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P III
I
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ANTÔNIO RENATO GUSSO
PANORAMA HISTÓRICO DE ISRAEL PARA ESTUDANTES D A BÍBLIA
CURITIBA 2006
Copyright©2003 por Antônio Renato Gusso.
Todos os direitos em língua portuguesa reservadospor:
Capa:
Ijmau a Marinho
A. D. Santos Editora
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Manoel Meneses
Impressão e acabamento:
RÈpmet
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
GUSSO, Antônio Renato. Panorama Histórico de Israel para Estudantes da Bíblia / Antônio Renato Gusso —Curitiba: A. D. SANTOS EDITORA, 2003. 254 p. ISBN - 978-85-7459-075-2 1. Bíblia. História dos eventos bíblicos
2. História de Israel CDD- 221.83
3®Edição: Março/2007: 2.000 exemplares Proibida a reprodução total ou pard al, por quaisquer meios a não ser em dtações breves, com indicação dafonte.
Edição e Distribuição:
SANTOS EDITORA
S u m ár i o
1. INTRODUÇÃO .............................................................1 2. A PRÉ-HISTÓRIA DE ISRAEL...............................3 2.1. O Mundo Bíblico Antes dos Patriarcas.............3 2.1.1. A Vida Social em Canaã..............................5 2.1.2. A Vida Social na Mesopotam ia .................6 2.1.3. A Vida Social no Egito...............................7 2.2. O Período Patriarcal ..............................................9 2.2.1. Os Patriarcas na Mesopotamia .................9 2.2.2. Os Patriarcas em Canaã..............................11 2.2.3. Os Patriarcas no Egito................................12 2.3. Genealogia dos Patriarcas .....................................14 2.4. Para Complementar................................................15 2.4.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período....................................................... 15 2.4.2. Questões Para Revisão................................15 3. A FORMAÇÃO DA NAÇÃO.....................................17 3.1. Os Descendentes de Jacó Saem do Egito.........17 3.2. Deus Estabelece um Pacto com os Descendentes de Jacó............................................ 21 3.3. Israel Deserto.....................................................22 3.3.1. no O Motivo que os Levou ao Deserto ....... 22 3.3.2. Os Acontecimentos no Deserto ...............23 3.4. Para Complementar................................................25 3.4.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período.......................................................25 3.4.2. Questões Para Revisão................................25
4. A CONQUISTA DE CAN AÃ .....................................27 4.1. A Situação Cananéia ..............................................27 4.1.1. Composição Social e Política em Canaã..........................................................................28 4.1.2. A Religião Cananéia .....................................30 4.1.2.1. O deus E l....................................................31 4.1.2.2. O deus Baal ...............................................31 4.1.2.3. As deusas Asera, Astarte e Anate..........32 4.2. A Invasão Israelita...................................................33 4.2.1. A Entrada na Terra Prometida .................34 4.2.2.Complementar................................................37 O Desenrolar da Conquista ......................35 4.3. Para 4.3.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período.......................................................37 4.3.2. Questões Para Revisão .......................................37 5. O PERÍODO DOS JUÍZES........................................ 39 5.1. O Sistema De Governo Teocêntrico .................39 5.2. Como Surgiram os Problemas ............................41 5.2.1. A Explicação Teológica..............................42 5.2.2. A Explicação Natural..................................43 5.3. A Atuação dos Libertadores.................................45 5.4. Para Complementar................................................54 5.4.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período.......................................................54 5.4.2. Questões Para Revisão................................54 6. OS PRIMÓRDIOS DA MONARQUIA ...................55 6.1. O Estabelecimento da Monarquia ......................56 6.1.1. O Primeiro Rei de Israel ............................56 6.1.2. A Decadência de Saul..................................57 6.2. O Reinado de D avi.................................................59 6.2.1. Como Davi Chegou ao Poder ..................60
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6.2.2. A Política Exp ansionista de Davi.............62 6.2.3. Os Problemas da Sucessão de Davi ........ 62 6.3. O Reinado de Salomão ..........................................63 6.3.1. Como Salomão Firmou-se no Trono .....64 6.3.2. As ReaÜ ações de Salomão .......................65 6.3.3. A Decadência Espiritual de Salomão ......67 6.4. Para Complementar................................................69 6.4.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período.......................................................69 6.4.2. Questões Para Revisão................................69 2
7. A DIVISÃO DO REINO .............................................71 7.1. Motivos que Levaram à Divisão .........................72 7.1.1. A Explicação Teológica..............................73 7.1.2. A Explicação Natural..................................75 7.2. Como Ficou Dividido o Reino ...........................78 7.2.1. A Parte Norte................................................79 7.2.2. A Parte Sul.....................................................80 7.2.3. Quadro Explicativo do Reino Dividido.. 81 7.3. Resultados da Divisão ...........................................82 7.3.1. As Conseqüências Religiosas ....................82 7.3.2. As Conseqüências Políticas .......................83 7.4. Para Complementar................................................84 7.4.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período.......................................................84 7.4.2. Questões Para Revisão................................84 8. O REINO DE ISRAEL.................................................85 8.1. A Situação Políti ca de Isra el ................................85 8.2. A Situação Econô mica e Social de Is rael...........87 8.3. A Situação Religiosa de Israel ..............................88 8.4. O Fim do Estado de Israel...................................90 8.5. Os Principais Líderes de Israel ............................92 .
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8.5.1. Os Profetas de Israel...................................92 8.5.2. Os Reis de Israel ..........................................95 8.6. Para Complementar................................................101 8.6.1. Informações Bíblicas SobreAlgumas o Período.......................................................101 8.6.2. Questões Para Revisão................................101 9. O REINO DE JUDÁ.....................................................103 9.1. A Situação Política de Judá...................................103 9.2. A Situação Econô mica e Social de Ju dá ...........105 9.3. A Situação Religiosa de Ju d á................................106 9.4. O Fim do Estado de Judá.....................................108 9.5. Os Principais Líderes de Ju d á..............................110 9.5.1. Os Profetas de Judá.....................................111 9.5.2. Os Reis de Judá............................................ 115 9.6. Para Complementar................................................123 9.6.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período.......................................................123 9.6.2. Questões Para Revisão................................124 10. O CATIVEIRO BABILÓNICO...............................125 10.1. Os Dominadores...................................................126 10.1.1. Nabopolassar ..............................................126 10.1.2. Nabucodonosor .........................................127 10.1.3. Evil-Merodaque .........................................128 10.1.4. Neriglissar....................................................129 10.1.5. Labash i-Mardu que.....................................129 10.1.6. Nabonido e Belsazar.................................129 10.2. A Diáspora............................................................. 130 10.2.1. O Significado do Termo Diáspora ....... 131 10.2.2. Como Aconteceu a Diáspora ..................131 10.2.3. A Importância da Diáspora .....................133 10.3. A Cidade de Babilônia .........................................134
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10.4. As Condições do Povo Cativo ..........................138 10.4.1. A Condição S ocial .....................................139 10.4.2. A Condição Religiosa................................140 10.4.3. A Condição Política..................................143 10.5. A Duração do Cativeiro...................................... 145 10.6. Para Complementar............................................. 148 10.6.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período.......................................................148 10.6.2. Questões Para Revisão ............................148 11. A COMUNIDADE PÓS-EXÍLICA ........................149 11.1. Os Novos Senhores .............................................150 11.1.1. Os Persas Chegam ao Poder ...................151 11.1.2. A Política Persa Para Com os Deportados ...............................................................152 11.1.3. Os Líderes do Império Persa ..................154 11.2. Os Grupos que Voltaram Parajudá ................156 11.2.1. O Grupo de Zorobabel ...........................157 11.2.2. O Grupo de Esdras...................................159 11.2.3. O Grupo de Neemias...............................160 11.3. As Condições Gerais da Comunidade Põs-Exflica ................................................................ 162 11.3.1. A Situação Política.....................................163 11.3.2. A Situação Religiosa..................................164 11.3.3. A Situação Econôm ica-Soc ial .................166 11.4. Para Complementar .............................................168 11.4.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período.......................................................168 11.4.2. Questões Para Revisão.............................169 12. O PERÍODO GREGO................................................171 12.1. O Surgimento de um Novo Império ...............172 12.2. O Auge do Período Grego.................................173
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12.3. A Divisão do Império Grego ............................176 12.3.1. Os Ptolomeus .............................................177 12.3.2. Os Selêucidas ..............................................178 12.4. Questões Para Revisão ........................................182 13. O PERÍODO DOS MACABEUS.............................183 13.1. A Revolta Contra os Selêucidas ........................183 13.1.1. A Situação Desesperadora dos Judeus Fiéis.......................................................183 13.1.2. A Deflagração da Revolta ........................185 13.2. As Conquistas de Judas Macabeu ..................... 186 13.3. O Período de Prosperidade Advindo da Independência........................................................189 13.4. A Decadência da Nação ......................................191 13.5. Para Complementar............................................. 194 13.5.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período.......................................................194 13.5.2. Questões Para Revisão.............................194 14. SOB O DOMÍNIO DE ROMA................................195 14.1. A Administração Romana...................................196 14.2. Os Imperadores.....................................................198 14.2.1. Augusto........................................................198 14.2.2. Tibério..........................................................199 14.2.3. Calígula.........................................................200 14.2.4. Cláudio.........................................................200 14.2.5. Néro..............................................................201 14.2.6. Galba - Otão - Vitélo................................201 14.2.7. Vespasiano...................................................202 14.2.8. T ito............................................................... 202 14.2.9. Domiciano...................................................202 14.2.10. Nerva..........................................................203 14.2.11. Trajano.......................................................203
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14.2.12. A driano......................................................203 14.3. A Atuação dos Herodes ......................................204 14.4. A Atuação dos Governadores ...........................206 14.5. As Religiões no Império Romano ....................207 14.6. A Guerra com os Judeus .....................................208 14.7. Para Complementar............................................. 211 14.7.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período.......................................................211 14.7.2. Questões Para Revisão ............................ 211 15. CONCLUSÃO ...............................................................213 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................214 ANEXO - RESENHAS DE LIVROS SOBRE HISTÓRIA DE ISRAEL....................................................225 Uma Visão Geral da História de Israel ......................225 História de Israe l para Estudant es de Teologia ......227 Israel e as Nações...........................................................229 Uma Visão Crítica da História de Israel ....................230 As Religiões de Israel.....................................................232 Uma Visão Conservadora da História de Israel ......235 Esboço Histórico de Israel ...........................................237 História Políti ca dos Ju deus .........................................239 Confusão de Gêneros....................................................242
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Panorama Histórico de Israel
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1. INTRODUÇÃO
Escrever a história de Israel é uma tarefa fora do co mum. Quem se lança a esta dura empreitada l ogo vai en fren tar o desafio de perguntas im portantes e difíceis, quan do não impossíveis de serem respondidas, que vão surgindo no de correr do trabalho. As dificuldades já aparecem no mom en to em que se procura definir o significado do próprio termo “Israel” e delimitar a época de seu surgimento e de seu desa parecimento. Parece simples, mas apontar com certa mar gem de exatidão o nascimento de Israel e deixar claro o que este termo exprime é algo muito complicado. Afinal, a pró pria palavra Israel, na Bíblia, é utilizada com, pelo menos, nove sentidos diferentes.1 A tarefa de apresentar um panorama histórico para estudantes da Bíblia, como é o caso neste trabalho, também não é simples. Não é fácil decidir, entre tanta riqueza de de talhes, o que deve constar e o que deve ficar de fora do rela to. Contudo, dentro do possível, aqui serão abordados, de forma geral e resumida, todos os pontos que sejam indispen sáveis para ajudar o leitor a ter uma compreensão mais clara dos acontecimentos narrados na Bíblia. Minúcias que dizem respeito a acontecimentos paralelos e nações vizinhas, ainda que importantes, serão evitados ao máximo, mas, havendo interesse, poderão ser encontrados na bibliografia apresen tada. Como a história de Israel, da mesma forma que a de outros povos, não surge em um vácuo, para que haja uma melhor co mpreensão dos seus inícios, a primeira parte deste
* GUSSO, A. R. Como entender a Bíblia?: orientações práticas pa ra melhor compreender as Escrituras Sagradas. Curitiba : A. D. Santos Editora, 1998. p. 66-70.
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panorama estará apresentando uma análise do que pode ser chamado de “Pré-História de Israel”, o período que está li gado a Israel mas que ainda não faz parte dele, pois este povo, ou nação, não existia naquela época. Nela será visto como estava se desenvolvendo a vida social em Canaã, Egito e Mesopotâmia, locais extremamente importantes na histó ria bíblica, antes e durante a existência dos chamado s, na atu alidade, “Patriarcas”, os antepassados de Israel. Em seguida, o relato estará apresentando como que a nação foi formada. Feito isto, seguirá em uma ordem crono lógica queJuizes, passaráospela conquistada de monarquia, Canaã, o chamado P do erí odo dos primórdios a divisão reino e o desenvolvimento individu al de cada uma das par tes, Reino do Norte, Israel, e Reino do Sul, Judá, desde os seus primeiros passos até o desaparecimento como estados independentes, conquistados, respectivamente, pela Assíria e Babilônia. Também será visto, seqüência, como foi a vida do povo cativo na Babilônia e, lna ogo após, como aconteceu o re torno para Judá e como se desenvolveu a comunidade pósexüica, debaixo do poderio persa, grego e romano, com o breve intervalo de independência na época dos Macabeus. No decorrer do texto algumas passagens bíblicas serão apresentadas. Sempre que isto ocorrer, estará sendo utilizada a Edição Revista e Atualizada no Brasil, traduzida em português por João Ferreira de Almeida, e publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil em 1969. Quando aparecer alguma citação bíblica na língua hebraica ela estará sendo feita da Bíblia Hebraica Stuttgartensia.
Panorama Histórico de Israel
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A PRÉ-HISTÓRIA DE ISRAEL
Israel, assim como as outras nações, não surgiu do nada, tem uma rica pré-história que deve ser analisada com atenção para que se possa entender melhor as suas caracte rísticas. Por isso, ainda que o objetivo deste trabalho seja apresentar uma vi são gera l da História de Israel propriamen te dita, neste capítulo inicial, serão dadas informaçõ es gerais a respeito de algumas nações ou regiões além de pessoas que, mesmo existindo antes de haver uma nação, ou mesmo um povo, com este nome, acabaram p or influen ciar de uma ou outra forma na existência posterior desta. Em seguida, então, será apresentado, em linhas ge rais, como era a vida social nas regiões do chamado Mundo Bíblico ainda antes dos Patriarcas; como viviam os Patriar cas; como a entrada do futuro país gui do Egito; comoaconteceu foi a perman ência neste lugar eIsrael comonoconse ram sair e formar uma nova nação. 2.1. Q Mundo Bíblico Antes dos Patriarcas
__________
Muitos ao lerem o Livro de Gênesis na Bíblia ficam com impressão de mas que isto os Patriarcas ainda noNão iní cio daa humanidade, não passasurgiram de um engano. foi algo intencional da parte do autor ludibriar seus leitores, contudo, isto acaba acontecendo pela man eira breve como o livro descreve (em apenas onze capítulos - Gn 1-11) a cria ção do universo, a queda do homem de seu estado srcinal por causa do pecado, a degeneração da raça e a destruição do
mundo dilúvio, antes de, seguida, a tratar deantigo forma pelo bem mais detalhada (ememtrinta e novepassar capítu
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los - Gn 12-50), um período de tempo comparativamente breve apresentando os ascendentes mais famosos de Israel. Quando se pensa em Israel, ou em seus antepassado s, os Patriarcas, não se deve pensar, então, no alvorecer da hu manidade, como tem sido o costume de alguns; é preciso le var em conta que o ser humano, com as características atuais, já existia muito tempo antes. Como afirma Bright, existe um período de tempo muito m aior separando o surgi mento dos Patriarcas no cenário mundial e início da civiliza ção no Oriente Próximo do que o qual o separa da época atual/Em outras paraaté ficaro cdelaro, o período que vai do surgimento da palavras, humanidade Abraão, que aparece pela primeira vez no final de Gn 11, é bem maior do que o período aproximado de 4000 anos que vai deste até os nos sos dias, que aos olhos do estudante moderno está tão dis tante. Os pontos que seguem, após os gráficos representan tes da relação Gênesis, mostrando ume pouco da vida tempo/narrativa social em Canaã,em Egito e Mesopotâm ia, pod rão deixar mais claro aquilo que foi dito acima, e lançar luzes à compreensão da História de Israel como um elemento n as cente em meio a um mundo altamente civilizado e não em uma fase primitiva da humanidade. GÊNESIS 1-11
GÊNESIS 12-50
Espaço de Tempo
Espaço de Tempo
Narrativa
Narrativa
Inicio
da ■■■ Humanidade
►Abraão ■
Espaç o de tempo desconhecido
► Atualidade
+ ou —4 000anos
^ BRIGHT, J. História de Israel. São Paulo : Edições Paulinas, 1985. p. 16.
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2.1.1. A Vida Social em Canaã As evidências arqueológicas têm demonstrado que por volta do ano 8000 a.C., ou seja, 6000 anos antes da época atribuída às peregrinações de Abraão e sua família pelos ter ritórios de Canaã, esta região já estava ocupada por com uni dades bem desenvolvidas. A “sociedade natufiana”, assim denominada porque seus indícios foram encontrados, pela primeira vez, nas cavernas próximas do Wadi en-Natuf, dão testemunho desta realidade/ Ela era formada por pessoas que estavam passando do sistema de vida em cavernas para os aldeamentos. Ainda que esta sociedade tenha existido por volta de 5000 anos antes da escrita, pelo menos de acordo com as descobertas divulgadas até o momento, acabou deixando para a posteridade um testemunho claro de sua forma social por meio dos objetos que utilizava.4 Eles continuavam, como seus antepassados, vivendo principalmente da caça, pesca e da pilhagem, mas a presença de foices e vasilhas de pedra e osso, além de outros indícios, demonstram que havi am aprendido a cultivar e, também, a domesticar certos ani mais.5 A cidade de Jericó tem seus inícios ligados à este dis tante VIII milênio. E evidente que, desde a sua fundação, se é que assim pode ser chamado o seu início, se passaram vári os séculos quedopudesse a ser classificada como cidade. Poraté volta VII e VIvir milênio isto é evidente. E lauma era protegida por uma fortificação de pedras e possuía casas construídas de tijolos de barro. Seus moradores, em alguns casos, pintavam suas casas, utilizavam esteiras de junco para cobrir os pisos, fabricavam pequenas estátuas de pessoas e animais, já haviam d omesticado cães, porcos, ovelhas e bois.
3 Ibid.„ p. 17. CAJ.J .AWAY, I, A. :1 5 BRIGHT, op. cit i p. 18,
//iíA>/A/. Rio de Janeiro ;JUERP , 1$8‘6, p- fW>.
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Infere-se, pelo tamanho da cidade e pela dificuldade de se encontrar terras aráveis nas proximidades, que seus habitan tes se utilizavam de algum a forma de irrigação para ajudar no plantio, e a presença d e instrumentos fabricados com m ate riais procedentes da Anatólia, do Sinai e do litoral, podem estar revelando que havia um razoável intercâmbio co merci al com regiões consideravelmente distantes para a época.6 Jericó não é um caso isolado em Canaã. Descobertas recentes têm demonstrado que por volta do VII milênio existiam outras inúmeras vilas e aldeias permanentes, espa lhadas toda a região.e Quando Abraão deixou em a suaCanaã, terra natal, apor Mesopotâmia, partiu para peregrinar obedecendo à ordem de Deus, esta região já contava com uma história de mais de cinco mil anos como civilizada7, o que demonstra que ela já estava bastante avançada. Com Abraão, então, pode-se dizer que estava começando a Préhistória de Israel, em um período social bem desenvolvido, mas as particularidades do início da História da nos Humanida de, por esta mesma época, já estavam perdidas tempos remotos. 2.1.2. A V ida Social na Mesopotâ mia ________________ Mesopotâmia é um nome grego que significa “Entre Rios”. A região tomou esta nomenclatura por estar l ocaliza da entre os rios Eufrates e Tigre. Nela podem ser atestados a presença de aldeamentos, ainda que rudimentares, desde o VII milênio. Era o princípio organizacional de futuras cida des estados que viriam a surgir nos milênios posteriores. Seus templos, suas construções, seus documentos, escritos, que surgiram nos últimos séculos do IV milênio8, demons trando o grau de civilização que haviam alcançado, têm im
6 BRIGHT, ap. ç it, p. 19-20. ^ Ibid.,p. 20. 8 Ibid, p. 22-27.
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pressionado estudantes e pesquisadores de todas as épocas, e nos apresentam um povo bem superior àquele que geral mente se tem em conta quando se pensa no início da Histó ria de Israel. Não há nenhum a dúvida que Abraão e seus familiares são srcinários de uma região rica, onde havia, por sua épo ca, cidades bem urbanizadas, construções espetaculares, um comércio bem desenvolvido e intensa atividade política, bé lica, religiosa e cultural. 2.1.3. A Vida Social no Egito_______________________ No Egito, os indícios mais antigos de uma sociedade que vivia em aldeamentos têm sido datados da última parte do V milênio, seguramente há mais de dois mil anos distan tes, no tempo, da época de Abr aão. Depois desta época vári as culturas têm sido identificadas de forma ininterrupta tanto Alto quanto no Baixo Egito. Comparadas com as que seno desenvolveram na Mesopotamia, pela mesma época, elas podem ser consideradas atrasadas mas, mesmo assim, era a base para uma sociedade altamente desenvolvida que viria logo.9 No IV milênio, o Egito, já havia estabelecido algum tipo de governo unindo as diversas aldeias. Eles empreendi am trabalhos de drenagem e irrigação, conheciam e utiliza vam o cobre, e mantinham algum tipo de intercâmbio internacional com Canaã e Mesopotâmia, o qual pode ser atestado pelos tipos de cerâmicas destas regiões encontradas em seus sítios arqueológicos.10 Este intercâmbio com a Mesopotâmia deve ter cessa do por volta do século XXIX, mas ex istem indícios claros de que o Egito continuou a manter relações com a Região de
9 BRIGHT, op. cif, p. 30-31. 10 Ibid., p .'31.
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Canaã e com a Fenícia nos séculos seguintes.11Além disto, está comprovado que por volta do ano 2650 a.C., os egípcios já tinham capacidade e condições de construírem obras tão espetacula a pirâmide degraus do dos rei Dj oser,12 isto a maisres de como 600 anos antes do de aparecimento antepas sados famosos de Israel. A foto da pirâmide de degraus do rei Djoser, a seguir, é uma boa amostra do que os egípcios daquela época eram capazes de fazer em matéria de construções. Olhando para ela e tentando desvendar os mistérios que envolvem uma construção épocadatão remota, não se pode duvidar quetão suacomplexa edificaçãoem é fruto engenhosidade e criati vidade de um povo bastante avançado na arte de construir.
Pirâmide de Degraus do Rei Djoser - Data estimada: 2650 a.C.
concluindo este ponto é importante destacar, uma vezApenas mais, que os Patriarcas não surgiram no meio de um vácuo histórico. Antes deles, a humanidade civilizada já pos suía uma longa trajetória que se perde no tempo. Hoje em dia é de conhecimento e aceitação geral que, por volta de 8000 a.C., ou não muito distante disto, os homens estavam realizando grandes feitos como, por exemplo, em Canaã, a construção de Jericó, uma fortaleza militar; na Mesopotâ-
11 Ibid., p. 32. 12 KITCHEN, K. A. jEgito. São Paulo : Edições Vida Nova, 1983. p. 465-466.
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mia, entre o V e IV milênios, construções de grandes tem plos, e, no Egito, próximo a 2700 a.C., pode-se atestar a construção de grandes pirâmides.1’ 2.2. O Período Patriarcal __________________________
Pode-se dizer que o Período Patriarcal, na narrativa bíblica, vai do surgimento de Abraão capítulo 11 do Li vro de Gênesis até o primeiro capítulo do Livro de Exodo, o qual apresent a uma lista dos filhos dejacó, antes de começar a narrar um novo período da história. Não se pode ser dog mático em questão de datas para um estágio tão distante no tempo como este, mas, uma data aproximada, mesmo ha vendo muitas diferenças nas opiniões apresentadas pelos es tudiosos da questão, pode ser estipulada. Gottwald propõe um período que vai no máximo do ano 2300 a.C. até o ano 1300 a.C.14, Thompson, por sua vez, procurando ser mais 110
preciso, sugere que ele seja colocado entre 1900 e 1600 a.C.15 Tomando como base estes dois estudiosos, talvez seja pru dente ficar dentro dos seguintes limites: 2300 - 1900 para o início do período e 1600 - 1300 para o término. A seguir será apresentada, em linhas gerais, como transcorreu a trajetória dos Patriarcas, a qual começou na Mesopotâmia, mais especificamente em Ur dos Caldeus, passou por Canaã e terminou no Egito, como a Bíblia a descreve. 2.2.1. Os Patriarcas na Mesopotâmia_________________ A história dos Patriarcas tem o seu início ligado à ci dade de Ur dos Caldeus. N ela vivia Terá e seus filhos, dentre os quais se destacaria, mais tarde, Abraão, como aquele que
^ CROATO, J. S. História da Salvação. Caxias do S u l: Edições Paulinas, 1968. p. 33-34. ^ GOTTWALD,N. K. Introdução SociokteráriaàBíbkaHebraica. São Paulo: Edições Paulinas, 1.988. p. 66-67. 15 'THOMPSON,J. A. Era Patriarcal São Paulo ; Edições Vida Nova, 1983. p. 1213.
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receberia algumas promessas de Deus e, por crer incon dicio nalmente nelas, se tornaria conhecido como o Pai da Fé. A narrativa bíblica não explica o por que, mas Terá resolveu deixar Ur dos e partirTerá paraea os terra de chega Canaã. Esta viagem nunca foi Caldeus concretizada. seus ram à Harã e lá permaneceram. A viagem só continuou de pois da morte de Terá, quando Abraão, nesta época ainda conhecido como Abrão, recebeu um comunicado divino para partir, ao qual atendeu prontamente levando consigo sua esposa Sarai, a qual, mais tarde, seria chamada de Sara, seu sobrinho Ló, bens eque várias pessoas pela que sua o serviam ou, como sugere Francisco, o seguiram causa, her dar uma terra prometida por Deus16 (Gn 11:26-12:5). A Mesopotâmia desta época estava enfrentando uma grande confusão política17, o que pode ter motivado Terá, por questão de prudência, a partir de sua cidade. Inclusive, existem indícios de que ela foi destruída, pelos elamitas, por volta de 1950 a.C. Sua permanência em Harã pode ser explicada pela se melhança desta com Ur. Elas eram ambas cidades bem desen volvidas e centros de adoração do deus lua18, o qual Terá deve ter adorado, já que a Bíblia o apresenta como idólatra (|s 24:2). Ainda que não se possa determinar, com exatidão, o motivo que levou Terá e seus familiares a deixarem Ur e parti rem para Canaã, em um primeiro momento, e mesmo que as viagens realizadas pelos nômades e seminômades daquela épo ca estejam relacionadas, principalmente,com questões políticas e econômicas, não se deve esquecer que o caso deAbraão é es pecial. Ele saiu de sua terra atendendo à uma necessidade espi ritual. Está claro que o seu objetivo era religioso19. Ele deixou seus parentes e seu lar atendendo a uma chamada divina. 10 FRANCISCO, C. T. Genesis, Rio de Janeiro : JUERP, 1988. p. 214. 17 BRIGHT, op. cit., p. 57.
^ KIDNER, D. Genesis: introduçâo e comentärio. Säo Paulo : Ediçoes Vida Nova, 1991. p. 104. * DANA, H. E. O mundo do Novo Testamente: um estudo do ambiente histôrico e cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: JUERP, 1980. p. 138-139.
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2.2.2. Os Patriarcas em Canaã Abraão havia recebido a promessa divina de que pos suirianunca a terraa de Canaãisto (Gnficou 13:14-18) de fato, ele mes mo possuiu, para mas, os seus descendentes muitos séculos mais tarde. Ele acabou por ser proprietário, apenas, de um pedaço de terra em Hebrom, o qual comprou por preço justo para sepultar sua esposa Sara (Gn 23). Lá também foram sepultadas Rebeca e Lia, além dele mesmo (Gn 25: 8,9), seu filho Isaque (Gn 49:31), e seu neto Jacó (Gn 50:12,13). Em Canaã Abraão teve vários filhos de suas esposas e concubinas, os quais foram, depois de receberem presentes do pai, mandados embora, antes de sua morte, para que Isa que o filho da promessa ficasse livre da presença deles (Gn 25:1-6). Aind a que aos olhos do cristão moderno esta atitude possa parecer incoerente é bom pensar que ist o pode ter evi tado problema s quanto à chefia do grupo depois da morte de Abraão. Assim, pode-se dizer que sua atitude radical ao mandar os filhos embora foi, no máximo, um mal necessá rio. Algo desagradável mas que deveria ser feito. Isaque não foi uma figura de grande destaque na tradi ção bíblica 1, contudo, aparece como o herdeiro das promes sas divinas feitas a seu pai Abraão. Conseguiu aumentar a sua riqueza pessoal e chegou a agir como uma espécie de chefe de estado ao fazer aliança com os filisteus (Gn 26). Seus filhos foram Esaú e Jacó, sendo este chamado mais tarde de Israel. Foi ele quem se destacou como o receptor das promessas di vinas que iriam ser cumpridas em sua descendência, as cha madas tribos de Israel, oriundas de seus doze filhos.
^ DATTLER, F. Gênesis. São Paulo : Edições Paulinas, 1984. p. 146.
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As promessas divinas que não se cumpriram literal mente nos Patri arcas pod em deixar o leitor moderno co nfu so. Para que se possa entender melhor a aparente resignação por parteviam dos aPatriarcas isto, éo bom eles não vida após quanto a morteacomo cristãolembrar a vê na que atu alidade. Eles não esperavam mu ita coisa para si mesmos de pois que morressem a não ser a continuidade da vida em seus descendentes. Sendo assim, na mentalidade deles, quando o descendente recebesse o cumprimento da pro messa também o seu ascendente a receberia. de encerrarde estaIsrael, parte,ostambém, é preciso desta car queAntes os antepassados Patriarcas, não eram os únicos a peregrinarem em Canaã por aquela época. Certamen te, muitos outros povos estavam nas mesmas condições que os descendentes de Abraão. Deve-se ainda dizer que eles nun ca viveram como beduínos livres no deserto; se apresentam como seminômades, criadores de gado miúdo, e podem ter se dedicado ao comércio, o que os pré-dispunha a manter a paz e relações amistosas com os que estavam próximos.21 2.2.3. Os Patriarcas no Egito _______________________ Jacó depois de roubar a bênção que Isaque iria dar para Esaú precisou fugir para não ser morto pelo seu irmão. Passou vários anos na região de Harã de onde voltou rico, com esposas e filhos (Gn 28-33). Na volta, depois de fazer as pazes com seu irmão, procurou se estabelecer em Siquém onde comprou uma propriedade, provavelmente com a in tenção de fixar residência naquela região.22 Não conseguiu realizar o seu desejo devido à atuação inconveniente de seus filhos Simeão e Levi que, para vingar a honra de Diná, irmã deles que havia mantido relações sexuais com um homem
21 FRANCISCO, C. T. Giittm. Kio de Janeiro :JUBRP, 1988. p. 214. a2 BRIGHT, op. ctaf p. 57.
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que tinha o mesmo nome da cidade, mataram os homens do local e saquearam tudo o que puderam, levando, inclusive, mulheres e crianças cativos, se fazendo, assim, odiosos aos olhos dos povos vizinhos (Gn 34). Desta forma, Jacó voltou a peregrinar em Canaã até que foi, com toda a sua família para o Egito, fugindo da fome que arrasava a terra. Foi para lá a convite de seu filho José o qual, por intrigas d entro da fa mília, havia sido vendido pelos seus irmãos, mas, que no momento, se encontrava em posição privileg iada, d esenvol vendo a função de Administrador deste país. O Faraó da época, dos historiadores modernos, agradecido a Josédesconhecido pelos bons serviços que este vi nha prestando à nação, acolheu muito bem a Jacó e sua famí lia. Recebeu pessoalmente a Jacó e uma comitiva formada por parte de seus filhos em uma entrevista e deu-lhes a região de Gósen para que habitassem (Gn 47). José, antes deste encontro de sua família com Faraó, já os haviaqueorientado comoo deveriam duranteque a conversa teriam com soberano,proceder demonstrando eram pastores a muito tempo, para que se estabelecessem na terra de Gósen. Ela era uma região fértil, próxima do rio Nilo, e ficava em uma das fronteiras do Egito em direção à Canaã, local apropriado para uma saída rápida do país se fos * • 23 se necessário. Na opinião de muitos, os Patriarcas entraram no Egi to na época em que este era dominado pelos hicsos. Isto ex plicaria, em parte, a benevolência demonstrada para com Jacó e seus filhos, pois existe a possibilidade destes conquis tadores, semelhante aos antepassados do povo de Israel, se1 • ' • 24 rem de srcem semítica. Como pôde ser visto até aqui, a trajetória dos Patriar cas teve o seu início na Mesopotâmia, passou por Canaã e
.FRANCISCO» ep. eit , p; 349. 34 BRIGHT, op. rit , p. 70-73.
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terminou no Egito, de onde saíram os descendentes de Jacó para formar a nação de Israel. A seguir, será apresentado um gráfico demonstrando de forma lógica a genealogia formações presentes no livrodos de Patriarcas, Gênesis. baseado nas in
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2.4, Para Complementar __________________________
2.4.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período a) Todo o Livro de Gênesis; b) Livro de Êxodo 1:1-6; c) Livro de 1 Crônicas 1:1 -2:2; d) Livro de Jó2’; e) Salmo 105:1- 23. 2.4.2.Q uestõ es Para Revisã o________________________ a) Por que é difícil de apresentar uma história de Israel? b) Qual o motivo de, muitas vezes, termos a impressão de que os Patriarcas surgiram já no início da humanidade ? c) Quais regiões formavam o mundo bíblico na épo ca dos Patriarcas? d) Qual foi a promessa que Abraão recebeu, em relação à Canaã, e quem a herdou? e) Como explicar o não cumprimento imediato da pro messa envolvendo Canaã e a aceitação disto pelos Pa triarcas? f) Como que os Patriarcas foram parar no Egito? g) Descreva a seqüência da trajetória dos Patriarcas.
A data de escrita do Livro de Jó é assunto de extrema dificuldade e grandes discórdias, mas A. Bentzen, em seu livro Introdução ao Antigo Testamento, no volume 2, na página 201, ao discorrer sobre isto, não teme afirmar: “é óbvio que o poeta descreveu o Seu herói como pertencendo à era patriarcal”.
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3.A FORMAÇÃO DA NAÇÃO___________________
No capítulo anterior foi visto que a trajetória pa triar cal teve seu final com a entrada de Jacó e sua família no E gi to. Ainda que isto não possa ser provado por evidências arqueológicas concretas, o testemunho na tradição de Israel é tão eloqüente que seria incoerência descartar esta possibili dade, como alguns historiadores o têmde feito, concluin do que Abraão, Isaque e Jacó não passaram figuras imaginárias representativas de determinados clãs . Toda a história poste rior de Israel vai contra esta idéia, pois entre as tribos havia uma consciência clara de sua históri a, a qual estava ligada aos patriarcas e à escravidão no Egito de onde Deus os tirou. Aqui será visto de que forma os descendentes de Jacó saíram do firmaram um pacto o Deus os li bertou, se Egito, tornando uma nação, e pascom saram longosqueanos pe regrinando pelo deserto, antes de conquistarem a terra que lhes havia sido prometida. 3.1. Os Descendentes de Jacó Saem do Egito ________
Muitos anos antes se passaram que Jacó e sua e,famí lia entrou no Egito que de depois lá saíssem. No início até mesmo, por séculos, eles se desenvolveram e viveram bem com aqueles que os haviam acolhido, mas, com o passar do tempo, não só os patriarcas morreram, também, a situação política sofreu alterações. O primeiro capítulo do Livro de Êxodo informa que assumiu o poder um novo rei que não conheceu a José. Isto é, não sabia, ou não reconhecia, o que
este antepassado dos filhos de Israel havia feito pelo bem do Egito. Na realidade, por esta ocasião, uma nova dinastia
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pode ter assumido o pod er sobre o Egito. Uma dina stia real mente egípcia, a qual teria expulso os dominantes anteriores que, possivelmente, eram de srcem estrangeira.26 Não se sabe ao certo o que aconteceu na área política, porém, pela tradição bíblica é reconhecido que os descen dentes de Israel, de hospedes, foram transformados em es cravos, o que acabou por levá-los a saírem da terra que os acolhera por tantos séculos e deve ter influído sobremaneira na formação da nova nação que viria a surgir daquele grupo de pessoas. Há uma boa possibilidade de que Ramsés II tenha sido o faraó da opressão. Ele foi um grande construtor e lan çou mão do trabalho forçado de inúmeros escravos27, entre os quais podem ter estado os antepassados de Israel. Tam bém é importante notar que no Egito há escassez de pedras e de mármores, o que reflete muito bem a situação dos des cendentes de Jacó como a Bíblia os apresenta, fazendo tijo los para suprir os projetos de construção do governo.28 Depois de muito sofrime nto, retratado em poucas li nhas no relato bíblico, surge o libertador. E le era Moisés: ho mem culto, descend ente de Levi, criado pela filha do faraó. Não se apresentou como libertador por vontad e própria, ti nha certeza de que era um enviado de Deus para libertar o seu povo e cumpriu a sua missão com a ajuda de seu irmão Arão. Isto aconteceu depois de uma impressionante de monstração de poder por part e de Deus a fara ó e seus súdi tos em um período indeterminado, mas que não se deve imaginar como sendo muito breve, pela natureza das pragas que afligiram o Egito. A observação da relação das pragas que sobrevieram sobre o Egito ajudam a perceber que o pe-
26 COLE, R. A. Exw lo: introdu ção e comentário . São Paulo : Ediçõe s Vida Nova, s/d. p. 52.. 27 JOH NS ON , P. História dos Judeu s. Rio de Jane iro : Imago Editora, 1989. p. 36. RAVASI, G. Èxo do. São Paulo : Edições Paulinas, 1985. p. 50.
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ríodo foi longo. Veja o que aconteceu: 1) as águas foram transformadas em sangue; 2) rãs se reproduziram em abun dância; 3) os homens e o gado foram infestados por piolhos; 4) enxames de moscas invadiram o Egito; 5) os animais fo ram atingidos por uma peste; 6) os homens e animais foram atingidos por úlceras e tumores; 7) uma grande chuva de pe dras atingiu as plantações; 8) gafanhotos invadiram o Egito; 9) o Egito foi envolto em trevas; e 10) foram mortos todos os primogênitos dos egípcios e de seus animais. Para que tudo isto tenh a acontecido deve ter se passado um tempo re lativamente longo. Só depois da décima praga é que faraó permit iu que o povo liderad o por Moisés part isse, contudo, ain da não era o fim. Ele haveria de tentar evitar uma vez mais que seus esc ra vos fossem libertos. Perseguiu-os e acabou por ser derrota do, definitivamente, quando procurou cruzar o Mar dos Juncos29, da mesma forma que os fugitivos o haviam feito, depois este, ao povoque(Ex 14).milagrosamente, foi aberto dando passagem Como se poderia esperar, toda está história, tão im pressionante, da saída dos descendentes de Jacó do Egito, não possui nenh uma linha sequer esc rita nas narrativas egíp cias. Seria demais para eles narrarem em suas memórias, que costumeiram ente só apresentavam vitórias, tamanh a derrota A
para um ntrar grupoa narrativa de escravos. Como bem salienta Bright, espe rar enco deste s acontecimentos nos anais do Egito seria o eqüivalente a encontrar os rel atos a respeito da crucificação de Cristo nas narrativas do Imperad or Romano. Para ele, o acontecido não possuía nenhuma importância. Mas, seja como for, o testemunho bíblico é tão forte que não deixa a menor dúvida quanto à esta liberta ção.30 Mais tarde,
por várias vez es, os profetas de Israel e também os salmistas, COLE, op. cit., p.p. 42-44 c 113. BRIGHT, |. A H istória
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evocaram a saída do Egito como o maior d os milagres acon tecidos em sua história. Tanto que este fato foi relembrado periodicamente por meio da festa da Pá scoa.31 Também pode ser aceito como uma evidência extrabíblica da estada de Israel no Egito a utilização de nome s egípcios nos pri meiros tempos da nação. Isto ocorre espec i almente entre membros da tribo de Levi. Alguns deles são: Moisés, Finéias, Merari , Ofini e, talvez, o próprio Aarão, ir mão de Moisés.32 Não haveriam muitas razões para que se utilizassem nomes egípcios em Israel se eles não estivessem vivendo no Egito. Também não é fácil apresentar uma data exata para estes acontecimentos envolvendo Israel no Egito. A Bíblia não se preocupa em fornecê-la. Contudo, Fohrer, baseado no fato de que o Egito estava sendo apertado por inimigos que vinham de várias direções nas proximidades dos anos 1234 - 1230, sugere esta época como sendo propícia para a fuga.33 Shultz, sendo mais maleável, afirma que poucos eru ditos modernos se arriscariam a apontar uma data fora do período de 1450 - 1200 a.C.34 Bright, por sua vez, defende que todas as evidências têm apontado para o século treze, o que coloca Setos I, o restaurador de Avaris, como sendo o possível faraó da opressão e Ramsés II o da época do êxo do.35 De fato, Israel aparece, pela primeira vez como povo, em inscriçãoconta datada como sendoA de 1220pode a.C., onde o faraóuma Mernepta s uas vitórias. vitória não ter acontecido, pois os faraós apresentavam até derrotas como triunfos, mas a citação prova que Israel já estava fora do Egi to por esta época.36 SHULTZ, S. ]. A H ist óri a de hr a el no A ntigo Tesl tmeut o. Sã o
Paulo : Edições Vida N ova , 1988. p. 43.
32 p. 154. í!íí ReUgiUo íle lsrvei. São Pau lo : Ed ições Pau linas, 1982. p. 79. 33 BRIGHT, FOHRER,op. G. cit,Hixíórid 34 SH UL TZ , op. c it , p. 46. 35 BRIGHT, op. cit., p. 158. M |OI INSON, op. cit., p. 36.
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3.2. Deus Estabelece um Pacto com os Descendentes de Jacó
de concordância geral a maneira como tornou Não uma énação. Johnson, por exemplo, opina queIsrael o nasse cimento da nação aconteceu no exato momento em que Jacó teve seu nome mudado, por Deus, para Israel,37 conforme está narrado em Gênesis 32:22-32. Este acontecimento, contudo, ainda que seja de extrema importân cia para a futu ra nação, pois aí surgiu o nome Israel, não deve ser tomado como o início. Eles, queounumerosos, pora se estatornar ocasião, não passava m de umaainda família clã q ue viria um povo em especial. Deus, quando se revelou a Moisés, chamand o-o para tirar os descendentes de Jacó do Egito, e levá-los à terra que havia sido prometida a tanto te mpo atrás ao patriarca Abra ão, demonstrando assim que ela c ontinuava válida para a sua posteridade, já se referiu a eles como um povo. Ele disse: “certamente vi a aflição do meu povo, que está no Egito” (Ex 3:7). Mas, isto não significa que Israel já era uma nação organizada. Ao que parece, isto aconteceu no momento em que Deus, utilizando Moisés como intermediário, estabele ceu um pacto com eles, três meses depois que saíram do Eg i to (Êx 19). A partir daquele momento, depois de confirmado o pacto, eles passariam a ser um reino de sacerdotes, uma na ção santa, ou separada para Deus. Deixavam de ser um aglo merado de pessoas ou de clãs, sem muitas ligações, como eram, e passa vam a ser um estado, ainda que não nos moldes modernos, organizado em torno de seu rei exclusivo: Iavé. Não passaram a ter nenhum governo humano cen tral, contudo, por uns duzentos anos, enfrentando as mais
severas condições adversas, Israel conseguiu man ter intacta 37 JO H N SO N , op. cit., p. 3 1.
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a sua identidade como um povo. Isto não se explica de outra maneira a não ser pelo sentimento que ti nham de estar liga dos por um pacto solene, o qual fazi a deles um povo gover nado por um mesmo Deus.38 3.3. Israel no Deserto ____________________________
Era de se esperar agora, depois de Israel ter se toma do uma nação, que logo se concreti zaria a promessa de h er dar a terra de Canaã. Mas não foi isto o que aconteceu. Parece que a nação, aindadojovem, estava preparada para esta conquista. Próximo montenão Sinai eles completaram o primeiro ano de libertação e, um mês depois, levantaram acampamen to e partiram para a ocupação da terra prometi da. Porém, poucos dias mais tarde, tiveram que adiar a inva são que só foi reiniciada trinta e oito anos depois (Nm 33:38).39 3.3.1. O Motivo que os Levou ao Deserto_____________
Estava tudo pronto para a invasão de Canaã. O taber náculo, que pode ser considerado uma espécie de santuário portátil, o qual serviria como um lugar d e revelação, onde se buscava a orientação divina para as questões difíceis40, estava pronto, garantindo assim a presença e ajuda de Deus. O povo já havia sido contado, dando aos líderes uma boa no ção da força que possuíam, e as tribos estavam dispostas em posições estratégica s para a marcha, mas o relatório apresen tado por parte dos espiõe s que foram fazer um levan tamen to no local a ser invadido foi desanimador.
38 BRIGHT, op. cit., p. 192. S! UJl.rZ, op. cit., p. 73. 40 1 OHRLÍR, op. c it., p. 95 .
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Eles reconheceram que a terra, assim como constava da promessa, realmente era b oa. Contudo, julgaram-se inca pazes de enfrentar povos tão poderosos como aqueles que já habitavam em Canaã. Por i sso desanimaram o povo. Eles fo ram tão convincentes ao descreverem Canaã como um a ter ra impossível de ser conquistada, que o povo em geral pensou em retornar para o Egito e quase apedrejaram a Jo sué e Calebe, dois dos espiões que discordav am dos demais e estavam prontos para a invasão (Nm 13-14). Esta rebeldia resultou em um cast igo imediato. A na ção foi condenada a permanecer no deserto até que todos aqueles que tinham vinte anos para cima estivessem mort os e, para que isto fosse confirmado imediatamente, os espias infiéis morreram de praga, sobrando apenas os dois que fo ram fiéis.41 3.3.2. Os Acontecimentos no Deserto _________________
Quando se fala em deserto na Bíblia, não é necessário imaginar um a região arenosa impossível de se viver por mui to tempo. Talve z uma expressão melhor, em português, fos se “lugar desabitado”, pois foi, principalmente, por lugares assim que o povo de Israel vagou antes de partir, pela s egun da vez, para Canaã. Certamente, muitasemcoisas importantes aconteceramo neste período de tempo que Israel ficou aguardando momento de invadir Canaã. Contudo, as informações sobre o ocorrido são escassas. Elas estão limitadas ao Livro de Núme ros, o qual no srcinal é chamado de bembbar (""Q"T0Ü3) que significa “no deserto”, nome este que o descreve melhor que o tradicionalmen te utilizado nas versões em português.
^ YVENH AN, G. J. N úm eros: introdução e comentário. São Paulo: Ed ições Vid a No va, 1991 . p, 129.
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Este livro mostra, entre outras coisas, algumas das di ficuldades enfrentadas no deserto, como a rebelião de Coré, Data e Abirão (ver capítulo 16 de Números), a morte de Miriã e Arão (capítulo 20), vitórias em batalhas (capítulo 21) e uma lista pormenorizada das localidades em que Israel se acampou (capítulo 33), porém não passa de uma pálida amostra daquilo que deve ter ocorrido em todos aqueles anos. Na verdade não há como descrever com segurança o que aconteceu no deserto. Os fatos devem ter ocorrido de forma muito mais complexa do que o Livro de Números apresenta, além do que, poucos dos lugares mencionados na Bíblia podem ser identificados com segurança nos dias atuais. Contudo, pode-se afirmar que este foi um tempo muito im portante para Israel. Não há dúvida de que foi neste período que ele se firmou como povo e desenvolveu a sua religião.42 Ainda que em dificuldades no deserto, foi ali que Isra el passou a agir como nação. Era agora um povo organizado, que agia em unido, conjunto e estava ligadopelo por mesmo um líder:Deus Moisés, mas, estava principalmente, que adoravam. Só faltava mesmo a terra para se estabelecerem. Como conseguiram conquistá-la será visto no capítulo se guinte.
42 IJR IG irr, op. cit.,p . 158-15 9.
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3.4. Para Complementar _________________________ 3.4.1 .Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período
a) O Livro de Êxodo; b) O Livro de Levítico; c) O Livro de Números; d) O Livro de Deuteronômio; e) O Salmo 105:23-43; f) O Salmo 106:1-33; g) O Salmo 136. 3.4.2. Questões Para Revisão ________________________
a) Explique a falta de evidências arqueológicas a respeito de Israel no Egito, no períod o que vai de José até Moi sés. b) Como se supera a falta de evidências arqueológicas so bre Israel no Egito, neste período? c) Quando “nasceu” a nação de Israel? d) Como foi organizado o primeiro governo de Israel? e) Por que foi adiada a entrada de Israel em Canaã? f) Por quanto tempo foi adiada a entrada de Israel em Ca naã? g) Como era o deserto no qual Israel habitou por tantos anos? h) Cite dois fatos importantes que aconteceram enquanto
Israel estava no deserto.
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4.A CONQUISTA DE CANA Ã Depois de tantos anos no deserto, finalmente, se aproxima o momento tão esperado de entrar na terra pro metida. O grande líder Moisés, avisado da proximidade de sua morte, transfere a liderança para Josué, um dos que havi am visitado Canaã, como espiões, a quase quarenta anos atrás, e dá suas últimas instruções ao povo, antes da invasão, conforme se encontram no Livro de Deuteronômio. A hora era chegada. A promessa estava para se cumprir. Porém, a terra que os esperava, manando leite e mel, conforme figura de linguagem utilizada na Bíblia para descrever a sua fertili dade extrema, não estava despovoada. Lá habitavam vários povos que não estavam dispostos a ceder os seus territórios aos invasores. Os israelitas teriam que lutar muito ainda por aquilo que almejavam. Neste capítulo , com a intenção de se deixar mais claro como foi que ocorreu a conquista de Canaã por parte de Is rael, serão apresentados dois pontos fundamentais. O pri meiro estará demonstrando como estava a situação política, social e religiosa dos povos que lá habitavam, e o segundo tratará da invasão propriam ente dita. Estarão sendo respon didas as seguintes questões: como foi iniciada a invasão, como se desenvolveu e até onde conseguiu chegar. 4.1. A Situação Cananéia _________________________
Antes de prosseguir utilizando o nome Canaã, parece bom esclarecer ao que se refere este termo, pois é normal
nos de hoje aludiro ànome esta região, que A aqui está sendo tra tada,dias empregando-se Palestina. intenção do uso
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de Canaã, neste trabalho, no lugar do termo Palestina, mais popular na atualidade, é evitar um anacronismo. O Antigo Testamento sempre se referiu à esta região como sendo Ca naã está corretomoderno também enesta questão. O nome Palesa tina eé ele relativamente deriva da palavra “Filistia”, qual poderia ser traduzida como país dos filisteus (Felisttm □ 'n t ^ S ) .43 Somente mais tarde na história de Israel é que este povo vai se destacar, e muit o mais tarde a inda é que a re gião vai tom ar este nome. Ainda não está totalmente claro quando e por que a região u a ser nome históricos de Palestina, re ferênciapasso direta aoschamada filisteus, pelo inimigos deuma Israel, mas é certo que em 135 d.C. os romanos assim a chamar vam.44 Esta nomenclatura para a região pode não passar de uma afronta por parte dos romanos contra os descendentes de Israel que, mesmo frágeis, comparativamente, tantas difi culdades causaram para o grande império. Desta para forma, o nome região Canaã, atualmente neste trabalho, está por sen do utilizado a mesma tratada muitos escritores como Palestina, a faixa de terra que vai das proximidades do deserto do Egito até às fronteiras da Síria. 4.1.1. Composição Social e Política em Canaã _________
Canaã, ainda que habitada por vários povos, formava uma unidade cultural. Suas cidades eram bem construídas, fortificadas e, em alguns casos, bem planejadas, possuindo sistema de esgoto e de abastecimento de água retirada de fontes cavadas em rochas, como em Jerusa lém, para enfren tar os períodos de dificuldades durante os cercos dos inimi gos. Os líderes das cidades, contrastando em muito com a grande massa de liderados, moravam em cas as de boa quali
^ BEEK, M . A . Histór ia
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dade e dominavam o comércio que se estendia muito além de suas fronteiras, chegando ao Egito, Mesopotâmia e luga res mais distantes.45 Ainda que unidos por uma cultura comum, o povo de Canaã, pela ocasião da invasão israelita, não estava organi zado em um forte sistema político, pelo contrário, eles se or ganizavam em cidades-estado independentes, ou semi-independentes, em sua maioria vassalos do Egito. Se uniamapenas quando enfrentavam algum perigo externo para faze rem frente ao inimigo comum, como foi, em parte, o caso de Israel.46 Esta fraca unidade de Canaã, que nunca conseguiu se tornar um império coeso, pode ser explicada pelos fatores geográficos e pelas pressões das grandes nações vizinha s que se utilizavam de seu território como se fosse um estado tam pão.47 As cidades, em sua maioria, eram pequenas. O gover no era exercido p or um rei leal a faraó. Este rei, juntamente com uma classe de nobres hereditár ios, dominava a maioria da população formada por camponeses, pode-se dizer, meio-livres. Não havia uma classe média ex pressiva e os po bres e escravos eram em grande número. A situaçã o para es tes era muito difícil. Eles estavam s empre à disposição pa ra a guerra e, sobrecarregados de impostos, trabalhavam apenas para sobreviver. A situação se agravava, ainda mais, quando o Egitoentre procurava ignorardas as intermináveis discórdias que haviam as lideranças cidades, deixando-as se abate rem mutuamente.48 Pode-se imaginar que o descontenta mento por parte dos menos favorecidos era geral, o que os enfraquecia po r ocasião da necessidade de defesa. Um outro fator complicador era a presença de gran des grupos de salteadores formados por elementos sem tra-
4^ BRIGHT, J. História de Israel . São Paulo: Ed ições Pau linas, 1985. p. 150. ^ SWUL TZ, S . ]. A H istória de Is ra el //o A ntigo 'Testamento. S ã o Pau lo: Edições Vida N ova , 1988. p. 89. 47 SHULTZ, op. cit, p. 89. 48 BRIGHT, ]. História de Israel São Paulo: Edições Paulinas, 19 85. p. 17 6-177 .
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dição ou lugar fixo na sociedade estabelecida. Verdadeiros bandos de “piratas”, que recebiam mercenários desconten tes, escravos fugitivos e marginalizados em geral, como seus membros. chamadosorganizada. ‘Apiru, causavam constantes pEstes, ara a sociedade Nas cartasproblemas de Amarna são encontrados os apelos, desesperados, que os gover nantes locais faziam ao Egito pedindo ajuda para combatê-los.49 Israel, quando entrou em Canaã, pode ter sido confundido pelos moradores locais como se fosse mais um destes grupos e, realmente, existe a possibilidade de que eles tenham sido os ‘Apiru mencionados nas cartas de Amarna50. Por ocasião da invasão israelita o Egito havia perdido a sua influência sobre as cidades-estado de Canaã, ficando estas sem nenhum tipo de poder central. Muitos dos reis destas cidades, aproveitando a ocasião, procuraram ampliar os seus domínios combatendo e conquistando os seus vizi nhos. Fator este que gerou uma desunião maior ainda da qual já havia e pode ter ajud ado em muito a infiltr ação de Is rael na região.51 4.1.2. A Religião Cananéia__________________________
Quando se começa a estudar a religião praticada em Canaã se percebe com mais clareza os motivos pelos quais Israel deveria destruir todos os povos que lá habitavam. Muitos eram os deuses e deusas dos cananeus e possuíam em seus cultos, como elemento de destaque, a atividade se xual, o que é próprio de uma comunidade agrícola. Como dependiam da boa produção, buscavam nos deuses, por meio do culto da fertilidade, a garantia de boas colheitas. Como era de se esperar, a atividade cultual envolvendo a
49 Ibid. p. 177. AIICIII -R, )r., G. I.. M erece Confiança o A ntigo T estam ento? São Paul o: Rdições Vida Nova, 1986. ^ MH'r/GI\R, M. História de Israel. Sào Leopoldo: lidito ra Sinodal, 19 72. p. 17.
p. 192.
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“prostituição sagrada” se con fundia, facilmente, com a pro s tituição secular.52 Um ambiente religioso tal como est e era, sem dúvida, um fator de risco muito elevado para a moral do povo de Is rael. Eles não poderiam conviver com tamanhas aberrações e, ao mesmo tempo, serem fiéis ao Deus moral e santo que os havia resgatado da terra do Egito. Uma descrição das ca racterísticas principais de alguns dos deuses adorados em Canaã, como segue, poderá ajudar o leitor a ter uma visão melhor desta realidade religiosa e da necessidade que Israel tinha de permanecer separado dos demais povos. deus El_________________________________
Ainda que a palavra El possa se referir tanto ao Deus verdadeiro quanto para ídolos, na forma de título, ele surge nos tabletes de Ras Shanra como um nome próprio emprega do para um dos deuses adorados em Canaã.53 Este é o nome do deus-pai que, mesmo inativo e desempenhando papel se cundário no culto, nominativamente ocupava a primeira p osi ção no panteão.54 Ele era esposo da deusa Asera, com a qual, se cria, gerou mais setenta deuses e deusas. Também era con siderado o criador, conhecido como pai-touro e representado à semelhança de um touro entre um rebanho de vacas.55 deus Baal_______________________________
A palavra Baal significa senhor, possuidor ou marido. Ela era empregada como título de diversas divindades locais espalhadas por Canaã. Em cada localidade havia um Baal, um “senhor”, por isso aparece muitas vezes, na Bíblia, em ^ FOI1RUR, G. í
liilóriii
th
Religião
ile Israel. São Paulo: lú iiçõ es Paul mas, 1982. P, 48-65-
^ BRU CIl, K F . De/i.i. S So Paulo: K dições Vid a No va, 1983. p. 409. BRIGJÍT, «p. cit., p. 151. 55 SC HU LT X, op- ci t., p. 90.
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sua forma plural, baalins, (no srcinal: be‘alim —ÍT b iH ) além de aparec er precedendo um nome próprio como: Baal-Peor, Baal-Zefon e outros, descrevendo uma certa divindade relacionada um local.oCom o passar do utilizado tempo, popara rém,oa palavra foi com se tomando nome próprio grande deus da fertilidade dos cananeus.56 Este Baal principal, que acabou assumindo o título geral como seu nome próprio, era o deus Hadade, consid e rado o filho mais velho de El e Asera. Era ele quem, na mito logia canaan ita, governava os deuses e controlava os céus e a terra, sendo o responsável pelas chuvas, tempestades e, con sequentemente, pela fertilidade e vegetação.57 A morte e a ressurreição de Baal eram aspectos im portantes da religião de Canaã. Isto correspondia à morte e ressurreição da natureza. Pensava-se que as forças da nature za seriam reativadas por meio dos rituais praticados pelos adoradores. Rit uais estes que envolviam relações homosse xuais, prostituição sagrada e outras práticas orgíacas.58 Como um último e extremo argumento contra a ado ração e a permissão ao culto a Baal pode ser citado o Livro de Jeremias, o qual mostra a influência deste deus em época bem posterior à entrada de Israel em Canaã. Em Jeremias 19:5 está escrita uma acusação de Deus contra Israel, que diz: “...edificaram os altos de Baal, para queimarem seus fi lhos no fogo em holocaus tos a Baal; o que nunca lhe s orde nei, nem falei, nem entrou no meu pensamento”. 4.1.2.3. As deusas Asera, Astarte e Anate _____________
Estas três deusas, consideradas por alguns como se fosse apenas uma que se confunde por causa dos nomes59, ~'C'I'AY NI :’,, D. K B üíj/. São Paulo: Edições Vida No va, 198 3. p. \l(i.
57 SHULTZ, op. cit., p. 90. 58 BRIGHT, op. cit., p. 152. 5
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eram bastante semelhantes a Baal e surgiam como divinda des de várias localidades. Eram deusas do sexo e da guerra, representadas, por seus devotos, com características sexuais exageradas e como praticantes de um sadismo depravado. Como se pode ver, quando os israelitas passavam a adorar algum dos deuses cananeus, a sua falta era muito grave, pois as práticas realizadas nestes cultos: prostituição masculina e feminina, homossexualismo e sacrifícios humanos, entre ou tras brutalidades, se opunham claramente à sua própria reli gião.60 Quando agiam assim, se colocavam como traidores de seu Deus e iam contra a base de sustentação da nação. 4.2. A Invasão Israelita___________________________
Agora que já foram analisadas as condições de Canaã nas proximidades do século XIII a.C., fica mais fácil de se compreender como aconteceu a invasão israelita. Contudo, também assunto Só nãopara é matéria de consenso entre os es tudiosos este da questão. se ter uma idéia da complexida de da matéria é bom informar que, como a própria Bíblia dá margem para duas interpretações, pois mostra em um qua dro Israel unido conquistando tudo rapidamente e em outro uma ocupação, que parece lenta, efetuada por tribos indivi duais, alguns chegam mesmo a pensar que a invasão un ifica da passa de uma do autor.61 Porém, como seránão visto a seguir, estaidealização interpretação extremada não pode mais se sustentar diante das evidências arqueológicas encon tradas na região. A verdade é que Josué, aind a que liderando um exército inferior àqueles que os aguardavam em Canaã, deve ter conseguido muit as vitórias aproveitando-se do ele mento surpresa, pois suas armas eram insuficientes diante de
inimigos tão poderosos. Eles, provavelmente, lutavam com <’*1 A JJ .ü N , R. B. A sttíwf. São Paulo: LúJi ções Vida No va, 1998. p. 1189-1190. 61 BlllG IIT , op. cit , p. 165.
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lanças, paus, flechas e algumas poucas espada s, contra povos que possuíam até mesmo carros para combate62. 4.2.1. A Entrada na Terra Prometida__________________
Depois de longos anos no deserto, finalmente, Israel está às portas da terra que lhe foi prometida. Faltava u m ter ritório para que se firmasse como uma nação e este seria, agora, conquistado com muita luta. A entrada em Canaã não poderia ter sido mais glorio sa. Ela aconteceu nas evento proximidades da cidade de Israel Jericósó acompanhada por um extraordinár io, que poderia mesmo considerar um milagre efetuado por Deus que lhes estav a dando a terra: as águas do rio Jordão pararam para que eles pudessem passar. Este fato está narrado no capítulo 3 do Livro de Josué e seus detalhes, é claro, nunca poderão ser confirmados pe las extrabíblicas. Mas,era, parece importantedemenc onarevidências que no ano 1927 de nossa na localidade Adã,i atualmente identificada pelo nome de Damieh, situada a 24 km de distância do local da travessia, o rio Jordão, que nesta parte é ladeado por penhascos de pedra calcária, teve o seu curso interrompido durante vinte e uma horas e meia, como resultado da queda de um grande bloco de pedra, com cerca de 45 m de altura, em seu leito.63 Tenha sido algo semelhante ou não, ao que foi narra do acima, que aconteceu a Israel, quando da invasão de Ca naã, a verdad e é que eles conseguira m entrar na terra de uma forma especial e, corretamente, cred itaram este feito a Deus. Logo em seguida, deram i nício às conqui stas e deixaram um rastro de destruição que, no geral, pode muito bem ser ates tado pelas evidências arqueológicas da região. Ainda que
62 W llIGH T, G. U. arqueologia Bíbl ka. Mad rid: Edicionc s Crista ndad , 1975. p. 101. 63 SUULTZ, op. cit., p. 92.
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muitas das cidades destruídas por Israel, conforme o relato bíblico, não tenh am sido identificadas pelos arqueólogos até o momenquanto to, outras o foram epor confirmam a destruimais ção violenta a ocupação um povotanto de hábitos simples, apontando assim para os israelitas.64 4.2.2. O Desenrolar da Conquista ____________________
Para se compreender como ocorreu a conquista e harmonizar os relatos de Josué e Juizes, Wrig ht chama a atenção para dois grupos de dados arqueológicos. Um deles mostra que Canaã, por volta de 1300 a.C., sofreu uma per turbação violentíssima e teve muitas de suas cidades com ple tamente destruídas , e outro, mostra que várias das cidades escavadas foram reconstruídas e destruídas novamente, de uma a quatro vezes, no decorrer dos séculos XII e XI a.C. Desta constatação poder-se-ia deduzir que: primeiramente houve um a onda irresistível de conquistas como bem mo stra o Livro de Josué, levada a efeito por todas as tribos em con junto, e que, posteriormente, foi necessário travar uma luta constante para manter e reconquistar a s posições de ca da tri bo individualmente.65 Assim se explica a aparente contradi ção no relato bíblico. Além disso, as muitas provas das terríveis destruições ocasionadas em a.C., Betei,sugerem Laquis, que Eglon, Debir euma Hasor, d uran te o século XIII aconteceu campa nha bem planejada de conquistas naquela região, a qual pode, muito bem, ser relacionada com a ordem descrita nos capí tulos 10 e 11 do Livro de Josué. A intenção clara destas cam panhas foi a de, primeiramente, ocupar territórios, para, provavelmente, mais tarde, estabelecer a nação66.
w B R IG ir r, op. cie., p. 166 -169. V ll IG I IT, Ci. E. A rq ueologia Bíblica. Madrid: Edicioncs Cristandad, 1975. p. 100-101. Ibid. p. 120.
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Também parece estar estabelecido nos dias atuais que Israel, inicialmente, ocupou as regiões montanhosas de Ca naã.67 Enquanto isso, permaneceram nas partes planas gran des cidades, pfortes para ainda seremcom conquistadas. continuaram or umdemais bom tempo um sistem aElas feu dal, dependentes do Egito. Muitas cidades-estado, depois da chamada invasão dos “povos do mar”, entre os quais deveri am estar os filisteus, se organizaram em monarquias e, sem dúvida, estavam melhor preparados para dominar a região do que Israel, que se mantinha unido por uma confederação de cunho areligioso, figura política forte para organizar nação68.sem O nenhuma próximo capítulo vai estar tratando destas dificuldades que ocorreram em seguimento às con quistas iniciais do grupo de Josué, no chamado P eríodo dos Juizes.
^ CLEMENTS, R. E. 0 Mundo do Anti go Isr ael São Paulo: Paulus, 1995. 68 WRIGHT, op. cit, 126-128.
p. 74.
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4.3. Para Complementar________________________ 4.3.1 .Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período a) O Livro de Deuteronômio (Composto, principalmen te, por discursos de Moisés preparando o povo para a conquista de Canaã) b) O Livro de Josué; c) O Livro de Juizes 1:1- 2:10. 4.3.2. Questões Para Revisão ________________________ a) Por que não é correto utilizar o termo Palestina para descrever a região de Canaã na época da conquista? b) Como eram as cidades de Canaã neste período da con quista? c) Dê uma breve descrição da organização polít ica em Ca naã na época da conquist a. d) Como você descreve a influência do Egito em Canaã na época da conquista? e) Quem eram os “Apiru”? f) Escreva a respeito da rel igião praticada em Canaã q uan do da conquista. g) Explique quem era Baal. h) Como aconteceu a invasão israelita de Canaã?
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5.O PERÍODO DOS JUIZES O período dos Juizes foi marcado por muitos pro ble mas. Israel havia se estabelecido em Canaã, nos lugares que lhe foi possível e, naturalmente, levando-se em conta o seu sistema tribal, dividiu as suas forças, dando oportunidade para que os povos vizinhos se recuperassem e, até mesmo, servissem como uma ameaça séria à continuidade do siste ma. Nesta depois de perto um período inicial assenta mento, elesépoca, estiveram muito de deixar de edexistir como povo independente. Neste capítulo, para que se entenda melhor este perío do, será apresentado o sistema de governo praticado por Israel, analisada a raiz dos problemas que surgiram e amea çaram a nação, verificada como aconteceu a atuação dos li bertadores e demonstrado e como formadas de lidera nça deix ou de existir. oE por bomquê lemb rar queesta a maioria informações, conhecidas até o momento, a respeito desta época da história de Israel, procedem do Livro de Juizes. Como ele não apresenta os aconteci mentos em uma seq üên cia cronológica, fica muito difícil de se estabelecer com cer teza a trajetória do povo nesta época.69 5.1. O Sistema de Governo Teocêntrico_____________
Israel diferia muito de seus vizinhos quanto ao m ode lo de governo. E nquanto estes possuíam um sistema de go verno formal com reis e príncipes na liderança dos negócios do estado, pod e-se dizer que, Israel n ão possuía nem estado.
^ I3RIGI ÍT, ]. H istória de Israel . São Paulo: Edições Paulinas, 198 5. p. 226.
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Não havia nada que pudess e lembrar ou sugerir uma admi nistração estatal organizada. Os clãs, ou tribos, permaneci am independe ntes, unidos apenas pelo vínculo religioso. sistema, de anfictionia, não foi algoEste exclusivo de chamado Israel, ele por podeBright ser encontrado em vári os outros locais como, em período um pouco poster ior, na Itália e na Grécia, de onde recebeu este nome. In clusive, al gumas das anfictionias conhecidas, semelhantes a de Israel, também eram formadas por doze participantes.70 O que fa zia a difere nça desta liga tribal e das outras era o fato exc lusi vo da aliança realizada Israel e seu Deus, que o havia tirado da escravidão no entre Egito.71 Israel levava muito a sério este sistema governamen tal. Eles se consideravam como vassalos de Iavé e não admi tiam a idéia de ter um rei humano dizendo-lhes o que deveriam fazer. Isto seria traição, iria contra o tratado de vas salagem estabelecido por Deus. Ainda que com o passar do tempo, diante das dificuldades oriundas da falta de um go verno semelhante aos das outras nações, alguns tenham pro curado mudar o sistema, e mais tarde foi mudado, neste período, a idéia de monarquia era totalmente abom inada pe los israelitas de coração, como pode ser visto na reação de Gideão quando alguns pensaram em fazer dele o primeiro rei de Israel (Jz 8:22-23). Como Liga Tribal, qu e era, e não uma unidade nacio nal propriam ente dita, Israel não tinha uma capital, nem um estafe para desempenhar as funções governamentais. Isto poderia caracterizar alguma espécie de g overno central o que iria contra as estipulações da Aliança feita com Iavé. Eles eram regidos pelas leis feitas por Deus e, sendo assim, na prática, enquanto estivessem debaixo destas leis, por Ele eram governados.72 Contudo, a confederação tinha o seu
™ BRIGH T, J. H istória de Israel . São Paulo: Edições Paulinas, 1985 . p. 210-211. 71 CUNDALL, A. E. Jui-~es: introdu ção e comentário. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992. p. 36. jOHNSO N, P. História dos Judeus . Rio de janeiro: Edito ra Imago , 1989. p. 50.
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ponto focal no local de adora ção onde se encontrava a Arca da Aliança. Aí eles se reuniam nas épocas de festas, não só para adorar mas, também, para resolverem os diversos pro blemas de interesse gera l que afligiam ou interessava m às tri bos. Provavelmente, por estas ocasiões, as tribos eram representadas por seus líderes .73 Seria incon cebível imaginar uma reunião completamente aberta para to dos os membros das comunidades envolvidas nesta liga. Parece que por esta época dos juizes, de forma mais exata no período de Eli, o santuário central em Silo é que mantinha tribos para unidas. Bíblia não clara, quanto a isto, mas deixa as margem se A concluir que éeste local foi destruí do pelos filisteus, quando da morte em campo de batalha dos filhos de Eli. Este acontecimen to deve ter forçado algu mas mudanças e levou Samuel, conside rado o último dos ju i zes, a cumprir os seus deveres religiosos em vários locais como Mispá, Ramá, Gilgal, Belém e outros, conforme a ne cessidade Ainda que ele reconhecido por todos, surgia.74 não desempenhava suasfosse funçum õeslíde emr um luga r ex clusivo, evitando, com esta atitude, a cristalização de um ponto de poder no território desta ou daquela tribo, o que poderia colocar em cheque a igualdade de direitos e obriga ções que havia entre os membros da Liga e igualá-lo aos go vernantes de outras nações. 5.2. Como Surgiram os Problemas _________________
Não faltavam problemas para Israel neste período. Foi uma ép oca de adaptações, na qual precisaram a prender a ser nação ao mesmo tempo em que se esforçavam para so breviver diante dos desafios que surgiam. Isto fica evidente quando se percebe que Israel , depois de um período de con-
73 BRIGHT, op. cit-, p- 210. SHU LTZ , J. S. A H istór ia de Is ra el no A ntigo Testam ento. São Paul o : Edições Vida Nova, 1988.
p. 118- 119.
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quistas, no qual as tribos, certamente, atuaram em conjunto (de outra forma não teria sido possível chegar aonde chega ram, ao menos sem a ajuda de um milagre de Deus), p assa a um períodote,depela guerras defensivas, no qual lutavam, de ses peradamen sobrevivência. A seguir, será analisado de duas formas, separadas mas semelhantes, o por quê de terem surgido tantos pro ble mas para Israel. Em primeiro lugar será vista a explicação teológica desta realidade e lo go depois a possível argum enta ção natural. As duas se complementam e são insepatáveis. 5.2.1. A Explicação Teológica_______________________
A explicação teológica a respeito das dificuldades en frentadas p or Israel está na Bíblia. O autor do Livro de Juizes não teve dificuldades para enxergar nos altos e baixos da na ção o castigo de Deus por causa da desobediência aos pre ceitos do pacto que havia sido estabelecido por Iavé. Da mesma forma, via no livramento o resultado do arrependi mento do pecado nacional e do retorno a estes mesmos pre ceitos. Por isso, ele escreve a parte principal de seu livro enfatizando um círculo de episódios, que se repetem por seis vezes, demonstrando a trajetória do povo que se resume em: pecados, sofrimentos, súplicas e livramentos. Para ele, todas as vezes que Israel pecava, quebrando os preceitos da Aliança, queDeus-Rei exigiam ae sua baixo do domínio de seu quepermanência não tivesse de ne nhum contato com divindades rivais,75 sofria justas punições do Deus soberano. Quando se arrependia e clamava supli cante pelo perdão, acabava por ser agraciado, da parte de Deus, com o livramento da dificuldade ou perigo que o esta va ameaçando.
75 BRIGHT, op. cit. p. 199.
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Já nos primeiros capítulos do Livro de Juizes fica evi dente que Israel está sofrendo por causa da desobediência. Eles não destruíram todas as nações que Deus havia m anda do destruir (Jz atitude 1:27-36); fazer alianças comtio povo da terra, estaacabaram q ue nãopor poderiam tomar, pois nham sido proibidos po r Deus (Jz 2:2); acabaram por ser in fluenciados pela religião dos povos de Canaã e passaram a adorar aos deuses cananeus (Jz 2:13) e a se misturarem com os antigos moradores da terra através de casamentos, o que também lhes estava proibido (Jz 3:6). O resultado de toda esta desobediência foi o castigo de Deus, a quem eles, como súditos que eram, deviam obediência. 5.2.2. A Exp licação Nat ural ________________________ A explicação natural da razão por que Israel enfrentou tantos problemas nesta fase de sua existência conta com vári os fatores. O primeiro mostra que aconteceu algo muito inte ressante com o povo de Israel. Ao mesmo tempo em que eles conquistaram foram conquistados. Israel unido demonstrou grande força ao entrar em Canaã, como as evidências arqueo lógicas têm atestado, mas culturalmente eles eram bem inferi ores aos seus conquistados. Muitas das cidades destruídas por eles foram reconstruídas, em seguida, demonstrando um ní vel cultural bastante inferior ao dos predecessores.76 fato deve ter levado a depender de seus vi zinhos,Este daqueles que não foram Israel destruídos, em muitas áreas da vida quotidiana. D aí o por que acabaram por se misturar e até mesmo a assumir, em parte, ainda que não oficialmente, aspectos da religião de Canaã. Como observa Bright: “Foi inevitável que alguns israelitas vissem a religião agrária como parte necessária da vida agrária, e começassem a fazer sacrifí
cios aos deuses da fertilidade. Outros, sem dúvida, acomo76 CU N DA LL , op. ci t., 34.
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daram a adoração de Iahweh com a adoração de Ba‘al, e começaram até mesmo a confundir os dois”.77 E claro que este envolvimento de Israel com povos de outras culturas e religiõesque acabou por enfraquecê-lo. Aspectos e reli giosos, os disting uiam como uma unidade,culturais um grupo es pecial, separados por Deus dos demais , foram afetado s. Um outro fator que dificultou a ação por parte de Isra el como uma unidade, no período seguinte ao estabelecimen to na terra, e os enfraqueceu sobremaneira, foram as posições geográficas que assumiram. Eles não possuíram uma unidade territorial perfeita. principalmente, as áreasmuitos mon tanhosas de Canaã,Ocuparam, pois não conseguiram desalojar dos povos que viviam nas planícies e se mostravam fortes, lançando mão de carros para o combate enquanto eles se limi tavam a combater a pé e com armamento inferior.78 A faixa costeira ficou fora do controle deles e os pou cos que nela se estabeleceram foram feitos súditos ou se in corporaram aos povos locais. Mesmo nas regiões montanhosas permaneceram grupos inimigos por muito tempo, como é o caso clássico dos Jebuseus, na cidade de Je rusalém, que só foram desal ojados, ou dominados, na época do rei Davi, criando dificuldades enormes para Israel, que não podia permanecer unido enquanto nações inimigas e empecilhos naturais, como, por exemplo, o profundo vale do Jordão que estava entre as tribos orientais e ocidentais, separava-os uns dos outros.79 Para complicar ainda mais a situação havia grande riva lidade entre as tribos, e algumas vezes acabavam em guerras absurdas, como a que está registrada em Juizes 12:1-6. Ou, ainda, se colocavam uma contra a outra por causa de crimes cometidos por um membro de uma tribo contra o de outra. Se mostravam incapazes de resolver problemas desta natureza
77 BRIGHT, op. cit, p. 229. 78 BRIG HT , op. c it, p. 226. 79 Ibid. p. 227.
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de forma sábia e desapaixonada. Nenhuma das tribos se dava por vencida e, para defender o seu membro, ainda que infrator, acabavam p or partir para a luta armada, agravando o problema em vez de fazer justiça (Juizes 19 e 20).8H Diante de tudo o que foi exposto até aqui, só dá para pensar que Israel continuou, razoavelmente u nido por tanto tempo (na opinião da maioria dos eruditos modernos cerca de duzentos anos81), porque tinha uma pro funda consciência de sua srcem comum e da Aliança que haviam feito com Deus. Quanto aos seus problemas, sem dúvida, possuem boas explicações mas pelo nenhuma queLivro vá contra a ex plicação teológicanaturais, apresentada autor do de Juizes, pois não há como separar o Deus de Israel da História de Is rael, pois Ele se revelou na história. Se Israel tivesse seguido as ordens estipuladas na Aliança os problemas naturais teri am sido evitados e a história da ocupação teria sido outra, bem diferente da que aconteceu. 5.3. A Atuação dos Libertadores___________________
Ao que parece, alguns dos juizes atuaram ao mesmo tempo só que em regiões diferentes. O Livro de Juizes, a principal f onte de informações deste período, seguindo uma tendência normal de sua época, não se preocupa em narrar os fatos em ordem cronológica, e, com isso, acaba passando ao erno um aPortanto, idéia errada à duração da épo ca leitor assimmod denominada. se quant foremofeitos os cálculos, baseando-se nas evidências internas do livro, se chegará a um período muito maior do que ele o foi na realidade. Al guns, utilizando este método, têm encontrado um período de aproximadamente 400 anos, o que não bate com as evi dências externas que apontam para um período bem mais curto, como já foi visto.
80 BRIGHT, op. cit., p. 233. 81 CUNDAI.L, op. cit, p. 30-31.
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Shultz, prepara um quadro, basicamente, como se gue, apenas com pequenas modificações na posição dos ele mentos e uma correção em um dos itens,82 demonstrando a cronologia queMas, podealerta ser observada, no propostos texto bíblico, para a era dos juizes. que têm sido entre qua renta e cinqüenta métodos diferentes para se determinar a abrangência do período, o que bem mostra a dificuldad e de se chegar à alguma conclusão baseando-se apenas no texto. Seja como for, é interessante observar a cronologia possível de se deduzir do texto bíblico. Ela pode ficar assim: anos 408 anos 18 anos 80 anos 20 anos 40 anos
--
Opressão mesopotâmica Otniel - livramento e descanso -Opressão moabita Eúde - livramento e descanso Opressão cananéia -Jabim Débora e Baraque - livramento e descanso
..
407 anos anos 3 anos 23 anos 22 anos 18 anos 6 anos 7 anos 10 anos 8 anos 40 anos 20 anos
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3:8 3:11 3:14 3:30 4:3 5:31
Opressão midianita e descanso - 8:28 6:1 Gideão - livramento Abimeleque - rei títere - 9:22 Tola - período de judicatura - 10:2 Jair - período de judicatura - 10:3 Opressão amonita - 10:8 Jefté - livramento e descanso - 12:7 Ibsã - período de judicatura - 12:9 Elom - período de judicatura - 12:11 Abdom - período de judicatura - 12:14 Opressão filistéia - 13:1 Sansão - feitos e período de - 15:20 judicatura 410 anos no total.83
^ Schultz atribui ao período dc judicatura dc Klom 19 anos, mas o texto bíbli 83 SCHULTZ, op. cit., p. 100
co registra, apenas,
10 anos.
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O termo juizes, quando se refere aos líderes desta época em evidência, é uma tradução não muito adequada para a palavra hebraica shôfetím Neste caso, seria mais apropriado traduzi-la por “libertadores”84, pois a grande maio ria destas pes soas atuaram desta forma em mo mentos que parte da nação sofria opressão externa. Este sentido fica claro em Juizes 2:16 onde está escrito: “Mas o Senhor suscitou juizes {shôfetím - □’’ÈDSEj), que os livraram da mão dos que os despojavam”. A função de julgar, ainda que na opinião de alguns possa ter sido praticada pelos juizes chamados menores85, talvez, tenha sido exercida, apenas, por Débora (Jz 4:4-5) e, mais tarde, por Samu el e seus filhos (1 Sm 7:15-17; 8:1-3). Os juizes que aparecem no Livro de Juizes, normal mente são chamados de maiores e menores. Isto não se ba seia em suas qualidades ou importância mas se deve, simplesmente, à extensão das narrativas sobre seus feitos. Aqueles que recebem maior atenção no Livro de Juizes, ocu pando maior espaço na narrativa , são chamados de maiores, os que aparecem em pequenas informações são os menores. Eles eram pessoas carismáticas, revestidas pelo Espírito de Iavé para desempenharem a função de líderes diante do povo que estava sendo oprimido pelos inimigos. De certa forma, eles foram os precursores dos re is e, nas horas de difi culdades, em suacontra maioria, consegucomum.86 iram unir o povo p ara lu tar em conjunto o inimigo Segue um breve histórico dos personagens que po dem ser considerados juizes nesta fase de Israel. A ordem em que serão apresentados não deve ser tomada como cro nológica, ela estará baseada na seqüência bíblica:
^ FRANCISCO, C . T. Introdução ao An tigo T estamento. Rio de Jane iro : JU E R P, 1979. p. 75. BRIGHT, op. cit., p. 241. SELLIN, E. Introdução ao A ntigo Testame nto. São Paulo : Edições Paulinas, 1978. p. 290.
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1 - Otniel: Era filho de um homem chamado Quenaz, o qual era irmão do famoso Calebe, o outro espia que, juntamente com Josué, estava pronto para invadir Canaã
desde o primeiro momento, depois da saída de Israel do Egito. Assim como seu tio,logo Otniel também era um valen te guerreiro e uma de suas aventuras foi registrada duas ve zes na Bíblia, em Josué 15:13-19 e Juizes 1:11-15. Pela sua atuação destemida neste episódio ganhou de prêmio a filha de seu tio como esposa. Ele libertou o povo que estava sen do oprimido, por 8 anos, pelo desconhecido Cusã-Risataim, rei da Mesop otâmia e, segundo o relato bíblico, atuou como juiz por 40 anos (Jz 3:7-11). 2 - Eúde: Os poucos versículos que falam dele o apresentam como um homem de fé e muita coragem . Ele era um homem canhoto, da tri bo de Benjamim, e atuou como lí der libertador depois de ter ma tado Eglom, o rei dos moabitas, a quem estavam pagando tributo. Suas ações levaram à morte cerca de 10.000 soldados de Moabe e proporcionaram, um período de 80 anos de paz (Jz 3:15-30). 3 - Sangar: Pouco se sabe sobre Sangar. Seu nome não era hebreu, pode ser de srcem hitita ou hurriana, o que levanta a possibilidade dele ser cananeu ou, ao menos, um elemento resultante da miscigenação de Israel com os povos locais. Ele é chamado de Filho de Anate, fato este que pode estar apontando p ara a sua ascendência, como tendo algum a ligação com a deusa conhecida por este nome, ou para uma cidade da região da Galileia.87Ele lutou contra os filisteus (Jz 3:31) e foi citado no cântico de Débora (Jz 5:6). 4 - Débora e Baraque: A atuação destes dois está re gistrada no Livro de Juizes no trecho que vai de 4:4 até 5:32. Débora, a única mulher no grupo dos juizes, é apresentada como juíza, profetiza e poetisa, sem dúvida uma pessoa de
muita capacidade. Ela convocou Baraque para lutar contra B7 CUNDAI.L, op. cit, p.79-80.
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Sísera, general de Jabim, chamado rei de Canaã, provavel mente por ser o rei de Hazor, a principal cidade cananita e por estar liderando uma liga de cidades-estado da região.88 Ele contava com um exército profissional que fazia uso de novecentos carros de ferro, preparados para a guerra. Podese imaginar, por este detalhe, a aflição que os israelitas esta vam passando por aquela época. 5 - Gideão: Era da tribo de Manassés e livrou Israel da opressão dos Midianitas. Depois de conseguir uma gran de vitória com um pequeno grupo de soldados, recebeu um a proposta para que reinas se sobre Israel. Não aceitou o con vite, demonstrando que tinha consciência de que Iavé era o rei de seu povo. Contudo, o nome de um de seus filhos, Abimeleque, significando “meu pai é rei”, pode estar demons trando que ele era visto pelo povo como um tipo de rei. Ele teve muitas mulheres e muitos filhos e, infelizmente, ainda que aparentemente sem intenção, Gideão acabou levando o povo à idolatria, quando confeccionou um objeto, ainda não identificado com precisão, chamado de “estola sacerdotal”.89 6 - Abimeleque: Sua história esta registrada em Ju i zes 9:1-57. Ele era filho de Gideão com uma concubina e matou quas e todos os seus irmãos para assumir o comando regional. Acabou sendo proclamado rei pelos habitantes de Siquém e dominou por apenas 3 anos. A extensão de seu rei nado erae limitadíssima. A Bíblia debaixo só cita Siquém, Bete-Milo, Arumá Tebes como estando de seu poder.90 Seu breve governo de terror acabou qua ndo, ferido por um a pe dra lançada de uma torre de defesa, por uma mulher, pediu que seu escudeiro o matasse . Ele não foi um libertado r e, por isso, alguns nem o consideram entre os juizes, foi um opres sor nacional que governou de forma tirana uma pequena
88 Ibid. p. 90-81. 89 CUNDALL, op. cit, p. 118-119. 911 Ibid. p. 123.
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porção do povo de Israel. Aparece nesta lista por ter gover nado parte de Israel neste período. 7 - Tola: Não se sabe praticamente nada deste juiz que é citado de passagem em Juizes 10:1-2. Ele era da tribo de Issacar, julgou Israel por 23 anos e foi sepultado n a cidade de Samir, que possui locali zação incerta,91 na região mon ta nhosa de Efraim. 8 - Jair: Era da tribo de Gileade. Atuou como juiz por 22 anos e alcançou grande prestígio.92Isto se deduz do texto (Jz 10:3-5) que afirma que ele tinha trinta filhos que possuí am trinta cidades, chamadas Vilas de Jair,93 e cavalgavam em trinta jumentos. Foi sepultado em Camom, local que foi identificado com as ruínas que estão a 1600 metros de dis tância, ao noroeste, da moderna Qumên.94 9 - Jefté: O que se sabe dele pode ser visto em Juizes capítulos 11 e 12. Seu pai se chamava Gileade, o mesmo nome do neto de Manassés que deu srcem ao clã que assim era conhecido, e sua mãe foi uma prostituta. Sendo hostili zado pelos meio-irmãos, devido à sua condição de ilegítimo, separou-se da família e acabou por formar um grupo de bandidos. Isto deu a ele condições de se firmar como um lí der de certa importância. Mai s tarde, em um mom ento de di ficuldades, os anciãos de Gileade recorreram a ele para poderem fazer frente aos Amonitas que os estavam opri mindo. Jefté conseguiu derrotar os Amonitas mas, nesta mesma ocasião, acaboua ser por sacrificada. fazer um voto o qual levou sua filha única Esteinsensato acontecimento, registrado no Livro de Juizes, tem sido discutid o a séculos, e continua a ser um problema para autores modernos. Cundall, porém, diz que “todos os primitivos comentaristas e historiadores concordaram em que Jefté verdadeiramente 'n Ibid. n. 132.
M Jb,d. ^ IJLLF .Y, J. P. U . Havotc-jair. 94 CUNDALI., op. cit., p. 132.
São Paul o: Edições Vida No va, 19 83. p. 696-697.
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ofereceu sua filha em sacrifício de fogo. Não foi senão na Idade Média que surgiram tentativas bem intencionadas, mas erradas, para suavizar o significado claro do texto”.95 Alem deste erro grave, Jefté acabou por se envolver em uma guerra civil contra os efraimitas. A não intervenção das ou tras tribos neste acontecimento pode estar demonstrando que a união entre elas, por esta ocasiã o, estava bastante deb i litada. 10 - Ibsã: O Antigo Testamento dedica apenas três versículos a este juiz (Jz 12:8-10). Pela informação de que ele tinha trinta filhos e trinta filhas pode-se deduzir que era uma pessoa rica. Seus filhos e filhas se casaram com pessoas de fora de seu clã e, depois de atuar como juiz po r sete anos (o que pode ser um número simbólico), morre u e foi sepultado em Belém. Como a tribo deju dá, no Períod o dos Juize s, pra ticamente está separada da vida intertribal, seria melhor pen sar nesta localidade, Belém, como sendo uma cidade de Zebulom que ficava a aproximadamente 16 quilômetros norte de Megido, e não na conhecida Belém de Judá.96 ao 11 - Elon: Este só aparece em Juizes 12:11-12. Era de Zebulom e atuou por dez anos como juiz. Foi sepultado em uma cidade chamada (p> K ) ou fll^N), transliterada na maioria das versões bíblicas modernas para o português como Elon, seu próprio nome, já que o texto bí blico srcinal,e,semonde os sinais massoréticos,97 esta possibilidad se observa a mesmaaponta forma para hebraica para ambos os termos. 12 - Abdon: Sua carreira está descrita, resumidam en te, em apenas três versículos da Bíblia (Jz 12:13-15). Seu pai se chamava Hilel e era oriundo da localidade de Piratom. 55 O JN D A LL , op. cit ., p . 142 .
96 Ibid. p. 146 97 Sinais massorético s são símbolos que foram colocados no Tex to H ebraico do An tigo Teslnmento p ara ajudar na leitura, já que no srcinal ele não possuía vogais, era composto só por consoantes;, o que era uma grande dificuldade para quem não conhecia bem as palavras. 58 CUNDALL, op. cit., p. 146.
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Atuou como líder durante oito anos e, pela referência bíblica sobre seus filhos, em número de quarenta, e netos, em nú mero de trinta, formando um grupo formidável de setenta membros que cavalgavam setenta jumentos, pode-se con cluir que era uma pessoa de grande prestígio e riqueza.99 13 - San sã o: A história deste, que muitos pensam nã poder ser classificado como juiz, poi s suas atitudes destoam fortemente dos demais, ocupa quatro capítulos do Livro de Juizes (Jz 13 -16). Ele era filho de um homem chamado Manoá, oriundo da tribo de Dã , e sua mãe o concebeu de forma milagrosa, pois ela estéril,decumprindo-se uma pro messa de Deus feitaeraatravés seu anjo. Elenele começou a li vrar Israel da opressão dos Filisteus (Jz 13:5). Foi um personag em polêm ico, nazireu, mis to de super homem e de linqüente juv enil que, sem a ajuda de seu povo, criou muitos problemas p ara os filisteus. Não há muito que se possa dizer sobre ele, é um perso nagem difícil de se entender, mas “ suas histórias refletem da fronteira .dos filisteus antes do autenticamente desencadeamentoa situação da guerra. Pode muito bem ser que os inciden tes de fronteira desta espécie tenham em grande parte incitado os filisteus a uma ação agressiva contra Israel”.100 Para encerrar este capítulo ainda merece destaque a informação de que o Livro de Rute possui este período como pano de fundo e que Eli, o sacerdote do santuário de Silo, Samuel e seus filhos Joel e Abias, ainda que não sejam mencionados no Livro de Juizes, também foram juizes. Em 1 Samuel 4:18b está escrito que Eli “julgou” a Israel por um período de quare nta anos, em 1 Samuel 7 :15 está a inform a ção, ainda que exag erada se interpretada literalmente, de que Samuel “julgou” a Israel durante todos os dias de sua vida, e em 1 Samuel 8:1-3 not a-se que Samuel, em sua velhice, cons-
99 Ibid. p. 146. w o BRIGHT, op. cit, p. 232-233.
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tituiu seus filhos Joel e Abias por jui zes sobre Israel, em Berseba. Estes, contudo, foram rejeitados, com a acusação de que aceitavam suborno e não eram justos em seus julgamen tos.
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5.4. Para Complementar 5.4.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período
a) O Livro de Juizes; b) O Livro de Rute; c) O Livro de 1 Samuel 1-8; d) O Salmo 106:34-48. 5.4.2. Questões Para Revisão ________________________
a) Qual é a maior fonte histórica a respeito do Período dos Juizes? b) Explique como era o sistema de governo de Israel du rante o Período dos Juizes. c) Como foram explicados, teologic amente, os problemas enfrentados por Israel no Período dos Juizes? d) Como podem ser explicados de maneira natural os problemas de Israel no Período dos Juizes? e) Qual título ficaria melhor para os Juizes de Israel neste período? f) Qual é o tempo aproximado que cobre o Período dos Juizes? g) Por que alguns juizes são chamados de maiores e ou tros de menores? h) Cite os nomes de, pelo menos, cinco juizes de Israel. i) Qual livro da Bíblia apresenta Eli, Samuel e seus filhos, Joel e Abias, como juizes em Israel?
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6 . OS PRIMÓRDI OS DA MONARQUIA __________ Depois de aproximadamente dois séculos de existên cia o sistema Teocentrico de Governo utilizado por Israel chega ao fim. Eles não podiam mais continuar a fazer frente aos seus adve rsários, que se desenvolviam cada vez mais e os procuravam conquistar, sem um elemento político unifica
dor suas forças. Não podiam que surgisse um de “libertador” a cada investidaficar dasesperando nações vizinhas. Era necessário um sistema que lhes desse segurança permanente, com um exército profissional, e viram na Monarquia, forma utilizada po r seus agressores, a única saída para este proble ma. A transição não foi feita de maneira muito fácil. Pedir um rei era o equivalente a duvidar do cuidado e proteção de Iavé, o verdadeiro Rei de Israel. Por isso, o profeta Samuel, ao ser procurado pelos líderes para que constituísse um rei sobre eles, demonstrou todo o seu desagrado. Só concord ou com a idéia depois de ter certeza da permissão divina, mas mesmo assim mostrou ao povo algumas das desvantagens que teriam ao servirem a um rei além de deixar claro que a atitude deles era pecaminosa (1 Sm 8-12). Assim mesmo eles levaram adiante o plano e deram início à uma instituição que sobreviveria por mais de quatro centos anos em Israel. Aqui, neste capítulo, será apresentad o um resumo do que aconteceu no s primórdios da monarquia, o período que vai desde o estabelecimento da monarquia, com seu primeiro rei, ainda uma época de transição, até o fi nal do reinado de Salomão, quando Israel atingiu o seu po
tencial máximo como estado.
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6.1. O Estabelecimento da Monarquia O estabelecimento da monarquia em Israel acon teceu em um momento de grave crise, eanão poderia ser diferente, a necessidade é o que impulsiona busca de novas altern ati vas. Os filisteus que haviam chegado em Canaã quase ao mesmo tempo que Israel, depois de passarem praticamente todo o Período dos Juizes em conflito com eles, se tornando cada vez mais perigosos, parece que atingiram o auge e, de pois da vitóri a estrondosa que conseguiram e m Silo, algum tempo depois de 1050 a.C., inclusive levando a Arca do Con certo para a Filistia, estavam colocando a existência de Isra el como um todo em risco.101 Samuel, um dos últimos guardiões da Liga Anfictiônica estava velho e seus filhos não seguiam os seus passos. A l guma coisa precisava ser feita para salvar a integridade das tribos de Israel. Era hora de mudanças, não dava mais para continuarem desorganizados e separados diante de inimigos tão poderosos. 6.1.1. O Primeiro Rei de Israel_______________________
Saul foi o primeiro rei de Israel. Chegou à esta posi ção através da indicação do profeta Samuel , e firmou-se nela depois de vencer uma batalha contra os amonitas, quando demonstrou poss uir dons carismáticos da mesma forma que alguns dos juizes, os libertadores, os possuíam.102 Seu reinado se apresenta como um estágio de transi ção entre o período dos juizes e a implantação do estado. Ele atuou de forma semelhante a dos juizes, porém à frente de todas as tribos e não de apenas uma, ou algumas. F oi um mi litar que pouco fez em termos de política interna, chamado
BRIG HT , 1. História àe ísrael. 102 Ibid. p. 243-244.
São Paulo: l uliçõ es Paulinas, 1 085. p. 238-241.
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para resolver problemas com a opressão estrangeira.103Jun tamente com seu filho Jônatas demonstrou grande hab ilida de nas batalhas. Conseguiram, com poucos soldados, libertar a parteânimo centralaos de Canaã , que estava noaos poder dos fi listeus, dando hebreus, bem como cananeus que sofriam com o inimigo comum.104 O tipo de monarquia desenvolvida por ele foi dife rente d a praticada por seus vizinhos, tanto cananeus quanto filisteus. Certamente, não era moldado no sistema de cidade-estado feudal como os demais, continuou semelhante à antiga como ordemrei.105 anfictiônica, só que agora com um líder acla mado Saul não efetuou nenhuma modificação drástica à es trutura intern a de Israel. Não desenvolveu nenhu ma máqu i na administrativa ou burocrática e deixou a organização tribal da mesma maneira que a encontrou. Não possuía um grande harém nem contava com oficiais para o auxiliarem, com exceção de Abner, seu parente, que esteve à frente do exército que era recr utado dentre as tribos. Morava em uma fortaleza e não em um palácio e se preocupava em formar uma força militar permanente (1 Sml4:52), pois durante todo o seu reinado esteve em guerra.106 6.1.2. A Decadência de Saul_________________________
A história do primeiro rei de Israel não é de muitas glórias. Depois de d eterminado tem po de reinado, que havia começado tão bem, Saul passou a agir de forma muito estra nha demonstrand o, várias vezes, estar fora de seu juízo nor mal. FOI IRKR, G.
Historia da Religião de Israel.
São Paulo: Edições Pau linas, 1982. p. 148.
^ BK HK , M. A. Históri a de Isra el Rio dc (aneiro; Xah ar Editores, 1967. 105 BRIG HT, op. cit, p. 245-246. 106 BRIGHT, op. cit., p. 247.
p, 55.
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Parece que as dificuldades começaram assim que ele perdeu o apoio do profeta Samuel. Em 1 Sm 13:4b-15, Saul é apresentado como usurpador da função sacerdotal, enquan to que, no capítulo 15, do mesmo livro, “está escrito que ele violou o herem - uma característica da lei sagrada, relativa à Guerra Santa”.107 Sem o apoio de Samuel, que demonstra querer continuar mantendo o essencial da antiga ordem como era feito com os juizes, e tendo que demonstrar cons tantemente ser um líder carismático para manter o seu gru po, se tornou uma pessoa depressiva,108 que em determinados momentos apresentou verdadeiros atos de loucura que a Bíblia credit a como resultado da at uação de um espírito maligno que se apossava dele (1 Sm 19:8-11). A situação de Saul piorou muito quando ele veio a se sentir ameaçado pela popular idade de seu genro Davi. V en do que este era um herói nacional e que o povo o admirava mais do que ao próprio rei, pois até seu filho Jônatas era seu amigo leal, procurou de várias formas tirá-lo de seu cami nho. Não hesitou em tirar a vida dos sacerdotes que atuavam em Nobe, por terem ajudado a Davi em uma de suas fugas, e, com este ato marcou a separação completa entre seu go verno e a ordem anfictiônica. A atitude foi tão absurda que nem seus servos, colocando as suas vidas em risco, pois já conheciam o temperamento do rei, quiseram atender à or dem de execução dos sacerdotes (1 Sm 21-22). Paradecompli car ainda mais a situaçã o, Saul acabou deixando lado a luta com os filisteus para continuar a gastar energias pro cu rando Davi que havia formado um grupo de guerreir os, le vando, assim, a nação a se precipitar em um cisma que só traria dificuldades.109
107 Ibid. p. 249. 11,8 Ib,d 109 BRIGHT, p. 251.
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Logo o esperado se concretiza. Os filisteus, provavel mente, percebendo a fraqueza do rival que estava dividido, inclusive, pensando que podiam contar com a ajuda de Davi, ouhavia ao menos compara a suao lado nã o deles intervenção, aparende temente passado e estavapois a serviço Aquis, rei filisteu da cidade de Gate (1 Sm 27), se lançaram à batalha para conquistar os territórios de Israel. Foram vitori osos e levaram Saul e seus filhos Jônatas, Abinadabe e Malquisua à morte (1 Sm 31:2), abrindo a oportunidade para o estabelecimento de um novo rei em Israel. 6.2. O Reinado de Davi___________________________
Com a vitória conseguida pelos filisteus no monte Gilboa a situação de Israel parecia sem esperanças. Mais uma vez os filisteus se instalaram nas montanhas centrais de Canaã e, aind a que não se aventurassem até a Transjord ânia, nem muito o interior Galiléia, passaramocupar, a dominar grande p artepara da região. Comdaisto, conseguiram apro ximadamente, a mesma extensão de terras que ocupavam antes das ações militares de Saul. Contudo, Dav i iria reverter esta situação e colocar o seu povo, em pouco tempo, n a van guarda das outras nações.110 Muitas coisas poderiam ser ditas a respeito do reina do de Davi, o mais importante rei de todos os tempos para Israel, mas, devido ao objetivo deste escr ito, nas próxim as li nhas serão apresentados, apenas, tr ês pontos básicos de sua carreira: A maneira como chegou ao poder, algum tempo perto de 1000 a.C.; como desenvolveu sua política expansio nista; e que problemas ocorreram quando da sua sucessão.
110 Ibid. p. 254.
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6.2.1. Como Davi Chegou ao Poder
Davi era por assim diz er o candidato natural à suces são dedemonstrado Saul. Ele era um heróicapacidade nacional, amado muitos.deJá havia grande militarpoà rfrente parte do exército de Saul (1 Sm 18:12-16) e tinha sido ungido rei de Israel pelo profeta Samuel, quando Saul ainda vivia. Mesmo assim, não passou a dominar sobre todas as tribos imediatamente, precisou aguardar o momento certo e fazer uso de suas habilidades políticas. verdade,seu quando a morte Saul, em campo Na de batalha, reino aconteceu ficou dividido. Davi,deseu genro, acabou sendo proclamado rei de Judá, e Isbosete, filho de Saul, sucedendo ao pai, se tornou rei de Israel, a parte norte da região onde estavam estabelecidos.111Esta divisão, de cer ta forma, nun ca mais deixaria d e existir. A partir daquele mo mento dois estados estavam nascendo. Os filisteus a esta altura, com grande p oder na região, devem ter permitido a Davi assumir tal posição, provavel mente, pelo fato dele ser um de seus vassalos e, também, porque o antigo reino de Saul, agora dividido em duas partes era do interesse deles.112 O arrependimento por esta decisão errada não deveria demorar para vir aos filisteus. Este era o primeiro passo de Davi para assumir a liderança de todo o Israel e transformá-lo em um grande Império. O segundo passo aconteceu quando da morte de Isbosete. Ele esteve no poder, reinando sobre Israel, as tribos do norte, por apenas dois anos (2 Sm 2:10). Não teve a força de Saul e, depois de perder seu general Abner, o qual foi morto logo após ter se passado para o lado de Dav i com a in tenção de transferir-lhe o reino, acabou sendo assassinado por dois de seus oficiais. Após o que, os anciãos de Israel,
^** M ET ZG ER , M. História fie Israel . São Leopoldo : Editora Sinodal, 1972 . p. 62-65. ^ BRUCE, I7. F. Israela tui the Nations. Grand Rapids, Michi gan: William B. E erdmans Publishing Compan y, 1983. p. 28.
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vendo que não havia outro em condições de reinar, procura ram Da vi em Hebrom e pediram-lhe que os g overnasse. Davi, é claro, aceitou o pedido e passou a ser rei de Judá e de Israel mesmoe consolidação tempo e tomou importantes paraaoa união de algumas seu reino.medidas Entre elas está a escolh a de sua nova cap ital. Ele o ptou por Jerusa lém, que era uma cidade habitada por jebuseus. Além da ci dade ser fortificada estava em lugar estratégico, por nàõ pertencer a nenhuma das tribos de Israel. ísto ajudou a nao causar sentimento de inveja, como poderia acontecer se houvesse escolhido uma que dentre elas.113 Johnson observa toda a operação levada a efeito por Davi para transferir sua capital para Jerusalém foi uma ação política. Segundo ele, interpretando o texto de 2 Samu el 5:6, Davi utilizou, apenas, as tropas profissi onais para esta conquista, a parte do exército formada pelas tribos ficou de fora. Assim, foi Davi e seus homens quem cons eguiram a vi tória, nenhum a tribo poderia alegar que teve participação na conquista d a cidade que viria a ser a capi tal. Este ato, inclusi ve, deve ter influído na maneira como ela passou a ser cha mada: “Cidade de Davi”.114 A hipótese levantada por Johnson é bastante viável, está de acordo com outras ações de Davi que sabia se condu zir muito b em no campo político. Contudo, deve ser l evado em conta tamb ém, que em 1 Crônicas 11:4 a conquista de Je rusalém, aparentemente, está send o descrita como uma ação conjun ta de todo o “Israel”. A questão ainda não está to tal mente esclarecida.
113 BEEK, M. A. H isf m a de Is rael Rio d t Janeir o: Zahar Ed itores, 19 67. p. 60. JO H N SO N , P. Historia dosjude/ts. Rio de Jane iro: Imago Ed itora, 1 989. p. 65.
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6.2.2. A Política Expansionista de Davi
O novo estado teve que partir para a luta imediata mente. Os filisteus perceberam logoe que de Israel novamente unidas eram u m perigo, que as elastribos não continua riam mais debaixo do poder deles. Davi tinha que ser destru ído. Contudo, foi exatamente o contrário que aconteceu. Os filisteus foram derrotados de tal forma que Israel se apossou de vasto território que lhes pertencia e, mais tarde, com o evi dência da supremacia israelita, e do fim do poder filisteu, pode-se encontrar contingentes de seus combatentes pres tando serviço mercenário para Davi, aquele a quem eles que riam derrotar.115 Com os filisteus derrotados Davi leva a Arca da Ali ança para a cidade de Jerusalém, o que deve ter servido de fa tor positivo para a união das tribos e passa a realizar várias conquistas. Definitivamente, Israel deixava de lutar guerras de sobrevivência ou defesa e pas sava para uma época de ex pansão nun ca vista igual antes ou depois de Davi . Com rapi dez impressionante se transformou em uma potência que não ficava devendo nada, em poder, às outras de sua épo ca.116Basta dar uma olhada na relação de vitórias de Davi em 2 Samuel 8:1-14, onde aparecem Edom, Moab e Síria, entre outras nações, para comprovar esta afirmação. 6.2.3. Os Problemas da Sucessão de Davi_____________
Como tudo na vida passa, Davi, depois de tantas con quistas, também passou. Quando da sua velhice o império estava estabelecido e Israel, com uma nova fisionomia, já ti nha abandonado quase todos os antigos costumes da época dos juizes. Contudo , algumas coisas permaneciam, entre elas
115 BRIGHT, op. cit, p. 258-260. 116 Ibid. p. 26(1-267.
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o desejo de ver um carismático à frente da liderança do povo. A sucessão dinástica ainda não havia sido utilizada. Com isto estava criado um problema para a sua sucessão: Quem assumiria a c oroa no lugar de Davi que mostrava si nais de cansaço? Pelo menos dois dos filhos de Davi procuraram mos trar ao povo que tinham estes dons e, portanto, estavam ap tos e desejavam o lugar do rei. Isto aconteceu com Absalão que liderou uma revolta armada contra Davi (2 Sm 15-18) e com Adonias, mais tarde, que se declarou rei quando seu pai estava em seus últimos dias (1 Rs 1). Não dava mais para esperar e, antes que algo pior acontecesse, Davi passou o comando para seu filho Salo mão. Este, herdando um império bem estruturado, comp le taria a obra do pai, incrementando ao máximo a estrutura estatal. Contudo, em termos de extensão territorial, Israel havia chegado ao máximo, a partir daqui só viria a diminuir as suas possessões. 6.3. O Reinado de Salomão _______________________
Salomão deve ter iniciado o seu reinado por vo lta do ano 970 a.C. e pode ter seguido no poder até, aproxim ada mente, 930 a.C.,117 quando faleceu.118 Foi uma trajetória de glória, paz e muito progresso material para o estado, porém com um alto preço social a ser pago por grande pa rte da po pulação. Salomão é uma figura extraord inária e muito tem sido escrito a respeito de sua pessoa. Contudo, para este trabalho, basta mostr ar como foi que ele se firmou no trono, tão am bicionado, do império formado por Davi; qu ais foram algu
mas de suas principais realizações e como, depois de toda a 117 HU BBA RD , JR., I'irsf & Seco nd Kingx. Chicago : Moody Press, 199 1. p. 20. 1,8 BRIG HT , op. cit., p. 276.: sugere que Salomão tenha reinado do ano 9 61 A .C sue 922 A
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sua contribuição positiva para o estado, acabou sendo um péssimo exem plo para o seu povo, decaindo em sua vida es piritual. 6.3.1. Como Salomão Firmou-se no Trono____________
O início da carreira de Salomão foi bastante contur bado. Ele sabia que haviam outros pretendentes ao trono e, no momento preciso, após a morte de Davi, quando se viu só no poder, agiu com todo o rigor necessário. Não poupou nenhum daqueles que o c olocavam em risco. Um a um, c on forme surgiam as possibilidades politicamente favoráveis, foram sendo removidos de seu caminho, deixando-o livre para governar com autoridade e liberdade de ação. O primeiro a ser eliminado foi seu irmão Adonias. Ele já havia tentado usurpar o tron o quando Dav i ainda era vivo. Mas, quando soube que o rei tinha estabelecido Salo mão em seu lugar, voltou atrás clemência. , temendo po r sua vida, e co locou-se como servo, pedindo Salomão aceitou o seu pedido e prometeu que não lhe faria nenhum mal, desde que nele não viesse a ser achada alguma maldade (1 Rs 1:50-53). Pouco tempo após a morte de Davi, Adonias, por intervenção de Bate-Seba, mãe de Salomão, pediu Abisague, concubina de Davi, para ser sua mulher. Este fato pode pa recer irrelevante o leit or“que moderno, esta atitu de, ele estava para indicando aindamas, não com desistira de reivindicar o trono”,119pois a posse do harém real era um si nal do poder de governar (2 Sm 3:8; 12:8; 16:20-22).120 Isto foi suficiente para que Salomão o condenasse à morte. Ao que parece, Adonias estava sendo apoiado em sua intenção de golpe de estado por Joabe, antigo general de Davi, e também pelo sacerdote Abiatar. Salomão agiu rápido
119 BRIGHT, op. cit., p. 276. 120 IIUB BA R D , JR„ op. cit., p. 30.
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e se livrou dos dois. Mandou matar a Joabe e colocou Benaia, em seu lugar, como comandante do exército, e substi tuiu o sacerdote Abiatar por Zadoque, exilando aquele na cidade Restava de Anatote (1 um Rs 2:26-35). a inda homem que significava perigo para o seu reino: Simei, o parente de Saul que se atreveu a amaldi çoar a Davi, publicamente, quando este fugia de Absalão (2 Sm 16:5-14). Havia, inclusive, um pedido de Davi a Salomão para que Simei não morresse de forma pacífica (1 Rs 2:8-9). Não demorou muito e também este foi executado. Inicial mente designou-lhe de exílio. Elelugar não poderiaSalomão sair da cidade de Jerusauma lémespécie para nenh um outro sob pena de perder a vida se desobedece sse. A d esobediên cia aconteceu três anos depois quando ele foi até à cidade de Gate à procura de alguns de seus escravos que haviam fugi do. Como Salomão o havia advertido fez; mandou que Joiada o executass e sem piedade, e assim o reino foi firm ado sob o seu domínio (1 Rs 2:36-46). 6.3.2. As Realizações de Salomão____________________ Depois de firmado no comando geral da nação, Salo mão se mostrou um excepcional estadista. Acabou levando Israel a atingir um estágio econômico e social nunca alcança do antes e que não se repetiria jamais. Salomão não demonstrou grande interesse por con quistas militares. Havia recebido um vasto império de seu pai Davi e tinha como missão organizá-lo e desenvolvê-lo. Daí praticou um programa excelente de política externa, fa zendo alianças que garantira m-lhe a paz necessária para me lhor explorar o potencial da nação. Entre as alianças pode sc destacar a feita com o rei do Egito, de quem ele recebeu uma
das filhas em casamento, fato este que bem mostra o seu po der, bem como a decadência do Egito, já qu e não era cosiu
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me dos faraós da época do Império darem suas fühas nem mesmo aos reis da Babi lônia ou Mitanni, que foi um po dero so império que dom inou a Alta Mesopotam ia por muitos sé culos, atingindo seu auge por volta de 1450 a.C., quando Tutmósis III reinava no Egito.121 Outra aliança importante foi feita com Tiro. Ela que havia sido iniciada por Davi foi desenvolvida e trouxe gran des benefícios para os dois países em matéria de exportação e importação de produtos como trigo e óleo de oliva, que eram mandad os para Tiro, e madeira- de-lei, que ia para Isra el para ser utilizada nos projetos de construção de Salomão. Além disto, esta aliança abriu novos caminhos para o comér cio e a industria de Israel.122 Salomão, ainda que tenha desenvolvido um reino de paz, também reforçou a defesa nacional preparando um grande exército profissional que passou a se utilizar de car ros de combate, arma nunca utilizada antes em Israel. Sabese que ele carros construiu quatro milmil estábulos, mil edirigiqua trocentos e tinha doze homenspossuía aptos para los.123 Estes carros eram adquiridos no Egito, o melhor construtor da época, e os cavalos vinham da Cilicia, con heci da como a terra dos melhores cavalos. Ele não apenas adqui riu carros e cavalos para o seu exército mas, perceben do que era o controlador das rotas de comércio entre Egito e Síria, veio a seeratornar o intermediário de um negóciocom muito lucrati vo. Só possível adquirir carros egípcios cavalos da Cilicia através de sua agência. Sem dúvidas, este importante monopólio lhe trouxe muitos lucros.124 Salomão também ficou conhecido por suas constru ções maravilhosas. Elas foram espalhadas pelo império mas se destacaram sobre tudo na cidade de Jerusalém onde esta-
121 BRIGHT, on. cit., p. 138, 278. 122 Ibid. 123 Ibid. p. 279. 124 Ibid. p. 284.
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vam as principais instalações militares, os palácios e, princi palmen te, o templo, que foi constr uído por um arquiteto da cidade de Tiro.125 Quanto ao modelo do templo que muitos defendiam ser algo exclusivo de Israel, tem sido provado p e las escavações efetuadas na Síria, em 1936, pela Universida de de Chicago, de que se trata de um tipo de arte e arquitetura comum no sécul o X a.C. Portanto, deve ser cre ditado aos estrangeiros que dirigiram a obra, ao menos, os planos finais da construção.126 Ele não era o único local de adoração de Iavépela no reino, de le, haviam outros santuá rios espalhados nação,além contudo, o de Jerusalém, bem como seu sacerdócio, veio a ter preeminência sobre os ou tros das zonas rurais.127 Também é importante destacar que o reinado de Sa lomão foi um propulsor para o desenvolvimento da cultura de form a geral. A escrita deve ter sido utilizada em larga es cala,e adevido natural da burocracia estaa tal músicaaoedesenvolvimento a salmodia tomaram grande impulso com construção do templo. O próprio Salomão passou a ser co nhecido, internacionalm ente, pela sua sabedoria e habilida de como compositor de provérbios.128 6.3.3. A Decadência Espiritual de Salomão____________ A vida de Salomão, depois de tudo o que ele fez para o estado e religião de Israel, termina de uma man eira impre s sionante e, de certa forma, inexplicável. Tanto que alguns pensam que o relato bíblico a respeito de seus últimos dias (1 Rs 11) não é digno de confiança, ou que é contraditório.129 Realmente, não é fác il de se compreender como que um ho mem tão sábio e que atingiu tanto sucesso veio a falhar,
125 BRIGHT, op. cit, p. 285-286. 126 SH UL TZ , S. J. A H istória de Isr ael no A ntigo Testa mento. São Paul o: Edições V ida Nova, 1988 . p. 143-144. *^ FOHRER, G . História da Religião de Isra el São Paulo: Edições Paulinas, 1982. p. 258. 128 BRIGH T, op. cit, p. 287-289. 129 SHULTZ, op. cit, p. 147.
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como ele falhou, em pontos básicos, ao final de sua vida. Mas, a Bíblia, de forma muito clara e coraj osa, mostra o que aconteceu. O estrangeiras. erro inicial deAlém Salomão foi de o de se envolver mulheres da filha faraó, a egípcia,com ele tomou mulheres moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias, o que era expressamente proibido pela Lei de Moisés (1 Rs 11:1-2; Ex 34:16), já se prevendo as conseqüencias espirituais destes relacionamentos. Não se sabe exatamente o por que, se por motivos diplomáticos ou para ultrapassar soberanos de outras nações em uma demonstração de gran diosidade, mas ele acabou formando um harém com sete centas esposas e mais trezentas concubinas, as quais serviram de inf luência negativa para a sua vida espiritual. Infelizmente, observa-se que ao final de sua carreira, Salomão se tomou um idólatra. A Bíblia informa que ele ser viu a Astarote que era uma deusa dos sidônios e que, assim como havia construído o templo para Iavé, Deus de Israel, também construiu um santuári o, ainda que não nos mesmos moldes, deve ter sido um local a céu aberto, para Camos, deus de Moabe e outro para Moloque, deus de Am om (1 Rs 11:5-7), ao qual eram oferecidas crianças em sacrifício.130 As conseqüências negativas destas ações absurdas não tardari am a aparecer, como se verificam cla ramente pela ocasião de sua sucessão. A
13(1 HU BB AR D, J R , op. c it , p. 68 .
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6.4. Para Complementar__________________ 6.4.1.Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período
a) O Livro de 1 Samuel 8-31; b) O Livro de 2 Samuel; c) O Livro de 1 Reis 1-11; d) O Livro de 1 Crônicas 3, 10-29; e) O Livro de 2 Crônicas 1-9; f) Grande Parte do Livro de Salmos; g) O Livro de Provérbios; h) O Livro de Cantares. 6.4.2. _Questões Para Revisão_________________
a) Por que Isra el pediu um rei? b) Quem foi e como atuou o primeiro rei de Israel? c) Como D avi chego u a ser rei? d) Explique o provável motivo de Davi ter escolhido Je rusalém como capital. e) Escreva a respeito da sucessão de Davi. f) Como Salomão se firmou no trono? g) Descreva em poucas palavras como foi o reinado de Salomão. h) Escreva a respeito da decadência espiritual de Salo mão.
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7.A DIVISÃO DO REINO
Davi havia reinado sobre Judá e Israel, ao mesmo tempo, por um longo período, mas quando chegou o mo mento de ser sucedido por seu filho Salomão, estas duas par tes principais do Império, ainda, demonstravam uma certa independên cia entre elas. Tem-se a impressão de que se tra tavam de sentido, dois estados pelopela mesmo rei, unidos, em certo entregovernados outras coisas, tradição em co mum, pe la ascendência e pela rel igião, porém separados pe las fronteiras territoriais e tendências políticas. É significativo para esta interpretação perceber que Salomão, semelhante a Davi, acabou por se tornar rei sobre Israel e Judá (1 Rs 1:35), e não sobre uma unidade denominada Israel-Judá, algo que, ao final reinado, por ocasiãooude suasemelhante, morte, logoe surgiram líderdeesseu da parte de nominada Israel pleite ando diante do sucessor do tr ono im perial melhores condições para o estado deles (1 Rs 12:1-4). Não havia mais como permanecerem unidos. As duas partes que já tinham suas diferenças e possuíam ambições políticas contraditórias, com a falt a de alguém com a capaci dade e o carisma de Davi, ou a sabedoria de Salomão, só po deriam mesmo tomar rumos diferentes, e foi isto o que aconteceu. Se tornaram dois estados independentes, ainda que irmãos, separados, que em algumas ocasiões se ajuda ram e em outras se portaram como verdadeiro s rivais se en frentando em guerras. Realmente, a situação do reino ou dos reinos que tive ram as suas srcens na Aliança Anfictiôn ica é algo muito in
teressante. Quando estavam unidos, debaixo do poder de Davi e Salomão, estavam divididos po r alguns motivos, mas
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quando se encontraram separados, continuaram unidos p or outros, havia, principalmente , um forte laço espiritual e um sentimento de parentesco entre as duas partes. Isto transpa receria durante toda a continuidade de suas histórias, princ i palmente nas mensagens de seus profetas. Seja como for, houve a divisão política e territorial e, nas próximas linhas, será apresentado como isto aconteceu. Serão discutidos os motivos que levaram à esta divisão, do ponto de vista teológico e também do natural, descrita a constituição das duas partes, aqui chamadas de P arte Norte e Parte Sul, e analisados os resultados deste acontecimento que mudo u a história dos descendente s de Jacó. 7.1. Motivos que Levaram à Divisão _______________
Não são poucos os leitores apressados da Bíblia qué lamenta m profundamente a divisão que houve no reino d ei xado po r Salomão, pensando que se uma outra pessoa tives se assumido a coroa, e não Roboão, a situação have ria de ter sido diferente. Muitas vezes, esta divisão tem sido creditada apenas à atitude insensata de Roboão, o filho su cessor de Sa lomão. Mas, esta é apenas uma parte da história. A própria Bíblia mostra que a questão é mais complexa e que existem outros personagens importantes envolvidos nela. Para que o assunto fique mais claro, aqui serão apre sentadas duas explicações básicas para o ocorrido, sendo que elas não se excluem, pelo contrário, se complementam. Será analisada, em primeiro lugar, a explicação teológica para os fatos e, a seguir, em segundo lugar, o q ue pode ser chama do de explicação natural, pois se trata do levantamento das conseqüências lógicas que resultam das atitudes tomadas pe los envolvidos na questão.
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7.1.1. A Expli cação Teológic a _______________________
A explicação teológica pode ser tirada, principalmen te, dos capítulos 11 e 12 do Primeiro Livro dos Reis, que te rão alguns de seus versículos a qui transcritos, e dos capítulos 10 e 11 do Segundo Livro das Crônicas. Ela aponta, antes de tudo, para o culpado pela divisão. Este ônus enorme recai sobre o sábio Salomão. Como diz Baxter: “embora Deus possa conferir mui tos privilégios, Ele jamais concede o privilégio de pecar não, nem mesmo para alguém tão especial como Salo mão”.131 atitudes erradas monarca, que não o exemploAs dado por Davi seu deste pai quanto à lealdade ao seguiu seu Deus, atraiu a ira divina sobre si, o que veio a resultar, mais tarde, na divisão do reino. O texto bíblico a seguir, 1 Rs 11:9-13, mostra isto claramente: v.9 “Pelo que o Senhor se indignou contra Salomão, pois desviara o seu coração do Senhor Deus de Israel, que Eduas vezes lhe lhe aparecera. v.io acerca disso tinha ordenado que não seguis se a outros deuses. Ele, porém, não guardou o que o Senhor lhe ordenara. v.ii Por isso disse o Senhor a Salomão: Visto que as sim procedeste e não guardaste a minha aliança, nem os meus estatutos que te mandei, tirarei de ti este rei no, e o darei a teu servo. v.i Contudo não o farei nos teus dias, por amor de Davi, teu pai; da mão de teu filho o tirarei. v.i3 Todavia não tirarei o reino todo; darei uma tribo a teu filho, po r amor de Davi, meu servo, e por amor de Jerusalém, que escolhi.” Ao mesmo tempo em que a explicação teológica apresenta o rei Salomão como o culpado pela divisão, apre2
^ ' BAXTER, ] . S. Exam inai as llsc rih tr as: Ju iz es a lit/ er. São Paulo : Ediçõe s Vida Nov a, 1993 . p. 113-114.
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senta Deus como o autor da mesma. Portanto, antes de se la mentar pela divisão em si, que foi causada por Deus, talvez fosse melhor deplorar as atitudes erradas de Salomão, que acabaram por levar à esta ruptura. O texto de 1 Reis 11:29-33 não dá margens à dúvidas. Na opinião do escritor desta parte da Bíblia, Deus mesmo é quem divide a nação. Segundo ele, Deus já havia dad o a Jeroboão, um servo de Salomão, enquanto este rei ainda era vivo, a promessa, por meio de um profeta, de que ele reinaria sobre a maior parte das tribos. Isto aconteceu assim: v.29 “Sucedeu nesse tempo que, saindo Jeroboão de Jerusalém, o encontrou o profeta Aias, o silonita, no caminho; este se ti nha vestido de uma capa nova, e es tavam sós os dois no campo. v.3o Aias pegou na capa nova que tinha sobre si, ras gou-a em doze pedaços , v.3i e disse a Jeroboão: Toma dez pedaços, porque as sim diz o Senhor Deus de Israel: Eis que rasgarei o da mão Salomão, e a por ti darei dezdetribos, vreinoPorém elede terá uma tribo, am or Davi, meu servo, e por am or de Jerusa lém, a cidade que escolhi de todas as tribos de Israel. v.33 Porque Salomão me deixou e se encurvou a Astarote, deusa dos sidônios, a Camos, deus de Moa be, e a Milcom, deus dos filhos de Amom; e não andou nos meus caminhos, para fazer o que é reto perante mim, a saber, os meus estatutos, e os meus juízos, como fez Davi, seu pai.” Nesta história toda, explicada teologicamente, Jero boão e Roboão não passaram de instrumentos de Deus. Nem um nem outro, nos textos bíblicos a este respeito, leva a culpa do ocorrido. Jeroboão, recebeu de Deus as tribos do norte, como castigo para a dinastia davídica, por causa dos . 32
pecados de Salomão, e Roboão, agiu de forma insensata por influência divina. Assim exp lica o autor de 1 Reis as atitudes
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incoerentes e de verdadeiro “suicídio político” de Roboão, filho de Salomão, ao deixar de lado os conselhos de seus sá bios e seguir os de seus amigos, o que resulto u na divisão (1 Rs 12:1-14): “O rei,vinha pois, não deu ouvidos ao povo; rporque este acontecimento do Senhor, para confirma a pala vra que havia dito por intermédio de Aias, o silonita, a Jero boão, filho de Nebate” (1 Rs 12:15). Para ele estava explicado: Deus dividiu o reino, por culpa de Salomão, pela instrumen talidade de Roboão e Jeroboão. 7.1.2 . A Explicação Natural _________________________
Como já foi dito, a explicação natural a respeito de como acon teceu a divisão do reino não é contraditória à teo lógica, um a complementa a outra. Assim como na teológica se percebe que Salomão foi o culpado pelo cisma, também na natural chega-se a uma conclusão semelhante. Salomão levou a nação ao máximo. Ele organizou o Estado de uma forma que jamais seria superado, mas o povo pagou um alto preço p or estas conquist as e assim que foi possív el procura ram modificar a situação. Salomão modificou completamente o sistema que unia as tribos umas às outras. Elas deixaram de fazer parte de uma aliança anfictiônica, onde deviam lealdade mútua com base em um co mpromisso feito diante de Deus, e passaram a dever lealdade ao Estadoemquedoze mantinha, o culto oficial. Foram divididas distritosinclusive, administrativos, nem sempre respeitando os territórios das antigas tribos e assimilando a população cananita, cada um com um gover nador (1 Rs 4:7-19). Naturalmente, foram surgindo classes sociais dentro do novo sistema. Ele acabou por dividir a po pulação em proprietários, trabalhadores, assalariados e aris
tocratas,que além de criar na cortesimples uma geração nascida na riqueza considerava o povo como verdadeiros
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objetos que poderiam ser manipulados conforme o desejo dos dominadores.132 Os projetos espetaculares de Salomão que trouxeram tanto orgulho para a nação, também trouxeram muitas difi culdades para aquel es que tinham que pagar a conta. Apesar de toda a sua geni alidade no campo do comércio, as con stru ções que levou a efeito, a manute nção de seu exército profis sional, a burocracia administrativa, os gastos extraordinários com o culto e a vida de luxo na corte, entre outras despesas, parece que formavam um conjunto de gastos maior do que a receita, criando um problema financeiro crônico, qual pro curava amenizar sobrecarregando os súditos com oimpostos.133 Como apenas os impostos não eram suficientes para fazer frente aos ambiciosos planos de construção do rei, Sa lomão acabou por lançar mão da corvéia, ou seja, obrigou que pessoas de seu povo trabalhassem gratuitamente para o Estado. Este expediente era l argamente utilizado no mundo antigo, em Israeldafoi Salomão o introduziu. Davi já haviamas se utilizado mão de obraquem escrava de seus co nquis tados (2 Sm 12:31), Salomão também se utilizava do traba lho da população cananita de seu império (1 Rs 9:20-22), mas a obrigação estendida aos israelitas, como foi feito (1 Rs 5:13-14), era uma novidade, diga-se de passagem, extrema mente d esagradável e impopu lar. A antiga e orgulhosa união dos clãs havia perdido toda a sua força.134 Este quadro exposto acima deve ter criado um clima de grande insatisfa ção em boa parte dos súditos de Salomão. Até que, em determinado momento, Jeroboão filho de Nebate, um efraimita, incentivado pelas previsões feitas pelo profeta Aias, que lhe prometia a parte norte do reino para depois da mor te de Salomão, não querendo esperar mais, se
152 BRIGHT, f. Hist óri a de Ism d São Paulo: Edições Paulinas, 1985. p. 290-294. 133 Ibid. p. 289-290. 134 Ibid. p. 291-292.
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rebela contra o rei. Contudo, Salomão estava mui to bem fir mado no trono, não seria fácil d estituí-lo. Jeroboão preciso u fugir para o Egito, preservando a sua vida, e por lá ficou até que se apresentassem condições mais favoráveis para a sua atuação, o que aconteceu no momento da morte de Salo mão, o qual foi sucedido pelo insensato e inexper iente Ro boão (1 Rs 11:26-40). Jeroboão foi chamado do Egito por líderes de Israel, parte norte do reino, e atuou como porta voz destes diante do rei Roboão. Este fato, por si só, demonstra que Jeroboão havia ficado quando se co locou contraconhecido Salomão, como atitudeum quelíder lhecapaz rendeu o exílio no Egito, para evitar a morte, e, ao mesmo tempo, revela a fra queza da posição política do novo rei, que se dispôs a nego ciar com um perigoso rebelde.135 Pior do que ter que negociar com um rebelde foi a in sensatez demonstrada no decorrer das negociações. A situa ção era delicada, ainda poderia um finale não menos drástico, se é que asmas reivindicações eramterlegítimas ape nas um artifício para se iniciar a revolta. Jerob oão, em nome das tribos do norte, estava reivindicando uma dimin uição da carga que Salomão havia imposto sobre os ombros de seus súditos. As palavras registradas em 1 Reis 12:4 bem demons tram a que ponto chegou a tirania de Salomão. Nelas, Jero boão diz a Roboão: “teu pai fez pesado o nosso jugo; agora, pois, alivia tu a dura servidão de teu pai e o seu pesado jugo que nos impôs, e nós te serviremos”. Diante de tal pedido, Roboão dem onstrou todo o seu despreparo político. Consultou, em primeiro lugar, a opinião dos sábios que aconselhavam a Salomão, sem dúvida uma atitude louvável. Mas, ao invés de seguir os conselhos dados por eles, que a lertavam para a necessidade de ceder um pou
co naquele m omento, ele optou por seguir a opinião de seus ^ IIUBBARD, JR., R. L. lurst & Seamd King r. Ch icago : Mo ody Press , 1991. p. 74.
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amigos, com os quais havia crescido na opulência, desco nhecedores das realidades que envolviam o povo. Com isto, ameaçou ser mais rígido ainda do que Salomão havia sido, dando aos líderes do norte motivos para que prosseguissem comdaso tribos movimento de bons separação. 7.2. Como Ficou Dividido o Reino _________________
Roboão não aceitou passivamente a divisão de seu reino, logo reuniu um grande exército, com soldados das tri bos Judá e de Benjamim, tentarque reaver domí nio. de Pela narrativa bíblica separa percebe eleosóseunão deu continuidade a este plano devido aos apelos insistentes de, um profeta chamado Semaías. A mensagem dele, falando em nome de Iavé, que evitou o confronto, foi a seguinte: “Assim diz o Senhor: não subireis, nem pelejareis contra vossos irmãos, os filhos de Israel; cada um volte para a sua casa, porque eu é que fiz isto...” (1 Rs 12:24). Também se pode imaginar que não teria sido pruden te da parte de Roboão dar continuidade aos seus planos ain da que assim o desejasse. Ele se encontrava enfraquecido politicamen te e em condições inferiores as de seu adversá rio,136 uma ação militar naquele momento poderia ter sido o fim de seu reinado. Não havia mais como evitar: o reino es tava dividido! Daqui para a frente, nas narrativas apresenta das na Bíblia, geralmen te, a não ser que o contexto mostre o contrário, e em muitas ocasiões o faz, será empregado o nome de Israel para a parte norte do que era o reino unido e Judá para a parte sul. Na seqüência serão apresentados maio res detalhes de como ficou esta divisão.
CíIBIZRT, P. O sIJ rtv sd e S amu ele dos Rei s: da l endapara a his tór ia. São Paulo: lídiçòcs Paulinas, 1987. p. 50.
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7.2.1 . A Parte Norte
O sistema tribal há muito tempo estava modificado, com os elementos de umas totalmente integrados em outras (1 Rs 12:17), contudo, a terminologia tribo continuou a ser utilizada. Sendo assim, a Bíblia informa que a parte norte, governada por Jeroboão, ficou composta por dez tribos (1 Rs 11:31). Ela tomou para si o nome de Israel e comumente é chamada de Reino do Norte na literatura atual que trata das questões que a envolvem. Um outro nome dado para o Reino do Norte é “Efraim”. Este era o nome da tribo de Jerob oão, que liderou o movimento separatista. Como ela estava localizad a próxi ma de Benjamim e Judá representava a oposição a estas e, muitas vezes, seu nome foi utilizado para designar todas as tribos do norte.137 Inicialmente a capital da parte norte foi estabelecida em Siquém/ passou nesta para Penuel e, em Tirza.138 EstaDepois permaneceu, condição, porseguida, algumaspara dé cadas, até que perdeu a posiç ão para Samaria, a qual foi cons truída, como propriedade real, em um loca l neutro adquirido por Onri, quinto rei de Israel. Com esta atitude, ele, de forma semelhante a ut ilizada por Davi no passado, em relação a Je rusalém, abrandou as relações entre israelitas e a parte dos cananeus que haviam sido incorporados ao seu reino.139 A parte norte, Israel, atuou como uma unidade políti ca por mais ou menos duzentos e nove anos, cobrindo o pe ríodo que vai, aproximadamente, do ano 931 até 722 a.C., quando foi conquistada pela Assíria. Dezen ove reis de nove dinastias diferentes estiveram no poder, o que demonstra a grande instabilidade política que prevaleceu na maior parte do tempo de sua existência.
SCHU LTZ, S. J. A H istória d e Is ra el no A ntiga Testa menlo. São Paulo: Edições Vida Nova, 1988. p jyj. A. História de Israel. Rio de Janeiro: Z ahar Editores, 1967. p . 78. ^ MET ZGE R, M. História de Israel . São Leopoldo: Ed itora Sinod al, 1972. p. 82-84.
. 151-152.
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7.2.2. A Parte Sul
A parte sul do reino, a que ficou sendo governada por Roboão, filho de Salomão, tomou para si o nome de Judá. Inicialmente este nome havia sido utilizado para um dos fi lhos de Jacó, depois foi emprega do para toda uma tribo for mada por descendentes deste personagem e então, quando da divisão do reino, passo u a designar a parte sul do mesmo, formada pelas tribos de Judá e Benjamim. Na literatura atual que trata do período da m onarquia, muitas vezes, esta parte sul, o reino de Judá, é chamada de Reino do Sul, para diferenciá-la da parte norte, Israel, tam bém conhecida como Reino do Norte. Judá se mostrou muito mais estável, politicamente fa lando, do que Israel. Em todo o período de sua existência, como monarquia autônoma, que foi das proximidades do ano 931 até, mais ou menos, 586 a.C., quando foi totalmente subjugado pela Babilônia, contou com apenas uma d inastia a frente doexercido governo.ininterruptamente Foram, aproximadamente, 345 anos de governo por vinte descendentes de Davi. A capital também permaneceu sempre a mesma. Je rusalém nunc a perdeu esta c ondição, provavelmente, ga ran tida pela presença do templo e da Arca da Aliança em seu território, elementos de forte poder de união do povo. Tanto que foi um de preocupação para opois rei Jerob que, te mendo pelafator diminuição de seu poder, haviaoão a possibili dade de seus súditos irem à Jerusalém para cultuarem, providenciou algo semelhante, ainda que inferior, no Rein o do Norte (1 Rs 12:27-29). Para que se possa gravar melhor como que ficou divi dido o reino, a seguir, será apresentado um “quadro explica tivo do reino dividido”, resumindo os pontos básicos
referentes à parte norte e à parte sul. Para um a melhor com
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preensão da história posterior a este acontecimento, evitan do confusões, inclusive, seria melhor para o estudante ter estes dados na memória. 7.2.3. Quadro Explicativo do Reino Dividido
AS DUAS PARTES NOME BÍBLICO NOME MODERNO CAPITAL PRIMEIRO REI QUANTIDADE DE DINASTIAS NÚMERO DE REIS PERÍODO APROX. DE EXISTÊNCIA QUANTIDADE DEANOS CONQUISTADOS POR ÚLTIMO REI
APARTE NORTE
A PARTE SUL
Israel
Judá
Reino do Norte Siquém/Penuel/ Tirza/Samaria Jeroboão (930-910 a.C.)
Reino do Sul
Roboão (931-913 a.C.)
Nove
Uma140
Dezenove
Vinte: sendo 12 até a época da queda de Samaria e mais 8 até o Cativeiro Babilónico
Jerusalém
931-722
931-586
209
345
Assíria
Babilônia
Oséias (731-722 a.C.)
Zedequias (597-587 a.C.)
Houve ape nas um a breve interrupção no domínio da família d de 841 a.C.> se apossou do trono (2 Rs 11 e 2 Cr 22-23).
e Davi quando Atália, filha de jezabel, no ano
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7.3. Resultados da Divisão A divisão do reino acabou por trazer várias mudanças e graves conseqüências ambas Não háanálise possi bilidade, em um trabalhopara como este,asdepartes. se fazer uma pormenorizada de todas as implicações deste fato mas, na seqüência, serão apresentadas algumas das influências que se fizeram sentir em duas das áreas de maior importância: a reli giosa e a política. 7.3.1. As Conseqüências Religiosas__________________ Logo depois da divisão político territorial acabou por acontecer, também, uma divisão religiosa, entre Judá e Isra el. Jeroboão, rei de Israel, temendo que seus sú ditos, ao irem adorar no templo em Jerusalém, fossem influenciados a to marem posição ao lado do rei de Judá, providenciou dois santuários para que rivalizassem com este. Um foi edificado na cidade de Betei e o outro em Dan (1 Rs 12:26-29). O temor de Jeroboão não era sem fundamento, de fato, ao ir adorar em um templo que pertencia oficialmente ao rei de Judá, onde se pregava que a dinastia de Davi havia recebido o direito de reinar eternamente sobre todo o Israel (o conjunto formado por Israel e Judá), o adorador corria o risco de ser influenciado a deixar de considerar Jeroboão como um rei legítimo. Portanto, inicialmente, a sua atitude foi um passo importante para a consolidação de seu reino. O problema m aior na atitude de Jerob oão foi que ele acabou por instituir um culto nos moldes praticados pelos cananeus. Ao fazer dois bezerros de ouro e colocá-los nos locais de culto, ele deu início a um processo de sincretismo que se tornaria crescente até atingir o auge na época do rei
Acab, principalmente prin cesa fenícia de Sidom.pela Cominfluência o passar da dorainha tempo,Jezabel, estes bezer-
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ros que eram símbolos do deus da fe rtilidade, Baal, passar am a representar a Iavé,141 indo contra a Lei de Moisés, desfigu rando, assim, a religião que ahaviam dos seus passados. Inevitavelmente, partir recebido disto, entraram emante um declínio religioso, e uma confusão tal, que se refletiu de for ma negativa em grande parte da população. M uitos, em Isra el, sem saber como agir, ainda na época do profeta Elias estavam indecisos, procurando servir ora a Baal ora a Iavé, ou aos dois ao mesmo tempo (1 Rs 18:21). 7.3.2. As Conseqüências Políticas ____________________
As conseqüências políticas resultantes da divisão, como não poderiam deixar de ser, foram desastrosas. O império des moronou rapidamente. Nem Israel nem Judá, ocupados com os seus problemas internos, tinham forças ou vontade para evi tar a ruína. Os países que antes estavam debaixo do poder do reino unido, aproveitam a ocasião e vão se tomando indepen dentes. Em alguns casos, passaram até mesmo a ser uma amea ça para os novos reinos, como aconteceu com Damasco que colocou em perigo a parte norte de Israel.142 O grande império conquistado a duras penas pelo re Davi e desenvolvido ao seu potencial máximo, debaixo do governo do sábio rei Salomão, se desintegrou rapidamente. Dele restaram duas partes que formaram dois estados de se gunda categoria, com pouquíssima influência internacional, muitas vezes tributários, e em constante perigo de serem in vadidos pelas potências da época. Pode-se presumir, ainda, que a situação econômica resultante desta divisão política foi catastrófica. O não re cebimento dos tributos que os paí ses o utrora vassalo s lhes
pagavam, a perda do monopólio das rotas comerciais ao longo l"tl RAVAvSI, G. F. A ntk o T es la m nto: intm iu ^onc. Ital ia: Am oldo Mo ndatori Editore S.p.A., 1993. p. 11 5-116 . 142 BRIGHT, op. at., p. 305-306.
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da costa e através da Transjordânia e as lutas internas, que se estenderam por muitos anos, devem ter ievado os dois novos estados a passarem por momentos de grandes dificuldades.143 No próximo capítulo serão abordados de forma mais específica os dois reinos e seus líderes. Disto poderão surgir mais alguns esclarecimentos quanto às conseqüências religi osas, políticas, econômicas e outras oriundas desta divisão. 7.4. Para Complementar _________________________ 7.4.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período
a) O Livro de 1 Reis 11-12; b) O Livro de 2 Crônicas 9-11. 7.4.2. Questões Para Revisão ________________________
a) Explique se na época de Salomão assumir o reino havia ou não algum indício de divisão entre Israel e Judá. b) Qual é a explicação teológica para a divisão do Reino? c) Qual é a explicação natural para a divisão do reino? d) Escreva a respeito das conseqüências religiosas oriun das da divisão do reino. e) Escreva a respeito das conseqüências políticas oriundas da divisão do reino. f) Como se chama na Bíblia o Reino do Norte? g) Como se chama na Bíblia o Reino do Sul? h) Escreva a respeito da estabilidade ou instabilidade po lí tica em ambos os reinos.
m BRIGHT, op. cit., p. 306-307.
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8. O REINO DE ISRAEL
Ainda que os dois reinos, Israel e Judá, tenham se desenvolvido lado a lado por um bom período e possuam muitas coisas em comum, pois eram estados irmãos, oriun dos do mesmo núcleo, neste livro, por questão de clareza, evitando-se quebrar o ritmo da narrativa passando de um para o outro a cada instante, serão tratados em capítulos di ferentes. Aqui será apresentada uma visão geral do que foi o Reino de Israel, que teve uma história ma is breve, e no capí tulo seguinte o Reino de Judá, que continuou a existir, como estado independente, ou semi-independente, pois foi tribu tário durante grande parte de seu tempo de existência, por mais de 130 anos após o desaparecimento de Israel como n a ção autônoma. Muitos detalhes precisarão ser omitidos, mas, aqui, serão apresentadas importantes informações a respeito da situação política, econômica, social e religiosa do Reino de Israel, bem como chegou ao seu fi m, além de um breve resu mo da atuação de seus principais líderes. 8.1. A Situação Política de Israel __________________
Um dos fatores políticos que mais se destaca no Rei no de Israel é a instabilidade interna. Só nos primeiros cin qüenta anos de sua existência o trono foi tomado pela força por três vezes. Isto m ostra que em Isr ael não era reconhec i da a sucessão dinástica. A tradição vind a da época dos juizes, que requeria do líder dons carismáticos, ainda estava viva,144 e
1,1 BRIG HT , J. H istória de Israel . São Paulo: Hdiçõ es Paulinas, 1985.
p. 315-316.
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neste ponto assim permaneceu por muito tempo, tanto é que nove dinastias se revezaram no poder do Estado duran te o seu período histórico. A estabilidade política para o Reino de Israel só foi conseguida a partir do reinado de Onri que ocor reu no curto período que vai do ano 885 a 874 a.C.145 Ele deu início a uma dinastia que con seguiu se manter n o poder até a terceira ge ração, o que levou Israel a restaurar suas forças e começar a trilhar um caminho de prosperidade n o exato momento em que forças externas, como o rei no arameu de Damasco, co locavam segurança nacional m perigo. política mo de lada na dea Davi e Salomão queebuscava pazSua interna, relações amigáveis com Judá e íntimas relações co m os fenícios, além de mão forte contra os arameus, foi continua da por seu filho Acab, tornando Israel uma nação de certa importância no cenário internacional, fato este que adiou o seu desapareci mento.146 a frente, carnificina sem igual, acao bou comMais a dinastia deJeú, Onri,eme uma sua própria dinastia ocupou trono por quase um século, per íodo nunca igualado por ou tra em Israel. O golpe de estado praticado po r ele levou Isra el a uma situação difícil, perdendo, inclusive, por esta ocasião, território para seus vizinhos agressivos. A nação foi restabelecendo-se aos poucos e durante o reinado do quarto monarca desta dinastia atingiu o seu aug e. Jerob oão II foi o autor desta proeza. Ele conseguiu levar a nação a gozar de grande prestígio internacional e a uma época de prosperida de sem igual, desde os dias de Davi e Salomão. Contudo, cer ca de três décadas depois, toda esta pompa seria levada ao esquecimento pela ação da Assíria que avançava cada vez mais.147
^S C H U L T Z , |. S. A História d e Is rael no Atiiigo'l'e
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8.2. A Situação Econômica e Social de Israel________ Não é fácil descrever a situação econômica e social de Israel, como um todo, sem apresentá-la fase por fase. As condições variavam de acordo com as tendências políticas do momento e, sendo assim, uma hora estavam bem en quanto em outra, não muito depois, estavam em sérias difi culdades. Seja como for, aqui serão apresentados alguns exemplos tirados dos moment os de prosperidade da nação, a época da dinastia de Onri e a do reinado de Jeroboão II. No restante do tempo, quando Israel s e encontrava em séri as dificuldades internas ou externa s, as condições eco nômi cas e sociais, naturalmente, também eram difíceis. As evidências são claras em apresentar o reinado da família de Onri como um per íodo de prosperidade p ara Isra el. A construção da cidade de Samaria é um dos principais testemunhos deste fato. A arqueologia tem demonstrado que esta cidade, iniciada por Onri e concluída por Acab, pos suía fortificações excelentes, sem paralelo na região. Tam bém é notório que o progresso não se limitou à Samaria. Outras cidades-chave receberam atenção semelhante e ar mas ofensivas foram aperfeiçoadas. Dentre elas se destaca a força composta por carros e cavalos para combate. Em Megido foram encontrados estábulos que, de início, se pensou haverem pertencidos ao rei Salomão, mas que agora se sabe são do século IX, comvim capacidade de abrigar cerca 450 cava los, o que demonstra poder considerável para de a época.148 Estas evidências de riqueza e força, contudo, não in dicam que todos em Israel tinham vida confortável. Os tex tos dos Livros dos Reis parecem mostrar que a situação das pessoas comuns do povo não era das melhores. Os pobres surgem como vítimas de um sistema grosseiro que os colo
cava à mercê dos ricos. Em determinadas ocasiões eram ' IB URIGH T, op . c it, p. 323-32 4.
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obrigados a tomar empréstimos a taxas elevadas o que aca bava por comprometer as suas terras os seus filhos e os seus próprios direitos de liberdade, podendo o devedor até se tornar escravo do credor (2 Rs 4:1). O início do século VIII foi difícil para Israel. Depois do período próspero da dinastia de Onri as dificuldades vol taram e foram se agravando até chegarem ao ponto de levar Israel a paga r tributo para a Assí ria, para que pudessem se li vrar da pressão dos arameus de Damasco, que não lhes da vam descanso. A prosperidade acabou por chegar no reinado de Jerob oão II. O comércio com os fenícios a umen tou sensivelmente as riquezas da nação, contudo, foram di vididas de forma muito desigual, o que gerou fortes protestos por parte dos profetas, principalmente de Amós.150 Mais uma vez a nação estava bem em termos de eco nomia estatal enquanto grande parte da população passava necessidades e eradeexplorada pelos mais Os ricos ti nham condições possuir diversas casas ricos. (Am 3:15), se inte ressavam por móveis caros (Am 6:4), e gozavam a vida em prazeres físicos (Am 3:12, 4:1, 6:6), enquanto os pobres eram extorquidos desavergonhadament e, e desconsiderados pelos administrad ores da lei (Am 5:10,12) sempre se saiam mal.151 Não foi por pouco que a ênfase da mensagem de Amós, um dos profetas desta época, foi justiça social. Ela estava esquecida nesta fase da história de aIsrael. 8.3. A Situação Religiosa de Israel _________________
A situação religiosa de Israel não poderia ser pior. Aquilo que começou como um expediente político por parte
l _J Ibid. p. 324-325 ASU RM KN DI, ). A m óse O sê ia s. Sã o Paulo : Hdições Pau linas, 1992. p. 7. ^ MOTYER, I- A. A M ensagem àe Amós. Sao Paulo: ABU E ditora, 19 91. p. 1.
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de Jeroboão, quando da divisão do reino, para evitar que seus súditos tornassem a servir a casa de Davi, evoluiu para um culto altamente sincre tista e idólatra, que tinha pouqu ís sima relação com a religião oficial praticada na época do rei no unido. Como já foi mencionado neste trabalho, a crise religi osa chegou ao seu ponto máximo durante o reinado de Acab (874-853 a.C.). Este havia se casado com Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, a qual se mostrou uma adoradora e divulgadora incansável de Aserá e, principalmente, do deus Baal Melcart. Ela conseguiu que fosse construído um tem plo para Ba al na capital do rein o, Samaria, e sustentou cente nas de profetas com os recurso s do governo, para que estes estivessem trabalhando entre o povo.152 Com estas e outras atitudes procurou, claramente, estabelecer a adoração a Baal como religião oficial do e stado, desprezando co mpletamen te a tradição espiritual de sua pátria adotiva.153 Durante do esteReino período a religião de Iavé o risco de desaparecer de Israel. Ainda que correu Acab perma necesse nom inalmente como adorador de Iavé, ele permitiu que Jezabel levasse a efeito uma terrível campanha de p erse guição e extermínio contra aqueles que se opunham à sua política religiosa. Isto de forma obvia, colocou em risco to dos os verdadeiros seguidores de Iavé, que não poderiam concordar o cultoorival, os seguidores não tão fervorosos com a mudarem alvo edelevou sua adoração. De forma esp ecial a ira da rainha se volto u contra os profetas de Iavé. Ou eles passavam para o seu lado, p regan do apenas o que a realeza queria ouvir, ou eram mortos sem piedade, se não se escondessem para escapar de seu furor (1 Rs 18:4). A situação chegou a tal ponto que o pro feta Eli
as, desanimado, diante das evidências, concluiu que estava 1.2 SCHULTZ, np. cit., p. 1(19-170. 1.3 B RIG H T, op. cit., p.325-326.
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só na tarefa de oposição a este culto. Ele fornece um resumo sombrio da situação religiosa da época quando declara em 1 Rs 19:10: “...Tenho sido zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos, filhos edemataram Israel deixaram a tua aliança, derribaramporque os teusosaltares, os teus profetas à es pada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida.” Parecia ser o fim da religião de Iavé e a consagração total de Baal em Israel, mas nem tudo estava definido. Jeú, mais tarde, com um golpe-de- estado, conseguiu tomar o po der e eliminar Jezabel juntamente com todos os membros da família real e aqueles que tinham relações co m a côrte. Além disso, destruiu o templo de Baal e assassinou a todos os seus profetas, devolvendo, com i sto, a posição de Deus de Israel para Iavé.154 Contudo, o culto continuou a ser prestado de forma irregular. O estrago estava feito e suas conseqüências seriam notadas até o final do reino. O sincretismo e o paga nismo não mais deixariam a religião de Iavé em Israel, que voltou a florescer, porém, fora do padrão srcinal. Basta ler o Livro de Amós para se perceber o quão longe dos prece i tos da Aliança estava o culto de sua época, com a ênfase no ritual, disso ciado da vida moral e justiça social, e no Livro de Oséias, para perceber que o povo estava tão confuso, em seu sincretismo, que chegava a chamar Iavé pelo nome de Baal (Os 2:16). 8.4. O Fim do Estado de Israel ____________________ Logo depois da morte dejeroboão II, em 753 a.C., Is rael, entrou em uma fase de decadência que o levaria ao fim. A rápida e violenta sucessão de seis reis em um breve espaço de tempo, cer ca de trinta anos, já aponta para o desespero da situação intern a da nação. Para piorar ainda mais, no cenário
internacional, a Assíria estava estendendo os seus domínios 154 BRIGHT, op. cit., p. 333-334.
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e tinha grande interesse em toda a região da Síria, vizinha que estava situada próxima, ao norte de Israel, Canaã e Egito. Não demorou muito e Tiglate-Pileser III, também conhecido como Pul, em uma campanha que se desenrolou de 743-738 a.C.,155impôs tributos a vários estados destaregião, incluindo Hamat, Tiro, Biblos, Damasco e Israel. Em sua política expansionista, no que foi seguido por seus sucesso res, não se contentava em apenas receber tributos, este era o primeiro passo p ara uma conquista total e definit iva. Assim que houvesse qualquer esboç o de reação por parte dos tribu tários, ele reprimia prontamente, deportando os culpados e anexando suas terras às províncias do império.156 Quando o poderoso Tiglate-Pileser III faleceu, em 727 a.C., o rei Oséias de Israel, pensando que o sucessor do trono imperial, Salmanaser V, não teria capacidade para manter os seus domínios, e confiando no apoio do Egito, o qual não era suficiente, se rebelou e deixou de pagar os tribu tos exigidos. Foi um erro fatal! Salmanaser V tomou provi dências imediatas e marchou com seus exércitos contra Samaria. A cidade resistiu ao assédio por três anos, mas não tinha como se salvar e acabou capitulando.157 Alguns têm atribuído a conquista de Samaria a Sargão II,158 mas, ainda que ele se vanglorie várias vezes de ter exe cutado este ato, a Bíblia está correta em afirmar que Salma naser foi odaautor deste Sargão logodeapós se anaser apoderV, ar do trono Assíria, porfeito. ocasião da II, morte Salm apenas regularizou a situação da cidade de Samaria como uma provínc ia do império, debaixo da direç ão de um gov er nador assírio.159 Nesta ocasião, final do verão ou outono de 722/721 a.C., Israel deixou de existir como nação independente. Ma is
SCHULTZ, op. cit., p. 189. 156BRIG!JT,op. cit., p. 362. 157 SC H U l.TZ .op. cit ., p. 190-191. 1^ Mi n ZGKR, M. A História de Israel. São Leopoldo: iidit ora Sinoda l, 1972. P. 101. 1,5 BR1GIÍT , op. cit., p. 368-369.
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tarde, muitos cidadãos de Samaria foram deportados para outras partes do Império Assírio, na Alta Mesopotâm ia e Média, ao mesmo tempo em que pessoas de outras regiões conquistadas a região de Samaria. resultou um a foram misturalevadas muito para grande de povos, costumesDisto e re ligiões que, em conjunto com os restantes de Israel, mais tar de, vieram a dar srcem aos conhecidos samaritanos.160 8.5. Os Principais Líderes de Israel ________________
foi possível, nas linhas anteriores, ao de servários apre sentadaNão a trajetória de Israel, falar algo a respeito dos líderes que estiveram atu ando no período . Por isso, ne s te ponto, quase como um apêndice ao capítulo, mas fazendo parte dele, com o objetivo de dar uma visão mais ampla do que aconteceu, e providenciar informações p ara futuras pe s quisas, será apresentado um resumo que mostra os princi pais profeta s e os reis da nação. 8.5.1. Os Profetas de Israel__________________________
Os profetas não são exclusivos do meio de Israel e Judá, ou da religião de Iavé. Na verdade, é algo comum en tre, praticamente, todos os povos do Antigo Oriente Médio. Só no Egito ainda não foi confirmado de todo esta prática. Semelhante aos profetas de Iavé, também os profetas dos deuses entravam em êxtase, procuravam prever o futuro e levavam mensagens de exortação ao povo e aos governantes. 161 Em Israel, ao lado de grande número de profetas pro fissionais que esta vam ligados ao culto ou a serviço de algum rei, haviam os profetas individuais. Estes eram em pequeno
160 ibid. pOHRER, G.
H istória àa Religião fie Isr ael. São Paulo: Edições Paulinas, 1982 . p. 273-279.
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número, mas, com o passar do tempo, foram reconhecidos como aqueles que estava m certos. Eles falavam em nome de Iavé e estavam comprometidos única e exclusi vamente com Ele.1621 Alguns é quecomo serãooapresentados aqui.de Silo, - Aias; destes Conhecido silonita, morador Profetizou que o reino seria dividido em dois, depois da mor te de Salomão, ficando dez tribos debaixo do poder de Jeroboão (1 Rs 11:26-40). Mais tarde, já no final de sua vida, previu a morte do filho de Jeroboão, o desaparecimento de sua di nastia e a futura destruição do Estado de Israel (1 Rs 14:1-19). 2 - Elias: O ministério de Elias está registrad o em 1 Rs 17-19, 21 e 2 Rs 1,2. Seu nome significa “Iavé é Deus”, o que bem descreve a sua função de mostrar ao povo de Israel, confuso com o culto a Baal, praticado e imposto pela mo narquia, principalmen te por Jezabel, quem era o Deus verda deiro. Ele atuou, no século IX a.C., na época dos reis Acabe e Acasias e deve ter sido transladado em época pró xima a da ascensão de Jeorão ao trono de Israel. Ele seguia a tradição da profecia de êxtase que vinha desde a época de Samuel e, ao que parece, estava de certa forma ligado ao movimento das escolas de profetas que continuavam a existir em sua época (2 Rs 2:3-7).163 3 - Eliseu: Filho de um homem de boas posses cha mado Safate, foi servo e sucessor do profeta Elias no século IX a.C. Seu nome signifi ca “Deus é Salvação” e, provavel mente, era natural de Abel-meolá. Seu ministério, levado a frente das escolas de profetas, foi marcado por sinais e mara vilhas e, se contado desde a sua chamada, se desenvolveu durante os reinados de Acabe, Acazi as, Jeorão, Jeú , Jeoacaz e Joás em um período que cobre mais de cinqüenta a nos. As narrativas a respeito de suas ações se encontram em 1 Rs 19 e 2 Rs 2-9.164
162 Ibid. p. 291. ^ SMITI I, B. L. Mlias. São Paulo: Ediçõe s Vida No va, 19 83. p. 491-493. SMITI I, B. I,. }LHsett.São Paulo: Kdíções Vida Nov a, 1983 . p. 494-496.
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4 - Micaías: Profetizou a morte de Acabe em bata lha, quando este, j untamente com Jo safá , rei de Ju dá, le varam a efeito uma campanha militar em Ramote-Gileade. Ele fez isto contrariando as previsões de vários outros profetas que afirmavam ser a vitória garantida (1 Rs 22:5-28 e 2 Cr 18:4-27). 5 - Tonas:Só existe uma referência no Antigo T esta mento sobre este profeta, fora do livro que leva o seu nome. Ela se encontra no Segundo Livro dos Reis 14:25. Era filho de Amitai, srcinário de Gate-Hefer, cidade da Galiléia, e profetizou a respeito das ações bem sucedidas do rei Jero bo-
ão II. O livro com o seu nome possui várias evidências de que foi escrito por outra pessoa e não por ele mesmo, em época posterior.165 Seu nome significa “Pomba”. 6 - Amós: O que se sabe deste profeta srcinário de Judá mas que exerceu seu ministério profético em Israel está no livro que leva seu nome. Ele pregou em época de prosp e ridade material, provavelmente entr e 760-750 a.C., próximo ao final dedesvi Jeroboão II,166 criticou duramente culto quedosereinado praticava nculado dose preceitos da Aliança,o reprovando , principalmente, a injustiça social que imperava. Seu nome tem o significado de “Sustentado”, e ele vivia em uma cidade do Reino do Sul chamada Tecoa, onde exercia as funções de criador de gado e cultivador de sicômoros.167 Foi expulso de Israel, por causa de sua s mensagens que estavam contra os interesses donotícias governo,que e deve voltado para sua terra onde não se tem tenhaterprofetizado. 7 - Oséias: Pouco se sabe a respeito do profeta Oséias. Seu no me é uma variante da forma Josué e tem o su gestivo significado de “Iavé Salva”,168 ou “Salvação”.169 Seu pai se chamava Beeri, sua esposa Gomer e seus filhos: FRANCISCO, C. T. Introdução ao A ntigo Testamen to. Rio dc Janei ro: JUE RP , 1979. p. 123. SliLÍ.ÍN, R. Introdução ao AnrigoTestamento. São Paulo: lid içõ es Paulina s, 1978. p.652.
167 FRANCISCO, op. cit. p.127. í68 H UBBARD , D. A. Oséias: introdução e comentário. São Paulo: Kdições Vid a N ova , 1993 . p. 64. ARCM BR, Jr., M erece C.onjiança o A ntigo í esta mento?. São Paulo: Iidiçõcs V ida No va, 1986. p. 252.
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Jezreel, Lo-Ruamá e Lo-Ami, isto se os nomes que estão re gistrados no livro bíblico que traz o seu nome não forem apenas simbólicos. Ele deve ter começado a profetizar em condições bastante semelhantes às enfrentadas por Amós, um pouco antes ou um pouco depois do final do ministé rio deste,170 e deve ter prosseguido até bem próximo da queda de Samaria em 722/721 a.C.171 8 - Oded: Repreendeu o exérc ito de Israel, na époc do rei Peca, quando este levou prisioneiros de Judá para a ci dade de Samaria. Foi atendido, e os prisioneiros foram trata dos, vestidos, alimentados e libertados (2 Cr 28:1-15). 8.5.2. Os Reis de Israel _____________________________
Como são muitos os reis de Israel e o objetivo deste livro não é se alongar em detalhes a respeito dos mesmos, aqui serão apresentados alguns pontos essencialmente bási cos sobre eles, como: nomes, descendência, tempo de reina do (baseado cronologiatextos proposta por em Beek)172, um ou outro feito e na os principais bíblicos que aparecem. A intenção é fornecer subsídios para futuras pesquisas e dar uma visão geral de quem foram eles, indo um pouco a lém de um simples quadro. 1 - Jer obo ão (931-910 a.C.): (1 Rs 12-14) - Foi o pri meiro rei de Israel. Era filho de um homem chamado Nebate. Haviadeste, sido servo de dividiu Salomão e assumiu o reinounido logo sob apóso a morte quando o reino que esteve poder de Davi e Salomão, com Roboão, que ficou sendo o primeiro rei de Judá. Seu nome provavelmente signifique “O Povo Aumenta”. Ele edificou santuários em Dã e Betei, para rivalizarem com o templo de Jerusalém, onde colocou dois CRABTREE, A. R.
O U rro de Os éias. Rio dc Janeiro: C asa Publicadora Batista, 1961. p
.l 1.
HUBBARD, D. A. Oséias: introdução e comentário . São Paulo: Edições Vida Nova, 1993. p ^ BE EK , M. A . História de Israel. Rio de Janeiro: Z ahar Editores, 1967. p . 80-1 12.
. 25.
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bezerros de ouro. Com isto, acabou por incentivar a idolatria e o sincretismo religioso em Israel.173 2 - Nadabe (910-909 sl.C.Y. (1 Rs 14:20 e 15:25-28) Era filho de Jeroboão. Seu nome “Nobre”. Reinou por apenas dois significa anos e foi“Generoso” assassinadoou por Baasa, quando participava de uma campanha contra Gibetom, que pertencia aos filisteus.174 3 - Baasa (909-886 a.C/l: (1 Rs 15:27-16:7) - Seu pai se chamava Aias e era de família humilde. Exterminou os descendentes de Jerob oão, esteve durante todo o seu reina do emaatrito comimplan o Reino Judá, deu prosseguimento à polític religiosa tadadepor Jeroe boão.175 4 - Elá (886-885 a.C.^: (1 Rs 16:8-14) - Seu nome si gnifica “Terebinto”.176 Chegou ao trono sucedendo seu pai Baasa e reinou menos de dois anos. Quando se encontrava embriagado na casa de seu mordomo, Arsa, foi assassinado por Zinri, com andante da metade do s carros de guerra de Is rael, que passou a reinar em seu lugar. 5 -Zinri (885 a.C/>: (1 Rs 16:8-20) - Reinou, se assim se pode dizer, por apenas sete dias. Assumiu o poder assassi nando o rei Elá e todos os descendentes de Baasa. Quando percebeu que o golpe de estado tinha sido frustrado, pois Onri, o comandante do exército, também foi feito rei assim que recebeu a notícia da morte de Elá, depois de cercado em Tirza, se fechou em um palácio e o queimou sobre si, mor rendo no incêndio. 6 - Onri (885-874 a .O : (1 Rs 16:15-28) - Ainda que a Bíblia dedique a ele tão poucos versí culos, foi um dos prin cipais reis de Israel, estabelecendo a dinastia de ma ior influ ência. Ele constru iu a capital Sa maria e levou Israel a ter um bom relacionamento internacional. Firmou alianças com a
HUBBARD, D. A. Je ro boã o. São Paulo: Edições Vida Nov a, 1983. p. 803. 174 DO UG LA S, J. D. Nadab e. São Paulo: Ediçõe.s Vid a No va, 1983. p. 1092. W A IT E , J. C. J . Baasa. São Paulo: Ed ições V ida No va, 1983. p. 177. 17í*DOUGLAS, ]. D. E/a. São Paulo: Edições Vid a No va, 1983. p. 484.
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Fenícia, deve ter conseguido algum contato com a Assíria, o que lhe garantiu a não agress ão por parte da Síria, subjugou Moab e viveu em paz com Judá. Seu reinado foi uma época de prosperid ade material acompanhada por decadência reli giosa.177 7 - Acab (874-853 a.C/): (1 Rs 16:29-22:40) - Seu nome significa “O Irmão é Pai”. Era filho de Omri, a quem sucedeu no trono de Israel, e foi casado com Jezabel, filha de Etbaal, rei de Sidom. Manteve relações amistosas com Judá e morreu em batalha contra a Síria. Durante seu reina do, r influênci a de de Jezabel, que procurou a adora ção po a Baal, a religião Iavé esteve perto dei mpor ser banida do país. O profeta Elias, que atuou neste período, foi o grande opositor à sua política religiosa.178 8 - Acazias (853-852 a.Q: (1 Rs 22:52-2 Rs 1:18) Era filho e sucessor do rei Acabe. Ainda que traga em seu nome, que significa “Iavé Agarrou”, lembranças da religião srcinal deera Israel, provavelmente sua reinado mãe Jezabel, adorador de Baal. influenciado Durante seupor breve teve que am argar a rebelião de Moabe (2 Rs 1:1) e um fracas sado projeto maríti mo em conjunto c omjosafá, rei de Judá (2 Cr 20:35-37). Acabou morrendo em co nseqüência dos fe rimentos que sofreu quando caiu pelas grades de um quarto alto na cidade de Samaria.179 9 - Torão (852-841 a.C.): (2Rs 1:17-9:29) - Seunome significa “Iavé é Exaltado”. O relato de sua história, na Bí blia, esta misturado com histórias a respeito do profeta Eliseu. Ele também era filho de Acabe e Jezabel e foi sucessor de seu irmão Acasias porque este morreu sem ter filhos.180 Acabou sendo assassinado por Jeú que, por ordem do profe ta Eliseu , havia sido ungido rei sobre Israel.
177 SWCISHKM U i;rZ p. be. 167-São 169. AN, , op. D. cit., I. Aca Paulo: Edições Vida No va, 1983. n. 25-26. 170 ' . W A IT H J. C. J. A ca bas. São Paulo: Edições Vida No va, 1983. p. 28. W A IT E .J . C. J. Jo rõ o. São Paulo: Edições Vida No va, 1983. p. 858-859.
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10 - Teú (841-814 a.C.): (2 Rs 9-10) - Seu nome tem significado incerto, possivelmente se trate de uma abrevia ção que pode ser traduzida como “Iavé é Ele”. Ele era cha mado de filho de Ninsi, que era de fato seu avô. Seu pai se chamava Josafá. Ele foi o fundador da mais duradoura di nastia de Israel. Assassinou o rei Jorão para assumir o seu lu gar e promoveu uma onda de massacres em Israel para firmar o seu reino. Mandou matar Jezabel e a todos os profe tas de Baal. Foi pressionado pela Síria e, a partir das poucas informações extra bíblicas a respeito de sua pessoa, deduz-se
que se submetido a Salmanaser parae garantir o apoiotenha da Assíria contra este país vizinhoIII (Síria) seu rei Hazael.181 11 - Jeoacaz (814-798 a.C.^: (2 Rs 13:1-9) - Seu nome significa “Iavé Tem Segurado”. Assumiu o governo no lugar de seu pai Jeú e administrou com muita dificuldade.182 Foi duramente oprimido pela Síria a ponto de lhe restarem, em seu exército, cinqüenta cavaleiros, dez carros de combate e dezapenas, mil soldados de infantaria. 12 - Teoás (Toás) (797-782 a.C.): (2 Rs 13:10-14:15) Era filho de Jeoacaz a quem sucedeu no trono. Aproveitou a fase de deca dência pela qual passava a Síria para es tabilizar o seu governo e fazer uma boa administração. Levou a efeito uma campanh a contra Judá, aceitando um desafio do rei Amazias, da qual saiu vitorioso. Saqueou Jerusalém, o tem plo e os tesouros reais de Judá e os levou, juntam ente com alguns cativos, para a cidade de Samaria.183 13 - Teroboão II (781-753 a.C/>:(2 Rs 14:23-29) Foi um dos mais notáveis governantes de Israel. Reinou por quarenta e um anos, sendo doze destes em co-regência com seu pai Jeoás, e conseguiu levar Israel a gozar de uma pros-
181 WAITE, J. C. J. Jm . São Paulo : Ediçõe s Vida Nova, 198 3. p. 824-825. 182 W AIT E, J. C. J. Jeoa ca z Sâo P!lul o: Edições Vida Nova, 1983. p. 792. 183 DOUGLAS, J. D. Jo ãs. São Paulo: Edições Vida No va, 1983. p. 847.
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peridade nunca vista desde os tempos de Salomão. Com a prosperidade veio a imoralidade, a injustiça social e o culto desvinculado dos preceitos da Aliança, o que levou Amós e, mais tarde, Oséias a pregarem situação.184 14 - Zacarias (753-752 contra a.C/); esta (2 Rs 15:8-12) - Assu miu o reino em luga r de seu pai, Jerob oão II, e conseguiu rei nar por apenas seis meses, pois foi assassinado por Salum filho de Jabes. Ele foi o último governante da dinastia de Jeú.185 15 - Salum (752 a.C^: (2 Rs 15:10-15) - Dele foi o segundo mais breve reinado em Israel.186 Depois de assassi nar Zacarias tomarFoio seu lugar, só conseguiu ficarfilho no poder durante um emês. assassinado por Menaém, de Gade, que tomou o seu lugar no trono. 16 - Menaém (752-742 a.C/l: (2 Rs 15:13-22) - Seu nome significa “Consolador” . Era um militar que ch egou ao trono matando o usurpador Sal um. Para fortalecer sua posi ção no governo acabou pagando tributo para a Assíria que estava sendo governada na época pelo poderoso Tiglate-P ileser III).187 17 - Pecaías (741-740 a.C/>: (2 Rs 15:22-26) - Reinou como sucessor de seu pai Menaém. Foi assassinado no se gundo ano de seu governo por Peca, comandante de seu exército. Ao que parece esteve, assim como seu pai, debaixo do poder da Assíria durante todo o seu reinado. O seu nome significa “Iavé Abriu”.188 18 - Peca (739-732 a.C/1: (2 Rs 15:23-16:9) - Seu nome significa “Abertura”. Ele era filho de um homem cha mado Remalias e assumiu o governo no lugar de Pecaías, a quem assassinou. Se aliou a Rezim, rei da Síria, para fazer frente ao poder Assírio. Juntam ente com seu colega da Síria 184 SCIIULTZ, OP. CIT., p. 187-188. m Ibtd. p. 188.
1K6 Ibid. ^ DOUG LAS , ] . D. Menaêm. São Paulo: Kdiçõ es Vida Nova, 198 3. p. 1024-1025. ^ MIL LAR D, A. R. Pecaias. São Paulo: Hdições Vida No va, 1983 . p. 1239.
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procurou, em vão, forçar os reis de Judá, Jotão e seu suces sor Acaz, a fazerem parte da aliança. Teve o país invadido pela Assíria, ocasião em que cedeu m ais da metad e da nação, e logo depois, assassinado por Oséias filho Elá,interesse prov a velmente comfoi o apoio de Tiglate-Pileser que de tinha em ter um aliado no governo de Israel.189 19 - Oséias (731-723 a.C/>:(2 Rs 15:30,17:1-6) - Foi o último rei de Israel. Subiu ao poder, assassinando Peca, com o apoio da Assíria mas , quando da morte de Tigla te-Pi leser, procurou, com o apoio do Egito, se livrar da carga de tributos que tinha de pagar. Em sua época, Salmaneser V, sucessor de Ti glate-Pileser, não querendo p erder sua posses são, invadiu Israel, cercou Samaria por três anos e acabou com o Estado de Israel que foi incorporado ao Império A s sírio.190
189 WISEMAN, D. J. Pica. São Paulo: Edições Vida No va, 19 83. p. 1234. 190 SCHULTZ, op. cit., p. 190-191.
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8.6. Para Complementar________________________ 8.6.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período a) O Livro de 1 Reis 12-22; b) O Livro de 2 Reis 1-17; c) O Livro de 2 Crônicas 10,13,16-18, 25; d) O Livro de Amós; e) O Livro de Oséias. 8.6.2. Questões Para Revisão_______________________ a) Por que provável motivo, no início de Israel, o trono era tomado à força? b) Escreva algumas linhas a respeito do reinado de Onri. c) Quem exterminou com a dinastia de Onri e por quanto tempo durou a dinastia que a sucedeu? d) Apresente um breve resumo do reinado de Jeroboão II. e) Escreva a respeito da situação econômica de Israel. f) Escreva a respeito da situação religiosa de Israel. g) Como aconteceu o desaparecimento do estado de Israel? h) Cite o nome de quatro dos profetas de Israel.
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9.O REINO DE JUDÁ No capítulo anterior foi apres entada uma visão geral da trajetória do Reino do Norte, chamado Israel, desde o seu início, quando da divisão do reino que havia sido governado por Salomão (931 a.C.), até o seu final, como estado, quando foi anexado ao Império Assírio (722 a.C.). Neste, de forma semelhante, será apresentada a trajetória da outra parte do reino dividido, o Reino do Sul, conhecido na Bíblia como Judá. Sendo assim, seguindo o mesmo esquema do capítulo anterior, mas abrangendo um período maior, que vai da divi são do reino (931 a.C.) até o fim do Estado de Judá (586 a.C.), quando passaram a fazer parte do Império B abilónico, aqui serão analisadas: a situaç ão política, a situação econ ômi ca ecomo social,foi e a que situação disto, será um vis to Judáreligiosa chegoudeaoJudá. fim Além e apresentado resumo da atuação de seus principais líderes, alguns de seus profetas de mais destaque e todos os seus reis. 9.1. A Situação Política de Judá ___________________
assimrelativam como Israel, com ea logo divisão do reino, se tornouJudá, um estado ente fraco despertou o de sejo de governantes estrangeiros ávidos por maiores con quistas. Susac, rei do Egito, que já estava envolvido indiretamente com a divisão entre Israel e Judá, pois havia hospedado a Jeroboão quando este precisou fugir de Salo mão por ocasião da primeira tentativa de se apoderar do re i
no, não esperou muito para tirar vantagens da nova situação. Ele invadiu os domínios de Judá e, ainda que pelo relato bí
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blico se tenha a impressão de que o ataque foi dirigido so mente à Jerusalém e que Roboão evitou maiores estragos pagand o um pesad o tributo, segundo o próprio relato de Susac, confirmado por evidências arqueológicas, nesta ocasião, foram tomada s mais de 150 localidades do novo reino. O es trago só não foi maior porque Susac, com problemas inter nos no Egito, precisou abandonar as suas conquistas.191 Isto era apenas o início das dificuldades com potên cias estrangeiras. Com o passar dos anos, o perigo de serem obrigados a se submeter a esta ou aquela nação, através de acordos defensivos, pagamento de tr ibutos e mesmo dep en dência plena , seria constante. Tanto o Egito, quanto a Síria, a Assíria e a Babilônia viriam, em épocas diferentes, tirar van tagens da fraqueza de Judá. O relacionamento político com Israel, o Reino d Norte, foi instável. Em alguns momentos lutaram entre si, em outros fizeram alianças e combateram inimigos comuns, além de desenvolverem projetos comerciais em conjunto. Na época rei Jorão, estavam tãoAtáüa ache, gados quedo Jeorão, filhode deIsrael, Josafá,osreireinos de Judá, recebeu filha ou irmã de Acabe, como esposa (2 Rs 8:18,26, 2 Cr 21:6; 22:2)192. No geral, ainda que as duas nações possuíssem mui tas diferenç as, elas eram tratadas como irmãs e, como é pos sível notar pela atuação e pregação de alguns profetas, a separação entre elas era parcial. Ezequiel, mais ou menos cento eEstado, trinta anos que sua Israel havia Samaria, deixado de como aindadepois chamava capital, de existir irmã de Jerusalém, capital de Judá (Ez 23). Quanto à política inte rna no Reino de Judá, ainda que tenha en frentado turbulênc ias diversas, pode-se a firmar que foi desenvo lvida de uma forma mui to mais tranq üila do que a pratic ada em Israel. Em Israe l, ao que parece, havia um a di
BR KiI íT, f, Histór ia de Isra el São Paulo: fidiçõ cs Paulm as, 198 5. p. 308-310. 192 lillIG H T , op. eu., p. 3 20-321.
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ficuldade muito grande em se aceitar o princípio da sucessão dinástica natural, a qual foi interrompida por várias vezes. Isto colocava os governantes em constante perigo e alerta, pois , a qualquer momento, substit or al gum poderiam revolucionário aventureiro. EmserJudá não uídos haviapeste problema. Era de aceitação, aparentemente geral, que o tro no pertencia à família de Davi, fato este que proporcionava uma certa estabilidade, não dando oportunidade para que surgissem outros pretendentes ao governo. Na realidade, a sucessão dinástica só foi quebrada uma vez, e por poucos anos, quando Atália, esposa estrang eira de Jeorão, depois da morte do rei Acazias, seu filho, matando a quase todos os herdeiros naturais, assumiu a liderança da nação (2 Cr 22:7-12). 9.2. A Situação Econômica e Social de Judá _________
A situação econômica no Reino de Judá teve suas fa ses fortes e fracas. Não há dúvidas que no início do no vo es tado, depois de Roboão ter sido obrigado a pagar um pesado tributo ao Egito, o país tenha pa ssado por um grave p roble ma econômico e ficado em posição de inferioridad e materi al em relação ao Reino de Israel. Na opinião de Ellison, evidências sugerem que Judá precisava de Israel prospero para que também gozasse de prosperidade.193 Se isto está correto, a situação econômica dos dois era bastante parecida. Digno de nota, quanto à expansão econômica, foi o reinado de Uzias (791-740 a.C.). O rei se interessava pela agricultura e criação de animais, e providenciou condições favoráveis, escavando poços em regiões desérticas e cons truindo torres de proteção, para que a produção nacion al se desenvolvesse cada vez mais. Também reconq uistou as mi-
^ ELI JSON, [ f. L. jrnlá. São Paulo: Edições V ida No va, 1983. p- 874.
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nas de ferro e cobre em Elate e conseguiu o controle de im portantes cidades e rotas comerciais que davam acesso ao Egito e à Arábia. O que trouxe grande desen volvimento para seu estado, vivido que continuou mesmo depoisdedo períodoII.194 de abundância por Israel sob o comando Jeroboão Quanto às condições sociais em Judá é importante destacar que houve um a certa homogeneidade notável entre a população por muito tempo. Ainda no final do século oita vo as cidades de Judá não apresentavam, com regularidade, casos extremos de riqueza ou de pobreza. Nisto eles diferi am em muito do Reino do Norte, Israel. Contudo, eles não estavam livre s deste mal, e, como Isaías e Miquéias mostram, com o avanço do paganismo sob Acaz, deixando-se de lado as estipulações da Aliança com Iavé, destacaram-se as dife renças e os pobres sofreram injustiças e foram oprimidos pelos ricos (Is 3:13-15; Mq 3).195 9.3. A Situação Religiosa de Judá __________________ Naturalmente, a religião de Iavé em Judá sofreu me nos intervenções externas do que a praticada em Israel. O seu relativo isolamento e a falta de outros santuários princ i pais, são conhecidos apenas os de Hebrom, Berseba e Gibeom, aumentou em muito a influência da cidade de Jerusalém e de seu templo,196 centro religioso da nação, cri ando uma certa unidad e de crença religiosa, além de política. Contudo, as condições religiosas da nação andaram muito distantes do que se poderia chamar de ideal. Como a monarquia, da mesma forma que nas outras nações, era uma instituição sagrada197 e fazia do rei o seu principal líder religioso, as condições espirituais variavam
H istória de Is ra el no A ntig oT es ía m eu to. São Pauto: I klições V ida Nova , 1988. p. 196- 198. 1)_1SCHULTZ, S. |. A p. 1,5 BRIG HT , op.'cit., 372. I% E U JSO N , op. c it., p. 876. 197 BR IGH T, op. cit., p. 276.
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conforme a política seguia o seu rumo. Quando o rei era um verdadeiro adorador de Iavé tendia a levar a nação, em gran de parte, ta mbém a ser, como foi o caso de Ezequias e Josias, que efetuaram reformas religiosas importantes. Quando o rei se voltav a para a idolatria, automaticamente, levava m ui tos do povo co m ele. Um exemplo claro disto está na vida de Manassés. O autor do Segundo Livro dos Reis afirma que o povo não deu atenção à Lei de Moisés e se desviou dos c ami nhos propostos por Iavé segui ndo a seu líder Manassés. Es tas são as palavras exatas: “Eles, porém, não ouviram; e Manassés fez errar, que fizeram piorfilhos do que as nações,de quetalomodo Senhorostinha destruído diante dos de Israel” (2 Rs 21:9). Em determinadas épocas o comportamento religioso atingiu níveis extremamente baixos. Alguns dos reis, como foi o caso de Acaz, na época da opressão, ou da aliança, da Assíria, partiram para a idolatria e o sincretismo. Acaz não teve escrúpulos em colocar um altar pagão no recinto templo em Jerusalém (2 Rs 16:10-17), certamente por m do an do de Tiglate-P ileser rei da Assíria, nem de oferecer sacrifí cios a deuses estrangeiros (2 Cr 28:22-25) e, mesmo, de oferecer seu filho em sacrifício (2 Rs 16:1-4). Com o pass ar dos anos a rel igião oficial de Judá, base ada, principalmente, nas promessas de Iavé feitas ao rei Davi, foi se desvinculando das obrigações morais e sociais da Aliança do Sinai e se tornando paganizada. Foi surgindo um sentimento errado de que Iavé, como protetor de Judá, em troca de um culto meticuloso em seus detalhes rituais, deveria abençoar a nação independentemente do comp orta mento moral e da atitude em relação ao sincretismo e a idola tria de seus adoradores (Is 1:10-20).198 Isto só poderia mesmo levar ao caos como levou.
1,8 Ibid. p.386.
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Nota-se que na época próxima ao fim da monarquia havia um sentimento religioso de pura superstição. Ainda que o profeta Jerem ias alertasse a nação quanto à impossib i lidade de se resistir ao inimigo, na ocasião a Babilônia, afir mando ser a invasão resultado da desobediência ao Deus nacional, muitos esperavam que Iavé interviesse a qualquer momento pa ra salvá-los, pois confiavam cegamen te nas pro messas feitas a Davi e na presença do templo, praticamente como um grande amuleto entre eles (Jr 7:1-15), que os prote geria independentemente de suas ações estarem ou não em acordo com os preceitos da Lei Mosaica. 9.4. O Fim do Estado de Judá _____________________
Com o declínio do poder da Assíria surge a Babilônia como potência dominadora mundial. Depois de algumas conquistas, no ano 605 a.C., sob o comando de Nabucodonosor, filho do rei Nabopolassar, os babilónicos se lançaram em uma campanha vitoriosa contra o Egito em Cárquemis.199 Esta primeira intervenção babilónica na região não causou muitas mudanças políticas em Judá. Eles que já há al guns anos vinham sendo vassalos do Egito, simplesmente passaram a estar submissos à Babilônia.200 O rei Jeoaquim, de Judá, teve que entregar tesouros retirados do templo de Jerusalém e permitir que alguns reféns levados para a Babilônia201 (2 Rs 24:1; Dn 1:1). No fossem mais, a vida continuou normal. Contudo, o fim estava se aproximando rapidam en te, era apenas uma questão de tempo. Em dezembro de 598 a.C. o rei Nabucodonosor re tornou com seu exército ao ocidente. Segundo Josefo, o rei Jeoaquim foi surpreendido pois pensava que os babilónicos
Ibid. p. 440. 20()BRU CE ,F. F. Israel an d the Nations . Grand Rapids, Michigan: William B. Ecrd nw is Publishing Company, 1983. p. 86. 201 SCHULTZ, op. cit., p. 222.
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marchavam contra o Egito e não contra sua nação. Contudo, estava claro que o alvo agora era Jerusalém. Certamente, Jeoaquim havia parado de pagar o tributo exigido pelos babi lónicos, se voltando para osdesta egípcios, aindaNão quepodendo alertado pelo profeta Jeremias do perigo política. re sistir ao poderio do inimigo, em março de 597 a.C., Jerusa lém se rendeu. Como Jeoaquim morreu em 6 ou 7 de dezembro de 598 a.C., quem se rendeu, de fato, foi seu filho e sucessor, que reinou apenas três meses, Joaquim.202 Por esta ocasião, a segunda intervenção babilónica em Judá, além dos tesouros do templo e da casa do rei, fo ram levadas muitas pessoas para a Babilônia. Entre os cati vos estavam o próprio rei, sua mãe, suas mulheres, seus oficiais, artífices, ferreiros e soldados. No lugar de Joaquim, Nabucodonosor estabeleceu como rei em Judá a Matanias, tio paterno do rei cativo, mudando o seu nome para Zedequias (2 Rs 24:8-17). A Crônica Babilónica, que se encontra no Museu Bri tânico, se referindo a estes fatos citados acima relata: “No sétimo ano, no mês de kislev, [Nabucodonosor] revistou suas tropas e, havend o marchado par a a terra de Hatti, sitiou a cidade de Judá, e no segundo dia do mês de Adar tom ou a cidade e capturou o rei. Designou ali um rei de sua própria escolha, recebeu seu pesado tributo e [os] enviou para a Ba bilônia”.203 Zedequias também veio a se rebelar contra Nabuco donosor e, em resultado disto, Jerusalém , mais um a vez, foi sitiada. O cerco da cidade começou em janeiro de 588 a.C. e alcançou sucesso em agosto de 586 a.C., quando come çou a destruição final de Jerusalém no período do Antigo Testa mento. O rei tentou fugir mas foi capturado. Levado para a cidade de Ribla , diante do rei da Babilônia, assistiu à execu-
SCHULTZ, op. cit., p. 223-224. JO H N SO N , P. Hist öri a dosJndm s. Rio de Janeiro: Imago Ed itora, 198 9. p. 85. 21,4 SC H U LT Z , op. ci t., p. 224.
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ção de seus filhos. Depois teve seus olhos vazados e foi le vado cativo para a Babilônia onde morreu (2 Rs 24:18-25:7). Assim chegava ao fim o Estado de Judá no período do N abucodonosor colocou rei Antigo no lugarTestamento. de Zedequias. Gedalias, filho não de Aicão, umoutro alto funcionário de Judá que havia ajudado Jeremias em situa ções de dificuldades, foi estabelecido como governador. Mas, dentro de pouco tempo foi assassinado por Ismael, lí der de um m ovimento contra a Babilônia. A partir deste mo mento em diante não são mais conhecidas as ações de Nabuco donosor em relação a Judá. Não se sabe se simples ele colo cou outro governador no lugar de Gedalias ou, se mente, levou Judá a fazer parte de Samaria, como os Persas o fizeram no período posterior.205 No Livro de Jerem ias ainda há uma breve i nformação a respeito de uma quarta leva de prisione iros para a Babilô nia, que aconteceu no ano vinte e três do reinado de Nabu codonosor, o que eqüivale, aproximadamente, ao ano 582 ou 581 a.C.206 Porém, não se encontram nela maiores deta lhes de como e porque foi que isto aconteceu (Jr 52:30). 9.5. Os Principais Líderes de Judá _________________
Seguindo o mesmo esquema do capítulo anterior, onde foi tratado dos principais líderes de Israel, aqui serão apresentados alguns dos principais líderes de Judá. A inten ção é fornecer um resumo bastante breve, dos líderes seleci onados, que possa ajudar em pesquisas posteriores e dar uma visão geral do trabalho deles, indo um pouco além de um simples quadro cronológico.
METZGER, M. História de Israel. São Leopoldo: Editora Sm odal, 1972. p, 120. 2
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9.5.1. Os Profetas de Judá
Durante a época do reino unido, e mesmo antes, os profetas já atuavam como portadores da mensagem de Deus, e quando o reino foi div idido lá estavam eles para lem brarem à nação de suas obrigações. Eles foram figuras de grande importância, pois influíam diretamente sobre a vida do povo e os destinos do reino. Como “rei e religião - são in separáveis nas sociedades antigas”207, estes foram os dois principais problemas que eles tiveram que enfrentar. Aqui serão apresentados alguns destes heróis que ar riscavam suas vidas em nome de Iavé, indo, muitas vezes, contra uma sociedade corrupta e reis impiedosos. 1 - Sem aías: É o primeiro profeta, na Bíblia, a atuar no recém nascido Reino de Judá (931 a.C.). Falando em nome de Iavé ele evitou a guerra que Roboão estava deter minado a travar contra Israel, para manter a sua soberania sobre todas as tribos e, também, predisse a vitória de Sisaque, rei Egito,dosobre Judá. registrou, por escrito, parte da do história primei ro reiAinda de Judá. Estas informações se encontram em 1 Rs 12:21-24, no texto paralelo de 2 Cr 11:1-4 e em 2 Cr 12:1-15. 2 - Ido: É chamado de profeta e vidente, termos intercambiáveis no Antigo Testamento, e atuou como escritor dos atos dos reis Roboão e Abias (2 Cr 12:15 e 13:22). 3 - de Azarias : Seu nome significa “Iavé tem Ajudado”. Era filho um homem chamado Odebe e atuou como incentivador do rei Asa, em sua reforma religiosa (2 Cr 15).208 4 - Hanani:Também atuou durante o reinado do rei Asa. Repreendeu o rei por ter feito uma aliança com BenHadade, rei da Síria, contra Baasa, rei de Israel que o estava combatendo. O profeta acabou sendo lançado no cárcere
2(17 ASU RM EN D1 , J. 0 P rofetim o: das ori gens à època r noâe rtm■ São Paulo: Ed ições Pau linas, 1988. p. 21. 200 NORMAN , J. G .G . A ba rias. São Paulo: Edições Vida No va, 1983 p. 174.
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por causa desta intervenção nos negócios do rei (2 Cr 16:1-10). 5 - Jeú: Repreendeu o rei Josafá por ter ajudado o rei Acabe, Israel, a combater Síria (2 Crem 19:1-3). Era filho Hanani de e registrou os feitos ade Josafá um livro (2 Crde 20:34). 6 - Taaziel: Encorajou o povo e o rei Josafá, durante uma reunião no templo, quando precisaram enfrentar uma investida de Moabe e Amom em conjunto, contra Judá (2 Cr 20:1-30). 7 - Eliezer: Seu nome significa “Iavé é Minha Aju da”. Era filho de um homem chamado Dodava. Profetizou ao rei Josafá que sua frota de navios que estava em EziomGeber iria naufragar, como punição divina pelo fato dele ter feito aliança com o perverso rei de Israel, Acazias (2 Cr 20:35-37).209 8 - Obadias: Pouco se sabe a respeito deste profeta e da época exata em que ele exerceu o seu ministério. A pilh a gem da parte de Edom, contra Judá, conforme está registra da no livro que leva o seu nome, tem sido datada, pelo menos, de cinco formas diferentes, 926, 845, 790, 597 e 587 a.C., o que bem mostra a dificuldade do assunto. Seu nome significa “Servo de Iavé ” e sua mensagem é altamente nac io nalista, não criticando em nada a sua nação.210 9 - Toei: Quase nada se sabe a respeito deste profeta. Ele era filho de um homem chamado Petuel Q11:1), que si gnifica Engrandecido de Deus, e tem algumas de suas profe cias registradas no livro que leva o seu nome. Quanto à época de seu ministério é assunto de grande controvérsia; ao mesmo tempo que alguns eruditos concluem ser ele um dos primeiros profetas clássicos, que atuaram no século IX, ou tros pensam que ele é do período Pós-Exílico.211
209 KITCHEN, K. A. Elk^er. São Paulo; Ed ições Vid a No va, 1983 . p. 494. COELHO FILHO, I. G. Ohastias e Sofonias: nossos contemporâneos. Rio de Janeiro: JUE RP , 1993. p. 9-11. 211 R. A. U rro de Joel . São Paulo: Ediçõ es Vid a No va, 1983. p. 849.
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10 - Zacarias: Era filho de um sacerdote chamado Joiada, não deve ser confundido com o profeta Pós-Exílico, filho de Bereq uias, que tinha o mesmo nom e e tem um Livro
da Bíblia com suase profecias. Censuroufoio morto, rei Joásapedrejado por causa da idolatria deste, , em conseqüência no pátio do templo, por ordem do rei (2 Cr 24:17-22). 11 - Isaías: Sem dúvida, foi um dos principais profe tas de Judá. Seu ministério se desenvolveu por um período que foi desde o reinado de Uzias, passou pelo de Jotão e Acaz, e se encerrou no de Ezequias. Era filho de um homem chamado Amoz, queirmão a tradição, sem provas concretas, aponta como sendo do rei Amasias. Ele atuou direta mente junto à nobreza, em Jerusalém. Seu nome significa “lav e deu Salvação” e t em muito haver com a sua mensagem de confiança exclusiva em De us para livrar a nação do poder de seus inimigos,212 principalmente da Assíria, que era a grande ameaça externa para Judá em sua época. 12 - Miquéias: Foi contemporâneo de Isaías, pois atuou na época dos reis Jotão, Acaz e Ezequias, só que des envolveu o seu ministério no interior e não na capital. Seu nome é uma pergunta muito signific ativa e soa, praticamen te, como um desafio. Ele significa: “Quem é como Iavé?”. Ainda que fosse srcinário do Reino do Sul, ele pregou tanto contra os pecados do povo de Judá como os de Israel. P reo cupado com os problemas sociais, atacou de forma dura os desmandos dos poderosos e a corrupção na justiça.213 13 - Naum: A raiz do nome deste profeta tem o sen tido de “consolar”. O livro que traz o seu nome o apresenta como natural da cidade de Elcós, localidade desconhecida até o momento, mas que deve ser situada em Judá. Os dados históricos que transparecem em seu livro, queda de Tebas, destruição de Nínive e poder assírio intacto, apon tam para a
^ RI DER BOS , J. Isaias : introduçã o e comentári o. SSo Paulo: Edições Vid a No va, 199 0. p. 9-10. 213 COELHO FILHO, I. G. M iqnêias, no sso contem porâneo. Rio dejaneiro: |UERP, 1995. p. 11-13.
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época do reinado de Manassés, na metade do século VII, como seu período de atuação. Uma das épocas mais desas trosas para a religião de Judá.214 14 - Sofonias: Ainda que apareça na introdução do Livro de Sofonias os nomes de quatro de seus ascendentes, ele é pouco conhecido. Seu nome, que significa “Iavé Ocul tou”, só aparece uma vez na Bíblia e não há certeza de quem ele era. Só para que se tenha uma amostra das dificuldades para identificá-lo melhor, basta informa r que alguns estudio sos o classificam como de srcem humilde, de escravos m es mo, enquanto outros, em completo contraste, defendem que era descendente família real. que seperíodo pode dizer comele segurança é que eledaprofetizou emOalgum da época do reinado de Josias (640 - 609 a.C.), provavelmente antes da reforma religiosa promovida por este, pois, ainda combate o culto a ídolos em seu livro (Sf 1: 4-5). 15 - Teremias: Ele é um dos profetas mais conheci dos da Bíblia. Deve ter nas cido durante o reinado de Man as sés, em Anatote e começou a pregar por volta 626 a.C., se no décimo terceiro ano do reinado de Josias. Seudeministério estendeu até à época do cativeiro babilónico (587 a.C.) e che gou a ministrar, de Jerusalém , por carta, aos exilados n a Ba bilônia. Era de família sacerdotal, provavelmente descendente da linhagem de Abiatar, que foi exilado em Anatote pelo rei Salomão. Patriota fervoroso, teve um mi nistério muito difícil, pregando o castigo de Deus à nação corrompida. Seu nome significa “Iavé Ajuda”.215 16 - Hulda: Foi uma profetiza, esposa de Salum, mo radora de Jerusalém, que foi consultada a favor do rei Josias, no ano de 621 a.C., quando foi encontrado o “Livro da Lei” no templo. E digno de nota ela ter sido consultada em uma
214 AM SL RR , S. O r Profetas e os U rro s Prof éticos. São Paulo: Edições Pau linas, 1992 . p. 148. 2^ FRANCISCO, C. T. Introduç ão ao Antigo Teslam nto. Rio de janeir o: JU liRP , 197 9. p. 169.
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época onde Jeremias e Sofonias estavam profetizando.216Ela deveria ser um a pesso a de muita influênc ia. 17 - Habacuque: Não se sabe praticamente nada respeito da vida particular de Habacuque. Sua pro fecia, que está registrada na Bíblia, pode ser datada entre o período que vai do ano 612 ao 605 a.C. Seu nome significa “Afeto” ou “Abraço” e ele se mostra preocupado com o fato dos cal deus, povo de uma nação mais ímpia do que Judá, estar ser vindo de instrumento divino para castigá-los.217 9.5.2. Os Reis de Judá______________________________
No ponto anterior foram apresentados alguns dos profetas de Judá. Outros existiram e fazem parte dos relatos bíblicos, enquanto outros ainda, que certamente atuaram durante a época do reino dividido, não nos são conhecidos hoje em dia. Quanto aos reis, em menor número e tendo seus feitos preservado s nas crônicasaqui oficiais, um volum e maior de informações. Contudo, serãoháapresentados resumidamente nos mesmos moldes do capítulo anterior. A apresentação será feita em ordem cronológica e es tará fornecendo alguns dos dados principais de cada um dos reis que atuaram no Rein o do Sul, Judá, desde o seu início até o fim, com o cativeiro babilónico. Constará do resumo: o nome do por rei; oBeek)218, período de reinado (baseado cronologia proposta textos bíblicos ondena podem ser en contradas outras informações e alguns dos feitos, positivos ou negativos, mais marcantes. 1 - Reoboão (Roboão) (931-915 a.C.V (1 Rs 12:1-24; 14:21-31; 2 Cr 9:31-12:26) - Foi o último governante do Rei no Unido, ainda que tenha reinado por pouco tempo, e o primeiro de Judá, posição em que se manteve por dezessete
GRAY , M. Hulda. São Paulo: Edições Vidn No va, 1983. p. 727. 217 FRANCISCO, op. cit., p. 165. BEEK, M. A. Ilibaria de Israel Rio de Janeiro: Zah ar Ed itores, 1967. p. 80-112.
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anos. Era filho de Salo mão com uma princesa amonita ch a mada Naamá. Seu reino, depois de dividido, foi composto pelas tribos de Judá e Benjamim, e nquanto as outras forma ram o Reino de Israe l, governadas po r Jeroboão. Governou com muita dificuldade, esteve envolvido em guerras com o Reino do Norte, foi oprimido por Sisaque, rei do Egito e, ainda que a princípio seu povo tenha sido fiel à religião de Iavé, com o tempo passou a praticar a idolatria. Seu nome si gnifica “Que o Povo se Expanda”.219 2 - Abias (Abião) (914 - 912 a.C.): (1 Rs 15:1-8; 2 Cr 13:1-22)da- Era filhodeste, de Reoboão. de seuDeu pai, depois morte por um Reinou período em de lugar três anos. continuidade à política de seu pai e ativou a guerra crônica com Israel, com o que conseguiu debilitar o Reino do Norte, conquistando Betei, Efrom, Jesaná e territórios vizinhos.220 Apesar de ter um nome que significa “Meu Pai é Iavé”, a Bí blia condena sua conduta religiosa. - Asa (911 871 a.C.): (1 Rsno15:9-24; Cr 14:1 16:14) -3 Era filho de -Abias e o sucedeu trono. I2ncentiva do pelo profeta Azarias, filho de Odede, executou uma re forma religiosa de grande s proporções em Judá. Chegou, até mesmo, a depor sua mãe Maaca da posição de rainha-mãe, pelo fato dela ter feito uma imagem de Aserá. Ameaçado por Baasa, rei de Israel, se aliou ao rei Ben-Adad, da Síria, o que lhe rendeu um duro protesto da parte do profeta Hanani, que via nesta aliança uma demonstração de falta de fé. De pois de um longo reinado, faleceu acometido de um a grave enfermidade nos pés. 4 - Tosafá (870 - 849 a.C.): (1 Rs 22:41-50; 2 Cr 17:1-21:1) - Suced eu a seu pai Asa no trono de Judá. Foi um administrador hábil, que edificou fortalezas e construiu cidades-armazéns. Atuou como um religioso piedoso, preocupa-
219 DO UG LAS, J. D. Reoboão. São Paul o: Edições Vida Nova, 1983. p. 139 2-139 3. 220 SCH UL TZ , S- J. A História d e Is ra el no Antigo Testam ento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1988. p. 178-179.
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do em ensinar a Lei de Moisés a seu povo (2 Cr 17:5-9) e acabou com a inimizade que havia de longa data entre Judá e Israel, fazendo alianças com Acabe e Jorão. Mais tarde, estas alianças traria m dificuldades enormes para o seu reino e para a dinastia de Davi, que por pouco não foi exterminada por Atália. Seu nome significa “Iavé Tem Julgado”.221 5 - Teorão (Torão) (848 - 842 a.C.):(2 Rs 8:16-24; 2 Cr 21:1-20) - Era casado com Atália, da casa de Onri, dinas tia de Israel, m ulher dominadora e adoradora de Baal. Já no início de seu reinado, Jeorão, matou a todos os seus irmãos, possivelm ente, querendo eliminar qualquer oposição futura. Ainda que não exista nenhuma prova concreta, a respeito disto, é bem possível que ele tenha tomado esta atitude san guinária orientado por sua esposa. Seu reinado foi breve. Morreu de uma terrível infecção intestinal que muitas dores lhe causou por um período de dois anos.222 O estado caótico de seu reinado pode ser descrito pelas palavras do autor de Crônicas 21 : 20 ). que diz: “se foi sem deixar de si saudades” (2 Cr 6 - Acazias (841 a.C.): (2 Rs 8:25-29; 2 Cr 22:1-9) Reinou por pouco tempo, cerca de um ano. Também é co nhecido por outros dois nomes na Bíbli a; é chamado de Jeoacaz em 2 Cr 21:17, e de Azarias em 2 Cr 22:6. Aconse lhado por sua mãe Atá lia e seu tio Jorão, rei de Israel, deu con tinui
dade lutar à política seu pai.223 Aliou-se Israel para contrareligiosa a Síria edemorreu assass inado por com Jeú, usur pador do trono de Israel, pela ocasi ão de uma visita que fez a Jorão. 7 - Atália (841-835 a.C.V. (2 Rs 11:1-21; 2 Cr 22:10-23:21) - Ainda que seu nome transmita uma mensa gem favorável à religião de Iavé, ele significa “Iavé é Exalta-
W A IT E, ]. C. J . Jo sa jà . SÃo Pau lo: Edições Vid a Nov a, 1983. p. 861-862. 222 BRIGHT, op. cit, p. 336. 223 SCHULTZ, op. cit., p. 184.
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do”,224 suas atitudes a negavam totalmente. Tomou posse do trono, após a morte de seu fil ho Acazias, assassinando a to dos os possíveis herdeiros do reino. Só escapou o pequeno Joás, um de seus netos, que foi escondido por Jeoseba, uma tia do bebê. Imp lantou um reinado de terror no qua l exaltou ao máximo o baalísmo. Foi a única pessoa fora da linhagem de Davi a as sumir o trono de Judá, tamb ém a única mulher, e, ainda que tenha reinado de forma soberana, não receb e na Bíblia o título de rainha.225 8 - Toás (Teoás) (835-796 a.C.):(2 Rs 12:1-21; 2 Cr 23-24) - Quando tinha sete anos de idade, depois de ter pas sado seis anos escondido, foi proclamado rei de Judá pela ação do sacerdote Joiada. Nesta mesma ocasião foi morta a sua avó, a rainha usurpadora do trono, Atália. Enquanto o sacerdote Joiada era vivo, o rei, certamente orientado por este, desenvolveu um bom governo e restaurou, em grande parte, a r eligião de Iav é emjudá. Após a morte de Joia da, po rém, perm itiu a idolatria e acabou mandando matar o profe ta Zacarias, filho de Joiada, que lhe fez oposição. Acabou sendo assassinado por seus próprios servos quando se en contrava em sua cama enfermo. Foi enterrado em Jerusalém mas não nos sepulcros dos reis. Seu nome significa “Iavé tem Dado”.226 9 - Amazias (795-767 a.C.): (2 Rs 14:1-22; 2 Cr 25:1-28) - Era filho de Joás a quem sucedeu no trono de Judá. Assimdoque se firmoudenoseu governo matou a todos os um par ticipantes assassinato pai. Conseguiu reunir grande exército e conquistar os edomitas, mas ao levar os deuses d este povo para Jerusa lém, aos quais pa ssou a adorar, atraiu sobre si a oposição. Desafiou o rei de Israel , Jeoás, por quem foi vencido e feito prisioneiro, trazendo grandes difi224 GRAY, M.
A lalia . São Paulo: Edições Vida Nova, 19 83. p. 167.
22í’ CLEMENT’S, R. E. O M undo do A ntigo Testamento:perspect ivas soc iológi cas , an tnpo lógicas e poli /icas . S ão P aulo: Pau lus, 199 5. p. 355. 22í*DO UG LAS, J. D. fo ás. São Paulo: Edições Vida Nova, 1983. p. 846-847 .
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culdades para seu país. Foi vitima de uma conspiração em Je rusalém. F ugiu para Laquis onde foi perseguido e morto por seus inimigos. Seu nome significa “Iavé é Poderoso”.227 10 - Uzias (2 Rs 15:1-7; 2 Cr 26:1-23) - Foi(Azarias) conhecido(766-739 por dois a.C/>: nomes diferentes. O primeiro, Uzias, significa “Iavé é Minha Força” e o outro, Azarias, “Iavé tem Ajudado”. Assumiu o trono aos dezesseis anos de idade por ocasião da morte de seu pai Amazias. O reino de ju dá experimentou uma época de grande prosperi dade durante sua administração e, aproveitando-se do declí nio temporário da Assíria, alcançou algumas vitórias importantes contra os filisteus, os árabes e os amonitas. Ata cado de lepra, ao final de seu reinado, quando tentou quei mar incenso no altar do templo, atribuição dos sacerdotes, afastou-se da vida pública enquanto seu filho Jotão cuidou dos negócios do reino.228 11 - Totão (739-735 a.C.):(2 Rs 15:32-38; 2 Cr 27:1-9) Era filho do rei Uzias e sua esposa Jerusa, filha de Zadoque. Começou a reinar com a idade de vinte e cinco anos e deu se qüência à boa administração de seu pai. Seu nome significa “Iavé é Perfeito”.229 12 -Acaz (735-716a.C.V. (2Rs 16:1-20;2 Cr28:1-27) Era filho de Jotão. Seu nome é uma forma abreviada de Jeoacaz. Peca, rei de Israel, e Rezim, rei da Síria, procuraram substituí-lo no trono por um rei títere, com a intenção de
formar um a força única para resistirem ao poder d a Assíria. Acaz, ignorando os conselhos do profeta Isaías que pregava a confiança em Iavé, pediu auxílio a Tiglate-Pileser, rei da Assíria, e foi livre de seus opressores, que foram conquista dos nesta ocasião. Porém, a aliança com a Assíria iria custarlhe muito caro. Por exigência do rei da Assíria retirou tesouW A IT R, }. C. J- A m adas. São Paulo: Edições Vida Nova , 1983. p. 57.
22fi VTAIT u, J. C. J. U^va.r. São Paulo: Edições Vida Nova, 1983. p. 1644. 229 DOUGLAS, J. D. Jotão. Sã o Paulo: Kdições Vida No va, 1983. p. 872.
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tos do templo em Jerusalém e introduziu cultos estrangeiros. Chegou a um nível tão baixo em sua vida religiosa que, se guindo costumes pagãos, ofereceu alguns de seus filhos em sacrifícios.230 13 - Ezequias (716-686 a.C.): (2 Rs 18:1-20:21; 2 Cr 29:1-32:33) - Foi um dos mais notáveis reis de Judá. Era filho de Acaz e pode ter reinado juntamente com ele em um perí odo de co-regência, antes de assumir o governo total. Sacu diu o jugo assírio e procurou recolocar o culto a Iavé no seu lugar de direito, promovendo uma reforma religiosa, reati vando e purificando o templo e pondo os levitas em seus postos de trabalho. Foi acometido por uma doença incurá vel mas recebeu a promessa divina, por intermédio do profe ta Isaías, depois de ter orado, de que seria curado e ainda teria mais quinze anos de vida. Seu nome significa “Iavé é Minha Força”.231 14 - Manassés (696-642 a.C.): (2 Rs 21:1-18; 2 Cr 33:1-20) - Seu nome significa “Fazendo Esquecer-se”.232 Começo u a reinar com dadeEra de filho doze do anos, em co-regência com seua ipai. rei provavelmente Ezequias e Hefzibá e esteve no comando da nação, contand o o período em companhia do pai, por longos cinqüenta e cinco anos. Foi um dos piores reis de Judá. Ignorou a religião de seu pai e passou a promover todo tipo de cultos estranhos à fé em Iavé. Era adivinho, praticava feitiçaria, colocou imagens de escultura paraoferta seremqueimada adoradas no de Jerusalém e ofe receu, como ao templo deus Moloque, alguns de seus filhos. Próxim o ao final de seu reinado foi levado cativo à Babilônia, pelo rei da Assíria, onde arrependeu-se d e suas ações e se voltou para Iavé. Depois de libertado reassumiu o comando de Judá e promoveu uma reforma religiosa, mas
SCHULTZ, op. cit, p. 199-200. 231 W AIT E, J. C. J. Ezequias. São Paulo: Edições Vida Nova, 1983. p. 583- 584. 232 SCH ER IFFS , R. J. A. M anassés. São Paulo: Edições Vid a No va, 1983. p. 990.
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esta não foi suficiente para reparar os estragos que ele mes mo já havia causado. 15 - Amom (642-640 a.C.): (2 Rs 21:18-26; 2 Cr 33:20-25) - Parece que, em seu curto reinado, desfez as últi mas obras de seu pai Manassés levando a nação a retornar à idolatria. Aca bou sendo morto por seus próprios servos, ví tima de uma conspiração, em sua casa. 16 - Tosias (640-609 a.C.): (2 Rs 21:24-23:30; 2 Cr 34:1-35:27) - O povo que vingou a morte do rei Amo m tam bém elevou seu filho, Josias, com a idade de oito anos, ao trono. Seu nome significa “Iavé Sustenta” e sua mãe se cha mava Jedida. Ele foi um dos mais piedosos reis de Judá. Se rebelou contra o jugo da Assíria, negando as honrarias que eram prestadas aos seus deuses em Judá, por aquela época, e desenvolveu uma reforma religios a em toda a nação, atingin do, até mesmo, partes do extinto Reino do Norte, como a re gião da Galiléia. Acabo u morrendo, no auge de sua carreira, de uma forma trágica em batalha contra o exército de Neco, rei do para Egito,ir quand o tentava evitar que que resistiam este atravessasse terras em ajuda dos assírios às forçassuas ba bilónicas em Harã.233 O profeta Jeremias, na ocasião, com pôs uma lamentação em homenagem ao rei Josias (2 Cr 35:25). 17 - Jeoacaz (Salum) (609 a.C.): (2 Rs 23:30-34; 2 Cr 36:1-4) - Com a morte de Josias sobrevem um pesadelo sobre Jeoacaz, conhecido por no Salum (Jr 22:11), Judá. filho de Josias, também foi feito rei, mas esteve governo por apenas três meses. Faraó Neco, aproveitando a sua vitó ria sobre Josias, vai até Jerusalém, prende o rei Jeoacaz e o leva para o Egito onde, mais tarde , viria a morrer; coloca um irmão deste em seu lugar e impõem um pesado tributo à Judá.
233 W AIT E, J. C. J. Jo sias . São Paulo: Edições Vida Nova, 1983
. p. 868 -869.
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18 - Eliaquim (Teoaquim) (609-598 a.C.): (2 Rs 23:35-24:7; 2 Cr 36:5-8) - Era irmão de Jeoac az, filho de Josi as, e foi colocado no comando da nação pelo Faraó Neco. Seu nome srcinal era Eliaquim (“Deus estabelece”)234 e foi mudado pelo Faraó, como sinal de vassalagem, para Jeoaquim (“Iavé Tem Estabelecido”).235 Continuou vassalo do Egito até que, em 605 a.C., a Babilônia se assenho reou da re gião e, levando alguns cativos como reféns, o fez tributário. Ele m es m o c hego u a ser levado para a Babilônia, mas deve ter retornado depois de ter assumido compromissos com o novo senhor (2 Cr 36:6). Mais tarde, pensando que a Babilô nia estava enfraquecida, deve ter se rebelado e deixado de pagar o tributo. Isto atraiu as for ças babilónicas que sitiaram Jerusalém. Eliaquim morreu durante este cerco, talvez em batalha.236 19 - Joaquim (Jeconias) (597 a.C.): (2 Rs 24:8-17; 2 Cr 36:9-10) - O jovem Joaquim começou a reinar, em lugar de seu pai, Eliaquim , com apenas dezoito anos. Sua adm inis tração durou só três meses, ao fim do que foi levado para a Babilônia, juntamente com sua mãe e muitos outros cativos, líderes da comunidade. 20 - Matanias (Zedequias) (597-586 a.C.): (2 Rs 24;18-25:7; 2 Cr 36:11-21) - Último rei de Judá. Seu nome srcinal era Matanias (“Dom de Iavé”) e foi mudado pelo rei
da Babilônia, Zedequias (“Justiça Iavé”), quandoNabucodonosor, o colocou comopara vassalo no trono de Judádeem lugar de seu sobrinho Joaquim . Ignorando os avisos do pro feta Jeremias acabou se rebelando contra a Babilônia, o que levou a nação à derrocada total. Depois de pelo menos de zoito meses de cerco o exérc ito da Babilônia invadiu Jerusa lém, destruiu a cidade e levou muitos cativos, entre eles o
234 yo u N G , E. ]. liliaquim. São Paulo: Edições Vida Nova, 1983 . p. 491. ^ WISE MAN, D. J. Jeoa cpdm. São Paulo : Edições Vida No va, 198 3. p. 792. 236 SCHULTZ, op. cit, p. 214-215.
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próprio Zedequias que após ter assistido à execução de seus filhos teve seus olhos furados.237 Era o fim da monarquia e do Estado de Judá. Zede quiasum foigovernador substituído,e pela intervenção Nabucodonosor, por não por outro rei,deficando claro o re baixamento do status de Judá no Império Babilónico. O novo líder, imposto pe lo dominador, s e chamava Gedalias, como já foi visto em ponto anterior, e esteve por pouco tem po administrando o que sobrou de Judá, pois logo foi assas sinado por um grupo liderado por Ismael, que era da família real. Com que medo de represálias, boadele, partefugiram do povopara e mesmo os líderes ainda havia no meio o Egi to, deixando a região praticamente abandonada. Com este grupo que partiu para o Egito foi levado, contra à sua pró pria vontade, o profeta Jeremias. As últimas notícias a res peito dele mostram que deve ter passado lá os últimos dias de sua vida, pregando a mensagem de Iavé, tamb ém, para os habitantes desta nação (Jr 43:8-13). 9.6. Para Complementar _________________________ 9.6.1.Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período
a) O Livro de 1 Reis 12-22; b) O Livro de 2 Reis 8-25; c) O Livro de 2 Crónicas 10-36; d) O Livro de Obadias; e) Talvez o Livro de Joel; f) O Livro de Isaías 1-39;
g) O Livro de Miquéias; 237 WA ITK, J . C. J . Zedequias. São Paulo: Edições Vid a Nova, 198 3. p. 1675-1676.
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h) O Livro de Naum; i) O Livro de Sofonias; j) O Livro de Jeremias; k) O Livro de Lam entações de Jerem ias 1) O Livro de Habacuque. 9.6.2.Questões Para Revisão ________________________
a) Quais são os anos que marcam o início e o fim do Rei no de Judá? b) Por que a política interna de Judá foi mais tranqüila do que a de Israel? c) Quem foi a pessoa que colocou em risco a dinastia de Davi em Judá? d) Escreva a respeito da situação social de Judá. e) Qual foi o império que acabou com o Estado de Judá? f) Como aconteceu o desaparecimento do Estado de Judá? g) Cite os nomes de quatro dos profetas de Judá. h) Escreva, de forma resumida, como foi o reinado de Jo sias. i) Cite os nomes do primeiro e do último rei de Judá. j) Descreva em poucas palavras o ministério do profeta Jeremias.
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1 0 . O CATIVEIRO BABILÓNICO
O cativeiro babilónico surgiu c omo uma co nseqüên cia natural para Judá que, separado do outrora poderoso im pério liderado por Davi e Salomão, da mesma forma que Israel, o Reino do Norte, se tomou um pequeno e fraco país entre nações fortes e ávidas de expansão territorial. Mais cedo ou mais tarde, se dependesse apenas de suas habilida des para sobreviver, inevitavel mente, isto ac onteceria como aconteceu. Sendo assim, sem muitas surpresas, o Estado de Judá, seguindo o mesmo caminho trilhado por Israel, havia chegado ao fim. Contudo, a história de seu povo ainda teria lances surpreendentes, continuaria a se desenvolver indepen dente mente da como existência ou não de umdapaís organizado forma soberana tal. Era o início transição de umdeestágio de nação para uma comunidade de fé que, mais tarde, se es palharia p ela face da terra. Aqui serão abordados alguns pontos básicos para uma melhor compreensão do período. Sob o título de “Os Dominadores” serão apresentados os líderes que comanda ram o chamado “Império Neobabilônico”, im plantação até à sua derrocada total diante dodesde podersua Persa, liderado por Ciro. Também será visto: como aconteceu, o que é e qual a importân cia da “Diáspora” para a religião dos descendentes de Jacó, além de serem apresentadas algumas informações a respeito do local e duração do cativeiro e das condições social, religiosa e política do povo que lá esteve.
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10.1. Os Dominadores O Império Neobabilônica foi de curtíssima duração. Cerca de vinte e cinco anospopulação depo is depara ter arrasado com Judáa e deportado parte de sua a Babilônia , após morte do grande líder' Nabucodonosor, começava a sua de cadência.238 Corroído pela instabilidade política criada pela falta de um governante capaz de unir as diferentes facções, mais uma vez o domínio das nações trocaria de mãos. Como tudo na vid a também ele passou. curto período contou de sua existência (626 - de 539sete a.C.), ImpérioNo Neobabilônico, com o governo soo beranos. São eles: Nabopolassar; Nabuco donosor; Evil-Merodaque; Neriglissar; Labashi-Marduque; Nabonido e Belsazar. Com a intenção de apresentar um breve resumo de sua história, nas linhas que seguem, cada um destes go vernantes será apresentado individualmente. 10.1.1. Nabopolassar_______________________________
Nabopolassar foi o f undador do Império Neo babilô nico.239 Em 626 a.C., após ter resistido a um cerco por parte dos assírios , contra os quais havia se rebelado, assumiu o tro no da Babilônia. Era o início da mudança de pode r mundial. Logo os caldeus da Babilônia, que eram um grupo forte de procedência araméia, dominariam várias partes do Oriente Próximo tomando o lugar da Assíria no comando das na ções.240 Este grande líder foi quem deu r umo à política inter na e externa da Babilônia que seguiu por aproximadamente um século. Enfrentou algumas derrotas no campo militar mas se mostrou, sobretudo, um diplomata de muito sucesso,
BRIGHT, |. História de Israel. São Paulo: lidíçõ cs Pau linas, 1 985. p. 475. 23* DOW, |. L. Di-^jon ario delia Bib bia Milano: Garza nti Edito rc s.p.a., 1 993. p. 269. DONNRR, H. Histór ia de I sra el e d os P oros Vi-^inhos. São Leop oldo: Sinod al, 1997. p. 388,410,41 3.
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aproveitand o-se do bom modelo administrati vo que já havia sido utilizado pelos assírios. Destacou-se, ainda, como cons trutor, dedicando-se, especialmente, à tarefa de restaurar templos babilónicos.241 Quando morreu, em agosto do ano 605 a.C.,242 dei xou para seu filho Nabucodonosor, com que m dividia a fun ção de coman dante das forças babilónicas, o caminho aberto para a conquista total do Oriente Antigo. O mais difícil ele mesmo havia feito, faltava apenas a consolidação do império que agora era uma questão de tempo. 10.1.2. Nabucodonosor_____________________________
Nabucodonosor ao assumir o lugar de seu pai no tro no não teve muito traba lho para levar o Oriente Antigo a se tornar babilónico. Tirando a batalha de Cárquemis, na qual derrotou os egípcios, e uma tentativa frustrada contra o mes mo Egito, noencontraram inverno de 601/600 a.C.,que as demais na Síria não resistência venha acampanhas merecer grande destaque, incluindo sua atuação contra Judá.243 Não havia quem pudesse medir forças com seu exército. Ele é muito citado na Bíblia pelo fato de ter sido o conquistad or que levou Judá para o cativeiro. Existe a possi bilidade de que seu nome signifique “Nabu protegeu os di reitos de sucessão”. Isto pode estar apontando para algum risco que ele correu de ser preterido como príncipe herdeiro, ao mesmo tempo em que mostra a sua devoção à esta divin dade, para a qual construiu templos.244Os nomes, na antigüi dade, não necessariamente acompanhavam a pessoa por toda a vida, como nos dias atuais, eles podiam ser, e eram, mudados conforme as circunstâncias.
241 DONNER, op. cit., p. 413. 242 BRIGHT, op. cit., p. 44U. 243 DONNER, op. cit, p. 414. 244 WISEMAN, D. J. Kübumlonmor.
São Paul o: Edições Vida Nova, 1983 . p 1086, 10 87.
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Nabucodonosor era um homem bastante religioso e serviu a vários deuses. Construiu e reparou templos tam bém a Marduque, e providen ciou vestes e ofertas regulares para as estatuas divinas,para alémprocissõe de levantar um zigurate e providen ciar um caminho s sagradas na próp ria cidade da Babilônia. Cidade esta que foi embelezada seguindo-se várias sugestões de sua esposa Amitis.245 Quanto à sua loucura, conforme registrada no Livro de Daniel, no capítulo quatro, ainda não foi encontrada ne nhuma evidência'texterna que a possa corroborar. Contudo, deve ser levado em conta que, infelizmente, pouco se sabe a respeito dos últimos trinta anos de reinado deste poderoso líder.246 Sabe-se, porém, que ele não teve a felicidade que seu pai teve de deixar um herdeiro à altura de tal império. En quanto viveu a Babilônia gozou de e stabilidade, mas logo de pois de sua morte teve início a decadência.247 Nos sete anos que se seguiram o trono foi ocupado por três mona rcas dife rentes, o que bem aponta para a i nstabilidade polít ica que se instalou com a morte de Nabucodonosor.248 10.1.3. Evil-Merodaque ____________________________ Evil-Merodaque, também conhecido como Avil-Marduque, era filho de Nabucodonosor e reinou no lugar deste, após a sua morte, a partir do ano 561 a.C., quando Joaquim, rei de Judá, completava trinta e sete anos de cativeiro.249 Ele é pouco conhecido, e não poderia ser diferente, pois reinou por apenas dois anos, os quais foram suficientes para Flávio Josefo classificá-lo como um governante áspero. Teve um fim trágico. Foi assassinado por seu cunhado Neriglissar, que assumiu o seu lugar no trono da Babilônia.250 245 WISEMAN, op.
cit, p. 1086, 1087.
246 IbkI. 247 AM SLE R, S. O s Profetas e o s U rro s Profé ticos. São Paulo: Edições Paulinas, 1992 . p. 31)4.
248 BRIGHT, op. cit, p. 476. 24^ HUBBARD, ]r., R. L. First SeamdKings. Chicago: Moody Press, 1991. p. 238-239. 2^ SCHU LTZ , S. |. A H istória de I sr ael no A ntigo Testa mento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1988 . p. 225.
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10.1.4. Neriglissar _________________________________
Provavelmente, Neriglissar seja o mesmo Nergal-Sarezer que aparece como oficial d e Nabucod onosor no relato do Livro de Jeremias no capítulo trinta e nove. Ele também não reinou po r muito tempo, morreu quatro anos após ter se apossado do trono.251 Era filho de um homem rico, proprie tário de muitas terras e deve ter conseguido se firmar no tro no por ter liderado uma revolução com o auxílio do exército e o apoio dos sacerdotes ou, ainda, por direito de sucessão, por ser esposo de uma filha de Nabucodonosor. Como seu nome aparece em documentos babilónicos desde 595 a.C., ele deveria ser de meia idade, ou mesmo um tanto idoso, quando começou a reinar, o que fez de forma bastante a gres siva.252 10.1.5. Labashi-Marduque __________________________
Foi um rei sem expressão para o império babilónico. Ele era filho de Neriglissar e governou no lugar deste por apenas alguns meses. Logo foi deposto e assassinado dei xando o trono para o usurpador Nabonido.253 Ainda não se sabe se ele teve tempo de fazer algo digno de n ota para o rei no. Ao que parece, pela falta de evidências, não foi possível fazer nada. A Babilônia estava sofr endo com a escassez de lí deres capazes. 10.1.6. Nabonido e Belsazar_________________________
As carreiras destes dois governantes ainda estão en voltas em um certo mistério. Documentos têm mostrado que Nabonido foi o último governante da Babilônia, mas a
251 BRIGHT, op. cit., p. 477. 252 SC HU I.TZ , op. cit., p. 225-226. 253 Ibid. p. 226.
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Bíblia, no Livro de Daniel, apresenta Belsazar como aquele que governou até a conquista dos medos e persas. Isto se explica pelo fato de Nabonido, forçado pelas circunstâncias, ter deixado seu filho Belsazar como regente na Babilônia enquanto se retirou para a cidade de Tema na Arábia, onde demonstrou interesse no comércio com cara vanas e em promover o culto à deusa-lua.254Ele foi obrigado a se retirar por ter c aído em desgraça diante dos co mercian tes da cidade da Babilônia e dos sacerdotes de Marduque, que deixaram de lucrar com o culto a este deus a partir do momento o rei claramente, passou a se esforçar em honra r outra divindade. em Eleque chegou, a tentar colocar a deusa lua, Sin, na posição mais alta do panteão babilónico,255 o que atraiu sobre si a ira dos que adoravam Marduque ou lucra vam com o culto dirigido a ele. Seu reinado chegou ao fim em 539 a.C., quando as tropas do conquistador persa Ciro invadiram a Babilônia e foram bem recebidas pelaBelsazar população descontente por mudanças. Seu filho foi execut ado pore ansiosa esta oca sião, mas o rei Nabonido, ao que parece, mesmo tendo sido feito prisioneiro, deve ter sido solto mais tarde e tratado de forma favorável.256 10.2. A Diáspora ________________________________
Para tratar deste assunto de forma comp leta seria ne cessário um livro à parte. Não é esta a intenção neste ponto. Mas, também , não seria sensato passar adiante sem aprovei tar a oportunidade e dar uma palavra a respeito d este aconte cimento tão importante que veio a ser um dos principais fatores de influência na forma futura da religião judaica. P or
04 SCHULTZ, op. cit, p. 227. 255 BRIGHT, op. cit, p. 477. 256 SCHU LTZ, o p cit , p. 228 .
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isso, aqui serão abordados três itens importantes sobre o as sunto: Será explicado o significado do termo “ diáspora” \ feita uma apresentação de como ocorreu e qual a sua importân cia. 10.2.1. O Significado do Termo Diáspora _____________
Como é fácil de se perceber, o termo “diáspora” não fazia parte do vocabulário corrente dos exilados na Babilô nia. A língua grega, à qual pertence esta pal avra, ainda levaria muitos para se tornar importante os altura povos dos do mundo. anos Sendo assim, a utilização dela, para à esta acontecimentos, deve ser tomada como um anacronismo necessário para se explicar o início de um fenômeno que se ria descrito por este termo no faturo. Diáspora (SiaOTTOpá), literalmente, significa disper são257 e descreve, inicialmente, o movimento populacional dos habitantes de Judá, saindo de sua terra, por vários m oti vos, e se estabelecendo em outras nações, porém sem perder os vínculos com a terra natal, principalmen te com a religião que manteve o seu ponto central em Jerusalém. Não só os que saíram de Judá, mas, ainda os descendentes destes, que continuaram a viver em comunidades como seus antepassa dos, entre outros povos, ligados religiosamente à Jerusalém , receberam esta designação. 10.2.2. Como Aconteceu a Diáspora__________________
Pode-se dizer que o cativ eiro imposto pe la Babilônia levou o povo de Judá à diáspora. O Reino do Norte, Israel, há muito tempo havia sido misturado entre as nações, mas não conseguiu manter as suas características peculiares, pas
sando, então, a ser assimilado por outros povos. O que aca ^ CíIN GRI CM, P. W.
Léxico d o Novo Testamento grego/português . São Paulo: Hdiçõcs Vid a N ova , 1984. p. 55.
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bou acontecendo até mesmo na própria pátria como resultado da política ocupacional da Assíria que levou es trangeiros para habitarem no meio dos que ficaram em Israel. Com Judá a situação se desenrolou de forma d iferen te. Foram para o cativei ro mas puderam viver em comun ida des, ou colônias, mantendo antigas tradições e o desejo natural de um dia voltar para a ter ra natal, o que os manteve com um a identidade própria. Depois que Nabucodonosor l evou parte significativa da população de Judá para a Babilônia, a qualidade de vida dos que ficaram deve ter sofri do uma grande queda. A m aio ria dos líderes, intelectuais e out ros especializados em ativi dades importantes para a nação, haviam sido levados, deixando u ma grande lacuna no país . Para fugir da situação caótica, e também da ira do rei babilónico, depois do assassi nato de Gedalias, o governador colocado por este sobre os que permaneceram em Judá, muitos partiram para o Egito. Lá bem recebidos e deram continuidade à suas vidas emforam colônias onde, aparentemente, chegaram a prosperar.258 Provavelmente, vários outros grupos, além daquele que obrigou o profeta Jeremia s a acompanha -lo, se dirigiram para o Egito conforme a situação exigia. Também é possível presu mir que eles procuraram outros lugares para se refugia rem. Pelo texto do Livro de Jeremias nota-se que muito s, fu gindo dos babilónicos, foram para Moab, Edom(Jre40:11 Amom, de onde voltara m quando a situação melhorou -12). Contudo, deve ser levado em conta a real possibilidade de muitos terem permanecido nestes países, ou terem retorna do para eles assim que as condições voltaram a ser desfavo• 259 raveis. Nesta época ainda não é possível de se falar em uma diáspora em toda a terra , mas era o início de um a tend ência
MRSTliR, H. I. The Heart ofH ebrew History ; a study ofth e QldTestament. Nashville: Broadman Press, 1980. p.251. BRIGHT, J. H istória de Israe l. São Paulo: Edi çÒes Pau linas, 1985. p. 468-469.
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irreversível. Israel estava tomando uma nova forma. Não es taria mais limitado por uma área geográfica ou por algum poder político. Não havia mais possibilidade de voltar, de forma completa, ao antigo padrão260, apenas como nação, estava se tornando uma comunidade de fé entre as nações. 10.2.3. A Importância da Diáspora ___________________
A importância da diáspora é incalculáve l. Ela não só preservou a base da religião de Iavé, que era praticada em Judá, seus propriamente membros, mesmo desapareci mentoentre do Estado di to, edepois longe dadocidad e de Je rusalém, como acabou preparando o caminho para o cristianismo que viria mais tarde. O Novo Testamento teste munha claramente a atuação do apóstolo Paulo em locais fora da Judéia, principiando o seu trabalho pelas sinagogas que serviam como locais de culto para os judeus da diáspora.2(''Eles estavam disperso s por toda a terra e por meio de sua religião, com base no Antigo Testamento, sem saber, es tavam fazendo um trabal ho que seria fundamen tal para a ex pansão rápida da religião Cristã. Estavam preparando o caminh o para a vinda do cristianismo. Algumas colônias espalhadas pelo mundo, como por exemplo a estabelecida em Elefantina, no Egito, acabaram por preservar uma religião muito semelhante com a que era praticada em Jerusalém. Os desta localidade chegaram, até mesmo, a construir um templo bastante parecido ao que ha via sido destruído pelos babilónicos. Outros, porém, estabe lecidos próximos ao rio Nilo, deixaram Iavé de lado e acabaram se tornando idólatras.262 Seja como for, não há dúvidas, se não fosse a diáspora, a dispersão de grupos oriun dos de Judá para outras nações,
/íl" BRIGHT, op. cit, p. 469. 261 WALLS, A. K Dispersão. São Paulo: Edições Vida Nova, 1983 . p. 433. 262 HESTER, op. cit, p. 251.
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mas que permaneceram v ivendo em comunidades, pratic an do a mesma religião e ligados ao antigo país de onde saíram seus antepassados, por laços religiosos, a história de Israel poderia termi nado a conquiuma sta de Judádaquilo pela Babilô nia. Nãoterhaveria comocom reconstruir nação que sobrou e, quem sabe, a própria história do cristianismo teria de ser outra, pois as duas estão intimamente ligadas. 10.3. A Cidade de Babilônia _____________________
das capit descrições antigas aderespeito da famosaAinda cidadeque de muito Babilônia, al do império Nabucodonosor e de seus sucessores, possam ter sido exageradas, não há dúvidas de que se trata de uma das mais belas metró poles da antigüidade. O povo que foi levado da comp arati vamente pequena Jerusalém e seus arredores para lá, deve ter ficado impressio nado com a beleza e o poder que viram na quele lugar.263 Elamuito estavaalém em um estágio de progresso, gran diosidade e beleza, do que poderia ser imaginado pelos cativos oriundos de Judá. Na atualidade, muit o do que era esta grande cidade já foi revelado e tem confirmado a sua fama. Ela foi localizada por arqueólogos modernos à cerca de 80 k m da atual cidade de Bagdá no Iraque. Sua área de ocupação urbana possuía uma forma triangular e ocupava um espaço de 13 km qua drados de sup erfície atravessados pelo famoso rio Eufrates e rodeado, em toda a sua extensão, por dois cinturões de mu ralhas que atingiam a impressionante altura de 25 metros.264 A entrada na cidade era possível através de oito por tões, ou grandes e esplêndidas portas que eram conhecidas pelos seguintes nomes: Porta de Adad, Porta de Lugalgirra, Porta de Ishtar, Por ta de Sin, Port a de Marduk, P orta de Za-
263 HESTER, op. cit. p. 251-252. 26"*I J\PP LB , A. A Bibfia Hoje: doainim tação de história, geogmfia, arqueologia. São Paulo: Edições Paulinas, 1984. p. 102.
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bara, Por ta de Enlil, Porta de Minurta, Porta de Urash e Po r ta de Gula.265 Seus nomes são uma demonstração clara do politeísmo que reinava no local, pois na maioria, senão to dos, reverenciavam diferentes deuses que eram adorados na cidade. Veja na foto a seguir um pouco da beleza destas por tas.
Réplica da porta de Ishtar na Babilônia
266
fÜIb‘d 266 Foto tirada de:
http://www .angel fir e.com/me/babiloniabr
asil / em 13/08/2002.
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Existem informações de que a cidade era composta por mais de seiscentos quarteirões que possuíam, cada um deles, um jardim em seu centro.267 Nela também havia um grande forma de t orre de degraus, recob ta com monum azulejosento, azuis,em com aproximadamente noventa meer tros de altura, conhecido como Zigurate Etemenanki, construída em homenagem ao deus Marduk. Ele marcava o centro da cidade268 e demonstra bem a capacidade deste povo nas áreas da engenharia e arquitetura. A beleza de seus templos, palácios, praças, ruas e mo numentos, além dos famoso s jardins suspensos, deram à ci dade o privilégio de ser colocada entre as “Sete Maravilhas do Mundo”. Com certeza, o texto do Livro de Daniel que mostra Nabucodonosor orgulhoso de sua cidade, é uma amostra real do sentimento de glória que ela evocava em seu princip al benfeitor. Nele está es crito: “Ao cabo de doze m e ses, passeando sobre o palácio real da Babilônia, falou o rei, e disse: Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com(Dn o meu grandioso poder, e para glória da minha majestade?” 4: 29-30). As evidências arqueológicas têm apresentado um Na bucodo nosor, ap arentemente, ma is humilde, todo reverente aos deuses que adorava mas, assim mesmo, bastante orgu lhoso dos feitos que havia executado na cidade. Um exem plo está nas inscrições encontradas nas pedras calcárias, polidas e recobertas com asfalto, u tilizadas na pavimentação de uma rua com 900 metros de extensão, especialm ente feita para a procissão religiosa em homenagem ao deus Marduk. Em cada pedra foi colocada a seguint e mensagem: “Eu sou Nabucodonosor, rei de Babilônia, filho de Nabopolassar. Fui eu quem pavimen tou as ruas de Babilônia com blocos de pedra tirados das montanhas, para a procissão do supremo Senhor Marduk. Que Marduk me conceda a vida eterna!269
HESTF.R, op. cit., p. 251,252. 268 LÃPPL E, op. cit, p. 102-105. 269 Ib id.p .l04 .
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Também foi encontrado nos escombros do templo dedicado ao deus Marduk, edifício que é conhecido pelo nome de Esagila, um tijolo contendo uma inscrição de Nabucodonosor. Ela é maisprincipais uma provanasdeobras que este soberano foi um dos personagens de embeleza mento da cidade. Neste tijolo está escrito o seguinte: “Nabucodonosor, rei de Babilônia, que venera os grandes deuses... sou eu. Já que Marduk, o supremo Senhor, levantou minha cabeça, eu, cheio de temor, louvo a Marduk, o deus, meu criador. (E) a torre de degraus de Babilônia, Etemenanki, com asfalto e azulejos azuis, eu a fiz res plandecer como o dia. Para sua cobertura usei cedros (em abundância?). Marduk, meu Senhor, volve seu olhar propício sobre estas minhas obras e dá-me a vida dos dias eternos! Etemenanki, recorda sempre na presença de Marduk, meu Senhor, a (minha) pie dade!”.270 As poucas informações aqui apresentadas são sufici entes para dem onstrar a grandiosidade de Babilônia e levar o leitor a fazer um certo julgamento das reações dos exilados ao chegarem neste local, ainda que a maioria deles tenha vi vido em colônias próximas da cidade e não propriamente nela. Não existem registros, mas é possível inferir de tudo o que foi dito neste ponto, que os exilados ficaram surpresos com o que encontraram em Babilônia e, provavelmente, muitos devem ter chegado à pensar que os deuses daquele povo eram mais poderosos do que Iavé. Estava na hora de serem reformulados alguns conceitos teológicos populares entre o povo de Judá, para desfazer estes mal entendidos, e os profetas que atuaram no cativeiro se encarregariam disto. Como será visto, mais adiante, a crise e o choque religioso-
2711 LÀPPI.E, op. cit, p. 105.
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cultural acabariam p or trazer crescimento espiritual para os verdadeiros adoradores do Deus de Israel.
Maquete representando a cidade da Babilônia'
10.4. As Condições do Povo Cativo_________________
As condições do povo que foi levado para o cativeiro na Babilônia, muitas vezes, têm sido interpretadas de forma parcial e errada uma leitura da Bíblia e que,por alémalguns disso,que nãofazem procuram outrassuperficial fontes de informação além dela mesma. Como a Bíblia, corretamente, apresenta este cativeiro como sendo um castigo da parte de Deus contra seu povo rebelde, logo se pensa em algo pareci do com campos de concentração como na era moder na e em pessoas acorrentadas, prestando serviços forçados, debaixo das ordens cruéis de feitores implacáveis.
^
Foto re tirad a de: http://ww\v.angelfirc.com/me/babÍlonÍabn\sil/
em 13/08/2002.
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Para que esta imagem falsa não permaneça, neste ponto, será apresentado um relato das condições do povo cativo. Sem muitos detalhes, serão abordados os aspectos social, religioso político vi venciados ovoera de tão Judádifí na Babilônia, o queedemonstrará que a situapelo çãopnão cil quanto normalmente se imagina. 10.4.1. A Condição Social __________________________
Não é mais possível estabelecer o número exato dos cativos que foram levados para a Babilônia. Mas parece que eram poucos se comparados com os que ficaram em Judá, ou fugiram para outros países. Porém, é notório que estes cativos foram tirados da camada superior da população.272 Eram políticos, nobres, comerciantes, sábios, artesãos, pro fetas, sacerdotes e outros bem qualificados. Isto deve ter sido de fundamental importância para a relativamente boa estadia dos mesmos no cativeiro. Era um grupo seleto, não uma multidão desorientada. Eles estavam aptos para sobre viver e manter a própria identidade cultural e social como o fizeram. Eram pessoas com potencial para influenciar à que les que com eles conviviam e provaram ist o ao se desenvol verem mesmo em condições adversas. Hoje está claro que o sofrimento do povo cativo era mais interno, saudades da pátria e orgulho ferido, do que ex terno. Eles foram asse ntados à força emxolônias na.Babilônia mas não levavam vida de escravos Tinham relativa liberdade, construíam casas, cultivavam, praticavam o co mércio e continuaram organizados em famílias.273 As condi ções de vida não eram das piores. Ainda que não existam documentos descrevendo a situação de forma completa, os poucos indícios são favoráveis. Um destes indícios são as
2?2 FOHRER, G. H istória da R eligião de Is rael . São Paulo: Edições Paulinas, 1982. DON NER, H. H istória de Israel e dos Povos Vizi nhos . São Leopoldo: Editora Vozes, 199 7. p. 43 5,43 6.
p. 381. Sinod al; Petrópohs : Ed itora
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plaquetas encontradas em Nippur. Elas mostram que um dos mais importantes bancos da época pertencia a uma das famílias para lá deportadas. Os documentos, inclusive, vão além da época do cativeiro, o que pode estar apontando para o fato deles terem permanecido espontaneamente na Babi lônia depois da libertação,274 ou autorização para o regresso. Na verdade, muitos aproveitaram as oportunidades oferecidas pelo cativeiro e se tornaram pessoas ainda mais ri cas. O contraste entre aqueles que moraram na Babilônia e os pobres que permaneceram em Judá se tornou enorme e não pod eria ter sido diferente. Em Judá ficaram, em sua mai oria, os pobres e com pouco preparo, em um país arrasado pela guerra. Para a Babilônia foram os ricos e preparados de encontro com as oportunidades oferecidas pela capital da maior potência da época. Deixando-se de lado os incon veni entes e o orgulho ferido, para muitos, o cativeiro pode ter sido um bom negócio. Também é bom notar que foi no cativeiro que os he breus passaram a fazer língua uso daoficial Línguapelos Aramaica, a se tornar a sua própria séculosque queviria se se guiriam até à Era Cristã. Ela foi uma herança das tribos araméias que h á muito tempo haviam penetrado na Babilônia e se tornado o elemento principal da população. Ainda que não se possa exagerar a contribui ção desta troca de idiomas, deve ser levado em conta que eles passaram a fazer uso, nor malmente, de uma língua internacional, utilizada largamente na diplomacia. 10.4.2. A Condição Religiosa _______________________
A deportação da camada social mais elevada de Judá para a Babilônia pode ter causado uma crise muito séria na
BEEK, M. A. Históri a de Isn iel Rio d e Janeiro: Z ahat Editores, 19 67. p. 114. SCHU LTZ, S. J. A H istória de Is ra el no A ntigo Testam ento. São Paulo: Hdições Vid a No va, 1988. p. 238.
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religião deste povo. Em primeiro lugar, nã o havia mais te m plo e, para a m aioria do povo, ele era a morada de Iavé. Além disso, para alguns, restava a impressão de que seu Deus ha via se mostrado mais fraco do que os deuses da Babilônia, principalmente do que o deus Marduk, o principal deles, do qual se pensava que os babilónicos haviam recebido a vitó ria. Esta situação pode ter levado muitos dos exilados a ado tarem as divindades do conquistador.276 Mesmo aqueles que desejavam ser fiéis a Iavé, en quanto cativos na Babilônia, enfrentaram dificuldades espi rituais. Para muitos, assim como ocorria com os vizinhos de Judá: Edom, Moabe e outros, a atuação de Deus se restringia à sua terra, ao seu país. Na mente deles, Iavé atuava em Judá, não havia como ser adorado na Babilônia. A seguinte frase: “Como porém, haveríamos de entoar o canto do Senhor em terra estranha?” (SI 137:4) pode ser reflexo desta forma de fé em Deus, reformulada pelos ensinos do profeta Ezequiel que alertou povo para a onipresença deadorado Iavé, o Deus que, diferente doso demais deuses, poderia ser em qual quer lugar.277 Segundo Fohrer, foi nesta situação de cativeiro e crise que a religião de I srael acabou por mostrar a sua verdade ira força, atraindo várias pessoas de outros povos para o seu meio. Para este autor, foi nesta época que surgiu a noção de Israel enviado àdos todas nações.firmes Foi neste ambiente que surgiuser no coração queasficaram na religião de Judá, o sentimento de missão.278 Ficou claro que a religião deveria ultrapassar os limites da nação que n o momento nem existia como tal. Nesta época, e logo após, devem ser buscadas as srcens do Judaísmo.279
276 BOH RER , G. H istória da Religião de Isr ael. São Pa ulo: Edições Paulinas, 1982. p. 385-386. 277 HES TE R, H. I. The H eart of Hebrew H istoty: a study oj/h e O ld Te stame nt. Nashville: Broadman Press, 1980. p. 254. 278 FOHRER, op. cit, p. 388. BRIGH T, J. H istória de Israel. São Paulo: Edições Pauli nas, 1985 . p. 463.
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Isto estava de acordo com a narrativa de Ezequiel a respeito da partida da glória d e Deus de seu templo em Jeru salém. Uma nova realidade espiritual estava sendo revelada aos adoradores de Iavé. O Deus deste povo não estava limi tado a uma cidade ou a um templo. Ninguém poderia “do mesticá-lo”, limitando a sua esfera de ação. Ele estava no meio de seu povo, livre e soberano, inclusive com a possib i lidade de abandoná-lo de vez se a resposta à sua oferta de vida fosse rejeitada.280 Infelizmente, não é de conhecimento, na atualidade, exatamente como se organizou a prática da religião no cati veiro. O que existem são suposições baseadas em poucas evidências. Provavelmente foi no cativeiro babilónico que surgiu, ainda que de forma primitiva, o culto na sinagoga, mas não há nada que comprove de forma cabal esta prática. Pois nem o Antigo nem o Novo Testamento, e nem mesmo os Livros Apócrifos, dão qualquer informação que possa si tuar de forma clara a srcem dela. Tambémlevitas não see sabe o que aconteceu com os canto res, sacerdotes, outros servidores do templo. O que se tomou prática importante, ainda que já era exercida antes do exílio, foi a intensificação da guarda do sábado e do ritual da circuncisão.282 Como não havia maneira de continuar com a pratica de sacrifícios pela ausência do templo, local próprio pa ra estes rituais, a ênfase religiosa foi mudando n a turalmente e deve ter culminado em uma procura maior pela prática d a Lei de Moisés. Como pode ser visto, os cativos enfrentaram uma nova realidade religiosa, mas ela não foi de todo má, até mes mo foram esclarecidos alguns conceitos errôneos a respeito de Deus e do culto que lhe era devido. Eles estav am no catiASURM EN D I, (. O Pm jeüsmo: das srcens à época moderna.
São Paulo: Edições Paulinas, 1988.
p. 73.
^ FENSI IAM,M.C. F. Sinagoga. Vid. aSão No Leopoldo: va, 1983. Ed p. 1531. DONNER, H istória de Isra São el e Paulo: dos PovosEdições Vizi nhos itora Sionod al; Petrópo lis: Editora Voz es, 1997. p. 437,4 38 .
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veiro mas possuíam liberdade para praticar a sua religião. Não havia mais como praticá-la em seus detalhes, como era feito em Jerusalém. Por isso, orient ados pelos pro fetas Ezequiel, Jeremias, ainda que por carta desde a terra natal, e por outros líderes religiosos anônimos, como o chamado “Dêutero-Isaías” , puderam se adaptar à nova situaç ão e dar conti nuidade à religião de Iavé. 10.4.3. A Condição Política _________________________
Aindababilónica, que Judá tenha deixado de parte ser umdeestado, com a conquista e passado a fazer uma pro víncia do conquistador, as atividades políticas não cessaram totalmente. Mesmo que enfraquecidos, os líderes continua ram a influenciar o povo em suas decisões e, até mesmo, a fazer política na própria Babilônia. O Livro de Daniel, ind e pendente da data de sua escrita, é uma amostra desta possibi lidade. O fato de Nabucodonosor ter levado cativo e manti do na Babilônia o rei joaquim (Jeconias), antes do golpe fatal para o estado de Judá, deve ter sido um fator de enfr aqueci mento político para o país. Ainda que outros tenham reina do neste período, é evidente que muitos continuavam a considerar o rei exilado como o legítimo soberano de Judá. Porém, embora isto tenha se r efletido negativamen te na ter ra natal, no cativeiro po de ter sido um fator positivo. Os exi lados contavam com a presença de um líder reconhecido oficialmente, até mesmo pelo inimigo . Judá chegou a ter dois reis no exílio ao mesmo tempo. Também o rei Zedequias foi levado para a Babilônia, o que deve ter causado uma situação bastante estranha para Judá que tinha dois reis no cativeiro e nenhum reinando de fato.
Zedequias foi mantido no cárcere até o dia de sua morte (Jr 52:11) ainda durante o reinado de Nabucodonosor mas,
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ao que parece, manteve o status de rei pois, segundo Josefo, por ordem do imperador, foi sepultado “a maneira dos reis”.283 Existem indícios de que alguns judeus no exílio se en volveram em distúrbios contra o governo da Babilônia, o que atraiu represálias sobre seus líderes (Jr 29) e, provavel mente, o próprio rei Joaquim (Jeconias), mesmo tendo sido recebido bem pela corte babilónica, após alguns anos deve ter se rebelado. Ele acabou sendo preso, ao que tudo indica, por causa de seu envolvimento ou suspeita de envolvimen to, com movimentos de libertação.284 Quando Evil-Merodaque assumiu o tr ono da Bab ilô nia, em lugar de seu pai Nabucodonosor, libertou o rei Joa quim da prisão e deu-lhe uma pensão (2 Rs 25:27-30). Isto, além de estar narrado no Antigo Testamento, é confirmado por fontes babilónicas. Também Flávio Joséfo, aind a que não se possa aceitar tudo o que ele escreveu, afirma que Evil-Merodaque, de mordomo dar muitosdepresentes a Joaquim, deu-lhe o cargo dealém “grão seu palácio”.285 Este fato mostra que, mesmo no estrangeiro, ele tinha uma c onsi derável atuação política, incl usive na corte babilónica. Con tudo, não se sabe, atualmente, qual foi o verdadeiro papel deste entre os exilados. A liderança de fato parece que era exercida pelos profetas e pelos anciãos.286 Estes últimos, in clusive, aparecem, no Antigo Testamento, apar en temente com liberdade, na casa do profetareunidos, exilado Ezequiel (Ez 8:1). Os dados disponíveis na atualidade a respeito deste assunto, e de todos os outros envolvendo o cativeiro babiló nico, são extremamente escassos, mas apontam para uma atuação política ativa, mesmo na s condições adversas. M os
J OSE FO , K História dos Hebreus: obra mnpleta. Rio de J aneiro: CPA D, 1990. p. 250. BRIGHT,J. História de Jsrael. Sao Paulo; Kdições Pa uHnas, 1985. p. 467. 283 |0SF.F0, op. Cít.p. 254. 28^ SELTZER, R. M. Povo Judeu , Pensamento Judaico I. Rio d e Janeiro: A. Koogan editor, 1990. p. 25.
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tram que os judeus não se alienaram politicamente e, ainda que em tetra “estranha”, cultivavam o sonho de voltar a ser uma nação. 10.5. A Duração do Cativeiro _____________________
O período de tempo que o povo levado de Judá, e seus descendentes, passaram no Cativeiro Babilónico, apa rentemen te, não d everia ser matéria de dúv ida. Afinal, é uma questão, apenas, de datas, e estas podem ser bem estabeleci das nesta época. Contudo, a matéria não é tão simples assim. Para algumas pessoas, o tempo que e ste povo perm a neceu como cativo tem sido um grande probl ema. Isto devi do à dificuldade de conciliar o período, facilmente datado, com a declaração de Jeremias, falando em nome de Deus, que disse: “Assim diz o Senhor: Logo que se cumprirem para Babilôn ia setenta anos atentarei para vós outros e cu mprirei para convosco a minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar” (Jr 29:10). Tomando-se como literal a promessa feita por inter médio de Jerem ias, e muitos o fazem, o povo deveria voltar para a terra de Judá depois de, exatamente, setenta anos de cativeiro. Se eles voltaram antes de se cumprir este período a profecia de Jeremias não está correta. Partindo-se desta “verdade” assentada, que são setenta anos literais, muitos voltam-se para novos cálculos, procurando conciliar as datas com aquilo que pensam ser a promessa da Bíbli a. Hester, querendo mostrar que a profecia de Jeremias, dando um período de setenta anos literais para o cativeiro está correta, apresenta duas possibilidades de cálculos para se chegar a este número. Na primeira, o profeta tinha em vis ta a data da primeira leva de cativos para a Babilônia em
607/6 a.C. o primeirotoma-se grupo como que retornou Jerusalém em 536 a.C. Nae segunda, base deàcálculo a con-
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quista e destruição de Jerusalém em 586 a.C. e a data do iní cio da reconstrução do templo, em 516 a.C., depois da volta do último grupo de exilados, o que daria o tempo de setenta anos. Contudo, declara que, muitas vezes, o tempo é conta do em apenas cin qüenta anos, iniciando em 587 a.C. e termi nando em 537 a.C..287 Harrison, mostrando-se um pouco mais flexível em suas considerações, afirma que o número setenta, no Livro de Jeremias, é arredondado, contando a partir de 605 a.C. até, mais ou menos, 536 a.C.288 Mas, ao que parece, o mais prudente tomarbastante este número setenta simbó lico, o quemesmo é outraéopção viável. Nestecomo caso, ele es taria indicando um longo período de servidão289 e não a exatidão do período. Deixando-se a questão da profecia de Jeremias de lado, não querendo harmonizá-la com qualquer data que seja. O que está muito claro é que no ano de 605 a.C. foram levados os primeiros cativos, no ano 538 a.C, sessenta e setecomo anosreféns, depois,para Ciro,a Babilônia no prim eie ro ano de seu reinado sobre o império da Babilônia, procla mou um decreto ordenando que a comunidade dos judeus e o culto em Jerusalém fossem restabelecidos.290 Oficialmente era o fim do cativeiro, embora não fosse o aval para volta rem a ser uma nação. Como foi visto nas linhas anteriores, este período da História de Israel ainda se encontra um tanto obscuro. Nem poderia ser diferente. Esperar que um povo cativo, não or ganizado em estado, tivess e tempo, forças e vontade para re gistrar em detalhes os acontecimentos de sua época, seria esperar demais. Portanto, até o momento, é preciso se con287 I IESTER, H. I. The H eart of! Ieb iw H isto y: a study of the O ld '\estame nt. Nashville: Broadman Press, 1980. p. 253-254.
2^ HARRISON, R. K . Jeremias e lam en tações : in trod ução e comentá rio. São Paulo: Ediçõe s Vida Nova , 1980 . p. 101). CRAICíIE, P.C et a). Wore ! h ibim ! Commen tar y. Dallas; Word Books, Pub lisher, 199 1. p. 366. 2')<1B RI G H T, J. Históri a de Israel São Paulo: Edições Paulinas , 1985. p. 440, 489.
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formar com as informações encontradas nos registros babi lónicos e os poucos indícios extraídos da Bíblia. Contudo, fica foi claro, foi exposto,radical que o Cativeiro Babilónico umpelo fatorque de aqui transformação para Judá e sua religião. Eles nunca mais seriam os mesmos. O processo era irr eversível. Deixaram de existir como E sta do mas continuaram como comunidade de fé, o que foi fun damental para o desenvolvimento posterior da religião judaica e, mesmo, do cristianismo que viria bem mais tarde . Como visto, pela Bíblia comopode um ser castigo da mesmo parte desendo Deus, apresentado contra seu povo desobediente, o Cativeiro Babilónico acabou por se tomar um fator positivo para o progresso da religião de Iavé. Nele foram deixados de lado alguns conceitos incompatívei s e lançados os alicerces para uma nova etapa, onde Deus pas sa a ser entendido de uma forma mais clara. Assim, aquilo que parecia ser totalmente negat ivo para Judá, acaba por ser transformado em um fator fundamental para a apresentação de Deus ao mundo.
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10.6. Para Complementar 10.6.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período
a) O Livro de Jeremias b) O Livro de Ezequiel c) O Livro de Daniel d) O Livro de Isaías 40-66 10.6.2. Questões Para Revisão_______________________
a) Quem foi o fundador do Império Neobabilônico? b) Qual o nome do rei da Babilônia que levou cativo o povo de Judá? c) Qual o significado do termo diáspora? d) Escreva a respeito da importância da diáspora. e) Descreva como era a cidade da Babilônia quando os ca tivos de Judá foram levados para lá. f) Descreva a condição social dos cativos na Babilônia. g) Descreva a condição religiosa dos cativ os na Babilônia. h) Descreva a condição po lítica dos cativos na Babilônia. i) Explique a questão da duração do cativeiro babilónico.
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1 1 . A COMUNIDADE PÓS- EXÍLI CA
Depois de ter se passado, aproximadamente, meio sé culo desde a destruição do templo em Jerusalém, levando ao desaparecimento do Estado de Judá, quando parecia não ha ver mais possibilidade alguma de retorno para aqueles que ha viam sido levados para o cativeiro na Babilônia, a situação do povo judeumudando começou de a mudar. umaisto, vezrenasceram a liderança mu n dial estava “mãosMais e, com as es peranças de um recomeço para Judá. Ainda estava longe o momento de voltar a ser uma nação independente, mas os pri meiros passos estavam sendo dados. Pessoas com grande po tencial de liderança estavam voltando para a terra natal, deles ou de seus pais no caso daqueles que já haviam nascido na Ba bilônia, come religiosa o firme da desejo reorganizarem a vida social, econômica antigadepátria. O que parecia impossí vel a algum tempo atrás, desde cerca de dez anos após o início do cativeiro291 (Ez 37:1-13), repentinamente, estava se tornan do realidade, cumprindo as profecias a este respeito. Para que haja uma melhor compreensão daquilo que ocorreu neste período da História de I srael, aqui serão anali sados três aspectos básicos da nova situação enfrentada pe los judeus. Em primeiro lugar será visto, sob o título de “Os Novos Senhores”, como foi que ocorreram as mudanças mundiais que permitiram o chamado retorno do cativeiro e, logo em seguida, verificado quem foi que realmente voltou, destacand o-se os grupos que retornaram com os líderes Zorobabel, Esdras e Neemias. Depois disto , então, serão verifi cadas as condições econômica, religiosa e política da
comunid ade pós-exüica durante o Período Persa. ^ TAYLOR , J. B. H^equiek introdução e comentário.
São Paulo: Edições Vida No va, 1984. p. 210.
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A ênfase maior, como não poderia deixar de ser em um trabalho como este, será dada à comunidad e estabelecida em Judá, o palco principal dos acontecimentos bíblicos. Contudo, aindaalgumas que de forma mais também rão abordadas questões quesuperficial, dizem respeito às se co munidades espalhadas por outras partes do vasto império comandado pelos persas. 11.1. Os Novos Senhores__________________________
O de Império como de conhecimento geral, foi curta Neobabilônico, duração, cobrindo umé espaço de tempo de, aproximadamente, oitenta e sete anos, desde sua funda ção pelo poderoso Nabopolassar, em 626 a.C., e sua extin ção, em 539 a.C., quando era comandado pelo pouco conhecido Nabonido, em conjunto com seu filho Belsazar. Por falta de líderes que fossem capazes de dar continu idade à política de Nabopolassar filho Nabucodonosor, os caldeus, depois de eteseu remfamoso alcançado o topo da lideran ça mundial, logo deixaram o poder escapar de seu controle, sendo obrigados a dar lugar para os persas, os quais viriam a ser, a partir de então, pelos próximos dois séculos, os novos senhores da m aior parte do mundo conhecido n a época. A seguir será visto em destaque: 1) como que os per sas chegaram ao poder mundial; 2) qual a política destes no vos senhores em relação aos cativos que haviam sido levados de seus territórios para outros, tanto pelos assírios quanto pelos babilónicos que os precederam na liderança dos povos que agora lhes estavam sujeitos; e 3) quais foram os líderes que governaram este novo império.
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11.1.1. Os Persas Chegam ao Poder__________________
Ao que parece, o grande culpado pelo fim do Império Babilónicodefoi Nabonido. Ele, comprocurando uma política desastrada, recheada inovações religiosas, abertamente colocar a deusa Sin na posição de maior destaque no panteão babilónico, deixando em posição inferior o deus Marduk, conseguiu atrair sobre si a inimizade de seu povo e, particu larmente, dos influentes sacerdotes de Marduk, os quais so friam pesados prejuízos com a política adotada pelo rei.2y2 Este tecimentos, o fato de ter sedez ausenta do dae outros capital acon por um período como de mais ou menos anos, deixando a administração aos cuidados de seu filho Belsazar, acabou por traze r uma certa instabilidade intern a para o im pério. A q ueda era apenas uma questão de tempo, o qual não demoro u a passar. Quando ele percebeu que estava em uma situação delicada procurou mud ar a sua política, retornando à cidade de Babilôn ia e reverenciando o deus Marduk. Os es forços foram em vão, a Babilônia já estava dividida e muitos só esperavam o momento certo para aclamar outro rei no lu gar de Nabonido. Por esta mesma época (550 a.C.), surgia também um perigo externo para a Babilônia. Seu mais temível adversário, o estado Medo, mudou de mãos, quando Ciro, o persa, um rei vassalo da Média, e unido a ela por laços familiares, coman dou uma revolta bem sucedida que acabou por transferir-lhe o comando do Império Medo. Os feitos deste novo conquis tador não parariam por ai. Logo passou a expandir as suas conquistas chegando a formar um império como nunca havia sido formado antes. Babilônia, ainda que tenha sobrevivido por mais alguns anos, não tinha como enfrentar tamanho po derio. Sua queda já estava sendo esperada por muitos.293
2)2 BRIGHT, J. História de Israel. 293 BRIGHT, op. cit., p.478'479.
São Paulo: Ediçõe s Paulina s, 1985. p. 477.
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Finalmente, nos últimos meses do ano 539 a.C., as tropas de Ciro sitiaram a cidade de Babilônia.294 O general babilónico Gobrias, que havia passado para o lado de Ciro, entrou cidad e com suas tropas semrecebido precisarpelo l utarpov e, pou cos diasnamais tarde, o próprio Ciro foi o na capital como um libertador e não como um conquistador. Nabonido, inicialmente conseguiu escapar, mas depois foi preso e Ciro assumiu o trono do Império Babilónico como rei legítimo.295 11.1.2. A Política Persa Para Com os Deportados_______ Ciro foi um homem de extrema habilidade política. Ele procuro u governar de forma pacífica tratando seus con quistados com grande consideração. Para um líder daquela época de tantas atrocidades, era um homem de espírito ge neroso.296Não só os babilónicos usufruíram desta nova ma neira de governar mas, também, todos os povos que passaram p ara o seu comando quand o o Império Babilónico foi conquistad o. A forma como ele é tratado no Livro de Isaías, sendo chamado de pastor e ungido de Iavé (Is 44:28 e 45:1) é uma boa amostra de suas qualidades e de quão eleva da era a sua reputação, inclusive, entre o povo judeu. Sua maneira diferente de dominar se destacou, princ i palmen te, pelo tratame nto que dispensou ao s povos que fo ram deportados pátrias Babilônia. Ele permitiu que cada de um suas voltasse para opara seu apróprio lugar de srcem, se assim o desejassem, e levassem com eles o s deu ses que haviam sido “presos” anteriormente, por seus ante cessores no trono. A inscrição que se encontra em um cilindro de cerâmica mandado fazer por ele, é uma boa amostra de sua política para com o s que haviam sido levados
294 STEINM ANN , J. 0 Bvro da co>colação de Isra ele os pro feta s da i vita do exílio. São Paulo: Edições Paulinas, 1976. p. 157. 295 BRIGHT, op. cit., p. 487-488. 296 HESTER, H. 1. 7 'he heart o fh eb m v history: a study ojth e Qld'Vestament. Nashville: Broadman Press, 1980. p.258.
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cativos para a Babilônia e para com o s seus deuses que tam bém haviam sido transferidos para lá. Algumas de suas li nhas dizem o seguinte: Ciro, o reiodo mundial, grande rei, o“Eu, rei de Babel, reiimpério da Suméria e o reio de Acadee poderoso (...), por cujo governo Bei e Nabu se afeiçoaram e cujo reinado desejavam para alegrar seu coração - depois de entrar pacificamente em Babel, sob júbilo e alegria, estabeleci a sede régia no palácio do soberano (...) Marduque, o grande senhor, alegrou-se com mi nhas [boas] ações. Ele abençoou graciosamente a mim, Ciro, o rei que o venera, e Cambises, meu filho biológico, assim como todas as minhas tropas. Em bem-estar nós [vivemos] alegremente diante dele (...) Sob a ordem de Marduk, o grande senhor, mandei que os deuses da Suméria e de Acade, os quais Nabonid havia trazido para Babel, causando a ira do senhor dos deuses, ocupassem em bem-estar uma morada agradável em seus santuários. Que todos os deuses que levei para suas cidades falem, dia após dia, diante de Bei e Nabu em favor do prolongamento de meu tempo de vida, que digam palavras em meu favor e falem a meu senhor, Marduk: Em favor de Ciro, o rei que te venera, e seu filho Cambises (...)”297 Os judeus, já no primeiro ano do reinado de Ciro ob tiveram permissão para retornar a Judá. Seu decreto permi tindo este retorno pode ser encontrado em 2 Cr 36 e também no Livro de Esdras. Assim está esc rito na versão de Esdras 1:2-4: “Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus dos céus me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém de Judá. Quem den tre vós é de todo o seu povo, seja seu Deus com ele, e suba a Jerusa lém de Judá e edifique a casa d o Senhor, Deus de Israel: ele é o Deus que hab ita em Jerusalém . Todo aquele que restar em
alguns lugares em que habita, os homens desse lugar o ajudarão 297 In: D ON NIiR , H. Históriaât IsradeàospmosiT^jnbos.
São Ix‘opol do: Sinodal; Pe trópoli.s: Vozes, 1997. p. 444-445.
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com prata, ouro, bens e gados, afora as dádivas voluntárias para a casa do Senhor, a qual está e m Jerusalém.” Em uma rápida leitura desta passagem da Bíblia, des considerando-se respeito deste m o narca, pode-se terasa evidências impressão externas de que eleaera um convertido ao Deus de Israel. Porém, como pode ser visto, inclusive, na inscrição do cilindro citado acima, Ciro era extremamente politeísta ou, ao menos, assim se mostrava, procurando agradar a todos os povos e seus deuses na tentativa de obter para si os seus possíveis favores. Seja como for, esta caracte rística de sua polític a foi o que permitiu os judeus volta sem para Jerusalém e dessem início que à reconstrução dos templo e, mesmo, da nação. Tanto Ciro quanto a maioria de seus sucessores lan çaram mão desta nova fórmula de gov erno. A maior parte de seus oficiais eram medos ou persas dando, quando possível, atribuições de responsabilidades para príncipes locais, sem pre respeitando as tradições de cada um dos povos subjuga dos, ao mesmo tempo em que mantinham um controle firme do Império por meio de uma burocracia complexa.298 11.1.3. Os Líderes do Império Persa __________________
A tarefa de alistar em ordem cronológica os reis que governa ram o Império Persa, em algu ns casos, se torna bas tante complicada. Por exemplo, a história tem mostrado de forma clara que o primeiro comandante do Império, o qual conquistou a Babilônia, foi Ciro. Contudo, o texto bíblico de Daniel 5:31, trat ando da mudança de mã os do pod er babiló nico, afirma que um soberano chamado Dario se apoderou do reino. Isto tem levado os estudiosos da questão à várias tentativas de solução, mas sem uma definição totalmente sa
tisfatória. Alguns têm deduzido que Dario foi um governa 2,8 BRIO.HT, op. cit., p. 490.
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dor ao lado de Ciro299, outros que ele era um general persa chamado Gubaru, colocado por Cir o para comand ar o reino da Babilônia300 mas, ao que parece, até o momento, aqueles que defendem que Ciro e Dario, desta época, pois mais tarde outros adotaram este nome, não são duas pessoas mas', sim, dois nomes diferente para um mesmo líder, ainda que com dificuldades, têm boas possibilidades de estarem corretos. Segue uma relação dos governantes e dos períodos aproximados em que estes governaram, elaborada por Her bert Donner.301 Não se defende aqui que ela esteja totalmen te correta. A questão é mais complicado do que possa parecer a princípio e, em alguns detalhes, precisa continuar aberta. Mas ela serve como um ponto de partida para auxílio do estudante. Governantes do Império Persa
Governantes Ciro II CambisesII Dario I Hystaspes Xerxes I Artaxerxes I Longimanus Dario II Artaxerxes II Mnemon Artaxerxes III Ochos Arses Dario III Codomanos
Período 559-530 530-522 522-486 486-465/4 465/4-425 424-404 404-359/8 359/8-338 338-336 336-331
299 FRANCISCO, C. T. Introdução ao Vetíjo Testamento. Río de Janeiro: JUE RP, 1979. p. 285. MERRJL, E. H. História de Isr ael no A ntigo Testamento: o reino de sacerdotes que Deus colocou entre as nações.
R io de Ja
neiro: CPAD, 2001. p. 514. DONNER, op. cit., p. 444.
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Na relação d efendida por Bright, além de ap arecerem algumas diferenças nos períodos de governo, aparece um Xerxes II, entre Artaxerxes I Longimanus e Dario II, o qual teria reinado umabreve período no anoe 423 a.C.302 plicando aindaemmais situação, em Esdras Ester, surgeCom um rei persa cham ad o A ssu ero. Kidner, tentando resolve r o problema, explica que Assuero é a forma hebraica de khshctyarsha, o qual, em grego, resulta na forma Xerxes. As suero, então, seria o mesmo Xerxes I.303 Também é importante destacar, neste ponto, que de pois do ano entre 445 a.C. não aparece persas nenhume os registro a respeito das relações os governantes judeus. Sabe-se apenas que continuaram debaixo do poder destes até que trans feriram a lealdade, automaticamente, para Alexandre o Grande, em 331 a.C., quando este conquistou o Império Persa.304 11.2. Os Grupos Que Voltaram Para Judá __________
Com certeza grande parte das pessoas que foram le vadas para o cativeiro babilónico morreram nele. O período de tempo que ele durou (entre 50 e 70 anos) deve ter sido o suficiente para que a maioria dos deportados tenha morrido sem ver a libertação. Boa parte daqueles que não morreram já estavam com idade avançada, tendo dificuldades para fa zer viagemquando tão longa, quando Ciro do permitiu que deve-se voltas sem.uma Portanto, se fala da volta cativeiro, ter em mente que os grupos de viajantes era m formados, em sua maior parte, por pessoas que nunca haviam estado em Judá. Para muitos deles não se trata exatamente de uma vol ta, mas da ida para a terra dos antepassados em busca de uma nova p erspectiva de vida econômica, social e religiosa.
302 BRIGHT, op. cit, p. 648. KIDNHR, D. E sdras e N eeniias: introd ução e co m ntá ri o. São Paulo: Edições Vid a No va, 1989 . p. 54. BAN WE LL, B. O. Pérsia , persa . São Paulo: Edições Vida No va, 1983. p. 1276.
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A história nunca poderá responder, com certeza, qual foi o número de pessoas que partiu para Judá em bus ca desta nova vida. A maior parte permaneceu vivendo na Babilônia e em outros locais do império, onde estavam bem estabele ci dos, tratando de seus negócios e unidos às suas famílias. O que se sabe, é que ao menos três grupos distintos, em épocas diferentes, fizeram esta viagem. Outros grupos menores, ou familiares, naturalmente, também devem ter feit o o mesmo, porém não se conhecem os registros destes movimentos. Aqui serão apresentados os grupos conhecidos que “retornaram” com os líderes Zorobabel, Esdras e Neemias. Será visto sob que voltaram e como as adversidades paracondições levar a efeito a viagem e asenfrentaram dificuldades encontradas na nova terra. 11.2.1. O Grupo de Zorobabel _______________________
O primeiro grupo a deixar a Babilônia e partir para Judá foi o liderado por Zorobabel (Ed 2:2). Este homem era neto do rei Joaquim e deve ter se tornado o líder natural do povo, quer a sua missão tenha sido oficial, ou seja, em nome do governo persa, ou oficiosa, por livre iniciativa.305 Como o Livro de Esdras, em seu primeiro capítulo, apresenta uma outra pessoa encarregada por Ciro de levar os objetos do templo até Jerusalém , alguns têm conc luído que, inicialm en te não era Zorobabel o líder dos que voltaram do cativeiro, mas sim éum tal de Sesbazar, o qual pode ter esclarecida, sido seu tio.306 questão difícil e ainda não está totalmente ha A vendo, inclusive, quem pense que se tratam de dois nomes diferentes (Sesbazar e Zor obabel) para a mesma pessoa. Mas a opinião de K idner parece sens ata. Depois de d ebater cada ponto de vista atual a respe ito do problema da identida de de Sesbaza r ele conclui dizendo :
305
D. Ex/ras e N eemias: introd uç ão e com entário. São Paulo: Edições Vida Nova, 1989 . p. 38. W IN W A RD , S. P. A g uid e to the pr ophe ts. London: H odder and Stoug hton, 1968. p. 190.
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“Restam-nos, conforme parece, apenas duas alterna tivas viáveis: ou ele era um oficial estrangeiro (se o título príncipe de Judá pode significar legitimamente governador,) ou, a despeito do silêncio da narrativa, Sesbazar era oquando nome oficial de Zorobabel, cuja linhagem é citada somente é mencionado com seu próprio nome. Tenho dificuldades em escolher entre estas alternati vas, mas pela margem de probabilidade sou atraído pela pri meira.”307 Ainda que não possa haver uma certeza absoluta da posição de Zorobabel em um fica claropolítica pelo texto de Esdras 2:2 que primeiro ele estavamomento, à frente do primeiro grupo que retornou à Judá e, que alguns anos mais tarde, em 520 a.C., o profeta Ageu se dirigia a ele chaman do-o pelo título de governador (pehâh —PinSl) de Judá (Ag 1:1). O termo pehâh, utilizado naquela ocasião “é uma pala vra emprestada do acadiano, um lembrete de que Zorobabel fora nomeado pordeve um imaginar rei persa.”308 Ninguém que esta primeira volta o cor reu da noite para o dia, às pressas. Isto não era necessário, como foi na época da saída do Eg ito, nem viável. Eles pr eci savam de um certo tempo, e o tinham, para se organizarem para uma mudança como esta. O fato comprovado de que eles foram liberados já no primeiro ano do reinado de Ciro não quer dizer que tenham partido no mesmo ano. Seria mais viável pensar em alguns anos de preparativos e acertos gerais antes de se lançarem a esta aventura.309 Seria bom pensar na composiç ão deste primeiro gru po que pa rtiu para Judá, como a união de dois tipos de pes soas. Ele, provavelmente, era formado por aqueles idealistas que, independentemente da situação em que se encontra-
307 Ibid. p. 161. 3Í)S BAL DW IN , J. G. Ageu, Z acariaseM alaq mas: intro dução e em entário. São Paulo: HdiçÕes Vida Nova, 1991. p. 29-30. 3
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vam na Babilônia, desejavam partir para a terra dos antepas sados e formar o verdadeiro Estado de Israel, dentro dos moldes exigidos por Deus, como deveria ter permanecido desde a antigüidade, e por aqueles que ainda não haviam conseguido se estabelecer de forma adequada no paí s do exí lio. Para estes o retorno era uma chance de recomeço, quem sabe conseguindo reaver as antigas propriedades da família, ou reassumindo suas tradicionais posições de liderança na sociedade como era o caso dos sacerdotes e outros possíveis servidores do templ o que no exílio haviam perdid o suas fun ções.
O grupo que retornou não era muito grande, mas era expressivo, ao que parece cerca de cinqüenta mil judeus.310 Vontade de trabalhar certamente não lhes faltava e assim que retornaram deram início às reformas necessárias. En contraram um país em ruínas e adversários desejosos de im pedir a sua restruturação. Depois de enfrentarem muitas dificuldades, com o incentivo dos profetas Ageu consegui e Zacarias, líderes fundamentais neste período de recomeço, ram reconstruir o templo de Jerusalém, mais de vinte anos depois de terem recebido a permissão de Ciro para este em preendimento (Ed 1-6). 11.2.2. O Grupo de Esdras__________________________ Esdras, descenden te do primeiro Sumo -Sacerdote de Israel, Arão (Ed 7:1-5), ele mesmo sacerdote e escriba, peri to nas escrituras (Ed 7:6), foi o líder de um outro grupo de judeus que partiu da Babilônia para Jerusalém. Uma leitura rápida do livro bíblico que leva seu nome pode d ar a impres são de que isto aconteceu logo em seguida à conclusão do templo, sob a direção de Zorobabel e Josué. Contudo,
deve-se ter em conta que isto ocorreu cerca de sessenta anos 310 (^OCLHO FILHO, I. G.
A ge u nosso m ik m pom nm . Rio dc jane iro. (UF.RP, 1991. p .17.
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mais tarde. Este é o período que separa o capítulo seis do ca pítulo sete de Esdras.311 O grupo de pessoas que acompanhou Esdras nesta viagem foi muito menor do grupo dos pioneiros Zorobabel. Mas, também era que um ogrupo respeitável. Peloscom re gistros do Livro de Esdras percebe-se que o grupo era for mado por cerca de mil e oitocentos homens, sem contar as esposas filhas e servos.312 Eles partiram com a autorização e certa ajuda do rei da Pérsia, Artaxerxes I, por volta do ano 457 a.C.. Se reuni ram antes da partida próximoe adepois um ri odoschamado hoje de localidade desconhecida, últimosAava, preparati vos que envolveu um jejum pedindo a ajuda de Deus para a jornada, iniciaram a viagem de aproximadamente 1600 km, que fizeram em um tempo de quatro meses (Ed 7:7-9). Esdras, entre outras atividades, atuou em Judá de forma decidida contra o pecado dos casamentos mistos que estavam sendo praticados pelo povo e, inclusive, pelos seus líderes. Com muita determinação levou-os a voltarem atrás, apesar de todas as conseqüências sociais envolvidas no problema. Sua atuação foi fundamental paraJudá, a ponto de ele ter sido con siderado pela tradição como um segundo Moisés. Conforme Josefo, a atuação de Esdras foi reconhecida pelo seu povo como de grande valia, o que lhe proporcionouum enterro, de pois de boa velhice, com grandes honras em Jerusalém.313 11.2.3. O Grupo de Neemias ________________________
O historiador Flávio Josefo afirmou que Neemias partiu para Jerusalém somente após a morte de Esdras.314 Evidentemente, isto não passa de um engano deste escritor
31 *^ K.ID NERJ., D. e N eemias: introduçãoEe^eq comentári o. São Paulo. Edições Vid aVida No va,Nova, 1989.1995. p. 66.p. 294. Exa/ninai as escrituras: nid a Nlalaquias. BAXTER, S. Eíí/ra.( São Paulo: Edições JO SE FO, F. História dos bebmís: obra completa. Rio dc Janeiro CP AD , 1990. p. 265. 3 u ‘lbid. p. 265.
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do passado. O próprio Livro de Neemias testem unha que os dois foram contemporâneos e mostra que estavam traba lhando juntos na reforma religi osa (Ne 8) assim como na de dicação dos muros da cidade de Jerusalém, reconstruídos pelo povo liderado por Neemias (Ne 12:36). Partindo do texto bíblico não há como duvidar que os dois atuaram, pelo meno s em determinada época, ao mes mo tempo em Jerusalém. Contudo, eruditos modernos têm questionado a seqüência bíblica para a ida dos dois para Judá. Eles defendem que a ordem deve ser Neemias-Esdras e não Esdras-Neemias, como está na Bíblia.315 Mas, Kidner, analisando as hipóteses levantadas por estes estudiosos con cluiu escrevendo o seguinte: “Parece razoável dizer que nenhuma das objeções, maiores ou menores , à ordem bíblica dos eventos é comp ul siva, e indicam que nada mais forte do que a probabilidade é realmente alegada pela maioria dos estudiosos para qualquer uma dasjáreconstru çõescertamente sugeridas.deve Sendo o caso,ciaa narra tiva que possuímos tereste precedên sobre as narrativas que não temos. E à parte do direito prioritário do real sobre o hipotético, nada daqui lo que discutimos tem peso suficiente para contrabalançar a vasta improbab ilidade de que nosso autor, tão dedicado nos pormenores, e com acesso aos registros das suas personagens p rincipais, escritos na primeira pessoa, nãooutinha idéia de estes homen relacionavam entre si, deixaram de como se relacionar, nem sdese quem antecedeu a quem”.316 Não há como verificar na atualidade quantas pessoas acompanharam a Neemias neste empreendimento. Certa mente não foram muitas. Mas ele chegou a Jerusalém acom panhado de oficiais do exército e cavaleiros, a seu serviço, além de cartas do rei para os governadores das regiões vizi-
^ DON NIi ll, II. I lis/ona d e Israel e do s po vo s vizi nhos. Sã o l.xjopoldo: Hditora Sin od al; Petró po lis : I'.ditorzi Vozes, 1997. p. 473-475. 316 D. Uniras t introdução e comentário . São Paulo: li-diçõ es Vid a N ova , 1989. p. 179.
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nhas, apresentando-o como o novo governador de Judá. O grupo deve ter sido pequeno mas seleto, provavelmente es colhido pelo próprio Neemias e, sob a sua liderança, foi de fundam ental importân cia para implem entar as reformas que se faziam necessárias. Entre elas, uma das mais impressio nantes, foi a reconstrução dos muros da cidade em apenas cinqüenta e dois dias (Ne 6:15), depois de estarem destruí dos a cerca de cento e trinta anos. 11.3. As Condições Gerais da Comunidade Pós-Exílica
Quando se fala em comunidade pós-exíli cas é melhor pensar no conjunto das “comuni dades judaicas” espalhadas pelo Império Persa e não apenas no grupo que vivia em Judá. Como já foi visto, relativamente poucos voltaram para a terra de seus antepassa dos. A m aioria estava bem estabele cida no exílio e permaneceu onde estava. Por isso, ainda que Ciro tenha permitido que os judeus se deslocassem para a antiga pátria, é bom lembrar que ele s continuaram “espalha dos”, em comunidades, por vários loca is. Como a babilônia permaneceu como um centro da vida judaica por séculos, é possível deduzir que lá continuou existindo uma forte comunidade. Também existem algumas evidências de um a comunidade judaica, pouco conhecida, em Sardis, na Asia Menor e no Baixo Egito, além da razoavel mente conhecida comunidade de Elefantina, situada junto à primeira catarata do rio Nilo.317Não é possível aqui, e nem em outros locais onde se possa usar mais espaço, descrever em detalhes a situação destas comunidades, pois elas são pouco conhecidas. Mas nesta parte serão dadas algumas informações gerais a respeito da situação política, religiosa e econômica-so-
cial dos judeus que viveram debaixo do domínio persa. ^
BRIGMT, ).
História de lírae/. São Pau lo: KdiçÕcs Paulina s, 1985. p. 511).
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11.3.1. A Situação Política __________________________
A situação política dos judeus não era melhor do que a dos outros povos que estavam sendo dominados pelos persas. Não é por que lhes foi permitido volta r para Judá que se pode falar em autonomia política jDara este período. Isto teria que esperar ainda muito tempo . A volta não significou indepen dência mas sim permissão para que ele s fossem para a terra de seus antepassados, agora domínio persa, e restau rassem u m local de interesse do i mpério. Não era a volta do Estado de Judá,por ainda quedamuitos assimdedevem ter pensado, principalmente causa l iderança Zoro babel que era descendente do rei Davi. Naturalmente, os profetas Age u e Zacarias, chegaram a ver nele a possi bilidade de se cumprir a promessa do Messias que levaria Israel à uma nova era.318 Mas isto não se concretizou, Judá era uma província da Pér sia e assim permaneceria até passar para os gregos quando estes assumissem o comando. Ainda que em algumas ocasiões, nem sempre, judeus estiveram governando a província de Judá, como foi o caso de Zoro babel e Neemias, não há dúvida s que eles represe n tavam o governo central e estavam ocupando este cargo, principalmente, para defenderem os interesses persas. De fato, em alguns períodos, Judá foi até mesmo administrada pelos líderes de Samaria, com a ajuda dos sumo sacerdotes, os quais cuidavam das questões locais.319 Isto é uma boa amostra d a condição po lítica limitada que eles possuíam. Como povo, os judeus não tiveram grande p articipa ção política no Império Persa, era mais um grupo de subju gados entre tantos outros mas, como indivíduos, alguns conseguiram galgar postos importantes dentro da estrutura estatal. Esta foi a situação de Daniel, Neemia s, Ester, Mar-
318 BALD W IN, J. G. Ageu, '/.acaria s t Malaqnias. São Paulo: l ídições Vida Nova, 1991. 319 BRIGHT, J . 'op, cit , p. 512.
p. 42.
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doqueu e provavelmente outr os menos conhecidos ou total mente desconhecidos dos historiadores modernos. Sem entrar em detalhes a respeit o destes personagens conhecidos na atualidade, quais devem procur ados naé bibliografia atual que trata os diretamente dosserlivros bíblicos, importante dizer que eles ilustram bem as possibilidades que um judeu poderia ter dentro do sistema pol ítico do império. Estas possibilidades de ascensão, é claro, não estavam limitadas aos judeus, como é possível notar no Livro de Ester. Hamã, um provável descendente de Agage, rei amalequita, inimigo de Israel na época de Saul,320 também conseguiu, ain da que por breve período, ser uma pessoa de grande destaque no Império Persa, a ponto de conseguir do rei permissão para executar todo o povo judeu espalhado pelo império (Et 3:7-11). Aqueles que interessavam ao governo, por uma ou outra razão, foram bem aproveitados na administração. 11.3.2. A Situação Religiosa ________________________ A situação religiosa dos judeus no período pós-exílico, sob o domínio persa, não era das melhores e variava con forme a época e localização da comunidade. Se por um lado alguns obtiveram uma compreensão mais elevada de Iavé e sua religião, outros acabaram optando por um culto alta mente sincrético. Este foi o caso da comunidade de Elefantina. Contrariandoconstruíram claramente um as determinações do Livro de Deuteronômio templo dedicado a Iavé onde lhe ofereciam sacrifícios e o adoravam ao lado de ou tras divindades também cultua das. Eram judeus, do mesmo sangue que seus parentes de Judá ou outras localidades, mas praticavam uma religião, ainda que em alguns aspectos se melhante, com pontos totalmente contrári os à religião histói rica de seu povo.321
,2<) BALDWIN, J. Ci. Mster. introd ução e com entário. São Paulo : F.dições Vid a No va, 1986. p. 64 ^ BR IGH T, \. Histór ia de Isr ae l São Paulo: Edições Pau linas, 1985 . p. 510-511.
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Certamente, entre aqueles que partiram para Judá, quando liberados por Ciro, haviam muitos ad oradores since ros estado erarecomeço. a maior motivação para assim, que enfrentas semdeo Iavé, desafio Mas mesmo logo foi necessário que os profetas Ageu e Zacarias os estivessem in centivando a fazer aquilo que deveri am fazer em nome da re ligião. Basta ler o primeiro capítulo do Livro de Ageu para perceber que Iavé já havia passado para segundo plano na lista de prioridades daqueles que haviam deixado a Babilônia para restaura rem o culto corr eto a eIavé em Jerusa lém.“Acaso A per gunta que o profeta faz aos líderes ao povo de Judá: é tempo de habitardes vós em casas apaineladas enquanto esta casa permanece em ruínas?” (Ag 1:4), revela o descaso com que eles estavam tratando o principal símbolo de Iavé em Jerusalém, seu templo, a morada de Deus. A pregação destes profetas surtiu um bom efeito e logo a comunidade de Judá respondeu de forma favorável. Em poucos anos reconstr uíram o templo em Jerusalém . Po rém, ainda que não se possa datar com muita precisão a épo ca dos fatos narrad os no Livro de Malaquias, ele é uma forte testemun ha da apostasia, falta d e respeito e desinteresse dos sacerdotes e do povo em geral quanto à Lei de Moisés, que ocorreu não muito depois da construção do chamado, atual mente, segundo templo.322 Ao que parece isto ocorreu pelo não cumprimento das promessas feitas por Ageu e Zacari as,323 as quais foram interpretadas como prestes a ocorrerem mas que, realmente, apontavam para um futuro não muito próximo. Mais tarde, ou conforme alguns, ainda na época dos fatos narrados em Malaquias,324 com a atuação de Esdras e Neemias, a religião de Judá passa por mais alguns ajustes e
322SCHU I.TZ, S. J. A história de Is ra el no A utigo 7 'estamento. São Paulo: Kdiçôes Vida Nova, 1988. p. 399-400. 323 yA'1'1 -!S, K. M. I j >sprojetas deiA ntigno Testament o:pr ocl amando sus mensajespara eld ia de ho y. Nashville: Casa Hautista de Publica cion es, 1984. p. 303. 32<* BALDW IN . J. G. Ageu, 'Zacarias e Malaq uias: introduçã o e comentário. São Paulo: Ediçõ es Vida Nov a, 199 1. p. 178.
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acaba por se tornar o germe do judaísmo nascente.325 Foi dado um valor cada vez maior à Lei, diminuindo a ênfase cultual e profét ica. À medida em que o valor da Lei foi cres cendo a fé profética foi diminuindo.326 Estas mudanças con tribuíram para uma maior popularidade da religião de Judá. Ela, ainda que mantendo o seu ponto central no templo e na cidade de Jerusalém, cada vez mais se desprendia de um de terminado local, dando oportunidade para que os judeus de outras partes do Império, a inda que longe da terra berço de sua religião, também pudessem participar efetivamente da vida religiosa da comunidade de fé que agora ultrapassava as fronteiras. 11.3.3. A Situação Econômica-Social_________________ Assim como nos outros povos espalhados pelo Im pério Persa, também entre o povo judeu existiam pessoas ri cas pobres, asFora quaisdaparticipavam de dois gerais, grupososcada vez maise distintos. Judéia, em termos judeus ocupavam uma boa posição na sociedade e tinham posses suficientes para que não desejassem partir para a terra natal de seus antepassados em busca de uma nova vida. Eles esta vam em condições, inclusive, de ajudar aqueles que retornas sem (Ed 1:4). Na Judéia, nota-se uma grande di ferença entre aqueles que haviam retornado do cativeiro e aqueles que ha viam permanecido na terra de Judá. Afinal, quando Judá foi levado ao cativeiro ficaram os pobres na terra que havia sido arrasada (Jr 52) e aqueles que voltaram consideravam-se o verdadeiro “Israel”.327 O Livro de Neemias é uma boa amostra das condi ções sociais e econômicas do povo de Judá em sua época. Neemias, quando trabalhav a na capital do império, na cidade
DON NER , H. Históri a de Israel e dos p o r o s n in h o s. São Leopoldo: SinodaJ; Petrópoíis: Vozes, 1997. p. 488. 326 G. História da religião de Israel . São Paulo: Edições Paulinas, 1982. p. 448-449. 327 j^j^ N E R , D. E sd nii e N eewia s: introd ução e comentá rio. São Paulo: Edições Vida Nova, 1989. p.
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de Susã, receb eu notícias da Judéia por intermédio de seu ir mão Hanani que de lá havia chegado. Ao pergunt ar como es tavam aqueles que não foram para o exíl io receb eu a seguinte resposta: “...Os restantes, que n ão foram levados para o exí lio e se acham lá na província, est ão em grande misé ria e des prezo; os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas queimadas a fogo.” (Ne 1:3). Esta ainda era a situação daqueles que não foram para o exílio, não daqueles que vol taram do exílio, isto cerca de oitenta anos depois de terem obtido de Ciro a permissão para reconstruírem Jerusalém . Ainda no Livro de Neemias fica claro o abismo que havia sido aberto entre os ricos e os pobres. Os pobres esta vam passando fome e pegavam dinheiro emprestado para pagar os seus impostos, enquanto os ricos aprovei tando a si tuação difícil, desconsiderando a Lei de Moisés, ganhavam mais dinheiro, cobrando juros, aumentando a aflição de seus compatriotas desfavorecidos, tomando-lhes, até mesmo, os filhos como escravos em pagamento das dívidas. Nada po deria mos trar esta situação tão dramática , entre pessoas que se diziam irmãs, como o texto bíblico que relata a queixa do povo diante de Neemias. Eles diziam, acusando os ricos: “...Nós somos da mesma carne como eles e nossos filhos são tão bons como os deles; e eis que sujeitamos nossos filhos e nossas filhas para serem escravos, alg umas de nossas filhas já estão reduzida s à escravidão. Não está em nosso pode r evi tá-lo; nossos campos e as nossas vinhas já são de ou tros.”pois (Ne os 5:5). Fica como destaque da comunidade pós-exílica, no período persa, a sua condição de universalidade. Ou seja, é vima comunidade que não está limitada por fronteiras. Ainda que existissem grupos d iferentes, em várias partes do impé rio, alguns até destoando claramente dos demais na prática
do culto, comunidade de Elefanti havia umainda senti mento decomo união.aExistia um vínculo racial na, e religioso,
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que em linhas gerais, que continuava a uni-los mesmo em condições adversas. Era um povo entre os povos que cada vez mais desaprendia a ser nação e aprendia uma nova forma de comunhão, comunidade de fé,e ateria quala se so bremaneira nosa próximos séculos suaexpandiria base na cidade “Santa”, Jerusalém. No mais, fica claro que a volta para Judá não signifi cou o seu renascimento como estado, isto não seria permiti do pelo rei persa. Foi um primeiro passo que iria ser complementado pelos Macabeus, mais tarde, já sob o dom í nio grego. Por enquanto, o máximo que eles conseguiriam é que Judá fosse uma das provínc ias da P érsia, algumas vezes, nem sempre, governada por um judeu seguindo as orienta ções do Império. Também é bom destacar que o período que vai até o reinado de Dario II (424- 404 a.C.) é o máximo no qual se po dem encontrar evidências das relações dos judeus com o go verno persa. Depois desta época não se sabe praticamente nada, a não ser que passar am para o domínio grego quando Alexandre o Grande conquistou o Império Persa. Aí, então, começava um a nova fase da história. 11.4. Para Complementar ________________________
11.4.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período a) 2 Crônicas 36:17-23 b) O Livro de Esdras c) O Livro de Neemias d) O Livro de Ester
e) Daniel 5:29-6:28; 9-11 f) O Livro de Ageu
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g) O Livro de Zacarias h) O Livro de Malaquias 11.4.2. Questões Para Revisão _______________________
a) Como foi que Ciro conquistou a Babilônia? b) Escreva a respeito da política de Ciro para com os po vos subjugados e seus deuses. c) Quanto tempo, mais ou menos, depois da destruição do templo de Jerusalém por Nabucodonosor aconte ceu o início da volta dos cativos da Babilônia? d) Explique a conversão, ou não, de Ciro ao Deus verd a deiro. e) Escreva a respeito da função de Zorobabel em Judá. f) Destaque os nomes dos líderes dos três grupos que r e tornaram para Judá, de acordo com o relato bíblico . g) Por quanto tempo, aproximadamente, ficaram destruí dos os muros de Jerusa lém antes de serem reconstruí dos na época de Neemias? h) Escreva a respeito das condições políticas de Judá e dos judeus neste Período. i) Escreva a respeito das condições religiosas das comu nidades judaicas no Período Persa. j) Escreva a respeito das condições sociais dos habitantes de Jerusalém no Período Pers a.
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.O PERÍODO GREGO
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Quando o leitor iniciante da Bíblia deixa o Antigo Testamento e passa para o Novo fica perplexo. Parece que tudo mudou. Não reconhece mais o ambiente onde os fatos estão se desenrolando. Inexplicavelmente não se fala mais em Pérsia, surgem personagens estranhos, como fariseus, saduceus e outros. Os profetas praticamente desap areceram e os sacerdotes possuem grande autoridade. Fala-se muito em sinagoga, algo totalmente desconhecido no Antigo Tes tamento,328 a teologia está bem mais desenvolvida e percebe-se que agora o mundo é dominado pelo poder de Rom a e pela cu ltura grega. O que aconteceu? Esta é a pergun ta nor malmente feita pelo leitor em busca de uma solução para a abrupta ruptu ra entre as duas partes da Bíblia. Aconteceu que o tempo passou! Entre os escritos dos dois Testamentos há um espaço aproximado de 400 anos, o chamado P eríodo Intertestamentário, e para que haja um en tendimento melhor do Novo Testamento é necessário co nhecer, ainda que superficialmente, algumas das mudanças ocorridas nesta época. Caso contrário muitos textos perm a necerão enigmáticos. Na tentativa de amenizar este impacto para o estu dante da Bíblia é que nestes últimos capítulos deste livro se rão apresentados os períodos do domínio grego, da indepen dência , com os macabeus e, novamente, de domínio sob os romanos, em ordem cronológica. O primeiro, então, como segue, é o período grego, destacando-se o seu início
328 Alguns sugerem no texto Salmogrego 74:8daexi ste uma referência à Si nagoga Testame não é esta a palav ra que estáque lá, no LXX , nem seu equivalente imed noiatoAntigo hebraico no Tex nto, to porém M assorético. Na verdade não há um a evidência clara a respeit o da existência de tai s construções nesta época. V eja a opinião d e KIDNE R, D. Sabaos 73-150: introdução e comentário. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992 . p. 296.
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com Filipe da Macedôn ia, o auge sob Alexand re o Grande, e a caminho do fim com os Ptolomeus e Seleucidas, sempre destacando os pontos importantespara relacionados com o povo judeu, sem dar muita importância outr as questões, tam bém importantes, mas não relacionadas diretamente com este povo e com o objetivo deste livro. 12.1. O Surgimento de um Novo Império ___________
tudoPor navolta vida passa da Pérsia e mund seus reis tambémComo passou. do anoa glória 400 a.C. o poder ial começa, mais uma vez, a mudar de mãos. Os persas vão saindo do cenário e dando lugar para os gregos que mais tar de também, po r sua vez, seriam substituídos pelos roman os. O começo do fim do Império Persa aconteceu na época de Artaxerxes II Menemon, que reinou entre 404 e 358 a.C. Seusuareinado foi marcado pela revolta do Egito, conseguiu independência em 40 1 a.C., e pela revoltaque in terna encabeçad a por Ciro, o Moço, irmão do rei persa. Fa tos estes que incentivaram o surgimento da chamada “Revolta dos Sátrapas”, ou seja, dos governantes. Rebelião que acabou sendo controlada e não conseguindo derrubar o império, mas que o enfraqueceu sobremaneira.329 Depois da morte de Artaxerxes II assumiu Artaxer xes III Ochus. Ele conseguiu dar ainda um pouco de vida ao império acaband o com seus possíveis rivais internos, seus ir mãos e suas irmãs, e sufocando as revoltas que surgiam por todos os lados. C hegou inclusive a reconquistar o Egito, que já estava independe nte por um período de aproxim adamen te sessenta anos. Mas, quando tudo parecia caminhar para uma época de tranqüilidade, ele foi morto por envenena
mento. O mesmo aconteceu com seu filho e sucessor Arses, 329 BRIGH T, j. H istória de Israel . São Paulo: Ediçõe s Pau linas, 1985. p. 554-555.
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que conseguiu se manter no poder por apenas dois anos (338-336). Acabou assumindo o poder Dario III Codomanus, que conseguiu permanecer cinco anos (336-331 a.C.), sendo morto porpor umapenas de seusmais governadores (sátrapas) quando tentava fugir do grego Alexandre O Gran de que, com seus soldados, entrava triunfante nas pri ncipais cidades controladas pelos persas.330 12.2. O Auge do Período Grego ___________________
Ao mesmo tempo em que Artaxerxes III desenvolvia seu governo sobre a Pérsia, Filipe I I da Macedô nia ia, gradu almente, consolidando cada vez mais seu poder sobre os es tados gregos. No ano da morte de Artaxerxes III, 338 a.C., ele conseg uiu colocar todos debaixo de seu governo. C on tudo, pouco tempo depois, em 33 6 a.C., assassinado, deixo u o cargo para seu filho Alexandre,331 de apenas 20 anos de ida de, que levaria o Império Grego ao auge em pouco tempo. Alexandre era uma pessoa muito culta, sedenta de conquistas. Foi educado pelo famoso filósofo Aristóteles e, de forma obcecada, desejava levar sua influência a todos os países conhecidos. Aproveitando-se da momentânea fra queza dos medos-persas deu início às suas campanha s vitori osas que só pararam com sua morte, aos 32 ou 33 anos de idade, treze anos após tersobre assumido o poder.e suas ações são As informações Alexandre bastante confusas, por vezes envoltas em lendas, mas atri bui-se a ele a fundação de setenta cidades, todas moldadas conforme o estilo grego. Também é certo que ele e seus sol dados, no afa de disseminar a cultura grega, conh ecida como helenismo, casaram-se com mulheres orientais, misturando
assim as culturas.332 Ibid. p. 553-563. 331 BRIGHT, ]. História d e Israel . São Paulo: Ed ições Paulina s, 1985. p. 556. 332 GUNDRY, -> R. Panorama d o N ovo Testa mento . São Paulo: Edições Vida N ova, 1981. p. 4.
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Com as vitórias de Alexandre co ntra os persas p assou para ele o domínio de todo o antigo Oriente Méd io e, a partir daí, o mundo nunca mais foi o mesmo. A cultura grega, que já vinha a tempos pelos com erciantes e co lonizadores gregos,sendo com propagada estas conquistas e ações receberam um forte impulso, e causaram mudanças profundas na ma neira de viver de todos os povos subjugados. E ntre as conse qüências desta influência está a ut ilização da língua greg a que passou a ser utilizada no comércio, na diplom acia e, mais tar de, na época do Novo Testamento, seria falada pela maioria das pessoas até mesmo nas ruas de Roma.333 A contribuição desta língua universal para a e xpansão do cristianismo é ób via. Sem ela, a mensagem cristã encontraria muito mais difi culdades em sua propagação. As informações a respeito das relações dos judeus com os gregos, na época de Alexandre, não são muitas e, além disso, fica difícil de separar o falso do verdadeiro entre elas. Mas, algumas das informações, vindas do historiador Flávio Josefo, ainda que duvidos as em seus detalhes, devem ser levadas em consideração nas suas linha gerais. Segundo Josefo, o primeiro contato de Alexandre com os judeus não foi muito proveitoso. Durante a campa nha de conquista de Damasco, Tiro e Sidon, Alexandre es creveu ao Sumo-sacerdote dos judeus, Jado, pedindo-lhe auxílio, comércio livre com seu exército, e a mesma lealdade, para com ele, como vinha sendo demonstrada, até o mo mento, para com Dario, o rei da Pérsia. Mas, para surpresa dele, recebeu uma resposta negativa, acrescida da alegação de que havia uma prom essa de lealdade feita com juramento a Dario, e que não poderia ser quebrada. Resposta esta que em muito o contrariou e resultou em sérias ameaças para os judeus.334
‘ ‘ Ibid. p. 4-5. JO SE F O , F. H istória do ( hebreus: obra completa.
Rio d e Janeiro: CP AD , 1990. p. 273.
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Conta ainda Josefo que, Alexandre, depois de ter conquistado Tiro, precipitou-se contra Jerusalém. Ocasião em que o Sumo-sacerdo te judeu, em um sonho, teria recebi do uma revelação divina a respeito tratar conquistador. Foi-lhe revelado que de as como portasdeveria deveriam sero abertas para ele e flores deveriam ser espalhadas por toda a cidade, enquanto o próprio Sumo-sacerdote, revestido com seus trajes especiais de ofício, acompanhado dos demais sa cerdotes, vestidos de branco, deveria ir ao encontro de Ale xandre, sem temor.335 Assim foi feito, segundo este historiador judeu, e a re ação de Alexandre foi extremamente favorável. Pois ele, ao ver o Sumo-sacerdote e sua comitiva, reconheceu na cena um de seus antigos sonhos, quando, ainda na Macedônia, preocupado em como poderia fazer para conquistar a Ásia, viu Jaso, em suas vestes sacerdotais e recebeu dele uma pala vra de ânimo e certeza de que venceria os persas. Diante dis so, Alexandre abraçou o Sumo-sacerdote e outros sacerdotes e, entrando em Jerusalém, foi até o templo sacri ficar a Deus, segundo orientações de Jaso.336 Jaso aproveitou a boa vontade do conquistador e su plicou-lh e que fosse per mitido aos judeus, tanto os que mo ravam na Judéia como na Babilônia e Média, viverem segundo as suas leis, além de serem isentados do tributo no sétimo ano, pagando apenas nos outros seis. Ao que Alexan dre responde u de forma positiva, além de estender a possibi lidade de participação de judeus em seus exércitos, com a liberdade de praticarem sua religião.337 Mesmo que detalhes deste teste munho de Josefo não devam ser levados em consideração, por faltarem outros tes temunhos históricos que os comprove, fica claro que, no ge115 Ibid. p. 553-563.
336 joSEFO, 337 Ibid.
F. H islóría do s hebreus: obra complet a. Rio d e Janeiro:
CPAD, 1990. p. 274.
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ral, as relações entre Alexandre e os judeus foram boas. Eles que vinham já ha muitos anos sendo leais aos dominadores persas, com qu em também tinham boas relações, na ocasião passaram a ser leais aos gregos. Não deve ter havido muitas mudanças na situação política e religiosa que vinham vivenciando. Praticamente, só mudaram os dominadores. Judá continu ou a ser uma província, nã o possuindo rei nem auto nomia política, tendo o Sumo-sacerdote como autoridade máxima de seu povo. 12.3. A Divisão do Império Grego _________________
Logo após a morte prematura de Alexandre o Gran de, na Babilônia, causad a por doença, seu i mpério começa a desmoronar. Como não deixou herdeiros capacitados para o governo, seus generais passaram a disputar o controle do império, o que resultou em uma inevitável divisão . Quatro dos generais de Alexandre acabaram do partes significativas de seu império. Foram eles:herdan Ptolomeu, Seleuco, Lisímaco e Cassandro. Destes, são importantes para a história aqui narrada, Ptolomeu e Seleu co. Eles tiveram influência direta sobre Judá, que estava lo calizada entre o Egito dos Ptolomeus e a Síria dos Selêucidas, tornando-se assim um lugar estratégico para os dois novos impérios que viriam a se tornar rivais. As lutas constantes entre os dois e seus sucessores deixaram Judá em situação bastante difícil. Ambas as partes queriam a posse deste território que servia de corred or para as tropas e, com isto, Judá mudou de mãos várias vezes em curto espaço de tempo. Aquilo que na antigüidade havia sido positivo para enriquecer a antiga nação de Israel, sob o co mando de Salomão, sua posição geográfica especial ligando
importantes pólos sobre comerciais, nestea período fator de desgraça, atraindo a província cobiça dofois conquista dores.
Panorama Histórico de Israel
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12.3.1. Os Ptolomeus
O Império Ptolomeu teve seu foco central no Egito, com como Cleópatra, capital. Seuquedomínio anos eAlexandria a famosa rainha morreudurou em 30muitos a.C., foi o último membro da dinastia dos Ptolomeus.338 Sob os Ptolomeus, os judeus tiveram uma relativa li berdade. Mu itos, ainda que depo rtados para o Egito, na épo ca do primeiro Ptolomeu, souberam e puderam aproveitar bem as oportunidades comerciais e condições de trabalho que tiveram. As condições acabaram sendo favoráveis a tal ponto que outros foram por vontade própria tentar a vida nas cidades gregas que estavam sendo fundadas. Em especi al, muitos foram para a cidade de Alexandria, onde forma ram uma grande colônia. Lá os Ptolomeus fundaram uma grande b iblioteca com obras anti gas preciosas, cuidadas por bibliotecários que se tornaram notáveis, iniciando o estudo da gram ática grega e dando atenção especial à crítica de te xtos. 339 Na Judéia, na época dos Ptolomeus, o sumo sacerdo te era o governad or. Ele trabalhava e m conjunto com o co n selho de sacerdotes e anciãos fazendo com que as leis fossem cumpridas. O Templo de Jerusalém era o centro da vida religiosa dos judeus, que podiam celebrar suas festas re ligiosas com normalidade, recebendo, inclusive, peregrinos vindos de todas as partes. Foi dada ênfase especial à Lei nes te período e a interpretação foi bastante desenvo lvida. O que não estava bem, n a Judéia desta época, era a situaçã o econô mica. As guerras, a imigração e o pagamento dos impostos empobreceram a população.340 ^ GU NDR Y, R. Panorama do Novo Testa mento . São Paulo: Edições Vida Nova, 1981. p. 4.
33J ’fEN N EY , M. C. O N ono Testamento: sua srcem e anál ise. São Paulo: Edições Vida No va, 1 989. p. 55-57. ^ TENNEY, M. C. O N ov o Testa mento: sua origem c análise. São Paulo: Edições Vida Nova, 1989. p. 56.
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Foi na época dos Ptolomeus, mais especificamente no período de Ptolomeu Filad elfo (285-246), que co meçou a tradução do Antigo Testamento Hebraico para a língua gre ga, a chamada Septuaginta (LXX). O trabalho foi feito no Egito, ao que parece, para beneficiar os judeus que já com preendiam melhor o grego do que o hebraico e, ainda que a tradição e as lendas que envolvem esta versão da Bíblia, afir mem que a tradução foi rea lizada por judeus da Judéia, espe cialmente levados para o Egito para desempenhar este trabalho, alguns defendem que é provável que tenha sido re alizadoAinda por egípcios que os mesmo.341 detalhes a respeito do surgimento desta versão não possam ser esclarecidos até o momento, e que muito sobre este assunto venha sendo considerado como lenda, o que é incontestável é a grande contribuição que ela deu à disseminação do judaísmo e, mais tarde, do cristianis mo, que assumiu este trabalho como sua primeira Bíblia. Na época de Cristo ela já estava espalhada entre os judeus da dispersão e pode-se imaginar o quanto foi útil aos primeiros missionários esta Bíblia escrita em linguagem universal. As várias citações dela feitas no Novo Testamento, inclusive, são um forte testemunho de sua importância. 12.3.2. Os Seleucidas ______________________________
Após muitas tentativas fracassadas da parte dos Selêucidas para conquistarem a Judéia, por meio de invasões ou alianças matrimon iais, Antioco III, finalmente, ao derro tar os Ptolomeus do Egito, em uma batalha junto às nascen tes do rio Jordão, em 198 a.C., consegue anexá-la aos seus domínios.342 A partir daí a situação dos judeus começaria a mudar de forma drástica.
GUNDRY, R. Panorama th Not-v Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1981. p. 5. BRIGH T, J. História ihlsmeL São Paulo; Edições Paulina s, 1985. p. 566 .
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Inicialmente os judeus receberam bem os novos do minadores. A té mesmo lutaram ao lado deles con tra os exér citos dos Ptolomeus. Provavelmente, eles esperavam ver o fim da gue rra e ter melhor sorte so b os Selêucidas e, inicial mente, foi isto mesmo o que aconteceu. Antíoco III tratouos muito bem. Entre outros benefícios, ordenou que os re fugiados voltassem pa ra suas terras; que os escravizados fos sem libertos; que houvesse redução nos impostos; que tivessem liberdade de culto; que fossem isentados de taxas todos os trabalhadores do templo, os escribas e os membros do conselho dos anciãos; e que fossem abolidas as taxas em Jerusalém por três anos, para que a cidade pudesse se recuperar economicamente. 343 Antíoco III, em poucos anos, 187 a.C., depois de se envolver em guerras com os romanos e ser derrotado, aca bou sendo morto ao saquear um templo em Elão, com a in tenção de conseguir dinheiro para cobrir as exigências de •
Roma. Em seu lugar assumiu seu filho, Seleuco IV, que re sistiu no poder até 175 a.C.,344 quando foi assassinado por seu tesoureiro Heliodoro, em uma tentativa de tomada de poder. Contudo, quem passou a reinar foi o irmão de Seleu co IV, Antíoco IV (Epifânio), que havia esta do como refém em Roma e de lá voltava pronto para tentar unir o Império impondo o politeísmo grego como religião do Estado.345 Começav a o triste caminho para o final dodificuldades Império Selêucida e vislumbravam-se dificuldades e mais para os judeus. Antíoco IV, seguindo seus planos de helenização do povo que lhe estava subjugado, destituiu Onias III de seu cargo de sumo sacerdote, em Jerusalém, e colocou Jasom em seu lugar. A missão deste era transformar Jerusalém em
m Ibid p. 566, 567. 344 Ibid p. 570. HALE, D. B. /fitmdiiçíi o ao estudo do N om Testamento.
Rio de Janeiro: JU E RP , 1983. p. 13.
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uma cidade grega. Nesta época foi construído um ginásio na cidade, onde jovens judeus se exercitavam despidos, no esti1° grego, e cultos a deuses pagãos eram realizados antes das •
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competiçoes/ Os costumes estavam sendo transformados. A fre qüência aos teatros gregos, a adoção de roupas greg as, a utili zação de cirurgias para que fossem removidas as marcas da circuncisão, e a adoção de nomes gregos, em lugar de judeus, se tornavam cada vez mais populares. Aqueles que se opu nham a esta paganização da cultura era m tratados como Ha-
sidim, que puritanos.347 A significa situação algo que equivalente estava ruimaainda iria piorar muito. Antíoco IV substituiu mais uma vez o sumo sacerdote em Jerusalém. Tirou o cargo de Jasom, que ele mesmo havia co locado nesta posição, e deu-o a Menelau, uma pessoa que, provavelmente, nem tenha pertencido a alguma família sa cerdotal, mas que ofereceu-lhe um tributo mais elevado. Tal “negociata” envolvendo este cargo tão importante deve ter desgostado profundamente os judeus piedosos.348 Depois disso Antíoco IV partiu para o Egito na ten ta tiva de conquistá-lo . O que ele não esperava é que neste epi sódio seria humilhado por Laenus, um embaixador Romano que se encontrava no Egito, aliado de Roma na época. Con ta-se que este embaixador romano fez um círculo ao redor de Antíoco IV e exigiu que ele prometesse, antes de pisar fora do círculo, se retirar do Egito, junta mente com suas tro pas. O que ele, conhecendo o poderio romano, resolveu fazer. 3 4 9 Neste meio tempo, Jasom, o sumo sacerdote deposto para ced er o lugar a Menel au, recebeu a falsa notícia da mor te de Antíoco IV. Imediatamente deixou seu exílio, foi para
GUNDRY, R. 547 Ibid. 348 Ibid. p. 7 349 Ib,d.
Pano rama doN oro Tts lame nlo . São Paulo: Edições Vid a No va, 1981. p. 5.
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Jerusalém e retomou seu ofício, depondo Menelau. Atitude esta interpretada por Antíoco como um ato de revolta. Amargurado pela enviou vergonha Antíoco IV não teve dúvidas, seu passada exército no paraEgito, Jerusalém reinte grando assim Men elau no cargo de sumo sacerdote. O pro blema m aior é que foram além dis to. Aproveitaram a ocasião para saquear a cidade e matar muitos dos judeus.350 Dois anos mais tarde, em 168 a.C., Antíoco enviou, mais uma vez, seus soldados até Jerusalém. Eles foram co mandados pelo general Apolônio e chegaram com a missão de coleta r tributo, declarar ilegal a prática da religião judaica e estabelece r o paganismo à força. Como resultado a cidade foi saqueada, muitos foram mortos, mulheres e crianças fo ram escravizadas, manuscritos do Antigo Testam ento foram destruídos, um altar a Zeus foi colocado no templo, animais considerad os impuros pela Lei de Moisés foram sacrificados no altar do templo351 e muitas outras abominações foram co metidas. A situação para o s judeus praticantes da religião fi cou insustentável. U ma reação a tudo isto, naturalmente, iria acontecer.
350 GUNDRY, R. 351 Ibid- p. 7-8.
Panorama do Novo Tet/amen/o.
São Paulo: 1klições Vida Nova, 1981.
p. 7.
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12.4. Questões Para Revisão a) Qual o tempo aproximado entre os acontecimentos do Antigo e do Novo Testamento? b) Qual o nome e que idade tinha o sucessor de Filipe II da Macedônia? c) Descreva, em poucas linhas, a vida e os ideais de Ale xandre O Grande. d) Escreva um breve relato sobre as condições gerais dos judeus sob Alexandre. e) Qual era o principal cargo político-religioso na Judéia no Período Grego? f) Como ocorreu a divisão do Império Grego? g) Qual foi a condição da Judéia sob o domínio dos Ptolomeus? h) O que é e quando surgiu a Septuaginta? i) Qual o último membro da dinastia dos Ptolomeus? j) Qual foi a condição da Judéia sob o domínio dos Selêucidas
Panorama H istór ico de Israel
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13.O PERÍODO DOS MACABEUS Conhecer algumas informações a respeito do Período dos Macabeus é indispensável para melhor compreender a Bíblia, principalmente porque nele podem ter acontecido o cumprimento de várias promessas divinas feitas a Judá como nação no Antigo Testamento. Como será visto, em ordem cronológica, neste per íodo a Judéia p assou por gran des dificuldades, conseguiu vitórias aimpressionantes, lidera da por Judas Macabeu, e chegou gozar uma época de próspera independência para, em seguida, mais uma vez, en trar em decadência. 13.1. A Revolta Contra os Selêucidas _______________
Como foidevisto no capítulo anterior, os Selêucidas, sob a liderança Antíoco IV, Epifânio (chamado por al guns de Epimanes, que significa “o louco”)352, colocaram os judeus que desejavam permanecer leais à sua religião em uma situação bastante difícil. Chegou o momento em que eles não tiveram outras escolhas, simplesmente pereceriam ou lutariam p or suas vidas e pela religião que professavam. um breve da asituação desesperadora Segue dos judeus nestarelato épocaa erespeit comoofoi deflagração da revolta. 13.1.1. A Situação Desesperadora dos Judeus Fiéis_____ A situação na Judéia não era difícil para todos. Haviam aqueles que aceitavam passivamente e até desejavam a
352 TO GN IN I, E. O per ío do interinblico. São Paulo: Louvores do Coração, 1987.
p. 87.
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paganisação de sua cultura e religião, enquanto outros, por questão de fé, não conseguiam conviver com a influência dos gregos. mas Os primeiros, é claro, sentiam-se comdeuses as inovações, os outros não podiam aceitar obem que lhes estava sendo imposto. Antíoco IV, em sua vontade de helenizar a Judéia, não compreendendo o porquê dos judeus piedosos não se submeterem à sua política, ultrapassou todos os limites do bom senso e a cada momento só aumentava o ódio destes. Ele acabou implantando uma guarnição militar em uma ci dadela grega mu rada dentro de Jerusalém. Ela era conhecida pelo nome de Acra e, mais do que uma guarnição militar, para os judeus fiéis à religião, era um símbolo odioso do do mínio estrangeiro , e vima colônia de pagãos e judeus renega dos, dentro da cidade santa.353 Percebendo que a resistência judaica estava baseada em sua religião, Antíoco, fez o que pode para destruí-la. Além de proibir a sua prática, sob pena de morte, implantou altares em várias partes do terri tório para que animais im pu ros fossem sacrificados sobre el es. Os pagãos foram o briga dos a coo perar no esforço de levar os judeus a participarem dos cultos idólatras, e muitos judeus piedosos foram obriga dos a comer carne de porco e a praticar ritos considerados por eles como abomináveis.354 Além isso judeusaopassaram a ser forçados participar de de umatudo festa emoshonra deus Dionísio (o mes a mo Baco), e do sacrifício mensal que era feito em homena gem ao aniversário do rei. Como se fosse pouco, em dezembro de 167 a.C., foi introduzido no templo de Jerusa lém o culto ao deus Zeus Olímpico. L á foi erigido um altar a esta divindade e, provavelmente, também construída uma
BRIG HT , I. H istória de Israel . São Paulo: Edições Paulinas, 1985. p.575. 354 Ibid . '
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imagem dela355 que, poucos dias depois, recebeu o sacrifício de uma porca,356 em ato de culto, elementos altamente ofen sivos aos adoradores de Iavé. Diante de situação tão difícil como esta não havia muito o que fazer. Ou os judeus fiéis pereciam em nome da fé, ou, como outros haviam feito, renegavam a religião de seus pais e assim seriam absorvidos pela religião e cultura grega imposta pelo dominador, com o objetivo de unir o seu império , ou lutavam pelos seu s ideais. Mesmo em desv anta gem a luta foi a escolha. A Deflagração da Revolta ____________________ A deflagração da revolta partiu de um velho sacerdote chamado Matatias, filho de Simão, neto, ou bisneto,357 de Hasman, que vivia em Modi m, um pequeno lugar entre Jeru salém e Jope. Ele era descendente dire to do famoso prim ei ro sacerdote de Israel, Arão, irmão de Moisés,358 e tinha cinco filhos, Joã o, Simão, Judas, Eleazar e Jônata s, que m ui to o ajudaram. Este hom em, Matatias, sendo o principal de sua vila, foi procurado po r emissários do rei selêucida para que desse exemplo aos demais moradores do lugar oferecendo um sa crifício público aos deuses gregos. Ele que vinha lamentan do diante de seus filhos a deplorável situação da Judéia, e defendendo que seria melhor morrer pela defesa da reli gião herdada de seus pais do que viver sem honra, teve a oportu nidade de mostrar a sua fé. Respondeu aos emissários que não se sujeitaria ao pedido que lhe estavam fazendo e que nem ele nem seus filhos trairiam a religião de seus antepassa dos.359
^ BR IGH T,J. História d e Israel . São Paulo: Edições Paulinas, 1985. p.575. 356 'PENNEY, M. C. 0 N ovo T estamento; s ua origem e anál ise. São Paulo: Edições Vida Nova, 198 9. p. 59. ^ GUN DRY , R. H. Panorama do N ovo Testa mento . Sào Paul o: Edições Vida Nova, 1981. p. 9. 358 toG N IN I, e . O períod o interhí bli m. São Paul o: Louvores do Coração, 1987. p. 88 . jOSEFO , F. Históri a dos htbm ts. obta c ompleta . Rio de janeiro: CPÀ D, 1990. p. 288.
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Diante d a negativa de Matatias, um outro judeu, cer tamente temendo pelas duras conseqüências que viriam so bre o povo por causa do ato de desobediência, adiantou-se para sacrificar conforme pedido do rei,surpreendente, mas o ato nãoem foi concluído. Matatias, emouma reação companhia de seus filhos, matou o judeu bem como Apeles, o oficial do rei, e seus soldados. Feito isto, destruiu o altar, conclam ou os demais à luta e fug iu em companhia de famíli as inteiras de simpatizante s para a região montanhosa. Como inform a Bright, também juntaram-se a eles ou tros judeus qu e fugiam da perseguição Hasidim, pessoas religiosas que viriame bom a darnúmero srcemdeaos conhecidos fariseus do Novo Testamento e aos essênios, que produziriam os famosos Papiros do Mar Morto na co munidade de Qumran.360 Estava começando a Revolta do Macabeus. Matatias, alguns meses depois de ter dado início à re volução que era não só uma luta contra os exércitos da Síria, governada por Antíoco IV, mas também uma guerra civil contra os judeus que haviam abraçado a cultura e religião dos gregos, adoece e morre. Antes de morrer, porém, passo u o comando de seu grupo a seu filho chamado Judas, também conhecido como Macabeu, nome que significa malho, ou martelo. Este, com a ajuda de seus irmãos, levaria a nação à independência. 13.2. As Conquistas de Judas Macabeu ____________
A história confirma que Judas era a pessoa certa no lugar certo para fazer frente a os inimigos dos judeus n aquela ocasião. A atuação dele comandando os rebelados foi tão marcante que o episódio como um todo ficou conhecido
3íi<) GUNDRY, R. H. Panorama do N oro Testame nto. Sao Paulo: Edições Vida N ova , 1981 . p. 9.
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como a Revolta, ou a Guerra, dos Macabeus, em uma alusão clara ao herói deste período. A primeira vitória dos “Macabeus” liderados por Ju das foi uma parte do s exércitos de Antíoco comanda da pelocontra general Apolônio, chamado por Josefo de governador de Samaria,361 que pode ser o mesmo que esteve à frente do saque a Jerusalém um ou dois anos ante s. Ele par tiu de Samaria e foi derrotado e morto em um lugar desco nhecido da Judéia.362 Com certeza, esta pri meira vitória foi importan te não só para confirmar Judas como um bom comandante mas também para ajudá-lo na tarefa d e armar melho r o seu exér cito. O despojo conseguido com o saque efetuado ao acam pamento dos vencidos deve ter providenciado armas e mantimentos para os soldados de Judas. Uma segunda força foi mandada à Judéia com a tarefa de deter o movimento dos Macabeus. Era um grupo ainda maior de soldados, na ocasião comandados por Serão. Se gundo Josefo, o general Serão era governad or da Baixa Síria. Assim como o primeiro, também este exército foi derrotar do,363 dando a Judas e seus comandados a auto-confiança necessár ia e a impressão de que ninguém mais os pod eria de ter. Enquanto Antíoco, ocupado em uma campanha contra os partos, não podia mandar seu exército principal contra a Judéia,364 a popularidade de Judas crescia e, com ela, o núme ro daqueles que se alistavam em seu exército de libertação. Antíoco, então, instruiu Lísias a tomar frente da ques tão com Judas. Lísias enviou para a Judéia um a força consi derável, comandada por três generais, Ptolomeu, Nicanor e Górgias. Estes, mesmo em superioridade numérica e de ar mamentos, também não resistiram às táticas do Macabeu. 361 JOSEFO, F.
História do s hebreus: obra completa. Rio de Janeiro: CP AD , 1990 . p. 289.
BRIGHT, J. História de Israel São Paulo: Edições Paulinas, 1985. p.581. 365 JO SE FO , F. H istória do s hebreu.?. obra completa. Rio d e jane iro: C PAD , 1990 . 364 BRIGH T. j. H istória de Israel . São Paulo: Ed ições Pau linas, 1985. p .581.
p. 289.
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Antes de ser atacado, aproveitando-se do elemento surpresa, Judas atacou. Derrotado, no próximo ano, o próprio Lísias, com um exército ainda maior, se apresentou para combater Judas e seus soldados365 mas, sendo batido, retirou-se em fuga com os que lhe re staram. Foi para Antioquia onde pre parou outro grupo p ara fazer fren te a ju das.366 Aproveitando-se da momentânea desarticulação da Síria, Judas e seus soldados marcharam para Jerusalém. Lá chegando do minaram a guar nição selêucida que estava insta lada na cidadela Acra e pass aram a retirar do t emplo os deu ses e o próprio altar que havia sido profanado. No lugar dele construíram outro. Recolocaram os sacerdotes fiéis em seus cargos ministeriais e r econsagraram o te mplo com muita fes ta. Isto aconteceu, provavelmente, em dezembro de 164, ou 165 a.C. (existe uma incerteza de um ano para as datas dos selêucidas), três anos após o templo ter sido profanado. Esta data marca o início da conhecida festa judaica de Hanukah (consagração),367 que relembra o dia em que o templo foi reconsagrado por Judas Macabeu. Judas não parou por aí. Continuou lutando, inclusive contra os idumeus, Amonitas, Moabitas, Samaritanos, Galileus, Árabes, Filisteus e outros. Semelhante ao rei Davi, Ju das subjugou todos os seus inimigos das nações vizinhas,368 garantindo assim a independência da Judéia. Por seu lado, Antíoco IV morreu em desespero, logo após receber a notí cia das Judas, deixando a continuação para seuvitórias filho ede sucessor,369 ainda menor, AntíocodaV,guerra que foi tutelado por Lísias.370 Na continuidade, Judas chegou a pedir ajuda aos ro manos mas, ainda que tenha recebido uma resposta amigá365 íbid. f . op. cit., p. 290. 367 BR IG H T.J. op. ci t, p.5 82.
366JOSEFO,
3fi8 XOGNINI, E. O perío do inte tirí blic o. São Paulo : Louvores do Coração, 1987. p. 92. ^ TENNEY, M. C. O N o v o Testamento: sua srcem e análise . São Pa ulo: Edições Vida No va, 1989. p. 59. 370'rOC'.NINI, E. op.àf.t p. 93.
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vel, auxílio de fato nunca recebeu.371 Só conseguiu com isto desagrad ar parte de seus seguidores que o abando naram, re duzindo seu exército de forma drástica, segundo alguns a cerca de apenas 3000 soldados.372 Este grande herói judeu acabou morrendo, em combate, no ano 160 a.C. e, sepultado em Modim, foi sucedido por seu irmão Jônatas. A guerra ainda continuou até 143 a.C. quando outro irmão de Judas, Simão, foi reconhecido por Demétrio, que era um preten dente ao trono da Síria. No ano 142 a .C. Simão conseguiu de Demétrio a isenção de todos os impostos e a liberdad e polí tica. Então terminavam as luta s dos Macabeus e a Judéia, fi nalmente, ganhava a sua independência total,373 que duraria até o ano 63 a.C. 13.3. O Período de Prosperidade Advinda da Independência __________________________________
Judas e Jônatas juntos, estiveram à frente da nação por aprox imadam ente 30 anos. Simão, sozinho, po r sua vez, teve mais tempo para trabalhar. Ele esteve liderando seu povo p or um período igual à soma d o período de liderança de seus irmãos, mais 30. Em sua época a Judéia experimen tou um progresso a muito tempo não visto.374 Ele conseguiu um tratado com Roma que reconhecia a independência da Judéia e recomendava o estado judáico aos amigos, súditos e aliados do Império Romano. Com isto, as condições econô micas da nação melhoraram, a justiça passou a ser adminis trada por tribunais, e a religião voltou ao seu curso normal, passando por um despertamento.375 171 TENNIÍY, M. C.
374 TOGNINI, E. op. d!., p. 97. 3"75 te n N E Y , M. C. O N o t Teslíi imnlo: s m srctm t análi se.
São Paulo : Edições Vida Nova, 1989. p. 60.
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Um dos mais tocantes testemunhos do progresso desta época, e que faz o leitor se lembrar de prom essas divi nas feitas a Judá no Antigo Testamento, está reg istrado no Primeiro Livro dos Macabeus. Como a maioria dos leitores evangélicos da Bíblia não conhecem a passagem , pois este li vro não faz parte daqueles que compõem as versões da Bí blia Evangélica, mas apenas das de srcem Católica, vale a pena citá-la por completo como segu e. v.4 “Na Judéia reinava paz, enquanto vivia Simão. Procurou o bem-estar de seu povo, e este se agradou do seu poder e reputação. v.s Com toda a glória que ele adquiriu, tomou Jope como porto e construiu um acesso para as ilhas do mar. v.6 Alargou as fronteiras de seu povo e estendeu sua autoridade sobre todo o país. v.7 Ajuntou muitos dos judeus prisioneiros do estran geiro, apoderou-se de Gazara de Betsur e da cidade de Jerusalém que purificou de suas manchas, e nin guém ousava opor-lhe resistência. v.8 Os que cultivavam a terra trabalhavam em paz; o solo dava suas colheitas e as árvores dos campos seus frutos. v.9 Os velhos assentavam-se nas praças públicas e entretinham-se com o bem comum; os jovens revesti am-se com troféus e com equipamentos guerra, v.io Forneceu víveres às cidades e tomouderesoluções para edificar praças fortes, de modo que, em toda a parte, até às extremidades da terra, celebrava-se seu nome. v. ii Estabeleceu a paz em seu país, e todo o Israel exultava de alegria.
vgueira, Cada umrecear po diaoassentar-se sem inimigo. sob sua parreira ou fi . 12
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v.i3 Não houve ninguém para atacá-los, e os reis, nes ta época, foram abatidos. v.u Protegeu os humildes entre seu povo, Zelou pela lei e exterminou os ímpios e os perversos. v.i5 Contribuiu para o esplendor do templo e enrique ceu o tesouro.” (1 Macabeus 14:4-15) Como se vê, os judeus da época foram grande s deve dores de Simão. Esta paz e prosperidade foram o resultado de uma adm inistração sábia, baseada, principalmente, na di plomacia. 13.4. A Decad ência da Nação____ __________________
No final da vida de Simão, e no período que segue, o perigo p ara a Judéia não vinha de fora mas de dentro, das lu tas internas pelo poder. O próprio Simão e dois de seus fi lhos, foram assassinados por seu genro Ptolomeu, no ano 135 a.C. O filho que restou, João Hircano, agindo rápido, conseguiu apoderar de Jerusalém com oque PtoloO meu fugissese para o Egito, desistindoe fazer de tomar poder. próprio João tornou-se sumo sacerdote e chefe de estado. 376 Seguindo o exemplo do pai, João Hircano sabiamen te, não tom ou para si o título de rei, mas apenas de príncipe, para não pro vocar a ira dos tradici onais que defendiam ser o cargo real apenas para desce ndentes de Davi, como as Escr i turas Sagradas mostravam. Mesmo tomando este cuidado acabou por se desentender com o partido político-religioso dos Hasidim (fariseus) ao ter sua condi ção de sumo sacerdo te questionada. Isto veio por meio de uma falsa acusação que dizia ter sido a mãe dele prisioneira de guerra, o que o des qualifica va para o cargo. Contrariado, isto o levou a apoiar o partido dos helenistas (saduceus).377
ukj ^76 YDAN i^N K O N o vdoo Testamnto: análise.do amSão l ídiçÕes 1989. p.o. 60-61. A,YH., M. H.C 0. mundo N ovo T estamento:srcem um eestudo bientPaulo: e hist órico e culturalVida do N Nov ovoa,Testament Rio dc Ja neiro : JU U RP, 1980. p. 70.
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Mais tarde, quando da morte de João Hircano, ficou claro que os ideais dos Macabeus já haviam ficado para trás, eles tinham dado lug ar a projetos particul ares ambiciosos de poder. comando da nação sua esposa e ao seu filhoJoão maisdeixou velho,oJudá Aristóbulo. Masà este, não queren do dividir as glórias do poder, acabou prendendo tanto sua • • i 37 8 mãe quanto seus irmãos, e passou a governar sozinho. Segundo Josefo, ele não só prendeu sua mãe mas fez com que ela morresse de fome. Também acabou matando seu irmão Antígono, que lhe era fiel, e que a princípio havia sido convidado por ele mesmo para dividir o poder. Prova velmente não cometeu mais absurdos porque morreu antes, doente e desgostoso da vida, tendo reinado por apenas um ano. 37 9 A viúva de Aristóbulo, Salomé Alexandra, casou-se com seu cunhado mais velho, Alexandre Janeu, que gover nou com dificuldades, enfrentando vários distúrbios.380 Ele desprezou os fariseus e atraiu sobre si o ódio deles. C hegou a ser atacado po r eles, em determinada oc asião, quand o minis trava no templo. Em seu revide matou seis mil patriotas em Jerusalém, o que só aumentou a oposição. Foram tantas as dificuldades que ele teve com os fariseus que aconselhou sua esposa Salomé Alexandra a se aliar com eles depois que o su cedesse. Isto ela fez assim que assumiu, levando-os ao po der.381 De acordo com Josefo, Alexandre Janeu, matou tam bém um d e seus irmãos, que havia demonstrado pretensões ao trono, enquanto a outro tratou bem, pois contentou-se em levar uma vida comum, longe do poder.382 Com certeza os ideais religiosos dos Macabeus haviam desaparecido. 378 TE NN EY , M. C. 0 N ovo Testa mento: sua origem e análise. São Paul o: Edições Vida Nova, 1989. p. 61. 379 JO SE FO , F. H istória do s he brvm: obra completa. Rio de Janeiro : CPAD , 1990 . p, 314-315.
380 TENNEY, M. C. op. át., p. 61. DANA , H. E. 0 mun do do N ovo Testamento: um estudo d <>ambiente histórico e c ultura l do Novo Testamento. janeiro: JU E RP , 198 0. p. 71. IH2. jQ si |,> H úfá ria dos hebr eitsr. obra complet a. Rio de Janeiro; CP AD , 199 0. p. 315.
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Com a morte de Sa lomé Alexandra , Aristóbulo II, an tecipand o-se a seu irmão ma is velho Hircan o II, que possuía o direito de sucessão, assumiu o poder. Logo, aliando-se aos saduceus, ele também destituiu do sacerdócio a seu irmão Hircano II que contava com o apoio dos fariseus e, com isso, d eflagrou o reinicio da guerra civil. Movimento este que chamou a atenção de Rom a. Por aquela época o general romano Pompeu foi até Damasco para receber homenagens e presentes dos reis da Ásia. Os irmãos rivais, então, aproveitaram a ocasião para pedir apoio cada um para a sua caus a. Aristóbulo, querendo agradar, mandou uma videira de ouro para Pompeu. Pelo lado de Hircano , compareceu diante do general romano seu representante Antípater. Ambos desejavam o apoio de Roma para poderem governar. Depois de muita indecisão, finalmente, Ro ma optou tomar o partido de Hircano e reco locá-lo no sacerdócio, bem como dar-lhe o governo civil, ainda que, na prática, quem governou mesm o foi Antípater. Contudo, esta “vitória” de Hircano e Antípater, aliados aos fariseus, custou a vida de milhares de judeus que resistiram em Jerusa lém e a independênci a da Judéia. A partir daquel e momento a Judéia passava a pagar tributo a Roma e, logo, anexada à Síria, passaria a fazer parte de mais uma pro víncia romana. ■JOl
acabou sendo para Roma em com panhia Aristóbulo de um significativo grupo levado de prisioneiros de guerra. Estes devem ter formado o núcleo da colônia judaica que, mais tarde, viria a dar início a igreja cristã na capital do imp é rio.
."583 7'O G NIN I, E. Ü per ío do interínblico. São Paulo: Louvores do Coração, 1987.
p. 104-10 5.
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13.5. Para Complementar 13.5.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período384
a) O Livro de Daniel (Ainda que a história de Daniel te nha se passado no cativeriro Babilónico, entrando no período dos persas, algun s eruditos têm defendido que ele foi escrito no período dos Macabeus) b) O Livro de Judite c) O Primeiro Livro dos Macabeus d) O Segundo Livro dos Macabeus 13.5.2. Questões Para Revisão _______________________
a) Descreva, em poucas palavras, a situação dos judeus sob o domínio de Antíoco Epifâneo. b) Como aconteceu a deflagração da Guerra dos Macabeus? c) Macabeu. Apresente um breve resumo das campanhas de Judas d) Qual o significado do nome Macabeu? e) Como a Judéia conseguiu sua independência? f) Como foi o governo de Simão? g) Qual o nome do livro que melhor descreve a situação da Judéia na época de Simão? h) Resuma a situação da Judéia após a morte de Simão. i) Quais eram os partidos político-religiosos aliados a Aristóbulo e Hircano na disputa do poder na Judéia? j) Em que resultou o pedido de ajuda a Roma, da parte das duas facções rivais da Judéia, comandadas p or Hir cano e Aristóbulo?
Os livros de Ju dite , Primeiro e Segundo Macabeus, não fazem parte da Bíblia aceita pelos evangélicos. E encontram, apenas, nas versões da Bíblia Católica, onde são considerados como parte do chamado Segundo OAnon, ou seja, cjue foram incorporados mais tarde à lista de livros considerados inspirados.
les s e
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14.SOB O DOMÍNIO DE ROMA
Roma, fundada no século VIII a.C., e organizada como república no sécu lo V, foi expandindo cada vez m ais os seus domínios territoriais, conquistando Cartago, a cida de rival da África do Norte, a parte oriental da bacia do M e diterrâneo, com as investidas de Pompeu, e a Gália, com as vitórias de Júlio César. de Júlio Cesar, vio venceu as forças deDepois Antóniodae morte Cleópatra, no ano 31 Otá a.C., em uma batalha naval na Grécia, e com isto passou a ser o primeiro imperador romano, levando Roma a um período de paz garantido pela força, conhecido como Pax Romana, que muito contribuiu para a expansão do cristianismo que nasceria nos anos posteriores. A história deste poderoso império é fascinante, muito rica em detalhes e merece ser tratada com atenção mas, aqui, levando -se em consideração o objetivo des te livro, só pode rão ser abordados aqueles pormenores que ajudam direta mente n a melhor compreensão de textos da Bí blia. Portanto, em linhas gerais, será abordado a seguir , a forma de adm inis tração romana, seus imperadores relacionados com o perío do bíblico, seu domínio pela instrumentalidade dos Herodes, alguns dos governadores, e a guerra com os ju deus. Outros temas relacionados, também importantes, po derão ser encontrados em livros de introdução ao Novo Testamento ou que descrevam o pano de fundo deste perío do.
GUNDRY, R. H.
Panora ma d oN oro Tes tam ento. São Paulo: Bdiçô es Vid a No va, 1981. p. 11.
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14.1. A Administração Romana Teoricamente o imperador romano era um funcioná rio público sujeito à vontade do povo, representada pelo se nado. M as, na prática, a situa ção era bem outr a. Ele possuía poderes ilimitados, inclusive o poder de veto sobre as deci sões do senado que era formado por pes soas ricas e influen tes e não por representantes escolhidos pelo povo. Assim , o senado, ainda que possuísse um certo poder, muitas vezes não pas sava de um fantoche nas mãos do imperador que era, de fato, o supremo chefe da nação.386 Quanto ao Império em si, para ser administrado, foi dividido em onze províncias mas, mesmo assim, foi dada certa liberdade de ação para os países conquistados. Cada um podia, p or exemplo, ter seu rei local, desde que em con cordância com o governo central, ainda qu e, ao mesmo tem po, também permanecia nele um governador, juiz ou procôn sul, romano, além de um grupo de “publican os”, fun cionários queAstinham a tarefa de poderiam cob rar os impostos do povo públicos subjugado. questões locais ser resol vidas no próprio país, e as de suma importância eram levadas para serem resolvidas em Roma,387 como foi o caso do julga mento de Paulo. Os impostos arrecadados eram vários. O principal era o territorial, mas muitos outros pessoais suplementares também existiam, ponto de cobrar imposto até daqueles que chegando-se desejassem ao permanecer solteiros. Eles eram pagos em mercadorias ou moedas e sua maior parte era utilizada como benefício para a administração local e obras de melhoramento público. Outra parte ia para Roma. Parte dos impostos das províncias senatoriais i am para a a dminis tração da província da Itália e para cobrir as despesas e per-
,Wl DANA, 11. E. O mun do do N ovo Testam ento: nm estudo do ambiente histór ico e cu ltura l do N ovo Testam ento. Rio de Janeiro : JU U RP , 198 0. p. 132-1 33. ^ TOCiNINI, li. O p er ío d o interinblico. São Paulo: Louvores do Coração, 1987. p. 114.
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mitir o funcionamento do senado. Das províncias imperiais iam para a administração e o melhoramento da cidade de Roma, p ara as despesas pessoa is do em imperado r e nações para o con sus tento do exército388 que, presente todas as quistadas, ga rantia a manutenção da paz. A intenção da divisão do Império Romano em pro víncias era impedir que os procônsules romanos adminis trassem as nações aos seus cuidados visando o lucro próprio. Como visto acima, eram dois o s tipos de províncias, as sena toriais e as imperiais. primeiras, senatoriais, sob a guarda do senadoAsromano. Eraaso senado q uemestavam nomea va os procônsules, normalmente pelo período de um ano, e quem cobrava a prestação de contas da parte deles. As se gundas, as imperiais, como o nome já indica, eram go vernadas por procuradores nomeados diretamente pelo imperador. Estes tinham exércitos permanentes à disposição deles e exerciamimperador.389 a autoridade civil militar. Prestavam contas ao próprio Tantoe os procônsules, como os pro curadores, e ainda outros funcionários públicos atuantes na administração, eram popularmente chamados de governa dores. Nas províncias imperi ais maiore s, ou m ais im portan tes, o procurador era um ex-membro do senado, já nas me nores o governador era escolhido entre os oficiais da cavalaria. A Judéia estava entre as menores, imperiais. Ela era uma provín cia procuratória s ob a adminis tração Síria. O governador da provínci a não estava só na adm inistração lo cal. Ele dispu nha de um concílio composto por m agistrados e cidadãos de influência.390
DANA, H. E. O m undo do N ovo Testament o: um estudo do ambiente históri co e cu ltural do No vo Testame nto. laneiro: JU E R P, 1980. p. 135. GUNDRY, R. H. Panorama d o Novo Test amento . São Paulo: Edições Vid a N ova, 1981. p. 11. D AN A, í I. E. O m undo do N ovo Testamento : um estu do do ambiente hi stóric o e cu ltural do N ovo Test amento. Jan eir o :J U E R P , 1980. p. 132-1 33.
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14.2. Os Imperadores___________________________ Aqui serão apresentadas algumas informações a res peito dos imperadores atuaramcronológica no períodoebíblico. A apresentação será feita que em ordem destacará, principalmente, os eventos relacionados com a Bíblia, o povo judeu e o cristianismo. Outros detalhes serão evitados ao máximo. 14.2.1. Augusto (27 a.C. - 14 d.C.) ___________________
Augusto foi o primeiro imperador. Ele conseguiu o poder máximo no ano de 31 a.C., mas não utiliz ou o odioso título de rei, insistindo em ser chamado de “imperator”, pala vra latina que significa comandante-em-chefe.391 Alguns anos depois de assumir o poder, em 27 a.C., recebeu oficial mente do senado a função de comandante-chefe das forças armadas do império. Mais tarde, em 23 a.C., o mesmo sena do o declarou governado r vitalício, de forma que seus pod e res sobre o império tinham base constitucional. Durante seu governo muitas reformas foram feitas. Foram excluídos alguns membros indignos do senado, foi desmobilizado parte do exército, soldados veteranos licen ci ados foram colocados em colônias, foi criado um exército profissional regular que se tornou uma escola de cidadãos, foram dados bônus a alguns veteranos que passaram a morar nas províncias se tornando guias da comunidade em relação à lealdade a Roma, procurou-se melhorar a moral do povo, foi renovada a religião do Estado, foi introduzido o culto im perial nas províncias, tentou-se restaurar a vida familiar, foi realizado censo da população, organizada a polícia e os servi ços contra incêndio na cidade de Roma . Em resum o, dentro
391 DANA, H. 11 op. dl., p. 140.
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das condições da época, ele conseguiu colocar o império em ordem, promovendo paz e prosperidade.392 Foi no período de governo de Augusto que ocorreu o nascime nto de Jesus. O nome dele é citado em Lucas 2:1, in formando de onde parti u a ordem para o recenseamento li gado a este acontecimento que l evou Maria e José até Belém. 14.2.2. Tibério (14 - 37 d.C)_________________________
Com a morte de Augusto assumiu o imperium (poder para gove rnar), aos cinqüenta e seis anos de idade, seu filho adotivo Tibério. Político experiente, viveu a maior parte de sua vida envolvido com os negócios do Estado, de início d e monstrava ter plenas condições para desenvolver um bom trabalho. Contudo, se t ornou um ho mem amargurado, so li tário, altivo, temido e odiado, nunca chegando a ser popular. Sua morte trouxe um certo alívio ao senado,393 e também a outros Tibério cansadosfoidequem suas crueldades.394 colocou Pôncio Pilatos como go vernador da Judéia. Ele Protegeu Herodes Antipas e teve desavenças com Agripa I que, em certa ocas ião, foi demitido por ele e, em outra, foi encarcerado. Parece que a projeção do cristianismo, em sua época, foi muito pequena, a ponto dos cristãos lhe passarem despercebidos.395 Mas, é impor tante nome é CitaJesus do nodesenv Novoolveu Testamento (Lucaslembrar 3:1-2) eque queseu neste período seu mi nistério, morreu e ressuscitou.
3.J2 TE N N EY , M. C. 0 Noro Tesfamii/o: ma 393 Ibid . p. 35.
ori gem e aná lise. São Paulo: Edições Vid a Nova. 1989. p. 34.
DANA, 0 munp. do141. do N ovo Testamento: ta n estudo do ambiente hi stóri co e cultural do N ovo Test ament o. Ja n eir o ;J U EH.R PE., 1980. ‘ ^ DAN A, H. E. 0 mun do do N ovo Testamento: um estudo do ambie nte his tóric o e cultural do Nov o Testamen to. Jan eir o :J U E R P , 1980. p. 141.
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14.2.3. Calígula (37-41 d.C.)
Calígula foi um dos mais cruéis imperadores roma nos.396 Eleito pelo senado como sucessor de Tibério, no iní cio de seu governo foi tão popular quanto Tibério h avia sido impopular. Conseguiu isto anistiando presos políticos, redu zindo impostos e promovendo festas públicas. Com o pas sar do tempo, talvez afetado pela própria popularidade, mostrou sinais de fraqueza mental fazendo-se adorar como um deus. Chegou, inclusive, a mandar colocar uma estátua sua no templo de Jerusalém , o que porque ele morreu antes, assassinado por só umnão deaconteceu seus tribunos.397 Não é difícil de se imaginar o quão dura foi a vida de judeus e cristãos convictos nesta época. 14.2.4. Cláudio (41 - 54 d.C.)________________________
a morte dea república, Calígula foimas levantada senado a idéia deCom ser restaurada a guardanopretoriana aclamou Tibério Cláudio Germânico como imperador. Ele assumiu e passou a administrar o império de um a forma bas tante burocrática, utilizando-se de juntas e secretários. Em sua época os judeus foram expuls os da cidade de Roma por causa de tumultos instigados po r um tal de Chrest us. Existe dúvida se Chrestus era mesmo o nome de algum líder revo lucionário ou se é uma outra forma para o nome Cristo, o que poderia estar indicando que os distúrbios foram causa dos pela pregação a respeito de Jesus como o Cristo.398 Uma pro vável alusão a est e acontecimento está regis trada no livro de Atos onde diz: “Depois disto, deixando Paulo Atenas, p artiu para Corin to. Lá encontrou certo judeu chamado Aqüila, natural do ponto, recentemente chegado
-y" Ibid.
'^TI LN N E Y , M. C. O N oro Testam ento: sna or in tn e a nálise. São Paulo : Lidições V ida No va. 1989. p. 35-36. * » lt* d . P. 36.
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da Itália, com Priscila, sua mulher, em vista de ter Cláudio decretado que todos os judeus se retirassem de Rom a...” (At 18:1- 2). 14.2.5. Néro (54 - 68 d.C.) __________________________
Nos cinco primeiros anos de governo, Néro, filho adotivo de Cláudio e legítimo de Agripina, sua quarta mu lher, orientado pelo filósofo Sêneca, um de seus conselhei ros, até que governou bem. Depois, cansado das intervenções de sua mãe no gov erno mand ou matá-la, e par tiu para uma épo ca de extravagânci as e opressões jam ais vistas no império. Entre as suas vítimas estiveram os cristãos. Acusad os do incêndio causado por ele mesmo em Roma, os cristãos foram mortos aos milhares. Diz a tradição que nesta época foram executados os apóstolos Pedro e Paulo. Néro, depois enfrentar várias revoltas e acabar sendo condenado pelodesenado, fugiu de Roma procurando salvar a própria vida. Quando percebeu que não ha via como contin uar fugindo, ped iu que um de seu s servos o matasse. 14.2.6. Galba (68 d.C.) - Otão (69 d.C.) - Vitélio (69 d.C.)
a morte de Nero certo de po der. O Após exército percebeu que houve tinha um força paravácuo determinar quem seria o imperador, independentemente do senado. O problem a era chegar à um consenso a respeito de quem ocu paria o cargo. Os generais Galba, Otão e Vitélio, nesta se qüência, em um período de dois anos, assumiram a função. Contudo, logo foram destronados pagando com as vidas a pretensão de serem imperadores.
399 PENNEY, M. C.
O N ovoT estamenfo: sua srcem e a náli se.
São Paulo: Edições Vida Nova. 1989 . p. 37.
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14.2.7. Vespasiano (69 - 79 d.C.)
Vespasiano, comandante do exército do oriente, foi proclamado imperador, pelos seus soldados, quando estava ocupado com um cerco à cidade de Jerusalém, procurando abafar uma revolta do s Judeus. Ao ser proclamado im pera dor, deixou o restante do trabalho em Jerusalém sob a res ponsabilidade de seu filho Tito e foi cuidar de outros assuntos do império. 14.2.8. Tito (79-81 d.C.)
___________________________
O governo de Tito foi muito breve e não lhe deu tem po para grandes realizações. Mas, mesmo assim, Tito foi um dos imperadores mais populares da história de Roma. Os di vertimentos públicos e sua generosidade para com o povo garantiram sua popularidade e, até mesmo, acalmaram o se nado, desconfiado que ele seguiria os desmandos de seu pai. Em seus dias grande catástrofe daNápoles, destruição das cidades de aconteceu Pompéia e aHerculano, na baia de ví timas das erupções do vulcão Vesúvio.400 14.2.9. Domiciaiio (81 - 96 a.C.) _____________________
Domician o era irmão de Tito. Chegou a o poder elei to pelo senado e procurou levantar o nível moral do povo restringindo as corrupções do teatro e combatendo a prosti tuição pública. Ele construiu templos às antigas divindades roman as e suprimiu as reli giões estrangeiras. Tinha um espe cial cuidado contra aquelas que procuravam conquistar adeptos, como é o caso do cristianismo. Exig iu que lhe fosse prestada adoração e, ainda que faltem documentos com pro vando, foi atribuída a ele uma grande perseguição contra os
T E N N E Y , M. C. O NovoTcstamnto: sua srcem e análise.
São Paulo: Edições Vida Nova. 1989. p. 39.
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cristãos. Nem os familiares se sentiam seguros diante dele, muito menos o senado. Acabou, como outros, sendo assas sinado.401 A escrita do livro de Apocalipse pode ter como pano de fundo as perseguições de Domiciano e a tradição tem apontado a morte do apóstolo João neste perí odo. 14.2.10. Nerva ( 9 6 - 9 8 d.C.) ________________________
Nerva teve pouco te mpo para governar e não há m ui to o que dizer a respeito dele e da rel ação com cristãos ou ju deus.maior Sua feito administração foi Trajano livre de como dificuldades internas. Seu foi preparar um sucessor que pudesse manter o Governo com mão forte.402 14.2.11. Trajano (98- 117 d.C.)______________________
Trajano era espanhol de nascimento. Homem deter minado, soldado de profissão. Com várias expedições alar gou as fronteiras do império. Em sua época, mais precisamente 115 d.C., foi suprimida uma revolta dos Ju deus.403 14.2.12. Adriano (117 -138 d.C.)
____________________
Adriano provocou a ira dos judeus proibindo o rito da circuncisão e ordenando que fosse c onstruído um santuá rio ao deus romano Júpiter no local exato onde antes estava o templo de Jerusalém, que foi destruído no ano 70 d.C. Isto levou a uma revolta, abafada em 135 d.C., que resultou no fim da possibilidade de existência de um estado judaico.404 401 Ibid. p. 39- 40. 402 TE N NE Y, M. C. O Noro Testamento: sua srcem e análise.
São Paulo : Ed ições Vida Nova. 1989. p. 40.
m Ibid. GUNDRY, R. I I.
Panorama do Noro Ttstawtnio.
São Paulo: Edições Vida
No va, 1981 . p. 16.
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Depois de Adriano a História de Roma ainda conti nua, e também a de se us imperadores. Mas, já não diz respei to ao período bíblico, assunto de interesse neste livro. Assim, aqui é encerrada a descrição dos imperados que mais interessam ao estudante da Bíbl ia. 14.3. A Atuação dos Herodes ______________________
Como já foi mencionado, os romanos permitiam que governantes locais também exercessem uma parte do poder, desde que estivessem cumprindo aquilo que lhes era deter minado pelo pod er central. Na Judéia, este poder foi exerci do pela dinastia de Herodes, que chegou ao poder po r meio de Antípater, um idumeu (provindo de Edom), conselheiro de Hircano, pai de Herodes O Grande. Herodes então, aos olhos dos judeus, era um estran geiro. Teve inclusive que assumir o poder à força, depois de ter sido seu desigreinado nado pelo dosejudeus. Iniciou aos senado 22 anosromano de idadecomo em 37reia.C. perma neceu firme, cometendo todo tipo de crimes, inclusive ma tando filhos e esposas, até sua velhice, quando morreu doente no ano 4 d.C. Ainda que tenha embelezado o templo de Jerusalém, tornando-o um a verdadei ra obra de arte, não participava da fé dossejudeus. Seus e a maneira como utilizava dospropósitos sacerdoteseram para políticos seu benefício irritava os religiosos sinceros. Um pouco a respeito de seu péssimo caráter aparece no relato de Mateus 2:1-18, quando manda matar as crianças na esperança de, com elas, executar tam bém o pequeno Messias que havia nascido. Com a morte de Herodes O Grande, o imperador Augusto resolveu dividir o reino entre seus filhos. Arquelau
foi nomeado etnarca da Judéia, Samaria e Iduméia; Felipe passou a ser o tetrarca da Ituréia, Traconites, Gaulanites,
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Auranites e Batanéia; e Antipas, se tomou tetrarca da Galiléia e Peréia.405 Como destaque nos textos bíblicos aparece Herodes Antipas, que foi repreendido por João Batista por ter se di vorciado de sua esposa para se casar com Herodias, mulher de um seu meio irmão. Repreensão esta que custou a vida de João Batista (Mc 6:17-29 e Mt 14:3-12). Também é digno de nota ter Jesus o chamado de raposa (Lc 13:32) e, o encontro dele com Jesus, por ocasião do julgamento de Cristo (Lc 23:8-12). Herodes A ntipas, depois de t antos erros, acabou sen do deposto pelo impe rador Calígula , em 39 d.C., e desterra do para a Gália, para onde foi acompanhado pela Herodias.406 Arquelau, por causa de seus excessos, acabou sendo remov ido do cargo pelo imperad or Augusto, em 6 d.C. José e Maria, ao regressarem do Egito, para onde tinham fugido de Herodes O Grande, comacabaram Jesus, aoindo saberem Arquelau estava reinando n a Judéia, p ara aque Galiléia, por temerem este homem (Mt 2:19-23). Filipe, mencionado no Novo Testamento apenas em Lucas 3:1, parece ter sido melhor d o que seus irmãos, tratan do o povo com justiça. O nome da cidade de Cesa réia de Fi lipe, mencionada em Mateus 16:13 e Marcos 8:27, é uma homenagem a ele ao imperador. Mo rreu em paz nod ano 34 d.C. Depois de ume período sob o comando romano a Síria, por ordem do imperad or Calígula, sua tetrarquia foi passada para Agripa I, seu sobrinho.407 Agripa I foi quem mandou matar Tiago, filho de Zebedeu, além de prender o apóstolo Pedro e outros cristãos da época (At 12), e Agripa II, seu filho, foi quem ouviu Paulo
^ GUNDRY, R . I I. Panorama do N ora '!'estamento . São Paulo: Edições Vid a No va, 1981. p. 15. 406 XOGNINI, E. O per íod o Ínteri)íblÍco. São Paulo: Lou vores do Coraç ão, 1987. p. 126. TE N N EY , M. C. O N ov o Testam ento: s ua origem e análise. São Paulo: Edições Vida Nova. 1989. p. 66.
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quando estava preso e, para salvar a vida, apela para o tribu nal de César (At 25 e 26). 14.4. A Atuação dos Governadores_________________
Após a remoção de Arquelau o território passou a ser administrado por governadores romanos. Somente no perí odo de 41-44 d.C. é que foi governado pelo rei Herodes Agripa I, que administrou a Judéia bem como o restante da região depois conhecida como Palestina.408 Quatorze gover nadores região entrenoosNovo anos Testamento. 6 e 70 d.C. Destes, somenteatuaram três são na mencionados O primeiro que aparece na Bíblia é Pôncio Pilatos. Ele foi nomeado pelo imperador Tibério e permaneceu no cargo por um longo período (26-36 d.C.) devido a política deste imperador. Na opinião de Tibério, era conveniente que os governadores ficassem mais tempo no cargo, assim seria menor tentação de saquear osperíodo seus súditos com a in tenção de seaenriquecerem no curto de governo.409 Pilatos teve papel importante no julgamento de Jesus, dei xando que ele fosse morto às mãos do povo, mesmo con vencido de sua inocência (Mt 27:11-26, Mc 15:1-14, Lc 23:1-25, João 18:28-19:16). Outros que aparecem n o Novo Testamento são, An tônio Félix e Pórcio Festo, como está registrado no livro de Atos 23-26, envolvidos com as questões do julgamento de Paulo. Tamb ém é importante destacar, ainda que não seja ci tado no Novo Testamento, o governador Géssio Floro (65-73), pois ele, ao pilhar o tesouro do templo de Jerusalém levou o povo à revolta, que viria a resultar na destruição da cidade em 70 d.C. GUN DRY , R. H. Panorama do Novo Testamento.
São Paulo: Edições Vida N ova , 1981. p. 16 e 19.
DA NA , II. E. O mun do do N ovo T estamento : um estu do do am bient e históri co e cultural do N oto Test amento . janeiro: JUERP, 1980. p. 141.
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É bom lem brar que durante todo o tempo em que os judeus foram gover nados pela fa mília de Herodes e por ou tros estrangeiros, boa parte da administração local, envol vendo as questões diárias do povo, continuou sendo realizada pelos sacerdotes e pelo Sinédrio, uma espécie de Supremo Tribunal Judaic o, presidi do pelo sumo sacerdote. 14.5. As Religiões no Império Rom ano_____ _________
Não cabe aqui uma descrição das muitas religiões existentes no Império Romano, o que pode ser encontrado com facilidade nos l ivros de introdução ao Novo Te stam en to, mas se faz necessário uma palavra geral a respeito de como elas eram tratadas, quer fossem nacionais ou estran geiras. Roma sabia bem do valor da rel igião, por isso perm i tia e incentivava o culto aos numerosos deuses nacionais. Muito do dinheiro público era empregado na adoração dos deuses de interesse nacional, que e ram encarados como fato res de desenvolvimento do império, e de quem se esperava boa fortuna para a nação e para o lar.410 O interesse do Estado na religião não era moral nem espiritual mas, apenas utilitário. Enquanto uma religião ser via bem o propósito de ajudar o progresso do império era bem vista, quando deixava fazer isto eramostrasse tratada com ind i ferença pelo imperador e, sedepor ventura, ser um fator negativo para o desenvolvi mento dos interesses do Es tado atraia sobre si a ira imperial.411 O culto ao imperador é uma boa amostra do i nteresse prático d o Estado Rom ano na religião. A participação, ou não, neste culto, era uma prova de lealdade ao imperador.
DANA, H. \l. O mu ndo do No ro Testam ento: um estudo do ambiente históric o e cultural do N ovo Testamento. Janeiro : JU liR P , 1980. p. 137. '4U Ib id p- 138.
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Roma era bastante tolerante com as religiões estran geiras, tanto é assim que ocorreu um “sincretismo” em larga escala entre os deuses gr egos e romanos. Mas, tolerânc ia não significava liberdade. O próprio Estado arro gava-se o direito de determinar que deus podia ou não podia ser adorado e classificava as religiões em duas categorias: a) lícitas, que ti nham a aprovação e se fosse preciso a proteção do governo, e b) não ilícitas, que não eram proibidas, ou consideradas ile gais, mas que não recebiam a aprovação nem a proteção do governo.412 O cristianismo, a princípio foi considerado como apenas uma facção do judaísmo, religiãomais lícitaatenta e, assim, nas primeiras décadas escapou da observação do Estado. Mais tarde, quando ficou clar a a sua autonomia, p as sou a ser uma religião i lícita e, na época de Domician o, devi do ao seu crescimento e força alcançados, passou a ser temido como uma ameaça ao império e foi considerado como u ma religião fora da lei. 14.6. A Guerra com os Judeus_____________________
Para encerrar este panorama histórico é necessário destacar ainda que sempre existiram judeus inconformados com a dominação romana. Muitos não aceitavam o jugo e, quando viam uma oportunidade se r evoltavam. Grande par te destes estavam entre os fariseus e, principalmente, entre os zelotes, nacionalistas extremados, sempre prontos para morrer e matar, fosse quem fosse, pela liberdade da pátria, na esperança de que Deus lhes viria em socorro na hora de dificuldade nacional. Homens assim é que acabaram levando a nação ao fi nal de sua história, em duas grandes e desesperadas revoltas. A primeira foi na época do governador Géssio Floro, quan
do este, depois de incitar o povo contra o império romano **^ DANA, I I. E. O mundo do Novo Testamento: um estudo do ambiente histórico e cultural do Novo Testamento. Ja n eir o :J U K R P , 1980. p. 13 8-1 39.
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cometend o todo tipo de injustiças, tentou saquear o templo, levando os patriotas a se rebelarem. A revolta trouxe sobre eles o exército do general ro mano Vespasiano, que foi proclamado imperador durante o trabalho de acabar com a revolta dos judeus. Como Vespa siano precis ou tratar de outr os assuntos do império, po r cau sa da nova função que passou a exercer, deixou seu filho Tito com a tarefa de levar adiante o fim da revolta dos ju deus. Isto ele fez com muita firmeza, destruindo a cidade de Jerusalém e também o seu templo, no ano 70 d.C.,413 cum prindo assim a profecia de Jesus que se encontra em Mc 13:1,2; Mt 24:1,2 e Lc 21:5-9. A outra grande e última revolta foi no período de 132-135 d.C. Os sacrifícios e a adoração no templo, cessa ram no ano 70 d.C., com a destruição da cidade de Jerusa lém. Mas muitos do povo ainda resistiam seguindo sua religião e seus costumes. Os rabinos, em uma medida substi tutiva, criaram ser uma escola na cidade costeira de nia, onde pudessem feitos estudos mais profundos daJam lei do Antigo Testamento e, assim, a situação incerta continuou até a época do Imperador Adriano. Quando este determinou que fosse construído um santuário a Júpiter no terreno do templo destruído, nova rebelião teve início.414 O líder da rebelião foi Bar Cochba, que chegou a ser saldado por muitos, entre eles pelo mestre fariseu Akiba, como se fosse o próprio Messias.415 Os romanos não tolera ram a atitude dos judeus. Em 135 d.C. já haviam abafado a rebelião. Em seguida, reconstruíram a cidade de Jerusalém em estilo roman o, baniram todos os judeus que viviam nela, e os proibiram de entrar na cidade,416 colocando assim um ponto final no estado judaico.
G UN DR Y, R. I I. Pan oram a do N ovo ’[ 'estament o. São Paulo: Edições Vid a N ova, 1981. p. 13. 414 Ib id p. 16. BRIGTH , J. H istória de Israel . São Paulo : Edições Pauhn as, 1985. p. 632. GUNDRY, R. H. Pa noram a do N ovo 'Tes tamento. São Paulo: Edições Vida No va, 1981. p. 16.
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Como foi dito no início do livro, é difícil de se chegar a uma conclusão segura de onde começa e onde termina a história l. ParaEstado algunsdeelaIsrael. aind aMas, não deste terminou, nua comdeo Israe moderno pontoconti em diante, após o banimento dos judeus da cidade de Jerusalém , não existindo mais um estado judaico, parece ser melhor passar a falar da história do que surgiu de Israel e não dele mesmo. Ou seja, a história do judaísmo , a religião dos judeus que nasceu no cativeiro babi lónico, se desenv olveu no perí odo intertestamentá co ntinuou a existir poisedo do estado, e continua nario, atualidade, com muito de vigor, dofimcris tianismo, que surgiu dentro do judaismo do primeiro século e assumiu a posição de “O Israel de Deus” (G1 6:16).
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14.7. Para Complementar_______________________ 14.7.1. Algumas Informações Bíblicas Sobre o Período
Todo o Novo Testamento 14.7.2. Questões Para Revisão _______________________
a) Quem foi o primeiro imperador romano? b) Descreva a administração das províncias romanas. c) Escreva a respeito dos impostos cobrados por Roma. d) Qual o significado da palavra latina imperator? e) Como foi para os cristãos e judeus o períod o de gover no do imperador Cláudio? f) Na época de qual imperador, segundo a tradição, foram mortos Pedro e Paulo? g) Descreva a maneira como Ve spasiano chegou ao poder imperial. h) Apresente um resumo do governo de Herodes o G ran de. i) Quais são os governadores romanos citados na Bíblia? j) Que ato do governador Géssio Floro levou os judeus à revolta? k) Descreva a situação das religiões no Império Roman o. 1) Como aconteceu o fim do estado judaico?
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15 .CONCLUSÃO Chegand o-se ao fim des te panorama da história de Is rael para estudantes da Bíblia, percebe-se que o assunto é de extrema complexidade e que a compreensão do mesmo, pelo menos em suas linhas gerais, é indispen sável para aque les que p retendem obter uma interpret ação mais acurada das Escrituras Sagradas. Todo esforço em relação a isto será re compensado com uma melhor compreensão dos textos da Bíblia. Os pontos que aqui foram abordados são suficientes para dar ao leitor uma visão geral dos acontecimentos, obe decendo-se a seqüência cronológica dos fatos, facilitando com isto a contextualização das narrativas bíblicas e, conse qüentemente, uma intrepretação mais perto da realidade. Este foi ode objetivo principal l ivro e por isso muitos po r menores, propósito, foramdodeixados de lado. Mas, dese jando-se informações mais precisas, ou melhor, mais detalhadas, sobre qualquer do s assuntos apresentados, o lei tor deverá recorrer à bibliografia selecionada. Nela existem livros, como o de John Bright, por exemplo, que discutem a fundo detalhes de Israel e das nações envolvidas em sua his tória, este. que não poderiam ser tratados em um escrito como O início da caminhada foi da do, mas aquele que de se ja conh ecer a fundo a Palavra de Deus ainda tem muito te r reno para percorrer. Prossigamos, então, para o alvo, na certeza da recompensa que haveremos de receber, uma me lhor compreensão do tesouro chamado Bíblia.
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R eferênc
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ANEXO - RESE NHAS HISTÓRIA DE ISR AELDE LIVROS SOB RE Um a Visão Geral da Hist ória de Israel _____________
BEEK , M. A. Histór ia de Israel. Trad. Jorge E. M. F ortes. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1967. 184 p. O autor deste liv ro, M. A. Beek, não é muito con heci do no Brasil. As poucas informações a seu respeito se en contram na própria obra aqui resenhada. Nela, mais precisam ente nas notas apres entadas pelos editores, na con tra capa, os leitores descobrem ser ele um erudito holandês que, na época da publicação, atuava como professor da Un i versidade de Amesterdã. A versão deste livro, em português, é uma tradução de tradução, o que pode ter influído de forma negativa em sua qualidade. A obra srcinal se chama Geschiede nis Van Isra el e tem registrado o seu Copyright inicial no ano de 1957, de mostran do, assim, que foi publicada em português dez anos após o seu lançamento. A versão portuguesa foi traduzida da edição inglesa, publicad a em 1963 por Hodder & Stoughton Ltd., de Londres, que levou o seguinte título: A ShortH istoy o f Israel, fr om Abraham to B ar Cochba. O título utilizado na versão inglesa está mais de acor do com o conteúdo do livro do que o título em português. Este prome te uma história completa, o que nã o tem no livro, e aquele, de antemão, concordando, inclusive, com a pro posta que o autor faz em sua introdução, avisa que a obra
está limitada a um resumo descrito em poucas páginas, da época doshistórico patriarcasque atévai, à revolta contra
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o poderio romano, liderada por Bar Cohba, em aramaico, que significa “Filho da Estrela”. O linguajar utilizado nesta versão é um tanto quanto antiquado, e nem poderia ser diferente, pois já tem mais de trinta anos. Termos arcaicos como deputação, talvez uma tradução literal do termo inglês “deputation”, onde atual mente se usa delegação, e o us o de algarismos rom anos, para indicar os capítulos dos texto s bíblicos citados, ond e na atu alidade se usam os arábicos, podem causar algum descon forto ao leitor moderno, porém, nada que não possa ser superado com éum pouco de de paciência. A obra apresentada forma breve e relativamente simples, em vinte e quatro capítulos que não possuem sub divisões. Ela é simples mas bem documentada. O autor cita várias autoridades no assunto, como: J. Bright, G.E. Wright, A. Alt, G. von Rad, H.H. Howley, M. Noth, A. Parrot e ou tros, não tão conheci dos como estes, para conf irmar as in formações fornecidas pesoimportante, às suas propostas. Ainda que seja eumdarlivro também, contém algumas falhas graves. Uma delas é que o autor procurou dar uma quan tidade muito grande d e informaçõe s em pouco es paço. Não são poucas as ocasiões em que um personagem é introdu zido n a narrativa sem ser apresentado ante s. Isto difi culta a compreensão daqueles que não estão familiarizados com o assunto e, pelo visto, são justamente estes que o au tor pretende a lcançar, já que sua obra é um resumo histórico. Outra é o movimento de vai e vem que acontece, principal mente, do capítulo 17 em diante, quando o autor av ança e re trocede, várias vezes, na seqüência cronológica ao na rrar os fatos. Por questões de clareza do assunto teria sido melhor seguir a ordem dos acontecimentos, desviando-se, apenas, em casos de grande necessidade.
Para finalizar, pode-se dizer que o livro é bom para aqueles que já estão familiarizados com a história de Israel e
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pretendem apenas recapitular os pontos principais. Para os principiantes na matéria não será tão útil quanto outro, do mesmo assunto, que trate os pontos principais de forma mais clara e objetiva. História de Israel para Est udantes de Teologia ______
BRIGHT, John. História de Israel 3. ed. Trad. Euclides Carnei ro da Silva. São Paulo: Edições Paulinas, 1985. p. 692. livro épelo uma próprio traduçãoautor, da 2? edição srcinal, vista e Este atualizada que foidoescrito emrein glês e publicado p or “The Westmins ter Press", em F iladélfia, no ano de 1972, com o título de “A. History o fIsrael”. Não se encontram na versão em português, infeliz mente, m aiores informações a respe ito do autor. Porém, ele se mostra um conhecedor profundo não só da história de Is rael mas, também, daqueles povos antigos que mantiveram algum tipo de contato importante com esta naç ão. Por outra fonte, informação pessoal do teólogo católico romano An tônio Quirino d e Oliveira, um de seus ex-colegas de expedi ções, é sabido que o professor John Bright é cidadão americano, de fé evangélica, que trabalhou em escavações arqueológicas em Israel. A obra é apresentada em seis partes, como seguem, sub-divididas em várias outras: A1) Antecedentes e Primórdios, a Idade dos Patriarcas; 2) Exodo e conquista; 3) A Mo narquia de Israel, Período da Auto-Determinação Nacional; 4) A Monarq uia (cont.), Crise e Decadência; 5) A Tragéd ia e Depois da Tragédia - Os Períodos Exüico e Pós-Exüico; e 6) Período de Formação do Judaísmo. Todas elas são discuti das em detalhes, dando ao leitor uma carga bastante grande
de informações, muito úteis, para se compreender o todo e as minúcias das questões envolvidas.
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O livro, propositadamente, não apresenta nenhum mapa, e se mostra limitado na descrição de áreas territoriais. O autor pressupõem que o leitor estará acompanhand o a lei tura com um atlas a seu alcance e sugere para isto o uso do Atlas Histórico da Bíblia de Westminster. Por outro lado, apre senta, no fin al da obra, além das referências bíblicas que apa recem no texto e um vasto índice analítico, uma série de quadros cronológicos que cobrem o período que vai de an tes do ano 2000 a.C. até o ano 150 d.C., onde, na opinião dele, pode-se dizer que termina a “História de Israel como Is rael - para ser continuada na história do judaísm o” (p. 626). A informação que aparece na ficha catalográfica, então, infor mando que o livro trata da história até o ano 70 d.C., não é verdadeira. John Bright não se contenta em apenas relatar fatos históricos, ele está sempre dando a sua interpretação destes acontecimentos. Isto, em alguns pontos, o torna antipático para o leitor acostumado comacordo a narrativa nem sempre sua opinião está de com abíblica, deste pois, ou daquele escritor da Bíblia. Um exemplo disto, entre vários outros, pode ser visto na maneira como el e apresenta Davi como al guém que é bem sucedido por causa de suas habilidades po líticas, enquanto nas narrativas bíblicas ele surge como vencedor por ser totalmente dependente de Deus. Seja completo como for,do é um livroeditado de grande T al vez o mais gênero no importância. Brasil. Foi escrito especialmente para estudantes de teologia e deve ser lido com atenção e ter presença garantida na biblioteca, para con sultas periódicas, de todos aqueles que se interessam, espe cialmente, pelo Antigo Testamento, e querem estar bem informados sobre os detalhes da História de Israel, para compreendê-lo melhor.
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Israel e as Nações
BRUCE, F. F. Israe l and the nations:from the Exodus to the fa li o f
the se con d temple. GrandCompany, Rapids, Michigan B. Eerdmams Publishing 1983, 254: William p. Frederick F. Bruce, M.A.(Cantab.), D.D.(Aberd.), é apresentado no próprio livro como professor de Exegese e Criticismo Bíblico na Universi dade de Manchester, na Ingla terra, e autor e editor de vários livros na área de teologia. No Brasil, em português, existe um livro de sua autoria com o seguinte título: “Merece Confiança o Novo Testa mento?”, o qual foi publicado pela Edições Vida Nova, em uma pri mei ra edição no ano de 1960 e outra em 1990. A particularidade deste livro a respeito da História de Israel, que tem o seu Copyright em 1963, como proposta no título, é a maneira como o autor apresenta as relações desta nação com as outras que a dominaram, foram dominadas ou, aliaram mas, a ela. sim, Em suma, ele relacionamentos não apres enta Is rael mesmo, de formase isolada em seus com os povos com quem tinha contato. A obra é dividida em 28 breves capítulos sem nenhu ma outra subdivisão. Os 11 primeiros capítulos cobrem os períodos que ele chama de Princípio de Israel até o Exílio Babilónico e ocupam, apenas, 84 páginas. O restante, em 170 páginas, cobre o templo período pelos da Volta do Cativeiro até gasta à des truição do segundo romanos. O autor mais tempo e espaço com esta segunda parte por entender, exatamente, que ela é a menos conhecida dos interessados na História de Israel. Para torn ar a mensagem mais at raente, seguindo a su gestão de seus editores, nesta ediçã o, F.F. Bruce, adiciono u à obra várias ilustrações, fotografias de moedas, de monu
mentos e de inscriçõe s, além de mapas e quadros cronoló gi cos e genealógicos dos reis de Israel e outras nações, bem
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como de Sacerdotes e procuradores que estiveram ligados ao comando da nação. Ainda que a maioria destes acessórios tenham sido adicionados mais tarde e surjam no livro nem sempre nos locais mais adequados, podem ser muito úteis e interessantes para os estudiosos destas questões. O livro é superficial em alguns pontos, como não po deria deixar de ser pela vastidão da matéria, e profund o em outros. Apresenta, baseado na própria Bíblia, em descober tas arqueológicas e reflexões particulares, detal hes de grande importância, principalmente para quem está interessado no período Intertestamentário. Para encerrar a apreci ação vale dizer que esta obra de Bruce mereceu a seguinte observação, nas palavras do co nhecido historiador John Bright: “Este livro apresenta um excelente esboço da história de Israel... escrito com esplen dida clareza”. Uma avaliação como esta, feita por tão emi nente estudioso, bem mostra o valor do livro. Ele será de grande utilidadedenaum biblioteca de professores pregadores que necessitam conhecimento geral do eassunto para melhor compreenderem e exporem as mensagens da Bíblia. Uma V isão Crítica da Hist ória de Israel ____________
DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos. Trad. Cláudio MolzSinodal e HanseA.Vozes, Trein.1997. São Leopoldo Petrópolis: Editora 535p. 2v. e Herberter Donner é um erudito alemão que estudou com Albre cht Alt e Siegfried Morenz. Seu livro, em dois vo lumes, aqui resenhado, foi editado pela primeira vez em 1983, com o título srcinal de Geschichte des Volkes Isr ael und seiner Nachbarn in Grund^ügen: T eil 1: Von den Anfängen bis %ur
Staatenbildungs^eit. A tradução para a Língua Portuguesa foi feita a partir da 2! edição alemã, datada de 1994.
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O próprio autor se encarrega de explicar no prefácio de sua primeira edição, para que não surjam dificuldades de interpreta ção, que o título “História de Israel e dos povos vi zinhos” nãoaéHistória de todo de adequado. não tem a i ntençã o de reconstruir Israel e,Ele paralelamente, ainda em detalhes, as histórias do Egito, Síria, Filistéia e outras nações próximas a Israel. Isto seria impossível. O que ele pretende é mostrar que a História de Israel não pode ser tratada dentro de um vácuo. Ela precisa ser analisada à luz de seus relacio namentos com as outras nações. A História proposta por Donner está baseada firme mente na crítica veterotestamentária das últimas décadas. Em alguns casos ele simples mente ignora o que os textos bí blicos apresen tam de forma clara e trabalha em cim a das opi niões dos críticos. Um exemplo é a maneira como ele classifica a história dos bezerros de ouro em Êxodo 32, como uma etiologia criada para combater a utilização dos outros bezerros de ouro mandados fazer por Jeroboão I, rei de Isra el (p. 121). Acaba tratando, ainda, a pa ssagem bíblica que narra a história de como Saul saiu a procurar algumas ju mentas e voltou para casa como rei ungido, em pé de igual dade com os contos de fada (p.206); e apresenta a reconstrução de Jericó como não sendo verdadeira, mas apenas uma tentativa feita por um revisor deuteronomista, de comprometer o rei Acabe (p.317). foi escrito linguagem difícil. Parados en tendê-loO élivro necessário terem umuma conhecimento razoável problemas críticos do Antigo Testamento além de vasto vo cabulário técnico. Um exemplo desta dificuldade é a utiliza ção da palavra “etnogênese” na p.97, sem nenhuma outra explicação, como se fosse um termo comum, bem conheci do para os leitores brasileiros. A utilização de muitas figuras
de linguagem também complicam. Elas não são adequadas
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para um a obra técnica como es ta. Talvez este problem a seja fruto do trabalho dos tradutores. O segundo volume traz o seguinte subtítulo: “Da época da divisão do reino até Alexandre Magno”. Isto faz com que o leitor imagine que a matéria está limitada a este período. D e fato, ela vai mais longe. Aind a que seja em for ma apenas de conclusão, são tratados, superficialmente, os períodos dos Macabeus e do domínio Romano até o ano135 d.C. A obra apresenta alguns mapas, um quadro cronoló gico que vai de 1730 a.C. até 106 d.C. e uma vasta bibliogra fia, a qual é de pouca utilidade para o estudante brasileiro. Isto devido à dificuldade da língu a, pois a grand e maioria dos livros que fazem parte dela estão escritas em alemão, alguns em inglês, e pela impossibilidade de encontra-las em biblio tecas nacionais. Em suma, é uma obra difícil, porém im por tante. Leva o leitor a pensar e questionar os conceitos preestabelecidos, além de apresentar uma outra alternativa para a interpretação daDeve História baseadaqueles a na crítica veterotestamentária. ser de lidaIsrael, por atodos que, possuindo um a boa base a respeito da crítica do Antigo Tes tamento, desejam conhecer algumas das possibilidades de interpretação da História de Israel des te ponto de vista. As Religiões de Israel ____________________________
FOHRER, Georg. História da Religião de Israel. Trad. Josu é Xavier, São Paulo: Edições Paulinas, 1982. 513 p. Georg Fohrer é erudito conheci do internacion almen te. Entre suas muitas obras publicadas estão: História de Is rael, Estudos Sobre a Profeci a Veterotestam entária, Estudos Sobre a Teologia e a História Veterotestamentária, Tradição
e História do Êxodo, Estruturas Teológicas do Antigo Tes tamento e, ainda, Introdução ao Antigo Testamento, que é
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uma atualização da obra de Emst Sellin publicada pela pri meira vez em 1910. A obra objeto desta resenha foi escrita srcinalmente, eGeschichte publicada,der emisraelitischen alemão, no Religion. ano de 1969, comdividida o títuloemde: Ela foi quatro partes principais compostas por v ários capítulos cada uma. Pela própria divisão têm- se a impressão que Georg Fo hrer não p ensa em apresentar a história da religião de Israel, mas, sim, a história das reli giões de Israel. Isto se percebe já na nomenclatura de cada parte como pode ser visto a seguir: 1) “A Religião do Período Antigo”; 2) “A Religião da Mo narquia”; 3) “A Religião do Período Exílico”; 4) “A Religião do Período Pós-Exílico”. Da maneira como as partes foram apresentadas fica difícil de se pensar que a religião praticada no período antigo, por exemplo, seja a mesma do período pós-exílico, apenas evoluída. Elas são extremamente diferentes tanto na forma de culto quanto em suas teologias. Parece que as condições sócio-culturais foram fatores que influenciaram as religiões, ou a religião, de cada períod o. Nota-se que alguns pressupostos básicos foram fun damentais para a descrição desta história por Georg Fohrer, que foge do chamado convencional. Em primeiro lugar, ele considera como certa a teoria que defende a não estada de Israel como um todo no Egito. Sendo assim, quando trata do Javismo Mosaico , esta falando da religião de um pequeno grupo vindo com Moisés do Egit o e não de uma religião co mum a todas as tribos de Israel. De forma muito natural, como não p oderia ser diferente, isto influi em sua interp reta ção da História, a qual passa a ser diferente e, em muitos pontos, contrad itória ao relato normal da Bíblia como se en contra hoje em sua forma final.
Outro fator tos de influência a sua posição de aceitação total dos documen J,E,D e P.é Fazendo uso indiscrim ina
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do de textos de um mesmo livro, pr oduzidos em datas muito diferentes, para confirmar ou apoi ar algum ponto de sua in terpretação histórica, pod e acabar por confun dir àqueles que não estão acostumad os com as datas de cada possíve l docu mento. Parece que faltou, ao menos, uma explicação intro dutória de como seria utilizada esta teoria no decorrer da obra, com o objetivo de facilitar a compreensão dos leitores. A obra não é de fácil leitura, nem poderia ser, o assun to é bastante profundo. Ela é fruto de um trabalho árduo por parte do autor que demonstra grande erudição na área em que se propôs ever bem como nas áreas afins, co mo ologia, exegesea eescr hermenêutica do Antigo Testamento. Dete fato, neste livro, se percebe que Fohrer não consegue se li vrar de sua bagagem intelectual a respeito de outras áreas e permanecer somente no campo da história, como o seu títu lo promete. E m determinadas part es o leitor fica em dúvida se a matéria tratada é realmente H istória ou Teologia. Isto se confirma, em parte, pela própria editora da obra no Brasil que apresenta no índice para catálogo sistemático o seguinte: “1. Antigo Testamento: T eologia”, “2. Judaísm o: História ”. Em alguns casos, também, principalmente quando está tratando dos profetas Amós, Oséias, Isaías, Miquéias, Sofonias e Jeremias, dentro da divisão “A profecia israelita nos séculos VIII e VII a.C.”, nas páginas 289-327, o autor, age como um comentarista bíbl ico, indo a detalhes do texto em foco e apresentando várias passagens dos livros proféti cos aqui citados. A bibliografia apresentada é bastante vasta, dando uma amostra da seriedade com que o autor trabalhou e da p rofun didade em que ele abordou a questão. A maioria dos livros ci tados foram publicados em alemão ou inglês e, infelizmente, grande parte, estão fora do alcance dos estudantes brasilei
ros, não só pela d ificuldade das línguas mas, pri ncipalmen te, pela inexistência dos mesmos em bibliotecas nacionais.
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Este livro deve ser lido com pac iência e senso crítico. Tem grande valor teológico e histórico e pode ajudar a com preender melhor alguns pontos relevantes da Palavra de Deus. Contudo , deve ser levado em conta que o autor, quan do atua como historiador, pois a obra é histórico-teológica, seguindo as tendências da história científica moderna, pro cura de ixar Deus de fora da mesma, com o se este não agisse na história, contraditando claramente a narrativa bíblica que mostra Deus se relacionando na história com o homem e o mundo. A leitura não é apropriada para iniciantes. Ela é indi cada para os níveis de pós-graduação, por exigir do leitor constante raciocínio e conhecimentos gerais de teologia, crí tica, exegese e história do Antigo Testamento, para um me lhor aproveitamento. Uma Visão Conservadora da História de Israel ______
MERRIL, Eugene H. História de Isra el no Antigo Testamento: o reino de s acerdotes que De us colocou entre as nações. Trad. Romell S. Carneiro. Rio de Janeiro: CPAD, 2001. 577 p. Eugene H.Merril é professor de Antigo Testamento no Seminário Teológico de Dallas. Ele é autor de vários arti gos publicados, entre outros, nos seguintes periódicos: Journa l o f Evangelica l Theologic al Society, Westmins ter Theological Journal e Journal o f Northwest Semitic Languages. Também é au
tor de vários livros, destacando-se entre eles um comentário sobre os livros proféticos de Ageu, Zacarias e Malaquias e um Panoram a histórico do Antigo Testament o. Seu livro aqui resenhado é uma tradução feita da pri meira edição em inglês, publicada nos Estados Unidos da América pela editora Baker Books, no ano de 1987, com o tí
Sacerdotes). O tí tulo srcinal srcinal, “King por sidom só,o fjáPriest/’ aponta(Reino para de algo mais do que
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apenas um relato histórico a respeito de Israel, mais do que isto, ele contem pla uma interpretação teológica que se desta ca no decorrer da obra. Por outro lado, o título em portu guêsfica descreve bem te osrestrita limites ao daAntigo obra naTestam questão histórica. Ela praticamen ento, seguin do a ordem canônica de seus livros, tendo seu início em Gê nesis e o seu final com uma palavra a respeito da época de Malaquias. O autor apresenta, no geral, um ponto de vista bas tante cons ervador a respei to da História de Israel mas, tam bém, não dispensa algumas das posições um pouco mais liberais desde que estejam bem confirmadas. Como exemplo pode ser visto a sua declaração de que o povo de Israel ao sair do Egito, no êxodo, cruzou o “ Mar dos Juncos” e não o “Mar Verm elho”, como a tradição, e m alguns setores, ainda procura sustentar. Ele dem onstra ter um gosto esp ecial pelas questões de cronologia, e suas observações, ainda que um pouco cansativas e longas, podem ser de grande proveito para aqueles que se preocupam com estas questões. O livro posuí nove tabelas cronológicas, dezenove mapas, um índice de textos bíblicos citados e um índice de temas, abordando principalmente nomes de pessoas e locali dades, que podem ser úteis para algumas pesquisas. Ele está escrito em letras médias e linhas separadas por espaços bas tante agradáveis p ara a leitura. O vocabulário as vezes se tor na um pouco pesado grosseiro pela(como utilização de flashback, palavras estrangeiras seme aatédevida tradução p. 145; termini a quo e ad quem, p. 149; cul-desac, p. 144 etc.) e outras fora do uso normal em português como o termo “ma cho” se referindo a pessoas do sexo masculino (p.51 e 107), além de algumas figuras de linguagem pouco apropriadas para este tipo de literatura (“Moisés era morto e o manto de
mediador aliança agora sobre ombros de Jo sué”, p. 90;daou “A vara de repousava Yahweh”, p. 468).osEstas e, talvez,
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outras falhas do gênero, como a utilização de “Jeova” para indicar o nome de Deus nos primeiros capítulos e a troca dele por “Yahweh” nos demais, sem nenhuma explicação, poderia ter foco. sido evitadas com uma revisão mais a curada da traduçãomem O livro é de agradável leitura e muito útil para estu dantes do Antigo Testamento que desejam enten der melhor, principalmente, as questões cronológicas envolvendo a his tória de Israel, especialmente de um ponto de vista conser vador. Esboço Histórico de Israel ________________________
METZGER, Martin. História de Israel. Trad. Nelson Kirst e Silvio Schneider. São Leopoldo: Ed itora Sinoda l, 1972. p. 213. Este livro de autoria d e Martin Metzger fo i publicado, primeiramente, em língua alemã. Seu título srcinal é: Grundriss d er Geschichte Israels e foi colocado à disposição do públi co no ano de 1963, levando nove anos para ser lançada a versão portuguesa objeto desta resenha. Dividin do a matéria em dez capítulos, o autor, pro curou apresentar uma visão geral da história de Israel. Isto ele fez muito bem discorrendo sobre os seguint es temas que foram divididos em vários pontos: 1) A época anterior à vida sedentária; 2) A toma da da terra; 3) Israel no período pré-estatal; 4) O primeiro período do reinado em Israel; 5) Os esta dos autónomos de Israel e Judá; 6) A supremacia d a Assíria; 7) Sob o poder da Babilónia; 8) O Decreto de Ciro e a re construção do santuário de Jerusalém ; 9) O período helenístico; e 10) O período romano.
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O livro foi escrito, ou ao menos traduzido, em uma linguagem de fácil entendimento, tornando-se uma ferra menta útil ao alcance não apena s do especialista em teologia ou na história de Israel mas, também, para os leigos no as sunto. Uma outra vantagem colocada ã disposição dos leito res são as ajudas que ele aprese nta para esclarecer os a conte cimentos narrados. São apresentados dois mapas chamados de : “Palestina na Época do Antigo Oriente” (p.77) e “Pales tina no Período Heleníst ico Romano” (p.l46), além de vá rias gravuras de moedas e representações que espelham as con dições sociais e outros detalhes das épocas aqui tratadas, além de quadros e tabelas cronológicas apresentando a estir pe dos hasmoneus, os reis da Assíria e os reis de Israel e Judá. A bibliografia apresentada no decorrer de todo o li vro é farta, porém de pouca utilidade para o estudante brasi leiro. Em sua maioria é composta por obras escritas em alemão, apenas algumas em inglês, antigas e raras no brasil. Isto diminu i o valor do trabalho de Metzger para os bras ilei ros pois, segundo palavras dele mesmo, em seu prefácio, ao fornecer a bibliografia pretendeu “apontar o caminho para vim estudo mais aprofundado dos problemas abordados. Foram selecionadas, sobretudo, obra s de fácil acesso, de im portância fundamental e que, de uma maneira instrutiva, in formem a respeito dos diversos problemas da época”. erros aprecem na versãoacaba aqui analisada, mas o próprioAlguns contexto onde se encontram por revelá-los não comprometendo, assim, a mensagem pretendida pelo autor. Um exemplo deste tipo de erro está na página 201 onde é tratada a destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C. Nela se encontra a segui nte afirmação: “A partir do momento em que se destruiu o templo, surgiu a sinagoga”.
Ora, édeste de conh ecimento geral a sinagoga já existia antes acontecimento, e oque próprio contexto onde muito se en-
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contra esta afirmação errônea fala disto. Só pode ter sido uma falha dos tradutores. Só resta dizer que o livro é muito i mportante para to dos aqueles que desejam obter um conhecimento a nível mé dio da história de Israel. Não é uma obra profunda, o autor não se propôs a isto, mas também não é superficial. Fica em um meio termo se tomando ideal para quem necessita ir um pouco além dos conhecimentos básicos sobre esta disciplina. História P olítica dos Jude us ______________________
PAUL , André. Ojudaísm o tardio: his tória política . Trad. Bênoni Lemos. São Paulo: Edições Paulinas, 1983. 211 p. Este livro é a primeira parte de uma obra em dois to mos. Nele é abordado de forma minuciosa e atraente a His tória Política dos Judeus. O autor informa que o segundo volume é dedicado à história literária. o assunto, André Paul o divide quatro Para partes.apresentar Na primeira é feita uma retrospectiva dos em fa tos políticos relacionados com os judeus, desde as conquis tas de Alexandre Magno, em 336 a.C., até Adriano, em 138 d.C. Ele chama esta seção de “O Filme dos Acontecimen tos” e, realmente, este título descreve bem a seqüência em seguida apresentada. Partindo de Alexandre é narrada sua conturbada a condição mudando de “donos” porsucessão, diversas ocasiões, e asdac Palestina onseqüências que leva ram à insurreição dos Macabeus. “O Filme” não pára e segue mostran do os sucessos dos Macabeus: como que eles conse guiram chegar ao sumo-sacerdócio e a tornarem -se reis Asmoneus, antes de serem arruinados pelas lutas internas e chegarem ao fim debaixo do poderio romano. Também é descrito como surge no cenário político a família de Hero-
des, a qual foi um instrumento helenístico nas mãos do Im-
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pério até a época dos procuradores e apresentadas, em notas anexas, diversas narrativas do historiador Flávio Josefo. Na segunda parte, Paul , apresenta a “diáspora ” como sendo apela situação dos judeus pelo mundo, porém unidos existência de um dispersos templo central em Jerusalém. Ele dá uma vista geral do que é a diáspora, como começou, qual a sua condição estabelecida em t erras estranhas e qual a sua influência na política mundial da época. Afirma, ainda, que em vários locais, a diáspora chegou a criar excelentes condições de a utonomia para o s judeus, a ponto de admin is trarem verdadeiros estados dentro do Estado, tendo, inclus i ve, uma espécie de governador intitulado etnarca. Ele defende ainda que a diáspora foi grandemente favorecida pelo processo de urbanização implantado por Alexandre Magno e seus sucessores e, para fortificar esta posição , apre senta um breve relato de cada cidade grega da Ásia e de ou tras localidades, enfatizando a forma de vida comunitária dos judeus, os quais se distinguiam do restante da popula ção. A terceira parte leva o nome de “A Terra Nacional”. Ela descreve de forma geral a Judéia colonizada, mostrando as dificuldades que passou por estar localizad a entre os rivais ptolomeus e selêucidas. A influência grega foi tão grande que a própria cidade de Jerusalém chegou a ser chamada pelo nome de Antioquia. Neste ponto é retomado o tema da guerra civil e soci al à qual terminou com a luta pela independência levada avante pelos Macabeus. Também é visto como estes, após a independência, partiram para as conquistas, terminando na confrontação com o Império Romano, já na época dos reis Hasmoneus. Paul mostra também como estavam as condições das
cidades gregas na Palestina desta as época. Comodeque elas fofaram subjugadas pelos nacionalist e a tomada posição
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vorável delas ao lado de Roma na guerra de 66. Por último descreve a resistência nacionalista contra Roma. E sta, apesar da má vontade de grande parte da população qu e não queria guerra, foi levada adiante pelos idumeus, sicários, zelotes, Simão Bargiora, João de Giscala e seus seguidores. Descreve como oco rreu a esmagadora derrota m as alerta que o judaís mo não acabou aí. Ele continuou através daqueles que se opunham à guerra e teve seu grande líder em Johanam bem Zakkai, o qu al saiu de Jerusalém antes da derrota e conseguiu se establecer em paz n a cidade de Jamnia. A quarta e última parte se refere à “sinagoga”. Com o desaparecimento do templo em Jerusalém, que era a base para o E stado Judeu, caem por terra as esperanças da nação. Sem ele não existia mais Estado Judáico, e nem diáspora, mas apenas uma comunidade chamada “sinagoga”. Para o autor, a partir desta m udança, cessa a históri a política dos ju deus e pa ssa a existir a história do judaísmo, a religião que os identifica. declínio dasecondições políticas e sociais dos grupos Com judeuso da Palestina d o Egito, destaca-se a influência do grupo babilónico. E no terceiro século, surge a figura do “exilarca”( o chefe do exílio), o qual teve muito poder, tendo sua autoridade se espalhado por to dos os lugares onde hav i am judeus. E le foi uma espécie de “ papa” da “Sinagoga U ni versal”, que era a nova situação dos judeus. o autor nos mostra que, surpreendente mente, Concluindo, dos escombros do sistema de Estado Judeu, com sua base no templo, surge a Comuni dade e a Doutrina, “Sinago ga e Torá”. Não mais uma nação mas uma comunidade e re ligião. O livro é de fácil leitura e seu conteúdo uma ótima fonte de informações a respeito da história política dos ju deus no Período Intertestamentário.
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Confusão de Gêneros SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testamento. Trad. João Marques Bentes. São Paulo: Sociedade Re ligiosa Edições Vida Nova, 1988. 413 p. Não foi possível obter informações atuais do Dr. Sa muel J. Shultz, mas, na época em que terminou de escrever este livro, em Janeiro de 1960, atuava como professor, por mais de dez anos, no Wheaton College em Illinois, Estados Unidos da América. Sua forma ção na área de Antigo Testa mento contou com a influência do Dr. Robert H. Pfeiff er da Universidad e de Harvard e dos Drs. Allan A. MacR ae e R. Laird Harris do Faith Theological Seminary. Este trabalho do Dr. Shultz, em sua forma srcinal, foi publicado, primeiramente, por Harper e Row, Pu blishers, em New York. E le foi escrito em Inglês e recebeu o seguinte título: “The Old Testament Speaks”, o qual deixa claro qual é a fonte princip al do material apresentado, o pró prio Antigo Testamento. O assunto é tratado em vinte e cinco capítulos nem sempre em seqüência mui to lógica. Depois de uma breve in trodução enfatizan do o Antigo Testamento em si, destacan do-se, em linhas gerais, a srcem e o conteúdo, como ocorreu a transmissão do Texto Hebraico, quais são as ver sões de maio r importância e qual o signifi cado de sta parte da Bíblia, o autor discorreu, baseado principalmente no texto do Antigo Testamento, sobre os acontecimentos marcantes acontecidos desde o que ele chamou de Período dos Come ços, antes aind a da Era Patriarcal, até o Perí odo Pós-Exílico, quando despontaram as figuras dos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias. Sendo assim, a informação qu e aparece em sua contracapa , dando c onta que o autor tentou “fornecer ao lei
tor quadro eclaro dos alicerces geográficos, arqueológi cos,um históricos lingüísticos - das -idéias que emergiram do
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pacto de Deus com o Seu povo, desde os tempos d e Abraão, até à vinda do Messias”, é falso. Ele não percorr eu o cham a do Período Intertestamentário nem a época da vinda do Messias, parando, exatamente, onde o Antigo Testamento pára. Há uma certa confusão quanto ao gênero que se po deria classificar este livro. Ainda que o autor, como afirma no prefácio, tenha procu rado apresent ar um esboço do An tigo Testamento, não conseguiu deixar cl aro do que se trata va. Em algumas partes o livro parece ser de História, em outras, assemelha-se à obras de introdução, e em outras, ainda, foi escrito como um comentário bíblico ou como resenhas de diversos livros do Antigo Testamento, especialmente os Proféticos. A não observância da ordem cronológica, em alguns casos, pode confundir o leitor me nos preparado n a área do Antigo Testamento. Por exemplo, a apresentação dos Livros Proféticos, que vai do capítulo XVIII até o XXV, após ter tratado da avolta Cativeiro capítulocriando XVI, coloca tod esta do parte do l ivroBabilónico fora de seuno contexto confusão na mente do leitor. Teria sido de maior proveito tentar apresentar os livros em uma ordem cronológica, ao menos básica. A linguagem empregada nesta versão é bastante sim ples o que se destaca como ponto positivo. Tam bém merece menção o uso, pelo gráficos e mapas que se encon tram espalhados porautor, todo odelivro, dando uma melhor visão daquilo que foi explicado. Outras ferramentas úteis são os índices das passagens bíblicas, dos mapas e de nomes e as suntos, anexas ao final do livro. Eles são bem detalhados e, desta forma, de grand e valia para os interessados n os assun tos tratados na obra.
Não é um livrodoqueAntigo se aprofunda em nenhuma das questões importantes Testamento, mas é uma
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obra útil para aqueles que precisam i nform ações gerais e introdutórias, do ponto de vista obter evangélico tradicional, a respeito desta literatura. Leitura recomendada para leigos interessados em ter uma visão panorâmica dos assuntos de história e introdução e, no máximo, para o nível de B acharel em Teologia, como informações preliminares.
PanoRama HisrÓRiCO
de
1SRAGL
Para estudantes da Bíblia Que m deseja com preender melhor as mensagen s da Bíbli a, seja do Antigo ou do Novo Testamento, obrigatoriamente, precisa conhecer os pontos principais da história de Israel. Neste livro, Antônio Renato Gusso, de uma forma simples e coerente, sem deixar de ser profundo, partindo da Pré-história de Israel e passan do po r todas as suas fases até a destruiçã o de Jerusalém pelos romanos, no primeiro século, abordando inclusive o chamado Período Intertest amen tário, tema pouco tratado em livros do gênero, apresenta o indispensável sobre o assunto, sem se perder em detalhes, também importantes mas de pouca ajuda para o est udante da Bíbli a. O livro possui, ao final dos capítulos, ques tionários que ajudam a fixar o seu conteú do. Co mo anexo ele apresenta, tamb ém , resenhas de l ivros sobre a história de Israel, que servem de orientação àqueles que pretendem se aprofundar mais na matéria. Ele foi escrito, como o título revela, pai a estudantes da Bíblia e será uma ferramenta importante para professores e alunos de Faculd ades e Sem inários Teológicos, pa ra pastores, professore s de EBD, e outros que buscam um a com preen são m elhor da Bí blia. E útil, ainda , pela forma didática em que é apresent ado, para cursos especiais em igrejas. após ter cursado Ciências Contábeis, pela UFPR, voltou seu interesse para a área Bíblia. É Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batistado Paraná, onde leciona nos cursos de Bacharel e Mestrado, matérias relacionadas ao Antigo Testamento, História de Israel, Hermenêutica, Hebraico e Grego, por mais de doze anos. E Mestre e Doutorando em Antigo Testamento pelo Seminário Teológico Batista do SuL do Brasíl/RJ e atua também, como professor e Deão Acadêmico no Seminário Teológico Batista de Ijuí/RS.
Antônio Rena to Gusso,