Ana Cristina Gonçalves Gonçalves Mateus
OCULTISMO E ESOTERISMO NA OBRA DE WILLIAM SHAKESPEARE
Análise das peças Hamlet, The Tempest e The Winter’s Tale
Dissertação de Mestrado em Estudos Ingleses Orientação: Prof. Doutora Maria de Jesus Crespo Candeias V. Relvas
Universidade Aberta, Lisboa
ERRATA
Pági ágina
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Onde selê
Deve Deve ler -se
62
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a I greja greja começou começou s sentir ntir
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81
10
(III. i. 601-602)
(II (I I . ii ii. 601 601-602 -602)
88
14
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98
21
Ferdinand
Miranda
131
9
Tom Tome- -se -se
Tom Tome-se -se
OCULTI CUL TIS SMO E ESO ESOTERIS TERI SMO NA OBRA DE WI L L I AM SHAKES HAK ESP PEARE: Hamlet, Th The Tempest e Th The Win intter’s Tale
Dissertação ssertação de Mestrado em Estudos I ngle nglese ses s
Orie Ori entação: ção: Prof Prof.. Dout Doutora ora Maria ria deJ esus sus Cre Crespo spo Ca Cande ndeias V. V. Re Relvas vas
ÍNDICE
Agradecimentos
iii
NotaPrévia INTRODUÇÃO
iv vi
CAPÍTULO I. O Renascimento Inglês 1. A Era Era Isabe sabellina
1
1.1. O Dra Drama I sabe sabellino
11
1.2. A Cosmovi Cosmovisã são o Isabe sabellina 1.3. O Sobrenat Sobrenatura urall
12 17
CAPÍ CA PÍT TUL O II I I. As A s Ciê Ciências Ocul Ocultas tas no no Dea Dealbar de Uma Nova Era 2.1. O Neo eopl pla atonism tonismo
20
2.2. O Oculti Ocultism smo
21
2.3. O Esoteri soterism smo
21
2.4. O Hermeti ermetism smo o 2.5. 2.5. A Astrol strolog ogiia
22 23
2.5.1. O Horóscopo
25
2.5.2. Os Elementos entos
27
2.5.3. Os Planeta netass
29
2.5.3.1 Sim Simbologi bologia a e Regên egênci cia as dos Planet aneta as
29
2.5.4. Aspectos 2.5.5. Casas sas Astrol strológ ógiicas cas
31 32
2.5.6. 2.5.6. O Ascende scendente nte
33
2.6. A Cabal bala
33
2.7. 2.7. A Alquimia
48
2.7.1. 2.7.1. A Sim Simbol bologi ogia Alquí química
55
2.8. 2.8. A Magia 2.8.1. 2.8.1. A Magia Celta
58 62
2.9. A Numerologia rologia
65
CAPÍTULO III. William Shakespeare: Um Homem do Seu Tempo 3.1. Breve Aponta pontamento ento Biográf ográfico
70
3.2. As Fontes de Shakespe Shakespeare are
72
CAPÍT PÍ TUL O IV IV. El Elementos ntos Ocul Ocultista tistas e Esoté sotéricos ricos na Obra de Shakes Shakespe pea are: 4.1. Hamlet
74
The Tempest 4.2. Th
93
The Wint inter’s Tale 4.3. Th
112
CONCLUSÃO
126
BIBLIOGRAFIA BIBL IOGRAFIA E WEBGRAFI WEBGRAFIA A
133
ANEXOS
RESUMO A dissertação “Aspectos Ocultistas e Esotéricos na Obra de William Shakespea Shakespeare re – Anál nálise das das pe peças ças Hamlet, The Tempest e The Winter’s Tale” pretende constatar a existência de conteúdos e teorias ligados às ciências ocultas na obra deste autor. Hoje a humanidade vive um novo ciclo, ao entrar na “Era de Aquário” (período de paz, harmonia, amor e tranquilidade), em que a procura de novas vias de desenvolvimento pessoal se torna basilar, assim como o interesse generalizado pelas mais diversas doutrinas, filosofias e religiões, das mais simples às mais compl complexa exass e misteri steriosa osas. s. Ci Ciências ncias e Pseudo-ci Pseudo-ciê ência ncias como como a Astrologi strologia, a, a Cabala abala ou a Al Alquim quimia, torna tornam m-se im importantes portantes m mei eios os de acess acesso o ao alm almejad ejado o aperf aperfei eiçoam çoamento ento pessoa pessoall. A verdadei verdadeira ra “revol “revolução” ução” de pen pensa sam mentos, entos, costum costumes e posturas inici niciad ada a com o Quattrocento ital taliano e difun dif undida dida por por toda a Europa do sé século XVI , bem bem como a proliferação de estudos e descobertas e invenções científicas desta época, alteraram toda uma mundividência herdada da visão maniqueísta medieval, em que a eterna eterna luta entre entre o Bem Beme o Mal Mal – que condici condiciona ona os comportam comportamen entos, tos, posto que o homem homem não não passa de umtítere títere cujas cuj as acçõ acções es são são dominada dominadass por este combate combate – é nota dominante. É nesta sociedade em ebulição que William Shakespeare se move e produz a sua obra. O estudo da temática ocultista e esotérica na obra de William Shakespeare, um dos maiores autores do cânone literário inglês, ainda não foi objecto de tratamento muito desenvolvido a nível mundial, o que determinou a escolha do tema.
PALAVRAS-CHAVE: Shakes Shakespe pea are/D re/Dram rama/Oculti /Ocultism smo/Al o/A lqui quimia/Ast /A strol rolog ogiia/Ca /Cabal bala.
ABSTRACT The The diss issertation ion “Occult and Eso Esoteric Asp Aspects in Shakespeare’s The Tempest and Th The Wint inter’s Tale” aims to verify the Plays – Study of Hamlet, Th
existence of contents and theories linked to the occult sciences in the works of this author. Nowadays owadays,, on the verge of the “Age “A ge of Aquarius” rius” (a peri period od of pea peace, harmony, love and tranquillity), mankind lives in a new cycle in which the quest for new ways of personal development becomes a keystone, as well as the general interest in diverse doctrines and religions that ranges from the simplest to the most compl complex ex and and mysterious ysterious ones. ones. Sci Sciences ences and and PseudoPseudo-Sci Scien ences ces such as as Astrol Astrology, ogy, the Keb Kebba ballah or Al A lchemy, become become important mea means ns to get the desi desired red inne innerr development. The The “r “revolut lution ion” in th thought, habits its an and po posture be begun wit with h th the Ita Italia lian n Quattrocento and spread through Europe in the sixteenth century, as well as the
proliferation of studies and scientific discoveries and inventions of this period, changed the whole vision of the world, which had been inherited from the one of the Middle Ages, in which the everlasting fight between Good and Evil – that conditions behaviours, for Man is but a puppet whose actions are commanded by this this fi fight – encompasse passess everythi everything. ng. It It is is in in this this type of socie society that that Shakes Shakespe peare are lives and produces his works. The The study of th the occult and esoteric themes in Shakespeare’s works, being ing this writer one of the greatest in the British literary canon, has not yet been greatly developed worldwide, what was determinant for the choice of this subject.
KEYWORDS: Shakes Shakespe pea are/D re/Dram rama/Occult/ /Occult/A Alchem chemy/Ast y/A strol rology/K ogy/Ke ebba bbalah
RÉSUMÉ
L a disse dissertation rtation « Aspects spects Occul Occultitiste stess et Esoté Esotéri rique ques dans dans l’ l’œuvre de Tempest et The Winter’s Tale » a le William Shakespeare – Étude de Hamlet, The Tem
bout de de véri vériffier l’ l’existe xistence nce de contenu contenu et et théori théorie es liliés aux aux scie sciences nces occulte occultess dans l’œuvre de cet auteur. Aujourd’hui l’humanité vit un nouveau cycle, au début de « l’Age de Aquari quarium um» (pé (péri riode ode de de paix, harm harmoni onie e, amour et tranquil tranquilllité) té) dans dans la la reche recherche rche de nouvelles façons pour le développement personnel devient fondamentale, bien aussi l’intérêt généralisé pour des différentes doctrines, philosophies et religions, venant des plus simples jusqu'aux plus complexes et mystérieuses. Sciences et Pseudo-sci Pseudo-scie ences nces comme l’Astrologie strologie, la l a K abba bbale ou ou l’l’Alchimie, devi devie enne nnent moyens importants pour l’accès au désiré perfectionnement intérieur. L a vraie vraie « révoluti révolution on » de pensé pensées es,, costum costumes et attitud attitude es ini inititié ée avec avec le Quattrocento italien et diffusée par toute l’Europe au siècle XV, aussi que la
prolifération d’études et découvertes et inventions scientifiques de cette époque, ont changé la mondovision héritée de la vision manichéiste médiévale, où l’éternelle lute parmi le Bien et le Mal – que conditionne les comportements, car l’homm homme n’es n’estt qu’un qu’un objet objet dont ses ses attitude attitudess sont commandé andées es par par cette lute lute – es estt note domi dominante. nante. Il Il es estt dans dans cette cette soci société été que William Shakespea Shakespeare re circul circule e et produit ses œuvres. L ’étude de la thé thémati atique occulti occultiste ste et ésoté ésotéri riqu que e dan danss l’ l’œuvre de Wi Willliam Shakespeare, un des plus grands auteurs du panorama littéraire anglais, n’a pas encor encore e été objet objet d’ d’une approche approche très dével développé oppée, e, ce qui qui a déte détermi rminé né le choix choix du sujet de ce travail. MOT OTS S CL CL EFS: FS: Shake Shakesp spe eare/D re/Dra ram ma/Occultism /Occultisme /Al /Alchi chimie/Ast /A strol rolog ogiie/Ka /K abba bbale
iii
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer toda a colaboração do meu grupo disciplinar, principalmente a das colegas que se prontificaram a assumir tarefas da minha responsabilidade; sem esse apoio, talvez não tivesse conseguido elaborar esta dissertação. dissertação. Agradeço também também a todas as colega colegas que me/se me/se entusiasm entusiasmaram com os meus êxi êxitos tos,, me apoi apoiaram aram nos momentos momentos menos menos bons bons e desdobraram desdobraram para me me facultar toda e qualquer informação que pudesse ser-me útil. À Alexandra exandra e à I sabe sabell, o meu meu muito uito obriga obrigada da por faze fazerem rem o favor favor de se serr minhas amigas. À Ana Caei Caeiro, agrade agradeço ço toda a aten atenção ção e cari carinho nho com que, que, desde desde a primeira hora me tratou e peço perdão pelo trabalho que, constantemente, lhe dei. Aos meu meuss alunos alunos quero quero dei deixar uma uma pal palavra de apreço apreço por todo o inte i nteresse resse e solidariedade que manifestaram, mormente em momentos de maior fragilidade da minha parte. Os valores que os norteiam fazem com que me sinta honrada por poder formá-los e ser, por eles, formada. Quero, finalmente, fazer um agradecimento especial à Professora Doutora Maria aria de de Jes Jesus us Relvas Relvas,, pela pela di disponi sponibil bilidade dade que se sem mpre mani anifestou; stou; pel pela paciência de, incessantemente, ler, reler e melhorar os vários esboços que fui elaborando e, finalmente, pelos “puxões de orelhas” que, embora doessem, serviram de estímulo para que me concentrasse no que era essencial dizer e fazer para ter êxito na tarefa a que eu me propusera.
iv
NOTA NOTA PRÉVIA PRÉVI A
Parece-me pertinente proceder a alguns esclarecimentos que considero necessários para clarificar alguns pontos desta dissertação. A obra Alquimia e Ocultismo, de Victor Zalbidea, consiste numa compilação de traduções de textos de alquimistas conhecidos, como Flamel, Basílio Valentin e Hermes Trismegisto, entre outros. Na tradução de Poimander de Trismegisto, que consultei, o nome do autor é indicado como Trimegisto, motivo pelo qual referi, na citação da página 22 e na Bibliografia, exactamente como figura na obra. No Capítulo IV, aquando da análise das peças e junto das citações, os textos serão indicados abreviadamente Ham. (Hamlet); Tp Tpt. ( Th The Tempest) e WT. ( Th The Wint inter’s Tale Tale). da seguinte forma: Ham Após os anexos anexos menci mencionad onados os na disse dissertação, rtação, coloque col oqueii uma uma secção secção que intitul ntitule ei “D “Diiversos – Curiosi uriosida dade des” s” e que se desti destina na a tornar tornar mais mais clara clarass al algumas teorias e afirmações teóricas. Passarei agora a indicar as fontes a que recorri para obter as gravuras da capa e ane anexos xos deste trabal trabalho. ho. Assim ssim: a gravura da capa intitula-se Ressurection e foi obtida no site as gravuras gravuras de Londres, Londres, dos teatros teatros e do First Folio encontram-se no site as gravuras com as fotos de Shakespeare foram retiradas do mesmo site as gravuras gravuras do Cad Caduceu uceu,, da Táb Tábua ua de de Esmeral Esmeralda da,, da Árv Árvore ore da Vida de Basíl sílio Va Valentin, de Maria ria, a Jud J udiia e de Herme rmes Tris Trism megist isto for foramretira iradas do site ite
v
a gravura gravura do AD ADN aparece aparece em a gravura de Iris de The Tempest foi retirada de a gravura do macrocosmo e microcosmo aparece em a gravura do horóscopo elab elaborado orado por K epl epler está paten patente te em em
uma das gravuras de Ouroboros foi retirada de a outra gravura está patente em a gravura do eclipse solar foi retirada de > as gravuras gravuras da Árv Árvore ore da Vi Vida edo Tarot Tarot aparecem aparecemem a gravura com os desenhos de Flamel foi retirada de a gravura acerca de ‘Bear baiting’ aparece em a gravura do horóscopo com forma de mandala foi retirada de .> as gravuras com as tabelas de conversão numérica foram retiradas do site as gravuras do processo alquímico foram retiradas da obra Alquimia e Misticismo
todas as outras gravuras têm a fonte indicada
vi
INTRODUÇÃO Foram várias as razões que nortearam a escolha da problemática do Ocultismo e Esoterismo na obra de William Shakespeare – mormente em Hamlet, The Tempest e The Winter’s Tale – como tema desta dissertação de mestrado. Inici niciei ei o estudo estudo de Shakespe Shakespeare are aqua aquando ndo da licenciatu cenciatura ra e, então, então, pareceupareceu-me que ficava sempre algo por dizer, por explicar, por definir. As obras podiam, na minha óptica, ser analisadas de diferentes formas e ser observadas sob vários prismas. Deste modo, aparentemente, deveria haver um significado mais literal e objectivo (que assentava na tradição dramática das ‘Morality’ e ‘Miracle Plays’, entre muitas outras tradições, em voga na época de Shakespeare), paralelamente a outro sentido, mais obscuro, místico, quiçá mesmo oculto (Ocultista), que apenas de posse de conhecimentos específicos e após análises aturadas poderia emergir. O desejo de aprofundar o conhecimento acerca da vivência única do Renascimento, em que todo um mundo de novas ideias e saberes coexistia com uma imensidão de tradições e costumes arreigados nos diferentes povos e culturas da Europa, e, particularmente, da era isabelina, foi também uma razão de peso na escol scolha que que fiz. fi z. Como omo Ma Maria ria de de Je J esus sus Relva Relvass af afirma rma: Qualquer época é marcada por factores e acontecimentos que contestam e, por vezes, estilhaçam valores, crenças e modos de vida da era (ou eras) precedente(s) (...). Na história e na cultura inglesas, o Renascimento e o V itorian tori aniismo smo reveste revestem m-se de caracterí característi sticas cas de tal forma forma singul singulares ares que constituem exemplos paradigmáticos de inovação e continuidade. 1
A verdadei verdadeira ra “revol “revolução” ução” de pen pensa sam mentos, entos, costum costumes e posturas inici niciad ada a com o Quattrocento italiano e difundida por toda a Europa do século XVI, bem como a profusão de estudos e descobertas científicas deste período, 1
Universidad niversidade e Abe Aberta, rta, Cursos Cursos de de Me Mestrado strado em em Estudos studos Inglese Ingleses, s, Prof Profªª Doutora Maria Maria de Je J esus Relvas, , 2005-10-01.
vii
nomeadamente a nível da estrutura e leis do universo e do cosmos, alteraram a mundividência herdada da visão maniqueísta medieval da eterna luta entre o Bem e o Mal M al,, emque o homem homemnão passa passa de um títere, títere, cuj cujas as acçõ acções es são são dominada dominadass por este combate. Contudo, muitas tradições e crenças mantiveram-se activas e continua continuaram ram a infl nfluenci uenciar ar aspe aspectos ctos da Cultura, ultura, da Li Literatura teratura e mesmo da Sociedade renascentistas. Por outro lado, foi extremamente importante a estabilidade política do reinado de Isabel I e do seu ‘Settlement’ que lhe permitiu desenvolver o reino e criar uma corte deslumbrante, pomposa e culta – mas que não enjeitava uma tradição de respeito e crença no sobrenatural, oculto e hermético, assim como aceitava o saber alquímico e a ciência cabalística – em que o Drama desempenhou um papel de relevo, e autores geniais como William Shakespea Shakespeare, re, Chri Christophe stopherr Marl Marlowe owe e Ben J onson foram apoi apoiad ados os e patroc patrociinados, nados, quer pela corte, quer pelos cortesãos mais eruditos e influentes. Finalmente, a constatação, na passagem do terceiro milénio, da ansiedade pela designada “Era de Aquário”, um período de paz, harmonia e tranquilidade, que tem vindo a conduzir a uma incessante busca de novos caminhos para o ser humano, bem como à generalização do interesse pelas mais misteriosas doutrinas e religiões, foi um dos principais motivos que me levaram a optar por este tema. Assim, seguindo o ponto de vista de Victor Zalbidea: “Na alquimia, tudo, mesmo o que parece mais simples e claro, pode esconder um símbolo ou uma chave”,2 optei por formular como questões de fundo as seguintes: existe ou não Ocultismo na obra de William Shakespeare? se existe, de que natureza se reveste? teria Shakespeare conhecimento da Arte de Hermes (Alquimia) e transmitido, na sua obra, esse conhecimento, ignorando, deliberadamente, o código de silêncio imposto aos adeptos? A fim de tentar tentar responder responder a tai tais ques questões tões,, defi defini o segui seguinte nte conjunto conjunto de objectivos: •
•
•
2
V ictor ctor Zalbidea Zalbidea et al., Alquimia e Ocultismo (Li (L isboa: Edi Ediçõe çõess 70, 70, 1972) 1972) 16. 16.
viii
– objectivos gerais – referir toda a envolvência cultural, religiosa e social do período isabelino, assim como a posição ocupada pelas ciências ocultas da época; – objectivos específicos – integrar as obras em apreço no contexto social em que foram produzidas e tentar desvendar o Ocultismo por detrás do véu renascentista, moralista3 e isabelino das peças a analisar. A escol escolha ha das das peças peças prende prendeuu-se se com o facto facto de, de, após após relei releitura tura de toda a obra shakespeareana, me parecer serem estas as mais passíveis de responder com segurança às questões acima formuladas. Hamlet poderá constituir fonte profícua de elementos esotéricos, uma vez que, por detrás da evidente sede de vingança de Hamlet, parece existir um sentido mais profundo e oculto, um desejo de restabelecer a ordem natural das coisas, para que deixe de existir na Dinamarca, e The Te Tempest foi a primeira segundo este: “something rotten”. (Ham. III.i.67). Th escolha e a mais óbvia: toda a peça gira à volta da magia de Próspero, pelo que Wintter’s poderá representar um verdadeiro manancial de Esoterismo. Em The Win Tale Tale, segundo segundo André André Nataf ataf, a Al Alquim quimia temlugar ugar de desta destaque que..4 A dissertação centrar-se-á em quatro grandes capítulos. No primeiro, intitul ntitula ado “O Renas enasci cim mento Inglês”, Inglês”, procede procederei rei a uma breve breve contextua contextuallização zação histórica, social e filosófica do denominado período isabelino, perspectivando a cosmovisão, as superstições e crenças da época e aflorando também o chamado drama isabelino; no Capítulo II, com o título “As Ciências Ocultas no Dealbar de uma Nova Era”, referir-me-ei às várias doutrinas ocultistas – a Alquimia, a Astrologia, a Cabala, o Esoterismo, o Hermetismo, o Ocultismo, a Magia e a Numerologia, que poderão ter influenciado a obra de Shakespeare; de igual modo, apresentarei uma pequena perspectiva sobre o Neoplatonismo, doutrina de 3
O termo “moralista” é usado para significar toda uma tradição maniqueísta medieval, que não se perdera ainda, em que existe sempre a vitória do Bem sobre o Mal. Esta perspectiva é abordada nas ‘Morality Plays’. 4 André Nataf, The The Words rdsworth rth Dic Dicttion ionary of th the Occult (Hertfordshire: Wordsworth Editions, 1991) 220.
ix
extrema importância no Renascimento inglês, principalmente no que respeita à L iteratu teratura. ra. O subca subcapí pítul tulo o “Astrol “A strologi ogia a” será será di dividi vidido do em em oito oito partes partes,, aba abarcando rcando a Astrologi strol ogia a (consisti (consistindo ndo numa breve breve introdução introdução ao ao tema e numa perspe perspecti ctiva va histórica desta ciência), o Horóscopo, os elementos, os planetas, a simbologia e as regências dos planetas, os aspectos, as casas astrológicas e o ascendente. Esta tão vasta expl explan anaçã ação o pareceupareceu-m me perti pertine nente nte,, posto que, que, sendo sendo a Astrol Astrologi ogia a um domínio quase desconhecido nos dias de hoje, torna-se importante e, a meu ver, necessário compartimentar o mais possível a informação. O mesmo acontece com o subcapítulo “Alquimia”, que será dividido em Alquimia e Simbologia Alquímica. No Capítulo III, denominado “William Shakespeare: um Homem do seu Tempo”, procederei a uma breve abordagem da vida e obra de Shakespeare, dando também, sob a forma de subcapítulo, ênfase às fontes a que o autor recorreu. Finalmente, no Capítulo IV, intitulado “Os elementos Ocultistas e Esotéricos na Obra de Shakespeare”, tentarei encontrar essas componentes na The Tempest e The Wint inter’s Ta Tale. obra do autor, mormente nas peças Hamlet, The Começarei por indicar alguma informação, necessariamente breve, acerca das peças, das datas de impressão e possíveis questões particulares acerca do assunto, sobretudo as que se prendem com o First Folio e as impressões paralelas dos textos de Shakespeare. Haverá, sem dúvida, subcapítulos mais extensos e outros mais breves, mas não será possível, na minha opinião, evitar o alongamento, nomeadamente da definição das teorias e doutrinas esotéricas e ocultistas, de molde a, por um lado, facultar informação essencial acerca das mesmas e, por outro lado, poder depois tentar encontrar algumas dessas teorias e doutrinas nas peças em análise. Na bibliografia consultada, organizada em primária e secundária, gostaria The de destacar três obras fundamentais para a execução desta dissertação: Th Elizabethan World Picture, de E.M.W. Tillyard, Le Grand Livre des Sciences Occultes, de Lau Laura ra Tua Tuan, n, e A Cabala Explicada, da autori autoria a de J anet anet Berensonerenson-Perkins. A primeira destas obras revelou-se de suma importância para a compree compreensã nsão o da envol envolvênci vência a renascen renascentitista sta e da mundivi undividê dênci ncia a do sécul século o XV XVI, ao
x
mesmo tempo que constituiu uma mais-valia para o entendimento de algumas problemáticas da obra shakespeareana. Ciente de que, actualmente, muitos autores têm menosprezado e/ou considerado a obra de Tillyard ultrapassada, ela constituiu, porém, um elemento fulcral para o entendimento da cosmovisão isabelina e para o tópico aqui tratado. Os outros dois textos foram preciosos aliados para o cabal entendimento das ciências ocultas. Deles retirei material precioso que me permitirá, seguramente, ler Shakespeare à luz de novos pressupostos, ideias e teorias. Clef pour Shakespeare, de Paul Arnold, revelou-se outra obra de crucial importância e elemento insubstituível na análise que me proponho realizar, uma vez que aborda essencialmente o plano esotérico dos textos de Shakespeare.
1
I O RENASCIM RENASCIMENTO ENTO INGLÊS 1. A Era Isabelina Isabel I, filha de Henrique VIII e Ana Bolena, foi a última monarca da dinastia Tudor que seu avô, Henrique VII, iniciara. Historiadores como David McDowall consideraram ser a era Tudor: “... a most glorious period in English history”.1 Isabel sabel era uma mul mulhe herr de frág frágiil aparên aparênci cia, a, mas mas de uma uma vontade vontade férrea, férrea, com um notável talento diplomático e superior inteligência que a levaram a derrotar a I nvencí nvencível vel Armada rmada espanho spanholla com uma uma frota frota na naval incipi ncipie ente e a opor-se opor-se ferozmente erozmente a todos os que que tentavam tentavam persuadi persuadi--la a contrair contrair matri matrim mónio. ónio. Ape A pesar sar de constantem constantemente ente insta instada da a casar, casar, a fifim de garan garantitirr a sucessão, sucessão, I sabe sabell optou pel pelo celi celibato, bato, ganhando ganhando assi assim m o títul título o de ‘V irgin rgi n Queen’ Queen’,, uma uma vez que um casam casamento ento com um soberano estrangeiro poderia colocar o problema da independência do paí país, ao passo passo que o casam casamento ento com um nobre ingl inglês ês (Isab (I sabel el amava Robe Robert rt Dudley, Duque uque de L eiceste cester, r, e ma mais tarde tarde apa apaiixonou-se por Robe Robert rt Deve Devereux, reux, Duque de Essex) poderia não ser politicamente bem aceite. Isabel sabel I foi, oi, durante anos, anos, conside consi derada rada bastarda bastarda;; o seu nasci nascim mento ento e resul resultante tante casa casamento ento de Henrique nrique V II I com A na Bolen olena a consti constituí tuíram ram elemento preponderante em complicado processo, protagonizado pelo monarca, que acabou por reneg renega ar a fé catól católiica e a igreja de de Roma, oma, crian criando do a ‘Church of England’ England’.. Henri enrique que VI II era um homem homem de aguçad aguçado o inte intellecto e carácter carácter forte forte e domi dominador, nador, tendo uma parte considerável do seu reinado sido marcada pelo desejo de ter um filho varão que lhe sucedesse no trono. Devido à impossibilidade de Catarina de A ragão ragão dar dar ao reino reino um herdei herdeiro ro e porque se apai apaixonara xonara por por Ana A na Bolen olena, a, o rei 1
David McDowall, An Illustrated History of Britain (Ha (Harlow: rl ow: Longm L ongman, an, 2000) 2000) 67.
2
entrou entrou em em confli confl ito com a I greja de Roma, oma, abj abjurou urou o Catoli Catolicism cismo, o, decl decla arou inválido o seu casamento com Catarina – tornando ilegítima a princesa Maria – e desposou desposou Ana Ana,, que lhe lhe deu deu outra fi filha, ha, para seu seu grande grande desgosto. desgosto. Em Em 1536, 1536, Henriqu nrique e VI VI II, que entre entreta tanto nto esta estava va apa apaiixonado xonado por Ja J ane Seymour, Seymour, acusou A na Bolena de adultério e traição, mandando decapitá-la e tornando também ilegítima a pri prince ncesa sa I sabe sabell. Porém, orém, alguns alguns anos anos ante antess de morrer, orrer, Hen Henririque que V III , em testam testamento, ento, legitimou ambas as filhas e deixou claro que, caso o herdeiro nascido do seu casamento com J ane Seymour mor morrresse sem deixar deixar descendênci descendência, a, seria seria sucedido sucedido por Maria, sua filha mais velha, ou por Isabel, se Maria tivesse entretanto morrido, sem deixar descendência. Como referi anteriormente, o nascimento da princes pri ncesa a Isab Isabel el tinha tinha sido sido uma uma desi desillusão usão para seu seu pai pai, que espe esperava rava ansi ansiosam osamente ente um herdei herdeiro ro varão. Isab I sabel el reve revellou-se, ou-se, porém, uma uma mulhe ulherr experi experien ente, te, inte intelligente gente e astuta que já demonstrara diplomacia e coragem durante o reinado de sua irmã Maria, em que correra perigo de vida, principalmente devido ao facto de ter evitado pronunciar-se acerca da aceitação ou não da religião católica imposta pela irmã. A educa educação ção de de Isa Isabe bell esteve steve a cargo dos dos protesta protestante ntess Wi William Grinda ri ndall e Roger Ascham, os quais incutiram na pupila os fundamentos da nova religião. Com o obje objectivo ctivo de consoli consolidar dar a Igrej Igreja a Anglican ngli cana a, Isa I sabe bell procede procedeu a um conjunt conjunto o de reformas de compromisso, conhecidas como ‘Elizabethan Settlement’. Foi no seu reinado que se publicaram o Book of Com Common Pr Prayer ayer (1552) e os Trinta e Nove Arti Artigos gos de Fé (1563). (1563). Os aspect aspectos os esse essenci nciais ais do ‘Settl ‘Settle ement’ ent’ compree compreende ndem m a natureza divina do Príncipe, a noção de Puritanismo e o conceito de um Deus providencial. O reinad reinado o de Isa Isabe bell I foi marcado por por um ref refinam namento ento da figura gura do cortesão e por um forte cerimonial em torno da rainha: o protocolo mandava que a sua cabeça estivesse sempre acima das de todos os que a cercavam e ninguém podia virar-lhe as costas, o que implicava que, para abandonar um aposento em que a soberana se encontrasse, havia que fazê-lo andando de recuas. Era suposto
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que o cortesão fosse gracioso nos modos e no discurso; culto; conhecedor de L iterat teratura ura Clássica, Hi Históri stória a, Ge Geograf ografia, Ma M atem temática tica,, de lílíngua nguass ant antiigas gas e vernáculas; que fosse atlético, engenhoso, generoso e ‘witty’. A corte corte de Isabel sabel I excedeu excedeu todas todas as precede precedentes ntes em em matéri atéria a de espl esplendor: endor: a cultura da rainha e das pessoas que a rodeavam, bem como o período áureo, a nível das ideias, que se vivia na época (Humanismo Renascentista) possibilitaram uma forte expansão e protecção das artes e a vulgarização do mecenato, tanto na corte, corte, como nas nas di diferentes erentes casas casas senhori senhoriai ais, s, de entre entre as as quai quais sobressai sobressai a de de Mary Mary Sidney, Condessa de Pembroke, que, com os seus irmãos Sir Robert Sidney e Sir Philip Sidney, constituiu um dos mais ilustres e aclamados círculos sociais e culturais da época renascentista. Ao contrári contrário o de seu seu pai pai, Isa I sabe bell não não construiu construiu paláci palácios, os, até porque já possuí possuía a muitos uitos (He (Henrique nrique VI II tinha tinha manda andado do construi construirr vários, vários, entre entre os qua quaiis Nonsuch onsuch que foi sem sempre o favorito favori to de de Isabe sabell I ), mas mas ince incenti ntivou vou os grande grandess senhores e os cortesãos a construir sumptuosas mansões onde poderia ficar alojada quando viajava. Deste modo, os cortesãos demonstravam a sua lealdade à soberana e ela brilhava durante essas viagens (que se designavam ‘progresses’). A Rainha esperava que os seus cortesãos mostrassem um certo esplendor no vestuário e afectação nos modos, e que a cortejassem na tradição do amor cortês: era o objecto de amor inalcançável que eles tentavam conquistar e adular através da música, da dança ou da palavra (Poesia) – mas sem que essa adulação passasse do plano cortês para o pessoal. Os cortesãos, por seu turno, consideravam as atitudes para com a Rainha quase como um jogo, e tanto os casados como os solteiros disputavam os seus favores. Se dos cortesã cortesãos os Isa I sabe bell I espe esperava rava lilisonja sonja, ostenta ostentação ção e al algum guma futi futillidade dade,, o mesmo não acontecia em relação aos seus conselheiros: destes, exigia sobried sobriedad ade, e, lea lealldade dade e trabal trabalho. Isab I sabel el I era uma uma excelen excelente te aval avaliadora adora de personali personalidades dades e essa foi uma uma das das vantagens vantagens do seu reinado. reinado. A soberana sabia sabia não ser fácil para uma mulher reinar numa época em que os homens dominavam e em que às mulheres era atribuído o papel de donas-de-casa e mães; porém, soube
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manter um poder fortíssimo, através da sagacidade e do culto da tradição cortês, bem como da implacabilidade com que punia os que a afrontavam. Era capaz de demonstrar um refinado sentido de humor para, logo a seguir, mandar prender e/ou decapi decapitar tar os seus seus favori favoritos por traição. traição. Mas M as a corte corte de Isabe sabell I não não era era ape apena nass composta por cortesãos, políticos, membros do clero e servos; abrigava espiões que algumas potências estrangeiras colocavam no círculo real, e, por sua vez, a rainha colocava também espiões noutras nações. Nos reinados de Henrique VII e Henrique VIII, as grandes potências europeias eram Portugal e Espanha, cuja grandeza e importância se centravam nos Descobrim escobrimentos. entos. O reino reino de Inglate nglaterr rra a era peque pequeno, no, pouco im importante, portante, pobre e com a desva desvanta ntage gem m da da insul insulari arida dade de.. A economi economia do paí país era essen essenci cial alm mente ente agrícola, mas a quebra acentuada nos preços do trigo e o aumento do preço da lã levaram os grandes senhores a vedar os campos que possuíam e arrendavam aos pequenos agricultores para neles colocarem ovinos: estava criado o sistema de ‘enclosure’ que provocou o alargamento do fosso entre ricos e pobres. Sir Thomas More refere, na sua obra Utopia, que este sistema de exploração agrícola provocou muita miséria e que, por sua vez, esta conduziu ao roubo, à mendicidade e à vagabundagem – alguns dos grandes males da época: For they leave no land free for the plough: they enclose every acre for for pasture … The tenants are dismissed …they sell for a pittance all their household goods.…When that little money is gone …what remains for them but steal… or to wander and beg? 2
No enta entanto, nto, no reina reinado do de Isabe sabell I , Inglate I nglaterr rra a conhe conheceu ceu umdos perí períodos odos de maior esplendor. A estabilidade religiosa, política e governativa proporcionaram as condições ideais para o crescimento económico e transformaram o reino numa potênci potência a mund mundiial. A soberana soberanapromul promulgou gou leis leis desti destina nada dass a esta estabi billizar as condi condições ções
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Thomas More, Utopia, ed. George M. Loga L ogan n and and Robert Robert M. M . Ada A dam ms (Cam (Cambridge bridge:: Ca Cambridge bridge UP, 1993) 19.
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laborais e encorajar a agricultura, o comércio e a indústria; promoveu reformas monetá onetári ria as; emitiu tiu as as ‘Poor ‘Poor La L aws’. ws’.3 Um dos mais cele celebrados brados feitos feitos de Isa Isabe bell I é aderr derrota ota da da fortí fortíssi ssim ma Arma Armada da Espanhol spanhola a – a Invencí Invencível vel Armada rmada – com um peque pequeno no conjunto conjunto de embarc barcaçõe ações. s. Este episódio da história inglesa é, a meu ver, admiravelmente descrito por The Tempest, William Shakespeare na primeira cena do primeiro acto da sua peça The em que o mag mago o Prospero Prospero – quiçá quiçá uma referência referência a J ohn Dee – provoca provoca uma violenta tempestade e faz naufragar o navio em que viajavam o rei de Nápoles, o filho deste deste e o irmã irmão o de Prospero, Prospero, A ntonio, que havi havia a usurpa usurpado do o Duca Ducado do de Milão. A ani animosida osidade de espan espanhol hola a em relaçã relação o a Inglate nglaterr rra, a, nesta nesta época, época, teve a sua orige ori gem m no facto de I sabe sabell recusar recusar a proposta de casam casamento de de Filipe II. Al A lém disso, disso, I sabel sabel favorecia avorecia secr secreta etam mente ente os rebel rebeldes des holan holande deses ses que que contestava contestavam mo domínio de Espanha sobre o seu país. Em 1585, decidiu enviar tropas para a Hola olanda, nda, sob o comando comando do do Duqu Duque e de de Le Leiceste cester, r, Robert obert Dudley, Dudley, e pat patroci rocinou nou os saque saquess fe feitos por Franci Franciss Drake Drake e John J ohn Hawkins Hawkins aos aos gal galeões ões espa espanhóis nhóis que retorna retornavam vam das das Am Américas, éricas, embora nunca nunca tivesse tivesse ofi oficial cialm mente ente reconheci reconhecido do tai tais saque saques. s. Em Em 1586, 1586, Fi F ilipe começou a construir construi r a sua A rmada rmada e em 1588 aportou a Calais para combater a rainha “herética”. Porém, a frota foi derrotada pelas embarcações inglesas e forçada a regressar a Espanha debaixo de ventos fortes e grandes grandes tempestades que destruí destruírram cerca cerca de metade da esquadr esquadra, a, enquanto doenças provocadas por má nutrição mataram uma enorme percentagem dos tripulante tripulantes. s. A vitóri vitória a de de Isabe sabell I sobre a poderosa poderosa nação nação ibéri bérica ca marcou o fim do domí domínio nio espa espanhol nhol na Europa e o iní iníci cio o da ascensã ascensão o de Inglate nglaterr rra a como como potênci potência. a. A soberana soberana e o povo interpreta interpretaram ram a derrota derrota espan espanhol hola a como como um sina sinall divi divino no de
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Dá-se Dá-se o nom nome e de ‘Poor Laws’ L aws’ ao conjunto de leis leis de natureza natureza em eminentem nentemente social social emitidas tidas entre o século XVI e o início do sistema de segurança social designado por ‘Welfare State’ (iniciado no século XX). A primeira ‘Poor Law’ foi publicada em 1536. As leis de 1536, 1572, 1576 e 1597 incumbiam as paróquias da ajuda aos pobres; a lei de 1572 criou um imposto destinado ao auxílio na pobreza e a de 1576 estabeleceu que os pobres deveriam encontrar trabalho, de modo a preveni prevenirr a indolência. indolência. Em Em 1601 1601 foi publ publicada cada uma uma ‘Poor ‘Poor La L aw’ que condensava todas as anteriores e definia o âmbito nacional do auxílio aos pobres.
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aprovação da Causa Protestante, e ondas de patriotismo e devoção à rainha varreram o país. Na Ingl Ingla aterr terra a dos dos Tudo Tudor, r, a maior parte parte da popul popula ação vivi vivia a no no campo, suportando duras condições de vida: as pessoas trabalhavam de sol a sol e mal conseguiam adquirir as coisas mais básicas, como roupas e comida. De um modo geral, as mulheres ocupavam-se das lides de casa e cuidavam dos animais domésticos (porcos, eventualmente uma vaca e galinhas), fiavam, teciam e costuravam as roupas da família, enquanto os homens trabalhavam nos campos. Contudo, na época das colheitas, todos os elementos da família (homens, mulheres e crianças) ajudavam nas tarefas do campo. Os membros da comunidade organizavam-se em pequenas colectividades, de modo a produzir comida suficiente para as suas necessidades e, em caso de excesso de produção, vender os produtos nos mercados. O sistema de ‘open field’ foi, como já mencionei, dando gradualmente lugar ao de ‘enclosure’, quando o preço do trigo decresceu e o da lã aumentou. Os pequenos agricultores, que tinham uma lavoura de subsistência e trabalhavam a terra para o seu sustento e o das suas famílias, começaram a ser coagidos a vender os reduzidos pedaços de chão que possuíam por preços consideravelmente inferiores ao real valor das terras. Este processo, que se arrastou até à época da Revoluçã evolução o Indu Industri strial, al, foi o princi principa pall responsá responsável vel pelo pelo êxodo êxodo de de largas argas massas ssas para para as cidades, bem como pela miséria dos camponeses. A prosperida prosperidade de do comérci comércio o da lã deu deu orige ori gem m a um novo grupo social social que emergira das cinzas das Guerras das Rosas: os comerciantes ou mercadores. Este estrato começou a ocupar um lugar cada vez mais importante na sociedade da época. Os mercadores tinham dinheiro suficiente para poderem comprar terras que depois vedavam e nas quais criavam ovinos para extrair a lã; possuíam também capital que lhes permitia construir tecelagens, onde a lã era trabalhada até gerar o produto final (roupa, vestuário) que depois era vendido com enorme lucro. Como consequência do crescente empobrecimento dos camponeses, sucederam-se as
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ondas de migração para as cidades, o que agravou os problemas que nelas já se viviam. Por volta volta do do ano ano de 1500, 1500, Londre L ondress (Ane (A nexo xo I) I ) era a maior cida ci dade de de Inglaterra, seguida de Edimburgo, na Escócia, Norwich, Newcastle, Bristol e Coventry. A maioria das cidades tinha um aspecto escuro e sujo: não havia iluminação nas ruas, não existia sistema de esgotos e a água provinha de poços. Sem as mínimas condições sanitárias (o cheiro nas ruas era seguramente nauseabundo, porque se lançava para lá todo o tipo de dejectos), as doenças proliferavam e as taxas de mortalidade, principalmente a de mortalidade infantil, eram eleva elevada das, s, tal como como na I dade dade Médi édia. As As ruas eram eram estreitas estreitas e insal nsalubres; as casas, normalmente pequenas e com telhados de colmo, amontoavam-se desordenadamente e havia inúmeros becos escusos, onde ladrões, assassinos e prostitutas se acoitavam. Nas ruas das cidades, havia por vezes um barulho ensurdecedor de pregões, lutas ou embriaguez: a embriaguez era, aliás, uma constante, pois como ninguém consumia água, porque era imprópria, a cerveja era a bebida habitual que a substituía. Na qualidade de um dos centros comerciais mais importantes da época, a capital atraía todo o tipo de pessoas, das mais respeitáveis às mais execráveis, constituindo, consequentemente, o lugar ideal para a proliferação de criminosos. L ondres ondres era era ao mesmo esmo tempo tempo im imunda mas fasci fascinante nante,, dinâm di nâmica mas peri perigosa, gosa, e a sua zona portuária abrigava a escória que se dedicava a toda a espécie de crimes. A era Tudor udor foi um perí período odo de efervescê rvescênci ncia a – social, social, pol política tica,, de ideias – que propiciou um aumento das desigualdades que sempre tinham existido. A rela relativa tiva esta estabi billidade dade polí política tica e a ausê ausênci ncia a de de gue guerra rras, assim assim como como a exti extinçã nção o dos exércitos privados dos grandes senhores, conduziram ao empobrecimento de um grupo social outrora próspero, o dos soldados. Por outro lado, a dissolução dos mosteiros, levada a cabo por Henrique V I II na sequê sequênci ncia a do seu seu corte de relaçõe relaçõess com Roma, oma, teve teve vári várias as consequê consequênci ncias as graves. Uma delas, a mais grave em minha opinião, foi o aumento do número de indigentes, posto que o encerramento das instituições religiosas significou o fim
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das das acções de cari carida dade de da I greja, greja, tais tais como a al alimentaçã entação o e o tratamento ento de pobres e enfermos. Alguns dos edifícios religiosos foram convertidos em asilos e mesmo em hospitais, mas a grande maioria foi entregue à nobreza ou sim simplesm plesmente ente destruí destruída da.. A mudança udança dos sistem sistemas agrí agrícol colas as tam também bém prov provocou ocou indigência generalizada nos campos, como já vimos, agravada, em certa medida, pelo fim súbito da produção dos próprios mosteiros. Na mesma proporção em que a maioria da população empobrecia, os nobres iam enriquecendo, quer com a especulação dos terrenos, quer com o tráfico de escr escravos. avos. As A s desi desigua gualldade dadess sociai sociaiss provocaram provocaram um aum aumento ento dos nívei níveiss de criminalidade e um desagrado generalizado que, mais tarde, conduziriam a conflitos graves a nível político-social que culminariam nas Guerras Civis, ocorridas em três períodos diferentes: 1642-45, 1648-49 e 1649-51. 4 Com vista a minorar as condições de pobreza em que vivia uma parte substanci substancial al da popul população, ação, o Parl Parlam amento ento emitiu tiu em em 1561 uma uma ‘Poor Law’ L aw’ , segundo a qual cada paróquia era obrigada a olhar pelos seus indigentes. Os trabalhadores tinham de pagar um imposto que se destinava a ajudar os velhos, doentes, por seu turno, os pobres que estivessem em condições de trabalhar, os chamados ‘sturdy beggars’, não poderiam recusar trabalho. Depois, em 1572, foram emitidas leis de com combate à vagabundagem e, em 1590, o governo, governo, apreendendo toda a magnitude agnitude do tem tema da da pobreza pobreza,, promul promulgou gou um vasto vasto conjun conjunto to de le leis (‘Poor (‘ Poor L aws’) aws’) que que se destinavam a minorar esse problema em todo o país, como atrás foi brevemente referido. No entanto, a falta de policiamento nas cidades continuava a criar dificuldades, uma vez que os pedintes, vagabundos, batoteiros, prostitutas e ladrões continuavam a proliferar. Em 1603, 1603, Isabel sabel I , então então com 70 anos, anos, morreu orreu,, não não sem antes antes desi designa gnarr seu suce sucesso ssorr o fi filho de Maria ria Stuart, Stuart, J aime VI da Escócia (que (que viri viria a a tornartornar-se se I de I nglate nglaterr rra) a) como como seu seu herdei herdeiro. ro. Termi erminava nava assi assim m um dos mais ais longos longos rei reinados nados e um dos perí períodos odos áureos áureos da históri história a de Inglate nglaterr rra. a. Contudo, Contudo, não não poderem poderemos os af afirmar rmar 4
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que finda fi ndava va a denom denomiinada nada Era Era Isab I sabel eliina, na, uma uma vez que, que, enqua enquanto nto “esp “espaço aço ideol deológico”, ógico”, prosse prossegu guiiu no no reinado reinado de J aime I. I. Ja J aime ime não teve um reina inado pacífico ífico, nem uma corte deslum lumbrante como a de Isabe sabell I; pel pelo contrário, contrário, vi viu-se frequ freque entem ntemente confronta confrontado do com conspi conspirações rações e boatos que punham em causa as suas convicções religiosas e o seu carácter. Contudo, devem-se a este monarca passos importantes que ainda hoje fazem parte do quotidiano dos Britânicos, como a denominada versão autorizada da Bíblia, e a cria criação ção da band bande eira do Reino Uni Unido do – ‘Union J ack’ – que que todo todoss conhe conhece cem mos. Ja J aime ime na nasceu em em 15 1566 no no cas castelo de de Edim Edimb burgo e er era filho filho de de Mar Maria Stuart, Stuart, ‘Queen Queen of Scots’ Scots’,, e de L ord Hen Henry ry Da Darnle rnley. Pouco Pouco ante antess de compl comple etar tar um ano de idade, o pai foi assassinado e a mãe ascendeu ao trono escocês, mas, no mesmo ano, a rainha, que era católica, foi forçada a abdicar em favor de seu filho que assim assim subiu subiu ao trono com com apen apenas as umano ano de ida idade de.. J aim aime foi foi cri criado ado e educad educado o por tutores, de entre os quais se destaca George Buchanan que tornou o jovem príncipe num dos homens mais cultos do seu tempo. Em 1589, 1589, J aim aime desposou desposou Ana Ana da Dinam namarca que que lhe deu deu sete sete filhos, tendo apenas sobrevivido dois: Carlos, que lhe viria a suceder no trono, e Isabel. Quando Jai J aim me ascende ascendeu u ao ao trono ingl i nglês, ês, em em 1603, 1603, os rei reinos nos de Inglate nglaterr rra ae da Escócia foram unificados, algo que o monarca sempre ambicionara. No início do seu reinado, criou condições para fazer a paz com Espanha, acto visto com algum optimismo, mas o facto de o rei ser protestante, embora tendo ascendência católica, bem como a circunstância de ter desposado uma princesa católica, levou a que, que, tanto tanto o povo povo como a nobreza, nobreza, desconfi desconfiassem assem da sua sua devoção devoção à Igrej Igreja a A nglica ngli cana na.. Contu Contudo, do, o rei rei despre desprezava zava os Católi Católicos, princi principa pallmente ente devi devido do ao ao facto de os Papistas terem condenado Sir William Tyndale à fogueira, o que motivou uma das várias tentativas de assassinato de que foi alvo e que ficou conhecida como ‘Gunpowder Plot’: em 5 de Novembro de 1605, um grupo de conspiradores católicos, entre os quais se encontrava Guy Fawkes, decidiu fazer explodir o Parlamento num dia em que o rei deveria presidir à sessão; os culpados foram descobertos e executados, e o rei encetou uma forte perseguição aos
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Catól atóliicos. J aime I tam também bém não não tolera tolerava va os Purita Puri tanos, nos, devi devido do às às mui muita tass pressõe pressõess que estes exerciam sobre si para ganhar poder político e parlamentar. Este desagrado do rei levou a que um grande número de Puritanos tivesse de emigrar para para as colóni col ónias, as, nomea nomeada dam mente ente para para a Am A mérica érica do Norte. Norte. A nível político existem alguns episódios dignos de registo no reinado de Ja J aime ime I. Por Por exemplo, lo, deve-se -se a ele ele a cr criaç iação do Rein Reino o Unid Unido o e ta também a fundação de colónias como Virgínia e Nova Escócia, nas Américas. Tal Tal co como os seus antecessores, o monarca acredita itava no Dire Direito ito Divin Divino o do Rei e considerava que a figura real possuía, na Terra, o mesmo poder que Deus possui possui no Cé Céu, não tendo tendo de de presta prestarr contas contas a não não ser ser ao Cri Criador; aliás ali ás,, J aime I acreditava que o soberano estava acima da lei. Na sua divisa podia ler-se “ a deo rex, a rege lex” (“o rei provém de Deus e do rei provém a lei”). Como consequência deste modo de pensar, a sua relação com o Parlamento foi-se degradando progressivamente, devido aos imensos gastos, à inflação e a actos falhados de política externa, nomeadamente as negociações com Espanha, levadas a cabo pelo Duque de Buckingham, que tiveram como resultado a execução de Sir Walter Rale Raleigh a pedi pedido do do rei espanhol. spanhol. Ja J aime ime I er era um homem profun fundamente culto lto e amante das artes. A leit leitu ura, a escri escrita ta e o ensi ensino dese desenvol nvolveram veram--se am amplam plamente ente no seu seu reina reinado. do. A literatura teratura era uma das paixões do monarca que foi, ele próprio, autor de vários livros, de entre os quais se destacam Basilicon Doron e Daemonologie. As representa representações ções dramáticas, particularmente o ‘masque’, também eram apreciadas pelo rei que foi patro patrono no de Ben J onson e da compan companhi hia a de de Wil WilliamShakespea Shakespeare, re, conhe conheci cida da como como ‘King’s Men’. Macbeth, a tragédia escocesa, terá sido propositadamente escrita para para o mona monarc rca, a, também bém patro patrono no de J ohn Donne e do arqui arquitecto tecto Ini Inigo go Jone J ones, s, o qual concebeu os grandiosos cenários para as representações que acima mencionei. A predil predilecção ecção de J aim aime pel pelas questões questões culturai culturaiss e do ensi ensino no leva levaram ram a que um dos seus seus prim primeiros eiros actos, enqua enquanto nto rei de Inglate nglaterr rra, a, fosse fosse o de de convocar uma uma conferên conferênci cia a desti destina nada da a tratar de assuntos assuntos da Igreja. greja. Ness Nessa a assem assemblei bleia, a, John J ohn
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Reynolds, um Puritano, convenceu-o da necessidade de uma nova versão da Bíblia, posto que, na sua opinião, a Bíblia de Henrique VIII e Eduardo VI não estava conforme o original. O rei decidiu então autorizar uma nova tradução, a partir do original, reunindo para isso um grupo dos mais distintos estudiosos e filólogos da época, os quais demoraram cerca de sete anos a completar o seu trabal trabalho, sempre sempre com o acompa acompanha nham mento ento e supervi supervisão são do do própri próprio rei. rei. A versão final, King J ames Bible ou The Authorised Version, foi publicada em 1611. 1.1. O Dram Drama Isa Isabe bellino Tan Tanto Isa Isabel I como Jaim Jaime e I for foram, co como já vimo imos, gr grandes apoian iantes e patronos das artes, em particular da Poesia e do Drama. Durante ambos os reinados, os actores e dramaturgos receberam favor real e actuaram na corte; também neste período proliferou a construção de teatros públicos, de entre os quais se destacam ‘The Theatre’, ‘The Swan’, ‘The Rose’ e, o mais famoso de todos, ‘The Globe’. Estes teatros, construídos na periferia das cidades, eram frequentados por gente de todas as camadas sociais, sendo que as representações dramáticas, a par das lutas de animais, eram um dos passatempos mais populares da época poca (Ane (A nexos xos II II e IIIII ). Autore utoress como Be Ben Jon J onso son, n, Christop Christophe herr Ma M arlowe rlowe e William Shakespeare eram, na sua maioria, também actores, estando, consequentemente, familiarizados com os temas e técnicas de representação. O intitul i ntitula ado dram drama isabe isabelino, que que surgiu surgiu no sécul século o XV X V I em I ngl nglaterra, terra, correspond correspondeu eu a uma uma manif anifestação estação origi ori gina nall do teatro teatro renascen renascentitista. sta. As A s peças peças eram grandemente influenciadas pela literatura clássica e por autores como Séneca ou Plauto, mas as ‘Mistery’ ou ‘Miracle plays’ (peças teatrais baseadas em cenas bíblicas e/ou vidas de santos), as ‘Morality plays’ (representações alegóricas da luta entre entre o Bem e o Mal) Mal) ou os ‘Interl nterlude udes’ s’ (peque (pequenos nos ‘sket ‘sketche ches’ s’,, geral geralm mente de natureza política, destinados a ser representados nos intervalos de peças longas e entre os diferente pratos que compunham os banquetes da corte) tinham igual preponderância.
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A tragédi tragédia a isab isabel eliina bas basea eavava-se se em em temas herói heróicos, cos, centrandocentrando-se se num numa personagem grandiosa que se deixava dominar e destruir pela ambição (como Macbeth), pelo ciúme (como Othello) ou mesmo pelo desejo de vingança (como Hamlet). A coméd comédiia, por seu turno, base baseava ava--se mais ais em cenas cenas do quotidi quotidian ano, o, satirizando os costumes das classes abastadas e as ambições da burguesia de ascender ao mais alto degrau da escada social. Apareceu pareceu tam também bém nesta nesta al altura, provavel provavelm mente ente devi devido do ao orgulho orgulho naci naciona onall proveni proveniente ente da da vitóri vitória a sobre sobre a A rmada rmada espanhola, spanhola, a cham chamada ada ‘H ‘History pla play’, y’, ou ‘Chronicle-History play’, que consistia na dramatização dos mais relevantes episódios da vida de alguns monarcas ingleses (Henry V e Richard III de Shakespeare são disso exemplos). 1.2. A Cosmovisão Isabelina Após vários períodos de instabilidade, decorrentes das Guerras das Rosas, da Reform eforma Henriquina Henriquina e da sucessã sucessão o de Henri enrique que VI II, o povo ansi ansia ava por por uma uma segurança que sentira várias vezes ameaçada; de igual modo, existia nesta época uma preocupação permanente com a problemática do pecado e da redenção do Homem, que fora herdada do período medieval. A doutrina geocêntrica ptolemaica, que colocava a Terra no centro do universo, começava a ser abalada pelas observações e teorias heliocêntricas de pens pensa adores dores como Galil Gali leu, Giorda Gi ordano no Bruno, runo, Copé Copérni rnico, co, Ke K eple pler ou Pico Pico Della Dell a Mirandola, e constituía um motivo adicional de insegurança e apreensão. Para um isabelino, o conceito de ordem cósmica era, a par da preocupação com a natu natureza, reza, pri primordial ordi al.. A idei deia de ordem domi dominava nava todos os aspectos aspectos da da sociedade e cultura isabelinas. Na literatura, ela exercia, igualmente, uma forte influência. O drama isabelino mais não faz do que, através de uma aparente “desordem”, repor toda a ordem necessária ao adequado funcionamento do universo. E. M. W. Tillyard afirma que esta concepção de ordem era vista sob três
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aspectos: “... a chain, a set of correspondences, and a dance”, 5 pelo que abordarei cada um destes destes aspectos aspectos de per se. A “cadeia” a que Tillyard alude, era, como já afirmei, basilar para os isabelinos. A denominada ‘Great Chain of Being’ ( scala naturae) consistia na concepção de um universo perfeito, fortemente hierarquizado e determinado por Deus. Deus. ‘T ‘The Chai hain of Be Being’ ng’ tinh tinha a uma conf configuraçã guração o pi piramidal dal: no topo topo encontrava-se Deus, seguindo-se os anjos, o homem, os animais, os vegetais e, no final, os minerais. Dentro destas grandes categorias, havia subcategorias, também elas hierarquizadas (por exemplo, no grupo dos animais, os mais nobres eram o leão ou o elefante, a águia e a baleia ou o golfinho; no dos astros, o mais elevado era o Sol e no dos minerais destacava-se o ouro). O lugar a que cada ser ou objecto pertencia dependia da quantidade de matéria e de espírito que o mesmo continha. Considerava-se que Deus se situava fora das limitações do tempo e era externo à criação; apenas Ele possuía os dons da omnipotência, omnipresença e omnisciência. Os anjos eram seres de espírito puro, não possuindo corpo físico próprio; pensava-se que, à semelhança de Deus, não estavam submetidos a limites temporais. O homem ocupava um lugar especial nesta corrente, posto que se encontrava entre a divindade e os animais: possuía qualidades divinas como a razão, o amor e a imaginação, mas tinha também características inerentes aos animais, como a dor, o prazer ou a fome, por exemplo. Os animais dispunham de inteligência limitada, não albergando alma, nem dominando a capacidade de falar. As plan plantas tas tinha tinham m somente somente capaci capacida dade de para para se reproduzir reproduzi r e crescer, mas eram-lhes atribuídas propriedades medicinais e/ou curativas.
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E. M. M . W. Till Tillya yard rd,, The The Eliza Elizabethan World Pict Picture(1943, Harmondsworth: Penguin, 1990) 7.
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Já J á os mine inerais tinh inham apenas como característ ística ica a sua solide lidez, po podendo ser imputados, particularmente às pedras preciosas, poderes mágicos. A nível político, a crença em ‘The Chain of Being’ implicava que, de modo a preservar a ordem cósmica, não houvesse levantamentos, nem revoltas contra a monarquia, pois, sendo o rei escolhido por Deus, qualquer tentativa para o depor seria motivo para provocar o caos, algo que, segundo Tillyard, era terrível para os isabelinos: The They we were obsessed by th the fea fear of of ch chaos. (…) (…) To us chaos means hardly more than confusion on a large scale; to an Elizabethan it meant the cosmic anarchy before creation and a wholesale dissolution that would result if the pressure of Providence relaxed and allowed the law of nature to cease functioning. 6
Intim ntimamente ente liligada gada à idei deia de ordem estava estava a das das correspondê correspondênci ncias as (“se (“sett of correspondences”), que apenas divergia da primeira na sua estrutura horizontal. Tud Tudo o que ac acontecia no nos pla plan nos su superior iores da da ca cadeia có cósmica ica tin tinh ha refle reflex xo imediato nos planos inferiores e vice-versa. Hermes Trismegisto estabelece com precisão esta noção no axioma “assim como é em cima, é em baixo”, e Cristo, ao ensinar aos Apóstolos o Pai Nosso, sugere igualmente tal correspondência, ao afirmar “assim na Terra como no Céu”. Os princípios da magia, da alquimia e da metafísica assentam precisamente nesta ideia. Tillya Tillyard organiza iza os plan lanos e respectiva ivas correspondências ias mais importantes nos pares: a) Poderes Celestiais e Outras Criações; b) Macrocosmo e ‘Body Politic’; c) Macrocosmo e Microcosmo (Anexo IV); d) ‘Body Politic’ e Microcosm crocosmo. o. Vej V ejam amos, mui muito to brevem brevemente, ente, estas estas correspondê correspondênci ncias. as.
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Tillyard 24.
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a) Poderes Celestiais e Outras Criações Tillya Tillyard ale aleg ga não se ser es esta uma correspondência muito ito us usada, vis vistto qu que Deus, como referi acima, era externo à criação. Ele queda-se, normalmente, usando as palavras de Tillyard, “in the background sustaining the whole order of creation”.7 Por vezes, instituia-se uma correspondência entre Deus e o Sol (rei dos planetas), explicando-se, com esta analogia, o mistério da Santíssima Trindade. Os anjos, anjos, por sua vez, corr corresp esponde ondem m a outras partes partes da cri criação, ação, e John J ohn Donne, por exemplo, compara-os à alma. b) Macrocosmo e ‘Body Body Politic’ Politic’ Os isabelinos admitiam que existia uma correspondência directa, uma duplicação, entre a ordem do Estado e a do macrocosmo, e que a desordens no macrocosmo correspondiam convulsões civis e desordem no Estado. Esta crença foi bastante cultivada pelas dinastias Tudor e Stuart, de modo a estabelecer o seu absolutismo. c) Macrocosmo e Microcosmo Esta era, segundo Tillyard, a correspondência mais relevante – “most famous and (...) most exciting”. 8 Não era, à semelhança de todas as teorias que referi até aqui, uma criação do Renascimento, remontando a Platão na sua obra República. A própria própria consti constitui tuição ção físi física ca e psíquic psíquica a do Homem Homem transporta transporta em si tal tal correspondência: a cabeça – parte mais brilhante do ser humano – situa-se no topo do corpo, do mesmo modo que o coração, que lhe confere vigor (como o Sol fornece luz aos planetas entre os quais está colocado), se encontra entre os seus membro embros. s. A nível nível de sentim sentimentos também se estabel estabelecem ecem anal analogias: ogias: assim assim, ao 7 8
Tillyard 95. Tillyard 99.
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amor verdadeiro dos homens corresponde a luz eterna das estrelas, com particular realce para o Sol, ao passo que as tempestades e convulsões da natureza se comparam com as mais tormentosas paixões humanas. De modo a cumprir com êxito e dignidade esta correspondência, o ser humano não deve nunca permitir que as suas paixões e actos sórdidos provoquem perturbações no macrocosmo, bem como não deve permitir o desequilíbrio dos humores, para não adoecer. Os quatro humores estão associados a ‘The Chain of Being’ e ao carácter dos homens: consoante o maior ascendente de um dos humores, assim o carácter será melancólico, fleumático, bilioso ou sanguíneo. d) ‘Body Body Polit Poli tic’ e Microcosmo Esta correspondência remontava também ao tempo de Platão. De uma maneira geral, fazia-se equivaler a unidade e categorias do estado às diferentes partes do organismo humano. Para que tudo funcionasse de modo perfeito e existisse harmonia, havia que manter e respeitar as hierarquias e interdependências entre as diferentes partes. Obviamente, o objectivo de tal correspondência era o de preservar a estabilidade política e social assente, como já referi referi,, no poder poder absol absoluto do rei rei. Atravé A travéss da teori teoria a das das corre correspondê spondênci ncias as,, os isabelinos podiam incluir as constantes mudanças e os novos dados com que, quase diariamente, se viam confrontados, dentro do esquema rígido e fixo de ‘The Chain of Being’, o que lhes possibilitava levar uma vida sem sobressaltos ou confl confliitos tos pol político-sociais. tico-sociais. O terceiro aspecto da ordem cósmica mencionado por Tillyard (“dance”) era, do mesm mesmo modo, modo, conhe conheci cido do desde desde a Anti Antigui guida dade de Clássi ássica. ca. Para Para os Gregos, toda a criação era um acto musical, e o universo vivia uma dança perpétua. A ideia da criação como dança implica, ela também, uma hierarquização, embora tal hierarquização esteja em constante movimento. Os Gregos acreditavam que o Sol, a Lua Lua eos outros plan pl aneta etass giravam giravam à volta volta da da Terra Terra nas nas suas suas própri próprias esf esferas eras – daí daí
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o termo termo “da “dança nça das das esf esferas”. eras”. As A s proporções proporções exi existen stentes tes nos nos corpos corpos celeste celestess formavam uma música característica que não correspondia a algo audível, mas a um conceito matemático. Pitágoras é, frequentemente, reconhecido como o pai desta teoria da música das esferas que, sendo uma concepção matemática, está associ associa ada à num nume erologi rologia a. Por seu seu turno, K epler pler tentou tentou encontra encontrarr uma uma af afinida nidade de entre os intervalos musicais e as relações planetárias, e acreditou ter encontrado a referida afinidade nas velocidades angulares das órbitas planetárias. Durante a era isabelina, imaginava-se que a natureza estava em consonância com a dança das esferas, pois a própria natureza continha, em si, uma profunda harmonia. O acto de dançar é, portanto, um reflexo da dança cósmica no microcosm crocosmo, o, do mesm mesmo modo modo que as as danças danças de corte corte de I sabe sabell I reproduziam reproduzi am a correspondência entre o macrocosmo e o ‘Body Politic’, segundo Tillyard. 1.3. O Sobrenatural O Renascimento constituiu uma época de firme crença no sobrenatural, cren crença ça essa essa herdada herdada da Ida Idade de Méd Médiia, período período extremam extremamente ente férti fértill emsupersti superstições. ções. Os isabelinos encontravam-se, aliás, profundamente espartilhados e condicionados por um sem-número de superstições. Embora a Revolução Científica se tivesse então iniciado, a fronteira entre ciência e magia era muito ténue, e numerosos cientistas investigavam e acreditavam no sobrenatural. O sobrenatural e a superstição explicavam os factos que escapavam ao entendimento do homem da época e também tudo o que fugia ao cânone da ordem cósmica. Muitas uitas crenças crenças e supe supersti rstições ções deste deste perí período, odo, pri principa ncipallmente ente as as que se prende prendem m com fadas, fadas, gnomos e duende duendes, s, têm têmorige ori gem m nos cultos cultos pagãos pagãos e na Mitologi tologia a Celta. Celta. As crian cri anças ças eram os grandes grandes alvos alvos de algum algumas as práticas práticas supe supersti rstici ciosas osas,, nomeadamente o uso de amuletos, talvez devido às elevadas taxas de mortalidade infan nfantitill da época. época. Acr A cred ediitavatava-se em apari aparições ções fantasm antasmagóri agóricas, cas, dem demoníaca oníacass e mágicas (fadas ou duendes, por exemplo) e que os espíritos errantes visitavam o mundo dos vivos para pedir vingança e fazer revelações; pensava-se que Satanás
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vigiava o leito dos moribundos, na esperança de lhes roubar as almas. Bruxas e feiticeiras também faziam parte do quotidiano isabelino e o povo temia-as, mas, simultaneamente, consultava-as com frequência. Existiam duas espécies de feiticeiras: as de magia branca, que se dedicavam à preparação de filtros de amor, liam a sina e praticavam curas com plantas e ervas mágicas, e as de magia negra, temidas das por todos, todos, mesm mesmo o pela pela Igrej Igreja, a, devido devido ao poder poder de matar atar ou provocar provocar doença doençass em em pesso pessoa as e anima animaiis. Nos Nos séculos séculos XV X V, XV X V I e XV XVI I, a caça caça às às bruxa bruxass era era considerada uma meritória tarefa moral que tinha por base a ideia de ordem cósmica acima tratada. Centenas de “bruxas” foram queimadas como resultado dessa dessa “cruza “cruzada da”” contra o dem demónio ónio e o Ma M al, embora no no reina reinado do de Isabe sabell I tives tivesse se havi havido do poucas execuções execuções.. J aim aime I, I, no entanto, entanto, inte i nteressa ressavava-se se basta bastante nte pel pelo o tema da feitiçaria, a ponto de ter publicado a obra Daemonologie, onde aborda a temática. O rei tomou ainda parte em diversos julgamentos de mulheres acusadas de feitiçaria. O homem do Renascimento acreditava que as bruxas podiam destruir colheitas, provocar esterilidade em mulheres e animais e incendiar casas e haveres, entre outros poderes; acreditava ainda que as bruxas mantinham uma relação íntima com o demónio, o qual lhes aparecia sob a forma de gato, mocho ou rato, com elas copulando. Em contrapartida, a figura do Mago – ‘Magus’ – não era tão tão vil vilipendiada pendiada quanto quanto a da feitice eiti ceiira; pel pelo contrári contrário, o, John J ohn Dee, astról astrólogo, ogo, matemático, geógrafo e mago, foi um dos homens mais influentes da era isabelina e astrólogo de Isabel I, sendo também Marsilio Ficino e Giovanni Pico Della Mirandol randola a figuras guras im importante portantes. s. Já J á Giorda Gi ordano no Bruno, cuja cujas obras obras parece parecem m verdadeiros tratados iniciáticos, foi condenado à fogueira por heresia, à semelhança do que acontecia com as feiticeiras. A magia, diferente da bruxaria porque intelectualizada, estava intimamente ligada à filosofia neoplatónica. Esta filosofia, misto de platonismo e misticismo, visava ensinar ao Homem uma maneira de se unir ao divino. Os pensadores neoplatónicos sustentavam a existência de três realidades distintas: o mundo sensível, da matéria ou dos corpos, o mundo inteligível, das formas imateriais, e,
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acima desses dois mundos, uma realidade suprema, separada de todo o resto, inalcançável pelo intelecto humano, luz pura e esplendor imaterial – o Uno ou o Bem. Por ser uma luz, o Uno irradia; as suas irradiações (emanações) formaram o mundo undo inte intelligível gível,, onde estão stão o Ser, Ser, a I ntel nteligênci gência a e a A lma do Mund Mundo. o.
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II AS CIÊNCIAS OCULTA OCULTAS S NO NO DEAL DEALBAR BAR DE UMA NOVA NOVA ERA
2.1. O Neoplatonismo A escola neoplatónica continua a ser hoje bastante actual, principalmente devi devido do à sua sua pe perspecti rspectiva va transp transpes essoa soall e hol holíística stica do do Uni Universo. verso. A figura mais importante desta filosofia foi Plotino que fundou, em 244 da era cristã, uma escola filosófica osófi ca que não não tinha tinha qual qualquer quer sem semelhança elhança com as ante anteri riores ores.. Pl Plotino otino rej rejeitou a ideia gnóstica que reclama que o ser humano nasce num mundo hostil concebido por um malévolo criador demiurgo; o filósofo opunha-se também à invocação de deuses “through sacred incantations”,1 embora aceitasse que as estrelas eram divinas e possuíam um sentido simbólico e esotérico. A corrente neoplatónica foi a última das grandes escolas da filosofia grega e representa uma síntese das grandes doutrinas que a precederam: platónica, aristotélica, epicurista e pitagórica. O Neoplatonismo fornece uma interpretação esotérica do paganismo clássico e engloba a filosofia, o misticismo, a filosofia gnóstica, a teosofia e o ocultismo mais elevado. Mesmo muitos séculos depois de Plotino ter morrido, a sua filosofia continuou a ser seguida e transmutada. A corren corrente te neopl neoplatóni atónica ca def defende ende que a suprem suprema real realidade dade es espi piriritua tuall é u um m estado de unidade diferenciada – o Uno – sendo o mundo uma emanação desse Uno, e que há uma marcada oposição entre a matéria (a carne) e o espírito (o Uno); para alcançar o estado máximo de perfeição, o homem tem de abdicar da parte física (que domina), e trabalhar a espiritual (através, por exemplo, do
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Nevill Drury, Magic and Witchcraft (London: (L ondon: Tham Thames and Hudson, 2003) 53.
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ascetismo). Plotino aconselhava assim os seus seguidores: “fechar os olhos e acordar para um outro modo de ver”.2 Os humanistas da Renascença, como Marsilio Ficino ou Giordano Bruno, coloca colocaram ram de parte parte a fil fi losofia osofi a mais mate materi ria alista de Aristóte ristótelles e de defenderam nderam fortemente uma doutrina mais espiritual, como a platónica e a neoplatónica. 2.2. O Ocultismo O termo Ocultismo liga-se aos mundos natural e sobrenatural e baseia-se na assunção de que existem forças e práticas escondidas (ocultas), com o objectivo de revelar ou ligar esses mundos. Originalmente, aplicava-se às propriedades da natureza que não eram imediatamente perceptíveis, estendendo-se ulteriormente a todo o conhecimento enigmático que está na base da magia. O Ocultismo é completamente independente da crença religiosa, pelo que, quer estejamos a falar de astrologia, numerologia ou mesmo alquimia, as artes assumem formas semelhantes, seja o praticante crente ou não. Há uma forte tendência para confundir Ocultismo com Esoterismo, mas poderemos clarificar a diferença entre um e outro, afirmando que, enquanto o Ocultismo tem por objectivo o simbólico e o sobrenatural, o Esoterismo orienta-se para o fenomenal e o espiritual. Um dos nom nomes es es esse senci nciais ais li ligados gados ao ao Oculti Ocultism smo é o de Cornel ornelius Agri Agrippa ppa que, na sua obra De Occulta Philosophia, Philosophia, institui as bases fundamentais desta doutrina. 2.3. O Esoterismo O Esoterismo, directamente relacionado com o lado místico e com a presença divina, prende-se com as mais representativas religiões mundiais.
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Drury 54.
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André Nataf ataf def define Esoteri soterism smo da seguinte seguinte form forma: “[a] “[a] doctrine doctri ne according ccording to which knowledge cannot or must not be vulgarised, but only communicated to a few disciples”.3 Os teóricos do Esoterismo consideram que existem dois “mundos”: um deles é o exotérico – físico, material, exterior – e o outro é o esotérico – interior, subjectivo, de alma. Os filósofos e pensadores da Antiguidade Clássica adoptavam estes critérios, consoante as suas obras se destinavam a um público mais vasto ou a uns poucos discípulos. 2.4. O Hermetismo O Hermetismo coloca-se, desde os seus primórdios, sob a tutela de Hermes, divindade grega, mensageiro dos deuses e mediador entre o mundo dos vivos e o dos mortos, cujo correspondente romano é Mercúrio (curiosamente, Hermes é também o patrono dos ladrões). A filosofia hermética radica-se num revivalismo da filosofia gnóstica. Durante o Renascimento, Florença foi o coração da tradição hermética sob o alto patrocínio dos Medici. Em 1462 Cosimo de Medici pediu a Marsilio Ficino que traduzisse traduzisse um manuscri anuscrito to grego grego que lhe tinha tinha sido sido ofere ofereci cido do por Leona Leonardo da Pistoia. Esse manuscrito, Corpus Hermeticum, havia supostamente sido escrito por Herme Hermes Trism rismegisto gisto – “Três “Três vezes vezes Gra Grande”, nde”, “H “He erme rmes-Tot” s-T ot” – e compil pila muita uita da tradição hermética helenística. O texto mais importante e conhecido do Corpus designa-se Poimander e nele se descreve a criação sob a forma de um sonho: “estando um dia envolto por reflexões acerca dos seres enquanto a minha mente pairava nas alturas e tinha os sentidos corporais inertes, como acontece com todo aquele que é surpreendido por um sono pesado”.4
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Nataf Dictionary Nataf Dictionary 28. Hermes Trimegisto, Corpus Hermeticum(Lisboa: Hermeticum(Lisboa: Hugin Editores: Editores: 2002) 19.
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Um dos temas essenciais dos textos herméticos é o de que Hermes Tris Trism megist isto pe personifica ifica a sabedoria (ele era o maior ior re rei, o maior ior sa sacerdote e o maior filósofo), pois entende a Unidade essencial do universo. 2.5. A Astrologia André Nataf refere: “there is a lot of fantasy in astrological practice, but there is also an enigmatic truth”.5 A Astrologi strologia a, pal palavra composta posta por astro (corpo) e logos (vibração), é a ciência que estuda os astros e as suas vibrações. Ori Origina ginallmente, ente, a Astrologi strol ogia a e a Astronomi stronomia – que se dedi dedica ca a es estuda tudarr o número e a forma dos astros – conviviam pacificamente, mas, à medida que os anos avançava avançavam m, a A Astrol strologi ogia a ffoi oi perdend perdendo o o estatuto estatuto de ciên ciênci cia, a, passa passando ndo a perten pertencer cer ao domínio do Ocultismo, chegando mesmo a ser considerada como algo dem demonía oníaco, princi principa pallmente durante durante o perí período odo da Inqui nquisiçã sição. o. Poder-se Poder-se--á di dizer que a Astrol Astrologi ogia a é o aspecto aspecto mai maiss subti subtill da Astronom Astronomiia: enqua enquanto nto esta esta represe representa nta o cariz físico dos corpos planetários, aquela expressa o aspecto electromagnético. A Astrologi strologia a consiste num numa linguag nguagem em sim simbóli bólica, base basea ada no pri princí ncípi pio o defendido por Hermes Trismegisto – “assim como é em cima, é em baixo”. Esta linguagem tem como objectivo primeiro o estudo da relação do indivíduo com o Tod To do, do do ind individ ividu ual com o Un Unive iversal, ou ou, em em últim ltima a anális lise e e reportando-no -nos à mundividência renascentista, do Microcosmo com o Macrocosmo. Os astrólogos consideram a Terra como o ponto central das suas operações, isto é, analisam todos os factores sob uma perspectiva geocêntrica, o que significa que a investigação se faz segundo as posições dos planetas (o que está em cima) vistas da Terra (o que está em baixo); os astrónomos, por seu turno, seguem o sistema heliocêntrico nas observações a que procedem. Desde a sua génese, génese, a Astrol strologia ogia tem sido sido objecto objecto de reacções extr extrem emas que vão da aceitação cega e quase fundamentalista à rejeição e condenação totais; é uma das das mai maiss anti antiga gass forma formass de conheci conhecim mento ento (se (segund gundo o Nata Nataff: “... “...the the Ven Venus us of 5
Nataf Dictionary Nataf Dictionary 13.
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L uasse uassel is hol holding ding a lunar unar crescent crescent and and it it is is 25 000 years years old), old),6 cujos primórdios se prendem com a ligação íntima entre o homem e a natureza: este observava atentamente os ciclos naturais, a fim de organizar a sua actividade. Os primeiros astrólogos/astrónomos foram os sacerdotes mesopotâmicos que, em 4000 a.C., se dedicavam ao estudo e previsão de acontecimentos colectivos, muitas vezes por ordem dos monarcas. Posteriormente, o conhecimento astrológico transitou para o Egipto, e, cerca de 700 a.C., com a expansão das rotas comerciais, começou a difundir-se, suscitando o interesse dos Gregos que, posteriormente, deram um impulso enorme a esta ciência. Grandes pensa pensadore doress como como P Piitágora tágoras, s, Pl Platão tão e Ari Aristóte stótelles cria cri aram teori teoria as e model odelos fí físicos sicos e metafísicos e estabeleceram bases filosóficas que estimularam o crescimento da Astronomi stronomia e da Astrologi strologia, a, transf transforma ormando-as ndo-as num num es estudo tudo organizado. organizado. Inici nicia almente, nte, a Astrol A strologi ogia a det detiinha um carácte carácterr fa fatal talista e de determ termiinista nista que que foi, progressivamente, dando lugar a uma visão mais científica. Nos primeiros tempos da era cristã, pensadores como Ptolomeu, criador de uma teoria de organização do universo que iria vigorar até à época renascentista, estão na génese do carácte carácterr ma mais escol escolá ástico stico atri atribuído buído à Astrol Astrologi ogia a. Após A pós a queda queda do Im Impéri pério o Roman omano o e devi devido do à expansã expansão o do Cri Cristi stian aniismo, a Astrol Astrologi ogia a perde perdeu u um pouco do seu poder, poder, passando passando a ser ser mais mais tolerada tolerada no mundo mundo árabe, mas mas voltou vol tou a reaparecer reaparecer em força na Ida Idade de Méd Médiia e no perí período odo renascen renascentitista sta,, em que os astról astrólogos ogos eram eram,, por vezes, os conselheiros principais dos reis e figuras importantes da sociedade (reco (recordem rdemos John J ohn Dee); Dee); no perí período odo renas renascen centitista sta,, o interes nteresse se pel pela Astrol Astrologi ogia a aum aumentou entou de modo conside considerável rável,, nomead nomeadam amente ente nos nos sécul séculos os XV XV e XV XVI . Nes Nesta ta época, existia um tremendo interesse pelos mapas natais, sendo que os mesmos não tinham o formato de mandala7 dos nossos dias, antes consistindo num quadrado dentro de outro quadrado, atravessados por doze triângulos,
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Nataf Dictionary Nataf Dictionary 13. O mapa apa natal natal dos nossos dias tem um aspecto specto circul ci rcular. ar. Em sâns sânscri crito, to, a pal palavra ‘m ‘mandala’ andala’ significa círculo. Mandala refere-se a um tipo de diagrama simbólico. Geralmente, as mandalas são represe representada ntadass tridi tridim mensi ensional onalmente ente (Anexo (A nexo V). V). 7
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simbolizando os signos do zodíaco; esses triângulos eram preenchidos com os planetas e constelações presentes no céu no momento do nascimento. O dete determ rmiinism nismo que caracte caracteri rizava zava os pri prim mórdios órdios da Astrol Astrologi ogia a não não esmoreceu com a constatação de que era a Terra que girava em volta do Sol e não o contrário. Mesmo estudiosos de vanguarda como Giordano Bruno incluíam o determinismo astrológico nos seus escritos e pensamentos e Tycho Brahe tinha espe es peci cial al apetê apetênci ncia a pel pelo estudo estudo das das conjunçõe conjunçõess de Júpi Júpiter ter (plan (pl aneta eta da expansão xpansão e da Fé) e Saturno (pl (plan aneta eta do Karm K arma). a). Medi ediante ante as as suas suas observ observaçõe ações, s, Brahe Brahe pôde conclui concluirr que uma conjunçã conjunção o deste destess plan planeta etass no si signo de L eã eão o em 1488 coinci coincidi diu u com uma epi epide dem mia de de pe peste; ste; o próprio próprio K Ke eple pler possuí possuía um um livro de Astrol Astrologi ogia, a, apesar de reconhecer que se deve descartar toda a superstição a ela ligada. Brahe e K epl epler consi considerava deravam m quea Astrol Astrologi ogia a pa parecia recia ter ter inf i nflluênci uência a no no mund mundo o natura naturall. Este pap papel el prepondera preponderante nte da da A Astrol strologi ogia a seri seria a contudo contudo posto em causa causa pela Inquisição, o Iluminismo e a Revolução Científica. No século XIX, com Alan K ardec ardec e Helena Blavatsky, avatsky, produziu-se produziu-se um um revival revivaliismo do Esoterism Esoterismo e, e, por arrasta arrastam mento, da Astrologi strologia, a, e socie sociedade dadess como a ‘Golde Gol den n Dawn’, Dawn’, de que que Wi Willliam Butler utler Yate Y atess fazi fazia a parte parte,, surgiram surgi ram um pouco por todo o lad lado, o, em parte parte tam também bém por reacção à mecanização, à industrialização e ao materialismo exacerbado. 2.5.1. O Horóscopo Como omo já já ref referi eri,, a Astrol Astrologi ogia a esta estabe belleceuma rel relação próxim próxima e íntim ntima entre entre o homem e a natureza, bem como possui um carácter eminentemente fatalista. Em term termos os esoté esotéri ricos, cos, a Astrol A strologi ogia a, que se divi divide de,, entre entre outras, outras, em natura naturall (re (relati ativa à natureza), mundana (referente ao homem) e kármica (relacionada com a lei de acção/reacção e com as teorias de reencarnação), presta particular atenção aos planetas lentos, isto é, aos que demoram mais tempo a percorrer a órbita terrestre, como Urano, Neptuno e, principalmente, Plutão, que é considerado o “Senhor do K arma rma”, o “Ve “V elho Ego”, Ego”, ou sej seja, o pla planeta neta que que project projecta a no no novo ser ser tudo o que este terá de ultrapassar, a fim de poder continuar a evoluir até à perfeição. A