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Luiz Carlos Maciel
Edição Patrícia Marcondes de Barros Revisão Marcelo Lima
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Para Maria Claudia, minha heroína, e tambm a todos a!ueles "r#$imos a !uem amo como a mim mesmo%
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SUMÁRIO PREFÁCIO 'or(e Mautner )) APRESENTAÇÃO Patrícia Marcondes de Barros )* 1 A POLÍTICA DA INSANIDADE )+ reversão reversão da hist#ria ) s & cat.stro/es da 0dade de de erro 1 3orman 4% Bro5n e o 6CE de 'o7ce 18 4 mistrio dos v9ndalos 2) rebelião atual da :uventude 2& 4 "ensamento da direita 2 "reco(nição "reco(nição de Bush &1 lice no Mundo da Cons"iração Cons"iração &* ;ma chance "ara a "az <)
2 CONTRACULTURA E EROTISMO <* Contracultura revisitada < leister Cro5le7 *< 0dias de 6erbert Marcuse em Eros e Civilização * Literatura er#tica atravs dos tem"os *8 Revolução =e$ual 2 4 bom or(asmo, se(undo 3orman Mailer 8 3orman Mailer ho:e Perversão "olim#r/ica 8& Ma(ia =e$ual 8< 'oão ;baldo Ribeiro> ?es"iando "elo buraco da /echadura@ 8
3 ETERNA, EFÊMERA VANGUARDA +2 Auestão de Cultura +& 0sabel C9mara, a alma rom9ntica e o sonho +8 lon(a via(em de 'os (ri""ino de Paula -& Ro(rio uarte Dro"icaos -8 Christo"her unn e a Dro"ic.lia 1)1 ilberto il F um tí"ico "atriarca baiano 1)*
< Caetano Geloso> ?4 mundo não chato@ 11) Caetano e a doçura de e$istir 118
4 O TAO DA FILOSOFIA 12< DraduçHes "ara a =entença de na$imandro 12+ 0nter"retação de Chestov 12+ 0nter"retação de 6eide((er 12 est#ria de dois mon(es hindus 1&1 "h7sis e o ob:eto 1&2 4 su:eito 1&& Lo(os 1&& 4 /lu$o de 6er.clito 1&< Mais 6er.clito 1&* Gerdade 1&8 4s Eleatas 1&+ Mar$ 1<2 Mar$ e a alienação 1<* e$"licação de Erich romm 1< =artre e o mar$ismo 1<+ 3ietzsche e a vida 1<-
5. IMANÊNCIA E TRANSCENDÊNCIA 1*2 erd % Bornheim e a a/irmação do e/Imero 1*& 4 'ovem lbert Camus 1*+ ClonesJ imortalidade indese:.vel 12 ConsciIncia se(undo Castaneda 18 Matri$, a iloso/ia 181 4 r!uiteto o demiur(o dos (n#sticos 18< 4 tem"o somos n#s 18* 4ntolo(ia da Liberdade 1+)
6. O VOO CEGO 1+. EPÍLOGO 1-8
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INTRODUÇÃO ? liberdade um sol@
3esta obra, Luiz Carlos Maciel traz re/le$Hes sobre temas atuais, ensaios, entrevistas e al(umas e$"eriIncias !ue vivenciou e marcaram sua visão de mundo% Esta "ermeada "or horizontes de in/luIncias e "ossibilidades> de Phili" K% ic a Caetano Geloso, de Baudrillard a 0sabel C9mara, de 3orman Mailer s e$"eriIncias reli(iosas da seita ;nião do Ge(etal% escondicionamento e criação, como su(ere o "ensamento orientalista, Maciel "asseia "elos escombros da "#sJmodernidade e o /im da hist#ria em A P!"#$%&' ('
I)*')%('(+J, ca"ítulo !ue trata do es(otamento de um modelo linear de re"resentação "ara e$"licar a hist#ria da humanidade J e o início de sua reversão como concebe o /il#so/o 'ean Baudrillard% Esta reversão se re/lete na ascensão do discurso da direita, da "olítica im"erialista norteJamericana, das teorias cons"irat#rias e de um e/eito "erverso !ue deslocou o mundo real "ara o virtual% N o início da chamada ?Era da Mediocridade@, !ue, se(undo Maciel, tem como característica "rinci"al> o conservadorismo, "rinci"almente o da :uventude atual, a ?(eração /aceboo@ J conectada s novas tecnolo(ias de comunicação% =imulacros, ?com"artilhamentos e curtiçHes@ num mundo da e/emeridade, da li!uidez dos si(ni/icados% nalisa o movimento :uvenil brasileiro, o !ual /icou conhecido como ?o movimento dos vinte centavos@ e traça um "aralelo com 'ames 'o7ce e a!uilo !ue chamou de ?6ere Comes Ever7bod7@% Em C!)$'&-"$-' + E!$%*! "assamos "ara a discussão da contracultura, tema !ue ainda ho:e suscita diversas "olImicas% Muitos ne(am !ue tenha sido um marco, uma transição entre o "ensamento moderno e o "#sJmoderno, caracterizandoJo como um "ro:eto imaturo, sub:etivo, individualista e ut#"ico !ue /oi /acilmente coo"t.vel "elo sistema ca"italista% 4utros tentam teorizar o !ue não descritível> o es"írito de uma "oca, o as"ecto dionisíaco, o lOdico e o car.ter da e$"erimentalidade em todos os (estos% o miti/icar tal movimento, o "etri/icam% busca "or uma e$istIncia autIntica levou "arte dessa :uventude a am"liar o conceito de "olítica, estendendoJo ao cor"o, ao com"ortamento dos indivíduos, !uestão se$ual% s consideraçHes mar$istas :. não res"ondiam aos novos "aradi(mas !ue se
im"unham% !ui, o autor aborda o tema e a necessidade de transcender, su"erar a !uestão se$ualQ atravs da literatura er#tica atravs dos tem"os, a ma(ia se$ual de leister Cro5le7 ?Dodo homem e toda mulher uma estrela@Q, a "erversão "olim#r/ica, as ideias de 6erbert Marcuse sobre se$ualidade e sociedade, 3orman Mailer, a /avor do se$o como mani/estação de vida, colocando sua revolta e "rotesto contra a destruição dos instintos e da "erversão, determinado "ela moral "rotestante, mono(9mica e re"ressiva do square americano, e uma entrevista "ara a revista =e$7 com o escritor 'oão ;baldo Ribeiro em ocasião de lançamento de seu livro ? Casa dos Budas itosos@1---Q% Em E$+)', +/0+' ')-'(', traz re/le$Hes sobre "olítica cultural no Brasil, entrevistas e al(umas im"ressHes sobre "ersonalidades como a escritora 0sabel C9mara 1-<)J2))Q, Caetano Geloso, ilberto il, Ro(rio uarte, 'os (ri""ino de Paula e o "es!uisador norteJamericano, Christo"her unn% Este Oltimo, se(undo as "alavras de Maciel, ?tem uma relação no mínimo .rmica com o Brasil@, devido a sua identi/icação e a "ro/undidade, na !ual desenvolveu os seus estudos sobre cultura brasileira, es"eci/icamente, o movimento tro"icalista% 4 "ensamento /ilos#/ico !ue norteou o "ensamento de Maciel, desde sua :uventude, mani/estaJse em O T'! (' F%"!*!/%' e I')0)&%' + T')*&+)(0)&%'. 3estes dois momentos do livro, a"resenta suas re/le$Hes acerca do "ensamento /ilos#/ico, "rinci"almente o e$istencialismo sartreano e o mar$ismo !ue o in/luenciaram "ro/undamente, alm de seu "ro/essor na universidade, no curso de iloso/ia, erd % Bornheim% Com ele, Maciel se iniciara nos estudos sobre o Romantismo Sturm Und Drung Dem"estade e m"etoQ !ue tambm seria uma (rande re/erIncia "ara seu "ensamento no !ue tan(e ao orientalismo% Bornheim a/irma> ?o rom9ntico coerente deveria tornarJse um vision.rio, bastante "r#$imo do misticismo oriental@% ?a hist#ria "ara o mistrio@, como visiona 3orman 4% Bro5n, a orientalização do 4cidente /oi um dos caminhos da (eração da contracultura% !uestão não era a de ne(ar o racionalismo da /iloso/ia ocidental, mas criticar !ue o mesmo se:a colocado como "aradi(ma, Onica /orma de ser, sentir e "ensar% Em O !! &+!, "oesias de Maciel, !ue nos conta tambm sobre suas e$"eriIncias com a morte%
8 Auando lhe "er(untei sobre a ins"iração do título, ?4 =ol da Liberdade@, /ala sobre suas e$"eriIncias na seita reli(iosa ;nião do Ge(etal e !ue, sob os e/eitos alucin#(enos de a7ahuasca, a doutrina /oi e$"licada> ?4 =ol eus@ e então conclui> ?a liberdade um sol, o sol a liberdade@% liberdade a essIncia de eus% ontolo(ia da liberdade realizada "or Maciel nesta obra traz re/erIncias de "ensadores !ue trou$eram tona a !uestão do ser, a liberdade, a des"eito de todas as /ormas !ue a en(rena(em se utiliza "ara a"risionar o indivíduo e distraíJlo de sua autonomia e ca"acidade de (erir seu "r#"rio caminho% Aue o sol da liberdade irradie sua /orça sobre n#s%
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1 A POLÍTICA DA INSANIDADE
O tempo é uma crianç a que brinca, movendo as pedras do jogo para c á e para l á .
He r c l i t o, F r ag .5 2
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s conce"çHes mais remotas da 6ist#ria humana, como a Deo(onia do (re(o 6esíodo, ou o Daoísmo do chinIs Lao Dzu, observam a e$"eriIncia hist#rica como o declínio de um estado ori(inal "er/eito% Elas não "ossuem a #tica ocidental moderna de um avanço linear% Auanto mais remota a conce"ção, mais sustenta uma visão cíclica da hist#ria, "ois o ciclo a lei das mani/estaçHes naturais, como a sucessão dos dias e das noites ou das estaçHes do ano% N, "orm, da "r#"ria natureza da 6ist#ria, tal como a concebemos no 4cidente, !ue ela avance sem"re "ara /rente% Praticamente todos os seus /il#so/os maiores a viram como um movimento retilíneo, "ro(ressivo, no sentido de um clíma$ /inal !ue consumaria /inalmente o seu sentido% 6e(el, cu:a visão da 6ist#ria ainda "revalece, vI esse clíma$ no Es"írito bsolutoS Mar$, na necessidade da sociedade comunista% Em 6eide((er, o "r#"rio =er se desvela e se oculta na 6ist#ria% lição arcaica da 6ist#ria como declínio nos estranha "or mais !ue ela este:a "resente em al(uns livros como O Declínio do Ocidente, de 4s5ald ="en(ler, ou em !uase todos os mitos tradicionais, inclusive numa tentativa contem"or9nea a e$em"lo do /ilme Star Wars, de eor(e Lucas% 4 desenvolvimento da ciIncia ocidental e o im"rio de sua e$"ressão mais "r.tica e totalit.ria, a tecnolo(ia, "articularmente na sua /unção dominante de servir ambição ca"italista, s# tem re/orçado essa noção indiscutível,
1) subconsciente, de !ue a 6ist#ria vai sem"re "ara /rente F com e$ceção do citado ="en(ler "ara !uem a 6ist#ria das civilizaçHes imita a sucessão das estaçHes naturais% Mas o advento, a(ora, de um ?novo inverno@ em nossa civilização F "ara lembrar a met./ora !ue usei no livro As Quatro Estações 2))1Q F se a"resenta como, no mínimo, desconcertante% Dodos os avanços !ue vivemos, "or v.rias dcadas, em termos de liberdade e$istencial, "erce"ção social e "olítica, a"ro/undamento da vida es"iritual e, numa "alavra, e$"ansão da consciIncia, "arecem abandonados como se sim"lesmente nunca tivessem acontecido% ;ma das ideias mais interessantes sur(idas na re/le$ão de 'ean Baudrillard sobre o nosso tem"o a de !ue assistimos a uma reversão da "r#"ria 6ist#ria !ue tendo im"erce"tivelmente ultra"assado o "r#"rio /im inverte o seu sentido "ara o "assado% Ele cita um te$to de Elias Caneti, "ublicado em 1-8+, "oca em !ue se de/iniria a "reci"itação de nosso mundo no virtual>
%%%Q "artir de certo "onto a 6ist#ria não era mais real % =em !ue se "ercebesse, toda a humanidade subitamente abandonou a realidadeS tudo o !ue aconteceu desde então su"ostamente não /oi verdadeiroS mas n#s su"ostamente não "ercebemos% 3ossa tare/a a(ora seria encontrar esse "onto e en!uanto não o localizarmos, estaremos condenados a mer(ulhar em nossa destruição "resente%
6ist#ria ocultou de n#s o seu /im e começou o caminho de volta, na direção o"osta% Por isso, o tem"o não mais contado "ro(ressivamente, "or adição, a "artir da ori(em, mas "or subtração, a "artir do /im% 3ão temos mais o /uturo a nossa /rente, mas uma dimensão anor$ica na !ual se estende uma realidade virtual% 3ela, o simulacro "recede o real, a in/ormação "recede o acontecimento% Estamos imobilizados entre nossos /#sseis e nossos clones% 4u se:a> estamos diante do desa"arecimento da 6ist#ria real, dominada "or uma memorização /an.tica% Em vez de nascerem e morrerem, os seres sur(em :. como /#sseis virtuais% 6ist#ria teria sido in/ectada "or um retrovírus e seu novo movimento "rivile(ia
a
reta(uarda%
0sso e$"lica,
se(undo
Baudrillard,
o
/enTmeno
do
11 desa"arecimento das van(uardas e o ressur(imento de /ormas "assadas e arcaicas, uto"ias retros"ectivas !ue en(endram uma 6ist#ria es"ectral, /eita de acontecimentosJ /antasmas% oi o advento da chamada Era da mediocridade% e re"ente, al(um déjà!u !ual!uer ressur(e como uma assombração im"revista% Como isso /oi "ossívelU Ele não "ertencia ao "assadoU =# o retrovírus e$"lica% 3os tem"os atuais, a humanidade anda de marcha r% 4s sinais desse ines"erado movimento, considerado sim"lesmente im"ossível ou absurdo "elo "ensamento estrati/icado durante sculos de es"eculação racional, "odem ser "ercebidos ho:e "elo olhar atento% Essa inversão a"enas dis/arçada, mas não desmentida, "elo "ro(resso cientí/ico e tecnol#(ico, !ue não cessa de inventar novos brin!uedos, muitos deles mortí/eros% 3ão de admirar, "or e$em"lo, !ue a dialtica da 6ist#ria humana tenha sido substituída "or um estruturalismo "etri/icador, num movimento de recuo do "ensamento, de acordo com a met./ora de =artre, da ima(em din9mica do cinema "ara a /oto(ra/ia "arada% 4u !ue as "ers"ectivas de uma nova or(anização econTmica, "olítica e social tenham sido abandonadas em /avor de um neoliberalismo selva(em !ue, como contra"artida, "reci"itou nossa civilização num terrorismo /undamentalista% 4u !ue a tica se:a /undamentada na restauração de valores iluministas, "rJmar$istas% 4u !ue a e$"eriIncia es"iritual (enuína tenha sido se"ultada "or i(re:as e seitas i(ualmente /undamentalistas% 4s sinais de inversão da din9mica coletiva estão "or toda "arte% ssistimos, "or toda "arte, a um triun/o de"rimente da caretice F ou se:a, do /ormalismo sobre a es"ontaneidade, da a"arIncia sobre a essIncia, dos títulos, comendas e medalhas sobre o mrito le(ítimo, da hi"ocrisia bur(uesa num ."ice sur"reendente sobre a vida natural e autIntica% reversão da 6ist#ria "ermitiu s classes mdias asse(urar a sobrevivIncia de seus deuses ao mesmo tem"o em !ue condena seus saud.veis demTnios ao es!uecimento% Essas tare/as /oram con/iadas s armas com !ue ainda conta, em es"ecial, na mídia e na academia% Essas duas instituiçHes alavancaram o "rocesso de reversão% Primeiro e$em"lo> a moral tradicional, baseada na hierar!uia indiscutível, na "re"otIncia e na submissão, na obediIncia e no con/ormismo F ou se:a, numa "alavra, na
12 re"ressão F teve de en/rentar a emer(Incia de uma moral libert.ria !ue cresceu durante a maior "arte do sculo "assado, de uma maneira a"arentemente irresistível% Com raízes na "sican.lise de reud, !ue desmascarou essa moral re"ressiva como ori(em da neurose, ou na subversão de valores de 3ietzsche, !ue a denunciou como contr.ria aos interesses da "r#"ria vida, a nova "ers"ectiva moral (anhou uma enunciação a(uda no "ensamento de =artre, !ue viu claramente seu /undamento na liberdade%
4 au(e desse "rocesso de mani/estação da nova moral libert.ria /oi
alcançado, na "r.tica, "elo movimento !ue se convencionou chamar de contracultura% =ua reversão restaurou al(uns dos mais renitentes "reconceitos da moral tradicional% Mas a situação atual, se(undo Baudrillard, não sim"lesmente contradit#ria ou irracional F ela "arado$al% 6. uma ironia ob:etiva no "rocesso recente> !uanto mais os sistemas "olíticos, sociais e econTmicos "ro(ridem mais (eram a "r#"ria desconstrução, a realização de/la(ra a reversão autom.tica, "ura e sim"les% Essa reversão "rovocou eu/oria na cidadela da classe mdia, o !ue en/atizou "arado$os sim"lesmente escandalosos% Com a reversão da 6ist#ria, o mais recente o mais remotoS o mais distante o mais avançado% ssim, a"esar dos avanços de Vilhelm Reich, 6erbert Marcuse e 3orman 4% Bro5n, ou contra eles, a "sican.lise acomodouJse em sua missão de "romover a ada"tação "assiva e, "ortanto, o con/ormismo% Com o "rete$to de contestar a de"endIncia de =artre ao co(ito cartesiano, o estruturalismo o declarou su"erado, numa manobra lo(o abençoada "elas universidades% 4 sistema cu:o "oder /ora denunciado , então, consa(rado como insu"er.vel, uma estrutura inabal.vel% Com tal /undamento te#rico, as novas (eraçHes são /acilmente convencidas da verdade su"rema do realismo cínico% o mesmo tem"o, a mídia encarre(ouJse da diluição da contracultura, a"ressando sua retração% =ubstituiuJa, no es"írito das novas (eraçHes, "elo culto ao a"arecimento incessante de novas maravilhas do entretenimento, (raças nova tecnolo(ia di(ital% ;m com"utador e um celular de Oltima (eração são a"resentados F e o !ue "ior> acreditados F como su/icientes "ara asse(urar a /elicidade /inal%
1& 4 estado de consciIncia vi(ente /oi re/orçado "or meios mais sutis, subliminais% sse(urouJse, assim, nas novas (eraçHes a autoJhi"nose e o em"aredamento mental !ue inibe a liberdade ori(inal da consciIncia e tende a con(el.Jla, como diria =artre, na ri(idez do ser emJsi% 4 "anorama atual "rovoca es"anto% Como com"reendIJloU Baudrillard 2))1Q sustenta !ue uma 6ist#ria virtual, na !ual a in/ormação substitui o acontecimento, est. ocu"ando, ho:e, o lu(ar da 6ist#ria real, e !ue isso resulta em nossa /alta de res"onsabilidade, tanto individual !uanto coletiva% ssim, "or e$em"lo, o a"elo de =artre "ela liberdade e conse!uente res"onsabilidade, considerado, "ara todos os e/eitos da reversão, uma mera ilusão do "assado% 3o "lano econTmico, "olítico e social, a reversão /oi ainda mais es"etacular% 4 desa"arecimento da ;nião =ovitica e do triun/o do ca"italismo selva(em serviu de "rete$to "ara a desconsideração do "ensamento te#rico mar$ista% 4 ob:etivo, naturalmente, a su"ressão radical da rica tradição do "ensamento crítico, mais uma vez bene/iciando a aceitação "assiva e o con/ormismo% 4 deus da classe mdia, ao !ual ela deve sua e$istIncia, o /undamento meta/ísico do ca"italismo, o dinheiro% 3os dias !ue vivemos, a (rana e$"erimenta sua "romoção a uma es"cie de ivindade =u"rema, (lori/icada em "rosa, verso e uma en$urrada incessante de tratados de economia, or(anizaçHes econTmicas e seus tem"los m.$imos !ue são os bancos% Esse /etiche abstrato, ?o vil metal@, a cul"a materializada da 6umanidade, se(undo 3orman 4% Bro5n se naturalizou como uma obra de eus ou da 3atureza F como o cu e o mar, o =ol e a Lua, as montanhas e as .rvores% mera e$istIncia do dinheiro, "ortanto, a verdadeira ori(em da alienação, nos termos de Mar$, da rei/icação, nos de Luacs, ou da serialização, nos de =artre% Estes trIs conceitos descrevem, de di/erentes 9n(ulos, o mesmo /enTmeno m#rbido !ue caracteriza nossa vida em comum F o endeusamento do vil metal% Mas Baudrillard vai, ho:e, mais lon(e% Ele considera termos como alienação, rei/icação e serialização, obsoletos demais "ara indicar o !ue acontece ho:e F e descreve nosso mundo em termos de e$crescIncia tecnol#(ica, obscenidade e obesidade "roli/erantes e virtualidade desen/reada% Com um humor e um sarcasmo necess.rios
1< /iloso/ia de ho:e, Baudrillard im"lac.vel% nossa situação :. se encontra alm da /ísica e da meta/ísica, totalmente "ata/ísica F uma "ar#dia !ue, se(undo seu criador l/red 'arr7, ?a ciIncia das soluçHes ima(in.rias@% contestação mais enr(ica, no sculo "assado, /oi /eita, alm do mar$ismo e do e$istencialismo, "or este outro demTnio !ue assombrou a classe mdia F a contracultura% oi "reciso e$orciz.Jlo de todas as maneiras% Ele acenava com uma liberação se$ual natural, saud.vel, uma emanci"ação das /alsas necessidades materiais, uma libertação do es"írito% Retomava a ins"iração anar!uista no !ue ela tinha de mais "ositivo e mais /rtil% =eus arroubos :uvenis anunciavam, de /ato, uma nova Era% reversão se mani/esta nesse "onto em !ue a ameaça da contracultura começava a "arecer irresistível% oi o "onto de mutação "ara a de(eneração "resente% mudança !ualitativa inverte então seus vetores, uma inversão diab#lica% liberdade se$ual tornaJse "ermissividade e obscenidadeS as necessidades materiais são absolutizadas, numa distorção mali(na !ue dei/ica o mercado ca"italistaS o crescimento es"iritual re(ride "ara as /ormas "etri/icadas das i(re:as tradicionais e das novas seitas% E "or aí vai% ?nova Era@ caminha "ara tr.s% ?Dudo tem a ver com tudo@, na "aisa(em sombria da reversão% =# "reciso, em cada caso, encontrar o "onto em !ue a cone$ão mali(na se /az% 4 recuo deliberado !ue estamos vivendo ho:e a"resenta suas :usti/icativas e descul"as em nome da ciIncia e da tecnolo(ia e de seus "ro(ressos a"arentemente maravilhosos% 4s alertas de 6eide((er são solenemente i(norados, como devaneios místicos% ciIncia ?não "ensa@ e a tecnolo(ia o est.(io /inal do es!uecimento do ser% met./ora da "rimeira "arte dos /ilmes sobre a "atri# , a !ue mais interessa, ilustra artisticamente esse abismo% Baudrillard 2))1Q chama este "rocesso de ?ssassinato do Real@S trataJse de um ?Crime Per/eito@ um e$termínio do !ual nada resta, nenhum traço, ?nem mesmo um cad.ver@% 3este "onto ce(o da reversão da 6ist#ria, nada mais verdadeiro ou /also, e tudo "erambula indi/erentemente entre a causa e o e/eito, entre a ori(em e sua /inalidade, uma mutação crucial de um estado crítico "ara um estado catastr#/ico%
1* 6o:e, toda re/le$ão sobre a realidade , no m.$imo, uma "rec.ria hi"#tese de trabalho, :usti/icada a"enas "or tentar satis/azer nosso misterioso instinto es"eculativo F ou, no m.$imo, uma criação de índole artística, uma edi/icação ima(in.ria% Como isso aconteceuU 4 en(enho da /eitiçaria cientí/ica e tecnol#(ica acabou "or criar a realidade virtual F e !uando suas características e sua "r#"ria essIncia /oram com"aradas com as da su"osta verdadeira realidade, as di/erenças e/etivas não "odiam mais ser detectadas% Eram tão similares !ue se con/undiam% ;ma es"antosa e!uação entre o real e o virtual, /oi inevit.vel% realidade na !ual a "atri# , do /ilme, e$iste e o"era , em tudo, similar realidade virtual !ue ela cria% s cate(orias de tem"o e es"aço, matria e ener(ia são ri(orosamente as mesmas% 3ão h. ?realidade@ substancial em nenhum dos casos% Eis o !ue Baudrillard chama de ?Crime Per/eito@% Auando se /ala em 6ist#ria, não se trata da 6ist#ria vivida no modo do ser "araJsi, no sentido de =artre, mas a 6ist#ria registrada no modo do emJsi% Esta ?6ist#ria@, ob:eto de /il#so/os e historiadores, uma criação mais ou menos arbitr.ria, lar(amente sub:etiva F e, como tal, mais "r#$ima da obra de arte do !ue da medição cientí/ica% =eu car.ter numinoso, sem"re envolto em mistrio, contudo, não im"ede !ue, sua maneira, tambm se a"resente como um desvelamento do ser, "ois, como sustenta 6eide((er, o "r#"rio ser hist#rico, a alet$eia tem"o% Entretanto, tal /.bula F a "retensa 6ist#ria F, embora reveladora como os anti(os mitos, não "ode ser contem"lada com uma crença /actual, in(Inua% ale(ada ?reversão da 6ist#ria@ uma met./ora "ara um declínio evidente !ue macula, ho:e, o instante% a mesma maneira, "odeJse /alar de um ssassinato do Real, ou de um Crime Per/eito, como uma met./ora relevante "ara a consciIncia de nosso tem"o% Baudrillard che(a ao 9ma(o da !uestão !uando "ercebe !ue o ?ssassinato do Real@ si(ni/ica, no /undo, o ?ssassinato da 0lusão@, o e$termínio da ?ilusão radical e ob:etiva do mundo@%
1 situação descrita "or Baudrillard, uma visão !ue muitos :ul(am "essimista, uma o"ortunidade "ara o des"ertar es"iritual% =ua com"reensão sim"lesmente e$i(e o desvanecimento dos vus de "a%a%
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;ma das lOcidas obsessHes de Phili" K% ic, das !uais, ali.s, sou um admirador /an.tico, de !ue vivemos aindaQ a 0dade do erro% t aí não tem nenhuma novidade% Dodos os sc$olars con/irmam a observação% E todos eles concordam !ue o advento dessa Era deu um im"ulso decisivo "ara o desenvolvimento da civilização humana em nosso "laneta% DrIs invençHes são decisivas "ara o "oder "ositivo de tal im"ulso, as invençHes da &olis, a cidade moderna, o al'a(eto, !ue "ossibilitou a comunicação de diversas lín(uas e, /inalmente, a moeda cun$ada, !ue "ermitiu o desenvolvimento do comrcio% Palmas "ara elas, "ortanto% Contudo, ao ler a versão em "ortu(uIs da Deo(onia, de 6esíodo, /eita "ela "ro/essor 'os ntonio lvez Dorrano, /i!uei J como dizerU F maravilhado% Basta ler sua versão da Deo(onia "ara "erceber sua com"etIncia, ca"az de transbordar os limites acadImicos% li.s, conheço a versão !ue 3orman 4% Bro5n /ez da Deo(onia e "osso a/irmar !ue a de Dorrano a"resenta v.rias vanta(ens, "rinci"almente sua clareza did.tica em contraste com os habituais voos mentais de Bro5n% Dorrano, en &assant , !uali/ica a &olis, o al/abeto e a moeda cunhada como ?as trIs invençHes catastr#/icas@ !ue su"ostamente nos teriam trazido a esse delicioso est.(io da ?0dade de erro@, !uando tudo "arece ruir a nossa volta% Procurei, at na internet , outros te$tos do autor !ue desenvolvessem o tema das ?trIs cat.stro/es@, mas lamentavelmente não encontrei nada% RestouJme dar asas "r#"ria ima(inação "ara determinar em !ue essas trIs con!uistas da civilização "ossam ser tão ?catastr#/icas@%
18 1% &olis a(lutinou os seres humanos em "e!uenos es"aços, "romovendo a "romiscuidade, a intri(a, o cont.(io de doenças, a inve:a, e outros inumer.veis males /ísicos e "sí!uicos% 2% 4 al/abeto en(essou a escrita, "etri/icando sons e si(ni/icados, num autIntico rigor mortis !ue não admite se!uer a /le$ibilidade do ideo(rama oriental% &% inalmente, a moeda cunhada /oi a invenção catastr#/ica decisiva, dando ori(em ao /etiche letal, o dinheiro, tambm conhecido como o ?vil metal@, !ue acabou sendo consa(rado como o deus su"remo do ca"italismo, ao !ual estamos todos submetidos !uer !ueiramos ou não, a /onte incessante da !ual :orram sem cessar a corru"ção, o roubo e todos os demais males de nossa vida em comum% oram esses meus "rimeiros "ensamentos sobre as ?trIs invençHes catastr#/icas@ denunciadas "or Dorrano% Con/esso !ue /i!uei at com medo de "ensar mais "ro/undamente sobre o assunto%
N!') O. 7!8) + ! CE (+ 9!:&+
inda no começo de 2)1&, !uando :. havia terminado os te$tos !ue /ormam este volume, li /inalmente o terceiro livro da clebre trilo(ia de 3orman 4% Bro5n !ue começou com )i'e Against Deat$ e )o!e*s +od% % 4 livro intitulaJse A&ocal%&se AndOr "etamor&$osis e uma colet9nea de ensaios sobre os mais insti(antes temas da atualidade do "ensamento ocidental, o !ue resultou no livro mais /ascinante !ue li nos Oltimos tem"os% Bro5n /ala sobre o "ensamento dionisíaco, na necessidade de ir alm de Mar$ em vez de /icar a!um dele, como /azem nossos su"ostos ?"ensadores@ de "lantão na mídia%%%Q, da visão do islamismo, de ="inoza, de 3ietzsche, Bataille e Mauss e, em suma, de nossa a"arente alternativa entre o a"ocali"se e a metamor/ose% o contr.rio de Baudrillard, Bro5n não vI reversão nenhuma na 6ist#ria, mas sim, o seu avanço ine$or.vel "ara o a"ocali"se ou "ara a metamor/ose F ou ambos% Bro5n "roclama o advento de uma ?nova verdade@ !ue nada mais nada menos do !ue a se(uinte> a "o"ulação terrestre, a maior "arte dessa "o"ulação "elo menos, !uer mesmo consumir, com"rar as maravilhas !ue são incessantemente inventadas
1+ "ela tecnolo(ia contem"or9nea e :o(adas s massas% 3ão h. mais outros valores% E não h. nada a /azer, esta a realidade soberana de nossa civilização% Eu, tu, n#s, v#s, eles !ueremos ter tudo o !ue nos der vontade, sem e$ceção% =im"les assim% 4 advento dessa 3ova Era /oi desi(nado, no -innegans Wa.e, de 'ames 'o7ce, "elas letras 6CE, /ere 0omes E!er%(od% % 4u se:a> a(ora, vem todo mundoW Para !uIU Para reivindicar tambm o !ue at h. "ouco, /oi "rivil(io de uma minoria% 0ndivíduos ou classes "rivile(iados "elas bInçãos dos deuses não são mais reconhecidos% Dodos !uerem tudoW Aueremos todos, sem e$ceção, as maravilhas materiais de nossa civilização, o resto não im"orta% Essa 3ova Era asse(urada tanto es!uerda, "ela ideolo(ia socialista, !ue valoriza as massas e "romove as estrat(ias do "rotesto e das mani/estaçHes de rua, !uanto, direita, "ela realidade ca"italista !ue valoriza o consumo e o dese:o cada vez maior "or bens materiais% =airemos todos s ruas "ara reivindicar nosso direito sa(rado a uma vida de rico, sim"les assim% ?0ntelectuais ascticos eu sou um delesQ /oram instruídos na crítica cultural "or modelos de resistIncia como o de 6erbert Marcuse, e atacaram o consumo de massa como Xdessublimação re"ressivaX, controlada "ela classe dominante "ara esvaziar o descontentamento "otencialmente revolucion.rio@, e$"lica Bro5n% ?Mas, na era do 6CE, ou /ere 0omes E!er%(od% , os intelectuais ascticos devem voltar a /azer "arte da raça humana% ;ma nova era começa a(ora, de e/etiva i(ualdade entre os /ilhos de eus% Como diz Eurí"ides nas +acantes, temos de nos submeter ao veredito do homem comum@, conclui Bro5n, declarando !ue o /enTmeno do 6CE uma ?novidade a"ocalí"tica@% Bro5n não vI nada de errado nisso% (lori/icação da matria o valor su"remo do "ensamento dionisíaco% Lo(o !ue começaram, a!ui no Brasil, as a"arentes mani/estaçHes es"ont9neas de rua, em :unho de 2)1&, achei !ue os dotes "ro/ticos de Bro5n começavam a se concretizar entre n#s% /inal de contas, os mani/estantes eram dos ti"os mais variados e cada um /azia seu "rotesto "essoal, não havia "alavras de ordem "rJestabelecidas, nem líderes o/iciais% 4 /antasma do 6CE "arecia se desenhar no horizonte%
1Cedo, contudo, observei !ue /altava muita (ente na!uelas mani/estaçHes "ara !ue se caracterizasse um autIntico 6CE, no !ual, "or de/inição, todo mundo deve "artici"ar% 4nde estavam os o"er.rios, os trabalhadores braçais, os /avelados, os "obres, as em"re(adas domsticas, biscateiros, hi""ies velhos, índios, onde estavam os lum&enU Esses citados e muitos outros "rimavam "ela ausIncia% 3ão tinha vindo todo mundo, como no verdadeiro 6CE "ro/etizado "or 'o7ce% 3ão era 6CE nenhum% inda não% DratavaJse, antes, de uma nítida mani/estação da classe mdia brasileira !ue con/irmava os su"ostos do 6CE a"enas em um "onto /undamental> o !ue asse(ura !ue !uanto mais se tem, mais se !uer, e se tem o direito inalien.vel de reclamar% Era at meio en(raçado ver a!ueles meninos, todos com "lano de saOde, matrículas asse(uradas em universidades "Oblicas e "articulares, e com seus autom#veis, reclamando trans"orte "Oblico (ratuito, saOde e educação "ara o "ovo% i!uei at desconcertado com tanto altruísmoW%%% 3ão dava "ara acreditar, a classe mdia brasileira sem"re se li$ou "ara as condiçHes de vida do "ovo% li.s, Bernard =ha5 re"arava !ue se costuma acreditar !ue o homem mdio, da classe mdia, um democrata !uando, na realidade, um /ascista% 4 !ue estaria realmente acontecendo "or tr.s desse nosso c$ienlit tu"ini!uimU 3ão /oi "reciso "ensar muito% Era evidente !ue o "retenso "rotesto ?a"olítico@ era, na verdade, uma manobra "olítica ca"az a"enas de en(anar os tolos F !ue, in/elizmente são em maioria absoluta neste "aís% 4s slo(ans ?=aOde, Educação e =e(urança@, ?;m "aís sem corrru"ção@, ?Contra os PECs@, eram carre(ados "or (ente !ue F a"osto F nem sabia o !ue era um PEC% Dudo não "assou de "ura conversa "ara boi dormir, como em breve ser. com"rovado "or seu vazio total como /orma de ação% Onica ação e/etiva era a dos assim chamados ?v9ndalos@% Entretanto, a es"erteza "olítica "ode ter conse!uIncias hist#ricas (raves "elo to"ete da iniciativa e seu valor como e$em"lo% nimados "elo "recedente de !ue mais de cento e cin!uenta mil mauricinhos, "atricinhas, seus "a"ais, mamães, vov#s e titios, alm dos irmãzinhos mais moços, com"areceram nas /ileiras do "rotesto% 3a venida etOlio Gar(as, "or e$em"lo, não de todo im"ossível !ue as massas o"rimidas das centenas de comunidades es"alhadas "ela cidade tambm não !ueiram, !ual!uer dia destes, /azer tambm sua /esta%
2) í, sim, a "orca vai torcer o rabo% N "ossível !ue, diante de tal avalanche indese:ada, a "r#"ria PM (uarde suas balas de borracha e bombas de e/eito moral, e as substituam "or armas letais, municiadas com balas de verdade, re"etindo entre n#s o saldo de tantas mani/estaçHes "o"ulares nos "aíses .rabes, "or e$em"lo, !ue acabam somando mais de uma centena de mortos e /eridos, ao /im de cada mani/estação "o"ular% 3ão /az mal% 3ossas comunidades, s# no Rio de 'aneiro, tIm tanta (ente, !ue "rovavelmente os mani/estantes su"ortariam uma "ro/ila$ia san(uinolenta desse ti"o a/inal, eles estão acostumados a morrer todos os dias%%%Q e continuariam suas mani/estaçHes% í sim, teríamos um verdadeiro 6CEW
O M%*$;%! (!* V<)('"!*
chamada (rande mídia, como sem"re se(uida "or seu s!uito de re"etidores, dividiu o "Oblico "resente nas mani/estaçHes de rua do mIs "assado, em duas turmas> uma maioria de ?mani/estantes do bem@, !ue estavam l. "ara consertar o Brasil, e uma minoria de ?mani/estantes do mal@, os chamados v9ndalos, !ue /oram a"enas "ara !uebrar e sa!uear% s duas turmas tiveram tratamentos bem di/erentes, at o"ostos, "or "arte da mídia% 4 "essoal ?do bem@ /oi cantado em "rosa e verso% =obre os ?do mal@, nin(um disse nada, alm dos re"etidos $in(amentos% alaram de um ra"az !ue teria carre(ado vinte isso mesmo, (ente> vinteW%%%Q co!uetis molotov "endurados no "escoço esta /oto eu !ueria ver, daria uma nota "reta na im"rensa internacional%%%Q e de outro, !ue
21 ami(o da Marina e se arre"endeu lo(o% E /oi s#% 3ada mais disse a (rande mídia, nem lhe /oi "er(untado% Como observador meio bobo e mal in/ormado, /i!uei sem saber !uem eram esses ?mani/estantes do mal@, o !ue !ueriam e "or !ue a(iam da!uela /orma% 3enhum de nossos ma(ní/icos re"#rteres investi(ativos os entrevistou ou /uçou seus antecedentes% 3in(um tentou tirarJlhes as m.scaras, /icou tudo num mistrio im"enetr.vel, o ?mistrio dos v9ndalos@% E, no entanto, eles encarnam uma /orça "olítica "ra l. de atuante e uma ine(.vel habilidade estrat(ica% oram os "rimeiros a se :untarem (rande massa ainda em /ormação, nas "rimeiras "asseatas, eram ami(os "r#$imos e colaboradores de seus or(anizadores e s# se destacavam dela !uando as coisas começavam a "e(ar a /o(o "ara voltarem ao (rosso da manada !uando isso era taticamente "roveitoso% l(uns ami(os levantavam hi"#teses "itorescas% =eriam /ormados "or :ovens celerados, "uns, neonazistas e outros avulsos da direita e$tremada !ue a(iam "or mero amor arruaçaS outros "re/eriam a tese o"osta, mais "olítica, de !ue seriam a van(uarda :ovem do P=4L e do P=D; !ue estariam colaborando com a reta(uarda macr#bia do P=B, EM e PP=, ou se:a, os verdadeiros res"ons.veis "elo (rosso do movimento, numa (rande /rente uni/icada de direita e es!uerda "elo bem do Brasil !ue, ali.s, :. esteve atuante em outras o"ortunidades menos secretas% Bobo e mal in/ormado, não acreditei de coração em nenhuma dessas hi"#teses, "re/erindo um "ensamento mais so/isticado sobre o advento do 6CE /ere 0omes E!er%(od% Q, de 'ames 'o7ce e 3orman 4% Bro5n, !ue naturalmente, "or sua "r#"ria natureza, reuniria mani/estantes do ?bem@, ?do mal@ e at do ?mais ou menos@% Mas, "er"le$o ainda, acabei abandonando essa tese com !uase a mesma ra"idez !ue rnaldo 'abor, "or e$em"lo, "assava, em seus coment.rios televisivos, da crítica amar(a aos mani/estantes em (eral, "ara doces elo(ios enternecidos% Entretanto, achei !ue o tema era im"ortante% /inal de contas, as (randes mani/estaçHes, !ue contaram com cento e tantos mil "artici"antes, tiveram como "rinci"ais resultados, em ordem crescente, a derrubada do PEC do Ministrio POblico !ue ali.s :. era es"eradaQ, a !ueda de "o"ularidade da "residente ilma !ue, contudo, não lhe diminuiu a "otencialidade eleitoralQ e, acima de tudo, a divul(ação, a "romoção, a /arta e$"osição na mídia e, "ortanto, a valorização da ação dos v9ndalos !ue, ao contr.rio do ventre em !ue /oram (estados, ou se:a, as ?mani/estaçHes do bem@, continuam a se re"etir e at a se multi"licar, com cada vez mais :ovens, com m.scaras cada vez mais "itorescas e t.ticas cada vez melhor articuladas%
22 3a busca in/rutí/era "or uma e$"licação, acabei "or lembrar, da minha "r#"ria :uventude% Genho de lon(e, aos dezesseis anos de idade, "resenciei em Porto le(re ao (rande ?!uebraJ!uebra@ !ue celebrou o suicídio do Presidente Gar(as% Como na!uela ocasião, as açHes "areciam "romovidas "elo !ue =artre chamou de (ru"oJemJ/usão, na 0rítica da 1a23o Dialética% 6o:e, tais (ru"os destratam o (overnador =er(io Cabral, "er(untam "elo destino do "edreiro marildo, acusam de cul"ados os bur(eses da rua ias errreira, !uebram cai$as eletrTnicos de bancos, incendeiam li$o na meio das ruas, etc% ou esses e$em"los "or!ue /oram os Onicos !ue "resenciei ao vivo a!ui nas ruas do Leblon, onde vivo% Mas lo(o "ercebi !ue seu verdadeiro ob:etivo, o es"írito !ue os animava, era um s#> a contestação da autoridade% 4u se:a> o ob:etivo e o es"írito do anar!uismo% =im> nossos v9ndalos são anar!uistas cl.ssicos% ?Auem !uer !ue colo!ue a mão sobre mim "ara me (overnar um usur"ador e um tirano F e o declaro meu inimi(o@, e$clamou Proudhon, o "rimeiro dos (randes "ensadores libert.rios, autor de uma /rase tão sim"les !uanto "oderosa F ? "ro"riedade roubo@% =e(undo Bernard =ha5, ?os ladrHes /oram vin(ados !uando Proudhon "rovou !ue a bur(uesia rouba@% Dodo a!uele !ue contesta a autoridade e luta contra ela um anar!uista% Anarc$os, a "alavra (re(a ori(inal si(ni/ica sim"lesmente ?sem (overnante@% creditam os anar!uistas !ue assim como o homem busca a :ustiça na i(ualdade, a sociedade "rocura a ordem na anar!uia, na ausIncia de um soberano% 4 ob:etivo a substituição do estado autorit.rio "or al(uma /orma de coo"eração nãoJ(overnamental entre indivíduos livres% Dodos os anar!uistas concordam ao se considerarem a"olíticos e at mesmo anti"olíticos% m.!uina do Estado não deve ser tomada, mas abolida% 4 leitor !ue estiver interessado em se a"ro/undar no assunto "ode começar com os dois volumes da /ist4ria das ideias e mo!imentos anarquista, obra de eor(e Voodcoc% violIncia um as"ecto /undamental na /iloso/ia anar!uista% l(uns a abominavam, como DolstoiS seus discí"ulos não a admitiam !uais!uer !ue /ossem as circunstancias% Mas Baunin, "or e$em"lo, um lutador nato, tinha outro "onto de vista e a admitia con/orme a necessidade% Eis a mais /amosa citação de Baunin> ?Con/iemos no eterno es"írito !ue destr#i e ani!uila "or!ue a ine$"lorada e eterna ori(em de toda vida% 9nsia de destruir tambm uma 9nsia criativa@% 9nsia de destruir tambm uma 9nsia criativa% Eis a /iloso/ia de nossos v9ndalos% N "reciso reconhecer !ue /azem co!uetis molotov uma arma caseira, de /abricação su"er sim"lesQ e não usam armas de /o(o convencionais% Auebram os cai$as eletrTnicos dos bancos, mas não as /uçam em busca de dinheiro% 4s roubos de rou"as e
2& outras !uin!uilharias "odem ser atribuídos a "ivetes acostumados a descolar al(um (anho em !ual!uer o"ortunidade% 3ão tem nada a ver com eles% 4 ob:etivo dos v9ndalos "olítico, ou anti"olítico "ara ser mais e$ato% Eles !uerem contestar a autoridade, valendoJse do con/ronto% =abem !ue não serão vitoriosos e "odem ser esma(ados, a !ual!uer momento, "elo "oder letal muito su"erior do Estado% Mas o !ue lhes interessa o (eau geste do con/ronto% 4 anar!uismo um romantismo%
A +=+"%! (' '$-'" >-+)$-(+ Minhas dOvidas, e$"ostas a!ui, sobre o !ue chamei de ?o mistrio dos v9ndalos@ "rovocaram duas reaçHes tí"icas e diametralmente o"ostas% s duas tIm em comum o /ato de !ue não consideram autIntica uma rebelião na :uventude de ho:e e atribuem suas açHes, violentas ou não, como mani"ulação das or(anizaçHes "olíticas tradicionais% 4s !ue estão do lado do (overno "etista acham !ue tudo uma t.tica da o"osição !ue visa
a
desestabilização
do "oder le(almente constituído
e,
conse!uentemente, um (ol"e contra a normalidade democr.tica% 4s !ue se alinham com a o"osição sustentam !ue a ação dos :ovens uma manobra (overnista !ue visa a desmoralização e o esvaziamento das mani/estaçHes "o"ulares de "rotesto% Em ambas as hi"#teses, os :ovens são reduzidos a uma estO"ida massa de manobra de "olíticos mais velhos e mais e$"erientes% e"ois de um "ouco de "es!uisa e al(uma re/le$ão, concluí !ue essas duas inter"retaçHes do /enTmeno são i(ualmente erradas, mal intencionadas e, numa "alavra, i(ualmente desastrosas "ara uma visão :usta do !ue est. acontecendo no "aís% mbas são mais e!uivalentes entre si do !ue certamente (ostariam, "ois o /undamento de ambas o a"e(o neur#tico aos es!uemas estabelecidos e a ce(ueira mais crassa "ara o novo, a mudança e a din9mica natural da realidade% Gi claramente !ue o !ue chamei de mistrio dos v9ndalos sim"lesmente a e$"ressão de uma le(ítima rebelião da :uventude de ho:e, no /undo mais lOcida do !ue a re"etição ad nauseam do con/ronto senil !ue tem re(ido obstinadamente a nossa vida "olítica% rebeldia das novas (eraçHes, em (eral mani/esta numa contestação im"lac.vel ao status quo "etri/icado, "ode ser veri/icada ao lon(o da hist#ria recente, não s# do Brasil, mas de todo o 4cidente, uma rebeldia !ue se estende ho:e "raticamente a !uase todo o "laneta% echar deliberadamente os olhos "ara esse "rocesso não !uerer ver, ou se:a, a característica b.sica da "ior das ce(ueiras% E$"licaçHes su"ostamente racionais e realistas, como as !ue se a"resentam a(ora, discutindo !uem são os
2< verdadeiros mani"uladores de :ovens !ue seriam "assivos e mais ou menos estO"idos, tambm constam da e$"eriIncia hist#rica% 3os anos ), a eclosão da contracultura tanto /oi acusada de cons"iração de "ecadores devassos "ara a destruição da moral e dos bons costumes !uanto de ter sido, na verdade, um suborno "romovido "ela C0 "ara en/ra!uecer a :uventude brasileira na luta contra a ditadura militar% Es!uerda e direita são i(ualmente teimosas em suas obsessHes% 3ão vale a "ena dar muita atenção a elas% 6. !uase cin!uenta anos atr.s, na eclosão da contracultura, "resenciei a conversa de dois velhos, anar!uistas hist#ricos, !ue comentavam> J Ge:a s#, com"anheiro, estão /alando de n#s de novo% J Eles /in(em !ue se es!uecem de n#s% Mas, de re"ente, são novamente obri(ados a lembrar% Esse di.lo(o "oderia ser re"etido ho:e, se os dois velhos, ho:e centen.rios, ainda estiverem vivos% Mas não necess.rio% Eu era :ovem, estava l. e ouviS ho:e, estou velho, mas lembro e re"ito% =omos obri(ados a lembrar de /o/ocas "olíticas, de um lado ou de outro, não "oderão ocultar o #bvio% s atuais mani/estaçHes de nossa :uventude rebelde são le(ítimas, lOcidas, e não são "roduto de nenhum ti"o de mani"ulação, mas corres"ondem com /idelidade aos sentimentos e ao "ensamento dessa :uventude% =ua ins"iração nitidamente anar!uista, e, "ortanto, rom9ntica, como /oi a da contracultura em minha (eração% Esses meninos de ho:e lutam "ela liberdade, a verdadeira, e não a /alsa liberdade das /o/ocas "olíticas% 4s mais velhos, em (eral, não entendem a visão :uvenil% 4 desentendimento começa com uma di/erença radical entre visHes do mundo% 4s velhos acham !ue o mundo est. acabado, o /uturo ser. necessariamente i(ual ao "resente e ao "assado, "rinci"almente no !ue eles tIm de "ior% Para os :ovens, ao contr.rio, o mundo est. "or /azer e "ode ser trans/ormado em sim"lesmente tudo !ue /or necess.rio% "rimeira visão se a"resenta como realista, mas "ode ser vista como "ura covardiaS a se(unda visão !uer ser ativa e cora:osa, mas "ode ser vista como "ura ilusão% Aual sua o"inião, caro leitorU i(a e eu adivinho sua idade% 3ão me venham dizer !ue /aço "ro"a(anda da ba(unça e da destruição do "atrimTnio "Oblico e "rivado% =eria sim"lesmente ridículo% Em "rimeiro lu(ar, não "reciso /azer "ro"a(anda de coisa nenhuma% 4s :ovens sabem o !ue !uerem, "or!ue !uerem, "ara !ue !uerem, e o !ue "recisam /azer "ara conse(uir o !ue !uerem% Gão se li$ar "ara
2* a o"inião de um velho de 8* anos, /eito eu% 3a verdade, escrevo "ara minha (eração !ue, ali.s, teve uma :uventude de es!uerda, "rinci"almente socialista, e, com a idade e sei l. mais o !uI, se bandeou em nOmeros assustadores "ara a direita% Muitos são ou eram ou sem"re /oram meus ami(os, mas suas o"iniHes de ho:e, conservadoras, reacion.rias ou sim"lesmente /ascistas, me dei$am at meio assustado e enver(onhado% Mas não condeno nin(um% Cada um "ense o !ue !uiser, "ois como dizem os americanos, ou diziam, ?this is a /ree countr7@% Mas não consi(o dei$ar de es"ecular sobre uma mudança tão chocante% Dalvez o res"ons.vel "or recuo tão assustado e (eneralizado "or "arte de tantos e$Jrebeldes, tenha sido o mero "eso dos anos% idade madura considera "rioritariamente o tem"o "rovis#rio e im"lac.vel !ue tem diante de si, uma estrutura /echada "ela morte cada vez mais "r#$ima% Então, a obsessão "ela ordem e "or uma su"osta moralidade corres"onde e$"eriIncia crescente da ri(idez e da morte, !ue devem encerrar o ciclo vital num "rocesso considerado ?normal@% Dhanatos triun/a sobre Eros% Mas esse mundo senil, su/ocado "or toda es"cie de leis e re(ulamentos, deve ser are:ado "ela visão :uvenil !ue o seu o"osto e seu antídoto% N uma necessidade social% Livre do "assado da in/9ncia e do /uturo da maturidade, o tem"o do :ovem a eternidade e seu "rinci"al sentimento, a conse!uente con/iança absoluta no /uturo mais livre !ue ele vai construir% a"arente insensatez, !ue a"avora os coroas, , "ortanto, e$atamente o antídoto !ue renova a vida, a revanche de Eros% s "e!uenas destruiçHes "raticadas "or membros dos +lac. +locs, ou dos Anon%mous, ou !ual!uer outro (ru"o, "or e$em"lo, não tem im"ort9ncia diante da saOde !ue eles trazem "ara o "r#"rio es"írito da sociedade vi(ente% E os "rincí"ios anar!uistas, cu:o /undamento a "ai$ão "ela liberdade, tem tudo a ver com isso%
O ?+)*'+)$! (' (%+%$'
5 tre à droite, c6 est avoir peur pour ce qui existe. J u l e sR oma i n
E s t eeot e xt os e gu i n t ef or a me s c r i t osqu a ndoBu s ha i n dae r aPr e s i de nt edosE s t a dosUn i dos . E uosma n t i v en af or maor i g i n a lpor qu ea c r e di t oqu ede s c r e v e mc on t i n gn c i a sda qu el epa #s
2 qu epe r ma n e c e mv i g e n t e s ,a p e s a rdeB a r a c kOba maeda spo s s #vei smodi fic a @esqueel e a n u nc i ou ma i sdo qu er e a l i z o u.Al ;m di s s o,a c h eia pr opr i a do ma n t e res t et e x t on es t e v o l u me p or qu e o pe n s a me n t o de d i r e i t ae s t hoj ee m g r a n d e mo da n oB r a s i l , pr i n c i pa l me nt ee mf u n@odopa t r o c #ni oos t e ns i v odagr a ndem#di a .
Em 1-**, em "lena uerra ria, =imone de Beauvoir "ublicou no seu livro 7ri!il8ges, um ensaio intitulado )a 7ensée de Droite, Aujourd6$ui , em !ue "rocura traçar a evolução do "ensamento da direita, desde seus /undamentos nas inter"retaçHes da 6ist#ria de 4s5ald ="en(ler e rnold Do7nbee, at os direitistas /ranceses da "oca%
s an.lises de Beauvoir "odem ser sintetizadas em al(umas características /undamentais% "rimeira delas era um "essimismo !ue contrastava com o otimismo !ue marcou a ascensão das classes mdias% ="en(ler, "ara começo de conversa, anuncia a morte da cultura ocidental% 6. nele uma visão catastr#/ica da hist#ria !ue vem de 3ietzsche% civilização ocidental descobre !ue ela mortal% Mas acredita !ue ela "oder. sobreviver "or meio de uma /orma contem"or9nea de cesarismo% 3ão deu outra%
4 "ensamento da direita rea(e "r#"ria "aranoia em termos de um novo cesarismo totalit.rio% N "reciso en/rentar a ameaça desi(nando um inimi(o res"ons.vel e se dedicar a destruíJlo% 3os anos cin!uenta, esse inimi(o era claro F o comunismo, materializado na ;nião =ovitica% 4 "rinci"al su"osto da /iloso/ia da direita a desi(ualdadeS lo(o, o "ro:eto da i(ualdade considerado "atol#(ico, contr.rio natureza humana F e o !ue esse "ro:eto "romete um verdadeiro a"ocali"se% ?4 mar$ismo !uer minha morte@, dizia Dhierr7 Maulnier%
Como era "ossível, então, !ue al(uns seres humanos /ossem de es!uerdaU l(uns, como rthur Koestler, tinham e$"licaçHes /isiol#(icas> o "roblema era uma ?/adi(a de sina"se@, um en/ra!uecimento das cone$Hes entre as clulas do crebro dos es!uerdistas, coitados% Mas a e$"licação mais comum era "sicol#(ica> a ori(em da es!uerda a /rustração, "or não deter o "oder, e o ressentimento, con/orme Ma$ =cheler "roclamou e, de"ois, Ra7mond ron e Monnerot re"etiram%
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inda ho:e, dizem !ue o antiamericanismo !ue se es"alha "or !uase todos os "aíses do mundo resultado da inve:a% =e(undo Monnerot, no "r#"rio título de seu livro, o comunismo O 9sl3 do Século :: S atualmente, numa sim"les reversão, "oderJseJia dizer !ue o islamismo o comunismo do sculo YY0% mbos e$"ressam um mal meta/ísico%
0n/orma Beauvoir !ue, "ara Paul Claudel, "or e$em"lo, condenar a
e$"loração do homem "elo homem tolice "or!ue o homem ?"ede@ "ara ser e$"lorado% 3ão basta, "ortanto, se(undo Claudel, de/ender a ordem estabelecidaS ele sustenta !ue ela merece o a"oio divino, nada menos% Beauvoir conclui !ue al(um ti"o de mística necess.rio "ara a direita F e o "r#"rio eus invocado "ara sancionar seus ob:etivos, como eor(e Bush sem"re (ostou de /azer%
inalmente, nossa autora menciona um "ersona(em /undamental> 'ames Burnham% e !uem se trataU ?Ele americano> ele !uer !ue a mrica domine o mundo@ F ela resume, :. em 1-**%
=im, 'ames Burnham /oi o ide#lo(o !ue abriu o caminho "ara a doutrina da he(emonia americana absoluta dos atuais neoconservadores% oi ele !ue e$i(iu uma estrat(ia mais a(ressiva contra a ;nião =ovitica !ue deveria substituir a de contenção détenteQ !ue era a "olítica o/icial dos Estados ;nidos% Ele a chamou de li(erationS seu ob:etivo> não mais a "az, mas a vit#ria% 4s atuais direitistas americanos atribuem a essa estrat(ia, "reconizada "or Burnham, o cola"so da ;nião =ovitica e o /im da uerra ria%
Burnham era, na :uventude, um intelectual de es!uerda, um comunista mesmo, de tendIncia trotsista !ue, "ortanto, se o"unha ;nião =ovitica stalinista% Ele colaborava na 7artisan 1e!ie; , era ami(o de =idne7 6oo e, em 1-<1, "ublicou um livro, <$e "anagerial 1e!olution, !ue "revia a substituição tanto de ca"italistas e comunistas "elos ?(erentes@% '. nessa "oca, a/irmava !ue os Estados ;nidos seriam o herdeiro do 0m"rio Brit9nico !ue estaria "or se desinte(rar inevitavelmente%
2+ 4 livro se(uinte de Burnham, <$e "ac$ia!ellians "ro"unha uma ciIncia "olítica "autada nas ideias de 3iccolo Machiavelli, aetano Mosca, eor(es =orel e Gil/redo Pareto, se(undo a !ual toda "olítica uma luta "or "oder entre (ru"os e indivíduosS assim, o ob:etivo su"remo da elite "olítica sim"lesmente a manutenção do "oder e de seus "rivil(ios% N isso !ue conta%
4 ano de 1-<< marca uma virada /undamental na carreira de Burnham% Ele contratado "ara /azer uma an.lise dos ob:etivos dos soviticos, no "#sJ(uerra, "ara o O''ice o' Strategic Ser!ices 4==Q do (overno americano F e suas conclusHes seriam "ublicadas, sob o título de <$e Struggle 'or t$e World , em 1-<8% 3ele a/irmava !ue o comunismo sovitico ameaçava dominar o mundo e !ue os Estados ;nidos deviam usar a estrat(ia ade!uada "ara evit.Jlo% 4 inimi(o sovitico encabeçava uma cons"iração mundial !ue utilizava todos os meios ao seu alcance e "ara a !ual a "olítica de a"azi(uamento, contenção, dos Estados ;nidos era totalmente im"otente e e!uivalia, mesmo, a um verdadeiro ?suicídio@% détente seria uma /#rmula in/alível "ara a vit#ria sovitica e tinha de dar lu(ar a uma estrat(ia !ue visasse ?a destruição do "oder comunista@% essa nova estrat(ia a(ressiva e im"lac.vel, chamou de uma "olítica de ?libertação@%
Como ela deveria a(irU Contribuindo "ara "iorar os "roblemas econTmicos da ;R==, estimulando o descontentamento das massas russas, encora:ando de/ecçHes ti"o Dito, /omentando divisHes, entre outros% semelhança com a "resente estrat(ia americana em relação ao 0ra!ue, em "articular, e ao demTnio muçulmano em (eral, não mera coincidIncia%
4 anticomunismo de Burnham se acentuou com a "assa(em do tem"o% Em 1-*<, ele :. escrevia <$e We( o' Su(!ersion, !ue denunciava a "enetração comunista no "r#"rio (overno americano, :., "ortanto, em estilo abertamente "aranoico% Em sua coluna, na /ami(erada =ational 1e!ie5, ele recomendava o uso de armas de destruição em massa, nucleares e !uímicas, no Gietnã, e, no !ue diz res"eito ao 4riente Mdio, escrevia !ue se os Estados ;nidos tivessem de escolher entre o "etr#leo e 0srael, devia escolher o "rimeiro, sem hesitar% Ele comenta o movimento "aci/ista americano como uma reunião de comunistas e inocentes Oteis e ataca Eleanor Roosevelt, 6arr7 Druman,
2eor(e Kennan, '%Robert 4""enheimer e Linus Paulin( "or a:udar os comunistas% Em suma> tornaJse, então, um radical de direita F um ti"o !ue se denuncia !uando, inteiramente "aranoico, começa a descobrir comunistas debai$o da "r#"ria cama%
4 medo abriu os olhos de Burnham "ara o /uturo% Ele, inclusive, "reviu a ascensão de um "oder im"erial, nos Estados ;nidos, !ue viria rom"er o delicado e!uilíbrio constitucional do "aís, estabelecido "elos chamados -ounding -at$ers, num livro ousado, 0ongress and t$e American
Para Burnham, os Estados ;nidos "ossuem o "oder econTmico, "olítico e militar "ara asse(urar sua he(emonia F e sua Onica limitação seria a /alta de vontade em usar esse "oder% Bush e seu (ru"o "artem desse su"osto% Eles tIm a vontade de usar o "oder%
'ames Burnham morreu em 1-+8, de c9ncer% ois anos de"ois houve a !ueda do muro de Berlim% 4 I$ito de sua estrat(ia começou a /ruti/icar num novo "ensamento da direita nos Estados ;nidos !ue resultou no sur(imento dos chamados neoconservadores% =eus nomes estão se celebrizando> Bush /ilho, ic Chene7, onald Rums/eld, Condoleeza Rice, Colin Po5ell, Paul Vol/o5itz, Villiam Kristol, Richard Perle e Paula obrians7% maioria /az ou /ez, "arte do (overno de Bush%
3ão Kristol% Ele editor da revista <$e Wee.l% Standard , "ublicada "or Ru"ert Murdoch, "ro"riet.rio da -o# =e;s e dos ta(loide =e; >or. 7ost e <$e Sun, os veículos da mídia !ue mais a"ai$onadamente a"oiaram Bush e as suas (uerras% Em 1--8, Kristol, com o entusiasmo de todos os acima mencionados, criou o 7roject 'or a =e; American 0entur% ?Pro:eto "ara um 3ovo =culo mericano@J P3CQ !ue "reconiza abertamente o domínio do mundo "elos Estados ;nidos atravs da /orça econTmica e militar% 4 !ue assistimos /oi a e$ecução desse "ro:eto%
4s neoconservadores são /alcHes /erozes% 3ão admitem !ue os Estados ;nidos /açam acordos, assinem tratados, entre outras coisasS não acham !ue /i!ue bem "ara
&) sua "osição he(emTnica absoluta do "laneta% ssim, Bush recusouJse a assinar o Dratado de Kioto e abandonou o Dratado de Mísseis ntibalísticos, entre outras demonstraçHes de arro(9ncia% 4s neoconservadores acreditam !ue os Estados ;nidos devem resolver os "roblemas internacionais "ela /orça das armas% ssim Bush solicitou e conse(uiu um aumento "ara as /orças armadas F e continua a "edir mais dinheiro "ara os custos militares% 4 !ue, claro, a(rada ao Pent.(ono%
3aturalmente, não /ossem eles "ensadores da direita, os neoconservadores alimentam seu ti"o "r#"rio de "aranoia e a disseminam no "ovo americano% 'ames Burnham tinha medo dos comunistas% Por causa de sua teoria, ou não, a uerra ria, a ;nião =ovitica e, naturalmente, a cons"iração comunista acabaram% Mas como o "ensamento da direita "recisa de al(um ti"o de "aranoia, ele iniciou a moda das teorias de cons"iração% 4s descendentes de Burnham "recisavam, "ortanto, de uma nova ameaça F e a descobriram> o terrorismo% '. se observou !ue, "ara tornar vi.veis os audaciosos ob:etivos de domínio total do "laneta, dos neoconservadores, se não tivesse acontecido o ?on2e de setem(ro@, seria "reciso invent.Jlo% raças a ele, declararam ?(uerra ao terrorismo@, su"rimiram as liberdades democr.ticas no interior dos Estados ;nidos e atacaram o /e(anistão e o 0ra!ue sem consideração s 3açHes ;nidas% E com o a"oio "o"ularW 4 "ensamento da direita sem"re se alimenta basicamente do medo% "aranoia atin(iu, nos Estados ;nidos, níveis inima(in.veis, "rinci"almente num "aís tão "oderoso, (raças ação deliberada do (overno% Doda semana, o B0 anuncia o "eri(o de ata!ues terroristas, o alerta laran:a aceso e o "aís inteiro submetido a um intenso "oliciamento% Embora, alm do misterioso ?on2e de setem(ro@, nunca mais tenha ocorrido nadaW Dudo se "assa como se o atentado s torres (Imeas tivesse sido um ardil incon/ess.vel "ara criar as condiçHes necess.rias "ara a realização dos ob:etivos dos neoconservadores% 3ão admira !ue, num "aís dominado "or uma "aranoia a(uda, setenta "or cento da "o"ulação a"oiem Bush e a sua (uerra%
=e(undo a "si!uiatria, h. um ti"o de "aranoia, o delírio de inter"retação, !ue se caracteriza "ela alteração do si(ni/icado da realidade% 4 "aranoico a ada"ta aos seus "r#"rios dese:os e emoçHesS "ara :usti/icar seu medo, descobre em indícios /ortuitos e va(os um ?sentido claro@% Por outro lado, tal ti"o de "aranoia ainda se caracteriza "ela conservação da clareza mental e, em termos "si!ui.tricos, "ela ?ausIncia de "re:uízo
&1 demencial@, o !ue lhe con/ere uma a"arIncia de normalidade% Essa descrição clínica se a"lica como uma luva em Bush e seu (ru"o de /alcHes%
A ?+&!)%@! (+ 7-*B
Em !ue medida "odeJse "rever o /uturo e tomar as "rovidIncias necess.riasU Para o "residente Bush, a"arentemente sem"re% =ua "olítica em relação ao 0ra!ue, "or e$em"lo, su"He !ue "odemos saber, "elo menos, tudo o !ue /or necess.rio "ara tomarmos "rovidIncias enr(icas% s decisHes delas /undamentamJse, "ortanto, sobre o su"osto da "ossibilidade de conhecimento /uturo, ou "reco(nição% =addam 6ussein tem armas de destruição em massa e vai us.Jlas ine$oravelmente, esse su"osto não admite discussãoS "ortanto, =addam 6ussein deve ser imediatamente atacado, antes !ue /aça al(uma coisa%
Dal "osição envolve lo(icamente a ca"acidade de "rever o /uturo, como sem"re /izeram os "ro/etas e adivinhos% visão "ro/tica imediata, intuitiva, natural, ao contr.rio da arte da adivinhação cu:as "revisHes de"endem da inter"retação de "ress.(ios e símbolos% Mas ambas visam mesma coisa> a su"ressão do ines"erado, da sur"resa, e o domínio sobre o "orvir% Muitas "ro/ecias são enunciadas em símbolosS e todas as chamadas ciIncias, ou artes, divinat#rias servemJse do mesmo elemento> as /i(uras do
trataJse de saber o !ue nos a(uarda, de conhecer o /uturo% 4u se:a> de "reco(nição%
Cada vez mais, a /icção cientí/ica trans/orma as intuiçHes das artes m.(icas em ciIncia e$"erimental, e$ata, naturalmente num /uturo ima(in.rio% ssim, a "reco(nição, ou conhecimento do /uturo, virou assunto de /ilme, em "inorit% 1e&ort 2))2Q, de =teve ="ielber(, baseado num conto de Phili" K% ic%
&2 4 autor da hist#ria ori(inal, Phili" K% ic um dos escritores mais /ascinantes do (Inero liter.rio a !ue se dedicou F a "o"ular /icção cientí/ica% o contr.rio de outros cole(as, sua literatura conse(ue ser boa sem ultra"assar os limites do (Inero% N um caso raro% Ra7 Bradbur7, "or e$em"lo, um autor e$ce"cionalS mas, se(undo muitos críticos, um /iccionista cu:a arte não "ode ser limitada ao sciJ/i, seu !oo liter.rio mais alto% 3ão o caso de ic% Ele um autor tí"ico do (Inero e sua "rodução volumosa, como de todo /iccionista "o"ular%
Mas, na verdade, ic um escritor srio, um intelectual inteli(ente% az a chamada /icção cientí/ica es"eculativa, na !ual a "r#"ria natureza da realidade "osta em !uestão, "or meio de eni(mas como este, sobre o tem"o, "rinci"almente a su"osta indeterminação /le$ível do /uturo e a determinação inalter.vel do "assado%
=eus livros ilustram a tese% s anteci"açHes nas hist#rias de ic são tão 'requentes !ue, "ara certos críticos, ele "r#"rio um &recog , um "reco(nitivo% 4 escritor declara !ue não sabe se mesmo, mas admite !ue muitos eventos ima(inados "or ele, "ara os livros, de"ois acontecem em sua vida real mais ou menos da mesma maneira% 4 e$em"lo cl.ssico a obra Os
ic d. muita im"ort9ncia s obras de ldous 6u$le7 e Carlos Castaneda !ue tratam do assunto% Ele acredita !ue as dro(as F do ti"o da mescalina, ou se:a, os alucin#(enos F "odem induzir a estados reveladores da e$istIncia de outras realidades, "aralelas de nossa e$"eriIncia cotidiana F e !ue um encontro entre essas di/erentes realidades inevit.vel%
!uestão /undamental , a/inal de contas, saber ?o !ue realU@, ou ?o !ue a realidadeU@ F e ic começa a res"onder dizendo o !ue não % ?;ma das coisas !ue não real o tem"oS não h. dOvidas !uanto a isso% mudança e o tem"o não são reais% =e o
&& tem"o não real, como saber o !ue o /uturoU@ s duas "rinci"ais conce"çHes se e$cluem% Para uns, o /uturo est. "redeterminado e não "ode ser mudadoS "ara outros, "elo contr.rio, indeterminação "ura%
"rimeira conce"ção, "ara a !ual a /orça do destino absoluta, est. bastante arrai(ada em nosso inconsciente coletivo e /oi herdada dos (re(os% Para eles, na "oca .urea da cultura helInica, o /uturo est. determinado de maneira ine$or.vel, meta/ísica e inalter.vel% 4s or.culos, "or isso, sem"re acertam%
N curioso observar !ue, na medida em !ue o tem"o F e, "ortanto, o /uturo J ri(idamente determinado, ele vira um ob:eto F e, "ortanto, "oder. ser considerado ob:eto do conhecimento cientí/ico% ssim, a visão de um /uturo ine$or.vel, /atal, "arece a muitos ter uma conotação de ti"o mais ?cientí/ico@ em contraste com a indiscriminação mais ou menos (ratuita da visão o"osta, a libert.ria%
4 "ensamento do 4riente e as artes m.(icas de toda a "arte não são tão rí(idos !uanto visão (re(a% noção hinduísta de arma, "or e$em"lo, não e$clui a "ossibilidade de mudança no destino, visto como uma correlação de /orças ativas e não como um decreto de/initivo de uma obscura inst9ncia su"erior% N verdade !ue o "ensamento m.(ico, a e$em"lo da visão oracular, tambm aceita a "ossibilidade da "revisão, o !ue si(ni/ica !ue tambm "ara ele, de certa /orma, o /uturo :. e$iste% Mas, ao contr.rio do !ue acontece na visão oracular, cientí/ica, h. tambm a "ossibilidade da mudança%
Essa abertura "ara a escolha humana "ode ser radicalizada% 3o e$tremo o"osto da determinação in/le$ível est. a "ura indeterminação "ercebida "or doutrinas libert.rias como a /iloso/ia e$istencialista% Dudo, "ara =artre, "or e$em"lo, de"ende totalmente de nossas escolhas livres%
Leitor de 'un(, ic acabou se interessando "elo 90$ing % Escreveu um romance (uiado "or suas consultas do or.culo chinIsS trataJse de O /omem do 0astelo Alto 1-2Q, "ara muitos o seu melhor livro% hist#ria se "assa num universo "aralelo no !ual
&< lemanha e 'a"ão (anham a =e(unda uerra MundialS o "ersona(em "rinci"al, "elo estudo do 0 Chin(, descobre !ue, em outra realidade, a nossa, eles /oram derrotados%
Esse con/ronto o cerne de "inorit% 1e&ort % 4 /undamento /ilos#/ico da or(anização "olicial PrJCrime a conce"ção de um /uturo en(essado "or /atalidades ine$or.veis, de /orma !ue o /uturo assassino :. o atual, devendo ser "reso, "rocessado e :ul(ado de acordo, mesmo sem ter matado nin(um% 6. uma intuição certeira !ue "recede cronolo(icamente a revelação dos "r#"rios su"ostos da "olítica de Bush e de suas intençHes% mbos, o PrJCrime de ic e Bush, "artem do su"osto de !ue a /atalidade meta/ísica autoriza a "unição anteci"ada%
Entretanto, a "remissa !ue se revela no desdobramento dos eventos de "inorit% 1e&ort a visão e$istencialista% Para ic, h. sem"re a "ossibilidade de o"ção, uma alternativa, em !ual!uer situação em !ue se encontre o ser humano% liberdade absoluta% =em"re se "ode escolher entre isso ou a!uilo%
N "ossível !ue os &recogs de Bush imersos em al(uma "iscina secreta nos "orHes da Casa Branca tenham "ro:etado anteci"adamente ima(ens terríveis mostrando a utilização, "or "arte de =addam, de armas de destruição em massa, nucleares, !uímicas e biol#(icas, contra americanos e outras "essoas de bem% Mas, mesmo !ue al(o assim tenha acontecido, Bush não est. considerando o ?minorit7 re"ort@ !ue certamente e$iste, nessa !uestão% Como o vilão do /ilme, "ossível at !ue ele o este:a escondendo deliberadamente%
A"%&+ )! M-)(! (' C!)*?%'@!
L iol i v r odeI c k es obr ea st or r e sg0me a sl o g o qu es a i u ,be m pe r t odof a t oqu el h ede u or i g em.E unoc on he c i aoa u t or ,ma sot e mamea t r a i u .C on f e s s oqu et e n hou maqu edapr a ma l u qu i c e se ,porc a u s adi s s oouno,a c h e imu i t or a z ov ei sv r i osa r g ume nt osdol i v r o. Gos t e idev e rc omot u doe r ai n v e r t i dos e m ma i or e sc e r i mn i a s eBu s ha c a b a v as e n doo
&* g r a n dev i l odahi s t r i a .Ag or ah pou c o ,pe s qu i s e iI c k en ainternet on dee l ea pa r e c ec o mo u mc on h e c i doma l u qu e t edec a r t e i r i n ha ,u s e i r oev ez e i r oe ms u bme t e re s s et i podei n v e r s o apr a t i c a me nt et u doqu ea c on t e c en e s t emu ndo, ma n i ade l e ,c a dama l u c oc o m as u a .
s teorias de cons"iração (ozam de (rande "o"ularidade% N natural% 3#s, o (rande "Oblico, temos acesso demasiado limitado a in/ormaçHes relevantes sobre o !ue acontece nos bastidores do "oder% divul(ação o/icial e a mídia institucionalizada s# e$ibem, no "alco "Oblico, as a"arIncias convenientes% 4 !ue verdadeiramente acontece, em (eral, "ermanece oculto, "ro"iciando assim um es"aço "ara a ima(inação% Como não sabemos, "ara valer, o !ue acontece, crescemos "raticamente sombra de va(as notícias de cons"iraçHes secretas% 3o caso de minha (eração, /oi a cons"iração comunista internacional% Ela era ?solerte@, "ara usar a "alavra então na moda% Comandados "or Moscou, os comunistas estavam in/iltrados em toda "arte e "re"aravam a tomada do "oder mundial% e"ois do /im da ;nião =ovitica e da maioria dos "artidos comunistas em todo mundo, essa cons"iração "erdeu bastante o "restí(io embora al(uns renitentes ainda ve:am sinais dela "or aí% 4utras teorias cons"irat#rias a sucederam embora, /re!uentemente, invertendo seu sentido ideol#(ico% 3os Estados ;nidos, os assassinatos de 'ohn Kenned7, Robert Kenned7 e Martin Luther Kin( sinalizavam "ara cons"iraçHes de direita !ue se "oderiam !uali/icar de i(ualmente solertes% morte de Kenned7, em es"ecial, suscitou uma avalanche de livros e narrativas diversas% tualmente, muitos sites na internet anunciam uma variedade de livros sobre cons"iraçHes "ara todos os (ostos% inda !ue al(uns insistam em denunciar a des(astada cons"iração comunista, outros a"ontam "ara as sociedades secretas !ue mani"ulam at (overnos de (randes "otIncias, ou "ara /amílias ri!uíssimas !ue e$ercem um "oder insus"eito, alm das devidas combinaçHes% Em <$e Atlantis 0ons&irac% , de Villiam B% =tocler, "or e$em"lo, revelaJse a e$istIncia de uma or(anização secreta !ue remonta le(end.ria tl9ntida, e res"ons.vel "or 4G30=, a morte de Kenned7 e muitos outros eventos misteriosos h. nada menos do !ue 12 mil anos%
& ;m desses sites o $iddenm%steries@com !ue, se(undo a/irmam, o/erece livros di/íceis de encontrar "or!ue a"arecem como itens condenados nas listas ne(ras dos (overnos de muitos "aíses do mundo% l(uns deles F como +loodlines o' t$e 9lluminati , de ritz ="rin(meierS +lue +lood, W$% t$e o''icial stor% o' BB is a monumental lie@ =im> 0ce contesta a versão (eralmente aceita de !ue os atentados de onze de setembro em 3ova Zor e Vashin(ton tenham sido obra da or(anização terrorista isl9mica lJAaeda, sob as ordens de ?um tal 4sama bin Laden@% 4 autor se a"lica em desmontar a versão o/icial, ao lon(o de mais de *)) ".(inas de investi(ação obstinada e "aciente "es!uisa% Para começo de conversa, 0ce a/irma !ue não havia "ilotos .rabes nos aviHes do atentado, sim"lesmente "or!ue "ilotos com uma instrução rudimentar em aviHezinhos Cessna, con/orme a versão o/icial, não teria a ca"acidade de comandar a!ueles +oeings nas o"eraçHes !ue tiveram de realizar "ara levar dois a se chocaram contra as torres do World
&8 34RQ,
res"ons.vel "ela se(urança .rea tanto dos Estados ;nidos !uanto do
Canad., est. e!ui"ado com tecnolo(ia de "onta !ue o ca"acita a rea(ir em !uestão de minutos a !ual!uer irre(ularidade no es"aço areo !ue ele (uarda% 0ne$"licavelmente, o 34R nada /ez na manhã de onze de setembro% 0ncom"etInciaU 0ce duvida% o momento em !ue o +oeing do !oo 11 bateu nas torres at o momento em !ue o !oo 88 se chocou contra o Pent.(ono, "assouJse uma hora e meia, nada menos, sem !ue nenhum caça de interce"tação decolasse ou !ual!uer outra "rovidIncia /osse tomada% lm disso, houve tambm a omissão total da -ederal A!iation Administration Q, !ue sancionou a do 34R% Parecia, ao contr.rio do !ue seria normal, !ue nada deveria atra"alhar as aeronaves !ue, sem e$ceção, abandonaram sem e$"licaçHes as rotas ori(inais% 4 e"is#dio do Pent.(ono, "articularmente, um esc9ndalo, se(undo 0ce% ;m avião comercial sai de sua rota, cruza um es"aço areo "roibido e em "ermanente e ri(orosa observação, "ara se chocar contra o !uartelJ(eneral da /orça militar mais "oderosa do mundo, sem !ue houvesse !ual!uer reaçãoWU E onde estavam as autoridades res"ons.veisU 3ão estavam nem aí F se(undo a investi(ação de 0ce% 4 "r#"rio "residente Bush estava numa escola in/antil da lorida, na classe de uma aula em !ue se contava a hist#ria de um bondinho, e disse inadvertidamente !ue havia ?visto@ sic Q o "rimeiro cho!ue no World a notícia do ata!ue levou noventa e cinco minutos "ara che(ar at o =ecret.rio de e/esa dos Estados ;nidos, numa "oca de comunicaçHes instant9neas% Auanto ao eneral Richard B% M7ers, comandante da orça rea, em uma reunião com o senador Ma$ Cleland, no Ca"it#lio, /icou sabendo do "rimeiro cho!ue "or!ue al(um estava casualmente com a televisão li(ada e ouviu a notícia !ue um avião havia se chocado contra uma das torres do World
&+ Dudo se "assou como se essas altas autoridades estivessem, conclui 0ce, "ro"ositadamente alheias aos acontecimentos tr.(icos !ue chocavam o "aís e o mundo% 0ncom"etInciaU Lentidão ine$"lic.velU Bobeira (eneralizadaU 4u ser. !ue 0ce descobriu a verdadeira e$"licação !uando uma de suas /ontes, !ue "ermanece anTnima, contou !ue ?ordens su"eriores determinaram !ue o 34R, a e a orça rea não se(uissem as normas habituais de interce"tação, na!uela manhã, at novas ordens@% 0ce !uali/ica o evento como ?um assassinato de massa calculado@ e conclui !ue essas autoridades não a"enas "ermitiram !ue as atrocidades acontecessem, mas !ue na verdade, ?/izeram !ue elas acontecessem@% "rimeira "arte do livro e$amina a carreira de seus "rinci"ais "ersona(ens, numa esmerada descrição dos "odres de Bush "ai, Bush /ilho, ic Chene7, onald Rums/eld, Colin Po5ell, Paul Vol/o5itz, Condoleeza Rice e, last (ut not least , o brit9nico Don7 Blair, a"ontado com membro e/etivo da turma% 4 ob:etivo do autor claramente demonstrar !ue essa (ente do ti"o bem ca"az de /azer tudo !ue ele diz !ue /izeram F e at muito mais% ;tilização de car(os "Oblicos "ara vanta(ens "essoais, ne(#cios escusos, uso e tr./ico de dro(as, "edo/ilia e v.rios outros ti"os de vilania, marcam o curriculum !itae desses "ersona(ens% Lo(o de"ois do "rimeiro momento, a ine/iciIncia deu lu(ar e/iciIncia, a lentidão ra"idez, a bobeira es"erteza% Em !uestão de horas, o B0 desenvolveu uma /ulminante investi(ação "olicial e revelou tudo em detalhes% 4 atentado era obra da lJAaeda, or(anização terrorista isl9mica comandada "or ?um certo Bin Laden@ !ue vivia sob a "roteção do re(ime Daliban do /e(anistão% 4 che/e da o"eração teria sido um e(í"cio chamado Mohamed tta, !ue teria tambm a(ido como o "iloto do !oo 11, o "rimeiro a bater no Vorld Drade Center% Embora avião, "assa(eiros e tudo mais tivesse se incendiado e reduzido a cinzas com o cho!ue, o "assa"orte de tta /oi mila(rosamente encontrado a "oucos !uarteirHes das torres, ?nas vizinhanças de Gest7 =treet@% Pu$a, e$clama 0ce, isso !ue ter sorteW Então /oi assim !ue o B0 descobriu tudoW aí em diante, não havia mais mistrio% Essa versão o/icial /oi am"lamente divul(ada "elas mil bocas da mídia internacional% =e(undo 0ce, Bush usa o estilo de mantras hindus "ara convencer a "o"ulação% Re"ete incansavelmente as mesmas coisas at !ue elas se:am sim"lesmente aceitas como verdades indiscutíveis> Bin Laden o res"ons.vel "elo atentado de on2e de
&setem(ro, "elo 0ra!ue ter armas de destruição em massa F e assim "or diante% 4 nazista oerin( :. havia chamado a atenção "ara a e/iciIncia dessa tcnica% re"etição dis"ensa as "rovas% =e(undo 0ce, Bush e sua turma utilizam uma estrat(ia !ue :. deu "rovas de sua e/iciIncia no incIndio do Reichsta( alemão, /eito "elos nazistas "ara res"onsabilizar os comunistas, e outros e$em"los hist#ricos% Consiste numa a"licação estrat(ica da dialtica he(eliana !ue consiste na criação de um "roblema teseQ, na reação inevit.vel a ele antíteseQ e, /inalmente, a"resentação de uma solução sínteseQ% !ui, o "roblema a ameaça terroristaS a reação a indi(nação e o medo da "o"ulaçãoS a solução a (uerra contra o terrorismo !ue deveria levar a o"inião "Oblica a a"oiar, no "lano interno, a su"ressão nas liberdades "Oblicas e, no e$terno, a ação militar contra "aíses "obres do 4riente Mdio% 4 ob:etivo /inal seria nada menos do !ue um (overno mundial, do ti"o autorit.rio, ou /ascista, sob o controle americano% Muitos dirão !ue 0ce maluco, !ue a autoria do atentado de on2e de setem(ro /oi admitida "elo "r#"rio Bin Laden, !ue se não havia .rabes suicidas no comando dos aviHes então não se e$"lica como !ue eles atin(iram seus alvos% 3aturalmente, 0ce se dis"He a res"onder a todas essas ob:eçHesS "ara con/erir, "reciso ler seu livro% Maluco ou não, seu e$ame da !uestão sim"lesmente e$austivo% E, como dizem, onde h. /umaça, h. /o(o% 4 título de seu livro evoca a (rande obraJ"rima de Le5is Carrol !ue se "assa num mundo no !ual ?o sim !uer dizer não@, ?o certo o errado@, e assim "or diante, "ara nos su(erir !ue talvez o nosso mundo se:a e$atamente do mesmo :eito%
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iloso/icamente, a (uerra estabelece duas "osiçHes contradit#rias% 4s "aci/istas, !ue são sem"re contra ela, e os !ue "ro/essam a doutrina da ?(uerra :usta@, "ara as !uais, con/orme as circunst9ncias, a mortandade se :usti/ica%
4 "aci/ismo um valor !ue vem do berço de nossa civilização, da rcia de L7sistrata e das mulheres !ue /izeram (reve de se$o "ara evitar !ue seus homens
<) (uerreassem% Ele, no entanto, contestado "elos "artid.rios da (uerra :usta !ue, amiOde, o consideram mera covardia e !uando não, colaboração ostensiva com o inimi(o% 4s "aci/istas !ue !uiseram evitar a =e(unda uerra Mundial são considerados ?nazistas@ at ho:e% E a "r#"ria 0(re:a Cat#lica aceita o conceito de ?(uerra :usta@, e com Ratzin(er como "a"a, a utilizou "ara :usti/icar a destruição maciça do 0ra!ue% li.s, com e$ceção dos (overnos dos Estados ;nidos, da 0n(laterra, da Es"anha, da 0t.lia e de al(uns outros "aíses, o resto do mundo concorda com ele% 6. ?"aci/istas@ em toda "arte% t em 0srael% 3ão dei$a de ser mais uma curiosa ironia da 6ist#ria o /ato de !ue os mais im"ortantes movimentos "aci/istas sur(idos no "#sJ=e(unda uerra tenham sido os da 0n(laterra e dos Estados ;nidos F e$atamente os "aíses mais dis"ostos a (uerrear o 0ra!ue de !ual!uer maneira% (rande "reocu"ação da!ueles movimentos era uma "ossível Derceira uerra Mundial e a (uerra atTmica entre os E; e ;R==% 6avia uma conotação ideol#(ica nítida% En!uanto uma tica de direita se a"resentava li(ada doutrina da (uerra :usta, os "aci/istas eram (eralmente de ori(em es!uerdista F os anar!uistas, socialistas e libert.rios de v.rios matizes, inclusive os hi""ies% s duas (randes "otIncias tinham arsenais atTmicos consider.veis% Entretanto, as Onicas armas nucleares usadas /oram lançadas contra o 'a"ão, "elos Estados ;nidos% bomba de 6iroshima /ez 1*) mil vítimas, entre as !uais +) mil mortosS a de 3a(asai tambm /ez dezenas de milhares de mortos, não s# na o"ortunidade, mas tambm, ao lon(o dos anos se(uintes, "or e/eito da radiação% Em "oucos se(undos, durante os !uais /oram des"e:adas sobre cada uma delas, &%))) !uilotons !ue destruíram as duas cidades :a"onesas% o todo, a =e(unda uerra Mundial dei$ou cerca de <) ou *) milhHes de mortos% Mas de"ois dela, os "ro(n#sticos eram mais a"ocalí"ticos% Em seu clebre ensaio 1e'lections on de / +om(, o /il#so/o alemão [nther nders observava !ue, (raças tal bomba, "ela "rimeira vez em sua 6ist#ria, a humanidade "odia se autodestruir com"letamenteW Bomba 6 não a"enas matava milhHes, "odia sim"lesmente matar todo mundo% 6o:e, não custa lembrar !ue os atuais arsenais nucleares ainda tIm ca"acidade de eliminar a "o"ulação do "laneta, não a"enas uma, mas v.rias vezes%
<1 4s movimentos "aci/istas tí"icos do "eríodo tiveram duas motivaçHes "rinci"ais% "rimeira /oi a bomba atTmica% o horror causado "elos ata!ues a 6iroshima e 3a(asai, :untouJse a "ers"ectiva a"ocalí"tica criada "elo desenvolvimento da bomba de hidro(Inio, com uma "otIncia de 1)) me(atons% 4s euro"eus, em es"ecial, tomaram consciIncia de !ue, senão todo "laneta, "elo menos o seu "r#"rio continente "oderia ser totalmente devastado num con/ronto nuclear% Essa consciIncia "arece alcançar nossos dias e estava no /undo da resistIncia euro"eia invasão do 0ra!ue% 3a 0n(laterra, houve a 0am&aing 'or =uclear Disarmament , cu:o slo(an era +an t$e +om(C , a /amosa Aldermaston "arc$, !ue reuniu cem mil "essoas% oi criado tambm o 0omittee o' B , em torno do /il#so/o Bertrand Russell, "ersonalidade sem"re "resente s mani/estaçHes "aci/istas, nos anos *), ao lado de artistas e intelectuais% se(unda (rande motivação "ara os "aci/istas dos anos ) /oi a (uerra do Gietnã% 3os Estados ;nidos, o "rotesto contra ela catalisou os es/orços% 4s "rimeiros a "rotestar /oram os estudantes, os artistas e os intelectuais% Em 18 de abril de 1-*, Vashin(ton assistiu "rimeira (rande marcha or(anizada "elo Students 'or a Democratic Societ% ==Q, iniciando as atividades da chamada 3ova Es!uerda americana% Em novembro de 1-8, realizouJse a /amosa Marcha ao Pent.(ono, tambm na ca"ital americana% 4 ano se(uinte, 1-+, "ode ser caracterizado "ela violIncia da re"ressão% Crescia a resistIncia ao serviço militar "or causa da (uerra do Gietnã, os :ovens !ueimavam "ublicamente seus certi/icados militares% 4s "rotestos durante a convenção do Partido emocrata, em Chica(o, na!uele ano, terminaram numa batalha cam"al entre os :ovens e "oliciais% Em a(osto de 1--, houve o estival de Voodstoc% 4s slo(ans de ?Paz e mor@ e ?aça mor 3ão aça a uerra@ eram de/initivamente incor"orados consciIncia coletiva% s "asseatas coloridas e "er/orm.ticas contra a (uerra herdavam a esttica da contracultura !ue tambm teve, "or sua vez, ori(em no movimento "aci/ista% 4 !ue o mundo inteiro "assou a considerar o símbolo dos hi""ies F o círculo dividido "elo meio, com duas dia(onais laterais F era na verdade o símbolo da cam"anha brit9nica contra a Bomba% Ele su(ere as letras 3 e , de =uclear Disarmement F e tambm a /i(ura estilizada de um homem com os braços rela$ados ao lon(o do cor"o, em atitude "ací/ica% Com os hi""ies, a adoção do símbolo
<2 do desarmamento nuclear (anhava um sentido e$istencial% Era mais do !ue "ro"a(anda "olítica, atin(ia cada um em sua vida "essoal% 4s notici.rios !ue eram a verdadeira "ro"a(anda contra a (uerra, es"ecialmente as ima(ens da televisão americana !ue mostravam sua crueldade% Auando os cad.veres dos :ovens soldados americanos começaram a che(ar, dentro de sacos "l.sticos, a classe mdia, !ue a"oiara entusiasticamente a (uerra do Gietnã, entrou em "9nico% 4 movimento "ela "az (anhou então um a"oio ines"erado, inclusive "or muitos da!ueles !ue o condenavam anteriormente% l(uns observadores adivinham !ue o mesmo "ode acontecer novamente nos Estados ;nidos, como sub"roduto do ata!ue ao 0ra!ue% adesão do !ue se chamava, então, ?a maioria silenciosa@, "reocu"ou as autoridades americanas !ue tomaram duas "rovidIncias "ara !ue o "rocesso não se re"etisse% "rimeira, cl.ssica, /oi a censura mídia% ;ma "roibição t.cita das autoridades "assou a im"edir !ue ima(ens mais "erturbadoras da (uerra /ossem e$ibidas% uerra do ol/o /oi o "rimeiro e$em"lo de (uerra antiss"ticaS a :ul(ar "elo !ue se assistia na C33, os bombardeios tinham ?"recisão cirOr(ica@ e toda a ação blica lembrava um mero vídeo(ame% outra "rovidIncia /oi des"e:ar d#lares na "es!uisa de novos mtodos de (uerra !ue evitassem ao m.$imo as bai$as americanas% 4 movimento "aci/ista se retraiu e o silIncio das "ombas dei$ou os /alcHes soltos% 4 des/ile de con/litos armados nas Oltimas dcadas im"ressionante> Coreia, Gietnã, srvios, croatas e b#sniosS israelenses, .rabes, es"ecialmente "alestinosS a (uerra entre 0ra!ue e 0rãS a uerra do ol/oS os con/litos no Líbano, na ChechInia, no Dimor, o /e(anistão invadido, em momentos di/erentes, "ela ROssia e "elos E;S e, a(ora, a (uerra dos Estados ;nidos ao 0ra!ue% 3os anos +), "aíses subdesenvolvidos começaram, inclusive, a com"rar as armas convencionais mais so/isticadas do mercado F e o Brasil "assou a /abric.Jlas% 4 /im da (uerra do Gietnã e a dissolução da ;nião =ovitica, com o conse!uente trmino da uerra ria, tendo arre/ecido o ím"eto do movimento "aci/ista, tanto nos Estados ;nidos !uanto na 0n(laterra, "areciam ter tornado o mundo um lu(ar mais se(uro% s ne(ociaçHes "ara a redução dos arsenais nucleares "areciam "romissoras%
<& Em 1-+*, Mihail orbatchev declarou a morat#ria nuclear unilateral, uma iniciativa sur"reendente !ue /avoreceu as ne(ociaçHes "ara a redução dos arsenais atTmicos% E, em 1--1, as (randes "otIncias assinaram o Strategic Arms 1eduction ? All ;e are sa%ing 9s gi!e &eace a c$ance %
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2 CONTRACULTURA E EROTISMO
The best love to have is the Love of Life J i mi He ndr i x
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Partici"ei de um semin.rio intitulado ?Por !ue nãoU@> ru"turas e continuidades da contracultura, na ;niversidade C9ndido Mendes, em 2))% ideia do semin.rio /oi a re/le$ão sobre a atualidade da contracultura nas dcadas de ) e 8)% /ala de ntonio Cícero ?Encontros e desencontros com a contracultura@ mostrou uma coisa !ue at dis"ensa coment.rios% 4 testemunho de Cícero sobre a im"ort9ncia, "ara a /ormação dele, do encontro com o Caetano, !ue :ustamente o im"ressionou "or !ualidades !ue, a
< ri(or, "odem ser classi/icadas como contraculturais% 4 !ue ntonio Cícero /alou do Caetano o !ue "raticamente a contracultura se "ro"unha% Ger todas as coisas com esse olhar inocente, esse "rimeiro olhar, ver diretamente as coisas, ver sem as mediaçHes intelectuais estabelecidas e consa(radas, se:a "ela academia, "ela mídia, ou "or !ual!uer um desses outros monstros "or aí !ue diri(em as nossas vidas% e$"eriIncia imediata e concreta do real /oi o (rande ob:etivo da contraculturaS não /oi a trans(ressão, !ue mera conse!uIncia% Como a e$"eriIncia concreta do real estabelecia a necessidade da liberdade individual, de !ue cada indivíduo vivesse a sua, isso, naturalmente, "ara o sistema e a sociedade or(anizada, com suas re(ras estabelecidas, "arece trans(ressãoS um desa/oro% Então a trans(ressão "assa a ser considerada uma característica essencial da contracultura, mas isso "ara os outros, os !ue veem de /oraS "or!ue "ara !uem vive sob essa nova "ers"ectiva e$istencial, al(o natural, uma !uestão de viver livre a "r#"ria liberdade% ;m "ouco "arecido com a !uestão das dro(as% ssunto !ue deve ser /alado a!ui, "or!ue realmente tiveram um "a"el im"ortante no desenvolvimento da contracultura% Dimoth7 Lear7 dizia !ue as dro(as são ?subst9ncias !ue enlou!uecem as "essoas !ue não as usam@% Pura verdade% s "essoas !ue não usam dro(as /re!uentemente /icam voci/erando contra, com"letamente loucas% su"osta trans(ressão da contracultura a"enas uma maneira de ver a liberdade !ue ela "rocurava% Por !ue /oi "rocurada, essa liberdadeU contracultura /oi uma e$"eriIncia :uvenil, antes de !ual!uer coisa% oi coisa de (aroto% Esse Caetano !ue im"ressionou ntonio Cícero e !ue marcou a /ormação dele tinha no mínimo um terço da idade de seus "ro/essores na ;niversidade de Londres% Era um menino% E dizia coisas !ue ele não "odia escutar na universidade e !ue, no entanto, marcaram sua /ormação de uma maneira /undamental% Então esses meninos !ue inventaram a contracultura /oram de uma (eração determinadaS isso não !uer dizer !ue todos /açam isso, "or!ue os de ho:e não /azem mais% 4s de antes tambm não /izeram% 4s da!uela (eração sessentista tiveram essa intuição% Por !uIU e onde ela caiu na cabeça deles, no es"írito delesU e onde veioU 3in(um sabe% conteceu sim"lesmente% N uma coisa !ue desa/ia as e$"licaçHes racionais, as inter"retaçHes hist#ricas e tudo mais% conteceu na!uele momento% Mas "or !ue aconteceuU
<8 Eu vivenciei o evento, então "osso dizer !ue a minha hi"#tese /avorita "ara o sur(imento dessa nova consciIncia /oi a de ser uma res"osta a uma necessidade de ordem e$istencial, nascida do con/lito de (eraçHes% 3#s !ueríamos !ue as nossas vidas /ossem di/erentes dos nossos "ais, !ue traziam a conce"ção ocidental como estilo de vida, caracterizada "ela doença, neurose, crime, e tudo !ue a (ente tem de ruim% característica deste ti"o de conce"ção de vida social era a multi"licação de instituiçHes, a e$em"lo de hos"ital, "or!ue todo mundo era doenteS "risão, "or!ue todo mundo era criminosoS entre outras% 0sso continua at ho:e e cada vez mais% alternativa seria uma sociedade saud.vel, na !ual "oliciais e mdicos "erdessem os seus em"re(os% Percebíamos !ue a característica vi(ente era a"enas uma maneira de ver a vida% Pens.vamos diante das res"eit.veis instituiçHes> ?isso uma maneira de ver doente, uma coisa alei:ada, m#rbida, n#s "recisamos de uma vida mais saud.vel e "recisamos con!uist.Jla a des"eito de todo "rocesso civilizat#rio@% Esta /oi a "ro"osta /undamental% 3ão /oi a de a(redir, a de trans(redir nada% 4 !ue se !ueria era uma vida saud.vel e /eliz% E "ara ter essa vida era "reciso ser livre% Essa era a "ro"osta /undamental> a liberdade% l(uns de n#s, na "oca, "rinci"almente os mais ?velhinhos@"or!ue na "oca eu :. era o ? grand old man@ da turma, com uns trinta anos de idadeQ, tinha um vasto re/erencial te#rico e "r.tico sobre esta !uestão% Meu conhecimento de causa era mais nítido "or!ue eu era e$istencialista% inda mais :ovem, (ostava de 'eanJPaul =artre, um "ensador !ue anteci"ou essa necessidade da liberdade, de vocI assumir sua liberdade !ue F diz ele J absoluta e in/inita% liberdade sartreana leva vocI a "ensar !ue res"ons.vel "or tudo !ue /az% ?h, mas se o cara t. en/iado numa cadeia, numa cela, l. entre !uatro "aredesU@ inda dentro dessa circunst9ncia, ele livre% Eu estive "reso, durante a ditadura, na Gila Militar, e me lembrava dessas "alavras de =artre% Eu /i!uei sessenta dias "reso, vendo ?o sol nascer !uadrado@% Mas a minha liberdade interna, a do meu es"írito, nin(um "odia tirar, ela s# cresciaW cho !ue mesmo se tivesse sido torturado, ela "oderia crescer% Mesmo !ue /osse morto, talvez% N uma e$"eriIncia realmente interessante%
<+ 3a medida em !ue os anos "assam, eu di(o "ara mim> ?0h, cada vez tenho menos tem"o "ara viver, vou acabar morrendo da!ui a "ouco@% Mas isso bom, vamos ver o !ue acontece então% N uma e$"eriIncia nova% =aber o !ue essa tal de morte% 4 !ue ela re"resenta e saber se e$iste cu, in/erno%%% "ode ser essa ima(em horrível de um !uarto escuro, ou "ode ser a da eternidade% Eu es"ero !ue não se:a assim, mas !uem sabeU Então era isso, eu tinha essa e$"eriIncia de "rocurar a liberdade e$istencialista% Aue vocI re:eitar todas as re(ras "rJestabelecidas% 3o caso do =artre, as de com"ortamento, de normas morais, ticas e tudo mais, e vocI ser inteiramente livre e naturalmente res"ons.vel "elo !ue vocI /izer com essa liberdade% Essa "ro"osição e$istencialista da liberdade /oi im"ortante "ara a contracultura norteJamericana% 3orman Mailer no seu cl.ssico ensaio <$e W$ite =egro 1-*8Q, /ala da (eração +eat , !ue /oi a "redecessora dos $i&&ies@ "alavra $i&ster ori(inou a!uilo !ue chamamos de $i&&ie !ue ?um $i&ster "e!ueno@% 3orman Mailer disse !ue esse ti"o !ue a"arecia nas cidades norteJamericanas, \ deraciné* , livre, X'ree ;$eelin* , Xon t$e road* , tomando an/etamina, bebendo cerve:a, /umando maconha, era o e$istencialista americano% 4u se:a, "ara de/inir o ti"o !ue ele conhecia bem, Mailer tomou como re/erIncia e$atamente o e$istencialismo /rancIs de =artre e sua noção de liberdade% Essa "rocura, essa dis"osição de e$ercer "lenamente a liberdade individual, !ue abriu as "ortas "ara a (eração e$"erimentar as dro(as "roibidas% 0sso era uma coisa muito clara "ara todo mundo "or!ue essa sociedade cheia de mazelas vive de dro(as% tualmente as "essoas se entor"ecem nas /arm.cias ou no bar% /arm.cia ad!uire novos contornos e (anha ares de sho""in( center onde se com"ra de tudo> bombons, antide"ressivos, shaes "ara ema(recimento r."ido, "ílulas "ara virilidade entre outros "aliativos% 3o Leblon tem uma /arm.cia a cada meia !uadra% Por!ue ter uma /arm.cia se trans/ormou no melhor ne(#cio do mundo, uma "anaceia% (ora tem umas ?dro(uinhas@ "or aí !ue resolveram !ue são "roibidas, a e$em"lo da maconha, cocaína, L= e heroína% í /ico "ensando> ?Por !ue não "odeU ei$a e$"erimentar, ver !ual @% =e(uíamos um velho "receito muito s.bio !ue li em Bernard =ha5 e acho !ue deve ser transmitido "ara todos, :ovens e velhos> ?e$"erimenta de todas as coisas, re:eita as m.s, se(ura /irmemente as boas@%
?Pensa assim, rea(e assim, se:a assim e assadoW@ 4 .cido "e(a e &la't W derruba tudoW 4 !ue d. a o"ortunidade "ara o indivíduo se reestruturar% bandonar medos, /obias, neuroses, "roblemas e reestruturar a sua mente, a sua vida, de maneira mais saud.vel, sim"les e direta% 3ão toa !ue sur(iram "sicotera"eutas !ue viram como isso "odia ser utilizado "ara o bem das "essoas% /ase inicial de um tratamento com o .cido lisr(ico ou com o "eiote, a mescalina, e o a%a$uascaQ abre es"aço "ara !ue se "ossa construir uma nova maneira
*) de se ver% E isso /oi utilizado "or muita (ente !ue acabou se bene/iciando da e$"eriIncia% Muitas "essoas !ue estão muito bem e!uilibradas na vida, usaram .cido lisr(ico% 3ão !uero dizer !ue se /aça uso do .cido a vida inteira% Dambm não necess.rio entrar "ara uma seita, como a do "eiote da i(re:a nativista americana, ou a do a%a$uasca a!ui, do =anto aime ou da ;nião do Ge(etal% 3ão "recisa, vocI "ode usar a e$"eriIncia lisr(ica con/orme seus "r#"rios ob:etivos e de"ois dei$ar% ;ma anti(a historinha ^en diz !ue, de"ois de utilizar uma :an(ada "ara cruzar um rio, vocI a abandona na outra mar(em, não vai se(uir via(em carre(andoJa nas costas% N a mesma coisa% ;m e$em"lo a obra de Carlos Castaneda, em !ue a instrução do mestre "ara o discí"ulo "assa "or uma /ase de utilização de "lantas alucin#(enas, !ue ele chama de "lantas de "oder, e de"ois se e$"ande "ara outras "r.ticas% liberdade e esse es"aço novo, !ue as dro(as abriram !ue levaram essa (eração a!uilo !ue se chamou de ? dro&out , !ue si(ni/ica ?cair /ora@% GocI ?cai /ora@ do mundo or(anizado tal como ele se a"resenta "ara criar outro% ;m mundo di/erente, com valores di/erentes em !ue "ossa ser /eita uma saud.vel subversão% 4 ? dro&out /oi a característica /undamental da or(anização social da contracultura% !ui a contracultura se contra"He a todas as soluçHes tradicionais "ara a trans/ormação da sociedade, notadamente o mar$ismo, !ue era a (rande in/luIncia da "oca% 4 mar$ismo "ro"unha a modi/icação da sociedade, a melhora da vida humana atravs da revolução, das armas, da bri(a, do "au% 4s $i&&ies !ueriam "az e amor "ara or(anizar a "r#"ria vida e /azer o !ue !uisessem dela% Então, mais uma vez a!ui, não h. trans(ressão, não h. con/ronto, não h. cho!ue% 6. uma mar(inalização, sem dOvida nenhuma, sob uma /orma !ue /oi cantada "or al(uns, como Raul =ei$as e a ?=ociedade lternativa@% Esse !ue o sentido da sociedade alternativaS vocI escolhe em detrimento da sociedade estabelecida% Claro !ue vão dizer assim> ?h, mas o !ue adianta issoU 3ão "ode, não adianta, tem !ue se submeter sociedade estabelecida@% Claro, a sociedade estabelecida não su"orta a ideia de !ue "ossa e$istir uma outra !ue não este:a su:eita s suas re(ras, e$istindo "aralelamente% E se essa outra sociedade d. mais certoU E se as "essoas descobrem !ue vão ser mais /elizes, aí nessa outra sociedadeU Com !ue cara /ica a sociedade vi(ente estabelecidaU Gai /icar com uma ?cara desse tamanho@%%%
*1 N "reciso distin(uir esse "ro:eto% 4 "ro:eto da contracultura F me re/iro ao /enTmeno hist#rico !ue (anhou visibilidade nos anos sessenta e setenta, !ue /oi nossa e$"eriIncia e não no seu conceito (eral de insur(Incia contra a ordem estabelecidaS a es"erança era dada "or essa "ossibilidade de uma construção de uma sociedade "aralela% N bem verdade !ue os valores dessa sociedade "aralela eram muito escandalosos, !ue o esta(lis$ment não "odia aceitar% 4 mais /la(rante deles o culto ao dinheiro% Onica e$"eriIncia concreta de des"rezo ao vil metal !ue n#s tivemos na hist#ria do 4cidente /oi com a contracultura% Esses meninos tiveram a "etul9ncia de dizer !ue o dinheiro o !ue > uma merda% E !ue o verdadeiro res"ons.vel "or toda a se!uIncia de horrores !ue n#s assistimos na nossa sociedade% 3ão !uestão a"enas da or(anização desse dinheiro atravs do sistema ca"italista ou socialista, não im"orta% 4nde tem (rana, como diziam os anti(os, tem sacana(em% 3ão haver. tica, moral, /elicidade, se$o saud.vel, arte verdadeira, nada en!uanto e$istir a (rana% rana su:a tudo, contamina e estra(a% E s# os $i&&ies !ue /alaram mal da (rana% 4 Onico "ro(rama "olítico !ue vi "ro"ondo a abolição do dinheiro /oi nos anos sessenta, no W$ite 7ant$er 7art% americano, de 'ohn =inclair, !ue dizia> ?nosso "ro"#sito a abolição do dinheiro@% Esse ob:etivo de criar uma sociedade alternativa, com outros valores, se estende "ara outros níveis% 4 !ue /oi mais discutido a!ui o esttico, o da arte% arte da contracultura !uis "artir tambm de uma liberdade total% 3ão a(redir, não en/rentar os c9nones da crítica acadImica ou da esttica o/icial, dos (randes /il#so/os, não tem nada disso% 3ão, não "recisa% N "arte% N /azer a sua mOsica, "intura, literatura, cinema e teatro da maneira como ela brota es"ontaneamente% Com liberdade% ?h, mas uma "orcaria%%%@ Aue im"orta !ue se:a uma "orcaria a(oraU ei$a /azerW 0ma(ina se essa sociedade "rosse(ue, se desenvolve e /loresce% Essa arte tambm se desenvolve% =em ter o tacão das normas estticas e "adrHes estticos e nem da autonomia da arte% 3ão im"orta considerar teoricamente se a arte misturada com a vida ou nãoS ela ; misturada com a vida% Dudo misturado com a vida, o !ue "ode ser /ora da vidaU 4 !ue est. morto% Claro !ue a es"eci/icidade do esttico uma ma!uinação mental% Então "or isso !ue na contracultura se "odia /azer roc em cima de dois acordes, uma "obreza harmTnica com"leta, todos diziam assim> ?Mas !ue mOsica mais rasteira, mais
*2 va(abunda%%%@ Mas mesmo assim /oi um sucesso mundial, teve Beatles, oors, 'imi 6endri$ e não sei mais !uem, a"esar de tudo% E assim nas outras artes% ;m terceiro nível a "r#"ria conce"ção da realidade, a do mundo da contracultura% conce"ção da vida, do ser, a ontolo(ia da contracultura tambm /oi com"letamente livre% 3ão "recisou de a"oios te#ricos, nem se desenvolveu teoricamente% Mas ela "rovocou uma mudança de "ostura em relação a todas as verdades eternas !ue estavam estabelecidas% contracultura, /iel ao seu mtodo de trans/ormar o ?li$o em ouro@ F "or!ue essa era a "ro"osta, J os dois acordes do roc se trans/ormam em roc "ro(ressivo, "arecia al(uma coisa cl.ssica F tambm /az isso com o resto> a !uestão da /iloso/ia, da reli(ião%%% /iloso/ia /oi buscar o "ensamento oriental, !ue não /iloso/ia, se(undo as de/iniçHes acadImicas, um horizonte novo% Como dizem os "ro/essores, a /iloso/ia ocidental, uma "alavra (re(a de uma coisa !ue os (re(os inventaram% Mas a contracultura /oi buscar ins"iração no "ensamento oriental, !ue era des"rezado, considerado "rimitivo J e o considerado at ho:e% ;ma vez me "ediram> ?Maciel, or(aniza um semin.rio@% 0a ser l. no Planet.rio% ?Chama umas "essoas aí "ara /alar sobre /iloso/ia ocidental e oriental@% í, "ara a /iloso/ia oriental lo(o a"areceu uma "orção de (ente> "ro/essor de 7o(a, de meditação, tera"eutas alternativos, entre outros% 4s "ro/essores de universidade !ue eu "rocurei não !ueriam de :eito nenhum% ?Aue hist#ria essa de semin.rio "ara /alar de /iloso/ia orientalU 0sso não e$iste% 3ão e$iste !uestão nenhuma !ue os orientais tenham "ensado !ue a /iloso/ia ocidental não tenha "ensado melhor, mais "ro/undamente e com"letamente%@ Mas n#s !ue vivenciamos a contracultura, admiramos o "ensamento oriental% 4 taoísmo, "or e$em"lo, trata da es"ontaneidade% 6o:e se /ala muito em tica e moral, mas Lao Dse revela !ue estas são resultados da decadIncia da sociedade e do es"írito% iz ele !ue, numa sociedade saud.vel, não "reciso ter a tica e a moral, "or!ue todas as "essoas se com"ortam es"ontaneamente de /orma correta de acordo com esses "rincí"ios% Eu não mato nin(um, não roubo nin(um, não /aço sacana(em com nin(um% minha consciIncia não com"orta essas açHes% 0sso de"ende sim"lesmente
*& da es"ontaneidade, da naturalidade, de viver a e$"eriIncia imediata% =em as mediaçHes ca"ciosas e mali(nas do "ensamento% Como nos ensina a verdadeira reli(ião, o demTnio e advers.rio o nosso "r#"rio "ensamento% N ele !ue nos induz ao mal% =e vocI controlar o "ensamento atravs de 7o(a, meditação, um "ou!uinho de macrobi#tica, talvez um alucino(enozinho de vez em !uando%%% 0sso tudo te coloca "ara cima, mas a decisão /inal "ela con!uista da "r#"ria es"ontaneidade /ica "or conta da /orça da sua vontade% Em suma> vocI não "recisa de normas re"ressivas de nenhuma es"cie, se vocI vive naturalmente, es"ontaneamente, de acordo com a vontade de eus% Então não "recisa dessa merda toda !ue inventaram%
A"+%*$+ C!8"+:
Ed5ard le$ander Cro5le7 nasceu em Leamin(ton, Varsicshire, 0n(laterra, a 12 de outubro de 1+8*% N considerado um dos maiores ma(os da era moderna e /oi retratado "elo escritor =omerset Mau(ham no seu romance O "ago <$e "agician,1-)+Q% =ua in/luIncia cresceu a "artir dos anos )% N uma das "ersonalidades mais ori(inais do sculo YY%
Cro5le7 era /ilho de uma /amília rica e, desde :ovem, sentiuJse atraído "elo ocultismo% Gia:ou a muitos "aíses em busca de mestres e conhecimentos esotricos% Mas tanto seu "ensamento !uanto sua ação /oram bastante ori(inais F e não s# em termos de ocultismo% Ele desa/iou abertamente os valores de seu tem"o, hostilizando o cristianismo e se a"resentando como o "ro/eta de um novo "a(anismo% utodenominouJse como ?4 Me(a Dherion @ ?a rande Besta @Q, o nticristo do "ocali"se, ?o "ior homem !ue :. e$istiu@, o !ue levou muitos comentadores a caracterizar sua doutrina como um ti"o de satanismo% Colin Vilson a/irma !ue, !uando menino, Cro5le7 era tão arteiro !ue sua mãe, uma "uritana re"ressora, comentava> ?Esse menino a besta do "ocali"se%%%W@
*< Auando cresceu, leister !uis tornar realidade as "alavras maternas% Consta !ue, em determinada "oca de sua vida, ele limava os seus "r#"rios dentes caninos "ara dei$.J los "ontia(udos% os 2& anos, Cro5le7 in(ressa na sociedade esotrica Folden Da;n, liderada "or Macre(or Mathers% Ele estuda a ma(ia ocidental e desenvolve a sua "r#"ria, uma /orma de ma(ia se$ual% Em 1-)<, a entidade chamada Ai;ass, seu an:o da (uarda, ditaJlhe o )i!ro da )ei , !ue se tornaria sua obra mais /amosaS no ano se(uinte, ainda sob a orientação de Ai;ass, ele /unda sua "r#"ria ordem esotrica F a Astrum Argentinum %Q% doutrina sintetizada numa /rase clebre do )i!ro da )ei > ?az o !ue !uiseres ser. toda a Lei@ Do W$at <$ou Wilt s$all (e t$e W$ole o' t$e )a; Q% Cro5le7 com"reendia intuitivamente !ue a ma(ia tem uma relação essencial com a vontade% ?Dodo homem e toda mulher uma estrela@ outra /rase /amosa do mesmo livro% obra a"onta "ara o /im do Eon de 4síris a Era de Pei$es, na astrolo(iaQ, ou se:a, o /im da civilização cristã, e a aurora do Eon de 6#rus a Era de !uariusQ, isto , o ressur(imento do "a(anismo e o /lorescimento de uma reli(ião re(ida "elo deus e(í"cio do I$tase e da violIncia F e da !ual ele, Cro5le7, seria o "ro/eta e sumosacerdote% conce"ção de ma(ia se$ual, de Cro5le7, t9ntrica nos seus /undamentos% ener(ia liberada no ato se$ual leva a consciIncia do ma(o ao "lano astralS a ener(ia mais "articularmente (erada no or(asmo e no I$tase se$ual o leva a su"erar a consciIncia em"írica, tornandoJo ca"az de a(ir nesse "lano astral, ou se:a, de /azer ma(ia% ori(inalidade de Cro5le7 est. no radicalismo de seus mtodos% Ele utilizava todas as "r.ticas em seus rituais F a homosse$ualidade, a masturbação, o coito anal e o estímulo de dro(as como a heroína, a cocaína e o ter% Esses rituais de ma(ia se$ual evocavam divindades er#ticas como Lilith, /rodite, Pan, res, ionísio, entre outras% Cro5le7, !ue s# morreu com 82 anos de idade, realizou esses rituais durante !uarenta anos% =eu tratado Ma(ic a"resenta, em sua terceira "arte, o sistema de ma(ia se$ual% 3enhum ritual totalmente descrito, sua lin(ua(em hermtica, mas conta com a /undamentação /ilos#/ica das "r.ticas%
** 3o Brasil, Cro5le7 teve e ainda temQ v.rios se(uidores% ;m deles /oi o Marcelo Motta, !ue traduziu e editou O Equin4cio dos Deuses 1-8Q, volume !ue contm o te$to inte(ral do )i!ro da )ei 1-)
I(+%'* (+ +=+$ M'&-*+ + Eros e Civilização
"ro"osição de =i(mund reud, se(undo a !ual a civilização se baseia na "ermanente sub:u(ação dos instintos humanos, /oi aceita como a$iom.tica% 4 sacri/ício met#dico da libido, a sua su:eição ri(idamente im"orta s atividades e e$"ressHes socialmente Oteis, cultura% Contudo, ao !ue "arece, o "ro(resso est. vinculado a uma i(ualmente intensi/icada ausIncia de liberdade% E a re"ressão mantida, inclusive, com tanto mais vi(or !uanto mais desnecess.ria se torna% 4 con/lito entre o "rincí"io do "razer e o da realidade ser. irreconcili.vel num (rau tal !ue necessite a trans/ormação re"ressiva da estrutura instintiva do homemU 4u "ermitir. um conceito de civilização não re"ressivaU hi"#tese de uma civilização não re"ressiva tem de ser teoricamente validada, "rimeiro, demonstrandoJse a "ossibilidade de um desenvolvimento não re"ressivo da libido, nas condiçHes de civilização amadurecida% 6. a "ossibilidade de uma sublimação não re"ressiva% Entretanto, sob o "rincí"io de realidade estabelecido, ela s# "ode a"arecer em as"ectos mar(inais e incom"letosS sua /orma totalmente desenvolvida seria a sublimação sem desse$ualização% s relaçHes de trabalho, !ue /ormam a base da civilização seriam ?a"etrechadas@ "ela ener(ia instintiva não desse$ualizada%
* ;ma trans/ormação na estrutura instintiva como a do est.(io "rJ(enital "ara o (enitalQ
acarreta
uma
mudança
no
valor
instintivo
da
atividade
humana,
inde"endentemente de seu conteOdo% Por e$em"lo> se o trabalho /or acom"anhado "or uma reativação do erotismo "olim#r/ico, "rJ(enital, tender. a tornarJse (rati/icador em si mesmo, sem "erder o seu conteOdo de trabalho% 4ra, "recisamente tal reativação do erotismo "olim#r/ico !ue se mani/esta como a conse!uIncia da con!uista da escassez e alienação% trans/ormação do trabalho em "razer a ideia central da (i(antesca uto"ia socialista de ourier% =e o Prometeu her#i cultural do es/orço laborioso, da "rodutividade e do "ro(resso atravs da re"ressão, então os símbolos do outro "rincí"io de realidade devem ser "rocurados no "olo o"osto% 4r/eu e 3arciso como ioniso, com !uem são a"arentados> o anta(onista do deus !ue sanciona a l#(ica da dominação, o reino da razãoQ simbolizam uma realidade muito di/erente% ima(em deles a da ale(ria e da "lena /ruiçãoS a voz !ue não comanda, mas cantaS o (esto !ue o/erece e recebeS o ato !ue "az e termina com as labutas de con!uistaS a libertação do tem"o, !ue une o homem com deus e a natureza% o"osição entre homem e natureza, su:eito e ob:eto, su"erada% canção de 4r/eu "aci/ica o mundo animal, reconcilia o leão com o cordeiro e o leão com o homem% Essa libertação obra de Eros%
L%$+'$-' +$%&' '$';* (!* $+?!*
Reza o Ri( Geda, o "oema reli(ioso indiano !ue data de !uinze sculos antes de Cristo>
E o $omem deseja a mul$er <3o naturalmente Quanto a r3 sedenta deseja a c$u!a@
*8 Podemos acrescentar !ue o homem e a mulher sem"re "rocuraram dar e /luirQ e$"ressão liter.ria ao seu dese:o mOtuo, tão naturalmente !uanto "rocuram satis/azer esse dese:o% 4 1ig Geda ou o bíblico 0Hntico dos 0Hnticos mostram !ue o erotismo "arece ter nascido, na literatura, com a "r#"ria necessidade de e$"ressão atravs da "alavra artística% 4 con:unto de te$tos "reservados desde a anti(uidade mais remota, no 4riente e no 4cidente, su/iciente "ara /ormar uma substanciosa biblioteca erotol#(ica% N a transcendIncia da carne !ue est. em :o(o na rica tradição er#tica da literatura da nti(uidade, desde a cultura e(í"cia at o 0m"rio romano% ois "es!uisadores são res"ons.veis "elo invent.rio dessa literatura% riedrich Cael ober( escreveu, no sculo "assado, um "anual de Erotologia 0lIssica 1-2+Q !ue Eduard uchs, em "rincí"ios de nosso sculo, com"letou com uma /ist4ria da Arte Er4tica@ =ão dois volumes im"ortantes% =e(undo ober(, a literatura er#tica da nti(uidade en/atiza a !uestão das "osiçHes "ara a realização do ato se$ual% azer amor era, "ara os anti(os, uma arte cu:a tcnica devia ser dominada atravs de um sistema or(anizado% ober( or(anizou uma lista total de noventa "osiçHes, talvez a mais com"leta :. /eita% Ela com"reende todas as variaçHes inventadas na nti(uidade Cl.ssica, na 0dade Mdia e na Renascença% N bem verdade !ue, de"ois da 8 a "osição, ober( e$tra"ola os limites da c#"ula entre um casal "ara enumerar outras !ue re!uerem o concurso de um animal ou de mais de dois "arceiros humanos% Mas todas eram consideradas situaçHes er#ticas "er/eitamente realiz.veis, "or nossos ante"assados% "reocu"ação com as "osiçHes era comum do 4riente ao 4cidente, como "rovam dois livros e$tremamente "o"ulares, ainda em nossos dias> A Arte de Amar , do romano 4vidio, e o JamaSutra, do indiano Gatz7a7ana% 4vidio recomenda>
Aquela cuja &erna é ju!enil, o torso sem de'eito Deitese sem&re de costas so(re o leito@
*+ Por outro lado>
Que a&erte o co(ertor com os joel$os e do(re um &ouco a nuca A que tem de (elo a lin$a de seu 'lanco@
4 KamaJ=utra, se(undo Mul Ra: nand, a codi/icação do trabalho de doze "redecessores de Gatz7a7ana !ue tambm escreveram manuais sobre se$o% Para eles, o se$o tem um sentido reli(ioso, o símbolo da beatitude su"rema e um dos meios !ue a ela conduz% 4 livro estabelece uma es"cie de "sicolo(ia da educação er#tica, catalo(a as /ormas de bei:os e am"le$os, d. conselhos "r.ticos>
Se um $omem !? o marido de uma mul$er que ele deseja ir a algum lugar, ent3o a ocasi3o se l$e a&resenta 'a!orI!el@ "as um $omem sensato, que se &reocu&a com sua re&utaç3o, n3o irI sedu2ir uma mul$er medrosa, tímida, e#cessi!amente !igiada ou que !i!a com o sogro e a sogra, &ois estes !eem mais longe do que o marido@
literatura criou cl.ssicos imortais na nti(uidade% =e(undo a tradição, o "oema mais belo da 0ndia a S$a.untala, de Kalidasa, a hist#ria de uma belíssima "rincesa% O )i!ro das "il e Uma =oites, o cl.ssico .rabe, tem uma visão er#tica !ue, se(undo o es"ecialista Lo uca, ? uma das mais com"letas !ue !ual!uer civilização :. concebeu@% 3a rcia, Platão em seu O +anquete celebra o erotismo alm dos limites da heterosse$ualidade% rist#/anes le(a ao /uturo comdias de e$trema licenciosidade% s "eças de s.tiros, escritas "or Ns!uilo, =#/ocles e rist#teles, como com"lementos de suas tra(dias, tambm eram e$tremamente livres em matria se$ual% ;ma das lendas mais "o"ulares entre os (re(os era a de !ue, certa noite, 6rcules teria mantido relaçHes se$uais satis/at#rias com <- das *) /ilhas de Ds"ius, Rei da Be#cia% Em Roma, alm de 4vidio, o se$o re"resenta "a"el essencial nas obras de Marcial, 'uvenal, usone, =uetTnio, PetrTnio e 6or.cio, alm de "uleio, autor de O Asno de Ouro, uma das maiores novelas "icarescas de todos os tem"os% 3a 0dade Mdia, a"esar da re"ressão, da "erse(uição de bru$as e demTnios, a tradição da literatura er#tica "ode manterJse na clandestinidade% 4s "r#"rios mon(es, no
*recesso de al(uns mosteiros, encarre(aramJse de "reservar as obras cl.ssicas, a"esar de o/icialmente condenadas% Renascença assistiu uma vi(orosa revalorização da se$ualidade, em Bocaccio e retino% Entre outras obras menos conhecidas, destacaJse A 9n'initude do Amor !ue, em nosso sculo, mereceu uma tradução de Kean7aul Sartre% 4 lar(o "eríodo hist#rico !ue se se(uiu ascensão das classes mdias, dominado, em termos de literatura er#tica, "or um (i(ante anteci"ador, o Mar!uIs de =ade, e uma /i(ura menor, mas im"ortante, Leo"oldo von =acherJMasoch, cu:os nomes deram ori(em aos termos sadismo e maso!uismo% Muito antes de reud, a obra de =ade de/ine o ser humano "ela busca do "razer% lm disso, anteci"ando a descoberta /reudiana de Dhanatos, o "rincí"io da morte, =ade :. estabelece a relação estreita entre o "rincí"io do "razer e o so/rimento /ísico, esse "rimeiro ensaio de destruição da vida% s descobertas de =ade seriam com"letadas "or Masoch, !ue a"ontou a maneira "ela !ual o instinto de destruição "ode ser diri(ido contra a "r#"ria "essoa, no desenvolvimento da relação er#tica% Com e/eito, toda a investi(ação clínica "osterior a reud demonstrou !ue o sadismo e o maso!uismo são os dois e$tremos correlatos a !ue tende todo dese:o se$ual% Constituem mesmo os "olos essenciais de toda vida er#tica, atin(idos claramente em suas /ormas "atol#(icas% 4 modo de autossublimação da se$ualidade, tí"ico da literatura er#tica, ca"az de iluminar, de trazer ao nível da consciIncia e do domínio da razão, as realidades mais ocultas e secretas de nossa vida instintiva% 4 e$ercício e a divul(ação da literatura er#tica a"arecem, assim, como um instrumento de "romoção de saOde social% N ine(.vel o e/eito salutar da literatura de autores como % 6% La5rence e 6enr7 Miller% Em <$e World o' Se# 2))8Q, Miller cita o "ensamento de La5rence de !ue e$istem dois (randes modos de viver, o reli(ioso e o se$ual, ambos le(ítimos e belos, embora o "rimeiro tenha "recedIncia sobre o se(undo% ?Eu sem"re "ensei@, res"onde Miller, ?!ue s# h. um caminho, o caminho da verdade%%%@ Mas ele re"arte com La5rence a crença de !ue o valor maior !ue "ode ser colocado em o"osição esterilidade de uma "oca mecanizada e desumana a vida natural e a "lenitude do instinto% Esse rousseaunismo mais radical nele do !ue em La5rence% N menos rom9ntico tambm, a obra
) La5rence, Miller e outros escritores são a"ontados como "arcialmente res"ons.veis "elo !ue obtivemos, nas Oltimas dcadas, em matria de desmisti/icação do se$o e maior liberdade se$ual% Miller vai alm dos mais avançados de/ensores do amor livre% Precisamos de se$o livre "or!ue "recisamos de amor F dizem estes% Precisamos de se$o livre sim"lesmente "or!ue "recisamos de se$o F a/irma Miller% 4 se$o não uma e$"ressão do amor !ue deveria vir acom"anhada "or ele% 4 se$o :. amor e s# dei$a de sIJlo !uando se acredita !ue se "ossa /azIJlo sem estar im"licitamente amando% Por isso, "ara Miller, s# h. um mal maior do !ue a ausIncia de amor no se$o, !ue sim"lesmente a "ura ausIncia de se$o% Mesmo de"ois de vitoriosa a revolução se$ual como acreditam Miller e muitos de n#s, seus livros "ermanecem na van(uarda de uma batalha mais "ro/unda, sustentada "or todos a!ueles !ue de/endem o instinto contra as instituiçHes emasculadoras de nossa civilização% Para Miller e outros escritores !ue o se(uem, neste "articular, como 3orman Mailer, "or e$em"lo, s# seremos inte(ralmente humanos !uando /ormos inte(ralmente solid.rios com o animal !ue h. em cada um de n#s% Mas h. di/erenças entre esses autores% Miller tem uma visão realista do se$o> "odeJse dizer, "or outro lado, !ue La5rence tem uma visão rom9ntica% Mas o realismo de Miller "arado$almente místico en!uanto o romantismo de La5rence !ue avalia, hierar!uiza, :ul(a% Eles se com"letam, de certa maneira% Dalvez "or isso, Mailer tenha declarado, numa entrevista, !ue (ostaria, como romancista, de /azer al(uma coisa entre % 6% La5rence e 6enr7 Miller% 3o /undo, Mailer "arece "retender ultra"assar a ambos, com uma visão mais (lobal do /enTmeno do se$o, aceitandoJlhe a realidade "lena como Miller, mas dandoJlhe tambm "eso e medida, como La5rence% =e(undo os erot#lo(os modernos, o erotismo a es"iritualização da carne e sua conversão em cultura% 0sso distin(ue a literatura er#tica da "orno(ra/ia vul(ar% 3o meramente obsceno, a carne "ermanece tristemente encerrada em sua imanInciaS a "orno(ra/ia o si(no ob:etivo do /racasso em transcender essa imanIncia% o contr.rio, a transcendIncia a dimensão natural da literatura er#tica% Etimolo(icamente, a "alavra erotismo deriva de Eros, o deus do amorS "orno(ra/ia deriva da "alavra &orno, !ue desi(na a "rostituta% =ão realidades !ualitativamente diversas% Erotismo e "orno(ra/ia não devem ser con/undidos%
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Auem ainda não sabe, /i!ue sabendo> :. /ui condenado a dois anos de "risão "elo chamado "oder :udici.rio brasileiro e s# esca"ei de ver o sol nascer !uadrado devido a uma circunst9ncia "rovidencial% Motivo> se$o% 3ão, (alera% 3ão estu"rei nin(um e tambm não cometi nenhum atentado ao "udor "or "r.tica e$ibicionista% "enas, se(undo as autoridades "oliciais !ue me denunciaram e o ma(istrado !ue me :ul(ou e condenou, in/rin(i a Lei de 0m"rensa com um atentado moral e aos bons costumes% Como !ue aconteceu uma coisa dessasU '. conto% oi, naturalmente, nos tem"os :ur.ssicos dos inícios dos anos setenta% 6o:e em dia, em !ue a (andaia est. solta e o/icializada, uma coisa dessas não "oderia acontecer% Mas na!uela saudosa idade das trevas, não era de se estranhar muito% ProvidIncias indi(nadas "ara evitar o cataclismo moral !ue ameaçava a santa /amília brasileira e !ue o Brasil se tornasse uma nova =odoma e omorra eram tomadas a toda hora% Como se sabe, o es/orço /oi vão> a 6ist#ria mostrou !ue o cataclismo moral realmente se abateu sobre a /amília brasileira e o "aís se tornou a nova =odoma e omorra, con/orme observamos atualmente% Mas, na!uele tem"o, ainda se lutava "ela santi/icação do "aís de todas as maneiras, "rinci"almente atravs da censura estO"ida, de "risHes arbitr.rias, tortura e desa"arecimentos criminosos, uma hist#ria ver(onhosa, em suma, !ue nin(um conta inteiramente e muito menos a"lica as sançHes cabíveis con/orme os "rincí"ios da nossa "retensa civilização "or!ue, como a!ueles !ue deveriam ser os res"ons.veis "elo res(ate da honra nacional /azem sem"re !uestão de lembrar, anistia si(ni/ica es!uecimento% Então t. bom% Es!uecemos todos e /ica tudo "or isso mesmo% e minha "arte, reconheço humildemente !ue tentei es!uecer, mas não conse(ui, de todo% 3ão es!ueci, "or e$em"lo, como /ui "arar nas barras dos tribunais e estive beira de ver meu "obre nome lançado no rol dos cul"ados, !ue como os (uardiHes da su"osta :ustiça se re/erem aos des(raçados !ue tIm a in/elicidade de cair em suas (arras%
2 Dudo começou !uando al(uns moralistas do re(ime ditatorial de então resolveram im"licar, não comi(o, mas com o 'T =oares% 3osso !uerido (ordo havia escrito uma crTnica naturalmente humorística "ara O 7asquim cu:o título era A 0ama, m#vel cu:a se(unda utilidade o/erecer con/orto ao sono das "essoas "osto !ue a "rimeira essa mesma !ue vocIs estão "ensando% s autoridades moralistas se declararam escandalizadas e "rovavelmente "or!ue !ueriam sacanear o 'T "or al(um motivo obscuro, "ois tais arbitrariedades não costumam acontecer sem motivaçHes ocultas, resolveram "rocess.Jlo, en!uadrandoJo na Lei de 0m"rensa "or atentado moral e aos bons costumes% RidículoU Pois % Mas dava dor de cabeça, como veremos em se(uida% oi aberto um in!urito "olicial do !ual a dele(acia da Rua Mem de =., na La"a, no centro do Rio de 'aneiro, /oi encarre(ada% 4 dele(ado intimou o 'T "ara "restar declaraçHes e, "ara /azer um serviço com"leto, con/orme o manual intimou tambm outros colaboradores /i$os do 7asquim como testemunhas% ;m desses inocentes !ue não tinha nada a ver com as su"ostas obscenidades "raticadas "elo 'T era este criado !ue vos escreve% 3o meio de uma doce semana carioca, uma !uintaJ/eira se não me en(ano, numa tarde de sol, tive de sair da "raia mais cedo "ara ir La"a% 4 dele(ado me recebeu atr.s de sua mesa, mandou !ue eu sentasse diante dele, me olhou como se eu tambm /osse um criminoso e começou a "er(untar% 4 !ue ele !ueria saber era se eu achava o arti(o do 'T imoral% Percebi imediatamente !ue seria melhor res"onder !ue achava sim, !ue era um absurdo "ublicar uma coisa da!uelas num :ornal !ue "ode entrar na casa das /amílias e ser lido "or :ovens em "eríodo de /ormação e tal% 4 dele(ado "rovavelmente sim"atizaria lo(o comi(o e "oderia concluir !ue eu era, a/inal de contas, um bom ra"az "erdido no meio dos "ervertidos do 7asquim% Mas achei !ue seria covardia demais, não se "ode abai$ar a cabeça "ara a o"ressão o tem"o todo% =enti !ue tinha de manter a "r#"ria di(nidade, "elo menos uma vez na vida, e res"ondi com toda sinceridade> J 3ão, não acho% matria do 'T uma brincadeira en(raçada e moralmente ino/ensiva% J Auer dizer !ue o senhor não vI nada de errado nelaU
& J bsolutamente nada% 4 !ue h. de errado este in!urito% 3ão ve:o o menor motivo "ara !ue o 'T se:a "rocessado% J Com"reendo% Auer dizer !ue o senhor, "or e$em"lo, assinaria a!uele arti(oU J Claro% Por !ue nãoU cara do dele(ado era ostensivamente de "oucos ami(os% =enti a vibração% autoridade tinha a certeza de !ue estava diante de um elemento nocivo sociedade, s# /altava a con/irmação% Aue veio de uma maneira sur"reendente% Ele reme$eu em seus "a"is e achou um recorte do 7asquim com uma entrevista com Dom 'obim% J 4 senhor leu a entrevista do Dom 'obim "ara O 7asquimU J Claro, eu "artici"ei dessa entrevista% J 4 Dom 'obim diz a!ui !ue h. racismo no Brasil% J =im% J 4 senhor concorda com essa declaraçãoU J Claro% 0ma(ina se não h. racismo no Brasil, evidente !ue%%% 4 dele(ado me cortou abru"tamente a "alavra% JN o bastante% 4 de"oimento est. encerrado% Pode ir% J4bri(ado% t lo(o, dele(ado% J Passar bem% =aí com a sensação de !ue havia dei$ado no homem da lei a convicção de !ue eu não "assava de um subversivo% sensação era correta% ;mas duas semanas de"ois, sou :udicialmente noti/icado de !ue estava sendo "rocessado "ela Lei de 0m"rensa "or ter
< "ublicado no 7asquim, muitos meses atr.s, uma matria de (ozação intitulada A 1e!oluç3o Se#ual % 4 in!urito sobre o 'T indiciara não s# a ele, mas a mim tambm% Era evidente !ue o dele(ado e seus asseclas haviam "es!uisado a coleção do 7asquim em busca de al(um escrito meu !ue servisse de motivo ou "rete$to "ara um "rocesso% 3ão costumo escrever sobre se$o, coisa !ue acho muito melhor /eito do !ue /alado, mas não resistira tentação de escrever a!uela crTnica% ideia de escrever A 1e!oluç3o Se#ual veio da leitura de al(umas revistas americanas da "oca !ue haviam começado a "ublicar esses anOncios de "essoas !ue "rocuravam "arceiros se$uais% l(uns deles me "areceram bem en(raçados% Lembro de uma autointitulado ?(arota bacana@ !ue "rocurava ?outra (arota bacana !ue (ostasse de (arotas bacanas@% 4utra moça "rocurava um homem (randalhão !ue havia abusado dela !uando ainda menininhaS ?a(ora estou "ronta "ara vocI@, in/ormava a (ata% E assim "or diante% chamada revolução se$ual era um tema srio e libert.rio, e$"lorado em escritos de "ensadores im"ortantes como Vilhelm Reich e 6erbert Marcuse% Meu arti(o, "orm, não tratava de nada disso% Era uma brincadeira inconse!uente, ao melhor estilo leve e descontraído do 7asquim% =er "rocessado "or causa da!uilo s# "odia ser "iada% Mas no Brasil de então as "iadas eram s#rdidas% 'T /oi :ul(ado e absolvido% 6avia contratado um advo(ado /amoso, um ?su"erstar@ dos tribunais, e havia levado "ara o :ul(amento al(uns nomes im"ortantes da cultura e da vida social brasileira, escritores, nomes res"eitados !ue certamente im"ressionariam o :uiz% 0m"ressionaram% 'T se deu bem% ente /ina outra coisa% Comi(o /oi di/erente% rran:ei um advo(ado, meu saudoso ami(o Marat, com !uem bebia cho"e nos bares de 0"anema, mas não me dei ao trabalho de conse(uir o de"oimento de nin(um im"ortante% Como era muito :ovem, achei !ue havia al(uma sensatez na assim chamada ?:ustiça@S ho:e, velho e e$"eriente, sei !ue isso uma ilusão como outra !ual!uer% 4 !ue (eralmente se /az nos tribunais, em nome da :ustiça, (eralmente uma /arsa, /re!uentemente cTmica, mas muitas vezes tr.(ica% 4u um :o(o, com cartas marcadas% Basta acom"anhar com atenção os notici.rios dos :ornais e ver !ue assim, !uando assassinos san(uin.rios são sem"re "ostos em liberdade en!uanto "essoas "obres !ue :. cum"riram a "ena, "or e$em"lo, continuam a"odrecendo nas "risHes "or não terem condiçHes "ara "a(ar advo(ados !ue acionem a burocracia necess.ria "ara libert.Jlas, naturalmente a custa de suborno%
* ;m belo dia, Marat me comunicou !ue eu havia sido condenado a dois anos de "risão% 'ovem e in(Inuo, /i!uei "er"le$o com o resultado do :ul(amento% 4 :uiz havia escrito uma sentença de oito laudas o dobro de minha des"retensiosa 1e!oluç3o Se#ual , !ue tinha s# !uatroQ !ue era, na verdade, uma diatribe violenta contra a imoralidade crescente dos tem"os modernos% 4 ma(istrado "er(untava onde iríamos "arar, a/irmava !ue era "reciso dar um basta a "ouca ver(onha e !ue, "ara isso, al(um devia ser e$em"lado% Pois > esse al(um era eu% E isso sem haver estu"rado nin(um nem e$ibido as "artes "udentas em via "Oblica% i!uei lison:eado com a sObita im"ort9ncia, mas aborrecido com a "ers"ectiva de ir "reso% Era s# o !ue me /altava, ser "reso "or causa de se$o F essa "alavra tão dura "ara desi(nar um divertimento tão a(rad.velW Mas Marat me acalmou% E$"licou !ue havia recurso inst9ncia su"erior, onde eu seria :ul(ado "or trIs desembar(adores% PediuJme "ara a:ud.Jlo na redação do recurso, no !ue dizia res"eito ao mrito, mas adiantou !ue iria acrescentar uma "reliminar !ue a/inal /oi o !ue me salvou% 4s crimes da Lei da 0m"rensa "rescrevem em dois anos e aconteceu a se(uinte circunst9ncia curiosa% 4 ma(istrado resolvera levar os autos do "rocesso "ara um /imJdeJ semana, !uando "oderia meditar serenamente sobre o assunto e tomar uma decisão madura "ara dar sua sentença% 3a!uele /im de semana, entretanto, a "ublicação da 1e!oluç3o Se#ual com"letava e$atamente dois anos% Es!uecido disso, ou de "ro"#sito, não sei e :amais saberei, "or!ue o re/erido :. se /oi desta "ara melhorQ, o meretíssimo s# deu a sentença na se(undaJ/eira, ou se:a, dois anos e um dia de"ois do crime% Dudo de"endia como Marat me e$"licou, da dis"osição dos desembar(adores de acatar a "reliminar% Pois bem% 4s desembar(adores nem se deram ao trabalho de ler a discussão do mrito cu:a elaboração dera tanto trabalho ao Marat e a mim% cataram a "reliminar, considerando "rescrito o "ossível crime, de /orma !ue meu advo(ado e eu /omos imediatamente comemorar em nosso bar /avorito%
=aímos do #rum carioca e Marat me chamou a atenção "ara uma est.tua !ue en/eitava a /achada do "rdio% Era uma mulher escul"ida em estilo cl.ssico !ue des"e:ava o lí!uido de uma :arra "e!uena dentro de uma :arra enorme% ?Eis a ima(em de nossa :ustiça@, observou o sa(az Marat% ?Dira de onde tem "ouco "ara aumentar o !ue :. tem muito%@ Auanto a isso, nossos costumes não mudaram%
O =! !'*!, *+-)(! N!') M'%"+
3orman Mailer um dos escritores norteJamericanos mais im"ortantes, desde !ue "ublicou seu romance de (uerra <$e =a.ed and t$e Dead 1-<+Q, !uando tinha a"enas 2* anos de idade% e"ois disso, ele escreveu muitos outros romances, ensaios, bio(ra/ias, "oemas, re"orta(ens, !uase tudo% 3o seu ensaio cl.ssico <$e W$ite =egro 1-*8Q, subintitulado Su&er'icial 1elections on t$e /i&ster , o/erece uma visão da sociedade americana a "artir de seu rebelde mar(inal, seu en'ant terri(le, o $i&ster F "alavra !ue, se(undo a e"í(ra/e !ue escolheu "ara o trabalho F colheu num arti(o de Caroline Bird intitulado +orn BLM <$e Unlost Feneration 1-*8Q% Mailer diz !ue o $i&ster um ?"sico"ata /ilos#/ico@ "or!ue tem em comum com os "sico"atas o mesmo senso de tem"o "ois ambos e$istem ?no "resente, na!uele enorme "resente sem "assado e sem /uturo, mem#ria ou intenção "lane:ada@Q e sua insubmissão tutela do su"ere(o% 4 $i&ster , "ortanto, "recedeu o $i&&ie !ue sur(iria lo(o de"ois, nos anos ) F e com o !ual "artilha o es"írito libert.rio e o !ue viria a ser chamado de revolução se$ual% e /ato, o elemento /undamental !ue o de/ine sua "ostura em /ace do se$o% ideia de ?bom or(asmo@ evidentemente /oi tirada de Vilhelm Reich, "or !uem Mailer sem"re demonstrou (rande admiração% iz Mailer !ue no /undo, o drama do "sico"ata !ue ele busca amor% 3ão amor como "rocura de um "ar, mas amor como "rocura "or um or(asmo sem"re mais a"ocalí"tico do !ue o "recedente% 4 or(asmo sua tera"ia F ele sabe no /undo de seu ser !ue o bom or(asmo abre suas "ossibilidades e o mau or(asmo o a"risiona% Mas nessa busca, o "sico"ata se torna uma encarnação das contradiçHes e$tremas da
8 sociedade na !ual /ormou seu car.ter e o or(asmo a"ocalí"tico /re!uentemente "ermanece tão distante !uanto o =anto raal% 6. multidHes, abri(os, emboscadas e violIncia em suas "r#"rias necessidades e nos im"erativos e retaliaçHes dos homens e mulheres entre os !uais vive sua vida, de maneira !ue mesmo !ue ele drene seu #dio num ato ou outro, as condiçHes o criam de novo at !ue o drama de seus movimentos e$ibam uma sarc.stica semelhança com o sa"o !ue conse(ue (al(ar al(uns metros do "oço s# "ara cair de novo% Contudo ainda h. isto a ser dito sobre a "rocura "elo bom or(asmo> !uando se vive no mundo civilizado mas não se "ode des/rutar nada do nctar cultural desse mundo "or!ue os "arado$os sobre os !uais a civilização est. construída e$i(em !ue se conserve um /undo de material humano alienado e sem cultura "ara ser e$"lorado, então a l#(ica de se tornar um mar(inal se$ual se as suas raízes "sicol#(icas estão "lantadas nesse /undoQ !ue assim se tem, "elo menos, uma o"ortunidade de ser /_sicamente saud.vel en!uanto se estiver vivo% Como crianças, os $i&sters estão bri(ando "elo doce, e sua lin(ua(em um :o(o de indicaçHes sutis de seu sucesso ou /racasso na com"etição "elo "razer% 6. um senso social t.cito, mas #bvio de !ue não h. doce su/iciente "ara todo mundo% Portanto, o doce vai a"enas "ara o vitorioso, o melhor, o m.$imo, o homem !ue souber mais como encontrar sua ener(ia e não "erdIJla% In/ase na ener(ia "or!ue o "sico"ata e o $i&ster não são nada sem ela, "ois eles não tIm a "roteção de uma "osição ou de uma classe de !ue "ossam de"ender !uando tiverem ido alm de si mesmos% Portanto a lin(ua(em /i& a lin(ua(em da ener(ia, de como encontrada e "erdida% Estar com a ener(ia ter a (raça, /icar "r#$imo dos se(redos dessa vida interior, inconsciente, !ue h. de nutriJlo se vocI a escutar, "ois vocI estar. então mais "r#$imo da!uele eus !ue todo $i&ster acredita estar localizado nos sentidos do cor"o, ludibriado, mutilado e, contudo, me(alomaníaco !ue 9sto, a ener(ia, a vida, o se$o, a /orça, o "rana do 0o(a, o or(one de Reich, o ?san(ue@ de La5rence, o ?bom@de 6emin(5a7, a /orça vital de =ha5S ?0sso@S eusS não o das i(re:as mas o sussurro inalcanç.vel do mistrio no se$o, o "araíso da ener(ia e da "erce"ção sem limites alm da "r#$ima onda do "r#$imo or(asmo%
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N!') M'%"+ B!>+
3o seu livro 7residential 7a&ers 1-&Q, 3orman Mailer conta uma entrevista !ue concedeu ao :ornalista Paul Krassner% Re"roduzo o !ue se(ue de mem#ria "or!ue não tenho o livro a!ui, nesse momento% 3o meio do "a"o, o :ornalista lembrou !ue, numa re"orta(em, contou !ue esteve em Cuba e, certa noite, uma "rostituta cubana !ue lhe /azia 'ellatio levantou a cabeça e "er(untouJlhe se ele ?era comunista@%
J Li sua re"orta(em F res"ondeu Mailer% F E lembro "articulamente desse trecho "or!ue /i!uei chocadoW J 3ão acreditoW F e$clamou o :ornalista% F Lo(o vocI !ue :. escreveu al(umas das mais cruas e detalhadas cenas de se$o da literatura americana, /icou chocado "ela menção a uma cena tão corri!ueiraUW 3ão "ossívelW J N verdade% i!uei sim% 3ão muito chocado, mas /i!uei% J 0ncrívelWWW Chocado "or tão "oucoW =er. !ue vocI sabe "or !uIU J cho !ue /oi "or!ue vocI em"re(ou uma "alavra do latim, 'ellatio% =im, /oi isso !ue me chocou%%% J GocI /icou chocado com uma e$"ressão em latimU J oi% oi a e$"ressão latina, o eu/emismo% cho !ue vocI devia ter escrito> ?ela estava chu"ando meu "au !uando levantou a cabeça e "er(untou se eu era comunista%%%@ E esta a minha o"inião como escritor "ro/issionalW
3orman Mailer sem"re /oi um rebelde "or vocação e amou outros rebeldes como ele, "ois sentia !ue s# essa raça rom9ntica e seduzida "elo sacri/ício "oderia mudar o mundo "ara melhor% N um escritor "artici"ante e ori(inal, !ualidades !ue o valorizaram muito h. al(uns anos, embora não este:am sendo muito "resti(iadas no momento atual% "artici"ação social do escritor est. bem /ora de moda e a ori(inalidade, ho:e, se resume aos as"ectos mais su"er/iciais da arte liter.ria% =e(undo os chineses, Mailer do si(no do Cão% E se(undo Dheodora Lau, es"ecialista no assunto, ?o nativo deste si(no ser. amado "or seu ardente carisma e "or sua not.vel ca"acidade de "enetração na natureza humana@S ele tem tambm ?um "ro/undo senso de lealdade@ e ?"ai$ão "ela :ustiça e "elo :o(o lim"o@S e ainda ?vi(oroso, atraente e se#a&&eal @% inda se(undo Lau, ?o Cão "ode ser combativo e bri(uento, mas levar. suas bri(as "ara cam"o aberto e raramente recorrer. a mtodos ardilosos "ara vencer@% Eis a!ui um /iel "er/il "sicol#(ico de 3orman Mailer% Dudo isso certamente se a"lica a ele% Com o romance <$e =a.ed and t$e Dead , che(ou ao sucesso% DrataJse de uma /icção sobre a =e(unda uerra Mundial !ue alterna reminiscIncias dos soldados americanos em 'las$(ac. com cenas de batalhas violentas e san(rentas, uma tcnica !ue seria imitada recentemente "elo lírico /ilme de Derrence Malic, <$e <$in 1ed )ine 1--+Q% 4 sucesso, ao contr.rio do !ue muitos es"erariam, atirouJo numa deses"erada investi(ação das estruturas "sí!uicas e morais da sociedade americana> o convívio com seus conterr9neos e$"atriados em Paris, com a maconha e outras dro(as usadas "elos boImios de reen5ich Gilla(e e com os mOsicos ne(ros do :azz do 6arlem, deuJlhe uma visão do mundo sem com"lacIncia ou hi"ocrisia, e$"ressa em novelas como <$e +ar(ar% S$ore 1-*1Q, <$e Deer 7ar. 1-**Q e <$e American Dream 1-*Q% =ua "ai$ão com"reender a mrica, nas suas mais malí(nas doenças, nos seus "ecados mais im"erdo.veis, na sua diab#lica brutalidade, mas tambm na sua (randeza% Minha e$"eriIncia "essoal com os escritos de Mailer marcou "rinci"almente minha :uventude% Auando li <$e =a.ed and t$e Dead , seu "rimeiro livro, /i!uei imediatamente curioso sobre o autor% Com"rei então Ad!ertissements -or "%sel' 1-*-Q, uma colet9nea de contos, trechos de romances, "oemas, ensaios, arti(os, colunas :ornalísticas, entrevistas, entre outros F ou se:a, a mais variada salada de te$tos de toda a es"cie !ue servia, acima de tudo, "ara !ue se "udesse ver o escritor de cor"o inteiro% o livro /az
8) "arte o clebre e cl.ssico ensaio <$e W$ite =egro, uma síntese brilhante da maneira com !ue sua (eração e tambm a nossa, !ue imediatamente a se(uiu, considerava a realidade% 4 $i&ster concebido como um ?"sico"ata /ilos#/ico@, a ideia do ?bom or(asmo@ como ob:etivo su"remo da busca "or verdadeira saOde mental, a e$"eriIncia do ne(ro norteJamericano de viver sem"re em "eri(o como orientação "ara a nova (eração branca, a con!uista de um novo sistema nervoso antes da tentativa de re/ormulação da vida social, e outras ideias tão a(udas e audaciosas !uanto essas /azem <$e W$ite =egro um dos te$tos mais im"ortantes do sculo YY, não s# no seu "r#"rio conte$to, mas "rinci"almente "ara os anos "or vir, !uando a hi"nose da alienação sistem.tica, alimentada "elos mtodos contem"or9neos de indução subliminar e mani"ulação da consciIncia coletiva, atin(ir /inalmente seus limites e uma e$austão inevit.vel% 4 con/ormismo, entendido como o "roduto inevit.vel da re"ressão, a (?te noire de Mailer% dominação totalit.ria !ue se esconde na /achada "retensamente democr.tica e liberal da sociedade contem"or9nea, cu:o "aradi(ma sua versão norteJamericana, rouba a liberdade do indivíduo e o reduz a um con/ormista bem a:ustado, um ob:eto "assivo da mani"ulação todoJ"oderosa, subliminar, do "oder estabelecido% 4u se:a> um square, um !uadrado, um careta, o homem !ue se considera ?normal@ em nossa sociedade, em (eral um neur#tico obsessivo com"ulsivo, um caso e$tremo da alienação radical !ue a!uela !ue "assa des"ercebida, considerada como a ?normalidade@% Mailer chama seu $i&ster, o rebelde !ue con/ronta os valores do square, de o ?ne(ro branco@, um American E#istentialist , !ue se caracteriza "elo conteOdo reli(ioso de sua revolta% Mas seu misticismo o da carne% 4 $i&ster acredita no "oder reli(ioso do se$oS em conse!uIncia, seu "rimeiro "rotesto contra a destruição do instinto e a "erversão do se$o "ela moral "rotestante, mono(9mica e re"ressiva do square% Baseado em Vilhelm Reich, ele e$"He sua "r#"ria teoria sobre o ?bom or(asmo@% 4 square tem necessariamente maus or(asmos, "rematuros e insi(ni/icantes, em conse!uIncia de seu a:ustamento, sua submissão% 4 ob:etivo do $i&ster , do rebelde, o bom or(asmo, sem"re mais a"ocalí"tico do !ue o "recedenteS a nova revolução , sobretudo, se$ual% 4 con/ormismo não res"ons.vel a"enas "elo mau or(asmoS na verdade, ela (era doenças terríveis, como o c9ncer, a doença !ue caracteriza nosso sculo de
81 re"ressão e con/ormismo, um resultado or(9nico direto do a:ustamento social% 4 c9ncer consiste numa rebelião das clulas, submetidas durante muito tem"o o"ressão de uma sociedade sem liberdade% Auando o indivíduo não se revolta, as clulas de seu cor"o o /azem "or ele% 6. ainda mais um traço tí"ico do ?ne(ro branco@% Contra o c9ncer, em busca do bom or(asmo, o $i&ster re:eita a chamada consciIncia moral, ne(a os (rilhHes do su"ere(o, tornaJse o !ue Mailer chama ?um "sico"ata /ilos#/ico@% Esta a re/le$ão ori(inal de Mailer% 4 !ue o "reocu"a a "ou"ança das clulas contra o c9ncer, a ener(ia des"ertada "elo senso do "eri(o, a (rati/icação das necessidades se$uais inerentes a cada um, as armas da sub:etividade contra a "ressão esma(adora das or(anizaçHes sociais, a elaboração /ilos#/ica da visão do "sico"ata e, em suma, a rebelião contra todas as /ormas de institucionalização F contra, inclusive, a!uelas !ue "retendem disci"linar a "r#"ria rebelião% "artir de seu livro Armies o' t$e =ig$t 1-+Q, Mailer se tornou um dos /undadores do chamado =e; Kournalism norteJamericano% Mas suas obras no (Inero F como "iami and t$e Siege o' 0$icago 1--Q, A -ire on t$e "oon 1-8)Q ou <$e -ig$t 1-8*Q são bem mais do !ue isso% 3as mãos de Mailer, a re"orta(em (anha status artístico, vira "raticamente um ramo da /icção F e ele utiliza nela os instrumentos de sonda(em do real !ue caracterizam esta Oltima e !ue ultra"assam em ca"acidade de a"reensão e "ro/undidade de com"reensão, os do mero documento :ornalístico% o mesmo tem"o, "odeJse tambm dizer !ue, alm de ver o :ornalismo como /icção, ele tambm vI sua "r#"ria /icção como :ornalismo, "ois F "ara Mailer F a literatura tem um com"romisso absoluto com a a"reensão e a com"reensão do real% N-iction can tell %ou certain t$ings t$at not$ing else can F ele e$"licou, numa entrevista% E acrescentou> A reall% great no!el does not $a!e somet$ing to sa%@ 9t $as t$e a(ilit% to stimulate t$e mind and s&irit o' t$e &eo&le ;$o come in contact ;it$ it@ ;m e$em"lo dessa mesma ca"acidade numa re"orta(em de Mailer o livro <$e -ig$t !ue d. conta, em "ro/undidade, da luta de bo$ entre Muhammed li e eor(e oreman, realizada no ^aire, ]/rica, em 1-8*% tcnica /undamental do re"#rter 3orman Mailer tem um car.ter indutivo% o detalhe, ele arranca um sentido de ordem (eralS num (esto ou numa "alavra, descobre "arte da alma da mrica, !ue "rocura sem cessar% met./ora , então, o instrumento de
82 investi(ação mais ade!uado% 4 (esto d. ori(em ima(em e esta o "onto de "artida "ara mais uma aventura do es"írito% =im> aventura% "rinci"al !ualidade do "ensamento de Mailer sua cora(em% Ele não se limita a raciocinar dentro das estruturas estabelecidas "ela razão, analítica ou dialtica% Pensar e$"lorar os territ#rios ocultos da mente, uma via(em ao desconhecido, uma aventura% 3os ar(umentos de Mailer, conceitos e cate(orias cedem lu(ar ao !ue ele chama de equações &oéticas, ou se:a, met./oras F no sentido mais revelador do termo% ciIncia baseouJse ori(inalmente na met./ora, mas o sculo vinte a e$"ulsou "ara o (ueto dos "oetas% 4 laborat#rio interditou o es"írito, declarouJse o ventre do conhecimento cientí/ico e sua metodolo(ia desenvolveuJse tão incTmoda !uanto ?os c#di(os trabalhistas de um sindicato de artistas de teatro@% met./ora desa"areceu% oi substituída, "or artes de um /etichismo /urioso, "ela e$"eriIncia% mediocridade dominou o conhecimento cientí/ico% e$"eriIncia "assou a ser uma /, substituindo a met./ora como meio de in!urito% e$i(Incia !ue e$"erimentamos ho:e a de deslocar o cientista do centro da cena e restaurar a met./ora% Partici"ação "olítica, liberdade se$ual e uso de dro(as%%% F todas as "rinci"ais e$"eriIncias e$istenciais de !uem viveu "lenamente a se(unda metade do sculo vinte /oram consideradas, "ensadas, e$aminadas e, last (ut not least , uitilizadas como matria "rima artística em seus romances, "elo escritor "ro/issional 3orman Mailer% Como outros (randes artistas de seu tem"o, ele "artici"ou ativamente da busca de sua (eração e das "osteriores !ue ins"irou% N do tem"o de Bertrand Russell, na 0n(laterra, 'eanJPaul =artre, na rança, e tantos outros intelectuais !ue assumiram suas res"onsabilidades como indivíduos e cidadãos F o !ue, in/elizmente, "arece cada vez mais raro ho:e em dia%
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utor de )i'e Against Deat$ e )o!e6s +od% , 3orman 4% Bro5n !uer "erceber em toda cultura humana a realidade oculta do cor"o humano% =a(rada Comunhão como base da comunidadeS a Eucaristia> canibalismo% 0dentidade de su:eito e ob:eto, "artici"ação mística% eus não o Lo(os abstrato, a Razão desencarnada, mas a /orma
8& humana divinizada% secreta tradição t9ntrica> a libertação atravs do cor"o% ressurreição do cor"o% ressurreição da carne, em teolo(ia cristã% 3orman 4% Bro5n cita a clebre "assa(em do 3ovo Destamento em !ue 'esus diz> ?ei$ai vir a mim as criancinhas "or!ue delas o Reino dos Cus@S ?em verdade vos di(o !ue se não /ordes como uma delas, não entrareis no Reino dos Cus@% Para Bro5n, 'esus se re/ere ao erotismo "olim#r/ico "erverso !ue caracteriza o in/ante% condição natural do ser humano usu/ruir "razer "or todas as "artes do cor"oS a concentração do "razer nos #r(ãos (enitais uma distorção neur#tica !ue tem a ver com o entumescimento do e(oS Bro5n vI uma e!uação entre centralização e(oica e da libido nos #r(ãos (enitais% =e(undo Bro5n, !ue identi/ica a se$ualidade "olim#r/ica, "erversa, !ue reud descobriu na "rimeira in/9ncia, com o estado de inocIncia dos místicos, a Aueda F entendida não num su"osto "assado hist#rico, mas como al(o eternamente recorrente, !ue acontece a!ui e a(ora, uma renovada doença "sí!uica F "roduz, não s# a divisão de se$os, como a "r#"ria restrita or(anização (enital adulta% 4 andr#(ino corres"onde ao rom"imento da alienação "or meio de uma erotização do cor"o todo, isto , alm da mera bisse$ualidade "olim#r/ica, "erversa, do in/ante, sem di/erenças nem o"osiçHes% re(eneração da es"cie a ressurreição do cor"o, como diz a teolo(ia cristã, ou se:a, a "lena atualização de todas as "otencialidades do cor"o F e o cor"o assim ressurreto andr#(ino% Esse cor"o !ue ressur(e, andr#(ino, não tem mais centro (enital, /.lico ou va(inal, ou se:a, sem centro e(#icoS um cor"o místico%
M'%' S+-'"
ma(ia "roduto da cultura ocidental com os mesmos ob:etivos da ciIncia% di/erença est. nos mtodos de o"eração% ciIncia /undamenta seus su"ostos na razão e lhes con/ere validez atravs da e$"eriIncia% ma(ia /undamenta sua ação na vontade% mbas "rocuram o controle das /orças da natureza "ara coloc.Jlas a serviço de seus ob:etivos% Danto coincidem no seu "ro"#sito !ue "odemos dizer !ue a ma(ia um ti"o de ciIncia e`ou !ue a ciIncia um ti"o es"ecial de ma(ia%
8< ma(ia não tem nada a ver com reli(ião ou al(um ti"o de misticismo% =eus "ro"#sitos são mundanos% Ela uma atividade essencialmente o"erativa% =ua matriaJ "rima não nenhum "rincí"io sobrenatural, mas sim"lesmente, a ener(ia tal como ela se mani/esta em nossa realidade comum% Mesmo !uando o ma(o, em seu ritual, se diri(e a um ?deus@, uma ?deusa@, um ?demTnio@ ou, em suma, a al(uma ?entidade es"iritual@, ele est. na verdade tratando com uma /orça es"ecí/ica, uma mani/estação natural da ener(ia, a !ue a ma(ia em"resta um nome !ue, /re!uentemente, recolhido de al(uma tradição reli(iosa% Mas isso não !uer dizer !ue a ma(ia se:a al(uma /orma de reli(ião% Pelo contr.rio% PodeJse dizer !ue o ma(o o o"osto do reli(ioso% Este se vI numa "osição in/erior s /orças s !uais "resta cultoS em conse!uIncia, sua "ostura de humildadeS ele "ede, su"lica, a(radece% 4 ma(o, "elo contr.rio, "retende comandar as /orças !ue invoca, submetendoJas sua vontadeS ele d. ordens, comanda% 4 se$o uma das mani/estaçHes da ener(ia !ue "odem ser utilizadas "ara /ins m.(icos% =e(undo al(uns ma(os, inclusive a /onte mais "oderosa, /undamental, da ener(ia necess.ria "ara a ma(ia atin(ir seus ob:etivos% ssim, na Ma(ia =e$ual, a ?ma(ia@ o substantivo, o essencialS o car.ter ?se$ual@ a"enas a !uali/ica% 4 se$o colocado, "ortanto, a serviço da ma(ia, esta !ue determina a natureza e os "ro"#sitos da "r.tica%
Entretanto, a atividade se$ual de um indivíduo "ode ser a"rimorada atravs da "r.tica da ma(ia se$ual, atravs de um re/inamento do "razer e de uma intensi/icação do I$tase% =e(undo Edson Bini, em seu livro "agia Se#ual 1-- 1% N uma modalidade de ma(ia ritual ou cerimonial na !ual se utiliza a ener(ia se$ual "ara a invocação de /orças a/insS 2% a "r.tica se$ual concretizada nos rituais constitui recurso ou meio "ara a obtenção de "ro"#sitos m.(icos !ue em "rincí"io transcendem a "r#"ria se$ualidadeS
8* &% o ritual da ma(ia se$ual "ressu"He, em "rincí"io, o ato se$ual, isto , a c#"ula do ma( ma(o com sua aman amante teSS embo mbora a rela relaçã ção o homos omosse se$u $ual al e mes mesmo o autoer autoeroti otismo smo a mastur masturba bação çãoQQ se:am se:am admiss admissíve íveis% is% .Jse .Jse "re/erI "re/erInci ncia a união união hete hetero ross sse$ e$ua ual,l, "or "or ser ser mais mais harm harmon onio iosa sa do "ont "onto o de vist vista a natu natura rall e mais mais a"ro"riada "or contar com a "olarização se$ual, "ossível a"enas mediante se$os o"ostos, elemento im"ortantíssimo "ara o I$ito do ritual% masturbação, se(undo al(uns ma(os, tem o srio inconveniente de "re:udicar o "si!uismo%
Auanto Auanto ao a"rim a"rimora oramen mento to da vida vida se$ual se$ual do indiví indivíduo duo,, atrav atravss das "r.tica "r.ticass m.(icas, necess.rio, antes de tudo, acentuar !ue ele se deve "rinci"almente a "r.ticas do ti"o t9ntrico% s "r.ticas da Ma(ia =e$ual são, muitas vezes, verdadeiras versHes ocidentais do tantrismo%
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F i ze s t aen t r e v i s t ac o m Uba l dopa r aar e v i s t aS e x y,u mar e v i s t ademu l h e rn ua ,be ma nt e s qu ee l ec o n c r e t i z a s s es u ai de i as obr eal u xr i aepu bl i c a s s es e ube s ts e l l e r A Casa dos
Budas Ditosos .Not e mo mosn ose n c o nt r a doma i s ,t a l v e zg ui a dospe l ai n t u i @odeque; pr e f e r #velevi t a r ,n u me nc on t r ope s s oa l ,ode s c on f or t odeu mc on f r on t oe nt r en os s a sa t u a i s p o s i @espol #t i c a s .
Conheço 'oão ;baldo Ribeiro h. mais de trinta anos% e"ois de uma risonha :uventude na Bahia, /icamos a/astados al(uns anos embora tivssemos nos reencontrado, nesse "eríodo, vezes su/icientes "ara dei$ar claro !ue nossa amizade continuava a mesma F e crescendo% Passamos a conviver novamente no Rio, no Leblon "ara ser mais e$ato, :. na maturidade%
8 (ora, "or e$em"lo, estou no seu a"arentemente ca#tico escrit#rio, bebendo (uaran. e comendo um sanduíche misto "re"arado "or Berenice% Lembro !ue, h. al(um tem"o, "ensei em, !uem sabe, escrever um romance, e "edi conselhos ao meu ami(o, mestre indiscutível no assunto% ;baldo su(eriu, então, !ue eu escrevesse muitas cenas de se$o, "or causa da ine(.vel e$"ectativa "or "arte do "Oblico leitor% Ele não lembra do conselho mas tenta e$"licar> J Eu devo ter me lembrado da observação de 6enr7 'ames de !ue ler um romance como es"iar "or um buraco de /echadura% 6o:e, num mundo cada vez mais "ermissivo, as "essoas /icam !uerendo saber da intimidade das outras em matria se$ual% Elas !uerem ver se suas "erversHes, suas /antasias, são "artilhadas "elos seus semelhantes% Considero !ue o se$o na literatura um tema interessante "ara nosso "a"o e ;baldo rea(e de maneira /avor.vel% Per(unto se, !uando ima(ina uma "ersona(em, inclui a vida se$ual dele nessa "rimeira conce"ção% Ele res"onde !ue normalmente não, mas !ue, a(ora, ser. obri(ado a /azer isso "ois vai escrever um romance sobre um dos sete "ecados ca"itais F a lu$Oria% J Mas aí "arte do tema% Gou escrever uma es"cie de livro de sacana(em, sobre uma mulher absolutamente devassa% Eu escolhi escrever na "rimeira "essoa como se eu /osse essa mulher% Mas normalmente nunca "enso na vida se$ual de meus "ersona(ens% =e che(o a "ensar nisso, /re!uentemente me en(ano% '. achei !ue um determinado "ersona(em, "or e$em"lo, era veado e ele não era% 4utro !ue eu "ensei !ue não era, e era% Eu sou um escritor instintivo% 3ão /aço "lanos% 0nsisto em !ue ele /ale do novo livro% J Pretendo começar esse novo livro em "oucos dias% Auero e$"lorar o "ecado da lu$Ori lu$Oria a at as Oltima Oltimass conse! conse!uIn uIncia cias% s% Gou e$clui e$cluirr al(uma al(umass "erve "erversH rsHes es !ue não me a(radam, mas s# essas% 3ão sou homem de escrever sobre co"ro/ilia, "or e$em"lo% 3ão conse(uiria% 4utro dia um ami(o meu contou da emoção dele !uando estava com uma mulher !ue ele !ueria muitoS de"ois de uma "orção de coisas, ela /ez $i$i no "eito dele e ele (ostou (ostou muito% muito% 3os E;, onde onde tudo tudo est. est. institu institucio ciona naliz lizado ado,, isso isso se chama chama Folden S$o;er % 3ão vai ter no meu livro% Auero /azer um livro divertido em !ue /i!ue claro !ue tenho conhecimento de todas as "erversHes se$uais% Mas não vou botar todas, s# as
88 mais aceit.veis "elo (osto comum J ou "elo meu (osto% Gou /azer um livro sobre uma mulher lObrica !ue sabe !ue vai "ara o 0n/erno% =#% Comento !ue 3orman Mailer tentou a"ro/undar uma re/le$ão sobre as relaçHes entre se$o e literatura% =e v.lido, "or e$em"lo, !ue a literatura er#tica suscite a e$citação se$ual% 4u se um escritor tem mais criatividade !uando observa abstinIncia ou !uando, ao contr.rio, e$erce (rande atividade se$ual% 'oão ;baldo não "artilha as "reocu"açHes de Mailer, não as acha relevantes% Mas con/essa> J Eu não (osto de escrever cenas de se$o, /ico com ver(onha% ico acanhado% N muito /re!uente !ue eu escreva uma linha ou duas, levante e /i!ue "asseando al(uns minutos% e"ois volto, escrevo duas "alavrinhas e saio andando novamente% N como se eu não achasse direito escrever cenas se$uais% evo re"arar !ue essa circunst9ncia não trans"arece, em absoluto, nos romances de ;baldo e invoco o testemunho de seus leitores% Eles concordarão !ue as cenas de se$o escritas "or ;baldo não dei$am adivinhar tal ines"erado constran(imento% eclaro, "ortanto, !ue suas cenas de se$o são #timas% Mas ele discorda% J 3ão, não sou muito bom de se$o em meus romances% Auer dizer> acho !ue /iz boa boas cena cenass homo omosse$ sse$u uais no Sorr li.s, acabo cabou u sendo endo Sorris iso o do )aga )agarto rto%% 4 !ue, ali. embaraçoso "or!ue /icaram me "er(untando como conse(ui tamanho realismo% cabei dizendo !ue /oi "or!ue treinei com ami(os como vocI e Darso de Castro% ;baldo solta sua clebre (ar(alhada% Esclareço aos leitores menos sutis !ue tal treinamento não "assa de uma "iada% 3a verdade, ;baldo não considera a vivIncia em"írica uma e$i(Incia essencial da arte liter.ria% li ter.ria% 4 treinamento não /oi necess.rio% J GocI não "recisa "arir "ara descrever um "arto nem ter necessariamente uma e$"eriIncia direta de !ual!uer coisa "ara "oder descrevIJla% cho uma boba(em su"or isso% Ed(ar Rice Burrou(hs nunca esteve na ]/rica% Karl Ma7 nunca esteve nos Estados ;nidos% 3ão "recisaram% Auer dizer> ima(ino !ue ha:a escritores !ue "recisem% Mas eu sou do ti"o !ue não "recisa% J Como "rocede, então, o escritor, escritor, !uando não "recisa da e$"eriIncia "essoalU
8+ J Eu /ico "ensando como rea(iria o su:eito na!uela situação, "or e$em"lo% Eu sou estudioso, sou meio cientista louco% =e eu /or escrever sobre um "arto, do "onto de vista da mulher, sou "rovavelmente ca"az de /azIJlo bem% Mas "ode ser tambm !ue não se:a% e"ende% Dambm Dambm sou ca"az de ler um ca"ítulo inteiro de enciclo"dia sobre "artoS mas não tomo nota nenhuma% 4lho a!uele ne(#cio e "ronto% Mas normalmente nem /aço isso% =u(iro !ue mudemos de assunto, do se$o na literatura "ara o se$o em nossa vida "essoal J ou se:a, no caso, na vida "essoal de 'oão ;baldo% Este se(undo tema não des"erta nele o mesmo interesse !ue demonstrou "elo "rimeiro% Ele rea(e com certo tdio como se eu tivesse abordado um assunto absolutamente sem interesse% J Eu sou realmente a "essoa menos interessante se$ualmente !ue vocI "ode ima(inar% ima(inar% Pelo menos, no sentido da vivIncia em"írica% Posso ser um "oço de "orno(ra/ia no /undo do crebro, mas não me sinto se$ualmente interessante% 3a realidade, eu não me envolvo mais "essoalmente nesse assunto% Eis Eis aí uma uma reve revela laçã ção o sur" sur"re reen ende dent nte% e% Dendo endo acom acom"a "anh nhad ado o as /aça /açanh nhas as inenarr.veis de meu ami(o durante a :uventude, /i!uei sinceramente chocado com a con/issão ines"erada% i(o a ele !ue, ao contr.rio, eu achava !ue ele era tão envolvido no assunto !ue o inclui na minha lista dos ?dez mais se#% "ara "ara uma revista% Ele d. uma nova (ar(alhada e diz !ue, naturalmente, eu estava brincando% Re"lico !ue s# um "ouco "or!ue sinceramente acho !ue ele um cara se#% % J Eu não me acho se$7, não% '. /ui meio tarado, na :uventude at a meia idade, dos &* aos <+ anos mais ou menos% Era taradão% Mas de"ois, não% (ora, sou um homem "acato, !uieto% Por e$em"lo, eu não a(uentaria a "rodução de ter um a''air /ora /ora de casa% Eu acho um saco, não so/ro a menor tentação% Dem mais% 6o:e nem "asso "erto de revista de mulher nua, não me interesso, não ve:o% ilme "ornT bem /eito eu ainda ve:o se estiver sozinho num hotel sueco% Mas mal /eito nem l.% cho brochante% 3ão a(uento mais ver bundas, "eitos e $o$otas% cho uma coisa chata, horrorosa, a!uelas americanas de "eitos (i(antescos chu"ando o "r#"rio mamilo ou o dedo, eu não su"orto% Estou anestesiado "ara esse ti"o de coisa%
83esta altura de nosso "a"o, saio de meu estado de cho!ue e "ercebo !ue tenho uma entrevista indita e absolutamente escandalosa nas mãos% =er. !ue a revista =e$7 ter. a cora(em de "ublic.JlaU =em dOvida, ser. muita aud.cia% Mas tem mais% ;baldo entra num terreno abertamente con/essional% J Denho Denho al(umas al(umas ami(as ami(as !ue, ima(ino, ima(ino, (ostariam (ostariam de dar "ra mim, mas não tenho vontade de comer nenhuma% De#rica De#rica "ode ser, mas "r.tica não% Elas /icam sur"reendidas, acho !ue al(umas nem acreditam% Mas, no /undo, estão sabendo !ue sou assim mesmo, ali.s, são todas muito sim".ticas% '. vi nuas muitas dessas minhas ami(as, :. escrevi sobre sobre elas e tal, :. vi at em tudo !uanto "osição% "osição% 0sso deve ter me a/etado a/etado de al(uma al(uma /orma% E$iste um "rincí"io biol#(ico se(undo o !ual a re"etição continuada do estímulo acaba "or debelar a reação% GocI estimula demais uma reação or(9nica e aí che(a a um "onto em !ue não rea(e mais% N bem "ossível !ue eu tenha "assado "or isso% 4u este:a "assando% e !ual!uer maneira, não me interesso mais "or comer nin(um% Auero sosse(o% Dodo mundo sabe !ue não "asso de um camisolão% Lembro !ue Bernard =ha5 "roclamou ter encerrado suas atividades se$uais aos !uaren !uarenta ta anos anos de idade, idade, consid considera erando ndoJas Jas uma divers diversão ão (rosse (rosseira ira s# su"ort su"ort.ve .vell na :uventude, "ara se dedicar inteiramente aos "razeres su"eriores do es"írito, como a mOsica de Mozart e a literatura de =haes"eare% Per(unto a ;baldo se isso /az sentido "ara ele% Claro !ue /az% Ele "r#"rio não se acha numa situação muito di/erente% J Dranscender o se$o não uma "roeza incomum na hist#ria de /i(uras s !uais não "osso me com"arar% com"arar% esde =#crates a Buuel !ue se /az este coment.rio> /inalmente me livr livrei ei dess dessa a merd merda, a, não não !uer !uero o mais mais sabe saberr% Buu Buuel el "re/ "re/er eria ia seu seu char charuto uto e seu seu conha!ue% E =#crates, "or volta dos !uarenta anos, tambm revela nítido alívio "or se libertar dessa com"ulsão ridícula, de assumir "osiçHes ridículas e emitir sons i(ualmente ridículos a troco de "orra nenhuma% ;baldo cruza os braços e "ede !ue eu /aça o mesmo% 4bserva a se(uir !ue /izemos o mesmo (esto em sentidos o"ostos% Minha mão direita /icou debai$o do meu braço es!uerdo e a mão es!uerda sobre o braço direito% Ele, entretanto, cruzou ao contr.rio, com a mão es!uerda debai$o do braço direito e a mão direita sobre o braço es!uerdo%
+)
J GocI :. notou !ue al(umas "essoas cruzam os braços naturalmente como vocI e outras cruzam os braços naturalmente como euU GocIs sabe !ue essas coisas são (enti (enticas casU U N en(raç en(raçad ado% o% 4 natura naturall di/ere di/erente nte "ara "ara "essoa "essoass di/ere di/erente ntes% s% 3ão 3ão e$iste e$iste naturalidade% Portanto, tambm natural o !ue eu acho sobre o se$o, ho:e em dia% Eu não sei "or onde anda a minha libido% Mas a libido não morre nunca% Ela se trans/ere "ara os lu(ares mais loucos, desde um livro l ivro !ue vocI escreve ao es"orte !ue vocI "ratica% dvirto ao meu ami(o !ue ele corre o risco evidente de ser chamado de brocha "elos /o(osos leitores da =e$7 "or causa do "ecado im"erdo.vel de ser contra a "rinci"al devoção deles% J Eu não tenho nada contra se$o, não% =ou a /avor de se$o% 3ão sou candidato a mon(e tra"ista% 4 se$o "erdeu bastante a im"ort9ncia "ara mim, mas não (ostaria !ue o título desta matria /osse, "or e$em"lo, 4 rande Brocha% Por!ue, realmente, eu não brochei% =# não tenho mais o mesmo /ascínio "or se$o, como tambm "erdi v.rios outros /ascínios da nossa :uventude% GocI, GocI, "or e$em"lo, "reserva seu /ascínio "or :azz e eu não% ;baldo levanta de sua cadeira e caminha "ara o terraço da cobertura, a(ora iluminado "elo sol do cre"Osculo% J Eu estou en$er(ando mal e /ico com medo de /icar ce(o% =# !uero ler% Auero ler a 0líada !ue eu :. li !uinze vezes, mas !uero ler de novo% Auero ler% =e eu tirasse uma me(aJ sena nunca mais escrevia uma linha% icava lendo e :o(ando carteado ou domin# a!ui com os a"osentados do Leblon% e"ois, voltaJse "ara mim com o mais amistoso de seus sorrisos no rosto% GocI !uer sorvete de abaca$iU Eu "e(o sorvete de abaca$i, boto (eleia de moran(o e /aço uma mistura nauseabunda de tão boa% E$"erimente% J Melhor !ue uma tre"adaU F !uero saber% saber% J Muito melhor% Dre"ada uma coisa o/e(ante e babosa F ele conclui, rindo, diri(indoJse "ara a (eladeira%
+1
3 ETERNA, EFÊMERA VANGUARDA
+2
J-+*$! (+ &-"$-'
3a recente "olImica sobre a "olítica cultural do (overno, notouJse uma (rande a(itação no setor dos artistas% oram "rinci"almente artistas F no caso, cineastas F os "rimeiros a se levantar sobre o !ue !uali/icaram como diri(ismo cultural, evocando al(uns dos "iores re"resentantes do /enTmeno na /alecida ;nião =ovitica% E /oram tambm de artistas as vozes !ue se er(ueram contra o "rimeiro "rotesto, com"reendendo a "osição inovadora do (overno, na !uestão% rtista assim% "r#"ria criação de"ende desse es"aço em !ue medra a "olImica% s di/erenças entre os dois (ru"os não são "ro/undas% 6. "ontos essenciais, inclusive, em !ue todos deverão concordar% rte F assim mesmo, com maiOscula, "or!ue ela merece F tem de ser considerada a "artir de sua "r#"ria natureza es"ecí/ica, em !ual!uer "olítica cultural lOcida% Ela es"ecial% "resenta uma distinção /undamental em relação s demais atividades humanas !ue atendem s necessidades materiais "or!ue a rte atende, nada menos, aos interesses su"eriores do Es"írito% s di/erenças não dizem res"eito rte em si, mas sua relação com o Estado% Dudo começou !uando o artista do sculo "assado descobriu !ue ela "odia, ou at devia, com"rometer sua arte com o interesse "Oblico% conce"ção de arte en(a:ada, com"rometida social e`ou "oliticamente, brotou dos "r#"rios artistas, "articularmente dos escritores% =# de"ois, os burocratas se a"ro"riaram dela "ara im"or normas !ue :ul(avam convenientes% oi o !ue aconteceu com o chamado realismo socialista, esttica o/icial do comunismo, de natureza normativa, con/orme o estabelecido "elos burocratas ocu"ados da cultura na e$tinta ;nião =ovitica%
N verdade !ue h. uma e$i(Incia de "artici"ação social F no sentido de recriar na obra a verdade ob:etiva da sociedade ali retratada F "or estetas mar$istas res"eit.veis, como eor( Luacs, com seu conceito de realismo crítico e$em"li/icado "elos (randes romancistas do sculo Y0Y% Mas a visão de Luacs !uali/icada e at sutil, em al(uns as"ectos% ssim, "or e$em"lo, a:ustada visão hist#rica do mar$ismo, sua esttica
+& "rivile(ia a narração, din9mica e, "ortanto, dialtica, sobre a descrição, est.tica e meta/ísica%
Contudo, o "r#"rio Luacs condena a liberdade /ormal assumida, "or
e$em"lo, "or um artista tambm mar$ista como Brecht% s normas da ?linha :usta@, im"ondo "raticamente a obri(ação do realismo, não "oderiam ser di(eridas "or um artista cu:a "r#"ria ori(em estava na van(uarda an.r!uica do início do sculo "assado% Brecht obri(ado a ar(umentar contra a esttica o/icial, "ois a "r#"ria dialtica mar$ista e$i(e "ara o seu teatro uma nova /orma artística !ue "ossa e$"ress.Jla, alm dos su"ostos aristotlicos tradicionais%
Com"romisso e estilo, "ortanto, são "reocu"açHes autTnomas% teoria da literatura en(a:ada /oi /ormulada "or =artre em seu clebre ensaio O que é a literaturaU% =ur"reendentemente o e$istencialista =artre e$orta os escritores "ara um com"romisso e$"lícito% Mas tem o cuidado de e$cluir a necessidade de en(a:amento nas demais artes F mOsica, artes "l.sticas, dança, e at a "oesia F "or considerar !ue seus elementos b.sicos de criação são ob:etos e não si(nos, com acontece com a "rosa%
4
com"romisso est. vinculado essencialmente ao si(ni/icado ostensivo, denotação%
4s escritores !ue :usti/icaram a doutrina sartreana do engagement , numerosos entre os melhores do sculo "assado, e$"erimentavam o sentimento de !ue esse com"romisso necess.rio obra de arte "ara !ue ela tenha um sentido na totalidade do mundo em !ue vivemos, ou se:a, em "alavras mais sim"les, "ara !ue ela, em suma, não se reduza a um bombom de lu$o% Evidentemente, "orm, essa uma !uestão de /oro íntimo, /az "arte da intimidade do artista como ser humano% 3in(um "ode decidir em !ue medida ele deve su:eitar a sua essIncia, !ue sua arte, circunst9ncia do mundo in:usto em !ue vive% Ele sabe, em "rincí"io, !ue a rte não "ode /icar su:eita a determinaçHes e$ternas, /eito as normas burocr.ticas% 4 "oder da rte !ue ela "ode e$"ressar, não a"enas os "roblemas sociais e "olíticos, mas sim"lesmente tudoS a arte livre e a"arentemente oni"otente% Por sua "r#"ria natureza, ela não "ode su"ortar tutelas%
4s artistas !ue !uiserem li(ar sua obra a uma determinada visão "olítica, "or e$em"lo, tem de ser livres "ara /azIJlo, sem o "revalecimento de "reconceitos ideol#(icos% 4s !ue !uiserem sim"lesmente se omitir da !uestão em /unção de outras
+< !ue considerem mais "ro/undas, deverão ter, naturalmente, os mesmos direitos% Entretanto, as necessidades "r#"rias do administrador, ou burocrata, de o/icializar uma "olítica cultural, dentro dos interesses do se(mento !ue re"resenta, levaJo a tender "ara uma cultura "olítica es"ecí/ica, como se ela /osse a e$"ressão de al(uma ob:etividade he(emTnica% DrataJse de um e!uívoco% ;ma "olítica cultural sensata não deve im"or uma cultura "olítica, sob "ena do !ue :. se viu, de sobe:o, em tantas "artes do mundo%
Aual!uer ?"olítica cultural@ mani/esta a visão !ue o "oder ativo tem da cultura% ?"olítica cultural@ vi(ente no (overno 6C colocava os critrios de escolha dos "ro:etos inteiramente nas mãos das em"resas !ue "oderiam desviar "ara a "rodução cultural "arte do dinheiro devido ao im"osto de renda% Essas em"resas, "rinci"almente as maiores, "ara as !uais esse bene/ício /iscal interessava mais do !ue a mera sone(ação, "raticamente orientaram, sem restriçHes, a "rodução brasileira de cultura nas Oltimas dcadas% 0sso instalou tambm uma es"cie de diri(ismo, embora mais sutil% 4 dinheiro era "Oblico, mas os critrios, "rivados% Como, naturalmente, não se /az nada sem vanta(em, esses critrios das em"resas tinham mais relação com a "romoção das mesmas !ue com o "atrocínio !ue "oderia "ro"iciar ao interesse do "Oblico real% 4utros interesses, os da "ublicidade e "ro"a(anda, /oram os "re"onderantes% cultura tinha de se subordinar aos :o(os do mercado F e a rte, inevitavelmente, /oi constran(ida "or limites "re:udiciais% =ua liberdade tambm /oi condicionada% iante de tal im(roglio, "reciso "er(untar> ser. !ue uma ?"olítica cultural@ realmente necess.riaU Parece mas não tanto% =e /or inevit.vel, o melhor !ue sua /ormulação se:a a mais am"la "ossível, mesmo !ue se:a al(o va(o ou im"reciso% Conceitos muito de/inidos (eram uma "ostura totalit.ria, na "r.tica% Esse, ali.s, o de/eito do e$cesso de reuniHes e discussHes sobre os conceitos de "olítica culturalS detalham demais !uando tudo o !ue se "recisa são dos "rincí"ios (erais !ue indi!uem o es"írito, invo!uem a res"onsabilidade, mas não su/o!uem, com o ri(or mortal das de/iniçHes, a liberdade criadora de nossos artistas% 3a verdade, todos os documentos o/iciais !ue a(itam os artistas e :usti/icam seus "rotestos, "ecam e$atamente ao es"eci/icar demais%
Por e$em"lo> a intenção da
Eletrobras de criar novos critrios seria a de ?valorizar "atrocínios a "ro:etos !ue tenham /orte conteOdo de inclusão social, de valorização da cultura "o"ular, de "romoção da cidadania e do desenvolvimento social das comunidades de bai$a renda%@ 4u se:a> tudo
+* a!uilo !ue o (overno, não a rte, tem de /azer% o estabelecer critrios !ue dizem res"eito ao conteOdo das obras, o sa"ateiro subiu acima das chinelas%
4 diri(ismo cultural tenta se :usti/icar "ela racionalidade !ue seria intrínseca 6ist#ria% Para não ir ?na contramão da 6ist#ria@ F e$"ressão "r#"ria da conce"ção he(eliano mar$ista, mas !ue, de tão a"arentemente "oderosa, /oi a"ro"riada "or !uase todas as correntes de "ensamento, inclusivo o aJhist#rico J de"ois da !ueda da ;R==, havíamos che(ado ao ?/im da 6ist#ria@% Parado$almente, !ual!uer con/ronto com o "ensamento neoliberal "assou a ser imediatamente acusado de estar na ?contramão da 6ist#ria@% 3os anos 2), Ma$ 3ordau escreveu um livro "ara denunciar os artistas modernos de seu tem"o, como loucos% Ele /az um dia(n#stico "si!ui.trico im"lac.vel da!ueles artistas, a"ontando "retensos sintomas de loucura em suas obras% 3ordau não mais levado a srio mas sua reação em /ace da arte e dos artistas não desa"areceu de todo% "arentemente al(uns continuam a acreditar no seu dia(n#stico% e$"ressão ?contra"artida social@ "ara desi(nar a e$i(Incia de uma es"cie de obri(ação de "artici"ar do es/orço (overnamental "elo avanço social no "aís bastante in/eliz% Lembra a im"osição de serviços comunit.rios aos cul"ados de trans(ressHes leves s re(ras da sociedade% 4 cidadão trans(ride, mas não vai "ara a cadeia "or!ue d. uma contra"artida social ao delito "raticado% ica "arecendo at !ue a atividade artística deve de al(um modo ser ?"unida@ de maneira semelhante, atravs da tal contra"artida% Por outro lado, avaliar corretamente a arte não es!uecer o resto% 4s esteticistas, al(uns deles, "elo menos, tIm essa tendIncia> "or outro lado, os sociolo(istas tIm uma "ostura o"osta% 4s dois lados tem suas razHes> a arte intoc.vel e o "roblema social deve ser resolvido% Reconhecer isso, no Brasil, uma necessidade !ue não tem relação com a transcendIncia da rte% im"ort9ncia de um "ro(rama ome ^ero /undamentalS "reciso "rimeiro comer, "ara de"ois usu/ruir o (ozo esttico F "ara "ara/rasear Brecht% "rimeira missão dos (overnantes atender s necessidades in/eriores da matriaS trataJse do !ue sim"lesmente nos mantm vivos% N evidente !ue o "ro(rama social do (overno certamente deve ter "rioridade sobre o resto, inclusive a cultura e, "ortanto, !ual!uer "ro:eto artístico, como a "reservação do atual /lorescimento do cinema brasileiro, cantado ultimamente em "rosa e verso, não enche a barri(a de nin(um%
+ solução dos "roblemas sociais não de"ende absolutamente da "rodução artísticaS uma tare/a de todos n#s, inclusive os artistas% Mas não se "ode condicionar esta "rodução a ob:etivos e$teriores a ela, "or!ue sua transcendentalidade s# alcançada com a liberdade% Pre/i(uração do reino da liberdade, ela "ode tornarJse, em certas circunst9ncias, inimi(a do Estado% Mas nunca do "ovo, "ois , "or vocação libert.ria, sua aliada natural%
I*'=+" C<'', ' '"' !<)$%&' + ! *!)B!
0sabel C9mara mostra um .lbum de /oto(ra/ias, en!uanto conta, com naturalidade, um e"is#dio de sua in/9ncia> J Auando minha av# morreu, era muito (rudada nela% Ela me chamou e disse> ?0sabel, chame sua mãe !ue meu coração est. doendo muito@% Eu chamei, minha mãe che(ou ao !uarto% icamos as trIs ali% 3o momento em !ue minha av# morreu, eu senti !ue /ui :o(ada contra a "arede% P...W =ete dias de"ois, eu estava bem deitadinha na minha cama e a av# che(ou, sentou na beira da cama e disse> eu vim te buscar% Res"ondi> ah v#, estou nova demais% E ela> eu vim te buscar "or!ue vocI vai so/rer muito% Eu disse> ah v#, como !ue vou saber se vou so/rer ou nãoU 0sabel so/reu% Mas tambm teve ale(rias% 3o "rincí"io dos anos setenta, em "lena :uventude, ela :. era /amosa, (raças "rinci"almente a uma "eça de teatro, As "oças, !ue sem"re lembrada como um momento /undamental da moderna dramatur(ia brasileira% 0sabel certamente sentiu o doce "er/ume do sucesso% e"ois desse sucesso, "orm, !uando se es"erava !ue ela ocu"asse o lu(ar !ue con!uistara no teatro brasileiro, a e$em"lo de outros de sua (eração, sumiu% =e(uiuJse um silIncio de mais de vinte anos% E$"eriIncias dolorosas marcaram sua vida durante esse "eríodo% 0sabel uma mulher /r.(il, delicada e sensível% Mas teve !ue endurecer e en/rentar o seu destino como uma (uerreira% 3o momento de nosso encontro "ara esta entrevista, morando sozinha em oi9nia, num a"artamento "e!ueno, mas con/ort.vel, encara os so/rimentos "elos !uais "assou
+8 como "arte de um "assado !ue s# não /icou totalmente "ara tr.s "or!ue o material /rtil !ue vai alimentar sua arte como escritora% Ela trabalha num livro de "oesia !ue tambm um re(istro, não s# de suas e$"eriIncias nestes Oltimos vinte anos como de outras, mais remotas% 4 título Coisas Coiós e o livro vai ser "ublicado em breve "ela editora =ete Letras, levado "or um ami(o, Carlos =usseind% Est. !uase "ronto% Ela mostra os ori(inais, com indis/arç.vel or(ulho, e diz !ue /altam a"enas umas trinta ".(inas "ara terminar% 4u menos, ela acrescenta, sorrindo% 0sabel /r.(il e delicada, mas tambm e$tremamente inteli(ente e bastante irTnica% lucidez !ue vaza entre os seus la"sos de mem#ria ine(.vel% 0sabel diri(e essa ironia "ara si "r#"ria, a cada "asso da conversa, e se diverte, "or e$em"lo, !uando se re/ere ao título de seu livro% Ela mineira, da cidade de DrIs CoraçHes, não devemos es!uecer, e "assou a in/9ncia numa /azenda% Auando, brincando, "edi a ela !ue a"roveitasse esta entrevista "ara mandar uma mensa(em ao "ovo brasileiro, ela começou a cantar um velho sucesso de r7 Barroso> =ertane:a se eu "udesse` se Pa"ai do Cu me desse` 4 es"aço "ra voar%%% oi isso !ue 0sabel sem"re "recisou> o es"aço "ara voar% Auando teve, ela voou% e"ois o "erdeu% Mas, a(ora, o es"aço se abre de novo, diante dela% J Eu sem"re !uis escrever% esde menina% 0oisas 0oi4 conta como isso aconteceu na minha vida% =em"re tive "roblemas #ticos e, !uando era menina e morava em /azenda, /icava olhando "ela :anela e /icava inventando "ara as ima(ens inde/inidas !ue via> ali tem um homem, ali tem uma "rincesa, uma carrua(em, um rio%%%
Mas o (rande im"acto da in/9ncia de 0sabel /oi o cinema> J Meu avT vendeu um terreno, em DrIs CoraçHes, "ara um homem !ue !ueria construir um cinema% 0m"Ts uma condição> ?eu vendo, mas vocI vai colocar o nome de Cine =ão Mi(uel e vai me dar trIs cadeiras cativas "ara o resto da vida% 4 homem deu% Doda noite, meu avT vestia ca"ote, cha"u, ben(ala, e ia "ara o cinema% Botava o ca"ote numa cadeira, a outra era "ara ben(ala e ele sentava na terceira% E dormia% E /alava "ara a (ente> vocIs tIm !ue entrar "ela /rente e "a(ar in(resso% Mas a (ente "ulava a cerca
++ e usava as cadeiras cativas% Era cinema todo dia% s coisas mais esta"a/Ordias, como a srie do Batman !ue tinha a!uela roda (irando%%% Era muito cinema na vida da :ovem 0sabel% cabou dramatur(a% Ela conta como escreveu seu "rimeiro ori(inal, Os Giajantes, uma hist#ria rural !ue trata de cam"oneses sem terra e conta hist#rias de sua "r#"ria /amília misturadas com /atos inventados% J Auando sentei "ara escrever, al(o bateu na minha cabeça% "rimeira coisa !ue visualizei /oi um "alco vazio, iluminado s# com a!uela luzinha de serviço, linda% Me concentrei na!uela coisa vazia e veio Os Giajantes% Passa dentro de um Tnibus% Pai e /ilho, cam"oneses sem terra, !uerem ir /alar com o Presidente% Mas entram num delírio e começam a es/a!uear as "essoas% 4 /inal sur"reendente% Eles são levados a uma dele(acia, mas não tIm noção do !ue /izeram% ica uma interro(ação no ar% ;m dia, o ami(o omin(os de 4liveira contou a ela !ue a DG lobo ia entrar no ar e !ue "recisaria de (ente !ue escrevesse% Ela to"ou% ez ada"taçHes de O 9ns&etor Feral , de o(ol, "ara 'T =oares, e de O 9nimigo do 7o!o, de 0bsen, "ara Paulo racindo% J Me deram at um contrato% Pensei> meu eus, eu não entendo nada de televisão% Mas com o dinheiro, alu(uei um a"artamentinho% eitei e rolei% Com"rei livros !ue não acabavam mais% Lia "ra caramba% Passava dez horas "or dia estudando% 0sabel conheceu tambm al(umas /i(uras de sua (eração !ue /oram i(ualmente im"ortantes "ara a in!uietação e$istencial !ue caracterizou o teatro brasileiro dos sessenta> 'os Gicente, ntonio Bivar e auzi ra"% oi assim !ue ela escreveu As "oças>
J Comecei a rabiscar As "oças% Contei ao auzi e ele disse> vocI tem de escrever essa "eça% Derminei o "rimeiro rascunhão% auzi leu "ara a lauce Rocha e ela começou a chorar% Ela !ueria ter um /ilho e a "eça /alava em aborto% Então ela disse> não "osso /azer essa "eça% 0ma(ine> uma mulher !ue a(uentou
+Mas o (rande sucesso da "eça /oi alcançado no Rio de 'aneiro, com a monta(em do Deatro 0"anema, diri(ida "or 0van de lbu!uer!ue, com Leila Ribeiro e DetI Medina% 4 cen.rio era um a"artamento con:u(ado, uma !uitinete com /o(ão a (.s e um banheiro com chuveiro :orrando .(ua de verdade% 4 estilo da encenação era de um realismo cu:a teatralidade sur(ia da sua "r#"ria materialidade im"lac.vel% Leila Ribeiro tinha marcaçHes de cozinhar de verdade, lavar a louça, tirar a rou"a, ir ao banheiro, /azer $i$i, :o(ar a calcinha numa bacia, tomar banho, entre outras coisas% As "oças uma das "rinci"ais "eças do !ue na LOcia Gieira de ndrade chama de a cena do eu, em sua tese sobre a dramatur(ia brasileira de 1--% "rinci"al característica desse teatro a valorização da e$"eriIncia sub:etiva, e$istencial% N um teatro so/rido como, "or e$em"lo, o canto de 'anis 'o"lin, símbolo da intensidade emocional !ue a :ovem arte dos sessenta "rocurava% e$"eriIncia "essoal, vivida e "un(ente, "ro(ressivamente abandonada nos anos !ue se se(uiram, ou se:a, os anos do silIncio de 0sabel C9mara, substituída "ela comdia a !ual!uer "reço e "elo e$"erimentalismo /ormalista% dor e o so/rimento são no teatro do eu, de 0sabel e 'os Gicente, as características b.sicas da e$istIncia humana% N uma visão e$istencialista% 4u vitalista, "ara concordar com 0sabel !ue "re/ere sem"re o termo vida "ara /alar de sua arte% Mas 0sabel não tem vontade de /alar sobre As "oças% 3aturalmente "re/ere /alar sobre 0oisas 0oi4s% Ela su(ere ler al(uns dos "oemas do livro em voz alta% iz !ue /az "oesia "ara ser dita em voz alta% J lmoçamos numa churrascaria "r#$ima% 0sabel /ala sobre tudo% Conta !ue declamava Lord B7ron !uando era mocinha, /ala de suas visHes de es"íritos> ?Converso com eles como estou conversando com vocI% Esse /enTmeno constante comi(o% 4s !ue me visitam não /.cil J diz ela, e ri@% 0sabel lembra dos ami(os mortos como Br.ulio Pedroso e Gítor ssis Brasil% Comenta as mortes de 3eci e lauber% ?Che(uei a achar !ue 3eci não tinha morrido, !ue era tudo invenção%@
-) alamos da im"ort9ncia do cinema "ara nossa (eração e ela conta !ue Bivar, muito :ovem, trabalhava como distribuidor de /ilmes nas cidades do interiorS ele "r#"rio carre(ava as latas dos /ilmes, os cartazes e a!uela ma!uininha de contar os es"ectadores na entrada% 0sabel /ala ainda de Maria Beth9nia e declara !ue (osta muito de mOsica% 3a volta do almoço, su(ere tocar um C com !uartetos de Gilla Lobos, antes de recomeçarmos a entrevista% Rela$amos um "ouco antes de che(ar a hora das lembranças mais di/íceis de 0sabel> J ui /azer um teste no etran% GocI :. usou dro(asU Como !ue eu vou dizer !ue não% 4 !ue !ue vocI sentiuU =enti uma merda% Eu não (osto% 3ão o !ue me /az bem% 4 !ue me /az bem são os ami(os, eu "oder escrever% Eu (osto das "essoas, as "essoas (ostam de mim% Mas tive um "eríodo horroroso, de uma (rande /ome% E uma coisa terrível chamada masturbação% Eu tenho horror, acho !ue o or(anismo da (ente careta% oi um "eríodo tenebroso% 0sabel lembra um arti(o !ue escreveu "ara O 7asquim com o título Das "in$ocas à 7sicanIlise% Ela e$"lica !ue nunca aceitou !ue tivesse minhocas na cabeça, mas teve um sonho, numa noite em !ue dormiu com /ome> sonhou com um "ãozinho !uentinho e a"etitosoS !uando ela o mordeu, saíram aos montes, minhocas% Lo(o de"ois /oi internada% =uas mem#rias em relação ao assunto são cheias de dor e ressentimento% Em nenhum momento, sentiu com"reensão ou a:uda% =# a(ressão, violIncia J isto , numa "alavra, "orrada, como ela diz% oram "orradas /ísicas, !uímicas e "sicol#(icas% 3uma dessas instituiçHes, uma /reira a advertiu "ara não /icar com "ena dela "r#"ria% Eu não tenho "ena de mim, eu tenho dor, res"ondeu 0sabel% Escrever /oi a salvação% E ler% =e h. al(uma coisa !ue 0sabel adora tanto !uanto a mOsica, ou mais, a literatura% Ela /ala de suas admiraçHes> Gir(inia Vool/, =amuel Becett J e conclui dizendo !ue !ueria a sabedoria de Rile% sensibilidade de 0sabel C9mara desemboca com naturalidade na "oesia rom9ntica, ela "oeta dessa estir"e% =eus temas são, em suma, a vida e a morte, a dor e a salvação%
-1 J i!uei muito im"ressionada com uma hist#ria !ue saiu na revista Ge:a% Era um /ot#(ra/o contando !ue viu uma criança morrer en!uanto, "or "erto, um abutre es"erava, sentado J conta 0sabel% =ua alma rom9ntica alça voo% 3um instante, ela est. /alando de 6oelderlin% Conta !ue o "oeta tinha "ai$ão "or uma cam"onesa e !ue a /amília o considerava louco% ala do silIncio /inal de 6oelderlin e de uma narrativa de sua morte !ue encontrou num conto de 6ermann 6esse% 3ão /alava nem escrevia h. muitos anos e dois :ovens o levam "ara um "asseio% Mas eles começam a discutir a ideia de eus e o es!uecem% 4 velho "oeta senta a uma mesa e escreve duas linhas> ?bril, maio, :unho :. se /oram% Eu :. não sou mais nada, eu :. não vivo mais contente% J 3ovalis tambm morreu assim J acrescenta 0sabel% J Casou com !uinze ou dezesseis anos de idade% mulher morreu, ele casou de novo% ;m dia, disse "ara os ami(os> no dia tal, eu vou morrerS !uero !ue vocIs este:am a!ui comi(o% Dodos vão> Kleist, 'ean Paul, a turma toda% Então, 3ovalis "ede !ue um deles v. ao "iano e to!ue =chubert% "oesia dos rom9nticos alemães um mer(ulho na noite misteriosa da alma% 4s "oetas sondam o mistrio !ue se revela nos sonhos e nas e$"eriIncias e$traordin.rias da mente% 3eles, a "oesia se torna uma /orma de conhecimento m.(ico% 'ean Paul, 3ovalis, Diec, 6o//mann, 6oelderlin e outros encaminharam sua ins"iração "ara uma busca "elos se(redos do ser !ue s# com"ar.vel dos místicos% =ão os /avoritos de 0sabel% =# os alemãesU 3ão, 0sabel tambm (osta dos /ranceses, dos in(leses, dos brasileiros em (eral J e, ela acentua, dos cariocas% 4u se:a> de todos os rom9nticos% =ua alma "ro/undamente rom9ntica e ela não s# tem muitos sonhos como tambm os lembra% i(oJlhe "ara !ue escreva% Ela "arece duvidar, mas acaba concordando, /ala nas necessidades deste 'in de si8cle, assim, em /rancIs, e reconhece !ue tem muito o !ue escrever, denOncias a /azer, "Tr o dedo na /erida% J Mas, antes de tudo, tenho !ue e$"ressar a!uela ideia !ue "revalece em mim, a de !ue o amor maior J diz 0sabel%
-2 Ela /ala de uma "eça sua cu:o te$to "arece estar "erdido% ChamaJse Ressurreição% ideia a se(uinte> Cristo ressuscitou L.zaroS então, no momento em !ue Cristo so/re na cruz, L.zaro sur(e, deita sobre a cruz e "ede a Cristo !ue o to!ue e !ue tambm o dei$e tocar nele, "ara !ue o mila(re se /aça novamente% 0sabel levanta e olha na direção da :anela aberta, "ara a luz tInue do entardecer !ue cai sobre o cu am"lo e lim"o de oi9nia e diz> J Auando nasci, minha mãe tirou uma /oto minha% Estou olhando "ara a luz% Por onde entrasse !ual!uer rstia de luz, eu olhava direto "ara ela% Para a luz% Para a vidaW
A "!)' %'+ (+ 9!*; A%??%)! (+ P'-"'
1-8 /oi um ano e$ce"cional na hist#ria da cultura brasileira no sculo "assado, s# com"ar.vel a 1-22, com a eclosão do Modernismo% oi !uando a (eração de artistas disse a !ue veio> o ano de
-& "ers "ers"e "ect ctiv iva a hist hist#r #ric ica% a%
N mere mereci cida da a aura aura !ue cerc cerca a 7anAméricaU Aual o valo valorr 7anAméricaU Aua
estritamen estritamente te liter.rio desse livro ins#litoU ins#litoU N uma obra altura altura das outras !ue, em 1-8, 1-8, deram e$"ressão artística s visHes de uma (eraçãoU Como elas, 7anAmérica 7anAmérica uma obra de van(ua van(uarda% rda% Dinha Dinha de ser ser assim% assim% ;m dos ob:e ob:etitivo voss b.si b.sico coss da!u da!uel ela a (era (eraçã ção o era era cria criarr uma uma arte arte !ue !ue /oss /osse e não não a"en a"enas as (enu (enuin inam amen ente te bras brasililei eira ra e soci social alme ment nte e com" com"ro rome metid tida a F como como suas suas ante antece cess ssor oras as imediatas F, mas tambm avançada, mesmo em relação ao !ue se /azia nos "aíses do Primeiro Mundo% ;ma arte, em suma, ?de "onta@% van(uarda de 7anAmérica 7anAmérica era, /atalmente, a das Oltimas dcadas do sculo "assado F e !ue, ali.s, continua vi(ente at os dias atuais% ;ma obra ori(inal, com suas di/erenças es"ecí/icas e sua "ersonalidade>
Eu entrei no meu !uarto e eu estava dormindo na cama% 4 !uarto estava escuro e aba/ado% Eu senti um (rande cheiro, !ue eu não sabia se "oderia vir de minha res"iração% Eu me a"ro$imei da :anela e abri a :anela% luz e o ar da manhã entraram no !uarto, mas eu continuava dormindo en!uanto o mau cheiro acumulado durante a noite esca"ava "ela :anela aberta% aberta%
Esse trecho do livro, !ue su(ere um esotrico desdobramento astral, indica a nature natureza za da e$"eri e$"eriInc Incia ia do "rota( "rota(on onist ista% a% 4s aconte acontecim cimen entos tos se desenr desenrola olam m numa numa se!uIncia onírica, sem obedecer s cate(orias de tem"o e es"açoS os "ersona(ens são ima(en ima(enss simb# simb#lic licas, as, ar!uet ar!uetí"ic í"icas, as, delíri delírios os do narrad narradorS orS o mtodo mtodo de com"os com"osiçã ição o arbitr.rio, an.r!uico, "o"% Por isso, de/inir o livro como uma ?e"o"eia@, como /ez o autor, mais uma met./ora% ;m /lu$o arrebatado a/irma a liberdade da criação acima de todas as leis, normas, cate(orias, h.bitos, e$"ectativas ou o !ue /or% /or% Em /ace das estticas liter.rias srias "revalecentes na "oca, como a de eor( Lu.cs, 7anAmérica 7anAmérica re"resentava, re"resentava, "ortanto, "ortanto, uma ru"tura chocante, chocante, escandalosa% escandalosa% 3ão narrava nem descrevia nada, se(undo os "rincí"ios luacsianos, l uacsianos, "or e$em"lo% Giolentava o bom (osto e o bom senso>
-< Carlos Ponti arrancou as calças, diri(iu as n.de(as "e!uenas e redondas e lançou um "otente :ato de merda "ara cima% 'orrava merda lí!uida, es(uichando "ara os lados e a multidão es"remida na Bolsa de Galores, corria%
4 "rimeiro "onto de re/erIncia o =urrealismo% Mas essa sucessão de ima(ens biza bizarr rras as tem tem meno menoss a ver ver com com a escr escrita ita auto autom. m.titica ca,, indi indica cativ tiva a do inco incons nsci cien ente te,, "reconizada "elos surrealistas, do !ue com a e$"eriIncia "sicodlica, uma aventura sem norte da mente audaciosa dos :ovens dos sessenta% Em al(uns trechos, lembra uma via(em de .cido .cido lisr(ico% N, a/inal de contas, contas, uma obra obra da contracultura contracultura !ue, como tal, tal, /oi /oi admi admira rada da,, criti critica cada da,, amad amada a e miti miti/ic /icad ada% a% =ua =ua vinc vincul ulaç ação ão ao es"í es"íri rito to rebe rebelde lde e contestador dos sessenta ostensiva% Mas suas raízes vão mais /undo>
nuvem nuvem de borboletas borboletas coloridas coloridas zumbia e eu continuava continuava atravessando atravessando a"ressado a"ressado a in/inita nuvem colorida de borboletas !ue se a(itavam voando em todos os sentidos, e batia com as mãos e os "s nas minOsculas borboletas azuis, amarelas, vermelhas, verdesS e as borbo borbolet letas as batia batiam m as asas asas trans" trans"are arente ntess e colori coloridas das e voavam voavam desord desorden enada adamen mente te chocandoJse umas com as outras e contra o meu cor"o%
4 se( se(undo undo "onto nto de re/e re/erI rIn ncia cia a lite litera ratu tura ra (eat % Como Como nota nota Caet Caetan ano, o, 7anAmérica vem 7anAmérica vem do "ioneiro Deus da 0$u!a e da "orte 1-2Q de 'or(e Mautner% Mas vem tambm da ?"rosa es"ont9nea@ de 'ac Kerouac, ins"irada "ela im"rovisação dos mOsicos mOsicos de :azz% :azz% com"osição com"osição de 7anAmérica "arece 7anAmérica "arece um arran:o escrito, or(anizado, de um im"roviso an.r!uico, maneira do 'ree ja22 de de 4rnette Coleman, rchie =he"" ou lbert 7ler% 7ler% N verdade !ue conserva disci"linadamente a sinta$e do su:eito, "redicado e ob:eto, mas com uma desconcertante dicção in/antil, tatibitate, !uase dadaísta% 3ão a"enas o "ronome ?eu@ !ue obsessivamente re"etido, no começo de suas /rases, como tambm observado no "re/.cio de Caetano% 4 su:eito de todas elas, !ual!uer su:eito, sem"re teimosamente re"etido% Lido ho:e, o estilo de 7anAmérica continua sur"reendente% sur"reendente% "arentemente tosco, 7anAmérica continua at canhestro canhestro leitura leitura desatenta desatenta,, esse estilo esconde esconde uma secreta so/isticação so/isticação !ue vai /icando cada vez mais evidente medida !ue o livro lido% construção des"retensiosa
-* das /rases e dos ca"ítulos, !ue i(nora o recurso de abrir novos "ar.(ra/os, conduz a um ?crescendo@ lírico avassalador% habilidade com !ue 'os (ri""ino /az isso de admirar% rtistas sutis tIm recursos desse ti"o> lembra a instrução dada "or Miles avis "ara o solo de 'ohn McLau(hlin em Fo A$ead Ko$n, Ko$n , durante a (ravação do .lbum +ig -un% -un% ?Do!ue ?Do!ue como se vocI não soubesse soubesse tocar@, disseJlhe Miles% Para McLau(hlin F um e$ímio e$ímio (uitarr (uitarrist ista a J saber saber tocar /.cilS /.cilS tocar tocar como como se não soubess soubesse e era um desa/io desa/io artístico !ue ele, ali.s, su"erou com brilhantismo% N "reciso ouvir "ara crer% Em 7anAmérica, 7anAmérica, 'os (ri""ino tambm escreve como se não soubesse escrever% 3ele, o "rocedimen "rocedimento to audacioso audacioso descobriu descobriu uma /onte sur"reendente sur"reendente de so/isticaç so/isticação ão estilística% N "reciso ler "ara crer% dicção de suas /rases, soando como se "ertencesse a uma redação de criança, evoca, contudo, um lirismo cada vez mais "oderoso e envolvente% Entre outros indescritíveis momentos, o narrador anTnimo nos leva a uma /ilma(em num estOdio cinemato(r./ico de 6oll75ood em sua "oca .urea e a"resenta seus "ersona(ens "rinci"ais F Maril7n Monroe, Burt Lancaster, Marlon Brando, 6ar"o Mar$, 'oe iMa((io, entre outros% e"ois, envolveJnos numa (uerrilha latinoJamericana com a "resença de Che uevara% Mostra uma dis"uta rabelaisiana entre dois (randes ca"italistas F iMa((io e Carlo Ponti F, descreve o "arto /ant.stico de Maril7n Monroe e nos conduz aos a"ote#ticos ca"ítulos /inais, num delírio de ima(ens !ue, a certa altura, che(a a lembrar a cl.ssica descrição do cor"o c#smico do =enhor Krishna, no +ag$a!ad Fita, Fita, "ara terminar num verdadeiro a"ocali"se>
Maril7n Monroe a(achou sobre os :oelhos, abriu as "ernas e lançou um horrível lamento, e de sua va(ina vermelha esca"ou em (randes hordas o e$rcito de /etos% multidão minOscula de /etos abandonou o Otero de Maril7n Monroe armada de lanças e es"adas%
E tudo, naturalmente, não "assa de um :o(o% 'os (ri""ino, !ue Ro(rio uarte considera ?o homem mais inteli(ente@ !ue ele :. conheceu, :o(a, brinca% 4 senso lOdico de 7anAmérica 7anAmérica irresistível, e /oi ele, sem dOvida, o res"ons.vel "ela atração !ue o livro e$erceu e$erceu sobre os :ovens :ovens dos sessenta, sessenta, envolvido envolvidoss na contracultura% contracultura% realidade realidade lila, lila, :o(o c#smico, como a/irmam os hinduístas% hinduístas%
- aura de 7anAmérica merecida% Literariamente, o livro uma (ema% =ua densidade artística não deve nada a outras obras not.veis !ue sur(iram no Brasil em 1-8%
R!;%! D-'$+ K T!?%&'!* 4 maior lançamento editorial brasileiro, em bastante tem"o, o livro de Ro(rio uarte, ele com um (ru"o de "sicotera"eutasW Ele sem"re /oi tido como doido demais%
-8 Ro(rio e eu estivemos :untos em trIs "ro:etos /rustrados de /azer uma revista !ue desse conta do !ue aconteceu com a cultura brasileira a "artir dos anos sessenta% 4 "rimeiro /oi um tabloide semanal chamado -lor do "al , do !ual eu era a eminIncia "arda e ele, naturalmente, o diretor de arte% Entre suas ideias mais audaciosas estava a "ossível substituição dos linoti"istas "or calí(ra/os ao estilo medieval% =aíram cinco nOmeros, (raças a =er(io Cabral o "aiQ e uma "romessa /eita numa cela de um !uartel da Gila Militar% 4 se(undo "ro:eto era mais audacioso% revista se chamaria Jaos, com naturalmente, con/orme /azia !uestão o seu "rinci"al animador, 'or(e Mautner% Ro(rio /ez um lo(oti"o e um "ro:eto (r./ico, ambos lindos% cabou não saindo, a"esar do a"oio do "r#"rio Caetano Geloso% 4 terceiro "ro:eto, !ue tambm não saiu, /oi uma ideia minha, uma revista !ue deveria se chamar Além Disso%
-+ !ual ele sustenta o status esttico dessa arte com"rometida com o uso e a "r.tica% Ro(rio a/irma abertamente !ue não h. ?mais ne$o em /alar de ori(inal como condição esttica@ :. !ue, em nosso tem"o, ?o "rocesso de ideação substitui o de manu/atura@S não h., "ortanto, di/erença nítida entre arte e ob:eto de consumo% inalmente, a Oltima "arte,
essIncia do Dro"icalismo era um dese:o amoroso de modernidade "ara o Brasil% %%%Q oi um momento de I$tase, de criatividade real e !ue alimentou e alimenta at ho:e este "aís% %%%Q Era a "r#"ria inteli(Incia brasileira se mani/estando, num momento de consciIncia, de lucidez e de "ai$ão "or esse "aís% %%%Q Auando eu /alo de Dro"icalismo, sem"re di(o !ue não um movimento, a "r#"ria arte brasileira%
Como sur(iu esse movimentoU Auem melhor deve saber Ro(rio% ?3ão se es!ueça !ue "or tr.s de todos n#s e$iste Ro(rio uarte@ F disse lauber a Caetano, durante um encontro dos dois, na Es"anha% 3uma entrevista recente 2))2Q, "ublicada em seu livro, Ro(rio con/irma ao entrevistador 3arlan Mattos, !ue a clula mater da Dro"ic.lia sur(iu de uma conversa tele/Tnica entre ele e Caetano% Entretanto, embora /undamental na "r#"ria conce"ção do movimento, ele se manteve relativamente a/astado de seu desenvolvimento atravs da mOsica "o"ular e de sua de"endIncia mídia de massa% =e(undo suas "r#"rias "alavras, a "reocu"ação de Ro(rio era ?não ser absorvido, não ser "asteurizado, não ser enlatado@% Ro(rio esteve "resente na "r#"ria ori(em das "rinci"ais mani/estaçHes tro"icalistas% N dele o /amoso cartaz de eus e o iabo na Derra do =ol ?(ostei do /ilme !ue vocI /ez "ara o meu cartaz@, disse "ara o lauber RochaQ e da ca"a do "rimeiro ele"I de Caetano%
-Por isso, ainda ho:e, "ara Ro(rio uarte, a verdade ?Dro"ic.lia@ ainda est. "ara ser criada% Ele a chama de ?Dro"ic.lia radical@, denuncia sua /alta de es"aço, e a"onta seus nomes "rinci"ais em trIs mortos> o cineasta lauber Rocha, o com"ositor Dor!uato 3eto e o artista "l.stico 6lio 4iticica% 4s trIs tiveram /inais tr.(icos> lauber morreu de modo sObito, ines"erado, de"ois de seu Oltimo /ilmeS Dor!uato suicidouJseS 6lio /oi destruído "ela cocaína% esses nomes de "onta, Ro(rio acrescenta a do escritor 'os (ri""ino de Paula, ainda vivo, mas es!uizo/rInico e se(re(ado do convívio social% 4 /enTmeno crucial da hist#ria recente da cultura brasileira, "ara Ro(rio, o !ue ele chama de ?a morte do tro"icalismo@%
=ua "rinci"al (?te noire o em"res.rio
uilherme raO:o, res"onsabilizado "ela diluição da revolução tro"icalista, tendo e$ercido uma in/luIncia deletria sobre o :ovem Caetano Geloso% Ro(rio declara !ue ?e$istem dois Caetanos> um de carne e osso e meu ami(oS o outro um "roduto cultural, um Caetano !ue tem uma utilidade cultural altamente ne/asta em v.rias coisas@% E, de"ois de ver um disco de Caetano s# de mOsicas suas usadas em telenovelas, a"elidouJo de ?Caeta 3oveloso%%%@% Contudo, "ara ele, o assunto srio% =e(undo Ro(rio, o tro"icalismo s# tem sentido como uma mani/estação de van(uarda, tanto no "lano esttico !uanto num "lano mais (eral do "ensamento% massi/icação , em si, vil% Con/essa Ro(rio>
Eu des"rezei a mídia% Por isso, ho:e, tenho o lu(ar !ue eu tenho na hist#ria F e muito merecido "or!ue eu ca(uei "ara a o"inião "Oblica% Dinha um ditado !ue dizia> ?Ca(o "ara a sociedade e lim"o a bunda com a o"inião "Oblica@%
Essa "ostura de Ro(rio tem a ver com a sua maneira de ver o mundo e, "rinci"almente, com sua busca es"iritual% sucessão de "risão e internamentos "si!ui.tricos, com suas "r.ticas de tortura, num caso, e de "rocedimentos tera"Iuticos, nos outros, constituíram, "ara Ro(rio, con/orme declara te$tualmente em seu livro, o seu ?"rocesso inici.tico@% Gindo da visão mar$ista, comum em sua (eração, "ara o horizonte ontol#(ico ou meta/ísico, ele se envolveu com a Deoso/ia, "rinci"almente na
1)) sua variante brasileira, a EubioseS de"ois, dedicouJse meditação, num mosteiro budistaS e /inalmente "assou a "artici"ar do movimento hinduísta, vdico, dos 6are Krishna% E che(amos, a!ui, ao limite deliberado naturalmente desse
CB%*$!?B+ D-)) + ' T!?%&"%'
Auando, ainda nos tem"os de estudante, visitava seu "ro/essor de 6ist#ria da mrica Latina, o americano Christo"her unn, da Dulane ;niversit7, ouviu o disco 7anis et 0ircenses, o hist#rico mani/esto do movimento tro"icalista liderado "or Caetano Geloso e ilberto il% e$"eriIncia mudou a sua vida% Ele resolveu estudar "ortu(uIs, a hist#ria da cultura brasileira, e acabou /azendo seu doutorado com uma dissertação sobre <$e 1elics o' +ra2ilM "odernit% and =ationalit% in t$e
Conheci a mOsica brasileira, como tantos americanos, "ela bossa nova% 4s "rimeiros discos !ue ouvi /oram de 'oão ilberto o de ca"a branca, de 1-8&, !ue considero o re/inamento m.$imo da bossa novaQ e o de Dom e Elis% Meu "ro/essor (ostava "articularmente de Chico Buar!ue% 3o /inal dos anos +), "assei um ano na Bahia e a mOsica local blocos a/ro, candombl, sambaJre((ae, etc%, antes at do sur(imento do $ Music /ez minha cabeça% Minha "redileção era "ela mOsica de raiz% Me interessei tambm "ela mOsica nordestina Elomar e "rinci"almente Yan(ai, me interessaram muito% e"ois, em =ão Paulo /ui con!uistado "ela mOsica de 6ermeto Paschoal e 0tamar ssunção% E, no Rio, "elos cl.ssicos, como 3oel Rosa%
1)1 Entretanto, unn con/essa !ue /icou im"ressionado com a visão abran(ente dos tro"icalistas na sua re/le$ão sobre a hist#ria da mOsica "o"ular brasileira e sua relação com a modernidade internacional na "oca da ditadura militar% =ua ambi(uidade atendia, se(undo ele, as necessidades estticas e "olíticas do momento, ca"tava os con/litos "olíticoJculturais e os "roblemas e$istenciais da!uela (eração, em "lena modernização conservadora% unn /icou tambm im"ressionado com os arran:os de Ro(rio u"rat e considera 7anis et 0ircenses um marco na hist#ria da mOsica "o"ular mundial% DrataJse de uma obra aberta !ue "ode ser entendida de di/erentes maneiras mas , acima de tudo, um mani/esto semelhante aos mani/estos de 4s5ald de ndrade, uma es"cie de ar!ueolo(ia da cultura brasileira% Considera o livro de Celso avaretto,
1)2 'imi 6endri$, entre outros% "ara a/irmar sua identidade como um ne(ro, rea/irmada, "osteriormente, atravs do reggae de Bob Marle7% 4 tem"o não trou$e s# sucesso e dinheiro "ara os tro"icalistas% Críticas azedas tambm sur(iram% Por e$em"lo> "er(untei a unn o !ue ele "ensa da o"inião de muitos a começar "elo "r#"rio 'Olio Meda(lia, tro"icalista de "rimeira hora e autor do arran:o de ?Dro"ic.lia@ se(undo as !uais os tro"icalistas, em "articular Caetano Geloso, teriam se entre(ue aos interesses comerciais da indOstria e, assim, "raticamente vendido a "r#"ria alma ao diabo% 4 de"oimento de unn merece ser considerado "or sua sensatez e e$atidão% Em 1-8 lembra unn , os maestros e com"ositores da van(uarda da mOsica erudita, o mencionado 'Olio Meda(lia, Ro(rio u"rat, ilberto Mendes, amiano Cozzella concluíram !ue a mOsica erudita de van(uarda, altamente intelectualizada, tinha che(ado a um beco sem saída, "elo menos no Brasil% 0n/luInciados "elos "oetas concretistas, sabidamente /ascinados "ela mídia de massa cio Pi(natari, inclusive, era um "ublicit.rio , acharam !ue a solução era trabalhar com a mOsica "o"ular% /inal de contas, não havia razHes "ara se /azer mOsica erudita num "aís !ue tinha a melhor mOsica "o"ular do mundo% Eles aderiram, assim, "ro"osta tro"icalista e criaram o som com !ue a"resentaram as "rimeiras cançHes do movimento% Essas e$"eriIncias /oram e$tremamente bemJsucedidas, mas che(aram a um /im numa /ase de radicalização da ditadura militar, com o e$ílio de Caetano e il em Londres% 3ada as se(uiu% 6ouve a"enas, na volta, o ?raç. zul@1-82Q, de Caetano, !ue me "arece ter sido a e$"eriIncia van(uardista /inalS de"ois, ele se virou "ara o mercado, embora, na minha o"inião, continua sendo de certa /orma van(uardista at ho:e% Mas, entre os mOsicos eruditos, houve "rovavelmente uma dolorosa desilusão% =entiramJse abandonados, solit.rios% 4 brilhante estilo de arran:os !ue haviam criado /oi es!uecido% N "or isso !ue ilberto Mendes escreve !ue mOsica erudita de van(uarda uma coisa e mOsica "o"ular outra% Para ele, ho:e, essas /ormas não "odem conver(ir numa terceira correnteS tem de /icar se"aradas% aí "ode ter vindo tambm a irritação de Meda(lia% contece, entretanto, !ue a Dro"ic.lia /ez duas con!uistas im"ortantes% "rimeira /oi esse encontro entre a mOsica "o"ular e erudita !ue "roduziu e/eitos belos e in/luentes% se(unda /oi o
1)& mercado% N "reciso reconhecer !ue /azer mOsica "o", vender discos, lidar com a indOstria /ez "arte da "r#"ria l#(ica da Dro"ic.lia% Eu não concordo com essa cobrança /eita "or Meda(lia e outros% 4 "r#"rio "ro:eto ori(inal da Dro"ic.lia su"unha !ue seus artistas /ossem "ro/issionais da mOsica "o"ular%
E Dom ^U Crítico da mídia, ele não recebeu dela a mesma consa(ração dedicada aos outros tro"icalistasU N "reciso diz unn considerar tambm o caso de Dom ^% Eu o admiro muito% Ele nunca abandonou a linha e$"erimentalista, van(uardista% Passou, talvez "or isso, !uinze anos no ostracismo% Mas, redescoberto "or avid B7rne, voltou em (rande estilo, nos anos -), "ara um "Oblico novo, mais :ovem, tanto no Brasil !uanto no e$terior, !ue (ostou de sua mOsica, uma mistura "articular de elementos da "oesia concreta, mOsica de van(uarda, samba, "o" internacional, entre outros% Ele tem ho:e cerca de * anos de idade e continua /iel a sua esttica% E, a(ora, tambm /az sucesso "o"ular% unn a/irma !ue a Dro"ic.lia teve uma "resença constante e "ro/unda na MPB !ue se /ez nas Oltimas dcadas% Ele conta como se interessou "elo Man(ue +eat e !ue admira "articularmente a mOsica de Chico =cience% ?;m (Inio@, diz ele% ?Essa mistura de maracatu, (uitarras "esadas, /un não tem uma in/luIncia no seu som ori(inal, mas a tem no seu "r#"rio es"írito@ sustenta unn% ostaria !ue meu livro /osse traduzido "ara o es"anhol% Dro"ic.lia es"ecialmente im"ortante no conte$to latinoJamericano% 3ão h. nada nos outros "aíses !ue "ossa se com"arar a ela% +rutalit% Farden :. /oi lançado, não s# nos Estados ;nidos, mas tambm no 'a"ão e unn es"era, "ara breve, uma tradução brasileira% Ele revela !ue trabalhou muito com te$tos de críticos brasileiros como Roberto =ch5artz e =ilviano =antia(o% iz acreditar, "ortanto, !ue as "rinci"ais colocaçHes do livro estão atentas ao conte$to local embora se:am /eitas numa "ers"ectiva (lobal% unn observa !ue a (lobalização não um "rocesso novo e !ue os bons artistas brasileiros, "rinci"almente os mOsicos, sabem atender muito bem a e$i(Incias tanto universais !uanto re(ionais%
1)< Essa "olaridade entre o local e o (lobal tema !ue mereceu bastante sua atenção% 4 livro +ra2ilian 7o&ular "usic and Flo(ali2ation 2))1Q, !ue ele or(anizou com Charles Perrone, reOne estudos de brasileiros e norteJamericanos sobre a !uestão da (lobalização e da tendIncia a uma ;orld music % 3osso ob:etivo era e$aminar a mOsica brasileira no conte$to da (lobalização% 6. um "rocesso local conectado com outro, internacional, com uma variedade enorme de estticas diversas% 3ão acredito !ue, nestas circunst9ncias, a cultura brasileira "ossa ser "re:udicada "elo im"erialismo cultural norteJamericano, "or e$em"lo% Em outros "aíses isso "ode acontecer, mas não no Brasil% cultura brasileira tão vi(orosa !ue o/erece uma resistIncia natural, es"ont9nea% Por isso, a tradição nacional, a!ui, valorizada "elos :ovens no seu "r#"rio di.lo(o com os desenvolvimentos internacionais% lição /undamental da antro"o/a(ia continua v.lida% Christo"her unn um cara sim".tico !ue "arece ter uma li(ação no mínimo .Irmica com o Brasil% Embora tenha a"rendido "ortu(uIs :. estudante, /ala nossa lín(ua !uase sem sota!ue nenhum e seu vocabul.rio não "arece ter lacunas% ComunicaJse atravs de e$"ressHes como ?/ez minha cabeça@, ?coisas le(ais@, ?eu curto@ com a naturalidade e a "ro"riedade de um nativo% 3o momento, en!uanto es"era /echar contrato em breve "ara a tradução de +rutalit% Farden "ara o "ortu(uIs, trabalha um novo volume sobre a contracultura no Brasil%
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=em"re !ue uma tecnolo(ia ou se:a, um /enTmeno $ig$ tec$, como dizem os americanos introduzida na sociedade, deve haver uma res"osta humana !ue a e!uilibre !uer dizer, uma res"osta $ig$ touc$ ou o dese!uilíbrio "rovocado "ela "rimeira tornaJse insu"ort.vel% Auanto mais sur(em mani/estaçHes $ig$ tec$, mais a"arecem tambm com"ensaçHes de ti"o $ig$ touc$% s invasHes mais "oderosas de $ig$ tec$ como a televisão, o com"utador, o laser, a internet são contem"or9neas do interesse "elo "ensamento oriental, io(a, ^en, saOde, reli(ião, etc% tudo muito $ig$ touc$% 0sso não /oi "or acaso%
1)* "r#"ria o"eração "r.tica de nossa realidade, de modo (eral, se(ue o modelo $ig$ tec$, o !ue si(ni/ica !ue ela tambm e$i(e uma contra"artida de natureza $ig$ touc$% 4 ministrio do (overno Lula /oi escolhido se(undo os "ar9metros contem"or9neos de ti"o $ig$ tec$% =ão tcnicos, "olíticos, em"res.rios e burocratas numa com"osição racional !ue visa a e/iciIncia o"eracional e a viabilidade "olítica% /ina sensibilidade do "residente, entretanto, se revelou na escolha de um nome mais $ig$ touc$ do !ue $ig$ tec$, um artista, "ara o Ministrio da Cultura% Eu o conheço h. muito tem"o e o entrevistei al(umas vezes% N /.cil entrevistar il, ele (osta de /alar% GocI d. o tema e dei$a a bola com ele% Por outro lado, ele tambm sabe ouvir> seu site, "or e$em"lo, re"roduz uma entrevista !ue /ez com Ro(rio uarte durante a !ual ele, sur"reendentemente, !uase não /ala, Ro(rio !uem /ala o tem"o todo% Comi(o, em (eral, ele /ala bastante% il não um artista comum% necessidade de "artici"ação total em seu tem"o a"ro$imouJo de muitos interesses, inclusive a "olítica% Embora "re/ira a mOsica a tudo o mais e, "ortanto, o reino da intuição "ura, sem racionalização, o administrador de em"resas /ormado, ilberto il, tambm se move com desenvoltura em terrenos mais mundanos, mais racionais, como o !ue mencionei a "olítica% Membro do Partido Gerde, ele /oi vereador em =alvador, Bahia, e secret.rio de cultura da!uele estado% N bem verdade !ue a carreira /oi curta% Mas isso aconteceu, com certeza, "or!ue ele não estava no lu(ar conveniente e`ou na hora ade!uada% (ora "ode ser di/erente% Pois il "olivalente% ?=eria im"ossível "erse(uir todas as (amas e temas de sua imensa, cicl#"ica e :. mitol#(ica obra@, a/irma 'or(e Mautner, sobre o artista ilberto il% crescenta ainda !ue ele ?iniciador de !uase tudo !ue se relacione (rande cultura nascente nacional@ e o elo(ia como nosso ?m.$imo re"resentante da liberdade@% Mautner tem l. suas razHes% il !uis ca"tar seu tem"o em tudo "olítica e misticismo, cultura ne(ra e som eletrTnico, ritmos "o"ulares e sutileza "otica%%% s tendIncias mais "oderosas de nosso tem"o são !uase todas usadas como material bruto de sua arte% Em conse![Incia, im"ossível dar conta de tudo, em relação a il% Por isso, a!ui não vamos nem tentar% N necess.rio se contentar com um "er/il des"retensioso
1) !ue, contudo, de al(um modo, consi(a nos a"ro$imar mais um "ouco da "ersonalidade ím"ar de nosso atual Ministro da Cultura% il /ilho de mdico e "ro/essora "rim.ria% 3asceu em =alvador, a 2- de :unho de 1-<2% Passou a in/9ncia em 0tuaçu, no interior da Bahia% os trIs anos de idade :. havia resolvido !ue ia ser mOsico e tocava tambor% Mas cresceu ouvindo Luiz onza(a "elos altoJ/alantes de sua cidadezinha e acabou resolvendo ser tambm san/oneiro% Auando voltou "ara =alvador, /oi "ara a cademia Re(ina a"render a tocar ?o rei dos instrumentos, no 3ordeste@ a san/ona% Ele :. ouvira a cantoria das /eiras, os sucessos de rancisco lves, 4rlando =ilva e orival Ca7mmi mas, a(ora, em =alvador, o /uturo administrador de em"resas ouvia um som novo, com aroto, 'ohnn7 l/, Lucio lves e "rinci"almente 'oão ilberto, com sua batida di/erente no violão% Era a bossa nova% il /icou encantado e "assou da san/ona "ara o violão% Eu o vi e ouviQ, "ela "rimeira vez, na televisão, em =alvador, no início dos anos ), tocando violão e cantando como 'oão ilberto% DratavaJse de um novo artista baiano de Bossa 3ova !ue se distin(uia "elo talento ine(.vel% 4 violão, 'oão e a bossa o a"ro$imaram de Caetano Geloso e, em "ouco tem"o, os dois :unto a Maria Beth9nia e al Costa, /icavam conhecidos do "Oblico baiano "or seus sho5s, no Deatro Gila Gelha% eles, !uem "rimeiro veio "ara o Rio de 'aneiro /oi Beth9nia, convocada "ara substituir 3ara Leão no sho5 4"iniãoS mas os outros vieram atr.s% il /oi "ara =ão Paulo% i"lomado em dministração de Em"resas, /oi contratado "ela ess7JLever% oi morar com a /amília no bairro o"er.rio de Cidade Gar(as, na "eri/eria% Mas cantava no Bar da Bossinha, "ois o ob:etivo do seu coração ainda era a mOsica% Com o lançamento de Roda e Procissão e, em se(uida, do LP Louvação, conheceu seus "rimeiros sucessos% Como o resto de sua (eração de artistas, il descobria o mundo atravs da "olítica, o ideal esttico era submetido a uma e$i(Incia tica "or um mundo mais :usto e uma vida mais humana% 4 tem"o da :uventude sem"re mítico e com il não /oi di/erente% Em 1-8, ele abandona o em"re(o, en!uanto uma onda de novidades culturais assola o "aís% lauber Rocha lança Derra em DranseS 'os Celso Martinez Correa encena 4 Rei da Gela, de
1)8 4s5ald de ndradeS 6lio 4iticica abre sua e$"osição Dro"ic.lia% Com Caetano, il lança, então, um movimento artístico !ue /aria hist#ria> o clebre Dro"icalismo% 3o estival de MPB na DG Record, o ami(o canta Alegria, Alegria e ele o seu Domingo no 7arque% N novo, di/erente, era o !ue /altava% EncontreiJo nessa "oca em =ão Paulo% 'unto com al(uns ami(os, /omos a"anh.J lo no hotel "ara irmos a uma /esta% Ele estava "ronto "ara sair, vestido com uma /ant.stica tOnica a/ricana, com os devidos adereços% 4 ins#lito loo. a/ro era mesmo de chamar a atenção, o !ue aconteceu !uando (anhamos a rua "ara "e(ar um t.$i% il estava ale(re, animado, "ois (randes coisas, novas e im"ortantes, estavam começando a acontecer e ele :. as sentia% E, realmente, elas não se /izeram es"erar% Em 1-+, e$"lode uma verdadeira revolução cultural% =aem os discos tro"icalistas o de il, o de Caetano, o 7anis et 0ircenses%%% , os dois baianos cantam nos /estivais cançHes contestadoras como Quest3o de Ordem e P 7roi(ido 7roi(ir e são vaiados "or :ovens re"resentantes da es!uerda tradicional% 4 con/ronto claro% 4 /undamento da rebelião tro"icalista era mais esttico do !ue "olítico, "ois havia a necessidade de uma arte "o"ular de "onta, de car.ter internacionalista% Contudo o Dro"icalismo não /oi a"enas uma esttica de van(uardaS o/ereceu tambm uma nova visão da chamada ?realidade brasileira@, sem as limitaçHes ideol#(icas tradicionais% il declarou, lembrando o Dro"icalismo> #rmica, azeiteJdeJdendI, a!uela tra(dia dos tr#"icos os ?tristes tr#"icos@, como diria LviJ=trauss% in/luIncia estran(eira, ao mesmo tem"o colonizadora e redentora, o bem e o mal :untos, unidos na mesma clulaJmater de tudo o !ue nascia no Brasil% 4 Dro"icalismo era o descaminho% (ora, alm das in/luIncias "rimais de Luiz onza(a e 'oão ilberto, im"HemJse tambm as dos Beatles, Rollin( =tones e 'imi 6endri$% 4 encontro com a mOsica "o" internacional antro"o/.(ico e emanci"ador, um herdeiro direto do Movimento Modernista de 1-22 e il sur(e na ca"a de seu se(undo LP vestindo o /ardão da cademia Brasileira de Letras% 6avia tambm a contracultura% 3um sho5 na boate =ucata, no Rio, "ouco antes do e$ílio, esse novo vis dos tro"icalistas :. havia se mani/estado e, "ouco de"ois, as
1)+ e$"eriIncias radicais da "risão e do e$ílio haveriam de re/orçar os liames com a contestação e$istencialmente radical da contracultura% il , a(ora, um artista cu:o (rande tema, sub:acente em todo o seu trabalho, a e$"ansão da consciIncia% crítica libert.ria cultura do 4cidente desemboca /inalmente numa meditação de natureza mística, enraizada nos caminhos de libertação orientais e numa visão sa(rada real, encontrada em tantas das culturas consideradas ?"rimitivas@% 3essa "oca, il /az macrobi#tica ele era (ordinho e /ica ma(rinho , envolveJse com a Deoso/ia, tornaJse discí"ulo do mOsico e "ensador esotrico Valter =meta, inventor de instrumentos musicais, e busca novos níveis da consciIncia% o mesmo tem"o, os estudantes saem s ruas "ara "rotestar contra a ditadura militar e são re"rimidos% 1& de dezembro de 1-+, o (overno bai$a o /amoso to 0nstitucional n *% 3o /inal do ano, il e Caetano são "resos, /icam trIs meses encarcerados, de"ois são con/inados em =alvador e, /inalmente, enviados "ara o e$ílio em Londres% il se des"ede do Brasil com Aquele A(raço% PermitamJme um adendo% Dambm estive "reso no mesmo lu(ar onde /icaram il e Caetano, a Bri(ada eroterrestre, na Gila Militar% Conto isso sem constran(imento "or!ue, ho:e, em dia, at "ara ser ministro, o melhor :. ter sido "reso% Conversei com os soldados e eles disseram !ue os com"ortamentos dos dois encarcerados /amosos eram totalmente di/erentes um do outro% Caetano era caladão, "arecia mesmo de"rimido com sua situação% il, "orm, arran:ou lo(o um violão e "assava as noites tocando e cantando% 6. "assarinhos !ue de/inham na (aiola e morrem se não /orem libertados% Mas h. tambm os !ue continuam cantando, a"esar de tudo% e$"eriIncia euro"eia a"ro$imou il ainda mais da contracultura, es"ecialmente nos seus as"ectos mais m.(icos, doutrin.rios e e$istenciais% nova ima(em "Oblica dele era a de um ma(o, um velho s.bio, um (uru% 4 "ro"#sito de il, "orm, era estritamente artístico, a sua maneira "essoal de buscar a inte(ridade re"resentada, "or e$em"lo, "or 'oão ilberto% 4s artistas são as antenas da raça esta uma crença !ue il traz desde a :uventude% N ela !ue se mani/esta no seu com"romisso com a cultura :ovem esboçada nos anos 8)% e$"eriIncia mística acabou sendo a mais valorizada na nova "ers"ectiva !ue sur(ia e os discos de il "assam a re/letiJla em cançHes como P &reciso a&render a s4 ser e Se eu quiser 'alar com Deus, cu:o tema e$"lícito a mutação "sicol#(ica, ou
1)metanoia% E um dos discos da "oca, 1e'a2enda, 1e'a2enda, de 1-8*, e$"ressa o est.(io maduro, a"arentemente /inal, da busca es"iritual de il, il , com uma sim"licidade di(na do ^en% E nos anos +), ele :. o chamado su"erstar% 4 mercado !ue ele iria invocar, num con/ronto com Paulinho da Giola :. nos anos -) "arece "assar, então, ao "rimeiro "lano de suas "reocu"açHes% Embora se torne ob:eto das críticas im"lac.veis de um 'ulio Meda(lia, "or e$em"lo, a nova orientação recebe a a"rovação do "Oblico% 3os -), o novo ambiente tecnol#(ico su"er $ig$ tec$, tec$, de um modo !ue nunca se havia visto antes mani/esta sua "resença irre"rimível no universo da mOsica de il% Mas o seu instinto "ara o $ig$ touc$ "ermanece, touc$ "ermanece, con/orme se "ode com"rovar em discos como 7ara(olicamarI, Un&lugged, Quanta e, a(ora, Ja%a =Fan Da%a% Da%a% il su"er $ig$ touc$% touc$% inda não o encontrei de"ois !ue /oi nomeado "ara o ministrio% Mas, h. coisa de meses, eu o encontrei na sede de sua 43, na estrada !ue leva da .vea, bairro chi!ue e tradicional, at a Rocinha, uma (rande concentração da "o"ulação mais "obre da cidade do Rio de 'aneiro% N um casarão es"açoso, con/ort.vel, cheio de luz% ui l. "ara /aze /azerr uma uma entre entrevi vist sta a e il il sur( sur(iu, iu, sim" sim".t .tic ico, o, solíc solícito ito,, suav suave% e% 0m"re 0m"ress ssio iona nava va "ela "ela tran!uilidade, um homem em "az% i!uei "ensando !ue, a/inal de contas, ele tambm ho:e um tradicional "atriarca baiano, com a mulher ao lado, al(umas e$Jmulheres "or "erto e /ilhos, muitos /ilhos% lm disso, il tem o dom de con!uistar con!uistar os ami(os !ue !uer% !uer%
C'+$')! V+"!*! O -)(! )! ; &B'$!H
Caetano Geloso /az "arte de uma (eração !ue se sentiu bem atraída "elos mitos de uma maneira (eral% Com bons motivos, ali.s% =e(undo estudiosos do assunto, como C%% 'un(, o mito não uma hist#ria da carochinha (ratuitaS "elo contr.rio, mesmo a mani mani/e /est staç ação ão mais mais "ro/ "ro/un unda da e reve revela lado dora ra de uma uma cult cultur ura% a% Para Para 'un( 'un(,, os mito mitoss materializam o inconsciente coletivo sub:acente a todas as culturas, em todos os lu(ares
11) e todas as "ocas% (eração de Caetano se interessou "or mitos euro"eus, indí(enas, indianos, tibetanos, a/ricanos, chineses, :a"oneses e orientais de uma maneira (eral% 4 "r#"rio Caetano inclinouJse "ara um mito "ortu(uIs F o sebastianismo !ue, ins"irado na "ersonalidade ori(inal do Rei % =ebastião, "revI a sua volta triun/al e um /uturo (lorioso "ara Portu(al como "rinci"al /onte de cultura do "laneta% 4 sebastianismo /oi "ro"a(ado na Bahia, na :uventude de Caetano, "elo "ro/essor "ortu(uIs (ostinho (ostinho da =ilva, !ue /u(iu do salazarismo e se re/u(iou na universidade local, in/luInciando :ovens intelectuais e artistas baianos, entre os !uais o "r#"rio Caetano e o cineasta lauber Rocha% =eu "rinci"al ins"irador era o "oeta ernando Pessoa, !ue tinha um envolvimento not#rio com as tradiçHes esotricas do 4cidente e, nessa "ers"ectiva, inscreve Portu(al e o rei % =ebastião% 4 sebastianismo de Pessoa envolvia uma li(ação "ro/unda com a 6ist#ria, a aura e o destino de Portu(alS o de Caetano vislumbra um Brasil su"erior !ue, diz ele, ?a 6ist#ria nos su(ere !ue se:amos@% visão da hist#ria e da "olítica em nosso "aís, a conce"ção de uma arte brasileira de van(uarda, em "articular da sua mOsica "o"ular mas tambm das outras artes, o com"romisso sa(rado com nossa ori(inalidade e nossa criatividade !ue se desdobram em toda a tra:et#ria de Caetano, durante as Oltimas !uatro ou cinco dcadas, nascem dessa / mítica em nosso /uturo% 4 sebastianismo de Caetano uma versão "r#"ria do ori(inal, na !ual o Brasil substitui Portu(al como, em suas "alavras te$tuais, ?o "aís ut#"ico transJhist#rico !ue temos o dever de construir e !ue vive em n#s@% Como "ode /lorescer esse "rocesso, se(undo CaetanoU ;ma de suas crenças essenciais na "ers"ectiva de uma retomada da ?In/ase (recoJromana nas virtudes essenciais e sociais, em detrimento do /uror tecnol#(icoW@ Para Caetano, isso tem o sentido de levar o 4cidente de volta ao "r#"rio 4cidente, "ara /inalmente su"er.Jlo% tecnol tecnolo(i o(ia a uma criaç criação ão tardia tardia do 4ciden 4cidente te cu:a cu:a vi(Inc vi(Incia ia totali totalit.r t.ria, ia, !ue !ue estamo estamoss vivendo, s# "ode ser corri(ida "or uma retomada dos "r#"rios valores do 4cidente, em sua /onte (recoJromana ori(inal% 4 /undamento ideol#(ico de Caetano a radicalização do 4cidente, em seus "r#"rios termos% Este Este /und /undam amen ento to ideo ideol# l#(ic (ico o o res" res"on ons. s.ve vell /ina /inall das das "osi "osiçH çHes es "olít "olític icas as de Caetano, livres, via:antes, as vezes !uase tão contradit#rios !uanto as de lauber% "ers "ers"e "ect ctiv iva a "olí "olítitica ca,, ao cont contr. r.ri rio o de lau laube berr, !ue !ue "roc "rocur urav ava a um acor acordo do,, um
111 com"romisso, totalmente estranha aos ob:etivos socialistas de (rande "arte de seus com"anheiros de (eração% com"aração entre as di/erentes conce"çHes "olíticas dele e de Chico Buar!ue, "or e$em"lo, s# teria sentido se "artisse dessa consideração% 4s ob:etivos são di/erentes e eles determinam os meios em direçHes diver(entes, alm mesmo das di/erenças naturais, "sicol#(icas, "essoais, dos dois (randes artistas% 4 contraste entre Caetano e Chico rico e marcado "elo res"eito e a admiração !ue cada um dele deless nutr nutre e "elo "elo outr outro% o% tran trans/ s/or orma maçã ção o do mund mundo o no sent sentid ido o do soci social alis ismo mo racionalista, internacionalista e at "retensamente cientí/ica, na sua inter"retação da 6ist#ria de índole he(eliana% Em contraste, Caetano a/irma !ue ?sem"re considerei meus dese:os de mudar o mundo como sinal de um movimento interno da 6ist#ria do Brasil@% (rande (rande trans/ormaç trans/ormação ão determinad determinada a "ela dialtica dialtica interna interna da 6ist#ria do Brasil% Brasil% ação em curso a retomada retomada radical radical do 4cidente, 4cidente, desde desde suas ori(ens ori(ens (recoJromana (recoJromanas, s, "ara a sua su"eração% Mas seu ob:etivo "elo Brasil como "aís ut#"ico% ?3esse est.(io est. a minha loucura@, admite Caetano, naturalmente lembrando o Rei % =ebastião, considerado louco em seu tem"o% 3ão /oi "or acaso !ue, ainda em 1-8, Caetano, no tumultuado ambiente de /estival de mOsica em !ue a"resentou sua com"osição P 7roi(ido 7roi(ir , "ronunciou os lindos lindos versos versos de erna ernando ndo Pessoa Pessoa sobre o Rei % =ebast =ebastião ião,, em "ensagem "ensagem F ?Aue im"orta o areal e a morte e as desventuras`=e com eus me (uardeiU N o !ue eu me sonhei !ue eterno dura` N esse !ue re(ressarei@% lm de ser veículo "ara as "alavras de ernando Pessoa, P 7roi(ido 7roi(ir causou sensação e "olImica% 4s :ovens estudantes es!uerdistas da "oca identi/icaram a heresia do artista em relação aos seus ideais revolucion.rios, e o vaiaram a "lenos "ulmHes% com"anhado "elas (uitarras eltricas do (ru"o ar(entino +eat +o%s, +o%s, Caetano canta e discursa en/rentando com ardor leonino a vaia retumbante% s ideias de Caetano estão e$"ostas, de maneira clara e articulada, numa con/erIncia, "ronunciada no Museu de rte Moderna, do Rio de 'aneiro, em 1--& e recolhida recolhida no novo livro !ue ele est. lançando> lançando> O mundo n3o é c$ato% c$ato % o "onto de vista do "ensamento, o te$to mais esclarecedor do livro%
112 o contr.rio de Gerdade as colaboraçHes de Caetano "ara o seman.rio O 7asquim, nos anos 8), embora a"resentem uma unidade s#lida de "reocu"ação, estilo, es"írito, dis"osição "ara e$"erimentar !ue, "or si s#, recomendaria o seu a(ru"amento, são distribuídas "or erraz nas di/erentes "artes do livro% o"ção mais determinante "ara a e$"eriIncia do leitor com o livro /oi a de en/ileirar os te$tos no interior de cada uma das "artes, em ordem cronol#(ica inversa% ComeçaJse a ler os te$tos mais recentes e se avança no sentido dos mais anti(os e, "ortanto, do "assado% 4 resultado !ue o livro "ro(ride, em seus di/erentes momentos, de uma "ostura mais convencional, racionalista, !uase acadImica dos te$tos mais recentes "ara as aventuras libert.rias, tanto em /orma e conteOdo, a a!antgarde, a ousadia dos te$tos "roduzidos durante a vi(Incia da contracultura% ssim, tudo se "assa como se o leitor /osse conduzido, "ela mão de Caetano, numa via(em re(ressiva de volta ao /uturo, uto"ia, van(uarda, num movimento !ue lembra a reversão da 6ist#ria !ue 'ean Baudrillard sur"reende em nosso tem"o%
11& reversão se caracteriza "elo sur(imento de simulaçHes e simulacros !ue se a"resentam como e!uivalentes virtuais das açHes e ob:etos ori(inais% Essas simulaçHes e simulacros são tão mais /.ceis de constituir !uanto remotos seus modelosS "or isso, não temos simulaçHes e simulacros da contracultura da se(unda metade do sculo "assado% Mas virão inevitavelmente se o movimento a/irmativo, no sentido de 3ietzsche, da vida e do !ue Caetano chamaria de linha evolutiva, não /or retomado "ela consciIncia coletiva contem"or9nea% Certos intelectuais brasileiros, da (eração de Caetano F ou, no m.$imo, um "ou!uinho mais velhos F tem "rocurado "romover, nos Oltimos anos, uma es"cie de revisão crítica dos tem"os de sua :uventude, com o "ro"#sito ostensivo de denunci.Jla como, não a"enas rom9ntica, mas tambm como tola e vítima de in(enuidades im"erdo.veis% ;m deles, lembrando a si "r#"rio e de suas convicçHes nos anos ), declara !ue não e$iste nada "ior do !ue um :ovem tolo, evidentemente es!uecido de !ue e$iste sim, um velho tolo, o !ue ainda "ior% Essa ne(ação da "r#"ria e$"eriIncia vital, essa obstinação em ne(ar o "r#"rio "assado, re:eitar a "r#"ria :uventude e "roclamar seu arre"endimento, "arece ter virado moda entre anti(os incendi.rios !ue a(ora abraçam, como bombeiros, os ideais econTmicos do neoliberalismo, os ideais ticos do iluminismo e, na esteira deles, os velhos "reconceitos, o moralismo hi"#crita e, "ara usar a "alavra correta, a caretice mais rí(ida, num movimento reativo !ue seduz a mídia e convence :ovens ot.rios a!ui e ali% Caetano, a :ul(ar "or este livro, não "arece cair nessa triste ara"uca e$istencial% =eus te$tos mais recentes não e$ecram, desmentem ou desautorizam os velhos te$tos libert.rios% Reconhecem !ue ele "r#"rio mudou, ou amadureceu, mas não ensaiam nenhuma as"iração "or al(um e$"ur(o stalinista do "r#"rio "assado% 3um te$to de 1---, "or e$em"lo, ele res"onde a riano =uassuna, no !ual identi/ica um inimi(o do tro"icalismo, !ue utiliza a e$"ressão "arado$al de P &roi(ido &roi(ir "ara denunciar o imoralismo dos tro"icalistas !ue, se(uidores de tal lema, não "oderiam se!uer condenar, "or e$em"lo, um su:eito !ue saísse "or aí, ?atirando em travestis e homosse$uais@% Caetano sensatamente mostra !ue o "arado$o não "ode ser tomado ao " da letra "or!ue ? uma letra !ue emenda o " na cabeça e não "ara de (irarW@ Caetano tem razão% "olImica e$"ressão uma deliberada trans(ressão das leis da l#(ica /ormal, !ue lembra os "arado$os do "ensamento oriental ou mesmo brincadeiras ocidentais como desa/iar a l#(ica /ormal com :uízos como ?o !ue estou dizendo a(ora mentira@ e
11< "er(untar se esta /rase, uma ser"ente !ue devora a "r#"ria cauda, verdadeira ou mentirosa% com"reensão do "arado$o, alm das leis da l#(ica /ormal e mesmo das contradiçHes dialticas, /oi uma das intuiçHes mais a(udas da velha contracultura% 6o:e um dos /undamentos da observação de Baudrillard de !ue nosso tem"o não de uma dialtica totalizadora, !ue sintetize os o"ostos, mas um tem"o de e$tremismos radicais !ue se a/astam as "osiçHes o"ostas cada vez mais, uma da outra% erraz divide a se!uIncia dos escritos em "rosa de Caetano como resultado de trIs momentos /undamentais% divisão Otil, "elo menos "ara /ins did.ticos% 4 "rimeiro momento o da e$trema :uventude de Caetano, no !ual ele "arece dedicarJse "rinci"almente crítica de cinema, com ideias !ue não "arecem distin(uirJse muito das mais comuns de sua (eraçãoS em suma, ele a"oia o cinema de arte e contesta o comrcio% Mas tambm :. nesse momento !ue Caetano Geloso conhece a Bossa 3ova e muito es"ecialmente 'oão ilberto !ue, a"resentado como mestre e artista m.$imo, citado a cada "asso no cor"o do livro, !ue contm ainda uma inteli(ente an.lise de +im +om% "rinci"al contribuição te#rica desta /ase a de/esa da linha evolutiva da mOsica "o"ular brasileira, e$"osta ainda nos sessenta num arti(o seminal "ara a revista Rngulos, de =alvador, contra o "rinci"al anta(onista !ue era 'os Ramos Dinhorão% Este e outros o"ositores ou meros vilHes são en/rentados sem"re com /Oria leonina "or Caetano% 4 se(undo momento , ainda na :uventude, o do in(resso na idade adulta% Primeiro veio o tro"icalismo, com o cruzamento de in/luIncias !ue vinham da literatura dos irmãos Cam"os ao im"acto do roc dos sessenta, dos Beatles, 'anis 'o"lin e 'imi 6endri$% !ui, deve ser mencionada a an.lise !ue Caetano /az da evolução da mOsica "o"ular brasileira at a aventura tro"icalista !ue envolvia ?uma visão autode"reciativa de nossa vida cotidiana e do seu !uase nenhum valor no mundo@, ou se:a, uma visão ri(orosa dos obst.culos !ue se a"resentavam ao dese:ado advento de uma es"cie de Auinto 0m"rio brasileiro% Essas ".(inas /undamentais incluem tambm a mencionada con/erIncia no Museu de rte Moderna, em 1---, um documento !ue se destaca nesse material de Caetano% se(uir, vem a e$"eriIncia da contracultura, tal como Caetano a viveu, nos anos 8), e !ue se e$"ressa não s# nos te$tos mais conhecidos "ublicados no 7asquim mas em colaboraçHes a :ornais e revistas alternativos como Ger(o Encantado, +oca do 9n'erno,
11* 3esse momento, marcante a in/luIncia de al(uns astros da contracultura brasileira, como 'or(e Mautner, Ro(rio uarte e "rinci"almente 'os (ri""ino de Paula% Ensaísta convicto, ao contr.rio de seu cole(a e /iccionista contumaz Chico Buar!ue, Caetano elabora um te$to de "rosa de /icção F intitulado Saindo do centro F como um verdadeiro tributo a (ri""ino !ue, ali.s, "ersona(em im"ortante da narrativa% 3o seu terceiro momento, o da maturidade, Caetano busca se(urança no racionalismo e se "reocu"a com a su"eração de uma característica nacional ca"az de entravar o "rocesso da marcha "ara o "aís ut#"ico, !ue a /alta de com"etIncia, e/iciIncia e, numa "alavra, de "ro/issionalismo srio, o !ue im"ede a comunicação mais am"la de nossa indiscutível ori(inalidade e de nossa res"eit.vel criatividade% Caetano tenta "enetrar no mercado norteJamericano e "resta os devidos salamale!ues aos artistas brasileiros !ue /oram bemJsucedidos no em"reendimento, como Carmen Miranda e =r(io Mendes% 4 ob:etivo "assa a ser, não mais a aventura esttica, mas o de /ornecer "rodutos de !ualidade ao mercado internacional, de "re/erIncia% E$em"losU Caetano se re/ere a dois momentos F nada e$ce"cionais, se "oderia acrescentar, "ois sua carreira /oi certamente cheia deles F em !ue "odia (ravar o disco !ue !uisesse% 3os anos setenta, ainda vivendo o se(undo momento de sua tra:et#ria, /ez AraçI A2ul 1-82Q> mais recentemente, "orm, :. no seu terceiro momento, "re/eriu /azer -ina Estam&a 1--Q% =ão duas o"çHes !ue ilustram nitidamente as mudanças !ue e$"erimentou na "assa(em do tem"o% chamada "assa(em do tem"o nossa "r#"ria essIncia% coleta desses testemunhos do (rande Caetano, no momento em !ue in(ressa na chamada terceira idade, um documento essencial "ara a re/le$ão sobre a cultura brasileira neste momento em !ue os sinais de esta(nação desa/iam a nossa ima(inação criadora% Auanto ao "r#"rio Caetano, a mem#ria dos momentos !ue "roduziram esses te$tos "odem darJlhe /orça "ara en/rentar seus Oltimos desa/ios% 4 on 'uan, de Carlos Castaneda, denuncia a velhice como o Oltimo inimi(o !ue o homem de conhecimento deve en/rentar e vencer, de"ois de ter con/rontado o medo, a clareza e o "oder% Estas trIs Oltimas e$"eriIncias não são estranhas a Caetano, na verdade tIm uma curiosa corres"ondIncia aos trIs momentos /undamentais de sua tra:et#ria% Ele teve de su"erar, na :uventude, o medo em /ace da "erse(uição das autoridades, da "risão e do e$ílioS ad!uiriu, na idade adulta, uma clareza su"erior, atin(ida durante a contracultura dos
11 setenta !ue ele teve de i(ualmente su"erar "ara manter a liberdade de seu es"íritoS e /inalmente, na maturidade, conheceu o "oder !ue resulta da /ama e dinheiro con/eridos "elo mercado ca"italista% RestaJlhe, "ortanto, derrotar a velhice F o !ue ele certamente /ar. com lucidez e (arra%
C'+$')! + ' (!@-' (+ +%*$%
3o seu livro Gerdade
118 observado em relação a Caetano !ue, embora não se:a um /il#so/o sistem.tico, como o /rancIs, tem tambm uma !ueda irre"rimível "ara a re/le$ão% Este ?irracionalista /ascinado "ela razão@, como ele "r#"rio se de/ine, a"arentemente não "ode dei$ar de re/letir sobre tudo o !ue vI, "ercebe, observa ou veri/ica, ao lon(o de sua e$"eriIncia vital% Dem mais% 3ão s# Caetano conta suas mem#rias e re/lete sobre elas, como sua "r#"ria narrativa "arece condicionada "ela re/le$ão, de /orma !ue a inter"retação de certa maneira "recede o de"oimento !ue deveria iluminar% Essa "ostura resulta num estilo de "eríodos am"los e /rases lon(as, cheias de recursos de "ontuação, como vír(ulas, "arInteses e travessHes, atravs dos !uais o autor "rocura abrir sem"re es"aços "ara esclarecer, acentuar, acrescentar, ressalvar ou sim"lesmente comentar cada momento de seu "ensamento, como se estivesse /azendo um autIntico es/orço "ara ca"tar e e$"rimir esse "ensamento na "r#"ria velocidade com !ue ele se mani/esta em sua "r#"ria mente% mOsica e a "oesia de Caetano são /eitas "ara nos tocar os nervos e o coração% =ua "rosa, entretanto, endereçada ao nosso crebro e "rocura, leoninamente, dar conta de tudo o !ue Caetano acha sobre tudo F o !ue nunca "ouco, nem "ode ser% Mas assim, no e$cesso nem sem"re disci"linado, !ue essa "rosa con!uista sua ri!ueza e sua ori(inalidade> atravs, "or e$em"lo, da!uilo !ue o seu "r#"rio criador !uali/ica como ?um /raseado demasiado barroco@% Por outro lado, o encadeamento de suas ideias e$"erimenta eli"ses bruscas !ue estabelecem ne$os a"arentemente arbitr.rios entre, "or e$em"lo, um assunto e outro% 3as Oltimas ".(inas de Gerdade
11+ !ui, Caetano a"roveita suas lembranças "ara investi(ar o !ue chamou, ainda na :uventude, de ?a linha evolutiva da mOsica "o"ular brasileira@, !ue se materializa na linha(em modernizadora de nossa canção, !ue vem de 4rlando =ilva, orival Ca7mmi e 'oão ilberto at a e$"losão tro"icalista% Ele condena, com mau humor, a in/luIncia :azzística nos "recursores da bossa nova mas, embora elo(ie Chet Baer, não che(a a admitir a in/luIncia decisiva !ue o ?timbre andr#(ino@ do americano teve no seu "r#"rio canto% se(uir, Caetano conta sua ida "ara =alvador, onde estudou /iloso/ia e /oi cole(a de Carlos 3elson CoutinhoS sua vinda ao Rio de 'aneiro com a irmã Maria Beth9niaS e, /inalmente, sua "artici"ação nos (randes /estivais de mOsica !ue dominaram nossa cena musical na se(unda metade dos anos ) e !ue o tornaram /amoso "elas a"resentaçHes de Alegria Alegria e P 7roi(ido 7roi(ir % =eu de"oimento caracteristicamente "ers"icaz e suas an.lises são sem"re es"ertas% do disco 7anis et 0ircensis, um mani/esto deliberado do tro"icalismo, "articularmente detalhada e a(uda% 4 relato tem ainda, nessa "arte, revelaçHes curiosas, como o "arentesco entre Alegria, Alegria e A +anda, de Chico Buar!ue, ou o "a"el do /ilme
113este ca"ítulo, Caetano ainda se d. ao lu$o de debater a antro"o/a(ia os5aldiana com um "sicanalista italiano, Contardo Calli(aris, !ue se(ue a moda vi(ente de atacar os valores dos anos )% =e Caetano discorda, "orm, s# "ara a/inal declarar !ue considera ?bemJvindo o re/lu$o conservador@% 3a minha leitura, esta /oi a "rimeira indicação "recisa sobre os desenvolvimentos mais recentes do seu "ensamento, cu:os "rinci"ais elementos, ali.s, ele acaba a"roveitando o livro "ara e$"or% nova com"ostura, "orm, "arece ter se ori(inado, "arado$almente, em e$"eriIncias vision.rias tí"icas do seu "assado rom9ntico% 4 tro"icalismo estava no seu au(e em 1-+, !uando uma onda de rebeldia tomou conta da :uventude de muitos "aíses do 4cidente% Mani/estaçHes "olíticas estouravam em toda "arte, /re!uentemente com violInciaS os :ovens contestavam o "oder em todos os seus níveis% oi nessa circunst9ncia atí"ica !ue Caetano bebeu a7ahuasca um alucin#(eno conhecido, ho:e, "o"ularmente, "elo nome de aimeQ, trazido do norte do "aís "elo :ornalista Carlos Mar!ues% e$"eriIncia alucin#(ena "arece não ter sido muito a(rad.vel, mas teve uma im"ort9ncia decisiva "ara iluminar sua relação com o mundo% 0nduzido !uimicamente a um "lano de "uro es"írito, Caetano descobre a evidIncia de sua /idelidade matria% e"ois da via(em, ele re"orta> ?Eu visitara um in/erno onde o absurdo insu"ort.vel de uma alma sem cor"o F e de uma consciIncia sem ob:eto F se me a"resentara como uma evidIncia terrível> odiei "ara sem"re a ideia de !ue "ossamos se(uir sendo n#s mesmos de"ois da morte%@ Essa e$"eriIncia de re:eição do desencarne, revelado num estado alterado da consciIncia "rovocado "ela dro(a, mani/esta um sentimento !ue Caetano declara dominante em sua "ersonalidade e !ue ele descreve como o ?a"e(o (enuíno realidade, tal como se a"resenta sob a /orma de / na const9ncia das leis da matria@% DrataJse, "ortanto, de um sentimento materialista, de teor nietzscheano, !ue Caetano considera o o"osto do misticismo F contra, "or e$em"lo, o "onto de vista de lan Vatts, !ue /ala de um misticismo materialista, ou um materialismo místico, "ara descrever o ^en% e !ual!uer modo, esse a"e(o materialidade, a realidade material, a"ontado "or Caetano como a /orça ca"az de evitar !ue o ?namoro com o misticismo@, !ue o entreteu durante al(um tem"o, no "assado, tivesse al(uma conse!uIncia% Caetano e$"lica !ue, embora tenha se decidido muito cedo "or um ?ateísmo intelectual@, assumiu um "ro:eto "Oblico de retomar a reli(iosidade em outro nível,
12) mani/esto em seu clebre (rito de !ue ?eus est. solto@ F e !ue essa contradição /ez da e$"eriencia "sicodlica, com o 7ahuasca, uma ?/onte de an(Ostia@% ssim , "elo menos, o !ue lhe "arece F e ele concluiu !ue seu namoro com o misticismo, incluindoJse aí discos voadores !uem es"erava !ue Caetano /osse contar seu clebre avistamento de um 4G30 "ode ir se dece"cionando%%%Q, "remoniçHes e tele"atias, não "assava de uma ?vaidade de viver o ine$"lic.vel@ ou, se(undo o /il#so/o ntonio Cícero, de !uerer ?e$"erimentar a ventura de verJse livre da cadeia da causalidade@ F su"ondoJse naturalmente !ue isso não se:a absolutamente "ossível% terceira e !uarta "artes do livro narram a "risão de Caetano e ilberto ilQ "elas autoridades militares, o e$ílio de ambos, em Londres, e sua volta ao Brasil, at a (ravação de AraçI A2ul % Oltima "arte atravessa velozmente as dcadas de 8), +) e -), at o momento atual, em !ue o livro escrito e "ublicado, e inclui uma derradeira re/le$ão sobre o !ue se "oderia descrever como a atual "osição /ilos#/ica do autor% Essa "osição me "arece "uro 3ietzsche mas Caetano não se "reocu"a em e$"licitar a !uestão% "arentemente, "ara todos os e/eitos, ele s# in/luInciado "or um /il#so/o com !uem tenha um conhecimento "essoal% Dem !ue ser ami(o e conversar com ele% Com isso, Caetano talvez "retenda enlaçar /iloso/ia e vida na mesma vivIncia, alm do universo livresco% Embora tenha sido in/luInciado, em outros tem"os, "or "ensadores irracionalistas e audaciosos aventureiros da mente como 'os (ri""ino, Ro(rio uarte e 'or(e Mautner, a sua in/luIncia mais recente e atuante de um /il#so/o mais com"ortado, ntonio Cícero, autor do livro O mundo desde o 'im 1--*Q, !ue "ro"He uma retomada /atalmente racionalista do co(ito cartesiano% 6o:e, Caetano /ala de ?um 4cidente ao ocidente do 4cidente@ e de um ?com"romisso com al(uns conse(uimentos historicamente ocidentais irreversíveis@% Eu (ostaria !ue Caetano tivesse es"eci/icado !ue ?conse(uimentos@ são esses "ara !ue eu "udesse saber se estou de acordo com a a/irmação de !ue eles são ?irreversíveis@% =em"re achei, embora isso /osse mais acentuado em il, !ue Caetano tambm tivesse al(um (osto "or coisas ine$"lic.veis e misteriosas% 3este livro, "orm, ele se "reocu"a em re:eitar ostensivamente todo "ensamento m.(ico% N verdade !ue se ocu"a tambm, um "ouco, dos /enTmenos da "remonição e da mani/estação de au(Orios, dos !uais d. e$em"los "essoais no e"is#dio da vinda de Maria Beth9nia ao Rio de 'aneiro e no "eríodo em !ue "assou "reso nos !uartis da Gila Militar% Mas revela um temor, maior
121 do !ue !ual!uer curiosidade, de !ue o envolvimento com tais as"ectos da e$istIncia o :o(ue nos braços da su"erstição e do obscurantismo% 4 seu lado socr.tico, cartesiano, racionalista, iluminista, conservador treme de horror diante da "ossibilidade% Ele, então, a en/renta com a sua ?irreli(iosidade sinceramente /eroz@% Em conse!uIncia, "arece "re/erir, ho:e, a ?cadeia da causalidade@ s verti(ens !ue, em outros momentos, "areciam ameaçar lev.Jlo "ara /ora do círculo do deus Dem"o% ;ma verti(em, contudo, "ermanece, "ara lembrar o lado libert.rio, vision.rio, irracionalista, m.(ico e ut#"ico da "ersonalidade com"le$a do autor, !ue talvez não tenha sumido totalmente com seu in(resso na maturidade% ;ma das "artes de Gerdade
122 (ri""ino, Ro(rio uarte, ]lvaro uimarães e uda Machado F os trIs Oltimos, ali.s, baianos !ue tive a honra de conhecer e considerar ami(os% Mas o (rande her#i de Caetano, o seu mestre su"remo, 'oão ilberto% =ua admiração "elo (rande cantor não tem limites% Ele o toma como "aradi(ma absoluto, "onto /ocal de toda sua visão da arte, da cultura e do mundo% ?e /ato@, escreve Caetano, ?!uando che(ou "ara mim a hora de uimarães Rosa ou de Proust, a hora de odard, a hora de Eisenstein, de =tendhal, de Lorca ou de 'o7ce e de Vebern e Bach e Mondrian e Gel.s!uez e L7(ia Clar F mas tambm a hora de Varhol e da revisão de 6itchcoc, a hora de 7lan, de Lennon e de 'a((er J, /oi sem"re aos valores estticos !ue e$traí de minha "ai$ão "or 'oão ilberto !ue me re"ortei "ara construir uma "ers"ectiva%@ Para Caetano, 'oão um mestre das artes e, "ortanto, da vida% ico /eliz em ver !ue, a este res"eito, ele não mudou% 3as Oltimas ".(inas de Gerdade
i!ue a"enas claro a!ui !ue a vereda !ue leva verdade tro"ical "assa "or minha audição de 'oão ilberto como redentor da lín(ua "ortu(uesa, como violador da imobilidade social brasileira F da sua desumana e desele(ante estrati/icação F , como desenhador das /ormas re/inadas e escarnecedor das estilizaçHes tolas !ue a"e!uenam essas /ormas%
12&
4 O TAO DA FILOSOFIA
12< 3um coment.rio sobre 6er.clito, al(um disse /oi o :ovem 3ietzscheQ !ue, !uando um /il#so/o or(ulhoso, ele tem um (rande or(ulho, !ue não comum% Pois assim era o or(ulho de 6er.clito% 4utro /il#so/o, de !uem se "ode dizer !ue tinha este sentimento, /oi =#crates, !ue costumava declarar !ue ?s# sabia !ue não sabia nada@% En!uanto todos os /il#so/os em tenas sabiam tudo, =#crates não sabia nada% E sua su"erioridade sobre os outros era e$atamente essa> ele sabia !ue não sabia nada e os outros tambm não sabiam, mas "ensavam !ue sabiam% =eu or(ulho era de saber !ue não sabia% PodeJse usar al(uma coisa do "ensamento oriental "ara esclarecer o sentido do desenvolvimento da /iloso/ia ocidental% 3ão se trata de tentar /azer uma con/luIncia dos dois ti"os de "ensamento% l(uns acham !ue os orientais e os ocidentais !uerem dizer a mesma coisa, s# !ue dizem de maneiras di/erentes% Mas não assim, não% Cada "ensamento tem a sua "ersonalidade, di/erente, ori(inal% 4 "ensamento /ilos#/ico ocidental racional% 4 "ensamento oriental trata da e$"eriIncia vital do indivíduo% Por isso, a /iloso/ia ocidental tem relaçHes com o conhecimento cientí/ico, racional e o "ensamento oriental mais "r#$imo da reli(ião, ou mais e$atamente, como observou lan Vatts, da "sicotera"ia% 4 ob:etivo da /iloso/ia ocidental e$"licar a realidade% /inalidade do "ensamento oriental a salvação do indivíduo, ensin.Jlo a salvar a sua alma, em Oltima an.lise% N como ele vai encontrar "ara si o sentido da e$istIncia% ;m mestre budista, /alando sobre a di/erença de conce"ção da verdade no 4riente e 4cidente, disse !ue, "ara o "ensamento oriental, /alar em verdade ob:etiva tão absurdo !uanto /alar em saOde ob:etiva% verdade uma condição da consciIncia, como a saOde "ara o cor"o% 3ão e$iste verdade ob:etiva% Gerdade não e$iste no ob:eto, mas sim na e$"eriIncia do indivíduo% Esta a visão oriental% ocidental "rocura a verdade ob:etiva, "or!ue sua /iloso/ia centrada no ob:eto, nesse isto desa/iador !ue não sou eu e !ue, contudo, se a"resenta obri(atoriamente diante de mim% ob:etividade da verdade nesta conce"ção seu /etiche su"remo% 4s "rJsocr.ticos são os "rimeiros /il#so/os do 4cidente, os !ue começaram a /iloso/ia na rcia% =ão considerados os "recursores de uma /iloso/ia !ue s# iria ad!uirir sua maturidade em tenas, com =#crates, Platão e rist#teles% 4s "rJsocr.ticos eram de outras "e!uenas cidades (re(as como N/eso e Eleia, cidades !ue tinham contato muito (rande com via:antes orientais, e "or isso se /alou muito numa "ossível in/luIncia do "ensamento oriental "ara a /ormação e nascimento da /iloso/ia (re(a% 0n/luIncia !ue os
12* orientalistas (ostam sem"re de en/atizar, mas !ue os "ro/essores de /iloso/ia em (eral e mesmo os
/amosos como 3ietzsche e outros, terminantemente, e com uma certa
irritação, ne(am, recusam, dizendo !ue se houve al(uma in/luIncia, ela não teve im"ort9ncia real% cham !ue o im"ortante /oi a maneira es"ecí/ica, ori(inal, em !ue os (re(os desenvolveram a sua invenção, a /iloso/ia% Mas um o /ato !ue os "rJsocr.ticos a"arecem historicamente seiscentos anos antes de Cristo, na mesma "oca em !ue Buda a"arece na ndia% Buda o "ensamento hindu moderno, um "ensamento revolucion.rio% 6avia um "ensamento anterior ao sur(imento da /iloso/ia na rcia% Em a"ro$imadamente )) anos a%C, /oi um momento "rivile(iado na hist#ria da humanidade em termos de "ensamento /ilos#/ico% o mesmo tem"o !ue sur(iam os "rJsocr.ticos na rcia, na ndia sur(ia Buda e na China Lao Ds% Auer dizer> talvez os "ensadores mais "oderosos de todos os tem"os sur(iram em di/erentes "artes do mundo na mesma "oca% oi uma coisa ine$"lic.vel% 3in(um sabe dizer "or !ue isso aconteceu% oi o !ue se chama de uma ?coincidIncia si(ni/icativa@% Por !ue aconteceu o /enTmeno e não se re"etiu de"oisU 4 "ensamento indiano anterior /oi e$"resso "elos !edas, hinos reli(iosos !ue /oram a "rinci"al /onte do "ensamento es"eculativo hindu% Para uns, a"areceram entre 2))) e 2*)) a%C% Para outros em &))) anos a%C, ou talvez, antes% ;m "ro/essor es"ecializado diz !ue os !edas são ?imemoriais@% =ua meditação sobre a realidade e seu sentido nasce em /unção da intuição de um "oder absoluto !ue /oi chamado de +ra$ma e !ue veio a tornarJse o "rimeiro deus da trilo(ia hinduística cl.ssica% ;m e$em"lo dos Gedas o /ino à 0riaç3o, cu:a tradução "ode ser encontrada no livro O Ol$o do -urac3o 1-8&Q, de Murilo 3unes de zevedo% Por !ue h. o ente e não sim"lesmente nadaU Esta a "er(unta /undamental da Meta/ísica, se(undo 6eide((er% "rocura da res"osta a essa "er(unta (era todo o "ensamento es"eculativo% 3os Gedas, a ori(em de todas as coisas atribuída ao sacri/ício do ;no% Dudo ;m e o sacri/ício o divide na multi"licidade das coisas% o sacri/ício m.$imo nasce lei eterna, a verdade su"rema% N di/ícil determinar a data de ori(em dos u&anis$ads% l(uns são anteriores ao a"arecimento do budismo, "or volta do sculo + a%C%, "elo menos uns 2)) anos antes do
12 a"arecimento de Buda, e &)) antes dos "rJsocr.ticos% E sua (rande revolução e mutação no desenvolvimento do "ensamento na ndia a noção de !ue o ;no o Atman, o Eu =u"remo% 4 "rincí"io su"remo de todas as coisas o do Eu% 4 deus su"remo, absoluto, est. no interior de cada indivíduo% 4 Atman /re!uentemente traduzido "ara o Eu =u"erior, "ara distin(uiJlo do e(o "e!ueno, medíocre, "re(uiçoso, dese:oso, neur#tico e des"rezível, !ue in/erniza a vida de cada um de n#s% E a tare/a de cada ser humano seria libertarJse desse e(o in/erior "ara se identi/icar com o Atman, o Eu =u"erior, !ue o absoluto% /rase !ue resume a sabedoria dos hindus o /amoso tat t!am asi , ou se:a, ?Du Ns 0sso@% ?Eu, Maciel, sou o bsoluto@% ?Du, =olan(e, s o bsoluto@% ?Dodos n#s somos@% ?Cada um de n#s @% Mas n#s não sabemos% Eu "enso !ue eu sou o Maciel, vocI "ensa !ue a =olan(e% E não sabemos !ue n#s somos, cada um de n#s, o 4ni"otente, o Dodo Poderoso% oi "ara !ue "ossamos descobrir isso !ue os hindus inventaram a 0o(a% L. "elo ano )) a%C% a"areceu o Buda% E Buda ne(ou !ue ha:a al(um Atman, o Eu% =ua doutrina do Anataman, o nãoJeu% Buda criticou a conce"ção do Atman como uma /iloso/ia substancialista, !ue acredita em +ra$man e Atman como subst9ncias "ermanentes, absolutas% Buda ne(ou !ue ha:a !ual!uer realidade substancial na nossa e$"eriIncia% Estabeleceu !ue tudo im"ermanente e !ue nada substancial% Em vez de ter uma visão substancialista da realidade, o Buda tem, como dizem os comentaristas budistas, uma visão modal% s coisas são modos do Sun%ata, o Gazio% 4 !ue conta, "ara Buda, a e$"eriIncia do indivíduo, a sua e$"eriIncia, iluminação e "erce"ção, o !ue os budistas :a"oneses vão chamar de"ois de Satori % 4 Satori o momento da iluminação e da realização de !ue nada tem subst9ncia "r#"ria, e tudo im"ermanIncia, "ura mudança, /lu$o e trans/ormação% Buda vai ter uma visão semelhante a de 6er.clito entre os "rJsocr.ticos% Podemos dizer assim !ue o Gedanta tem uma visão do ser im#vel como a de ParmInides e !ue Buda tem uma visão do virJaJser como a de 6er.clito% 3a /iloso/ia ocidental essas duas visHes, a substancialista e a modal, tambm vão a"arecer% visão substancialista vai dominar a meta/ísica ocidental durante muito tem"o, mas vai acabar sendo contestada
128 "or 3ietzsche e "rinci"almente "or 6eide((er "or!ue eles voltam aos "rJsocr.ticos, es"ecialmente a 6er.clito% "alavra &$%sis im"ortante "ara com"reensão dos "rJsocr.ticos% Dodos eles !ueriam saber o !ue era a tal &$%sis% "alavra traduzida ho:e "or ?natureza@, "or!ue /oi assim !ue os /il#so/os cl.ssicos (re(os, Platão, rist#teles, a entenderam% rist#teles chama os "rJsocr.ticos de ?/ísicos@ e os considera /il#so/os da natureza, realidade /ísica% Mas não essa a o"inião dos comentadores mais im"ortantes dos "rJsocr.ticos !ue são 3ietzsche e 6eide((er% 3ietzsche sintetiza Dales na a/irmação de !ue tudo um% izer !ue tudo vem da .(ua a maneira !ue Dales teve de enunciar esse "rincí"io /undamental F tudo um% 6eide((er chama a atenção "ara na$imandro "ara !uem o "rincí"io /undamental como um elemento s#, determinado, /ísico, limitava a realidade% Ele su(ere o conceito de a&eiron F o indeterminado, o inde/inido, o in/inito, o ilimitado, como o "rincí"io res"ons.vel "ela ori(em e a unidade de todas as coisas%
T'(-@+* ?'' ' S+)$+)@' (+ A)'%')(!
?=entença de na$imandro@ o "rimeiro te$to da 6ist#ria da iloso/ia 4cidental% N s# uma /rase% Mas um /undamento, uma a/irmação ori(in.ria%
I)$+?+$'@! (+ CB+*$!
Leon Chestov, /il#so/o e$istencialista russo, e$"lica !ue na$imandro considera !ue as coisas, ao nascerem, des"renderamJse da unidade "rimitiva e divina "ara atin(ir o seu ser "articular atual e com isso cometeram uma ação im"ia no mais alto (rau, "ela !ual deverão, com toda a :ustiça, so/rer o casti(o su"remo, a morte e a destruição% N o casti(o sim"lesmente "or ter dividido a unidade su"rema, "or ter "assado do uno "ara o mOlti"lo% Por ter cindido o uno no mOlti"lo% Essa inter"retação "armenídea% Para 6er.clito, o uno o mOlti"loW
12+ e"ois da divisão, h. a volta "ara o uno, con/orme a necessidade% 3ecessidade a moira (re(a, o destino im"lac.vel% =e vocI saiu de l., vai voltar "ara l.% Mas vocI vai ter !ue e$"iar, "or ter cometido essa in:ustiça%
I)$+?+$'@! (+ +%(++
inter"retação de 6eide((er di/erente% Começa "or contestar a tradução da "alavra (re(a como injustiça% N um velamento% 6eide((er vI em na$imandro uma sentença sobre o es!uecimento e a hist#ria do ser% =er uma coisa, o sendo outra% 4 sendo o ente, o !ue vocI tem contato% 3#s somos entes% E$istem entes% Mas o ser o !ue /az do ente, ente% 4 se(redo do ente o ser% Então o ser s# e$iste nesse sentido% 4u como 6eide((er diz> ?4 ente o !ue est. "resente@% ?4 ser a "resença do "resente@% Ele não usa o termo ser , vocI não deveria dizer um ser aliení(ena, mas um ente aliení(ena% 3a /iloso/ia ocidental, o ser começa a ser "ensado como ente a "artir de =#crates% e"ois dos "rJsocr.ticos, a /iloso/ia ocidental começa a "ensar no ser como ente e não como ser% 6. um es!uecimento do ser, se(undo 6eide((er% E o destino do 4cidente se li(a "ossibilidade do ser novamente "ensado, e não mais o ente% Mas essa err9ncia, como ele diz, de não "ensar mais o ser e "ermanecer no ente, não estar mais no "lano ontol#(ico, mas no Tntico, !ue o "lano do sendo, não uma coisa com"letamente errada !ue aconteceu% 3ão% 0sso !ue tinha !ue acontecer "or im"osição do "r#"rio ser% E a sentença de na$imandro e$"ressa essa necessidade% 4 es!uecimento da di/erença do ser com relação ao ente não , de maneira al(uma, e/eito de uma ne(li(Incia do "ensamento% az "arte de sua essIncia e mani/estação "or ele mesmo velada% 4 es!uecimento "ertence tão essencialmente ao destino do ser, !ue começa com o desvelamento das coisas !ue se a"resentam em sua "resença% 0sto !uer dizer, a hist#ria do ser começa com o seu es!uecimento, com o /ato de reterJse a seu modo de mani/estação na di/erença com relação ao ente% di/erença desa"arece% Permanece es!uecida% "enas o di/erenciado, o !ue se a"resenta e a
12"resença se desvelam, mas não en!uanto di/erenciado% Pelo contr.rio, tambm o traço anti(o da di/erença a"a(ado "elo /ato de a "resença "arecer como al(o "resente e encontrar sua ori(em num "resente su"remo% 4 es!uecimento da di/erença com o !ual começa o destino do ser "ara nele se consumar, não , entretanto, uma /alha, mas o acontecimento mais rico e mais vasto da hist#ria do mundo ocidental% di/erença do ser e do ente resulta do sur(imento da noção de ob:eto, de coisa, como a entidade !ue vai dominar toda a hist#ria desse mundo% Doda a cultura do 4cidente vai se desenvolver a "artir da noção de coisa% coisa o ente, o ob:eto% 0sso "ermitiu ao 4cidente desenvolver uma ciIncia e/iciente% Então, o "ensamento cientí/ico o do ente, o da coisa, o do sendo e, "ortanto, o do "r#"rio es!uecimento do ser% ciIncia não "ensa, diz 6eide((er F naturalmente "or!ue não "ensa o ser% Esse es!uecimento domina toda a hist#ria do 4cidente% Dodos os triun/os tecnol#(icos do 4cidente e, ao mesmo tem"o, todos os seus desastres es"irituais se devem, se(undo 6eide((er, a esse es!uecimento do ser e ao /ato de !ue o "ensamento do 4cidente /icou restrito ao "lano Tntico, ao "lano do sendo, do ente, do "ensamento ob:etivo, cientí/ico% 0sso, entretanto, não /oi uma ne(li(Incia do "ensamento ocidental% oi uma im"osição do "r#"rio ser, "ois a sua hist#ria "recisava começar com o es!uecimento, "ara !ue houvesse o desvelamento a "artir do ente% Esse um "rocesso de alet$eia, de desvelamento da verdade% Alet$eia uma "alavra (re(a !ue si(ni/ica verdade, mas cu:a ori(em etmol#(ica des!elamento% verdade, diz 6eide((er, não o !ue os cursos de /iloso/ia ensinam "ara a (ente, ou se:a, !ue a verdade a ade!uação da coisa ao "ensamento% 0sso > !uando o "ensamento est. ade!uado ao ob:eto !ue est. /ora dele, então h. a verdade% 6eide((er, "orm, nos diz> verdade não isso% verdade desvelamento, um "rocesso din9mico% Essa ?verdade@ dos /il#so/os substancialista, de coisas, de res, de entes estrati/icados% Mas a verdadeira realidade o "rocesso, a est#ria de desvelamento do ser, a alet$eia% Essa est#ria !ue começa, necessariamente, com o es!uecimento do ser, deve conduzir, no momento em !ue n#s vivemos, "ossibilidade do ser ser
1&) novamente "ensado como Onica es"erança de salvação da civilização ocidental% "ossibilidade de "ensar novamente no ser a Onica es"erança da civilização ocidental%
A +*$%' (+ (!%* !)+* B%)(*
6avia um mon(e !ue /ica estudando as escrituras sa(radas, os vedas e os sutras, e /azendo meditação% E h. um outro mon(e !ue a"arentemente /Otil, não d. bola "ara nada, não estuda, não /az meditação, não /az nada% ica dançando em volta de uma .rvore% ;m dia che(ou um avatar de Gis$nu, !ue se a"resentou "ara os dois e disse> ?Gis$nu mandou dizer !ue vocIs "odem "er(untar o !ue !uiser dele% 4 !ue vocIs !uerem saberU@ 4 mon(e srio "ediu> ?Auero saber !uantas vidas eu ainda tenho !ue viver "ara me libertar do samsara@% E o !ue vocI !uer saberU F o avatar "er(untou ao outro% ?Eu não !uero saber nada, não% Eu estou a!ui dançando% Mas /aço a mesma "er(unta% Gis$nu vai dizer "ara meu cole(a !uantas vidas ainda lhe /altam% Então "ode me dizer tambm !uantas vidas me /altam "ara a libertação%@ 4 emiss.rio de Gis$nu /oi, voltou e disse "ara o mon(e srio> ?Gis$nu mandou dizer !ue "ara vocI ainda /altam !uinze vidas "ara alcançar a iluminação%@ 4 mon(e srio /icou deses"erado> ?i, !ue horror, !ue deses"ero% Auinze vidas de so/rimentos e neuroses% Eu tenho de su"ortar ainda !uinze vidas de horror%%%@ Ele começou a chorar e a arrancar os cabelos%
4 emiss.rio virouJse, então, "ara o mon(e !ue estava dançando e disse> ?E vocI, não !uer saber !uantas vidas lhe /altamU@ 4 mon(e "arou um "ouco de dançar> ?h, sim, claro% Auantas vidasU@ 4 emiss.rio re"licou> ?4lha, ele mandou dizer !ue, "ara vocI, /altam no mínimo umas cinco mil vidas "ara tua libertação%@ í o mon(inho !ue estava dançando rea(iu assim> ?Cinco milU =# issoWWW Dão "ou!uinho% es"era vai acabar lo(oW Aue "enaW =# issoU@ 3esse instante, o cu se abriu e a"areceu o "r#"rio Gis$nu, em "essoa, !ue disse ao mon(inho dançarino> ?3a verdade, meu /ilho, tu :. te libertasteW@
1&1
A physis e o objeto
se(unda "alavra !ue tambm a"arece em todos os "rJsocr.ticos a !ue e$"ressa de como o uno se a"resenta a n#s% Como !ue n#s vemos a "resença desse uno% E essa "resença chamada "elos "rJsocr.ticos de &$%sis% Essa "alavra, como outras de ori(em (re(a, /oram so/rendo uma modi/icação "osterior, "rinci"almente de"ois da /iloso/ia cl.ssica (re(a% Como !uase todos os livros desses "rJsocr.ticos, o título era sobre a &$%sis% Eles sem"re estavam /alando sobre isso% Eu não tenho anotado a!ui !uais, mas a maioria deles o título esse% E a &$%sis acabou sendo traduzida então "or natureza% rist#teles disse !ue os "rJsocr.ticos, como se "reocu"avam /undamentalmente com a &$%sis, eram ?/ísicos@, o !ue con/ere uma conotação materialista "ara os /il#so/os "rJsocr.ticos% Como se eles /ossem cientistas, na ace"ção moderna, !ue estivessem estudando a natureza e suas leis% Mas não era isto, "or!ue essa natureza, como n#s entendemos ho:e e a "artir de rist#teles vai ser entendida em todo o desenvolvimento do "ensamento ocidental, como um ob:eto, um ente% 6eide((er diria !ue a conce"ção de &$%sis como natureza est. no "lano do Tntico e não no ontol#(ico% Auer dizer, est. no "lano dos entes com os !uais n#s temos uma relação e "erce"ção imediata, e não com a!uele ser misterioso !ue o verdadeiro ob:eto do "ensamento% (ora, a &$%sis dos "rJsocr.ticos era, e 6eide((er diz isso, um outro nome "ara o ser% 4 !ue os "rJsocr.ticos "ensavam com a "alavra &$%sis era tudo !ue se a"resenta, o !ue est. "resente% E como 6eide((er diz, o ser a "resença do "resente% Então no conceito de &$%sis dos "rJsocr.ticos não entra s# o !ue n#s chamamos de natureza, mas tudo o mais, inclusive os deuses, "or e$em"lo, ou o "ensamento% Por isso ParmInides vai dizer !ue ser e "ensar são o mesmo% 3ão h. a divisão su:eitoJob:eto, !ue n#s consideramos tão /undamental e inesca".vel, no "ensamento "rJsocr.tico isso
1&2 ainda não estava estabelecido "or!ue essa relação s# vai acontecer "elo "ensamento "osterior na /iloso/ia cl.ssica (re(a !uando o seu "ensamento inventa o ob:eto% 0sso aconteceu na /iloso/ia ocidental a "artir de =#crates !ue vai criar as condiçHes de se "ensar o ob:eto como tal%
O sujeito
Auando o ob:eto de/inido na /iloso/ia (re(a se desenvolve a noção do su:eito !ue est. em relação com esse ob:eto, o su:eito !ue "ercebe o ob:eto, ou !ue tem consciIncia dele% 4 su:eito a!uilo !ue não o ob:eto% Para !ue o ob:eto se:a "ercebido, tem !ue ter al(o !ue não ele% Então o su:eito% Mas essa divisão não uma divisão essencial, es"ont9nea na e$"eriIncia do ser humano com a realidade, como mostram os "r#"rios "rJsocr.ticos% Eles tinham uma noção e$ata dessa di/erença, dessa o"osição, dessa dicotomia de su:eito e ob:eto% realidade uma s#% 4 ser um s#, ainda não dividido entre su:eito e ob:eto% E eles e$"ressavam esse ser na &$%sis% e"ois a &$%sis reduzida "ara si(ni/icar a"enas o !ue /ísico no nosso sentido moderno%
Logos
"alavra logos tem um sentido "ara os "rJsocr.ticos, muito mais am"lo do !ue o sentido !ue ela vai ad!uirir de"ois de rist#teles% /iloso/ia de rist#teles /oi tão avassaladora, volumosa e "oderosa, !ue a com"reensão !ue teve da /iloso/ia (re(a !ue o "recedeu, marcou toda a /iloso/ia
1&& ocidental mais "rovavelmente !ue a de Platão% 6. uma codi/icação em rist#teles !ue se cristalizou e /oi dominar toda a /iloso/ia "osterior% E rist#teles entende o logos como o ?l#(ico@% Ele trata disso na "arte da /iloso/ia !ue trata da ?l#(ica@% 4 logos entendido como o "rincí"io de "ensamento racional% Ele vai ser entendido assim at 6e(el, en!uanto !ue, nos "rJsocr.ticos, tem um si(ni/icado mais am"lo, misterioso%
O fluxo (+ +&"%$!
7ant$a, em (re(o, si(ni/ica tudo% Como !uando 6er.clito /ala !ue tudo /lui% Em (re(o a e$"ressão /amosa 7ant$a rei% 4 /il#so/o !ue dizem !ue o o"osto, ParmInides% 6er.clito a/irmava o /lu$o eterno de todas as coisas, o 7ant$a rei % 4 ser, "ara 6er.clito, dinamismo "uro, movimento e trans/ormação% Essa /oi a solução !ue 6er.clito deu ao "roblema de Yen#/anes, conce"ção do ser im#vel !ue vai ser a/irmada "or ParmInides% Mas essa conce"ção o Yen#/anes /ala no ca"ítulo sobre a ?natureza@, ou se:a, sobre a &$%sis% Ele diz no ra(mento 2&>
;m Onico deus, o maior entre deuses e homens nem na /i(ura nem no "ensamento semelhante aos mortais% Dodo inteiro vI, todo inteiro entende, todo inteiro ouve% Permanece sem"re im#vel no mesmo lu(ar% E não lhe convm moverJse de um lu(ar "ara outro%
Yen#/anes :. tinha a conce"ção do ;no como um ser absoluto e im#vel% E com isso criavaJse o "roblema de como e$"licar o movimento, a multi"licidade e a mutabilidade das coisas !ue constitui a nossa e$"eriIncia direta dos /enTmenos sensíveis% 6er.clito vem dizer !ue o "r#"rio ser, esse "r#"rio ;no bsoluto evir, a multi"licidade, o movimento, o /ato de !ue todas as coisas estão sem"re mudando% iz o seu mais /amoso /ra(mento> ?3ão se "ode entrar duas vezes no mesmo rio@, !ue a e$"ressão do 7ant$a rei % realidade /lu$oS nada, nada se re"ete%
1&< ;ma conce"ção semelhante a essa vai a"arecer na ndia com o Buda, na mesma "oca% Essa "erce"ção a"arece no momento mitol#(ico de sua iluminação% Buda "ercebe as !uatro nobres verdades e a lei absoluta da realidade, a ori(inação de"endente da "rodução condicionada, !ue enunciada assim> ?6avendo isto, h. a!uilo% Cessando isto, cessa a!uilo@% Auer dizer> todas as coisas se condicionam% 3ão e$iste um nOcleo "ermanente, uma subst9ncia "ermanente na realidade% Ela "uro condicionamento mOtuo% =e uma coisa e$iste de um :eito, a outra coisa e$iste de outro :eito, condicionada "ela "rimeira% realidade mesma e$"licada como conse!uIncia da a!id%a, a i(nor9ncia% =e não houvesse a i(nor9ncia, haveria a unidade absoluta da consciIncia humana com o absoluto, o nirvana% Como h. a!id%a, i(nor9ncia /undamental, então e$iste todo este mundo tal como conhecemos atravs da e$"eriIncia sensível%
M'%* +&"%$!
Como !ue esse movimento se "rocessa "ara 6er.clitoU travs dos contrastes, dos o"ostos% 4 /ra(mento + diz>
Dudo se /az "or contraste% a luta dos contr.rios nasce a mais bela harmonia%
!ui 6er.clito tem uma ideia belíssima, a de !ue talvez tenha /ascinado 3ietzsche% 6er.clito re"ara !ue a "r#"ria realidade (uerra, con/lito% Mas !ue essa (uerra e con/lito a :ustiça% 0sso a harmonia% harmonia su"erior se mani/esta atravs do con/lito%
6er.clito diz no /ra(mento *&>
1&* (uerra o "ai de todas as coisas% E de todas o rei%
E em se(uida, no /ra(mento *<, diz>
harmonia invisível su"erior harmonia visível%
s coisas "arecem desarmTnicas em /unção do seu con/lito "er"tuo, mas isso uma a"arIncia% 3a verdade, este con/lito est. mani/estando uma harmonia su"erior% Por isso, a ima(em da realidade !ue 6er.clito usa a do /o(o% Ele diz !ue tudo /o(o% Mas não diz isso no sentido da escola dos :Tnios, dos milsios da cidade de MiletoQ !ue "retendiam de/inir a natureza do ;no, como Dales !ue indicou a .(ua, /alou do ar% 6er.clito /ala do /o(o num sentido mais meta/#rico% 4 sentido de !ue esta realidade como uma combustão "ermanente e eterna% Por!ue o /o(o não tem sem"re a mesma /orma% 4 /o(o est. sem"re !ueimando, est. sem"re mudando tambm% 3o /ra(mento &), ele diz>
Este mundo, i(ual "ara todos, nenhum dos homens e nenhum dos deuses o /ez% =em"re /oi, e ser. um /o(o eternamente vivo, acendendoJse e a"a(andoJse con/orme a medida%
Essa visão da realidade assim !ue 6er.clito tem como /o(o, /lu$o, trans/ormação, entendendo o "r#"rio mOlti"lo como a "resença do ser, uma visão !ue "ermaneceu mar(inal nos "rimeiros momentos da /iloso/ia ocidental%
V+('(+
1& 4utra "alavra /undamental Alet$eia, a "alavra (re(a "ara !erdade !ue si(ni/ica desocultação e desvelamento% verdade se desvela no /lu$o do ;no, na multi"licidade das coisas% coisa, como n#s a entendemos, em latim res, uma criação socr.tica% Ela determinada "ela de/inição socr.tica, !ue e$i(e a de/inição dos conceitos% =# de"ois do a"arecimento da coisa !ue a verdade vai "oder ser descrita, "or e$em"lo, "or Dom.s de !uino, como a adequaç3o entre o "ensamento e a coisa% verdade vai ser entendida como ade!uação% ima(em da mente re/lete com e$atidão a!uilo !ue est. /ora dela% Então s# com essa e$atidão ou ade!uação, h. verdade% Mas uma conce"ção, uma conce"ção da verdade totalmente "osterior% E s# /oi "ossível de"ois da /iloso/ia cl.ssica (re(a% N uma conce"ção !ue domina (rande "arte do "ensamento ocidental, mas !ue ainda não havia a"arecido entre os "rJsocr.ticos% maior tra(dia da /iloso/ia ocidental ter sobrado tão "oucos te$tos dos "rJ socr.ticos% 6e(el viu na luta de o"ostos, dos contr.rios de 6er.clito, o "rincí"io da dialética, da tese, antítese e da resolução na síntese% Ele viu no logos de 6er.clito um "rincí"io l#(ico !ue o saber, concluiu !ue a dialtica a do saber, o "rocesso !ue vai che(ar ao /inal dos tem"os como =aber bsoluto% =ão ideias com"letamente estranhas mente "rJsocr.tica, con/orme 6eide((er e$"lica% =obre a Alet$eia, tem um /ra(mento de 6er.clito !ue diz assim>
&$%sis um esconderJse%
Draduzida (eralmente como ?a natureza um esconderJse@, tornouJse uma /rase muito citada em relação "es!uisa cientí/ica, da natureza% oi di/ícil vocI conhecer o /uncionamento da natureza, "or!ue ela não entre(a o seu /uncionamento assim /acilmente% Ela ama o oculto, ama esconder% Para 6eide((er, entretanto, essa /rase tem um outro si(ni/icado> a &$%sis um ser, um ser !ue se oculta "ara desocultarJse no "rocesso de tem"o% 4 livro /undamental de 6eide((er, Ser e tem&o, se re/ere a isso, ao /ato de !ue o ser muito "arecido com o devir, ele se desoculta no tem"o, ele se oculta e se desoculta no tem"o% E a ocultação do ser o es!uecimento do ser, o momento em
1&8 !ue o "rocesso de sua mani/estação se trans/orma num "rocesso de "ensar o ente a"enas, o sendo ou o ob:eto, a coisa% ParmInides diz !ue "ensar e ser são o mesmo% 0sso uma ideia "rJsocr.tica !ue /oi usada "elos /il#so/os "osteriores, "articularmente os /il#so/os idealistas, !ue inter"retaram o "ensar como o res"ons.vel "ela constituição do ser% Mas se(undo 6eide((er, não a intenção de ParmInides ser idealista% 4 !ue ele !uer e$"ressar a conce"ção de !ue ser e &ensar são mani/estaçHes do mesmo% Auer dizer, o ser se e$"ressa como ser e como "ensar% 4u, como diz 6eide((er> ?4 "ensar e o ser se "ertencem mutuamente%@ 6eide((er a/irma !ue 6er.clito e ParmInides "ensam a mesma coisa% Estão "ensando !ue a realidade !ue o ;no se mani/esta como &$%sis, e !ue esta tem intrinsecamente uma necessidade, um destino, uma lei, um sentido% 3ão um ;no (ratuito, absurdo ou contin(ente% esde a =entença de na$imandro, os "ensadores (re(os não tIm dOvidas sobre a "resença de uma necessidade, moira, em toda realidade% 4s "rJsocr.ticos tIm uma visão antie$istencialista, vamos dizer assim, no sentido de !ue o e$istencialismo sartreano, "or e$em"lo, viu na realidade e$atamente o contr.rio disso tudo% 3o e$istencialismo sartreano a realidade não tem uma necessidade, um destino, uma lei e um sentido%
O* E"+'$'*
ParmInides che(a sua conce"ção do ser "or uma necessidade l#(ica, de raciocínio% Ele diz> 4 ser não "ode não ser% E o não ser não "ode ser% Por!ue se o ser "udesse não ser, ele não seria o serS se o não ser "udesse ser, não seria não ser% Então o ser e o não ser não % (ora, se o ser , ele não "ode em nenhum momento dei$ar de ser% Então ele não "ode ser a!ui e não ser ali% 4 ser a!ui% =e h. movimento no ser e ele "assa "ara l., ele dei$a de ser a!ui, o ser l.% mistura de ser e não ser inadmissível "ara o ParmInides% Ele não admite !ue o ser "ossa ser contradit#rio, dObio% 4 ser tem !ue ser im#velS tem !ue ser absoluto e im#vel% Ele tem !ue ser sem"re% Ele não "ode ser criadoS não "ode ser destruído% Ele tem !ue ser sem"re o !ue ele % 4 ser o !ue % 4 ser eterno% 4 ser não "ode ter começo nem /im% =e ele teve começo, então
1&+ houve um tem"o em !ue ele não era% 4u se tiver um /im, vai ter um tem"o em !ue ele não ser.% Danto num caso !uanto no outro, ele não o ser% e"ois de ParmInides houve outro "rJsocr.tico chamado ^enão de Eleia !ue /icou /amoso com seus ar(umentos contra o movimento e se "ro"Ts a mostrar !ue uma ideia im"ossível% GocI não "ode "ensar o movimento% =ão !uatro seus ar(umentos contra o movimentoS s# /alarei de dois> o da /lecha, e o de !uiles e a tartaru(a% ^enão diz !ue uma /lecha !ue dis"arada num "onto não "ode atin(ir um "onto B, "or!ue antes de atin(ir o "onto B, ela tem !ue "assar "elo "onto intermedi.rio C% Mas antes de "assar "elo "onto intermedi.rio C, ela tem !ue "assar "elo "onto intermedi.rio % E, antes de "assar "elo "onto intermedi.rio , tem !ue "assar "elo "onto intermedi.rio E% E assim "or diante, inde/inidamente% ^enão est. "artindo do su"osto de !ue o es"aço divisível inde/inidamente% GocI "ode dividir um es"aço sem"re e sem"re% Para a /lecha "assar "or todos esses "ontos intermedi.rios, ela teria de trans"or o in/inito, "assar "or in/initos "ontos% E como !ue vai /azer issoU N im"ossível, 3ão che(a nunca% tartaru(a desa/iou !uiles "ara uma corrida% Onica coisa !ue eu !uero F disse ela F uma "e!uena vanta(em% !uiles deu e não conse(uiu ultra"assar a tartaru(a% !uiles se a"ro$ima da tartaru(a, mas !ual!uer !ue se:a o es"aço !ue "ercorreu, avançou tambm um certo es"aço, "or menos !ue se:a% 3ão s# o es"aço, o tem"o in/initamente divisível% Então esses tem"os naturalmente vão diminuindo, diminuindo cada vez mais F mas in/initamente% E trans"or o in/inito im"ossível% !uiles nunca conse(ue alcançar a tartaru(a% 6eide((er diz !ue não h. di/erença entre a visão de 6er.clito e a de ParmInides% izer !ue tudo est. "arado e se move o tem"o todo, e$atamente a mesma coisa% ParmInides e 6er.clito estão /alando coisas o"ostas no "lano Tntico, no "lano dos entes% Como se a realidade a !ue eles estão se re/erindo /osse um ob:eto, /osse uma coisa% 4 "rincí"io da identidade determina !ue um ob:eto não "ode ser uma coisa e ser outra, ele tem a identidade dele, ele o !ue % Como o ser de ParmInides, os ob:etos vão ter !ue ser o !ue são% Então se o uno movimento, não "ode ser imobilidadeS se imobilidade, não "ode ser movimento% Mas isso não vale "ara o "lano ontol#(ico !ue o "lano do ser% Danto ParmInides !uanto 6er.clito "ensaram o ser, "ensaram o mesmo ser% E esse mesmo ser se mostrou a 6er.clito como "ura multi"licidade e devir F e se mostrou a ParmInides como imobilidade e imutabilidade%
1& "r#$ima modi/icação im"ortante na rcia /oi o "ensamento de =#crates% s /iloso/ias "rJsocr.ticas não eram de tenas% tenas não tinha /il#so/os% Esses /il#so/os a"areceram em "e!uenas cidades (re(as mar(em do Mediterr9neo, onde havia muito comrcio, nave(açHes e via:antes, com intenso /lu$o de in/ormaçHes% Então esses /il#so/os sur(iram nelas% Mas tenas começou a "ros"erar muito, se tornar uma cidade, um /oco e$ce"cional da cultura e da criação, o berço da civilização ocidental, e a /iloso/ia /loresceu na cidade% 4s /il#so/os (ostavam de conversar sobre /iloso/ia nas ruas de tenas% Eles iam "ara as ruas e /icavam debatendo uns com os outros, discutindo% oi !uando a"areceram os so/istas, !ue eram /il#so/os muito treinados na ret#rica /ilos#/ica, no discurso, e !ue discutiam "ara derrubar o "onto de vista do outro% E eles se "ro/issionalizaram tambm% Ensinavam "or dinheiro, !ue uma coisa !ue não acontecia com os outros /il#so/os !ue eram artistas "uros e não se contaminavam com o vil metal% 4s dois so/istas mais /amosos e mais comentados são #r(ias e Prot.(oras% 4 !ue caracteriza a /iloso/ia deles !ue são cticos, relativistas, não acreditam em nada, e$ceto em um bom "a"o, na articulação do discurso muito mais do !ue no conteOdo do discurso% Por isso, acreditam na habilidade de articular o discurso "ara convencer o outro e (anhar a discussão% #r(ias a/irmou !ue não h. ser nenhum% Primeiro lu(ar, não h. ser nenhum% =e(undo lu(ar, !ue mesmo !ue houvesse um ser, ele não seria co(noscível, não se "oderia conhecIJlo% Em terceiro lu(ar, se "udesse conhecer esse ser, este conhecimento não "oderia ser transmitido "ara as outras "essoas% 3ão h. a menor utilidade em /icar /iloso/ando sobre o ser% 4 outro so/ista, Prot.(oras, /oi o autor de uma clebre /rase> ?4 homem a medida de todas as coisas@% Con/orme vocI, como indivíduo, vI as coisas assim as coisas são% Prot.(oras lembra Pirandello% ssim se lhe "arece% verdade de cada um% 3ão h. /undamento "ara a discussão% Eu acho !ue assim, vocI acha !ue assado, e eu tenho todo o direito de achar !ue assim, vocI tem todo o direito de achar !ue assado% ;m relativismo com"leto% Mas os so/istas encontraram um o"ositor srio, um homem srio, !ue achava !ue a /iloso/ia e o "ensamento do ser uma coisa sria% Era =#crates, o /il#so/o !ue acabou com o ciclo dos "rJsocr.ticos% Ele um divisor /undamental da /iloso/ia (re(a% =#crates declarou !ue ? Aret? conhecimento@% Aret? outra "alavra (re(a muito im"ortante e /undamental% Ela si(ni/ica e$celIncia, e$atidão% 6eide((er diz !ue os /il#so/os "rJ socr.ticos não são /il#so/os, são "ensadores F o !ue, "ara 6eide((er, si(ni/ica ser mais do !ue /il#so/o% ;m "ensador "ensa o ser diretamente% E o /il#so/o est. amarrado numa
1<) determinada conce"ção e conhecimento !ue /oi estabelecida a "artir da necessidade da de/inição e do conceito socr.tico% 4 conceito e a de/inição socr.tica vão dominar toda a cultura ocidental e, "ortanto, toda a sua /iloso/ia% ciIncia ocidental /oi desenvolvida a "artir desses /undamentos socr.ticos F e se desenvolveu "or causa deles% 3o 4riente, "or e$em"lo, a"esar da so/isticação de seu "ensamento, não houve um desenvolvimento cientí/ico e tecnol#(ico !ue se e!ui"are ao do 4cidente% 4 res"ons.vel /oi =#crates% Por!ue o doente a coisa concreta% doença uma abstração% Mas toda a medicina ocidental desenvolveu a "arte "ara tratar da doença, conceitu.Jla, de/iniJla% Por!ue =#crates "edia isso na!uela "oca% Então essa maneira de ver e estudar a realidade /az da mesma uma coleção de coisas !ue são de/inidas, conceituadas% sua essIncia como a :ustiça, a doença ou o !ue !uer !ue se:a, /oi estabelecido "or =#crates% N a ciIncia socr.tica% E "or isso !ue a /iloso/ia do 4cidente "ro"riamente dita começa com =#crates% Platão achou !ue as coisas tinham um modelo "er/eito dos !uais a!uelas !ue n#s temos e$"eriIncia são a"enas c#"ias im"er/eitas% o mesmo :eito !ue na natureza não tem nunca um tri9n(ulo "er/eito mas o tri9n(ulo "er/eito e$iste na (eometriaQ, todas as coisas devem ter a sua contra"arte ideal num outro mundo, o mundo das /ormas "uras% E chamou essas /ormas "uras de ideias F uma "alavra (re(a !ue si(ni/ica, entre outras coisas, e$atamente modelo% rist#teles não (ostava do dualismo de Platão !ue estabelecia duas realidades "ara e$"licar esta a!ui% chava !ue esta realidade, da nossa e$"eriIncia imediata e sensível, devia conter tudo% Então ele trou$e a ideia de Platão "ara a realidade sensível% =eus dualismos são inerentes ao "r#"rio ob:eto% Matria e /orma% to e "otIncia% s coisas tIm uma subst9ncia% 4u se:a> a ideia de Platão, en!uanto ob:eto sensível, "assa a ser uma su(stHncia% rist#teles concebeu uma realidade substancial, em !ue as coisas tIm a sua subst9ncia, a sua essIncia, a sua equidade, como vão dizer de"ois na 0dade Mdia usando o latim% 3a 0dade Mdia, os /il#so/os da i(re:a cristã, como =ão Dom.s de !uino, lberto Ma(no, vão "artir da /iloso/ia (re(a% Em latim, a "alavra "ara coisa res% Por isso, a visão aristotlica a do realismo, se(undo a !ual, as coisas são con/orme n#s a "ercebemos, e a nossa mente entendida como um es"elho !ue as re/lete% 4 critrio
1<1 realista da verdade , "ortanto, a ade!uação da ima(em na mente com a coisa !ue est. /ora dela% Esse realismo e"istemol#(ico se consolida com rist#teles% E at a base da ciIncia ocidental !ue vai se constituir a "artir daí, a aristotlica%
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Posso sintetizar o "ensamento de Mar$ em duas ideias /undamentais% "rimeira a da alienaçãoS a se(unda a dialtica% Essas duas ideias vIm de 6e(elS Mar$, con/orme ele "r#"rio disse, bota de " a!uilo !ue estaria de cabeça "ara bai$o% alienação dei$a de ser a ob:etivação, a e$teriorização do es"írito e, ao ser denunciada no trabalho, "assa a ser a alienação do ser humano, a sua redução a um ob:eto e sua dominação "elo mundo da materialidade% PretendeJse !ue o !ue era idealista e sub:etivo em 6e(el "asse a ser materialista e ob:etivo em Mar$% 4 mesmo acontece com a dialtica%
Em 6e(el, ela um movimento do es"írito at a "lenitude da consciIncia, um "rocesso sub:etivo`es"iritual% Para Mar$, a dialtica o "rocesso concreto de desenvolvimento das relaçHes humanas na vida em comum, de seus modos de "rodução e de suas maneiras de atender o ser humano no "lano da materialidade% 6. a!ui tambm uma tradução materialista e ob:etiva das ideias do 6e(el% 6. um te$to !ue e$"He sucintamente o !ue Mar$ denominou de materialismoJ hist#rico% N um te$to de 1+*- e diz o se(uinte>
4 resultado (eral a !ue che(uei, e !ue uma vez alcançado, serviu de (uia aos meus estudos, "ode ser assim sintetizadoS na "rodução social da vida, os homens in(ressam em relaçHes de/inidas !ue são indis"ens.veis e inde"endem de sua vontade% =ão as relaçHes de "rodução corres"ondentes a uma determinada eta"a de evolução de suas /orças "rodutivas materiais% totalidade dessas relaçHes de "rodução constituiu a estrutura econTmica da sociedade, o verdadeiro alicerce sobre o !ual se er(ue uma su"erestrutura :urídica e "olítica e !ual corres"ondem /ormas de/inidas de consciIncia social% 4 sistema
1<2 de "rodução da vida material condiciona o "rocesso da vida social, "olítica e intelectual em (eral% 3ão a consciIncia dos homens !ue determina seu ser social% Pelo contr.rio, seu ser social !ue determina a sua consciIncia% 3um certo est.(io de sua evolução, as /orças "rodutivas materiais da sociedade entram em cho!ue com as relaçHes de "rodução e$istentes ou, o !ue mera e$"ressão le(al da mesma coisa, com as relaçHes de "ro"riedade dentro das !uais elas tIm atuado at então% e /ormas de evolução das /orças "rodutivas, essas relaçHes "assam a ser entraves a elas% 0nau(uraJse então uma "oca de revolução social% Com a mudança das /undaçHes econTmicas, toda a imensa su"er estrutura se trans/orma, mais ou menos ra"idamente% Para a"reciar essa trans/ormação, sem"re se deve distin(uir entre a trans/ormação material das condiçHes econTmicas da "rodução, suscetíveis de serem determinadas com a e$atidão da ciIncia natural, e as /ormas :urídicas, "olíticas, reli(iosas, estticas ou /ilos#/icas, em uma "alavra ideol#(icas, "elas !uais os homens tomam conhecimento desse con/lito e lutam "ara resolvIJlo% ssim como a nossa o"inião sobre um indivíduo não se baseia no !ue ele "ensa de si mesmo, tam"ouco "odemos :ul(ar um "eríodo de trans/ormação "ela "r#"ria consciIncia !ue tem dele% Pelo contr.rio, essa consciIncia "ode ser e$"licada a "artir das contradiçHes da vida material, con/lito e$istente entre as /orças "rodutivas sociais e as relaçHes de "rodução% 3enhuma ordem social "erece antes de se terem desenvolvido todas as /orças "rodutivas !ue nela cabem F e novas relaçHes de "rodução mais elevadas nunca a"arecem antes das condiçHes materiais "ara a sua e$istIncia terem sur(ido do ventre da "r#"ria sociedade anti(a% Lo(o, a humanidade sem"re se "ro"He a"enas as tare/as !ue "ode solucionar "ois, olhando o assunto mais de "erto, sem"re se constatar. !ue a "r#"ria tare/a s# des"onta !uando as condiçHes materiais "ara a sua solução :. e$istem ou, "elo menos, estão em vias de se concretizar%
4s sistemas de "rodução asi.tico da anti(uidade /eudal e bur(uIs moderno "odem ser descritos como advindos de "ocas "ro(ressistas da /ormação econTmica da sociedade% s relaçHes de "rodução bur(uesa são a Oltima /orma anta(Tnica do "rocesso social da "rodução F não na ace"ção de anta(onismo individual, mas decorrente das condiçHes sociais da vida do indivíduo% o mesmo tem"o, as /orças "rodutivas em (estação no ventre da sociedade bur(uesa criaram as condiçHes materiais "ara a solução desse anta(onismo% Essa /ormação social conduz a "rJhist#ria da sociedade humana a um /echo% "rJhist#ria da sociedade humana /ormada "or todas essas estruturas econTmicas, não !ue "recedam o advento do comunismo% dialtica !ue em 6e(el era
1<& es"iritual "assa a ser a dialtica concreta das /ormas e modos de "rodução econTmica e das classes !ue detIm esses meios de "rodução% Então "ara dar o e$em"lo do est.(io contem"or9neo, "ara Mar$, a tese dialtica era a he(emonia da bur(uesiaS a ne(ação dessa tese, sua antítese a e$istIncia do "roletariado e a síntese então a ne(ação da ne(ação !ue a revolução comunista% Esta vai se desdobrar "or eta"as% =e(undo Mar$, o comunismo não atin(ido diretamente, mas "assa "or uma /ase chamada ?ditadura do "roletariado@% N interessante notar !ue Mar$ não acha nada bonita a ditadura do "roletariado, sem"re dizia !ue esta eta"a seria horrível, mas !ue era necess.ria "ara se che(ar ao comunismo, de /orma !ue a "rJhist#ria humana se encerrasse e começasse uma verdadeira hist#ria% 4 lu(ar "rivile(iado da razão conservado "or Mar$, a dialtica mar$ista tão racional !uanto a he(eliana% Esses "rocessos econTmicos, sociais e "olíticos, obedecem a uma l#(ica racional !ue a razão dialtica% N "or isso !ue =artre, !uando se "reocu"a com o "roblema do mar$ismo, vai !uerer /azer lo(o uma crítica da razão dialtica da mesma maneira !ue Kant havia submetido a razão te#rica a uma crítica da razão "ura e a razão "r.tica a uma crítica da razão "r.tica% l(uns comentadores che(am a dizer !ue o livro de =artre A crítica da ra23o dialética deve "receder lo(icamente as an.lises hist#ricas de Mar$, "or!ue "retende /undar a validez da razão dialtica, uma coisa !ue o Mar$ não /ez% Mar$ tomou a razão dialtica como su"osto "or!ue acreditava !ue ela :. tinha sido validada "ela /iloso/ia de 6e(el% Bastava a ele colocar essa /iloso/ia sobre os "s e em"re(ar a razão dialtica "ara e$aminar a hist#ria da sociedade humana e che(ar ao "onto /inal desse "rocesso, !ue não mais o de 6e(el% Em Mar$, o =aber bsoluto substituído "ela sociedade comunista e "elo começo da hist#ria humana% s outras /iloso/ias !ue criticam a /iloso/ia de 6e(el são racionalistas, o /azem "or!ue (lori/icam a razão e a tIm como "rinci"al /aculdade do ser humano, "ois de/ine o Es"írito, e , "ortanto, o a(ente decisivo de todos os acontecimentos% Então um desses /il#so/os /oi 3ietzsche, !ue substituiu a razão "ela Gida e Gontade% Mas o "rimeiro /il#so/o alemão !ue destronou a razão e colocou a vontade no trono !ue ela antes ocu"ava /oi =cho"enhauer !ue escreveu um livro chamado O mundo como !ontade e re&resentaç3o% vontade o verdadeiro "rincí"io atuante da realidade, e 3ietzsche vai se(uir essa trilha%
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M' + ' '"%+)'@!
4 trabalho tal como n#s o conhecemos alienado F um /enTmeno contr.rio essIncia humana, ao homem, al(o "atol#(ico% Eu /aço um ob:eto e esse ob:eto "assa a não ter mais nada comi(o% Ele ad!uire uma e$istIncia autTnoma, "r#"ria, e a"arece a mim como uma /orça estranha e hostil% Por de/inição, esse ob:eto não "ertence a !uem o /ez, mas a um outro% 4 "rodutor se alienou nesse ob:eto "or!ue esse ob:eto "assou a ser de outro% situação /ica (rave num sistema de "ro"riedade "rivada% 4 o"er.rio /az um ob:eto !ue "assa a ser "ro"riedade do ca"italista, do dono da /.brica ou da terra% Então essa hostilidade, essa estranheza se acentua% Esse car.ter estranho do ob:eto, "roduto da alienação do es"írito, a"arece em 6e(el% Mas l. ele estranho sim"lesmente "or!ue se destacou do es"írito F e o es"írito não sabe mais !ue a!uele ob:eto /ora dele ele mesmo% Então o es"írito o vI como al(o estranho, es!uisito, hostil% Ele s# vai su"erar essa alienação, essa estranheza !uando /inalmente reconhecer !ue a!uele ob:eto ele% consciIncia "ermanece in/eliz "or!ue não se reconhece no ob:eto% Em Mar$, o !ue torna o mundo criado "elo homem estranho e hostil não a"enas a sua ob:etividade, como !ueria 6e(el, mas o /ato de !ue o homem, no ato de "roduziJlo, se ob:etiva inumanamente em o"osição a si "r#"rio% Mar$ ar(umenta !ue a alienação tem sua /onte dentro da "r#"ria atividade "rodutiva da !ual J ele a/irma F o mundo ob:etivo a"enas um resumo% Como "oderia o trabalhador e$"erimentar o "roduto de sua atividade como al(o estranho, !ue se mostra o"osto a ele, se ele "r#"rio não estivesse alienado de si mesmo no "r#"rio ato da "roduçãoU 4 "roduto a"enas um resumo da atividade F a "rodução% alienação do ob:eto do trabalho revela a alienação, a e$teriorização na atividade do "r#"rio trabalho% 4 car.ter estranho do "roduto como um "roduto coletivo um re/le$o da autoalienação do homem no "rocesso do trabalho% 4 ob:eto estranho um es"elho "ara o homem, como se /ora um lembrete de sua "r#"ria e$"eriIncia da alienação% 4 mundo se torna um mundo alienado "or!ue a atividade "rodutiva criadora do mundo trabalho alienado% Por isso, se:a a"enas trabalho ou trabalho alienado, o termo se em"re(a di/erentemente, como se /ossem a mesma coisa%
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1<*
lienação si(ni/ica, "ara Mar$, !ue o homem não se vivencia como a(ente ativo de seu controle sobre o mundo, mas !ue o mundo, a natureza, os outros e ele mesmo "ermanecem alheios ou estranhos a si "r#"rio% Eles /icam acima e contra eles como ob:etos, mal(rado "ossam ser ob:etos "or ele mesmo criado% lienarJse , em Oltima an.lise, vivenciar o mundo e a si mesmo "assivamente, rece"tivamente, como su:eito se"arado do ob:eto% Dodo esse conceito de alienação /oi "ela "rimeira vez e$"resso no "ensamento ocidental atravs do conceito de idolatria do nti(o Destamento% essIncia do !ue era chamado de idolatria "elos anti(os "ro/etas não si(ni/icava o homem adorar muitos deuses em vez de um Onico eus% =i(ni/ica !ue os ídolos são obras das mãos do "r#"rio homem% 4s ídolos são coisas e, no entanto, o homem curvaJse diante delas e as reverencia% dora a!uilo !ue ele mesmo criou% E, ao /azIJlo, o homem se trans/orma ele "r#"rio em coisa% Drans/ere s coisas de sua criação os atributos de sua "r#"ria vida% E em vez de e$"erimentarJse como "essoa criadora, s# entra em contato consi(o mesmo atravs da adoração do ídolo% Ele se alienou das /orças de sua "r#"ria vida, da ri!ueza de suas "r#"rias "otencialidades, e s# entra em contato consi(o mesmo de maneira indireta, submetendoJse vida con(elada nos ídolos% =os ídolos, ve:am bem% com"ulsão !ue trans/orma a autoatividade criadora em trabalho alienado, a com"ulsão "ara enri!uecer% Mar$ :. a retrata, em seus manuscritos, como a obsessão maníaca "elo acOmulo de ca"ital% ;m verdadeiro /anatismo de se a"ro"riar do mundo das coisas criadas% ;ma 9nsia "or dinheiro a !ual chama de ?cobiça@% s Onicas en(rena(ens !ue "Hem em movimento a economia "olítica são a cobiça e a (uerra entre os cobiçosos, a com"etição% Mar$ descreve a cobiça como uma es"cie de mania e vI no dinheiro o meio de e$ercer "oder sobre todas as coisas% 4 homem adora o dinheiro como sendo a "otencialidade e$teriorizada da humanidade% ;m ser "oderoso !ue d. a seu "ossuidor um "oder limitado% 4 dinheiro ?o "oder divino !ue trans/orma tudo@% 4 dinheiro como ídolo% 4 dinheiro a essIncia alienada do trabalho do homem e de seu ser% Esse ser estranho o (overna e ele o adora% ssim como o homem en!uanto estiver absorvido na reli(ião s# "ode ob:etivar sua natureza trans/ormandoJa numa criatura estranha /antasia, da mesma /orma sobre o domínio da necessidade e(oísta ele "ode a(ir num modo "r.tico, criar ob:etos "raticamente, a"enas subordinando tais
1< "rodutos bem como sua atividade /orça de um ser estranho, e lhes con/erindo demasiada im"ort9ncia% Esse ser estranho o dinheiro% alienação um /ato mais /undamental do !ue a e$"loração% e$"loração o resultado da "ro"riedade "rivada% Mar$ diz o se(uinte> 3ão a "ro"riedade "rivada !ue criou o trabalho alienado% Pelo contr.rio% 4 trabalho alienado !ue criou a "ro"riedade "rivada% Então a alienação /undamental a do trabalho, "or!ue a es"cie humana se entre(ou ao trabalho alienado e com ele !ue sur(iu todo esse "rocesso econTmico de acumulação de ca"ital, maisJvalia, e$"loração do homem "elo homem, etc% 4 trabalho não alienado vai ser o ob:etivo da 6ist#ria, "ara Mar$% Em vez do Es"írito bsoluto, em vez do =aber bsoluto, o ob:etivo vai ser a desalienação com"leta do ser humano% esalienação reli(iosa, econTmica, /ilos#/ica, social, entre outras J !ue vai ter como /undamento o trabalho não alienado% N "reciso desalienar o trabalho "ara !ue um novo mundo "ossa nascer% Mar$ cometeu, vamos dizer assim, uma aud.cia indita, ao dizer !ue a realidade não nem a im"ressão de 6ume, nem a subst9ncia de rist#teles, nem a ideia de Platão, nem a essIncia de =ão Dom.s de !uino, nem a res e#tensa e a res cogita de escartes% 3ada disso% realidade a atividade "r.tica, o trabalho dos homens% 3unca nin(um tinha dito isso% 6o:e "arece besteira "or!ue Mar$ disse e os comunistas re"etiram tanto !ue :. at encheu o saco% Mas !uando Mar$ disse, era uma novidade absoluta%
S'$+ + ! M'%*!
hist#ria das relaçHes de =artre com o mar$ismo começa com os te$tos "ar#ismo e re!oluç3o e Os comunistas e a &a2 , atravs dos !uais "rocura che(ar a um acordo
1<8 doutrin.rio, /ilos#/ico, com o mar$ismo, "ara !ue o a"oio "olítico !ue ele dava es!uerda tambm se consubstanciasse no "lano do "ensamento% "rinci"al ob:eção de =artre metodol#(ica% Para ele, o mar$ismo vul(ar reduz a realidade na determinação "or uma in/raestrutura material !ue determina a su"erestrutura es"iritual% Auer dizer, a vida do es"írito, da consciIncia, a!uilo !ue o "rinci"al no =artre e$istencialista, não "assa de mero re/le$o da in/raestrutura social e econTmica, "ara o mar$ista vul(ar F "ara !uem, "ortanto, a /iloso/ia e$istencialista não "assa de uma elocubração estril de "e!ueno bur(uIs% =artre chamou o mtodo mar$ista, do(m.tico de uma em"resa de índole terrorista, !ue consiste na eliminação violenta de tudo !ue /or es"ecí/ico, "articular, sin(ular, "ara reduzir tudo a um es!uema conceitual sim"lista% Em 1-), a"areceu a 0rítica da ra23o dialética, o livro em !ue =artre "rocura mostrar de como !ue ele entende o mar$ismo como a /iloso/ia insu"er.vel da nossa "oca% "rimeira "arte um ensaio sobre a !uestão do mtodo, em !ue ele "ro"He a adoção de um mtodo "ro(ressivo e re(ressivo% 4 mtodo mar$ista vem do (eral "ara o "articular% N um mtodo, "ortanto, re(ressivo% E$amina as estruturas econTmicas e sociais e vai re(redindo "ara o "articular% =e ele !uer e$aminar um /enTmeno !ual!uer, então "arte do !ue mais (eral, a característica da sociedade em !ue se veri/icou esse /enTmeno, "ara o acontecimento "articular% E =artre diz !ue esse mtodo o mtodo !ue violenta o acontecimento "articular% N um mtodo limitado e limitador !ue reduz o acontecimento "articular ao !ue dele "ode ser discernido nos es!uemas (erais% N "reciso com"letar esse mtodo "or um movimento !ue v. do "articular "ara o (eral, !ue "arta do acontecimento "articular, do indivíduo, e se diri:a "ara esses es!uemas (erais com !ue trabalha o mar$ismo, ou se:a, um movimento "ro(ressivo do "articular "ara o (eral% 4 mtodo ca"az de abran(er um /enTmeno ou uma realidade de uma maneira mais am"la tem de ser um mtodo "ro(ressivoJre(ressivo% Dem de ir e voltar e ir de novo e voltar e ir de novo "ara !ue as coisas se aclarem, essa a "ro"osição /undamental%
1<+ 4 momento "ro(ressivo de disci"linas au$iliares, como a sociolo(ia, a "sican.lise e o e$istencialismo tem a /unção de consubstanciar o saber (eral, re(ressivo, como o mar$ismo%
N%+$*&B+ + ' V%('
A Origem da tragédia, !ue um livro lindíssimo, trata de dois "rincí"ios /undamentais da arte e do "ensamento (re(o !ue F o dionisíaco e o a"olíneo, o "rimeiro li(ado ao deus ionísio, !ue o deus do vinho, da embria(uez e do teatroS e o se(undo li(ado a "olo, o deus das belas /ormas, do e!uilíbrio e harmonia% união desses dois deuses, desses dois "rincí"ios, resultou na arte su"rema da tra(dia (re(a% ori(em da tra(dia (re(a o rito dionisíaco, mas "olo o trans/orma em arte, teatro% 4 es"lendor (re(o entra em decadIncia com =#crates, o a"arecimento das e$i(Incias da razão na cultura (re(a% 3ietzsche /oi $in(ado de irracionalista% Ele certamente não considerava isso um $in(amento, mas um elo(io% 3a sua visão, a realidade não /eita de ob:etos !ue se colocam ao entendimento racional de um su:eito, ela constituída de /orças% -orça a maneira como os "rimitivos sentem a realidade% N como os "rJ socr.ticos viam a realidade% 3ão ob:etos, não coisas% 3essa maneira de ver mais imediata o sol, "or e$em"lo, não um ob:eto% 4 sol um "oder, uma /orça% N a!uela luz intensa e a!uele calor !ue vem de l.% N um deus% e"ois !ue a /iloso/ia racionalista (re(a inventou o ob:eto !ue a!uilo "assou a ser uma bola de /o(o enorme, não sei de !ue tamanho, não sei !ue tem"eratura, e tudo mais !ue o "ensamento humano estabeleceu "ara de/inir esse ob:eto, o sol% Mas o sol, ori(inalmente, não um ob:eto% N uma /orça% Para 3ietzsche, todas as coisas não são coisas, são /orças% E a /orça /undamental a vontade% E a vontade /undamental o "oder% 4 "oder como da vida, de ver, a(ir e criar% realidade de 3ietzsche não nem ob:eto e nem um :o(o dialtico, mas a
1 3ietzsche substitui o elemento es"eculativo da ne(ação, da o"osição ou da contradição "elo elemento "r.tico da di/erença, ob:eto de a/irmação e de (ozo% N nesse sentido !ue e$iste um em"irismo nietzschiano% "er(unta tão /re!uente em 3ietzsche > 4 !ue uma vontade !uerU 4 !ue !uer esteU E a!ueleU Essa "er(unta não deve ser com"reendida como a "rocura de um ob:etivo, de um motivo e nem de um ob:eto "ara essa vontade% 4 !ue uma vontade !uer a/irmar sua di/erença% Em sua relação essencial com a outra, uma vontade /az de sua di/erença um ob:eto de a/irmação% 4 "razer de se saber di/erente% 4 (ozo da di/erença% Eis o elemento conceitual novo a(ressivo e areo "elo !ual o em"irismo substitui as "esadas noçHes da dialtica e, sobretudo, como diz o dialtico, o trabalho do ne(ativo% izer !ue a dialtica um trabalho e o em"irismo um (ozo, basta "ara caracteriz.Jlos% E !uem nos diz !ue h. mais "ensamento num trabalho do !ue num (ozoU di/erença o ob:eto de uma a/irmação "r.tica inse"ar.vel da essIncia e constitutiva da e$istIncia% 4 sim de 3ietzsche se o"He ao não dialtico% leveza, a dança ao "eso dialtico% bela irres"onsabilidade s res"onsabilidades dialticas% 4 sentimento em"írico da di/erença, em suma, a hierar!uia o motor essencial do conceito mais e/icaz e mais "ro/undo do !ue todo "ensamento da contradição% 3ietzsche a"resenta a dialtica como a es"eculação da "lebe, como a maneira de "ensar do escravo% 4 "ensamento abstrato da contradição "revalece sobre o sentimento concreto da di/erença "ositiva% reação sobre a ação% vin(ança e o ressentimento tomam o lu(ar da a(ressividade% Então 3ietzsche !ueria /azer um "ensamento "ara homens /ortes, es"íritos /ortes% Ele valoriza a a(ressividade, "or e$em"lo, em relação ao ressentimento% 4 ressentimento imoral% a(ressividade uma coisa moral, "or!ue uma mani/estação da /orça% ne(ação, a reação são mani/estaçHes de /ra!uezas inerentes ao escravo% ação, a a/irmação da vida a mani/estação de um "ensamento /orte, a do su"erJhomem% o ser, 3ietzsche o"He o devir% o uno, o mOlti"lo% identidade, a di/erença% essIncia, a /orça% razão, a vontade% dialtica, a a/irmação% 6ist#ria, o eterno retorno% o transcendente, o imanente% reação, a ação% 4 devir, o mOlti"lo e a di/erença "ara a /iloso/ia cl.ssica eram características do mundo das a"arIncias, deste mundo !ue n#s vivemos !ue não o mundo substancial e
1*) das essIncias% Para 3ietzsche, "orm, o verdadeiro mundo o su"er/icial, a vida !ue a (ente e$"erimenta imediatamente% Esta a"arIncia, !ue não era considerada "ro/unda, a/irmada "or 3ietzsche como a verdadeira essIncia% Esta i lusão a verdade% verdade este mundo a"arente% verdade o devir, o mOlti"lo% 6., em 3ietzsche, uma a/irmação do movimento, da mudança e do devir%
1*1 *% IMANÊNCIA E TRANSCENDÊNCIA
Aqui diremos O que n#o querem Aqui faremos o que pro%em Aqui veremos o sol que nas!e a lua que amanhe!e a luz que !res!e Aqui es!reveremos nossos poemas Aqui viveremos nossos xtases
Aqui desafiaremos as for'as da morte Aqui lutaremos sem des!anso Aqui al!an'aremos a ilumina'#o final o amor sem limites a natureza do infinito Aqui seremos os fi$is servidores da verdade suprema sem disfar!es
4 "ior "roblema de nossa sociedade, de"ois da /ome, a /alta de "oesia, ou se:a, a /ome do es"írito% =# a "oesia e$"ressa o sentido de tudo% =em ela, o absurdo abre o es"aço "ara o "rocesso de alienação (alo"ante% "oesia, "ortanto, a Onica "ossibilidade de re(eneração es"iritual de nossa cultura e, "ortanto, de nossa sociedade% En!uanto não /ormos ca"azes de criar uma sociedade na !ual os "oetas se:am, não
1*2 e$"ulsos dela, como es"eculou a racionalização alucinada de Platão, mas reconhecidos como suas antenas mais "oderosas, não seremos /elizes% 6eide((er, um /il#so/o com coração de "oeta, viu claramente !ue a "oesia alcança a essIncia mais "ro/unda da realidade% Ela a res"osta silenciosa ao a"elo do serS nela, as "alavras dei$am de ser utensílios coisi/icados "ara indicar a "resença do "resenteS nela, o "r#"rio ser dialo(a consi(o "r#"rioS nela, nos a"ro$imamos do sa(rado% Como diz 6oelderlin no verso !ue 6eide((er usa como a Auarta "ro"osição da sua clebre con/erIncia sobre a essIncia da "oesia> Was (lei(t a(er, sti''en die Dic$ter@ 4u se:a> ?o !ue dura, /undamJno os "oetas@%
4s "oetas nomeiam o !ue h., /undam o ser, "ronunciam as "alavras
essenciais%
G+( A. 7!)B+% + ' '/%'@! (! +/0+!
Auando entrei "ara a /aculdade de iloso/ia, em Porto le(re, em 1-*, os "ro/essores me "areciam um tanto velhos> níbal di Primio Paz :. era sessentão, rmando C9mara era mais velho aindaS o "r#"rio Ernani Maria iori :. era !uarentão% Mas havia tambm, então começando a carreira acadImica, um :ovem de 28 anos, erd % Bornheim% Ele se tornaria uma das "ersonalidades mais im"ortantes da /iloso/ia brasileira de todos os tem"os, como autor e como "ro/essor% i!uei chocado com a indi/erença da mídia em (eral, diante da morte dele% inda "raticamente um adolescente, eu não "erdia sua aula% Parecia mais lOcido, mais sincero e, "ortanto, mais con/i.vel do !ue os outros "ro/essores% erd si(ni/icava a modernização do nosso curso% Dinha acabado de voltar de estudos em reibur(, lemanha, onde teve mestres de /enomenolo(ia husserliana como Ma$ Muller e assistia con/erIncias de 6eide((er% Estava a "ar, em "rimeira mão, do !ue havia de mais avançado na /iloso/ia ocidental% E o !ue mais !uer um adolescente estar atualizado% erd nos colocava no to"o do mundo da /iloso/ia% 3aturalmente, embora brasileiro, a /ormação de erd /oi a de um /il#so/o alemão% 3ascido em Ca$ias do =ul, de "ais alemães, em 1-2-, o tedesco /oi sua outra lín(uaJ mãe, alm do "ortu(uIs% =ou testemunha de !ue s# se /alava alemão na casa dele
1*& "or!ue /i!uei hos"edado l. al(uns dias !uando nosso (ru"o de Porto le(re, o Deatro ;niversit.rio, a"resentou ?Es"erando odot@ em Ca$ias do =ul% Pai, mãe, irmãs de erd, entre eles s# /alavam em alemão% 3ão era de sur"reender !ue seu "rimeiro livro tratasse /undamentalmente da tradição /ilos#/ica da lemanha% 4 título era As&ectos -ilos4'icos do 1omantismo, saiu em 1-*-, mas esse trabalho teria !uase vinte anos mais tarde uma nova encarnação, modi/icada, sob o título de -iloso'ia do 1omantismo% erd analisa o Sturm und Drang , 6erder, ichte, os irmãos =chele(el, =chleiermarcher, =chellin(, Boehme e 3ovalis% E se coloca, como "ensador, na tradição cl.ssica da /iloso/ia alemã% cho muito a(uda sua observação /inal de !ue todo romantismo ?tende a resolverJse em termos de reli(ião@ e de !ue, "ortanto, ?o rom9ntico coerente deveria tornarJse um vision.rio, bastante "r#$imo do misticismo de ti"o oriental@% e$"eriIncia de uma (eração "osterior a dele, v.rios anos de"ois, haveria de con/irmar essa "erce"ção% Mas a /iloso/ia alemã avança alm do romantismo% /ormação de erd no "ensamento de seus cl.ssicos, de Kant e de 6e(el, era s#lida% Contudo, era 6usserl, como o seu momento mais recente, mais in/luente% ssim, a "artir da /enomenolo(ia, a atenção de erd diri(iuJse "articularmente a 6eide((er% Em "ouco tem"o, a an.lise e$istencial do Ser e
1*< e$"eriIncia ne(ativa, "orm, um momento necess.rio, uma ascese% 4 e$istencialismo se desdobra sob o si(no do niilismo sub:etivista !ue /az do homem a medida de todas as coisas, at mesmo de eus !ue se revela mortal e /inito% "resença da morte soberana no e$istencialismo% 4s homens morrem, e não são /elizesS todos os seres humanos são mortaisS de"ois de minha morte, o mundo continuar. cheio, como um ovoS com a morte na almaS etc F tais /rases e e$"ressHes sobre a morte são /re!uentes na literatura e$istencialista% Elas e$"ressam a ur(Incia da e$"eriIncia ne(ativa, necess.ria "ara dissi"ar as ilusHes da admiração in(Inua% !uestão /undamental, em lin(ua(em mais /ilos#/ica, a /initude da e$istIncia% "rimeira ambição /ilos#/ica de erd /oi a de /ormular uma ?meta/ísica da /initude@% =eu movimento no sentido de uma a/irmação do e/Imero% Mas, no seu livro sobre =artre, erd o sur"reende "reso ao im"asse da crise da meta/ísica !ue 6eide((er "retende su"erar no novo "ensamento ontol#(ico% N "ossível uma ontolo(ia da /initude !ue não se:a uma ontolo(ia do nadaU Em O 9diota e o Es&írito O(jeti!o, ensaio !ue com"leta, em 1-+), de maneira brilhante, o livro sobre =artre, erd a/irma !ue o livro deste sobre laubert, O 9diota da -amília, nos situa ?no 9ma(o do /inito "or e$celIncia, no indivíduo irre"etível, Onico, datado@, o !ue, do "onto de vista da 6ist#ria da iloso/ia, um des/echo !ue est. ?antiJ he(elianamente na descoberta da /initude, na reconciliação com ela@% Em Dialética,
1** intitulado -iloso'ia e 1ealidade =acional , ele "arte do a$ioma de !ue uma /iloso/ia nacional uma contradição e termina "or resolver o "roblema insinuado em seu título atravs da "articularidade, cate(oria cu:a criação deveJse ao mar$ista eor( Luacs, !ue a usa "ara de/inir a obra de arte% 3as "alavras de erd, ?atravs do sin(ular, o universal alcança con/i(urar um "articular determinado, concretoS e "elo universal, o sin(ular abandona o seu con/inamento "ara instituir um "articular no !ual se "ode ler tambm o universal@% 4 "articular a síntese, a totalização dialtica, da contradição entre o universal e o sin(ular, ou entre a cultura e a realidade nacional% e"ois da /iloso/ia, o !ue erd mais (ostava era o teatro% Auando era seu aluno, "recisava de um local de ensaios "ara o es"et.culo de Es&erando Fodot , de Becett, !ue eu diri(ia% erd em"restou lo(o o a"artamento dele% Auando o Deatro ;niversit.rio /oi a um /estival, no Reci/e, a"resentando a "eça A 0antora 0areca, de 0onesco, bu:amra, !ue era o diretor, convidou erd "ara /azer o "a"el do Bombeiro e ele aceitouS o /il#so/o tinha a"reci.vel domínio de cena% E !uando a ;R= começou um Curso de rte ram.tica, erd /oi um dos "rimeiros "ro/essores contratados% 6o:e, no Brasil, !ual!uer discussão sobre teoria do teatro e tambm outras !uestHes estticasQ "assam obri(atoriamente "elos escritos de erd% ?e$"eriIncia ne(ativa@ tambm se mani/estava no teatro de a!antgarde, descrito como um Deatro do bsurdo% s suas cone$Hes com o ?homem absurdo@ de Camus, com a e$"eriIncia da ?n.usea@, de =artre, e com o e$istencialismo em (eral eram conceitualmente bastante evidentes% Entretanto, havia um ti"o de van(uarda de !ue "arecia acenar "ara as conse!uIncias sociais, hist#ricas e mesmo estticas mais decisivas F o teatro dialtico de Bertolt Brecht% ssim como /izera em relação a =artre e /iloso/ia, erd dedica es"ecial atenção a Brecht e seu im"acto no teatro do sculo vinte% erd não considerava os desenvolvimentos /ilos#/icos do 4cidente, no ocaso do sculo YY F estruturalismo, errida, eleuze, os novos nietzscheanos, etc% F tão im"ortantes !uanto os temas e os /il#so/os !ue mais ocu"aram sua re/le$ão, em "raticamente cin![enta anos de atividade /ilos#/ica% 4 novo, em /iloso/ia, não era necessariamente o melhor ou mais luminoso% Entretanto, em matria de esttica, erd tendia abertamente "ara a valorização do novo% PodeJse dizer !ue /oi um esteta da van(uarda, "osição !ue não s# assumiu abertamente como tentou /undamentar em seus livros, es"ecialmente as 7Iginas de -iloso'ia da Arte, de 1--+% Para ele, a arte não "ode
1* "arar% =eu ata!ue aos c9nones /eroz% Para ele, o novo não s# necess.rio, "ortanto, ?um sentido !ue /az de cada nova obra de arte uma sur"resa rebelde ao constran(imento de !ual!uer lei su"erior@% Eu "assava anos sem ver o erd% Continuei sendo sem"re um (rande admirador dele, como "ensador e como "essoa% Mas tomamos rumos muito di/erentes% Nramos muito di/erentes% Denho certeza, "or e$em"lo, !ue ele não "ode ter visto com bons olhos meu envolvimento com a contracultura% Certa vez, en!uanto tom.vamos um cho"e numa churrascaria, arrasou um te$to meu, sem "iedade nenhuma% "esar de sensível mudança dos tem"os, ele "ermanecia um /il#so/o cl.ssico, acadImico, essencial% 3ão es!uecia :amais a /iloso/ia mesmo nos momentos de humor e descontração% /iloso/ia era sua vidaS a "r#"ria vida em sua e$"ressão mais es"iritual% ;m dia, /i!uei sur"reso ao ver seu nome :unto com o meu no /olheto !ue anunciava um evento alternativo no 6otel l#ria% Era uma /eira da!uelas !ue vinham dos $i&&ies "ara a 3ova Era, cheia de barracas com todas as m.(icas conhecidas F astrolo(ia, tarot, 0 Chin(, entre outras% Eu ia /alar sobre Carlos Castaneda e erd sobre ecolo(ia% 3#s nos encontramos nos corredores do hotel% Caminhamos entre as tendas de consultas divinat#rias de todo ti"o, de vendas de cristais, "Indulos, acess#rios "sicotrTnicos e outros ob:etos m.(icos, o/ertas de massa(ens vdicas ou =hiatsu, e assim "or diante% erd estava es"antado, "er"le$o, era como se estivesse em Marte% 3unca tinha visto a!uilo e me "er(untou do !ue, a/inal de contas, se tratava, !ue diabos de evento era a!uele% Dentei e$"licar como "ude a cultura alternativa e ele /icou ali, rindo, sem entender muito bem% Per(untei como, se tudo a!uilo lhe era tão estranho, ele tinha ido "arar l.% Muito sim"les, ele disse> tele/onaram, convidaram "ara ele dar uma "alestra sobre ecolo(ia e ele aceitou% Então acrescentou>
Mas eu não sabia !ue era numa reunião de malucosW
O 9!+ A"=+$ C'-*
1*8 A quest#o do sentido $ a quest#o do homem= o homem $ o 7ni!o sentido da quest#o" Se alguma !oisa tem sentido, $ o homem 3 e, assim, este mundo possui, pelo menos, a verdade do homem" Alert +amus
lbert Camus nasceu em Mondovi a 8 de novembro de 1-1&% =eu "ai, o o"er.rio Lucien Camus, era de uma /amília alsaciana !ue se instalara na r(lia ainda no sculo Y0Y% mãe, Catherine =intfs, era em"re(ada domstica, anal/abeta e so/ria de surdez% Em 1-1+, o :ovem Camus começa a /re!uentar a escola normal onde /oi aluno de L% ermain a !uem dedicaria mais tarde o seu Os Discursos da Suécia% =o/re de tuberculose mas, em 1-&2, "rosse(ue os seus estudos su"eriores em Letras, tendo como "ro/essor 'ean renier, o /il#so/o e ensaísta a !uem se li(ar. "or uma /orte amizade e dedicar. seus livros O A!esso e o Direito e O /omem 1e!oltado% inda nos tem"os de estudante, in/luInciado "or Malrau$, ide, Barrfs, 3ietzsche e ostoivsi% Ele estuda literatura e /iloso/ia F e sua "rimeira tese universit.ria trata de "eta'ísica 0rist3 e =eo&latonismo% Com a ascensão de 6itler ao "oder, em 1-&&, Camus tornaJse militante do movimento anti/ascista msterdamJPle7el, /undado "or 6enri Barbuse e Romain Rolland% Em 1-&<, adere ao Partido Comunista do !ual se a/astaria e !ue seria, no "#sJ(uerra, em Paris, o "rinci"al motivo de seu rom"imento com =artre% Em 1-&, começa a trabalhar como :ornalista no l(er Re"ublican, diri(ido "or Pascal Pia a !uem dedicar. O "ito de Sísi'o% Em 1-<2, "ublica O Estrangeiro e entra "ara a ResistIncia, no (ru"o Combat, sob o "seudTnimo Bauchard% Em 1-<8, "ublica o romance A 7este cu:o sucesso imediato deuJlhe o Pri$ des Criti!ues% Em 1-*8 ele (anharia o PrImio 3obel de Literatura% s "rimeiras obras de lbert Camus :. mostram !ue est. /echada, "ara ele, a "ossibilidade do salto de Kiere(aard, ou se:a, a "ossibilidade de su"erar o absurdo "ela /S sua sensibilidade, "elo contr.rio, est. inteiramente aberta e$"eriIncia ínte(ra desse absurdo% Este o traço comum a obras como O Estrangeiro, as "eças de teatro O "al Entendido e 0alígula, e o ensaio /ilos#/ico O "ito de Sísi'o%
1*+ Camus !uer nos mostrar !ue, num universo evidentemente "rivado de sentido, o homem se sente estran(eiro% 4 div#rcio entre o homem e sua vida, o ator e seu cen.rio, e$atamente o sentimento do absurdo% 3o /undo da "r#"ria beleza, h. al(uma coisa desumana, uma hostilidade "rimitiva "or "arte do mundo !ue as ilusHes criadas "elo homem não conse(uem dissimular% =ur(e o con/ronto insu"er.vel entre a irracionalidade natural, !ue nos en(ol/a, e um dese:o "or clareza racional !ue brota da interioridade obstinada do homem% 4 absurdo não do homem nem do mundo, ele nasce de seu con/ronto% O Estrangeiro mostra, com sim"licidade e concisa amar(ura, os Oltimos dias de um homem consciente da /alta de sentido do mundo% 3ão interessam ao autor a (Inese, o "ro"#sito ou al(uma essIncia desse sentimento% Camus toma a visão absurda como "onto de "artida, um su"osto irretor!uível, e tenta um retrato lOcido da condição humana% 3um "re/.cio escrito "ara o livro, Camus declara !ue o "ersona(em Meursault um ?homem "obre e nu, enamorado de um sol !ue não dei$a sombras@ e !ue ele ?animado "or uma "ai$ão !ue "ro/unda "ois, obstinada, uma "ai$ão "elo absoluto e "ela verdade@ F e conclui !ue O Estrangeiro ?a hist#ria de um homem !ue, sem heroísmos, aceita morrer "ela verdade@% narrativa lim"a, austera% =e e!uivale todos os atos do homem absurdo e as /rases do livro F observa =artre, e$"licando O Estrangeiro !ue, "ara ele, um livro ?sobre o absurdo e contra o absurdo@% 4 es"anto de Ka/a est. "resente a!ui, radicalizado na indi/erença% Para o tcheco, ainda havia sinais obscurosS "ara o ar(elino, nem isso% Ka/a um (Inio noturno, mer(ulhado na treva de seus eni(masS a indi/erença diante destes, entretanto, e$"He Camus luz intensa do sol mediterr9neo%
verdade inicial de Camus não "ode ser mais sin(ela% 4s homens morrem e não são /elizes F con/orme declara o seu Calí(ula, o louco !ue "rocura o sentido na "lenitude do "oder% 4 im"erador romano, "ercebendo !ue o mundo não "assa de um hos"ício, entre(aJse a uma matança indiscriminadaS mas ele o /az "ara dar consciIncia aos seus sOditos da verdadeira natureza da realidade%
1*4 tema reiterado em O "al Entendido, um melodrama sobre a solidão meta/ísica% Mãe e /ilha tIm uma "ousada na zona rural, onde costumam assassinar os via:antes% Elas se recusam a dobrar os :oelhos diante de um universo in:ustoS !uerem, como dizem, a(ir do mesmo modo !ue Ele, o Poder =u"remo% cabam matando o /ilho e irmão !ue se hos"edara l. "ara /azerJlhes uma sur"resa de"ois de vinte anos de ausIncia% o descobrir o !ue /izeram, não se sur"reendem "ois o mundo não /az mesmo sentido% "ersona(em "rinci"al clama aos cus "or a:uda, no /inal da "eça, e recebe como Onica res"osta um n3oC dos l.bios de um velho criado !ue, at então, "ermanecera silencioso% 4 sentido da ale(oria evidente e im"iedoso% Camus o teoriza em O "ito de Sísi'o, um ensaio de natureza artística, escrito com insistIncia na "rimeira "essoa, !ue começa "rometendo ?a descrição, em estado "uro, de um mal es"iritual@% 4 autor estava entre vinte e trIs e vinte e sete anos de idade, !uando o escreveu, e "ermanece intransi(entemente /iel sua intuição b.sica, o es"anto diante do absurdo, da "rimeira Oltima ".(ina% Para o :ovem Camus, a !uestão /undamental da /iloso/ia o sentido da vida% =aber se a vida vale ou não a "ena de ser vivida, a !uestão do suicídio, o Onico "roblema /ilos#/ico realmente srio% Camus não considera o suicídio como /enTmeno socialS o !ue o interessa a relação entre o "ensamento individual e o suicídio% 4 veneno !ue leva ao suicídio est. no "r#"rio coração do homem% Camus trata de /il#so/os como Pascal, Kiere(aard, 3ietzsche, Chestov, 6usserl, 6eide((er e 'as"ers F cu:a "reocu"ação b.sica "areceJlhe ser "redominantemente e$istencial% 6eide((er F !ue, se(undo Camus, ?considerou /riamente a condição humana@ F a/irma !ue a nossa "r#"ria e$istIncia humilhada, "ois o seu car.ter /inito e limitado mais "rimordial do !ue o "r#"rio homem% 4 absurdo nasce do con/ronto entre a as"iração humana "elo sentido e o silIncio do mundo% N um tema rom9ntico% 3ão alimenta a es"erança vã de alcançar a liberdade, a"enas cuida de dei$ar bem visíveis as (rades de nossa "risão% 3ão im"orta !uanto o homem "rocure res"osta, o mundo o res"onde com silIncio F ?a terna indi/erença do mundo@, como diz Camus%
1) Givemos, em suma, uma es"cie de in:ustiça meta/ísica% Mas Camus e$trai trIs conse!uIncias do absurdo> a rebeldia, a liberdade e a "ai$ão% Giver e$"eriment.Jlas% Estão alm da l#(ica do suicídio, recusam o convite morte% 4 absurdo "rovoca um aumento, uma intensi/icação da vida e nos li(a a esta terra com um laço mortal% res"osta de Camus ao absurdo vem de 3ietzsche% hostilidade do mundo não mais res"ondida com a :ustiça, mas com o or(ulho% E, assim, seu estoicismo ori(inal se converte em e"icurismo ardente% ?3ão as"ires, alma minha, a vida imortal, mas es(ota o cam"o do "ossível@, dizem os versos de Píndaro !ue Camus escolheu "ara e"í(ra/e de O "ito de Sísi'o% !uantidade a verdadeira medida da e$"eriIncia% 3ão se trata mais de "er(untar se a vida tem um sentido, ela não tem mesmo% DrataJse, a(ora, "orm, de "erceber !ue ela ser. vivida melhor e$atamente "or não ter sentido% =ísi/o, se(undo os (re(os, des"rezava os deuses, odiava a morte e tinha "ai$ão "ela vida% Por tudo isso, /oi condenado "elos deuses a carre(ar uma "edra at o alto de uma montanhaS sem"re !ue che(a l., "orm, ela volta a cair e =ísi/o tem de busc.Jla mais uma vez% E isso dever. acontecer assim "or toda a eternidade% 4 destino de =ísi/o o de todos n#s% di/erença !ue o her#i tem "lena consciIncia dele F e, con/orme diz Camus, essa consciIncia sua tortura, mas tambm sua vit#ria sobre ela% 4 absurdo e a /elicidade são inse"ar.veis e "or isso, como diz o Ndi"o de =#/ocles, ?eu concluo !ue tudo est. bem@% Camus chama a atenção "ara o momento do re(resso de =ísi/o at o " da montanha, essa "ausa em !ue ele re/lete sobre sua condição% Como ele, o homem absurdo sem"re retoma a sua vida numa noite !ue sabe sem /im% E são estas as Oltimas "alavras de O "ito de Sísi'o> =ísi/o ensina a /idelidade su"erior !ue ne(a os deuses e levanta as "edras% Ele tambm acha !ue tudo est. bem% a!ui "or diante, este universo sem senhor não vai "arecer estril nem /Otil% Cada um dos (rãos dessa "edra, cada "edaço mineral dessa montanha cheia de obscuridade, /orma "or si s# um mundo% 4 "r#"rio es/orço "ara che(ar ao cimo basta "ara encher o coração de um homem% evemos ima(inar =ísi/o /eliz%
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? !uestão !ue envolve a clona(em a !uestão da imortalidade@, diz 'ean Baudrillard, em A 9lus3o Gital % Essa /antasia obstinada, cu:a realização o ser humano "rocura de todas as /ormas, "arece ser o novo ob:etivo da "retensiosa ciIncia contem"or9nea e de sua tecnolo(ia cada vez mais audaciosa% "rimeira solução a"resentada /oi a sus"ensão criTnica, o con(elamento es"era de uma ressurreição num /uturo cienti/icamente mais adiantado% PodeJse con(elar o cor"o todo, como /oi /eito com Valt isne7, ou s# a cabeça, como /oi /eito com Dimoth7% Mas est. meio /ora de moda, substituída "ela clona(em !ue a se(unda solução o/erecida "or nossa ciIncia% clona(em um "rocedimento cientí/ico concebido "ara "roduzir um novo or(anismo com"leto a "artir de uma clula de adulto%
Para seus ade"tos mais
entusiastas, ela "romete, alm de nossa "r#"ria imortalidade, tambm uma solução "ara os casais sem /ilhos, !ue "oderiam criar re"roduçHes mais ou menos /iis do homem ou da mulher, ou ainda um con/orto "ara "essoas !ue não se con/ormam com a "erda de entes !ueridos, atravs de uma es"cie de ?ressurreição@ !ue seria alcançada "ela clona(em /eita com al(umas clulas desses entes% Em todas essas circunst9ncias, o ob:etivo /inal a imortalidade% Baudrillard considera esse ob:etivo uma tra(dia% ? imortalidade o mais terrível dos destinos "ossíveis@, ele escreve% E e$"lica% Para ele, a morte !ue nos torna indivíduos Onicos e, "ortanto, verdadeiramente humanos% =e a clona(em a re"etição in/inda do semelhante, sua tendIncia a erradicação da di/erença e, "ortanto, do se$o% 4 advento da dualidade se$ual, diz Baudrillard, sim"lesmente "Ts termo s sucessivas re"etiçHes do semelhante% ComoU =u"rimindo o "rocesso de re"etição mec9nicaS a morte !ue e$i(e o novo% Por isso, a revolução se$ual tambm revolução da morte, em o"osição sobrevivIncia in/inita do semelhante% re"rodução dos mortais, "elo se$o, cria o novo, o indito% clona(em, "orm, veio "ro"or uma reversão radical desse "ro:eto% Auer dissociar a vida da morte, da mesma /orma !ue dissocia a re"rodução do se$o% clona(em atende,
12 "ortanto, tentação de voltar a uma imortalidade indi/erente, inor(9nica, sem se$o, sem verdadeira vida% 4u se:a> ?vida@ a"arente da alienação, da rei/icação e da serialização% =e(undo Baudrillard, a imortalidade "elo clone tornouJse "ossível "or!ue :. e$iste, h. muito, em nossa sociedade, um "rocesso de clona(em mental !ue anteci"ou o "ro:eto da clona(em biol#(ica% Ele a/irma !ue nossa cultura nos clona% ?Por meio do sistema escolar, da mídia, da cultura e da in/ormação de massa, seres sin(ulares tornamJse c#"ias idInticas uns dos outros@, diz ele, chamando de ?clona(em social@ esse "rocesso de re"rodução industrial de coisas e "essoas% Esse /enTmeno, !ue lembra a alienação de Mar$, a rei/icação de Luacs ou a serialização de =artre, tornou "ossível a conce"ção biol#(ica do (enoma e da clona(em (entica% 4 ob:etivo oculto sancionar a clona(em social do com"ortamento e da co(nição humanos% Mais uma teoria de cons"iraçãoU Dalvez, mas esta "ode estar correta% discussão sobre os clones sem"re envolveu ar(umentos sobre insensibilidade, distorção moral e arro(9ncia% Ela /oi de/la(rada !uando 0an Vilmut, um cientista escocIs de "restí(io, comunicou seu sucesso com a clona(em da ovelha oll7 F ali.s, recentemente /alecida% "enas a"arente ou mais do !ue isso, esse sucesso trans/ormou a "es!uisa cientí/ica num assunto mundano !ue /ez a /elicidade da mass media em todo mundo% oll7 re"resentava o "rimeiro resultado "ositivo de"ois de mais de duas centenas de tentativas de re"roduzir um ser vi.vel, saud.vel F um cloneW s "rimeiras tentativas e$"erimentais /oram /eitas em v.rias es"cies animais F ovelhas e tambm ratos, bois, bodes, (atos e "orcos% l(umas /oram "arcialmente bem sucedidas, mas não "or muito tem"oS mesmo esses sucessos "arciais a"resentaram inOmeros "roblemas% "r#"ria oll7, o caso mais /amoso, embora tenha nascido com tamanho e "eso normais, /icou lo(o (orda demais, "assou a so/rer de artrite como se /osse um animal velho e acabou morrendo "rematuramente% e !ual!uer maneira, a "olImica sem"re se concentrou na "ossibilidade de a"licar a nova tecnolo(ia em seres humanos "ois essa a (rande /antasia das massas% s "ers"ectivas são "ouco animadoras% e 1)) nOcleos de adultos humanos !ue são obtidos, cada um in:etado num ovo humano cu:o nOcleo ori(inal /oi removido, a"enas cinco tem "ossibilidade de resultarem em recmJnascidos bem /ormados% 4s noventa e
1& cinco "or cento restantes abortam es"ontaneamente em di/erentes est.(ios de desenvolvimento e, a :ul(ar "elas e$"eriIncias de clona(em /eitas com mamí/eros, deveriam resultar em bebIs mal /ormados%
Mesmo os cinco vi.veis so/rerão
"rovavelmente de )arge O''s&ring S%ndrome% Como eles vão se desenvolver, /ísica e mentalmente, ainda uma interro(ação% =istemas biol#(icos são e$traordinariamente com"le$os% s "ers"ectivas são de assustar, e at obri(ar a um recuo, mesmo o indivíduo mais rico e e(omaníaco !ue este:a !uerendo re"roduzir a si "r#"rio atravs dessa tecnolo(ia% maioria dos clones morrerão ainda no Otero F e esses, se(undo os cientistas, serão os sortudos "ois os sobreviventes so/rerão de uma variedade assustadora de anormalidades% Por outro lado, h. uma tendIncia "retensamente mais razo.vel, su"ostamente mais cientí/ica, de e$"lorar o "otencial tera"Iutico F e não re"rodutivo F da clona(em, como uma estrat(ia "ara tratar certas doenças de(enerativas em seres humanos% 4s "assos iniciais da clona(em tera"Iutica são idInticos ao da clona(em re"rodutiva, mas na "rimeira, o desenvolvimento do embrião interrom"ido num est.(io ainda inicial% Muitos a de/endem como um recurso revolucion.rio e "ositivo da medicina% Entretanto, a!ui, a !uestão crucial :. tão /ormulada em relação ao aborto F ou se:a, de saber !uando a vida humana realmente começa F mais uma vez se a"resenta% Auando o es"ermatozoide "enetra o #vuloU Auando o /eto se desenvolveU 4u !uando o /eto sobrevive /ora do OteroU e !ual!uer maneira, a su"osta sensatez cientí/ica da clona(em tera"Iutica não arre/eceu o im"ulso irresistível no sentido de tornar o homem o criador da vida% '. em 1--8, um mdico de Chica(o, Richard =eed, anunciava sua intenção de clonar um ser humano% Recentemente, /oi a vez dos membros de um culto reli(ioso, os raelianos, se(uidores do /rancIs Claude Gorilhon% Místico, ele declara ter recebido o nome Rael de e$traterrestres !ue teriam sido os verdadeiros criadores da raça humana% 4s raelianos anunciaram a clona(em de um ser humano embora não tenham a"resentado "rovas% 4s raelianos tIm uma visão radical da clona(em% =eu ob:etivo a imortalidade do indivíduo% Para eles, a ciIncia biomdica um sacramento !ue visa a criação de conchas vazias "ara as !uais a alma humana "ossa ser trans/erida, atravs da clona(em% Eles /undaram uma em"resa, a Clonaid, !ue o/erece seus serviços "ara casais sem /ilhos e !ue dese:am uma descendIncia atravs da clona(em, "elo "reço de duzentos mil
1< d#lares "or bebI% 4s cientistas não levaram os raelianos a srio, mas a mídia de todos os "aíses civilizados deuJlhes toda a "ublicidade !ue "oderiam dese:ar% e"ois da mídia, o sho5 (usiness /oi o "rimeiro setor a a"roveitar o tema% 3o Brasil, a DG lobo lançou a telenovela O 0lone, de loria Perez, na !ual uma trama !ue, em outros tem"os, seria vivida "or (Imeos ou meros s#sias, envolve clones obtidos em laborat#rio% Em 6oll75ood, um novo e"is#dio da sa(a de Star Wars, O Ataque dos 0lones, uma /antasia de science'iction na !ual um e$rcito /ormado, não "elos robTs tradicionais ou mesmo "elos ci(orgs, !ue são androides mais so/isticados, mas "or clones% 3a verdade, os clones são os androides mais terríveis% Baudrillard com"ara a ação da clona(em biol#(ica multi"licação cancerosa das clulas% clula cancerosa se es!uece de morrer e de como morrer% DrataJse, tambm na clona(em, da multi"licação do semelhante, de uma imortalidade "atol#(ica, uma imortalidade cancerosa% Ela envolve a anulação da di/erença, "ois os clones se "adronizam, e tambm a su"ressão do se$o como o meio ade!uado "ara a re"rodução da es"cie% ?Primeiro, o se$o /oi liberado da re"roduçãoS ho:e a re"rodução !ue liberada do se$o, "or meio de modos de re"rodução asse$uados e biotecnol#(icos, como a inseminação arti/icial ou a clona(em total do cor"o, observa o /il#so/o% !uestão /undamental /ilos#/ica% 6. uma tendIncia no "ensamento cienti/icista contem"or9neo de de/inir o !ue o humano, não mais em termos de transcendIncia e liberdade, mas em termos de /unçHes e de e!uilíbrio biol#(ico% 6. uma revanche nítida do "rimado do ob:eto, da coisa, sobre a sub:etividade misteriosa !ue desa/iou muitos dos melhores "ensadores do sculo "assado% 4 car.ter es"ecí/ico, misterioso e es"iritual, da condição humana desconsiderado% ssim, como diz Baudrillard, a "r#"ria de/inição de humano começa a se a"a(ar% randes erros, "orm, "odem "rovar ser momentos indis"ens.veis do desvelamento da verdade% Como tambm diz Baudrillard, talvez se:a "reciso levar tão lon(e !uanto "ossível a redução rei/icadora dos seres humanos "ara descobrir, no /im, o !ue da natureza humana sobreviver. a essa e$"eriIncia radical% Es"eraJse !ue al(o sobreviva% =e /or assim, se descobrirmos !ue nem tudo "ode ser clonado, simulado,
1* "ro(ramado, mani"ulado (entica e neurolo(icamente, então o !ue !uer !ue sobreviva "oder. ser chamado de verdadeiramente ?humano@% Para os "essimistas, h. sem"re o "eri(o de o humano ser erradicado "ara sem"re% =e nada sobrar da e$"eriIncia radical, "or e$em"lo% =endo assim, esse "eri(o deve ser en/rentado com uma luta "ela divisão, "elo se$o e, "ortanto, tambm "ela morte% RobTs, ci(orgs e clones, se:am nas /antasias da /icção ou no trabalho /ebril de cientistas contem"or9neos mais ou menos loucos, insinuam a rei/icação do /enTmeno humano, nossa redução a meras coisas% Mesmo !ue estes Oltimos nos "rometam a imortalidade, não a dese:aremos, são "re/eríveis a morte e a di/erença% 3ão se:amos "essimistas% e"ois de de/ender o se$o e a morte, em con/ronto com a re"rodução cancerosa, Baudillard anuncia !ue, em termos da evolução, ?a vit#ria dos seres !ue são mortais e di/erentes uns dos outrosS a vit#ria nossa@%
A &!)*&%0)&%' *+-)(! C'*$')+('
Embora al(uns desdenhem da obra de Carlos Castaneda, considerandoJa um /enTmeno tí"ico da dcada dos ) e, "ortanto, limitado, seus livros continuam vendendo, ou se:a, con!uistando novos leitores% editora 3ova Era, !ue os "ublica entre n#s, decidiu relançar todos os seus volumes, em novas ediçHes revistas !ue corri(em os erros de tradução das ediçHes anteriores e, assim, lançam uma luz nova sobre essa obra intri(ante% '. saíram dois volumes, A Er!a do Dia(o a(ora com um subtítulo !ue traduz o título ori(inal> Os ensinamentos de Dom KuanQ e 7orta &ara o in'inito cu:o título ori(inal
1 "ecado ori(inal da doutrina , sem dOvida, a autoindul(Incia% 4 a"rendiz deve lutar contra ela com a seriedade, a tenacidade e a cora(em de um (uerreiro% E um (uerreiro, ao contr.rio do homem comum, não se descul"a sistematicamenteS ele assume a res"onsabilidade "or seus atos% 4 "ostulado b.sico da doutrina audacioso% 4 mundo !ue vemos s# do :eito !ue o "ercebemos "or!ue "ensamos !ue ele assimS se "ararmos de "ensar se desli(armos o di.lo(o interno, diz on 'uanQ, ele dei$ar. de ser assim% 4 mundo !ue acreditamos ver a"enas uma descrição entre um nOmero in/inito de outras descriçHes i(ualmente "ossíveis e, "ortanto, ?reais@% DrataJse de uma revolução nos "ressu"ostos t.citos do conhecimento tal como o concebemos% Ela contesta /rontalmente a su"osição de al(uma substancialidade do real !ue a "edra an(ular do conhecimento de ti"o cientí/ico% Para haver ciIncia "reciso !ue seu ob:eto se:a substancial% Mas nada substancial nem necessariamente o !ue "arece ser% 3ão se "ode dizer !ue a .(ua, "or e$em"lo, se:a de/initivamente 6 2)% s vezes, "ode at serS outras, não% Castaneda, ou o "r#"rio on 'uan, "arecem /amiliarizados com a /enomenolo(ia de Edmund 6usserl e, de uma maneira (eral, com a /iloso/ia da e$istencial de 6eide((er, =artre e outros% Ele a/irma te$tualmente !ue ?a /eitiçaria a "ra$is da /enomenolo(ia@ "ois utiliza, como /onte de "oder m.(ico, o a$ioma /enomenol#(ico de !ue o /enTmeno, tal como se a"resenta, si(no su/iciente do ser% 4 domínio da "retensa realidade imediata deve ser alcançado "ela "r.tica do !ue on 'uan chama de a ?arte da es"reita@% Ela envolve uma nova maneira de viver, "ela !ual o discí"ulo deve eliminar os limites e(ocIntricos !ue o im"edem de ver o real como ele F e não como o descreve o seu "r#"rio "ensamento% Carlos a"rende a a(ir sem es"erar recom"ensa, a desli(ar o seu di.lo(o interno, a a"a(ar a hist#ria "essoal, e a assumir a res"onsabilidade "elos seus atos, entre as v.rias tcnicas da es"reita !ue e$i(em do "raticante humildade, "aciIncia, senso de o"ortunidade e im"lacabilidade% 4 ob:etivo da arte da es"reita e de nosso a"arente contorno o domínio de nossa "r#"ria consciIncia% 4 !ue chamamos realidade, diz on 'uan, a"enas uma descrição determinada "or uma /ocalização "articular e limitada de nossa "r#"ria consciIncia% Ele chama essa /ocalização de Primeira tenção "ois a consciIncia d. /oco s im"ressHes ca#ticas da realidade ainda não /ocalizada, atravs da /aculdade da atenção% realidade
18 !ue ela cria o !ue on 'uan chama de o Donal, em contra"osição realidade in/inita, mas ca#tica !ue ele chama de o 3a(ual, ou =e(unda tenção% Para minar e "ossivelmente ultra"assar os limites da /ocalização da Primeira tenção, !ue limita nossa "erce"ção, on 'uan /az o discí"ulo in(erir o !ue ele chama de ?"lantas de "oder@ F ou se:a, "lantas alucin#(enas, como a datura, o co(umelo m.(ico e o "eiote% =ua ação "sicotr#"ica tem uma /unção did.tica e "rovis#riaS ela serve "ara rom"er as couraças !ue em"aredam a visão do discí"ulo% Muitos e$ercícios de es"reita envolvem a atividade /ísica% s "r.ticas /ísicas servem a"enas "ara evitar !ue a /i$ação da consciIncia na Primeira tenção, e$"ressa no cor"o /ísico, im"eça a e$"ansão da consciIncia% Auanto mais em"aredada est. a consciIncia do su:eito, na "risão do Donal, mais ela "recisa de e$ercícios /ísicos F io(a, artes marciais, "asses m.(icos, o !ue /or F "ara desim"edir a consciIncia% N uma /unção semelhante ao uso das "lantas alucin#(enas no começo do a"rendizado% 4 domínio da consciIncia e$i(e a ca"acidade de /ocalizar a consciIncia na =e(unda tenção, ou 3a(ual% 0sso "ode ser realizado atravs da rte de =onhar, !ue consiste em a(ir com deliberação dentro do "r#"rio sonho% N "reciso, como no chamado ?sonho lOcido@ !ue o sonho saiba !ue est. vivendo um sonho "ara !ue, em se(uida, em"re(ue disci"linas ca"azes de estabelecer uma /ocalização de =e(unda tenção% arte de sonhar utiliza nossos sonhos comuns e os trans/orma em consciIncia controlada, uma /orma es"ecial de atenção% Danto a arte da es"reita !uanto a arte de sonhar visam tornar o discí"ulo um ?homem de conhecimento@S "ara isso, o mestre e$i(e !ue ele se torne um ?(uerreiro@, Onica maneira de lev.Jlo ao domínio tanto da realidade !ue o cerca, essa realidade /amiliar a todos n#s, !uanto uma outra realidade mais "ro/unda, mais am"la, mais verdadeira e, "ortanto, mais ?real@% 4 (uerreiro tem de ser im"ec.vel, em sua es"reita% Por isso, est. "re"arado "ara morrer a !ual!uer momento, seus atos "ortanto, são /inais, ele luta cada batalha como se /osse a Oltima% Ele se livra de tudo !ue não essencial, a economia de ener(ia !ue "ossibilita a es"reita e/iciente% E tambm condensa o tem"oS cada minuto absoluto% ;m (uerreiro ?não tem tem"o@%
1+ 4 conceito /undamental da es"reita a im"ecabilidade% Onica liberdade do (uerreiro com"ortarJse im"ecavelmente F diz Castaneda% Para esclarecer o sentido do conceito de im"ecabilidade, on 'uan serveJse de uma situação ima(in.ria% 0ma(ine, diz ele, um homem !ue sobe uma montanha escar"ada% e um lado dele, a encostaS do outro um abismo% e re"ente, ele "ercebe !ue seu sa"ato est. desamarrado% bai$aJse, d. um n# no sa"ato e re"ara !ue uma "edra enorme rola "ela encosta cruzando a caminho al(uns metros /rente dele% Auer dizer, se ele não tivesse "arado e "rosse(uido a caminhada, teria sido esma(ado "ela "edra% (ora ima(ine, continua on 'uan, a mesma situação> o homem sobe a montanha, vI o sa"ato desamarrado, "ara e se abai$a "ara amarr.Jlo% =# !ue, desta vez, a "edra rola "or cima dele, esma(andoJo% =e não tivesse "arado e tivesse "rosse(uido o caminho, teria se salvado% =abendo !ue a vida assim, conclui on 'uan, !ue não "odemos saber !uando e onde a "edra vai rolar e !ue, "ortanto, não h. como evitar anteci"adamente sermos esma(ados, o (uerreiro não hesita% o ver o sa"ato desamarrado, "ara, abai$aJse e d. um laço im"ec.velW 4 conceito /undamental do domínio da consciIncia o intento% ssim como a consciIncia de 6usserl intenciona o ser, o intento de Castaneda o "oder !ue torna e/etivo tudo o !ue e$iste, a /orça !ue move todas as coisas F e, "ortanto, a Onica /onte do "oder m.(ico% Dudo !ue e$iste no universo tem uma cone$ão com o intento !ue uma /orça incomensur.vel e indescritível% 4 "oder m.(ico de"ende da lim"eza de nossa cone$ão com o intento% Por isso os (uerreiros lutam "ara se livrar da auto"iedade e de seu dis/arce, a autoim"ort9ncia% 3o mundo de on 'uan, a ma(ia mais do !ue "ossível, natural% Dudo se /az "or m.(ica, as a"arIncias em contr.rio são distorçHes% ma(ia de"ende da interru"ção do di.lo(o interno% 0sso im"lica em ?"arar o mundo@ J e esta a condição necess.ria de toda a ação m.(ica% Ela abre o es"aço ade!uado "ara a mani/estação do intento% 4 /undamento da doutrina e$"osta "or Castaneda o /enTmeno da consciIncia, o /ato de !ue somos seres "erce"tivos e de !ue sabemos !ue o somos% Perce"ção e consciIncia são uma coisa s#, se(undo on 'uan% essIncia do nosso ser o ato de
1"erceber, e a m.(ica de nosso ser o ato da consciIncia% ?Perce"ção e consciIncia são uma unidade sin(ular, /uncional e ine$tric.vel@ F a/irma Castaneda% e!uação entre o interno e o e$terno o su"osto /undamental de todo o conhecimento esotrico comunicado "or on 'uan% =ua doutrina concebe a realidade maneira da ísica contem"or9nea, como um cam"o uni/icado de ener(ia, a !ue chama ?o cam"o das emanaçHes da ](uia@% 4 domínio da consciIncia, atravs de sua e$"ansão e da ca"acidade de /ocaliz.J la na =e(unda tenção, não visa, a"enas, a ação m.(ica dos /eiticeiros, mas o "r#"rio conhecimento% 4 "rocesso de crescimento e de a"ro/undamento do conhecimento do discí"ulo o de uma contínua e$"ansão da consciIncia% "render alcançar estados mais am"los e com"reensivos da consciIncia% 4 sentido da vida a e$"ansão da consciIncia% 4 sentido do =er a "lenitude da consciIncia%
Matrix , ' F%"!*!/%'
4s irmãos nd7 e Larr7 Vacho5si, !ue escrevem e diri(em os /ilmes da trilo(ia "atri# , mudam de estrat(ia no se(undo e"is#dio, o "atri# reloaded % 4s e/eitos es"eciais dominam o novo /ilme, de tal /orma !ue talvez seu res"ons.vel, 'ohn aeta, "ode at ser considerado o seu verdadeiro criador% 4 "rimeiro "atri# tinha cerca de !uatrocentos e/eitos es"eciais e custou <) milhHes de d#laresS o 1eloaded tem mais de mil e/eitos e custou &)) milhHesS e "or aí vai% /ebre tecnol#(ica, a raiz da disto"ia e$"osta no /ilme, domina a "rodução do /ilme e os coment.rios da mídia% E a /iloso/iaU F "er(untam os /ãs do "rimeiro "atri# !ue ainda não viram o se(undo% Bem, a verdade !ue a /iloso/ia /ica a(ora em se(undo "lano% 4 !ue im"orta o es"et.culo e a bilheteria% 3ão "arece ser necess.rio a"ro/undar a situação b.sica e$"osta no "rimeiro /ilme% Mas ela ainda a mesma e a !uestão sobre a natureza do real continua a ser a interro(ação /undamental%
18) 3um /uturo sombrio, as m.!uinas mantIm a humanidade "resa a uma enorme simulação da nossa realidade F a "atri# % 4 mundo a"arente uma realidade simulada "or com"utadores, um imenso mundo virtual% 4s seres humanos estão inertes e li(ados a v.rios cabos !ue drenam sua ener(ia vital "ara as m.!uinas, um (i(antesco sistema de inteli(Incia arti/icial, en!uanto a mente deles mantida numa es"cie de sonho, !ue lhes "arece ser a ?realidade@% 4 simulacro virtual ilude os sentidos e "arece tão real !uanto o "r#"rio real, !ue, a/inal, acaba "or se revelar i(ualmente não tão real assim% simulação cria um "er/eito simulacro de realidade, como um sonho tão vívido !ue, ao acordarmos, não o conse(uimos distin(uir da vi(ília, /undindo ilusão e verdade% 4 homem est. "reso aos limites da sua mente F !ue cria, "or e$em"lo, as noçHes habituais de tem"o e es"aço ob:etivos, contestadas tanto "ela /iloso/ia oriental !uanto "ela ísica Au9ntica% 3ão temos acesso direto realidade, "ois s# entramos em contato com ela atravs da mediação da lin(ua(em, dos símbolos e dos conceitos, !ue são limitados% re/erIncia /ilos#/ica mais imediata /orçosamente ao "ensamento indiano% 4 6induísmo vI a realidade a"arente como ma%a, uma es"cie de alucinaçãoS o Budismo a chama de samsara, uma ilusão% Dudo, a ri(or, não "assa de uma "ro:eção mental% N o !ue acontece no /ilme, no !ual todo mundo dominado "ela ilusão de um mundo !ue não e$iste F a "atri# % li.s, os irmãos Vacho5si declaramJse /ascinados "elo Budismo, a doutrina mais radical no !uestionamento da "retensa realidade do ?real@% ;m te$to budista cl.ssico, o =utra do iamante, a/irma>
4 mundo dos /enTmenos semelhante s estrelas, a uma sombra, a uma chuva, a uma mira(em, ao orvalho, es"uma, a um sonho, ao rel9m"a(o, a uma nuvem% Gede dessa /orma todas as coisas%
PodeJse descobrir, tambm, antecedentes na /iloso/ia ocidental% 6. mais de dois mil anos, Platão descreveu o mito da caverna% 4s seres humanos vivem numa caverna, de onde s# "odem ver as sombras do !ue acontece l. /oraS eles estão, contudo, convencidos !ue a realidade se mani/esta totalmente na!uelas sombras% =e saíssem da
181 caverna "rovavelmente não su"ortariam a revelação e "re/eririam voltar F como acaba acontecendo com o "ersona(em C7"her, do "rimeiro "atri# % izem !ue al(uns livros contem"or9neos alimentaram a ima(inação dos irmãos como Simulacros e Simulaç3o, de 'ean Baudrillard, e -ora de 0ontrole, de Ken Kell7% izem tambm !ue h. outro crebro "or tr.s das ideias dos irmãos, o de Cornel Vest, "ro/essor da ;niversidade Princeton e autor de 7ro&$es% Deli!erance e 1ace "atters% /roJamericano e "reocu"ado com o "roblema racial, dizem !ue ele o (uru dos /amosos irmãos e /az um "e!ueno "a"el no 1eloaded , o conselheiro Vest% =ua Onica /rase, entretanto, não im"ressiona "ela sutileza> ?Com"reensão não um re!uisito necess.rio "ara a colaboração@, diz ele% Vest diz !ue "atri# uma obra de arte so/isticada !ue ca"ta a essIncia de seus escritos sobre temas como sociedade, reli(ião e /iloso/ia% Como 'ean Baudrillard, ele se diz "reocu"ado em discutir a relação do desenvolvimento tecnol#(ico com o /uturo humano% izem muitas coisas% Mas no /undo de todas essas ideias est. a mítica revelação sobre a natureza do real% Doda criação nas telas um mito moderno, uma leitura da consciIncia coletivaS o cinema est. "ara a cultura assim como o sonho est. "ara a "essoa% !ui, esse sonho a realidade% Em "atri# o "ersona(em !ue o/erece a Keanu Reeves a "ossibilidade de conhecer a verdade se chama "or&$eus, o deus do sono na mitolo(ia (re(a% hist#ria de "atri# um mito moderno, no sentido de 'ose"h Cam"bell% situação b.sica em !ue a trama se desdobra de o"ressão e o her#i um rebelde% 4 seu desa/io transcender a "seudo realidade da "atri# % Esse her#i, 3eo, deve lutar "ara libertar a humanidade do :u(o das m.!uinas% Em "atri# reloaded , as m.!uinas intentam destruir a Oltima comunidade humana !ue resiste F a cidade de ^ion% Mas se a m.!uina su"era o homem, este deve usar as "r#"rias m.!uinas "ara derrot.Jla% 3o 1eloaded , os irmãos o"taram "or um desdobramento no sentido da /antasia "o"ular, tí"ica das s&aceo&eras% in/luIncia de Star Wars a(ora /la(ranteS a trilo(ia do "atri# dese:a evidentemente i(ual.Jlo e "ossivelmente su"er.Jlo como /enTmeno de massa% Dudo, então, começa a lembrar a obra de eor(e Lucas F as cenas de (rande e/eito, os "ersona(ens "itorescos, como o vilão Merovi(ian e a mulher Pers/one, e at
182 mesmo um certo humor% 4 "rimeiro "atri# tinha uma "ersonalidade "r#"ria, ori(inal> obedecia a um realismo /undamental !ue identi/icava os "ersona(ens com os es"ectadores% (ora tudo volta a "arecer hist#ria em !uadrinhos% Como o "rimeiro "atri# U 4 /ilme su(ere !ue a humanidade /oi inteiramente dominada "elas m.!uinas e o Onico /oco de rebeldia o (ru"o de Mor"heus e sua nave, a 3abucodonosor% (ora, entretanto, no 1eloaded , sur(e uma cidade inteira de rebeldes, a Tion, !ue dis"He de inOmeras naves e um verdadeiro e$rcito% 3o "rimeiro "atri# , todos os "ersona(ens são essenciais trama, tIm /unçHes de/inidas na hist#ria% Esse ri(or abandonado em 1eloaded , no !ual sur(em v.rios "ersona(ens a"enas "itorescos, cum"rindo uma /unção tí"ica do mero entretenimento, como os de Lucas ou, "or outro e$em"lo, o %0%
de ="ielber(% N como se os irmãos tivessem decidido
abandonar a "r#"ria ori(inalidade em /avor de uma e/iciIncia maior em relação ao mercado% Com seus novos su"er"oderes, 3eo se a"resenta a(ora como um su"erJher#i, na melhor tradição das hist#rias em !uadrinhosS voa melhor do !ue o =u"erJ6omem e che(a inclusive a sim"lesmente ressuscitar Drinit7, nada menos% 4 "rimeiro "atri# mais artísticoS o se(undo mais comercial% 4 /ato mais intri(ante do "rimeiro /ilme F a vit#ria radical da m.!uina /inalmente autTnoma sobre o humano F che(a a ser e$"licado a(ora em termos mais "rosaicos e at dece"cionantes% 3o /inal de 1eloaded , sur(e mais um "ersona(em, a"arentemente humano, o r!uiteto, !ue se a"resenta como o verdadeiro res"ons.vel "elo so/t5are da "atri# % Essa revelação su(ere uma reversão de e$"ectativa radical no desdobramento da ação do /ilme e um desmentido cabal da /iloso/ia e$"osta no "rimeiro /ilme% novidade /undamental era o /ato de !ue as m.!uinas se er(uiam, autTnomas, autossu/icientes, contra os seres humanos !ue as haviam criadoS não de"endiam mais delesS "elo contr.rio, elas os escravizam% (ora, o r!uiteto desmente essa "remissaS declara !ue ele, a"arentemente um ser humano o criador de "atri# , e o verdadeiro vilão da hist#ria% Mais> 3eo não um avatar Onico mas uma concessão do sistema, uma anomalia "revista "elo "r#"rio so/t5are do r!uitetoS na verdade o se$to <$e One de uma lista de antecessores%
O A-%$+$! ; ! (+%-! (!* )*$%&!*
18& Esse evidente recuo da aud.cia /ilos#/ica do "rimeiro /ilme "rovavelmente a"arente, não deve ser de/initivo% Es"eremos !ue não se:a% /inal de contas, o r!uiteto "ode mentir tanto !uanto, "or e$em"lo, a mulher do 4r.culo% ssim como ela, o r!uiteto "rovavelmente não h. de "assar de mais um "ro(rama da "atri# , tentando en(anar o inimi(o "eri(oso% Dalvez 3eo se:a mesmo <$e One F o Escolhido, ou o Predestinado, con/orme as di/erentes traduçHes% Estruturalmente, o 1eloaded a"resenta a"enas a metade de uma trama !ue s# deve se com"letar no terceiro /ilme% Ele termina no meio dessa trama, no !ue 'ose"h Cam"bell e Christo"her Go(ler chamariam de a ?Provação =u"rema@, no seu modelo da :ornada do her#i mitol#(ico% 4 resto da trama "ode "ro"iciar es"eculaçHes mais "ro/undas% =e, al(um dia, "udermos simular universos virtuais inteiros, como o do /ilme, "ossível at !ue isso :. tenha acontecido e !ue este:amos a(ora, todos n#s, vivendo um mundo virtual desse ti"oS "ara al(uns cientistas, inclusive, as "ossibilidades de !ue se:a assim são de, "elo menos, 2* "or cento F ou se:a, de a"enas & contra 1% Por !ue nãoU =e(undo o Budismo, a realidade não tem um nOcleo substancial e "ermanenteS ela carece de subst9ncia "r#"ria% 4 verdadeiro real chamaJse =un7ata, o Gazio% 3essa visão, tudo o !ue "ensamos !ue realmente ?real@ não "assa de outro sistema de simulação !ue, "or sua vez, criado "or ainda outro sistema F e assim "or diante% N "rov.vel !ue, de"ois de todos os seus es/orços "ara a libertação da "atri# , 3eo, Mor"heus e os outros rebeldes descubram !ue a realidade su"ostamente verdadeira !ue alcançaram, , ela tambm, tão ?real@, ou irreal, !uanto a da "atri# % Como diriam os hindus, tambm ela ma%a F ilusão, arte m.(ica, mais um mundo virtual%
O $+?! *!!* )*
*or seres t#o inventivo E pare!eres !ont%nuo
18< +aetano >eloso, ORA?@O AO
=anto (ostinho dizia !ue sabia "er/eitamente o !ue era o tem"o F mas s# at !ue al(um lhe "er(untasse% Demos todos a e$"eriIncia do tem"o, mas não sabemos como de/iniJlo% di/iculdade em conceitu.Jlo s# tem "aralelo com a de ima(inar o real sem ele%
de/inição mais comum o descreve como um continuum em !ue um evento sucede outro, do "assado ao /uturo% ;ma simultaneidade de eventos, descortinada "ela tecnolo(ia de nossos dias, !uestiona essa de/inição% Em tem"os de internet , "or e$em"lo, tudo "arece acontecer em todos os lu(ares ao mesmo tem"o%
4 ob:etivo /undamental da ciIncia ocidental, em relação ao tem"o, /oi F e ainda F mediJlo com ob:etividade e "recisão% 4 rel#(io mec9nico, inventado no sculo Y000, obedecia a esse "ro"#sito% s mudanças !ue trou$e /oram im"ortantes, ele modi/icou a "r#"ria or(anização da sociedade F e inau(urou uma nova civilização, atenta "assa(em do tem"o e, "ortanto, "rodutividade e ao desem"enho% e$"ressão ?tem"o dinheiro@ mani/esta a nova "ers"ectiva criada "ela matematização do tem"o% 4 modelo cientí/ico eri(ido como o /undamental, em nome do ri(or, !ue o matem.tico, submete o tem"o ao rel#(io% 4 ri(or continua a ser a "alavra de ordem cientí/ica> ho:e, "or e$em"lo, o tem"o :. "ode ser medido em "sicosse(undos, cu:a unidade e!uivale a um milsimo de um bilionsimo de um se(undo% Entretanto, outras culturas entendem o tem"o numa se!uIncia cíclica e não linear% Elas atentam mais e$"eriIncia sub:etiva do !ue medição do rel#(io% conce"ção comum do tem"o o considera uma estrutura trí"lice> "assado, "resente e /uturo% 3enhum desses trIs momentos e$iste, a ri(or% 4 "assado não e$iste maisS o /uturo ainda não e$isteS o "r#"rio "resente mera "assa(em abstrata do "assado "ara o "resente, sua vi(Incia se reduz ao instante ine$tenso% Mas se o tem"o não e$iste, "or !ue nos "arece tão real, a "onto de /alarmos, "or e$em"lo, em ter e não ter tem"oU 6. um es/orço "or "arte do "ensamento humano "ara con/erir realidade ao tem"o%
18* s "retensHes do "assado realidade se concentram no /ato de !ue inalter.vel, /i$ado "ara sem"re% s do /uturo re"ousam sobre o /ato de !ue ele o norte do /lu$o e seria, conse!uentemente, a sua dimensão "rivile(iada% s do "resente envolve conotaçHes místicas sobre esse eterno agora !ue im"ossível abandonar% 3ão são convincentes% 4 "rincí"io da incerteza, de 6eisenber(, s# "ara dar um e$em"lo, im"lica num indeterminismo total em relação ao tem"o> não s# o /uturo est. sem"re em aberto, indeterminado, o "assado tambm F e conse!uentemente o "resente% ntes mesmo do !ue os /ísicos, os /il#so/os "erceberam a di/iculdade em conceber o tem"o como um ob:eto de conhecimento% Platão "ro"Ts resolver o "roblema com sua conce"ção de um mundo ideal e eterno, alm do tem"o% ?4 tem"o a ima(em em movimento da eternidade im#vel@, disse ele% N o tem"o visto na "ers"ectiva da meta/ísica ocidental% essIncia do ar(umento não necessita da hi"#tese de um outro mundo% 4 "assado estanca todo o movimento% 4 car.ter /i$o do "assado, sua imobilidade, são tão necess.rios "ara ancorar o /lu$o do tem"o, mesmo sem ne(ar o outro mundo da eternidade im#vel, !ue at mesmo os te#lo(os não hesitaram em limitar a oni"otIncia de eus, ne(andoJlhe o "oder de modi/icar o "assado% eus "ode tudo, menos des/azer o !ue :. aconteceu% Auanto ao /uturo, sabeJse !ue vir. mas não se sabe o !ue ser. e em !ue ir. inevitavelmente se trans/ormar% E o "resente não cessa de nos esca"ar, a cada instanteS ele "er"etuamente ani!uila a si "r#"rio% 4 tem"o relativo e indeterminado% 3a /ísica moderna, a teoria da relatividade e a mec9nica !u9ntica revolucionaram as ideias tradicionais% 4 tem"o dos /ísicos contem"or9neos não "assa nem /lui% 4 conceito de /lu$o re/ereJse a movimento e necessita de uma cone$ão essencial com o es"açoS "or isso, al(uns se re/erem ao tem"o como uma !uarta dimensão, ao lado das trIs outras !ue, essencialmente di/erentes dele, são estritamente es"aciais% Mas !ue si(ni/icado "ode ser atribuído ao movimento do "r#"rio tem"oU Ele se move em relação a !uIU 4 /lu$o do tem"o "arece ser mais sub:etivo do !ue ob:etivoS tudo se "assa como se tivesse al(o a ver com o /uncionamento do crebro F como uma das cate(orias inatas da consciIncia, "or e$em"lo%
18 4 tema do tem"o "raticamente obri(at#rio "ara os escritores de science'iction, "elo menos desde !ue o "ioneiro 6% % Vells escreveu A "Iquina do ele tenta evitar o morticínio de 6iroshima, eliminar dol/ 6itler, salvar o navio Lusitania mas, em todos os
188 casos, /racassa% inalmente, tentando evitar a morte de uma mulher do "assado "ela !ual se a"ai$onou num incIndio, ele acaba "rovocandoJo% hist#ria inalter.vel, o "assado de/initivo% 6., contudo, outra conce"ção se(undo a !ual o "assado tão alter.vel !uanto o /uturo, de maneira !ue uma "e!uena modi/icação no "assado "ode "rovocar mudanças "ro/undas no "resente% 3este caso, o e$em"lo cl.ssico Um Som de
se(undo o !ual matar o "r#"rio avT, numa via(em no tem"o, tornaria
im"ossível o nascimento do matador F resolvido% 3um universo, o avT morre e o assassino não nasce> em outro, o avT continua vivo F e a via(em no tem"o se torna "ossível% 6o:e, os /ísicos acham incorreta a ima(em tradicional do tem"o como uma /lecha !ue voa ou um rio !ue corre% 4 tem"o não um /lu$o, não "assaS sim"lesmente S ou se:a, ele se con/unde com o "r#"rio ser% 3ão "ode haver nada sem o tem"o% Dem"o
18+ ser% 4s /il#so/os veem claramente !ue o mistrio do tem"o est. intrinsecamente li(ado "r#"ria !uestão do ser% 6eide((er e$"ressa essa visão su"erior no "r#"rio título de sua obra /undamental Ser e
A O)$!"!%' (' L%=+('(+
4O sol da lierdade, em raios f7lgidos, rilhou no !$u da p6tria nesse instante5
Dem"os atr.s /re!uentei "or mais ou menos dois anos a ;nião do Ge(etal, uma seita reli(iosa !ue, a e$em"lo de outra, mais /amosa, o =anto aime, dava "ara beber A%a$uasca aos seus se(uidores% urante as sessHes, sob o e/eito do alucin#(eno considerado sa(rado, a doutrina era e$"licada% 3uma dessas sessHes, um discí"ulo "er(untou ao mestre !ue e$"unha a doutrina> J Mestre, o sol eusU J N F res"ondeu o mestre, com sim"licidade% i!uei sabendo !ue, "ara essa doutrina, o sol !ue "ercebemos /isicamente sobre n#s, todos os dias, não uma mani/estação divina entre outras, "or e$em"lo, mas ele mesmo o "r#"rio eus, diante de n#s%
18i!uei /ascinado com a sim"licidade e o ine(.vel "oder da ideia% 4 =ol eus% 6. al(uns dias, lembrei, nem sei o "or!uI, talvez sim"lesmente "or estar toa na vida, a met./ora de u!ue Estrada na letra !ue criou "ara o hino brasileiro> ?4 sol da liberdade, em raios /Ol(idos, brilhou no cu da ".tria nesse instante%@ Meu "ensamento se(uinte o/uscou como um clarão% 4 sol da liberdade, !uer dizer, ?a liberdade um sol, o sol a liberdade@% E ainda sem !uerer, me lembrei da doutrina da ;nião do Ge(etal e che(uei a uma conclusão emocionante e /eliz% 3ão di(o !ue se trate de um silo(ismo, nem a re/le$ão !ue veio at a mim, sem es/orço, tenha al(uma coisa a ver com a l#(ica% Pensei sim"lesmente assim> ?4 sol eus@% ?4 sol a liberdade@% ?Lo(o a liberdade eus%@ 4u> ?eus a liberdade@% 4ra, eus, dizem, muitas coisas> o mor, o Bem, a Beleza, a =abedoria, o Poder, tudo de maneira absoluta e, "ortanto, h. de ser tambm a liberdade absoluta% Mas re/leti !ue a liberdade não a"enas um atributo de eus, como o resto, mas a sua "r#"ria essIncia% liberdade a essIncia de eus% LembreiJme va(amente de 6eide((er !ue, "rocura do sentido do ser, a "artir da di/erença ontol#(ica entre ser e ente, e$"lica !ue o !ue chamamos de eus não o ser% eus um ente, como os outros entes, sua distinção ser o Ente =u"remo, o bsoluto, entre os entes% 4 ser a!uilo !ue /az com !ue eus se:a eus% Concluí !ue o ser a liberdade% Em outras "alavras, esta não uma ideia nova, nenhuma nunca% 3a hist#ria das /iloso/ias, ela sur(iu, numa /orma mais so/isticada, entre os "rJsocr.ticos% na$imandro diz !ue a realidade /undamental não nem o /o(o, nem a .(ua, nem os nOmeros, nem os .tomos, nem mais nada do !ue diziam seus cole(as, na "oca% N o a&eiron@ E o !ue o a&eíron 3ada% Pode ser tudo e não nada% N "ura e absoluta indeterminação, ou se:a, "ura e absoluta liberdade%
1+) 0ntr"retes anti(os e modernos de na$imandro estabeleceram !ue o a&eíron ilimitado, in/inito e tal mas, como con/orme a visão aristotlica, !ue "revaleceu, ao lon(o da hist#ria da /iloso/ia ocidental, uma subst9ncia, uma es"cie de de"#sito intermin.vel, como diz Verner 'ae(er, !ue (era a multi"licidade (raças ao seu esto!ue ines(ot.vel de todas as coisas% 3ietzsche corri(iu esse e!uívoco, revelando !ue o a&eíron , antes de tudo, o indeterminado, e s# assim ca"az de (erar o devir% 0ndeterminação !uer dizer liberdade% liberdade "rimordial, o caos de 6esíodo, o a&eiron de na$imandro, o Sun%ata dos budistas, a "ura indeterminação, deu ori(em a eus, e`ou aos deuses% 4 mistrio dessa (eração "ode estar oculto, ainda se(undo a Deo(onia, na criação do "rimeiro dos deuses, Eros, "or!ue s# "odemos ima(inar !ue ela resultou do amor es"ont9neo do indeterminado "elo determinado, da liberdade "or seus obst.culos% e !ual!uer modo, essa visão ontol#(ica abre es"aço "ara todas as visHes reli(iosasS o monoteísmo tradicional, o "oliteísmo dos (re(os, o ateísmo e at mesmo o biteísmo dos (n#sticos% Dal conclusão, baseada numa intuição es"ont9nea, tem raízes claras em meu "r#"rio "assado% ideia da liberdade norteou não s# a minha /ormação "essoal como tambm dominou os anos da minha :uventude "or ter sido a e$"eriIncia /undamental de minha (eração% 4 !uestionamento de tudo !ue encontr.vamos diante de n#s, en!uanto crescíamos, /oi a res"osta ao desa/io libert.rio% Com"ortamento com"ulsivo, moral tradicional, submissão a velhos "adrHes estticos, "olíticos e reli(iosos, con/ormismo (eneralizado, tudo /oi contestado "ela visão libert.ria !ue caracterizou a melhor "arte de nossa (eração% Posso e$em"li/icar com trIs momentos decisivos do "rocesso% 4 "rimeiro /oi a in/luIncia da chamada /iloso/ia da e$istIncia% Emmanuel Carneiro Leão e$"He o "ensamento de 6eide((er sobre o !ue este chama ?a liberdade real@% Para o (rande /il#so/o, a liberdade est. sem"re se /azendo, nunca dei$a de con!uistarJse% N, assim, sinTnimo de inde"endIncia, "ois ?a liberdade e!uivale a ter liberdade, ser livre de@% 4 homem livre "or!ue inde"ende, em suas decisHes, de !ual!uer coação, se:a de /ora
1+1 ou dentro, ou se:a, de !ual!uer coação simbolicamente absoluta, natural ou hist#rica e cultural% 4 !uestionamento da liberdade, se(undo 6eide((er, e$i(e de n#s !ue con!uistemos e a realizemos, "ois na vi(Incia da liberdade !ue o homem se /az homem% liberdade se d. como con!uista "or!ue s# e$iste como em"enho de libertação% N como a "r#"ria criação !ue s# revela sua verdade em si mesma% liberdade como a rosa, sem os "or!uIs, sim"lesmente /loresce ao /lorescer% liberdade absoluta, em sua "r#"ria essIncia% Liberdades relativas, condicionadas, limitadas e outras são /alsi/icaçHes ret#ricas inventadas "or seus inimi(os% liberdade "lena se im"He como uma e$"eriIncia natural, es"ont9nea, !ue s# "ode ser ne(ada "ela m. /% Con/orme diz 6eide((er, a liberdade real tornar o homem livre de, não livre &ara F ou se:a, a su"osta ?liberdade@ "ara matar, roubar, cercear o semelhante não a real, mas sim, a /alsa liberdade% ideia de liberdade !ue o/icialmente domina a nossa cultura a do 0luminismo de trIs sculos atr.s% Pretende valorizar o indivíduo, a razão e a ciIncia, mas uma ideia classista !ue serve s camadas su"eriores da sociedade, em detrimento dos o"rimidos, uma "retensa liberdade constran(ida "ela le(islação e "elo "reconceito% 4 homem, no sistema liberal, não livre de nada, a"enas su"ostamente livre "ara (anhar dinheiro, e$"lorar seu semelhante, e$ercer o "oder econTmico% 6istoricamente essa conce"ção de liberdade resultou em racismo, colonialismo, (uerras, desi(ualdade econTmica e devastação ambiental% liberdade real, de 6eide((er, mais "ro/unda, se de/ine "ela ausIncia de coaçHes de !ual!uer es"cie% 4 lema libert.rio de leister Cro5le7 F ?aze o !ue tu !ueres, ser. o todo da lei@ F não "roclama a "ermissividade i(norante, nem o ca"richo e(ocIntrico, mas o domínio da vontade sobre o !ue 6erbert Marcuse viria a chamar, muitos anos de"ois, de ?dessublimação re"ressiva@, ou se:a, outra /orma da re"ressão !ue o o"osto da liberdade% Gontade, a!ui, deve ser entendida no sentido de 3ietzsche, vontade de "oder "essoal, como "reconiza o on 'uan de Carlos Castaneda% ?mor a lei, amor sob vontade@, com"leta Cro5le7% 4 e$istencialismo de =artre "roclama !ue ?estamos condenados a ser livres@% =ua ontolo(ia dualista, cartesiana, distin(ue dois reinos da realidade, o da consciIncia, o ser "araJsi, e o do mundo e$terno, o emJsi% 4 "rimeiro "ura indeterminação, liberdade, e o
1+2 se(undo o"acidade radical e determinação im"lac.vel% 4 "araJsi, diz ele, a Onica aventura "ossível na inrcia do emJsi, a consciIncia uma /enda no ser, atravs dela, o nada vem ao mundo% 6. no emJsi, na o"acidade, um car.ter viscoso !ue tenta seduzir e absorver a indeterminação natural do "araJsi, !ue a /onte de toda ação, reduzindoJa "assividade bruta !ue ele % 3osso destino a realização "lena de nossa liberdade essencial em /ace da sedução viscosa de sua ne(ação% Este sem"re /oi o nosso desa/io e nosso "ro:eto ori(inal% s conse!uIncias "r.ticas dessa situação ontol#(ica são decisivas% Dínhamos de en/rentar os inimi(os da liberdade, onde estivessem% inda temos% 4 !uestionamento de tudo !ue encontr.vamos e ainda encontramosQ diante de n#s, en!uanto crescíamos e a(ora, !ue envelhecemos, /oi e ainda nossa res"osta a esse desa/io% 4s anta(onistas se a"resentavam de maneira indis/arç.vel%
Com"ortamento
com"ulsivo, moral tradicional, submissão a velhos "adrHes estticos, "olíticos e reli(iosos, a /arsa da or(anização mundana, tudo isso sem"re /oi contestado "ela visão libert.ria !ue caracterizou a melhor "arte de nossa (eração% Aueríamos ser livres antes de tudo% 6o:e, não "arece ser mais bem assim% Com o "assar do tem"o muitos cederam sob o "eso dos anos, e da a"arentemente diminuição de ener(ia s conveniIncias do mundo or(anizado e determinado, !ue neuroticamente nos envolve% Pre/eriram tomar ?a "ílula azul@, "ara lembrar a met./ora do /ilme "atri# % Es!ueceram !ue, como diz =artre, a liberdade in/inita% =artre !uis dar um sentido de/inido a essa liberdade, sustentada contra o determinismo de reud, "ara !uem a sublimação re"ressiva um mal inevit.vel, atravs de um com"romisso "olítico com o determinismo de Mar$, "ara !uem o sistema deve ser su"erado% Mais uma vez, sua in/luIncia /oi "oderosa% =ua crítica da razão dialtica "rocura dar uma dimensão hist#rica e social liberdade e$istencialista% dialtica entre reud e Mar$, os dois (randes "ro/etas do sculo Y0Y, /oi levada at o limite de suas sínteses no "ensamento de Vilhelm Reich, 6erbert Marcuse e 3orman 4% Bro5n, os (randes "ro/etas do sculo YY%
4bras como A -unç3o do
Orgasmo 1-8*Q, Eros e 0i!ili2aç3o 1-8*Q e )o!e*s +od% 1-Q são essenciais "ara a
1+& com"reensão das novas "ers"ectivas abertas em al(uns dos momentos mais luminosos do sculo "assado% eterna luta entre o Bem e o Mal /oi traduzida, em termos concretos, como a corres"ondente entre a Liberdade e a Re"ressão% 4 des"ertar "ara essa tomada de consciIncia /oi res"onsabilidade de reud, ainda no sculo Y0Y% Con/orme 3orman 4% Bro5n e$"lica, basta uma "alavra "ara termos a com"reensão do "ensamento de reud> re"ressão% =ob a nova "ers"ectiva /reudiana, a essIncia da sociedade a re"ressão do indivíduo, e a essIncia do indivíduo a re"ressão de si mesmo% Bro5n /ala da ?doença chamada homem@ e vimos !ue isso era a verdade% Lutamos, "ortanto, contra a re"ressão em todos os níveis, tanto os e$ternos !uanto internos% 3ossa (?te noire se mani/estava na "olítica, em nossas atividades "Oblicas, na moral e nos chamados bons costumes, em nossas relaçHes "essoais e a/etivas, em nossas an(Ostias e con/litos internos, "or toda "arte, en/im% Mas houve mais% dialtica entre a liberdade e a re"ressão, di/iculdades insu"er.veis "ara atin(ir sínteses satis/at#rias e F essa /oi a descoberta /undamental F os "rinci"ais obst.culos eram internos% "risão e as torturas da ditadura vi(ente, "or e$em"lo, eram terríveis, mas as "erturbaçHes "sí!uicas eram mais resistentes% Concluímos !ue a libertação da mente era "riorit.ria% Era "reciso alcançar um estado su"erior da consciIncia% 4 se(undo momento do "rocesso, na clareira aberta "ela liberdade, /oi a descoberta es"antosa de !ue a realização dessa liberdade s# e/etivamente "ossível "ela e$"ansão da consciIncia% 3a tradição !ue vai dos Gedas at o Ten Budismo, "assando "or outras variantes do "ensamento oriental, mas tambm "ela corrente esotrica do "ensamento ocidental, mani/estaramJse "ensadores como lan Vatts, Dimoth7 Lear7 e Carlos Castaneda !ue não s# trou$eram os anti(os ensinamentos "ara o novo momento, como contribuíram "ara sua comunicação a um nOmero cada vez maior de "essoas, (raças a sua sensibilidade, sensatez e identi/icação com os novos tem"os% liberdade alar(ava a consciIncia coletiva a um nível "ro/undo, es"iritual% Lear7 mostrou !ue a in(estão de certas dro(as /acilita a e$"ansão da consciIncia% lan Vatts chamou a atenção "ara as tradiçHes do "ensamento oriental, "rinci"almente o hinduísmo vedanta e o budismo !ue, desde sua /orma ori(inal at sua cristalização mais
1+< avançada no ^en, visam e$"ansão da consciIncia% Castaneda um escritor ori(inal, sobre o !ual não se conse(ue de/inir o "r#"rio (Inero, se seus relatos são de /icção, como !uerem muitos, ou se trata de /atos reais, como ele "r#"rio "roclama% Como o hinduísmo vedanta e o budismo em suas v.rias /ormas, o ob:etivo da doutrina !ue e$"He e sobre cu:a ori(em a/irma remontar civilização tolteca no M$ico, tambm a e$"ansão da consciIncia% e !ual!uer /orma, suas intuiçHes são reveladoras% "rimeira delas a sua e!uação entre consciIncia e "erce"ção, /undamental "ara a realização de mani/estaçHes m.(icas tornadas "ossíveis atravs do domínio da consciIncia% Esses autores !ue tenho citado a!ui, minhas ?autoridades@, /oram im"ortantes na evolução de um /enTmeno hist#rico do sculo "assado !ue /icou conhecido "ela denominação de contracultura% =ua "reocu"ação /undamental /oi e$atamente com a liberdade e, embora ela tenha se mani/estado muito mais no "lano "r.tico da e$"eriIncia e$istencial do !ue no te#rico, "odeJse dizer !ue a!uilo !ue estamos chamando a!ui de ontolo(ia da liberdade /loresceu sub:acente a toda "r.tica, como o conteOdo doutrin.rio essencial do movimento% Para n#s, o !ue acima de tudo de/inia o ser humano era a sua liberdade e tudo o !ue /izemos /oi /eito em seu nome% 4 modus o&erandi /oi a contestação socr.tica, o neti neti hinduísta ou a crítica taoísta, traduzidos num conte$to ti"icamente ocidental e contem"or9neo, mas com intençHes "lanet.rias, !ue colocava tudo em !uestão% visão contracultural, uma subversão de valores de alcance nietzscheano, alve:ava os costumes, "sicolo(ia, "olítica, moral, /iloso/ia, meta/ísica, reli(ião vi(entes, como construçHes mentais arbitr.rias e rei/icadoras, ne(açHes o"ressivas da liberdade real% 4 ob:etivo, "ortanto, era acima de tudo, ser livre de, como diria 6eide((er% Livre de !uIU e tudo isso% 3aturalmente, um dos mistrios insond.veis do ser o amor do indeterminado "elo determinado, a sedução do "araJsi "ela viscosidade do emJsi, a /orça da obscura (ravidade !ue atrai o es"írito livre "ara a "etri/icação e(oica, o "ecado ori(inal !ue /az do mundo o !ue ele % Em /ace disso, a contracultura, em !ue "ese o seu "oderoso ideal libert.rio, tambm /oi obri(ada a enredarJse na "arado$al dialtica entre liberdade e escravidão% 4 e$em"lo mais evidente se re/ere !uilo !ue mais am"lamente caracterizou a contracultura dos anos ), ou se:a, as dro(as em (eral, tanto as e$"ansoras !uanto as constritoras da consciIncia% 4 uso das dro(as ditas alucin#(enas /oi um ato libert.rio,
1+* se(undo os ob:etivos mais saud.veis da contracultura, mas tambm de(enerou num culto escravizador, ou vício autodestrutivo% 4utras .reas delicadas, na "rocura da liberdade real !ue caracteriza a contracultura, são as realidades do dinheiro e do se$o !ue "raticamente dominam as "reocu"açHes do homem dito civilizado% "osição mais radical diante do vil metal /oi a "ro"osta de sua abolição "ura e sim"les% invenção do dinheiro, do valor de troca materializado num /etiche abstrato, /oi a "edra /undamental "ara o desenvolvimento do sistema, ou se:a, a teia totalit.ria !ue a"risiona a liberdade e, "ortanto, as nossas "r#"rias vidas% 4 sistema controla tudo, inclusive e "rinci"almente os chamados valores F or(anização da "olis, :ustiça, se(urança, moral, costumes, entre outros F asse(urando sua sobrevivIncia de modo violento e tir9nico% =# a abolição do dinheiro corta esse mal "ela raiz% Por outro lado, o instinto se$ual o instrumento mais "oderoso "ara a ilus#ria cristalização do e(o% PodeJse dizer !ue o "razer se$ual o nirvana do e(o e não /oi sem motivo !ue al(umas reli(iHes identi/icaram essa mani/estação inocente da natureza humana com o "ecado e a demonizaram% Mas o se$o a maior /onte da ener(ia b.sica, como o demonstra, "or e$em"lo, o io(a t9ntrico, e conse!uentemente a re"ressão se$ual tornouJse a maior /onte da neurose das massas e, de resto, das restantes doenças mentais% Cortar o mal "ela raiz si(ni/ica, a!ui, a su"ressão de toda e !ual!uer re"ressão se$ual F e esta /oi "osição b.sica da contracultura% Para os americanos Ken o//man e an 'o7, em A contracultura atra!és dos tem&os 2))8Q, a nossa Dro"ic.lia uma contracultura% Como a contracultura americana, o Dro"icalismo en/rentou a censura "olítica, tanto da direita !uanto da es!uerda, os "reconceitos morais (erados "ela re"ressão se$ual, os c9nones rí(idos da esttica tradicional, entre outros F em suma, o esta(lis$ment, em seus traços essenciais F a alienação, a rei/icação e a serialização% !uestão mais "olImica em relação contracultura /oi sem dOvida a das dro(as% E$istem muitas dro(as di/erentes, embora as mais si(ni/icativas "ara o "ro:eto libert.rio tenham sido alucin#(enas% reação a elas as (eneralizam, tornando assim sua acusação im"recisa% s alucin#(enas, tratadas em muitas chamadas sociedades "rimitivas como dro(as sa(radas, entre elas o .cido lisr(ico L=Q, o "eiote mescalinaQ, o co(umelo
1+ m.(ico "silocibinaQ e a maconha D6CQ /oram as mais utilizadas no "rocesso% Lear7 as chamou de ?"sicodlicas@ "or!ue e$"andem a mente% Entre outras conse!uIncias, elas (eraram mani/estaçHes artísticas, na mOsica, na "intura, na literatura e, inclusive, resultaram em livros im"ortantes como os de lan Vatts, es"ecialmente o <$e Ko%ous 0osmolog% , os de Dimoth7 Lear7, como a ada"tação do )i!ro agé@ 'or(e Mautner en/atiza o car.ter de am.l(ama "ara de/inir a "r#"ria natureza da cultura brasileira e de sua criação incessante% relação entre o modernismo de 1-22 e o tro"icalismo de l-8, "or e$em"lo, reveladora% Dro"ic.lia, nítido e$em"lo de am.l(ama su"erior e$"ressa o "r#"rio es"írito dessa cultura, sua liberdade real% Caetano Geloso diz !ue o "ani'esto do 7au +rasil e o "ani'esto Antro&4'ago, de 4s5ald de ndrade, eram ?uma redescoberta e uma /undação do Brasil@% E destaca, nos te$tos de 4s5ald, a antro"o/a(ia como uma met./ora da devoração de toda in/ormação vinda de /ora, a e$em"lo da de(lutição do bis"o =ardinha "or nossos índios, e, "ortanto, do "r#"rio /undamento de nossa nacionalidade% 4s mani/estos de 4s5ald teorizam, "ela "rimeira vez, o sincretismo brasileiro, como a e$"ressão mais "lena da índole da cultura !ue estamos construindo% inda se(undo Caetano, ?a "alavra chave "ara entender o tro"icalismo o sincretismo % 4u se:a> o am.l(ama de Mautner% Emanci"ado de coaçHes naturais e hist#ricas, inde"endente em /ace de censuras, "reconceitos e c9nones, o sincretismo, não s# o tro"icalista, mas do brasileiro em (eral, liberdade real% Mesmo o "rimeiro !ue se a"resenta, o sincretismo reli(ioso brasileiro, s# /oi "ossível (raças nossa vocação ori(in.ria "ara a liberdade real% umbanda uma invenção brasileira !ue /unde ori$.s a/ricanos e santos cat#licos, as seitas criadas "ara a in(estão do a%a$uasca são outra
1+8 invenção brasileira !ue tem raízes ideol#(icas no catecismo cat#lico mas trans/ormadas "or uma mitolo(ia indí(ena% união entre as duas correntes, no !ue al(uns chamam de ;mbandaime, em !ue (iras de umbanda são realizadas tendo o daime como curiador, "arece culminar o sincretismo reli(ioso brasileiro% 4 avanço do "rocesso cultural brasileiro de"ende, direta e essencialmente, do sincretismo e, "ortanto, da liberdade real%
L-% C'"!* M'&%+", R%!, !-$-=! (+ 212.
6. O OO CEGO
1++
6 que !onsegui !ompor um livro, por que n#o aproveitar a oportunidade e mostrar alguns de meus poemas a meus amigos:
1% =e a amada e$austa, na sombra dura e uma noite, silenciaS se, cruel, cresce /lor dessa a(onia e na "rocura a aurora a/inal a noite !ue amanhece =e a ma(ia se "erde nessa noite escura E o des"rezo, dentro dela, a teia tece, amada, calma, numa das mãos se(ura l9mina e, na outra, a alma !ue anoitece E san(ra o amor com a sua /ace /ria, =em "ensar se!uer no !ue o amante sente, RoubaJlhe o /ul(or, secaJlhe a ale(ria la(a de lama um mundo indi/erente E trans/orma em dor o !ue era dia
1+Em treva a luz, em nada o e$istente
2% "erdeuJse a "oesia nas l9minas do mundo na lama do /undo do tem"o em "alavras o"acas e mínimas eisJme dividido, a cada dia nova a(onia, a "az "erdida ou recolhidaS eisJme dividido, a cada noite, "ercoJme, coração sem /reio, m.!uina /ria de ilusão, no meio do en(ano sim> eisJme dividido, "ai$ão !ue ressucita e cruci/ica a cada dia, a "az "erdida ou escondidaU mo ou não o a"e(o, essa sinaU Por !ue não desistoU EisJme dividido% noite recolhe a cinza /ria deste dia e renova sua a(onia, esta sina% /ra!ueza do mundo me conta(iaS essa "ai$ão, o dese:o, me as/i$ia e, ainda assim,
1-) não desisto% 4 /racasso me toca com mãos ".lidas e estou "erdido% Aue este "oema me lim"e os olhos e os ouvidosS me dI calma e tino> /aça /inalmente inteiro e sim"les o !ue est. tão con/uso e dividido
& Auando, entre "aredes turvas, muros de "edra, dedos de cal, in!uietação, a boca se cala em seus l.bios duros e a lín(ua e os olhos secam e a mão erra sem cor, sem norte e sem /uturo, !uando silIncio e morte se insinuam e não h. o !ue dizer e tudo /ica lim"o e "uro em seus lenç#is imundos, em sua ne(ação, o via:ante, /ace ao nada, inventa abri(o na "r#"ria estrada F e sono na :ornada, "az na (uerra, !ue arde, e, no "eri(o, /eras !ue es"reitam e /erem, insanas, seu "r#"rio coração% Então a alma cala, não mais em a/lição, mas calma%
<%
1-1 oces es"eranças tranças entre os transes do mundo% uto/a(ia% uro tr9nsito% Dr9mites insanos% En(anos% mos% Doda ação voltaJse contra si mesma% evoraJse a "artir da cauda> alva, escura, "arda ou casta J demoraJse J "erdição
*% "er/eita liberdade> rio de /o(o !ue arde, areia /eito carne, veia cheia, uma rua e meia, aros de cor, relva e lenha, chamas, cinza /eia, vento e es!uecimento
% o tato a morte che(a "elo tato
1-2 o tato vem do coração do ser o reino do tato o !ue chamam de matria outros reinos são imateriais !uando se "erde o tato, dizJse !ue se virou es"írito o tato d#i /acilmente
8% manhã de aço sol !ue se levanta de instante a instante /.bula !ue se desdobra no azul claro do aço da manhã clara lã de aço ave rara a "aisa(em da baía da (uanabara entre suas /ilhas ilhas de aço adocicado moscas (ordas no aço da manhã avesso do "oente "ente sobre a areia lua cheia
+% entre /olhas doces e a/iadas, contem"lo o des/iar do tem"o e suas /.bulas ocas, suas sombras, luzes /oscas
1-& nos dentes do tem"oS entre /lores ocas e amar(as, contem"lo re"artida em an:os e moscas a /icção do tem"o e seus tOmulos onde se esconde> /ace a mares doces e obscuros /eito muros -%
a "alavra> estilização do tem"o% uma "alavra uma mem#ria, ruídos, traços, ob:etos va(os, la(os de mormaço
1)% "ara !ue serve escreverU J "ara /azer !ue o sol levante no horizonte, toda manhã "ara !ue servem as canetasJtinteiro como esta, chinesa, entre os dedosU
1-< J "ara abrir todas as :anelas sem medo "ara !ue servem os com"utadoresU "ara !ue servem os "rocessadores de te$toU J "ara !ue as /lores e os animais cresçam
11% doces muros, doce descanso> mansos re(atos J um (osto de mel na boca F /lor /lores roucas de brilhar J em /olhas soltas, res"iração, o ar, o seu ar/ar F /lor, /lores roucas de ser, de tanto ser> constante amanhecer ou eterno mar
1-*
EPÍLOGO
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Esta colet9nea de te$tos estava dada como "ronta e entre(ue Patricia "ara a edição /inal !uando "assei uma e$"eriIncia !ue não "osso omitir de meus "ossíveis leitores% oi marcante demais, si(ni/icativa demais, incontorn.vel% Comecemos "elo conte$to% 6. al(uns anos "enso em escrever um livro sobre minhas e$"eriIncias de con/rontos com a Morte% Estou, no momento em !ue escrevo, com 8* anos de idade e :. "assei, "elo menos, "or meia dOzia desses con/rontos% Embora ainda não tenha che(ado ao "a"el, :. tem at um título V Distancia de um +raço F su(erido "or minha ami(a isele 'oras% Ele se re/ere a um ensinamento de Carlos Castaneda se(undo o !ual a nossa morte "essoal, a de cada um de n#s, a !ue haveremos de morrer um dia, est. sem"re :unto de n#s, do nosso lado es!uerdo, um "ouco atr.s de n#s, distancia de um braço% Essa "ro$imidade "ermanente "ro"ícia a uma relação de intimidade e Castaneda recomenda !ue a utilizemos trans/ormando essa com"anheira /iel numa Conselheira tão e/icaz !ue não erra nunca em seus conselhos% Ela se a"ro$ima e se a/asta de n#s at nos a(asalhar de/initivamente com seu abraço /inal% Meu "rimeiro con/ronto íntimo com a Conselheira /oi !uando tinha dezesseis anos de idade% Esses con/rontos se multi"licaram durante os anos at o mais recente deles !ue /oi h. "oucos dias% 3ão vou cont.Jlos a!ui :. !ue serão assunto "ara a obra !ue "retendo escrever% Mas vou dar conta do Oltimo deles% 6. "ouco tem"o /ui "arar na CD0 de um hos"ital a!ui no Rio, com "roblemas "ulmonares% 3ão /oi a "rimeira vez, tenho tanto esse ti"o de "roblema de saOde e h. tanto tem"o !ue brinco dizendo !ue não tenho mais "ulmHes mas um verdadeiro mostru.rio de doenças "ulmonares% esta vez, /oi srio% i!uei "rostrado na cama da CD0 en!uanto via !ue a Conselheira se a"ro$imava cada vez mais% Per(unteiJlhe se minha hora havia che(ado% ?inda não te to!uei@ F ela res"ondeu sorrindo, como sem"re /az diante de "er(untas decisivas%
1-8 oi nessa situação !ue recebi, no meu recanto da CD0, a visita de minha comadre Maria de .tima, mãe de meu a/ilhado 4lavo 6ennr7 e evan(lica devotada da 0(re:a eus mor% .tima trazia irmãos da sua e de outras i(re:as evan(licas Leivinha, ^ilda, 3at.lia, M.rcioQ% Eles tinham vindo orar "or mim e "edir a 'esus "or minha saOde% izeram um semicírculo em torno de minha cama e oraram sua maneira, ad li(itum, em voz alta, cada um usando livremente as "alavras diri(idas a 'esus como se elas estivessem saído do coração de cada um com es"ontaneidade, mas acima de tudo, com /, emoção, sinceridade e convicção insu"er.veis% i!uei emocionado e irresistivelmente arrastado "elo "oder evocado "or sua /, emoção, sinceridade e convicção insu"er.veis, movidas clara e abertamente "or sua con/iança absoluta no "oder de 'esus% i!uei !uieto, de olhos /echados% 3o silencio interior, o Mestre mostrouJme meus erros, meus "ecados, revelou !ue minha doença não era nem um casti(o nem uma recom"ensa, era um desa/io minha cora(em es"iritual, uma o"ortunidade "ara o crescimento de minha /% Com o coração estremecido, os olhos em l.(rimas, a mente iluminada "or um clarão solar, com"reendi !ue 'esus não a"enas "oderoso, 'esus o Poder, a Presença do Poder, do Pai, entre n#s, e a sua =e(unda Ginda a sua vinda em n#s% Auando terminaram de orar, os irmãos se voltaram "ara mim e, atravs da irmã 3at.lia, "er(untaram se eu ?aceitava 'esus@% J ceito 'esus F res"ondi, em "az%