PA L AV R A S D E
ONGES CARTUXO S
Material com direitos autorais
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© ED1PI CRS,
2001 Capo: Marcelo
Souto Spadoni
Preparação de
originais: Enrico
Saldanha de Lemos
ftevistlit
: Silvia
l,a
Porta
Editoraç
ão e
composi
ção:
Suliani
Editogr
afia
Impress
ão e
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Material com direitos autorais
Gráfica
EPECÊ
Dados Internacionais de Catalogarão na Publicação (CIP.)
P I 54
Palavras
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cartuxos
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[Cartuxos
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E D I P U C R S ,
2 0 0 4 .
Material com direitos autorais
2 1 2
p . :
i L ISBN 85-7430-441-7 1. Homilias. 2. Bruno, Sào - Crítica e Interpretação. 3. Ordem Cartusiana. I . Cartuxos do Brasil.
CDD 255.71 2 5 !
Picha Catalog râtlea elaborada
pelo Setor de Processamen to Técnico da BCPUCRS
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem auton/açao expressa d LI Editora.
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P o r t o
A l e g r e
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Bra v/7
Fone/fax: ( 5 1 ) 3320.3523 n
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E m a i l :
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1
p u c r s . h r
Sumário
----------*-------------
A ALMA DE SÃO BRUNO
Introdução.......................................................................................................................................................................................................................................................13
I Resumo biográfico de São Bruno ..................................................15 1
Colônia e Reims ...........................................................................................................................................................................................................16
2
O Deserto da Cartuxa ...................................................................................................................................................................................................20
3
Do Delfinado à Calábria.............................................................................................................................................................................................22
II Retrato espiritual de São Bruno.....................................................27 4
Principais traços de sua fisionomia espiritual ......................................................................................................................................................29
5
Vocação e amor à solidão ..........................................................................................................................................................................................31
6
Amor a Deus - fidelidade ao Espirito Santo ....................................................................................................................................................... 34
4________A busca do "Único necessário" .............................................................................................................................................................................. 36
Obediência ..................................................................................................................................................................................................................... 48 ................................................................................................63 Conclusão 1 2
Pobreza ........................................................................................................................................................................................................................... 51
3
Alegria............................................................................................................................................................................................................................. 54
4
Bondade...........................................................................................................................................................................................................................56
5
Equilíbrio humano ........................................................................................................................................................................................................59
6
O porto tranqüilo e seguro na simplicidade...........................61 5________Firmeza de vont ade - estabilidade ..........................................................................................................................................................................41 7
Prudência - ponderação ............................................................................................................................................................................................. 43
8
Discrição do Pai espiritual ......................................................................................................................................................................................... 46
9
Convocação à conversão ..............................................................................................................................................................................................................68
10
Natal do Senhor - Meditação junto do presépio ....................................................................................................................................................................75
11
Epifania (Vestição) "Apareceu a benignidade de Deus" (Tt 3,4) ...........................................................................................................................................................................80
12
Apresentação do Senhor no Templo "A tua palavra, Senhor, é luz para os meus passos" (SI 118, 105) ................................................................................................................................................................................................................................86
13
Quaresma "Convertei-nos a vós. Senhor, e nós nos converteremos" (Lm 5, 21)......................................................................................................................................................................................................................................91
14
Meditação Pascal "Que a vossa alegria seja completa" (Jo 15, 11) .................................................................................................................................................................. 96
1________Mistério Pascal "Ponto culminante da revelação de Deus" (DM, n. 53) .................................................................................................................................................103 8________Otimismo Pascal______________________________________________________________________________________________________________LOS Pérolas santas para a meditação ...........................................................................................................................................................................................114 15 16
Catequese para uma Profissão Solene e Perpétua ............................................................................................................................................................ 116 Assunção de Nossa Senhora (Vestição) A serva do Senhor (cf. Lc 1, 38).........................................................................................................................................................................................122
17
Festa de Todos os Santos. Festa de uma humanidade reconciliada...............................................................................................................................................................................................................................131
18
Imaculada Conceição - A vossa Conceição Imaculada, ó Maria, encheu o mundo inteiro de alegria! ....................................................................................................................................................................134
19
Imaculada Conceição "Deus nos escolheu para sermos santos e imaculados [...]" (Ef 1 , 4 ) .....................................................................................................................................................................................................................................139
20
José, esposo de Maria ........................................................................................................................................................................................................... 144
Natividade de Nossa Senhora ...................................................................149
21 22
Festa de São Bruno. Elogio da oração ...............................................................................................................................................................................155
Contemplação ............................................................................................................................................................................................................................................ 163 "Não fostes vós que me escolhestes, f u i eu q u e vos escolhi [...]" (Jo 15, 16) ......................................................................................................................................................................... 165
23
Elogio do silêncio (Vestição)................................................................................................................................................................................................170
24
São João Batista, modelo do monge (Vestição) .................................................................................................................................................................176
25
Transfiguração do Senhor "Jesus s u b i u à m o n t a n h a para rezar" (Lc 9, 28)........................................................................................................................................................183
O servo vigilante (cf. Lc 12, 37)......................................................................................................................................................................................... 189 26
Maria "[...] grande s i n a l apareceu n o céu" ( A p 12, 1)...........................................................................................................................................................195
27
Imaculada Conceição Gozo para o m u n d o i n t e i r o (cf. versículo da Noa)..................................................................................................................................................... 200
28
Imaculada Conceição "Não tenhas medo, Maria" (Lc 1, 29) .................................................................................................................................................................................204
Pensamentos da Igreja sobre a contemplação ...................................................................................................................................................................................210
Parte 1 -------------------------gji ------------------------------
A Alma de São Bruno 21
Material com
R e s u m o biográfico de São B r u n o R e t r a t o e s p i r i t u a l de São B r u n o São Bruno, de Pereira. Cartuxa de Miraflores. Espanha.
"O q u e a s o l i d ã o e o s i l ê n c i o d o d e s e r t o p r o p o r c i o n a m d e u t i l i d a d e e a l e g r i a d i v i n a
a q u e m os a m a , só o s a b e m os q u e o e x p e r i m e n t a r a m . "
São Bruno
Material com2 2 Material com
Introdução
A s p a l a v r a s q u e a p r e s e n t a m o s a q u i f o r a m e s c r i t a s e s p e c i a l m e n t e por ocasião d o I X Centenário da Morte de São Bruno Ano 200 J -. v e r d a d e i r o P a i e F u n d a d o r d e n o s s a O r d e m de M o n ses C a r t u x o s ; e c o n s t i t u e m u m r e s u m o e l a b o r a d o a p a r t i r de u m e s t u d o m u i t o c o m p l e t o e a p r o f u n d a d o sobre a v i d a e a pessoa d o mesmo S a n t o . O a u t o r d e s t e e s t u d o é t a m b é m u m c a r t u x o , c u j a e x i s t ê n c i a decorreu no s é c u l o X X . N e s t a s í n t e s e , oferecemos os p r i n c i p a i s traços d a p e r s o n a l i d a d e m o n á s t i c a de S ã o B r u n o , c o m os a c o n t e c i m e n t o s m a i s i m p o r t a n t e s de sua vida. E s p e r a m o s q u e e s t a s p á g i n a s possam p r o d u / i r bons f r u t o s e m todos a q u e l e s q u e a s l e r e m de boa v o n t a d e , n o desejo s i n cero de t e r u m e n c o n t r o pessoal e í n t i m o com o Deus q u e nos a t r a i a o s i l ê n c i o e à s o l i d ã o d o d e s e r t o i n t e r i o r para a í nos f a l a r a o coração ( c f . Os 2. 1 6 ) .
23
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II RESUMO BIOGRÁFICO DE SAO BRUNO
C o l ó n i a e R e i m s O Deserto da C a r t u x a Do D e l f i n a d o à C a l á b r i a
Mate na!
1 Colônia e Reims ---------* --------B r u n o n a s c e pouco a n t e s do ano 1030 e m C o l ô n i a (Alemanha),
que
era.
então,
uma
das
capitais
da
c r i s t a n d a d e . Os d o c u m e n t o s n a d a n o s d i z e m acerca d a s u a i n f â n c i a n e m dos s e u s p r i m e i r o s e s t u d o s r e a l i z a d o s n e s s a c i d a d e . A i n d a j o v e m , v i a j a para R e i m s ( F r a n ç a ) , 25
Material com direitos autorais
11
a f i m d e f r e q ü e n t a r os c u r s o s q u e s e m i n i s t r a v a m n a sua
célebre
Escola
Catedralícia,
aonde
chegavam
n u m e r o s o s e s t u d a n t e s de toda a E u r o p a c r i s t ã . B r u no permanecerá e m R e i ms cerca de t r i n t a a n o s . Te r m i n a d o s os e s t u d o s , logo passou a p r o f e s s o r da m e s m a E s c o l a . E. a l é m de professor, foi t a m b é m , d e s d e os seus
anos
moços,
um
homem
de
Igreja c Cónego d a
c a t e d r a l . E m 1057, c o m v i n t e e o i t o a n o s a p e n a s , o A r c e b i s p o G e r v á s i o c o n f i a - l h e o c a r g o de R e i t o r d a U n i v e r s i d a d e . O jovem professor e n c o n t r a - s e , a s s i m , à
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1
cabeça de u m c e n t r o d e c u l t u r a c u j o r e n o me se h a v i a e x p a n d i d o e m toda a E u r o p a p e l o s e u f a m o s o mestre G i l b e r t o , q u e v e i o a s e r e l e i t o Papa com o n o m e de S i l v e s t r e I I (999-1003). B r u n o , n o e x e r c í c i o desse cargo, t e v e u m a i n f l u ê n c i a prof u n d a . Em toda a c r i s t a n d a d e , s e u s a n t i g o s a l u n o s d i r i g i r - l h e - ão, m a i s t a r d e , e m o t i v a s h o m e n a g e n s de a d m i r a ç ã o e v e n e r a ção:
" H o m e m n o t á v e l do nosso l e m p o , h o n r a dos m e s t r e s , g u i a n a s c o i sas do c é u . Foi d i g n o , reto, hondoso. U m h o m e m p r u d e n t e , p o r t a dor
duma
palavra
profunda,
brilhava
em
todas
as
c i ê n c i a s , d a s maiores às m a i s h u m i l d e s . Primeiro teólogo da sede e p i s c o p a l de R e i ms. f o i , d u r a n t e longo tempo, a c o l u n a
27
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de
toda
a
11
Igreja
metropolitana,
defensor
da
Igreja
u n i v e r s a l , u n i verdadeiro d o u t o r e m sabedoria, u m a luz. e u m a f o n t e para o m u n d o . A todos era p r e f e r i do, por ser bom. d o u t o c e l o q ü e n t e . Possuía a forca do coração e d a p a l a v r a , a o p o n t o de u l t r a p a s s a r todos os professores. Pela p e r f e i ç ã o de s u a v i d a . c l a v a e x e m p l o de t u d o q u a n t o e n s i n a v a pela pal a v r a " ( T í t u l o s F ú n e b re s ) .
U m a n o t a a f e t u o s a se j u n t a à recordação dos q u e m e l h o r o c o n h e c e r a m . E o caso d a q u e l e m o n g e de C o r m e r y, à beira d e To u r s ( F r a n ç a ) , q u e escreve u n s v i n t e e c i n c o a n o s d e p o i s de t e r d e i x a d o a E s c o l a de
Material com direitos autorais28 Material com direitos autorais
1
R e i m s , a o s a b e r d a morte de s e u a n t i - íio M e s t r e :
"Não consegui reter m i n h a s l á g r i m a s . T i n h a a f i r m e i n t e n ç ã o de i r v i s i t á - l o e m breve, para o v e r e o e s c u t a r , confiar-lhe todas as inc l i n a ç õ e s
da m i n h a
alma
e
consagrar-me
à
Santíssima T r i n d a d e sob a s u a direção. Sou o r i g i n á r i o d a cidade de R e i m s .
Freqüentei
os cursos de Mestre B r u n o
d u r a n t e a l g u n s anos e, com a graça de Deus, t i r e i m u i t o p r o v e i t o : agradeço a M e s t r e B r u n o esse progresso. G u a r d á - l o e i e m m i n h a memória j u n t a m e n t e com todos a q u e les q u e o a m a r a m e m Cristo" l i J . . i b i i l . ) .
Após a m o r t e
do
Arcebispo
Gervásio,
um
a v e n t u r e i r o c h a m a d o M a n a s s e s de G o u r n a y c o n s e g u e
29
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11
fazer-se nomear p a ra a sede a r q u i e p i s c o p a l de R e i m s . Era a época d a Q u e s t ã o d a s I n v e s t i d u r a s : numerosos e r a m os bispos
que.
sendo
homens
ocupavam
esses cargos s e m
monástica
e
abusiva
dos
que,
da
corte
ter vocação
aproveitando-se
soberanos
na
ou
nomeação
de
armas,
sacerdotal
da dos
ou
ingerência titulares,
o b t i n h a m , por meios i n d i g n o s ( s i m o n i a ) . a s m a i s a l t a s d i g n i d a d e s e c l e s i á s t i c a s , n ã o t e n d o o u t r a preocupação senão
a
de
receber
os
"benefícios**,
às
vezes
c o n s i d e r á v e i s . Manasses f o i u m desses prevaricadores.
Material com direitos autorais30 Material com direitos autorais
1
Com o propósito de c o n s e g u i r a e s t i m a do clero de R e i m s , n o m e i a M e s t r e B r u n o c h a n c e l e r d a diocese. Apesar dessas m o s t r a s de b e n e v o l ê n c i a . B r u n o n ã o se pôde c a l a r , porque o e s c â n d a l o e r a d e m a s i a d o p a t e n t e . S e m d e i x a r - s e a m e d r o n t a r pela p e r s p e c t i v a de r e p r e s á l i a s , e l e e d o i s dos s e u s amigos d e n u n c i a r a m o seu A r c e b i s p o n o C o n c í l i o d e A u t u n de 1077. O Legado do P a p a q u e presidia
ao
Concílio
-
Hugo
de Die -c o n d e n a
o
simoníaco.
M a n a s s e s e n c o l e r i z a d o t o m a posse das casas de s e u s a c u s a d o r e s , c o n f i s c a s e u s b e n s e v e n d e s u a s p r e b e n d a s . Recorre a R o m a . c o n s e g u i n d o o b t e r , por e n g a n o , u m a m e d i d a d e c l e m ê n c i a de G r e g ó r i o V I I a s e u f a v o r. C o n t u d o , n o v a s a c u s a ç õ e s c o n t r a o m a u p r e l a d o o c a s i o n a m , f i n a l m e n t e , a s u a deposição n o C o n c í l i o
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11
de L i ã o , r e a l i z a d o e m fevereiro do a n o de 1080. O Papa. t o d a v i a , n ã o q u e r c a s t i g a r o Arcebispo sem l h e oferecer u m a ú l t i m a ocasião de reabilitar-se:
' " S a i b a Vossa E x c e l ê n c i a q u e n ó s c o n f i r m a m o s a s e n t e n ç a d a d a c o n t r a vós no Concílio de Lião. N ã o o b s t a n t e , q u e r e n d o u s a r de i n d u l g ê n c i a para convosco, nós vos concedemos q u e vos j u s t i f i q u e i s a t é à f e s t a de São M i g u e l , n a c o n d i ç ã o de devolverdes
tudo
o
que
foi t i r a d o
ao
presidente
do
c a b i d o , a B r u n o e aos outros q u e f a l a r a m contra vós em favor d a justiça."
Material com direitos autorais32 Material com direitos autorais
1
O b s t i n a d o n o m a l e d e s p r e z a d o de todos, o i n d i g n o s u c e s sor de São R e m í g i o acabou por r e t i r a r - s e . d e p o i s d e ser e x p u l s o de Reims, encontrando refúgio junto do Imperador Henri que IV da Alemanha, então excomungado. Enquanto
Bruno
lutava
com
coragem
pela
verdade e pela j u s t i ç a , a m a d u r e c i a n e l e o desejo d u m a m a i o r e n t r e g a a Deus. P e r a n t e a t r i s t e c o n s t a t a ç ã o das
lutas
atormentada
e
desordens pela
simonia
na
Igreja, e
um
di lacerada
clero
e
decadente,
d i s c e r n i n d o u m a p e l o d i v i n o , j u l g o u m a i s ú t i l para o R e i n o d e Deus e n t r e g a r - s e a u m a v i d a d e oração e de p e n i t ê n c i a n o s i l ê n c i o do deserto.
33
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11
Era necessário e n c o n t r a r u m sucessor d e Manasses para a sede a r q u i e p i s c o p a l de R e i m s . E r a m n u m e r o s o s a q u e l e s q u e a q u e r i a m v e r o c u p a d a por B r u n o . O p r ó p r i o Legado P o n t i f í c i o o propõe ao Papa. M a s nesse momento a decisão de B r u n o já e s t á tomada: s e n t i u - s e s e d u z i d o por Cristo e n ã o deseja o u t r a coisa s e n ã o s e g u i - l o , n u m a entrega sem l i m i t e s . Recusa a sede de S ã o Remígio, põe e m ordem s u a s coisas, d i s t r i b u i seus bens pelos pobres e parte sem saber a t é aonde o conduzirá o Espírito Santo. Como m u i t o s outros, começa b u s c a n d o às apalpadelas. Forma parte d u m e n s a i o de v i d a s o l i t á r i a e m Scche F o n t a i n e . A o f i m de
Material com direitos autorais34 Material com direitos autorais
1
a l g u m tempo, afasta-se e m direção a Grenoble, o n d e e n c o n t r a H u g o de C h a t e a u n e u f , jovem bispo com f a m a de s a n t i d a d e . N a d a escapa à P r o v i d ê n c i a d i v i n a . H u g o compreenderá, e s t i m u l a r á e ajudará o a n t i g o c h a n c e l e r n a realização da s u a vocação. O l o n g o c a m i n h o percorrido por Bruno, n a França do século X I , a p a r e c e m a i s q u e j u s t i f i c a d o para e n c o n t r a r esse homem
de Deus. a
quem
hoje se considera co-fundador da Ordem
Cartusiana.
O Deserto da Cartuxa 35
Material com direitos autorais
-------* ------11 Santo
Hugo
conduziu
Bruno
c
seus
c o m p a n h e i r o s a t é a o e x t r e m o de u m v a l e e s t r e i t o e completamente solitário, chamado Chartreuse - em português.
Cartuxa.
Os n o v o s
eremitas
decidiram
estabelecer-se aí. Era o d i a 24 de j u n h o de 1084. f e s t a d e São J o ã o Batista,
grande
solitário
e
precursor
da
vida
Material com direitos autorais36 Material com direitos autorais
1
m o n á s t i c a n o d e s e r t o . A e s t a ç ã o do v e r ã o era propícia a i n s t a l a r e m - s e n u m a região t ã o f r i a como é o maciço de C h a r t r e u s e . Os t r a b a l h o s c o m e ç a r a m sem d e m o r a . A l s u m a s modestas c a b a n a s de m a d e i r a , i n d e - p e n d e n t e s u m a s d a s o u t r a s , e u n i d a s por u m a g a l e r i a o u c l a u s tro; u m a capela e d i v e r s o s locais d e s t i n a d o s a r e u n i õ e s e m c o m u m . Essa d i s p o s i ç ã o dos e d i f í c i o s s e r v i r á , n o f u t u r o , de modelo a t o d a s as c a r t u x a s , e e x p r e s s a , numa estrutura arquitetônica, aquilo que constitui a vocação
a
que
foram
c h a m a dos
Bruno
e
seus
c o m p a n h e i r o s : u m a c o m u n h ã o de s o l i t á r i o s . M a i s a b a i x o , n o v a l e . s e m p r e n u m a s o l i d ã o bem protegid a ,
37
Material com direitos autorais
11
se i n s t a l a r a m a q u e l e s e r e m i t a s q u e d e d i c a r i a m a m a i o r p a r t e d o seu
tempo
ao
trabalho
manual,
para
subsistência
de toda
a
c o m u n i d a d e : os p r i m e i r o s i r m ã o s conversos. O bispo c u i d a de a s s e g u r a r a s o l i d ã o d e s e u s protegidos e de preservá-los de todo l i t í g i o
com os v i z i n h o s
inoportunos.
Dessa
f o r m a , f a c i l i t a a B r u n o e s u a pequena c o m u n i d a d e a p l e n a posse do s e u deserto. Os novos s o l i t á r i o s poderão v i v e r
Material com direitos autorais38 Material com direitos autorais
' ■ A r r a s t a v a a t r á s de s i a e s t i m a d e t o d o s p o r s u a b o n d a d e , s u a períc i a n a s a r t e s , s u a e l o q ü ê n c i a * ' ( T í t u l o 52. M e t r o p o l i t a n a d e R e i m s ) .
" ' B r u n o , o p r i m e i r o d o s e r e m i t a s , l u z e i r o d a I g r e j a . [ . . . ] Q u e c h o r e o d e s e r t o e q u e o h o n r e t o d o o f i e l , p o i s c e r t a m e n t e é d i g n o por s u a clara bondade" [Título 82, São Luciano de Beauvais).
" D u r a n t e s u a v i d a . esse b e m - a v e n t u r a d o e r e m i t a B r u n o f o i nosso modelo e m t u d o . [ . . . ] Foi t o t a l m e n t e d i g n o , a u t ê n t i c o , bondoso*' ( T í t u l o 11 2 , S ã o Pedro de N e u f c h a t e a u ) .
" N i n g u é m pode r e l a t a r a m a r a v i l h o s a piedade de Bruno, nem os atos de s u a a g r a d á v e l b o n d a d e " ( T í t u l o 1 4 6 . C a t e d r a l Nossa Sen h o r a de R o u e n ) .
"A f a m a nos havia d a d o a c o n h e c e r o q u e n o s d i z vossa c a r t a : n ã o a morte, por certo, de B r u n o , mas a s u a bondade" ( T í t u l o 136, Mosteiro N o s s a S e n h o r a d e Yo r k ) .
Tão l o n s e como e m Yo r k . n a I n e l a t e r r a , se s a b i a q u e B r u - n o era u m h o m e m d e e x c e p c i o n a l bondade.
"Dou g r a ç a s a D e u s por t o d a s a s b o n d a d e s d e B r u n o " ' { ' T í t u l o 1 7 8 . Tropea e m C a l á b r i a ) .
"Jamais c o n t r i s t o u a n i n g u é m , posto q u e e s t a v a s e m p r e u n i d o a Deus" ( T í t u l o 8 6 , São Fedro d e L i h n u s ) .
Esse seu e s p í r i t o de b o n d a d e r e f l e t e - s e também em suas d u a s c a r t a s , sobretudo n a Corta a Raul, onde São B r u n o e x p l i c a q u e " n a d a é m a i s j u s t o , ú t i l , c o n v e n i e n t e e i n a t o à n a t u reza h u m a n a do q u e a m a r o b e m . c q u e n e n h u m o u t r o bem h á s e n ã o Deus somente", f o n t e de t o d a a b o n d a d e ( c f . 1 7 ) . E s t e t e x t o nos e s c l a r e c e o v e r d a d e i r o s e n t i d o , n a m e n t e d e B r u n o . d a e x p r e s s ã o "O Bondade!" ( " O B o n i t a s ! " ) , m u i t o q u e r i d a d o S a n t o . N ã o s e t r a t a da bondade d e r r a m a d a p e l o S e n h o r n a s c r i a t u r a s , n e m da bondade t a l c o m o a r e p r e s e n t a m o s e m nossos pobres conceitos humanos, como uma perfeição pertencente a Deus, mas diferente
dele. N ã o se t r a t a , p o r t a n t o , d a b o n d a d e
c o n s i d e r a d a s o m e n t e c o m u m dos v á r i o s a t r i b u t o s d e D e u s , e m b o r a n ã o o d e i x a n d o de s e r .
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13 O porto tranqüilo e seguro n a simplicidade
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Por d u a s vezes, em s u a s c a r t a s , São B r u n o , para caracteriz a r a v i d a q u e l e v a com os seus, usa u m a i m a g e m q u e evoca o e s s e n c i a l de s u a f i s i o n o m i a . E a i m a g e m d o resguardado porto, t r a n q ü i l o e s e g u r o .
" A l e g r a i - vos por terdes a l c a n ç a d o o repouso t r a n q ü i l o e s e g u r o de u m porto escondido" ( C a r i a a o s Cartuxos. 2 ) .
"Passa d a t e m p e s t a d e d e s t e m u n d o ao repouso s e g u r o e t r a n q ü i l o do porto" ( C a r t a a R a u l . 11 ) .
Por essa i m a g e m - t a m b é m e n c o n t r a d a e m o u t r o s l e g i s l a dores m o n á s t i c o s d a mesma época e e m a l g u n s S a n t o s Padres -, nosso Pai q u e r e v o c a r o r e t i r o n a s o l i d ã o , a paz d a v i d a c o n t e m p l a t i v a , o descanso e m Deus. o d e s p r e n d i m e n t o d e tod o ruído e a g i t a ç ã o do m u n d o . S u a a l m a h a v i a s i d o t o t a l m e n t e c o n q u i s t a d a por D e u s . O a m o r a o deserto o fizera a f a s t a r - s e de toda o c u p a ç ã o e x t e r i o r , de todo t u m u l t o d o século. N ã o é e s t r a n h o q u e , a o e x p r e s s a r s u a f ó r m u l a , recorresse, e m a m b a s as c a r t a s , à i m a g e m d e u m a t r a n q ü i l a s e g u r a n ç a : a do p o r t o resguardado. l i v r e d a s o n d a s d o a l t o - m a r . I s e n t a da m u l t i p l i c i d a d e dos c o n t a t o s e x t e r i o r e s e o c u p a n do-se só d e D e u s , e s t a v i d a é m u i t o s i m p l e s . Tal como São B r u n o a c o n c e b e , "abstraída" r e a l m e n t e do m u n d o , e s t e s e l o
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Parte 2
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Essas p a l a v r a s de D e u s q u e acabamos d e e s c u t a r e e s c u t a remos n a nossa l i t u r g i a q u a r e s m a ! , nos f a l a m de conversão. A p a l a v r a conversão é a p r i m e i r a q u e recebemos d a p r o c l a m a ç ã o d e João B a t i s t a n o deserto: " C o n v e r t e i - v o s , pois o R e i n o d e D e u s e s t á p r ó x i m o " ( M i 3. 2 ) . E l a m b e m a p r i m e i r a q u e recebemos de J e s u s - e m São Mateus -, d e p o i s d a s u a saída do deserto, a s u a p r i m e i r a p r e g a ç ã o : "Convertei-vos, pois o R e i n o d e D e u s e s t á p r ó x i m o " (4, 1 7 ) . Jesus r e t o m a e x a t a m e n t e a s p a l a v r a s de J o ã o Batista.
Quaresma: t e m p o de c o n v e r s ã o . A q u i s u r g e u m a p e r g u n t a : e m q u e s e n t i d o temos nós, a i n d a h o j e . d e p o i s d a n o s s a f u n d a m e n t a l c o n v e r s ã o do b a t i s m o e d a n o s s a vocação m o n á s t i c a , necessidade de conversão? A resposta v e m d a nossa e x p e r i ê n c i a c o t i d i a n a : c o n t i n u a m o s s e m p r e a ser pecadores, a nossa conversão n ã o está f e i t a u m a vez para s e m p r e ; s a b e m o s q u e a v i d a n o E s p í r i t o S a n t o , q u e recebemos no b a t i s m o e chegou a m a i o r d e s e n v o l v i m e n t o n a nossa c o n s a g r a ç ã o , n ã o é coisa t ã o f á c i l . Não s a b e m o s a m a r a Deus. Na nossa vida d e c a d a d i a , são, por vezes, i n e x t r i c á v e i s a g r a ç a , o pecado, a c o n v e r s ã o , a f i d e l i d a d e , a i n f i d e l i d a d e , etc. Pecado e c o n v e r s ã o , g r a ç a e i n f i d e l i d a d e , são o nosso pão e a nossa herança d e cada d i a . É sempre u m a i l u s ã o j u l g a r - s e c o n v e r t i d o u m a v e z por todas. To d a v i a , s o m o s pecadores p e r doados o u c a p a z e s d e o b t e r perdão, pecadores e m c o n v e r s ã o . Neste m u n d o n ã o pode h a v e r o u t r a s a n t i d a d e . A g r a ç a de Deus a t u a n a nossa pobreza h u m a n a . C o n v e r t e r - s e é sempre recomeçar com c o n f i a n ç a n o a m o r d i v i n o q u e n o s c h a m a e nos a g u a r d a . O g r a n d e P a t r i a r c a e P a i dos monges todos, S a n t o A n t ã o , d e i x o u e s t a p a l a v r a : "Todas a s m a n h ã s d i g o a m i m mesmo: hoje começo". De f a t o , a nossa c o n v e r s ã o é s e m p r e u m a c o i s a q u e l e v a t e m p o . O h o m e m precisa d e t e m p o p a r a se r e a l i z a r e t o m a r a s u a v e r d a d e i r a i d e n t i d a d e d e F i l h o d e D e u s . E D e u s m e s m o q u e r p r e c i s a r e u s a r o t e m p o p a r a conosco.
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mãos, que continuamente nos convidam a nos ultrapassarmos p a r a v i v e r e p e r m a n e c e r n o a m o r. Fora da conversão contínua, estamos fora do amor e fora da nossa vocação. E isso não pode ser fruto de bons p r o p ó s i t o s o u d e q u a l q u e r e s f o r ç o c o n t i n u a d o . A n o s s a c o n v e r s ã o é f r u t o d o a m o r. d o a m o r d e D e u s . m a i s d o q u e n o s s o . Converter-se é ceder à sedução de Deus que nos chama para além das nossas ninharias, é abandonar-se ao primeiro sinal de amor que percebemos vindo de Deus. É por isso que a liturgia qua-resmal insiste tanto e nos faz repetir sem cessar: ' • C o n v e r t e - n os , S e n h o r, e n os c o n v e r t e r e m o s " , l i t e r a l m e n t e , " v o l t a r e m o s a v ó s " ( L m 5 . 2 1 e J r 3 1 . I S ) . N ã o p o d e m o s realizar sozinhos a nossa conversão e permanecer "convertidos". Para que a nossa conversão seja verdadeira, profunda e d u r á v e l , n ã o d e v e m o s c e s s a r d e p e d i - l a . d e o l h a r p a r a a q u e l e q u e n o s c h a m o u , p a r a a q u e l e p a r a o q u a l d e s e j a m o s v o l t a r. A nossa conversão não é iniciativa nossa. E chamamento de quem disse: "Pedi e vos será dado. Buscai e achareis. Batei e vos será a b e r t o " ( L r 11 . 9 ) . Tr a t a - s e t a m b é m d e n o s d i s p o r m o s , p a r a r e a l i z a r c o m D e u s o s e u p l a n o d e a m o r, d e s a n t i f i c a ç ã o e d e r e d e n ç ã o c o p i o s a . Vo l t a m o s s e m p r e à p a l a v r a d e S ã o P a u l o : " E a b o n d a d e d e D e u s q u e t e c o n v i d a ã c o n v e r s ã o " . D e u s t e c h a m a a c r e s c e r e p a r a t e p u r i f i c a r, p o r q u e e l e t e a m a . E o r a d a c o n v e r s ã o , e s t a m o s f o r a d o a m o r. S e r m o s c o n s c i e n t e s d o r i s c o q u e c o r r e m o s n u m a v i d a e s p i r i t u a l m e d í o c r e é c o i s a s a l u t a r, p o r q u e s ã o f r e q ü e n t e s a s i l u s õ e s n es s e d o m í n i o . 1 l á u m m o d o d e v i v e r a v i d a m o n á s t i c a q u e p o d e v i r a s e r u m a m a n e i r a d e f u g i r d e D e u s , d o s e u a m o r. d a e s c u t a s i n c e r a e c o m p r o m e t i d a da sua Palavra. R e c o n h e ç a m o s h o n e s t a m e n t e q u e v a m o s v i v e r o q u e P a u l o c h a m a : " o t e m p o f a v o r á v e l , o s d i a s d a s a l v a ç ã o " ( 2 C o r 6, 2 ) , e q u e corremos o risco de passar ao lado, desprezando as riquezas da bondade divina que nos chama. Para evitar isso.
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Deus faz de si mesmo, há sempre um aspecto que deveríamos contemplar com mais seriedade. É a dimensão dramática. O Santo Natal está rodeado e penetrado duma simplicidade que traz consigo o perigo de passarmos ao lado da humilhação es pontânea de Deus. Deus humilha-se. para que possamos apro ximar-nos dele, compreender o seu amor e corresponder ao seu a m o r, a f i m d e q u e a n os s a l i b e r d a d e s e r e n d a , n ã o s ó a n t e o e s p e t á c u l o b o n i t o e c o m o v e n t e d o p r es é p i o , c o m o t a m b é m a n t e a m a r a v i l h a d a s u a h u m i l h a ç ã o p a r a n o s c o n v e n c e r d o s e u a m o r. C o m o é p o s s í v e l t a n t a d u r e z a d o c o r a ç ã o h u m a n o q u e cheguemos a nos acostumar a esses episódios bem conhe cidos do Natal? Nesta nossa celebração do Santo Natal, no silêncio do nosso deserto, ao olharmos o Menino-Deus no presépio, de mos glória a Deus, com os anjos e com toda a Igreja, sim. mas abramos o nosso ouvido espiritual, a fim de percebei' a pro funda Revelação que Deus faz de si mesmo. Não podemos contemplar e celebrar este grande mistério, sem nos sentirmos afetados, nem o reconhecermos como o q u e é r e a l m e n t e : u m a c h a m a d a q u e o S e n h o r n o s d i r i g e p a r a c o m p r e e n d e r o s e u a m o r, s a i r d o n o ss o e g o í s m o e c o m o d i s m o e p a r t i c i p a r do seu silêncio, da sua humilhação, da sua pobreza, da sua obediên cia. A revelação que se oferece no Santo Natal é uma total e impressionante inversão na nossa hierarquia dos valores. Diante do presépio, precisamos deixar
*
" Ve m , ó S e n h o r , p a r a i l u m i n a r o s q u e j a z e m n a s t r e v a s " .
*
"Sim. hoje sabereis que o Senhor vem e amanhã contemplareis a sua glória" ( E x 16. 6-7).
*
"Sobre ti, Jerusalém, se levantará o Senhor e sobre ti brilhará a sua glória" ( I s 60. 2).
*
"Eis que vem o desejado das nações e ele encherá de glória a casa do Senhor".
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nova. desconhecida. Os Santos Padres descobriram nela o símbolo da iluminação interior que esclarece o coração hu mano que Deus busca: a vocação. Cada um de nós aqui pre sentes, um dia, avistou a sua estrela no segredo do seu cora ção. Sem dúvida, a estrela da iluminação interior que chama a todos os homens não c a mesma para todos. Mas sua luz é su f i c i e n t e m e n t e v i s í v e l e c o n v i n c e n t e p a r a q u e o c o r a ç ã o d e b o a v o n t a d e p o s s a r e c o n h e c ê - l a c o m o s i n a l d e D e u s . " Vi m o s e v i emos". Depois de ter visto, pôr-se a cam inho. Tu tamb ém vis te a estrela e ela te conduz iu ate aqui. aos pés de Jesus, prosternado como os Magos e oferecendo presentes como eles. Diante do sinal de Deus, esses homens deixaram tudo: pá tria, família, amigos, realizações humanas e tantos outros v a l o r e s , p a r a e m p r e e n d e r u m a l o n g a v i a g e m , s e m s a b e r o n d e d e v i a a c a b a r. E o m i s t é r i o d a v o c a ç ã o . A e s t r e l a , a v o c a ç ã o , a iluminação interior é um mistério tão inaudito, uma obra de misericórdia e de revelação que os Santos Padres chamaram de Epifania, quer dizer: manifestação de Deus. Deus se mani festa na vida do homem. Há gente que despreza a sua estrela, porque o coração está preso a outros interesses e outros amo res. Ha outros, como tu, peregrinos sempre insatisfeitos à pro cura dum significado maior da própria vida. Tu, como os Magos, deix aste tudo, persuadido de que tua resposta ao chamado é capaz de preench er total ment e o teu c o r a ç ã o . Is s o p o d e a c o n t e c e r s ó p o r q u e a t u a c o n v i c ç ã o p r o f u n d a , í n t i m a , c o r d i a l , p n e u m á t i c a , q u e r d i z e r, i n s p i r a d a p e l o Espírito Santo, te faz concluir que tal dom de li mesmo, numa misteriosa busca, é possível, porque o coração já está possuído em seu íntimo pelo amor de Deus. Na vocação. Deus é o primeiro. Nós o seguimos. No teu caso. a vocação é muito mais explícita do que a dos Magos. O coração sente-se disposto a oferecer-se a Deus. porque se sente misteriosamente amado e possuído por Deus.
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já t e r i a p e r e c i d o n a m i s é r i a ( 9 2 ) : é g r a n d e a p a z dos q u e a m a m a vossa Palavra: p a r a eles n ã o e x i s t e tropeço n o c a m i n h o " ( 1 6 5 ) .
E u t e a v i s o : " L o n g o é o t r a j e t o a p e r c o r r e r, p o r c a m i n h o s á r i d o s e s e c o s " { E s t a t u í a s , 4 . 1 ) . a n t e s d e c h e g a r à destin ação. Tu vais precisar de mui ta convi cção, muita perseveranç a, mui ta pac iênc ia. É Tu és um home m livre, cheio de riquez as human as. Deves estar disposto a oferecer tudo a Jesus, ao serviço dum ideal grande, nobre, de contemplação, que ultrapassa a tua pessoa e tira a sua força e beleza do mistério de Deus mesmo, que quer revelar-se a ti e, através de ti, aos irmãos.
P a r a os M a g o s , a p e r s e v e r a n ç a n o c a m i n h o n ã o f o i i n f r u - t u o s a . E n c o n t r a r a m , e n f i m , a q u e l e q u e a e s t r e l a q u e r i a i n d i c a r, a q u e l e que ilumina definitivamente o teu caminho e te dá o seu significado. Podem continuar a sua viagem "por outro caminho". O caminho é outro, porque o coração tornou-se outro, dilatado, renovado, iluminado.
A estrela nos faz descobrir aquele que disse de si mesmo: "Eu sou o Caminho: quem me viu a mim. viu o Pai" ( J o 14. 6. 9). Eu sou a Epifania eterna do Pai, do amor do Pai para contigo e para com todos.
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l o s Estaiatos c o m o c o e r ê n c i a d e v i d a c o m o n o m e d e m o n g e s q u e t e m o s e c o m a n o s s a r i g o r o s a c l a u s u r a . N u m o u t r o l u g a r , a Regra nos diz: "A familiaridade com Deus não estreita o co ração. A nossa verdadeira solicitude para com os homens de ve exprimir-se, não pela satisfação da curiosidade, mas por uma comunhão íntima com Cristo"* (1.6.6). Não digo que seja fácil chegar a esse ponto de pureza de coração, mas não podemos negar que o nosso deserto pode e deve nos ajudar a viver de modo generoso na obediência e na humildade. Repito: Deus quis nos dar o exemplo de Maria que se humilha e se o f e r e c e n o Te m p l o p a r a s e r p u r i f i c a d a . M a r i a n ã o p r e c i s a v a d e s e r p u r i f i c a d a . J e s u s p e r t e n c i a a D e u s d e m o d o ú n i c o e d i v i n o : n ã o precisava de ser resgatado ou apresentado. Jesus mesmo, dentro de trinta anos. vai se apre sentar a João Batista para ser batizado. Outro exemplo luminoso, exemplo para nós. ávidos e amantes da nossa indepen dência e da satisfação da nossa curiosidade natural que. às vezes, disfarçamos numa preocupação "legítima" para com o mundo e os seus rumores, contradições e violências, que de vemos, aliás, levar - sim - na oração dum coração puro, de sapegado e unido a Jesus redentor do mundo, mas não num coração que satisfaz a sua curiosidade natural e os seus inte resses pessoais, fora da bênção da obediência, alilude que te leva a perder a paz e a virgindade espiritual essencial ao monge contemplativo, conforme palavras de São Bruno. São João Clímaco escreveu estas palavras de ouro: "A obra essencial do monge é a despreocupação total por todas as coisas do mundo. Basta um lio de cabelo para embaralhar a vista. Basta uma simples preocupação para dissipar o coração. Quem quer apresentar a Deus um espírito purificado e se dei xar p e r t u r b a r p e l a p r e o c u p a ç ã o , a s s e m e l h a - s e a a l g u é m q u e t i v e s s e e n t r a v a d o f o r t e m e n t e a s p e r n a s e p r e t e n d e s s e c o r r e r. . . A n o s s a purificação está na lembrança contínua de Deus e do seu amor infinito". Um outro Padre disse: "Só quem lem o co ração purificado pode conhecer a Deus" (Máximo, o Confessor).
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súplica: receber de Deus a graça da conversão, porque Deus é amor que nos ama. Sempre que nos propomos retificar um ponto da nossa conduta, estamos correspondendo à graça da conversão que vem de Deus. Cada vez que reconhecemos tal falta, tal defei to, voltamos à conversão. Perceber que Deus nos ama muito mais do que nós o amamos e que ele nos amou antes mesmo que nós o conhecêssemos e amássemos, aviva em nós o dese-jo de conversão. E por isso que é bom e desejável e urgente conhecer cada vez mais a Deus: o conhecimento de Deus nos leva à c o n v e r s ã o e a o a m o r, n o s l e v a a d e s e j a r a u n i ã o c o m e l e n o a m o r. D i a n t e d e l e , q u e n o s a m a . n ó s s o m o s f i l h o s b e m amados, mas pecadores, repletos de defeitos. Mas Deus, nos so Pai, nos olha com todo o seu carinho paternal, quando o n o s s o c o r a ç ã o s e d e i x a m o v e r, e s p e c i a l m e n t e n os m o m e n t o s e m q u e n o s a r r e p e n d e m o s d a s n os s a s m i s é r i a s , f r e n t e à q u e l e q u e é rico em misericórdia e se alegra, quando nos vê com es sa disposição permanente de conversão: "Fazei-nos voltar a vós. S e n h o r, e v o l t a r e m o s " . S e v o l t a r m o s , c o m o o f i l h o p r ó d i g o . D e us n o s a t e n d e . A v i d a c r i s t ã n ã o c o n s i s t e e m a p r e s e n t a r - s e s e m f a l h a s d i a n t e d e D e u s e d o s n o s s o s i r m ã o s - "O m e u p e c a d o . S e n h o r , e s t á s e m p r e à m i n h a f r e n t e , r e c o n h e ç o a m i n h a c u l p a ; p o r v o s s a g r a n d e c o m p a i x ã o , t e n d e p i e d a d e d e m i m " (57 5 0 ) . E i s s o q u e D e u s e s p e r a d e n ó s . Ap e s a r d a s n o s s a s r e p e t i d a s f a l t a s , t e n h a m o s a v a l e n t i a d e c o m e ç a r a r e c o m e ç a r, c o n f i a n t e s f i l i a l m e n t e . U m a p o t e g m a d o s Padres do deserto soa assim: uma vez. um viandante encontrou um santo solitário no deser to e lhe perguntou: Que coisa vocês todos estão fazendo aqui nesie lugar desértico? Resposta do santo homem de Deus: "Caímos e levantamos, caímos e levantamos". Palavras dum homem que se conhece a si m e s m o e c o n h e c e a D e u s , s e u P a i . P a l a v r a s q u e f a z e m p e n s a r e m S a n t a Te r e s a d o M e n i n o J e s u s , q u e d i z i a n a s u a c a m a d e m o r t e : " S o u feliz em morrer tão im
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vemos contentar-nos com uma aproximação parcial, renovada cada ano na sua celebração. Como falar bem do mistério que transcende tudo infinitamente? Como evocar o encontro de Jesus com os seus discípulos no dia da ressurreição? Como suscitar em nosso coração a experiência do encontro com o vivente que transformou a vida dos discípulos e quer transformar também o nosso coração? Hoje vamos nos deixar guiar por algumas centelhas evangélicas capazes de iluminar a n o s s a m e d i t a ç ã o e s u s c i t a r e m n o s s o c o r a ç ã o u m a r e n o v a d a f é n o a m o r d i v i n o e n a a l e g r i a d e s s e a m o r. N ã o s e t r a t a p a r a n ó s de ver a Jesus, mas de saborear aquilo que os evangelistas dizem dele: são palavras que abrem o coração para a verdade. E a verdade não é uma doutrina, é uma Pessoa, o Filho de Deus, que se encontra vivo, pelo poder do amor divino, que é o E s p í r i t o S a n t o . L e m o s e m S ã o Lucas ( 2 4 , 2 5 ) q u e " J e s u s l h e s a b r i u o e s p í r i t o p a r a e n t e n d e r e m a s E s c r i t u r a s , o n d e e s t á escrito que o Cristo devia sofrei
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e ressuscitar ao terceiro dia".
H o j e v a m o s p e d i r a J es u s q u e n o s a b r a o s o l h o s d a f é p a r a c o m p r e e n d e r m o s q u e n a r e ss u r r e i ç ã o t u d o é a m o r, u m a b i s m o d e amor: amor do Pai pelo Filho, amor do Filho obediente ao Pai até à morte de cruz. obediência filial confirmada e consa grada pelo poder do Espírito que ressuscita o Filho obediente, e o chama para a glória. Para compreendermos também que a maravilha do mistério pascal de Jesus morrendo na cruz não está na intensidade do sofrimento (horrível, é verdade), mas no fato de que seja Deus Pai a entregar o seu Filho por nós. A verdadeira dimensão da cruz não se mede pelo horror do so frimento extremo do Filho de Deus. mas pelo amor divino que. sob forma inaudita e maravilhosa, se oferece a nós e nos salva. Jesus repreende os discípulos pela sua falta de enten dimento e pela demora em acreditar no anúncio dos profetas. Nós também, caríssimos Irmãos, temos um espírito lento e demorado em acreditar no amor infinito que nos circunda, pe-
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O x a l á não m e r e ç a m o s a c e n s u r a de J es u s a o s A p ó s t o l o s d u r o s d e c o r a ç ã o ( M c 1 6 . 1 4 ) . Assim, seja claro que a nossa consagração a Deus no si lêncio, na solidão, na oração, se fundamenta no amor i n f i n i t o m a n i f e s t a d o n a m o r t e e r e s s u r r e i ç ã o d e J es u s e e l i m i n a t o d o t i p o d e t r i s t e z a h u m a n a e d e d e s c o n f i a n ç a e t e m o r, também se existem tantos motivos de nos levar para a tristeza que Jesus mesmo quis eliminar do coração dos seus discípulos, antes ainda de entrar na sua paixão dolorosa, quando disse: "A fim de que a minha alegria esteja em vós [...] e a v os s a a l e g r i a se j a p e r f e i t a " ( J o 1 5 , 11 ) , Que a nossa cel ebração pascal nos forta leça na fé no a mor divino. Tudo aquilo que existe debaixo do sol ve m agora mar cado pela alegria de Deus Pai que nos recupera, de Deus Filho que nos salva, de Deus Espírito Santo que nos alegra, sendo ele mesmo a alegria infinita do Pai e do Filho. Sem esquecer que essa alegria sc recebe e se vive num coração ferido pelo pecado e sujeito às enfermidades e fraquezas humanas; mas o amor divino é m a i o r, e o s e u p o d e r é m a r a v i l h o s o . P a r a s e m p r e D e u s é f i e l . f i e l a s i m e s m o n o a m o r. E esse amor divino, que faz brotar do nosso coração um generoso aleluia, um alegre anúncio repetitivo de que Jesus ressuscitou e q u e o a m o r d o P a i é m a i o r d o q u e t u d o , q u e r n o s s e d u z i r e a l e g r a r , n o s a m a r e s e r a m a d o : p a r a i s s o n ã o p o u p o u o s e u F i l h o ( c f . Rm 8 , 3 2 ) , a f i m d e n o s c o n v e n c e r do s e u a m o r. Ve n d o o m u n d o , t a l c o m o é h o j e , c o m s e u s m a l e s , s o f r i m e n t o s , v i o l ê n c i a s , i n j u s t i ç a s , e t c , e t c , a l g u é m p o d e r i a p e r g u n t a r : q u e s e n t i d o t e m t u d o i s s o a p ó s a r e s s u r r e i ç ã o do C r i s t o ? C o m o i ss o a c o n t e c e a i n d a ? Q u e c o n t r a d i ç ã o ! Absurdo p a r a a r a z ã o , é v e r d a d e . Humilhação para o homem nobre. Sim.
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O S a n t o P a d r e , n a s u a E n c í c l i c a Dives in Misericórdia. e x p l i c a q u e o h o m e m n ã o s ó é b e n e f i c i a d o p e l o a m o r d i v i n o q u e v e n c e o m a l , m a s , n o C r i s t o so f r e d o r, é c o n v i d a d o a m a n i f e s t a r m i s e r i c ó r d i a p a r a c o m D e u s , s i m , p a r a c o m D e u s p r e - s e n t e no crucificado (53. no fim, e 54). E Deus que sofre, morre e nos pede misericórdia na Pessoa do Filho, conforme a Palavra misteriosa de Jesus: "Quem me vê, vê o Pai" ( J o 14, 9). No Filho crucificado vemos o Pai. To d a s e s s a s p a l a v r a s c o n s t i t u e m u m a t e n t a t i v a p a r a s a l i e n t a r o n ú c l e o i n e f á v e l d a n o s s a c e l e b r a ç ã o p a s c a l , q u e é o a m o r d i v i n o , e que será o objeto da nossa contemplação eter na. Circundados por um acúmulo dos dons divinos, apesar da nossa fraqueza e do nosso p e c a d o , d e v e r i a b r o t a r d o n o s s o c o r a ç ã o u m a g r a d e c i m e n t o s e m f i m , c o m o é s e m f i m o l o u v o r da I g r e j a , e c o m o s e r á s e m f i m n a eternidade. Deixemo-nos penetrar pelo mistério pascal, revelador do amor soberano do Pai para cada um de nós. Deixemo-nos pe netrar e transformar pelo otimismo que emana da nossa fé. Otimismo que não é negação da existência do mal - dentro e fora de nós - nem n e g a ç ã o d o p e c a d o , o t i m i s m o b a s e a d o s o b r e o p o d e r i n f i n i t o d o a m o r d i v i n o e s o b r e a v o n t a d e d i v i n a d e n o s s a l v a r. A l i n g u a g e m d a cruz é poder de Deus (cf. I C o r 1,18). Q u e a n o s s a v i d a i n t e r i o r s e d e i x e p e n e t r a r p e l a c o n f i a n ç a , p e l a p a z , p e l a a d m i r a ç ã o e p e l o a g r a d e c i m e n t o j u b i l o s o . Te m o s q u e ser - neste mundo perturbado por tantos problemas e sofrimentos, amputado da sua dimensão espiritual essencial e essencialmente pascal, amputação que o oprime e humilha profundamente - temos que ser testemunhas da ressurreição do Senhor e do otimismo que dela emana. E isso. não só em nível pessoal, mas também em nível de comunidade. Deve mos estar convencidos disso e convencer-nos cada vez mais.
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a r e s s u r r e i ç ã o ? "O h o m e n s t a r d i o s e m c o m p r e e n d e r a s E s c r i t u r a s " - n o s d i z J e s u s - d u r o s d e c o r a ç ã o p a r a r e c e b e r a n o v i d a d e ! I s s o , q u e v a l e p a r a o s d i s c í p u l o s , v a l e t a m b é m p a r a n ó s d o i s m i l a n o s d e p o i s . Vi d a n o v a . l u z n o v a , f o r ç a n o v a q u e surge da nossa fraqueza, assumida em Deus por Jesus e em Jesus. "Eu vos digo isso. disse Jesus na vigília da sua paixão, a f i m d e q u e a m i n h a a l e g r i a e s t e j a e m v ós e q u e a v o ss a a l e - g r i a s e j a p l e n a " ( J ó 1 5 , 11 ) . E a a l e g r i a p a s c a l d a n o s s a s a l v a ção, é a alegria que nasce do amor divino, é uma alegria espi ritual que nos eleva acima das dificuldades e da amargura da nossa vida. Devemos abrir o nosso coração a tal experiência viva e misteriosa (fé). Eu estou convencido de que se pode v i v e r u m a v i d a e s p i r i t u a l g e n e r o s a e t e r l i d o t o d o s os l i v r o s s o b r e a r e s s u r r e i ç ã o d e J e s u s , e t c . e n ã o c o n h e c e r a s u a b e l e z a e o se u e s p l e n d o r, p o r m o t i v o d u m c o r a ç ã o f e c h a d o à n o v i d a d e e a o o t i m i s m o p a s c a l . A c o n s c i ê n c i a h u m i l d e e c o n f i a n t e d e sermos depositários de tão grandes mistérios, graças e bênçãos, e objeto de tão inefável amor deve nos abrir à mai or fonte d e s e r e n i d a d e e d e a l e g r i a , e d e s c o b r i r n a n o s s a f é u m a f o n t e i n e x a u r í v e l d e a m o r. d e a l e g r i a c a p a z d e e n r i q u e c e r, i l u m i n a r e alegr ar a nossa in tim idade fil ial com a Santís sima Trindade e a nossa vida fraterna. E não só isso. Mas ta mbém i luminar as misérias e o negativo da nossa vida e re novar as nossas forças no combate e na fidelidade de cada dia. com aquilo que São Patdo aos Efésios chama de "extraordinária grandeza do poder divino e da irresistível eficácia da for ça" que Deus manifesta em nosso favor na ressurreição de Je sus (1, 18). Caríssimos Irmãos, na nossa anual celebração da Santa Páscoa. Deus nos chama a ultrapassar a fé puramente intelec tual (se assim posso falar). Deus nos chama - digo - a nós contemplativos a fazer nela e com ela uma experiência cada vez mais profunda do s e u a m o r, d o q u e e l e n o s r e s e r v a n a c e -
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A fé no amor do Pai c a única resposta aceitável à pergunta sobre por que Deus continua a confiar nos seres humanos, depois de tantos "fracassos" nos seus projetos... Porque só a fé nos revela quanto e como Deus é amor, como ele é imutável no amor c sempre novo na sua fidelidade em nos amar.
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O amor de Deus é de um esplendor perante o qual qualquer outra luz criada ou beleza empalidece; é a única beleza capaz de saciar o coração humano. ( J o ã o Paulo I I , Vida Consagrada, n . 1 6 ) .
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Deus é amor. Amor infinito. Esta afirmação contém esta outra: "Deus é
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infinitamente amável '. N ã o existe u n i a amabilidade m a u n - que a d e D e u s , Soberanamente amável. Conseqüência: não se pode não a m a r a Deus... M a s somos cegos. A pessoa que não ama a Deus é uma pessoa que não sabe quem é Deus. O conhecimento é pai do amor. Não se pode não amar a Deus, quando se sabe quem é Deus.
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Outra conseqüência: a importância da U'ctio Divina, da meditação d a s leituras, para crescer no conhecimento de Deus que leva ao amor. " N a intimidade do meu coração. Senhor, vós me ensinais a sabedoria " ( S I 5 0 , 8 ) .
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" D á - m e , meu filho, o teu c o t a ç ã o " ( P ro v é r b i o s ) .
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o coração do homem, é também esplendor perante o qual qualquer outra luz empalidece". Deixa um velho monge te fazer uma confidência a partir da sua experiência: o nosso amor generoso não precisa de cla reza perfeita e definitiva sobre todos os imprevistos e sobre a dimensão pascal da nossa doação. Basta que esta seja sincera e amorosa. O teu pai, aqui presente, a tua mãe, podem con firmar estas palavras. A nossa doação a Deus ou a uma outra pessoa não precisa prever t u d o o q u e e l a m e s m a ( a n o s s a d o a ç ã o » c o m p o r t a e v a i e x i g i r d e n ó s . F a z p a r t e d a n o b r e z a e d a b e l e z a d o a m o r. M a s é b o m q u e s a i b a s disso. O teu gesto de hoje é bonito, é generoso, mas também um pouco dramático. Repito que faz parte da sua beleza. Posso dizer com grande seriedade que tu ignoras aonde Jesus (e conduz. Palavras cie Jesus mesmo: "Hoje, tu fazes o que queres. Quando velho - e até antes - um outro te cingirá e te conduzirá aonde tu não q u e r e s " ( c f . J o 2 1 . 1 8 ) . M a s " t u d o p o s s o n a q u e l e q u e m e f o r t a l e c e " (7-7 4 . 1 3 ) . A m o r g e n e r o s o e i n c o n d i c i o n a l , é i s s o q u e J e s u s q u e r d o jovem que se apresenta para segui-lo no deser to. Mas Deus, que te chama e te ama, é fiel. Ele será sempre mais generoso do que nós. E e l e q u e v a i t e r e c e b e r e c o n t e m p l a r e m t i c o m a m o r o s e u d i v i n o F i l h o , d o q u a l c e l e b r a m o s o G r a n d e J u b i l e u d e 2000 a n o s . E u m b o n i t o presente que fa-zemos a Deus Pai. F um bonito presente que o Pai faz à Igreja do seu Filho, a tua pobre pessoa e o leu nobre gesto que proclama: é viável. Sim! Continua viável seguir a Jesus. E s c u t e m o s a i n d a o S a n t o P a d r e : a vida inteiramente orientada à contemplação "constitui um motivo de glória e uma fonte de graça para a Igreja [...}, imita Jesus em oração na montanha, testemunha o primado de Deus sobre tudo e oferece assim à Igreja um testemunho singular do amor da Igreja pelo seu Senhor e, e n f i m , está revestida duma misteriosa fecundidade apostólica" ( V. C . . n . 8 ) .
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Mat e
ROTKIRO VOCACIONAL
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Devemos lodos aprender a usar as chaves que nos permi tem compreender e viver em profundidade a vocação a que somos chamados. Não le escondo que isso exige empenho e generosidade. No amor a Jesus e a Maria, na fidelidade, na oração, recebemos de graça a fortaleza divina sem a qual ludo isso é impossível. S e n h o r , f a z e i q u e os n o s s o s o l h o s p u r i f i c a d o s e e s c l a r e c i d o s t o r n e m - s e c a p a z e s d e d i s c e r n i r , d e p e r c e b e r e m t u d o c , sobretudo, apreciar e saborear o amor infinito do Pai. do Filho e do Espírito Santo, bem como o seu chamamento para entrar na sua alegria, reservada - como escreveu São Bruno - ao coração purificado. D a i - n o s , ó S e n h o r , a g r a ç a d u m c o r a ç ã o p u r i f i c a d o , p a r a p o d e r m o s v o s c o n h e c e r e v o s a m a r n o t e m p l o d o n o s s o coraç ã o . A m é m .
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Imaculada1Conceição A vossa Conceição Imaculada, ó Maria, encheu o mundo inteiro de ale «ria!
Quando o Altíssimo quis sair da sua infinita solidão para derramar o fogo do seu amor e o reflexo da sua beleza na c r i a ç ã o d e seres s e m e l h a n t e s a e l e , a n i m a d o s e v i v i f i c a d o s p e l o s e u E s p í r i t o , c a p a z e s d o a c e i t a r o s e u a m o r d e P a i e c a p a z e s , t a m b é m , n ã o s ó d e s e r e m a m a d o s p o r e l e , m a s d e a m á - l o , n a s u a b o n d a d e i n f i n i t a e n o s e u p o d e r i l i m i t a d o . D e u s c r i o u os a n j o s , s e r e s l u m i n o s o s e i n f l a m a d o s n o s e u a m o r e t o t a l m e n t e a b i s m a d o s n a c o n t e m p l a ç ã o e n o a m o r d o s e u P a i e C r i a d o r. Ao menos era esse o projeto divino. To d a v i a , e s s a p r i m e i r a e m a g n í f i c a o b r a d i v i n a s o f r e u a q u i l o q u e n ó s p o d e m o s c h a m a r - e m n o s s a l i n g u a g e m h u m a n a - u m a derrota, com a rebelião pecaminosa do Lúcifer e seus companheiros. Depois dessa primeira derrota. Deus recomeçou, querendo exteriorizar o seu amor transbordante uma segunda vez. e criou o h o m e m e a m u l h e r p a r a t o r n á - l o s p a r t í c i p e s d a s u a v i d a , d o s e u a m o r , d a s u a l u z , t i a s u a b e l e z a . E os c r i o u p a r a u m a f e l i c i d a d e q u e ultrapassava desmedidamente as mais profun das aspirações do seu pobre coração de criaturas, criadas, to davia, à imagem e semelhança do s e u C r i a d o r . Nesse desígnio de generosidade divina surgiu novamente outra derrota. Eles se desviaram com ingratidão da sua luz in-
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tempo, espelho onde podemos e devemos descobrir e contem plar a nossa vocação, nós. homens "chamados das trevas para a s u a l u z a d m i r á v e l " ( I P d 2 , 9 ) . O C o r a ç ã o d e M a r i a é o l u g a r o n d e o C r i a d o r, o f e n d i d o p e l o p e c a d o , c o m e ç a a r e t o m a r p o s se definitiva do coração humano, criado à sua imagem e se melhança. A entrega total à luz de Deus que em Maria se realizou, sem a sua consciente participação e duma vez. na sua concei ção, em nós vai reclamar tempo e esforço, conhecer passos falsos, dificuldade e combate. Entrar pouco a pouco nessa luz divina vai cxiízir de n ó s o s a c r i f í c i o d a f a l s a l u z d o n o s s o a m o r - p r ó p r i o , d a n o s s a i m a g i n a ç ã o , e d a n o s s a d u p l i c i d a d e n a t u r a l , f r u t o d o p e c a d o . Va i e x i g i r de nós sacrifício generoso do nosso projeto, da nossa imagem de nós mesmos, para dei xar lugar ao projeto de Deus, à imagem de Deus, Cristo em nós. A celebração do Coração Imaculado de Maria deve esti mular-nos a trabalhar na obra de total sinceridade conosco, com os o u t r o s , e c o m D e u s . Te m o s t a n t a d i f i c u l d a d e p a r a s e r m o s s i n c e r o s , v i v e r n a l u z d e D e u s . q u e r d i z e r , a c e i t a r - n o s a n ó s m e s m o s c o m o s o m o s , s e m e s c o n d e r n a d a a n ó s p r ó p r i o s , a o s irmãos e a D e u s m e s m o ( a s s i m a o m e n o s d e s e j a r í a m o s , s e m p o d e r a l c a n ç á - l o ) . T ã o facilmente trabalharíamos em aperfeiçoar a imagem de nós mesmos, aos nossos próprios olhos e aos olhos dos irmãos. E uma tendência bem arraigada em nosso coração. Não é obra divina. E obra das trevas. Essa imagem embelezada de nós mesmos levanta uma parede e n t r e D e u s e o n o s s o c o r a ç ã o , c o m o t a m b é m e n t r e n ó s e os n o s s o s i r m ã o s . I s s o c o n d u z a u m a t e r r í v e l r u p t u r a e n t r e a q u e l e q u e s o u verdadeiramente e a minha vocação em Deus. a vontade de Deus sobre mim. É como uma resistência natural à minha entrada na luz de Deus (Deus, que nos chamou tias trevas para a sua luz admirável), porque prefiro a minha falsa luz. a mi nha falsa identidade, aquela que aparece, engana e me prote-
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o u t r a n s m i t i r , m a s e s c u t a r a v o z do s e u S e n h o r ( c f . Jo 3,29), e m a n t e r - s e e m c o n t a t o i n v i s í v e l c o m e l e n o a m o r . J o s é d e s c o b r e a p r ó p r i a identidade e a própria vocação naquilo que Deus lhe pede. A
mensagem
silenciosa
de
São
José
consiste
em
recordar-nos
a
primazia
da
vida
interior
e
da
humilde
c o n t e m p l a ç ã o , f u n d a m e n t o i n d i s p e n s á v e l d e t o d a f e c u n d i d a d e e s p i r i t u a l . S ã o J o s é e n s i n a - n o s q u e o e s s e n c i a l n ã o é p a r e c e r, é ser. N ã o é p o s s u i r , m a s s e r v i r . N ã o é f a l a r , é e s c u t a r . Enfim. São José. modelo eminente do monge, é modelo de todas as virtudes evangélicas que coexistem na sua alma em admirável equilíbrio, numa serenidade que nos aparece pró pria como a de Deus mesmo. Efetivamente a sua vocação é ser a sombra do P a i p a r a n ó s . a i m a g e m d o P a i p a r a J e s u s , a b o n d a d e v i g i l a n t e d o P a i p a r a a Vi r g e m M a r i a , a r e v e l a ç ã o d o P a i p a r a t o d o s . Até que ponto São José penetrou na intimidade de Deus não o sabemos. São José escapa à nossa apreciação, que não pode medir a altura da sua vocação nem a perfeição da sua re alização. Mas verdade é que José ignorou a sua grandeza, ig norou-se a si mesmo, e s c o n d i d o t o t a l m e n t e n o s e u h u m i l d e s e r v i ç o a J e s u s e a M a r i a . E s t á a í a s u a g r a n d e z a . Torna-se a s s i m M e s t r e d e v i d a i n t e r i o r , p o r motivo da sua profunda e singular intimidade com Jesus e Maria, contemplando neles o amor infinito do Pai. que é o Espírito Santo. Por i s s o . u m a g r a n d e m í s t i c a , c o m o Te r e s a d e Av i l a , r e c o m e n d a " t o m a r S ã o José c o m o M e s t r e q u e e n s i n a a o r a ç ã o e a s s i m n ã o e r r a r o c a m i n h o * ' {Vida. V I , 3 ) .
Ao terminar esta meditação, peçamos ao grande São José o seu amor a Jesus e a Maria, a sua obediência, o seu silêncio, a sua humildade. Peçamos o seu recolhimento interior e a sua fidelidade à vocação. Deus colocou nos lábios do Faraó, no
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m a i s p r e c i s a . E a s s i m o c o r a ç ã o d e t o d a m ã e ; m a s i m a g i n e mos q u a n d o esse coração está "cheio de g r a ç a " ! C o r a ç ã o de M ã e c h e i a de graça quer dizer fornalha ardente de amor para com Deus e para conosco. Nele se encontra cm medida quase infinita a c a r i d a d e d e r r a m a d a p e l o E s p í r i t o S a n t o ( c f . Rm 5 , 5 ) n a I g r e j a t o d a . S i g n i f i c a t a m b é m q u e o f i l h o q u e s e a p r o x i m a d e l a . c o m c o r a ç ã o r e t o e s i n c e r o , se s e n t i r á s e m p r e m i s t e r i o s a m e n t e i m p e l i d o á c o n f i a n ç a , a o a m o r . a o s o s s e g o f e c u n d o , c á l i d o e s u a v e , q u e a c e n d e n o c o r a ç ã o , q u e s o f r e a b a n d o n o , a m o r. g e n e r o s i d a d e , c o n f i a n ç a f i l i a l n a s p r o m e s s a s d i v i n a s , n a p r e s e n ç a da Mãe. Enfim, o cristão que vive de fé sabe que Maria o ama. o ampara, o auxilia com carinho de Mãe. E natural que dessa c e r t e z a f l u a e s p o n t a n e a m e n t e e s u a v e m e n t e u m a s i n c e r a a f e i ç ã o f i l i a l . G o s t o m u i t o d e s t a p a l a v r a d e S a n t o To m á s : " N a d a c o m i d a t a n t o a o a m o r c o m o a c o n s c i ê n c i a d e s e n t i r - s e a m a do" ( S i t m m a contra Gentiles. I V, X X I I I ) . P a l a v r a s m u i t o p r o f u n d a s q u e todos n ó s p o d e m o s v e r i f i c a r . C a r í s s i m o s I r m ã o s , e i s o c u m p r i m e n t o d a s p r o m e s s a s d i v i n a s d a s p r i m e i r a s p á g i n a s d o Génesis: D e u s , f a l a n d o a o h o m e m pecador, m o s t r o u - s e P a i , e l h e p r o m e t e u u m a m u l h e r d e s t i n a d a a ( o r n a r - s e M ã e d o h o m e m - u m a M ã e q u e o a m p a re e l h e e v i t e i m i t a r os s e u s p r i m e i r o s P a i s . Podemos a t é d i z e r , c o m o c a n t a o Salmo: "As v o s s a s m a r a v i l h a s , S e n h o r , u l t r a p a s s a m a s v o s s a s p r o m e s s a s " ( 1 4 4 ) . To d o o Salmo 1 4 4 é u m l o u v o r a D e u s f i e l n o a m o r , u m a m o r q u e u l t r a p a s s a a n o s s a i m a g i n a ç ã o e a s n o s s a s e s p e r a n ç a s . D e u s é f i e l . d i v i n a m e n t e fiel. Em Maria contemplamos o infinito da graça e a formosura do amor paternal e maternal. A primeira coisa que deve fazer a c r i a t u r a c o m o r e s p o s t a á g r a ç a é a c o l h e r , r e g o z i j a r - s e . recon h e c e r a b e l e z a d o p l a n o d i v i n o e a g r a d e c e r e c a n t a r c o m o Salmo:
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S ã o J o ã o e s c r e v e : " Ve d e q u e p r o v a d e a m o r n o s d e u o P a i : s e r m o s chamados f i l h o s d e D e u s , e nós o somos" ( U o 3, 1 ) . Esse d o m d e D e u s , o s e u a m o r p o r n ó s . é o f u n d a m e n t o d a n o s s a oração. A f i l i a ç ã o d i v i n a é u m d o m t ã o m a r a v i l h o s o q u e d e v e r i a n o s e n c h e r d e i m e n s a a l e g r i a e d e u m a c o n f i a n ç a i n c o n d i c i o n a l n o P a i c e l e s t e e e m J e s u s q u e n o - l o r e v e l a . Se D e u s nos a m a t a n t o e n o s a m o u d e s d e t o d a a e t e r n i d a d e , a p o n t o d e f a z e r - n o s s e u s f i l h o s , o q u e m a i s p o d e r í a m o s q u e r e r o u d e s e j a r ? Se D e u s m e a m a e m e c h a m a f i l h o , todo o r e s t o p a r a m i m p o u c o d e v e v a l e r . A t é n a d a m e d e v e r i a t i r a r e s t a a - l e g r i a i n t e r i o r , e s t a f e l i c i d a d e s e r e n a e s e g u r a d e s a b e r q u e D e u s m e a m a e f a z d e m i m u m f i l h o u n i c a m e n t e a m a d o . N o s s o Pai S ã o B r u n o , n a l u z d e s s a v e r d a d e c o n s o l a d o r a , t i n h a s e m p r e u m a a l e g r i a v i s í v e l n o s e u r o s t o s e r e n o . "O B o n d a d e ! " - e r a o m u r m ú r i o d o s e u coração c o n t e m p l a t i v o , f a s c i n a d o p e l o a m o r d i v i n o . E
verdade
que,
durante
a
nossa
peregrinação
terrestre,
en contramos
também
sofrimento,
fadiga,
sacrifício,
renúncia,
c o n t r a d i ç ã o , e t c , e t c . S i m . V i v e m o s n a p e n u m b r a d a f é . A fé é a nossa v e r d a d e i r a l u z ; s a b e m o s q u e s o m o s r e a l m e n t e f i l h o s amados por D e u s , t a m b é m se o q u e somos " n ã o se m a n i f e s t o u t o t a l m e n t e " { U o 3, 2 ) . E por i s s o q u e a v i g i l â n c i a é u m a v i r t u d e e s s e n c i a l d o m o n s e : v i c i a r s e n e r o s a m e n t e sobre o t e s o u - ro recebido e r e s i d e n t e e m n o s s o c o r a ç ã o - v a s o f r á g i l . V i g i a r q u e r d i z e r c o n s c i e n l i z a r - n o s d e q u e a s n o s s a s o c u p a ç õ e s d i á r i a s , n o s s a s t a r e f a s e a f a z e r e s , a t é a n o s s a o b e d i ê n c i a , n ã o v ã o a n t c p o r - s c o u s u b s t i t u i r o nosso o l h a r p a r a D e u s . a n o s s a i n t i m i d a d e c o m e l e n o a m o r . A l i á s , a o b e d i ê n c i a n u n c a se opõe a o e s p í r i t o d e o r a ç ã o . E. por isso. n ã o e s q u e c e r n u n c a a n o s s a prioridade e m c r i a r n a n o s s a v i d a ( e m p o e a m b i e n t e p a r a e n t r a r m o s e m nosso coração, o n d e v i v e a S a n t í s s i m a T r i n d a d e e nos c u m u l a de m i l b ê n ç ã o s , a f i m de v i v e r m o s a n o s s a i n t i m i d a d e c o m D e u s , r e n o v a n d o - a e a l i m e n t a n d o - a c o n t i n u a m e n t e .
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Contemplação
~
D e u s é amor. d a d o , recebido, e partilhado em g r a u infinito. Mas, amor e bondade são espontaneamente d i f u s i v o s por si mesmos: por sua própria plenitude te miem a transbordar... pois Deus cria as maravilhas do universo e seres dotados de inteligência, anjos e homens, capazes, não somente de conhecer a ele e sua glória* m a s também d e p a r t i l h a r d a s u a vida íntima de amor - dom de si. O desígnio de Deus é que nos tornemos participantes da natureza divina. *
**
Pela nossa criação ã imagem de Deus e pelo nosso batismo, somos chamados a viver a relação do Filho eterno anu o Pai na Santíssima Trindade. Pilhas do Pait recebendo tudo dele. Levados e capacitados pelo Espírito S a n t o do Pai e do Pilho. Vocação grandiosa. B a n h a d o s no amor e n a l u z que jorram do Pai no Pilho. Manancial i n e s g o t á v e l d e v i d a . d e amor e de l u z .
**
*
O contemplativo está chamado a tomar consciência deste desígnio d o Pai: c o n t e m p l a r e a m a r no Filho
f no Verbo Divino. Tudo isso na fé.
M a s uma f é que não exclui u m a certa experiência espiritual e faz conceber uma convicção p ro f u n d a . i *
**
E - l h e pedido - gratuidade inefável - que se tome consciente da habitação de Deus na s u a alma e do desejo que D e u s t e m de uma frutuosa intimidade co-criuíiva. Ele participa n a atividade de Deus: a m a r e s a l v a r a humanidade. C h a m á - l a , na sua glória, a o seu amor. :i:
* :*
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tos" ( J o 1 5 , 16). R e s p o s t a : para o m o n g e C a r t u x o , o l o u v o r de D e u s . a o r a ç ã o , a u n i ã o c o m J e s u s n o s e u a m o r . t u d o i s s o é a l i n g u a g e m s i l e n c i o s a , n ã o s ó d o n *sso desejo d e c o n h e c e r e a m a r a D e u s . m a s t u d o i s s o é t a m b é m a l i n g u a g e m d a c a r i d a de f r a t e r n a . O m o n g e n ã o se t o r n a m o n g e p a r a s i m e s m o , m a s t a m b é m para a m a r c o m D e u s todos os q u e D e u s a m a , a h u m a n i d a d e t o d a . A d i m e n s ã o a p o s t ó l i c a d a n o s s a v i d a r e s i d e n a n o s s a o r a ç ã o e n a o b s e r v â n c i a d a n o s s a v o c a ç ã o . " F u i e u q u e vos escolhi" ( J o 15, 16). Va l e a p e n a l e m b r a r a s p a l a v r a s d o g r a n d e a p ó s t o l o J o ã o P a u l o I I : " C o n v i d o os m o n g e s C a r t u x o s a p e r m a n e c e r e m v i g i l a n t e s n a o r a ç ã o . F e l i z a I g r e j a q u e pode c o n t a r c o m o v o s s o t e s t e m u n h o de t o t a l d i s p o n i b i l i d a d e a o E s p í r i t o e d e u m a v i d a i n t e i r a m e n t e d e d i c a d a a C r i s t o . N a d a v o s possa f a z e r d u v i d a r d a f e c u n d i d a d e d a vossa o r a ç ã o , c u j o s f r u t o s p e r t e n c e m m i s t e r i o s a m e n t e a Deus". E i s a r e s p o s t a d a I g r e j a à nossa p e r g u n t a : o nosso s e g u i m e n t o r a d i c a l d e J e s u s n o d e s e r t o e a n o s s a " v i d a e s c o n d i d a c m C r i s t o é como u m a c r u z s i l e n c i o s a , p l a n t a d a n o coração d a h u m a n i d a d e " ( J o ã o P a u l o I I ) . E q u e c o i s a f a z a c r u z p l a n t a d a n o c o r a ç ã o do m o n g e ? P r o c l a m a o a m o r de D e u s . A nossa v i d a - como a c r u z de J e s u s - é u m a p r o c l a m a ç ã o s i l e n c i o s a : D e u s a m a . D e u s s a l v a . "A cruz", disse o Papa n u m a o u t r a ocasião, " m a n i f e s t a plen a m e n t e a força e a b e l e z a d o a m o r d i v i n o " ( E x o r t a ç ã o A p o s t ó l i c a póssinodal Vida Consagrada, n . 24). O t e u g e s t o d e hoje, c a r í s s i m o I r m ã o , p a r t i c i p a s i l e n c i o - s ã m e n t e d e s s a p r o c l a m a ç ã o s a l v í f i c a . E por i s s o q u e t o d a a Igreja l o c a l t e a c o m p a n h a e é t e s t e m u n h a f e l i z . Hoje J e s u s t e c o n f i r m a n u m a m i s s ã o n a s u a I g r e j a : p r o c l a m a r s i l e n c i o s a m e n t e o s e u a m o r e a s u a s a l v a ç ã o . E a I g r e j a se regozija c o n t i g o . S ã o João e s c r e v e : "Os a m i g o s do Esposo se e n c h e m d e
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O e x e m p l o de J o s é e d e M a r i a p o d e - n o s a j u d a r a c o m p r e e n d e r e a m a i
-
tal silencio: conservar e meditar tudo em seu
coração - a t i t u d e de José e de M a r i a . S i l ê n c i o d e c o m u n h ã o c o m a v o n t a d e d o P a i . M u i t o a p r o p ó s i t o , os nossos Estatutos d i z e m : " ' E m b o r a d e i n í c i o nos c u s t e c a l a r , se f o r m o s fiéis, p o u c o a pouco, desse nosso s i l ê n c i o , a l g o n a s c e r á e m n ó s q u e nos a t r a i r á a u m s i l ê n c i o m a i o r " : o s i l ê n c i o d a a l m a c o m D e u s ! T u d o isso. c a r o I r m ã o , é u m v e r d a d e i r o p r o g r a m a de v i d a e s p i r i t u a l , à s o m b r a d e S ã o J o s é e d a V i r g e m M a r i a , n a l u z do seu silêncio, na contemplação da silenciosa c divina
E n c a r n a ç ã o , c o n f o r m e o e x e m p l o q u e nos v e m d a t r a d i ç ã o
monástica. Sim. E um programa que não será sempre fácil. Você quer juntar-se a nós n a b u s c a - g r a t i f i c a n t e - do s i l ê n c i o de J o s é e de M a r i a S a n t í s s i m a ?
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p r e c i s a m e n t e i s s o q u e s e reali/ a n o f u n d o d o n o s s o d e s e r t o , n a o r a ç ã o , n o s i l ê n c i o , n a s o l i d ã o d a nossa vocação. A l u z t r a n s f o r m a - n o s e m t e s t e m u n h a s . Q u e r nós o s a i b a m o s , q u e r n ã o . e s t a m o s com Jesus-Salvador ao serviço dos n o s s o s i r m ã o s , da Igreja i n t e i r a . R e f l e t i m o s a l u z q u e e l e m e s m o d e r r a m a sobre nossas t r e v a s , sobre a nossa pobreza e fraqueza, se, todavia, a c e i t a m o s g e n e r o s a m e n t e q u e e l e , e s ó e l e . seja a l u z d a nossa v i d a e a nossa o r i e n t a ç ã o f u n d a m e n t a l . Q u e e l e cresça e n ó s d i m i n u a m o s . Toda a nossa e x i s t ê n c i a n o deserto, o nosso c a m i n h o e s p i r i t u a l , a n o s s a busca de Deus. t e m esse a s p e c t o . A v o c a ç ã o m o n á s t i c a é e c l e s i a l . lista o r i e n t a d a á s a l v a ç ã o u n i versal, à d i f u s ã o t i a l u z . "Não é a l u z . mas v e i o para testemun h a r d a l u z " . E b e m s i g n i f i c a t i v o q u e o g r a n d e s o l i t á r i o do E v a n g e l h o João B a t i s t a - l e n h a m o r r i d o por t e r d e f e n d i d o a s a n t i d a d e d o m a t r i m ô n i o , d o a m o r c o n j u g a l e o r e s p e i t o p e l a m u l h e r d o p r ó x i m o . " N a d a e x i s t e de v e r d a d e i r a m e n t e h u m a n o q u e n ã o e n c o n t r e eco e m s e u coração" ( G a u d i u m et S p e s , 1). Os n o s sos Estatutos n ã o f a l a m d i v e r s a m e n t e , q u a n d o d i z e m : "A u n i ã o com D e u s . s e n d o v e r d a d e i r a , n ã o n o s f e c h a e m nós m e s m o s ; a o c o n t r á r i o , a b r e o nosso e s p í r i t o e d i l a t a - n o s o c o r a ç ã o a p o n t o d e a b r a n g e r m o s o m u n d o i n t e i r o e o m i s t é r i o d a red e n ç ã o e m C r i s t o . S e p a r a d o s de todos, u n i m o - n o s a todos, p a ra, e m n o m e de todos, p e r m a n e c e r m o s n a p r e s e n ç a d o D e u s v i v o " ( 3 4 . 2 ) . E u m a g r a n d e r e s p o n s a b i l i d a d e , p o r q u e t a m b é m a fé e m D e u s e e m J e s u s C r i s t o d e p e n d e da n o s s a oração e d a nossa v i d a n o d e s e r t o . Escutemos como o e v a n g e l i s t a João fal a d o B a t i s t a : " Ve i o c o m o t e s t e m u n h a , p a r a d a r t e s t e m u n h o da l u z , a f i m d e q u e todos c r e s s e m p o r m e i o d e l e " U o 1 . 7 ) . O Pana J o ã o P a u l o I I . f a l a n d o â n o s s a O r d e m , por o c a s i ã o d o Nono Centenário ( t e s t a d e São João B a t i s t a . 1 9 X 4 ) . d i s s e a m e s m a coisa, q u a n d o nos escrevia: "Os h o m e n s t ê m necessidade de s a b e r o q u e é o a b s o l u t o e de o v e r c o m p r o v a d o por
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S a n t í s s i m a T r i n d a d e , c o n f o r m e a E p í s t o l a a o s Romanos 8, 34 e Hebreus 7. 2 5 . o n d e s e f a l a d e J e s u s q u e f i c a s e m p r e f i e l - a t u a l m e n t e - n a s u a i n t e r c e s s ã o e m n o s s o f a v o r . "Pai S a n t o , g u a r d a - o s , [ . . . ] p a r a q u e s e j a m u m como nós" ( J o 1 7 , 11). A v i d a m o n á s t i c a p e r t e n c e a o m i s t é r i o da o r a ç ã o d e J e s u s : acol h e r essa vocação s i g n i f i c a , para cada u m de nós, comprometer-se n o s e g u i m e n t o d e J e s u s n o d e s e r t o e n o M o n t e Ta b o r p a r a e n c o n t r a r o P a i n a o r a ç ã o . N ã o é s e m s i g n i f i c a d o , p r e c i s a o S a n t o Padre, q u e a T r a n s f i g u r a ç ã o de J e s u s se r e a l i z o u , q u a n d o e l e s u b i u à M o n t a n h a p a r a o r a r e , " e n q u a n t o o r a v a - d i z S ã o Lucas (9, 28) - cie se t r a n s f i g u r o u " . E a oração q u e t r a n s f i g u r a o h o m e m , e n q u a n t o o f a z e n t r a r n o m i s t é r i o d o C r i s t o o r a n t e . O m i s t é r i o d a o r a ç ã o d e J e s u s é u m a b i s m o d e L u z . A s u a r e l a ç ã o í n t i m a c o m s e u P a i o i l u m i n a desde o i n t e - r i o r , e o f o c o d o s e u a m o r filial o envolve de I.uz como um manto e cobre a sua carne, irmã da nossa, dum esplendor lu minoso. Nuvem luminosa que a t r a d i ç ã o d o s P a d r e s n o s i n d i c a como i m a g e m t i o E s p í r i t o S a n t o . S a n t o To m á s , a p r o p ó s i t o , d i z : "Toda a T r i n d a d e a p a r e c e : o P a i . n a v o z ; o f i l h o , n a c a r n e ; o E s p í r i t o Santo, n a n u v e m l u m i n o s a " . Para n ó s , monges d a M o n t a n h a , ser discípulos de J e s u s c o m p o r t a a p e c u l i a r e x i g ê n c i a d e a p r e n d e r a rezar com J e s u s e e m J e s u s , o f e r e c e n d o - l h e . c o m a l e g r i a , a pobreza d a nossa v i d a como u m a " h u m a n i d a d e d e acréscimo", n a q u a l e l e p o s s a , p e l o E s p í r i t o S a n t o , c o n t i n u a r m u r m u r a n d o a s u a oração: "Abba - Pai". S i m , a v i d a d o monge pertence ao mistério d a oração de J e s u s q u e i l u m i n a e p u r i f i c a , n ã o só o nosso coração, m a s a I g r e j a e o m u n d o i n t e i r o . A nossa oração p e r t e n c e a o p r o j e t o d i v i n o d e s a l v a ç ã o u n i v e r s a l e de g l o r i f i c a ç ã o d a Santíssim a Trindade ( 17). A nossa oração, escreve o S a n t o P a d r e , reflete, e m si m e s m a , u m r a i o d a L u z i n a c e s s í v e l ; e. n a nossa p e r e g r i n a ç ã o , caminhamos até â fonte inexaurível da Luz (19), através de
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e m s i m e s m o n ã o se c o n h e c e t a l como é . R e c o n h e c e r q u e s o mos fracos e i n c a p a z e s é s a b e d o r i a , p o r q u e , d e s c o n f i a n d o d e n ó s m e s m o s , c o n f i a m o s t u d o a o S e n h o r , c o n f i a m o s n o a m o r a q u e n o s c o n v i d a . Essa d e s c o n f i a n ç a de nós m e s m o s é p a r t i c i p a ç ã o d a l u z d i v i n a , e n q u a n t o a a u t o c o n f i a n ç a é i l u s ã o e t r e v a s . E x i s t e u m modo de v i g i a r , q u e é u m a p r e t e n s ã o d e j u s t i ç a e u m a a u t o c o n f i a n ç a . Se. a o c o n t r á r i o , c o n f i a m o s n o a m o r e n a p r o t e ç ã o d o S e n h o r , p o d e m o s p r o c l a m a r , com o s a l m i s t a : "A d e s g r a ç a j a m a i s m e a t i n g i r á " ( S I 9 1 ) ; e, se. por acaso, nos a t i n g e , a c o n f i a n ç a n o a m o r misericordioso prevalece e nos dá a p a z . c o n f o r m e o u t r a p a l a v r a do s a l m i s t a : "O S e n h o r v e l a s o b r e a q u e l e s q u e o a m a m " ( S I 1 4 4 . 2 0 ) . 0 q u e d e v e a b s o r v e r a nossa a t e n ç ã o e o r i e n t a r a nossa vigilância c a delicadeza do amor divino. C e n s u r a r e s - t c d u r a m e n t e e a m a r g a m e n t e , m u l t i p l i c a r e s as resoluções de " n u n c a m a i s recomeçar", é s i n a l c e r t o d e q u e e s t á s n o c a m i n h o errado. Isso p r o v é m d a t u a a u t o c o n f i a n ç a q u e está f e r i d a . Q u e m n ã o c o n f i a e m s i mas v i g i a c o m o S e n h o r , d e o l h o s fixados n e l e e n ã o e m s i m e s m o , f i c a s u r p r e s o e reconhecido d e n ã o ser m a i s fraco, c a n t a n d o os l o u v o r e s d o S e n h o r q u e s e m o s t r a s e n t i n e l a f i e l d o c o r a ç ã o humilde que nele confia. Jesus c o n t i n u a n a s u a p a r á b o l a : "Felizes os servos q u e o S e n h o r e n c o n t r a r v i g i l a n t e s " . E a a l e g r i a h u m i l d e d e q u e m d e s c o b r e q u e o S e n h o r b a t e à p o r t a e v i g i a . T r a t a - s e da a l e g r i a d o coração q u e d e s c o b r e q u e o v e r d a d e i r o v i g i l a n t e é o Sen h o r m e s m o . O v e r d a d e i r o f i e l é o S e n h o r . A nossa f i d e l i d a d e é u m a p a r t i c i p a ç ã o d a s u a . q u e é d i v i n a e n ã o d e i x a d e nos b u s c a r . A nossa v i g i l â n c i a , n o f u n d o , é o a m o r d o S e n h o r , a c o m u n h ã o com e l e n o a m o r . E r e c o n h e c e r q u e e l e . n o s e u amor, nos busca m a i s do q u e nós b u s c a m o s a ele. E i s s o g e r a p a z e a l e g r i a . V i g i l â n c i a n o a m o r , m a i s d o q u e v i g i l â n c i a sobre n ó s . V i g i l â n c i a d e q u e m n ã o q u e r e n t r i s t e c e r o a m a d o . " N ã o e n t r i s t e ç a i s o E s p í r i t o S a n t o d e D e u s p e l o q u a l fostes s e l a d o s [...]. Toda a m a r g u r a e e x a l t a ç ã o de v ó s m e s mos... sejam afastadas d e e n t r e vós" ( E f 4). A s s i m , a nossa
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Foi esse a m o r q u e c o n d u z i u o Ve r b o e n c a r n a d o à l o u c u r a s u p r e m a d a c r u z e o r e s s u s c i t o u n o t e r c e i r o d i a . O a m o r v e n c e u . F o m e s m o a m o r q u e u l t r a p a s s a t u d o n a C o n c e i ç ã o de M a r i a q u e podemos c h a m a r de e t e r n a . Se o A p ó s t o l o pode e s c r e v e r de todos n ó s q u e " f o m o s e l e i t o s a n t e s d a c r i a ç ã o d o m u n d o para s e r m o s s a n t o s e i m a c u l a d o s a o s o l h o s de D e u s P a i " ( E f 1, 4 ) , com q u a n t o m a i o r r a z ã o se pode p e n s a r o mesmo e dizê-lo a r e s p e i t o d a S a n t í s s i m a Mãe de seu F i l h o ! C a r í s s i m o s I r m ã o s , o d e s í g n i o d o P a i sobre M a r i a poderia d i s t a n c i á - l a d e nós? A o c o n t r á r i o . A s u a g r a n d e z a e b e l e z a a t o r n a m mais perto d e nós, c o m o o e n s i n a o C o n c i l i o Va t i c a n o II. Porque d e v e m o s e n c o n t r a r n a I m a c u l a d a C o n c e i ç ã o d e M a r i a o f u n d a m e n t o do s e u a m o r m a t e r n a l , d a s u a b o n d a d e , da s u a t e r n u r a p a r a conosco. E p o r q u e M a r i a f o i c r i a d a t ã o p a r e c i d a e t ã o p r ó x i m a d e D e u s q u e e l a nos a m a c o m o E s p í r i t o S a n t o d e D e u s . D e u s é i n f i n i t a m e n t e b o m . M a r i a p a r t i c i p a e m t ã o g r a n d e a m o r e l e v a n o seu coração u m b r a s e i r o de a m o r q u e n ã o cessa de a r d e r por n ó s . " I m a g e m da b o n d a d e d i v i n a " ( S b 7, 26). Eis u m a conseqüência consoladora do seu privilégio. Possa e n t ã o e s t a c o n s i d e r a ç ã o n o s i n s p i r a r u m a fé p r á t i c a , u m a c o n f i a n ç a f i l i a l i n q u e b r a n t á v e l n a bondade de M a r i a . E l a t e m por n ó s u m a t e r n u r a de M ã e . A s u a p r o x i m i d a d e de D e u s a torna a m a i s a f e t u o s a d a s mães e a m a i s preocupada p e l o nosso bem e s p i r i t u a l . E m t o d a s as n o s s a s d i f i c u l d a d e s , e m t o d a c i r c u n s t â n c i a , e m t o d o m o m e n t o , " o l h a i a doce E s t r e l a d o M a r . i n v o c a i M a r i a " - d i z São B e r n a r d o . E l a n ã o se c o n t e n t a e m t r a b a l h a r e f i c a z m e n t e p e l a n o s s a s a l v a ç ã o e s a n t i f i c a ç ã o , mas se esforça por n o - l o t o r n a r m a i s f á c i l , m a i s a c e s s í v e l . Nós a c h a m a m o s de doçura da n o s s a v i d a e o é . E c o n h e c e d o r a de t u d o em nós. C o n h e c e n o s m e l h o r d o q u e nós a nós mesmos; e q u e r o nosso b e m m a i s do q u e nós o q u e r e m o s . E l a s a b e onde está o nosso verdadeiro bem, e nós às vezes não o sabemos. S a n t a M a r i a . M ã e d e D e u s . rogai por n ó s !
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Imaculada Conceição
G o z o p a r a o m u n d o i n t e i r o ( e f . v e r s í c u l o d a A7;<7)
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" A vossa i m a c u l a d a C o n c e i ç ã o . V i r g e m M ã e d e D e u s . e n c h e u d e n o / o o m u n d o i n t e i r o " ( v e r s í c u l o d a N o a ) .
E s s a s p a l a v r a s d a n o s s a l i t u r g i a c a r l u s i a n a m e r e c e m u m a e x p l i c a ç ã o . E u m a d e c l a r a ç ã o de a l e g r i a u n i v e r s a l p a r a todos os t e m p o s . R e f e r e m - s e a u m a i n t e r v e n ç ã o ú n i c a de D e u s . n a h i s t ó r i a d a s a l v a ç ã o , e m f a v o r de M a r i a , c o n c e b i d a s e m p e c a do. O c â n t i c o de e n t r a d a f a l a de j ú b i l o e m D e u s . q u e o r n a a s u a n o i v a , e a oração da s o l e n i d a d e d á - n o s o m o t i v o desse j ú b i l o u n i v e r s a l . H m M a r i a . D e u s p r e p a r o u p a r a o seu F i l h o - o Ve r b o e t e r n o e n c a r n a d o - u m a d i g n a h a b i t a ç ã o . A p r i m e i r a l e i t u r a f a l a - n o s d e u m a m a r a v i l h o s a preexistência d c M a r i a . a o l a d o d o C r i a d o r , q u a n d o e l e c r i o u o m u n d o n a o r i g e m d o s tempos. F a s l e i t u r a s d e M a t i n a s , n o Gênesis, oferecem n o P r o t o E v a n g e l h o a v i t ó r i a sobre a s e r p e n t e , q u a n d o D e u s . d a n d o a s u a a m i z a d e a o h o m e m , recebe a r e s p o s t a n e g a t i v a d o pecador q u e e s c o l h e a s u a a u t o - s u f i c i ê n c i a . D e u s . porém, r i c o e m m i s e r i c ó r d i a , responde à d e s g r a ç a do pecado c o m a prom e s s a d a r e s t a u r a ç ã o d a s u a a m i z a d e , a f i m d e q u e n ã o s e possa d i z e r q u e o a m o r d i v i n o fosse i n f e r i o r a o m a l .
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193
M a r i a é , pois. i m a c u l a d a : m o s t r a - n o s n o t e m p o d a n o s s a p e r e g r i n a ç ã o o q u e v i r e m o s a ser, c a d a q u a l n a m e d i d a próp r i a q u e está p r e p a r a n d o a g o r a . Se, t o d a v i a , cremos e celebramos M a r i a I m a c u l a d a , n ã o v a m o s i m a g i n a r q u e a s u a v i d a terrestre t e n h a s i d o u m m a r d e rosas. M a r i a , a o c o n t r á r i o , p a r t i c i p a da opacidade da e x i s t ê n c i a c o m u m . A q u i l o q u e é m a r a v i l h o s o n e l a é a s u a f i d e l i d a d e à l u z i n t e r i o r do coração, à l u z de D e u s - o q u e é t a m b é m a n o s s a t a r e f a . Dizer q u e era i m a c u l a d a n ã o i m p l i c a a f i r m a r q u e n ã o s o f r i a , q u e n ã o se a n g u s t i a v a , q u e n ã o t i n h a n e c e s s i d a d e de c r e r , de c o n f i a r em D e u s , d e e s p e r a r , d e a b a n d o n a r - s e a o a m o r d o P a i e à s u a v o n t a d e , d e v e z e m q u a n d o bem obscura e m o r t i f i c a n t e , bem e x i g e n t e . M a r i a é f i l h a d a t e r r a , e m b o r a fosse abençoada pelo céu. Nela, t u d o o q u e f a z p a r t e d o n o s s o c a m i n h o de fé e de f i d e l i d a d e e s t á p r e s e n t e c o m as m e s m a s e x i g ê n c i a s . M a r i a pertence â c r i a ç ã o boa de D e u s . q u e r d i z e r , d e v e p r a t i c a r a v i r t u d e c o m o n ó s . v i v e r n a f é e c r e s c e r n a c a r i d a d e , F por i s s o q u e , a p e s a r d o s e u p r i v i l é g i o ú n i c o . M a r i a pode e s t a r t ã o p e r t o d e n ó s e ser tão c o m p r e e n s i v a d o s nossos problemas e p r o v a s . É c h e i a de g r a ç a , m a s com i s s o a s u a v i d a t e r r e s t r e n ã o é m e n o s o n e rosa, d i f í c i l , m o n ó t o n a e s o f r i d a . "A l e i d e D e u s e s t á n o s e u coração e n ã o v a c i l a " ' n a s u a e s p e r a n ç a , n e m n o s m o m e n t o s m a i s "tenebrosos" d a s u a v i d a , como nos a c o n t e c i m e n t o s dolorosos d o n a s c i m e n t o d e seu F i l h o e d a s u a morte. Os s e u s o l h o s f i x a m a l u z i n t e r i o r , c o m u m a todos n ó s ; e, n a p i o r obsc u r i d a d e , M a r i a t e m a c e r t e z a d e q u e D e u s n ã o v a i e n g a n a r a s u a fé n e m a b a n d o n á - l a n a d e s g r a ç a . A o c o n t r á r i o , a l u z q u e M a r i a e n c o n t r a n a m e d i t a ç ã o d a P a l a v r a d o S e n h o r e n o s e x e m p l o s dos S a n t o s d o A n t i g o Te s t a m e n t o agarra o s e u c o ração n a s u a f é . "A m i n h a a l m a se a g a r r a e m vós", d i z o s a l - m i s t a . E v e r d a d e p a r a M a r i a : a fé e a e s p e r a n ç a p r e s e n t e s n e l a f a z e m - n a i n t e g r a r t u d o n a s u a b u s c a d e D e u s . n a s u a c o n f i a n ç a f i l i a l no P a i : e a s s i m , t u d o o q u e n ó s c h a m a m o s d e n e g a t i vo ou doloroso, o C o r a ç ã o d e M a r i a t u d o faz redundar em crescimento da sua obediência e da sua inteira consagração a
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e . à s v e z e s , de b r i l h a r , o c u p a u m g r a n d e l u g a r , para nos o f e r e c e r e f a z e r d e s c o b r i r o verdadeiro v a l o r d a p e s s o a q u e se r e a l i z a no d o m d e s i m e s m a e n a a d e s ã o a u m projeto d i v i n o . H á g e n t e q u e pensa q u e isso t e r i a u m e f e i t o d e s p e r s o n a l i z a n t e . q u a n d o , a o c o n t r á r i o , é u m a s e q ü ê n c i a de g r a ç a s d e s t i n a d a s a a p e r f e i ç o a r e d i l a t a r a v i d a pessoal e a f a z ê - l a corresponder com m a i o r f a c i l i d a d e e a d e q u a ç ã o às aspirações mais nobres, m a i s p r o f u n d a s d o coração h u m a n o , c r i a d o para a m a r a D e u s e ser a m a d o por ele - graças destinadas a fazer-nos desposar u m a i n t e n ç ã o d i v i n a , d i l a t a n d o o nosso coração. Q u a n d o o a n j o G a b r i e l c o n t i n u a e c o n f i r m a a s u a m e n s a g e m a M a r i a S a n t í s s i m a , c o m estas p a l a v r a s : " N ã o t e n h a s medo. M a r i a . . . " , p a r e c e - m e q u e D e u s f a l a para todos nós, como para dizer: "Os m e u s projetos s ã o b e m m e l h o r e s do q u e os vossos; t u n ã o v a i s p e r d e r n a d a , t u d o a o c o n t r á r i o : o m e u proj e t o d i v i n o sobre t i s u p e r a i n f i n i t a m e n t e o t e u , e m b e l e z a , e m r e a l i z a ç ã o de t i m e s m o , e m u t i l i d a d e a f a v o r d a m i n h a I g r e j a , em f e c u n d i d a d e , etc". A t u a profissão, caro I r m ã o , m e i n s p i r a a d i z e r t a m b é m a t i : n ã o tenhas medo! A experiência íntima e inalienável do amor de Deus para contigo, amor gratuito pelo qual o Altíssimo toma posse de t i mesmo e d o t e u coração, te p o s s u i e m C r i s t o n a t u a c o n s a g r a ç ã o , é t ã o s i n g u l a r e i n e q u í v o c a , q u e s e r á m u i t o m a i s m a r a v i l h o s a , í n t i m a e g r a t i f i c a n t e d o q u e q u a l q u e r a m o r e s p o n s a l h u m a n o - c o m o era a t u a p r i - m e i r a i n t e n ç ã o . A d i g n i d a d e d o m a t r i m ô n i o é m u i t o g r a n d e . E a m a i s s i g n i f i c a t i v a evocação d a u n i ã o do Verbo d i v i n o com a nossa h u m a n i d a d e n a e n c a r n a ç ã o . C o m a t u a v o c a ç ã o e c o n s a g r a ç ã o a D e u s , p o r é m , t u p a s s a s d o s i n a l p a r a a r e a l i d a d e : d o s i n a l - m a t r i m ô n i o , para a r e a l i d a d e u n i ã o í n t i m a c o m D e u s . Dom t o t a l d e t i m e s m o . N ã o t e m a s . I r m ã o , f a v o r e c i d o d o S e n h o r ! A t u a consagração, a p e s a r d e n ã o ser a i n d a d e f i n i t i v a , t e p r o m e t e , p e l a m i s e r i c ó r d i a d o E s p í r i t o S a n t o , u m a u n i ã o c o m o P a i , o F i l h o e o E s p í r i t o S a n t o mesmo, u m amor
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r
Que este som possa nos confortar e mesmo nos curar das profundas feridas produzidas por nossa época. Possa, também, nos despertar para perceber e acolher a presença do Deus que habita em nosso interior.
9788574304410