A queda do Muro de Berlim, a crise do marxismo e a decadência das utopias tiveram efeitos devastadores sobre o saber sociológico. No mundo líquido, fragmentado e disforme onde vivemos, dominado pelas formas imperfeitas, não parece mais possível pensar no estudo estudo científico das sociedades sociedades e na na definião das leis que as regem. regem. !ara muitos, a sociologia perdeu a import"ncia. #$ não pode dar conta de um mundo que se dilui e não mais se submete a leis fixas. Não % bem o que que pensa o sociólogo sociólogo polonês &'gmunt Bauman, Bauman, de () anos. anos. *m + Aprendendo a Pensar com com a Sociologia+, livro escrito com im Ma', ele defende a ideia de que a sociologia continua potente, porque continua a desafiar os clic-ês do senso comum. !raticada não mais como dogma, mas como um instrumento de interrogaão da vida social, ela nos fa ver que os aspectos mais familiares da vida, aqueles que nos parecem simples e banais, podem ser repensados. /om isso, facilita o fluxo e a troca de experiências e transforma nosso cotidiano. Se a filosofia nos ajuda a morrer, a sociologia nos ajuda a viver . 0grifo meu1 *m seu novo livro, Bauman reflete sobre o modo como a sociologia pode nos a2udar, ob2etivamente, em nossa vida pessoal. A maneira como ela estabelece limites, molda perspectivas, enfim, enfim, desen-a op3es op3es e, tamb%m, tamb%m, impossibilidades. impossibilidades. A seu ver, a sociologia %, antes de tudo, uma pr$tica. +Ao ampliar o -orionte de nosso entendimento, ela % capa de lanar lu sobre o que de outra maneira poderia passar despercebido no curso dos acontecimentos+, escreve. A sociologia, di Bauman, parte da constataão de que as condi3es gerais da sociedade produem consequências consequências dr$sticas dr$sticas em nossa nossa vida pessoal. pessoal. 4ue elas atingem nosso cotidiano e influem nas coisas mais banais da existência. 5sso não quer dier que não ten-amos escol-a ou que não se2amos livres6 quer dier que essas escol-as e essa liberdade estão moldadas pela fora das contingências. 7aber pesar a relaão entre liberdade pessoal e dependência % a c-ave do viver bem. 8icar só com um dos aspectos 9 2ulgar9se absolutamente absolutamente livre ou irremediavelmente irremediavelmente prisioneiro prisioneiro 9 só bloqueia nosso nosso camin-o. A vida em sociedade nos leva a deparar com pessoas +estran-as+, isto %, que não se enquadram em nossos modelos e expectativas, lembra o sociólogo. /om a globaliaão e a profusão de +estran-os+, expandiram9se os mecanismos mecanismos de segregaão social 9 seguranas, grades, crac-$s, bil-eterias, recep3es, etc. *m ve de dominar esses +estran-os+ ou de fix$9los em padr3es, afirma Bauman, a sociologia nos a2uda a lidar com eles. :esse modo, deixa de ser uma ciência dura, que estabelece e define, para se tornar um saber móvel, que busca uma sincronia com o mundo. +5sso não significa dier que a sociologia ten-a o monopólio da sabedoria no que di respeito ;s experiências+, alerta Bauman. +Muito embora sem d
os diferentes. Ainda assim, no confuso mundo de -o2e, inquietos, buscamos +solu3es+ para nosso desassossego. !ara conter as incerteas, preferimos nos fixar em uma imagem qualquer, nem que se2a na simples aparência. Baseada nas semel-anas, a aparência pode nos dar a ilusão 9 porque usamos a mesma marca de automóvel, de perfume ou de tênis 9 de que pertencemos a determinado grupo. !ode nos faer crer que sabemos onde estamos e quem somos. 4uando, na verdade, continuamos perdidos. =utros +se salvam+ da inquietaão adotando uma rotina ou imitando rotinas al-eias. *ssa proximidade, no entanto, não assegura o sentimento de +responsabilidade moral+ 9 que surge quando um sentimento de responsabilidade brota em nós, voltado para o bem9 estar e a felicidade do outro. Ao contr$rio> o sentimento moral, di Bauman, frequentemente aparece entre pessoas que não têm a mesma aparência e estão fisicamente muito distantes. Nem as aparências nem as semel-anas garantem a fraternidade. ?ma comunidade não se define pela proximidade física ou pelas semel-anas aparentes, ele insiste. ?ma comunidade se define por uma +unidade espiritual+. @esume> +A comunidade % mais um postulado que uma realidade+. /ompartil-ar as mesmas inquieta3es e dividir os mesmos ideais, e não estar lado a lado fisicamente ou se espel-ar no outro, isso sim % viver em comunidade. As redes sociais se formam graas ;s expectativas em comum 9 e não por causa de alguma condião natural ou de coincidências. = dever moral, admite Bauman, costuma entrar em colisão com o sentimento de autopreservaão. +?m não pode reivindicar ser mais natural que o outro.+ $, sempre, uma tensão em 2ogo e % preciso enfrent$9la, administr$9la 9 embora nunca se c-egue a resolvê9la. = mesmo ocorre nas rela3es amorosas. Nelas, as realidades dos dois parceiros nunca são idênticas. A própria ideia de intimidade pode ser uma armadil-a. As diferenas podem ser tão esmagadoras, ele adverte, que os parceiros farão exigências um ao outro que 2amais poderão cumprir. amb%m no amor, o estar ao lado exige respeito. Amar % trocar diferenas e estilos. mais uma troca que um encontro. Não se deve esperar, di Bauman ainda, que a sociologia +solucione problemas+. A vida não % um +problema a resolver+. *le alerta> +/ada nova tentativa de ordenar uma parcela ou uma $rea específica da atividade -umana cria novos problemas+. Não se deve querer que a sociologia fornea solu3es para os conflitos sociais. A sociologia não nos di como resolver um problema. *la se limita a apontar o problema com que devemos lidar. * isso 2$ % muito. verdade, isso nos frustra. Na sociedade de mercado, lamenta Bauman, só queremos a perfeião. /onsumimos compulsivamente, em busca de um estilo de vida perfeito. Nunca o atingimos, e isso perpetua o consumo, mas não nos aproxima de uma soluão. +7omos continuamente encora2ados a consumir em nossa busca do inatingível 9 o estilo de vida perfeito em que a satisfaão reine, suprema.+
Muitos ainda acreditam que sociologia pode nos apontar o mel-or camin-o rumo ; perfeião. Não pode. Nem % para isso que ela existe, adverte. A sociologia, ao contr$rio, mostra que a soluão inexistente %, na verdade, o que nos impede de aceitar o outro e de avanar. a busca fren%tica de uma soluão que nos impede de viver. Nesse sentido, toda sociologia % uma sociologia da imperfeião. += grande servio que a sociologia est$ preparada para oferecer ; vida -umana % a promoão do entendimento+, di. Não existe sociologia sem toler"ncia. C