O LIVRO DO APRENDIZ - 1894 OSWALD WIRTH CONHECIMENTOS FILOSÓFICOS SOBRE A HISTÓRIA GERAL DA FRANCO-MAÇONARIA CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES Certas idéias são suscetíveis de exercer uma especial atração sobre os indivíduos isolados. Elas os agrupam, formando, assim o eixo intelectual de uma associação. Mas estas associações não podem constituir-se por grupos desprovidos de toda estabilidade e de toda coesão. Um conglomerado de individualidades diversas não pode transformar-se em algo permanente, senão por meio de uma lei orgânica que institua a vida coletiva. Em toda associação, é necessário distinguir a idéia da forma. A Idéia ou o Espírito obra como um gerador abstrato: É o Pai da coletividade, onde a Mãe está representada pelo princípio plástico que lhe dá sua forma. Estes dois elementos de Geração e de Organização estão representados na Maçonaria por duas colunas, onde a primeira (masculina – ativa) faz alusão àquilo que estabelece e fundamenta, enquanto que a segunda (feminina – passiva) passiva) refere-se àquilo que consolida e mantém. O historiador que conhece as luzes da filosofia não pode se abstrair destes dois fatores essenciais. Para ele, os anais de nossa instituição remontam-se mais além do ano 1717, data da fundação da Franco-maçonaria moderna; porque as idéias que agora conseguem tomar corpo, em tempos anteriores deram lugar a numerosas tentativas de criações similares. Uma coletividade que se estabelece, por outro lado, não saberia improvisar sua organização. Todo Ser se constitui em conformidade à sua espécie, beneficia-se pela experiência ancestral. Todo novo Ser, vem a ser assim o herdeiro de uma raça antiga que revive nele, como viveu ele mesmo em toda cadeia de seus antecessores. Desde este ponto de vista, é permitido atribuir à Franco-maçonaria uma origem muito antiga, já que se assemelha a todas as confraternidades de iniciados iniciados do passado. Mas parece haver saído das primeiras associações de construtores, como pode julgar-se, pela circunstância de haver dado nascimento à Arte de Edificar. AS ORIGENS DA MAÇONARIA A Franco-maçonaria não se dedica hoje em dia, aos trabalhos materiais, mas deriva de uma confederação de talhadores de pedra e arquitetos, cujas ramificações se estenderam na Idade Média sobre toda a Europa ocidental, transmitindo-se o segredo de sua arte. Esses construtores se conformavam com os usos antigos. Praticavam os ritos dos iniciados, que as lendas corporativas fazem remontar à mais remota antiguidade. Devemos guardar-nos de tomar ao pé da letra estas tradições ingênuas. Tem muito de mitológicas e às vezes um sentido alegórico. (Segundo uma destas lendas, Adão havia sido recebido Maçom conforme aos ritos da Ordem do Paraíso pelo Pai Eterno). É uma maneira de dizer que a 1
Franco-maçonaria existiu sempre, senão realmente, pelo menos em estado latente, ou seja, que ela responde a uma necessidade primordial do espírito humano. Mas é necessário refletir sobre a influência exercida primitivamente pela arte de construir, para formar-se a idéia justa do rol civilizador que as mais antigas associações têm desempenhado necessariamente. Estas associações se constituíram, desde o momento em que a Arquitetura se converteu numa Arte. Foram chamadas, sem dúvida, a construir, é claro, os muros das cidades antigas. Estas muralhas de defesa, construídas com pedras talhadas, não podiam ser, senão obras de obreiros exercitados e agrupados em tribos. Não puderam estar, estes artesãos, senão que associados e isto por duas razões: primeiro, porque, toda construção importante, não pode ser obra de indivíduos isolados, e segundo, porque a prática da arte de construir exige uma iniciação profissional. É então evidente, que, desde os tempos mais remotos, os Maçons formaram grupos corporativos e que, pela força das circunstâncias, dividiram-se em aprendizes, companheiros e mestres. Quanto a sua missão civilizadora, se manifestou sob um duplo ponto de vista: por um lado, as cidades protegidas contra os assaltos da brutalidade, da barbárie, por sólidas muralhas, converteram-se em centro das atividades, em abrigos invioláveis, reservados a uma fração mais culta que as multidões de fora; por outro lado, os Maçons deram o exemplo de associar-se, tendo como objetivo um trabalho comum. Pode-se assim afirmar, que a Arquitetura é a mãe de toda civilização, e é justo o título, que os antigos Maçons consideravam sua arte, como a primeira e a mais estimável de todas. A ARTE SAGRADA Primitivamente tudo se revestia de um caráter sagrado; mas a arte de construir estava mais particularmente rodeada de um caráter divino. Os homens que a ela se dedicavam exerciam um sacerdócio. Eram sacerdotes a sua maneira. Talhando as pedras, preparando-as e posicionando-as para construir os edifícios, acreditavam render um culto à divindade. Toda construção útil era santa, destruí-la era um sacrilégio, e as mais antigas inscrições ameaçavam com a vingança divina o homem ímpio que destruíra ou atacara os monumentos. Os construtores tinham uma religião própria, inteiramente baseada na arte de construir. O Universo era, a seus olhos, um imenso canteiro de obras onde cada ser era chamado a contribuir com seus esforços à edificação de um monumento único. Encontravam-se num trabalho incessante, que não havia começado jamais e não devia terminar nunca, mas que construía por todas as partes, segundo as instruções de um mesmo plano. Daí vem a idéia da Grande Obra, dedicada à construção de um Templo Ideal, cada vez mais e mais perfeito. Daí o uso tradicional entre os Maçons de Consagrar seus trabalhos ÀGDGADU. PRIMEIROS DADOS HISTÓRICOS Nós não conhecemos mais que informações precárias sobre as mais antigas corporações construtoras dos povos do Oriente. Mas é singular encontrar nos escritos acádios o A como sinal da sílaba (Bou)... que significa Fazer, Construir. Se isto não é mais que uma simples coincidência, é, de todas as maneiras, significativo e os Maçons apaixonados poderão ver nisto, um indício da remota antiguidade de seu símbolo, pois, os monumentos Caldeus, onde se lhes encontram remontam há mais de 4.500 anos antes de nossa era. Os autores desconhecidos dos mais antigos livros sagrados da China, não ignoravam, claro, o valor simbólico do compasso e do esquadro, insígnias do sábio, que possuía o segredo e sabia conduzir-se conforme as instruções do Primeiro Construtor. No Egito, o sacerdote ensinava as ciências e as artes. Certos hierofantes se especializavam na Engenharia e na Arquitetura. Os artesãos postos a suas ordens não tinham direito a nenhuma iniciativa. Os Escultores e talhadores de pedras, foram mais livres na Síria. Formaram associações religiosas que percorreram toda a Ásia Menor, para erigir por todas as partes templos, segundo a conveniência dos diferentes cultos. É assim que, por lá, pelo ano 1000 antes de Jesus Cristo, Hiram, rei de Rito, pôde enviar a Salomão os obreiros necessários à construção do templo de Jerusalém, do palácio real e dos muros da cidade. Estes mesmos construtores fizeram parte igualmente, na fundação de Palmira. Mais tarde a Arquitetura era exercida em toda a Grécia pelos Pontífices de Dionísio e, Numa Pompilio aperfeiçoou suas organizações lá pelo ano 715 antes da era Cristã. 2
A legislação romana constituiu os Colégios de Construtores, encarregados de executar todos os trabalhos públicos. Estas corporações tinham sua autonomia e a lei lhes garantia numerosos privilégios. Cada uma delas praticava suas cerimônias religiosas particulares, apropriadas aos ofícios que exerciam seus membros. Estes exerciam todas as profissões necessárias à arquitetura religiosa, civil, militar, naval e hidráulica. Estas laboriosas confraternidades, se espalharam por todo o império. Seguiam a marcha das legiões romanas para construir as pontes, os caminhos, os aquedutos, os campos entrincheirados, as cidades, os templos, os anfiteatros, etc. Enfim, eles contribuíram para civilizar os povos vencidos, instruindo-lhes nas artes da paz. Subsistiram florescentes até a invasão dos bárbaros. No século terceiro, Teofastro os descreve nos seguintes termos: Segundo as tradições da arte estatuária antiga, os escultores e talhadores de pedra, viajavam de um lado a outro da terra com os utensílios necessários para trabalhar o mármore, o marfim, a madeira, o ouro e outros metais. A matéria informe lhes bastava abastecer para elevar os templos, segundo modelos divinos. O CRISTIANISMO As religiões profissionais se conformavam ao gênio do politeísmo greco-romano; enquanto este reinou, ninguém podia sonhar em ter em conta superar as corporações arquitetônicas em seus ensinamentos religiosos. Mas, não foi o mesmo quando o Cristianismo passou a ser a religião do estado, no tempo de Constantino, que pretendeu fundar a unidade de culto e de crenças. O Supremo Arquiteto do Universo se encaixava com o monoteísmo, a quem parecia haver-se adiantado. Mas esta simplicidade, esta imprecisão propícia às adaptações contraditórias, não podiam satisfazer à nova religião, que formulava dogmas imperiosos e precisos e para quem era do todo necessário que desde aí em diante se lhes submetessem. Fiéis à suas tradições, os construtores se resguardaram de contrariar a fé oficial. Se fizeram batizar, reservando-se a adaptar-se ao Cristianismo às doutrinas da metafísica arquitetônica. Assim nasceu uma religião oculta, parente do Gnosticismo que se abstêm cuidadosamente de toda manifestação exterior. Além disso, encontraremos um indício nesta singular facilidade, com a qual os artistas bizantinos e coptos se posicionavam indiferentemente ao serviço das diferentes seitas cristãs e depois às muçulmanas. Exteriormente submissas ao absolutismo cristão, as associações de construtores, puderam prosperar sob o amparo do Império do Oriente, enquanto que desapareciam no Ocidente, submersa pela invasão dos bárbaros. Um período veio, então, em que se esteve mais preocupado em descobrir os monumentos antigos que de edificar outros novos. O cristianismo, entretanto, não demorou muito em impor-se aos invasores. A arquitetura religiosa voltou a surgir e novas escolas de construtores se constituíram pouco a pouco. Elas deram nascimento ao estilo românico. AS ORDENS MONÁSTICAS Durante muitos séculos, toda a Europa ocidental, foi vítima da brutalidade de guerreiros ignorantes, que não tremiam mais, do que diante dos fantasmas de suas imaginações grosseiras. O clero cristão, aplicando a isto todas as tradições dos sacerdotes, aprendeu rapidamente, a dominar a estes espíritos inclinados aos terrores supersticiosos. Teve a valentia de ameaçar a estes indomáveis conquistadores com um Juiz Celestial, cujo rigor inflexível não podia ser compadecido senão por meio de piedosas doações. Esta foi, para a Igreja, uma fonte inesgotável de riquezas. Viu-se então o Cristianismo, rodear-se de um aparato fastuoso. Depois de haver crescido na abnegação e na pobreza, desejava seduzir pela magnificência. Os templos antigos, antes saqueados pela cobiça dos bárbaros, ou demolidos pelo furor iconoclasta dos novos crentes, tiveram que ser reconstruídos à glória do Deus dos Cristãos. Como jamais se havia deixado inteiramente de edificar, os procedimentos da profissão se conservavam entre os artesãos; mas quando se tratou de construir edifícios apropriados às exigências do culto cristão faltaram, é claro, os arquitetos. Os monges mais instruídos foram chamados a estudar a arquitetura, e a habilidade para traçar os planos não demorou muito em afirmar-se. Alguns abades, em particular aqueles da congregação de Cluny, desenvolveram nestas matérias um verdadeiro talento. Rivalizando entre eles, estes abades não se contentarão com as construções tecnicamente grosseiras. Quando quiseram passar dos simples muros de tijolos ou de pedras toscas aos de pedras talhadas, lhes foi necessário formar verdadeiros artistas, sobretudo, quando a ambição veio a golpear os espíritos pela ousadia no abobadado mais e mais complexo.
3
Os monges se viram obrigados a associar- se, de uma maneira permanente, com “os leigos talhadores de pedras”, que na qualidade de irmãos leigos, levavam hábitos e recebiam subsídios do
convento. A MAÇONARIA LIVRE Entre os obreiros submetidos à disciplina monástica, os mais bem dotados adquiriram os conhecimentos suficientes que lhes permitiam dirigir eles mesmos o trabalho de seus companheiros. Se formaram assim os arquitetos laicos, com um espírito muito mais independente, que lhes dava mais consciência de suas capacidades e de seus talentos. Sua autoridade não tardou muito em primar sobre a dos monges, que vieram logo para as “irmandades construtoras” subtrair -se a sua tutela. As associações autônomas, recordando a certos colégios romanos, puderam constituir-se. Esta evolução, parece haver-se realizado, em seguida, na Lombardia, onde as tradições antigas permaneciam sempre vivas, e puderam, portanto, mais facilmente ser revividas, pela mediação de Veneza, onde a influência bizantina se fazia sentir poderosamente. O que é certo é que a cidade de Como, foi por muito tempo o centro onde afluíam os artistas, desejosos de aperfeiçoar-se na arte de construir. Suas ambições eram a de ser iniciados no segredo dos “Magistri Comacini” (Mestres de Comacini), título propagado no século XI, de uma maneira genérica, a todos os construtores. Pretende-se que no desejo de consagrar sua independência, as associações arquitetônicas laicas, unidas entre elas pelos vínculos de uma estreita solidariedade, haviam solicitado do Papa o monopólio exclusivo para a construção de todos os edifícios religiosos da Cristandade. Desejando impulsionar um empreendimento tão piedoso, a Corte de Roma, havia tomado as confraternidades de construtores sob sua proteção especial, declarando que seus membros deviam ser em todas as partes eximidos dos impostos e da vassalagem. Estas seriam as franquias que se dizem outorgadas por Nicolas III em 1277 e confirmadas por Benito XII em 1334, que havia favorecido aos protegidos da Santa Sé o nome de Franco-maçons (até aqui, a prova documentada destas afirmações atrevidas, não foi proporcionada). O amparo do Soberano Pontífice, explicaria o favor que a Maçonaria livre encontrou entre todos os príncipes cristãos. Nestes tempos de fervor religioso, estes não podiam experimentar, por outro lado, mais que simpatias pelos construtores de igrejas, que se repartiram progressivamente na França, na Normandia, Grã-Bretanha, na Borgonha, depois em Flandres e próximo do Reno, penetrado daí para toda a Alemanha. Em todos os lugares, estas associações deixaram monumentos de um estilo particular chamado gótico, ou mais exatamente, ogival. Obras mestras, nas quais a uniformidade do estilo parece ser o indício de um acordo internacional, mantido durante séculos entre os construtores, espalhados por toda a Europa ocidental. Isto é o que fez dizer Mr. Hope em sua história da Arquitetura: Os arquitetos de todos os edifícios religiosos da Igreja latina, haviam extraído sua ciência de uma mesma escola central; obedeciam as leis de uma mesma hierarquia; dirigiam em suas construções sob os mesmos princípios de conveniência e de gosto; mantinham entre si, em todos os lugares, onde eram enviados, uma correspondência assídua, de maneira que os menores aperfeiçoamentos chegam a ser imediatamente de propriedade da Corporação inteira e uma conquista da Arte. AS CONFRATERNIDADES DE SÃO JOÃO Estes Arquitetos da Idade Média gostavam de celebrar os solstícios, conforme aos usos das mais antigas épocas pagãs. A fim de poder permanecer fiéis às tradições equívocas, sob o ponto de vista cristão, escolheram como patronos os dois Santos João, cujas festas caem em épocas solsticiais. Quem sabe, se ao abrigo desta escolha, o antigo culto de Jano voltou a encontrar adeptos mais ou menos conscientes. Da mesma forma que os dois santos solsticiais, o deus da dupla face, presidia a entrada do sol em cada um dos hemisférios celestes. Jano era, por outro lado, o gênio de todos os começos, tanto dos anos como das estações, da vida e da existência em geral. Pois, é preciso não perder de vista que Começo se diz “Initium” em latim. Os iniciados deviam, pois, ver a
dignidade tutelar da Iniciação neste imortal encarregado de guardar as portas (Janua), de onde ele separava os que não devem entrar. Uma vara (vaculum) lhe servia para isto. Tinha, além disso, uma chave para indicar que tinha direito para abrir e fechar, revelar os mistérios aos espíritos escolhidos ou subtraí-los à curiosidade dos profanos indignos de conhecê-los. Etimologicamente, João, é verdade, não provêm de Jano, mas sim do hebreu Jeho H’annan, que se traduz por “aquele que Jeho favorece”. O mesmo verbo vem em H’anniBaal ou Annibal, que 4
significa favorito de Baal. Mas, Jeho e Baal, não são senão o título do Sol. Este, era considerado pelos Fenícios como um astro queimante, no mínimo homicida, cujos estragos eram temíveis. Os mistagogos (sacerdotes gregos) de Israel viam ao contrário, nele, a imagem do Deus Luz que ilumina as inteligências. Jeho H’annan, Johanes, Hehan ou João, são assim sinônimos de homem iluminado, à maneira dos profetas. O mesmo que os artistas das catedrais, instruídos, sem dúvida, nas doutrinas esotéricas muito antigas, o Pensador verdadeiro ou iniciado está, então, no direito de chamar-se Irmão de São João. Anotaremos, finalmente, que São João Batista se nos apresenta como o precursor imediato da Luz redentora ou do Cristo solar. É a Aurora intelectual que, nos espíritos, precede ao dia da plena compreensão. Áspera e rude, sua voz ressoava através da esterilidade do deserto, despertando os ecos adormecidos. Seus acentos veementes sacodem as mentalidades rebeldes e as preparam para acolher as verdades que devem ser reveladas. Se o tímido Precursor representa, simbolicamente, às descoloridas brancuras da manhã, convém por oposição, representar a São João o Evangelista, como rodeado da glória empurpurada do entardecer. Personifica a luz crepuscular da tarde, aquela que inflama ao céu quando o sol desaparece do horizonte. O discípulo preferido do Mestre foi, de fato, o confidente de suas luzes secretas, reservadas para as inteligências escolhidas dos tempos f uturos. Se lhe atribui o Apocalipse, que, sob o pretexto de discorrer o véu dos mistérios cristãos, os disfarçou (encobriu) sob enigmas calculados para arrastar aos espíritos perspicazes mais além das estreitezas do dogma. Também, é da tradição Joanista, às quais se aproveitaram todas as escolas místicas que, sob o véu do esoterismo, aspiraram à emancipação do pensamento. Não esqueçamos, enfim, que o quarto Evangelho começa por uma introdução de um alto alcance iniciático, sobre o qual se prestou durante muito tempo o juramento maçônico. A doutrina do Verbo feito carne, ou seja, a Razão divina encarnada na Humanidade, remonta, por outro lado, segundo Platão, às concepções dos antigos hierofantes. Nestas condições, o título de Lojas de São João, convém melhor que qualquer outro, às Oficinas, onde os inteligentes, depois de haver sido preparado para receber a luz, são conduzidos a assimilá-la progressivamente, a fim de podê-la refletir a seu turno. CANONIZAÇÕES EQUIVOCADAS Seria uma temeridade afirmar que os dois São João representam unicamente o simbolismo iniciático. Pode ser que eles correspondam a personagens que realmente hajam existido, Ou tros Santos, pelo contrário, não desfrutam de seu privilégio celestial, só porque foram, em tempos passados, extraídos do calendário pagão. Em sua “Origem de todos os Cultos”, Dupuis é muito
explícito nisto: Os Gregos, diz, honravam a Bacchus (Baco) sob o nome de Dionísio ou de Denis. Era considerado como o chefe e o primeiro autor de seus mistérios, assim mesmo como Eleuthére (Eleutério). Este último nome era também um epíteto que lhe davam e que os latinos traduziam por Liber. Celebram-se em sua honra duas festas principais, uma na Primavera, e a outra na estação das vindimas. Esta última, era uma festa rústica, celebrada no campo, em contraposição à festa da Primavera chamada festa das cidades ou Urbana. Agregaram um dia em honra de Demétrio, rei da Macedônia, que tinha sua corte em Pella, perto do golfo de Tessalônica. Baco, era o nome oriental do mesmo Deus. As festas de Baco, deviam ser anunciadas no calendário nos seguintes termos: Festum Dionsyii, Eleutherii, Rustici . Nossos bons frades fizeram três santos, São Denis, São Eleutério e São Rústico, seus companheiros. Chamavam ao dia seguinte: Festa de Demétrio, fazendo-o um mártir de Tessalônica. Acrescentam que foi Maximiliano quem o fez morrer, por conseqüência de seu desespero pela morte de Lyaes, e Lyaes é um nome de Baco, assim como Demétrio. Colocou-se na ante-véspera a festa de São Baco, fazendo-o também um mártir do Oriente. Assim, aqueles que queiram ler o calendário latino ou o breviário que guia a nossos clérigos na celebração dos santos, das festas, verão o 7 de Outubro Festum sancti Demetri ; y o 9, Festum sanctorium Dionysii, Eleutherii et rusticii . Puseram diversos epítetos e nomes à denominação de um mesmo Deus, Baco, Dionísio, ou Denis, Liber ou Eleutério. Baco casou-se com Zephir ou o vento suave, sob o nome da ninfa Aurora. Bem, dois dias antes da festa de Denis ou de Baco, celebra-se a da Aurora Plácida ou de Zephir, sob o nome de Santa Aurora e de São Plácido. AS SÁTIRAS CONTRA A IGREJA Em que medida puderam influir as reminiscências da antiguidade no estado da alma dos construtores da Idade Média? A questão é difícil de resolver, mas é evidente que eles estavam animados de um espírito singularmente inquieto. 5
Primeiramente, no aspecto religioso, pretendiam não depender, senão diretamente, do Papa e eram profundamente irrespeitosos da hierarquia eclesiástica. Sua audácia se manifestou muitas vezes por caricaturas que não temiam esculpir na própria pedra das catedrais. Um monge e uma religiosa, representados na mais inconveniente das atitudes, decoram a Igreja de São Sebaldus em Nuremberg e este tema escabroso se repete entre outros em uma gárgula do museu de Cluny. Na galeria superior da Catedral de Estrasburgo, uma tropa de animais é conduzida por um urso que leva a cruz. Um lobo com uma vela acesa e precedido de um cervo e de um carneiro carregado de relíquias, desfilam piedosamente, ao passo que um asno celebra a missa no altar. Revestido de ornamentos sacerdotais, uma raposa reza em Brandenburgo ante uma manada de gansos. Os exemplos desta natureza abundam. Encontram-se opiniões bastante subversivas e entre os condenados figuram muitas vezes personagens coroados ou mitrados. O Papa mesmo com a tiara e rodeado de cardeais foi entregue às chamas eternas sobr e a catedral de Berna. Estes indícios fazem supor que a iniciação conferida secretamente aos membros das confraternidades de São João não se referia unicamente aos procedimentos materiais da arte de construir. Certas esculturas irônicas podem haver sido inspiradas, sem dúvida, pelas rivalidades que, em todas as épocas, surgiram entre as ordens monásticas e os clérigos seculares; mas outras traduzem manifestamente o pensamento íntimo de um artista singularmente emancipado para sua época. A ALQUIMIA Se nos perguntarmos, de que fonte pôde provir na Idade Média, uma estranha inspiração mística secretamente hostil à Igreja, teremos que chegar a recordar o prestígio de que gozava, então, a Filosofia Hermética. Sob o pretexto de buscar a Pedra dos Sábios, os adeptos, ou seja, os livres pensadores, dedicavam-se, na realidade, a estudar os segredos da natureza. Aprofundavam e estudavam, indiferentemente, as obras de todos os filósofos quer fossem Gregos, Árabes ou Hebreus. Esse ecletismo devia conduzir a doutrinas tão pouco católicas, no sentido corrente da palavra, que houvesse sido imprudência expô-las de outra forma que sob o véu de alegorias e símbolos. A transmutação do chumbo em ouro, veio a ser o tema de dissertações muito sábias, em que a metafísica religiosa tinha mais lugar que a metalurgia ou a química. A Grande Obra aspirava em realizar o bem estar da humanidade ou do gênero humano, graças a uma reforma progressiva dos costumes e das crenças. A leitura atenta dos tratados alquimistas, posteriores ao Renascimento, não deixam subsistir nenhuma dúvida a este respeito, porque o estilo dos discípulos de Hermes se fez enigmático, quando diminuiu para eles o perigo de expor-se livremente. A antiga arquitetura sagrada, era então essencialmente simbólica. Desde o plano de conjunto de um edifício, até os menores detalhes da ornamentação, tudo devia estar ordenado segundo certos números místicos e as regras de uma geometria especial, conhecida somente pelos iniciados. As figuras geométricas davam lugar, de fato, a interpretações sobre as quais se baseava uma doutrina secreta, que pretendia alcançar a chave de todos os mistérios. É assim que, os construtores de catedrais provaram por suas obras, que estavam instruídos nestas tradições filosóficas, das quais os alquimistas eram ao mesmo tempo detentores. Não se podia determinar, em que medida aproveitavam uns dos outros seus conhecimentos iniciáticos. Sempre se disse que o Hermetismo, comumente inspirava aos talhadores de pedras, na escolha de seus motivos de ornamentação. Os Alquimistas, por outro lado, não ignoravam o significado que os Maçons davam a seus utensílios. Nada é mais significativo, a este respeito, que uma gravura do tratado intitulado “O Azoth ou a maneira de fazer o ouro oculto dos filósofos ”, do Irmão Basílio Valentin. Vê-se nele um personagem com duas cabeças, que, na mão direita tem um compasso e na esquerda um esquadro. É o hermafrodita alquímico, que une a energia criadora masculina à receptividade feminina, associando, em outros termos, o Enxofre com o Mercúrio, ou o ardor temerário da coluna B à estabilidade ponderada da coluna J. Está de pé sobre o dragão, que simboliza o quaternário dos elementos, dos quais o iniciado deve triunfar no curso das provas. A DECADÊNCIA DAS CORPORAÇÕES Fazendo-se rica e poderosa, a Igreja teve necessariamente que corromper-se. Chegou uma época na qual o alto clero, entregue a todas as intrigas da política, fazia alarde de um luxo dos mais insolentes e nem sequer tomava o incômodo de dissimular a corrupção de seus costumes. 6
Os fiéis se escandalizavam. Seu antigo fervor foi substituído pela dúvida e numerosas heresias que surgiram nos espíritos. Isto foi a aurora do despertar intelectual que se preparava. Este novo estado de ânimo, teve sua repercussão na arquitetura religiosa. As doações se tornaram escassas. A força de construir igrejas – e as havia por todas as partes – e os membros das confraternidades de São João encontrava cada vez menos onde empregar seu talento. Haviam-se especializado em excesso no estilo chamado Gótico, já passado da moda. Depois veio o cisma de Lutero, que desencadeando terríveis guerras religiosas, terminou de desorganizar as antigas corporações de construtores. Ameaçavam desaparecer sem deixar mais que vagos rastros documentados, mas afirmando seu passado poderoso pelos monumentos incomparáveis, que se imporão sempre à admiração da posteridade. A CABALA Nem tudo estava perdido. Uma transformação se elaborava, provocando claramente um movimento intelectual do mais alto interesse. Enquanto as querelas do dogma dividiam os espíritos, os mais beligerantes quiseram aprofundar imparcialmente as questões religiosas. Chegaram assim a estudar, especialmente, a metafísica religiosa dos Judeus. Estes, pretendiam estar de posse de uma doutrina secreta que remontava até Moisés; era a seus olhos a tradição pela excelência, chamada Qablalah em hebreu. Tratava-se, na realidade, de conceitos derivados, em boa parte do Gnosticismo alexandrino, e derivados portanto do patrimônio da antiga iniciação. Suas características em fazer ressaltar a concordância fundamental das religiões. Suas fantasias místicas tiveram por efeito prático o de sugerir a idéia de uma filosofia que atendesse indistintamente os fiéis de todos os cultos, sem obrigá-los a renegar de suas crenças particulares. Eminentes pensadores, em comunhão de vontades de uns com os outros, dedicaram toda sua energia cerebral a especulações desta classe, o que trouxe por resultado uma tensão particular na atmosfera mental do século XVII. OS ROSA-CRUZES O excesso do mal atrai o remédio. Os estragos do fanatismo cego deviam conduzir ao despertar de uma regeneração universal, pelo amor e pela ciência. Era 1604, uma associação secreta, desejou chamar o cristianismo à inteligência de seus mistérios e ensinar ao mundo as leis da fraternidade. Os afiliados haviam escolhido por emblema uma rosa fixada sobre uma cruz e referiam a lenda de um certo Cristian Rosenkreuz, do qual pretendiam continuar sua obra. Se falou muito deles e, perdendo-se nas nebulosidades do hermetismo e da teosofia, lograram excitar as imaginações e semear germens cuja eclosão não devia fazer-se esperar. NOTA: A Ordem Rosa-Cruz não esteve jamais organizada em sociedade. Era-se considerado membro dela tão só pelo fato de possuir certos conhecimentos. Os irmãos da Rosa-Cruz não se reuniam para deliberar ou trabalhar em comum. Contentavam-se com manter entre eles correspondência epistolar e com comunicar-se o fruto de seus estudos. A FRANCO-MAÇONARIA MODERNA A concepção de um ideal (Coluna B) permanece estéril enquanto faltem os m eios práticos para sua realização (Coluna J). As aspirações generosas dos filósofos, não podiam entrar em ação senão sob a ajuda de uma organização positiva. O espírito ou a alma, nada podem, se não dispõem de um corpo como instrumento de execução. Lá na época em que graças aos Rosa-Cruzes e a outros místicos uma entidade espiritual flutuava no ar, ansiosa de encarnar-se, um organismo propício veio a oferecer-se. Não tendo mais razão de ser, as antigas confraternidades maçônicas estavam por todas as partes dissolvidas, salvo na Grã-Bretanha e na Irlanda, onde sempre reinou um espírito favorável à sobrevivência de toda tradição antiga e respeitável. Pela força de um hábito impregnado nos costumes, as associações de Maçons Livres e Aceitos subsistiram, todavia, no século XVII em diversos centros dos três reinos insulares. Era notoriamente público que os maçons livres, reconheciam-se entre eles por certos sinais, que estavam obrigados sob juramento a guardá-los em segredo. Sabia-se, igualmente, que em todas as circunstâncias da vida estavam obrigados a prestar7
se ajuda recíproca. Depois de sua decadência, sob o ponto de vista do exercício da arte de construir, a prática da solidariedade veio, de fato, a ser o objetivo essencial destas confraternidades. Propagouse, então, a moda de fazer-se aceitar como membro honorário e as Lojas maçônicas se mostravam tão exeqüíveis aos cavalheiros que não manejavam profissionalmente a trolha, as quais os de ofício se desinteressavam mais e mais e, de uma instituição que não respondia a suas necessidades práticas. Os Maçons Aceitos, foram assim, pouco a pouco tão numerosos como os Maçons Livres e desde o começo do século XVIII estavam francamente em maioria. Foi neste momento quando se tomou uma resolução de importância extrema. Esta teve por resultado fazer renunciar aos empreendimentos materiais da antiga Maçonaria profissional chamada operativa, por oposição à nova Maçonaria puramente filosófica chamada especulativa. Assim nasceu a Maçonaria Moderna, que tomou dos construtores da Idade Média um conjunto de formas alegóricas e de sinais engenhosos, de regras de boa disciplina e tradições de fraternal solidariedade, a fim de aplicar esse conjunto ao ensinamento de uma arquitetura social, esforçandose em construir o bem-estar humano, pelo aperfeiçoamento intelectual e moral do indivíduo. ELIAS ASHMOLE A Maçonaria moderna, respondia a uma necessidade sentida em toda a Europa, pelos espíritos e mentes mais nobres. Espalhou-se com tanta rapidez que parecia um prodígio. Assim, quando mais tarde se quis remontar até sua origem, não se pode deixar à idéia de que, semelhante a Minerva que surge armada do cérebro de Júpiter, a concepção maçônica devia ter sido ideada por algum pensador genial. A fim de descobrir o fundador de uma tão maravilhosa instituição, Os Maçons ingleses do século XVII foram passados em revista. Supôs-se assim que o 16 de outubro de 1646, um sábio antiquário adepto do hermetismo e aos conhecimentos secretos, nessa época em voga, foi recebido Maçom em Warrington, pequena vila do condado de Lancaster. Não houve necessidade de mais nada para erigir Elias Ashmole, esse era o nome do personagem, em herói de lendas. Se lhe atribuiu todo o mérito da reforma acontecida. Segundo o Irmão Ragon, e outros historiadores, seria ele, o Rosa-Cruz, que havia imprimido um caráter iniciático aos primitivos rituais operativos. Isto não é verdade; a influência que este aficionado às ciências ocultas exerceu sobre a Franco-maçonaria é nula. Desapontado, segundo parece, pela natureza dos “mistérios” que lhe foram revelados na iniciação, não reapareceu na Loja senão ao cabo de 31 anos depois, em 11 de março de 1682, pela segunda e última vez de sua vida, como atesta seu “diário” que jamais deixou de levar com uma escrupulosa minuciosidade. A PRIMEIRA GRANDE LOJA Contrariamente ao que, em boa lógica, é permitido figurar-se, os documentos positivos nos mostram a organização da Maçonaria moderna, nascendo inconscientemente. As maiores coisas podem, de fato, foram engendradas por indivíduos que não tem nenhuma suspeita do alcance dos seus atos. Assim foi o caso dos Maçons londrinenses que em 24 de junho de 1717 se reuniram para celebrar a festa tradicional de São João Batista. Eram membros de quatro Lojas que levavam vida pouco próspera, que para não desaparecer inteiramente, decidiram permanecer unidas sob a autoridade de oficiais. Como cada uma das Lojas era presidida por um Mestre (para distingui-lo de outros Mestres), lhe deram o epíteto de Venerável ou o chamavam o Mestre de Cátedra e deram o título de Grão-Mestre ao presidente do novo grupo, que se chamou Grande Loja. Também, é possível, que estes nomes foram adotados desde 1717, mas a principal preocupação que tiveram este ano, foi a de reunir-se em número suficiente no próximo solstício de verão. O primeiro Grão-Mestre foi Antonio Sayer, homem obscuro, de condição muito modesta. Foi escolhido à falta de outro melhor. Apressaram-se em 1718 a dar-lhe como sucessor a Jorge Payne, burguês de situação cômoda, que não havia assistido à reunião anterior. O próximo eleito foi Juan Teófilo Desaguliers (nascido em la Rochela em 12 de Maio de 1683, filho de um pastor calvinista que se refugiou na Inglaterra como conseqüência da revogação do Édito de Nantes no ano de 1685), doutor em Filosofia e em Direito, membro da Sociedade Real de Ciências de Londres. Depois de haver cumprido um ano de Grão-Mestre, este distinto físico restituiu o Malhete para o Irmão Payne, por falta de um personagem mais ilustre. Para consagrar o prestígio da Grande Loja, era importante por à sua frente, um homem de qualidade. Assim os Maçons de Londres culminaram seus desejos, quando em 1721, Sua Graça, o Duque de Montagu, se dignou aceitar a dignidade de Grão-Mestre. Esta escolha teve o melhor efeito sobre o mundo profano. Chegou a ser de bom tom pertencer à Sociedade dos Franco-maçons universalmente considerada como uma companhia distinta. 8
O LIVRO DAS CONSTITUIÇÕES As modificações feitas aos regimes das antigas confraternidades de construtores, deram lugar à promulgação de um novo Código da Lei Maçônica. A redação foi confiada ao Irmão James Anderson e a obra se chama “O Livro das Constituições dos Maçons Livres, que contém a história, cargos e regulamentos da mais antiga e mui respeitável Fraternidade”. Ali se diz no capítulo “concernente a Deus e a religião”:
Um Maçom está obrigado por seu compromisso a obedecer a lei moral e se compreende bem a Arte não será jamais um estúpido ateu nem um libertino irreligioso. Embora, nos tempos passados, os Maçons estavam sujeitos, em cada país a praticar a religião deste país, qualquer que fosse, estimou-se que era mais oportuno, doravante, não impor-lhes outra religião que aquela em que todos os homens estão de acordo e deixar-lhes livres quanto a suas opiniões particulares. É suficiente que sejam homens bons e leais, pessoas de honra e probidade, quaisquer que sejam as confissões ou convicções que os distingam. Assim, a Maçonaria será o centro de união e o meio de estabelecer uma sincera amizade entre pessoas que, fora dela, estariam constantemente separadas uma das outras. Em relação à autoridade civil, suprema ou subordinada lemos: O Maçom é um sujeito pacífico submetido ao poder civil, em qualquer lugar em que resida ou trabalhe; não deve estar jamais implicado nos complôs ou nas conspirações contra a paz e a prosperidade da Nação, nem comportar-se incorretamente com respeito aos magistrados subalternos, pois a guerra, a efusão de sangue e as insurreições tem sido, em toda época, funestas à Maçonaria. Se algum Irmão se levanta contra o Estado, é necessário guardar-se de favorecer sua rebelião, tendo-lhe compaixão como a um desgraçado. Se ele não está claramente condenado por nenhum outro crime, a leal confraternidade, embora sem favorecer a rebelião a fim de não levar dúvidas ao governo estabelecido nem dar-lhe um motivo de desconfiança política, não o expulsaria da Loja, permanecendo indissolúveis os laços que a ela o unem. O artigo VI que trata “da conduta em Loja” recomenda, em fim:
Que vossas disputas ou vossas querelas não franqueiem jamais o umbral da Loja; evita, sobretudo, as controvérsias sobre as religiões, as nacionalidades ou a política, atendendo a que em nossa qualidade de Maçons, não professamos senão a religião universal já mencionada. Somos, claramente, de todas as nações, de todas as línguas, de todas as raças, e se excluímos toda política é porque ela não contribuiu jamais no passado à prosperidade das Lojas e não contribuirá, principalmente, no vindouro. OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA FRANCO-MAÇONARIA À luz dos resumos que precedem, a Franco-maçonaria moderna se nos apresenta como uma associação de homens escolhidos, cuja moralidade pôde ser também comprovada, que sentindo-se completamente seguros uns dos outros, podiam praticar entre eles uma fraternidade sincera e sem reservas. Estes homens, reconhecidos como bons, leais e probos, estão obrigados a evitar, com o maior cuidado, tudo aquilo que possa dividi-los. Lhes está, especialmente proibido, discutir sobre suas convicções íntimas, tanto religiosas como políticas. A virtude característica deve ser, em todos os casos, a Tolerância. Para ser tolerante, é indispensável adquirir idéias amplas e elevar-se por sobre a pequenez de todos os preconceitos. “A Franco -maçonaria se esforça, em conformidade, em emancipar as mentes; se dedica, em particular, a libertá-los dos erros que mantêm a desconfiança e o ódio entre os homens. Estes, a seus olhos, não devem ser estimados mais que em razão do valor efetivo que eles têm de suas qualidades intelectuais e morais”. Toda outra distinção de crença, de raça, de nacionalidade, de riqueza, de classe ou de posição social, deve excluir-se do seio das reuniões maçônicas. Fonte: El Libro Del Aprendiz – Oswald Wirth - 1894 9
