POEMAS DE JOÃO PAULO II1 KAROL WOJTYLA ATOR AKTOR
Muitos cresceram a minha volta Através de mim, Pode-se dizer de mim. Tornei-me como um alvo no qual escorre uma força cujo nome é: homem Mas se eu também sou um homem Esta confusão dos outros, de algum modo Não me terá de qualquer maneira distorcido? Se me tornei cada um deles imperfeitamente, Permanecendo sempre de mais eu mesmo, Quanto se salva de mim? Pode-se olhar sem medo?
CONTEMPLAÇÃO RETROSPECTIVA DO ENCONTRO PÓSNIEJSZE ROZPAMIETYWANIE ROZPAMIETYWANIE SPOTKANIA
Ninguém ousaria olhar assim dentro de si Diferente ao seu modo de conhecer, Quase não ergueu os olhos, Era ele a grande lente de todo conhecimento Como poço que resplendia através do rosto Um espelho Como um poço que refugia no profundo 1
Poemas transcritos transcritos do CD “Poemas do papa João Paulo II por padre Fábio de Melo”. Som Livre, 2012.
Não devia sair de si mesmo, Erguer os olhos, compreender Via-me em si. Possuía-me em si. Atravessava sem esforço o meu ser E apareceu em mim Através da minha vergonha E do pensamento longamente reprimido Pareceu tocar a pulsação das minhas fontes E de repente Fez surgir em mim um cansaço infinito. Depois, com muito desvelo, Eram simples as palavras, Caminhavam ao meu lado como carneirinhos E dentro fizeram alçar voos pássaros adormecidos no ninho. Estava tudo lá, Do meu pecado e do meu segredo Dizem: devia doer, devia pesar. A onda dos meus pensamentos se abate pesada Como tampa metálica Cala-se. Mas agora sei, Aberta para sempre em virtude da tua palavra e em ti Naquele momento, não sofri o bastante, Não até a justa medida. Dizem: hoje o amor gostaria de chamar a si aquela dor Tirando-a de ti Evolvendo-se nela como em uma fita tênue É tarde. De agora em diante, toda dor que volte de ti se transforma, Ao longo do percurso, em amor Que solicitude, que bondade no conhecer No entanto, nem ergueste o olhar Tu me falavas somente com aqueles olhos Que o profundo esplendor do poço espelhava.
CRIANÇAS DZIECI
Crescem improvisadamente do amor E depois, de repente,adultos Vagam de mãos dadas na grande multidão Coração capturados como pássaros, Perfis desbotados no crepúsculo. Sei que no coração deles pulsa toda humanidade De mãos dadas sentam-se calados nas margens Do tronco de árvore, terra ao luar Triangulo que arde no sussurro inacabado Ainda não se dissipou a névoa Corações de crianças pairam sobre o rio Pergunto: Serás sempre assim Quando se levantarem e forem embora? Ou de outra maneira? Uma taça de luz inclinada entre as plantas Revela um fundo ainda desconhecido Sabereis preservar o que em nós teve inicio? Separareis sempre o bem do mal?
HOMEM DE INTELECTO CZLOWIEK INTELEKTU
Tira da vida a variedade e atração Espontaneidade, talento Gosto da aventura. Reduzidas as tuas fórmulas, noções de opiniões Condensam os conteúdos, apesar disso, ficando em jejum. Não derrubes a minha barreira! É necessária a todos
Todo caminho do homem conduz ao pensamento.
HOMEM DE VONTADE CZLOWIEK WOLI
Um instante incolor de vontade é pesado como um impulso de pistão e afiado como um açoite Um instante que em geral assim não se impõe, Se não, a mim apenas Não amadurece do sentimento, como suave fruto E não emerge do pensamento, toma um atalho Quando chega, devo alça-lo E assim o faço sempre. Não há espaço para o coração e o pensamento Há apenas aquele instante que explode em mim Como cruz
DESCRIÇÃO DO HOMEM RYSOPIS CZLOWIEKA
Há enredos e emaranhados Se procuras decifrá-los Sentes que juntos a esses que deverias rasgar-te a ti mesmo Basta-te então olhar Procurar entender Não te adentrar pertinaz para que não te engula o abismo É apenas o abismo do pensar Não é o abismo do ser O ser não absorve, mas cresce E lentamente se transforma em sussurro. Este é pensamento impregnado de existência Tu, o Universo, Deus.
Inversamente, sentes como tudo te agarra as pernas O ser se reduz a um ponto E o pensamento como estepe se torna árido Simplesmente trabalha, tem confiança E entra em ti apenas aquilo tanto que te torna consciente do teu orgulho E isso já é humildade E vigia, sobretudo, a vontade O prepotente desabafo do sentimento surge apenas raramente E a Deus não chega.
A ESPERANÇA QUE VAI ALÉM DO FIM NADZIEJA, KTÓRA SIEGA SIEGA POZA KRES
No tempo certo, A esperança se eleva de todos os lugares sujeitos a morte A esperança é o contrapeso Nela o mundo que morre, revela a vida de novo Nas ruas as pessoas com casacos curtos e com cabelos caídos no pescoço Cortam com a lâmina do passo o espaço do grande mistério Que em cada um deles se estende entre morte e esperança Um espaço que flui para o alto, como a pedra de luz solar Revirada ao ingresso do sepulcro Neste espaço, a mais perfeita medida do mundo Tu és. Então tem um sentido Escorregar na tumba, passar para a morte. Desfazer-me no pó de repetíveis átomos para mim é parte da tua Páscoa. Sou um viandante na estreita calçada da Terra. No meio correm carros, saem foguetes interplanetários Em toda parte um motor centrífugo O homem, única lasca do mundo que tem um modo diferente. Sou um viandante da estreita calçada da Terra.
E não desvio o pensamento do teu rosto que o mundo não me revela Mas a morte é uma experiência final E tem um sabor de aniquilamento com a esperança arranco dela o meu eu, Tenho de arranca-lo e superar, assim, o aniquilamento. Então, em volta levantou-se gritos, levantar-se-ão de novo: “És louco, Paulo! És louco!”
E contra mim mesmo e contra uma multidão luto pela minha esperança Em mim não a sustem nenhuma camada de memória No espelho no qual tudo passa não encontro um reflexo Mas somente na tua passagem pascoal A qual se liga a inscrição mais profunda do meu ser E assim, me inscreve em Ti a minha esperança. Fora de Ti não posso existir. Quando alço o meu eu acima da morte, Extirpando de um solo de extermínio, Isto acontece, Porque ele está em Ti Como no corpo que desdobra a sua potencia sobre cada corpo humano E renova o meu eu Colhendo de um chão de morte em figura diferente, embora tão fiel Onde o corpo da minha alma e a alma do meu corpo voltam a se juntar Fundando na palavra “eternamente” a vida antes fundada na Terra Esquecendo todas as ânsias Como ao levantar-se No coração de um improviso vento Ao qual nenhum homem vivente pode resistir Nem as copas dos bosques
nem embaixo as raízes que se racham O vento movido pela tua mão Torna-se silencio. Os átomos do antigo homem fazem compacta a gleba primordial do mundo Que eu alcanço com a minha morte Enxerto-os em mim definitivamente Para transforma-los na tua páscoa Que é a tua passagem.
O PAVIMENTO POSADZKA
Aqui nossos pés tocam a terra que surgiram paredes e colunas Se entre estas não te perdes, mas vais encontrando unidade e significado É porque o pavimento te guia Este unifica não apenas espaços de uma estrutura renascimental Mas espaços dentro de nós Que caminhamos conscientes das nossas fraquezas e derrotas És tu Pedro! Queres ser o pavimento em que caminham outros, Que prosseguem ignorando a meta Para chegar onde guias os passos deles, Unificando espaços com olhar que facilita o pensamento Queres ser aquele que sustem os passos Como a rocha sustem os cascos do rebanho Rocha também é o pavimento de um gigantesco templo E o pasto é a cruz.
APELO AO HOMEM QUE SE TORNOU O CORPO DA HISTÓRIA WOLANIE DO CZLOWIEKA, KTÓRY STAL SIE CIALEM HISTORII
Eu te invoco e te procuro, homem
No qual a história humana pode encontrar o seu corpo. Vou ao teu encontro, não digo “vem” Digo, simplesmente, “sei”
Sei onde não há mais nenhuma pegada, Mas onde outrora existiu o homem Onde foi consumido pelos sentimentos Coração e alma, desejo, dor e vontade E corando de santa vergonha Seu eterno sismógrafo da realidade invisível O homem no qual se encontram Do homem a profundidade e o vértice Cujo intimo não é peso, nem treva, Mas somente coração Homem chego sempre a ti Seguindo um magro rio da história Indo ao encontro de cada coração, de cada pensamento História atropelar-se de pensamentos e morte dos corações Procuro ao longo da história o teu corpo Procuro a tua profundidade.
EM MEMÓRIA DE UM COMPANHEIRO DE TRABALHO PAMIECI TOWARZYSZA TOWARZYSZA PRACY
Não estava só, Seus músculos se espalhavam em uma imensa multidão Até que levantam o martelo, até que vibravam de energia Mas isto só durou até que ele sentiu a terra embaixo dos pés Até que a pedra não lhe abriu a fronte e não lhe entrou no coração Levantaram o corpo, avançaram em silêncio Ainda emanava dele fadiga e um sentido de injustiça. Vestiam blusas cinzas, sapatos enlameados até o tornozelo E daquele jeito revelavam que teriam de ter fim aquelas pessoas. O tempo dele parou com violência
Nos quadrantes de baixa tensão os ponteiros soltos improvisamente desceram a zero A pedra branca entrou nele, corroeu sua essência E o assimilou de tal forma, que o transformou em pedra Quem levantará aquela pedra? Quem disporá de novo os pensamentos naquela fronte rasgada Como se racha reboco de muro? Deitaram-no sob um lençol de cascalho Chegou a esposa desesperada, acriança voltou da escola. É só isso?Só a sua raiva passará aos outro? Não amadurecia nele, talvez, com verdade e amor Gerações futuras devem, talvez, desfrutá-lo como bruta matéria Despojando da sua essência mais intima e única As pedras se movem de novo, a carreta desaparece entra as flores De novo uma descarga elétrica cai sobre a pedreira Mas o homem trouxe com ele a estrutura secreta do mundo Onde o amor prorrompe mais alto, se mais um embebe a raiva.
ESQUIZÓIDE SCHIZOTYMIK
Há momentos surdos, momentos sem esperança Tirarei ainda de mim o pensamento acelerei o coração Tu então não cortes comigo Não te perturbes com a minha ira Não é ira, não. É apenas uma praia deserta. Justamente naqueles momentos até o mais leve peso me subjuga Vou, contudo estou parado. Não tenho consciência do movimento Lembra-te então Não estás parado porque em silêncio Se renovam essas forças que encontrarão a sua saída Forças que explodirão.
E então de novo não inconsideradamente Não de um só golpe, com todo ti mesmo Dosa os momentos do coração, dosa a pressão da vontade No fulgor febril das pupilas, não se queime de repente Quando crescem em tempo da estagnação.
CEGOS NIEWIDOMI
Batendo na calçada com bengalas brancas Criamos a distância necessária Cada passo custa Nas pupilas vazias morrem continuamente o mundo Que não parece consigo mesmo Um mundo feito não de cores, mas de murmúrios Contornos e linhas de sussurro Pensa com é difícil amadurecer até uma plenitude Quando resta sempre uma parte só E esta parte devemos escolher Como de boa vontade, cada um nós Tomaria sobre si o peso todo do homem Que sem bengala branca abraça num instante o espaço. Conseguirás ensinar-nos que existem males além do nosso? Conseguirás persuadir-nos que na cegueira possa haver alegria?
MELANCÓLICO MELANCHOLIK
Não queria tomá-lo Há muito tempo em mim está suspensa a dor Primeiro, acolhida fracamente É avaliada pela imaginação e rói devagar
Como traça, como ferrugem que fragmente o ferro Emergi desse fluxo oculto, superar o presságio da dor Ah, a vida simples e grande Não acabe em mim a sua simplicidade Mais extraordinária que dolorosa é a realidade Reequilibrar, enfim, tudo num gesto sólido e maduro Não voltar atrás tantas vezes, mas ir adiante Levar simplesmente na igual distância das horas Essa estrutura que facilmente se torna perturbação nos confins da mente Mas que é em si, mais cansaço que dor Estar mais com Ele, do que consigo próprio, somente Estar mais com Ele e afastar a ameaça das coisas Desde que um simples ato, seja suficiente.
MATÉRIA TWORZYWO
Escuta! O ritmo igual dos martelos tão conhecido Que o faço ecoar nos homens para experimentar a força de cada golpe Escuta! Uma descarga elétrica corta o rio de pedra E ali cresce um pensamento A grandeza do trabalho está no homem Dura e rachada A mão de lixa segurando o martelo De muitos modos se aclara na pedra o pensamento humano Quanto destacas o ímpeto de forças da pedra E cortas no ponto exato a artéria cheia de si Vê, é possível amar do fundo da raiva Que extravasa no alento do homem Como um rio engrossado pelo vento
Mas em vós somente arrebento as cordas mais altas Gente se dispersa nos portões e alguém sussurra: “Mas é uma força potente”
Não tenhas medo As ações humanas tem margens espaçosas Não podes força-las por muito tem, nem muito estreito Não temos medo As ações humanas perduram nos séculos Naquele que contemplas no ritmo dos martelos Um fio de baixa tensão morde profundamente os blocos de pedra Como um chicote invisível as pedras conhecem essa violência Quando o inaferrável ímpeto fende sua compacta perfeição Roubando-lhes de repente a perene simplicidade As pedras conhecem essa violência Entretanto, não é a corrente elétrica Que anula o entrelaçamento de forças Mas o home que a tem nas suas mãos Operário As mão são a paisagem do coração Frequentemente as mão se racham Como precipícios entre os montes Do qual despenham forças indefinidas Essas mãos, O homens as abre somente quando estão saciadas de cansaço E vê, então, que graças a ele Outros podem caminhar tranquilos As mãos são uma paisagem Quando se machucam, as feridas, a dor corre livre aos borbotões Mas o homem não pensa na dor Não coincide com esta dor a grandeza A grandeza do homem, cuja exata definição ele ignora Não só as mãos descem com o peso do martelo Não só o corpo fica tenso e os músculos desenham sua forma Mas através do trabalho passam seus pensamentos mais intensos
Que se trançam em rugas na fronte Que se unem no alto sobre a cabeça No arco agudo de braços e veias Quando assim, por um instante se transforma No edifício gótico que um fio de pruma atravessa Nascendo do pensamento e dos olhos Ele não é somente perfil, não é somente silhueta entre a pedra e Deus Condenada a grandeza e ao erro.
PARA OS COMPANHEIROS DE VIAGEM DIA TOWARZYSZÓW DROGI DROGI
Se procuras um lugar onde se debatia Jacó, Não vagueies até países da Arábia, Não procures nos mapas a torrente. Encontrarás os rastros muitos mais perto Deixe só que na perspectiva dos teus pensamentos Apareçam as luzes dos objetos Graças a pensamentos sempre mais compactos E em forma sempre mais simples Então, não se dissipa a imagem, mas tem peso E prepara-te, deves suportar em ti aquela imagem Transforma-te todo naquele conteúdo Ao qual são propícios silencio e solidão. A solidão possível para o homem, Tanto que nem mesmo a morte o distrai. Ninguém. Mesmo que os nossos dias estejam cheios de simples atos Nos quais a interioridade do átomo é ofuscada pelo gesto inseparável Possuímos igualmente a certeza De que um dia aquele gesto caíra E de que de nossos atos só ficará a verdadeira essência.