Jogue seus Livros Fora Rafael Falcón Falcón A obsessão pela bibliografia é um dos erros mais cometidos pelos proto-intelectuais – classe mais promissora do país, já que intelectuais totalmente formados inexistem por aqui. Quando digo protointelectuais me refiro queles estudantes dotados de sincero e esfor!ado desejo de saber, e não a uma classe de falsários que, para esconder sua mediocridade, procuram ter apar"ncias de sabedoria. # sem d$%ida natural que um jo%em estudante, almejando a torre do con&ecimento, queira alcan!ála por uma escada de li%ros' isso não apenas é ra(oá%el, como parcialmente %erdadeiro. )ão escapa a ninguém, é %erdade, a sutil ob%iedade de que livros são meios e não fins . Aparentemente, porém, essa ob%iedade não foi suficientemente absor%ida por nossa classe estudantil, não se manifesta em suas inclina!*es e atos com a espontaneidade da nature(a. +nsistem esses jo%ens leitores em procurar li%ros, sem se perguntar para que querem esses li%ros e se de fato t"m as for!as e concentra!ão necessárias para le%ar esse estudo específico a cabo. reciso saber &istria, comprem-se li%ros' literatura, comprem-se li%ros' religião, comprem-se / resultado é uma pil&a crescente de li%ros sobre assuntos %ariados, cuja conexão entre si é, o mais das %e(es, o círculo intelectual que os recomendou. 0i%ros sobre mito e religião, literatura e metafísica, comparam entre si suas camadas de poeira, na esperan!a de que a espessura dessas camadas traga a curiosidade de re%isitá-los a seu %ol$%el comprador. 1ste é quem mais padece, porque gastou seu din&eiro e parte de suas energias com li%ros que nunca leu inteiros, e que se leu não sabe bem para que l&e ser%iram. A sensa!ão de frustra!ão existencial o acompan&a. 2m li%ro é o bastante para o bom estudante. )ão pode ser qualquer li%ro, naturalmente' tem de ser aquele que responde ao seu desespero, sua esperan!a de agora. )ão de%eria ser, no princípio, um li%ro de 3ené 4irard 4irar d ou 5. 6omás 6omás de Aquino. )ão de%eria ser um li%ro de teses. 2m s li%ro da alta literatura basta para um ano de padecimento intelectual, para le%antar d$(ias de perguntas fundamentais e tal%e( responder alguma. )ão estou di(endo isso para soar bonito. # assim que as coisas são. 6entar ler muitos li%ros de literatura em geral também não le%ará a lugar algum. A leitura apressada, que já pensa no prximo li%ro, não se entrega ao que está lendo agora. )ão presta aten!ão, não se pergunta por que nem o qu". Assim não &á benefício em ler. 7e%er-se-ia comprar apenas um li%ro, sem sequer pensar no prximo, e l"-lo apenas, como uma crian!a que cr" integralmente que sua rua é a totalidade do mundo. 1la explorará cada casa, cada jardim, sem se preocupar com o que &á mais adiante. Alguns se t"m concentrado, gra!as a /la%o de 8ar%al&o principalmente, nos exercícios do 6ri%ium – o plano de educa!ão fundamental da +dade 9édia. 8on&e!o 8on&e!o os exercícios do 6ri%ium, 6ri%ium, e pretendo falar deles no futuro. or ora, porém, lan!o a pergunta: de que te adiantaria uma bibliografia;
literatura; 5e for esse o caso, não %aleria mais seu tempo e seu esfor!o procurar – digamos assim – um clássico da literatura; 5em d$%ida é possí%el amplificar os resultados com técnicas e exercícios específicos, e esse con&ecimento pode ser obtido pela pesquisa. 9as o tempo e esfor!o que %oc" gastaria nessa pesquisa não seriam mel&or empregados na ess"ncia, que é a literatura, do que em aditi%os = plug-ins intelectuais> que não t"m nen&uma utilidade sem a literatura; +magino obje!*es: posso ler literatura e estudar outras coisas ao mesmo tempo' essas outras coisas %ão ajudar-me com a literatura' não ten&o condi!*es de compreender li%ros tão profundos sem apoio, etc. 3esponder a todas essas obje!*es le%aria muito tempo e não parece estritamente necessário. 7e todo modo, parece-me que o problema fundamental é que ler literatura di. 0iteratura é difícil, é densa, não te dá respostas repetí%eis, apenas fatos. A estrutura da literatura é semel&ante estrutura da %ida e, por isso, compreender literatura é um esfor!o parecido ao de compreender a prpria %ida. 7iante de um tal esfor!o, é natural que queiramos fugir para adendos, detal&es, interpreta!*es, bibliografias e discursos em geral. # um modo de postergar o trabal&o duro e fingir, para ns mesmos, que estamos sim ocupados, cumprindo as etapas necessárias, os requisitos, porque ainda não estamos prontos, etc. ropon&o a pergunta: %oc" está in%entando obriga!*es para postergar o que é mais importante;
ublicado em ?@ de jul&o de ?BB. &ttp:CCDDD.rafaelfalcon.netCjogue-seus-li%ros-foraC