PROGRAMAS DE ESTIMULAÇÃO COGNITIVA (PEC) E DE AQUISIÇÕES DE BASE (PAB) José Manuel Salsa Júlio Fernando Marinho CERCIFAF
Convictos da potencialidade cognitiva do indivíduo, sustentada em mecanismos cognitiva mentais passíveis de estimulação e treino e da sua educabilidade em função das características das tarefas, defendemos a estruturação técnico-pedagógica de conjuntos coerentes de exercícios -
Programas de Estimulação Cognitiva (PEC) e Programas
de Aquisições de Base (PAB) -, susceptíveis de potenciar o seu desenvolvimento pessoal. A integração harmoniosa de aluno, professor e conhecimento, conhecimento, em que o hardware e o software software se consubstanciam como poderosos auxiliares, é condição essencial e ponto de partida à concepção dos programas e à sua implementação no terreno.
1. Enquadramento institucional
A partir de meados de 1992, no âmbito do programa
HORIZON e em parceria
com instituições europeias , a instituição tem vindo a desenvolver um trabalho contínuo na área da utilização das TIC em Educação (a par com outras áreas de intervenção previstas nos projectos como como a Formação Profissional Profissional e a Investigação). As componentes educacionais destes projectos visam facilitar
aquisições
académicas básicas , desenvolver capacidades cognitivas , promover a educação comportamental e a autonomia e formar formadores.
Este percurso permitiu à instituição a transferência e adaptação de
recursos
metodológicos como o Método Operatório de Educação Cognitiva e Relacional da LOGICOM e
recursos informáticos ( packages de aplicações educacionais e
ferramentas de desenvolvimento de aplicações, IMAGICOM / HYPERPUZZ).
O reconhecimento da validade técnico-pedagógico das suas experiências, práticas e recursos valeu à instituição a sua acreditação como
Centro de Competência NÒNIO
Século XXI.
2. Recursos técnico-pedagógicos Uma referência importante, ao nível da instituição, é o Método
Operatório de
Educação Cognitiva e Relacional da LOGICOM que integra princípios como a promoção da motivação dos alunos, a aprendizagem como desafio, o acesso a fontes diversificadas de informação, a significação das tarefas, o estímulo da criatividade, a exploração de problemas e teste de soluções, a potenciação da qualidade do trabalho, a aplicação de conhecimentos a novas situações, a valorização pessoal e socialização e a promoção da responsabilização e autonomia dos alunos.
A afirmação destes princípios consubstancia-se na organização de
ambientes de
aprendizagem que integrem de forma harmoniosa os três agentes conjugantes do processo de ensino-aprendizagem - o aluno, o professor e o conhecimento (aqui acedido através do computador).
O principal software de suporte a estes ambientes de estimulação e aprendizagem reporta-se a um conjunto alargado de
aplicações educacionais que se caracterizam pela
sua simplicidade funcional que é sustentada, contudo, num interface gráfico muito agradável, visualmente atraente e intuitivo. Na base destas aplicações está uma
linguagem
de
programação
estruturada,
denominada
IMAGICOM, de fácil
aprendizagem e detentora de comandos e funções suficientemente poderosos para integrar texto, imagem estática e animada e som em verdadeiras aplicações Recorremos, igualmente, a ferramentas de denominadas
hipermédia .
desenvolvimento de pequenas aplicações,
SUPERPUZZ e HYPERPUZZ que, num ambiente assistido, permitem a
não-programadores desenvolver o seu software pela potenciação de algumas funções poderosas presentes no
IMAGICOM.
3. Os Programas de Estimulação Cognitiva (PEC) e de Aquisições de Base (PAB) 3.1. Caracterização e enquadramento teórico Considerando as três grandes linhas de pensamento / acção sobre o comportamento cognitivo humano, - abordagem
diferencial , desenvolvimentalista e
cognitivista -, julgámos possível estabelecer uma filosofia de concepção / realização de programas que se encontrará algures na área triangular definida por aquelas linhas (ver figura 1).
Abordagem
DESENVOLVIMENTALISTA
PEC / PAB Abordagem
Abordagem
DIFERENCIAL
COGNITIVISTA Fig. 1 - Posicionamento teórico dos PEC / PAB`s.
Este quadro de referência aproxima-nos muito da perspectiva cognitivista na medida em que, rejeitando a ideia da natureza estática da inteligência de base genética, subjacente à perspectiva psicométrica e duvidando da progessão naturalista do intelecto, defendida pelas correntes desenvolvimentalistas, sentimo-nos muito mais atraídos pela potencialidade cognitiva, com base em mecanismos mentais passíveis de estimulação e treino, de educabilidade em função das características das tarefas. Assim, defendemos um conjunto de princípios que julgámos adequado como base teórica de referência aos PEC`s e como ponto de partida à sua concepção e implementação no terreno.
3.1.1. Princípios de base cognitivista
•
Os PEC / PAB devem colocar a enfâse na estimulação cognitiva mediatizada por agentes significativos. O nível de dificuldade dos problemas não pode ser tão elevado que desmotive nem tão reduzido que desinteresse por forma a promover o sucesso na resolução e a aumentar a auto-estima.
•
Os exercícios devem fazer sentido para o sujeito e ser tão contextualizados quanto possível. A informação, sob a forma de imagem, texto ou som, deve ser objectiva e claramente legível de forma a promover uma percepção eficaz e cativar a atenção. O recurso a suportes concretos complementares pode ser indispensável.
•
São possíveis reajustamentos nas estratégias de codificação e reestruturação interna dos sujeitos através do treino adequado de competências, no sentido da autonomia de realização, sem que para isso seja necessária obediência a uma progressão rígida de fases ou estádios de desenvolvimento cognitivo.
3.1.2. Princípios de base desenvolvimentalista
•
O erro deve ser encarado naturalmente e constitui uma fonte importante de informação, por oposição a outras maneiras de resolver o problema. Essa informação poderá fazer parte da arquitectura da boa solução, realizada pelo sujeito.
•
O desenvolvimento cognitivo relaciona-se com o desenvolvimento social e afectivo em contextualização mútua.
•
A solução individual poderá ser confrontada com outras soluções alternativas, por parte do mediador ou, numa perspectiva de socialização da resposta, com as de outros sujeitos. Em qualquer destas situações poderá surgir o conflito cognitivo que, se detectado, gerido e resolvido eficazmente, poderá ser um importante meio de equilibração cognitiva.
3.1.3. Princípios de base diferencial
•
Os instrumentos métricos de avaliação podem ser usados mas os seus resultados não devem ser encarados como indicadores de aptidão cognitiva. Serão apenas indicadores de realização, auxiliares da arquitectura e conteúdo do PEC / PAB. Não significa isto que os exercícios estabelecidos no PEC / PAB devam partir do último nível de sucesso avaliado ou ignorar capacidades que pareçam estar desenvolvidas. Se estes instrumentos de avaliação forem aplicados regularmente, os seus resultados poderão ser comparados e estatisticamente tratados, com possíveis conclusões sobre a qualidade da estimulação efectuada.
3.2. Objectivos e limitações Tradicionalmente a inteligência foi interpretada como característica inata, ou pelo menos substancialmente estável, previsível, e passível de ser quantificada. Foi aqui que se vieram a enquadrar quer os conceitos de idade mental ou de quociente de inteligência, quer o enfoque dado à construção de instrumentos de avaliação psicológica (Almeida e Morais, 1988). Trata-se de uma abordagem baseada na relação de equivalência entre
competênci a (o que pode fazer ) e r ealização (o que faz ) dos sujeitos. De uma perspectiva marcadamente estável da inteligência passou-se, nos anos sessenta, a uma perspectiva modificável da inteligência e ao conceito de desenvolvi mento cogni ti vo .
No entanto, se esta nova abordagem veio questionar e abalar uma relação estática entre competência e realização, não soube redefinir claramente essa relação, nem operacionalizar adequadamente estes dois conceitos. Permaneceu sem uma resposta definitiva a dúvida quanto à educabilidade cognitiva e quanto à eficácia temporal dos programas de estimulação e treino cognitivo.
Esta situação constitui uma limitação de base importante para quem, como nós, tenta conceber e implementar um programa desta natureza mas afigura-se, também, como um desafio à capacidade de progredir, na consciencialização das dificuldades e no controle dos erros.
Conscientes destas limitações podemos, no entanto, traçar dois objectivos gerais que consideramos fundamentais e que devem ser levados em consideração aquando do desenho de um PEC / PAB:
•
a) Promover através da estimulação de
capacidades cognitivas a aquisição de
competências básicas , ao nível escolar ou profissional, indispensáveis à dimensão pessoal do jovem;
•
b) Favorecer a integração do jovem no meio social pelo restauro da sua autoconfiança e da sua auto-estima em detrimento das exigências de sucesso.
3.3. Recursos
Os com as
Programas de Estimulação Cognitiva podem ser estruturados, em sintonia
capacidades e necessidades do sujeito, a partir de uma estrutura base modular,
organizada em quatro conjuntos ou colecções - PECpercepção, PECatenção, PECmemória e PECraciocínio: •
PECpercepção - colecção de exercícios para treino da percepção e orientação espacial, da percepção temporal e da percepção visual.
•
PECatenção - colecção de exercícios para treino da atenção e concentração.
•
PECmemória - colecção de exercícios para treino da memória a curto prazo.
•
PECraciocínio - colecção de exercícios para treino do raciocínio lógico.
Os materiais de apoio integram muitos dos suportes informáticos disponíveis na instituição e consistem num programa de que permite a estruturação de
avaliação cognitiva e na base de aplicações
conjuntos coerentes de exercícios (de acordo com o
princípio “um suj eito, um pr ograma ”).
Para grupos de alunos com dificuldades de aprendizagem específicas, poderão ser desenvolvidos
Programas de Aquisição de Base (PAB`s), uma metodologia orientada
para conteúdos específicos e suportada por conjuntos coerentes de exercícios, em desenvolvimento na instituição.
No caso dos PAB`s as aplicações estão organizadas em quatro conjuntos ou colecções: •
PABleitura/escrita - colecção de exercícios de Língua Portuguesa comunicação oral e escrita e funcionamento da língua.
•
PABcálculo - colecção de exercícios de numeração, formas e espaços, grandezas e medidas e operações aritméticas.
•
PABmeio - colecção de exercícios sobre o estudo do meio - descoberta de si, dos outros, das instituições, do ambiente e das suas relações, das interrelações entre espaços, de materiais e objectos, do passado.
•
PABautonomia - colecção de exercícios sobre hábitos de higiene, práticas domésticas e vivências sociais.
Bibliografia
Almeida, L. S. e Morais, M. F. (1988). Promoção Cognitiva: Programa de treino cognitivo para alunos do Ensino Secundário. Barcelos: Cooperativa de Ensino Didalvi. Barre,
A.
(1992).
Developpement
Cognitif,
Remediations
et
Nouvelles
Technologies: La Methode Operatoire de LOGICOM. Reze: LOGICOM. Bruner, J. (1983). Savoir faire, savoir dire. Paris: PUF. Feuerstein, R. (1980). Instrumental enrichement: Na intervention program for cognitive modificability. Baltimore: University Park Press. Inhelder, B; Sinclair, H.; Bovet, M. (1974). Apprentissage et strutures de la conaissance. Paris: Press Universitaires de France.
Jonassen, D.; Grabinger, R. (1989). Problems and Issues in Designing Hypertext / Hypermedia for Learning. In Designing Hypermedia for Learning. David Jonassen e H. Mandl (Eds.). NATO Advanced Science Intitutes Series. Vol F67 3-25. Oliveira, A., Costa Pereira, D. (1990). Psychopedagogic Aspects of Hypermedia Courseware. In Designing Hypermedia for Learning. David Jonassen e H. Mandl (Eds.). NATO Advanced Science Intitutes Series. Vol F67 251-262. Piaget, J. (1956). Les stades du développment intellectuel de l´enfant et de l ´adolescent. Paris: Press Universitaires de France. Salsa, J. M. (1994). Aspectos do Método Operatório de Educação Cognitiva e Relacional da LOGICOM - Documento Introdutório à Formação. Fafe: CERCIFAF. Salsa, J.; Lacerda, T.; Machado, A. B. (1992). Concepção de aplicações hipermédia para utilização em contexto educativo - problemas e metodologias. Comunicação apresentada no II Congresso da Sociedade Portuguesas de Ciências da Educação, Braga, 29 Nov - 1 Dez. Salsa, J. M. (1997). Programas de Estimulação Cognitiva e Programas de Aquisições de Base - Tecnico-Pedagogia no Desenvolvimento Pessoal. Fafe: CERCIFAF. Vygotsky, L. S. (1974). Thought and Language. Massachusetts: MIT Press.