Curso Completo Redação Professor Raphael Torres
Falhas de Argumentação Argumentação Introdução O fato de aprendermos o que chamamos de Norma Padrão teoricamente da mesma forma faz com que, assim como os acertos, os desvios também sejam comuns ou minimamente semelhantes, possibilitando sua previsibilidade e, consequentemente, consequentemente, precauções para que não sejam cometidos em uma redação cuja correção valoriza o fato de as regras gramaticais serem obedecidas. Essa linha de raciocínio foi o que possibilitou a criação de um de nossos encontros: o Mapa do Erro. Em níveis argumentativos, isto é, no que diz respeito às sustentações com que contamos para que se legitime a tese diante de um tema proposto, pode-se perceber também uma série de falhas no que se refere a linhas l inhas de raciocínio que parecem eficazes a quem as constrói, mas, na perspectiva de quem corrige as dissertações, dissertações, não atendem ao objetivo proposto. O que já representaria um problema caso a defesa de tese fosse montada oralmente ganha aspectos ainda mais prejudiciais quando no papel. A irreversibilidade da argumentação aplicada significa, na prática, que, como estão expostos de maneira física, visual, não são corrigíveis depois de construídos e registrados, cabendo ao autor simplesmente a missão de não errar ou errar o mínimo possível. Sabendo o que normalmente acontece em falhas dessa natureza, portanto, torna-se mais fácil ao candidato se antecipar a prováveis falhas e, dessa forma, diferenciar positivamente seu texto em meio a outros não tão atentos. Seguem os principais problemas encontrados em redações de vestibular no que diz respeito às escolhas argumentativas feitas por candidatos diante dos mais variados temas propostos pela banca.
Generalização Consiste em, a partir do que marca aspectos particulares componentes de um determinado grupo, considerar que a totalidade desse conjunto se caracteriza pelos mesmos traços. Tal fenômeno ocorre principalmente no que se refere a: a) Segmentos sociais (profissionais, regionais, etários, religiosos etc.) Ex. ENEM 2009 Diminuem muito as oportunidades de uma evolução de uma pátria cujos políticos são todos corruptos, interessados única e simplesmente em seu próprio enriquecimento. O fato de escândalos de corrupção atingirem políticos em maior ou menor volume não legitima a leitura de que todos os indivíduos que exercem a mesma função podem/devem ser qualificados da mesma maneira.
b) Ilustrações (fatos isolados que se tornam referência de padrão de entendimento social) Ex. ENEM 2009 Brigas como as que presenciamos em estádios de futebol em todo o país fazem com que duvidemos definitivamente do futuro de uma humanidade incapaz de estabelecer o mais simples dos diálogos. Indivíduos envolvidos em determinado conflito em quaisquer nível e contexto de motivação não servem como parâmetro para um grupo tão mais heterogêneo e complexo como a humanidade como um todo.
3. Falsa Analogia (comparações entre elementos de certa semelhança, mas de contextualizações e/ou parâmetros consideravelmente distintos entre si) Comparação com falha de parâmetro
Ex. ENEM 2007 Reproduzindo modelos de êxito no Uruguai e na Holanda, a adoção da discriminalização de entorpecentes em território brasileiro traria significativos avanços sociais e econômicos. Aspectos como dimensão territorial, códigos legais, traços culturais e história nacional impedem que se tome o êxito de aplicação de qualquer medida ou regulamento em certo cenário político-econômico como justificativa inegável para sua replicação em contextos razoavelmente diferentes.
4. Simplificação Exagerada (Análises ou intervenções imediatistas e até mesmo
eventualmente
“milagrosas”,
i ndiferentes
a
complexidades
situacionais)
Ex. ENEM 2009 Os cidadãos precisam se conscientizar de sua importância para que os resultados em termos sociais sejam melhores. Se cada um f izer o que lhe cabe, nossa vida em comunidade evolui significativamente. Tamanha é a distinção entre as nuances que marcam cada cidadão que, em níveis argumentativos, torna-se impossível contar com simplesmente o livrearbítrio como estratégia de resolução de um problema tão complexo quanto a convivência comunitária.
5. Falso Axioma (Verdade dita como absoluta por discursos coletivos, mas insuficientes em suas carências de sustentação) Ex. ENEM 2014
O futuro de um país como o Brasil está em suas crianças, capazes de revolucionar todo um modelo antiquado e ineficaz adotado até hoje como sendo o oportuno. Creditar dias melhores para o país a gerações mais recentes ou às que ainda estão por vir, apesar de se tratar de um discurso consagrado, é tirar de uma massa de adultos contemporaneamente produtivos pelo menos parte da responsabilidade que lhes cabe na construção de futuros cenários sociais mais saudáveis para o cidadão comum.
6. Círculo Vicioso (Coincidência entre causas e efeitos, gerando redundância) Ex. ENEM 2010 Ser policial em uma realidade como a brasileira é cada vez mais perigoso, pois se mostram evidentes os riscos e a insegurança de trabalhar em certas condições. Termos como “perigoso”, “riscos” e “insegurança”, devido à sua equivalência/proximidade semântica, não deveriam estabelecer entre si relações de explicação e acarretamento, mas sim, no máximo, de retomada ou antecipação de ideias minimamente semelhantes.
7) Contradição (Paradoxo involuntário, comumente associado à aplicação inadequada de certo termo) Ex. ENEM 2013 Mostra-se como obrigação do Estado a manutenção de medidas que retifiquem a eficácia até então verificada em muitas de suas atuações sociais, principalmente em camadas de baixa renda.
O contexto do exemplo, quando sugere a manutenção de eficácia verificada até então, torna incoerente que se deixe de aplicar qualquer medida que tenha provocado tal resultado satisfatório, fazendo com que “retifiquem”, verbo cujo significado se liga ao conceito de correção, deva ser substituído por “ratifiquem”, o que sugeriria o valor de confirmação.
8) Noções semiformalizadas (Imprecisões semânticas verificadas em escolhas vocabulares inadequadas a certos contextos) Ex. ENEM 2011 “Não se deve negar ao cidadão o direito de protestar. Isso já é comunismo!” O uso de qualquer termo semanticamente modifica-se com o passar do tempo, seja devido a uma sociedade que promove novos usos para vocábulos já existentes, seja por usos oficiais que se misturam a percepções nada mais que individuais. O caso da palavra comunismo, que originalmente designa um modelo de gestão igualitária, acaba, com motivação em uma de suas vertentes mais centralizadoras, aparecendo no inconsciente coletivo como um valor diferente do original. Esse processo provoca uma imprecisão na tentativa de exposição de ideias, o que compromete decisivamente a argumentação planejada.
Professor Responsável pelo Conteúdo Raphael Torres Graduado em Letras pela UFRJ, atua há 10 anos em turmas de Ensino Médio e de pré-vestibular civil e militar. Coautor do livro Gramática ESAF, também leciona em cursos preparatórios para concursos públicos do Rio de Janeiro e de São Paulo.
