O Surgimento da Etnomatemática Etnomatemática Depois do fim da Matemática Moderna, na década de 70, surgiram muitos educadores matemáticos que eram contra um currículo comum e a forma como era apresentada a matemática, como um conhecimento universal, uma só visão e conhecida por apresentar verdades absolutas. Esses educadores matemáticos passaram a dar importância ao conhecimento matemático de um vendedor de rua, marceneiros, cozinheiras, donas de casas, etc... Mas o surgimento da Etnomatemática no Brasil só se deu por volta de 1975 com os trabalhos de Ubiratan D'Ambrósio. Oswald Spengler (1880-1936) um filósofo alemão em suas obras de caráter enciclopédico ( A Decadência do Ocidente. Forma e Realidade (1918) e A Decadência do Ocidente. Perspectiva da História Universal (1922)) abril novas possibilidades de se entender a natureza do pensamento matemático. Spengler diz: Segue-se disso uma circunstância decisiva, que, até agora, escapou aos próprios matemáticos. Se a Matemática fosse uma mera ciência, como a Astronomia ou a Mineralogia, seria possível definir o seu objetivo. Não há, porém uma só Matemática; há muitas Matemáticas.
Spengler chegou a dizer que catedrais góticas e os templos dóricos são matemática petrificada, pois ele procura entender a matemática como uma manifestação cultural viva. Foi-se dada muita importância às diversas formas de pensamento em diferentes culturas a partir do século XX. E podemos perceber isso com o destacado algebrista japonês Yasuo Akizuki, em 1960: Eu posso, portanto, imaginar que podem também existir outros modos de pensamento, mesmo em matemática. Assim, eu penso que não devemos nos limitar a aplicar diretamente os métodos que são correntemente considerados como os melhores na Europa e na América, mas devemos estudar a instrução matemática à Ásia.
Assim Akizuki nos fala que é importante valorizar a matemática de cada lugar e não importar pensamentos matemáticos de outras culturas como vem acontecendo atualmente. É comum pegarmos um livro didático de matemática e como dica de aula o livro trás assuntos que fogem em muito da realidade dos alunos daquele lugar.
Cultura (etnia) Cultura vem a ser um conjunto de regras, costumes pensamentos, conhecimentos, comportamentos comuns em um determinado grupo, que se tornaram comum devido a fatores climáticos, prioridades, sobrevivência. Segundo Ubiratan D'Ambrósio as diferentes práticas e teorias de um grupo (caracterizam uma cultura) são parte do conhecimento compartilhado e do comportamento compatibilizado. No Brasil temos uma grande quantidade de grupos étnicos, com regras e costumes diferentes entre si, se pensarmos somente nos índios podemos dizer que temos cerca de 153 tribos diferente, 153 culturas com línguas próprias. Ainda no Brasil temos colônia de italianos, alemãs entre outras. Cada etnia constrói sua própria Etnociência. Como então trabalhar a universalidade com uma diversidade tão grande? Cada grupo étnico tem necessidades diferentes, moram em lugares diferentes, falam línguas diferentes, se expressão diferente e usam a matemática de formas diferentes, ou seja, cada um constrói sua própria Etnomatemática. Exemplo disso é a geometria que foi resultada da prática dos faraós, que através da distribuição de terra conseguiam alimentar seus povos nas épocas de baixa produtividade. A geometria pode ser usada pelo mundo todo, mas de maneiras diferentes, pois os ³lugares´ e as pessoas são diferentes. Ao longo da história sabemos de muitas culturas que foram eliminadas ou substituídas por outras, e em outros casos até mesmo o individuo conquistado foi eliminado e os que sobreviveram acabaram ficando marginalizados e excluídos. Algumas culturas estão em constantes transformações como é o caso das culturas indígenas que até mesmo, em algumas tribos, sua própria língua foi esquecida. Na escola acontece algo parecido. A escola cresceu, aumentou o seu acesso social e com isso houve uma mistura de costumes, manias, regras. Com isso alguns ficaram excluídos e alguns fatos serviram como instrumento seletivo, como a linguagem. Hoje em dia é comum uma criança se calar por saber que vai falar errado. A matemática também faz o papel de instrumento de seleção.
A matemática do dia-a-dia Existem muitos estudos sobre a Etnomatemática do cotidiano. É uma Etnomatemática do ambiente familiar, do trabalho, das brincadeiras, é uma Etnomatemática não escolar. Exemplo disso é quando um pedreiro usa a matemática para saber quantos blocos de lajota vai precisar em uma determinada construção ou quando um agricultor sabe quantas sementes vai
plantar por metro quadrado ou um comerciante fazendo uso da porcentagem para não levar prejuízo em suas mercadorias. Vemos Etnomatemática em brincadeiras de crianças e adultos como um jogo chamado mancála de origem africana onde se utiliza cálculos matemáticos para ganhar o jogo, esse jogo é muito famoso entre adultos e crianças africanas. A África é muito rica em Etnomatemática tanto por seus jogos como pelo trabalho artesanal (cestarias, tecidos, etc...). Segundo D¶Ambrósio: ... a Etnomatemática é parte do cotidiano, que é o universo no qual se situam as expectativas e as angustias das crianças e dos adultos.
O que é Etnomatemática? Segundo Ubiratan D'Ambrósio o Programa Etnomatemática: "tem seu comportamento alimentado pela aquisição de conhecimento, de fazer(es) e de saber(es) que lhes permitam sobreviver e t ranscender, através de maneiras, de modos, de técnicas, de artes ( techné ou 'ticas') de explicar, de conhecer, de entender, de lidar com, de conviver com ( mátema) a realidade natural e sociocultural (etno) na qual ele, homem, está inserido.´ (D'AMBRÓSIO, Ubiratan. Sociedade, cultura, matemática e seu ensino. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, p. 99-120, 2005).
No livro de Ubiratan D'Ambrósio ³Etnomatemática Elo entre as tradições e a modernidade´ ele vem falando do surgimento da Etnomatemática sua importância e como podemos tirar proveito dela. Sabemos que o homem em si há muito tempo vem sendo temas de muitas pesquisas e o surgimento do pensamento matemático vem sendo igualmente investigado. Para essas pesquisas foi observado um ser vivo muito parecido com o homem, os primatas. Cerca de 98% do genoma dos primatas é idêntico ao do homem. Através dessas pesquisas foi possível perceber que os primatas possuíam pensamento matemático valorizando o quantitativo. O australopitecos que viveram a aproximadamente 2,5 milhões de anos utilizaram a pedra lascada para descarnar animais, passando a ter mais alimento e de maior valor nutritivo. A mente matemática desse sujeito aparece nesse caso a partir do momento em que para escolher uma pedra e lasca-la ele precisou avaliar as dimensões da pedra. Esse foi o primeiro exemplo de Etnomatemática.