Universidade Federal de Juiz de Fora Departamento de História ICH Disciplina: Tópicos em História Econômica e Social Proessor: !nderson Pires "raduando: #arcos Tadeu $ieira #acedo
Resumo: Polanyi, Karl. ! %rande transorma&'o: transor ma&'o: !s ori%ens da nossa (poca) (p oca) In: -------. Sociedades e sistemas econômicos; Evolução do padrão de mercado; mercado autore!ul"vel e as mercadorias #ict$cias: tra%al&o, terra e din&eiro. 'radução: (anny )ro%el. Rio de *aneiro: +ampus, /.
0os tr1s cap$tulos estudados o autor, Karl Polanyi, procura desmisti#icar a visão ortodo2a e o#icial da economia, 3ue o%serva a construção do mercado desvinculada do conte2to &ist4rico e social 5 sua volta. Essa corrente utili6a o conceito do “homo economicus” como %ase para o sur!imento espont7neo da din7mica econômica do mercado atual. 8este modo, o autor e2p9e elementos do c&amado su%stantivismo econômico 3ue, pelo seu vis &eterodo2o, a%orda #atores sociais e &ist4ricos respons"veis por trans#ormar o mercado de um simples local de troca em uma entidade autônoma, composta por mecanismos pr4prios. Para tal, Polanyi inicia sua an"lise, no cap $tulo 3uatro, e2pondo al!uns e3u$vocos cometidos pelos pensadores do sculo I. 0este per$odo se iniciou um processo sistem"tico de #ormulação do pensamento econômico !erido por #4rmulas e pressupostos cient$#icos.
ud?i! von @ises, constru$ram uma visão tendenciosa e #ora do conte2to &ist4rico 3ue moldou as estruturas do sistema econômico ao lon!o do tempo. +om isso, o autor inicia seu estudo separando a economia caracter$stica de nossa poca da3uela na 3ual o mercado a!e como elemento acess4rio da sociedade. 8este modo, en#ati6a os pontos #racos da visão ortodo2a e derru%a o postulado, derivado das a#irmaç9es de
apontar como são vitais para a manutenção dos laços sociais da comunidade. Esse comportamento o%serv"vel na medida em 3ue, ao in#rin!ir os c4di!os sociais, o indiv$duo se torna um p"ria para sua sociedade, vivendo 5 sua mar!em. <3ui, Polanyi dei2a claro 3ue essa #orma de pensar não e2pur!a 3uais3uer desvios de car"ter, estes apenas se desen volvem voltados para #inalidades não econômicas. autor vai mais #undo ao %uscar veri#icar como, na aus1ncia da motivação pelo lucro, do tra%al&o remunerado e de instituiç9es %aseadas em #atores econômicos, era !arantida a produção e distri%uição de %ens. 0este ponto, e2plana os princ$pios !erais respons"veis pela re!ulação da economia no conte2to social e os padr9es institucionais 3ue via%ili6am suas aplicaç9es. +omeça assim a discutir o princ$pio da reciprocidade, relacionado com uma #orma de or!ani6ação onde os elos #amiliares e a preocupação com a su%sist1ncia da #am$lia são respons"veis pela coesão social. 8entro deste conceito as o%ri!aç9es mDtuas entre maridos e esposas, pais e #il&os, ou entre irmãos são primordiais para a produção e so%reviv1ncia #amiliar. 8esta #orma, o indiv$duo 3ue doa os mel&ores produtos de sua col&eita visando o sustento de sua #am$lia rece%e em troca um status li!ado 5 virtude do seu comportamento, em ve6 de %ene#$cios materiais. 3ue torna os maiores %ene#ici"rios dessa relação os seus dependentes, en3uanto a recompensa econômica veri#icada na sua posição social. 'odavia, o autor dei2a claro 3ue para 3ue tal sistema possa ser implementado de maneira #uncional preciso ser associado ao padrão institucional da simetria. Este, ao conter uma dualidade su%entendida, torna a reciprocidade poss$vel sem a necessidade de uma administração comple2a. 8esta maneira, &" a criação de uma rede composta por su%divis9es tri%ais 3ue #ormam a %ase da união de relaç9es individuais, propiciando uma troca rec$proca de %ens e serviços entre !rupos, seCam de um mesmo povoado ou de outras tri%os. utro conceito analisado o da redistri%uição, onde !rande parte de toda a produção individual entre!ue pelos c&e#es de aldeias para 3ue o c&e#e !eral possa arma6en"-las. Esse processo vital para a inte!ração social e encontrado em costumes como a troca de presentes, nas #estas cerimoniais ou em rituais diversos. 0este caso, o sistema econômico se encontra imerso em intensas atividades cotidianas ou rituais, vividas pelas comunidades, o 3ue cria uma #orte motivação não econômica nos atos 3ue comp9e o 3uadro !eral do sistema. <3ui, o autor inclui o 3ue c&ama de centralidade, #ator essencial para 3ue a din7mica da redistri%uição possa #uncionar. Esse conceito implica na indispensa%ilidade de um componente concentrador da produção, seCa ele uma autoridade central ou um poder pol$tico centrali6ado. Este crucial para o processo de apropriação da produção e posterior distri%uição de %ens e serviços. +omo %em o%servado a centralidade, Cuntamente com o posterior processo de redistri%uição, implica na alta divisão do tra%al&o tendo em vista a necessidade da união de produtores variados. Para mel&or apresentar o #uncionamento destes princ$pios, alm de sua comple2idade, e2p9e a or!ani6ação do circuito Kula, espcie de comrcio !i!antesco e %em estruturado utili6ado pelos il&us de 'ro%riand, pertencentes a um ar3uipla!o circular da @elansia ocidental. %serva 3ue apesar de se tratar de um comrcio não o#erece 3ual3uer #orma de lucro ou acumulação de mercadorias e %ens. 3ue motiva a movimentação de %ens Custamente a satis#ação em doar os %ens rece%idos se!uindo um padrão de eti3ueta e ma!ia. Esse mecanismo de doar e rece%er torna a coesão social inte!rada e tan!ente, movida pela consci1ncia da reciprocidade no comportamento social. 8esta #orma, o #ato de doar mais !rati#icante do 3ue o rece%er, devido ao seu va lor social em #ace 5 comunidade. Essa comple2a din7mica não a%re espaço para 3ual3uer pensamento em !an&o individual, pelo contr"rio impele a ação coletiva. < respeito da #uncionalidade e e#ic"cia da redistri%uição o autor constata seu uso dentro de comunidades primitivas onde &" a #i!ura do c&e#e. Este persona!em respons"vel por rece%er e distri%uir suprimentos 3ue, em al!uns casos, são previamente arma6enados.
sociedades menos democr"ticas do 3ue a3uelas o%servadas entre os caçadores primitivos, com isso era poss$vel aumentar o poder pol$tico atravs da #orma pela 3ual era reali6ada a redistri%uição de %ens. Essas relaç9es são demonstradas em sociedades como o anti!o imprio e!$pcio e nas sociedades #eudais. Por #im, apresenta o princ$pio da domesticidade 3ue se tradu6 na produção para a su%sist1ncia, seCa do indiv$duo ou do !rupo. 8estaca 3ue este princ$pio não necessariamente mais anti!o do 3ue os outros e salienta 3ue a pr"tica de suprir as necessidades domsticas particulares s4 começou a !uiar a vida econômica em sociedades com um n$vel mais avançado de a!ricultura. autor não se es3uece de #risar 3ue, mesmo em sociedades com certo n$vel de desenvolvimento tecnol4!ico, a motivação por tr"s deste princ$pio não est" li!ada ao !an&o, nem 5s instituiç9es de mercado. @as sim 5 autossu#ici1ncia de um !rupo #ec&ado #ormado por um nDcleo institucional diversi#icado, o 3ue torna a sua aplicação %astante ampla C" 3ue pode ser %aseado no se2o, no caso da autossu#ici1ncia #amiliar, ou mesmo no poder pol$tico, como no manso sen&orial. 'al princ$pio institucionali6ado pela autar3uia, C" 3ue o indiv$duo ou !rupo tem poder a%soluto na es#era domstica.
reali6ada com o suporte de elementos de aceitação e con#iança.
sistema econômico a3ui se encontra envolto em relaç9es sociais !erais, os mercados são tidos como o acess4rio da estrutura institucional totalmente controlada e re!ulada pela autoridade social. 0o se2to cap$tulo, Polanyi e2plana so%re a moderna con#i!uração do mercado, dei2a claro 3ue as ideias de um mercado auto re!ul"vel se revelaram como uma corrente inversa em relação 5 tend1ncia do desenvolvimento re!ulado pelo estado, caracter$stico do sistema mercantil. Passa então a apresentar a din7mica produ6ida pelas economias de mercado, onde o sistema econômico controlado, re!ulado e diri!ido pelos mercados. 8e tal #orma 3ue a or!ani6ação da produção e distri%uição de %ens se d" atravs da autonomia do mercado, re!ida pela e2pectativa de 3ue os indiv$duos %us3uem o m"2imo de !an&os poss$veis. utro #ator essencial na estrutura dessa relação o e3uil$%rio entre o preço estipulado para os produtos e serviços e as necessidades da demanda. Para 3ue este mecanismo #uncione necess"ria a moeda, ou o din&eiro, 3ue se trans#orma em capacidade de a3uisição de %ens. 8ito isto, e2p9e 3ue a produção se mantm atrelada aos preços, C" 3ue os lucros o%tidos pelos donos dos meios de produção são determinados pelos preços em si. < pr4pria distri%uição da produção tam%m se v1 re!ulada pelos preços, C" 3ue estes se convertem em rendimentos 3ue contri%uem na distri%uição dos %ens entre os componentes da sociedade. mecanismo de auto re!ulação direciona toda a produção para o mercado e todos os rendimentos são ad3uiridos das vendas no mesmo, de #orma 3ue o lucro o%tido atravs da di#erença entre o preço dos %ens produ6idos e seus custos no mercado. 'al pressuposto implica 3ue o mercado en!lo%e todos os componentes da indDstria, alm de %ens e serviços são inseridos tam%m na cate!oria de mercadoria o pr4prio tra%al&o, a terra e o din&eiro. 8ada esta con#ormação, o autor se detm nas relaç9es entre o estado, sua pol$tica e a #orma de mercado. (a6 uma constatação essencial em 3ue o mercado passa a ter total autonomia em relação ao estado, este não mais possui mecanismos 3ue possam inter#erir na #ormação de mercados.
onipresente 3ue compreende todas as #acetas da sociedade, sendo respons"vel por mercantili6ar a terra e o tra%al&o. Polanyi passa então a e2por o conceito de mercadoria e seu papel nessa sociedade, alm da #orma como o tra%al&o e a terra são tam%m trans#ormados em mercadorias. Então, as mercadorias são de#inidas como o%Cetos produ6idos para a venda no mercado e este tido como os reais contatos entre vendedores e compradores. +omo C" #oi e2posto essencial 3ue &aCa mercado para todos os elementos industriais, tal estrutura e2i!e 3ue todos os elementos produ6idos pela indDstria seCam encamin&ados para a venda se suCeitando ao mecanismo de o#erta e demanda. F criado então o Grande @ercado 3ue en!lo%a todos outros mercados respons"veis pelas relaç9es de compra e venda de %ens e serviços. Ponto alto do cap$tulo a veri#icação de como os tr1s #atores principais deste sistema, a terra, o tra%al&o e o din&eiro, são trans#ormados e se comportam como mercadorias. (ica 4%vio 3ue atravs de suas de#iniç9es tais elementos não se en3uadram no conceito de mercadoria, o tra%al&o como a atividade &umana atrelada 5 vida cotidiana, a terra como elemento constituinte da nature6a, e o din&eiro como o s$m%olo do poder de compra. Estes não são pass$veis de produção e venda e aca%am se encai2ando em uma #orma de mercadoria #ict$cia 3ue permite sua or!ani6ação dentro do mercado. 8esta #orma, são inseridos na din7mica de compra e venda, o#erta e procura, #ormando seu pr4prio mercado. Polanyi alerta so%re o peri!o de se encarar esses recursos de #orma o%Cetiva e leviana. *" 3ue e2tremamente #at$dico dei2ar o destino de seres &umanos nas mãos dos mecanismos de mercado. ista como mercadoria a #orça de tra%al&o não pode ser usada de #orma indiscriminada ou opcional, pelo simples #ato de a#etar o indiv$duo 3ue a detm, incidindo diretamente so%re o seu #$sico e psicol4!ico. Em relação 5 terra, o pr4prio am%iente natural estaria suCeito a uma dr"stica redução, seCa de suas paisa!ens, seCa atravs de desen#reada poluição, comprometendo o potencial de produção de alimentos e a o%tenção de matrias primas. *" a utili6ação do din&eiro sem responsa%ilidade acarretaria na %ancarrota de ne!4cios e empresas na medida em 3ue sua escasse6 ou seu e2cesso a#etam de #orma #atal 3ual3uer tipo de empreendimento. Por #im, c&ama a atenção para o e#eito 3ue o desenvolvimento tcnico dos ma3uin"rios e da estrutura #a%ril criou nos mercadores e em sua relação com a produção. Primeiro, #ica claro 3ue o simples aparecimento da m"3uina não #oi su#iciente para mudar o comportamento do mercador no sentido de se tornar um capitalista industrial. #ato #oi 3ue tornou-se poss$vel a produção de maiores 3uantidades de %ens, podendo aumentar seus !an&os, o 3ue não #oi su#iciente para a#etar a or!ani6ação das pro#iss9es. +ontudo o 3ue realmente alterou a relação entre o mercador e a produção #oi o desenvolvimento de m"3uinas e #"%ricas mais comple2as, dei2ando a produção mais especiali6ada. 'al #ato possi%ilitou o desenvolvimento do sistema #a%ril, #a6endo com 3ue a indDstria !an&asse maiores proporç9es em relação ao comrcio, passando de um simples acess4rio do comrcio a um empreendimento 3ue envolve investimentos de lon!o pra6o e necessita de uma produção re!ular e constante. 0este ponto, dentre os elementos essenciais de #ornecimento para o sistema #a%ril, temos como principais os tr1s #atores C" elencados.
pass$vel de re!ulação ou #iscali6ação, para !arantir o %em-estar social e a &armonia da sociedade. Polanyi tam%m não se es3uece de evidenciar 3ue apesar de todos os empen&os reali6ados para !arantir o %em estar do mercado e das relaç9es de compra e venda, não #oram dei2ados de lado es#orços 3ue visaram com%ater as desastrosas conse3u1ncias intr$nsecas ao mercado auto re!ul"vel.