O Poema 17. Quero ser tamborTambor está velho de gritarOh velho Deus dos homensdeixame ser ser tamb tambor orco corp rpoo e alma alma só tamb tambor orsó só tamb tambor or grit gritan ando do na noit noitee quen quente te dos dos trópicos.Nem flor nascida no mato do desesperoNem rio correndo para o mar do desesperoNem zagaia temperada no lume vivo do desesperoNem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.Nem desespero.Nem nada! 18. Quero ser tamborSó tambor velho de gritar na lua cheia da minha terraSó tambor de pele curtida ao sol da minha terraSó tambor cavado nos troncos duros da minha terra.Eu!Só tambor rebentando o silêncio silêncio amargo da MafalalaSó tambor velho de sentar no batuque da minha terraSó tambor perdido na escuridão da noite perdida. 19. Quero ser tamborOh velho Deus dos homenseu quero ser tambore nem rioe nem flore nem zagaia por enquantoe nem mesmo poesia.Só tambor ecoando como a canção da força e da vidaSó tambor noite e diadia e noite só tamboraté à consumação da grande festa do batuque!Oh velho Deus dos homensdeixa-me homensdeixa-me ser tamborsó tambor! 20. TemaA composição poética Quero ser tambor de José Craveirinha insere-se na 1ª Fase Fase do poet poeta, a, a do NeoNeo-re real alis ismo mo.E .Est stee text textoo poét poétic icoo aglo aglome mera ra vári vários os tema temass relacionados entre si, o vitalismo, o culto da Natureza, a raça e a revalorização da tradição negra. “Só tambor ecoando como a canção da força da vida”“até à consumação da grande festa do batuque!” 21. Assun Assunto toO O poema poema aprese apresenta nta uma estrut estrutura ura tripa triparti rtida da.A .A primei primeira ra parte parte é constituída constituída pelas primeiras três estrofes. Nela o sujeito poético, invocando o velho Deus dos Homens, formula o seu desejo de ser tambor e expõe, também os seus “antidesejos” em se tornar flor, rio, zagaia ou poesia que conduzem ao desespero.A segunda parte integra a terceira, quarta e quinta estrofes onde o sujeito poético reitera a sua vontade de ser tambor, explicitando, ao mesmo tempo, a sua beleza e poder de intervenção: “… rebentando o silêncio amargo de Mafalala”.Por fim, a terceira parte é constituída pelas últimas três estrofes, na qual o “eu” irá novamente invocar a entidade superior do velho Deus dos homens e reformular os seus desejos e “anti-desejos”, sublinhando, sublinhando, a par da primeira parte, a sua ambição de ser tambor de corpo e alma/noite alma/noite e dia até à consagração da festa do batuque. 22. Simbologia do tamborO ruído do tambor é associado à emissão do som primordial, origem da manifestação e, mais recentemente, ao ritmo do universo.Na África, o tambor está estreitamente ligado a todos os acontecimentos da vida humana. Especialistas do continente negro dizem que o tambor é, no sentido da palavra, o logos da nossa cultura, que se identifica à condição humana da qual é uma expressão. 23. Simbologia do tamborAo mesmo tempo rei, artesão, guerreiro, caçador, jovem em idade de iniciação, a sua voz múltipla traz em si a voz do Homem, com o ritmo vital da sua alma, com todas as voltas do seu destino.O tambor é o símbolo da arma psicol psicológic ógicaa que desfaz desfaz int interna ernament mentee toda a resistên resistência cia do ini inimigo migo.. É consider considerado ado sagrado, ou sede de uma força sagrada; ele troveja como o raio, é ungido, invocado e recebe oferendas. É também a própria voz das forças protectoras, de onde provém as riquezas da Terra. 24. Recursos estilísticosPersonificação“Tambor está velho de gritar”“só tambor gritando”“Só tambor rebentando o silêncio”“Só tambor velho de sentar”“Só tambor per perdi dido do na escu escuri ridã dão” o”A A pers person onif ific icaç ação ão do tamb tambor or sali salien enta ta o seu seu cará caráct cter er intervencionista e representativo da voz do sujeito poético como intermediário dos confli conflito toss existe existent ntes es em Moçamb Moçambiqu ique. e. É de salie salienta ntarr també também m a sua carac caracte teriz rizaçã açãoo regressiva, na qual o tambor começa por ter o dom de “gritar” para no fim já se encontrar “perdido na escuridão”. escuridão”.
25. Recursos estilísticosApóstrofe“Oh velho Deus dos homens”A apóstrofe é utilizada pelo sujeito poético para invocar uma entidade superior para que esta o deixe “ser tambor”. Reiteração“só tambor/ só tambor”A reiteração reforça o desejo do sujeito poético em ser tambor. 26. Recursos estilísticosAnáfora“Nem” (do verso 6 ao 10)“e nem” (do verso 20 ao 23)“Só tambor” (estrofes 4, 6 e 8)A anáfora em “Nem” e “e nem” é utilizada no poema para explicitar aquilo que o sujeito poético não quer ser: “rio”, “flor”, “zagaia” e “poesia”; para logo de seguida reforçar a ideia do seu desejo de ser “só tambor”. 27. Recursos estilísticosRepetição“tambor”“desespero” (segunda estrofe)“minha terra” (quinta estrofe)A repetição do vocábulo tambor é visível ao longo de toda a composição poética, que reforçam a importância metafórica deste objecto como meio apaziguador dos conflitos existentes em Moçambique. Também é evidente o uso do termo desespero no final dos versos da segunda estrofe que salientam os “anti-desejos” do sujeito poético em se tornar mais um dos focos de disputa na sua terra. Por fim, a iteração de “minha terra” no fim dos versos da quinta estrofe relevam a importância que o tambor tem na terra do sujeito poético. 28. Análise formalEsta composição poética é constituída por nove estrofes livres: a primeira com cinco versos, a segunda com quatro, a terceira com um, a quarta com três, a quinta com um, a sexta com três, a sétima com seis, a oitava com quatro e a última com três versos. O esquema rimático é irregular e a métrica dos versos não segue nenhuma lógica. Apresenta uma rima pobre e um ritmo rápido. 29. ConclusãoAntes de ser zagaia José Craveirinha quis ser tambor, ou seja antes de ferir quis anunciar e convencer, embora através de um instrumento forte e barulhento e agregador de grandes emoções. Esta é uma característica do povo moçambicano, de norte a sul do país, independentemente de etnias, raças e caldeado pelas influências dos povos que vindos da Europa, da Ásia e de todo o mundo desembarcaram nas suas praias. 30. ConclusãoAli naquela praia imensa à beira do Índico, todos aqueles povos, negociando, amando-se, conflituando e explorando-se, foram construindo uma ideia comum a todos: não se deve renunciar à luta, mas antes de lutar deve-se conversar. Foi esta ideia comum e muito moçambicana, traduzida por Craveirinha em querer ser tambor antes de ser zagaia, que permitiu que a convivência de povos em Moçambique tenha aquela delicadeza e fraternidade que a tornam frutuosa; o que não quer dizer que, às vezes, quando é preciso não haja zaragata.