Inquietação teórica e estratégia projetual: na obra de oito arquitetos contemporâneos Rem Koolhaas
André Leonardo Gruber, Bruna Caroline Maas, Bruno Rafael Corrêa, Morgana Vendramini “Inquietação teórica e estratégia projetual: na obra de oito arquitetos contemporâneos” (Editora
Cosac & Naify, 2008, 365 páginas), do arquiteto espanhol Rafael Moneo, traz oito arquitetos protagonistas do cenário contemporâneo internacional, sendo eles: James Stirling, Venturi & Scott Brown, Aldo Rossi, Peter Eisenman, Álvaro Siza, Frank O. Gehry, Rem Koolhaas e Herzog & De Meuron. A obra conta também com uma reflexão crítica sobre a história de cada autor na arquitetura, abordando seus projetos com uma liguagem coloquial e direta.”
O capítulo a respeito do arquiteto Rem Koolhaas inicia-se por sua biografia que segundo o autor é nela que se encontram as origens da sua arquitetura, de maneira que os conhecimentos da infância gravitam sobre sua carreira. Rem Koolhaas nasceu em Rotterdam, Amsterdã em 1944. Muda-se para Ásia onde mora até seus dez anos de idade e retorna para sua cidade natal na sua adolescência onde inicia seus estudos sobre jornalismo e se interessa pelo cinema. O autor conta que ao Koolhaas escrever alguns roteiros, observa que na metade do século XX a referências estáticas segundo se produzia a arquitetura já não faziam mais sentido e assim dever-se-ia explorar novas técnicas. Rafael continua relatando que Ren Koolhaas tinha uma admiração muito grande por sua cidade e isso o levou a estudar na Architectural Association de Londres, no final dos anos 60 que por sinal essa escola de arquitetura estava dominada pela influência dos arquitetos do Archigram de modo que a visão da arquitetura era voltada a tecnologia com esquecimento da forma. Após Londres, Koolhaas se muda para os Estados Unidos e estuda na escola de arquitetura Cornell que que nesta época era uma das escolas mais vibrantes e atraentes dos EUA. Logo Ren se identificou com seu professor Ungers no qual ocupava-se em explicar a forma urbana, assim se tornando seu discípulo. Ungers na época lecionava uma cadeira de teoria do desenho urbano, valendo-se do conceito de tipo. Após alguns trabalhos com seu mestre, Koolhaas sai de Cornell e muda-se para Nova York para trabalhar no Institute for Arqchitectural and Urban Studies.Durante vários anos o arquiteto utilizou o instituto para escrever seu livro que se transforma em chave para par a entender a arquitetura dos últimos 25 anos. Durantes vários anos Koolhaas estudou Nova York que para ele é a cidade moderna por excelência, assim a sua vontade de explorá-la e assim identificar seus princípios urbanísticos contemporâneos. O que Ren descobre nesta cidade e assim afirma em seu livro, é que nela foi-se construída simplesmente sob a pressão da economia e submetida às forças de um capitalismo desenfreado. Há nessa descoberta que os EUA é como um berço da modernidade, um certo “ antiintelectualismo”.
O autor relata também que o arquiteto Ren Koolhaas, alem de estudar os EUA, fez em sua juventude um estudo sobre as vanguardas russas no qual a Russía aposta em uma utopia, devido as suas metas buscadas. Já os americanos aceitam uma cultura de massa e conscientes dos problemas que isso traz, transformando a fraqueza em virtude aprendendo a construir em Manhattan. E assim Koolhaas finaliza sua formação como arquiteto após realizar um estudo de Manhattan levando a cabo em Nova Yotk. No livro o autor cita um trecho escrito por Koolhaas no qual expõe que seu trabalho é deliberadamento não-utópio, trabalhando dentro dos limites das condições prevalentes, sem sofrimento. Assim assumindo uma postura crítica em relação a esse tipo de utopia moderna. Então
Moneo complementa afirmando que pelas palavras do arquiteto, ele se auto classifica dentro de uma elite intelectual que por sua vez perdeu o contato com as massas. E essas massas atuam com mais liberdade nas novas situações históricas do que os arquitetos e intelectuais. Em seguida o autor continua relatando que Koolhaas está ciente disto e tenta mudar seu discurso, voltando a se comunicar com essa massa quando fala sobre a construção de uma nova cidade Marne-la-Vallé. Para o arquiteto a cultura de massa é capaz de construir uma cidade com lógica e razão de ser intrínseca mesmo que prevaleça o desejo do lucro e se esqueça da forma. Koolhaas aborda também da cultura da congestão, no qual a congestão e a densidade são como valores em si os quais os arquitetos podem e devem trabalhar. E então faz uma crítica, onde os autênticos condensadores sociais, são os arranha-céus americanos e não os desenhos dos arquitetos vanguardistas russos, finalizando com uma frase de impacto que aponta a indeterminação do arranhacéu que sugere na metrópole funções especificas não correspondentes a lugares precisos. Assim reforçando e insistindo na distância que existe entre a função e o lugar. O autor então aborta este tema, fazendo um questionamento a respeito dos arquitetos que por sua vez, muitas vezes limita a forma do edifício devido a respeitar a sua função. Para Koolhaas a cidade deve ser espontânea, fruto de um descontrolado desenvolvimento, que por sua vez protótipo que não se produziu em nenhum lugar com tanta potência e energia como nas cidades americanas. Para ele, a arquitetura está ligada a ação, ao programa. Programa esse que deve ser interpretado de forma literal, tendo um papel muito diverso daqueles observados nas obras de Frank Gehry, assim estabelecendo um laço entre os dois. Tudo isto é de supra importância para que se possam compreender as obras de Ren Koolhaas, tratando-se de uma arquitetura em que os diferentes ingredientes que a compõem desaparecem no todo, embora sendo possíveis de identificá-los em uma análise mais minuciosa. Apesar de diversas formas arquitetônicas conviverem nas obras de Koo lhaas, é verdade afirmar que os procedimentos de construção que ele utiliza procedem de uma arquitetura mais comercial, vulgar, espontânea e convencional. E nela que se pode encontrar o racionalismo que os modernos reivindicavam. Rafael continua explicando que Venturi tinha a mesma meta, de forma que esse era populista, e assim mais atencioso com os mecanismos os quais a estrutura se encobre. Após isto o autor aborda um tema mais voltado para a questão da visão da arquitetura, sendo essa proveniente da industria e afirma que o os escritórios de aquitetura são vistos como um a feitoria. Koolhaas em seu escritório sempre teve uma característica de oficina ou atelier do que uma escola, e assim o autor afirma que o arquiteto é um especulador, um projetista, tendo a função de catalisar e ajudar a cristalizar formas e espaços capazes de cumprir os programas que a vida moderna impõe. A escala para o arquiteto esteve sempre ligada ao uso que os indivíduos ou massas fazes da arquitetura. Assim recuperando a instrumentalidade que teve no passado ao se colocar a serviço de uma sociedade definida pela cultura de massa. Em seguida o autor relata que a leitura da cidade contemporânea produzida por Ren Koolhaas, infere-se um conceito que pode ser entendido como seu corolário e que para o autor possui um valor singular. Para o arquiteto, o fato de conhecer o corte era tão importante quanto projetar o edifício em si, assim Moneo faz uma analogia a Le Corbusier, que para esse conhecer a planta e pensar em arquitetura em deveria ser feito em termos de “planta livre” e já para Koolhaas deveria ser o “corte livre”.
A arquitetura encontrada pelo arquiteto nas cidades americanas é formada a partir da construção e da escala que assume na cidade, esquecendo de se basear na forma específica ditada pelos seus programas. Finalizando o autor relata que Koolhaas e sua descrição da cidade americana somada ao interesse de encontrar a escala justa, a contribuição de Ren Koolhaas para uma nova metodologia projetual com a noção do “corte livre” e uni da pela recuperação da condição iconográfica da edificação é possível compreender a valorização positiva que atualmente se faz por merecer a sua arquitetura. Em uma das primeiras obras do arquiteto, A Cidade do Globo Cativo, possui uma malha arquitetônica tirada como base da ilha da Manhattan, onde tem seus quarteirões vitalizados com muitos arranhacéus. A força da estrutura urbanística aparece ao admitir com boa índole a diversidade: projetos corbusianos convivem com torres de evidente filiação ungersiana e com outras inspiradas pelo expressionismo alemão, edifícios comerciais se confundem com outros de estirpe institucional. A continuidade da malha não é obstáculo, ela não impede que o trabalho dos arquitetos produza sem travas. Na obra Exodus, ou os Prisioneiros Voluntários da Arquitetura, remete-se ao interesse de Koolhaas, na época, tanto pelo trabalho dos artistas conceituais vienenses como pelas pesquisas do grupo florentino Superstudio. Trata-se de explorar como uma megaestrutura arquitetônica poderia ser juntada sem advertes e conviver em relação dialética com o drama da cidade já existente. Na análise de Downtown Athletic Club, que Koolhaas encontra a prova de que é possível uma arquitetura sem a obrigação de manter uma relação entre exterior e interior, de que não há dependência entre a forma arquitetônica e o uso. A condição de arquitetura arbitrária surge quando comprovamos que a variedade de funções de um edifício fica absorvida pela forma arbitrária que o arranha-céu assume na cidade. A ideia da planta como geradora do projeto do edifício desaparece. No arranha-céu contam a posição do núcleo de comunicações verticais e a estrutura, prevalecendo-as. Não importa que apareçam corredores tortuosos, se a contiguidade necessária entre os espaços diferentes for mantida. Neste projeto, Koolhaas descobre o princípio do “corte livre”, que será a fonte de inspiração para seus futuros trabalhos como arquiteto. A análise que faz do New York Athletic Club se transforma em método projetual: Koolhaas construirá os edifícios de grande escala a partir do corte. A forma do edifício, inclusive a sua imagem, sua condição icônica, estará visível no corte. No concurso para a New Welfare Island em 1975, serviu de pretexto para Koolhaas distribuir sobre o local toda uma coleção de arranha-céus dispostos a atender a diversos usos. A “congestão” se produz sob a ponte, assim a personalidade de Koolhaas se revelou com maior liberdade. O arquiteto oferece uma imagem de Roosevelt Island mais ampla, mais disposta a aceitar como virtude a supremacia de Manhattan concebida como um todo , Roosevelt tem sentido a partir da ilha, quando ‘e vista como um obstáculo no rio Hudson que a cidade acaba integrando por meio de pontes e embarcações. No projeto de Boompjes: Slab Towers and Tower Bridge em Roterdam (1980), Koolhaas informa que os edifícios que projeta são capazes de viver na atmosfera singular produzida ali, onde a cidade se dissipa. Explorar a beleza que fora o trabalho dos engenheiros ao construir a infraestrutura que possibilitou o domínio do meio, cujo seria o interesse do arquiteto. A ideia do “todo” prevalece, os edifícios se
erguem assim a sombra dos guindastes, como personagens alheios, mas não tão estranhos ao cenário urbano. Uma das primeiras manifestações do talento do arquiteto como tal foi o polêmico concurso Parc de la Villette (1982). Koolhaas refuta qualquer visão pitoresca do parque, confrontando o que geralmente ‘e
o método mais usado pelos paisagistas. Ele não vê razão para que o arque ofereça uma visão final e completa do que pode ser. Prefere velo como a trama de um tecido em continua evolução. Em 1986, o projeto apresentado por Koolhaas para o concurso da prefeitura de Haia, ilustra o quanto ele usa modelos como referencia. Sua vontade era de oferecer a cidade um edifício com a dignidade do Rockerfeller Center. Para uma cidade como Haia, a melhor escolha era de um centro administrativo que um edifício com solidez puritana e a retorica contida de bons prédios nova-iorquinos. Seguiu ao pe da letra a lição aprendida na cidade dos arranha-céus. A arquitetura da cidade americana o atrai por sua riqueza visual, pois consegue superar o pitoresco ao aceitar sem escrúpulos a aleatoriedade volumétrica, que a pressão econômica dita sobre o uso do solo. Ele pretende obter os mesmo resultados na geração da forma arquitetônica, embora as condições estruturais no sejam exatamente as mesmas. Será a partir da forma, e não da estrutura, que Koolhaas se aproximará dos modelos que admira. Em Roterdam fica a Two Patio Villas (1984-1988), onde segundo Moneo, Koolhaas reconhece os limites criados pelo programa e sistemas de construção e gera uma arquitetura similar às demais, respeitando o lugar. Na fachada frontal, observa-se o uso de cores, porém com linhas oblíquas dividindo as cores. A característica mais marcante é a precisão da planta. A casa distribui-se em dois pisos e no inferior está instalado um pátio gerado por um cubo de vidro. Observando de fora, através do vidro externo, as árvores ficam refletidas no vidro. Está aí o maior paradoxo deste projeto: a planta precisa como expressão máxima da arquitetura e o culto à imagem, representada pelos reflexos gerados, ao qual no sucumbe a arquitetura. No projeto do Terminal Marítimo de Zeebrugge, na Bélgica, Koolhas é bastante ousado ao assumir a iconografia onde seu prédio tem a alusão à um farol projetado para absorver e articular a congestão de fluxos (a mesma que ele observa nas metrópoles). Essa sensação de confusão vai se amenizando à medida que a verticalidade avança, sendo o edifício coroado por um envoltório translúcido. Possui um vazio interior imenso, onde a estrutura não compromete o possível corte e possibilita diversos usos. No projeto da Très Grande Bibliothèque para o concurso de 1989 para a Biblioteca Nacional da França, assim como no centro de artes e técnicas multimídia ZKM do mesmo ano, a estrutura é o que conta, segundo Moneo. Há uma visão generalista e universalista, alterando-se em escala. Na primeira obra nota-se a convicção de Koolhas de que, em certo momento da escala, o edifício torna-se alheio ao entorno, já que dada a impossibilidade de conexão e o exterior não é mais capaz de evidenciar o que acontece dentro da obra, torna-se então um organismo independente. Concebido com um sólido cúbico e translúcido com a inserção de bolhas onde estão os ambientes necessários ao uso das bibliotecas. Moneo relaciona a estrutura deste edifício com uma visão zoomórfica onde essas formas viscerais internas não influenciam a configuração final da obra. Traz também a possibilidade de a analisarmos como uma máquina de armazenar cultura e essas duas visões não devem gerar a interpretação de ambiguidade, já que até mesmo os inventores da máquinas apreciam e se inspiram nos organismos vivos. Já no ZKM, a principal diferença na análise dos cheios e vazios é que os fechamentos ocorrem a partir das periferias. O local de inserção da obra merece destaque, já que houve grande modificação e revitalização da malha viária, possibilitando o uso por um grande numero de pessoas e gerando a potencia e energia típicos das conexões urbanas das grandes metrópoles.
No caso do projeto para Hotel e palácio de convenções em Agadir, no Marrocos, de 1990, o mais bonito projeto de Koolhas, segundo Moneo, o arquiteto recriou as formas das dunas e usos dois planos horizontais para desenvolver a planta. Na área de cobertura, sustentada por pilotis de diferentes diâmetros que estão dispostos entre duas superfícies onduladas, observa-se fendas que se projetam em direção vertical criando uma visão bastante rica e gerando nesses espaços internos áreas para pátios. Moneo compara ainda o projeto à uma cidade egípcia, referindo-se ao dimensionamento ortogonal do edifício. Diante de possível uso do solo, Koolhaas aproveita para enfatizar o especifico, a sua vontade de fazer uma arquitetura universal volta a prevalecer, criando assim, uma malhas mais ampla. Seu caminho escolhido por entrante tantos os outros foi as casas-pátio, onde seu conceito de centralidade fazem com que os pisos superiores seja a parte do pátio habitável, possibilitando um uso mais continuo e intensivo do solo, criando condições de ventilação e aberturas. Koolhaas manipula dois tipos de habitação, reconhecendo assim as suas condições de fronteiras, dando assim um melhor valor nas fachadas onde se produz uma vontade de "construir natureza" ou do latin " il finto rustico" , como por exemplo, os montículos verdes que aparecem nos pátios. Koolhaas ignora o contexto, e sem nenhuma atenção especial ao entrono burguês na época de 1985 a 1991 e consegue chegar a um programa estético aonde praticamente todos os arquitetos queriam chegar. Assim sua reflexão sobre a vida suburbana era que não poderia esquecer as condições que levam aos moradores a apelar ao humor para viver. Por outro lado, Koolhaas enfatiza a geometria longitudinal do terreno a forma da casa, oferecendo infinitos espaços e sensações. Há duas opções de acesso para a casa, uma seria para pedestres e a outra para o veículo. O acesso de pedestre, segundo Koolhas, estaria protegido por uma floresta de pilotis oblíquos onde se desenha um caminho, isso tudo se torna uma moldura, onde se pode "ver com outros olhos". Para Koolhaas os termos funcionais só tem sentido se forem considerados como tributos arquitetônicos, como por exemplo a casa Villa dal' Ava, que a transparência dos espaços é tão literal que faz com que a área habitada seja toda a cidade-jardim. A intimidade aparece como preconceito: nada deve ser temido do mundo onde se assenta a casa, com comodidade e desenvoltura. Os donos tem acesso ao seu dormitório/escritório a partir de uma escada privada próxima a sala de estar. Outro lance de escada externa, ao qual se tem acesso a partir de um corredor horizontalmente o dormitório dos donos da casa com o dos convidados, conduz a piscina, onde o jardim corbusiano se transforma em uma plataforma que avista a cidade de Paris. Deve-se mencionar os materiais linguagem que Koolhas condiz com a sua arquitetura. Também devemos falar sobre seus traços estilísticos, aparece como referência, Le Corbusier, de modo manipulado e malévolo. As vezes Koolhaas aparece que se compraz usos dos materiais industriais e em outra parece interessado em texturas pseudonaturais; há ainda momentos em que parece tender a experimentos plásticos e de texturas, como onde o vidro e o concreto estabelecem um dialogo incoerente. A promessa que Koolhaas fez para resolver com a arquitetura de hoje edifícios de grande escala requer
a habilidade demonstrada em trabalhos como na biblioteca da França. Com o desejo que Koolhaas demonstrou em suas obras de grande escalas feito em sua carreira, deixo estes comentários.