Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina
Titulo
Quijano, Anibal - Autor/a;
Autor(es)
A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas
En:
latino-americanas Buenos Aires
Lugar
CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales
Editorial/Editor
2005
Fecha Colección
Colonialismo; Colonialismo; Modernidad; Capitalismo; Poder Politico; Sociedad; Historia;
Temas
Eurocentrismo; America Latina; Capítulo de Libro
Tipo de documento
http://bibliotecavirtual.clacso http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/clacso/sur-su .org.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Q r/20100624103322/12_Quijano.pdf uijano.pdf
URL
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Colonialidade do poder1 euroentrismo e Amria $atina " AnLbal ui.ano* $ globaliza%ão em curso é, em primeiro lugar, a culmina%ão de um processo que come%ou com a constitui%ão da $mérica e do capitalismo colonialCmoderno e eurocentrado como um novo padrão de poder mundial. /m dos ei-os fundamentais desse padrão de poder é a classifica%ão social da popula%ão mundial de acordo com a idéia de ra)a, uma constru%ão mental que e-pressa a e-periência b2sica da domina%ão colonial e que desde então permei permeia a as dimens dimens8es 8es mais mais impor importan tantes tes do poder poder mundia mundial,l, inclui incluindo ndo sua racio racional nalid idade ade especí específic fica, a, o eurocentrismo. eurocentrismo. Esse ei-o tem, portanto, origem e car2ter colonial, mas provou ser mais duradouro e est2vel que o colonialismo em cu0a matriz foi estabelecido.
%& A Amria e o novo padrão de poder mundial $ $mérica constitui!se constitui!se como o primeiro primeiro espa%oCtempo espa%oCtempo de um padrão padrão de poder de voca%ão mundial e, dess desse e modo modo e por por isso isso,, como como a prim primei eira ra i"-enti"a"e da modern modernida idade. de. Gois Gois proces processos sos hist#r hist#rico icoss convergiram e se associaram na produ%ão do referido espa%oCtempo e estabeleceram!se como os dois ei-o ei-oss funda fundame ment ntai aiss do novo novo padr padrão ão de pode poder. r. @or @or um lado lado,, a codi codifi fica ca%ã %ão o das das dife difere ren% n%as as entr entre e conquistadores e conquistados na idéia de ra%a, ou se0a, uma supostamente distinta estrutura biol#gica que situava a uns em situa%ão natural de inferioridade em rela%ão a outros. Essa idéia foi assumida pelos conquistadores como o principal elemento constitutivo, fundacional, das rela%8es de domina%ão que a conquista e-igia. 1essas bases, conseqentemente, foi classificada a popula%ão da $mérica, e mais tarde do mundo, nesse novo padrão de poder. @or outro lado, a articula%ã articula%ão o de todas as formas hist#ricas hist#ricas de controle do trabalho, de seus recursos e de seus produtos, em torno do capital e do mercado mundialF. aça1 uma ategoria mental da modernidade
$ idéia de ra%a, em seu sentido moderno, não tem hist#ria conhecida antes da $mérica 9. Talvez se tenha originado como referência 6s diferen%as fenotípicas entre conquistadores e conquistados, mas o que importa é que desde muito cedo foi construída como referência a supostas estruturas biol#gicas diferenciais entre esses grupos. $ forma%ão de rela%8es sociais fundadas nessa idéia, produziu na $mérica identidades sociais historicam historicamente ente novas 4n"ios, ne3ros e mesti)os, e redefi redefiniu niu outras. outras. $ssim, $ssim, termos termos com espan$ol e indicavam apenas procedência procedência geogr2fica geogr2fica ou país de portu3u por tu3u ês, e mais tarde europeu, que até então indicavam origem, desde então adquiriram também, em rela%ão 6s novas identidades, uma conota%ão racial. E na medida em que as rela%8es sociais que se estavam configurando eram rela%8es de domina%ão, tais identi identidad dades es foram foram associ associadas adas 6s hierarq hierarquia uias, s, lugare lugaress e papéis papéis sociai sociaiss corres correspon ponden dentes tes,, com consti constitut tutiva ivass delas, delas, e, conseq conseqen entem tement ente, e, ao padrão padrão de domina domina%ão %ão que se impunh impunha. a. Em outras outras palavras, ra%a e identidade racial foram estabelecidas como instrumentos de classifica%ão social b2sica da popula%ão. om o tempo, tempo, os coloni colonizad zadores ores codifica codificaram ram como cor os tra%os tra%os fenotí fenotípic picos os dos colonizad colonizados os e a assumi assumiram ram como como a caract caracterís erístic tica a emblem emblem2ti 2tica ca da categor categoria ia racial racial.. Essa Essa codifi codifica% ca%ão ão foi inicia inicialme lmente nte estabelecida, provavelmente, na 2rea britDnico!americana. ?s negros eram ali não apenas os e-plorados mais importantes, 02 que a parte principal da economia dependia de seu trabalho. Eram, sobretudo, a ra%a colo coloni niza zada da mais mais impor importa tant nte, e, 02 que que os índi índios os não não form formav avam am part parte e dess dessa a soci socieda edade de colo coloni nial al.. Em 117
conseqência, os dominantes chamaram a si mesmos de brancos. 1a $mérica, a idéia de ra%a foi uma maneira de outorgar legitimidade 6s rela%8es de domina%ão impostas pela conquista. $ posterior constitui%ão da Europa como nova id!entidade depois da $mérica e a e-pansão do colonialismo europeu ao resto do mundo conduziram 6 elabora%ão da perspectiva eurocêntrica do conhecimento e com ela 6 elabora%ão te#rica da idéia de ra%a como naturaliza%ão dessas rela%8es coloniais de domina%ão entre europeus e não!europeus. Bistoricamente, isso significou uma nova maneira de legitimar as 02 antigas idéias e pr2ticas de rela%8es de superioridadeCinferioridade entre dominantes e dominados. Gesde então demonstrou ser o mais eficaz e dur2vel instrumento de domina%ão social universal, pois dele passou a depender outro igualmente universal, no entanto mais antigo, o interse-ual ou de gênero os povos conquistados e dominados foram postos numa situa%ão natural de inferioridade, e conseqentemente também seus tra%os fenotípicos, bem como suas descobertas mentais e culturaisR. Gesse modo, ra%a converteu!se no primeiro critério fundamental para a distribui%ão da popula%ão mundial nos níveis, lugares e papéis na estrutura de poder da nova sociedade. Em outras palavras, no modo b2sico de classifica%ão social universal da popula%ão mundial. ) Capitalismo! a nova estrutura de ontrole do trabal+o
@or outro lado, no processo de constitui%ão hist#rica da $mérica, todas as formas de controle e de e-plora%ão do trabalho e de controle da produ%ão!apropria%ão!distribui%ão de produtos foram articuladas em torno da rela%ão capital!sal2rio 'de agora em diante capital) e do mercado mundial.
$s novas identidades hist#ricas produzidas sobre a idéia de ra%a foram associadas 6 natureza dos papéis e lugares na nova estrutura global de controle do trabalho. $ssim, ambos os elementos, ra%a e divisão do trabalho, foram estruturalmente associados e refor%ando!se mutuamente, apesar de que nenhum dos dois era necessariamente dependente do outro para e-istir ou para transformar!se. Gesse modo, imps!se uma sistem2tica divisão racial do trabalho. 1a 2rea hispDnica, a oroa de astela logo decidiu pelo fim da escravidão dos índios, para impedir seu total e-termínio. $ssim, foram confinados na estrutura da servidão. $os que viviam em suas comunidades, foi!lhes permitida a pr2tica de sua antiga reciprocidade &isto é, o intercDmbio de for%a de trabalho e de trabalho sem mercado& como uma forma de reproduzir sua for%a de trabalho como servos. Em alguns casos, a nobreza indígena, uma reduzida minoria, foi e-imida da servidão e recebeu um tratamento especial, devido a seus papéis como intermedi2ria com a ra%a dominante, e lhe foi também permitido participar de alguns dos ofícios nos quais eram empregados os espanh#is que não pertenciam 6 nobreza. @or outro lado, os negros foram reduzidos 6 escravidão. ?s espanh#is e os portugueses, como ra%a dominante, podiam receber sal2rios, ser 118
comerciantes independentes, artesãos independentes ou agricultores independentes, em suma, produtores independentes de mercadorias. 1ão obstante, apenas os nobres podiam ocupar os médios e altos postos da administra%ão colonial, civil ou militar. Gesde o século [*<<<, na $mérica hispDnica muito dos mesti%os de espanh#is ou mulheres índias, 02 um estrato social e-tenso e importante na sociedade colonial, come%aram a ocupar os mesmos ofícios e atividades que e-erciam os ibéricos que não eram nobres. Em menor medida ou sobretudo em atividades de servi%o ou que requeriam talentos ou habilidades especiais 'mAsica, por e-emplo), também os mais VabrancadosY entre os mesti%os de mulheres negras e ibéricos 'espanh#is ou portugueses), mas demoraram a ver legitimados seus novos papéis, 02 que suas mães eram escravas. $ distribui%ão racista do trabalho no interior do capitalismo colonialCmoderno manteve!se ao longo de todo o período colonial. 1o curso da e-pansão mundial da domina%ão colonial por parte da mesma ra%a dominante &os brancos 'ou do século [*<<< em diante, os europeus)& foi imposto o mesmo critério de classifica%ão social a toda a popula%ão mundial em escala global. onseqentemente, novas identidades hist#ricas e sociais foram produzidas amarelos e a/eitona"os 'ou oliv2ceos) somaram!se a brancos, índios, negros e mesti%os. Essa distribui%ão racista de novas identidades sociais foi combinada, tal como havia sido tão e-itosamente logrado na $mérica, com uma distribui%ão racista do trabalho e das formas de e-plora%ão do capitalismo colonial.
$ privilegiada posi%ão ganhada com a $mérica pelo controle do ouro, da prata e de outras mercadorias produzidas por meio do trabalho gratuito de índios, negros e mesti%os, e sua vanta0osa localiza%ão na vertente do $tlDntico por onde, necessariamente, tinha de ser realizado o tr2fico dessas mercadorias para o mercado mundial, outorgou aos brancos uma vantagem decisiva para disputar o controle do comércio mundial. $ progressiva monetariza%ão do mercado mundial que os metais preciosos da $mérica estimulavam e permitiam, bem como o controle de tão abundantes recursos, possibilitou aos brancos o controle da vasta rede pré!e-istente de intercDmbio que incluía sobretudo hina, ^ndia, eilão, Egito, 7íria, os futuros ?rientes édio e E-tremo.
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1ão h2 nada na rela%ão social mesma do capital, ou nos mecanismos do mercado mundial, em geral no capitalismo, que implique a necessidade hist#rica da concentra%ão, não s#, mas sobretudo na Europa, do trabalho assalariado e depois, precisamente sobre essa base, da concentra%ão da produ%ão industrial capitalista durante mais de dois séculos. Teria sido perfeitamente factível, como o demonstra o fato de que assim de fato ocorreu ap#s 3OQP, o controle europeu!ocidental do trabalho assalariado de qualquer setor da popula%ão mundial. E provavelmente mais benéfico para os europeus ocidentais. $ e-plica%ão deve ser, pois, buscada em outra parte da hist#ria. ? fato é que 02 desde o come%o da $mérica, os futuros europeus associaram o trabalho não pago ou não!assalariado com as ra%as dominadas, porque eram ra%as inferiores. ? vasto genocídio dos índios nas primeiras décadas da coloniza%ão não foi causado principalmente pela violência da conquista, nem pelas enfermidades que os conquistadores trou-eram em seu corpo, mas porque tais índios foram usados como mão de obra descart2vel, for%ados a trabalhar até morrer. $ elimina%ão dessa pr2tica colonial não termina, de fato, senão com a derrota dos encomendeiros, em meados do século [*<. $ reorganiza%ão política do colonialismo ibérico que se seguiu implicou uma nova política de reorganiza%ão populacional dos índios e de suas rela%8es com os colonizadores. as nem por isso os índios foram daí em diante trabalhadores livres e assalariados. Gaí em diante foram adscritos 6 servidão não remunerada. $ servidão dos índios na $mérica não pode ser, por outro lado, simplesmente equiparada 6 servidão no feudalismo europeu, 02 que não incluía a suposta prote%ão de nenhum senhor feudal, nem sempre, nem necessariamente, a posse de uma por%ão de terra para cultivar, no lugar de sal2rio. 7obretudo antes da
uando IaAl @rebisch criou a célebre imagem de Ventro!@eriferiaY ' #$e American Economic Revie% , 3::+ EL$, 3:RP+ (aer, 3:R;), para descrever a configura%ão mundial do capitalismo depois da 7egunda Nuerra undial, apontou, sabendo!o ou sem saber, o nAcleo principal do car2ter hist#rico do padrão de controle do trabalho, de seus recursos e de seus produtos, que formava parte central do novo padrão mundial de poder constituído a partir da $mérica. ? capitalismo mundial foi, desde o início, colonialCmoderno e eurocentrado. 7em rela%ão clara com essas específicas características hist#ricas do capitalismo, o pr#prio conceito de Vmoderno sistema!mundoY desenvolvido, principalmente, por
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Novo padrão de poder mundial e nova inter-sub.etividade mundial
52 em sua condi%ão de centro do capitalismo mundial, a Europa não somente tinha o controle do mercado mundial, mas pde impor seu domínio colonial sobre todas as regi8es e popula%8es do planeta, incorporando!as ao Vsistema!mundoY que assim se constituía, e a seu padrão específico de poder. @ara tais regi8es e popula%8es, isso implicou um processo de re-i"entiica)*o $ist,rica, pois da Europa foram!lhes atribuídas novas identidades geoculturais. Gesse modo, depois da $mérica e da Europa, foram estabelecidas Hfrica, Hsia e eventualmente ?ceania. 1a produ%ão dessas novas identidades, a colonialidade do novo padrão de poder foi, sem dAvida, uma das mais ativas determina%8es. as as formas e o nível de desenvolvimento político e cultural, mais especificamente intelectual, em cada caso, desempenharam também um papel de primeiro plano. 7em esses fatores, a categoria Oriente não teria sido elaborada como a Anica com a dignidade suficiente para ser o ?utro, ainda que por defini%ão inferior, de Oci"ente, sem que alguma equivalente fosse criada para 4n"ios ou ne3ros:. as esta mesma omissão p8e a nu que esses outros fatores atuaram também dentro do padrão racista de classifica%ão social universal da popula%ão mundial. $ incorpora%ão de tão diversas e heterogêneas hist#rias culturais a um Anico mundo dominado pela Europa, significou para esse mundo uma configura%ão cultural, intelectual, em suma intersub0etiva, equivalente 6 articula%ão de todas as formas de controle do trabalho em torno do capital, para estabelecer o capitalismo mundial. om efeito, todas as e-periências, hist#rias, recursos e produtos culturais terminaram também articulados numa s# ordem cultural global em torno da hegemonia européia ou ocidental. Em outras palavras, como parte do novo padrão de poder mundial, a Europa também concentrou sob sua hegemonia o controle de todas as formas de controle da sub0etividade, da cultura, e em especial do conhecimento, da produ%ão do conhecimento. 1o processo que levou a esse resultado, os colonizadores e-erceram diversas opera%8es que dão conta das condi%8es que levaram 6 configura%ão de um novo universo de rela%8es intersub0etivas de domina%ão entre a Europa e o europeu e as demais regi8es e popula%8es do mundo, 6s quais estavam sendo atribuídas, no mesmo processo, novas identidades geoculturais. Em primeiro lugar, e-propriaram as popula%8es colonizadas &entre seus descobrimentos culturais& aqueles que resultavam mais aptos para o desenvolvimento do capitalismo e em benefício do centro europeu. Em segundo lugar, reprimiram tanto como puderam, ou se0a, em vari2veis medidas de acordo com os casos, as formas de produ%ão de conhecimento dos colonizados, seus padr8es de produ%ão de sentidos, seu universo simb#lico, seus padr8es de e-pressão e de ob0etiva%ão da sub0etividade. $ repressão neste campo foi reconhecidamente mais violenta, profunda e duradoura entre os índios da $mérica ibérica, a que condenaram a ser uma subcultura camponesa, iletrada, despo0ando!os de sua heran%a intelectual ob0etivada. $lgo equivalente ocorreu na Hfrica. 7em dAvida muito menor foi a repressão no caso da Hsia, onde portanto uma parte importante da hist#ria e da heran%a intelectual, escrita, pde ser preservada. E foi isso, precisamente, o que deu origem 6 categoria de ?riente. Em terceiro lugar, for%aram &também em medidas vari2veis em cada caso& os colonizados a aprender parcialmente a cultura dos dominadores em tudo que fosse Atil para a reprodu%ão da domina%ão, se0a no campo da atividade material, tecnol#gica, como da sub0etiva, especialmente religiosa. " este o caso da religiosidade 0udaico!cristã. Todo esse acidentado processo implicou no longo prazo uma coloniza%ão das perspectivas cognitivas, dos modos de produzir ou outorgar sentido aos resultados da e-periência material ou intersub0etiva, do imagin2rio, do universo de rela%8es intersub0etivas do mundo+ em suma, da cultura3P. Enfim, o ê-ito da Europa ?cidental em transformar!se no centro do moderno sistema!mundo, segundo a apta formula%ão de =allerstein, desenvolveu nos europeus um tra%o comum a todos os dominadores coloniais e imperiais da hist#ria, o etnocentrismo. as no caso europeu esse tra%o tinha um fundamento e uma 0ustifica%ão peculiar a classifica%ão racial da popula%ão do mundo depois da $mérica. $ associa%ão entre ambos os fenmenos, o etnocentrismo colonial e a classifica%ão racial universal, a0udam a e-plicar por que os europeus foram levados a sentir!se não s# superiores a todos os demais povos do mundo, mas, além disso, naturalmente superiores. Essa instDncia hist#rica e-pressou!se numa opera%ão mental de fundamental importDncia para todo o padrão de poder mundial, sobretudo com respeito 6s rela%8es intersub0etivas que lhe são hegemnicas e em especial de sua perspectiva de conhecimento os europeus geraram uma nova perspectiva temporal da hist#ria e re!situaram os povos colonizados, bem como a suas respectivas hist#rias e culturas, no passado de uma tra0et#ria hist#rica cu0a culmina%ão era a Europa 'ignolo, 3::+ (laut, 3::F+ Lander, 3::Q). @orém, notavelmente, não numa mesma linha de continuidade com os europeus, mas em 121
outra categoria naturalmente diferente. ?s povos colonizados eram ra%as ineriores e &portanto& anteriores aos europeus. Ge acordo com essa perspectiva, a modernidade e a racionalidade foram imaginadas como e-periências e produtos e-clusivamente europeus. Gesse ponto de vista, as rela%8es intersub0etivas e culturais entre a Europa, ou, melhor dizendo, a Europa ?cidental, e o restante do mundo, foram codificadas num 0ogo inteiro de novas categorias ?riente!?cidente, primitivo!civilizado, m2gicoCmítico! científico, irracional!racional, tradicional!moderno. Em suma, Europa e não!Europa. esmo assim, a Anica categoria com a devida honra de ser reconhecida como o ?utro da Europa ou V?cidenteY, foi V?rienteY. 1ão os VíndiosY da $mérica, tampouco os VnegrosY da Hfrica. Estes eran simplesmente VprimitivosY. 7ob essa codifica%ão das rela%8es entre europeuCnão!europeu, ra%a é, sem dAvida, a categoria b2sica 33. Essa perspectiva bin2ria, dualista, de conhecimento, peculiar ao eurocentrismo, imps!se como mundialmente hegemnica no mesmo flu-o da e-pansão do domínio colonial da Europa sobre o mundo. 1ão seria possível e-plicar de outro modo, satisfatoriamente em todo caso, a elabora%ão do eurocentrismo como perspectiva hegemnica de conhecimento, da versão eurocêntrica da modernidade e seus dois principais mitos fundacionais um, a idéia!imagem da hist#ria da civiliza%ão humana como uma tra0et#ria que parte de um estado de natureza e culmina na Europa. E dois, outorgar sentido 6s diferen%as entre Europa e não! Europa como diferen%as de natureza 'racial) e não de hist#ria do poder. $mbos os mitos podem ser reconhecidos, inequivocamente, no fundamento do evolucionismo e do dualismo, dois dos elementos nucleares do eurocentrismo. A 2uestão da modernidade
1ão me proponho aqui a entrar numa discussão detida da questão da modernidade e de sua versão eurocêntrica. Gediquei anteriormente outros estudos a esse tema e voltarei a ele depois. Em particular, não prolongarei este trabalho com uma discussão acerca do debate modernidade!p#s!modernidade e sua vasta bibliografia. as é pertinente, para os fins deste trabalho, em especial da parte seguinte, insistir em algumas quest8es '>ui0ano, 3:OOb+ 3::;a+ 3::Oa). ? fato de que os europeus ocidentais imaginaram ser a culmina%ão de uma tra0et#ria civilizat#ria desde um estado de natureza, levou!os também a pensar!se como os mo"ernos da humanidade e de sua hist#ria, isto é, como o novo e ao mesmo tempo o mais avan)a"o "a esp'cie. as 02 que ao mesmo tempo atribuíam ao restante da espécie o pertencimento a uma categoria, por natureza, inferior e por isso anterior, isto é, o passado no processo da espécie, os europeus imaginaram também serem não apenas os portadores e-clusivos de tal modernidade, mas igualmente seus e-clusivos criadores e protagonistas. ? not2vel disso não é que os europeus se imaginaram e pensaram a si mesmos e ao restante da espécie desse modo &isso não é um privilégio dos europeus& mas o fato de que foram capazes de difundir e de estabelecer essa perspectiva hist#rica como hegemnica dentro do novo universo intersub0etivo do padrão mundial do poder. Gesde logo, a resistência intelectual a essa perspectiva hist#rica não tardou em emergir. 1a $mérica Latina, desde fins do século [<[, mas se afirmou sobretudo durante o século [[ e em especial depois da 7egunda Nuerra undial, vinculada com o debate sobre a questão do desenvolvimento!subdesenvolvimento. omo esse debate foi dominado durante um bom tempo pela denominada teoria da moderniza%ão3;, em suas vertentes opostas, para sustentar que a moderniza%ão não implica necessariamente a ocidentaliza%ão das sociedades e das culturas não!européias, um dos argumentos mais usados foi o de que a modernidade é um fenmeno de todas as culturas, não apenas da européia ou ocidental. 7e o conceito de modernidade refere!se Anica ou fundamentalmente 6s idéias de novidade, do avan%ado, do racional!científico, laico, secular, que são as idéias e e-periências normalmente associadas a esse conceito, não cabe dAvida de que é necess2rio admitir que é um fenmeno possível em todas as culturas e em todas as épocas hist#ricas. om todas as suas respectivas particularidades e diferen%as, todas as chamadas altas culturas 'hina, ^ndia, Egito, Nrécia, aia!$steca, Tauantinsuio) anteriores ao atual sistema! mundo, mostram inequivocamente os sinais dessa modernidade, incluído o racional científico, a seculariza%ão do pensamento, etc. 1a verdade, a estas alturas da pesquisa hist#rica seria quase ridículo atribuir 6s altas culturas não!européias uma mentalidade mítico!m2gica como tra%o definidor, por e-emplo, em oposi%ão 6 racionalidade e 6 ciência como características da Europa, pois além dos possíveis ou melhor con0ecturados conteAdos simb#licos, as cidades, os templos e pal2cios, as pirDmides, ou as cidades monumentais, se0a achu @ichu ou (oro (udur, as irriga%8es, as grandes vias de transporte, as tecnologias metalíferas, agropecu2rias, as matem2ticas, os calend2rios, a escritura, a filosofia, as hist#rias, as armas e
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as guerras, mostram o desenvolvimento científico e tecnol#gico em cada uma de tais altas culturas, desde muito antes da forma%ão da Europa como nova id!entidade. ? mais que realmente se pode dizer é que, no atual período, foi!se mais longe no desenvolvimento científico!tecnol#gico e se realizaram maiores descobrimentos e realiza%8es, com o papel hegemnico da Europa e, em geral, do ?cidente. ?s defensores da patente européia da modernidade costumam apelar para hist#ria cultural do antigo mundo heleno!romDnico e ao mundo do editerrDneo antes da $mérica, para legitimar sua defesa da e-clusividade dessa patente. ? que é curioso desse argumento é que escamoteia, primeiro, o fato de que a parte realmente avan%ada desse mundo do editerrDneo, antes das $mérica, 2rea por 2rea dessa modernidade, era islDmico!0udaica. 7egundo, que foi dentro desse mundo que se manteve a heran%a cultural greco!romana, as cidades, o comércio, a agricultura comercial, a minera%ão, os tê-teis, a filosofia, a hist#ria, quando a futura Europa ?cidental estava dominada pelo feudalismo e seu obscurantismo cultural. Terceiro que, muito provavelmente, a mercantiliza%ão da for%a de trabalho, a rela%ão capital!sal2rio, emergiu, precisamente, nessa 2rea e foi em seu desenvolvimento que se e-pandiu posteriormente em dire%ão ao norte da futura Europa. >uarto, que somente a partir da derrota do uatro, finalmente, este padrão de poder mundial é o primeiro que cobre a totalidade da popula%ão do planeta. 1esse sentido específico, a humanidade atual em seu con0unto constitui o primeiro sistema-mun"o 3loal historicamente conhecido, não somente um mun"o como o que talvez tenham sido o chinês, o hindu, o egípcio, o helênico!romano, o maia!asteca ou o tauantinsuiano. 1enhum desses possíveis mundos teve nada em comum e-ceto um dominador colonialCimperial e, apesar de que assim se prop8e da visão colonial eurocêntrica, não se sabe se todos os povos incorporados a um daqueles mundos tiveram também em comum uma perspectiva b2sica a respeito das rela%8es entre o humano e o restante do universo. ?s dominadores coloniais de cada um desses mundos não tinham as condi%8es, nem provavelmente o interesse, de homogeneizar as formas b2sicas de e-istência social de todas as popula%8es de seus 123
domínios. @or outro lado, o atual, o que come%ou a formar!se com a $mérica, tem em comum três elementos centrais que afetam a vida cotidiana da totalidade da popula%ão mundial a coloniali"a"e "o po"er , o capitalismo e o eurocentrismo. laro que este padrão de poder, nem nenhum outro, pode implicar que a heterogeneidade hist#rico!estrutural tenha sido erradicada dentro de seus domínios. ? que sua globalidade implica é um piso b2sico de pr2ticas sociais comuns para todo o mundo, e uma esfera intersub0etiva que e-iste e atua como esfera central de orienta%ão valorativa do con0unto. @or isso as institui%8es hegemnicas de cada Dmbito de e-istência social, são universais para a popula%ão do mundo como modelos intersub0etivos. $ssim, o Estado!na%ão, a família burguesa, a empresa, a racionalidade eurocêntrica. @ortanto, se0a o que for a mentira contida no termo VmodernidadeY, ho0e envolve o con0unto da popula%ão mundial e toda sua hist#ria dos Altimos PP anos, e todos os mundos ou e-!mundos articulados no padrão global de poder, e cada um de seus segmentos diferenciados ou diferenci2veis, pois se constituiu 0unto com, como parte da redefini%ão ou reconstitui%ão hist#rica de cada um deles por sua incorpora%ão ao novo e comum padrão de poder mundial. @ortanto, também como articula%ão de muitas racionalidades. Em outras palavras, 02 que se trata de uma hist#ria nova e diferente, com e-periências específicas, as quest8es que esta hist#ria permite e obriga a abrir não podem ser indagadas, muito menos contestadas, com o conceito eurocêntrico de modernidade. @ela mesma razão, dizer que é um fenmeno puramente europeu ou que ocorre em todas as culturas, teria ho0e um impossível sentido. Trata!se de algo novo e diferente, específico deste padrão de poder mundial. 7e h2 que preservar o nome, deve tratar!se, de qualquer modo, de outra modernidade. $ questão central que nos interessa aqui é a seguinte o que é o realmente novo com rela%ão 6 modernidadeX 1ão somente o que desenvolve e redefine e-periências, tendências e processos de outros mundos, mas o que foi produzido na hist#ria pr#pria do atual padrão de poder mundialX Gussel '3::) props a categoria de transmo"erni"a"e como alternativa para a pretensão eurocêntrica de que a Europa é a produtora original da modernidade. 7egundo essa proposta, a constitui%ão do ego individual diferenciado é a novidade que ocorre com a $mérica e é a marca da modernidade, mas tem lugar não s# na Europa mas em todo o mundo que se configura a partir da $mérica. Gussel acerta no alvo ao refutar um dos mitos prediletos do eurocentrismo. as é controverso que o ego individual diferenciado se0a um fenmeno e-clusivamente pertencente ao período iniciado com a $mérica. B2, claro, uma rela%ão umbilical entre os processos hist#ricos que se geram a partir da $mérica e as mudan%as da sub0etividade ou, melhor dito, da intersub0etividade de todos os povos que se vão integrando no novo padrão de poder mundial. E essas transforma%8es levam 6 constitui%ão de uma nova sub0etividade, não s# individual, mas coletiva, de uma nova intersub0etividade. Esse é, portanto, um fenmeno novo que ingressa na hist#ria com a $mérica e nesse sentido faz parte da modernidade. as quaisquer que fossem, essas mudan%as não se constituem da sub0etividade individual, nem coletiva, do mundo pré!e-istente, voltada para si mesma, ou, para repetir a velha imagem, essas mudan%as não nascem como inerva, da cabe%a de eus, mas são a e-pressão sub0etiva ou intersub0etiva do que os povos do mundo estão fazendo nesse momento. Gessa perspectiva, é necess2rio admitir que a $mérica e suas conseqências imediatas no mercado mundial e na forma%ão de um novo padrão de poder mundial, são uma mu"an)a $ist,rica verdadeiramente enorme e que não afeta somente a Europa, mas o con0unto do mundo. 1ão se trata de mudan%as dentro do mundo conhecido, que não alteram senão alguns de seus tra%os. #rata-se "a mu"an)a "o mun"o como tal. Este é, sem dAvida, o elemento b2sico da nova sub0etividade a percep)*o "a mu"an)a $ist,rica. " esse elemento o que desencadeia o processo de constitui%ão de uma nova perspectiva sobre o tempo e sobre a hist#ria. $ percep%ão da mudan%a leva 6 idéia do futuro, 02 que é o Anico territ#rio do tempo no qual podem ocorrer as mudan%as. ? futuro é um territ#rio temporal aberto. ? tempo pode ser novo, pois não é somente a e-tensão do passado. E, dessa maneira, a hist#ria pode ser percebida 02 não s# como algo que ocorre, se0a como algo natural ou produzido por decis8es divinas ou misteriosas como o destino, mas como algo que pode ser produzido pela a%ão das pessoas, por seus c2lculos, suas inten%8es, suas decis8es, portanto como algo que pode ser pro0etado e, conseqentemente, ter sentido '>ui0ano, 3:OOb). om a $mérica inicia!se, assim, todo um universo de novas rela%8es materiais e intersub0etivas. " pertinente, por tudo isso, admitir que o conceito de modernidade não se refere somente ao que ocorre com a sub0etividade, não obstante toda a tremenda importDncia desse processo, se0a pela emergência do ego individual, ou de um novo universo de rela%8es intersub0etivas entre os indivíduos e entre os povos integrados ou que se integram no novo sistema!mundo e seu específico padrão de poder mundial. ? conceito de modernidade d2 conta, do mesmo modo, das altera%8es na dimensão material das rela%8es sociais. >uer 124
dizer, as mudan%as ocorrem em todos os Dmbitos da e-istência social dos povos, e portanto de seus membros individuais, tanto na dimensão material como na dimensão sub0etiva dessas rela%8es. E como se trata de processos que se iniciam com a constitui%ão da $mérica, de um novo padrão de poder mundial e da integra%ão dos povos de todo o mundo nesse processo, de todo um comple-o sistema!mundo, é também imprescindível admitir que se trata de um período hist#rico inteiro. Em outras palavras, a partir da $mérica um novo espa%oCtempo se constitui, material e sub0etivamente essa é a mentira do conceito de modernidade. 1ão obstante, foi decisivo para o processo de modernidade que o centro hegemnico desse mundo estivesse localizado na zona centro!norte da Europa ?cidental. ui0ano, 3::Oa+ ;PPPa). " ali, precisamente, onde a hist#ria desses processos diferencia tão claramente a Europa ?cidental e o resto do mundo, no caso a $mérica Latina. 1a Europa ?cidental, a concentra%ão da rela%ão capital!sal2rio é o ei-o principal das tendências das rela%8es de classifica%ão social e da correspondente estrutura de poder. ui0ano, 3:OOb+ 3::9).
125
%%& Colonialidade do poder e euroentrismo $ elabora%ão intelectual do processo de modernidade produziu uma perspectiva de conhecimento e um modo de produzir conhecimento que demonstram o car2ter do padrão mundial de poder colonialCmoderno, capitalista e eurocentrado. Essa perspectiva e modo concreto de produzir conhecimento se reconhecem como eurocentrismo3Q. Eurocentrismo é, aqui, o nome de uma perspectiva de conhecimento cu0a elabora%ão sistem2tica come%ou na Europa ?cidental antes de mediados do século [*<<, ainda que algumas de suas raízes são sem dAvida mais velhas, ou mesmo antigas, e que nos séculos seguintes se tornou mundialmente hegemnica percorrendo o mesmo flu-o do domínio da Europa burguesa. 7ua constitui%ão ocorreu associada 6 específica seculariza%ão burguesa do pensamento europeu e 6 e-periência e 6s necessidades do padrão mundial de poder capitalista, colonialCmoderno, eurocentrado, estabelecido a partir da $mérica. 1ão se trata, em conseqência, de uma categoria que implica toda a hist#ria cognoscitiva em toda a Europa, nem na Europa ?cidental em particular. Em outras palavras, não se refere a todos os modos de conhecer de todos os europeus e em todas as épocas, mas a uma específica racionalidade ou perspectiva de conhecimento que se torna mundialmente hegemnica colonizando e sobrepondo!se a todas as demais, prévias ou diferentes, e a seus respectivos saberes concretos, tanto na Europa como no resto do mundo. 1o Dmbito deste trabalho, proponho!me a discutir algumas de suas quest8es mais diretamente vinculadas com a e-periência hist#rica da $mérica Latina, mas que, obviamente, não se referem somente a ela. Capital e apitalismo
$ntes que mais nada, a teoria de uma seqência hist#rica unilinear e universalmente v2lida entre as formas conhecidas de trabalho e de controle do trabalho, que foram também conceitualizadas como rela%8es ou modos de produ%ão, especialmente entre capital e pré!capital, precisa ser, em todo caso com respeito 6 $mérica, aberta de novo como questão maior do debate científico!social contemporDneo. Go ponto de vista eurocêntrico, reciprocidade, escravidão, servidão e produ%ão mercantil independente são todas percebidas como uma seqência hist#rica prévia 6 mercantiliza%ão da for%a de trabalho. 7ão pré! capital. E são consideradas não s# como diferentes mas como radicalmente incompatíveis com o capital. ? fato é, contudo, que na $mérica elas não emergiram numa seqência hist#rica unilinear+ nenhuma delas foi uma mera e-tensão de antigas formas pré!capitalistas, nem foram tampouco incompatíveis com o capital. 1a $mérica a escravidão foi deliberadamente estabelecida e organizada como mercadoria para produzir mercadorias para o mercado mundial e, desse modo, para servir aos prop#sitos e necessidades do capitalismo. Go mesmo modo, a servidão imposta aos índios, inclusive a redefini%ão das institui%8es da reciprocidade, para servir os mesmos fins, isto é, para produzir mercadorias para o mercado mundial. E enfim, a produ%ão mercantil independente foi estabelecida e e-pandida para os mesmos prop#sitos.
toda probabilidade não teria podido desenvolver!se de outro modo. #voluionismo e dualismo
omo no caso das rela%8es entre capital e pré!capital, uma linha similar de idéias foi elaborada acerca das rela%8es entre Europa e não!Europa. omo 02 foi apontado, o mito fundacional da versão eurocêntrica da modernidade é a idéia do estado de natureza como ponto de partida do curso civilizat#rio cu0a culmina%ão é a civiliza%ão européia ou ocidental. Gesse mito se origina a especificamente eurocêntrica perspectiva evolucionista, de movimento e de mudan%a unilinear e unidirecional da hist#ria humana. Tal mito foi associado com a classifica%ão racial da popula%ão do mundo. Essa associa%ão produziu uma visão na qual se amalgamam, parado-almente, evolucionismo e dualismo. Essa visão s# adquire sentido como e-pressão do e-acerbado etnocentrismo da recém constituída Europa, por seu lugar central e dominante no capitalismo mundial colonialCmoderno, da vigência nova das idéias mitificadas de humanidade e de progresso, insepar2veis produtos da
Gomogeneidadeontinuidade e +eterogeneidadedesontinuidade
omo é verific2vel agora, a perspectiva eurocêntrica de conhecimento, devido a sua crise radical, é ho0e um campo plet#rico de quest8es. $qui é pertinente ainda dei-ar registradas duas delas. @rimeiro, uma idéia da mudan%a hist#rica como um processo ou um momento no qual uma entidade ou unidade se transforma de maneira continua, homogênea e completa em outra coisa e abandona de maneira absoluta a cena hist#rica.
Jinalmente, pelo momento e para nossos prop#sitos aqui, é pertinente abrir a questão das rela%8es entre o corpo e o não!corpo na perspectiva eurocêntrica, tanto por sua gravita%ão no modo eurocêntrico de produzir conhecimento, como devido a que em nossa e-periência tem uma estreita rela%ão com as de ra%a e de gênero. $ idéia de diferencia%ão entre o VcorpoY e o Vnão!corpoY na e-periência humana é virtualmente universal 6 hist#ria da humanidade, comum a todas as VculturasY ou Vciviliza%8esY historicamente conhecidas. as é também comum a todas &até o aparecimento do eurocentrismo& a permanente co! presen%a dos dois elementos como duas dimens8es não separ2veis do ser humano, em qualquer aspecto, instDncia ou comportamento. ? processo de separa%ão destes elementos do ser humano é parte de uma longa hist#ria do mundo cristão sobre a base da idéia da primazia da ValmaY sobre o VcorpoY. @orém, esta hist#ria mostra também uma longa e não resolvida ambivalência da teologia cristã sobre este ponto em particular. ertamente, é 128
a ValmaY o ob0eto privilegiado de salva%ão. as no final das contas, é o VcorpoY o ressuscitado, como culmina%ão da salva%ão. ertamente, também, foi durante a cultura repressiva do cristianismo, como resultado dos conflitos com mu%ulmanos e 0udeus, sobretudo entre os séculos [* e [*<, em plena
%%%& #uroentrismo e euer dizer, a imagem que encontramos nesse espelho não é de todo quimérica, 02 que possuímos tantos e tão importantes tra%os hist#ricos 129
europeus em tantos aspectos, materiais e intersub0etivos. as, ao mesmo tempo, somos tão profundamente distintos. Gaí que quando olhamos nosso espelho eurocêntrico, a imagem que vemos se0a necessariamente parcial e distorcida. $qui a tragédia é que todos fomos conduzidos, sabendo ou não, querendo ou não, a ver e aceitar aquela imagem como nossa e como pertencente unicamente a n#s. Gessa maneira seguimos sendo o que não somos. E como resultado não podemos nunca identificar nossos verdadeiros problemas, muito menos resolvê!los, a não ser de uma maneira parcial e distorcida. ) euroentrismo e a 52uestão naional6! o #stado-nação
/m dos e-emplos mais claros desta tragédia de equívocos na $mérica Latina é a hist#ria da chamada questão nacional. Gito de outro modo, do problema do moderno Estado!na%ão na $mérica Latina. 1a%8es e Estados são um velho fenmeno. Todavia, aquilo que chamamos de moderno Estado!na%ão é uma e-periência muito específica. Trata!se de uma sociedade nacionalizada e por isso politicamente organizada como um Estado!na%ão. ui0ano, 3::Oa). /m Estado!na%ão é uma espécie de sociedade individualizada entre as demais. @or isso, entre seus membros pode ser sentida como identidade. @orém, toda sociedade é uma estrutura de poder. " o poder aquilo que articula formas de e-istência social dispersas e diversas numa totalidade Anica, uma sociedade. Toda estrutura de poder é sempre, parcial ou totalmente, a imposi%ão de alguns, freqentemente certo grupo, sobre os demais. onseqentemente, todo Estado!na%ão possível é uma estrutura de poder, do mesmo modo que é produto do poder. Em outros termos, do modo como foram configuradas as disputas pelo controle do trabalho, seus recursos e produtos+ do se-o, seus recursos e produtos+ da autoridade e de sua violência específica+ da intersub0etividade e do conhecimento. 1ão obstante, se um Estado!na%ão moderno pode e-pressar!se em seus membros como uma identidade, não é somente devido a que pode ser imaginado como uma comunidade ;;. ?s membros precisam ter em comum algo real, não s# imaginado, algo que compartilhar. E isso, em todos os reais Estados!na%ão modernos, é uma participa%ão mais ou menos democr2tica na distribui%ão do controle do poder. Esta é a maneira específica de homogeneiza%ão das pessoas num Estado!na%ão moderno. Toda homogeneiza%ão da popula%ão de um Estado!na%ão moderno é desde logo parcial e temporal e consiste na comum participa%ão democr2tica no controle da gera%ão e da gestão das institui%8es de autoridade pAblica e de seus específicos mecanismos de violência.
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de limpeza de sangueY;9. @or outro lado, o processo de centraliza%ão estatal que antecedeu na Europa ?cidental a forma%ão de Estados!na%ão, foi paralelo 6 imposi%ão da domina%ão colonial que come%ou com a $mérica. >uer dizer, simultaneamente com a forma%ão dos impérios coloniais desses primeiros Estados centrais europeus. ? processo tem, pois, um duplo movimento hist#rico. ome%ou como uma coloniza%ão interna de povos com identidades diferentes, mas que habitavam os mesmos territ#rios transformados em espa%os de domina%ão interna, ou se0a, nos pr#prios territ#rios dos futuros Estados!na%ão. E continuou paralelamente 6 coloniza%ão imperial ou e-terna de povos que não s# tinham identidades diferentes das dos colonizadores, mas que habitavam territ#rios que não eram considerados como os espa%os de domina%ão interna dos colonizadores, quer dizer, não eram os mesmos territ#rios dos futuros Estados!na%ão dos colonizadores. 7e indagamos a partir de nossa atual perspectiva hist#rica aquilo que sucedeu com os primeiros Estados centrais europeus, seus espa%os de domina%ão 'popula%8es e territ#rios) e seus respectivos processos de nacionaliza%ão, observa!se que as diferen%as são muito visíveis. $ e-istência de um forte Estado central não é suficiente para produzir um processo de relativa homogeneiza%ão de uma popula%ão previamente diversa e heterogênea, para produzir assim uma identidade comum e uma forte e duradoura lealdade a tal identidade. Entre esses casos, a Jran%a é provavelmente a e-periência mais bem!sucedida, bem como a Espanha é a menos bem!sucedida. @or que a Jran%a sim e a Espanha nãoX $ Espanha era em seus prim#rdios muito mais rica e poderosa que seus pares. @orém, ap#s a e-pulsão dos mu%ulmanos e 0udeus dei-ou de ser produtiva e pr#spera para transformar!se em correia de transmissão dos recursos da $mérica aos centros emergentes do capital financeiro mercantil. $o mesmo tempo, ap#s o violento e bem!sucedido ataque contra a autonomia das comunidades camponesas e das cidades e burgos, viu!se presa numa estrutura senhorial de poder e sob a autoridade de uma monarquia e de uma igre0a repressivas e corruptas. $ onarquia da Espanha dedicou!se, ademais, a uma política bélica em busca da e-pansão de seu poder senhorial na Europa, em lugar de uma hegemonia sobre o mercado mundial e o capital comercial e financeiro como fizeram mais tarde a
7e e-aminarmos a e-periência da $mérica, se0a em suas 2reas hispDnica ou britDnica, podemos reconhecer diferen%as e fatores b2sicos equivalentes. 1a 2rea britDnico!americana, a ocupa%ão do territ#rio foi desde o come%o violenta. as antes da
estadunidense como ra%a colonizada. 1o início, portanto, rela%8es colonialCraciais e-istiram somente entre brancos e negros. Este Altimo grupo era fundamental para a economia da sociedade colonial, como durante um primeiro longo momento para a economia da nova na%ão. Todavia, demograficamente os negros eram uma relativamente reduzida minoria, enquanto os brancos compunham a grande maioria. >uando da funda%ão dos Estados /nidos como país independente, o processo de constitui%ão do novo padrão de poder levou desde o come%o 6 configura%ão de um Estado!na%ão. Em primeiro lugar, apesar da rela%ão colonial de domina%ão entre brancos e negros e do e-termínio colonialista da popula%ão índia, dada a condi%ão avassaladoramente ma0orit2ria dos brancos, é inevit2vel admitir que esse novo Estado!na%ão era genuinamente representativo da maioria da popula%ão. Essa branquitude social da sociedade estadunidense foi inclusive aprofundada com a imigra%ão de milh8es de europeus durante o século [<[. Em segundo lugar, a conquista dos territ#rios indígenas resultou na abundDncia da oferta de um recurso b2sico de produ%ão, a terra. Este pde ser, por conseqência, apropriado e distribuído de maneira não unicamente concentrada sob o controle de pouquíssimas pessoas, mas pelo contr2rio pde ser, ao mesmo tempo, parcialmente concentrado em grandes latifAndios e também apropriado ou distribuído numa vasta propor%ão de média e pequenas propriedades. Equivalente, pois, a uma distribui%ão democr2tica de recursos.
primeira vista, a situa%ão nos países do chamado one 7ul da $mérica Latina '$rgentina, hile e /ruguai) foi similar 6 ocorrida nos Estados /nidos. ?s índios, em sua maioria, tampouco foram integrados 6 sociedade colonial, na medida em que eram povos de mais ou menos a mesma estrutura daqueles da $mérica do 1orte, sem disponibilidade para transformar!se em trabalhadores e-plorados, não conden2veis a trabalhar for%adamente e de maneira disciplinada para os colonos. 1esses três países, também a popula%ão negra foi uma minoria durante o período colonial, em compara%ão com outras regi8es dominadas por espanh#is ou portugueses. E os dominantes dos novos países do one 7ul consideraram, como no caso dos Estados /nidos, necess2ria a conquista do territ#rio que os índios povoavam e o e-termínio destes como forma r2pida de homogeneizar a popula%ão nacional e, desse modo, facilitar o processo de constitui%ão de um Estado!na%ão moderno, 6 européia. 1a $rgentina e no /ruguai isso foi feito no século [<[. E no hile durante as três primeiras décadas do século [[. Estes países atraíram também milh8es de imigrantes 132
europeus, consolidando em aparência a branquitude das sociedades da $rgentina, do hile e do /ruguai. Em determinado sentido, isto também consolidou em aparência o processo de homogeniza%ão em tais países. /m elemento crucial introduziu, contudo, uma diferen%a b2sica nesses países em compara%ão com o caso estadunidense, muito em especial na $rgentina. Enquanto nos Estados /nidos a distribui%ão da terra produziu!se de uma maneira menos concentrada durante um importante período, na $rgentina a apropria%ão da terra ocorreu de uma maneira completamente distinta. $ e-trema concentra%ão da propriedade da terra, em particular das terras conquistadas aos índios, tornou impossível qualquer tipo de rela%8es sociais democr2ticas entre os pr#prios brancos e em conseqência de toda rela%ão política democr2tica. 7obre essa base, em lugar de uma sociedade democr2tica, capaz de representar!se e organizar!se politicamente num Estado democr2tico, o que se constituiu foi uma sociedade e um Estado olig2rquicos, s# parcialmente desmantelados desde a 7egunda Nuerra undial. 7em dAvida, essas determina%8es se associaram ao fato de que a sociedade colonial nesse territ#rio, sobretudo na costa atlDntica que se tornou hegemnica sobre o resto, foi pouco desenvolvida e por isso seu reconhecimento como sede de um *ice!reino foi tardio 'segunda metade do século [*<<<). 7ua emergência como uma das 2reas pr#speras do mercado mundial foi r2pida desde o Altimo quarto do século [*<<<, o que impulsionou no século seguinte uma massiva migra%ão do sul, do centro e do leste da Europa. as essa vasta popula%ão migrat#ria não encontrou uma sociedade com estrutura, hist#ria e identidade suficientemente densas e est2veis, para incorporar!se a ela e com ela identificar!se, como ocorreu no caso dos Estados /nidos e sem dAvida no hile e no /ruguai. Em fins do século [<[ a popula%ão de (uenos $ires compunha!se em mais de OP por imigrantes de origem européia. Levou tempo, por isso provavelmente, para que se considerassem com identidade nacional e cultural pr#prias diferentes da européia, enquanto re0eitavam e-plicitamente a identidade associada 6 heran%a hist#rica latino!americana e, em particular, qualquer parentesco com a popula%ão indígena;. $ concentra%ão da terra foi igualmente forte no hile, e um pouco menor no /ruguai. Ge qualquer modo, diferentemente da $rgentina, os imigrantes europeus encontraram nesses países uma sociedade, um Estado, uma identidade 02 suficientemente densos e constituídos, aos quais se incorporaram e com os quais se identificaram mais pronta e completamente que no outro caso. 1o caso do hile, por outra lado, a e-pansão territorial 6s custas da (olívia e do @eru permitia 6 burguesia chilena o controle de recursos cu0a importDncia marcou desde então a hist#ria do país salitre primeiro, e cobre pouco depois. 1as pampas salitreiras formou!se o primeiro grande contingente de assalariados oper2rios da $mérica Latina, desde mediados do século [<[, e mais tarde foi no cobre que se formou a coluna vertebral das organiza%8es sociais e políticas dos oper2rios chilenos da velha repAblica. ?s benefícios, distribuídos entre a burguesia britDnica e a chilena, permitiram o impulso da agricultura comercial e da economia comercial urbana. Jormaram!se novas camadas de assalariados urbanos e novas camadas médias relativamente amplas, 0unto com a moderniza%ão de uma parte importante da burguesia senhorial. Joram essas condi%8es as que tornaram possível que os trabalhadores e as classes médias pudessem negociar com algum ê-ito, desde 3:FP!F, as condi%8es da domina%ãoCe-plora%ãoCconflito.
1o restante dos países latino!americanos, essa tra0et#ria eurocêntrica em dire%ão ao Estado!na%ão se demonstrou até agora impossível de chegar a termo. $p#s a derrota de Tupac $maru e do Baiti, s# nos casos do é-ico e da (olívia chegou!se tão longe quanto possível no caminho da descoloniza%ão social, através de um processo revolucion2rio mais ou menos radical, durante o qual a descoloniza%ão do poder 133
pde percorrer um trecho importante antes de ser contida e derrotada. 1esses países, ao come%ar a uer dizer, uma descoloniza%ão real e global do poder. 7ua derrota produziu!se pelas repetidas interven%8es militares por parte dos Estados /nidos. ? outro processo nacional na $mérica Latina, no *ice!reino do @eru, liderado por Tupac $maru << em 3QOP, foi derrotado cedo. Gesde então, em todas as demais colnias ibéricas os grupos dominantes tiveram ê-ito precisamente em evitar a descoloniza%ão da sociedade enquanto lutavam por Estados independentes. Esses novos Estados não poderiam ser considerados de modo algum como nacionais, salvo que se admita que essa e-ígua minoria de colonizadores no controle fosse genuinamente representante do con0unto da popula%ão colonizada. $s respectivas sociedades, baseadas na domina%ão colonial de índios, negros e mesti%os, não poderiam tampouco ser consideradas nacionais, e muito menos democr2ticas.
@or outro lado, nas outras sociedades ibero!americanas, a pequena minoria branca no controle dos Estados independentes e das sociedades coloniais não podia ter tido nem sentido nenhum interesse social comum com os índios, negros e mesti%os. $o contr2rio, seus interesses sociais eram e-plicitamente antagnicos com rela%ão aos dos servos índios e os escravos negros, dado que seus privilégios compunham!se precisamente do domínioCe-plora%ão dessas gentes. Ge modo que não havia nenhum terreno de interesses comuns entre brancos e não brancos, e, conseqentemente, nenhum interesse nacional comum a todos eles. @or isso, do ponto de vista dos dominadores, seus interesses sociais estiveram muito mais pr#-imos dos interesses de seus pares europeus, e por isso estiveram sempre inclinados a seguir os interesses da burguesia européia. Eram, pois, dependentes.
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Eram dependentes dessa maneira específica, não porque estivessem subordinados por um poder econmico ou político maior. Ge quemX Espanha ou @ortugal eram então demasiadamente fracos, subdesenvolviam!se, não podiam e-ercer nenhum neocolonialismo como ingleses ou franceses em certos países da Hfrica depois da independência política desses países. ?s Estados /nidos encontravam!se absorvidos na conquista das terras dos índios e no e-termínio dessa popula%ão, iniciando sua e-pansão imperial sobre parte do aribe, ainda sem capacidade de e-pandir seu domínio econmico ou político. $ uando muito mais tarde foi necess2rio libertar os escravos, não foi para assalari2!los, mas para substituí!los por trabalhadores imigrantes de outros países, europeus e asi2ticos. $ elimina%ão da servidão dos índios é recente. 1ão havia nenhum interesse social comum, nenhum mercado pr#prio a defender, o que teria incluído o assalariado, 02 que nenhum mercado local era de interesse dos dominadores. 1ão havia, simplesmente, nenhum interesse nacional. $ dependência dos senhores capitalistas não provinha da subordina%ão nacional. Esta foi, pelo contr2rio, a conseqência da comunidade de interesses raciais. Estamos lidando aqui com o conceito da dependência hist#rico!estrutural, que é muito diferente das propostas nacionalistas da dependência e-terna ou estrutural '>ui0ano, 3:RQ). $ subordina%ão veio mais adiante, precisamente devido 6 dependência e não o contr2rio durante a crise econmica mundial dos anos FP, a burguesia com mais capital comercial da $mérica Latina '$rgentina, (rasil, é-ico, hile, /ruguai e até certo ponto a olmbia) foi for%ada a produzir localmente os bens que serviam para seu consumo ostentador e que antes tinham que importar. Este foi o início do peculiar caminho latino!americano de industrializa%ão dependente a substitui%ão dos bens importados para o consumo ostentador dos senhores e dos pequenos grupos médios associados a eles, por produtos locais destinados a esse consumo. @ara tal finalidade não era necess2rio reorganizar globalmente as economias locais, assalariar massivamente servos, nem produzir tecnologia pr#pria. $ industrializa%ão através da substitui%ão de importa%8es é, na $mérica Latina, um caso revelador das implica%8es da colonialidade do poder ;O. 1este sentido, o processo de independência dos Estados na $mérica Latina sem a descoloniza%ão da sociedade não pde ser, não foi, um processo em dire%ão ao desenvolvimento dos Estados!na%ão modernos, mas uma rearticula%ão da colonialidade do poder sobre novas bases institucionais. Gesde então, durante quase ;PP anos, estivemos ocupados na tentativa de avan%ar no caminho da nacionaliza%ão de nossas sociedades e nossos Estados. as ainda em nenhum país latino!americano é possível encontrar uma sociedade plenamente nacionalizada nem tampouco um genuíno Estado!na%ão. $ homogeniza%ão nacional da popula%ão, segundo o modelo eurocêntrico de na%ão, s# teria podido ser alcan%ada através de um processo radical e global de democratiza%ão da sociedade e do Estado. $ntes de mais nada, essa democratiza%ão teria implicado, e ainda deve implicar, o processo da descoloniza%ão das rela%8es sociais, políticas e culturais entre as ra%as, ou mais propriamente entre grupos e elementos de e-istência social europeus e não europeus. 1ão obstante, a estrutura de poder foi e ainda segue estando organizada sobre e ao redor do ei-o colonial. $ constru%ão da na%ão e sobretudo do Estado!na%ão foram conceitualizadas e trabalhadas contra a maioria da popula%ão, neste caso representada pelos índios, negros e mesti%os. $ colonialidade do poder ainda e-erce seu domínio, na maior parte da $mérica Latina, contra a democracia, a 135
cidadania, a na%ão e o Estado!na%ão moderno. $tualmente podem!se distinguir quatro tra0et#rias hist#ricas e linhas ideol#gicas acerca do problema do Estado!na%ão 3. /m limitado mas real processo de descoloniza%ãoCdemocratiza%ão através de revolu%8es radicais como no é-ico e na (olívia, depois das derrotas do Baiti e de Tupac $maru. 1o é-ico, o processo de descoloniza%ão do poder come%ou a ver!se paulatinamente limitado desde os anos RP até entrar finalmente num período de crise no final dos anos QP. 1a (olívia a revolu%ão foi derrotada em 3:R. ;. /m limitado mas real processo de homogeneiza%ão colonial 'racial), como no one 7ul 'hile, /ruguai, $rgentina), por meio de um genocídio massivo da popula%ão aborígene. /ma variante dessa linha é a olmbia, onde a popula%ão original foi quase e-terminada durante a colnia e substituída pelos negros. F. /ma sempre frustrada tentativa de homogeneiza%ão cultural através do genocídio cultural dos índios, negros e mesti%os, como no é-ico, @eru, Equador, Nuatemala!$mérica entral e (olívia. 9. $ imposi%ão de uma ideologia de Vdemocracia racialY que mascara a verdadeira discrimina%ão e a domina%ão colonial dos negros, como no (rasil, na olmbia e na *enezuela. Gificilmente alguém pode reconhecer com seriedade uma verdadeira cidadania da popula%ão de origem africana nesses países, ainda que as tens8es e conflitos raciais não se0am tão violentos e e-plícitos como na Hfrica do 7ul ou no sul dos Estados /nidos. ? que estas comprova%8es indicam é que h2, sem dAvida, um elemento que impede radicalmente o desenvolvimento e a culmina%ão da nacionaliza%ão da sociedade e do Estado, na mesma medida em que impede sua democratiza%ão, 02 que não se encontra nenhum e-emplo hist#rico de modernos Estado!na%ão que não se0am o resultado dessa democratiza%ão social e política. >ual é ou pode ser esse elementoX 1o mundo europeu, e por isso na perspectiva eurocêntrica, a forma%ão de Estados!na%ão foi teorizada, imaginada na verdade, como e-pressão da homogeneiza%ão da popula%ão em termos de e-periências hist#ricas comuns. E 6 primeira vista, os casos e-itosos de nacionaliza%ão de sociedades e Estados na Europa parece dar razão a esse enfoque. ? que encontramos na hist#ria conhecida é, desde logo, que essa homogeneiza%ão consiste na forma%ão de um espa%o comum de identidade e de sentido para a popula%ão de um espa%o de domina%ão. E isso, em todos os casos, é o resultado da democratiza%ão da sociedade, que desse modo pode organizar!se e e-pressar!se num Estado democr2tico. $ pergunta pertinente, a estas alturas do debate, é por que isso foi possível na Europa ?cidental, e com as limita%8es conhecidas, em todo o mundo de identidade européia 'anad2, E/$, $ustr2lia, 1ova elDndia, por e-emplo)X @or que não foi possível, até ho0e, senão de modo parcial e prec2rio, na $mérica LatinaX @ara come%ar, teria sido possível na Jran%a, o caso cl2ssico de Estado!na%ão moderno, essa democratiza%ão social e radical se o fator racial tivesse estado presenteX " muito pouco prov2vel. Bo0e em dia é f2cil observar na Jran%a o problema nacional e o debate produzido pela presen%a de popula%ão não! branca, origin2ria das e-!colnias francesas. ?bviamente não é um assunto de etnicidade nem de cren%as religiosas. 1ovamente basta recordar que h2 um século o aso GreUfus demonstrou a capacidade de discrimina%ão dos franceses, mas seu final também demonstrou que para muitos deles a identidade de origem não era requisito determinante para ser membro da na%ão francesa, desde que a cor fosse francesa. ?s 0udeus franceses são ho0e mais franceses que os filhos de africanos, 2rabes e latino! americanos nascidos na Jran%a.
#uroentrismo e revolução na Amria $atina
?utro caso claro desse tr2gico desencontro entre nossa e-periência e nossa perspectiva de conhecimento é o debate e a pr2tica de pro0etos revolucion2rios. 1o século [[ a avassaladora maioria da esquerda latino! americana, adepta do aterialismo Bist#rico, manteve o debate basicamente em torno de dois tipos de revolu%8es democr2tico!burguesa e socialista. Iivalizando com essa esquerda, o movimento denominado aprista &o $@I$ '$lian%a @opular Ievolucion2ria $nti!imperialista) no @eru, a $G '$%ão Gemocr2tica na *enezuela), o 1I 'ovimento 1acionalista Ievolucion2rio) na (olívia, o L1 'ovimento de Liberta%ão 1acional) na osta Iica, o ovimento Ievolucion2rio $utêntico e os ?rtodo-os em uba entre os mais importantes& pela boca de seu maior te#rico, o peruano BaUa de la Torre, props originalmente, entre 3:;! 3:F, a chamada Ievolu%ão $nti!imperialista, como um processo de depura%ão do car2ter capitalista da economia e da sociedade latino!americanas, sobre a base do controle nacional!estatal dos principais recursos de produ%ão, como uma transi%ão em dire%ão a uma revolu%ão socialista. Gesde o fim da 7egunda Nuerra undial, esse pro0eto transitou definitivamente para uma espécie de social!liberalismo ;:, e se vai esgotando desse modo. Ge maneira breve e esquem2tica, mas não arbitr2ria, pode!se apresentar o debate latino!americano sobre a revolu%ão democr2tico!burguesa como um pro0eto no qual a burguesia organiza a classe oper2ria, os camponeses e outros grupos dominados para arrancar dos senhores feudais o controle do Estado e para reorganizar a sociedade e o Estado nos termos do capital e da burguesia. $ suposi%ão central desse pro0eto é que a sociedade na $mérica Latina é fundamentalmente feudal, ou semifeudal na melhor das hip#teses, 02 que o capitalismo é ainda incipiente, marginal e subordinado. $ revolu%ão socialista, por sua vez, concebe!se como a erradica%ão da burguesia do controle do Estado pela classe oper2ria, a classe trabalhadora por e-celência, 6 frente de uma coalizão das classes e-ploradas e dominadas, para impor o controle estatal dos meios de produ%ão, e construir a nova sociedade por meio do Estado. $ tese dessa proposta é, obviamente, a de que a economia e portanto a sociedade e o Estado na $mérica Latina são basicamente capitalistas. Em sua linguagem, isso implica que o capital como rela%ão social de produ%ão é dominante, e que conseqentemente o burguês é também dominante na sociedade e no Estado. $dmite que h2 resíduos feudais, e portanto tarefas democr2tico!burguesas no tra0eto da revolu%ão socialista. Ge fato, o debate político do Altimo meio século na $mérica Latina tem estado ancorado na questão da pretensa feudalidadeCsemifeudalidade da economia, da sociedade e do Estado, ou se seriam capitalistas. $ maioria da esquerda latino!americana, até h2 poucos anos, aderia 6 proposta democr2tico!burguesa, seguindo antes de tudo os alinhamentos centrais do socialismo real ou do campo socialista, se0a com sede em oscou ou em @equim. @ara acreditar que na $mérica Latina uma revolu%ão democr2tico!burguesa baseada no modelo europeu é não s# possível, mas necess2ria, primeiro é preciso admitir na $mérica, e mais precisamente na $mérica Latina 3) a rela%ão seqencial entre feudalismo e capitalismo+ ;) a e-istência hist#rica do feudalismo e conseqentemente o conflito hist#rico antagnico entre a aristocracia feudal e a burguesia+ e F) uma burguesia interessada em levar a cabo semelhante empreendimento revolucion2rio. 7abemos que na hina no início dos anos FP, ao props a idéia da revolu%ão democr2tica de novo tipo, porque a burguesia 02 não est2 interessada nessa sua missão hist#rica, e tampouco é capaz de lev2!la a cabo. 1este caso, uma coalizão de classes e-ploradasCdominadas, sob a lideran%a da classe trabalhadora, deve substituir a burguesia e empreender a nova revolu%ão democr2tica. 1a $mérica, contudo, como em escala mundial desde PP anos atr2s, o capital e-iste apenas como o ei-o dominante da articula%ão con0unta de todas as formas historicamente conhecidas de controle e e-plora%ão do trabalho, configurando assim um Anico padrão de poder, hist#rico!estruturalmente heterogêneo, com rela%8es descontínuas e conflitivas entre seus componentes. 1enhuma seqência evolucionista entre os modos de produ%ão, nenhum feudalismo anterior, separado do capital e a ele antagnico, nenhum senhorio feudal no controle do Estado, ao qual uma burguesia sedenta de poder tivesse que desalo0ar por meios revolucion2rios. 7e seqência houvera, é sem dAvida surpreendente que o movimento seguidor do aterialismo Bist#rico não ha0a lutado por uma revolu%ão anti!escravista, prévia 6 revolu%ão antifeudal, prévia por sua 6 revolu%ão anticapitalista. @orque na maior parte deste continente 'E/$, todo o aribe, incluindo *enezuela, olmbia, o litoral do Equador e do @eru, (rasil), o escravismo foi mais generalizado e mais poderoso. as, é claro, a escravidão terminou antes do século [[. E foram os senhores feudais os que herdaram o poder. 1ão é verdadeX
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/ma revolu%ão antifeudal, portanto democr2tico!burguesa, no sentido eurocêntrico sempre foi, portanto, uma impossibilidade hist#rica. $s Anicas revolu%8es democr2ticas realmente ocorridas na $mérica 'além da Ievolu%ão $mericana) foram as do é-ico e da (olívia, como revolu%8es populares, nacionalistas!anti! imperialistas, anticoloniais, isto é, contra a colonialidade do poder, e anti!olig2rquicas, isto é, contra o controle do Estado pela burguesia senhorial sob a prote%ão da burguesia imperial. 1a maioria dos outros países, o processo foi um processo de depura%ão gradual e desigual do car2ter social, capitalista, da sociedade e do Estado. Logo, o processo foi sempre muito lento, irregular e parcial. @oderia ter sido de outra maneiraX Toda democratiza%ão possível da sociedade na $mérica Latina deve ocorrer na maioria destes países, ao mesmo tempo e no mesmo movimento hist#rico como uma descoloniza%ão e como uma redistribui%ão do poder. Em outras palavras, como uma redistribui%ão radical do poder. uanto 6 miragem eurocêntrica acerca das revolu%8es VsocialistasY, como controle do Estado e como estatiza%ão do controle do trabalhoCrecursosCprodutos, da sub0etividadeCrecursosCprodutos, do se-oCrecursosCprodutos, essa perspectiva funda!se em duas suposi%8es te#ricas radicalmente falsas. @rimeiro, a idéia de uma sociedade capitalista homogênea, no sentido de que s# o capital como rela%ão social e-iste e portanto a classe oper2ria industrial assalariada é a parte ma0orit2ria da popula%ão. as 02 vimos que não foi assim nunca, nem na $mérica Latina nem no restante do mundo, e que quase seguramente não ocorrer2 assim nunca. 7egundo, a idéia de que o socialismo consiste na estatiza%ão de todos e cada um dos Dmbitos do poder e da e-istência social, come%ando com o controle do trabalho, porque do Estado se pode construir a nova sociedade. Essa suposi%ão coloca toda a hist#ria, de novo, sobre sua cabe%a. ui0ano, 3:Q;+ 3:O3). 7olitariamente, em 3:;O, 5osé arlos ari2tegui foi sem dAvida o primeiro a vislumbrar, não s# na $mérica Latina, que neste espa%oCtempo as rela%8es sociais de poder, qualquer que fosse seu car2ter prévio, e-istiam e atuavam simultDnea e articuladamente, numa Anica e con0unta estrutura de poder+ que esta não podia ser uma unidade homogênea, com rela%8es contínuas entre seus elementos, movendo!se na hist#ria contínua e sistemicamente. @ortanto, que a idéia de uma revolu%ão socialista tinha que ser, por necessidade hist#rica, dirigida contra o con0unto desse poder e que longe de consistir numa nova reconcentra%ão burocr2tica do poder, s# podia ter sentido como redistribui%ão entre as pessoas, em sua vida cotidiana, do controle sobre as condi%8es de sua e-istência social FP. ? debate não ser2 retomado na $mérica Latina senão a partir dos anos RP do século h2 pouco terminado, e no resto do mundo a partir da derrota mundial do campo socialista. 1a realidade, cada categoria usada para caracterizar o processo político latino!americano tem sido sempre um modo parcial e distorcido de olhar esta realidade. Essa é uma conseqência inevit2vel da perspectiva eurocêntrica, na qual um evolucionismo unilinear e unidirecional se amalgama contraditoriamente com a visão dualista da hist#ria+ um dualismo novo e radical que separa a natureza da sociedade, o corpo da razão+ que não sabe o que fazer com a questão da totalidade, negando!a simplesmente, como o velho empirismo ou o novo p#s!modernismo, ou entendendo!a s# de modo organicista ou sistêmico, convertendo!a assim numa perspectiva distorcedora, impossível de ser usada salvo para o erro. 1ão é, pois, um acidente que tenhamos sido, por enquanto, derrotados em ambos os pro0etos revolucion2rios, na $mérica e em todo o mundo. ? que pudemos avan%ar e conquistar em termos de direitos políticos e civis, numa necess2ria redistribui%ão do poder, da qual a descoloniza%ão da sociedade é a pressuposi%ão e ponto de partida, est2 agora sendo arrasado no processo de reconcentra%ão do controle do 138
poder no capitalismo mundial e com a gestão dos mesmos respons2veis pela colonialidade do poder. onseqentemente, é tempo de aprendermos a nos libertar do espelho eurocêntrico onde nossa imagem é sempre, necessariamente, distorcida. " tempo, enfim, de dei-ar de ser o que não somos.
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Notas \ entro de uero agradecer, principalmente, a Edgardo Lander e a =alter ignolo, por sua a0uda na revisão deste artigo. E a um comentarista, cu0o nome ignoro, por suas valiosas críticas a uma versão anterior. Gesnecess2rio afirmar que eles não são respons2veis pelos erros e limita%8es do te-to. ; 7obre o conceito de colonialidade do poder, ver $níbal >ui0ano '3::;a). F *er >ui0ano e =allerstein '3::;) e >ui0ano '3::3). 7obre o conceito de espa%oCtempo, ver =allerstein '3::Q). 9 7obre esta questão e sobre os possíveis antecedentes da idéia de ra%a antes da $mérica, remeto a >ui0ano '3::;b). $ inven%ão da categoria de cor &primeiro como a mais visível indica%ão de ra%a, mais tarde simplesmente como o equivalente dela&, tanto como a inven%ão da particular categoria de branco, e-igem ainda uma pesquisa hist#rica mais e-austiva. Em todo caso, muito provavelmente foram inven%8es britDnico!americanas, 02 que não h2 rastros dessas categorias nas crnicas e em outros documentos dos primeiros cem anos de colonialismo ibérico na $mérica. @ara o caso britDnico!americano e-iste uma e-tensa
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bibliografia 'Theodore =. $llen, 3::9 e atheM JrUe 5acobson, 3::O, entre os mais importantes). ? problema é que esta ignora o sucedido na $mérica
R $ idéia de ra%a é, literalmente, uma inven%ão. 1ão tem nada a ver com a estrutura biol#gica da espécie humana. >uanto aos tra%os fenotípicos, estes se encontram obviamente no c#digo genético dos indivíduos e grupos e nesse sentido específico são biol#gicos. ontudo, não têm nenhuma rela%ão com nenhum dos subsistemas e processos biol#gicos do organismo humano, incluindo por certo aqueles implicados nos subsistemas neurol#gicos e mentais e suas fun%8es. *er 5onathan ar '3::9) e $níbal >ui0ano '3:::b). Q Jernando oronil '3::R) discutiu a constru%ão da categoria ?cidente como parte da forma%ão de um poder global. O ui0ano '3::;a+ 3::;c+ 3::Q) e 7erge Nruzinsi '3:OO). 33 $cerca das categorias produzidas durante o domínio colonial europeu do mundo, e-iste um bom nAmero de linhas de debate Vestudos da subalternidadeY, Vestudos p#s!coloniaisY, Vestudos culturaisY, VmulticulturalismoY, entre os atuais. Também uma florescente bibliografia demasiado e-tensa para ser aqui citada e com nomes famosos entre eles, como Nuha, 7piva, 7aid, (habha, Ball. 3; B2 uma vasta literatura em torno desse debate. /m sum2rio pode ser encontrado em meu te-to VEl fantasma del desarrollo en $mérica LatinaY '>ui0ano, ;PPPa). 3F 7obre este tema ver as agudas observa%8es de Iobert . Koung '3::). 39 /m debate mais detido em >ui0ano ';PPPb). 3 $cerca das proposi%8es te#ricas desta concep%ão do poder, ver >ui0ano '3:::a). 3R 1o sentido de que as rela%8es entre as partes e a totalidade não são arbitr2rias e a Altima tem hegemonia sobre as partes na orienta%ão do movimento do con0unto. 1ão no sentido sistêmico, quer dizer, em que as rela%8es das partes entre si e com o con0unto são l#gico!funcionais. ui0ano, 3:QQ). @ode!se ver também >ui0ano '3:OOa). 3: 7empre me perguntei pela origem de uma das mais caras propostas do Liberalismo as idéias devem ser respeitadas. ? corpo, por sua vez, pode ser torturado, triturado e morto. 1#s os latino!americanos acostumamos citar com admira%ão a desafiante frase de um m2rtir das lutas anticoloniais, no pr#prio momento de ser degolado V(2rbaros, as idéias não se degolam4Y. 7ugiro agora que sua origem deve ser buscada nesse novo dualismo cartesiano, que transformou o VcorpoY em mera VnaturezaY. ;P *er Discours "e la m't$o"e, 6'"itations e Description "u corps $umain 'Gescartes, 3:RF!3:RQ). @aul (ousquié '3::9) acerta neste ponto o cartesianismo é um novo dualismo radical. ;3 $cerca desses processos na sub0etividade eurocentrada, revela muito que a Anica categoria alternativa ao ?cidente era, e ainda o é, o ?riente, enquanto que os negros 'Hfrica) ou os índios '$mérica antes dos Estados /nidos) não tinham a honra de ser o ?utro da Europa ou ?cidente. ;; omo sugere (enedict $nderson '3::3). /ma discussão mais e-tensa sobre este ponto em >ui0ano '3::Oa). 141
;F /ma discussão mais ampla sobre os limites e as condi%8es da democracia numa estrutura de poder capitalista, em >ui0ano '3::Oa+ ;PPPa). ;9 @rovavelmente o antecedente mais pr#-imo da idéia de ra%a produzida pelos castelhanos na $mérica. *er >ui0ano '3::;b). ; $inda nos anos ;P em pleno século [[, B. urena, um membro importante da inteligência argentina, não hesitava em proclamar V7omos europeus e-ilados nestas pampas selvagensY. *er Eugenio ui0ano '3::F). ;: $ miopia eurocêntrica, não apenas de estudiosos da Europa ou dos Estados /nidos mas também dos da $mérica Latina, difundiu e quase imps universalmente o nome de populismo para esses movimentos e pro0etos que, contudo, têm pouco em comum com o movimento dos narodníis russos do século [<[ ou do populismo estadunidense posterior. /ma discussão destas quest8es em >ui0ano '3::Ob). FP Essa descoberta é, sem dAvida, o que outorga a ari2tegui seu maior valor e sua continuada vigência, derrotados os socialismos e seu materialismo hist#rico. *er, sobretudo, a passagem final do primeiro de seus X Ensaos "e Interpretaci,n "e la reali"a" peruana '3:;Ob), numerosamente reimpresso+ V@unto de *ista $ntiimperialistaY apresentado 6 @rimeira onferência omunista
Latino!americana, (uenos $ires '3:;:)+ e o célebre V$niversario U balanceY, editorial da revista Amauta '3:;Oa).
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