Ó ? conversa fiada e papo de botequim
Fabio da Silva Barbosa
Pra começar
Quem somos nós? Somos escritores, zineiros, loucos e sóbrios. Levamos um som, rabiscamos umas linhas e construímos veículos que se tornam pontes. E assim fui organizando essas entrevistas que realizei entre 2009 e 2011. Uma pesquisa frenética pelo “universo paralelo”. Fui entrando em contato com a galera que curte as braçadas desse longo nado contra a corrente. Cada um a seu jeito, cada pensamento um caminho. Enquanto muitos lamentam e se deixam levar pela maré, existem aqueles que mergulham de cabeça, os que contestam as verdades estabelecidas... os que trazem propostas, mesmo quando só querem expurgar, gritar, dançar. Desejo a todos uma boa viagem pelo mundo dos que tem, na livre expressão e na resistência, grandes armas na luta por algo a mais que a mesmice cotidiana. Fabio da Silva Barbosa
Foto da capa: Por Fabio da Silva Barbosa Foto de homem bêbado dormindo – Trabalhada em Photoshop Tirada em uma esquina do Centro de Niterói, RJ.
Redson fala sobre vida, luta e Cólera. Agradecimentos a Deise (Revoluta Produções) - 2009 Formado em 1979, na cidade de São Paulo, pelos irmãos Redson (Edson Lopes Pozzi) na guitarra e vocais e Pierre (Carlos Lopes Pozzi) na bateria, o Cólera foi um dos primeiros grupos de punk rock brasileiro. O baixo ficava por conta de Hélinho, que mais tarde foi substituído pelo amigo Val (Valdemir Pinheiro), substituído depois por Josué Correia, seguido por Fabio Bossi. Participou da coletânea inaugural do movimento punk no Brasil, “Grito Suburbano” (1982), e desde cedo se destacou pela postura pacifista, antimilitarista e ecológica. Duas coletâneas viriam depois – “Sub” e “O Começo do Fim do Mundo” (ao vivo), ambas de 1983. Seu primeiro LP, “Tente Mudar o Amanhã”, saiu em 1984. O segundo, “Pela Paz em Todo o Mundo” (1986), tornou-se recordista de vendas, se tratando de uma produção independente (85 mil cópias). Em 1987 se tornou a primeira banda de punk rock do país a excursionar pela Europa. Em 1989, gravações destes shows viraram um disco ao vivo. No mesmo ano a banda lançaria o LP “Verde, Não Devaste”. Nos anos 90 lançou o disco “Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico” (1991) e “Caos Mental Geral” (1998). Em 2000 a banda ganharia novo destaque, uma vez que a Plebe Rude regravou a música “Medo” em seu disco ao vivo e os Inocentes apostaram na “Quanto Vale a Liberdade” em “O Barulho dos Inocentes”. Fábio saiu em 2006, sendo substituído pelo antigo baixista, Val. Em 2008 fizeram a tour Européia comemorando os 29 anos de banda. Atualmente o Cólera está fazendo a Tour “30 Anos Sem Parar!”. Quem é Redson e o que é o Cólera? Redson sou eu, ainda me descobrindo. Até onde sei bem, Redson = Filho Vermelho. Cólera é uma expressão de ímpeto, indignação, impulso. É nome da banda que faz um som diversificado, com raiz no punk rock e asas nas mensagens. Isso há 30 anos. Sua atuação como militante político vem desde antes do Cólera começar. Conte um pouco sobre essa fase pré Cólera. Nos anos 70, antes de rolar o punk rock, eu estive presente nas passeatas de Sampa; de professores, estudantes, bancários... o que fosse contra a ditadura, eu tava lá! Isso durou na ativa uns três anos. Depois adotei armas mais poderosas: uma guitarra e um microfone. Já era !!! E depois que a banda deu certo, o que mudou? Mudou todo o cenário nacional. Nosso desbravamento dos possíveis caminhos do som alternativo presenteia a cena nacional com bandas indo e vindo da Europa; cenário do faça você mesmo presente (mesmo que não esteja como queremos, está rolando atividade, está andando) e muitas outras conquistas que não precisamos dizer. O que sempre foi legal: nossa definição, desde o início, de não termos bloqueios sonoros. Os primeiros sons eram um tipo de country punk, com letras surrealistas... Em 1979... hehehe. Como você, que canta pela paz e sobre ecologia há tantos anos, vê a insistência do ser humano em promover uma realidade tão violenta e autodestrutiva?
Existem muitas guerras que vemos e que não vemos. Nosso próximo álbum tem uma ópera, a "A Ópera do Caos", que narra as guerras mais incomuns. O estado de estupidez que ainda mantém essas guerras no mundo é justamente uma guerra de meia dúzia de seres que não cresceram, mas estão em cargos de muita responsa. Então, sugiro um bom terapeuta para tratar desta síndrome de Peter Pan que ataca líderes e manda-chuvas neste momento da história. Existe um discurso comodista que sempre lança contra qualquer tipo de esforço: “Nada disso adianta. O mundo é assim e pronto. Nunca vai mudar”. O por que disso? Bem, o termo que consolida isso é SUPRESSÃO. Quando alguém vê sua conquista em aprender ou em buscar algo com forte expectativa; o supressor, vendo-se inferior em seu estado mórbido e de baixa auto-estima, logo deprecia a possibilidade, suprimindo sua ação. Não é brincadeira, mas teremos uma música no próximo álbum chamada Supressão... hehehehe Como uma banda sobrevive tantos anos sendo independente? Com seus membros trabalhando fora, se virando pra sobreviver. Nunca vivemos da banda. Como você se define política e ideologicamente? Mutante radical ou Idealista livre. É melhor. Como busco ser eu mesmo, é a ação mais forte que conheço politicamente. Atrai o melhor para todos. Agora vou dar alguns temas e gostaria que você falasse sobre eles: Mídia: Um veículo a ser usado com cautela (touro doido... hehehe) Terrorismo: Mentiras Drogas: As drogas matam, as ervas curam. Plantas de poder podem ser excelentes veículos, sabendo pilotá-los, é claro. Indústria tabagista: Idade da pedra A atual situação política brasileira: Desrespeito. Faço meu dia a dia. Nem perco tempo vendo noticiário. Vejo os cataclismas e assuntos que me interessam para a sobrevivência. Se você for atrás, todas as notícias são as mesmas todos os dias em todos os órgãos de comunicação. Nossa!!! Só deve ter um jornalista em cada fato. Não existe relatividade na informação. Eles governam sua cidade, fazem caixa pra investir na campanha de governador e assim querem ir até o topo. E nós, com um imposto novo por bimestre, pagamos os panfletos e vinhetas de última categoria. Quero deixar um salve aí pra todos que estão na vivência do faça você mesmo! Seja banda, zine, grafitte... Faça alguma coisa. Quem fica parado é POSTE!!!
Contatos da banda: http://colera.org http://www.myspace.com/coleraoficial http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=28030
“A minha arte, o meu trabalho, a minha vida, obrigatoriamente, têm que ser úteis.” - 2011 Reflexão e arte é o trampo desse guerreiro. Eduardo Marinho divide com seu público experiências vividas e traz importantes questões que costumam ser empurradas para debaixo do tapete pelos demagogos de plantão. Cada obra um novo tijolo na construção de um mundo mais justo e igualitário. Vamos começar por um assunto bem atual: O conflito no Rio de Janeiro. Solta o verbo. O conflito cotidiano é o mais cruel, porque despreza e exclui gerações e gerações. Milhões de vidas atiradas à barbárie, destruindo a alma, impedindo seu desenvolvimento pleno, debaixo de brutal repressão. A sociedade é mais cruel com os mais fragilizados, como os covardes. O massacre é cotidiano e é físico, moral e psicológico. Esse conflito que estamos vendo aí, por causa da copa, do pan e da disputa de territórios entre facções e milícias – engrossando o caldo com os interesses imobiliários nas áreas que vão se valorizando – não é novidade. É mais uma tragédia cotidiana imposta às populações de baixa renda, com a “vantagem” da criação de terror, com o aparato de guerra ostentado nas operações. Em 2008 teve a mesma coisa: guerra, mortes, tiros, terror. No fim, comemoraram a “retomada” com desfile e banda de música no Alemão, no clima de “para sempre”. Que nem agora, com bandeira lá em cima. Isso é um filme velho. Atrás, como sempre, interesses financeiros e na exploração, no controle e na contenção da população pobre e excluída. O conflito principal da atualidade é o das mega-empresas contra os povos. É um conflito dissimulado pela publicidade, onde se convence o povo de que as empresas são ótimas e nos amam e só pensam no bem estar geral – enquanto desalojam populações, induzem ao consumo compulsivo, financiam campanhas de políticos e pressionam por leis e isenções que as beneficiem, frequentemente às custas de malefícios gerais. Impedem os investimentos na educação pública, controlam as comunicações, mantêm bancadas no Congresso e nas assembleias legislativas locais, se infiltram no judiciário, no executivo. Mas isso não é só no Rio. É no mundo inteiro. E os indígenas? Essa galera também vive em eterno conflito pelo Brasil e diria até pelo mundo (onde ainda tem população indígena expressiva). Como resolver tais questões? A invasão europeia iniciou a era do genocídio. Os povos originários são massacrados, expropriados, expulsos das suas terras, violentados, derrotados. Sem condições tecnologias para enfrentar as armas europeias, os indígenas foram exterminados por cinco séculos. Calcula-se que haviam cerca de 15 milhões, só na área do Brasil. Em 1970, o censo indicou 180 mil originários no Brasil. Com as políticas indigenistas, mesmo cosméticas e restritas, o massacre diminuiu a intensidade e a população pôde aumentar um pouco. Acontece que, para o sistema produtivo e consumista, essa estrutura social trazida pelos europeus que funciona com base na maioria pobre, que necessita produzir miséria, o índio é um mau exemplo. Em princípio, as populações originárias produzem tudo o que necessitam sem depender das indústrias, sem ter o consumo como o centro da vida. O que o índio materialmente precisa, ele sabe fazer. Casa, rede, utensílios domésticos, armas de caça ou pesca, canoa, remédios, tudo tirado da natureza à sua volta, sem destruição, sem produção em massa, sem precisar da escravidão de um emprego mal remunerado, em péssimas condições de trabalho, de transporte, enfim, de
vida. Para o índio, a coisa mais importante da vida é viver e viver bem. Isso é um perigo para os valores tão hábil e meticulosamente plantados no inconsciente coletivo, que levam as pessoas a aceitarem vidas massacradas como se não houvesse outra opção. Narcotizadas pela mídia, desarmadas pela falta de um ensino que merecesse o nome, as pessoas não questionam o modelo de sociedade em que vivemos. Os “maus” exemplos não podem ter perdão, precisam ser destruídos, ao menos moralmente, mas, se possível, fisicamente. Você me pergunta como resolver... Como é que vou saber? A resistência taí, as ações, lentamente, vão aparecendo. O Estado continua submetido pelos interesses do latifúndio, agora rebatizado de “agro-negócio”, com a entrada de diversas multinacionais no meio, reforçando as remoções, os ataques, a difamação. Vi um autidor, lá no Espírito Santo, posto pela Aracruz Celulose – empresa que poluiu o ambiente, encheu de eucaliptos uma área enorme do estado e expulsou os originários, décadas atrás – dizendo que “A Aracruz trouxe empregos, a Funai trouxe os índios”. É uma das maneiras de jogar a população contra os indígenas. São táticas sórdidas. Mas a internet, hoje, tornou-se uma arma de defesa, divulgando as informações que a mídia esconde, trocando informações entre os movimentos de resistência e defesa contra os ataques, denunciando os crimes e convocando apoios às lutas. Se formos minimamente justos, veremos que o Estado deve reparação a todos os povos indígenas. Primeiro, reconhecer o genocídio secular, físico e cultural. Retirar os invasores de suas terras e por em prática os direitos que já foram reconhecidos, mas que o poder econômico da minoria não permite que sejam postos em prática. Você sempre comenta sobre o governo atrás do governo. Fale um pouco sobre. Falo sobre os poderes atrás dos governos. Talvez seja melhor dizer acima. Os cartéis bancários, o mercado financeiro, as grandes indústrias – farmacêutica, de armamentos, alimentícia, da construção, da comunicação, etc.-, fizeram do Estado um teatro de marionetes, usando os políticos como os bonequinhos. Eles não aparecem segurando os fios, pois controlam os holofotes da mídia, que focalizam a política, não o poder. Como no teatro, parece até que as marionetes controlam o espetáculo. Essa é a maestria deles. Mas sempre acontecem os vazamentos. Me parece que cada vez vaza mais. No governo que entra, anuncia-se uma luta neste sentido. Ano passado houve a Conferência Nacional de Comunicações, em que mandaram os representantes da mídia privada e as conquistas foram poucas. Eu vi o blog deles, no fim do ano. Tinha cerca de 30 seguidores, apenas. E o problema afeta quase a totalidade da população, com a distorção das informações, a formação insidiosa dos valores baseados no consumo, desde a mais tenra infância, a exploração da sabotagem educacional, o estímulo ao sexo, à violência, à competição desenfreada, etc, etc. Na minha opinião, uma das principais frentes de luta, hoje, é romper o bloqueio da mídia, democratizar, pulverizar e acabar com esse poder incontestável de pressão sobre os poderes que, afinal, são públicos, lembremos. E fiquemos atentos ao processo que se inicia com o próximo governo. Uma questão que poucos te perguntam, mas sei que você entende alguma coisa, é sobre a importância da alimentação. Ter uma boa alimentação pode vir a ser um ato revolucionário? Pode e deve. A alimentação industrial não tem o menor compromisso com a nutrição, com a saúde. Ao contrário. A impressão que tenho é que há um acordo entre a indústria alimentícia e a farmacêutica. A alimentícia acaba com os nutrientes, enche de químicas nocivas à saúde, conservantes, colorantes, aromatizantes e outros que dão até medo,
quando se lê nos rótulos – fora o que não vai escrito. Induz-se o consumo desta alimentação, a população adoece e precisa de medicamentos, dando lucro também à indústria farmacêutica. Ou seja, a indústria alimentícia tira o que presta, enche do que não presta, as pessoas adoecem e precisam se medicar. Alguém já viu algum médico receitar arroz integral? Não. Ele receita complexo B. No arroz integral tem todo o complexo B. Mas o que se come é o arroz branco, que é muito mais amido. Na raspagem do arroz, eles vendem a película (que contém as vitaminas e a fibra) para os laboratórios farmacêuticos. Não parece combinado? Eu não me espantaria. É possível se alimentar com os produtos da terra, sem precisar de quase nada industrial. É muito melhor pra saúde e é um ato revolucionário que afeta o poder da indústria. A Monsanto enfiou os transgênicos goela abaixo do Brasil, onde era proibido o plantio e a comercialização de tais produtos. Os venenos necessários ao plantio de transgênicos são os mais fortes que já existiram. Desde 2007 o Brasil é o maior consumidor de venenos agrícolas do mundo – tá na Caros Amigos de novembro, página 9. Várias pesquisas apontam o aumento de aborto e outras doenças nas povoações próximas aos campos de soja transgênica. Uma pesquisas do INCA (Instituto Nacional do Câncer) e da UFCE (Universidade Federal do Ceará) comprovaram o aumento na incidência de câncer sobre a população brasileira, devido ao aumento do uso de agrotóxicos. É a guerra das empresas contra os povos. O inimigo está infiltrado e enraizado na administração do Estado, sabotando o próprio povo e controlando as comunicações. Escolher bem o que se come, neste contexto, é uma atitude revolucionária e de auto preservação. A arte obrigatoriamente tem de ser útil? A arte é um instrumento de diálogo com o abstrato do ser. Falando assim, pode parecer estranho, mas falo da sensibilidade, do emocional, do psicológico, do inconsciente, dos sentimentos. Se o artista vai trabalhar no sentido de libertar ou aprisionar, de denunciar ou disfarçar, conscientizar ou alienar, ou mesmo fazer trabalhos neutros, decorativos, sem nenhum engajamento humano, político ou social, aí é uma questão pessoal de caráter, de temperamento, de mentalidade. Eu poderia dizer que é até uma questão de solidariedade com a família humana. Mas, com os valores vigentes apontando para o “cada-um-por-si”, hábil e artisticamente plantados no inconsciente coletivo através dos noticiários, das novelas, dos filmes e dos programas de tv, rádio, revistas de futilidades e panfletos anti-povo e pró consumo desbragado, o estímulo total ao egoísmo, não é de espantar a raridade dos artistas dedicados à evolução da sociedade e do ser humano. Além do mais, a arte que aprisiona, ilude, aliena, futiliza e esconde a verdade é muito bem paga. Os melhores são transformados em celebridades, como se a fama fosse um objetivo em si. Já o outro tipo de arte é marginalizado, omitido, desprezado e até perseguido. A minha arte, o meu trabalho, a minha vida, obrigatoriamente, têm que ser úteis, têm que existir nessa direção. Bom, a palavra útil aí pode servir pros dois lados. A arte prostituída é útil aos que pretendem manter esse estado de coisas em que vivemos. É fácil ser artista, difícil é viver de arte e não a prostituir. Mesmo vendo tanta merda ao nosso redor, o otimismo está sempre em seu horizonte. Como ser otimista diante de tanta crueldade e egoísmo. Não vejo o otimismo em meu horizonte. Vejo o horizonte e vou andando na direção dele, atento à minha volta. Enquanto de um lado vejo crueldade e egoísmo, do outro vejo generosidade e altruísmo. Tenho visto muito trabalho de conscientização, de
atendimento, de esclarecimento, de sensibilização. Claro que são poucos, raros, o Estado não assume suas obrigações... Podemos mudar isso, mas não sabemos disso ainda. Por isso o ensino é sabotado (o público) e controlado (o privado e o superior público). Para que sejamos fáceis de conduzir pela mídia, pelo massacre publicitário, em nossos valores, nossos conceitos, nossos objetivos de vida. Aí está um grande foco de trabalho. É preciso espalhar, causar reflexão, alcançar as pessoas reflexivas e angustiadas, mostrar como a estrutura funciona e como somos todos levados a sustentar, com nosso comportamento e nossa submissão moral, essa estrutura social injusta, covarde e suicida, que sabota, aprisiona e martiriza a maior parte da população. Há muitos trabalhando na corrosão dessa estrutura. Esse é o nosso trabalho. Sem ele a vida perde o sentido. Se dará resultado, se será logo ou não, é uma questão menor. O destino é a caminhada, o objetivo é o trabalho no sentido da iluminação, da claridade, do esclarecimento, da sensibilização e da conscientização.
Armagedom - 2011 Em 1982 nascia a banda Última Chance, que mais tarde deu origem ao Armagedom. Aprendendo a tocar tocando, os caras criaram uma forma impar de expor seu ponto de vista. Ferocidade e impacto é o que se pode esperar. O que mais dizer? Deixa que o Javier fala ao responder as perguntas que lhe enviei. Afinal, ele sabe mais sobre a banda que eu. Mete bronca, Javier. O espaço é teu. O Armagedom sempre teve uma sonoridade diferenciada e um estilo de letra muito próprio. Quando a gente faz algo que não está dentro de um padrão é sempre mais difícil e mesmo assim vocês conseguiram garantir o espaço. Como foi esse processo de criação da banda e qual a reação inicial do público? Eheh... Realmente, querer fazer algo um pouco diferente é bem difícil, principalmente quando é uma banda que não sabia tocar nada!! Ehehe Eu, sinceramente, não sei como conseguimos nosso espaço. Muita gente fala das letras e das mensagens... Acho que se você faz algum projeto com sinceridade e se expressa de verdade, com certeza terá seu espaço. Essa é a mensagem. É possível sim!!! No início, nós tocávamos muito mal e éramos garotos tentando fazer algo. Tivemos uma receptividade razoável e conseguimos gravar um LP (o que foi incrível!!!). Nós não realizamos muitos shows no início. A cena punk era bem complicada naquela época. Tudo que fizemos foi com muita vontade e sinceridade. Criamos a banda sem conhecimento musical nenhum. Foi complicado, mesmo por que não tínhamos nada (instrumentos, conhecimento, local, nada). Conseguimos ensaiar no estúdio do Cólera e começamos a aprender. O que tínhamos?? Ideias, vontade e amizade. Foi isso que sustentou e sustenta a banda até hoje. Muitas bandas citam vocês como referência e existe um público que reconhece a importância do trabalho. Sempre ficamos muito felizes com esse reconhecimento. É muito legal e acho que é o mais gratificante nesse tempo todo. Tanto nos shows em várias cidades daqui do Brasil como da Europa, um pessoal sempre comenta com a gente a respeito do nosso trabalho. Eu não imaginava que teríamos tantos amigos em tantos lugares diferentes. Pode ter certeza que isso é muito, muito importante para a banda. Nos dá mais energia para continuarmos com nosso trabalho. No meio underground existem muitas bandas, fanzines e produtores de vídeos que estão passando por uma espécie de esquecimento das raízes e acabam perdendo as referências, mas vocês continuam firmes no mesmo estilo, sem deixar de evoluir, é claro. Manter-se fiel ao estilo e a proposta do trabalho é fundamental? Para nós é fundamental, mas os tempos mudam e todo mundo precisa evoluir e entender o que se passa ao redor. Conhecemos bandas muito boas nesses anos todos, mas imaginar que somente o antigo é bom parece muito reacionário e antiquado. Somos influenciados pelo passado e pelo presente. Isso é importante. Acho que é importante manter certa linha de pensamento, uma coerência para enviar sua mensagem e não parecer apenas um modismo ou oportunismo, mas acho que cada um tem o direito de escolher o que é melhor para si. A única coisa que lamento é ver bandas muito, muito boas que terminaram de um momento para outro. É uma pena. Antigamente as bandas duravam mais. Acho que a facilidade de fazer e refazer projetos acaba por tirar um pouco da garra de manter um projeto vivo. Algo para se pensar.
O hard Core nacional sempre influenciou bandas de países distantes, como a Finlândia, e com o Armagedom não foi diferente. Como se deu esse contato? Eheheh... Na verdade, desde o início fomos influenciados por Riistetyt, Terveet Kadet e outros. Na década de 90, tive contato com o pessoal do Força Macabra, que são muito irmãos da gente. O Força Macabra nos ajudou em muitas coisas e sou muito grato a eles pela continuidade do Armagedom. É incrível como bandas do meio punk conseguiram criar esse cenário de fraternidade. Me parece o meio onde isso ocorreu do modo mais anárquico e fraternal possível. Realmente é muito legal!! Houve um grande período em que a banda parou. Por que pararam e por que voltaram? Ficamos um bom tempo parados entre 1993 e 1999. Foram questões pessoais que complicaram a continuidade da banda. Às vezes você precisa abdicar de algumas coisas para cuidar de sua família, principalmente quando seus filhos são pequenos e necessitam de você. Isso ocorreu com a banda e ficamos esse tempo fora do ar. Voltamos porque eu, o Ricardo e o Eduardo tínhamos vontade de continuar com nosso trabalho e decidimos retornar ao ver que já haviam condições para retornarmos. Já podíamos encaixar a banda novamente em nossas vidas de um modo legal e equilibrado. Quais as principais diferenças dos shows de hoje e os shows do passado? Ehehe... Essa é boa! Bom... Agora sabemos tocar muito melhor, os instrumentos são muito, muito, muito melhores, as casas têm melhores condições, o público vai para assistir ao show e não para matar uns aos outros e tudo funciona muito melhor. No meu ponto de vista, acho que os shows são melhores e quem vai assistir sai satisfeito com a banda e as condições em geral. Vocês faziam idéia que o Armagedom ainda iria estar tocando em 2011? Sinceramente não fazia idéia, mas posso dizer que gostamos muito de tocar e que estaremos por aí por muito tempo ainda. Tem muito o que rolar!! O que vem por aí? Estamos finalizando os sons para um novo disco com o nosso novo vocal, Thrash, e acho que está ficando muito bom mesmo. Estamos muito contentes com o resultado até agora. Temos uma faixa na internet (www.myspace.com/armagedom) e no facebook (armagedom the deathcore) que o pessoal está gostando bastante. É uma amostra do que vem por aí!!! No próximo ano, com certeza, estaremos fazendo mais uma tour na Europa e vamos nessa!!! Javier X X /\/\/\ email
[email protected] myspape www.myspace.com/armagedom facebook armagedom the deathcore
Ric Ramos e a Janela Poderosa - 2011 Troquei uma ideia com Ric Ramos, editor do zine Janela Poderosa. Querem ver o resultado? Então, lá vai.
Como surgiu o Janela Poderosa? Surgiu da necessidade de fazer um material independente. Eu nunca tive tempo para montar um zine e quando fiquei doente, a quatro anos atrás, em casa, sob licença médica, é que finalmente tive a oportunidade de criar um. Não parei mais. E a edição especial que coleta os 8 primeiros números? Qual a intenção desta publicação? Não só eu, como muitos outros zineiros, tem dificuldades em manter seus zines por uma certa periodicidade. Muitos morrem no meio do caminho. Eu considero estas últimas edições importantes por conseguirem grande aceitação dos leitores. É o que me motiva a não parar e por isso o Janela sobreviveu até estas edições. Além de alguns acertos e pequenas modificações a serem feitas, deixa de ser experimental compreendendo o seu amadurecimento. Alternando com este material, criei a “Edição Dedicada” e as micro séries em quadrinhos. Pude observar algumas entrevistas muito interessantes nessa edição coletânea, como a daquela senhora que participa de uma turma de mulheres na índia que literalmente vão a luta por seus direitos. Como você consegue essas entrevistas e como romper a barreira da língua? Sim, a Sra Sampat. Os indianos são muito simpáticos. Pra editar o Janela, sempre faço muitas pesquisas e contatos. Estava fazendo a pesquisa sobre gangues americanas quando achei uma matéria sobre este grupo na Índia. Entrei em contato com o autor do texto que me passou para um contato na Índia e este intermediou o contato com ela por e-mail. Meu inglês não é muito bom e voltei a exercitar pra melhorar isto. Mas eu não sei bem como consigo os contatos. Me identifico como zineiro convidando para uma entrevista e aí vai. Consigo mais entrevistados estrangeiros do que aqui no Brasil. Não era pra ser assim. A cultura do zine lá fora é forte, enquanto aqui acredito que não seja tão respeitada ainda. Você considera esses 8 primeiros números como uma fase experimental, isso significaria que a partir deste momento o Janela teria uma abordagem definitiva? Considero este modelo definitivo. Formato, proposta e etc. E como eu disse anteriormente, este modelo compreendi pelo modo de aceitação dos leitores e por isso criei outros seguimentos do Janela para não descaracterizá-lo. Além de leitores brasileiros, o Janela possui uma galera de outros países que curte o trampo. Como se deu esse intercambio? Também não sei bem, mas é fácil de imaginar. A culpa disto é da internet. No início foi um leitor português que me perguntou se era possível receber um exemplar. Negar um zine para mim é o mesmo que negar um copo com água. Mando até hoje pro cara. Depois foi a paraguaia, Mônica, do blog Zinesfan - Possivelmente foi a partir dela que desencadeou. Fora os contatos pra conseguir entrevistas e dados.
Depois, entrei em contato com zineiros americanos e entrei para uma rede social só de zineiro, a “WE MAKE ZINES”. Lá, fazemos vendas e trocas. Foi quando tive de criar a edição em inglês. Qual a principal função de um zine? A principal função é de informar, mas este tipo de mídia tem o poder de transcender e ligar os setores. Qual os próximos passos do Janela? Alcançar leitores marcianos?... Não sei. Aos poucos o Janela anda sozinho. Em pouco tempo ele alcançou uma notoriedade. Eu planejo poucas coisas e elas vão tomando forma e caminhos não planejados. Até então, está divertido! Vamos ver aonde o vento levará este barco?
A Falha de São Paulo - 2010 O jornal Folha de São Paulo retirou o blog Falha de São Paulo do ar e está pressionando os responsáveis pela sátira. Com um processo de 88 páginas, a Folha acusa os irmãos Lino e Mario Ito Boccini de uso indevido da marca, danos morais e pede indenização. Os criadores do blog já dispõem de um novo espaço virtual (Desculpe a Nossa Falha) e estão engajados na luta pela liberdade de expressão. Mandei algumas perguntas para me informar e divulgar o que está acontecendo. Para quem não conhece, conte sobre o que seria A Falha de São Paulo. Era uma paródia, um blog que criticava a Folha de São Paulo de forma dura e abertamente cômica. Hoje estamos proibidos pela Justiça de divulgar o conteúdo, mas alguns outros blogs reproduziram alguma coisa. Pra ver, precisa caçar por aí... O porque de criticar a Folha de São Paulo? Como se deu a escolha pela crítica a Folha e não a outros veículos como O Globo? Escolhemos a Folha porque muita gente ainda acredita que o jornal é moderninho, imparcial. Há um senso comum que ouço desde a época da faculdade que diz que o Estadão é “de direita”, e a Folha, “mais moderna”, seria “de esquerda”, o que é obviamente uma bobagem. A Folha é tão conservadora e partidária quanto o Estadão, com a desvantagem de ser muito mais hipócrita, finge na maior cara lavada que não tem suas preferências políticas e editoriais. Sobre O Globo, eles merecem também! Fica a dica para outro amigo que esteja disposto a encarar um processo (“O Bobo”, “O Grobo”?...). A Folha de São Paulo alega que o processo não seria censura, mas sim uso indevido da marca. Isso procede? Não. Fosse apenas essa a questão, como eles alegam, não teriam pedido e conseguido uma liminar cassando o endereço direto no Registro.br e nem estariam nos cobrando dinheiro. Fora que “uso indevido da marca” é algo muito vago. O Bussunda fazia uso indevido da imagem do Lula, por exemplo? Se for para ir pela lógica da Folha, serão milhares os processados. Eles próprios inclusive, por conta das charges do Angeli e de colunas do Zé Simão, por exemplo. O Glauco Mattoso, nos anos 70, tinha o Jornal Dobrabil, que era um fanzine cujo nome fazia alusão clara ao Jornal do Brasil. Isso, em uma época em que a liberdade, pelo menos na teoria, era bem menor. Como entender que em pleno 2010 uma sátira possa incomodar tanto? É a prova cabal de que a Folha é uma empresa antiga, gerida por pessoas com ideias ultrapassadas e que segue uma lógica datada. Não adianta fazer propaganda com ator ouvindo jazz e usando gola rolê ou estar no tal do iPad se você tem saudades da ditadura, se você ainda não entendeu o que é a internet, a crítica, a paródia. O “Jornal do Futuro” é do futuro só na sua publicidade. A banda Planet Hemp foi muito perseguida, ao ponto dos caras chegarem na porta do show e já ter um mandato esperando. O Roberto Carlos se sentiu incomodado e conseguiu tirar sua biografia de circulação. A Xuxa não queria macular sua imagem e sumiu com o filme "Amor, estranho amor". A impressão é que a liberdade de expressão está sempre em segundo plano, principalmente quando algo incomoda quem tem grana.
Se eu, que vivo uma situação financeira precária, em um momento de desespero, assaltar um supermercado e minha foto sair na primeira página de um jornal, alguém daria ouvidos se eu reclamasse meu direito de imagem? Acredito que não. (reflita sobre) É óbvio que, num episódio assim, ninguém dará a menor pelota para você. Basta ver o que acontece quando um jornal ou uma TV noticia um crime cometido por um pobre. Eles não têm o menor pudor de pôr a cara do infeliz pra todo mundo ver, chamam de “bandido”, “assaltante” etc. Mas quando o envolvido é de classe média ou alta, sempre é tratado com todos os cuidados, qualificado como “suspeito”, seu rosto é preservado... A liberdade de expressão no Brasil não está ameaçada pelo governo, conforme a turma que está por cima da carne seca da comunicação vive reclamando. Está ameaçada por eles mesmos e pelo resto do pessoal da grana. É aquela história: Liberdade irrestrita de expressão? Claro, mas para a minha turma. Qual a principal função do "Desculpe a nossa falha"? Denunciar a barbaridade da Folha, mobilizar as pessoas contra esse processo, que é um atentado contra toda a internet brasileira, e ainda nos dar um espaço para falarmos sobre os assuntos que a Justiça ainda nos permite. Considerações finais: Acho sempre bom ponderar que o grande problema desse ataque da Folha é o precedente que ele abre. Se eles ganharem essa na Justiça, abre-se uma jurisprudência horrorosa de coerção ao livre direito de se expressar, que pode inclusive voltar-se contra eles próprios. Outro ponto é como uma atitude dessas mostra claramente que os jornalões, a mídia tradicional, não estão preparados para o novo momento da comunicação brasileira, mais livre e capilarizada, principalmente com a Internet. A Folha vem com essa peça absurda de censura e os demais mostram que também não estão preparados ao ignorar solenemente o assunto, evitando mesmo de noticiá-lo.
Rael – A intensidade do fazer - 2011 Rael Brian é um daqueles caras que mergulham de cabeça em suas viagens. Atualmente está exibindo seus trabalhos de arte-colagem na exposição Destruindo Rostos, no Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso, em São Paulo. Quem não puder ir, outra oportunidade de conhecer as produções desse cara é no seu blog http://raelbrian.blogspot.com/. E vamos à troca de idéias. Artista plástico, fotógrafo e, de quebra, ainda tira um som. Fale um pouco sobre esses trampos e onde eles se encontram. Cara, não existe glamour em nenhum deles. É somente o que gosto de fazer e sai tudo meio que por instinto. Não é algo que eu planeje muito. É claro que todos têm ligação. Além dessas atividades, existem outras facetas do Rael? Ser preguiçoso e arredio. hahahahhahahhahaa Qual a principal motivação para se dedicar a arte com tanta intensidade? Não tenho vontade de fazer outra coisa, de ter nada... Sou meio desacreditado com o que rola por aí e isso é o que me motiva. Uma palavra que defina seu trabalho: Intensidade. E o Rael pessoa? Quem é, de onde veio... De Brusque, SC. Faço parte da turminha dos tortos e desajeitados... hahahhaa A arte como atividade transformadora: Não tenho ambição em mudar algo, de levantar bandeira. Acho que a arte fala por si e cada um tem uma impressão diferente que pode ou não influenciar suas atitudes. Objetivo ou subjetivo? É relativo. Na arte prefiro o subjetivo. Consciência ou inconsciência?
A vida: Às vezes bela e quase sempre uma merda. A morte: Vi na rodoviária do Tietê. Sinistro. Hahuahauhuhahuauhauhahua
E aí? Vamos curtir um ästerdon? - 2011 Ué... Que isso? Você nunca curtiu um ästerdon? Pera aí então que vou te apresentar mais esta. Uma das características que chamam a atenção na ästerdon é a rotatividade dos membros. Quando a banda começou, mais ou menos em 2003, era um projeto meu e do Punkinho (ex-Grinders e Ação Direta). A gente tinha ideia de fazer um som stoner e íamos chamando os camaradas do ABC pra tocar, mas sem muito compromisso, apenas for fun. Então, em 2004, decidimos encarar o projeto com um pouco mais de seriedade e foi aí que a formação “clássica” se estabeleceu. Eu no vocal, Punkinho na guitarra, Ideia no baixo e Viola na bateria. Essa formação durou de 2004 a 2009, e gravou uma demo (“it had to start somewhere”), um EP (“...and it starts”), um single virtual de covers (“[ from ]”) e participou das coletâneas “sinfonia de cães” e “loco gringos have a party”. E a formação atual? A quantas anda? A única mudança na formação atual foi a saída do Ideia. Hoje, o baixista é o Alexandre Pudou (ex-ROT e Bandanos), um amigo nosso de longa data. Os integrantes atuais possuem outros projetos? Eu tenho um projeto chamado 93 Foundation, junto com o Edu Zambetti (ex-Sapo Banjo e Slush Gods): Um projeto de covers, para tocar e gravar alguns sons que curtimos. Já soltamos na net um single, com versões pra músicas do Band of Horses e Guided By Voices. O Punkinho está bem envolvido com música eletrônica, com a alcunha de DJ Mattiello, e já lançou dois EPs de Deep House. O Viola e o Pudou, no momento, não possuem projetos paralelos. Mas, se você me perguntar isso na semana que vem, talvez a resposta seja diferente... (risos) E o nome da banda? O que é e de onde surgiu a idéia? Cara, longa história, mas não custa nada contá-la novamente. Numa das inúmeras turnês do Ratos de Porão na Europa, eles conheceram uns malucos da Venezuela, de uma banda de metal, se não me engano. Eles estavam na Alemanha (outra vez “se não me engano”) e esses malucos tinham chegado recentemente da Holanda, e estavam naquela vibe de “podemos fumar maconha em todos os lugares”. Só que a Alemanha não é a Holanda. Para tornar o quadro ainda mais surreal, os venezuelanos ficavam tentando arranhar um portunhol e foi nessa que apareceu a frase “Porque lá no asterdon”... Eles queriam dizer, na verdade, Amsterdam, mas saía asterdon, sei lá porque cargas d’agua... O roadie do RDP, na época era o Gian Coppola, voltou pro Brasil e não parava de falar isso. Era asterdon pra cá, asterdon pra lá... E isso contaminou a galera. Nessa mesma época estávamos montando a banda e achamos que asterdon era um nome que soava bem, não significava nada e já estava difundido entre nossos amigos. A trema no A foi um enfeite que decidimos acrescentar como homenagem ao Motörhead e ao Hüsker Dü. É isso. Quais as principais influências?
A banda que mais influenciou a gente foi o Fu Manchu. Foi ouvindo Fu Manchu que decidimos montar uma banda de rock básico, duro, que misturasse stoner tradicional com punk rock. Além do Fu Manchu, acho que outras bandas que influenciaram bastante nosso som foram o Motörhead, Black Sabbath, AC/DC, Nebula, Jimi Hendrix, Slayer, KYUSS e Mark Lanegan. São as coisas que nos inspiram pra fazer nosso som. Isso não quer dizer, necessariamente, que você vai encontrar similaridade musical, até porque cada um processa e aplica suas influências de maneira distinta. Por mais que surjam novos estilos e bandas, o bom e velho Rock está sempre ecoando por aí. Como um estilo musical pode resistir a tanto tempo e ainda continuar com mesmo vigor e impacto? Essa é uma ótima pergunta, e gostaria de ter uma resposta contundente, mas não tenho. Não sei o segredo e nem sei se existe esse segredo. Pensando em termos de longevidade, acho que o rock ainda tem muita lenha pra queimar. Afinal, são “apenas” 60 anos de história. Se você comparar com a música erudita/clássica, que existe há uns bons séculos, a constatação é que a história do rock está apenas começando. Isso, sem dúvida, é animador. Essa vontade de fazer um som alto, com guitarras no talo, bateria brutal e gritar para exorcizar nossos demônios internos é uma parada atemporal. Essa força do Rock é o que garante a sua sobrevivência em meio aos modismos e subgenêros horrorosos. Permanece porque é bom e necessário. E permanece, também e contraditoriamente, porque não necessita de explicações: É rock, porra! O que a ästerdon está reservando para o segundo semestre deste ano? Boas novas! Acabamos de gravar o material para o nosso novo disco. E foi um processo muito legal, pois conseguimos a autorização da Prefeitura de São Bernardo do Campo (SP) para gravar o disco no Teatro Lauro Gomes. Fizemos seis sessões no teatro, registradas pelo produtor Angelo Hypolito. Nossa ideia foi usar a ambiência de um teatro pra conseguir captar um som melhor, mais encorpado, e fugir um pouco da tradicional gravação trancado em sala de estúdio. Uma experiência única e bem diferente pra todos nós. Agora estamos na fase de mixagem do material e o álbum deve ser lançado nesse segundo semestre. Além disso, filmamos toda a gravina no teatro e vamos tentar também disponibilizar esse material de alguma forma.
Poesia que sangra, fede e vomita - 2011 Músico, poeta, desenhista, blogueiro (http://atunalgun.blogspot.com/) e zineiro. Esse é Ivan Silva. Mais um grande talento que vem de Goiânia. Para quem ainda não conhece: Quem é Ivan Silva? Alguém a ser apresentado a mim mesmo. O que é arte e para que serve? Arte é vida. Acho que ela serve para nos ensinar. Ora a observar mais antes de concordar com qualquer coisa, ora a perceber que, inconscientemente, mais desaprendemos do que aprendemos a viver. Por que um artista deveria ser levado em consideração? E por que não acreditar naqueles que dão importância a troca de ideias? Considero artista aquele que desconfia de muita coisa (muita coisa mesmo). Principalmente das conclusões que ele não tira. A ideia de trocar ideias é justamente essa. Descobrir o que é que o sujeito tem na cabeça. Como foi seu contato com a poesia e como você passou de leitor para escritor? Foi bem estranho. Choquei-me com a poesia através da música, quando comecei a tocar e também quando descobri que tinha gosto pela leitura. Mas ela, a poesia, sempre esteve comigo, desde a infância. Eu é que não entendia o porquê daquele desânimo nas aulas de português. Era quase sempre gramática! E quando a professora passava algum livro de estória pra gente ler então que era aquilo? Eu é que não entendia... Não sabia o nome dessa loucura que faz a gente se sentir muito mais leitor do que escritor. Sem contar nos dedos, acho que comecei a escrever aos dezenove. E seu blog? Como surgiu e qual o foco? O blog também tem a sua história. Criei numa época de amor platônico que simplesmente não vingou (se vingou). Vi-me despencando do céu, de cabeça pra baixo, como um avião de guerra abatido, a mil e não sei quantos pés chulezentos de altura. Parecia uma coisa que não tinha fim. Era a inocência no lugar da esperança. Fiquei numa cegueira louca! Ahh época romântica... Essa não volta mais. Enfim, não sabia, mas quando o blog surgiu, o foco era esse: Derramar todas as lágrimas que um jovem sem bigode pode derramar, até se curar da ilusão enfadonha. Nesse mesmo baque do surgimento, conheci o blog (http://paranoiafreud.blogspot.com/2009/03/caminhos-edescaminhos-uma-introducao.html) do meu amigo irmão proseador Diego El khouri e passei a viajar na poesia da subversão, do carnal massacrado, do espírito preso e delgado, bullynizado pelas prensas do capitalismo. Coisa sufocante. Um antro demoníaco ao mesmo tempo que erótico. Simples, mas profundo. Depois disso, fiquei meio afastado, escrevendo só em papel. Voltei e não sabia também, mas de lá pra cá o foco do blog mudou. É esse: disseminar os trabalhos que acho essenciais e que não me deixaram esquecer da merda mundial. Tem um zine que acabou de nascer. Qual a proposta dele? O Jornalquímico, apesar das poucas palavras e da minha ingenuidade de mancebo, mexe muito com o lado visual. Tem todo um aparato do que acontece no meio da
sociedade e as pessoas vêem, percebem, mas não refletem sobre. É o caso da TV, que apresenta nos jornais da noite chocantes casos de estupro infantil, um atrás do outro, todo dia, e depois, para tranquilizar o telespectador (milhões de pessoas), vem passando a cena da novela, livre para todas as idades, como todas as outras, que insiNUA um homem e uma mulher trepando. Não quero proibir ninguém de assistir TV (novela, jornal, futebol, sociedade filmada) com um zine, mas haja reflexão! É sua primeira experiência nesse meio? Como zineiro, é sim. Sempre fui observador, fiz meus cartoons, tive minhas idéias que surgiram do nada... Mas, como zineiro, sofri influências. Tenho feito mais coisas além de mostrar ou falar só do que faço. Tô sabendo que vão rolar umas camisas com seus desenhos. Como o pessoal vai fazer para conseguir uma? Basta entrar em contato com a marginal Anna Alchuffi http://recantomarginal.blogspot.com/2011/06/vendendo-peixe.html. Mas não tem data prevista ainda. Tenho conhecido muitos talentos da arte marginal vindos de sua área. As condições daí estão propícias para o surgimento dessa galera, ou como é? Tem acontecido vários eventos, saraus, amigo indo poetar na casa de amigo... Isso tem despertado um pouco esse lado de interação na galera. Mas acho que a ferramenta principal foram os zines que vieram assim à tona, de todos lados, trazendo a informação alternativa (trabalhos de vários artistas) que, pela mídia, não chega até nós. Outra coisa também, pra mim, o Diego El Khouri, esse poeta nosso mano, que não é ferramenta, foi quem dialogou, sentiu, viu em pessoas que tinham receio no que faziam, arte, poesia... consciência à amadurecer. Qual a maior dificuldade enfrentada por essa turma para fazer circular suas idéias e produções? A maior dificuldade tem sido a falta de grana. Até mesmo pra quem tem o material do parceiro em mãos e quer ajudar a divulgar. A opção que fica são os meios da internet (blog, facebook, e-mail) ou então ler e passar pra frente. O mundo ideal seria... Sem preconceito e sem escravidão. Agora solta a fera. Libera os demônios. Quebra tudo. Agora fomos apresentados.
Petter Baiestorf - 2011 Nasceu no dia 13 de Novembro de 1974 e fundou a Canibal Filmes em Agosto de 1992 para produzir seus roteiros. Esse é Petter Baiestorf, uma verdadeira referência do cinema independente. A descoberta do cinema como forma de expressão e a definição do estilo a ser seguido: Desde criança percebi que cinema pode funcionar como ferramenta política. Parece meio alien falar disso nos dias de hoje, quando o cinemão (tanto aqui no Brasil, quanto USA, Europa e Asia) voltou a ser uma forma alienante de diversão (dados o grande sucesso de super-produções ou filmes de baixo orçamento imitando essas superproduções e o desenvolvimento de tecnologias imbecilizantes como o 3D), mas acredito no cinema que tenha algo a dizer. Minha formação em cinema é a de cinéfilo em busca de produções obscuras. Tudo que é diferente me interessa. Produzo um cinema que pode ser chamado de livre por não ficar preso a nenhuma fórmula. Acho que minha fórmula é misturar fórmulas e quebrar a lógica das fórmulas. Os elementos estão aí para serem combinados e recombinados, a experimentação não encontra limites. A Canibal Filmes existe desde 1992. Como manter um projeto, que não participa do grande circuito, por tanto tempo? A Canibal Filmes é o Petter Baiestorf, ou vice-versa. Enquanto eu estiver vivo ela vai existir e vai continuar fazendo sua arte, seus filmes. Vai continuar lançando por aí filmes que pouquíssimas pessoas gostam. Formei a Canibal Filmes em 1992, estamos para completar 20 anos de existência, produzindo sempre com dinheiro do meu próprio bolso os projetos que acho interessantes. Não me interessa ser igual aos outros. Procuro incansavelmente, durante este tempo todo, dar continuidade ao meu peculiar estilo de fazer filmes aqui no Brasil. Segredo de tanta longevidade: Teimosia! Canibal Filmes, ou Petter Baiestorf, ainda existe pela teimosia. Por saber que sou um dos únicos caras no Brasil com essa visão de querer ser um autor numa época que todos são incentivados a pensar igual a todos. Sei a fórmula de fazer filminhos populares, mas isso é fácil demais. Cadê o desafio? Nossa época está cada vez mais moralmente fascista. Enquanto eu viver vou continuar fazendo uma arte que vá contra essa idéia do fascismo nas artes, da censura estética e financeira que mutila tantos artistas. Hoje o artista é podado no papel, antes mesmo de começar a sua produção. A simples idéia de que seu filme precisa dar “n” número de espectadores já faz ele se auto-censurar prá garantir sua esmolinha! E o Manifesto Canibal? É a teoria que veio da prática. É a teoria de tudo que aprendemos a fazer em anos de produção independente. Em 2002, com problemas de dinheiro para a produção de filmes baratos, sentei e comecei a colocar várias coisas no papel com a idéia de lançar um fanzine sobre produção independente de cinema. Saiu o que ficou conhecido como “Manifesto Canibal”. Dois anos depois, em 2004, a editora anarquista Achiamé, do Rio de Janeiro, me pediu pra aumentar aquele zine e transformá-lo num livro. Chamei Coffin Souza pra me ajudar na tarefa e lançamos o livro “Manifesto Canibal”, que trás uma pequena luz de como produzir à todos que queiram se aventurar na produção independente. Esse livro teve tiragem de 1000 exemplares e atualmente está esgotado. Uma hora faremos uma segunda edição, revisada, ampliada e mais sarcástica.
Você ainda atua como blogueiro. Fale um pouco sobre esse trampo. Leyla Buk e eu mantemos o blog Canibuk, www.canibuk.wordpress.com. É um blog exclusivo de divulgação de cultura underground. Aliás, quem quiser ter sua arte divulgada lá, mande pra gente que podemos ajudar na divulgação. Canibuk engloba cinema, pintura, música, pornografia, fetiches, erotismo, comida vegetariana, medicina natural, anarquismo, bizarrices em geral e uma série de entrevistas que estamos fazendo com realizadores undergrounds. Nomes como Fernando Rick, Joel Caetano e Felipe Guerra, são fonte de pesquisa para os que quiserem falar sobre cinema underground brasileiro. Aos poucos iremos colocando tudo que gostamos no blog, que é atualizado diariamente por Leyla ou eu. Na RioFan 2011 (festival de cinema fantástico), aconteceu o caso de censura ao filme A Serbian Film. Como você vê esse tipo de atitude em pleno 2011? Esse tipo de censura, como ocorreu com o “A Serbian Film”, rola a vida toda. Faço filmes extremos a tanto tempo que vivo sendo censurado em tudo que é lugar, cada vez mais. Meu filme “Gore Gore Gays”, de 1998, nunca pode ser exibido em mostra alguma por discutir a sexualidade humana. O povo tem que deixar é de ser acomodado. Ninguém comenta isso, mas os deputados brasileiros estão cada vez mais conservadores e criando as leis mais absurdas. Repito sempre que conhecer a história do nosso país e do mundo é algo muito importante. Quem conhece a história sabe que nunca, desde 1930, a sociedade esteve tão próxima do fascismo quanto nos dias atuais. Temos toda uma geração acomodada na frente dos PCs, sem se importar com nada que não seja download ou fofoquinhas da vida alheia em redes sociais. Tá na hora de crescer e fazer a diferença. Mas, hoje em dia, percebo que os jovens sentem desconforto em pensar diferente ou, simplesmente, pensar. Prá mim, a chave de tudo é garantir uma educação de qualidade para todos, garantir que os jovens entendam a importância de pensar por si próprios e entendam que as diferenças e a tolerância entre os diferentes é algo básico para o bom funcionamento da sociedade. Um povo educado e inteligente pode ver qualquer expressão artística extrema sabendo separar realidade de arte. Sou contra qualquer forma de proibição! 5 filmes que devem ser assistidos: Não gosto de listas porque isso limita quem está buscando informação a um caminho indicado apenas. Minha dica é: TODOS OS FILMES DEVEM SER ASSISTIDOS, TODOS OS LIVROS DEVEM SER LIDOS, todos os assuntos devem ser discutidos. Cinco filmes que admiro muito são “United Trash”, de Christopher Schlingensief; “Sweet Movie”, de Dusan Makavejev; “Yuke, Yuke, Nidome no Shojo”, de Koji Wakamatsu; “Pastoral”, de Shûji Terayama; “Sedmikrásky”, de Vera Chytilová; “El Topo”, “The Holy Mountain” e “Santa Sangre”, de Alexandro Jodorowsky; “Viva La Muerte”, de Fernando Arrabal; os curtas de Jan Svankmajer; os curtas de George Kuchar; o senso de humor de John Waters. Mas quem não conhece o estilo de meus filmes, não fique achando que minhas produções são na linha desses filmes que citei. O sentido da vida: Agir com responsabilidade, coisa que nem sempre conseguimos, mas que não acho difícil. Você é o único responsável por seus próprios atos. Tenha isso sempre em mente. O que te importa?
Tudo me importa, mas, atualmente, a ignorância da humanidade é o que mais tem me assustado. Falta pouco pros “donos da verdade”, os “donos das leis”, começarem a se achar no direito de queimar pessoas em praça pública. Como adquirir as produções da Canibal Filmes? Entra em contato comigo via e-mail (
[email protected]). Não me deixe recados no blog ou em redes sociais porque posso demorar a responder. Considerações finais: Obrigado pelo espaço, Fabio. Em breve teremos novidades.
Com 15 anos de estrada, o Fungus & Bactérias dá a palavra - 2011 Como nasceu a Fungus & Bactérias? Foi meio que no susto. Como, na época, fazia pouco tempo que estava morando em Niterói, logo tratei de me enturmar e comecei a recrutar tudo e qualquer tipo de maluco que soubesse tocar alguma coisa para o meu projeto de montar uma banda de punk rock. Mas, por incrível que pareça, as coisas começaram a dar certo com o tempo. Até mesmo por eu não ter muito conhecimento de bons músicos e amigos que soubessem tocar algum instrumento nessa época e nesse corre-corre só foi ficando a galera que estava realmente afim de levar um trabalho com seriedade. Por que Fungus e não Fungos? Para poder fazer uma diferença do convencional. Deixamos o "us" no final do nome como forma de marca registrada e poder associar o nome da banda ao trabalho musical como um todo, como se fosse uma unidade de pensamento compactada numa corrente de ideais ligada ao nome da banda. Mesmo citada como uma banda de punk-metal, vocês tem um som bem próprio. Como se dá construção desse som? No início a ideia era tocar punk rock ou heavy metal tradicional, mas, com o passar do tempo, o trabalho e a sonorização das músicas foram tomando outros rumos. Somos muito ecléticos no que diz respeito ao que cada um de nós ouve particularmente, independente do nosso trabalho de banda. Gostamos de músicas que tenham qualidade, independente do estilo. Talvez seja essa liberdade que criamos dentro da banda que nos proporcionou a criação de um estilo próprio dentro do universo de trabalho do Fungus & Bactérias. Letras como Papai Comprou Maconha e Cogumelos Amarelos demonstram esse lado criativo e livre da banda. De onde vem a inspiração para essas letras? Algumas por conhecimento de causa, fatos ocorridos com pessoas próximas ou aquelas situações que a própria sociedade nos impõe para conviver dentro de um tabu. Muitos se sentem desconfortáveis em debater determinados assuntos quando circundam o âmbito das drogas, homossexualidade, sexo e coisas do gênero. Sendo assim, nos sentimos na obrigação de esclarecer sobre o assunto em nossas letras, já que muitas bandas tem uma certa cautela em cantar letras "proibidas". Tudo que se canta sobre drogas e putaria dá ibope e a molecada, hoje em dia, assimila bem o recadinho que damos em nossas letras. Qual a principal diferença entre uma banda independente e uma banda que esteja inserida no mercado musical? A possibilidade de abranger uma melhor cobertura de pessoas que possam conhecer o trabalho da banda. Eu nem falo sobre qualidade porque tem muitas bandas underground que tem uma qualidade de trabalho formidável, tão boa ou até melhor que certas bandas que já foram inseridas na mídia. O que acontece na cena independente é como se fosse uma estrada plana que não há degraus a serem galgados, enquanto que na mídia sempre há um apoio forte por parte de empresários, patrocinadores e gravadoras que visam o lucro financeiro. E o cenário independente? Como está?
A cena independente desconhece a força que exerce sobre a galera. É um movimento forte, porém desorganizado por parte das próprias bandas e de produtores picaretas que prezam pela exploração das bandas iniciantes, extorquindo seus míseros trocados para tocar em seus fúteis eventos. As bandas que não se dão o devido valor aceitam esses termos de exploração. Acredito que as coisas irão melhorar quando todos começarem a pensar e agir de forma coletiva e não de forma individualista. Já estamos cansados de vivenciar essa palhaçada que assola o nosso querido underground. Se essa mentalidade não mudar, todos sairão perdendo: as bandas, os produtores e o próprio público de uma forma geral. Uma lista das músicas que fizeram a diferença para a Fungus ser o que é? Como já comentei em uma resposta anterior, fica até difícil classificar uma lista de músicas em especial, mas posso afirmar que ouvimos de tudo, sem preconceito de estilo, e a lista seria extensa para poder citar cada música. Para resumir o assunto, podemos dizer que somos um liquidificador de estilos, tentamos absorver a essência da qualidade e trazer para um melhor desempenho do Fungus & Bactérias...
Diego EL Khouri – O filho da exclusão - 2010 “Meu nome é Diego El Khouri. Nasci em 21/03/ 1986. Descendente de libanês, filho da exclusão. Antes mesmo de andar, já esboçava vários desenhos e passei minha vida sonhando e respirando arte. Uma criança excluída na infância e pré adolescência tanto na escola, quanto por alguns parentes de “dinheiro”. Apanhava direto na escola por ser um moleque introspectivo. Nos meus desenhos e textos me vingava dos carrascos. Eu era o palhaço sem graça, que tinha taras estranhas e as escondia com um grande temor. Volta e meia as revelava na minha arte. Meu primeiro livro (não publicado) foi aos 8 anos de idade. Um livro de 100 páginas chamado REI VERGONHA, onde revelo meu ego, minhas inquietações e revoltas, além do desejo de amor e paz reinando em todo planeta. Uma visão idílica da sociedade.” Diego EL Khouri Vamos começar por um assunto crítico: Guerra. Fale sobre o Líbano, a região de onde originou sua família. Meu avô, Jamil Hanna El Khouri, teve que abandonar seu país de origem, pois seu irmão mais velho, o então ministro do Líbano, Ibrahim Hanna El Khouri, que lutava pela unificação dos países árabes, foi considerado pelo partido de oposição como facista. Meu avô, depois de rodar o mundo todo, foi parar na cidade de Orizona (Goiás), em 1951. Se apaixonou por Zélia de Castro e se casaram. Tive outros parentes que também fugiram da guerra e vieram parar no Brasil. A cultura árabe é rica e digna. Respira arte e alegria, apesar de tudo. A guerra é apenas um lixo político que ainda sustenta suas paredes. Sempre vi a guerra como um lixo. Ela tolhe os membros e destrói a beleza. Mas a cadeia do mundo ocidental fere muito mais e é nessa que vivo e que não tem mais cura.Minha essência está completamente ligada a exclusão, desde a minha infância, quando esboçava os primeiros desenhos. Minha vida é uma cadeia de loucos. Minha família sempre foi unida e desunida ao mesmo tempo. Ela é um dos alicerces de minha arte; a minha dor, minha raiva, minha revolta. Quando você escreve uma mensagem, em algum momento pensa no receptor? Escrevo apenas para lavar minha alma, exorcizar minha dor e dizer que respiro. Apesar de tudo, ainda respiro. A verdade existe? Hoje, pra mim, o que existe é a busca pelo equilíbrio que a vida e alguns astros negros me impedem de alcançar. A vida tem sentido? “As convicções são cárceres” como dizia o filósofo do martelo, grande Nietzsche, meu guru espiritual. Vivo sem os braços e pernas, totalmente mutilado. Anjo desnudo tragando a morte. Como um profeta bêbado, bebo vinho e saboreio o nada. Prefiro ser esse ser pedante e demodé, totalmente sem graça. Às vezes caio numas e me vem um desespero brutal e cuspo na vida o pior que há em mim, minha vã melancolia. Se a existência é sem sentido ou uma causa perdida, não me interessa mais. Prefiro dançar e abandonar correntes que me impossibilitam de caminhar. Uma solução final. Uma noite de extrema volúpia e poesia...
O sofrimento passado foi importante? Importante para ter a clara noção que tudo passa rápido e temos que buscar aquilo que os gregos sonhavam: Transformar a vida numa obra de arte. Mesmo sendo um milagre vivo da ciência, vi a Morte de perto e ouvi dos médicos “fim de linha”. Vi no rosto de familiares o prazer de me ver fraquejar. Mesmo assim, me sinto em ação. A dor me leva à poesia e a arte, e eu a abraço sem medo. Sentindo as vezes repulsa e desespero, mas entre um sonho e uma punheta, tudo continua em total harmonia com os clowns do universo, os deuses de barbas e metralhadoras nos dentes. A poesia para você: A única capaz de não me levar ao suicídio. Fale sobre sua pintura. É uma continuação de minha poesia. Gosto de encarar a arte como uma espécie de laboratório. Experimento tudo. Todas as técnicas. Até desenho com sangue próprio já fiz. Este, inclusive, expus no Teatro Basileu, França, nesse ano. O resultado, às vezes, soa estranho... Às vezes indigesto... Bebi na fonte de mestres como Modigliani e Frida Kahlo as cores de minha própria característica. Também encaro a pintura com uma salvação. Os fanzines: Uma noite de bebedeira e pronto. Criei o fanzine chamado Vertigem, com alguns amigos. Empolgado e com a ajuda da internet, divulguei no Brasil todo. Mas, percebi o descaso dos membros. Queriam que o negócio rendesse, mas não corriam atrás. Depois de um tempo, saí do projeto e sem mim ele morreu. Entrei em outro. Uma bosta! E nada! Foi um longo período. Entrei em projetos de pintura que não renderam nada. Aprendi a trabalhar só. Como sou leigo em computador, dependia dos outros. Passaram os dias e fui desenhando, escrevendo e tal. Chegou um momento que resolvi comprar, no susto, um computador e lancei o zine CAMA SURTA, o “folhetim coprofágico filosófico desimportante” como costumo dizer. Foi num período de críticas e reflexão. É um zine que pretende combater a arte extremamente racional dos dias atuais. Uma volta à um certo parnasianismo. Um parnasianismo corcunda e sem graça. Projetos: Continuar editando meu zine e publicar meu primeiro livro de poesias em 2011. Fui!!! Tenho problema terrível com o fim. Sempre me corta a alma. Melhor abrir uma cerveja e ver no que vai dar
Pedro de Luna e a História do Rock em Niterói - 2011 Enquanto alguns resumem o rock como mais um estilo musical, há aqueles que têm o mesmo como um estilo de vida. Pedro de Luna é um destes. Para registrar o rock e sua experiência de vida na cidade de Niterói, essa verdadeira Pedra da Lua lançou o livro “Niterói Rock Underground (1990-2010)”. A seguir, bateremos aquele papo. Por que escrever um livro e por que um livro sobre rock? Acho que eu devia isso pra mim e, sem soar pretensioso, para compartilhar com a galera. Quando o Rodrigo, vocalista do Dead Fish, comprou o livro, ele me falou: “Obrigado De Luna por preservar a nossa memória”. Acho que é por aí. Hoje seguimos uma linha do novo. Só a novidade interessa. Só o aparelho tecnológico mais novo. Queremos o corpo novo, jovem pra sempre. E por conta disso renegamos o passado. E é olhando pra trás que a gente consegue mesmo enxergar o que será o futuro. O fato de ser sobre rock, é fácil. O rock é a trilha sonora da minha vida, meu lifestyle. Como se dá a aventura de lançar um livro de forma completamente independente? No início, em 2007, seria pela editora pública Niterói Livros, que teria tudo a ver. O projeto era maior, contemplava CDs com as fitas k7 digitalizadas, exposição e documentário. Mas sempre fiz as coisas de forma independente. Nunca foi empecilho a falta de patrocínio. Não fui acostumado com edital, lei de incentivo, nada disso. Fui aluno na escola do “faça-você-mesmo”. Falando em cena independente, você já tem uma história na cena independente de Niterói. Comente um pouco sua experiência no submundo cultural da cidade. Se eu fosse escrever tudo, não caberia na página. O livro já conta essa trajetória, que começou como estagiário da rádio Fluminense FM, passando por selo independente, produção de shows e campeonatos de skate e editando o fanzine Shape A. Por que uma cidade com tantos talentos, nas mais diversas áreas culturais, não recebe nenhuma forma de incentivo da Prefeitura ou dos órgãos competentes. Adoraria que você conseguisse uma resposta deles. Na época da campanha, fomos convidados por Marcos Sabino (presidente da Fundação de Arte de Niterói) para uma reunião com Jorge Roberto, que acabara de voltar de Liverpool. Tanto lá quanto na reunião pública no Clube Central, se prometeu mundos e fundos. Não consigo entender como um prefeito roqueiro tem um braço direito roqueiro e ignora solenemente os artistas independentes. Nos sentimos traídos. Como a música da Beth Carvalho, “você pagou com traição...”. Só que eu nunca dei a mão pra eles. Estou apenas reivindicando meus direitos como cidadão que paga seus impostos. Você também atua nos quadrinhos. Existe algum projeto de livro nesse campo? Yes! É meu próximo livro. Mas prefiro contar em breve. Aguarde.. . E o Araribóia Rock? De quando começou até hoje, o que mudou e o que permaneceu? Começou em 04 de dezembro de 2004, que é por lei o Dia Municipal do Rock em Niterói (lei de 2007). Muita gente já se engajou, já chegou junto e já se afastou. Muitas bandas boas já encerraram os trabalhos e outras começaram. O que a gente percebe mais é que os locais de shows só diminuem. Nos anos 90 tinham vários. Depois abriram
outros como Sala Para todos, Dragon Jack, Arab´s Café, mas todos fecharam as portas. Hoje só temos o bom e velho Convés, o São Dom Dom e a Box 35. Lastimável para uma cidade com tantos músicos. Hoje estamos mais engajados e mais cascorados também. Estamos formando um núcleo que se reúne de 15 em 15 dias. Em meio a centenas de bandas, são 15 ou 20 músicos que se unem pra desenvolver uma cena. Isso mostra que ainda há muito egoísmo no meio artístico. O que você aconselharia aos escritores que têm seus trabalhos na gaveta e não conseguem oportunidade de lançar seus livros? Existem vários caminhos. Um deles é publicar de graça na internet. Tudo depende do que a pessoa quer. Uns querem a fama e o dinheiro do Paulo Coelho. Outros querem apenas ser lidos. Para esses, um blog resolve. Têm editoras que lançam livros projetados em blogs. Também pode fazer como os poetas, que lançam pequenos livretos e vendem nas ruas, em eventos culturais. Possibilidades existem, o que falta é coragem de ir pra rua e ralar. Muitas editoras, inclusive as que se consideram independentes, preferem ficar relançando obras antigas que abrir espaço para o novo. Isso seria comodismo ou pura covardia por parte dessas editoras? Não me sinto confortável de julgar ninguém, mas acredito que existem muitos fatores, e falta um editor curador de fato, que pesquisa, que vai atrás do que é bom. Assim como aconteceu no jornalismo. Quase não tem repórter na rua, apurando, descobrindo fatos. A maioria fica na redação, de forma passiva, recebendo releases por email. Acho que é por aí. Penso seriamente em abrir uma pequena editora pra lançar novos autores independentes. Para fechar, resuma seu livro em uma frase: Da fita cassete ao Arariboia Rock, 20 anos de lembranças e transformações marcantes. ;-))
Devotos - 2010 Em 1988, no bairro Alto José do Pinho, Recife, surgiu o Devotos do Ódio (atual Devotos). Não teve dificuldade capaz de parar essa rapaziada. E olha que não foram poucas. A banda está até hoje na ativa e tive a oportunidade de estabelecer contato com o vocalista, Canibal, que me concedeu uma entrevista. Valeu, Canibal. A banda sempre foi marcada por sua iniciativa e pela postura "Faça você mesmo", inclusive tendo construído seus primeiros instrumentos com sucata. Na verdade, o que queríamos era nos expressar através da música. Como não tínhamos grana para comprar os instrumentos, o Neilton montou sua guitarra e o Celo, com a ajuda do seu primo Lee, montou uma bateria. Algumas bandas da época nos davam força, dividindo os ensaios ou emprestando os instrumentos. Bandas como: Cambio Negro HC, SS-20 e Moral Violenta. Não queríamos que essa história de fazer os próprios instrumentos virasse a principal história da banda. Uma banda pobre, do morro, que para tocar fez seus próprios instrumentos. O que queríamos, na verdade, era ter os instrumentos dos nossos sonhos e realizamos isso depois de nove anos de banda, quando gravamos o 1º CD. Agora tá valendo. A mídia sensacionalista fode a cultura do subúrbio. Cultura não tem classe social, mas eles fazem questão de separar. Tem toda uma fantasia nessa parada de fazer os instrumentos, mas há coisas mais importantes que ninguém fala. Ex: Somos uma banda de Punk Rock HC e moramos no Nordeste do Brasil, onde não se tem apoio para nosso estilo. Nem de mídia, nem de lugares para tocar. Recebemos propostas de morar em SP. Para nosso som seria melhor, mas resolvemos ficar aqui em Recife. E já se fazem 22 anos. A indústria cultural tem como característica transformar tudo em produto descartável. Como resistir a tentação do lucro fácil e manter um trabalho autêntico? Quando uma banda tem caráter, não tem como ela fazer diferente. Não rola. O movimento mangue é um exemplo disso. A maioria das bandas colocou tambor, fizeram um som diferente e só ficou quem realmente tinha aquilo no sangue. Para uma coisa dar certo você tem que ser original e verdadeiro. Você pode até mudar para agradar ou ganhar uma grana, mas não vai demorar muito para a máscara cair. O que você destacaria atualmente na cena cultural independente? CONTRATAQUE - palcomp3.com/contrataque e-mail:
[email protected] PLUGINS - www.myspace.com/pluginsband Além da banda, que todo mundo conhece, ouvi falar sobre alguns outros projetos em que você está envolvido. Sempre fizemos projetos sociais aqui na comunidade. Nós, do DEVOTOS, junto com outras bandas e amigos, montamos uma ONG chamada Alto Falante. Não temos sede. A maioria das ações são feitas na rua. Em 2002, tivemos ajuda do DAD, uma ong Alemã, junto com a Fase, e montamos uma rádio comunitária, onde todos da comunidade podem participar, fazendo programas ou mandando informações. Essa
rádio, na verdade, é uma difusora. São caixinhas que colocamos nos postes e transmitimos a programação. Tipo aquelas rádios de interior, tá ligado? É muito difícil conseguir concessão da Anatel para fazer funcionar uma rádio comunitária. Eles só dão concessão as Igrejas e aos políticos. Mas, para nós, que queremos realmente fazer valer o estatuto das rádios comunitárias, não conseguimos ter concessão. Mas, também, qual governo quer instruir seu povo sobre suas leis, seus deveres e seus direitos? Quanto menos soubermos, melhor para quem quer fuder esse país. * Esse ano, fui para Santiago de Cuba participar de um debate sobre a impontância das rádios comunitárias. * Esse ano, também finalizamos um projeto chamado Jardim Periférico, onde fomos em 5 comunidades aqui de Recife e reghião metropolitana para dar enfaze a importância das rádios comunitárias e falar um pouco sobre como uma banda como DEVOTOS sobrevive por mais de 20 anos. * O jornalista Hugo montaroyos escreveu um livro chamado DEVOTOS 20 ANOS, falando sobre a banda, claro, mas falando também sobre o movimento no Alto José do Pinho. Tem depoimento do Faces do Suburbio, Matalanamão e alguns moradores e produtores que conhecem a banda e o movimento cultural aqui na comunidade. Esse link fala um pouco do livro e também da nossa viagem para a Europa, que rendeu umvinil chamado Victoria: http://www.revistaogrito.com/page/blog/2010/08/09/devotos-20-anos-de-hugomontarroyos/ www.myspace.com/oficialdevotos Aí tem fotos e videos da tur. Por que o Devotos do Ódio virou Devotos? Para ganhar dinheiro. Não é isso que a maioria das pessoas que não nos conhecem pensam? Só digo uma coisa: Você pode mudar seu nome, mas não pode mudar seu caráter!!!! O que a galera que curte o som de vocês pode esperar daqui para frente? Tem alguma novidade em andamento? O DVD que gravamos aqui no Alto José do Pinho. Já vai fazer dois anos que estamos tentando editar, mas agora vai!!! Esse video é tirado dele: http://www.youtube.com/watch?v=In--WIYft28
Thina Curtis e Olga Ribeiro na I Fanzinada - 2011 Para celebrar o Dia Mundial do Fanzine (29 de abril), zineiros do ABC organizaram a I FANZINADA. O evento ocupará toda a tarde do sábado, dia 30, no Espaço Cultural Gambalaia, em Santo André. É a primeira vez que a data será comemorada na região com um evento deste tipo. A I Fanzinada contará com exposição e divulgação de zines, o lançamento do Anuário de Fanzines, idealizado pelo Coletivo Ugra Press (São Paulo) que reúne mais de 100 publicações espalhadas pelo Brasil, lançamento das novas edições dos zines Aviso Final (Renato Donisete), Spell Work (Tina Curtis), Vestindo Outubros (Letícia Mendonça e Fernanda Aragão), Zine Zero Quatro (Zhô Bertolini e Jurema Barreto de Souza), exposição dos grafiteiros Daniel Melim e Dedot, HQs do quadrinista Thiago Gomes, esquete teatral com o Ator Adilson Magno (Dill) e com a exibição do documentário Fanzineiros do Século Passado. Após a exibição, haverá um debate aberto sobre os rumos do fanzine na era digital. O evento é gratuito e aberto à todos os interessados. O Espaço Cultural Gambalaia fica na Rua das Monções, 1018, Bairro Jardim em Santo André. Trocamos uma idéia com duas das responsáveis pelo evento: Thina Curtis Thina Curtis é uma verdadeira guerreira dos fanzines e uma das responsáveis pela I FANZINADA. Fala aí: O que será a I Fanzinada? Um evento que reunirá a maioria dos zineiros(as) e artistas do ABC Paulista para comemorar algo que nunca aconteceu aqui no ABC e também uma forma de mostrar o que está acontecendo, divulgar trabalhos e trocar ideias. Na verdade, a ideia surgiu entre eu e o Renato (Aviso Final) no ano passado, quando queríamos ter feito isso e não deu. Estávamos meio cansados de participar e fazer eventos em SP. Nada contra, eles são ótimos, mas acabamos não fazendo nada na nossa região, que é praticamente o berço dos fanzines, onde, até mesmo, surgiu o movimento punk. Nisso, reencontrei um velho amigo, o Rogério (Oficinativa), e começamos a amadurecer a idéia. Como estou para lançar a 8° edição do meu zine (Spell Work), resolvi que desta vez iria lançar o zine e comemorar o dia do fanzine. O Renato e o Rogério compraram a idéia (rs). Tentamos conversar com alguns órgãos públicos da região, mas houve um descaso, até pelo tamanho da ignorância em não saber como esta arte agrega tantas linguagens... Aí a Olga (Imprensa Alternativa), jornalista que pesquisa sobre publicações independentes, se juntou ao grupo (eu, Renato, Daniel, Melim (zineiro e grafiteiro) e as meninas do Vestindo Outubros), depois de um encontro no dia da poesia e lançamento do zine dos cigarristas Zho e Jurema (poetas ativistas). Fizemos uma reunião e acabamos fechando no Gambalaia, que nos cedeu o espaço. Aí, já tínhamos alguns outros amigos zineiros e ativistas de sampa e adjacências, como o job, do Carta Bomba, o Tiago Nanquim, aliás, a arte do flyer é dele... Com certeza, iremos organizar mais atividades como esta, o que já é meio passo andado para um coletivo. Qual o principal objetivo? Lançar nossos zines, divulgar nossas atividades, trocar idéias e informações e reunir amigos, é claro. Também queremos trazer pessoas que gostem dos zines e aquelas que
não conhecem. Teremos muitas atividades e várias formas de expressão, como teatro, grafitti, poesia... Você já atua nesse meio há muito tempo. Como foi início? No início, tudo é mais difícil. Não tínhamos tanta tecnologia e informação. As cartas demoravam, a qualidade da xerox era horrível e a grana pro correio não existia para divulgar legal. Muitas publicações foram abortadas porque você ficava limitado. O que mudou de lá para cá? Muita coisa! Acho que nossa realidade, hoje em dia, é outra. Porém, mesmo em épocas de globalização e internet, as pessoas ainda fazem fanzines. Isso é uma necessidade quando você faz fanzine. Ele tem sua identidade, seus ideais, desabafos, questões políticas, sociais e culturais. O legal é que você faz sozinho ou no coletivo. Você escolhe o que quer. Por que fazer fanzines? Olha, eu, hoje, não me vejo sem fazer fanzine. É algo que já está em mim. Mas vejo no fanzine um mundo de possibilidades para se fazer, tocar e, para mim, foi e é um meio de muito conhecimento e amizades. Hoje em dia, trabalho com isso. Sou arte educadora e dou oficinas de fanzines na Fundação Casa. Também peguei editais de oficinas de fanzine. Através do Fanzine em Sala de Aula valorizamos os talentos artísticos, auto estima, visão política e social e a interação. Os alunos fazem grafitti, colagem, músicas, desenhos, começam a ter um olhar crítico sobre as coisas, a lerem mais sobre direitos, deveres, cidadania e pesquisam sobre vários assuntos. Com toda essa movimentação e ressurgimento dos fanzines existe a perspectiva de que isso tudo vire uma constante e até cresça ou é apenas um momento em que o vento resolveu soprar mais forte? Realmente, esse revival dos fanzines me pegou de surpresa e me deixou muito feliz. Eu acho isso ótimo. Hoje em dia, tem uma nova geração de artistas que também são ativistas, embora pessoas que, como eu, façam fanzines e tem neles o estilo de vida, nunca tenham parado e sempre tenham estado aqui e ali Nesse encontro mesmo, no ABC, teremos isso. Podemos dizer que será um encontro da velha guarda e da nova geração (rs). Eu, por exemplo, faço zines desde os 14 anos de idade e tem pessoas achando que meu nome é fanzine (rs). Olga Ribeiro Defavari Olga Ribeiro será nossa segunda entrevistada. Além de pesquisadora de mídias alternativas e autora do livro A Imprensa Alternativa no ABC, Olga está entre os organizadores do evento. Como surgiu o relacionamento com a imprensa alternativa do ABC? A partir de uma pesquisa que iniciei na faculdade, em 2005, dentro no núcleo Memórias do ABC, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul. O “Memórias” é um projeto que visa levantar aspectos interessantes, mas pouco estudados da história da região. Como na época cursava jornalismo e por me interessar pelas práticas culturais, achei na imprensa alternativa um meio que une ambas as coisas. Mas foi
precisamente durante um bate papo com a escritora e agitadora cultural Dalila Telles Veras, proprietária de um espaço cultural em Santo André, que descobri que a imprensa alternativa, também colecionada por ela, ainda não possuía um merecido estudo, no caso especifico, as publicações do ABC Paulista. Foi então que decidi o tema da minha iniciação científica. Logo no inicio da pesquisa, descobri que os museus e centros responsáveis pelos arquivos da região, não catalogavam ou mesmo sabiam o que era essa tal imprensa alternativa. E como chegou ao ponto de pensar: "Vou lançar um livro sobre esse assunto"? Achei que minha pesquisa podia sair do âmbito acadêmico e que merecia uma visibilidade maior, pois percebi que havia muita gente interessada no assunto. Um dos interessados, o poeta Zhô Bertolini, veterano da imprensa alternativa no ABC, sugeriu que eu inscrevesse o projeto do livro no Fundo de Cultura de Santo André. Inscrevi e fui contemplada em 2008. Para escrever o livro, ampliei a pesquisa, busquei outras publicações e tentei dar ao texto um aspecto mais literal e menos acadêmico. O que você acrescentaria e o que você retiraria em uma nova edição. Ah, tem muita coisa para acrescentar. Desde a publicação e a posterior criação do blog (http://imprensaalternativanoabc.blogspot.com) recebi muito material. Na maioria fanzines. Eu pouco conhecia dos fanzines. Até o início da pesquisa, o foco do livro eram os jornais e revistas de caráter independente, por isso dediquei apenas um capítulo aos zines. Hoje, percebo que eles mereciam um espaço maior. Relendo o livro, penso que muita coisa eu escreveria de forma diferente. São planos para uma próxima edição.... Por que o foco no ABC? O foco foi estabelecido pelo Núcleo Memórias do ABC, que abrange apenas as três cidades: Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul. Talvez, em uma próxima edição, seja possível incluir as sete cidades que formam o Grande ABC: Ribeirão Pires, Diadema, Mauá e Rio Grande da Serra. Qual a principal diferença entre os veículos alternativos e os convencionais? Como o próprio nome diz, os veículos alternativos são uma alternativa à imprensa convencional. Essa imprensa independente dá espaço para assuntos que não tem grande importância ou não são divulgados na mídia oficial. São muitas diferenças. A IA, normalmente, não obedece a regras de periodicidade, distribuição, venda, assuntos e número de páginas. Tudo é feito de forma independente. Alguns mais profissionais, outros menos... Mas sem o compromisso de alcançar um retorno financeiro. Acredito que a idéia principal de quem decide editar uma dessas publicações é poder escrever sobre o que quiser, da forma como quiser e quando quiser. É este o espírito da coisa! Qual a maior importância deste tipo de veículo? Na história do Brasil, a IA teve grande importância, principalmente na época do regime militar. Esses jornais denunciavam abusos de poder e ajudavam a manter bem informada parte da população interessada, já que a mídia oficial omitia muita coisa. Claro que muitas dessas publicações sofreram pressões e precisaram ser fechadas. Isso aconteceu também com veículos na região do ABC, porém aqui a história da IA é mais branda e está mais ligada à literatura, poesia, humor e a cultural de forma geral. Creio que a grande importância no ABC foi promover a cultura, os poetas, as bandas, os cinemas, os escritores e abrir caminhos para outras publicações.
Tem mais algum material vindo por aí? Ainda não estou preparando nada, mas já tenho bastante munição para uma próxima edição. O que vem por aí é uma comemoração que estamos organizando para o dia Mundial do Fanzine, que será no dia 30 de abril, no Espaço Cultural Gambalaia, em Santo André. No meu blog tem mais informações.
Agrotóxico HC - 2010 De acordo com o dicionário Michaelis, agrotóxico é: agrotóxico (a.gro.tó.xi.co) = (cs) sm (agro3+tóxico) Defensivo agrícola Mas, hoje, vamos conhecer um novo tipo. Agrotóxico = Banda Paulista de Hard Core. Como surgiu o Agrotóxico? O Agrotóxico foi formado em 1993, por iniciativa do Mauro, primeiro baixista e vocalista da banda, e logo depois entrou o Edú (baterista) e eu (Marcos) na guitarra. A partir daí, começamos a compor os sons e tocar pelas quebradas de SP. Depois de terem passado por várias formações, shows para diversos tipos de público e ganharem espaço fora do Brasil, qual o maior aprendizado adquirido pela banda? Evoluímos musicalmente (não muito), ganhamos maior consciência política e atualmente os shows estão melhores. Acho que esse é o caminho de todas as bandas que levam a coisa de maneira séria. Agrotóxico e Olho Seco são duas bandas que sempre se relacionaram de alguma forma. Como se deu essa amizade e qual a principal influência que o Olho Seco exerceu sobre o Agrotóxico? Eu trabalhava no centro e por volta de 1995 frequentava a galeria em meus horários de almoço, especialmente a loja do Fábio (Olho Seco). Falávamos sempre sobre sons e sobre o próprio Olho Seco. Quando gravamos o Caos 1998, tivemos a idéia de chamar o Fábio para participar e ele topou. Pouco tempo depois, ele nos convidou para nos juntar ao Olho Seco para uma volta da banda, o que foi sensacional! O Olho Seco sempre nos influenciou. Acho que, ao lado do RDP, é a maior banda de hardcore brasileira. Aprendemos muito tocando no Olho Seco, com o qual, inclusive, fizemos nossa primeira turnê na Europa. O Rasta Knast e o Riistetyt são algumas das bandas internacionais com as quais vocês já tiveram oportunidade de trabalhar. Como foi esse contato e qual a principal diferença entre a cena hard core do Brasil e a do exterior? O contato foi excelente. Embora tenhamos realidades muito diferentes, o fato é que as pessoas são sempre iguais e após o primeiro contato tudo se torna natural. A cena européia é muito maior que a nossa. Praticamente em todas as cidades há uma estrutura para shows punks, bandas e principalmente público, além, é claro, da facilidade de excursionar por outros países, já que lá tudo é mais perto e fácil. Além disso, não podemos nos esquecer do padrão de vida mais elevado que permite que as pessoas dediquem maior tempo aos seus projetos pessoais e tenham maior chance de adquirir equipamentos, etc. O som punk nacional ainda rola direto lá fora? Há muitas bandas com um bom reconhecimento lá fora. Posso citar: Olho Seco, Ratos de Porão, Lobotomia, Social Chaos e o próprio Agrotóxico. Mas, atualmente, muitas bandas nacionais (como o Paúra, o Devotos e o Questions, por exemplo) têm excursionado lá. Isso faz com que o nome do Brasil fique cada vez mais forte quando se fala de Hardcore. É possível sobreviver apenas com o trabalho underground?
Não para nós... Mas é plenamente possível você gastar todo o seu dinheiro nele! Hahaha E a Red Star? Como anda? A Red Star é um projeto que começou para lançar o Agrotóxico e acabou tomando proporções maiores. Hoje, ela pertence somente ao Jeferson e está sempre lançando grandes bandas nacionais e gringas. Se não me engano, o último lançamento foi o Simbiose, de Portugal. Mas o selo possui, em catálogo, grupos como D.O.A., Rasta Knast, Lobotomia, Periferia S/A, etc. E a luta antifascista? Vivemos em um país onde boa parte da população possui um viés fascista e isso fica evidente com diversas atitudes com as quais nos deparamos diariamente. Para citar como exemplo, nossa eleição presidencial foi quase decidida por uma campanha fascista do José Serra acerca de questões como aborto, Estado Católico, criminalização da homofobia (à qual ele era contrário), etc. E isso mostra muito bem como nosso povo ainda é conservador. Além disso, é comum que a mídia veicule notícias como ataque a homossexuais, violência e assassinatos cometidos por policiais e muitas outras atitudes eminentemente fascistas muito comuns em nossa sociedade. O que, a meu ver, determina que quem quer que se diga participante da cena Punk ou Hardcore deva participar da luta contra essas mazelas que ainda são tão presentes em nosso País. Embora hoje em dia exista quem se diga “hardcore” e defenda idéias conservadoras e preconceituosas. O que é, evidentemente, um absurdo. Observo que a união entre os diferentes estilos do meio underground está cada vez mais sólida. Aquelas tretas antigas, que começavam muitas vezes por uma simples diferença de gosto, estão desaparecendo. Isso é ótimo, por demonstrar amadurecimento, união e respeito. Acho que diferenças musicais não são e nem podem ser motivos para tretas ou discussões. Existem características políticas diferentes nas diversas cenas do underground que, aí sim, podem e até devem gerar uma separação, mas é claro que isso não pode ser algo tão banal quanto mero gosto musical. Mensagem final: Apóiem a cena local. Compareçam a shows, organizem-se politicamente, escrevam, protestem, comprem discos das bandas nacionais e, enfim, contribuam com o movimento ao qual fazem parte e não sejam apenas expectadores. O Punk não tem líderes ou ídolos. Somos todos iguais.
A mídia comunitária na luta pela verdadeira democracia na comunicação - 2011 Em todo o Brasil podemos observar o crescimento da mídia comunitária. Um segmento que visa dar voz a grupos de pessoas que normalmente não tem espaço para se expressar de forma livre, com autonomia, valorizando seu modo de falar e pensar. São veículos que possuem os mais diversos formatos: jornais, revistas, zines, rádios, tvs, sites... Todos os meios disponíveis são usados. Mas um grande bloqueio ao crescimento destes meios de comunicação é a falta de apoio e incentivo. As políticas que deveriam auxiliar o desenvolvimento dos veículos comunitários ainda deixam muito a desejar. Podemos destacar as rádios comunitárias como as que mais sofrem pela falta de compreensão do poder público. Além de não receberem o incentivo necessário, ainda são perseguidas e rotuladas como rádios piratas. Um filme que trata do assunto é o “Uma onda no ar”, que relata a história da Rádio Favela, de BH, Minas Gerais. No ano passado assistimos também a mais um conflito do Rapper Fiell com a polícia, desta vez por causa da rádio comunitária que mantém no Morro Santa Marta, Rio de Janeiro. São inúmeros casos a serem relatados. No Rio de Janeiro Já faz alguns anos que venho acompanhando e participando da mídia comunitária no Rio de Janeiro. Posso afirmar então, por experiência própria, que a situação no estado não é diferente do resto do país. Embora muitos projetos e veículos surjam e continuem dando impulso a estes meios de comunicação, as dificuldades são inúmeras e o descaso do poder público é marcante. O interesse político dos que estão no poder (não só os políticos partidários, mas os empresários que financiam suas campanhas também) sobressaem a necessidade de uma imprensa realmente comunitária, alternativa e independente. Mas o pessoal não desiste e continua tocando suas ideias. Em muitas favelas cariocas podem se encontrar veículos de comunicação comunitários autênticos. Pessoas que, além da batalha pelo pão de cada dia, ainda encontram energia para suportar uma luta desigual e injusta pelo direito a voz. Cleber Araújo apresenta o Barraco Entre as entrevistas que fiz com lideranças comunitárias, movimentos e agentes sociais, antes de me mudar para Porto Alegre (no início deste ano), selecionei essa que fiz com o jornalista e cria da Rocinha, Cleber Araújo. Nela, podemos conhecer um pouco dos obstáculos enfrentados por esses verdadeiros guerreiros da comunicação. Para começar, apresente o Barraco. Barraco@dentro é um espaço virtual destinado, principalmente, aos moradores de comunidades, mas também está aberto a todos os que se interessam por assuntos comunitários. A finalidade do site é oferecer aos moradores de comunidades um outro olhar sobre a sua realidade - diferente das mídias convencionais - usando uma lente jornalística que não seja preconceituosa, nem superficial. De onde surgiu essa ideia? A ideia da construção do site já é um pouco antiga. Desde os tempos da faculdade, ficava imaginado um meio de comunicação diferente dos tradicionais. O fato de ser morador da favela da Rocinha também influenciou na decisão de querer criar um
espaço para comunicação desse gênero - um espaço não só noticioso, mas de reflexão e valorização cultural e social. Mas a principal inspiração desse projeto só conheci durante a produção do meu trabalho de conclusão de curso, quando fiz um documentário sobre a TV Tagarela, da Rocinha. Uma galera que faz a diferença. Dentro de suas produções, procuram levar aos moradores um pouco de reflexão sobre o cotidiano da favela, desenvolvendo a conscientização sócio-política. Qual o maior benefício que um veículo como esse pode trazer para as comunidades carentes? Espero que, ao adentrar nas comunidades, o Barraco esteja ajudando a valorizar uma cultura que é excluída, a desenvolver a conscientização social e política e, acima de tudo, enfatizar os verdadeiros valores das pessoas dessas regiões que não são reconhecidos pela classe média alta, nem por sua mídia representante. Você já trabalhava com blogs. Como eles vão ficar? O Pauta Grande continua ou para? O blog Pauta Grande teve e tem duas funções na minha vida, apesar de não ser atualizado com frequência. Primeiro: Foi uma forma de manter-me ligado ao meu sonho de exercer o jornalismo cidadão. Já que o mercado jornalístico está difícil de emprego, principalmente para pessoas que queiram trabalhar por um mundo melhor, tive de criar meu próprio espaço para expor minhas reflexões e críticas. A segunda função do blog: Funcionar como válvula de escape, uma fuga do estresse cotidiano através dos meus pensamentos e palavras escritas. Quanto a continuar alimentando o blog, isso ainda é incerto. Primeiro vou ter que organizar meu tempo e me empenhar bravamente para o obter o sucesso esperado com o Barraco@dentro. Fale sobre seu curta. Bom, o curta "TV Comunitária de Rua: Uma Boa Alternativa" foi produzido no ano de 2008 para conclusão do meu curso de jornalismo. Na verdade, é um documentário feito com a TV Tagarela, que tem como finalidade mostrar a importância desses tipos de iniciativas dentro de uma comunidade e também revelar como funciona e as dificuldades para se fazer TV comunitária. O legal é que acabei realizando um tipo de produção escassa no meio acadêmico. Voltando para o site: Como a galera faz para participar? Minha intenção é criar uma rede com os blogueiros e com os sites que já atuam no meio comunitário. Não pretendo publicar somente o que é produzido pelo barraco, mas disponibilizar espaço para outras pessoas e instituições que partilham do mesmo ideal. O que estou propondo não é nada novo. Isso é uma prática comum entre os blogueiros e os sites de esquerda que funcionam com muito sucesso. De um lado aumenta o conteúdo e do outro aumenta a visibilidade. Vamos sempre estar receptivos à artigos, matérias, entrevistas, fotos, vídeos e também críticas pelo e-mail:
[email protected] ou
[email protected]. Uma mensagem para fechar bonito: Só vamos viver numa pátria mais justa e mais fraterna quando o povo tiver a consciência de que a vida política não se vive apenas de quatro em quatro anos nas urnas, mas que é um dever e direito cotidiano de todos. Barraco@dentro: http://barracoadentro.com/ TV comunitária de rua: uma boa alternativa: http://www.videolog.tv/video.php?id=642118
O Aviso Final - 2011 Chegando aos 21 anos, o Aviso Final ainda ecoa pelos quatro cantos do planeta redondo. Renato Donisete trocou uma idéia a respeito e dividiu um pouco de seu tempo conosco. Como nasceu o Aviso Final? Nasceu de uma conversa que tive com o Laércio Gonçalves, no início de 1990, no ensaio da banda Insulto Oculto, da qual ele era guitarrista. Até então eu era colaborador do fanzine paulistano Mundo Underground. Falei do meu desejo de escrever sobre as bandas do ABC paulista e ele deu o maior apoio para fazer meu próprio zine. Isto está indo para 21 anos. O zine ainda existe e nossa amizade só aumentou. Legal, né? Do começo até hoje: O que mudou e o que ficou? Por incrível que pareça, ainda tenho o mesmo entusiasmo do início. Fico ansioso na copiadora... Muita coisa mudou. Eu amadureci e acredito que o texto e a parte gráfica melhoraram. Sem contar que o cenário musical é outro. Como você vê o resurgimento e a valorização dos zines? Fico muito feliz com toda esta movimentação. Muita coisa acontecendo (Encontro de zineiros, Anuário de fanzines, documentário, etc). Isto é positivo na medida que todo mundo pode colocar suas idéias em prática, divulgar seus textos e trabalhos artísticos. Enfim, ser autor de uma obra. Fazer fanzine é isto! A característica fundamental, que nunca pode ser perdida: VERDADE no que você faz!!!! O que é o sucesso? Circular suas idéias e através delas criar amizades. E o fracasso? Impossibilidade de desenvolver seus projetos, seja de que natureza for. Consciência ou inconsciência? Consciência e responsabilidade sempre!!!! Improviso ou roteiro? Roteiro, mas de vez em quando é necessário improvisar. Quantas vezes tive que adequar meus projetos devido a grana curta ou outros imprevistos. Olha que já lancei dezenas de edições, duas coletâneas em cd, etc. Nesta hora o improviso é fundamental para não deixar a peteca cair. AVISO FINAL ZINE: CAIXA POSTAL 1035, BAIRRO BARCELONA SÃO CAETANO DO SUL - SP CEP 09560-970. www.fotolog.com/aviso_final
No porão do Porão - 2011 Depois de uma entrevista maravilhosa, em pura sintonia (ambos de ressaca), eis que dou mole e fecho sem salvar a entrevista que fiz com um dos maiores fotógrafos da atualidade. Mas com esforço de memória e muita boa vontade do entrevistado, consegui trazer até meus leitores, essa grande figura. A entrevista original ficou naquele momento, mas essa reconstituição, feita pelo próprio Porão, remontou bem o ocorrido. Então, sem mais blá blá blá, esse verdadeiro maestro do click: Maurício Porão Por que a fotografia? É a forma que tenho de sublinhar e não achar essa minha vida tão escrota e sem graça! E o Porão em seu nome? De onde veio? Do meio para o fim dos anos 80, eu morava em Osasco, na periferia de São Paulo. Sou filho de paulista. Eu ouvia aquele primeiro disco do Ratos de Porão - Crucificados Pelo Sistema - o dia inteiro. Até hoje curto a banda e, principalmente, toda aquela tosqueira do primeiro disco. As pessoas que me conheciam, acabaram me apelidando de Maurício Porão. Costumava levar um cassete para infernizar as festinhas locais. Não pegava ninguém, mas já curtia estragar as festas! Como se dá a seleção de suas modelos? Faz dez anos que realizo fotos com modelos exóticas. No início, utilizava como matéria prima humana (termo meu) meninas góticas e/ou punks das tribos periféricas aqui do Rio. Pessoas do meu universo existencial/cultural/social. Havia uma cumplicidade na coisa. Hoje em dia, não há mais esse contexto... De certa forma, o que há em comum entre elas, talvez seja a postura marginal. Mas isso também não é regra, de forma alguma! É claro que as góticas confiam muito mais em mim, pois meu trabalho é muito mais divulgado nas tribos undergrounds da cidade. A beleza... Toda mulher jovem merece e pode ser bela. Eu afirmo isso! E quanto às locações? A maior parte dos ensaios que realizei até hoje, foram realizados nos casarões da Glória, aqui no Rio de Janeiro. Esse local, até onde sei, não pode mais ser utilizado, pois foi tomado pela prefeitura, com risco de desabamento. Parte daquelas casas, realmente caiu. Tenho fotos em alguns cômodos que não existem mais. Eu alugava o local com um fotógrafo conhecido no Rio de Janeiro - o Rubinho - que realizava workshops de Art Nude! Creio que fui um dos primeiros artistas a fotografar meninas semi desnudas e fora dos padrões convencionais de beleza no local! Mas há também grandes achados, como as ruínas abandonadas e assombradas do orfanato das Braunes - em Nova Friburgo. Um lugar assustador e belíssimo ao mesmo tempo... Foi onde realizei as fotos com as fadinhas, até hj parabenizado como um dos melhores ensaios que fiz. Há também praias desertas paradisíacas, casas e fazendas abandonadas em Rio das Ostras, onde moro. Mas a grande adrenalina dessa onda de invadir lugares proibidos foi nas Paineiras, aqui no Rio. Era um hotel abandonado, belíssimo e próximo do Cristo Redentor. Eu, a moça fotografada e seu namorado (são amigos que prefiro não divulgar os nomes) esperamos os seguranças partirem e adentramos naquele cenário fantástico! Era fim de tarde, no horário de verão. Em pouco mais de uma hora realizei o segundo ensaio mais incrível de minha vida até então.
Como definiria sua arte fotográfica: Amor absoluto e incondicional! Como é feita a produção dos ensaios? Você mesmo faz a maquiagem ou contrata alguém para fazer? E quanto ao figurino? Costumo comprar roupas, shortinhos, minissaias, biquínis e maiôs em sex shops, brechós, bazares... Às vezes estou de bobeira, passando pela rua, e vejo algo interessante. Se estiver com grana, compro as peças e aguardo a modelo ideal surgir. Sempre surge... Sempre! Fiz isso inúmeras vezes. Ainda estou engatinhando no lance do make up. Se estiver rolando uma grana, contrato uma maquiadora. Se não for o caso, eu e a modelo temos de nos virar... Sempre deu certo! Existe algum roteiro em seus ensaios ou a coisa nasce na hora? Existe apenas a base da ideia, de acordo com o cenário decadente! Quase nunca tem grana rolando. Sai tudo no improviso e esse é o grande lance, a grande cachaça, a diversão! Em média, quantas horas são necessárias para a realização dos ensaios? Geralmente, umas 3 horas. Uma tarde de sábado, por exemplo! Mas já houve casos de dias seguidos. Uma semana, para ser mais exato. Chamei a striper Mayanna Rodrigues, de São Paulo, que é minha amiga faz anos e uma banger de Nova Friburgo, a Fê. Os corpos das duas são parecidos e achei que ficaria legal. Convidei as duas para minha casa, em Rio das Ostras. Imagina... Duas gostosérrimas dormindo na minha casa durante uma semana. Paguei a passagem e a estadia das duas. Não gastaram nada, absolutamente nada! Viajamos para Friburgo pela Serramar. Foi uma loucura! Ao fim da tour, estava desenergizado... Foi muita adrenalina! Até me questionei a que ponto estava levando minha piração! Mas fôda-se, as fotos... Seu trabalho também tem uma ligação com o rock. É fato! Minhas modelos pertencem ao meu universo rocker! A maioria delas... Mas conforme já disse: Hoje em dia não há mais regra alguma. Há algumas patricinhas em alguns ensaios... Mas as góticas continuam confiando mais em mim! Algumas garotas de programa de luxo também já sabem do que se trata o Porão. rsrsrs Então, aproveitando o gancho, que bandas você curte? Sou absolutamente aficcionado por rock, em todas as suas vertentes. Só não curto rock pop nacional, desse que toca em rádio convencional. Há cerca de duas semanas, o Peter Hook, ex baixista do joy division/new order, tocou no Circo Voador. Foi um dos dias mais importantes de minha vida. Aquela atmosfera densa, tensa, mórbida, melancólica, desesperadora, um transe coletivo e sombrio. Celebração das sombras e dos prazeres desconhecidos, com direito a olhares de ódio e repúdio da ex namorada que lá se encontrava! A base de minha arte é Joy Division, com várias outras coisas adicionadas hoje em dia! Você vive de fotografia? Porra nenhuma. Sou funcionário público. Sou antisocial e muito pouco técnico para me prestar a essa proeza. Infelizmente! Meu lance com a fotografia é salvar minha alma submundana desse contexto social escroto ao redor. De vez em quando rola um
cascalho. Já estive em lugares longínquos, num contexto fotográfico profissa, onde nunca poderia estar por meio de minha conta corrente. A última é livre ! Solta o verbo! Quero mais é que o mundo tome no cu! Já comprei meu KY! http://www.facebook.com/l/f5d30vthKbuP_gjMi24ZHLonjw/www.mauricioporao.blogspot.com http://www.facebook.com/l/f5d30PHwJ9xyyQzFPCthiWcq_lw/www.surfnacostaazul.bl ogspot.com http://www.facebook.com/l/f5d30qKdcCzcVnGYLOkogi1S-Bw/www.faithon.blogspot.com http://www.facebook.com/l/f5d30VtwkTNfv4jyl6RKoiusxGw/www.olhares.com/porao
As Krias de Kafka - 2010 O que é o Krias de Kafka? É uma fenda no espaço-tempo, onde cinco caras representam o encontro fictício entre Iggy Pop e Carlos Drummond de Andrade. Durante o processo de criação, existe algum caminho que vocês buscam seguir? Buscamos identidade no sentido aclássico da palavra. Bom/ruim, feio/bonito, certo/errado são conceitos que não nos interessam. Estamos além das sete notas e nosso inimigo é o tédio. O que foi determinante para a banda ser como é? Orgulho e mal-criação. Qual a principal importância do cenário independente e o que aconteceria se a falta de apoio derrubasse de vez este movimento? Apoio? Não consigo nos imaginar com menos apoio do que já temos. Por isso não sentimos que podemos ser derrubados. Se o cenário não tiver condições de existir por si só é que algo está muito errado com ele. É porque deixou de ser artístico e se tornou uma estrutura sócio-cultural corrompida. Além da persistência, o que uma banda iniciante deve ter para garantir sua longevidade? Depende do tipo de longevidade que você quer. Em nosso caso, deve ser o desespero que nos leva adiante. Nada nunca parece pronto aos nossos olhos. O negócio é tentar se manter fiel a idéia inicial que você teve, até quando seu juízo aguentar. Qual o principal canal para quem tem um gosto diferenciado e quer algo a mais do que é oferecido pela mídia convencional? Hoje em dia, tanto na mídia convencional quanto na mídia não-convencional, você precisa de bom senso pra achar esse algo a mais. Precisa confiar na sua percepção e não ficar intelectualizando ou premeditando o que você consome. As coisas são. Melhores sons do momento? “The Eternal”, último disco do Sonic Youth. Esse álbum é do ano passado, mas tá valendo. Eles conseguiram chegar a quase 30 anos de banda fazendo seu melhor cd. E ainda acho que fizeram de propósito. Já devia estar combinado desde 80 e pouco. Não se pode duvidar da visão desses caras. Sons eternos Aquilo que cada um de nós ouviu lá pelos 13, 14 anos. Muito stooges-joydivisionnirvana. Livros, filmes e a arte de uma forma geral Tudo que insiste em ser inconveniente. Arte não é lugar de conforto. O ser humano Bicho complicado.
A sociedade Coleção de bichos complicados. A sociedade ideal Sem bichos complicados.
Muller Barone e o Palanque Marginal - 2011 Muller Barone é daqueles escritores que não se limitam a escrever e extrapolam sua atividade. Um verdadeiro guerreiro das letras. Visando abrir o leque de opções para novos escritores, ele montou o Palanque Marginal. Se você ainda não visitou essas paragens, está na hora de dar uma passadinha por lá. Palanque Marginal: http://www.palanquemarginal.com.br/ Em primeiro lugar, vamos apresentar o Palanque para quem ainda não conhece. O que é o Palanque Marginal e o que pretende? O Palanque nasceu porque eu não tinha espaço na mídia comum, algo que eu buscava há tempos. Estávamos em 2001. Então, imaginei que muitos gostariam de ter um espaço para mostrar o que escreviam, sem censura alguma. Só barrei textos pornográficos, não por moralismo, mas porque história só de sexo, sem contexto literário, já tinham vários lugares para serem publicadas. Por que resolver trabalhar com essa galera que nada contra a maré, ao invés da literatura convencional? Não há uma política definida de trabalhar com "essa galera". É que eles descobriram que tinham um lugar para "gritar". Mas nunca foi dispensada a literatura convencional. O que não se faz no Palanque é censurar ou julgar qualidade. Cada um responde pelo que faz. Qual a maior importância da arte marginal e em que pé está no mundo atual? A arte marginal está se colocando no patamar que deve estar. A internet ajudou nisso. Pena que está sendo tomada de vez pelo sistema que não avalia mais a importância da arte, mas a quantidade de acessos, correndo o risco de empurrar a arte marginal para o esquecimento outra vez. Lembrando que esse tipo de literatura sempre se opõe ao status quo vigente. Isso é a importância da arte que não trafega nos "salões" da grande estrutura midiática dos países. Além do Palanque, existem outras iniciativas em que você esteja envolvido? Não publicamente. Tenho projetos de edição de livros e filmes em andamento, mas estão fora de circulação. Lá por 2001/2002 fiz parte de alguns sites, mas uns acabaram e outros saí por falta de tempo. Deixe uma mensagem para a galera que está produzindo e muitas vezes se sente desmotivada pela falta de apoio e de condições para desenvolver um trabalho do jeito que gostaria. Só tem uma: não desistir. Chavão, eu sei, mas válido. Eu sou exemplo: Quis publicar, não achei espaço e criei um. Me orgulho um monte do Palanque. Ele vai fazer 10 anos e só cresceu. E note que não tem um único patrocínio. Vive do seu material mais importante, que são os "Textos". Dez anos é tempo pacas para um site exclusivamente literário. Outro exemplo meu: Aos 21 anos queria fazer o curso de cinema, pretendia ser diretor e roteirista. Não dava. Por uma série de fatores era impraticável. Fiz Direito. Este ano, no entanto, com 51, comecei o curso de cinema no Centro Europeu. Um amigo me disse uma vez: "Nunca desista do sonho."
Entrevista Luiz Alberto Machado - 2011 LUIZ ALBERTO MACHADO é pernambucano, cursou Letras e Direito. É autor de vários livros de poesias, infantil, músicas e teatro. É editor do Guia de Poesia, membro da Cooperativa da Música Alagoana (Comusa) e cônsul em Alagoas da Poetas Del Mundo. Como você se encontra e se define entre tantas atividades diferentes? Eu sou apenas um inquieto pesquisador. Desde menino que sou buliçoso, curioso – diziam até que parecia que eu tinha um cotoco por não parar quieto. Além disso, gosto de saber novidades. Sempre fui corajosamente voltado pras descobertas. Sempre achei isso instigante. E o resultado é pra lá de delicioso. Principalmente na minha área de atuação: Literatura, Música e Teatro. Tudo gira em torno disso. Uma complementa a outra e por aí vai. É muita diversão porque sou inquieto e faço 30 coisas ao mesmo tempo. O que tem sustância, vinga; o que não tem consistência, vai pra lata do lixo. Na verdade, tudo isso é só inquietação. E pesquisa. Entre essas atividades está a Cooperativa dos Músicos de Alagoas (Comusa) e o Clube Caiubi de Compositores. Fale sobre o funcionamento e o desenvolvimento destas. A Comusa nasceu do Fórum Permanente de Música, reunindo toda cadeia produtiva da música em Alagoas. Uma coisa que acredito. Sempre fui contra o bloco do eu sozinho, gosto de partilhar, compartilhar e de mãos dadas a gente, aos poucos, vai até onde a gente quer chegar. O Clube Caiubi de Compositores tomei ciência quando fiz parceria com o Sonekka – Osmar Lazarini -, cabra bão demais. Eu estava de ressaca e havia prometido pra ele uma letra. Passei uns meses hibernando na coisa, gestando. Um dia lá, um sábado depois de andar na beira da praia de Maceió, escrevi a letra e enviei. Não deu nem 10 minutos e ele me respondeu com a música feita, era aniversário dele. Fiquei feliz com isso. A gente se conheceu na rede e fui parar em São Paulo, tomando umas e outras com ele, com o Vlado Lima e o povo do Caiubi. Aprumamos a conversa e me engajei na proposta. O que gosto é da proposta autoral, apadrinhada pelo grande Zé Rodrix. Tudo nasceu do nada, hoje tem milhares de pessoas do Brasil e do exterior. Todo mundo mostrando sua arte. Uma janela maravilhosa. E seus livros? Era eu ainda menino quando me apaixonei pela primeira vez. A professora do primário foi minha musa. Todo mundo levava presentinho pra ela: frutas, rosas, lembrancinhas. E como eu sempre fui desajeitado com essas coisas de presentes, não sabia que brebote dar. Aí, fazia versos. Todo dia uma quadrinha. Findou esses versinhos publicados no suplemento Júnior, do Diário de Pernambuco. Foi o primeiro incentivo. E me danei a escrever. Como eu falava mais que o homem da cobra e escrevia mais que escrivão de polícia, comecei a inventar prosas, mentindo que só para as pessoas parentes. Foi em 1982 quando inventei de juntar os garranchos todos em versos e publiquei meu primeiro livro. Deram corda e não tive simancol: saí publicando tudo que desse na telha. Com certeza não há nada de interessante, apenas reprodução das minhas pesquisas e da minha doidice apaixonada pela vida. O trabalho com crianças também se destaca entre seus afazeres. É um trabalho mais difícil, tendo em vista a diversidade do público e seu grau de exigência? (Criança não
gosta mais ou menos. Ou gosta, ou não gosta. Se começa a bater o tédio elas se desinteressam rápido.) É verdade. Tudo começou em 1982, quando eu e uns amigos conterrâneos, inventamos de criar uma editora: a Edições Bagaço. O primeiro livro da editora foi infantil, da memorável amiga Elita Afonso Ferreira. Para fazer um lançamento diferente, adaptei o livro dela para o teatro infantil. E apresentamos no lançamento. Foi uma festa. Adaptei todos os livros infantis da editora para o teatro. A coisa deu certo. Até que os meus amigos desavisados começaram a me cobrar um livro infantil. Eu fazia música e teatro infantil, literatura não. Sempre achei uma responsabilidade danada escrever para o público infantil. Passei 10 anos enrolando as cobranças e estudando para ver se dava cloro. Até que em 1992 escrevi meu primeiro texto infantil, o “Reino Encantado de Todas as Coisas”. No começo, houve muita resistência por parte das escolas. Era um livro diferente, a história de um ponto que virava tudo. Alguns anos depois, o livro foi adotado em diversas escolas do Nordeste. Aí escrevi em 1995, o “Falange, falanginha, falangeta”, uma aventura musical, teatral e literária que virou recreação infantil. As escolas adoraram e mandei ver. Publiquei “O cravo e a rosa” em cordel, depois o “Lobisomem Zonzo” que virou peça de teatro e não parei mais até criar a Turma do Brincarte. Quando completei 50 anos me vi mais criança que sempre. Criei o Nitolino e hoje faço espetáculos infantis e recreações educativas temáticas a partir da levada do reino encantado de todas as coisas, trabalhando o hábito da leitura por meio do teatro, da música e da literatura. Resultado: um DVD. Na maior. Agora fico 1 hora e meia sozinho no palco com meu violão e a garotada pulando no palco comigo. Uma realização que me deixa muito feliz. E tem um novo espetáculo. É. Depois do espetáculo infantil que está em cartaz, o “Nitolino no Reino Encantado de Todas as Coisas”, topei realizar um show que já faço como cantarau (cantoria + sarau) e realizo solo por aí. Aproveitei a proposta do projeto Palco Aberto e estou lançando meu espetáculo “Tataritaritatá”, um show poético-musical que faço com a minha banda, composta por Jarbinhas Barros na guitarra, Felipe Barros no baixo, Marcos Drums na bateria, Ninja do Sax nos sopros e Rangel nos teclados. Tudo começou como um blog, virou site, depois cordel, cantarau, show poético-musical e livro de noveletas inéditas (algumas já publicadas no blog e no site). Trata-se de um show autoral, onde mostro minha diversidade musical: frevos, baiões, baladas, rocks, o diabo à 4. Tanto canto como conto coisas. Esse show é um projeto que vou sair por aí no segundo semestre. Tem um cd e um dvd vindo por aí também. É. Será o resultado desse show que farei dia 19, em Maceió. A gente vai registrar tudo ao vivo, num cd e dvd que pretendo lançar no segundo semestre desse ano. E depois vou mandar ver no meio do mundo. Para o pessoal que quiser entrar em contato com seu trabalho: Para conhecer melhor meu trabalho é só acessar minha home page www.luizalbertomachado.com.br onde eu reúno o Guia de Poesia que eu edito no Rio de Janeiro, o Tataritaritatá que é um site-blog de humor & coluna do Tudo Global, uma agenda com dicas e eventos do Brasil e do exterior, afora outras presepadas, vídeos numa webTVradio, canções e outras loas que coloco por lá. Aproveito para agradecer a oportunidade de participar do seu excelente trabalho, o que muito me honra. Deixo meu abração fraterno procê & paratodos.
Rogério Amorim e a OFICINATIVA - 2011 Fazendo contato com Rogério Amorim e sua OFICINATIVA, pude oferecer mais esta troca de idéias para os leitores do Reboco. Esse projeto é um daqueles que demonstram a importância de iniciativas ligadas a cultura e informação. Acredito que a esperança da humanidade resida neste tipo de atitude. OFICINATIVE-SE! Defina o Projeto OFICINATIVA em uma palavra: INTER-AÇÃO Agora, em muitas: INTERdependência, INTERculturalidade, INTERvenção, INTERferência, INTERjeição, IINTEResse, INTERrelacionamento + investigAÇÃO, inquietAÇÃO, autogest(AÇ)ÃO, experimentAÇÃO, criAÇÃO, movimentAÇÃO, etc. Minha mais orgânica e permanente INTERpretAÇÃO e INTERrogAÇÃO do mundo e da vida. E o Rogerio Amorim? Um AFROECOARTIVEDUCANDOR: um AFROdescendente brasileiro que busca compreender sua essência ECOlógica, utilizando a ARTe e o ATIvismo social para atuar e refletir em relação à Cidadania, num infinito processo de EDUCAR-se EDUCANDO... Por que existem tantos projetos hoje em dia? Simplesmente porque somos / sou múltiplo. Costuro, lavo, me entristeço, cozinho, pinto, canto, sou medíocre, danço, sou herói, sigo roubando. Isso, hoje. Amanhã, estarei realizando várias outras tarefas e conhecendo novas coisas, novos temas, que vão me encantar ou podem me desagradar. Rotina dinâmica, possibilidades instigantes. Qual a maior importância deste tipo de projeto para a população? Pensando que também sou a população (e aí desponta meu forte individualismo coletivo), apenas estou praticando e propondo aquilo que acredito fazer sentido para um desenvolvimento sustentável do ser humano - eu mesmo - tentando ampliar os horizontes além dos padrões alienantes impostos pelo capital e seus detentores, a nossa sociedade contemporânea. Ou, como também gosto de resumir: Apenas estou fazendo essas coisas para passar meu tempo aqui neste planeta. Vale a pena lutar por um mundo ideal? SIM. No fundo, tod@s estamos lutando por nossos mundos ideais. Logo, tantas guerras e tantos amores. Estamos tod@s cert@s e errad@s ao mesmo tempo. Falando nisso, como seria seu mundo ideal? Seria não. Já é! Cada escolha que faço é meu mundo ideal. Estar aqui, respondendo suas perguntas de madrugada (1h48) ou ter estado com a família neste domingo mercantilizado de páscoa, são / foram minhas felicidades por hoje. Se conformar e se acomodar é doença ou opção? É uma epidemia disseminada, como várias outras (consumir açúcar, fazer fanzines, embelezar-se, ver televisão, trabalhar...). Mas, também, é uma das mais singelas opções, pois somos seres livres e podemos SIM escolher nossos caminhos. Qualquer
AÇÃO será positiva e negativa e terá prós e contras. Qual é a minha? Qual é a sua? Qual é a nossa? Considerações finais Quem quiser se OFICINATIVAR é só dar um toque e nos enlaçamos solidariamente. Contatos: http://www.oficinativa.blogspot.com.br/
[email protected]
Hulkabilly e os Kães Vadius - 2011 Troquei uma ideia com Hulkabilly, o cara que garante os vocais da primeira banda de Psychobilly do Brasil. O Kães Vadius já está caminhando para três décadas de estrada e não pretende parar por aí. Então, aumente o volume, pois isso aí é Rock mesmo. Como foi a construção do movimento Psycho no Brasil? Cara... Pesquisamos muita coisa antiga na época (Bill Halley, Chuck Berry, Trashmen, etc.), um monte de coisas que estavam aparecendo (Cramps, Meteors, Guana Batz, Batmobile e por aí vai), juntamos tudo com a nossa realidade, Terror- B, Cachaça, Neurose e coisas que curtíamos (Alice Cooper, Stoogies, MC-5, Kiss...). A soma de tudo foi o que deu Kães-Vadius na cabeça. E atualmente, a quantas anda? Regravando algumas músicas que não ficaram bem gravadas como queríamos e gravando músicas novas. No total, acho que vão rolar umas 17 novas gravações, fora um DVD de 25 anos dos Kães, com muita imagem, som e comentários da galera que viu a coisa nascer. Muita gente monta uma banda com o pensamento em arrumar grana. Como é montar uma banda pensando em divulgar uma cultura? O que move esse processo? Não é fácil. Grana é sempre a última coisa que acaba sobrando pras bandas. Mas, é muuuuito gratificante saber que seu trabalho é ouvido e curtido por pessoas que, muitas vezes, você nunca viu, em lugares onde você nem sequer esteve. Isso é muito foda. Na verdade, o Kães-Vadius já era para ter acabado. Não acabou por que sou chato e uma galera que curte não permite. Então é isso: pura curtição e respeito. É isso que move a parada. Mas tem que ter responsabilidade e não deixar a “peteca” cair. Isso é difícil às vezes. Mas não impossível. E o segredo da Longevidade? Ser honesto com você e com seu público, ter pau duro, aguentar as adversidades e não se vender para ninguém. Personalidade e características próprias são fundamentais. Como divulgar um som sem nenhum tipo de apoio? Ter muitos amigos, propaganda boca-a-boca, internet e cair na estrada pro que der e vier. Como está o trabalho da banda hoje? Maduro, consistente, pesado e, para alguns, ainda soa como novidade quando ouvem. Um amigo me disse uma vez que: “Vocês são como OVNIS... Todo mundo sabe que existe, mas pouca gente viu!”, huahuahuahuahua. E o futuro? O que está por vir? Enquanto o sangue jorrar dentro da veia, o som não vai parar. Para mim, não tenho muito o que esperar do futuro, a não ser o futuro que eu mesmo possa fazer! Então, é pau na moleira e pimba na gorduchinha. Som, cerveja e mulheres se a patroa permitir. huahuahua O resto vamos levando na boa. Abraços a todos e muita curtição. HULKABILLY
Salve. Chega aí. - 2010 É neste clima de camaradagem que convido Alexandre Mendes para compor nosso quadro de entrevistados nessa série que busca registrar o caminho que a cultura alternativa e independente vem tomando (Marginal só para quem está fora. Para nós, essa cultura é o centro. O foco.) Um cara com quem já tive o prazer de passar por muitas e ainda passaremos por outras. Com certeza. Vamos começar falando do "Gambiarra" e do "Nada". O Gambiarra fiz nas minhas férias, momento de absoluta liberdade para mim. Como não tinha tinta na impressora, resolvi fazer a mão. Daí veio a ideia do nome do zine. Os textos estão colocados em diversas posições, lembrando o crescimento demográfico desordenado dentro das favelas. O "Nada- Ensaios filosóficos do profeta Nihildamus" foi feito no momento em que estava sobrecarregado de trabalho. O ceticismo sobre o futuro é visível no zine. Antes de toda essa ação nas comunidades carentes do Rio de Janeiro, você já tinha feito um quadrinho que falava sobre o aumento da pressão por causa dos grandes eventos que vem por aí. Adivinhação ou pura lógica? Reprimir grupos ou indivíduos que exerçam atividades prejudiciais a arrecadação do Estado é o objetivo principal da repressão generalizada, criada pelo governo. Os camelôs e os topiqueiros são perseguidos também. Tal fato sempre me pareceu óbvio. Basta prestar atenção na maneira que os políticos agem. E a série de vídeos "Vida de Cobrador"? Os vídeos foram feitos com cobradores de ônibus entrevistados, comentando os problemas dentro da função. Devo ressaltar que o ofício de cobrador de ônibus está em extinção, assim como foi o fim dos maquinistas de trem. Você acabou de se formar em História, então faça uma reflexão sobre todo esse caos vivido pelas camadas menos favorecidas economicamente do ponto de vista do historiador. Pobres sempre existiram. O desejo de dominar é constante no pensamento humano, em diversas sociedades e períodos. No Brasil, as sesmarias e depois os latifúndios, apoiados pela Lei de Terras de 1850, demarcaram nosso território, criando agrupamentos sociais atendidos de formas diferentes pelo Estado. A indiferença e a omissão do Estado, frente as favelas, propiciaram a formação do poder paralelo. O investimento econômico dentro desses lugares, incentivado pelo Estado, quitará os prejuízos da guerra. O lado historiador estará presente em futuros trabalhos ou será uma parte separada do seu trabalho? Qualquer atividade que eu exerça, tem o meu olhar historiográfico. O estudo da história influenciou meus pensamentos. Não posso jamais esquecer Clio (História, tempo). Em 2011 o cenário independente poderá contar com novos trabalhos seus? Com certeza, novos trabalhos já estão a caminho. Vivo um momento novo e isso vai direcionar todos os objetivos.
Mensagem final: Tente ser feliz. Não importa a forma que você pensa em alcançar tal sentimento. Descubra como.
Morte Súbita Inc - 2011 Para quem ainda não esbarrou nesse site pela internet, aí vai a definição dada por seus organizadores em sua página institucional: “Morte Súbita Inc. é uma agência de blasfêmias e um santuário de heresias que visa explorar realidades alternativas e dar suporte a minorias conceituais. O trabalho prático de desconstrução de universos conceituais e arquitetura de túneis de realidade é espelhado na vasta teoria apresentada neste portal”. Visando abrir espaço para a galera que não tem e trazer a tona mais este ponto de vista sobre a vida e o que a rodeia, mantenho a tradição de quebrar tradições e trazer o inesperado até seus olhos. Quem está por trás do Morte Súbita? Já passou muita gente pelos bastidores do projeto. Hoje, está nas mãos da Escola Invisível, com alguns colaboradores frequentes do Templo de Satã. Dos anos 90 para cá, houve muita influência do satanismo entre os membros. O que os levou a criar este espaço? Não foi intencional. Eram apenas amigos que resolveram preservar conhecimentos ocultos que de outra forma teriam sido perdidos. Quando o projeto começou, não era para ser um site, mas uma biblioteca. Acho que a solução de agora faz mais sentido para a missão atual. E para mantê-lo, qual a principal motivação? Dizem que um certo monge indiano dedicou 40 anos de sua vida para aprender, por meios ocultos, como cruzar o rio Ganges a pé, sem afundar. Quando ele conseguiu, o mestre dele disse: "Você é um tolo. Seus familiares cruzam o Ganges todos os dias por apenas 2 centavos." Como se dá a seleção de textos dos colaboradores? Sabemos que um texto é bom quando conseguimos despertar no leitor o sentimento de proibido. Quando você se preocupa que alguém vai pegar você lendo o texto ou quando esconde certo livro até do olhar dos seus familiares. Esses são bons indícios de qualidade. Como vocês definiriam um leitor do Morte Súbita? Preferimos que os leitores definam a si mesmos Em tempos de tecnologia acelerada, ainda há espaço para magia e religiões? Tecnologia é passageira. Quem usa "walkman" hoje em dia? Ela não anula, mas intensifica os desejos e potencialidades humanas. Mas o sentido do maravilhoso é imortal. É como a coceira. Pode mudar o lugar onde coça ou a intensidade, mas se temos uma certeza na vida é que vamos nos coçar de novo. A verdade existe? Ver resposta abaixo. E a mentira? Vida resposta anterior.
Deus e o Diabo? Duas faces da mesma moeda ou dois personagens da mesma estória? Deus e o Diabo são fantoches nas mãos que não podem ser nomeadas. Qualquer afirmação passaria a impressão de que o Morte Súbita está tentando espalhar algum tipo de doutrina. Já temos trabalho demais espalhando incertezas para nos preocupar com isso.
José Louzeiro fala sobre ontem, hoje e amanhã - 2011 São Luiz do Maranhão viu nascer em setembro de 1932 o escritor que veio para mostrar toda violência e injustiça sofrida por um povo completamente abandonado. Foi de Louzeiro que surgiram grandes obras como A INFÂNCIA DOS MORTOS e LÚCIO FLÁVIO - O PASSAGEIRO DA AGONIA (que mais tarde deram origem aos filmes PIXOTE - A LEI DO MAIS FRACO e LÚCIO FLÁVIO - O PASSAGEIRO DA AGONIA). Então, fala aí mestre: Filho de operário que virou jornalista, que virou escritor, que virou roteirista... Uma jornada repleta de experiências. Como você vê essa estrada percorrida e o que ainda está por vir? Minha vida foi sempre uma sucessão de acasos. Sou filho de um pedreiro, pobre com todo operário, mas, por ser protestante fanático, chegou a ocupar, na sua igreja, as funções de “pastor adjunto ou diácono”. Destemido, fazia pregações nos redutos em que os católicos eram mais radicais e rechaçavam os adversários a socos e pedradas. Só os católicos podiam falar em nome de Deus e dos Santos. Por isso, com freqüência, seu Aproniano (esse o originalíssimo nome dele), voltava para casa com o paletó e a camisa rasgados, os braços esfolados, a cabeça quebrada. Enquanto os milagres para melhorar nossa vida não ocorriam, as dificuldades para sobreviver, com um mínimo de dignidade, eram desesperadoras, o que não parecia preocupar o destemido pastor. Quanto mais pedradas viessem, mais fé seu Aproniano tinha no Altíssimo! O jornalismo e a literatura se encontram unidos em seus trabalhos. O que há de comum nessas duas formas de expressão e onde elas se separam? Minha experiência literária é do bem e do mal, tratados sem constrangimentos. Coisa originária do inferno astral em que vivi nas reportagens de polícia. Em certos momentos, até parecia estar afundado no purgatório de que meu pai tanto falava. Capetas e demônio graduados, perseguindo uns aos outros. Qualquer coisa parecida com o inferno do Velho Testamento que eu era obrigado a ler, sempre após o jantar. Meu pai era semi-analfabeto. Seu foco sempre foi sobre os excluídos e marginalizados. O porquê dessa preferência? O marginalizado é o germe destruidor da saudável sociedade capitalista. Dizer que é o câncer, talvez fique melhor. Os ricos e abastados têm de sobra, a massa vegeta, é o lixo humano. A coisa é de tal forma desesperadora que nem os mais habilidosos sociólogos poderão explicar como esse jogo terminará, neste nosso mundinho atomizado. Você escreveu sobre a violência no campo e na cidade, passando por problemas diversos, como os menores de rua e os grupos de extermínio. Como anda essa violência, hoje, no mundo? Seria leviano da minha parte atrever-me a uma avaliação global da violência. O que sei é que o capitalismo domina o mundo e os Estados Unidos lutam para não perderem o comando das coisas, valendo-se do seu gigantesco poderio armamentista. O país
considerado transgressor termina sendo invadido e fica por isso mesmo. Como isso tem acontecido com freqüência no Oriente, lá longe, os governos das nações ocidentais aplaudem. No Brasil o miserê é imenso! Basta saber que o trabalhador assalariado já não consegue pagar o aluguel do barraco em que vive ou vegeta. Vale lembrar, também, que no campo, os que plantam vivem na miséria e os que negociam com as safras são milionários. E na política? O que mudou? Até o momento, nada! Os países ricos e remediados continuam ludibriando os mais pobres. O Brasil, curiosamente, vive um momento especial, jogando todas as suas cartas no pré-sal. Tomara que dessa vez, com dona Dilma na presidência, alguns sonhos se transformem em realidade. Dobrar o salário mínimo, por exemplo, seria uma demonstração de amor pelos humilhados e ofendidos. Aumentar 50 mil réis não adianta nada. É deboche dos parlamentares que ganham rios de dinheiro e valem-se dos cargos que ocupam para mil e uma trapalhadas! As chamadas teorias da conspiração não param de se expandir. Existe um fundo de verdade em todas essas versões sobre o governo por trás do governo? Desde que me tornei jornalista – início da década de 50 - as fuxicadas políticas se sucedem. Um dos grandes fuxiqueiros daquela época – Carlos Lacerda - terminou derrubando o governo Vargas. Lacerda era hábil transformador de mentiras em verdades no seu jornal “Tribuna da Imprensa”. No início do governo Lula tentaram, em vão, instalar o caos com boatos e mais boatos envolvendo o operário que se transformaria no mais eficiente chefe de governo que este país já teve. Durante a nossa condução pelos doutores, vale lembrar, os desastres envolvendo este nosso Brasil foram estarrecedores. O pior deles aconteceu com o comunista Fernando Henrique Cardoso que deveria estar puxando cadeia! As operações realizadas nas comunidades carentes do Rio de Janeiro dividem a opinião pública. Qual sua opinião sobre o assunto? O governador Sérgio Cabral reinventou a prática de governar: ele rege a classe média, que ocupa os prédios nos bairros sofisticados do Rio de Janeiro e a PM governa os morros e regiões onde se estendem as comunidades carentes. Em outras palavras: quem mora no asfalto vive no regime democrático, quem habita os morros e favelas vive sob o jugo da polícia e muito dinheiro se tem gasto com a mídia para provar que regime bom é esse, compartilhado com as forças que até recentemente eram acusadas dos maiores crimes, como foi a chacina de Vigário Geral, onde os “Cavalos Corredores” fuzilaram 21 pessoas dentro de uma birosca e nenhum delas tinha qualquer envolvimento com os traficantes de drogas aos quais os policiais sempre estiveram ligados. E, o que é mais curioso: o sr. Sérgio Cabral considera-se um democrata. Imaginem se não o fosse! Tem-se observado um aumento significativo das expressões culturais oriundas da periferia. Uma maior diversidade na cultura conhecida como marginal, alternativa ou independente. Isso seria um sinal de novos tempos? Antigamente, quem “fazia a cabeça” da garotada nas comunidades era a televisão. Isso passou. Agora, são eles que acionam os programas de computador, onde a comunicação entre as pessoas é rápida e precisa. Vai daí que eles têm inventado suas músicas e um linguajar especial que só eles entendem. Um programa comum a todos os computadores deles: retratos de meninas e meninos propondo namoricos, além de
programas da mais pura promiscuidade. Além disso, perdem horas exercitando–se com os jogos mais sofisticados que a eletrônica pode oferecer. Curiosidade: o computador é tão poderoso que tem tirado muito jovem das ruas e até mesmo dos embalos. Mais curiosidade: em geral, os pais não podem interferir nessa nova atração dos filhos, pois são ignorantes diante dos mistérios da Internet e dos seus surpreendentes blogs. A Internet e os blogs têm contribuído bastante na divulgação dessa cultura e se começa a discutir leis como a Lei Azeredo. Isso seria uma reação da elite frente a esses novos meios? Não há lei que possa conter o fascínio dos jovens (e até das criancinhas) pelo todo poderoso computador, que veio para confundir. Contra a supremacia da eletrônica não há o que antepor. Até para discipliná-la vai ser muito difícil. E o futuro? O que os menos favorecidos podem esperar? Nesta era de tecnologia avançada, as “cortes políticas” vão ter que adaptar-se aos novos tempos e até, quem sabe, se tornem menos desonestas! A periferia desabrochará, tocada por um novo tipo de consciência e novas exigências, ocuparão a sociedade que sempre usufruiu dos frutos da democracia, enquanto o zé-povo, nas periferias, pastava! Quanto ao futuro, também sou realista... Velho não tem futuro. Tem manias!...
O Rock do Rock Rocket -2011 Alan, Jun e Noel são o Rock Rocket. Uma banda que leva o rock a diante e não pensa em parar de rodar. Como foi montar uma banda de rock nos anos 2000, quando muitos sustentam que rock é coisa do passado? Alan: Não sei. Nunca parei para pensar nisso. Talvez por nunca ter ouvido música eletrônica. Noel: Pra mim foi algo muito natural, pois sempre escutei rock. Desde pivete foi o som com o qual me identifiquei. Nunca passou pela minha cabeça tocar em uma banda que não fosse de rock. As bandas de rock sempre se posicionaram em oposição aos costumes e regras vigentes. De que forma o Rock Rocket se posiciona em relação a postura da sociedade atual? Alan: Eu vejo o Rock Rocket como uma banda (A)política, se é que vocês me entendem. A quebra do bom mocismo e do bundamolismo é muito importante pro rock e pra mim esse furor urgente jovem tem tudo a ver com política, com a sociedade atual. Falar sem meias palavras de drogas, sexo, violência e bebedeiras é o primeiro passo pra quem quer se rebelar. Mais tarde, quem sabe, votar nulo ou até estudar pedagogia libertária. Digo isso porque foi o que aconteceu comigo quando tinha 16 ou 17 anos, depois de ouvir muito punk rock. Isso também me influenciou em ter uma banda independente, fazer os próprios "corres", ser meu próprio empresário, minha própria gravadora e com muito esforço ter êxito. Tudo isso são coisas que aprendi com bandas que diziam: rebelese. E, ao meu ver, essa também é nossa mensagem para os jovens. Noel: Mesmo sem falar diretamente sobre esses assuntos, acho que a postura da banda deixa bem claro nossa opinião sobre diversos temas relacionados a forma como vivemos em sociedade. Num mundo careta e hipócrita, se você não fica esperto o tempo todo, pode acabar sendo manipulado. No processo de criação o público é levado em conta? Alan: Não tenho rabo preso com público, vendas ou críticos. Faço o que gosto. E eu, enquanto público, geralmente gosto de artistas que fazem isso. Então acho que estou fazendo certo. Jun: Não acho que a música deva ser feita para agradar fulano ou ciclano. Tem de ser feita por inspiração. Se o público curtir, será muito bom, se não, paciência. Sempre vamos tentar fazer o melhor. Noel: O mais importante é a gente ficar satisfeito com o que fez. Com o tempo, a banda vai adquirindo maturidade e começa a ser mais criteriosa na hora de gravar e em todo o processo de criação de uma maneira geral. Se passou em nosso teste, é porque a gente gosta e acredita no que fez. O resto é consequência. É isso que cria identidade numa banda. E como se chega a conclusão: "Está pronta." Alan: É um consenso entre os 3 integrantes. Se os 3 gostaram, é porque tá pronta. Jun: O interessante é ensaiar bastante, tocar a música ao vivo e daí sim se tem uma ideia se a música vai fluir ou não. E sim, é importante que os 3 curtam também.
Noel: Acho que pronta mesmo só fica quando termina de gravar. Sempre rolam mudanças de última hora. Mesmo assim, nada garante que ela não vá ser alterada novamente. Às vezes você grava a música de um jeito, mas toca diferente ao vivo. É um universo que está sempre aberto e em constante mutação. Pequenas apresentações ou grandes palcos? Jun: Eu, particularmente, prefiro tocar com o Rock Rocket em lugares menores, tipo 500 pessoas... Você vê a expressão do público ali, bem na sua frente. É mais caloroso... Alan: Gosto de tudo. Noel: Também não tenho preferência. Gosto quando o som tá bom. O som que vocês ouviram e mudou as suas vidas: Alan: Em setembro, Cólera ao vivo, no Grito Suburbano. Jun: Um show do Ira!, de 1989, da turnê do Psicoacústica. A banda estava em seu auge... Noel: Pra mim, foi a primeira vez que escutei Sex Pistols. Até os 12 eu ouvia mais metal. Depois que os ouvi pela primeira vez, quis começar a tocar guitarra. O maior objetivo da banda: Alan: Não tenho o sonho de "estourar" e sim de crescer gradativamente com um trabalho sólido. Jun: Atingir o maior número possível de pessoas com o nosso som, sempre sendo honesto com o nosso público! O resto é consequência. Noel: Acho que é continuar tocando por muitos anos mais. Ter uma banda é a mistura perfeita de trabalho e diversão que todo mundo sonha. O objetivo é fazer mais shows, mais discos, mais clipes... O que está por vir? Alan: Um novo compacto em vinil, 7 polegadas, com 3 músicas inéditas. Enquanto isso, estamos gravando mais músicas pra fechar um disco cheio em cd e vinil. Jun: O melhor disco do Rock Rocket!!! Pode acreditar!!! Noel: Disco novo, clipes novos e shows!
Surge um novo emissário das sombras - 2011 Quando pedi para ele mandar umas informações pessoais para eu poder fazer uma introdução, ele disparou: “Sr. Arcano é o pseudônimo do escritor e poeta Alexandre Souza. Suas obras classificam-se em gêneros como: terror, fantasia e mistério. Nascido em 1 de setembro de 1980, é brasileiro e um incansável viajante à procura de novos conhecimentos e experiências. Seu primeiro poema (Noite má) escreveu aos 14 anos e, desde então, nunca mais parou. Blog onde publica suas obras: www.senhorarcano.com” Achei que ficou bom e resolvi manter. Seja bem vindo, Senhor. Como Alexandre Souza virou o Senhor Arcano? Acredito que essa metamorfose nunca ocorreu. Sempre existiu um "Sr. Arcano" adormecido em mim. Não sei... Talvez seja uma coisa espiritual, de outras épocas, que nasceu comigo e veio a se tornar o que sou hoje. Desde pequeno, meus gostos foram muito singulares e só vieram a se acentuar com minha dedicação à literatura. Nunca fui de dizer que passei ou estou numa fase. O que sou mora dentro de mim e não nas roupas que uso ou nas coisas que faço. Por isso, acho que o certo seria afirmar que o Alexandre Souza é uma farsa. Quem realmente existe é o Sr. Arcano. Sempre foi assim e para sempre será. Existe uma teoria afirmando que as pessoas estão lendo menos. Você acredita nisso? Não sei quanto ao resto do mundo, mas aqui no Brasil as pessoas lêem menos porque não têm condições de comprar livros. Falta tempo, mas falta, principalmente, dinheiro. Em seu todo, somos um país pobre e, infelizmente, ignorante. Não por culpa nossa, mas porque faltam oportunidades e educação (que no Brasil é precária). Os brasileiros se interessam muito por arte. Prova disso você vê nos teatros que fazem promoção de R$ 1,00 de entrada aos domingos. As filas são enormes. Nessas filas, o que vemos, são pessoas pobres. Não são as pessoas que estão lendo menos, é o nosso país que muito pouco faz para educar o povo. Nossas escolas estão abandonadas, as bibliotecas públicas muito pouco freqüentadas e muito menos cuidadas e, para piorar, as livrarias parecem locais onde só as classes mais favorecidas frequentam. O problema se agrava com nosso modo capitalista de viver, por faltar tempo e disposição para lermos bons livros. Então, se essa teoria existe, é, sem dúvida, uma verdade paradoxal, pois todos nós queremos ler, mas um povo menos educado é mais influenciável e se domina com mais facilidade. Por isso, se as pessoas estão lendo menos, não é porque querem, mas sim porque nosso sistema social impõe barreiras para progredirmos de forma pessoal, espiritual e até mesmo social. E o fim do mundo? Como alguém que escreve sobre temas sombrios vê as previsões para 2012? Quando os Maias criaram seu calendário, eles o fizeram somente até o ano 2012, por isso essa crença de que o mundo vai acabar nesse ano. Mas e se eles, por algum problema comum, simplesmente não puderam continuar? Eu vejo isso como mais uma crença alimentada pela supertição fértil do ser humano. Acredito que, se o mundo vai acabar, na verdade, ele já deve ter acabado. Vivemos numa espécie de realidade onde tudo se repete, como a lei do eterno retorno de Nietzsche. O que eu acho sobre isso não
reflete, necessariamente, o que também pensa alguém que escreva sobre temas sombrios. Existem muitas crenças diferentes sobre o fim do mundo e de muitas delas não temos o menor conhecimento. Essa temática sombria aparece apenas na hora da escrita ou se reflete também no seu estilo de vida? O que escrevo é reflexo do que sinto ou vivo. Então, isso, muitas vezes, pode trazer consequências em meu estilo de vida. Meu comportamento perante situações cotidianas fazem parte do meu caráter. Já a forma como me visto, lugares que frequento, músicas preferidas etc... nada disso significa muito se eu realmente não gostar do que faço. O que somos por dentro é o que conta, o resto é apenas uma máscara. Seu livro favorito: "Eu", de Augusto dos Anjos. Tenho ele sempre por perto. Não me canso de reler essa obra fantástica de um dos maiores gênios da poesia brasileira. Ler apenas sua obra não é suficiente. É necessário pesquisar sobre sua vida, como eu fiz. O leitor vai descobrir em Augusto, um autor completamente fora do comum. Uma pessoa que estava além da pobreza em que vivia. A trilha sonora perfeita: Nox Arcana. Gosto de milhões de músicas, mas para trilha sonora, esse é o som perfeito. Parece que foi criado justamente para isso. No que se refere a situações sombrias, é claro. Um filme que nunca cairá no esquecimento: O silêncio dos inocentes. A frase: "A realidade é uma fantasia que nós mesmos criamos" (Sr. Arcano) . Noite má Sr. Arcano Aprendi que a noite não tem cor, Que o dia ilumina todas elas, Que sem cor só há dor E que as cores tornam vidas mais belas. Que na escuridão não há luz E onde não há luz não há bondade. Que o dia com sua paz nos seduz E a noite nos alimenta com maldade. Mas se a noite que nos domina é má, Então me tornei vítima de seu domínio. Pois ela só me faz alegrar Fazendo-me esquecer meu raciocínio.
Rafael A. e a crença no underground - 2011 Rafael A. é uma daquelas figuras que atuam em diversas frentes sem perder o fôlego. É sempre uma alegria manter contato com pessoas assim. Saca só a onda boa que o cara passa: Feira Moderna Zine, Latitude Zero, Rock Contra a Fome... Como administrar tantos projetos ao mesmo tempo e qual o ponto comum entre eles? Se me perguntarem qual o caminho, a ferramenta ou a saída pra construirmos um mundo (ou um país) onde as pessoas tenham plena consciência de seus direitos, deveres e consigam explorar ao máximo seu potencial, vou apontar a arte como o caminho para chegarmos lá. Pode parecer meio idiota ou inocente, mas acredito sinceramente nisso. Quando estou atualizando o FMZ_ONLINE, preparando uma entrevista, lidando com gráficas ou trabalhando em algo pra algum evento, artista ou projeto da Latitude Zero Prod. me sinto em contato com a arte, de alguma forma. Sinto que estou onde gostaria e deveria estar. Sendo assim, não é difícil encontrar tempo pra todos os projetos. Acho um barato quando acumulamos uma penca de coisas pra resolver, gente ligando, correria, enfim. Quanto ao Rock Contra-Fome, os méritos são todos do João Rock, ex baixista da banda Punk Agressão Social. O projeto é dele e só ele sabe as dificuldades que existem para mantê-lo. Só estou indo lá dar uma pequena contribuição. Sempre que puder ajudar nesse tipo de projeto, vou estar inteiramente a disposição, sem dúvidas! De onde vem a motivação para seguir produzindo? Em primeiro lugar, de uma necessidade tremenda de me sentir útil. Talvez, algum dia, tenha que fazer terapia ou algo do tipo pra resolver isso... rsrsrs O pior é que é sério. Mas, como eu disse, acredito mesmo no meio undergorund (ou independente, tanto faz). Mudou minha vida completamente e acho que pode fazer o mesmo com a vida de outros por aí! Por mais que, em determinados momentos, o meio pareça estagnado, ou congestionado com uma penca de projetos, produtores e bandas que não tragam necessariamente coisas positivas, de uma hora pra outra tudo muda e a coisa começa a caminhar pra uma direção mais bacana. De alguma forma, são fases. E como vimos algumas fases começarem e terminarem, meio que já conseguimos identificar onde isso ou aquilo vai dar. A partir daí, preferimos nos concentrar em coisas que julgamos mais duradouras. Mesmo que em determinados momentos pareça que o FMZ e a produtora estejam parados ou “dando um tempo”, estamos sempre trabalhando em algo. Acho que o grande lance é esse. Saber a hora de botar a cara pra fora e a hora de ficar trabalhando quietinho, se preparando, se estruturando. A motivação está no dia a dia. Olhar em volta e sentir que mesmo sendo uma pequena contribuição, seu trabalho (como todos os outros) é importante. De quando você começou a atuar no meio underground até hoje, quais as principais mudanças observadas? Cara, muitas. Acho que o advento das mídias digitais é a coisa mais significativa. Mudou muita coisa. A relação entre as pessoas e as bandas, por exmplo, mudou muito. A forma como a música influi na vida da garotada parece ter mudado bastante. Até a relação entre as pessoas mudou. Ainda sinto saudade da época da correspondência, de trocar fita k7 através das cartas com gente do norte e nordeste pra saber o que andava
rolando no undergorund por lá e divulgar as coisas daqui. Era assim que conhecíamos as bandas: trocando zines xerocados, mandando grana camuflada em papel carbono (nem sempre chegava...rsrsrs) pra comprar demos. Íamos pra rua trocar sons, zines e conhecer bandas. Simplesmente sair de casa atrás de diversão e informação. Acho que havia um desejo maior de aprender e descobrir. De alguma forma, o meio digital dá a sensação de que você pode ter tudo, ou chegar até tudo que você quiser, sentado na frente do seu computador. Isso mata uma parte do processo. Afasta as pessoas, mantém a galera mais trancada em casa. Tipo: "Já ouvi essa banda e não gostei, não tenho porque ir até o show e pagar ingresso pra ver." Antes, não era tão simples conhecer o som da galera. Íamos pra rua pelo prazer de conhecer bandas novas, comprar material. Sabíamos que quando pagávamos um ingresso, mesmo a um valor simbólico, estávamos contribuindo para manter um evento, um espaço. Este sentimento mudou muito. Acho que o grande desafio é achar uma forma de adaptar o meio undergorund ao mundo de hoje, sem desperdiçar as facilidades das mídias digitais e sem cair nas mãos de espertinhos, ou coisa parecida... Foi mal, fugi do assunto... rsrsrs Muita gente fica analisando qual o melhor caminho para ganhar dinheiro e tal... Como é meter a cara e fazer o que gosta, deixando as possibilidades financeiras em segundo plano? Qual a principal diferença entre fazer algo por amor e algo por dinheiro? Sempre digo o seguinte: O grande lance é a diferença entre emprego e trabalho. Emprego é algo que você tem de fazer (permanentemente ou em determinado momento de sua vida) em nome de sua sobrevivência. Trabalho é sua contribuição pro mundo a sua volta. É o que você tem de melhor, sendo oferecido em nome de uma coletividade (palavrinha complicada essa, principalmente hoje em dia...), ou coisa parecida. Em determinados momentos, trabalho e emprego, contribuição e sobrevivência, podem se harmonizar e é muito bacana quando isso acontece. Já aconteceram momentos em que, ao menos pra mim, isso rolou. Podia trabalhar exclusivamente com coisas ligadas ao meio underground e sobrevivia. Em outras situações tive que ir atrás de trabalhos “normais” pra ter algo no bolso. Confesso que não são as experiências mais bem sucedidas de que se tem notícias... rsrsrs Quem trabalha merece ser remunerado, mas é preciso um mínimo de dignidade e bom senso. Quando trabalhamos única e exclusivamente visando retorno financeiro, deixamos passar uma série de oportunidades de crescer, de aprender. Por outro lado, é preciso valorizar a própria obra e o próprio esforço. Meio que defender seu trabalho das coisas e pessoas negativas que fatalmente encontramos ao longo do caminho. Mas, como disse, o grande lance é o bom senso. É bom e faz bem se dedicar, se entregar em nome de uma causa ou de algo que se acredite, mesmo que sem retorno financeiro. Mas, repito, pra tudo tem de se usar do tal do bom senso. Qual a maior importância para o artista em manter sua independência? É fundamental, creio eu. Defendo isso até o fim! Aprendi isso numa das primeiras conversas que tive com o Redson, da banda Cólera (falecido recentemente). Você precisa ter o controle de sua obra. O volante está na sua mão, você é o condutor e leva seu trabalho na direção que julgar correta. Hoje em dia, com todas as possibilidades que um artista tem a sua disposição, me espanta que uma banda ainda pense em correr atrás de gravadora e toda essa coisa, por exemplo. É praticamente pedir pra ser amarrado, amordaçado, ter as mãos atadas. A arte tem de ser livre e isso não tem haver com desvalorizá-la, pelo contrário. Temos exemplos muito bem sucedidos de bandas undergrounds que sobrevivem de forma independente, que recusaram convites
de gravadoras e mantiveram a integridade de sua obra. Hoje podemos dizer que isso é possível. As possibilidades existem. Gravação, distribuição, equipamento, tudo está à disposição. Pergunte pra quem viveu a época, como era gravar uma demo de qualidade em meados dos anos oitenta. Não havia nada parecido com as facilidades de hoje em dia. Hoje, tá tudo aí. A tal da independência é real, possível. Para você, o underground é um estilo ou uma situação? O meio undergournd é a vida que escolhi. É sinônimo de vida, trabalho, causa, luta, contribuição, inclusão, cultura... Mudou minha vida, me mostrou que eu podia mais, que podia interferir, criar, rejeitar e me fazer presente no mundo em que nasci. Bad Religion, Dead Kennedys, Cólera, George Orwell e Franz Kafka me arrastaram pra esse universo no comecinho de minha adolescência e sou grato a esses artistas, músicos e escritores por isso. Para finalizar, vamos ampliar um pouco mais a discussão e comentar sobre o aumento significativo de manifestações pelo mundo. Em toda parte se observam pessoas mostrando sua insatisfação. Seria sinal de uma nova época, a continuidade de um processo que já vem de muito tempo ou o início de uma longa jornada. Acho que tem mais haver com uma nova etapa de um longo processo. Tudo que está acontecendo tem, de alguma forma, a cara dos tempos em que vivemos. Porém, acho válido tomar cuidado, pois alguns fatores negativos continuam existindo. Sempre vai haver alguém interessado em seu protesto, em sua obra e coisas que são só suas. Mas de onde vem esse interesse? No que determinada figura, ou organização (seja de qual natureza for), ganha com seu protesto, sua luta? Considero qualquer manifestação espontânea extremamente válida, mas há de se ter cuidado. Nossa luta, nossa opinião e nossa voz tem muito valor. É importante saber onde colocá-las.
Jayme Cortez ganha blog em homenagem a sua grande contribuição para os quadrinhos nacionais. - 2011 Nascido em Portugal (1926) e vindo para o Brasil aos 21 (1947), Jayme Cortez deixou seu nome registrado nos quadrinhos nacionais e em diversas outras formas de expressão. Um blog foi lançado (http://jaymecortez.blogspot.com/) e completa hoje um mês. Para comemorar esse primeiro mês de vida do blog, foi postado um vídeo raro sobre o artista. Conversamos com um dos criadores desse projeto (Fabio Moraes) e ele nos contou um pouco mais sobre essa idéia e sobre esse mestre das imagens chamado Cortez. Logo estará sendo lançada uma animação sobre a principal estória de Cortez (O Retrato do Mal) e um livro também está a caminho. Por enquanto, vamos conhecer um pouco mais sobre tudo isso: Por que Jayme Cortez, como brotou a idéia e qual o maior objetivo do blog? Conversando com o Jayminho, filho do Cortez, tivemos a idéia de fazer um site para divulgar a obra do pai, mas como nós não dominamos html, resolvemos fazer um blog, que pelo menos entendo um pouco e, por enquanto, atende aos nossos objetivos. O blog faz parte de um projeto maior, que é a publicação do livro de arte que estou escrevendo sobre a vida e, principalmente, a obra de Jayme Cortez, ainda sem data para lançamento. O maior e único objetivo do blog é divulgar a vida e obra do Cortez. Mostrar ao grande público imagens, artes e fotos. Apresentar várias facetas do artista totalmente desconhecidas, como, por exemplo, as tapeçarias, feitas em conjunto com D.Edna Cortez, e as litografias. Como se deu o trabalho de pesquisa para a construção do blog? Faço essa pesquisa sobre a vida e obra do Cortez há mais de 25 anos. Nesse tempo, digitalizei quase todo o acervo da família do Jayme (originais, revistas, fotos...). Isso ajudou muito e tornou viável a construção do blog, embora não seja tarefa fácil, pois trabalho nas minhas horas vagas e muitas vezes durante as madrugadas. O blog é 90% visual, pois é justamente essa a ideia. Mostrar muita imagem e apenas os textos mais relevantes, já que existem biografias feitas por pessoas muito mais capacitadas e conhecedoras de Jayme Cortez do que eu, como o Prof. Álvaro de Moya e Reinaldo de Oliveira, apenas para citar alguns nomes de peso. Observei que vocês aceitam colaborações. Como colaborar? Precisamos realmente da ajuda de colaboradores, pois apesar de termos um material razoável, nos falta muita, mas muita coisa ainda. Principalmente capas de revistas impressas. Queremos que esse blog seja referência em termos de qualidade e quantidade. Como Cortez produziu muito, precisamos da ajuda de todos. Que os amigos nos ajudem enviando a maior quantidade de material possível. (capas, quadrinhos, fotos ou textos) para:
[email protected]. Lembrando que todo o material recebido terá o devido crédito postado. Como definir um artista tão diverso? Cortez é um artista completo, de diversos estilos e todos inconfundíveis. Dono de mão extremamente segura, desenho marcante e técnicas absolutamente sensacionais e inovadoras, que estavam bem a frente do seu tempo.
Trabalhou nos mais diversos campos da comunicação. Fez ilustração, quadrinhos, capa de disco, cartazes de cinema, dirigiu comerciais de TV, foi editor e diretor de arte, atuou em propagandas e filmes para TV e cinema, fez tapeçaria, litografia... Enfim, um profissional multi-mídia. Qual a maior herança deixada por ele? Jayme Cortez é o pai de toda uma geração de artistas e uma referência profissional. Deu oportunidade e ensinou muita gente. Divulgou e defendeu, como ninguém, nossos quadrinhos. Foi nosso representante em inúmeras exposições e congressos pelo mundo afora. A maior herança que Cortez nos legou foi o amor a profissão, o carinho aos amigos e o grande desprendimento que tinha em ajudar os iniciantes. Sendo assim, só nos cabe render esta pequena homenagem a quem tanto fez pelos quadrinhos e ilustração neste país.
Inseto Editora - A perseverança de quem acredita no que faz - 2011 Elizabeth Bathory, 31 anos, atua na cena zineira desde 94 e como escritora desde 2001. Hoje, escreve ficção headbanger, tem uma produtora de vídeos e criou a Inseto Editora. Ainda não conhece o trampo desta guerreira? Porra... Então, a hora é essa. Como funciona a Inseto Editora? Nasceu assim: Lancei um livro de ficção headbanger e fui atrás das editoras. Levei NÃO de todas. Pensei: “Sabe de uma? Vou criar meu próprio selo”. E assim foi. Então, ela funciona com meus livros e com os de pessoas que me enviam. Eles são sempre ligados ao tema rock ou heavy metal. Do contrário, não lanço. O que se encontra no catálogo? A gente tem pouco tempo de estrada. Só temos 5 títulos no catálogo. http://insetoeditora.blogspot.com/2011/02/catalogo-insetoeditora.html Qual o critério para decidir o livro que vai ser lançado? O tema tem que ser ligado ao rock e/ou heavymetal. Por que a escolha dessa linha editorial? Porque é nossa área. Dominamos e gostamos. Além do fato de que não há nada desse naipe no mercado. Ninguém escreve como vive um banger, o que ele faz, onde ele vai. Nós viemos pra isso. Fale um pouco sobre os lançamentos que estão por vir. Estou trabalhando no RIACHO DOS MACHADOS. Deve sair em dezembro de 2011, sem erro. Conta a história de um grupo de merrymakers (teatro cara-pintada) se apresentando no interior de MG. Porém, um deles descobre a Lenda dos Machados, de uma cidadezinha lá, e a companhia desanda. A Inseto promove um evento chamado REFEM. O que acontece nesse evento e qual sua maior importância? Na verdade, o REFÉM (http://insetoeditora.blogspot.com/2011/04/refem6.html) é do CULTURA TRASH ZINE. É o seguinte: Todo mês nos reunimos no salão da associação - portanto, gratuito - com zineiros, agitadores culturais, escritores, etc. Por uma semana, dissecamos e discutimos um tema (seja em vídeo, docs, textos, músicas relacionadas, etc), além da mesa redonda e das conferências com convidados de fora, etc. São 5 dias de pura cultura com quem gosta. Na última edição o tema foi o PUNK NACIONAL. E a Divisão Films? A DIVISÃO FILMS tem como proposta registrar em vídeo festivais de heavy metal (death, black e grind) pelo interior do estado ou fora dele. A estréia da DIVISÃO se deu nesse aqui: KRISIUN EM SP http://www.youtube.com/watch?v=kzN56ALDenU / KRISIUN EM SP – part2 http://www.youtube.com/watch?v=p2DiN2Q7AAE
Você também produz fanzines e blogs. A quantas andam esses veículos de comunicação? Tenho 2 zines na ativa: O CULTURATRASH ZINE (De cultura pop em geral: cinema, rock, HQ, pinturas, entrevistas desse meio, resenhas, fan fictions, etc.) e o DESGRAÇAETERNA ZINE (Esse, trata exclusivamente de death, Black e grind. Entrevistas, resenhas de demos, álbuns, festivais, etc.). Engavetei um de poesia (o DE REPENTE ACIDENTES ZINE), mas volta e meia solto um número. Blog tenho o da INSETOEDITORA [insetoeditora.blogspot.com], onde divulgo os zines e os books. Qual sua maior motivação para levar esses projetos a diante? A paixão. Amo muito tudo isso! Tem mais algum projeto do qual você faça parte e que esquecemos de mencionar? Atualmente, só. No passado, tive um programa de heavy metal numa FM, uma banda de blackdeath e uns livros de poesia que engavetei pra me dedicar a ficção. E algo que você gostaria de falar e não foi dito? Aprecie nossa cena. Ela é foooda!! INSETOEDITORA: Zines, VTs e heavy metal books! Nossos links: MSN
[email protected] insetoeditora.blogspot.com facebook.com/profile.php?id=100002544870712 myspace.com/566101528 orkut.com.br/Main#Profile?uid=15631883409755727721&rl=t http://www.fotolog.com.br/insetoeditorah http://www.desgracaeternazine.blogspot.com/
[email protected]
Fernando Rick solta o vômito Negro - 2011 “O estranho, o provocativo, o controverso... Se há um ponto em comum entre todos os trabalhos da Black Vomit Filmes, com certeza, são os temas atípicos. Documentários, vídeo clipes, filmes, programas de TV, animações, ilustrações... todo tipo de obra audiovisual sob uma ótica diferenciada.” (http://www.blackvomit.com.br/sobre.html) E Fernando Rick chega junto para prestar maiores esclarecimentos. Chega aê, Fernando. Quem era o Fernando Rick antes da Black Vomit? Era um jovem a toa, aficcionado por cinema e cerveja, fã de som pesado e botecos. Como ela nasceu? Eu sempre tive vontade de fazer meus vídeozinhos trash. Era ultra difícil juntar uma turma legal pra conseguir realizar alguma coisa. Então, por volta de 2000, consegui reunir um bando de amigos do colégio pra tentar fazer nosso primeiro vídeo em VHS. O filme não saiu, mas a produtora surgiu ali, com o nome tirado de uma música da banda Sarcófago. O filme perfeito: Não tenho como escolher apenas um filme ou livro favoritos, mas um dos mais notórios é, sem dúvida, Evil Dead. Como você definiria seu trabalho? Bem esquisito. Sempre em evolução e se modificando. Não costumo ficar me repetindo. Fazer filmes de maneira independente não parece ser coisa muito fácil. Explique esse processo: Existem vários modos. O mais comum é você juntar dinheiro, reunir amigos e convencê-los a fazer coisas nojentas e passar vergonha, tentar por umas mulheres peladas e misturar tudo o que você gostaria de ver. Aí, com o tempo, você vai aprendendo a linguagem, técnicas, etc. Se tiver interesse, geralmente, acaba trabalhando na área. Caso contrário, pode continuar a vida fazendo isso como Hobby pra se divertir com os amigos, o que é legal também. Aliás, tudo começa como desculpa pra tomar cerveja. Funciona tipo aqueles jogos de futebol onde o povo só joga por causa do churrasco que vem depois. E os atores? É difícil arranjar atores quando a grana é pouca ou nenhuma? Quando se está começando é difícil. Vai da sua lábia de convencer os amigos a passar carão. Quando você vai se profissionalizando, aí começa a usar atores de verdade. Você mostra um projeto do filme pros caras, geralmente você paga cachê, mesmo que simbólico, etc. É mais fácil com ator de verdade do que amigo, mesmo o cachê sendo simbólico. Para a rapaziada que tá afim de começar a produzir seus próprios filmes, qual a dica? Veja filmes. É a maior escola de cinema que existe.
Entrevistando o OTA -2011 Otacílio Assunção, o fantástico Ota, foi super receptivo ao meu convite para esta entrevista. O resultado não poderia ser melhor. Curtam esse bate papo, aproveitando para conhecer um pouco mais desta carismática figura. Quais os principais fatos desses 40 anos de carreira? Acho que o que me tornou conhecido mesmo foi o Relatório Ota, que comecei a publicar na segunda série da Mad, mas acho importante a fase das revistas de terror da Vecchi. Durou só uns 4 anos, mas muita gente importante no cenário das HQs apareceu ali. Eu acho que fiquei na Mad tempo demais. Deveria ter pulado fora quando a Record parou de publicar no ano 2000. Mas acho que a parte mais importante está começando agora. Só que os quadrinhos estão ficando num plano menor. E com a chegada da internet e das novas tecnologias, o que mudou na vida do Ota? Acho que fui, se não o primeiro, um dos primeiros cartunistas brasileiros a ter um site na internet. Assim que ela começou a se popularizar (no Brasil, por volta de 1996) entrei e não saí mais. Comecei a sentir que o futuro estava aí, que em algum momento o papel iria acabar e ser substituído pela tela e que, como nos livros e jornais das histórias do Harry Potter, as imagens poderiam se mexer. Comecei a me movimentar nesse sentido. Hoje, estou produzindo games para crianças. É uma linguagem que me fascina. Você está vivendo uma fase onde muitas coisas estão acontecendo e entre estes acontecimentos está seu relacionamento com o cinema. Depois do "Malditos Cartunistas", um filme sobre sua trajetória está a caminho. Um amigo de longa data, o Franz Valla, falou que eu merecia virar tema de um documentário. Iria ser um curta, mas quando ele falou do projeto pra Tatiana Issa, ela se encantou e disse que ela mesma, junto com o Raphael Alvarez, iria dirigir o filme e que seria um longa. Depois do avassalador sucesso de crítica do filme Dzi Croquettes, eles estavam procurando um assunto para o segundo filme e sentiram que podia ser esse... Isso foi a melhor notícia que recebi em 2010. Não é qualquer um que vira tema de filme da Tatiana Issa. Fiquei nas nuvens. Ela não é só um rostinho bonito e tem uma força espiritual fora do comum. Com a escolha do Igor Cotrim pra fazer meu papel nas dramatizações, a coisa ficou mais consistente ainda. Mas se engana quem pensa que esse vai ser apenas mais um documentário sobre quadrinhos como o "Malditos". É muito mais. Claro que os quadrinhos vão estar presentes o tempo todo, mas será um filme para todo mundo ver, não só os fanáticos por quadrinhos. Ouso dizer que esse filme vai mudar também o conceito de documentário. E o lançamento do segundo volume do Relatório Ota? A série dos Relatórios continua. Será uma coleção enorme. Estou colocando no liquidificador tudo que fiz na época da Mad e adaptando pros dias de hoje. Na verdade, não é um livro de quadrinhos, mas um gênero novo, que pode ser classificado como "literatura desenhada". Mas o ritmo das livrarias é mais lento. Está demorando mais a acontecer do que eu queria. O que está acontecendo de interessante no mundo dos quadrinhos?
Está havendo uma transição. Os quadrinhos deixam de ser um produto de massa e viram uma coisa cult. Parei um pouco de acompanhar porque é difícil separar o joio do trigo. Ao mesmo tempo que tem coisas geniais, como o Neil Gaiman e a Marjane Satrapi, tem muita porcaria sendo lançada. Loucura ou sanidade? Bom, normal eu não sou, né? Não sou exatamente louco, mas tendo a ser classificado assim porque fujo dos padrões. Mas é claro que não regulo bem da bola. Santidade ou pecado? Nem um nem outro. Não sou santo, mas não chego a ser pecador. Na verdade, tenho um código de princípios muito forte. Público ou privado? A privacidade é uma coisa que não existe mais nos dias de hoje. Antes era só Deus que via tudo, agora é o dono do Google. Ota no momento da criação: As ideias vêm o tempo todo. Ando com um bloquinho no bolso do colete e anoto tudo. Mas, na hora que preciso produzir para cumprir algum prazo, elas vêm do mesmo jeito. Aquele garoto que está começando a fazer seus primeiros rabiscos e sonha em conseguir viver de seus futuros desenhos. O que dizer para ele? No meu tempo, haviam mais veículos impressos, então, um garoto de 17 anos podia chegar na redação de um jornal e no dia seguinte sua tira estar sendo publicada... Eu sei que tive muita sorte, mas antes era mais fácil. Hoje não tem essa sopa. Entretanto, há a possibilidade de publicar na internet. O problema é se sobressair na multidão. O conselho que dou é: Se o garoto, ou garota, quer mesmo seguir a carreira, deve perseguir seus objetivos e se agarrar às oportunidades que aparecem.
Poesia e resistência - 2010 Helena Ortiz faz da poesia seu estilo de vida. Para quem ainda não esbarrou com o trabalho dessa grande figura, não deve mais perder tempo. Fala aí, Helena. Para quem ainda não te conhece: Quem és tu? Sou gaúcha de Pelotas, RS, jornalista por formação e taquígrafa de profissão. Moro no Rio de Janeiro há 15 anos e atualmente, às vésperas dos 64 anos, já nem sei me definir. O que fui, já não sou e é possível que ainda esteja em mutação. Mas alguma coisa não muda; sou pisciana, gosto de leitura, música, cinema e praia, não nessa ordem. Não gosto de hipocrisia e de pipoca no cinema. A literatura preencheu o vazio que ficou após a morte de minha filha, Alice, embora eu já escrevesse antes disso. Meu filho, Gabriel, minha nora Gisela e minha neta, Cora, são os motivos para que eu não tenha queixas da vida. Sofri o meu quinhão, mas aprendi a reconhecer os bons momentos que me couberam. Tenho muitos defeitos, mas eles incomodam mais a mim do que aos outros, pelo menos é o que acho. Projetos, livros e trabalhos: Tenho oito livros publicados (entre poesia, contos e crônicas) e editei muitos livros pela Editora da Palavra, que inventei em 2001. Já fui mais dinâmica na realização de projetos. Talvez o panorama da palavra - evento de poesia no teatro que durou quatro anos - tenha sido o de maior repercussão. Junto com ele, criei um jornal com o mesmo nome, que existe ainda, em 70ª edição. E mantenho o blog www.integradaemarginal.blogspot.com Hoje em dia, a burocracia tomou conta da arte e me desestimula. Não me agrada tratar o filme, o livro, a peça como se fossem pasta de dentes, ou seja, apenas um produto à venda. Na minha opinião, o autor está muito submetido a questões mercadológicas e a iniciativa privada, como sempre, não quer perder nada. Cito, por exemplo, o caso do Santander, que aproveita a invasão no Complexo do Alemão para pedir aos clientes que doem brinquedos às crianças da comunidade, coisa que ele mesmo deveria fazer, se quer, de fato, conquistar clientes. Da mesma forma, as instituições ditas culturais exigem tanto do artista que ele deixa de criar para se transformar num burocrata, às voltas com documentos e notas fiscais. Como seria sua vida sem a poesia? Não posso nem imaginar. A poesia me ajudou a suportar, entender e recriar a vida. E repetindo Luiza Viana, poeta da minha admiração, eu diria que a poesia é a única saída para o nada. No seu blog, a legalização das drogas é sempre um assunto abordado. Qual seria o benefício da legalização para a sociedade de uma forma geral? Sou contra qualquer invasão na vida privada de qualquer indivíduo, desde que isso não prejudique a outrem. Não é o caso da música alta, contra a qual não há nenhuma campanha, ou do lixo na rua - coisa para a qual ninguém dá a mínima. Houve um tempo em que as drogas não eram proibidas, e se o foram é porque havia (e ainda há) um interesse não revelado nisso. Fora isso, a proibição das drogas é um pretexto sempre usado para perseguir os mais pobres, haja vista a "abordagem" da polícia junto a pobres ou ricos, favelas ou condomínios. Além disso, todos estão cansados de saber que o álcool é a droga mais
letal que existe, no entanto, aí está sem que ninguém seja incomodado, a não ser quando dirige, mas aí já morreram alguns. Se algumas pessoas podem usar drogas, então todas podem usar, e cada uma decida por si. As consequências disso dizem respeito ao próprio usuário. Mas o subtexto dessa política é: você é incapaz de gerir suas escolhas. E tome controle estatal. Hoje os bancos sabem onde você anda, as câmeras sabem o que você faz, e o Grande Irmão é cada vez mais real. A cultura é outro tema muito abordado. Cultura seria o antídoto para essa sociedade caótica em que vivemos? Certamente a cultura seria um antídoto, mas já perdemos muito tempo. Deixamos que a cultura de massa nos invadisse. Distraídos, achamos que o entulho que a cultura norteamericana nos enviava era progresso. Perdemos o hábito e a coragem de criticar, e esse era justamente o objetivo. A cultura de massa nos quer como consumidores, e não como agentes da criação. Qualquer manifestação artística que surja em qualquer lugar é imediatamente cooptada. O artista deixa de ser o porta-voz da sua comunidade, que reflete também os seus anseios e preocupações, e se rende à pasteurização. Afinal, é como poderá sobreviver. O que hoje se chama cultura é apenas entretenimento e às vezes até lavagem cerebral. Há alguma coisa nova, no entanto, que é exatamente a cultura que emerge das periferias, que não obedece às regras da educação formal, e brilha como uma pedra sem lapidar, justamente porque é verdadeira. Digamos que daí vem a esperança. Preconceito, intolerância e egoísmo. Esses venenos acompanham o ser humano por toda a história da civilização. Algum dia o homem irá abandonar esta maldita trindade? Acredito que não. Faz parte da natureza humana rir do que não reconhece, maltratar o mais fraco, troçar do diferente. Às vezes, temos alguns avanços, como por exemplo: sabemos que a tese do brasileiro como sendo um "homem cordial" é falsa. A cordialidade é uma máscara que usamos para não enfrentar alguma coisa que nos provoca e incomoda. Não sabemos o que é, então rimos do que nos causa estranheza. Damos tapinha nas costas. Dizemos "é brincadeirinha". O mito do brasileiro sem preconceito já caiu. Hoje sabemos que somos preconceituosos em relação a tudo; hostilizamos aqueles que não reconhecemos como um dos nossos. Odiamos o adversário que não é do nosso time, o gay que quer apenas viver em paz com seu parceiro, a mulher que não quer ter filhos, o jovem que quer apenas estudar... Isso tudo sem falar nas pessoas que apresentam características físicas diferentes da nossa. Achamos que as negros não avançam porque são menos inteligentes, que os índios são preguiçosos e os velhos são inúteis. Isso sem falar nas mulheres, todas umas piranhas na hora da briga. E que merecem apanhar. Nada disso é novidade. Foram muitos anos para reconhecer que somos preconceituosos, precisaríamos de tempo igual para entendermos o motivo. Defesa, medo, inveja? Mais mil serão necessários para nos reconstruir e olhar o outro não como um igual, mas como semelhante, e que portanto merece consideração igual a que julgamos merecer. Fora isso, há o preconceito de classe. E atenção: às vezes nos consideramos libertários porque combatemos um tipo de preconceito, mas sem que percebamos, carregamos uma série de outros. Um desejo: Estar viva quando as drogas forem legalizadas. Um sonho:
Comprar todos os prédios de que as igrejas evangélicas se apossaram e transformá-los outra vez em cinemas. Uma idéia: A educação pela arte. Despedida : Agradecendo a gentileza do entrevistador pelo convite. Por algum motivo considerou que a minha voz merece ser ouvida. Espero que tenha razão. Que alguma palavra do que escrevi germine na cabeça e no sentimento de um leitor. Um que seja. E que desperte a necessidade de que seja íntegro, verdadeiro, seguidor do seu instinto, sem dar valor ao que dizem, mas ao que ele mesmo se diz, profundamente. Eis o sonho.
Wagner Teixeira e o Anormal Zine - 2010 Trago até vocês o responsável por um veículo de comunicação ímpar no que diz respeito a criatividade e atitude. Wagner Teixeira, criador do Anormal Zine. Por que fazer um fanzine? E por que não fazer? rsrsrs. O fanzine é a expressão máxima da liberdade criativa. É um espaço onde a pessoa pode fazer o que quiser, colocar o que quiser, se expressar sem qualquer tipo de censura, sem precisar se preocupar com vendas, com aceitação do público, com manipulação de editores... Em um fanzine, a pessoa pode manifestar sua verdadeira opinião, ou criar aquilo que ela realmente gostaria de criar. Não consigo entender aqueles que insistem em NÃO fazer fanzines. Como nasceu o Anormal Zine? Desde criança tenho o hábito de criar coisas: histórias, personagens, maluquices diversas. Uma dessas maluquices era um projeto de uma revista totalmente sem sentido, de humor escrachado, que contrariasse as expectativas do leitor. Quando descobri os fanzines, percebi que poderia transformar essas ideias em publicações que poderiam ser compartilhadas com outros que também materializavam suas insanidades. Neste momento, o Anormal Zine tomou forma. Mas o seu embrião já existia praticamente dês de que saí da barriga da minha mãe e comecei a absorver o mundo e regurgitá-lo. Observei seus quadrinhos e achei genial a coisa de fazer os quadrados com o nome do que eles representam na estória. Isso possibilita quem não sabe desenhar a fazer quadrinhos bem interessantes. Como surgiu essa ideia? Surgiu exatamente da minha vontade de fazer quadrinhos e não saber desenhar. rsrs. Como a proposta do Anormal é apresentar algo diferente, achei interessante o desafio de "desenhar" uma história. Eu queria, de certa forma, provar que qualquer um pode fazer HQs, mesmo quem não desenha. E também é um contra-ataque a essa tendência atual de supervalorizar a forma e esquecer do conteúdo. Na maioria das publicações atuais há uma preocupação gigante com a estética, às vezes de forma exagerada, enquanto o roteiro é de uma pobreza absoluta. Ou seja, se tanta gente por aí que não sabe escrever faz roteiros de HQs, é justo que quem não sabe desenhar também possa ilustrar HQs. rsrs. Agora você está organizando um zine coletivo. Pois é. A ideia desse zine é que todos os participantes atuem conjuntamente em todas as etapas de produção. Assim, todos ajudam na edição, na distribuição, na divulgação... É um zine meio anárquico. Os participantes colaboram com o material que quiserem, da forma que quiserem. Não há restrição. Pode ser qualquer coisa. O único pedido seria que cada um se esforçasse em cada etapa da produção e não ficasse esperando afigura de um editor fazer tudo. Quem se interessar e quiser saber mais, pode entrar em contato via email:
[email protected] ou acessar o grupo: http://br.groups.yahoo.com/group/zinecoletivo/ Além dos zines, existem outros projetos? No momento, estou voltado aos zines e administro o blog Partes Fora do Todo: http://partesforadotodo.blogspot.com/.
Mas projetos não faltam: filmes, banda de metal extremo, livros, eventos e a dominação mundial. Aos poucos chegaremos lá. Existe previsão para o lançamento do próximo Anormal? O Anormal não seria o Anormal se fosse previsível. Pode ser amanhã, pode ser nunca mais... O Anormal é como aquela turma de parentes chatos, que aparece de repente, justamente naquele domingo que você não quer fazer nada, nem receber ninguém. A única certeza é que o próximo Anormal virá em um formato diferente dos demais, seguindo sua caótica tradição.
O som porrada do Oligarquia - 2010 Conversa com o amigo e parceiro de luta Panda Reis, batera da Oligarquia. O som entrando em sua vida Chegou, praticamente, junto com a minha vida, pois sou filho e neto de músicos e, graças a isso, sempre se ouviu música em casa. Tudo bem que não eram profissionais, nem viviam disso. Eles tocavam em bailes apenas para engordar a renda. Desde muito jovem convivi com músicas de vários tipos. De Beatles até Fundo de Quintal... De Demétrios até Michael Jackson... E por aí vai. Nasci na periferia de São Paulo, onde se escuta música o tempo todo. Sempre tinha uma Brasília velha rolando a trilha sonora das peladas nas ruas de terra. No barraco ao lado, sempre tinha uma caixa CCE rolando as novidades das rádios. Com o tempo, aprendi a peneirar os vinis do meu Pai e a encontrar coisas que me agradavam. Passava as tardes fingindo tocar aquelas músicas. Depois a gente vai buscar fora o som que agrada mais, entrando assim os amigos e conhecidos. É impressionante como certas coisas são determinantes em alguns momentos. Lembro da primeira festa que fui na casa de um amigo da escola. Estava perdido no canto do quintal e rolava aquele rock nacional do começo dos anos 80... Até que algum filho da puta solta um Sex Pistols, um Ramones... Aí fudeu tudo !! (rs) Fale sobre suas bandas. Passado, presente e futuro No momento, estou apenas com três bandas. Sempre gostei muito de trabalhar com várias bandas, de estilos diferentes. Sou hiperativo. Desde moleque, nunca consegui ficar quieto, conformado apenas com uma situação, e quando comecei a tocar foi natural me envolver em mais de uma banda. O foda, é que com a idade vem a limitação física, a falta de saco pra passar tanto tempo em estúdio, estrada, família, filhos... Aí é natural que se diminua o ritmo. Hoje estou com a Oligarquia, que é a minha banda mesmo. A principal, saca !? Estou com o Heresia, que já tem uns 10 anos, lançou algumas coisas na Europa e USA (estamos preparando disco novo e estamos tocando aqui, pelo sudeste). Tem um novo projeto com uns amigos, fora do metal/hard core, que é o Funk´s Not Dead. Cada um tem uma característica diferente e estilos bem definidos e heterogêneos entre si. A Oligarquia é death metal raiz, old school mesmo, sem espaço para experimentações e está lançando o cd novo, no final do ano ou começo de 2011; o Heresia 666 é hard core com fortes influências d-beat e o Funk´s Not Dead é um projeto com amigos que tocam soul music, Black music , rap , funk (nem preciso explicar que me refiro ao funk de verdade, né !??) e resolvemos tocar uma mescla desses estilos que ouvia quando era uma criança, no final dos anos 70, começo dos 80 Versões diferentes, adaptações, criar algumas músicas mesclando essas influências e ainda jogar um pouco de rock e hard core no molho. Tem sido muito divertido e nem sei se um dia iremos gravar alguma coisa. A idéia é desestressar, tocar durante a semana, a noite, tomar uma gelada, conversar com os amigos e fazer uma fumaça. Eu escrevo e componho demais. Sempre estou pensando em letras , músicas , melodias ... Mesmo estando de saco cheio da cena musical, ainda não consegui parar de criar. Quando conseguir parar de criar e compor, tenho certeza que sairei de cena. De todas as formações do Oligarquia, qual a melhor fase e por quê? Então... Aí depende de cada um. Estou nessa banda desde o início. Criei a banda, chamei os caras para tocarem e ainda estou nela, passados mais de 18 anos!!!! Me
lembro do primeiro ensaio. Me lembro do começo de tudo. Cada sensação, cada desânimo e decepção, cada conquista e alegria... Tivemos vários momentos legais, mas a melhor fase eu diria que é agora, nesse momento, por que estamos vivos. Apesar de tudo, estamos aqui, criando, prestes a lançar um novo cd. Para estar aqui, depois de tanto tempo, tem de ser a melhor fase. Se não, eu não estaria dando essa entrevista pra você (rs). Do ponto de vista musical, e não ideológico ou metafísico, temos o melhor vocal que a banda já teve e o melhor guitarrista que já passou pela banda. Os caras tocam mesmo. São mais jovens e tem uma visão mais moderna e evolutiva da música, o que nos mantém vivos, pois se dependesse dos dois dinossauros a banda tava fudida !!! hahahahaha!!! A melhor fase é agora. Vocês estão em ritmo de show. Me conta a quantas anda isso. Sim, estamos tocando bastante esse ano e nem queria tocar tanto assim antes do cd sair. Foi rolando, acontecendo... Ainda é muito divertido tocar, viajar e se divertir com esses caras. Começamos a tocar no final de 2008, quando mudamos a formação. Como iríamos gravar disco novo, era necessário que a banda estivesse entrosada, não somente em estúdio, mas em palco, que é o nosso lugar. Então, caímos na estrada. Aos poucos fomos colocando sons novos no set, o que transformou esses shows em shows do novo cd. Vai ser engraçado quando o cd sair, pois não teremos músicas “novas” para tocar. hahaha!!! Acho que já tá na hora de começar a compor um novo disco, antes mesmo de sair esse. Temos datas marcadas até o fim de novembro, quando encerramos o ano com um show aqui, na capital de São Paulo. Qual a maior responsabilidade em ter uma banda e poder difundir um pensamento? A responsabilidade existe, mas a grande maioria não se dá conta disso e a outra parte que tem noção disso não tem noção ampla do que é nosso mundo, nossa civilização e humanidade. Perdem muito tempo se apegando a dogmas e ideologias massificadas e representadas de uma maneira positivista ao criticar algum assunto. Seja religião, política ou os rumos sociais e civilizatórios, não o fazem de uma maneira racionalmente contundente. Vejamos o exemplo das críticas a regimes arcaicos, ultrapassados e ideologicamente bem massificados como a religião. Se toma, se apossa do discurso satanista ou agnóstico para esse ataque, mas porra ... É a mesma merda !!! Cultuar o Diabo é praticamente aceitar a existência de Deus. Alguns o fazem apenas por saber que os cristão abominam, morrem de medo, do lado negro do Deus deles. Não seria mais inteligente negar tudo que venha da Santa Igreja e seu Santo Papa?? Não seria mais coerente negar a cristandade por inteiro?? Negar seus santos e seus demônios, negar os aliados de Deus e os inimigos dos mesmos?? A mesma falha ocorre com as bandas de cunho político. Ofendem, criticam, mas sem fundamento histórico. Apenas criticam, repetindo formulas antigas. Não estamos mais na guerra fria, não estamos mais no século XX... Hoje, o imperialismo é diferente do que era quando as primeiras bandas começaram a criticá-lo. A responsabilidade em difundir um pensamento existe se você realmente compactua com esse pensamento e se você realmente coloca em prática. É muito fácil falar em matar o presidente, sendo que você nunca faria isso se tivesse oportunidade. São raras as pessoas que pegaram a música como ferramenta de protesto e conscientização. A responsabilidade em defender ideias e questionar o Estado de direito, a religião e a logística capitalista, socialista, ou seja, humana, seria grande se ao menos 10% dos que nos ouvem entendessem o que estamos falando. É preciso daquela velha utopia de querer mudança, pois só isso faz o moleque ler e tentar interpretar com sua cabeça, mesmo que influenciado por idéias viciadas de
décadas atrás. Hoje, quem faz uma banda quer tudo, menos ter responsabilidade com alguma coisa que não seja o prazer. A razão perdeu a razão, meu parceiro. O Metal vai além da música? Para alguns, sim !!! Mas para a grande maioria, vai até o bar da esquina. Hahahaha!! Isso é uma pena, pois poderíamos formar gerações de pensantes. Um exemplo disso é: Quantos desses acompanham de perto os que defendem as suas ideias e por que eles defendem ideias que você compactua?? Será que eles estão certos?? Lembro-me que ficava irritado quando passava pela galeria ou por shows e via aquela massa acéfala sem produzir nada realmente relevante para o mundo, para o seu lugar. A prova maior disso foi quando eu e você tentamos conscientizar o pessoal do que estava acontecendo à população indígena. Quem apoiou?? Quem pegou um dos panfletos e levou para casa e discutiu com parentes e amigos?? Quem chegou e buscou maiores informações?? Não sei se todo Metal vai além da música, mas para a grande maioria não passa disso. Apenas música... Não vejo isso como de todo ruim. Existe espaço para todos, apenas não entendo por que o foco deles ainda não é a realidade em que vivemos. Tem até gente exaltando o NS ou culturas Nórdicas e Escandinavas. Chega a ser engraçado ver um latino americano, de descendência Afro-Indigena-Europeia, declarar amor a Odin. Hahaha!! É espiritualidade muito parecida, na verdade ancestral, ao judaicocristianismo. Os povos do Norte têm motivos sociais, culturais e políticos para lembrar de seus antigos deuses ancestrais. Mesmo assim, me parece perda de tempo para eles que tem motivos mais coerentes para lembrar e exaltar sua antiga cultura. Imagina para nós, aqui abaixo da linha do Equador. O mundo hoje: É exatamente o que construímos. Está exatamente no lugar onde o trouxemos. Durante séculos fomos criando condições sociais, políticas, culturais e religiosas para a humanidade estar exatamente aonde iria chegar. Os neoliberais chamam de evolução, progresso... Apenas acho que é uma extensão do feudalismo. O mundo globalizado é exatamente isso. Se você não for capitalista é um utópico revoltadinho, se não for capitalista e não for comunista é uma aberração da natureza... O mundo, hoje, é se enquadrar na globalização. Sair disso é inconcebível do ponto de vista mundial, assim como no passado estavam presos a temática mercantilista, sendo impossível sair disso. Antes, porém, estava presa a sociedade feudal... É uma versão moderna do mundo de ontem. Como mudar? Revolução. Mas, dessa vez, não teria nada a ver com a revolução Russa, Cubana, Mexicana, ou seja lá qual for. Seria a verdadeira revolução. Aquela que deveria ter sido feita lá na França, no século XIX, e não foi feita. Certa vez, um amigo, professor de História Moderna e Contemporânea, me disse que aquela revolução (1870 - Revol. Francesa) não teria acabado ainda. Essa revolução de verdade ainda se encontra no campo das ideias. Alguns intelectuais, contrários a essa farsa de esquerda e direita, a essa escravidão que se chama globalização e a universalização de um padrão mundial e cultural que foi constituída para manter o equilíbrio do sistema (como Deus e Lucifer foram criados para manter o equilíbrio do cristianismo), estão sistematicamente a repensando. Mas ainda não existe nada de concreto. Até por que, hoje, o povo parece mais massificado em alguns pontos do globo. As massas não conseguem ver sobre o manto chamado “Civilização Humana”.
Um símbolo de resistência: Os índios Guaicurus foi um bom exemplo de resistência em seu tempo. Maio de 68 é outro exemplo de resistência... Atualmente, não consigo ver pureza em resistir. Todos traíram, mudaram de lado, abriram concessões... Não se morre mais por um ideal, não se mata mais pelo que se acredita... Um símbolo de resistência, hoje em dia, é muito difícil de achar, pois resistência só existe com utopias e as utopias foram eliminadas pela “razão capitalista global”. A resistência agora é individual. Qual a maior mudança observada no cenário underground desde que você começou na estrada até os dias de hoje? Putz, cara... Mudaram tantas coisas desde que entrei no underground... Algumas das mudanças foram pequenas, quase imperceptíveis, outras enormes, que jogaram no limbo práticas e “costumes” que eram impossíveis de serem descartados por qualquer um do underground. Comecei muito cedo. De todas as mudanças, a que acho mais embaçada é a mudança de postura, de pensamento. Não aquelas posturas ou pensamentos que foram alterados exclusivamente graças a tecnologia CONTATOS COM A OLIGARQUIA: www.oligarquiadeath.com.br www.myspace.com/oligarquiadeath www.twitter.com/oligarquia
[email protected] [email protected]
Visão Suburbana cria novas possibilidades - 2011 Mais um foco de resistência cultural Mais uma galera mostrando o que é Mais, mais e muito mais Conheça a visão do Visão Suburbana e como essa turma está construindo sua história. Como nasceu o Visão Suburbana? O Visão Suburbana é filho de um infeliz incidente político que ocorreu nas eleições para prefeito da cidade em 2008. Um dos candidatos ao cargo foi flagrado dizendo ao celular que uma vereadora da localidade onde ele estava tinha uma visão suburbana – isso por conta do posicionamento que a vereadora tinha em relação a proposta de instalação de um lixão. A conotação empregada no caso foi totalmente depreciativa e, para retirar esse ranço negativo da expressão em relação ao subúrbio, quis mostrar a real visão dessa “área geográfica”. Nasceu assim o Blog Visão Suburbana (http://www.visaosuburbana.com/) . A visão do Visão: Dado o primeiro passo – a criação do blog – conseguimos adesão de uma parcela significativa de amigos e internautas que acreditaram nas propostas. São mais entusiastas do que qualquer outra coisa. Essa união fez com que analisássemos mais criticamente nossa missão: Propor um espaço diverso e ao mesmo tempo pessoal. Acreditamos que é a soma das individualidades suburbanas que criam uma visão suburbana. Existem tantas realidades dentro de tão pequeno espaço que somente a soma das vivências torna legítima alguma proposta de representação dessa área. Queremos representar esse espaço. Sempre digo que o Visão Suburbana é um caleidoscópio louco que projeta, ao mesmo tempo, mil imagens diferentes que formam uma maior, chamada Subúrbio Carioca. Principal objetivo dessa caminhada: Resgatar a auto estima de uma significativa parcela da população que mora em lugares degradados pelo Estado e pelos próprios moradores que desconhecem suas histórias. No dia nacional da poesia acontecerá um evento na Praça XV de Novembro, em Marechal Hermes. O que vai rolar e como participar? Sim. O Coletivo Visão Suburbana está participando da Semana da Poesia com 3 linhas de ação. Uma delas é a ação chamada Poesia na Praça que pretende instalar 150 poesias na praça XV de Novembro, em Marechal Hermes. Para participar da ação os poetas podem enviar até o dia 05 de março suas poesias para
[email protected] . Além disso, podem ir para a praça ler e distribuir poesias das 9h Às 12h do dia 14 de março. Dia 17 já está marcado outro evento. O que vai ser? Essa ação, ao meu ver, é a maior e mais importante atividade que o Visão já produziu. Trata-se de um debate sobre a produção literária conhecida como periférica. Debateremos as ações de suburbanos e a complexa realidade dos subúrbios e das periferias. Chamamos o evento de Desargumentação – A Cultura por Trás do Cristo Redentor. Participarão desse evento Ésio Salles, Heraldo HB e o prof. Rolf Ribeiro. O
evento terá início às 18:30 e exibirá o filme Curta Saraus. Essa é uma atividade perfeita para começar um movimento de entendimento, de apropriação da cultura que produzimos aqui em nossos subúrbios e periferias. Qual a maior importância deste tipo de iniciativa. De cara descobrimos e afirmarmos que somos tão produtores de cultura quanto a zona sul da cidade. Isso, não tem preço. Segundo que aproximamos a galera que lutou muito para ter espaço na cena cultural de uma galera que busca suas referências em outros espaços. Daí, saem muitas outras coisas: incentivo para produzir, não ter vergonha do seu espaço.... Mil coisas poderiam ser ditas... Tenho observado uma intensa movimentação cultural nos subúrbios, periferias, favelas... Enfim... Em locais onde a grana é curta. De fato, a própria mídia tradicional tem voltado seus holofotes para esses espaços. É um importante momento para equilibrar o jogo, reivindicar o que é nosso por direito. Mas, para ficarmos em pé de igualdade, temos que lutar muito ainda. Hoje é mais fácil captar recursos do que ontem, mas é muito difícil ainda. O que mais o Visão está preparando? Além do Poesia na Praça e do Desargumentação, faremos a Festa da Poesia em duas escolas municipais ( E. M. Alcides de Gasperi e E. M. Dom João VI ) localizadas em Higeanópolis. Gostaria de usar esse espaço para propor aos suburbanos que tenham algo a dizer que o blog Visão Suburbana é de vocês. Gostaríamos muito de receber textos, criticas, propostas, contos, poesias, histórias, fatos, mentiras e tudo que um suburbano for capaz de produzir. Para enviar os textos e tecer comentários o contato é:
[email protected]
Susy Ramone lança livro -2011 Depois de tanto tempo criando e escrevendo, Susy Ramone lança seu primeiro livro. Batemos um papo a respeito e trouxemos o registro desta ótima troca de ideias até vocês. Sua vida, seu blog e seus contos. Bem, posso dizer que existem três pessoas diferentes que habitam o corpo deste ser que vos fala. A primeira delas é a Teacher Susana. Formada em Letras e especializada no ensino da língua inglesa. Já trabalhou em inúmeras escolas e hoje mantém a sua própria, onde se dedica aos queridos amigos-alunos, os levando a realizar o sonho de falar inglês. A segunda é a Susana. Esposa, mãe de dois filhos e amiga de todos. Aquela que mantém todas as amizades desde os seus primórdios escolares até os dias de hoje, sempre as cultivando para que jamais se percam pelo caminho. A terceira parte de mim é a Susy Ramone. Criatura de mente fértil que adora escrever contos fantásticos e os expõe no blog Red Rose: susyramone.blogspot.com. O blog nasceu em meados de setembro deste ano e tem tido um sucesso inesperado. A maioria dos contos de Susy são escritos em terceira pessoa e se comunicam com o leitor como se fosse em primeira. Desfechos que tendem a beneficiar os vilões e levar os mocinhos à desgraça dão um toque diferente às suas estórias. E seu livro? Como anda o lançamento? A publicação do livro O Anjo Maldito não foi fácil. Ele nasceu em 2005 e ficou guardado no PC por todos esses anos após ter recebido muitas negativas de inúmeras editoras. É a história de Samyaza, um anjo caído, amaldiçoado por ter abandonado o reino celestial e se tornado mortal por causa de uma mulher. Oferecendo-lhe uma segunda chance, Deus permitiu que encarnasse na Terra e como um teste de obediência exigiu que jamais se encontrasse com a mulher que desposou. Lembrando-se de todas as suas vidas passadas, ele tinha consciência que deveria evitá-la e caso o encontro acontecesse, Deus prometeu abrir mão do mundo e entregar todas as almas à Satanás. Uma das vidas de Samyaza se deu em Portugal, no século XVI, onde se envolveu com uma mulher e teve uma filha bastarda. Esta é Elizabeth Bathory, a condessa cruel que todos nós conhecemos. Renascido como Daniel Stroke no século XX, fica famoso com sua banda de Black Metal e a mulher com quem não poderia jamais se encontrar torna-se sua fã e sai do Brasil para conhecê-lo. Todas as personagens de suas vidas passadas estão ligadas de alguma forma. Visitas inesperadas de anjos e demônios, viagens aos mundos inferiores e superiores levam a um desfecho interessante. Existe um video promo no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=RUVQ_I9bnDA Quero agradecer à Livros Ilimitados por ter acreditado e investido na publicação desta obra que é apenas a primeira de muitas que estão por vir. O livro já está disponível em: www.livrosilimitados.com.br e a festa de lançamento ocorreu no último dia dezenove. A escolha do local não poderia ter sido melhor. Optei por fazer o lançamento em um bar e aproximadamente cem amigos compareceram ao evento, onde passamos a tarde tomando vinho, batendo papo e curtindo o melhor do Rock n’ Roll.
A música e a literatura andam juntas na cabeça de Susy Ramone? Andam sim. Gosto muito de criar contos baseados em letras de músicas, os chamados Music Fics. Acredito que novas idéias podem surgir através de outras. Porém, minha paixão pelos Ramones não me limita a escrever somente com as músicas deles. Rs. Também transcrevo os contos de fadas desvirtuando as estórias. Muitas vezes adiciono elementos levemente eróticos e levo os vilões a finais felizes. Sempre gostei dos vilões. Como uma idéia se transforma em texto? Diferentemente dos escritores que conheço, não consigo planejar uma estória antecipadamente. Simplesmente começo a escrever e ela surge. As idéias geralmente vêm de sonhos que tenho, de livros que leio, filmes que assisto e até mesmo de situações que ocorrem no dia-a-dia e eu acabo criando algo em cima daquilo. Esse texto fica preso a ideia ou ele pode mudar de rumo e a ideia inicial se perder? Ah, isso é bastante comum. Os contos nunca saem da forma que eu havia pensado. A ideia inicial sempre se perde, mas os textos acabam sempre ficando melhores do que eu havia previsto. Um personagem inesquecível: O Vampiro Lestat, de Anne Rice. O livro que todos deveriam ler? A Bíblia. Não estou falando de religião, mas este livro contém histórias surpreendentes, inclusive de incesto, e descreve situações interessantíssimas. Todos deveriam ler a Bíblia com olhos críticos. Também muito me atrai os livros apócrifos. O livro de Enoque é o meu favorito e é justamente este que descreve a real história do anjo Samyaza. Um bom conselho: Não sou a pessoa mais indicada para dar bons conselhos. rs... Creio que todas as pessoas devem ser otimistas e acreditar em seus sonhos. O otimismo é uma característica que compõe os três diferentes seres que em mim habitam e isso nunca me causou problemas, então talvez este seja um bom conselho. Um péssimo conselho: Um péssimo conselho... hummm... Deixar que os problemas o envolva e o torne um ser deprimido, repleto de pessimismo e insuportável não é legal. As energias do universo se refletem em nós. Se pensamos, dizemos e fazemos coisas boas, recebemos coisas boas e vice-versa.
Glauco Mattoso - Uma nova entrevista com o poeta - 2010 Já faz um tempo que entrevistei esse grande cara. Depois de muito bate papo via e-mail, vi ser a hora de uma nova entrevista. Ele concordou e aqui estamos. Como de costume, mantive a gramática que ele prefere em suas respostas. Está tudo como ele escreveu e como acredita ser a melhor forma. Então, vamos nessa. O ano de 2010 trouxe algumas tristezas, como a perda de dois grandes nomes que você veio a homenagear em seus sonetos. Na verdade foram quattro perdas em curto espaço de tempo, todas na area alternativa ou contracultural: Glauco Villas Boas e Wilson Bueno(assassinados), Roberto Piva e Claudia Wonder (hospitalizados), estes dois homenageados em sonetos meus. Cada um teve um papel innovador emsua area: Glauco escancarou thematicas sexuaes, alem da droga, num traço ainda mais minimalista que o do Henfil; Wilson incursionou com exito nasfronteiras do portunhol litterario; Piva actualizou a maldicção poetica com a modernidade da beat generation terceiromundista; Claudia uniu atransgressão do travestismo à rebeldia punk. Foram como bandeirantes, alargando territorios e conquistando novas praias. Acho que uma doençafatal é tão injusta e violenta quanto um assassinato, por isso considero que Deus é o mais nazista dos dictadores. As perdas me doem mas não me surprehendem. Farão falta, mas tomara que tenham deixado seguidores. Sou contemporaneo delles e tambem subverto algo (o soneto, por exemplo), masnão me sinto precursor de nenhuma retomada, ainda parece que sou "vox clamantis in deserto". Coisas boas também aconteceram. Sua produção continua a todo o vapor. Fale sobre o trabalho desenvolvido nesse ano de 2010. Para mim o anno teve um significado productivo em duas frentes. Completei o quarto milhar de sonetos e publiquei em livro o tractado deversificação que, até agora, occupava o campo digital dum site inteiro, vale dizer, no papel ficou um calhamaço, mas sahiu, emfim. Muita coisaainda está na gaveta, mas todo anno tenho desovado varios volumes, o que ja é alguma coisa... E o que está por vir? Na sequencia, os titulos "O poeta da crueldade", "O poeta pornosiano" e "Poemidia & Sonetrilha", que completam a decalogia chamada de "Serie Mattosiana". Em 2011 completo 60 annos e talvez a editora prepare alguma commemoração lançando uma caixa de volumes em cappa dura, si o Diabo quizer e Deus não atrapalhar. Depois virão novas series de livros thematicos, com sonetos de varios formatos. Casos de violência contra homossexuais continuam acontecendo, apesar do espaço conquistado e demais vitórias dos grupos GLBTs. Acabei de receber o relato de mais uma agressão ocorrida aí, em São Paulo, no momento em que estava montando as perguntas para te enviar. A que se deve a persistência de tanta intolerância e o que poderia ser feito para acabar com este tipo de atitude? Minha percepção batte com aquella avaliação das auctoridades em relação ao augmento da violencia do crime organizado no Rio: não é a violencia, ou as aggressões, que teem augmentado, é a divulgação dosfactos que está mais transparente. Em ambos os casos, os factos reflectem o desespero de quem se sente acuado e reage bruscamente. No caso dos gays, estão apprendendo que quem cala
consente e que quem não chora não mamma. Estes dictados são melhores que aquelles que dizem que o bom cabrito não berra, ou que fallar é prata, calar é ouro... Dia desses, conversamos sobre a falta de espaço na grande mídia para trabalhos importantes como o seu. Por que esta resistência do meio convencional em divulgar certos tipos de trabalhos? Tenho por habito evitar cansativos desabafos em prosa. Prefiro empregar o tempo e o thema compondo versos, creando mais poesia e incrementando a producção. Mas você me deu a deixa e não vou tirar da syringa. Ahi, tanto no caso da midia quanto das editoras, premios litterarios, e tal, são varios factores que se sommam: sectarismos ideologicos e politicos, panellinhas intellectuaes, lobbies editoriaes, censura interna, emfim, tudo que pretere um "maldicto" nacional em favor dum importado, ja com certificado de garantia de maldicção, devidamente lastreado em royalties. A velha historia do sancto de casa que não faz milagre. Como ja escrevi, meus quattro mil sonetos battem todos os recordes no genero, mas meu nome não é reconhecido internacionalmente como os de Giuseppe Belli, Bocage ou Salvador Novo, pelo simples facto de ser eu um brasileiro. Si eu fosse francez ou inglez, ja estariaconsagrado em vida, até pela analogia com a cegueira dum Borges ou dum Milton. Tracta-se, portanto, da tradicional má vontade da intellectualidade tupiniquim quanto aos artistas conterraneos. Mas, no meu caso, acho que occorre um aggravante ainda mais odioso: o preconceito pessoal contra um cego que, emquanto se revela sonetista qualitativamente equivalente aos classicos e quantitativamente superior a qualquer outro auctor, accumula os rotulos de homosexual, fetichista e sadomasochista. Da mesma forma que um negro é mais discriminado por ser tambem pobre, analphabeto e drogado ou delinquente, um cego litterato é discriminado porque não se admitte que a imagem do deficiente talentoso esteja associada a comportamentos "antisociaes", quando se espera que elle dê exemplo de dignidade, civismo, altruismo e outros valorespoliticamente correctos. Em summa, é o preconceito que tem sido tão combattido pelos activistas dos direitos humanos, mas que, no meu caso, parece ser motivo justificavel para um boycotte como o que venho soffrendo. Para quem está tendo dificuldades em divulgar o material que produz, qual a melhor opção? Cada um sabe onde lhe aperta o sapato, como diz aquelle velho dictado podolatra. Mas acho que, para a maioria dos creadores de arte na area alternativa, ou "arte-nativa", como diziam os zineiros na phase do xerox, o grande vehiculo agora é a rede virtual. Como diz o dictado, é que nem agua morro abaixo ou fogo morro acyma, ninguem segura. Para compensar o poder massacrante do Systema, é o que eu chamo de "wikilibrio". Si o cara tiver uma graninha, compensa tambem transformar em livro o que não seja perecivel, como vocês fizeram com O BERRO e eu com meus sonetos. Mas a graça do zine tradicional, em papel, está justamente em battalhar à margem da grande midia e das promoções mercadologicas. A poesia encontra maiores dificuldades que outras formas de expressão? Suppostamente, sim. Mas, para o mercado, tudo pode ser producto vendavel, basta querer annunciar, investir e apostar. O problema é que a offerta de novos ou velhos talentos esbarra nessa eterna praga que tem sido o lobby das panellinhas de protegidos e apadrinhados, gente sem talento que sempre existiu e sempre se abrigou sob o manto sagrado dostrinta dinheiros. Resumindo a opera: poesia é que nem occultismo.
Não existe occultismo ao alcance de todos, a menos que alguem resolva que um Paulo Coelho pode ser consumido como guaraná ou mortadella. Agora, finaliza aí. O espaço é seu. Fique à vontade. Eu diria que, apesar de tanto boycotte, estou esperançoso de ser assimilado ainda vivo, como occorreu com a Dercy Gonçalves ou o Zé do Caixão, que, apesar de toda a "putaria", ou justamente por causa della, encarnam a contradicção de serem ao mesmo tempo maldictos e populares, sujos mas bemquistos. Diz o dictado que a esperança é a ultima que morre... e ri melhor quem ri por ultimo.
HoraMacabra – A hora macabra - 2011 O ano de 2011 está chegando ao fim e como em todo ano tivemos muitos acontecimentos em nossas vidas e na vida do grande coletivo chamado humanidade. Aconteceram coisas boas, coisas ruins... enfim... Para quem não fica vegetando, a vida sempre se movimenta de alguma forma. Entre os acontecimentos que não fogem a minha frágil memória, está o dia 22 de junho de 2011. Depois de algum tempo sem encontrar Victor Durão, eis que ele aparece em baixo do meu prédio, chamando meu nome. Ao descer, ele me informou que estava com um horário na Rádio Oceânica e passou todo o conceito do HORAMACABRA. Topei no mesmo instante. Depois de algum tempo no programa, vários motivos fizeram com que minha presença não continuasse tão freqüente, mas volta e meia tô dando uma chegada lá para participar dessa confraternização com meus camaradas, além de sempre estar disposto a ajudar no que for possível. Mas deixemos as maiores apresentações para serem feitas pelo cara que é o pai desse bebê de Rosemary. Como surgiu a ideia e como essa ideia se concretizou? Há muito tempo escuto som extremo e praticamente não existe nada nos meios de comunicação que ofereça este estilo de som como opção pra gente que gosta. Aproveitei uma oportunidade, que foi o fato de um amigo ter contato com o dono de uma rádio comunitária (tio dele) na região oceânica de Niterói, chamada Oceânica FM. Fiz uma pergunta simples: Se ele autorizava este tipo de programa pela rádio. Ele disse: Sim. Daí foi só reunir uma galera pra fazer a coisa acontecer. Foi nesse momento que reuni um time bom pra fazer o programa. Ainda por cima, pegamos um horário especial: sexta, meia noite. Achei ótimo. Aí veio a idéia de chamar o programa de HORAMACABRA. Pelo horário e pelo que seria exibido. O programa não tem só som. Na verdade, ele é um espaço para divulgação de material underground que carece exatamente de espaço para chegar ao conhecimento de todos. Já ouve entrevistas com bandas, fotógrafos, zineiros, jornalistas e escritores. Aceitamos também que todos enviem seus trabalhos para serem divulgados e por aí vai. Qual a maior importância de um programa como o HORAMACABRA? Existir como um dos poucos veículos de divulgação deste tipo de segmento, deste trabalho cultural. Como a galera pode participar? Pode nos enviar material de divulgação pelo email:
[email protected]. Também temos uma página no facebook e no Orkut. O site da rádio pra galera que quiser ouvir o programa pra saber como é e acessar o programa HORAMACABRA é www.oceanicafm.radio.br. O telefone da rádio é 2609-4668 e a estação é 105.9 FM, lembrando que ela é comunitária e por isso está restrita à região oceânica. Para ouvir fora da região, só pelo site da rádio. E tem nosso Blog que contém todos os programas para serem ouvidos e é um ótimo recurso pra galera que quiser conhecer o programa. Um programa memorável: Se o HORAMACABRA é um programa memorável? Acho que a galera que curte som extremo vai se emocionar. Modéstia parte, nós caprichamos nisso. Pelo menos no Rio de Janeiro não sei se alguém está fazendo algo parecido. Por isso acho que ele, além de tudo, é pioneiro.
O que não pode faltar no HORAMACABRA? A excelência musical que faz do programa aquilo que ele é. Algo a mais que você gostaria de falar e não foi perguntado: No HORAMACABRA eu, VICTOR DURÃO, conto com a ajuda importantíssima do jornalista FABIO SILVA BARBOSA que me ajuda com a trilha sonora e as divulgações, de FELIPE LHUK na mesa de som e dos comentários imprevisíveis e descontrolados de RAFAEL CARA DE PAU. Uma mensagem para a rapaziada que curte a cultura underground: Ouçam HORAMACABRA até seus tímpanos explodirem!!!!!!!!!!!
Poesia e vida - 2010 Continuando a papear com figuras que fazem a diferença no universo cultural que não tem espaço nos meios convencionais de comunicação, troquei uma ideia com esta importante poetisa. Nome: Bem, meu nome é Cecília Fidelli Idade: Idade... Já passei do prazo de validade. Tenho 57. Revista Reviragita: Sobre o Reviragita Poesia, era um Alternativo Cultural na base da xerox. Editava e distribuia a correspondentes de todo o Brasil e instituições culturais. Divulgava artistas de todos os seguimentos. Poetas, escritores, desenhistas, fanzines, enfim, os incomuns, digamos assim. Sobreviveu por aproximadamente 16 anos. E era mágico! Eram mais ou menos 400 correspondentes. Uma loucura! Todo material literário era acompanhado de cartas. Nessas idas e vindas postais, fiz muitos e bons amigos. Vale lamentar que perdí muitos pra internet e que isso, na época, afetou muito meu entusiasmo. Hoje sei que era previsível, mas a ficha demorou pra cair, sabe? Acho que isso foi compreensível também. Não sei quantos de nós circula pelo mundo. As emoções se ampliaram com o avanço da tecnologia? Por fim acabei cedendo. A rapidez aumentou e muito o número de leitores. Isso é ótimo. Poesia: A poesia pra mim é uma válvula de escape. Fogo e gelo íntimos que correm com o vento. A vida leva meu pensamento à poesia. E a poesia, me leva à várias teorias. Já fui mais contundente em meus escritos. Confesso que com a idade, a gente vai ficando mais... boazinha. Diria que hoje durmo mais e melhor. Tenho umas noites de "enfermidades" ainda, creio que próprias de poetas. Ainda varo algumas madrugadas sob reflexões sonhadoras. Só que hoje, não é insônia. A própria consciência é quem cobra: Vá pro papel! Tive um estágio de oito anos aproximadamente no ócio, me dedicando a artesanato, revendo a vida,
pacientemente. Mas, graças a Deus, isso passou Regressei, a princípio pelo orkut. Agora tem Cecília Fidelli em dois blogs: poesiaeoxigênio.blogspot.com e www.ceciliafidelli.blogspot.com Livro: Livros, publiquei dois oficialmente. Coisa Nossa e Cores da Alma. Os dois em 2002. Poesias, pensamentos e outros que tais. Meus escritos mais significativos, ou os que mais gosto, não sei. Escritos que na verdade, o Underground Brasileiro já estava careca de ler. Enfim, tive não um, mas dois sonhos realizados. A febre passou. Algumas publicações independentes também circulavam. O que faz mais "sucesso", até hoje, é o conteúdo do Poemas de Amor, sem dor. Poemas sensuais. Quase nem os divulgo mais. Atividade: Os melhores anos da minha vida, que eu me lembre, foram os de Ativista Cultural. Reviragitei muito sarau e show de bandas. Sempre valorizei e estimulei a arte. Eu dava o meu sangue e sentia o maior prazer em estar com galeras incríveis Atitude: Atividade e atitude? Hoje, tenho me encantado e também ficado muito indignada com o que tenho visto no mundo-poético-virtual. A Cultura não tem mais aquele "terror" saudável, não tem mais aquela teimosia , que tentava elucidar o mundo. Parece que o mundo adotou o capitalismo de vez, em todas as áreas da vivência humana. É como se desencantos e desenganos, tornaram-se convencionais. Entretanto, acredito que o homem ainda vai querer acabar com essa cegueira generalizada. Pensamento: Um pensamento? - Viver e deixar viver. Luta:
Lula? Tem todo meu respeito. Um espírito evoluído, ou não, teria reencarnado na terra, vindo de onde veio e não teria chegado onde chegou Crença: Minha crença, como pode ver... é uma filosofia de vida Sou espírita Kardecista. Pra mim, os 10 mandamentos são 2. AMAR A DEUS SOB TODAS AS COISAS E O PRÓXIMO COMO A NÓS MESMOS. Quando alcançarmos isso, ninguém mais fará mau a ninguém. E o mundo será um verdadeiro paraíso. Fico na minha. Respeito qualquer religião. Está tudo certo como está. A evolução virá passo a passo. Deus está no comando dessa embarcação terrestre, traumática, que eu costumo chamar de planetinha. Calor ou frio? Calor ou frio? Tudo a seu tempo. Tudo em sua hora. Nem fugir nem ficar. Circular. Sonhando e auxiliando, que dor de barriga também pode dar na gente. Coletivo ou individual? Tenho meus momentos individuais, mas sou pelo coletivo. Viemos à terra para viver e conviver. Se cada um fizer a sua parte e da melhor maneira possível, com amor e humildade, significativas conquistas, principalmente morais, serão alcançadas. Vim pra viver: Vou ficar. Linhas libertas: Segurar no volante da vida é alucinante. Saibamos dirigi-la. Nem sempre estamos prontos. Mas, ao longo de nossos dias, vamos não apenas aprendendo com também nos aperfeiçoando. VIVER É O COMPROMISSO DE APERFEIÇOAR UMA ARTE. (Do livro: Coisa Nossa). No mais, é não ultrapassar velocidades, ou as multas virão e serão bastante pesadas. Não violar as leis naturais do universo, nesse momento, é o mais importante.
É a minha opinião. Liberdade é o meu ponto. Hoje sei que liberdade só atingimos quando se tem a consciência tranquila. Pra mim isso faz todo sentido. Só isso não nos amarra a nada nem a ninguém, embora venha de uma geração que pretendia mudar o mundo, acredito que o mundo só vai mudar quando mudarmos a nós mesmos. É difícil, mas não é impossível. O que são 2010 anos diante de milênios, diante da eternidadeão não é mesmo? Meu muito obrigado pelo interesse pelo meu trabalho. Carinho impagável. Vamos seguindo e vencendo nossas batalhas. Paz e Poesia, sempre em nossas vidas. . CURANDO A DOENÇA Cecília Fidelli. - Publicado por Sebastião Teles, no Espaço Poético do jornal Patos de Minas de 6 de Janeiro de 2001 Edição 408. É preciso enterrar o passado de pureza deste amor e irrigar novas emoções. É preciso curar o chakra da dor, mesmo que cause essas pontadas no peito. Mesmo que a angústia estimule a saudade. É preciso esquecer, mandar o coração ir bater lá no cérebro e manter os pés no chão. É preciso desplugar a in/consciência do elo. Desbloquear a aura, implantar novos processos, viver plenamente, enterrar os mistérios, acabar com a solidão.
Cultura e contracultura - 2009 Rodrigo Morais Leite é um daqueles caras que lutam pela cultura alternativa e independente. Entre outras empreitadas, foi o organizador da expozine de Teresina, Piauí, que chegou em 2009 a sua segunda edição. Como ocorre uma expozine? Vamos tentar entender o processo através um agradável bate papo com esse guerreiro. É claro que, como toda boa conversa, o assunto se desvirtua e passeia por alguns outros. O universo dos fanzines e da contracultura é analisado, dando uma noção básica do atual panorama aos que ainda não compreendem muito bem certos aspectos. Então apertem os cintos e boa viagem. Por que organizar uma expozine? A ideia de organizar a Exposição de Fanzines surgiu depois de duas conclusões. A primeira era a de que eu já possuía vários fanzines dentro de um baú que fui conseguindo por cartas. Fanzines de toda a parte do país. A outra foi a de que deve ser feito algo que concorra com os grandes eventos culturais da cidade, algo fora do eixo, algo tosco. O fim último da exposição é o de divulgação do fanzine como um meio alternativo de informação, de contestação. O sentido está mais para a divulgação do zine em si. Muita gente nem sabe o que é. De onde veio essa identificação com os meios de comunicação independentes e alternativos? De certa forma, quando um jovem tende para não seguir padrões e tenta se diferenciar da maioria, não há como não se identificar com os zines. Na juventude, mais que em qualquer outra fase da vida, o indivíduo precisa se afirmar, se caracterizar. Há alguns que seguem a correnteza, o rebanho, e prefere que outros decidam e escolham o que é certo pra eles. Outros, pelo contrario, de início repudiam tudo que é norma e padrão. O tempo passa e este jovem meio que perde muito de sua ousadia, de sua rebeldia, mas mesmo assim algo fica ali. Então, é este segundo indivíduo que tende a produzi um fanzine. Imagine só: você percebe que pode escrever o que quiser, não há regras ou padrões a seguir, não há porque se esconder, se camuflar. Aí você descobre os fanzines. União perfeita entre o útil e o agradável. Você pode furar o peito e deixar jorrar inquietações que estão em você. O fanzine serve de calmante pra você e ao mesmo tempo de estimulante pra outras pessoas. Fanzine é material que corre pelas beiradas. É como tocar a campainha da casa do patrão e sair correndo. Acho que é daí que vem a identificação com os fanzines. Qual o papel destes veículos atualmente? Acredito que um fanzine possa mudar a vida de uma pessoa. Um mudou a minha. Este papel já é o bastante, mas, além dele, há inúmeros outros. Podemos dizer o papel social, o papel de contestação, o papel de divulgação de trabalhos artísticos, dentre outros. A crítica está aí, incrustada nas entrelinhas e entreimagens do fanzine. O fanzine por si só já traz contestação: um “tou nem aí” para os meios de publicação institucionalizados. Este papel de mostrar que há outros lados da verdade é essencial. Acho que, em parte, os fanzines vêm demonstrando isto. Enquanto existirem fanzines, estes papéis irão existir. O impresso vai acabar?
Nunca. Impossível. Está diminuindo e irá, talvez, diminuir mais ainda. Acabar, zerar... não... Nunca. Os e-zines chegaram aí, trouxeram comodidade, facilidade, custo praticamente zero, mas ainda há gente fazendo fanzine. Acho que se o impresso acabar, o fanzine acaba. Há uma relação íntima entre os dois. Essa é a mesma preocupação de quando a internet surgiu e facilitou a troca de cartas virtuais. A carta vai acabar? Acabou? Não. Ainda está aí. O que houve foi uma diminuição considerável no número de postagens, mas ela continua aí. O impresso não acabará. A contracultura é cultura? Entendendo por cultura tudo que o homem fabrica, então contracultura é sim cultura. Sempre irá existir quem conteste a norma, mesmo com a esquerda no poder. Contracultura é uma condição, uma postura. Algo só é contra cultural enquanto está ali, no canto dos desfavorecidos. O poder nuca poderá ser contra cultural, mesmo com esquerdistas, ou seja, indivíduos que já foram do contra, lá. Acredito que o fanzine sim, é uma autêntica manifestação contra cultural. O editor não, ele pode deixar de ser do contra, o fanzine não, nunca. Digo isto no sentido de ser uma mídia contrária a institucionalização. Nesta afirmação não levo em conta o conteúdo. Voltando e revoltando a situação da organização de uma expozine; observei que alguns materiais tinham uma fitinha colorida, muito parecida com as usadas em bibliotecas. O lance das fitinhas é o seguinte: eu recebo vários zines, dos mais diferentes estados. Quando vai acontecer a exposição, se arruma o que der em dinheiro pra tirar cópias de alguns zines. É mais seguro, pois podem acontecer furtos ou desastres naturais, acabando com os zines... rss. Os zines que têm a fitinha, são os que coloquei sem tirar cópias, os originais que recebi. Neles presto mais atenção, pois só tenho aquela cópia. Se perder, adeus. É isso. A escolha dos zines é aleatória, mas ando querendo usar só fanzines que ainda estão sendo produzidos ou fanzine recentes, de 2000 pra cá. Qual tipo de retorno um evento como este pode apresentar para seus organizadores? O maior retorno é espiritual. Esquecendo a visão cristã de espiritualidade, claro. Digo no sentido da satisfação não ser no campo físico, material, e sim na sensação que se sente depois de um evento terminado. Algo como dever cumprido. É a mesma sensação quando se termina um fanzine, tira as cópias e sai distribuindo. Só entende isso quem fez um. É inexplicável. Mas há também os frutos. Sempre surge alguém interessado em ajudar na próxima exposição ou alguém perguntando como conseguir algum zine. Sempre que tenho cópias sobrando distribuo, passo contatos. Acho que as maiores conquistas são a integração com o público e o surgimento de uma mentalidade que já coloca o fanzine ali: - Ah... Fanzine? Sei sim o que é. Quantas pessoas passaram pela expo? Pela primeira edição passaram por volta de 50 pessoas. O lugar não era de trânsito: beira do rio Poty. Só foi quem sabia que ia acontece e quem gostava de fanzines. A segunda aconteceu na UESPI – Universidade Estadual do Piauí - na semana de um encontro de estudantes de história, contando assim com um público maior. Várias pessoas passavam pelo local e paravam para folhearem um zine. Local de trânsito de pedestres é sempre melhor pra fazer estas exposições. Várias pessoas ficam sabendo o que é um zine. Algumas vezes digo para as pessoas que tenho um zine e elas perguntam: “Que merda é essa de zine?”
Então, explica para essa galera o que é fanzine. Aí vai um texto que “publiquei” na primeira edição do fanzine “As pirações do Gullar”, que comecei a editar agora em outubro. Acho que ele responde esta pergunta: Fanzine!Que porra é essa? Fanatic e Magazine (Revista do Fã) foram os dois nomes que se juntaram para dá origem ao nome fanzine, ou zine. O primeiro fanzine do Brasil data de 1965 e foi editado por Edson Rontani, um aficionado em quadrinhos. Seu nome era “Ficção” e contava com uma lista de contatos de pessoas que curtiam quadrinhos no país. O zine era distribuído por cartas e trocado por outras revistas. Dentre os nomes mais conhecidos de leitores estavam Maurício de Souza e Jô Soares. Nesta época ainda chamavam aquele tipo de publicação de boletim, o nome “fanzine” passou a ser utilizado só na década seguinte, a de 70. Esquecendo os conceitos e as datas, fanzine é vida! Vida que pulsa sem precisar de “por que”. Não se trata de comprometimento com lucro, com perfeição editorial ou com normas. Em “Fanzine de Papel”, Marcio Sno, um fanzineiro brasileiro “das antigas”, fala de um tal sentimento que movia os editores de fanzines do século passado. Seu livreto é um tratado sobre os fanzines e pode ser utilizado como fonte de pesquisa para qualquer esclarecimento. Este tal sentimento apresentado pelo editor tem muito a ver com a edição, com o feitio do fanzine. No século passado o comprometimento do editor com todas as etapas de produção do fanzine era maior. Visto que o contato entre os dois, Fanzine e fanzineiro, crescia na proporção que crescia o trabalho que se dava para colocar a publicação nas ruas. Com a popularização dos computadores e dos programas de edição o “fazer” do fanzine ficou muito frio, maquinário. Há casos de zines que são produzidos e distribuídos virtualmente, são os E-zine. O prazer de receber uma carta com um fanzine dentro esta sendo substituído pelo de receber um e-mail com um E-zine anexado. Dizer que os E-zines estão diminuindo a relação entre fanzineiro, fanzine e leitor não se trata de um conservadorismo. Há algo que envolve a natureza, ou a essência, do fanzine com uma folha de papel, uma tesoura e um vidro de cola e só entende isto quem ainda faz fanzines assim. Considerações finais. Então é isto. Acredito que dá para continuarmos fazendo fanzine e resistindo na medida do possível. Tem muito carinha aí metido a entendido, dizendo que evoluiu esteticamente e não produz mais fanzines, agora são revistas... Nada a ver. Há muita coisa pra ser feita e muitos pré conceitos pra serem quebrados. Fazer um zine é apaixonante. Quem faz um, não para mais. Vide o fanzine O Berro que vocês fazem aí no Rio e já tá pra mais de dez edições. Não é fácil, mas temos que continuar! Alias, quem faz zine, não é por obrigação.
Ray -2010 Raymundo Araújo Filho é um daqueles caras difíceis de passarem despercebidos. Dono de uma opinião forte, expõe seu ponto de vista com franqueza. O melhor mesmo é deixar que ele se apresente. Veterinário? Ativista? Quem é Raymundo Araújo? Sou um cara que, na verdade, DETESTA a Política. Mas conheço um ditado que me faz não me alienar e, de certa forma, manter um ativismo. O ditado é do velho Aporelly (O Barão de Itararé – que conheci ainda vivo na ABI, onde eu era levado por minha mãe e pai) “Os Vivos São Governados Pelos MUITO Vivos” Sou veterinário homeopata com trabalhos na agricultura e agroindústrias familiares ecológicas, totalmente desempregado e indexado por quem detém praticamente 100% das verbas para o setor, isto é, o governo e seus apaniguados. É o preço que pago por ter opinião. E não reclamo, apenas constato. De onde vem tanta indignação? Acho que da minha criação, influências familiares e afetivas várias. E de uma observação da realidade como ela é. Traduzo minha indignação na letra de um artista itinerante que conheço, de nome Escaramuça, que diz: Então como é que é a Paz/ Sem Justiça Social?/(bis)/ Os Pobres nas Favelas e os Sem Terra/ Mendigos e Crianças Sem Teto/ Então Quem Quer a Paz/ Sem Justiça Social?/ É a Burguesia Dona do capital (bis). Você sempre fez críticas severas em relação a atitude dos movimentos sociais diante do governo Lula. Qual atitude, em sua opinião, esses movimentos deveriam ter com o atual governo? Independência e Mobilização Popular permanente, meu caro. Em grandes jornadas de Ação Direta. Uma expressão que você sempre utiliza é Lulista. O que seria um Lulista típico? Na verdade é Lullista. O Lullista típico é todo o sacripanta que se diz socialista ou anti capitalista, mas se locupleta com as alianças com o capital. Além dos direitistas que descobriram em Lulla (e o que ele representa) e seus sucessores como uma maná para continuarem enriquecendo. O resto não é Lullista, é gente sofrida que aceita esmola porque não lhes trouxeram outra coisa. Algumas pessoas acham que essa atitude contrária ao Lula seria apenas para favorecer outro candidato. Isso é verdade? Teria algum candidato ou partido político que você apoiaria nas próximas eleições? Quem está no Poder ESCOLHE seus adversários. Esta é que é a verdade. Sugiro a leitura de um artigo meu de nome “Tigres de papel”, no link http://titaferreira.multiply.com/market/item/1259/Tigres_de_Papel Qual o principal problema atualmente no Brasil e como resolvê-lo? Sem querer simplificar, mas simplificando de certa forma, penso que o principal problema é a formação de consciência política que teve uma ruptura, justamente com a eleição de Lulla em 2002 com uma plataforma de Reformas Radicais, mas traída descaradamente, desmobilizando a população que mais a mais enxergava o seu poder.
E o Obama? Ainda tem gente insistindo que ele é o remédio para o mundo. Você concorda? Creio que, neste mês de Fev/2010, a resposta já está dada e por ele mesmo. Seu último texto (sobre Frei Beto) é um dos mais nevrálgicos que já vi. Por que desse ataque? Bater na direita sempre batemos e muito. Conseguimos derrotá-los sob o ponto de vista ideológico nas eleições de 2002. Mas aí veio a traição e mesmo sabendo ser o Frei Beto um crítico de Lulla, o faz de meia boca e dentro do conceito “ruim com ele, pior sem ele”. Frei Beto, Stédile e Caterca já declararam seus votos em Dilma no segundo turno deste ano, ou seja, já se agacharam tanto que mostraram as cuecas, antes do pleito. Eu disse PLEITO. Fale sobre os projetos relativos a memória e ao nome de JB? Meu inesquecível, dileto e constante amigo prof. João Batista de Andrade, para mim representa, além de um generoso e afetivo amigo, um tipo de ativismo que está em falta no país. Não que eu concordasse com ele em tudo, muito ao contrário até. Mas, o seu trabalho, que em política se chama Frente de Massas, era constante, natural e excelente. Nunca vi uma pessoa formar tantas consciências políticas como ele. Fundamos, junto com alguns poucos amigos de verdade, o Centro Popular João Batista de Andrade (CEPO JB), sem registro ou formalidades, que se reúne na Praça Getúlio Vargas, mais ou menos de 15 em 15 dias, aos Domingos pela manhã, para acionarmos várias lutas comunitárias, como a da transformação do Cine Icaraí no Centro Popular de Cultura prof. João Batista de Andrade (CEPOC JB), em iniciativa parecida com a do Cine ODEON no Rio, barrando a especulação imobiliária que ali pretende fazer um Shopping e transformar a Praça Getúlio Vargas em uma Garagem Subterrânea. Não foi outro o motivo que fez com que os acólitos do Prefeito quadrileheiro Jorge Roberto Silveira (adjetivos de minha reresponsabilidade, e desafiando que me processem sobre esta “audácia”), cortassem 16 árvores frondosas, sendo pelo menos 3 centenárias e as outras com pelo menos 50 anos, transformassem um aprazível lugar em um “pátio de presídio” ensolarado em demasia e com pedra britada de piso, inclusive no parquinho das crianças. Além de terem cortado o som e começarem a ameaçar a feirinha que por lá existe, com baile para a terceira idade aos Domingos. Ficou alguma coisa de fora? Gostaria de completar algo? A única coisa que está de fora, exposta, é a falta de vergonha destes que se dizem de esquerda, mas que entregam o país para o capital como via segura para o socialismo ou para o anti capitalismo. Sobre isso, sugiro a leitura do artigo de Wladimir Pomar, e o meu comentário no link http://www.correiocidadania.com.br/content/view/4332/46/ A mensagem final: “NÃO SE FAZ OMELETES SEM QUEBRAR OVOS!” E nem revolução, sem enfrentamento. E muito obrigado pela oportunidade que dão a este invisível social e desimportante político em expor suas convicções. Todos que queiram receber meus artigos políticos, que escrevam para
[email protected]
Winter Bastos dá a palavra - 2010 Esse camarada é outro que já passou muitas aventuras comigo. Escritor, ativista e dono de uma sensibilidade sem igual. Este é Winter Bastos. Antes de mais nada, como andam suas atividades literárias e no campo do ativismo político? Estou dando andamento a meus contos. Pretendo publicá-los tão logo ache que estejam bons (e consiga uma editora, claro). Ah! Estou sempre participando de concursos de contos, também: é um execício muito importante para quem gosta de escrever literatura. Politicamente, aproximei-me da Organização Popular (OP): um grupo que agrega pessoas de diferentes ideologias e mesmo as que não professam nehum ideário específico, mas que concordam com determinados princípios básicos anticapitalistas e anti-autoritários (mais informações em: http://organizacaopopular.wordpress.com/ ). Hoje integro esse gupo e estou bastante animado com as perspectivas que tal tipo de organização pode abrir, escapando de sectarismos e promovendo a autonomia dos movimentos sociais, livres de interferências do Estado e de interesses eleitorais. Você tem atuado bastante na greve do TJ/RJ. Como anda a luta dessa galera pelos seus direitos? Não tenho atuado "bastante" na greve. O que faço é básico: minha atuação se restrige a participar das assembleias, debater, votar nas propostas com que concordo e acatar as decisões coletivas e democráticas (o que, no presente caso, significa simplesmente: aderir a greve e convencer colegas a também paralisarem as atividades de trabalho já). Aqueles que - ética e coerentemente - se incorporaram à greve têm demonstrado coragem e disposição apesar de diversas medidas ilegais tomadas contra eles, tais como corte de salário e remoções arbitrárias Por que existem aqueles que ainda não aderiram a greve? Porque infelizmente há pessoas que acreditam que as medidas judiciais, sozinhas, já podem garantir os direitos do povo, mesmo sem que este povo arregace as mangas e lute. É uma ilusão. O processo judicial buscando estender, para os servidores da Justiça, um reajuste, que havia sido dado para todos os outros servidores estaduais, demorou 23 anos para ter uma sentença definitiva a nosso favor. Mas não adiantou nada. Só com a nossa greve atual é que conseguimos que os autores iniciais do processo recebessem os 24% sonhados há tanto tempo. Tivemos uma vitória parcial, porque fizemos com que o Estado - que estava simplemente descumprindo a sentença e não pagando a ninguém - pagasse aos autores da ação. Só que é ilegal reajustar o salário de uma pessoa e não de outra que ocupa o mesmo cargo. Ou seja, o reajuste tem que ser para todos os servidores do Judiciário Estadual do Rio e não só para quem pôs o nome na ação de 23 anos atrás. Mesmo assim, as pessoas precisam entender que - por mais que seja obrigação legal do Estado - esse percentual também só vai ser estendido a todos os outros servidores da Justiça a partir do fortalecimento da greve e não pela "boa vontade" dos chefes do Poder Executivo e Judiciário. A mídia não tem dedicado espaço à luta dos trabalhadores do Tribunal de Justiça. Por quê? Porque a mídia grande deste país representa os interesses das classes dominantes e não da classe trabalhadora. Nós, do povo, temos que contar com veículos de comunicação
tais como o fanzine Pençá (feito por você e o Eduardo Marinho), o blog e o fanzine Reboco Caído, o Centro de Mídia Independente (www.midiaindependente.org), as rádios livres e comunitárias que são perseguidas pelos governos de todas as cores ideológicas por aqui... Você é anarquista, mas muitos não compreendem o que vem a ser o pensamento anarquista. Fale sobre. Anarquismo é um sistema de pensamento que nasceu das lutas populares. É uma ideologia que promove a solidariedade entre os seres humanos e combate a exploração e a dominação do homem pelo homem. Por isso é contrária a propriedade privada, ao Estado e à buguesia. Busca construir, desde já, uma sociedade livre: sem governantes e governados, exploradores e explorados. Na internet a gente encontra algumas páginas muito boas e confiáveis sobre o assunto, tais como: www.farj.org ewww.anarkismo.net. Darei alguns temas para que você dê o seu ponto de vista a respeito Religião - Ter fé não é ruim, mas ser fiel à Igrejas (instituições religiosas) é favorecer a própria exploração e submissão Preconceito - Machismo, homofobia, xenofobia são pragas que assolam a humanidade. Chega dessas porcarias, gente. Acomodação - O acomodado é cúmplice de seus algozes. Patriotismo - Só é útil aos tiranos. Temos que nos unir como classe explorada, e essa união tem que ultrapassar todas as fronteiras nacionais. Alienação - Para escaparmos da alienação, temos que exercer nossas singularidades e boicotar a mídia burguesa (Globo, SBT, Record, etc.). Não há outra alternativa.
O Protesto Suburbano - 2011 Alex Costa atua na banda de hardcore Protesto Suburbano, que surgiu em janeiro de 1995, na cidade de Macaé, interior do Rio de Janeiro. Do início do projeto para cá muita coisa aconteceu, mas a banda continuou firme e forte na estrada. Com tantas dificuldades que uma banda independente passa, muitas começam e acabam sem completar a primeira década. Como vocês estão resistindo a tanto tempo? Um dos principais fatores é que nós amamos o que fazemos. Mas outros fatores como amizade, respeito, compreensão, paciência, ou seja, tudo que temos que ter também em outras áreas de nossa vida, como trabalho e família, também ajudam a superar as dificuldades e tocar o barco pra frente. Como anda a cena e o movimento underground aí por Macaé? A cena em Macaé é cheia de altos e baixos. Sempre tem bandas boas surgindo. Infelizmente, muitas acabam antes de lançarem seu primeiro disco. Um dos problemas mais graves por aqui hoje é a falta de um espaço fixo para fazer um som. Para fazer um show tem que alugar espaço e equipamento, além de fazer divulgação, é claro, e no fim os organizadores ficam no prejuízo, pois não conseguem pagar os custos com a venda dos ingressos. Acontecendo isso, os promotores desistem de fazer shows, as bandas vão desanimando e, consequentemente, o público diminui. É um efeito dominó que pode levar a cena pro buraco. Por sorte, tem gente que não desanima nuca e dá um jeito de conseguir ajuda, Deus sabe a que custo, e consegue movimentar a cena e não deixá-la morrer. Macaé vem se destacando no setor petrolífero e a mídia convencional cita melhorias para a cidade e sua população devido a isso, mas qual a realidade da rapaziada daí? O petróleo e suas indústrias estão realmente levando bem estar para a região? Este é o tipo de “progresso” que traz coisas boas e ruins. Trouxe empregos e melhorias em vários setores, porém trouxe degradação da natureza, tráfico de drogas, violência, entre outras coisas. Agora, falando a nível nacional, podemos observar várias situações bizarras acontecendo, como a construção de Belo Monte, o Novo Código Florestal e a ameaça da construção de novas usinas nucleares no Brasil. Qual a opinião da banda sobre esses assuntos?
Nós sempre estamos do lado do meio ambiente, inclusive temos várias músicas de cunho ecológico, porém, em certos casos, não há jeito, pois precisamos de energia elétrica. O que tem que ser feito é usar a energia mais limpa possível, como a eólica e solar, por exemplo. Infelizmente existem várias pessoas “poderosas” que, por interesses próprios, não querem que projetos ecologicamente corretos avancem. Fazer usinas nucleares é um regresso, inclusive tem vários países que estão desativando as suas, como a Alemanha, por exemplo. Todo mundo sabe das consequências de um desastre nuclear. Então, neste caso, até Belo Monte, apesar de toda polêmica, é menos impactante. A gente tem só que ficar de olho, pressionando, pra que, pelo menos, façam a coisa como tem que ser feita e com menos prejuízos possíveis para o meio ambiente. Sobre o Novo Código Florestal, até onde sei, é uma regressão e o que estou achando mais engraçado é que os ecologistas estão muito passivos quanto a isso. Não estou vendo ninguém se mobilizar pra valer. Agora, ampliando um pouco mais o bate papo, a situação mundial também não anda das melhores. Palestinos sendo massacrados, os EUA continuam a sua política de controle mundial... e por aí vai. Como mudar um mundo cujas lideranças são subordinadas aos interesses econômico? Enquanto as lideranças forem movidas pela ganância, pelo dinheiro e poder será impossível mudar o mundo. Felizmente a Internet está levando informação rápida e passada por pessoas comuns que estão mostrando o que realmente está acontecendo no mundo. Hoje fica mais difícil para “eles” encobrirem sua sujeira. Existe esperança na política partidária? No meu ponto de vista, a política, em sua essência, é uma coisa boa e importante. O que é ruim é o uso que fazem dela. Infelizmente entendo muito pouco de política, mas acho que todos nós deveríamos entender mais e estar mais interados sobre isso. Desanima ver tanta podridão acontecendo na nossa cara e não podermos fazer quase nada para mudar tudo isso, a não ser protestar, tentar conscientizar algumas pessoas, discutir sobre o assunto e tentar aprender mais. Com certeza, este sistema político que temos não é o ideal, pois os caras formam verdadeiras quadrilhas para desviar o dinheiro que era para ser usado no bem comum e, quando são pegos, nada acontece. Nós elegemos pessoas que eram para nos representar e lutarem pelos nossos interesses, mas não é isso que acontece, pois depois que estão no poder só pensam nos seus próprios interesses. Se fazem alguma coisa, é pensando na próxima eleição. Isso é
muito frustrante e desanimador. Se já não bastassem seus próprios partidos, eles formam alianças e ficam com o rabo mais preso ainda. Não sei se é possível, mas acho que tinha que acabar com este lance de partido, pois muitos políticos são empurrados pelos partidos e, por causa dos votos, se elegem com menos votos que seus adversários. Isso é bem difícil de entender. São poucos que são verdadeiramente honestos e lutam pelos interesses e necessidades sociais, a favor da coletividade. Porém, como são poucos, não conseguem ter força para derrubar o sistema imposto pela corja. E para o ser humano? Esse bicho tem jeito? Tenho esperança que um dia sejamos civilizados. Isso inclui: trabalharmos para o bem de todos sem egoísmo, sermos mais amáveis com as pessoas, mais conscientes dos nossos deveres e mais responsáveis com nosso planeta. Se o ser humano evoluir de verdade, não precisaremos mais de dinheiro, nem armas, ninguém vai morrer de fome ou sentir qualquer tipo de desamparo e nem precisaremos de ninguém para nos “comandar”. Voltando para a banda, tô sabendo que tem alguns projetos bem interessantes vindo por aí. Realmente. Estamos gravando um DVD de clipes. Só falta uma música para fechar isso. Acredito que dentro de 2 meses lançamos. É provável que também saia um DVD ao vivo. Estamos vendo a viabilidade deste projeto ser feito. Além disso, ainda estamos recolhendo material para um documentário sobre a banda, que deve sair ano que vem. Considerações finais: Gostaria muito de agradecer ao Fabio por abrir espaço para expormos algumas idéias e dizer que as pessoas não precisam gostar do nosso som para serem nossos amigos. Obrigado a todos, por tudo! Chamem a gente para tocar em sua cidade. E, para finalizar, gostaria de deixar um pequeno trecho de uma letra, que faz parte de uma música nova, que ainda não foi gravada, mas que representa bem nosso atual momento: “Viva e deixe viver!”. Para curtir o som: Nosso último CD “Em Que Mundo Nós Vivemos?” http://www.4shared.com/file/uXa1MwyE/Protesto_Suburbano_-_CD_Em_Que.html Cd comemorativo de 15 anos Zona Punk Records http://www.zonapunk.com.br/zprecs/lancamentos.php#protestosuburbano
Pacheco e sua visão das coisas -2010 Direto da Capital Federal, ele chega para contar suas experiências e expor seu ponto de vista. Ele é Mário Pacheco. Você já tem estrada nessa caminhada pela cultura independente e alternativa. São 28 anos, mas parece que foi ontem que começamos colando papéis e datilografando os zines em fitas rubro negras desgastadas. Hoje, via programa, a gente consegue diagramar uma página melhor e oferecer a um quantitativo muito maior do que poderíamos imaginar. Durante esse tempo, você conseguiu montar uma expressiva coleção. Estou em vias de receber uma nova doação de 1.000 LPs, compro uma nova estante de metal, separo por estilos e vou inserindo até preencher as lacunas. Só agora consegui arrumar um três em um e voltei a ouvir vinis, mas a gente sempre descobre que está faltando aquele. No meu caso, “Come Taste The Band” do Deep Purple! Do fanzine para o livro. O zine é motivo de piada até que você envereda pela subliteratura e bate de frente com os autores estabelecidos. Em toda cidade existe aquele autor que já publicou 50 livros e eles disputam o mercado palmo a palmo e até compram impressoras. É muito difícil para o zineiro encarar esta disputa, além de ter fôlego para vender no mínimo mil cópias. O livro tem que ser um zine elaborado, amadurecido e espaço de reflexão, mas só aprendemos isso quando já lançamos o livro. Uma frase que achei perfeita e que foi dita por você em seu site (Na entrevista que você concedeu ao Felipe, do Zine Oficial): "Olhe que quando você rotula alguém, ele deixa de ser". Se rotularam você de alternativo, estabelecido servidor público... São marcas para delimitar a amplitude da tua ideia. “É aquele carinha que faz aquelas camisetas”... Então você fica preso àquelas camisetas e nunca pode evoluir. Felizmente, existem muitos exemplos de criadores que quebraram esta barreira. Até na música o ideal é ser um “faz tudo”. Já que falamos do “Do Próprio Bolso” (http://www.dopropriobolso.com.br/), vamos por aí. Fisicamente, Do Próprio Bol$o é uma extensa biblioteca e discoteca. Um arquivo de material de contracultura, mantido com verba do próprio bol$o. Hoje, é um site que recebe 1.000 visitas por dia e espalha informações que não estão na grande mídia. A maior mentira e a maior verdade: Patrocinador / Arcar do próprio bol$o. Continuam surgindo vários zines muito bons com propostas completamente diversas. O que é o principal em um veículo de comunicação marginal? O veículo marginal tem que se destacar pela proposta e logo de cara impor sua marca e dizer a que veio. Infelizmente, podem acontecer perseguições e discriminações, o que é uma constante na comunicação marginal. Um exemplo clássico foi a revista
“Bundas”. Com um nome desses, como é que seriam recebidos por algum empresário interessado em patrocinar a “Bundas”? E o texto? O que precisa para prender sua atenção? O texto pode ser curto, mas tem que ser bem escrito. Se a ideia estiver equilibrada, vale qualquer absurdo. É um estilo SPAM! Planeta Terra, ano 3000... Se o planeta durar tudo isso, em que pé estarão as coisas. O lado Nostradamos do Pacheco. Vai ser igual às ficções dos anos 1960: Viagens interplanetárias, colônias de férias e muitas pílulas coloridas e campanhas publicitárias da coca-cola.
Entrevista FLASKÔ - Juiz quer Fechar a Fábrica Ocupada - 2011 Ao ser abandonada pelos patrões, a fábrica foi ocupada pelos funcionários que a mantém em pleno funcionamento. Após resistirem a vários ataques, eles têm de encarar uma nova investida contra a luta pela dignidade. Uma de suas máquinas será leiloada. Uma grande manifestação acontecerá no próximo dia 7, na porta do Juiz, em Sumaré. Às 5:00hs da manhã, na portaria da Flaskô, a classe trabalhadora estará se reunindo para se manifestar contra mais esse ataque sofrido pelos que insistem em acreditar que um mundo mais justo e igualitário é possível. Como a fábrica funciona hoje? A Flaskô foi ocupada pelos trabalhadores em 12 de junho de 2003, diante do abandono patronal, 3 meses de salários atrasados e direitos que eram sonegados. Reivindicamos a estatização da fábrica, sob controle dos trabalhadores. De lá pra cá, muita luta foi feita para garantir o controle operário, com importantes conquistas sociais, dentre elas a redução da jornada de trabalho, sem redução de salários, para 30 horas semanais. O espaço da fábrica é da comunidade, da classe trabalhadora como um todo. Temos o projeto Fábrica de Cultura e Esporte, que envolve quase 400 pessoas, especialmente crianças. Organizamos uma ocupação de moradia no terreno da fábrica, onde vivem 564 famílias. Na fábrica reina a democracia operária, que se expressa pelo Conselho de Fábrica (eleito anualmente), que se reúne semanalmente, e a Assembléia geral, que ocorre mensalmente. Apesar de toda luta por parte da Flaskô, o Estado não tem se mostrado disposto a auxiliar. Por quê? Sabemos o caráter burguês do Estado. Não temos ilusão. A reivindicação da estatização serve para expor isso. Devemos mostrar que, primeiro: não queremos ser proprietários, sócios. Somos contra a propriedade privada dos meios de produção. Lutamos pela estatização sob controle operário como instrumento para a transição socialista, como forma de organização da classe operária. Mostramos que mesmo nos marcos legais e institucionais postos, por meio do efetivo cumprimento da Constituição Federal, a reivindicação dos trabalhadores da Flaskô e do Movimento das Fábricas Ocupadas como um todo poderia ser atendida. No entanto, vemos o contrário. O Estado, em todas suas esferas, não quer abrir precedentes, pois tem “medo que a moda pegue”, como disse um Juiz ao fechar a mais importante fábrica sob controle operário – Cipla e Interfibra, em Joinville/SC, em maio de 2007. Qual o interesse de um juiz em criar dificuldades para pessoas que estão lutando pelo direito a um trabalho digno? Como dissemos, sabemos o caráter do Estado – que objetiva a manutenção do status quo. Com o Poder Judiciário não é diferente. Na verdade, o que há é muita ilusão com o Direito, como se fosse um poder supremo (sinônimo de Justiça, com um poder imenso). Sabemos o papel que a Justiça cumpre; com seu caráter classista, seletivo, controlador e segregador. Nosso objetivo, é expor mais uma vez a contradição de que toda nossa reivindicação está na lei, está nos mais básicos princípios da ordem jurídica vigente, na essência do Estado Democrático de Direito, onde deve-se prevalecer a busca pela dignidade humana e a função social da propriedade. Todavia, a Justiça, por ser de classe, nos trata como se desrespeitássemos as leis. Quem desrespeitou foi o patrão e a classe dominante em geral, que sonega impostos e direitos e descumpre a
função social da propriedade. Assim, mostramos que temos nossos direitos e eles têm medo que esta possibilidade de ocupações de fábrica se some as ocupações de terra, por moradia, de universidade, etc. O que representaria para vocês perder essa máquina que está indo a leilão? Significaria uma agressão fortíssima contra o controle operário. Primeiro, seria uma ilegalidade, permeada de abusos jurídicos. Há outras formas de resolver legalmente o pagamento das dívidas que, vale dizer, são dos patrões! Mas, claro, eles escolhem a que criminaliza a gestão operária e a que seja uma forma de nos enfraquecer, levando ao nosso fechamento. Pois é essa a tendência. Se sair uma máquina, nossas dificuldades se multiplicarão. São pais e mães de família que dependem desta produção, das conquistas sociais que foram implementadas. Temos que barrar qualquer ato contra o fechamento da fábrica. O leilão de uma máquina deverá nos levar cada vez mais ao estrangulamento. Qual a maior importância da continuidade do trabalho que vem sendo desempenhado por aí? Entendemos que nosso mérito, humildemente, é proporcionar uma alternativa ao fechamento das fábricas, mantendo os postos de trabalho, fazendo com que a propriedade seja usada por todos e que a gestão operária consiga implementar as conquistas sociais historicamente reivindicada pela classe trabalhadora. Foi assim com a jornada de trabalho, a assembléia. Nossa perspectiva é de combater pela classe operária e, por isso, estamos juntos com os sindicatos, o MTD, MTST e MST. Estamos com a juventude, lutando pela transformação socialista da sociedade. Somente assim conseguiremos a vitória. Socialismo não é possível em um só país. Por isso, sabemos que não é possível sobreviver somente com a Flaskô. Mas sabemos também a importância da Flaskô como forma de manter trabalhadores unidos, com a bandeira vermelha erguida, mostrando que não precisamos de patrões. Não precisamos de uma classe sanguessuga. Mostramos, na prática, que ao não ter a apropriação privada da riqueza, uma nova sociedade pode se construir.
"A realidade é para aqueles que não podem suportar o sonho" - 2009 A frase de J. Lacan dá início a um dos blogs mais autênticos e interessantes da atualidade: O Egibson (www.msgibson-eg.blogspot.com). A página é administrada pela própria Egibson, que expõe ali o fino de suas elucubrações. Amapaense, nascida em Macapá, em outubro de 1970, veio para o Rio de Janeiro. “Por desespero, curiosidade, falta de ar ou mesmo sentimento de fuga, assim que completei 18 anos, catei meus trapinhos e alguns dos meus melhores amigos de páginas amareladas e me mudei contra a vontade de todos.” Incentivada pelo pai (“velho rabugento, quase um ogro e carne de pescoço, mas com uma puta veia literária, me aconselhou a estudar Letras, porque sabia do meu grande interesse desde cedo pelo texto e pela escrita. Interesses estimulados por ele, que, dentre outras coisas, fez minha inscrição na Biblioteca Pública da cidade quando eu ainda era bem criança, lugar que passei a frequentar compulsivamente”), sempre se interessou por literatura. Mãe, cineasta, escritora, integrante do Coletivo Categóricos, mulher liberta e um ser sem igual: essa é Egibson. Ao contar sobre sua vida, antes de nossa entrevista, você citou Homero e Safo e lhes deu certo destaque. No seu blog, eles estão entre os seus "Sem comentários". Qual a importância deles em sua vida? Importantes quanto à construção de um eu lírico. Do texto de Homero, o que posso dizer? Um artesão da imagem. A força dramática dos personagens, arquétipos bem construídos. O enorme compromisso com o simples narrar uma história, independente de um final. Quando li Ilíada pela primeira vez quase gozei com a descrição de Aquiles, tomado pela ira pelo assassinato de seu amigo (pura paixão!), arrastando o corpo do nobre e corajoso Heitor ao redor das muralhas de Tróia. E também com o velho rei Príamo, sozinho e desarmado, num gesto de infinita humildade e dor, indo suplicar ao inimigo que lhe fosse devolvido o corpo do filho, pra que fossem feitas as justas honrarias fúnebres. Um mundo de guerreiros, levados ao extremo no que existe de mais visceral, aliás, nesse mundo, até os deuses são tomados por essa “humanidade”. Foda. Quanto à Safo, sei lá. Pouco se sabe dela e da sua obra. Só fragmentos. Muita especulação. Mas o que fica pra mim - pobre mortal - é que Safo foi uma mulher extraordinária, não somente pela sua poesia (outra apaixonada das boas, das mais tórridas, desesperadas, livres, entregues que já li, contrapondo ao esmero na construção formal) mas também pela sua representatividade como símbolo de mulher LIBERTÁRIA, à frente do seu tempo. Única (pelo menos que eu tenha conhecimento) representante feminina na produção poética daquela época, no meio a uma lista, DE PESO, de poetas do sexo masculino. Safo pra mim é a figura da mulher realmente moderna, mais que muita "moderninha" dos dias de hoje. Aliás, cá tenho minhas desconfianças quanto a essa modernidade/liberdade atribuída à mulher contemporânea. Reconheço e agradeço demais os avanços no campo profissional que minhas antecessoras conquistaram com muita luta. Mas, fora a questão profissional, não vejo tanta diferença entre a mulher de hoje e as minhas avós. Falo do ponto de vista emocional. O tempo passa e continuamos a acreditar nos malditos príncipes, a achar normal a porra da síndrome de amelice, convivendo confortavelmente com o eterno “servir”, em diferentes escalas, a viver a espera de um PAU GENEROSO que nos preencha as vidas medíocres de princesas, variando entre extremos de puras, a putas. E carregando sempre a maldita maçã, da qual não conseguimos nos livrar
nunca, responsável, na minha opinião, pelo pavor que alimentamos da nossa sexualidade. É isso, a espera de um pau que nos ampare, nos dê a tal segurança (emocional). Sou mais Safo. É provável que eu mesma tenha criado uma Safo imaginária na minha cabeça. Mas, assim como os antigos gregos, faço questão de alimentar e render homenagens aos meus mitos. Tenho até vontade, agora mesmo, de sacrificar um cordeiro em honra a essa mulher. Fale um pouco sobre seus filmes. Dois curtas de ficção e um possível longa metragem documentário. O primeiro curta surgiu numa aula de roteiro. Argumento e roteiro divididos com um amigo roteirista da Darcy (Escola de Cinema Darcy Ribeiro), João da Hora. Metemos a cara e resolvemos realizar na marra. Foi minha primeira experiência (difícil, pra ser sincera). Tentamos construir uma história que se sustentasse no arquétipo de um orixá africano, Ogum. Muito interessante o processo de construção. Muita pesquisa e entrega. Já valeu a pena por isso. O segundo também surgiu na sala de aula. Esse teve roteiro todo escrito por mim, mais introspectivo, mais psicológico – história de um monge – com uma trama que gira em torno do embate entre dois titãs da modernidade, “a pulsão e a renúncia”, sempre em luta pelos nossos objetos de desejo, sejam lá quais forem, o gozo, o desejo – “objeto a”. Já no terceiro, minha participação é na produção. Trata-se de um doc sobre a vida e a obra de um fotógrafo (J.M.Goes) que há vinte anos só fotografa mulheres nuas, em P&B, num processo todo analógico, artesanal. Lindo. Acredito que dele seja o maior acervo de nu artístico, pelo menos do Brasil. Além de trabalhar a coisa da fotografia, da imagem em si, tem todo um leque de questões envolvidas, como velhice e solidão, mulher e os tabus com seu corpo, artista e sua paixão pela arte, progresso versus tradição etc. A concepção original é do João da Hora e a direção de Julio C. Siqueira (cineasta que participa comigo do Coletivo Categóricos). Algum já tem data de lançamento? Ahhh... essa é a parte chata. Ingênua, eu sempre achei que o mais difícil fosse filmar. Nada! Filmar pega no tranco. Depois de filmado é que a novela começa. Bem, espero concluir tudo no início de 2010. Se os deuses do cinema ajudarem. O que é o Coletivo Categóricos? Categóricos é um oásis de coletividade numa época em que todos buscam refúgio em seus próprios umbigos. Um grupo de sete pessoas na contramão do fuzuê eufórico da correria, da falta de tempo, da ausência de reflexão, do desinteresse pelo coletivo. Criaturas que se propõe a parar um pouco pra ruminar suas questões e regurgitar algumas transformações, ou simplesmente pessoas que se encontram pra tomar um café, ou uma cerva. Alguns alimentando singelas pretensões, como a de consertar o mundo, por exemplo. Fui parar nesse bonde convidada por um grande amigo que conheci na Darcy, Nóbrega, poeta, profundo conhecedor da sétima arte, dentre outras coisas. Entrei e passei a contribuir com meus ovários revoltosos, únicos, em meio a colhões ideológicos. Seis rapazes talentosos e eu. A ideia é discutirmos ideias, crenças, valores, ideologias, preconceitos, ou falar de cinema (proposta inicial do grupo), de literatura, e até do maldito futebol – o que me revolta um pouquinho, mas me calo, aceito em nome da tal democracia, a voz da maioria... e espero tranquilamente passar a onda (risos). É uma mistura boa, dá um bom caldo – às vezes entorna. Há de tudo um pouco: cineastas, um filósofo, jornalista ativista, um analista político que cospe maribondos afiados pra todos os lados... há poetas. Nos encontramos aos sábados há
um ano. Vamos inaugurar um portal em breve, onde daremos ciência ao planeta dos nossos planos. E seu projeto no Complexo do Turano? O Complexo do Turano veio a partir de um convite feito pelo pessoal do ponto de cultura “O Som das Comunidades” a um dos Categóricos (Leandro Uchoas, jornalista e roteirista) que trabalha pro pontão da ECO. A ideia era iniciarmos os músicos da comunidade nas técnicas de roteiro, narrativa audiovisual, pra que mais tarde eles pudessem trabalhar nos videoclipes das suas bandas. Leandro estendeu o convite ao restante do grupo, assim fomos eu, Leandro, André Loureiro (também roteirista e jornalista), com a participação especial de Guilherme Jorge (o cuspidor de maribondos), durante quatro sábados. Todos recebidos com um enorme carinho pelos garotos (músicos) da comunidade, e pelos coordenadores do ponto de cultura, Nyeta e Luiz. Foi uma experiência surpreendente, em especial pra mim, que nunca havia participado de uma troca assim. Imagina! Botar a turma pra ouvir sobre dramaturgia, narrativa, protagonista, três atos, argumento, escaleta?? Mas aqueles meninos, cada um com seu talento, estavam lá, curiosos, dispostos a ouvir tudo. Tímidos no início, mas ainda assim nos esperavam com uma puta vontade de fazer, de conhecer a novidade. Me senti importantíssima! Quem tinha alguma dificuldade com a escrita, mandava mesmo no desenho, e assim rolou até um storyboard. Todos com essência musical e letristas, o que ajudou bastante. O que importa é que podem até não ter saído grandes roteiristas, afiados na tal da controversa “técnica”, mas com certeza saíram tocados pela magia de se criar um mundo paralelo, novo, povoado por criaturas desconhecidas, que nos surpreendem a cada mudança de cena, birrentas e difíceis às vezes, mas ao mesmo tempo completamente dependentes de nós, os meio deuses, meio loucos, pra existirem e soltarem seus verbos. Fazer parte dessa descoberta foi maravilhoso. Desconfio que essa foi a maior contribuição que eu e os meninos poderíamos ter dado. Agora chegamos ao ponto g: o blog. Que veículo maravilhoso foi aquele que você conseguiu construir? Sem dúvida meu melhor ponto (risos), o ponto que definitivamente me arrebata. No início eu era bastante preconceituosa com essa coisa de blog, confesso. Daí descobri o que exatamente me incomodava no geral. Ou seja, a chatice da auto ajuda (mania de querer fornecer uma fórmula mágica pra que sejamos “pessoas melhores”), aliada a um sentimento megalomaníaco onde reina um “eu” vazio. E dá-lhe enxurrada de diários-virtuais sem conteúdo algum, chatos. Ô vontade que dá de perguntar pra cada um: “filho, de onde você tirou que saber o que você comeu hoje é tão interessante assim? Se você não expõe isso de forma inteligente?” Detesto isso! Tentei, e tento, fugir dessas armadilhas desesperadamente. Como te falei, meu blog hoje é meu xodó. É SIM meu mundo, de cores (escuras! - risos), figuras, frases soltas, pedaços de sonhos... minha ambiência. Mas apesar de expor ali minha matéria bruta, ela é “utilitária”, existe em função de algo que pra mim é maior, o senhor absoluto que dita as ordens por lá: o TEXTO. Acredito que fora dali é tudo interpretação. Interpreto agora, quando respondo suas perguntas. Você interpreta quando me pergunta. Interpretamos quando estamos no ônibus, no trabalho, em reuniões sociais (trepando, na maioria das vezes não interpretamos, se houver harmonia verdadeira, lógico). Interpretamos quando levantamos da cama e escolhemos a roupa, as combinações e os apetrechos de convencimento que vamos utilizar durante o embate do dia. Mas naquele espaço lá, o MEU espaço sombrio, soturno, lá entro em contato com o que eu acredito que tenho de mais real. O sonho. E essa matéria uso pra escrever. Talvez pareça esquisito o que falo,
mas estou convencida disso. Lá busco deixar de lado (ou em segundo plano pelo menos) os dogmas, a ética, a veia política, a moral, os bons costumes, ou qualquer outro fator que tente me acorrentar o verbo. É lógico que a liberdade total é uma bela utopia. A Literatura, assim como qualquer outra arte, pode sim se prestar a instrumento “deliberadamente” político. Não acho nada de errado ou ruim nisso. Muito pelo contrário. Mas, sinceramente, não é meu objetivo principal HOJE, pelo menos não de forma escancarada. Preciso respirar livremente. Preciso dessa liberdade pra estar viva, pra não desistir de tudo. Então, claro, todas essas criaturas acorrentadoras ficam gritando no meu ouvido quando escrevo: me escuta! me escuta! olha eu aqui! olha eu aqui! Eu sou consciente dessa gritaria toda. Mas no blog me sinto no dever de tapar os ouvidos um pouco pra tudo isso. Tentar pelo menos. É bom que se diga que isso é um feito homérico, mas por enquanto ainda é meu objetivo mor. Como diria Rotterdam, no seu Elogio da Loucura, "os poetas e os pintores formam uma nação livre", os mais fiéis e mais constantes adoradores da Sra. Loucura. Quero fazer parte essa nação. Enfim, o blog é minha pequena, e presunçosa, e arrogante sim, contribuição à OBRA. Num mundo do espetáculo, onde o EU, na figura do AUTOR, é quem tem todos os holofotes, é quem sobressai de fato. Vide as espetaculares bienais e festivais literários, que pra mim parecem muitas vezes um circo, enchendo os bolsos dos interessados, mais do que propriamente estimulando o grande público, em especial os menos favorecidos, a sentir o verdadeiro tesão pela obra. O povo tá indo lá pra tirar fotos e buscar autógrafos, saem de lá carregados de livros que nunca vão ler (os que podem comprar, claro). Com a experiência de que conheceram fulano e beltrano. Como se tivessem ido ao shopping renovar o guarda roupa, comprar alguns pares de sapatos e bolsas. É minha opinião. E a escolha da frase "A realidade é para aqueles que não podem suportar o sonho", de Lacan? Sou muito intrometida e abusada com esse lance de Psicanálise. A frase é um convite ao sonho, mesmo que pareça assustador em princípio. E não falo sonho com a maldita conotação lânguida, feliz, de um campo florido com um barulhinho de água descendo de uma fonte, cristais brilhando, cores vivas e nuvens branquinhas no céu. Eu falo de um mergulho de cabeça no que o ser humano tem de mais carnal. E pulsante. E sórdido. E triste, por que não? Odeio essa ditadura opressiva dos tempos atuais que todos TÊM QUE que ser felizes e sorridentes! É o tempo inteiro isso! Uma cacetada de mensagens: seja feliz! seja feliz! É pressão full time! Na TV, na música, na propaganda (principalmente!), na "literatura" que se faz por aí. E toma-lhe gurus experts em felicidade, com fórmulas mágicas pra se atingir um estado "superior". E a prosa & verso? Ficam como? Acorrentados por esse bombardeio de "bons" sentimentos? Daí proliferam os escritores auto ajuda que fazem muito sucesso hoje. Ninguém quer se olhar no espelho. Um bando de leitores medrosos, passivos. Todos fazem questão da sua mensagem bonita no final. É o que eu digo: a porra da sopinha quentinha, pra acalentar o peito. E onde fica o delicioso TESÃO? A dor! A incomparável IRA, com sua força transformadora? A boca espumando de ódio e tesão? AMO a imagem de uma boca espumando! O ciúme? A inveja? O pavor! A insegurança? O asco? O estômago revirando! A vontade de morrer? A vontade de destruir, pra quem sabe, SE valer a pena, reconstruir? O vigor de um chute no êstomago? Ou de um soco numa parede de chapisco? Isso tudo tá aí SIM pra ser vivenciado. A literatura permite SIM todas essas coisas. E por que não dar espaço pra isso? No final eu só me pergunto o seguinte: a quem mesmo será que interessa essa tal felicidade tão contemplativa e passiva, onde
todos devem ser um sorriso de orelha a orelha, mesmo em circunstâncias mais adversas e desiguais? Me fala se caminhamos alguma coisa desse jeito? Tudo vai ficar do jeitinho que está, não? Quem será que ganha com isso? Existem inúmeros materiais, que foram postados no blog, sobre os quais eu gostaria de que falássemos aqui, mas vou tentar selecionar pelo menos dois que mais mexeram comigo: MEU VENTRE E OS TRÊS ATOS. É estranho falar de um texto meu especificamente. O impulso é o de inverter e pedir pra você falar sobre eles. Muito interessante ouvir as releituras que são feitas a partir de uma criação sua. Outro dia me apontaram (interpretaram) uma passagem num texto meu que, juro, nunca me passou pela cabeça. Bem, mas vamos lá. “Meu Vente” é fruto de uma dessas vozes que gritam no meu ouvido quando tô escrevendo, que eu me esforço em não escutar e nem sempre consigo (expliquei). Falar sobre aborto é uma bandeira minha, pessoa, não da candidata à escritora. Discurso assumido, paradoxalmente a minha opção por não levantar bandeiras escancaradas. Mas não ligo pra essa coisa de ter que ser coerente. Há tempos me perturba muito a questão da criminalização, e principalmente o massacre físico e emocional sofrido por mulheres, muito em especial as pobres, e mais em especial as negras, desamparadas pelo poder público, sem voz alguma. Pra mim é injusto que classe média e alta possam tranquilamente DECIDIR entre interromper ou não uma gravidez indesejada (com o Estado fazendo vistas grossas, pois todos sabemos onde estão as clínicas), enquanto quem não tem grana nenhuma, que vive em condições precárias, fica à mercê de profissionais filhos da puta, muitas vezes pagos com o nosso imposto, que se julgam deuses, capazes de decidir o que é moralmente certo ou errado. Ou então à mercê das tais “enfermeiras”, ou coisas piores. Não é justo que seja dado, mesmo que indiretamente, o benefício da OPÇÃO a mulheres “bem de vida”, benefício com que eu concordo, que se diga, enquanto as ferradas morrem aos montes, ou ficam física e emocionalmente doentes. Viu só? Nesse caso a voz gritou bem alto. “Três Atos” é uma delícia. Adorei escrever isso. E me orgulho. É pequeno, curtinho, mas me deu muito tesão - literalmente falando (risos). Ele é reflexo de uma fase bukowskiana - outro autor que babo muito. Busquei exacerbar o recurso da imagem e, de quebra, dar uma catucada nos tais mini contos (muito populares no twitter, limitados a 140 caracteres), que, pra mim, não passam de um exercício, criativo que se diga, dos famigerados três atos, muito bom pra marketing. Muito bom pra quem gosta de escrever roteiro. Literatura? Daí tenho minhas dúvidas. E as poesias? Como é fazer poesia em mundo tão brutal, que se rende cada vez mais a artificialidade? Artificialidade é algo execrável. Quanto à brutalidade, não vejo necessariamente como algo ruim. Explico. Não sei se alguém já disse isso, mas se disse, digo de novo. Escrever “pra mim”, muito em especial poesia, funciona como uma escavação numa caverna escura, muito profunda, perigosa, onde o ar é rarefeito, sufocante, numa eterna sensação de quasi-morte. Avalia-se todo ambiente, e caso se desconfie que exista alguma coisa interessante, uma pequena explosão é necessária, com todo cuidado, lógico, torcendo muito pra que o explosivo seja no ponto certo, pra não pôr em risco nem a matéria essencial (o brutal), nem nossa própria integridade física. Se depois da explosão a matéria “certa” realmente estiver lá, ela é separada com muuuuuito cuidado da pedra ordinária que existe em abundância na superfície (essa tal artificialidade), e trabalhada pra que se transforme em jóia. Com rima, sem rima. Com métrica, sem métrica. Ou não. Ou é simplesmente deixada como foi encontrada - às
vezes é mais interessante. Mas sempre, SEMPRE, com música. Essa é a ideia. A melodia. Mas uma música produzida por combinações de sons vindos do interior... de cavernas. Uma receita para mudar o mundo. Ah sério? Vai me forçar mesmo a gastar a auto ajuda? (risos). Taí, seria interessante SIM se o condomínio aqui fosse um pouco mais igualitário. Tá lamentável a situação atual. Mas essa desproporção de uns com duas, três, quatro vagas, outros sem vaga nenhuma (e não venham me dizer que é justo! Porque o cara das quatro vagas só é capaz de usar uma única!), só melhora se pararmos de viver nas águas calmas da superfície, com pavor do mergulho. É só no mergulho que encontramos a matéria. Torta, defeituosa, cheia de inseguranças e medos. Preconceitos. Fraquezas. Por que não fraquezas? Se visualizarmos nossas tripas, vamos perceber que somos bem parecidos com o vizinho aí do lado, o tal sem vaga, sabe? Sem essa de SÓ ficar consertando da pele pra fora. Só no botox... Uma vez bem conhecida a fera, teremos condições de acalmá-la. Pronto, gastei meu recurso da mensagem positiva!! Agora, nada de mundo perfeito. Perfeição me revira o estômago. Perfeição só lá no paraíso, talvez na Suíça, de onde quero distância. Que poesia eu faria no paraíso?
Eduardo Sabino - 2011 Eduardo Sabino é escritor e jornalista, graduado em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas. Autor do livro de contos Ideias Noturnas (Novo Século, 2009), foi editor da revista literária Caos e Letras e atualmente assina uma coluna mensal na revista Plurale. Contribui regularmente com outros veículos, como o Observatório da Imprensa. Constantemente ouvimos pessoas dizendo que não gostam de ler. Você acredita que o sujeito não gosta de ler ou que ele ainda não encontrou um livro com os ingredientes necessários para envolvê-lo? O ser humano tem uma certa tendência de rejeitar o que não conhece. Se um sujeito não gosta de ler, há, provavelmente, vários fatores que o levaram a rejeitar os livros, inclusive o fato de não ter encontrado algo capaz de surpreendê-lo. No geral, o gosto pelo livro vem da formação para a leitura. Não é como uma pedaço de pizza que você prova e já está habilitado para dizer se gosta ou não. Requer o domínio da leitura, o encontro de um texto compatível com a maturidade do leitor e, principalmente, estímulos da família, da escola e de outras instituições. De um tempo para cá, estamos vendo o crescimento da cultura de periferia, muitas vezes criticada por não estar dentro do padrão definido como literatura ou arte. A arte tem de estar enquadrada em um padrão, rotulada e limitada a determinados conceitos para ser reconhecida como tal? Acredito num lugar para a arte entre o caos e as convenções. A crítica impõe padrões às vezes muito duros, engessados. O resultado disso é a mesmice produzida em escala industrial, gente seguindo a cartilha do texto acadêmico, muito técnico e desprovido de emoção. Nos debates literários do país, ao menos nos que ganham repercussão na mídia, o ceticismo predomina. Muita gente não acredita em arte para além da academia. Para mim, a periferia, assim como o ciberespaço, é um laboratório de arte. Há muita gente boa surgindo dela, pronta para detonar os vícios acadêmicos. Por outro lado, há técnicas convencionais de escrita que, a meu ver, não podem ser desprezadas, pois ajudam na batalha com a linguagem, na fluência do texto. A aceitação ou a rejeição do que interessa entre os padrões estabelecidos vai do bom senso de quem se põe a escrever. Mas o importante mesmo, na literatura, é transgredir. E, para além das fórmulas, ter o que dizer e dizer com força suficiente para atingir a consciência do leitor e, quem sabe, gerar ali incômodo, prazer, raiva; alguma comoção. Tenho observado muitas editoras tidas como independentes que recheiam seus catálogos com relançamentos de autores que já têm nome no mercado e não abrem espaço para o novo. Isso seria reflexo da falta de coragem por parte dessas editoras? Ninguém mais quer arriscar? Só lançam o que for venda certa? Quase tudo hoje está em função do mercado. Das igrejas às escolas. A culpa não é só das editoras. Há todo um processo mercantilizando a vida e a arte. Não é crise literária. Existe literatura de qualidade, principalmente fora dos holofotes, respondendo à altura a banalização da vida. Se existe crise, ela está na sociedade atual e se reflete com peso na literatura de mais visibilidade, ou seja, a que é (socialmente) consumida.
Pensemos no Brasil. A mídia por décadas esteve atrelada ao regime e acostumou o povo com lixo cultural. O incentivo aos artistas era a tortura ou o exílio. Que espaço eles tiveram na formação dos futuros consumidores “livres”? Que espaço têm hoje? Quantos programas de literatura existem nas grandes emissoras? Falemos de outra instituição: a escola regular. Será que a literatura é trabalhada como ampliação de mundo ou simplesmente como atividade disciplinadora? Por que tanto decoreba de nomes, estilos, movimentos e conceitos? Qual o espaço da literatura contemporânea nos ensinos fundamental e médio? Por que as pesquisas apontam que os livros de autoajuda sobre “a arte de educar” estão na lista de preferidos dos nossos professores? E quanto à academia? Cumpre o importante papel de museu, preservando a memória, mas qual a relação dela com o contemporâneo? Pesquisas quase não existem. Quando o consumidor comum ou graduado em Letras procura um livro para comprar, todos esses valores institucionais influenciam a sua decisão. As nossas instituições trabalham para a rejeição da literatura e, especialmente, do novo autor. A tendência de consumo para os livros segue duas vias: a escolha rasa ou a preconceituosa. Aquela de fundamentação crítica, ou seja, quase sempre direcionada para o clássico ou o tradicional, ou aquela sem fundamentação alguma, soprada pelo diabo, sob o pseudônimo The New York Times. A qualidade da mídia convencional vem piorando ou é nosso senso crítico que vai percebendo certas nuances com o decorrer do tempo? Arma de dois canos. A sociedade produz a mídia e a mídia produz a sociedade. Junto, claro, com outras instituições. Se antes o Estado era a principal delas, em tempos de liberalismo econômico é o Mercado. As outras instituições vêm se adaptando às exigências dele. Mas no meio desse intercâmbio de valores, acredito que exista também o que nos ajuda a refletir, a questionar, a melhorar o senso crítico. Literatura, por exemplo, é resistência. No campo social, diversos movimentos e atitudes individuais vêm criticando o governo e medidas como a construção de Belo Monte, a construção de novas usinas nucleares no Brasil, remoção de várias famílias pobres de seus locais de origem... Não houve diferença na transição do governo conhecido como de direita para um conhecido como de esquerda ou foi justamente essa troca de governo que deu voz a esses movimentos? Um amigo meu costuma dizer que a ditadura não acabou para a parcela menos favorecida da sociedade brasileira. Muita gente ainda não pode andar de cabeça erguida ao lado de policiais, a pobreza ainda é criminalizada em parte considerável dos jornais e revistas, os direitos e deveres não são os mesmos (ou são somente no papel) quando se trata de pessoas em situações sociais diferentes. Mas, para mim, claro que houve algum avanço na transição do regime de Estado para o regime de Mercado. A arte, por exemplo, grita para ser ouvida, mas ao menos pode gritar. Se o Estado nos louvava como cidadãos e tirava do povo qualquer sinal de cidadania, o Mercado nos louva como consumidores e reproduz em série os valores que nos alienam e nos roubam a vontade e a capacidade de exercer a cidadania. Por outro lado, há movimentos sociais, sim, e eles não poderiam nascer na ditadura do Estado. Mas o embate deles contra as instituições que propagam a continuidade das coisas chega a ser desleal. Por isso muitos movimentos importantes, como o dos sem terra, são ridicularizados por gente supostamente bem informada. Voltando à literatura: O que é um livro?
Quase todo produto humano é uma extensão do corpo. O livro é uma extensão da alma. Ao menos os livros de qualidade literária. E o ato de criar e escrever? Essa pergunta é bem pessoal. Para mim, é o instrumento que encontrei para lidar com o mundo e a condição humana, para alargar a imaginação e, especialmente, para jogar um pouco de sombra nas vitrines mais iluminadas. Se você não fosse escritor, seria o quê? Se você se refere a escritor como aquele que se põe a escrever, a dialogar com o mundo e a partilhar paisagens interiores, eu não posso saber o que seria, pois seria outro. Isso, no momento, é tudo o que posso ser.
“A minha escola é punk. Venho do Hojerizah.”-Toni Platão -2011 Antonio Rogerio Coimbra, o Toni Platão, recebeu muito bem meu convite para uma entrevista e marcamos um encontro em que fui acompanhado do meu amigo (poeta e músico) Murilo Pereira Dias. Tudo correu melhor que o esperado. Toni é um cara simples e simpático, ao mesmo tempo que talentoso e consciente (Marca dos verdadeiros caras). Foi, realmente, uma ótima entrevista. Me amarrei no boteco. Qualquer dia, quero voltar. Como você descobriu que a voz era um caminho para se expressar? No início, fui muito cara de pau. Conhecia muito pouco de música. A história é a seguinte: Com 15 anos ouvia Monkes, samba enredo, soul music americana e muita música brasileira. Com 17 aprendi a tocar violão e passei em física para a UFF (Universidade Federal Fluminense). Comuniquei a minha família que não queria fazer faculdade e que minha parada era a música. Aos 18 assisti Rock é Rock Mesmo e passei no vestibular para Comunicação. Chegando lá, encontrei o Manolo. Eramos da mesma turma. Conversamos sobre som e ele falou de um amigo que compunha. Era o Flávio. Assim se formou o Hojerizah. E a galera tem contato até hoje? Claro... Até hoje nos falamos. O que ficou e o que mudou do Hojerizah até hoje? O que me leva a fazer um som hoje é o mesmo que me guiava no início da minha carreira com o Hojerizah. É até por isso que continuo fazendo até hoje. É algo que não consigo explicar racionalmente. Sou apaixonado por canções populares. Quando estou produzindo meu disco, ele vai surgindo. É aquela coisa de 1,2,3,4 e vai todo mundo junto. É foda. Não tenho mais muita paciência para ensaiar. Mas desde 81, quando assisti Rock é Rock Mesmo, o que me faz fazer música é a mesma coisa. Pelo que estou vendo, o Rock é Rock Mesmo foi um divisor de águas na sua vida. Eu sempre tive uma certa reserva com o Robert Plant, mas gostava de ver a guitarra, o baixo e a bateria juntos. Aqueles três sim...
Quando o cara faz uma música, ele já sabe que aquela vai arrebentar? Tipo: “Cara, essa música tá muito foda”. Dá para ter essa noção? Você faz, no primeiro momento, pensando em você. Mas, é claro que, quando você acha que está bom, começa a pensar que mais alguém vai gostar. Quando você faz algo partindo do tá bom... Onde você acha que o que você fez está bom... Esse é o negócio. E quando viu que deu certo e a música que se tinha achado que era boa arrebentou? É muito legal, é claro. Para você ter uma idéia, o Hojerizah, hoje, tem um público maior do que na época. Isso acontece porque o público de hoje é aquele da época mais os novos, que vão conhecendo. Tem o moleque que chega e diz que o pai apresentou o som... E sua carreira solo? Minha carreira, cada vez amplia mais. Já estou com um bom público fora do Rio, em lugares como São Paulo. Hoje, vivo um momento muito… Não digo feliz… Porque não concordo com a idéia de felicidade que as pessoas têm. Mas, hoje, sinto que posso fazer as coisas. Houve um tempo em que me senti bloqueado, mas hoje vejo tudo fluindo. Estou gostando muito de preparar meu trabalho novo. Nos últimos 4 anos, vivi como intérprete. Hoje, tenho meu próprio estúdio, onde produzo meu disco novo. Das treze músicas, nove são minhas. Nunca compus tanto em minha carreira. Quando lancei o Calígula, eu compunha muito com o Dado. Também estou fazendo um programa de rádio: O Rock Bola. Estamos a nove anos no ar. Fiz uma família lá. Amo rádio. Desde os tempos da faculdade gostava de rádio. Falando em faculdade, você chegou a concluir? Em uma das primeiras aulas discuti com um professor. Ele queria que dessemos uma notícia naquele formato de lead e sublead… Tentei explicar que assim ia ficar tudo igual. Logo vi que aquilo não era para mim. Você deve ter ficado um tempo parado depois que saiu do Hojerizah. Quando você resolveu que era hora de voltar a fazer um som e partiu para a carreira solo? Na verdade, eu não saí do Hojerizah. A banda acabou por uma série de discordâncias. Eu era o único que ouvia Martinho, Elvis e escola de samba. Quando a gente faz uma banda, é todo mundo do mesmo jeito, pensando a mesma coisa, e com a idade as pessoas começam a pensar diferente. A influência que recebi do meu padrasto me levou muito para a Soul Music.
E o novo disco, já tem nome? Se nada mudar, se chamará CnaKumDum, que é essa coisa da levada. O sotaque da batida tá mais presente que o lado MPB. Na verdade, está tudo presente, porque tudo sou eu. Estou completamente consumido pelo meu novo projeto.
Anna Alchuffi - 2011 Depois de ter o grande prazer de entrevistar Diego El Khouri e Ivan Silva, tenho a oportunidade de trazer até vocês mais um grande talento de Goiânia. Anna Alchuffi é o nome desta militante da cultura alternativa que se dispôs a dividir um pouquinho de sua vida com a gente. Para conhecer mais sobre o trabalho dessa guerreira das letras é só entrar no blog http://recantomarginal.blogspot.com/. Um hábito: Um hábito que odeio e que fui obrigada a ter é TRABALHAR. Duvido que alguém fale a verdade quando fala que gosta de trabalhar. Não nascemos pra isso. Nós nascemos para sermos livres! Fora isso, não tenho nenhuma mania, não tenho frescuras, nada disso. A vida: Acho a vida muito sem sentido. Essa coisa de você perder tempo estudando, errando, acertando, amando e trabalhando para morrer depois é muito sem graça. É por isso que a religião manipulou e manipula tanto a humanidade. Ela mexeu na ferida do ser humano com essa historia de céu e inferno depois da vida. Mas eu gosto de estar viva. Para mim, somos meros animais e quero aproveitar bem a vida. Os outros animais aproveitam bem mais que nós, ao meu ver! Gosto de viver intensamente, gosto de sentir prazer de todas as formas. “Sou uma hedonista’’. Gosto sim de prazer. Seja comida, bebida, uma ‘’droguinha’’ ou a minha homossexualidade. Tô nem aí! É O QUE GOSTO E VOU FAZER!.... Tô sendo muito sincera né? Acho que não deveria ter falado sobre drogas, mas agora é tarde. Defeito do signo de fogo é falar sem pensar. Mas também não acredito muito nessas coisas. Sou de aries com ascendente em sagitário e dai? rsrsrsrs Não me arrependo de falar nada. As pessoas não devem esconder como levam suas vidas. É muita hipocrisia esconder. Assim fica mais fácil apontar o dedo para o próximo! A morte: Não tem como escapar da morte. Para mim não é castigo, nem benção. Uma hora ela deve vir. É o ciclo natural. A morte dos outros é muito inspiradora para mim porque gosto de viver. Não posso falar muito da morte de outra maneira, pois nunca senti a morte. Filosofia: É o que fazemos o tempo todo, principalmente os artistas... Somos ‘’filósofos’’, queremos entender a existência, queremos cutucar os pensamentos. O artista nem sempre busca a verdade absoluta, mas a verdade de sua época, a verdade dele e etc. NÃO sigo uma corrente filosófica, apenas sigo a arte que está em mim, as coisas que aprendo com a vida. Confesso que nos meus 14 anos de idade Nietzsche mexeu muito comigo. Como foi com todo mundo, né?! Música: Minha vida é toda musical. Não consigo me imaginar sem cantar, sem escutar música, sem tocar um violão. Já tive banda e aprendi a tocar violão sozinha. Desde bem criança o aparelho de som era meu melhor amigo. Meu castigo não era ficar sem
vídeo game ou televisão, mas ficar sem escutar Djavan,Tim Maia, Zé Ramalho, Belchior, Elis e uma imensa lista da mpb. Então é obvio que isso influencia nos meus textos e na forma como levo a vida. Meus músicos favoritos (compositores) são minha principal fonte de inspiração, de admiração e paixão. A poesia é filha da música, aquela história do lirismo e trovadores... A música popular nunca pode se esquecer da poesia . Literatura: A literatura, para mim, tem função de registrar nossa história. A arte em todas as suas formas tem essa função. Os estilos e as escolas literárias são diferenciadas por fases, assim como a história da humanidade. Sou uma amante da literatura. Gosto de ler escritores bêbados e contestadores. Na verdade, eu gosto de gente contestadora. Só não gosto dessa ideia de que literatura é coisa para diplomata/universitários. Na verdade, eu não gosto da maioria desse povo. Literatura é inteligência, é sabedoria, é vida e morte, é arte, é ser humano, é CRIATIVIDADE, e muita CRIATIVIDADE, não tem nada com intelectualóides. Já vi tanto babaca literato... Gosto da literatura do analfabeto morador de rua que toma catuaba. Conversei com ele noite dessas. Odeio a literatura do meu professor de línguas. Cinema: Não sei nada de cinema. Meu lance é ver filmes biográficos para falar mal e desejar nunca ser alguem importante para não acabarem com a minha vida em um filmezinho mentiroso e ridículo. Me colocando como um espécie de deus. É assim que colocam o artista. Mas ele nunca quer ser assim. Gosto mais de ver filmes nacionais: Pornochanchada, cinema novo... A MÍDIA comercial destruiu a real ideia de cinema das pessoas. Normalidade: Sei muito bem o que é a loucura, mas a normalidade eu nunca ví, nem ouví, eu só ouço falar. O que é normal? Isso não existe. É a grande utopia da humanidade. As sociedades e governos sonham ter pessoas no padrão, mas isso não acontece tão facilmente porque até nossas digitais são diferentes. Sempre vai existir um louco contra a padronização de seres pensantes, mesmo que esse louco seja só um ou dois... Enquanto as pessoas ainda tiverem um pouquinho de personalidade, irá existir loucura. Quem tem personalidade é considerado louco. Estão querendo nos transformar em robozinhos, todos iguais e sem pensar para ficarem mais tempo na mamata e um dia explodir esse planeta com a gente dentro e irem morar em um planeta novinho. hahahah... Desculpe a minha viagem psicodélica... Hipocrisia: O hipócrita é a pessoa que mais se acha frágil. Ele esconde suas fraquezas e defeitos para não aparentar ser tão frágil. Quem não esconde (ou se esconde) é tido como louco, subversivo, imoral... por não querer ser hipócrita. Todos os hipócritas tacam pedras em quem não esta sendo, ou evita ser hipócrita em determinadas.... Mas todos nós somos hipócritas em alguma coisa. Vamos nos
desnudar mais para acabar com a hipocrisia!!! É assim que funciona, para mim. A hipocrisia está na mentira, no preconceito, na corrupção, na legislação, na arte, na cultura, no capital, nos valores morais,na polícia, na política e etc. Ela está no bicho homem por conta da nossa sociedade. Nossa sociedade é a mãe da hipocrisia! Nossa sociedade se chama HIPOCRISIA! Sexo: Não é de grande significância na minha vida. Mesmo sofrendo tanto pela minha autonomia sexual, assumindo minha sexualidade como homossexual, e ter tido uma reviravolta familiar, indo morar sozinha com 17/18 anos em uma cidade muito psicodélica e cheia de cachoeiras no interior de Goiás, cheia de hippies e alternativos, uma cidade alimentada pelo turismo onde eu trabalhei de garçonete e vendia bombons de mesa em mesa quando tinha folga... Me senti livre demais para explorar meu corpo. Uma independência financeira. Não levo sexo a sério, mas gosto muito de fazer sexo, adoro. Mas sou meio fechada para a maioria das coisas no sexo. Minha sexualidade mudou minha vida. Talvez se eu fosse hetero e não tivesse sofrido tanto, nem teria necessidade de me expressar pela arte. VOCÊ É O QUE VOCÊ SEXUALIZA TBM... Acredito nisso. Homofobia: Não sou militante gay, mas não gosto de preconceitos. Como homossexual e mulher, sei muito bem o que é sentir a discriminação na pele. Espero um dia ver uma sociedade onde as pessoas não levem a opção sexual a sério. Drogas: Fumo maconha. Maconha não é droga, é plantinha. Às vezes é bom cocaína pra acordar e essa é uma plantinha envenenadinha. Ainda bem que não sou rica para fazer tanto uso dela. A maconha me deixa sensível com sons e eu geralmente tenho ideias magnificas para textos, que geralmente escrevo no outro dia, depois dos rascunhos. Imoral: Engraçado... ontem eu estava falando de imoralidade com a minha namorada. Falei que não me considerava imoral. Até falei aqueles clichês: ’’Não faço sexo grupal, não transo com animais, não enfio o dedo no nariz dentro do elevador com câmera, não sou de trair e etc... Daí minha namorada disse: “O que é normal para você, é imoral pra outros. Tipo agora, a gente se beijando no pit dog... Muita gente acha isso imoral.” Pensei muito. Pô... Se fazer carinho em alguém é imoral, sou muito imoral! Eu quero chocar as pessoas com isso nos meus poemas. Essa ideia ridícula de imoralidade que todos temos e essa ideia homofóbica, essa ideia religiosa do sistema que nos prende uma hora tem que acabar. Mesmo que eu fique com a fama de imoral, pervertida, sapatão, maconheira, uma bebada tarada tipo um Bukowski de saia... Tô nem aí! Sou revoltada com moralistas! Moralistas mentem para eles mesmos!
Pecado: Pecado é não fazer o que gosta, o que quer. Desde que não cause mau maior aos outros... Esse é o único pecado que existe para minha mente. É contra a vida, contra o nosso corpo, nossa inteligencia e por diante... Uma viagem: Viagem assim, alucinação? Drogas? ou viagem de viajar mesmo???? hahaha vou responder o que eu entendi. Vou pra Lua ainda. kkkkkkk
Azriel e o funeral de lágrimas - 2011 Azriel é o mentor e divulgador do The Funeral of Tears, uma publicação alternativa que trata de assuntos relacionados a cultura gótica. O trampo é meio oficio, P/B e de distribuição nacional. As duas primeiras edições possuem 36 páginas e da terceira em diante 44 páginas. Como surgiu e qual a proposta do The Funeral of Tears? O zine The Funeral of Tears surgiu no primeiro semestre de 2007, mas sua primeira edição impressa veio apenas em abril de 2009. A motivação para tal trabalho deu-se devido ao fato desse meio de comunicação e entretenimento estar sendo abandonado (já há tempos) pela grande maioria do público gótico e alternativo de um modo geral. A proposta do zine é justamente essa: Manter a existência de um zine de papel como nos velhos tempos. Atualmente tenho observado um fortalecimento do movimento gótico. Isso depende de como se vê, pois de um lado, na cena gótica e undeground em geral, tem surgido bons eventos, bandas e sites especializados no gênero, mas, por outro lado, a impressão que se tem é: O que aumenta em quantidade, diminui em qualidade. O fato é que o underground está morrendo e o modismo e o capitalismo tem tomado conta. Isso é um mal que atinge a todos os grupos no meio alternativo. Mas existem pessoas que realmente vivem a cena. Assim como sempre, o underground sempre vai ter pessoas honestas e dedicadas naquilo que fazem. Graças a elas, ainda é tolerável a permanência no meio. No Brasil, eu destacaria a Thina Curtis. Uma pessoa admirável. Precisamos seriamente de pessoas iguais. Uma pergunta que sempre me fazem: Qual a diferença entre Gótico e Dark? Esse questionamento, de fato, permanece desde a década de 80 aqui no Brasil. Mas é simples. “Dark” é o termo pelo qual foram rotulados os primeiros góticos do Brasil, quando tudo começou. Naquela época, ainda não era muito comum o termo gótico em nossas terras. Hoje, quase não se usa mais dark para nomear um gótico. E os fanzines? Qual a situação atual deste meio de comunicação? Boa pergunta. Infelizmente, hoje em dia, se pode contar nos dedos os zines ligados ao gótico que ainda estão em circulação. Isso é realmente triste. As pessoas tem trocado a arte do “zine” pela praticidade e superficialidade da internet. Como podemos conseguir os exemplares do The Funeral of Tears? Para quem desejar adquirir exemplares do zine The Funeral of Tears é só estar entrando em contato no email
[email protected] ou
[email protected] . Temos também nossa página no okut: The Funeral of Tears [Zine].
Carlos Pankararu fala sobre o Acampamento Indígena Revolucionário - 2011 Busquei fazer contato com o Acampamento Indígena Revolucionário (AIR) para trazer até os leitores deste veículo informações sobre a quantas andam essa importante movimentação pelos direitos indígenas e pela preservação do planeta. Como se iniciou a organização do Acampamento Indígena Revolucionário? Iniciou-se a partir do momento em que várias tribos se movimentaram para lutar pela Revogação do Decreto 7.056/09. O governo enganou várias pessoas e as convenceu a voltarem, mas ficaram uns 15 índios para revogar o Decreto. Os 15 índios foram Krahô-Kanela, Terena, Fulni-Ô, Pankararu, Korubo e Munduruku. Por estarmos em poucas pessoas, o governo não acreditava no movimento e achava que não ia dar em nada. Foi aí que eles se enganaram. Nós, esses poucos guerreiros, fizemos a diferença no movimento. Fizemos o que 700 índios, em janeiro de 2010, não fizeram: enfrentar o governo. Abrir faixas na Câmara dos Deputados, colocar bandeira, acampar na frente do Ministério da Justiça (provocando Audiências Públicas), invadindo posses do Ministro da Justiça, mostrando a indignação e tudo mais. Abrimos faixas e gritamos na Convenção do PT, em comício de Lula e Dilma Roussef, fazendo com que nossas vozes fossem ouvidas. Participamos das audiências contra Belo Monte e através do blog do AIR, do Mércio Gomes e da imprensa levamos ao conhecimento de outros índios o que estava acontecendo em Brasília e o que estávamos fazendo, chamando a atenção de todos e convidando a todos para se juntar a nós. Desta forma, cresceu o movimento indígena, chegando a ter cerca de 250 barracas de lona em frente do Congresso Nacional e no Ministério da Justiça. Aí, eram mais ou menos 800 índios deixando o governo, principalmente a Presidência da FUNAI e o Ministério da Justiça, desorientados. Eles violaram as leis do país, botaram a Força Nacional na FUNAI, perseguiram funcionários públicos indigenistas, perseguiram os próprios índios, assinaram Belo Monte sem consultar os índios etc. Isto por se encontrarem desesperados, sabendo que os indígenas do Brasil, através do AIR, já estavam atentos aos incompetentes que se encontram na FUNAI decidindo as suas vidas. E hoje? Nossos objetivos estão sendo alcançados: - Há negociações: O governo chama o AIR para negociar sobre o Decreto 7.056. - Nossa luta junto com a população do Pará chegou ao seu objetivo: A OEA parou Belo Monte. - O presidente da FUNAI está sendo processado. - Tiramos a Força Nacional de dentro da FUNAI. - Está em tramitação no Senado a CNDI (Conselho Nacional de Direitos Indígenas) - O Movimento Indígena Revolucionário, hoje, é conhecido a nível nacional e internacional como os guerreiros da paz. Está chegando a III Confederação Tamoia dos Povos Originários e Sem Teto. Qual a importância desse evento para a luta indígena e em que ponto se unem as lutas dos povos originários e a dos sem teto? Os pobres e suas lutas, independente de serem índios, camponeses ou sem tetos, sofrem as mesmas discriminações. Vivemos em um país onde a desigualdade é imensa. Um deputado ou senador pode grilhar grandes quantidades de terra e se esconder atrás da
constituição. Pode também desviar milhões e achar meios de dizer que é legal. Porém, o índio não pode usufruir de nada que esteja dentro da terra dele. Um índio não pode cortar um caminhão de madeira ou vender uma grama de ouro porque é crime ambiental. O governo pode deixar coberto de água milhões de metros cúbicos de madeiras no coração da Amazônia e dizer que tudo é legal. O progresso não para. É mais do que certeza que os índios que ainda existem isolados, sem contato com a civilização, por questões de sobrevivência serão obrigados a se intelectualizar no mundo dos brancos. Por isso, não devemos deixar de ajudar e apoiar os movimentos sociais ou qualquer outro movimento. Eles são tão injustiçados quanto nós. Hoje, o homem branco invadiu o Brasil formando muitas cidades e desmatando as florestas, por isso já estamos vendo os animais invadindo as cidades. Quem nunca viu capivara nos rios das cidades? Há poucos meses o Ibama teve que tirar uma onça puma que invadiu um frigorífico em uma cidade de Brasília. Ano passado encontrei na Asa Sul um homem, morador de rua, com uma jibóia no pescoço, que havia pego nas margens do Lago Sul, dentro do DF. E outros aparecimentos de animais invadindo as cidades têm acontecido pelo Brasil afora. Se os animais irracionais estão vindo para cidade, porque não os índios daqui há algum tempo? Da forma que o governo está tratando eles – invadindo as suas terras... Por isso, ajudamos o sem teto, pois não sabemos o amanhã. Os povos originários passam por diversos problemas em diversas regiões do país. Existe uma fonte comum de todos esses problemas e uma forma única de resolver todas essas batalhas? Sim. Quem causa o problema é o grande capital, a ambição. Desde 1500 os governantes de Portugal têm invadido esse Brasil para roubar as riquezas que aqui existem, como: madeira, ouro e outras riquezas. Hoje não é diferente. As riquezas que se encontravam com facilidade, como no estado de São Paulo, Minas Gerais, Pará (exemplo de Serra Pelada), hoje não se têm mais a mesma facilidade em se encontrar. Isso se encontra com facilidade nas terras indígenas porque são intocáveis. Nós, indígenas, preservamos a natureza. Não fazemos dela algo de aproveito e depois jogamos fora, como se não tivesse valor. Tratamos da natureza como uma mãe. Tiramos dela o sustento como um filho que amamenta no peito de sua mãe, mas que depois abraça e tem amor pela mesma e chora a falta dela. Assim é o índio com a natureza. Diferente do homem branco, que desmata, faz grandes plantações, destrói e depois fica chorando pelo mau feito e dizendo que está preocupado com o aquecimento global. A criminalização dos movimentos sociais não para de expandir. Qual o posicionamento do Acampamento diante dessa atitude do governo e de suas instituições? Não existiria revolta se estivesse tudo bem. O problema é que enquanto uns ganham mensalão, outros são flagrados com dinheiro nas cuecas, meias e outros nas corrupções (como Jader Barbalho - do Pará, como Paulo Rocha - do PT/Pará, Zé Dirceu – PT/São Paulo, Genoíno – PT/São Paulo, Márcio Meira – presidente da FUNAI/Pará). Eles violam as leis do país, roubam e não são punidos. Continuam no governo ganhando seus altos salários graças aos nossos impostos. Tem muita gente passando fome dentro das aldeias. Tem muita gente morando debaixo das pontes na cidade. Tem muita gente morrendo nos hospitais por falta de recurso na saúde. Como é que pode não existirem revoltas e movimentos sociais?
A mídia convencional e as grandes empresas contribuem muito para esse processo de criminalização. Qual o interesse deles em ver lutas legítimas como algo perigoso para a sociedade? Muitas imprensas são corrompidas pelo capital. Muitas também são de pessoas envolvidas na política ou dependem de projetos do governo como abate de Imposto de Renda, como aprovações de direitos autorais, direito de imagem... Por vários motivos muitos se calam. Mas o mais importante é que também têm muitos grandes ou pequenos que publicam a verdade e que ajudam a fazer a diferença. Muitos colaboradores tem apoiado a causa do Acampamento. Como se dá essa aproximação? São pessoas inteligentes que reconhecem que a luta é justa e sabem que nosso movimento não é apenas em nossa defesa, mas na defesa de todo o planeta. Exemplo: Estamos defendendo nossas tribos, ao defender nossas florestas. O pulmão do mundo é o Amazonas e a maior quantidade de tribos do mundo também é no Amazonas. Se não existissem tribos na Amazônia, a selva já estaria transformada em pasto para gado e grandes territórios de soja, milho, arroz e outras plantações. Prova disso são os arrozeiros de Roraima, na Raposa Serra do Sol. Ao defendermos nossas florestas, estamos defendendo o ar que nós índios respiramos e brancos também. Por isso, nossos apoiadores sabem o que estão defendendo. Qual a perspectiva para esse novo governo? Existe esperança de melhora no diálogo entre os detentores do capital e os atropelados pelo que os governantes chamam de progresso? Temos nossos planos governamentais, como os 15 pontos do AIR, a verdadeira reestruturação, a construção do órgão em que o próprio índio assuma a sua organização: a FUNAI. Vários projetos de auto-sustento como roças comunitárias, irrigadas pelos rios (para as tribos que ficam as margens de rios e igarapés). Queremos um acordo com o governo para que tudo que se trate a respeito dos índios no Senado e na Câmara seja consultado aos Povos Indígenas antes das decisões e que os índios possam participar de todas as audiências públicas que dizem respeito aos mesmos. Isto através do CNDI, conselho criado pelo MIR. Quais os próximos passos da luta? Alcançar nossos objetivos, defender nossas populações indígenas e ficar de olho nas ciladas do governo, que por mais que fechem acordos, não podemos confiar. Muitas coisas virão, mas só o dia a dia dirá o que temos que fazer.
Anita Costa Prado - A Mãe da Katita - 2011 A primeira personagem lésbica de quadrinhos chegou e ficou. A Katita nem precisa se apresentar, mas e sua mãe? Quem a gerou, a concebeu e a criou? Essa é outra personagem de peso, mas do mundo real. Está por este mesmo mundo em que nós andamos. Por acaso fizemos contato e logo que descobri com quem falava não pude deixar de pedir uma entrevista. Fala, Professora Anita. Diz aí: De editora do Fanzine Gospel a criadora da primeira personagem lésbica para quadrinhos. Mudança radical ou duas faces da mesma moeda? Duas faces da mesma moeda. Mas podem surgir outras. Como seres humanos, temos multiplicidade; inúmeras "faces", de acordo com o momento vivido. Falando na Katita, como vão as coisas para ela? Vão relativamente bem. Sem grandes tiragens, mas com interesse crescente por parte de novos leitores, além dos que a Katita já conquistou. Ela é publicada mensalmente no jornal Graphic e ocasionalmente em publicações variadas. Na internet, vários sites reproduzem suas tiras e ilustrações, além do blog(Cafofo da Katita). Sobre publicações impressas, por enquanto continuarei divulgando os três lançamentos e não planejo outro. E a poesia? A poesia está presente no meu cotidiano e atualmente faço poemetos para divulgação virtual. Em publicação, o maior estímulo é da Editora da Tribo, que publica anualmente uma agenda poética.É o Livro da Tribo, com uma tiragem abrangente, reunindo poetas nas páginas coloridas e ilustradas. Está rolando também uma participação no calendário Chabanais. Conte um pouco sobre o que é e qual o principal objetivo desta iniciativa. O Calendário Chabanais escolhe anualmente pessoas ligadas ao combate da homofobia, seja na arte, no cotidiano ou na militância. Recebi o convite para participar da edição deste ano, que foi lançada na Parada Gay do Rio de Janeiro, e aceitei figurar nos meses de março e abril Mesmo com toda a luta, o preconceito continua forte. Qual a principal causa e qual o melhor caminho para combater o preconceito? A causa para o preconceito é obviamente a ignorância gerando intolerância e conceitos equivocados. A luta contra o preconceito está crescendo e dando maior notoriedade ao tema na mídia. O melhor caminho é a união, as articulações políticas, eventos e protestos contra a homofobia. Por outro lado, são necessárias ações no cotidiano de cada um para uma convivência harmoniosa entre as pessoas, independente da orientação sexual. Artista e militante: Onde começa uma e acaba a outra? Só artista. RS Não sou militante, mas pelo meu trabalho com a Katita e na literatura, acabo sendo confundida como militante. A militância faz um trabalho árduo, contínuo e admirável. Sou apenas uma escritora e roteirista de quadrinhos. Quais os próximos passos?
Quero continuar o processo de divulgação e planejo um vídeo de animação com a Katita. Uma semente para plantarmos na cabeça do leitor: Deixe germinar a aceitação, a harmonia e o conhecimento.
Alexandre Bucho Discos - 2011 Tem uma galera que é um verdadeiro símbolo de resistência. No meio desses está o Alexandre, da Bucho Discos. Na ativa desde 96, esse selo e distribuidora continua trabalhando pelo cenário underground. Como nasceu e o que é a Bucho? BUCHO DISCOS é um selo/distribuidora underground que nasceu por acaso. Toquei no ROT (banda de grindcore que não existe mais hoje em dia) e como recebíamos os royalties em cópias de nossos lançamentos, acabávamos fazendo várias trocas e o número de títulos foi aumentando e a listinha de eps e lps passou pra um catálogo. Foi uma evolução natural do aumento de material que ia recebendo. O que é preciso para tocar uma iniciativa 100% underground? Ter 100% de underground na veia ! Qual o critério para selecionar as bandas que vão ser lançadas? Amizade, gostar do som e ser banda correria que vem pra somar. Fazer amizades, fazer shows e querer sempre ir pra frente. Underground não é lixo, é faça você mesmo com qualidade. Como é feita a divulgação dos seus catálogos? Atualmente via net: facebook, orkut e spam. Uso flyers em shows também. Ajuda um pouco. Qual a principal diferença sentida com a mudança do vinil para o cd? O formato! O vinil continua forte desde sempre! Dentro do cenário hardcore/metal, o vinil sempre teve espaço. O cd veio dar mais uma opção e é mais barato. Mesmo com o download os cds ainda têm uma boa saída? Os cds estão saindo menos, bem menos. Aumentou a saída de vinil. No geral, teve uma queda bem legal de vendas. Tá tudo disponível de graça... Um momento em que você pensou: "Vale a pena fazer isso." Teve... mas VALE MUITO ! Passe seus contatos e finalize a vontade essa troca de ideias. Contatos :
[email protected] Tem som pra ouvir na net www.myspace.com/buchodiscos E tem o facebook buchodiscos. Valeu a entrevista e é só continuar a fazer os corre que a corrente cresce e fortalece. Fabio, valeu a chance de poder divulgar meu trabalho. cp 12, Centro, Santo André, SP, 09015-970, Brasil
[email protected] www.myspace.com/buchodiscos www.myspace.com/cutthroatrex
"Acredito que a melhor coisa em produzir HQs é poder passar uma mensagem para a pessoa que está lendo." - Adriana Yumi - 2011 Adriana Yumi (Yumi Moony) tem 24 anos, estuda Química (faculdade) e produz o fanzine Sigma Pi (http://sigmapi-project.blogspot.com/). Batemos um papo com essa produtora da nova safra de quadrinhos para ver a quantas andam os trabalhos dessa nova geração. Você é colaboradora do Quadrizine. Como funciona esse site e como você começou a atuar nele? O Quadrinize (http://www.quadrinize.com/) é um site voltado para a produção de quadrinhos em geral. Contamos com matérias sobre criação de personagens, roteiros, clichês, alguns tutoriais e exercícios para ajudar o iniciante a melhorar suas histórias e técnicas de desenho. Comecei a atuar como colaboradora do site após ver um anúncio no mesmo. Estavam precisando de pessoas para ajudar a fazer as matérias e resolvi entrar falando sobre guias e tutorias de programas. Como se tornar colaborador do Quadrizine? Para se tornar um colaborador, peço para enviar um e-mail
[email protected] e falar com o dono do site que gostaria de ajudar.
para
O que é e como funciona o círculo das HQs? O círculo de HQs é um projeto que visa estimular a leitura de HQs nacionais, assim como a sua divulgação. Dez leitores sorteados irão ler uma HQ do nosso acervo e fazer uma resenha sobre ela para ser postada no site e em seus blogs pessoais. A HQ irá passar de leitor para leitor via correio e as regras para o círculo já estão divulgadas no site, mas ainda não estamos fazendo o cadastro dos leitores: http://www.quadrinize.com/circulo-das-hqs/ Aceitamos críticas e sugestões, bem como os autores que quiserem enviar um dos seus exemplares para participar do círculo. Você também produz HQs. Fale um pouco sobre suas produções. Eu faço um fanzine em estilo mangá, chamado Sigma Pi. Comecei este trabalho no fim de 2009 e trata-se de uma história que envolve comédia, romance e um pouco de divulgação científica na área de química. Tudo nos moldes de mangás 'shoujo' (voltados mais para o público feminino). Atualmente, ele está na edição 03, com a edição 04 prevista para sair no meio do ano, sendo que estão previstas em torno de 10 edições no total. Quem quiser saber mais sobre meu trabalho, visite o blog do fanzine: http://sigmapiproject.blogspot.com/ O que despertou você para esse universo? Sempre gostei de ler HQs, em especial tiras, quadrinhos Disney e mangás. Mas, começar a produzir minhas HQs e levar os quadrinhos a sério mesmo foi somente quando comecei o Sigma Pi, quando decidi que ia levar um projeto de quadrinhos até o fim, pois, até aquela época, eu encarava desenhar e fazer quadrinhos como um hobby e não procurava melhorar minha técnica/narrativa. Hoje em dia, minha visão sobre
quadrinhos mudou bastante. Aprendi muito fazendo este fanzine e espero poder aprender e evoluir muito mais. Qual a melhor coisa em produzir HQs? Acredito que a melhor coisa em produzir HQs é poder passar uma mensagem para a pessoa que está lendo. Passar uma visão de como você vê o mundo. Para mim, as HQs não são apenas um meio de entretenimento. Elas podem ser muito mais do que isso. Podem ser informativas e também podem nos dar boas reflexões sobre os diversos aspectos do mundo e, principalmente, sobre as pessoas.
A Ugra Press e a heroica resistência dos que não se enquadram. - 2011 Embora tenham aqueles que se diluem na confusão e na auto piedade, muitos dos que povoam a fauna marginal estão na luta constante por uma outra realidade. Não se dão ao luxo de aceitarem a derrota. Batendo de frente com a realidade imposta e com o pensamento único, dois caras resolveram mostrar que tudo pode ser diferente e que vale a pena andar na contramão. Agora, sem mais delongas, trocaremos uma ideia com o Douglas, uma das cabeças da Ugra. O que é Ugra Press? Ugra Press é um projeto de produção, fomentação e divulgação das culturas alternativas. A idéia inicial era criar uma editora que operasse com base na ética do "faça-você-mesmo", mas logo de início surgiu a vontade de atuar também em outras áreas (eventos, música, video, etc) e decidimos manter o conceito mais aberto. No final, é um nome sob o qual podemos realizar várias coisas, desde que não se distanciem dos nossos pilares (a independência e o já citado faça-você-mesmo). O por que de lançar um anuário de fanzines? É necessário apontar que o Anuário não se restringe apenas aos fanzines, mas às publicações alternativas de um modo geral. Sobre as motivações para fazê-lo, antes de mais nada sentíamos falta de um meio eficaz de divulgação e reflexão para a imprensa alternativa. Quem viveu os anos 80 e 90 sabe que naquela época existia uma rede muito forte entre os editores. Todas as publicações abriam espaço para divulgar outras, os flyers se espalhavam com grande velocidade, muitos encontros eram realizados. Hoje em dia os editores trabalham de forma mais isolada e dispersa, criando uma falsa noção de que os zines estão escassos ou em vias de extinção. A criação de um anuário sério e abrangente é um meio de cobrir essa lacuna. Além disso, achamos importante colaborar com a documentação das culturas alternativas, particularmente dos fanzines. É uma História muito rica e que depende basicamente das pessoas envolvidas para ser registrada, já que os meios oficiais a ignoram ou não a compreendem. Há um aumento expressivo na quantidade de pessoas empenhadas em pesquisar a imprensa alternativa, mas esse trabalho esbarra sempre na escassez de literatura adequada. Como foi o trabalho de coleta de dados e produção do primeiro anuário e o que terá de novo nessa segunda edição? Para o primeiro Anuário, lançamos uma convocatória em nosso blog, coletamos a maior quantidade possível de contatos de editores, mapeamos comunidades sobre o assunto em redes sociais, fizemos flyers para deixar em lojas e distribuir em eventos e imprimimos alguns cartazes. A comunidade zineira, sabendo do projeto, também ajudou bastante a divulgar a iniciativa. Feito isso, começamos a receber as publicações e catalogá-las. Depois, dividimos o material recebido entre eu e o Leandro (meu parceiro na Ugra), lemos tudo e fizemos as resenhas. Por último, editamos algumas coisas, acrescentamos outras e eu diagramei todo o conteúdo. Para a segunda edição as coisas estão funcionando basicamente da mesma forma, com a vantagem de que aprendemos muito com o 1º Anuário e conseguimos nos organizar melhor agora. A grande diferença dessa vez é que abrimos a convocatória para todos os países da América do Sul.
Durante esse processo vocês devem receber uma quantidade considerável de material. O que vocês destacariam nesse material que chegou até então? A diversidade. Parece que o acesso às novas tecnologias expandiu as possibilidades dos fanzines em todas as direções possíveis. Assim, ao mesmo tempo em que recebemos uma boa quantidade de material extremamente profissional, com jeitão de revista, vemos vários editores fiéis à estética tesoura-e-cola fazendo questão de enfatizar ainda mais o aspecto manual e artesanal. Também há uma perceptível mudança nos temas. Enquanto nos anos 80 e 90 predominavam os fanzines de música, hoje eles são minoria. Por outro lado, surgem mais publicações abordando assuntos menos comuns, como carona, cultura gay, grafite, luciferianismo, moda, etc. Como será o lançamento dessa edição? Pretendemos lançar em fevereiro ou março de 2012. Novamente, o Anuário será lançado no Ugra Zine Fest, que é um evento organizado também pela Ugra completamente dedicado à imprensa underground. O caminho nem é tão longo, se pensarmos, mas há tanto trabalho pela frente que chega a ser assustador. hehehe. Enquanto muitos pregam o fim do impresso, o fanzine impresso parece ganhar cada vez mais força. Como se dá esse paradoxo e em que pé as coisas realmente estão? Eu não diria que o fanzine impresso ganha cada vez mais força. A movimentação que existia nos anos 80 e 90 provavelmente nunca se repetirá, ao menos não em termos quantitativos. Mas a anunciada “morte do impresso” – e do fanzine, consequentemente – é uma bela duma mentira, de qualquer forma. O fato é que houve um deslumbre - especialmente no Brasil, onde as pessoas se deslumbram facilmente – com a popularização da internet, e muita gente correu para decretar a morte do impresso. Acontece que as duas coisas são diferentes e não há razão para que uma anule a outra. O impresso e o virtual podem coexistir, eles podem trabalhar de forma complementar com ótimos resultados, e parece que aos poucos as pessoas estão percebendo isso. Por meio da Ugra, nós insistimos bastante nesta questão e procuramos sempre trabalhar dessa forma. O próprio Anuário foi lançado em duas versões: a versão impressa e a versão digital. A versão impressa, dados os custos envolvidos, é paga e teve tiragem limitada a 200 cópias. A versão digital é absolutamente gratuita e pode ser visualizada no Issuu ou, para quem preferir, é posível fazer o download em nosso blog. É bem interessante comparar os resultados obtidos com estas duas versões. Da versão digital tivemos, até o momento, mais de 6 mil visualizações no Issuu e quase 400 downloads foram feitos. São números expressivos para um lançamento independente. Mas poucas pessoas que visualizaram ou baixaram o Anuário nos escreveram ou deram algum feedback sobre nosso trabalho. Já da versão impressa, até o momento, vendemos cerca de 180 cópias. Um número consideravelmente menor do que os da versão digital. Em compensação, quase todas as pessoas que adquiriram a versão física do Anuário entraram em contato conosco, comentaram, deram sugestões, alguns tornaram-se amigos. Me parece claro que temos algo a aprender com essa experiência. Tem mais novidades vindo do reino de Ugra? Sim, muitas novidades! Agora, em novembro, lançaremos o livro do Leandro. Chamase “Tudo o que é grande se constrói sobre mágoa”. É uma coletânea de contos que ele já havia publicado no blog Dissolve Coagula, devidamente revisados e sutilmente alterados, além de um texto inédito. As ilustrações do livro foram feitas pelo grande
Flávio Grão e o projeto gráfico e acabamento será bem minucioso e artesanal. Começamos a trabalhar também na coleção Maudito Seja, cuja proposta é resgatar a obra dos quadrinistas alternativos brasileiros nas décadas de 80 e 90. O primeiro volume será dedicado ao trabalho do genial Law Tissot, e ainda não temos uma data fechada para seu lançamento. Fora isso, tem o Anuário, o Ugra Zine Fest e mais um monte de coisas engatilhadas... Idéias não nos faltam, o que precisamos é de tempo e dinheiro para concretizá-las! Caixa Postal 777 - São Paulo / SP CEP: 01031-970 – Brasil
[email protected] http://ugrapress.wordpress.com/ http://ugrapress.wordpress.com/2011/03/04/anuario-disponivel-para-download/
Alexandre Chacal desbravando o underground - 2011 Alexandre Chacal é um daqueles caras que não se contentam em ser apenas um expectador. Dando sequência as entrevistas que tenho feito com uma galera que veio ao mundo e não perdeu a viagem, passo a bola para esse mano. Responde aí, Chacal: O início: Olá Fábio. Muito obrigado por essa oportunidade, cara. Sou fã do Reboco há algum tempo. Mas vamos lá! Criei Music Reunion Prod's and Distro em 2007, de forma amadora mesmo. Tinha o simples objetivo de contribuir com a divulgação de bandas e artistas Rock/Metal do Underground brasileiro. A ideia era fazer promoções através de lançamentos de coletâneas musicais e também distribuição de demos e outros materiais. Em pouco tempo firmei diversas parcerias com selos, zines e produtores que acabaram virando um “canal de distribuição” independente muito eficaz que abrangeu cerca de 10 Estados brasileiros, alguns países das Américas do Sul e Central e outros na Europa e Ásia. Inicialmente lançamos duas coletâneas intituladas HEADBANGERS METAL REUNION VOL. 1( 2007) e VOL. 2 ( 2008) que contaram com participação de bandas do Brasil e de outros países. Realizamos lançamento também de algumas Demos e EPs em formato cd-r e cd-r pro e apoiamos a distribuição de outras coletâneas lançadas por selos parceiros. Em 2009 fizemos uma divisão chamada Metal Reunion Records – Extreme Division voltada a divulgar estilos mais extremos do Metal ( Death, Black, Gore, Splatter, Grind...) e reforçamos nossas parcerias apoiando lançamentos e distribuição de várias distros. Com essa divisão, lançamos uma compilação chamada "Extreme Reunion Hell Compilation Vol.1. que teve participação de bandas do Brasil, Panamá, Japão e Slováquia. No mesmo ano, buscando reforçar a divulgação dos lançamentos da MR Records e de seus parceiros, montamos o Metal Reunion Zine e começamos a publicar atualizações de catálogo e lançamentos. Em pouco tempo pensamos: " Porque divulgar apenas parceiros e nossos lances?" Fizemos do MR Zine um canal de divulgação de bandas, distros, eventos, produtores, zines, selos, filmes, quadrinhos ligados a cultura underground rock, metal, terror. Começamos a pesquisar news e aumentar o conteúdo do blog por conta própria. Com o tempo as assessorias começaram a mandar as notas para publicação. Atualmente fazemos atualizações diárias, temos uma média de visitas muito boa para um blog e estamos muito satisfeitos por contribuir de alguma forma com a arte que não tem muitas oportunidades na mídia tradicional. Como é o trabalho com um material que vem do subterrâneo para um público do subterrâneo? Nos últimos anos, o underground brasileiro tem, de certa forma, se profissionalizado, mas tudo que é produzido aqui ainda é feito de forma independente, tendo alguma colaboração de outros que têm os mesmos interesses. Mas, geralmente, é o artista/banda que produz tudo na raça e na coragem. Apesar de, às vezes, lotarem os eventos de pequeno porte, não são muitos aqueles que realmente valorizam e consomem algo relacionado à arte underground no Brasil. Então o lance todo acaba sendo um segmento dentro de outro segmento que já é
segmentado e com consumo baixo (risos). Tiragens pequenas em formatos físicos, demo, trocas entre selos e bandas, fanzines, internet como canal de divulgação (download, vídeos...) e muita auto-produção ainda são as saídas reais para o underground “seguir em frente”. Com isso, muitas bandas e artistas sem recursos para produções tradicionais vêm conseguindo “escrever” sua história e também ter certa visibilidade fora do país, o que às vezes acaba se convertendo em oportunidades de lançamentos oficiais e outros apoios importantes. Tendo em vista os diversos estilos e ideologias existentes no underground, com qual tipo de material você prefere trabalhar? Em lançamentos do Metal Reunion Records ou Music Reunion Prod’s não tem muitas limitações e gosto de trabalhar com bandas de vários estilos, mas minhas preferências estão em vertentes do Heavy Metal e Punk como: Thrash Metal, Crust, Metalpunk, Grind, Death e Black Metal. E aquele que você nunca lançaria ou divulgaria? Nunca lançaria ou divulgaria nada relacionado ao Metal/Rock Cristão (White metal), ideologia nazista e/ou intolerante e também me esforço muito para não divulgar bandas cover. Além do selo e blog, sou integrante de três bandas que fazem som próprio e valorizo iniciativas autorais. Acredito que bandas cover não têm nada haver com arte e sim com entretenimento. Eu entendo underground apenas como arte. Por motivos pessoais eu repudio o nazismo e não curto os “valores” pregados pelo cristianismo. Acredito que essas ideologias nada têm haver com Rock’n Roll e por isso não apoio. A cultura do submundo vem de diversos países e consegue se inserir em qualquer lugar que chegue. Independente dos costumes locais, sempre se encontra um cara que curte um som ou uma estética que foge ao convencional. Como algo visto por muitos como bizarro consegue sempre alcançar as pessoas, sobrevivendo e evoluindo por décadas? Verdade, cara. A cultura underground é algo identificado de forma global, tem linguagem própria e de fácil entendimento. Como citei antes, é quase tudo segmentado, então sempre haverá um grupo, mesmo que pequeno, que consuma algo “bizarro”. Sobreviver e evoluir por décadas é questão de conhecimento adquirido e repassado. Eu, por exemplo, respeitando o nível de entendimento da minha filha, procuro explicar e mostrar coisas underground para ela que tem 5 anos. Acredito que parte disso vai ser repassado, de alguma forma, para outros no futuro. Um alô para a galera que curte o som de peso. Existem muitas bandas, artistas e coisas acontecendo no Rock e Metal brasileiro que não estão nas grandes publicações. Muitas dessas são extremamente honestas em suas propostas e, de repente, você irá se identificar muito com o trabalho das mesmas. Confira as notícias no http://metalreunionzine.blogspot.com/ Enviem notícias para publicação e consulte nosso catalogo e lançamentos através do email
[email protected]
Clássico dos quadrinhos nacionais vira animação - 2011 Baseado na estória em quadrinhos O Ogro, de Julio Shimamoto, essa animação promete ser uma grande homenagem a esse grande nome dos quadrinhos nacionais. Para nos falar um pouco mais sobre o assunto, Márcio Mário (um dos responsáveis pelo projeto) dispôs-se a responder algumas perguntas. Quando vocês pensaram em fazer uma animação, a idéia de ser em cima da estória O Ogro já estava concebida ou ocorreram outras possibilidades? Sou um apaixonado pelos quadrinhos brasileiros e, desde sempre, sonhava em transpor clássicos das nossas HQs de terror para o formato de curtas metragens em animação. Na minha cabeça, tais HQs são roteiros prontos para cinema, com um grafismo incrível, belíssimo, vindo dos pincéis de nossos mestres. Eu vejo uma espécie de santíssima trindade dos quadrinhos de terror nacionais: Jayme Cortez, Flavio Colin e Julio Shimamoto. São gigantes das artes gráficas!!! A ideia de começar pelo Shima foi dada pela amizade desenvolvida com ele e pela possibilidade de prestar essa homenagem ainda em vida. Cortez e Colin já se foram, mas o Shima taí, aos 72 anos, firme e forte, produzindo. Nada mais natural começar esse projeto pelo nosso samurai das HQs. E por que O Ogro? O Ogro é uma HQ sensacional, roteirizada pelo Antônio Rodrigues, onde o Shima inaugurou uma nova fase em sua carreira. Ali ele desenhou com tinta branca sobre cartolina preta, antecipando em mais de uma década o que o Frank Miller viria a fazer em Sin City. A atmosfera densa e expressionista atingida ali é um ponto alto das HQs naionais do período. Mas o principal motivo por termos escolhido O Ogro em particular é que ela foi uma sugestão do próprio Shimamoto. Vocês chegaram a pensar em colorir a obra nesse novo formato? De forma alguma. Os quadrinhos de terror eram em preto e branco e nisso residia grande parte de sua força. Shima é um mestre do claro-escuro e fizemos de tudo para garantir que seu estilo estivesse presente em cada frame do filme. Quase ficamos loucos (principalmente o fabuloso animador Wesley Rodrigues), mas acho que o resultado final mostra que fomos bem sucedidos em relação a este desafio. Como se dá essa transformação do quadrinho pra a animação? Tudo começa com adaptações de roteiro e criação de um storyboard. O mais importante pra gente foi manter o grafismo do Shima e a atmosfera densa da HQ. Já existe previsão para o lançamento? O filme está sendo inscrito em vários festivais de cinema pelo país. Imagino que logo logo estará nas telas. Além dessa empreitada, vocês já vinham lutando em outras frentes (banda, zine...). Fale sobre elas. São muitas coisas distintas. Monstro Discos, banda Mechanics, Escola Goiana de Desenho Animado, Mostra TRASH, HQs, etc, etc, etc... O google ajuda a dar uma geral nesse panorama. Eu e Márcia Deretti (minha esposa, que dirige o filme junto comigo),
somos produtores culturais e acabamos de criar a Marte Produções, que assina o filme. Nossa vida tá focada nisso: viver de produção cultural. Trabalhar com meios alternativos e independentes é sempre uma dificuldade, mesmo assim a galera não para de produzir. O por que da insistência em caminhar por esses meios? Porque são meios possíveis e que garantem a integridade daquilo que se quer produzir. Somos profissionais, mas tudo que fazemos se dá, primordialmente, pelo prazer estético e pela crença na Cultura como um poderoso agente transformador da sociedade e do indivíduo. Amamos o que fazemos e queremos viver disso, sem ter que abrir mão das nossas visões artísticas. Existe previsão para novos lançamentos depois deste? Acabamos do receber a notícia que os herdeiros do saudoso Jayme Cortez autorizaram nossa adaptação de outro clássico das HQs nacionais: O RETRATO DO MAL. Muito trabalho pela frente. O que o pessoal que já conhece a HQ pode esperar dessa nova versão de O Ogro? Uma devotada homenagem ao talento do genial julio Shimamoto. E os que não conhecem? Um filme de terror gótico expressionista e uma porta de entrada para o universo dos quadrinhos brasileiros.
Trocando uma ideia com o DZK - 2011 Desde os anos 80 fazendo punk rock, o DZK se mantém firme em sua proposta. Com muita crítica social e completamente inconformados, esses guerreiros se manifestam contra o atual estado das coisas através de sua música e de sua atitude. Muitas bandas aparecem e acabam. Qual o principal combustível para o DZK continuar até hoje na estrada? Persistência sempre em manter a cena punk viva Além do DZK, em quais outras frentes os integrantes atuam? O baterista trabalha com estamparia de camisetas, o baixista é metalúrgico (trabalha em uma fábrica de rodas), o guitarrista é faturista e eu metalúrgico (funileiro), apresentador de rádio e produtor musical. É possível sobreviver do underground? Claro que não. Dependemos do nosso trabalho para sobreviver. As letras do DZK costumam falar dos problemas sociais. Como a banda vê a atual situação mundial? A situação mundial é caótica. Ainda vemos pelo mundo a fora: guerras, fome e a má distribuição de renda. Existe perspectiva de um mundo melhor? Acredito que exista um mundo melhor para todos O som da banda se define como punk rock. O que é punk rock e o que é ser punk? Somos uma banda punk. O punk nasceu para contestar tudo que era imposto pela sociedade. O ser punk, para nós, é estar sempre solidário, lutando sempre pelos direitos, nunca aceitar as regras dessa classe dominante (10% dominando e 90% dominado) e lutar sempre pela igualdade de classe. E se o movimento punk não tivesse existido? Como seria esse universo paralelo? Se o movimento punk não tivesse existido teríamos as mesmas atitudes que temos como punks. Fomos criados numa ditadura. Estávamos revoltados, mas não sabíamos que já eramos punks. Fomos chamados de baderneiros porque não aceitávamos o que era imposto pela ditadura. Somos do tempo em que era comum se gravar em fitas K7 e ninguém reclamava de pirataria. Como vocês encaram o atual discurso contra a cópia de cds e o download? Não tenho nada contra. Acho que temos de evoluir. Temos uma ferramenta na mão, a nosso favor, e temos que usá-la. Mas ainda prefiro cd original. Sempre tem alguém falando que é bobagem lançar cd hoje, porque qualquer um pode baixar, mas nunca deixaremos de lançar. Quais os próximos passos da banda? Gravar nosso próximo álbum e continuar fazendo o que sempre fizemos: Sair por esse Brasil a fora, levando nossas músicas em forma de protesto.
Law Tissot e a Fanzinoteca Mutação - 2011 Law Tissot montou uma fanzinoteca no Rio Grande do Sul, onde acontecem oficinas e cursos, além de abrir espaço para os amantes dos fanzines conhecerem muito material legal. A Fanzinoteca Mutação é o tipo de iniciativa que vale a pena divulgar. Como se deu a iniciativa de criar uma fanzinoteca? Creio que desde os anos 80 eu já manifestava o desejo de criar um espaço público para preservação e promoção dos fanzines. Sabia que um projeto deste tipo necessitaria de uma infraestrutura adequada e não tinha os recursos para tal. O tempo passava e acumulava uma coleção de muitos zines na mesma medida em que editava os meus próprios títulos ou ainda colaborava em outros tantos espalhados pelo Brasil e no exterior. Somente em 2009, com o apoio do Ponto de Cultura ArtEstação (Rio Grande, RS) é que pude começar a criação da tão desejada fanzinoteca. Observei que você conseguiu apoio até do Governo Federal para seu projeto. Qual o caminho a seguir para se obter este tipo de apoio? Como disse, o início foi o Ponto de Cultura ArtEstação, com sua equipe coordenada por Miguel Isoldi, Célia Pereira e Celso Santos que sempre incentivaram minha produção artística e promoveram algumas ações a partir da minha relação com os fanzines, como exposições, lançamentos, palestras... Depois, a partir do edital da Funarte “Interações Estéticas 2009 Residências Artísticas em Pontos de Cultura”, escrevi o projeto “Resgate das múltiplas linguagens dos fanzines e suas relações com as poéticas visuais da arte-xerox”, que possibilitou por completo a viabilização da Fanzinoteca Mutação numa sala do ArtEstação, com a infraestrutura e os recursos necessários para a manutenção de um acervo, além de oficinas livres e espaço de exposição e discussão para ações que tenham relações com os zines e a arte urbana contemporânea. A Fanzinoteca é aberta ao público? Sim, a Fanzinoteca Mutação é aberta ao público. Abrimos aos sábados à tarde, das 14H as 20H, onde realizamos oficinas livres e gratuitas de fanzines e outras ações de arte urbana como graffiti e lambe-lambe, em parceria com o grafiteiro Diego “N3” Franz. Como disse, estamos localizados numa sala do ArtEstação, na Avenida Rio Grande, balneário Cassino, em Rio Grande, RS. Os contatos podem ser feitos através do meu e-mail
[email protected], pelo fone 53 9953-9646 ou ainda pelo blog www.fanzinotecamutacao.blogspot.com. Hoje, contamos com um acervo de mais de 3000 títulos de todos os gêneros, estilos, épocas e origens (tanto nacionais quanto de outros países). Temos um vídeo que mostra um pouco da fanzinoteca: www.youtube.com/watch?v=MKMjBSeXR_I&feature=player_embedded Você continua atuando na produção de fanzines? Desde 1984, quando criei o fanzine Mutação ao lado de Marco Muller e Rodnério Rosa, tenho mantido intima relação com a produção de zines e com a cena. Seja como editor ou colaborador em zines de companheiros espalhados pelo underground mundial. Atualmente, lancei o zine Charlotte # 03, em parceria com o amigo Fabiano Costa, que pode ser baixado aqui: fanzinotecamutacao.blogspot.com/2011/01/fanzinecharlotte.html .
Também participei do Circuito Interações Estéticas 2010, da Funarte, onde pude realizar zines durante o evento, nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Rio de Janeiro. Também tem um vídeo que mostra um pouco dessas aventuras ao lado dos companheiros Carol Ribeiro e Wendell Sacramento, e a participação dos zineiros Zé Colméia do Rio de Janeiro e Jaum de Belo Horizonte: www.youtube.com/watch?v=ASQlovB2OS4&feature=player_embedded. Com essa retomada e fortalecimento da cultura do fanzine, você acredita que este tipo de veículo será mais valorizado e aumentará o número de leitores? Não tenho muita certeza disso. Acredito que, em certa medida, os zines ainda circulam nas trocas entre os editores. Talvez, em certos eventos, como exposições, shows, bares ou ações urbanas, eles possam atingir um outro público. Mas os fanzines têm mesmo essa característica de serem efêmeros, com pouca tiragem e destinados a serem como garrafas jogadas ao mar. Sabe-se lá em que mãos poderão chegar. Essa magia do leitor do acaso é muito fascinante. Um fanzine inesquecível: Pergunta difícil. Cada fanzine representa um momento, uma fase de criação e de relação com amigos e idéias. Mas, se for para citar apenas um, que seja o Mutação. Este zine foi criado ao lado dos amigos que já citei anteriormente, no distante ano de 1984, de uma forma um tanto inocente, mas repleto de sonhos que desde sempre trouxeram grandes resultados, sejam em termos artísticos ou nas amizades que ainda mantenho desde aquela época. O destaque atual: Tenho recebido muitos zines de novos companheiros que contribuem com a ampliação do nosso acervo. Não gostaria de ser injusto com nenhum editor, pois tenho uma relação passional e de respeito por toda e qualquer iniciativa zineira. A mim não importa a qualidade da impressão ou a proposta editorial, mas sim que existam sujeitos entusiasmados com a manutenção do espírito zineiro, seja pela sua poética ou pela sua importância para a mídia livre. Poderia citar, para não deixar a pergunta incompleta, o La Permura, do companheiro Rodrigo Okuyama, como um zine que foi realizado com muita criatividade e competência. O que é indispensável? Ter um milhão de amigos zineiros trocando seus zines repletos de artes, idéias, ações e paixões. O que é dispensável? A nicotina. Malditos cigarros!
Wander Wildner troca uma idéia -2011 Sempre com um estilo próprio, esse gaúcho manda seu recado. Que recado é esse? Espera aí que ele vai falar. A partir de um determinado ponto de sua carreira, as letras de protesto foram se distanciando de suas composições. Nos Replicantes, quem fazia as letras era o Gerbase, eu interpretava e essas letras e músicas eram resultantes da soma de cinco pessoas e suas idéias. Depois, na minha carreira solo, tudo é resultante só da minha visão. O tempo passou e estou em fase de crescimento. Por isso outras abordagens e assuntos. Os movimentos juvenis que seguiam uma tendência Européia e Norte Americana estão buscando sua própria cara. Seria isso que você busca através de sua carreira solo? Não sigo nenhum movimento, apenas meus passos, minha sombra, meu caminho. Sigo meu espírito livre. O Replicantes marcou sua carreira. O que aconteceu nas idas e vindas da banda? O que aconteceu foram muitas coisas que estão na história da banda, que ficou documentada em discos, vídeos e dvd's. Qual a principal diferença no público da época do Replicantes e o de hoje? São outras pessoas, noutro tempo, que vão aos shows porque gostam das minhas músicas. As diferenças são circunstanciais. Você sente maior liberdade de criação na fase atual do seu trabalho? Não, pois sempre tive a mesma liberdade. O que é a liberdade? É ser livre. Fazer o que se quer, respeitando os outros. E o amor? O amor é um sentimento de união e respeito entre as pessoas. O que é a vida? Vida é o que ganhamos quando nascemos. Daí seguimos vivendo, usando do nosso livre arbítrio e adquirindo consciência. Líquido sólido ou gasoso? Saquê, frutas ou maconha. Cheiro, sabor ou cor? Jasmim, morango ou amarelo. Constante ou mutante? A vida mutante. Para gritar: Berro!