnana-tapasa, Ramanujacarya diz: “Eles se tornam purificados pela austeridade de compreenderem verdadeiramente sobre a natureza de Meu nascimento e de Minhas atividades, como previamente explanado”. Ou o significado pode ser: “Eles, tendo verdadeiramente obtido a compreensão da natureza eterna de Meu nascimento e de Minhas atividades, tornam-se purificados pela austeridade na forma de tolerância ao ardente veneno das idéias equivocadas, da lógica equivocada e dos argumentos equivocados”. Ramanujacarya cita o seguinte sruti em respeito a isso. tasya dhirah parijananti yonim
“Os homens sábios sabem sobre o método de nascimento do Senhor”. – Taittiriya Aranyaka 3.13.1 “Tais pessoas sábias abandonaram o apego ou a aversão a pessoas que proferem idéias sem sentido ( vita-ragah). Meus devotos não têm medo deles, nem os odeiam. Por quê? Porque eles estão preocupados em meditar, pensar, ouvir e cantar sobre Meu nascimento e Minhas atividades ( man-maya). Eles obtêm prema através de Mim ( mad-bhavam)”.
Verso 11 Do modo com que se rendem a Mim, Eu recompenso todos de acordo. Ó filho de Prtha, em qualquer circunstância, todos seguem o Meu caminho. “Seus dedicados devotos consideram Seu nascimento e Suas atividades como sendo eternos, mas outros, como os jnanis, que se rendem a Você com o propósito de aperfeiçoarem jnana ou de alcançarem outras metas, não consideram Seu nascimento e Suas atividades como eternos”. “Qualquer que seja a maneira com que eles Me adorem ( prapadyante), Eu lhes dou de maneira similar os frutos de sua adoração ( bhajami)”. O significado é este. “Aqueles que acham que Meus nascimento e atividades são eternos e, tendo um desejo particular por Meus respectivos passatempos, adoram-Me, obtêm felicidade. E Eu, porque sou o Senhor, posso fazer, ou não fazer, ou fazer qualquer coisa. Mas fazendo deles Meus associados, com eles Eu apareço e desapareço neste mundo no momento apropriado para dar ao Meu nascimento e às Minhas atividades uma natureza eterna, favorecendo-os a todo momento, concedendo-lhes o fruto de sua adoração, prema”. “Os jnanis e outros – que se rendem a Mim pensando que Meus nascimento e atividades são temporários, e pensando em Minhas formas de Deidade como materiais – Eu atiro repetidas vezes na forca de maya com seus nascimentos e mortes temporários e lhes dou a lamentação do nascimento e da morte, o fruto de sua adoração”. “Mas aqueles jnanis que aceitam a natureza eterna de Minhas atividades e consideram Minha Deidade como sendo sac-cid-ananda, e que se rendem a Mim para a perfeição de sua jnana; Eu libero tais jnanis uma vez que eles desejam a destruição de seus corpos grosseiro e sutil, e dou a eles a bem-aventurança do Brahman. Eu lhes concedo o resultado desejado de sua adoração: a destruição do nascimento e da morte nascidos da ignorância”. “Portanto, não apenas os devotos se rendem a Mim, mas, de fato, todos se rendem ( sarvasah). Todos os homens – jnanis , karmis, yogis e adoradores de devatas – seguem o Meu caminho. Jnana, karma e outros processos são todos Meu caminho uma vez que Eu sou a essência de todos os caminhos”.
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Verso 12
Neste mundo, os homens desejam sucesso nas atividades fruitivas e, por isso, adoram os semideuses. Rapidamente, é claro, os homens obtêm neste mundo os resultados do trabalho fruitivo. “Dentre os homens, todavia, aquele que é repleto de desejo abandona o caminho de bhakti, muito embora tal caminho venha diretamente de Mim, e segue o caminho de karma, que traz resultados rápidos. Isto é explicado neste verso. O resultado das ações deles ( karmanam siddhih), como ir para svarga, vem rapidamente”.
Verso 13 Conforme os três modos da natureza material e o trabalho referente a eles, as quatro divisões da sociedade humana são criadas por Mim. E embora Eu seja o criador deste sistema, deves saber que, sendo Eu imutável, continuo como a pessoa que não age. “De fato, os caminhos de bhakti e jnana concedem liberação, mas o caminho de karma conduz ao enredamento. Há, portanto, desigualdade em Você, o criador de todos os caminhos, o Senhor Supremo”. “Não é bem assim. Eu crio os quatro varnas para pessoas que querem seu desfrute pessoal”. O sufixo ya na palavra catur-varna indica interesse pessoal nas quatro ordens. “Os brahmanas, com o predomínio de sattva, executam atividades como o controle dos sentidos e da mente. Os ksatriyas, que têm predominância de raja e sattva, executam ações como caridade para o bem estar público e atos de heroísmo. Os vaisyas, predominantemente controlados por tamas e raja, trabalham com agricultura e criam vacas. Os sudras, com predomínio de tamas, servem aos outros. Eu crio este sistema de quatro varnas dividido segundo guna e atividade e de acordo com o caminho do dharma. Conheça-Me como o criador ( kartaram) do sistema uma vez que ele é criado a partir dos gunas da prakrti, que é Minha energia. Assim, Eu sou o criador, mas, de fato, Eu não sou o criador, pois minha svarupa está acima dos gunas e da prakrti. Portanto, é dito que sou indestrutível (avyayam). Eu não sou em nada similar aos varnas ou à matéria, embora Eu os crie”.
Verso 14 Não há trabalho que Me afete; tampouco Eu aspiro aos frutos da ação. Aquele que entende esta verdade sobre Mim também não se enreda nas reações do trabalho fruitivo. “Tudo bem, mas agora Você apareceu em uma família de ksatriyas e diariamente executa atividades compulsórias aos ksatriyas. Parece que Você está subsistindo como um ksatriya”. “Mas essas atividades não Me contaminam como contaminam a jiva. Nem tenho Eu desejo pelos resultados de tais atividades, como svarga. Sendo pleno em Minha própria bem-aventurança pelo fato de Eu ser o Senhor Supremo, a única razão para Eu executar essas atividades é encorajar a humanidade. Aquele que sabe disto não é atado pelo karma; mas aquele que desconhece, sim”.
Verso 15 Em tempos antigos, todas as almas liberadas agiram com esta compreensão acerca de Minha natureza transcendental. Portanto, deves executar teu dever seguindo-lhes os passos. “Tendo entendido como Eu ajo sem ser atado, pessoas no passado, como Janaka, executaram promover o karma para as pessoas”.
karma
com o fim de
Verso 16 Até mesmo os inteligentes ficam confusos em determinar o que é ação e o que é inação. Agora, passarei a explicarte o que é ação, e, conhecendo isto, libertar-te-ás de todo o infortúnio. “Além do mais, ação não é algo para ser executado pela pessoa inteligente de maneira meramente imitativa, mas após ter entendido suas variedades”. Primeiro, a dificuldade em se entender karma é descrita.
Verso 17 É dificílimo entender as complexidades da ação. Portanto, deve-se saber apropriadamente o que é ação, o que é ação proibida e o que é inação.
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Deve-se entender a verdade concernente a vikarma – que a execução de atividades proibidas conduzem à miséria. Em relação à verdade sobre akarma, o ato de evitar a ação feita pelo sannyasi; como isso pode conduzir à inauspiciosidade? Como alguém alcançará a mais elevada meta sem saber a verdade sobre estes? A verdadeira realidade (gati) acerca de karma, akarma e vikarma é difícil de se entender. Na última linha, a palavra karma é usada para representar todos os três tipos.
Verso 18 Quem vê inação na ação e ação na inação é inteligente entre os homens e está na posição transcendental, embora ocupado em todas as espécies de atividades. Este verso dá uma compreensão da verdade da ação e da não-ação. É inteligente aquele que vê que pessoas de coração puro, fixas em conhecimento, como Janaka, que não renunciam às atividades, mas, ao contrário, ocupam-se em ação em niskama-karma-yoga , não acumulam karma (akarma); e que vê que pessoas que não executam ações, renunciando ações como um sannyasi, sendo impuras de coração e sem conhecimento, embora falem frequentemente sobre conhecimento graças a conhecerem intelectualmente as declarações escriturais, são, de fato, condicionadas pelo karma e conduzidas à miséria. Tais pretensos renunciantes não buscam associação superior nem seguem instruções, senão que tudo o que fazem é glorificar a si mesmos. O Srimad-Bhagavatam diz: yas tv asamyata-sad-vargah pracandendriya-sarathih jnana-vairagya-rahitas tri-dandam upajivati suran atmanam atma-stham nihnute mam ca dharma-ha avipakva-kasayo 'smad amusmac ca vihiyate
“Aquele que não controla as seis formas de ilusão [luxúria, ira, cobiça, excitação, falso prestígio e intoxicação], cuja inteligência, a líder dos sentidos, é extremamente apegada a coisas materiais, que é privado de conhecimento e desapego, que adota a ordem de vida de sannyasa para ganhar a vida, que nega os semideuses adoráveis, nega a si mesmo e nega o Senhor Supremo dentro de si, arruinando desta forma os princípios religiosos, e que continua infectado pela contaminação material, é um desviado, e fracassa tanto nesta vida quanto na próxima” – SB 11.18.40-41
Verso 19 Tem conhecimento pleno quem, em cada esforço seu, não apresenta desejo de gozo dos sentidos. Os sábios dizem que tal pessoa é um trabalhador cujas reações do trabalho foram queimadas pelo fogo do conhecimento perfeito. Este conceito de karma é mais profundamente explanado em cinco versos. Aquele que se ocupa completamente em atividade (samarambha), livre do desejo de obter objetos de desfrute, executa ações consumidas pelo fogo do conhecimento, quer as atividades sejam prescritas ( karma) quer sejam proibidas (vikarma). Assim como a pessoa qualificada não vê o karma como condutor ao condicionamento, ela também não vê vikarma, ou ação proibida, como agravante ao condicionamento. Este verso está de acordo com o verso anterior (ver inação na ação). Posteriormente será dito: api ced asi papebhyah sarvebhyah papa-krt-tamah sarvah jnana-plavenaiva vrjinarh santarisyasi yathaidhamsi samiddho 'gnir bhasma-sat kurute 'rjuna jnanagnih sarva-karmani bhasma-sat kurute tatha
“Mesmo que sejas considerado o mais pecaminoso de todos os pecadores, quando estiveres situado no barco do conhecimento transcendental serás capaz de cruzar o oceano de misérias. Assim como o fogo ardente transforma a lenha
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em cinzas, ó Arjuna; do mesmo modo, o fogo do conhecimento reduz a cinzas todas as reações às atividades materiais”. Bg. – 4.36-37
Verso 20 Abandonando todo o apego aos resultados de suas atividades, sempre satisfeito e independente, ele não executa nenhuma ação fruitiva, embora ocupado em todas as espécies de empreendimentos. Essa pessoa é sempre satisfeita por sua própria bem-aventurança ( nitya-trptah). Ela não aceita nenhum refúgio para a sua subsistência (nirasrayah).
Verso 21 Tal homem de compreensão age com a mente e a inteligência sob perfeito controle, deixa de ter qualquer sentimento de propriedade por suas posses e age apenas para obter as necessidades mínimas da vida. Trabalhando assim, ele não é afetado por reações pecaminosas. Ele é controlado na mente ( cit ) e no corpo grosseiro ( atma). Com o propósito de manter seu corpo, ele pode aceitar algo até mesmo de pessoas pecaminosas sem incorrer em pecado. Esta é uma explanação estendida da afirmação “deve-se entender a verdade concernente a vikarma”.
Verso 22 Aquele que se contenta com o ganho que vem automaticamente, que está livre de dualidade e não inveja, que é estável no sucesso e no fracasso, nunca se enreda, embora execute ações. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 23 O trabalho do homem que não está apegado aos modos da natureza material e que está situado em pleno conhecimento transcendental imerge por completo na transcendência. Para aquele que executa ações com o fim de yajna, que será agora descrito, o ação ou de não-reações ao trabalho é obtido dessa maneira.
karma
se desfaz. O estado de não-
Verso 24 Quem se absorve por completo em consciência de Krsna com certeza alcançará o reino espiritual por causa de sua plena contribuição às atividades espirituais, cuja execução é absoluta e nelas tudo o que se oferece é da mesma natureza espiritual. Foi estabelecido no verso anterior que se deve executar ações com o fim de yajna. Qual tipo de yajna é esse? Este verso explica. Arpanam se refere aos instrumentos, como a colher de madeira usada para oferecer ghi no fogo. Isto é Brahman. O item usado como oblação é Brahman. O fogo no qual a oblação é colocada é brahman. O executor do yajna é Brahman. A pessoa que vê as coisas dessa forma alcança apenas o Brahman e nenhum outro resultado. Por quê? Porque tal pessoa concentra sua atenção na ação que é composta unicamente de Brahman ( brahma-karma-samadhina ).
Verso 25 Alguns yogis adoram perfeitamente os semideuses, oferecendo-lhes diferentes sacrifícios, e alguns deles oferecem sacrifícios no fogo do Brahman Supremo. “Ouça sobre vários outros tipos de yajna”. O Senhor explica isso em oito versos. Daivam se refere àquele em que os devatas, como Indra e Varuna, são adorados. Então a sentença daivam yajnam significa “adoração tendo Indra e outros devatas como objeto”. Isso é derivado da regra sasya devata (Panini 4.2.24). Nesta adoração, é indicado que há falta de yoginah) adoram os devatas. consciência do Brahman. Os karma-yogis ( yoginah yajnam) (que é chamada de tvam: tu ou você) como a oblação ao fogo do Outros, os jnana-yogis, oferecem a jiva ( yajnam Brahman ou Paramatma (que é chamado tat : aquele) usando o mantra pranava como o instrumento ( yajnena). Esta jnana-yoga será glorificada posteriormente (verso 33). As palavras yajna e yajnena usadas como objeto e instrumento se
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referem à jiva pura e ao pranava através da metáfora do verso anterior.
Verso 26 Alguns (os brahmacaris verdadeiros) sacrificam a faculdade auditiva e os sentidos no fogo do controle mental; e outros (os chefes de família regulados) sacrificam os objetos dos sentidos no fogo dos sentidos. Outros, os naisthiki-brahmacaris , oferecem os sentidos, como o ouvido, ao fogo da mente controlada. Isso significa que os sentidos desaparecem completamente na mente pura. Outros, os brahmacaris menos controlados, oferecem os objetos dos sentidos, como o som, no fogo dos sentidos. Os objetos dos sentidos desaparecem nos sentidos.
Verso 27 Outros, que se interessam em obter a auto-realização através do controle da mente e dos sentidos, oferecem as funções de todos os sentidos e do alento vital como oblações no fogo da mente controlada. Outros, entendidos do tvam, a alma pura, oferecerem as atividades de todos os sentidos, como ouvir e ver, bem como as atividades dos dez pranas ao fogo da pureza ( samyama) da jiva (tvam). Esses yogis fazem a mente, a inteligência, os sentidos e os dez pranas desaparecerem. Eles acreditam que apenas a alma percebida interiormente pratyag-atma) existe, não a mente e outras coisas. As ações dos dez pranas são como se segue. O prana vai para fora ( pratyag-atma (exalando), o apana vai para baixo (expelindo). O samana assimila comida e bebida. O udana se conduz para cima e o vyana se espalha regulando os outros pranas. udgare naga akhyatah kurmas tunmilane smrtah krkarah ksut-karo jneyo devadatto vijrmbhane na jahati mrte kvapi sarvavyapi dhananjayah
“ Naga governa a eructação, kurma faz os olhos se abrirem, krkara causa o espirro e a fome e devadatta causa o bocejo e o sono. Dhananjaya, onipresente no corpo, permanece após a morte e causa a decomposição”. – Gherandasamhita 5.64
Verso 28 Tendo feito votos estritos, alguns se iluminam sacrificando seus bens, e outros executando austeridades rigorosas, praticando a yoga do misticismo óctuplo (astanga-yoga) ou estudando os Vedas para progredir no conhecimento transcendental. Aqueles que oferecem bens em caridade ( dravya-yajna), aqueles que executam austeridades como candrayanavrata (tapo-yajna), aqueles que se ocupam em astanga-yoga ( yoga-yajna yoga-yajna) e aqueles que se esforçar em obter conhecimento através do estudo dos vedas – todos se ocupam em um vrata muito severo (samsita).
Verso 29 E outros que estão inclinados ao processo de restrição da respiração para permanecer em transe praticam oferecendo no alento inspirado o movimento do alento expirado, e, no alento expirado, o alento inspirado, e assim acabam entrando em transe, suspendendo toda a respiração. Outros, restringindo o processo alimentar, oferecem como sacrifício o alento expirado nesse mesmo alento. Outros, os que são peritos em pranayama, oferecem o prana, que sobe, ao apana, que desce. No momento da inalação completa, eles fundem o prana com o apana. No momento da exalação completa ( recaka), eles oferecem o apana ao prana. No momento da kumbaka, eles param o movimento tanto do prana como do apana e se tornam completamente absortos na prática de pranayama. Outros, desejando conquistar os sentidos, controlam o processo alimentar; isto é, eles comem pouco. Eles oferecem os sentidos ( pranan) aos pranas que estão subsistindo da alimentação restrita. Quando os pranas se tornam fracos, os sentidos, sendo dependentes dos pranas, tornam-se incapazes de agarrar os objetos sensoriais e se fundem nos pranas.
Verso 30 Todos estes executores que sabem o significado do sacrifício purificam-se das reações pecaminosas, e, tendo
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saboreado o néctar dos resultados dos sacrifícios, avançam em direção à atmosfera eterna e suprema. yajna-vidah) alcançam o Todos aqueles que conhecem as características do yajna como descritas anteriormente ( yajna-vidah Brahman através de jnana. Os frutos secundários e não desejados também são descritos. Eles desfrutam dos doces remanentes do yajna, como gratificação sensorial e poder ( bhoga-aisvarya). O resultado desejado é então descrito: eles alcançam o Brahman.
Verso 31 Ó melhor da dinastia Kuru; sem sacrifício, a pessoa jamais pode viver feliz neste planeta ou nesta vida; o que dizer da próxima, então? Os resultados de não agir dessa maneira são descritos neste verso. Aquele que não executa yajna não obtém a pequena felicidade disponível neste planeta, o que dizer de alcançar a felicidade no planeta dos devatas.
Verso 32 Os Vedas aprovam todos estes diferentes tipos de sacrifício, e todos eles surgem de diferentes classes de trabalho. Tu te libertarás ao conhecê-los assim. significa “os Vedas”. A sentença vitata brahmano mukhe , cujo significado literal é “difundido pela boca dos Vedas” significa, de fato, “claramente falado pelos próprios Vedas”. Karma-jan significa “baseado nas ações do corpo, da mente e das palavras”. Brahmanah
Verso 33 Ó castigador do inimigo, o sacrifício executado com conhecimento é melhor do que o mero sacrifício dos bens materiais. Afinal de contas, ó filho de Prtha, todos os sacrifícios do trabalho culminam em conhecimento transcendental. Dentre esses sacrifícios, o jnana-yajna descrito no verso 25 com as palavras brahmagnav apare yajnam yajnenaivopajuhvati é superior ao sacrifício de objetos materiais, como oblações de ghi, descrito no verso 24. Por quê? Com a obtenção de conhecimento, todas as ações que carregam frutos ( akhilam) estão acabadas. Após obter conhecimento, as reações não mais continuam.
Verso 34 Tenta aprender a verdade aproximando-te de um mestre espiritual. Faze-lhe perguntas com submissão e prestalhe serviço. As almas auto-realizadas te podem transmitir conhecimento porque viram a verdade. Este verso fala do método para se adquirir esse conhecimento. Ele é adquirido por se oferecer respeitos, por se curvar diante do guru, o instrutor, e por se fazer perguntas do tipo: “Ó mestre, por que estou neste mundo de miséria? Como estes nascimentos e mortes podem ser interrompidos?”. E ele é adquirido pelo serviço ao guru. Isso é ilustrado no sruti: tad vijnanartharh sa gurum evabhigacchet samit-panih srotriyam brahma-nistham
“Com lenha em mãos, o estudante deve se aproximar do obter o conhecimento do Brahman”. – Mundaka Upanisad 1.2.12
guru,
conhecedor dos Vedas e fixo no Brahman, para
Verso 35 Tendo recebido verdadeiro conhecimento de uma alma auto-realizada, jamais voltarás a cair nessa ilusão, pois, com este conhecimento, verás que todos os seres vivos são apenas partes do Supremo, ou, em outras palavras, que eles são Meus. O resultado do conhecimento é descrito em três versos e meio. “Entendendo que você não é o corpo, mas a alma, você não ficará confuso, o que é qualidade da mente. Pela destruição da confusão através da aquisição do conhecimento natural da alma eternamente perfeita, você verá todas as entidades vivas, como os homens e as bestas selvagens, como jivatma (atmani), mas situadas como criaturas distintas graças à identificação material; e você também as verá situadas
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em Mim (mayi), a causa suprema, uma vez que são Meus produtos”.
Verso 36 Mesmo que sejas considerado o mais pecaminoso de todos os pecadores; quando estiveres situado no barco do conhecimento transcendental, transcendental, serás capaz de cruzar o oceano de misérias. Este verso é uma glorificação ao conhecimento. “Se a pessoa é mais pecaminosa do que todos os pecadores, como ela pode obter pureza de coração; e sem pureza de coração, como ela pode obter realização do conhecimento? Certamente não é possível para uma pessoa que tenha obtido o conhecimento cometer atividades pecaminosas”. Madhusudana Sarasvati explica: as palavras api e cet são usadas para mostrar a suposição do impossível; embora o cometimento de pecado fosse impossível, a suposição é feita para mostrar os resultados de se obter o conhecimento.
Verso 37 Assim como o fogo ardente transforma a lenha em cinzas, ó Arjuna; do mesmo modo, o fogo do conhecimento reduz a cinzas todas as reações às atividades materiais. Conhecimento nascido da pureza de coração destrói todos os ilustrado com um exemplo. Samiddhah significa “incendiar”.
karmas,
exceto os prarabdha-karmas. Isso é
Verso 38 Neste mundo, não há nada tão sublime e puro como o conhecimento transcendental. Esse conhecimento é o fruto maduro de todo o misticismo. E aquele que se familiarizou com a prática do serviço devocional desfruta este conhecimento dentro de si no devido curso do tempo. Neste mundo, dentre aqueles que se ocupam em austeridades, yoga e outros processos, não há nada a se comparar com o conhecimento. Tal conhecimento não é facilmente alcançado por todos, mas é completamente obtido ( samsiddhah) pela prática de niskama-karma-yoga . Ele não é inalcançável, mas é alcançado com o tempo, não imediatamente. Esse conhecimento é obtido espontaneamente dentro do eu ( atmani), não por se aceitar sannyasa externamente.
Verso 39 Um homem fiel que se dedica ao conhecimento transcendental e que subjuga seus sentidos está qualificado para conseguir este conhecimento, e, tendo-o alcançado, obtém rapidamente a paz espiritual suprema. “Como e quando isso acontece?”. “Tendo fé no significado das escrituras de que o conhecimento irá nascer da pureza de coração através da prática de niskama-karma (sraddhavan), sendo fixo na execução dessa niskama-karma yoga, e, finalmente, tendo os sentidos controlados, ele irá obter conhecimento e paz suprema, o que significa a destruição do samsara”.
Verso 40 Mas as pessoas ignorantes, sem fé e que duvidam das escrituras reveladas não alcançam a consciência de Deus; elas acabam caindo. Para a alma incrédula, não há felicidade nem neste mundo nem no próximo. Tendo falado da pessoa que era qualificada com conhecimento, Krsna fala neste verso da pessoa sem qualificação para o conhecimento. Essa pessoa que é ignorante como um animal, ou que, embora conhecendo as escrituras, não acredita em nada por ver os argumentos entre as várias facções ( asraddhadanah ), ou que, embora tenha fé, é afligida com a dúvida de que se é capaz de alcançar a meta, perece. Dentre tais pessoas – a ignorante, a sem fé, e a duvidosa –, a duvidosa é especialmente criticada na última linha.
Verso 41 Aquele que age em serviço devocional, renunciando os frutos de suas ações, e cujas dúvidas foram destruídas pelo conhecimento transcendental, está de fato situado no eu. Assim, ele não está atado às reações do trabalho, ó conquistador de riquezas.
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Em tal estado, a pessoa alcançará um estado de não- karma (naiskarmyam). Tendo renunciado todo o karma através de niskama-karma-yoga , e tendo erradicado todas as dúvidas através da prática de jnana, atividades não atam essa pessoa que realizou a alma.
Verso 42 Portanto, as dúvidas que, por ignorância, surgiram em teu coração devem ser cortadas com a arma do conhecimento. Armado com a yoga, ó Bharata, levanta-te e luta. Este verso conclui. “Cortando as dúvidas situadas no coração, refugiando-se em niskama-karma-yoga , levante-se e atue na batalha”. Tendo falado de vários meios para a liberação, jnana é preferido. Mas o meio para jnana é niskamakarma. Isso foi apontado neste capítulo.
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Capítulo Quinto
KRSNA-SANNYASA-YOGA Verso 1 Arjuna disse: Ó Krsna, em primeiro lugar, pedes que eu renuncie ao trabalho, e, depois, passas a recomendar o trabalho com devoção. Agora, por favor, dize-me definitivamente qual dos dois é mais benéfico! Tendo falado de karma como superior a jnana; a fim de fortalecer fortalecer essa idéia, neste neste capítulo, capítulo, diz-se que que jnana é equivalente a karma. Estando preocupado quanto à aparente contradição das duas afirmações no final do capítulo anterior, Arjuna faz uma pergunta. yoga“No verso 41 do último capítulo, Você falou de renunciar karma pela jnana nascida de karma-yoga ( yogasannyasta-karmanam), mas, no verso 42, Você novamente falou sobre aceitar karma-yoga ( yogam yogam atisthottistha bharata)”. “Não é possível executar tanto a renúncia à ação quanto karma-yoga simultaneamente porque há uma contradição essencial nos dois, assim como há contradição entre permanecer estático e se mover. Portanto, o homem de conhecimento deve ou renunciar ao karma ou executar karma-yoga. Como eu não entendo Sua intenção, estou Lhe perguntando. Dentre esses dois, qual é o melhor? Por favor, diga-me decisivamente”.
Verso 2 A Personalidade de Deus respondeu: A renúncia ao trabalho e o trabalho em devoção são bons para obter a liberação. No entanto, entre os dois, o trabalho em serviço devocional é melhor do que a renúncia ao trabalho. “Karma-yoga é melhor. Mesmo para o jnani, executar ação não é de forma alguma uma falha. Ao contrário, pela execução de niskama-karma, o coração se torna fixo em pureza. Daí, jnana se torna fixa. Algumas vezes, talvez apareça perturbação no coração do sannyasi”. “Para aliviar tal perturbação, é proibido se ocupar em karma?”. “Impureza no coração obstrui a prática de jnana, mas acatar o desfrute dos objetos sensoriais é a verdadeira
degradação, é como comer o próprio vômito”.
Verso 3 Sabe-se que é sempre renunciado aquele que não odeia nem deseja os frutos de suas atividades. Tal pessoa, livre de todas as dualidades, supera facilmente o cativeiro material e é inteiramente liberada, ó Arjuna de braços poderosos. “Não deve ser dito que aceitar sannyasa concede a liberação e que não aceitar sannyasa não concede a liberação. A pessoa de coração puro ocupada em ação deve ser conhecida como o sannyasi constante (nitya-sannyasi). Ele é o verdadeiro guerreiro que conquista a cidade da liberação, Ó Arjuna de braços poderosos ( maha-baho)”.
Verso 4 Só os ignorantes dizem que o serviço devocional (karma-yoga) é diferente do estudo analítico do mundo material (sankhya). Aqueles que são eruditos de verdade afirmam que quem segue com afinco um destes caminhos consegue os resultados de ambos. “Sua questão de qual é o melhor dos dois não é verdadeiramente aplicável, porque pessoas inteligentes não vêem diferença entre os dois. A palavra sankhya se refere a estar fixo em jnana. E a anga deste é sannyasa. Os tolos, não os sábios, falam sobre a diferença entre sannyasa e karma-yoga. Como o verso anterior mencionou: “Deve-se conhecer o karma-yogi como o verdadeiro sannyasi”. O sannyasi e o karma-yogi são a mesma pessoa”.
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Verso 5
Aquele que sabe que a posição alcançada por meio do estudo analítico também pode ser conseguida através do serviço devocional, e que vê, portanto, o estudo analítico e o serviço devocional como estando no mesmo nível, vê as coisas como elas são. yogaih)”. O Este verso elucida a questão. “O que é obtido por sannyasa (sankhyaih) é obtido por niskama-karma ( yogaih plural é usado para mostrar respeito. “Aquele que vê esses dois, através da inteligência, como um, vê de verdade. Ele é um homem sábio com visão”.
Verso 6 Ninguém pode ser feliz só por renunciar a todas as atividades sem se ocupar no serviço devocional ao Senhor. Mas quem é introspectivo e se ocupa no serviço devocional pode alcançar o Supremo sem demora. traz sofrimento para o jnani que não consegue fixar pureza no coração. Karma-yoga, todavia, traz prazer. O significado pretendido do que foi dito anteriormente fica mais claro. Por não executar karma-yoga, que pode apaziguar os distúrbios do coração, a ordem de sannyasa pode trazer sofrimento se for aceita sem a qualificação apropriada. Então, é dito pelos escritores do vartika: Sannyasa
pramadino bahis cittah pisunah kalahotsukah sannyasino 'pi drsyante daiva-sandusitasrayah
“Vê-se sannyasis que estão absortos em gratificação sensorial; com mentes mal intencionadas, desfrutam discutir e são abrigos contaminados da vida espiritual”. Os Vedas personificados também dizem: yadi na samuddharanti yatayo hrdi kama-jata
“Membros da ordem renunciada que falham em desarraigar os últimos vestígios de desejo material em seus corações continuam impuros, e Você, portanto, não lhes permite entendê-lO”. – SB 10.87.39 O Srimad-Bhagavatam também diz: yas tv asamyata-sad-vargah pracandendriya-sarathih jnana-vairagya-rahitas tri-dandam upajivati suran atmanam atma-stham nihnute mam ca dharma-ha avipakva-kasayo 'smad amusmac ca vihiyate
“Aquele que não controla as seis formas de ilusão [luxúria, ira, cobiça, excitação, falso prestígio e intoxicação], cuja inteligência, a líder dos sentidos, é extremamente apegada a coisas materiais, que é destituído de conhecimento e desapego, que aceita a ordem de vida de sannyasa como meio de subsistência, que nega os semideuses adoráveis, nega seu próprio eu e o Senhor Supremo dentro si, arruinando desta forma todos os princípios religiosos, e que continua infectado pela contaminação material, é um desviado, e perde tanto nesta vida quanto na seguinte”. – SB 11.18.40 yoga-yuktah), rapidamente alcança o Por conseguinte, o jnani (munih), ocupando-se em niskama-karma-yoga ( yoga-yuktah Brahman.
Verso 7 Aquele que trabalha com devoção, que é uma alma pura e que controla a mente e os sentidos, é querido por todos, e todos lhe são queridos. Embora sempre trabalhe, essa pessoa nunca se enreda. O jnani, pela execução de karma, não é contaminado. Isto é declarado neste verso. Os jnanis ocupados em karma yoga são de três tipos: aqueles que controlam sua inteligência ( visuddhatma), aqueles que controlam sua mente ( vijtatma) jitendriyah). A ordem de superioridade é do primeiro para o último: sendo o e aqueles que controlam seus sentidos ( jitendriyah melhor aquele que controla a inteligência. Seus corpos ( atma) se tornam objeto de amor para todas as entidades vivas, assim como cada entidade viva tem afeição por seu próprio eu ( atma-bhuta).
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Versos 8 e 9
Embora ocupado em ver, ouvir, tocar, cheirar, comer, locomover-se, dormir e respirar, quem tem consciência divina sempre sabe dentro de si que, na verdade, não faz absolutamente nada. Porque enquanto fala, evacua, recebe, ou abre ou fecha os olhos, ele sempre sabe que só os sentidos materiais estão ocupados com seus objetos, ao passo que ele é distinto de tudo. yukta) esteja O Senhor ensina o método pelo qual não se é contaminado pelas ações. Embora o karma-yogi ( yukta ocupado em ver e em outras ações, verificando com sua inteligência que apenas os sentidos estão ocupados com os objetos sensoriais, ele pensa: “Eu, de fato, não estou fazendo nada”.
Verso 10 Aquele que executa seu dever sem apego, entregando os resultados ao Senhor Supremo, não é afetado pela ação pecaminosa, assim como a pétala do lótus não é tocada pela água. “Além disso, aquele que executa ações oferecendo essas ações para Mim, o Senhor Supremo ( brahmani), abandonando o apego às ações e abandonando a falsa identificação de que 'eu estou fazendo isto', não é contaminado por nenhuma ação, das quais algumas poderiam ser pecaminosas”. Papena aqui representa todas as ações, não apenas as pecaminosas.
Verso 11 Os yogis, abandonando o apego, agem com o corpo, a mente, a inteligência e mesmo com os sentidos com o único propósito de se purificarem. Os karma-yogis executam ações usando o corpo, a mente, a inteligência e até mesmo apenas os sentidos com os fins de abandonarem o apego e purificarem a mente ( atma-suddhaye). No momento de se fazer oferendas em oblação usando os sentidos, a mente pode divagar. Esta é a situação na qual apenas os sentidos são ocupados ( kevalaih indriyair api).
Verso 12 A alma firmemente devotada alcança paz inadulterada porque Me oferece os resultados de todas as atividades; mas quem não está em união com o Divino, que cobiça os frutos de sua labuta, fica enredado. Executar ação sem apego conduz à liberação, e executar ação com apego conduz ao condicionamento. O executor yuktah) obtém paz estável ( santim apnoti naistikim ). Isto significa que ele obtém a liberação. O karmi de karma-yoga ( yuktah com desejos (ayuktah), apegado aos resultados, torna-se condicionado por executar ações motivadas pela luxúria ( kamakarena).
Verso 13 Ao controlar sua natureza e renunciar mentalmente todas as ações, o ser vivo corporificado reside feliz na cidade de nove portões (o corpo material), onde não trabalha nem faz com que se execute trabalho. Se alguém executa ações sem apego, como previamente estabelecido, ele é o verdadeira sannyasi. Se alguém executa ações com o corpo externo, mas renuncia na mente, ele reside feliz, controlando os sentidos ( vasi). Onde? Na cidade de nove portões, no corpo destituído da idéia equivocada de “isto é meu”. O morador do corpo, a jiva (dehi), tendo alcançado o conhecimento, não faz nada, sabendo não ser a causa da felicidade derivada de suas ações, nem a causa de outros agirem.
Verso 14 O espírito corporificado, senhor da cidade de seu corpo, não cria atividades, nem induz as pessoas a agirem, nem cria os frutos da ação. Tudo isto é designado pelos modos da natureza material. “Bem, se, de fato, a jiva não é o atuador, então, por se ver a jiva atuando e desfrutando por todo o universo criado pelo Senhor Supremo, eu acho que o Senhor faz a jiva agir à força. Assim, injustiça e crueldade devem estar presentes no Senhor (por causar tal ilusão)”.
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Não, isso não é verdade. Ele não faz a jiva executar atividades, nem dá à jiva os resultados de suas atividades. Senão que é unicamente a natureza da jiva na forma de sua ignorância sem começo que produz isto. Essa ignorância força a jiva a assumir a falsa identificação de ser o atuador.
Verso 15 Tampouco o Senhor Supremo assume as atividades pecaminosas ou piedosas de alguém. No entanto, os seres corporificados ficam confusos por causa da ignorância que lhes cobre o verdadeiro conhecimento. Uma vez que o Senhor não faz com que a jiva execute ações boas, tampouco ruins; Ele não experimenta os resultados na forma de sofrimento e desfrute. Ele não os aceita ( na adatte). Todavia, uma de Suas associadas, Sua shakti chamada ignorância (ajnanena), cobre o conhecimento inerente à jiva. Por causa disso (tena), as jivas ficam confusas, daí agem e sofrem e desfrutam de seu karma).
Verso 16 Quando, porém, a pessoa é iluminada com o conhecimento pelo qual a ignorância é destruída; seu conhecimento, então, revela tudo, assim como o Sol ilumina tudo durante o dia. Da mesma forma que a ignorância, ou avidya, encobre o conhecimento da jiva; a energia superior chamada vidya jnanena), avidya (ajnanam) é destruída, e o destrói a ignorância e revela o conhecimento. Pela shakti de vidya ( jnanena conhecimento das jivas é produzido. Assim como o brilho do Sol destrói a escuridão e revela objetos como potes e tecidos, vidya destrói avidya e revela o conhecimento espiritual ( param), no qual a jiva é convencida de sua natureza espiritual. Assim, o Senhor não ata nem libera ninguém, senão que vidya e avidya, que são qualidades da prakrti, liberam e atam a jiva. As qualidades da prakrti são a causa do condicionamento na forma da instigação à jiva de se tornar o atuador e desfrutador, e são a causa da liberação na forma de qualidades como desapego e paz. As qualidades da prakrti em questão são despertadas pelo Senhor Supremo atuando na função de Superalma. Ele é somente o iniciador das funções da prakrti através de tal amsa ou expansão. Ele, portanto, não exibe nenhuma injustiça ou crueldade para com a jiva.
Verso 17 Quando a inteligência, a mente, a fé e o refúgio de alguém estão todos fixos no Supremo, então, através do conhecimento pleno, ele purifica-se por completo dos receios e, desse modo, prossegue resoluto no caminho da liberação. “Mas essa vidya revela conhecimento sobre a jivatma, não sobre o Paramatma”. O senhor diz, bhaktyaham ekaya grahyah : “Eu só sou alcançável por bhakti. Os jnanis, portanto, devem praticar bhakti adicionalmente para obterem conhecimento do Paramatma”. Isto é estabelecido neste verso. A palavra tat se refere ao Senhor Supremo, previamente mencionado como vibhu, no verso 15. Aqueles que situam sua inteligência no Senhor Supremo, que são dedicados a contemplar o Senhor pelo uso do intelecto ( tadbuddhayah), que estão meditando no Senhor usando a mente ( tad-atmanah ), que, abandonando o conhecimento sáttvico da alma distinta do corpo, fixam-se unicamente no Senhor (o Senhor diz que se deve focalizar o conhecimento nEle, jnanam ca mayi sannyaset ), ), tornando-se absortos no processo de ouvir e cantar sobre o Senhor ( tat-paranayanah), não nascem novamente. Como será dito posteriormente: bhaktya mam abhijanati yavan yas casmi tattvatah tato mam tattvato jnatva visate tad-anantaram
“Eu sou absolutamente conhecível apenas através de bhakti. Conhecendo-Me verdadeiramente, Eu sou alcançado”. - Bg. 18.55 jnana-nirdhuta-kalmasah ). A ignorância dessas pessoas foi anteriormente completamente destruída por vidya ( jnana-nirdhuta-kalmasah
Verso 18 Os sábios humildes, em virtude do conhecimento verdadeiro, vêem com a mesma visão um brahmana erudito e cortês, uma vaca, um elefante, um cachorro e um comedor de cachorro (pária). Aqueles que estão além dos gunas não têm desejo de ver nenhum objeto feito dos gunas em termos comparativos de melhor e pior. Eles têm inteligência equânime. Eles não vêem aqueles no modo da bondade, como os brahmanas e as
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vacas; aqueles no modo da paixão, como os elefantes; e aqueles no modo da ignorância, como os cachorros e os comedores de cachorros; como superiores ou inferiores. Sendo eruditos, eles vêem com igualdade. Igualdade ( sama) significa que eles estão além dos gunas, por isso não vêem as distinções particulares acarretadas pelos gunas. Eles têm a habilidade de ver apenas Brahman, que está acima dos gunas.
Verso 19 Aqueles cujas mentes estão estabelecidas em igualdade e equanimidade já subjugaram as condições de nascimento e morte. Eles são perfeitos como o Brahman, e, desse modo, já estão situados no Brahman. Este verso enaltece a habilidade de ver com equanimidade. Neste mundo ( iha eva), eles derrotaram o samsara, o que foi criado ( sargah jitah).
Verso 20 Aquele que não se regozija ao conseguir algo agradável nem se lamenta ao obter algo desagradável, que é inteligente em assuntos relacionados ao eu, que não se confunde, e que conhece a ciência de Deus, já está situado na transcendência. Tais pessoas são equânimes perante objetos queridos ou não queridos deste mundo. Obtendo objetos benquistos, elas não se regozijam; e obtendo objetos malquistos, elas não ficam perturbadas. O potencial humor de prahrset e udvijet funciona no presente do indicativo neste verso, e pode significar que essas pessoas devem praticar esse humor durante o estágio de sadhana (Alcançando objetos queridos, elas não devem regozijar; e, ao obterem objetos indesejados, elas não devem ficar perturbadas). Tais pessoas não ficam confusas ( asammudhah), uma vez que a confusão é produto da identificação com o desfrute, a lamentação e outras emoções.
Verso 21 Semelhante pessoa liberada não se deixa atrair pelo prazer dos sentidos materiais, mas está sempre em transe, gozando o prazer interior. Desse modo, a pessoa auto-realizada sente felicidade ilimitada, pois se concentra no Supremo. Sua mente não é apegada ( asaktatma) à felicidade dos objetos sensoriais (bahya-sparsesu), uma vez que tal pessoa experimenta na alma (atmani) a felicidade de ter alcançado Paramatma. Ela alcança essa felicidade permanentemente (aksayam), uma vez que, constantemente provando sua doçura, ela não encontra sabor em coisas inferiores.
Verso 22 A pessoa inteligente não participa das fontes de misérias, que se devem ao contato com os sentidos materiais. Ó filho de Kunti, esses prazeres têm um começo e um fim, e, devido a isso, i sso, os sábios não se deleitam com eles. Uma pessoa inteligente (budhah) não se apega ao prazer material.
Verso 23 Antes de abandonar o corpo atual, se alguém for capaz de tolerar os impulsos dos sentidos materiais e conter a força do desejo e da ira, i ra, ficará em uma situação privilegiada e será feliz feli z neste mundo. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 24 Aquele cuja felicidade é interior, que é ativo e se regozija dentro de si, e cujo objetivo volta-se para o seu próprio íntimo é de fato o místico perfeito. Ele liberta-se no Supremo e, por fim, alcança o Supremo. Este verso estabelece que aquele que transcende o samsara obtém a realização de Brahman e a felicidade. Aquele que encontra felicidade na alma ( antara), que desfruta na alma, e cuja visão, consequentemente, é direcionada à alma, alcança o brahma-nirvana.
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Verso 25
Aqueles que estão além das dualidades que surgem das dúvidas, cujas mentes estão voltadas para si, que vivem atarefados trabalhando para o bem-estar de todos os seres vivos, e que estão livres de todos os pecados, libertam-se no Supremo. Este verso mostra que muitas pessoas alcançam a perfeição através desta prática.
Verso 26 Aqueles que estão livres da ira e de todos os desejos materiais, que são auto-realizados, autodisciplinados e empreendem um constante esforço em busca da perfeição, ficam garantidos de libertarem-se no Supremo num futuro muito próximo. Quanto aqueles que realizaram a alma, mas não Paramatma ( viditatmanam); eles alcançarão a felicidade do brahma-nirvana? Este verso explica. Yata-cetasam significa aqueles que reduziram as funções da mente enfraquecendo o corpo sutil. Após isso, eles alcançam o brahma-nirvana completamente, de todas as formas ( abhitah). Isto significa que eles alcançam o brahma-nirvana sem muita demora.
Versos 27 e 28 Repelindo todos os objetos sensoriais externos, mantendo os olhos e a visão concentrados entre as duas sobrancelhas, suspendendo dentro das narinas os alentos que entram e que saem, e assim controlando a mente, os sentidos e a inteligência, o transcendentalista que visa à liberação livra-se do desejo, do medo e da ira. Alguém que está sempre nesse estado decerto é liberado. O coração se purifica pela execução da niskama-karma-yoga oferecida pelo Senhor. Então nasce jnana, cujo tema é a alma (tvam). Então nasce bhakti, pela obtenção de conhecimento do Senhor ( tat ). ). Pelo aparecimento desse conhecimento do Senhor, que é transcendental aos modos, obtém-se a realização de Brahman. Isso é estabelecido neste capítulo. Agora, em três versos, de 27 a 29, o Senhor fala brevemente o que Ele irá explicar no capítulo seis: que o processo de astanga-yoga, praticado após ter-se purificado o coração através de niskama-karma-yoga, demonstra-se superior ao processo de jnana-yoga no que tange a obtenção obtenção da realização de Brahman. A palavra sparsan (tato) faz o papel de todos os objetos sensoriais - som, tato, forma, sabor e cheiro. Exteriorizando esses da mente quando eles entram, ou seja, afastando a mente dos objetos dos sentidos ( pratyahara); situando os olhos entre as sobrancelhas, com olhos semicerrados; o yogi pode fixar seu olhar entre as sobrancelhas para evitar o sono e de que os olhos divaguem. Extinguindo as emoções que sobem e descem do prana e do apana, que se movem pelas narinas com a inalação e a exalação, faz-se delas iguais. Por esse meio, os sentidos, a mente e a inteligência são tidos sob controle.
Verso 29 Quem tem plena consciência de Mim, conhecendo-Me como o beneficiário último de todos os sacrifícios e austeridades, o Senhor Supremo de todos os planetas e semideuses e o benfeitor e benquerente de todas as entidades vivas, alivia-se das dores e misérias materiais. “Eu sou o guardião ( bhoktaram) do yajna dos karma-yogis e das austeridades ( tapasam) dos jnanis. Isto significa que Eu sou o objeto de adoração dos karma-yogis e dos jnanis. Eu sou o grande controlador de todas as pessoas ( sarvaloka-mahesvaram), o Paramatma: o objeto de adoração dos astanga-yogis. Sou o amigo de todas as entidades: Eu sou a pessoa que beneficia todas as entidades vivas por misericordiosamente instruir sobre bhakti por meio de Meus devotos. Eu sou o objeto de adoração para os devotos”. “Não se pode Me realizar, Eu que estou acima dos modos ( nirguna), através de jnana em sattva-guna. Eu digo que sou alcançável unicamente por meio de bhakti: bhaktaham ekaya grahyah (SB 11.14.21). O yogi, unicamente através de bhakti, que está além dos modos, realizando-Me como Paramatma ( jnatva mam), o objeto de sua adoração, obtém a liberação (santim)”. Este capítulo explica que o jnani e o yogi, através de niskama-karma-yoga, realizando tanto atma quanto Paramatma, obtêm a liberação.
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Capítulo Sexto
DHYANA-YOGA Verso 1 A Suprema Personalidade de Deus disse: Aquele que não está apegado aos frutos de seu trabalho e que trabalha conforme sua obrigação está na ordem de vida renunciada e é um místico de verdade, e não aquele que não acende nenhum fogo nem cumpre dever algum. No sexto capítulo, o método para controle da mente vacilante, cujo sucesso é alcançado pelo yogi que controla os sentidos pelo processo de astanga-yoga, é descrito. Na prática de astanga-yoga, não se deve abandonar subitamente niskama-karma-yoga, que purifica o coração. Aquele que executa as ações prescritas pelas escrituras como um dever absoluto ( karyam karma), sem expectativa de resultados (anasritah karma-phalam), é chamado de sannyasi, uma vez que renuncia os resultados de suas ações. Ele é chamado yogi porque sua mente não se refugia no desfrute dos objetos dos sentidos. Uma pessoa que meramente renuncia as ações, como o fogo do sacrifício, não é chamada de sannyasi. Tampouco aquele que meramente fecha parcialmente seus olhos e pára as atividades corpóreas externas é chamado de yogi.
Verso 2 Fica sabendo que aquilo que se chama renúncia é o mesmo que yoga, ou união com o Supremo, ó filho de Pandu, pois só pode tornar-se um yogi quem renuncia ao desejo de gozo dos sentidos. significa renunciar os resultados das próprias ações. Yoga significa ter uma mente que não é agitada pelo desejo de desfrutar objetos sensoriais. Deve-se entender, portanto, que ambas as palavras têm o mesmo significado. Aquele que não abandonou o desejo de desfrutar objetos ( asannyasta-sankalpah) não é chamado de yogi. Sannyasa
Verso 3 Afirma-se que quem é neófito no sistema ióguico óctuplo recorre ao trabalho; mas quem já está elevado em yoga atua através da cessação de todas as atividades materiais. “Mas, então, o praticante de astanga-yoga teria de praticar niskama-karma-yoga por toda a sua vida”. Este verso, então, fala dos limites de karma-yoga. Para o praticante de yoga (muneh), desejoso de elevar-se ao yogam), a causa de sua elevação é a ação, karma, porque ela purifica seu coração. Para estágio de meditação estável ( yogam yoga-arudhasya ), a causa da preservação desse nível é a cessação aquele que alcançou estabilidade em meditação ( yoga-arudhasya (samah) de todas as atividades que produzem agitação. Em outras palavras, o aspirante à meditação estável não tem total pureza de coração.
Verso 4 Diz-se que alguém está elevado em yoga quando, tendo renunciado a todos os desejos materiais, não age em troca de gozo dos sentidos nem se ocupa em atividades fruitivas. Este verso fala das características da pessoa que alcançou meditação estável ( yoga-arudhah), que tem o coração completamente puro. Ela não é apegada nem aos objetos dos sentidos, como o som, nem às ações que visam à obtenção do desfrute dos objetos sensoriais ( karmasu).
Verso 5 Com a ajuda de sua mente, a pessoa deve libertar-se, e não se degradar. A mente é amiga da alma condicionada, e sua inimiga também.
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Uma vez que a alma caiu dentro do poço do samsara pelo apego aos objetos sensoriais, deve-se liberar a alma esforçando-se. Deve-se liberar a alma ( atmanam) através da mente que é livre do apego aos objetos sensoriais (atmana). Não se deve deixar a alma cair no poço do samsara pela mente que é apegada aos objetos sensoriais. A mente (atma), portanto, é tanto o amigo quanto o inimigo da alma.
Verso 6 Para aquele que conquistou a mente, a mente é o melhor dos amigos; mas, para quem fracassou nesse empreendimento, sua mente continuará sendo seu maior inimigo. i nimigo. “De quem a mente é amiga e de quem ela é inimiga?”. Este verso responde. “A mente ( atma) é amiga, beneficiadora, da jiva que conquistou a mente. A mente age como inimiga, prejudicadora, daquela jiva que não controla a mente (anatmanah)”.
Verso 7 Quem conquistou a mente já alcançou a Superalma, pois vive com tranquilidade. Para ele, felicidade e tristeza, calor e frio, honra e desonra é tudo o mesmo. Três versos mostram as qualidades da pessoa que obteve meditação estável ( yogarudha). O yogi que colocou a mente sob controle ( jitatmanah) e que é livre do apego a objetos ( prasantasya), tem sua alma (atma) completamente param) situada em samadhi (samahitah) em todas as condições de dualidade; calor e frio, felicidade e aflição, ( param respeito e desrespeito.
Verso 8 Diz-se que alguém está estabelecido em auto-realização e se chama um yogi [ou místico] quando está plenamente satisfeito em virtude do conhecimento e da percepção adquiridos. Ele está situado em transcendência e é autocontrolado. Ele vê tudo — seixos, pedras ou ouro — como a mesma coisa. Ele é destituído de desejos porque está satisfeito com o conhecimento obtido através de ensinamentos jnanam) e de assimilação realizada ( vijnana). Ele permanece na mesma natureza o tempo todo ( kuta-sthah) uma vez ( jnanam que não tem atração por objeto algum. Ele vê seixo, pedra e ouro como iguais.
Verso 9 Considera-se que tem maior avanço quem vê benquerentes honestos, benfeitores afetuosos, os neutros, os mediadores, os invejosos, amigos e inimigos, os piedosos e os pecadores — todos com mente igual. O yogi vê com igualdade aquela pessoa que lhe é benquerente por natureza ( suhrt ), ), aquela que de fato presta serviço por afeição (mitra), aquela que assassina ( ari), aquela que é neutra em tempos de conflito ou honra ( udasina), o mediador que tenta resolver o conflito entre as duas partes ( madhyastha), a pessoa que merece ser odiada porque prejudica outros (dvesya), o parente ( bandhuh) e o seguidor do dharma e o seguidor do adharma. Esta posição é superior àquela de ver seixo e ouro como iguais.
Verso 10 O transcendentalista deve sempre ocupar seu corpo, mente e ego em atividades relacionadas com o Supremo; ele deve viver sozinho num lugar isolado e deve sempre ter todo o cuidado de controlar a mente. Ele deve estar livre de desejos e sentimentos de posse. O yogi executa a yoga com suas angas. A descrição destas começa com este verso e termina com sa yogi paramo matah no verso 32. Aquele que alcança o estágio de yogarudha deve ocupar sua mente, deve permanecer em samadhi ( yunjita yunjita atmanam).
Versos 11 e 12 Para praticar yoga, é necessário dirigir-se a um lugar isolado e colocar grama kusa no chão e depois cobri-la com pele de veado e pano macio. O assento não deve ser nem muito alto nem muito baixo e deve estar situado
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num lugar sagrado. O yogi deve então se sentar nele mui firmemente e praticar yoga para purificar o coração, controlando a mente, os sentidos e as atividades e fixando a mente num único ponto. Ele estabelece seu próprio asana, que tem kusa na base, então pele de veado e finalmente um tecido por cima. O yogi se ocupa em meditação para purificar a consciência ( atma-visuddhaya ). Essa purificação, ou liberdade das perturbações, é própria para a sutilíssima realização de Deus. Como diz o sruti, drsyate tv agryaya buddhya : “o atma é visto pela inteligência concentrada”. - Katha Upanisad 1.3.12
Versos 13 e 14 Deve-se manter o corpo, pescoço e cabeça eretos, conservando-os em linha reta, e deve-se olhar fixamente para a ponta do nariz. Assim, com a mente plácida e subjugada, sem medo, livre por completo da vida sexual, devese meditar em Mim dentro do coração e ver a Mim como a meta última da vida. se refere à parte do meio do corpo. “Deve-se manter a parte do meio do corpo, a cabeça e o pescoço eretos e sem movimento. Retirando a mente dos objetos (manah samyamya ), o yogi permanece pensando em Mim, a bela forma com quatro braços ( mac-cittah), absorto em devoção por Mim ( mat-parah)”. Kaya
Verso 15 Praticando esse constante controle do corpo, da mente e das atividades, o transcendentalista místico, com sua mente regulada, alcança o reino de Deus através da cessação da existência material. “Ocupando continuamente a mente ( atmanam yunjan ) em dhyana-yoga por sua consciência estar livre de objetos sensoriais (niyata-manasah ), ele então obtém a dissolução do samsara (santim), onde a suprema liberação (nirvana) pode ser alcançada, e onde há contínua existência em Meu aspecto como o Brahman impessoal ( matsamstham)”.
Verso 16 Não há possibilidade de alguém tornar-se yogi, ó Arjuna, se come em demasia ou muito pouco, se dorme demais ou não dorme o bastante. Dois versos descrevem as regras para praticar yoga estável. Aquele que come demais não é um yogi. É dito que: purayed asanenardham trtiyam udakena tu vayoh sancaranartham tu caturtham avasesayet
“Deve-se encher metade do estômago com comida, um quarto com água e deixar um quarto para o movimento de ar”.
Verso 17 Aquele que é regulado em seus hábitos de comer, dormir, divertir-se e trabalhar pode mitigar todas as dores materiais praticando o sistema de yoga. Yukta,
aqui, significa “controlado”. Aquele que controla as ações de comer e recrear ( ahara e vihara), e controla ações como a fala ( cesta) durante a execução tanto de deveres materiais como espirituais (karmasu), executa yoga sem sofrimento.
Verso 18 Quando o yogi, pela prática da yoga, disciplina suas atividades mentais e se situa na transcendência – desprovido de todos os desejos materiais –, é dito que ele está bem estabelecido em yoga. “Quando o yogi aperfeiçoa essa yoga?”. Este verso descreve essa situação. “A consciência interrompe todo movimento (viniyatam cittam) e torna-se firmemente fixa unicamente no eu, sem distração ( atmani avatisthate)”.
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Verso 19 Assim como uma vela não tremula num lugar sem vento; do mesmo modo, o transcendentalista, que tem a mente controlada, permanece sempre fixo em sua meditação no eu transcendental. yatha) similar (upama) à vela que não se move ( na ingate) quando em um local “Considera-se exatamente ( yatha sem vento (nivata-sthah)”. A junção de sa com upama está de acordo com a regra so'ci lope cet pada-puranam (Panini 6.1.134). “Qual é a comparação?”. “Compara-se com a consciência do yogi, livre de movimento”.
Versos de 20 a 25 20-23
Na etapa de perfeição chamada transe, ou samadhi, a mente abstém-se por completo das atividades mentais materiais pela prática de yoga. Caracteriza esta perfeição o fato de se poder ver o eu com a mente pura e sentir sabor e regozijo no eu. Nesse estado jubiloso, o yogi situa-se em felicidade transcendental ilimitada, percebida através de sentidos transcendentais. Nesse caso, ele jamais se afasta da verdade, e, ao obter isso, vê que não há ganho maior. Situando-se nessa posição, ele nunca se deixa abalar, mesmo em meio às maiores dificuldades. Esta é a verdadeira maneira de alguém livrar-se de todas as misérias surgidas do contato material. 24É necessário ocupar-se na prática de yoga com determinação e fé, e não se desviar do caminho. Devem-se abandonar, sem exceção, todos os desejos materiais nascidos da especulação mental e, desse modo, controlar com a mente todos os sentidos por todos os lados. 25Aos poucos, passo a passo, o yogi deve se situar em transe por meio da inteligência alimentada de convicção plena, e, assim, a mente deve ser fixada no eu apenas e não deve pensar em nada mais.
No verso 16 e nos versos seguintes, a palavra yoga referia-se a estar situado em samadhi. Samadhi é de dois samadhi sampraj samprajnat nata a tem vários tipos de acordo com diferenças de savicara tipos: samprajnata e asamprajnata. O samadhi (busca filosófica) e savitarka (argumento). samadhi asamprajnat asamprajnata a ? Três versos e meio respondem. Nesse estado de samadhi samadhi asamprajnata asamprajnata, a Como é o samadhi consciência não toca sequer um objeto ( cittam uparamate ), devido à completa interrupção (niruddham). Como o sutra de Patanjali diz: yoga citta-vrtti-nirodhah : “ yoga significa a interrupção das funções da consciência” (Yoga-Sutra 1.2). A palavra yatra (no estado em que) estende seu significado ao verso 23. Nesse samadhi, o yogi, vendo seu eu através de sua consciência (atmana) na forma de Paramatma, está satisfeito no eu. Nesse estado de samadhi, ele então experimenta extrema bem-aventurança, que é compreendida pela inteligência (buddhya) na forma da alma livre do contato com os sentidos e objetos sensoriais materiais. Assim, nesse estado, ele não se afasta do verdadeiro estado da alma, sua verdadeira forma ( tattvatah). Tento alcançado esse estado, ele não cogita alcançar algo mais. Nesse estado, ele é distinto de todo contato com sofrimento. Deve-se conhecer esse estado de samadhi como yoga. “Embora eu não possa alcançá-la rapidamente, certamente eu posso alcançar esta yoga”. Com tal certeza, deve-se praticar. Não se deve ficar desencorajado dizendo: “Depois de tanto tempo, eu não alcancei a perfeição. De que vale todo esse trabalho árduo?” ( anirvinna-cetasa). Deve-se praticar com a mente convencida: “Por que eu deveria tornar-me impaciente? Que eu alcance a perfeição nesta vida ou na próxima”. Gaudapada, o parama-guru de Sankaracarya, dá um exemplo: utseka udadher yadvat kusagreaika-binduna manaso nigrahas tadvad bhaved aparikhedatah
“Deve-se gradualmente controlar a mente sem se queixar, mesmo que isso seja como secar o oceano pegando gotas de água com a ponta de uma folha de grama kusa”. Há uma história para explicar isso. Com suas poderosas ondas, o oceano roubou os ovos de um passarinho que estavam situados na praia. Determinado a secar o oceano, o passarinho pegava uma gota do oceano de cada vez com seu bico. O oceano, destituído de várias gotas pelo esforço do passarinho, não foi em nada afetado. Embora desencorajado por Narada, que por acaso passou por ali, o passarinho novamente fez a promessa em frente a ele: “Nesta vida ou na próxima, eu secarei o oceano”. Então, o misericordioso Narada, pela vontade do Senhor, enviou Garuda para ajudar o passarinho, dizendo: “O oceano o desrespeitou por ofender seu parente, um pequeno passarinho”. O oceano, tornando-se seco pelo vento vindo do bater das asas de Garuda, ficou assustado e então devolveu os ovos do passarinho. Assim, deve-se estar convencido de que o Senhor irá conceder Sua misericórdia àquela pessoa resoluta que com grande entusiasmo inicia a prática de yoga, jnana ou bhakti com fé nas palavras das escrituras. Para tal prática de yoga, a primeira e a última atividades são mencionadas em dois versos (24 e 25). A primeira atividade é abandonar os desejos (24), e a última ação é não pensar em nada mais (25).
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Verso 26 Sempre que a mente divague devido à sua natureza instável e inconstante, deve-se com certeza coibi-la e colocá-la sob o controle do eu. Se acontecer da mente, entrando em contato com o modo da paixão, tornar-se instável devido ao aparecimento de apegos anteriores, deve-se novamente praticar yoga.
Verso 27 O yogi cuja mente está fixa em Mim alcança deveras a mais elevada perfeição da felicidade transcendental. Ele está além do modo da paixão e realiza sua identidade qualitativa com o Supremo, e assim livra-se de todas as reações a atos passados. Então, como anteriormente, o yogi novamente desfrutará da felicidade do sentença.
samadhi. Sukham
é o sujeito da
Verso 28 Assim, o yogi autocontrolado, constantemente ocupado na prática de yoga, livra-se de toda a contaminação material e alcança a etapa mais elevada – a felicidade perfeita no transcendental serviço amoroso ao Senhor. vida.
Então ele obtém o sucesso. Obter sukha significa tornar-se jivan-mukta, isto é, liberado mesmo enquanto em
Verso 29 Um yogi de verdade Me observa em todos os seres e também vê todos os seres em Mim. De fato, a pessoa autorealizada vê a Mim, o mesmíssimo Senhor Supremo, em toda parte. Este verso mostra a experiência direta de Brahman da jivan-mukta. Aquele cuja consciência tomou a forma de Brahman ( yoga-yukta-atma) realiza, através da percepção espiritual (iksate), o Paramatma que reside em todas as entidades vivas ( sarva-bhuta stham atmanam ), e que é o local de repouso de todas as entidades vivas ( atmani sarvabhutani ) como o Brahman ( sama-darsinah).
Verso 30 Para aquele que Me vê em toda parte e vê tudo em Mim, Eu jamais estou perdido, nem ele estará jamais perdido para Mim. O resultado dessa realização espiritual é apresentado. “Eu, o Brahman, nunca Me torno invisível para essa pessoa (na pranasyami ). Uma vez que estou continuamente presente perante tal pessoa, o yogi (sa), Meu adorador (me), nunca está perdido para Mim”.
Verso 31 Semelhante yogi, que se ocupa no adorável serviço à Superalma, sabendo que Eu e a Superalma somos um, sempre permanece em Mim em todas as circunstâncias. “O yogi que Me adora como o Paramatma situado em toda parte; mesmo antes da realização direta, está acima das regras. Aquele que, sabendo que unicamente Paramatma existe, uma vez que Ele é a causa de tudo ( ekatvam asthitah), adora-Me; estando ocupado em adoração, como por ouvir e cantar, ele reside em Mim, não no samsara, quer execute ações indicadas nas escrituras ou não ( sarvatha vartamano 'pi )”.
Verso 32 O yogi perfeito é aquele que, através da comparação com o seu próprio eu, vê a verdadeira igualdade de todos os seres, quer se sintam felizes ou infelizes, ó Arjuna!
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“Além do mais, foi afirmado que mesmo o yogi no estágio de sadhana deveria ter visão equânime em todas as circunstâncias. Este verso explica o mais importante tipo de visão equânime. Ele vê o que é bom para si e o que é ruim para si como igualmente aplicável a todos os outros; ele deseja felicidade a todos os outros, e não deseja sofrimento para ninguém. Eu considero esse yogi como o melhor”.
Verso 33 Arjuna disse: Ó Madhusudana, o sistema de yoga que resumiste parece-me impraticável e inviável, pois a mente é inquieta e instável. Vendo que seria difícil alcançar tal visão equânime, Arjuna fala: “Eu não vejo a execução dessa yoga que alcança visão equânime. Essa yoga não irá durar para sempre. Esse estado durará por três ou quatro dias. Por quê? Porque a mente é instável ( cancalatvat ). ). Você fala sobre ver a felicidade e a aflição de todas as entidades vivas do mundo como a própria felicidade e aflição. Pode-se manter tal visão equânime para amigos ou pessoas neutras, mas, para inimigos, que querem nos prejudicar e que nos odeiam e criticam, isso não é possível. Não me é possível ver, a todo o momento, a felicidade e a aflição de Yudhisthira e Duryodhana igualmente. Mesmo se, através da inteligência, se puder ver igualmente a jiva, Paramatma, os pranas, os sentidos e os elementos corpóreos próprios e os dos inimigos, isso dura apenas por dois ou três dias, porque a mente inquieta é mais forte do que o intelecto discriminador. Vê-se que a mente, apegada ao desfrute material, supera o intelecto”.
Verso 34 Pois a mente é inquieta, turbulenta, obstinada obstinada e muito forte, Ó Krsna, e parece-me que subjugá-la é mais difícil do que controlar os ventos. Neste verso, Arjuna fala da mente inquieta. “Mas, Arjuna, de acordo com as escrituras, é possível controlar a mente pelo intelecto discriminador”. O
sruti
diz: atmanam rathinam viddhi sarlram ratham eva ca
“A alma é o passageiro, e o corpo é a quadriga”. - Katha Upanisad 1.3.3 O smrti diz: ahuh sarlram ratham indriyani hayan abhisun mana indriyesam vartmani matra dhisanam ca sutam
“Transcendentalistas que são avançados em conhecimento comparam o corpo, que é feito pela ordem da Suprema Personalidade de Deus, a uma quadriga. Os sentidos são como os cavalos; a mente, o mestre dos sentidos, é como as rédeas; os objetos sensoriais são os destinos; a inteligência é o quadrigário; e a consciência, que se espalha por todo o corpo, é a causa do condicionamento neste mundo material”. “Mas a mente agita muito fortemente o intelecto ( pramathi)”. “Como isso pode acontecer?”. “Assim como uma doença forte não reconhece o medicamento que supostamente deveria curá-la, a mente forte, por sua natureza peculiar, ignora o intelecto discriminador ( balavat ). ). Eu a considero dura como o ferro, cuja perfuração não pode ser feita pela fina agulha do intelecto (drdham). Eu considero como sendo muito difícil superar a mente através de astanga-yoga. Isso é como tentar controlar o violento vento no céu parando a respiração com kumbaka”.
Verso 35 O Senhor Sri Krsna disse: Ó poderosíssimo filho de Kunti, é sem dúvida muito difícil refrear a mente inquieta, mas isso é possível pela prática adequada e pelo desapego. Aceitando o que Arjuna diz, Krsna traz uma conclusão. “O que você disse é certamente verdade, mas, embora uma doença possa ser muito séria, por se tomar constantemente o medicamento prescrito pelo médico; após um longo tempo, a doença é curada. De forma similar, embora de difícil controle, é possível se controlar a mente pela repetida prática de acordo com as direções do guru, através da constante aplicação do processo de meditação no Senhor Supremo ( abhyasena) e pela dissociação dos objetos de desfrute ( vairagyena)”. Patanjali diz em seus sutras, abhyasa-vairagyabhyam tan-nirodhah : “A mente é controlada por prática e desapego”. (Yoga-Sutra 1.12)
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“Uma vez que você derrotou muitos grandes guerreiros na batalha ( maha-baho), tendo derrotado até mesmo o senhor Shiva, não será você capaz de derrotar a mente? Somente se você for capaz de derrotar o soldado chamado mente, o qual se derrota pelo uso da arma do grande processo de yoga, você poderá ser chamado de homem de braços poderosos. Ó Kaunteya, você não deve temer: como você é filho de minha tia Kunti, é certo que Eu o ajudarei”.
Verso 36 Para alguém cuja mente é desenfreada, a auto-realização é tarefa difícil. Mas aquele cuja mente é controlada e que se empenha com meios apropriados com certeza terá sucesso. Esta é a Minha opinião. O Senhor diz Sua conclusão pessoal. “ Yoga é difícil para uma pessoa cuja mente não é controlada pela prática e pelo desapego (asamyata-atmana). Pode-se alcançar yoga ou samadhi, que se caracteriza pela cessação da mente, após um longo tempo e pela pessoa que se esforça com a mente controlada pela prática e desapego. Você também pode alcançar esse estado seguindo o método da prática”.
Verso 37 Arjuna disse: Ó Krsna, qual é o destino do transcendentalista malogrado, que, no começo, adota com fé o processo da auto-realização, mas que, mais tarde, desiste devido à mentalidade mundana e, desse modo, acaba por não alcançar a perfeição no misticismo? “Você disse que yoga pode ser alcançada pela pessoa que se empenha através de prática e desapego. O que acontece com a pessoa que não se empenha, que não pratica e que não tem desapego? Ela investe apenas um pouco de esforço (ayatih). Ela começa a prática de yoga com fé nas escrituras ióguicas, e, portanto, não é impostora; mas ela se desvia da yoga por sua mente se voltar aos objetos de desfrute devido à falta de prática e desapego. Ela, então, não alcança a perfeição máxima (samsiddhim). Mas essa pessoa obteve alguns resultados, uma vez que começou o estágio de prática, posterior ao estágio de aspirante ( aruruksu) a yogi”.
Verso 38 Ó Krsna de braços poderosos, será que semelhante homem que se afasta do caminho da transcendência desviase também do sucesso, espiritual e material, e sucumbe como uma nuvem destroçada, sem posição em esfera alguma? Kaccit indica
apenas uma pergunta. “Tendo falhado de ambos os lados, tendo abandonado o caminho de karma e aderido completamente ao caminho de yoga e então abandonado este último, ele desaparece como uma nuvem que se separa da nuvem original e, não se somando a outra nuvem, desaparece em meio aos céus? A dificuldade é que, por ter entrado no caminho da yoga, a pessoa desenvolve o desejo de abandonar o desfrute dos objetos materiais, e, pela falta de verdadeiro desapego, ela também deseja desfrutar de tais objetos. Por não realizar atividades que conduzem a svarga-loka e também não completando a prática de yoga conducente à liberação, ela não alcança nem svarga nem liberação. Então, ficando desorientada no método de obtenção do Brahman, não tendo alcançado a meta (apratisthah ), tal pessoa encontra ou não a destruição? Esta é a minha pergunta”.
Verso 39 Esta é a minha dúvida, ó Krsna, e peço-Te que a suprimas por completo. À exceção de Ti, não se pode encontrar ninguém que possa dirimir esta dúvida. Etat (etan) atua como etam (caso acusativo).
Verso 40 A Suprema Personalidade de Deus disse: Filho de Prtha, um transcendentalista ocupado em atividades auspiciosas não sofre destruição nem neste mundo nem no mundo espiritual; quem faz o bem, Meu amigo, jamais é vencido pelo mal. mal. Ele não encontra com a destruição nem nesta vida ( iha), nem na próxima ( amutra). Tendo executado yoga, que traz auspiciosidade (kalyana-krt ), ), ele não obtém um destino de sofrimento.
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Verso 41 Após muitos e muitos anos de gozo nos planetas habitados por entidades vivas piedosas, o yogi malogrado nasce numa família de pessoas virtuosas ou numa família de rica aristocracia. “Então, qual destino ele obtém?”. “Ele vai para o planeta onde aqueles que executam sacrifícios asva-medha punya-krtan lokan ). O resultado de yoga é tanto liberação quanto desfrute material. Neste caso, o yogi vão ( punya-krtan imperfeito, tendo desejo por desfrute, tendo caído da yoga, obtém desfrute material. O yogi perfeito, todavia, por não ter desejo pelo desfrute material, obtém a liberação. Alguns yogis, muito embora perfeitos, têm, pelo destino, desejo de desfrutar e então aceitam tal desfrute. Exemplos são Kardama Muni e Saubari”. “Após terem estado em svarga, tais yogis caídos nascem na casa daqueles executando práticas religiosas apropriadas (sucinam) e que são mercadores opulentos ou reis ( sri-matam)”.
Verso 42 Ou ele nasce numa família de transcendentalistas que com certeza tem muita sabedoria. É claro que semelhante nascimento é raro neste mundo. O destino dos yogis que caíram após praticarem um pouco foi descrito no verso anterior. Este verso descreve o destino diferenciado para os yogis que caíram após praticarem por um longo tempo. Eles nascem nas famílias de yogis como Nimi.
Verso 43 Obtendo esse nascimento, ele revive a consciência divina de sua vida anterior e tenta progredir ainda mais para alcançar o êxito completo, Ó filho de Kuru. paurvaNesses dois tipos de nascimento (tatra), ele alcança o estado mental de sua vida prévia ( paurvacom fé em Paramatma (buddhi-samyogam).
dehikam )
Verso 44 Em virtude da consciência divina de sua vida anterior, ele automaticamente sente-se atraído pelos princípios ióguicos - mesmo sem procurá-los. Esse transcendentalista inquisitivo sempre fica acima dos princípios ritualísticos das escrituras. Atraído pela prática anterior, ele passa a inquirir sobre yoga e transpassa o caminho de nos Vedas (sabda-brahma), mas, desta vez, permanece fixo no caminho da yoga.
karma
mencionado
Verso 45 E quando, com esforço sincero, o yogi ocupa-se em continuar progredindo, limpando-se de todas as contaminações, então afinal atinge a meta suprema, alcançando a perfeição depois de praticar durante muitos e muitos nascimentos. A razão da queda no caminho é a falta de esforço. Isso foi mencionado antes: embora ele tenha fé, ele investe pouco esforço (ayatih). Foi mencionado que o yogi caído, com prática negligente, reobtém a prática de yoga na vida seguinte. Todavia, ele não alcança a perfeição. Isso só será obtido após muitos e muitos nascimentos, quando sua prática se tornar madura. Ele, entretanto, não se tornando negligente com a prática de yoga, não pode ser chamado de yogi caído. A perfeição se manifesta apenas após muitos nascimentos de prática, como declara Kardama Muni: bahu-janma-vipakvena samyag-yoga-samadhina drastum yatante yatayah sunyagaresu yat-padam
“Após muitos nascimentos, yogis maduros, por completo transe em yoga, empenham-se em locais reclusos em ver os pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus”. - SB 3.24.28 Ele faz grande esforço ( prayatnad yatamanah ) nessa vida, em contraste ( tu) com sua vida anterior, e incinera todas as falhas (samsuddha-kilbisah), mas ele precisa de mais de uma vida para alcançar a perfeição ( param gatim).
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Verso 46 Um yogi é maior do que o asceta, maior do que o empirista e maior do que o trabalhador fruitivo. Portanto, ó Arjuna, em todas as circunstâncias, sê um yogi. “Dentre aqueles praticando karma, jnana, tapas e yoga, quem é o melhor?”. “É minha opinião que o yogi, adorador de Paramatma, é melhor do que os executores de sacrifícios, como o árduo candrayana-vrata, e é melhor do que os jnanis adoradores do Brahman. Se o yogi é melhor do que os jnanis, não é sequer preciso dizer que ele é melhor do que os karmis”.
Verso 47 E de todos os yogis, aquele que tem muita fé e sempre se refugia em Mim, pensa em Mim dentro de si mesmo e Me presta transcendental serviço amoroso - é o mais intimamente unido a Mim em yoga e é o mais elevado de todos. Esta é a Minha opinião. “Então, não há ninguém melhor do que o yogi?”. “Não, isso não pode ser afirmado”. Neste verso, como no anterior, o caso possessivo de yoginam funciona como ablativo, uma vez que é mais próprio para o contexto. “Aquele que Me adora com fé é maior do que todos os yogis, que são maiores do que os jnanis, tapasvis e karmis. O devoto não só é superior a um tipo de yogi, mas a todos os tipos de yogis perfeitos - tanto àqueles em samprajnata-samadhi quanto àqueles em asamprajnanta-samadhi ”. Ou outro significado é: “Dentre todos os processos ( yoga), como karma-yoga, jnana-yoga, tapa-yoga, astanga-yoga e bhakti-yoga; aquele que Me adora, aquele que é Meu devoto, tem o melhor processo ( yuktatama)”. Os karmis, tapasvis e jnanis são considerados yogis. O astanga-yogi é um yogi melhor. Aquele que pratica bhakti ouvindo e cantando é, todavia, o melhor yogi”. Como é dito no Srimad-Bhagavatam: muktanam api siddhanarh narayana-parayanah sudurlabhah prasantatma kotisv api maha-mune
“Ó grande sábio, dentre muitos milhões que são liberados e perfeitos em conhecimento da liberação, um talvez seja devoto do Senhor Narayana, ou Krsna. Tais devotos, que são plenamente pacíficos, são extremamente raros”. – SB 6.14.5 Este verso, um demonstrativo conciso de bhakti, que será definida nos seis capítulos intermediários, é o cordão que adorna o pescoço dos devotos. O primeiro capítulo é um resumo do Gita. O segundo, terceiro e quarto capítulos lidam com niskama-karma. O quinto lida com o conhecimento e o sexto com astanga-yoga. Mas o tópico principal dos seis primeiros capítulos é karma-yoga.
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OG A C A PÍT UL O S ÉTIMO – V IJÑA N A Y OG
Capítulo Sétimo
VIJÑANA-YOGA Verso 1 A Suprema Personalidade de Deus disse: Agora, presta atenção, ó filho de Prtha, enquanto te explico como é que, praticando yoga com plena consciência de Mim, com a mente apegada a Mim, podes ficar livre das dúvidas e conhecer-Me por completo. Quando tomarei refúgio nos pés de Mahaprabhu, que são um doce oceano de misericórdia constituído de bemaventurança eterna? Assim, de uma forma ou de outra, obterei o néctar de prema através do caminho de bhakti, caminho este que deliberadamente evita a liberação. O sétimo capítulo descreve os poderes de Krsna, os poderes do Senhor que é o mais digno de adoração. Os quatro tipos de pessoas que adoram e os quatro tipos que não adoram Krsna também são descritos. Nos seis primeiros capítulos do Gita, foram descritas jnana-yoga e astanga-yoga, que conduzem à liberação e são dependentes da purificação prévia do coração através de niskama-karma-yoga . Nos seis capítulos intermediários, dois tipos de bhakti serão descritos: aquela bhakti que produz salokya e outros tipos de liberação, sendo sem desejo ou com desejo, por causa da mistura de karma, jnana e outros elementos; e o principal tipo de bhakti, a bhakti que produz liberação na forma de tornar a pessoa um associado do Senhor em prema, e a qual é independente de karma, jnana ou outros processos, e, além disso, produz independentemente todas as metas como svarga e moksa sem a execução de nenhum outro processo. Embora de fácil execução para todos, esse segundo tipo de bhakti-yoga é raríssimo. yat karmabhir yat tapasa jnana-vairagyatas ca yat yogena dana-dharmena sreyobhir itarair api sarvam mad-bhakti-yogena mad-bhakto labhate 'njasa svargapavargam mad-dhama kathancid yadi vanchati
“Tudo o que pode ser obtido por atividades fruitivas, penitências, conhecimento, desapego, yoga mística, caridade, deveres religiosos e por todos os outros meios perfectivos de vida é facilmente obtido por Meu devoto através do serviço amoroso a Mim. Se de alguma forma Meu devoto deseja promoção ao céu, liberação ou residência em Minha morada, ele facilmente obtém tais benefícios”. – SB 11.20.32-33 “Mas o sruti diz tam eva viditvatimrtyum eti : “conhecendo isto, transpõe-se a morte” (Svetasvatara Upanisad 6.15). Como Você pode dizer, então, que, sem conhecimento, apenas por bhakti, alcança-se a liberação?”. “Não é assim”. O significado dessa afirmação sruti é: conhecendo Paramatma (tam), tendo direta realização de Paramatma (tat-padartham) transpõe-se a morte; a transposição não acontece por se conhecer a alma individual ( tvam padartham) ou a prakrti ou algum outro objeto existente. Assim como a causa da experimentação do açúcar é a língua, não os olhos ou as orelhas; a causa da experimentação do Para-Brahman é bhakti. Só é possível entender o Brahman, que está além dos gunas, pelo processo de bhakti, que é além dos gunas, e não pelo conhecimento sáttvico de compreender a si como diferente do corpo. Isso pode ser entendido pela afirmação do Senhor bhaktyaham ekay grahyah : “Eu só sou alcançado através de bhakti” (SB 11.14.11). Eu irei elaborar este tema em meu comentário ao verso bhaktya mam abhijanati yavan yas casmi tattvatah : “É unicamente através do serviço devocional que alguém pode compreender-Me como sou” (Bg. 18.55). E a realização da liberação através de jnana-yoga e astanga-yoga se dá apenas pela influência de bhakti, que tem papel secundário nessas práticas. Afirma-se em vários lugares nas escrituras que, sem bhakti, esses dois processos são sem significado. Além disso, devido à ausência da palavra eva (apenas) após viditva [no verso 6.15 do Svetasvatara Upanisad], há um outro significado. O verso, portanto, não indica que é exclusivamente através de Paramatma que se obtém a liberação: conhecendo Paramatma ou não O conhecendo, obtém-se a liberação. Portanto, pode-se obter a liberação através do conhecimento acima dos gunas – conhecimento do Paramatma, que nasce através de bhakti; e, algumas vezes, sem o conhecimento do Paramatma nascido de bhakti, pode-se obter a liberação simplesmente pela prática exclusiva de bhakti.
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A língua, quando em disfunção devido à icterícia, não pode provar a doçura do açúcar cande. Todavia, por meio do contínuo consumo do mesmo açúcar, a doença é curada e o gosto doce pode novamente ser desfrutado. De acordo com o Amara Kosa, matsyandika é uma transformação do açúcar. nanv isvaro 'nubhajato 'viduso 'pi saksac chreyas tanoty agada-raja ivopayuktah
“É factual que o Senhor Supremo pessoalmente concede Suas bênçãos até mesmo para um adorador ignorante, assim como o bom medicamento funciona mesmo quando ingerido por uma pessoa ignorante de seus ingredientes”. – SB 10.47.59 No Moksa Dharma, há uma afirmação feita sobre Narayana: yo vai sadhana sampattih purusartha catusthaye taya vina tad apnoti naro narayanacayah
“Mesmo sem executar ações para a obtenção dos quatro purusarthas (artha, que se rende a Narayana obtém essas metas”. Como já citado acima, o Srimad-Bhagavatam diz:
dharma, kama
e
moksa),
a pessoa
yat karmabhir yat tapasa jnana-vairagyatas ca yat yogena dana-dharmena sreyobhir itarair api sarvam mad-bhakti-yogena mad-bhakto labhate 'njasa svargapavargam mad-dhama kathancid yadi vanchati
“Tudo o que pode ser obtido por atividades fruitivas, penitências, conhecimento, desapego, yoga mística, caridade, deveres religiosos e por todos os outros meios perfectivos de vida é facilmente obtido por Meu devoto através do serviço amoroso a Mim. Se, de alguma forma, Meu devoto deseja promoção ao céu, liberação ou residência em Minha morada, ele facilmente obtém tais benefícios”. – SB 11.20.32-33 yan-nama sakrc chravanat pukkaso 'pi vimucyate samsarat
“Para não falar do benefício de vê-lO pessoalmente; meramente por ouvir o Seu santo nome uma única vez, mesmo candalas, homens da classe mais baixa, são liberados do samsara”. – SB 6.16.44 Então, de acordo com tantas de tais afirmações escriturais, a liberação só pode ser obtida através de bhakti. Agora, voltemos ao verso. yoginam api sarvesam ), entende-se que Você indicou Seu próprio “Por Sua afirmação no final do último capítulo capít ulo ( yoginam devoto, com as qualidades especiais de absorção da mente em Você ( mad-gatenantar-atmana) e da posse de fé em Você. Mas que tipo de devoto é esse? Esperar-se-ia ele ser qualificado com conhecimento ( jnana) e realização (vijnana)”. O Senhor então responde em dois versos, este e o próximo (7.2). bhaktih paresanubhavo viraktir anyatra caisa trika eka-kalah prapadyamanasya yathasnatah syus tustih pustih ksud-apayo 'nu-ghasam
A realização ocorrerá gradualmente em proporção à intensidade da adoração. “Devoção, experiência direta do Senhor Supremo e desapego de outras coisas – essas três coisas ocorrem simultaneamente para alguém que se refugia na Suprema Personalidade de Deus, da mesma forma que o prazer, a nutrição e o alívio da fome vêm simultânea e crescentemente a cada mordida para uma pessoa ocupada em comer”. – SB 11.2.42 “Assim como por se comer um pouco de comida a pessoa não obtém a satisfação e a nutrição que deseja, senão que as obtém ao comer muita comida; quando você alcançar o estágio de apego a Mim ( mayy asakta-manah ) em Minha forma de Syamasundara trajando vestes amarelas, você Me conhecerá. Escute como ( yatha) você Me realizará claramente”. “Que tipo de yoga é essa?”. “Você gradualmente estabelecerá uma relação coMigo (samyogam yunjan ). Você terá somente a Mim como refúgio; por ser Meu ananya-bhakta, você não levará em consideração ter karma ou jnana como refúgio (mad-asrayah). Você estará absolutamente livre de dúvidas em relação ao que é melhor, Meu aspecto impessoal ou Meu aspecto pessoal, como indicado no capítulo 12 com Minhas palavras:
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kleso 'dhikataras tesam avyaktasakta-cetasam avyakta hi gatir duhkham dehavadbhir avapyate
“Para aqueles cuja mente está apegada ao aspecto impessoal e imanifesto do Supremo, o progresso é muito problemático. Progredir nessa disciplina é sempre difícil para aqueles que estão corporificados”. – Bg. 12.5 “Ademais, esse Brahman é apenas uma expressão de Minha grandeza, como Eu, na forma de Matsya, digo para Satyavrata no seguinte verso”. madiyam mahimanam ca param brahmeti sabditam vetsyasy anugrhitam me samprasnair vivrtam hrdi
“Você será cuidadosamente guiado e favorecido por Mim, e, graças às suas perguntas, tudo sobre Minhas glórias, que são conhecidas como Para-Brahman, serão manifestas dentro de seu coração”. – SB 8.24.38 “No Gita, direi posteriormente, brahmano hi pratisthaham : Eu sou a base do Brahman. Então, em comparação com o conhecimento acerca de Mim em Minha forma pessoal, que é completa ( samagram), este conhecimento do Brahman impessoal é incompleto. Portanto, você Me conhecerá completamente ( samagram mam), sem dúvidas”.
Verso 2 Agora te declararei na íntegra este conhecimento, tanto fenomenal quanto numenal. Conhecendo isto, nada mais te restará saber. “Antes de alcançar o estágio de apego a Mim, o devoto entende ( jnanam) sobre Meus poderes. Após isso, ele realiza (vijnanam) Minha doçura. Ouça sobre ambos. Conhecendo isso, não lhe faltará saber mais nada, pois o conhecimento e a realização de Meu aspecto impessoal estão inclusos aqui”.
Verso 3 Dentre muitos milhares de homens, talvez haja um que se esforce para obter a perfeição, e, dentre aqueles que alcançaram a perfeição, é difícil encontrar um que Me conheça de verdade. “É raro para os jnanis e para os yogis que foram descritos nos seis capítulos anteriores Me conhecerem ou Me realizarem”. Primeiramente, o Senhor fala da raridade da realização da doçura do Senhor ( vijnana) entre eles. “Dentre as incontáveis jivas, uma talvez atue como ser humano. Dentre milhares de humanos, um deles talvez atue para o progresso espiritual. Dentre milhares que trabalham em prol do progresso espiritual, apenas um irá Me conhecer, irá Me realizar direta e verdadeiramente na forma de Syamasundara”. Isto implica que a bem-aventurança da realização do Brahman pessoal é milhares de vezes maior do que a bem-aventurança da realização do Brahman impessoal.
Verso 4 Terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e falso ego – juntos, todos estes oito elementos formam Minhas energias materiais separadas. jnana) em relação a bhakti significa conhecimento dos poderes do Senhor ( aisvarya-jnana), e E conhecimento ( jnana não mero conhecimento de que o atma é distinto do corpo ( atma-jnana). Definindo o conhecimento dos poderes do para) e inferior ( apara), em dois versos. Pela listagem Senhor, o Senhor fala de Suas duas energias ( prakrti), superior ( para dos cinco elementos grosseiros, iniciada por terra; os elementos sutis, conhecidos como objetos sensoriais, como o cheiro, o sabor, a forma, o tato e o som, estão subentendidos aqui também. A mente e o intelecto são listados separadamente para demonstrar a grande importância deles entre todos os elementos.
Verso 5 Além dessas, ó Arjuna de braços poderosos, existe outra energia, Minha energia superior, que consiste nas entidades vivas que exploram os recursos dessa natureza material inferior. Esta prakrti é chamada de energia externa (bahiranga-sakti). Como ela não é consciente, é inferior ( apara). Entenda que a outra energia, a energia marginal ( tatastha-sakti), é superior ( param), isso por causa de sua consciência. Por que a jiva é considerada superior? A matéria inconsciente ( jagat ) é ocupada ( dharyate) pela jiva consciente em seu desfrute pessoal.
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Verso 6
Todos os seres criados têm sua fonte nestas duas naturezas. Fica sabendo com toda a certeza que Eu sou a origem e a dissolução de tudo o que é material e de tudo o que é espiritual neste mundo. O Senhor é a causa do mundo por essas duas energias. “Saiba que todas as entidades vivas móveis e inertes nascem dessas duas energias, maya-sakti e jiva-sakti, ksetra e ksetra-jna. Eu sozinho sou o criador de todo este universo, uma vez que essas duas energias nascem de Mim; e Eu sozinho sou o destruidor do universo, uma vez que ele, na forma dessas duas energias que estão sob Meu controle, funde-se em Mim no momento da aniquilação”.
Verso 7 Ó conquistador de riquezas, não há verdade superior a Mim. Tudo repousa em Mim como pérolas ensartadas num cordão. “Por causa disso, Eu sou tudo”. Isto está expresso neste verso. “Não há nada superior a Mim, pois Eu sou tanto a causa quanto o efeito, e Eu sou a sakti e o saktiman”. Como traz o sruti: ekam evadvitiyam brahma : “há apenas um Brahman e nada mais” (Candogya Upanisad 6.2.2); e neha nanasti kincana: “não há nenhuma variedade” (Brhad-aranyaka Upanisad 4.4.19). Tendo falado de Sua identidade como tudo, o Senhor fala sobre Sua penetração em tudo. “Todo o universo (sarvam idam) composto da prakrti consciente e da prakrti inconsciente, por ser Meu efeito, é idêntico a Mim”. De qualquer forma, tudo é penetrado por Paramatma (Eu estou em tudo), como pérolas ensartadas em um cordão. Madhusadana Sarasvati diz: “Estar inserido como pérolas em um cordão significa que tudo é sustentado pelo Senhor, o que sugere não haver causalidades materiais. Um exemplo mais claro de causalidade é o ouro como a causa de brincos de ouro”.
Verso 8 Ó filho de Kunti, Eu sou o sabor da água, a luz do Sol e da Lua, a sílaba om nos mantras védicos; Eu sou o som no éter e a habilidade no homem. “Assim como entro no universo, que é Meu efeito; na forma de Paramatma, Eu também existo na forma da causa de seus efeitos (como o som no éter), ou na forma da essência dessas coisas (como o sucesso do homem)”. Isso é expresso em quatro versos. “O sabor na água, que é a causa dela, é uma manifestação de Meu poder ( vibhuti)”. Da mesma forma, pode-se encontrar significado similar nos itens seguintes. “Eu sou a luz que ilumina o Sol e a Lua. Eu sou o omkara, a fonte dos Vedas. Sou o som no éter, a causa do éter. Eu sou os diferenciados empenhos ( paurusam) do homem, a essência dos humanos”.
Verso 9 Eu sou a fragrância original da terra e sou o calor no fogo. Eu sou a vida de tudo o que vive e sou as penitências de todos os ascetas. Punya significa “agradável” ou “natural” de acordo com o Amara Kosa. “Eu sou a fragrância natural do elemento Ca indica que essa afirmação se aplica a todos os elementos. Então, “Eu sou o agradável sabor da água, a
terra”. agradável forma do fogo. Eu sou o poder do fogo, a essência dele de queimar, iluminar e aliviar o frio de todas as coisas. Eu sou a duração de vida de todas as entidades – a essência delas. Eu sou a tolerância do sofrimento, a essência daqueles ocupados na execução de austeridades”.
Verso 10 Ó filho de Prtha, fica sabendo que Eu sou a semente da qual se originam todas as existências, sou a inteligência dos inteligentes e o poder de todos os homens poderosos. Bija, ou semente, significa a causa antes da transformação, o pradhana. Sanatana
a essência das pessoas inteligentes. Eu sou tal inteligência”.
significa eterno. “Inteligência é
Verso 11 Eu sou a força dos fortes, desprovida de paixão e desejo. Eu sou a vida sexual que não é contrária aos princípios religiosos, ó Arjuna.
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“Eu sou a força do forte não exibida motivada por ira ou usada com o desejo de manter seu próprio estilo de vida. Eu sou a luxúria não contrária ao dharma, aquela focada unicamente na própria esposa e para a produção de filhos”.
Verso 12 Fica sabendo que todos os estados de existência – sejam eles em bondade, paixão ou ignorância – manifestam-se por Minha energia. Em certo sentido, Eu sou tudo, mas Eu sou independente. Eu não estou sob a influência dos modos da natureza material, porque eles, ao contrário, estão dentro de Mim. “A expressão de Meus poderes como sendo a causa das coisas ou a essência dos objetos inanimados e das entidades vivas como raksasas e outras foi mencionada. Não há necessidade de listar isso de forma mais extensiva. Todas as coisas são dependentes de Mim e são expressão de Meu poder. Tais coisas ( bhava) no modo da bondade, como juízo, o controle mental e os devatas; aquelas no modo da paixão, como a luxúria e o orgulho, e asuras como Hiranyakasipu; e aquelas no modo da ignorância, como a lamentação, a ilusão e os raksasas – são todas produto dos gunas da prakrti, a qual pertence a Mim. Eu não existo neles: Eu não dependo deles como dependem as jivas. Mas eles existem em Mim: eles são dependentes de Mim”.
Verso 13 Iludido pelos três modos, o mundo inteiro não conhece a Mim, que estou acima dos modos e sou inesgotável. “Então, se Você é todas as coisas, por que as pessoas não conhecem Você, o Senhor Supremo?”. “Todas as jivas nascidas no universo (sarvam idam jagat ), ), estando confusas por estados como juízo e controle mental, no modo da bondade; no modo da paixão, júbilo; e, no modo da ignorância, lamentação – estados oriundos da natureza dos gunas –, não conhecem a Mim, que sou superior a elas uma vez que sou transcendental aos gunas e imutável (avyayam)”.
Verso 14 Esta Minha energia divina, que consiste nos três modos da natureza material, é difícil de ser suplantada. Mas aqueles que se renderam a Mim podem facilmente transpô-la. “Então, como elas serão liberadas dessa confusão dos três modos?”. A palavra daivi vem de deva, que significa “aqueles que passam o tempo gratificando os sentidos”. Isso se refere às jivas. Assim, daiva é o seu possessivo: aquilo que pertence às jivas para o prazer delas. Daivi, portanto, significa aquilo que confunde as jivas. Esta maya é a energia que confunde as jivas que desfrutam objetos sensoriais (daivi). Ela é feita dos gunas e, por implicação, é um grande nó de três cordas ( guna significa corda). “Esta maya, a energia externa, pertence a Mim, o Senhor Supremo. Ela é de difícil superação. É como um nó impossível de ser desfeito ou cortado”. Tocando o Seu peito, o Senhor diz: “Tenha fé em Minhas palavras. Qualquer um que se renda a Mim, a forma de Syamasundara, pode transpor maya”.
Verso 15 Os canalhas que são grosseiros e tolos, que são os mais baixos da humanidade, cujo conhecimento é roubado pela ilusão e que compartilham da natureza ateísta dos demônios, não se rendem a Mim. “Por que o sábio não se rende a Você?”. “Aqueles que são sábios se rendem a Mim, os que não se rendem são aqueles se apenas se acham sábios”. Dusta significa perverso ou mimado, e krtinah significa inteligente e habilidoso. Aqueles que têm inteligência perversa (duskrtinah) são de quatro tipos. Um é o mudhah, o tolo igual a um animal, a pessoa buscando desfrute através de seu trabalho. É dito que: nunam daivena nihata ye cacyuta-katha-sudham hitva srnvanty asad-gathah purisam iva vid-bhujah
“Porque eles são avessos ao néctar das atividades da Suprema Personalidade de Deus, eles são como porcos comedores de lavagem. Eles abandonam a ocupação de ouvir as atividades transcendentais do Senhor e se entregam à audição das abomináveis atividades de pessoas materialistas”. – SB 3.32.19
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mukundam ko vai na seveta vina naretarah
“Quem não serviria Mukunda, senão um não-humano?”. Outros são os naradhamas. Por algum tempo eles obtêm o status de seres humanos por aceitarem o processo de bhakti, mas, em seguida, desejam rejeitá-lo, e assim o fazem pensando que ele não é benéfico como uma prática para a obtenção de suas metas. Eles se tornam os mais baixos ( adhama) por abandonarem bhakti. Outros, embora tenham estudado as escrituras, tiveram o conhecimento roubado por maya. Eles pensam que Narayana, residente de Vaikuntha, é obtenível por bhakti constante, mas não Krsna ou Rama, que eles consideram humanos. É dito que avajananti mam mudha manusim tanum asritam (Bg. 9.11). “Esses tolos pensam que Eu tenho um corpo humano”. “Isso significa que, embora eles se rendam a Mim, eles não se rendem a Mim”. Outros se refugiam no humor dos asuras. “ Asuras como Jarasandha, vendo Minha forma, atacam-na com flechas. Eles chegam a tentar destruir Minha forma em Vaikuntha através de seus argumentos depravados, baseados em lógica defeituosa, como a insistência por alguma prova palpável. Eles nunca se rendem”.
Verso 16 Ó melhor entre os Bharatas, quatro classes de homens piedosos passam a Me prestar serviço devocional – o aflito, o que deseja riquezas, o inquisitivo e o que busca conhecer o Absoluto. “Então, quem O adora?”. “Quatro tipos Me adoram. Aqueles que seguem as regras do varnasrama (sukrtinah) adoram-Me. Dentre eles, alguns desejam alívio das aflições (artah), de calamidades como a enfermidade; alguns desejam conhecimento do atma ou desejam conhecimento das escrituras e de gramática ( jijnasuh); e alguns desejam desfrute nesta vida e na próxima com terras, elefantes, cavalos, mulheres, ouro e outras coisas do tipo ( artha-arthi). Esses Me adoram. Esses três são sakamagrhasthas. O quarto tipo, o jnani, o sannyasi de coração puro, é niskama”. Esses quatro tipos de pessoas, qualificados para bhakti pradhani-bhuta (o processo no qual bhakti é o componente principal), foram enumerados. Os três primeiros têm karma-misra-bhakti. O quarto tem jnana-misra-bhakti. Mais adiante, yoga-misra-bhakti será descrita em versos como o sarva-dvarani samyamya (Bg. 8.12). Mas kevala-bhakti, não misturada com karma ou jnana, foi descrita no começo deste capítulo com as palavras mayy asakta-manah partha (Bg. 7.1). Kevala-bhakti também será descrita no oitavo capítulo com ananya-cetah satatam (Bg. 8.14) e no nono com mahatmanas tu mam partha (Bg. 9.13) e com ananyas cintayanto mam (Bg. 9.22). O Senhor descreve esses dois tipos de bhakti, bhakti pradhani-bhuta e bhakti kevala , nos seis capítulos intermediários do Gita. guni-bhuta (processos nos quais bhakti é subsidiária), é visto nos karmis, jnanis Um terceiro tipo de bhakti, bhakti guni-bhuta e yogis, que predominantemente desejam resultados para suas ações ( bhukti e mukti). Por causa da falta de predominância de bhakti, e, ao invés disso, predomínio de karma, jnana ou yoga, a classificação de bhakti não lhes é atribuída. Como as coisas devem ser classificadas por predominância de qualidade, esses processos são classificados como karma, jnana e yoga, e os praticantes não são classificados como bhaktas, mas como karmis, jnanis e yogis. yoga, e o resultado de jnana e E o resultado de sakama-karma é svarga, o resultado de niskama-karma é jnana- yoga astanga- yoga yoga é nirvana-moksa, a liberação impessoal. Os resultados dos dois tipos de bhakti também devem ser apresentados. Dentre os tipos de bhakti pradhani-bhuta , os três primeiros são karma-misra-bhakti. Seus praticantes são sakama-bhaktas. O resultado dessa bhakti é a obtenção dos respectivos desejos (liberação do sofrimento, obtenção de conhecimento escritural, ganho de benefícios materiais). E, após isso, i sso, por causa da superioridade do objeto de adoração (o Senhor), esses devotos obtêm a liberação na forma de salokya (obtenção do mesmo planeta) com predominância de felicidade e poderes ( sukhaisvaryottara). E não há queda como no caso da exaustão do desfrute em svarga como resultado de karma. Isso será dito: “Aqueles que Me adoram, vêm a Mim” – Bg. 9.25 O resultado de jnana-misra-bhakti , que é superior aos outros, é santa-rati (bhava), como no caso de Sanaka e outros. Algumas vezes, por causa da excepcional misericórdia do Senhor e de Seu devoto, o resultado de jnana-misrabhakti é a suprema posição de prema, como no caso de Sukadeva. Se sakama-bhakti (os três primeiros tipos) se torna niskama, sem desejos, o resultado é jnana-misra-bhakti , e o resultado de tal jnana-misra-bhakti é, como colocado acima, santa-rati. Algumas vezes, aqueles que têm jnana ou karmamisra-bhakti alcançam prema em dasya ou em rasas superior por causa da influência da associação com devotos em vidas anteriores. Todavia, essa prema é predominada por um humor reverencial ( aisvarya). O resultado da bhakti pura, não misturada com jnana, karma ou yoga, chamada ananya-bhakti, akincana-bhakti ou uttama-bhakti, que tem muitos tipos, é que seu portador se torna um associado do Senhor em dasya, sakhya, vatsalya prema. Isto é elaboradamente explicado nos comentários ao Srimad-Bhagavatam. Como isso é um tema ou madhurya- prema relacionado ao tópico em abordagem, as distinções da bhakti perfeita foram brevemente discutidas.
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Verso 17
Destes, aquele que tem conhecimento pleno e está sempre ocupado em serviço devocional puro é o melhor. Pois Eu lhe sou muito querido, e ele Me é querido. “Dentre esses quatro tipos que são qualificados com bhakti, qual é o melhor?”. Dentre eles, o jnani é o melhor. Ele está absorto em Mim constantemente (nitya-yukta)”. Isso significa que, porque sua consciência foi colocada sob controle pela prática de jnana, ele tem completa concentração mental. Os outros três tipos não têm essa qualidade. “Mas o jnani O adora simplesmente por medo de que sua jnana será inefetiva sem bhakti?”. “Não, ele tem bhakti predominante (eka-bhaktih), não como os outros jnanis que têm predominância de jnana. Eu, na forma de Syamasundara, sou excessivamente ( atyartham) querido para tal jnani. Ele não consegue Me deixar nem no estágio de sadhana, nem no perfectivo. Eu também o tenho como muito querido, o que está de acordo com a lógica de que, na proporção da rendição a Mim, Eu reciproco (Bg. 4.11)”.
Verso 18 Todos esses devotos são sem dúvida almas magnânimas, mas aquele que cultiva conhecimento acerca de Mim, Eu o considero como sendo tal qual Eu mesmo. Ocupando-se em Me prestar serviço transcendental, ele com certeza Me alcançará, e esta é a meta mais elevada e perfeita. “Então, isso significa que os outros três, começando pelo aflito, não Lhe são queridos?”. “Não, todos eles são queridos a Mim. Aqueles que Me adoram aceitando as coisas que desejaram quando decido dar são certamente queridos a Mim; Eu generosamente os presenteio porque tenho afeição por Meus devotos. Mas o jnani é o Meu eu. Ele Me adora e não deseja nada de Mim, nem svarga ou moksa. Por isso, dependo dele: Ele é Minha alma. Esta é Minha opinião. Isto porque ele está firmemente fixo ( asthitah) tendo alcançado a meta mais elevada ( anuttamam gatim), Eu em Minha forma de Syamasundara somente ( eva), não Meu aspecto impessoal como brahma-nirvana ”. O jnani, que é predominado por bhakti e sem desejos materiais, é considerado pelo afetuoso Senhor como Seu próprio eu. Mas o kevala-bhakta, o devoto puro, é considerado pelo Senhor como sendo mais querido do que Seu próprio eu. na tatha me priyatama atma-yonir na sankarah na ca sankarsano na srir naivatma ca yatha bhavan
“Meu querido Uddhava, nem o Senhor Brahma, nem o Senhor Siva, nem Sankarsana ou a deusa da fortuna, nem mesmo Meu próprio eu são-Me tão queridos quanto você”. – SB 11.14.15 naham atmanam asase mad-bhaktaih sadhubhir vina
“Ó melhor dos brahmanas, sem pessoas santas para as quais Eu sou o único destino, Eu não desejo desfrutar de Minha bem-aventurança transcendental ou de Minhas opulências supremas”. – SB 9.4.64 iti viklavitam tasam srutva yogesvaresvarah prahasya sa-dayam gopir atmaramo 'py ariramat
“Sorrindo ao ouvir essas desalentadas palavras das gopis, o Senhor Krsna, o mestre supremo de todos os mestres da yoga mística, misericordiosamente desfrutou com elas, embora Ele seja auto-satisfeito”. – SB 10.29.42
Verso 19 Após muitos nascimentos e mortes, aquele que tem verdadeiro conhecimento rende-se a Mim, sabendo que sou a causa de todas as causas e de tudo o que existe. É muito raro encontrar semelhante grande alma. “Você diz que esse jnani alcança a meta suprema. Sendo um devoto com jnana em segundo plano, ele certamente O alcança. Mas após quanto tempo tal jnani se torna qualificado como um devoto propriamente dito?”. “Aquele que possui conhecimento, vendo Vasudeva em toda a parte; após muitos nascimentos, rende-se a Mim. Tal pessoa santa Me alcança através da oportunidade de associação com os devotos, a qual é arranjada por Mim. Esse jnani que é um devoto tem uma mente muito estável ( mahatma), e é muito raro. Como Eu disse: manusyanam sahasresu ; de milhares, talvez uma pessoa Me conheça de verdade. O que dizer então da raridade de um kevala ou ekanta-bhakta? Tal pessoa é muitíssimo rara”.
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Verso 20
Aqueles cuja inteligência foi roubada pelos desejos materiais rendem-se aos semideuses e prestam adoração através de determinadas regras e regulações que se coadunam com suas próprias naturezas. “Entende-se pelo que Você disse que os sakama-bhaktas, adorando-O, o Senhor, que os corresponde, tornam-se de alguma maneira bem-sucedidos. Mas o que acontece com aqueles que têm desejos e adoram outros devatas com o desejo de removerem seus sofrimentos e ganharem prazer material?”. Quatro versos respondem a essa pergunta. “Essas pessoas, não tendo inteligência ( hrta-jnana), pensam que os devatas, como Surya, irão imediatamente conceder alívios das aflições, como as enfermidades, enquanto que Visnu não o fará. Eles, então, rendem-se aos devatas. Eles estão sob o controle de suas próprias naturezas ( prakrtya niyata svaya ), que são perversas e contrárias à rendição a Mim”.
Verso 21 Eu estou no coração de todos como a Superalma. Logo que alguém deseja adorar algum semideus, Eu fortifico sua fé para que ele possa se devotar a essa deidade específica. “Você não deve dizer que os devatas, satisfeitos por serem adorados, produzirão fé na adoração do Senhor Supremo a fim de beneficiarem seus adoradores. Como esses devatas não podem sequer produzir fé para que as pessoas adorem os devatas, como, então, eles poderiam produzir fé para que as pessoas Me adorem? Quando tais pessoas desejam adorar formas (tanum) como Surya, que são de fato Minhas formas uma vez que são Minhas vibhutis, Eu, como Paramatma, concedo a fé naquelas formas de devatas. Os devatas não concedem fé”.
Verso 22 Munido dessa fé, ele se empenha em adorar um semideus específico e realiza seus desejos. Mas, na verdade, esses benefícios são concedidos apenas por Mim. “Essa pessoa, dotada com tal fé, executa (ihate) adoração ao devata. Ela obtém os resultados daquela adoração (kamam) ao seu devata em particular. Mas o devata não pode satisfazer seus desejos. Sou Eu quem satisfaz os desejos”.
Verso 23 Homens de pouca inteligência adoram os semideuses, e seus frutos são limitados e temporários. Aqueles que adoram os semideuses vão para os planetas dos semideuses, mas Meus devotos acabam alcançando Meu planeta supremo. “Mas Você concede resultados temporários aos devotos dos devatas, enquanto concede resultados permanentes para os Seus devotos. É injusto que Você, como o Senhor Supremo, faça isto”. yanti) os devatas. Aqueles que Me adoram “Não, isso não é injusto. Aqueles que adoram os devatas alcançam ( yanti alcançam a Mim”. O significado é este. É deveras lógico uma pessoas alcançar o que adora. Assim, se os devatas são temporários, como é possível que seus devotos sejam permanentes, e como poderiam os resultados serem permanentes? Portanto, diz-se aqui que os devotos de tais devatas não são inteligentes (alpa-medhasam). O Senhor Supremo, em contraponto, é eterno, portanto Seus devotos também são eternos. Tanto a bhakti que executam quanto o resultado dessa bhakti são todos eternos.
Verso 24 Homens sem inteligência, que não Me conhecem perfeitamente, pensam que Eu, a Suprema Personalidade de Deus, Krsna, era impessoal e depois assumi esta personalidade. Devido a seu conhecimento escasso, eles não conhecem Minha natureza superior, que é imperecível e suprema. “Para não falar dos adoradores de devatas que, sendo tolos, não Me reconhecem; mesmo aqueles que estudaram todas as escrituras, como os Vedas, não sabem a verdade sobre Mim”. O Senhor Brahma disse a Krsna: athapi te deva padambuja-dvaya prasada-lesanugrhita eva hi janati tattvaih bhagavan mahimno na canya eko 'pi ciram vicinvan
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“Meu Senhor, se alguém for favorecido ao menos pela menor poeira de misericórdia de Seus pés de lótus, tal alguém pode entender a grandeza de Sua personalidade. Mas aqueles que buscam entender a Suprema Personalidade de Deus através da especulação não serão capazes de conhecê-lO mesmo que continuem estudando os Vedas por muitos anos”. – SB 10.14.29 “Assim, excetuando Meus devotos, todos estão tolamente tecendo considerações sobre Mim”. Com essa intenção, Ele fala este verso. “O ininteligente pensa que o Brahman sem forma, além do mundo material ( avyaktim), nasce como a Minha pessoa na casa de Vasudeva ( vyaktim) com uma forma ilusória. O que é visível é apenas uma forma ilusória, segundo eles. Isso porque eles desconhecem Meu estado transcendental Eles não sabem que Minha forma, Meu nascimento, param bhavam ). Que tipo de estado é esse? É o eterno Minhas atividades e Meus passatempos estão além de maya ( param (avyayam) e o mais excelente (anuttamam)”. De acordo com o dicionário Medini, bhava significa existência, natureza, intenção, empenho, o eu, nascimento, ação, passatempo e significado de uma palavra. Srila Rupa Gosvami, em seu Laghu-Bhagavatamrta, descreve essa natureza eterna do Senhor: “A forma, as qualidades, o nascimento, ações e passatempos do Senhor são sem começo e sem fim”. Sridhara Svami diz: “ Bhavam significa forma, e avyayam significa imutável. Trata-se de uma forma eterna et erna de sattva puro (visuddha-sattva)”.
Verso 25 Eu nunca Me manifesto aos tolos e aos menos inteligentes. Para eles, estou coberto por Minha potência interna, e, portanto, eles não sabem que Eu sou não-nascido e infalível. “Se Você tem forma, qualidades e passatempos eternos, por que, então, não vemos essas coisas todo o tempo?”. “Eu não estou manifesto a todas as pessoas em todos os tempos e lugares. Eu estou sempre presente com Meus associados, qualidades e passatempos em algum universo em algum momento, mas, assim como Sol não está visível para todas as pessoas todo o tempo, mas apenas às vezes, sendo encoberto pelo monte Sumeru, Eu também não sou visível às vezes, sendo encoberto por yoga-maya”. “Então Você diz que, embora o Sol se situe dentro do zodíaco e esteja sempre presente ali para todas as entidades vivas que vivem nele, ele não é visível a todas as pessoas em todas as outras diferentes localizações do universo ao mesmo tempo. Você diz ser similar a isso. Mas se o Sol é sempre visível em sua própria morada, por que Krsna não é sempre visível para as pessoas residindo em Suas moradas, como Mathura e Dvaraka?”. “Se Sumeru estivesse presente no meio do refulgente astro, então o Sol, sendo encoberto, não seria visível. Da mesma forma, dentro das Minhas refulgentes moradas, yoga-maya está sempre presente, como Sumero. Krsna, como o Sol, encoberto por Sumero na forma de yoga-maya, não é visível constantemente, mas apenas em alguns momentos. Tudo isso de forma infalível”. “E as pessoas tolas não Me entendem de maneira alguma em Minha forma como Syamasundara ( mam), sendo não-nascido a despeito do aparecimento como o filho de Vasudeva ( ajam), e sendo livre de nascimento material (avyayam). Então, finalmente, rejeitando a Mim, o oceano de qualidades auspiciosas, eles adoram Meu aspecto impessoal, o Brahman”.
Verso 26 Ó Arjuna, como a Suprema Personalidade de Deus, sei tudo o que aconteceu no passado, tudo o que está acontecendo no presente e tudo o que ainda vai acontecer. Conheço também todas as entidades vivas; mas, a Mim, M im, ninguém conhece. “Mas Meu conhecimento não é encoberto nem pela maya externa nem pela yoga-maya interna uma vez que não posso ser confundido por aquilo a que dou refúgio. Eu sei tudo. Mas ninguém, quer material, quer espiritual – mesmo Shiva e outras personalidades oniscientes – conhece-Me completamente, pois o conhecimento acerca de Mim ou é coberto por maya ou por yoga-maya, a depender da qualificação da pessoa”.
Verso 27 Ó descendente de Bharata, ó vencedor do inimigo, todas as entidades vivas nascem em ilusão, confundidas pelas dualidades surgidas do desejo e do ódio. “Quando as jivas ficam confusas por Sua maya?”. “No começo da criação do universo ( sarge), todas as jivas (sarva-bhutani) ficam confusas. Como? Desejando objetos favoráveis aos sentidos e odiando coisas que obstruem o prazer dos sentidos; tendo por base ações anteriores, essa mentalidade traz a ilusão da dualidade – respeito e desrespeito,
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calor e frio, felicidade e aflição, homem e mulher. Pensa-se: ‘Eu sou feliz sendo respeitado’. ‘Eu sou infeliz sendo desrespeitado’. ‘Esta é minha esposa’. ‘Este é meu esposo’. Dessa dualidade, nasce a ignorância ( moha). Ela, por sua vez, dá origem à completa confusão ( sammoham), o extremo apego à esposa e aos filhos, e aqueles que são extremamente apegados não são qualificados para ter devoção por Mim. Eu explicarei isso a Uddhava com o seguinte verso”. yadrcchaya mat-kathadau jata-sraddhas tu yah puman puman na nirvinno nati-sakto bhakti-yogo 'sya siddhi-dah
“Se, de uma maneira ou de outra, por boa fortuna, uma pessoa desenvolve fé em ouvir e cantar Minhas glórias, tal pessoas, não sendo nem muito avessa à vida material nem muito apegada a ela, deve alcançar a perfeição através do caminho da devoção amorosa por Mim” – SB 11.20.8
Verso 28 Aqueles que agiram piedosamente tanto nesta vida quanto em vidas passadas e cujas ações pecaminosas se erradicaram por completo livram-se da ilusão manifesta sob a forma de dualidades e ocupam-se em servir-Me com determinação. “Então, quem é qualificado, quem tem a adhikara, para bhakti?”, Este verso responde. “Aqueles que têm punyakarma, que destruíram os pecados parcialmente, desenvolvem predominância de sattva-guna e diminuem o domínio de tamo-guna. O resultado disso é uma diminuição da ilusão. Consequentemente, eles se tornam menos apegados e têm uma chance de se associarem com Meus devotos. Então eles ficam completamente livres de pecado pela prática da adoração. Ficando completamente livres da ilusão (dvandva-moha-nirmukta ), eles se tornam constantes (drdha-vratah ) na Minha adoração”. Ninguém deve, portanto, considerar que punya-karma é a causa de alguma variante de bhakti, pois o Senhor diz: yam na yogena sankhyena dana-vrata-tapo-'dhvaraih vyakhya-svadhyaya-sannyasaih prapnuyad yatnavan api
“Muito embora uma pessoa se ocupe com grande determinação no sistema místico de yoga, em especulação filosófica, caridade, votos, penitências, sacrifícios ritualísticos, no ensino de mantras Védicos e outros mantras, no estudo pessoal dos Vedas ou entre na ordem de vida renunciada; ela, ainda assim, não pode Me alcançar”. – SB 11.12.9 Em muitos lugares é afirmado que punya-karmas são dependentes de kevala-bhakti, e não sua causa.
Verso 29 Os homens inteligentes que buscam libertar-se da velhice e da morte refugiam-se em Mim prestando serviço devocional. Eles de fato são Brahman porque conhecem inteiramente tudo sobre as atividades transcendentais. Foi dito que os três tipos de sakama-bhaktas que adoram o Senhor se tornam bem-sucedidos, mas os adoradores dos devatas (também sakamas) caem. Aqueles que são desqualificados para a adoração ao Senhor também foram descritos. Agora o Senhor fala sobre um quarto tipo de sakama-bhakta. “Aqueles yogis que se esforçam por destruir a velhice e a morte ( jara-marana-moksaya yatanti ), que desejam a liberação e consequentemente Me adoram, sabem tudo sobre o famoso Brahman. Eles sabem sobre a jiva (adhyatmam), presente como a controladora ( adhi) do corpo (atmanam), e sobre os repetidos corpos da jiva gerados por todos os tipos de ações (karma akhilam), graças ao poder da devoção por Mim”.
Verso 30 Aqueles que estão em plena consciência de Mim, que sabem que Eu, o Senhor Supremo, sou o princípio governante da manifestação material, dos semideuses e de todos os métodos de sacrifício, podem, mesmo ao chegar a hora da morte, compreender e conhecer a Mim, a Suprema Personalidade de Deus. “Aqueles que desenvolvem tal conhecimento acerca de Mim pela influência da devoção a Mim mantêm esse conhecimento mesmo no momento da morte. Não é como a inteligência de outros, estabelecida por karma, que varia de acordo com o corpo futuro”. Os termos adhibhuta, adhidaiva e adhiyajna serão explicados no próximo capítulo. Apenas os devotos, enumerados como de seis tipos, que sabem a verdade sobre o Senhor, transpassam maya. Isso foi apresentado como o significado do capítulo.
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Capítulo Oitavo
TARAKA BRAHMA-YOGA Verso 1 Arjuna perguntou: Ó meu Senhor, ó Pessoa Suprema, o que é Brahman? O que é o eu? O que são atividades fruitivas? O que é esta manifestação material? E o que são os semideuses? Por favor, explica-me isto. Quem é o Senhor do sacrifício, e como Ele vive no corpo, ó Madhusudana? E como é que aqueles ocupados em serviço devocional podem conhecer-Te ao chegar a hora da morte? No Oitavo Capítulo, o Senhor fala sobre bhakti pura e sobre yoga-misra-bhakti em resposta às perguntas de Arjuna. Ele também descreve os dois destinos dos yogis. Ao final do capítulo anterior, o Senhor mencionou conhecimento acerca de sete itens – Brahman, adhyatma, karma, adhibhuta, adhidaiva, adhiyajna e Ele mesmo, Krsna. Desejando saber sobre esses tópicos, Arjuna formula questões sobre eles nos dois primeiros versos deste capítulo. “Quem é o Senhor do yajna no corpo (atra dehe) e como Ele deveria ser conhecido no corpo no momento da morte?”. A sentença é completada na linha seguinte.
Verso 3 A Suprema Personalidade de Deus disse: A entidade viva transcendental e indestrutível chama-se Brahman, e sua natureza eterna chama-se adhyatma, o eu. A ação que desencadeia o desenvolvimento dos corpos materiais das entidades vivas chama-se karma, ou atividades fruitivas. O Senhor responde. “O que é supremo e não é destruído, o que é eterno, chama-se Brahman”. O sruti diz etad vai tad aksaram gargi brahmana abhivadanti : “os conhecedores do Brahman chamam tal Brahman de indestrutível (aksaram)”. – Brhad-aranyaka Upanisad 3.8.8 Svabhava significa “aquele que produz corpos materiais (svam bhavayati ) por se identificar com o corpo”. Em outras palavras, significa a jiva, uma vez que ela cria o corpo. A jiva é chamada adhyatma. Ou o significado de svabhava pode ser “aquilo que faz com que alguém alcance Paramatma”, svam significando Senhor neste caso. Nesse último caso, adhyatma se referiria à jiva purificada. A palavra karma se refere à transmigração ( visarga) da jiva, a criação de corpos (bhava) através dos elementos materiais (bhuta). Isso se chama karma porque é produzido a partir das ações.
Verso 4 Ó melhor dos seres corporificados, a natureza física, que está constantemente mudando, chama-se adhibhuta (a manifestação material). A forma universal do Senhor, que inclui todos os semideuses, tais como o Sol e a Lua, chama-se adhidaiva. E Eu, o Senhor Supremo, representado como a Superalma no coração de cada ser corporificado, sou chamado adhiyajna (o Senhor do sacrifício). A palavra adhibhuta se refere a objetos temporários (ksara-bhavah) como utensílios e tecidos. A palavra adhidaiva se refere à pessoa representando a totalidade do universo, entendida pela acepção da palavra adhidaiva como “aquele dentro do qual todos os devatas, como Surya, existem sujeitados a ele”. “No corpo ( atra), Eu, o Paramatma, sou o adhiyajna, a pessoa que induz outros a executarem atividades, como yajna”. “Mas por que a palavra eva (para ênfase) deveria ser usada com aham uma vez que Paramatma, Antaryami, é apenas Minha expansão ou amsa? Porque esse Antaryami, embora amsa, não é diferente de Mim, ao passo que os jiva), são diferentes. Ó melhor pessoa ( vara) com um corpo ( dehe), dentre aqueles demais itens, como adhyatma ( jiva possuidores de corpos ( dehabhrtam), você é o melhor de todos, porque você tem uma relação direta de amizade coMigo”.
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Verso 5 E todo aquele que no fim de sua vida abandone seu corpo lembrando-se unicamente de Mim, alcança Minha natureza no mesmo instante. Quanto a isto não há dúvidas. Este verso responde à questão: “Como se deve conhecê-lO no instante da morte?”. “ Smaran significa lembrar-se de Mim, conhecer-Me verdadeiramente, não como se conhece utensílios domésticos e tecidos”. O método de se conhecer e de se lembrar do Senhor é agora explicado em quatorze versos.
Verso 6 Qualquer que seja o estado de existência de que alguém se lembre ao deixar o corpo, ó filho de Kunti, esse mesmo estado ele alcançará impreterivelmente. “Da mesma forma que através da lembrança de Mim Eu sou alcançado, como afirmei no verso anterior, alcança-se outra coisa lembrando-se de outra coisa, absorvendo-se completamente naquilo ou sendo similar ao objeto (bhavitah) por pensar (bhava) constantemente nele”.
Verso 7 Portanto, Arjuna, deves sempre pensar em Mim sob a forma de Krsna e ao mesmo tempo cumprir teu dever prescrito de lutar. Com tuas atividades dedicadas a Mim e tua mente e inteligência fixas em Mim, não há dúvida de que Me alcançarás. “A mente toma a decisão de pensar em Mim. A inteligência cria a determinação para se fazê-lo”.
Verso 8 Aquele que, meditando em Mim como a Suprema Personalidade de Deus, sempre ocupa sua mente em lembrar-se de Mim e não se desvia do caminho, ele, ó Partha, com certeza Me alcança. “Portanto, aquela pessoa que pratica a lembrança de Mim irá naturalmente se lembrar de Mim no momento da morte e então Me alcançará. Assim, lembrar-se de Mim através da mente é a yoga mais elevada”. Isso é expresso neste verso. “ Abhyasa significa lembrar-se de Mim repetidamente. A mente deve ser ocupada neste método ( yoga) de repetidamente se lembrar de Mim sem se desviar para a lembrança de outros objetos. Por esta prática, conquista-se a natureza da mente”.
Versos 9 e 10 Deve-se meditar na Pessoa Suprema como aquele que sabe tudo, como aquele que é o mais velho, que é o controlador, que é menor do que o menor, que é o mantenedor de tudo, que está além de toda a concepção material, que é inconcebível e que é sempre uma pessoa. Ele é luminoso como o Sol e é transcendental, situado além desta natureza material. Aquele que, ao chegar a hora da morte, fixar seu ar vital entre as sobrancelhas e, pela força da yoga, com mente indesviável, ocupar-se em lembrar o Senhor Supremo com devoção plena, com certeza alcançará a Suprema Personalidade de Deus. Sem a prática de yoga, é difícil retirar a mente dos objetos sensoriais. Sem retirar a mente dos objetos sensoriais, é difícil pensar constantemente no Senhor. Portanto, a pessoa pode executar bhakti juntamente com algum yoga-misra-bhakti) em cinco tipo de prática de yoga. O Senhor fala de tal bhakti misturada com astanga-yoga ( yoga-misra-bhakti versos. O Senhor é onisciente ( kavi). Mas, embora uma pessoa possa ser onisciente, como Sanaka e outros, ela não é eterna. O Senhor, portanto, é descrito como purana, sem começo. Embora Ele seja tanto onisciente quanto sem começo, isso não indica que Ele se torna o instrutor de bhakti como Paramatma. Ele é, portanto, chamado em seguida de anusasitram, o professor, misericordiosamente dando instruções acerca da devoção a Ele mesmo quando aparece como Krsna ou Rama. Embora Ele seja misericordioso, Ele continua sendo um objeto de difícil conhecimento real: comparado com o menor, Ele é ainda menor. “Ele é, então, como a jiva, do tamanho de um átomo?”. Não, Ele também é o maior, expandindo-Se por toda a parte, uma vez que tudo está contido dentro dEle ( sarvasya dhataram ). Então se diz que Ele é de forma inconcebível ( acintya-rupam). Embora Ele apareça em tamanho mediano, como um ser humano, Sua manifestação é independente de todas as outras. Desta maneira, Ele tem uma forma ( varna) que é
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como aquela do Sol ( aditya), revelando tanto a Si como os outros. Assim, embora Ele seja aquele que possui a mayasakti ( prakrti prakrti), Sua forma é transcendental à prakrti, ou maya (tamasah parastat ). ). prayana-kale), com a mente resoluta, ocupada em bhakti com a constante lembrança “No momento da morte ( prayana-kale de Mim como descrito acima, ele Me alcança”. “Como ele torna sua mente resoluta?”. “Ele o faz através da força de yoga-balena)”. O processo de yoga é então descrito. “Fixando seu prana no ajna-cakra (bhruvor sua prática de yoga ( yoga-balena madhye), ele Me alcança”.
Verso 11 As pessoas que são versadas nos Vedas, que pronunciam o omkara e que são grandes sábios na ordem renunciada entram no Brahman. Desejando esta perfeição, deve-se praticar o celibato. Passarei então a explicar-te sucintamente este processo pelo qual alguém pode obter a salvação. “Eu não posso entender essa yoga apenas por sua menção de que o yogi deve concentrar o prana no ajnacakra. Qual é a maneira de se praticar essa yoga? O que deve ser cantado? Em que se deve meditar? O que será obtido por tal prática de yoga? Diga-me sucintamente”. Krsna fala três versos em resposta a Arjuna. “Por favor, escute enquanto descrevo o que será verdadeiramente obtido ( padam) e também o método para a obtenção (sangrahena). O Brahman que os conhecedores do Veda chamam om (aksara) é alcançado pelos sannyasis”.
Versos 12 e 13 A yoga consiste no desapego de todas as ocupações sensuais. Para estabelecer-se em yoga deve-se fechar todas as portas dos sentidos e fixar a mente no coração e o ar vital no topo da cabeça. Após situar-se nesta prática de yoga e vibrar a sílaba Om, a suprema combinação de letras, se o yogi pensar na Suprema Personalidade de Deus e abandonar o corpo, com certeza alcançará os planetas espirituais. Explicando o que foi dito previamente, o Senhor descreve o método de yoga. Retirando todos os sentidos (sarva-dvarani) dos objetos externos e confinando a mente no coração, não desejando outros objetos, fixando o prana yoga-dharanam); pronunciando uma única entre as sobrancelhas (murdhni) e tomando completo refúgio em Mim ( yoga-dharanam sílaba, om, a forma do Brahman, e continuamente meditando em Mim representado por esse om, ele obtém salokyam paramam gatim) ao abandonar o corpo. ( paramam
Verso 14 Para alguém cuja lembrança é sempre fixa em Mim, Eu sou fácil de obter, ó filho de Prtha, por causa de sua constante ocupação em serviço devocional. bhakti pradhani-b pradhani-bhuta huta em que bhakti é misturada com karma, mencionada em arto jijnasur Tendo falado da bhakti artharthi (Bg. 7.16), e daquela em que é misturada com o desejo de liberação em jara marana moksaya (Bg. 7.29), e tendo falado também de bhakti misturada com yoga neste capítulo (versos de 9 a 13), agora o Senhor fala de kevalabhakti, a melhor bhakti, destituída de qualquer nuança material. A mente do devoto está livre da execução de outros processos de karma ou jnana-yoga, livre da adoração a pessoas ou devatas e livre de outras metas, como a obtenção de svarga ou moksa. Então ele é chamado de ananya-cetah, aquele cuja mente não pensa em nada senão o Senhor. “Ele se lembra de Mim o dia todo (nityasah), constantemente (satatam), não dependendo de tempo, lugar, pessoas ou pureza apropriados. Eu sou facilmente obtenível ( sulabhah) por essa pessoa, por essa bhakti. Ela não é misturada com as dificuldades encontradas na prática de yoga ou jnana ou outros processos. O indivíduo constantemente deseja se associar coMigo (nitya-yuktasya)”. Essa forma gramatical expressa desejo no passado e também no futuro. Yoginah aqui se refere a uma pessoa praticando bhakti-yoga, ou pode significar uma pessoa que tem uma relação ( yoga) com o Senhor, em dasya, sakhya ou outros relacionamentos.
Verso 15 Após Me alcançarem, as grandes almas, que são yogis em devoção, jamais retornam a este mundo temporário, que é cheio de misérias, porque obtiveram a perfeição máxima. “O que acontece com as pessoas que O alcança?”. “Alcançando-Me, elas não voltam a aceitar um nascimento cheio de sofrimento (duhkhalayam) e temporário, mas obtêm um nascimento similar ao Meu, que é cheio de bemaventurança por ser eterno”. De acordo com o Amara Kosa, sasvata significa certo, eterno, contínuo, de duração eterna. “Quando faço Meu nascimento – espiritual, eterno e pleno de bem aventurança – na casa de Vasudeva, Meus
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devotos, sendo Meus associados eternos, também nascem assim, e em nenhuma outra condição. Outros devotos obtêm perfeição, mas aqueles que pensam em Mim exclusivamente ( ananya-cetah) obtêm a mais alta perfeição ( paramam samsiddhim) – a posição de um assistente em Meus passatempos”. Isso indica a visível superioridade do kevalabhakta em relação aos outros tipos de devotos mencionados.
Verso 16 Partindo do planeta mais elevado do mundo material e indo até o mais baixo, todos são lugares de miséria, onde ocorrem repetidos nascimentos e mortes. Mas quem alcança Minha morada, ó filho de Kunti, jamais volta a nascer. “Todas as jivas renascem, mesmo que tenham grande quantidade de punya. Mas Meus devotos não aceitam tais renascimentos. Mesmo os habitantes do planeta de Brahma ( a-brahma-bhuvanam lokah ) renascem”.
Verso 17 Pelo cálculo humano, quando se soma um total de mil eras, obtém-se a duração de um dia de Brahma. E esta é também a duração de sua noite. É dito no Srimad-Bhagavatam: amrtam ksemam abhayarh tri-murdhno 'dhayi murdhasu
“Imortalidade, destemor e ausência da ansiedade da velhice e da doença existem no reino de Deus, que está além dos três sistemas planetários superiores e além das coberturas materiais” – SB 2.6.19 “Mas alguns dizem, todavia, que também há destemor em Brahma-loka, e que, portanto, não é possível para o sannyasi morrer ali se seu desejo for ficar ali”. “Não, se até mesmo Brahma, o senhor de tal planeta, morrerá, o que se pode dizer dos outros? Aqueles que são versados nas escrituras, que sabem que o dia de Brahma dura milhares de yugas, também sabem que sua noite dura milhares de yugas, pois eles são conhecedores do dia e da noite. Assim quinzenas e meses se passam. Cem de tais anos perfazem a vida Brahma. Então, depois desse tempo, Brahma morre. Este não é o caso se o Brahma for um Vaisnava. Tal Brahma alcança a liberação”.
Verso 18 No início do dia de Brahma, todos os seres vivos se manifestam a partir do estado imanifesto, e depois, quando cai a noite, voltam a fundir-se no imanifesto. Aqueles que são inferiores, residindo dentro dos três sistemas planetários bhur , bhuvah e svah, perecem dia após dia. Madhusudana Sarasvati diz: a palavra avyakta se refere a Brahma em seu estado adormecido (não à dissolução total), uma vez que, durante a criação e a dissolução diárias do universo, os elementos permanecem em seu interior. Então, do estado de dormência ( avyaktat ), ), através de Brahma, os locais de desfrute na forma de corpos e objetos de desfrute se manifestam (vyaktaya), ou se tornam próprios para uso. Com a chegada da noite, quando Brahma dorme, tudo desaparece dentro dele.
Verso 19 Repetidas vezes, quando chega o dia de Brahma, todos os seres vivos passam a existir; e, com a chegada de sua noite, eles são desamparadamente aniquilados. Assim, todas as entidades vivas móveis e inertes ( bhuta-gramah ) aparecem e desaparecem repetidamente.
Verso 20 Entretanto, há outra natureza imanifesta, que é eterna e transcendental a esta matéria ora manifesta, ora imanifesta. Ela é suprema e jamais é aniquilada. Quando todo este mundo é aniquilado, aquela região permanece inalterada. Superior a esse estado de dissolução do Brahma Hiranyagarbha que foi descrito ( parah tasmat
avyaktat ), ),
há
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outro estado, a causa do Hiranyagarbha, causa essa que é imanifesta ( avykta) e sem começo ( sanatanah ).
Verso 21 Aquilo que os vedantistas descrevem como imanifesto e infalível, aquilo que é conhecido como o destino supremo, aquele lugar do qual jamais se retorna após alcançá-lo – essa é Minha morada suprema. A palavra avyakta do verso anterior é explicada. Aquilo que é avyakta é sem destruição: Narayana. Como declara o sruti, eko narayana asin na brahma na ca sankarah : “Unicamente Narayana existia, e não Brahma ou Siva”. “Alcançando Minha forma eterna ( mama paramam dhama ), eles não retornam”. A palavra aksara também pode ser interpretada como o Brahman impessoal, com dhama paramam mama significando “minha forma de luz” nesse caso, uma vez que dhama também significa “luz”.
Verso 22 A Suprema Personalidade de Deus, que é maior do que tudo, é alcançado pela devoção imaculada. Embora presente em Sua morada, Ele é onipenetrante, e tudo está situado dentro dEle. “Essa Pessoa Suprema, que é simplesmente Minha amsa (Paramatma), não pode ser conhecida por outros meios, que têm em sua constituição karma ou jnana-yoga. Como Eu disse anteriormente, ananya- cetah satatam ”.
Verso 23 Ó melhor dos Bharatas, passarei agora a explicar-te os diferentes momentos em que, partindo deste mundo, o yogi retorna ou não. “Você diz no verso 21 que todo aquele que O alcança não mais volta, mas Você não mencionou sobre nenhum caminho em particular que o devoto segue. Como o devoto é transcendental aos gunas, seu caminho também tem de ser transcendental aos gunas, não um caminho sáttvico, como ser aprovado no planeta Sol. Mas, por ora, estou perguntando sobre o caminho tomado pelos yogis, jnanis e karmis”. “O momento em que o prana deixa o corpo é referente ao caminho também. Eu falarei sobre o caminho ( kalam) de retorno ou não-retorno que eles percorrem ao morrerem”.
Verso 24 Aqueles que conhecem o Brahman Supremo alcançam este Supremo, partindo do mundo durante a influência do deus do fogo, na luz, num momento auspicioso do dia, durante a quinzena da Lua crescente ou durante os seis meses em que o Sol viaja pelo Norte. Ele fala neste verso sobre o caminho de não-retorno. As palavras agnir jyotir (fogo e luz) indicam a deidade que preside o Sol, isso segundo a afirmação sruti de te ‘rcisam abhisambhavanti : “eles vão para o planeta Sol”. Aha indica a deidade do dia, e sukla indica a deidade da quinzena da Lua crescente. Os seis meses de uttarayana significa a deidade que preside o uttarayana. Os jnanis (brahma-vidah) que seguem o caminho desses devatas alcançam o Brahman. Como o sruti diz: te 'rcisam abhi sambhavanti arciso 'rahna apuryamana-paksam apuryamana-paksad yan san-masanudannaditya eti malebhyo deva-lokam
“Eles alcançam a deidade do fogo. De lá, eles vão para a deidade do dia; de lá, eles vão para a deidade da quinzena da Lua crescente; e, de lá, para a deidade de uttarayana”. – Candogya Upanisad 5.10.2
Verso 25 O místico que se vai deste mundo durante a fumaça, à noite, na quinzena da Lua minguante ou nos seis meses que o Sol passa para o Sul, alcança o planeta Lua, mas acaba voltando. Este verso descreve o caminho de retorno obtido pelo karmi. Fumaça indica a deidade da fumaça, e, similarmente, noite indica a deidade da noite. Novamente, há a deidade da quinzena negra e a deidade do daksinayana. O karma-yogi que segue o caminho representado por esses devatas alcança svarga-loka, o que é
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indicado pelas palavras candramasam jyotih . Tendo desfrutado ali, ele retorna.
Verso 26 Segundo a opinião védica, há duas circunstâncias em que se pode partir deste mundo – na luz e na escuridão. Quando parte na luz, a pessoa não volta; mas, quando parte na escuridão, ela retorna. O Senhor resume os dois caminhos mencionados. Eles são considerados sem começo ( sasvate) uma vez que a transmigração das jivas é sem começo. Pelo caminho da luz, obtém-se o não-retorno; e, pelo caminho da escuridão, obtém-se repetidos nascimentos na Terra.
Verso 27 Embora conheçam estes caminhos, ó Arjuna, os devotos nunca se confundem. Portanto, fixa-te sempre na devoção. Conhecimento desses dois caminhos produz senso de discriminação. Este verso glorifica tal discriminação. yoga “Portanto, em todos os momentos, você deve ter a mente concentrada sendo um devoto, um bhakti-yogi ( yoga yuktah)”.
Verso 28 Aquele que aceita o caminho do serviço devocional não se priva dos resultados obtidos por alguém que estuda os Vedas, executa sacrifícios austeros, dá caridade ou dedica-se a atividades filosóficas e fruitivas. Pelo simples fato de executar serviço devocional, ele consegue tudo isto, e, por fim, alcança a suprema morada eterna. Este verso relata os resultados de se saber o que foi explicado neste capítulo. “Superando ( atyeti) todos os resultados de todos os outros processos, o yogi, sendo um devoto, alcança a melhor posição, que é não-material param) e eterna ( adyam)”. ( param A superioridade dos devotos foi previamente estabelecida, mas melhor esclarecida neste capítulo, o qual também apontou a posição suprema do ananya-bhakta entre todos os devotos .
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Capítulo N o n o
RAJA-GUHYA-YOGA Verso 1 A Suprema Personalidade de Deus disse: Meu querido Arjuna, porque você nunca Me inveja, irei lhe transmitir este ensinamento e compreensão muito confidenciais. Passando a conhecê-los, você ficará livre das misérias encontradas na existência material. O aspecto majestoso do Senhor como o objeto de adoração, apropriado para Seus servos, e a excelência do devoto puro são expostos claramente no nono capítulo. Bhakti é superior a karma, jnana, yoga e a outros processos. Como descrito nos capítulos sétimo e oitavo, tal bhakti ou é pradhani-bhuta ou kevala. E foi claramente exposto que, entre os tipos de yoga, a posição de kevala-bhakti que é extremamente poderosa e independe de pureza de coração, ou de outros elementos como jnana - é suprema. O nono capítulo começa falando sobre os poderes do Senhor, requeridos como conhecimento na execução da bhakti pura. O Gita é a essência de todas as escrituras, e a essência do Gita são os seis capítulos intermediários. O meio desses seis capítulos, os capítulos nove e dez, são a mais concentrada essência dos seis capítulos. Em três versos, o Senhor glorifica o que Ele irá descrever no capítulo. “O conhecimento que concede a liberação jnana), descrito nos capítulos segundo, terceiro e outros, é guhya, ou secreto. O conhecimento que Eu revelo nos ( jnana capítulos sétimo e oitavo, que são próprios para se obter a Mim, conhecimento que é factualmente conhecimento de Bhagavan, conhecimento de bhakti, é guhyatara, mais secreto. Neste capítulo, falarei a você sobre kevala, ou suddhabhakti, que é guhyatama, o mais secreto dos segredos”. Pela palavra jnana, ou conhecimento, deve-se entender bhakti, não a já conhecida jnana mencionada nos seis primeiros capítulos. No segundo verso, pelo uso do adjetivo avyayam, ou indestrutível, deve-se entender que esse conhecimento se situa para além dos gunas. Trata-se de bhakti, que é transcendental aos gunas, e não da jnana mencionada anteriormente, que se situa no modo da bondade. No verso três, a palavra dharma também significa unicamente bhakti. “Eu lhe ensinarei essa mais secreta bhakti, pois você não é hostil ou egoísta (anasuyave)”. Isso indica jnana), haver uma regra de que bhakti só é ensinada para quem não é egoísta ou inimigo. “Eu lhe ensinarei essa bhakti ( jnana que se estende até a direta realização de Minha pessoa ( vijnana-sahitam ), essa bhakti pela qual você se livra do renascimento, ou se livra dos obstáculos para bhakti (asubhat )”. )”.
Verso 2 Este conhecimento é o rei da educação, o mais secreto de todos os segredos. É o conhecimento mais puro, e, por conceder a percepção direta do eu, é a perfeição da religião. Ele é eterno e é agradável de ser praticado. Além do mais, este conhecimento (bhakti) é o rei do conhecimento, o rei da adoração. Há vários tipos de bhakti, e este é o rei, ou aquele que possui a mais elevada posição, excedendo todos os demais. O uso de raja-vidya é similar ao uso da palavra raja-danta, ou dentes da frente (incisivos superiores centrais). Como no uso de raja-danta (rei dos dentes), há uma inversão da ordem normal dos elementos das palavras compostas. Isso é permitido de acordo com a regra rajadantaditvad (Panini 2.2.31). De todos os segredos, esse é o mais elevado. Toda forma de bhakti é um grande segredo, e, de todos os tipos de bhakti, este é o rei, o mais secreto ( raja-guhyam). pavitram uttama), porque repara todos os pecados. É mais purificador do Este conhecimento é o mais purificador ( pavitram que o conhecimento da alma ( tvam). De acordo com Madhusudana Sarasvati, uma vez que ele desarraiga imediatamente todas as reações pecaminosas de vários milhares de vidas situadas nos corpos grosseiro e sutil, e também a causa de todos os pecados, a ignorância, não há nada mais purificante. Ele é realizado diretamente ( pratyaksavagamam ): bhaktih paresanubhavo viraktir anyatra caisa trika eka-kalah prapadyamanasya yathasnatah syus tustih pustih ksud-apayo 'nu-ghasam
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“Devoção, experiência direta do Senhor Supremo e desapego de outras coisas – essas três coisas ocorrem simultaneamente para alguém que se refugia na Suprema Personalidade de Deus da mesma forma que o prazer, a nutrição e o alívio da fome vêm simultânea e crescentemente a cada mordida para uma pessoa ocupada em comer”. – SB 11.2.42 Entende-se por este verso que a realização é proporcional, uma vez que a obtenção de realização vem de acordo com a intensidade da adoração. Esse conhecimento não se desvia do dharma (dharmyam). Embora alguém talvez falhe em executar todos os dharmas e deveres religiosos, bhakti é a perfeição do dharma. Entende-se isso a partir da afirmação de Narada: yatha taror mula-nisecanena trpyanti tat-skandha-bhujopasakhah pranopaharac ca yathendriyanam tathaiva sarvarhanam acyutejya
“Assim como regar a raiz de uma árvore energiza o tronco, ramos, galhos e todo o resto, e assim como o fornecimento de alimento ao estômago dá vida a todos os sentidos e membros do corpo, simplesmente por se adorar a Suprema Personalidade de Deus através do serviço devocional, todos os semideuses, que são partes da Suprema Personalidade, ficam satisfeitos”. – SB 4.31.14 Diferente de karma, jnana e outros processos, não há grande aflição no corpo, voz ou mente (pela renúncia aos sentidos), pois bhakti faz uso dos ouvidos e de outros órgãos dos sentidos como um elemento fundamental para ouvir, cantar e assim por diante ( susukham kartum). Porque está acima dos gunas, o processo de bhakti é eterno (avyayam), diferente de processos como karma e jnana, que são temporários.
Verso 3 Aqueles que não são fiéis neste serviço devocional não podem Me alcançar, ó subjugador dos inimigos. Por isso, eles voltam a trilhar o caminho de nascimentos e mortes neste mundo material. “Bom, se esse dharma é de tão fácil execução, quem permanecerá neste mundo?”. Este verso responde. O uso do genitivo (caso possessivo) ao invés do caso acusativo (objeto) em dharmasya-asya é licença poética. “Aqueles que não têm fé neste processo de dharma, que pensam que a posição suprema dada a bhakti nas escrituras é mero exagero, e que não aceitam o processo com fé, não Me alcançam, mesmo que se esforcem em Me alcançar através de outros métodos. Eles continuam inteiramente envolvidos ( nivartate) no processo de transmigração ( samsaravartmani), que invariavelmente inclui a morte”.
Verso 4 Sob Minha forma imanifesta, Eu penetro este Universo inteiro. Todos os seres estão em Mim, mas Eu não estou neles. Em sete versos, o Senhor fala de todo o conhecimento dos poderes de Deus que é requerido pelos devotos em dasya-bhakti. “Eu penetro todo este universo em Minha forma uma vez que sou sua causa, mas sou invisível aos sentidos (avyakta). Assim, todas as entidades vivas móveis e inertes estão situadas em Mim ( mat-sthani), uma forma de pura consciência, pois sou a causa delas. Mas Eu não estou situado em todas as entidades vivas como o barro está presente em seus produtos, como potes, pois Eu sou completamente desinteressado”.
Verso 5 E mesmo assim, os elementos criados não repousam em Mim. Observa Minha opulência mística! Embora Eu seja o mantenedor de todas as entidades vivas e embora Eu esteja em toda parte, não faço parte desta manifestação cósmica, pois Meu Eu é a própria fonte da criação. “Embora tudo esteja situado em Mim, Eu não estou em nada, uma vez que Eu não tenho relação com nenhuma dessas coisas”. “Mas isso é contrário ao que você disse antes, que Você é todo-penetrante no universo, que Você é o abrigo do universo”. “Veja Minha extraordinária habilidade de fazer o que não pode ser feito! Veja quão assombroso! Muito embora Eu seja o mantenedor de todos os seres vivos ( bhuta-bhrt ) e proteja a todos ( bhuta-bhavanah), Eu, em Meu corpo espiritual (mamatma), não estou situado neles”.
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Como no Senhor não há diferença entre o corpo e a alma, a expressão “Meu corpo” ( mama-atma) é empregada como na expressão “a cabeça de Rahu”. Apesar de Rahu e sua cabeça não serem diferentes, como Krsna e Seu corpo, o caso possessivo é usado. O significado é este: “As jivas aceitam um corpo, protegem-no e, desenvolvendo apego a ele, permanecem naquele corpo. Mas, embora Eu aceite todos os seres vivos e os proteja, embora eles sejam Meu corpo material, que consiste em todas as criaturas, Eu não estou situado ali, porque Eu sou desapegado”.
Verso 6 Compreende que, assim como o vento poderoso, que sopra em toda parte, sempre permanece no céu, todos os seres criados repousam em Mim. “Embora os seres vivos estejam em Mim, que permaneço desapegado, eles não estão em Mim; e embora Eu esteja neles, Eu não estou neles”. Um exemplo é dado neste verso para ilustrar. “O vento sempre permanece situado no éter, que tem a natureza de ser desapegado. O vento tem a natureza de ser incessante, viajando por toda a parte (sarvatra-gah), e é grande em tamanho ( mahan). Por causa do desapego do éter, o vento está situado nele e não está; o éter, embora no vento, não está no vento por causa do desapego. Similarmente, todas as coisas que são grandes em dimensão e se movem por toda a parte, como o éter, estão situadas em Mim, mas Eu também tenho a natureza do desapego. Por favor, considere e aceite este fato”. Mas o Senhor disse que Seus poderes são inconcebíveis: pasya me yogam aisvaram (verso 5). Como, então, tais poderes podem continuar inconcebíveis se são como o éter e o vento comuns? Isso é explicado da seguinte maneira: O éter é desapegado por ser inconsciente por natureza. Dentre os seres conscientes, todavia, não existe desapego em parte alguma, exceto no Senhor, mesmo sendo Ele a morada de tudo e o controlador de tudo simultaneamente. Assim é estabelecida a inconceptibilidade do Senhor. Este exemplo, comparando o éter ao Senhor, é dado para a compreensão do homem comum.
Verso 7 Ó filho de Kunti, no final do milênio, todas as manifestações materiais entram em Minha natureza, e, no começo de outro milênio, por Minha potência, Eu volto a criá-las. “Posso entender que todas essas coisas que podem ser vistas no presente momento estão situadas em Você, mas, no momento da destruição, para onde tudo isso irá?”. Este verso responde. “Todas essas coisas irão se fundir em Minha energia chamada prakrti, composta pelos três gunas. No final do período de destruição, no momento da criação ( kalpa-ksaye), Eu crio tudo novamente em seus mínimos detalhes ( visesena srjami)”.
Verso 8 Toda a ordem cósmica está sujeita a Mim. Sob Minha vontade, ela repetidas vezes manifesta-se automaticamente, e, no final, ela é aniquilada sob Minha vontade. “Mas como Você pode criar se Você é desapegado e imutável por natureza?”. Este verso responde. “Situado em Minha própria ( svam) energia, Eu novamente crio todas as entidades que são dependentes da ação e de outros fatores ( avasam) sob o controle de suas próprias naturezas, que as motivam a agir de acordo com suas ações de vidas passadas”.
Verso 9 Ó Dhanañjaya, nenhum desses trabalhos pode atar-Me. Eu estou sempre desapegado de todas essas atividades materiais como um observador neutro. “Mas, então, se Você faz tanta atividade, como é possível que Você não se condicione como as jivas?”. Este verso responde. “Atividades como a criação não Me atam. Condicionamento é produto do apego à ação. Como todos os Meus desejos são satisfeitos espontaneamente, sem a necessidade de ação, Eu não tenho apego à ação, logo não sou condicionado. Eu sou como a pessoa indiferente, que não é afetada pela mistura de felicidade e aflição de grupos em desentendimento (udasinavad )”. )”.
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Verso 10
Esta natureza material, que é uma de Minhas energias, funciona sob Minha direção, ó filho de Kunti, produzindo todos os seres móveis e inertes. Obedecendo-lhe o comando, esta manifestação é criada e aniquilada repetidas vezes. “Não posso aceitar que Você é indiferente em Sua ações, como a ação de criar, por exemplo”. “Através de Minha direção como a causa eficiente ( nimitta), a prakrti produz este universo de entidades móveis e inertes (suyate). Sou apenas o diretor. É como os deveres de um reino, como o de Ambarisa, que seguem sob os cuidados dos ministros. Ali, o rei permanece à distância. Mas, assim como nada pode ser feito pelos ministros sem que o rei esteja sentado no trono; da mesma forma, a matéria inconsciente nada pode fazer sem a Minha direção na forma de Minha presença e autoridade. Por essa causa ( hetuna), a Minha presença, este mundo é repetidamente criado”.
Verso 11 Os tolos Me diminuem quando descendo na forma humana. Eles não conhecem Minha natureza transcendental como o Supremo Senhor de tudo o que existe. “Aquele bem-conhecido Maha-purusa, que cria o universo a partir de Sua própria energia e permanece deitado sobre o oceano Karana em Sua forma sac-cid-ananda se expandindo por milhões de universos, certamente é Você mesmo. Mas alguns dizem, de forma depreciativa, que, quando Você vem em uma forma aparentemente humana como o filho de Vasudeva, que esta forma é apenas uma amsa daquele Maha-purusa”. Em resposta, o Senhor diz este verso. “Sim, eles diminuem esta forma humana que Eu assumo. Eles não sabem que este corpo aparentemente humano é a forma suprema ( param bhavam), Minha svarupa, Minha forma verdadeira, mais atrativa e superior do que o Mahapurusa deitado sobre o oceano Karana e mais atrativa do que as outras formas também”. “Que tipo de forma é esta?”. esta? ”. “É o grande senhor do Brahman ( bhuta), que é chamado de satya ou bhuta”. O seguimento “grande senhor” distingue a forma humana de Krsna do Brahman. De acordo com o Amara Kosa, bhuta pode significar verdade, os elementos (como terra) ou conexão”. O sruti diz: tam ekam govindam sac-cid-ananda-vigraham vrndavana-sura-bhuruha-bhavanasinam satatam sa-marud-gano 'ham paramaya stutya tosayami
“Juntamente com os Maruts, eu constantemente louvo e glorifico aquele Govinda que tem uma forma sac-cidananda e que Se senta sob uma árvore dos desejos” – Gopala-tapani Upanisad 1.35 O smrti diz narakrti para-brahma : “o Brahman Supremo tem uma forma humana” (Visnu-Purana 4.11.2). “Assim, Meus devotos entendidos descrevem Meu corpo semelhante ao humano como sendo sac-cid-ananda. Minha mãe Yasoda também viu essa forma sac-cid-ananda durante a Minha infância, essa forma que penetra todo o universo”. manusim tanum tanum. Ou outro significado de param bhavam é o seguinte. A última linha descreve a realidade desse manusim Essa forma humana é o estado mais exaltado ( param bhavam), visuddha sattva, uma forma constituída de sac-cidananda. O Amara Kosa diz que bhava significa estado, natureza pessoal ou intenção. Tal estado mais exaltado é então detalhado. “Eu sou o grande senhor de seres como o senhor Brahma ( bhuta), a quem Eu crio ( mama bhuta-mahesvaram ). Isso significa que Eu, o Senhor Supremo de Brahma e outros, diferente das jivas, sendo Eu o senhor delas, não sou diferente de Meu corpo humano. Eu sou Meu corpo. Meu corpo sou Eu. Tal corpo é Brahman. Sukadeva, que é entendido do assunto, diz que Meu corpo é diretamente Brahman”. sabdam brahma dadhad vapuh
“Ele mostrou Sua forma transcendental, que só pode ser conhecida através dos Vedas” - SB 3.21.8 “Arjuna, aqueles que estão cegos devido à energia material só podem aceitar essa fé verdadeira através das escrituras (sabda brahma )”.
Verso 12 Aqueles que estão assim perplexos deixam-se atrair por opiniões demoníacas e ateístas. Estando mergulhados nessa ilusão, suas esperanças de liberação, suas atividades fruitivas e seu cultivo de conhecimento são todos destroçados. “Qual é o destino daqueles que não O aceitam, que não aceitam Krsna como o Senhor, senão que acham que Você tem um corpo humano material?”. “Em tal condição, mesmo se forem devotos, suas aspirações são infrutíferas
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(moghasah). Eles não obtêm salokya nem nenhuma outra coisa que acaso tenham desejado. Se forem karmis, eles não obtêm os resultados de suas ações, como svarga (mogha-karmanah). Se forem jnanis, eles não obtêm o resultado do conhecimento, a liberação ( mogha-jnana)”. “O que eles obtêm afinal? Eles assumem a natureza ( prakrtim) de raksasas”.
Verso 13 Ó filho de Prtha, aqueles que não se iludem, as grandes almas, estão sob a proteção da natureza divina. Eles se ocupam completamente em serviço devocional porque sabem que Eu sou a original e inexaurível Suprema Personalidade de Deus. “Mas aqueles que se tornam grandiosos graças à imprevisível misericórdia de Meus devotos obtêm a natureza dos devas (daivim prakrtim), em oposição à dos asuras, e Me adoram em Minha forma aparentemente humana. Suas mentes não se voltam para jnana ou karma (ananya-manasah). Conhecendo Meus poderes, maya tatam idam sarvam (verso 4), eles sabem que Eu sou a causa de todos os ilimitados corpos, começando por Brahma ( bhutadim). Eles sabem que sou indestrutível (avyayam), uma vez que Meu corpo é sac-cid-ananda. Para entenderem que Eu sou digno de adoração, eles devem ter, pelo menos, esse conhecimento sobre Mim. Sabendo disto ( jnatva), eles Me adoram. Deve-se entender que este tipo de bhakti, que independe de jnana e karma - que aceitam tvam, ou o eu, como Deus - e que é exclusivamente centrado no Senhor, é o melhor de todos, o rei do conhecimento, o rei dos segredos”.
Verso 14 Sempre cantando Minhas glórias, esforçando-se com muita determinação, prostrando-se diante de Mim, essas grandes almas adoram-Me perpetuamente com devoção. No último verso, foi mencionado que eles Me adoram. Que tipo de adoração eles executam? Eles Me adoram sempre (satatam), não como em karma-yoga, que depende de circunstância, lugar, pessoas e pureza adequados para a sua execução”. O smrti diz: na desa-niyamas tatra na kala-niyamas tatha nocchisthadau nisedho' sti sri-harer namni lubdhaka
“Para uma pessoa ávida pelo nome de Hari, não há restrições de tempo, lugar ou impureza” - Visnu Dharmottara “Assim como um pai de família pobre busca dinheiro batendo à porta de um homem rico para poder manter sua família, Meus devotos buscam ( yatanti) a assembléia de devotos para obter os processos devocionais, como o cantar. Obtendo isto, eles recitam as escrituras repetidamente ensinando bhakti. Eles estabelecem regras estritas para si mesmos (drdha-vratah), pensando: 'Devo cantar este número de voltas, devo oferecer essa quantia de reverências, devo oferecer essa quantia de serviço'. Namasyantah significa que eles oferecem reverências, e a palavra ca indica que eles também executam todos os outros processos de bhakti, como ouvir e servir os pés de lótus, que não são mencionados. Eles desejam estar eternamente associados coMigo (nitya-yuktah)”. Há uma regra de que desejo pode ser expresso no pretérito, como em “Eu gostaria”. Aqui, o pretérito expressa a presente condição de desejo. “Cantando sobre Mim, eles Me adoram”. Essa construção paralela indica que o cantar e as outras atividades é a forma de adoração deles, e que ambas pertencem ao Senhor. Não há, portanto, nenhuma falha na repetição da palavra mam”.
Verso 15 Outros, que se ocupam em sacrifício por meio do cultivo do conhecimento, adoram o Senhor Supremo como o único, como aquele que Se dividiu em muitos, e na forma universal. Assim, neste capítulo e no anterior, o ananya-bhakta, também chamado de mahatma (Bg. 8.15), é colocado como superior aos outros devotos, como aquele que se aproxima do Senhor para se livrar do sofrimento. Agora, o Senhor apresenta três outros tipos de devotos que não foram mencionados anteriormente, todos os três inferiores aos anteriormente apresentados: aqueles que identificam a si mesmos como o objeto de adoração, aqueles que adoram formas secundárias, e aqueles que adoram à visva-rupa. Madhusudana Sarasvati explica este verso da seguinte maneira. Esses são incapazes de praticar o sadhana do mahatma mencionado previamente (no verso 14). Eles adoram através do sacrifício de conhecimento mencionado no sruti da seguinte maneira: tvam va aham asmi bhagavo devate aham vai tvam asi : “O que quer que Você seja eu também o sou, e o que quer que eu seja Você também o é” (Varaha Upanisad 33). Eles praticam adoração unicamente pelo processo de conhecimento no qual eles se identificam como Deus. Por isso tal prática se chama jnana-yajna. Ca significa “somente” e api indica que eles abandonam outros processos. Então o significado é: “alguns, não desejando nenhuma outra forma de sadhana, adoram-Me através do sacrifício do conhecimento, negando diversidades, simplesmente contemplando a não-
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diferença do adorador e do objeto de adoração ( ekatvena). Esses são os melhores dos três tipos. Inferior a esses estão aqueles outros que, pensando em diferenças ( prthaktvena) entre o adorador e o objeto de adoração, adoram-Me através do sacrifício do conhecimento em diferentes formas externas representando o Senhor, de acordo com afirmações do sruti do tipo, adityo brahmety adesah : “O Sol é Brahman, esta é a instrução” (Candogya Upanisad 3.19.1). Outros que são inferiores a esses, e que são incapazes de adorar tanto em não-diferença quanto em diferença, adoram-Me como a alma de tudo (visvato mukham), a visva-rupa, por métodos de bahudha, executando muitas atividades e adorando muitos devatas. De acordo com a noção tântrica, aquele que não se identifica com o deva não pode adorar tal deva: nadevo devam arcayet . Tal adoração na qual se pensa “Eu sou Gopala” é chamada ahangraha-upasana . A adoração das vibhutis do Senhor, pegando um e o adorando separadamente, é chamada pratika-upasana . Nessa adoração, a pessoa pensa: “O Supremo Senhor Visnu é não-diferente do Sol, Ele não é diferente de Indra, Ele não é diferente de Soma”. A adoração da totalidade das vibhutis, com o pensamento de que “Visnu é tudo” é chamada visva-rupa-upasana. São estes os três tipos de jnana-yajna. ekatvena prthaktvena prthaktvena pode significar que os dois estados, “Eu sou Gopala” (unidade) e “Eu Ou o significado de ekatvena sou o servo de Gopala” (diferença) são simultaneamente contemplados por uma pessoa, assim como o rio correndo para o oceano é diferente e não-diferente do oceano. Neste caso, há apenas dois tipos de jnana-yajna.
Versos de 16 a 19 Mas Eu é que sou o ritual, sou o sacrifício, a oferenda aos ancestrais, a erva medicinal, o canto transcendental. Sou a manteiga, o fogo e a oferenda. Eu sou o pai deste Universo, a mãe, o sustentáculo e o avô. Sou o objeto do conhecimento, o purificador e a sílaba om. Também sou o Rg, o Sama e o Yajur Vedas. Eu sou a meta, o sustentador, o senhor, a testemunha, a morada, o refúgio e o amigo mais querido. Sou a criação e a aniquilação, a base de tudo, o lugar onde se descansa e a semente eterna. Ó Arjuna, Eu forneço calor, retenho e envio a chuva. Eu sou a imortalidade e sou também a morte personificada. Tanto o espírito quanto a matéria estão em Mim. “Como se pode adorá-lO como a visva-rupa de várias maneiras (bahudha)?”. O Senhor diz quatro versos em resposta. Kratu significa sacrifícios mencionados no sruti, como o agnistoma. Yajna se refere aos sacrifícios mencionados vaisva-deva homa. Ausadham se refere ao alimento feito a partir de ervas. nos smrtis, como o vaisva-deva “Eu sou o pai ( pita) porque sou Eu quem produz os ingredientes individuais e em sua totalidade para todo o universo. Eu sou a mãe ( mata) porque mantenho o universo em Meu ventre. Eu sou o sustentador ( dhata) do universo. Eu sou o avô porque produzo o criador do universo, Brahma. Eu sou o objeto a ser conhecido e o objeto que purifica”. “Eu sou o resultado ( gati), o mestre (bhartr ), ), o controlador ( prabhu), o testemunhador de todas as coisas boas e ruins (saksi), a morada (nivasah), o protetor de todos os perigos ( saranam) e o bem-querente imotivado (suhrt ). ). Eu sou a atividade de criar, de destruir e de manter ( prabhava pralaya sthanam ). Eu sou os tesouros ( nidhanam), como padmanidhi e sakha-nidhi, a causa (bijam), e sou indestrutível ( avyayam), diferente do arroz e de outras sementes que são temporárias”. “Sendo o Sol, Eu causo o calor no verão, derramo a chuva na estão chuvosa, e também retenho a chuva algumas vezes. Eu sou a liberação ( amrtam) e o condicionamento dos repetidos nascimentos e mortes ( mrtum). Eu sou o sutil e o grosseiro (sad asad ). ). Assim, a pessoa Me adora como a forma universal tomando-Me como sendo tudo isto”. Esses versos estão, portanto, conectados com a última parte do verso 15.
Verso 20 Aqueles que, buscando os planetas celestiais, estudam os Vedas e bebem o suco soma adoram-Me indiretamente. Purificados das reações pecaminosas, eles nascem no piedoso planeta celestial de Indra, onde gozam de prazeres divinos. “Aqueles devotos que Me adoram através desses três métodos e sabem que Eu sou o Senhor Supremo obtêm a liberação. Mas os seguidores do karma material não a obtêm”. Isto é explicado em dois versos. Aqueles que estudam e entendem os três Vedas - Rg, Yajur e Sama - ou aqueles que estão absortos nos karmas descritos nesses três Vedas, não sabendo que Indra e outros devatas são simplesmente Minhas formas, e que, consequentemente, adoram a Mim (indiretamente) através da adoração a essas formas (mam istvai), bebem os remanentes do sacrifício ( soma-pah) e acumulam punya”.
Verso 21 Após desfrutarem desse imenso prazer celestial dos sentidos e terem esgotado os resultados de suas atividades piedosas, eles regressam a este planeta mortal. Logo, aqueles que buscam o prazer dos sentidos sujeitando-se aos princípios dos três Vedas conseguem apenas repetidos nascimentos e mortes.
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Por estarem tomados de desejo por desfrute, eles vão e voltam repetidamente ( gata-agatam), isto é, nascem e morrem repetidamente.
Verso 22 Mas aqueles que sempre Me adoram com devoção exclusiva, meditando em Minha forma transcendental – a eles Eu trago o que lhes falta e preservo o que têm. “A felicidade de Meus ananya-bhaktas, por outro lado, é dada por Mim, e não obtida por atividades piedosas. Eles são constantemente (nityam) entendidos e versados nessa prática (abhiyuktanam), e são ignorantes de todos os outros assuntos. Outro significado é que eles desejam estar em Minha constante associação. Eu Me encarrego da obtenção de yoga) e de sua manutenção ( ksemam), embora eles não esperem por essas coisas”. O Senhor dizer riqueza deles ( yoga simplesmente que faz essas coisas não seria apropriado. Então a palavra “carregar”, vahami, é usada. O uso da palavra vahami indica que o Senhor suporta o peso do mantenimento de seus corpos da mesma maneira que o pai de família aceita a responsabilidade de manter sua esposa e seus filhos. Não se deve dizer, como é o caso dos outros, que a obtenção e preservação das necessidades corpóreas do devoto é devido ao karma. “Uma vez que Você é atma-rama, aquele que, sendo o Senhor Supremo, desfruta interiormente e é indiferente a todas as coisas, qual é a razão para Você manter o devoto?”. O sruti diz: bhaktir asya bhajanam tad ihamutropadhi-nairasyenamusmin manah-kalpanam etad eva naiskarmyam
“ Bhakti é a adoração ao Senhor, concentração da mente nEle, renúncia a todo desejo de desfrutar ( upadhi) neste mundo e no próximo. Bhakti destrói todos os karmas”. Gopala-tapani Upanisad, Purva 1.15 “Porque Meu devoto ananya não tem karma, devido à ausência de desejo nele ( naiskarmayam), sua felicidade é dada por Mim. Embora Eu seja indiferente a todo o resto, tenho grande afeição por Meu devoto. Esta é a razão”. Também não se deve dizer que, por deixarem o peso da manutenção de seus corpos para seu Senhor adorável, os devotos demonstram ausência de prema. “Na verdade, eles não Me dão essa carga. Eu, por Meu desejo pessoal, aceito tal carga. Também se deve entender que Eu não aceito tal ocupação como um dever, pois Eu crio e mantenho este universo unicamente por Minha vontade. Na verdade, sendo apegado aos Meus devotos, sinto grande prazer em cuidar de suas necessidades”.
Verso 23 Aqueles que são devotos de outros deuses e que os adoram com fé; na verdade, adoram apenas a Mim, ó filho de Kunti, mas não Me prestam a adoração correta. “No verso 15, Você menciona os três tipos de adoração, e, então, para explicar o terceiro tipo ( visva-rupa), Você cita quatro versos ilustrativos (versos de 16 a 19). Alguns adoram Indra e outros como parte da prática de karma-yoga (verso 20). Embora eles predominantemente adorem outros devatas, eles também são Seus devotos. Por que eles não obtêm a liberação? Você disse: 'Eles novamente obtêm repetidos nascimentos e mortes' (verso 21) e 'Homens de pouca inteligência adoram os semideuses, e seus frutos são limitados e temporários (Bg. 7.23)'.”. Este verso responde. “Sim, eles estão Me adorando ( te mam eva yajanti ). Eles, todavia, adoram sem seguirem as regras prescritas para Me alcançar ( avidhi-purvakam). Por isso eles retornam a este mundo”.
Verso 24 Eu sou o único desfrutador e Senhor de todos os sacrifícios. Portanto, aqueles que não reconhecem Minha verdadeira natureza transcendental acabam caindo. Este verso se estende da frase avidhi-purvakam. “Na forma de vários devatas, Eu sou o único desfrutador, e Eu prabhu ), aquele que fornece os frutos. Mas eles não sabem disso verdadeiramente. Tais pessoas, por sou o único mestre ( prabhu exemplo, pensam: 'Eu sou um adorador do Sol. Que o Sol fique satisfeito comigo e me dê os resultados que desejo. O Sol é o Senhor Supremo, não Narayana. Ele me concede fé nele e me dá os resultados de minha adoração'. Assim, sem verdadeiro conhecimento acerca de Mim, eles voltam a este mundo”. “Mas aqueles que Me adoram como a forma do universo, entendendo estarem adorando Narayana, o Senhor Supremo, através da forma do Sol, alcançam a liberação”. É indicado aqui, portanto, que as vibhutis do Senhor, como o Sol, devem ser adoradas se entendendo que são vibhutis do Senhor.
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Verso 25 Aqueles que adoram os semideuses nascerão entre os semideuses, aqueles que adoram os ancestrais irão ter com os ancestrais, aqueles que adoram fantasmas e espíritos nascerão entre tais seres, e aqueles que Me adoram viverão coMigo. “Mas eles estão simplesmente adorando esses devatas em particular de acordo com as regras estabelecidas nos livros que descrevem o método de adoração a tais devatas. Os Vaisnavas adoram Visnu de acordo com o que é estabelecido nos livros dedicados à adoração a Visnu. O que há de errado ssee esses adoradores seguem as instruções desses livros?”. “Isto está correto, mas a regra é a seguinte: os devotos desses devatas particulares irão alcançar apenas esses devatas particulares. E sendo os devatas destrutíveis, como o adorador desses devatas pode se tornar indestrutível? Mas é sabido que os Meus devotos são eternos, como Eu mesmo sou”. aham tv anasvaro nityo mad-bhakta apy anasvarah
“Eu sou indestrutível, eterno; e Meus devotos também são indestrutíveis”. bhavan ekah sisyate sesa-samjnah
“Nesse momento, apenas Você resta, e Você é conhecido como Ananta” – SB 10.3.25 eko narayana evasin na brahma na ca sankarah
“Apenas Narayana existe, Brahma ou Siva não”. – Maha Upanisad 1 parardhante so 'budhyata gopa-rupo me purastad avirbabhuva
“No final da noite de Brahma, Ele acordou da yoga-nidra e apareceu perante Mim como antes, na forma de um vaqueirinho”. – Gopala-tapani Upanisad 1.27 na cyavante ca mad-bhakta mahati pralaye 'pi
“Meus devotos não são destruídos nem mesmo no momento do pralaya”. – Skanda Purana
Verso 26 Se alguém Me oferecer, com amor e devoção, uma folha, uma flor, uma fruta ou água, Eu as aceitarei. “Para os adoradores dos devatas, há muita complicação, mas isso não se aplica aos Meus devotos”. Neste verso, a palavra bhaktya, no caso instrumental, significa literalmente “pelo processo devocional”. Mas assim, com a próxima frase bhakty-upahrtam (oferecido pelo processo de bhakti), a repetição não seria necessária. A sentença traria: “Eu aceito aquilo que é oferecido pelo processo devocional de quem quer que ofereça pelo processo devocional”. A palavra bhaktya, portanto, significa “com devoção”, indicando neste verso uma pessoa com devoção genuína, o devoto. “Isso significa que não aceito o que é oferecido por pessoas que não são Meus devotos, que têm devoção apenas momentânea. Mas o que quer que Meu devoto Me ofereça, Eu desfruto da maneira apropriada ( asnami)”. “Que tipo de oferenda é essa?”. “Ele não oferece porque alguém lhe disse para oferecer, mas o faz motivado por amor. Mas se Meu devoto tem um corpo impuro, mesmo tal oferenda não é aceita por Mim. Ele tem que ter o corpo puro ( prayatatmanah , corpo ritualmente puro)”. Isso exclui mulheres durante o ciclo menstrual ou pessoas com outras impurezas. A palavra prayata-atmanah também pode se referir a uma pessoa de mente e o coração puros. “Ninguém, exceto Meu devoto, tem a mente e o coração puros”. Como dito por Pariksit: dhautatma purusah krsna-pada-mulam na muncati
“Um devoto puro do Senhor, cujo coração foi completamente limpo pelo processo do serviço devocional, jamais abandona os pés de lótus do Senhor Krsna”. – SB 2.8.6 “O sinal de sua pureza é que eles jamais abandonam o serviço aos Meus pés de lótus. Mesmo que haja algum vestígio de luxúria ou ira, isso é insignificante como a mordida de uma cobra desdentada”.
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Verso 27
Tudo o que fizeres, tudo o que comeres, tudo o que ofereceres ou deres, e quaisquer austeridades que executares — faze isto, ó filho de Kunti, como uma oferenda a Mim. “De todos os tipos de bhakti que Você mencionou, começando com a menção do sofredor, do que deseja riquezas, do inquisitivo e do jnani, qual dessas bhaktis eu devo executar?”. “Ó Arjuna, porque você não pode rejeitar karma, jnana e outros processos em seu presente estado, e não está qualificado para a bhakti suprema, kevala-bhakti, e porque você não deve se degradar na executação da inferior sakamabhakti, você deve executar bhakti com uma leve mistura de karma e jnana (karma-jnana-misra-pradhani-bhuta-bhakti ), mas que é niskama”. Krsna explica isto em dois versos. “Qualquer coisa que você faça, sejam ações de acordo com as regras dos Vedas, sejam ações mundanas, tudo o que você coma ou beba em sua vida ordinária, toda austeridade que você execute, faça de tal modo que seja uma oferenda a Mim”. Não se deve chamar isso nem de niskama-karma-yoga , nem de bhakti-yoga. Os praticantes de karma-yoga oferecem ao Senhor as ações prescritas nas escrituras, mas não qualquer ação que façam em suas vidas ordinárias. Esta visão é aceita por todos. Os devotos, todavia, oferecem ao Senhor todas as ações de suas mentes, pranas e sentidos. O método de bhakti é estabelecido: kayena vaca manasendriyair va buddhyatmana vanusrta-svabhavat karoti yad yat sakalam parasmai narayanayeti samarpayet tat
“De acordo com a natureza em particular que adquiriu em sua vida condicionada, tudo o que tal pessoa faça com seu corpo, palavras, mente, sentidos, inteligência ou consciência purificada, ela deve oferecer ao Supremo pensando: ‘Isto é para o prazer do Senhor Narayana’.”. - SB 11.2.36 “Mas quando Você diz que eu devo oferecer em sacrifício, esse sacrifício é derivado de arcana, que é um anga de bhakti, o que visa o prazer de Visnu. E quando Você menciona austeridades, isso significa votos como jejum de ekadasi. Tudo isso é ananya-bhakti. Como Você pode dizer que isso não é kevala-bhakti?”. “Verdade, mas ananya-bhakti não significa que você executa uma ação e então oferece ao Senhor; senão que a ação é feita simultaneamente com a oferenda ao Senhor. Isso é mencionado por Prahlada (SB 7.5.24) quando ele diz, iti pumsarpita visnau bhaktis cen nava-laksana kryeta bhagavaty : 'esta bhakti de nove tipos oferecida ao Senhor deve ser executada para o Senhor'.” Sridhara Svami explica este verso do Srimad-Bhagavatam. “Em ananya-bhakti, devem ser executadas atividades primeiramente oferecidas ao Senhor, e não executadas e oferecidas posteriormente”. Logo, o presente verso não está incluído na categoria de kevala-bhakti, pois as atividades são executadas e então oferecidas.
Verso 28 Desse modo, ficarás livre do cativeiro do trabalho e de seus resultados auspiciosos e inauspiciosos. Com a mente fixa em Mim neste princípio de renúncia, libertar-te-ás e virás a Mim. “Você será liberado do condicionamento cármico na forma de ilimitadas reações pecaminosas e piedosas”. O sruti diz: bhaktir asya bhajanam tad ihamutropadhi-nairasyenaivamusmin manah-kalpanam etad eva ca naiskarmyam
“ Bhakti é a adoração ao Senhor, concentração da mente nEle, renúncia a todo desejo de desfrutar ( upadhi) neste mundo e no próximo. Bhakti destrói todos os karmas”. – Gopala-tapani Upanisad, 1.15 “Você, com a mente ocupada na renúncia dos resultados da ação ( sannyasa-yoga ), não apenas irá se liberar, mas, sendo preeminente entre as almas liberadas (vimuktah), irá alcançar a Mim. Você virá até próximo de Mim para Me servir diretamente”. O smrti diz: muktanam api siddhanam narayana-parayanah sudurlabhah prasantatma kotisv api mahamune
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“Ó grande sábio, dentre muitos milhões que são liberados e perfeitos no conhecimento da liberação, talvez um seja devoto do Senhor Narayana, ou Krsna. Tais devotos, que são completamente pacíficos, são extremamente raros”. – SB 6.14.5 Sukadeva também disse: muktim dadati karhicit sma na bhakti-yogam
“Aqueles empenhados em conseguir o favor do Senhor obtêm a liberação muito facilmente, mas Ele não concede facilmente a oportunidade de se Lhe prestar serviço direto”. – SB 5.6.18 “Esta meta, de servir-Me diretamente, é muito superior à liberação”. Isto é indicado neste verso.
Verso 29 Não invejo ninguém, tampouco sou parcial com alguém. Sou igual para com todos. Porém, todo aquele que Me preste serviço com devoção é um amigo, está em Mim, e Eu também sou seu amigo. “Você libera os Seus devotos e Se dá para eles, mas não Se dá para os não-devotos. Então Você exibe predisposição, produto de atração e repulsa?”. O Senhor refuta essa idéia neste verso. “Os devotos existem em Mim, e Eu também existo neles”. Não há nada de especial nesta afirmação uma vez que todo o universo existe dentro do Senhor e o Senhor existe em toda a parte do universo. A sentença então deve ser: “Assim como os devotos são apegados a Mim, Eu sou apegado a Eles”. Isso leva em consideração a afirmação ye yatha mam prapadyante tams tathaiva bhajamy aham (Bg. 4.11): “Eu os reciproco da mesma forma que se rendem a Mim”. Comparar o Senhor a uma kalpa-vrksa, que dá a todos sem discriminar, é apenas parcialmente correto. Aqueles que aceitam o refúgio dessa árvore não se tornam apegados a ela sem desejo pelos frutos. Nem fica a kalpa-vrksa apegada àqueles que aceitam seu refúgio. Tampouco ela odeia os inimigos daqueles que tomaram seu refúgio. O Senhor, por outro lado, mata com Suas próprias mãos os inimigos de Seus devotos. O Senhor diz a Prahlada: prahradaya yada druhyed dhanisye dhanisye 'pi varorjitam
“Eu matarei Hiranyakasipu imediatamente, apesar das bençãos de Brahma”. – SB 7.4.28 Algumas pessoas explicam que a palavra tu indica uma intenção diferente. “Sou igual para com todos, mas, ainda assim, favoreço Meu devoto”. Isso significa, portanto, que o Senhor tem, sim, alguma preferência, classificada como afeição pelo devoto. Mas, eles explicam, no caso do Senhor, isto é um ornato, um embelezamento, não uma falha. A afeição do Senhor por Seu devoto é um fato irrevogável. Ele não tem afeição pelo jnani ou pelo yogi. Assim como outras pessoas têm afeição por seus próprios servos e não pelos servos de outros, o Senhor é afetivo com Seus devotos e não com os devotos de Siva ou Durga.
Verso 30 Mesmo que alguém cometa ações das mais abomináveis; se estiver ocupado em serviço devocional, deve ser considerado santo porque está devidamente situado em sua determinação. “Meu apego aos Meus devotos é o Meu próprio eu, Minha própria natureza. Esse apego não diminui mesmo se o devoto comete erros, pois Eu o faço subir até o padrão mais elevado. Se alguém de má conduta, inclinado a violência, roubo ou adultério ( suduracarah), adora a Mim, e não adora ninguém além de Mim, e não segue nenhum outro processo como karma ou jnana, e não tem outro interesse além do Meu ( ananya-bhak ), ), ele é Meu devoto ( sadhuh)”. “Mas, considerando sua má conduta, como ele é um devoto?”. “Ele deve ser respeitado ( mantavyah) como um devoto por causa de suas qualidades devocionais. Isso é uma ordem. Não cumprir tal ordem é uma ofensa. Minha ordem é a autoridade última”. “Então ele deve ser considerado devoto na dimensão em que ele O adora e um não-devoto na dimensão em que ele comete adultério?”. “Não, ele deve ser considerado um devoto (eva) em todas as suas dimensões. Você não deve ver nenhuma de suas más qualidades. Ele é completamente determinado (samyak vyavasitah). Ele toma uma decisão esplêndida: ‘Eu irei para o inferno por minhas atividades pecaminosas que são tão difíceis de serem abandonadas, mas não deixarei de praticar dedicada adoração a Krsna’.”.
Verso 31 Ele logo se torna virtuoso e alcança paz duradoura. Ó filho de Kunti, declara ousadamente que Meu devoto jamais perece.
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“Como Você pode aceitar a adoração de uma pessoa tão pecaminosa? Como Você pode comer ou beber algo oferecido por um coração contaminado pela luxúria e pela ira?”. “Ele muito rapidamente se torna honrado e virtuoso”. O tempo presente é usado, e não o futuro, para expressar o fato de que, tendo cometido pecado, ao lembrar-se do Senhor, ele se torna arrependido e muito rapidamente retoma a retidão. “'Ó, como sou desafortunado! Não há ninguém mais baixo do que eu, levando má fama para os devotos'. Repetidas vezes (sasvat ), ), Arjuna, ele se sente completamente ( ni) repugnante (santim)”. Ou o uso do tempo presente pode indicar que, no futuro, ele irá desenvolver completa retidão, mas, mesmo agora, tal retidão já existe de forma sutil. Após ter tomado o medicamento, embora os efeitos destrutivos da febre ou do envenenamento possam continuar por algum tempo, não se leva isso a sério. Da mesma forma, com a entrada de bhakti em sua mente, as atividades pecaminosas não são levadas a sério, e os vestígios de luxúria e ira devem ser considerados insignificantes como a mordida de uma cobra desdentada. Então ele obtém ( nigacchati) completa cessação da luxúria e da ira (santim) de forma definitiva ( sasvat ). ). Em nigacchati, ni exerce o papel de nitaram, completamente. Isto significa que mesmo durante o estágio em que se tem tendência a cometer atividades pecaminosas, ele tem um coração puro. “Se ele por fim toma o caminho da retidão, não há o que se argumentar. Todavia, se um devoto é pecaminoso até o momento de sua morte, qual é sua posição?”. O Senhor, por afeição a Seus devotos, fala então mais alto e com um pouco de ira. “Ó filho de Kunti, Meu devoto não é destruído. No momento da morte, ele não cai”. “Mas debatedores de línguas afiadas e ofensivas não respeitarão isso”. Krsna então encoraja o apreensivo e lamurioso Arjuna. “Ó Kaunteya, adentrando a assembléia de tais argumentadores com o som tumultuoso de tambores e levando seus braços ao ar, você deve declarar isso destemidamente”. “O quê?” “Declare que Meu devoto, o devoto do Senhor Supremo, embora cometendo pecados, não perece, mas, ao contrário, alcança o sucesso. Com os argumentos derrotados, com o orgulho silenciado, eles terão invariavelmente de respeitá-lo como guru”. Aqui termina é a explicação de Sridhara Svami, tendo começado com “Se ele por fim toma o caminho da retidão” etc. Mas por que o Senhor requisita Arjuna a fazer tal declaração, quando ele mesmo poderia fazê-la? Ele dirá posteriormente, mam evaisyasi satyam te pratijane priyo'si me : “Declaro que certamente virás a Mim. És muito querido a Mim” (Bg. 18.65). Por que, da mesma maneira, Ele mesmo não diz agora: “Eu declaro, Kaunteya, que Meu devoto jamais perece.”? Isto é explicado aqui. O Senhor fez a seguinte consideração. “Sendo muito afetuoso para com Meu devoto e não sendo capaz de tolerar nem mesmo o menor insulto a ele, Eu darei, em todas as circunstâncias, suporte à sua declaração, ao passo que posso quebrar Minha própria promessa e aceitar as críticas a Mim, assim como quebrei Minha própria promessa ao lutar com Bhisma para manter a promessa dele. Assim, ouvindo a declaração de Meus lábios, os opositores ririam, mas eles aceitarão a declaração vinda de Arjuna como que escrita em pedra. Portanto, farei Arjuna fazer essa declaração”. E assim, após ouvir sobre ananya-bhakti e as descrições do ananya-bhakta, não se devem aceitar as declarações dos inversados que pensam que esta declaração não se aplica em casos em que se manifestam apego a esposas e filhos de outros, atos pecaminosos, lamentação, ilusão, luxúria, ira e outras qualidades desprezíveis.
Verso 32 Ó filho de Prtha, todos os que se refugiem em Mim, mesmo que sejam de nascimento inferior – as mulheres, os vaisyas e os sudras –, podem alcançar o destino supremo. É algo muito notável e extraordinário o fato de Minha bhakti não considerar os erros acidentais nascidos das ações de Meus devotos de má conduta? Saiba que Minha bhakti não considera nem mesmo os erros inerentes de uma pessoa manifestos em seu nascimento. Mesmo aqueles de nascimento pecaminoso ( papa-yonayah), mlecchas ou párias, que se rendem a Mim alcançam a meta última. kirata-hunandhra-pulinda-pulkasa abhira-sumbha yavanah khasadayah ye'nye ca papa yad-apasrayasrayah sudhyanti tasmai prabhavisnave namah
“Kirata, Huna, Andhra, Pulinda, Pulkasa, Abhira, Sumbha, Yavana, membros da casta Khasa, e mesmo outros adictos de atividades pecaminosas, podem se purificar tomando refúgio no devoto do Senhor, pois Ele é o Poder Supremo. Eu me curvo para oferecer minhas respeitosas reverências a Ele”. – SB 2.4.18
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aho bata sva-paco 'to gariyan yaj-jihvagre vartate nama tubhyam tepus tapas te juhuvuh sasnur arya brahmanucur nama grnanti ye te
“Oh! Quão gloriosos são aqueles cujas línguas estão cantando o Vosso Santo Nome! Mesmo se nascidos em famílias de comedores de cachorros, tais pessoas são dignas de adoração. Deve-se considerar que as pessoas que cantam o santo nome de Vossa Onipotência já executaram todos os tipos de austeridades e sacrifícios de fogo e já obtiveram todas as boas maneiras dos arianos. Por estarem cantando o santo nome de Vossa Onipotência, entende-se que já se banharam em todos os locais de peregrinação, já estudaram os Vedas e cumpriram tudo o que é requerido”. – SB 3.33.7 Se os comedores de cachorro que cantam o santo nome são exaltados assim, o que dizer então das mulheres, vaisyas e outros?
Verso 33 Quão eficiente é então tal refúgio para os brahmanas virtuosos, os devotos e os reis santos. Assim, tendo vindo a este mundo temporário e miserável, ocupa-te em Meu serviço amoroso. “O que dizer então dos portanto”.
brahmanas
de boa conduta nascidos em famílias puras e que são devotos? Adore-Me,
Verso 34 Ocupa tua mente em pensar sempre em Mim, torna-te Meu devoto, oferece-Me reverências e Me adora. Estando absorto por completo em Mim, com certeza virás a Mim. Neste verso, o Senhor conclui o capítulo descrevendo o método de adoração. “Portanto, tendo absorvido seus corpo e mente em Mim ( atmanam yukta ) em adoração, você certamente virá a Mim”. O mais elevado segredo, a posição suprema da bhakti pura, que por seu contato purifica todas as pessoas – quer puras, quer impuras –, foi descrito neste nono capítulo.
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Capítulo D Déci écim mo
VIBHUTI-YOGA Verso 1 A Suprema Personalidade de Deus disse: Volta a ouvir, ó Arjuna de braços poderosos. Porque és Meu querido amigo, para o teu benefício continuarei dirigindo a palavra a ti, transmitindo um conhecimento superior a tudo o que já expliquei. A partir do sétimo capítulo, Krsna falou sobre bhakti e sobre sua natureza exclusivista, revelando os poderes do Senhor. Agora, no décimo capítulo, Ele fala de bhakti juntamente com a descrição das vibhutis do Senhor. Os poderes do Senhor, pelo conhecimento dos quais se entende que o Senhor é digno de adoração, foram descritos a partir do sétimo capítulo. Agora, o Senhor irá explicar esses poderes em detalhes para o prazer daqueles que têm devoção. De acordo com a regra de que os rsis falam de maneira indireta e que o Senhor gosta de tais declarações alusivas, e porque este conhecimento é de certa forma de difícil compreensão, o Senhor volta a falar. paroksa-vada rsayah paroksam ca mama priyam
“Os videntes dos Vedas e os mantras trabalham com termos esotéricos, e Eu também sou comprazido por tais descrições confidenciais”. – SB 11.21.35 “'Novamente (bhuyah), ouça Minhas palavras'. Isso significa que Eu falarei novamente sobre o rei do conhecimento, o rei dos segredos”. “Ó Arjuna de braços poderosos, assim como você exibe o poder supremo de seus braços, que são mais fortes do que os braços de todos os outros, você deve exibir o poder supremo de sua inteligência neste tópico. Ouça as palavras que Eu falo”. Isto implica que Arjuna deve limitar sua atenção ao que é falado. “Essas palavras são superiores até mesmo ao que Eu disse anteriormente ( paramam vacam). Eu falo essas palavras a você para lhe deixar pasmo e impressionado”. O caso dativo ( te) é usado para limitar o propósito do verbo priyamanaya)”. (vaksyami). “Falarei a você”. Isso significa: “Eu falarei a você porque você está repleto de prema ( priyamanaya
Verso 2 Nem as hostes de semideuses nem os grandes sábios conhecem Minha origem ou Minhas opulências, pois, sob todos os aspectos, Eu sou a fonte dos semideuses e dos sábios. “Isto só pode ser conhecido através de Minha extrema misericórdia, e por nenhum outro meio. Os devatas desconhecem Meu mais extraordinário ( pra) nascimento (bhavam) de Devaki”. “Bem, os devatas talvez não saibam por estarem absortos no prazer material, mas os sábios sabem”. “Não, eles também não sabem ( na maharsayah)”. O Senhor explica a razão deles não saberem: “Eu sou a causa em todos os sentidos. Os filhos não sabem do nascimento do pai”. Não se deve pensar em outro significado para a palavra prabhavam, pois, no verso 14, Arjuna diz em confirmação a este significado que nem os demônios, nem os devatas, sabem sobre o aparecimento do Senhor.
Verso 3 Quem Me conhece como o não-nascido, como aquele que não tem começo, como o Supremo Senhor de todos os mundos - só este, que entre os homens não se deixa iludir, está livre de todos os pecados. “Mas certamente os devatas e rsis sabem sobre Seu nascimento, o nascimento do Brahman Supremo, cujo corpo não é limitado por tempo ou espaço algum”. Posicionando Seu dedo indicador sobre o próprio peito, o Senhor diz este verso. “Aquele que sabe que sou nãonascido e sem começo é livre de todo o pecado”. “Mas nem todos sabem que Brahma tem um começo, mas que Você, Paramatma, é sem nascimento por não ter
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começo?”. “Aquele que sabe que sou não-nascido e também nascido de Vasudeva, e que ainda assim sou sem começo, é livre de todos os pecados”. Ca, aqui, significa que Ele também nasce. Pelo uso da palavra mam, Krsna indica Seu nascimento a partir de Vasudeva. Isso faz menção à afirmação anterior do Senhor no capítulo quatro, verso 9: “Aquele que sabe que Meu nascimento e Minhas atividades são transcendentais…”. “Eu nasço, mas, porque Eu sou Paramatma, sou eternamente sem nascimento”. Ambas essas condições são verdades absolutas, uma demonstração da acintya-sakti. O Senhor disse, ajo’ pi san avyayatma […] sambhavami: “Embora Eu seja não-nascido, Eu apareço”. Uddhava também diz: karmany anihasya bhavo 'bhavasya te durgasrayo 'thari-bhayat palayanam kalatmano yat pramada-yutasramah svatman-rateh khidyati dhir vidam iha
“Meu Senhor, mesmo os sábios eruditos têm suas inteligências perturbadas ao verem que Sua Onipotência Se ocupa em trabalho fruitivo, embora seja livre de desejos; que Você nasce, embora seja não nascido; que Você foge com medo do inimigo e Se refugia em um forte, embora Você seja o controlador do tempo invencível; e que Você desfruta da vida familiar, cercado de muitas mulheres, embora Você desfrute em Si mesmo”. – SB 3.4.16 O comentário do Laghu-Bhagavatamrta diz: tat tan na vastavam cet syad vidam buddhi-bhramas tada na syad evety ato 'cintya saktir lilasu karanam
“Se tudo isso não fosse verdade, então todas as percepções seriam ilusórias. Mas não é o caso. Assim, a acintyasakti é a causa de Seus passatempos”. – Laghu-Bhagavatamrta 1.5.119 “Em Minha infância, durante a lila de Damodara, é inconcebível que Eu pudesse ser amarrado pelos fios dos guizos, mas não pelas cordas de mãe Yasoda. Da mesma maneira, Meu nascimento e não-nascimento também são inconcebíveis”. O Senhor então fala de Seus poderes, que são de difícil compreensão. “Aquele que sabe que, embora Eu seja seu quadrigário, também sou o grande controlador de todos os planetas; unicamente ele, dentre todos os homens, não se confunde e é livre de todos os pecados, que são obstáculos para bhakti”. Mas aquele que, embora aceite que o Senhor é não-nascido, sem princípio e o controlador de todos os seres, ache que Seu nascimento é apenas uma parecença de nascimento, está confundido, e não é livre de todo os pecados.
Versos 4 e 5 Inteligência, conhecimento, estar livre da dúvida e da ilusão, clemência, veracidade, controle dos sentidos, controle da mente, felicidade e aflição, nascimento, morte, medo, destemor, não-violência, equanimidade, satisfação, austeridade, caridade, fama e infâmia — todas essas várias qualidades dos seres vivos são criadas apenas por Mim. “Mesmo aqueles que são versados nas escrituras não são capazes de Me conhecer através de suas inteligências. Pois a inteligência e outros elementos são gerados a partir dos gunas materiais, como sattva, e, embora todos eles se originem de Mim, eles não são em si adequados para que se compreenda a Mim, que Me situo além dos gunas”. jnana) se refere à habilidade “A inteligência é capaz de discernir os significados sutis das coisas. Conhecimento ( jnana de distinguir entre atma e não-atma. Estar livre da dúvida e da ilusão significa estar livre de perplexidade. Essas três qualidades, embora pareçam trazer conhecimento sobre Mim, não são causadoras desse conhecimento. Também os outros estados que podem ser vistos nas pessoas mencionados aqui não são auto-manifestos; eles têm sua origem em Mim. Tolerância (ksama), falar a verdade ( satyam), controle dos sentidos externos ( dama) e controle do sentido interno ( sama) são qualidades sáttvicas. Felicidade é um estado sáttvico, e lamentação é tamásico. Nascimento e morte, tipos de lamentação, e medo, são tamásicos. Destemor como produto de conhecimento é sáttvico, mas se é produto de rajas e tamas é rajásico e tamásico. Não-violência e ver os outros como a si mesmo ( samata) são qualidades sáttvicas. Satisfação, se incondicional, é em sattva-guna, e, se condicional, é em raja-guna. Austeridade e caridade, se incondicionais, são em sattva-guna, e, se condicionais, são em raja-guna. Fama e infâmia são similarmente ou sáttvicas ou rajásicas. Tudo isso é produzido a partir de Minha energia. Por causa da não-diferença da energia e da fonte de energia, é dito que tudo isto nasce unicamente a partir de Mim ( mattah)”.
Verso 6 Os sete grandes sábios e, mais antigos do que eles, os quatro outros grandes sábios e os Manus [progenitores da humanidade] vêm de Mim, nascidos de Minha mente, e todos os seres vivos que povoam os vários planetas
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descendem deles.
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Tendo mencionado que inteligência, conhecimento e não-perplexidade não podem dar verdadeiro conhecimento do Senhor; o Senhor, neste verso, volta a falar das suas deficiências. “Os sete grandes sábios, começando por Marici; os quatro Kumaras, como Sanaka; e os quatorze Manus, começando por Svayambhuva; nascem de Mim na forma do Hiranyagarbha ( Brahma). Eles nascem de Minha mente. Os brahmanas e outros existem como a progênie, filhos e netos, ou alunos e alunos dos alunos dos sete sábios, dos quatro Kumaras e dos Manus”.
Verso 7 Quem de fato está convencido desta Minha opulência e poder místico ocupa-se em serviço devocional imaculado; quanto a isto, não há dúvida. “Mas, de acordo com Minha própria declaração, bhaktyaham ekaya grahyah , Eu sou obtenível unicamente pela bhakti pura (SB 11.14.21). Somente Meu ananya-bhakta , recebendo, por Minha misericórdia, firme fé em Minhas palavras, sabe a verdade sobre Mim”. Isto é estabelecido neste verso. “Aquele que conhece estas vibhutis que estou descrevendo de forma sucinta e conhece a bhakti-yoga (etam vibhutim yogam ca ); que então se torna possuidor de uma fé ainda mais forte, pensando “unicamente isto é a verdade mais elevada (tattvatah), porque Meu mestre Krsna assim declarou”, torna-se dotado de indesviável ( avikalpena) bhakti-yoga na forma do conhecimento de Minha verdadeira natureza ( yogena). Não há dúvidas quanto a isto”.
Verso 8 Eu sou a fonte de todos os mundos materiais e espirituais. Tudo emana de Mim. Os sábios que conhecem isto perfeitamente ocupam-se em Meu serviço devocional e adoram-Me de todo o coração. Aqui, Ele fala de Sua vibhuti, caracterizada por imenso poder. “Eu sou a causa da manifestação de todas as coisas materiais e espirituais. É unicamente devido a Mim, na forma de Paramatma, que o mundo inteiro se move. É unicamente devido a Mim, na forma de avataras como Narada, que sadhanas como bhakti, jnana, tapas e karma e as metas de tais sadhanas funcionam”. Ele então fala da yoga que é ananya-bhakti. “Estando convencidas através da fé derivada deste conhecimento (iti matva), as pessoas inteligentes, dotadas de bhava na forma de dasya, sakhya ou outras relações, adoram-Me”.
Verso 9 Os pensamentos de Meus devotos puros residem em Mim, suas vidas são plenamente devotadas a Meu serviço, e eles obtêm grande satisfação e bem-aventurança bem-aventurança sempre se iluminando uns aos outros e conversando sobre Mim. yoga por Minha graça, obtêm esse conhecimento previamente “Tais ananya-bhaktas, que obtiveram buddhi- yoga mencionado acerca de Mim, que é de difícil compreensão. Suas mentes anseiam e buscam por Minha forma, Meu nome, Minhas qualidades, Meus passatempos e pelo degustar da doçura (mac-cittah). Eles são incapazes de manter suas vidas sem Mim (mad-gata-pranah), da mesma forma que os homens são completamente dedicados à comida uma vez que dependem dela para viver. Eles explicam uns para os outros, em um sentimento de amizade, sobre os tipos de bhakti e a verdadeira natureza de bhakti (bodhayantah). Eles conversam sobre Mim, o grande oceano de dulcíssimos passatempos, formas e qualidades ( kathayantah). Eles Me glorificam narrando sobre Meus passatempos, forma e qualidades”. Uma vez que smarana (mac-cittah), sravana (bodhayantah) e kirtana (kathayantah) são as melhores de todas as práticas de bhakti, elas foram especificamente mencionadas. É dessa maneira que esses bhaktas encontram satisfação e prazer. Trata-se de uma experiência privada, ou interna. Ou o significado de “satisfação e prazer” pode ser como se segue. Eles estão satisfeitos mesmo no estágio de sadhana, graças à contínua adoração acarretada de sua boa fortuna, e eles sentem prazer em pensar em sua futura obtenção de prema, e desfrutam com o Senhor através da mente. Isto indica raganuga-bhakti.
Verso 10 Àqueles que estão constantemente devotados a Me servir com amor, Eu dou a compreensão pela qual eles podem vir a Mim. “Entende-se que o prazer dos devotos, descrito no verso anterior, é a bem-aventurança espiritual acima dos gunas. Mas através de qual método os devotos obtêm contato direto com Você? E através de qual fonte eles conseguem
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realização?”. yoga àqueles que estão desejosos de se associarem constantemente coMigo ( satata-yuktanam)”. “Eu dou buddhi- yoga yoga (bhakti-yoga) dentro do âmago de seus Isto significa que o Senhor é a única causa para a manifestação da buddhi- yoga yoga não pode ser de forma alguma obtida por alguma outra fonte. Ela é dada unicamente por corações. “Essa buddhi- yoga Mim e recebida unicamente pelos devotos. Através desta bhakti, eles Me obtêm; eles obtêm associação direta coMigo (upayanti: eles chegam perto de Mim)”.
Verso 11 Para lhes mostrar misericórdia especial, Eu, residindo em seus corações, destruo com a luz brilhante do conhecimento a escuridão nascida da ignorância. “Sem a faculdade da sabedoria e outros elementos similares, como eles podem alcançá-lO, e como eles podem ao menos se esforçar para a obtenção de tal meta?”. “Isto não é de todo necessário. Tendo Eu a intenção de lhes conceder Minha misericórdia por todos os meios, mesmo sem eles terem de se preocupar com a recepção de tal uma vez que sou Eu quem Me empenho para lhes entregar a misericórdia (tesam eva-anukampartham ), Eu, estando situado dentro do âmago de seus intelectos ( atma-bhavasthah ), através do archote do conhecimento, conhecimento nascido de bhakti – que é transcendental aos gunas, e não sáttvico, uma vez que somente bhakti pode Me revelar –, destruo a escuridão nascida da ignorância. Faço isso somente pelos devotos, não por outros, como os yogis. Eu pessoalmente ( aham eva) Me encarrego disso, por Minha conta própria. Por que eles deveriam se esforçar para este propósito? Eu já disse que aceito a responsabilidade por seu bem-estar espiritual e material, yoga-ksema vahamy aham (Bg. 9.22). Eu aceito o encargo de suprir todas as suas necessidades materiais e espirituais”. “Estes quatro versos do Gita ditos pelo Senhor, a essência do Gita para prevenir a degradação das jivas, foi explicado por Mim com o objetivo de dar prazer a todos”.
Versos 12 e 13 Arjuna disse: És a Suprema Personalidade de Deus, a morada última, o mais puro, a Verdade Absoluta. És a pessoa original, eterna e transcendental, o não-nascido, o maior. Todos os grandes sábios, tais como Narada, Asita, Devala e Vyasa, confirmam esta verdade referente a Ti, e agora Tu mesmo a declaras para mim. Desejando ouvir em detalhes o que foi falado apenas sucintamente pelo Senhor, Arjuna toma a palavra começando por glorificar o Senhor. “Você é o param-brahma, e Você é o mais atrativo corpo na forma de Syamasundara ( param-dhama)”. De acordo com o Amara Kosa, dhama significa casa, corpo, luz e glória. “Tal Brahman é Você. Em Você não há distinção dis tinção no sentido de Seu eu e Seu corpo, diferente do que acontece com a jiva. Que tipo de corpo é esse? Ele é supremamente purificador, levando embora toda a contaminação de ignorância da pessoa que O vê ( paramam pavitram ). Todos os rsis, portanto, falam de Sua eternidade na forma humana ( sasvatam purusam ahuh ).
Verso 14 Ó Krsna, aceito totalmente como verdade tudo o que me disseste. Nem os semideuses, nem os demônios, ó Senhor, podem compreender Tua personalidade. “Eu não duvido de forma alguma de tudo o que me diz. Mas esses rsis dizem que Seu corpo supremo é sem nascimento. Eles não sabem sobre Seu nascimento ( vyaktim). Eles não entendem como Você, com Sua svarupa de ParaBrahman, pode ser tanto não-nascido quanto nascido. O que Você disse no verso 10.2 – de que nem os devatas, nem os rsis sabem de Seu nascimento –, eu aceito como completamente verdadeiro. Ó Kesava, Você ata até mesmo Brahma e Siva com a ignorância de Sua natureza verdadeira. ( ka, Brah Brahma ma;; isa, Siva; va, atar). Então certamente deve-se dizer que os devatas também não O conhecem”.
Verso 15 Na verdade, só Tu Te conheces através de Tua potência interna, ó Pessoa Suprema, origem de tudo, Senhor de todos os seres, Deus dos deuses, Senhor do Universo! “Portanto, somente Você sabe de Si. Seu devoto sabe, de fato, que Você nasce e é sem nascimento, embora tal condição seja difícil de existir, mas ele também não pode entender por qual método isso pode acontecer. Somente ( eva) Você sabe. Você sabe unicamente por meio de Si ( atmana), não através de qualquer outro meio. Portanto, dentre todos os
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purusa-avataras,
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criadores do mahat-tattva e outros elementos, Você é supremo ( uttama). Não só Você é supremo entre eles, mas Você é o senhor desses senhores até Brahma, que se tornaram criadores de todos os corpos materiais ( bhuta bhavana bhuta-isa ). Não só Você é o senhor de todos eles, mas Você também é o executor de passatempos ( deva), tomando os devas como instrumentos em Seus passatempos (deva-deva). Além disso, por Sua infindável misericórdia, Você é o mestre daqueles como eu (apenas dasa) que residem dentro do universo ( jagat-pate)”. Todos esses quatro pate, estão no caso vocativo. termos, começando com purusottama e terminando com jagat - pate Outro significado é o seguinte. Eles podem ser tomados como termos descrevendo a natureza de ser a pessoa purusottama). “Você é o pai de todas as criaturas ( bhuta-bhavana )”. Mas, como o pai algumas vezes não é suprema ( purusottama respeitado, Arjuna diz: “Você é o controlador de todas as criaturas ( bhutesa)”. Mas, algumas vezes, mesmo um controlador não é digno de adoração. Então ele diz: “Você é o deva entre todos os devas”. Embora os devas sejam adoráveis, algumas vezes eles não dão proteção. Ele, portanto, diz: “Você é o protetor do universo ( jagat-pate)”.
Verso 16 Por favor, descreve-me Tuas opulências divinas com as quais penetras todos esses mundos. “É difícil entender a verdade sobre Você. Portanto, quero saber sobre Suas atrativas (divya). Você deveria descrevê-las plenamente”. “Mas é impossível falar de todas as Minhas vibhutis plenamente”. “Fale sobre aquelas vibhutis através das quais Você Se distribui neste mundo”.
vibhutis.
Suas
vibhutis
são muito
Verso 17 Ó Krsna, ó místico supremo, como devo pensar constantemente em Ti, e como devo conhecer-Te? Quais as Tuas várias formas que devem ser lembradas, ó Suprema Personalidade de Deus? yogin)!”. Isto é similar à construção de vana-malin, aquele que usa uma “Ó Senhor, possuidor da yogamaya-sakti ( yogin guirlanda de flores. “Como posso, pensando em Você, conhecê-lO ( vidyam) em todos os momentos? É claro que Você diz que bhaktya mam abhijanati yavan yas casmi tattvatah : “apenas através de bhakti Eu posso ser conhecido como Eu verdadeiramente sou” (Bg. 18.55). “Mas em quais objetos ( bhavesu), eu posso pensar em Você? Ou seja, como eu posso executar bhakti pensando em Você em vários objetos?”.
Verso 18 Ó Janardana, por favor, volta a descrever em detalhes o poder místico de Tuas opulências. Nunca me canso de ouvir sobre Ti, pois, quanto mais ouço, mais quero saborear o néctar de Tuas palavras. “Eu já mencionei ser a fonte de tudo e que tudo se move graças a Mim: aham sarvasya prabhavah (Bg. 10.8). Você deve entender, portanto, que tudo é Minha vibhuti. Dizendo que 'sabendo disso, eles Me adoram' (iti matva bhajante mam), Eu indico bhakti- yoga yoga”. “Mas fale em detalhes sobre Suas vibhutis e sobre bhakti. Ó Janardana, em pessoas como eu ( jana), pela doçura de Suas instruções salutares, Você instiga desejo, Você nos deixa agitados ( ardana) e nos faz mendigar. O que podemos fazer? Ouvir néctar na forma de Suas instruções, desfrutar com meus ouvidos de Suas palavras; para mim, em relação a isso, jamais haverá saciedade”.
Verso 19 A Suprema Personalidade de Deus disse: Sim, Eu te falarei sobre Minhas manifestações esplendorosas, mas só sobre aquelas que são preeminentes, ó Arjuna, pois Minha opulência é ilimitada. “Ó (hanta), por misericórdia, irei, sim, falar sobre essas vibhutis. Falarei sobre as principais, pois elas são inúmeras”. A palavra vibhutayah é empregada com a função de vibhutih (acusativo feminino plural). Essas vibhutis são excelentes (divya), não são como grama e tijolos. A palavra vibhuti inclui tanto manifestações materiais quanto espirituais de poder do Senhor. Porque todas elas são produzidas pela sakti do Senhor, todas elas devem ser consideradas dignas de meditação como formas do Senhor, embora algumas sejam preferíveis a outras.
Verso 20 Eu sou a Superalma, ó Arjuna, situado nos corações de todas as entidades vivas. Eu sou o princípio, o meio e o fim de todos os seres.
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“Primeiramente, você deve meditar em Mim como a única causa de todas essas vibhutis através de uma de Minhas porções. Eu sou o atma, a alma dentro da prakrti, o criador do mahat-tattva, o Purusa, o Paramatma (karanodakasayi). Ó conquistador do sono ( gudakesa), você é qualificado para meditar, uma vez que você não dorme. Eu estou situado no agregado de todos os seres (vairajas), como o antaryami do virat (garbhodakasayi). Eu também estou situando dentro dos corações de todas as entidades vivas como o antaryami dos indivíduos (ksirodakasayi). [Dois significados foram dados à sentença sarva-bhutasaya-stithah]. Eu sou a criação ( adih), o mantenimento (madhyam) e a destruição (anta) de todas as entidades.
Verso 21 Dentre os Adityas, sou Visnu; dentre as luzes, sou o Sol radiante; dentre os Maruts, sou Marici; e dentre as estrelas, sou a Lua. O caso genitivo é usado pelo resto do capítulo para indicar um principal em um grupo e também para indicar relação com um grupo. “Dentre os doze Adityas, Eu sou Visnu. Esta é Minha vibhuti. Dentre todas as luzes, aqueles corpos que revelam, Eu sou o Sol, com seus múltiplos raios, o qual também é conhecido como Visnu. Também sou Marici, que é saliente dentre os ventos”.
Verso 22 Nos Vedas, sou o Sama Veda; entre os semideuses, sou Indra, o rei dos céus; nos sentidos, sou a mente; e nos seres vivos, sou a força viva (consciência). “Entre os devatas, sou Indra (vasavah). Eu sou a jnana-sakti (cetana) relativa a todos os seres”. Aqui é o usado o genitivo de relação.
Verso 23 De todos os Rudras, sou o Senhor Siva; dos Yaksas e Raksasas, sou o senhor da riqueza (Kuvera); dos Vasus, sou o fogo (Agni); e das montanhas, sou Meru. Vitta-isah, senhor da riqueza, refere-se a Kuvera.
Verso 24 Dos sacerdotes, ó Arjuna, fica sabendo que sou o principal, Brhaspati. Dos generais, sou Kartikeya; e dos corpos de água, sou o oceano. Skanda significa Kartikeya. A forma senaninam é licença poética [a outra forma seria senaniyam].
Verso 25 Dos grandes sábios, sou Bhrgu; das vibrações, sou o om transcendental. Dos sacrifícios, sou o cantar dos santos nomes (japa); e dos objetos inertes, sou os Himalaias. Ekaksara, uma sílaba, refere ao pranava om.
Verso 26 De todas as árvores, sou a figueira-da-bengala; e dos sábios entre os semideuses, sou Narada. Dos Gandharvas, sou Citraratha; e dentre os seres perfeitos, sou o sábio Kapila. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 27 Dos cavalos, fica sabendo que sou Ucchaisrava, produzido durante a batedura do oceano quando se queria obter néctar. Dos elefantes imponentes, sou Airavata; e dentre os homens, sou o monarca. “Dentre os cavalos, Eu sou Ucchaisrava, que foi produzido da batedura do oceano de néctar ( amrta-udbhavam)”.
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Verso 28
Das armas, sou o raio; dentre as vacas, sou a surabhi. Das causas que fomentam a procriação, sou Kandarpa, o deus do amor; e, das serpentes, sou Vasuki. “Dentre as vacas, sou a Kama-dhenu ( kamadhuk ). ). Dentre os tipos de luxúria, Eu sou a luxúria com o propósito de se produzir progênie ( prajanah)”.
Verso 29 Das Nagas de muitos capelos, sou Ananta; e dentre os seres aquáticos, sou o semideus Varuna. Dos ancestrais que partiram, sou Aryama; e dentre aqueles que impõem a lei, sou Yama, o senhor da morte. “Dentre os habitantes da água ( yadasam), sou Varuna. Dentre os punidores ( samyamatam), sou Yama”.
Verso 30 Entre os demônios Daityas, sou o devotado Prahlada; dentre os subjugadores, sou o tempo; dentre os animais selvagens, sou o leão; e dentre as aves, sou Garuda. “Dentre os subjugadores (kalayatam), Eu sou o tempo. Dentre os animais, sou o leão ( mrga-indrah). Dentre as aves, sou Garuda (vainateyah)”.
Verso 31 Dos purificadores, sou o vento; dos manejadores de armas, sou Rama; dos peixes, sou o tubarão; e dos rios que correm, sou o Ganges. “Dos agentes do movimento ou da purificação, Eu sou o vento. Dos portadores de armas, Eu sou Parasurama”. Ele é cabido como uma vibhuti por ser um avesavatara e por ser uma jiva saliente dentre aquelas que foram dotadas de poder pelo Senhor. O Padma-Purana, citado no Bhagavatamrta, diz: “Ó Devi, recitei para você a história de Parasurama, um saktyavesa-avatara do Senhor”. Também é dito: “Ele nasceu como uma jiva dotada de poder”. As características do avesavatara também são mencionadas no Bhagavatamrta. “Quando uma jiva é dotada com porções de jnana-sakti ou outra sakti do Senhor, ela é chamada de avesavatara”. (Laghu-Bhagavatamrta 1.4.39, 1.4.36. 1.1.18). “Dentre os peixes jhasanam), Eu sou o makara, um tipo especial de peixe. Dentre os rios ( srotasam), sou o Ganges”. ( jhasanam
Verso 32 Em todas as criações, sou o começo, o fim e também o meio, ó Arjuna. De todas as ciências, sou a ciência espiritual do eu; e dentre os recursos lógicos, sou a verdade conclusiva. “Eu sou a criação (adih) e a destruição ( antah) do éter e dos outros elementos ( sarganam), e a manutenção deles também. Deve-se meditar na criação, manutenção e destruição como Minhas vibhutis. Isso significa que Eu, o Senhor Supremo, sou o criador, o mantenedor e destruidor. Dentre os tipos de conhecimento, Eu sou o conhecimento do eu. Dentre os tipos de argumentação que visam estabelecer a própria idéia e derrotar as demais, como jalpa e vitanda, Eu sou vada, o empreendimento de discernir a real verdade com o fim de se chegar a uma conclusão”.
Verso 33 Das letras, sou a letra A; e dentre as palavras compostas, sou o composto duplo. Sou também o tempo inexaurível; e dos criadores, sou Brahma. O composto dvandva é superior dentre os compostos uma vez que seus elementos são iguais. “Dentre os destruidores, sou o tempo indestrutível”. Isto se refere a Mahakala, Rudra, famoso como o destruidor. “Dentre os criadores, sou Brahma ( dhata), com quatro cabeças ( visvato-mukhah )”.
Verso 34 Eu sou a morte que tudo devora e sou o princípio encarregado de gerar tudo o que vai existir. Entre as mulheres, sou a fama, a fortuna, a linguagem afável, a memória, a inteligência, a firmeza e a paciência.
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“Dentre todos os tipos de mortes que estão acontecendo a todo momento, Eu sou a morte que leva embora toda a memória”. É dito que mrtyur atyanta-vismrtih: “A morte é o esquecimento extremo” (SB 11.22.39). “Dentre as transformações pelas quais as entidades vivas passarão no futuro, Eu sou o nascimento, a primeira transformação. Entre as mulheres, sou a fama, a beleza e a fala cortês ( vak ); ); essas três e também as quatro: memória, inteligência, firmeza e tolerância”. Ca indica as outras esposas de Dharma, como Murti.
Verso 35 Dos hinos do Sama Veda, sou o Brhat-sama; e da poesia, sou o Gayatri. Dos meses, sou margasirsa [novembrodezembro], e das estações, sou a primavera florida. O Senhor já disse ser o Sama dentre os Vedas. Aqui Ele diz que, dentre os versos a serem cantados, Ele é o Brhathavamahe (Rg Veda 6.46.1). “Dentre as poesias metrificadas, sou o Sama, cujo primeiro verso começa com tvam rddhim havamahe gayatri; e, dentre as estações, sou a primavera ( kusumakarah) repleta de flores”.
Verso 36 Sou também a jogatina em que se fazem trapaças; e do esplêndido, sou o esplendor. Eu sou a vitória, a aventura e a força dos fortes. “Em relação àqueles que se enganam mutuamente, sou a jogatina”. Aqui, o genitivo é usado para indicar relação entre os trapaceiros. “Entre os conquistadores, Eu sou a vitória. Entre aqueles que se empenham, sou o esforço. Entre os fortes, sou a força”.
Verso 37 Dos descendentes de Vrsni, sou Vasudeva; e dos Pandavas, sou Arjuna. Dos sábios, sou Vyasa; e dentre os grandes pensadores, sou Usana. “Dentre os Vrsnis, sou Vasudeva, Meu pai. Ele é Minha vibhuti”. A regra é apresentada da seguinte maneira: “ prajnaditvat ” (Panini 5.4.38). Às vezes, o a longo pode ter o mesmo significado do a curto. O a longo é usado para indicar interesse pessoal. Outros proporiam que Ele deve ter dito: “Dentre os Vrsnis, sou Eu mesmo, o filho de Vasudeva”. Isto, no entanto, não é aceitável, pois não faz sentido algum.
Verso 38 Dentre todos os meios que reprimem a ilegalidade, sou o castigo; e daqueles processos que visam à vitória, sou a moralidade. Das coisas secretas, sou o silêncio; e dos sábios, sou a sabedoria. “Entre os punidores, sou a punição”. Aqui, o genitivo é usado para indicar relação.
Verso 39 Ademais, ó Arjuna, sou a semente geradora de todas as existências. Não existe ser algum – móvel ou inerte – que possa existir sem Mim. “Eu sou a semente de todos os seres, a causa de seu germinar, porque, sem Mim, as criaturas móveis e imóveis não existiriam”. Isso significa que elas seriam falsas.
Verso 40 Ó poderoso vencedor dos inimigos, Minhas manifestações divinas nunca chegam ao fim. O que te disse é apenas um mero indício de Minhas opulências infinitas. Agora o Senhor resume o tema. “Não há fim para Minhas verbalmente, Eu falei de Minhas múltiplas vibhutis”.
vibhutis.
Apenas brevemente ( uddesatah), apenas
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Verso 41
Fica sabendo que todas as criações opulentas, belas e gloriosas emanam de uma mera centelha do Meu esplendor. Neste verso, o Senhor traz todas as vibhutis do passado, do presente e do futuro que não foram mencionadas anteriormente. “Todo objeto ( sattvam) que tenha majestade ( vibhutimati), excelência (srimat ) ou extraordinária força ou poder (urjitam), saiba que tal objeto vem de uma porção de Meu poder”.
Verso 42 Mas qual é a necessidade, Arjuna, de todo esse conhecimento minucioso? Com um simples fragmento de Mim mesmo, Eu penetro e sustento todo este Universo. “Que necessidade há para você compreender tudo isso detalhadamente? Entenda o resultado produzido a partir da soma desses diversos pedaços de conhecimento, isto é, a essência. Simplesmente através de uma mera porção – através do Paramatma, cuja forma é humana –, fixando-Me ( vistabhya) no mundo que Eu criei, apoiando esse mundo criado sendo a sua base, superintendendo este mundo sendo seu soberano, controlando o mundo sendo seu controlador, penetrando o mundo sendo todo-penetrante, e criando o mundo sendo sua causa, Eu estou aqui”. Tudo no universo é apenas Krsna; Ele, então, é digno de serviço. Deve-se provar Sua doçura pela inteligência dada por essa realização. Isso foi explicado neste capítulo.
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Capítulo D Déci écim m o Primeiro
VISVARUPA DARSANA-YOGA Verso 1 Arjuna disse: pelo fato de eu Ter ouvido as instruções sobre estes assuntos espirituais muito confidenciais que gentilmente me transmitiste, minha ilusão acaba de ser dirimida. No décimo primeiro capítulo, Arjuna, vendo a forma universal, glorifica-a em reverência. Quando Krsna mostra a Si novamente, Arjuna fica satisfeito. No final do último capítulo, ouvindo sobre as amsas de seu querido amigo, o Adi-purusa, o abrigo de todas as vibhutis; ao ouvir as palavras vistabhyaham idam krtsnam ekamsena sthito jagat (Bg. 10.42), Arjuna é tomado pela mais elevada bem-aventurança e também pelo desejo de ver tal forma. Ele glorifica em três versos o que o Senhor acabou de dizer. “As palavras proferidas por Você, indicando Suas vibhutis e referentes ao eu (adhyatma), removeram minha ignorância (mohah) no que concerne a Seus poderes”.
Verso 2 Ó pessoa de olhos de lótus, eu ouvi enquanto falavas pormenorizadamente sobre o aparecimento e o desaparecimento desaparecimento de todas as entidades vivas e passei a entender Tuas Tuas glórias inexauríveis. “Eu ouvi plenamente sobre a criação e a destruição das entidades vivas por Sua parte ( tvattah) nos seis capítulos intermediários em afirmações como aham krtsnasya jagatah prabhavah pralayas tatha : ‘Eu sou a criação e a destruição do universo’ (Bg. 7.6). E também ouvi como Você permanece à parte e inafetado apesar de ser o criador e o destruidor (mahatmyam avyayam ) em versos como maya tatam idam sarvam : ‘Eu estou em todo este universo em Minha forma imanifesta’ (Bg. 9.4), e na ca mam tani karmani nibadhnanti : ‘essas ações não Me atam’ (Bg. 9.9)”.
Verso 3 Ó maior de todas as personalidades, ó forma suprema, embora estejas diante de mim em Tua posição verdadeira, como Tu mesmo Te descreveste, desejo ver como entraste nesta manifestação cósmica. Quero ver esta Tua forma. “Tudo o que Você disse sobre Si mesmo, como ‘Eu estou mantendo todo o universo através de uma de Minhas porções’, é certamente verdade ( evam etad ). ). Não tenho nenhuma dúvida quanto a isso. Mas, ainda assim, desejando estar plenamente satisfeito, quero ver essa forma que exibe Seus poderes. Desejo ver, com meus olhos, tal forma fragmentária Sua, com a qual Você Você suporta este mundo”.
Verso 4 Se achas que sou capaz de contemplar Tua forma cósmica, ó meu Senhor, ó mestre de todo o poder místico, então, mostra-me, por favor, favor, este ilimitado Eu universal. A palavra yogesvara indica que, embora Arjuna seja desqualificado (ayogya), o Senhor, com Seu poder de yoga, pode torná-lo qualificado para ver tal forma.
Verso 5 A Suprema Personalidade de Deus disse: Meu querido Arjuna, ó filho de Prtha, vê então Minhas opulências, constituídas de centenas de milhares de variadas formas divinas e multicoloridas. “Primeiramente, mostrarei a Arjuna aquela forma descrita no purusa-sukta como sahasra-sirsa purusah sahasraksah sahasrapat : ‘aquela foram com mil cabeças, mil olhos e mil pés’. Trata-se de Minha expansão pessoal, o
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primeiro purusa-avatara (Maha-Visnu ou Karanodakasayi), o Antaryami da prakrti. Em seguida, tendo a qualificação necessária, mostrarei a ele Minha forma do tempo”. Tecendo essas considerações em Sua cabeça, o Senhor olhou para Arjuna, dizendo-lhe que prestasse atenção. Então falou este verso. “Veja essas centenas e milhares de formas ( rupani). Em Minha única forma, Minha svarupa, veja centenas de Minhas svarupas, que são Minhas vibhutis”.
Verso 6 Ó melhor dos Bharatas, vê aqui as diferentes manifestações dos Adityas, Vasus, Vasus, Rudras, Asvini-kumaras Asvini-kumaras e todos os outros semideuses. Contempla as muitas coisas maravilhosas que ninguém jamais viu nem ouviu. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 7 Ó Arjuna, tudo o que quiseres ver, contempla imediatamente neste Meu corpo! Esta forma universal pode mostrar-te tudo o que agora desejes ver e tudo o que queiras ver no futuro. Todas as coisas – móveis e inertes – estão aqui em sua plenitude, num só lugar. “Nesta ocasião (iha), este universo, que lhe seria impossível ver completamente mesmo se você perambulasse por ele por milhões de anos, está situado em uma única parte de Meu corpo ( ekastham). Veja este universo e qualquer outra coisa que deseje ver, como sua vitória ou derrota ( yac ca-anyat ), ), em Meu corpo, que é o abrigo do universo uma vez que é a causa dele”.
Verso 8 Mas não Me podes ver com teus olhos atuais. Por isso, Eu te dou olhos divinos. Observa Minha opulência mística! Arjuna não deve achar que esta é alguma espécie de forma criada por algum truque mágico ou ilusão material. Com o propósito de lhe assegurar que a forma que contém todo este universo é sac-cid-ananda, o Senhor fala este verso. “Através de seus olhos materiais (anena), você não pode ver a Mim, a Minha forma espiritual”. Sakyase funciona como sakyasi. “Portanto, Eu lhe dou olhos divinos ( divyam). Veja com esses olhos divinos”. Ao autorizá-lo ver com aqueles olhos, a intenção do Senhor era impressionar um pouco Arjuna, que se considerava uma pessoa material. Mas, de fato, porque ele é um dos principais associados do Senhor, tendo aparecido anteriormente com o avatara Narayana como Nara, Arjuna não tem olhos materiais como têm as pessoas materiais comuns. Qual é a lógica em serem dados olhos espirituais para Arjuna porque ele não pode ver um mero fragmento do Senhor, enquanto que o mesmo Arjuna, com seus mesmos olhos, realiza diretamente a doçura do Senhor? Por outro lado, pode-se dizer que os olhos superiores que vêem apenas a grande doçura dos passatempos humanos de Krsna, como os do ananya-bhakta, não são capazes de aceitar as glórias dos passatempos do Senhor em relação com os devatas (deva-lila). Alguém que tenha provado o sumo do lótus branco não é capaz de desfrutar do sabor do açúcar cande com sua língua. Então, o Senhor, desejando exibir a majestade de Seus passatempos com os devatas (deva-lila), a fim de pasmar Arjuna, que havia pedido para ver somente aquilo, deu a Arjuna olhos não-humanos próprios para ver a deva-lila (divyam). A intenção de tais olhos serem dados será explicada no final do capítulo.
Versos 9 e 10 Sanjaya disse; Ó rei, tendo falado essas palavras, o Supremo Senhor de todo o poder místico, a Personalidade de Deus, mostrou a Arjuna a forma universal. Arjuna viu naquela forma universal bocas ilimitadas, olhos ilimitados e maravilhosas visões ilimitadas. A forma estava decorada com muitos ornamentos celestiais e portava em riste muitas armas divinas. Não é apresentado significado a estes versos.
Verso 11 Ele usava guirlandas e roupas celestiais, e muitas essências divinas untavam o Seu corpo. Tudo era maravilhoso, brilhante, ilimitado e não parava de expandir-se. Visvato-mukham
significa “cujas faces estão em toda a parte”.
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Verso 12
Se centenas de milhares de sóis nascessem ao mesmo tempo no céu, talvez seu resplendor pudesse assemelhar-se à refulgência dessa forma universal da Pessoa Suprema. Se a refulgência (bhah) de mil sóis se manifestasse de uma única vez, então isso talvez fosse similar à refulgência (bhasah) da forma universal ( mahatmanah).
Verso 13 Nesse momento, Arjuna pôde ver na forma universal do Senhor as expansões ilimitadas do Universo situadas em um só lugar, embora divididas em muitos e muitos milhares. Naquele lugar (tatra), no campo de batalha, no corpo do Senhor ( deva-devasya), era impossível levar em conta todo o universo. Arjuna, portanto, viu cada parte do universo situada em uma parte do corpo do Senhor em diferentes prati bhaktam, eka stham ) – uma parte situada em Seus poros ou uma parte situada em Seu abdome, e de momentos ( prati várias maneiras (anekadha). Isto é, ou ele via a forma feita de terra, ouro e jóias, ou a forma de cinquenta koti yojanas, ou de cem koti yojanas ou de centenas de milhares de koti yojanas.
Verso 14 Então, perplexo e atônito, com os pêlos arrepiados, Arjuna inclinou a cabeça para oferecer reverências e, de mãos postas, começou a orar ao Senhor Supremo. Supremo. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 15 Arjuna disse: Meu querido Senhor Krsna, vejo reunidos em Teu corpo todos os semideuses e várias outras entidades vivas. Vejo Vejo Brahma sentado na flor de lótus, e vejo o Senhor Siva e todos os sábios e as serpentes divinas. “Eu vejo uma multidão de animais vivíparos ( bhuta-visesa), e vejo Brahma situado no monte Meru no centro do lótus do planeta Terra”.
Verso 16 Ó Senhor do Universo, ó forma universal, vejo em Teu corpo muitos e muitos braços, ventres, bocas e olhos, expandidos por toda a parte, sem limite. Em Ti, não vejo começo, meio nem fim. Visvesvara
significa a pessoa original, a origem desta forma.
Verso 17 É difícil ver Sua forma por causa de Sua refulgência deslumbrante e onidirecional como o fogo ardente ou o imensurável resplendor do Sol. Entretanto, em toda a parte vejo esta forma reluzente, adornada com várias coroas, maças e discos. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 18 Tu és o objetivo primordial supremo, o lugar definitivo que serve de repouso para todo o Universo. És inesgotável e o mais antigo. És o mantenedor da religião eterna, a Personalidade de Deus. Esta é a minha opinião. “Você é conhecido como brahman (aksaram) por aqueles que se s e esforçam por obter a liberação. Você Você é o local l ocal de destruição de todos (nidhanam)”.
Verso 19 Tu não tens origem, meio nem fim. Tua glória é ilimitada. Tens inúmeros braços, e o Sol e a Lua são Teus olhos.
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Vejo fogo ardente saindo de Tua boca, e queimas todo este Universo com Teu próprio resplendor. Com o uso repetitivo de palavras como anadi, Arjuna parece ser redundante. Não há erro, todavia, na repetição de Arjuna, pois ele estava submerso no oceano da rasa de deslumbramento intenso (maha-vismaya-rasa). É dito que prasade vismaye harse dvi-trir-uktam na dusyati : “repetição de afirmações por duas ou três vezes devido a êxtase, deslumbramento ou benevolência não é erro”.
Verso 20 Embora sejas um, expande-Te por todo o céu, planetas e espaço intermediário. Ó grande pessoa, vendo esta maravilhosa e terrível forma, todos os sistemas planetários ficam perturbados. Agora que Arjuna tem a qualificação apropriada, o Senhor lhe mostra Sua forma como o tempo. Isto é descrito em dez versos.
Verso 21 Todas as hostes de semideuses estão se rendendo a Ti e entrando em Ti. Alguns deles, muito atemorizados, estão de mãos postas, oferecendo orações. Hostes de grandes sábios e seres perfeitos, bradando “Que haja paz”, estão orando a Ti, cantando os hinos védicos. Tvam funciona como “a Ti”.
Verso 22 Todas as várias manifestações do Senhor Siva, os Adityas, os Vasus, os Sadhyas, os Visvadevas, os dois Asvinis, os Maruts, os antepassados, os Gandharvas, os Yaksas, os Asuras e os semideuses perfeitos estão contemplando-Te com admiração. Usma-pah se refere àqueles que sorvem o vapor quente dos alimentos, o que é uma referência diz, usma bhaga hi pitarah : “os pitrs comem o vapor”. (Taittiriya Brahmana, Yajur Veda 1.3.10.6)
aos pitrs. O
sruti
Verso 23 Ó pessoas de braços poderosos, todos os planetas e seus semideuses estão perturbados ao verem Tua Tua grande forma, com seus vários rostos, olhos, braços, coxas, pernas, ventres e Teus vários dentes terríveis; e assim como eles estão perturbados, eu também estou. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 24 Ó Visnu onipenetrante, ao ver-Te com Tuas muitas cores resplandecentes tocando o céu, Tuas bocas escancaradas e Teus grandes olhos reluzentes, minha mente fica perturbada pelo medo. Já não consigo manter minha firmeza ou equilíbrio mental. Sama
significa alívio ou tranquilidade.
Versos de 25 a 31 Ó senhor dos senhores, ó refúgio dos mundos, por favor, conceda-me Sua graça. Não consigo manter o equilíbrio, vendo esses Seus rostos resplandecentes, parecidos com a morte, e esses Seus dentes medonhos. Em todas as direções sinto-me confuso. Todos Todos os filhos de Dhrtarastra, juntamente com os reis que se aliaram a eles, bem como Bhisma, Drona e Karna – e nossos principais soldados também – estão precipitando-se em direção a Suas bocas amedrontadoras. E vejo algumas pessoas presas com as cabeças esmagadas entre Seus dentes. Assim como as muitas ondas dos rios desembocam no oceano, do mesmo modo, todos esses grandes guerreiros entram incandescentes em Suas bocas. Vejo todas as pessoas disparando precipitadamente em direção às Suas bocas, como mariposas que são destruídas quando se lançam no fogo ardente. Ó Visnu, vejo-O, com Suas bocas flamejantes, devorando todas as pessoas de todos os lados. Cobrindo todo o Universo com Sua refulgência, Você Se manifesta com raios terríveis e abrasadores. Ó Senhor dos senhores, cuja forma é tão aterradora, por favor, diga-me quem é
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Você. Ofereço-lhe minhas reverências; por favor, seja benevolente comigo. Você é o Senhor primordial. Quero conhecê-lO, pois não sei qual é a Sua missão. Não é apresentado significado a estes versos.
Versos de 32 a 34 O Bem-aventurado Senhor disse: Eu sou o tempo, o grande destruidor dos mundos, e vim aqui para destruir todas as pessoas. Excetuando vocês (os Pandavas), aqui, todos os soldados de ambos os lados serão mortos. Portanto, levante-se. Prepare-se para lutar e conquistar a glória. Vença seus inimigos e desfrute de um reino próspero. Por Meu arranjo, eles já estão mortos, e você, ó Savyasacin, é apenas um instrumento na luta. Drona, Bhisma, Jayadratha, Karna e outros grandes guerreiros já foram destruídos por Mim. Portanto, mate-os e não fique perturbado. Simplesmente lute, e você derrotará seus inimigos na batalha. Não é apresentado significado a estes versos.
Verso 35 Sanjaya disse a Dhrtarastra: Ó Rei, depois de ouvir estas palavras faladas pela Suprema Personalidade de Deus, Arjuna trêmulo e de mãos postas, ofereceu repetidas reverências. Com voz balbuciante, ele estava amedrontado quando dirigiu ao Senhor Krsna as seguintes palavras. Namaskrtva é licença poética. A forma padrão é namaskrtya.
Verso 36 Arjuna disse: Ó Senhor dos sentidos, o mundo se regozija ao ouvir Teu nome, e assim todos se apegam a Ti. Embora os seres perfeitos te ofereçam suas respeitosas homenagens, os demônios têm medo e fogem de um lado para o outro. Tudo isto se faz de forma razoável. Realizando repentinamente que a forma prazerosa do Senhor e a forma assustadora do Senhor eram objetos de atração e repulsa, ele explica este fato e glorifica o Senhor. Sthane , verbete indeclinável, significa neste contexto apropriado. “Ó Hrsikesa, Você inspira os sentidos de Seus devotos a se voltarem para Você, e inspira os sentidos dos não prakirtya) e se atrai por devotos a se afastarem de Você. O universo se torna venturoso por glorificá-lO em sankirtana ( prakirtya Você (anurajyate). Isto é razoável (sthane) uma vez que o universo Lhe é favorável. Os raksasas, asuras, danavas, pisacas e outros (raksamsi), todavia; sendo tomados pelo medo, fogem em todas as direções ( disah dravanti ). Isto também é razoável, uma vez que Lhe são desfavoráveis. E todo o grupo daqueles que são perfeitos pela devoção a Você (siddha-sanghah) Lhe oferece respeitos. Isto também é razoável, uma vez que são Seus devotos”. Este verso é famoso no mantra-sastra por sua habilidade em proteger contra raksasas.
Verso 37 Ó pessoa grandiosa, maior até do que Brahma, és o criador original. Por que então deveriam eles deixar de oferecer suas respeitosas reverências a Ti? Ó ilimitado, Deus dos deuses, refúgio do Universo! És a fonte invencível, a causa de todas as causas, transcendental a esta manifestação material. “Por que não deveriam eles Lhe oferecer reverências? Certamente eles devem Lhe oferecer reverências, pois Você Você é o Brahman (aksaram), acima tanto da causa quanto do efeito ( sad-asat param )”.
Verso 38 És a Personalidade de deus original, o mais antigo, o santuário definitivo deste mundo cósmico manifestado. És o conhecedor de tudo e és tudo o que é cognoscível. És o refúgio supremo, situado acima dos modos materiais. Ó forma ilimitada! Tu penetras toda esta manifestação cósmica! significa o lugar de imersão no momento da destruição. Param-dhama significa a forma transcendental do Senhor, além dos gunas. Nidhanam
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Verso 39
És o ar e és o controlador supremo! És o fogo, a água e a Lua! És Brahman, a primeira criatura viva e és o bisavô. Portanto, faço questão de oferecer-Te mil vezes minhas respeitosas reverências, e volto a oferecê-las vezes e mais vezes. Não é apresentado significado a estes versos.
Verso 40 Ofereço-Te Ofereço-Te reverências de frente, de trás e de todos os lados! Ó poder incomensurável, és o Senhor cujo poder não conhece limites! És onipenetrante e, portanto, és tudo! “Você “Você penetra todo este universo ( sarvam samapnosi ) uma vez que ele é Seu subproduto, como ouro em brincos e pulseiras. Você, Você, portanto, é tudo”.
Versos 41 e 42 Colocando-Te na posição de amigo, sem sequer conhecer Tuas glórias, dirigi-me a Ti com as seguintes palavras imprudentes: “Ó Krsna: “ó Yadava”: “ó meu amigo.” Por favor, perdoa tudo o que eu possa Ter feito por loucura ou por amor. Quantas vezes Te desonrei, gracejando enquanto nos descontraíamos, deitávamos na mesma cama, sentávamos ou comíamos juntos, às vezes a sós e outras vezes diante de muitos amigos. Ó infalível, por favor, perdoa todas essas minhas ofensas! “Ó, eu cometi a maior das ofensas a Você, que é pleno de poderes imensuráveis ( aisvarya)”. Desta forma, Arjuna manifesta grande arrependimento. “Ó Krsna, Você é conhecido como o filho de Vasudeva, um ser humano que não é famoso e que precisa de assistência para derrotar um único combatente ( arddharati). Eu, Arjuna, sou muito famoso por ser filho do rei Pandu, um grande guerreiro que luta sozinho em sua quadriga contra inúmeros oponentes ( atirathi). Ó Yadava, Você não tem a posição de rei na dinastia Yadu, mas eu sou da realeza da dinastia Kuru”. O sandhi de sakha com iti é licença poética. “Ó meu amigo, minha amizade por Você não é motivada pela grandeza de Seus antepassados ou por causa da reputação de Sua família, mas é baseada em mera afinidade. Imploro que me perdoe pelas palavras ásperas ( prasabham) que falei – eu as proferi por intimidade, não por nenhum outro motivo”. O sentimento do verso 41 continua no verso 42 com o verbo ksamaye. A forma apropriada do verso seria ksamayam , “devo implorar Seu perdão”. “Seja por negligência ou por afeição, não sabendo ser Você a forma universal ( mahimanam), eu O tratei mal durante momentos de lazer e em outras situações fazendo piadas ou brincadeiras. Eu O critiquei com palavras sarcásticas dizendo que Você é satyavadi, veraz; niskapata, livre de malícia; e parama-sarala, muito simples. Imploro que me perdoe pelas milhares de ofensas que cometi quando Você estava sozinho, fora da presença de amigos, ou quando Você estava rodeado por amigos que estavam fazendo piadas e brincadeiras ( tat-samaksam). Ó mestre, imploro pelo Seu perdão (ksamaye)”.
Verso 43 És o pai desta manifestação cósmica completa, do móvel e do inerte. És o seu líder adorável, o mestre espiritual supremo. Ninguém é igual a Ti, e tampouco pode alguém ser uno conTigo. Como então poderia haver alguém dentro os três mundos maior do que Tu, ó Senhor de poder imensurável? Não é apresentado significado a este verso.
Verso 44 És o Senhor Supremo, que deve ser adorado por todos os seres vivos. Então, eu me prostro para te oferecer minhas respeitosas reverências e pedir Tua misericórdia. Assim como o pai tolera a insolência de seu filho, ou um amigo tolera a impertinência do amigo, ou uma esposa tolera a familiaridade de seu parceiro, por favor, tolera os erros que acaso eu tenha cometido contra Ti. Pranidhaya significa prostrar priyayarhasi é licença poética.
o corpo sobre a terra como uma vara a fim de demonstrar respeito. O
sandhi
em
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Verso 45
Após ver esta forma universal, que jamais havia visto, sinto-me satisfeito, mas, ao mesmo tempo, minha mente está perturbada pelo medo. Por isso, por favor, concede-me Tua graça e torna a revelar Tua forma como a Suprema Personalidade de Deus, ó Senhor dos senhores, ó morada do Universo. “Embora eu esteja encantado, tendo visto Seu corpo composto da forma do universo, corpo este que jamais havia sido visto anteriormente, minha mente está amedrontada por causa de sua ferocidade. Portanto, mostre-me aquela forma (tad eva rupa ), a forma do filho de Vasudeva, a forma de doçura, que é milhões de vezes mais querida à minha vida. Seja favorável a mim – não me exiba mais essa forma de grande poder. Eu agora O vejo como o Senhor dos devatas (devesa), o local de repouso do universo ( jagan-nivasah)”. Deve-se entender que Arjuna não via o corpo de Krsna em Sua forma humana, a origem de todas as formas, porque a visão dele estava encoberta por yoga-maya.
Verso 46 Ó forma universal, ó Senhor de mil braços, desejo ver-Te em Tua forma de quatro braços, com elmo na cabeça e portando maça, disco, búzio e flor de lótus em Tuas mãos. Almejo ver essa Tua forma. “Ademais, quando demonstrar Sua glória, demonstre aquela glória plena da mais elevada rasa na forma do filho de Vasudeva, o executor de passatempos quase humanos, que traz prazer para a mente e para os olhos das pessoas como nós, a qual Você exibia anteriormente; e não a forma majestosa que é desagradável para a nossa mente e nossos olhos, revelada como a forma universal, relativa aos passatempos com os devatas, a qual nunca fora vista anteriormente”. Com essa intenção, Arjuna diz o verso. “Desejo ver aquela mesma forma com uma coroa de pedras preciosas ( tatha-eva) que vimos algumas vezes antes, e que Seus pais viram quando Você nasceu. Ó forma do universo de milhares de braços, recolha essa forma e apareça (bhava) naquela forma com quatro braços”.
Verso 47 A Suprema Personalidade de Deus disse: Meu querido Arjuna, com prazer te mostrei, através de Minha potência interna, esta forma universal suprema. Dentro do mundo material, antes de ti, ninguém jamais vira esta forma primordial, ilimitada e plena de refulgência deslumbrante. “Ó Arjuna, você disse que queria ver esta Minha forma majestosa (verso 3) e, ao Seu pedido, Eu exibi a forma universal, que é uma de Minhas partes. Por que sua mente ficou perturbada vendo essa exibição? Não é espantoso que você Me implore desejando ver novamente Minha forma humana?”. Então, o Senhor fala este verso. “Estando satisfeito consigo, Eu exibi esta forma somente para você ( tava) e para ninguém mais – ela nunca foi vista por ninguém. Apesar disso, você não quer ver essa forma?”.
Verso 48 Ó melhor dos guerreiros Kurus, antes de ti, ninguém jamais vira esta Minha forma universal, pois nem através do estudo dos Vedas, Vedas, da execução de sacrifícios, da caridade, de atividades piedosas ou de rigorosas penitências, posso Eu ser visto sob esta forma no mundo material. “Esta forma que lhe mostrei é raramente vista mesmo por aqueles que estudam os Vedas e seguem outros processos. Eu não posso ser visto nesta forma ( evam-rupah) por ninguém além de você”. A ausência de visarga e consequente sandhi na forma sakyo’ ham ao invés de sakyah aham neste verso é licença poética. “Portanto, considerando isto, você ter obtido algo que não é obtenível, fixe sua mente nesta forma, que é de difícil visão e que certamente é o Senhor. Tendo visto essa forma, você deve se esquecer da forma humana que você quer ver novamente”.
Verso 49 Ficaste perturbado e confuso ao ver este Meu aspecto terrífico. Agora basta. Meu devoto, volta a livrar-te de toda a perturbação. Com a mente tranquila, podes então ver a forma que desejas. “Ó Senhor Supremo, por que não me favorece? Você está me forçando ter algo que eu não quero. Vendo essa Sua forma, minhas pernas e braços estão inquietos, e minha mente, aflita. Eu estou desmaiando constantemente. Permita-me
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oferecer minhas respeitosas reverências repetidas vezes a essa forma majestosa, mas à distância. Eu nunca mais orarei para ver essa forma. Conceda-me Seu perdão, conceda-me Seu perdão. Mostre para mim aquela forma humana com um rosto lunar, através da qual Você Você chove um néctar de doces sorrisos. Por favor, mostre-me essa Sua forma”. O Senhor fala este verso de forma a confortar Arjuna, que está aflito da maneira acima.
Verso 50 Sanjaya disse a Dhrtarastra: A Suprema Personalidade de Deus, Krsna, tendo falado essas palavras a Arjuna, manifestou Sua verdadeira forma de quatro braços e por fim mostrou Sua forma de dois braços, encorajando assim o amedrontado Arjuna. Da mesma forma que o Senhor exibiu Sua forma assustadora, que nasce de apenas uma de Suas partes, Ele mostrou novamente Sua mais doce forma pessoal ( svakam rupam), com quatro braços, coroa, maça, disco e outros ornamentos, que foi requerida por Arjuna e que era uma mistura de doçura e grandeza ( madhurya-aisvarya-mayacaturbhuja-rupa). Então, a Suprema Personalidade de Deus novamente assumiu a prazerosa forma de dois braços (saumya-vapuh), trajando pulseiras, brincos, turbante e roupa amarela, e confortou assim o amedrontado Arjuna.
Verso 51 Ao ver Krsna em Sua forma original, Arjuna, então, disse: Ó Janardana, agora que vejo esta forma aparentemente humana, possuidora de tamanha beleza, minha mente está tranquila, e reassumi minha natureza original. Arjuna, então, vendo a doce forma de Krsna, disse nadando em um oceano de bem-aventurança: “Ó Janardana, agora eu reavi minha consciência (sa-cetah samvrttah) e me recompus em serenidade ( prakrtim gatah)”.
Verso 52 A Suprema Personalidade de Deus disse: Querido Arjuna, esta Minha forma é dificilmente contemplada. Mesmo os semideuses sempre buscam a oportunidade de ver esta forma tão querida. “Aqui, o Senhor glorifica em três versos a forma universal que exibiu. Os devatas desejam ver essa forma, mas eles não conseguem. Mas você sequer deseja vê-la. Como poderiam seus dois olhos, que continuamente desfrutam da grande doçura de Minha forma humana, que é Minha forma original, desfrutar dessa forma universal? Por isso Eu lhe dei olhos do tipo divya para vê-la: divyam dadami te caksuh . Mas, embora Eu tenha lhe dado olhos celestiais ( divya), Eu não lhe dei uma mente da mesma natureza divya. Assim, apenas pelos olhos divya, você não é capaz de desfrutar completamente dessa forma, pois sua mente encontra prazer unicamente na grande doçura de Minha forma humana. Se Eu tivesse lhe dado uma mente divya, então você teria desfrutado dessa forma do purusa como a forma universal da mesma forma que os devatas desfrutam”.
Verso 53 A forma que vês com teus olhos transcendentais não pode ser compreendida através do simples estudo dos Vedas, nem por submeter-se a sérias penitências, nem por fazer caridade, nem por prestar adoração. Não é por estes meios que é possível ver-Me como sou. “Além disso, entenda, por favor, que outros, que têm como meta de suas vidas essa svarupa que não é desejada por você, não podem ver essa ess a forma ou conhecê-la mesmo por diversas práticas, como o estudo dos Vedas”. Vedas”.
Verso 54 Meu querido Arjuna, só pelo serviço devocional indiviso é possível compreender-Me como sou, tal qual Me apresento diante de ti, e assim poder Me ver diretamente. Só desse modo podes ingressar nos mistérios da compreensão acerca de Mim. “Então, através de que prática essa forma pode ser alcançada?”. “Somente através de bhakti Eu posso ser conhecido e visto”. A dispensa do visarga e consequente sandhi na forma sakyo’ ham ao invés de sakyah aham no verso presente é licença poética. “Mesmo se alguém deseja nirvana-moksa, só pode se fundir no Brahman ( tattvena pravestum) através de ananya-bhakti, e por nenhum outro processo. A guni-bhuta-bhakti dos jnanis permanece como uma pequena quantia de ananya-bhakti após a renúncia de jnana no instante da morte. Assim, eles obtêm sayujya-mukti. Eu substanciarei esse ponto posteriormente com o verso tato mam tattvato jnatva visate tad-anantaram (Bg. 18.55).
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Conhecendo-Me como o Brahman, eles então entram em Mim”.
Verso 55 Meu querido Arjuna, aquele que se ocupa em Meu serviço devocional puro, livre das contaminações das atividades fruitivas e da especulação mental, que trabalha para Mim e faz de Mim a meta suprema de sua vida, sendo amigo de todos os seres vivos – com certeza virá a Mim. A fim de resumir o tema de bhakti, o Senhor, neste verso, fala sobre as características gerais dos diferentes tipos de devotos que foram descritos a partir do sétimo capítulo. Sanga-varjitah significa destituído de apego material. Arjuna entendeu que sua vitória no campo de batalha dependia unicamente do grande poder de Krsna. Este é o significado deste capítulo.
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Capítulo D Déci écim m o Segundo
BHAKTI-YOGA Verso 1 Arjuna perguntou: Quais são considerados mais perfeitos, aqueles que sempre estão devidamente ocupados em Seu serviço devocional ou aqueles que adoram o Brahman impessoal, o imanifesto? No décimo segundo capítulo, a superioridade de todos os tipos de devotos em relação aos jnanis é descrita; e, entre os devotos, aqueles que são dotados de maravilhosas qualidades, como a de ausência de ódio, são glorificados. Arjuna ouviu da grande superioridade de bhakti no começo do tópico de bhakti nas seguintes palavras: yoginam api sarvesam mad-gatenantar-atmana sraddhavan bhajate yo mam sa me yuktatamo matah
“Mas Eu considero aquele que Me adora com fé, com a mente apegada a Mim, como sendo s endo maior do que todos os tipos de yogis”. – Bg. 6.47 Arjuna, desejando ouvir sobre a superioridade de bhakti, mesmo que de forma breve, faz uma pergunta. “Entre os devotos descritos como constantemente ocupados, que O adoram como Syamasundara, mencionados no final do último capítulo com mat-karma-krn mat-paramah (Bg. 11.55), e aqueles que adoram o impessoal, o a ksara-brahman destituído de qualidades, descrito nos srutis com declaração do tipo, etad vai tad-aksaram gargi brahmana abhivadanty-asthulam ananv-ahrasvam: “Ó Gargi, aquele aksara, que não nem é extenso nem pequeno ou sutil, é chamado Brahman” (Brhadaranyaka Upanisad 3.8.9), qual desses dois tipos de pessoas que conhecem yoga, são os melhores conhecedores de yoga yoga-vittamah)? Quem conhece o melhor processo para alcançá-lO? Ou eles não conhecem?”. Na comparação de dois ( yoga-vittamah itens, a forma yoga-vittara (qual deles conhece yoga melhor) seria usada. A expressão yoga-vittama deve ser entendida yoga-vittara), quais são os melhores ( yogacomo que perguntando: “dentre os muitos excelentes conhecedores de yoga ( yoga-vittara vittama)?”.
Verso 2 A Suprema Personalidade de Deus disse: aqueles que fixam suas mentes em Minha forma pessoal e sempre se ocupam em adorar-Me com grande fé transcendental, Eu os considero muito perfeitos. “Dentre aqueles que conhecem yoga, Meus devotos são os melhores. Aqueles que absorvem suas mentes em Mim, Syamasundara, aqueles que desejam estar constantemente unidos a Mim ( nitya-yukta), com a fé que é paraya-sraddhaya), eles, Meus ananya-bhaktas, são os mais entendidos de yoga ( yuktatama yuktatama)”. transcendental aos gunas ( paraya-sraddhaya No que concerne à fé, é declarado no Srimad-Bhagavatam que: sattviky adhyatmiki sraddha karma-sraddha tu rajasi tamasy adharme ya sraddha mat-sevayam tu nirguna
“A fé direcionada à vida espiritual é no modo da bondade, a fé arraigada em trabalho fruitivo é no modo da paixão e a fé que reside em atividades irreligiosas é no modo da ignorância, mas a fé em Meu serviço devocional é puramente transcendental”. – 11.25.27 Deve-se inferir a partir disto que inferior a esses ananya-bhaktas estão aqueles que têm bhakti misturada com jnana, karma ou outros processos, que são chamados yoga-vittara – conhecedores, mas não os melhores conhecedores, yoga-vittama . Assim, é estabelecido aqui que bhakti é melhor do que jnana, e que, dentre os tipos de bhakti, ananyabhakti é a melhor.
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Versos 3 e 4
Mas aqueles que adoram plenamente o imanifesto, aquilo que está além da percepção dos sentidos, o onipenetrante, inconcebível, imutável, fixo e imóvel – a concepção impessoal sobre a Verdade Absoluta – controlando os vários sentidos e sendo equânimes para com todos; tais pessoas, ocupadas em prol do bem-estar de todos, acabarão Me alcançando. “Aqueles que adoram Minha brahman-svarupa impessoal são inferiores porque continuam aflitos”. O Senhor estabelece isto em dois versos. Aqueles que adoram o Brahman ( aksaram), que não é designável ( anirdesyam) por ser sem forma ou outras qualidades ( avyaktam), que se expande por toda a parte ( sarvatra-gam), que está além da lógica (acintyam) e que perfaz todas as fases do tempo ( kutastham), que é destituído de crescimento ou outra mudança ( acalam) e é eterno (dhruvam), alcançam-Me na forma do Brahman impessoal”. Ele diz que eles “Me” alcançam porque o Brahman não é diferente do Senhor. O Amara Kosa diz que kuta-stha significa aquilo que perfaz o tempo de maneira uniforme.
Verso 5 Para aqueles cujas mentes estão apegadas ao aspecto impessoal e imanifesto do Supremo, o progresso é muito problemático. Progredir nesta disciplina é sempre difícil para aqueles que estão corporificados. “Como os nirvisesa-jnanis são inferiores?”. Este verso descreve um pouco da posição desfavorecida dos impersonalistas. “Aqueles que estão atraídos unicamente pelo Brahman (avyakta-asakta-cetasam), que desejam apenas a realização Brahman, encontram excessivas dificuldades para tal obtenção, porque ( hi) por quais meios se pode perceber algo sem qualidades? Essa meta é alcançada pelas jivas corporificadas (dehavadbhih) de modo muito sofrido ( duhkham). Os sentidos têm poder para determinado conhecimento, como o som, não para algo sem qualidades”. Parar os sentidos é necessário para aqueles que desejam conhecimento do impessoal sem qualidades ( nirvisesa). Todavia, parar os sentidos é como parar correntezas: muito difícil. Sanat-kumara diz: yat-pada-pankaja-palasa-vilasa-bhaktya karmasayam grathitam udgratha yanti santah tadvan na rikta-matayo yatayo' pi ruddhasroto-ganas tam aranam bhaja vasudevam
“Os devotos, que estão sempre ocupados no serviço aos dedos dos pés de lótus do Senhor, podem muito facilmente desfazer o nó cego do desejo por atividades fruitivas. Porque isto é muito difícil, os não-devotos – os jnanis e yogis – embora tentem deter as ondas da gratificação sensorial, não conseguem fazê-lo. Portanto, recomenda-se a ocupação no serviço devocional a Krsna, o filho de Vasudeva”. – SB 4.22.39 krcchro mahan iha bhavarnavam aplavesam sad-varga-nakram asukhena titirsanti tat tvam harer bhagavato bhajaniyam anghrim krtvodupam vyasanam uttara dustararnam
“O oceano de misérias é de difícil transposição porque ele é infestado de muitos tubarões perigosos. Muito embora aqueles que não são devotos empreendam severas austeridades e penitências para cruzarem o oceano, recomendamos que você simplesmente tome refúgio nos pés de lótus do Senhor, que são como barcos seguros. Embora seja difícil cruzar o oceano; tomando refúgio nos pés de lótus do Senhor, você superará todas as dificuldades”. – SB 4.22.40 Mesmo a meta que é obtida por tal sofrimento só é obtida pela presença diminuta de bhakti. Sem bhakti ao Senhor, o adorador do Brahman impessoal obtém apenas sofrimento, e não o Brahman. O senhor Brahma diz: tesam asau klesala eva sisyate nanyad yatha sthula-tusavaghatinam
“Assim como uma pessoa que debulha um folhelho vazio não pode obter grão algum, uma pessoa que simplesmente especula não pode obter a auto-realização. Seu único ganho são problemas”. – SB 10.14.4
Versos 6 e 7 Mas aqueles que Me adoram, abandonando todas as atividades por Mim e não se afastando de sua devoção a Mim,
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ocupando-se em serviço devocional e sempre meditando em Mim, tendo fixado suas mentes em Mim, ó filho de Prtha – para eles Eu sou o pronto salvador do oceano de nascimentos e mortes. “Mas os devotos, mesmo sem jnana, simplesmente por kevala-bhakti, obtêm confortavelmente a liberação do samsara. Tendo abandonado ( sannyasa significa tyaga ou renúncia) todos os outros processos pelo propósito de Me alcançar (mayi), eles Me adoram através de ananya-bhakti-yoga (ananyena-yogena) – que significa bhakti destituída de karma, jnana, tapas ou outros elementos”. É dito que: yat karmabhir yat tapasa jnana-vairagyatas ca yat yogena dana-dharmena sreyobhir itarair api sarvam mad-bhakti-yogena mad-bhakto labhate'njasa svargapavargam mad-dhama kathancid yadi vanchati
“Tudo o que pode ser obtido através de atividades fruitivas, penitências, conhecimento, desapego, yoga mística, caridade, cumprimento de deveres religiosos e de todos os outros meios perfectivos de vida é facilmente obtido pelo Meu devoto através do serviço amoroso a Mim. Se, de alguma forma, Meu devoto deseja promoção aos planetas celestiais ou residência em Minha morada, ele consegue essas bênçãos com grande facilidade”. – SB 11.20.32-33 No Moksa Dharma, seção Narayaniya, também se diz: ya vai sadhanam sampattih purusartha catustaye taya vina tad apnoti naro narayanasrayah
“Tudo aquilo que pode ser obtido nas quatro metas da vida humana através de várias práticas espirituais é automaticamente obtido, sem nenhum esforço, pela pessoa que se refugia no Senhor Narayana, o refúgio de toda as pessoas”. “Mas qual é o método pelo qual eles cruzam o samsara?”. “Não há questão de método pelo qual eles cruzam o samsara porque, mesmo sem terem um método, Eu faço com que eles cruzem o oceano de nascimentos e mortes. Eu rapidamente Me torno o salvador deles do oceano do samsara”. Fica aqui implícito que o Senhor tem afeição por Seus devotos, mas não pelos jnanis.
Verso 8 Fixa tua mente em Mim, a Suprema Personalidade de Deus, e ocupa toda a tua inteligência em Mim. Assim, não haverá dúvida alguma de que viverás sempre em Mim. “Uma vez que bhakti é melhor, por favor, execute apenas bhakti”. Ele ensina tal bhakti em três versos. A palavra eva exclui o aspecto impessoal do Senhor. “Concentre sua mente unicamente em Mim, lembre-se de Mim (mayy eva mana adhatsva ) naquela forma de Syamasundara, com vestes amarelas ( pitambhara-dhari) e guirlanda de flores silvestres (vana-mala), e não na forma do Brahman impessoal. Além disso, fixe também sua inteligência discriminadora em Mim”. Isso significa refletir continuamente nas afirmações escriturais usando a inteligência, o que resultará em meditação. Tal contemplação se chama manana. “Assim você obterá residência próximo a Mim”. Nivasisyasi é uma forma poética para nivatsyasi, empregada com fim de metrificação.
Verso 9 Meu querido Arjuna, ó conquistador de riquezas, se não podes fixar tua mente em Mim sem te desviares, então segue os princípios reguladores que fazem parte da bhakti-yoga. Desenvolve deste modo um desejo de Me alcançar. O Senhor então fala de um método para a obtenção do estado de constante lembrança mencionado acima se não se é capaz de lembrar do Senhor imediatamente. “Repetidamente colocando a mente sob controle quando ela foge daqui para lá, fixe-a em Mim”. Este é o método ( yoga). Ao chamar Arjuna de Dhananjaya, Krsna indica que assim como ele conquistou riquezas ( dhana), ele é capaz de conquistar a meditação ( dhyana).
Verso 10 Se não podes praticar as regulações que fazem parte da bhakti-yoga, então simplesmente tenta trabalhar para Mim. Porque, trabalhando para Mim, chegarás à fase perfeita.
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“Da mesma forma que a língua de uma pessoa contaminada por icterícia não é capaz de provar o doce do açúcar cande, a mente de uma pessoa contaminada pela ignorância não aceita Sua forma, embora seja muito doce. Dessa maneira, não me é possível lutar contra essa mente obstinada e descontrolada”. “Se há a possibilidade de você pensar assim, Eu respondo então com estas palavras”. Mat-karma-paramah significa “Minhas atividades supremas, além dos modos da natureza”. “Seja uma pessoa ocupada em Minhas atividades supremas. Fazendo serviços como ouvir e cantar sobre Mim, curvar-se diante de Mim, adorar-Me, varrer e limpar Meu templo, colher flores para Mim e outros; mesmo sem a lembrança de Mim previamente descrita, você alcançará a perfeição ( siddhim), caracterizada por ser um de Meus associados em prema”.
Verso 11 Se, entretanto, és incapaz de trabalhar nesta Minha consciência, então tenta agir renunciando a todos os resultados de teu trabalho e procura situar-te no eu. “Se você é incapaz de fazer isso, então, refugiando-se no processo de oferecer todas as suas ações a Mim ( mad yogam asritah), renuncie todos os resultados de suas ações como se descreve nos seis primeiros capítulos”. O significado é este. Nos seis primeiros capítulos, o Senhor falou de niskama-karma-yoga oferecida ao Senhor, um método para se obter a liberação. Nos seis capítulos posteriores, o Senhor falou de bhakti-yoga, o método para se obter o próprio Senhor. Há dois tipos de bhakta-yogi: aquele fixo em bhakti através de meios internos e aquele fixo em bhakti através de meios externos. O primeiro tipo de bhakti, através do uso de meios internos, apresenta três subcategorias: smarana-atmika, lembrança, e manana-atmika, meditação (mencionadas no verso 8), e abhyasa, a prática para aqueles que não conseguem se lembrar continuamente, mas o desejam. Esses três são difíceis para uma pessoa pouco inteligente e fácil para uma pessoa de bom intelecto e sem ofensas. O segundo tipo, tendo meios externos por base, é composto de ouvir e cantar (verso 10). Este é de fácil execução para todos. Aqueles que são qualificados para a execução de ambos os métodos são os mais preeminentes. Isto foi estabelecido no segundo conjunto de seis capítulos. Aqueles que não são capazes de fazer nenhum dos dois, que não têm fé no estabelecimento dos sentidos no Senhor, que são qualificados apenas para niskama-karma oferecida ao Senhor (verso 11), estão em uma posição inferior em relação aos devotos.
Verso 12 Se não podes adotar esta prática, então te ocupa no cultivo do conhecimento. Entretanto, melhor do que o conhecimento é a meditação, e melhor do que a meditação é a renúncia aos frutos da ação, pois, com esta renúncia, pode-se alcançar paz de espírito. Neste verso, o Senhor deixa claro a sucessiva superioridade de abhyasa, manana e smarana, declarada anteriormente. “Melhor do que a prática é fixar a inteligência em Mim ( jnanam ou maranam)”. Apenas por realizar prática é difícil obter meditação. Pela execução de manana, pode-se facilmente chegar ao nível de meditação. Mas meditação (mayi mana adhatsva , ou smarana) é melhor do que jnana ou manana. Por quê? Através da meditação a pessoa se torna livre do desejo pelos frutos de sakama-karma na forma de svarga e dos frutos de niskama-karma na forma da liberação. Muito embora esses sejam obtidos por eles sem esforço algum, os devotos lhes são indiferentes. Antes de o devoto alcançar a meditação estável, quando ele ainda não alcançou rati (bhava), ele tem apenas desejo por abandonar a liberação. Mas um devoto que é fixo em meditação (no estágio de bhava) é avesso a moksa. Ele considera a liberação como insignificante. Sua elevada meditação é a causa da indiferença por moksa. Isto é declarado no Bhakti-RasamrtaSindhu, onde bhakti é glorificada com seis qualidades: klesa-ghni subhada moksa-laghutakrt sudurlabha sandrananda-visesatma sri-krsnakarsani ca sa
“ Bhakti é caracterizada pela destruição do sofrimento, concessão de boas qualidades, desdém pela liberação, raridade, intensa bem-aventurança espiritual e por atrair até mesmo Krsna”. – 11.1.17 na paramesthyam na mahendra-dhisnyam na sarvabhaumam na rasadhipatyam na yoga-siddhir apunar-bhavam va mayy arpitatmecchati mad vinanyat
“O devoto que fixou sua consciência em Mim não deseja nada que seja separado de Mim - nem a posição do
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supremo semideus do universo, Brahma, nem a posição de senhor Indra, nem soberania sobre toda a Terra ou sobre os sistemas planetários inferiores, nem as perfeições místicas da yoga e nem mesmo a liberação do ciclo de renascimentos”. – SB 11.14.14 Neste verso, a frase mayy arpita-atma significa “fixo em Mim em meditação”. “Depois de desenvolver desapego aos frutos da ação, a pessoa então obtém a paz na forma da cessação da vagagem dos sentidos por diversos objetos que não são Minha forma e Minhas qualidades”. Essa explicação das palavras sreyah e visisyate na primeira linha a anantaram na segunda conecta diretamente a sucessão de estágios. Nenhuma outra explicação pode ser considerada.
Versos 13 e 14 Aquele que não é invejoso, mas é um amigo bondoso para com todas as entidades vivas, que não se considera proprietário e está livre do falso ego, que é equânime tanto na felicidade quanto na aflição, que é tolerante, sempre satisfeito, autocontrolado e ocupa-se em serviço devocional com determinação, tendo sua mente e inteligência fixas em Mim – semelhante devoto Me é muito querido. “Qual é a descrição do devoto que alcançou tal paz de espírito?”. Em resposta, diferentes naturezas de muitos tipos de devotos são descritas em oito versos. Advesta significa uma pessoa que não tem ódio nem mesmo por aqueles que a odeiam. Ao contrário, ela cultiva um sentimento de amizade por tais odiadores ( maitrah). Ele é misericordioso para com eles, desejando que eles não acabem por se envolver em situações desventurosas ( karunah). “Mas através de que tipo de discriminação pode-se cultivar amizade e compaixão mesmo para com os inimigos?”. “Não se deve fazer discriminação alguma. Livre do sentimento de posse por filhos e esposa ( nirmamah), não tomando o corpo pelo eu ( nirahankarah), Meu devoto jamais cultiva o ódio. Por que deveria ele aceitar tais discriminações se ele deseja reduzir o sofrimento produzido pelo ódio (uma distinção)?”. “Mas assim a pessoa sentirá dores corpóreas por ser socada ou chutada”. “O Senhor Siva diz: narayana-parah sarve na kutascana bibhyati svargapavarga-narakesv api tulyartha-darsinah
‘Devotos ocupados exclusivamente no serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus, Narayana, jamais temem qualquer condição de vida. Para eles, os planetas celestiais, a liberação e os planetas infernais são todos iguais, pois tais devotos estão interessados unicamente no serviço ao Senhor’. – SB 6.17.28”. “Deve-se considerar felicidade e aflição com equanimidade ( sama-duhkha-sukhah ). Ademais, tais devotos consideram qualquer miséria que chegue até eles como resultado de seu prarabdha-karma, algo que deve ser enfrentado. Ainda no âmbito de ser equânime para com felicidade e aflição, eles devem ser tolerantes ao sofrimento ( ksami)”. Ksami significa ter tolerância, palavra advinda da raiz ksam, que significa “suportar”. “Mas como tal devoto será capaz de manter sua vida?”. “Ele fica satisfeito em comer o que vier pela providência natural ou com o mínimo de esforço ( santusthah)”. “Mas, se Você disse que se deve ser equânime na felicidade e na aflição, então como se pode expressar satisfação (santusthah) por se conseguir algo para comer?”. “Essa pessoa está constantemente ocupada em bhakti-yoga (satatam yogi). Ele está agindo com o fim de obter a perfeição em bhakti”. É dito que: aharartham yatataiva yuktam tat-prana-dharanam tattvam vimrsyate tena tad vijnaya param vrajet
“Se necessário, é incentivado o empenho para se conseguir alimento suficiente, porque é sempre necessário e apropriado manter a própria saúde. Quando os sentidos, a mente e o ar vital estão bem, pode-se contemplar a verdade espiritual, e, por tal contemplação, a liberação é obtida”. – SB 11.18.34” “Todavia, se porventura ele não obtém a comida requerida, sua mente permanece sob controle ( yata-atma), sem se agitar. Se acontecer de sua s ua mente ficar agitada, ele não recorre à astanga-yoga ou outros processos para pacificá-la. Ele continua convencido que deve praticar unicamente ananya-bhakti (drdha-niscayah). Sua devoção não é enfraquecida”. A causa de todos esses sintomas é apresentada: “Ele está absorto na meditação e na contemplação de Minha pessoa (mayy arpita-mano-buddhih ). Tal devoto Me compraz imensamente ( me priyah)”.
Verso 15 Aquele que não põe ninguém em dificuldade e a quem ninguém perturba, que é equânime na felicidade e na
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aflição, no medo e na ansiedade, é-Me muito querido. Além disso, diz-se que:
yasyasti bhaktir bhagavaty akincana sarvair gunais tatra samasate surah
“Alguém que tenha devoção indesviável pela Personalidade de Deus tem todas as boas qualidades dos semideuses” - SB 5.18.12 “Agora ouça em cinco versos (15-19) sobre tais qualidades que surgem naturalmente pela prática de bhakti”.
Verso 16 Meu devoto, que não depende do curso em que as atividades habitualmente se desenvolvem, que é puro, perito, despreocupado, livre de todas as dores e não luta para obter algum resultado, é-Me muito querido. significa destituído de expectativas para com trabalhos e ocupações materiais. Udasinah significa ser desapegado de pessoas materialistas. O devoto tem a qualidade de abandonar todas as ocupações materiais no presente e no futuro, e até mesmo alguns empenhos espirituais, como o ensino das escrituras, caso o mesmo se demonstre desfavorável à sua prática ( sarva-arambha-parityagi ). Anapeksah
Verso 17 Aquele que não se alegra nem se magoa, que não se lamenta nem deseja, e que renuncia tanto às coisas auspiciosas quanto às inauspiciosas - semelhante devoto Me é muito querido. Não é apresentado significado a este verso.
Versos 18 e 19 Aquele que é igual para com os amigos e inimigos; que é equânime na honra e na desonra, calor e frio, felicidades e aflição, fama e infâmia; que está sempre livre da associação contaminadora, sempre silencioso e satisfeito com qualquer coisa, que não se importa com nenhuma residência; que está fixo em conhecimento e se ocupa em serviço devocional - semelhante pessoa me é muito querida. Aniketah
significa que ele não é apegado à sua casa ou a coisas materiais semelhantes.
Verso 20 Aqueles que seguem este caminho imperecível do serviço devocional e que se ocupam com plena fé, fazendo de Mim a meta suprema, são muitíssimo queridos a Mim. Resumindo as qualidades fixas em vários tipos de Seus devotos, as quais Ele acabou de mencionar, o Senhor agora descreve o resultado das pessoas desejosas da obtenção integral de todas essas qualidades ouvirem e considerarem sobre elas. Essas qualidades, que nascem do controle dos sentidos ( santi, mencionado no verso 12), que, por sua vez, nasce de bhakti, não são qualidades materiais. Krsna é comprazido por bhakti, não por boas qualidades. Tal afirmação se repete inúmeras vezes em diversas escrituras. Tu, aqui, indica diferenciação. “Os vários tipos de devotos previamente mencionados são fixos em suas naturezas individuais com certas qualidades. Mas aqueles praticantes que desejam todas as qualidades de todos os tipos de devotos são superiores aos primeiros, os que obtiveram algumas das qualidades”. A palavra ativa (superiormente) é usada. “Tais devotos, que assumem todas as qualidades, são ainda mais queridos a Mim”. As maravilhosas qualidades de bhakti, que é suprema e plena de bem-aventurança e que pode ser facilmente praticada por todos, foram explicadas neste capítulo. Embora se tenha mostrado que o caminho de jnana é amargo como a fruta nimba e que bhakti é doce como néctar de uva; ainda assim, esses dois processos são adotados por seus respectivos seguidores de acordo com sua inclinação a determinado sabor.
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Capítulo D Déci écim m o Terceiro
PRAKRTI-PURUSA-VIVEKA-YOGA Verso 1 Arjuna disse: Ó meu querido Krsna, quero saber sobre a natureza (prakrti), o desfrutador (purusa), o campo (ksetra) e o conhecedor do campo (ksetra-jna), e sobre o conhecimento (jnanam) e o objeto do conhecimento (jneyam). Permitam-me oferecer minhas reverências a bhagavad-bhakti , que, por misericórdia, reside dentro de jnana e de outros processos de forma diminuta para que eles possam ser bem-sucedidos. Nos últimos seis capítulos do Gita, jnana misturada com bhakti é delineada. Dentro destes seis capítulos, kevala-bhakti também é exposta como suprema, indiretamente. No décimo terceiro capítulo, o corpo onde a jiva e o Paramatma residem, a prática de jnana, a jiva e a prakrti são descritos. Nos seis capítulos intermediários, mencionou-se que, através de kevala-bhakti, alcança-se o Senhor, Bhagavan, e então se descreveram três outros métodos de adoração, começando com aquele em que se adora a si mesmo. Um niskamakarma-yogi obtém a liberação através de bhakti-misra-jnana ( jnana jnana misturada com bhakti), o que foi brevemente descrito nos seis primeiros capítulos. Os seis últimos capítulos começam a explicar tal jnana em detalhes a partir da investigação do campo, do conhecedor do campo, do processo de conhecimento e do objeto de conhecimento.
Verso 2 A Suprema Personalidade de Deus disse: Este corpo, ó filho de Kunti, chama-se o campo, e quem conhece este corpo chama-se o conhecedor do campo. Este verso responde à questão referente à identidade do campo e do conhecedor do campo. Este corpo com sentidos, a morada do desfrute, é o campo, uma vez que ele é a base para o germinar da árvore dos repetidos nascimentos. Aquele que, no estado de vida condicionado, conhece o corpo em termos de “eu e meu” devido ao apego corpóreo; e aquele que, livre do conceito de “eu e meu”, no estado de vida liberado, sabe não ser vinculado ao corpo, chama-se jiva. Em qualquer uma dessas duas condições opostas, a jiva é chamada o conhedor do campo. Como um fazendeiro, a jiva é quem ara o campo, a jiva é a conhecedora do campo e é quem desfruta do fruto. O Senhor diz: adanti caikam phalam asya grdhra grame-cara ekam aranya-vasah hamsa ya ekam bahu-rupam ijyair maya-mayam veda sa veda vedam
“Aqueles ávidos pelo desfrute material e adeptos dedicados da vida familiar desfrutam de um dos frutos da árvore, e os homens que são semelhantes a cisnes, os adeptos da ordem de vida renunciada, desfrutam de outro fruto. Aquele que, com a ajuda do mestre espiritual autêntico, é capaz de compreender esta árvore como sendo uma manifestação da potência da Verdade Absoluta se revelando em muitas formas conhece verdadeiramente o significado da literatura Védica”. – SB 11.12.23 O significado desse verso do Srimad-Bhagavatam se faz como se segue. Grdhrah significa “aqueles que desejam”. Aqueles que têm desejos, que se movem no campo, as jivas condicionadas, comem um fruto da árvore chamado aflição – deve-se entender que tal fruto miserável também inclui svarga. Os cisnes, residentes da floresta, as jivas liberadas, comem outro fruto chamado felicidade, pois a árvore tem o potencial de gerar felicidade na forma de liberação. Assim, a árvore do samsara tem muitas formas, daí ela poder conduzir uma pessoa para o inferno, para os planetas celestiais ou para a liberação. Ela é chamada de maya-mayam, feita a partir de maya, porque é gerada da maya-sakti do Senhor. Aquele que conhece esta árvore com a ajuda dos gurus adoráveis ( ijyaih) conhece os Vedas. Tad vidah , no verso do Gita, refere-se àqueles que conhecem o campo e o conhecedor do campo.
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Verso 3
Ó descendente de Bharata, deves entender que, em todos os corpos, Eu também sou o conhecedor, e compreender este corpo e seu conhecedor chama-se conhecimento. Esta é a Minha opinião. Foi dito que a jiva é o conhecedor do campo devido ao seu conhecimento do corpo. O Paramatma, todavia, também é conhecedor do campo, pois Ele conhece todos os corpos completamente. “Conheça a Mim, o Paramatma situado como a testemunha e o instrutor nos corpos, como o conhecedor de todos os campos. Cada jiva conhece seu corpo particular, mas não todos os corpos. Mas Eu, embora uma pessoa, conheço plenamente todos os corpos”. Tal distinção deve ser compreendida. “O que é conhecimento?”. “Considero o conhecimento do campo juntamente com o conhecimento dos conhecedores do campo, a jiva e o Paramatma, como sendo verdadeiro conhecimento”. Explicar este verso afirmando que existe apenas um atma, um conhecedor do campo, não pode ser aceito. Além de este próprio verso refutar tal idéia, ela também seria contraditória com a afirmação posterior uttamah purusas tv anyah paramatmety udahrtah : “mas há também outra pessoa, a Pessoa Suprema, chamada Paramatma” (15.17).
Verso 4 Agora, por favor, ouve enquanto faço uma breve descrição deste campo de atividade e de seus elementos constituintes, e enquanto descrevo quais são suas mudanças, mudanças, qual a fonte que o origina, quem é este conhecedor do campo de atividades e que influência ele exerce. Agora o Senhor começa a elaborar o que Ele falou anteriormente apenas de forma breve. “Ouça resumidamente de Mim sobre em que consiste o corpo ( yac ca) – um conglomerado de cinco elementos grosseiros, prana, sentidos e outras coisas; quais qualidades ele exibe ( yadrk ) – como o desejo; quais são suas yad-vikari) – sendo sujeito a mudanças tanto favoráveis quanto desfavoráveis; como ele surge a partir da transformações ( yad-vikari combinação entre matéria e espírito ( yatah); como ele é distinguido ( yat ) pelas diferenças entre vários corpos móveis e inertes; e quem ( yah) é aquele (sa) que conhece tal campo juntamente com Paramatma”. As formas neutras singulares yat e tat são usadas ao invés do masculino, embora jiva, Paramatma e o campo sejam referidos. Isso se faz de acordo com a regra gramatical napumsakam anapumsakennaikavac ca (Panini 1.2.69). Se há um grupo de itens de mesma base de variados gêneros, incluindo neutro, o gênero neutro pode ser usado para indicálos todos. Essa operação é chamada eka-sesa.
Verso 5 Em vários escritos védicos, diversos sábios descrevem este conhecimento sobre o campo de atividades. O Vedantasutra o apresenta de maneira especial, ao fazer um extenso raciocínio sobre a causa e o efeito. “Você está descrevendo este conhecimento brevemente. Quem, então, descreveu em detalhes?”. “Ele foi descrito por rsis como Vasistha nas escrituras que lidam com yoga, foi descrito também pelos Vedas (chandobhih) e pelas palavras nos aforismos do Brahma-sutra. Os aforismos do Brahma-sutra, por suas palavras ( padaih) como athato brahma jijnasa (Vedanta Sutra 1.1), tornam conhecível ( padyate) o Brahman”. “Mas são palavras de que tipo?”. “São palavras de lógica ( hetumadbhir ), ), palavras decisivas ( visesatah niscitaih)”. Seguem exemplos: iksater nasabdam
“O Brahman não é indescritível por palavras, porque se vê que Ele é transmitido pelas palavras dos Vedas”. – Vedanta Sutra 1.1.5 anandamayo 'bhyasat
“A palavra anandamaya se refere ao Para-Brahman devido ao repetitivo uso da palavra esta”. – Vedanta Sutra 1.1.5
brahman
em relação a
Versos 6 e 7 Os cinco grandes elementos, o falso ego, a inteligência, o imanifesto, os dez sentidos e a mente, os cinco objetos dos sentidos, o desejo, o ódio, a felicidade, o sofrimento, o agregado, os sintomas vitais e as convicções – todos estes são considerados, em resumo, o campo de atividades e suas interações.
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Neste verso, a natureza do campo é descrita. Mahabhutani se refere aos elementos éter, ar, fogo, água e terra. Ahankara se refere ao falso ego, a causa dos mahabhutas. Buddhi se refere ao mahat-tattva, composto de vijnana, a causa do ahankara. Avyakta se refere à prakrti, a causa do mahat-tattva. Indriyani se refere aos dez sentidos: olhos, ouvidos, nariz, pele, língua, mãos, pés, genitais, anos e voz. Eka se refere à mente. Os cinco indriya-gocard são o som, o tato, a forma, o paladar e o olfato. O campo é feito desses vinte e quatro elementos. Sanghata é o corpo, produzido dos vinte e quatro elementos. Iccha, dvesa, sukha e duhkha já são bem conhecidos. Cetana é uma função mental constituída de conhecimento. Dhrti é perseverança. Iccha e outras qualidades mencionadas aqui são qualidades da mente, e não da alma, por isso são incluídas no campo. Trata-se de representantes de sankalpa e outras qualidades mencionadas no sruti. kamah sankalpo vicikitsa sraddha dhrtir hrir dhir bhir ity etat sarvam mana eva
“Desejo, determinação, incerteza, fé, falta de fé, perseverança, falta de perseverança, humildade, inteligência e medo são todos produtos da mente”. – Brhad-aranyaka Upanisad 1.5.3 Por esta lista, as qualidades do campo, que foram anteriormente prometidas pelo uso da palavra yadrk no verso quatro, foram explanadas. Este campo, com suas seis transformações ( savikara), como nascimento e crescimento, foi, portanto, sucintamente descrito (udahrtam).
Versos de 8 a 12 Humildade; modéstia; não-violência; tolerância; simplicidade; aproximar-se de um mestre espiritual genuíno; limpeza; firmeza; autocontrole; renúncia ao objeto de gozo dos sentidos; ausência de falso ego; a percepção segundo o qual o nascimento, a morte, a velhice e a doença são condições desfavoráveis; desapego; estar livre do enredamento com os filhos, esposa, lar e o resto; equanimidade diante de acontecimentos agradáveis e desagradáveis; devoção constante e imaculada a Mim; aspirar a viver num lugar solitário; afastar-se da massa geral das pessoas; aceitar a importância da auto-realização; e empreender uma busca filosófica da Verdade Absoluta – declaro que tudo isto é conhecimento, e algo diferentes disto é ignorância. Os dois conhecedores do campo, a jiva e o Paramatma, que devem ser conhecidos pela distinção deles do campo que foi mencionado no verso anterior, serão descritos em detalhe. Os vinte e quatro fatores a serem usados para a obtenção desse conhecimento são mencionados nestes cinco versos. Desses, dezoito são comuns aos devotos e aos jnanis. Os devotos, todavia, zelosamente se ocupam no único elemento mencionado no primeiro pada do verso décimo terceiro, mayi cananya-yogena bhaktir avyabhicarini (devoção constante e imaculada a Krsna) . Os demais itens se manifestam automaticamente para aqueles ocupados na prática desse único. Os bhaktas não se devotam aos dezessete itens individualmente. Assim se faz tradicionalmente. Os dois últimos itens são específicos para os jnanis. O significado dos itens como amanitva é claro, portanto nenhum comentário será apresentado. Sauca se refere tanto à limpeza interna quanto à externa. O smrti diz: saucam ca dvividham proktam bahyam abhyantaram tatha mrj-jalabhyam smrtam bahyam bhava-suddhis tathantaram
“Há dois tipos de limpeza, interna e externa. A limpeza externa se faz pelo uso de água e terra. Limpeza interna significa pureza mental”. Anudarsanam significa observar constantemente os efeitos danosos da lamentação causada pelo nascimento, pela morte, pela velhice e pela doença. Asakti significa abandonar a afeição por filhos e outros. Anabhisvanga significa ausência de identificação com a felicidade e aflição dos filhos e de outras pessoas em geral. Sama-cittatvam significa permanecer calmo perante o recebimento de tratamentos favoráveis ou desfavoráveis bem como perante eventos de ambas as naturezas. “Deve-se ter bhakti por Mim, Syamasundara, sem mistura com karma, jnana, tapa ou yoga (mayi ananya-yogena bhaktir avyabhicarini )”. A palavra ca aqui indica que bhakti talvez também seja executada com uma leve mistura de jnana ou outros elementos ( jnana-misra-bhakti jnana-misra-bhakti ). O primeiro, o tipo sem mistura, será executado pelos devotos. O segundo tipo será executado pelos jnanis. Alguns devotos dizem, todavia, que essa afirmação, estando nos últimos seis capítulos, é para demonstrar que, assim como ananya-bhakti produz prema, ela também é útil para a realização de Paramatma. Os jnanis entendem ananya-yogena como “considerar tudo como atma”. Avyabhicarini significa que a pessoa deve fazer isso diariamente. Madhusudana Sarasvati diz que a palavra avyabhicarini se refere à natureza de bhakti
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de não poder ser interrompida por nenhum meio. Adhyatma-jnana significa conhecimento relativo ao atma. A pessoa deve se ocupar nesse conhecimento constantemente (nityam) a fim de manter a pureza dos objetos de meditação ( adhyatma-jnana-nityatvam). Deve-se sempre manter em mente a meta pessoal de moksa no cultivo de conhecimento da verdade ( tattva-jnanartha-darsanam ). Esses vinte elementos são os meios para se obter conhecimento acerca da jiva e do Paramatma de maneira geral jnanam aqui se refere mais aos meios de se obter conhecimento do que ao conhecimento propriamente dito). Os meios ( jnanam específicos de se realizar Paramatma serão explicados posteriormente. Fazendo o oposto do que foi listado, como ter orgulho ao invés de ausência de orgulho, chama-se ignorância.
Verso 13 Passarei agora a explicar o conhecível, conhecendo o qual saborearás o eterno. Brahman, o espírito, que não tem começo e é subordinado a Mim, situa-Se além da causa e do efeito deste mundo material. Assim, pelos métodos mencionados acima, deve-se conhecer a jiva e o Paramatma. O Paramatma, no entanto, está presente em todos os seres e é conhecido como Brahman. Esse Brahman é adorado pelos devotos como pessoal, com qualidades, e pelos jnanis como impessoal, sem qualidades. Como o objeto de meditação com quatro braços situado dentro do corpo, o Brahman é conhecido como Paramatma. Este verso fala desse Brahman primeiro. Essa forma não tem começo ( anadi); o que significa que, uma vez que é Sua svarupa, ela é eterna. Mat-param significa “do qual Eu sou o abrigo supremo”. “Do que se trata?”. “Trata-se daquilo que se chama Brahman, do qual somente Eu sou o abrigo e que se situa além da lei de causa e efeito ( na sad na-asad )”. )”. O Senhor dirá posteriormente, brahmano hi pratistham : “Eu sou a base do Brahman” (14.27).
Verso 14 Em toda a parte estão Suas mãos e pernas, Seus olhos, cabeças e rostos, e Ele tem ouvidos em toda a parte. É deste modo que a Superalma existe, penetrando tudo. Talvez surja uma dúvida no sentido de que, se este Brahman é livre de causa e efeito, então isso entra em contradição com as afirmações do sruti como sarvam khalv idam brahma (Chandogya Upanisad 3.14) e brahmaivedam sarvam (Mundaka Upanisad 2.2.12): “Tudo é Brahman”. Embora o Brahman em Sua natureza essencial seja livre de causa e efeito; por causa da não-diferença entre a energia e a fonte de energia, esse Brahman (Paramatma) também é a causa e o efeito. Isto é expresso neste verso. Esse Brahman tem Suas mãos e pés em toda a parte. Pela manifestação onipresente de mãos e pés de criaturas desde o senhor Brahma até a pequena formiga (efeitos dEle), pode-se dizer que o Brahman é dotado de incontáveis mãos e pés. De forma similar, Seus olhos, cabeças e faces estão em toda a parte.
Verso 15 A Superalma é a fonte que origina todos os sentidos, no entanto, Ele é desprovido de sentidos. Ele é desapegado, embora seja o mantenedor de todos os seres vivos. Ele transcende os modos da natureza, e, ao mesmo tempo, é o senhor de todos os modos da natureza material. Ele ilumina todos os sentidos e objetos sensoriais ( guna). O sruti diz tac caksusas caksuh (Kena Upanisad 1.2): “Ele inspira a visão dos olhos”. Ou o significado poder ser que “Ele brilha resplandecentemente ou existe com todos os sentidos e objetos sensoriais, como o som”. Ele, todavia, também é destituído de sentidos (sarvendriya-vivarjitam). Isso significa que Ele não tem sentidos materiais. Esse significado é válido porque é bem sabido pelos srutis que Ele é a morada da svarupa-sakti, Suas energias espirituais. O sruti diz: apani-pado javano grahlta pasyaty acaksuh sa srnoty akarnah.
“Sem pés e mãos, Ele Se move e recebe. Sem olhos, Ele vê. Sem ouvidos, Ele ouve”. – Svetasvatara S vetasvatara Upanisad 3.1 parasya saktir bahudhaiva sruyate svabhaviki jnana-bala-kriya ca
“A energia do Senhor é dividida em jnana-sakti, bala-sakti e kriya-sakti”. – Svetasvatara Upanisad 6.8 Ele é livre de apego ( asaktam), e também mantém tudo dentro de Sua forma de Visnu ( sarva-bhrt ). ). Ele tem uma forma independente dos gunas de sattva, rajas e tamas (nirguna). Mas Ele é o desfrutador dos seis gunas, ou bhagas, conhecidos como aisvarya, virya, yasas, sri, jnana e vairagya (guna-bhoktr ). ).
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Verso 16
A Verdade Suprema existe fora e dentro de todos os seres vivos móveis e inertes. Porque é sutil, Ele está além do poder visual ou cognoscitivo dos sentidos materiais. Embora longe, muito longe, Ele também está perto de todos. Ele existe no interior e no exterior de todas as entidades vivas, que são Seus produtos ( bhutanam significa “produzido a partir dEle”), assim como o éter e outros elementos existem dentro e fora de todos os corpos, que são produzidos a partir deles cinco. Todos os seres inertes e móveis são unicamente o Senhor uma vez que Ele é a causa e eles el es são o efeito. Ele não pode ser claramente conhecido ( tad avijneyam). Em outras palavras, para o ignorante, Ele está muito distante, milhões de yojanas distante; e, para o sábio, Ele está perto, como que vivendo em sua casa, já que Ele está situado dentro dos indivíduos como o Antaryami. O sruti diz: durat sudure tad ihantike ca pasyatsv ihaiva nihitam guhayam
“Ele está mais distante do que o mais distante, e muito perto. No corpo, Ele está situado no coração, no coração daqueles que vêem”.
Verso 17 Embora pareça estar dividido entre todos os seres, a Superalma nunca Se divide. Sua situação é sempre a mesma. Embora Ele seja o mantenedor de toda entidade viva, deve-se compreender que Ele devora e desenvolve tudo. Como a causa, Ele está situado em todas as entidades móveis e inertes sem Se dividir, e, como o efeito ou produto, Ele está situado separadamente como cada um. Como a forma de Narayana, Ele é o protetor das entidades vivas (bhuta-bhartr ) no momento da manutenção, o destruidor ( grahisnu) no momento do pralaya e o criador ( prabhavisnu ) no momento da criação. A palavra prabhavisnu, que usualmente significa “senhor”, é tida aqui com o significado de criador uma vez que a palavra também pode significar “aquele que é o produto ( prabhavana) porque a causa é manifesta nos efeitos”.
Verso 18 Ele é a fonte de luz em todos os objetos luminosos. Ele está além da escuridão própria da matéria e é imanifesto. Ele é o conhecimento, o objeto do conhecimento e a meta do conhecimento. Ele está situado nos corações de todos. Ele é a causa (tad jyotih) pela qual o Sol, a Lua e outros corpos luminosos brilham, por cujo poder a luz se irradia. O sruti diz: yena suryah tapati tejasendhah
“Por cujo poder o Sol queima”. – Taittiriya Brahmana na tatra suryo bhati na candra-tarakam nema vidyuto bhanti kuto'yam agnih tad eva bhantam anubhati sarvam
“Lá, o Sol não brilha, tampouco a Lua ou as estrelas. Lá, os relâmpagos não iluminam, o que dizer do fogo. Na verdade, tudo o que brilha brilha graças a Seu brilho original”. – Katha-Upanisad 2.5.15 aditya varnam tamasah parastat
“Ele é como o Sol, além da ignorância”. – Svetasvatara Upanisad 3.8 Jnanam significa aquilo que é revelado pela função da inteligência. O Senhor é tal jnanam. Ele é o que deve ser conhecido e que, em um estado maduro, é conhecido com forma e outras qualidades ( jneyam). Ele é conhecido pelos meios de conhecimento (humildade, etc.) mencionados anteriormente ( jnana-gamyam ). Como Paramatma, Ele está situado como o guia no coração de todas as entidades vivas ( visthitam).
Verso 19 Assim descrevi sucintamente o campo de atividades (o corpo), o conhecimento e o conhecível. Só Meus devotos podem compreender isto na íntegra e então alcançar Minha natureza.
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Neste verso, o Senhor resume o tópico sobre o campo e outros itens previamente descritos juntamente com o resultado para os praticantes. O campo consiste nos itens iniciados com os cinco elementos grosseiros no verso 6 e termina com dhrti, perseverança, no verso 7. Conhecimento foi descrito começando por humildade ( amanitvam) e terminando com estudo da meta da liberação ( tattvajnartha-darsanam ), do verso 8 ao verso 12. O objeto de conhecimento a ser obtido pelo processo de conhecimento foi descrito nos versos de 13 a 18 a partir da palavra anadi. A verdade única conhecida como Brahman, Bhagavan e Paramatma foi assim brevemente descrita. “O jnani com alguma devoção ( mad-bhaktah ), conhecendo isto, funde-se em Mim ( mad-bhavaya)”. Um significado alternativo para a sentença é “Meu ekanta-bhakta, entendendo que Eu, seu mestre, tenho tais poderes ( etad vijnaya), passa a possuir prema ( mad-bhavaya) por Mim”.
Verso 20 Deve-se entender que a natureza material e as entidades vivas não têm começo. As transformações pelas quais elas passam e os modos da matéria são produtos da natureza material. “Você descreveu Paramatma como o conhecedor do campo, mas, quanto à jiva, que também é conhecedora do campo, como ela entra em contato com maya e quando isto acontece?”. prakrti) como jiva ( purusa purusa) são sem origem ( anadi), não tendo causa anterior. Isso porque “Saiba que tanto maya ( prakrti são saktis Minhas, a personalidade também sem origem ( anadi)”. Nos versos 4 e 5 do capítulo 7, foi dito: bhumir apo 'nalo vayuh kham mano buddhir eva ca ahankara itiyam me bhinna prakrtir astadha apareyam itas tv anyam prakrtim viddhi me param jiva-bhutam mahabaho yayedam dharyate jagat jagat
“Terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e falso ego – juntos, todos estes oito elementos formam Minhas energias materiais separadas. Além dessas, ó Arjuna de braços poderosos, existe outra energia, Minha energia superior, que consiste nas entidades vivas que exploram os recursos dessa natureza material inferior”. “Entende-se a partir disso que, porque a matéria e a jiva são ambas sem começo, sendo Minhas saktis, a conexão entre elas também é sem origem (anadi). Mas há diferença real entre elas, embora estejam mutuamente conectadas. Entenda que o corpo, os sentidos e os outros elementos ( gunam) e a transformação dos gunas, como felicidade, aflição, lamentação e ilusão (vikaran), todos nascem da prakrti. Entenda que a jiva é muito diferente dessa prakrti que se transforma no campo”.
Verso 21 Está dito que a natureza produz todas as causas e efeitos materiais, ao passo que a entidade viva é a causa dos vários sofrimentos e prazeres deste mundo. Neste verso, o Senhor mostra a conexão da jiva com a prakrti. Prakrti é a causa da condição desafortunada da jiva que acontece por sua identificação errônea com o corpo ( karya), com os sentidos que produzem felicidade e aflição (karana) e com as deidades que presidem os sentidos ( kartr ). ). A Prakrti, graças à associação com a jiva, transforma-se na forma do corpo, dos sentidos e dos devatas dos sentidos, e, por sua natureza inerte ou ignorante, ela se torna a outorgadora da identificação errônea da jiva. purusa), tendo a posição de desfrutadora da felicidade e da aflição produzidas pela prakrti, também é a A jiva ( purusa causa da conexão. O significado é o seguinte. Muito embora o corpo, os sentidos, os devatas dos sentidos e a capacidade da jiva de desfrutar (bhokrtva) sejam todas qualidades da prakrti; por causa da predominância de inconsciência nos corpos, nos sentidos e nos devatas dos sentidos e da predominância de consciência na experimentação de felicidade e de aflição (bhoktr ), ), tanto a prakrti quanto a jiva recebem designações como causa separadamente de acordo com a predominância. De acordo com essa lógica de que algo – uma entidade viva ou uma atividade – é designado ou nomeado de acordo com seus aspectos predominantes, diz-se que a prakrti é a causa por produzir o corpo, os sentidos e os devatas dos sentidos, e que a jiva é a causa por sua capacidade de experimentar felicidade e aflição.
Verso 22 Dessa forma, a entidade viva dentro da natureza material segue os caminhos da vida desfrutando os três modos da natureza. Isto decorre de sua associação com essa natureza material. Assim, ela se encontra com o bem e o mal entre as várias espécies de vida.
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Mas a jiva, simplesmente pela identificação errônea causada pela ignorância sem começo, pensa que sua capacidade para agir e desfrutar é sua natureza verdadeira, embora isso se trate unicamente da natureza das coisas relacionadas a ela – o corpo e os sentidos. A partir disso, ela aceita repetidos nascimentos. Situada no corpo produzido pela prakrti e se identificando com ele ( prakrti-sthah ), a jiva desfruta e sofre por identificar-se ( bhukte) com a lamentação, a ilusão, a felicidade e a aflição ( gunan), que são qualidades de sua mente ( prakrti-jan). A causa disso é o contato da alma ( asya) com o corpo feito de gunas (guna-sangah). Embora a alma não entre em contato factual com o corpo, esse contato se faz através da ignorância. “Onde a jiva desfruta?”. Nos repetidos nascimentos em formas de vida como as dos devatas (sad-yoni) ou as dos animais ( asad-yoni) de acordo com seu acúmulo de atividades piedosas ou pecaminosas.
Verso 23 Contudo, neste corpo há outrem, um desfrutador transcendental, que é o Senhor, o proprietário supremo, que age como o supervisor e permissor e que é conhecido como Superalma. Tendo falado da jiva, o Senhor agora fala sobre Paramatma. Embora o Senhor já tenha descrito Paramatma de maneira geral e em detalhes do verso treze ao dezoito, deve-se entender que a presente afirmação se dá em função de mostrar claramente que o Paramatma está situado em todos os corpos juntamente com a jiva, mas sendo diferente dela. Neste corpo, há outro, o Purusa Supremo, o grande Senhor, chamado Paramatma ( paramatmeti capi uktah ). A palavra parama em Paramatma indica expansão pessoal do Senhor ( svamsa), em distinção da jiva, a fim de derrotar aqueles que propõem a teoria de uma única alma. Ele é a testemunha ( drasta), situado próximo (upa) à jiva, mas separado dela. Ele é aquele que concede favores ( anumanta), demonstrando misericórdia simplesmente por Sua permanência próximo à alma diminuta. O sruti diz, saksi cetah kevalo nirgunas ca : “Ele é a testemunha e a consciência, e é puro e transcendental ao gunas” (Gopala-tapani Upanisad 2.96). Ele é aquele que apóia ( bharta) e protege (bhokta).
Verso 24 Aquele que compreende esta filosofia que trata da natureza material, da entidade viva e da interação dos modos da natureza com certeza alcançará a liberação. Ele não voltará a nascer aqui, não importa qual seja sua posição atual. Os resultados desse conhecimento são estabelecidos neste verso. Aquele que conhece Paramatma ( purusam), a prakrti ou maya-sakti (juntamente com suas qualidades) e a jiva (indicada aqui pela palavra ca) não nasce novamente, mesmo que nesta vida ele esteja envolvido com toda sorte de circunstâncias desfavoráveis ( sarvatah vartamano ’pi ), como estar dominado pelo sono e ter a mente descontrolada e outros problemas similares.
Verso 25 Alguns percebem a Superalma dentro de si através da meditação, outros, através do cultivo de conhecimento, e outros, através do trabalho sem desejos fruitivos. Métodos alternativos são mencionados em dois versos. Alguns devotos, pela contemplação do Senhor (dhyanena) na mente (atmani), sem a ajuda de qualquer outro processo, espontaneamente (atmana), através de bhakti incontaminada, vêem Paramatma. Entende-se isso a partir de um verso posterior, bhaktya mam abhijanati : “Somente através da devoção Eu sou conhecido” (Bg. 18.55). Outros ( anye), os jnanis, pela deliberação sobre a alma (sankhyena atmana ), e outros (apare), os yogis, através da astanga- yoga yoga ( yogena yogena), e yoga, astanga- yoga yoga e outros, através de niskama-karma (karma-yogena), vêem Paramatma. Em relação a isto, jnana- yoga niskama-karma- yoga yoga são sucessivamente a causa um do outro (niskama-karma- yoga yoga leva a astanga- yoga yoga que leva a jnana- yoga yoga) e não a causa direta da contemplação do Paramatma. Isto porque a natureza deles é sáttvica, e a natureza do Paramatma é além dos gunas. Ademais, o Senhor diz: jnanam ca mayi sannyaset
“A pessoa deve entregar a Mim tanto tal conhecimento quanto os meios pelos quais ela o obteve”. – SB 11.19.1 bhaktyaham ekaya grahyah
“Unicamente pela prática do serviço devocional puro, com plena fé em Mim, Eu, a Suprema Personalidade de Deus, posso ser alcançado”. – SB 11.14.21
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Assim, após abandonar jnana, o primeiro verso citado, vê-se Paramatma exclusivamente através de bhakti, indicação presente no segundo verso citado.
Verso 26 E há também aqueles que, embora não sejam versados em conhecimento espiritual, passam a adorar a Pessoa Suprema após ouvirem outros falarem a respeito dEle. Por causa de sua tendência de ouvir as autoridades, eles também transcendem o caminho de nascimentos e mortes. Outros, que adoram Paramatma ouvindo conversas sobre Ele de várias fontes, também transcendem a morte.
Verso 27 Ó principal dos Bharatas, fica sabendo que tudo o que existe, seja móvel ou inerte, é apenas uma combinação do campo de atividades e do conhecedor do campo. A partir deste verso, o Senhor detalha o significado do que já foi dito por Ele. “Saiba que todas as entidades vivas (sattvam), sejam elevadas ou baixas, inertes ou móveis, são nascidas da combinação do campo e do conhecedor do campo”.
Verso 28 Aquele que vê que a Superalma acompanha a alma individual em todos os corpos, e que compreende que a alma e a Superalma dentro do corpo destrutível jamais são destruídos, vê de verdade. Deve-se, portanto, conhecer Paramatma dessa maneira. “Aquele que vê o Paramatma situado nos corpos destrutíveis (vinasyatsu) de todos os seres, vê de verdade. Ele é um jnani de verdade”.
Verso 29 Aquele que vê a Superalma igualmente presente em toda a parte e em cada ser vivo não se degrada por sua mente. Assim, ele se aproxima do destino transcendental. “Aquele que Me vê situado em toda a parte não faz com que a alma ( atmanam) se degrade através da mente degradante, da mente que vaga pelo caminho errado”.
Verso 30 Quem pode ver que todas as atividades são executadas pelo corpo, que é uma criação da natureza material, e vê que o eu nada faz, vê de verdade. Aquele que vê que todas as ações são feitas pela prakrti na forma do corpo e dos sentidos, e que vê que a jiva (atmanam) só age se a considerarmos como o corpo, sendo que na verdade ela não age, vê de verdade.
Verso 31 Quando um homem sensato deixa de ver diferentes identidades consequentes a diferentes corpos materiais e vê como os seres se expandem por toda a parte, ele alcança a concepção Brahman. Quando a pessoa percebe que as várias formas das entidades vivas, móveis e inertes ( prthag-bhavam ), estão situadas na prakrti única no momento do pralaya, e que, no momento da criação, as entidades vivas se expandem dessa mesma prakrti, ela se torna Brahman ( brahma sampadyate ).
Verso 32 Aqueles com a visão da eternidade podem ver que a alma imperecível é transcendental, eterna e situada além dos modos da natureza. Apesar do contato com o corpo material, ó Arjuna, a alma nada faz nem se enreda.
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“Você disse que a jiva em contato com seu corpo aceita repetidos nascimentos (verso 22). A jiva, pensando em si como o corpo por estar no corpo, torna-se contaminada pelos gunas e aceita repetidos nascimentos. Mas o Paramatma não é contaminado. Por quê?”. Ele é chamado anadi porque Ele não tem causa original. Mas assim como anuttama pode significar paramauttama se tomarmos a palavra em seu valor ablativo (ninguém maior do que Ele), assim também, anadi, “sem causa”, pode significar a causa suprema (nenhuma outra causa além dEle). Assim, porque Ele é a causa final ( anaditvat ), ), e porque os gunas, como a criação e a destruição, partem dEle ( nirgatah + guna = nirgunatvat ), tal Paramatma é distinto da jiva. Em todos os momentos, em todas as circunstâncias, Ele não sofre diminuição em Seu conhecimento, em Sua bemaventurança ou em outras qualidades. Embora situado no corpo, como Ele não pega para Si as qualidades do corpo, Ele não pensa ser o agente, como faz a jiva (na karoti ), nem Se torna o desfrutador ou sofre alguma contaminação pelos gunas do corpo material ( na lipyate).
Verso 33 O céu, devido a sua natureza sutil, não se mistura com nada, embora seja onipenetrante. De modo semelhante, a alma situada na visão Brahman não se identifica com o corpo, embora esteja nesse mesmo corpo. O Senhor apresenta um exemplo neste verso. Da mesma forma que o éter, situado na lama e em outros locais, não se contamina devido à sua natureza extremamente sutil, Paramatma não está conectado com os gunas e com as deficiências do corpo material, logo não é contaminado.
Verso 34 Ó filho de Bharata, assim como o Sol ilumina sozinho todo este Universo; do mesmo modo, a entidade viva, sozinha dentro do corpo, ilumina o corpo inteiro através da consciência. Fazendo uso de um exemplo, o Senhor mostra como Paramatma, sendo a fonte da iluminação, não está conectado com as qualidades do que Ele ilumina. Assim como o Sol, o iluminador, não tem conexão com as qualidades do que ele ilumina, o Paramatma ( ksetri) ilumina tudo e não é afetado. O sruti diz: suryo yatha sarva-lokasya caksur na lipyate caksusair bahya-dosaih ekas tatha sarva-bhutantaratma na lipyate soka-duhkhena bahyah
“Assim como o Sol é o olho de todas as pessoas, mas não é contaminado pelas falhas materiais dos olhos; da mesma forma, Paramatma, dentro de todos os seres, não Se contamina pela lamentação e pelo sofrimento do mundo material”. – Katha Upanisad 5.11
Verso 35 Aqueles que, com os olhos do conhecimento, vêem a diferença entre o corpo e o conhecedor do corpo e podem também compreender o processo que consiste em libertar-se do cativeiro da natureza material alcançam a meta suprema. O Senhor resume o conteúdo do capítulo: “Aquele que sabe a diferença entre os dois conhecedores do campo (ksetra-jnayoh), a jiva e o Paramatma, juntamente com o campo, e também conhece o método para que as entidades vivas (bhuta) se libertem (moksa) da prakrti, como a meditação, alcança a meta suprema”. Dentre os conhecedores do campo; a jiva, desfrutando das qualidades do campo, é atada, mas também é liberada pelo conhecimento. Este é o significado do décimo terceiro capítulo.
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Capítulo D Déci écim m o Quarto
GUNA-TRAYA-VIBHAGA-YOGA Verso 1 A Suprema Personalidade de Deus disse: Volto a te expor esta sabedoria suprema, o melhor entre todos os conhecimentos, conhecendo a qual todos os sábios atingiram a perfeição suprema. No décimo quarto capítulo, o cativeiro causado pelos gunas e os sintomas de cada guna são descritos. Os vários sintomas do desaparecimento dos gunas, e a causa de seu desaparecimento, bhakti, também são descritos. No capítulo anterior, afirmou-se que o contato da jiva com o corpo feito de gunas é a causa dela se sujeitar a repetidos nascimentos: karanam guna-sango 'sya sad-asad-yoni-janmasu . Quais tipos de frutos resultam do contato com os diferentes gunas? Quais são as características daqueles associados com os gunas? Como a jiva pode se libertar dos gunas? Antecipando tais perguntas, o Senhor promete falar sobre esses tópicos, dizendo que tal conhecimento é excelente. Conhecimento aqui significa “ensinamentos pelos quais se obtém conhecimento”.
Verso 2 Fixando-se neste conhecimento, a pessoa pode alcançar uma natureza transcendental igual à Minha. Nessa situação, ela não nasce no momento da criação nem é perturbada no momento da dissolução. “Aquele que se abrigou neste conhecimento e obteve a liberação sarupya, ter uma forma similar à Minha (sadharmyam), não experimenta dor no instante da morte”. A forma vyathanti é usada no lugar da forma vyathayante (atmanepada).
Verso 3 A totalidade da substância material, chamada Brahman, é a fonte de nascimento, e é esse Brahman que Eu fecundo, possibilitando os nascimentos nascimentos de todos os seres vivos, ó filho de Bharata. A fim de explicar como o contato com os gunas através da ignorância sem começo cria cativeiro, o Senhor fala sobre o método de aparecimento do campo e do conhecedor do campo. “Deve-se saber que o Meu local de fecundação é a prakrti, chamada mahat porque se estende a todos os locais e tempos continuamente. É também chamada de brahma porque é a causa do crescimento e da expansão ( brahma vem da raiz brh, expandir)”. Em alguns textos sruti, a prakrti é referida como brahma”. “Eu posiciono a semente (garbha), ou o sêmen, dentro dessa prakrti”. O senhor disse itas tv anyam prakrtim viddhi me param jiva-bhutam : “conheça esta Minha outra prakrti, que é superior e que dá origem às jivas” (Bg. 7.5). A prakrti, que é chamada tatastha-sakti. Ela é chamada de partir disso, entende-se que há uma massa de consciência, a jiva- prakrti seminal (garbha) por dar vida a todos os seres. “Então (tatah), pelo Meu ato de colocar a semente, ou o sêmen ( jiva-sakti), na prakrti, o aparecimento de todas as entidades vivas, como o senhor Brahma e outros, acontece”.
Verso 4 Ó filho de Kunti, deve-se compreender que é com o nascimento nesta natureza material que todas as entidades vivas, em todas as espécies de vida, tornam-se possíveis, e que Eu sou o pai que dá a semente. “Não apenas no momento da criação a prakrti é a mãe e Eu o pai, mas sempre”. “A prakrti, mahad-brahma, é o local de nascimento ( yonih), a mãe, de todas as formas de criaturas móveis e inertes que aparecem, desde os devas à grama; e Eu sou aquele que dá a semente, ou o sêmen. Eu sou o pai, aquele que dá as jivas”.
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Verso 5
A natureza material consiste em três modos - bondade, paixão e ignorância. Ao entrar em contato com a natureza, ó Arjuna de braços poderosos, a entidade viva eterna condiciona-se a esses modos. Após o Senhor descrever o aparecimento de todas as entidades vivas através da prakrti (mãe) e do purusa (pai), Ele descreve os gunas. “Que tipo de cativeiro é manifesto para a jiva quando ela entra em associação com esses gunas?”. Este verso responde. No corpo, produto da prakrti, os gunas atam a jiva (dehinam) situada nele devido à identificação com o mesmo. Embora a jiva seja de fato imutável (avyayam) e independente deles, sua associação com os gunas se dá devido à ignorância sem princípio.
Verso 6 Ó pessoa virtuosa, o modo da bondade, sendo mais puro do que os outros, ilumina, livrando a pessoa de todas as reações pecaminosas. Aqueles que estão situados neste modo condicionam-se a uma sensação de felicidade e conhecimento. Este verso descreve como sattva-guna ata a jiva. Anamayam significa “sem aflição”, ou “em paz”. A associação da jiva com a felicidade, produto da ausência de aflição, e com o conhecimento, produto da iluminação ( prakasakam), produz a identificação errônea de “eu sou feliz, eu sou erudito”. Assim, a partir da felicidade e do conhecimento, cuja qualidade é produzir tais designações; a partir dessa variante de ignorância, a jiva desenvolve seu conceito errôneo de eu. Isso condiciona a jiva. “Ó impoluto (anagha), não aceite a impureza na forma de tais conceitos errôneos de ‘eu sou feliz’ ou ‘eu sou versado’.”.
Verso 7 O modo da paixão nasce de desejos e anseios ilimitados, ó filho de Kunti, e, por causa disso, a entidade viva corporificada fica presa às ações fruitivas materiais. consiste em apego (ragatmakam). Quando os objetos desejados não são obtidos, desenvolve-se desejo (trsna); quando os objetos desejados são obtidos, desenvolve-se apego ( sanga). Raja-guna produz ambos esses efeitos. Raja-guna condiciona a alma (dehinam) pelo apego (sangena) às ações que visam metas atuais e futuras. O apego à ação nasce do desejo e do apego ( trsna e sanga). Raja-guna
Verso 8 Ó filho de Bharata, fica sabendo que, no modo da escuridão, nascido da ignorância, todas as entidades vivas corporificadas ficam iludidas. Os resultados deste modo são a loucura, a apatia e o sono, os quais atam a alma condicionada. Se tamas tv ajnana-jam significasse “tama-guna nascida da ignorância” então tama-guna pareceria nascer de seu próprio resultado, uma vez que tama-guna produz ignorância. O significado de ajnana-jam, port portan anto to,, tem tem necessariamente de ser que tama-guna produz ignorância. Mohanam significa confusão ou erro. Pramada significa desatenção ou negligência. Alasyam significa falta de esforço. Nidra significa sono, produto da falta de energia na consciência.
Verso 9 Ó filho de Bharata, o modo da bondade condiciona o homem à felicidade; o da paixão o condiciona à ação fruitiva; e o da ignorância, cobrindo seu conhecimento, o ata à loucura. O Senhor sumariza o que Ele disse nos versos anteriores. Sattva subjuga ou ata a jiva que está apegada à felicidade obtida por suas ações. Raja ata a jiva que está apegada às atividades que ela executa. Tamas ata a jiva que está desatenta às suas atividades, cobrindo-lhe o conhecimento ( jnanam avrtya).
Verso 10 Às vezes, o modo da bondade se torna preeminente, derrotando os modos da paixão e da ignorância, ó filho de
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Bharata. Às vezes, o modo da paixão sobrepuja a bondade e a ignorância, e outras vezes a ignorância derrota a bondade e a paixão. Dessa maneira, há sempre competição pela supremacia. “Com relação a seus respectivos efeitos, como os gunas se manifestam?”. “Quando rajas e tamas estão eclipsados, sattva aparece. Ele aparece porque os outros dois se tornam invisíveis. Igualmente, raja-guna aparece pelo encobrimento de sattva e tamas. Tamas aparece pelo encobrimento de sattva e rajas”.
Verso 11 As manifestações do modo da bondade podem ser experimentadas quando todos os portões do corpo são iluminados pelo conhecimento. Foi estabelecido que o guna em proeminência obscurece os outros dois gunas restantes, cuja exibição de suas qualidades peculiares é obscurecida. Agora, em três versos, o Senhor fala das qualidades que se tornam manifestas com a proeminência de cada guna. Quando a iluminação ou o conhecimento – verdadeira consciência das coisas através do som dos Vedas – aparece em todas as portas, como os ouvidos, deve-se entender que há um aumento em sattva. O conhecimento é um sintoma de sattva. A palavra uta (também) indica que também haverá aparecimento de felicidade a partir da alma. Quando conhecimento e felicidade aparecem, deve-se entender que há um aumento de sattva.
Verso 12 Ó melhor entre os Bharatas, quando há um aumento do modo da paixão, desenvolvem-se sintomas de grande apego, atividade fruitiva, esforço intenso e anseio incontroláveis. Ganância, absorção em vários empreendimentos ( pravrttih), empenho em atividades como construir uma casa, a não-cessação do desfrute dos objetos ( asamah) e desejo aparecem com o aumento de rajas.
Verso 13 Quando predomina o modo da ignorância, ó filho de Kuru, manifestam-se escuridão, inércia, loucura e ilusão. Ausência de discriminação, a aceitação de som e outros objetos sensoriais não aprovados pelas escrituras (aprakasah); ausência de qualquer esforço ( apravrttih); desatenção, como, por exemplo, a descrença na existência de algo que está bem diante de seus olhos; e a absorção em algo errado ou falso ( mohah) aparecem com o aumento de tamas.
Verso 14 Quando alguém morre no modo da bondade, ele atinge os planetas superiores puros, onde residem os grandes sábios. pralayam yati ), ela alcança os aprazíveis planetas dos Quando morre uma pessoa com predominância de sattva ( pralayam adoradores do Hiranyagarbha ( uttama-vidam) e outros. A palavra uttama-vidam significa “daqueles que alcançam (vindanti) o supremo (uttama)”.
Verso 15 Quando alguém morre no modo da paixão, ele nasce entre os que se ocupam em atividades fruitivas; e, quando morre no modo da ignorância, nasce no reino animal. Aqueles que morrem no modo da paixão nascem entre os homens apegados ao trabalho ( karma-sangisu).
Verso 16 O resultado da ação piedosa é puro e se diz que está no modo da bondade. Mas a ação feita no modo da paixão resulta em miséria, e a ação executada no modo da ignorância resulta em tolice. O resultado da atividade sáttvica (sukrtrsya) é pureza sem aflição ( nirmalam). O resultado da atividade rajásica é o pesar. O resultado da atividade tamásica é a ausência de significado ou coerência e também a ausência de consciência (ajnanam).
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Verso 17
Do modo da bondade, desenvolve-se o verdadeiro conhecimento; do modo da paixão, desenvolve-se a cobiça; e, do modo da ignorância, desenvolvem-se a tolice, a loucura e a ilusão. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 18 Aqueles situados no modo da bondade gradualmente elevam-se aos planetas superiores; aqueles no modo da paixão vivem nos planetas terrestres; e aqueles no abominável modo da ignorância descem para os mundos infernais. A depender da soma de sattva-guna, a pessoa pode ir até Brahmaloka. Aqueles em raja-guna residem no plano humano ( madhye). Aqueles no comportamento tamásico do tipo desatenção e preguiça, vão para o inferno ( adhah).
guna
jaghanya), com inferior ( jaghanya
Verso 19 Quando alguém vê corretamente que em todas as atividades o único agente que está em ação são estes modos da natureza e quando conhece o Senhor Supremo, que é transcendental a todos estes modos, ele então alcança Minha natureza espiritual. Tendo exposto os repetidos nascimentos causados pela associação com os gunas, o Senhor agora explica a posição liberada, transcendente aos gunas, em dois versos. “Quando a jiva (drasta) não observa nenhum outro agente além dos gunas, que se transformam de forma a atuarem como o agente, a ação e o objeto, e entende que a alma é distinta dos gunas, ela obtém (adhigacchati) imersão em Mim ( mad-bhavam)”. Deve-se compreender a partir do penúltimo verso deste capítulo que se deve continuar executando bhakti mesmo após praticar tal jnana para que se possa obter seu resultado.
Verso 20 Quando é capaz de transcender estes três modos associados com o corpo material, o ser corporificado pode libertar-se do nascimento, da morte, da velhice e dos sofrimentos que são inerentes a eles, e, mesmo nesta vida, pode gozar o néctar. Tal pessoal, que vê que apenas os gunas agem, é transcendental a eles. Isto é explicado neste verso.
Verso 21 Arjuna perguntou: Ó meu querido Senhor, através de quais sintomas reconhece-se quem é transcendental a estes três modos? Qual é seu comportamento? E como ele transcende os modos da natureza? Esta é a mesma questão formulada no capítulo dois [verso 54]: sthita-prajnasya ka bhasa (por favor, descreva o sthita-prajna). Todavia, devido ao seu intenso desejo de saber, Arjuna pergunta novamente. A primeira pergunta é “Por quais sintomas se deve entender que uma pessoa é transcendental aos gunas?” (kair lingaih). Sua segunda pergunta é “Qual é o seu comportamento?” ( kim acarah). Na terceira pergunta, Arjuna traz: “Quais são os meios para se transcender os gunas?” (katham caitan ). Quando Arjuna formulou suas questões no capítulo dois, ele não perguntou como a pessoa pode transcender os gunas. Mas, agora, aprofundando-se mais, ele faz esta pergunta. Esta é a diferença.
Verso de 22 a 25 22
A Suprema Personalidade de Deus disse: Ó Filho de Pandu, aquele que não odeia a iluminação, o apego e a ilusão quando estão presentes nem os deseja quando desaparecem; 23que não se abala nem se perturba com quaisquer das reações das qualidades materiais, permanecendo neutro e transcendental; sabendo que os modos é que são ativos; 24-25que está situado no eu e tem o mesmo comportamento diante da felicidade e do sofrimento; que olha para um torrão de terra, uma pedra e um pedaço de ouro com a mesma visão; que é igual para com o desejável e o indesejável; que é estável, igual no louvor e na repreensão, honra e desonra; que dá o mesmo tratamento tanto ao amigo quanto ao inimigo; e que renunciou a todas as atividades materiais - diz-se que essa pessoa transcendeu os
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modos da natureza.
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Verso 22: Krsna responde à questão “Quais são os sintomas daquele que é transcendental aos gunas?”. prakasah) é o efeito de sattva-guna, como anteriormente mencionado no verso sarva-dvaresu dehe' smin Iluminação ( prakasah prakasa upajayate (verso 11). Apego ( pravrtti) é o efeito de raja-guna. Ilusão (moha) é o efeito de tama-guna. Essas três palavras – iluminação, apego e ilusão – são representantes de todas as demais qualidades, mencionadas anteriormente, dos respectivos gunas. “Aquele que não se lamenta quando todos esses efeitos dos gunas aparecem, nem regozija quando os efeitos dos gunas desaparecem, é tido como transcendental aos gunas”. A última frase do verso 25, sa gunatita ucyate , é compreendida como em aplicação a todos os versos precedentes. O uso do gênero neutro na palavra sampravrttani é licença poética. Verso 23: Krsna responde à segunda questão, sobre a conduta da pessoa transcendental aos gunas, nos verso de 23 a 25. “Aquele que não é perturbado pelos efeitos dos gunas (gunaih), sob a forma de felicidade e aflição, que não se afasta de sua posição original (gunaih na vicalyate ), que permanece em silêncio ( avatisthati), sabendo “apenas os gunas estão fornecendo seus efeitos, não tenho nenhuma relação com tais felicidade e aflição” ( guna vartante iti evam ), que não se esforça por satisfazer as demandas corpóreas ( na ingate), é tido como transcendental aos gunas”. Avatisthati é usado com o valor de avatisthate sob licença poética. Versos 24 e 25: 25: Vendo em uma pessoa tais sintomas e conduta, deve-se tê-la como transcendental aos aos gunas. Aqueles, todavia, que apenas falam sobre a possibilidade de se transcender os modos não devem ser tidos como transcendentais a eles.
Verso 26 Aquele que se ocupa em serviço devocional pleno e não falha em circunstância alguma transcende de imediato os modos da natureza material e chega então ao nível de Brahman. Neste verso, o Senhor responde a terceira questão sobre o método para se transpor os gunas. Ca, neste verso, significa eva, “unicamente”. “Aquele que serve unicamente a Mim ( mama ca) em Minha forma como Syamasundara, o Senhor Supremo, através de bhakti-yoga, somente ele é qualificado para se tornar Brahman, ou para realizar Brahman (brahma-bhuyaya kalpate ). Essa afirmação tem suporte no uso do adjetivo ekaya na afirmação bhaktyaham ekaya grahyah: “Unicamente através de bhakti é que posso ser alcançado” (Srimad-Bhagavatam 11.14.21). E, na afirmação mam eva ye prapadyante mayam etam taranti te (Bg. 7.14), pelo uso da palavra eva (unicamente), confirma-se que, sem bhakti, exclusiva ao Senhor, a realização Brahman não pode ser alcançada. Ela não pode ser obtida por nenhum outro método. “Que tipo de bhakti-yoga é essa?”. “Ela deve ser sem desvio ( avyabhicarena)”. Isso significa sem mistura de karma, jnana ou outros elementos, porque há afirmações rejeitando niskama-karma e afirmações propondo a rejeição mesmo de jnana pelo jnani no estágio final, jnanam ca mayi sannyaset : “Deve-se renunciar jnana para Mim”. Mas não há yoga. Assim, através de bhakti- yoga yoga, após abandonar nenhuma declaração em lugar algum sobre se abandonar bhakti- yoga yoga, assim como se rejeitou karma- yoga yoga anteriormente, o jnani transpõe os gunas. Não há outro meio. mesmo jnana- yoga Todavia, o ananya-bhakta já é transcendental aos gunas, como se compreende a partir da afirmação no Décimo Primeiro Canto do Srimad-Bhagavatam nirguno mad-apasrayah : “aquele que se rende a Mim é transcendental aos gunas”. – SB 11.25.26 Este é o princípio. sattvikah karako 'sangi ragandho rajasah smrtah tamasah smrti-vibhrasto nirguno mad-apasrayah
“Um trabalhador livre do apego está no modo da bondade, um trabalhador cego por desejos pessoais está no modo da paixão, e um trabalhador que se esqueceu completamente como distinguir o certo do errado está no modo da ignorância. Mas compreende-se que um trabalhador que tenha se refugiado em Mim é transcendental aos modos da natureza material”. – SB 11.25.26 yoga ou jnana- yoga yoga no nível de Compreende-se que aqueles que estão livres do apego estão praticando ou karma- yoga sattva. E a pessoa que é transcendental aos gunas, tendo-se refugiado no Senhor, está praticando sadhana-bhakti. O jnani, tendo alcançado a perfeição de jnana; ao abandonar o nível de sattva, torna-se transcendental aos gunas. Mas o devoto, mesmo no estágio inicial como sadhaka, é transcendental aos gunas. Este é o significado do verso. Sridhara Svami também diz que ca traz o significado de limitação (unicamente). Madhusudana Sarasvati diz que o significado é: “Aquele que serve unicamente a Mim, o Senhor Narayana, através de indesviável bhakti-yoga, como se descreveu no décimo segundo capítulo, qualifica-se para a liberação”.
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Verso 27
E Eu sou a base do Brahman impessoal, que é imortal, imperecível e eterno e é a posição constitucional da felicidade última. “Mas por que Seus devotos alcançariam o Brahman impessoal, que é alcançado apenas pela realização de unidade com Deus?”. “Porque Eu também sou a base desse famoso Brahman, uma vez que sou a base suprema de todas as coisas”. O significado de pratistha é abrigo, aquilo pelo qual algo é estavelmente mantido. Este é também o significado usado em toda parte nos srutis, como na descrição do Annamaya-purusa no Taittirya Upanisad. “Eu sou a base, ou abrigo, do amrta (amrtasya)”. “Isto se refere ao néctar de svarga?”. “Não, ele é indestrutível (avyayasya)”. Amrta, portanto, significa liberação. “Eu sou a base da liberação. Sou também a base do dharma ou método eterno (sasvatasya dharmasya ), que está eternamente presente tanto no estágio de sadhana quanto no estágio perfectivo, o método supremo de nome bhakti. Também sou a base da felicidade de prema (sukhasya) para o devoto ekantika (aikantikasya), que é qualificado para recebê-la. E porque tudo é dependente de Mim, também aquele que Me adora com o desejo de se tornar uno com o Supremo se imerge no Brahman e obtém o status de Brahman”. Sridhara Svami dá o seguinte significado ao verso: “Eu sou a base do Brahman” significa “Eu sou o Brahman condensado assim como o globo solar é luz condensada. Assim como o Sol, embora seja luz condensada, age como a base da luz; assim também, Eu, Krsna, sou a forma de Brahman, mas Eu também sou a base do Brahman”. Com relação a isto, o Visnu Purana 6.7.76 providencia o embasamento: subhasrayah sa cittasya sarvagasya tathatmanah. Essa afirmação é explicada por Sridhara Svami: “Ele é o abrigo ( asrayah), ou o pratistha, do Brahman Supremo (sarvagasya atmanah ). Assim, é afirmado pelo Senhor: ‘Eu sou o abrigo do Brahman ( brahmano hi pratisthaham )’.”. No Visnu Dharmottara também, em meio ao tema de Naraka-dvadasi, é dito: prakrtau puruse caiva brahmanyapi ca sa prabhuh yathaika eva puruso vasudevo vyavasthitah
“O Senhor Vasudeva, uma pessoa, está situado na prakrti, na jiva e no Brahman”. Em relação à adoração masarksa, também se diz: yathacyutas tvam paratah parasmat sa brahmabhutat paratah paratma paratma
“O Paramatma é superior à existência de Brahman, assim como Você, Acyuta, é superior a todos os outros”. No Hari-Vamsa, o Senhor fala à Arjuna em Seu passatempo de trazer de volta os filhos do brahmana: tat param paramam brahma sarvam vibhajate jagat mamaiva tad ghanam tejo jnatum arhasi bharata
“Aquele Brahman Supremo ilumina todo o universo. Você deve entender que tal luz condensada pertence a Mim”. - Visnu Parva 114 O Brahma Samhita diz: yasya prabha prabhavato jagad-anda-kotijagad-anda-kotikotisv asesa-vasudhadi-vibhuti-bhinnam tad brahma niskalam anantam asesa-bhutam govindam adi-purusarh tarn aham bhajami
“Eu sirvo a Suprema Personalidade de Deus Govinda, o Senhor primordial, cuja refulgência corpórea transcendental, conhecida como brahmajyoti, que é ilimitada, imensurável e todo-penetrante, é a causa da criação de um ilimitado número de planetas com variados climas e condições específicas de vida”. - Brahma Samhita 5.40 No Oitavo Canto, o Senhor diz ao rei Satyavrata: madiyam mahimanamc ca para-brahmeti sabditam vetsyasy anugrhitam me
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samprasnair vivrtam hrdi
“Você será completamente orientado e favorecido por Mim, e, por causa de suas questões, tudo sobre Minhas glórias, que são conhecidas como Param-brahma, serão manifestas no íntimo de seu coração. Dessa forma, você saberá tudo sobre Mim”. – SB 8.24.38 Madhusudana Sarasvati explica o verso como se segue: “‘Mas Seu devoto deve alcançá-lO. Como ele é qualificado apenas para o estado de Brahman ( brahma-bhuyaya kalpate , verso 26), uma vez que Você é diferente do Brahman?’ Este verso responde esta pergunta. ‘Unicamente Eu sou o fim, a conclusão ou o paryaptih do Brahman”. De acordo com o Amara Kosa, a palavra paryaptih significa completa plenitude. Com o verso que segue, de sua composição, Madhusudana Sarasvati oferece seu louvor a Krsna: parakrta-mano-dvandvam param brahma narakrti narakrti saundarya-sara-sarvasvam vande nandatmajam mahah
“Eu adoro a refulgente forma da essência de toda beleza, o filho de Nanda, o Brahman Supremo que tem uma forma humana, e que livra minha mente das dualidades”. Este capítulo explica o infortúnio de estar atado pelos gunas, e a satisfação em estar livre dos mesmos, o que decorre unicamente de bhakti.
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Capítulo D Déci écim m o Quinto
PURUSOTTAMA-YOGA Verso 1 A Suprema Personalidade de Deus disse: Afirma-se que existe uma figueira-de-bengala imperecível, cujas raízes ficam para cima e os galhos para baixo e cujas folhas são os hinos védicos. Quem conhece esta árvore é um conhecedor dos Vedas. O décimo quinto capítulo estabelece que o desapego é a causa da cessação de nascimentos, que a alma é uma amsa do Senhor e que Krsna é superior à matéria e à jiva. yoga obtém-se o status de Brahman: O penúltimo verso do capítulo anterior afirmou que através da bhakti- yoga mam ca yo 'vyabhicarena bhakti-yogena sevate sa gunan samatityaitan brahma-bhuyaya kalpate
Talvez se levante a questão: “Como uma pessoa alcança o Brahman através da bhakti-yoga prestada ao Senhor possuidor de uma forma humana?”. “É verdade que sou humano em forma, mas Eu sou a base do Brahman, o abrigo supremo do Brahman”. Esta afirmação, funcionando como um sutra, forma o começo do capítulo quinze. “Você disse que o devoto, transpondo os gunas (sa gunan samatitya , verso 14.26), alcança o status de Brahman. O que é, então, este mundo material feito de gunas? A partir de onde ele foi gerado? Quem é essa jiva que transpõe o samsara através da devoção a Você? Você também falou da jiva como sendo qualificada para o Brahman ( brahma-bhuyaya kalpate ). O que é esse Brahman? E quem é Você, a base do Brahman?”. Prevendo essas questões, o Senhor S enhor então segue dizendo. Primeiramente, lançando mão de uma metáfora, o mundo material feito de gunas é comparado a uma árvore asvattha. Acima de todos os planetas, em Satyaloka, vive o Brahma de quatro cabeças, a raiz principal da árvore do mundo material. Esta árvore é composta do mahat-tattva, o primeiro rebento da prakrti (urdhva-mula). Os galhos da árvore estão para baixo, como os planetas svah, bhuvah e bhu, compostos de devas, gandharvas, kinnaras, asuras, raksasa, pretas, bhutas, humanos, vacas, cavalos, aves, insetos, vermes, mariposas e criaturas inertes. Esta árvore asvattha é a melhor ( uttama) das árvores porque permite a realização das metas pessoais de artha, dharma, kama e moksa. Mas, de acordo com o ponto de vista de bhakti, asvah significa aquilo que não durará até amanhã (a=não, svah=amanhã). Asvattha significa, portanto, aquilo que está fadado a perecer. Para os não-devotos, todavia, ela parece ser indestrutível ( avyayam). Chandamsi se refere aos Vedas, que detalham o karma em versos como os seguintes: vayavyam svetam alabheta bhumikam
“Desejando riqueza e poder, deve-se sacrificar um cavalo branco no noroeste”. – Taittiriya Samhita 2.1.1.1 aindram ekadasaka-palam nirvapet prajakamah
“Desejando progênie, deve-se oferecer onze oblações no leste”. – Baudhayana Srauta Sutras 13.2.120.7 Porque eles fazem o mundo material se expandir, os Vedas são tidos como as folhas ( parnami). Com essas folhas, a árvore parece atrativa. Aquele que conhece essa árvore é conhecedor dos Vedas. O sruti diz: urdhva-mulo'vak-sakha eso' svatthah sanatanah
“Essa árvore asvattha eterna tem sua raiz para cima e os galhos para baixo”. – Katha Upanisad 2.3.1
Verso 2 Os galhos desta árvore se estendem para baixo e para cima, nutridos pelos três modos da natureza material. Os
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brotos são os objetos dos sentidos. Esta árvore também tem raízes que descem, e estas estão atadas às ações fruitivas da sociedade humana. Os galhos desta árvore crescem para baixo ( adhah) na forma de animais e outros, e para cima na forma do nascimento de devatas e outros seres elevados. Esses galhos crescem cada vez mais, sendo regados pelas ações dos três gunas (guna-pravrddha). Os pequenos brotos dos galhos são os objetos sensoriais ( visaya-pravalah), como o som. Além disso, pode-se inferir que, na base da árvore, desconhecido por todos, há algum grande tesouro. Os galhos da asvattha produzem raízes externas, que são necessárias para sustentar tanto a raiz principal quanto as demais raízes externas. Essas raízes secundárias, a causa da ação contínua, crescem por toda a parte ( anusantantani) abaixo de Brahmaloka ( adhah), no planeta dos humanos. Karma-anubandhini significa que, após desfrutar os resultados das próprias ações, essas ações tornam-se estímulo para ações em outro nascimento humano.
Versos 3 e 4 Não se pode perceber a verdadeira forma desta árvore neste mundo. Ninguém pode compreender onde ela acaba, onde começa, ou onde ela se alicerça. Mas, com determinação, deve-se derrubar com a arma do desapego esta árvore fortemente arraigada. Em seguida, deve-se procurar aquele lugar do qual ninguém volta após ter chegado e render-se a esta Suprema Personalidade de Deus de quem tudo começou e de quem tudo emana desde tempos imemoriais. Além disso, a verdadeira forma da árvore não pode ser percebida no mundo dos homens. Devido a isto, grande variedade de opiniões são encontradas: “O mundo é real. O mundo é falso. O mundo é eterno”. Essa árvore não conhece fim, não conhece término ( na antah ), e, porque é ilimitada, ela também não tem começo. “Qual é então seu abrigo (sampratistha) ou base?”. Sem conhecimento espiritual, não se pode entender o que ela é. Em todo caso, sabendo que o desapego é a arma para cortar a árvore, que é a única causa do sofrimento de todas as almas; tendo cortado a árvore com tal desapego, deve-se buscar pelo tesouro situado na base da raiz. A palavra asangah aqui significa desapego ou renúncia completa. Tendo cortado a árvore com o machado (sastrena) do completo desapego, separando-a de si, deve-se, então, buscar ( parimargitavyam) pelo objeto (tat padam), Brahman, o grande tesouro que existe na raiz. “De que tipo de objeto se trata?”. “Deve-se procurar por aquele objeto que, tendo sido alcançado ( yasmin gatah), não mais se perde”. Ele então explica o método de busca. Deve-se adorar prapadye ) aquela pessoa original de quem a imemorial ( purani) ação do samsara ( pravrttih pravrttih) emana, ou, em outras ( prapadye palavras, deve-se buscar pelo processo de bhakti.
Verso 5 Aqueles que estão livres do falso prestígio, da ilusão e da falsa associação, que compreendem o eterno, que se enfastiaram da luxúria material, que estão livres das dualidades manifestas sob a forma de felicidade e sofrimento, e que, com toda a lucidez, sabem como se render à Pessoa Suprema, alcançam este reino eterno. “Executando bhakti, quais qualidades são obtidas pelas pessoas para que possam alcançar essa meta?”. Este verso explica. Adhyatma nitya significa “aqueles que têm por voto considerar constantemente sobre adhyatma; aqueles que estão absortos em refletir sobre o Paramatma”.
Verso 6 Essa Minha morada suprema não é iluminada pelo Sol ou pela Lua, nem pelo fogo ou pela eletricidade. Aqueles que a alcançam jamais retornam a este mundo material. “Quais são as qualidades desse objeto, desse reino, que é alcançado?”. As palavras “o Sol, a Lua e o fogo não o iluminam” significam que esse reino revela a si mesmo, é consciente, auto-suficiente e destituído de misérias, como calor e frio (causados pelo Sol, a Lua e o fogo). Tad dhama paramam mama significa “aquela luz (dhama) que é imaterial, paramam), que ilumina ou revela tudo o mais e que pertence a Mim”. O Hari Vamsa diz: além dos sentidos ( paramam tat param paramam brahma sarvam vibhajate jagat mamaiva tad ghanam tejo jnatum arhasi bharata
“Aquele Brahman Supremo ilumina todo este universo. Você deve saber, ó Bharata, que essa luz intensa pertence a Mim”. – Hari Vamsa 2.114.12 O sruti diz:
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na tatra suryo bhati na candra-tarakam nema vidyuto bhanti kuto'yam agnih tam eva bhantam anubhati sarvam tasya bhasa sarvam idam vibhati
“O Sol não brilha lá, tampouco brilham a Lua ou as estrelas. Nem o raio brilha lá. Como, então, é possível que o fogo exerça algum efeito? Tudo é iluminado unicamente pela auto-refulgência dEle”. – Katha Upanisad 2.2.15
Verso 7 As entidades vivas neste mundo condicionado são Minhas eternas partes fragmentárias. Por força da vida condicionada, elas empreendem árdua luta com os seis sentidos, entre os quais se inclui a mente. “Qual é a natureza dessa jiva que, transpondo o samsara através da devoção a Você, alcança esse lugar?”. No Varaha Purna, declara-se: svamsas catha vibhinnamsa iti dvedhayam isyate vibhinnamsas tu jivah syat
“Há dois tipos de amsa do Senhor, svamsa (expansão pessoal) e vibhinnamsa (expansão separada). A jiva é vibhinnamsa ”. A jiva é eterna (sanatanah), e, no estado condicionado, dentro da prakrti, arrasta consigo os seis sentidos, cujo sexto é a mente. Devido à ilusão dos sentidos buscarem objetos materiais, por meio da qual ela pensa “estas coisas são minhas”, ela se orgulha de estar assim acorrentada.
Verso 8 Assim como o ar transporta os aromas, a entidade viva no mundo material leva de um corpo a outro suas diferentes concepções de vida. Com isso, ela aceita uma espécie de corpo e, ao abandoná-lo, volta a aceitar outro. “O que ela faz quando é atraída pelos sentidos?”. Quando a jiva, o senhor de seus sentidos (isvarah), aceita um corpo e deixa esse corpo, ela o deixa levando esses sentidos juntamente com o corpo sutil. Isto se assemelha ao vento carregando as fragrâncias juntamente com os elementos sutis de seus receptáculos ( asayat ), ), como guirlandas e sândalo, e indo para outro lugar.
Verso 9 A entidade viva, aceitando esse outro corpo grosseiro, obtém certo tipo de ouvido, olho, língua, nariz e sentido do tato, que se agrupam ao redor da mente. Ela então desfruta um conjunto específico de objetos dos sentidos. “Tendo entrado em um novo corpo, o que ela faz?”. Refugiando-se ( adhisthaya) nos sentidos, como o ouvido e a mente, ela desfruta os objetos sensoriais (visayan), como o som.
Verso 10 Os tolos não conseguem compreender como a entidade viva pode abandonar seu corpo, nem conseguem entender a espécie de corpo que ela usufruirá sob o encanto dos modos da natureza. Mas aqueles cujos olhos estão treinados em conhecimento podem ver tudo isto. “Nós não percebemos como deixamos o corpo, como residimos no corpo e como desfrutamos de prazeres no corpo?”. “Pessoas sem inteligência (vimudha) não entendem a jiva nem quando ela está deixando o corpo, nem quando está residindo nele, nem enquanto desfruta os objetos dos sentidos com os sentidos presentes ( gunavitam). Mas homens jnana-caksusa) percebem e compreendem o condicionamento da jiva”. de discriminação ( jnana-caksusa
Verso 11 Os transcendentalistas diligentes, que estão em auto-realização, podem ver tudo isto com bastante clareza. Mas aqueles cujas mentes não são desenvolvidas e que não estão situados em auto-realização não podem ver o que está acontecendo, mesmo que tentem. Tais pessoas de discriminação são os yogis esforçados. Eles percebem a alma no corpo. Aqueles de consciência
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impura (akrtatmanah), mesmo que se esforcem, não percebem a alma.
Verso 12 O esplendor do Sol, que dissipa a escuridão de todo esse mundo, vem de Mim. O esplendor da Lua e o esplendor do fogo também vêm de Mim. “Tudo o que a jiva acaso obtenha em seu estado condicionado, sou Eu quem disponibiliza, sendo Eu a essência do Sol, da Lua e de outros objetos”. Isto é explicado em três versos. “A luz solar, nascendo pela manhã do Udaya Parvata, ilumina o mundo a fim de motivar a ação que culmina na obtenção do desfrute presente e futuro. Essa luz, e toda luz (akhilam) que há na Lua e no fogo, pertencem a Mim. Aquilo que é conhecido como o Sol, a Lua e o fogo, de fato, sou Eu. Entenda que tais objetos esplendorosos são vibhutis Minhas”.
Verso 13 Eu entro em cada planeta, e, por intermédio de Minha energia, eles permanecem em órbita. Eu Me torno a Lua e desse modo forneço o suco da vida a todos os vegetais. “Entrando na terra ( gam) através de Minha própria sakti (ojasa), e permanecendo ali situado, Eu mantenho as entidades móveis e inertes ( bhutani). Tornando-Me a Lua, Eu fomento o crescimento das plantas, como o pé de arroz, e as mantenho”.
Verso 14 Nos corpos de todas as entidades vivas, Eu sou o fogo da digestão e Me uno ao ar vital, que sai e que entra, para digerir as quatro espécies de alimentos. “Tornando-Me o vaisvanara, o fogo digestivo, refugiando-Me nos corpos das entidades vivas, juntamente com o prana e o apana, que estimulam o fogo, Eu faço a digestão dos quatro tipos de alimento”. Os quatro tipos de alimento são: aqueles mastigados com os dentes ( bhaksyam), como grão-de-bico assado; aqueles degustados pela língua sem o uso dos dentes (bhojyam), como a sopa; aqueles lambidos (lehyam), como o açúcar cande; e aqueles que a porção mastigada é descartada, como a cana de açúcar”.
Verso 15 Estou situado nos corações de todos, e é de Mim que vêm a lembrança, o conhecimento e o esquecimento. Através de todos os Vedas, é a Mim que se deve conhecer. Na verdade, sou o compilador do Vedanta e sou aquele que conhece os Vedas. “Assim como Eu sou o fogo digestivo no estômago, Eu também resido nos corações de todas as entidades vivas móveis e inertes na forma do elemento buddhi, inteligência. De Mim ( mattah), na forma da inteligência, vem a lembrança (smrtih) de sensações de objetos previamente experienciados. Também de Mim, vêm o conhecimento ( jnanam), nascido do contato dos sentidos com os objetos sensoriais, e também a remoção tanto do conhecimento quanto da memória (apohanam)”. Tendo dito como Ele ajuda a jiva em seu estado condicionado, o Senhor então diz como Ele arranja para que a jiva obtenha a liberação. “Eu sou conhecido através dos Vedas. Eu pessoalmente preparei o Vedanta através de VedaVyasa, porque somente Eu conheço os Vedas ( veda-vit ). ). Com exceção de Mim, ninguém conhece o verdadeiro significado dos Vedas”.
Verso 16 Há duas classes de seres, os falíveis e os infalíveis. No mundo material, toda entidade viva é falível, e, no mundo espiritual, toda entidade viva se chama infalível. “Porque Eu sou o conhecedor dos Vedas ( Veda-vit ), ), falarei brevemente o significado essencial de todos os Vedas em três versos. Por favor, escute com atenção”. “Neste mundo material composto de quatorze mundos (loke), há dois seres conscientes (imau dvau purusau )”. Ele então descreve brevemente quem são esses dois seres. Um é a jiva, chamada ksara por estar em uma condição desviada (ksar significa cair) de sua svarupa, ou natureza verdadeira. O outro ser é Brahman, chamado aksara, que não se desvia de sua svarupa. O sruti diz:
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etad vai tad aksaram gargi brahmana abhivadanti
“Os conhecedores do Brahman o conhecem como aksara, ó Gargi”. – Brhad-aranyaka Upanisad 3.8.3 O smrti diz: aksaram brahma paramam
“O aksara é o Brahman Supremo”. – Bg. 8.3 A partir dessas citações, percebe-se que a palavra aksara significa Brahman. Agora o Senhor deixa claro o significado dessas duas palavras. “Todas as entidades vivas são um agregado de jivas (sarvani ksarah). A jiva coletiva, caindo de sua svarupa devido à ignorância sem começo e se sujeitando ao karma, torna-se a variedade de entidades vivas até os seres móveis como o senhor Brahma”. Ksarah é usado no singular para expressar uma classe. A segunda consciência, aksara, situa-se sempre em sua própria svarupa, sem nunca cair. O Amara Kosa diz: “kuta sthah é aquilo que se manifesta em todos os tempos sob a mesma forma”.
Verso 17 Além desses dois, há também a maior personalidade viva, a Alma Suprema, o próprio Senhor imperecível, que entra nos três mundos e os mantém. Tendo falado no verso anterior do Brahman impessoal, que é adorado pelos jnanis, o Senhor agora fala sobre Paramatma, que adoram os yogis. A palavra tu indica uma distinção em relação ao que foi dito previamente. Como o yogi é um adorador diferente do jnani, o objeto adorado também será diferente. O Senhor expõe a natureza de Paramatma. Paramatma é aquele que, tendo a natureza de comandar ( isvara) e de ser imutável (avayayah), penetra inteiramente os três mundos e os mantém e protege ( bibharti).
Verso 18 Porque sou transcendental, situado além do falível e do infalível, e porque sou o maior, sou celebrado tanto no mundo quanto nos Vedas como a Pessoa Suprema. Tendo falado acerca do objeto de adoração dos yogis, Paramatma, o Senhor agora fala sobre o objeto de adoração dos devotos, Bhagavan. Embora Ele em Sua forma como Krsna seja o próprio Bhagavan, Ele denota a suprema purusa). excelência de Sua forma como Krsna usando o nome Purusottama, aquele que é superior ( uttama) a Paramatma ( purusa “Eu sou superior à jiva (ksaram), Sou superior ao Brahman (aksarat ) e também sou superior àquela pessoa imutável, purusa)”. Paramatma ( purusa yoginam api sarvesam mad-gatenantar-atmana sraddhavan bhajate yo mam sa me yuktatamo matah
“Dos yogis, aquele que, absorvendo sua mente em Mim, adora-Me com fé, Eu considero como o melhor de todos”. – Bg. 6.47 Pelas diferenças nos adoradores, pode-se concluir que há diferença nos objetos adorados. A palavra ca neste verso indica que Krsna é superior mesmo ao Senhor de Vaikuntha e outros. Entende-se isto pelas palavras de Sukadeva: ete camsa-kalah pumsah krsnas tu bhagavan svayam
“Esses são ou porções plenárias ou porções de porções plenárias, mas Krsna é o próprio Bhagavan em pessoa”. – SB 1.3.28 Embora Sua forma sac-cid-ananda seja chamada pelos nomes de Brahman, Paramatma e Bhagavan, não há, na verdade, diferença entre os três, sva-rupa dvaya-abhavat : “Não há dualidade em Sua forma” (SB 6.9.36). Todavia, devido à observação de diferenças entre os adoradores, em termos de sadhana e resultados, uma diferenciação foi designada. Ou seja, o sadhana específico do jnani, do yogi e do bhakta produz, respectivamente, a realização Brahman, Paramatma e Bhagavan. O resultado de jnana e yoga é meramente a liberação, e o resultado de bhakti é se tornar um associado do Senhor em prema. Além disso, sem bhakti, o jnani e o yogi não podem obter nem mesmo a liberação. Entende-se isso a partir dos seguintes versos: naiskarmyam apy acyuta-bhava-varjitam na sobhate
“Conhecimento acerca da auto-realização, muito embora livre de toda afinidade material, não parece completo se
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destituído de uma concepção do Infalível [Deus]”. – SB 1.5.12
pureha bhuman bahavo 'pi yoginas tvad-arpiteha nija-karma-labdhaya vibudhya bhaktyaiva kathopanitaya prapedire 'njo 'cyuta te gatim param
“Ó Senhor Supremo, no passado, muitos yogis neste mundo alcançaram a plataforma do serviço devocional por oferecerem a Você todos os seus empenhos e por executarem estritamente seus deveres prescritos. Através de tal serviço devocional, aperfeiçoado pelas práticas de ouvir e cantar sobre Você, eles chegaram à Sua compreensão, ó infalível, e puderam facilmente se render a Você e alcançar Sua morada suprema”. – SB 10.14.5 Os adoradores de Brahman e Paramatma têm obrigatoriamente que executar bhakti a Bhagavan para que obtenham os resultados finais de seu sadhana. Os adoradores de Bhagavan, todavia, não prestam adoração a Brahman ou Paramatma para a obtenção dos resultados de seu sadhana. tasman mad-bhakti-yuktasya yogino vai mad-atmanah na jnanam na ca vairagyam prayah sreyo bhaved iha
“Assim, para um devoto ocupado em Meu serviço amoroso, com a mente fixa em Mim, o cultivo de conhecimento e renúncia não é comumente considerado como o meio de se obter a mais elevada perfeição dentro deste mundo”. – SB 11.20.31 yat karmabhir yat tapasa jnana-vairagyatas ca yat yogena dana-dharmena sreyobhir itarair api sarvam mad-bhakti-yogena mad-bhakto labhate 'njasa svargapavargam mad-dhama kathancid yadi vanchati
“Tudo aquilo que pode ser alcançado por atividades fruitivas, penitências, conhecimento, desapego, yoga mística, caridade, cumprimento de deveres religiosos e outros meios perfectivos de vida podem ser facilmente obtidos por Meu devoto através do serviço amoroso a Mim. Se, de uma maneira ou outra, Meu devoto deseja promoção aos planetas celestiais, liberação ou residência em Minha morada, ele obtém tudo isso facilmente”. – SB 1.20.31-32 ya vai sadhana-sampattih purusartha-catustaye taya vina tad apnoti naro narayanasrayah
“Mesmo sem atender aos requerimentos para a obtenção de dharma, artha, kama e moksa, a pessoa obterá tudo isso se ela simplesmente for um devoto rendido do Senhor Narayana”. Dessa maneira, pela adoração a Bhagavan, é possível obter todos os resultados: desfrute material, liberação e prema. Mas pela adoração isolada de Brahman ou Paramatma, não é possível obter nem desfrute, nem liberação, nem prema. Por isso, diz-se que Bhagavan está em uma posição superior, muito embora Ele não seja diferente de Brahman e Paramatma. Isto é similar a se considerar uma grande labareda como superior a uma pequena luz e a uma lamparina devido ao seu poder superior em aliviar a dor do frio, muito embora todos esses itens sejam essencialmente a mesma energia. Contudo, entre as formas de Bhagavan, Krsna é considerado como sendo o mais atrativo, assim como o Sol é considerado superior a uma grande labareda. Por quê? Porque Krsna concede nirvana-moksa, o fruto final da adoração ao Brahman, mesmo a Seus inimigos, como Aghasura, Bakasura e Jarasandha, que eram os mais pecaminosos dos pecadores. Este verso foi explicado de acordo com o comentário de Sridhara Svami ao verso brahmano hi pratisthaham . Madhusudana Sarasvati diz: “Homens peritos em atividades piedosas adoram de forma contínua e repetida aquele que continuamente alivia a carga da Terra, que permite aos homens inteligentes cruzarem o oceano material, que é o deleite das mulheres de Vraja, a essência da beleza da nuvem de chuva – como se descreve nos Vedas – e a forma de conhecimento e bem-aventurança, Krsna. Desconheço qualquer verdade superior a Krsna, cujos olhos são como o lótus, a bela face como a Lua cheia e os lábios vermelhos como a fruta bimba. Ele tem a compleição de uma nuvem de chuva, veste trajes amarelos e carrega uma flauta em Sua mão”. – Comentário de Madhusudana Sarasvati ao verso 19 “Aqueles tolos que não podem tolerar as glórias de Krsna, que são estabelecidas com evidencias escriturais, vão para o inferno”. – Comentário de Madhusudana Sarasvati ao verso 20 Todo respeito aos impersonalistas, mas não deve haver indignação quanto à explicação destes três versos (16, 17 e 18) que estabelecem a posição suprema da forma de Krsna.
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Verso 19
Quem quer que, sem duvidar, conheça-me como a Suprema Personalidade de Deus, é o conhecedor de tudo. Ele, portanto, se ocupa em pleno serviço devocional a Mim, ó filho de Bharata. “Embora isto tenha sido estabelecido por Você, os filósofos argumentarão quanto ao seu significado”. “Deixe que discutam e argumentem! Eles estão confundidos por Minha maya, mas os devotos não. Aquele que não está confuso pelos argumentos de tais filósofos ( asamamudhah) conhece tudo. Muito embora ele possa não ter estudado as escrituras, ele é o conhecedor do significado das escrituras. A outra classe de pessoas, todavia, embora tenha estudado e ensinado todas as escrituras, é, de fato, constituída de grandes tolos (sam-mudhah). Aquele que Me conhece como Purusottama Me adora com completo amor. Os outros, embora adorem alguma coisa, não adoram a Mim”.
Verso 20 Esta é a parte mais confidencial das escrituras védicas, ó pessoa impoluta, e está sendo revelada por Mim. Quem quer que compreenda isto se tornará sábio, e seus esforços redundarão em perfeição. Este verso conclui o capítulo. “Nestes vinte versos ( iti), Eu falei de forma completa o maior segredo das escrituras”. Neste capítulo, as classes de matéria e consciência foram relevadas, e também se explicou a posição suprema de Krsna.
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Capítulo D Déci écim m o Sexto
DAIVASURA SAMPAD-YOGA Versos de 1 a 3 A Suprema Personalidade de Deus disse: Destemor, purificação da própria existência, cultivo de conhecimento espiritual, caridade, autocontrole, execução de sacrifícios, estudo dos Vedas, austeridade, simplicidade, nãoviolência, veracidade, estar livre da ira, renúncia, tranquilidade, não gostar de achar defeitos, compaixão para com todas as entidades vivas, estar livre da cobiça, gentileza, modéstia, firme determinação, vigor, clemência, fortaleza, limpeza, estar livre da inveja e da paixão pela honra – estas qualidades transcendentais, ó filho de Bharata, existem nos homens piedosos dotados de natureza divina. No décimo sexto capítulo, as qualidades dêvicas e assúricas, bem como o resultado dessas duas condições, serão descritos. Lembrando que os frutos da árvore asvattha do samsara não foram descritos no capítulo anterior após terem sido mencionados, o Senhor, neste capítulo, descreve os frutos da árvore, que são de duas variedades: aqueles que promovem à liberação e aqueles que causam enredamento. Primeiramente, em três versos, Ele descreve aqueles que libertam. Abhayam significa liberdade do medo de “Como viverei sozinho na floresta, sem esposa e filhos?”. Sattvasamsuddhih significa pureza de consciência. Jnana-yoga-vyavasthitah significa ser completamente familiar com os métodos para se obter jnana, como humildade, mencionados no capítulo de número treze nos versos de 8 a 12. Dana significa distribuição de comida e de outros itens de desfrute próprio a outros. Dama significa controle dos sentidos externos. Yajna significa adoração ao Senhor. Svadhyaya significa estudo ou recitação dos Vedas. Os itens que seguem este são claros. Tyaga significa renunciar o sentimento de posse sobre a esposa, os filhos e outras coisas. Aloluptam significa ausência de ganância. Esses vinte e seis itens pertencem à pessoa nascida em um momento indicativo da natureza de sattva-guna.
Verso 4 Orgulho, arrogância, presunção, ira, rispidez e ignorância – estas qualidades pertencem àqueles cuja natureza é demoníaca, ó filho de Prtha. O Senhor agora fala dos frutos condicionadores. Dambha significa anunciar a si mesmo como religioso muito embora seja possuidor de natureza pecaminosa. Darpa significa orgulho devido a riqueza, conhecimento e similares. Abhimana significa o desejo em receber respeito de outros ou apego à esposa, aos filhos e a outras coisas. Krodha significa ira. Parusya significa crueldade. Ajnana significa falta de discriminação. Essas são as qualidades do asura, que indicam outros tipos de seres também, como os raksasas. Essas qualidades pertencem à pessoa nascida em um momento indicativo da obtenção de qualidades rajásicas e tamásicas.
Verso 5 As qualidades transcendentais conduzem à liberação, ao passo que as qualidades demoníacas levam ao cativeiro. Não se preocupe, ó filho de Pandu, pois você nasceu com as qualidades divinas. O Senhor expõe os efeitos dessas duas diferentes obtenções neste verso. “Parece que eu carrego comigo esses traços de personalidade dos asuras, que conduzem ao enredamento no samsara, uma vez que eu desejo matar meus inimigos atirando flechas contra eles, estando, assim, cheio de crueldade e ira”. Para confortar Arjuna, que estava assim preocupado, o Senhor diz. “Não se preocupe. Você nasceu com as qualidades dêvicas. Ó Pandava, para aquele nascido em uma família da ordem dos ksatriyas; ira e crueldade, durante a guerra, estão de acordo com as prescrições escriturais. Apenas se você usasse de violência em outros contextos você seria categorizado dentro da natureza dos asuras”.
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Verso 6
Ó filho de Prtha, neste mundo há duas espécies de criaturas. Uma é chamada divina e a outra, demoníaca. Já me detive a explicar-lhe as qualidades divinas. Agora, ouça enquanto falo sobre as características demoníacas. Agora Krsna começa a explanar ao desanimado Arjuna as qualidades da natureza de Eu já falei em detalhes acerca das qualidades das pessoas divinas”.
asura. “Nos versos de 1 a 3,
Verso 7 Aqueles que são demoníacos não sabem o que se deve fazer e o que não se deve fazer. Neles não se encontram limpeza, comportamento adequado nem verdade. Pravrttim significa dharma, e nivrttim significa adharma.
Verso 8 Eles dizem que este mundo é irreal e sem nenhum fundamento; que é produzido do desejo sexual e tem como causa apenas a luxúria. Dizem que não há Deus no controle. Este verso descreve o processo de raciocínio dos asuras. “Eles dizem que o mundo é um conceito ilusório, baseado em irrealidade ( asatyam); que é sem base ( apratistha), como uma flor no céu; e que, uma vez sendo irreal, não está sob o controle de controlador algum ( anisvaram). Porque o mundo veio de lugar nenhum, como entidades vivas nascidas da transpiração, ele não tem causa ( aparaspara-sambhutam). O que mais se pode dizer (kim anyat )? )? Sua causa é relativa ao desejo daqueles que propõem teorias acerca dele ( kama-haitukam). Se eles imaginam que o mundo nasce simplesmente da ilusão, então isto se torna a causa”. Outros fazem a seguinte leitura do verso: Por asatyam, Krsna diz que o processo de raciocínio dos asuras é que não há prova ou confirmação acerca da validade dos Vedas, Puranas e outras fontes de conhecimento. “Eles dizem, trayo vedasya kartaro bhanda-dhurta-nisacara : ‘Os criadores dos três Vedas são trapaceiros imitando homens eruditos’. ‘Não há tal coisa como dharma ou adharma (apratistham)’, eles prosseguem, ‘as noções de dharma e adharma são concepções equivocadas. A idéia de Senhor Supremo também é concebida por equívoco ou bhrama (anisvaram)’. Se se argumenta que o mundo nasce da união do masculino com o feminino (Bg. 14.4), em resposta, os demoníacos dizem: ‘Não é assim. O mundo não nasce dessa interação ( aparaspara-sambhutam ). Embora se diga que a criança surge a partir da mãe e do pai, essa é uma idéia equivocada, assim como a falsa sabedoria de que o pote surge a partir do ceramista’. O que mais posso dizer, Arjuna? Eles prosseguem: ‘A causa do mundo é simplesmente uma especulação baseada nos caprichos de quem a propõe ( kama-haitukam). Por lógica, o que cada um defende como a causa, seja o átomo, maya ou Deus, é a causa para eles’.”.
Verso 9 Seguindo essas conclusões, os demoníacos, sem saber o que fazer e sem nenhuma inteligência, ocupam-se em atividades prejudiciais e hediondas que só servem para destruir o mundo. “Alguns desses asuras que discursam de tal maneira são almas perdidas. Alguns têm inteligência diminuta e outros são violentos. Fazendo o que bem entendem, e estão fadados a uma existência infernal”. Isto é descrito em onze versos. Avastabhya significa o ato de se refugiar neste conceito de vida.
Verso 10 Refugiando-se na luxúria insaciável e absortos na presunção própria do orgulho e do falso prestígio, os demoníacos, nesta ilusão, estão sempre comprometidos com o trabalho sujo, atraídos pelo impermanente. Eles se envolvem em doutrinas ou ideologias falsas ( asad-grahan) e executam (asuci-vratah).
vratas
sem uma conduta pura
Verso 11 Eles acreditam que satisfazer os sentidos é a necessidade primordial da civilização humana. Com isto, até o fim da vida, sua ansiedade é imensurável.
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Até a morte ( pralayantam), eles se refugiam em ilimitados pensamentos. Eles estão convencidos de que o único significado das escrituras (etavan iti niscitah ) é deixar que os sentidos desfrutem os objetos sensoriais; e que não há mais nada com o que se preocupar.
Versos de 12 a 15 Presos a uma rede de centenas de milhares de desejos e absortos na luxúria e na ira, eles recorrem a meios ilegais para obter o dinheiro que investirão no gozo dos sentidos. O ser demoníaco pensa: “Tanta riqueza eu tenho hoje, e vou ganhar mais conforme meus planos. Tenho tanto agora e isto aumentará mais e mais no futuro. Matei esse meu inimigo, e meus outros inimigos também serão mortos. Eu sou o senhor de tudo. Eu sou o desfrutador. Sou perfeito, poderoso e feliz. Sou o homem mais rico, rodeado por parentes aristocráticos. Não há ninguém tão poderoso e feliz como eu. Executarei sacrifícios, farei alguma caridade, e com isso ficarei contente.” Dessa maneira, eles são iludidos pela ignorância. Não é apresentado significado a estes versos.
Verso 16 Assim perplexos diante de tanta ansiedade e presos numa rede de ilusões, eles se apegam demasiadamente ao gozo dos sentidos e caem no inferno. Apegados ao desfrute de seus objetos sensoriais, eles caem em infernos sujos ( narake asucau), como o Vaitarani, que é repleto de sangue e pus.
Verso 17 Acomodados e sempre cínicos, deixando-se iludir pela riqueza e pelo falso prestígio, eles às vezes orgulhosamente executam sacrifícios apenas de nome, sem seguirem nenhuma regra ou regulação. significa aqueles que alcançaram uma posição respeitável na sociedade. Eles têm esse status entre as pessoas em geral, mas não têm o respeito dos sadhus ou pessoas bem instruídas. Assim, eles são insubmissos (stabdha). Eles prestam adoração através de ações que são sacrifícios apenas de nome ( nama-yajnaih yajante ). Atma-sambhavita
Verso 18 Confundidos pelo falso ego, força, orgulho, luxúria e ira, os demônios passam a invejar a Suprema Personalidade de Deus, que está em seus próprios corpos e nos corpos dos outros, e blasfemam contra a religião verdadeira. pradvisantah), Paramatma, que estou situado nos corpos deles próprios e “Eles são desrespeitosos para coMigo ( pradvisantah nos corpos de outros (atma-para-dehesu); (ou) eles odeiam a Mim, que estou situado nos corpos dos devotos que são rendidos a Paramatma (atma-para-dehesu mam ). Uma vez que odeiam os devotos que se renderam a Mim, eles Me odeiam, pois não há diferença entre odiar Meu devoto ou odiar a Mim. E eles consideram consi deram as qualidades dos devotos como falhas (abhyasuyakah)”.
Verso 19 Aqueles invejosos e maliciosos, que são os mais baixos entre os homens, eu os atiro perpetuamente no oceano da existência material, onde assumem várias espécies de vida demoníaca. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 20 Submetendo-se a repetidos nascimentos entre as espécies de vida demoníaca, ó filho de Kunti, tais pessoas jamais conseguem aproximar-se de Mim. Aos poucos, elas afundam-se afundam-se na mais abominável condição de existência. “Não Me alcançando, os asuras obtêm nascimentos inferiores. Todavia, quando apareço no final de dvapara-yuga no vigésimo oitavo ciclo do reinado de Vaivasvata Manu, asuras como Kamsa Me alcançam. Embora Me odeiem, eles Me alcançam na forma da liberação. Porque sou um oceano de misericórdia, dou até mesmo a tais asuras pecadores a jnana misturada com bhakti)”. liberação que só é obtida pela perfeição de bhakti-misra-jnana ( jnana
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Os Vedas Personificados disseram:
nibhrta-marun-mano'ksa drdha-yoga-yujo hrdi yan munaya upasate tad-arayo'pi yayuh s maranat
“Apenas por pensarem constantemente nEle, os inimigos do Senhor alcançaram a mesma Verdade Absoluta que os sábios fixos em yoga adoraram através do controle da respiração, da mente e dos sentidos”. – SB 10.87.23 “Isto abrange o escopo de Minha posição anteriormente mencionada como o atrativo supremo”. O princípio padrão, todavia; como diz o Laghu-Bhagavatamrta (1.5.83), é: mam krsna-rupinam yavan napnuvanti mama dvisah tavad evadhamam yonim prapnuvantiti hi sphutam s phutam
“Uma vez que aqueles que Me odeiam não Me alcançam na forma de Krsna, eles se degradam nos nascimentos mais baixos. Isto é bem claro”.
Verso 21 Há três portões que conduzem a este inferno - a luxúria, a ira e a cobiça. Todo homem são deve afastar-se destes desvarios, pois eles conduzem à degradação da alma. Assim, o Senhor descreveu detalhadamente a natureza do asura. O Senhor também disse: “Não se preocupe, ó Arjuna, você é divino em natureza”. Ele então diz, neste verso, o que conduz à natureza de asura.
Verso 22 O homem que escapou a estes três portões do inferno, ó filho de Kunti, executa atos que conduzem à autorealização e aos poucos atinge o destino supremo. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 23 Aquele que põe de lado os preceitos das escrituras e age conforme os próprios caprichos não alcança a perfeição, a felicidade nem o destino supremo. Neste verso, expondo o que acontece àquele que não segue as escrituras e faz o que bem entende ( kama-karatah), o Senhor expressa que é benéfico seguir as escrituras.
Verso 24 É Através das normas dadas nas escrituras que se deve, portanto, entender o que é dever e o que não é dever. Conhecendo essas regras e regulações, todos devem agir de modo a elevarem-se gradualmente. Em essência, este capítulo descreve como aqueles que seguem as escrituras alcançam a meta suprema e como aqueles que não seguem vão para o inferno.
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Capítulo D Déci écim m o Sétimo
SRADDHA-TRAYA-VIBHAGA-YOGA Verso 1 Arjuna perguntou: Ó Krsna, em que situação ficam aqueles que não seguem os princípios escriturais, mas adoram segundo sua própria imaginação? Estão eles em bondade, paixão ou ignorância? “Após descrever as pessoas assúricas, Você concluiu dizendo que, abandonando as injunções escriturais, elas agem como bem querem e assim não obtêm felicidade nem nesta vida, nem na próxima. Eu tenho uma dúvida quanto a isso”. Então Arjuna diz este verso. “Você falou (Bg. 16.23) daqueles que abandonam a autoridade das escrituras e agem motivados por seus desejos pessoais (kama-karatah). Mas qual é o princípio fundamental ( nistha) daqueles que, apesar de terem abandonado as regras escriturais, passaram a adorar através de yajnas – como tapa-yajna, jnana-yajna ou japa yajna – com fé, sem desejo por objetos sensoriais e de forma não caprichosa ( sraddhaya-anvitah)? Esse comportamento está em sattva, rajas ou tamas? Por favor, responda-me esta questão”. Aho é uma partícula interrogativa.
Verso 2 A Suprema Personalidade de Deus disse: Conforme os modos da natureza adquiridos pela alma corporificada, sua fé pode ser de três espécies: em bondade, em paixão ou em ignorância. Agora ouve enquanto falo sobre isso. “Ó Arjuna, primeiro, ouça enquanto falo da situação daqueles que adoram sem abandonar as regras e regulações escriturais. Em seguida, falarei para você sobre a condição daqueles que abandonam as prescrições das escrituras. Escute sobre os três tipos de fé que nascem ( ja) de impressões particulares de experiências anteriores ( sva-bhava).
Verso 3 Ó filho de Bharata, conforme sua existência sob os vários modos da natureza, o homem desenvolve determinada espécie de fé. Conforme os modos com os quais conviveu, o ser vivo tem uma fé específica. Sattvam, aqui, significa coração, ou órgão sensorial interno ( antah-karana). Há três tipos de antah-karana: nos modos de sattva, rajas e tamas. Consoantemente, aqueles possuidores de um antah-karana sáttvico têm fé sáttvica; aqueles possuidores de um antah-karana rajásico têm fé rajásica; e aqueles com antah-karana tamásico têm fé tamásica. O adorador desenvolve sua natureza de acordo com as qualidades daquilo que ele adora com sua fé – devas, asuras ou raksasas ( yat yat sraddhah ).
Verso 4 Os homens no modo da bondade adoram os semideuses; aqueles que estão no modo da paixão adoram os demônios; e aqueles que vivem no modo da ignorância adoram fantasmas e espíritos. O Senhor agora detalha o que disse sucintamente. “Aqueles com antah-karana sáttvico, carregam fé sáttvica, seguem as escrituras sáttvicas e adoram seres sáttvicos, os devatas. Por terem fé em tais devatas, diz-se que eles também são devas. O mesmo princípio se aplica àqueles com antah-karanas rajásicos ou tamásicos.
Versos 5 e 6 Aqueles que se submetem a rigorosas austeridades e penitências não recomendadas nas escrituras, executando-as por orgulho e egoísmo, que são impelidos i mpelidos pela luxúria e apego, que são tolos e que torturam os elementos materiais do corpo, bem como a Superalma que mora no interior deste, devem ser conhecidos como demônios. “Você, Arjuna, apresentou-Me a questão: ‘Qual é a posição daqueles que abandonam as regras e regulações escriturais, mas que, com fé e sem apego ao desfrute dos objetos, praticam adoração?’. Ouça agora a resposta”. O Senhor
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responde em dois versos. “Eles executam austeridades que são danosas às entidades vidas ( ghoram)”. Menciona-se austeridade como representante de outras atividades, como japa e sacrifício. “Eles praticam todas essas atividades contra as regras escriturais. O estar destituído de desejo por desfrute e ter fé ( sraddha-anvitah) deles é de alguma forma perceptível, mas eles necessariamente carregam consigo ostentação (dambhah) e orgulho ( ahamkarah), porque, sem esses dois, eles não poderiam transgredir as regras escriturais. Eles têm desejo por juventude eterna, vida eterna, reino e coisas do tipo (kama), têm também apego à sua austeridade particular ( raga) e a habilidade para executar tal austeridade ( bala), como Hiranyakasipu, por exemplo, e outros. Dotados com essas qualidades, eles enfraquecem ou causam sofrimento (karsyanatah) a todos os elementos corporais, como a terra ( bhuta-grama), Eu (mam), e a Minha amsa, a jiva, situada dentro dos corpos. Essas pessoas também devem ser conhecidas dentro da categoria de asuras”.
Verso 7 Mesmo o alimento que cada pessoa prefere é de três espécies, conforme os três modos da natureza material. O mesmo se aplica aos sacrifícios, às austeridades e à caridade. Agora ouve enquanto falo sobre as distinções que há entre eles. “Você descreveu no capítulo anterior que aqueles que rejeitam as injunções escriturais e agem para satisfazer seus próprios caprichos entram nas formas de vida assúricas. Neste capítulo, Você descreveu que tanto aqueles que adoram yaksas, raksas, pretas e outros seres similares de acordo com as escrituras assúricas quanto aqueles que executam austeridades e outras atividades sem o auxílio de escritura alguma também entram nas espécies de vida assúricas. Por favor, eu gostaria de saber, tanto quanto possível, como categorizar como assúricos ou dêvicos, através de diferentes esferas, como a alimentação, os diferentes condicionamentos nos três modos da natureza”. Os treze versos que seguem descrevem esses itens.
Verso 8 Os alimentos apreciados por aqueles que estão no modo da bondade aumentam a duração da vida, purificam a existência e dão força, saúde, felicidade e satisfação. Semelhantes alimentos são suculentos, gordurosos, integrais e agradáveis para o coração. É de conhecimento geral neste mundo que o alimento sáttvico aumenta a duração de vida ( ayuh). Eles também aumentam a força de vontade ( sattva) e a força física, previnem doenças e trazem prazer e felicidade enquanto são ingeridos. O alimento deve ser saboroso ( rasyah). Jagra, embora saborosa, é seca. Alimentos sáttvicos, além de saborosos, também devem ser gordurosos ( snigdha) e não-secos (sthirah). A espuma do leite, embora saborosa e não-seca, é insubstancial. Alimentos sáttvicos devem ser substanciais, com efeito prolongado no corpo ( sthira). A jaca, embora se adéque nos critérios acima, sendo saborosa (doce), não-seca e substancial, não é benéfica ao estômago e a outros órgãos. Assim, Krsna adiciona que o alimento sáttvico também deve ser benéfico ao coração, ao estômago e outros órgãos (hrdaya). Por terem todas as quatro qualidades mencionadas, entende-se que alimentos como arroz, trigo e outros grãos; produtos derivados da vaca, como leite e iogurte; bem como açúcar, são benquistos pelas pessoas em geral. Sendo queridos por pessoas sáttvicas, logo são alimentos sáttvicos. Todavia, mesmo que o alimento tenha essas quatro qualidades, se ele é impuro, as pessoas sáttvicas não se atraem por ele. Dessa maneira, pureza deve ser adicionada às qualidades do alimento sáttvico. Seria interessante que se comparasse a descrição deste com o alimento tamásico mencionado posteriormente. O adjetivo usado para o segundo é amedhya (17.10), ritualmente impuro, não preparado visando ser oferecido em sacrifício.
Verso 9 Alimentos que são excessivamente amargos, excessivamente acres, salgados, quentes, picantes, secos e ardentes são apreciados por quem está no modo da paixão. Tais alimentos causam sofrimento, miséria e doença. O adjetivo ati, extremamente, deve ser adicionado a cada uma das qualidades. Alimento muito amargo ( katu) se se refere a alimentos como nim. Alimentos muito azedos, muito salgados e muito quentes são bem conhecidos. Alimentos muito picantes (tiksna) são exemplificados pela pimenta. Exemplos de alimentos muito pungentes ( ruksa) são o rabanete e o condimento hing. Alimentos que queimam ( vidahinah) são aqueles que causam aquecimento interno, como grão de bico torrado. Todos esses causam sofrimento ( duhkha), lamentação (soka) e doença (amayam). A palavra sofrimento, aqui, refere-se ao sofrimento imediato, causado aos olhos, à língua, à garganta e a outros órgãos enquanto se come. Lamentação significa a ansiedade ou o desespero em virtude de que, posteriormente, no futuro, o resultado de se ingerir tais alimentos virá. A palavra amaya significa doença.
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Verso 10
Alimento preparado mais do que três horas antes de ser ingerido, alimento insípido, decomposto e putrefato, e alimento que consiste em refugos e substâncias intocáveis atrai aqueles que estão no modo da escuridão. Yata-yamam significa alimentos há mais de três horas ( yamam yamam) cozinhados ou alimento que esfriou após ter sido preparado. Gata-rasam significa alimento cujo sabor natural está ausente, ou foi extraído, como semente e casca de manga madura. Puti significa mau cheiroso. Paryusitam significa aquele alimento que passou do ponto maduro, do ponto próprio para consumo. Ucchistam se refere às sobras daqueles que não são o guru ou pessoas similares ao guru. Amedyam
significa artigo incomestível, como carne. Revisando esta lista de alimentos, a conclusão natural seria que aqueles atentos a seus próprios interesses deveriam se servir de alimentos sáttvicos. Os Vaisnavas, todavia, rejeitam qualquer alimento não oferecido ao Senhor, mesmo que seja sáttvico. O alimento oferecido ao Senhor é querido pelos devotos transcendentais aos gunas. Isto é compreendido pela leitura do Srimad-Bhagavatam.
Verso 11 Dos sacrifícios, é da natureza da bondade o sacrifício que, por uma mera questão de dever, é executado conforme as direções das escrituras por aqueles que não desejam nenhuma recompensa. Com este verso, o Senhor começa a falar dos três tipos de sacrifício. É da natureza de sattva aquele sacrifício executado de acordo com as regras e regulações e sem desejo por resultados. Qual seria o ímpeto para o sacrifício se não há desejo por resultado algum? A mente se fixa na execução do sacrifício com a convicção de que ele deve ser feito por yastavyam eva iti ). assim prescreverem as escrituras ( yastavyam
Verso 12 Mas deves saber que o sacrifício executado em troca de algum benefício material, ou por causa do orgulho, ó principal dentre os Bharatas, está no modo da paixão. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 13 Considera-se que todo sacrifício executado sem que se levem em consideração as direções das escrituras, sem que se distribua prasadam (alimento espiritual), sem que se cantem os hinos védicos, sem que se remunerem os sacerdotes e sem que se tenha fé está no modo da ignorância. Asrsta-annam significa sem distribuir alimento em caridade.
Verso 14 A austeridade do corpo consiste em adorar o Senhor Supremo, os brahmanas, o mestre espiritual e os superiores, tais como o pai e a mãe, e em limpeza, li mpeza, simplicidade, celibato e não-violência. Abordando os três tipos de austeridade de acordo com os modos da natureza, o Senhor primeiramente fala de três austeridades sáttvicas em três versos.
Verso 15 A austeridade da fala consiste em proferir palavras verazes, agradáveis, benéficas e que não perturbam os outros, e também em recitar regularmente a literatura védica. é a postura de uma pessoa que não fala palavras que perturbariam outros, mesmo que esses outros sejam pessoas que a fizeram algum tipo de mau. Anudvega-karam
Verso 16 E satisfação, simplicidade, gravidade, autocontrole e purificação da existência são as austeridades da mente. Não é apresentado significado a este verso.
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Verso 17
Estas três espécies de austeridade, executadas com fé transcendental por quem não espera benefícios materiais, mas que atua apenas por amor ao Supremo, chamam-se austeridades em bondade. Os três tipos de austeridade são aquelas referentes ao corpo, às palavras e à mente ( tat tri-vidham).
Verso 18 Afirma-se que a penitência executada por orgulho e com o intuito de ganhar respeito, honra e adoração está no modo da paixão. Não é estável nem permanente. A austeridade executada com ostentação, tendo como propósito o recebimento de respeito verbal por parte de outros, que o chamarão de “um grande homem”; tendo o propósito de ganhar respeito corpóreo por parte de outros, que levantarão com sua aproximação; e com o propósito de ganhar respeito mental por parte de outros, que serão manifestados posteriormente como doações financeiras e de outras coisas similares, é austeridade rajásica. O resultado de tal austeridade é temporário ( calam), isso se tal resultado vier, pois seu aparecimento é incerto ( adhruvam).
Verso 19 Penitência executada por tolice, com autotortura ou visando destruir ou ferir outrem se diz que está no modo da ignorância. significa execução motivada por tolice. intuito de prejudicar outros. Mudha-grahena
Parasya-utsadana-artham
significa execução com o
Verso 20 A caridade dada por dever, sem expectativa de recompensa, no local e hora apropriados e dada a alguém digno, está no modo da bondade. Deve-se estar convencido de que caridade ( datavam) é algo dado sem desejo de ganho pessoal.
Verso 21 Mas a caridade executada com expectativa de alguma recompensa, ou com desejo de resultados fruitivos, ou com má vontade, diz-se que é caridade no modo da paixão. (relutância) significa que a pessoa prova o sentimento de arrependimento após dar em caridade, pensando: “Qual a necessidade de se dar tanto?”. Ou pode significar que, embora não desejando dar, a pessoa dá em caridade somente porque o guru ou alguém ordenou que assim fosse feito. O objeto ou ato doado dessa forma é inauspicioso, uma vez que não é com tal indisposição que se deve fazer caridade. Pariklistam
Verso 22 E a caridade executada em lugar impuro, em hora imprópria e feita a pessoas indignas ou sem a devida atenção e respeito diz-se que está no modo da ignorância. O resultado de ser negligente ( avajnatam) é ser ofensivo ( asat-krtam).
Versos 23 e 24 23
Desde o começo da criação, as três palavras om tat sat foram usadas para indicar a Suprema Verdade Absoluta. Estas três representações simbólicas eram usadas pelos brahmanas enquanto cantavam os hinos dos Vedas e durante os sacrifícios que eles executavam para a satisfação do Supremo. 24Portanto, para alcançar o Supremo, os transcendentalistas, empreendendo a execução de sacrifícios, caridades e penitências conforme as regulações das escrituras, sempre pronunciam o om inicialmente.
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Os três tipos de austeridade, sacrifício, caridade, alimento e fé foram descritos de maneira geral para todos os seres humanos. Todavia, dentre as pessoas sáttvicas, há também os que buscam o Brahman. Todos os seus sacrifícios, caridades, austeridades e alimento indicam o Brahman. Isto é explicado neste verso. As três palavras om tat sat , que designam o Brahman, foram reveladas pelos sábios ( smrtah). Dentre essas palavras, o om é bem conhecido nos srutis como o nome do Brahman. A palavra tat também é bem conhecida e designa a causa do universo, e também é entendida como significando o obliterador daquilo que não é tat (atat ), ), isto é, maya ou o mundo material. Sat é definido nos srutis como aquilo que existe antes de qualquer outra coisa (eterno): sad eva saumyam agre asit (Candoyga Upanisad 6.2.4). Dado que os brahmanas, os sacrifícios e os Vedas foram criados em tempos passados pelo Brahman (tena), que é representado na forma desses sons om tat sat ; os sacrifícios, austeridades, caridades e outras atividades dos presentes seguidores dos Vedas são iniciados com a recitação ( udahrtya) do nome do Brahman, om.
Verso 25 Com a palavra tat, deve-se executar várias espécies de sacrifício, penitência e caridade sem desejar resultados fruitivos. O propósito dessas atividades transcendentais é livrar-se do enredamento material. Recitando a palavra tat (tad iti) – a palavra udahrtya do verso anterior ainda se aplica neste –, eles executam as atividades prescritas, como caridade e as demais mencionadas. Anabhisandhaya significa “sem buscar por resultados”.
Verso 26 A Verdade Absoluta é o objetivo do sacrifício devocional, e é indicada pela palavra sat. O executor deste sacrifício também é chamado sat. A palavra sat indica Brahman, e deve ser usada em toda atividade auspiciosa, seja ela material ou espiritual. Isto é explicado em dois versos. A palavra sat indica Brahman (sad-bhave) e também aqueles que buscam o Brahman ( sadhubhave).
Verso 27 Também recebem a designação sat todas as obras de sacrifício, penitência e caridade que, em harmonia com a natureza absoluta, são executadas para agradar à Pessoa Suprema, ó filho de Prtha. Sat está
situado (sthitih) nos sacrifícios e outras atividades sendo a meta de tais. Qualquer atividade apropriada para o serviço ao Brahman ( tad-arthiyam), como limpar o templo do Senhor, é chamada sat .
Verso 28 Tudo aquilo que é feito como sacrifício, caridade ou penitência sem fé no Supremo, ó filho de Prtha, é impermanente. Chama-se ‘asat’ e é inútil tanto nesta vida quanto na próxima. “Eu ouvi acerca das ações sat . E quanto às ações asat ?”. ?”. “Qualquer oblação oferecida, qualquer caridade dada, qualquer austeridade feita e qualquer ação executada, caso sem fé, é asat . Se não há fé, quer oblações sejam oferecidas ou não, quer caridades sejam dadas ou não, quer austeridades sejam feitas ou não; em qualquer dos casos, tudo se trata de asat , uma vez que não se consegue nada nem no próximo mundo, nem neste”. Este capítulo descreve como as atividades sáttvicas de várias esferas, se executadas com fé, conduzem à liberação.
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Capítulo D Déci écim m o Oitavo
MOKSA-YOGA Verso 1 Arjuna disse: Ó pessoa de braços poderosos, desejo compreender o propósito da renúncia [tyaga] e da ordem de vida renunciada [sannyasa], ó matador do demônio Kesi, Senhor dos sentidos. O décimo oitavo capítulo fala acerca dos três tipos de sannyasa, jnana e karma, define liberação e indica bhakti como o maior de todos os segredos. “Você declarou no capítulo anterior [no verso 17.25] que ‘pronunciando a palavra tat , sem buscar por resultados, aqueles que desejam a liberação deste mundo material, atat , executam sacrifícios, austeridades e caridade’.”. Aqueles desejosos ou buscadores da liberação, moksa-kanksi, são os sannyasis. “Mas parece haver outros que são desapegados de todos os resultados de seu trabalho, como mencionado por Você quando disse sarva-karma-phala-tyagam tatah kuru yatatmavan: ‘situado no eu, renuncie todo o resultado de seu trabalho’ (Bg. 12.11). O que é a tyaga desses outros?”. Querendo entender a distinção, Arjuna apresenta a pergunta deste verso. prthak ), “Se as palavras sannyasa e tyaga têm significados distintos ( prthak ), eu gostaria de entender a distinção essencial entre elas. Mas se elas têm o mesmo significado, seja em Sua opinião ou na opinião de outros, eu também gostaria de saber esse significado único também”. “Ó controlador dos sentidos (hrsikesa), Você fez com que essa dúvida nascesse em mim porque Você é o instigador da inteligência. Ó matador de Kesi ( kesi-nisudana), mate esta minha dúvida assim como Você matou Kesi. Ó pessoa de braços poderosos ( maha-baho), Você é muito poderoso, ao passo que minha força é insignificante. Você é muito amigável com essa Sua expansão que sou eu, mais do que com outras expansões de vasto conhecimento. Eu, portanto, não temo Lhe fazer esta pergunta, pois, de alguma forma, Você Se tornou meu amigo”.
Verso 2 A Suprema Personalidade de Deus disse: A renúncia às atividades que se baseiam no desejo material é o que os grandes eruditos chamam de ordem de vida renunciada [sannyasa]. E abdicar os resultados de todas as atividades é o que os sábios chamam de renúncia [tyaga]. Apresentando primeiramente a idéia antiga, já apresentada nos capítulos anteriores, o Senhor explica as diferentes derivações das duas palavras. A renúncia ( nyasa) pela raiz das atividades executadas para a satisfação de desejos pessoais (kamyanam karmanam ) chama-se sannyasa. Desejos pessoais são indicados em declarações como: putra-kamo yajeta, svarga-kamo yajeta
“Aquele desejoso por um filho deve adorar. Aquele desejo em ir para os planetas celestiais deve adorar”. – Pastambha Srauta Sutra 3.9.4, 19.10.14 Isto não significa que as atividades obrigatórias diárias (nitya-karma), como a adoração sandhya, devam ser rejeitadas. Tyaga significa abandonar os resultados de todas as atividades com desejos pessoais (kamya-karma) e também todos os resultados das atividades obrigatórias ( nitya-karma) sem, no entanto, abandonar completamente as atividades em si. Os srutis também prometem resultados para as atividades obrigatórias ( nitya-karma). karmana pitrloka
“Pela execução das atividades obrigatórias, alcança-se Pitr-loka”. – Brhad-aranyaka Upanisad 1.5 dharmena papam apanudati
“Seguindo o dharma, erradica-se o pecado”. – Maha-narayana Upanisad 15.7
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karmas as kamy kamyas as e nityas sem buscar por seus resultados, Em tyaga, portanto, devem-se executar todos os karm enquanto que, em sannyasa, executam-se apenas os deveres compulsórios (nitya-karma) e sem desejo pelos resultados, rejeitando completamente os rituais que visam gratificação pessoal (kamya-karma). Essa é a distinção entre as palavras sannyasa e tyaga.
Verso 3 Alguns homens instruídos declaram que todas as espécies de atividades fruitivas devem ser abandonadas porque são defeituosas, mas outros sábios argumentam que os atos de sacrifício, caridade e penitência jamais devem ser abandonados. Neste verso, o Senhor descreve outras opiniões sobre o significado de tyaga. Os filósofos de sankhya (eke manisinah) dizem que todas as atividades, por serem maculadas com violência e outras más qualidades, devem ser completamente abandonadas. Por outro lado, os mimamsakas (apare) dizem que algumas atividades, como sacrifício, não devem ser abandonadas porque são prescritas pelas escrituras.
Verso 4 Ó melhor dos Bharatas, ouve, agora, o que tenho a dizer sobre renúncia. Ó tigre entre os homens, as escrituras afirmam que há três categorias de renúncia. Agora, neste verso, o Senhor expõe Sua opinião. “ Tyaga pode ser de três tipos: sáttvica, rajásica e tamásica”. Krsna adia a descrição desses três tipos até o verso sete, só então começando a descrever tyaga no modo da ignorância. Pelo uso da palavra sannyasa ao descrever tyaga tamásica no verso sete, entende-se que tyaga e sannyasa têm o mesmo significado na opinião do Senhor.
Verso 5 Os atos de sacrifício, caridade e penitência não devem ser abandonados, mas sim executados. Na verdade, sacrifício, caridade e penitência purificam até as grandes almas. De acordo com o Senhor, mesmo entre os kamya-karmas, os atos sáttvicos de sacrifício, caridade e austeridade devem ser executados, sem desejo pelos resultados. Isto é explicado neste verso. Sacrifício, austeridade e caridade devem ser feitos, pois têm o poder de purificar a consciência.
Verso 6 Todas essas atividades devem ser executadas sem apego nem expectativa alguma de resultado. Elas devem ser executadas por uma simples questão de dever, ó filho de Prtha. Esta é Minha opinião final. Neste verso de número seis, o Senhor apresenta o método pelo qual essas ações se tornam purificadoras. Devem-se executar tais atividades abandonando a idéia equivocada de ser o executor ( sangam tyaktva ) e abandonando também a busca por resultados. O renunciar da idéia de ser o desfrutador e da busca por resultados é tyaga, que também é chamada de sannyasa.
Verso 7 Nunca se deve renunciar aos deveres prescritos. Se, por causa da ilusão, alguém renuncia a seus deveres prescritos, diz-se que semelhante renúncia está no modo da ignorância. Iniciando a descrição dos três tipos de tyaga, o Senhor aqui descreve a tyaga tamásica. Abandonar as atividades diárias (niyatasya karmanah ) não é recomendado. Rejeitar os nitya-karmas devido à ignorância do conhecimento das escrituras (mohat ) tem a designação de tyaga tamásica. O sannyasi pode rejeitar kamya-karmas dado que não são obrigatórios, mas nitya-karmas não devem ser rejeitados. Isso é sugerido pela palavra tu. Obtém-se como resultado da tyaga tamásica a ignorância, o oposto à meta, que seria o conhecimento.
Verso 8 Todos que abandonaram seus deveres prescritos por serem problemáticos ou por medo de desconforto físico renunciaram sob a influência do modo da paixão. Tal ato jamais conduz à elevação decorrente da renúncia.
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Se, muito embora saiba que a execução de nitya-karma é necessária e louvável e que negligenciá-la é pecaminoso, alguém rejeita nitya-karma pensando que se trata de uma perturbação inútil ao corpo, sua tyaga é rajásica. Não se obtém assim o resultado desejado pela execução de tyaga, o conhecimento.
Verso 9 Ó Arjuna, quando alguém executa seu dever prescrito só porque deve ser feito, e renuncia a toda associação material e a todo apego ao fruto, diz-se que sua renúncia está no modo da bondade. Executar o nitya-karma (niyatam-kriyate) com a mentalidade “isto deve ser feito”, enquanto rejeita os resultados e a idéia de ser o agente, é tyaga sáttvica. Entende-se aqui que o resultado da tyaga sáttvica – a tyaga da renúncia dos frutos e da não renúncia da ação – é a obtenção do conhecimento.
Verso 10 O renunciante inteligente, situado no modo da bondade, que não detesta o trabalho inauspicioso nem se apega ao trabalho auspicioso, não tem nenhuma dúvida sobre o trabalho. Este verso descreve as características de uma pessoa fixa em tal tyaga sáttvica. Akusalam se refere às atividades que trazem sofrimento ao corpo, como se banhar durante o inverno; e kusala se refere às atividades que trazem prazer ao corpo, como se banhar durante o verão.
Verso 11 De fato, é impossível para um ser corporificado renunciar a todas as atividades. Mas quem renuncia aos frutos da ação renunciou de verdade. As ações ordenadas nas escrituras, portanto, não devem ser abandonadas. Não é possível para uma pessoa com um corpo abandonar as atividades. A forma sakyam é usada ao invés da padrão sakyani. O Senhor também já disse (Bg. 3.5) que, nem mesmo por um instante, a pessoa pode permanecer sem agir, na hi kascit ksanam api jatu tisthaty akarmakrd .
Verso 12 Para quem não é renunciado, as três espécies de frutos da ação – desejáveis, indesejáveis e mistos – germinam após a morte. Mas aqueles que estão na ordem de vida renunciada não experimentam este resultado sob a forma de sofrimento e prazer. O resultado de não seguir o processo de tyaga devidamente é descrito como a obtenção de resultados na forma de sofrimento no inferno ( anistam), de prazeres nos planetas celestiais (istam) ou de nascimento humano ( misram) na pretya). próxima vida ( pretya
Verso 13 Ó Arjuna de braços poderosos, existem, segundo o Vedanta, cinco causas que levam à concretização de todos os atos. Agora ouça enquanto falo sobre isto. “Mas como é possível que a execução de atividades não traga resultados cármicos?”. Com o intuito de estabelecer que não há contaminação cármica quando se executa atividades sem falsa identificação, o Senhor fala cinco versos. “A partir de Minhas palavras (me), conheça esses cinco fatores para a conclusão ( siddhaye) de todas as ações”. Sankhya significa falar (khya) diretamente (samyak ) sobre Paramatma. “Essas cinco causas também são mencionadas nas escrituras Vedânticas (sankhye), cujo propósito é destruir o karma (krtante)”.
Verso 14 O lugar onde ocorre a ação [o corpo], o executor, os vários sentidos, as muitas diferentes espécies de esforço e, por fim, a Superalma – são estes os cinco fatores da ação. As cinco causas são enumeradas. Adhisthanam significa o corpo. Karta significa o ahankara, o que une a alma ao
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prthak-vidham) sentidos, como os olhos e os ouvidos. Cesta se refere aos ares vitais, corpo. Karanam significa os vários ( prthak-vidham como o prana e o apana, que têm diversas funções ( prthak ). ). Daiva se refere ao Antaryami, aquele que instiga tudo a se animar.
Verso 15 Qualquer ação certa ou errada que um homem execute através do corpo, da mente ou da fala é causada por estes cinco fatores. As ações são de três tipos: físicas, vocais e mentais. Estas podem ser de dois tipos: de acordo com o (nyayam) ou contra o dharma (viparitam). Suas causas são as cinco já mencionadas.
dharma
Verso 16 Aquele que se considera, portanto, o único executor e não leva em consideração os cinco fatores com certeza não é muito inteligente e não pode perceber as coisas como elas são. “E quem pensa diferente?”. “Arjuna, sendo esses cinco fatores as causas da ação ( tatraiva), aquele que vê apenas o eu, a jiva, como o agente, sem associação com nada mais, não vê; ele é um tolo ( durmatih), pois sua inteligência é impura (akrta-buddhitvat ). ). Pode-se dizer que tal tolo é, de fato, cego.
Verso 17 Aquele que não é motivado pelo falso ego, cuja inteligência não está enredada, embora mate homens neste mundo, não mata. Tampouco fica preso a suas ações. “Quem, então, é dotado de inteligência pura e visão saudável?”. “Aquele que não é movido pelo ahankara (ahankrto bhavah ), que não se considera o agente, que não está apegado às ações absorvendo-se em pensar se os resultados serão bons ou ruins ( yasya buddhir na lipyate ), não obtém reações cármicas. O que mais pode ser dito? Conquanto ele faça atividades piedosas ou pecaminosas, ele não as faz. Embora da visão ordinária talvez pareça que ele mata todas essas entidades vivas; da visão espiritual, ele não mata, pois ele não tem motivações egoístas para a ação. Assim ele não é atado – ele não recebe as reações do karma”.
Verso 18 O conhecimento, o objeto do conhecimento e o conhecedor são os três fatores que motivam a ação; os sentidos, o trabalho e o autor são os três constituintes da ação. A tyaga ou sannyasa sáttvica descrita e aprovada pelo Senhor destina-se aos jnanis. Aos bhaktas, todavia, recomenda-se a completa rejeição de karma-yoga. No décimo primeiro canto do Srimad-Bhagavatam, declara-se: ajnayaiva gunan dosan mayadistan api svakan dharman santyajya yah sarvan mam bhajet sa ca sattamah
“Ele compreende completamente que as obrigações religiosas ordinárias prescritas por Mim em diversas escrituras Védicas possuem qualidades favoráveis à purificação do executor, e sabe que negligenciar tais obrigações pode acarretar problemas na vida do não executor. Tendo-se refugiado completamente em Meus pés de lótus, todavia, a pessoa santa por fim renuncia tais deveres religiosos ordinários e apenas Me adora. Ela é então considerada como a melhor de todas as entidades vivas”. – SB 11.11.32 Sridhara Svami explica o significado deste verso do Srimad-Bhagavatam da seguinte maneira: “ 'Aquele que rejeita seus deveres prescritos por Mim na forma dos Vedas e Me adora é o melhor'. 'Essa pessoa não é ignorante ou ateísta?'. 'Não. Embora saiba que seguir os princípios do dharma é algo com bons resultados, como a purificação, e embora conheça o pecado que envolve não seguir o dharma, tal pessoa abandona essas práticas com a firme convicção de que, simplesmente por ser Meu devoto, tudo o mais estará satisfeito e cumprido. Outra razão para ele abandonar os deveres ordinários é o fato de ele considerar essas coisas como uma distração à meditação em Mim'.”. “Renunciar o dharma” no verso citado não significa mera renúncia dos resultados dessas práticas, mas a renúncia da prática em si. Deve-se renunciar o dharma e também se deve entender que não há nenhuma perda na renúncia de seus resultados. O significado é este. Entender as afirmações do Srimad-Bhagavatam e as explicações dos comentadores requer pureza de consciência. Em proporção ao nível de purificação do coração por niskama-karma, haverá um despertar de
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conhecimento. Não há outra maneira. Assim, obtendo o despertar de conhecimento, mesmo os sannyasis devem executar karma-yoga. Todavia, tal karma não é mais necessário para aqueles que obtiveram completa purificação do coração através de tal karma. Foi dito anteriormente: aruruksor muner yogam karma karanam ucyate yogarudhasya tasaiva samah karanam ucyate
“Afirma-se que quem é neófito no sistema ióguico óctuplo recorre ao trabalho; mas quem já está elevado em yoga atua através da cessação de todas as atividades materiais”. – Bg. 6.3 yas tv atma-ratir eva syad atma-trptas ca manavah atmany eva ca santustas tasya karyam na vidyate
“Mas para quem sente prazer no eu e utiliza a vida humana para buscar a auto-realização, satisfazendo-se apenas no eu, plenamente satisfeito – para ele, não há dever”. – Bg. 3.17 Mas bhakti, sendo independente, suprema e extremamente poderosa, não precisa de purificação prévia do coração. É declarado que: vikriditam vraja-vadhubhir idam ca visnoh sraddhanvito yah srnuyad atha varnayed yah bhaktim param bhagavati parilabhya kamam hrd-rogam asv apahinoty acirena dhirah
“Qualquer um que escute ou descreva com plena fé as atividades brincalhonas do Senhor com as jovens gopis de Vrndavana irá obter o serviço devocional puro a Ele. Dessa maneira, a pessoa rapidamente se tornará sóbria e conquistará a luxúria, a doença do coração”. – SB 10.33.39 A sobreexcelente bhakti, desde o início da prática, entra no coração da pessoa aflita com a tortuosa doença da vida material e assim remove a luxúria e outras impurezas. pravistah karna-randhrena svanam bhava-saroruham dhunoti samalam krsnah salilasya yatha sarat
“A encarnação sonora do Senhor Krsna [como o Srimad-Bhagatam, por exemplo] entra no coração, senta-Se na flor de lótus da relação amorosa, e então remove a poeira da associação material, como a luxúria, a ira e a ansiedade. Essa vibração purifica o coração da mesma forma que as chuvas outonais purificam os rios”. – SB 2.8.5 Assim, se bhakti sozinha pode purificar o coração dessa maneira, por que os devotos deveriam executar deveres prescritos? Voltemos, agora, para o verso em mãos. O processo do conhecimento ( jnanam) significa agir com a compreensão de ser diferente de seu corpo. O objeto de conhecimento ( jneyam) não é apenas se entender como diferente do corpo, mas parijnata) são aqueles que se refugiaram entender toda a temática do atma (que, para o jnani, seria o Brahman). Jnanis ( parijnata em tal conhecimento. Mas isto não é tudo. Esses três estão relacionados à ação. Isto deve ser entendido pelo sannyasi. O verso explica isto. A palavra codana significa “regra”. Os eruditos dizem que codana significa ou ensinamento ou regra. A primeira metade do verso é explicada na segunda. Conhecimento ( jnana) é o meio da ação, ou o caso instrumental ( karana), uma vez que conhecimento significa literalmente “aquilo pelo qual algo é conhecido”. Aquilo que é para ser conhecido jneyam), jivatma-tattva, é o objeto da ação ou o caso acusativo ( karma). O conhecedor ( parijnata) é o sujeito (karta) ou ( jneyam o caso nominativo. Esses – o caso instrumental, o acusativo e o nominativo – são os três ( trividham) alicerces em que se baseia a execução de niskama-karma (karma-sangrahah). Karma-samgraha atua, portanto, como a explicação de karmacodana.
Verso 19 Conforme os três diferentes modos da natureza material, há três classes de conhecimento, ação e executor da ação. Agora ouça enquanto falo sobre elas. Não é apresentado significado a este verso.
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Verso 20
Deves compreender que está no modo da bondade aquele conhecimento com o qual se percebe uma só natureza espiritual indivisa em todas as entidades vivas, embora elas se apresentem sob inúmeras formas. Este verso fala do conhecimento sáttvico. A visão de uma única espécie de alma ( avibhaktam), que é indestrutível (avyayam) e que reside em uma forma diferente por vez ( vibhaktesu), como formas humanas, dêvicas e animalescas, com o propósito de desfrutar vários frutos temporários – através do conhecimento relativo à ação (verso 18) – é conhecida como conhecimento sáttvico.
Verso 21 Deves entender que está no modo da paixão aquele conhecimento com o qual se vê em cada corpo diferente um diferente tipo de entidade viva. Este verso fala do conhecimento rajásico. É da natureza de raja-guna aquele conhecimento pelo qual se vê a alma como diferente em cada corpo que ela aceita e que aceita a idéia assúrica de que a alma perece com o corpo. Aquele conhecimento pelo qual se conhecem várias opiniões disponíveis nas escrituras assúricas, como “a alma é o abrigo da felicidade e da aflição, a alma não é o abrigo da felicidade e da aflição, a alma é inconsciente, a alma é consciente, a alma é todo-penetrante, a alma é atômica, as almas são muitas, a alma é uma”, é conhecido como conhecimento rajásico.
Verso 22 E diz-se que está no modo da ignorância aquele conhecimento pelo qual alguém se apega a um tipo específico de trabalho como tudo o que existe, sem ter a compreensão da verdade, além de ser muito escasso. Este verso fala do conhecimento tamásico. Aquele conhecimento sem referência a nenhuma escritura, sendo meramente especulativo (ahaitukam), que fomenta a execução de uma atividade material, como comer ou banhar-se, beber ou desfrutar com uma mulher, com negligência para com as atividades védicas, como os sacrifícios, sem nenhuma idéia da verdade ( atattva-arthavat ), ), conhecimento escasso como o dos animais, é conhecido como conhecimento tamásico. Em resumo, os três tipos de conhecimento são o conhecimento tat-padartha, conhecimento da alma como diferente do corpo, que é sáttvico; conhecimento de escrituras de lógica e similares, que dá origem a várias doutrinas e argumentos e contra-argumentos, que é rajásico; e conhecimento que é relacionado simplesmente às demandas corpóreas do tipo banhar-se e comer, que é tamásico.
Verso 23 Diz-se que está no modo da bondade aquela ação que é regulada e que se executa sem apego, sem amor nem repulsa, e sem desejo de resultados fruitivos. Tendo explicado os três tipos de conhecimento, o Senhor agora explica os três tipos de ação. O trabalho que é executado regularmente ( niyatam) e é destituído de apego ( sanga-rahitam), executado nem com a mentalidade de “gosto” nem com a mentalidade de “não gosto” e feito sem desejo por resultados ( aphala-prepsuna) é chamado trabalho sáttvico.
Verso 24 Mas a ação executada com grande esforço por alguém que busca satisfazer seus desejos, e efetuada por causa de uma sensação de falso ego, chama-se ação no modo da paixão. Aquele trabalho executado com desejo por resultados ( kama-ipsuna) e com indicativo de um pouco de orgulho ou com grande orgulho ( sa-ahankarena va ) é chamado de trabalho rajásico.
Verso 25 A ação executada em ilusão, que não leva em conta os preceitos das escrituras, e em que não há preocupação com o cativeiro futuro ou com a violência ou o sofrimento causados a outros, é tida como no modo da ignorância. Aquele trabalho que conduz a um cativeiro posterior ( anubandham), seja sob a ordem de Yamaraja ou sob a ordem do governo, aquele trabalho que destrói o dharma, o conhecimento e outras boas qualidades (ksayam), que destrói
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o próprio executor ( himsam), que é executado sem considerações prévias ( anapeksya), que é executado apenas por paurusam) e que tem por motivação a ignorância ( mohat ), pessoas materialistas ( paurusam ), é chamado trabalho tamásico.
Verso 26 Aquele que executa seu dever sem entrar em contato com os modos da natureza material, sem falso ego, com grande determinação e entusiasmo, e sem se deixar levar pelo sucesso ou pelo fracasso é dito ser um trabalhador no modo da bondade. Os três tipos de trabalho foram descritos. Agora são descritos os três tipos de trabalhadores.
Verso 27 O trabalhador que se apega ao trabalho e aos frutos do trabalho, desejando gozar esses frutos, e que é cobiçoso, sempre invejoso, impuro e que se deixa afetar pela alegria e tristeza é dito estar no modo da paixão. Ragi
significa apegado ao seu trabalho. Lubdhah significa apegado ao desfrute de objetos sensoriais.
Verso 28 O trabalhador que sempre está ocupado em trabalho que vai de encontro aos preceitos das escrituras, que é materialista, obstinado, trapaceiro e perito em insultar os outros, e que é preguiçoso, sempre desanimado e irresoluto é dito ser um trabalhador no modo da ignorância. Aquele que faz o que não deveria ser feito é ayuktah. Aquele que age de acordo com sua natureza adquirida, no sentido de que faz qualquer coisa que venha à sua mente ao invés de seguir as instruções do guru, é prakrtah. Aquele que ofende outros é naiskrtikah. Os jnanis devem praticar a tyaga sáttvica descrita aqui, e devem se refugiar no conhecimento derivado do karma sáttvico, devem executar trabalho sáttvico e devem se tornar trabalhadores sáttvicos. Esta Est a é a sannyasa do jnani. O conhecimento dos devotos, todavia, é transcendental aos gunas. Seu trabalho dedicado ao Senhor, chamado bhakti-yoga, é transcendental aos gunas. Os trabalhadores também são transcendentais aos gunas. Isto é afirmado pelo Senhor no Srimad-Bhagavatam: kaivalyaih sattvikam jnanam rajo vaikalpikam tu yat prakrtam tamasam jnanam man-nistham nirgunam smrtam
“Conhecimento absoluto está no modo da bondade, conhecimento baseado em dualidade está no modo da paixão, e conhecimento materialista e estúpido está no modo da ignorância. Conhecimento acerca de Mim, entretanto, é tido como transcendental”. – SB 11.25.24 laksanam bhakti-yogasya nirgunasya hy udahrtam
“As características da bhakti-yoga, que é transcendental aos gunas, são manifestas”. – SB 3.29.11 sattvikah karako 'sangi ragandho rajasah smrtah tamasah smrti-vibhrasto nirguno mad-apasrayah
“Um trabalhador livre do apego está no modo da bondade, um trabalhador cego por desejos pessoais está no modo da paixão, e um trabalhador que se esqueceu completamente como discernir entre certo e errado está no modo da ignorância. O trabalhador, todavia, que se refugiou em Mim é tido como transcendental aos modos da natureza”. – SB 11.25.26 Não apenas esses três itens – conhecimento, trabalho ( bhakti-yoga) e trabalhador ( bhakta) – são transcendentais aos gunas, senão que, de acordo com a filosofia de bhakti, tudo relacionado a bhakti é transcendental aos gunas. sattviky adhyatmiki sraddha karma-sraddha tu rajasi tamasy adharme ya sraddha mat-sevayam tu nirguna
“A fé direcionada à vida espiritual é fé no modo da bondade, a fé enraizada em trabalho fruitivo é fé no modo da paixão, e a fé que reside em atividades irreligiosas é fé no modo da ignorância, mas a fé em Meu serviço devocional é plenamente transcendental”. – SB 11.25.27
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vanam tu sattviko vaso gramo rajasa ucyate tamasam dyuta-sadanam man-niketam tu nirgunam
“A residência na floresta está no modo da bondade, a residência na cidade está no modo da paixão, a residência em uma casa de jogos exibe a qualidade da ignorância, e a residência onde Eu resido é transcendental”. – SB 11.25.25 sattvikam sukham atmottham visayottham tu rajasam tamasam moha-dainyottham nirgunam mad-apasrayam
“A felicidade derivada do eu está no modo da bondade, a felicidade baseada na gratificação sensorial está no modo da paixão, e a felicidade baseada em ilusão e degradação está no modo da ignorância. Mas aquela felicidade encontrada na rendição a Mim é transcendental”. Assim, para os devotos, que são transcendentais aos gunas, tudo o que é relacionado a bhakti, como o conhecimento, a ação, a fé, a residência e a felicidade derivados dela, é transcendental aos gunas. Para os jnanis, que estão em sattva-guna, tudo relacionado a jnana é sáttvico. Tudo relacionado aos karmis, que agem em rajas, é rajásico. Para as pessoas irrestritas, aquelas em tamas, tudo relacionado a suas ações é tamásico. Isto pode ser entendido vendo o Bhagavad-gita de maneira geral. Também foi estabelecido no décimo quarto capítulo que mesmo o jnani só obtém uma posição transcendental aos gunas no final pelo poder da bhakti pura, o que implica a renúncia permanente de jnana.
Verso 29 Ó conquistador de riquezas, ouve, agora, por favor, enquanto te falo pormenorizadamente sobre as diferentes espécies de compreensão e determinação segundo os três modos da natureza material. A fim de mostrar que tudo o que os jnanis aceitam é sáttvico, o Senhor fala agora sobre os três tipos de inteligência e outros.
Verso 30 Ó filho de Prtha, esta compreensão pela qual se sabe o que deve ser feito e o que não deve ser feito, o que se deve temer e o que não se deve temer, o que prende e o que liberta, está no modo da bondade. A pessoa de inteligência sáttvica entende a diferença entre o medo causado pelo pela liberdade do samsara.
samsara
e o destemor causado
Verso 31 Ó filho de Prtha, a compreensão que não pode distinguir entre religião e irreligião, entre ação que deve ser feita e ação que não deve ser feita, está no modo da paixão. A pessoa de inteligência rajásica não discrimina apropriadamente ( ayathavat ). ).
Verso 32 A compreensão que considera a irreligião como religião e a religião como irreligião, que está sob o encanto da ilusão e da escuridão e que se esforça sempre na direção errada, ó Partha, está no modo da ignorância. é usado para designar yaya manyate. A inteligência pela qual se considera tudo ao contrário da verdade é inteligência tamásica. As afirmações nestes versos, como a deste que literalmente diz “a inteligência que considera adharma como dharma”, mas que quer dizer “a inteligência pela qual um homem considera adharma como dharma” são similares a se dizer que “o machado corta a árvore” ao invés de dizer “o homem corta a árvore usando o machado”. Ya manyate
Verso 33 Ó filho de Prtha, a determinação que é inquebrantável, que, através da prática de yoga, ganha muita firmeza e controla então as atividades da mente, da vida e dos sentidos, é determinação no modo da bondade. Descrevem-se agora os três tipos de determinação.
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Versos 34 e 35
Mas a determinação pela qual o homem se atém aos resultados fruitivos da religião, do desenvolvimento econômico e do gozo dos sentidos é da natureza da paixão, ó Arjuna. E a determinação que não pode transpor o sonho, o medo, a lamentação, a melancolia e a ilusão — tal determinação ininteligente, ó filho de Prtha, está no modo da escuridão. Não é apresentado significado a estes versos.
Versos 36 e 37 Ó melhor dos Bharatas, agora, por favor, ouve enquanto falo sobre as três espécies de felicidade pelas quais a alma condicionada desfruta e pelas quais às vezes ela encontra o fim de todo o sofrimento. Aquilo que no começo pode parecer veneno, mas que, no final, é tal qual néctar e que causa o despertar da auto-realização diz-se que é felicidade no modo da bondade. Agora a felicidade sáttvica é descrita em um verso e meio [segunda metade do verso 36 e verso 37]. Apenas por prática constante (abhyasat ) tal felicidade é desfrutada. Isto significa que a felicidade no modo da bondade é diferente da felicidade do contato com os objetos sensoriais, cujo prazer é provado no mesmo instante em que os sentidos se encontram com seus objetos. Desfrutando de tal felicidade, a pessoa acaba por cruzar o sofrimento do samsara (duhkhantam nigacchati ). No começo, a felicidade sáttvica é como veneno, pois restringir os sentidos e a mente causa sofrimento.
Verso 38 A felicidade que deriva do contato dos sentidos com seus objetos e que parece néctar no começo, mas que, no final, é tal qual veneno diz-se que é da natureza da paixão. A felicidade rajásica é como néctar apenas no começo, como no caso de desfrutar de vida sexual com outra mulher que não a própria esposa.
Verso 39 E se diz que a felicidade que é cega para a auto-realização, que é ilusão do começo ao fim e que surge do sono, da preguiça e da ilusão é da natureza da ignorância. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 40 Aqui ou entre os semideuses nos sistemas planetários superiores, não existe ser algum que esteja livre destes três modos nascidos da natureza material. O Senhor agora resume esta seção incluindo os elementos não mencionados. Não há nada, quer entre os seres vivos, quer entre as coisas não-viventes, que seja livre dos três gunas nascidos da prakrti. Tudo, em essência, é composto dos três gunas. O significado deste tópico é que os itens sáttvicos são aceitáveis, e aqueles em rajas e tamas, não.
Verso 41 Os brahmanas, os ksatriyas, os vaisyas e os sudras distinguem-se pelas qualidades que, de acordo com os modos materiais, são nascidas de sua própria natureza, ó castigador do inimigo. Todavia, a entidade viva sujeitada aos três gunas se torna bem sucedida pela adoração ao Senhor Supremo através das atividades prescritas de acordo com sua natureza adquirida. Isto é descrito em seis versos. Esses deveres ou pravibhaktani) considerando-se as qualidades de sattva, rajas e tamas, que se atividades, designados com precisão ( pravibhaktani manifestam com o nascimento (svabhavena), são prescritos às divisões sociais de varna.
Verso 42 Tranquilidade, autocontrole, austeridade, pureza, tolerância, honestidade, conhecimento, sabedoria e religiosidade
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– são estas as qualidades naturais com as quais os brahmanas agem.
Este verso descreve as atividades naturais do brahmana, que tem sattva-guna em predominância. Controle do órgão sensorial interno (samah); controle dos sentidos externos (damah); austeridade do corpo, da mente e das palavras; jnana e vijnana (compreensão e aplicação das escrituras) e firme fé no significado dos sastras (astikyam) são as atividades e qualidades que nascem da natureza do brahmana.
Verso 43 Heroísmo, poder, determinação, destreza, coragem na batalha, generosidade e liderança são as qualidades naturais das atividades dos ksatriyas. Este verso descreve as atividades do ksatriya, em quem o modo da paixão é proeminente e o modo da bondade é secundário. Coragem ( sauryam), confiança (tejah), firmeza e tolerância física ( dhrtih), habilidade e tendência a dominar os demais (isvara-bhavah) e não fugir do campo de batalha são as atividades e qualidades naturais dos ksatriyas.
Verso 44 A agricultura, a proteção às vacas e o comércio são as atividades naturais dos vaisyas, e os sudras devem executar trabalho e serviço para os outros. Este verso descreve as atividades dos vaisyas, que são predominados por rajas e têm tamas como guna secundário. Go-raksah se refere a alguém que cria e protege às vacas. O verso também fala dos sudras, que têm o modo da ignorância em proeminência e o modo da paixão em segundo plano. Servir aos vaisyas, ksatriyas e brahmanas paricaryatmikam) é a atividade dos sudras. ( paricaryatmikam
Verso 45 Sujeitando-se às qualidades de seu trabalho, cada um pode tornar-se perfeito. Agora, por favor, ouve enquanto falo como isto pode ser feito. Não é apresentado significado a este verso.
Verso 46 Prestando adoração ao Senhor, que é a fonte de todos os seres e que é onipenetrante, o homem pode atingir a perfeição através da execução de seu próprio trabalho. Os seres humanos alcançam a perfeição por adorarem exclusivamente o Senhor Supremo ( abhyarcya) através de seus trabalhos prescritos. Essa adoração consiste em oferecer o trabalho ao Senhor de todas as entidades vivas mentalmente, pensando: “Que o Senhor fique satisfeito por eu estar cumprindo meu dever”.
Verso 47 É melhor alguém dedicar-se à sua própria ocupação, mesmo que venha a executá-la imperfeitamente, do que aceitar alguma ocupação alheia e executá-la com perfeição. Os deveres prescritos conforme a natureza da pessoa nunca são afetados por reações pecaminosas. “Mesmo percebendo seus deveres como rajásicos e assim não os apreciando, não se devem executar deveres sáttvicos. É melhor executar os deveres próprios, mesmo que talvez sejam inferiores e mesmo que executados imperfeitamente (viguna), do que executar os deveres alheios ( para-dharmat ), ), mesmo que isso seja preferível por estes poderem ser executado mais facilmente ( su-anusthitat ). ). Você não deve abandonar seu trabalho de lutar por causa da mácula deste de obrigá-lo matar seus amigos e, ao invés disso, colocar-se a perambular pedindo esmolas”.
Verso 48 Todo empenho é revestido de algum defeito, assim como o fogo é coberto pela fumaça. Por isso, ninguém deve abandonar o trabalho nascido de sua natureza, ó filho de Kunti, mesmo que esse trabalho seja cheio de defeitos. “Você não deve pensar que apenas você encontra dificuldades em executar seus deveres. Há dificuldades e
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problemas nos deveres dos outros também. Você não deve abandonar o trabalho relativo à sua natureza ( sahajam), mesmo que maculado, pois todas as ações executadas agora e no futuro carregam e carregarão alguma mácula, assim como o fogo é coberto pela fumaça”. Assim como relevamos a fumaça do fogo e usamos o mesmo para nos livrarmos da escuridão e do frio; relevando as falhas do próprio trabalho, pode-se usar a parte positiva para a purificação da própria existência.
Verso 49 Quem é auto-controlado e desapegado e não se interessa por nenhum prazer material pode obter, pela prática da renúncia, a fase perfeita mais elevada: estar livre de reação. O primeiro tipo de sannyasi rejeita as máculas de seu trabalho, caracterizadas pelo apego de se considerar o agente e o apego pelos resultados, embora continue trabalhando. O segundo estágio, que vem quando se amadurece o sadhana do primeiro, é caracterizado pela completa cessação do trabalho, o estágio de yogarudha. Este é o segundo tipo de sannyasi mencionado aqui. Aquele cuja inteligência é livre de todo apego a todo objeto material ( asakta-buddhih), cuja mente está sob jitatma), que não deseja nem mesmo a felicidade de Brahmaloka ( vigata-sprhah); pela completa renúncia de controle ( jitatma todas as atividades (samnyasena), obtém a mais alta perfeição de não praticar ação alguma ( naiskarmyam). Em outras palavras, no estágio de yogarudha (inação); com a obtenção de naiskarmyam, obtém-se a mais alta perfeição.
Verso 50 Ó filho de Kunti, aprende coMigo como é que, seguindo o método que agora passo a resumir, alguém que conseguiu esta perfeição pode alcançar a fase de suma perfeição, o Brahman, a etapa do conhecimento mais elevado. “Ouça agora por qual método ( yatha) se obtém ou se realiza o Brahman”. Este é o estágio mais elevado de jnana jnanasya nistha para ). De acordo com o Amara Kosa, nistha significa consumação, obtenção última. ( jnanasya O significado do verso é o seguinte: “Por favor, entenda o método pelo qual, com a cessação da ignorância e com a determinação de cessar até mesmo o conhecimento; abandonando completamente mesmo o processo de jnana, a pessoa realiza o Brahman”.
Versos de 51 a 53 Tendo uma inteligência que o purifica e controlando a mente com determinação, abandonando os objetos de gozo dos sentidos, estando livre do apego e do ódio, aquele que vive num lugar isolado, que come pouco, que controla seu corpo, mente e poder de fala, que está sempre em transe e que é desapegado, livre do falso ego, da falsa força, do falso orgulho, da luxúria, da ira e que deixou de aceitar coisas materiais, que está livre da falsa idéia de propriedade e é pacífico - este com certeza elevou-se à posição de auto-realização. Deve-se ser dotado de inteligência sáttvica (buddhya visuddhaya ) e deve-se controlar a mente ( atmanam niyamya) com determinação sáttvica semelhante e assim devotar-se completamente a pensar em Bhagavan ( dhyana-yoga parah). Deve-se ser destituído de força ( bala), não especificamente a força física, mas a força relacionada aos apegos e desejos materiais. Com a cessação da ignorância (avidya), caracterizada pela liberdade de ahankara, orgulho, luxúria, ira e sentimento de posse, há também a cessação de sattva-guna (santah). Esta é a aquisição de jnana-sannyasa, a rejeição de jnana em si. Entende-se isto a partir da afirmação do décimo primeiro canto do Srimad-Bhagavatam, jnanam ca mayi sannyaset : “deve-se abandonar toda jnana para obter-Me”. Sem a cessação tanto da ignorância quanto do conhecimento (ajnana e jnana), a realização Brahman não é obtida. Apenas estando livre de tudo isto é possível ( kalpate) realizar (bhuyaya) o Brahman.
Verso 54 Aquele que está situado nessa posição transcendental compreende de imediato o Brahman Supremo e torna-se completamente feliz. Ele nunca se lamenta nem deseja ter nada e é equânime para com todas as entidades vivas. Nesse estado, ele passa a Me prestar serviço devocional puro. Com a remoção de todos os conceitos errôneos e aparências ( upadhi), estando em um estado de consciência descoberta, obtém-se o estado de Brahman ( brahma-bhutah). Devido ao desaparecimento da contaminação dos gunas, diz-se que a pessoa é pura ( prasanna) e tem corretamente o eu pela alma ( atma). E em virtude da ausência de concepções
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corpóreas errôneas; quando tal pessoa perde algo, ela não lamenta; e, quando falha em obter algo, ela não anseia desesperadamente por aquilo (na socati na kanksati ) – diferente do que fazia em seu estado anterior. “Como uma criança inocente, essa pessoa trata todos os seres como iguais, sejam bons ou sejam ruins, sem considerar os atributos externos. Com a cessação de jnana, como um fogo que se extingue na ausência de combustível, ela obtém bhakti indestrutível a Mim na forma de ouvir, cantar e outros processos, nascidos em decorrência da cessação de jnana. A obtenção de bhakti acontece pela ação de Minha svarupa-sakti, dado que bhakti pura não desaparece mesmo com o desaparecimento de vidya e avidya, sendo ela diferente de maya-sakti. Ela é chamada param, sendo muito superior a jnana. Permanecendo após o desaparecimento de niskama-karma, jnana e qualquer outro processo, bhakti supera tudo e fica pura”. Assim, param tem o mesmo sentido da palavra kevalam. Embora bhakti tenha estado presente em pequena proporção durante práticas como as de jnana e vairagya, apenas o necessário para trazer a liberação, bhakti não estava claramente visível, assim como o Antaryami no interior dos seres vivos não pode ser visto facilmente. A palavra “obtém” ( labhate), portanto, é a palavra adequada, e não “produz” (kurute), visto que bhakti já estava presente no interior da pessoa. Embora possam estar misturados com plantas e sementes, que são impermanentes, o ouro e as pedras preciosas indestrutíveis passam a ser puros ( kevalam) quando separados dessas outras coisas. Nesse momento, obtém-se de maneira geral prema-bhakti em sua forma plena, e não mais sayujya, um de seus frutos. A palavra param indica, neste verso, portanto, prema-bhakti .
Verso 55 É unicamente através do serviço devocional que alguém pode compreender-Me como sou, como a Suprema Personalidade de Deus. E quando, mediante essa devoção, ele se absorve em plena consciência de Mim, ele pode entrar no reino de Deus. “Após obter bhakti, o que acontece com a pessoa?”. Dando um caso particular da regra geral, o Senhor fala este verso. “Através da bhakti pura, conhece-se a Mim ou como tat ou como a Mim. Assim, os jnanis Me conhecem como tat (brahman) e os vários devotos Me conhecem como mam (bhagavan ). Dado que sou conhecido apenas através da bhakti pura (bhaktyaham ekaya grahyah, Srimad-Bhagavatam 11.14.21), então, o jnani em discussão, após isso ( tadanantaram), pela bhakti pura que atua após a cessação de vidya; conhecendo-Me, entra em Mim e realiza a felicidade de se fundir coMigo ( sayujya). O significado é que, como Eu sou transcendental a maya, e vidya é parte de maya, Eu, mesmo na forma do Brahman, não posso ser conhecido por vidya”. Mas pode ser que haja objeções, pois é dito no Narada-Pancaratra: sankhya-yogau ca vairagyam tapo bhaktis ca kesave panca-parvaiva vidya
“Ó Kesava, há cinco tipos de conhecimento: sankhya, yoga, vairagya, tapas e bhakti”. Bhakti, assim, é tida com uma função de vidya neste verso. Todavia, isso significa, na verdade, que uma pequena porção da hladini-sakti de bhakti entra em vidya para dar a vidya seus resultados, assim como bhakti também entra em karma- yoga yoga para dar os resultados de karma. Isto pode ser afirmado porque há muitas afirmações estabelecendo que karma, jnana, yoga e outros processos são simplesmente empreendimentos inúteis sem bhakti. Uma vez que nirgunabhakti não tem a função de vidya, sendo esta no guna de sattva; embora vidya cause a extinção de avidya, a causa do conhecimento de tat é somente bhakti. Além disso, o smrti diz sattvam sanjayate jnanam : sattva origina jnana (Bg. 14.17). Conhecimento que se origina de sattva é chamado sattva. Assim como a palavra sattva indica vidya, o conhecimento originado de bhakti é frequentemente chamado de bhakti – algumas vezes é chamado de bhakti e outras vezes é chamado de jnana. Abandonando o primeiro tipo de conhecimento ( sattva) pelo segundo ( bhakti), obtém-se brahma-sayujya. Isto pode ser entendido pela consulta do décimo quinto capítulo do Canto Décimo Primeiro do Srimad-Bhagavatam. Aqueles, entretanto, que presumem serem jnanis, desejando sayujya, mas executando somente jnana, sem nada de bhakti, obtêm apenas sofrimento como resultado. Estes são os mais severamente condenáveis. Há também outros que, sabendo que não se pode obter a liberação através da jnana sozinha, sem bhakti, praticam jnana misturada com bhakti. Mas eles consideram a forma de bhagavan como falsa (upadhi), consideram-na como criada por maya e portanto feita dos gunas. Eles se consideram liberados tendo alcançado o estado de yogarudha. Estes também são condenáveis. É dito que: mukha-bahuru-padebhyah purusasyasramaih saha catvaro jajnire varna gunair vipradayah prthak
“Cada uma das quatro ordens sociais, encabeçadas pelos brahmanas, nascem de diferentes combinações dos modos da natureza a partir do rosto, dos braços, das coxas e dos pés do Senhor Supremo em Sua forma universal. As
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quatro ordens espirituais também foram geradas assim”. – SB 11.5.2
ya evam purusam saksad atma-prabhavam isvaram na bhajanty avajananti sthanad bhrastah patanty adhah
“Se qualquer um dos membros dos quatro varnas e quatro asramas falhar em adorar ou intencionalmente desrespeitar a Personalidade de Deus, que é a fonte de sua criação, ele irá cair de sua posição e assumirá um estado de vida demoníaco”. – SB 11.5.3 “O significado é que tanto aqueles que não Me adoram quanto aqueles que Me adoram, mas também Me desrespeitam, mesmo que sejam sannyasis, têm todo o seu conhecimento destruído e caem”. Também se diz: ye 'nye 'ravindaksa vimukta-maninas tvayy asta-bhavad avisuddha-buddhayah aruhya krcchrena param padam tatah patanty adho 'nadrta-yusmad-anghrayah 'nadrta-yusmad-anghrayah
“Ó Senhor de olhos de lótus, embora os não-devotos que aceitam severas austeridades e penitências para obterem a mais elevada posição talvez pensem serem liberados, a inteligência deles é impura. Eles caem de suas posições supostamente superiores porque eles não têm respeito por Seus pés de lótus”. – SB 10.2.32 A palavra “pé” (anghri) deve ser entendida como que indicando “com bhakti”. Assim, o significado seria: “aqueles que não O aceitam com devoção”. Eles aceitam o Senhor, mas da maneira errada. A frase anadrta-yusmadanghraya significa que eles desrespeitam o Senhor pensando que o corpo do Senhor é material. O Senhor diz: avajananti mam mudha manusim tanum asritam
“Os tolos não Me conhecem. Eles acham que Eu aceitei o corpo de um ser humano”. – Bg. 9.11 Sua forma é de fato humana, mas ela também é sac-cid-ananda. Essa forma só pode ser vista pela influência da inconcebível krpa-sakti do Senhor. É declarado no Narayana Adhyatma que: nityavyakto 'pi bhagavan iksyate nija-saktitah tamrte paramanandam kah pasyet tam imam prabhum
“O Senhor que é eterno e invisível pode ser visto através de Sua própria sakti. Além deste meio, quem teria capacidade para ver o Senhor da mais alta bem-aventurança?”. Que o Senhor tem um corpo sac-cid-ananda é confirmado no Gopala-tapani Upanisad (1.33) com a declaração sac-cid-ananda-vigraham sri-vrndavana-sura-bhuruha-talasinam : “a forma do Senhor, que é eterna, plena de conhecimento e bem-aventurança estava sentada na base de uma árvore-dos-desejos de Vrndavana”. darsayam asa tarn ksattah sabdarh brahma dadhad vapuh
“O Senhor Se manifestou a Kardama Muni e exibiu Sua forma transcendental, que só pode ser entendida através dos Vedas”. – SB 3.21.8 Assim, nos srutis e smrtis, há milhares de tais afirmações conclusivas indicando o corpo do Senhor como transcendental. Todavia, por afirmações como a seguinte, os jnanis em questão pensam que o Senhor, Bhagavan, é uma falsa criação de maya (upadhi). mayam tu prakrtirh vidyan mayinam tu mahesvaram
“Entenda essa natureza como maya. O grandioso Senhor também é feito de maya (mayi)”. – Svetasvatara Upanisad 4.2 Essa afirmação, todavia, significa que o Senhor é dotado de uma sakti eterna chamada maya, que nasce de Sua própria svarupa. Madhvacarya cita o sruti para explicar essa afirmação: ato maya-mayam visnum pravadanti sanatanam
“Assim, eles chamam o Visnu eterno de maya-mayam”. A palavra mayam, no verso do Svetasvatara, refere-se, portanto, à
cit-sakti
da
svarupa
do Senhor, e não à
sakti
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dos três gunas, que não faz parte de Sua svarupa. Eles não consideram este significado da afirmação do sruti, nem consideram que seja possível o significado ser: “Durga é maya e Siva é o possuidor de maya”. Dessa forma, embora esses jnanis obtenham o status de jivan-mukta, eles caem devido às ofensas ( aparadha) ao Senhor. Isto é afirmado no parisista-vacana do Vasana-Bhasya: jivan-mukta api punar yanti samsara-vasanam yady acintya-maha-saktau bhagavaty aparadhinah aparadhinah
“As jivan-muktas, se forem ofensoras do Senhor de sakti inconcebivelmente grandiosa, entrarão novamente na ilusão do samsara”. Alcançando sua meta, elas pensam que sadhana não é mais algo apropriado, e, no momento de rejeitarem jnana, elas não rejeitam apenas jnana, mas também guni-bhuta-bhakti (a bhakti que está presente em jnana em alguma dimensão), pensando que a realização tangível (de forma e qualidades) é falsa. Depois que bhakti desaparece juntamente com jnana por causa da ofensa à forma do Senhor, ela não pode mais ser obtida. Porque não podem realizar tat sem bhakti, estes são conhecidos como homens que pensam serem liberados, desfrutando apenas de um falso samadhi. Isto é declarado no verso ye 'nye 'ravindaksa vimukta-maninah (Srimad-Bhagavatam 10.2.32) . Mas aqueles que praticam jnana misturada com bhakti e, ao mesmo tempo, respeitam a forma sac-cid-ananda de Bhagavan; gradualmente, com a cessação de vidya e avidya, obtêm bhakti. Essas almas liberadas são de dois tipos. Um tipo, executando bhakti para obter sayujya; realizando tat , consegue sayujya na forma do Senhor. Tais pessoas são louváveis. O outro tipo, que inclui Sukadeva; sendo muito afortunado, abandona o desejo pela liberação em virtude da influência de inesperada associação com devotos amáveis e elevados e se submerge completamente no gosto da doçura de bhakti-rasa. Este é o tipo mais digno de louvor. O Srimad-Bhagavatam declara: atmaramas ca munayo nirgrantha apy urukrame kurvanty ahaitukim bhaktim itthambhuta-guno harih
“Todas as diferentes variedades de atmaramas [aqueles que obtêm prazer do atma, ou do espírito em si], especialmente aqueles estabelecidos no caminho da auto-realização; embora livres de todos os condicionamentos materiais, desejam prestar serviço devocional puro à Personalidade de Deus. O Senhor poder atrair a todos, inclusive almas liberadas, significa que Ele possui qualidades transcendentais”. – 1.7.10 Há, então, quatro tipos de jnanis: dois que caem e são dignos de reprovação, e dois que atravessam o samsara e são dignos de louvor.
Verso 56 Embora ocupado em todas as espécies de atividades, Meu devoto puro, sob Minha proteção, alcança, por Minha graça, a morada eterna e imperecível. Assim, foi dito que o jnani, gradualmente abandonando os resultados de seu trabalho, o trabalho em si e então jnana, alcança sayujyua-mukti . “Agora escute enquanto Eu explico como o Meu devoto Me alcança”. “Esse devoto se refugia em Mim, mesmo com evidentes desejos materiais ( vi-apa-asrayah)”. Vi faz as vezes de visesatah, que significa “particularmente”; e apa faz as vezes de apakrsta, que significa “baixo”. “Ele não precisa nem mesmo ser um niskama-bhakta, pois ele executa todo tipo de atividades, mesmo atividades materiais como proteger a esposa e os filhos, bem como karmas nitya, naimittika e kamya. O que se pode dizer então do destino daqueles devotos puros que abandonam karma, yoga, jnana, a adoração aos devatas e todos os demais desejos?”. A palavra asrayate significa que ele presta serviço plenamente. O prefixo “a” enfatiza a predominância de serviço. O uso da palavra api em relação a sarva-karmani indica a inferioridade dessas outras atividades, que são executadas, mas de forma secundária. Assim, ele tem bhakti misturada com karma, e não karma misturado com bhakti, padam), como Vaikuntha, como descrito nos seis primeiros capítulos. “Esse bhakta alcança Meus dhamas eternos ( padam Mathura, Dvaraka e Ayodhya”. “Mas esses dhamas sobreviverão ao pralaya?”. “Eles são indestrutíveis (avyayam). Graças ao Meu poder inconcebível; no momento do mahapralaya, Meus dhamas não desaparecerão”. “O jnani, após muitos nascimentos, tendo-se submetido a muito sofrimento e austeridades, tendo cessado a busca dos sentidos por seus objetos, alcança naiskarmya e então sayujya. Como pode, então, o devoto, executando atividades e tendo desejos, alcançar Seus dhamas eternos simplesmente por se refugiar em Você?”. “Ele obtém isso por Minha misericórdia (mat-prasadat ). ). Tenha por certo que Minha misericórdia está além da razão e é supremamente poderosa”.
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Verso 57
Em todas as atividades, conta apenas coMigo e sempre trabalha sob Minha proteção. Nesse serviço devocional, sê plenamente consciente de Mim. “Afinal, o que Você está indicando particularmente para mim? Eu sou um ananya-bhakta? Ou eu sou o sakamabhakta que Você acabou de mencionar?”. “Você não tem potencial para se tornar o mais elevado ananya-bhakta. E você não deve ser o sakama-bhakta, o mais baixo na classe de devotos. Seja, portanto, um devoto madhyama, um devoto intermediário entre o ananya-bhakta e o sakama-bhakta. Enquanto oferece a Mim todas as suas atividades ocupacionais e seus deveres de asrama, você cuja meta da vida é apenas Me alcançar ( mat-parah) – ou em outras palavras, sendo niskama – lembre-se sempre de Mim (mat-cittah bhava ) enquanto executa essas atividades que você tem de executar agora e também as demais no futuro (satatam) sendo possuidor de inteligência fixa, vyavasayatmika buddhi (buddhi-yogam upasrtya )”. O Senhor havia dito isso anteriormente: yat karosi yad asnasi yaj juhosi dadasi yat yat tapasyasi kaunteya tat kurusva mad-arpanam
“Tudo o que fizeres, tudo o que comeres, tudo o que ofereceres ou deres, e quaisquer austeridades que executares – faze isto, ó filho de Kunti, como uma oferenda a Mim”. – Bg. 9.27
Verso 58 Se te tornares consciente de Mim, superarás por Minha graça todos os obstáculos da vida condicionada. Entretanto, se não trabalhares com essa consciência, mas agires com falso ego deixando de Me ouvir, tu estarás perdido. “O que acontecerá se eu seguir essas instruções [do verso 57]?”. “Você irá transpor todo e qualquer obstáculo”.
Verso 59 Se deixares de agir segundo Minha direção e não lutar, então seguirás uma orientação errada. Por tua própria natureza, terás de te ocupar na luta. “Para mim, um ksatriya, o dharma mais elevado é lutar. Temeroso do pecado que incorre no matar dos amigos, eu não desejo lutar”. O Senhor repreende Arjuna neste verso: “Sua natureza ( prakrtih) fará com que você lute. Agora você não respeita Minhas palavras, mas, quando seu desejo irrepreensível e natural de lutar vier à tona e você estiver lutando e matando pessoas adoráveis como Bhisma, você olhará para Mim e sorrirá”.
Verso 60 Sob a influência da ilusão, estás agora recusando a agir segundo a Minha direção. Mas, compelido pelo trabalho nascido de tua própria natureza, acabarás fatalmente agindo, ó filho de Kunti. Aqui o Senhor estende o significado do que acabou de dizer. “Você está agrilhoado às ações que nascem das impressões de sua vida anterior, estas lhe dando as qualidades de ksatriya”.
Verso 61 O Senhor Supremo está situado nos corações de todos, ó Arjuna, e está dirigindo as andanças de todas as entidades vivas, que estão sentadas num tipo de máquina feita pela energia material. Tendo exposto em dois versos a visão daqueles que propõem a idéia da natureza inata ( svabhava), o Senhor agora expõe Sua própria visão. O Senhor, Narayana, é o Antaryami. yah prthivyam tisthan prthivya antaro, yam prthivi na veda, yasya prthivi prthivi sariram, yah prthivim antaro yamayati
“Ele está situado dentro da Terra. A Terra não O conhece. A terra é Seu corpo. Ele controla a Terra do interior desta”. – Brhad-aranyaka Upanisad 3.6.3
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yac ca kincij jagaty asmin drsyate sruyate 'pi va antar-bahis ca tat sarvam vyapya narayanah narayanah sthitah
“Narayana está situado tanto dentro quanto fora de tudo o que pode ser visto ou ouvido neste universo”. – Mahanarayana Upanisad 13.5 Como é afirmado nestes srutis, o Senhor está situado no coração. “O que Ele faz?”. Através de Sua própria sakti (mayaya), Ele faz com que todas as entidades vivas se ocupem em suas respectivas atividades ( bhramayan). As entidades vivas são como marionetes sob o controle dos cordéis de maya. Ou outro significado é: todas as entidades vivas montadas em seus corpos são forçadas a agir sob a influência de maya.
Verso 62 Ó descendente de Bharata, renda-te completamente a Ele. Por Sua graça, irás obter paz transcendental e a morada suprema e eterna. Este verso explica o propósito do conhecimento recém-revelado: “Refugie-se em tal Senhor; assim você param santim) e irá alcançar Minha morada eterna, Vaikuntha ( sasvatam conseguirá a cessação de vidya e avidya ( param sthanam)”. Esta rendição ao Antaryami é para os adoradores do Antaryami (Paramatma), enquanto que os adoradores de Bhagavan se rendem a Bhagavan – o que será explicado posteriormente. Esta é a opinião de alguns no que concerne a este verso. Eles pensam: “Somente meu Senhor Sri Krsna é meu guru e me instrui de forma benéfica a minha bhakti. Eu me rendo a Ele”. Como também diz Uddhava: naivopayanty apacitim kavayas tavesa brahmayusapi krtam rddha-mudah smarantah yo'ntar-bahis tanu-bhrtam asubham vidhunvan acarya-caittya-vapusa sva-gatim vyanakti
“Ó meu Senhor! Poetas transcendentais e peritos na ciência espiritual não poderiam expressar completamente a dívida que têm com Você nem mesmo se fossem agraciados com a duração de vida de Brahma, dado que Você Se apresenta de duas maneiras – externamente como o acarya e internamente como a Superalma – para libertar as entidades vivas corporificadas guiando-as de volta a Você”. – SB 11.29.6
Verso 63 Assim, Eu te expliquei o conhecimento bem mais confidencial. Delibere sobre isto detidamente e então faze o que desejas fazer. Aqui o Senhor encerra todo o Gita. Jnana, ou conhecimento, consiste em karma-yoga, astanga-yoga e jnana-yoga. A palavra jnana significa aquilo pelo qual se passa a conhecer. Jnana, portanto, refere-se a um processo, neste caso, as escrituras ( jnana-sastra) produzem conhecimento destes sadhanas. “Eu revelei uma escritura, jnana-sastra, que é mais secreta do que aquelas que tratam do Brahman ( guhyadguhyataram); Eu revelei um processo não revelado nem mesmo nas escrituras escritas por autores como Vasista, Badarayana ou Narada”. Outro significado é: “Eu sou superior à onisciência deles. Eles não podem entender este conhecimento por causa de sua natureza supremamente confidencial, e Eu não os ensino este conhecimento por causa de sua natureza extremamente confidencial”. “Considere pormenorizadamente ( asesena) tudo o que lhe foi dito, e, de acordo com sua inclinação, faça o que queira fazer”. Os seis capítulos concernentes a jnana, portanto, estão terminados. Este Bhagavad-gita, a coroa de todo conhecimento, com seus três grupos de seis capítulos, é o baú que contém o mais valioso e secreto tesouro de bhakti yoga. O primeiro grupo de seis capítulos, concernentes a karma, é o revestimento inferior feito de ouro maciço. O último grupo de seis capítulos, concernentes a jnana, é a tampa também de ouro e incrustada com jóias. No grupo de seis capítulos intermediário; repousada entre o revestimento inferior e a tampa, brilha a jóia que não conhece rival nos três mundos, a jóia de bhakti-yoga, a jóia que coloca Krsna sob controle. As sessenta e quatro sílabas dos dois versos-jóias (os versos 65 e 66) que adornam a tampa do baú também são puros e devem ser entendidos como servos de tal bhakti-yoga.
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Verso 64
Porque és Meu amigo queridíssimo, estou falando a ti Minha instrução suprema, o mais confidencial de todos os conhecimentos. Ouve enquanto falo isto, pois é para o teu benefício. Com Seu olhar fixo sobre Arjuna, Seu amigo muito querido, o Senhor permanece em silêncio enquanto começa a rever em Sua mente o profundo significado do Bhagavad-Gita. Então, com Seu coração derretendo como ghi devido à Sua grande misericórdia, Krsna diz: “Meu querido amigo Arjuna, falarei agora a essência de toda esta escritura em oito versos. Esqueça as dificuldades em ter de rever tudo para poder compreender. Escute novamente ( bhuyah) o conhecimento mais secreto”. O Senhor diz “novamente” porque vai dizer o que Ele já disse no último verso do capítulo de número nove: “Tratam-se das palavras mais elevadas ( paramam vacah), o maior dos segredos ( guhyatamam), a essência até mesmo do Gita, que é a essência do significado de todas as escrituras. Não há de nenhuma forma segredo maior do que este em lugar algum”. Ele então expressa a razão para estar falando isso. “Porque você é muito ( drdham) querido (istah), Meu amigo, Eu falo para o seu benefício. Sem possuir a grande amizade que tenho por você, ninguém revela um tópico tão confidencial”. Drdha matir (com a mente fixa) ao invés de drdham iti é outra leitura possível do texto.
Verso 65 Pensa sempre em Mim e converte-te em Meu devoto. Adora-Me e oferece-Me tuas homenagens. Assim, virás a Mim impreterivelmente. Eu te prometo isto porque és Meu amigo muito querido. A sentença man-mana bhava mad-bhakto significa: “Sendo Meu devoto, pense em Mim”. O Senhor diz isso para excluir as outras possibilidades. Ele não quer dizer: “Seja um jnani ou seja um yogi e medite em Mim”. Ou a sentença man-mana pode significar “Dê sua mente de presente para Mim, o Senhor Syamasundara que possui um rosto belo como a Lua adornado com brilhantes cachos de cabelo negro e belas sobrancelhas e que derrama néctar na forma de olhares de gentil misericórdia”. O que faria bhava mad-bhaktah significar: “E dê para Mim todos os seus sentidos, como a audição. Adore a Mim ( bhava mad-bhaktah ) utilizando todos os seus sentidos em serviços como ouvir, cantar, ver Minha murti, limpar e adornar o Meu templo, colher flores e oferecê-las a Mim como guirlandas, decorar Minha forma com ornamentos, oferecer-Me uma sombrinha e Me abanar com uma camara”. E então o Senhor diz: “Dê-me objetos como gandha, flores, incenso, lamparinas e naivedya. Seja Meu adorador (mad-yaji)”. Em seguida, Ele adiciona: “Ó, simplesmente ofereça-Me seus respeitos ( mam namaskuru). Caindo ao chão com todo o seu corpo, ofereça-Me seus respeitos tocando o chão com todos os seus oito membros”. “Destes quatro – pensar em Mim, servir-Me com os sentidos, adorar-Me com itens e oferecer reverências a Mim – faça-os todos ou um deles e você Me alcançará ( mam evaisyasi). Ofereça-Me sua mente, seus sentidos ou artigos de adoração e Eu lhe prometo ( te satyam) uma coisa: em troca, Eu Me darei a você”. A palavra satyam implica algo do qual não há dúvidas. De acordo com o Amara Kosa, satyam significa verdade ou juramento. “Bem, as pessoa nascidas em Mathura, a cidade que Você governa, fazem juramentos o tempo todo”. “Isto é verdade, mas estou fazendo esta promessa ( pratijane ) a você que é muito querido a Mim, e é sabido que ninguém engana uma pessoa que é querida”.
Verso 66 Abandona todas as variedades de religião e simplesmente rende-te a Mim. Eu te libertarei de todas as reações pecaminosas. Não temas. “Eu tenho que fazer essa meditação e oferecer juntamente os meus deveres de varnasrama ou tenho apenas de meditar como proposto?”. “Abandonando todos os deveres de varna e asrama (sarva-dharman parityajya ), renda-se unicamente a Mim”. Não se deve dizer que parityajya significa sannyasa, aceitar a ordem de sannyasa, porque, sendo Arjuna um ksatriya, ele não tinha a qualificação para aceitar sannyasa. Também não se deve dizer que o Senhor usa Arjuna apenas para instruir todas as outras pessoas que não são ksatriyas a aceitarem sannyasa, pois se a instrução se aplicasse ao interlocutor primário ela se aplicaria a todos os demais, e não o contrário. Nem se deve explicar o significado de parityajya neste verso como meramente “abandone todos os resultados das atividades”, uma vez que o SrimadBhagavatam traz o seguinte: devarsi-bhutapta-nrnam pitrnam nayam kinkaro nayam rni ca raj na sarvatmana yah saranam saranyam
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gato mukundam parihrtya kartam
“Qualquer um que tenha se refugiado nos pés de lótus de Mukunda, o outorgador da liberação, abandonando todo tipo de obrigação e aceitando o caminho com toda a seriedade, não tem nem deveres nem obrigações com o semideuses, os sábios, as entidades vivas em geral, os membros familiares, a humanidade ou com os antepassados”. – 11.5.41 martyo yada tyakta-samasta-karma niveditatma vicikirsito me tadamrtatvarh pratipadyamano mayatma-bhuyaya ca kalpate vai
“A pessoa que abandona todas as atividades fruitivas e oferece a si mesma inteiramente a Mim, desejando intensamente prestar serviço a Mim, obtém a liberação do nascimento e da morte e é promovida à posição de compartilhar de Minhas próprias opulências”. – 11.29.35 tavat karmani kurvita na nirvidyeta yavata mat-katha-sravanadau va sraddha yavan na jayate
“Enquanto a pessoa não estiver enfastiada das atividades fruitivas e não tiver despertado seu gosto pelo serviço sravanam m kirtana kirtanam m [SB 7.5.23], ela terá de agir de acordo com os princípios reguladores das injunções devocional de sravana Védicas”. – 11.20.9 ajnayaiva gunan dosan mayadistan api svakan dharman santyajya yah sarvan mam bhajet sa ca sattamah
“Ele entende perfeitamente que os deveres religiosos ordinários prescritos por Mim em várias escrituras Védicas possuem qualidades favoráveis que purificam o executor, e sabe que negligenciar tais deveres carrega um aspecto negativo. Tendo se refugiado completamente em Mim, todavia, uma pessoa santa, em última instância, renuncia tais deveres religiosos ordinários e ocupa-se exclusivamente em Me adorar. Tal pessoa é considerada a melhor das entidades vivas”. – 11.11.37 O significado da palavra parityajya, portanto, deve ser explicado de modo que a explicação não entre em contradição com nenhuma dessas afirmações do Senhor. O significado também pode ser explicado a partir do prefixo pari, que significa “completamente”. “Renda-se unicamente a Mim ( mam ekam saranam vraja )”. Isto significa que não deve haver adoração a devatas, astanga- yoga yoga, jnana, dharma ou outros elementos misturados nesta rendição. “Anteriormente, ao dizer 'Qualquer coisa que faça, qualquer coisa que coma, faça isso como uma oferenda a Mim' Mi m' [9.26], Eu afirmei que você não era qualificado para ananya-bhakti, o mais elevado tipo de bhakti, mas que você era qualificado para karma-misra-bhakti. Mas, agora, por Minha grande misericórdia, estou lhe dotando com a qualificação necessária para ser um ananya-bhakta. Essa ananya-bhakti só pode ser obtida pela misericórdia sem causa de Meus ekantika-bhaktas. Embora essa seja uma regra que Eu mesmo tenha criado, Eu estou agora pessoalmente dando essa misericórdia, quebrando novamente um voto pessoal Meu, como fiz ao lutar com Bhisma”. “E você não deve temer perder algo por abandonar os karmas nitya e naimittika para seguir Minhas ordens. A ordem para executar esses nitya-karmas foi dada por Mim na forma dos Vedas. Agora, todavia, Eu estou pessoalmente ordenando que você abandone todos esses nitya-karmas completamente. Há algum pecado em não executar seus nityakarmas? Não. Ao contrário, a execução de nitya-karmas por sua parte o faria incorrer em pecado devido à desobediência de Minha ordem direta. Se alguém se rende a outra pessoa, ele se torna propriedade daquela pessoa e subordinado ao seu controle. Como um animal comprado, ele faz o que quer que seu dono o mande fazer. Se ele é colocado em um lugar, ele permanece ali. Se lhe é oferecido determinado alimento, é esse alimento que ele come. É assim que se caracteriza uma rendição”. O Vayu Purana traz: anukulyasya sankalpah pratikulyasya varjanam raksisyatiti visvaso goptrtve varanam tatha nihksepanam akarpanyam sad-vidha saranagatih
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significa conduta que apraz o Senhor. Pratikulya significa conduta que não apraz o Senhor, e que, portanto, deve ser evitada. Visvasah significa que se deve ter fé que o Senhor é seu mantenedor. Goptrtva significa pensar no Senhor e em ninguém mais como seu protetor, como nos casos de Gajendra e Draupadi. Nihksepanam significa usar seus corpos sutil e grosseiro a serviço de Krsna. E akarpanya significa que se deve ser humilde e que não se deve ostentar tal humildade. Rendição (saranagati) consiste em executar esses seis itens em relação ao Senhor. “Então, se eu me rendo a Você, a partir de hoje eu devo fazer tudo o que Você disser, quer seja bom, quer seja ruim. Se Você me ocupar em dharma, eu não irei me preocupar. Mas se Você me ocupar em adharma, uma vez que Você é o Senhor Supremo e pode fazer o que bem entender, o que acontecerá comigo então? Por favor, tire esta minha dúvida”. “Eu lhe livrarei de todas as reações pecaminosas – de ações pecaminosas de um passado distante, de um passado recente e de qualquer outra ação pecaminosa que você faça no futuro sob Minha ordem. Isto é possível para Mim, embora seja impossível para qualquer outro refugiador. Tendo você, Arjuna, como instrumento, estou dando esta instrução para o mundo inteiro. Não se preocupe com seu próprio bem-estar e com os de outros, você não estará dando um mau exemplo. Que você e todas as demais pessoas, abandonando todos os dharmas, o seu de ksatriya e os dharmas individuais de todos os outros; absorvendo seus pensamentos e consequentes ações em Mim e rendendo-se a Mim, permaneçam satisfeitos. Eu pessoalmente aceito o encargo de libertá-lo de todo pecado e do ciclo do samsara”. Anukulya
ananyas cintayanto mam ye janah paryupasate tesam nityabhiyuktanam yoga-ksemam vahamy aham
“Mas, para aqueles que desejam Minha constante associação e que pensam apenas em Mim e adoram apenas a Mim, Eu aceito o encargo de manter e fornecer tudo o que lhes for necessário”. – Bg. 9.22 “E não se lamente pensando: ‘Ai! Eu coloquei uma grande carga sobre o meu mestre!’. Isto não Me é nada. Para Mim, que sou muitíssimo apegado aos Meus devotos, nada é capaz de obstruir nossa relação amorosa”. Aqui, então, conclui-se o Bhagavad-gita.
Verso 67 Este conhecimento confidencial jamais pode ser explicado àqueles que não são austeros, nem devotados, nem se ocupam em serviço devocional, e tampouco a alguém que tenha inveja de Mim. Tendo entregado Sua instrução na forma deste Bhagavad-Gita, o Senhor agora indica o processo para transmitir a outros essa mensagem no sistema de sampradaya. O primeiro desqualificado para essa mensagem, para dar continuidade à sampradya, é aquele que não é austero, ou, em outras palavras, aquele que não controla seus sentidos ( atapaskaya). O smrti declara: manasas cendriyanam ca aikagryam paramam tapah
“Concentração da mente e dos sentidos em um único objeto é a maior das austeridades”. – Maha-bharata Santi Parva, 23 “Mesmo se a pessoa controla seus sentidos, se ela não é um devoto, ela não deve ser ensinada. Não ser obediente, ou seja, não ter a inclinação de ouvir submissamente ( asusrusu), também desqualifica a pessoa, mesmo que seja austera e devota. E ainda, mesmo que tenha as três boas qualidades mencionadas (controle dos sentidos, devoção e obediência), ela não deve ser ensinada caso Me inveje – caso seja aquele tipo de pessoa que acredita que sou uma combinação de qualidades materiais contaminando o Brahman puro”.
Verso 68 Para aquele que explica aos devotos este segredo supremo, o serviço devocional puro está garantido, e, no final, ele voltará a Mim. Este verso e o próximo revelam os resultados de dar instruções referentes a parama-bhakti ( param param bhaktim) e então o próprio Senhor ( mam evaisyati).
bhakti:
o instrutor primeiro obtém
Verso 69 Não há neste mundo servo que Me seja mais querido do que ele, tampouco jamais haverá alguém mais querido.
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“Não há ninguém que Eu possa amar mais do que a pessoa que prega
bhakti- yoga yoga”.
Verso 70 E declaro que aquele que estuda esta nossa conversa sagrada adora-Me com sua inteligência. Este verso traz o resultado de se estudar o Bhagavad-gita.
Verso 71 E aquele que ouve com fé e sem inveja livra-se das reações pecaminosas e alcança os planetas auspiciosos onde residem os seres piedosos. Este verso traz os resultados de se ouvir o Bhagavad-gita.
Verso 72 Ó filho de Prtha, ó conquistador de riquezas, será que ouviste isto com a mente atenta? E acaso tua ignorância e ilusões já se dissiparam? O Senhor fala este verso com a intenção de ensinar todo o Bhagavad-gita novamente a Arjuna caso ele não tenha sido capaz de entender seu significado completamente.
Verso 73 Arjuna disse: Meu querido Krsna, ó pessoa infalível, agora minha ilusão se foi. Por Tua misericórdia, recuperei minha memória. Agora me sinto firme e não tenho dúvidas e estou preparado para agir segundo Tuas instruções. “Que outra pergunta poderia me restar? Tendo abandonando todos os meus deveres, tendo me rendido completamente a Você, não tenho mais nenhuma perturbação e confio completamente em Você”. Assim responde Arjuna. “Estou pronto para segui-lO, Você que é digno de rendição. Este é o meu dever, eu que Lhe sou rendido. Não vejo yoga ou outros processos. A partir de hoje, nenhuma utilidade em seguir meu varna ou meu asrama ou em praticar jnana- yoga rejeito-os todos”. “Meu querido amigo Arjuna, Eu ainda tenho pendente o trabalho de aliviar o fardo da Terra. Eu quero que você faça este trabalho para Mim”. Quando o Senhor disse essas palavras, Arjuna, com o arco Gandiva empunhado, levantouse pronto para lutar.
Versos de 74 a 78 Sañjaya disse: Assim foi que ouvi a conversa entre essas duas grandes almas, Krsna e Arjuna. E tão maravilhosa é esta mensagem que os pêlos de meu corpo estão arrepiados. Pela misericórdia de Vyasa, ouvi diretamente do senhor de todo o misticismo, Krsna, estas palavras muito confidenciais que Ele mesmo estava dirigindo a Arjuna. Ó rei, toda vez que recordo este diálogo magnífico e puro transcorrido entre Krsna e Arjuna, sinto prazer e me emociono a cada instante. Ó rei, ao lembrar a maravilhosa forma do Senhor Krsna, sinto uma admiração cada vez maior e me regozijo repetidas vezes. Onde quer que esteja Krsna, o Senhor de todos os místicos, e onde quer que esteja Arjuna, o arqueiro supremo, com certeza também haverá opulência, vitória, poder extraordinário e moralidade. Esta é a minha opinião. O comentário aos últimos cinco versos, que trazia o significado de todo o Bhagavad-gita, havia sido escrito em duas folhas, mas estas foram levadas embora pelo rato que transporta o senhor Ganesa. Não vou me preocupar em escrevê-las novamente – eram, afinal, insignificantes. Deixemos dessa maneira. Assim, portanto, está encerrado o comentário ao Bhagavad-gita chamado Sarartha Varsini. Que a doçura desta apresentação dos significados essenciais dê grande prazer aos devotos, que são semelhantes a pássaros cataka, e beneficie o mundo inteiro. Que o prazer que os devotos derivem deste comentário ilumine o meu coração.
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Sobre o A u t o r
VISVANATHA CAKRAVARTI Srila Visvanatha Cakravarti Thakura nasceu em 1674 no distrito de N ad adiy iy a, Ben gala gal a Ocidental. Ele teve dois irmãos: Sri Ram R am ab abha hadra dra Cakravarti e Sri R agh aghun unat at ha Cakravarti. Visvanatha recebeu iniciação de Sri Krsnacarana Cakravarti, em cuja casa viveu po viveu por r longo longo tempo e escreveu muitos livros. Em N ad adiy iy a, Visvanatha estudou as escrituras e gramática sânscrita, po poesi esi a e retórica. Mesm M esm o quando um garoto na escola, ele el e era um erudito fo rm id áv el qu quee po podi diaa derrotar qualquer um em lógica e debates form fo rm ais. ai s. Embora indiferente à vida fa m il ia r, Visvanatha casou s e jo v em a ped id o de seu pa pai.i. Ele, todavia, perm an aneceu eceu casado po por r po pouco uco tempo, renunciando su a esposa e su a casa pa para ra viver em Vrndavana. Embora seus amigos e su a fa m íl ia frequen freq uentt ement em ent e tentassem levar Visvanatha de volta pa para ra casa, ele estava fi xo em su a determinação de servir o Senhor Krsna na morada transcendental do Senhor. Em Vrndavana, Visvanatha pa pass ss ou a residir no antigo bhajana kutir (chalé kutir (chalé ou cabana) de Srila Krsnadasa Kaviraja Gosvami à beira do lago sagrado Rad R adha ha kunda. Vivendo ali al i com um discípulo de Krsnadasa chamado M uk un unda da Da Dasa sa , Visvanatha meticulosamente estudou os livros de Rup R upaa Gosvami, Sanatana Gosvami e outros Gosvamis e po post st eriorm eri orm ent e comentou vários desses livros. Srila Visvanatha Cakravarti também escreveu importantes comentários ao Srimad Bh aga agavv at am e ao Bh aga agavv ad gita. Srila Prabhupada, em seus comentários, frequen freq uentt ement em ent e cita os de Visvanatha. Srila Prabhupada costumava mencionar t er sido inspirado em su a vida espiritual pel o comentário de Visvanatha ao Bh aga agavv ad gita 2.41, onde Visvanatha Cakravarti escreve qu quee o discípulo deve aceitar a aceitar a ordem do mestre espiritual como su a vida e alma. Srila Visvanatha Cakravarti Thakura é o autor do autor do Sri Gurvastakam, “Oito Versos em Glorificação ao Mest M est re Espiritual”. Seguindo a prá t ica estabelecida po por r Srila Prabhupada, devotos em todos os templos da IS KCO N cantam esses versos todas as manhãs no mangala aratik, a pri m eira cerimônia de adoração do dia. O discípulo mais fa m os o de Srila Visvanatha Cakravarti fo i Srila Ba la dev a Vidyabhusana. Quando brahmanas eruditos em Jaip ur desafiaram a validade do movimento do Senhor Caitanya, Visvanatha, o então líder do doss seguidores do Senhor Caitanya, estava em idade muito avançada pa para ra viajar at viajar at é o local e debater com os desafiadores, então ele enviou Ba la dev a em seu lugar. Enquanto o Senhor Krsna Senhor Krsna ditava, Ba ditava, Ba la dev a transcreveu o comentário Govinda bhasya ao Vedanta sutra e derrotou os céticos.
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H a r e K r rs n a H a r e K r rs n a K r rs n a K r rs n a H a r e H a r e H a r e R a m a H a r e R a m a R a m a R a m a H a r e H a r e